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CAMPINAS
2017
ANA CRISTINA SIEWERT GAROFOLO
CAMPINAS
2017
Ao Marco, meu companheiro e grande amigo, por todo amor,
carinho, compreensão e em especial paciência, em todos os
momentos das nossas vidas e em especial durante o
desenvolvimento este trabalho.
À Prof.ª Dra. Julieta Aier de Oliveira pela orientação e confiança depositada em meu trabalho.
Gratidão por acreditar em mim.
À meus pais, Jens Siewert e Alda Maria Siewert pelo apoio em todas as horas, por acreditarem
em mim e me incentivarem desde sempre. Muito obrigada!
Às Dras Cristhiane Amâncio e Tercia Zavaglia Torres pelo apoio e incentivo, para que eu
pudesse completar esta importante etapa pessoal.
Aos colegas da Embrapa Agrobiologia, em especial meu amigo Ilzo Artur Risso, pelo apoio na
pesquisa de campo.
Aos sujeitos dessa pesquisa que contribuíram para que esta pesquisa tivesse sucesso, meus
sinceros agradecimentos.
"Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo
dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para
plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado" (Eclesiastes, 3:
1-2)
O Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV) foi criado em 2007
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-Mapa. O Programa visou o fomento
do uso de adubos verdes e diminuição da dependência de insumos externos por meio do
estímulo à criação ou ampliação de bancos comunitários de sementes. Nesse sentido, o objetivo
deste estudo foi verificar se o processo de implantação do Programa Banco Comunitário de
Sementes de Adubos Verdes no período de 2007 a 2014 no estado do Rio de Janeiro contribuiu
para a geração e fortalecimento de capital social local e independência dos agricultores do
insumo semente. Foram considerados para efeito de discussão do Programa Banco Comunitário
de Adubos Verdes diferentes conceitos de capital social e as inter-relações estabelecidas em
termos de participação: laços de cooperação, reciprocidade e confiança. O universo de estudo
foi composto pelos bancos comunitários e bancos familiares de sementes de adubos verdes
identificados em levantamento de 2013 realizado pela Superintendência Federal de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento no Estado do Rio de Janeiro (SFA-RJ). A hipótese de pesquisa foi
que a implementação do Programa BCSAV promoveu participação e condições para a geração
e o fortalecimento de capital social local. Agricultores familiares que já participavam em
alguma associação/cooperativa apresentavam maior engajamento na comunidade do seu
entorno sendo maior a confiança nas ações em conjunto com outros agricultores e a participação
em ações como mutirões, entretanto para estes agricultores a inserção do BCSAV não alterou,
de modo significativo, sua participação social, confiança e cooperação. Na percepção dos
técnicos entrevistados, o Programa possibilitou, em maior ou menor grau, a participação social
intensificando os laços de confiança e cooperação entre os agricultores. Ao considerar os bancos
de sementes, foi possível identificar fortes laços de reciprocidade onde as pessoas auxiliavam-
se umas às outras, aumentando a confiança e a cooperação dos associados, sendo o aspecto
participativo muito valorado pelos gestores/guardiões dos bancos comunitários estudados.
Percebeu-se que o Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes possuía
condições de promover a participação e as condições para a geração e o fortalecimento de
capital social local, entretanto isto evidenciou-se de modo mais incisivo em locais onde já havia,
mesmo que de forma incipiente, laços de confiança, reciprocidade e cooperação instalados.
The Ministry of Agriculture, Livestock and Food Supply, known as Mapa, created the Green
Manure Seed Community Bank (GMSCB) in 2007. The Program aimed at encouraging the use
of green manure and reducing dependence on external inputs by encouraging the creation or
expansion of community seed banks. In this sense, the objective of this study was to verify if
the process of implantation of the Green Manure Seed Community Bank Program from 2007
to 2014 in the state of Rio de Janeiro contributed to the generation and strengthening of local
social capital and the independence of farmers from Seed supply. Different concepts of social
capital and the interrelationships established in terms of participation were considered for
discussing the Green Manure Seed Community Bank Program: ties of cooperation, reciprocity
and trust. The study scope was composed of community and family green manure seed banks
identified in a 2013 survey conducted by the Federal Superintendence of Agriculture, Livestock
and Food Supply in the State of Rio de Janeiro (SFA-RJ). The research hypothesis was that the
implementation of the GMSCB Program promoted participation and conditions for the
generation and strengthening of local social capital. Family farmers who were already
participating in some association / cooperative showed greater commitment in the community
around them, with greater confidence in actions in conjunction with other farmers and
participation in actions as joint efforts. However, for these farmers the insertion of the GMSCB
did not change social participation, trust and cooperation. In the perception of the interviewed
technicians, the Program made possible, to a greater or lesser degree, social participation,
intensifying the bonds of trust and cooperation among farmers. When considering the seed
banks it was possible to identify strong bonds of reciprocity where people helped each other,
increasing the trust and cooperation of the associates, being the participatory aspect highly
valued by the managers / guardians of the community banks studied. It was noticed that the
Green Manure Seed Community Bank Program had the conditions to promote the participation
and the conditions for the generation and strengthening of local social capital, but this was more
incisive in places where there was, even at an incipient state, bonds of trust, reciprocity, and
cooperation already installed.
Figura 08 - Casa de Sementes livres e local de armazenamento das sementes, Silva 123
Jardim, RJ, 2015
LISTA DE TABELAS
Tabela 5 - Questões sobre capital social aplicada aos agricultores familiares abordados 70
na pesquisa, 2015.
Tabela 7 - Questões sobre capital social e aplicada aos gestores dos bancos 73
comunitários abordados na pesquisa, 2015.
Tabela 16 - Espécies de sementes de adubos verdes distribuídas pelo Programa BCSAV 109
no período de 2008 a 2010
Tabela 20 - Tamanho dos estabelecimentos rurais pesquisados, em hectares (ha), Estado 128
do Rio de Janeiro, 2015/2016
Tabela 21- Distribuição do ganho do agricultor com a agricultura em termos de salários 130
mínimos, Estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos
parênteses 2015/2016.
Tabela 24 - Nível de escolaridade em relação ao tempo (em anos) de serviço dos agentes 133
multiplicadores do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e
números absolutos nos parênteses, 2015/2016.
Tabela 25 - Ocorrência de diferentes motivações dos agricultores familiares para 138
participação no Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, 2015/2016.
Tabela 29 - Correlação entre a multiplicação das sementes de adubos verdes, aumento 147
de uso e observação de mudanças nas propriedades rurais devido ao Programa BCSAV
no estado do Rio de Janeiro, 2015/2016.
Tabela 30 - Critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores para seleção 149
dos agricultores a serem beneficiados pelo Programa BCSAV no estado do Rio de
Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.
Tabela 31 - Interação entre critério para seleção dos agricultores a serem beneficiados 150
pelo Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro e ação do extensionista no estado
do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos parênteses, 2015/2016.
Tabela 32 - Critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores para seleção 151
dos agricultores a serem beneficiados pelo Programa BCSAV no estado do Rio de
Janeiro em relação ao tempo de serviço, onde os números em parênteses indicam o
número de multiplicadores envolvidos no critério, 2015/2016
8
RESUMO
9
ABSTRACT
10
LISTA DE FIGURAS
11
LISTA DE TABELAS
15
LISTA DE SIGLAS
20
1. INTRODUÇÃO
25
2. DESENVOLVIMENTO RURAL: PASSOS PARA SUSTENTABILIDADE
25
2.1. Agroecologia rumo à Sustentabilidade
34
2.2. Agroecologia e Políticas Públicas para sua implantação
42
2.3. Das Sementes Selvagens aos Bancos Comunitários de Sementes
54
2.4. Capital Social: Uma construção do coletivo e para o coletivo
66
3. A CONCEPÇÃO METODOLÓGICA E O TRAJETO DA PESQUISA
66
3.1. A opção metodológica da pesquisa
83
3.3. Condução da pesquisa em campo
86
3.4. Organização e análise das entrevistas
90
3.4.1. Análise estatística
APÊNDICES 189
ANEXOS 209
20
1. INTRODUÇÃO
1
AGENDA 21. Disponível em http://www.ibamapr.hpg.ig.com.br/agenda21.htm, acesso em 18 de
setembro de 2010.
2
Agroecossistema é um local de produção agrícola compreendido como um ecossistema. O conceito de
agroecossistema proporciona uma estrutura com a qual se pode analisar os sistemas de produção de
alimentos como um todo, incluindo seus conjuntos complexos de insumos e produção e as interconexões
entre as partes que os compõem (GLIESSMAN, 2009, p.63)
3
Entende-se como efetividade a relação entre os resultados e o objetivo, ou seja efetividade expressa o
resultado concreto dos fins, objetivos e metas desejadas por um projeto. (COHEN e FRANCO, 2013)
4
Pós modernidade refere-se ao período histórico em que a modernidade se desenvolveu, pautado nas
promessas de liberdade, igualdade e fraternidade de uma sociedade baseada nos imperativos da razão e
com meios para o livre desenvolvimento material e progresso social a partir do uso racional dos recursos
21
naturais esgotou-se. Neste contexto somente com outros meios, instrumentos e uma outra racionalidade
seremos capazes de fazer cumprir o ideal da modernidade (GONÇALVES, 2014)
22
5
Entende-se por efeito todo comportamento ou acontecimento que pode razoavelmente dizer que sofreu
influência de algum aspecto do programa ou projeto. (BOND, 1995 apud COHEN e FRANCO, 2013).
24
portanto, o modelo capitalista hegemônico que levou o produtor rural a tentar adaptar a natureza
aos interesses mercadológicos tornando a agricultura subordinada à indústria (GRAZIANO
NETO, 1985; TEIXEIRA, 2005).
O processo de modernização da agricultura no Brasil expandiu nos anos 1950 com
as importações dos meios de produção e a implantação de um setor industrial que se estabeleceu
no final dos anos 1960. Agra e Santos (2000) pontuam que a dinâmica produzida para
modernizar a agricultura teve um caráter imediatista, marcado pelo aumento da produtividade
no curto-prazo, pela minimização dos riscos e maximização do controle do homem sobre a
natureza, além de ser orientado para os grandes proprietários de terra. Assim sendo o
delineamento da agricultura moderna nos anos 1960, caracterizou-se pelo fortalecimento dos
vínculos entre forma e tipo de produção agropecuária e os setores industriais, bem como pela
forte presença do Estado na criação e utilização de instrumentos de política econômica tais
como o crédito rural e incentivos fiscais (KAGEYAMA, 1985).
Aliado à alteração da base técnica, o final dos anos 1960 é considerado um marco
da industrialização da agricultura (GRAZIANO DA SILVA, 1987). Representou grande
aumento da produção de bens de consumo duráveis, implementos, sementes e agroquímicos
entre outros. Para Wanderley
outros. Foi a partir deste período que o Estado brasileiro intensificou a entrada no país de
multinacionais voltadas para o segmento agropecuário e atrelou este setor ao desenvolvimento
econômico. Na busca pela maximização da produção e do lucro desenvolveu-se um rol de
práticas agrícolas e pecuárias sem considerar a dinâmica ecológica dos agroecossistemas
(GLIESSMAN, 2009). Ressalta-se que muito pouco se conseguiu alcançar em termos sociais.
A necessidade pela produção de mais alimentos, demandada na década de 1970
pelo êxodo rural, pressão demográfica e urbanização, impulsionou a abertura de novas
fronteiras agrícolas criando um modelo de exploração de terra baseado na excessiva
especialização dos sistemas produtivos. Isto praticamente acarretou a eliminação das atividades
de produção para autoconsumo, que aliada ao processo de industrialização da agricultura e à
busca de novas matrizes energéticas levou à degradação de diversos recursos naturais.
6
O processo de modernização da agricultura exigiu uma reorganização da agricultura a partir da
intervenção do Estado e com o apoio da oligarquia rural, fazendo surgir uma nova dinamização da
produção agrícola e a renovação das estruturas de dominação, caracterizada por uma maior
concentração, centralização, desigualdade e exclusão no campo, marcando o período chamado de
“Modernização Conservadora”, ou seja, uma modernização sem mudanças estruturais. Este modelo
desenvolvimentista manteve as características do modelo evolutivo da estrutura agrária do Brasil deste
a sua colonização: a intensificação da produção para atendimento às demandas do consumo externo, a
opção pela monocultura, o apoio político e econômico aos grandes proprietários de terras (incentivo à
estrutura latifundiária) e a subordinação dos agricultores de pequena produção às grandes propriedades
[...]. (SILVA, 2007).
28
Agroecologia pode ser definida como o manejo sustentável dos recursos naturais
por meio de formas de ação coletiva (GUZMÁN, 2001), visando o desenvolvimento rural em
uma perspectiva multidimensional. Como ciência a agroecologia busca o entendimento do
funcionamento de agroecossistemas7 complexos e as diferentes interações que lá ocorrem tendo
como objetivo a conservação e a ampliação da biodiversidade dos sistemas agrícolas.
Há varias autores que trabalham diferentes visões da agroecologia (ALTIERI, 2005;
GLIESSMAN, 2009; GUZMÁN, 2001; CAPORAL e COSTABEBER, 2000; CAPORAL e
COSTABEBER, 2002a; CAPORAL e COSTABEBER, 2004a; CAPORAL e COSTABEBER,
2004b) considerando o aspecto multidisciplinar desta ciência.
Para Altieri a agroecologia é a ciência que traz consigo bases fitotécnicas que
permitem o processo de transição da agricultura convencional para uma mais sustentável,
através da preservação e ampliação da biodiversidade dos agroecossistemas.
7
Agroecossistema é um local de produção agrícola compreendido como um ecossistema. O conceito de
agroecossistema proporciona uma estrutura com a qual pode-se analisar os sistemas de produção de
alimentos como um todo, incluindo seus conjuntos complexos de insumos e produção e as interconexões
entre as partes que os compõem (GLIESSMAN, 2009)
31
no modus operandi do agricultor familiar agroecológico seja exitosa faz-se necessário outra
forma de diálogo e socialização de conhecimentos, intercâmbio de práticas e tecnologias
apropriadas, em um processo de transição.
A transição agroecológica objetivará a passagem de um modelo agroquímico de
produção em um processo de evolução contínua e crescente no tempo, porém sem ter um
momento final determinado (CAPORAL e COSTABABER, 2004b, p.12). Trata-se de um
processo de enorme complexidade, tanto tecnológica como metodológica e organizacional,
dependendo dos objetivos e das metas que se estabeleçam, assim como do “nível” de
sustentabilidade que se deseja alcançar (CAPORAL e COSTABABER, 2004b).
Gliessman (2009) apresenta três níveis fundamentais no processo de transição ou
conversão para agroecossistemas sustentáveis:
a) Primeiro nível de transição: refere-se ao incremento da eficiência das práticas
convencionais para reduzir o uso e consumo de insumos externos caros, escassos
e daninhos ao meio ambiente.
b) Segundo nível da transição: refere-se à substituição de insumos e práticas
convencionais por práticas alternativas.
c) Terceiro nível da transição: refere-se ao redesenho dos agroecossistemas, para
que estes funcionem com base em novos conjuntos de processos ecológicos.
A agroecologia tem se configurado como possibilidade de fortalecimento do
desenvolvimento rural sustentável, mostrando-se como alternativa viável e importante para o
processo de fortalecimento da identidade camponesa e de suas condições de produção,
contribuindo sobremaneira para garantir a segurança alimentar e a estabilidade dos
ecossistemas. Entretanto, a transição agroecológica está sujeita a intervenção humana e a
dinâmica social local, o que faz com que aliado a busca da racionalização econômico-produtiva
do agroecossistema, tenha-se mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em relação ao
manejo e conservação dos recursos naturais (CAPORAL e COSTABABER, 2004b).
[...] teria efeitos negativos mínimos no meio ambiente e não liberaria substancias
toxicas ou nocivas [...]; - preservaria e recomporia a fertilidade, preveniria a erosão e
manteria a saúde ecológica do solo; - usaria a água de maneira que permitisse a recarga
dos depósitos aquíferos e satisfizesse as necessidades hídricas do ambiente e das
pessoas; - dependeria [...] dos recursos de dentro do agroecossistema ao substituir
insumos externos por ciclagem de nutrientes [...]; - trabalharia para valorizar e
conservar a diversidade biológica, [...] e garantiria igualdade de acesso a práticas,
conhecimento e tecnologias agrícolas adequados e possibilitaria o controle local dos
recursos agrícolas.
Para Souza (2006) não existe uma única, nem melhor, definição sobre o que seja
política pública. Para a autora Política Pública pode ser vista como “o campo do conhecimento
que busca [...] colocar o governo em ação [...] e propor mudanças no rumo ou curso dessas
ações [...]” (SOUZA, 2006, p.26)
8
Disponível em <http://www.portaldatransparencia.gov.br/glossario/DetalheGlossario.asp?letra=p>.
Acesso em: 31/01/2017.
36
Esta lei trouxe novos critérios para o funcionamento de todo o sistema de produção
orgânico, incluindo desde a produção, o armazenamento, a rotulagem, o transporte, a
certificação, a comercialização e a fiscalização dos produtos.
Em 20 de agosto de 2012 foi instituída a Política Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (Pnapo), por meio do Decreto nº 7.794 em 20 de agosto de 2012. O objetivo
desta política é de
9
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.831.htm acesso em 31/10/2013.
10
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6323.htm
acesso em 31/10/2013.
38
2012, art.1°).
Assim sendo
As CPOrgs serão compostas paritariamente por, no mínimo, 4 (quatro) e, no
máximo, 10 (dez) membros de organizações governamentais, titular e
suplente, e igual número de membros de organizações não-governamentais e
demais segmentos do setor privado, titular e suplente, que tenham reconhecida
atuação no âmbito da produção orgânica. A CNPOrg será composta
paritariamente por 5 (cinco) membros de organizações governamentais, titular
e suplente, e 5 (cinco) membros de organizações não-governamentais e
demais segmentos do setor privado, titular e suplente, que tenham reconhecida
atuação junto à sociedade no âmbito da Produção Orgânica” (BRASIL,
Instrução Normativa 54 de 22 de outubro de 2008, Art. 4 e 5)
Comercialização” e “Consumo”.
O segundo Planapo a ser implantado entre 2016-2019 foi construído a partir de
debates entre a sociedade e governo, pautado nas experiências obtidas durante a execução do
primeiro Planapo (2012-2015). Este plano reúne 194 iniciativas que promovem, entre outras
ações, a produção de alimentos saudáveis no Brasil, com medidas a serem implantadas até 2019.
O segundo Planapo apresenta ações que estão divididas em seis grandes eixos: produção; uso e
conservação dos recursos naturais; conhecimento; comercialização e consumo; terra e território,
e sociobiodiversidade.
O primeiro Planapo (2012-2015) previu, em seu escopo, a ampliação de
investimentos para infraestrutura e suporte técnico e operacional para a manutenção e
funcionamento de bancos de sementes. De modo especial as estratégias, ações e atividades
ligadas a sementes organizaram-se em torno de três enfoques que demandaram medidas
específicas de apoio à estruturação e fomento as sementes crioulas, sementes varietais e
sementes orgânicas (BRASIL, 2013).
Há cerca de dez mil anos o homem percebeu que a partir de uma única semente
plantada podia-se conseguir uma planta inteira igual àquela que lhe deu origem ou mesmo
muitas sementes da mesma espécie. Após compreender a relação semente-planta-semente o
homem pode mudar seus hábitos, passando de nômade para sedentário (CARVALHO, 1993),
selecionando cultivares mais adaptadas ao seu ambiente. Desse modo, o homem foi dominando
técnicas de domesticação de espécies vegetais, selecionando e criando cultivares mais
adaptadas ao ambiente (BEVILAQUA e ANTUNES, 2008)
Com a evolução das atividades agrícolas, alguns agricultores passaram a só
produzirem as sementes (material para plantio) e outros a só produzirem grãos (material para o
consumo). Genel (1984) define grão como o fruto de plantas alimentícias, destinado à
alimentação humana e industrialização. Para o autor, semente é a parte do fruto da planta que
se reproduz quando germina em condições adequadas. Assim sendo “Sementes são
especificamente produzidas para a reprodução, seguindo técnicas adequadas de acordo com
normas legais e que foi conservada e tratada para assegurar sua viabilidade. ” (GENEL, 1984,
p.19).
Sementes devem ser cuidadosamente beneficiadas e conservadas para garantia da
qualidade fisiológica, até o momento de sua utilização, preservando assim a produtividade
adequada (AZEVEDO et al.,2003). Armazenamento apropriado resulta em manutenção da
viabilidade das sementes e manutenção de seu vigor.
Como prática generalizada, a maioria dos agricultores familiares utiliza como
sementes, grãos de qualidade fisiológica e sanitária comprometida. Na prática os agricultores
adquirem sementes e passam a multiplicá-las para si, por vários anos seguidos, fazendo com
que ocorra perda de qualidade fisiológica e genética. (BEVILAQUA e ANTUNES, 2009).
Com o tempo, agricultores que produziam sementes passaram a armazenar, trocar
e a vender para outros agricultores (CARVALHO, 1993), dando os primeiros passos na
43
conservação on farm11 deste material. Deste modo a prática dos agricultores de selecionar
plantas e conservar sementes passou a representar um patrimônio cultural relacionado à própria
preservação da biodiversidade existente no planeta e a coevolução dos sistemas agrícolas
(ALTIERI, 2005).
A intensificação nas práticas de manejo agrícola, deflagrada pela Revolução Verde,
trouxe uma mudança na produção de sementes, tornando-as cada vez menos diversificadas.
Esse pacote tecnológico, ao buscar a alta produtividade das plantas, levou a
agricultura a profundas transformações nas formas de produção e na sustentabilidade do
sistema. Desse modo o avanço da monocultura contribuiu para a diminuição da diversidade das
espécies por meio do pacote tecnológico de sementes e insumos químicos (MACHADO, 1998;
WEID, 1998).
O setor industrial de produção de sementes no mundo tem passando por um
estreitamento da base genética em especial devido à presença de cultivares geneticamente
modificadas e híbridos (BRASIL, 2013), o que, aliado à redução das variedades disponíveis no
mercado, tem dificultado o acesso dos pequenos produtores a sementes de qualidade.
11
Os recursos genéticos são mantidos em condições in situ, on farm, e ex situ. A conservação in situ de
recursos genéticos é realizada, basicamente, em reservas genéticas, reservas extrativistas e reservas de
desenvolvimento sustentável, [...] em áreas protegidas, seja de âmbito federal, estadual ou municipal.
As reservas genéticas, por exemplo, são implantadas e mantidas em áreas prioritárias, de acordo com a
diversidade genética de uma ou mais espécies de reconhecida importância científica ou sócio-
econômica. A conservação in situ apresenta algumas vantagens, tais como: (i) permitir que as espécies
continuem seus processos evolutivos; (ii) favorecer a proteção e a manutenção da vida silvestre; (iii)
apresentar melhores condições para a conservação de espécies silvestres, especialmente vegetais e
animais; (iv) oferecer maior segurança na conservação de espécies com sementes recalcitrantes e (v)
conservar os polinizadores e dispersores de sementes das espécies vegetais. A conservação on farm
pode ser considerada uma estratégia complementar à conservação in situ, já que esse processo também
permite que as espécies continuem o seu processo evolutivo. A conservação on farm apresenta como
particularidade o fato de envolver recursos genéticos, especialmente variedades crioulas - cultivadas por
agricultores, especialmente pelos pequenos agricultores, além das comunidades locais, tradicionais ou
não e populações indígenas, detentoras de grande diversidade de recursos fito-genéticos e de um amplo
conhecimento sobre eles. Esta diversidade de recursos é essencial para a segurança alimentar das
comunidades. A conservação ex situ, por sua vez, envolve a manutenção, fora do habitat natural, de uma
representatividade da biodiversidade, de importância científica ou econômico-social, inclusive para o
desenvolvimento de programas de pesquisa, particularmente aqueles relacionados ao melhoramento
genético. A conservação ex situ implica [...] na manutenção das espécies fora de seu habitat natural e
tem como principal característica: (i) preservar genes por séculos; (ii) permitir que em apenas um local
seja reunido material genético de muitas procedências, facilitando o trabalho do melhoramento genético;
(iii) garantir melhor proteção à diversidade intraespecífica, especialmente de espécies de ampla
distribuição geográfica. Este método implica, entretanto, na paralisação dos processos evolutivos, além
de depender de ações permanentes do homem, visto concentrar grandes quantidades de material genético
em um mesmo local, o que torna a coleção bastante vulnerável. Disponível em
<http://www.mma.gov.br/biodiversidade/conservacao-e-promocao-do-uso-da-diversidade-
genetica/agrobiodiversidade/conserva%C3%A7%C3%A3o-in-situ,-ex-situ-e-on-farm>. Acesso em:
04/03/2017.
44
12
Sementes crioulas, também chamada de cultivares locais ou tradicionais são variedades
desenvolvidas, adaptadas ou produzida por agricultores familiares, assentados de reforma agrária ou
indígenas, com características fenotípicas bem determinadas e reconhecidas pelas respectivas
comunidades e que a critério do Mapa consideradas também como descritores socioculturais e
ambientais, não se caracterizem como substancialmente semelhantes às cultivares comerciais (BRASIL,
2003, Art. 2°, XVI).
45
13
Navdanya [...] simboliza a proteção da diversidade biológica e cultural [...]. Este dom ou “dana” de
Navadhanyas (nove sementes) é o dom supremo - é um dom da vida, do patrimônio e da continuidade
da preservação e conservação de sementes. [...] conservação da biodiversidade, a conservação do
conhecimento da semente e sua utilização, a conservação da cultura e da sustentabilidade da cultura em
um contexto mais amplo – tanto a cultura de sementes, como a cultura de um povo. O programa
Navdanya [...] tem conservado com sucesso mais de 5.000 variedades de culturas, incluindo 3.000 de
arroz, 150 de trigo, 150 de feijão (rajma), 15 de milheto, além de diversas variedades de leguminosas,
vegetais, plantas medicinais, entre outros. Disponível em
<http://muitoalem2013.blogspot.com.br/2014/06/luzes-do-mundo-vandana-shiva.html>. Acesso em
06/06/2017.
46
14
Variedades locais representam recursos genéticos agrícolas que vêm sendo coletados e utilizados pelos
centros de germoplasma e conservados de forma ex situ. (ALVES et al., 2011)
15
Variedades protegidas são aquelas sujeitas a lei de proteção de cultivares baseada na convenção da
UPOV de 1978, a qual prevê a cobrança de royalties pelo uso das sementes. Disponível em
http://www.seednews.inf.br/portugues/seed104/artigocapa104a.shtml, acesso em 01/12/2016.
16
O Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e Agricultura -
TIRFAA/FAO tem por principais objetivos promover a conservação e a utilização sustentável dos
recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura, garantindo uma partilha justa e equitativa dos
benefícios resultantes da utilização desses recursos, em prol de uma agricultura sustentável, da
segurança alimentar e nutricional.para maiores informações consulte
https://uc.socioambiental.org/sites/uc.socioambiental.org/files/treaty_portuguese.pdf, acesso em
30/01/2017.
47
17
Modus operandi é a maneira de praticar uma operação ou de desenvolver determinada atividade. Para
Bourdieu “[...] modus operandi é entendido quase que como o habitus metodológico. Seu significado
não está fora da ação criativa-investigativa geradora de linguagem, cabendo ou não em maior ou menor
grau àquela ação. Significa-se com e pela prática. Esta tem o primado epistemológico – isso é, o
pragmatismo – e tal só se entende, inclusive no caso de Bourdieu, quando a linguagem, locus do
conhecimento objetivo, também for tida como uma prática, justamente a tal ação criativa-investigativa”
(SÁ, 2015, p. 126)
48
Cordeiro e Farias (1993) apontam que diversos problemas podem surgir na gestão
participativa dos bancos de sementes comprometendo o seu desempenho, tais como:
Concentração de trabalho na mão de um grupo pequeno de agricultores ou de
uma única família;
Devolução de sementes de má qualidade por parte de alguns produtores sócios;
Concentração de poder do presidente da associação gestora do banco; e
Má organização ou administração do grupo gestor poderão ocorrer
frequentemente e são de difícil solução.
Assim sendo, o incentivo à formação e manutenção de bancos de sementes é uma
estratégia importante para promover a autonomia dos agricultores e para a conservação e
manutenção da agrobiodiversidade local, podendo ser sinônimo de segurança alimentar.
Entretanto há necessidade de investir em infraestrutura e de suporte técnico e operacional para
a manutenção e funcionamento dos bancos de sementes (BRASIL, 2013).
Cunha (2013) apresenta uma síntese dos princípios que fundamentam um Banco
Comunitário de Sementes a partir de experiência no estado da Paraíba. Os princípios podem ser
divididos nos relativos à sementes e à gestão do trabalho com elas:
a. Princípios relativos às sementes:
Localidade: a semente é local, foram adaptadas à determinada região e foram
desenvolvidas ao longo de gerações para suprir as demandas locais e de interesse dos
agricultores;
Qualidade: a semente é de qualidade e sem agrotóxico, visto que sementes locais
têm bom desempenho frente às convencionais e que problemas relacionados ao baixo
desempenho estão relacionados com as condições de armazenamento;
Identidade: são meios de produção e de identidade cultural;
Autonomia: independência no acesso às sementes e outros insumos endógenos
à unidade de produção e no papel do agricultor na sua preservação;
Diversidade, pois auxilia a variabilidade genética;
50
18
Observações em campo pela autora da pesquisa tem mostrado que as sementes comumente são
armazenadas pelos agricultores e guardiões de sementes em garrafas pets as quais apesar de serem
alternativas mais baratas e resolverem momentaneamente o problema do armazenamento, trazem
consigo a desvantagem de poderem promover a perda de germinação e vigor das sementes a médio
prazo.
52
O termo capital social foi usado pela primeira vez há cerca de um século quando
Lyda Hanifam o utilizou para descrever a relação entre o decréscimo de sociabilidade e das
relações de vizinhança frente à pobreza crescente em centros comunitários de escolas rurais
(D’ARAUJO, 2010). Historicamente, o conceito de capital social aparece várias vezes e com
várias dimensões durante o século XX. Nos últimos anos, segundo Khan e Silva (2005) o
interesse pelo estudo do capital social, bem como na confiança entre os indivíduos, no
associativismo e nas redes de relações sociais foi intensificado. A partir de 1990 o termo capital
social se expandiu para várias áreas do conhecimento sendo que entre 1991 a 1999, 1.112
artigos em ciências sociais foram elaborados sobre esse tema (ARAÚJO, 2010). A tabela 1
pautada em D’Araújo (2010) apresenta de modo resumido momentos históricos da evolução do
conceito de Capital Social.
55
agentes que não somente são dotados de propriedades comuns, mas também
são unidos por ligações permanentes e úteis. (BOURDIEU, 1998, p. 67)
Olhar para essas relações nos transportam para Durston (1999, p.103) que define
capital social como um conjunto de normas, instituições e organizações que promovem
confiança e cooperação entre as pessoas, nas comunidades e na sociedade no seu conjunto.
Segundo Durston
[...] grupos que constroem uma ação mais interativa entre as iniciativas de
acompanhamento técnico-econômico e as de caráter educacional participativo
tenderam a construir relações sociais de solidariedade, reciprocidade e
confiança mais fortes, o que acarretou em expansão das condições de geração
de capital social de forma significativa. (AMÂNCIO, 2006, p.11)
2005). Desse modo, capital social é um conceito que promove estratégias de organização de
classes com um caráter de instrumento que utilizam os atores racionais com a intenção de
manter ou reforçar seu status ou poder na hierarquia social (MILANI, 2003).
Indivíduos capitalizados socialmente possuem maior grau de articulação e de
agregação de interesses no âmbito externo. No entanto, não é a quantidade de participação
política que define a organização dos atores e sim a qualidade delas. Para a formação de capital
social é importante reproduzir e priorizar laços comunitários de solidariedade horizontais (não
hierárquicas) e quebrar os laços verticais que salientam as relações clientelistas, opressoras e
oportunistas (AMANCIO, 2006).
Para Zarate (2009) o capital social não deve apenas pautar-se em sentimento de
solidariedade e simpatia, mas criar valor para os indivíduos que participam de diferentes redes
sejam elas:
1. Redes sociais de informação;
2. Normas de reciprocidade e ajuda mútua entre as diferentes redes sociais:
i. Redes de laços sociais entre pessoas que têm muito em comum;
ii. Redes de laços mais frágeis entre pessoas que mantêm a reciprocidade
generalizada.
3. Redes que promovam a visão coletiva;
4. Redes que ampliem as relações interpessoais e solidariedade; e
5. Redes que busquem um desenho com a intervenção de todos os envolvidos,
aproveitando as diferentes potencialidades de cada um dos membros da rede e minimizando os
pontos negativos.
Para Durston (2000) a confiança que existe entre os indivíduos que integram as
redes não é um recurso da sociedade como um todo, mas somente do indivíduo pertencente a
um grupo de uma determinada rede. Para Zarate (2009, p.8) “las redes sociales estimulan la
identidad y el sentido de comunidad del individuo, lo que genera un sentimiento de satisfacción
personal e interés por cooperar”.
Durston (2000) fornece uma tipologia de capital social, postulando formas
crescentes de relações interpessoais, das relativas ao indivíduo até grupo, comunidade, ponte,
escada e societária:
a) Capital Social Individual: é aquele que se manifesta principalmente em relações
entre duas pessoas. Essas relações são casuais, com um conteúdo de confiança
e reciprocidade. É um recurso presente nos relacionamentos. As redes aqui
estabelecidas são mais restritas e pautadas em interesses mais individualistas;
60
Bebbington (2005) fornece uma tipologia de capital social a partir de seus estudos
da compreensão das trajetórias de reprodução no meio rural e suas relações com o
desenvolvimento. Seu valor principal se encontra em como facilitar o acesso a outros capitais
onde suas correlações com o empoderamento se fazem necessárias para que sejam
implementadas mudanças nas relações entre o Estado e as próprias comunidades. O autor
apresenta três tipos de capital social:
a) Capital social de união: reflete os laços mais íntimos e próximos. São laços de
família e de comunidade, com poucas pessoas e geograficamente envolvendo
pessoas que vivem muito próximas;
b) Capital social de ponte: refere-se aos laços menos intensos que os de união, que
envolvem pessoas e grupos similares, mas geograficamente mais distantes. Ex:
comunidades de agricultores, de mães solteiras (são formas federativas de
organização);
61
O estudo de caso é apenas uma das muitas maneiras de se fazer pesquisa em ciências
sociais (YIN, 2003).
Trata-se de um procedimento metodológico que visa elucidar como e por quê
determinados fatos e ou eventos acontecem, além de viabilizarem a análise de determinadas
situações onde a possibilidade de controle é reduzida ou quando o entendimento de uma ação
ou fato só tem sentido dentro do contexto no qual está inserido (GODOY, 1995). Para Triviños
(1987, pag. 133), o estudo de caso “é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que
se analisa aprofundadamente”.
A condução do Estudo de Caso baseia-se em várias fontes de evidências e apoia-se
nas proposições teóricas pré-estabelecidas para conduzir a coleta e a análise dos dados. Porém
é preciso observar que segundo Yin (2003, p.82) “[...] a coleta de dados segue um plano formal,
mas as informações específicas que podem se tornar relevantes a um estudo de caso não são
previsíveis imediatamente”. Dessa forma é necessário o desenvolvimento de um protocolo de
estudo do caso, o qual contém os procedimentos e as regras gerais que devem ser seguidas.
Segundo Yin (2003) um estudo de caso deve seguir 3 princípios para a coleta de
dados:
1. Utilizar várias fontes de evidência: Este princípio “permite que o pesquisador dedique-
se a uma ampla diversidade de questões históricas, comportamentais e de atitudes. A
vantagem mais importante, no entanto, é o desenvolvimento de linhas convergentes de
investigação, um processo de triangulação” (Yin, 2003, p.119).
2. Criar um banco de dados para o estudo de caso: Este princípio “deve ser respeitado
durante a coleta de dados tem a ver com a maneira de organizar e documentar os dados
coletados para os estudos de caso” (YIN, 2003, p.123)
67
Segundo Yin (2003) apesar de comumente o estudo de caso ser tratado como
ferramenta exploratória ele pode ser considerado uma ferramenta explanatória. Para isso torna-
se importante definir bem a pergunta da pesquisa. Nesta tese foi usado o estudo de caso para
analisar o papel do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV) na
geração e fortalecimento do capital social no estado do Rio de Janeiro.
Pautada na vertente metodológica interpretativa buscou-se nesta tese trabalhar
criticamente um conjunto de dados qualitativos e quantitativos obtidos em três diferentes
momentos, com o propósito de dar conta da análise almejada, que foram: análise documental e
entrevistas dirigidas a pessoas importantes na concepção, elaboração e implantação do
Programa; análise dos condicionantes da adoção da Tecnologia Social dos Bancos
Comunitários de Sementes de Adubos Verdes a partir do relatado por formuladores e gestores
federal e estadual, entrevistas com agricultores e agricultores familiares, técnicos
multiplicadores e gestores de bancos comunitários de sementes; análise da contribuição do
Programa para a formação do capital social entre os diferentes atores envolvidos.
68
Tabela 3 – Definições de Capital Social apresentadas por Evans (1996), Putnam (1996), Durston
(2000) e Bebbington (2005)
Denominação do Definições
Autores
Capital Social
Capital social Relações sociais estão centradas no indivíduo, partem
individual dele para as redes sociais. (Relações de confiança).
P
U
T Capital social Expressão entre as relações de confiança e práticas de
D N comunitário cooperação.
U A
R M
S B Laços íntimos de família, amizade, de vizinhança e
T E Capital social de união
O B comunidade (poucas pessoas).
N B Relações entre pessoas social e economicamente
I Capital social de ponte
N similares, mas distantes geograficamente.
G E
T V Relações entre grupos e pessoas com identidades distintas
O A Capital social de escada
N N e poder sociopolítico distintos.
S
Fonte: Elaboração própria a partir de Durston (2000), Putnan (1996), Bebbington (2005) e
Evans (1996).
69
19
Neste trabalho chamamos de Pilar de Sustentação da Teórica-Metodológica as temáticas identificadas nos
diferentes trabalhos e que sustentam o conteúdo teórico de cada autor.
70
Este questionário continha três partes: uma primeira com 18 questões para
levantamento socioeconômico de caracterização do agricultor familiar; uma segunda com 10
questões versando sobre o banco de sementes e uma terceira com 6 questões abordando
características da presença ou não do capital social individual e comunitário (apêndice 1). A
Tabela 5 apresenta as questões que foram aplicadas aos agricultores familiares frente aos
respectivos Pilares de Sustentação sobre Capital Social detalhados na Tabela 7.
Tabela 5 - Questões sobre capital social aplicada aos agricultores familiares abordados na
pesquisa, 2015.
Pilares da N° da
Sustentação Teórico- Questão questão no
metodológica apêndice 5
O (a) sr(a) recebeu sementes do programa BCSAV? 19
Se sim, o que motivou sua participação no
Liberdade democrática Programa? Se não participa, por que?
(para optar pelo
O senhor participa do Banco Comunitário de 29
futuro)
Sementes (casa de sementes) local? Se sim, por
quê? Se não por quê?
O (a) Sr(a) teve orientação para montagem do banco 20
Interação dos de sementes em sua propriedade?
agricultores com os
agentes de Ater O Sr(a) teve auxílio para montagem do banco de 21
sementes em sua propriedade? Se sim, de quem?
Identidade Qual é o maior benefício de se fazer parte do Banco 30
compartilhada Comunitário de Sementes?
Como o Sr(a) descreveria sua participação nas 31
decisões da associação /casa de sementes ou outra
associação que participa?
Histórico de Em comparação a um ano atrás, como está sua 32
cooperação participação nas decisões da associação /casa de
sementes ou outra associação que o Sr(a) participa?
O senhor participa de mutirões junto com outros 35
agricultores?
71
Tabela 6 - Questões sobre capital social aplicadas aos técnicos multiplicadores abordados na
pesquisa, 2015.
Pilares da N° da
Sustentação Teórico- Questão questão no
metodológica apêndice 4
O que o (a) motivou a participar do Programa como
1
multiplicador (a) ?
Você conhece o proposto na segunda fase do
Liberdade democrática Programa? Se sim como ela foi comunicada para
13
(para optar pelo futuro)
você?
Você se sente motivado a participar da segunda fase
14
do Programa? Por quê?
Houve dificuldades na implementação do
3
Programa? Quais?
Houve recurso suficiente para executar o Programa?
Histórico local Se não, por quê? No que a insuficiência de recursos 4
(memoria em comum) implicou?
Quantos bancos foram constituídos sob sua ação? 6
De que modo o(a)s agricultore(a)s participantes do
5
projeto foram selecionados?
Interação dos Você usou algum instrumento para avaliação da
agricultores com os implementação do Programa sob sua coordenação? 7
agentes de Ater
72
O questionário aplicado aos gestores dos bancos comunitários contém duas partes:
uma primeira com 8 questões que visaram o resgate histórico da constituição do banco de
sementes da comunidade e uma segunda com 21 questões abordando características da presença
73
dos diferentes capitais sociais (apêndice 3). A tabela 7 apresenta essas questões à luz dos
respectivos pilares da sustentação teórico-metodológica.
Tabela 7 - Questões sobre capital social e aplicada aos gestores dos bancos comunitários
abordados na pesquisa, 2015.
Pilares da N° da
Sustentação Teórico- Questão questão no
metodológica apêndice 6
Interação entre os Que organizações, entidades, grupos, associações, 8
diferentes atores comunidade e outros, participam juntos na gestão
sociais do BCS?
Por que nem todos participam do BCS? 10
Liberdade democrática Quais as perspectivas para o BCS? 15
(para optar pelo Quando há uma decisão a ser tomada no BCS, 22
futuro) geralmente, como isso acontece?
Como são escolhidos os gestores do BCS? 23
Como se dá a distribuição de sementes neste 11
BCS?
Você acha que após a implantação/entrada do 24
Programa BCSAV o grau de confiança dos
associados melhorou, piorou ou permaneceu mais
Mecanismos de ou menos o mesmo?
cooperação, 14
Quais alternativas e/ou sugestões ajudam a
reciprocidade e
confiança criados comunidade a superar seus problemas?
Como o sr(a) acha que o banco pode contribuir 16
para a melhoria da qualidade de vida dos
agricultores vinculados ao BCS?
Em que aspecto o BCS tem contribuído (ou não) 17
para o fortalecimento dos agricultores?
Quais as principais dificuldades do BCS? 13
Histórico local Quais são os principais gargalos, no tocante a 19
(memoria em comum) sementes em um sistema de produção
agroecológico/orgânico?
Todas as famílias associadas vivem 18
exclusivamente da agricultura? Quais os outros
tipos de ocupação?
Identidade 20
Como uma pessoa passa a ser um membro do
compartilhada
BCS?
Qual é o maior benefício de se fazer parte do 21
BCS?
Histórico de Em sua opinião, com que frequência as pessoas 25
reciprocidade no grupo ligadas a este BCS ajudam umas às outras?
74
Tabela 8 - Questões sobre capital social aplicada aos formuladores do Programa BCSAV e ao
Superintendente Federal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro
abordado na pesquisa, 2015.
N° da N° da
Pilares da Sustentação Questão questão no questão no
Teórico-metodológica apêndice 2 apêndice 3
Mecanismos de cooperação, Como você percebe o Programa
reciprocidade e confiança em termos de participação 19 21
criados social?
Para você o Programa foi capaz
de estimular a confiança,
Interação entre os diferentes reciprocidade e a cooperação
20 22
atores sociais
entre as pessoas e instituições
envolvidas?
Houve após a implantação do
Programa aumento no número
Identidade Compartilhada 21 23
de associações ou cooperativas,
casas de sementes entre outras?
Fonte: Elaboração própria (2015)
indivíduos da população, ou seja, toma-se uma parte desta para a realização do estudo, tem-se
um espaço amostral, a partir da qual pode-se fazer inferências para a população, estimando os
valores para ela desde que sejam guardadas as regras de probabilidade estatística.
Nesta tese, definiu-se, a partir da análise do registro dos bancos comunitários e
familiares constituídos no Rio de Janeiro (apresentados no item 3.2.2 - A seleção dos sujeitos
da pesquisa), os diferentes espaços amostrais para os atores envolvidos na questão.
Assim para determinação desses espaços amostrais foi utilizada uma diretriz
proposta por Little (citado por Fontes et al., 2003) que estabelece tamanhos mínimos de
amostras segundo o tamanho original da população e o rigor estatístico desejado no estudo,
conforme descrito na tabela 9.
2 – 10 100 100 30
11 – 25 100 40 20
26 – 50 50 20 15
51 – 100 25 10 10
101 – 250 15 7 5
251 – 500 10 5 3
501 – 1000 5 3 2
Acima de 1000 2–3 2 1-2
Fonte. Little (citado por Fontes et al., 2003, p.519)
21
Dados fornecidos pela Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado do Rio de
Janeiro (SFA-RJ) na forma de documentos eletrônicos e não publicados.
22
Os agricultores aparecem nominalmente citados apenas na capacitação realizada no ano de 2012. Na listagem
da Superintendência no ano de 2011, interstício entre a primeira e segunda fase do Programa, são relatados apenas
a presença de associações ou cooperativas de agricultores (dados constantes no apêndice 6)
82
Para os quatro grupos amostrais foram aplicadas entrevistas com tópicos abordando
perfis socioeconômicos e motivos e potenciais condicionantes para a formação ou não de banco
familiar ou comunitário de sementes, bem como questões que buscaram explorar características
dos agricultores e ou dos bancos de sementes relativos á geração e fortalecimento de capital
social local (apêndice 1). Como dito, esperou-se obter nesta etapa os atendimentos referentes
aos objetivos específicos 3 e 4 da pesquisa.
83
Janeiro. Foram necessárias várias leituras do material para que se pudesse criar descritores 23 a
partir da análise de conteúdo24 de todos os documentos, foi possível estabelecer uma
historicidade no contexto observado (SANTOS et al., 2001). A partir do observado foram
identificados os responsáveis pelo Programa e ou aqueles que tinham maior inserção nas
atividades visando sua implantação no estado do Rio de Janeiro. Uma leitura criteriosa, pautada
em descritores selecionados, permitiu a reconstituição histórica, além de dar indicativos de
questionamentos que deveriam ser feitos aos entrevistados visando preencher lacunas da
reconstrução histórica e ou dúvidas.
23
Descritores são termos ou palavras-chave que a base de dados utiliza para indexar um artigo sendo que o descritor
confere maior especificidade à busca realizada (POMPEI, 2010, p.1)
24
A análise de conteúdo, segundo Vergara (2005, p.15) “é considerada uma técnica para o tratamento de dados
que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema” (Vergara, 2005, p. 15). Para Bardin
(2011, p.47), o termo designa “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou
não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens”.
85
Inicialmente o contato com os atores da pesquisa era feito por e-mail e ou telefone,
quando uma explicação inicial do propósito da pesquisa era dada, e solicitada então, a
colaboração deixando-os à vontade para optarem para participar ou não da mesma. Após esta
breve explicação era feito o agendamento da entrevista.
Fonte:http://mapasblog.blogspot.com.br/2011/11/mapas-do-estado-do-rio-de-janeiro.html
Acesso em 18/11/2016
25
Na categorização não apriorística, as categorias (classificações) surgiram do contexto das respostas
dos sujeitos da pesquisa. Isto exige um intenso ir e vir ao material analisado além de não perder de vista
o atendimento aos objetivos da pesquisa. (CAMPOS, 2004, p.614)
88
dos diferentes atores sociais. A tabela 12 apresenta as categorias de análise e seus respetivos
temas associados com base nos dados obtidos em campo.
26
O Sphinx Léxica é um software para análise de dados que permite investigar em profundidade entrevistas,
discursos, livros, mensagens, por meio de funções potentes de divisão do texto, de navegação por hipertexto, de
indexação automática e de trechos repetidos, além de possibilitar análise estatística tais como tabulações simples
e cruzadas, análises uni e bivariada e multivariada de dados. Disponível em
http://www.sphinxbrasil.com/produto/versoes-anteriores, acesso em 15/11/2016.
27
Disponível em http://leg.ufpr.br/~silvia/CE055/node25.html, acesso em 15/11/2016.
28
Disponível em http://www.portalaction.com.br/inferencia/intervalo-de-confianca, acesso em
15/11/2016
29
Disponível em
http://www.inf.ufsc.br/~marcelo.menezes.reis/intro.html#O+que+%E9+signific%E2ncia+estat%EDsti
ca+%28n%EDvel-p%29, acesso em 15/11/2016.
91
30
Disponível em http://www.inf.ufsc.br/~marcelo.menezes.reis/intro.html. Acesso em 15/11/2016.
92
A adubação verde é uma prática agrícola antiga, sendo que há mais de 2000 anos
chineses, gregos e romanos já a utilizavam visando o aumento da produção das lavouras
(WUTKE et al., 2010). Trata-se de uma prática que consiste no uso de espécies vegetais,
preferencialmente leguminosas, em rotação ou em consórcio com culturas de interesse
93
do uso de insumos externos utilizados para incremento da fertilidade do solo. (LIMA FILHO
et al., 2014)
Apesar dos benefícios existem limitações para produção em larga escala das
espécies usadas como adubos verdes, segundo Wutke et al. (2010, p. 8-9):
Desconhecimento sobre as características das plantas em determinados sistemas
de produção e das épocas de semeadura mais adequadas;
Pouca divulgação desta prática entre os agricultores;
Pouca informação em tecnologia de produção e em estudos agronômicos,
incluindo-se os de melhoramento genético, havendo poucos cultivares lançados;
Germinação irregular de sementes de adubos verdes, causando falhas no plantio
de dificuldade de manejo das plantas no campo;
Inadequação ou inexistência de equipamentos para semeadura e beneficiamento
das sementes;
Ciclo longo de algumas espécies;
Dificuldades na colheita; e
Não disponibilidade rotineira de sementes ou sementes sem qualidade.
No Brasil, dos fatores acima citados, destacam-se entraves tais como a baixa
disponibilidade de material propagativo e de informações a respeito de suas características,
benefícios e formas de utilização, em especial para agricultores familiares (WUTKE e
AMBROSANO, 2007).
disponibilidade de material propagativo destinando a práticas com o uso e manejo dos adubos
verdes.
No estado do Rio de Janeiro, das 58.482 propriedades cadastradas pelo Censo
Agropecuário de 200631, somente 1.216, aproximadamente 2,08%, declararam utilizar adubos
verdes. Por outro lado, 16.358, aproximadamente 27,97%, utilizavam adubos químicos
nitrogenados e 3.293, aproximadamente 5,63%, não nitrogenados. Nota-se com essas
informações que na época a utilização de adubação verde era pequena e tudo indica que assim
permanece apesar do potencial de ganhos que essa tecnologia apresenta.
Uma das formas de garantir a oferta destas sementes são os Bancos Comunitários
de Sementes, que podem ser organizados por um agricultor ou grupos de agricultores. Nesse
caso, em parte da área plantada são colhidas sementes que serão utilizadas nos anos seguintes
sem que haja necessidade de novas compras. As espécies usadas como adubos verdes podem
ser incorporadas ao solo, mantidas em cobertura na sua superfície ou cultivadas até a colheita
das sementes garantindo-as para o ano seguinte, ou mesmo fornecendo renda extra para o
agricultor quando colocadas à venda (WUTKE e AMBROSANO,2007).
Segundo VOGT et al. (2012)
[...] cabe ao Estado suprir essas lacunas criando meios para que, em parceria
com diferentes segmentos da sociedade, seja viabilizado o acesso dos
produtores de insumos e às técnicas apropriadas à agricultura orgânica como
é o caso da adubação verde [...] por meio de políticas públicas não
assistencialistas e estratégicas que promovam a organização e a participação
ativa dos agricultores como é o caso do Banco Comunitário de Sementes.
(VOGT et al., 2012, p. 53)
31
Disponível em
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/2006/agropecuario.pdf
acesso em 13/08/2014.
96
implantação de um programa deste tipo: fomentar o uso do adubo verde como alternativa
interessante para a agricultura orgânica e suprir a falta de material genético (sementes) para
fomento do seu uso.
[...] duas motivações: uma delas a falta de material genético apropriado para
sistemas orgânicos de produção [...] , e a outra também muito importante, era
motivada pelo pessoal da Embrapa-Agrobiologia, principalmente Dejair32. A
gente conversava muito sobre essa questão, porque se usava tão pouco os
adubos verdes, [...] porque que a agricultura utiliza tão pouco essa tecnologia,
[...] (R.P.D, Coordenador da Câmara de Agricultura do Mapa, 13/02/2015,
Brasília, DF)
Este processo começou aqui no Rio com o Dejair1 a partir de uma sugestão
dada para o Rogerio Dias33 para que fosse criada um programa de bancos para
que fortalecesse a nível de Brasil a utilização das sementes de adubação verde.
Foi em um encontro que reuniu o Rogério e o Paulo Petersen34 que se pensou
em ter um programa que facilitasse a vulgarização da adubação verde. Depois
veio a ideia de amplia-lo para além dos limites da adubação verde. No segundo
ciclo entraram as alimentícias. (J.G.M.G, formulador do Programa,
16/09/2016, Seropédica, RJ)
[...] porque que a adubação verde não emplaca? Você tem vários trabalhos,
tem várias coisas e não vai [...] porque a semente é cara, não existe semente.
[...] então o Rogério3² teve aquela brilhante ideia de ser algo governamental,
de pegar isso como institucional para fomentar o uso dessas espécies, porque
você estaria dando insumo para o agricultor e diminuindo a dependência por
insumos externos [...]. (A.S.S, Superintendente Federal de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento do Rio de Janeiro, Executor do Programa,
02/02/2015, Rio de Janeiro, RJ)
32
Dejair Lopes de Almeida, pesquisador aposentado da Embrapa Agrobiologia.
33
Rogério Dias, coordenador da Câmara Temática de Agricultura Orgânica do Mapa.
34
Paulo Petersen, coordenador executivo da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa
(As-pta).
97
[...] a questão dos bancos serem comunitários era dentro de uma lógica; nós
precisamos dar aos agricultores aquilo que eles precisam produzir, eles tem
que ficar com a possibilidade de não ter que comprar. O adubo verde é uma
situação clara disso, se eu tiver semente de adubo verde eu posso todo ano
fazer adubação verde, guardar uma parcela pra poder ter semente e usar no
outro ano [...] e ai eu vou reduzir a dependência. [...] então assim a questão do
banco comunitário era fundamentalmente, por pela questão de reduzir a
dependência de insumos externos”. (R.P.D, Coordenador da Câmara de
Agricultura do Mapa, 13/02/2015, Brasília)
No Brasil a criação do programa foi fortalecida pelo fato do País ser signatário do
Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura (Tirfaa)
que entre outros pontos, visa a conservação e uso adequado dos recursos fitogenéticos por meio
de várias ações.
O artigo 5° do Tirfaa aponta que
Cada Parte Contratante, sob reserva da sua legislação nacional e em
colaboração com outras Partes Contratantes, [...], promoverá uma abordagem
integrada da prospecção, conservação e utilização sustentável dos recursos
fitogenéticos para a alimentação e a agricultura, devendo, [...]c) Promover ou
apoiar, conforme o caso, os esforços dos agricultores e das comunidades locais
99
O programa teve em sua primeira fase (2007 a 2010) o objetivo geral de “fomentar
a menor dependência de insumos externos com o uso de espécies de adubos verdes pelos
agricultores” (MAPA, 2007). Nesta fase os objetivos específicos foram (MAPA, 2007):
Produzir, multiplicar e disponibilizar sementes de espécies utilizadas para
adubação verde;
Estimular o armazenamento e intercâmbio de sementes de espécies de adubos
verdes e outras de interesse dos agricultores beneficiários;
Produzir materiais instrucionais e informativos sobre adubação verde,
organização e gestão de bancos comunitários de sementes;
35
As informações aqui descritas foram extraídas do Projeto Básico do Banco Comunitário de Sementes
de Adubos Verdes, cedidos pelo Mapa (anexos 1 e 2) e de entrevistas com a superintendente do Mapa
no Rio de Janeiro (A.S.S., engenheira agrônoma, 02/02/2015, Rio de Janeiro).
100
36
Os beneficiários desta etapa (2007-2010) eram os agricultores familiares inseridos em sistemas
orgânicos de produção, em processo de transição agroecológica ou com potencial para transição
agroecológica. (Informação obtida no “Termo de Compromisso do Agricultor”, documento do Mapa
disponível no Anexo 3).
101
Técnica e Extensão Rural (Ater) quanto por agricultores, aumentando as chances de uma boa
colheita e maior produtividade.
Foram capacitados agricultores multiplicadores e técnicos de Ater para trabalharem
com agricultores sobre o uso dos adubos verdes e multiplicação das sementes visando a
disponibilização e distribuição destas aos grupos de agricultores. Nessa perspectiva esses
agricultores passaram a ser multiplicadores e detentores do seu material levando-os a ter
autonomia em termos deste insumo.
Segundo a lógica do Programa os grupos de agricultores interessados entravam em
contato com a CPOrg, na Superintendência Federal de Agricultura de seu estado, e onde a
adesão era avaliada e planejada. A partir daí, começava o curso de capacitação com a
distribuição de cartilhas sobre adubação verde e sobre as sementes que seriam utilizadas no
primeiro plantio.
Nesta primeira fase do programa (2007-2010) os agricultores e entidades
representantes assinavam o “Termo de Compromisso”37 (anexo 3) de produzir a partir das
sementes que recebiam para a formação dos bancos familiares ou comunitários, restituindo ao
mesmo, a quantidade emprestada adicionada de mais uma parcela de sementes, vulgarmente
chamada de juros. Com os “juros” aplicados aos volumes emprestados, era possível aumentar
o número de beneficiados, a quantidade emprestada por família e, até, o número de cultivares
disponíveis para a troca. Os agricultores beneficiados recebiam uma quantidade máxima de 10
kg de sementes por solicitação com cópia do atestado de origem genética das mesmas.
No ano de 2008 sete Unidades da Federação aderiram ao Programa: Pará,
Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Neste ano
foram incentivados o uso e intercâmbio de sementes de crotalária, mucuna e feijão guandu,
tipos de leguminosas mais populares e com maior capacidade de adaptação a diferentes
condições de solo e clima.
No ano de 2009 o Programa foi ampliado, incluindo os estados de Santa Catarina,
Acre, Paraíba, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Tocantins, além do Distrito Federal,
totalizando naquele ano, 14 Unidades da Federação participantes.
37
Termo de Compromisso era um documento informal firmado entre o Mapa via Superintendência
Federal de Agricultura e os agricultores ou entidades (agências de assistência técnica, casas de sementes
e organizações de agricultores) no qual ficavam explicitados os critérios e procedimentos para
distribuição e uso de sementes de adubos verdes a serem disponibilizadas pelo programa BCSAV.
102
Nesta etapa os maiores desafios eram gerenciais e técnicos, tais como a produção
de sementes de adubos verdes e a organização das comunidades para a formação e
gerenciamento dos bancos de sementes.
Em sua segunda fase (2012 a 2015) o Programa ampliou sua dimensão visando
“promover a segurança e a soberania alimentar e nutricional [...] e os princípios e práticas
agroecológicas por meio da Adubação Verde” (MAPA, 2012). Nesta fase os objetivos
específicos eram (MAPA, 2012):
Facilitar o acesso e fomentar o intercâmbio de sementes de espécies utilizadas
para adubação verde, variedades crioulas ou locais e espécies florestais nativas;
Estimular a organização e a troca de experiências entre os grupos de agricultores
para o incremento e conservação de recursos genéticos e da agrobiodiversidade;
e
Construir e socializar conhecimentos entre técnicos e agricultores para a adoção
de produtos e processos apropriados a agricultura orgânica e para o
conhecimento dos princípios da agroecologia.
A implementação da segunda fase foi estruturada em cinco etapas:
Etapa 1: divulgação e avaliação da proposta do Programa pela Unidades da
Federação por meio das CPOrgs; seleção de entidades participantes; criação e
formalização do grupo gestor.
Etapa 2: seleção dos grupos de agricultores participantes, definição de
estratégias para aquisição e distribuição das sementes e capacitação de
multiplicadores.
Etapa3: distribuição de sementes e orientação aos grupos de agricultores pelos
multiplicadores.
Etapa 4: fortalecimento e acompanhamento dos grupos de agricultores
participantes e estímulo à formação de redes de intercambio de experiências e
troca de sementes.
Etapa 5: avaliação dos resultados e eventual adequação para alcance das metas
e dos objetivos do Programa.
103
Nota-se que a primeira fase do Programa tinha a meta de difundir a adubação verde
como alternativa aos adubos químicos. Já a segunda fase apresentou como meta ter até 2015,
oitocentos bancos de sementes (comunitários ou familiares) operando com espécies vegetais
usadas em adubação verde, variedades crioulas ou locais e espécies florestais nativas. Ademais
diferentemente da primeira, a segunda fase estabeleceu um procedimento de acompanhamento
do Programa mediante indicadores de desempenho tais como número de bancos constituídos
(tanto familiares quanto comunitários), número de famílias de agricultores participantes e
municípios participantes. Estas mudanças entre a concepção das fases parecem evidenciar uma
resposta às demandas dos agricultores por sementes no campo, onde a necessidade de sementes
alimentícias torna-se mais significativa do que a de sementes de adubos verdes.
[...] boa parte dessa parceria institucional é uma parceria pessoal, assim não
é de fato um compromisso da instituição, é um compromisso de pessoas que
estão naquela instituição, isso ainda é a realidade pra quase tudo que acontece,
quer dizer, você funciona se as pessoas que estão envolvidas são pessoas
comprometidas, assim ainda, porque ás vezes acontece o contrário, você tem
um compromisso institucional e nada acontece, porque as pessoas da
instituição é que tem que operar não estão convencidas e de fato não
participam. [...] temos que descobrir quem são pessoas que são sensíveis
àquilo para gente poder trabalhar com aquela pessoa, buscar que aquelas
pessoas se envolvam. [...] o ideal é quando a gente consegue ter as pessoas e
ter o compromisso formal e institucional, [...] então o ideal é quando a gente
104
38
Disponível em http://www.cnpab.embrapa.br/oficina-de-adubos acesso em 25/04/2013 as 11:38
105
250 273
229
200
150
148
100
81 81
50
44
0
2008 2009 2010
41
Para fins desta pesquisa considerou-se o indivíduo apenas uma vez independentemente do número de
capacitações da temática que ele tenha participado.
109
[...] isso aconteceu em alguns locais e foi algo que a princípio não estava no
projeto mas funcionou; é muito aquela história da situação de cada região [...]
a gente utiliza o potencial dos institutos federais [...] que geralmente eles têm
áreas e condição de fazer produção, têm material, têm a capacidade técnica,
por terem professores e tudo mais; então a gente tem uma expectativa de
110
Porciúncula é uma cidade com área de 291.054 km² de unidade territorial e onde,
em 2016, os estabelecimentos agropecuários totalizavam 20.635 ha: destes 18.038 ha são terras
de proprietários. As lavouras somavam 1.096 ha de área plantada com forrageiras para corte
(destinadas ao corte e uso na alimentação de animais), 3.497ha com plantações permanente e
706 ha com lavouras temporárias. Havia 1.320 estabelecimentos agropecuários, sendo 1.032 de
lavouras permanentes e 130 de lavouras temporárias. Destacavam-se o café, como a lavoura
permanente mais expressiva, totalizando 973 estabelecimentos com mais de 50 pés existente.
A lavoura temporária de maior expressão é a de milho em grão com 132 estabelecimentos
agropecuários.42
Naquela região havia em 2007 um grupo de agricultores em transição agroecológica
que já faziam uso de adubação verde e estavam tendo muita dificuldade em conseguir sementes.
Este grupo, inicialmente composto de 8 produtores envolvidos com o banco, entre gestores e
agricultores, se reunia mensalmente na Associação Comunitária dos Produtores Orgânicos de
Purilândia, a qual era vinculado à Associação de Desenvolvimento Comunitário em Purilândia
– Aspur. Foi a partir destes encontros e como o incentivo do Programa Banco Comunitário de
Sementes de Adubos Verdes, que fornecida sementes e orientações de produção e
armazenamento que foi possível a formação do banco comunitário de adubos verdes.
Por cerca de cinco anos o banco foi mantido graças ao empenho pessoal do seu
atual guardião que na época atuava como facilitador, multiplicador, e respondia pelo banco. O
funcionamento do banco consistia em empréstimo de sementes seguida de devolução em dobro
das espécies emprestadas. O controle do estoque de sementes do banco era feito pelo gestor e
pela secretaria da Aspur, sendo que para o registro dos empréstimos se utilizava o modelo de
cadastro de agricultores proposto pelo Mapa. Todos podiam tirar sementes, mas não se
motivavam, sendo que para o gestor do banco isto poderia estar atrelado à pouca divulgação do
Programa e do benefício da adubação verde.
As variedades para serem mantidas no banco foram escolhidas por conta de sua
multifuncionalidade, isto é, servirem como adubos verdes e forrageiros além de fazerem parte
da alimentação e da cultura local. As espécies em questão que melhor se adaptaram na região
foram Crotalaria juncea, Crotalaria spectabilis, guandu, feijão de porco, mucuna cinza e preta,
stilosantis mineirão e galáxia.
42
IBGE, Censo agropecuário 2006. Para maiores detalhes consulte
http://www.cidades.ibge.gov.br/v3/cidades/municipio/3304102/pesquisa/24/2006, acesso em
06/02/2017
116
43
O projeto Pais é uma tecnologia social que representa uma nova alternativa de trabalho e renda para
a agricultura familiar. Pode ser usado por todos os produtores rurais que queiram melhorar a qualidade
de produção, visando possibilitar o cultivo de diversas hortaliças, frutas, cereais e plantas medicinais e
fitoterápicas mais saudáveis para o consumo das famílias e para comercialização. Seu objetivo é
estimular a formação de núcleos produtivos para promover interações e troca de experiências.
(SEBRAE, 2017). Disponível em
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ms/sebraeaz/projeto-pais-producao-agroecologica-
integrada-e-sustentavel,6cb5f2cd2f3a9410VgnVCM2000003c74010aRCRD , acesso em 17/01/2017.
44
O Programa Rio Rural tem como desafio a melhoria da qualidade de vida no campo, conciliando o
aumento da renda do produtor rural com a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. Para
atingir este objetivo, desenvolve uma estratégia de ação com as comunidades que vivem nas microbacias
hidrográficas, espaços geográficos delimitados pela rede hídrica (nascentes, córregos, rios, aquíferos
etc.). O programa incentiva a adoção de sistemas produtivos sustentáveis, com técnicas mais eficientes
e ambientalmente adequadas. Até 2018, serão investidos US$ 233 milhões em ações de
desenvolvimento, beneficiando 48 mil agricultores familiares residentes em 366 microbacias de 72
municípios. Disponível em http://www.microbacias.rj.gov.br/pt/rio-rural, acesso em 17/01/2017.
117
formação de bancos comunitários está no acesso dos agricultores familiares a sementes que o
mercado não disponibiliza e na possibilidade de redução de despesas na aquisição deste insumo.
A expectativa para o Banco é muito boa [...]. A expectativa nossa é que eles
se desenvolvam, busquem parcerias, trabalhando diretamente em práticas que
o Rio Rural apoia dentro da cadeia do orgânico. (J.S.M.V., consultor técnico,
08/04/2015, Seropédica).
45
IBGE, Censo agropecuário 2006. Para maiores detalhes consulte
http://www.cidades.ibge.gov.br/v3/cidades/municipio/3305802/pesquisa/24/2006, acesso em
06/02/2017.
46
Para maiores detalhes sobre os objetivos da ATT ver:
http://feiraagroecologicateresopolis.blogspot.com.br/p/a-associacao.html acesso em 05/01/2016 as
23:24hs
47
Para maiores detalhes sobre a troca de sementes da ATT ver:
http://feiraagroecologicateresopolis.blogspot.com.br/p/atividades-mensais.html acesso em 05/01/2016
as 23:24hs
48
O guardião de sementes da Associação Agroecológica de Teresópolis é engenheiro agrônomo formado
na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
119
49
Documentos cedidos pela MAPA.
120
financeira privada, entretanto, depois que o recurso acabou, a dinâmica de manutenção das
práticas de guarda e troca que ocorriam no banco ficou dificultada.
Outro ponto destacado é que além da necessidade de recursos financeiros existia
uma demanda por recursos humanos, visto que na visão do guardião, além da guarda de
sementes e troca entre os agricultores, há a necessidade da multiplicação das mesmas, o que
dificulta ao guardião a pratica diária da agricultura.
A gente também tem que vender nossos produtos e não tem ninguém para
cuidar daquilo ali. A gente leva um esforço de sobrevivência para manter o
banco dentro do ambiente de Agricultura Orgânica. (R.A.S., engenheiro
agrônomo, 14/12/2015, Teresópolis, RJ).
A gente não tem como receber sementes diversas e ficar testando para trocar
ou não. Mas a gente também não quer pegar uma semente qualquer e levar
para a feira de troca. As sementes chegam nas mais diferentes condições. Aí
você chega em um sábado recebe a semente e já criou uma grande demanda
de trabalho em um ambiente com n demandas. As vezes ela [semente]vem
com excesso de umidade e se não acudir logo a gente perde o material e a
gente não tem como fazer isso. As sementes que as pessoas trazem vem em
más condições, sem registro, é uma bomba de serviços. Todos os trabalhos do
banco são pequenos, mas constantes, como uma roça. Acontece que entra no
fluxo de demandas do trabalho com tudo que a gente trabalha no limite da
sobrevivência que não tem sobra. (R.A.S., engenheiro agrônomo, 14/12/2015,
Teresópolis, RJ).
Diante do apresentado, para o guardião do banco uma solução seria cada agricultor
especializar-se em uma espécie e multiplicar, armazenar e disponibilizar aquela semente. Para
ele “ [...] a saída é cada produtor que trabalha bem uma variedade ele fica responsável por cuidar
da variedade e guardar. Aí tem um cadastro e quando o outro precisa vai lá. Aí faz o acesso
com a pessoa que fez a doação” (R.A.S., engenheiro agrônomo, 14/12/2015, Teresópolis, RJ).
ha com plantações permanentes e 1.347 ha com lavouras temporárias. Havia no município 370
estabelecimentos agropecuários sendo que 177 unidades eram de lavouras permanentes e 136
unidades de lavouras temporárias. Destacavam-se a banana e a laranja, como as lavouras
permanentes mais expressivas totalizando 79 e 32 estabelecimentos agropecuários com mais de
50 pés existente respectivamente. A lavoura temporária de maior expressão era a de mandioca
com 94 estabelecimentos agropecuários.50
Visando valorizar as sementes tradicionais da região, bem como a identidade da
cultura caipira, o coletivo de jovens chamado Escola da Mata Atlântica - cujas atividades
vinham desde 2005 registrando saberes nativos e criando espaços para o intercâmbio de
conhecimentos – resolveu, em 2007, construir um banco de sementes crioulas no povoado de
Aldeia Velha em Silva Jardim (MAYA, 2014). Desta forma o Banco Comunitário de Sementes
intitulado Casa de Sementes Livres de Mata Atlântica não foi formado a partir do programa
BCSAV.
O objetivo inicial de construir um banco de sementes crioulas com grandes estoques
de sementes disponíveis foi pouco a pouco se transformando para dar lugar a um projeto que
primasse mais pela qualidade do que pela quantidade de sementes. Foram muitas as dificuldades
na obtenção de apoio financeiro por conta da conjuntura desfavorável em nível nacional e local
para um projeto que envolvesse sementes crioulas. Assim, segundo o relatado pela gestora da
casa de sementes, optou-se que ao invés de procurar desenvolver um trabalho com foco nos
agricultores, o que seria dispendioso pelo número de visitas de campo, o coletivo aproveitaria
sua inserção em um ambiente educacional e direcionaria cada vez mais seu trabalho às crianças
e jovens da comunidade, operando de forma transversal no currículo escolar. O termo banco já
não fazia tanto sentido e o coletivo fundador associou a experiência como um local também
para pensar, discutir e sonhar livremente. Nasceu o nome que ficou até hoje: Casa das Sementes
Livres.
Em 2015, ano de realização da pesquisa, a Casa de Sementes Livres era composta
por cerca de dez agricultores envolvidos com a temática da agroecologia, um mestre griô51 e
50
IBGE, Censo agropecuário 2006. Para maiores detalhes consulte
http://www.cidades.ibge.gov.br/v3/cidades/municipio/3305604/pesquisa/24/2006, acesso em
06/02/2017.
51
De 2010 em diante, o coletivo implementou a pedagogia Griô para o funcionamento da Casa,
remunerando um antigo agricultor local, hoje identificado à Agroecologia, para dar as aulas semanais,
horário que foi garantido na grade curricular da turma do 5º ano. A pedagogia Griô busca a inserção da
tradição oral e de conhecimentos não-formais em espaços formais de aprendizagem (MAYA, 2014)
mediante a transmissão oral nas diferentes comunidades para manter a tradição local. O conceito surgiu
da Ação Griô, que tem como objetivo a valorização dos mestres e mestras portadores dos saberes e
123
Figura 08 - Casa de Sementes livres e local de armazenamento das sementes, Silva Jardim, RJ,
2015
Eu sempre dou sementes para pessoas que sempre plantam, pois, as sementes
são preciosas. Se ela quer experimentar ela que compre. Eu não gero
expectativas. Aqui dou a semente, anoto direitinho, e fico esperando que ela
devolva. Eu tento monitorar. Em via geral em tudo em tento não ter
expectativa, sem cobrança. (C.H.N.S., cientista social, gestor da casa de
sementes livres, 27/05/ 2015, Aldeia Velha, RJ)
fazeres da cultura oral, os chamados griôs, e o fomento da transmissão desta tradição. Para maiores
detalhes sobre a pedagogia Griô consulte
http://www.blogeducacao.org.br/2012/11/pedagogia-grio-conceito-promete-reinterpretar-o-estudo-
tradicional-nas-escolas/, acesso em 24/01/2017.
124
Uma das principais dificuldades apontadas pelo gestor foi a obtenção de recursos
financeiros para a manutenção da Casa, visto que esta depende de fomentos oriundos de
projetos de extensão. O Programa BCSAV previu apenas a distribuição de sementes, o que para
o gestor da Casa de Sementes Livres não foi suficiente para a manutenção das sementes no
banco. Segundo ele seriam necessários recursos financeiros para manter tanto a estrutura da
casa de sementes quanto o agricultor guardião, visto que parte do tempo deste seria destinado
a produção de sementes e controle do banco.
A gente tem dificuldade em manter o banco. São usados contatos pessoais que
garantem algo. (Precisa...) dar bolsa para o agricultor para ele acompanhar o
processo. Pois para se trabalhar com a capacitação ele tem que deixar sua
labuta. [...] a gente trabalha na base do convencimento e da troca. (C.H.N.S.,
cientista social, gestor da casa de sementes livres, 27/05/ 2015, Aldeia Velha,
RJ)
Há três casas de sementes: Tangua, Cachoeiras e São Gonçalo [...] que estão
associados a três pessoas. [...] Os bancos foram formados a partir da minha
identificação dos produtores que tinham vocação e a disponibilidades deles
em multiplicar. Começou antes do programa de governo. Eu só reforcei com
as sementes que eram disponilizadas para a gente. Até então se tinha a
crotalaria, feijão de porco). Com novas sementes e maior variedade de
sementes, a gente pode trabalhar melhor. (J.R.M.V., engenheiro agrônomo,
18/08/2015, Cachoeiras de Macacu, RJ)
52
IBGE, Censo agropecuário 2006. Para maiores detalhes consulte
http://www.cidades.ibge.gov.br/v3/cidades/municipio/3305802/pesquisa/24/2006, acesso em
06/02/2017.
126
Neste item são apresentados os atores sociais do Programa BCSAV estudados nesta
pesquisa de tese, agricultores familiares, técnicos multiplicadores, gestores dos bancos
comunitários de sementes e formuladores do Programa.
Metropolitana 1 1 0 1 1 4 2 0 2 1
Centro Sul 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1
Médio Paraíba
2 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Serrana 0 0 0 0 1 3 0 0 0 0
Lagos 0 0 0 0 0 0 0 1 2 0
Total 3 1 0 1 2 8 3 1 4 2
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
J.F. 48,0
L.V.C. 22,0
R.S.F. 4,8
C.H.S. 122,0
G.A.N. 9,0
L.C.O. 11,0
L.T. 9,0
O.F. 24
R.M. 6,0
N.C. 10,0
F.L.O. 4,3
F.G.L. 4,7
R.S. 3,0
M.L.B. 10,0
C.J.A. 4,0
J.C.S. 4,0
J.A.C.F. 2,0
C.J.A.M. 11,0
J.T.S. 6,3
D.L.S. 5,0
J.C.P. 3,0
Fonte: Dados da pesquisa (2016)
Com relação à posse da terra, os resultados mostram que 56% dos entrevistados
(14) apresentavam documento de posse outorgado pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra), 36% (9) tinham escritura definitiva de propriedade e apenas 8% (2)
eram posseiros sem documentação.
Do total dos agricultores entrevistados, 44% (11) disseram ser as atividades
agrícolas a única fonte de renda da família. Quatorze entrevistados declararam possuir outra
fonte de renda, sendo que destes 10 recebiam aposentadoria, que ajudava na manutenção das
130
53
Valor do salário mínimo considerado nesta pesquisa foi de R$ 880,00 no ano de 2016. Disponível
em http://salariominimo2016.blog.br/, acesso em 10/01/2017.
131
extensionistas e os agricultores uma dialogicidade para que aprendam um com o outro dentro
de um enfoque pedagógico construtivista e crítico-reflexivo. A tabela 24 apresenta a frequência
da escolaridade e a relação entre escolaridade e tempo de serviço respectivamente.
Tabela 24 - Nível de escolaridade em relação ao tempo (em anos) de serviço dos agentes
multiplicadores do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e
números absolutos nos parênteses, 2015/2016.
Tempo/ 0-10 11-20 21-30 31-40 TOTAL
Escolaridade
Superior Completo 8,3% ( 1) 25,0% ( 3) 33,3% ( 4) 33,3% ( 4) 100% (12)
Técnico Agrícola 20,0% ( 1) 40,0% ( 2) 20,0% ( 1) 20,0% ( 1) 100% ( 5)
Médio Completo 0,0% ( 0) 0,0% ( 0) 0,0% ( 0) 100% ( 1) 100% ( 1)
TOTAL 11,1% ( 2) 27,8% ( 5) 27,8% ( 5) 33,3% ( 6) 100% (18)
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=6 = 3,25 e p=77,69%
54
Relatório da Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio de Janeiro
(Mapa) não publicado e cedido pela superintendente durante a entrevista realizada no Rio de Janeiro,
RJ, em 02 de fevereiro de 2015.
135
A gente não tem estrutura pra ser tantas pessoas [...] então o que a gente fez é
assim: técnico e os agricultores que [...] vão transmitir o conhecimento, vão
absorver o conhecimento e geralmente é assim que faz [...]. (A.S.S.,
Superintendente Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio de
Janeiro, Executor do Programa, 02/02/2015, Rio de Janeiro, RJ).
55
Ailena Sudo Salgado, engenheira agrônoma e funcionária do Ministério de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) na área de Certificação e Auditoria de Qualidade Orgânica.
137
Outra motivação apontada foi a possibilidade do uso da adubação verde como uma
prática adequada para o manejo agroecológico e orgânico das culturas. Um dos grandes
gargalos para o uso da adubação verde no Brasil está no manejo da cultura e na disponibilidade
de sementes (J.G.M.G., engenheiro agrônomo, 16 setembro de 2016, Seropédica, RJ).
Entretanto, enquanto a produção de sementes de adubos verdes não é atrativa para o setor
privado, e quando disponível apresenta preços muito elevados, inacessíveis a maioria dos
produtores, os benefícios da adubação verde são reconhecidos pelos agricultores e vão da
melhoria da fertilidade do solo a melhor de cobertura do mesmo. Para F.G.L. “[...] mediante a
análise do solo da propriedade percebi que ele era deficiente em nitrogênio. Logo me interessou
utilizar adubação verde para melhorar a quantidade do nutriente no solo.” (F.G.L., agricultor,
25/04/2016, Seropédica, RJ).
A orientação para a montagem de bancos comunitários e o manejo da adubação
verde foi dada pelos agentes multiplicadores vinculados ao Programa. Conforme descrito
139
anteriormente, muitos são os benefícios reconhecidos do uso de adubação verde entre os quais
o aumento do teor de matéria orgânica e a disponibilidade de água e nutrientes e redução do
uso de insumos externos utilizados para incremento da fertilidade do solo. Entretanto muitas
são as limitações para a produção em larga escala das espécies usadas como adubos verdes, o
que demanda cuidados técnicos relativos ao manejo da cultura. Quando questionados se
receberam orientação e auxílio efetivo para manejo do Adubo Verde em campo, 68% (17) dos
25 agricultores entrevistados afirmaram ter recebido em um nível de significância de 7,19%,
isto é com 92,89% de certeza do resultado não ter ocorrido por acaso. Destaca-se ser a Emater-
Rio responsável por 85% desta Assistência Técnica, considerando os multiplicadores
entrevistados. A tabela 26 correlaciona a instituição de vinculação do multiplicador com o fato
do agricultor receber assistência técnica.
4.4.2 Multiplicadores:
[...] a gente já tinha começado a trabalhar com adubação verde e a gente tinha
dificuldade em conseguir semente. E aí começamos...tinha um grupo de
142
Para que possa ocorrer o estabelecimento de uma agricultura sustentável com base
nos princípios da agroecologia deve-se ter como ponto de partida a capacitação de agentes de
Ater pautados em processos educativos voltados para o crescimento do ser humano como
cidadão. (BRASIL, 2004).
O sucesso ou o fracasso de uma ação no meio social pode ser avaliado através de
informações levantadas em campo que podem possibilitar ao gestor a tomada de decisões. Neste
contexto buscou-se levantar em campo dados que possibilitassem avaliar, através da percepção
145
Não acho que tenha um custo. O problema é que tenho dificuldade em plantar
o adubo verde, porque a hora do trator aqui é muito cara (120 reais/hora) e o
tratorista não trabalha assim 6 horas por hectare, que seria um padrão tranquilo
56
Para o agricultor, este custo representa o quanto ele deixa ganhar ao ocupar a terra com adubo verde ao invés de
uma cultura comercial.
146
sem correr e sem “moleirar”. Aqui o cara faz 12, 13 horas por hectare aí
ninguém aguenta pagar o trator. Se for preparar a terra, para plantar o adubo
verde , para depois passar trator de novo aí você não aguenta. (F.L.O.,
agricultor, 25/04/2016, Seropédica, RJ)
Hoje eu vejo que não seria nem custo, teria que ter um ambiente para as
sementes, que não tivesse muita oscilação de temperatura. E a mão de obra
também é um problema. Qualquer produtor reclama isso. Não é que ele não
queira trabalhar com leguminosas, é a mão de obra ou às vezes a terra é
pequena e às vezes até o consórcio fica complicado. Por exemplo, se você
plantar agora um milho com feijão de porco, adeus milho porque o feijão vai
sugar tudo. Então qualquer produtor que você for, vai cair nessa questão de
mão de obra, de disponibilidade de terra. (F.G.L., agricultor, 25/04/2016,
Seropédica, RJ)
Com certeza a qualidade do solo. No meu caso que tinha o solo totalmente
destruído, melhorou em torno de 80%. Além plantar eu usava como cobertura
morta, colocava as folhas para cobrir o solo. (L.T., agricultora, 06/11/2015,
São Gonçalo, RJ)
Tabela 29 - Correlação entre a multiplicação das sementes de adubos verdes, aumento de uso e
observação de mudanças nas propriedades rurais devido ao Programa BCSAV no estado do Rio
de Janeiro, 2015/2016.
Reprodução dos AV Mudanças na propriedade Uso de AV aumentou
sim (20) sim (17) não (3) sim (16) não (4)
não (5) não (3) sim (2) não (3) sim (2)
CONJUNTO (25) sim (19) não (6) sim (18) não (7)
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016).
Por que o programa funcionou no meu caso? Por que a gente tinha
facilidade da semente chegar lá, com o Zé Guilherme57 sempre indo
para lá, eu vindo aqui leva-la, ele indo para lá, levava. Então os lugares
onde a Embrapa já tinha um trabalho facilitava a logística que foi
definitiva. (E.L.C.F., engenheiro agrônomo, 08/04/2015, Seropédica,
RJ)
57
José Guilherme Marinho Guerra, pesquisador de Agricultura Orgânica na Embrapa Agrobiologia.
148
58
No contexto desta tese admitir-se-á a presença de diferentes capitais, isto é, diferentes recursos que
possibilitam a implementação do Programa, tais como capital financeiro, que se refere aos ativos com
grau de liquidez, isto é conversíveis em dinheiro; capital humano que se refere aos recursos humanos
com diferentes capacidades, conhecimentos, competência; capital logístico que se refere a todos os
materiais necessários e disponíveis para o planejamento adequado de sua implantação, tais como, por
exemplo, as sementes que foram disponibilizadas.
149
Com a disponibilização dos recursos para a implantação do BCSAV, foi feita pelos
multiplicadores a seleção dos agricultores que seriam beneficiados. Durante as entrevistas, os
multiplicadores afirmaram que a seleção foi feita de três maneiras distintas: ou pela própria
comunidade que apontou quem seriam os beneficiados, ou pelo comprometimento pessoal que
o agricultor tinha com a melhoria da sua propriedade e da sua produção ou pelo vínculo do
agricultor com a temática da agricultura orgânica e agroecológica. A escolha de um dos critérios
foi feita a partir da experiência profissional de cada multiplicador envolvido na implementação
do Programa.
A análise estatística demonstrou que a diferença das frequências entre a “Seleção
pela comunidade” e “Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia” é pouco significativa
com índice de confiabilidade de 94,22%, de probabilidade deste resultado ser encontrado em
outras amostras da mesma população.
O mesmo verifica-se quando se compara a “Seleção pela comunidade” com o
“Comprometimento do Agricultor com a melhoria da propriedade” onde o índice de
confiabilidade foi de 87,56% de probabilidade deste resultado ser encontrado em outras
amostras da mesma população. Destaca-se que não há diferença significativa entre o
“Comprometimento do Agricultor com a melhoria da propriedade” e o “Vínculo com
Agricultura Orgânica e Agroecologia”. A tabela 30 apresenta as frequências de ocorrência dos
critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores.
Tabela 30 - Critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores para seleção dos
agricultores a serem beneficiados pelo Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em
números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.
Critérios de seleção Frequência Intervalos de Confiança
Seleção pela comunidade 3 (16,7%) 0,0% < 16,7 < 33,9%
Comprometimento do agricultor com 7 (38,9%) 16,4% < 38,9 < 61,4%
a melhoria da propriedade
Vínculo com AO e Agroecologia 8 (44,4%) 21,5% < 44,4 < 67,4%
TOTAL 18
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=2 = 2,33 e p=31,14%
Tabela 31 - Interação entre critério para seleção dos agricultores a serem beneficiados pelo
Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro e ação do extensionista no estado do Rio de
Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos parênteses, 2015/2016.
Atuação como extensionista
Critério de seleção Total
Sim Não
Seleção pela comunidade 66,7% ( 2) 33,3% ( 1) 100% (3)
Comprometimento do agricultor com a
42,9% ( 3) 57,1% ( 4) 100% (7)
melhoria da propriedade
Vínculo com AO e Agroecologia 75,0% ( 6) 25,0% ( 2) 100% (8)
TOTAL 61,1% (11) 38,9% ( 7) 100% (18)
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015) onde 𝜒𝐺𝐿=2 = 2,33 e p=43,39%
Tabela 32 - Critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores para seleção dos
agricultores a serem beneficiados pelo Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro em
relação ao tempo de serviço, onde os números em parênteses indicam o número de
multiplicadores envolvidos no critério, 2015/2016.
Tempo de CRITÉRIOS DE SELEÇÃO
serviço
0-10 (2) Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia (1)
Comprometimento do agricultor com a melhoria da propriedade (1)
11-20 (5) Seleção pela comunidade (1)
Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia (1)
Comprometimento do agricultor com a melhoria da propriedade (3)
21-30 (5) Seleção pela comunidade (2)
Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia (2)
Comprometimento do agricultor com a melhoria da propriedade (1)
31-40 (6) Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia (4)
Comprometimento do agricultor com a melhoria da propriedade (2)
Fonte: Dados da pesquisa, 2015-2016.
Foi perguntado aos multiplicadores se estes tinham feito uso de algum instrumento
para avaliação da implantação do Programa sob suas responsabilidades. Apenas sete (38,9%)
dos entrevistados afirmou terem utilizado ferramentas para avaliar sendo que as utilizadas
foram aplicação de questionários, reuniões para socialização e visitas às propriedades dos
agricultores (Tabela 33).
potencializador era “[..].porque a semente era dada, se ele [o agricultor] tivesse que comprar a
semente ele, não ia plantar. ” (M.S.M., engenheira agrônoma, 11/02/2015, Rio Claro, RJ)
No estado do Rio de Janeiro, o programa BCSAV foi executado por várias
instituições sendo que a interação entre os parceiros permitiu com que a troca de experiências
promovesse, na visão dos multiplicadores entrevistados, uma alta interação entre o produtor e
a instituição de extensão, alavancando o BCSAV. Ficou evidenciado nas entrevistas que os
pontos fortes relativos à parceria foram a atuação da Embrapa Agrobiologia, da Empresa de
Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro) e do Programa Rio Rural59 que
à época buscava difundir o uso de adubação verde para as diferentes microbacias do Rio de
Janeiro.
Uma instituição é construída a partir das competências das pessoas vinculadas a ela.
Outro ponto de destaque na implantação do Programa foram as pessoas que já trabalhavam em
uma ótica participativa e que se engajaram nas diferentes atividades e que apresentavam
diferentes projetos que se inter-relacionavam.
Eu acho que um dos pontos foi a parceria com a Embrapa, pessoas que
estavam lá trabalhando, pessoas da Pesagro. O próprio programa Rio Rural
que na época com as práticas de incentivo para adubação verde. A gente na
época ligou uma coisa com a outra. O pessoal da Embrapa ia la, explicava
como funcionada, dava curso. Era muito bom. (J.S.M.V., engenheiro
agrônomo, 08/04/2015, Porciúncula, RJ).
59
O Programa Rio Rural tem como grande desafio a melhoria da qualidade de vida no campo,
conciliando o aumento da renda do produtor rural com a conservação dos recursos naturais, incentivando
a adoção de sistemas produtivos sustentáveis, com técnicas mais eficientes e ambientalmente adequadas.
É executado pela Superintendência de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Agricultura e
Pecuária do Estado do Rio de Janeiro (Seapec), o Rio Rural possui financiamento do Banco Mundial e
apoio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). As atividades do
programa envolvem uma ampla rede de parceiros, que inclui entidades do poder público, ONGs,
empresas e centenas de organizações rurais. Disponível em: http://www.microbacias.rj.gov.br/pt/rio-
rural#sthash.iMq3gmqr.dpuf acesso em 06/07/2016.
155
Técnica e Extensão Rural (Pnater) que os serviços de Ater orientados para a agricultura familiar
utilizam de metodologias participativas e orientação agroecológica. Para uma ação mais efetiva,
as instituições precisam disponibilizar para estes agentes condições logísticas e financeiras que
permitam uma apropriação desta orientação traduzidas em práticas a serem trabalhadas com o
agricultor.
Os agricultores têm uma boa vontade inicial muito grande, mas por conta de
faltar o facilitador isso acaba se perdendo, se perde a partir do momento em
que ele conseguiu a produção e fazer um armazenamento, nós aqui no Rio
tivemos dificuldade para isso. Necessita ter um facilitador físico, não só
através da apostila, de uma capacitação, tem que ter um cara que agregue,
traga a necessidade daquele agricultor armazenar semente, dar continuidade
em novas áreas de plantio, ter áreas disponíveis para fazer a multiplicação,
então eu acho que o que faltou foi isso. (L.H.S.T., engenheiro agrônomo,
22/04/2015, Magé, RJ)
Acho que quando uma coisa é feita, se ele não for frisada a importância com
acompanhamento de técnicos junto ao agricultor, vendo a dificuldade do
agricultor, fazendo valer, contando só com nosso conhecimento, ela não dá
certo. Acho que o limitante foi o acompanhamento e continuidade para ela
fixar. O agricultor está acostumado a plantar do jeito dele, e não dando certo,
ele abandona e isto é um fator que prejudica qualquer projeto. (I.S., consultora,
11/06/2015, Seropédica, RJ )
[...] existe uma apropriação da prática pelo agricultor, mas isso exige que a
gente vá dar assistência técnica, um suporte por traz. Eu acho que para a coisa
expandir, dar mais certo faltava uma assistência técnica de verdade, uma
orientação, esta parte você deixa para semente, a outra parte você aduba. E
dizer para ele que é mais barato deixar a terra no pousio se adubando do que
usando intensamente. (K.C., engenheiro agrônomo, 22/04/2015, Teresópolis,
RJ).
[...] a gente nem sempre tem tempo para sair buscando informações, e ao
mesmo tempo falar com o produtor para ele usar o que eu não sei. A gente tem
responsabilidade, a gente não fica falando também só porque deram as
sementes. Então eu fiquei meio assim sem saber direito o que fazer. (M.S.M.,
engenheira agrônoma, 11/02/2015, Rio Claro).
4.6 Capital Social na perspectiva dos diferentes atores sociais do Programa BCSAV
Quinze dos agricultores entrevistados (60%), afirmaram poder confiar nos outros
agricultores. Ao correlacionar com a participação em mutirões constatou-se que quanto maior
o engajamento na comunidade do entorno do agricultor maior é sua confiança nas ações em
conjunto com outros agricultores e maior é sua participação em ações como mutirões, conforme
a tabela 37.
160
Nesta tabela é possível constatar que agricultores muito ativos confiam mais nas
pessoas e consequentemente atuam com maior inserção em mutirões para auxiliar agricultores
de sua comunidade. Assim é possível constatar, como o observado por Sabourin (1999) que o
mutirão abre possibilidade para que os agricultores construam um processo de empoderamento
fundado na ampliação dos espaços de participação.
Durston (2000, pag.27) observa que comunidades rurais apresentam mais aspectos
de capital social que em comunidades urbanas, visto a estabilidade relativa dada pelas relações
de parentesco, firmadas durante um tempo mais longo em um mesmo local. Evans (1996)
pontua que o capital social pode ser formado ao longo das gerações e não apenas em locais
onde existam raízes históricas.
A construção do capital social em determinada comunidade ocorre pelas interações
sociais, manifestando-se através da confiança, normas e cadeias de relações sociais (AMARAL,
2004). Segundo Putnam (1996) quanto maior o nível de confiança em um grupo ou comunidade,
maior a probabilidade de ocorrer cooperação entre seus membros. Para o autor, a cooperação e
o envolvimento com o coletivo geram também confiança e participação das pessoas em
atividades associativas ou cooperativas, estruturas cívicas locais e nacionais.
Analisando os bancos/casas de sementes estudadas, observa-se que os mesmos
precursores de confiança e cooperação, tais como parentesco, identidade, prestigio no serviço
comunitário, estão presentes na maioria dos casos expressando-se em falas tais como “[...] nas
161
pessoas da Abio60 eu confio” (I.M.X., agricultora, 12/02/2015, Seropédica, RJ). Em uma rede,
a confiança que existe entre os indivíduos não é um recurso da sociedade como um todo, mas
sim dos indivíduos ou grupo que está no centro desta rede (PUTZEL, 1997).
Os laços de interação social também são evidenciados para todos os agricultores
familiares entrevistados em situações cotidianas. Para eles em caso de fatalidade com uma das
pessoas ligadas ao banco comunitário de sementes ou mesmo as diferentes associações nas
quais os agricultores estão vinculados, tal como uma doença grave, ou a morte de um parente
foi apontada como muito alta a probabilidade das pessoas na comunidade se unirem para ajudar
as vítimas. Segundo Durston (1999, pag.103) “[...] entende-se por capital social o conjunto de
normas, instituições e organizações que promovem a confiança e a cooperação entre as pessoas,
nas comunidades e na sociedade como um todo”. Neste contexto capital social comunitário é
uma forma particular de capital social, que engloba o conteúdo informal das instituições que
tem como finalidade o bem comum. Considerando o capital social comunitário como uma
institucionalidade social e não um recurso individual constata-se que todos os participantes do
capital social comunitário almejam o bem comum como objetivo (DURSTON, 1999, pag.104).
Durante as entrevistas com os guardiões/gestores dos bancos comunitários
vinculados ao Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro observou-se que três dos quatro
gestores dos bancos comunitários/casas de sementes entrevistados (especificamente AAT,
Aspur e Casa de Sementes Livres de Aldeia Velha) alegaram que quando havia uma decisão a
ser tomada que afetava o coletivo, os membros do Banco Comunitário de Sementes
entrevistados participavam das reuniões, discutiam o assunto e decidiam em conjunto. Isto nos
remete aos benefícios advindos dele tais como cooperação em tarefas além do previsto para
determinada comunidade e ou grupo e criação de confiança entre seus membros. Entretanto a
mera identificação destes benefícios nas casas de sementes ou bancos comunitários analisados
não permite afirmar a existência do capital social comunitário (DURSTON, 2000, pag.23). Para
J.S.M.V., guardião do Banco de Sementes Comunitário de Purilândia (Aspur) a presença destes
benefícios “[...] tem a ver com a história das pessoas com sua simplicidade [...] são pessoas que
por viver em situação de poder aquisitivo menor, sem certos benefícios, elas têm mais o senso
de ajudar e estender a mão para ajudar”. (J.S.M.V., consultor técnico, 08/04/2015, Porciúncula).
O aspecto participativo é muito valorado pelos gestores/guardiões dos bancos
comunitários estudados, sendo salientado pelo J.S.M.V, guardião de sementes do banco
60
A Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO) tem por missão contribuir para o
fortalecimento da agricultura orgânica de base agroecológica, mediante a prestação de serviços aos agricultores,
produtores e extrativistas. Disponível em http://abiorj.org/sobre-abio/ acesso em 01/11/2016.
162
comunitário da Aspur como sendo importante para a coesão do grupo de agricultores. Apenas
nos bancos localizados em Cachoeira de Macacu verificou-se que isto não ocorria, pois na visão
do técnico responsável não havia decisões a serem tomada pelos agricultores vinculados ao
banco de sementes. Segundo o técnico responsável “[...] não há decisão a ser tomada no Banco
Comunitário de Sementes, pois as pessoas guardiãs são responsáveis pelos seus bancos.”
(J.R.M.V., engenheiro agrônomo, 18/08/2015, Cachoeiras de Macacu, RJ). Este ponto salienta
a importância da convivência comunitária dos agricultores familiares em associações e ou
cooperativas, visto que em Cachoeiras de Macacu a guarda de sementes se dá em bancos
familiares e não em banco comunitário de sementes strictu sensu. Ficou evidenciado que apesar
do técnico/coordenador do programa considerar os bancos como comunitários, o capital social
presente no grupo dentro da visão do técnico não está fortalecido.
Conforme North (apud PUTNAN, 2000) se não houver um estimulo maior com
ênfase na convivência, a cooperação, a civilidade e a participação, não haverá possibilidade de
desenvolvimento de capital social. Segundo o observado por R.A.S., guardião do Banco de
Sementes da AAT, “[...] os membros do banco comunitário discutem o assunto e decidem em
conjunto. A gente sempre discute com o pessoal da associação. As decisões cruciais a gente
decide no coletivo” (R.A.S., engenheiro agrônomo, 14/12/2015, Teresópolis, RJ).
Membros de uma comunidade em que existe o capital social comunitário
compartilham um discurso de cooperação para o bem comum, o qual dialoga com os laços de
confiança e reciprocidade, visto que uma associação requer confiança e reciprocidade pautadas
nas relações interpessoais. (DURSTON, 1999, pag.104).
[...] faz parte do nosso associativismo, da confiança mais profunda que existe
dentro da associação. Os companheiros são amigos pessoas queridas que
segurem o negócio juntos. [...] na troca de sementes há troca de informações
e foi um momento importante na construção da nossa consciência. Eles têm
materiais também em casa. O banco comunitário de sementes aumentou o grau
de confiança dos associados Mesmo os agricultores tendo dificuldades em por
na roça, validam como positiva, ate usando como teste e falando sobre isso
deu efeito possível. Vem conversa, teste, troca de experiências. Pode confiar
na maioria das pessoas daqui. (R.A.S., guardião da ATT, engenheiro
agrônomo, 14/12/2015, Teresópolis,RJ).
Nós estamos sempre na ideia da troca da semente de vários materiais que são
da associação vieram destas trocas. Vem conversa, testa e troca de
experiências. Podemos confiar na maioria das pessoas. (C.H.N.S., gestor da
casa de sementes livres, cientista social, 10 de dezembro de 2015, Aldeia
Velha, RJ)
163
ocorreu aumento de confiança e cooperação entre as pessoas nas localidades atendidas pelos
multiplicadores.
Um dos grandes questionamentos feitos aos multiplicadores entrevistados nesta
pesquisa era se o Programa BCSAV potencializava o capital social local em termos de
cooperação, confiança e reciprocidade entre os agricultores.
Observou-se durante a pesquisa que para oito multiplicadores (44,4%) não houve
alteração significativa na participação social dos agricultores. A mesma resposta foi observada
quando os critérios foram confiança e cooperação. Para ambos, as diferenças entre as
frequências estatísticas considerando a capacidade do BCSAV de aumentar ou não tanto a
confiança quanto a cooperação não foram significativas. As tabelas 38 e 39 ilustram o impacto
do Programa BCSAV no fomento à confiança e cooperação entre os agricultores na visão dos
extensionistas.
Tabela 38- Alteração do nível de confiança entre os agricultores beneficiados pelo BCSAV na
percepção dos extensionistas em números absolutos e porcentagem nos parênteses. Rio de
Janeiro,2015/2016.
Confiança Frequência Intervalos de confiança
Aumentou 7 (38,9%) 16,4% < 38,9 < 61,4%
Não alterou 11 (61,1%) 38,6% < 61,1 < 83,6%
TOTAL 18
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016), onde 𝜒𝐺𝐿=1 = 0,89 e p= 34,58%
Para Durston (1999, pag. 110), a experiência de Chiquimula mostrou que o continuo
exercício da confiança e de cooperação entre os camponeses estimula uma maior propensão em
cooperar reciprocamente com a vida comunitária que tende a aumentar gradualmente com o
passar do tempo.
165
como ele foi implantado é que se constituiu em um diferencial. Segundo Sá e Chies (2012,
p.197) “[...]‘tradicionalmente os extensionistas são percebidos como trabalhadores com forte
motivação afetiva para desenvolvimento do seu trabalho”.
Entretanto, cabe observar que para 40% dos agricultores entrevistados a
desconfiança parece ser a tônica das relações, em especial nas situações onde o financeiro está
presente, refletindo nas ações que ocorrem na comunidade.
Não ocorrem mutirões. Tivemos algumas reuniões para divisão das primeiras
sementes de leguminosas. Até houve um grupo de mutirão onde cada um dava
um valor por mês, porém quando começou a envolver dinheiro, acabou em
problemas e saímos da participação dos mutirões. (O.F, agricultor,
12/02/2015, São Gonçalo, RJ)
dificuldade para fazer um trabalho associativista. Segundo um agricultor entrevistado “[...] nós
não temos a cultura de ajudar um ao outro. Isto é comum em Minas Gerais e Santa Catarina e
não no Rio. Isto falta para a gente, mas infelizmente não é de nossa cultura” (J.F., agricultora,
15/04/2015, Nova Friburgo, RJ).
Para um trabalho coletivo
[...] é preciso sensibiliza-los, capacita-los para isso e não dá para fazer uma
coisa pontual e achar que a partir desse movimento vai ser uma doutrina, vai
crescer. Isso não vai acontecer. Aqui as coisas têm que ser diárias e acontecer
no passo a passo. (A.P.P., engenheira agrônoma, 22/04/2015, Teresópolis,
RJ).
Para um dos técnicos facilitadores do programa que atuava junto a uma associação
de agricultores, o Programa no início intensificou a participação social, porque apresentou uma
oportunidade agrupar os diferentes atores para discussão de problemas comuns. O pensar de
modo coletivo os problemas favoreceu ações coletivas tal como o fortalecimento do Sistema
Participativo de Garantia (SPG). Tal observação é respaldada por Khan et al. (2005), para o
qual o capital, quando presente em uma sociedade, fortalece a tomada de decisões e a execução
de ações colaborativas que beneficiam toda a comunidade.
168
Segundo Silva et al. (2007), os bancos de sementes têm um papel que vai muito
além da organização do estoque de sementes visto que o processo de gestão possibilita espaços
coletivos de debate sobre as estratégias de produção de cada família. A capacidade de ação
coletiva é um requisito do desenvolvimento sustentável, pois “[...] comunidades com essa
característica tem mais capacidade de demandar em quantidade e qualidade, ações por parte do
Estado e esse dinamismo e cooperação da base comunitária facilitam a aproximação e a eficácia
das instituições de apoio” (NICOLA, 2007, p. 636).
Destaca-se que há casos relatados na literatura, onde a ação do estado torna possível
contribuir para a criação ou intensificação de capital social comunitário através de políticas
públicas (DURSTON, 1999), as quais podem estimular os diferentes atores sociais a se
associarem estimulando a confiança e o fortalecimento dos laços de cooperação. (DURSTON,
2000, pag.32). Desse modo, capital social está relacionado à capacidade de organização e
constituição de redes de cooperação social fundamentais no processo de desenvolvimento
sustentável. Tal situação foi observada em estudo de envolvendo acampados e assentados de
reforma agrária em São Paulo, onde
Percebeu-se durante as entrevistas que a ação dos técnicos foi fundamental para a
continuidade do Programa BCSAV no Rio de Janeiro. Para M.S.M. “[...] o Programa teve
falhas, mas aqueles agricultores que perceberam o que era, fizeram por conta própria sem
interferência da coisa pública, tanto da Emater quanto do município.” (M.S.M., engenheira
agrônoma, 11/02/2015, Rio Claro, RJ).
Para os técnicos entrevistados, o Programa possibilitou, em maior ou menor grau,
a participação social intensificando os laços de confiança e cooperação. Para um dos
entrevistados houve aumento do diálogo, da cooperatividade e da troca de serviços entre os
169
agricultores da região. Para ele os laços de confiança foram criados e mantidos, sendo que “[...]
os agricultores pedem por mais iniciativas de projetos ligados à cooperação mutua”. (A.C.B.,
engenheira agrônoma, 07/12/2015, Miracema, RJ).
Construir capital social é construir capacidades sociais e técnicas, aprimorar os
processos de gestão social e construir a visão de território com base na cooperação e na
confiança mútua. Ele é composto por sistemas sociais complexos, baseados em múltiplos
agentes que os mobiliza em suas estratégias e empreendimentos (MENDONÇA et al., 2008).
Entretanto, segundo Durston “[...]existen dudas entre los propios autores fundacionales, como
Robert Putnam, sobre la posibilidad práctica de construir capital social en grupos que carecen
de él.” (DURSTON, 1999, pag. 105)
Um dos técnicos que atua na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro
afirmou que a sua região de atuação “é muito individualista e o banco foi uma motivação, deu
uma nova percepção em termos de associativismo, colaborar, cooperar, em especial nos grupos
orgânicos.” (J.M.S., engenheiro agrônomo, 02/06/2015, Duque de Caxias, RJ). Para este
multiplicador a situação “não mudou da água para o vinho mas deu uma nova percepção”.
Para um dos técnicos que atua na Região Serrana o Programa
[...] alterou as relações para melhor. Aumentou a confiança entre eles apesar
de pouca e lenta o que se conseguiu foi consistente. Pouco perceptível e muito
demorado. Os que se convenceram continuaram para outras espécies [...].
(A.P.P., engenheira agrônoma, 22/04/2015, Teresópolis, RJ)
Na pesquisa foi evidenciado que um dos pontos que favoreceu a implantação dos
BCSAV no Rio de Janeiro foi a interação entre os agricultores e os técnicos das instituições
participantes a partir do momento em que permitiu unir interesses destes grupos. Este
fortalecimento corrobora com as observações de Amâncio (2006) em que grupos que constroem
uma ação mais interativa entre as iniciativas de acompanhamento técnico-econômico e as de
caráter educacional participativo tenderam a construir relações sociais de solidariedade,
reciprocidade e confiança mais fortes. Destaca-se que estudos realizados por Durston (1999)
em Chiquimula demonstraram ser possível a formação de capital social a partir da presença de
grupos locais com repositórios de reciprocidade que podem vir a transformar-se em uma força
de coesão e confiança entre os membros.
170
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa foi conduzida entre os anos de 2013 a 2016, sendo o objetivo principal
verificar se o processo de implantação do Programa Banco Comunitário de Sementes de
Adubos Verdes (BCSAV) contribuiu para a geração e fortalecimento de capital social local e
se gerou independência de agricultores familiares de insumos externos, no caso sementes de
adubos verdes. Para tanto se considerou a vivencia de diferentes atores sociais, que em
determinados momentos interagiam entre si: agricultores familiares, guardiões de sementes e
profissionais multiplicadores, , gestores públicos e formuladores do Programa. Nesse sentido,
foi-se construindo a pesquisa de maneira que se pudesse compreender como a implementação
do Programa BCSAV promoveu ou não a participação e as condições para a geração e o
fortalecimento de capital social local. Durante o seu desenrolar constatou-se pontos fortes e
pontos a serem melhorados na implantação e desenvolvimento de um programa de governo
como o BCSAV.
Assumiu-se o banco comunitário como uma tecnologia social no sentido dela ser
criada na interação com a comunidade. Neste caso, partiu-se do pressuposto de que o BCSAV
traria consigo princípios e valores da interação social e da participação em sua concepção.
As discussões feitas foram embasadas a partir do conceito de capital social de
teóricos como Robert David Putnam, Anthony Bebbington, John Durston e Peter Evans,
trazendo desses trabalhos suas visões e argumentações do conceito de forma a pautar as
discussões da tese nos pontos comuns ou complementares a eles. Estabeleceu-se como
norteador da elaboração dos questionários de pesquisa e posteriormente nas discussões dos
resultados pilares de sustentação teórica e metodológica identificados em cada abordagem. Isto
possibilitou que houvesse uma contraposição do alcançado na pesquisa empírica com a
literatura especializada. Isto permitiu, também, um olhar mais apurado sobre o posicionamento
dos entrevistados à luz de experiências de outros lugares. A possibilidade de contar com um
recorte amostral a partir do universo da pesquisa permitiu que se pudessem fazer inferências
nas respostas conseguidas estendendo da parte para o todo neste estudo de caso.
O estudo foi iniciado por um resgate histórico do Programa BCSAV no estado do
Rio de Janeiro a partir dos bancos de sementes vinculados ao Mapa. Verificou-se que os quatro
bancos comunitários aqui estudados, não foram criados a partir das ações do Programa BCSAV,
mas já existiam anteriormente sendo a participação dos agricultores feita de forma voluntária.
Para os guardiões destes bancos, apenas a distribuição de sementes pelo Programa, não foi
suficiente para a manutenção das sementes no banco. Alguns pontos foram considerados
171
limitantes pelos guardiões entrevistados entre os quais se destacam não ter local adequado para
armazenagem além do fato de que seriam necessários recursos financeiros para manter a
estrutura da casa de sementes, fato este também reconhecido como limitante pelos
extensionistas. Um gargalo muito importante observado pelos guardiões foi o trabalho adicional
que pesava sobre eles, visto que além de sua lida diária na roça, ele precisava destinar parte do
seu tempo à produção de sementes e à gestão e controle do banco.
O Programa BCSAV teve como proposito inicial tornar acessível um recurso que
era de difícil aquisição com o propósito de aumentar o uso de adubos verdes na agricultura.
Contatou-se que a maioria dos agricultores entrevistados afirmaram ter conseguido implantar e
manejar o uso dos adubos verdes em suas propriedades, sendo que parte deles observaram
mudanças nelas, tais como aumento de produtividade da terra e melhoria na textura do solo.
Em boa parte das propriedades o uso dos adubos verdes aumentou quando comparados ao
período anterior ao Programa.
Muitos agricultores se apropriaram desta tecnologia e adotaram o uso de adubo
verde em suas propriedades. Isso se evidenciou em especial nos agricultores de base orgânica
aonde esta prática vinha conferir um diferencial. Entretanto com aqueles agricultores que não
tinham como alvo a produção orgânica, a adoção dependeu em muito do papel do técnico de
Ater. Constatou-se que os agricultores passavam a utilizar a adubação verde a partir do
momento que o técnico local os estivesse estimulando, acompanhamento a produção e
fornecendo assistência técnica adequada. Assim sendo, uma grande falha do Programa foi não
pensar em recursos humanos, técnicos que estivessem no campo, voltados para o alcance dos
resultados previstos. Ficou bem evidenciado na pesquisa que os agricultores tinham um
interesse grande no uso do adubo verde, mas por conta de faltar um facilitador que pudesse
orienta-los, isto se perdia.
Como tecnologia social os bancos comunitários deveriam fortalecer a participação
visto ser esta tecnologia fruto de uma construção coletiva. Entretanto no Rio de Janeiro o do
associativismo é uma história onde não se vivencia a vida comunitária como na região Sul do
Brasil e em Minas Gerais, onde as pessoas se associam por uma série de questões e influências
históricas. Soma-se a isso que em muitas regiões do estado do Rio de Janeiro o processo de
urbanização levou o agricultor a ter comportamentos diferenciados no tocante as práticas de
trocas de semente, de trabalho em mutirão e atuação em trabalhos comunitários.
Observou-se durante a pesquisa que o objetivo de criar bancos e apoiar os já
existentes não foi plenamente atendido pelo Programa, talvez pela crença de que já existia um
capital social formado para dar conta disso. Durante as capacitações realizadas para
172
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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189
APÊNDICE 1
Nome: _____________________________________________________________________
Gênero: ( ) Masculino/ Feminino Idade:_________________________________
Escolaridade: Fundamental / Médio / Técnico / Superior / Pós-graduação
( ) Completo ( )Incompleto
Endereço: __________________________________________________________________
Bairro: ___________________________Cidade:________________________Estado:______
CEP:__________________________Telefone: ( ) _________________________________
Data: _________________ Inicio:_________________ Término:______________________
13. De todos os equipamentos listados abaixo, qual o(a) Sr(a) possui em sua residência
Equipamento Sim Fonte de energia
Energia elétrica Gás Gasolina /diesel Pilha Lenha
Geladeira
Freezer
Televisão em
cores
Rádio
Automóvel
Maquina de
lavar
Vídeocassete e
ou DVD
Caminhonete
Caminhão
** ver se tem outros que podem entrar
17. O(A) Sr(a) tem idéia de quanto ganha com a agricultura/pecuária? (calcular com base no salário
mínimo)
( ) até um ( ) de um a dois ( ) de dois a quatro ( ) de quatro a seis
( ) de seis a oito ( ) mais de oito
18. Quem são as pessoas que trabalham aqui na propriedade/quem ajuda o(a) Sr(a) na lida ?
( ) Família Quem? (parentesco) _________________________________
( ) Assalariados contratados
( ) Meeiros. Como se dá o acordo?_____________________________
19. O (a) sr(a) recebeu sementes do programa BCSAV? Se sim, o que motivou sua
participação no programa? Se não participa, por que?
20. O Sr(a) teve orientação para montagem do banco de sementes em sua propriedade?
21. O Sr(a) teve auxílio para montagem do banco de sementes em sua propriedade? Se
sim, de quem?
22. Como iniciou o Banco de Sementes em sua propriedade? Por que?
23. Quais sementes o Sr(a) possui no Banco Familiar?
24. Qual é o custo de montar um banco de sementes?
193
31. Como você descreveria sua participação nas decisões da associação/casa de sementes?
( ) Líder ( ) Muito ativo ( ) Relativamente ativo ( ) Não participa das
decisões
32. Em comparação há um ano atrás, como está sua participação nas decisões da
associação /casa de sementes?
( ) Mais ( ) Mesmo número ( ) Menos
33. Como associado ao BCS, você diria que se pode confiar na maioria das pessoas, ou
que nunca é demais ter cuidado ao lidar com as pessoas?
( ) Pode-se confiar nas pessoas ( ) Nunca é demais ter cuidado
34. O senhor realiza troca de sementes como outros agricultores?
35. O senhor participa de mutirões junto com outros agricultores?
194
APÊNDICE 2
Nome: ___________________________________________________________________
Endereço: _________________________________________________________________
Profissão:____________________________Cargo:________________________________
Vínculo: __________________________________________________________________
2. No que consistiam as capacitações? Elas foram suficientes para sua ação extensionista?
4. Houve recurso suficiente para executar o programa? Se não, por quê? No que a insuficiência
de recursos implicou?
7. Você usou algum instrumento para avaliação da implementação do programa sob sua
coordenação? Quais foram às estratégias de monitoramento utilizadas?
8. Em sua opinião o programa atendeu o esperado pelo governo? Se não ou parcialmente sim,
o que não foi atingido?
195
12. Que pontos ou aspectos você considera que poderiam ser melhorados no programa?
13. Você conhece o proposto na segunda fase do programa? Se sim como ela foi comunicada
para você?
14. Você se sente motivado a participar da segunda fase do programa? Por quê?
15. Em sua opinião o programa intensificou a participação social nas localidades atendidas
por você?
16. Em sua opinião o programa aumentou, diminuiu ou não alterou a confiança entre as
pessoas atendidas por você?
17. Em sua opinião o programa aumentou, diminuiu ou não alterou a cooperação entre os
agricultores atendidos por você?
18. Em uma escala de 1 a 5, considerando um pouco efetivo e cinco muito efetivo, como você
classificaria o Banco Comunitário de Sementes no tocante a:
1 2 3 4 5
Replicabilidade:
Simplicidade
Custo de implantação
APÊNDICE 3
3. Como o BCS funciona? Quem pode retirar as sementes? quem faz o controle e gestão?
5. Quais variedades são mantidas no BCS? Por que elas foram escolhidas?
7. Com que periodicidade são realizadas reuniões dos associados do Banco Comunitário
de sementes (BCS)?
14. Quais alternativas e/ou sugestões que ajudam a comunidade a superar os problemas?
16. Como o sr(a) acha que o banco pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida
dos agricultores vinculados ao BCS?
17. Em que aspecto o BCS tem contribuído (ou não) para o fortalecimento dos
agricultores?
22. Quando há uma decisão a ser tomada no BCS, geralmente, como isso acontece?
( ) A decisão é imposta de fora
( ) O líder decide e informa os outros membros do BCS
( ) O líder pergunta aos outros membros do BCS o que eles acham e então decide
( ) Os membros do BCS discutem o assunto e decidem em conjunto
( ) Outros (especifique__________________________________________)
24. Você acha que após a implantação/entrada do programa BCSAV o grau de confiança
dos associados melhorou, piorou ou permaneceu mais ou menos o mesmo?
( ) Melhorou
( ) Piorou
( ) Permaneceu mais ou menos o mesmo
198
25. Em sua opinião, com que frequência as pessoas ligadas a este BCS ajudam umas às
outras?
( ) Sempre ajudam
( ) Quase sempre ajudam
( ) Algumas vezes ajudam
( ) Raramente ajudam
( ) Nunca ajudam
26. Falando em geral, você diria que se pode confiar na maioria das pessoas, ou que nunca
é demais ter cuidado ao lidar com as pessoas?
( ) Pode-se confiar nas pessoas
( ) Nunca é demais ter cuidado
28. Suponha que ocorresse uma fatalidade com uma das pessoas ligadas ao BCS tal como
uma doença grave, ou a morte de um parente. Qual a probabilidade de algumas
pessoas na comunidade se unirem para ajudar as vítimas?
( ) Muito provável
( ) Relativamente provável
( ) Nem provável nem improvável
( ) Relativamente improvável
( ) Muito improvável
199
APÊNDICE 4
Nome: ___________________________________________________________________
Endereço: _________________________________________________________________
Bairro: ___________________________Cidade:_____________________ Estado:______
CEP: ____________________________Telefone: ( ) ___________________________
Profissão:____________________________Cargo:________________________________
Vinculo: __________________________________________________________________
Data: __________________ Inicio:_________________ Término:_________________
6. Como ele foi pensado na sua metodologia, para viabilizar a execução, quando se
tratam de relações interinstitucionais?
10. Existem indicadores de resultados ou metas estabelecidas para o programa, tanto para
a primeira quanto para a segunda fase?
11. Existem indicadores de processos estabelecidos para o programa, tanto para a primeira
quanto para a segunda fase?
12. A política do Banco Comunitário de Sementes Adubos Verdes está articulada a outras
ações? Que ações são essas? Em sua opinião essas ações contribuem no sentido de
200
14. Você poderia nos dizer de que forma se dá o apoio do MAPA ao programa?
16. Que pontos ou aspectos você considera que poderiam ser melhorados no programa?
APÊNDICE 5
Nome: ___________________________________________________________________
Endereço: _________________________________________________________________
Bairro: ___________________________Cidade:_____________________ Estado:______
CEP: ____________________________Telefone: ( ) ___________________________
Profissão:____________________________Cargo:________________________________
Vínculo: __________________________________________________________________
Data: __________________ Inicio:_________________ Término:_________________
11. O envolvimento dos parceiros ocorreu de maneira satisfatória? Se não, por que?
12. O recurso previsto foi suficiente para executar o programa? Se não, por quê? No
que a insuficiência de recursos implicou?
202
15. Que pontos ou aspectos você considera que poderiam ser melhorados no
programa?
18. Quais as políticas públicas que estão alinhadas ao programa no Estado do Rio de
Janeiro?
19. Como está sendo pensada a articulação para a segunda fase do programa?
APÊNDICE 6
Nova Iguaçu -
assentamento X
0 0 L.N.F. GAE-UFRRJ
Terra
Prometida
Emater-Rio /
Associação dos
Paraty / Angra X
0 0 C.D.S. Produtores Rurais
dos Reis
do Vale do
Mambucaba
Paty dos X
0 0 R.F. Emater-Rio
Alferes
204
Instituto Federal do
Rio de Janeiro - X X
0 0 A.F.
IFRJ - Campus
Pinheiral
Nilo Peçanha
ASPUR -
Associação dos X X
3 1 J.S.M.V.
Produtores de
Porciúncula
Purilândia
X
5 0 M.S.M. Emater-Rio Rio Claro
ASPTA-Rede de
Promoção da X
0 0 M.M.M.
Agricultura Urbana
Rio de Janeiro
no município do RJ
AECA/RJ -
Associaçaõ
X
0 0 D.M. Estadual de Rio de Janeiro
Cooperação
Agrícola
Emater-Rio Campo X
0 0 L.R.
Grande
Rio de Janeiro
X
0 0 M.B. CEDRO Rio de Janeiro
X
0 0 B.I.J. Emater-Rio São Gonçalo
IDACO - Instituto
de São José da X
0 0 C.S.
Desenvolvimento e Boa Morte
Ação Comunitária
Rio Rural -
Associação de
São José do
Produtores X
2 0 E.L.C.F.
Orgânicos de São
Vale do Rio
Preto
José do Vale do
Rio Preto
Secretaria de Meio
Ambiente,
São Pedro da X
0 0 L.S.P. Agricultura e Pesca
Aldeia
de São Pedro da
Aldeia
Ambiente Brasil
X
0 0 R.M.T. Instituto de Sapucaia
Zootecnia - UFRRJ
ABIO - Núcleo de Seropédica,
X
2 0 A.P.P. Prod. Orgânicos de Teresópolis e X
Seropédica Petrópolis
X
2 0 L.H.A. Serorganico Seropédica
Casa de Sementes
Livres de Aldeia X
0 1 T.M.
Velha / Escola da
Silva Jardim
Mata Atlântica
Secretaria
Municipal de
X
0 0 M.S.B.S Agricultura Silva Jardim
Abastecimento e
Pesca
205
Tanguá/
X
1 2 J.R.M.V. Emater-Rio Cachoeira de
Macacu
Associação de
citricultores e
produtores
rurais de
Tanguá /
X
9 0 J.R.M.V. Emater-Rio Associação de
produtores
familiares e
amigos da
serra do
Barbosão
Secretaria de X
0 0 K.C.
Agricultura
Teresópolis
X
0 0 N.N.P. Emater-Rio Teresópolis
X
0 0 D.W. APOV Valença
X
0 0 C.S.R. Emater-Rio Varre Sai
Associação X
0 0 A.C.
Orgânicos do Vale
Vassouras
X
0 0 N.S. Emater-Rio Vassouras
X
0 0 J.F.E. Emater-Rio Volta Redonda
X
0 0 A.O. Sec Agricultura Magé
Agricultor, X
0 0 A.S.L.
Veterinário /
Teresópolis
X
0 0 A.F. IFRJ Pinheiral
Cooperativa X
0 0 A.E.O.
CEDRO
Rio de Janeiro
X
0 0 A.L.S. Agricultor Magé
Estudante. UFRRJ
X
0 0 B.S.S. Assentamento Nova Iguaçu
Terra Prometida
COOPATERRA / X
0 0 C.A.S.
Terra Prometida
Nova Iguaçu
X
0 0 C.S.F. agricultor Magé
X
0 0 C.S. Acampar RJ Rio de Janeiro
X
0 0 C.M.M. agricultora Piraí
X
0 0 D.P. UFRRJ Seropédica
Paty dos X
0 0 E.V. Agricultor /
Alferes
X
0 0 E.B.A. Coopvieira Rio de Janeiro
X
0 0 F.L.F. Agricultor Mesquita
X
0 0 F.M.O. Agricultora /Seropédica
206
Seropédica X
0 0 F.J.V. Estudante UFRRJ
Estudante UFRRJ Seropédica X
0 0 F.M.A.
Estudante UFRRJ Seropédica X
0 0 G.A.C.
Casimiro de X
0 0 G.A.A. Emater-Rio
Abreu
X
0 0 I.M.X. Agricultora Seropédica
X
2 0 J.L.G. Emater-Rio São Gonçalo
X
0 0 J.F.S. Emater-Rio Teresópolis
X
0 0 J.N.V. Emater Seropédica
Sto Antônio de X
0 0 J.A.N. SEBRAE-RJ /
Pádua
X
0 0 J.C.F. Emater-Rio Mangaratiba
X
0 0 J. M.V. Estudante UFRRJ Porciúncula
X
31 1 J.S. Agricultor Teresópolis
X
0 0 L.B.T. Emater-Rio Itaguaí
X
0 0 L.H.G. Agricultora Seropédica
X
0 0 L.H.S.T. ABIO Guapimirim
X
0 0 M.S.R. Emater-Rio / Itaguaí
X
0 0 M.S.S. Emater-Rio / Teresópolis
X
0 0 M.L.S. Agricultor Piraí
X
0 0 M.M. Agricultor Teresópolis
X
0 0 M.F.C. Emater-Rio S.J.Rio Preto
Cooperar – técnica X
0 0 M.D.L. Piraí
Agricultora X
0 0 M.P.S.
assentamento
Piraí
X
0 0 M.M.I Agricultora / Seropédica
X
0 0 M.S.B. Acampar RJ Rio de Janeiro
Duque de X
0 0 Miguel Silva APEDEMA
Caxias
X
0 0 P.A.S. Emater-Rio Porciúncula
X
0 0 R.V.P. CEDRO- técnico
Campos dos X
0 0 R.S.O. CEDRO – técnica /
Goytacazes
Associação
X
0 0 R.A.S. Agroecológica de Teresópolis
Teresópolis
IFRJ/Campus X
0 0 T.A.B.
Pinheiral
Pinheiral
207
X
0 0 V.J.C. Agricultor Sapucaia
X
0 0 W.C.M. Emater-Rio Nova Iguaçu
X
0 0 W.G.M. agricultor Magé
X
0 0 J.P. Serorganico Seropédica
X
0 0 D.P. Serorganico Seropédica
X
0 0 E.X. agricultor Seropédica
X
3 0 J.F. agricultora Nova Friburgo
X
0 0 G.S.S. Emater Rio
Legenda:
ASSOCIAÇÕES E INSITUIÇÃO DE
EXTENSIONISTAS SECRETARIAS AGRICULTOR
COOPERATIVAS ENSINO
208
APÊNDICE 7
ANEXO 1
210
211
212
ANEXO 2
213
214
215
ANEXO 3
_________________________________________________________________________________
_representante da entidade ____________________________________________________, CNPJ
_________________,situada em ______________________________________________________,
selecionada pela Comissão da Produção Orgânica do Estado do Rio de Janeiro, comprometo-me, de
acordo com os critérios e procedimentos do Programa Bancos Comunitários de Sementes de Adubos
Verdes, relacionados no verso desse documento, distribuir aos agricultores selecionados por esta
entidade – cuja relação nominal e respectivo TERMO DE COMPROMISSO serão encaminhados a
CPOrg / RJ no prazo de 30 dias, a seguinte quantidade de sementes:
Data Assinatura
RG Nome
Localidade
Quantidades _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg
recebidas Aveia Preta Crotalaria juncea C. spectabilis Ervilhaca Feijão de Porco
_____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg Nabo _____ kg
Guandu Mucuna Anã Mucuna Cinza Mucuna Preta Forrageiro Tremoço Branco
Data Assinatura
RG Nome
Localidade
Quantidades _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg
recebidas Aveia Preta Crotalaria juncea C. spectabilis Ervilhaca Feijão de Porco
_____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg Nabo _____ kg
Guandu Mucuna Anã Mucuna Cinza Mucuna Preta Forrageiro Tremoço Branco
Data Assinatura
RG Nome
Localidade
Quantidades _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg
recebidas Aveia Preta Crotalaria juncea C. spectabilis Ervilhaca Feijão de Porco
_____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg Nabo _____ kg
Guandu Mucuna Anã Mucuna Cinza Mucuna Preta Forrageiro Tremoço Branco
217
1.1 A distribuição das sementes está condicionada ao treinamento dos agricultores sobre uso,
manejo e produção de sementes de adubos verdes.
1.2 Cada agricultor beneficiado receberá uma quantidade máxima de 10 kg de sementes das
espécies especificadas.
1.3 No ato da distribuição das sementes o agricultor receberá os seguintes documentos: cópia
do atestado de origem genética das sementes e da nota fiscal emitida para acompanhamento das
mesmas, devendo mantê-los em sua posse para efeito de fiscalização.
2. Após o plantio das sementes doadas, a entidade ou grupo de agricultores, realizará colheita
e armazenamento de no mínimo a mesma quantidade de sementes de cada uma das espécies
recebidas, visando à formação e manutenção dos “bancos comunitários de sementes”.
2.1 Esse procedimento será realizado de acordo com as estratégias estabelecidas por cada
entidade ou grupo.
4.1.1 Caso a entrega das sementes seja feita por algum intermediário designado pela CPOrg-
RJ, visando posterior entrega ao representante da entidade ou grupo de agricultores: a CPOrg-
RJ providenciará registros que comprovem essa entrega a esse intermediário. Neste caso o
intermediário será responsável pelo encaminhamento a Coordenação da CPOrg-RJ do TERMO
DE COMPROMISSO DE DISTRIBUIÇÃO - ENTIDADE.
4.3 No caso de grupo de agricultores constituídos informalmente não será preenchido, nos
TERMOS, o campo “CNPJ”.