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CAMPUS ARAPIRACA
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM MATEMÁTICA
Arapiraca
2017
Luiz Gabriel dos Santos Gomes
Arapiraca
Dezembro, 2017
Luiz Gabriel dos Santos Gomes
Trabalho ele COncl\lS80 ele curso aprovado pelo corpo docente do Curso de Licencia-
tura Plena em Xlateinática ela Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Campus Arapiraca,
como requisito parcial do grau de licenciado em matemática.
I
Prof. Me. Eben Alves da ilva
.\fr\(CIll<-ítici1 Lir-onriutura - UFAL. Arapiraca
examinador
Arapiraca
Dezembro, 2017
Este trabalho é dedicado às crianças adultas que,
quando pequenas, sonharam em se tornar cientistas.
Agradecimentos
Agradeço a Deus por tudo que me proporcionou para que passasse por todas as
fases de minha formação.
Aos meus pais, Maria José (Lelê) e Jaelson, por toda dedicação e esforço que
tiveram para me proporcionar a melhor educação possível. Ao meu irmão, Gustavo, por
todo apoio, compreensão e paciência que teve comigo durante todos esses anos. A todos os
meus familiáres, em especial, ao meu tio Aldo que sempre me incentivou e me aconselhou.
Aos meus amigos, que sempre estiveram por perto quando precisei e souberam
respeitar minha ausência durante meus momentos de dificuldade no curso.
Introdução
O desenvolvimento da matemática acompanha o desenvolvimento do homem. Em
especial, o desenvolvimento e classificação dos números está ligado, inicialmente, a duas
necessidades básicas, são elas: contar e medir. O conceito primitivo dos números está
associado aos números naturais, representado por N, em que o homem relacionava objetos
de modo que pudesse fazer a contagem dos mesmos. Um exemplo classico é do homem que
contava seu rebanho de ovelhas a partir de pedras, relacionando a cada ovelha uma pedra.
A partir da necessidade de medir objetos menores que os números inteiros positivos, o
homem começou a determinar unidades de medidas menores que as conhecidas, tomando
uma maior como base, um exemplo atual sobre tal situação é o caso da unidade do metro
que tem suas subdivisões que são decímetro (1 décimo de 1 metro), centímetro (1 centésimo
de 1 metro) e milímetro (1 milésimo de 1 metro).
castigo dos deuses. Esses números que não seguem um padrão são chamados de irracionais,
representado por R − Q, onde R (conjunto dos números reais) é a união dos números
racionais e irracionais. Um conceito mais abrangente de número surgiu com a criação do
conjunto dos números complexos, representado por C, são números da forma a + bi, com
√
a, b ∈ R, onde i = −1. Daí, segue a relação de inclusão dos conjuntos N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R ⊂ C.
1 Noções Preliminares
Neste capítulo será introduzido resultados preliminares que serão de grande impor-
tância para a compreensão de futuros resultados referente a caracterização dos números
algébricos e transcendentes. Os textos utilizados como base para a produção deste capítulo
foram Leithold (1994) e Lima (2006). Alguns resultados deste capítulo serão apenas citados.
Definição 1.1. Um conjunto X é dito enumerável quando é finito ou existe uma bijeção
f : N −→ X.
(i) Injetividade: Sejam f (n1 ) = 2n1 e f (n2 ) = 2n2 . Se f (n1 ) 6= f (n2 ), temos:
2n1 6= 2n2 ⇒ n1 6= n2
2n, se n > 0
h(n) =
−2n + 1,
se n ≤ 0
é uma bijeção. Dai sua inversa h−1 : N −→ Z é uma bijeção. Logo, Z é enumerável.
(ii) X é infinito. Vamos definir por indução uma bijeção f : N −→ X. Colocaremos f (1)
como o menor elemento de X. Suponha que f (1), f (2), ..., f (n) são definidos de modo que
satisfazem as seguintes condições:
(b) Bn = X − {f (1), f (2), ..., f (n)}, tem-se x > f (n) para todo x ∈ Bn
Note que Bn 6= ∅, pois X é infinito. Definimos, agora, f (n+1) como o menor elemento de Bn .
Então f (n + 1) > f (n) e x > f (n + 1) para todo x ∈ Bn+1 = X − {f (1), ..., f (n), f (n + 1)}.
Segue que:
(b) f é sobrejetiva, pois se existisse algum x ∈ X − f (N), teriamos que x é maior que
qualquer natural do conjunto {f (1), f (2), ..., f (n)...} para todo n ∈ N. Então o conjunto
infinito f (N) ⊂ N seria limitado, o que é um absurdo, pois todo subconjunto limitado dos
naturais é finito e por hipotese X é infinito.
Demonstração. Como f é injetiva, temos que f é bijetora sobre sua imagem f (X). Como
Y é enumerável, então existe uma bijeção ϕ : N −→ Y . Sabemos que f (X) ⊂ Y , então a
composição ϕ−1 ◦ f : X −→ N é uma bijeção. Logo, X é enumerável.
Capítulo 1. Noções Preliminares 14
Exemplo 1.5. Note que nos exemplos anteriores vimos que o conjunto dos números pares
positivos, bem como os impares positivos e os inteiros são enumeráveis, podemos fazer
o mesmo utilizando o corolário 1. Sabemos que N é enumerável, pois f : N −→ N é uma
bijeção. Então basta provar que g : N −→ 2N definida por f (n) = 2n é injetiva. Façamos:
Considere f (n1 ) = 2n1 e f (n2 ) = 2n2 . Se f (n1 ) 6= f (n2 ), temos:
2n1 6= 2n2 ⇒ n1 6= n2
ψ(m1 , n1 ) 6= ψ(m2 , n2 ) ⇒ m1 6= m2 e n1 6= n2
ϕ : N × N −→ X
(m, n) 7→ ϕ(m, n) = fn (m)
0, 5 = 0, 4999....
Iremos considerar todos os decimais no intervalo (0, 1) com infinitas casas decimais. Agora,
vamos supor que X é enumerável, isto é, X = {x1 , x2 , ..., xn }. Dai, segue que:
onde aij = {0, 1, 2, ..., 9}. Tomemos o número x = 0, b1 b2 b3 b4 ... de modo que
b = 1, se aii 6= 1
i
bi =
b = 0, se aii = 1
i
a + (b + c) = (a + b) + c
a · (b · c) = (a · b) · c
(A.2) Comutatividade:
a+b = b+a
a·b = b·a
a+0 = 0+a = a
a·1 = 1·a = a
a + (−a) = −a + a = 0
a · a−1 = a−1 · a = 1, com a 6= 0.
(A.5) Distributividade:
a · (b + c) = a · b + a · c
(i) Se a, b ∈ X, então a + b ∈ X e a · b ∈ X;
(ii) Se a ∈ K, então a = 0, a ∈ X ou − a ∈ X.
(iv) Se x < y, então xz < yz, para todo z > 0, e xz > yz, para todo z < 0 (Monotonicidade
da multiplicação).
Demonstração.
(iv) Se x < y e z > 0, então y −x e z > 0 ∈ R+ . Temos que (y −x)z ∈ R+ , dai yz −xz ∈ R+ ,
isto é, xz < yz. Para z < 0, com −z ∈ R+ , temos que (y −x)(−z) ∈ R+ , daí (xz −yz) ∈ R+ ,
logo yz < xz.
Demonstração.
obtemos,
|x.y|2 − (|x|.|y|)2 = 0.
(ii) Como |x| ≥ x e |y| ≥ y, temos que, somando as desigualdades, |x| + |y| ≥ x + y. Por
outro lado, |x| ≥ −x e |y| ≥ −y, temos que |x| + |y| ≥ −(x + y). Por fim, |x| + |y| ≥
|x + y| = máx{x + y, −(x + y)}.
Teorema 1.3. Dados a, x, δ ∈ R, tem-se |x − a| < δ se, somente se, a − δ < x < a + δ.
Definição 1.7. O conjunto X ⊂ R que atende as definições (1.7) e (1.8) ao mesmo tempo
é chamado conjunto limitado.
Exemplo 1.9. Sejam A, B e C ⊂ R tal que A = [−2, ∞), B = (−∞, 1] e C = (2, 3).
Note que A é limitado inferiormente por x ∈ R, tal que x ≤ −2, mas não é limitado
superiormente. O conjunto B é limitado superiormente por x ∈ R, tal que x ≥ 1. Por fim,
note que C é um conjunto limitado pelo intervalo [2, 3] tendo, ao mesmo tempo, cota
superior e inferior.
(1) x ≤ b, ∀x ∈ X;
(1) x ≥ a, ∀x ∈ X;
Observação 1.2. R é completo, pois todo subconjunto não vazio, limitado superiormente,
X ⊂ R possui supremo, isto é, b = supX ∈ R.
√ √
Observação 1.3. Q não é completo, pois X = [0, 7) ⊂ Q. Note que b = 7 = supX ∈
/ Q.
Capítulo 1. Noções Preliminares 20
Demonstração. Seja (a, b) ⊆ R, com a < b. Então, temos que b − a > 0. Pela propriedade
1
arquimediana, existe n ∈ N, tal que 0 < < b − a. Daí, segue que bn − an > 1. Como o
n
comprimento do intervalo (an, bn) é maior que 1, existe m ∈ Z tal que m ∈ (an, bn), isto é,
m
an < m < bn. Dividindo a desigualdade por n, segue que a < < b. Logo, Q é denso em
n
R.
Demonstração. Suponha, por absurdo, que existe uma bijeção f : N −→ R. Seja I1 = [a1 , b1 ]
um intervalo limitado e não degenerado da reta, tal que y1 = f (1) ∈
/ I1 . Se y2 ∈
/ I1 , então
fazemos I2 = I1 . Se y2 ∈ I1 , então y2 6= a1 ou y2 =
6 b1 . Suponha y2 6= a1 , temos I2 =
[a1 , a1 +y
2 ], logo y2 ∈
2
/ I2 . Suponha que podemos criar uma sequência decrescente de intervalos
a1 + y n
In com I1 ⊃ I2 ⊃ I3 ⊃ ... ⊃ In , tal que yn ∈/ In = a1 , . Deste modo, podemos obter
2
a1 + yn+1
um intervalo não degenerado In+1 = a1 , ⊂ In , tal que yn+1 ∈/ In+1 , ∀n ∈ N.
2
Pelo teorema dos Intervalos Encaixados, existe um c ∈ In , ∀n ∈ N. Como yn ∈ / In temos
que c 6= yn , ∀n ∈ N. Absurdo, pois c não é imagem de nenhum natural, isto é, f não é
sobrejetiva. O que completa a demonstração, pois exibimos um c real que não foi enumerado
pela f , implicando que o conjunto dos números reais não é enumerável.
Capítulo 1. Noções Preliminares 21
Observação 1.4. O teorema (1.5) nos mostra que o infinito dos R é maior que o infinito
dos N.
Observação 1.6. Note que Q 6= R, pois R não é enumerável. Daí, segue que Q ∪ (R − Q) =
R, implica que R − Q não é enumerável. (Consultar Corolário 4, seção 1, capítulo 1).
√
Exemplo 1.10. Seja p-primo, mostraremos que p ∈ R − Q. Façamos:
√
Considere p = ab , com a e b primos entre si e b =
6 0. Elevando ambos os membros ao
quadrados, temos:
a2
p=
b2
Dai,
p.b2 = a2
Absurdo, pois do lado esquerdo da igualdade há uma quantidade par de fatores primos e
√
do lado direito uma quantidade impar. Logo p ∈ R − Q.
Nesta seção serão exibidos alguns conceitos referente a sequências e séries, visto
que, posteriormente, nos ajudarão na demonstração de alguns resultados.
Definição 1.13. (Limite de uma sequência): a ∈ R é limite de (xn ) se para todo ε > 0,
é possível encontrar n0 ∈ N, tal que todos os termos da sequência com indice n > n0
satisfazem |xn − a| < ε. Denotamos como xn −→ a ou lim xn = a.
Em símbolos: lim xn = a ⇐⇒ ∀ε > 0, ∃n0 ∈ N : n > n0 → |xn − a| < ε
Como limxn = a, ∃n1 ∈ N, tal que n > n1 =⇒ |xn − a| < ε, isto é, xn ∈ I. Por
outro lado, limxn = b, ∃n2 ∈ N, tal que n > n2 =⇒ |xn − b| < ε, isto é, xn ∈ J. Tome
n0 = máx{n1 , n2 }, então para n > n0 , temos que |xn − a| < ε e |xn − b| < ε ⇐⇒ xn ∈ I ∩ J.
Absurdo, pois I ∩ J = ∅. Logo o limite é único.
Demonstração. Se (xn ) → a, então, por definição, ∀ε > 0, ∃n0 ∈ N, tal que n > n0 =⇒
|xn − a| < ε. Tomando ε = 2, temos que |xn − a| < 2 =⇒ a − 2 < xn < a + 2. Segue que
xn ∈ [a − 2, a + 2], ∀n > n0 ∈ N. Logo (xn ) é limitada.
Observação 1.7. Note que o fato da sequência ser limitada não implica que ela converve.
Um exemplo para esse fato é a sequência (xn ) = 1 + (−1)n+1 = (2, 0, 2, 0, 2, 0...). Veja que
|xn | ≤ 2, ∀n ∈ N, mas não existe limite, pois (x2n ) = (0, 0, 0, 0...) e (x2n+1 ) = (2, 2, 2, 2, ...).
Observação 1.8. Note que toda sequência xn ≤ xn+1 é limitada inferiormente e a sequên-
cia xn ≥ xn+1 é limitada superiormente pelo seu primeiro termo.
Para evitar calculos demasiados, o próximo teorema não sera demonstrado, caso o
leitor esteja curioso para a verificar a demonstração do mesmo, consultar Lima (2006),
pág. 116.
Teorema 1.9. (Operações com limites) Se (xn ) e (yn ) são convergentes e c uma constante,
então:
xn lim xn
(iv) lim = , se lim yn 6= 0.
yn lim yn
Teorema 1.10. (Permanencia do sinal) Se lim xn = a > 0, então existe n0 ∈ N tal que
n > n0 ⇒ xn > 0.
a
Demonstração. Dado ε > 0, tomando ε = , então existe n0 ∈ N tal que xn ∈ (a − ε, a + ε) =
2
a 3a a
, , ou seja, xn > , assim n > n0 ⇒ xn > 0.
2 2 2
Corolário 5. Sejam (xn ) e (yn ) sequências convergentes. Se xn ≤ yn para todo n ∈ N,
então lim xn ≤ lim yn .
Demonstração. Suponha que lim xn > lim yn . Então, teriamos que 0 < lim xn − lim yn =
lim(xn − yn ). Pelo teorema anterior, teriamos que xn − yn > 0 ⇒ xn > yn o que é um
absurdo, por hipótese xn ≤ yn .
Observação 1.11. Mesmo supondo que xn > yn , para todo n, não podemos garantir que
1 1
lim xn > lim yn . Basta tomar a sequência constante (yn ) = 0 e (xn ) = . Claramente > 0,
n n
porém lim xn = lim yn = 0.
1.3.2 Séries
1
Como motivação, imaginemos que somemos de 1 a sua metade, isto é, e em
2
1
seguida pegássemos metade da metade de 1, que é , e somássemos. Continuando o esse
4
processo infinitamente, surge o questionamento, a soma em questão chegará a algum
número específico? Estudaremos de maneira introdutória o comportamento de algumas
somas infinitas nesta seção.
Definição 1.15. Seja (an ) uma sequência de números reais. A partir dela é formada uma
nova sequência do seguinte modo:
s 1 = a1
s 2 = a1 + a2
s 3 = a1 + a2 + a3
..
.
sn = a1 + a2 + a3 + ... + an
Capítulo 1. Noções Preliminares 25
Observe que o segundo termo da soma é cancelado com o terceiro, o quarto com o
quinto e assim sucessivamente até o n-ésimo termo da soma,sobrando apenas o primeiro e
o ultimo. Assim, temos que a soma do n termos da série é dado por
1 n
sn = 1 − =
n+1 n+1
1 1 1 1 4 1 1 5 1 1
sn − sn = − n+1 ⇒ 1 − sn = sn = − n+1 ⇒ sn = − n+1
5 5 5 5 5 5 5 4 5 5
5 1 1 5 1 1
lim s = n→∞
n→∞ n
lim − n+1 = . =
4 5 5 4 5 4
1
Logo, a série converge para .
4
∞
(−1)n diverge.
X
Exemplo 1.15. Verifique que a série
n=0
Note que uma quantidade par da soma parcial resulta em sn = 0, enquanto em
uma quantidade ímpar sn = 1. Então lim sn não existe. Logo a série diverge.
n→∞
n
X 1
Exemplo 1.16. (Série Harmônica) Mostre que a série diverge.
n=1 n
Note que
n
1 X
=
n=1 n
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1+ + + + + + + + + + + + + + + + ...
2 | 3 {z 4 } | 5 6 {z 7 8 } | 9 10 11 12 {z13 14 15 16 }
>0,5 >0,5 >0,5
Agrupando os termos deste modo, percebe-se que a série diverge, pois sua soma
dente ao infinito, mesmo que de forma lenta. Observe que agrupamos 2 termos, em seguida
4 e posteriormente 8. Então podemos fazer um agrupamento de termos de modo que sua
soma seja maior que 0,5.
Teorema 1.11. O termo geral de uma série convergente tem limite nulo.
∞
X
Demonstração. Seja an = S. Sua soma parcial dos n-primeiros é dada por sn = a1 +
n=1
a2 + ... + an−1 + an . Considere agora sua soma parcial dos (n − 1)-primeiros termos dada
por sn−1 = a1 + a2 + ... + an−1 . Daí, temos que:
sn = sn−1 + an . Aplicando o limite com n −→ ∞ na igualdade, temos que:
lim s = lim sn−1 + lim an ⇒ S = S + lim an ⇒ lim an = 0
n→∞ n n→∞ n→∞ n→∞ n→∞
Observação 1.12. O limn−→∞ an = 0 não implica que a série converge, basta observar a
1
série harmônica em que o limite do termo geral limn−→∞ = 0, mas a série é divergente.
n
Capítulo 1. Noções Preliminares 27
n=1
a. (1 − q n )
sn − qsn = a + a.q n ⇒ (1 − q) sn = a. (1 − q n ) ⇒ sn =
1−q
a
(i) Se |q| < 1, então n→∞
lim sn = . Logo a série converge;
1−q
Indicamos Andrade (2010) e Eves (1995) para mais detalhes sobre a história dos
resultados de Cantor.
Definição 2.2. Definimos como número algébrico inteiro qualquer solução solução de um
polinômio mônico com seus coeficientes inteiros an−1 , ..., a2 , a1 , a0 .
Exemplo 2.1. Seja w ∈ Z. Note que w é solução da equação polinomial x−w = 0. Portanto,
qualquer w ∈ Z é um número inteiro algébrico.
ϕ2 − ϕ − 1 = 0,
√
1+ 5
que tem como raiz ϕ = . Logo, por definição, número de ouro é inteiro algébrico.
2
√ √
Exemplo 2.3. A equação polinomial x2 + 9 tem como raízes x1 = i 3 e x2 = −i 3 são
inteiros algébricos.
p
Demonstração. Suponha que w = ∈ Q, com p, q ∈ Z e q > 1, primos entre si, isto é, w ∈
/ Z,
q
seja raiz p(x) = xn + an−1 xn−1 + ... + a2 x2 + a1 x + a0 . Como p(w) = 0, temos que:
!n !n−1 !2 !
p p p p
+ an−1 + ... + a2 + a1 + a0 = 0
q q q q
pn pn−1 p2 p
+ a n−1 + ... + a 2 + a 1 + a0 = 0
qn q n−1 q2 q
pn pn−1 p2 p
= −a n−1 − ... − a 2 − a 1 − a0 (2.1)
qn q n−1 q2 q
pn = q −an−1 pn−1 − ... − a2 p2 q n−3 − a1 pq n−2 − a0 q n−1 (2.2)
Note que t = −an−1 pn−1 − ... − a2 p2 q n−3 − a1 pq n−2 − a0 q n−1 ∈ Z, além disso, t 6= 0. Com
isso, temos que pn = qt, isto é, q|pn ⇒ q|p. Absurdo, pois p e q são primos entre si. Logo
p
w = não é solução. Isso significa que um número algébrico inteiro real é inteiro ou
q
irracional.
Observação 2.1. Com relação a definição (2.3), é equivalente dizer que α é algébrico
quando é raiz de um polínômio p(x) = xn − bn−1 xn−1 + ... + b2 x2 + b1 x + b0 , com bi ∈ Q.
ai
Note que bi = 6 0.
e an =
an
Capítulo 2. Números Algébricos e Transcendentes 31
Observação 2.2. Todo inteiro algébrico real é algébrico, porém nem todo número algébrico
é inteiro algébrico real.
p
Exemplo 2.4. α = , com q 6= 0, é um número algébrico, pois α é raiz da equação
q
polinomial qx − p = 0.
(i) Se α e β ∈ A, então α + β ∈ A;
(iii) Se −α ∈ A, então α ∈ A;
Demonstração.
αn+1 − a2n−1 αn−1 − ... − an−1 a2 α2 − an−1 a1 α − an−1 a0 + an−2 αn−1 + ... + a1 α2 + a0 α = 0
αn+1 + (an−2 − a2n−1 )αn−1 + ... + (a1 − an−1 a2 )α2 + (a0 − an−1 a1 )α − an−1 a0 = 0
Isolando αn+1 ,
Isso significa que α + β satisfaz uma equação polinomial de grau menor ou igual a m.n.
Logo, α + β ∈ A.
Demonstração.
Capítulo 2. Números Algébricos e Transcendentes 33
(ii) Consideramos, agora, (m.n + 1)-números 1, αβ, (αβ)2 , ..., (αβ)m.n . Seguindo o mesmo
argumento de (i), temos que para a ordem αj β p com j ≥ n e p ≥ m, logo existem
s0 , s1 , ..., sm.n , nem todos nulos, tais que
Isso significa que αβ é raiz de uma equação polinomial de grau menor ou igual a m.n.
Logo, αβ ∈ A.
Demonstração.
daí,
q(α−1 ) = an + an−1 (α−1 ) + an−2 (α−1 )2 + ... + a2 (α−1 )n−2 + a1 (α−1 )n−1 + a0 (α−1 )n = 0
1
O que mostra que α−1 é raiz do polinômio q(x). Em particular q(x) = p(x).
x
Capítulo 2. Números Algébricos e Transcendentes 34
f : Z× Z× ...× Z∗ −→ Z[x]
(a0 , a1 , ..., an ) 7→ a0 + a1 x + ... + an xn
Rp = {k ∈ R : p(k) = 0}
Por outro lado, sabemos que C = A ∪ T. Como A é enumerável, temos que T não é
enumerável. Em particular, T 6= ∅, pois C é ilimitado.
Capítulo 2. Números Algébricos e Transcendentes 35
Figura 2 – diagrama
fonte: produzida pelo autor
36
3 Os Números de Liouville
Sabemos que os racionais são densos na reta, é possivel se aproximar de um número
real por uma sequência de racionais, em particular números irracionais são aproximados
por uma sequência infinita de racionais. Porém, algumas aproximações são melhores do
que outras, isto é, convergem mais rápido para o número real. Por exemplo, para o número
π = 3, 1415926535... temos a seguinte sequência de racionais:
!
pj 3 31 314 3141 31415
= ; ; ; ; ; ...
qj 1 10 100 1000 10000
Note que a sequência tem como denominadores qj = 10−j , com j ∈ {0, 1, 2, ...}. Por
outro lado, π também pode ser aproximado por racionais com denominadores arbitrários,
22
em particular tem uma aproximação melhor. Por exemplo, = 3, 142857142857... é uma
7
314
aproximação melhor do que , porém não é melhor do que os termos seguintes da
! 100
pj 22 355
sequencia de racionais . Outra, aproximação melhor que , é o racional =
qj 7 113
3, 1415929203539823.... Observe que
Para exibir o primeiro número transcendente, Liouville criou uma propriedade que
qualquer número algébrico (real) satisfaz (teorema 3.1), tendo como fato principal que
tais números não são bem aproximados por racionais. Em seguida, exibiu uma classe de
números que não satisfaz a propriedade (definição 3.3). Daí, se o número não satisfaz a
propriedade que qualquer algébrico respeita, então é transcendente. A partir dessa ideia
Liouville exibiu o primeiro exemplo de número transcendente.
Para mais detalhes referente a aproximação de números reais por racionais, consultar
Moreira (2011) e Niven (1990).
Definição 3.1. Um número α é dito algébrico de grau n se ele for raiz de uma equação
polinomial com coeficientes inteiros p(x) de grau n e não existe nenhum polinômio q(x) de
grau menor que n tal que q(α) = 0. Chamamos p(x) de polinômio minimal.
p
Exemplo 3.1. O número racional é de grau 1, pois anula a equação polinomial qx − p.
q
Observação 3.1. Note que esse exemplo mostra a generalização dos racionais como
números algébricos de grau 1.
√
Exemplo 3.2. 5 é um número algébrico de grau 2, pois apesar de anular a equação
√
polinomial x − 5, a mesma não se enquandra na definição. Daí, quando multiplicamos
pelo seu conjulgado, obtemos
p(x) = x2 − 5, (3.1)
√
sendo p(x) é o polinômio de menor grau ao qual 5 é raiz.
pj c
α− < n
qj qj
Proposição 3.1. Se α é n−aproximável, então:
pj
(ii) α − < c;
qj
pj
(iv) lim = α.
j→∞ qj
Demonstração.
Tomando k = n − 1, obtemos:
pj c c c
α− < n= n−1
= (3.2)
qj qj q.q q.q k
Considere D = {qj ; j ∈ N}. Pelo Princípio da Boa Ordenação, existe q0 ∈ D, tal que
c
q0 ≤ qj , ∀j ∈ N. Tomando c0 = > 0, temos
q0
pj c c 1 c 1 pj c0
α− < n = . k ≤ . k ⇒ α− < k (3.3)
qj qj qj q j qo qj qj qj
Demonstração.
Demonstração.
(iii) Provaremos que (qj ) é ilimitada. Suponha por absurdo que (qj ) é limitada, isto é,
qj ≤ M . Sabemos que
pj 1
α− < n <1 (3.5)
qj qj
Multiplicando (3.5) por qj , temos:
daí,
Como qj ≤ M , obtemos
|pj | < (|α| + 1)M. (3.7)
!
pj
Logo pj é limitado por (|α| + 1)M . Absurdo, pois é ilimitada.
qj j≥1
Capítulo 3. Os Números de Liouville 39
Demonstração.
pj
(iv) Mostraremos que lim = α. Aplicando o limite j → ∞ na desigualdade,
j→∞ qj
pj c
0 ≤ α− < n (3.8)
qj qj
obtemos,
pj c
lim 0 ≤ lim α − < lim n (3.9)
j→∞ j→∞ qj j→∞ qj
segue que,
pj
lim =α (3.10)
j→∞ qj
p A
α− > n
q q
p
para todo ∈ Q, com q > 1.
q
p
Dado ∈ Q, vamos considerar os seguintes casos:
q
p
(i) ∈
/ [α − δ, α + δ];
q
p p
Como não pertence ao intervalo, a distância entre α e é maior que δ, isto é,
q q
p δ
α− >δ≥ n
q q
Capítulo 3. Os Números de Liouville 40
p
(ii) ∈ [α − δ, α + δ].
q
p
Note que f é contínua e derivável no intervalo α, . Pelo teorema do valor médio, existe
q
p
uma constante c entre α e tal que
q
!
p p
f (α) − f = f 0 (c). α − (3.11)
q q
Como f 0 é contínua num intervalo limitado, então admite uma cota superior, isto é,
p
0
|f (x)| ≤ M, ∀x ∈ α, . Daí,
q
!
p p p
f = f 0 (c) . α − ≤ M. α − (3.13)
q q q
!
p
Por outro lado, como f 6= 0, temos
q
p pn−1 pn
a0 + a1 + ... + an−1 n−1 + an n (3.14)
q q q
1
Colocando em evidência, obtemos
qn
p 1 p 1
M. α − ≥ n ⇒ α− ≥ (3.16)
q q q M.q n
1 1
Tomando A = min δ; , temos
2 M
p A
α− > n
q q
Capítulo 3. Os Números de Liouville 41
pj c
α− < n+1
qj qj
A c c
n < n+1 ⇒ qj <
qj qj A
pj 1
α− < j
qj qj
p
Proposição 3.2. Todo racional não é número de Liouville.
q
p
Demonstração. Suponha que α = é número de Liouville, isto é
q
pj 1
α− < j
qj qj
p pj pqj + pj q 1
− = ≥
q qj q.qj |q|.qj
1 1
> ⇒ |q| > qjj−1
qjj |q|.qj
p
Absurdo, pois (qj ) é ilimitada. Logo não é número de Liouville.
q
Capítulo 3. Os Números de Liouville 42
A pj 1
n < α− < j , ∀j ≥ 1
qj qj qj
A 1 1
n < j ⇒ qjj−n <
qj qj A
Como j pode ser tão grande quando se queira, tem-se que j ≥ n + 1 implica que
1
qj ≤ qjj−n <
A
1
Logo (qj ) é limitada por . Contradição, pois pelo item (iii) da proposição 3.1 (qj ) é
A
ilimitada.
Observação 3.3. O fato de todo número de Liouville ser transcendente não implica que
todo transcendente é número de Liouville. Os números π e e são exemplos clássicos de
números transcentes que não são números de Liouville. e foi demonstrado por Hermite, em
1873, e π foi demonstrado por Lindemann, em 1884, Lafeta (2016). Para outro exemplo de
transcendente indicamos Oliveira (2015).
∞
1 1 1
10−n! =
X
l= + 2! + 3! + ...
i=1 10 10 10
é número de Liouville.
e
qj = 10j! (3.18)
Capítulo 3. Os Números de Liouville 43
Obtemos
j
pj
10−n!
X
= (3.19)
qj n=1
Daí, segue que
∞
pj 1 1 1
10−n! = (j+1)! + (j+2)! + (j+3)! ...
X
l− = (3.20)
qj n=j+1 10 10 10
1
Colocando em evidência, temos
10(j+1)!
∞
pj 1 1 1
10−n! = (j+1)! 1 + (j+2)!−(j+1)! + (j+3)!−(j+1)! + ...
X
l− = (3.21)
qj n=j+1 10 10 10
Observe que (j + k)! − (j + 1)! > k − 1, para k ∈ N, com k > 2. De fato, isso ocorre, pois
(j + 2)! − (j + 1)! > 1
(j + 3)! − (j + 1)! > 2
..
.
(j + k)! − (j + 1)! > k − 1
1 1 1 1 1 1
1+ + + ... < 1 + + 2 + ... (3.22)
10(j+1)! 10(j+2)!−(j+1)! 10(j+3)!−(j+1)! 10(j+1)! 10 10
1 1 1
Como 1 + + 2 + ... é uma série geométrica de razão r = , segue que
10 10 10
pj 1 1
l− < (j+1)! . 1
qj 10
1−
10
pj 10 10 1
⇒ l− < < =
qj 9.10(j+1)! 10(j+1)! 10(j+1)!−1
Como
1 1 1
≤ =
10(j+1)!−1 qjj 10j!j
Capítulo 3. Os Números de Liouville 44
Claramente, j! − 1 ≥ 0. Logo,
∞
10−n!
X
l= (3.23)
n=1
é número de Liouville e, portanto, é transcendente.
com an ∈ {1, 2, ..., 9}, para todo n ∈ N são números de Liouville. A demonstração desse fato
é análoga ao teorema (3.3). A demonstração deste fato pode ser encontrada em Marques
(2007).
1 1 1
α = 1+ 1
+ 21 + 21 + ... = 1, 5625000000000035527... (3.25)
2 4 84
é número de Liouville. A demonstração deste fato encontra-se em Marques (2007).
45
4 Conclusão
Apesar de ser complexa, a Teoria dos Números Transcendentes (TNT) trás uma
nova ideia referente ao conceito e classificação dos números. Por ser uma área da matemática
com vários problemas em aberto, a TNT abre um grande leque de questionamentos e
possibilidades referente ao comportamento algébrico dos mesmos. Por exemplo, apesar de
e e π, comprovadamente, serem números transcendentes não sabemos se e + π ou eπ são.
Mesmo que este fato aparentemente seja natural, não se tem uma demonstração deste fato.
Hoje, tem-se a conjectura de que π e e são linearmente independentes e tal fato implica
que a soma e o produto dele são números transcendentes.
Referências
AMARANTE, Evandro M. de S. Uma Abordagem sobre os números de Liouville.
Trabalho de Conclusão de Curso do Mestrado Profissional em Matemática. Universidade
Federal da Bahia, 2017.
LAFETA, Anna C.; SILVA, Elaine e LELIS, Jean. Teoria dos Números Transcenden-
tes: Do teorema de Liouville à conjectura de Schanuel, 1a ed. Bienal da Matemática,
Rio de Janeiro, 2016.
LEITHOLD, Louis. Cálculo com Geometria Analítica. 3a ed. Vol. 2. Harbra Ltda.,
São Paulo, 1994.
LIMA, Elon L. Análise Real. Textos Universitários. 8a ed. Vol. 1. Rio de Janeiro,
IMPA, 2006.
NIVEN, Ivan. Números: Racionais e Irracionais. ed. SBM, Rio de Janeiro, 1990.
Capítulo 4. Conclusão 47