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TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO

DA AGRICULTURA FAMILIAR:
BANCOS COMUNITÁRIOS DE SEMENTES

1ª edição

Centro Nacional de Pesquisa de Algodão


Campina Grande, PB
2011
TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO
DA AGRICULTURA FAMILIAR:
BANCOS COMUNITÁRIOS DE SEMENTES

VICENTE DE PAULA QUEIROGA

ODILON RENY RIBEIRO FERREIRA DA SILVA

FRANCISCO DE ASSIS CARDOSO ALMEIDA

Editores Técnicos

Campina Grande, PB
2011
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Revisão do texto: Marleide Magalhães de Andrade Lima


Normatização Bibliográfica: Valter Freire de Castro
Editoração Eletrônica: Profissional Particular
Capa: Flávio Torres de Moura
1ª edicão
1ª impressão: 500 exemplares

Todos os direitos reservados


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação
dos direitos autorais (Lei nº 9.610)
CIP-Brasil, Catalogação na publicação
FFA em parceria com a Embrapa Algodão e UFCG
_________________________________________________________________________
QUEIROGA, V.P., SILVA, O.R.F., ALMEIDA, F.A.C. Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura
familiar: Bancos Comunitários de Sementes. 1.ed. Campina Grande: Fraternidade de São Francisco de
Assis / Universidade Federal de Campina Grande, 2011.

160p.il.; 20 cm
ISBN:

1. Gergelim - Banco Comunitário de Sementes- Agricultura Familiar- Nordeste- Brasil. I. Queiroga, V.P.;
Silva, O.R.F.; Almeida, F.A.C. - Título.

CDD

@FFA 2011
Autores

Vicente de Paula Queiroga (Dr)


Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -
Embrapa Algodão
Centro Nacional de Pesquisa de Algodão - CNPA
Campina Grande, PB (Brasil)

Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva (Dr)


Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -
Embrapa Algodão
Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA
Campina Grande, PB (Brasil)

Francisco de Assis Cardoso Almeida (Dr)


Professor Associado da Unidade Acadêmica de
Engenharia Agrícola
Centro de Tecnologia e Recursos Naturais
Universidade Federal de Campina Grande, PB (Brasil)
Apresentação

As tecnologias apresentadas neste documento e que tratam do programa


Banco Comunitário de Sementes objetiva repassar aos agricultores familiares
a possibilidade de administrarem seus próprios estoques de sementes,
recebendo da instituição responsável uma quantidade de sementes para o
plantio, devolvendo ao final da colheita, duas vezes a quantidade recebida
para dar continuidade ao banco existente e possibilitar a formação de novos
bancos comunitários de sementes, permitindo a participação de um número
cada vez maior de agricultores ao programa. Essa dinâmica do banco estimula
o processo organizativo da comunidade, pois é um espaço de gestão participativa
com orientação técnica onde os produtores da agricultura familiares criam as
regras e são responsáveis pelos estoques.

O desenvolvimento das tecnologias foi precedido de um amplo diagnóstico


em que se constatou a necessidade das técnicas e a real possibilidade de
serem absorvidas pelas comunidades rurais, especialmente, as que fazem a
agricultura familiar.

O produtor que faz a agricultura familiar, geralmente utiliza-se da sobra da


colheita do ano anterior para a próxima semeadura, ou obtém sementes do
vizinho mais próximo ou produz sua própria semente, valendo-se de processos
empíricos, que são passados de geração para geração. A questão deve-se,
entre outros fatores, à falta de conhecimento do real valor do emprego de
sementes melhorada e do preço destas em relação à semente não melhorada
geneticamente, o que dificulta a decisão do agricultor quanto à sua aquisição.
Contudo, este problema pode ser resolvido mediante a implementação do
associativismo por intermédio do Banco Comunitário de Sementes, organização
que conta com a participação dos agricultores para garantir o acesso a sementes
de boa qualidade, em quantidade suficiente e no período certo do plantio.

Ao produzir sua própria semente, o produtor da agricultura familiar não só


terá maiores chances de obter uma boa colheita, como também, maior
produtividade com menor custo e, consequentemente, maior lucratividade e
sem depender de programas de distribuição de sementes. Ademais, é assim
que se faz com que este agricultor passe a entender que na semente temos a
materialização do trabalho de muitas pessoas que dedicam uma vida inteira à
busca das características desejadas pelo mercado, seja no melhoramento
genético, seja na produção, na armazenagem, no tratamento, no transporte
e na comercialização.

Esta publicação tem por objetivo tratar o tema Bancos de Sementes com
informações que vão além do tema gestão propriamente dito, tratando
parcialmente as questões técnicas sobre a produção de sementes de diversas
espécies cultivadas pelos agricultores familiares do nordeste do Brasil, ou
seja, um conjunto de técnicas voltadas para um sistema participativo de
produção de sementes pelos agricultores em suas propriedades com seus
próprios sistemas de cultivo e com os recursos normalmente disponíveis na
propriedade.

O levantamento realizado dos aspectos comuns na comunidade e das


particularidades de cada propriedade que a integra permite ajustar as propostas
técnicas da Embrapa, de modo que a produção e a conservação de sementes
seja um ato participativo, rumo às práticas agroecológicas, em que ações
técnicas e práticas agrícolas familiares estejam entrelaçadas e resultem em
fortalecimento dos Bancos Comunitários de Sementes. E, também, espera-se
que as associações ou comunidades de produtores rurais da agricultura familiar,
interessadas na organização de um Banco Comunitário de Sementes passem
a dominar e praticarem os procedimentos e critérios técnicos relacionados
com a organização da produção de sementes e, em consequência, tenham
maiores possibilidades de sucesso nos respectivos negócios.

Por fim, este material é dedicado àquelas pessoas que no futuro aprenderão
a valorizar as sementes pelo seu inestimável valor no referente à
sustentabilidade da agricultura como impulsionadora da rápida evolução do
nível de tecnologia agrícola, que nossa agricultura familiar tanto necessita.

Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva


Chefe Adjunto de Comunicação e Negócios da Embrapa Algodão
Prefácio
O Banco Comunitário de Sementes é uma organização que visa suprir as
necessidades de sementes dos agricultores familiares, sem que para isso ele
precise ter dinheiro. Esta prática representa, para o o agricultor, autonomia e
segurança alimentar, dois conceitos muito importante na agroecologia.
Armazenar sementes em Bancos Comunitários para utilizar no próximo plantio
tem sido a alternativa utilizada por centenas de famílias de pequenos
agricultores que vivem no semiárido brasileiro, para enfrentar os longos
períodos de estiagem e o combate à fome.

Estes Bancos são um modelo alternativo de administração coletiva da reserva


de sementes necessária para o plantio. O funcionamento se baseia no sistema
de empréstimo e devolução. A família associada toma emprestada uma certa
quantidade de sementes, à que se acrescenta uma porcentagem quando
devolvida depois da colheita. Para o início das atividades, o Banco define
coletivamente a quantidade de sementes que cada agricultor ou agricultora
tem que depositar e qual será a porcentagem que deve ser acrescentada na
devolução. Este sistema permite que cada família produza e melhore sua
própria semente sob a gestão coletiva dos produtores familiares de
comunidades rurais.

A dificuldade ao acesso e os altos custos das sementes de qualidade, aliado


às dificuldades financeiras dos agricultores familiares, juntamente com a quase
ausência de assistência técnica, fazem da produção comunitária de sementes
uma saída viável, tanto para as lavouras de subsistência, quanto para facilitar
a comercialização dos seus excedentes.

A disponibilização de conhecimento técnico na produção de sementes de


diversas espécies cultivadas na região semiárida do nordeste do Brasil, assim
como a implantação de unidades comunitárias de produção de sementes em
São Francisco de Assis do Piauí servirão de modelo para outras associações
de produtores, além de constituir ferramenta para a difusão e apropriação de
tecnologias. Espera-se que o maior impacto desta iniciativa esteja na formação
de um Banco Comunitário de Sementes, que permitirá o acesso a uma
diversidade varietal de sementes, na preservação de sementes tradicionais
altamente adaptadas às condições locais, e de alto valor sócio-cultural para
as comunidades, culminando com a preservação e a valorização do espaço
rural.
V Encontro de Produção Científica da Embrapa Algodão - EPC 2010

Com a ajuda e o incentivo dos técnicos locais, poderá ser demonstrada a


forma ideal de selecionar e armazenar as melhores sementes destinadas ao
plantio seguinte, sempre tendo o cuidado de respeitar as formas tradicionais
próprias de selecionar e guardar as melhores sementes produzidas na
comunidade pelos agricultores familiares.

A semente com qualidade é uma das principais garantias da sustentabilidade


alimentar do homem que trabalha a terra e da sua família. A proposta de
produção de sementes e a criação de Bancos Comunitários de Sementes vêm
assegurar não somente o futuro, mas também a valorização dos saberes
científicos e tradicional, possibilitando um melhor saber fazer entre as
populações locais, os agricultores familiares e a Embrapa. Esta atitude é
fundamental para proteger as variedades nativas e pesquisar novas opções
de cultivares não só para a sobrevivência de seus usuários mas também para
aumentar a sua qualidade de vida e competitividade produtiva.

Portanto, o Banco Comunitário de Sementes é considerado uma prática


relativamente simples que pode beneficiar muitas famílias de agricultores que
vivem na zona rural. E assim, sempre que houver terra, chuva e alguém disposto
a plantar, também haverá sementes para atender esses agricultores familiares.

Os autores deste livro acreditam que todos os conhecimentos à disposição


dos agentes de desenvolvimento brasileiro comprometidos com as organizações
de agricultores familiares, poderão servi-lhes no aperfeiçoamento do sistema
produtivo de sementes, visando melhorar o potencial dos Bancos Comunitários
de Sementes, já existentes na região semiárida do nordeste do Brasil, como
um meio de garantia da seguridade de sementes de diversas espécies cultivadas
em condições adversas.

Os autores
Sumário

Capítulo 1 - Bancos Comunitários de Sementes nas Comunidades


Rurais de São Francisco de Assis do Piauí.................................... 019

Introdução.................................................................................. 021
MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS DO PIAUÍ................. 023
HISTÓRICO DOS BANCOS DE SEMENTES NO NORDESTE............ 025
PRODUÇÃO DE SEMENTES ORGÂNICAS ................................... 026
BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES....................................... 027
1. Banco Mãe de Sementes.......................................................... 029
2. Gestão dos Bancos de Sementes Comunitários.......................... 031
3. Situação Atual dos Bancos de Sementes em São Francisco
de Assis do Piauí......................................................................... 033
4. Organização dos Bancos de Sementes...................................... 036
5. Tipos de Bancos de Sementes.................................................. 039
a) Banco de Sementes Alimentares, Oleaginosas e Fibrosas........... 039
b) Banco de Sementes Forrageiros................................................ 040
c) Banco de Sementes de Adubos Verdes...................................... 041
6. Acesso à Semente do Banco.....................................................042
7. Estrutura dos Bancos nas Comunidades.................................... 047
8. Tipo de Embalagem Adotada pelo Banco....................................048
9. Normas do Banco de Sementes................................................ 050
10. Controle de Estoque do Banco.................................................052
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................ 056

Capítulo 2 - Diagnóstico da Produção Agrícola para Formação de


Bancos Comunitários de Sementes em São Francisco de Assis do
Piauí........................................................................................... 059

Introdução.................................................................................. 061
ENTREVISTA COLETIVA E APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIOS EM
SÃO FRANCISCO DE ASSIS DO PIAUÍ PARA IMPLANTAÇÃO DE
BANCOS DE SEMENTES............................................................ 062
RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS.......................................... 062
1. Situação da comunidade........................................................... 063
2. Sistemas de semeadura........................................................... 064
3. Preparo do solo e sistemas de plantio........................................ 065
4. Condições do campo e participação das espécies no consórcio e
forrageiro.................................................................................... 067
5. Beneficiamento da produção..................................................... 068
6. Seleção de plantas, secagem e acondicionamento de sementes. 069
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................ 072

Capítulo 3 - Sistemas de Produção de Sementes Orgânicas


Utilizados pelos Produtores Familiares de São Francisco de Assis
do Piauí: Um Estudo de Caso....................................................... 073
INTRODUÇÃO............................................................................. 075
GERGELIM................................................................................. 076
Seleção da área.......................................................................... 076
Preparo do solo........................................................................... 076
Plantio........................................................................................ 079
Adubação do Solo..................................................................... 081
Isolamento.................................................................................. 083
Roguing...................................................................................... 083
Capinas...................................................................................... 085
Controle de pragas....................................................................... 087
Preparação de macerado.............................................................. 088
- MACERADO PARA LAGARTA....................................................089
- MACERADO PARA PULGÃO..................................................... 090
- MACERADO PARA PULGÃO E LAGARTA.................................. 090
- MACERADO PARA MOSCA-BRANCA ADULTA............................091
- MACERADO PARA NINFAS DA MOSCA-BRANCA.......................092
MACERADO PARA COCHONILHA................................................093
Planta de neem............................................................................ 093
- MACERADO PARA LAGARTAS, PULGÕES, CIGARRINHA-VERDE
E MOSCA-BRANCA.................................................................... 095
Época de corte das plantas.......................................................... 096
Secagem dos feixes.................................................................... 099
Batedura dos feixes..................................................................... 101
Peneiração e ventilação das sementes.......................................... 102
Secagem das sementes............................................................... 105
Armazenamento.......................................................................... 105
Rotação de culturas..................................................................... 106
ALGODÃO HERBÁCEO............................................................... 107
Antecedentes.............................................................................. 107
Condições da área ...................................................................... 109
Preparo do solo........................................................................... 109
Característica da cultivar .............................................................110
Sementes................................................................................... 111
Época de plantio.......................................................................... 112
Consórcio agroecológico............................................................... 114
Capinas....................................................................................... 115
Controle de pragas....................................................................... 115
a) Controle Biológico.................................................................... 115
b) Controle Cultural.......................................................................115
- UNIFORMIDADE DE PLANTIO.................................................... 116
- MANIPULAÇÃO DE CULTIVARES...............................................116
- PERÍODOS LIVRES DE PLANTIO............................................... 116
- ESPAÇAMENTO AMPLO........................................................... 116
- CATAÇÃO DE BOTÕES FLORAIS E MAÇÃS.............................. 117
- DESTRUIÇÃO DOS RESTOS DE CULTURA................................ 117
- ROTAÇÃO DE CULTURA............................................................117
- CULTURA-ARMADILHA..............................................................117
- ARMADILHA DE FEROMÔNIO.................................................... 118
c) Controle Climático.....................................................................118
d) Controle com Produtos Naturais.................................................118
Colheita....................................................................................... 118
Beneficiamento............................................................................ 120
Armazenamento...........................................................................123
FEIJÃO....................................................................................... 124
Escolha da área........................................................................... 124
Preparo do solo............................................................................ 124
Isolamento da área....................................................................... 124
Adubação.................................................................................... 124
Sementes.................................................................................... 125
Semeadura.................................................................................. 125
Controle de pragas....................................................................... 126
Colheita....................................................................................... 126
MILHO........................................................................................ 129
Preparo do solo........................................................................... 129
Plantio........................................................................................ 129
Sementes................................................................................... 129
Colheita...................................................................................... 131
ARROZ....................................................................................... 133
Escolha da área........................................................................... 133
Sementes.................................................................................... 133
Semeadura.................................................................................. 134
Colheita....................................................................................... 134
SORGO....................................................................................... 136
Seleção da área e preparo do solo................................................. 136
Característica.............................................................................. 136
Adubação e plantio...................................................................... 137
Purificação.................................................................................. 137
Colheita...................................................................................... 138
AMENDOIM................................................................................ 139
Escolha da área e preparo de solo................................................ 139
Cultivares.................................................................................... 140
Plantio........................................................................................ 141
Isolamento.................................................................................. 141
Capinas...................................................................................... 141
Colheita...................................................................................... 143
GIRASSOL................................................................................. 144
Seleção da área e preparo do solo................................................ 144
Sementes................................................................................... 145
Isolamento.................................................................................. 145
Colheita...................................................................................... 146
MAMONA................................................................................... 148
Local de produção....................................................................... 148
Época de plantio......................................................................... 148
Densidade de plantio................................................................... 149
Plantas daninhas........................................................................ 149
Isolamento................................................................................. 150
Roguing..................................................................................... 150
Polinização................................................................................ 150
Colheita..................................................................................... 150
Secagem................................................................................... 151
Beneficiamento............................................................................ 151
ADUBOS VERDES E FORRAGEIRAS.......................................... 152
Feijão Guandu, Milheto, Mucuna Cinza, Mucuna Preta e Feijão de 152
Porco..........................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................... 155
Capítulo 1

Bancos Comunitários de Sementes


nas Comunidades Rurais de
São Francisco de Assis do Piauí

Vicente de Paula Queiroga

Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva

Tarcísio Marcos de Souza Gondim

Dalfran Gonçalves Vale

Pe. Henrique Geraldo Martinho Gereon

Diego Antonio Nóbrega Queiroga

Fábio José de Souza


Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 17

Introdução
O agricultor familiar do Brasil é responsável por mais de 30% da produção
agropecuária nacional. No tocante ao nordeste brasileiro, a agricultura familiar
fica bem caracterizada pelos seguintes números: ocupa 43,5% da área
regional, engloba 88,3% dos estabelecimentos existentes e é responsável
por 43% do Valor Bruto da Produção Regional (VBPR), utilizando apenas 26,5%
dos financiamentos (TORRES et al., 2006).

Historicamente, os agricultores familiares da região nordeste do Brasil,


enfrentam inúmeras dificuldades de acesso às sementes necessárias para as
suas atividades agrícolas. Além dos problemas gerados pelas condições
climáticas, como os longos períodos de estiagem e a concentração do período
das chuvas, a baixa oferta de sementes constitui-se como outro fator importante
na problemática de acesso às estes materiais pelos agricultores familiares
(FRANCO, 1970).

Os Governos Estaduais da região, muitas vezes com a participação do Governo


Federal, tem buscado responder a esta situação a partir de processos de
compra e distribuição de sementes para comunidades e em alguns casos com
a criação de programas estaduais de sementes. Ocorre que estas ações, em
geral, têm se revelado insuficientes, pois não têm conseguido garantir o acesso
permanente dos agricultores familiares às sementes, além de representar um
forte dreno de recursos públicos. Os principais problemas identificados para o
sucesso dessas iniciativas tem sido o baixo número de produtores com sementes
adequadas para a realidade regional, a inexistência de mecanismos legais que
permitam um maior número de produtores participarem do processo de
aquisição por parte dos Estados e a aquisição, em certas ocasiões, de sementes
com baixa qualidade fisiológica e com características genéticas inadequadas
às condições ecológicas e ambientais da região (ALMEIDA e CORDEIRO,
2002).

Outras iniciativas surgidas a partir das mobilizações de entidades locais de


agricultores familiares com o intuito de gerar um processo de resgate de
materiais mais adaptados à região semiárida do Nordeste e garantir a auto-
suficiência das comunidades com relação às sementes, foram os bancos de
sementes comunitários (CORDEIRO e FARIAS, 1993). Em tese, estas estruturas
deveriam servir primariamente, para a armazenagem de sementes de culturas
alimentares, forrageiras e de vestuário. Além disto, deveriam também exercitar
18
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

em seus associados, o espírito cooperativo, a prática da solidariedade, o


aprendizado de técnicas de gestão, bem como o resgate e a conservação de
variedades locais (ARAÚJO et al., 2004). Entretanto, em alguns municípios
do Nordeste tem sido observada uma série de deficiências na condução destas
estruturas, tornando estes bancos, depósitos de grãos e não de sementes.

Partindo desta avaliação preliminar e da necessidade de responder de forma


mais eficiente e articulada a problemas como as chuvas irregulares que chegam
a atingir frequentemente o município de São Francisco de Assis do Piauí,
diversas comunidades de produtores familiares do referido município (Lagoa
do Juá, Vereda Comprida, Gatinhos, Vereda da Serra e Lagoa da Povoação)
deram início à construção, em trabalhos de mutirão, de pequenos armazéns
para o acondicionamento das suas sementes, denominados "Casa de
Sementes", cujas sementes foram adquiridas em várias unidades de pesquisa
da região Nordeste pela Fraternidade de São Francisco de Assis - FFA. O
fortalecimento desses bancos de sementes, como estratégia para assegurar
a auto-suficiência das famílias em relação às sementes, conta principalmente
com os matérias gerados pela pesquisa e adaptados às condições adversas da
região semiárida, de modo que possam garantir a preservação do meio
ambiente por não usar agrotóxico (cultivo orgânico) e permitir a
sustentabilidade alimentar dos envolvidos.

No município de São Francisco de Assis do Piauí-PI, a Fraternidade de São


Francisco de Assis (FFA) é a entidade coordenadora dos trabalhos nas
comunidades rurais, e desde a sua criação vem desenvolvendo algumas
atividades nas áreas de abrangência da paróquia local, visando à diversificação
da produção e a melhoria da qualidade de vida dos produtores da região. Para
isto, a FFA tem buscado apoio de algumas entidades para capacitar e
acompanhar os produtores no desenvolvimento das atividades agrícolas, tais
como: apicultura (mel orgânico), criações de animais de pequeno porte (caprinos
e galinhas caipiras), cultivo de espécies alimentares, oleaginosas e fibrosas
(QUEIROGA et al., 2008). Com relação ao plantio, geralmente o agricultor
utiliza-se da sobra da colheita do ano anterior, obtém sementes do vizinho
mais próximo ou produz sua própria semente, valendo-se de processos
empíricos, que são passados de geração para geração.

Nesse contexto, o projeto delineado pela FFA é organizar a participação dos


agricultores para garantir o acesso a sementes de boa qualidade, mediante a
implementação do associativismo por intermédio do Banco Comunitário de
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 19

Sementes, em quantidade suficiente e no período certo do plantio. Ao produzir


sua própria semente, o pequeno produtor não só terá maiores chances de
obter uma boa colheita, como também maior produtividade, dispor desse insumo
num custo menor que aquele praticado pelo mercado e diminuir a dependência
de programas de distribuição de sementes.

Município de São Francisco de Assis do Piauí


O município de São Francisco de Assis do Piauí está localizado a uma latitude
08º14'16" sul e a uma longitude 41º41'10" oeste, estando a uma altitude de
415 metros e, tem uma das menores populações do estado do Piauí, sendo a
estimativa atual de mais ou menos cinco mil e duzentos habitantes. Segundo
Aguiar e Gomes (2004), o município ocupa uma área de 112.367 ha. A
dominância do semiárido na região faz com que o mesmo seja conhecido e
apontado pela mídia como lugar de seca e fome. Apesar dos desafios que o
clima estabelece, a maior parte dos produtores familiares vive na zona rural
(mais de dois terço da população). A sua ocupação agrícola está subordinada
às possibilidades limites das condições climáticas, havendo uma predominância
do sistema de policultivos associados com a criação de caprinos, além de ser
considerado um grande produtor de mel orgânico registrado pelo IBD (estima-
se que no município tenha mais de mil apicultores; Figura 1).
Fotos: Vicente de P. Queiroga

A B
Figura 1. A) Entreposto comercial e unidade de beneficiamento de mel orgânico da
Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) de Simplício Mendes-PI (conhecida como
Nutritivomel) e B) Apiário de produção de mel orgânico da propriedade Capão Bonito
da FFA em São Francisco de Assis do Piauí.
20
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

A produção agrícola do município de São Francisco de Assis do Piauí está


voltada tanto para o abastecimento alimentar da família (subsistência) e dos
animais quanto para a produção de excedentes para a comercialização nos
municípios adjacentes. Os policultivos estão diversificados por várias espécies
manejadas, desde pequenas áreas isoladas até diferentes arranjos consorciados
(dentro da mesma unidade produtiva). Para adquirir os conhecimentos
tecnológicos relativos às atividades produtivas (gergelim, algodão, apicultura,
caprinocultura etc), os agricultores familiares recebem cursos de capacitação
técnica de algumas entidades de pesquisa, visando garantir o desenvolvimento
agrícola sustentável para a zona rural do município em apreço (QUEIROGA et
al., 2008).

As famílias rurais de São Francisco de Assis do Piauí têm como tradição de


produzir e guardar sua própria semente em casa. A cada safra agrícola se
repete o mesmo ciclo. As sementes são plantadas, colhidas, beneficiadas e
estocadas até o próximo plantio por cada um dos produtores familiares. Diante
das inconstâncias climáticas da região, a prática de estocagem em nível
familiar, não se resume apenas às sementes, mas de água, alimentos e forragem
assume uma importância central na estratégia de convivência com o semiárido
(AGUIAR e GOMES, 2004). O programa da Fraternidade de São Francisco de
Assis (FFA) de armazenamento de água superou a marca de 1.350 cisternas
construídas (Figura 2) no meio rural, contra 20 construídas pelo poder público.
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 2. Armazenamento de água em cisterna para atender os agricultores familiares


da zona rural de São Francisco de Assis do Piauí, trabalho realizado pela FFA (total de
1.350 cisternas construídas até o dia 31 de março de 2009).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 21

Histórico dos Bancos de Sementes no Nordeste


No Brasil, os bancos de sementes comunitários datam da década de setenta,
a partir de ações da Igreja Católica junto às comunidades eclesiais de base, as
CEBs, em diversas dioceses e paróquias do Nordeste. Segundo o relato do
Padre Bernardo Holmes, na época vigário de Tauá - CE (Figura 3), os bancos
de sementes tiveram como início dois motivos: 1) Falta de distribuição de
sementes pelo governo em quantidade e em época oportuna de início do inverno
no sertão nordestino para a semeadura dos campos e 2) para não deixar de
plantar, os agricultores eram obrigados a vender força de trabalho ou pedir
empréstimos aos grandes proprietários para poderem comprar a semente na
época de plantio. Diante dessa realidade, os agricultores eram obrigados a
trabalhar como meeiros nas terras de terceiros. Com a criação dos bancos de
sementes comunitários, apoiados pela igreja, os agricultores passaram a
planejar melhor os seus plantios na ocupação de suas próprias terras (ESPLAR,
1992).

Com o propósito de melhorar a qualidade da semente produzida e armazenada,


surgem em 1992 financiamentos para compra de silos e encontros técnicos,
visando orientar o produtor com relação à seleção genética das plantas (massal)
e pureza física das sementes. Também ficou evidenciada a melhoria na gestão
dos bancos de sementes, a qual buscava um maior compromisso dos agricultores
com a devolução das sementes, o aumento do estoque dos bancos e uma
maior responsabilidade com a administração do bem coletivo (ESPLAR, 1992).
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 3. Igreja Católica da cidade de Tauá-CE.


22
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Desde então, muitas experiências de bancos de sementes comunitários têm


sido difundidas com força no Nordeste brasileiro, especialmente, nos estados
do Ceará, Paraíba e Pernambuco. Em 1996 foram contabilizados pela Rede
de Intercâmbio de Sementes do Nordeste, 250 bancos envolvendo 9.250
famílias nesta região do Brasil (ALMEIDA e CORDEIRO, 2002).

Produção de Sementes Orgânicas


Diante da crescente situação de pobreza do campo na região semiárida do
Nordeste e devido aos graves problemas de condução das áreas de produção
e comercialização dos produtos convencionais (com agrotóxicos), os
agricultores de São Francisco de Assis do Piauí encontraram um sistema
diferenciado de plantio agroecológico para as várias espécies cultivadas, como
algodão, gergelim, milho, feijão, sorgo, feijão guandu, entre outras, por tratar
de uma cadeia produtiva solidária que preserva os recursos naturais, gerando
inclusão social e um produto final diferenciado com maior valor agregado
(QUEIROGA et al., 2008). Ademais, a região semiárida do Nordeste se destaca
como possuidora de condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo de várias
espécies ecológicas, por haver microrregiões que exercem um papel
preponderante na redução natural de pragas (clima seco e quente).

Na atualidade é importante destacar o crescimento exponencial da demanda


de produtos orgânicos no Brasil, assim como as exigências do IBD (Instituto
Biodinâmico de Botucatu-SP) de que as suas áreas plantadas sejam realizadas
a partir de sementes orgânicas certificadas (QUEIROGA et al., 2008). Mesmo
assim, se constata uma insuficiência mundial de oferta de semente orgânica,
incluindo o Brasil e, finalmente, que existe um consenso da participação dos
produtores de São Francisco de Assis do Piauí em conservar o meio ambiente
da região, portanto, cabe aos mesmos tentarem explorar essa nova
oportunidade de negócios e proporem organizar esse mercado da semente
orgânica regional, que envolve diversas espécies, para sua produção e
comercialização. Ou seja, essa organização de microempresas familiares
agroecológicas produtoras de sementes permite criar a oportunidades de
ingressar no mercado brasileiro de sementes orgânicas, mas primeiro é
necessário assegurar a auto-suficiência alimentaria das famílias envolvidas e
essa missão humanitária constitui a base do programa da FFA.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 23

Uma vez ciente deste fato, as sementes orgânicas passariam a ser material
de grande importância para o desenvolvimento sustentável das comunidades
rurais de São Francisco de Assis do Piauí. Consequentemente, os agricultores
familiares poderão produzir, ao mesmo tempo, material para consumo (grãos)
e material para o plantio (sementes), sendo que o excedente da produção de
sementes orgânicas fosse comercializado pela FFA como sementes certificadas
para algumas empresas privadas ou estaduais interessadas, mediante contrato
de abastecimento antecipado firmado entre ambos.

Estas relações de divisão de trabalho podem ser alcançadas pelos bancos


comunitários dos agricultores familiares de São Francisco de Assis do Piauí,
desde que seja desenvolvida uma pequena estrutura de produção e logística.
Ressalta-se que a organização do Banco Comunitário de Sementes deve ser
formada apenas com os agricultores que demonstrem interesse por essa
atividade (ALMEIDA e CORDEIRO, 2002).

Por outro lado, para torna-se um produtor de sementes certificadas é preciso


consultar o Ministério de Agricultura do Estado, pois o Banco Comunitário de
Sementes não pode comercializar as sementes excedentes, vez que a lei prevê
punição para quem comercializa sementes sem registro ou certificação dos
órgãos competentes; mas é permitido por lei a comercialização da produção
excedente como grãos, sendo necessária a emissão de nota fiscal avulsa para
o transporte do produto.

Banco Comunitário de Sementes


Este projeto de Bancos de Sementes Comunitários para o município de São
Francisco de Assis do Piauí pôde ser implantado com o objetivo de suprir a
escassez de sementes provocada pela seca, cuja adversidade climática é uma
característica marcante da região semiárida do Nordeste. A ação emergencial
desse projeto de bancos de sementes poderá evoluir para um programa
permanente, tendo como particular o fato de promover e distribuir sementes
das cultivares mais adaptadas para o referido município.

O programa da FFA cria condições para que os produtores possam administrar


com eficiência seus próprios estoques de sementes, possibilitando a cada
produtor cadastrado receber do Banco de Sementes mais de um recipiente
(garrafa tipo pet) com sementes de distintas espécies, desde que seja
estabelecido a proporção de devolução de duas garrafas pets de sementes
para cada garrafa emprestada, logo após a colheita ou no início do segundo
semestre para formação, manutenção, fortalecimento e crescimento do banco
comunitário, garantindo com isso que um número cada vez maior de
agricultores seja beneficiado (CORDEIRO e FARIAS, 1993).
24
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Uma vez em plena atividade, o Banco de Sementes, em janeiro de cada ano


agrícola, deverá ser iniciado a distribuição de vários quilos de sementes de
feijão, milho, gergelim, milheto, sorgo, algodão, arroz e feijão guandu,
envasadas em garrafas pets de 2 litros, para as onze comunidades de
agricultores familiares do município de São Francisco de Assis do Piauí: Lagoa
do Juá, Queimada Nova, Lagoa da Povoação, Veredas, Barreiro Grande, Barra
Bonita, Vereda Comprida, Gatinhos, Vereda da Serra, Mulungu e Volta do
Riacho (Figura 4), totalizando 450 produtores assistidos e envolvendo a
participação efetiva de cinco Bancos de Sementes (situação atual). Estes
Bancos de Sementes receberão o dobro da produção de sementes emprestadas
para gerenciar e estruturar o seu programa, o qual tem o objetivo de estimular
e incrementar a produção de alimentos orgânicos na região.

Figura 4. Mapa do município de São Francisco de Assis do Piauí: pontos vermelhos


indicam locais dos Bancos Comunitários dos produtores familiares, ponto azul local da
sede do Banco Mãe na referida cidade e os pontos pretos locais com potenciais para
construir outros Bancos Comunitários de Sementes.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 25

1. Banco Mãe de Sementes


Na cidade de São Francisco de Assis do Piauí, o Banco Mãe de sementes pode
ser criado e funcionar dentro do prédio de armazenamento da FFA (Figura 5).
Esse Banco receberia anualmente uma cota de sementes para armazenar,
sendo as mesmas provenientes de cada Banco Comunitário das comunidades
filiadas e envolvidas na programação da paróquia local. Quando houver algum
banco filial com deficiência de sementes, o Banco Mãe emprestaria sementes
e também utilizaria seu estoque para formar novos bancos nas demais
comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí. Quando houver
aquisição de sementes pela FFA, é o Banco Mãe que centraliza a recepção e
redistribuição, conforme as demandas de cada comunidade. Portanto, ela
apoia a gestão dos bancos comunitários no referido município ao mesmo tempo
em que funciona como uma reserva estratégica (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Este banco tem por finalidade assegurar a oferta de matérias e a logística da


distribuição das sementes obtidas de cada comunidade, para a fundação de
campos para a produção de grãos e, ao mesmo tempo, para a produção de
sementes através da seleção de plantas por parte dos produtores. A cota de
sementes de cada banco das comunidades destinada para o Banco Mãe pode
representar a metade do volume de sementes arrecadadas, inserindo tal divisão
apenas sobre a fatia considerada como lucro (CORDEIRO e FARIAS, 1993).
Por exemplo, se o Banco Comunitário de Sementes da comunidade Vereda
Comprida emprestasse para plantio um total de 30 garrafas pets de sementes
aos produtores familiares de sua comunidade na safra 2009 e recebesse no
final da colheita o dobro de tal quantidade (60), consequentemente o referido
banco ganharia como lucro mais 30 garrafas pets de sementes. Portanto, sua
cota para o Banco Mãe seria de 15 garrafas pets de sementes relativos aos
diferentes materiais arrecadados, o que representaria a metade do seu lucro.
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 5. Armazém do Banco Mãe (depósito) da Fraternidade São Francisco de Assis,


situado na cidade de São Francisco de Assis do Piauí-PI.
26
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Outro papel que seria desempenhado pelo Banco Mãe se refere à introdução
de novas variedades de sementes alimentícias e/ ou forrageiras na região, as
quais seriam multiplicadas em maior escala na Roça da Fé de Simplício Mendes,
PI, antes de repassá-las para os Bancos Comunitários de São Francisco de
Assis do Piauí, em razão das unidades de pesquisas conseguirem doar apenas
pequenas quantidades de sementes (entre 1 a 4 kg). Neste sentido, a Embrapa
Algodão conseguiu repassar vários materiais para a FFA: em 2007 foram 3
kg de sementes de gergelim (cultivar BRS Seda, Figura 6), em 2008, pequena
quantidade de sementes de feijão macassar (Marataão e Pujante), de milho
(Sertanejo, São Francisco, Caatingueiro e Assum Preto) e de sementes
forrageiras (sorgo, milheto e feijão guandu) e, em 2009, sementes de feijão
de porco, mucuna preta e mucuna cinza, além de mudas de neem, gliricídio,
atriplex (erva-sal) e mandacaru sem espinho.

Uma vez purificado o material na Roça da Fé, o Banco Mãe se encarregaria


de distribuir novamente as sementes de melhor qualidade genética em cada
Banco Comunitário das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí
assistidas pela FFA para atender a produção de grãos e de sementes dos
agricultores filiados. Visando manter elevada a qualidade das sementes dos
bancos comunitários, os agricultores garantiriam selecionar as melhores plantas
durante a colheita dos materiais para evitar sua segregação, pois tal operação
já se constitui numa prática corriqueira dos produtores familiares do Nordeste
do Brasil.
Foto: Vicente de P. Querioga

Figura 6. Produção de sementes de gergelim, cultivar BRS Seda, na área irrigada da


FFA, denominada Roça da Fé, em Simplício Mendes-PI, 2007.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 27

Um agente da pastoral poderia ser o responsável pelo Banco Mãe da sede de


São Francisco de Assis do Piauí, pois o mesmo seria o articulador e distribuidor
de sementes para os bancos filiados das várias comunidades. Na última visita
realizada ao referido município, entre os dias 31 de março a 2 de abril de
2009, os técnicos da Embrapa Algodão constataram em algumas comunidades
que as sementes alimentícias de feijão, milho e gergelim estão com problemas
de mistura varietal, sendo importante o Banco Mãe substituí-las imediatamente.
Este banco necessitaria tomar uma providência junto à unidade de produção
irrigada de sementes de Simplício Mendes (Roça da Fé) para que no próximo
segundo semestre fosse plantado 0,5 ha das cultivares mais demandadas
pelos agricultores: milho Catingueiro ou Sertanejo, feijão Marataão ou Sempre
Verde e gergelim BRS Seda. Este trabalho de multiplicação de sementes teria
que ser desenvolvido pelo técnico responsável pelo Banco Mãe, já que o campo
de sementes seria submetido à operação de eliminação de plantas atípicas
(roguing), visando obter maior produtividade das culturas trabalhadas quando
se emprega esse método de purificação das sementes.

2. Gestão dos Bancos de Sementes Comunitários


Face à importância estratégica dos bancos de sementes para uma região
castigada pela seca, os bancos de sementes do município de São Francisco de
Assis do Piauí foram construídos com recursos do CEFAS (Centro Educacional
São Francisco de Assis), em trabalhos de mutirão realizados pelos produtores
das seguintes comunidades: Vereda Comprida (Figura 7), Lagoa do Juá (Figura
8), Gatinhos (Figura 9), Vereda da Serra (Figura 10) e Lagoa da Povoação
(Figura 11). Além de fortalecer o surgimento de uma nova cultura
associativista, o fator mais importante que contribuiu para a expansão de
vários bancos de sementes comunitários no meio rural, foi o gerenciamento
dos mesmos pelas associações ou por grupos organizados de agricultores
(GONÇALVES, 2000).

A gestão de bancos de sementes, de forma participativa e democrática em


nível comunitário, não é um processo simples. Conforme Cordeiro e Farias
(1993), problemas de diversas ordens podem surgir a todo o momento, tais
como: 1) Concentração de trabalho na mão de um grupo pequeno ou de uma
família; 2) devolução de sementes de má qualidade por parte de alguns
produtores sócios; 3) concentração de poder do presidente da associação; e
4) má organização ou administração do grupo gestor poderão ocorrer
28
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Vicente de P. Queiroga


Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 7. Casa de sementes da Figura 8. Casa de sementes da


comunidade Vereda Comprida no comunidade de Lagoa de Juá no
município de São Francisco de município de São Francisco de
Assis do Piauí, 2009. Assis do Piauí, 2009.
Foto: Vicente de P. Queiroga

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 9. Casa de sementes da Figura 10. Casa de sementes da


comunidade de Gatinhos no comunidade de Vereda da Serra no
município de São Francisco de Assis município de São Francisco de
do Piauí, 2009. Assis do Piauí, 2009.
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 11. Casa de sementes da comunidade de Lagoa da Povoação no município de


São Francisco de Assis do Piauí, 2009.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 29

frequentemente e são de difícil solução. Todos esses fatores, que causam


prejuízo à comunidade, comprometem de alguma forma o desempenho do
banco. Os mesmos autores admitem que seja importante desenvolver
instrumentos de gestão que facilitem a transparência e a participação dos
associados e, inclusive, salientam que a questão da gestão eficiente do banco
de sementes sempre passa por um processo de erros e acertos, ou seja, é
possível generalizar os princípios da gestão, mas não se pode estabelecer um
modelo padrão.

Para um grupo recém-organizado de banco de sementes, os agentes


comunitários da FFA têm condições de discutir mecanismos que possibilitem
uma prática transparente e democrática de gestão, mesmo assim não se
esquecendo de considerar que a boa gestão não depende apenas da precisão
com que estes mecanismos são definidos, mas também de um conjunto de
fatores subjetivos que permeiam todas as relações sociais nas comunidades
assistidas pelo programa (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

3. Situação Atual dos Bancos de Sementes em São Fran-


cisco de Assis do Piauí
Atualmente, as cinco casas de sementes do município São Francisco de Assis
do Piauí estão funcionando como depósito da produção de grãos de milho e
feijão nas comunidades Lagoa do Juá, Vereda Comprida, Gatinhos, Vereda da
Serra e Lagoa da Povoação, cujos armazenamentos desses produtos são
efetuados em silos de zinco e mantidos por curto espaço de tempo (até 90
dias) pelos produtores, com objetivo estratégico de esperar a melhoria dos
seus preços no mercado polarizado por Simplício Mendes-PI (Figura 12).
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 12. Silos de zinco na Casa de Sementes da comunidade de Gatinhos. São


Francisco de Assis do Piauí, 2009.
30
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Além de atuar como depósito de grãos, essas casas de sementes, os produtores


da comunidade de Lagoa de Juá destinaram, na safra de 2008, pequena parte
da produção para o armazenamento de sementes das seguintes espécies:
milho, feijão, sorgo e gergelim, os quais foram envasados em garrafas pets e
acomodadas sobre prateleiras feitas de madeira (Figura 13).
Fotos: Vicente de P. Querioga

Figura 13. Casa de sementes da comunidade Lagoa do Juá no município de São


Francisco de Assis do Piauí-PI.

Este tipo de comportamento adotado pela comunidade Lagoa de Juá já


representa uma iniciativa natural dos produtores do município de São Francisco
de Assis do Piauí de pretenderem se organizar e criar seu próprio Banco de
Sementes Comunitário. Quando os agricultores das distintas comunidades
foram indagados sobre a possibilidade de ativar os Bancos de Sementes, apenas
os produtores da comunidade Lagoa da Povoação fizeram uma ressalva, de
que as sementes fossem envasadas em garrafas pets por serem mais eficientes
que o armazenamento em relação aos silos de zinco. Ou seja, os produtores já
possuem a tradição de armazenar em casa suas sementes de produção própria
(Figura 14), utilizando no caso a embalagem garrafa pets, e admitem que é
mais seguro para o acondicionamento das sementes, devido ao processo
eficiente de vedação da borracha existente no interior da tampa.
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 14. Armazenamento de sementes em garrafas pets realizado em casa de


agricultor familiar do município de São Francisco de Assis do Piauí.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 31

Com o intuito de suplantar alguns entraves decorrentes do processo de


produção de sementes, em cada comunidade de agricultores familiares de
São Francisco de Assis do Piauí (total de onze comunidades assistidas pela
FFA) deve-se limitar uma só variedade por comunidade para o caso das
espécies sujeitas ao cruzamento natural em proporções elevadas,
principalmente as espécies de plantas situadas no grupo intermediário entre a
autogamia e a alogamia, tais como: milho, algodão, milheto, sorgo, etc. Este
tipo de medida estabelecida pelos coordenadores dos Bancos Comunitários,
contando com a supervisão do Banco Mãe, se não for colocada em prática
pelos agricultores do referido município, poderá favorecer a contaminação
das variedades locais, através das misturas varietais, além de concorrer para
a queda na qualidade genética e fisiológica da semente, dada a heterogeneidade
do material produzido.

Durante o preenchimento do questionário sobre Banco de Sementes pelos


técnicos da Embrapa Algodão com os agricultores familiares de São Francisco
de Assis do Piauí também foram detectados problemas referentes à falta de
isolamento da cultura do milho, fazendo com que houvesse a perda da identidade
genética dos tipos locais. Além disso, foram notados entraves advindos da
baixa viabilidade do armazenamento incorreto e do ataque de insetos praga
às sementes colhidas. Segundo Cordeiro e Farias (1993), o conhecimento
científico na área de produção e tecnologia de sementes foi acumulado e
irradiado para a agricultura de grande escala, não chegando à agricultura
familiar, no tocante aos Bancos Comunitários de Sementes, fator primordial
para a segurança alimentar e econômica do pequeno agricultor.

Para que haja uma elevação na viabilidade das sementes de feijão, gergelim,
sorgo e milho tornam-se patente a obtenção de sementes de procedência e
qualidade conhecidas, a fim de proporcionar cultivos mais produtivos e estáveis.
Além disto, para evitar as contaminações, especial atenção deve ser destinada
ao isolamento (temporal ou físico) dos campos de milho que irão fornecer as
sementes, bem como o plantio, a colheita e o beneficiamento isolado das
sementes de feijão, gergelim, sorgo e milho. No tocante aos problemas de
armazenamento, a utilização de embalagens ou recipientes adequados quanto
a sua permeabilidade, além das opções de controle de insetos de grãos
armazenados, poderiam minimizar as deficiências encontradas. Por final, a
disseminação da filosofia integrada entre produção e armazenamento de
sementes, via campos individuais e bancos comunitários, também contribuiria
de forma ímpar na resolução dos problemas observados, instituindo ainda
uma administração organizada e planejada da reserva de sementes necessária
para o próximo plantio (CORDEIRO e FARIAS, 1993).
32
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Para melhor compreensão da proposta pelos agricultores de São Francisco de


Assis do Piauí, também deverão ser estimuladas as práticas relacionadas com
a importância da filosofia associativista dos Bancos Comunitários de Sementes,
evidenciando a elevada interação das áreas de produção de sementes com a
o armazenamento das mesmas, indicando haver uma estreita relação entre
campos de sementes bem conduzidos e qualidade das sementes armazenadas
(CORDEIRO e FARIAS, 1993).

4. Organização dos Bancos de Sementes


Em virtude de outras experiências agrícolas bem sucedidas no meio rural do
município de São Francisco de Assis do Piauí como: apicultura e criação de
animais de pequeno porte (caprinos e galinhas caipiras), os Bancos de Sementes
podem ser considerados como organizações que visam à auto-suficiência de
um grupo de agricultores familiares na provisão de sementes de determinadas
espécies importantes para a agricultura local.

Esta organização de grupos de agricultores constitui na primeira tentativa ou


fator de motivação para o trabalho comunitário, principalmente quando se
trata de uma região sujeita à seca prolongada. Com o tempo, esse grupo de
agricultores pode adquirir autonomia na produção de sementes, deixando de
receber da FFA parte da semente comprada no mercado e passar a depender
apenas da sua produção própria. Cada uma dessas situações pode ocorrer
para apenas um ou mais cultivares, pois é preciso considerar ainda que o
problema envolva apenas as espécies que geram renda monetária direta, ou
também os de produção para autoconsumo humano e/ou animal (CORDEIRO
e FARIAS, 1993).

Vale frisar que o Banco de Sementes poderá ser organizado a partir de


sementes produzidas pelos agricultores da região, tais como: feijão do tipo
Santo Inácio, Sempre Verde, Branco, etc, mas outra parte da semente poderá
ser adquirida no mercado local ou produzida por empresas de sementes. Pode
acontecer também do Banco Mãe partir da multiplicação de sementes básicas
adquiridas junto a alguma instituição de pesquisa.

O fundamental na formação de um grupo, que organiza um Banco de Sementes,


é que haja um nível mínimo de confiança e bom relacionamento entre os
participantes de cada comunidade, inclusive conte com estímulo externo dado
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 33

pela FFA. O ideal é que o processo de organização do grupo por cada


comunidade aconteça com antecedência razoável em relação à época de
plantio. Pois, é comum ocorrer que, em face de um problema emergencial de
falta de sementes, os grupos sem nenhuma experiência de gestão coletiva
acumulada anteriormente sejam formados às pressas para fundar um banco.
Nesses casos, é importante garantir um momento posterior em que o diálogo
entre os participantes do grupo aconteça, pois é assim que eles assumem
melhor o controle do processo (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Outro aspecto importante para as comunidades de São Francisco de Assis do


Piauí se refere ao tamanho do grupo de agricultores. Mesmo que não haja um
limite ideal definido, mas, em geral, grupos menores facilitam o processo de
gestão do Banco de Sementes. A proximidade das moradias das famílias pode
ser um dos indicadores do tamanho ideal do grupo de agricultores, pois essas
poucas distâncias facilitam a realização de reuniões, a distribuição e a
devolução de sementes e definir melhor a época de plantio nas áreas individuais
para evitar perda de sementes. No caso da comunidade Lagoa de Juá, que
tem um grupo muito grande e que as famílias estão morando muito longe
umas das outras, pode ser mais importante formar, ao invés de um banco de
sementes, dois ou mais bancos (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Por outro lado, os Bancos de Sementes das comunidades de São Francisco de


Assis do Piauí podem trabalhar com os cultivos com maior número de espécies:
milho, feijão, gergelim, algodão, sorgo, milheto e feijão guandu. Para o caso
do milho e feijão, pode existir no banco um grande número de variedades
mantidas e utilizadas pelos agricultores ou eles podem trabalhar com apenas
uma delas.

Para evitar que a finalidade do Banco de Sementes não seja comprometida,


alguns aspectos precisam ser definidos coletivamente com todos os filiados
de cada comunidade (Figura 15) com relação às seguintes situações: a) quais
as espécies que o Banco pretende trabalhar; B) com quantas variedades de
cada espécie, principalmente para caso das culturas do milho e do feijão; e c)
onde deverão ser adquiridas e as quantidades de sementes necessárias. Estas
situações devem ser bem definidas com a participação de todos os agricultores,
para evitar que o banco se torne um depósito de grãos (CORDEIRO e FARIAS,
1993).
34
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 15. Reunião com agricultores familiares para discutir temas de interesse da
comunidade e do Banco de Sementes. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

Além de buscar opções que contribuam na melhoria do sistema de produção


a partir das possibilidades locais (Figura 16), é importante conhecer bem o
material com que se vai trabalhar, porque está intimamente relacionado ao
patrimônio do Banco de Sementes. Dentro desse princípio, os principais
aspectos a serem considerados pelos agricultores de São Francisco de Assis
do Piauí são: 1) espécies e variedades adaptadas as condições locais; 2)
tolerância às condições de estresse hídricas; 3) características satisfatórias
para os usos locais: alimento humano, alimento animal, comercial, etc; 4)
produtividade adequada às necessidades locais; 5) sementes das variedades
selecionadas com estabilidades satisfatórias quando submetidas ao
armazenamento prolongado (CORDEIRO e FARIAS, 1993).
Foto: Dalfran G. Vale

Figura 16. Reunião com técnico da Embrapa Algodão e agricultores do município de


São Francisco de Assis do Piauí, discutindo práticas agrícolas para a produção de
sementes de boa qualidade.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 35

5. Tipos de Bancos de Sementes


Dependendo da finalidade das plantas utilizadas pelos agricultores, as quais
serão originadas as sementes tomadas em empréstimo nos bancos, existem
três categorias de Bancos de Sementes:

a) Banco de Sementes Alimentares, Oleaginosas e Fibrosas - A segurança


alimentar dos agricultores e suas famílias também estão associados à
diversidade varietal dos cultivos básicos de arroz, feijão e milho, à preservação
e à melhoria na qualidade das sementes das cultivares tradicionais. Neste
sentido, busca-se facilitar o acesso às sementes de boa qualidade agronômica
para atender os agricultores das diferentes comunidades do município de São
Francisco de Assis do Piauí, de modo que elas sejam usadas para implantação
de unidades individuais de produção de sementes de arroz, feijão, gergelim,
milho, etc. Vale frisar que a criação de um Banco Comunitário de Sementes
também poderá garantir aos agricultores às necessárias orientações técnicas,
não só na produção de sementes, mas também nas lavouras de produção de
grãos e na gestão da propriedade (CORDEIRO e FARIAS, 1993). O primeiro
passo dos organizadores do projeto será melhorar a qualidade das sementes
destinadas para seu consumo (arroz, feijão, milho e gergelim), principalmente
das sementes de milho de diferentes variedades que têm sido plantadas pelo
agricultor dentro da mesma área de cultivo sem obedecer à distância de
isolamento de 300 metros entre campos.

Uma vez armazenados os grãos de gergelim para o consumo das famílias, os


grãos excedentes são pesados em balança (Figura 17) pelo agricultor antes
do seu armazenamento e, após certo tempo, a produção estocada é
comercializada. Com relação às sementes de algodão, até o momento não se
constatou nenhum tipo de problemas de mistura varietal com essa espécie no
município de São Francisco de Assis do Piauí, em razão do material produzido
na região ser proveniente apenas da cultivar BRS 187 8H.
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 17. Pesagem do gergelim (excedente), antes da etapa de armazenamento. São


Francisco de Assis do Piauí, 2008.
36
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

b) Banco de Sementes Forrageiros - Estima-se que no Nordeste cerca de 90%


das sementes utilizadas para a produção de alimentos e forrageiras na
agricultura familiar sejam provenientes de um sistema informal de produção
de sementes (ALMEIDA e CORDEIRO, 2002). Na maioria dos casos, as
sementes utilizadas pelos pequenos agricultores são originárias dos "melhores
grãos", que são armazenados para as plantações da safra seguinte. Com a
criação do Banco Comunitário de Sementes no município de São Francisco de
Assis do Piauí é possível diversificar seu catálogo para o estoque de sementes
forrageiras para a produção de ração (sorgo, milheto, leucena, feijão guandu,
etc), visando alimentar o rebanho de caprinos dos agricultores familiares com
uma ração mais balanceada entre gramíneas e leguminosas (Figura 18). O
milho é uma espécie ímpar da agricultura familiar, pois serve de alimento ao
homem e também aos animais domésticos (PRODUÇÃO, 2007).
Foto: Manoel F. de Sousa
Foto: Vicente de P. Queiroga

Foto: Vicente de P. Queiroga


Foto: Manoel F. de Sousa

Figura 18. A preparação do silo forrageiro para alimentação de caprinos no período de


estiagem depende basicamente das misturas da folhagem do milho e sorgo forrageiro.
São Francisco de Assis do Piauí, 2009.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 37

c) Banco de Sementes de Adubos Verdes - A iniciativa visa distribuir


gratuitamente sementes de mucuna preta, feijão guandu e feijão de porco
(leguminosas), para que os agricultores familiares possam reproduzi-las em
suas propriedades para uso próprio e devolver ao Banco de Sementes, no ano
seguinte, sendo dobrada a quantidade restituída, para que o programa não
seja interrompido, já que essas sementes são difíceis de ser encontradas no
comércio, além de terem o preço muito elevado (CORDEIRO e FARIAS, 1993).
A estratégica adotada pelo agricultor seria deixar uma pequena área semeada
reservada para a produção de sementes, enquanto a outra parte da área
cultivada seria destinada à incorporação ao solo de plantas cultivadas para
este fim ou de outras plantas ainda verdes, em razão de ser uma forma barata
e acessível de adicionar matéria orgânica ao solo (Figura 19). As plantas
leguminosas são cultivadas para fixação de nitrogênio ao solo e quando ainda
verdes são incorporadas no mesmo para se decomporem e serem
transformadas em matéria orgânica. Já as plantas gramíneas por apresentar
Fotos: Vicente de P. Queiroga

A B

Figura 19. A) Incorporação das plantas na fase de floração ao solo, utilizando-se o rolo
de faca à tração animal e B) Solos arenosos e pobres em matéria orgânica da
comunidade Lagoa da Povoação. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.
38
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

alta relação C/N sua decomposição é lenta pelo solo (milheto, palhada de
milho), portanto, elas são espalhadas entre as fileiras de outras culturas para
proteger o solo contra ação direta das chuvas (erosão). Além disso, em terreno
acidentado, o produtor poderá implantar as culturas em faixas de retenção,
que consiste na disposição da cultura comercial (feijão ou gergelim) em faixas
niveladas intercaladas (plantio em curva de nível), de espaço em espaço de
30 m ou 40 m, com faixas perenes de plantas protetoras. Ou seja, nos leirões
de retenção, cultivar de 3 a 5 linhas da planta protetora (em espaçamento
bem adensado) e manter as plantas vivas arbóreas: leucena (Leucaena
leucocephala), neem (Azadirachta indica), sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia)
etc, e em sentido contrário a inclinação do terreno (plantio em curvas de
nível), também têm efeitos sobre o controle da erosão provocada pelas chuvas
(DIACONIA, 2007).

Com base na realidade do município de São Francisco de Assis do Piauí, o


Banco de cada comunidade só atenderia plenamente os interesses dos
agricultores familiares filiados, quando essas ofertas de sementes abrangessem
os três tipos de categorias: alimentares, forrageiras e adubos verdes.

As comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí certamente


irão dar maior preferência para as espécies alimentares que são cultivadas
por todos os agricultores e que geram renda satisfatória (feijão, milho,
gergelim). Outra categoria de sementes também deve receber atenção dos
agricultores, as quais são espécies que originam adubos verdes e, portanto,
essas espécies arbóreas (feijão guandu, mucuna preta, feijão de porco, leucena),
poderão desempenhar um papel muito importante de recuperação da fertilidade
das áreas agricultáveis do município de São Francisco de Assis do Piauí, cujos
campos são caracterizados por solos pobres em matéria orgânica, ou seja,
são solos bastante arenosos em sua maioria (AGUIAR e GOMES, 2004).

6. Acesso à Semente do Banco


O acesso à semente pode se transformar em problemas logo no início da
fundação do Banco de Sementes Comunitário, pois geralmente o estoque de
sementes é limitado e há uma grande demanda pelas sementes de maiores
retornos econômicas por parte dos produtores (CORDEIRO e FARIAS, 1993).
A solução de alguns bancos é adotar uma estratégica simples, que é permitir
a oferta mínima da quantidade de sementes por agricultor. Em vez de uma
garrafa de dois litros de sementes, o agricultor leva por empréstimo uma
garrafa menor de um litro (Tabela 1), visando com tal distribuição de sementes
atender um maior número de sócios do Banco Comunitário de uma determinada
comunidade.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 39

Tabela 1. Comparação de valores entre a quantidade de sementes contidas


dentro de uma garrafa pet de um litro e seu respectivo peso médio em gramas.

Fontes: Cordeiro e Farias (1993); Embrapa Algodão (Foto: Vicente de Paula Queiroga)
OBS: Dentro da mesma espécie, os pesos entre cultivares poderão variar.

Dinâmica semelhante vem ocorrendo com frequência nas comunidades de


outros estados do Nordeste que trabalham com as culturas do amendoim,
pois as famílias não dispõem de recursos para aquisição de sementes, situação
esta que se agrava no início do plantio, devido à descapitalização do agricultor
e ao consumo de suas reservas para ultrapassar o verão, sendo sua única
opção não plantar ou plantar uma área menor (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

O êxito dos Bancos de Sementes Comunitários não se mede pelo grau de


acesso à semente. Mas, o índice de restituição de sementes pode ser tomado
como indicador positivo para avaliar o desempenho dos bancos (CORDEIRO e
FARIAS, 1993), porque demonstra a participação e interesse das comunidades
do município de São Francisco de Assis do Piauí pela proposta.

O Banco de Sementes somente é considerado como um instrumento


socialmente reconhecido de acesso à semente, quando existe qualidade do
material estocado. Havendo falta de qualidade, nenhum agricultor irá querer
depositar sua semente ou mesmo fazer empréstimo em um banco, quando a
riscos de que a baixa qualidade venha comprometer a produção do seu cultivo
(CORDEIRO e FARIAS, 1993).
40
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

De acordo com Cordeiro e Farias (1993), para haver maior controle de qualidade
das sementes armazenadas, a comissão responsável por cada banco
comunitário deverá adotar duas exigências fundamentais:

1. Anualmente, cada sócio deverá se comprometer a fazer o depósito com


sementes devidamente secas e selecionadas com elevada qualidade fisiológica
(vigorosas e isentas de doenças) e sem mistura varietal (pureza física);

2. Todos os Bancos de Sementes Comunitários de São Francisco de Assis do


Piauí deveriam ter uma estrutura apropriada de secagem (piso de cimento;
Figura 20) e de pequeno depósito de armazenamento, similar as casas de
sementes das comunidades Vereda Comprida, Gatinhos, Vereda da Serra,
Lagoa da Povoação e Lagoa de Juá.

Para auxiliar o sistema de controle de qualidade das sementes pertencentes


aos Bancos Comunitários das diferentes comunidades do município de São
Francisco de Assis do Piauí, o Banco Mãe deveria adquirir os seguintes
equipamentos (opcionais): uma balança analítica (0,0001 de precisão), uma
estufa para o teste de teor de umidade da semente e um germinador para
realizar os testes de germinação e vigor das sementes (Figura 21). Este controle
de qualidade seria efetuado antes da restituição das sementes pelo agricultor,
de modo que o Banco de Sementes pudesse aprovar ou rejeitar a sua qualidade
e uso (PRODUÇÃO, 2006).
Fotos: Vicente de P. Queiroga

A B
Figura 20. A) Secagem natural de sementes de feijão e milho usado pelos produtores
familiares e B) Aproveitamento das placas cimentadas das cisternas, tipo calçadão
com capacidade de 50 mil litros da FFA, como secador natural das sementes
existentes nas comunidades Mulungu e Gatinhos do município de São Francisco de
Assis do Piauí.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 41
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 21. Equipamentos (balança analítica, estufa e germinador) de um Laboratório


de Sementes para analisar a qualidade das amostras de sementes dos agricultores
antes do seu armazenamento no Banco Comunitário de Sementes.

Para não depender do consumo de substrato papel germitest ou papel de


filtro e dispensar a compra de um germinador, uma alternativa viável seria
utilizar o substrato areia, lavada de rios, esterilizada em bandeja de alumínio
na própria estufa à temperatura 200 °C por 1 hora, mas em ambas as
situações são indispensáveis a aquisição de um pequeno destilador de água
(Figura 22), a qual é utilizada nos testes de germinação e vigor (BRASIL,
1992). Os procedimentos de laboratório para execução dos testes são descritos
a seguir:
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 22. Destilador de água e bandejas com substrato de areia para teste de
germinação.
42
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Pureza: é feito com uma amostra de sementes determinada para cada espécie
(Tabela 2), sendo as sementes espalhadas sobre uma mesa específica do
Laboratório de Sementes. No teste, são realizadas as seguintes separações:
sementes puras, outras sementes, onde são incluídas as sementes de plantas
cultivadas não pertencentes à espécie e cultivar em exame e as sementes e
outros materiais de propagação de plantas prejudiciais à agricultura e material
inerte.

Teor de umidade (U): sua determinação se dá pelo método oficial da estufa a


105 °C ± 3 °C, durante 24 horas, utilizando-se quatro amostras de sementes
por cada espécie por repetição. Esta amostra é pesada numa balança analítica
de 0,0001 de precisão e, a umidade expressa pela expressão:

Em que:
P - peso inicial (peso do recipiente + peso da semente úmida), g
p - peso final (peso do recipiente + peso da semente seca), g
t - tara (peso do recipiente), g
Germinação: é realizada em quatro repetições de 100 sementes em diferentes
substratos (areia, papel germitest e solo) umedecidos com água destilada. O
teste é conduzido em germinador na temperatura recomenda para cada espécie
e duas contagens são recomendadas para sua avaliação (Tabela 2). Quando o
teste é realizado com areia e de acordo com a espécie pode ser feita entre
camada de areia ou sobre esta. No primeiro caso, faz-se a semeadura sobre
uma camada de 5-6 cm de areia esterilizadas umedecida com água destilada
e cobre-se as sementes com cerca de 2 cm de areia (EA = entre areia). No
segundo caso, as sementes são levemente pressionadas contra a superfície
do substrato (SA = sobre areia).

Outra estratégia que pode ser adotada pelo Banco Mãe é a de enviar as
amostras de sementes para um Laboratório de Sementes mais próximo a
cidade de São Francisco de Assis do Piauí, por exemplo, para Teresina-PI. A
situação levantada anteriormente é uma simples simulação para o controle
de qualidade do material, pois sempre os programas coordenados pelo Padre
Geraldo Gereon, dirigente da FFA, têm sido encarados pelos agricultores da
região com bastante honestidade e seriedade.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 43

Tabela 2. Indicações da Comissão Estadual de Sementes e Mudas (CESM) para os


testes de pureza e germinação de algumas espécies.

RP = rolo de papel; EP = entre papel; SP = sobre papel; EA = entre areia; SA = sobre areia
Fonte\: BRASIL (1992)

7. Estrutura dos Bancos nas Comunidades


No momento, existem duas condições de Bancos de Sementes Comunitários
apresentadas para o armazenamento das sementes dos agricultores nas
diferentes comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí:

A primeira opção se refere aos pequenos depósitos específicos para


armazenamento de sementes, que são estruturas ideais para o funcionamento
dos Bancos de Sementes já existentes nas comunidades de Lagoa de Juá,
Vereda Comprida, Gatinhos, Vereda da Serra e Lagoa da Povoação (Figura
23), os quais foram construídos pelos respectivos agricultores, em regime de
mutirão (QUEIROGA et al., 2008). A construção desses depósitos de
armazenamento, denominados de Casa de Sementes, contou também com
ajuda financeira do CEFAS (Centro Educacional São Francisco de Assis).
44
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 23. Local de armazenamento das sementes do Banco Comunitário,


pertencentes aos agricultores familiares de São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

A segunda opção de Bancos Comunitários de Sementes se destina atender as


comunidades de Queimada Nova, Veredas, Barreiro Grande, Barra Bonita,
Mulungu e Volta do Riacho, de maneira que as sementes dos agricultores
sejam armazenadas nas sedes de cada associação (o Banco de Sementes
ocuparia a divisória para depósito) construídos pela FFA, ou na casa de um
determinado agricultor eleito (Figura 24). Esta situação de funcionamento de
Bancos de Sementes, considerada provisoriamente, pode evoluir para uma
estrutura específica (similar a Casa de Sementes), dependendo da decisão do
grupo de agricultores de cada comunidade.

8. Tipo de Embalagem Adotada pelo Banco


Conforme as respostas do questionário aplicado aos agricultores das diferentes
comunidades de São Francisco de Assis do Piauí, a embalagem mais adequada
e prática para o armazenamento das sementes tem sido a garrafa pet de 2
litros (Figura 25).

Atualmente, os agricultores têm por tradição acondicionar as sementes em


garrafas pets de 2 litros e armazená-las em suas próprias casas. Estas
embalagens descartáveis são abundantes e acessíveis mesmo na área rural,
sendo também um recipiente fácil de ser transportado em moto ou bicicleta
pelo agricultor (Figura 26).

A maior prioridade atribuída às garrafas pets é a sua eficiência no


armazenamento de sementes em razão de ser considerada uma embalagem
impermeável e, por ser um recipiente de tamanho reduzido, só comporta um
pequeno volume de sementes no seu interior (LOLLATO et al., 1993). Por ser
feita de um plástico transparente, a garrafa pet facilita o trabalho de rotina
do responsável pelo Banco de Sementes por permitir uma avaliação visual
preventiva da infestação de pragas no seu interior (sementes acondicionadas).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 45
Fotos: Vicente de P. Queiroga

A B

C D
Figura 24. A, B, C) Funcionamento dos Bancos de Sementes em espaços reservados
das sedes das associações existentes nas comunidades de Mulungu, Barreiro Grande e
Barra Bonita e D) Banco de Sementes de diversas espécies na casa do agricultor
Raimundo Bento de Souza eleito pela comunidade de Veredas. São Francisco de Assis
do Piauí-PI, 2009.
Foto: Melchior N. B. da Silva

Figura 25. Sementes em embalagens tipo PET, sobre estrado de madeira, no Banco
Comunitário de Sementes da Paraíba.
46
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Fotos: Dalfran G. Vale

Figura 26. Transporte de Sementes acondicionadas em embalagens de garrafas pets


para o Banco de Sementes da Comunidade Lagoa do Juá. São Francisco de Assis do
Piauí, 2009.

9. Normas do Banco de Sementes


As normas de funcionamento do banco devem ser discutidas entre os
participantes da organização, definindo em conjunto, com a participação de
todos envolvidos. Essas normas devem ser colocadas no papel e assinadas
para que todos saibam seus direitos e deveres. Uma vez estabelecidos os
requisitos necessários, está formado o estatuto do Banco de Sementes e os
agricultores sócios da comunidade já podem dispor dos seus benefícios
(CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Segundo Cordeiro e Farias (1993), nas regras de funcionamento do Banco de


Sementes devem constar as seguintes cláusulas:

1. Quem será beneficiado com o banco.

2. Qual a quantidade de sementes para cada agricultor.

3. Como será a devolução das sementes.

4. Qual a quantidade que cada agricultor terá que restituir de garrafas pets.

5. O tempo para devolução e entrega das sementes ao banco.

6. Quem fica responsável pelo patrimônio do banco.

7. E outros aspectos importantes para o funcionamento do banco. Não se


esquecendo de citar os problemas relacionados às situações adversas,
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 47

principalmente quando ocorre uma drástica seca na região, a dívida de cada


agricultor filiado estaria quitada junto ao Banco de Sementes, em razão das
perdas ocasionadas nas suas lavouras por tal fenômeno.

O Banco de Sementes funciona como um banco comum, mas a moeda de


troca é a SEMENTE. Se o intuito é que o banco seja fortalecido, então a
quantidade a ser devolvida terá que ser superior à emprestada (EMBRAPA
MEIO AMBIENTE, 2009). O grupo de cada comunidade de São Francisco de
Assis do Piauí pode definir que a quantidade seja dobrada (100 %) em relação
à que foi emprestada (Figura 27). Por exemplo:

Neste banco, a palavra do agricultor é o principal crédito, por isso é muito


importante todos se conscientizarem do valor desta organização e se
comprometerem em devolver sementes de boa qualidade e na quantidade
estipulada (dobrada), visando aumentar o estoque do banco e assim poder
ajudar mais agricultores (EMBRAPA MEIO AMBIENTE, 2009). O Banco também
pode promover o intercâmbio de outras sementes que não seja do banco,
aumentando assim a dinâmica entre os agricultores (Figura 28).

Na organização de pequenos bancos é necessário que, em cada comunidade,


eleja duas pessoas (ideal) que se responsabilizem pela manutenção do banco,
cadastramento dos sócios, controle das retiradas e devoluções (estoque),
avaliação da quantidade e qualidade das sementes restituídas. Essa comissão
poderá ser renovada pelos sócios participantes, após um período de dois anos
(CORDEIRO e FARIAS, 1993).
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 27. Esquema do empréstimo de sementes efetuado pelo Banco de Semente


para atender o agricultor do município de São Francisco de Assis do Piauí, 2009.
48
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 28. Banco de Sementes facilita a troca entre sementes de diferentes espécies
ou cultivares.

Na criação de Banco Comunitário de Sementes é importante manter essa


organização sempre em atividade em cada comunidade do município de São
Francisco de Assis do Piauí (PRODUÇÃO, 2006), em função de cumprir os
seguintes objetivos:

- Fortalecer a organização dos agricultores;

- Garantir o plantio do próximo ano;

- Ter acesso a sementes de boa qualidade;

- Resgatar e valorizar as variedades adaptadas ao local;

- Diminuir a dependência de programas de distribuição de sementes.

10. Controle de Estoque do Banco


No Banco de Sementes, as sementes das várias espécies (arroz, feijão, milho,
gergelim, algodão, sorgo, milheto, feijão guandu, etc) devem ser acondicionadas
em embalagens herméticas (garrafa pet de 2 litros), com a umidade baixa
segundo cada espécie, conforme a Tabela 3 e, guardadas em prateleiras ou
sobre estrados de madeira. A questão da incidência de fungos nos armazéns
é mais provável que ocorra nos grãos estocados com elevada umidade em
consequência da falta de supervisão do produto armazenado ou por falha no
processo de secagem (AUGSTBURGER et al., 2000; CARVALHO e
NAKAGAWA, 1980).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 49

Tabela 3. Teor de umidade máximo recomendado para o armazenamento de sementes


em recipientes herméticos.

Fonte: Harrington e Douglas (1970).

Limpar as instalações do Banco de Sementes antes de usá-las, para não


comprometer a qualidade do material estocado. Uma vez cumprida a limpeza
do depósito, o responsável pelo Banco Comunitário de Sementes pode
considerar o local seguro para receber as sementes acondicionadas em garrafas
pets correspondentes aos empréstimos tomados pelos agricultores associados
da comunidade rural no início do inverno.

Durante a entrega das sementes pelos agricultores, um membro da comissão


do Banco de Sementes de cada comunidade do município de São Francisco de
Assis do Piauí deverá procurar identificar as entradas de sementes com o
número do lote para cada garrafa pet recebida (a primeira garrafa entregue
no banco seria identificada pela numeração lote 01/2009 e todas as garrafas
seriam numeradas diferentemente), através de etiquetas previamente
preparadas. Uma vez preenchidos todos os espaços em branco, tais como:
nome do produtor, comunidade, espécie, variedade, safra e data de entrada,
então a etiqueta estará pronta para ser colada na garrafa com ajuda de uma
fita adesiva transparente (Figura 29). Ao mesmo tempo, anotar num caderno
ou planilha os números dos lotes e demais informações correspondentes aos
referidos agricultores da comunidade de abrangência do Banco (Tabela 4),
sendo uma ficha para cada variedade (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Para que fique registrado no Banco de Sementes, um modelo de recibo pode


ser preenchido no momento da retirada de sementes (Tabela 5). A comissão
deverá preencher um recibo para cada variedade retirada, sendo que os
mesmos podem ser arquivados pelo nome do agricultor, em ordem alfabética.
Pois, esses recibos são os comprovantes dos empréstimos feitos e das pessoas
que estão em débitos com o banco (CORDEIRO e FARIAS, 1993).
50
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 29. Etiqueta de identificação na garrafa pet das sementes restituídas pelos
sócios do Banco de Sementes.

Tabela 4. Modelo de ficha para controle do estoque do Banco de Sementes de cada


variedade.

Banco Comunitário de Sementes LAGOA DA POVOAÇÃO


Ficha para controle de estoque
Cultura: Milho Variedade: São Francisco
Embalagem: Garrafa Pet de 2 litros

B= Bom; M= Média; R= Rejeitada


Fonte: Cordeiro e Farias (1993)
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 51

Tabela 5. Modelo de recibo elaborado pelo Banco de Sementes para devolução de


empréstimo de sementes por parte do agricultor.

Fonte: Cordeiro e Farias (1993)

Este controle do estoque de sementes é importante para o Banco de Sementes


Comunitário, pois numa produção de sementes de diferentes espécies que
envolvem vários agricultores com campo de produção individualizado, é possível
aparecer produtos de qualidade inferior, em razão de alguns agricultores não
terem conduzido a lavoura adequadamente e nem os processos de
beneficiamento das sementes (QUEIROGA et al., 2007). No caso do Banco
de Sementes não adotar um controle rígido de identificação das sementes
restituídas pelo agricultor, com certeza irá ocorrer redução significativa no
seu padrão de qualidade.

Para a identificação das sementes das diferentes espécies estocadas no Banco


de Sementes se adotará uma cor diferente de tampa para cada espécie (Figura
30), ou seja, o material acondicionado poderá ser organizado da seguinte
forma: garrafa com tampa de cor amarela para sementes de milho; verde
para feijão, azul para gergelim; branca para sorgo, vermelha para arroz; preta
para mucuna etc.
52
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 30. Sementes identificadas pela cor da tampa da garrafa pet em um Banco
Comunitário de Sementes.

Dependendo da quantidade de sementes restituídas por um agricultor, uma


amostra simples das sementes acondicionadas nas diversas garrafas pets pode
ser remetida pelo Banco Comunitário de Sementes para uma unidade de
Laboratório de Sementes (Teresina-PI) credenciado pelo Ministério da
Agricultura e Reforma Agrária - MARA, para serem submetidas aos testes de
análise de pureza, germinação e determinação do teor de umidade, onde depois
da realização dos referidos testes de rotina o laboratório emitirá um Boletim
de Análise de Sementes (PRODUÇÃO, 2006).

Referências
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Capítulo 2

Diagnóstico da Produção Agrícola para


Formação de Bancos Comunitários de
Sementes em São Francisco de Assis do Piauí

Vicente de Paula Queiroga

Tarcísio Marcos de Souza Gondim

Dalfran Gonçalves Vale

Pe. Henrique Geraldo Martinho Gereon

José Francisco de Sousa Filho


Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 57

Introdução
Promover a melhoria dos sistemas produtivos das diferentes espécies cultivadas
pelos agricultores familiares para produção de sementes em seis comunidades
rurais do município de São Francisco de Assis do Piauí, por meio de informações
tecnológicas sustentáveis, esta é a proposta apresentada pela Embrapa
Algodão, em parceria com a Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA)
para os produtores envolvidos na implantação de Bancos Comunitários de
Sementes.

A ação proposta é pautada em um conjunto de técnicas voltadas para um


sistema participativo de melhoramento de plantas (seleção massal), que
incluem avaliação, seleção e produção de sementes pelos agricultores em
suas propriedades com seus próprios sistemas de cultivo e com os recursos
normalmente disponíveis na propriedade (MOREIRA et al., 2009).

O levantamento dos aspectos comuns na comunidades e das particularidades


de cada propriedade que a integra permite ajustar as propostas técnicas da
Embrapa, de modo que a produção e a conservação de sementes seja um ato
participativo, rumo às práticas agroecológicas, em que ações técnicas e
práticas agrícolas familiares estejam entrelaçadas e resultem em
fortalecimento dos Bancos de Sementes Comunitários (MOREIRA et al., 2009).
O trabalho teve início com um diagnóstico por meio de um levantamento de
campo, consultando lideranças e membros das seis comunidades de São
Francisco de Assis do Piauí, a fim de identificar as potencialidades de produção
de sementes próprias.

Neste sentido, é importante a realização de palestras/reuniões técnicas com


os produtores familiares sobre os campos de produção instalados no referido
município para discutir e avaliar as variedades das diferentes espécies
plantadas. Nos encontros e visitas, além do embasamento teórico genético e
experimental, deve-se apresentar e discutir metodologias participativas de
trabalho, resultados das UTDs e o planejamento das atividades, onde os
agricultores tomarão as suas decisões sobre a produção de sementes.
58
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Entrevista Coletiva e Aplicação de Questionário em São


Francisco de Assis do Piauí para Implantação de Bancos de
Sementes
Inicialmente, realizou-se um levantamento das condições técnicas de produção
das espécies mais cultivadas no município de São Francisco de Assis do Piauí,
mediante técnica de estudos de caso, tendo como base as informações obtidas
no levantamento de questionários respondidos pelos agricultores; onde foi
selecionado para o estudo, seis comunidades do município de São Francisco
de Assis do Piauí no estado do Piauí, que fazem parte do semiárido nordestino,
cujas entrevistas foram realizadas no início de abril de 2009. As comunidades
visitadas foram: Queimada Nova, Lagoa da Povoação, Veredas, Barreiro
Grande, Lagoa do Juá e Barra Bonita.

A entrevista coletiva contou com a aplicação de um questionário com diversas


perguntas para uma média de 17 agricultores, que representou o número da
amostra em cada comunidade. Estes agricultores foram selecionados de forma
aleatória, resultando em 101 agricultores entrevistados pelos técnicos da
Embrapa Algodão. A convocação dos agricultores para as entrevistas em
cada comunidade foi realizada pela rádio local.

A aplicação dos questionários contou com a colaboração de dois agentes da


pastoral da FFA, lotados em São Francisco de Assis do Piauí, PI e Simplício
Mendes, PI, no que se refere à localização das comunidades dos agricultores
que seriam visitadas para as entrevistas e o preenchimento dos questionários.

Resultados dos Questionários


Dos vários itens respondidos pelos agricultores de cada comunidade, algumas
informações foram obtidas no tocante às características do armazenamento
das sementes de produção própria, tais como: se existe Banco de Sementes
na comunidade e tempo de experiência com armazenamento de sementes.
Enquanto nos demais itens avaliaram-se a média percentual das respostas
obtidas dos agricultores dentro de cada comunidade, no que se referem aos
sistemas produtivos das diversas espécies cultivadas, tais como: sistema de
plantio da área cultivada, preparo do solo, semeadura das culturas, culturas
consorciadas, espaçamento, forma de beneficiamento, seleciona algumas
sementes durante a colheita, local de aquisição de sementes, planta mais de
uma cultivar por espécie no campo, isolamento da área plantada, tipo de
embalagem para armazenar as sementes, secagem de sementes e o material
usado na preparação do silo forrageiro, além de algumas perguntas importantes
sobre a cadeia produtiva para as espécies cultivadas na região (Tabelas 1 a
6).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 59

1. Situação da Comunidade
Na Tabela 1, observam-se os valores médios do número de produtores
entrevistados, da existência de Banco de Sementes, do local de
armazenamento, do tempo de armazenamento de sementes e da origem da
aquisição de sementes da referida cultura nas amostras levantadas nas seis
comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí.
Tabela 1. Dados médios e percentuais sobre o número de pessoas entrevistadas, a
existência de estruturas específicas de Banco de Sementes, a experiência de
armazenamento de sementes de produção própria e o local de aquisição das sementes
pelos agricultores nas amostras levantadas nas seis comunidades do município de São
Francisco de Assis do Piauí, 2009.

FONTE: Dados de Pesquisa

Nas amostras das comunidades de Barra Bonita, Lagoa do Juá, Barreiro Grande,
Lagoa da Povoação e Veredas, constata-se que o número de produtores
entrevistados variou entre 10 a 34, sendo que a comunidade de Barra Bonita
apresentou maior público com 34 produtores, ficando em segundo lugar Lagoa
de Juá com 22 produtores e em terceiro, Veredas com 17 produtores. Esta
informação reflete também uma característica importante dos produtores
60
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

que mais se interessam efetivamente pelo cultivo do gergelim no município de


São Francisco de Assis do Piauí, pois, atualmente, a presença dos técnicos da
Embrapa Algodão na região está mais condicionada ao cultivo dessa espécie.

Quando os produtores entrevistados foram indagados sobre a existência de


Banco de Sementes, houve uma resposta positiva de 100% dos produtores
entrevistados das comunidades Lagoa do Juá e Lagoa Povoação, enquanto os
outros produtores afirmaram não existir unidade de Banco de Sementes nas
comunidades de Barra Bonita, Barreiro Grande, Veredas e Queimada Nova.
Para estas comunidades que não dispõe de Banco de Sementes, os agricultores
devem armazenar as sementes nas sedes de cada associação (o Banco de
Sementes ocuparia a divisória para depósito) construídos pela Fraternidade
de São Francisco de Assis (FFA), ou na casa de um determinado agricultor
eleito, no caso da comunidade de Veredas (Figura 24 do Cap. I).

Com relação ao armazenamento das sementes em casa e, o tempo acima de


10 anos com esta prática de armazenamento individual, observa-se na Tabela
1 que os produtores entrevistados foram 100% favoráveis às perguntas em
todas as comunidades avaliadas. Mesmo assim, a proposta da Embrapa Algodão
é transformar esse banco caseiro individual em Banco Comunitário de
Sementes, em razão de que na região é bastante frequente o consumo pelos
agricultores de todas as sementes alimentícias estocadas em casa para o
plantio da próxima safra.

2. Sistemas de Semeadura
Na Tabela 2, observam-se os valores médios dos diferentes sistemas de
semeadura utilizados pelos produtores nas seis comunidades do município de
São Francisco de Assis do Piauí para as seguintes espécies: gergelim, algodão,
feijão, milho, sorgo, milheto e feijão guandu. Os valores médios de respostas
dos entrevistados para as distintas modalidades de semeadura manual, máquina
e matraca, em relação a cada espécie, foram para as sementes de gergelim
com as respectivas porcentagens de 57%, 43% e 0,0%.; algodão com 100%,
0,0% e 0,0%; feijão com 0,0%, 0,0% e 100%; milho com 30%, 0,0% e
70%; sorgo com 32%, 0,0% e 68%; milheto com 16%, 0,0% e 0,0% e
feijão guandu com 0,0%, 0,0% e 67%. Ressalta-se que as sementes de milheto
somente foi plantada na comunidade de Veredas e o feijão guandu não foi
cultivado em duas comunidades: Barra Bonita e Veredas, porque ambos
materiais foram introduzidos recentemente no município de São Francisco de
Assis do Piauí. No caso da semeadura do gergelim com a máquina manual
(43%), há uma tendência de aumentar seu uso na região, devido ao fato da
mesma oferecer mais vantagem (semeia 01 ha em menos de 2 horas com 1,5
kg/sementes e dispensa a operação de desbaste) em relação ao plantio manual
com uma lata perfurada e amarrada numa vara (gasta-se mais de 3 kg de
sementes e leva 3 dias para um homem plantar 01 ha, além do desbaste).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 61

Tabela 2. Valores médios percentuais sobre os diferentes sistemas de semeadura


utilizados nas seis comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí,
2009.

FONTE: Dados de Pesquisa

3. Preparo do Solo e Sistemas de Plantio


Para as comunidades de Barra Bonita, Barreiro Grande, Lagoa da Povoação,
Veredas e Queimada Nova, observar-se na Tabela 3 que o preparo de solo
para as diferentes espécies foi realizado 100% com arado de aiveca
(tombador), exceto para a comunidade de Lagoa do Juá que apresentou o
preparo de solo de 23% com grade de disco e 77% com arado de aiveca.
Para o solo arenoso do município de São Francisco de Assis do Piauí, o uso do
arado de aiveca com tração animal seria o implemento mais recomendado,
por ser considerada uma ferramenta que não causa agressão ao solo durante
seu preparo.
62
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Tabela 3. Valores médios percentuais sobre os diferentes equipamentos usados no


preparo do solo e sistemas de plantio das seis comunidades do município de São
Francisco de Assis do Piauí, 2009.

FONTE: Dados de Pesquisa

FONTE: Dados de Pesquisa


Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 63

Com relação ao sistema de plantio para as diversas espécies: isolado ou


consorciado, houve uma superiodade nas respostas dos produtores
entrevistados em favor do cultivo isolado em todas espécies cultivadas nas
seis comunidades do São Francisco de Assis do Piauí, com exceção do feijão
guandu que destacou o sistema consorciado com maior porcentagem nas
comunidades de Barra Bonita, Lagoa do Juá e Barreiro Grande. Já o sistema
isolado de plantio, em comparação ao consorciado, apresentou média superior
para as espécies de gergelim com 98%, algodão com 93%, feijão com 56%,
milho com 56%, sorgo com 100% e milheto com 12%. Como para a produção
de sementes a norma não permite sistema consorciado, a maioria das
comunidades familiares do município de São Francisco de Assis do Piauí estaria
obedecendo tal exigência.

4. Condições do campo e participação das espécies no consór-


cio e forrageiro
Para a variável "isolamento dos campos das diversas espécies" (Tabela 4),
observa-se que todas as amostras levantadas nas comunidades de Barra Bonita,
Lagoa do Juá, Barreiro Grande, Lagoa da Povoação, Veredas e Queimada
Nova tiveram uma resposta única (100%), pois os produtores assumiram deixar
uma distância abaixo de 100 m sem barreiras para o isolamento entre campos
da mesma espécie ou entre diferentes cultivares. Por outro lado, verifica-se
na Tabela 7 que apenas algumas espécies autógamas (feijão, arroz, amendoim,
feijão de porco e mucuna preta) estão com seus campos de produção de
sementes isolados, enquanto as demais espécies estão sujeitas ao cruzamento
genético, o que indicam que tais espécies alógamas terão que ser renovadas
por sementes puras. No sistema de produção de sementes, a qualidade do
material dependerá, em parte, do isolamento do campo, pois este sistema
evita a mistura varietal.

Analisando-se os dados da Tabela 4 nas amostras das seis comunidades


estudadas, observa-se que 90% dos produtores responderam que cultivam o
feijão consorciado com milho e 2% dos produtores consorciaram feijão x
gergelim na mesma área, como uma estratégia espontânea para fugir da
irregularidade climática, que é muito frequente na região semiárida do nordeste
do Brasil. As pesquisas têm demonstrado que ao plantar diferentes espécies
em consórcio, o produtor poderá assegurar maior estabilidade de produção,
melhor uso dos recursos naturais, melhor controle de pragas e doenças, além
de aspectos como otimização do uso de mão-de-obra, controle de erosão e
diversificação de matéria prima. E, o plantio isolado das diversas espécies é
recomendado para os pequenos produtores, quando se pretende produzir
campos de sementes.
64
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Tabela 4. Dados médios e percentuais de plantio isolado dos campos de produção de


sementes e a participação das diversas espécies cultivadas no sistema de consórcio e
no enchimento dos silos forrageiros realizados pelos agricultores das seis comunidades
do município de São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

FONTE: Dados de Pesquisa

Em toda as seis comunidades amostradas, houve uma predominância nas


médias percentuais para as seguintes respostas dos entrevistados: o material
usado na silagem foi de 45% para milho, 45% para sorgo, 8% para feijão
guandu, 1% para capim elefante e 1% para leucena. Para os feixes de
gergelim, os produtores de São Francisco de Assis do Piauí admitem misturar
com a silagem ou palma (alimentos suculentos), mas sua trituração na forrageira
ocorre no momento da alimentação do rebanho de caprinos (QUEIROGA et
al., 2008).

5. Beneficiamento da produção
Um dos aspectos importante do beneficiamento de sementes próprias é a
escolha de um sistema de processamento específico para cada espécie que
não cause danos às sementes, de maneira que não comprometa sua qualidade
fisiológica. Na Tabela 5, os produtores das seis comunidades de São Francisco
de Assis do Piauí responderam com maior percentual que beneficiam
manualmente gergelim (100%), algodão (0,0%), feijão (69%), milho (82%),
sorgo (100%), feijão guandu (83%) e milheto (16%). Para a Embrapa, o
beneficiamento manual de sementes, dependendo de cada espécie, é mais
apropriado para a agricultura familiar da região nordeste, sem considerar a
limitação de recursos financeiros destinados aos pequenos produtores para
compra de máquinas de beneficiamento de sementes.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 65

Tabela 5. Valores médios percentuais sobre o beneficiamento das sementes de


diversas espécies realizado pelos agricultores das seis comunidades do município de
São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

FONTE: Dados de Pesquisa

6. Seleção de plantas, secagem e acondicionamento de se-


mentes
Quando os produtores das seis comunidades do município de São Francisco
de Assis do Piauí foram indagados sobre: "cultiva no campo mais de duas
cultivares" e "realiza seleção de plantas durante a colheita", ocorreu uma
média elevada de respostas de 98% e 100%, respectivamente (Tabela 6).
Para a comunidade Barreiro Grande, esta média da primeira pergunta, foi de
90%, em razão de 10% dos produtores terem respondidos que plantam mais
de duas cultivares em seus campos. Este fato significa que a seleção prévia
de plantas durante a colheita e o plantio de uma cultivar na mesma área de
produção nas amostras dessas comunidades são considerados uma alternativa
importante para prevenir misturas varietais das sementes produzidas pelos
produtores, as quais serão destinadas aos Bancos Comunitários do referido
município, ou seja, tais processos adotados no campo garante a pureza genética
das espécies cultivadas pelos produtores familiares da região.
66
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Com relação a variável "pré-secagem das sementes ao sol", 100% dos


produtores das seis comunidades admitem realizar a secagem das sementes
antes do seu armazenamento (Tabela 6). Quando aos mesmos foram
perguntados sobre o tipo de recipiente utilizado para acondicionar as diferentes
espécies de sementes cultivadas, observa-se que 83% do produtores utilizam
a garrafa pet, cujos resultados foram obtidos em todas amostras das
comunidades estudadas. Com base neste último resultado, ficou definido que
a embalagem garrafa pet seria adotada pelos Bancos Comunitários de Sementes
do município de São Francisco de Assis do Piauí.

Por sua vez, o depósito de plástico se destacou apenas nas comunidades


Barra Bonita e Lagoa da Povoação, o que contribuiu para uma média de 13%
nos resultados das respostas. A embalagem de lata apresentou uma média
insignificante de 3%, devido os produtores da comunidade de Queimada Nova
conservarem o costume de acondicionamento de sementes em lata.

Tabela 6. Valores médios percentuais sobre se planta mais de uma variedade por
campo, faz seleção do material durante a colheita, secam ao sol as sementes antes do
armazenamento e os recipientes utilizados para guardar as sementes pelos agricultores
das seis comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

FONTE: Dados de Pesquisa


Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 67

Os dados coletados para os distintos itens abordados nas Tabelas 1 a 6 também


serão discutidos durante a apresentação de cada etapa correspondente aos
sistemas de produção ecológica das culturas do gergelim, algodão, feijão,
milho, sorgo, feijão guandu e milheto (Capítulo III).

Apesar de contar com estrutura específica de armazenamento em cinco


comunidades e possuírem mais de 10 anos de experiência de armazenamento
de sementes de produção própria (Tabela 1), os agricultores ainda não se
organizaram em grupos para criar os seus Bancos Comunitários de Sementes
no município de São Francisco de Assis de Piauí. Com base na aplicação do
questionário (Tabela 4), ficou evidenciado também que esses agricultores não
estão sabendo a distância que deve ser adotada para separar campos de
produção de cultivares diferentes, principalmente da mesma espécie com o
objetivo de evitar a contaminação genética (Tabela 7).

Tabela 7. A distância de isolamento recomendada para lavoura de produção de


sementes de algumas espécies.

Fonte: Cordeiro e Farias (1993)


68
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Obs: Distância mínima permitida entre campos plantados de diferentes


cultivares sem barreira vegetal, sendo a metade da distância acima para
campos de diferentes cultivares separados com cortina vegetal.

Referências Bibliográficas
CORDEIRO, A.; FARIAS, A.A. Gestão de bancos de sementes comunitários.
Versão brasileira do Manual de Gestão Prática de Fernand Vicent- Rio de
Janeiro: AS-PTA, 1993. 60 p.

MOREIRA, R.M.P.; FERREIRA, J.M.; MIRTVI, P.R; ROCKEMBACHER, R.;


PAIVA, M; MIOTTO, A.A.; ALVES, J.H.; OLIVEIRA JÚNIOR, O.; MARINO,
T.P.; UENO, S.; VARGAS, L.F.; MOSCARDI, M.L. Agricultores Familiares
Experimentadores Selecionando, Produzindo e Melhorando Suas Sementes
Visando o Desenvolvimento Sustentado. Revista Brasileira de Agroecologia,
v.4, n.2, p.2030-2033, 2009.

QUEIROGA, V.P.; GONDIM, T.M.S.; VALE, D.G.D.; GEREON, H.G.M.;


MOURA, J.A.; SILVA, P.J. ; SOUZA FILHO, J.F. Produção de gergelim
orgânico nas comunidades de produtores familiares de São Francisco de Assis
do Piauí. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2008. 127p. (Embrapa Algodão.
Documentos, 190).
Capítulo 3

Sistemas de Produção de Sementes Orgâni-


cas Utilizados pelos Produtores Familiares de
São Francisco de Assis do Piaui: Um Estudo
de Caso

Vicente de Paula Queiroga

Tarcísio Marcos de Souza Gondim

Dalfran Gonçalves Vale

Paulo de Tarso Firmino

Aycê Chaves Silva

Pe. Henrique Geraldo Martinho Gereon

José de Anchieta Moura

Paulo José da Silva

José Francisco de Sousa Filho


Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 71

Introdução
Recentemente, a Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) conseguiu a
certificação do mel orgânico junto ao Instituto Biodinâmico (IBD) de Botucatu-
SP para atender às exigências dos mercados importadores dos USA e Europa.
Diante da importante atividade econômica do mel orgânico, há uma
conscientização efetiva por parte dos agricultores do município de São Francisco
de Assis do Piauí de cultivar gergelim, algodão, feijão comum, milho, sorgo
forrageiro, milheto, feijão guandu, amendoim, mamona, girassol etc., garantindo
sua sustentabilidade alimentar e econômica, de forma ecologicamente correta,
sem agredir o ecossistema da sua região.

Para organizar e estruturar os Bancos Comunitários de Sementes, a FFA terá


que incentivar a melhoria da qualidade de cada sistema produtivo das espécies
produtoras de alimentos orgânicos nas comunidades dos agricultores familiares
do referido município. Para conseguir tal objetivo, os agricultores foram
capacitados para atuarem nos diferentes segmentos da cadeia de produção
orgânica (QUEIROGA et al., 2008).

Neste particular, algumas etapas da produção de sementes se revestem de


grande importância, como a escolha do terreno, da espécie, da cultivar, bem
como da própria condução do campo. Ressalta-se que problemas nesta fase
podem comprometer a qualidade das sementes, por exemplo, a presença de
sementes de outras cultivares e/ ou espécies que dificilmente são eliminadas,
na sua totalidade, durante o beneficiamento (PRODUÇÃO, 2006).

Da mesma forma, a colheita realizada na época adequada e bem conduzida


contribui para assegurar o êxito do empreendimento, sendo que uma das causas
mais frequentes da baixa qualidade das sementes produzidas, também em
pequenas propriedades, é o retardamento da colheita, às vezes inviabilizando
toda a produção (LOLLATO et al., 1993).

Por outro lado, as sementes após a colheita nem sempre apresentam teor de
umidade adequado para um armazenamento seguro, necessitando de secagem.
Além da umidade, as sementes quando são colhidas, geralmente estão
acompanhadas de impurezas, cuja remoção é realizada através de operações
que compõem o processo de beneficiamento (QUEIROGA et al., 2008).
72
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Com base na análise dos sistemas de produção empregados pelos agricultores


familiares das comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí
se apresnta a continuação de considerações técnicas relevantes para a
melhoria dos referenciados sistemas de produção e pós-colheita, procurando
ajustá-las às reais condições do referido município.

Gergelim
Seleção da área
A escolha da área para a instalação do campo de produção de sementes de
gergelim deve ser uma das principais preocupações do agricultor e deve ser
feita com cautela. Nessa área, é necessário que se proceda a um levantamento
do seu histórico, atentando para os seguintes pontos: cultivar anteriormente
plantada (BRS Seda ou CNPA G4), plantas daninhas existentes, problemas
locais de pragas e doenças (rotação da cultura), condições de fertilidade,
problemas de erosão, topografia e encharcamento do terreno (TORRES et al.,
2006).

Para a maioria dos agricultores de São Francisco de Assis do Piauí, o campo


cultivado com as diversas espécies é pequeno, (3 ha no máximo), o que dificulta
o agricultor colocar em prática todas as recomendações técnicas necessárias
para evitar os problemas gerados pela má seleção da área.

Preparo do solo
Após as primeiras chuvas ocorridas no município de São Francisco de Assis
do Piauí, principalmente no mês de dezembro de cada ano, as áreas destinadas
para o plantio de gergelim, algodão, feijão, milho, sorgo, milheto, feijão guandu,
sorgo forrageiro, etc, deverão ser aradas com equipamentos simples de tração
animal (arado de aiveca) e, no mês de janeiro, os produtores complementariam
o preparo do terreno com uso do cultivador e/ou grade de dentes de tração
animal (Figura 1) para o nivelamento das respectivas áreas aradas no mês
anterior (QUEIROGA et al., 2008).

O plantio do gergelim requer um solo bem preparado e limpo, sem torrões e


restos de plantas (garranchos secos), quando se usa uma grade leve de arrasto
(Figura 2), principalmente para facilitar a semeadura das pequenas sementes
de gergelim com a plantadeira mecânica manual. Por se tratar de um
equipamento leve, a irregularidade do terreno, devido à falta de uma boa
gradagem, pode contribuir na ocorrência de falhas durante o processo de
distribuição das sementes efetuada por essa máquina (QUEIROGA et al., 2008).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 73

Foto: Vicente de P. Queiroga

A
Foto: Odilon R.R.F. da Silva

B
Foto: Odilon R.R.F. da Silva

Figura 1. A) Preparo do solo com o equipamento tombador e arado de aiveca


reversível de tração animal; B) e C) cultivador ou grade de dentes para
complementação.
74
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Odilon R.R.F. da Silva

Figura 2. Gradagem e nivelamento do solo ao mesmo tempo com o arrasto de um


toco roliço amarrado à grade (cultivo minimo).

De acordo com os resultados médios observados na Tabela 8 (Cap.II), 96%


dos agricultores responderam que o terreno era preparado apenas com o
arado de aiveca de tração animal ou tombador, o que dificulta a semeadura
da máquina manual (Figura 3). Enquanto que 23% dos agricultores da
comunidade Lagoa de Juá admitem usar para o preparo do solo o cultivo
mínimo, apenas com a gradagem leve mecanizada (Figura 4).
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 3. Semeadura de campo de gergelim em solo preparo com arado de aiveca


reversível (tombador).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 75

Foto: Luiz Leme

Figura 4. Semeadura de campo de gergelim em solo de topografia plana preparado


com grade leve mecanizada.

Plantio
O plantio da safra 2009 foi realizado com a semeadora semimecânica por
43% do agricultores do município de São Francisco de Assis do Piauí (Tabela
2 do Cap. II) que possui 12 unidades desta semeadora destinadas à semeadura
de sementes pequenas de gergelim (QUEIROGA et al., 2007). Este fato
representa um avanço no uso da semeadora em relação à safra anterior (2008),
quando naquele ano apenas duas máquinas haviam sido adquiridas pela FFA.
A comunidade Barreiro Grande foi a que obteve a maior percentagem do uso
da máquina durante o plantio do gergelim em comparação as demais
comunidades.

Antes do plantio, recomenda-se ajustar a máquina, deixando bem alinhadas


as correntes e as mangueiras dos cones invertidos em relação às duas pequenas
rodas de abertura dos sulcos, as quais estão posicionadas na frente do
equipamento. Esta regulagem prévia do equipamento é indispensável, mesmo
que se gaste mais de 30 minutos para sua regulagem, pois esse ajuste na
máquina irá melhorar a eficiência de plantio das sementes de gergelim, a qual
foi programada para semear duas linhas por cada percurso realizado (Figura
5), no espaçamento de 90 cm entre fileiras e 12 plantas por metro linear.
Com base neste desempenho da máquina, é possível deduzir que a mesma em
funcionamento executa o trabalho de seis pessoas ao mesmo tempo
(QUEIROGA et al., 2008).
76
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Dalfran G. Vale

Figura 5. Alinhamento da semeadora semimecânica antes do plantio das sementes de


gergelim. São Francisco de Assis do Piauí, PI, 2009.

Para que haja incentivo à cultura do gergelim, é necessário reduzir custos de


produção, assim com o uso desta semeadora agiliza-se o plantio de cinco dias
homem-1 para menos de duas horas para semear um hectare, além de
dispensar a mão-de-obra do desbaste (QUEIROGA et al., 2008).

Para o plantio adensado de sementes de gergelim com cultivares que não


produzem ramificações, os produtores de alto nível tecnológico do estado de
Goiás estão utilizando as plantadeiras convencionais de soja, onde são feitos
pequenos ajustes e adaptações em engrenagens e furos de discos, visando o
plantio da cultivar Trhébua precoce de haste única no espaçamento de 35 a
50 cm entre fileiras. Em razão das dificuldades relativas à aquisição de
equipamentos de menor porte que são escassos no Brasil, para o seu plantio,
devido ao tamanho, peso e forma da semente, as mesmas podem ser plantadas
por meio de outros equipamentos utilizados para o plantio de sementes
olerícolas (cebola) ou pastagens (brachiária) (OLIVEIRA et al., 2007). Neste
sentido, o espaçamento adensado de duas linhas do gergelim (exemplo: 40
cm entre linhas) pode ser efetuado através de um equipamento mecânico
manual de preço mais acessível ao agricultor familiar (Figura 6).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 77
Foto: Vicente de P. Queiroga

Foto: Naoto Watanabe


A B
Figura 6. Plantadeira mecânica manual Gombei de uma e duas linhas do fabricante
japonês MUKAI KOGYO (Empresa Hiramaq de Mogi das Cruzes-SP), para o plantio
adensado com variedades não ramificadas, capaz de funcionar com várias regulagens
de espaçamento.

Outro sistema de plantio de sementes de gergelim, que pode ser adotado


pelos produtores de São Francisco de Assis do Piauí, devido a baixa fertilidade
dos seus solos arenosos, é utilizando uma máquina adubadeira. Para melhorar
a eficiência da semeadura das pequenas sementes de gergelim, recomenda-
se passar uma determinada quantidade de esterco curtido numa peneira manual
para ser transformado em pó (MAZZANI, 1999). Deverá usar a proporção de
5% a 10% de sementes de gergelim para ser misturado com cada quilo de
esterco em pó. Em seguida, colocar tal mistura homogeneizada num depósito
do equipamento adubadeira manual, cujo mecanismo do distribuidor de
sementes com duas linhas tem capacidade de plantar 1 ha em menos de 2
horas (Figura 7). Além disso, o equipamento pode direcionar a distribuição em
duas linhas desde o espaçamento de 30 cm até 90 cm, sendo que uma única
lavanca regula a vazão do adubo com várias opções simétricas. Com este
sistema de plantio não é preciso efetuar o desbaste, mas devem-se considerar
as boas condições de umidade do solo.

Adubação do solo

Um método barato para o agricultor melhorar a fertilidade do solo, é investir


em adubação verde. Essa alternativa é importante quando se trata de
recuperação da qualidade dos solos arenosos e pobres em matéria orgânica
como é o caso dos solos do município de São Francisco de Assis do Piauí.
78
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Fotos: Vicente de P. Queiroga

A B C
Figura 7. Adubadeira manual de duas linhas que pode ser adaptada para plantio de
sementes de gergelim quando misturadas com esterco em pó: A) peneira manual para
transformar o esterco em pó; B) máquina com distribuidores paralelos de sementes do
fabricante JZ Implementos Agricolas; e C) esquema de linhas de semeadura.

A adubação verde consiste no cultivo de plantas que estruturam e enriquecem


o solo com nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre, cálcio e micronutrientes, no
caso das leguminosas: feijão guandu, leucena, mucuna cinza, mucuna preta e
feijão de porco, as quais são incorporadas ao solo durante seu estádio de
floração, auxiliado com equipamento como o"rolo de- faca" traionado por
animais. Esta técnica eleva a fertilidade do terreno e aumenta a produtividade
das culturas exploradas pelo agricultor (TORRES et al., 2006).

Os agricultores de São Francisco de Assis do Piauí deveriam insistir na


adubação orgânica das áreas cultivadas, com o esterco originado de sua criação
de caprinos (20 t/ha), visando melhorar a fertilidade dos seus solos (Figura 8).
Foto: Vicente de P. Queiroga
Foto: Nair Helena C. Arriel

Figura 8. Aplicação de esterco curtido no solo, antes da semeadura, transportado por


uma carroça.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 79

Isolamento
É uma medida adotada para separar campos de produção de cultivares
diferentes de gergelim, mas da mesma espécie com o objetivo de evitar a
contaminação genética, pois a polinização do gergelim pode sofrer a ação de
insetos (QUEIROGA et al., 2008).

Pelo fato de ser uma planta de polinização cruzada, recomenda-se uma


distância mínima de 1.000 metros para o cultivo sem barreiras vegetais e, de
500 m para os plantios com barreiras vegetais, entre campos de cultivares da
mesma espécie. Além desses tipos de isolamentos, ainda, para o cultivo em
épocas espaçadas no tempo (cultivo de mais de 30 dias, dependendo do ciclo
das cultivares) de cultivares distintas, pode surtir o efeito desejado como
condição de isolamento (QUEIROGA et al., 2008).

Roguing
A limpeza dos campos (roguing) de gergelim deverá ser efetuada pelos
agricultores (Figura 9) nas áreas destinadas para produção de sementes, visando
eliminar as plantas atípicas e garantir a identidade genética do material. A
produção própria de sementes pelos agricultores, visando atender os seus
compromissos assumidos junto aos Bancos Comunitários de Sementes, irá
contribuir na autosuficiência do abastecimento das comunidades envolvidas
de São Francisco de Assis do Piauí e, também, evita a introdução de doenças
no referido município, caso a FFA for adquirir anualmente sementes de
gergelim produzidas de outras regiões (QUEIROGA et al., 2008).
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 9. Roguing em campo de gergelim para eliminação de plantas atípicas.


Comunidade Lagoa de Juá, município de São Francisco de Assis do Piauí, 2008.
80
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

A contaminação das plantas pode ser de ordem genética e mecânica. Mesmo


quando se utilizam sementes com elevada pureza genética para semear, é
possível detectar no campo uma pequena variação na população das plantas,
devido a segregação, as quais deverão ser eliminadas pela operação de
"roguing", procedimento usado nos programas de produção de sementes em
geral (BELTRÃO e VIEIRA, 2001).

No caso do gergelim é necessário realizar a operação de eliminação das plantas


atípicas nos seguintes estádios fenológicos da cultura (QUEIROGA e BELTRÃO,
2001):

1. Pré-floração - porte distinto, folhagem diferente, presença de pêlos nas


folhas, doentes, coloração distinta da haste;

2. Floração - tamanho e intensidade de coloração das flores, florescimento


precoce e não uniforme;

3. Pré-Colheita - quanto ao tipo, formato e coloração dos frutos, inclusive as


plantas de baixo rendimento;

4. Colheita - remoção das plantas tardias e com deiscência precoce.

A fase de colheita é também um período crítico para seleção de plantas da


cultivar BRS Seda geneticamente puras. Portanto, tomando-se alguns cuidados
simples é possível evitar muitos dos problemas de mistura varietal, pois o
agricultor na ânsia de selecionar as melhores sementes de gergelim, oriundas
de plantas altamente vigorosas pode estar colhendo sementes de outra cultivar.

Geralmente, a seleção das sementes é feita sobre o material guardado a


granel, ou seja, depois da colheita. Desta forma, perde-se a oportunidade de
iniciar a seleção ainda no campo. Além de evitar mistura varietal, a seleção
prévia é uma boa alternativa para prevenir problemas de infestação de pragas
e doenças (TORRES et al., 2006). Para obter sucesso em tal operação é
necessário que os agricultores, com acompanhamento técnico, possam
aproveitar a fase vegetativa para marcar as plantas que têm características
mais interessantes (por exemplo: maior precocidade de floração) e fazer uma
seleção direcionada a um melhoramento genético específico da variedade
utilizada, mediante a colocação nessas plantas eleitas de etiquetas coloridas
(Figura 10).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 81

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 10. Plantas da cultivar BRS Seda, identificadas por etiquetas coloridas com
base na sua precocidade de floração.

Apesar de haver uma pequena diferença no ciclo da cultura entre as cultivares


BRS Seda (85 dias) e CNPA G4 (90 dias) (QUEIROGA e SILVA, 2008), quando
os campos de ambos estão juntos, sem separação por barreira vegetal, terá
que ser condenados para produção de sementes (Figura 11), em razão do
início da floração das distintas cultivares ocorrer na mesma época (36 dias) e,
da polinização cruzada ser provocada pelos insetos (EMBRAPA ALGODÃO,
2007).

Capinas

Nas pequenas propriedades do Nordeste, o controle de plantas daninhas no


gergelim é feito, geralmente, com o uso da enxada. Seu baixo rendimento
aliado à elevação do custo e escassez de mão-de-obra no campo, torna-o uma
operação onerosa correspondendo a mais de 40% do custo de produção,
porque são necessários duas capinas (QUEIROGA et al., 2008).
Foto: Tarcísio M. de S. Gondim

Figura 11. Campos de gergelim das cultivares BRS Seda com ciclo precoce (à direita)
e da BRS 196 CNPA G4 com ciclo médio (à esquerda), aos 80 dias do plantio.
Estação Experimental da Embrapa Algodão de Barbalha, CE.
82
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

O pequeno produtor do município de São Francisco de Assis do Piauí utiliza


comumente o instrumento denominado arado cultivador (tipo bico de pato) à
tração animal (entre fileiras) e enxada (entre plantas) no controle das plantas
daninhas no campo de gergelim, sendo o cultivador regulado para aprofundar
no máximo 3,0 cm do solo para não danificar as raízes das plantas (Figura
12). Após a passagem com o cultivador, deve-se fazer o "retoque" com a
enxada, junto as linhas de plantio (QUEIROGA et al., 2008).

Ainda vale destacar a experiência do município de São João do Sabugi-RN,


onde os produtores estão realizando a capina da lavoura de gergelim
(espaçamento de 90 cm entre fileiras) com os minitratores cultivadores
alugados de uma associação de pequenos produtores do referido município,
do tipo Tobatta com bitola de 80 cm (Figura 13). O produtor paga R$ 15,00
/hora pelo serviço prestado para essa associação, incluindo o operador da
máquina, cujo rendimento por hectare do minitrator fica em torno de 4 horas
(R$ 60,00).

Vale ressaltar que, no caso da cultura orgânica, não é permitido pulverizar


com nenhum tipo de herbicidas para o controle do mato das diversas plantações
realizadas pelo agricultor familiar (QUEIROGA et al., 2008).
Foto: Vicente de P. Queiroga

Foto: Odilon R.R.F. da Silva

A B
Foto: Vicente de P. Queiroga

C
Figura 12. Controle de plantas daninhas com o instrumento arado cultivador
(conhecido como bico de pato ou capinadeira), em lavoura de gergelim no município
de São Francisco de Assis do Piauí, 2008.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 83
Foto: Odilon R.R.F. da Silva

Figura 13. Minitrator cultivador


utilizado pelos produtores de São
João do Sabugi-RN para cultivar os
campos de gergelim.

Controle de pragas
A Tabela 1, contém medidas ecológicas de controle das principais pragas do
gergelim constatadas em lavouras de gergelim da região Nordeste.

Tabela 1. Medidas de controle ecológico adotadas para as principais pragas da cultura


do gergelim.

Fonte: Queiroga et al., 2008.


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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Preparação de macerado
Antes do plantio do gergelim, pode-se devem usar a estratégia de preparar
preventivamente os macerados para combater as pragas na fase inicial de
infestação (lagartas ainda pequenas, pulgões e cochonilhas na fase larval,
cigarrinha, mosca-branca na fase de ninfa, etc), pois as mesmas são mais
vulneráveis à ação dos bioinseticidas. Recomenda-se guardar as soluções de
bioenseticidas, para cada praga, em depósitos de plástico lacrados (Figura
14) para evitar a perda do seu princípio ativo. Além disso, devem-se armazenar
cada solução na quantidade que atenda uma ou duas pulverizações do campo
de gergelim (QUEIROGA et al., 2008).
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 14. Preparação dos bioinseticidas para combater pragas na cultura do gergelim
como mosca-branca, cochonilha, pulgão e lagarta, sendo o pulverizador costal de uso
exclusivo para os inseticidas agroecológicos ou pulverizador de garrafa pet.

Segundo Beltrão e Vieira (2001), as lagartas causam danos em folhas


terminais, brotos, flores, cápsulas e sementes (Figura 15).
Fotos: Lúcia Helena A. Araújo

Figura 15. Planta de gergelim atacada pela lagarta-enroladeira (Antigastra


catalaunalis).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 85

No início do inverno na região semiárida é freqüente o ataque de lagarta na


lavoura de gergelim e recomenda-se preparar o seguinte macerado para lagarta
(QUEIROZ FILHO, 2005):

Macerado para lagarta


a) Pimenta malagueta (Capsicum frutescens)

200 g de pimenta malagueta;

1 litro de álcool;

Misturar a pimenta e álcool no liquidificador e deixar repousar por uma semana


para cura;

Depois desse tempo deve coar no pano e acrescentar 100 mL de detergente


neutro;

Mais 200 mL de óleo de algodão;

Utilizar apenas quatro colheres de sopa para cada pulverizador costal de 20


litros;

Pulverizar a cada dois dias, nas primeiras horas da manhã, ou ao final da


tarde.

Segundo Beltrão e Vieira (2001), os pulgões que vivem em colônias, e o seu


ataque se concentra em reboleiras; propiciam o desenvolvimento de fumagina;
e são vetores de viroses (Figura 16).
Foto: Tarcísio M. de S. Gondim
Foto: Sérgio Cobel

Figura 16. Planta de gergelim atacada por pulgões (Aphis sp).


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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Recomenda-se preparar o seguinte macerado para controle de pulgão e lagarta


(DANTAS, 2001):

Macerado para Pulgão


a) Cebola (Allium cepa L.) e alho (Allium sativum)

Três cebolas médias

Cinco cabeças de alho

10 litros de água

Triturar as cebolas e alho, misturando aos 5 litros de água;

Coar no pano fino para evitar entupimento do pulverizador e adicionar a


mistura (solução) com mais 5 litros de água;

Pulverizar ao final da tarde com pulverizador costal de 10 litros

Macerado para Pulgão e Lagarta


a) Folhas de urtiga (Fleurya aestuans L)

1 kg de folhas de urtiga picadas

2 litros de água

Passar as folhas com a água no liquidificador ou pilão (esmagar e mexer bem)


e deixar de repouso por dois dias para cura;

Coar para evitar o entupimento do pulverizador;

Adicionar o conteúdo para cada pulverizador costal e completar o volume


com água para 20 litros.

b) Folhas de angico (Piptadenia colubrina)

1 kg de folhas de angico picadas;

10 litros de água
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 87

Passar as folhas com a água no liquidificador e deixar de molho por 8 dias


para cura;

Coar para evitar o entupimento do pulverizador costal;

Usar 5 litros do extrato no pulverizador costal com capacidade de 20 litros;

Segundo Beltrão e Vieira (2001), tanto o inseto adulto como as ninfas de


mosca branca causam efeito direto sob a face inferior da folha, sugando a
seiva da planta. Altas infestações provocam a "mela" e atua como vetor de
viroses do grupo geminivirus. Sua infestação é mais frequente em período de
estiagem ou veranicos.

Recomenda-se preparar o seguinte macerado para mosca-branca adulta e


ninfa (BELTRÃO; VIEIRA, 2001; DANTAS, 2001; DIACONIA, 2006):

Macerado para Mosca-Branca Adulta


a) Folha de fumo (Nicotiana tabacum)

Fazer repelente do extrato, cozinhando 2 kg de folhas de fumo em 3 litros de


água, durante 10 minutos;

Depois de frio, coar o material em pano; e usar um copo da solução do extrato


em 10 litros de água para pulverização. Manter o produto sempre guardado
em garrafa escura e lacrado.

Urina de vaca
Coletar urina de vaca na hora da ordenha;

Colocá-la num recipiente lacrado;

Deixar no mínimo três dias de repouso para fermentar (liberar a amônia);

Diluir 200 mL de urina para 20 litros de água do pulverizador;

Se necessário aplicar a cada três dias;

Não deve ser aplicada no período de floração, pois induzirá a planta ao aborto.
88
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Macerado para Ninfas da Mosca-Branca


Aplicar o detergente neutro na dose entre 180 a 200 mL em 20 litros de água
ou através de sabão neutro. Dissolver 100 mL em 1 litro de água e acrescenta
em 20 litros de água no pulverizador costal. Aplicar pela manhã com os jatos
dirigidos à parte inferior da folha para controle dos insetos (Figura 17).
Foto: Tarcísio M. de S. Gondim

Foto: Lúcia Helena A. Araújo

Figura 17. Planta de gergelim atacada pela mosca-branca Bemisia tabaci/ B.


Argentifolii, nas fases adultas e ninfas, sendo estas últimas mais vulneráveis aos
bioinseticidas.

O sabão serve para repelir a mosca-branca. Picar 500 gramas de sabão para
ser desmanchado em 5 litros de água quente, sendo necessário mexer bem
para dissolver o sabão. Pulverizar esta mistura morna sobre as plantas (35
°C) (DANTAS, 2001).

Outra praga de importância para o cultivo de sementes de gergelim é a


cochonilha. Segundo Guerra (1985), as cochonilhas são extremamente
pequenas e o seu controle na fase larval é mais eficiente (Figura 18). Antes
de o inseto formar a carapaça (escudo protetor), apresenta o corpo recoberto
por secreção cérica branca, assumindo aspecto semelhante à farinha de
mandioca, sobre os galhos infestados, nas formas estranhas filamentosas ou
pulverulentas. Nesta oportunidade, os bioinseticidas também oferecem boa
eficiência.
Fotos: Tarcísio M. de S. Gondim

Figura 18. Ataque de cochonilhas em reboleira, no cultivo de gergelim: A) -


murchamento de planta como sintomas do ataque; B) - detalhe da cochonilha e
pulgões na parte apical da planta.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 89

O macerado recomendado para cochonilha foi utilizado pelo produtor Raimundo


Bento de Souza da comunidade de Veredas e controlou eficientemente essa
praga na pequena área atacada (reboleira) da UTD de gergelim, sendo que a
calda sulfocálcica usada na mistura foi adquirida pronta no comércio de
Petrolina-PE (AGROBOM).

Macerado para Cochonilha


500 mL de calda sulfocálcica;
300 mL de óleo bruto de algodão;
50 mL de detergente neutro;
Diluir a mistura no pulverizador costal com 19 litros de água e pulverizar a
cada 15 dias.

Planta de neem
O neem é considerado a planta das mil e uma utilidades. O composto ativo,
Azadirachtina indica, controla os insetos impedindo sua metamorfose em fase
de larva, além de repeli-los. Os insetos que se mostraram mais sensíveis ao
neem foram lagartas, pulgões, cigarrinhas e besouros mastigadores. Resultados
de pesquisa já comprovaram seu efeito sobre as larvas e pupas da lagarta-do-
cartucho do milho (Figura 19), curuquerê do algodoeiro, ácaros, bicho-mineiro
e cochonilhas. Além de inseticida, a planta de neem tem efeito como repelente,
inibidora de crescimento da praga, fungicida e nematicida.
Para reduzir os custos de produção do gergelim, a FFA de São Francisco de
Assis do Piauí distribuiu mudas de neem para serem plantadas pelos produtores
nas seis comunidades rurais: Lagoa do Juá, Queimada Nova, Lagoa da
Povoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita. Para se tornar
autosuficiente na produção de bioinseticidas à base de neem, é necessário
manter pelo menos 50 plantas desta espécie em cada comunidade (Figura
20).
Foto: Lúcia Helena A. Araújo

Figura 19. Planta de gergelim atacada por lagarta militar do gênero Spodoptera ssp.
90
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 20. Pequeno bosque de neem com o mínimo de 50 plantas para atender cada
comunidade de produtores familiares, podendo também funcionar com barreira quebra-
vento, ou área de arborização da propriedade.

O rendimento dos frutos do neem varia entre 25 e 50 kg por árvore, de


acordo com o genótipo, temperatura, umidade e tipo de solo. Normalmente,
50 kg de frutos maduros têm cerca de 30 kg de sementes, as quais produzem
em média 6 kg de óleo e 21 kg de pasta. Cada quilograma de sementes secas
contém aproximadamente 3.000 unidades (SOARES et al., 2003).

Depois do despolpamento dos frutos, as sementes de neem devem ser


colocadas ao sol, em camadas finas, sobre terreiros cimentados. Deve-se
evitar o contato delas com a umidade, para não ocorrer mofamento. Esta
operação requer um único dia de sol, já que posteriormente, as sementes
devem ser transportadas para locais sombreados, onde permanecerão cerca
de oito dias.

Os extratos de neem podem ser preparados com a simples trituração das


sementes ou frutos frescos, em água, deixando-se a mistura descansar por
24 horas, filtrando-se o líquido e pulverizando-o sobre as áreas infestadas. O
mesmo procedimento pode ser utilizado para folhas frescas ou secas (Figura
21), embora a Azadirachtina nesse caso, ocorra em menor concentração
(SOARES et al., 2003).

Outro cuidado de suma importância, ao final do processo de secagem, consiste


no recolhimento e acondicionamento das sementes do neem em sacos de
aniagem, para permitir boa aeração e evitar, o aparecimento de fungos
patogênicos que possam causar deterioração das mesmas. Satisfeitas essas
condições básicas, as sementes de neem podem ser armazenadas por mais
de um ano.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 91

Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 21. Produtor colocando as folhagens de neem (cortadas e maceradas no pilão)


dentro do tambor para preparo de solução e seu posterior armazenamento em depósito
de plástico.

As recomendações dos preparos dos macerados de neem para sementes


despolpadas e folhagem com talos tenros, estão indicadas respectivamente
nos trabalhos de Dantas (2001) e Soares et al. (2003).

Macerado para Lagartas, Pulgões, Cigarrinha-Verde e Mosca-


Branca
a) Sementes despolpadas

Em primeiro lugar, os frutos são coletados e despolpados;

Após isso as sementes são secas;

As sementes são raladas e imersas em água;

Na proporção de 30 a 40 g de sementes por litro de água;

Deixar de repouso por dois dias para cura;

Cuar e acrescentar 10 mL de detergente neutro e completar o volume do


pulverizador com água;

Para o pulverizador de 20 litros, são necessários 700 g de sementes.

Da prensagem da semente pode resultar o óleo e o extrato aquoso. Já este


extrato pode ser transformado em pó ou em torta prensada para uso como
bioinseticida.

b) Folhagem e talos tenros

1 kg de folhas e talos tenros picados para 20 litros de água (equivale a 40 a


50 g de folhas por litro de água)
92
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Passar no liquidificador com 2 litros de água (ou macerado no pilão)

Deixar os 20 litros da mistura em repouso por 2 dias para cura;

Cuar e acrescentar 10 mL de detergente neutro;

Adicionar o conteúdo no pulverizador costal de 20 litros de água

Segundo Soares et al. (2003), as quantidades a serem utilizadas variam para


cada espécie de inseto. De modo geral, recomenda-se por litro de água, de 30
a 40 g de sementes ou de 40 a 50 g de folhas secas.

Época de corte das plantas


O momento exato do corte das plantas de gergelim recomendado por Fonseca
(1994) está de acordo com os trabalhos experimentais conduzidos por Mazzani
(1983), de que as plantas de gergelim colhidas mais tarde, quando os frutos
da base das hastes começam a abrir-se, produzem sementes em maior número
e de maior tamanho. Este é o momento exato da colheita, pois daí em diante
a deiscência dos frutos progride rapidamente, chegando àqueles localizados
no topo da planta, mesmo que sejam constatados no campo perdas visíveis de
sementes, mas consideradas essas perdas insignificantes. Mesmo assim,
Mazzani (1999) afirma que quando se retarda por três dias o corte das plantas
pode representar incremento de 30% no rendimento de sementes imaturas,
sendo essas perdas consideradas invisíveis (sementes imaturas, chochas e
palhadas; Figura 22).
Fotos: Tarcísio M. de S. Gondim

Figura 22. Ponto de colheita: início da abertura da primeira cápsula da base da haste
(perdas visíveis), sendo maior as perdas de sementes imaturas (invisíveis) quando se
antecipa esse ponto de corte da planta.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 93

O plantio do campo de gergelim da cultivar BRS Seda (frutos deiscentes) deve


ter articulação com a capacidade diária de corte das plantas do produtor.
Esta falta de planejamento na instalação do campo pode resultar numa drástica
perda de sementes durante a colheita, em função da abertura natural dos
frutos na maturação (ainda na planta), os quais deixam cair às sementes no
chão pela simples ação do vento.
A colheita manual mais utilizada no nosso meio consiste no corte da base das
plantas com a serra de capim ou facão afiado (Figura 23), devendo ser realizado
o corte da haste das plantas na altura da inserção dos primeiros frutos (15 a
30 cm), de modo a evitar que os feixes de gergelim fiquem grandes e não
causem dificuldades para o agricultor durante a batedura dos mesmos sobre
lona.
Fotos: Vicente de P. Queiroga

A B

Figura 23. Corte manual das plantas de gergelim (frutos deiscentes) no ponto de
colheita: A) Feixe de gergelim em contato com o solo e B) lona para depositar os
feixes de gergelim. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

Para o caso das comunidades organizadas de agricultores familiares do


Nordeste que estão dispostas em tecnificar o corte das plantas deiscentes de
gergelim, o mercado nacional oferece a opção de alguns equipamentos (tipo
roçadeira) desenvolvidos pelos fabricantes Bertolini e Husqvarna (Figura 24),
os quais podem ser utilizados pelo produtor para aumentar sua capacidade de
colheita diária.
Outra opção seria testar o minitrator do tipo Tobatta, adaptado na sua parte
frontal com uma plataforma de uma linha de corte (tipo navalha - Figura 25).
Provavelmente, esse novo protótipo ofereceria condições de corte com
capacidade de rendimento (diário) para ceifar as plantas com frutos deiscentes
de gergelim de um campo com 4 ha. Além disso, o produtor precisaria de pelo
menos 12 pessoas para a colheita do gergelim (4 ha/dia) com esse sistema
semimecanizado, sendo 1 operário para o corte com o minitrator tipo Tobatta
e onze operários para as demais atividades: agrupar as plantas em feixes,
amarrá-los com barbantes e fazer a sua disposição junto as cercas de arame
para secagem.
94
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Fotos: Diego Antônio. N. Queiroga

B
Figura 24. A) Roçadeira mecânica do fabricante Bertolini para uma fileira e duas
fileiras de plantas de gergelim; e B) Roçadeira mecânica tipo costal do fabricante
Husqvarna para uma fileira de plantas de gergelim, sendo mais acessível para o
pequeno produtor.
Foto: Diego Antônio N. Queiroga

Figura 25. Minitrator tipo Tobatta (pequisa não validada) para o corte mecânico de
uma linha de plantas de gergelim.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 95

Secagem dos feixes

Por ocasião da colheita, cada agricultor de São Francisco de Assis do Piauí


terá que efetuar em cada parcela de 0,5 ha as seguintes etapas: cortar as
plantas e agrupá-las em feixes (total de 742 feixes por 0,5 ha, tendo cada o
diâmetro de 30 cm), amarrá-los com fitas de caroá e, finalmente, fazer a
disposição dos mesmos nas cercas de arame para secagem, sendo todas essas
tarefas executadas dentro de uma jornada de 8 horas de trabalho, o que
exigiria a mão-de-obra de no mínimo três pessoas para cada parcela de 0,5
ha.

O comprimento dos feixes deve ser o mais curto possível (cortar a planta no
início da inserção dos frutos) e sendo amarrados com duas ou três tiras de
caroá (Figura 26) ou barbante deixando com os ápices direcionados para cima,
dependendo da intensidade de vento na região durante o período de secagem.
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 26. Feixe de gergelim sendo amarrado com fitas de plástico ou tiras de caroá.
São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

Os feixes deverão ser agrupados manualmente em medas ou arrumados


individualmente junto às cercas de arame do campo para a secagem natural
(Figura 27). Uma vez escorados nas cercas, os agricultores das seis
comunidades de São Francisco de Assis do Piauí mantiveram todos os feixes
amarrados, passando uma corda ou arame de forma trançada, para que eles
não inclinassem ou caíssem ao solo pela ação do vento, o qual é frequente na
região nos meses de abril a julho de cada ano (QUEIROGA, et al., 2008).
96
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 27. Disposição dos feixes de gergelim junto à cerca de arame para facilitar o
processo de secagem. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

Comparando com o clima da região semiárida do Nordeste nos meses secos


de maio a dezembro, observa-se que podem ocorrer em alguns anos
precipitações pluvial atípicas entre os meses de maio e julho, o que ocasiona
o escurecimento das sementes de gergelim em processo de secagem no campo.
Consequentemente, essa oxidação do produto é bastante depreciada pelo
mercado. Para evitar as chuvas ocasionais durante a secagem dos feixes
com ápices voltados para cima, o produtor do município de Várzea-PB agrupou
os feixes sob uma lona plástica grande (20 m de comprimento e 4 m de
largura), posicionada em redor de uma estaca de 1,8 m de altura, de maneira
que ela envolveu vários feixes de gergelim desde a parte inferior até a parte
superior, formando uma cobertura total à prova de chuvas (Figura 28). Nos
dias subsequentes, essa lona com os feixes era desenrolada quando havia a
presença do sol e, no final da tarde, os feixes voltavam a ser novamente
enrolados, de forma que esse sistema de proteção dos feixes foi mantido até
o período final de secagem do gergelim (20 dias). Esse processo de secagem
contra as chuvas é eficiente, principalmente, quando visa a obtenção de um
produto com elevada qualidade (sementes não oxidadas), mas a viabilidade
desse processo irá depender da lona plástica durar no máximo três colheitas
de gergelim (safras). Portanto, aconselha-se colocar sacos de rafe embaixo
dos feixes para não furar a lona.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 97
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 28. Diferentes fases de preparação do sistema de secagem dos feixes de


gergelim com cobertura de lona plástica no campo para evitar às chuvas ocasionais.
Várzea, PB, 2009.

Batedura dos feixes


Devido ao vento forte na região, os produtores familiares das comunidades
envolvidas na programação da FFA fizeram três bateduras para soltar todas
as sementes dos feixes, pois os frutos na planta apresentam idades diferentes
e também diferentes níveis de maturação. De modo geral, os batimentos dos
feixes ocorreram aos 8, 15 e 22 dias após o corte das plantas de gergelim nas
diferentes comunidades de São Francisco de Assis do Piauí. A terceira batedura
corresponde as sementes do ápice das plantas, portanto recomenda-se separá-
las das demais sementes da primeira e segunda bateduras, devido a sua baixa
qualidade (sementes imaturas e palhas). Caso necessita complementar a
secagem das sementes após a batedura, é recomendável espalhar uma
camada fina de sementes sobre a lona plástica, em razão de que as mesmas
terão que apresentar umidade máxima de 4,5% para o acondicionamento em
garrafa pet (QUEIROGA, et al., 2008).

No transporte dos feixes para a batedura, os agricultores conduzem os feixes


na posição ereta, pois qualquer inclinação dos mesmos representa perdas de
sementes. Apenas os feixes secos são virados totalmente pelos carregadores
quando estão sobre a lona estendida em forma de canoa (Figura 29). Aquele
agricultor que consegue deixar os feixes de plantas mais curtos, as atividades
de virada e de sua batedura sobre a lona mostram-se ser melhor o manuseio
da batedura dos mesmos, em comparação aos feixes longos (QUEIROGA, et
al., 2008).
98
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 29. Transporte dos feixes para batedura em uma lona fixa no campo, em forma
de canoa para evitar a mistura das sementes com areia. São Francisco de Assis do
Piauí, 2008.

Para não ter que transportar os feixes em posição ereta e carregá-los sem
deixar cair as sementes por longo percurso no campo até chegar à lona fixada
no chão, outra sugestão dada pela Embrapa Algodão seria colocar a lona
amarrada sobre uma carroça baixa, de modo que a carroça empurrada pelos
agricultores deslocaria no campo em busca dos feixes para a operação de
batedura. Esta opção da carroça se movendo dentro do campo seria mais
viável para as três bateduras dos feixes de gergelim, em razão de reduzir
drasticamente as perdas com sementes no chão, pois a carroça vai para junto
dos feixes de gergelim que serão submetidos ao processo de batedura. Além
disso, no caso dos feixes de gergelim receberem uma arrumação organizada
no campo, similar aos estaleiros de sisal, haveria um impacto significativo
bem menor de 10% de perdas de sementes pela ação dos ventos (Figura 30).
Para Queiroga e Silva (2008), esse índice abaixo de 10% de perdas de sementes
representa uma colheita eficiente do gergelim deiscente.

Peneiração e ventilação das sementes


Uma vez executada a operação de batedura nos feixes com auxílio da própria
mão ou de um pequeno porrete, os agricultores da comunidade de Lagoa do
Juá realizaram uma limpeza das sementes depositadas na lona para um carro
de mão, também forrado com lona, através de uma peneira circular (Figura
31). Para ajudá-los nessa tarefa de limpeza das sementes foi utilizada uma
bacia de plástico.

Logo após a batedura e antes do acondicionamento das sementes em garrafas


pets, recomenda-se utilizar uma ventilação no material resultante para eliminar
todo tipo de sujeiras encontradas junto às sementes (cascas, insetos, palhas,
sementes chochas, etc). Para os agricultores de São Francisco de Assis do
Piauí, a ventilação das sementes é realizada com arupembas de palhas (peneira
rústica) nas horas de ventos (QUEIROGA, et al., 2008).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 99
Foto: Tarcísio M. de S. Gondim

Foto: Vicente de P. Queiroga


A B
Foto: Vicente de P. Queiroga

Foto: Pericles Valinotti

C D
Figura 30. Circulação da carroça ou reboque para batedura dos feixes e sua
arrumação bem estruturada no campo, resulta numa colheita eficiente do gergelim
deiscente.
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 31. Peneiração manual das sementes de gergelim através de peneira rústica.
São Francisco de Assis do Piauí, 2008.
100
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Outra técnica simples de ventilação natural das sementes de gergelim adotada


pelos agricultores do Nordeste é utilizando uma peneira feita de madeira,
contendo uma chapa de latão perfurada por prego, a qual fica no plano inferior
da coluna de descarga da semente efetuada por um operário de campo sobre
um tamborete, visando reter as sujeiras pesadas e grandes presentes nas
sementes (QUEIROGA, et al., 2008). Ao mesmo tempo, a coluna de descarga
das sementes é afetada pela ação do vento para separar as sujeiras leves e
pequenas (Figura 32).
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 32. Ventilação natural das sementes de gergelim usando uma peneira de
madeira com chapa de latão perfurada por prego.

Visando aumentar a pureza das sementes, após o processo de colheita seria


conveniente efetuar uma ventilação complementar num equipamento simples
com alimentação manual, o qual possui um bica de descarga na sua parte
inferior por onde saem às sementes limpas. Esta máquina descascadora de
sementes dos frutos de mamona, produzida pela Metalúrgica GSDourado de
Irecê-BA, pode ser adaptada para limpeza de sementes de gergelim, quando
se substitui a peneira de mamona por outra peneira de orifícios redondos de 3
mm (1/8 de polegadas). Esta máquina deve ser acionada à tomada de força
do trator com a rotação entre 350 rpm a 400 rpm (Figura 33), mas para
limpar o gergelim é necessário que o material passe primeiro por uma peneira
comum de pedreiro para tirar as impurezas pesadas (Figura 31) e depois
complementar a limpeza do gergelim na referida máquina para eliminar as
impurezas leves (QUEIROGA, et al., 2008). O referido fabricante pretende
desenvolver uma máquina idêntica de pequeno porte para gergelim, adaptando
um redutor de velocidade e colocando um motor na máquina pra que a mesma
possa trabalhar diretamente com energia elétrica.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 101
Foto: Sérgio Cobel

Foto: Vicente de P. Queiroga


Figura 33. Máquina de ventilação utilizada na limpeza das sementes de gergelim,
adaptando uma peneira de orifícios redondos de 3 mm e usando a rotação máxima de
400 rpm.

Secagem das sementes


Segundo Weiss (1983), as sementes de gergelim perdem rapidamente a
qualidade quando manipuladas e armazenadas sem os devidos cuidados.
Colheita fora de época, danos mecânicos na batedura, secagem inadequada
(alta umidade) e temperatura de armazenamento, se apresentam como os
principais fatores que afetam as qualidades fisiológicas (germinação e vigor)
das sementes armazenadas.

Em regiões com alta umidade ambiental, o gergelim volta a absorver umidade


e corre o risco de embolorar (mofar). Sob estas condições se deveria armazenar
o gergelim num curto espaço de tempo ou em caso contrário depositá-lo em
recipiente hermeticamente fechado (garrafa pet). Bass et al. (1963), utilizando
recipientes herméticos, verificaram que sementes de gergelim se conservam
por dois anos quando mantidas em temperatura de 21 ºC, porém essa
conservação só foi mantida quando o teor de umidade das sementes foi de
4% (Figura 34).

Armazenamento
Uma vez secadas ao sol, as sementes de gergelim devem ser esfriadas
naturalmente à sombra e acondicionadas em garrafas pets (Figura 35) com a
umidade máxima de 4%, conforme os trabalhos de armazenamento conduzidos
por Bass et al. (1963).
102
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 34. Secagem natural ao sol: método adotado pelos agricultores familiares do
Nordeste para secagem do gergelim.

Como medida de precaução para atingir uma


Foto: Vicente de P. Queiroga

produção de sementes uniformes (cor) de


elevado padrão, recomenda-se ao produtor
efetuar uma limpeza manual sobre a pequena
quantidade de sementes de gergelim que será
utilizada na semeadura por ha (3 kg) para
eliminação de sementes contaminantes
presentes nas amostras armazenadas nas
garrafas pets, principalmente no caso das
amostras de sementes de cor branca da cultivar
BRS Seda, as quais são comumente mescladas
Figura 35. Sementes de com sementes segregantes de cor creme, em
gergelim acondicionadas
em garrafas pets.
virtude da referida cultivar ter sido oriunda da
seleção massal da cultivar CNPA G4 (sementes
de cor creme).

Rotação de culturas
Em qualquer atividade agrícola, a prática de rotação de culturas é de suma
importância, pois contribui para a manutenção da bioestrutura do solo e para
a sanidade vegetal, além de ser prática importante para a conservação do
solo. Silva (1983) indica as seguintes rotações para a região do nordeste:
feijão/gergelim, milho/gergelim e sorgo/gergelim ou mamona/amendoim/
gergelim.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 103

É importante considerar que na maior parte das UTDs instaladas nas


comunidades de São Francisco de Assis do Piauí a incidência de pragas e
doenças nas pequenas áreas de gergelim tem sido insignificante, pois os fatores
ambientais de baixa umidade e temperatura amena no período chuvoso têm
colaborado para a sua baixa infestação na região, principalmente as doenças.
Preventivamente, é necessário que o produtor esteja sempre atento, fazendo
anualmente a rotação da área do gergelim com outras culturas, principalmente
da família das gramíneas (sorgo, milho, arroz, etc), cujo manejo irá garantir ao
produtor de gergelim menor custo de produção e ausência de pragas na lavoura.

Algodão Herbáceo
Antecedentes
O primeiro trabalho realizado no município de São Francisco de Assis do Piauí
pela Embrapa Algodão foi com a cultura do algodão. Em novembro de 2003,
foi ministrado pelos técnicos da Embrapa um curso teórico de capacitação
para 400 agricultores, sendo a duração do curso de um dia por grupo de 80
participantes de cada comunidade. No mês seguinte, foram instaladas 10
UTDs (Unidade de Teste e Demonstração) nas cinco comunidades, sendo duas
por comunidade do referido município: Lagoa do Juá, Queimada Nova, Lagoa
da Povoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita, visando criar uma
escola de campo para transferência de
tecnologia em tempo real. As orientações
Foto: Flávio Tôrres de Moura

técnicas dadas pelos pesquisadores da


Embrapa aos vários produtores reunidos na
UTD matriz permitiram criar um efeito
positivo no processo de apropriação
tecnológica pelos produtores familiares, cujos
conhecimentos adquiridos foram aplicados
nos seus lotes (UTDs filiais). Na Figura 36,
encontra-se o organograma das UTDs.

Com uma área individualizada de um hectare


Figura 36. Modelo estratégico, por produtor, apenas 350 agricultores
para transferência de
conseguiram instalar os campos de produção
tecnologia, adotado pela
Embrapa Algodão para convencionais (não orgânico) de algodão
produção de algodão nas herbáceo da cultivar BRS 187 8H sob
comunidades de São Francisco condições de sequeiro, totalizando uma área
de Assis do Piauí, em 2004. estimada de 350 ha. A média de
104
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

produtividade por cada agricultor foi de 740 kg/ha de algodão em caroço,


mesmo assim houve casos de produtividade elevada de 2.000 kg/ha (Figura
37). Os resultados da produção total comercializada pela FFA foram de 260
toneladas de algodão em caroço ao preço de mercado de R$ 1,00 por quilo,
alcançado no mês de junho de 2004. Destaca-se que o primeiro Dia de Campo
ficou registrado no município de São Francisco de Assis do Piauí com a UTD
de algodão instalada na comunidade Barreiro Grande (Figura 38).
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 37. Campo de algodão (sequeiro) do produtor da comunidade de Mulungu no


município de São Francisco de Assis do Piauí, 2004.
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 38. Abertura do evento com momento de oração do Pe. Geraldo Gereon e
depois, Dia de Campo de algodão herbáceo convencional na comunidade Barreiro
Grande, município de São Francisco de Assis do Piauí, PI. Ano agrícola de 2004.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 105

Condições da área
A exigência adotada pelo IBD para certificação do campo de produção do
algodão orgânico está relacionada à escolha do terreno, pois seus técnicos só
reconhecem a lavoura ecologicamente correta quando cultivada em áreas
agrícolas manejadas por pelo menos 3 anos na ausência de defensivos e adubos
minerais (QUEIROGA, et al., 2008).

O algodoeiro herbáceo vegeta bem nos solos de baixada e aluvião da região


semiárida do Nordeste, consequentemente a planta fica mais sujeita a
infestação de pragas por se tratar de solos úmidos durante o período de inverno.
A incidência de pragas é menor em solos de tabuleiros da referida região,
apesar do desempenho agronômico do algodoeiro herbáceo não ser bastante
promissor, ou seja, a produtividade do algodoeiro é regular em função da
baixa fertilidade do solo (QUEIROGA, et al., 2008).

Para um melhor rendimento e uma boa produção devem ser procurados os


solos profundos, bem estruturados, de pH entre 5,5 e 6,5, não sujeitos a
encharcamento ou erosão (QUEIROGA, et al., 2008).

A topografia do solo pode variar desde plana até a ondulada, contanto que na
plana não haja problema de encharcamento e na ondulada ou acidentada,
práticas de conservação sejam observadas e seguidas para evitar erosão. Os
solos recém-desbravados são ricos em matéria orgânica e com alto teor de
nitrogênio, podendo ocasionar o desenvolvimento vegetativo do algodoeiro
em prejuízo à produção (QUEIROGA, 1983).

Preparo do solo
Um dos fatores que influenciam no rendimento da cultura é o preparo do solo.
Quando bem feito, facilita o plantio, favorece a germinação da semente e o
desenvolvimento do sistema radicular, além do controle de plantas daninhas.

O solo pode ser preparado pelo método tradicional de aração e gradagem,


preferencialmente com arado de aiveca ou de discos dependendo do tipo de
solo. Este método deve ser feito em solo úmido, no ponto da fiabilidade
(QUEIROGA, et al., 2008).
106
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

O uso de grades aradoras é desaconselhado, pois favorece a erosão laminar,


é ineficiente no controle das plantas daninhas e principalmente porque provoca
aumento da compactação do solo devido à formação do pé-de-grade
(PRIMAVESI, 1980; SEGUY et al., 1984).

Grande parte dos agricultores familiares de São Francisco de Assis do Piauí,


por não disporem de outros recursos, prepara o solo, apenas usando o arado
de aiveca (tombador) à tração animal. Após o preparo com o tombador,
deveriam passar o cultivador ou grade de dentes (Figura 1) até que o solo
ficasse bem destorroado para melhorar o rendimento e a eficiência deste tipo
de preparo.

Se o preparo for feito mecanicamente a trator, recomenda-se fazer aração a


uma profundidade de 15 a 20 cm antes da gradagem. A gradagem de
nivelamento deve ser feita perpendicular ao sentido da declividade do terreno
visando controlar a erosão (QUEIROGA, 1983).

Característica da cultivar
Para o plantio do algodão orgânico no município de São Francisco de Assis do
Piauí está sendo utilizada a cultivar BRS 187-8H, cujas sementes foram
adquiridas, provavelmente do projeto ESPLAR de Tauá-CE. Na Tabela 2 abaixo,
estão os seus principais caracteres de produção e tecnológicos da referida
cultivar.

Tabela 2. Principais caracteres de produção e tecnológicos do algodão herbáceo


convencional, cultivar BRS 187- 8H , para as condições do Nordeste (sequeiro).

Fonte: Embrapa Algodão (2003).


Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 107

Sementes
No plantio do algodão orgânico, as sementes devem ser deslintadas
mecanicamente, o que corresponde a um processo de deslintamento parcial
por não eliminar totalmente o línter (Figura 39). Mesmo assim existe matraca
apropriada ou plantadeira mecânica de tração animal apropriada para sementes
de algodão com pouco línter (Figura 40).
Fotos: Vicente de P. Queiroga

C
Figura 39. A) Sementes de algodão herbáceo com muito línter; B) Deslintador
mecânico utilizado para a eliminação parcial do línter das sementes; e C) Sementes
deslintadas mecanicamente com pouco línter.
108
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Vicente de P. Queiroga

Foto: Odilon R.R.F. da Silva


Figura 40. Matraca apropriada e plantadeira mecânica adaptada de tração animal para
a semeadura de sementes de algodão com pouco línter.

No caso particular do município de São Francisco de Assis do Piauí, as sementes


de algodão orgânico, quando descaroçadas, podem ser deslintadas pelo método
de flambagem, que é considerado um equipamento simples destinado para as
comunidades familiares (Figura 41). Nesse processo, a massa de sementes
com línter é despejada numa coluna de chamas, que queima a maior parte do
línter, mas também não deixa a semente totalmente nua (QUEIROGA et al.,
1993).

Época de plantio
A observância da época adequada de plantio oferece maior possibilidade de
êxito para o agricultor dentro das variações de chuvas a que está sujeita a
lavoura nas diferentes comunidades do município de São Francisco de Assis
do Piauí, tendo em vista a grande influência da precipitação sobre a produção,
tanto em quantidade como em qualidade (QUEIROGA, 1983).

Recomenda-se iniciar o plantio quando a precipitação tenha atingido


aproximadamente 30 mm, em duas chuvas por semana. Nestas condições, o
solo apresenta umidade suficiente para a germinação das sementes e
desenvolvimento das plantas (BELTRÃO, 1999).

Em área a ser plantada até 2 ha, alguns agricultores familiares de outras


regiões do Nordeste separam as quantidades de sementes a serem semeadas
no dia seguinte e deixam elas umedecidas durante toda noite, tendo como
resultado uma acelerada germinação das sementes em poucos dias após
plantio, mesmo em situações de baixa umidade do solo. Este exemplo se ajusta
perfeitamente às condições dos agricultores do município de São Francisco
de Assis do Piauí pelo fato da semeadura da lavoura do algodão ser realizada
manualmente, conforme os respostas obtidas nos questionários da Tabela 2
(Cap. II).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 109

Foto: Vicente de P. Queiroga

A
Foto: Flávio Tôrres de Moura

B
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 41. A) Sementes de algodão herbáceo com muito línter; B) Processo de


flambagem utilizado para a eliminação parcial do línter das sementes de algodão; e C)
Sementes flambadas com pouco línter.
110
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Consórcio agroecológico
Ao contrário do monocultivo do algodão convencional de 2004, no ano agrícola
de 2009 foram instaladas duas UTDs de algodão orgânico consorciado em
faixas com outras 5 espécies (feijão comum, milho, feijão guandu, sorgo e
gergelim) nas comunidades de Veredas e Barreiro Grande pertencentes ao
município de São Francisco de Assis do Piauí. O novo fato priorizou a FFA a
avaliar a eficiência do plantio do algodoeiro no sistema consorciado em faixas,
por ser considerada a condição básica para uma produção agroecológica, pois
essa configuração de diversas espécies faz com que algumas pragas se
desorientem favorecendo os predadores.

O sistema consorciado em duas faixas distintas consiste no plantio de 6 fileiras


de algodão em uma faixa e, na outra faixa, 6 fileiras de diferentes espécies,
sendo uma fileira ocupada por cada espécie, num espaçamento geral entre as
fileiras de 1 metro. O arranjo populacional das espécies no campo obedeceu à
seguinte sequência de plantio: 6 fileiras de algodão +1 fileira de feijão + 1
fileira de gergelim + 1 fileira de sorgo + 1 fileira de feijão guandu + 1 fileira
de milho + 1 fileira de feijão + 6 fileiras de algodão, etc, sendo que nas
bordaduras do campo (circulando toda área plantada) foram plantadas 3 fileiras
de gergelim (Figura 42). Na safra agrícola de 2010, está previsto a rotação
das espécies entre as duas faixas consorciadas, ou seja, na faixa plantada
com as 6 fileiras de algodão deverão ser plantadas as 5 diferentes espécies e,
na outra faixa ocupada com as 5 espécies, serão plantadas as 06 fileiras de
algodão.
Fotos: Dalfran G. Vale

A B

Figura 42. Consórcio agroecológico em faixa entre 6 fileiras de algodão x 6 fileiras


com cinco espécies distintas: A) Fase vegetativa e B) Fase de frutificação. Campo
instalado na comunidade Veredas, município de São Francisco de Assis do Piauí,
2009.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 111

Capinas
As limpas devem ser realizadas no período crítico (da emergência aos 60 dias
da cultura) e rasas, no máximo 3,0 a 4,0 cm. Este controle do mato entre as
fileiras do algodoal é realizado pelos agricultores do município de São Francisco
de Assis do Piauí com ajuda do instrumento arado cultivador e, entre as covas
das plantas, realiza-se o retoque com a enxada.

Controle de pragas
As principais estratégias alternativas de controle de pragas para o algodoeiro
orgânico são: a) Controle Biológico, b) Controle Cultural, c) Controle Climático
e d) Controle com Produtos Naturais.

a) Controle Biológico. Do ponto de vista ecológico, o controle biológico é uma


parte do controle natural, o qual ocorre sem a interferência do homem.
Entretanto, também pode ter muito valor o controle biológico aplicado, quando
a introdução e a manipulação de inimigos naturais são feitas pelo homem,
visando à redução de danos causados por pragas em níveis tolerados (BOSCH
et al., 1982). Dentre os vários agentes de controle biológico existentes na
natureza, apenas o Trichogramma spp. (controle do curuquerê, lagarta rosada
e lagarta-das-maçãs) e a bactéria Bacillus thuringiensis (controle do curuquerê
e lagarta-das-maçãs) encontram-se disponíveis para aplicação pelo agricultor,
sendo que no mercado o Bacillus thuringiensis é encontrado com o nome
comercial Dipel. Já a tecnologia da produção de Trichogramma pretiosum
encontra-se à disposição de cotonicultores na Embrapa Algodão de Campina
Grande-PB.

b) Controle Cultural. Durante a condução da produção do algodão orgânico, o


produtor poderá ser orientado na manipulação de várias práticas de cultivo,
ecologicamente naturais, visando modificar o agroecossistema, cuja utilização
de diferentes estratégias de cultivo é tornar desfavorável o desenvolvimento
de pragas e, ao mesmo tempo, favorável ao desenvolvimento de seus inimigos
naturais. Estas modificações nas práticas agrícolas podem alterar a atratividade
e a suscetibilidade das plantas às pragas, que, segundo Ramalho (1994), pode
ser definido como controle cultural. As principais práticas culturais utilizadas
para reduzir problemas de pragas no algodoeiro orgânico são:
112
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

UNIFORMIDADE DE PLANTIO - Nas áreas selecionadas para o cultivo do


algodão orgânico da região semiárida do nordeste deve ser estabelecido seu
período de plantio pelos produtores, de forma que a semeadura não deve
ultrapassar os 30 dias de um produtor para outro dentro do mesmo município,
devido a problemas de pragas, em especial o bicudo e o aumento dos riscos
de veranicos durante o ciclo da cultura (SILVA et al.; 1997).

MANIPULAÇÃO DE CULTIVARES - A pesquisa considera que a utilização de


cultivares de algodão de ciclo curto seja preferida pelo produtor de algodão
orgânico, na tentativa de reduzir o tempo de exposição das plantas à
colonização e infestação de pragas (broca, bicudo, lagarta-das-maçãs e lagarta
rosada). Espera-se que agricultor plante cultivar de ciclo curto de 100 a 110
dias, a qual atenderia melhor o controle cultural de convivência com as pragas,
sugerindo sua possível utilização para favorecer o escape da cultura ao ataque
do bicudo (SILVA e ALMEIDA, 1998).

PERÍODOS LIVRES DE PLANTIO - Devido às áreas plantadas com algodão no


Nordeste pertencerem aos pequenos agricultores, os quais em muitos casos
abandonam as lavouras por não terem recursos financeiros para controlar o
bicudo. Portanto, alguns produtores acreditam que deixando uns períodos livres
de 2 a 3 anos de intervalos sem plantar o algodão na região, o nível populacional
do bicudo fica zerado na região desde que sejam destruídas todas as plantas
de algodão e outras espécies hospedeiras, de maneira que quando eles voltam
à planta o algodão praticamente não necessitam fazer qualquer tipo de controle
para o bicudo (RAMALHO e SILVA, 1993).

ESPAÇAMENTO AMPLO - Pesquisadores da Embrapa Algodão constataram


que o espaçamento amplo (1,10 m X 0,40 m) utilizado no plantio algodão
orgânico pelos agricultores familiares do Assentamento Queimadas,
pertencente ao município de Remígio, Curimataú Paraibano, está de
conformidade com o sistema de plantio adotado pelos cotonicultores orgânicos
da Califórnia EUA, os quais utilizam menores populações de plantas em seus
algodoais para prevenir a infestação de pragas e doenças (SWEZEY et al.,
1999). Pierce et al. (2001) citam a manipulação do microclima das plantas de
algodão como estratégia de reduzir a sobrevivência de bicudos imaturos. Esses
autores verificaram que alta temperatura e baixa umidade relativa promovem
um maior percentual de mortalidade natural do inseto. Os mesmos autores
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 113

também constataram que há uma probabilidade de que 34% dos botões florais
que caem ao solo resultarem na emergência de adultos. Ao contrário, aqueles
que caem no centro da fileira têm somente 6% de possibilidade de propiciarem
sobrevivência do adulto, fruto das condições microclimáticas inadequadas.

CATAÇÃO DE BOTÕES FLORAIS E MAÇÃS - Vários estudos foram realizados


sobre a viabilidade desta técnica e comprovaram que a catação equivale a
reduzir até 60% das pulverizações com inseticidas de um campo de algodão
convencional, dependendo das condições ambientais, da cultivar e da
proximidade de outros campos, com seu respectivo controle de pragas
(BELTRÃO et al., 1997). Para as pequenas áreas de algodão orgânico dos
agricultores familiares, sugere-se que se faça a coleta semanal de todos os
botões florais e maçãs caídas no solo, a partir do início da queda dos botões
florais. Para as áreas maiores, sugere-se apenas coletar nas bordaduras (15 a
20 fileiras ao redor do campo) e com frequência de uma a duas vezes por
semana, dependendo do nível populacional da praga (BLEICHER, 1990). Estas
estruturas reprodutivas deverão ser aproveitadas para alimentação dos animais
da propriedade ou enterradas ao solo.

DESTRUIÇÃO DOS RESTOS DE CULTURA - Com o surgimento do bicudo,


tornou-se obrigatório a destruição dos restos culturais do algodoeiro após
colheita, tais como: raízes, caules, botões florais, flores, maçãs, carimãs e
capulhos não colhidos, respectivamente, através do arranquio e/ ou coleta,
para destruição e incorporação no solo. Esta operação ecologicamente correta
visa quebrar o ciclo biológico das pragas, através da eliminação dos sítios de
proteção, alimentação e reprodução (SILVA et al., 1997).

ROTAÇÃO DE CULTURA - O cultivo alternado do algodoeiro com outras


culturas, em sucessões repetidas, adotando-se uma sequência definida, além
de contribuir para redução de pragas específicas associadas a uma delas,
concorre favoravelmente para a melhoria das condições físicas e químicas do
solo (SILVA et al., 1997).

CULTURA-ARMADILHA - Também denominado por "planta-isca" baseia-se


no plantio (antecipado ou não) de uma espécie mais atrativa (gergelim) para
as pragas (mosca branca e pulgão) do que o algodoeiro (SILVA e ALMEIDA,
1998). O gergelim (hospedeiro) é plantado nas fileiras marginas do campo,
visando estimular a praga em preterir ou retarda a colonização definitiva no
algodoeiro e estas pragas seriam controladas com produtos naturais. Scott et
al.(1974) demonstraram a eficiência desta técnica no controle do bicudo,
que, no caso do algodoeiro orgânico, esta praga poderia ser atraída pelas
faixas de plantio antecipado do algodão e eliminado através de pulverizações
sistemáticas com defensivos orgânicos (Neem).
114
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

ARMADILHA DE FEROMÔNIO- Refere-se à instalação de Tubo Mata Bicudo


(TMB), contendo o feromônio "grandlure", antes da semeadura e após a
colheita. Por se tratar de campos de algodão orgânico, não se recomenda
instalar dois TMBs para cada área do produtor familiar nas faixas ou rota de
entrada e saída dos adultos de bicudo, com o objetivo de reduzir a quantidade
de insetos que se dirigem as áreas de refúgio, e que posteriormente retornarão
às lavouras seguintes (AZEVEDO e VIEIRA, 2002).

c) Controle Climático. Na microrregião do Seridó do Nordeste, as condições


edafoclimáticas influem de forma significativa na redução do nível populacional
das pragas (broca e bicudo). O algodoeiro orgânico cultivado, em regime de
irrigação, numa área do Seridó com insolação excessiva, onde esse solo
abrasador, com temperatura acima de 60 ºC funcionaria como fator limitante
para a sobrevivência, principalmente da broca e do bicudo (RAMALHO, 1994).
Este controle climático através da dessecação constitui-se no principal fator
de mortalidade natural de larvas, pupas e adultos pré-emergentes do bicudo.

d) Controle com Produtos Naturais. As pulverizações preventivas nas


bordaduras (6 fileiras), ao redor do campo de algodão orgânico com o neem,
poderão ser eficientes no controle do bicudo, desde que essas pulverizações
sistemáticas sejam realizadas semanalmente, a partir da fase inicial de emissão
dos primórdios dos botões florais do algodoeiro. Junto com as pulverizações
preventivas, deveriam ser efetuadas também as catações dos botões florais
nas 6 fileiras da bordadura. Para elevar o poder residual e sua ação tóxica
natural no algodoeiro, basta aplicar o neem misturado com óleo bruto de
algodão, sendo que neste último produto vem incorporado uma substância
tóxica natural que é o gossipol (ARAÚJO et al., 2002).

De maneira resumida, observam-se na Tabela 3 as medidas de controle


ecológica das principais pragas do algodoeiro constatadas em lavouras do
Nordeste brasileiro.

Colheita
A colheita do algodão é feita manualmente (Figura 43), iniciando-se quando
60% dos capulhos estiverem abertos e, a segunda 15 dias depois, quando os
demais frutos estiverem abertos. A colheita deve ser realizada com tempo
seco, para se evitar impurezas que possam vir junto ao capulho, o que
prejudicaria o tipo de algodão. Não colher o algodão com umidade acima de
12% que é o máximo permitido (BELTRÃO, 1999).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 115

Tabela 3. Medidas de controle ecológica adotadas para as principais pragas da cultura


do algodão.
116
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 43. Colheita manual do algodão no município de São Francisco de Assis do


Piauí, 2004.

Segundo Queiroga (1983), o trabalho de colheita deve ser iniciado após às


8:00 horas da manhã, quando parte da umidade noturna ou orvalho no capulho
já se dissipou. Deve-se colher somente os capulhos bem formados e
completamente abertos, cuja fibra esteja perfeita, sem manchas ou atacadas
por pragas e doenças.

O algodão em caroço colhido deve ser colocado em saco de pano (amarrar os


sacos com cordão feito de algodão), de preferência de tecido de algodão
bastante arejado com capacidade para 45 a 60 kg, sendo transportado e
armazenado em depósitos e galpões específicos. A umidade ideal de
armazenamento do algodão em caroço é de 8 a 10% (BELTRÃO, 1999).

Beneficiamento
Esta etapa é muito importante para que as sementes não sofram danos
mecânicos durante o processo de descaroçamento na máquina de serras
(QUEIROGA et al., 2001). Além disso, deve ser feito uma estimativa da
quantidade de sementes da cultivar BRS 187- 8H que deve ser usada pelos
agricultores de São Francisco de Assis do Piauí na safra seguinte. Por exemplo,
caso a quantidade demandada pelos agricultores seja de 1000 kg de sementes
de algodão com línter para o próximo plantio, a FFA terá que separar 2.000
kg de algodão em caroço para beneficiar numa miniusina algodoeira mais
próxima à cidade de São Francisco de Assis do Piauí. Para atingir essa
quantidade desejada de sementes (1.000 kg), calcula-se o rendimento de 60%
de sementes com línter sobre o total de algodão em caroço que será
beneficiado (2.000 kg).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 117

Recomenda-se o uso de minidescaroçadores e prensas manuais ou hidráulicas,


já instalada na cidade de Paulistana-PI, a qual fica na margem da estrada que
dá acesso a cidade de Betânia do Piauí (Figura 44). Uma vez ensacado o
algodão em caroço, o transporte de 40 sacos de algodão de 50 kg cada
(exemplo de 2.000 kg) é possível realizar num só caminhão. Procurar beneficiar
o produto orgânico em máquinas limpas e sem mistura com outros tipos de
algodão, para evitar contaminação na fibra e nas sementes, principalmente,
porque esse material será utilizado novamente no plantio, uma vez que para
contaminar todo o lote são necessário apenas uma ou algumas sementes
atípicas (QUEIROGA et al., 2008).
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 44. Miniusina de algodão de 50 serras situada na extremidade da cidade de


Paulistana-Pi, aproximadamente 76 km de distância da cidade de São Francisco de
Assis do Piauí.

A miniusina de 50 serras de Paulistana-PI tem a capacidade de beneficiar


2.880 kg/dia de algodão em caroço em 8 horas de trabalho e utiliza a mão-de-
obra de 5 operários na condução do processo de beneficiamento e
enfardamento da pluma (Figura 45). Por trazer acoplado um pequeno limpador
sobre o minidescaroçador de 50 serras, é necessário que o agricultor colha o
algodão limpo, evitando-se restos de planta (folhas, brácteas, fragmentos de
caule e ramos, plantas daninhas e suas partes, capulhos doentes ou não abertos
totalmente, terra, etc), visando obter após beneficiamento uma pluma de alta
qualidade e de maior aceitação pelo mercado (QUEIROGA et al., 2008 ).
118
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Fotos: Sérgio Cobel

Figura 45. Miniusina de 50 serras em atividades de beneficiamento do algodão em


caroço e enfardamento da pluma. Campina Grande, PB.

Além da miniusina de 50 serras, a FFA teria outra opção viável de


beneficiamento do algodão em caroço, resolvendo definitivamente os
problemas de falta de sementes dos agricultores para plantio no início do
inverno. Ou seja, seria solicitar a Embrapa Algodão o empréstimo do protótipo
móvel de 20 serras de beneficiamento de algodão em caroço (QUEIROGA et
al., 2008). Devido à facilidade de ser transportado por reboque, este
equipamento de menor porte é apropriado para processar o beneficiamento
de pequeno volume de algodão em comunidades de agricultores familiares
(Figura 46).
Fotos: Sérgio Cobel

Figura 46. Unidade móvel de beneficiamento de algodão em caroço pertencente a


Embrapa Algodão.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 119

Apesar de ser uma unidade


de beneficiamento de
Foto: Vicente de P. Queiroga

grande porte (Figura 47),


mesmo assim não seria
aconselhável realizar o
processamento da pequena
quantidade de algodão em
caroço produzida pelos
agricultores do município de
São Francisco de Assis do
Figura 47. Usina de grande porte de Piauí numa algodoeira de
beneficiamento de algodão em caroço com 4 Picos-PI, a qual não é
descaroçadores de 80 serras.
p r e p a r a d a
profissionalmente para o
beneficiamento de sementes de elevada
Foto: Vicente de P. Queiroga

qualidade, pois certamente haverá o grande


risco de ocorrer misturas mecânicas das
sementes orgânicas com outros tipos de algodão
por falta de limpeza eficiente dos equipamentos
da usina.

Armazenamento
Uma vez beneficiado o algodão em caroço na
miniusina e deslintadas mecanicamente ou
Figura 48. flambadas, as sementes com linter devem ser
Acondicionamento de
secas ao sol, esfriadas à sombra e
sementes de algodão
deslintadas acondicionadas em garrafa pet (Figura 48) com
mecanicamente com a umidade máxima de 8%, segundo as
8% de umidade em
garrafa pet, sendo 1000 recomendações dadas por Harrington e Douglas
kg de sementes de (1970).
algodão para abastecer
os seis bancos
comunitários.
120
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

FEIJÃO
Escolha da área
Os agricultores de São Francisco de Assis do Piauí deverão optar por áreas
que atendam alguns requisitos básicos, no sentido de se obter sementes de
boa qualidade. Nessa área, é necessário que se proceda a um levantamento
do seu histórico, atentando para os seguintes pontos: espécies e cultivares
anteriormente plantadas, plantas daninhas existentes e optar por glebas onde
não se cultivou a espécie nos últimos 2 anos, pois isto significa um critério
rigoroso de sanidade do local de produção de sementes (TORRES et al., 2006).

Preparo do solo
O preparo do solo tradicional dos agricultores familiares de São Francisco de
Assis do Piauí é realizado apenas com o arado tombador (arado de aiveca
reversível) de tração animal para quaisquer espécies cultivadas nas suas
pequenas propriedades. Este tema já foi abordado detalhadamente para a
cultura do gergelim.

Por outro lado, vale ressaltar que o tamanho da área destinada à produção de
sementes deve ser compatível com as necessidades de cada agricultor, mesmo
que essa quantidade mínima de sementes seja para honrar seu compromisso
junto ao Banco Comunitário de Sementes da sua comunidade.

Isolamento da área
Por ser considerada uma espécie de autopolinização, o isolamento necessário
entre campos de variedades de feijão da mesma espécie deve ser em torno
de 50 metros (LOLLATO et al., 1993). Com base nos resultados da Tabela 4
(Cap. II), provavelmente essa distância entre campos de feijão de distintas
cultivares seja cumprida pelos agricultores familiares de São Francisco de
Assis do Piauí.

Adubação
Para que uma lavoura seja bem sucedida é necessário que exista uma
quantidade adequada de matérias orgânicas nos solos arenosos das pequenas
áreas agricultáveis dos agricultores familiares do município de São Francisco
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 121

de Assis do Piauí, provenientes da incorporação de adubos verdes e de esterco


de caprino. Por sua vez, uma planta de feijão bem nutrida está em condições
de produzir sementes de melhor qualidade e em maior quantidade, obtendo-se
uma maior conversão de sementes (TORRES et al., 2006).

Sementes
O agricultor de São Francisco de Assis do Piauí deve partir de sementes de
origem conhecida e de boa qualidade, para estabelecer um campo de produção
de alto padrão, que lhe proporcione bons rendimentos de sementes de alta
qualidade, ou seja, com elevada pureza varietal e física, bem como alta
qualidade fisiológica (germinação e vigor) e sanitária (POPINIGIS, 1977).

Semeadura
Por ser um plantio em regime de sequeiro, a semeadura deve ser realizada
nas épocas em que haja boa distribuição de chuva, normalmente no mês de
janeiro no semiárido de São Francisco de Assis do Piauí quando ocorre o início
do inverno.

Com base nos resultados da Tabela 2 (Cap. II), a semeadura é feita com uso
da matraca com 3 sementes por cova (Figura 49) com espaçamento entre
fileiras de 1 m e de 50 cm entre covas, por
se tratar de cultivares bastante ramificadas.
Foto: Odilon R.R.F. da Silva

Com esse espaçamento amplo, o agricultor


realiza com facilidade o controle de plantas
daninhas com o instrumento arado cultivador
(bico de pato) de tração animal, pois os
campos devem permanecer livres de plantas
daninhas e de pragas até a colheita.

Uma média de 55% dos agricultores de São


Francisco de Assis do Piauí respondeu que
realizam o monocultivo do feijão, sendo que
44% das respostas foram para o cultivo
consorciado e, houve uma maior
predominância para as espécies consorciadas
feijão e milho (Tabela 3 do Cap. II).
Figura 49. Uso da matraca
na semeadura do feijão.
122
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Controle de pragas
Em geral, o feijão é afetado por inúmeros insetos, a maioria polífagos que
afetam outras plantas, especialmente as oleaginosas como o gergelim e
algodão. Portanto, as recomendações dadas de controle agroecológica de
algumas pragas para estas duas espécies também servem para a cultura do
feijão.

Colheita
A colheita manual, embora demande muita mão-de-obra, é o método mais
eficiente na manutenção da qualidade das sementes, sendo bastante utilizado
em áreas de feijão de pequenos agricultores familiares da região Nordeste.
Para uma boa colheita, as plantas devem apresentar no mínimo 90% de
desfolhas e vargens maduras com a cor típica da cultivar, estando suas
sementes com umidade entre 16 a 18%. Uma vez colhidas, as sementes
devem ser secas imediatamente antes da armazenagem, pois, quando úmidas,
têm sua qualidade comprometida (PRODUÇÃO, 2006).

O processo de colheita manual de sementes de feijão consiste no arranquio


manual e enleiramento das plantas com as raízes para cima, submetendo-as à
pré-secagem por algumas horas para o desprendimento da terra aderida às
raízes e queda das folhas. Antes da trilha manual com uso de varas flexíveis
(Figura 50), as plantas deverão completar a secagem sobre lonas ou sobre
terreiros, até que seja possível obter-se debulha eficiente com atrito de baixa
intensidade, o que geralmente ocorre quando as sementes apresentam umidade
entre 14% e 15% (PRODUÇÃO, 2006).

Em lugar de realizar a trilha manual, as plantas podem ser beneficiadas em


trilhadora mecânica ou
automotriz estacionária
Foto: Odilon R.R.F. da Silva

(Figura 51). Esta máquina


pode ser acionada à tomada
de força do trator com baixas
rotações do cilindro batedor,
o suficiente para efetuar a
trilha sem causar danos
mecânicos acentuados nas
sementes (PRODUÇÃO,
2006). Apenas os agricultores
das comunidades de Barra
Bonita e Lagoa de Juá
responderam que a trilha do
Figura 50. Trilhar manual do feijão com vara
feijão é operada por meio de
flexível sobre lona de plástico. máquina (Tabela 5 do Cap. II).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 123
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 51. Trilhadora mecânica de feijão acionada à tomada de força do trator.

Após a trilha, as sementes deverão ser submetidas à secagem sobre piso de


cimento, de 2 a 8 cm de espessura em camadas (LOLLATO et al., 1993), e
removidas em intervalos de até 30 minutos até valores próximos a 8% de
umidade para seu acondicionamento em embalagens herméticas, tipo garrafas
pets (HARRINGTON e DOUGLAS, 1970).

A grande dificuldade do agricultor de São Francisco de Assis do Piauí é realizar


a secagem correta das sementes, pois a determinação do grau de umidade é
feita normalmente de forma empírica, através do som das sementes se
chocando, da pressão da unha, da quebra com os dentes etc (LOLLATO et
al., 1993). Além disso, para conseguir um armazenamento prolongado das
sementes acondicionadas em garrafas pets é necessário reduzir a umidade
para valores em torno de 8 %. Por outro lado, no caso da semente não preencher
todo espaço da garrafa pet, uma forma de expulsar a bolha de ar do seu
interior é introduzir fibra de algodão na garrafa (Figura 52); a ausência de ar
impede a rápida proliferação de microorganismos existentes em algumas
sementes contaminadas desde o campo (POPINIGIS, 1977).
Fotos: Vicente de P. Queiroga

CORRETO ERRADO CORRETO


Figura 52. Sementes de feijão acondicionadas em garrafas pets de forma correta e
errada.
124
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Alguns agricultores de São Francisco de Assis do Piauí têm por tradição utilizar
a lata de 20 litros para o acondicionamento de sementes de feijão, mas sua
eficiência de conservação somente é conseguida quando a boca da embalagem
é estreita para adaptar uma pequena tampa feita com toco de madeira, ficando
sua vedação completada com cera de abelha (Figura 53). Nesse tipo de
embalagem ou em garrafa pet, as sementes de feijão são tratadas com cinzas
de madeira por medida de precaução (Figura 54), na proporção de 5% do seu
volume (QUEIROGA et al., 2008).

A Embrapa SNT recomenda colocar uma


camada fina de folhas de eucalipto frescas
Foto: Vicente de P. Queiroga

e de cheiro forte a cada palmo de


sementes estocadas em embalagens
permeáveis (sacos de pano, saco de ráfia
etc) sobre estrado de madeira em
ambiente do estilo da Casa de Sementes
do município de São Francisco de Assis
do Piauí (Figura 55). Depois de secas, as
folhas devem ser substituídas, pois o
Figura 53. Embalagem de lata aroma exalado dessas folhas vai perdendo
usada por Justina Lopes de Souza seu efeito, sendo essa a melhor forma
da comunidade Queimada Nova. preventiva de controlar ecologicamente
São Francisco de Assis do Piauí, as pragas durante o armazenamento das
2009. sementes (PRODUÇÃO, 2006).
Foto: Vicente de P. Queiroga
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 55. Distribuição de folhas de


eucalipto no interior da Casa de Sementes
da comunidade Vereda Comprida do
município de São Francisco de Assis do
Figura 54. Sementes de feijão Piauí, como controle ecológico alternativo
tratadas com cinza de madeira e das sementes armazenadas.
acondicionadas em garrafa pet.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 125

MILHO

Preparo do solo
O preparo do solo segue o mesmo sistema abordado para a cultura do feijão,
onde os agricultores familiares de São Francisco de Assis do Piauí usam o
tradicional arado tombador (arado de aiveca reversível) de tração animal para
preparar o campo de milho solteiro ou consorciado, sem a complementação
do cultivador para nivelar o terreno.

Plantio
A melhor época de semeadura para o milho terá que ser bem planejada pelo
agricultor de São Francisco de Assis do Piauí, de maneira que haja coincidência
da floração (pendoamento) da cultura com boa distribuição de chuvas na região.
Um atraso excessivo no plantio significará menores rendimentos e maiores
problemas com controle de pragas, doenças e plantas daninhas (LOLLATO et
al., 1993).

Examinando-se a Tabela 2 do Capítulo II, houve uma média de 70% nas


respostas dos agricultores de que o plantio do milho é feito com uso da matraca
e 30% para o plantio manual, observando o espaçamento de 1 m entre fileiras
e 0,50 m entre covas.

Sementes
Geralmente, as sementes de milho provenientes de agricultores familiares
apresentam uma quantidade elevada de contaminantes genéticos, originários
da falta de cuidados no isolamento da área, pois as normas de produção de
sementes certificadas recomendam deixar 300 m de distância entre campos.
Essas misturas varietais ocorrem em plantas alógamas como o milho e
principalmente porque o agricultor, não sabendo da distância correta de
isolamento, planta mais de uma cultivar na sua pequena propriedade (TORRES
et al., 2006). Este resultado da falta de isolamento correto dos campos de
milho foi constatado nas respostas dadas pelos agricultores da Tabela 4 (Cap.
II).

Como alternativa para plantar duas cultivares de milho, o agricultor teria que
implantar um campo de produção de sementes de 25 a 30 dias de diferença
126
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

em relação à outra lavoura para evitar que a floração das duas lavouras ocorra
no mesmo período e as plantas do campo de sementes não sejam contaminadas
(PRODUÇÃO et al., 2006). Por outro lado, nos campos de milho devem ser
evitadas as áreas já cultivadas com a espécie na safra anterior, devido à
possível presença de plantas espontâneas e também áreas com alta infestação
de plantas daninhas.

As principais características da variedade de milho Caatingueiro, introduzida


pela Embrapa Algodão em 2008 no município de São Francisco de Assis do
Piauí, sendo na atualidade o material de maior demanda pelos produtores.

Tipo: variedade de polinização aberta

50% do florescimento masculino: 41 a 55 dias

50% do florescimento feminino: 43 a 57 dias

Ciclo: superprecoce

Altura da planta: 1,70 m a 1,90 m

Altura da espiga: 0,70 m a 0,90 m

Tolerância ao acamamento: boa

Tolerância ao quebramento: boa

Tipo de grãos: semiduros

Coloração dos grãos: amarelo-alaranjada

Região de adaptação: Nordeste brasileiro com foco direcionado para a região


semiárida

Potencial genético para a produtividade: 2-3 toneladas /hectare

Produtividade média: 1 tonelada/hectare na região semiárida

OBS: Por se tratar de valores médios, estes podem variar para mais ou para
menos, dependendo das condições ambientais.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 127

Colheita
Antes da colheita do milho, as plantas são dobradas abaixo da espiga pelo
agricultor para auxiliar a secagem e evitar a penetração de água nas espigas,
o que resulta na obtenção de sementes de melhor qualidade (LOLLATO et al.,
1993).

A época oportuna da colheita do milho é determinada pelo agricultor com


base nas seguintes condições técnicas: quando a semente estiver com 18%
de umidade, as palhas estiverem secas e as espigas puderem ser facilmente
destacadas da planta, ou quando os grãos não se deixam riscar pela unha
(Figura 56). Outra caracterização aproximada do ponto de maturação das
sementes do milho é destacada em campo quando as sementes apresentam
uma "camada negra" na região de inserção com o sabugo (LOLLATO et al.,
1993; PRODUÇÃO, 2006).

Na colheita manual de sementes de milho devem-se selecionar, no campo, as


melhores espigas, oriundas de plantas sadias, vigorosas e não acamadas ou
quebradas. As espigas deverão ser recolhidas logo após à colheita para terreiros
ou lonas, a fim de serem submetidas à pré-secagem ao sol por um ou dois
dias. Em seguida, as espigas devem ser despalhadas e selecionadas
manualmente, eliminando-se aquelas com sintomas de apodrecimento,
carunchamento, infecções por patógenos, com sementes de coloração ou
textura diferente, com granação deficiente, isto é, com falhas ou com
predominância de sementes arredondadas, com sementes germinadas e outras
características indesejáveis (LOLLATO et al., 1993).
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 56. O agricultor avalia na prática o momento de colheita do milho pela


ausência do risco da unha na semente.
128
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Apenas os agricultores da
comunidade de Barra Bonita
Foto: Vicente de P. Queiroga

utilizam a debulhadeira mecânica


para beneficiar o milho (Figura 57).
Antes da operação da debulha, é
recomendável a eliminação das
sementes da ponta e da base das
espigas (Figura 58), por serem
predominantemente arredondadas
e prejudicarem a regulagem das
matracas ou semeadeiras. Quando
as sementes estão com 14 a 15%
de umidade, consideram-se o ponto
em que as espigas podem ser
debulhadas manualmente ou
mecanicamente (LOLLATO et al.,
Figura 57. Trilhadora mecânica de
1993).
milho acionada à tomada de força do
trator da comunidade de Barra Bonita. Imediatamente após a debulha, as
São Francisco de Assis do Piauí, sementes deverão ser submetidas
2009.
à secagem ao sol em camadas de
5 a 10 cm, devendo ser revolvidas
periodicamente, para atingir a
umidade de 9%, visando
Foto: Vicente de P. Queiroga

acondicioná-las em garrafas pets


(PRODUÇÃO, 2006;
HARRINGTON e DOUGLAS, 1970;
Figura 59) para o armazenamento
até a próxima semeadura. Além de
essa embalagem ser eficiente na
conservação das sementes por
longo prazo, o acondicionamento
Figura 58. Seleção de sementes de das sementes de milho (ou feijão)
milho, sendo eliminadas as sementes também é feito em depósito de
arredondadas da ponta e da base da
espiga.
plástico com entrada restrita
(Figura 60) por alguns agricultores
de São Francisco de Assis do Piauí.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 129
Foto: Vicente de P. Queiroga

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 59. Sementes de Figura 60. Acondicionamento


milho acondicionadas em de sementes de milho em
garrafa pet. depósito de plástico.

ARROZ
Escolha da área
Apesar da avaliação ter sido feita posteriormente e envolver apenas uma
pequena amostra de agricultores da comunidade Barreiro Grande, em razão
disso não seria conveniente incluir a cultura do arroz junto às tabelas do Capítulo
II com as demais espécies abordadas sobre suas condições técnicas de
produção, tendo como base as informações obtidas no levantamento de
questionários respondidos pelos agricultores de seis comunidades do município
de São Francisco de Assis do Piauí.
Com relação à escolha da área de arroz de sequeiro, recomenda-se evitar
áreas já cultivadas com a espécie, pois existe o risco do aparecimento
espontâneo do arroz preto ou vermelho (LOLLATO et al., 1993).

Sementes
A presença de sementes de outras cultivares e de plantas daninhas é possível
ser detectadas em amostras de sementes de arroz, principalmente quando
essas amostras são coletadas diretamente de agricultores que utilizam suas
próprias sementes. Estas contaminações genéticas são decorrentes da falta
de cuidados no isolamento da área de produção (10 m) e nas misturas varietais
ocorridas durante o beneficiamento das sementes (LOLLATO et al., 1993).
130
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

O agricultor de São Francisco de Assis do Piauí deve adquirir sementes de


novas variedades de arroz de sequeiro que apresentem alto potencial produtivo,
resistência ao acamamento e às principais doenças, alta qualidade de grãos
(Figura 61) e maior tolerância à seca (fundamental para descaracterizar a
cultura como de alto risco e falta de estabilidade produtiva), conforme Lollato
et al. (1993).
Fotos: Vicente de P. Queiroga

A B
Figura 61. A) Uso de variedade de arroz adaptada para a região semiárida do Nordeste
e B) Arrozal de sequeiro do agricultor da comunidade Barreiro Grande no município de
São Francisco de Assis do Piauí.

Semeadura
A melhor época de semeadura do arroz de sequeiro é definida pelo agricultor
como o início do inverno, pois terá que proporcionar melhor distribuição de
chuvas nos vários estádios de desenvolvimento das espécies e, ao mesmo
tempo, terá que haver ausência de chuvas na fase final de maturação, o que
contribuirá para a obtenção de sementes de melhor qualidade (LOLLATO et
al., 1993). Este plantio do campo de arroz de sequeiro é realizado pelos
agricultores de São Francisco de Assis do Piauí com auxílio de matraca (Figura
62).

Colheita
A época para iniciar-se a colheita de sementes de arroz, é caracterizada pela
presença de 2/3 das panículas com sementes maduras, ocasião em que seu
grau de umidade está entre 20 e 24%. Atrasos na colheita do arroz podem
comprometer a qualidade das sementes por desgrana natural e por elevação
do nível de infecção das sementes por patógenos (VILLAS BÔAS, 1980).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 131

Foto: Arquiivo da Pref. de Várzea Alegre , CE

Figura 62. Emprego da matraca na semeadura do arroz de sequeiro.

A colheita manual do arroz consiste no corte das plantas, deixando-as no


campo, para redução da umidade. O tempo de permanência das plantas
cortadas para pré-secagem pode ser de algumas horas ou até mais de um dia,
dependendo do grau de umidade inicial das sementes (VILLAS BÔAS, 1980).

Após a pré-secagem, as plantas são amontoadas e, em forma de feixes, batidas


em cavalete de madeira até o desprendimento das sementes (LOLLATO et
al., 1993). Esta operação pode ser feita sobre piso de cimento ou sobre lonas
no campo ou empregando o sistema mecânico de beneficiamento (Figura 63).
Foto: Arquivo da Embrapa Arroz e Feijão
Foto: Arquiivo da Pref. de Várzea Alegre , CE

A B
Figura 63. A) Batedura manual dos feixes de arroz em cavalete de madeira sobre uma
lona e B) Equipamento com ventilador e peneira para batedura de arroz desenvolvido
pela Embrapa Arroz e Feijão.
132
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Na trilhadeira mecânica do arroz,


devem-se manter as plantas
Foto: Vicente de P. Queiroga

cortadas na proporção de 2/3 de


palhas para 1/3 de panículas, a fim
de permitir uma melhor eficiência
da trilhadora (LOLLATO et al.,
1993).

Após essa operação, as sementes


de arroz devem ser submetidas à
secagem, em camadas de 5 a 10
cm (revolvidas periodicamente),
até a umidade próxima de 9% para
o acondicionamento das sementes
em embalagem hermética (garrafa
pet; Figura 64), visando seu
armazenamento prolongado até a
Figura 64. Sementes de arroz próxima semeadura (LOLLATO et
acondicionadas em garrafa pet. al., 1993; HARRINGTON e
DOUGLAS, 1970).

SORGO
Seleção da área e preparo do solo
A escolha da área para a instalação do campo de produção de sementes de
sorgo deve ser feita com cautela. Nessa área, é necessário que se proceda
um levantamento da cultivar de sorgo anteriormente plantada para evitar
mistura varietal, em razão do aparecimento espontâneo de plantas de outra
cultivar (TORRES et al., 2006).

O preparo do solo deve ser realizado de forma adequada, visando a facilitar a


germinação rápida e uniforme das sementes, mesmo para a situação dos
agricultores de São Francisco de Assis do Piauí que realizam o preparo do
terreno apenas com arado tombador.

Característica
O forrageiro é um tipo de sorgo de porte alto, altura de planta superior a dois
metros, muitas folhas, panículas (cachos) abertas, com poucas sementes,
elevada produção de forragem e adaptado ao semiárido do município de São
Francisco de Assis do Piauí (IPA, 2009; Figura 65).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 133

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 65. Plantio de sorgo forrageiro no município de São Francisco de Assis do Piauí.

Adubação e plantio
Na adubação orgânica, pode-se aplicar (dependendo da disponibilidade), 10 a
15 toneladas por hectare de estrume de curral, que deverão ser incorporadas
à área de cultivo antes do plantio (IPA, 2009).

O plantio manual é feito em sulcos rasos. A distância entre as fileiras é de


0,80 cm, sendo que 68% dos agricultores de São Francisco de Assis do Piauí
admitem realizar a sua semeadura com ajuda de matraca (Tabela 2 do Cap.
II).

Por ser uma planta predominantemente de autopolinização, o sorgo forrageiro


requer uma distância mínima de 200 m para ficar isolado o campo da área de
outra cultivar (CORDEIRO e FARIAS, 1993). Com base nas respostas dadas
pelos agricultores de São Francisco de Assis do Piauí (Tabela 4 Cap. II), a
distância máxima utilizada no referido município tem sido de 100 m entre
campos com variedades distintas sem barreira vegetal.

Purificação
É a eliminação de plantas contaminantes (atípicas) em um campo de produção
de sementes, ou seja, retirada de plantas que pertencem a outros cultivares
ou que estejam infestadas por doenças transmissíveis por sementes. Nessa
operação, deve-se ter o cuidado de vistoriar totalmente o campo de produção,
pois isso é fundamental para evitar a contaminação e preservar a qualidade
da semente. As épocas recomendadas para essa vistoria são: pós-emergência,
desenvolvimento vegetativo, pré-floração e pré-colheita (PRODUÇÃO, 2006).
134
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Ter o cuidado de não deixar os animais se alimentarem de sorgo jovem ou da


soca (até meio metro de altura), devido à presença do ácido cianídrico (HCN).
Caso isso ocorra, poderá surgir nos animais um princípio de intoxicação. Esta
poderá ser controlada administrando-se Sulfato de Atropina (IPA, 2009).

Colheita
O momento do corte da planta do sorgo
Foto: Vicente de P. Queiroga

forrageiro é caracterizado pelo


endurecimento das sementes (Figura 66).
Para pequenos plantios pode ser feita
manualmente, colhendo-se a planta
inteira e, dependendo do caso, passar na
forrageira (para consumo direto dos
animais) ou na ensiladeira (para
enchimento do silo). Para grandes plantios
poderá ser utilizada a colheitadeira
acoplada ao trator, onde o destino final
do material colhido é o silo (IPA, 2009).
Figura 66. Campo de sorgo
forrageiro no ponto de Uma vez realizada a secagem ao sol, as
colheita. sementes de sorgo com umidade de 9%
deverão ser acondicionadas em
embalagens herméticas para seu
armazenamento prolongado até a
próxima semeadura (HARRINGTON e
Foto: Vicente de P. Queiroga

DOUGLAS, 1970; Figura 67). Vale


destacar que a umidade elevada é uma
das principais causas de perda da
qualidade das sementes em geral, visto
que provoca aumento da atividade
respiratória e da ação de
microorganismos e insetos, levando a
Figura 67. Acondicionamento de perdas significativas no poder
sementes de sorgo em garrafa pet.
germinativo e no vigor (CARVALHO e
NAKAGAWA, 1980).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 135

AMENDOIM
Escolha da área e preparo de solo
O amendoim tem natureza hipógea, ou seja, os frutos desenvolvem-se debaixo
do solo (Figura 68). Necessita, portanto, de solos de textura arenosa ou franco-
arenosa para otimizar sua produção. Estes solos, contudo, são de baixa
retenção hídrica e o manejo da água é imprescindível para melhor rendimento
e economia no cultivo.
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 68. Frutos do amendoim desenvolvendo dentro do solo.

Em áreas que se cultiva normalmente o amendoim, entretanto, procede-se


uma aração, aplicando-se o calcário e, a seguir, uma gradagem para
complementação da aração e incorporação do mesmo. Os equipamentos
utilizados para estas operações podem ser a tração animal ou tratorizados
(SANTOS et al., 2006).

O solo deve ter pH na faixa de 6,0 a 6,2. O suprimento de cálcio é


imprescindível para enchimento e formação das vagens e pode ser atendido
através da calagem com calcário dolomítico (AUGSTBURGER et al., 2000).
A quantidade de calcário a ser aplicada é baseada nos resultados da análise
da amostra de solo. Em caso de necessidade, o calcário deve ser colocado no
solo entre 30 e 45 dias antes do plantio (SANTOS et al., 2006).

Nas condições do Nordeste, em agricultura familiar, o preparo de área tem


sido feito por meio de uma gradagem, considerando-se a baixa cobertura
vegetal do terreno (SANTOS et al., 2006).
136
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Cultivares
Cerca de 60% do mercado interno de amendoim é voltado para os materiais
do tipo Valência, característicos por apresentarem porte ereto, ciclo em torno
de 90 dias, vagens com 3 a 4 sementes de coloração vermelha e tamanho
médio. A outra parte do mercado é voltada para os materiais do tipo Runner
ou Spanish, ambos possuindo 1 a 2 sementes/vagem de coloração bege,
cultivados em São Paulo e no Centro-Oeste (SANTOS et al., 2006).

A cultivar de amendoim de maior


Foto: Silvokleio Costa

aceitação pelos agricultores do


Nordeste é a BR 1. Este material tem
baixo teor de óleo (45%) e 29% de
proteína bruta. Tem vagens com 3 a 4
sementes de formato arredondado e
coloração vermelha. Seu ciclo médio
é 90 dias e produz cerca de 1,8 t/ha
de amendoim em casca no regime de
sequeiro. O rendimento em sementes
fica entre 71 a 73% (Figura 69).

Figura 69. Sementes de amendoim A BRS 151 L7 é a mais precoce, com


da cultivar BR 1. ciclo de 87 dias, possuindo vagens com
1 a 2 sementes alongadas, grandes e
de coloração vermelha. A
produtividade fica em torno de 1,8 t/
Foto: Silvokleio Costa

ha no cultivo de sequeiro e o
rendimento médio em sementes é de
71%. O teor de óleo bruto nas
sementes é 46% (Figura 70).

A BRS Havana tem ciclo de 90 dias,


produz 1,9 t/ha e tem rendimento de
sementes na faixa de 72%. Suas
vagens contêm 3 a 4 sementes, de
formato arredondado e coloração
bege. Apresenta o menor teor de óleo
Figura 70. Sementes de amendoim entre as atuais cultivares em
da cultivar BRS 151 L7. distribuição no Brasil, com média de
43% (Figura 71).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 137

Plantio
Foto: Silvokleio Costa

Na região nordeste, o plantio pode ser


realizado manualmente e com auxílio
de matraca (Figura 72) ou com
equipamentos à tração animal.
Dentro dos espaçamentos mais
usuais, 60 ou 50 cm entre linhas e 5
a 10 cm na linha, os gastos com
sementes variam de 70-80 a 140-160
kg.ha-1. A elevação do custo de
produção, devido a maior quantidade
de sementes, é compensada pela
Figura 71. Sementes de amendoim
da cultivar BRS Havana. redução dos tratos culturais e maior
rendimento. A semeadura deve ser
realizada em função do ciclo da
Fotos: Tarcísio M. de S. Gondim

cultivar e do regime de chuvas da


região, cuja profundidade da semente
no solo não deve ultrapassar 5 cm
(SANTOS et al., 2006).

Isolamento
Para o amendoim, a distância entre
campos de produção de sementes de
cultivares diferentes, não devem ser
inferior a 15 m, evitando-se assim
cruzamento indesejáveis (CORDEIRO
e FARIAS, 1993).

Figura 72. Plantio de campo de Capinas


amendoim com auxílio de
A cultura deve ser mantida livre de
matraca.
ervas daninhas nos primeiros 45 dias
após o plantio quando a floração está
em intensa atividade e os ginóforos (pegs) estão em pleno crescimento
geotrópico para desenvolvimento das vagens. A floração inicia-se entre 25 e
28 dias após a emergência; é necessário cuidado no manejo das limpas para
não prejudicar a emissão dos ginóforos e as flores em desenvolvimento (SANTOS
et al., 2006).
138
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

As capinas, manualmente com enxada ou a tração animal com cultivador,


feitas cuidadosamente para não danificar o sistema radicular e a produção do
amendoim, são em número de três (no espaçamento 0,70m x 0,20m) ou duas
(0,50m x 0,20m).

A prática da amontoa, também conhecida como roçagem, consiste no


chegamento de terra ao pé das plantas, é procedida na primeira limpa ou
capina. É uma prática imprescindível porque além de proteger a base da planta,
também facilita a penetração do ginóforo ("esporões") no solo. É feita com
enxadas e em áreas onde o plantio é realizado em fileiras. Quando o plantio é
feito em leirões (Figura 73), essa prática pode ser abolida (SANTOS et al.,
2006). Existem implementos apropriados ao sistema de plantio em pequenas
propriedades para fazer esta operação, mas também é possível adaptar um
cultivador para efetuar esse trabalho de sulcamento (Figura 74).
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 73. Plantio do amendoim realizado sobre leirões.


Foto: Odilon R.R.F. da Silva

Figura. 74. Preparação de sulco e camalhão (leirão) com superfície abaulada através
do cultivador adaptado para sulcamento.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 139

A rotação de cultura favorece a redução de doenças na lavoura do amendoim,


pois é recomendado deixar a área em repouso (formação de capoeira), ou por
meio de cultivos em anos alternados (amendoim - milho-amendoim).

Colheita
Em pequenas propriedades, normalmente utiliza-se a mão-de-obra familiar nas
operações de colheita e pós-colheita. Após o arranquio manual, as plantas
são enleiradas para secagem de modo a reduzir a umidade das sementes
(Figura 75). Não é recomendado atrasar o período de colheita do amendoim
uma vez que tal procedimento pode incorrer em germinação das sementes
dentro da própria vagem, já que no Nordeste são utilizadas variedades de tipo
ereto, cujas sementes não apresentam dormência. O atraso na colheita
também favorece a incidência de pragas e de doenças, que comprometem a
qualidade do produto (SANTOS et al., 2006).
Foto: Tarcísio M. de S. Gondim

Figura 75. Após o arranquio do amendoim, as plantas são enleiradas (viradas) para
secagem dos frutos.

O despencamento só deve ser feito quando as vagens estiverem completamente


maduras. A secagem pode ser feita em secadores ou em terreiro, deixando-
se as plantas expostas ao sol por, pelo menos, três dias seguidos. O
armazenamento das sementes na vagens deve ser em ambientes secos e
arejados (SANTOS et al., 2006).

Para acondicionar as sementes em embalagem hermética (Figura 76), é


necessário beneficiá-las em máquina mecânica manual ou elétrica (Figura 77)
e reduzir a umidade das sementes em até 5% (HARRINGTON e DOUGLAS,
1970).
140
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 76. Sementes de amendoim acondicionadas em garrafa pet.


Foto: Vicente de P. Queiroga
Foto: Odilon R.R.F. da Silva

Figura 77. Beneficiamento dos frutos do amendoim em máquina mecânica manual ou


elétrica para liberação das sementes.

GIRASSOL
Seleção da área e preparo do solo
Os campos de sementes deverão ser instalados em solos bem supridos em
matéria orgânica, bem drenados, com pH próximo da neutralidade e com
poder de retenção de umidade (argilo-arenoso).

A implantação de campos de produção de sementes de girassol nas


proximidades de matas naturais, que constituem abrigo natural de insetos
polinizadores, é uma boa recomendação devido ao tipo de polinização dessa
planta (FANCELLI et al., 1980).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 141

É comum o pequeno agricultor executar aração do solo com arado de aiveca


de tração animal, seguida de um nivelamento do terreno com o cultivador,
objetivando possibilitar um excelente desenvolvimento ao sistema radicular
da planta, que é de natureza pivotante.

Sementes
As variedades atualmente em uso no Brasil apresentam ciclo médio de 100
dias e altura de planta oscilando entre 140-150 cm. As sementes apresentam
um teor de óleo de 43 a 45%, perfazendo rendimento de 1.300 a 1.800 kg
de sementes por hectare.

A época de semeadura deve obedecer o início do inverno para a região semiárida


do Nordeste. Tal operação pode ser executada com a matraca, desde que
permita uma boa regulagem, visando uma distribuição uniforme das sementes
e obedecendo um espaçamento de 80 a 100 cm entre fileiras e 20 a 40 cm
entre plantas (Exemplo: 100 cm x 20 cm; ou 90 cm x 30 cm; ou 80 cm x 40
cm), deixando-se uma planta por cova.

Isolamento
O girassol, sendo uma espécie de polinização aberta, exige certos cuidados,
visando preservar a identidade genética da cultivar durante seu processo de
produção em campo.

Na multiplicação de sementes, o isolamento do campo constitui-se num dos


fatores mais importantes para a obtenção de sementes geneticamente puras,
sendo que a distância de isolamento não deverá ser inferior a 800 m, evitando
assim cruzamentos indesejáveis produzido pelos insetos e levando-se em
consideração a direção predominante dos ventos (FANCELLI et al., 1980).

Convém ainda frisar, que o cultivo em épocas espaçadas no tempo, de


variedades diferentes, pode não surtir o efeito desejado como condição de
isolamento visto que o período de florescimento do girassol é relativamente
amplo (FANCELLI et al., 1980).

Os campos para a produção de sementes devem ser periodicamente


percorridos visando a eliminação das plantas atípicas, de outras cultivares, de
outras espécies, de plantas florescidas dentro dos três primeiros dias, de plantas
doentes e de ervas consideradas nocivas (Figura 78).
142
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...
Fotos: Tarcísio M. de S. Gondim

Figura 78. Campo de produção de sementes de girassol com florescimento uniforme.

Colheita
Segundo Fancelli et al. (1980), existem três sistemas utilizados para a colheita
manual do girassol. O primeiro consiste em se cortar logo abaixo dos capítulos
das plantas, com tesoura de poda ou fações bem afiados, quando as sementes
já se apresentem bem secas. Tais capítulos devem ser recolhidos
imediatamente em sacos ou balaios e transportados para terraço da casa a
espera da operação de debulha. Este método de colheita tardia (colher as
sementes após secar no campo) pode provocar grandes perdas de sementes
para o pequeno produtor, em decorrência da sua contaminação no campo e
ataque de pássaros.

O segundo sistema, é mais indicado por evitar desperdícios e ser bastante


prático. Nesse processo, quando as sementes já ultrapassaram a fase leitosa,
e encontram-se próximas à maturação, o talo das plantas é dobrado e torcido,
aguardando corte posterior, por ocasião de sua maturação completa. Há
também o caso de determinadas cultivares, cujo capítulo da planta se curva
naturalmente durante o seu estádio de maturação (Figura 79).

Existe um terceiro método largamente usado nas plantações argentinas, que


consiste no corte do capítulo, quando os grãos ainda não atingiram sua
maturação. O tal corte é executado em bisel (inclinado), sendo recomendado
a altura de 70 cm do solo. A seguir, furando-se o centro do capítulo, insere-se
o disco, em posição contrária a original, esperando-se o momento oportuno
para a efetiva colheita. Embora, dessa maneira, a secagem do capítulo se
processe lentamente, as sementes ficam protegidas do ataque de pássaros e
não sofrem a ação de chuvas ocasionais.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 143

Foto: Tarcísio M. de S. Gondim

Figura 79. Curvatura natural do capítulo da planta de girassol na fase de maturação,


ficando menos sujeito ao ataque de pássaros.

Para as sementes de girassol, a


Foto: Vicente de P. Queiroga

secagem é indispensável quando a


semente for colhida com umidade
superior a 9,5%, pois tal teor de
umidade ocasiona manchas nas
sementes, as quais adquirem odor
desagradável, que pode ser
transmitido ao óleo, havendo ainda
acentuada proliferação de
microorganismos que concorrem
para a aceleração do processo de
deterioração (FANCELLI et al.,
1980). Para o acondicionamento das
sementes de girassol em embalagens
herméticas, recomenda-se a
umidade máxima de 8% (Figura 80).
Figura 80. Sementes de girassol
acondicionadas em garrafa pet.
144
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

MAMONA
Local de produção
As condições ambientais das áreas onde serão instalados os campos de
produção de sementes de mamona, revestem-se de grande importância para
maximizar os rendimentos e obtenção de sementes de alto padrão de qualidade.

Apesar da reputação de resistente à seca, a mamona atinge bons níveis de


produção com uma pluviosidade mínima entre 600 a 750 mm bem distribuídos
durante o ciclo da cultura. Segundo Távora (1982), a faixa ideal de pluviosidade
varia de 750 a 1.500 mm, sendo o mínimo para uma boa produtividade, cerca
de 500 mm/ano. Para elevadas produtividades, superiores a 3.500 kg/ha de
bagas (sementes) é necessário que a planta receba bastante pluviosidade
(400 mm) até o início da floração. Este mesmo autor admite que chuvas
fortes, quando os frutos estão amadurecendo, podem resultar em
consideráveis perdas devido à queda das cápsulas. Por outro lado, a ausência
de chuvas durante o período de colheita, são favoráveis à obtenção de
sementes de alta qualidade.

Em climas demasiadamente quentes e úmidos a planta tem tendência para


grande desenvolvimento vegetativo com prejuízo da frutificação. De acordo
com Fornazieri Junior (1986), quando falta umidade no solo, mesmo que seja
na fase de maturação dos frutos, as sementes tem pouco peso e baixo teor
de óleo, mesmo tratando-se de cultivares produtivas, o que se observa por
ocasião de secas.

Época de plantio
A época de plantio também pode exercer grande influência quanto ao
rendimento e qualidade das sementes de mamona, sendo que esta época
ideal está sujeita às condições climáticas de cada região. Távora (1982)
recomenda que em áreas de pouca pluviosidade os plantios devem ser
realizados logo no início das chuvas, enquanto que em áreas de alta
pluviosidade, este plantio pode ser adiado a fim de que não ocorram pesadas
chuvas quando do amadurecimento e secagem dos frutos.

O desenvolvimento de cultivares precoces deverá trazer vantagens para as


condições do semiárido nordestino, sujeito na maioria das vezes a curtos
períodos de chuva.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 145

Densidade de plantio
A população de plantas adotada num campo de produção de sementes, que é
função do espaçamento utilizado, é mais um fator que concorre para o
rendimento e qualidade das sementes (Figura 81).
Foto: Tarcísio M. de S. Gondim

Figura 81. Campo de Produção de sementes de mamona.

Mazzani (1983) considera que os melhores resultados foram obtidos utilizando


o espaçamento de 1,05 m por 0,75 m, correspondendo a uma população de
12.500 plantas por hectare. Mantendo constante o número de plantas por
unidade de superfície, este mesmo autor observou que o comportamento de
duas populações de 10.00 plantas/ha plantadas com 1 m x 1 m e com 2 m x
0,5 m, resultou numa produção de 31% em favor do primeiro espaçamento.

Plantas daninhas
A mamoneira (Ricinus communis L.) apresenta um crescimento inicial lento,
sendo que a presença de plantas daninhas nesta fase do desenvolvimento
torna-se um problema sério, que pode ocasionar perdas consideráveis na
produção (MASCARENHAS, 1981). A cultura precisa ser mantida no limpo,
sobretudo nos primeiros estádios de desenvolvimento, até atingir 60 a 70
dias do ciclo vegetativo.
146
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Isolamento
Os campos destinados à produção de sementes de mamona devem estar
isolados dos demais campos plantados com outras cultivares, ou com a mesma
cultivar, se este não preencher às exigências de produção quanto à pureza
varietal. Para que não haja o risco de algum cruzamento, Lingerfelt (1976)
recomenda o isolamento de 1.000 m.

Roguing
A operação de roguing consiste na eliminação de plantas de caule e folhagens
atípicas, doentes, portadoras de anomalias e de florescimento precoce, tem
por objetivo principal garantir a pureza varietal e a sanidade das sementes.

Polinização
Prevalece na mamona a autopolinização, por ser considerada uma planta
normalmente monóica, onde as flores unissexuais masculinas e femininas
ocorrem numa mesma inflorescência de cada planta (MACÊDO e WAGNER,
1984). Os mesmos autores afirmam que a explosiva deiscência da antera
permite lançar o pólen a grandes distâncias. Este mecanismo da planta
favorece a polinização cruzada, a qual é obra principalmente do vento, devido
à leveza e grande produção de pólen. Segundo Mazzani (1983), a porcentagem
de polinização cruzada é variável e raras vezes menor do que 30%.

Para Távora (1982), a liberação do pólen na mamona é máxima nas horas


mais quentes do dia, podendo o grão de pólen permanecer viável, em condições
ambientais, por um período de 48 horas. Já o estigma das flores femininas
permanece receptivo por um período de 5 a 10 dias, onde as flores masculinas
estão localizadas na base da inflorescência, enquanto as femininas são
posicionadas no seu ápice.

Colheita
A determinação do ponto de colheita da mamona é dificultada pela grande
desuniformidade de maturação dos frutos do racemo, tornando-se uma
operação dispendiosas por consumir bastante mão-de-obra, tudo por causa
da necessidade de repetir o processo de colheita 5 a 6 vezes durante o ano
(MAZZANI,1983).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 147

Quando maior for o período de permanência das plantas no campo, após a


completa maturação, maior será a perda durante a colheita e menor será a
qualidade das sementes, principalmente quando se trata de variedades
deiscentes. Nas variedades indeiscentes, é possível esperar o amadurecimento
total da lavoura para proceder a uma só colheita, podendo obter sementes de
alta qualidade fisiológica, desde que não chova durante este período de colheita.

A colheita consiste em quebrar e/ou cortar os cachos pela base, utilizando-se


qualquer tipo de instrumentos cortantes. Um vez cortados os cachos, os
mesmos são transportados em cestos ou sacos e depois colocados sobre uma
lona para completar a secagem (GONÇALVES et al., 1981).

Secagem
A secagem natural dos frutos tem sido mais usada pelos pequenos agricultores
da região semiárida do Nordeste. No processo natural, os frutos ficam expostos
ao sol, após o seu desprendimento do cacho, em piso de alvenaria ou lona, por
um período de 4 a 15 dias dependendo da cultivar (HERMELY, 1981), até
atingir a umidade dos frutos de 10%, quando acontece a deiscência das
cápsulas (RIBEIRO FILHO, 1966). Este processo tem o inconveniente de obrigar
o recolhimento dos frutos ao final de cada dia, a fim de evitar-se a ação da
umidade sobre eles.

Beneficiamento
Após a operação de batedura dos frutos secos com varas flexíveis, recolhem-
se as sementes e procede-se a limpeza das mesmas com uma peneira comum,
sacudindo-se com os movimentos verticais para que o vento consiga retirar
as impurezas contidas. Em seguida ao processo de limpeza manual, as sementes
de mamona podem ser imediatamente ensacadas.

Para o beneficiamento mecânico dos frutos de mamona, colhido com umidade


elevada, o primeiro passo será a secagem ao sol dos mesmos. Em seguida, os
frutos passam por uma máquina descascadora apropriada, a qual, geralmente
possui adequado sistema de ventilação, dando como produto final sementes
livres de impurezas (Figura 82).
148
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Foto: Sérgio Cobel


Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 82. Beneficiamento de sementes de mamona em máquina movida à


eletricidade ou acionada pela tomada de força do trator.

A longevidade das sementes de


Foto: Vicente de P. Queiroga

mamona é aumentada
consideravelmente, quando as
mesmas são colocadas em
embalagens herméticas (Figura 83),
desde que o teor máximo de
umidade das sementes seja de 5%
(POPINIGIS, 1977).

ADUBOS VERDES E
FORRAGEIRAS
Feijão Guandu, Milheto,
Mucuna Cinza, Mucuna
Preta e Feijão de Porco
Figura 83. Sementes de mamona
O adubo verde tem diversas
acondicionadas em garrafa pet.
funções, mas a principal delas é
proteger, recuperar e melhorar a qualidade do solo. De acordo com as
pesquisas, qualquer planta pode ser usada como adubo verde, mas a preferência
é pelas leguminosas, que têm a capacidade de fixar o nitrogênio da atmosfera
(WANG et al., 1986).
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 149

Outra alternativa para o adubo verde, é cultivá-lo de forma adensada para


amenizar os efeitos da compactação, desde que essas espécies cultivadas
(feijão guandu, leucena, mucuna preta ou cinza, feijão de porco, etc)
apresentem um sistema radicular vigoroso, que deixem canais que propiciem
condições ao desenvolvimento de raízes da cultura subsequente (WANG et
al., 1986). Portanto, a compactação aumenta a resistência do solo à
penetração das raízes das grandes culturas comerciais. Para penetrar no solo
compactado as raízes dessas culturas sofrem alterações na forma (morfologia)
e no funcionamento (fisiologia). Estas modificações nas raízes alteram o padrão
de crescimento da planta, diminuindo-o.

Apenas o feijão guandu e o milheto foram plantados em algumas comunidades


do município de São Francisco de Assis do Piauí no início das estações chuvosas
(fevereiro) de 2009. No caso do feijão guandu, o agricultor plantou consorciado
no meio do plantio da palma (2,00 m x 1,00 m) com auxílio da matraca (Figuras
84 e 85). Enquanto o milheto foi semeado manualmente nos sistemas de
plantio de monocultivo e consorciado (Tabela 3 do Cap. II).
Fotos: Vicente de P. Queiroga

Figura 84. Plantio consorciado da palma e feijão guandu na comunidade de Veredas,


São Francisco de Asis do Piauí, 2009.
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 85. Plantio do feijão guandu em sistema de monocultivo na comunidade de


Veredas, São Francisco de Asis do Piauí, 2009.
150
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...

Pequenas quantidades das sementes de mucuna cinza, mucuna preta e o


feijão de porco foram repassadas recentemente pela Embrapa Algodão para
FFA, de forma que essas espécies sejam multiplicadas na área irrigada da
Roça da Fé de Simplício Mendes, PI e depois distribuídas para os agricultores
de São Francisco de Assis do Piauí plantarem no ano agrícola de 2010.
Recomenda-se que o isolamento dos campos de sementes entre diferentes
cultivares de cada espécie devam obedecer as seguintes distâncias: feijão
guandu (360 m), milheto (300 m), mucuna cinza ou preta (5 m) e feijão de
porco (5 m) (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Uma vez realizada a colheita, as sementes de feijão guandu, milheto, mucuna


cinza, mucuna preta e feijão de porco deverão ser secadas ao sol para atingir
a umidade aproximada de 8% (9% para milheto) (HARRINGTON e DOUGLAS,
1970). Em seguida, as sementes das diferentes espécies poderão serão
acondicionadas em garrafas pets para seu armazenamento prolongado até a
próxima semeadura (Figura 86).

Após a colheita das distintas espécies, os agricultores de São Francisco de


Assis do Piauí poderão ressarcir em dobro ao programa Banco de Sementes
em relação a quantidade de sementes que receberam para plantar. Assim,
outros agricultores terão a oportunidade de participar do sistema de empréstimo
do Banco Comunitário de Sementes, garantindo assim a continuidade do
programa. O excedente das sementes colhidas pelo agricultor, deverá ser
replantado até que o solo seja totalmente corrigido. A correção do solo
acontecerá de maneira gradativa e os benefícios da técnica de adubação
verde surgirão com o tempo e, certamente, serão notados pelos agricultores.
Foto: Vicente de P. Queiroga

Figura 86. Acondicionamento de sementes milheto, feijão de porco, mucuna preta e


mucuna cinza em garrafas pets.
Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 151

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