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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA AGRÍCOLA

ANA CRISTINA SIEWERT GAROFOLO

PROGRAMA BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES DE


ADUBOS VERDES: POSSIBILIDADE DE GERAÇÃO DE
CAPITAL SOCIAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CAMPINAS
2017
ANA CRISTINA SIEWERT GAROFOLO

PROGRAMA BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES DE


ADUBOS VERDES: POSSIBILIDADE DE GERAÇÃO DE
CAPITAL SOCIAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Tese apresentada à Faculdade de Engenharia


Agrícola da Universidade Estadual de Campinas
como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do
título de Doutora em Engenharia Agrícola, na área de
concentração Gestão de Sistemas na Agricultura e
Desenvolvimento Rural

Orientador: Profa. Dra Julieta Teresa Aier de Oliveira

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO


FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA ANA
CRISTINA SIEWERT GAROFOLO, E ORIENTADA
PELA PROFA. DRA. JULIETA TERESA AIER DE
OLIVEIRA

CAMPINAS
2017
Ao Marco, meu companheiro e grande amigo, por todo amor,
carinho, compreensão e em especial paciência, em todos os
momentos das nossas vidas e em especial durante o
desenvolvimento este trabalho.

Às amadas de minha vida, minhas filhas Anneliese e Anna


Carolina, pelo amor e carinho em especial nos momentos onde a
distância foi muito dolorosa.

A vocês três dedico este trabalho. Amo vocês demais!


AGRADECIMENTOS

Em primeiro e principalmente a Deus por permitir esta conquista em minha vida.

À Prof.ª Dra. Julieta Aier de Oliveira pela orientação e confiança depositada em meu trabalho.
Gratidão por acreditar em mim.

À meus pais, Jens Siewert e Alda Maria Siewert pelo apoio em todas as horas, por acreditarem
em mim e me incentivarem desde sempre. Muito obrigada!

Às Dras Cristhiane Amâncio e Tercia Zavaglia Torres pelo apoio e incentivo, para que eu
pudesse completar esta importante etapa pessoal.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Desenvolvimento Rural


Sustentável da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas, pelos
momentos de reflexão que me estimularam a prosseguir no caminho da pesquisa, em especial
Prof.ª Sonia Maria Pessoa Pereira Bergamasco e Prof.ª Dra. Maristela Simões do Carmo.

À Embrapa, na pessoa do Dr. Gustavo Xavier, chefe-geral da Embrapa Agrobiologia, pelo


apoio material e financeiro a esse projeto pessoal e profissional.

Aos colegas da Embrapa Agrobiologia, em especial meu amigo Ilzo Artur Risso, pelo apoio na
pesquisa de campo.

Ao Prof. Dr. Luiz Carlos Rodrigues pelo auxílio na escrita do abstract.

Aos sujeitos dessa pesquisa que contribuíram para que esta pesquisa tivesse sucesso, meus
sinceros agradecimentos.
"Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo
dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para
plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado" (Eclesiastes, 3:
1-2)

“Lembrai-vos: aquele que pouco semeia, igualmente, colherá


pouco, mas aquele que semeia com generosidade, da mesma
forma colherá com fartura”. (II Coríntios 9:6)
RESUMO

O Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV) foi criado em 2007
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-Mapa. O Programa visou o fomento
do uso de adubos verdes e diminuição da dependência de insumos externos por meio do
estímulo à criação ou ampliação de bancos comunitários de sementes. Nesse sentido, o objetivo
deste estudo foi verificar se o processo de implantação do Programa Banco Comunitário de
Sementes de Adubos Verdes no período de 2007 a 2014 no estado do Rio de Janeiro contribuiu
para a geração e fortalecimento de capital social local e independência dos agricultores do
insumo semente. Foram considerados para efeito de discussão do Programa Banco Comunitário
de Adubos Verdes diferentes conceitos de capital social e as inter-relações estabelecidas em
termos de participação: laços de cooperação, reciprocidade e confiança. O universo de estudo
foi composto pelos bancos comunitários e bancos familiares de sementes de adubos verdes
identificados em levantamento de 2013 realizado pela Superintendência Federal de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento no Estado do Rio de Janeiro (SFA-RJ). A hipótese de pesquisa foi
que a implementação do Programa BCSAV promoveu participação e condições para a geração
e o fortalecimento de capital social local. Agricultores familiares que já participavam em
alguma associação/cooperativa apresentavam maior engajamento na comunidade do seu
entorno sendo maior a confiança nas ações em conjunto com outros agricultores e a participação
em ações como mutirões, entretanto para estes agricultores a inserção do BCSAV não alterou,
de modo significativo, sua participação social, confiança e cooperação. Na percepção dos
técnicos entrevistados, o Programa possibilitou, em maior ou menor grau, a participação social
intensificando os laços de confiança e cooperação entre os agricultores. Ao considerar os bancos
de sementes, foi possível identificar fortes laços de reciprocidade onde as pessoas auxiliavam-
se umas às outras, aumentando a confiança e a cooperação dos associados, sendo o aspecto
participativo muito valorado pelos gestores/guardiões dos bancos comunitários estudados.
Percebeu-se que o Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes possuía
condições de promover a participação e as condições para a geração e o fortalecimento de
capital social local, entretanto isto evidenciou-se de modo mais incisivo em locais onde já havia,
mesmo que de forma incipiente, laços de confiança, reciprocidade e cooperação instalados.

Palavras-chave: capital social, banco comunitário de sementes, reciprocidade; confiança;


participação.
ABSTRACT

The Ministry of Agriculture, Livestock and Food Supply, known as Mapa, created the Green
Manure Seed Community Bank (GMSCB) in 2007. The Program aimed at encouraging the use
of green manure and reducing dependence on external inputs by encouraging the creation or
expansion of community seed banks. In this sense, the objective of this study was to verify if
the process of implantation of the Green Manure Seed Community Bank Program from 2007
to 2014 in the state of Rio de Janeiro contributed to the generation and strengthening of local
social capital and the independence of farmers from Seed supply. Different concepts of social
capital and the interrelationships established in terms of participation were considered for
discussing the Green Manure Seed Community Bank Program: ties of cooperation, reciprocity
and trust. The study scope was composed of community and family green manure seed banks
identified in a 2013 survey conducted by the Federal Superintendence of Agriculture, Livestock
and Food Supply in the State of Rio de Janeiro (SFA-RJ). The research hypothesis was that the
implementation of the GMSCB Program promoted participation and conditions for the
generation and strengthening of local social capital. Family farmers who were already
participating in some association / cooperative showed greater commitment in the community
around them, with greater confidence in actions in conjunction with other farmers and
participation in actions as joint efforts. However, for these farmers the insertion of the GMSCB
did not change social participation, trust and cooperation. In the perception of the interviewed
technicians, the Program made possible, to a greater or lesser degree, social participation,
intensifying the bonds of trust and cooperation among farmers. When considering the seed
banks it was possible to identify strong bonds of reciprocity where people helped each other,
increasing the trust and cooperation of the associates, being the participatory aspect highly
valued by the managers / guardians of the community banks studied. It was noticed that the
Green Manure Seed Community Bank Program had the conditions to promote the participation
and the conditions for the generation and strengthening of local social capital, but this was more
incisive in places where there was, even at an incipient state, bonds of trust, reciprocity, and
cooperation already installed.

Keywords: social capital, community seed bank, reciprocity; confidence; participation.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Número e tipo de bancos de sementes constituídos a partir das ações de


capacitação para a formação de Bancos Comunitários e Bancos Familiares de 76
Sementes de Adubos Verdes no estado do Rio de Janeiro, 2009 a 2012

Figura 2 - Macrorregiões do Estado do Rio de Janeiro cobertas pela pesquisa 85

Figura 3 - Número de municípios e grupos participantes da 1° fase do programa 106


BCSAV

Figura 4 - Agricultores beneficiados pelo Programa BCSAV (2008 a 2010) 108

Figura 5 – Bancos comunitários estudados na pesquisa, 2015. 114

Figura 6 – Banco de Sementes com campo de produção de sementes da Associação 120


Agroecológica de Teresópolis (AAT) em destaque, RJ, 2015.

Figura 7 - Sementes armazenadas no Banco de Sementes da Associação Agroecológica 120


de Teresópolis (AAT), RJ, 2015.

Figura 08 - Casa de Sementes livres e local de armazenamento das sementes, Silva 123
Jardim, RJ, 2015
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Momentos históricos da evolução do conceito de Capital Social 55

Tabela 2 - Definição de Capital Social para diferentes autores 56

Tabela 3 – Definições de Capital Social apresentadas por Durston (2000), Bebbington 68


(2005), Putnam (1996) e Evans (1996)

Tabela 4 - Pilares de Sustentação Teórica obtidos a partir da teoria de Capital Social 69

Tabela 5 - Questões sobre capital social aplicada aos agricultores familiares abordados 70
na pesquisa, 2015.

Tabela 6 - Questões sobre capital social aplicadas aos técnicos multiplicadores 71


abordados na pesquisa, 2015.

Tabela 7 - Questões sobre capital social e aplicada aos gestores dos bancos 73
comunitários abordados na pesquisa, 2015.

Tabela 8 - Questões sobre capital social aplicada aos formuladores do Programa 75


BCSAV e ao Superintendente Federal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do
Estado do Rio de Janeiro abordado na pesquisa, 2016.

Tabela 9 - Diretriz para seleção do tamanho das amostras de pesquisa, 2015. 77

Tabela 10 - Universo da pesquisa e definição do espaço amostral para construção do 80


panorama histórico da concepção, elaboração e implantação do Programa Banco
Comunitário de Sementes de Adubos Verdes no Estado do Rio de Janeiro, 2015.

Tabela 11 - Universo da pesquisa e definição do espaço amostral para identificação do 82


perfil socioeconômico dos agricultores familiares e levantamento dos condicionantes
para implantação de Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes no estado
do Rio de Janeiro, 2015.

Tabela 12 - Dimensões e Categorias de Análise obtidas a partir dos dados de campo 88

Tabela 13 - Correlação entre os Pilares de Sustentação Teórica, Dimensões de Análise, 89


Unidades Temáticas e Evidências
Tabela 14 - Etapas de execução do Programa Banco Comunitário de Sementes de 105
Adubos Verdes no estado do Rio de Janeiro, 2014.

Tabela 15 – Número de multiplicadores e técnicos capacitados para implantação do 107


Programa

Tabela 16 - Espécies de sementes de adubos verdes distribuídas pelo Programa BCSAV 109
no período de 2008 a 2010

Tabela 17 – Relação dos grupos/multiplicadores e localidades segundo a etapa de 112


constituição e registro pelo Mapa, 2013.

Tabela 18 - Bancos comunitários e familiares constituídos no Estado do Rio de Janeiro 113


registrados pelo Mapa no ano de 2013

Tabela 19 – Agricultores entrevistados por região considerando sexo e escolaridade. 127


Estado do Rio de Janeiro, 2015

Tabela 20 - Tamanho dos estabelecimentos rurais pesquisados, em hectares (ha), Estado 128
do Rio de Janeiro, 2015/2016

Tabela 21- Distribuição do ganho do agricultor com a agricultura em termos de salários 130
mínimos, Estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos
parênteses 2015/2016.

Tabela 22 - Características sóciodemográficas dos agentes multiplicadores 131


entrevistados segundo sexo, escolaridade, área de atuação, instituição de filiação,
tempo de serviço na Extensão Rural e região de atuação, Estado do Rio de Janeiro,
2016

Tabela 23 - Frequência do nível de escolaridade dos agentes multiplicadores do 132


Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem
nos parênteses, 2015/2016.

Tabela 24 - Nível de escolaridade em relação ao tempo (em anos) de serviço dos agentes 133
multiplicadores do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e
números absolutos nos parênteses, 2015/2016.
Tabela 25 - Ocorrência de diferentes motivações dos agricultores familiares para 138
participação no Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, 2015/2016.

Tabela 26 - Correlação entre a vinculação do multiplicador e o recebimento de 139


assistência técnica pelo agricultor durante a implantação do Programa BCSAV no
estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos parênteses,
2015/2016.

Tabela 27 - Ocorrência de diferentes motivações dos multiplicadores para participação 140


no Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e
porcentagem nos parênteses, 2015/2016.

Tabela 28 - Correlação entre a motivação do multiplicador para participar no Programa 140


e sua ação como agente de Ater no estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e números
absolutos nos parênteses, 2015/2016.

Tabela 29 - Correlação entre a multiplicação das sementes de adubos verdes, aumento 147
de uso e observação de mudanças nas propriedades rurais devido ao Programa BCSAV
no estado do Rio de Janeiro, 2015/2016.

Tabela 30 - Critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores para seleção 149
dos agricultores a serem beneficiados pelo Programa BCSAV no estado do Rio de
Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.

Tabela 31 - Interação entre critério para seleção dos agricultores a serem beneficiados 150
pelo Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro e ação do extensionista no estado
do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos parênteses, 2015/2016.

Tabela 32 - Critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores para seleção 151
dos agricultores a serem beneficiados pelo Programa BCSAV no estado do Rio de
Janeiro em relação ao tempo de serviço, onde os números em parênteses indicam o
número de multiplicadores envolvidos no critério, 2015/2016

Tabela 33 - Estratégias para avaliação da implantação do Programa BCSAV no estado 152


do Rio de Janeiro, 2015/2016.
Tabela 34 - Fatores potencializadores na percepção dos multiplicadores do Programa 153
BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos
parênteses, 2015/2016.

Tabela 35 - Fatores limitantes na percepção dos multiplicadores do Programa BCSAV 155


no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses,
2015/2016.

Tabela 36 - Participação dos agricultores nas decisões da associação/casa de sementes 159


do estado do Rio de Janeiro envolvidos com o BCSAV, 2015/2016.

Tabela 37 – Inter-relação entre grau de participção, confiança interpessoal e 160


participação em mutirões, onde os números em parênteses indicam o número de
agricultores entrevistados envolvidos no critério. Rio de Janeiro, 2015/2016.

Tabela 38 - Alteração do nível de confiança entre os agricultores beneficiados pelo 164


BCSAV na percepção dos extensionistas em números absolutos e porcentagem nos
parênteses. Rio de Janeiro,2015/2016.

Tabela 39 - Alteração do nível de cooperação entre os agricultores beneficiados pelo 164


BCSAV na percepção dos extensionistas em números absolutos e porcentagem nos
parênteses. Rio de Janeiro,2015/2016.

Tabela 40 - Participação dos agricultores nas decisões da associação/cooperativa e ou 165


casa de sementes em 2015 em comparação à 2014.
LISTA DE SIGLAS

ABIO - Associação dos Produtores Biológicos do Rio de Janeiro


ACIPTA - Associação de Citricultores e Produtores Rurais de Tanguá
APFASB - Associação de Produtores Familiares e Amigos da Serra do Barbosão
ASPUR - Associação de Desenvolvimento Comunitário de Purilândia
ATT - Associação Agroecológica de Teresópolis
BCS – Banco Comunitário de Sementes
BCSAV - Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes
CIAPO - Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica
CNAPO - Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
COAGREA/Mapa - Coordenação de Agroecologia, do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento
CPOrg - Comissões da Produção Orgânica
DPDAG - Divisão de Política, Produção e Desenvolvimento Agropecuário
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
IDACO - Instituto de Desenvolvimento e Ação Comunitária
IBIO - Instituto Bio Atlântica
MAPA - Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

PAIS - Produção Agroecológica Integrada e Sustentável


PLANAPO - Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
PNAPO - Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
SFA-RJ - Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado do Rio
de Janeiro
STPOrg - Subcomissão Temática de Produção Orgânica
SEPLAG - Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do estado do Rio de Janeiro
TIRFAA - Tratado Internacional de Recursos Fitogenéticos para Alimentação e Agricultura
TS – Tecnologia Social
SUMÁRIO

8
RESUMO
9
ABSTRACT
10
LISTA DE FIGURAS
11
LISTA DE TABELAS
15
LISTA DE SIGLAS
20
1. INTRODUÇÃO
25
2. DESENVOLVIMENTO RURAL: PASSOS PARA SUSTENTABILIDADE
25
2.1. Agroecologia rumo à Sustentabilidade

2.1.1. Agroecologia como movimento de agricultura alternativa à 29


convencional

2.1.2. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável 32

34
2.2. Agroecologia e Políticas Públicas para sua implantação

2.2.1. A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica 37

42
2.3. Das Sementes Selvagens aos Bancos Comunitários de Sementes

2.3.1. Bancos Comunitários de Sementes: características e modus operandi 47

2.3.2. Banco Comunitário de Sementes: uma Tecnologia Social 52

54
2.4. Capital Social: Uma construção do coletivo e para o coletivo
66
3. A CONCEPÇÃO METODOLÓGICA E O TRAJETO DA PESQUISA
66
3.1. A opção metodológica da pesquisa

3.2. O plano de trabalho e as estratégias de pesquisa 68

3.2.1. Elaboração dos questionários para coletas de dados no campo 68

3.2.1.1. Questionários dos agricultores familiares 70

3.2.1.2. Questionário para os Técnicos Multiplicadores 71

3.2.1.3. Questionários dos gestores dos Bancos Comunitários 72


3.2.1.4. Questionários dos agentes formuladores do Programa BCSAV e 74
Superintendente Federal da Agricultura

3.2.2. A seleção dos sujeitos da pesquisa 75

3.2.3. Definição do espaço amostral da pesquisa 76

3.2.4. Etapas da pesquisa 78

3.2.4.1. Primeiro momento da pesquisa: Construção do panorama


histórico da concepção, elaboração e implantação do Programa Banco 78
Comunitário de Sementes de Adubos Verdes

3.2.4.2. Segundo momento da pesquisa: identificação do perfil


socioeconômico dos agricultores familiares e levantamento dos
81
condicionantes para implantação de Bancos Comunitários de
Sementes de Adubos Verdes

3.2.4.3. Terceiro momento da pesquisa: verificação de como o Programa


Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes pode contribuir
83
para a formação ou fortalecimento do Capital Social em termos de
promoção da confiança, reciprocidade e cooperação entre os pares

83
3.3. Condução da pesquisa em campo

3.3.1. Análise dos documentos e relatórios da SFA-RJ 83

3.3.2. Entrevistas com agentes multiplicadores e agricultores familiares 84

86
3.4. Organização e análise das entrevistas
90
3.4.1. Análise estatística

4. O PROGRAMA BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES DE ADUBOS 92


VERDES NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.1. O Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes 92


(BCSAV)

4.1.1. Uso de adubos verdes como prática agrícola 92

4.1.2. Concepção e Implantação do BCSAV 95


4.1.2.1. Primeira fase: 2007 a 2010 99

4.1.1.2. Segunda fase: 2012 a 2015 102

4.2. A implantação do BCSAV no Estado do Rio de Janeiro 103

4.2.1. Bancos Comunitários vinculados ao Programa BCSAV no estado do Rio 114


de Janeiro

4.2.1.1. Associação Comunitária dos Produtores Orgânicos de Purilândia 114

4.2.1.2. Associação Agroecológica de Teresópolis (AAT) 117

4.2.1.3. Casa de Sementes Livres de Mata Atlântica 121

4.2.1.4. Os bancos comunitários de Cachoeiras de Macacu 124

4.3. Atores sociais do programa BCSAV 127

4.3.1. Agricultores familiares beneficiados 127

4.3.2. Técnicos multiplicadores 130

4.3.3. Formuladores e responsáveis pela execução do Programa BCSAV no


133
estado do Rio de Janeiro

4.3.4. Gestores dos Bancos Comunitários de Sementes 134

4.4. Empoderamento e Instrumentalização dos atores sociais 135

4.4.1. Agricultores Familiares 137

4.4.2. Multiplicadores 139

4.5. Análise da implantação do BCSAV na percepção de seus atores 144

4.5.1. O BCSAV para os agricultores familiares 145

4.5.2. O BCSAV segundo os multiplicadores 147

4.5.3. Potencialidades, limites e dificuldades 153


4.6 Capital Social na perspectiva dos diferentes atores sociais do Programa BCSAV 158

4.6.1 Histórico de reciprocidade, confiança e cooperação. 158

4.6.2 Mecanismos de cooperação, reciprocidade e confiança criados. 163

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 170

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 176

APÊNDICES 189

ANEXOS 209
20

1. INTRODUÇÃO

Durante as últimas décadas do século XX grandes mudanças puderam ser


observadas em diferentes setores culturais da civilização ocidental, o que provocou uma série
de alterações na relação entre os seres humanos e entre estes e a natureza. As práticas agrícolas
na busca pela produção de mais alimentos aliadas ao aumento da produção de biomassa para
geração de energia e de comodities para a exportação impulsionaram a abertura de novas
fronteiras agrícolas criando um modelo baseado na excessiva especialização dos sistemas
produtivos, dependência de insumos externos de custo elevado e de alto impacto
socioambiental.
Surge um movimento deflagrado pelo apelo à sustentabilidade, trazendo consigo a
Agenda 211, um acordo internacional com a característica de ser um plano de ação para ser
adotado global, nacional e localmente. Esta Agenda trouxe em seu escopo o Capítulo 32
dedicado ao fortalecimento do papel dos agricultores, peça chave para alcançar a
sustentabilidade no campo.
Ao fortalecer da agricultura familiar, confere-se sustentabilidade aos
agroecossistemas2 e também se promove a inclusão social e garantia de segurança alimentar.
Contudo, para assegurar a sustentabilidade desta atividade, por parte destes agricultores torna-
se necessário estudar criticamente o modelo de agricultura praticado com vistas a repensar
conhecimentos, práticas e tecnologias socialmente adequadas e ambientalmente
conservacionistas. Para se caminhar nessa direção, é preciso que tais iniciativas ganhem um
salto em termos de escala, efetividade3 e perenidade. Este ganho pode ser realizado por meio
de políticas públicas voltadas a melhorar a qualidade de vida da coletividade, garantindo, ao
mesmo tempo, a sustentabilidade socioambiental, cultural, política, econômica, ética e espacial
de cada comunidade contribuindo para que convirjam para o cumprimento das “promessas da
pós-modernidade4” (SANTOS, 1995).

1
AGENDA 21. Disponível em http://www.ibamapr.hpg.ig.com.br/agenda21.htm, acesso em 18 de
setembro de 2010.
2
Agroecossistema é um local de produção agrícola compreendido como um ecossistema. O conceito de
agroecossistema proporciona uma estrutura com a qual se pode analisar os sistemas de produção de
alimentos como um todo, incluindo seus conjuntos complexos de insumos e produção e as interconexões
entre as partes que os compõem (GLIESSMAN, 2009, p.63)
3
Entende-se como efetividade a relação entre os resultados e o objetivo, ou seja efetividade expressa o
resultado concreto dos fins, objetivos e metas desejadas por um projeto. (COHEN e FRANCO, 2013)
4
Pós modernidade refere-se ao período histórico em que a modernidade se desenvolveu, pautado nas
promessas de liberdade, igualdade e fraternidade de uma sociedade baseada nos imperativos da razão e
com meios para o livre desenvolvimento material e progresso social a partir do uso racional dos recursos
21

Para tanto, é fundamental o envolvimento das comunidades nos processos de


tomada de decisão que orientam o desenvolvimento, e assim também na formulação e
implantação de políticas públicas voltadas às questões socioambientais. Esta afirmação ganha
força ao considerar-se que os elementos que definem o bem-estar ou a qualidade de vida
dependem do contexto sociocultural e de preferências individuais e coletivas, devendo ser
definidos por meio de debates públicos, abrangentes e críticos (SEN, 2000).
Em 2007 foi criado o Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes
(BCSAV), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-Mapa, em parceria com
outras instituições. O Programa visou o fomento do uso de adubos verdes e diminuição da
dependência de insumos externos à unidade de exploração agropecuária, por meio do estímulo
à criação ou ampliação de bancos comunitários de sementes de adubos verdes. A proposta do
Programa era ir além da distribuição de sementes, atuando com a lógica da multiplicação,
armazenamento, e gestão de um banco de sementes, visto que a criação e manutenção de um
banco de sementes pressupõe um trabalho coletivo direcionado ao envolvimento dos
agricultores. No Rio de Janeiro o Programa foi iniciado no final de 2007, sendo executado pela
Superintendência Federal de Agricultura no Estado–SFA/RJ em parceria com outras
instituições. Este Programa foi ratificado pela Política Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica (Pnapo), criada por meio do decreto nº 7.794, de 20 de agosto de 2012. Esta política
consolidou um passo importante a favor do desenvolvimento rural sustentável, já que uma de
suas prioridades é o fortalecimento de ações de conservação e resgate de variedades, mediante
o apoio e incentivo a criação de Bancos Comunitários de Sementes (BCSs).
Bancos Comunitários podem ser compreendidos como tecnologia social por
apresentarem técnicas e metodologias que foram desenvolvidos na integração com a
comunidade bem como serem potenciais soluções para a transformação social. Representam
uma importante estratégia de fortalecimento à diversidade e a segurança familiar de pequenos
agricultores, pois possibilitam a disponibilidade de sementes e diminuem a dependência externa
deste insumo. Ademais, essa estratégia traz um elemento importante, o comunitário, que tem
como premissa a participação ativa da comunidade em todo o processo. Desse modo, no
contexto desta tese admitimos os bancos comunitários de sementes como uma Tecnologia
Social desenvolvida como um fruto de uma construção social, produto dos atores que a

naturais esgotou-se. Neste contexto somente com outros meios, instrumentos e uma outra racionalidade
seremos capazes de fazer cumprir o ideal da modernidade (GONÇALVES, 2014)
22

constroem e do contexto participativo no qual é desenvolvido. Muitos planos de


desenvolvimento têm falhado porque não se leva em conta a opinião das pessoas envolvidas
(HERRERA, 2010, pag.39). Segundo Nascimento et al. (2012) é por meio de bancos
comunitários de sementes que foi possível realizar, em muitos casos, em conjunto com as
comunidades, o associativismo, entre outros temas. Isto contribuiu com a resistência dos
agricultores familiares frente ao domínio do mercado, o que é importante visto a capacidade de
ação coletiva é um dos requisitos do desenvolvimento sustentável.
Nos últimos anos o interesse dos cientistas sociais no estudo sobre capital social,
bem como na confiança entre os indivíduos, no associativismo e nas redes de relações sociais
foi intensificado (KHAN e SILVA, 2005). Nicola (2007) pontua que o capital social está
intimamente relacionado à capacidade de organização e constituição das redes de cooperação
social as quais são importantes no processo de desenvolvimento sustentável.
Para efeito de discussão não foi adotado o conceito de um único autor. Foram
considerados para efeito de discussão do Programa Banco Comunitário de Adubos Verdes os
pilares de sustentação teórica de alguns autores selecionados, por consideramos positivas não
somente as contribuições teóricas de diferentes autores, mas também as possíveis inter-relações
entre elas, tendo como norteador do conceito de capital social aquele que ocorre por meio das
relações estabelecidas em termos de laços de cooperação, reciprocidade e confiança.
Dentre as muitas contribuições teóricas Bourdieu (1980) definiu o capital social
como agregador de recursos, reais e potenciais, que possibilitavam o pertencimento a
determinados grupos e instituições como, por exemplo, em associações e cooperativas. Para
este autor os diferentes capitais são uma forma de poder podendo ser criado em comunidades
que possuem algumas características como a solidariedade, a confiança e reciprocidade. Para
Putnam (2000) capital social refere-se a características da organização social, tais como leis,
normas e relações interpessoais presente somente nas sociedades onde existe um forte
sentimento cívico. Outro autor destacado é Bebbington (2005) que traz à discussão a ligação
entre o capital social e as estratégias de superação da pobreza no meio rural. Ele identifica três
tipos de capital social, entre os quais capital social de união, ponte e escada. Além dos autores
citados, Durston (1999; 2000; 2006) traz grande contribuição ao subdividir o conceito de capital
social em comunitário e individual. Para ele o capital social individual estaria presente nas
relações sociais pautadas em confiança e reciprocidade manifestada em redes mais
individualizadas, enquanto o comunitário se expressaria em instituições mais complexas
pautadas na cooperação e gestão.
23

Nesta pesquisa buscou-se verificar os efeitos5 que o Programa de governo Banco


Comunitário de Sementes de Adubos Verdes causou em determinadas localidades onde foi
implantado no Rio de Janeiro no tocante ao fomento à participação dos diferentes atores sociais,
em prol da independência na aquisição de sementes.
Considerando o exposto, o objeto de estudo desta pesquisa foi o programa de
governo BCSAV, tendo como fundamentação teórica o papel dos bancos de sementes como
tecnologia social capaz de promover capital social na forma de confiança, participação social,
reciprocidade e cooperação entre diferentes atores sociais.
Neste contexto, esta pesquisa buscou responder ao seguinte questionamento: “As
ações desenvolvidas pelo Programa do Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes
(BCSAV), entendido como tecnologia social, tem criado condições para a geração e o
fortalecimento de capital social local? ”
Em outras palavras a hipótese deste trabalho foi que a implementação do Programa
Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes promoveu a participação e as condições
para a geração e o fortalecimento de capital social local.
Nesse sentido, o objetivo geral da pesquisa foi verificar se o processo de
implantação do Programa BCSAV no período de 2007 a 2014 contribuiu para a geração e
fortalecimento de capital social nos locais onde foi implantado e independência dos agricultores
de insumos externos, no caso sementes.
Os objetivos específicos foram:
1. Resgatar historicamente a concepção, elaboração e implantação do Programa
Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes tanto para o âmbito
nacional quanto no estado do Rio de Janeiro;
2. Verificar e analisar o papel dos diferentes atores envolvidos com a concepção,
elaboração, implantação e acompanhamento do Programa Banco Comunitário de Sementes de
Adubos Verdes no estado do Rio de Janeiro;
3. Identificar e caracterizar o perfil socioeconômico dos agricultores familiares
envolvidos com os bancos comunitários de sementes de adubos verdes no estado do Rio de
Janeiro;
4. Verificar os condicionantes que levam os agricultores familiares a adotarem a
tecnologia social dos Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes; e

5
Entende-se por efeito todo comportamento ou acontecimento que pode razoavelmente dizer que sofreu
influência de algum aspecto do programa ou projeto. (BOND, 1995 apud COHEN e FRANCO, 2013).
24

5. Verificar em que os Bancos Comunitários contribuem para a formação do Capital


Social em termos de promoção da confiança, reciprocidade e cooperação entre os pares e
participação social.
Esta tese encontra-se estruturada em cinco capítulos incluindo este. O segundo
capítulo discute a temática “Desenvolvimento Rural: passos para Sustentabilidade” traçando
um panorama histórico da modernização agrícola frente ao surgimento da Agroecologia e da
Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Também nesse capítulo é abordada a
temática dos Bancos Comunitários de Sementes introduzindo-se a discussão do Programa
Banco Comunitários de Sementes de Adubos Verdes. Neste ponto tratam-se os bancos
comunitários de sementes como Tecnologia Social capaz de promover o desenvolvimento do
Capital Social como uma construção do coletivo e para o coletivo e para o individual.
No terceiro capítulo é detalhada a concepção metodológica e o trajeto, o plano e as
estratégicas de pesquisa, bem como as etapas executadas para o alcance dos objetivos
propostos. Neste capítulo também são apresentados os procedimentos adotados para tratamento
e análise dos dados e informações obtidas nas atividades de pesquisa em campo.
No quarto capítulo é apresentado o estado da arte do Programa Banco Comunitário
de Sementes de Adubos Verdes, a partir de análise documental e pesquisas de campo realizado
junto a gestores e formuladores do Programa. Serão apresentadas as características gerais dos
atores sociais do Programa entrevistados na pesquisa: agricultores e técnicos multiplicadores
bem como gestores dos bancos comunitários de sementes e formuladores do Programa.
Também neste capitulo é desenvolvida a análise dos dados de campo a partir de três dimensões
identificadas nos descritivos das entrevistas: histórico da idealização, formalização e
implementação do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro; empoderamento dos atores
sociais do Programa BCSAV; e Capital Social presente e gerado pelo Programa BCSAV na
perspectiva dos diferentes atores sociais.
O quinto capítulo aborda as considerações finais discutindo alguns dos principais
aspectos dos resultados da pesquisa em termos da comprovação da hipótese de tese e do alcance
dos objetivos geral e específicos, apresentando perspectivas de futuro para ações.
25

2 DESENVOLVIMENTO RURAL: PASSOS PARA SUSTENTABILIDADE

Este capítulo tem a finalidade de embasar a discussão da potencialidade do Banco


Comunitário de Sementes de Adubos Verdes, entendido como uma tecnologia social, ser capaz
de promover a geração de capital social nas comunidades onde ele existe. Está dividido em
tópicos, iniciando com um resgate histórico dos principais elementos que compõem a trajetória
do desenvolvimento rural no Brasil desde o período da modernização agrícola nos anos 1950 e
1960 até a década de 2010 destacando-se os modelos de agricultores de bases ecológicas,
incluso a agroecologia, culminando com o lançamento da Política Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (Pnapo). Na sequência é trabalhado o conceito de banco comunitário de
sementes dentro da perspectiva de análise de uma tecnologia social, seu modus operandi e a
estruturação do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes, enquanto uma
proposta de solução à falta de sementes de adubos verdes para redução da dependência de
insumos externos para os agricultores familiares. Finalizando, discute-se conceitualmente
capital social em termos de promoção da confiança, reciprocidade, cooperação entre os pares e
participação social dos agricultores familiares em suas comunidades.

2.1. Agroecologia rumo à Sustentabilidade

No final do século XIX, a forma de fazer agricultura foi transformada por


descobertas científicas que abriram caminho para o uso de fertilizantes minerais (JESUS, 1985).
A teoria dos húmus como fonte de fertilidade do solo foi substituída por uma agricultura
pautada em leis físico-químicas, segundo as quais as plantas podiam nutrir-se com sais simples.
Ao final da Primeira Guerra Mundial o nitrato, produzido para a fabricação de
pólvora, começou a ser usado como fonte de nitrogênio na agricultura, trazendo consigo os
primeiros passos da modernização da agricultura em diversas áreas tanto em âmbito econômico
quanto social e ambiental (NETO, 1997; PALMEIRA, 1989; PEIXOTO, 2009). O termo
“modernização da agricultura” foi utilizado como referência as transformações técnicas
ocorridas na agricultura neste período pós-guerra e pela dependência de importação dos meios
de produção (GRAZIANO DA SILVA, 1996) pelos países periféricos.
A modernização agrícola trouxe um novo modelo de se fazer agricultura sendo
difundido para vários países a partir de transformações tecnológicas. Trazia a bandeira do
combate a fome representando, em tese, para os países periféricos a oportunidade de sanar a
lacuna tecnológica que os separava dos países centrais. A modernização da agricultura seguiu,
26

portanto, o modelo capitalista hegemônico que levou o produtor rural a tentar adaptar a natureza
aos interesses mercadológicos tornando a agricultura subordinada à indústria (GRAZIANO
NETO, 1985; TEIXEIRA, 2005).
O processo de modernização da agricultura no Brasil expandiu nos anos 1950 com
as importações dos meios de produção e a implantação de um setor industrial que se estabeleceu
no final dos anos 1960. Agra e Santos (2000) pontuam que a dinâmica produzida para
modernizar a agricultura teve um caráter imediatista, marcado pelo aumento da produtividade
no curto-prazo, pela minimização dos riscos e maximização do controle do homem sobre a
natureza, além de ser orientado para os grandes proprietários de terra. Assim sendo o
delineamento da agricultura moderna nos anos 1960, caracterizou-se pelo fortalecimento dos
vínculos entre forma e tipo de produção agropecuária e os setores industriais, bem como pela
forte presença do Estado na criação e utilização de instrumentos de política econômica tais
como o crédito rural e incentivos fiscais (KAGEYAMA, 1985).
Aliado à alteração da base técnica, o final dos anos 1960 é considerado um marco
da industrialização da agricultura (GRAZIANO DA SILVA, 1987). Representou grande
aumento da produção de bens de consumo duráveis, implementos, sementes e agroquímicos
entre outros. Para Wanderley

O final dos anos 60 é um período extremamente rico para a produção do


conhecimento sobre o mundo rural brasileiro. É nesse momento que se
consolida no país um novo paradigma que, superando alguns dos temas
presentes, se constitui como um patamar a partir do qual novas questões
podem ser formuladas e pesquisadas. (WANDERLEY, 2011, p. 23)

Graziano da Silva (1996) dividiu a modernização da agricultura no Brasil em três


grandes fases: a) transformação da base técnica, induzida e estimulada pelo governo e empresas
norte-americanas; b) industrialização da produção rural com a implantação de indústrias de
bens de produção e de alimentos e c) integração entre a agricultura e a indústria, que
desencadeou um modelo produtivo baseado nos princípios da Revolução Verde e na
constituição dos complexos agroindustriais.
Destacam-se a partir dessa década, instituições públicas, como, por exemplo, a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) criada em 1971, que incorporaram em
suas pesquisas o melhoramento genético de grãos, estando este fato diretamente relacionado
aos grandes produtores de sementes (MACHADO, 1998).
A partir deste momento foram dadas condições para a adoção em larga escala de
mecanização agrícola, uso de sementes híbridas, uso de adubos e fertilizantes químicos entre
27

outros. Foi a partir deste período que o Estado brasileiro intensificou a entrada no país de
multinacionais voltadas para o segmento agropecuário e atrelou este setor ao desenvolvimento
econômico. Na busca pela maximização da produção e do lucro desenvolveu-se um rol de
práticas agrícolas e pecuárias sem considerar a dinâmica ecológica dos agroecossistemas
(GLIESSMAN, 2009). Ressalta-se que muito pouco se conseguiu alcançar em termos sociais.
A necessidade pela produção de mais alimentos, demandada na década de 1970
pelo êxodo rural, pressão demográfica e urbanização, impulsionou a abertura de novas
fronteiras agrícolas criando um modelo de exploração de terra baseado na excessiva
especialização dos sistemas produtivos. Isto praticamente acarretou a eliminação das atividades
de produção para autoconsumo, que aliada ao processo de industrialização da agricultura e à
busca de novas matrizes energéticas levou à degradação de diversos recursos naturais.

[...] nosso sistema de produção global de alimentos está no processo de minar


a própria fundação sobre a qual foi constituído. As técnicas, inovações,
práticas e políticas que permitiram aumentos na produtividade também
minaram a sua base. Eles retiraram excessivamente e degradaram os recursos
naturais dos quais a agricultura depende [...] (Gliessman, 2009, p.35)

Segundo Gliessman (2009, p. 36) a espinha dorsal da moderna agricultura brasileira


foi constituída por seis práticas básicas: cultivo intensivo do solo, monocultura, irrigação,
aplicação de fertilizantes inorgânicos, controle químico de pragas e manipulação genética de
plantas cultivadas. Segundo o autor, estas práticas formavam um sistema no qual há
dependência uma das outras e o reforço da necessidade de usá-las.
Graziano da Silva (1996) caracterizou o período entre 1965 a 1979 como de
modernização conservadora6, a qual se deu a partir de uma inserção da modernização técnica
no campo. Nesta fase o governo induziu a modernização via crédito subsidiado e à
internalização do pacote tecnológico da Revolução Verde, associando a indústria ao setor
agrícola. É durante este período que a pesquisa e o desenvolvimento dos sistemas de produção

6
O processo de modernização da agricultura exigiu uma reorganização da agricultura a partir da
intervenção do Estado e com o apoio da oligarquia rural, fazendo surgir uma nova dinamização da
produção agrícola e a renovação das estruturas de dominação, caracterizada por uma maior
concentração, centralização, desigualdade e exclusão no campo, marcando o período chamado de
“Modernização Conservadora”, ou seja, uma modernização sem mudanças estruturais. Este modelo
desenvolvimentista manteve as características do modelo evolutivo da estrutura agrária do Brasil deste
a sua colonização: a intensificação da produção para atendimento às demandas do consumo externo, a
opção pela monocultura, o apoio político e econômico aos grandes proprietários de terras (incentivo à
estrutura latifundiária) e a subordinação dos agricultores de pequena produção às grandes propriedades
[...]. (SILVA, 2007).
28

são orientados para a incorporação de pacotes tecnológicos na agricultura destinados a aumentar


a produtividade agrícola (ASSIS, 2006). Como consequência destas medidas houve um
aumento expressivo no uso de tecnologias como colheitadeiras, tratores e fertilizantes que,
somado à presença da assistência técnica e das pesquisas agropecuárias promoveram a alteração
na base de produção no campo. Estas alterações ampliaram a produtividade agrícola e
promoveram o surgimento dos complexos agroindustriais viabilizando o que hoje
denominamos de agronegócio brasileiro. Aliado ao uso de insumos agrícolas e à política de
créditos vigentes a introdução de sementes híbridas trouxe redução do uso das sementes
tradicionais, causando erosão genética e levando os agricultores à necessidade de adquirirem
todos os anos sementes para fazerem suas lavouras (CORDEIRO e FARIAS, 1993). Em
especial na década de 1970 o desenvolvimento agropecuário propulsionado por políticas de
créditos facilitados destinados aos grandes produtores e pelo avanço no processo de
desenvolvimento econômico urbano-industrial ganha destaque no cenário nacional, passando a
responder aos anseios de parte da sociedade brasileira dominante na época.
A partir da década de 1970, começaram a surgir sérios problemas decorrentes da
adoção de práticas agrícolas relacionadas à Revolução Verde entre os quais a promoção da
uniformidade genética e o desenvolvimento de materiais genéticos altamente dependentes de
insumos industriais ou insumos químicos (MACHADO et al., 2008). A agricultura
convencional, até então pautada na maximização da produção e do lucro, sofreu um grande
processo de transformação, já que a preocupação com o desenvolvimento de sistemas de
produção sustentáveis, visando à redução ou a não utilização de insumos químicos e agrotóxicos
ganhou espaço no cenário mundial. Em âmbito mundial surgem significativas manifestações
na temática da sustentabilidade movida por grandes eventos internacionais.

[...] as problemáticas causadas pelo modelo de modernização agrícola, como


o aumento da dependência tecnológica, o elevado nível de degradação
ambiental, a ampliação da pobreza e da dependência financeira do agricultor
e a generalização do desemprego rural, levaram à sua própria rejeição por
parte dos produtores agrícolas de pequeno porte, tendo na discussão acerca
das alternativas capazes de favorecer a retomada da valorização da produção
agrícola familiar tradicional o direcionamento para um novo processo
eficiente de produtividade sustentável e solidário (SOUZA, 2011, p.235)

Surgem a partir da década de 1970, no Brasil e no mundo movimentos de


agricultura alternativa à convencional que se contrapunham ao uso abusivo de insumos
agrícolas, à deterioração da base produtiva e à dissipação do conhecimento tradicional (ASSIS,
2006). Segundo este autor (p.77), esses movimentos preconizavam “[...] o rompimento com a
29

monocultura e o redesenho dos sistemas de produção de forma a minimizar a necessidade de


insumos à propriedade”.
A busca por uma agricultura mais sustentável evidenciou-se na década de 1980
quando uma crise generalizada nos países de capitalismo periférico, reforçada por diferentes
crises sociais (via concentração de renda, de riquezas e da terra, êxodo rural e violência em
todos os sentidos), crise ambiental (degradação e escassez dos “recursos naturais”,
contaminação dos alimentos entre outros) e crise econômica (diminuição dos níveis médios de
renda e da atratividade dos produtos incentivados pela Revolução Verde) (ALTIERI, 2005,
pag.10). Agricultores buscaram redesenhar os sistemas produtivos minimizando o uso de
insumos externos e diversificando a produção, dentro de um conceito de sustentabilidade
entendido como a manutenção da capacidade de manutenção da produção de biomassa de um
sistema (GLIESSMAN, 2009, p.54). Neste contexto a agroecologia surge como uma
possibilidade de manejo sustentável dos recursos naturais por meio de formas de ação coletiva
(GUZMAN, 2001).
No estado do Rio de Janeiro a estrutura fundiária sofreu a influência do processo de
imigração a partir da colonização europeia resultando em um aumento significativo da pequena
propriedade rural, favorecendo o estabelecimento de lavouras destinadas ao mercado interno
(ALENTEJANO, 1997). Segundo Oliveira (2006, p.6) a agricultura fluminense ‘[...]
caracteriza-se por baixos índices de produtividade, o que acaba por dar a imagem de estado
onde a agricultura é praticamente inexistente, já que não encontramos grandes áreas
contínuas cultivadas.” Diante deste cenário, destaca-se a produção de olerícolas, cuja
agricultura baseada nas pequenas e médias propriedades apresentam uma estrutura mais
moderna e intensiva com elevada capacidade de geração de valor.

A produção de hortaliças, de base familiar, é a exploração agrícola que concentra o


maior contingente humano nas áreas rurais fluminenses, principalmente nas regiões Serrana, do
Médio Paraíba e das Baixadas Litorâneas. As áreas de cultivo são, predominantemente,
situadas em pequenos estabelecimentos com nível, via de regra, avançado de utilização de
tecnologias industrializadas, normalmente fertilizantes sintéticos concentrados e agrotóxicos.

2.1.1. Agroecologia como movimento de agricultura alternativa à convencional

La agroecología surge a partir de la década de 1970 como respuesta teórica,


metodológica y práctica a la crisis ecológica y social que la modernización e
30

industrialización alimentaria generan en las zonas rurales (GUZMÁN e


MONTIEL, 2009, p.35)

Agroecologia pode ser definida como o manejo sustentável dos recursos naturais
por meio de formas de ação coletiva (GUZMÁN, 2001), visando o desenvolvimento rural em
uma perspectiva multidimensional. Como ciência a agroecologia busca o entendimento do
funcionamento de agroecossistemas7 complexos e as diferentes interações que lá ocorrem tendo
como objetivo a conservação e a ampliação da biodiversidade dos sistemas agrícolas.
Há varias autores que trabalham diferentes visões da agroecologia (ALTIERI, 2005;
GLIESSMAN, 2009; GUZMÁN, 2001; CAPORAL e COSTABEBER, 2000; CAPORAL e
COSTABEBER, 2002a; CAPORAL e COSTABEBER, 2004a; CAPORAL e COSTABEBER,
2004b) considerando o aspecto multidisciplinar desta ciência.
Para Altieri a agroecologia é a ciência que traz consigo bases fitotécnicas que
permitem o processo de transição da agricultura convencional para uma mais sustentável,
através da preservação e ampliação da biodiversidade dos agroecossistemas.

A produção sustentável em um agroecossistema deriva do equilíbrio entre


plantas, solos, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos coexistentes.
O agroecossistema é produtivo e saudável quando essas condições de
crescimento ricas e equilibradas prevalecem, e quando as plantas permanecem
resilientes de modo a tolerar estresses e adversidades. [...]. Ocasionalmente,
os agricultores que empregam métodos alternativos podem ter de aplicar
medidas mais drásticas (isto é, inseticidas botânicos, fertilizantes alternativos)
para controlar pragas específicas ou deficiências do solo. A agroecologia
engloba orientações de como fazer isso, cuidadosamente, sem provocar danos
desnecessários ou irreparáveis. Além da luta contra as pragas, doenças ou
problemas do solo, o agroecologista procura restaurar a resiliência e a força
do agroecossistema. (ALTIERI, 2005, p.24)

Considerando o exposto, Altieri (2005) apresenta como princípios preconizados


pela agroecologia:
a) Diversidade e continuidade espacial e temporal onde cultivos mistos garantem
constante produção de alimentos e a cobertura vegetal para proteção do solo,
assegurando uma oferta regular e variada;

7
Agroecossistema é um local de produção agrícola compreendido como um ecossistema. O conceito de
agroecossistema proporciona uma estrutura com a qual pode-se analisar os sistemas de produção de
alimentos como um todo, incluindo seus conjuntos complexos de insumos e produção e as interconexões
entre as partes que os compõem (GLIESSMAN, 2009)
31

b) Otimização do uso de espaço e recursos, onde a combinação de plantas com


diferentes hábitos de crescimento possibilita o melhor uso dos recursos
ambientais, como nutrientes, água e radiação solar;
c) Conservação da água, aliando práticas adequadas a áreas de baixa pluviosidade
e plantas tolerantes à seca;
d) Controle de sucessão e proteção de cultivos através de práticas e estratégicas
agronômicas para enfrentar a competição com organismos indesejáveis;
e) Reciclagem de nutrientes assegurando a fertilidade do solo através da
manutenção dos ciclos de nutrientes, energia, água e resíduos através do uso de
consórcios e ou rotação de cultivos. Para Vogt et al. (2012) este princípio
preconizado por Altieri (2005) traz a adubação verde como uma das práticas
mais adequada. Nesta ótica e também se considerando o ponto de vista
ambiental, a adubação verde é uma das práticas mais adequadas.
Ao buscar a restauração do equilíbrio ecológico, a agroecologia busca também
pautar suas ações na diversidade cultural que nutre as agriculturas locais (ALTIERI, 2005).
Enquanto ciência “contempla uma articulação entre o saber científico e o saber tradicional e
popular, na construção de um corpo de conhecimentos capaz de orientar a conversão dos
sistemas convencionais de produção [...] que torne possível o uso correto dos recursos naturais
para a obtenção de alimentos” (UDRY e ARAÚJO, 2012, p. 135).
Guzmán (2001) em seus estudos traz para a agroecologia a dimensão social,
afirmando que as variáveis sociais desempenham também um papel muito importante no
entendimento de como a política e a economia geram impactos no agricultor. Desse modo a
agricultura tradicional pode fornecer informações fundamentais para o desenvolvimento de
estratégias agrícolas apropriadas e adaptadas a diferentes grupos de agricultores e
agroecossistemas. Assim sendo a agroecologia busca trabalhar em sua dinâmica a auto-
regulação e sustentabilidade dos agroecossistemas aliando questões socioeconômicas e “[...]
resgatando o fato de que a agricultura, além de ser um processo ecológico, é um processo social”
(ASSIS, 2006, p.77).
O desenho de agroecossistemas sob o viés da sustentabilidade exige da
agroecologia a mudança cultural, pois se trata de estabelecer novas relações sociais e com a
natureza, de inserir novos componentes na dimensão econômica de tomada de decisão, de
redesenhar formas estabelecidas de produzir, processar e comercializar. Mudanças estas que
demandam tempo e impõem riscos que não podem ser assumidos isoladamente por uma
agricultura familiar desvalorizada e descapitalizada. Deste modo, para que essa incorporação
32

no modus operandi do agricultor familiar agroecológico seja exitosa faz-se necessário outra
forma de diálogo e socialização de conhecimentos, intercâmbio de práticas e tecnologias
apropriadas, em um processo de transição.
A transição agroecológica objetivará a passagem de um modelo agroquímico de
produção em um processo de evolução contínua e crescente no tempo, porém sem ter um
momento final determinado (CAPORAL e COSTABABER, 2004b, p.12). Trata-se de um
processo de enorme complexidade, tanto tecnológica como metodológica e organizacional,
dependendo dos objetivos e das metas que se estabeleçam, assim como do “nível” de
sustentabilidade que se deseja alcançar (CAPORAL e COSTABABER, 2004b).
Gliessman (2009) apresenta três níveis fundamentais no processo de transição ou
conversão para agroecossistemas sustentáveis:
a) Primeiro nível de transição: refere-se ao incremento da eficiência das práticas
convencionais para reduzir o uso e consumo de insumos externos caros, escassos
e daninhos ao meio ambiente.
b) Segundo nível da transição: refere-se à substituição de insumos e práticas
convencionais por práticas alternativas.
c) Terceiro nível da transição: refere-se ao redesenho dos agroecossistemas, para
que estes funcionem com base em novos conjuntos de processos ecológicos.
A agroecologia tem se configurado como possibilidade de fortalecimento do
desenvolvimento rural sustentável, mostrando-se como alternativa viável e importante para o
processo de fortalecimento da identidade camponesa e de suas condições de produção,
contribuindo sobremaneira para garantir a segurança alimentar e a estabilidade dos
ecossistemas. Entretanto, a transição agroecológica está sujeita a intervenção humana e a
dinâmica social local, o que faz com que aliado a busca da racionalização econômico-produtiva
do agroecossistema, tenha-se mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em relação ao
manejo e conservação dos recursos naturais (CAPORAL e COSTABABER, 2004b).

2.1.2. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável

Conforme apresentado anteriormente o modelo pautado na agricultura


convencional é insustentável no tempo, dada sua grande dependência de recursos não
renováveis e limitados (CAPORAL e COSTABABER., 2004a).
33

Desenvolvimento rural sustentável seria aquele que traria um modo de agricultura


que atendesse a demanda produtiva, mediante o uso de tecnologias ecologicamente adequadas.
Neste contexto, o objetivo da agricultura sustentável é “a manutenção da produtividade agrícola
com o mínimo possível de impactos ambientais e com retornos econômico-financeiros
adequados à meta de redução da pobreza, assim atendendo às necessidades sociais das
populações rurais” (ALTIERI, 2005, p.12)
Para Gliessman (2009, p.55) uma agricultura sustentável

[...] teria efeitos negativos mínimos no meio ambiente e não liberaria substancias
toxicas ou nocivas [...]; - preservaria e recomporia a fertilidade, preveniria a erosão e
manteria a saúde ecológica do solo; - usaria a água de maneira que permitisse a recarga
dos depósitos aquíferos e satisfizesse as necessidades hídricas do ambiente e das
pessoas; - dependeria [...] dos recursos de dentro do agroecossistema ao substituir
insumos externos por ciclagem de nutrientes [...]; - trabalharia para valorizar e
conservar a diversidade biológica, [...] e garantiria igualdade de acesso a práticas,
conhecimento e tecnologias agrícolas adequados e possibilitaria o controle local dos
recursos agrícolas.

Às ideias apresentadas acima se somam às de Sevilla Guzmán que apresenta a


definição agroecológica de sustentabilidade relacionando a um manejo dos recursos naturais
que seja, ao mesmo tempo, ecologicamente sadio, economicamente viável, socialmente justo,
culturalmente adaptável e socioculturalmente humanizado (CAPORAL e COSTABABER,
2004b)
Assim sendo, a configuração de um desenvolvimento rural sustentável aponta para
a necessidade de se criar mecanismos e instrumentos que sejam capazes de dar respostas aos
problemas colocados, em sintonia com o contexto social, econômico e agroecológico
adequados às diferentes categorias e atores sociais. Qual seria então o enfoque de uma política
voltada para o desenvolvimento sustentável? Quais seriam as práticas agrícolas a serem
consideradas?
Durante anos, em muitos países, o desenvolvimento rural esteve associado às ações
do Estado e dos organismos internacionais nas regiões rurais pobres que não conseguiam se
integrar ao processo de modernização agrícola (NAVARRO, 2001).
A configuração de um desenvolvimento sustentável aponta para a necessidade de
se criar políticas, mecanismos e instrumentos que sejam capazes de dar respostas aos problemas
colocados, em sintonia com o contexto social, econômico e agroecológico adequados aos
diferentes atores sociais presentes no rural. O grande desafio para uma agricultura sustentável
passa pela emancipação da sociedade na qual os processos de conscientização coletiva e
individual deverão ser participativos e peculiares de cada contexto a ser vivido. Para tal
34

“é crucial que os cientistas envolvidos na busca por tecnologias agrícolas


sustentáveis se preocupem com quem, finalmente, se beneficiará com elas.
Isso exige que eles reconheçam a importância do fator político quando as
questões científicas básicas são colocadas em discussão, e não somente
quando as tecnologias são distribuídas à sociedade. Assim, o que é produzido,
como é produzido e para quem é produzido são questões-chave que precisam
ser levantadas, caso se queira fazer surgir uma agricultura socialmente justa”
(ALTIERI, 2005, p. 111).

A busca pelo desenvolvimento sustentável rural pressupõe uma política articuladora


dos valores da sociedade na construção de relações sociais, econômicas, culturais, ambientais
e tecnológicas de modo equilibrado e igualitário. Como prática política, todo o processo deverá
ter como característica marcante a proposição de construir uma organização coletiva na busca
de soluções para os problemas comuns pautados no resgate de sua própria história de inserção
política.
São muitos desafios e lacunas a serem preenchidos, contudo, a mudança de um
paradigma quanto ao modelo de desenvolvimento de agricultura mais pertinente à agricultura
familiar só será possível mediante reflexões científicas, tecnologias próprias para essa
realidade, verificações empíricas e ações mediadas pelo Estado junto com a Sociedade Civil
organizada. Serão necessárias políticas públicas que dialoguem com esta realidade e, sobretudo,
condições para a viabilização destas junto ao seu público de interesse, no caso os agricultores
familiares.
Deste modo “[...] uma estratégia de desenvolvimento agrícola sustentável, que
realce o meio ambiente, deve ser baseada em princípios agroecológicos e numa abordagem mais
participativa em relação ao desenvolvimento [...]” (WEID e ALTIERI, 2002, p. 234).

2.2. Agroecologia e Políticas Públicas para sua Implantação

Para Souza (2006) não existe uma única, nem melhor, definição sobre o que seja
política pública. Para a autora Política Pública pode ser vista como “o campo do conhecimento
que busca [...] colocar o governo em ação [...] e propor mudanças no rumo ou curso dessas
ações [...]” (SOUZA, 2006, p.26)

A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos


democráticos traduzem seus propósitos [...] e ações que produzirão resultados
ou mudanças no mundo real. (SOUZA, 2006, p.26)
35

Governar por políticas pressupõe o exercício da democracia, isto é, trazer para a


ação do Estado a participação e a corresponsabilidade dos diferentes atores sociais, através de
diferentes programas de governo8.
O termo participação desafia qualquer tentativa de definição ou de interpretação
(OAKLEY et al.,1991, pag.6). Pode ser definida como o envolvimento voluntário das pessoas
em programas públicos de desenvolvimento nacional. Ela pode também ser a participação das
pessoas na implementação de programas visando o desenvolvimento rural. Participação
comunitária também pode ser definida como um processo ativo através do qual, grupos de
beneficiários influenciam a direção e a execução de um projeto de desenvolvimento (OAKLEY
et al.,1991, pag.6).

A participação é o caminho natural para o homem exprimir sua tendência inata


de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo e dominar a natureza e o
mundo [...] envolve a satisfação de outras necessidades não menos básicas,
tais como a interação com os demais homens, a auto expressão, o
desenvolvimento do pensamento reflexivo, o prazer de criar e recriar coisas e
[...] valorização de si mesmo pelos outros”. (BORDENAVE, 1983, p.16)

Participação não e apenas um instrumento para a solução de problemas, mas uma


necessidade do ser humano, uma habilidade a ser aprendida (BORDENAVE, 1983). É um
processo sempre inacabado, e, portanto, dinâmico, de autopromoção, emancipação e conquista
de poder (DEMO, 1998).
Sorrentino e Tassara (1999) mencionam três pressupostos da participação nos quais
são dimensões fundamentais e complementares:
a) Participação como instrumento pedagógico, no sentido de possibilitar o
envolvimento de cada pessoa com o projeto coletivo que estiver em pauta, e de fomentar os
sentimentos de pertencimento e importância de si para o todo, para os outros, para o ambiente,
e pertencimento e importância do outro e do ambiente para a realização de cada um como
pessoa;
b) Participação como estratégia de planejamento, no sentido de incluir os
conhecimentos e contribuições de cada um e propiciar a divisão de tarefas e as avaliações entre
todos; e
c) Participação como filosofia, como ética, tendo como foco primordial o bem-estar
e felicidade de todos e de cada um, e onde se respeitem e valorizem os direitos da minoria, pois

8
Disponível em <http://www.portaldatransparencia.gov.br/glossario/DetalheGlossario.asp?letra=p>.
Acesso em: 31/01/2017.
36

na manutenção da diversidade e na sua permanente possibilidade de expressão reside o nosso


maior segredo de viabilidade enquanto espécie e enquanto vida neste planeta.
Para que uma participação seja efetivada é preciso o uso de ferramentas tais como
conhecimento da realidade, organização e comunicação. Destaca-se que sem comunicação não
existe participação, e a tomada de decisões requer pelo menos dois processos, o da informação
e do diálogo (BORDENAVE, 1983).
Para os estudos rurais é importante diferenciar participação como meio e como fim.
Participação como meio implica no uso da participação para alcançar algumas metas ou
objetivos. Em outras palavras, participação é um caminho de aproveitamento da existência dos
recursos físicos, econômicos e sociais dos agricultores em ordem para alcançar os objetivos dos
programas e projetos de desenvolvimento. Participação como fim é uma forma ativa e dinâmica
de participação que permite que agricultores e agentes rurais aumentem sua ação nas atividades
de desenvolvimento (OAKLEY,1991).
Bordenave (1983) afirma que a participação facilita o crescimento da consciência
crítica da população fortalecendo seu poder de reinvindicação através do empoderamento desta
na sociedade. Desse modo por meio da participação, problemas de um grupo ou comunidade
podem ser resolvidos. Ao falar de participação nas políticas sociais, nos trabalhos com
comunidades, Demo (1998) elenca alguns pontos que poderiam ser chamados de objetivos da
participação, são eles: autopromoção, realização da cidadania, implementação de regras
democráticas de jogo, controle do poder, controle da burocracia, negociação e cultura
democrática.
Políticas públicas formuladas em conexão com os anseios de comunidades locais,
em comum acordo com elas e com a responsabilidade distribuída de maneira justa – em
proporção ao acesso à informação e ao poder de cada indivíduo e instituição - devem apresentar
melhores resultados do que aquelas formuladas e implantadas unilateralmente. Assim sendo
desenvolvimento sustentável envolve a participação nas atividades políticas.
Quando se pensa em desenvolvimento deve-se considerar que além de uma
necessidade econômica envolvida há a necessidade de participação política visto que estratégias
altamente centralizadas têm fracassado na mobilização de recursos econômicos e no
desenvolvimento local. Assim sendo, para Bordenave (1983) “... a participação popular e a
descentralização das decisões mostram-se como caminhos mais adequados para enfrentar os
problemas graves e complexos dos países em desenvolvimento” (BORDENAVE, 1983, p.15)
A participação na construção de políticas públicas e programas de governo envolve
atividades organizadas de grupos com o objetivo de expressar necessidades e demandas,
37

defender interesses comuns, alcançar determinados objetivos econômicos, sociais e políticos,


ou influências nos poderes públicos (BORDENAVE, 1983). Assim sendo, a democracia
pressupõe a participação e o envolvimento de todos os atores nos processos.
Neste contexto a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica foi criada
com a participação de diferentes grupos sociais com o objetivo de articular e adequar políticas,
programas e ações voltadas para o desenvolvimento da agricultura sustentável.

2.2.1. A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica


O principal marco legal da agricultura orgânica brasileira é a Lei n° 10.831, de 23
de dezembro de 20039, regulamentada através do Decreto 6.323 de 27 de dezembro de 200710.
A partir desta legislação, que dispõe sobre a agricultura orgânica, ficou estabelecido que um
sistema orgânico de produção agropecuária seria aquele que

[...] adota técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos


naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das
comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e
ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da
dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível,
métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de
materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente
modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de
produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e
a proteção do meio ambiente. (BRASIL, Lei n° 10.831 de 23 de dezembro de
2003, art.1)

Esta lei trouxe novos critérios para o funcionamento de todo o sistema de produção
orgânico, incluindo desde a produção, o armazenamento, a rotulagem, o transporte, a
certificação, a comercialização e a fiscalização dos produtos.
Em 20 de agosto de 2012 foi instituída a Política Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (Pnapo), por meio do Decreto nº 7.794 em 20 de agosto de 2012. O objetivo
desta política é de

[...] integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da


transição agroecológica e da produção orgânica e de base agroecológica,
contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da
população, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e
consumo de alimentos saudáveis (BRASIL, Lei nº 7.794, de 20 de agosto de

9
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.831.htm acesso em 31/10/2013.
10
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6323.htm
acesso em 31/10/2013.
38

2012, art.1°).

Ao induzir a transição agroecológica e a produção orgânica e agroecológica a


Planapo não faz distinção dos conceitos de agroecologia e agricultura orgânica, considerando
ambas como opositoras ao modelo tecnológico implantado durante o século XX. Para Abreu et
al. (2015, p. 174) “[...] sob o ponto de vista da prática agrícola, [...] as noções de agricultura
Orgânica e Agroecologia muitas vezes se confundem ”, entretanto, enquanto a Agricultura
Orgânica tem suas raízes na ciência do solo, a Agroecologia tem as suas na ecologia.

A discussão sobre a relação entre Agricultura Agroecológica se situa no campo


de disputas políticas e definem princípios, critérios de pertencimento e
legitimidade científica. [...] de um lado, a Agroecologia parece avançar sobre
o campo da Agricultura Orgânica; de outro, demarca mais claramente os
princípios e as práticas desse estilo de agricultura. (ABREU et al., 2015,
p.191)

Assim sendo, a Planapo vem em resposta ao movimento deflagrado por parte da


sociedade brasileira no tocante a preservação ambiental e a obtenção de alimentos mais
saudáveis, buscando trabalhar a sociobiodiversidade, o sistema orgânico de produção, a
produção de base agroecológica e a transição agroecológica dentro de uma perspectiva
sistêmica.
Alguns pontos são priorizados pela Pnapo tais como a promoção da soberania e da
segurança alimentar e nutricional e do direito humano à alimentação adequada e saudável, a
promoção do uso sustentável dos recursos naturais, a conservação dos ecossistemas naturais e
recomposição dos ecossistemas modificados, a valorização da agrobiodiversidade e dos
produtos da sociobiodiversidade além da ampliação da participação social e redução das
desigualdades de gênero.
Dentre as suas diretrizes destaca-se
[...] valorização da agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade
e estímulo às experiências locais de uso e conservação dos recursos genéticos
vegetais e animais, especialmente àquelas que envolvam o manejo de raças e
variedades locais, tradicionais ou crioulas (DECRETO Nº 7.794/2012, Art. 3º,
inciso V)

Visando o cumprimento do preconizado no art.4° do decreto de constituição da


Pnapo, forma previstos onze instrumentos de lei:
a) Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica - Planapo;
b) Crédito rural e demais mecanismos de financiamento;
c) Seguro agrícola e de renda;
39

d) Preços agrícolas e extrativistas, incluídos mecanismos de regulação e


compensação de preços nas aquisições ou subvenções;
e) Compras governamentais;
f) Medidas fiscais e tributárias;
g) Pesquisa e inovação científica e tecnológica;
h) Assistência técnica e extensão rural;
i) Formação profissional e educação;
j) Mecanismos de controle da transição agroecológica, da produção orgânica e de
base agroecológica;
k) Sistemas de monitoramento e avaliação da produção orgânica e de base
agroecológica.
Para alcançar o desenvolvimento da produção orgânica no Brasil a Pnapo busca a
integração entre os agentes da rede de produção orgânica do setor público e do privado, e a
participação da sociedade no planejamento e gestão democrática das políticas públicas. Esta
integração entre diferentes atores efetiva-se graças a duas instancias de gestão da Pnapo
previstas no Art.6, incisos I e II: a Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica –
Cnapo e a Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (Ciapo).
São competências previstas para a Cnapo a promoção de participação social, através
da constituição de pequenas comissões visando controle social e promoção do diálogo entre os
diferentes atores.
I - promover a participação da sociedade na elaboração e no acompanhamento
da PNAPO e do PLANAPO; II - constituir subcomissões temáticas que
reunirão setores governamentais e da sociedade, para propor e subsidiar a
tomada de decisão sobre temas específicos no âmbito da PNAPO; III - propor
as diretrizes, objetivos, instrumentos e prioridades do PLANAPO ao Poder
Executivo federal; IV - acompanhar e monitorar os programas e ações
integrantes do PLANAPO, e propor alterações para aprimorar a realização dos
seus objetivos; e V - promover o diálogo entre as instâncias governamentais e
não governamentais relacionadas à agroecologia e produção orgânica, em
âmbito nacional, estadual e distrital, para a implementação da PNAPO e do
PLANAPO. (BRASIL, Lei nº 7.794, de 20 de agosto de 2012, art.7°).

Para exercício de sua competência a Cnapo conta com a ação da Subcomissão


Temática de Produção Orgânica (STPOrg) e com as Comissões da Produção Orgânica (CPOrg)
em cada Superintendência Federal de Agricultura. Juntamente com o Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento (Mapa), STPOrgs e CPOrgs realizam ações necessárias ao
desenvolvimento da produção orgânica, com base na integração entre os agentes da rede de
produção orgânica do setor público e do privado, e na participação da sociedade no
40

planejamento e gestão democrática das políticas públicas.


As Comissões de Produção Orgânica – CPOrg são fóruns compostos por
representantes de segmentos da rede de produção orgânica dos estados ou Distrito Federal,
dividido igualmente por entidades governamentais e não governamentais. Para composição das
CPOrgs o Decreto nº 7.794 define que

§ 4º - Os membros do setor público nas CPOrg-UF representarão, sempre que


possível, diferentes segmentos, como assistência técnica, pesquisa, ensino,
fomento e fiscalização. §5º Os membros do setor privado nas CPOrg-UF
representarão, sempre que possível, diferentes segmentos, como produção,
processamento, comercialização, assistência técnica, avaliação da
conformidade, ensino, produção de insumos, mobilização social e defesa do
consumidor” (BRASIL, Lei nº 7.794, de 20 de agosto de 2012, art.7°, incisos
4 e 5).

Assim sendo
As CPOrgs serão compostas paritariamente por, no mínimo, 4 (quatro) e, no
máximo, 10 (dez) membros de organizações governamentais, titular e
suplente, e igual número de membros de organizações não-governamentais e
demais segmentos do setor privado, titular e suplente, que tenham reconhecida
atuação no âmbito da produção orgânica. A CNPOrg será composta
paritariamente por 5 (cinco) membros de organizações governamentais, titular
e suplente, e 5 (cinco) membros de organizações não-governamentais e
demais segmentos do setor privado, titular e suplente, que tenham reconhecida
atuação junto à sociedade no âmbito da Produção Orgânica” (BRASIL,
Instrução Normativa 54 de 22 de outubro de 2008, Art. 4 e 5)

A CPOrg se reúne regularmente e tem várias atribuições definidas na Instrução


Normativa nº 54, de 22 de outubro de 2008, como, por exemplo, coordenar ações e projetos de
fomento à produção orgânica, sugerir adequação das normas de produção e controle da
qualidade orgânica, auxiliar na fiscalização, através do controle social, e propor políticas
públicas para desenvolvimento da produção orgânica (Instrução Normativa 54, Art. 21, 2008).
Como apontado anteriormente, o Plano Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica (Planapo) é o principal instrumento de execução da Política Nacional de Agroecologia
e Produção Orgânica (Pnapo). Seu escopo objetiva possibilitar à população a melhoria de
qualidade de vida por meio da oferta e consumo de alimentos saudáveis e do uso sustentável
dos recursos naturais, de monitoramento, avaliação e controle social das ações que visam
ampliar e efetivar o desenvolvimento rural sustentável.
Em sua estrutura o Plano apresenta ações articuladas dos dez ministérios parceiros
que formam um conjunto de 134 iniciativas, distribuídas em 14 metas e organizadas a partir dos
eixos estratégicos “Produção”, “Uso e Conservação de Recursos Naturais”, “Conhecimento e
41

Comercialização” e “Consumo”.
O segundo Planapo a ser implantado entre 2016-2019 foi construído a partir de
debates entre a sociedade e governo, pautado nas experiências obtidas durante a execução do
primeiro Planapo (2012-2015). Este plano reúne 194 iniciativas que promovem, entre outras
ações, a produção de alimentos saudáveis no Brasil, com medidas a serem implantadas até 2019.
O segundo Planapo apresenta ações que estão divididas em seis grandes eixos: produção; uso e
conservação dos recursos naturais; conhecimento; comercialização e consumo; terra e território,
e sociobiodiversidade.
O primeiro Planapo (2012-2015) previu, em seu escopo, a ampliação de
investimentos para infraestrutura e suporte técnico e operacional para a manutenção e
funcionamento de bancos de sementes. De modo especial as estratégias, ações e atividades
ligadas a sementes organizaram-se em torno de três enfoques que demandaram medidas
específicas de apoio à estruturação e fomento as sementes crioulas, sementes varietais e
sementes orgânicas (BRASIL, 2013).

[...] ampliar o investimento também de infraestrutura e de suporte técnico e


operacional para a manutenção e funcionamento dos bancos de sementes [...]
e o apoio dado pelo Ministério da Agricultura à implantação e manutenção de
bancos comunitários de sementes em diversas unidades da federação, com
prioridade para sementes utilizadas na adubação verde e conservação e uso de
variedades de interesse para agroecologia e produção orgânica. (BRASIL,
2013, 32-33)

Os recursos investidos permitiram o apoio a aproximadamente 700 bancos


comunitários de sementes, destacando-se o fato de alcançar mais de 12.000 agricultores (as)
familiares inscritos no Cadastro Único (BRASIL, 2013).
O segundo Planapo (2016-2019) ratificou a importância dos bancos comunitários
de sementes para a autonomia das unidades produtivas familiares, assegurando a continuidade
de recursos para a ampliação desta estratégia.

O Planapo 2016-2019 trará desafios importantes nesses temas, com destaque


para a consolidação do Programa Nacional de Sementes e Mudas, o
financiamento de Unidades de Beneficiamento de Semente (UBS), a
implantação e consolidação de bancos de sementes e a produção de sementes
orgânicas certificadas. (PLANAPO, 2016, p.20)

Em sua “Meta 10” o Planapo 2016-2019 traz a iniciativa de apoiar a estruturação


de 1000 unidades de bancos comunitários de sementes e Unidades de Beneficiamento de
42

Sementes (UBS) de interesse da agroecologia e da produção orgânica, em diversos territórios,


estimulando a paridade de gênero na gestão dos bancos.

2.3. Das Sementes Selvagens aos Bancos Comunitários de Sementes

Há cerca de dez mil anos o homem percebeu que a partir de uma única semente
plantada podia-se conseguir uma planta inteira igual àquela que lhe deu origem ou mesmo
muitas sementes da mesma espécie. Após compreender a relação semente-planta-semente o
homem pode mudar seus hábitos, passando de nômade para sedentário (CARVALHO, 1993),
selecionando cultivares mais adaptadas ao seu ambiente. Desse modo, o homem foi dominando
técnicas de domesticação de espécies vegetais, selecionando e criando cultivares mais
adaptadas ao ambiente (BEVILAQUA e ANTUNES, 2008)
Com a evolução das atividades agrícolas, alguns agricultores passaram a só
produzirem as sementes (material para plantio) e outros a só produzirem grãos (material para o
consumo). Genel (1984) define grão como o fruto de plantas alimentícias, destinado à
alimentação humana e industrialização. Para o autor, semente é a parte do fruto da planta que
se reproduz quando germina em condições adequadas. Assim sendo “Sementes são
especificamente produzidas para a reprodução, seguindo técnicas adequadas de acordo com
normas legais e que foi conservada e tratada para assegurar sua viabilidade. ” (GENEL, 1984,
p.19).
Sementes devem ser cuidadosamente beneficiadas e conservadas para garantia da
qualidade fisiológica, até o momento de sua utilização, preservando assim a produtividade
adequada (AZEVEDO et al.,2003). Armazenamento apropriado resulta em manutenção da
viabilidade das sementes e manutenção de seu vigor.
Como prática generalizada, a maioria dos agricultores familiares utiliza como
sementes, grãos de qualidade fisiológica e sanitária comprometida. Na prática os agricultores
adquirem sementes e passam a multiplicá-las para si, por vários anos seguidos, fazendo com
que ocorra perda de qualidade fisiológica e genética. (BEVILAQUA e ANTUNES, 2009).
Com o tempo, agricultores que produziam sementes passaram a armazenar, trocar
e a vender para outros agricultores (CARVALHO, 1993), dando os primeiros passos na
43

conservação on farm11 deste material. Deste modo a prática dos agricultores de selecionar
plantas e conservar sementes passou a representar um patrimônio cultural relacionado à própria
preservação da biodiversidade existente no planeta e a coevolução dos sistemas agrícolas
(ALTIERI, 2005).
A intensificação nas práticas de manejo agrícola, deflagrada pela Revolução Verde,
trouxe uma mudança na produção de sementes, tornando-as cada vez menos diversificadas.
Esse pacote tecnológico, ao buscar a alta produtividade das plantas, levou a
agricultura a profundas transformações nas formas de produção e na sustentabilidade do
sistema. Desse modo o avanço da monocultura contribuiu para a diminuição da diversidade das
espécies por meio do pacote tecnológico de sementes e insumos químicos (MACHADO, 1998;
WEID, 1998).
O setor industrial de produção de sementes no mundo tem passando por um
estreitamento da base genética em especial devido à presença de cultivares geneticamente
modificadas e híbridos (BRASIL, 2013), o que, aliado à redução das variedades disponíveis no
mercado, tem dificultado o acesso dos pequenos produtores a sementes de qualidade.

11
Os recursos genéticos são mantidos em condições in situ, on farm, e ex situ. A conservação in situ de
recursos genéticos é realizada, basicamente, em reservas genéticas, reservas extrativistas e reservas de
desenvolvimento sustentável, [...] em áreas protegidas, seja de âmbito federal, estadual ou municipal.
As reservas genéticas, por exemplo, são implantadas e mantidas em áreas prioritárias, de acordo com a
diversidade genética de uma ou mais espécies de reconhecida importância científica ou sócio-
econômica. A conservação in situ apresenta algumas vantagens, tais como: (i) permitir que as espécies
continuem seus processos evolutivos; (ii) favorecer a proteção e a manutenção da vida silvestre; (iii)
apresentar melhores condições para a conservação de espécies silvestres, especialmente vegetais e
animais; (iv) oferecer maior segurança na conservação de espécies com sementes recalcitrantes e (v)
conservar os polinizadores e dispersores de sementes das espécies vegetais. A conservação on farm
pode ser considerada uma estratégia complementar à conservação in situ, já que esse processo também
permite que as espécies continuem o seu processo evolutivo. A conservação on farm apresenta como
particularidade o fato de envolver recursos genéticos, especialmente variedades crioulas - cultivadas por
agricultores, especialmente pelos pequenos agricultores, além das comunidades locais, tradicionais ou
não e populações indígenas, detentoras de grande diversidade de recursos fito-genéticos e de um amplo
conhecimento sobre eles. Esta diversidade de recursos é essencial para a segurança alimentar das
comunidades. A conservação ex situ, por sua vez, envolve a manutenção, fora do habitat natural, de uma
representatividade da biodiversidade, de importância científica ou econômico-social, inclusive para o
desenvolvimento de programas de pesquisa, particularmente aqueles relacionados ao melhoramento
genético. A conservação ex situ implica [...] na manutenção das espécies fora de seu habitat natural e
tem como principal característica: (i) preservar genes por séculos; (ii) permitir que em apenas um local
seja reunido material genético de muitas procedências, facilitando o trabalho do melhoramento genético;
(iii) garantir melhor proteção à diversidade intraespecífica, especialmente de espécies de ampla
distribuição geográfica. Este método implica, entretanto, na paralisação dos processos evolutivos, além
de depender de ações permanentes do homem, visto concentrar grandes quantidades de material genético
em um mesmo local, o que torna a coleção bastante vulnerável. Disponível em
<http://www.mma.gov.br/biodiversidade/conservacao-e-promocao-do-uso-da-diversidade-
genetica/agrobiodiversidade/conserva%C3%A7%C3%A3o-in-situ,-ex-situ-e-on-farm>. Acesso em:
04/03/2017.
44

Os recursos genéticos vegetais foram sendo transformados gradual e


sistematicamente a partir do início do século XX em propriedade de um reduzido número de
empresas privadas norte americanas e europeias (CARVALHO, 199). Segundo Porto-
Gonçalves (2006) o mercado de sementes é mundialmente controlado por apenas dez empresas.
Isto chama atenção, visto que “[...] as sementes são o primeiro elo da corrente alimentar. Quem
controla as sementes vai controlar a disponibilidade de alimentos” (RIBEIRO, 2003, p. 68).
Para Santili (2009) nos últimos 100 anos, os agricultores do mundo já perderam
entre 90 a 95% de suas variedades agrícolas frente às variedades modernas de alto rendimento
e estrita base genética. Assim sendo, a conservação destas variedades crioulas assume
importância visto que associado às sementes há também um conhecimento popular de como
produzir, manejar e armazena-las, que é passado de geração em geração, constituindo um
patrimônio que podem se perder (VOGT et al., 2012) caso não seja feito algo que preserve a
cultura e saberes tradicionais.
Segundo Vogt et al. (2012)

A erosão genética e cultural tem sido uma das principais consequências no


comprometimento dos direitos coletivos, onde os agricultores têm sua base
produtiva e cultural afetada, e os consumidores e as gerações futuras têm sua
segurança alimentar e nutricional comprometida. (VOGT et al., 2012, pag.49)

Assim como acontece na maioria dos outros países, o mercado de sementes no


Brasil é fortemente concentrado em poucas empresas multinacionais (BRASIL, 2013), cujos
objetivos econômicos quase nunca se alinham aos preconizados pela agroecologia e agricultura
orgânica. Segundo Machado (1998) para pequenos agricultores o uso de sementes modificadas
apresenta-se como uma alternativa onerosa e pouco eficiente frente aos recursos escassos
predominantes nas pequenas propriedades.
Uma possibilidade de superação da condição de dependência dos agricultores reside
no uso de sementes que tragam consigo um instrumento de conservação da agrobiodiversidade
e de sua resistência sociocultural (NASCIMENTO et al, 2012). Dessa forma, e em oposição a
política da Revolução Verde, iniciou-se o resgate das sementes crioulas12 com o intuito de
manter o controle e a genética das sementes, o resgate da biodiversidade, assegurar a soberania

12
Sementes crioulas, também chamada de cultivares locais ou tradicionais são variedades
desenvolvidas, adaptadas ou produzida por agricultores familiares, assentados de reforma agrária ou
indígenas, com características fenotípicas bem determinadas e reconhecidas pelas respectivas
comunidades e que a critério do Mapa consideradas também como descritores socioculturais e
ambientais, não se caracterizem como substancialmente semelhantes às cultivares comerciais (BRASIL,
2003, Art. 2°, XVI).
45

alimentar, a sustentabilidade da agricultura, assim preservar aspectos culturais e sociais


(MATOS et al., 2011).
Dentro desta perspectiva, Vandana Shiva, fundadora do programa Navdanya 13,
ONG que promove a biodiversidade de sementes, tem atuado como uma ativista no incentivo
do uso de sementes nativas. Seu projeto tem ajudado a reconstruir regiões devastadas por
desastres naturais e sobre como os bancos de sementes podem ajudar agricultores e a nutrição
da população mundial.
Na Índia o Programa Navdanya tem apoiado os agricultores locais a salvarem e
conservarem culturas e plantas que estão sendo empurradas para extinção, através de uma rede
de guardiões de sementes. O programa ajudou a criar 111 bancos comunitários de sementes em
todo o país, formados por 5.000.000 de agricultores da soberania das sementes, da soberania
alimentar e da agricultura sustentável.
Nesta direção, muitas famílias de produtores começaram a buscar alternativas para
a obtenção e resgate de suas próprias sementes, visto que apesar do grande avanço da agricultura
moderna e dos grandes empreendimentos agrícolas, são os agricultores familiares os grandes
responsáveis pela manutenção de um patrimônio importantíssimo para a humanidade, por meio
da conservação das sementes de cultivares crioulas (BEVILAQUA e ANTUNES, 2009). A
conservação de variedades agrícolas tradicionais torna-se assim essencial para a manutenção
da diversidade biológica no campo e pela contribuição à segurança alimentar de muitas famílias
camponesas que têm na agricultura seu modo de vida (BEVILAQUA e ANTUNES, 2008;
SANTILI, 2009). Além disso as sementes crioulas apresentam valor cultural importante para
os camponeses pois fazem parte de suas práticas de cultivo passados de geração para geração,
respeitando o outro e o mundo que o cerca.
A conservação da agrobiodiversidade e dos sistemas agrícolas locais, tradicionais e
agroecológicos é fundamental assegurar os direitos dos agricultores de guardar, usar, trocar e

13
Navdanya [...] simboliza a proteção da diversidade biológica e cultural [...]. Este dom ou “dana” de
Navadhanyas (nove sementes) é o dom supremo - é um dom da vida, do patrimônio e da continuidade
da preservação e conservação de sementes. [...] conservação da biodiversidade, a conservação do
conhecimento da semente e sua utilização, a conservação da cultura e da sustentabilidade da cultura em
um contexto mais amplo – tanto a cultura de sementes, como a cultura de um povo. O programa
Navdanya [...] tem conservado com sucesso mais de 5.000 variedades de culturas, incluindo 3.000 de
arroz, 150 de trigo, 150 de feijão (rajma), 15 de milheto, além de diversas variedades de leguminosas,
vegetais, plantas medicinais, entre outros. Disponível em
<http://muitoalem2013.blogspot.com.br/2014/06/luzes-do-mundo-vandana-shiva.html>. Acesso em
06/06/2017.
46

vender sementes de variedades locais14 e de variedades protegidas15. (BRASIL, 2012). Nesse


ponto, o Tratado Internacional sobre os Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a
Agricultura (Tirfaa)16 traz em seu artigo 6, no tocante a utilização sustentável dos recursos
fitogenéticos que é necessário a definição de políticas agrícolas justas que encorajem o
desenvolvimento e a manutenção de sistemas agrícolas diversificados que favoreçam a
utilização sustentável da diversidade biológica agrícola e outros recursos naturais.
Segundo o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo):

O acesso a sementes de variedades de interesse da agroecologia e da produção


orgânica está cada vez mais difícil, tendo como espaços de resistência a essa
perda da biodiversidade as casas ou bancos comunitários de sementes, aonde
guardiões de sementes vêem prestando um serviço ambiental fundamental
(BRASIL, 2013, p.15) ”.

Deste modo a produção comunitária de sementes de variedades tanto para


subsistência quanto para comercialização de excedentes é importante, visto que se estima,
ainda, que 90% das sementes utilizadas por pequenos produtores em países em
desenvolvimento sejam oriundos de bancos de sementes informais (DIDONET, 2007).
Políticas públicas para incentivo à produção de sementes on farm, ou seja, àquela
feita pelos agricultores em suas próprias unidades de produção ainda são poucas apesar do
Brasil ser signatário do Tratado Internacional de Recursos Fitogenéticos para Alimentação e
Agricultura (Tirfaa). Isto muitas vezes ocorre porque

As políticas atuais são fragmentadas e baseadas na distribuição ou no


financiamento da compra de sementes convencionais, melhoradas em centros
de pesquisa (públicos ou privados), e não na promoção das estratégias das
organizações de agricultores, baseadas no resgate, conservação, intercâmbio
e manejo de sementes de variedades locais diversificadas e adaptadas às suas
regiões de uso. (BRASIL, 2013, p.22).

14
Variedades locais representam recursos genéticos agrícolas que vêm sendo coletados e utilizados pelos
centros de germoplasma e conservados de forma ex situ. (ALVES et al., 2011)
15
Variedades protegidas são aquelas sujeitas a lei de proteção de cultivares baseada na convenção da
UPOV de 1978, a qual prevê a cobrança de royalties pelo uso das sementes. Disponível em
http://www.seednews.inf.br/portugues/seed104/artigocapa104a.shtml, acesso em 01/12/2016.
16
O Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e Agricultura -
TIRFAA/FAO tem por principais objetivos promover a conservação e a utilização sustentável dos
recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura, garantindo uma partilha justa e equitativa dos
benefícios resultantes da utilização desses recursos, em prol de uma agricultura sustentável, da
segurança alimentar e nutricional.para maiores informações consulte
https://uc.socioambiental.org/sites/uc.socioambiental.org/files/treaty_portuguese.pdf, acesso em
30/01/2017.
47

Bevilaqua e Antunes (2009) em estudo sobre o desenvolvimento in situ de


cultivares crioulas através de agricultores guardiões de sementes, verificaram que ao evitar o
uso de grãos para semeadura de lavouras, estes agricultores obtiveram melhores colheitas,
melhoria da qualidade do solo graças ao uso de plantas de adubos verdes além de sementes de
qualidade para novos plantios.
Uma das maneiras de estimular a guarda de sementes on farm para novos plantios
dá-se pela implantação de Bancos Comunitários de Sementes junto à agricultores familiares em
suas unidades produtivas.

2.3.1. Bancos Comunitários de Sementes: características e modus operandi17

Banco comunitário de sementes é uma organização de grupos de agricultores


familiares que se associam espontaneamente e têm o direito a empréstimos de certo volume de
sementes. Após a colheita, a quantidade recebida antes do plantio é ou não acrescida de “juros”
e devolvida ao banco, segundo as regras definidas pelos associados. Este sistema assegura que
cada família produza e beneficie sua semente, destinando parte da produção para um estoque
comunitário gerenciado coletivamente (WUTKE e AMBROSANO, 2007, p.3). Desse modo o
sucesso de um banco de sementes comunitários não é medido pelo grau de acesso a semente e
sim pela restituição destas ao banco de origem, o que pode ser um indicador para avaliação do
desempenho destes bancos. (CORDEIRO e FARIAS, 1993).
Com os “juros” aplicados aos volumes emprestados, é possível aumentar o número
de beneficiados e a quantidade emprestada por família. Isso permite a formação de estoques-
reserva para enfrentar períodos de adversidades climáticas mais prolongadas, além de garantir
a manutenção de espécies. Desse modo o banco de sementes atua como um banco comum,
porém a moeda corrente é a semente.
Os bancos comunitários de sementes representam uma estratégia de manter a
diversidade e surgiram como uma forma de organização de agricultores familiares, assentados

17
Modus operandi é a maneira de praticar uma operação ou de desenvolver determinada atividade. Para
Bourdieu “[...] modus operandi é entendido quase que como o habitus metodológico. Seu significado
não está fora da ação criativa-investigativa geradora de linguagem, cabendo ou não em maior ou menor
grau àquela ação. Significa-se com e pela prática. Esta tem o primado epistemológico – isso é, o
pragmatismo – e tal só se entende, inclusive no caso de Bourdieu, quando a linguagem, locus do
conhecimento objetivo, também for tida como uma prática, justamente a tal ação criativa-investigativa”
(SÁ, 2015, p. 126)
48

da reforma agrária, povos e comunidades tradicionais para armazenagem de sementes


produzidas em sua comunidade para uso próprio ou intercâmbio entre pares. Segundo Silva et
al. (2007), os bancos de sementes têm um papel que vai muito além da organização do estoque
de sementes visto que o processo de gestão possibilita espaços coletivos de debate sobre as
estratégias de produção de cada família.

[...] bancos de sementes podem ser considerados como organizações que


visam à autossuficiência de um grupo de agricultores familiares na provisão
de sementes de determinadas espécies importantes para a agricultura local.
(QUEIROGA et al., 2011, p.32).

Para Sabourin (2001) bancos comunitários de sementes são importantes por


promoverem a aprendizagem coletiva, destacando-se sua importância social e política, bem
como econômica e ambiental. Com isso nasce uma rede que fortalece e aprimora processos
sociais, gerando canais de troca de informações e conhecimentos entre agricultores,
extensionistas e pesquisadores.
Historicamente no Brasil, os bancos de sementes comunitários datam da década de
1970, a partir de ações da Igreja Católica junto às Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs,
em diversas dioceses e paróquias da região Nordeste.

[...] os bancos de sementes tiveram como início dois motivos: 1) falta de


distribuição de sementes pelo governo em quantidade e em época oportuna de
início do inverno no sertão nordestino para a semeadura dos campos e 2) para
não deixar de plantar, os agricultores eram obrigados a vender força de
trabalho ou pedir empréstimos aos grandes proprietários para poderem
comprar a semente na época de plantio. (QUEIROGA et al., 2011, p.21).

A proposta para o fortalecimento dos bancos comunitários de sementes passa por


várias questões entre as quais resgatar o conhecimento das comunidades é importante para
poder fomentar intercâmbio, saber o que está na mão de órgãos governamentais e o que a
sociedade está precisando fazer para que esse material chegue aos produtores.
Além de ser uma estratégia para o agricultor diminuir sua dependência externa, bancos
comunitários de sementes são espaços privilegiados de aprendizado e de desenvolvimento da
capacidade de gestão e de fortalecimento das relações de cooperação e solidariedade, de
recuperação de sementes e de saberes perdidos (CORDEIRO e FARIAS, 1993). Entretanto
ressalta-se que a gestão de bancos de sementes, de forma participativa e democrática em nível
comunitário, não é um processo simples (QUEIROGA et al., 2011).
49

O banco de sementes somente é considerado como um instrumento


socialmente reconhecido de acesso à semente, quando existe qualidade do
material estocado. Havendo falta de qualidade, nenhum agricultor irá querer
depositar sua semente ou mesmo fazer empréstimo em um banco, quando há
riscos de que a baixa qualidade venha comprometer a produção do seu cultivo.
(CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Cordeiro e Farias (1993) apontam que diversos problemas podem surgir na gestão
participativa dos bancos de sementes comprometendo o seu desempenho, tais como:
 Concentração de trabalho na mão de um grupo pequeno de agricultores ou de
uma única família;
 Devolução de sementes de má qualidade por parte de alguns produtores sócios;
 Concentração de poder do presidente da associação gestora do banco; e
 Má organização ou administração do grupo gestor poderão ocorrer
frequentemente e são de difícil solução.
Assim sendo, o incentivo à formação e manutenção de bancos de sementes é uma
estratégia importante para promover a autonomia dos agricultores e para a conservação e
manutenção da agrobiodiversidade local, podendo ser sinônimo de segurança alimentar.
Entretanto há necessidade de investir em infraestrutura e de suporte técnico e operacional para
a manutenção e funcionamento dos bancos de sementes (BRASIL, 2013).
Cunha (2013) apresenta uma síntese dos princípios que fundamentam um Banco
Comunitário de Sementes a partir de experiência no estado da Paraíba. Os princípios podem ser
divididos nos relativos à sementes e à gestão do trabalho com elas:
a. Princípios relativos às sementes:
 Localidade: a semente é local, foram adaptadas à determinada região e foram
desenvolvidas ao longo de gerações para suprir as demandas locais e de interesse dos
agricultores;
 Qualidade: a semente é de qualidade e sem agrotóxico, visto que sementes locais
têm bom desempenho frente às convencionais e que problemas relacionados ao baixo
desempenho estão relacionados com as condições de armazenamento;
 Identidade: são meios de produção e de identidade cultural;
 Autonomia: independência no acesso às sementes e outros insumos endógenos
à unidade de produção e no papel do agricultor na sua preservação;
 Diversidade, pois auxilia a variabilidade genética;
50

 Resistência: atuando no sentido de uma política camponesa e de uma resistência


biológica;
 Como produto cultural não passível de tornar-se propriedade intelectual de
diferentes grupos; e
 Como porta de entrada para práticas agroecológicas visto que sementes locais
são adaptadas à agricultura familiar, apresentando alta variabilidade genética, fatores que vão
ao encontro dos princípios da agroecologia.
b. Princípios relacionados à gestão do trabalho em torno das sementes:
 Gestão eficiente sob controle dos agricultores, ou seja, capacidade de gerenciar
sistemas de recursos genéticos, eficiência dos agricultores e suas organizações na gestão de
recursos públicos voltados para a agricultura familiar; e
 Organização e ação em rede de associações e cooperativas de agricultores
visando intercâmbios que potencializem os bancos de sementes e valorizem as experiências,
via fortalecimento das redes as quais também podem influenciar políticas públicas.
Corroborando com estes princípios, em especial aos relacionados à gestão do
trabalho em torno das sementes, Gonçalves (2000) aponta que além de fortalecer o surgimento
de uma nova cultura associativista, o fator mais importante que contribuiu para a expansão de
vários bancos de sementes comunitários no meio rural, foi o gerenciamento dos mesmos pelas
associações ou por grupos organizados de agricultores. Assim sendo, o fundamental na
formação de um grupo, que organiza um banco de sementes, é que haja um nível mínimo de
confiança e bom relacionamento entre os participantes de cada comunidade.
Sthapit et al. (2007) consideram seis etapas necessárias para o efetivo
estabelecimento funcional de um Banco Comunitário de Sementes:
 Etapa 1: A comunidade precisa conscientizar-se sobre a taxa alarmante de erosão
das sementes rústicas e entender a necessidade de sua conservação;
 Etapa 2: Um comitê para o manejo comunitário da biodiversidade deve ser
formado;
 Etapa 3: As regras de funcionamento do banco devem ser formuladas de acordo
com os interesses da comunidade;
 Etapa 4: Materiais disponíveis localmente podem ser usados para a construção
da estrutura de armazenamento de sementes;
 Etapa 5: Implantação de coleção de sementes locais; e
51

 Etapa 6: A distribuição de sementes com ênfase nos agricultores que não


possuem sementes ou não tenham possibilidades de comprá-las.
Segundo Cordeiro e Farias (1993), nas regras de funcionamento do Banco de
Sementes devem constar as seguintes cláusulas:
 Quem será beneficiário do banco;
 Qual a quantidade de sementes e com que frequência o agricultor pode solicitar;
 Como será a devolução das sementes;
 Qual a quantidade de sementes que cada agricultor terá que restituir de garrafas
pets18;
 O tempo para devolução e entrega das sementes ao banco;
 Quem fica responsável pelo patrimônio genético do banco;
 E outros aspectos importantes para o funcionamento do banco, tais como
ocorrências e problemas relacionados às situações adversas que afetem o agricultor e a
agricultura local, por exemplo, perdas de lavouras ocorridas por drástica seca na região.
Há dois tipos de bancos de sementes classificados conforme sua gestão:
 Bancos familiares de sementes: são mantidos por uma família independente de
uma relação com um banco comunitário. Normalmente incluem variedades de uso tradicional
pela família e também representam uma foram de segurança alimentar em tempos de
intempéries.
 Bancos comunitários de sementes: envolvem a articulação e o compromisso
entre agricultores e/ou grupos de agricultores e onde se estabelecem regras, por exemplo, no
que diz respeito à manutenção dos estoques, da diversidade das sementes no banco e formas de
pagamento dos empréstimos.
Os bancos comunitários são colocados como uma alternativa para o problema da
falta de alimentos em comunidades pobres e conservação da biodiversidade. É preciso que as
comunidades se mobilizem para as questões de solidariedade e socialização. Deste modo, o
banco comunitário de sementes pode vir a atuar como mediador e legitimador do capital social
local, que poderá ser gerado como bem público a partir de atividades sociais, tendo na confiança
um caráter básico (CLEMENTINO, 2011).

18
Observações em campo pela autora da pesquisa tem mostrado que as sementes comumente são
armazenadas pelos agricultores e guardiões de sementes em garrafas pets as quais apesar de serem
alternativas mais baratas e resolverem momentaneamente o problema do armazenamento, trazem
consigo a desvantagem de poderem promover a perda de germinação e vigor das sementes a médio
prazo.
52

Neste sentido concebe-se a formação de bancos comunitários como tecnologia


social na medida em que sendo a agricultura familiar o principal ator social desse processo,
como será visto adiante, ela apresenta uma estratégia para minimizar a exclusão social no meio
rural com a incorporação de recursos tecnológicos de baixo custo possibilitando uma agricultura
sustentável onde o direito à vida e as condições dignas às pessoas do campo ficam fortalecidos
(GEHLEN, 2004), através da aliança da produtividade agrícola com a preservação ambiental,
segurança alimentar e geração de renda no campo. (PENA, 2010).
Seja como for, toda e qualquer estratégia de inserção de novas tecnologias
sustentáveis somente terão sucesso quando amparadas em políticas públicas de apoio financeiro
e técnico, de qualificação profissional e de infraestrutura. (GEHLEN, 2004).

2.3.2. Banco Comunitário de Sementes: uma Tecnologia Social

Tecnologia é o resultado da ação de um ator sobre um processo de trabalho que


permite modificação qualitativa ou quantitativa (DAGNINO, 2010) e onde alguns elementos
são considerados essenciais tais como a utilização do conhecimento local e a participação da
população local em todo o processo (HERRERA, 2010). Como fruto de uma construção social,
a tecnologia não é neutra e está sempre a serviço de um modelo de desenvolvimento, pautado
no conhecimento local.

O conhecimento local em lugar do tradicional indica que conhecimento de


qualquer grupo social está composto de uma mescla de conhecimento
tradicional – de origem desconhecida – e conhecimento moderno em um
sentido cronológico – nascido da necessidade de adaptar-se a câmbios
contínuos nas condições ecológicas e socioeconômicas. (HERRERA, 2010,
pag.37)

Uma tecnologia Social caracteriza-se pela construção de soluções de modo coletivo


pelos atores que irão se beneficiar dessas soluções. Neste contexto podemos considerar que
bancos comunitários de sementes são pautados nos mesmos princípios colaborativos e coletivos
e como tecnologia social são definidos na interação com a comunidade, e devem ser formados
e desenvolvidos em um ambiente de confiança, reciprocidade e cooperação entre os pares.
O termo Tecnologia Social (TS) é relativamente novo e tem sido amplamente
discutido no meio acadêmico, político e pela sociedade civil organizada na última década. Um
dos conceitos de tecnologia social é o que compreende produtos, técnicas ou metodologias
53

replicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções


de transformação social (RODRIGUES e BARBIERI, 2008). Tal definição encontra
consonância nos objetivos da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Pnater) (BRASIL, 2010), a qual preconiza “apoiar iniciativas econômicas que promovam as
potencialidades e vocações regionais e locais” além de “contribuir para a expansão do
aprendizado e da qualificação profissional e diversificada, apropriada e contextualizada à
realidade do meio rural brasileiro” (BRASIL, 2010, Lei 12188/2010, artigo 4°, incisos I e XII),
ou seja, compreender ser todo produto, método, processo ou técnica criados para solucionar
algum tipo de problema social e que atendam aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil
aplicabilidade e impacto social comprovado.
Cada TS deve ser definida dentro do contexto comunitário no qual ela foi
desenvolvida visto que da concepção à aplicação há uma intencionalidade de inclusão social e
desenvolvimento econômico-social e ambientalmente sustentável (FONSECA, 2010). Este tipo
de tecnologia é o resultado da ação de um coletivo de produtores sobre um processo de trabalho
que em função de um contexto socioeconômico (que engendra a propriedade coletiva dos meios
de produção) e de um acordo social (que legitima o associativismo), os quais ensejam, no
ambiente produtivo, um controle (autogestionário) e uma cooperação (de tipo voluntário e
participativo) que permite uma modificação no produto gerado passível de ser apropriada
segundo a decisão do coletivo (DAGNINO, 2010). Deste modo, tecnologias sociais são capazes
de aliar saberes populares, organização social e conhecimento técnico científico, e seu foco
deve ser seu caráter eficaz e replicável e deve propiciar o desenvolvimento social.
Grupos sociais mais carentes e com menos recursos tecnológicos disponíveis
encontram nas tecnologias sociais ponto de partida para novas conquistas. Assim sendo, as TSs
têm campo fértil de aplicação nas áreas rurais, onde recursos de toda ordem são, em geral,
escassos, além de apresentarem como característica importante serem adaptadas a produtores
de baixo poder econômico.
Por estes aspectos definidores de uma tecnologia social, pode-se considerar os
bancos comunitários como tal, inclusive porque as sementes apresentam grande potencial para
viabilizarem economicamente empreendimentos como cooperativas populares, assentamentos
de reforma agrária e a agricultura familiar (NOVAES e DIAS, 2009), levando os produtores a
priorizarem a reprodução social e a sustentabilidade ambiental onde vivem (GEHLEN, 2004).
Deste modo, como tecnologia social, bancos comunitários de sementes têm sua base de
contribuição nos próprios agricultores, graças à adoção de recursos e da devolução de sementes
e das entidades de apoio e assessoria principalmente no âmbito formativo, atuando como
54

estruturas organizativas que possibilitam o acesso adequado a sementes de qualidade na hora


certa do plantio (BANCO DO BRASIL, 2011)
A concepção de TS é a de tecnologia desenvolvida como um fruto de uma
construção social, produto dos atores que a constroem e do contexto em que é desenvolvida
(OLIVEIRA FILHO, 2008). A TS pressupõe uma lógica participativa e admite que o
conhecimento popular local deva ser considerado na produção de tecnologias, sobretudo
quando estas serão adotadas por aquele mesmo público. Sendo assim, estas tecnologias geradas
do social para o social pautam-se na maneira como a própria sociedade interage com estes
grupos. Desse modo apresentam princípios que ressaltam a importância da aprendizagem e
participação como processos que caminham juntos com a transformação social baseada na
compreensão da realidade de maneira sistêmica e no respeito às identidades locais
(RODRIGUES e BARBIERI, 2008). Assim sendo, como tecnologia social o banco
comunitário de sementes pressupõe participação nas atividades para o bem comum.

2.4. Capital Social: Uma construção do coletivo e para o coletivo

O termo capital social foi usado pela primeira vez há cerca de um século quando
Lyda Hanifam o utilizou para descrever a relação entre o decréscimo de sociabilidade e das
relações de vizinhança frente à pobreza crescente em centros comunitários de escolas rurais
(D’ARAUJO, 2010). Historicamente, o conceito de capital social aparece várias vezes e com
várias dimensões durante o século XX. Nos últimos anos, segundo Khan e Silva (2005) o
interesse pelo estudo do capital social, bem como na confiança entre os indivíduos, no
associativismo e nas redes de relações sociais foi intensificado. A partir de 1990 o termo capital
social se expandiu para várias áreas do conhecimento sendo que entre 1991 a 1999, 1.112
artigos em ciências sociais foram elaborados sobre esse tema (ARAÚJO, 2010). A tabela 1
pautada em D’Araújo (2010) apresenta de modo resumido momentos históricos da evolução do
conceito de Capital Social.
55

Tabela 1. Momentos históricos da evolução do conceito de Capital Social


Década Protagonista Momento histórico do uso do conceito de capital social
1950 John Seeley Expressão é usada para assinalar pertencimento de morados
urbanos a certos clubes e associações que facilitavam o
acesso a outros bens e serviços.
1960 Jane Jacobs Termo é usado para enfatizar a importância das redes
informais de sociabilidade nas grandes metrópoles
encorajando a segurança pública.
1970 Glenn Loury Expressão é usada para explicar a relação entre
desenvolvimento econômico e laços de confiança e conexão
social entre diferentes grupos étnicos nas grandes cidades
norte-americanas.
1980 Pierre Definiu capital social como agregador de recursos, reais e
Bourdieu potenciais, que possibilitavam o pertencimento duradouro a
determinados grupos e instituições.
Ekkehart Expressão usada para sublinhar a importância da
Schlicht organização social e da ordem moral para o desempenho
econômico
James Expressão é usada tanto como mecanismo de satisfação e
Coleman completude da vida social quanto como um recurso sem o
qual a criação de outros bens/recursos seria impossível
Robert Putnam Expressão é usada para relacionar confiança, reciprocidade
e participação cívica como caminho para a prosperidade.
Francis Capital social é relacionado à prosperidade econômica e
Fukuyama cultural nos processos de desenvolvimento industrial
Fonte. Elaborado com base em Araújo (2010, p. 23-26)

O conceito de capital social ganhou destaque com a publicação do livro de Robert


Putnam, “Making Democracy Work: Civic Tradicions in Modern Italy”, em 1993. Este livro,
fruto de extensa pesquisa iniciada em 1970, visou acompanhar o processo de implantação da
descentralização administrativa naquele país. Putnam constatou que o norte italiano, mais
desenvolvido, soube aproveitar melhor as vantagens da descentralização quando comparado à
região sul italiana. Após análise de inúmeras variáveis, ele percebeu que o contexto cívico era
importante para o funcionamento das instituições, as quais, aliadas à cultura cívica e à confiança
interpessoal traduziam-se em capital social, como um recurso fundamental de poder para os
indivíduos e para a sociedade beneficiando a todos os envolvidos (ARAÚJO, 2010).
Pensando sobre o capital social em uma sociedade, Bourdieu (1998) nos remete às
relações que se estabelecem e que o definem como

[...] o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de


uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de
interconhecimento e de inter-reconhecimento [...] como um conjunto de
56

agentes que não somente são dotados de propriedades comuns, mas também
são unidos por ligações permanentes e úteis. (BOURDIEU, 1998, p. 67)

Olhar para essas relações nos transportam para Durston (1999, p.103) que define
capital social como um conjunto de normas, instituições e organizações que promovem
confiança e cooperação entre as pessoas, nas comunidades e na sociedade no seu conjunto.
Segundo Durston

[…] se habla de capital social en el sentido que es un recurso (o vía de acceso


a recursos) que, en combinación con otros factores, permite lograr beneficios
para los que lo posueen. Por otro lado, esta forma específica de capital reside
en las relaciones sociales. (DURSTON, 2000, p.7-8)

Durston e López (2006) sintetizam definições de capital social de alguns


pensadores, as quais, são apresentados de modo resumido na tabela 2 a seguir.

Tabela 2 - Definição de Capital Social para diferentes autores.


Autor Definição de Capital Social
Robert Putnam Capital social refere-se a características da organização
social, tais como leis, normas e relações interpessoais que
podem promover a eficiência da sociedade através da
facilitação de ações coordenadas.
James Coleman É uma entidade que apresenta duas características em
comum: elas fazem parte de toda a estrutura social e facilitam
ações dos indivíduos pertencentes a esta estrutura.
Pierre Bourdieu Capital social é o conjunto de recursos reais ou potenciais
vinculados a uma rede de relações duráveis mais ou menos
institucionalizadas de reconhecimento mútuo.
Francis Fukuyama Pode ser definido como um local de valores informais ou
normas que regem os membros de um grupo que permite
colaboração entre eles.
Banco Mundial Capitão Social refere-se as normas e relações capazes de
promover ações coletivas visando redução da pobreza e
desenvolvimento humano e econômico sustentável.
John Durston Capital Social pode ser entendido como o conteúdo de certas
estruturas sociais, relações e atitudes comportamentais de
confiança, reciprocidade e cooperação.
Fonte. Modificado a partir de Durston e López (2006, p.106)
57

Para Abramovay (1998) capital social

[...] é construído segundo a capacidade dos atores de estabelecer relações


organizadas – mercantis e não mercantis – que favoreçam não só a troca de
informações e a conquista conjunta de certos mercados, mas também a pressão
coletiva pela existência de bens públicos e de administrações capazes de
dinamizar a vida regional. (ABRAMOVAY, 1998 p. 5).

O capital social pode ser considerado como uma relação de confiança e


reciprocidade e não individualizada: refere-se a indivíduos sociais que interagem em uma
coletividade (ZARATE, 2009). Tanto Bourdieu quanto Coleman relacionam capital social
como atributo dos grupos sociais, coletividade e comunidade (DURSTON, 2000). Assim sendo,
conforme o pontuado por Bebbington (2005, pag.48) “El capital social es el contenido de ciertas
relaciones e instituciones sociales, caracterizadas por conductas de reciprocidad y cooperación
y retroalimentadas con actitudes de confianza. ”
James Coleman em seus estudos sobre os fundamentos da Teoria Social apresenta
a conceito de que capital social não é uma propriedade privada, divisível ou alienável (Durston,
2000), mas sim um atributo da estrutura social na qual a pessoa se encontra imersa. Assim sendo
o capital social beneficia a todos, e não apenas a pessoa (ZARATE, 2009).
Para Bourdieu (1980) uma rede de relações não é um ato natural constituído por um
ato social de constituição, mas é o produto de instauração e manutenção para produzir relações
duráveis e úteis capazes de proporcionar lucros materiais e simbólicos. Desse modo cada
membro do grupo é o guardião dos limites do grupo onde se evita a entrada de um membro
novo que poderia vir a modificar o grupo mudando os limites da troca legítima.
Para Putnam (1996) o capital social não é produto espontâneo e nem pode ser
produzido automaticamente. Criar capital social supõe criar mecanismos de cooperação,
reciprocidade e de confiança mútua que estimulem as capacidades das pessoas a expandirem
suas liberdades. Liberdade que não é “apenas a base da avaliação de êxito e fracasso, mas
também um determinante principal da iniciativa individual e da eficácia social” (SEN, 2000).

O que as pessoas conseguem positivamente realizar é influenciado por


oportunidades econômicas, liberdades políticas, poderes sociais [...] estas
oportunidades são ainda influenciadas pelo exercício das liberdades das
pessoas, mediante a liberdade para participar da escolha social e da tomada de
decisões públicas que impelem o progresso destas oportunidades. (SEN, 2000,
p.19)
58

Baseado na pesquisa de Putnam (1996), o capital social é capaz de articular, agregar


considerando as características da organização social, como confiança, normas e sistemas, que
contribuem para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas.
Um ambiente positivo seria um ponto importante para estimular a acumulação de
capital social, sendo o legado histórico considerado importante (FOX, 1996) e as estruturas
sociais devem ser vistas como recursos, como um ativo de capital de que os indivíduos podem
dispor (ABRAMOVAY, 2000). O capital social pode ser utilizado pelos indivíduos de maneira
a convertê-los em alguma forma de benefício. Esses recursos, para existirem, prescindem da
existência de confiança, normas e sistemas que por ventura venham a contribuir ao
desenvolvimento desta localidade.
É importante ressaltar a função das redes sociais para o fortalecimento do capital
social. Estas são formadas por laços que além de proverem recursos têm um contexto e
propiciam a expansão de crenças e práticas culturais (ZARATE, 2009). A partir do
fortalecimento dessa rede de atores trabalhando por um objetivo comum, além da promoção do
desenvolvimento territorial, possibilitam a transformação mesmo que parcial da dinâmica
organizacional das diferentes localidades incluídas neste território.
Construir capital social é construir capacidades sociais e técnicas, aprimorar os
processos de gestão social e construir a visão de território com base na cooperação e na
confiança mútua. Ele é composto por sistemas sociais complexos, baseados em múltiplos
agentes que os mobiliza em suas estratégias e empreendimentos (MENDONÇA e PINHEIRO,
2008).
Capital social está definido aqui por três fatores inter-relacionados: confiança,
normas e cadeias de reciprocidade e sistemas de participação cívica – sistemas que permitem a
pessoas cooperar, ajudar-se mutuamente, zelar pelo bem público, promover a prosperidade.
(ARAÚJO, 2010).
Assim sendo

[...] grupos que constroem uma ação mais interativa entre as iniciativas de
acompanhamento técnico-econômico e as de caráter educacional participativo
tenderam a construir relações sociais de solidariedade, reciprocidade e
confiança mais fortes, o que acarretou em expansão das condições de geração
de capital social de forma significativa. (AMÂNCIO, 2006, p.11)

O capital social quando presente em uma sociedade fortalece a tomada de decisões


e a execução de ações colaborativas que beneficiem toda a comunidade. (KHAN e SILVA,
59

2005). Desse modo, capital social é um conceito que promove estratégias de organização de
classes com um caráter de instrumento que utilizam os atores racionais com a intenção de
manter ou reforçar seu status ou poder na hierarquia social (MILANI, 2003).
Indivíduos capitalizados socialmente possuem maior grau de articulação e de
agregação de interesses no âmbito externo. No entanto, não é a quantidade de participação
política que define a organização dos atores e sim a qualidade delas. Para a formação de capital
social é importante reproduzir e priorizar laços comunitários de solidariedade horizontais (não
hierárquicas) e quebrar os laços verticais que salientam as relações clientelistas, opressoras e
oportunistas (AMANCIO, 2006).
Para Zarate (2009) o capital social não deve apenas pautar-se em sentimento de
solidariedade e simpatia, mas criar valor para os indivíduos que participam de diferentes redes
sejam elas:
1. Redes sociais de informação;
2. Normas de reciprocidade e ajuda mútua entre as diferentes redes sociais:
i. Redes de laços sociais entre pessoas que têm muito em comum;
ii. Redes de laços mais frágeis entre pessoas que mantêm a reciprocidade
generalizada.
3. Redes que promovam a visão coletiva;
4. Redes que ampliem as relações interpessoais e solidariedade; e
5. Redes que busquem um desenho com a intervenção de todos os envolvidos,
aproveitando as diferentes potencialidades de cada um dos membros da rede e minimizando os
pontos negativos.
Para Durston (2000) a confiança que existe entre os indivíduos que integram as
redes não é um recurso da sociedade como um todo, mas somente do indivíduo pertencente a
um grupo de uma determinada rede. Para Zarate (2009, p.8) “las redes sociales estimulan la
identidad y el sentido de comunidad del individuo, lo que genera un sentimiento de satisfacción
personal e interés por cooperar”.
Durston (2000) fornece uma tipologia de capital social, postulando formas
crescentes de relações interpessoais, das relativas ao indivíduo até grupo, comunidade, ponte,
escada e societária:
a) Capital Social Individual: é aquele que se manifesta principalmente em relações
entre duas pessoas. Essas relações são casuais, com um conteúdo de confiança
e reciprocidade. É um recurso presente nos relacionamentos. As redes aqui
estabelecidas são mais restritas e pautadas em interesses mais individualistas;
60

b) Capital Social de Grupos: é uma ampliação do capital social individual pautado


em redes ampliada, comumente de 4 a 12 pessoas, tendo como referenciais laços
fortes de integração;
c) Capital Social Comunitário: Ocorre em nível de comunidade onde o capital
passa a ser coletivo. A comunidade pode ser territorial ou funcional, ou seja,
ele pode ser um bairro comunidade definido como um estável, ou pode ser uma
comunidade de interesse, definido pela existência de objetivos comuns. As
redes formadas não trabalham graças ao capital social de uma pessoa ou grupo
em particular, mas como uma propriedade de toda a comunidade.
d) Capital Social de Ponte: Refere-se à capacidade de indivíduos, grupos ou
comunidades de interação com outras partes interessadas. Neste papel
particularmente destaca as ligações horizontais extensas, ou seja, a estabelecida
entre atores de poder similar.
e) Capital "Escada": Refere-se a relação de confiança que é assimétrica, ou seja,
aquela na qual um confia mais que o outro, ou ainda, em contextos democráticos
os vínculos podem ser de conexão entre atores de pouco poder com de alto
poder.
f) Capital Social Societário: é aquele que é desenvolvido em nível nacional ou
social, enfatizando as virtudes e fraquezas de culturas nacionais tradicionais.

Bebbington (2005) fornece uma tipologia de capital social a partir de seus estudos
da compreensão das trajetórias de reprodução no meio rural e suas relações com o
desenvolvimento. Seu valor principal se encontra em como facilitar o acesso a outros capitais
onde suas correlações com o empoderamento se fazem necessárias para que sejam
implementadas mudanças nas relações entre o Estado e as próprias comunidades. O autor
apresenta três tipos de capital social:
a) Capital social de união: reflete os laços mais íntimos e próximos. São laços de
família e de comunidade, com poucas pessoas e geograficamente envolvendo
pessoas que vivem muito próximas;
b) Capital social de ponte: refere-se aos laços menos intensos que os de união, que
envolvem pessoas e grupos similares, mas geograficamente mais distantes. Ex:
comunidades de agricultores, de mães solteiras (são formas federativas de
organização);
61

c) Capital social de escada: refere-se às relações entre grupos e pessoas com


distintas identidades e com diferentes graus sociopolíticos;

O capital social de união pode facilitar o acesso a recursos em uma localidade e


provavelmente de uma maneira mais rápida (para responder a momentos de emergência e crises,
sempre quando a crise afeta também os outros membros destas redes locais). Possuem mais
compromissos, mais controles sociais, mais demandas de reciprocidade. As outras formas de
capital social são menos seguras, no sentido que o ator pode estar seguro de que o outro ator
respeitará o compromisso da relação e por outro lado pode assegurar-se de que estas formas de
capital social darão acesso a outros recursos. O capital social de união atua na sobrevivência,
oferecendo acesso às formas de reciprocidade e apoio em momentos de crise, possibilidade de
partilha de recursos (por exemplo: bancos comunitários). (BEBBINGTON, 2005).
O capital social de ponte pode pressionar para produzir mudanças nas políticas e
nas regras que determinam a distribuição dos ativos enquanto o capital social de escada permite
acessar certos tipos de recursos públicos e externos, nacionais e internacionais. Capitais sociais
de ponte e escada oferecem a possibilidade de ascender a recursos que existem fora da
localidade ou das estruturas sociais locais, recursos de outros tipos e potencialmente de outro
nível (BEBBINGTON, 2005).
Para incorporar o conceito de capital social nas políticas de desenvolvimento,
Woolcock e Narayan (2016) apresentam 6 recomendações que devem ser observadas:
 Realizar um estudo institucional social, a fim de identificar os interessados e
suas inter-relações, visto que as intervenções a serem propostas vão afetar o
coletivo;
 Investir em capacidade organizacional dos atores sociais e auxiliá-los a construir
pontes entre as comunidades e grupos sociais. Uma das grandes virtudes da ideia
e do discurso sobre capital social é que ele fornece uma linguagem comum a
todas as partes interessadas;
 Somar as vozes que clamam por políticas que incentivem a disseminação da
informação em todos os níveis visando o bem público;
 Melhorar o acesso físico aos serviços e recursos, bem como a tecnologia de
comunicação moderna, promovendo melhor troca de informações entre os
diferentes grupos sociais, a fim de complementar a interação social;
62

 Considerar os efeitos potenciais impactos da política intervencionista no capital


social das comunidades;
 O capital social deve ser visto como um componente de projetos de
desenvolvimento onde as comunidades locais devem contribuir no desenho,
implementação, gestão e avaliação de projetos, visando a sustentabilidade deste.
Durston (2000) traz à discussão a possível existência de um tipo de capital que o
autor chama de coletivo e ou individual, para além das relações de confiança e reciprocidade
entre os indivíduos, articulado em redes interpessoais. Para o autor o capital social poderia ser
observado em âmbito individual ou comunitário.
O capital social individual se manifesta principalmente nas relações sociais
pautadas em confiança e reciprocidade manifestada principalmente em relações em redes mais
individualizadas, enquanto o coletivo ou comunitário, em contrate, se expressa em instituições
complexas pautadas na cooperação e gestão.
Capital social individual refere-se ao recurso que uma pessoa acumula na forma de
reciprocidade difusa e que pode ser reclamada em tempos de necessidade a outras pessoas para
as quais tenha realizado, de forma direta e indireta, serviços ou favores em qualquer momento
no passado. Este recurso reside não na pessoa em si, mas nas relações entre as pessoas.
(DURSTON, 2000).
O capital social comunitário ou coletivo consta de normas e estruturas que
delimitam as instituições de cooperação do grupo. Reside não em relações interpessoais, mas
em sistemas complexos, em estruturas normativas, gestionários e passíveis de sanções.
(DURSTON, 2000). Generalizando, o capital social individual é propriedade de quem pode se
beneficiar dele; o capital social comunitário não é propriedade de ninguém, porém contribui
para o benefício do grupo. De modo geral “[…] el capital social comunitario es una forma
particular de capital social, que abarca el contenido informal de las instituciones que tienen
como finalidad contribuir al bien común. ” (DURSTON,1999, pag.103)
Durston (2000) pontua que o capital social comunitário apresenta como
características (benefícios) institucionais e funcionais:
a) Controle social através da imposição de normas compartilhadas pelo grupo e
sancionada pela imposição de castigo aos transgressores;
b) Criação de confiança entre os membros de um grupo;
c) Cooperação coordenada em tarefas que excedem as capacidades de uma rede;
d) Resolução de conflitos por lideres por uma esfera jurídica institucionalizada;
e) Mobilização e gestão de recursos comunitários;
63

f) Legitimação de líderes e executivos com funções de gestão e administração; e


g) Geração de âmbitos e estruturas de trabalho em equipe.
Como benefícios mais específicos da instituição do capital social comunitário o
autor cita:
a) Prevenção e sanção de indivíduos que querem se beneficiar do capital social
sem aportarem recursos próprios para o seu fortalecimento e
b) Produção de bens públicos criados de forma coletiva.
Durston (2000) apresenta a hipótese de que comunidades rurais promovem um
ambiente ideal para que surja, ou seja, criado capital social. Entretanto a presença do capital
social comunitário não é garantia de que estes resultados desenhados se produzam e dependem
da existência de um conjunto de outras condições favoráveis. O capital social quando está
presente é um atributo destes sistemas sociais porque influência a sustentabilidade sistêmica
das instituições comunitárias. Assim sendo tanto o capital social individual quanto o
comunitário são partes da cultura compartilhada e internalizada pelos indivíduos que se
relacionam na comunidade.
A instituição do capital social comunitário pode surgir através de pelo menos quatro
processos diferentes (DURSTON, 2000):
a) Coevolução de estratégias das pessoas;
b) Decisões racionais e conscientes dos indivíduos que compõem a comunidade;
c) A socialização das normas relevantes de uma cultura desde a tenra infância; e
d) Pode ser induzida por uma agencia externa que aplica uma metodologia de
desenvolvimento de capacidades de gestão comunitária.
O capital social é em grande parte um fenômeno comunitário porque as instituições
locais de cooperação e cogestão emergem como resultado frequente da interação de estratégias
individuais. As instituições e normas de capital social comunitário podem ser criadas
intencionalmente por agentes externos a partir de um amplo repertório de metodologias de
capacitação na participação das bases. Políticas públicas podem contribuir para a criação do
capital social (DURSTON, 1999), além de promover empoderamento dos setores sociais mais
excluídos. O capital social comunitário complementa os serviços públicos de diversas maneiras
entre as quais:
a) Fortalece a participação em nível comunitário a qual pode ser a chave para
articular serviços públicos;
b) Pode facilitar a avaliação da viabilidade econômica de microempresas e
empreendimentos rurais; e
64

c) A associação comunitária pode ser o ponto chave que conecta o indivíduo à


instituição pública.
Empoderamento é considerado aqui “em um contexto de uma estratégia social, um
processo seletivo consciente e intencionado que tem como objetivo a igualdade entre os atores
sociais.” (DURSTON, 2000, p.33).
Para Durston (2000) as condições para o empoderamento pleno incluem:
a) Criação de espaços institucionais adequados para que os setores excluídos
participem de espaços púbicos;
b) Formalização de direitos legais e resguardo ao conhecimento e respeito;
c) Fomento a organização em que as pessoas que integram o setor social excluído
possam efetivamente participar e influir em suas estratégias adotadas pela
sociedade;
d) Transmissão de capacidades para exercício da cidadania e a produção incluindo
saberes instrumentais essenciais além de ferramentas para analisar as dinâmicas
econômicas e políticas relevantes;
e) Criação de acesso ao controle sobre recursos e ativos para prover
aproveitamento de espaços, direito, organização e capacidades em
competências e em conceito com outros atores; e
f) Uma vez constituída esta base de condicionantes facilitadores do
empoderamento e constituição de um ator social, cobram relevância dos
critérios de uma participação efetiva, com apropriação de instrumentos e
capacidades propositivas, negociativas e executivas.
Estudos realizados por Durston (1999b), com as comunidades campesinas de
Chiquimula na Guatemala, mostraram que com apoio externo e capacitação foi possível criar
capital social nestas comunidades convertendo um setor excluído em um ator socialmente ativo.
A partir destes estudos Durston (1999a; 1999b) propõe medidas para desenvolver
o capital social comunitário rural:
a) Realizar uma pesquisa de normas e práticas de confiança, reciprocidade e
cooperação entre os grupos locais;
b) Analisar e aproveitar as condições favoráveis para o ressurgimento do capital
social criadas pelo enfraquecimento do clientelismo autoritário;
c) Realizar uma pesquisa de anterioridade da presença do capital social local a fim
de identificar episódios anteriores de desenvolvimento que possam ter sido
reprimidos. Esta pesquisa pode ser feita com base na história oral coletiva;
65

d) Iniciar um processo de desenvolvimento de atitudes sociais em grupos de


ascendência formados por no máximo 10 a 15 famílias ligadas por laços de
parentesco, residência e de reciprocidade;
e) Fornecer repetidas oportunidades para criar laços de familiaridade e de
cooperação;
f) "Proteger" as associações de agricultores emergentes de clientelismo autoritário,
tanto política e economicamente;
g) Estar ciente dos distúrbios que podem sustentar sistemas de clientelismo
autoritários que enfraquecem a dependência das tendências e oferecer
oportunidades negativas para o ressurgimento do capital camponês;
h) Desenvolver uma capacidade de resposta rápida em projetos e programas para
combater as ações dos atores de clientes em processos de transição. Incentivar o
desenvolvimento da negociação dos líderes camponeses estratégicos;
i) Dar prioridade para a promoção do sentido de missão entre os funcionários de um
projeto orientado pelo desenvolvimento autônomo do capital social;
j) Incentivar a reflexão sobre redes interpessoais existentes entre o governo e a
sociedade civil. Facilitar acesso das comunidades marginalizadas a redes que
fornecem informações e serviços para que o acesso das camadas integradas.
A partir do arcabouço teórico exposto, procurou-se a resposta para a questão norteadora
desta pesquisa. Os próximos capítulos abordarão a metodologia, os resultados alcançados e a
conclusão, primando sempre pelo já reportado na literatura.
66

3. A CONCEPÇÃO METODOLÓGICA E O TRAJETO DA PESQUISA

Este capítulo está estruturado em 5 itens visando a descrição da concepção


metodológica e o trajeto de pesquisa adotado. Inicialmente é apresentada a opção metodológica
da pesquisa, o plano e as estratégias adotadas envolvendo a seleção dos sujeitos da pesquisa e
a definição do espaço amostral. Na sequência são descritas as etapas de pesquisa que foram
seguidas.

3.1. A opção metodológica da pesquisa

O estudo de caso é apenas uma das muitas maneiras de se fazer pesquisa em ciências
sociais (YIN, 2003).
Trata-se de um procedimento metodológico que visa elucidar como e por quê
determinados fatos e ou eventos acontecem, além de viabilizarem a análise de determinadas
situações onde a possibilidade de controle é reduzida ou quando o entendimento de uma ação
ou fato só tem sentido dentro do contexto no qual está inserido (GODOY, 1995). Para Triviños
(1987, pag. 133), o estudo de caso “é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que
se analisa aprofundadamente”.
A condução do Estudo de Caso baseia-se em várias fontes de evidências e apoia-se
nas proposições teóricas pré-estabelecidas para conduzir a coleta e a análise dos dados. Porém
é preciso observar que segundo Yin (2003, p.82) “[...] a coleta de dados segue um plano formal,
mas as informações específicas que podem se tornar relevantes a um estudo de caso não são
previsíveis imediatamente”. Dessa forma é necessário o desenvolvimento de um protocolo de
estudo do caso, o qual contém os procedimentos e as regras gerais que devem ser seguidas.
Segundo Yin (2003) um estudo de caso deve seguir 3 princípios para a coleta de
dados:
1. Utilizar várias fontes de evidência: Este princípio “permite que o pesquisador dedique-
se a uma ampla diversidade de questões históricas, comportamentais e de atitudes. A
vantagem mais importante, no entanto, é o desenvolvimento de linhas convergentes de
investigação, um processo de triangulação” (Yin, 2003, p.119).
2. Criar um banco de dados para o estudo de caso: Este princípio “deve ser respeitado
durante a coleta de dados tem a ver com a maneira de organizar e documentar os dados
coletados para os estudos de caso” (YIN, 2003, p.123)
67

3. Manter o encadeamento de evidências: Este princípio “consiste em permitir que um


observador externo possa perceber que qualquer evidência proveniente de questões
iniciais da pesquisa leve às conclusões finais do estudo de caso” (YIN, 2003, p.127).
Descrever e caracterizar estudos de caso não é uma tarefa fácil, visto que eles
podem apresentar abordagens quantitativas e qualitativas. Apesar da aparente oposição entre
ambas abordagens o ideal é a construção de uma metodologia que consiga agrupar aspectos de
ambas perspectivas (FREITAS e JABBOUR,2011) visto que não são excludentes. Em especial
a pesquisa quantitativa possibilita ao pesquisador mensurar opiniões, hábitos, atitudes e reações
por meio de uma amostra estatística que representa um universo a ser pesquisado (TERENCE
e ESCRIVÃO FILHO, 2006). Por outro lado, considera-se que

[...] a principal vantagem da abordagem qualitativa, em relação à quantitativa,


refere-se à profundidade e à abrangência [...] das evidências que podem ser
obtidas e trianguladas por meio de múltiplas fontes, como entrevistas,
observações, análise de documentos, permitindo ao pesquisador detalhes
informais e relevantes dificilmente alcançados com o enfoque quantitativo,
admitindo também uma relação bem mais próxima e sistêmica do objeto de
estudo. (FREITAS e JABBOUR, 2011, pag.10)

Segundo Yin (2003) apesar de comumente o estudo de caso ser tratado como
ferramenta exploratória ele pode ser considerado uma ferramenta explanatória. Para isso torna-
se importante definir bem a pergunta da pesquisa. Nesta tese foi usado o estudo de caso para
analisar o papel do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV) na
geração e fortalecimento do capital social no estado do Rio de Janeiro.
Pautada na vertente metodológica interpretativa buscou-se nesta tese trabalhar
criticamente um conjunto de dados qualitativos e quantitativos obtidos em três diferentes
momentos, com o propósito de dar conta da análise almejada, que foram: análise documental e
entrevistas dirigidas a pessoas importantes na concepção, elaboração e implantação do
Programa; análise dos condicionantes da adoção da Tecnologia Social dos Bancos
Comunitários de Sementes de Adubos Verdes a partir do relatado por formuladores e gestores
federal e estadual, entrevistas com agricultores e agricultores familiares, técnicos
multiplicadores e gestores de bancos comunitários de sementes; análise da contribuição do
Programa para a formação do capital social entre os diferentes atores envolvidos.
68

3.2. O plano de trabalho e as estratégias de pesquisa

O plano de trabalho e as estratégias de pesquisa utilizadas foram concebidas após


análise preliminar de documentos e registros cedidos pela Superintendência Federal de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado do Rio de Janeiro (SFA-RJ). Esta análise
permitiu a definição do universo da pesquisa e posteriormente o recorte amostral usado.

3.2.1. Elaboração dos questionários para coletas de dados no campo

Para a coleta de dados em campo foram elaborados quatro tipos de questionários,


os quais foram aplicados aos diferentes atores sociais envolvidos com o Programa BCSAV:
formuladores do Programa, agricultores familiares beneficiados, técnicos multiplicadores e
gestores dos bancos comunitários.
Os questionários destinados aos formuladores e superintendente estadual do
Programa BCSAV no Estado do Rio de Janeiro foram elaborados com o intuito de realizar o
resgate histórico acerca da concepção e implantação do Programa, bem como conhecer as
perspectivas futuras de continuidade do mesmo na visão deles. Os questionários destinados às
entrevistas com os agricultores familiares, técnicos multiplicadores e gestores de bancos
comunitários foram elaborados a partir das definições teóricas de capital social apresentadas
por Evans (1996), Putnam (1996), Durston (2000) e Bebbington (2005), conforme o tabela 3.

Tabela 3 – Definições de Capital Social apresentadas por Evans (1996), Putnam (1996), Durston
(2000) e Bebbington (2005)
Denominação do Definições
Autores
Capital Social
Capital social Relações sociais estão centradas no indivíduo, partem
individual dele para as redes sociais. (Relações de confiança).
P
U
T Capital social Expressão entre as relações de confiança e práticas de
D N comunitário cooperação.
U A
R M
S B Laços íntimos de família, amizade, de vizinhança e
T E Capital social de união
O B comunidade (poucas pessoas).
N B Relações entre pessoas social e economicamente
I Capital social de ponte
N similares, mas distantes geograficamente.
G E
T V Relações entre grupos e pessoas com identidades distintas
O A Capital social de escada
N N e poder sociopolítico distintos.
S
Fonte: Elaboração própria a partir de Durston (2000), Putnan (1996), Bebbington (2005) e
Evans (1996).
69

A partir destes autores apresentados na tabela 4 foram identificados o cerne de cada


teoria, permitindo a definição dos Pilares da Sustentação19 adaptados para os objetivos desta
tese os quais se constituíram na base de estruturação dos diferentes questionários aplicados aos
agricultores familiares, técnicos multiplicadores e gestores de bancos comunitários.

Tabela 4 - Pilares de Sustentação Teórica obtidos a partir da teoria de Capital Social


Autor Capital Conteúdo relacionado na Pilares da Sustentação
Social teoria Teórica
Histórico de confiança no
Normas, Instituições e grupo
Capital Histórico de
Durston Organizações que promovem
Social reciprocidade no grupo
(2000) confiança, reciprocidade e
Individual
cooperação entre atores sociais Histórico de cooperação
no grupo
Capital social não é algo Mecanismos de
espontâneo nem é produzido cooperação,
Putnan automaticamente. Depende da reciprocidade e confiança
(1996) criação de mecanismos de criados
cooperação, reciprocidade e
confiança mútua
Capital Identidade compartilhada
Social
Comunitários Histórico local (memoria
Durston Medidas para desenvolver o
(2000) capital social comunitário em comum)
Liberdade para optar por
seu futuro
Interação dos agricultores
com os agentes de Ater
Acesso a diferentes ativos que Interação entre os
trazem aos atores sociais a diferentes atores sociais
Capitais
capacidade de ser e agir. Estão Empoderamento
Bebbington Sociais de
relacionados diretamente a
(2005) União, Ponte
capacidade de empoderamento
e Escada
do grupos e diferentes atores
sociais
Dentro do conceito de sinergia, Sinergia entre sociedade
Capital
Evans ocorrem interações entre os civil e estado
Social de
(1996) representantes do estado e da
Escada
sociedade civil
Fonte: Elaboração própria a partir de Durston (2000), Putnan (1996), Bebbington (2005) e
Evans (1996).

19
Neste trabalho chamamos de Pilar de Sustentação da Teórica-Metodológica as temáticas identificadas nos
diferentes trabalhos e que sustentam o conteúdo teórico de cada autor.
70

Apresenta-se a seguir as questões que compuseram os questionários aplicados aos


agricultores familiares, técnicos multiplicadores e gestores de bancos comunitários pautados
nos Pilares de Sustentação descritos nas tabelas anteriores.

3.2.1.1. Questionários dos agricultores familiares

Este questionário continha três partes: uma primeira com 18 questões para
levantamento socioeconômico de caracterização do agricultor familiar; uma segunda com 10
questões versando sobre o banco de sementes e uma terceira com 6 questões abordando
características da presença ou não do capital social individual e comunitário (apêndice 1). A
Tabela 5 apresenta as questões que foram aplicadas aos agricultores familiares frente aos
respectivos Pilares de Sustentação sobre Capital Social detalhados na Tabela 7.

Tabela 5 - Questões sobre capital social aplicada aos agricultores familiares abordados na
pesquisa, 2015.
Pilares da N° da
Sustentação Teórico- Questão questão no
metodológica apêndice 5
O (a) sr(a) recebeu sementes do programa BCSAV? 19
Se sim, o que motivou sua participação no
Liberdade democrática Programa? Se não participa, por que?
(para optar pelo
O senhor participa do Banco Comunitário de 29
futuro)
Sementes (casa de sementes) local? Se sim, por
quê? Se não por quê?
O (a) Sr(a) teve orientação para montagem do banco 20
Interação dos de sementes em sua propriedade?
agricultores com os
agentes de Ater O Sr(a) teve auxílio para montagem do banco de 21
sementes em sua propriedade? Se sim, de quem?
Identidade Qual é o maior benefício de se fazer parte do Banco 30
compartilhada Comunitário de Sementes?
Como o Sr(a) descreveria sua participação nas 31
decisões da associação /casa de sementes ou outra
associação que participa?
Histórico de Em comparação a um ano atrás, como está sua 32
cooperação participação nas decisões da associação /casa de
sementes ou outra associação que o Sr(a) participa?
O senhor participa de mutirões junto com outros 35
agricultores?
71

Histórico de confiança Como associado ao BCS, você diria que se pode 33


confiar na maioria das pessoas, ou que nunca é
demais ter cuidado ao lidar com as pessoas?
Histórico de O senhor realiza troca de sementes como outros 34
reciprocidade agricultores?
Fonte: Elaboração própria (2016)

O questionário completo (apêndice 1) foi aplicado aos agricultores familiares


conforme descrito no item 3.3. (Condução da pesquisa em campo).

3.2.1.2. Questionário para os Técnicos Multiplicadores

O questionário aplicado aos técnicos multiplicadores foi elaborado contendo 18


questões construídas também conforme as unidades de análise descritas na figura XX
abordando características da presença do capital social individual e comunitário (apêndice 2).
A figura 6 apresenta essas questões.

Tabela 6 - Questões sobre capital social aplicadas aos técnicos multiplicadores abordados na
pesquisa, 2015.
Pilares da N° da
Sustentação Teórico- Questão questão no
metodológica apêndice 4
O que o (a) motivou a participar do Programa como
1
multiplicador (a) ?
Você conhece o proposto na segunda fase do
Liberdade democrática Programa? Se sim como ela foi comunicada para
13
(para optar pelo futuro)
você?
Você se sente motivado a participar da segunda fase
14
do Programa? Por quê?
Houve dificuldades na implementação do
3
Programa? Quais?
Houve recurso suficiente para executar o Programa?
Histórico local Se não, por quê? No que a insuficiência de recursos 4
(memoria em comum) implicou?
Quantos bancos foram constituídos sob sua ação? 6
De que modo o(a)s agricultore(a)s participantes do
5
projeto foram selecionados?
Interação dos Você usou algum instrumento para avaliação da
agricultores com os implementação do Programa sob sua coordenação? 7
agentes de Ater
72

Quais foram às estratégias de monitoramento


utilizadas?
Em sua opinião o programa atendeu o esperado pelo
Sinergia entre governo? Se não ou parcialmente sim, o que não foi 8
sociedade civil e atingido?
Estado Em sua opinião o Programa atendeu o esperado
9
pelos agricultores?
No que consistiam as capacitações? Elas foram
2
suficientes para sua ação extensionista?
Em sua opinião quais fatores foram limitantes no
10
Programa?
Empoderamento
Em sua opinião quais fatores foram que
11
potencializaram o Programa?
Que pontos ou aspectos você considera que
12
poderiam ser melhorados no Programa?
Em sua opinião o programa intensificou a
Histórico de participação social nas localidades atendidas por 15
reciprocidade no grupo
você?
Em sua opinião o programa aumentou, diminuiu ou
Histórico de confiança não alterou a confiança entre as pessoas atendidas
16
no grupo
por você?
Em sua opinião o programa aumentou, diminuiu ou
Histórico de
não alterou a cooperação entre os agricultores 17
cooperação no grupo
atendidos por você?
Em uma escala de 1 a 5, considerando um pouco
efetivo e cinco muito efetivo, como você
Identidade classificaria o Banco Comunitário de Sementes no 18
compartilhada
tocante ao impacto social da implantação na
comunidade de agricultores familiares?
Fonte: Elaboração própria (2016)

O questionário completo (apêndice 2) foi aplicado aos técnicos multiplicadores


conforme será descrito no item 3.3. - Condução da pesquisa em campo.

3.2.1.3. Questionários dos gestores dos Bancos Comunitários

O questionário aplicado aos gestores dos bancos comunitários contém duas partes:
uma primeira com 8 questões que visaram o resgate histórico da constituição do banco de
sementes da comunidade e uma segunda com 21 questões abordando características da presença
73

dos diferentes capitais sociais (apêndice 3). A tabela 7 apresenta essas questões à luz dos
respectivos pilares da sustentação teórico-metodológica.

Tabela 7 - Questões sobre capital social e aplicada aos gestores dos bancos comunitários
abordados na pesquisa, 2015.
Pilares da N° da
Sustentação Teórico- Questão questão no
metodológica apêndice 6
Interação entre os Que organizações, entidades, grupos, associações, 8
diferentes atores comunidade e outros, participam juntos na gestão
sociais do BCS?
Por que nem todos participam do BCS? 10
Liberdade democrática Quais as perspectivas para o BCS? 15
(para optar pelo Quando há uma decisão a ser tomada no BCS, 22
futuro) geralmente, como isso acontece?
Como são escolhidos os gestores do BCS? 23
Como se dá a distribuição de sementes neste 11
BCS?
Você acha que após a implantação/entrada do 24
Programa BCSAV o grau de confiança dos
associados melhorou, piorou ou permaneceu mais
Mecanismos de ou menos o mesmo?
cooperação, 14
Quais alternativas e/ou sugestões ajudam a
reciprocidade e
confiança criados comunidade a superar seus problemas?
Como o sr(a) acha que o banco pode contribuir 16
para a melhoria da qualidade de vida dos
agricultores vinculados ao BCS?
Em que aspecto o BCS tem contribuído (ou não) 17
para o fortalecimento dos agricultores?
Quais as principais dificuldades do BCS? 13
Histórico local Quais são os principais gargalos, no tocante a 19
(memoria em comum) sementes em um sistema de produção
agroecológico/orgânico?
Todas as famílias associadas vivem 18
exclusivamente da agricultura? Quais os outros
tipos de ocupação?
Identidade 20
Como uma pessoa passa a ser um membro do
compartilhada
BCS?
Qual é o maior benefício de se fazer parte do 21
BCS?
Histórico de Em sua opinião, com que frequência as pessoas 25
reciprocidade no grupo ligadas a este BCS ajudam umas às outras?
74

Falando em geral, você diria que se pode confiar 26


Histórico de confiança na maioria das pessoas, ou que nunca é demais ter
no grupo
cuidado ao lidar com as pessoas?
O que é necessário para se participar neste BCS? 9
Qual a importância do Banco Comunitário de 12
Sementes para a comunidade e a segurança
alimentar?
Em sua opinião, se houvesse um problema de 27
abastecimento de sementes nessa comunidade,
Histórico de
qual a probabilidade das pessoas cooperarem para
cooperação no grupo
tentar resolver o problema?
Suponha que ocorresse uma fatalidade com uma 28
das pessoas ligadas ao BCS tal como uma doença
grave, ou a morte de um parente. Qual a
probabilidade de algumas pessoas na comunidade
se unirem para ajudar as vítimas?
Fonte: Elaboração própria (2016)

O questionário completo (apêndice 3) foi aplicado aos técnicos multiplicadores


conforme apontado no ítem 3.3. - condução da pesquisa em campo.

3.2.1.4. Questionários dos agentes formuladores do Programa BCSAV e Superintendente


Federal da Agricultura

O questionário aplicado aos formuladores do Programa e ao Superintendente


Federal da Agricultura no Estado do Rio de Janeiro foi elaborado objetivando o levantamento
de dados históricos referentes a concepção do Programa Banco Comunitário de Sementes de
Adubos Verdes. Foram elaborados 2 questionários, sendo um destinado aos formuladores do
Programa contendo 25 questões (apêndice 4) e outro à Superintendência Federal de Agricultura
e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro contendo 21 questões (apêndice 5). Em ambos os
casos foram elaboradas 3 questões abordando características da presença dos diferentes capitais
sociais. A tabela 8 apresenta as questões que foram aplicadas aos gestores de bancos
comunitários frente aos respectivos Pilares de Sustentação da Teoria definidos.
75

Tabela 8 - Questões sobre capital social aplicada aos formuladores do Programa BCSAV e ao
Superintendente Federal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro
abordado na pesquisa, 2015.
N° da N° da
Pilares da Sustentação Questão questão no questão no
Teórico-metodológica apêndice 2 apêndice 3
Mecanismos de cooperação, Como você percebe o Programa
reciprocidade e confiança em termos de participação 19 21
criados social?
Para você o Programa foi capaz
de estimular a confiança,
Interação entre os diferentes reciprocidade e a cooperação
20 22
atores sociais
entre as pessoas e instituições
envolvidas?
Houve após a implantação do
Programa aumento no número
Identidade Compartilhada 21 23
de associações ou cooperativas,
casas de sementes entre outras?
Fonte: Elaboração própria (2015)

Os questionários completos (apêndices 4 e 5) foram aplicados aos técnicos


multiplicadores conforme o ítem 3.3. - Condução da pesquisa em campo.

3.2.2. A seleção dos sujeitos da pesquisa

O universo de estudo considerado nesta pesquisa foi composto pelos bancos


comunitários e bancos familiares de sementes de adubos verdes, identificados em
levantamento20 de 2013 realizado pela Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento no Estado do Rio de Janeiro (SFA-RJ). Analisando-se esse documento
encontram-se os diferentes atores sociais envolvidos no Programa, tais como agricultores
familiares e agentes de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) que receberam capacitação
e atribuições para implementação dos bancos.
A análise comparativa dos registros dos bancos comunitários e familiares
constituídos no Rio de Janeiro com os registros dos indivíduos capacitados pelos agentes de
Ater nos anos de 2009 e 2012 (apêndice 4) permite afirmar que dos 42 profissionais

Dados recebidos pela Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado


20

do Rio De Janeiro (SFA-RJ) em junho de 2013 e disponibilizados para o desenvolvimento desta


pesquisa.
77

indivíduos da população, ou seja, toma-se uma parte desta para a realização do estudo, tem-se
um espaço amostral, a partir da qual pode-se fazer inferências para a população, estimando os
valores para ela desde que sejam guardadas as regras de probabilidade estatística.
Nesta tese, definiu-se, a partir da análise do registro dos bancos comunitários e
familiares constituídos no Rio de Janeiro (apresentados no item 3.2.2 - A seleção dos sujeitos
da pesquisa), os diferentes espaços amostrais para os atores envolvidos na questão.
Assim para determinação desses espaços amostrais foi utilizada uma diretriz
proposta por Little (citado por Fontes et al., 2003) que estabelece tamanhos mínimos de
amostras segundo o tamanho original da população e o rigor estatístico desejado no estudo,
conforme descrito na tabela 9.

Tabela 9 - Diretriz para seleção do tamanho das amostras de pesquisa, 2015.

Tamanho mínimo para amostra sugerida em porcentagem


Tamanho da população segundo o rigor estatístico
(número de indivíduos)
Mais rigoroso Medianamente rigoroso Menos rigoroso

2 – 10 100 100 30
11 – 25 100 40 20
26 – 50 50 20 15
51 – 100 25 10 10
101 – 250 15 7 5
251 – 500 10 5 3
501 – 1000 5 3 2
Acima de 1000 2–3 2 1-2
Fonte. Little (citado por Fontes et al., 2003, p.519)

Diante do apresentado na tabela 9, optou-se pelo critério de censo quando a


população era de no máximo 10 atores sociais e pelo critério de menor rigorosidade quando a
população era de mais de 10 indivíduos visto estarem esses atores sociais da pesquisa dispersos
pelo estado do Rio de Janeiro, dificultando o trabalho de campo em termos de tempo e de
recursos financeiros além dos disponíveis.
78

3.2.4. Etapas da pesquisa

Um primeiro momento de pesquisa foi dedicado à construção do panorama


histórico da concepção, elaboração e implantação do Programa Banco Comunitário de
Sementes de Adubos Verdes (BCSAV) tanto em nível de Brasil quanto no estado do Rio de
Janeiro. Em um segundo momento buscou-se verificar, através de estudo socioeconômico dos
agricultores familiares amostrados na pesquisa envolvidos na pesquisa e os condicionantes que
os levaram a aderirem ao Programa BCSAV. No terceiro momento focou-se na análise das
relações entre o desenvolvimento do Programa BCSAV e a formação do capital social entre os
diferentes atores envolvidos.

3.2.4.1. Primeiro momento da pesquisa: Construção do panorama histórico da concepção,


elaboração e implantação do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos
Verdes

Neste momento buscou-se o desenvolvimento dos objetivos específicos: 1.


Resgatar historicamente a concepção, elaboração e implantação do Programa Banco
Comunitário de Sementes de Adubos Verdes tanto em nível de Brasil quanto no Estado do Rio
de Janeiro e 2. Verificar o papel dos diferentes atores envolvidos com a concepção, elaboração,
implantação e acompanhamento do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos
Verdes no Estado do Rio de Janeiro. Para melhor compreensão das ações desenvolvidas
dividiu-se este momento em duas etapas.

a) Etapa de resgate histórico


Inicialmente foi realizado o resgate histórico da concepção, elaboração e
implantação do Programa BCSAV entre os anos de 2007 e 2014. O histórico do surgimento do
Programa foi recuperado através de análise documental e entrevistas dirigidas a pessoas
importantes na sua concepção, elaboração e implantação. Foram usados dados fornecidos pela
Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro
(SFA-RJ) para o período delimitado bem como outros documentos tais como relatórios de
gestão do exercício anual e alguns relatórios de agentes de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Ater). Foram entrevistados os idealizadores do Programa, entre os quais um pesquisador da
Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Unidade Descentralizada de
Agrobiologia (CNPAB), além dos gestores públicos envolvidos tanto em nível federal (um
79

profissional ligado ao Mapa) quanto estadual (um profissional ligado à Superintendência


Federal do Mapa no estado do Rio de Janeiro). Também foi entrevistado um analista da
Embrapa Agrobiologia (CNPAB) responsável pelo atendimento das demandas por sementes
vinculadas ao Programa. Em todos os casos foram utilizados como instrumentos de coleta de
dados, entrevistas pautadas em questionários abertos (apêndices 4 e 5).

b) Etapa das entrevistas com técnicos multiplicadores


Nesta etapa foram entrevistados técnicos multiplicadores entre os quais agentes de
ater pública e privada, profissionais de secretarias de agricultura de municípios selecionados e
associações e cooperativas de agricultores familiares do estado do Rio de Janeiro.
Considerando-se um universo de 42 técnicos multiplicadores foram delimitados
espaços amostrais pautados em critérios como permanência no programa, participação nas
capacitações e formação e assistência técnica aos bancos familiares e comunitários formados.
Um primeiro grupo foi constituído por quatro técnicos capacitados nas formações
de 2009 e 2012 e envolvidos com a formação de bancos comunitários e familiares de sementes.
Os demais técnicos (38) que também participaram da capacitação, mas não formaram bancos
de sementes, constituiu o segundo espaço amostral, que foi definido considerando-se o
delineamento experimental menos rigoroso, totalizando seis agricultores entrevistados.
Considerando-se um universo de 23 profissionais ligados às associações ou
cooperativas, utilizou-se os mesmos critérios apresentados para definição dos espaços
amostrais. Um primeiro grupo foi constituído por quatro técnicos capacitados nas formações de
2009 e 2012 e envolvidos com a formação de bancos comunitários e familiares de sementes.
Os demais profissionais (18) ligados às associações ou cooperativas, que também participaram
da capacitação, mas não formaram bancos de sementes, constituiu o segundo espaço amostral,
que foi definido considerando-se o delineamento experimental menos rigoroso, totalizando
quatro agricultores entrevistados.
Na tabela 10 são apresentados os espaços amostrais definidos para o cumprimento
dos objetivos previstos para esta etapa de pesquisa.
80

Tabela 10 - Universo da pesquisa e definição do espaço amostral para construção do panorama


histórico da concepção, elaboração e implantação do Programa Banco Comunitário de
Sementes de Adubos Verdes no Estado do Rio de Janeiro, 2015.
Objetivos Universo da pesquisa Critérios para Amostra calculada para
específicos definição* do entrevistas
espaço
amostral
1 formulador do
Censo 1 entrevistados
programa
1 gestor nacional Censo 1 entrevistado
1 gestor estadual Censo 1 entrevistado
Objetivo 1 1 analista da Embrapa Censo 1 entrevistado
Resgatar historicamente
4 técnicos capacitados e
a concepção, elaboração
e implantação do envolvidos com a
Programa Banco formação de bancos Censo 4 entrevistados
Comunitário de comunitários e
Sementes de Adubos familiares de sementes
Verdes tanto em nível
38 técnicos capacitados
de Brasil quanto no
Estado do Rio de e não envolvidos com a
15%
Janeiro; formação de bancos 6 entrevistados
Menos rigoroso
comunitários e
familiares de sementes
Objetivo 2 4 profissionais de
Verificar o papel dos associações e
diferentes atores
cooperativas capacitados
envolvidos com a
concepção, elaboração, e envolvidos com a Censo 4 entrevistados
implantação e formação de bancos
acompanhamento do comunitários e
Programa Banco familiares de sementes
Comunitário de
18 profissionais de
Sementes de Adubos
Verdes no Estado do associações e
Rio de Janeiro; cooperativas capacitados
15%
e não envolvidos com a 4 entrevistados
Menos rigoroso
formação de bancos
comunitários e
familiares de sementes
Fonte. Dados da pesquisa (2015)
* Segundo Little (citado por Fontes et al., 2003)
81

3.2.4.2. Segundo momento da pesquisa: identificação do perfil socioeconômico dos


agricultores familiares e levantamento dos condicionantes para implantação de Bancos
Comunitários de Sementes de Adubos Verdes

Neste momento da pesquisa buscou-se o desenvolvimento dos objetivos


específicos: 3. Identificar o perfil socioeconômico dos agricultores selecionados no espaço
amostral deste estudo envolvidos com os Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes
e 4.Verificar os condicionantes que levam os agricultores a adotarem ou não a tecnologia social
dos Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes.
Considerando-se o universo de 273 agricultores beneficiados pelo Programa
segundo registros do Mapa21, foi realizado um recorte contemplando a formação dos 65 bancos
familiares nos estabelecimentos agropecuários e a participação na capacitação realizada em
201222. Esses 273 agricultores que foram beneficiados pelo Programa recebendo sementes
foram divididos em dois grupos para definição do espaço amostral, pautado no critério de
participação ou não na capacitação ofertada pelo Mapa.
Um primeiro grupo foi constituído por 20 agricultores familiares que participaram
da capacitação em 2012 para formação de bancos comunitários, sendo que destes apenas um
agricultor constituiu banco familiar, formando o primeiro espaço amostral. Os demais
agricultores (dezenove) que também participaram da capacitação, mas não formaram bancos de
sementes constituíram o segundo espaço amostral, que foi definido considerando-se o
delineamento amostral menos rigoroso, totalizando quatro agricultores entrevistados. Os
demais 253 agricultores também beneficiados pelo Programa com o recebimento de sementes
e que não participaram de capacitação constituíram o terceiro espaço amostral, composto tanto
por agricultores que formaram bancos de sementes como os que não formaram. Neste caso,
dados da Superintendência Federal da Agricultura apontam que no estado do Rio de Janeiro 64
agricultores deste total de beneficiados constituíram bancos de sementes e 189 não constituíram
ou não comunicaram ao Mapa sua formação. Para ambos os casos foi usado como critério para
definição do terceiro espaço amostral, o de menor rigorosidade, conforme apresentado na tabela
11 a seguir.

21
Dados fornecidos pela Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado do Rio de
Janeiro (SFA-RJ) na forma de documentos eletrônicos e não publicados.
22
Os agricultores aparecem nominalmente citados apenas na capacitação realizada no ano de 2012. Na listagem
da Superintendência no ano de 2011, interstício entre a primeira e segunda fase do Programa, são relatados apenas
a presença de associações ou cooperativas de agricultores (dados constantes no apêndice 6)
82

Tabela 11 - Universo da pesquisa e definição do espaço amostral para identificação do perfil


socioeconômico dos agricultores familiares e levantamento dos condicionantes para
implantação de Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes no estado do Rio de
Janeiro, 2015.
Critérios para Amostra mínima
Objetivos específicos Universo da pesquisa definição do calculada para
espaço amostral entrevistas
64 bancos familiares de 10% 7 entrevistados
Objetivo 3 sementes de agricultores (Menos
Identificar o perfil
que não foram capacitados rigoroso)
socioeconômico dos
agricultores selecionados 1 banco familiar de Censo 1 entrevistado
no espaço amostral deste sementes de agricultor que
estudo envolvidos com os foi capacitado
Bancos Comunitários de
19 agricultores que foram 20% 4 entrevistados
Sementes de Adubos
Verdes
capacitados e não (Menos
formaram bancos rigoroso)
Objetivo 4 familiares ou comunitários
Verificar os condicionantes de sementes
que levam os agricultores a
189 agricultores 5% 10 entrevistados
adotarem ou não a
tecnologia social dos beneficiados e não (Menos
Bancos Comunitários de formaram bancos rigoroso)
Sementes de Adubos familiares ou comunitários
Verdes de sementes
Fonte. Dados da pesquisa (2015)
* Segundo Little (citado por Fontes et al., 2003)

Para os quatro grupos amostrais foram aplicadas entrevistas com tópicos abordando
perfis socioeconômicos e motivos e potenciais condicionantes para a formação ou não de banco
familiar ou comunitário de sementes, bem como questões que buscaram explorar características
dos agricultores e ou dos bancos de sementes relativos á geração e fortalecimento de capital
social local (apêndice 1). Como dito, esperou-se obter nesta etapa os atendimentos referentes
aos objetivos específicos 3 e 4 da pesquisa.
83

3.2.4.3. Terceiro momento da pesquisa: verificação de como o Programa Banco


Comunitário de Sementes de Adubos Verdes pode contribuir para a formação ou
fortalecimento do Capital Social em termos de promoção da confiança, reciprocidade e
cooperação entre os pares

Como último momento de pesquisa propôs-se a análise da contribuição do


Programa Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes para a formação ou
fortalecimento do Capital Social em termos de promoção da confiança, reciprocidade e
cooperação considerando como universo de pesquisa os cinco bancos comunitários registrados
em julho de 2013 pela Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do
estado do Rio de Janeiro (SFA-RJ). Foram entrevistados os gestores destes bancos
comunitários, utilizando questionários semiestruturados, visando conhecer a dinâmica de
interação entre os agricultores familiares no tocante a promoção e ou intensificação da
confiança, cooperação e reciprocidade entre eles (apêndice 3).

3.3. Condução da pesquisa em campo

Esta etapa iniciou-se a partir do acesso aos documentos e relatórios da


Superintendência Federal de Agricultura e Abastecimento do Rio de Janeiro (SAF-RJ).
Inicialmente foi agendada uma entrevista com a superintendente com o intuito de explicar a
pesquisa e seus objetivos e quando também foi solicitado o acesso a dados referente a
implantação do Programa no estado. A partir da análise destes, foi possível determinar o trajeto
histórico e os atores sociais com ele envolvidos. O material consultado constou de planilhas,
relatórios de agentes multiplicadores que participaram das capacitações, relatórios anuais de
gestão da SAF-RJ, listas dos nomes dos participantes nas capacitações de 2009 e 2012 e termos
de compromissos dos agricultores.

3.3.1. Análise dos documentos e relatórios da SFA-RJ

Nesta etapa buscou-se analisar criteriosamente os dados dentro de parâmetros que


permitissem o resgate histórico da concepção e implantação do Programa BCSAV no Rio de
84

Janeiro. Foram necessárias várias leituras do material para que se pudesse criar descritores 23 a
partir da análise de conteúdo24 de todos os documentos, foi possível estabelecer uma
historicidade no contexto observado (SANTOS et al., 2001). A partir do observado foram
identificados os responsáveis pelo Programa e ou aqueles que tinham maior inserção nas
atividades visando sua implantação no estado do Rio de Janeiro. Uma leitura criteriosa, pautada
em descritores selecionados, permitiu a reconstituição histórica, além de dar indicativos de
questionamentos que deveriam ser feitos aos entrevistados visando preencher lacunas da
reconstrução histórica e ou dúvidas.

3.3.2. Entrevistas com agentes multiplicadores e agricultores familiares

A partir dos documentos fornecidos pela Superintendência Federal de Agricultura,


Pecuária e Abastecimento do estado do Rio de Janeiro (SFA-RJ) foi feita uma lista onde
constavam os dados cadastrais dos agricultores, agentes de assistência técnica e extensões rurais
e profissionais de associações e cooperativas que tinham participado das capacitações
realizadas nos anos de 2009 e 2012. Também foram fornecidas as informações referentes aos
nomes dos demais agricultores familiares beneficiados pelo Programa. Entretanto alguns dados
tais como e-mails e telefones encontravam-se desatualizados, sendo necessário um
levantamento complementar para atualização dos contatos, o que foi feito com o auxílio do
analista da Embrapa Agrobiologia responsável pelas ações de campo relacionadas à adubação
verde. Isto permitiu que as entrevistas pudessem ocorrer, conforme o planejado na pesquisa, na
medida que os contatos foram sendo atualizados.
Os entrevistados foram selecionados dentro do previsto no espaço amostral
buscando na medida do possível contemplar todas as macrorregiões do estado do Rio de Janeiro
(Figura 2). Exceções foram feitas quando a pesquisa tinha por objetivo o censo dos atores
sociais conforme descrito no item 3.2.4. – Etapas de pesquisa.

23
Descritores são termos ou palavras-chave que a base de dados utiliza para indexar um artigo sendo que o descritor
confere maior especificidade à busca realizada (POMPEI, 2010, p.1)
24
A análise de conteúdo, segundo Vergara (2005, p.15) “é considerada uma técnica para o tratamento de dados
que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema” (Vergara, 2005, p. 15). Para Bardin
(2011, p.47), o termo designa “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou
não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens”.
85

Inicialmente o contato com os atores da pesquisa era feito por e-mail e ou telefone,
quando uma explicação inicial do propósito da pesquisa era dada, e solicitada então, a
colaboração deixando-os à vontade para optarem para participar ou não da mesma. Após esta
breve explicação era feito o agendamento da entrevista.

Figura 2 - Macrorregiões do Estado do Rio de Janeiro cobertas pela pesquisa

Fonte:http://mapasblog.blogspot.com.br/2011/11/mapas-do-estado-do-rio-de-janeiro.html
Acesso em 18/11/2016

As entrevistas ocorreram entre 09/02/2015 a 13/06/2016, sendo que as três


primeiras com agricultores familiares e as três primeiras com técnicos multiplicadores foram
realizadas visando a adequação do questionário, representando, portanto, um pré-teste.
Os questionários destinados aos multiplicadores mostraram-se adequados, porém
os destinados aos agricultores precisaram ser modificados nas questões referentes à participação
destes em associações e ou bancos comunitários ou familiares de sementes. As perguntas
originais que questionavam sobre o maior benefício de se fazer parte do Banco Comunitário de
Sementes e sobre sua participação nos processos decisórios destes precisaram ser refeitas, visto
que a participação não era realidade vivenciada por todos os entrevistados. Optou-se por uma
86

readequação na maneira de perguntar sobre esta temática, levando o agricultor a pensar em


termos de como se daria seu comportamento em situações de participação nos bancos
comunitários de sementes. Desse modo foi necessário readequar as questões que versavam
sobre participação. Estas questões foram refeitas para os três primeiros agricultores após a
restruturação dos questionários.
No início da realização das entrevistas foi reafirmado para os entrevistados o
propósito da pesquisa e obtido o consentimento formal destes para a gravação das mesmas.
Destaca-se que todos os entrevistados permitiram esta gravação, sendo o consentimento
gravado. Em média as entrevistas com os técnicos de Ater duraram cerca de 60 minutos e com
os agricultores 50 minutos. Todas as entrevistas transcorreram em clima de cordialidade,
respeito e compreensão, o que permitiu o acesso a determinadas informações importantes no
contexto da pesquisa.
Após a realização das entrevistas procedeu-se a transcrição dos áudios na íntegra
para que não fossem perdidas percepções e opiniões das entrevistas a respeito da implantação
do programa BCSAV no Rio de Janeiro, bem como respeitar os interlocutores enquanto sujeitos
sociais construtores de seu próprio destino e relatores de uma realidade vivenciada. A
transcrição das entrevistas ocorreu tão logo as entrevistas foram sendo realizadas, tendo a última
ocorrido em 18/08/2016.

3.4. Organização e análise das entrevistas

Após a transcrição de todas as entrevistas gravadas com os agricultores e técnicos


multiplicadores foi feita a análise preliminar dos dados. Segundo Campos (2004, p. 613) deve-
se proceder a “várias leituras de todo o material coletado, a princípio sem compromisso
objetivo de sistematização, mas sim se tentando apreender de uma forma global as ideias
principais e os seus significados gerais”.
Na sequência todos os dados obtidos em campo foram tabulados considerando
como norteadoras as questões constantes dos roteiros de entrevistas (apêndice 1,2 e 3). Buscou-
se com este procedimento uma melhor visualização das ideias principais e os seus significados
gerais, organizando-as segundo unidades temáticas de análise (temas). Optou-se pelo
agrupamento das diferentes evidências em unidades temáticas por frequenciamento ou quali-
quantitativa (repetição de conteúdos comuns à maioria dos respondentes), o que permitiu sua
avaliação estatística. Como exemplo deste procedimento tem-se a identificação de quatro ideias
87

principais (quatro evidências) para o questionamento feito aos agentes multiplicadores a


respeito de estratégias de monitoramento usadas por eles junto aos agricultores familiares para
avaliar a implementação do Programa, a saber: “Aplicação de questionários”, “Reuniões para
socialização”, “Visitação” e “Não realizada” (neste caso, referindo-se a não realização do
monitoramento pelo agente multiplicador).
A partir das unidades temáticas identificadas, determinou-se a frequência de
ocorrência das evidencias de cada uma obtendo-se intervalos de confiança, índices de
confiabilidade e níveis de significância.

Uma das mais básicas e importantes decisões para o pesquisador é a seleção


das unidades de análise. [...] existem várias opções na escolha dos recortes a
serem utilizados, mas percebemos um interesse maior pela análise temática
(temas), o que nos leva ao uso de sentenças, frases ou parágrafos como
unidades de análise. O tema pode ser compreendido como uma escolha própria
do pesquisador, vislumbrada através dos objetivos de sua pesquisa e indícios
levantados do seu contato com o material estudado e teorias embasadoras,
classificada antes de tudo por uma sequência de ordem psicológica, tendo
comprimento variável e podendo abranger ou aludir a vários outros temas.
(CAMPOS, 2004, p.613)

Em seguida a este procedimento, buscou-se realizar a categorização não-


apriorística25 dos dados a partir da identificação das unidades temáticas. Foram identificadas
três grandes dimensões de análise a partir das entrevistas com os técnicos multiplicadores,
agricultores familiares e gestores de Bancos Comunitários de Sementes envolvidos com o
programa BCSAV. Estas categorias foram subdivididas em um grande número de temas,
conforme se procedeu a análise das entrevistas.

Podemos caracterizar as categorias como grandes enunciados que abarcam um


número variável de temas, segundo seu grau de intimidade ou proximidade, e
que possam através de sua análise, exprimirem significados e elaborações
importantes que atendam aos objetivos de estudo e criem novos
conhecimentos, proporcionando uma visão diferenciada sobre os temas
propostos. (CAMPOS, 2004, p.614)

As três categorias de análise foram a) Histórico da implementação do Programa


BCSAV no Estado do Rio de Janeiro; b) Empoderamento dos atores sociais para ação no
programa BCSAV e c) Capital social presente e gerado pelo Programa BCSAV na perspectiva

25
Na categorização não apriorística, as categorias (classificações) surgiram do contexto das respostas
dos sujeitos da pesquisa. Isto exige um intenso ir e vir ao material analisado além de não perder de vista
o atendimento aos objetivos da pesquisa. (CAMPOS, 2004, p.614)
88

dos diferentes atores sociais. A tabela 12 apresenta as categorias de análise e seus respetivos
temas associados com base nos dados obtidos em campo.

Tabela 12 - Dimensões e Categorias de Análise obtidas a partir dos dados de campo


Categorias de Análise Unidades Temáticas
Histórico da idealização, formalização e Seleção dos agricultores
implementação do Programa BCSAV no Inicio do Banco de Sementes na propriedade
Estado do Rio de Janeiro. do agricultor
Recursos disponíveis
Avaliação da implantação do programa
Potencialidades
Limites
Dificuldades
Aspectos a serem melhorados
Empoderamento dos atores sociais para ação Motivação para participar no Programa
no programa BCSAV Capacitação para ação no Programa
Capital social presente e gerado pelo Histórico de cooperação
Programa BCSAV na perspectiva dos Histórico de reciprocidade
diferentes atores sociais Histórico de confiança
Fonte. Dados da pesquisa (2015) obtidos a partir da análise dos dados de campo.

Resumidamente a correlação entre os Pilares de sustentação teórica, nesta


pesquisa considerado como as temáticas identificadas nos diferentes trabalhos e que sustentam
o conteúdo teórico de cada autor, bem como as Categorias de Análise, as Unidades Temáticas
e as Evidências são apresentadas na tabela 13.
89

Tabela 13 - Correlação entre os Pilares de Sustentação Teórica, Dimensões de Análise,


Unidades Temáticas e Evidências.

Pilares de Sustentação Dimensão de Unidades


Evidências
Teórica Análise Temáticas
Comprometimento do agricultor (trabalho e
melhoria da propriedade; Empreendedorismo;
Seleção dos Vínculo com associações que Trabalhavam
agricultores com AO, agroecologia; Disponibilidade em
experimentar novas práticas; Seleção pela
comunidade
Disponível Sementes; Material
instrucional
Recursos Não Combustível; Financeiro;
 Histórico local
disponíveis disponível Unidades experimentais ; Falta
(memoria)
de estrutura
Capital humano
 Interação dos
Histórico da Avaliação do Não realizada; Visitação; Questionários e
agricultores com os
idealização, programa Reuniões Para Socialização
agentes de Ater
formalização e Potencialidade Semente; Adubação Verde; Instituições e
implementação do s Agricultores
 Sinergia entre
Programa BCSAV Acompanhamento; Semente; Agricultores;
sociedade civil e no Estado do Rio Limites
Assistência Técnica; Comunicação;
estado
de Janeiro. Organização Social; Pouca Troca De
Experiência
 Interação entre os
Assistência Técnica; Agricultores;
diferentes atores
Dificuldades Fitotécnica; Programa
sociais
Sementes
Associativismo; Organização; Divulgação;
Envolvimento dos agricultores
Conservação de sementes; Sementes de
Aspectos a
qualidade (viabilidade); Período da entrega
serem
das sementes, Melhora na assistência técnica;
melhorados
Mais dias de campo e unidades
demonstrativas sobre o banco;
Monitoramento e acompanhamento
Já trabalhava; Melhora do solo; Orientação
Motivação
institucional.
Empoderamento
 Liberdade Deveria ter a presença do guardião; deveria
dos atores sociais
democrática abranger o associativismo; Curso informativo
para ação no
 Empoderamento Capacitação e não formativo; Deu o embasamento inicial;
programa BCSAV
Deveria trabalhar o contexto de um BCS;
histórico
 Histórico de Histórico de reciprocidade; Histórico de
reciprocidade no confiança; Histórico de cooperação
grupo
Capital social
 Histórico de confiança
presente e gerado
no grupo
pelo Programa
 Histórico de Capital Social
BCSAV na
cooperação no grupo
perspectiva dos
 Identidade diferentes atores
compartilhada sociais
 Mecanismos de
cooperação,
reciprocidade e
confiança criados
Fonte. Dados da pesquisa (2015) obtidos a partir da análise dos dados de campo.
90

3.4.1. Análise estatística

A análise estatística foi feita a partir da determinação das diferentes evidencias de


cada uma das unidades de análise, utilizando o software Sphinx Léxica26, onde buscou-se obter
as frequências dessas ocorrências e seus respectivos intervalos de confiança (IC). As medidas
estatísticas utilizadas nesta pesquisa foram intervalo de confiança, significância estatística e
índice de confiabilidade dos resultados. Quando os resultados constaram de valores numéricos,
foi possível calcular a média aritmética e o desvio padrão.
Media é o quociente da divisão da soma dos valores da variável pelo número deles.
A média (aritmética) é, de modo geral, a mais importante de todas as medidas descritivas
(CORREA, 2003)
Desvio padrão27 é a medida mais comum da dispersão estatística (representado pelo
símbolo sigma, σ) que mostra o quanto de variação ou "dispersão" existe em relação à média
(ou valor esperado).
O intervalo de confiança28 (IC) é utilizado para evidenciar o quanto os resultados
de uma pesquisa são confiáveis. Desse modo as evidências de cada unidade de análise definidas
a partir dos levantamentos dos dados em campo foram apresentadas para posterior discussão,
em sua frequência de ocorrência e com seu respectivo intervalo de confiança. Destaca-se que
uma pesquisa que resulte num IC pequeno é mais confiável do que uma que resulte num IC
maior.
A significância estatística29 de um resultado é uma medida estimada do grau em
que este resultado é "verdadeiro" (ou seja, que realmente ocorre na população), representando
a probabilidade de erro envolvida em aceitar o resultado observado como válido. Em geral, o
nível-p de 0,05 é costumeiramente tratado como um "limite aceitável" de erro, indicando que
há 5% de probabilidade de que a relação entre as variáveis, encontradas na amostra, seja casual.

26
O Sphinx Léxica é um software para análise de dados que permite investigar em profundidade entrevistas,
discursos, livros, mensagens, por meio de funções potentes de divisão do texto, de navegação por hipertexto, de
indexação automática e de trechos repetidos, além de possibilitar análise estatística tais como tabulações simples
e cruzadas, análises uni e bivariada e multivariada de dados. Disponível em
http://www.sphinxbrasil.com/produto/versoes-anteriores, acesso em 15/11/2016.
27
Disponível em http://leg.ufpr.br/~silvia/CE055/node25.html, acesso em 15/11/2016.
28
Disponível em http://www.portalaction.com.br/inferencia/intervalo-de-confianca, acesso em
15/11/2016
29
Disponível em
http://www.inf.ufsc.br/~marcelo.menezes.reis/intro.html#O+que+%E9+signific%E2ncia+estat%EDsti
ca+%28n%EDvel-p%29, acesso em 15/11/2016.
91

Índice de Confiabilidade30 é um conceito que se relaciona com à


"representatividade" do resultado encontrado em uma amostra específica com outras da mesma
população. Com este índice é possível determinar a probabilidade de se ter uma relação entre
diferentes amostras retiradas de uma população.

30
Disponível em http://www.inf.ufsc.br/~marcelo.menezes.reis/intro.html. Acesso em 15/11/2016.
92

4 O PROGRAMA BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES DE ADUBOS VERDES


NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Este capítulo está estruturado em 6 itens visando a explanação do estado da arte do


Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes no estado do Rio de Janeiro.
Inicialmente é apresentado o modus operandi do Programa, seguido do histórico de sua
implantação no estado. Na sequência, é discutido o Programa Banco Comunitário de Sementes
de Adubos Verdes no estado do Rio de Janeiro, a partir das três dimensões de análise: 1)
Empoderamento dos atores sociais para a ação no Programa; 2) Histórico da idealização,
formalização e implementação do Programa no estado e, por último, 3) O Capital Social
presente e gerado pelo Programa na perspectiva dos diferentes atores sociais.

4.1. O Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV)

Em 2003 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) criou o


Programa de Desenvolvimento da Agricultura Orgânica (Pró-Orgânico) com os objetivos de
estimular o desenvolvimento de sistemas orgânicos de produção, o acesso a produtos e
processos apropriados para a agricultura orgânica e promover uma maior independência dos
agricultores familiares em relação à aquisição de insumos externos. O programa passou a existir
oficialmente após a criação do Plano Plurianual (PPA) 2004-2007, quando ele foi criado,
dispondo de recursos destinados a fazer trabalhos nas áreas de certificação, fiscalização e
fomento à agricultura orgânica no País.
Uma das ações do Pró-Orgânico foi o fomento ao uso de espécies de adubos verdes
por apresentarem a vantagem de o agricultor poder guardar um pouco das sementes produzidas
por ele para serem plantadas no ano seguinte, diferentemente dos adubos químicos industriais,
que precisam sempre ser comprados. (WUTKE e AMBROSANO, 2007).

4.1.1. Uso de adubos verdes como prática agrícola

A adubação verde é uma prática agrícola antiga, sendo que há mais de 2000 anos
chineses, gregos e romanos já a utilizavam visando o aumento da produção das lavouras
(WUTKE et al., 2010). Trata-se de uma prática que consiste no uso de espécies vegetais,
preferencialmente leguminosas, em rotação ou em consórcio com culturas de interesse
93

econômico. Ela visa a manutenção da fertilidade do solo, colaborando para o aumento da


produtividade agrícola com respostas a médio e longo prazos (ESPINDOLA et al.,1997), sendo
que essas espécies podem cobrir o solo por determinado número de meses ou durante o ano
todo (WUTKE e AMBROSANO, 2007).
No Brasil estudos realizados pelo Instituto Agronômico de Campinas remontam
100 anos demonstrando que uma das maiores contribuições da adubação verde consiste na
adição de grandes quantidades de fitomassa ao solo, permitindo a elevação do seu teor de
matéria orgânica (LASSUS, 1990).
Como técnica utilizada há milênios, sua adoção na agricultura foi incentivada antes
da entrada dos insumos químicos derivados do petróleo. No início do século XX, o governo dos
Estados Unidos distribuiu sementes e recomendações técnicas para seu emprego. Com o
advento dos adubos químicos solúveis, que geravam lucros para os setores industriais, o uso de
adubos verdes foi praticamente suprimido, a ponto de no momento, uma das restrições ao seu
uso está na dificuldade de encontrar sementes para compra.
A prática agrícola da adubação verde pode ser aplicada tanto em sistemas
convencionais de produção quanto em sistemas orgânicos, nos quais encontrou grande
ressonância visto que a finalidades destes sistemas são:

II – a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a


recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas
modificados em que se insere o sistema de produção; III – incrementar a
atividade biológica do solo; IV – promover um uso saudável do solo, da água
e do ar, e reduzir ao mínimo todas as formas de contaminação desses
elementos que possam resultar das práticas agrícolas; V – manter ou
incrementar a fertilidade do solo a longo prazo; VI – reciclagem de resíduos
de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não-
renováveis; VII – basear-se em recursos renováveis e em sistemas agrícolas
organizados localmente. (BRASIL, Lei n° 10.831 de 23 de dezembro de 2003.
Art 1°, inciso 1).

Entre outros benefícios da adubação vede pode-se citar a contribuição para a


conservação do solo, ao minimizar os efeitos da erosão e promover sua descompactação,
estruturação e aeração; aumento do teor de matéria orgânica e a disponibilidade de água e
nutrientes; contribuição para maior disponibilidade de nitrogênio por meio da fixação
simbiótica, reduzindo os custos de produção ao diminuir a aquisição de adubos nitrogenados;
redução da incidência de vegetação espontânea e de infestação de pragas nas culturas de
interesse econômico, contribuindo para o equilíbrio ecológico dos agroecossistemas; utilização
de algumas partes das plantas tanto na alimentação humana e quanto na de animais; e redução
94

do uso de insumos externos utilizados para incremento da fertilidade do solo. (LIMA FILHO
et al., 2014)
Apesar dos benefícios existem limitações para produção em larga escala das
espécies usadas como adubos verdes, segundo Wutke et al. (2010, p. 8-9):
 Desconhecimento sobre as características das plantas em determinados sistemas
de produção e das épocas de semeadura mais adequadas;
 Pouca divulgação desta prática entre os agricultores;
 Pouca informação em tecnologia de produção e em estudos agronômicos,
incluindo-se os de melhoramento genético, havendo poucos cultivares lançados;
 Germinação irregular de sementes de adubos verdes, causando falhas no plantio
de dificuldade de manejo das plantas no campo;
 Inadequação ou inexistência de equipamentos para semeadura e beneficiamento
das sementes;
 Ciclo longo de algumas espécies;
 Dificuldades na colheita; e
 Não disponibilidade rotineira de sementes ou sementes sem qualidade.
No Brasil, dos fatores acima citados, destacam-se entraves tais como a baixa
disponibilidade de material propagativo e de informações a respeito de suas características,
benefícios e formas de utilização, em especial para agricultores familiares (WUTKE e
AMBROSANO, 2007).

O principal ponto para se utilizar esta tecnologia é o acesso às sementes para


o primeiro plantio. Normalmente estas sementes não são muito fáceis de
encontrar no comércio, além de serem muito caras para os pequenos
agricultores. (WUTKE e AMBROSANO, 2007, p.2)

Aliado a isto, o mercado de insumos agropecuários não tem interesse em práticas


como a adubação verde que trazem para o agricultor a possibilidade de autossuficiência nos
anos seguintes (VOGT et al.,2012), visto que o comércio de sementes de espécies utilizadas
como adubos verdes e a divulgação e incentivo ao seu uso não são comuns no setor privado. É
difícil encontrar material de propagação e, quando encontrado, é geralmente comercializado
com preços elevados. Progressivamente perdeu-se o interesse econômico pela produção de
sementes para adubação verde.
A estas limitações soma-se que a adubação verde é pouco divulgada e há pouco
estímulo às pesquisas nesta área (VOGT et al., 2012), fatores que diminuem mais ainda a
95

disponibilidade de material propagativo destinando a práticas com o uso e manejo dos adubos
verdes.
No estado do Rio de Janeiro, das 58.482 propriedades cadastradas pelo Censo
Agropecuário de 200631, somente 1.216, aproximadamente 2,08%, declararam utilizar adubos
verdes. Por outro lado, 16.358, aproximadamente 27,97%, utilizavam adubos químicos
nitrogenados e 3.293, aproximadamente 5,63%, não nitrogenados. Nota-se com essas
informações que na época a utilização de adubação verde era pequena e tudo indica que assim
permanece apesar do potencial de ganhos que essa tecnologia apresenta.
Uma das formas de garantir a oferta destas sementes são os Bancos Comunitários
de Sementes, que podem ser organizados por um agricultor ou grupos de agricultores. Nesse
caso, em parte da área plantada são colhidas sementes que serão utilizadas nos anos seguintes
sem que haja necessidade de novas compras. As espécies usadas como adubos verdes podem
ser incorporadas ao solo, mantidas em cobertura na sua superfície ou cultivadas até a colheita
das sementes garantindo-as para o ano seguinte, ou mesmo fornecendo renda extra para o
agricultor quando colocadas à venda (WUTKE e AMBROSANO,2007).
Segundo VOGT et al. (2012)

[...] cabe ao Estado suprir essas lacunas criando meios para que, em parceria
com diferentes segmentos da sociedade, seja viabilizado o acesso dos
produtores de insumos e às técnicas apropriadas à agricultura orgânica como
é o caso da adubação verde [...] por meio de políticas públicas não
assistencialistas e estratégicas que promovam a organização e a participação
ativa dos agricultores como é o caso do Banco Comunitário de Sementes.
(VOGT et al., 2012, p. 53)

4.1.2. Concepção e Implantação do BCSAV

A concepção do Programa BCSAV no Brasil teve sua gênese entre pesquisadores


que atuavam com a temática da adubação verde nos processos de produção ligados à agricultura
orgânica. Segundo um dos pesquisadores entrevistados, este processo começou no estado do
Rio de Janeiro a partir de uma sugestão dada ao Mapa, para que fosse criado um programa que
fortalecesse em todo Brasil, a utilização das sementes de adubação verde. Para o coordenador
da Câmara Temática de Agricultura Orgânica do Mapa havia dois motivos principais para a

31
Disponível em
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/2006/agropecuario.pdf
acesso em 13/08/2014.
96

implantação de um programa deste tipo: fomentar o uso do adubo verde como alternativa
interessante para a agricultura orgânica e suprir a falta de material genético (sementes) para
fomento do seu uso.

[...] duas motivações: uma delas a falta de material genético apropriado para
sistemas orgânicos de produção [...] , e a outra também muito importante, era
motivada pelo pessoal da Embrapa-Agrobiologia, principalmente Dejair32. A
gente conversava muito sobre essa questão, porque se usava tão pouco os
adubos verdes, [...] porque que a agricultura utiliza tão pouco essa tecnologia,
[...] (R.P.D, Coordenador da Câmara de Agricultura do Mapa, 13/02/2015,
Brasília, DF)

Este processo começou aqui no Rio com o Dejair1 a partir de uma sugestão
dada para o Rogerio Dias33 para que fosse criada um programa de bancos para
que fortalecesse a nível de Brasil a utilização das sementes de adubação verde.
Foi em um encontro que reuniu o Rogério e o Paulo Petersen34 que se pensou
em ter um programa que facilitasse a vulgarização da adubação verde. Depois
veio a ideia de amplia-lo para além dos limites da adubação verde. No segundo
ciclo entraram as alimentícias. (J.G.M.G, formulador do Programa,
16/09/2016, Seropédica, RJ)

Estas motivações foram confirmadas superintendente regional de Agricultura e


Abastecimento do estado do Rio de Janeiro, A.S.S., pois na visão dela apesar das pesquisas já
existentes na temática da adubação verde, a mesma não se expandia para os agricultores, visto
que a semente era cara e não havia grande disponibilidade no mercado.

[...] porque que a adubação verde não emplaca? Você tem vários trabalhos,
tem várias coisas e não vai [...] porque a semente é cara, não existe semente.
[...] então o Rogério3² teve aquela brilhante ideia de ser algo governamental,
de pegar isso como institucional para fomentar o uso dessas espécies, porque
você estaria dando insumo para o agricultor e diminuindo a dependência por
insumos externos [...]. (A.S.S, Superintendente Federal de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento do Rio de Janeiro, Executor do Programa,
02/02/2015, Rio de Janeiro, RJ)

Segundo o formulador do Programa, J.G.M.G, e a executora A.S.S., a ideia de uma


ação mediada por Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes, foi concebida pelo
coordenador da Câmara Temática de Agricultura Orgânica do Mapa, Rogério Dias. Estes
Bancos de Sementes deveriam em sua essência fomentar o uso da adubação verde e difundir a
ideia de que a semente era um bem a ser mantido pelo agricultor.

32
Dejair Lopes de Almeida, pesquisador aposentado da Embrapa Agrobiologia.
33
Rogério Dias, coordenador da Câmara Temática de Agricultura Orgânica do Mapa.
34
Paulo Petersen, coordenador executivo da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa
(As-pta).
97

“[...] governamentalmente deveria [...] fomentar o uso e as técnicas e difundir


essa ideia de que a semente é um bem e que o produtor tem que ter essa
tecnologia, esse insumo; não ter essa dependência de sempre ter que comprar.”
(A.S.S., Superintendente Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do
Rio de Janeiro, Executor do Programa, 02/02/2015, Rio de Janeiro, RJ)

O programa BCSAV preconizou desde o seu início o trabalho de modo comunitário,


visando dar aos produtores orgânicos à opção do acesso a semente e a não dependência do
mercado de insumos. Segundo o gestor federal do programa

[...] a questão dos bancos serem comunitários era dentro de uma lógica; nós
precisamos dar aos agricultores aquilo que eles precisam produzir, eles tem
que ficar com a possibilidade de não ter que comprar. O adubo verde é uma
situação clara disso, se eu tiver semente de adubo verde eu posso todo ano
fazer adubação verde, guardar uma parcela pra poder ter semente e usar no
outro ano [...] e ai eu vou reduzir a dependência. [...] então assim a questão do
banco comunitário era fundamentalmente, por pela questão de reduzir a
dependência de insumos externos”. (R.P.D, Coordenador da Câmara de
Agricultura do Mapa, 13/02/2015, Brasília)

Inicialmente, os primeiros recursos financeiros para alavancar o Programa BCSAV


vieram do fomento dado pelo Probio (Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da
Diversidade Biológica Brasileira), uma parceria do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – CNPq e o Ministério do Meio Ambiente (MMA), com recursos do
Banco Mundial. Além disso, segundo coordenador da Câmara Temática de Agricultura
Orgânica e formulador do Programa

[...] além da parte financeira, recursos, pra executar o projeto, tem o


envolvimento pessoal que é maior que o financeiro, que se você botar só o
salário dos técnicos envolvidos é mais que o valor financeiro que a gente, o
Mapa aplica...[...]. Tem toda parte de logística, de articulação com outros
atores também; muitas vezes não tem como computar valor a isso; [...] é algo
importante a ser feito, logicamente a gente gostaria de ter muito mais recurso,
muito mais meios pra trabalhar, mas a gente tem feito assim. A gente tenta
captar recursos de outras áreas, então, por exemplo, várias ações que a gente
tá fazendo aqui dentro é recurso do Banco Mundial do projeto Probio, então a
gente direcionou projetos dentro do Probio pra área de
agrobiodiversidade...[...] (R.P.D, Coordenador da Câmara de Agricultura do
Mapa, 13/02/2015, Brasília, DF)

O Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes veio como uma


tentativa de solução à dificuldade do agricultor em conseguir sementes para o primeiro plantio
visto sua pequena oferta no mercado. Assim sendo, ao estruturar esta proposta o Mapa
considerou que
98

[...] a partir do momento em que um grupo de produtores passa a administrar


o estoque dessas sementes, é possível garantir que um número cada vez maior
de produtores obtenha sementes e, também, a reposição para um agricultor,
que, porventura, perca seu estoque por alguma fatalidade que o ocorra em
determinado ano. (WUTKE e AMBROSANO, 2007, p.3).

A estratégia do Banco Comunitário pautou-se no fomento ao uso e manejo de


adubos verdes bem como a implantação dos bancos visando um determinado contexto
tecnológico e a organização social, facilitando o acesso dos agricultores ao material que
dificilmente é encontrado no mercado. Além disso, o Mapa considerou a multiplicação,
melhoramento e distribuição das sementes e focou as ações tanto em aspectos técnicos quanto
políticos e legais. Uma das intenções do Programa foi a de potencializar as redes que atuavam
com agrobiodiversidade, favorecendo a organização dos agricultores e ações coletivas. (R.P.D,
engenheiro agrônomo, 13 de fevereiro de 2015, Brasília)
A implantação do Programa BCSAV envolveu parcerias estaduais e federais, sendo
coordenado nas Unidades da Federação pelas Superintendências Federais de Agricultura tendo
as Comissões da Produção Orgânica - CPOrgs, como fórum de assessoramento para a definição
das estratégias de ação e das comunidades prioritárias para o atendimento.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento organizará, junto à


Coordenação de Agroecologia, a Subcomissão Temática de Produção
Orgânica - STPOrg da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica - Cnapo e, junto a cada Superintendência Federal de Agricultura,
Comissões da Produção Orgânica nas Unidades da Federação - CPOrg-UF,
para auxiliar nas ações necessárias ao desenvolvimento da produção orgânica,
com base na integração entre os agentes da rede de produção orgânica do setor
público e do privado, e na participação da sociedade no planejamento e gestão
democrática das políticas públicas. (BRASIL, Decreto 6.323 de 27 de
dezembro de 2007, art.33, Redação dada pelo Decreto nº 7.794, de 2012).

No Brasil a criação do programa foi fortalecida pelo fato do País ser signatário do
Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura (Tirfaa)
que entre outros pontos, visa a conservação e uso adequado dos recursos fitogenéticos por meio
de várias ações.
O artigo 5° do Tirfaa aponta que
Cada Parte Contratante, sob reserva da sua legislação nacional e em
colaboração com outras Partes Contratantes, [...], promoverá uma abordagem
integrada da prospecção, conservação e utilização sustentável dos recursos
fitogenéticos para a alimentação e a agricultura, devendo, [...]c) Promover ou
apoiar, conforme o caso, os esforços dos agricultores e das comunidades locais
99

no sentido de gerir e conservar na exploração os recursos fitogenéticos para a


alimentação e a agricultura” (Tirfaa, art.5°, inciso c).

A criação da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo) em


2012 veio a ratificar a manutenção do Programa BCSAV em sua 2°fase (2012-2015).
Com o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) os Bancos
Comunitários de Sementes ganharam uma nova dimensão, ampliando ainda mais sua
importância dentro da gestão da Coordenação de Agroecologia do Mapa. Uma das principais
ações propostas na Planapo pauta-se no fomento ao uso e manejo de adubos verdes e apoio à
implantação, organização e gestão de Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes.
Nacionalmente a gestão do Programa é de competência da Coordenação de
Agroecologia, setor vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e
Cooperativismo do Mapa, em articulação e integração direta com a Secretaria de Ciência e
Tecnologia. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) participa do Programa
fornecendo sementes básicas e coordenando as ações de construção e socialização dos
conhecimentos sobre o uso e manejo de adubos verdes junto ao público beneficiário.
O Programa, iniciado em 2007, possui duas fases com estratégias de ação
semelhantes, porém com objetivos diferenciados como se verá a seguir.

4.1.2.1. Primeira fase: 2007 a 201035

O programa teve em sua primeira fase (2007 a 2010) o objetivo geral de “fomentar
a menor dependência de insumos externos com o uso de espécies de adubos verdes pelos
agricultores” (MAPA, 2007). Nesta fase os objetivos específicos foram (MAPA, 2007):
 Produzir, multiplicar e disponibilizar sementes de espécies utilizadas para
adubação verde;
 Estimular o armazenamento e intercâmbio de sementes de espécies de adubos
verdes e outras de interesse dos agricultores beneficiários;
 Produzir materiais instrucionais e informativos sobre adubação verde,
organização e gestão de bancos comunitários de sementes;

35
As informações aqui descritas foram extraídas do Projeto Básico do Banco Comunitário de Sementes
de Adubos Verdes, cedidos pelo Mapa (anexos 1 e 2) e de entrevistas com a superintendente do Mapa
no Rio de Janeiro (A.S.S., engenheira agrônoma, 02/02/2015, Rio de Janeiro).
100

 Capacitar técnicos e agricultores no uso e manejo de adubos verdes, na


multiplicação e armazenamento de sementes e na organização de bancos comunitários.
Nesta fase do Programa o pré-requisito para que uma Unidade da Federação
entrasse no Programa era que a Comissão da Produção Orgânica (CPOrg) definisse que queria
trabalhar com o projeto no estado e que tivesse organizações dentro da CPOrg para assumirem
o papel de agentes de extensão tanto para a distribuição de sementes quanto para a capacitação
técnica de fazer a multiplicação do conhecimento.
Inicialmente, a produção, distribuição e multiplicação das sementes eram limitadas
às espécies crotalária (Crotalaria juncea), mucuna preta (Mucuna aterrima) e guandu (Cajanus
cajan) com a previsão da inclusão de outras espécies comumente utilizadas em cada região do
País, inclusive nativas ou crioulas. A definição das espécies e quantidades a serem
disponibilizadas sempre era definida a partir de discussões e encaminhamentos nas reuniões
das CPOrgs.
Nesta fase a distribuição de sementes pelas Comissões da Produção Orgânica, via
Superintendências Federais da Agricultura dos Estados, eram acompanhadas de materiais
promocionais e instrucionais, que incluiam folders e cartilhas sobre adubação verde para
técnicos e produtores, com a finalidade de realizar os trabalhos de divulgação e capacitação
para multiplicadores do programa.
O processo de capacitação foi dividido em duas etapas:
 Etapa I: nivelamento de instrutores (profissionais que seriam referência para
os cursos de formação de técnicos multiplicadores e agricultores) e
coordenadores das CPOrgs. Nesta etapa buscou-se trabalhar a ênfase na
proposta do Programa e o nivelamento didático para os cursos da Etapa II;
 Etapa II: capacitação de técnicos multiplicadores e agricultores selecionados
pelas Comissões da Produção Orgânica nas Unidades da Federação – CPOrgs
- UF.
Em sua dinâmica de atuação o Programa BCSAV oferecia aos beneficiários36 as
sementes de adubos verdes e articulava com os mesmos os eventos de capacitação, o
assessoramento e acompanhamento técnico. O conhecimento sobre o plantio era obtido na
própria comunidade mediante troca de experiências, mediadas tanto por agentes de Assistência

36
Os beneficiários desta etapa (2007-2010) eram os agricultores familiares inseridos em sistemas
orgânicos de produção, em processo de transição agroecológica ou com potencial para transição
agroecológica. (Informação obtida no “Termo de Compromisso do Agricultor”, documento do Mapa
disponível no Anexo 3).
101

Técnica e Extensão Rural (Ater) quanto por agricultores, aumentando as chances de uma boa
colheita e maior produtividade.
Foram capacitados agricultores multiplicadores e técnicos de Ater para trabalharem
com agricultores sobre o uso dos adubos verdes e multiplicação das sementes visando a
disponibilização e distribuição destas aos grupos de agricultores. Nessa perspectiva esses
agricultores passaram a ser multiplicadores e detentores do seu material levando-os a ter
autonomia em termos deste insumo.
Segundo a lógica do Programa os grupos de agricultores interessados entravam em
contato com a CPOrg, na Superintendência Federal de Agricultura de seu estado, e onde a
adesão era avaliada e planejada. A partir daí, começava o curso de capacitação com a
distribuição de cartilhas sobre adubação verde e sobre as sementes que seriam utilizadas no
primeiro plantio.
Nesta primeira fase do programa (2007-2010) os agricultores e entidades
representantes assinavam o “Termo de Compromisso”37 (anexo 3) de produzir a partir das
sementes que recebiam para a formação dos bancos familiares ou comunitários, restituindo ao
mesmo, a quantidade emprestada adicionada de mais uma parcela de sementes, vulgarmente
chamada de juros. Com os “juros” aplicados aos volumes emprestados, era possível aumentar
o número de beneficiados, a quantidade emprestada por família e, até, o número de cultivares
disponíveis para a troca. Os agricultores beneficiados recebiam uma quantidade máxima de 10
kg de sementes por solicitação com cópia do atestado de origem genética das mesmas.
No ano de 2008 sete Unidades da Federação aderiram ao Programa: Pará,
Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Neste ano
foram incentivados o uso e intercâmbio de sementes de crotalária, mucuna e feijão guandu,
tipos de leguminosas mais populares e com maior capacidade de adaptação a diferentes
condições de solo e clima.
No ano de 2009 o Programa foi ampliado, incluindo os estados de Santa Catarina,
Acre, Paraíba, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Tocantins, além do Distrito Federal,
totalizando naquele ano, 14 Unidades da Federação participantes.

37
Termo de Compromisso era um documento informal firmado entre o Mapa via Superintendência
Federal de Agricultura e os agricultores ou entidades (agências de assistência técnica, casas de sementes
e organizações de agricultores) no qual ficavam explicitados os critérios e procedimentos para
distribuição e uso de sementes de adubos verdes a serem disponibilizadas pelo programa BCSAV.
102

Nesta etapa os maiores desafios eram gerenciais e técnicos, tais como a produção
de sementes de adubos verdes e a organização das comunidades para a formação e
gerenciamento dos bancos de sementes.

4.1.1.2. Segunda fase: 2012 a 2015

Em sua segunda fase (2012 a 2015) o Programa ampliou sua dimensão visando
“promover a segurança e a soberania alimentar e nutricional [...] e os princípios e práticas
agroecológicas por meio da Adubação Verde” (MAPA, 2012). Nesta fase os objetivos
específicos eram (MAPA, 2012):
 Facilitar o acesso e fomentar o intercâmbio de sementes de espécies utilizadas
para adubação verde, variedades crioulas ou locais e espécies florestais nativas;
 Estimular a organização e a troca de experiências entre os grupos de agricultores
para o incremento e conservação de recursos genéticos e da agrobiodiversidade;
e
 Construir e socializar conhecimentos entre técnicos e agricultores para a adoção
de produtos e processos apropriados a agricultura orgânica e para o
conhecimento dos princípios da agroecologia.
A implementação da segunda fase foi estruturada em cinco etapas:
 Etapa 1: divulgação e avaliação da proposta do Programa pela Unidades da
Federação por meio das CPOrgs; seleção de entidades participantes; criação e
formalização do grupo gestor.
 Etapa 2: seleção dos grupos de agricultores participantes, definição de
estratégias para aquisição e distribuição das sementes e capacitação de
multiplicadores.
 Etapa3: distribuição de sementes e orientação aos grupos de agricultores pelos
multiplicadores.
 Etapa 4: fortalecimento e acompanhamento dos grupos de agricultores
participantes e estímulo à formação de redes de intercambio de experiências e
troca de sementes.
 Etapa 5: avaliação dos resultados e eventual adequação para alcance das metas
e dos objetivos do Programa.
103

Nota-se que a primeira fase do Programa tinha a meta de difundir a adubação verde
como alternativa aos adubos químicos. Já a segunda fase apresentou como meta ter até 2015,
oitocentos bancos de sementes (comunitários ou familiares) operando com espécies vegetais
usadas em adubação verde, variedades crioulas ou locais e espécies florestais nativas. Ademais
diferentemente da primeira, a segunda fase estabeleceu um procedimento de acompanhamento
do Programa mediante indicadores de desempenho tais como número de bancos constituídos
(tanto familiares quanto comunitários), número de famílias de agricultores participantes e
municípios participantes. Estas mudanças entre a concepção das fases parecem evidenciar uma
resposta às demandas dos agricultores por sementes no campo, onde a necessidade de sementes
alimentícias torna-se mais significativa do que a de sementes de adubos verdes.

4.2 A implantação do BCSAV no Estado do Rio de Janeiro

Desde 2007 estamos também trabalhando no fomento a Bancos de Sementes


Comunitários, em parceria com a Embrapa e o MCTI (Ministério de Ciência,
Tecnologia e Inovação), e esperamos que essa ação seja trazida para dentro da
Pnapo. Estrategicamente, escolhemos começar a trabalhar com sementes de
adubos verdes, pois assim a ação teria menor resistência dentro do Mapa, mas
também considerando a importância da disseminação da tecnologia da
adubação verde e a dificuldade de se encontrar sementes no mercado
(LONDRES, 2012, pag.23)

Como apontado anteriormente, para que o Programa BCSAV fosse implantado em


um estado da Federação era preciso que as CPorg’s, definissem que queriam trabalhar com esse
programa. Era necessário que houvessem organizações que assumissem o papel de agentes de
extensão, tanto para distribuição das sementes quanto para as capacitações técnicas. Além disso,
o ponto primordial era que houvesse a participação ativa dos atores ligados as diferentes
instituições tais como Centro de Pesquisa, Universidades, Agências de Assistência Técnica e
Extensão rural e entre outras, influenciando a direção e a execução do Programa.

[...] boa parte dessa parceria institucional é uma parceria pessoal, assim não
é de fato um compromisso da instituição, é um compromisso de pessoas que
estão naquela instituição, isso ainda é a realidade pra quase tudo que acontece,
quer dizer, você funciona se as pessoas que estão envolvidas são pessoas
comprometidas, assim ainda, porque ás vezes acontece o contrário, você tem
um compromisso institucional e nada acontece, porque as pessoas da
instituição é que tem que operar não estão convencidas e de fato não
participam. [...] temos que descobrir quem são pessoas que são sensíveis
àquilo para gente poder trabalhar com aquela pessoa, buscar que aquelas
pessoas se envolvam. [...] o ideal é quando a gente consegue ter as pessoas e
ter o compromisso formal e institucional, [...] então o ideal é quando a gente
104

consegue fazer as duas coisas, identifica pessoas e consegue amarrar o


compromisso institucional, porque aí a gente tem mais garantia de conseguir
fazer, ter mais tempo de execução, de participação efetiva no projeto. (R.P.D,
Coordenador da Câmara de Agricultura do Mapa, 13/02/2015, Brasília, DF)

No estado do Rio de Janeiro, o BCSAV foi executado pela superintendência de


Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio de Janeiro (SFA-RJ), através da Divisão de
Política, Produção e Desenvolvimento Agropecuário (DPDAG), em parceria com diversas
instituições como: Embrapa Agrobiologia, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
do Estado do Rio de Janeiro (Emater-Rio), Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ/Campus
Pinheiral), Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ), Cooperativa de Consultoria,
Projetos e Serviços em Desenvolvimento Sustentável Ltda (Cedro), Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas do estado do Rio de Janeiro (Sebrae/RJ), Secretarias Municipais
de Agricultura, Associações e Grupos de Agricultores, Casa de Sementes Livres de Aldeia
Velha e Escola da Mata Atlântica.
Desde 2007 a Embrapa Agrobiologia vem atuando como parceira em ações no
estado do Rio de Janeiro38 sendo sua função divulgar o Programa em atividades de rotina de
transferência de tecnologias, armazenar as sementes e coordenar a distribuição das mesmas
junto com o Mapa, capacitar técnicos e agricultores para o uso da adubação verde e colaborar
nos encontros técnicos do Programa.

[...] tem locais em que a parceria é muito natural, porque já existe um


envolvimento com uma série de outros projetos ligados a agricultura orgânica;
[...] é o caso da Embrapa Agrobiologia [...] que, assim já eram parceiros [...]
então tem várias unidades em que você já tem uns parceiros que são um
compromisso ideológico, aí fica mais fácil, e é também uma coisa importante
de ficar claro [...]. (R.P.D, Coordenador da Câmara de Agricultura do Mapa,
13/02/2015, Brasília, DF)

No Rio de Janeiro o Programa, em sua primeira fase (2007-2010), constou de três


etapas conforme evidencia tabela 14.

38
Disponível em http://www.cnpab.embrapa.br/oficina-de-adubos acesso em 25/04/2013 as 11:38
105

Tabela 14. Etapas de execução do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos


Verdes no estado do Rio de Janeiro, 2014.
Etapa 1 Comunicação  Envio de convite para participação no Programa
Inicial BCSAV aos possíveis interessados (Emater-Rio,
Secretarias Municipais de Agricultura, grupos,
organizações e associações de produtores,
cooperativas, etc).
 Manifestação de interesse do grupo, associação,
organização e associação de produtores em
participar do Programa, com indicação do
responsável técnico para o Seplag/DT-RJ.
Etapa 2 Capacitação e  Capacitação do responsável técnico na temática da
distribuição de adubação verde e bancos comunitários de sementes
sementes pela Embrapa Agrobiologia. O técnico capacitado
tornava-se responsável pelo repasse de das
informações aos agricultores e pelo
encaminhamento dos Termos de Compromisso
devidamente preenchidos e pela apresentação de
relatórios de acompanhamento.
 Distribuição das sementes às instituições / grupos
de produtores beneficiados, pelo Seplag/SFA-RJ,
Embrapa Agrobiologia e Emater-Rio – aos que
cumprirem as exigências pré-estabelecidas e de
acordo com a disponibilidade de sementes.
Etapa 3 Acompanhamen  Visitas pela parceria com Seplag/SFA-RJ,
to do Programa Embrapa Agrobiologia e Emater-Rio, aos
agricultores ou associações de agricultores
beneficiados.
 Capacitação e acompanhamento pela parceria com
Seplag/SFA-RJ, Embrapa Agrobiologia e Emater-
Rio, da formação dos Bancos Comunitários de
Sementes de Adubos Verdes.

Fonte: Dados da Pesquisa (2014)

No ano de 2007, a SFA/RJ, através do Seplag/DT-RJ e da Comissão da Produção


Orgânica no Estado do Rio de Janeiro (CPOrg/RJ) e diversas instituições parceiras, promoveu,
realizou e participou de vários eventos relacionados à organização e capacitação de técnicos e
produtores rurais (SFA, 2007). No final de novembro de 2007, o Estado do Rio de Janeiro,
aderiu oficialmente ao Programa “Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes”,
fomentando o uso de técnicas que minimizam a dependência de insumos externos pelos
agricultores. Para tal, a Superintendência de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio de
Janeiro recebeu sementes das espécies de leguminosas crotalária, feijão guandú e mucuna preta
as quais foram distribuídas pela Coagre/SDC/Mapa.
107

anteriormente apresentados são multiplicadores há a possiblidade da ideia do banco ter sido


disseminado em regiões não computadas.
A implantação do Programa ocorreu através de vários eventos tais como visitas
técnicas, capacitações, palestras e reuniões que ocorreram em vários momentos. (SFA,2007;
SFA, 2008; SFA, 2009).
Durante a primeira fase do Programa BCSAV (2007-2010) vários multiplicadores
foram capacitados para atuarem na sua implantação, sendo parte destes agentes de extensão
rural atuantes no estado do Rio de Janeiro. A tabela 15, obtida a partir de dados oficiais do
Programa, ilustra o número de multiplicadores e técnicos capacitados nestes diferentes eventos.

Tabela 15 – Número de multiplicadores e técnicos capacitados para implantação do Programa


Multiplicadores Extensionistas Fonte
2007 67 44 (SFA, 2007, p.9-10)
2008 107 35 (SFA, 2008, p.59)
2009 86 Não há registro (SFA, 2009, p.55)
Fonte: Relatórios de Gestão da Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (2007; 2008; 2009).

Destaca-se durante o ano de 2009 a realização de duas palestras, uma durante o


Encontro da Articulação de Agroecologia - Região Serrana – RJ e outra durante o Encontro de
Agroecologia da Região Metropolitana, que contaram com a participação de 341 pessoas.
Ambos os encontros tiveram como objetivo apresentação do Programa Banco Comunitário de
Sementes de Adubos Verdes como meio de promoção da interação de grupos/agricultores, troca
de experiências e técnicas. (SFA, 2009, pag.58).
A análise de registros da frequência nas capacitações ocorridas no ano de 2009 e
2012 (primeira e única capacitação realizada no início da 2° fase do Programa BCSAV) aponta
o envolvimento de vários multiplicadores no Programa entre profissionais da extensão rural,
agricultores, secretarias de agricultura, associações e cooperativas. Estas duas listagens foram
consideradas estratégicas para o desenvolvimento desta pesquisa por envolverem pessoas que
efetivamente foram capacitadas e solicitaram sementes à SFA/RJ para a formação de bancos
comunitários e familiares.
108

Foram capacitados 33 agentes de Ater41, 9 profissionais ligados a Secretarias de


Agricultura de municípios cariocas, 23 profissionais ligados às associações e cooperativas de
agricultores, além 20 agricultores multiplicadores.
Durante o ano de 2010 o DPDAG/SFA-RJ deu continuidade ao Programa, em
parceria com a Embrapa Agrobiologia e a Emater/RJ contabilizando 273 agricultores
beneficiados. A figura 4, obtida a partir de dados oficiais do Programa, ilustra o número de
agricultores beneficiados no período de 2008 a 2010.

Figura 4 - Agricultores beneficiados pelo Programa BCSAV (2008 a 2010)


300

250 273

229
200

150
148
100

81 81
50
44
0
2008 2009 2010

Agricultores beneficiados por ano Total de agricultores beneficiados

Fonte: Relatórios de Gestão da Superintendência Federal de Agricultura

Segundo dados da Superintendência de Agricultura até 2013 foram realizados nove


eventos técnicos e capacitados 278 participantes multiplicadores entre agricultores e
extensionistas.
Como já mencionados, incialmente foram distribuídas pelo Programa BCSAV
sementes de Mucuna preta (Mucuna aterrima), Crotalária juncea (Crotalária juncea ) e Feijão
guandú (Cajanus cajan). No decorrer do tempo outras sementes foram sendo incorporadas ao
Programa de acordo com as demandas regionais, conforme exemplificado na tabela 16.

41
Para fins desta pesquisa considerou-se o indivíduo apenas uma vez independentemente do número de
capacitações da temática que ele tenha participado.
109

Tabela 16 - Espécies de sementes de adubos verdes distribuídas pelo Programa BCSAV no


período de 2008 a 2010
Ano Sementes (kg) Espécies distribuídas
2008 500 Mucuna preta (Mucuna aterrima)
Crotalária juncea (Crotalária juncea )
Feijão guandú (Cajanus cajan)
2009 780 Mucuna preta (Mucuna aterrima)
Crotalária juncea (Crotalária juncea )
Feijão guandú (Cajanus cajan)
Crotalaria spectabillis (Crotalaria spectabillis)
Ervilhaca (Vicia sativa L.)
Feijão de Porco (Canavalia ensiformis)
Feijão Guandu (Cajanus cajan (L.) Millsp.)
Mucuna Anã (Mucuna deenringiana)
Mucuna Cinza (Mucuna cinerea)
Nabo Forrageiro (Raphanus sativus L.)
Tremoço Branco (Lupinus albus L.)
2010 1750 Distribuídas as mesmas espécies de 2009.
Total 3030
Fonte: Dados da Pesquisa com base em documentos oficiais (2014).

Em 2007, a estratégia inicial do Mapa era multiplicar as sementes de adubos verdes


em parceria com uma instituição federal para posterior distribuição para os agricultores. Na
ocasião, problemas ligados ao atraso com as licitações dos insumos necessários para a
multiplicação de sementes causaram atrasos na entrega das mesmas para os agricultores,
fazendo que que estes perdessem a época de plantio. Outras situações como a baixa taxa de
germinação das sementes produzidas sob encomenda levou o Mapa a adquirir sementes
diretamente no mercado para a posterior distribuição, mediante licitações públicas. Nos anos
subsequentes algumas Unidades da Federação, através de entidades locais e ou grupos de
agricultores experimentadores, se propuseram a pegar uma parte das sementes destinadas aos
agricultores e multiplicá-las. Essa prática, realizada em algumas localidades, como por exemplo
no estado do Mato Grosso, garantia uma quantidade para o ano seguinte muito maior de
sementes para serem distribuídas aos agricultores. No estado do Rio de Janeiro optou-se pela
compra de sementes por licitação, tendo como instituição responsável pela aquisição e
distribuição para os agricultores a Embrapa Agrobiologia.

[...] isso aconteceu em alguns locais e foi algo que a princípio não estava no
projeto mas funcionou; é muito aquela história da situação de cada região [...]
a gente utiliza o potencial dos institutos federais [...] que geralmente eles têm
áreas e condição de fazer produção, têm material, têm a capacidade técnica,
por terem professores e tudo mais; então a gente tem uma expectativa de
110

utilizar bastante os institutos federais como um espaço de multiplicação de


sementes, até mesmo porque pelos projetos dos núcleos de agroecologia, [...]
a gente tem é recurso pra bolsa para os estudantes, então a gente tem uma
maneira de ter gente acompanhando nos institutos, porque isso geralmente um
problema nas instituições públicas. (R.P.D, Coordenador da Câmara de
Agricultura do Mapa, 13/02/2015, Brasília, DF)

[...] outra possibilidade são os próprios agricultores fazerem a multiplicação


pra que possa ser distribuído; mas aí a gente tem que ter uma forma de
remunerar esses agricultores por esse material. É aí que entra o problema das
compras públicas.... Como que a gente faz isso? Porque não é muito fácil.
(R.P.D, Coordenador da Câmara de Agricultura do Mapa, 13/02/2015,
Brasília, DF)

Em 2010 o Programa apresentava, segundo dados oficiais, oito bancos comunitários


de sementes considerados pela Superintendência Federal de Agricultura do Rio de Janeiro como
constituídos e dez outros em processo de formação. Monitoramentos dos resultados do
Programa BCSAV em 2013 demonstraram que alguns dos bancos anteriormente considerados
constituídos não se consolidaram e ou se transformaram em bancos familiares. Esta diferença
pode estar atrelada a diversos motivos sendo um deles a desarticulação dos coletivos de
agricultores que se desmotivaram por prováveis fatores tais como: falta de atuação mais pontual
da Superintendência, falta de uma ação mais efetiva dos agentes de Ater, desmotivação dos
agricultores por conta da dificuldade de produção de sementes para reposição dos empréstimos
entre outras. Entretanto é possível observar que alguns dos bancos considerados comunitários
em 2010 tornaram-se bancos familiares, demonstrando que aqueles agricultores que se
motivaram com a proposta do Programa, mantiveram a guarda de sementes em suas casas. A
tabela 17 apresenta os Bancos constituídos e em constituição no ano de 2010 correlacionando-
os a efetiva constituição dos bancos familiares e comunitários registrados no Mapa no ano de
2013.
Em 2013 foram mapeados pela Superintendência Federal de Agricultura do estado
do Rio de Janeiro, 70 bancos constituídos, sendo cinco comunitários e 65 familiares
(GAROFOLO et al., 2013).
Entende-se por Bancos Familiares de Sementes aqueles mantidos pela família
independente de uma relação com um banco comunitário, normalmente incluem cultivares de
uso tradicional pela família e também representam uma segurança alimentar em tempos de
intempéries. Estes bancos podem ser associados ao capital social, visto refletirem relações
sociais com laços mais íntimos e próximos.
111

Bancos Comunitários de sementes são aqueles que envolvem a articulação e o


compromisso entre agricultores e/ou grupos de agricultores em que se estabelecem regras, por
exemplo, no que diz respeito à manutenção dos estoques e da diversidade das sementes no
banco. Estes bancos podem ser associados ao capital social de ponte, visto refletirem laços
menos intensos que os de união, mas que envolvem pessoas e grupos similares em um ambiente
de vida comunitária. A Tabela 18 apresenta os 70 bancos constituídos de 2007 até 2013 no
estado do Rio de Janeiro vinculado à responsabilidade técnica e localidade.
112

Tabela 17 – Relação dos grupos/multiplicadores e localidades segundo a etapa de constituição


e registro pelo Mapa, 2013.
Grupo/ Multiplicador Localidade Situação do Situação do banco
banco em 2010 em 2013
Emater-Rio Araruama Constituído Banco Familiar
Secretaria Municipal de Agricultura e Casimiro de
Pesca Abreu Constituído Não constituído
Associação Mico Leão Dourado Silva Jardim Constituído Não constituído
Instituto Federal de Educação, Pinheiral
Ciência e Tecnologia (IFET) Campus Constituído Não constituído
Nilo Peçanha
Associação de Desenvolvimento Porciúncula
Comunitário de Purilândia (Aspur) Constituído Banco Familiar
Secretaria Municipal de Agricultura, Silva Jardim
Abastecimento e Pesca Constituído Banco Comunitário
Grupo de Trabalho de São Gonçalo São Gonçalo Constituído Banco Familiar
Prefeitura Municipal de Miracema Miracema Constituído Não constituído
Emater-Rio Barra Mansa Em constituição Não constituído
Instituto de Desenvolvimento e Ação Cachoeiras de
Comunitária ( Idaco) Macacú Em constituição Banco Comunitário
Instituto Bio Atlântica (Ibio) Paraty Em constituição Não constituído
Prefeitura Municipal - Secretaria de Mesquita
Meio Ambiente - Divisão de
Agricultura Em constituição Não constituído
Emater-Rio Mangaratiba Em constituição Não constituído
Associação de Produtores Orgânicos Natividade
de Natividade Em constituição Não constituído
Emater-Rio Nova Iguaçú Em constituição Não constituído
Associação dos Produtores Seropédica
Biológicos do Rio de Janeiro (Abio) Em constituição Não constituído
Associação Agroecológica de Teresópolis Banco Comunitário
Teresópolis (AAT) Em constituição Banco Familiar
Embrapa Agrobiologia Seropédica Em constituição Não constituído
Fonte: Relatório do Programa BCSAV da Superintendência do Rio de Janeiro (2013).
113

Tabela 18 - Bancos comunitários e familiares constituídos no Estado do Rio de Janeiro


registrados pelo Mapa no ano de 2013
GRUPO No Bancos No Bancos Multiplicador Município
Comunitários Familiares técnico
Casa de Sementes Aldeia 1 0 Associação Silva Jardim
Velha
Associação de Produtores 0 2 Associação São José do
Orgânicos do Vale do Rio Vale do Rio
Preto. Preto
Projeto Produção 1 0 Associação Porciúncula
Agroecológica Integrada e
Sustentável (PAIS)
Associação dos Produtores 0 3 Associação Porciúncula
Orgânicos de Purilândia
(Aspur)
Serorgânico 0 2 Associação Seropédica
Associação Agroecológica 1 31 Associação Teresópolis
de Teresópolis (AAT) Cooperativa
Produtores de sementes de 0 4 Emater-Rio Araruama
leguminosas de Araruama
Agricultores Orgânicos de 1 1 Emater-Rio Cachoeiras
Cachoeiras de Macacu de Macacu
Produtores Rurais da MBH 1 0 Emater-Rio Magé
Cachoeira Grande (Magé-
RJ)
Associação de Citricultores e 0 9 Emater-Rio Tanguá/
Produtores Rurais de Tanguá Serra do
(Acipta) Barbosão
Associação de Produtores
Familiares e Amigos da
Serra do Barbosão
(APFASB)
Agricultor familiar 0 1 Emater-Rio Teresópolis
Agricultor familiar 0 1 Emater-Rio Magé
Agricultor familiar 0 1 Emater-Rio Guapimirim
Agricultor familiar 0 5 Emater-Rio Rio Claro
Agricultor familiar 0 2 Emater-Rio São Gonçalo
Sítio Cultivar 0 3 Agricultor Nova
familiar Friburgo
TOTAL 5 65
Fonte: Relatório do Programa BCSAV da Superintendência do Rio de Janeiro (2013).
114

4.2.1 Bancos Comunitários vinculados ao Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro

Apresenta-se a seguir o estado da arte dos quatro bancos comunitários de sementes


do Estado do Rio de Janeiro que foram beneficiados com o Programa Banco Comunitários de
Sementes de Adubos Verdes (BCSAV). Os bancos estudados localizam-se na região Serrana
(Banco da Associação Agroecológica de Teresópolis - AAT e Bancos de Cachoeira de Macacu),
na região dos Lagos (Casa de Sementes livres de Mata Atlântica) e Região Noroeste do estado
(Banco da Associação Comunitária dos Produtores Orgânicos de Purilândia). A figura 5 ilustra
os bancos estudados na pesquisa.

Figura 5 – Bancos comunitários estudados na pesquisa, 2015.

Fonte: Relatório do Programa BCSAV da Superintendência do Rio de Janeiro (2013).

4.2.1.1. Associação Comunitária dos Produtores Orgânicos de Purilândia

Este Banco Comunitário, localizado na região noroeste do estado do Rio de Janeiro,


iniciou suas atividades a partir do movimento agroecológico em Porciúncula, principalmente
na região do 2° Distrito de Purilândia.
115

Porciúncula é uma cidade com área de 291.054 km² de unidade territorial e onde,
em 2016, os estabelecimentos agropecuários totalizavam 20.635 ha: destes 18.038 ha são terras
de proprietários. As lavouras somavam 1.096 ha de área plantada com forrageiras para corte
(destinadas ao corte e uso na alimentação de animais), 3.497ha com plantações permanente e
706 ha com lavouras temporárias. Havia 1.320 estabelecimentos agropecuários, sendo 1.032 de
lavouras permanentes e 130 de lavouras temporárias. Destacavam-se o café, como a lavoura
permanente mais expressiva, totalizando 973 estabelecimentos com mais de 50 pés existente.
A lavoura temporária de maior expressão é a de milho em grão com 132 estabelecimentos
agropecuários.42
Naquela região havia em 2007 um grupo de agricultores em transição agroecológica
que já faziam uso de adubação verde e estavam tendo muita dificuldade em conseguir sementes.
Este grupo, inicialmente composto de 8 produtores envolvidos com o banco, entre gestores e
agricultores, se reunia mensalmente na Associação Comunitária dos Produtores Orgânicos de
Purilândia, a qual era vinculado à Associação de Desenvolvimento Comunitário em Purilândia
– Aspur. Foi a partir destes encontros e como o incentivo do Programa Banco Comunitário de
Sementes de Adubos Verdes, que fornecida sementes e orientações de produção e
armazenamento que foi possível a formação do banco comunitário de adubos verdes.
Por cerca de cinco anos o banco foi mantido graças ao empenho pessoal do seu
atual guardião que na época atuava como facilitador, multiplicador, e respondia pelo banco. O
funcionamento do banco consistia em empréstimo de sementes seguida de devolução em dobro
das espécies emprestadas. O controle do estoque de sementes do banco era feito pelo gestor e
pela secretaria da Aspur, sendo que para o registro dos empréstimos se utilizava o modelo de
cadastro de agricultores proposto pelo Mapa. Todos podiam tirar sementes, mas não se
motivavam, sendo que para o gestor do banco isto poderia estar atrelado à pouca divulgação do
Programa e do benefício da adubação verde.
As variedades para serem mantidas no banco foram escolhidas por conta de sua
multifuncionalidade, isto é, servirem como adubos verdes e forrageiros além de fazerem parte
da alimentação e da cultura local. As espécies em questão que melhor se adaptaram na região
foram Crotalaria juncea, Crotalaria spectabilis, guandu, feijão de porco, mucuna cinza e preta,
stilosantis mineirão e galáxia.

42
IBGE, Censo agropecuário 2006. Para maiores detalhes consulte
http://www.cidades.ibge.gov.br/v3/cidades/municipio/3304102/pesquisa/24/2006, acesso em
06/02/2017
116

Na época da pesquisa (2015), o banco comunitário não estava atrelado a Aspur e


segundo J.S.M.V., “[...] não tem mais aquela expressividade, sendo que ainda existem 3 bancos
familiares onde esporadicamente acontece alguma troca de sementes entre eles” (J.S.M.V.,
consultor técnico, 08/04/2015, Seropédica, RJ).
Em 2015, com a implantação do projeto Pais43 (Produção Agroecológica Integrada
e Sustentável) e apoio dos técnicos da Emater-Rio que executam o Rio Rural44 na região de
Porciúncula, o banco comunitário começou a ser reconstituído. Ele foi vinculado a Aproenf
(Associação dos Produtores Orgânicos do Extremo Noroeste Fluminense) que engloba 4
municípios: Natividade, Porciúncula, Varre Sai e Bom Jesus. A dinâmica deste banco difere
daquele inicialmente formado, sendo que as reuniões ocorrem bimestralmente. Não havia
critérios para participação no Banco de Sementes Comunitário, bastando o agricultor estar
motivado e ter interesse na utilização da semente. Entretanto, só participavam aqueles que
estivessem em processo de transição agroecológica ou que já sejam certificados na produção
orgânica.
Uma das principais dificuldades deste Banco Comunitário é não ter local adequado
para armazenagem. Em geral as sementes são armazenadas na casa do guardião. O apoio
financeiro dado pelo programa Rio Rural tem sido importante porque tem possibilitado a
compra de equipamentos tais como geladeiras para uma melhor conservação das sementes.
Segundo o gestor do banco o armazenamento coletivo é importante “[...] por que em geral o
agricultor tem poucas condições, você armazena lá por que não tem recursos. Então houve uma
maior motivação para isso” (J.S.M.V., consultor técnico, 08/04/2015, Seropédica, RJ).
Outro importante gargalo para os sistemas de produção agroecológico/orgânico é a
disponibilidade de sementes. Na região de Purilândia uma possiblidade de incentivo para a

43
O projeto Pais é uma tecnologia social que representa uma nova alternativa de trabalho e renda para
a agricultura familiar. Pode ser usado por todos os produtores rurais que queiram melhorar a qualidade
de produção, visando possibilitar o cultivo de diversas hortaliças, frutas, cereais e plantas medicinais e
fitoterápicas mais saudáveis para o consumo das famílias e para comercialização. Seu objetivo é
estimular a formação de núcleos produtivos para promover interações e troca de experiências.
(SEBRAE, 2017). Disponível em
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ms/sebraeaz/projeto-pais-producao-agroecologica-
integrada-e-sustentavel,6cb5f2cd2f3a9410VgnVCM2000003c74010aRCRD , acesso em 17/01/2017.
44
O Programa Rio Rural tem como desafio a melhoria da qualidade de vida no campo, conciliando o
aumento da renda do produtor rural com a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. Para
atingir este objetivo, desenvolve uma estratégia de ação com as comunidades que vivem nas microbacias
hidrográficas, espaços geográficos delimitados pela rede hídrica (nascentes, córregos, rios, aquíferos
etc.). O programa incentiva a adoção de sistemas produtivos sustentáveis, com técnicas mais eficientes
e ambientalmente adequadas. Até 2018, serão investidos US$ 233 milhões em ações de
desenvolvimento, beneficiando 48 mil agricultores familiares residentes em 366 microbacias de 72
municípios. Disponível em http://www.microbacias.rj.gov.br/pt/rio-rural, acesso em 17/01/2017.
117

formação de bancos comunitários está no acesso dos agricultores familiares a sementes que o
mercado não disponibiliza e na possibilidade de redução de despesas na aquisição deste insumo.

Não há sementes no mercado. Os bancos são a solução até que se passe a


comercializar. É menos uma despesa. O que falta é o agricultor ver uma
vantagem muito concreta para o agricultor ver sua importância. (J.S.M.V.,
multiplicador, 08/04/2015, Seropédica, RJ).

Em 2015, por ocasião da entrevista com o guardião, o banco estruturado por


incentivo do projeto Pais e Rio Rural não tinha definidas as regras para empréstimos de
sementes. A devolução das sementes emprestadas era definida pelo próprio agricultor que fazia
o empréstimo e sem regularidade e obrigatoriedade de devolução de quantidade.
Para J.S.M.V., ‘[...] o banco atual não funciona como anteriormente, mas está
ressurgindo com esta nova ideia, este novo impulso dado pelo PAIS e pelo Rio Rural. ” Segundo
ele, as expectativas deste banco “[...] daqui pra frente são boas. Antes tinha 8 hoje temos 58
produtores e vai ter mais. Alguns vão sair e estão bem organizados. Em 5 anos as pessoas foram
peneiradas e mantiveram dentro do programa porque tem perfil para aquilo” (J.S.M.V.,
consultor técnico, 08/04/2015, Seropédica, RJ).

A expectativa para o Banco é muito boa [...]. A expectativa nossa é que eles
se desenvolvam, busquem parcerias, trabalhando diretamente em práticas que
o Rio Rural apoia dentro da cadeia do orgânico. (J.S.M.V., consultor técnico,
08/04/2015, Seropédica).

4.2.1.2. Associação Agroecológica de Teresópolis (AAT)

Teresópolis é uma cidade localizada na região serrana fluminense, ocupando


770.601 km² de unidade territorial, onde os estabelecimentos agropecuários totalizavam 18.334
ha em 2016. Destes, 15.198 ha eram terras de proprietários. As lavouras eram constituídas de
222 ha de área plantada com forrageiras para corte (destinadas ao corte e uso na alimentação de
animais), 472 ha com plantações permanentes e 2.573 ha com lavouras temporárias. Havia
2.833 estabelecimentos agropecuários sendo 472 unidades com lavouras permanentes e 2.573
unidades de lavouras temporárias. Destacavam-se a banana e a laranja, como as lavouras
permanentes mais expressivas, totalizando 21 e 16 estabelecimentos agropecuários com mais
118

de 50 pés existente respectivamente. A lavoura temporária de maior expressão era a de


mandioca com 19 estabelecimentos agropecuários.45
Em 2005, um grupo de agricultores orgânicos e apicultores de Teresópolis se
uniram para organizar uma feira agroecológica na cidade. A proposta era unir os agricultores
agroecológicos e orgânicos em um mesmo local para expor os produtos no mesmo ponto e
assim aproximar produtor e consumidor. Em 2007 foi fundada oficialmente a Associação
Agroecológica de Teresópolis (AAT), com objetivos de incentivar e promover a agroecologia
e a economia solidária46. A AAT promove às quartas-feiras e aos sábados a feira agroecológica
que acontece em um espaço cedido pela prefeitura local.
O banco de sementes desta associação está organizado há cerca de cinco anos. No
segundo sábado de cada mês, ocorre durante a feira, a troca de sementes entre os agricultores
vinculados à associação47. Em 2016 havia na AAT 50 unidades produtivas, sendo que apenas
20 delas produziam efetivamente sementes. Algumas das propriedades produziam as mesmas
espécies de sementes o que, na visão do guardião, era bom para a segurança do grupo. É prática
dos agricultores da Associação Agroecológica de Teresópolis a guarda de sementes, porém foi
evidenciado pelo guardião entrevistado que “[...] é preciso achar uma forma de manter as
sementes, e não apenas usá-las como adubos verdes, sem pensar no amanhã. ” (R.A.S.,
engenheiro agrônomo, 14/12/2015, Teresópolis).
Apesar da prática da guarda e troca de sementes, o banco de sementes da AAT não
foi efetivamente constituído como fruto da demanda coletiva, estando o mesmo localizado na
propriedade do guardião que é também gestor do mesmo.

Assumimos de desenvolver o projeto do banco e diante da associação não está


havendo uma demanda de funcionamento do banco o que não impede as trocas
de estarem acontecendo. Este ano já tivemos alguns momentos de troca. O
nosso guardião não foi escolhido, mas sim líder de um projeto48 (R.A.S.,
engenheiro agrônomo, 14/12/2015, Teresópolis, RJ).

45
IBGE, Censo agropecuário 2006. Para maiores detalhes consulte
http://www.cidades.ibge.gov.br/v3/cidades/municipio/3305802/pesquisa/24/2006, acesso em
06/02/2017.
46
Para maiores detalhes sobre os objetivos da ATT ver:
http://feiraagroecologicateresopolis.blogspot.com.br/p/a-associacao.html acesso em 05/01/2016 as
23:24hs
47
Para maiores detalhes sobre a troca de sementes da ATT ver:
http://feiraagroecologicateresopolis.blogspot.com.br/p/atividades-mensais.html acesso em 05/01/2016
as 23:24hs
48
O guardião de sementes da Associação Agroecológica de Teresópolis é engenheiro agrônomo formado
na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
119

A associação participa do Programa BCSAV desde seu início. A primeira


distribuição de sementes ocorreu em 2008, com a participação de oito agricultores.
Ao ser questionado sobre os motivos que os levaram a participarem do Programa,
o guardião do banco afirmou que a associação logo reconheceu, que se perde semente todos os
dias no mundo e que precisavam fazer alguma coisa para manter as culturas antigas, sendo
assim decidiram produzir suas próprias sementes. Contudo, não havia disponível na associação
recursos específicos para essa ação. Este foi, segundo o guardião, o motivo pelo qual
começaram a resgatar variedade crioulas, armazena-las e promoverem a troca entre os
associados.

As pessoas doavam pro banco e eles eram registrados e permaneciam para


trocas futuras e eles ficam aqui. E os que saiam também e as pessoas iam
devolvendo e iam fomentando o banco e vários bancos foram incorporados no
banco da associação e ia disseminando. Passava pelo teste de campo para ver
se aquilo era favorável aos agricultores, dava uma filtrada, um teste mesmo de
interesse. Então foi isso que a gente desenvolveu. O controle é feito no papel,
quem pegou o que, quem deu o que, quem devolveu. Pode-se organizar mais,
envolver mais gente também. Nossa quantidade de entrega para esta historia
e muito grande o que não consegue fazer não deu. O agricultor luta para fazer
agricultura orgânica. Não capitaliza, sobrevive. É muito difícil. A gente faz o
possível. A pessoa leva a terra e da roça leva pra feira. Quem quer a semente
de um material, ali está o produtor. (R.A.S., engenheiro agrônomo,
14/12/2015, Teresópolis, RJ).

Segundo o relatado para a Superintendência Federal de Agricultura do Rio de


Janeiro49, existem 31 bancos familiares e um banco comunitário vinculado à AAT. As sementes
do banco comunitário são armazenadas em potes de vidro e ficam numa casinha na unidade de
produção de um dos associados, no caso o guardião. Por decisão dos agricultores, o banco de
sementes tem sido abastecido por sementes das famílias associadas. As trocas acontecem todo
segundo sábado de cada mês. As sementes do banco são levadas para a feira agroecológica, os
agricultores interessados fazem a troca. A entrada e saída de sementes são anotadas num
caderno de registros. As sementes também são distribuídas em forma de consignação: o
agricultor pega uma determinada quantidade e depois do cultivo devolve a mesma quantidade
ao banco comunitário. A figuras 6 representa Banco de Sementes com campo de produção de
sementes da AAT. A figura 7 representa as sementes que são armazenadas na ATT.

49
Documentos cedidos pela MAPA.
120

Figura 6 – Banco de Sementes com campo de produção de sementes da Associação


Agroecológica de Teresópolis (AAT) em destaque, RJ, 2015.

Fonte: Acervo da pesquisa (2015)

Figura 7 - Sementes armazenadas no Banco de Sementes da Associação Agroecológica de


Teresópolis (AAT), RJ, 2015.

Fonte: Acervo da pesquisa (2015)

As principais sementes armazenadas no Banco Comunitário da ATT eram de


hortaliças variadas, amendoim, salsa, feijão, arroz, abóbora, alho, cebola, feijão de porco (do
BCSAV), tomate, pimentão, cara moela e cará.
Para R.A.S., guardião de sementes da ATT, uma das principais dificuldades para
manutenção do banco reside na falta de recursos monetários para mantê-lo. Segundo o guardião,
apesar do recebimento das sementes e do material instrucional, houve a necessidade de buscar
outras fontes de financiamento para a constituição e manutenção do funcionamento do banco.
No caso da ATT, o guardião conseguiu dinheiro através de um edital de uma instituição
121

financeira privada, entretanto, depois que o recurso acabou, a dinâmica de manutenção das
práticas de guarda e troca que ocorriam no banco ficou dificultada.
Outro ponto destacado é que além da necessidade de recursos financeiros existia
uma demanda por recursos humanos, visto que na visão do guardião, além da guarda de
sementes e troca entre os agricultores, há a necessidade da multiplicação das mesmas, o que
dificulta ao guardião a pratica diária da agricultura.

A gente também tem que vender nossos produtos e não tem ninguém para
cuidar daquilo ali. A gente leva um esforço de sobrevivência para manter o
banco dentro do ambiente de Agricultura Orgânica. (R.A.S., engenheiro
agrônomo, 14/12/2015, Teresópolis, RJ).

A gente não tem como receber sementes diversas e ficar testando para trocar
ou não. Mas a gente também não quer pegar uma semente qualquer e levar
para a feira de troca. As sementes chegam nas mais diferentes condições. Aí
você chega em um sábado recebe a semente e já criou uma grande demanda
de trabalho em um ambiente com n demandas. As vezes ela [semente]vem
com excesso de umidade e se não acudir logo a gente perde o material e a
gente não tem como fazer isso. As sementes que as pessoas trazem vem em
más condições, sem registro, é uma bomba de serviços. Todos os trabalhos do
banco são pequenos, mas constantes, como uma roça. Acontece que entra no
fluxo de demandas do trabalho com tudo que a gente trabalha no limite da
sobrevivência que não tem sobra. (R.A.S., engenheiro agrônomo, 14/12/2015,
Teresópolis, RJ).

Diante do apresentado, para o guardião do banco uma solução seria cada agricultor
especializar-se em uma espécie e multiplicar, armazenar e disponibilizar aquela semente. Para
ele “ [...] a saída é cada produtor que trabalha bem uma variedade ele fica responsável por cuidar
da variedade e guardar. Aí tem um cadastro e quando o outro precisa vai lá. Aí faz o acesso
com a pessoa que fez a doação” (R.A.S., engenheiro agrônomo, 14/12/2015, Teresópolis, RJ).

4.2.1.3. Casa de Sementes Livres de Mata Atlântica

A Casa de Sementes Livres de Mata Atlântica foi criada como um espaço de


articulação entre a pesquisa, recuperação, armazenagem e difusão de sementes tradicionais.
Está localizada em Silva Jardim, cidade da região dos lagos fluminense ocupando 937.547 km²
de unidade territorial, onde os estabelecimentos agropecuários totalizam 39.785 ha: destes
28.012 ha eram terras de proprietários. As lavouras eram constituídas de 2.147 ha de área
plantada com forrageiras para corte (destinadas ao corte e uso na alimentação de animais), 1.246
122

ha com plantações permanentes e 1.347 ha com lavouras temporárias. Havia no município 370
estabelecimentos agropecuários sendo que 177 unidades eram de lavouras permanentes e 136
unidades de lavouras temporárias. Destacavam-se a banana e a laranja, como as lavouras
permanentes mais expressivas totalizando 79 e 32 estabelecimentos agropecuários com mais de
50 pés existente respectivamente. A lavoura temporária de maior expressão era a de mandioca
com 94 estabelecimentos agropecuários.50
Visando valorizar as sementes tradicionais da região, bem como a identidade da
cultura caipira, o coletivo de jovens chamado Escola da Mata Atlântica - cujas atividades
vinham desde 2005 registrando saberes nativos e criando espaços para o intercâmbio de
conhecimentos – resolveu, em 2007, construir um banco de sementes crioulas no povoado de
Aldeia Velha em Silva Jardim (MAYA, 2014). Desta forma o Banco Comunitário de Sementes
intitulado Casa de Sementes Livres de Mata Atlântica não foi formado a partir do programa
BCSAV.
O objetivo inicial de construir um banco de sementes crioulas com grandes estoques
de sementes disponíveis foi pouco a pouco se transformando para dar lugar a um projeto que
primasse mais pela qualidade do que pela quantidade de sementes. Foram muitas as dificuldades
na obtenção de apoio financeiro por conta da conjuntura desfavorável em nível nacional e local
para um projeto que envolvesse sementes crioulas. Assim, segundo o relatado pela gestora da
casa de sementes, optou-se que ao invés de procurar desenvolver um trabalho com foco nos
agricultores, o que seria dispendioso pelo número de visitas de campo, o coletivo aproveitaria
sua inserção em um ambiente educacional e direcionaria cada vez mais seu trabalho às crianças
e jovens da comunidade, operando de forma transversal no currículo escolar. O termo banco já
não fazia tanto sentido e o coletivo fundador associou a experiência como um local também
para pensar, discutir e sonhar livremente. Nasceu o nome que ficou até hoje: Casa das Sementes
Livres.
Em 2015, ano de realização da pesquisa, a Casa de Sementes Livres era composta
por cerca de dez agricultores envolvidos com a temática da agroecologia, um mestre griô51 e

50
IBGE, Censo agropecuário 2006. Para maiores detalhes consulte
http://www.cidades.ibge.gov.br/v3/cidades/municipio/3305604/pesquisa/24/2006, acesso em
06/02/2017.
51
De 2010 em diante, o coletivo implementou a pedagogia Griô para o funcionamento da Casa,
remunerando um antigo agricultor local, hoje identificado à Agroecologia, para dar as aulas semanais,
horário que foi garantido na grade curricular da turma do 5º ano. A pedagogia Griô busca a inserção da
tradição oral e de conhecimentos não-formais em espaços formais de aprendizagem (MAYA, 2014)
mediante a transmissão oral nas diferentes comunidades para manter a tradição local. O conceito surgiu
da Ação Griô, que tem como objetivo a valorização dos mestres e mestras portadores dos saberes e
123

quatro gestores, que se revezam na direção da casa de modo participativo. As sementes


mantidas na Casa eram essencialmente alimentícias, mas o Programa BCSAV introduziu outras
como crotalária (Crotalaria juncea), evilhaca (Vicia sativa L.) e mucuna (Mucuna aterrima).
A figura 8 ilustra a casa onde as sementes são armazenadas e o armazenamento das sementes
respectivamente.

Figura 08 - Casa de Sementes livres e local de armazenamento das sementes, Silva Jardim, RJ,
2015

Fonte: Acervo da pesquisa (2015)

Para participar da Casa de Sementes o agricultor precisa ter o compromisso de


replicar a semente, ou seja, ter interesse em plantar e depois saber que vai multiplicar a semente
crioula. Entretanto, na visão dos coordenadores, as pessoas precisam ter acesso primeiro a estas
sementes para posteriormente poder multiplica-la. Assim toda a ação preconiza o acesso à
semente, e deste modo o controle de acesso a esse banco é bem mais livre do que o preconizado
no Programa BCSAV. Nas palavras de C.H.N.S (2015)

Eu sempre dou sementes para pessoas que sempre plantam, pois, as sementes
são preciosas. Se ela quer experimentar ela que compre. Eu não gero
expectativas. Aqui dou a semente, anoto direitinho, e fico esperando que ela
devolva. Eu tento monitorar. Em via geral em tudo em tento não ter
expectativa, sem cobrança. (C.H.N.S., cientista social, gestor da casa de
sementes livres, 27/05/ 2015, Aldeia Velha, RJ)

fazeres da cultura oral, os chamados griôs, e o fomento da transmissão desta tradição. Para maiores
detalhes sobre a pedagogia Griô consulte
http://www.blogeducacao.org.br/2012/11/pedagogia-grio-conceito-promete-reinterpretar-o-estudo-
tradicional-nas-escolas/, acesso em 24/01/2017.
124

Alguns agricultores fornecem sementes, a distribuição é livre. Como a gente


não tem estrutura para manter o controle a gente prefere deixar livre. Eu tenho
meu controle, para quem eu emprestei, ai eu vou acompanhando. A gente tenta
distribuir as sementes que são aceitas pela comunidade local, a semente que
tenha viabilidade aqui. A gente tenta passar ideia do que é o banco: a gente da
a semente e a gente tenta de alguma forma fazer com que as pessoas devolvam
para a gente. A gente consegue as vezes que isto ocorra. Como estratégia
preconizada, programada, a gente não tem. Anoto quanto foi dado para cada
agricultor, mas não há obrigatoriedade de devolver. (C.H.N.S., cientista
social, gestor da casa de sementes livres, 27/05/ 2015, Aldeia Velha, RJ)

Uma das principais dificuldades apontadas pelo gestor foi a obtenção de recursos
financeiros para a manutenção da Casa, visto que esta depende de fomentos oriundos de
projetos de extensão. O Programa BCSAV previu apenas a distribuição de sementes, o que para
o gestor da Casa de Sementes Livres não foi suficiente para a manutenção das sementes no
banco. Segundo ele seriam necessários recursos financeiros para manter tanto a estrutura da
casa de sementes quanto o agricultor guardião, visto que parte do tempo deste seria destinado
a produção de sementes e controle do banco.

A gente tem dificuldade em manter o banco. São usados contatos pessoais que
garantem algo. (Precisa...) dar bolsa para o agricultor para ele acompanhar o
processo. Pois para se trabalhar com a capacitação ele tem que deixar sua
labuta. [...] a gente trabalha na base do convencimento e da troca. (C.H.N.S.,
cientista social, gestor da casa de sementes livres, 27/05/ 2015, Aldeia Velha,
RJ)

As ações da Casa de Sementes Livres de Mata Atlântica estavam bem assentadas e


os coordenadores interagiam com a comunidade e laços de confiança estavam sendo criados.

4.2.1.4. Os bancos comunitários de Cachoeiras de Macacu

Cachoeiras de Macacu é uma cidade da região metropolitana fluminense que


ocupou 770.601 km² de unidade territorial e onde os estabelecimentos agropecuários totalizam
em 2016 32.916 ha. Destes 30.834 ha (1.159 unidades produtivas) eram terras de proprietários.
As lavouras eram constituídas de 1.040 ha de área plantada com forrageiras para corte
(destinadas ao corte e uso na alimentação de animais), 2.147 ha com plantações permanentes e
2.845 ha com lavouras temporárias. Havia 1.586 estabelecimentos agropecuários sendo que 582
unidades eram de lavouras permanentes e 770 unidades de lavouras temporárias. Destacavam-
se a banana e a laranja, como as lavouras permanentes mais expressivas, totalizando 171 e 318
125

estabelecimentos com mais de 50 pés existentes respectivamente. A lavoura temporária de


maior expressão era a de mandioca, com 430 estabelecimentos agropecuários.52
Os bancos Comunitários de Cachoeiras de Macacu foram formados a partir da ação
do técnico da Emater-Rio que atuavam no município com os produtores que tinham aptidão e
disponibilidade para multiplicar sementes de adubos verdes. A constituição da rede dos
agricultores teve início antes do Programa BCSAV.
No início houve a disponibilização de sementes de algumas leguminosas cultivadas
para grupos de agricultores que atuavam com a produção de olerícolas e produtores de orgânico
de citros. Foram contempladas três grupos entre os quais os “Agricultores Orgânicos de
Cachoeiras de Macacu”, “Produtores Orgânicos de Citrus de Japuiba-Cachoeiras de Macacu” e
Produtores Rurais da Micro Bacia Hidrográfica de Cachoeira Grande” de Magé. Segundo o
técnico da Emater-Rio responsável pela distribuição de sementes de adubos verdes na região,
os agricultores com maior aptidão para o uso da adubação verde e guarda de sementes
assumiram a responsabilidade da multiplicação e, posteriormente, de forma organizada
comprometiam-se a distribuir aos demais agricultores familiares.

Há três casas de sementes: Tangua, Cachoeiras e São Gonçalo [...] que estão
associados a três pessoas. [...] Os bancos foram formados a partir da minha
identificação dos produtores que tinham vocação e a disponibilidades deles
em multiplicar. Começou antes do programa de governo. Eu só reforcei com
as sementes que eram disponilizadas para a gente. Até então se tinha a
crotalaria, feijão de porco). Com novas sementes e maior variedade de
sementes, a gente pode trabalhar melhor. (J.R.M.V., engenheiro agrônomo,
18/08/2015, Cachoeiras de Macacu, RJ)

O Banco Comunitário estava em 2015 organizado em “três casas de sementes


familiares” associadas a três agricultores familiares. Foi incentivado, graças ao BCSAV que
estes agricultores formassem bancos familiares, com foco comunitário, em uma ótica
camponesa.
Conforme afirmado pelo técnico da Emater-Rio, que atua como gestor deste
chamado Banco Comunitário

Deve-se tratar deste banco de Comunitário mesmo sendo familiar, pois o


produtor é responsável pela multiplicação e a distribuição na maioria das
vezes eu faço. Entrego as sementes aos produtores interessados e

52
IBGE, Censo agropecuário 2006. Para maiores detalhes consulte
http://www.cidades.ibge.gov.br/v3/cidades/municipio/3305802/pesquisa/24/2006, acesso em
06/02/2017.
126

comprometidos e posteriormente eles me devolvem e repasso a outros, como


em uma rede (J.R.M.V., engenheiro agrônomo, 18/08/2015, Cachoeiras de
Macacu, RJ)

Esta estrutura de banco familiar, com características de banco comunitário,


possibilita que os três agricultores atuem como guardiões de sementes para os demais
agricultores. Em Cachoeiras de Macacu, os guardiões das sementes foram escolhidos
mediante a identidade e comprometimento do produtor, o que na visão do técnico responsável
tem sido o ponto positivo no Programa BCSAV na região até o presente momento.

Um dos pontos trabalhados com os agricultores foi a questão do


comprometimento, visto ser este um ponto importante na manutenção das
sementes e consequentemente da rede. (J.R.M.V., engenheiro agrônomo,
18/08/2015, Cachoeiras de Macacu, RJ)

Segundo J.R.M.V. (2015), sempre que necessário, os agricultores da região buscam,


junto a estes guardiões, as sementes para seu plantio através de empréstimos e devolução
voluntária de sementes. Esta prática, incentivada pelo técnico da Emater-Rio, permite que os
agricultores tenham acesso a sementes de adubos verdes, além de possibilitar que novos bancos
familiares se formem e passem a integrar esta rede comunitária.

O produtor pede, recebe e se o produtor quiser ele devolve. Caso o produtor


que disponibilizou precisar ele vai até o outro e pega, tipo uma troca. Relação
de confiança. Aí esta pessoa que pegava também multiplicava e distribuía para
outras pessoas e ia ramificando. Foi fazendo uma teia. Para o banco a
devolução só ocorria se o produtor quisesse devolver. Não tinha o termo de
compromisso preconizado. (J.R.M.V., engenheiro agrônomo, 18/08/2015,
Cachoeiras de Macacu, RJ)

Em 2015, outros agricultores também estavam multiplicando e fazendo uso das


sementes de adubos verdes, sendo seu uso incentivado pelo técnico da Emater-Rio. Constatou-
se na pesquisa feita com os gestores dos quatro bancos estudados, que apesar das diferenças
apontadas localmente, produzir e guardar sementes garante autonomia para os agricultores,
independente da dinâmica do local.
127

4.3 Atores sociais do programa BCSAV

Neste item são apresentados os atores sociais do Programa BCSAV estudados nesta
pesquisa de tese, agricultores familiares, técnicos multiplicadores, gestores dos bancos
comunitários de sementes e formuladores do Programa.

4.3.1 Agricultores familiares beneficiados


Segundo os levantamentos desta pesquisa, o Programa BCSAV beneficiou 273
agricultores familiares durante os anos de 2007 a 2012. Dentro do previsto na metodologia, 25
agricultores foram entrevistados de forma a atender os 4 recortes amostrais previsto na pesquisa
(Tabela 17). Dos 20 agricultores capacitados nas formações ofertadas em 2007 e 2012, foram
entrevistados 4 que não constituíram bancos familiares e 1 que constituiu. Dos 253 agricultores
não capacitados foram entrevistados 7 que constituíram bancos familiares e 13 que não
constituíram.
A seleção dos agricultores a serem entrevistados foi feita de forma intencional,
considerando a distribuição proporcional pelas regiões geoeconômicas do estado do Rio de
Janeiro. A tabela 19 apresenta resumidamente, as características dos sujeitos da pesquisa
classificados como agricultores beneficiados pelo Programa BCSAV. Para maiores informações
consultar o apêndice 7.

Tabela 19 – Agricultores entrevistados por região considerando sexo e escolaridade. Estado do


Rio de Janeiro, 2015
Sexo
Macrorregião Feminino Masculino
do estado Fundamental Fundamental Médio Médio Superior Fundamental Fundamental Médio Técnico Superior
Incompleto Completo Incompleto Completo Completo Incompleto Completo Incompleto Completo Completo

Metropolitana 1 1 0 1 1 4 2 0 2 1
Centro Sul 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1
Médio Paraíba
2 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Serrana 0 0 0 0 1 3 0 0 0 0
Lagos 0 0 0 0 0 0 0 1 2 0
Total 3 1 0 1 2 8 3 1 4 2
Fonte: Dados da pesquisa (2015).

Constatou-se na pesquisa de campo que dos vinte e cinco agricultores entrevistados


72% eram homens (18) e 27% mulheres (7), onde a diferença das frequências entre eles foi
128

significativa, com índice de confiabilidade de 99,95%. O intervalo de confiança para a


frequência dos sexos na pesquisa apresentou um nível de significância de 2,78%, isto é 97,22%
de que a distribuição porcentual dos sexos não tenha ocorrido por acaso.
As faixas etárias variaram de 34 a 67 anos para o gênero masculino e 43 a 67 anos
para o gênero feminino, sendo que média de idade para todos os agricultores entrevistados está
em torno de 55,16 anos, com desvio padrão em torno de 8,83, podendo variar entre 46,33 e
63,99 anos (apêndice 8). Segundo Rebouças e Lima “[...] a faixa etária é um item importante
na caracterização socioeconômica de uma população, haja vista ser esta responsável pela força
de trabalho e a produção de renda” (REBOUÇAS e LIMA, 2007, p.85).
Dez (40%) dos vinte e cinco entrevistados declararam ter o nível fundamental
incompleto e apenas quatro agricultores (16%) apresentaram nível superior completo.
Estatisticamente constatou-se que a diferença das frequências entre esses níveis de escolaridade
é significativa com um índice de confiabilidade de 95,01% de probabilidade deste resultado ser
encontrado em outras amostras da mesma população.
No tocante a condição do produtor observou-se que 84% dos entrevistados (21)
eram proprietários de suas terras e 16% (4) arrendatários, sendo a diferença das frequências
muito significativa com índice de confiabilidade de 99,99% de probabilidade deste resultado
ser encontrado em outras amostras da mesma população. Destaca-se que em ambos os casos a
propriedade era administrada pelo próprio agricultor e ou arrendatários. Observou-se que 84%
dos 25 entrevistados (21) moravam na zona rural.
O tamanho dos estabelecimentos rurais teve uma amplitude de variação muito alta
entre 2,0 ha e 122,0 ha e desvio padrão de 24,49 ha para uma média de 13,956 ha, indicando
um grau muito elevado de dispersão quando considerando o tamanho das propriedades. Dos
agricultores entrevistados, 84% (21) possuem propriedades com menos de 20 ha. A tabela 20
apresenta os dados de tamanho dos estabelecimentos rurais.

Tabela 20 - Tamanho dos estabelecimentos rurais pesquisados, em hectares (ha), Estado do


Rio de Janeiro, 2015/2016.
Agricultor
Tamanho do lote (ha)
familiar
C.M.S.M. 3,0
F.M.O. 10,0
I.M.X. 5,5
L.H.G. 10,0
129

J.F. 48,0
L.V.C. 22,0
R.S.F. 4,8
C.H.S. 122,0
G.A.N. 9,0
L.C.O. 11,0
L.T. 9,0
O.F. 24
R.M. 6,0
N.C. 10,0
F.L.O. 4,3
F.G.L. 4,7
R.S. 3,0
M.L.B. 10,0
C.J.A. 4,0
J.C.S. 4,0
J.A.C.F. 2,0
C.J.A.M. 11,0
J.T.S. 6,3
D.L.S. 5,0
J.C.P. 3,0
Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Com relação à posse da terra, os resultados mostram que 56% dos entrevistados
(14) apresentavam documento de posse outorgado pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra), 36% (9) tinham escritura definitiva de propriedade e apenas 8% (2)
eram posseiros sem documentação.
Do total dos agricultores entrevistados, 44% (11) disseram ser as atividades
agrícolas a única fonte de renda da família. Quatorze entrevistados declararam possuir outra
fonte de renda, sendo que destes 10 recebiam aposentadoria, que ajudava na manutenção das
130

despesas da família. A tabela 21 apresenta a frequência da distribuição do ganho dos


entrevistados com a agricultura em termos de salários mínimos53.

Tabela 21- Distribuição do ganho do agricultor com a agricultura em termos de salários


mínimos, Estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos parênteses 2015-
2016.
Salário mínimo recebido
<1 1-2 2-4 4-6 >8
Sim 18,2% (2) 18,2% (2) 45,5% ( 5) 9,1% ( 1) 9,1% ( 1)
Única fonte
de renda Não 42,9% ( 6) 14,3% ( 2) 21,4% ( 3) 21,4% ( 3) 0,0% ( 0)

TOTAL 32,0% ( 8) 16,0% ( 4) 32,0% ( 8) 16,0% ( 4) 4,0% ( 1)

Fonte: Dados da pesquisa (2015,2016)

Na pesquisa de campo, constatou-se que 20 dos agricultores entrevistados (80%)


vendiam seus produtores diretamente para o consumidor final. Os principais pontos de venda
eram feiras, supermercados, hotéis e atravessadores.

4.3.2 Técnicos multiplicadores

Foram considerados como agentes multiplicadores do Programa técnicos de Ater


pública e privada, funcionários de secretarias municipais de agricultura e profissionais de
diferentes associações e cooperativas de agricultores dentre aqueles listados pela
Superintendência no ano de 2011, e selecionados segundo os critérios amostrais descritos
anteriormente.
Dezoito agentes multiplicadores foram entrevistados. Na tabela 22 são apresentadas
a caracterização desses agentes multiplicadores entrevistados, segundo sexo, escolaridade,
instituição de filiação, tempo de serviço na Extensão Rural e região de atuação no estado do
Rio de Janeiro.

53
Valor do salário mínimo considerado nesta pesquisa foi de R$ 880,00 no ano de 2016. Disponível
em http://salariominimo2016.blog.br/, acesso em 10/01/2017.
131

Tabela 22 - Características sócio demográficas dos agentes multiplicadores entrevistados


segundo sexo, escolaridade, área de atuação, instituição de filiação, tempo de serviço na
Extensão Rural e região de atuação, Estado do Rio de Janeiro, 2015-2016.
Agente Região de
Sexo¹ Escolaridade Atuação² Instituição Tempo³
Multiplicador atuação
J.R.M.V. M Superior Completo S Emater-Rio4 33 Serrana

J.F.S. M Superior Completo S Emater-Rio 20 Lagos

M.S.S. F Superior Completo N Pesagro 5 21 Médio Paraíba

E.L.C.F. M Superior Completo S Rio Rural 30 Serrana

M.S.R. M Técnico Agrícola S Emater-Rio 5 Metropolitana

N. M Superior Completo S Emater-Rio 37 Centro Sul

K.C. M Superior Completo N Secretaria Municipal 32 Serrana

A.C.B. F Superior Completo S Cedro 6


11 Noroeste

C.R.C.K M Técnico Agrícola S Emater-Rio 25 Médio Paraíba

J.S.M.V. M Superior Completo N Associação de agricultores 28 Noroeste

L.H.S.T. M Superior Completo S Secretaria Municipal 15 Serrana

M.C.R. F Superior Completo S Emater-Rio 33 Metropolitana

M.S.B. M Superior Completo N Associação de agricultores 23 Centro Sul

A.P.P. F Superior Completo S Rio Rural 20 Serrana

B.I.J. M Superior Completo S Emater-Rio 32 Metropolitana

I F Médio Completo N Associação de agricultores 35 Metropolitana

J.M.S. M Superior Completo S Associação de agricultores 33 Metropolitana

J.L.G. M Técnico Agrícola S Emater-Rio 6 Metropolitana


Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016)
Legenda: (1) Sexo: Masculino = M e Feminino= F; (2) Ação como Agente de Ater: Sim= S e Não = N; (3)
Atuação profissional na área de extensão rural: Sim = S e Não= N; (4) Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Rio de Janeiro; (5) Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro; (6)
Cooperativa de Trabalho, Consultoria, Projetos e Serviços em Sustentabilidade

A avaliação da tabela 22 permite concluir que dos 18 entrevistados, 13 (72,2%)


eram homens e 5 (27,8%) eram mulheres. Com relação à formação educacional, 12 (66,7%)
apresentaram nível superior completo (Tabela X), sendo a diferença das frequências entre este
grupo e os que tinham nível médio de escolaridade significativa com índice de confiabilidade
de 98,88%.
Observa-se que a diferença das frequências entre a categoria 'Técnico Agrícola' e
'Médio Completo' é pouco significativa, com índice de confiabilidade de 93,91% e intervalo de
confiança a 95% dado para cada categoria. A tabela 23 apresenta os intervalos de confiança
para a frequência de escolaridade a um nível de significância de 0,57%, isto é, 99,43% de
certeza de que a distribuição porcentual dos sexos não tenha ocorrido por acaso.
132

Tabela 23 - Frequência do nível de escolaridade dos agentes multiplicadores do Programa


BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses,
2015/2016.
Escolaridade Frequência. Intervalos de confiança
Superior completo 12 (66,7%) 44,9% < 66,7 < 88,4%
Técnico Agrícola 5 (27,8%) 7,1% < 27,8 < 48,5%
Médio Completo 1 (5,6%) 0,0% < 5,6 < 16,1%
TOTAL 18
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015/2016) onde 𝜒𝐺𝐿=2 = 10,33 e p=0,57

Neste aspecto é interessante registrar que a Política Nacional de Assistência Técnica


e Extensão Rural (Pnater), ao romper com os paradigmas convencionais e conservadores do
extensionismo difusionista, passou a exigir um novo perfil profissional para os quadros da
Extensão Rural (CAPORAL, 2009). Segundo o autor, este profissional deveria ter visão
holística e sistêmica, ser articulador e conciliador, apresentar capacidade de liderança,
demonstrar e praticar posturas participativas, apresentar capacidade para construir e
sistematizar conhecimentos técnicos bem como capacidade de análise e síntese além de ter
aptidão para o planejamento e a ação planejada (animação de processos). Assim sendo a partir
do modelo de desenvolvimento sustentável para o meio rural proposto pela Pnater, deveriam
ser considerados um conjunto de princípios qualificadores da ação extensionista e do serviço
de assistência técnica e extensão rural a ser prestado aos agricultores familiares (BRASIL,
2010).
Em relação ao tempo de trabalho em atividades de Ater, observou-se que os
multiplicadores entrevistados apresentaram experiência profissional nesta área variando entre
6 a 37 anos, sendo 17,94 anos o tempo médio de experiência nesta área. Notou-se também que
11,1% (2) deles possuíam o tempo de trabalho em Ater de até 10 anos, 27,8 % (5) deles até 20
anos e 61,1% deles com o tempo de trabalho em Ater acima de 21 anos. Quando se cruza os
dados de escolaridade com o de tempo de atuação dos agentes multiplicadores (tabela 24),
observa-se que 8 (66,6%) dos 12 entrevistados com nível superior que atuam como agentes de
Ater e ou profissionais vinculados a cooperativas e associações, possuíam mais de 21 anos no
exercício da atividade profissional. Petan (2010) argumenta que um profissional com tais
características possui boa experiência teórica e prática acumulada em sua área de formação, o
que se espera, possa impactar de modo positivo sua ação extensionista junto aos agricultores.
Entretanto é notório que na ação extensionista se insira uma ação pedagógica que deva permitir
que o agricultor assuma o protagonismo de seu processo histórico, ocupando um papel ativo na
transformação de sua própria realidade. Assim sendo, é preciso que ocorra entre os
133

extensionistas e os agricultores uma dialogicidade para que aprendam um com o outro dentro
de um enfoque pedagógico construtivista e crítico-reflexivo. A tabela 24 apresenta a frequência
da escolaridade e a relação entre escolaridade e tempo de serviço respectivamente.

Tabela 24 - Nível de escolaridade em relação ao tempo (em anos) de serviço dos agentes
multiplicadores do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e
números absolutos nos parênteses, 2015/2016.
Tempo/ 0-10 11-20 21-30 31-40 TOTAL
Escolaridade
Superior Completo 8,3% ( 1) 25,0% ( 3) 33,3% ( 4) 33,3% ( 4) 100% (12)
Técnico Agrícola 20,0% ( 1) 40,0% ( 2) 20,0% ( 1) 20,0% ( 1) 100% ( 5)
Médio Completo 0,0% ( 0) 0,0% ( 0) 0,0% ( 0) 100% ( 1) 100% ( 1)
TOTAL 11,1% ( 2) 27,8% ( 5) 27,8% ( 5) 33,3% ( 6) 100% (18)
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=6 = 3,25 e p=77,69%

O extensionista é tido como um facilitador do desenvolvimento do agricultor e o


agricultor é um elemento mobilizador da transformação do meio e da própria ação de extensão.
Assim sendo será a partir do diálogo que o conhecimento será construído e novas alternativas
para solucionar problemas rurais serão encontrados.

4.3.3 Formuladores e responsáveis pela execução do Programa BCSAV no estado do Rio


de Janeiro

Foram considerados como formuladores do Programa BCSAV profissionais de


pesquisa e do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que estiveram
envolvidos com a formulação do Programa desde seu início e tiveram seus nomes indicados
pela Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do estado do Rio de
Janeiro.
Ao todo foram entrevistados quatro profissionais, cujos currículos são apresentados
em sequência, precedidos pelos nomes abreviados. Os dados pertinentes a cada entrevistado
foram retirados da plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e complementado durante as entrevistas:
 J.G.M.G.: Engenheiro Agrônomo e doutor em agronomia atualmente atua como
pesquisador da Embrapa Agrobiologia, pesquisador 1-D no Conselho Nacional de
134

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), professor do Programa de Pós-


graduação em Fitotecnia e do Programa de Pós-graduação em Agricultura Orgânica,
ambos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Atua na área de agricultura
orgânica com ênfase em adubação verde e olericultura orgânica. Atuou no Programa
BCSAV como um dos idealizadores. (Entrevista concedida em Seropédica, RJ, em 18
de fevereiro de 2016)
 R.P.D.: Engenheiro Agrônomo com atuação na área de fitossanidade é coordenador de
Câmara Temática do Mapa. Atualmente é fiscal federal agropecuário do Ministério da
Agricultura, Pecuárias e Abastecimento. Atuou no Programa BCSAV como um dos
idealizadores e coordenador. (Entrevista concedida em Brasília, DF, em 13 de fevereiro
de 2015)
 A.S.S.: Engenheira Agrônoma, superintendente regional de Agricultura e
Abastecimento do estado do Rio de Janeiro. Atuou na implementação do Programa no
estado e foi o responsável pelo controle da distribuição das sementes de adubos verdes
no estado do Rio de Janeiro. (Entrevista concedida no Rio de Janeiro, RJ, em 02 de
fevereiro de 2015)
 I.A.R.: Licenciado em Ciências Agrárias, mestre em fitotecnia. Atualmente atua como
analista da Embrapa Agrobiologia e foi o responsável pelo controle da distribuição das
sementes de adubos verdes no estado do Rio de Janeiro. (Entrevista concedida em
Seropédica – RJ, em 03 de maio de 2016)

4.3.4 Gestores dos Bancos Comunitários de Sementes

Foram considerados como gestores os agricultores listados como responsáveis


pelos Bancos Comunitários de Sementes, que tiveram seus nomes constantes no relatório54 de
2013 sobre o Programa BCSAV. Ao todo foram entrevistados quatro agricultores, cujos
currículos são apresentados em sequência, precedidos pelos nomes abreviados. Os dados
pertinentes a cada entrevistado foram retirados da plataforma Lattes do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e complementados durante as entrevistas:

54
Relatório da Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio de Janeiro
(Mapa) não publicado e cedido pela superintendente durante a entrevista realizada no Rio de Janeiro,
RJ, em 02 de fevereiro de 2015.
135

 J.S.M.V.: Graduado em Ciências Biológicas, atua como consultor técnico - Serviço


de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio de Janeiro. Atua como guardião do
Banco Comunitário de Purilândia (ASPUR), tendo participado das capacitações do
Programa ofertadas em 2009 e 2012. (Entrevista concedida em Seropédica, RJ, em
08 de abril de 2015).
 J.R.M.V.: Graduado em Ciências Biológicas, mestre em agricultura orgânica, atua
como extensionista rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do
Estado do Rio de Janeiro (Emater-Rio). É gestor dos Bancos de Cachoeiras de
Macacu, tendo participado da capacitação do Programa ofertada em 2009.
(Entrevista concedida em Cachoeiras de Macacu, RJ, em 18 de agosto de 2015).
 R.A.S.: Engenheiro Agrônomo e produtor atua como guardião e gestor do Banco
Comunitário da Associação Agroecológica de Teresópolis. Participou da
capacitação do Programa ofertada em 2012. (Entrevista concedida em Teresópolis,
RJ, em 06 de outubro de 2015).
 C.H.N.S.: Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, especialista em permacultura e bioconstrução. É co-fundador,
administrador e gestor da Casa de Sementes Livres de Mata Atlântica. (Entrevista
concedida em Aldeia Velha, RJ, em 27 de maio de 2015).

4.4 Empoderamento e Instrumentalização dos atores sociais

Nesta dimensão da análise foi observada como as ações referentes ao Programa


BCSAV buscaram empoderar e instrumentalizar os técnicos da Ater e agricultores
multiplicadores, a partir da motivação destes atores para a participação no programa.
Para Paulo Freire, “[...] a pessoa empoderada é aquela que realiza as mudanças e
ações que a levam a evoluir e se fortalecer” (VALOURA, 2016), podendo ocorrer no nível
individual, organizacional e comunitário (BAQUERO, 2012).

O empoderamento é um termo multifacetado que se apresenta como um


processo dinâmico, envolvendo aspectos cognitivos, afetivos e condutuais.
Nesse debate, processo de empoderamento é apresentado a partir de
dimensões da vida social em três níveis: psicológica ou individual; grupal ou
organizacional; e estrutural ou política. O empoderamento pessoal possibilita
a emancipação dos indivíduos, com aumento da autonomia e da liberdade. O
nível grupal desencadeia respeito recíproco e apoio mútuo entre os membros
136

do grupo, promovendo o sentimento de pertencimento, práticas solidárias e de


reciprocidade. O empoderamento estrutural favorece e viabiliza o
engajamento, a corresponsabilização e a participação social na perspectiva da
cidadania. (KLEBA e WENDAUSEN, 2009, p.733).

Em nível individual, o empoderamento se refere à habilidade das pessoas de


ganharem conhecimento e controle sobre forças pessoais, para agir na direção de melhoria de
sua situação de vida. Diz respeito ao aumento da capacidade de os indivíduos se sentirem
influentes nos processos que determinam suas vidas (BAQUERO, 2012, p.176). O
empoderamento necessário para a ação no campo pode ser entendido em suas três dimensões
através das ações realizadas, levando os atores a conquista da condição e da capacidade de
participação social. Ganham influência e controle sobre as suas vidas e tornam-se ativas nos
grupos sociais no qual interagem. Trata-se de um processo consciente e intencional que visa a
igualdade de oportunidade entre os parceiros sociais (DURSTON, 2000, pag. 33).
No estado do Rio de Janeiro a seleção dos participantes das capacitações foi feita
por indicação de A.S.S., superintendente federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do
estado do Rio de Janeiro, que pautou a seleção. A proposta inicial era que “essas capacitações
funcionariam primeiro pros técnicos e depois pros agricultores” (A.S.S., Superintendente
Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio de Janeiro, Executor do Programa,
02/02/2015, Rio de Janeiro, RJ), visto que no Programa não estavam disponíveis recursos e
estrutura para uma ação mais ampla no estado

A gente não tem estrutura pra ser tantas pessoas [...] então o que a gente fez é
assim: técnico e os agricultores que [...] vão transmitir o conhecimento, vão
absorver o conhecimento e geralmente é assim que faz [...]. (A.S.S.,
Superintendente Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio de
Janeiro, Executor do Programa, 02/02/2015, Rio de Janeiro, RJ).

Segundo J.G.M.G., Formulador do Programa

Na verdade, a Ailena55 já tinha uma trajetória conosco aqui, foi orientada no


mestrado e ai a gente já tinha ideia de nossa dinâmica no estado A Ailena foi
pontuando os atores e ela chamou eles para uma primeira reunião. E ai ela fez
uma reunião aqui no auditório [da Embrapa] e convidou vários atores do Rio
de janeiro. E aí o ministério comprou as sementes e nós passamos a ser um
canal de distribuição. Ai todos os atores que vinham pegavam sementes aqui
e levavam para seus lugares. Foi uma disseminação do uso das sementes.
Tinha um formulário que ninguém retornava e depois saímos várias vezes para
o campo para avaliar como os bancos estavam se saindo [...]. Alguns

55
Ailena Sudo Salgado, engenheira agrônoma e funcionária do Ministério de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) na área de Certificação e Auditoria de Qualidade Orgânica.
137

assimilaram o espirito do Banco, mas a não a maioria. (J.G.M.G, formulador


do Programa, 16/09/2016, Seropédica, RJ).

Na sequência foram apresentados os resultados de pesquisa referentes ao


empoderamento e a instrumentalização dos agricultores e multiplicadores vistos a partir da
motivação pessoal de cada um dos envolvidos.

4.4.1 Agricultores Familiares:

O empoderamento acontecerá melhor e mais rápido em grupos e comunidades


com forte estoque de capital social [...] Por sua vez, são elementos importantes
do empoderamento pleno do ator social, o acesso a redes que transcendem o
círculo de relacionamentos da comunidade e o capital social comunitário
manifestado em diferentes formas de associativismo. (DURSTON, 2000,
pag.34)

Durante a primeira fase do Programa (2007-2010), os agricultores receberam


orientações e materiais dos técnicos multiplicadores. Já na segunda fase (2012-2015), vinte
agricultores participaram da capacitação ofertada em 2012, recebida diretamente de
pesquisadores da Embrapa e do Mapa. Como ocorreu a motivação pessoal dos agricultores e as
ações realizadas para seu empoderamento e instrumentalização?
Segundo A.S.S (2015) as ações de capacitação previstas no Programa foram
pensadas como o objetivo de formar o multiplicador para que ele pudesse capacitar o agricultor
familiar. Entretanto, como alguns técnicos da Emater-Rio não aderiram ao programa, tornou-
se imperativo estende-la aos agricultores familiares para que estes fossem empoderados.
(A.S.S., Superintendente Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio de Janeiro,
Executor do Programa, 02/02/2015, Rio de Janeiro, RJ).
Quando questionados sobre a motivação para participação no Programa os
agricultores entrevistados apontaram três causas: atuação do motivador, disponibilidade de
sementes e uso da adubação verde na recuperação do solo. A tabela 25 apresenta as frequências
de ocorrência das motivações para participarem do Programa com intervalo de segurança em
um nível de significância de 13,51%, isto é com 86,49% de certeza de que este resultado não
tenha ocorrido por acaso.
138

Tabela 25 - Ocorrência de diferentes motivações dos agricultores familiares para participação


no Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, 2015/2016.
Motivação Frequência Intervalos de
confiança
Possibilidade de introdução de práticas agrícolas 3 0,0% < 12,0 < 24,7%
sustentáveis
Conhecimento das vantagens dos adubos verdes 5 4,3% < 20,0 < 35,7%
Possibilidade de acesso à sementes de adubos verdes 6 7,3% < 24,0 < 40,7%
Incentivo dado pelo agente multiplicador 11 24,6% < 44,0 < 63,5%
TOTAL 25
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=3 = 5,56 e p=13,51

Um dos principais pontos de motivação dos agricultores para a entrada no Programa


foi a atuação do extensionista-multiplicador como motivador. Segundo Landini (2015) na
última década a ação da extensão rural no Brasil incorporou ações voltadas para a organização
dos agricultores, gestão de processos participativos e articulação institucional. Assim sendo o
papel do extensionista motivador tornou-se diferencial no aceite do novo.

[...] a primeira motivação foi o incentivo da técnica da Emater. Pois eu não


conhecia leguminosa. Eu não sabia do poder de melhoria do solo proveniente
da leguminosa. Quando a Priscila chegou aqui apresentando sobre as
leguminosas, dizendo os benefícios de usa-las eu acreditei nela inclusive até
hoje meus filhos me perguntam o porquê de eu plantar essa tal da leguminosa.
(L.T., agricultora, 12/02/2015, São Gonçalo, RJ)

Outra motivação apontada foi a possibilidade do uso da adubação verde como uma
prática adequada para o manejo agroecológico e orgânico das culturas. Um dos grandes
gargalos para o uso da adubação verde no Brasil está no manejo da cultura e na disponibilidade
de sementes (J.G.M.G., engenheiro agrônomo, 16 setembro de 2016, Seropédica, RJ).
Entretanto, enquanto a produção de sementes de adubos verdes não é atrativa para o setor
privado, e quando disponível apresenta preços muito elevados, inacessíveis a maioria dos
produtores, os benefícios da adubação verde são reconhecidos pelos agricultores e vão da
melhoria da fertilidade do solo a melhor de cobertura do mesmo. Para F.G.L. “[...] mediante a
análise do solo da propriedade percebi que ele era deficiente em nitrogênio. Logo me interessou
utilizar adubação verde para melhorar a quantidade do nutriente no solo.” (F.G.L., agricultor,
25/04/2016, Seropédica, RJ).
A orientação para a montagem de bancos comunitários e o manejo da adubação
verde foi dada pelos agentes multiplicadores vinculados ao Programa. Conforme descrito
139

anteriormente, muitos são os benefícios reconhecidos do uso de adubação verde entre os quais
o aumento do teor de matéria orgânica e a disponibilidade de água e nutrientes e redução do
uso de insumos externos utilizados para incremento da fertilidade do solo. Entretanto muitas
são as limitações para a produção em larga escala das espécies usadas como adubos verdes, o
que demanda cuidados técnicos relativos ao manejo da cultura. Quando questionados se
receberam orientação e auxílio efetivo para manejo do Adubo Verde em campo, 68% (17) dos
25 agricultores entrevistados afirmaram ter recebido em um nível de significância de 7,19%,
isto é com 92,89% de certeza do resultado não ter ocorrido por acaso. Destaca-se ser a Emater-
Rio responsável por 85% desta Assistência Técnica, considerando os multiplicadores
entrevistados. A tabela 26 correlaciona a instituição de vinculação do multiplicador com o fato
do agricultor receber assistência técnica.

Tabela 26 - Correlação entre a vinculação do multiplicador e o recebimento de assistência


técnica pelo agricultor durante a implantação do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro,
em porcentagem e números absolutos nos parênteses, 2015/2016.
Recebimento de assistência Instituição envolvida
Total
técnica Emater-Rio Embrapa Não recebe
Sim 85,0% (17) 10,0% ( 2) 5,0% ( 1) 100% (20)
Não 20,0% ( 1) 0,0% ( 0) 80,0% ( 4) 100% (5)
TOTAL 72,0% (18) 8,0% ( 2) 20,0% ( 5) 100% (25)
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=2 = 14,10 e p=0,09%. Os números em
parênteses indicam o número de multiplicadores envolvidos no critério.

Quando questionados sobre o fato de terem recebido orientação para a montagem


do banco de sementes, 64% (16) dos vinte e cinco agricultores entrevistados afirmaram ter
recebido. Entretanto, apenas 13 dos agricultores entrevistados afirmaram ter recebido de modo
efetivo o auxílio do multiplicador para a montagem.
Com base no apresentado pode-se observar que o papel do ator multiplicador foi
um ponto decisivo para a adesão dos agricultores ao Programa, quer como motivadores, quer
como agentes técnicos.

4.4.2 Multiplicadores:

Para que o Programa pudesse ocorrer no estado do Rio de Janeiro, foram


convidados multiplicadores para participarem das ações de capacitação.
140

Quando questionados sobre a motivação para participação no Programa os


multiplicadores apontaram como causas a disponibilidade de sementes, a possibilidade de
melhora da qualidade do solo e a experiência profissional prévia. Constatou-se 50,0% (9) dos
multiplicadores apontaram a experiência profissional prévia e 44,4% (8) a perspectiva de
melhora do solo como motivações para a participação no Programa. A tabela 27 a seguir
apresenta as frequências de ocorrência das motivações para participação no programa em um
nível de significância de 4,21%, isto é com 95,79% de certeza deste resultado não ter ocorrido
por acaso.

Tabela 27 - Ocorrência de diferentes motivações dos multiplicadores para participação no


Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos
parênteses, 2015/2016.
Motivação Frequência Intervalos de confiança
Disponibilidade de sementes 1 (5,6%) 0,0% < 5,6 < 16,1%
Melhora do solo 8 (44,4%) 21,5% < 44,4 < 67,4%
Experiência profissional 9 (50,0%) 26,9% < 50,0 < 73,1%
TOTAL OBS. 18
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=2 = 6,33 e p=4,21%

Dados obtidos durante as entrevistas permitiram o cruzamento das motivações


pessoais com a atuação do agente multiplicador. Observou-se que onze dos dezoito
multiplicadores entrevistados eram agentes de Ater, sendo que sete deles (63,3%) motivaram-
se a participar no Programa graças a experiência profissional prévia e quatro multiplicadores
(36,4%) por conta da capacidade do adubo verde em melhorar o solo, conforme tabela 28.

Tabela 28 - Correlação entre a motivação do multiplicador para participar no Programa e sua


ação como agente de Ater no estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos
nos parênteses, 2015/2016.
Motivação
Agente de Ater Experiência Disponibilidade de Melhora do Total
profissional recursos (sementes) solo
Sim 63,6% ( 7) 0,0% ( 0) 36,4% ( 4) 100,00% (11)
Não 28,6% ( 2) 14,3% ( 1) 57,1% ( 4) 100,00% (7)
Total 50,0% ( 9) 5,6% ( 1) 44,4% ( 8) 100,00% (18)
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=2 = 3,04 e p=21,88%
141

O movimento agroecológico pauta-se no estabelecimento de um paradigma


orientado para o desenvolvimento rural sustentável e ao estabelecimento de uma agricultura
sustentável. A Política Nacional de Ater (Pnater) estabeleceu como diretrizes para a prática da
assistência técnica e extensão rural no País à agricultura familiar, princípios da agroecologia e
as metodologias participativas. Constatou-se nas entrevistas que a experiência profissional
destes agentes multiplicadores se pautou pelo histórico de militância no movimento
agroecológico, no trabalho com práticas agroecológicas tal como a adubação verde, na
necessidade de sementes para uma agricultura de base ecológica, no fato de trabalhar como
agricultores familiares e na sua crença de que se este souber trabalhar com sementes terá
autonomia frente ao mercado dominado pelas empresas de sementes.
No estado do Rio de Janeiro há regiões com uso muito intensivo do solo onde a
dependência de insumos externos é muito grande e onde o uso de leguminosas para adubação
do solo é uma das potenciais soluções para evitar o aporte de adubos sintéticos no solo. A
adubação verde com leguminosas foi um grande mote para a entrada dos agentes entrevistados
no Programa, em especial para os profissionais como maior tempo de serviço, como visto
anteriormente que 62,5% dos entrevistados com esta motivação apresentaram mais que 21 anos
de atuação na extensão rural. Esta situação foi evidenciada para os profissionais que
trabalhavam com citros e em regiões mais íngremes, como a região serrana, dada a capacidade
de cobertura e melhora das condições físico-químicas do solo. Desse modo o grande motivador
para as ações dos agentes multiplicadores foi o de atuar dentro do previsto na Pnater dentro de
um diálogo constante com sua prática profissional.

Na verdade, chegou um convite aqui para o escritório, porém o interesse de


participar foi na intenção de continuar fazendo o trabalho de extensão que
fazemos aqui buscando difundir o que a pesquisa produz e transferir essas
tecnologias para o produtor rural. E como na época alguns produtores estavam
interessados na adubação verde, veio a calhar a participação na capacitação
para que pudéssemos passar as informações sobre o assunto para os
agricultores. (J.L.G., engenheiro agrônomo, 11/01/2016, São Gonçalo, RJ).

Outra motivação apontada pelos agentes multiplicadores foi a possibilidade do


acesso, pelo Programa BCSAV, às sementes de adubos verdes. Destaca-se, que conforme
verificado anteriormente, a adubação verde já era recomendada e sua dificuldade em conseguir
sementes nas quantidades e com a qualidade necessária já era conhecida.

[...] a gente já tinha começado a trabalhar com adubação verde e a gente tinha
dificuldade em conseguir semente. E aí começamos...tinha um grupo de
142

agricultores em transição e aí surgiu o Banco de sementes que forneceu


semente para começar o cultivo e guardar sementes, houve orientação e a
gente foi trabalhar. Daí surgiu a ideia de abraçar o Programa. Foi dessa forma,
porque já existia um movimento agroecológico na região e então a gente
começou a articular o banco [...] (J.S.M.V., engenheiro agrônomo,
08/04/2015, Porciúncula, RJ)

[...] a disponibilidade de sementes principalmente, ter a semente para trabalhar


junto com o produtor (acesso a sementes), a principal razão foi por isso porque
muitas vezes ele vai trabalhar com leguminosas, no caso para adubação verde,
ele não te dá rendimento, só trabalha assim a conservação do solo, trabalha a
parte da fixação de nitrogênio e o produtor não se interessa muito por isso não,
ele acha mais fácil comprar o adubo e botar. A parte da terra que você ocupa
com leguminosa poderia estar ocupando com outra coisa. (M.S.M.,
engenheira agrônoma, 11/02/2015, Rio Claro, RJ)

Para que possa ocorrer o estabelecimento de uma agricultura sustentável com base
nos princípios da agroecologia deve-se ter como ponto de partida a capacitação de agentes de
Ater pautados em processos educativos voltados para o crescimento do ser humano como
cidadão. (BRASIL, 2004).

Um processo de capacitação para a transição agroecológico deve ter um


conteúdo capaz de formar os profissionais para atuarem como agentes de
desenvolvimento local, com condições de investigar, identificar e
disponibilizar aos agricultores, demais públicos da extensão e ao conjunto das
pessoas que vivem no meio rural um conjunto de opções técnicas e não
técnicas, compatíveis com as necessidades dos beneficiários e com o espaço
territorial onde estejam inseridos. (BRASIL, 2004, p.21)

Visando o empoderamento dos multiplicadores do Programa foram realizadas duas


capacitações, ocorridas uma em 2009 e outra em 2012. Para os entrevistados a capacitação de
2009 foi suficientemente esclarecedora ao apresentar meios de operacionalização de um banco
de sementes, contando com a presença de profissionais do Mapa e pesquisadores da Embrapa
Agrobiologia. Na visão deles esta capacitação constitui-se de um curso de caráter informativo,
ou seja, um curso cujo o objetivo foi transmitir um conjunto de informações básicas visando
subsidiar as ações dos multiplicadores em campo. O conteúdo abordado visava à introdução
das ideias do Programa bem como a discussão dos conteúdos presentes nas cartilhas
orientadoras para técnicos, além da importância da adubação verde, distribuição de sementes e
informações sobre as espécies e informações sobre o funcionamento de banco comunitário.
Para A.C.B. “[...] as informações foram suficientes para o básico da introdução da ideia do
banco” (A.C.B., engenheira agrônoma, 07/12/2015, Miracema, RJ)
143

Na capacitação de 2012 foram realizadas prospecções de demandas junto aos


técnicos presentes e contou com a presença de um consultor, na época contratado pelo Mapa.
Foram realizadas palestras de pesquisadores da Embrapa Agrobiologia sobre adubação verde,
trabalhos em grupo (dinâmicas), repassadas informações sobre a dinâmica dos bancos e sobre
a sua gestão. Foram ainda distribuídas cartilhas do Programa e feita uma explanação visando a
contextualização das ações do Planapo e sobre a importância do agricultor não depender de
sementes híbridas. Também foram apresentadas as características das principais espécies
adubadoras e distribuídas sementes.
Quando questionados se a capacitação foi suficiente para a ação extensionista,
12 (66,7%) dos 18 entrevistados alegaram que foi suficiente para o início dos trabalhos.
Entretanto 11,11% (dois entrevistados) pontuaram que foram muito trabalhados os aspectos da
adubação verde em detrimento dos aspectos de cunho social como os de fortalecimento da
organização social, associativismo, fortalecimento dos guardiões e empoderamento dos
diferentes atores envolvidos que são necessários para o bom andamento dos trabalhos com os
bancos comunitários de sementes. Para J.L.G. o conteúdo trabalhado “em termos técnicos para
produção e uso da adubação verde era suficiente. Faltou trabalhar o cunho social. [...] quando
se fala em banco precisa trabalhar o empoderamento dos grupos.” (J.L.G., engenheiro
agrônomo, 11/01/2016, São Gonçalo, RJ)
A conquista do saber ocorre no âmago das relações sociais em seu conjunto,
visto que o conhecimento é percebido como produção coletiva dos homens que surge de sua
atuação na vida real, por intermédio de suas relações com a natureza, com os outros e com ele
próprio (BASTOS, 1991). Durston (1999) ao estudar a formação do capital social em
Chiquimula na Guatemala observou que o trabalho comunitário e a interação social foram
fomentados graças ao empoderamento dos atores envolvidos. Assim, sendo para trabalhar o
tema do banco comunitário de sementes seriam necessárias ações realizadas de modo
comunitário. Entretanto foi observado pelos participantes das capacitações de 2009 e 2012 que
em momento algum o associativismo foi trabalhado.

Eu achei bem bacana em relação ao desenvolvimento na justificativa do


projeto que consistia em manter o banco de sementes em prol das
comunidades. Só que a meu ver a questão que teria que ser mais bem
direcionada as pessoas responsáveis por estes bancos. Tem que ver se esta
pessoa tem perfil e trabalhar mais a parte coletiva, não ficar na mão de um só.
(J.R.M.V., engenheiro agrônomo, 18/08/2015, Cachoeiras de Macacu, RJ)
144

Estratégias de extensão rural a serem adotadas pelo seguimento agropecuário


deveriam levar em conta a construção de formas inovadoras de trabalhos capazes de
potencializar os processos de desenvolvimento rural sustentável. Com o empoderamento e
instrumentalização, o papel dos técnicos seria o de mediadores, apoiadores no fortalecimento
dos agricultores beneficiados para que encontrem suas próprias soluções e as implementem
visando o êxito do Programa de governo. Neste sentido deveria orientar suas ações para
metodologias de trabalho participativas e coletivas que considerassem a realidade local na busca
por uma perspectiva de sustentabilidade ambiental e de desenvolvimento com equidade social,
geração de renda e de ocupações no meio rural (CAPORAL e RAMOS, 2010). Para Durston
(1999) a formação de capital social depende do uso de metodologias participativas e da
instituição de espaços participativos, onde o protagonismo de planejamento e execução das
ações deve ser dado aos beneficiários finais.

4.5 Análise da implantação do BCSAV na percepção de seus atores

Nesta dimensão de análise foi apresentada e discutida a implantação do Programa


BCSAV no Estado do Rio de Janeiro, tanto na perspectiva do agricultor beneficiado quanto na
do agente multiplicador. Foram apresentados os resultados relativos à disponibilidade dos
recursos, seleção dos produtores, avaliação sobre o processo de implantação, os limites e as
potencialidades do Programa no Rio de Janeiro.
Um ponto importante quando se realiza a implantação de um projeto ou programa
de governo é a verificação dos resultados alcançados e seus efeitos junto ao público beneficiado.

[...] a avaliação [...] determina a medida em que os componentes de um projeto


contribuem ou são incompatíveis com os fins perseguidos. É realizada durante
a implementação e, portanto, afeta a organização e as operações. Procura
detectar as dificuldades que ocorrem na programação, administração,
controle, etc., para serem corrigidas oportunamente, diminuindo os custos
derivados da ineficiência. Não é um balanço final, e sim uma avaliação
periódica. Diferencia-se da retroalimentação que é uma atividade permanente
de revisão, realizada por aqueles que estão implementando o projeto. Sua
função central é medir a eficiência de operação do projeto”. (COHEN, 1994)

O sucesso ou o fracasso de uma ação no meio social pode ser avaliado através de
informações levantadas em campo que podem possibilitar ao gestor a tomada de decisões. Neste
contexto buscou-se levantar em campo dados que possibilitassem avaliar, através da percepção
145

dos agricultores e dos multiplicadores a implantação do BCSAV no estado do Rio de Janeiro e


sua potencialidade em gerar ou consolidar o capital social local.

4.5.1 O BCSAV para os agricultores familiares

Para contextualizar a implantação do BCSAV na visão dos entrevistados


investigou-se inicialmente como se deram a formação dos bancos de sementes familiares.
Observou-se que 92% dos entrevistados (23) constituíram ou já possuíam bancos
de sementes em suas propriedades. Nestes casos, para 72% dos entrevistados (18) a implantação
dos bancos ocorreu por iniciativa própria. Em apenas 20% dos casos (5) a iniciativa ocorreu
por fomento do Programa em estudo.
Várias foram as causas para o início dos bancos de sementes nas propriedades entre
as quais: a) já serem produtores orgânicos e enxergarem na adubação verde uma opção para
aumento da fertilidade e melhoria das condições solos; b) necessidade da armazenagem de
sementes; c) atuação do agente de extensão rural fomentando a guarda das sementes; d) Cultura
na guarda de sementes.
Para que a implantação ocorresse todos os agricultores vinculados ao Programa
(participantes ou não participantes das capacitações) receberam sementes para a estruturação
dos bancos familiares e comunitários.
Quando questionados sobre o custo para montagem e manutenção dos bancos de
sementes, 40% dos entrevistados (10) afirmaram não saberem precisar. Os demais pontuaram
vários possíveis custos tais como custo de ocupação do espaço da propriedade56 (1), insumos
necessários (5) e mão de obra (6). Alguns destes custos foram relacionadas à algumas limitações
tecnológicas associadas à organização de Bancos Comunitários de Sementes destacando-se a
qualidade das sementes produzidas e armazenadas sendo necessário o desenvolvimento de
tecnologias para produção, seleção beneficiamento e conservação de sementes (SANTOS et
al.,2012). Para L.C.O “[...] custo do espaço porque minha terra é pequena para isso. Falta de
terreno” (L.C.O., agricultora, 13/02/2015, Piraí, RJ)

Não acho que tenha um custo. O problema é que tenho dificuldade em plantar
o adubo verde, porque a hora do trator aqui é muito cara (120 reais/hora) e o
tratorista não trabalha assim 6 horas por hectare, que seria um padrão tranquilo

56
Para o agricultor, este custo representa o quanto ele deixa ganhar ao ocupar a terra com adubo verde ao invés de
uma cultura comercial.
146

sem correr e sem “moleirar”. Aqui o cara faz 12, 13 horas por hectare aí
ninguém aguenta pagar o trator. Se for preparar a terra, para plantar o adubo
verde , para depois passar trator de novo aí você não aguenta. (F.L.O.,
agricultor, 25/04/2016, Seropédica, RJ)

Hoje eu vejo que não seria nem custo, teria que ter um ambiente para as
sementes, que não tivesse muita oscilação de temperatura. E a mão de obra
também é um problema. Qualquer produtor reclama isso. Não é que ele não
queira trabalhar com leguminosas, é a mão de obra ou às vezes a terra é
pequena e às vezes até o consórcio fica complicado. Por exemplo, se você
plantar agora um milho com feijão de porco, adeus milho porque o feijão vai
sugar tudo. Então qualquer produtor que você for, vai cair nessa questão de
mão de obra, de disponibilidade de terra. (F.G.L., agricultor, 25/04/2016,
Seropédica, RJ)

Um dos pontos observados para avaliação da implementação do Programa no


estado do Rio de Janeiro foi o aumento do uso dos adubos verdes nas propriedades dos
agricultores e as mudanças ocorridas nas áreas.
Constatou-se que de vinte e cinco agricultores entrevistados, 20 (80%) afirmaram
ter conseguido manejar e implantar o uso dos adubos verdes em suas propriedades. Destes, 17
agricultores observaram mudanças na propriedade, tais como aumento de produtividade e
melhoria na textura do solo, sendo que em 16 propriedades o uso dos adubos verdes aumentou
quando comparados ao período anterior ao Programa.
As mudanças na propriedade após adesão ao Programa foram observadas por 76%
dos entrevistados (19) as quais resultaram em melhores colheitas, aumento de nitrogênio no
solo e solos arenosos menos compactados. Segundo J.C.P “[...] depois do programa disseminei
as sementes em outras glebas do sitio, melhorando a qualidade da fertilidade do solo ” (J.C.P.,
agricultor, 20/06/2016, Seropédica).

Com certeza a qualidade do solo. No meu caso que tinha o solo totalmente
destruído, melhorou em torno de 80%. Além plantar eu usava como cobertura
morta, colocava as folhas para cobrir o solo. (L.T., agricultora, 06/11/2015,
São Gonçalo, RJ)

Já usava leguminosas antes do programa. Até participei de um trabalho com


pessoal da Embrapa, sobre plantio de batata doce, após o uso das leguminosas.
Usando feijão de porco, feijão guandu, crotalária.. Depois incorporamos tudo
e plantamos a batata doce. O resultado foi muito melhor, [...]. A batata
produziu muito mais, visivelmente o resultado foi ótimo. (F.G.L., agricultor,
25/04/2016, Seropédica, RJ)

A tabela 29 apresenta a correlação entre reprodução e aumento de uso dos adubos


verdes e mudanças na propriedade.
147

Tabela 29 - Correlação entre a multiplicação das sementes de adubos verdes, aumento de uso e
observação de mudanças nas propriedades rurais devido ao Programa BCSAV no estado do Rio
de Janeiro, 2015/2016.
Reprodução dos AV Mudanças na propriedade Uso de AV aumentou
sim (20) sim (17) não (3) sim (16) não (4)
não (5) não (3) sim (2) não (3) sim (2)
CONJUNTO (25) sim (19) não (6) sim (18) não (7)
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016).

4.5.2 O BCSAV segundo os multiplicadores

Constatou-se durante a pesquisa que os multiplicadores iniciaram as atividades de


implementação do Programa BCSAV logo após o período de capacitação. O alcance dos
resultados do Programa dependeu de vários fatores tais como a disponibilização de recursos,
seleção dos agricultores beneficiados, acompanhamento destes em campo e análise das
dificuldades encontradas.
A disponibilidade de recursos quer sejam materiais, financeiros ou mesmo humanos
é um ponto importante na implementação de um programa de governo, sendo que o bom
planejamento de sua execução pode resultar no sucesso ou insucesso de um programa ou ação.
Ao serem questionados se haviam recursos disponíveis e em quantidades
suficientes, os entrevistados destacaram que a quantidade de sementes foi adequada e
consideraram o material instrucional do Programa de boa qualidade, o que aliado à presença de
diversas instituições na manutenção do Programa, foi um dos pontos positivos. Destacaram o
papel desempenhado pela Embrapa Agrobiologia na distribuição de sementes e capacitação dos
técnicos para ação em campo.

Por que o programa funcionou no meu caso? Por que a gente tinha
facilidade da semente chegar lá, com o Zé Guilherme57 sempre indo
para lá, eu vindo aqui leva-la, ele indo para lá, levava. Então os lugares
onde a Embrapa já tinha um trabalho facilitava a logística que foi
definitiva. (E.L.C.F., engenheiro agrônomo, 08/04/2015, Seropédica,
RJ)

57
José Guilherme Marinho Guerra, pesquisador de Agricultura Orgânica na Embrapa Agrobiologia.
148

Foram pontuados vários itens que ou estavam em quantidade insuficiente ou


faltaram no Programa como capitais financeiro, humano e logístico58, os quais direta ou
indiretamente afetaram o pleno êxito do mesmo na visão dos entrevistados. Constatou-se que
os capitais logístico (50%) e financeiro (38,9%) foram os que mais fizeram falta para o pleno
êxito do Programa no tocante à sua implantação.
Para sete entrevistados (38,9%), um dos recursos que afetou diretamente o alcance
dos resultados na execução do Programa foi o financeiro, o qual apesar de não apresentar
diferença estatística quando comparado ao capital logístico (índice de confiabilidade de
50,04%), impactou a ação das diferentes instituições envolvidas. Para os multiplicadores
entrevistados, sua ausência ou insuficiência tornou difícil manter um acompanhamento da
implementação do Programa junto aos agricultores de modo mais próximo, visto o número
reduzido de visitas técnicas. Isto acarretou na visão dos entrevistados prejuízos na multiplicação
e distribuição de sementes junto aos agricultores. Um ponto destacado foi a falta de definição
dos compromissos que as instituições dos multiplicadores deveriam assumir na implementação
do Programa. Segundo os multiplicadores entrevistados, apesar do comprometimento pessoal
dos técnicos envolvidos, a falta de apoio das suas instituições contribuiu para o agravamento
das dificuldades encontradas na implementação do Programa no estado do Rio de Janeiro. Em
especial não ficou bem definido para os multiplicadores que a Embrapa Agrobiologia assumiria
o compromisso da distribuição das sementes. Segundo B.I.J. “[...] a proposta do Programa é
boa, o problema é a forma com que ele foi executado ” (B.I.J., engenheiro agrônomo,
08/12/2015, Rio de Janeiro, RJ).
O capital humano foi um outro ponto destacado pelos entrevistados, visto que para
estes a grande falha do Mapa e da Embrapa Agrobiologia foi não preparar mais técnicos para
estarem no campo. Para os multiplicadores entrevistados a quantidade insuficiente de
profissionais em campo dificultou ou reduziu o alcance dos resultados, visto que os poucos
profissionais envolvidos não tiveram “pernas” para fazer um acompanhamento das
comunidades que foram contempladas pelo Programa.

[...] faltou o mobilizador dos agricultores. Uma coisa é você entregar no


escritório da Emater que tem um monte de atribuições ou na secretaria de

58
No contexto desta tese admitir-se-á a presença de diferentes capitais, isto é, diferentes recursos que
possibilitam a implementação do Programa, tais como capital financeiro, que se refere aos ativos com
grau de liquidez, isto é conversíveis em dinheiro; capital humano que se refere aos recursos humanos
com diferentes capacidades, conhecimentos, competência; capital logístico que se refere a todos os
materiais necessários e disponíveis para o planejamento adequado de sua implantação, tais como, por
exemplo, as sementes que foram disponibilizadas.
149

agricultura e acaba se perdendo. Participa inicialmente, mas depois vai se


diluindo na rotina desses escritórios. Então necessita ter um técnico, um
mobilizador que faça este trabalho. (L.H.S.T., engenheiro agrônomo,
22/04/2015, Magé, RJ)

Com a disponibilização dos recursos para a implantação do BCSAV, foi feita pelos
multiplicadores a seleção dos agricultores que seriam beneficiados. Durante as entrevistas, os
multiplicadores afirmaram que a seleção foi feita de três maneiras distintas: ou pela própria
comunidade que apontou quem seriam os beneficiados, ou pelo comprometimento pessoal que
o agricultor tinha com a melhoria da sua propriedade e da sua produção ou pelo vínculo do
agricultor com a temática da agricultura orgânica e agroecológica. A escolha de um dos critérios
foi feita a partir da experiência profissional de cada multiplicador envolvido na implementação
do Programa.
A análise estatística demonstrou que a diferença das frequências entre a “Seleção
pela comunidade” e “Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia” é pouco significativa
com índice de confiabilidade de 94,22%, de probabilidade deste resultado ser encontrado em
outras amostras da mesma população.
O mesmo verifica-se quando se compara a “Seleção pela comunidade” com o
“Comprometimento do Agricultor com a melhoria da propriedade” onde o índice de
confiabilidade foi de 87,56% de probabilidade deste resultado ser encontrado em outras
amostras da mesma população. Destaca-se que não há diferença significativa entre o
“Comprometimento do Agricultor com a melhoria da propriedade” e o “Vínculo com
Agricultura Orgânica e Agroecologia”. A tabela 30 apresenta as frequências de ocorrência dos
critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores.

Tabela 30 - Critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores para seleção dos
agricultores a serem beneficiados pelo Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em
números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.
Critérios de seleção Frequência Intervalos de Confiança
Seleção pela comunidade 3 (16,7%) 0,0% < 16,7 < 33,9%
Comprometimento do agricultor com 7 (38,9%) 16,4% < 38,9 < 61,4%
a melhoria da propriedade
Vínculo com AO e Agroecologia 8 (44,4%) 21,5% < 44,4 < 67,4%
TOTAL 18
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=2 = 2,33 e p=31,14%

Foram considerados como prioritários para receberem sementes de adubos verdes


os agricultores que já trabalhavam com agricultura orgânica e possuíam áreas demonstrativas,
150

aqueles que estavam em processo de transição agroecológica e os que já estavam certificados


como produtores orgânicos. Este critério de seleção foi o preferencial para os agentes de Ater
sendo que em alguns casos a seleção ocorreu dentro do grupo de Sistema Participativo de
Garantia (SPG) visto a proximidade das ações envolvendo adubação verde difundida e a
agricultura orgânica. A tabela 31 ilustra a interação entre os critérios de seleção e a ação
profissional do multiplicador entrevistado.

Tabela 31 - Interação entre critério para seleção dos agricultores a serem beneficiados pelo
Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro e ação do extensionista no estado do Rio de
Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos parênteses, 2015/2016.
Atuação como extensionista
Critério de seleção Total
Sim Não
Seleção pela comunidade 66,7% ( 2) 33,3% ( 1) 100% (3)
Comprometimento do agricultor com a
42,9% ( 3) 57,1% ( 4) 100% (7)
melhoria da propriedade
Vínculo com AO e Agroecologia 75,0% ( 6) 25,0% ( 2) 100% (8)
TOTAL 61,1% (11) 38,9% ( 7) 100% (18)
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015) onde 𝜒𝐺𝐿=2 = 2,33 e p=43,39%

A seleção dos beneficiados do Programa também foi realizada mediante o


comprometimento do agricultor com a melhoria de sua propriedade. Foram considerados como
importantes itens como bom relacionamento interpessoal, potencial para experimentar novas
práticas, compromisso pessoal com a agricultura sustentável e compromisso e responsabilidade
pessoal. Em geral buscava-se “[...] por produtores comprometidos com o trabalho, melhoria da
propriedade, visão de empreendedorismo [...]. Eu fui para as pessoas certas, eu tinha visão de
comprometimento por parte deles” (J.R.M.V., engenheiro agrônomo, Cachoeiras de Macacu,
RJ).

Eu selecionei conforme a abertura do próprio produtor, sempre dentro da


temática conservação do solo. Selecionei dentro daqueles que eu já atuava
como técnica. A seleção era pelo interesse. Eu conversava e ele falava que
queria experimentar. (M.S.M., engenheira agrônoma, 11/02/2015, Rio Claro,
RJ).

Foram os agricultores que demonstraram mais interesse e que já acreditavam


nos benefícios da prática (da adubação verde). Embutido em toda capacitação
que damos aqui pela Emater, procuramos inserir alguma informação sobre a
adubação verde aplicada a tal situação. (J.L.G., engenheiro agrônomo,
11/01/2016, São Gonçalo, RJ).
151

Ao se comparar o critério de seleção adotado com o tempo de serviço, observou-se


que a seleção pautada no vínculo com a Agricultura Orgânica e Agroecologia foi a que se
destacou para os multiplicadores entrevistados com tempo de trabalho acima de 21 anos, ou
seja dos oito entrevistados, apenas seis (75%) afirmaram ter sido este o critério adotado. A
tabela 32 apresenta uma relação entre o tempo de serviço dos multiplicadores frente ao critério
de seleção adotado por eles.

Tabela 32 - Critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores para seleção dos
agricultores a serem beneficiados pelo Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro em
relação ao tempo de serviço, onde os números em parênteses indicam o número de
multiplicadores envolvidos no critério, 2015/2016.
Tempo de CRITÉRIOS DE SELEÇÃO
serviço
0-10 (2) Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia (1)
Comprometimento do agricultor com a melhoria da propriedade (1)
11-20 (5) Seleção pela comunidade (1)
Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia (1)
Comprometimento do agricultor com a melhoria da propriedade (3)
21-30 (5) Seleção pela comunidade (2)
Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia (2)
Comprometimento do agricultor com a melhoria da propriedade (1)
31-40 (6) Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia (4)
Comprometimento do agricultor com a melhoria da propriedade (2)
Fonte: Dados da pesquisa, 2015-2016.

A Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura


Familiar e Reforma Agrária (Pnater) traz em seu escopo 12 objetivos dentre os quais se
destacam a promoção do desenvolvimento rural sustentável visando a promoção da melhoria
da qualidade de vida de seus beneficiários e a construção de sistemas de produção sustentáveis
a partir do conhecimento científico, empírico e tradicional (BRASIL, 2010). Os critérios
“Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia” e “Comprometimento do Agricultor com
a Melhoria da Propriedade”, em termos de sustentabilidade, citados em todas as faixas de tempo
de serviço, pareceu sinalizar a inferência de que os entrevistados possuíam no estado do Rio de
Janeiro, por ocasião desta pesquisa, uma ação próxima ao preconizado pela Pnater. Contrário a
esta observação, Petan (2010) destacou que os técnicos de extensão rural atuam
preferencialmente, mas não de modo exclusivo, sob um enfoque economicista e produtivista
com favorecimento dos segmentos mais capitalizados do campo, contrários as orientações da
Pnater.
152

Foi perguntado aos multiplicadores se estes tinham feito uso de algum instrumento
para avaliação da implantação do Programa sob suas responsabilidades. Apenas sete (38,9%)
dos entrevistados afirmou terem utilizado ferramentas para avaliar sendo que as utilizadas
foram aplicação de questionários, reuniões para socialização e visitas às propriedades dos
agricultores (Tabela 33).

Tabela 33 - Estratégias para avaliação da implantação do Programa BCSAV no estado do Rio


de Janeiro, 2015/2016.
Estratégias de avaliação Frequência Intervalos de confiança
Aplicação de questionários 1 (5,6%) 0,0% < 5,6 < 16,1%
Reuniões para socialização 2 (11,1%) 0,0% < 11,1 < 25,6%
Visitação 4 (22,2%) 3,0% < 22,2 < 41,4%
Não realizada 11 (61,1%) 38,6% < 61,1 < 83,6%
TOTAL 18 (100%)
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016), onde 𝜒𝐺𝐿=3 = 13,56 e p=0,36 %

A análise estatística demonstrou que a diferença das frequências entre a estratégia


de “visitação” e “não realizada” foi significativa com índice de confiabilidade de 99,00% de
probabilidade deste resultado ser encontrado em outras amostras da mesma população. Quando
comparadas as diferenças de frequências entre 'aplicação de questionários, reuniões de
socialização' e 'visitação' são pouco significativas com índice de confiabilidade de 36,57% de
probabilidade deste resultado ser encontrado em outras amostras da mesma população. Assim
sendo, pode-se inferir que estas três estratégias de avaliação utilizadas podem não ter sido
utilizadas por outros multiplicadores vinculados ao Programa.
Onze dos dezoito entrevistados (61,1%) que alegaram não terem utilizado alguma
estratégia para avaliação do Programa ponderaram que não era possível uma ação em campo
mais efetiva devido a fatores como escassez de recursos, falta de um instrumento previamente
combinado além de uma demanda de ações muito grande para os técnicos.
Segundo Garofolo (2013, p. 3) “A gestão do Programa sempre foi uma dificuldade,
por falta de equipe técnica para acompanhamento in loco e falta de instrumentos adequados.
Sempre houve a dificuldade no retorno das informações para acompanhamento do Programa”.
Para o multiplicador K.C., realizar o acompanhamento era muito importante porque “o
município não tem obrigação, não tem veículos, carros e Teresópolis tem 800km de estradas
vicinais. Então há esta dificuldade logística de se locomover e chegar ao produtor ” (K.C.,
engenheiro agrônomo, 22/04/2015, Teresópolis, RJ).
153

4.5.3 Potencialidades, limites e dificuldades

Para contextualizar as diferentes potencialidades, limites e dificuldades do BCSAV


na visão dos entrevistados procurou-se observar as percepções dos agentes multiplicadores e
agricultores envolvidos com o Programa.
Para os multiplicadores envolvidos vários foram os fatores citados pelos
multiplicadores entrevistados como potencializadores do Programa no Estado do Rio de
Janeiro, entre os quais a disponibilidade de sementes, as instituições envolvidas, os agricultores
selecionados como beneficiados e a adubação verde como opção para melhora do solo. A
análise estatística demonstrou que apenas a diferença das frequências entre “Adubação Verde”
e “Semente” foi significativa com índice de confiabilidade de 95,78% probabilidade deste
resultado ser encontrado como verdadeiro para universo dos multiplicadores envolvidos com o
Programa. Todas as demais frequências quando comparadas não apresentam diferenças
significativas. A tabela 34 apresenta os intervalos de confiança para a frequência dos fatores
potencializadores do Programa observados na pesquisa a um nível de significância de 41,91%,
o que reflete uma probabilidade próxima de 50% destes resultados refletirem a realidade de
todo o universo de multiplicadores envolvidos no Programa.

Tabela 34 - Fatores potencializadores na percepção dos multiplicadores do Programa BCSAV


no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.
Fatores potencializadores Frequência Intervalos de confiança
Adubação Verde 2 (11,1%) 0,0% < 11,1 < 25,6%
Agricultores 4 (22,2%) 3,0% < 22,2 < 41,4%
Instituições 5 (27,8%) 7,1% < 27,8 < 48,5%
Semente 7 (38,9%) 16,4% < 38,9 < 61,4%
TOTAL 18
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=3 = 2,89 e p = 41,91 %

A prática de adubação verde apesar de milenar, no Brasil apresenta entraves na


baixa disponibilidade de material propagativo e de informações a respeito de suas
características, benefícios e formas de utilização, em especial para agricultores familiares
(WUTKE et al.,2007). Constatou-se durante a pesquisa que foram fatores potencializadores do
Programa a doação de sementes, a divulgação dos benefícios da adubação verde, as reuniões
para orientações conduzidas pelos agentes multiplicadores, as trocas de sementes nas feiras e a
cooperação e coletividade entre os agricultores envolvidos no Programa. Para M.S.M. o grande
154

potencializador era “[..].porque a semente era dada, se ele [o agricultor] tivesse que comprar a
semente ele, não ia plantar. ” (M.S.M., engenheira agrônoma, 11/02/2015, Rio Claro, RJ)
No estado do Rio de Janeiro, o programa BCSAV foi executado por várias
instituições sendo que a interação entre os parceiros permitiu com que a troca de experiências
promovesse, na visão dos multiplicadores entrevistados, uma alta interação entre o produtor e
a instituição de extensão, alavancando o BCSAV. Ficou evidenciado nas entrevistas que os
pontos fortes relativos à parceria foram a atuação da Embrapa Agrobiologia, da Empresa de
Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro) e do Programa Rio Rural59 que
à época buscava difundir o uso de adubação verde para as diferentes microbacias do Rio de
Janeiro.

Funcionou legal a interação das instituições, não foi nada premeditado e


combinado, mas que funcionou, fortaleceu. O Rio Rural tinha incentivos para
adubação verde aí eu aproveitava as sementes do banco de sementes e aí o
pesquisador ia lá e ensinava como plantar, dava capacitação para agricultor.
A gente fez várias reuniões lá em comunidades rurais, em escolas rurais com
agricultores que estavam envolvidos nesta prática de adubação verde e projeto
microbacias, então esta parceira, interação com várias entidades fortaleceu
muito. (E.L.C.F., engenheiro agrônomo, 08/04/2015, Teresópolis)

Uma instituição é construída a partir das competências das pessoas vinculadas a ela.
Outro ponto de destaque na implantação do Programa foram as pessoas que já trabalhavam em
uma ótica participativa e que se engajaram nas diferentes atividades e que apresentavam
diferentes projetos que se inter-relacionavam.

Eu acho que um dos pontos foi a parceria com a Embrapa, pessoas que
estavam lá trabalhando, pessoas da Pesagro. O próprio programa Rio Rural
que na época com as práticas de incentivo para adubação verde. A gente na
época ligou uma coisa com a outra. O pessoal da Embrapa ia la, explicava
como funcionada, dava curso. Era muito bom. (J.S.M.V., engenheiro
agrônomo, 08/04/2015, Porciúncula, RJ).

59
O Programa Rio Rural tem como grande desafio a melhoria da qualidade de vida no campo,
conciliando o aumento da renda do produtor rural com a conservação dos recursos naturais, incentivando
a adoção de sistemas produtivos sustentáveis, com técnicas mais eficientes e ambientalmente adequadas.
É executado pela Superintendência de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Agricultura e
Pecuária do Estado do Rio de Janeiro (Seapec), o Rio Rural possui financiamento do Banco Mundial e
apoio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). As atividades do
programa envolvem uma ampla rede de parceiros, que inclui entidades do poder público, ONGs,
empresas e centenas de organizações rurais. Disponível em: http://www.microbacias.rj.gov.br/pt/rio-
rural#sthash.iMq3gmqr.dpuf acesso em 06/07/2016.
155

Constatou-se nas entrevistas, tanto com multiplicadores quanto com os agricultores,


que o programa BCSAV aliado às suas potencialidades também apresentava diversas
“fragilidades” as quais trataremos aqui como limites e dificuldades para sua efetivação.

Um dos fatores que potencializou o uso da adubação verde e BCSAV foi a


capacidade do técnico local em organizar a comunidade ou onde a organização
social já existia. Aonde não foi feito um trabalho comunitário, onde os
técnicos não conversam entre si e sem um mínimo de organização estruturada
a coisa não andou. (J.L.G., engenheiro agrônomo, 11/01/2016, São Gonçalo,
RJ).

Vários foram os fatores citados pelos entrevistados como limitantes do Programa


no estado do Rio de Janeiro, entre os quais a assistência técnica, sementes, aspectos fitotécnicos,
comunicação eficiente e falta de organização social. A análise estatística demonstrou que a
diferença das frequências entre “falta de organização social” e “assistência técnica” é
significativa com índice de confiabilidade de 95,78%. A diferença das frequências entre
“comunicação eficiente” e “assistência técnica” é pouco significativa com índice de
confiabilidade de 87,56% e a diferença das frequências entre “falta de organização social” e
“Comunicação eficiente” não é significativa com índice de confiabilidade de 37,13%. Destaca-
se que quanto maior o índice de confiabilidade, maior a probabilidade do resultado alcançado
ser valido para outro grupo de multiplicadores deste universo de pesquisa. A tabela 35 apresenta
os fatores limitantes do Programa observados na pesquisa a um nível de significância de
37,68%, isto é 62,32% de certeza de que estes resultados não tenham ocorrido por acaso.

Tabela 35 - Fatores limitantes na percepção dos multiplicadores do Programa BCSAV no estado


do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.
Fatores limitantes Frequência Intervalos de confiança
Falta de organização social 2 (11,1%) 0,0% < 11,1 < 25,6%
Comunicação eficiente 3 (16,7%) 0,0% < 16,7 < 33,9%
Aspectos fitotécnicos 3 (16,7%) 0,0% < 16,7 < 33,9%
Sementes 3 (16,7%) 0,0% < 16,7 < 33,9%
Assistência técnica 7 (38,9%) 16,4% < 38,9 < 61,4%
TOTAL 18
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=4 = 4,22 e p=37,68 %

O principal limitante ao êxito do Programa BCSAV apontado pelos agentes


multiplicadores foi a falta ou a inadequada assistência técnica aos agricultores. Petan (2010)
observou em sua pesquisa sobre as percepções e tendências da Política Nacional de Assistência
156

Técnica e Extensão Rural (Pnater) que os serviços de Ater orientados para a agricultura familiar
utilizam de metodologias participativas e orientação agroecológica. Para uma ação mais efetiva,
as instituições precisam disponibilizar para estes agentes condições logísticas e financeiras que
permitam uma apropriação desta orientação traduzidas em práticas a serem trabalhadas com o
agricultor.

Os agricultores têm uma boa vontade inicial muito grande, mas por conta de
faltar o facilitador isso acaba se perdendo, se perde a partir do momento em
que ele conseguiu a produção e fazer um armazenamento, nós aqui no Rio
tivemos dificuldade para isso. Necessita ter um facilitador físico, não só
através da apostila, de uma capacitação, tem que ter um cara que agregue,
traga a necessidade daquele agricultor armazenar semente, dar continuidade
em novas áreas de plantio, ter áreas disponíveis para fazer a multiplicação,
então eu acho que o que faltou foi isso. (L.H.S.T., engenheiro agrônomo,
22/04/2015, Magé, RJ)

Acho que quando uma coisa é feita, se ele não for frisada a importância com
acompanhamento de técnicos junto ao agricultor, vendo a dificuldade do
agricultor, fazendo valer, contando só com nosso conhecimento, ela não dá
certo. Acho que o limitante foi o acompanhamento e continuidade para ela
fixar. O agricultor está acostumado a plantar do jeito dele, e não dando certo,
ele abandona e isto é um fator que prejudica qualquer projeto. (I.S., consultora,
11/06/2015, Seropédica, RJ )

[...] existe uma apropriação da prática pelo agricultor, mas isso exige que a
gente vá dar assistência técnica, um suporte por traz. Eu acho que para a coisa
expandir, dar mais certo faltava uma assistência técnica de verdade, uma
orientação, esta parte você deixa para semente, a outra parte você aduba. E
dizer para ele que é mais barato deixar a terra no pousio se adubando do que
usando intensamente. (K.C., engenheiro agrônomo, 22/04/2015, Teresópolis,
RJ).

Foi observado durante as entrevistas desestímulo do produtor em adotar a prática


da adubação verde, o que pode estar diretamente correlacionado à falta de interesse deste na
manutenção de um banco de sementes, familiar ou comunitário. Esta situação relaciona-se aos
problemas fitotécnicos que possam vir a enfrentar com essas culturas, tais como manejo durante
a época das secas, manejo de doenças, produção de sementes entre outras.
O uso da adubação verde depende de manejo adequado que precisa ser
acompanhado com uma assistência técnica mais pontual, onde o modo do plantio, colheita,
incorporação no solo e produção de sementes possam ser realizados. Entretanto um sério
obstáculo para uma assistência técnica adequada, no caso do Programa, foi a falta de recursos
financeiros, o qual impactou tanto a multiplicação das sementes quanto as visitas necessárias
para o acompanhamento de semeio e da colheita.
157

A instituição estava com falta de combustível, o que inviabilizou uma maior


multiplicação das sementes. Então há esta dificuldade logística de se
locomover e chegar ao produtor. Então faltou este contato da assistência
técnica junto ao produtor rural. [...] eu me lembro de que na época algumas
sementes vieram atrasadas e inviáveis. (K.C., engenheiro agrônomo,
22/04/2015, Teresópolis, RJ).

Outra limitação do Programa foi a falta de recomendação adequada durante a


capacitação dos multiplicadores para o uso das espécies de adubos verdes disponibilizadas,
tópico que segundo os entrevistados não era abordado com os detalhes fitotécnicos necessários
para o manejo das diferentes espécies previstas no Programa. Para os multiplicadores
entrevistados “[...] uma coisa é você dar a semente, explicar como planta, dar uma alternativa
simples, difícil é as pessoas se apropriarem disso” (A.P.P., engenheira agrônoma, 22/04/2015,
Teresópolis, RJ).

[...] a gente nem sempre tem tempo para sair buscando informações, e ao
mesmo tempo falar com o produtor para ele usar o que eu não sei. A gente tem
responsabilidade, a gente não fica falando também só porque deram as
sementes. Então eu fiquei meio assim sem saber direito o que fazer. (M.S.M.,
engenheira agrônoma, 11/02/2015, Rio Claro).

Na implantação do Programa BCSAV houve dificuldade em encontrar agricultores


que apostassem na ideia da adubação verde, visto que os resultados desta prática não são
imediatos, ocupam terras produtivas e demandam mão de obra. Conforme explicado I.S. “[...]
não contesto o resultado do uso de leguminosas não, eu acho que dá certo sim, porém a questão
de mão de obra, de espaço acaba limitando” (I.S., consultora, 11/06/2015, Seropédica). Uma
das estratégias utilizadas foi emprestar para as pessoas testarem a prática com o compromisso
de devolver após um ano. Entretanto nem todos os agricultores plantaram e devolveram as
sementes. Destacou-se que no começo houve grande rotatividade entre os próprios agricultores,
nas diferentes regiões do estado, o que levou as instituições envolvidas a focarem em
agricultores experimentadores já conhecidos.

Isso foi o limitante, porque aí precisa de um acompanhamento e esse


acompanhamento a gente não tinha como dar [...] alguns plantaram e não
colheram sementes, alguns colheram muito mais do que a gente pediu, mas eu
acho que faltou este acompanhamento, de ter um recurso para fazer um
acompanhamento, por que a gente ganhava para fazer uma inspeção ou outra
e faltou este ponto da organização coletiva. (A.P.P., engenheira agrônoma,
22/04/2015, Teresópolis, RJ).
158

4.6 Capital Social na perspectiva dos diferentes atores sociais do Programa BCSAV

Bancos Comunitários de Sementes são organizações comunitárias que visam a


autossuficiência de um grupo no fornecimento de sementes de determinadas espécies
(ALMEIDA e CORDEIRO, 2002), sendo que o aspecto comunitário pressupõe a existência de
um capital capaz de articular diferentes atores na construção do coletivo. Como organização
eles devem atender aos anseios do grupo, mediado pela participação de seus diferentes atores
que se inter-relacionam, sendo essencial para que o desenvolvimento sustentável local ocorra.
Para viver o comunitário é preciso que os atores envolvidos apresentem recursos de
cooperação, confiança entre os membros do grupo e cooperação entre seus membros na
construção deste coletivo. Da mesma forma, o capital social se manifesta através de laços de
cooperação, reciprocidade e confiança entre indivíduos que interagem em grupos sociais. Ele
depende do tamanho da rede que ele é capaz de mobilizar e também do capital econômico,
cultural e simbólico possuído pelos membros da rede em que está conectado. (SEHNEM et al.,
2011).
Diante do exposto, esta secção buscou analisar o capital social envolvido e criado
pelo Programa BCSAV no estado do Rio de janeiro, tanto na dimensão individual quanto na
comunitária. Em um primeiro momento será abordado o capital social na visão dos agentes
multiplicadores e dos agricultores familiares envolvidos, em termos de suas percepções a
respeito da reciprocidade, confiança e cooperação. Em um segundo momento buscar-se-á
discutir o capital social em uma perspectiva dos mecanismos de cooperação, reciprocidade e
confiança criados pelo Programa.

4.6.1 Histórico de reciprocidade, confiança e cooperação

Inicialmente procurou-se compreender de que forma a participação social dos


agricultores familiares acontecia nos diferentes grupos sociais aos quais eles estavam
vinculados.
Constatou-se que todos os pesquisados estavam envolvidos direta ou indiretamente
em alguma associação/cooperativa, sendo que apenas três participavam de bancos comunitários
de sementes com nível de significância de 0,01%, isto é isto é com 99,99% de certeza de que
este resultado não tenha ocorrido por acaso.
159

Quando os agricultores foram questionados sobre qual seria, na opinião deles, o


maior benefício em fazer parte de um banco de sementes, os entrevistados pontuaram vários
fatores tais como desenvolvimento espiritual, posição social, autoestima (2), prazer/diversão
(3), melhora a renda atual ou acesso a serviços (6), benefício para a comunidade (8), solução
em situações de emergência (11) entre outros. É interessante observar que como Tecnologia
Social os bancos comunitários de sementes representam efetivas soluções de transformação
social (RODRIGUES et al.,2008), sendo que apenas oito dos agricultores relataram que os
bancos traziam benefícios para a comunidade.
Com relação a como classificariam sua participação nas decisões das
associações/cooperativas e ou casa de sementes, 10 agricultores (40%) se identificaram como
muito ativos ou como líderes (3 agricultores) indicando uma ação atuante junto as comunidades
onde estão localizados. Na tabela 36 é possível verificar que apenas 6 dos entrevistados (24%)
não participam das decisões nas diferentes comunidades onde estavam vinculados, com nível
de significância de 26,58%.

Tabela 36 - Participação dos agricultores nas decisões da associação/casa de sementes do estado


do Rio de Janeiro envolvidos com o BCSAV, 2015/2016.
Participação Frequência Intervalos de confiança
Líder 3 0,0% < 12,0 < 24,7%
Relativamente ativo 6 7,3% < 24,0 < 40,7%
Não participa de decisões 6 7,3% < 24,0 < 40,7%
Muito ativo 10 20,8% < 40,0 < 59,2%
TOTAL 25
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016), onde 𝜒𝐺𝐿=3 = 3,96 e p=26,58%

Quinze dos agricultores entrevistados (60%), afirmaram poder confiar nos outros
agricultores. Ao correlacionar com a participação em mutirões constatou-se que quanto maior
o engajamento na comunidade do entorno do agricultor maior é sua confiança nas ações em
conjunto com outros agricultores e maior é sua participação em ações como mutirões, conforme
a tabela 37.
160

Tabela 37 – Inter-relação entre grau de participação, confiança interpessoal e participação em


mutirões, onde os números em parênteses indicam o número de agricultores entrevistados
envolvidos no critério. Rio de Janeiro, 2015/2016.
Grau de participação Nível de confiança Participação em
mutirões
pode-se confiar nas pessoas (2) não (2)
Líder (3)
nunca é demais ter cuidado (1) sim (1)
pode-se confiar nas pessoas (8) sim (8)
Muito ativo (10)
nunca é demais ter cuidado (2) não (2)
pode-se confiar nas pessoas (3) não (4)
Relativamente ativo (6)
nunca é demais ter cuidado (3) sim (2)
nunca é demais ter cuidado (4) não (4)
Não participa de decisões (6)
pode-se confiar nas pessoas (2) sim (2)
CONJUNTO (25) pode-se confiar nas pessoas sim (13)
(15) não (12)
nunca é demais ter cuidado (10)
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016).

Nesta tabela é possível constatar que agricultores muito ativos confiam mais nas
pessoas e consequentemente atuam com maior inserção em mutirões para auxiliar agricultores
de sua comunidade. Assim é possível constatar, como o observado por Sabourin (1999) que o
mutirão abre possibilidade para que os agricultores construam um processo de empoderamento
fundado na ampliação dos espaços de participação.
Durston (2000, pag.27) observa que comunidades rurais apresentam mais aspectos
de capital social que em comunidades urbanas, visto a estabilidade relativa dada pelas relações
de parentesco, firmadas durante um tempo mais longo em um mesmo local. Evans (1996)
pontua que o capital social pode ser formado ao longo das gerações e não apenas em locais
onde existam raízes históricas.
A construção do capital social em determinada comunidade ocorre pelas interações
sociais, manifestando-se através da confiança, normas e cadeias de relações sociais (AMARAL,
2004). Segundo Putnam (1996) quanto maior o nível de confiança em um grupo ou comunidade,
maior a probabilidade de ocorrer cooperação entre seus membros. Para o autor, a cooperação e
o envolvimento com o coletivo geram também confiança e participação das pessoas em
atividades associativas ou cooperativas, estruturas cívicas locais e nacionais.
Analisando os bancos/casas de sementes estudadas, observa-se que os mesmos
precursores de confiança e cooperação, tais como parentesco, identidade, prestigio no serviço
comunitário, estão presentes na maioria dos casos expressando-se em falas tais como “[...] nas
161

pessoas da Abio60 eu confio” (I.M.X., agricultora, 12/02/2015, Seropédica, RJ). Em uma rede,
a confiança que existe entre os indivíduos não é um recurso da sociedade como um todo, mas
sim dos indivíduos ou grupo que está no centro desta rede (PUTZEL, 1997).
Os laços de interação social também são evidenciados para todos os agricultores
familiares entrevistados em situações cotidianas. Para eles em caso de fatalidade com uma das
pessoas ligadas ao banco comunitário de sementes ou mesmo as diferentes associações nas
quais os agricultores estão vinculados, tal como uma doença grave, ou a morte de um parente
foi apontada como muito alta a probabilidade das pessoas na comunidade se unirem para ajudar
as vítimas. Segundo Durston (1999, pag.103) “[...] entende-se por capital social o conjunto de
normas, instituições e organizações que promovem a confiança e a cooperação entre as pessoas,
nas comunidades e na sociedade como um todo”. Neste contexto capital social comunitário é
uma forma particular de capital social, que engloba o conteúdo informal das instituições que
tem como finalidade o bem comum. Considerando o capital social comunitário como uma
institucionalidade social e não um recurso individual constata-se que todos os participantes do
capital social comunitário almejam o bem comum como objetivo (DURSTON, 1999, pag.104).
Durante as entrevistas com os guardiões/gestores dos bancos comunitários
vinculados ao Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro observou-se que três dos quatro
gestores dos bancos comunitários/casas de sementes entrevistados (especificamente AAT,
Aspur e Casa de Sementes Livres de Aldeia Velha) alegaram que quando havia uma decisão a
ser tomada que afetava o coletivo, os membros do Banco Comunitário de Sementes
entrevistados participavam das reuniões, discutiam o assunto e decidiam em conjunto. Isto nos
remete aos benefícios advindos dele tais como cooperação em tarefas além do previsto para
determinada comunidade e ou grupo e criação de confiança entre seus membros. Entretanto a
mera identificação destes benefícios nas casas de sementes ou bancos comunitários analisados
não permite afirmar a existência do capital social comunitário (DURSTON, 2000, pag.23). Para
J.S.M.V., guardião do Banco de Sementes Comunitário de Purilândia (Aspur) a presença destes
benefícios “[...] tem a ver com a história das pessoas com sua simplicidade [...] são pessoas que
por viver em situação de poder aquisitivo menor, sem certos benefícios, elas têm mais o senso
de ajudar e estender a mão para ajudar”. (J.S.M.V., consultor técnico, 08/04/2015, Porciúncula).
O aspecto participativo é muito valorado pelos gestores/guardiões dos bancos
comunitários estudados, sendo salientado pelo J.S.M.V, guardião de sementes do banco

60
A Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO) tem por missão contribuir para o
fortalecimento da agricultura orgânica de base agroecológica, mediante a prestação de serviços aos agricultores,
produtores e extrativistas. Disponível em http://abiorj.org/sobre-abio/ acesso em 01/11/2016.
162

comunitário da Aspur como sendo importante para a coesão do grupo de agricultores. Apenas
nos bancos localizados em Cachoeira de Macacu verificou-se que isto não ocorria, pois na visão
do técnico responsável não havia decisões a serem tomada pelos agricultores vinculados ao
banco de sementes. Segundo o técnico responsável “[...] não há decisão a ser tomada no Banco
Comunitário de Sementes, pois as pessoas guardiãs são responsáveis pelos seus bancos.”
(J.R.M.V., engenheiro agrônomo, 18/08/2015, Cachoeiras de Macacu, RJ). Este ponto salienta
a importância da convivência comunitária dos agricultores familiares em associações e ou
cooperativas, visto que em Cachoeiras de Macacu a guarda de sementes se dá em bancos
familiares e não em banco comunitário de sementes strictu sensu. Ficou evidenciado que apesar
do técnico/coordenador do programa considerar os bancos como comunitários, o capital social
presente no grupo dentro da visão do técnico não está fortalecido.
Conforme North (apud PUTNAN, 2000) se não houver um estimulo maior com
ênfase na convivência, a cooperação, a civilidade e a participação, não haverá possibilidade de
desenvolvimento de capital social. Segundo o observado por R.A.S., guardião do Banco de
Sementes da AAT, “[...] os membros do banco comunitário discutem o assunto e decidem em
conjunto. A gente sempre discute com o pessoal da associação. As decisões cruciais a gente
decide no coletivo” (R.A.S., engenheiro agrônomo, 14/12/2015, Teresópolis, RJ).
Membros de uma comunidade em que existe o capital social comunitário
compartilham um discurso de cooperação para o bem comum, o qual dialoga com os laços de
confiança e reciprocidade, visto que uma associação requer confiança e reciprocidade pautadas
nas relações interpessoais. (DURSTON, 1999, pag.104).

[...] faz parte do nosso associativismo, da confiança mais profunda que existe
dentro da associação. Os companheiros são amigos pessoas queridas que
segurem o negócio juntos. [...] na troca de sementes há troca de informações
e foi um momento importante na construção da nossa consciência. Eles têm
materiais também em casa. O banco comunitário de sementes aumentou o grau
de confiança dos associados Mesmo os agricultores tendo dificuldades em por
na roça, validam como positiva, ate usando como teste e falando sobre isso
deu efeito possível. Vem conversa, teste, troca de experiências. Pode confiar
na maioria das pessoas daqui. (R.A.S., guardião da ATT, engenheiro
agrônomo, 14/12/2015, Teresópolis,RJ).

Nós estamos sempre na ideia da troca da semente de vários materiais que são
da associação vieram destas trocas. Vem conversa, testa e troca de
experiências. Podemos confiar na maioria das pessoas. (C.H.N.S., gestor da
casa de sementes livres, cientista social, 10 de dezembro de 2015, Aldeia
Velha, RJ)
163

Quando questionados sobre o aspecto da cooperação todos os


gestores/coordenadores entrevistados afirmaram que as pessoas ligadas aos bancos
comunitários de sementes ajudam umas às outras quase sempre. Por unanimidade foi afirmado
que “se houvesse um problema de abastecimento de sementes nessa comunidade, é muito
provável que as pessoas cooperarem para tentar resolver o problema”. Esta afirmativa nos
remete ao conceito de reciprocidade, o que para Durston (1999, pag. 104) é o centro de todo
capital social. Para ele a “importância da reciprocidade vai além da manifestação nas relações
dialógicas entre duas pessoas; como princípio se entende as relações formais e informais em
nível da comunidade” (DURSTON, 1999, pag. 104-105). Diante do exposto, pode-se inferir
que quanto mais elevado for o capital social, expresso em laços de cooperação, reciprocidade e
confiança, maior será a cooperação em ações que resultem em oportunidade de crescimento,
melhorias, mudanças nos grupos, associações ou cooperativas nas quais os indivíduos estão
inseridos. Conforme Durston (1999, pag.104) “[...] membros de comunidades em que existe o
capital social comunitário compartilham um discurso de cooperação para o bem comum [...]”,
propiciando o desenvolvimento local.
Segundo Mendonça et al. (2008, pag. 5) “[...] construir capital social é construir
capacidades sociais e técnicas, aprimorar os processos de gestão social e construir a visão do
território com base na cooperação e na confiança mutua.” Assim sendo, quando os níveis de
interação social de um grupo são baixos, a tendência natural é que o capital social seja fraco
(CASTRO, 2008). Decisões tomadas no coletivo no ambiente dos bancos comunitários/casas
de sementes podem criar ou fortalecer o capital social do grupo.

4.6.2. Mecanismos de cooperação, reciprocidade e confiança criados

“O capital social pode ser intensificado ou inibido a partir de ações individuais


e institucionais de ordem governamental e não governamental. Ele é
intensificado quando uma ação estimula e valoriza seus princípios (confiança,
cooperação, reciprocidade e normas de sociabilidade); e é inibido quando os
ignoram ou os depreciam. A construção dos mecanismos para intensificar ou
inibir o capital social pode ocorrer a partir de diferentes processos: dos sujeitos
locais (indivíduo, grupo, comunidade, instituição) entre si; do sujeito local
com um sujeito externo (igrejas, ONGs, sindicatos, partidos, órgãos
governamentais, empresas); do sujeito externo com o sujeito local”
(HOLANDA, 2011, pag. 133-134).

Considerando que o capital social envolve relações de confiança e reciprocidade


entre indivíduos que interagem em grupos sociais, a pesquisa procurou investigar se na
perspectiva dos multiplicadores o Programa intensificou a participação social, bem como se
164

ocorreu aumento de confiança e cooperação entre as pessoas nas localidades atendidas pelos
multiplicadores.
Um dos grandes questionamentos feitos aos multiplicadores entrevistados nesta
pesquisa era se o Programa BCSAV potencializava o capital social local em termos de
cooperação, confiança e reciprocidade entre os agricultores.
Observou-se durante a pesquisa que para oito multiplicadores (44,4%) não houve
alteração significativa na participação social dos agricultores. A mesma resposta foi observada
quando os critérios foram confiança e cooperação. Para ambos, as diferenças entre as
frequências estatísticas considerando a capacidade do BCSAV de aumentar ou não tanto a
confiança quanto a cooperação não foram significativas. As tabelas 38 e 39 ilustram o impacto
do Programa BCSAV no fomento à confiança e cooperação entre os agricultores na visão dos
extensionistas.

Tabela 38- Alteração do nível de confiança entre os agricultores beneficiados pelo BCSAV na
percepção dos extensionistas em números absolutos e porcentagem nos parênteses. Rio de
Janeiro,2015/2016.
Confiança Frequência Intervalos de confiança
Aumentou 7 (38,9%) 16,4% < 38,9 < 61,4%
Não alterou 11 (61,1%) 38,6% < 61,1 < 83,6%
TOTAL 18
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016), onde 𝜒𝐺𝐿=1 = 0,89 e p= 34,58%

Tabela 39 - Alteração do nível de cooperação entre os agricultores beneficiados pelo BCSAV


na percepção dos extensionistas em números absolutos e porcentagem nos parênteses. Rio de
Janeiro,2015/2016.
Cooperação Frequência Intervalos de confiança
Aumentou 9 (50%) 26,9% < 50,0 < 73,1%
Não alterou 9 (50%) 26,9% < 50,0 < 73,1%
TOTAL 18
2
Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=1 = 0,89 e p= 34,58%

Para Durston (1999, pag. 110), a experiência de Chiquimula mostrou que o continuo
exercício da confiança e de cooperação entre os camponeses estimula uma maior propensão em
cooperar reciprocamente com a vida comunitária que tende a aumentar gradualmente com o
passar do tempo.
165

Quando questionados sobre como viam sua participação nas decisões da


associação/cooperativa e ou casa de sementes comparativamente há um ano, 15 agricultores
familiares (60%) afirmaram que sua participação não havia se alterado em relação ao último
ano. Apenas cinco agricultores afirmaram ter uma participação maior em relação ao último ano,
sendo que destes quatro (66,7%) declararam-se como “relativamente ativos” nas
associações/cooperativas aos quais estavam vinculados. A tabela 40 apresenta a participação
em comparação há um ano.

Tabela 40 - Participação dos agricultores nas decisões da associação/cooperativa e ou casa de


sementes em 2015 em comparação à 2014.
Participação/ em relação ha um ano atrás menor igual maior
Líder 33,3% ( 1) 33,3% ( 1) 33,3% ( 1)
Muito ativo 0,0% ( 0) 100% (10) 0,0% ( 0)
Relativamente ativo 16,7% ( 1) 16,7% ( 1) 66,7% ( 4)
Não participa de decisões 50,0% ( 3) 50,0% ( 3) 0,0% ( 0)
TOTAL 20,0% ( 5) 60,0% (15) 20,0% ( 5)
Fonte: Dados da pesquisa (2015)

O fundamental na formação de um grupo que organiza um Banco de Sementes é


que haja um nível mínimo de confiança e bom relacionamento entre os participantes de cada
comunidade, pontos importantes que denotam a presença de capital social. Soma-se a este fato
que bancos comunitários de sementes são pautados em princípios colaborativos e como
tecnologia social além de serem formados a partir da interação entre os membros da
comunidade em um ambiente de confiança, reciprocidade e cooperação entre os pares. Quanto
a confiança foi observada na entrevista que para os gestores dos bancos comunitários Aspur,
AAT e Aldeia Velha, a implantação/entrada do programa BCSAV melhorou o grau de
confiança dos associados. Segundo E.L.C.F. “[...] em um grupo de orgânicos a confiança e
cooperação é maior por conta deles estarem no mesmo barco, na participação sistema
participativo de garantia [...].” (E.L.C.F., engenheiro agrônomo, 08/04/2015, Teresópolis, RJ).
Para Souza (2006, pag.168) a presença de capital social em uma comunidade está associada a
existência de instituições como organizações não-governamentais onde o benefício dessa
parceria é recíproco para ambas as partes.
Na visão do outro técnico, o Programa aumentou a confiança entre os agricultores
de modo incipiente, porém consistente. Segundo ele, o Programa em si só não alterou a
confiança entre os agricultores, mas o comprometimento dos técnicos envolvidos e a maneira
166

como ele foi implantado é que se constituiu em um diferencial. Segundo Sá e Chies (2012,
p.197) “[...]‘tradicionalmente os extensionistas são percebidos como trabalhadores com forte
motivação afetiva para desenvolvimento do seu trabalho”.
Entretanto, cabe observar que para 40% dos agricultores entrevistados a
desconfiança parece ser a tônica das relações, em especial nas situações onde o financeiro está
presente, refletindo nas ações que ocorrem na comunidade.

Não ocorrem mutirões. Tivemos algumas reuniões para divisão das primeiras
sementes de leguminosas. Até houve um grupo de mutirão onde cada um dava
um valor por mês, porém quando começou a envolver dinheiro, acabou em
problemas e saímos da participação dos mutirões. (O.F, agricultor,
12/02/2015, São Gonçalo, RJ)

Eu já tive um grupo lá no assentamento sol da manhã que fazia o mutirão.


Cada um dia da semana íamos para propriedade de um ajudar na colheita ou
no que tivesse que fazer. Chamavam até de grupo de trabalho do Flávio. Eram
10 famílias que participavam desse grupo. Depois o grupo de desfez, por
questão imobiliária. Algumas pessoas saíram do local, outras famílias de
desfizeram e eu acabei ficando meio sozinho. (F.G.L., agricultor, 25/04/2016,
Seropédica, RJ)

Para um dos técnicos entrevistados muito da confiança entre os agricultores já


existia por conta de trabalhos anteriores. Em sua opinião, o Banco de Sementes pouco teve a
ver com isso, sendo o sucesso da implantação do mesmo decorrente de ações anteriores na
comunidade de agricultores. Isto pode evidenciar laços de confiança entre o técnico e o
agricultor, visto que segundo Durston a partir da experiência de Chiquimula observou que “[...]
la confianza se construye sobre el pasado, no sobre el futuro: sobre la experiencia de
cumplimiento anterior que prueba la confiabilidad de las personas, no sobre acuerdos y
contratos de promesas para el futuro” (DURSTON, 1999, pag. 110).
Em contraposição, Abramovay (1998) afirma que o capital social pode ser criado
desde que haja a presença de “organizações sociais suficientemente fortes” indicando às pessoas
alternativas para suas articulações sociais. Na visão A.P.P., multiplicadora do Programa “[...]
faltou um pouco dessa coisa de fortalecer a organização social e de fortalecer a ideia de formar
um banco comunitário. [...] os agricultores não tinham espaço para a discussão coletiva, essa
foi uma dificuldade” (A.P.P., engenheira agrônoma, 22/04/2015, Teresópolis, RJ).
Para os técnicos entrevistados a questão social nas comunidades de agricultores
familiares é fundamental, sendo a lógica da reciprocidade em um grupo de agricultores o
motivador de uma parte importante da produção e também do manejo dos recursos e dos fatores
de produção (SABOURIN, 1999). Entretanto em campo observou-se que os agricultores tinham
167

dificuldade para fazer um trabalho associativista. Segundo um agricultor entrevistado “[...] nós
não temos a cultura de ajudar um ao outro. Isto é comum em Minas Gerais e Santa Catarina e
não no Rio. Isto falta para a gente, mas infelizmente não é de nossa cultura” (J.F., agricultora,
15/04/2015, Nova Friburgo, RJ).
Para um trabalho coletivo

[...] é preciso sensibiliza-los, capacita-los para isso e não dá para fazer uma
coisa pontual e achar que a partir desse movimento vai ser uma doutrina, vai
crescer. Isso não vai acontecer. Aqui as coisas têm que ser diárias e acontecer
no passo a passo. (A.P.P., engenheira agrônoma, 22/04/2015, Teresópolis,
RJ).

O uso de oficinas para socialização das ideias do Programa permitiu agrupar as


experiências individuais de cada agricultor presente. Esta situação foi observada em vários
locais no estado do Rio de Janeiro, onde os técnicos atuavam. Observou-se que o envolvimento
no Programa foi potencializado em regiões que os agricultores participavam de algum tipo de
organização, grupos produtivos, associações, ou seja, onde existe algum tipo de ação coletiva
com a comunidade. Isso corrobora as observações de Nascimento et al. (2012) que pontuaram
que por meio de bancos comunitários de sementes tem sido possível realizar, em conjunto com
as comunidades, o associativismo contribuindo assim com a resistência dos agricultores
familiares frente ao domínio do mercado. Entretanto em regiões onde esta participação não
ocorria, o individualismo era evidente.

O que poderia potencializar seria a questão do associativismo e da organização


dos agricultores, isso se perdeu. A falha foi que entregou o material e não
acompanhou ... esta falha deixou o agricultor órfão;. Aqui no Rio a história do
associativismo e uma história de penúria, aqui não tem a vida comunitária
como no sul do país e Minas Geais, onde as pessoas se associam por uma série
de questões. Aqui no Rio de Janeiro é comum as pessoas se dispersarem.
(L.H.S.T., engenheiro agrônomo, 22/04/2015, Magé, RJ).

Para um dos técnicos facilitadores do programa que atuava junto a uma associação
de agricultores, o Programa no início intensificou a participação social, porque apresentou uma
oportunidade agrupar os diferentes atores para discussão de problemas comuns. O pensar de
modo coletivo os problemas favoreceu ações coletivas tal como o fortalecimento do Sistema
Participativo de Garantia (SPG). Tal observação é respaldada por Khan et al. (2005), para o
qual o capital, quando presente em uma sociedade, fortalece a tomada de decisões e a execução
de ações colaborativas que beneficiam toda a comunidade.
168

[...] quando começou foi uma oportunidade de juntar os núcleos, fazer


oficinas, que eram grupos que não se reuniam frequentemente. Ajudou o SPG.
Este projeto proporcionou este espaço de construção do SPG, espaço de estar
juntos discutindo problemas, pensando soluções, trabalhando mutirões.
Ajudou, mas não foi suficiente, foi o elo das pessoas. (A.P.P., engenheira
agrônoma, 22/04/2015, Teresópolis, RJ)

Segundo Silva et al. (2007), os bancos de sementes têm um papel que vai muito
além da organização do estoque de sementes visto que o processo de gestão possibilita espaços
coletivos de debate sobre as estratégias de produção de cada família. A capacidade de ação
coletiva é um requisito do desenvolvimento sustentável, pois “[...] comunidades com essa
característica tem mais capacidade de demandar em quantidade e qualidade, ações por parte do
Estado e esse dinamismo e cooperação da base comunitária facilitam a aproximação e a eficácia
das instituições de apoio” (NICOLA, 2007, p. 636).
Destaca-se que há casos relatados na literatura, onde a ação do estado torna possível
contribuir para a criação ou intensificação de capital social comunitário através de políticas
públicas (DURSTON, 1999), as quais podem estimular os diferentes atores sociais a se
associarem estimulando a confiança e o fortalecimento dos laços de cooperação. (DURSTON,
2000, pag.32). Desse modo, capital social está relacionado à capacidade de organização e
constituição de redes de cooperação social fundamentais no processo de desenvolvimento
sustentável. Tal situação foi observada em estudo de envolvendo acampados e assentados de
reforma agrária em São Paulo, onde

“[...] através de valores como a reciprocidade, a confiança, a solidariedade,


foram formando suas redes de relações e à medida que essas redes se
fortaleciam tais valores solidificavam-se. No momento em que passaram a ser
assentadas e a conviverem próximas umas das outras, ou seja, à medida que o
grupo do acampamento é perpetuado no assentamento, essas pessoas, já
portadoras de elementos que constituem o capital social (como confiança,
solidariedade, reciprocidade, ajuda mútua) passam a potencializar tais
elementos nas práticas do dia a dia” (SOUZA, 2006, pag. 171).

Percebeu-se durante as entrevistas que a ação dos técnicos foi fundamental para a
continuidade do Programa BCSAV no Rio de Janeiro. Para M.S.M. “[...] o Programa teve
falhas, mas aqueles agricultores que perceberam o que era, fizeram por conta própria sem
interferência da coisa pública, tanto da Emater quanto do município.” (M.S.M., engenheira
agrônoma, 11/02/2015, Rio Claro, RJ).
Para os técnicos entrevistados, o Programa possibilitou, em maior ou menor grau,
a participação social intensificando os laços de confiança e cooperação. Para um dos
entrevistados houve aumento do diálogo, da cooperatividade e da troca de serviços entre os
169

agricultores da região. Para ele os laços de confiança foram criados e mantidos, sendo que “[...]
os agricultores pedem por mais iniciativas de projetos ligados à cooperação mutua”. (A.C.B.,
engenheira agrônoma, 07/12/2015, Miracema, RJ).
Construir capital social é construir capacidades sociais e técnicas, aprimorar os
processos de gestão social e construir a visão de território com base na cooperação e na
confiança mútua. Ele é composto por sistemas sociais complexos, baseados em múltiplos
agentes que os mobiliza em suas estratégias e empreendimentos (MENDONÇA et al., 2008).
Entretanto, segundo Durston “[...]existen dudas entre los propios autores fundacionales, como
Robert Putnam, sobre la posibilidad práctica de construir capital social en grupos que carecen
de él.” (DURSTON, 1999, pag. 105)
Um dos técnicos que atua na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro
afirmou que a sua região de atuação “é muito individualista e o banco foi uma motivação, deu
uma nova percepção em termos de associativismo, colaborar, cooperar, em especial nos grupos
orgânicos.” (J.M.S., engenheiro agrônomo, 02/06/2015, Duque de Caxias, RJ). Para este
multiplicador a situação “não mudou da água para o vinho mas deu uma nova percepção”.
Para um dos técnicos que atua na Região Serrana o Programa

[...] alterou as relações para melhor. Aumentou a confiança entre eles apesar
de pouca e lenta o que se conseguiu foi consistente. Pouco perceptível e muito
demorado. Os que se convenceram continuaram para outras espécies [...].
(A.P.P., engenheira agrônoma, 22/04/2015, Teresópolis, RJ)

Na pesquisa foi evidenciado que um dos pontos que favoreceu a implantação dos
BCSAV no Rio de Janeiro foi a interação entre os agricultores e os técnicos das instituições
participantes a partir do momento em que permitiu unir interesses destes grupos. Este
fortalecimento corrobora com as observações de Amâncio (2006) em que grupos que constroem
uma ação mais interativa entre as iniciativas de acompanhamento técnico-econômico e as de
caráter educacional participativo tenderam a construir relações sociais de solidariedade,
reciprocidade e confiança mais fortes. Destaca-se que estudos realizados por Durston (1999)
em Chiquimula demonstraram ser possível a formação de capital social a partir da presença de
grupos locais com repositórios de reciprocidade que podem vir a transformar-se em uma força
de coesão e confiança entre os membros.
170

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa foi conduzida entre os anos de 2013 a 2016, sendo o objetivo principal
verificar se o processo de implantação do Programa Banco Comunitário de Sementes de
Adubos Verdes (BCSAV) contribuiu para a geração e fortalecimento de capital social local e
se gerou independência de agricultores familiares de insumos externos, no caso sementes de
adubos verdes. Para tanto se considerou a vivencia de diferentes atores sociais, que em
determinados momentos interagiam entre si: agricultores familiares, guardiões de sementes e
profissionais multiplicadores, , gestores públicos e formuladores do Programa. Nesse sentido,
foi-se construindo a pesquisa de maneira que se pudesse compreender como a implementação
do Programa BCSAV promoveu ou não a participação e as condições para a geração e o
fortalecimento de capital social local. Durante o seu desenrolar constatou-se pontos fortes e
pontos a serem melhorados na implantação e desenvolvimento de um programa de governo
como o BCSAV.
Assumiu-se o banco comunitário como uma tecnologia social no sentido dela ser
criada na interação com a comunidade. Neste caso, partiu-se do pressuposto de que o BCSAV
traria consigo princípios e valores da interação social e da participação em sua concepção.
As discussões feitas foram embasadas a partir do conceito de capital social de
teóricos como Robert David Putnam, Anthony Bebbington, John Durston e Peter Evans,
trazendo desses trabalhos suas visões e argumentações do conceito de forma a pautar as
discussões da tese nos pontos comuns ou complementares a eles. Estabeleceu-se como
norteador da elaboração dos questionários de pesquisa e posteriormente nas discussões dos
resultados pilares de sustentação teórica e metodológica identificados em cada abordagem. Isto
possibilitou que houvesse uma contraposição do alcançado na pesquisa empírica com a
literatura especializada. Isto permitiu, também, um olhar mais apurado sobre o posicionamento
dos entrevistados à luz de experiências de outros lugares. A possibilidade de contar com um
recorte amostral a partir do universo da pesquisa permitiu que se pudessem fazer inferências
nas respostas conseguidas estendendo da parte para o todo neste estudo de caso.
O estudo foi iniciado por um resgate histórico do Programa BCSAV no estado do
Rio de Janeiro a partir dos bancos de sementes vinculados ao Mapa. Verificou-se que os quatro
bancos comunitários aqui estudados, não foram criados a partir das ações do Programa BCSAV,
mas já existiam anteriormente sendo a participação dos agricultores feita de forma voluntária.
Para os guardiões destes bancos, apenas a distribuição de sementes pelo Programa, não foi
suficiente para a manutenção das sementes no banco. Alguns pontos foram considerados
171

limitantes pelos guardiões entrevistados entre os quais se destacam não ter local adequado para
armazenagem além do fato de que seriam necessários recursos financeiros para manter a
estrutura da casa de sementes, fato este também reconhecido como limitante pelos
extensionistas. Um gargalo muito importante observado pelos guardiões foi o trabalho adicional
que pesava sobre eles, visto que além de sua lida diária na roça, ele precisava destinar parte do
seu tempo à produção de sementes e à gestão e controle do banco.
O Programa BCSAV teve como proposito inicial tornar acessível um recurso que
era de difícil aquisição com o propósito de aumentar o uso de adubos verdes na agricultura.
Contatou-se que a maioria dos agricultores entrevistados afirmaram ter conseguido implantar e
manejar o uso dos adubos verdes em suas propriedades, sendo que parte deles observaram
mudanças nelas, tais como aumento de produtividade da terra e melhoria na textura do solo.
Em boa parte das propriedades o uso dos adubos verdes aumentou quando comparados ao
período anterior ao Programa.
Muitos agricultores se apropriaram desta tecnologia e adotaram o uso de adubo
verde em suas propriedades. Isso se evidenciou em especial nos agricultores de base orgânica
aonde esta prática vinha conferir um diferencial. Entretanto com aqueles agricultores que não
tinham como alvo a produção orgânica, a adoção dependeu em muito do papel do técnico de
Ater. Constatou-se que os agricultores passavam a utilizar a adubação verde a partir do
momento que o técnico local os estivesse estimulando, acompanhamento a produção e
fornecendo assistência técnica adequada. Assim sendo, uma grande falha do Programa foi não
pensar em recursos humanos, técnicos que estivessem no campo, voltados para o alcance dos
resultados previstos. Ficou bem evidenciado na pesquisa que os agricultores tinham um
interesse grande no uso do adubo verde, mas por conta de faltar um facilitador que pudesse
orienta-los, isto se perdia.
Como tecnologia social os bancos comunitários deveriam fortalecer a participação
visto ser esta tecnologia fruto de uma construção coletiva. Entretanto no Rio de Janeiro o do
associativismo é uma história onde não se vivencia a vida comunitária como na região Sul do
Brasil e em Minas Gerais, onde as pessoas se associam por uma série de questões e influências
históricas. Soma-se a isso que em muitas regiões do estado do Rio de Janeiro o processo de
urbanização levou o agricultor a ter comportamentos diferenciados no tocante as práticas de
trocas de semente, de trabalho em mutirão e atuação em trabalhos comunitários.
Observou-se durante a pesquisa que o objetivo de criar bancos e apoiar os já
existentes não foi plenamente atendido pelo Programa, talvez pela crença de que já existia um
capital social formado para dar conta disso. Durante as capacitações realizadas para
172

empoderamento e instrumentalização dos técnicos de Ater e agricultores multiplicadores foram


muito trabalhados os aspectos da adubação verde em detrimento dos aspectos de cunho social
como o fortalecimento da organização social, associativismo, papel e importância dos guardiões
de sementes e empoderamento dos diferentes atores envolvidos, que são essenciais para o bom
andamento dos trabalhos com os bancos comunitários de sementes.
Constatou-se na pesquisa que todos os agricultores familiares já participavam de
alguma associação/cooperativa, identificando-se, em sua maioria, como muito ativos ou como
líderes. Alguns precursores de confiança e cooperação, tais como parentesco, identidade,
prestígio no serviço comunitário, evidenciaram-se na maioria dos casos. Percebeu-se que
quanto maior era o engajamento na comunidade do entorno do agricultor, maior era sua
confiança nas ações em conjunto com outros agricultores e maior sua participação em ações
coletivas como mutirões. Laços de interação social também foram evidenciados para todos os
agricultores familiares entrevistados em suas situações cotidianas. Entretanto para os
agricultores entrevistados não houve alteração significativa na participação social, confiança e
cooperação de modo significativo, sendo os laços de confiança criados e mantidos. Para os
técnicos entrevistados, o Programa possibilitou, em maior ou menor grau, a participação social
intensificando os laços de confiança e cooperação entre os agricultores. Quando considerados
os bancos de sementes, era possível identificar fortes laços de reciprocidade onde as pessoas
auxiliavam-se umas às outras, aumentando a confiança e a cooperação dos associados. Também
o aspecto participativo era muito valorado pelos gestores/guardiões dos bancos comunitários
estudados.
Diante do exposto, alguns resultados encontrados na pesquisa de campo podem nos
direcionar para algumas conclusões a partir dos objetivos específicos previamente definidos:
Em relação ao “Resgatar historicamente a concepção, elaboração e implantação do
Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes tanto para o âmbito nacional
quanto no estado do Rio de Janeiro” pôde-se concluir que:
(1) A concepção do Programa ficou restrita a poucos pesquisadores que atuavam
com a temática sendo que os agricultores familiares e técnicos multiplicadores
não participaram desse processo;
(2) Apesar de ter como modelo os bancos comunitários de sementes do estado da
Paraíba, a ideia inicial do Programa BCSAV era difundir o uso de adubos verdes
em todo o território nacional;
173

(3) No estado do Rio de Janeiro foram obtidos resultados na difusão do uso da


adubação verde devido ao envolvimento de pesquisadores da temática desde a
implantação do Programa;
(4) A consolidação da adubação verde como uma opção de melhoria do solo no
estado do Rio de Janeiro parece ter atendido à demanda original dos
formuladores, entretanto não abrangeu o estado do Rio de Janeiro como um
todo.
No tocante ao objetivo específico de “Verificar e analisar o papel dos diferentes
atores envolvidos com a concepção, elaboração, implantação e acompanhamento do Programa
Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes no estado do Rio de Janeiro” constatou-se
que:
(1) Os técnicos multiplicadores selecionados no Programa atuavam direta ou
indiretamente com a temática da agricultura orgânica, mas não tinham preparo
para atuar no âmbito de ações comunitárias na totalidade das suas dimensões;
(2) Temas importantes como conservação de sementes, gestão de bancos
comunitários, formação de redes, associativismo foram pouco discutidos ou
mesmo não foram trabalhados nas capacitações dos agentes multiplicadores,
deixando lacunas importantes na formação dos multiplicadores e, por
conseguinte para o sucesso do Programa;
(3) A ausência de participação dos agricultores familiares e multiplicadores nos
processos de decisórios relacionados à implantação e acompanhamento do
Programa no estado trouxeram como consequência algumas fragilidades para o
alcance dos resultados esperados.
(4) Ao não se considerar a participação dos agricultores familiares e técnicos
multiplicadores nos processos decisórios da execução do Programa outras
necessidades individualizadas e coletivas não foram consideradas afetando, o
alcance dos resultados esperados. Quem não se sente parte não participa de
modo eficiente.
Concluiu-se com o processo de “Identificar e caracterizar o perfil socioeconômico
dos agricultores familiares envolvidos com os bancos comunitários de sementes de adubos
verdes no estado do Rio de Janeiro” que:
(1) O Programa priorizou aqueles agricultores que já trabalhavam dentro do sistema
orgânico de produção, os proprietários de terra e os que tinham na agricultura
sua única fonte de renda;
174

(2) Houve predomínio da presença masculina no Programa tanto agricultores


familiares beneficiados quanto de técnicos multiplicadores, evidenciando uma
disparidade de gêneros. Considerando que a presença da mulher como guardiã
de sementes é comumente observada em diferentes regiões do planeta, esta
pouca representatividade pode ter interferido no alcance de melhores resultados
da implantação d o Programa e impactado o sucesso da criação de novos bancos
no estado do Rio de Janeiro;
Com relação aos “condicionantes que levam os agricultores familiares a
adotarem a tecnologia social dos Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes”,
verificou-se que:
(1) Pesquisas em campo evidenciaram como potencializadora a disponibilidade de
sementes e o envolvimento interinstitucional;
(2) O principal limitante ao êxito do Programa BCSAV apontado pelos agentes
multiplicadores foi a falta ou a inadequada assistência técnica dada aos
agricultores;
(3) Agricultores de base orgânica adotaram com mais facilidade a adubação verde,
sendo que a prática vinha conferir um diferencial em suas propriedades;
(4) Em agricultores que não tinham como alvo a produção orgânica, a adoção
dependeu em muito do papel do técnico de Ater;
(5) Agricultores passavam a utilizar a adubação verde a partir do momento que o
técnico local os estivesse estimulando, acompanhamento a produção e
fornecendo assistência técnica adequada;
(6) A entrada de sementes destinadas a segurança alimentar atendeu de modo mais
eficiente a demanda dos agricultores por sementes.
Por fim, em relação ao objetivo de “Verificar em que os Bancos Comunitários
contribuem para a formação do Capital Social em termos de promoção da confiança,
reciprocidade e cooperação entre os pares e participação social” destacam-se as seguintes
conclusões:
(1) Como verificado em outros estudos, participação comunitária é uma experiência
que promove o empoderamento das famílias de agricultores e o fortalecimento
da agricultura familiar. Na presente pesquisa foram observadas interações entre
os agricultores entrevistados e seu meio social, mas não de participação na
articulação das ações do Programa. Observou-se que laços de capital social
foram evidenciados em locais onde as redes de sociabilidade já estavam
175

constituídas. No estado do Rio de Janeiro estas práticas já estavam presentes nas


regiões estudadas e o Programa BCSAV as fortaleceu, mas não as criou.
(2) Bancos de Sementes Comunitários possibilitam a interação entre as famílias em
locais onde as comunidades participam de diferentes instancias sociais e se
consolida em práticas de solidariedade, confiança e reciprocidade. Desse modo,
para que um programa de governo possa criar capital social é preciso que se
tenha a participação dos diferentes atores sociais em sua concepção. Não pode
ser excludente ou seja todos os interessados devem estar envolvidos.
O Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes possuía condições
de promover a participação e a geração e fortalecimento de capital social local. Entretanto isto
se evidenciou de modo mais incisivo em locais onde já havia, mesmo que de forma incipiente,
laços de confiança, reciprocidade e cooperação instalados.
Para que um programa de governo possa ser efetivo é preciso que além das
demandas locais se considere a participação dos diferentes atores envolvidos, inclusive
valorizando a participação equitativa de gênero. O Programa BCSAV apresentou uma
estratégia de implantação que não dialogou de modo eficiente com os agricultores, o que limitou
o alcance de seus resultados no tocante ao atendimento da demanda de campo. Assim, tornou-
se um programa de governo com poucos resultados efetivos na constituição de bancos
comunitários de sementes.
Um ponto extremamente importante para o sucesso de uma política pública reside
na participação efetiva de todos os atores. Assim sendo, para que a implantação de bancos
comunitários ocorra com sucesso é preciso que os diferentes atores sociais envolvidos
dialoguem em uma rede sociotécnica, onde competências e habilidades possam complementar-
se. Para construir capital social é preciso tecer a malha das relações com confiança,
reciprocidade e cooperação, quer em nível de relações familiares mais íntimas quer em relações
institucionais.
Desse modo espera-se que os resultados alcançados neste estudo, permitam que
novos programas de governo destinados a levar autonomia aos agricultores possam ter melhores
resultados quando implantados, desde que sanados os seus limites e ressaltadas as suas
potencialidades.
176

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189

APÊNDICE 1

Formulário de Pesquisa vinculada ao Projeto de doutoramento “Programa Banco


Comunitário de Sementes de Adubos Verdes como promotor da construção do coletivo
agroecológico no Estado do Rio de Janeiro”.

Pesquisa para os agricultores participantes do Programa Bancos Comunitários de Sementes de


Adubos Verdes

Tipo de banco: ( ) Comunitário ( ) Familiar ( ) Comunitário e familiar

3.1. IDENTIFIÇAÇÃO / CARACTERIZAÇÃO DO ENTREVISTADO

Nome: _____________________________________________________________________
Gênero: ( ) Masculino/ Feminino Idade:_________________________________
Escolaridade: Fundamental / Médio / Técnico / Superior / Pós-graduação
( ) Completo ( )Incompleto
Endereço: __________________________________________________________________
Bairro: ___________________________Cidade:________________________Estado:______
CEP:__________________________Telefone: ( ) _________________________________
Data: _________________ Inicio:_________________ Término:______________________

Condição do produtor: ( )Proprietário / Arrendatário / Parceiro / Assentado / Outro


Se outro, especificar: ________________________________________

1. Quem administra (toca/toma conta) o lote/propriedade? ___________________


2. O Sr.(a) mora no lote ? ( )sim ( )não Há quanto tempo? ___________
3. Se mora fora do lote com que frequência o visita:
( ) Diariamente ( ) Semanalmente ( ) Quinzenalmente ( ) Mensalmente
4. Há quanto tempo o sr.(a) trabalha com roça? __________________________
Com quem aprendeu/idade?_________________________________________
5. A atividade agrícola é a única fonte de renda da família? ( ) Sim ( ) Não
6. Se não, qual (is) as fontes de renda em ordem de importância?
( ) Atividade agrícola
( ) Arrendamento da terra
( ) Emprego assalariado/Onde? _____________ No que? ____________
( ) Bar/Comércio/Onde?_______________
( ) Bolsa família
190

( ) Serviço temporário (Bico) De que? ___ ____________Onde?__________


( ) Aposentadoria ou pensão
( ) Outros. Quais? _____________________

3.2. DADOS DO LOTE/PROPRIEDADE


7. Qual o tamanho do seu lote/propriedade? __________ hectares
8. Tem mais de uma propriedade? ( ) Sim ( ) Não
Quantas?_________________________
Onde?_________________________________
Qual a(s) área(s)? _____________
Qual o tamanho? __________ hectares.
9. Considera o tamanho do lote suficiente para a realização de suas atividades?
Sim ( ) Não ( )
Se não, porquê?________________________________________________________
10. O(A) Sr(a) tem algum documento que garanta a posse da terra (procurar saber se já tem
escritura)? Sim ( ) Não ( )
Sim. Qual?_____________________________________________________________
Não. Por quê?_________________________________________________________

1.3. PERFIL FAMILIAR E DA MORADIA


11. Composição da família
Nome Gênero Parent. Idade Escolaridade Trab VEmpreg. Res
(Chefe da /série
família)
Não Freqüenta P T(*) F NF P Fora
Freq (*)

M – masculino, F – Feminino; Trab – trabalha ou Res – Reside: P – na propriedade (tentar


identificar em qual função) T – terceiros; VEmpreg – Vínculo Empregatício: F- Formal, NF –
Não formal;
T (*) especificar a profissão que desempenham para trabalho de terceiros (ex. empregada
doméstica, diarista, diarista rural, mineração, caseiro, motorista, moto taxista, etc) Fora (*)
especificar onde reside, se é na área rural ou área urbana.
191

12. Quantos cômodos a casa possui:


CÔMODOS TIPO DE CONSTRUÇÃO CONSERVAÇÃO
Interno Externo Alvenaria madeira Pau a Lona Misto B R P
pique/
Dormitórios
Banheiro
Sala
Cozinha
Varanda
Outros

B – Bom, R – Razoável, P – Precário.

13. De todos os equipamentos listados abaixo, qual o(a) Sr(a) possui em sua residência
Equipamento Sim Fonte de energia
Energia elétrica Gás Gasolina /diesel Pilha Lenha
Geladeira
Freezer
Televisão em
cores
Rádio
Automóvel
Maquina de
lavar
Vídeocassete e
ou DVD
Caminhonete
Caminhão
** ver se tem outros que podem entrar

3.3. SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA


14. O que o (a) Sr(a) produz?

15. Onde costuma vender sua produção? Para quem?

16. O Sr. Recebe assistência técnica de alguém?


192

( )Sim. Desde quando? _______________________________________________


( )Não, Por que?_____________________________________________________
Qual periodicidade? __________________________________________________
Gratuita? ( ) não ( ) sim

17. O(A) Sr(a) tem idéia de quanto ganha com a agricultura/pecuária? (calcular com base no salário
mínimo)
( ) até um ( ) de um a dois ( ) de dois a quatro ( ) de quatro a seis
( ) de seis a oito ( ) mais de oito

18. Quem são as pessoas que trabalham aqui na propriedade/quem ajuda o(a) Sr(a) na lida ?
( ) Família Quem? (parentesco) _________________________________
( ) Assalariados contratados
( ) Meeiros. Como se dá o acordo?_____________________________

Quanto aos trabalhadores

Trabalhador Quan Regis Meses Reside na Origem Salário


tos trado trab.* Propriedade Remuneração
mensal em
* reais
S N S N Cidade Região Outro
(onde?)
Permanentes
Temporários
Meeiros
Família
Total
**Caso houver dizer quantos dias na semana/mês costuma ter este serviço?

3.4. BANCO DE SEMENTES

19. O (a) sr(a) recebeu sementes do programa BCSAV? Se sim, o que motivou sua
participação no programa? Se não participa, por que?
20. O Sr(a) teve orientação para montagem do banco de sementes em sua propriedade?
21. O Sr(a) teve auxílio para montagem do banco de sementes em sua propriedade? Se
sim, de quem?
22. Como iniciou o Banco de Sementes em sua propriedade? Por que?
23. Quais sementes o Sr(a) possui no Banco Familiar?
24. Qual é o custo de montar um banco de sementes?
193

25. Qual é o custo de manter um banco de sementes?


26. O sr(a) conseguiu reproduzir as sementes de adubos verdes em sua propriedade?
27. Houve mudanças em sua propriedade após adesão ao programa? O uso da adubação
verde aumentou?
28. O senhor recebeu assistência técnica para o manejo e uso dos adubos verdes?
29. O senhor participa do Banco Comunitário de Sementes (casa de sementes) local? Se
sim, por quê?
30. Qual é o maior benefício de se fazer parte do Banco Comunitário de Sementes?
( ) Melhora a renda atual do meu domicílio ou o acesso a serviços
( ) É importante em situações de emergência/no futuro
( ) Beneficia a comunidade
( ) Prazer/Diversão
( ) Espiritual, posição social, auto-estima
( ) Outros (especifique)__________________________________________

31. Como você descreveria sua participação nas decisões da associação/casa de sementes?
( ) Líder ( ) Muito ativo ( ) Relativamente ativo ( ) Não participa das
decisões
32. Em comparação há um ano atrás, como está sua participação nas decisões da
associação /casa de sementes?
( ) Mais ( ) Mesmo número ( ) Menos

33. Como associado ao BCS, você diria que se pode confiar na maioria das pessoas, ou
que nunca é demais ter cuidado ao lidar com as pessoas?
( ) Pode-se confiar nas pessoas ( ) Nunca é demais ter cuidado
34. O senhor realiza troca de sementes como outros agricultores?
35. O senhor participa de mutirões junto com outros agricultores?
194

APÊNDICE 2

Formulário de Pesquisa vinculada ao Projeto de doutoramento “Programa Banco


Comunitário de Sementes de Adubos Verdes como promotor da construção do coletivo
agroecológico no Estado do Rio de Janeiro”.

Entrevista realizada com técnicos multiplicadores do Programa BCSAV no Estado do Rio de


Janeiro

Nome: ___________________________________________________________________

Endereço: _________________________________________________________________

Bairro: ___________________________Cidade:_____________________ Estado:______

CEP: ____________________________Telefone: ( ) _____________________________

Profissão:____________________________Cargo:________________________________

Vínculo: __________________________________________________________________

Agente de ATER: ( ) não ( ) sim Qual: ___________________________

Há quanto tempo atua com extensão rural? ______________________________________

Data: __________________ Inicio:_________________ Término:_________________

1. O que o motivou a participar do programa como multiplicador?

2. No que consistiam as capacitações? Elas foram suficientes para sua ação extensionista?

3. Houve dificuldades na implementação do programa? Quais?

4. Houve recurso suficiente para executar o programa? Se não, por quê? No que a insuficiência
de recursos implicou?

5. De que modo os agricultores participantes do projeto foram selecionados?

6. Quantos bancos foram constituídos sob sua ação?

7. Você usou algum instrumento para avaliação da implementação do programa sob sua
coordenação? Quais foram às estratégias de monitoramento utilizadas?

8. Em sua opinião o programa atendeu o esperado pelo governo? Se não ou parcialmente sim,
o que não foi atingido?
195

9. Em sua opinião o programa atendeu o esperado pelos agricultores?

10. Em sua opinião quais fatores foram limitantes no programa?

11. Em sua opinião quais fatores foram que potencializaram o programa?

12. Que pontos ou aspectos você considera que poderiam ser melhorados no programa?

13. Você conhece o proposto na segunda fase do programa? Se sim como ela foi comunicada
para você?

14. Você se sente motivado a participar da segunda fase do programa? Por quê?

15. Em sua opinião o programa intensificou a participação social nas localidades atendidas
por você?

16. Em sua opinião o programa aumentou, diminuiu ou não alterou a confiança entre as
pessoas atendidas por você?

17. Em sua opinião o programa aumentou, diminuiu ou não alterou a cooperação entre os
agricultores atendidos por você?

18. Em uma escala de 1 a 5, considerando um pouco efetivo e cinco muito efetivo, como você
classificaria o Banco Comunitário de Sementes no tocante a:

1 2 3 4 5

Replicabilidade:

Simplicidade

Custo de implantação

Impacto social na comunidade onde está


implantado

Impacto econômico na comunidade onde está


implantado
196

APÊNDICE 3

Formulário de Pesquisa vinculada ao Projeto de doutoramento “Programa Banco


Comunitário de Sementes de Adubos Verdes como promotor da construção do coletivo
agroecológico no Estado do Rio de Janeiro”.
Projeto de doutoramento de Ana Cristina Siewert Garofolo, sob orientação da prof. Dra
Julieta Teresa Aier de Oliveira, realizado junto à Faculdade de Engenharia Agrícola da
Universidade Estadual de Campinas (Feagri/Unicamp)

Entrevista realizada com gestores dos Bancos Comunitários cadastrados no Programa


BCSAV no Estado do Rio de Janeiro

Nome do Banco/Associação/Casa de semente:______________________________________


Endereço: __________________________________________________________________
Bairro:_________________________Cidade:_____________________ Estado:___________
CEP:___________________________Telefone: ( ) ________________________________
Data de formação: ____________________________________________________________
Responsável:________________________________________________________________
Numero de associados:_________________________________________________________
Nome do gestor/entrevistado: ___________________________________________________
Data: __________________ Inicio:_________________ Término:_________________

1. Como foi formado o Banco Comunitário / Casa de Sementes?

2. Quantas pessoas estão envolvidas com o banco (gestores, agricultores)?

3. Como o BCS funciona? Quem pode retirar as sementes? quem faz o controle e gestão?

4. Qual importância de estocar sementes?

5. Quais variedades são mantidas no BCS? Por que elas foram escolhidas?

6. De onde vieram as primeiras sementes?

7. Com que periodicidade são realizadas reuniões dos associados do Banco Comunitário
de sementes (BCS)?

8. Que organizações/entidades/grupos/associações/comunidade e outros, participam


juntos na gestão do BCS?

9. O que é necessário para se participar desse BCS?

10. Por que nem todos participam do BCS?

11. Como se dá a distribuição de sementes nesse BCS?


197

12. Qual a importância do Banco Comunitário de Sementes para a comunidade e a


segurança alimentar?

13. Quais as principais dificuldades do BCS?

14. Quais alternativas e/ou sugestões que ajudam a comunidade a superar os problemas?

15. Quais as perspectivas para o BCS?

16. Como o sr(a) acha que o banco pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida
dos agricultores vinculados ao BCS?

17. Em que aspecto o BCS tem contribuído (ou não) para o fortalecimento dos
agricultores?

18. Todas as famílias associadas vivem exclusivamente da agricultura? ( )sim ( )não.


Quais os outros tipos de ocupação?

19. Quais são os principais gargalos, no tocante a sementes em um sistema de produção


agroecológico/orgânico?

20. Como uma pessoa passa a ser um membro do BCS?

21. Qual é o maior benefício de se fazer parte do BCS?

22. Quando há uma decisão a ser tomada no BCS, geralmente, como isso acontece?
( ) A decisão é imposta de fora
( ) O líder decide e informa os outros membros do BCS
( ) O líder pergunta aos outros membros do BCS o que eles acham e então decide
( ) Os membros do BCS discutem o assunto e decidem em conjunto
( ) Outros (especifique__________________________________________)

23. Como são escolhidos os gestores do BCS?


( ) Por uma pessoa ou entidade de fora
( ) Cada líder escolhe o(a) seu/sua sucessor(a)
( ) Por decisão de alguns membros
( ) Por decisão/voto de todos os membros
( ) Outros (especifique _________________________________________)

24. Você acha que após a implantação/entrada do programa BCSAV o grau de confiança
dos associados melhorou, piorou ou permaneceu mais ou menos o mesmo?
( ) Melhorou
( ) Piorou
( ) Permaneceu mais ou menos o mesmo
198

25. Em sua opinião, com que frequência as pessoas ligadas a este BCS ajudam umas às
outras?
( ) Sempre ajudam
( ) Quase sempre ajudam
( ) Algumas vezes ajudam
( ) Raramente ajudam
( ) Nunca ajudam

26. Falando em geral, você diria que se pode confiar na maioria das pessoas, ou que nunca
é demais ter cuidado ao lidar com as pessoas?
( ) Pode-se confiar nas pessoas
( ) Nunca é demais ter cuidado

27. Em sua opinião, se houvesse um problema de abastecimento de sementes nessa


comunidade, qual a probabilidade das pessoas cooperarem para tentar resolver o
problema?
( ) Muito provável
( ) Relativamente provável
( ) Nem provável nem improvável
( ) Relativamente improvável
( ) Muito improvável

28. Suponha que ocorresse uma fatalidade com uma das pessoas ligadas ao BCS tal como
uma doença grave, ou a morte de um parente. Qual a probabilidade de algumas
pessoas na comunidade se unirem para ajudar as vítimas?
( ) Muito provável
( ) Relativamente provável
( ) Nem provável nem improvável
( ) Relativamente improvável
( ) Muito improvável
199

APÊNDICE 4

Formulário de Pesquisa vinculada ao Projeto de doutoramento “Programa Banco


Comunitário de Sementes de Adubos Verdes como promotor da construção do coletivo
agroecológico no Estado do Rio de Janeiro”.

Entrevista realizada com formulador (es) do Programa BCSAV

Nome: ___________________________________________________________________
Endereço: _________________________________________________________________
Bairro: ___________________________Cidade:_____________________ Estado:______
CEP: ____________________________Telefone: ( ) ___________________________
Profissão:____________________________Cargo:________________________________
Vinculo: __________________________________________________________________
Data: __________________ Inicio:_________________ Término:_________________

1. O que é o programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes?

2. Como se deu o processo de criação do programa?

3. Porque a opção de trabalhar inicialmente com sementes de adubos verdes?

4. Porque a opção por um banco comunitário?

5. Quais critérios foram utilizados para a seleção dos estados participantes?

6. Como ele foi pensado na sua metodologia, para viabilizar a execução, quando se
tratam de relações interinstitucionais?

7. Houve a necessidade de modificar a metodologia de ação do projeto? E qual foi a nova


direção tomada?

8. Qual é o público alvo? Quais os critérios utilizados para selecionar os agricultores?

9. Quais são os atores envolvidos e como eles participam do programa?

10. Existem indicadores de resultados ou metas estabelecidas para o programa, tanto para
a primeira quanto para a segunda fase?

11. Existem indicadores de processos estabelecidos para o programa, tanto para a primeira
quanto para a segunda fase?

12. A política do Banco Comunitário de Sementes Adubos Verdes está articulada a outras
ações? Que ações são essas? Em sua opinião essas ações contribuem no sentido de
200

criar uma rede de agricultores que se definam diferentemente das abordagens


convencionais de desenvolvimento rural?

13. Quais políticas públicas que estão alinhadas ao programa?

14. Você poderia nos dizer de que forma se dá o apoio do MAPA ao programa?

15. Como o programa é visto na estrutura do MAPA?

16. Que pontos ou aspectos você considera que poderiam ser melhorados no programa?

17. Em sua percepção quais serão ou deverão ser os desdobramentos futuros do


programa?

18. Com está sendo pensada a segunda fase do programa?

19. Como você percebe o Programa em termos de participação social?

20. Para você o Programa foi capaz de estimular a confiança, reciprocidade e a


cooperação entre as pessoas e instituições envolvidas?

21. Houve após a implantação do Programa aumento no numero de associações ou


cooperativas, casas de sementes entre outras?
201

APÊNDICE 5

Formulário de Pesquisa vinculada ao Projeto de doutoramento “Programa Banco


Comunitário de Sementes de Adubos Verdes como promotor da construção do coletivo
agroecológico no Estado do Rio de Janeiro”.

Entrevista realizada com formulador (es) o superintendente do Programa BCSAV no Estado


do Rio de Janeiro

Nome: ___________________________________________________________________
Endereço: _________________________________________________________________
Bairro: ___________________________Cidade:_____________________ Estado:______
CEP: ____________________________Telefone: ( ) ___________________________
Profissão:____________________________Cargo:________________________________
Vínculo: __________________________________________________________________
Data: __________________ Inicio:_________________ Término:_________________

1. Houve dificuldades na implementação do programa? Quais?

2. Quantos bancos foram constituídos no Rio de Janeiro no período de 2007 a 2014?

3. Houve a necessidade de adequar o Programa aos critérios no Estado?

4. Como os agricultores foram selecionados para participarem do programa?

5. Como foi metodologicamente, planejada as capacitações para os técnicos?

6. Como foi metodologicamente, planejada as capacitações para os agricultores?

7. Quais foram às estratégias utilizadas para acompanhar a implantação do programa


no Estado do rio de Janeiro, no período de 2007 a 2014?

8. Quais instrumentos foram utilizados neste acompanhamento?

9. Ocorreu como o planejado? Se não, por quê?

10. Foram estabelecidas parcerias para execução do programa no Estado? De que


forma estas parceiras foram consolidadas?

11. O envolvimento dos parceiros ocorreu de maneira satisfatória? Se não, por que?

12. O recurso previsto foi suficiente para executar o programa? Se não, por quê? No
que a insuficiência de recursos implicou?
202

13. Na sua percepção quais serão ou deverão ser os desdobramentos futuros do


programa no Estado do Rio de Janeiro?

14. Quais as políticas públicas estão alinhadas ao programa no Estado do Rio de


Janeiro?

15. Que pontos ou aspectos você considera que poderiam ser melhorados no
programa?

16. Qual foi o recurso previsto para executar o programa?

17. Quais os desdobramentos futuros do programa no Estado do Rio de Janeiro?

18. Quais as políticas públicas que estão alinhadas ao programa no Estado do Rio de
Janeiro?

19. Como está sendo pensada a articulação para a segunda fase do programa?

20. Como está o comprometimento dos atores envolvidos com a implantação da


segunda fase do programa?

21. Como você percebe o Programa em termos de participação social?

22. Para você o Programa foi capaz de estimular a confiança, reciprocidade e a


cooperação entre as pessoas e instituições envolvidas?

23. Houve após a implantação do Programa aumento no numero de associações ou


cooperativas, casas de sementes entre outras?

24. Em sua opinião o programa atendeu o esperado pelo governo? Se não ou


parcialmente sim, o que não foi atingido?
203

APÊNDICE 6

Número de bancos Presença na oficina


Responsável INSTITUIÇÃO MUNICÍPIO Público
Familiares Comunitário Técnico 2009 2012
4 0 J.F.S. Emater-Rio Araruama X
X
0 0 C.R.K. Emater-Rio Barra Mansa
Bom Jardim /
X
0 0 M.B.F. Emater-Rio Duas Barras /
Nova Friburgo
Cachoeiras de X
0 0 J.J.S. Emater-Rio
Macacu
Secretaria de Cardoso X
0 0 E.H.A.
Agricultura Moreira
Cachoeiras de
Institito Bio Macacu - São X
1 0 C.A.M.
Atlântica - IBIO José da Boa
Morte
Secretaria de Casimiro de X
0 0 O.S.O.
Agricultura Abreu
X
0 0 N.B. Emater Itaipava
X
0 0 E.R.C. Emater-Rio Magé
X
0 0 F.M.R. Emater-Rio Mangaratiba
Prefeitura
Municipal X
0 0 F.V.F.
Secretaria de Meio
Mesquita
Ambiente
Associação dos
Pequenos X
0 0 P.E.B.
Produtores Rurais
Miguel Pereira
de Vera Cruz
Miracema e
Prefeitura X
0 0 A.C.B.
Municipal
Sto Antônio de X
Pádua
Associação dos
Produtores X
0 0 R.V.M.
Orgânicos de
Natividade
Natividade
X
0 0 M.C.R. Emater-Rio Nova Iguaçu
Prefeitura X
0 0 I.A.P.
Municipal
Nova Iguaçu

Nova Iguaçu -
assentamento X
0 0 L.N.F. GAE-UFRRJ
Terra
Prometida
Emater-Rio /
Associação dos
Paraty / Angra X
0 0 C.D.S. Produtores Rurais
dos Reis
do Vale do
Mambucaba
Paty dos X
0 0 R.F. Emater-Rio
Alferes
204

Instituto Federal do
Rio de Janeiro - X X
0 0 A.F.
IFRJ - Campus
Pinheiral
Nilo Peçanha
ASPUR -
Associação dos X X
3 1 J.S.M.V.
Produtores de
Porciúncula
Purilândia
X
5 0 M.S.M. Emater-Rio Rio Claro
ASPTA-Rede de
Promoção da X
0 0 M.M.M.
Agricultura Urbana
Rio de Janeiro
no município do RJ
AECA/RJ -
Associaçaõ
X
0 0 D.M. Estadual de Rio de Janeiro
Cooperação
Agrícola
Emater-Rio Campo X
0 0 L.R.
Grande
Rio de Janeiro
X
0 0 M.B. CEDRO Rio de Janeiro
X
0 0 B.I.J. Emater-Rio São Gonçalo
IDACO - Instituto
de São José da X
0 0 C.S.
Desenvolvimento e Boa Morte
Ação Comunitária
Rio Rural -
Associação de
São José do
Produtores X
2 0 E.L.C.F.
Orgânicos de São
Vale do Rio
Preto
José do Vale do
Rio Preto
Secretaria de Meio
Ambiente,
São Pedro da X
0 0 L.S.P. Agricultura e Pesca
Aldeia
de São Pedro da
Aldeia
Ambiente Brasil
X
0 0 R.M.T. Instituto de Sapucaia
Zootecnia - UFRRJ
ABIO - Núcleo de Seropédica,
X
2 0 A.P.P. Prod. Orgânicos de Teresópolis e X
Seropédica Petrópolis
X
2 0 L.H.A. Serorganico Seropédica
Casa de Sementes
Livres de Aldeia X
0 1 T.M.
Velha / Escola da
Silva Jardim
Mata Atlântica
Secretaria
Municipal de
X
0 0 M.S.B.S Agricultura Silva Jardim
Abastecimento e
Pesca
205

Tanguá/
X
1 2 J.R.M.V. Emater-Rio Cachoeira de
Macacu
Associação de
citricultores e
produtores
rurais de
Tanguá /
X
9 0 J.R.M.V. Emater-Rio Associação de
produtores
familiares e
amigos da
serra do
Barbosão
Secretaria de X
0 0 K.C.
Agricultura
Teresópolis

X
0 0 N.N.P. Emater-Rio Teresópolis
X
0 0 D.W. APOV Valença
X
0 0 C.S.R. Emater-Rio Varre Sai

Associação X
0 0 A.C.
Orgânicos do Vale
Vassouras

X
0 0 N.S. Emater-Rio Vassouras
X
0 0 J.F.E. Emater-Rio Volta Redonda
X
0 0 A.O. Sec Agricultura Magé
Agricultor, X
0 0 A.S.L.
Veterinário /
Teresópolis
X
0 0 A.F. IFRJ Pinheiral
Cooperativa X
0 0 A.E.O.
CEDRO
Rio de Janeiro
X
0 0 A.L.S. Agricultor Magé
Estudante. UFRRJ
X
0 0 B.S.S. Assentamento Nova Iguaçu
Terra Prometida
COOPATERRA / X
0 0 C.A.S.
Terra Prometida
Nova Iguaçu
X
0 0 C.S.F. agricultor Magé
X
0 0 C.S. Acampar RJ Rio de Janeiro
X
0 0 C.M.M. agricultora Piraí
X
0 0 D.P. UFRRJ Seropédica
Paty dos X
0 0 E.V. Agricultor /
Alferes
X
0 0 E.B.A. Coopvieira Rio de Janeiro
X
0 0 F.L.F. Agricultor Mesquita
X
0 0 F.M.O. Agricultora /Seropédica
206

Seropédica X
0 0 F.J.V. Estudante UFRRJ
Estudante UFRRJ Seropédica X
0 0 F.M.A.
Estudante UFRRJ Seropédica X
0 0 G.A.C.
Casimiro de X
0 0 G.A.A. Emater-Rio
Abreu
X
0 0 I.M.X. Agricultora Seropédica
X
2 0 J.L.G. Emater-Rio São Gonçalo
X
0 0 J.F.S. Emater-Rio Teresópolis
X
0 0 J.N.V. Emater Seropédica
Sto Antônio de X
0 0 J.A.N. SEBRAE-RJ /
Pádua
X
0 0 J.C.F. Emater-Rio Mangaratiba
X
0 0 J. M.V. Estudante UFRRJ Porciúncula
X
31 1 J.S. Agricultor Teresópolis
X
0 0 L.B.T. Emater-Rio Itaguaí
X
0 0 L.H.G. Agricultora Seropédica
X
0 0 L.H.S.T. ABIO Guapimirim
X
0 0 M.S.R. Emater-Rio / Itaguaí
X
0 0 M.S.S. Emater-Rio / Teresópolis
X
0 0 M.L.S. Agricultor Piraí
X
0 0 M.M. Agricultor Teresópolis
X
0 0 M.F.C. Emater-Rio S.J.Rio Preto

Cooperar – técnica X
0 0 M.D.L. Piraí
Agricultora X
0 0 M.P.S.
assentamento
Piraí
X
0 0 M.M.I Agricultora / Seropédica
X
0 0 M.S.B. Acampar RJ Rio de Janeiro
Duque de X
0 0 Miguel Silva APEDEMA
Caxias
X
0 0 P.A.S. Emater-Rio Porciúncula
X
0 0 R.V.P. CEDRO- técnico
Campos dos X
0 0 R.S.O. CEDRO – técnica /
Goytacazes
Associação
X
0 0 R.A.S. Agroecológica de Teresópolis
Teresópolis
IFRJ/Campus X
0 0 T.A.B.
Pinheiral
Pinheiral
207

X
0 0 V.J.C. Agricultor Sapucaia
X
0 0 W.C.M. Emater-Rio Nova Iguaçu
X
0 0 W.G.M. agricultor Magé
X
0 0 J.P. Serorganico Seropédica
X
0 0 D.P. Serorganico Seropédica
X
0 0 E.X. agricultor Seropédica
X
3 0 J.F. agricultora Nova Friburgo
X
0 0 G.S.S. Emater Rio

Fonte: Elaborado pela autora da pesquisa de tese.

Legenda:

ASSOCIAÇÕES E INSITUIÇÃO DE
EXTENSIONISTAS SECRETARIAS AGRICULTOR
COOPERATIVAS ENSINO
208

APÊNDICE 7

Características dos agricultores beneficiados pelo Programa BCSAV


Agricultor Gênero Idade Escolaridade Condição do Morador na Macrorregião
Entrevistado produtor propriedade do estado
F 67 Fundamental Arrendatário Sim Médio Paraíba
C.M.S.M. Incompleto
F 57 Médio Completo Produtor Sim Metropolitana
F.M.O.
F 44 Fundamental Produtor Sim Metropolitana
I.M.X. Completo
F 62 Superior Completo Produtor Sim Metropolitana
L.H.G.
F 66 Superior Completo Produtor Sim Serrana
J.F.
M 56 Técnico Completo Produtor Sim Lagos
L.V.C.
M 52 Médio Incompleto Produtor Sim Lagos
R.S.F.
M 50 Fundamental Empregado Sim Centro Sul
C.H.S. Completo
M 61 Superior Completo Produtor Sim Centro Sul
G.A.N.
F 43 Fundamental Arrendatário Sim Médio Paraíba
L.C.O. Incompleto
F 66 Fundamental Produtor Não Metropolitana
L.T. Incompleto
M 67 Fundamental Produtor Sim Metropolitana
O.F. Incompleto
M 43 Técnico Completo Produtor Sim Lagos
R.M.
M 65 Fundamental Produtor Sim Serrana
N.C. Incompleto
M 34 Superior Completo Produtor Sim Metropolitana
F.L.O.
M 54 Médio Completo Produtor Sim Metropolitana
F.G.L.
M 62 Fundamental Produtor Sim Serrana
R.S. Incompleto
M 58 Fundamental Produtor Sim Serrana
M.L.B. Incompleto
M 45 Fundamental Produtor Sim Metropolitana
C.J.A. Incompleto
M 58 Fundamental Produtor Sim Metropolitana
J.C.S. Completo
M 47 Médio Incompleto Produtor Não Metropolitana
J.A.C.F.
M 52 Fundamental Produtor Não Metropolitana
C.J.A.M. Completo
M 54 Fundamental Produtor Sim Metropolitana
J.T.S. Incompleto
M 60 Fundamental Produtor Sim Metropolitana
D.L.S. Incompleto
M 56 Médio Completo Produtor Não Metropolitana
J.C.P.
Fonte: Elaborado pela autora da tese a partir da pesquisa em campo (2016)
209

ANEXO 1
210
211
212

ANEXO 2
213
214
215

ANEXO 3

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO – MAPA


SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO E COOPERATIVISMO – SDC
DEPARTAMENTO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO E SUSTENTABILIDADE – DEPROS
COORDENAÇÃO GERAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL-CGDS
COORDENAÇÃO DE AGROECOLOGIA – COAGRE

TERMO DE COMPROMISSO DE DISTRIBUIÇÃO - ENTIDADE nº.............

Eu, __________________________________________________, RG n° _______________, CPF


___________________,domiciliado à ___________________________________________________

_________________________________________________________________________________
_representante da entidade ____________________________________________________, CNPJ
_________________,situada em ______________________________________________________,
selecionada pela Comissão da Produção Orgânica do Estado do Rio de Janeiro, comprometo-me, de
acordo com os critérios e procedimentos do Programa Bancos Comunitários de Sementes de Adubos
Verdes, relacionados no verso desse documento, distribuir aos agricultores selecionados por esta
entidade – cuja relação nominal e respectivo TERMO DE COMPROMISSO serão encaminhados a
CPOrg / RJ no prazo de 30 dias, a seguinte quantidade de sementes:

 _________ kg de sementes de Crotalaria juncea;


 _________ kg de sementes de Crotalaria spectabilis.
 _________ kg de sementes de ervilhaca;
 _________ kg de sementes de feijão de porco;
 _________ kg de sementes de guandu;
 _________ kg de sementes de mucuna anã;
 _________ kg de sementes de mucuna cinza;
 _________ kg de sementes de mucuna preta;
 _________ kg de sementes de nabo forrageiro;
 _________ kg de sementes de tremoço branco.

.............................., .......... de ............................ de .............


216

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO – MAPA


SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO E COOPERATIVISMO – SDC
DEPARTAMENTO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO E SUSTENTABILIDADE – DEPROS
COORDENAÇÃO GERAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL-CGDS
COORDENAÇÃO DE AGROECOLOGIA – COAGRE

TERMO DE COMPROMISSO DO AGRICULTOR nº.............

Os abaixo assinados agricultores beneficiários do Programa Bancos Comunitários de Sementes de


Adubo Verde, indicados pela entidade _________________________________________________,
CNPJ n° _________________________, situada em _______________________________________

selecionada pela Comissão da Produção Orgânica do Estado do Rio de Janeiro, comprometem-se, a


cultivar as sementes doadas pelo Programa, de acordo com os critérios e procedimentos relacionados
no verso desse documento.

Data Assinatura
RG Nome
Localidade
Quantidades _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg
recebidas Aveia Preta Crotalaria juncea C. spectabilis Ervilhaca Feijão de Porco
_____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg Nabo _____ kg
Guandu Mucuna Anã Mucuna Cinza Mucuna Preta Forrageiro Tremoço Branco

Data Assinatura
RG Nome
Localidade
Quantidades _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg
recebidas Aveia Preta Crotalaria juncea C. spectabilis Ervilhaca Feijão de Porco
_____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg Nabo _____ kg
Guandu Mucuna Anã Mucuna Cinza Mucuna Preta Forrageiro Tremoço Branco

Data Assinatura
RG Nome
Localidade
Quantidades _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg
recebidas Aveia Preta Crotalaria juncea C. spectabilis Ervilhaca Feijão de Porco
_____ kg _____ kg _____ kg _____ kg _____ kg Nabo _____ kg
Guandu Mucuna Anã Mucuna Cinza Mucuna Preta Forrageiro Tremoço Branco
217

PROGRAMA BANCOS COMUNITÁRIOS DE SEMENTES DE ADUBOS VERDES


CRITÉRIOS E PROCEDIMENTOS PARA DISTRIBUIÇÃO E USO DE SEMENTES

1. As sementes serão distribuídas somente a agricultores familiares inseridos em sistemas


orgânicos de produção, em processo de transição agroecológica ou com potencial para transição
agroecológica.

1.1 A distribuição das sementes está condicionada ao treinamento dos agricultores sobre uso,
manejo e produção de sementes de adubos verdes.

1.2 Cada agricultor beneficiado receberá uma quantidade máxima de 10 kg de sementes das
espécies especificadas.

1.3 No ato da distribuição das sementes o agricultor receberá os seguintes documentos: cópia
do atestado de origem genética das sementes e da nota fiscal emitida para acompanhamento das
mesmas, devendo mantê-los em sua posse para efeito de fiscalização.

2. Após o plantio das sementes doadas, a entidade ou grupo de agricultores, realizará colheita
e armazenamento de no mínimo a mesma quantidade de sementes de cada uma das espécies
recebidas, visando à formação e manutenção dos “bancos comunitários de sementes”.

2.1 Esse procedimento será realizado de acordo com as estratégias estabelecidas por cada
entidade ou grupo.

2.2 Os “bancos comunitários de sementes” devem procurar garantir, ao longo do tempo, o


acesso de todos agricultores interessados da entidade ou grupo às sementes de espécies de
adubos verdes doadas.

3. No caso de dificuldades na produção de sementes, devido a fatores incontroláveis tais como


intempéries, “pragas” ou acidentes, que inviabilizem o atendimento ao disposto no item 2. O
técnico que está acompanhando as ações do PROGRAMA junto aos agricultores emitirá parecer
que será avaliado em reunião da CPOrg-RJ para fins de recebimento, ou não, de nova remessa
de sementes das espécies de adubos verdes já doadas.

4. DOS TERMOS DE COMPROMISSO

4.1 Na entrega das sementes pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento-MAPA,


o representante da entidade ou grupo de agricultores assinará TERMO DE COMPROMISSO
DE DISTRIBUIÇÃO - ENTIDADE visando o encaminhamento das sementes aos agricultores
beneficiários.
218

4.1.1 Caso a entrega das sementes seja feita por algum intermediário designado pela CPOrg-
RJ, visando posterior entrega ao representante da entidade ou grupo de agricultores: a CPOrg-
RJ providenciará registros que comprovem essa entrega a esse intermediário. Neste caso o
intermediário será responsável pelo encaminhamento a Coordenação da CPOrg-RJ do TERMO
DE COMPROMISSO DE DISTRIBUIÇÃO - ENTIDADE.

4.2 O TERMO DE COMPROMISSO DO AGRICULTOR, assinado individualmente pelos


beneficiários do PROGRAMA, será emitido em duas vias, devendo uma via ser encaminhada
pela entidade ou grupo de agricultores à coordenação da CPOrg-RJ.

4.3 No caso de grupo de agricultores constituídos informalmente não será preenchido, nos
TERMOS, o campo “CNPJ”.

5. Os agricultores participantes do PROGRAMA comprometem-se a garantir o livre acesso aos


fiscais do MAPA no local de produção e armazenamento de sementes, assim como lhes prestar
todas as informações necessárias.

6. No caso de verificação de que os critérios e procedimentos estabelecidos não estão sendo


cumpridos por uma entidade ou grupo de agricultores beneficiados. A situação será avaliada
em reunião envolvendo representantes do MAPA responsáveis pelas ações do PROGRAMA e
CPOrg-RJ, podendo a entidade ou grupo ser excluída das futuras ações do PROGRAMA.

* CPOrg-RJ: Comissão da Produção Orgânica no Estado do Rio de Janeiro. Avenida


Rodrigues Alves, 129 sala 602- Pça Mauá. Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20081-250. Tel: (21)2263-
1709 ou (21)2291-4141 ramal 1603.

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