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DA AGRICULTURA FAMILIAR:
BANCOS COMUNITÁRIOS DE SEMENTES
1ª edição
Editores Técnicos
Campina Grande, PB
2011
Exemplares desta publicação podem ser solicitados à:
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Fax: (89) 3482.1218
160p.il.; 20 cm
ISBN:
1. Gergelim - Banco Comunitário de Sementes- Agricultura Familiar- Nordeste- Brasil. I. Queiroga, V.P.;
Silva, O.R.F.; Almeida, F.A.C. - Título.
CDD
@FFA 2011
Autores
Esta publicação tem por objetivo tratar o tema Bancos de Sementes com
informações que vão além do tema gestão propriamente dito, tratando
parcialmente as questões técnicas sobre a produção de sementes de diversas
espécies cultivadas pelos agricultores familiares do nordeste do Brasil, ou
seja, um conjunto de técnicas voltadas para um sistema participativo de
produção de sementes pelos agricultores em suas propriedades com seus
próprios sistemas de cultivo e com os recursos normalmente disponíveis na
propriedade.
Por fim, este material é dedicado àquelas pessoas que no futuro aprenderão
a valorizar as sementes pelo seu inestimável valor no referente à
sustentabilidade da agricultura como impulsionadora da rápida evolução do
nível de tecnologia agrícola, que nossa agricultura familiar tanto necessita.
Os autores
Sumário
Introdução.................................................................................. 021
MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS DO PIAUÍ................. 023
HISTÓRICO DOS BANCOS DE SEMENTES NO NORDESTE............ 025
PRODUÇÃO DE SEMENTES ORGÂNICAS ................................... 026
BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES....................................... 027
1. Banco Mãe de Sementes.......................................................... 029
2. Gestão dos Bancos de Sementes Comunitários.......................... 031
3. Situação Atual dos Bancos de Sementes em São Francisco
de Assis do Piauí......................................................................... 033
4. Organização dos Bancos de Sementes...................................... 036
5. Tipos de Bancos de Sementes.................................................. 039
a) Banco de Sementes Alimentares, Oleaginosas e Fibrosas........... 039
b) Banco de Sementes Forrageiros................................................ 040
c) Banco de Sementes de Adubos Verdes...................................... 041
6. Acesso à Semente do Banco.....................................................042
7. Estrutura dos Bancos nas Comunidades.................................... 047
8. Tipo de Embalagem Adotada pelo Banco....................................048
9. Normas do Banco de Sementes................................................ 050
10. Controle de Estoque do Banco.................................................052
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................ 056
Introdução.................................................................................. 061
ENTREVISTA COLETIVA E APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIOS EM
SÃO FRANCISCO DE ASSIS DO PIAUÍ PARA IMPLANTAÇÃO DE
BANCOS DE SEMENTES............................................................ 062
RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS.......................................... 062
1. Situação da comunidade........................................................... 063
2. Sistemas de semeadura........................................................... 064
3. Preparo do solo e sistemas de plantio........................................ 065
4. Condições do campo e participação das espécies no consórcio e
forrageiro.................................................................................... 067
5. Beneficiamento da produção..................................................... 068
6. Seleção de plantas, secagem e acondicionamento de sementes. 069
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................ 072
Introdução
O agricultor familiar do Brasil é responsável por mais de 30% da produção
agropecuária nacional. No tocante ao nordeste brasileiro, a agricultura familiar
fica bem caracterizada pelos seguintes números: ocupa 43,5% da área
regional, engloba 88,3% dos estabelecimentos existentes e é responsável
por 43% do Valor Bruto da Produção Regional (VBPR), utilizando apenas 26,5%
dos financiamentos (TORRES et al., 2006).
A B
Figura 1. A) Entreposto comercial e unidade de beneficiamento de mel orgânico da
Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) de Simplício Mendes-PI (conhecida como
Nutritivomel) e B) Apiário de produção de mel orgânico da propriedade Capão Bonito
da FFA em São Francisco de Assis do Piauí.
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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Uma vez ciente deste fato, as sementes orgânicas passariam a ser material
de grande importância para o desenvolvimento sustentável das comunidades
rurais de São Francisco de Assis do Piauí. Consequentemente, os agricultores
familiares poderão produzir, ao mesmo tempo, material para consumo (grãos)
e material para o plantio (sementes), sendo que o excedente da produção de
sementes orgânicas fosse comercializado pela FFA como sementes certificadas
para algumas empresas privadas ou estaduais interessadas, mediante contrato
de abastecimento antecipado firmado entre ambos.
Outro papel que seria desempenhado pelo Banco Mãe se refere à introdução
de novas variedades de sementes alimentícias e/ ou forrageiras na região, as
quais seriam multiplicadas em maior escala na Roça da Fé de Simplício Mendes,
PI, antes de repassá-las para os Bancos Comunitários de São Francisco de
Assis do Piauí, em razão das unidades de pesquisas conseguirem doar apenas
pequenas quantidades de sementes (entre 1 a 4 kg). Neste sentido, a Embrapa
Algodão conseguiu repassar vários materiais para a FFA: em 2007 foram 3
kg de sementes de gergelim (cultivar BRS Seda, Figura 6), em 2008, pequena
quantidade de sementes de feijão macassar (Marataão e Pujante), de milho
(Sertanejo, São Francisco, Caatingueiro e Assum Preto) e de sementes
forrageiras (sorgo, milheto e feijão guandu) e, em 2009, sementes de feijão
de porco, mucuna preta e mucuna cinza, além de mudas de neem, gliricídio,
atriplex (erva-sal) e mandacaru sem espinho.
Para que haja uma elevação na viabilidade das sementes de feijão, gergelim,
sorgo e milho tornam-se patente a obtenção de sementes de procedência e
qualidade conhecidas, a fim de proporcionar cultivos mais produtivos e estáveis.
Além disto, para evitar as contaminações, especial atenção deve ser destinada
ao isolamento (temporal ou físico) dos campos de milho que irão fornecer as
sementes, bem como o plantio, a colheita e o beneficiamento isolado das
sementes de feijão, gergelim, sorgo e milho. No tocante aos problemas de
armazenamento, a utilização de embalagens ou recipientes adequados quanto
a sua permeabilidade, além das opções de controle de insetos de grãos
armazenados, poderiam minimizar as deficiências encontradas. Por final, a
disseminação da filosofia integrada entre produção e armazenamento de
sementes, via campos individuais e bancos comunitários, também contribuiria
de forma ímpar na resolução dos problemas observados, instituindo ainda
uma administração organizada e planejada da reserva de sementes necessária
para o próximo plantio (CORDEIRO e FARIAS, 1993).
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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Figura 15. Reunião com agricultores familiares para discutir temas de interesse da
comunidade e do Banco de Sementes. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.
A B
Figura 19. A) Incorporação das plantas na fase de floração ao solo, utilizando-se o rolo
de faca à tração animal e B) Solos arenosos e pobres em matéria orgânica da
comunidade Lagoa da Povoação. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.
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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
alta relação C/N sua decomposição é lenta pelo solo (milheto, palhada de
milho), portanto, elas são espalhadas entre as fileiras de outras culturas para
proteger o solo contra ação direta das chuvas (erosão). Além disso, em terreno
acidentado, o produtor poderá implantar as culturas em faixas de retenção,
que consiste na disposição da cultura comercial (feijão ou gergelim) em faixas
niveladas intercaladas (plantio em curva de nível), de espaço em espaço de
30 m ou 40 m, com faixas perenes de plantas protetoras. Ou seja, nos leirões
de retenção, cultivar de 3 a 5 linhas da planta protetora (em espaçamento
bem adensado) e manter as plantas vivas arbóreas: leucena (Leucaena
leucocephala), neem (Azadirachta indica), sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia)
etc, e em sentido contrário a inclinação do terreno (plantio em curvas de
nível), também têm efeitos sobre o controle da erosão provocada pelas chuvas
(DIACONIA, 2007).
Fontes: Cordeiro e Farias (1993); Embrapa Algodão (Foto: Vicente de Paula Queiroga)
OBS: Dentro da mesma espécie, os pesos entre cultivares poderão variar.
De acordo com Cordeiro e Farias (1993), para haver maior controle de qualidade
das sementes armazenadas, a comissão responsável por cada banco
comunitário deverá adotar duas exigências fundamentais:
A B
Figura 20. A) Secagem natural de sementes de feijão e milho usado pelos produtores
familiares e B) Aproveitamento das placas cimentadas das cisternas, tipo calçadão
com capacidade de 50 mil litros da FFA, como secador natural das sementes
existentes nas comunidades Mulungu e Gatinhos do município de São Francisco de
Assis do Piauí.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 41
Fotos: Vicente de P. Queiroga
Figura 22. Destilador de água e bandejas com substrato de areia para teste de
germinação.
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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Pureza: é feito com uma amostra de sementes determinada para cada espécie
(Tabela 2), sendo as sementes espalhadas sobre uma mesa específica do
Laboratório de Sementes. No teste, são realizadas as seguintes separações:
sementes puras, outras sementes, onde são incluídas as sementes de plantas
cultivadas não pertencentes à espécie e cultivar em exame e as sementes e
outros materiais de propagação de plantas prejudiciais à agricultura e material
inerte.
Em que:
P - peso inicial (peso do recipiente + peso da semente úmida), g
p - peso final (peso do recipiente + peso da semente seca), g
t - tara (peso do recipiente), g
Germinação: é realizada em quatro repetições de 100 sementes em diferentes
substratos (areia, papel germitest e solo) umedecidos com água destilada. O
teste é conduzido em germinador na temperatura recomenda para cada espécie
e duas contagens são recomendadas para sua avaliação (Tabela 2). Quando o
teste é realizado com areia e de acordo com a espécie pode ser feita entre
camada de areia ou sobre esta. No primeiro caso, faz-se a semeadura sobre
uma camada de 5-6 cm de areia esterilizadas umedecida com água destilada
e cobre-se as sementes com cerca de 2 cm de areia (EA = entre areia). No
segundo caso, as sementes são levemente pressionadas contra a superfície
do substrato (SA = sobre areia).
Outra estratégia que pode ser adotada pelo Banco Mãe é a de enviar as
amostras de sementes para um Laboratório de Sementes mais próximo a
cidade de São Francisco de Assis do Piauí, por exemplo, para Teresina-PI. A
situação levantada anteriormente é uma simples simulação para o controle
de qualidade do material, pois sempre os programas coordenados pelo Padre
Geraldo Gereon, dirigente da FFA, têm sido encarados pelos agricultores da
região com bastante honestidade e seriedade.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 43
RP = rolo de papel; EP = entre papel; SP = sobre papel; EA = entre areia; SA = sobre areia
Fonte\: BRASIL (1992)
A B
C D
Figura 24. A, B, C) Funcionamento dos Bancos de Sementes em espaços reservados
das sedes das associações existentes nas comunidades de Mulungu, Barreiro Grande e
Barra Bonita e D) Banco de Sementes de diversas espécies na casa do agricultor
Raimundo Bento de Souza eleito pela comunidade de Veredas. São Francisco de Assis
do Piauí-PI, 2009.
Foto: Melchior N. B. da Silva
Figura 25. Sementes em embalagens tipo PET, sobre estrado de madeira, no Banco
Comunitário de Sementes da Paraíba.
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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Fotos: Dalfran G. Vale
4. Qual a quantidade que cada agricultor terá que restituir de garrafas pets.
Figura 28. Banco de Sementes facilita a troca entre sementes de diferentes espécies
ou cultivares.
Figura 29. Etiqueta de identificação na garrafa pet das sementes restituídas pelos
sócios do Banco de Sementes.
Figura 30. Sementes identificadas pela cor da tampa da garrafa pet em um Banco
Comunitário de Sementes.
Referências
AGUIAR, R.B.; GOMES, J.R.C. Projeto Cadastrado de Fontes de
Abastecimento por Água Subterrânea. Diagnóstico do Município de São
Francisco de Assis do Piauí. Fortaleza, CE. 2004. Disponível em: http://
www.crpm.gov.br /rehi/atlas/piaui/relatorio /183.pdf.
ARAÚJO, A.E.; TONNEAU, J.P.; CANIELLO, M.; LIMA, J.P.; LEAL, F.L.A.;
DUQUE, G. Sistemas produtivos do Cariri Paraibano: uma reflexão participativa
com os educandos do Projeto Universidade Camponesa. In: ENCONTRO DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO, 6., 2004, Aracaju.
Anais... Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2004. 15 p. 1 CD-ROM.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 53
AUGSTBURGER, F.; BERGER, J.; CENSKOWSKY, U.; HEID, P.; MILZ, J.;
STREIT, C. Agricultura orgánica en el trópico y subtrópico: guías de 18
cultivos: ajonjolí (sésamo).1. ed., Gräfelfing: Naturland, 2000. 30p.
TORRES, S.B.; LIRA, M.A.; FERNANDES, J.B.; LIMA, J.M.P.; LEONEL NETO,
M; BURITÍ, V.; ALVES, A.C.M. Bancos Comunitários de Sementes. 2 Série de
Circuito de Tecnologias Adaptadas para Agricultura Familiar. EMPARN, 2006.
11p.
Capítulo 2
Introdução
Promover a melhoria dos sistemas produtivos das diferentes espécies cultivadas
pelos agricultores familiares para produção de sementes em seis comunidades
rurais do município de São Francisco de Assis do Piauí, por meio de informações
tecnológicas sustentáveis, esta é a proposta apresentada pela Embrapa
Algodão, em parceria com a Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA)
para os produtores envolvidos na implantação de Bancos Comunitários de
Sementes.
1. Situação da Comunidade
Na Tabela 1, observam-se os valores médios do número de produtores
entrevistados, da existência de Banco de Sementes, do local de
armazenamento, do tempo de armazenamento de sementes e da origem da
aquisição de sementes da referida cultura nas amostras levantadas nas seis
comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí.
Tabela 1. Dados médios e percentuais sobre o número de pessoas entrevistadas, a
existência de estruturas específicas de Banco de Sementes, a experiência de
armazenamento de sementes de produção própria e o local de aquisição das sementes
pelos agricultores nas amostras levantadas nas seis comunidades do município de São
Francisco de Assis do Piauí, 2009.
Nas amostras das comunidades de Barra Bonita, Lagoa do Juá, Barreiro Grande,
Lagoa da Povoação e Veredas, constata-se que o número de produtores
entrevistados variou entre 10 a 34, sendo que a comunidade de Barra Bonita
apresentou maior público com 34 produtores, ficando em segundo lugar Lagoa
de Juá com 22 produtores e em terceiro, Veredas com 17 produtores. Esta
informação reflete também uma característica importante dos produtores
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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
2. Sistemas de Semeadura
Na Tabela 2, observam-se os valores médios dos diferentes sistemas de
semeadura utilizados pelos produtores nas seis comunidades do município de
São Francisco de Assis do Piauí para as seguintes espécies: gergelim, algodão,
feijão, milho, sorgo, milheto e feijão guandu. Os valores médios de respostas
dos entrevistados para as distintas modalidades de semeadura manual, máquina
e matraca, em relação a cada espécie, foram para as sementes de gergelim
com as respectivas porcentagens de 57%, 43% e 0,0%.; algodão com 100%,
0,0% e 0,0%; feijão com 0,0%, 0,0% e 100%; milho com 30%, 0,0% e
70%; sorgo com 32%, 0,0% e 68%; milheto com 16%, 0,0% e 0,0% e
feijão guandu com 0,0%, 0,0% e 67%. Ressalta-se que as sementes de milheto
somente foi plantada na comunidade de Veredas e o feijão guandu não foi
cultivado em duas comunidades: Barra Bonita e Veredas, porque ambos
materiais foram introduzidos recentemente no município de São Francisco de
Assis do Piauí. No caso da semeadura do gergelim com a máquina manual
(43%), há uma tendência de aumentar seu uso na região, devido ao fato da
mesma oferecer mais vantagem (semeia 01 ha em menos de 2 horas com 1,5
kg/sementes e dispensa a operação de desbaste) em relação ao plantio manual
com uma lata perfurada e amarrada numa vara (gasta-se mais de 3 kg de
sementes e leva 3 dias para um homem plantar 01 ha, além do desbaste).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 61
5. Beneficiamento da produção
Um dos aspectos importante do beneficiamento de sementes próprias é a
escolha de um sistema de processamento específico para cada espécie que
não cause danos às sementes, de maneira que não comprometa sua qualidade
fisiológica. Na Tabela 5, os produtores das seis comunidades de São Francisco
de Assis do Piauí responderam com maior percentual que beneficiam
manualmente gergelim (100%), algodão (0,0%), feijão (69%), milho (82%),
sorgo (100%), feijão guandu (83%) e milheto (16%). Para a Embrapa, o
beneficiamento manual de sementes, dependendo de cada espécie, é mais
apropriado para a agricultura familiar da região nordeste, sem considerar a
limitação de recursos financeiros destinados aos pequenos produtores para
compra de máquinas de beneficiamento de sementes.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 65
Tabela 6. Valores médios percentuais sobre se planta mais de uma variedade por
campo, faz seleção do material durante a colheita, secam ao sol as sementes antes do
armazenamento e os recipientes utilizados para guardar as sementes pelos agricultores
das seis comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí, 2009.
Referências Bibliográficas
CORDEIRO, A.; FARIAS, A.A. Gestão de bancos de sementes comunitários.
Versão brasileira do Manual de Gestão Prática de Fernand Vicent- Rio de
Janeiro: AS-PTA, 1993. 60 p.
Introdução
Recentemente, a Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) conseguiu a
certificação do mel orgânico junto ao Instituto Biodinâmico (IBD) de Botucatu-
SP para atender às exigências dos mercados importadores dos USA e Europa.
Diante da importante atividade econômica do mel orgânico, há uma
conscientização efetiva por parte dos agricultores do município de São Francisco
de Assis do Piauí de cultivar gergelim, algodão, feijão comum, milho, sorgo
forrageiro, milheto, feijão guandu, amendoim, mamona, girassol etc., garantindo
sua sustentabilidade alimentar e econômica, de forma ecologicamente correta,
sem agredir o ecossistema da sua região.
Por outro lado, as sementes após a colheita nem sempre apresentam teor de
umidade adequado para um armazenamento seguro, necessitando de secagem.
Além da umidade, as sementes quando são colhidas, geralmente estão
acompanhadas de impurezas, cuja remoção é realizada através de operações
que compõem o processo de beneficiamento (QUEIROGA et al., 2008).
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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Gergelim
Seleção da área
A escolha da área para a instalação do campo de produção de sementes de
gergelim deve ser uma das principais preocupações do agricultor e deve ser
feita com cautela. Nessa área, é necessário que se proceda a um levantamento
do seu histórico, atentando para os seguintes pontos: cultivar anteriormente
plantada (BRS Seda ou CNPA G4), plantas daninhas existentes, problemas
locais de pragas e doenças (rotação da cultura), condições de fertilidade,
problemas de erosão, topografia e encharcamento do terreno (TORRES et al.,
2006).
Preparo do solo
Após as primeiras chuvas ocorridas no município de São Francisco de Assis
do Piauí, principalmente no mês de dezembro de cada ano, as áreas destinadas
para o plantio de gergelim, algodão, feijão, milho, sorgo, milheto, feijão guandu,
sorgo forrageiro, etc, deverão ser aradas com equipamentos simples de tração
animal (arado de aiveca) e, no mês de janeiro, os produtores complementariam
o preparo do terreno com uso do cultivador e/ou grade de dentes de tração
animal (Figura 1) para o nivelamento das respectivas áreas aradas no mês
anterior (QUEIROGA et al., 2008).
A
Foto: Odilon R.R.F. da Silva
B
Foto: Odilon R.R.F. da Silva
Plantio
O plantio da safra 2009 foi realizado com a semeadora semimecânica por
43% do agricultores do município de São Francisco de Assis do Piauí (Tabela
2 do Cap. II) que possui 12 unidades desta semeadora destinadas à semeadura
de sementes pequenas de gergelim (QUEIROGA et al., 2007). Este fato
representa um avanço no uso da semeadora em relação à safra anterior (2008),
quando naquele ano apenas duas máquinas haviam sido adquiridas pela FFA.
A comunidade Barreiro Grande foi a que obteve a maior percentagem do uso
da máquina durante o plantio do gergelim em comparação as demais
comunidades.
Adubação do solo
A B C
Figura 7. Adubadeira manual de duas linhas que pode ser adaptada para plantio de
sementes de gergelim quando misturadas com esterco em pó: A) peneira manual para
transformar o esterco em pó; B) máquina com distribuidores paralelos de sementes do
fabricante JZ Implementos Agricolas; e C) esquema de linhas de semeadura.
Isolamento
É uma medida adotada para separar campos de produção de cultivares
diferentes de gergelim, mas da mesma espécie com o objetivo de evitar a
contaminação genética, pois a polinização do gergelim pode sofrer a ação de
insetos (QUEIROGA et al., 2008).
Roguing
A limpeza dos campos (roguing) de gergelim deverá ser efetuada pelos
agricultores (Figura 9) nas áreas destinadas para produção de sementes, visando
eliminar as plantas atípicas e garantir a identidade genética do material. A
produção própria de sementes pelos agricultores, visando atender os seus
compromissos assumidos junto aos Bancos Comunitários de Sementes, irá
contribuir na autosuficiência do abastecimento das comunidades envolvidas
de São Francisco de Assis do Piauí e, também, evita a introdução de doenças
no referido município, caso a FFA for adquirir anualmente sementes de
gergelim produzidas de outras regiões (QUEIROGA et al., 2008).
Foto: Vicente de P. Queiroga
Figura 10. Plantas da cultivar BRS Seda, identificadas por etiquetas coloridas com
base na sua precocidade de floração.
Capinas
Figura 11. Campos de gergelim das cultivares BRS Seda com ciclo precoce (à direita)
e da BRS 196 CNPA G4 com ciclo médio (à esquerda), aos 80 dias do plantio.
Estação Experimental da Embrapa Algodão de Barbalha, CE.
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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
A B
Foto: Vicente de P. Queiroga
C
Figura 12. Controle de plantas daninhas com o instrumento arado cultivador
(conhecido como bico de pato ou capinadeira), em lavoura de gergelim no município
de São Francisco de Assis do Piauí, 2008.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 83
Foto: Odilon R.R.F. da Silva
Controle de pragas
A Tabela 1, contém medidas ecológicas de controle das principais pragas do
gergelim constatadas em lavouras de gergelim da região Nordeste.
Preparação de macerado
Antes do plantio do gergelim, pode-se devem usar a estratégia de preparar
preventivamente os macerados para combater as pragas na fase inicial de
infestação (lagartas ainda pequenas, pulgões e cochonilhas na fase larval,
cigarrinha, mosca-branca na fase de ninfa, etc), pois as mesmas são mais
vulneráveis à ação dos bioinseticidas. Recomenda-se guardar as soluções de
bioenseticidas, para cada praga, em depósitos de plástico lacrados (Figura
14) para evitar a perda do seu princípio ativo. Além disso, devem-se armazenar
cada solução na quantidade que atenda uma ou duas pulverizações do campo
de gergelim (QUEIROGA et al., 2008).
Fotos: Vicente de P. Queiroga
Figura 14. Preparação dos bioinseticidas para combater pragas na cultura do gergelim
como mosca-branca, cochonilha, pulgão e lagarta, sendo o pulverizador costal de uso
exclusivo para os inseticidas agroecológicos ou pulverizador de garrafa pet.
1 litro de álcool;
10 litros de água
2 litros de água
10 litros de água
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 87
Urina de vaca
Coletar urina de vaca na hora da ordenha;
Não deve ser aplicada no período de floração, pois induzirá a planta ao aborto.
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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
O sabão serve para repelir a mosca-branca. Picar 500 gramas de sabão para
ser desmanchado em 5 litros de água quente, sendo necessário mexer bem
para dissolver o sabão. Pulverizar esta mistura morna sobre as plantas (35
°C) (DANTAS, 2001).
Planta de neem
O neem é considerado a planta das mil e uma utilidades. O composto ativo,
Azadirachtina indica, controla os insetos impedindo sua metamorfose em fase
de larva, além de repeli-los. Os insetos que se mostraram mais sensíveis ao
neem foram lagartas, pulgões, cigarrinhas e besouros mastigadores. Resultados
de pesquisa já comprovaram seu efeito sobre as larvas e pupas da lagarta-do-
cartucho do milho (Figura 19), curuquerê do algodoeiro, ácaros, bicho-mineiro
e cochonilhas. Além de inseticida, a planta de neem tem efeito como repelente,
inibidora de crescimento da praga, fungicida e nematicida.
Para reduzir os custos de produção do gergelim, a FFA de São Francisco de
Assis do Piauí distribuiu mudas de neem para serem plantadas pelos produtores
nas seis comunidades rurais: Lagoa do Juá, Queimada Nova, Lagoa da
Povoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita. Para se tornar
autosuficiente na produção de bioinseticidas à base de neem, é necessário
manter pelo menos 50 plantas desta espécie em cada comunidade (Figura
20).
Foto: Lúcia Helena A. Araújo
Figura 19. Planta de gergelim atacada por lagarta militar do gênero Spodoptera ssp.
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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Figura 20. Pequeno bosque de neem com o mínimo de 50 plantas para atender cada
comunidade de produtores familiares, podendo também funcionar com barreira quebra-
vento, ou área de arborização da propriedade.
Figura 22. Ponto de colheita: início da abertura da primeira cápsula da base da haste
(perdas visíveis), sendo maior as perdas de sementes imaturas (invisíveis) quando se
antecipa esse ponto de corte da planta.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 93
A B
Figura 23. Corte manual das plantas de gergelim (frutos deiscentes) no ponto de
colheita: A) Feixe de gergelim em contato com o solo e B) lona para depositar os
feixes de gergelim. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.
B
Figura 24. A) Roçadeira mecânica do fabricante Bertolini para uma fileira e duas
fileiras de plantas de gergelim; e B) Roçadeira mecânica tipo costal do fabricante
Husqvarna para uma fileira de plantas de gergelim, sendo mais acessível para o
pequeno produtor.
Foto: Diego Antônio N. Queiroga
Figura 25. Minitrator tipo Tobatta (pequisa não validada) para o corte mecânico de
uma linha de plantas de gergelim.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 95
O comprimento dos feixes deve ser o mais curto possível (cortar a planta no
início da inserção dos frutos) e sendo amarrados com duas ou três tiras de
caroá (Figura 26) ou barbante deixando com os ápices direcionados para cima,
dependendo da intensidade de vento na região durante o período de secagem.
Fotos: Vicente de P. Queiroga
Figura 26. Feixe de gergelim sendo amarrado com fitas de plástico ou tiras de caroá.
São Francisco de Assis do Piauí, 2009.
Figura 27. Disposição dos feixes de gergelim junto à cerca de arame para facilitar o
processo de secagem. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.
Figura 29. Transporte dos feixes para batedura em uma lona fixa no campo, em forma
de canoa para evitar a mistura das sementes com areia. São Francisco de Assis do
Piauí, 2008.
Para não ter que transportar os feixes em posição ereta e carregá-los sem
deixar cair as sementes por longo percurso no campo até chegar à lona fixada
no chão, outra sugestão dada pela Embrapa Algodão seria colocar a lona
amarrada sobre uma carroça baixa, de modo que a carroça empurrada pelos
agricultores deslocaria no campo em busca dos feixes para a operação de
batedura. Esta opção da carroça se movendo dentro do campo seria mais
viável para as três bateduras dos feixes de gergelim, em razão de reduzir
drasticamente as perdas com sementes no chão, pois a carroça vai para junto
dos feixes de gergelim que serão submetidos ao processo de batedura. Além
disso, no caso dos feixes de gergelim receberem uma arrumação organizada
no campo, similar aos estaleiros de sisal, haveria um impacto significativo
bem menor de 10% de perdas de sementes pela ação dos ventos (Figura 30).
Para Queiroga e Silva (2008), esse índice abaixo de 10% de perdas de sementes
representa uma colheita eficiente do gergelim deiscente.
C D
Figura 30. Circulação da carroça ou reboque para batedura dos feixes e sua
arrumação bem estruturada no campo, resulta numa colheita eficiente do gergelim
deiscente.
Foto: Vicente de P. Queiroga
Figura 31. Peneiração manual das sementes de gergelim através de peneira rústica.
São Francisco de Assis do Piauí, 2008.
100
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Figura 32. Ventilação natural das sementes de gergelim usando uma peneira de
madeira com chapa de latão perfurada por prego.
Armazenamento
Uma vez secadas ao sol, as sementes de gergelim devem ser esfriadas
naturalmente à sombra e acondicionadas em garrafas pets (Figura 35) com a
umidade máxima de 4%, conforme os trabalhos de armazenamento conduzidos
por Bass et al. (1963).
102
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Figura 34. Secagem natural ao sol: método adotado pelos agricultores familiares do
Nordeste para secagem do gergelim.
Rotação de culturas
Em qualquer atividade agrícola, a prática de rotação de culturas é de suma
importância, pois contribui para a manutenção da bioestrutura do solo e para
a sanidade vegetal, além de ser prática importante para a conservação do
solo. Silva (1983) indica as seguintes rotações para a região do nordeste:
feijão/gergelim, milho/gergelim e sorgo/gergelim ou mamona/amendoim/
gergelim.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 103
Algodão Herbáceo
Antecedentes
O primeiro trabalho realizado no município de São Francisco de Assis do Piauí
pela Embrapa Algodão foi com a cultura do algodão. Em novembro de 2003,
foi ministrado pelos técnicos da Embrapa um curso teórico de capacitação
para 400 agricultores, sendo a duração do curso de um dia por grupo de 80
participantes de cada comunidade. No mês seguinte, foram instaladas 10
UTDs (Unidade de Teste e Demonstração) nas cinco comunidades, sendo duas
por comunidade do referido município: Lagoa do Juá, Queimada Nova, Lagoa
da Povoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita, visando criar uma
escola de campo para transferência de
tecnologia em tempo real. As orientações
Foto: Flávio Tôrres de Moura
Figura 38. Abertura do evento com momento de oração do Pe. Geraldo Gereon e
depois, Dia de Campo de algodão herbáceo convencional na comunidade Barreiro
Grande, município de São Francisco de Assis do Piauí, PI. Ano agrícola de 2004.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 105
Condições da área
A exigência adotada pelo IBD para certificação do campo de produção do
algodão orgânico está relacionada à escolha do terreno, pois seus técnicos só
reconhecem a lavoura ecologicamente correta quando cultivada em áreas
agrícolas manejadas por pelo menos 3 anos na ausência de defensivos e adubos
minerais (QUEIROGA, et al., 2008).
A topografia do solo pode variar desde plana até a ondulada, contanto que na
plana não haja problema de encharcamento e na ondulada ou acidentada,
práticas de conservação sejam observadas e seguidas para evitar erosão. Os
solos recém-desbravados são ricos em matéria orgânica e com alto teor de
nitrogênio, podendo ocasionar o desenvolvimento vegetativo do algodoeiro
em prejuízo à produção (QUEIROGA, 1983).
Preparo do solo
Um dos fatores que influenciam no rendimento da cultura é o preparo do solo.
Quando bem feito, facilita o plantio, favorece a germinação da semente e o
desenvolvimento do sistema radicular, além do controle de plantas daninhas.
Característica da cultivar
Para o plantio do algodão orgânico no município de São Francisco de Assis do
Piauí está sendo utilizada a cultivar BRS 187-8H, cujas sementes foram
adquiridas, provavelmente do projeto ESPLAR de Tauá-CE. Na Tabela 2 abaixo,
estão os seus principais caracteres de produção e tecnológicos da referida
cultivar.
Sementes
No plantio do algodão orgânico, as sementes devem ser deslintadas
mecanicamente, o que corresponde a um processo de deslintamento parcial
por não eliminar totalmente o línter (Figura 39). Mesmo assim existe matraca
apropriada ou plantadeira mecânica de tração animal apropriada para sementes
de algodão com pouco línter (Figura 40).
Fotos: Vicente de P. Queiroga
C
Figura 39. A) Sementes de algodão herbáceo com muito línter; B) Deslintador
mecânico utilizado para a eliminação parcial do línter das sementes; e C) Sementes
deslintadas mecanicamente com pouco línter.
108
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Época de plantio
A observância da época adequada de plantio oferece maior possibilidade de
êxito para o agricultor dentro das variações de chuvas a que está sujeita a
lavoura nas diferentes comunidades do município de São Francisco de Assis
do Piauí, tendo em vista a grande influência da precipitação sobre a produção,
tanto em quantidade como em qualidade (QUEIROGA, 1983).
A
Foto: Flávio Tôrres de Moura
B
Foto: Vicente de P. Queiroga
Consórcio agroecológico
Ao contrário do monocultivo do algodão convencional de 2004, no ano agrícola
de 2009 foram instaladas duas UTDs de algodão orgânico consorciado em
faixas com outras 5 espécies (feijão comum, milho, feijão guandu, sorgo e
gergelim) nas comunidades de Veredas e Barreiro Grande pertencentes ao
município de São Francisco de Assis do Piauí. O novo fato priorizou a FFA a
avaliar a eficiência do plantio do algodoeiro no sistema consorciado em faixas,
por ser considerada a condição básica para uma produção agroecológica, pois
essa configuração de diversas espécies faz com que algumas pragas se
desorientem favorecendo os predadores.
A B
Capinas
As limpas devem ser realizadas no período crítico (da emergência aos 60 dias
da cultura) e rasas, no máximo 3,0 a 4,0 cm. Este controle do mato entre as
fileiras do algodoal é realizado pelos agricultores do município de São Francisco
de Assis do Piauí com ajuda do instrumento arado cultivador e, entre as covas
das plantas, realiza-se o retoque com a enxada.
Controle de pragas
As principais estratégias alternativas de controle de pragas para o algodoeiro
orgânico são: a) Controle Biológico, b) Controle Cultural, c) Controle Climático
e d) Controle com Produtos Naturais.
também constataram que há uma probabilidade de que 34% dos botões florais
que caem ao solo resultarem na emergência de adultos. Ao contrário, aqueles
que caem no centro da fileira têm somente 6% de possibilidade de propiciarem
sobrevivência do adulto, fruto das condições microclimáticas inadequadas.
Colheita
A colheita do algodão é feita manualmente (Figura 43), iniciando-se quando
60% dos capulhos estiverem abertos e, a segunda 15 dias depois, quando os
demais frutos estiverem abertos. A colheita deve ser realizada com tempo
seco, para se evitar impurezas que possam vir junto ao capulho, o que
prejudicaria o tipo de algodão. Não colher o algodão com umidade acima de
12% que é o máximo permitido (BELTRÃO, 1999).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 115
Beneficiamento
Esta etapa é muito importante para que as sementes não sofram danos
mecânicos durante o processo de descaroçamento na máquina de serras
(QUEIROGA et al., 2001). Além disso, deve ser feito uma estimativa da
quantidade de sementes da cultivar BRS 187- 8H que deve ser usada pelos
agricultores de São Francisco de Assis do Piauí na safra seguinte. Por exemplo,
caso a quantidade demandada pelos agricultores seja de 1000 kg de sementes
de algodão com línter para o próximo plantio, a FFA terá que separar 2.000
kg de algodão em caroço para beneficiar numa miniusina algodoeira mais
próxima à cidade de São Francisco de Assis do Piauí. Para atingir essa
quantidade desejada de sementes (1.000 kg), calcula-se o rendimento de 60%
de sementes com línter sobre o total de algodão em caroço que será
beneficiado (2.000 kg).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 117
Armazenamento
Uma vez beneficiado o algodão em caroço na
miniusina e deslintadas mecanicamente ou
Figura 48. flambadas, as sementes com linter devem ser
Acondicionamento de
secas ao sol, esfriadas à sombra e
sementes de algodão
deslintadas acondicionadas em garrafa pet (Figura 48) com
mecanicamente com a umidade máxima de 8%, segundo as
8% de umidade em
garrafa pet, sendo 1000 recomendações dadas por Harrington e Douglas
kg de sementes de (1970).
algodão para abastecer
os seis bancos
comunitários.
120
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
FEIJÃO
Escolha da área
Os agricultores de São Francisco de Assis do Piauí deverão optar por áreas
que atendam alguns requisitos básicos, no sentido de se obter sementes de
boa qualidade. Nessa área, é necessário que se proceda a um levantamento
do seu histórico, atentando para os seguintes pontos: espécies e cultivares
anteriormente plantadas, plantas daninhas existentes e optar por glebas onde
não se cultivou a espécie nos últimos 2 anos, pois isto significa um critério
rigoroso de sanidade do local de produção de sementes (TORRES et al., 2006).
Preparo do solo
O preparo do solo tradicional dos agricultores familiares de São Francisco de
Assis do Piauí é realizado apenas com o arado tombador (arado de aiveca
reversível) de tração animal para quaisquer espécies cultivadas nas suas
pequenas propriedades. Este tema já foi abordado detalhadamente para a
cultura do gergelim.
Por outro lado, vale ressaltar que o tamanho da área destinada à produção de
sementes deve ser compatível com as necessidades de cada agricultor, mesmo
que essa quantidade mínima de sementes seja para honrar seu compromisso
junto ao Banco Comunitário de Sementes da sua comunidade.
Isolamento da área
Por ser considerada uma espécie de autopolinização, o isolamento necessário
entre campos de variedades de feijão da mesma espécie deve ser em torno
de 50 metros (LOLLATO et al., 1993). Com base nos resultados da Tabela 4
(Cap. II), provavelmente essa distância entre campos de feijão de distintas
cultivares seja cumprida pelos agricultores familiares de São Francisco de
Assis do Piauí.
Adubação
Para que uma lavoura seja bem sucedida é necessário que exista uma
quantidade adequada de matérias orgânicas nos solos arenosos das pequenas
áreas agricultáveis dos agricultores familiares do município de São Francisco
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 121
Sementes
O agricultor de São Francisco de Assis do Piauí deve partir de sementes de
origem conhecida e de boa qualidade, para estabelecer um campo de produção
de alto padrão, que lhe proporcione bons rendimentos de sementes de alta
qualidade, ou seja, com elevada pureza varietal e física, bem como alta
qualidade fisiológica (germinação e vigor) e sanitária (POPINIGIS, 1977).
Semeadura
Por ser um plantio em regime de sequeiro, a semeadura deve ser realizada
nas épocas em que haja boa distribuição de chuva, normalmente no mês de
janeiro no semiárido de São Francisco de Assis do Piauí quando ocorre o início
do inverno.
Com base nos resultados da Tabela 2 (Cap. II), a semeadura é feita com uso
da matraca com 3 sementes por cova (Figura 49) com espaçamento entre
fileiras de 1 m e de 50 cm entre covas, por
se tratar de cultivares bastante ramificadas.
Foto: Odilon R.R.F. da Silva
Controle de pragas
Em geral, o feijão é afetado por inúmeros insetos, a maioria polífagos que
afetam outras plantas, especialmente as oleaginosas como o gergelim e
algodão. Portanto, as recomendações dadas de controle agroecológica de
algumas pragas para estas duas espécies também servem para a cultura do
feijão.
Colheita
A colheita manual, embora demande muita mão-de-obra, é o método mais
eficiente na manutenção da qualidade das sementes, sendo bastante utilizado
em áreas de feijão de pequenos agricultores familiares da região Nordeste.
Para uma boa colheita, as plantas devem apresentar no mínimo 90% de
desfolhas e vargens maduras com a cor típica da cultivar, estando suas
sementes com umidade entre 16 a 18%. Uma vez colhidas, as sementes
devem ser secas imediatamente antes da armazenagem, pois, quando úmidas,
têm sua qualidade comprometida (PRODUÇÃO, 2006).
Alguns agricultores de São Francisco de Assis do Piauí têm por tradição utilizar
a lata de 20 litros para o acondicionamento de sementes de feijão, mas sua
eficiência de conservação somente é conseguida quando a boca da embalagem
é estreita para adaptar uma pequena tampa feita com toco de madeira, ficando
sua vedação completada com cera de abelha (Figura 53). Nesse tipo de
embalagem ou em garrafa pet, as sementes de feijão são tratadas com cinzas
de madeira por medida de precaução (Figura 54), na proporção de 5% do seu
volume (QUEIROGA et al., 2008).
MILHO
Preparo do solo
O preparo do solo segue o mesmo sistema abordado para a cultura do feijão,
onde os agricultores familiares de São Francisco de Assis do Piauí usam o
tradicional arado tombador (arado de aiveca reversível) de tração animal para
preparar o campo de milho solteiro ou consorciado, sem a complementação
do cultivador para nivelar o terreno.
Plantio
A melhor época de semeadura para o milho terá que ser bem planejada pelo
agricultor de São Francisco de Assis do Piauí, de maneira que haja coincidência
da floração (pendoamento) da cultura com boa distribuição de chuvas na região.
Um atraso excessivo no plantio significará menores rendimentos e maiores
problemas com controle de pragas, doenças e plantas daninhas (LOLLATO et
al., 1993).
Sementes
Geralmente, as sementes de milho provenientes de agricultores familiares
apresentam uma quantidade elevada de contaminantes genéticos, originários
da falta de cuidados no isolamento da área, pois as normas de produção de
sementes certificadas recomendam deixar 300 m de distância entre campos.
Essas misturas varietais ocorrem em plantas alógamas como o milho e
principalmente porque o agricultor, não sabendo da distância correta de
isolamento, planta mais de uma cultivar na sua pequena propriedade (TORRES
et al., 2006). Este resultado da falta de isolamento correto dos campos de
milho foi constatado nas respostas dadas pelos agricultores da Tabela 4 (Cap.
II).
Como alternativa para plantar duas cultivares de milho, o agricultor teria que
implantar um campo de produção de sementes de 25 a 30 dias de diferença
126
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
em relação à outra lavoura para evitar que a floração das duas lavouras ocorra
no mesmo período e as plantas do campo de sementes não sejam contaminadas
(PRODUÇÃO et al., 2006). Por outro lado, nos campos de milho devem ser
evitadas as áreas já cultivadas com a espécie na safra anterior, devido à
possível presença de plantas espontâneas e também áreas com alta infestação
de plantas daninhas.
Ciclo: superprecoce
OBS: Por se tratar de valores médios, estes podem variar para mais ou para
menos, dependendo das condições ambientais.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 127
Colheita
Antes da colheita do milho, as plantas são dobradas abaixo da espiga pelo
agricultor para auxiliar a secagem e evitar a penetração de água nas espigas,
o que resulta na obtenção de sementes de melhor qualidade (LOLLATO et al.,
1993).
Apenas os agricultores da
comunidade de Barra Bonita
Foto: Vicente de P. Queiroga
ARROZ
Escolha da área
Apesar da avaliação ter sido feita posteriormente e envolver apenas uma
pequena amostra de agricultores da comunidade Barreiro Grande, em razão
disso não seria conveniente incluir a cultura do arroz junto às tabelas do Capítulo
II com as demais espécies abordadas sobre suas condições técnicas de
produção, tendo como base as informações obtidas no levantamento de
questionários respondidos pelos agricultores de seis comunidades do município
de São Francisco de Assis do Piauí.
Com relação à escolha da área de arroz de sequeiro, recomenda-se evitar
áreas já cultivadas com a espécie, pois existe o risco do aparecimento
espontâneo do arroz preto ou vermelho (LOLLATO et al., 1993).
Sementes
A presença de sementes de outras cultivares e de plantas daninhas é possível
ser detectadas em amostras de sementes de arroz, principalmente quando
essas amostras são coletadas diretamente de agricultores que utilizam suas
próprias sementes. Estas contaminações genéticas são decorrentes da falta
de cuidados no isolamento da área de produção (10 m) e nas misturas varietais
ocorridas durante o beneficiamento das sementes (LOLLATO et al., 1993).
130
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
A B
Figura 61. A) Uso de variedade de arroz adaptada para a região semiárida do Nordeste
e B) Arrozal de sequeiro do agricultor da comunidade Barreiro Grande no município de
São Francisco de Assis do Piauí.
Semeadura
A melhor época de semeadura do arroz de sequeiro é definida pelo agricultor
como o início do inverno, pois terá que proporcionar melhor distribuição de
chuvas nos vários estádios de desenvolvimento das espécies e, ao mesmo
tempo, terá que haver ausência de chuvas na fase final de maturação, o que
contribuirá para a obtenção de sementes de melhor qualidade (LOLLATO et
al., 1993). Este plantio do campo de arroz de sequeiro é realizado pelos
agricultores de São Francisco de Assis do Piauí com auxílio de matraca (Figura
62).
Colheita
A época para iniciar-se a colheita de sementes de arroz, é caracterizada pela
presença de 2/3 das panículas com sementes maduras, ocasião em que seu
grau de umidade está entre 20 e 24%. Atrasos na colheita do arroz podem
comprometer a qualidade das sementes por desgrana natural e por elevação
do nível de infecção das sementes por patógenos (VILLAS BÔAS, 1980).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 131
A B
Figura 63. A) Batedura manual dos feixes de arroz em cavalete de madeira sobre uma
lona e B) Equipamento com ventilador e peneira para batedura de arroz desenvolvido
pela Embrapa Arroz e Feijão.
132
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
SORGO
Seleção da área e preparo do solo
A escolha da área para a instalação do campo de produção de sementes de
sorgo deve ser feita com cautela. Nessa área, é necessário que se proceda
um levantamento da cultivar de sorgo anteriormente plantada para evitar
mistura varietal, em razão do aparecimento espontâneo de plantas de outra
cultivar (TORRES et al., 2006).
Característica
O forrageiro é um tipo de sorgo de porte alto, altura de planta superior a dois
metros, muitas folhas, panículas (cachos) abertas, com poucas sementes,
elevada produção de forragem e adaptado ao semiárido do município de São
Francisco de Assis do Piauí (IPA, 2009; Figura 65).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 133
Figura 65. Plantio de sorgo forrageiro no município de São Francisco de Assis do Piauí.
Adubação e plantio
Na adubação orgânica, pode-se aplicar (dependendo da disponibilidade), 10 a
15 toneladas por hectare de estrume de curral, que deverão ser incorporadas
à área de cultivo antes do plantio (IPA, 2009).
Purificação
É a eliminação de plantas contaminantes (atípicas) em um campo de produção
de sementes, ou seja, retirada de plantas que pertencem a outros cultivares
ou que estejam infestadas por doenças transmissíveis por sementes. Nessa
operação, deve-se ter o cuidado de vistoriar totalmente o campo de produção,
pois isso é fundamental para evitar a contaminação e preservar a qualidade
da semente. As épocas recomendadas para essa vistoria são: pós-emergência,
desenvolvimento vegetativo, pré-floração e pré-colheita (PRODUÇÃO, 2006).
134
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Colheita
O momento do corte da planta do sorgo
Foto: Vicente de P. Queiroga
AMENDOIM
Escolha da área e preparo de solo
O amendoim tem natureza hipógea, ou seja, os frutos desenvolvem-se debaixo
do solo (Figura 68). Necessita, portanto, de solos de textura arenosa ou franco-
arenosa para otimizar sua produção. Estes solos, contudo, são de baixa
retenção hídrica e o manejo da água é imprescindível para melhor rendimento
e economia no cultivo.
Foto: Vicente de P. Queiroga
Cultivares
Cerca de 60% do mercado interno de amendoim é voltado para os materiais
do tipo Valência, característicos por apresentarem porte ereto, ciclo em torno
de 90 dias, vagens com 3 a 4 sementes de coloração vermelha e tamanho
médio. A outra parte do mercado é voltada para os materiais do tipo Runner
ou Spanish, ambos possuindo 1 a 2 sementes/vagem de coloração bege,
cultivados em São Paulo e no Centro-Oeste (SANTOS et al., 2006).
ha no cultivo de sequeiro e o
rendimento médio em sementes é de
71%. O teor de óleo bruto nas
sementes é 46% (Figura 70).
Plantio
Foto: Silvokleio Costa
Isolamento
Para o amendoim, a distância entre
campos de produção de sementes de
cultivares diferentes, não devem ser
inferior a 15 m, evitando-se assim
cruzamento indesejáveis (CORDEIRO
e FARIAS, 1993).
Figura. 74. Preparação de sulco e camalhão (leirão) com superfície abaulada através
do cultivador adaptado para sulcamento.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 139
Colheita
Em pequenas propriedades, normalmente utiliza-se a mão-de-obra familiar nas
operações de colheita e pós-colheita. Após o arranquio manual, as plantas
são enleiradas para secagem de modo a reduzir a umidade das sementes
(Figura 75). Não é recomendado atrasar o período de colheita do amendoim
uma vez que tal procedimento pode incorrer em germinação das sementes
dentro da própria vagem, já que no Nordeste são utilizadas variedades de tipo
ereto, cujas sementes não apresentam dormência. O atraso na colheita
também favorece a incidência de pragas e de doenças, que comprometem a
qualidade do produto (SANTOS et al., 2006).
Foto: Tarcísio M. de S. Gondim
Figura 75. Após o arranquio do amendoim, as plantas são enleiradas (viradas) para
secagem dos frutos.
GIRASSOL
Seleção da área e preparo do solo
Os campos de sementes deverão ser instalados em solos bem supridos em
matéria orgânica, bem drenados, com pH próximo da neutralidade e com
poder de retenção de umidade (argilo-arenoso).
Sementes
As variedades atualmente em uso no Brasil apresentam ciclo médio de 100
dias e altura de planta oscilando entre 140-150 cm. As sementes apresentam
um teor de óleo de 43 a 45%, perfazendo rendimento de 1.300 a 1.800 kg
de sementes por hectare.
Isolamento
O girassol, sendo uma espécie de polinização aberta, exige certos cuidados,
visando preservar a identidade genética da cultivar durante seu processo de
produção em campo.
Colheita
Segundo Fancelli et al. (1980), existem três sistemas utilizados para a colheita
manual do girassol. O primeiro consiste em se cortar logo abaixo dos capítulos
das plantas, com tesoura de poda ou fações bem afiados, quando as sementes
já se apresentem bem secas. Tais capítulos devem ser recolhidos
imediatamente em sacos ou balaios e transportados para terraço da casa a
espera da operação de debulha. Este método de colheita tardia (colher as
sementes após secar no campo) pode provocar grandes perdas de sementes
para o pequeno produtor, em decorrência da sua contaminação no campo e
ataque de pássaros.
MAMONA
Local de produção
As condições ambientais das áreas onde serão instalados os campos de
produção de sementes de mamona, revestem-se de grande importância para
maximizar os rendimentos e obtenção de sementes de alto padrão de qualidade.
Época de plantio
A época de plantio também pode exercer grande influência quanto ao
rendimento e qualidade das sementes de mamona, sendo que esta época
ideal está sujeita às condições climáticas de cada região. Távora (1982)
recomenda que em áreas de pouca pluviosidade os plantios devem ser
realizados logo no início das chuvas, enquanto que em áreas de alta
pluviosidade, este plantio pode ser adiado a fim de que não ocorram pesadas
chuvas quando do amadurecimento e secagem dos frutos.
Densidade de plantio
A população de plantas adotada num campo de produção de sementes, que é
função do espaçamento utilizado, é mais um fator que concorre para o
rendimento e qualidade das sementes (Figura 81).
Foto: Tarcísio M. de S. Gondim
Plantas daninhas
A mamoneira (Ricinus communis L.) apresenta um crescimento inicial lento,
sendo que a presença de plantas daninhas nesta fase do desenvolvimento
torna-se um problema sério, que pode ocasionar perdas consideráveis na
produção (MASCARENHAS, 1981). A cultura precisa ser mantida no limpo,
sobretudo nos primeiros estádios de desenvolvimento, até atingir 60 a 70
dias do ciclo vegetativo.
146
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Isolamento
Os campos destinados à produção de sementes de mamona devem estar
isolados dos demais campos plantados com outras cultivares, ou com a mesma
cultivar, se este não preencher às exigências de produção quanto à pureza
varietal. Para que não haja o risco de algum cruzamento, Lingerfelt (1976)
recomenda o isolamento de 1.000 m.
Roguing
A operação de roguing consiste na eliminação de plantas de caule e folhagens
atípicas, doentes, portadoras de anomalias e de florescimento precoce, tem
por objetivo principal garantir a pureza varietal e a sanidade das sementes.
Polinização
Prevalece na mamona a autopolinização, por ser considerada uma planta
normalmente monóica, onde as flores unissexuais masculinas e femininas
ocorrem numa mesma inflorescência de cada planta (MACÊDO e WAGNER,
1984). Os mesmos autores afirmam que a explosiva deiscência da antera
permite lançar o pólen a grandes distâncias. Este mecanismo da planta
favorece a polinização cruzada, a qual é obra principalmente do vento, devido
à leveza e grande produção de pólen. Segundo Mazzani (1983), a porcentagem
de polinização cruzada é variável e raras vezes menor do que 30%.
Colheita
A determinação do ponto de colheita da mamona é dificultada pela grande
desuniformidade de maturação dos frutos do racemo, tornando-se uma
operação dispendiosas por consumir bastante mão-de-obra, tudo por causa
da necessidade de repetir o processo de colheita 5 a 6 vezes durante o ano
(MAZZANI,1983).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 147
Secagem
A secagem natural dos frutos tem sido mais usada pelos pequenos agricultores
da região semiárida do Nordeste. No processo natural, os frutos ficam expostos
ao sol, após o seu desprendimento do cacho, em piso de alvenaria ou lona, por
um período de 4 a 15 dias dependendo da cultivar (HERMELY, 1981), até
atingir a umidade dos frutos de 10%, quando acontece a deiscência das
cápsulas (RIBEIRO FILHO, 1966). Este processo tem o inconveniente de obrigar
o recolhimento dos frutos ao final de cada dia, a fim de evitar-se a ação da
umidade sobre eles.
Beneficiamento
Após a operação de batedura dos frutos secos com varas flexíveis, recolhem-
se as sementes e procede-se a limpeza das mesmas com uma peneira comum,
sacudindo-se com os movimentos verticais para que o vento consiga retirar
as impurezas contidas. Em seguida ao processo de limpeza manual, as sementes
de mamona podem ser imediatamente ensacadas.
mamona é aumentada
consideravelmente, quando as
mesmas são colocadas em
embalagens herméticas (Figura 83),
desde que o teor máximo de
umidade das sementes seja de 5%
(POPINIGIS, 1977).
ADUBOS VERDES E
FORRAGEIRAS
Feijão Guandu, Milheto,
Mucuna Cinza, Mucuna
Preta e Feijão de Porco
Figura 83. Sementes de mamona
O adubo verde tem diversas
acondicionadas em garrafa pet.
funções, mas a principal delas é
proteger, recuperar e melhorar a qualidade do solo. De acordo com as
pesquisas, qualquer planta pode ser usada como adubo verde, mas a preferência
é pelas leguminosas, que têm a capacidade de fixar o nitrogênio da atmosfera
(WANG et al., 1986).
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