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Volta Redonda, RJ
2019
Mariana Silva
Volta Redonda, RJ
2019
Ficha catalográfica automática - SDC/BAVR
Gerada com informações fornecidas pelo autor
CDD -
Volta Redonda, RJ
2019
Este trabalho é dedicado às crianças adultas que,
quando pequenas, sonharam em se tornar cientistas.
Agradecimentos
Começo, agradecendo à Deus, por ter me dado força nos momentos difíceis e por
ter colocado pessoas tão especiais no meu caminho.
Agradeço aos meus pais e a minha irmã, por todo apoio, carinho e assistência.
Quero agradecer ao meu professor orientador Alan Prata por ter me dado uma
oportunidade, me dado apoio, me ajudado, me mostrado o que é realmente importante ter
para continuar nesse caminho da Matemática e, não menos importante, ter acreditado em
mim.
À todos os professores que do departamento de Matemática e aos professores do
departamento de Física, que eu tive algum contado. Em especial, a professora Rosemary
Pires, por estar sempre preocupada com os alunos e ajudando sempre que possível, a
professora Marina Ribeiro, por ter disponibilizar o seu tempo para me ajudar na disciplina
de Cálculo I, foi nesse momento que eu descobri o meu método de aprender, a professora
Vera Prudêncio, ao professor Alessandro Gaio, por todo tempo disponibilizado para me
ajudar de alguma forma, aos professores Miguel Schnoor, Leandro Egea, Ivan Aguilar e
Gilmar Garbugio.
Com muito carinho agradeço agradeço a Larissa de Farias, por ter sido a minha
amiga desde o início desta trajetória, por ser a minha dupla nos estudos e por ser a melhor
amiga que eu poderia ter. Ao Uilton Cesar e ao Mateus Sant’Anna, por toda generosidade,
amizade e piadas. Ao Alexandre Esposte, por ser meu amigo, por me ajudar e por todo
apoio. Agradeço também as amigos Lucas Thiago, Mariella Bogoni, Matheus Elis, Vitor
Sercio, Thalles Reis, Aline Reis, João Portilho, Erick Landim e Guilherme Souza. À todos
o meu muito obrigada, por todas as risadas e por fazerem a minha graduação muito feliz!!!
Por fim, gostaria de agradecer aos professores Alessandro Gaio e Honório Joaquim
que aceitaram a participar dessa banca examinadora.
Sucess ins’t about how much money you make,
it’s about the difference you make in people’s lives.1
(Michelle Obama)
1
Sucesso não tem a ver com o dinheiro que você ganha, tem a ver com a diferença que você faz na vida
das pessoas.
Resumo
O objetivo deste trabalho é estudar a teoria de medida e integral de Lebesgue, motivado
por três problemas fundamentais. Primeiramente, será discutido “O problema da medida”
em que se busca atribuir uma medida para cada subconjunto da reta, estendendo a
noção padrão para (união de) intervalos. Com essa noção de medida bem estruturada,
será possível definir a integral de Lebesgue que se mostrará melhor do que a integral
de Riemann para resolver “O problema da permutabilidade do limite com a integral”.
Finalmente, será discutido a questão da busca por espaços de funções completos e como
isso nos leva naturalmente ao belíssimo Teorema de Riesz-Fisher, um dos mais marcantes
na teoria da Série de Fourier.
A álgebra
Σ σ-álgebra
β σ-álgebra de Borel
λ medida de Lebesgue
fn ↑ f fn > f e n→∞
lim fn = f
`: Afirmação
#E cardinalidade do conjunto E
R + R + = R ∪ {+∞}
Sumário
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2 MEDIDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.1 σ-álgebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Função de Medida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.3 Medida de Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3 FUNÇÕES MENSURÁVEIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1 Funções mensuráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.2 Função escada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.3 Funções simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
4 INTEGRAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4.1 Integral de Lebesgue para funções não-negativas . . . . . . . . . . . 19
4.2 Teorema da Convergência Monótona . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4.3 Integral de Lebesgue para funções não-negativas e negativas . . . . 27
4.4 Teorema da Convergência Dominada . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4.5 Integral de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.6 Riemann x Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5 OS ESPAÇOS Lp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
5.1 Norma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
5.2 Lp , com 1 ≤ p < ∞: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
1
1 Introdução
medida, em seguida os dois outros problemas que serão a permutação do sinal de limite
com o da integral e a obtenção de espaços de funções completos.
2 Medida
µ(A) = µ(Ax ),
Nk = N + rk .
Os conjuntos Nk são disjuntos. De fato, suponha que Nk ∩ Nk0 é não vazia, então
existem racionais rk 6= rk0 e ,α e β, tal que xα + rk = xβ + rk0 , com isso xα − xβ = rk0 − rk .
Consequentemente, α 6= β e xα − xβ é racional, com isso xα ∼ xβ , o que contradiz o fato
de N ter apenas um representante de cada classe de equivalência.
Temos ainda que
∞
[
[0, 1] ⊂ Nk ⊂ [−1, 2].
k=1
De fato, por construção cada Nk está contido em [−1, 2]. Já a primeira inclusão, seja
x ∈ [0, 1], então x ∼ xα , para algum α, com isso x − xα = rk , para algum k. Portanto,
x ∈ Nk .
Assim,
∞
X
16 m(Nk ) 6 3.
k=1
Como Nk é o conjunto transladado de N , então m(Nk ) = m(N ), para todo k, com isso
∞
X
16 m(N ) 6 3,
k=1
2.1 σ-álgebra
Para as próximas definições tomaremos um conjunto não-vazio X.
(ii) F ∈ A ⇒ F c = X\F ∈ A;
(iii) F, G ∈ A ⇒ F ∪ G ∈ A.
Exemplo 2. Seja X = (0, 1]. Para F ⊆ X, diga que F ∈ A, se F pode ser escrito como
uma união finita
F = (a1 , b1 ] ∪ ... ∪ (ar , br ], (2.1)
Portanto,
∞
[
An ∈ Σ3 .
n=1
A seguir temos a definição de uma σ-álgebra que é construída por uniões finitas,
ela se faz necessária para podermos definir a álgebra de Borel, que será definida logo após
o exemplo.
Capítulo 2. Medida 7
Demonstração.
i) X ∈ σ(C), pois Σ ⊃ C σ-álgebra, então X ∈ Σ;
ii) Afirmamos que A ∈ σ(C) ⇒ Ac ∈ σ(C).
Seja A ∈ σ(C), se Σ ⊃ C σ-álgebra, então A ∈ Σ, com isso Ac ∈ Σ, portanto
Ac ∈ σ(C).
iii) Sejam (An )n∈N ∈ σ(C) e Σ ⊃ C σ-álgebra, então An ∈ Σ, ∀n ∈ N, com isso
[ [
An ∈ Σ, portanto An ∈ σ(C).
n>1 n>1
Exemplo 4. Seja X = {1, 2, 3}, então a σ-álgebra gerada pelo subconjunto único {1} é
pertence a β. Assim Acn está em β, para todo n, com isso e pela lei de De Morgan, obtemos
que ! c
Acn
[ \
= An ∈β (2.3)
n∈N n∈N
Note que, essa sequência é decrescente, ou seja, A1 ⊃ A2 ⊃ ... ⊃ Ak ⊃ ..., então tomando
k
\
a interseção finita temos que An = Ak , mas queremos a interseção infinita, para isso
n=1
basta tomar o limite de Ak , para k → ∞, obtemos então
1 1
lim a − 6 lim x 6 lim b − . (2.5)
k→∞ k k→∞ k→∞ k
Logo, ( )
\ 1 1
x ∈ R; a − < x < b + = {x ∈ R; a 6 x 6 b} ∈ β. (2.6)
n∈N n n
Também conseguimos provar o mesmo para os intervalos (a, b] e [a, b), ou seja, a
σ-álgebra de Borel também é a σ-álgebra gerada pelo intervalo (a, b] ou pelo intervalo
[a, b).
n X
X m
= (bi − ai ) + (dj − cj )
i=1 j=1
n
X m
X
= (bi − ai ) + (dj − cj )
i=1 j=1
= µ0 (F ) + µ0 (G).
Proposição 3. µ0 é σ-aditiva em Σ.
Demonstração.
A prova dessa proposição não é trivial e não faremos ela aqui, mas ela pode ser
encontrada em [10], nas páginas 200 e 201.
Obtemos na seção anterior uma estrutura que nos permite ter uma família de
subconjuntos suficientemente grande para definirmos a seguinte função de medida.
#E, se E é finito
µ(E) = (2.8)
+∞, se E é infinito
Chamamos µ de medida de contagem.
Demonstração.
Capítulo 2. Medida 10
Demonstração.
a) Seja µ(En ) = +∞, para algum n, então ambos os lados da equação (2.9) são
+∞. Agora, suponha µ(En ) < +∞, ∀n. Tome A1 = E1 e An = En \ En−1 , para n > 1.
Com isso, a sequência de conjuntos (An )n é disjunta e tal que:
n
[ ∞
[ ∞
[
En = Ai e En = An . (2.11)
i=1 n=1 n=1
Pelo Lema 1, obtemos µ(An ) = µ(En ) − µ(En−1 ), para n > 1, então a série finita da 2.12
é telescopia e
m
X m
X m
X
µ(An ) = µ(A1 ) + µ(An ) = µ(E1 ) + [µ(En ) − µ(En−1 )] = µ(Em ).
n=1 n=2 n=2
Logo,
∞
!
[
µ En = lim µ(Em ). (2.13)
m→∞
n=1
S∞ T∞
Por outro lado, n=1 En = F 1 \ n=1 Fn , com isso
∞ ∞
! !
[ \
µ En = µ(F1 ) − µ Fn . (2.15)
n=1 n=1
Portanto,
∞
!
\
µ(F1 ) − lim µ(Fn ) = µ(F1 ) − µ Fn .
n→∞
n=1
Logo,
∞
!
\
n→∞
lim µ(Fn ) = µ Fn .
n=1
Porém, queremos uma função de medida com as três propriedades do início deste
capítulo. Então, para começar queremos estender a função medida µ, tal que essa nova
função de medida vai ter as duas propriedades das funções de medida acima, e ela será
única.
Para isso usaremos o Teorema de extensão de Carathéodory, mas não provaremos
ele, pois sua demonstração é longa e não trivial, ela pode ser encontrada em [10], na página
198.
Definição 10. A medida λ é chamada de medida de Lebesgue em ((0, 1], β(0, 1]), tal que
λ((a, b]) = b − a.
Exemplo 7. A medida de Lebesgue dos conjuntos dos racionais no intervalo [0, 1] ([0, 1] ∩
Q) e dos irracionais no intervalo [0, 1] ([0, 1] \ Q) são, respectivamente, zero e um. Pois,
[
pela σ-aditividade, Q = {qn }, onde λ({qn }) = n→∞ lim λ({qn }) = 0, com isso λ(Q) =
n>1
X
λ({qn }) = 0. E sabemos que λ([0, 1]) = 1 e λ([0, 1] ∩ Q) = 0, então λ([0, 1] \ Q) = 1.
n>1
Com isso, temos uma função de medida com duas propriedades que queríamos lá
no início, que são as propriedades (i) e (iii). Porém, ainda falta mostrar que a medida de
Capítulo 2. Medida 12
Lebesgue possui a propriedade (ii), que é ela ser invariante por translação. O próximo
teorema nos garante isso.
λ(x + B) = λ(B),
onde x + B = {x + b; b ∈ B}.
Demonstração.
Primeiro devemos nos convencer que
pois caso contrário, a tese desse teorema não teria sentido. Observe o seguinte conjunto
x + I = [a + x, b + x) ∈ J ,
então
λx (I) = λ(x + I) = (b + x) − (a + x) = b − a = λ(I).
Isto significa que λx (I) = λ(I), ∀I ∈ J . Como J gera β(R), então λx = λ em β(R).
Portanto, obtemos uma função de medida com todas as propriedades que queríamos
no início deste capítulo.
4
Esse teorema foi retirado da referência [6] .
13
3 Funções Mensuráveis
Neste momento estamos interessados em definir um novo espaço e saber qual é tipo
de função que se encontra nele. O principal objetivo desse capítulo é apresentar a caracte-
rística de uma função que é Lebesgue integrável. A integral de Lebesgue será apresentada
no capítulo seguinte. Veremos ainda as propriedades dessas funções e definiremos um tipo
de convergência muito importante no espaço de funções.
Demonstração.
(i) ⇒ (ii) ∀α ∈ R, {f (x) 6 α} = {f (x) > α}c , por hipótese {f (x) > α} ∈ Σ, com
isso {f (x) > α}c ∈ Σ. Logo, {f (x) 6 α} ∈ Σ.
∞
[
(ii) ⇒ (iii) {f (x) < α} = {f (x) 6 α − 1/k} , por hipótese
k=1
∞
[
{f (x) 6 α − 1/k} ∈ Σ, com isso {f (x) 6 α − 1/k} ∈ Σ. Logo, {f (x) < α} ∈ Σ.
k=1
(iii) ⇒ (iv) ∀α ∈ R, {f (x) > α} = {f (x) < α}c , por hipótese {f (x) < α} ∈ Σ,
com isso {f (x) < α}c ∈ Σ. Logo, {f (x) > α} ∈ Σ.
∞
[
(iv) ⇒ (i) ∀α ∈ R, {f (x) > α} = {f (x) > α − 1/k} , por hipótese
k=1
∞
[
{f (x) > α − 1/k} ∈ Σ, com isso {f (x) > α − 1/k} ∈ Σ. Logo, {f (x) < α} ∈ Σ.
k=1
Demonstração.
(⇐) Sabemos que qualquer intervalo da forma (c, +∞) ou (−∞, c), com c ∈ R, é
aberto. Por hipótese, f −1 (O) é mensurável, para cada O sendo um conjunto aberto, com
isso f −1 (R ) é mensurável. Logo, f é mensurável.
(⇒) Suponha que f seja mensurável. Seja O um conjunto aberto, então podemos
expressar O como a união enumerável de intervalos limitados e abertos {Ik }∞ k=1 , pois a
topologia de R tem base enumerável de intervalos, onde cada Ik pode ser expresso como
Bk ∩ Ak , com Bk = (−∞, bk ) e Ak = (ak , +∞). Como f é mensurável, então cada f −1 (Bk )
e f −1 (Ak ) são conjuntos mensuráveis. Por outro lado, os conjuntos mensuráveis são uma
σ-álgebra e, portanto, f −1 (O) é mensurável, pois
∞ ∞ h i
f −1 (O) = f −1 f −1 (Bk ) ∩ f −1 (Ak ) .
[ [
Bk ∩ Ak =
k=1 k=1
1, se x ∈ E
χE (x) = (3.1)
0, se x ∈
/E
é mensurável. De fato,
∅, se α > 1
{χE 6 α} = E, se 0 6 α 6 1 (3.2)
X, se α < 0
Capítulo 3. Funções Mensuráveis 15
Proposição 6. Sejam uma função mensurável e finita f e uma função contínua g, então
g ◦ f é mensurável.
c · f, f 2 , f + g, f · g, |f |
Demonstração.
Por hipótese temos que c ∈ R e que f é mensurável, então {x ∈ X : f (x) > α} ∈
Σ, ∀α ∈ R
`: c · f é mensurável.
Se c = 0, então {x ∈ X : c · f > α} = {x ∈ X : 0 > α} ∈ Σ.
Se c > 0, então {x ∈ X : c · f > α} = {x ∈ X : f > α/c} ∈ Σ.
Se c < 0, então {x ∈ X : c · f < α} = {x ∈ X : f < α/c} ∈ Σ ⇒ {x ∈ X : f >
α/c} ∈ Σ.
Portanto, c · f é mensurável.
`: f 2 é mensurável.
Se α < 0, então {x ∈ X : (f (x))2 > α} = X ∈ Σ.
√
Se α > 0, então {x ∈ X : (f (x))2 > α} = {x ∈ X : f (x) > α} {x ∈ X : f (x) <
S
√
− α} ∈ Σ.
Portanto, f 2 é mensurável.
`: f + g é mensurável.
Se r ∈ Q, então Sr = {x ∈ X : f (x) > r} {x ∈ X : g(x) > α − r} ∈ Σ. Com isso,
T
Portanto, f + g é mensurável.
Capítulo 3. Funções Mensuráveis 16
`: f · g é mensurável.
1
Temos que f · g = [(f + g)2 − (f − g)2 ], então pelos itens acima obtemos que f · g
4
é mensurável.
`: |f | é mensurável.
Sabemos que | · | é uma função contínua e por hipótese f é mensurável, então pela
proposição anterior (f ◦ | · |) = |f (·)| é mensurável.
Lema 5. Sejam (fn ) uma sequência em M (X, Σ), as seguintes funções são mensuráveis:
e ∞
[
{x ∈ X|F (x) > α} = {x ∈ X|fn (x) > α}, (3.4)
n=1
e
n o
F ∗ (x) = lim sup fn (x) = inf sup fn (x) , (3.6)
n>1 m>n
com isso e com o fato de fn (x) ser mensurável, obtemos que f e F são mensuráveis.
Demonstração. Por hipótese, f (x) = lim fn (x), com (fn ) ∈ M (X, Σ). Sabemos que
n→∞
lim
n→∞
f n (x) = lim inf
n→∞
f n (x), pelo lema anterior temos que lim inf fn (x) ∈ M (X, Σ), logo
n→∞
f ∈ M (X, Σ).
Definição 14. Diz-se que uma sequência de funções fn em M (X, Σ) converge µ-quase todo
ponto (µ-q.t.p.) se existe um conjunto N ∈ Σ, com µ(N ) = 0, tal que f (x) = lim fn (x),
para todo x ∈/ N . Neste caso, se escreve
Definição 15. Se uma função ϕ é uma combinação linear finita de funções características
de intervalos Ij :
n
X
ϕ(x) = aj χIj (x) (3.8)
j=1
onde aj ∈ R são os valores que f assume em em cada Ej e χEj é uma função característica
de um conjunto Ej em Σ
Capítulo 3. Funções Mensuráveis 18
Lema 6. Se f é uma função não negativa em M (X, Σ), então existe uma sequência (ϕn )
em M (X, Σ), tal que
(a) 0 6 ϕn (x) 6 ϕn+1 (x), para x ∈ X, n ∈ N.
(b) f (x) = lim ϕn (x), para cada x ∈ X.
Demonstração.
Vamos começar definindo uma função que nos ajudará a provar o que queremos.
Para N > 1, seja QN = [−N, N ], então definimos
f (x), se x ∈ QN e f (x) 6 N
FN (x) =
N, se x ∈ QN e f (x) > N .
0,
caso contrário
Primeiro mostraremos que FN (x) → f (x), quando N → ∞ e ∀x. Para isso, nós
particionamos o intervalo de FN , ou seja, [0, N ]. Fixando N, M > 1, definimos
( )
l l+1
El,M = x ∈ QN ; < FN (x) 6 , para 0 6 l < M N.
M M
1
0 6 FN (x) − ϕk (x) 6 , ∀x.
2k
4 Integral
Definição 17. Se ϕ é uma função simples em M + (X, Σ), definimos a integral de ϕ com
respeito a λ como:
Z n
X
ϕ(x) dλ = aj λ(Ej )
j=1
1, se x ∈ [0, 1] \ Q
f (x) =
0, se x ∈ [0, 1] ∩ Q
Z Z Z Z Z
c · ϕ(x) dλ = c ϕ(x) dλ e (ϕ(x) + ψ(x)) dλ = ϕ(x) dλ + ψ(x) dλ. (4.1)
Demonstração.
Se c = 0, então
Z Z Z Z
c · ϕ(x) dλ = 0 dλ = 0 = 0 ϕ(x) dλ = c ϕ(x) dλ.
Assim,
Z n
X n
X Z
cϕ(x)dλ = cai λ(Ei ) = c ai λ(Ei ) = c ϕ(x)dλ.
i=1 i=1
assim
n X
X m n X
X m
ϕ(x) + ψ(x) = (ai χEi (x) + bj χFj (x)) = (ai + bj )χEi ∩Fj (x).
i=1 j=1 i=1 j=1
Com isso,
Z n X
X m n X
X m
ϕ(x) + ψ(x) dλ = (ai + bj )λ(Ei ∩ Fj ) = ai λ(Ei ∩ Fj ) + bj λ(Ei ∩ Fj )
i=1 j=1 i=1 j=1
Z n X
X m n X
X m
ϕ(x) + ψ(x) dλ = ai λ(Ei ∩ Fj ) + bj λ(Ei ∩ Fj ).
i=1 j=1 i=1 j=1
Com isso,
Z n
X m
X
ϕ(x) + ψ(x) dλ = ai λ(Ei ) + bj λ(Fj ).
i=1 j=1
Demonstração.
Observe que
n
X
ϕχE = aj χEi ∩E ,
i=1
com isso
Z n
Z X n
X Z n
X
γ(E) = ϕχE dλ = aj χEi ∩E dλ = aj χEi ∩E dλ = aj λ(Ei ∩ E)
i=1 i=1 i=1
ou seja, o supremo é estendido para todas as funções simples ϕ ∈ M + (X, Σ), satisfazendo
0 6 ϕ(x) 6 f (x) , ∀x ∈ X.
Se f ∈ M + (X, Σ) e E ∈ Σ, então f χE ∈ M + (X, Σ) e definimos a integral de f em
E com respeito a λ: Z Z
f (x) dλ = f (x)χE dλ (4.3)
E
Demonstração.
a) Observe que
(Z ) (Z )
ϕ(x); ϕ simples e 0 6 ϕ 6 f ⊂ ϕ(x); ϕ simples e 0 6 ϕ 6 g ,
pois f 6 g.
Portanto,
Z (Z )
f (x) dλ = sup ϕ(x); ϕ simples e 0 6 ϕ 6 f 6
(Z ) Z
6 sup ϕ(x); ϕ simples e 0 6 ϕ 6 g = g dλ.
Capítulo 4. Integral 22
b) Sabemos que
Z Z (Z )
f (x) dλ = f (x)χE dλ = sup ϕ(x); ϕ simples e 0 6 ϕ 6 f χE .
E
Por hipótese E ⊆ F , então f χE 6 f χF . Com isso, pela parte a), obtemos que
Z Z Z Z
f (x) dλ = f (x)χE dλ 6 f (x)χF dλ = f (x) dλ.
E F
Demonstração.
Por hipótese, temos que f n ↑ f , com fn mensurável, então pelo Corolário 1 obtemos
que f é mensurável. Sabemos que fn 6 fn+1 6 f , então pelo Lema 9,
Z Z Z
fn (x) dλ 6 fn+1 (x) dλ 6 f (x) dλ, ∀n ∈ N.
Assim, Z Z
lim fn (x) dλ 6 f (x) dλ. (4.4)
n→∞
Exemplo 13. Seja {q1 , q2 , ...} = Q ∩ [0, 1] uma enumeração dos racionais entre 0 e 1.
Para cada k = 1, 2, ... , defina-se fk : [0, 1] −→ R por
1, se x = {q1 , ..., qk }
fk (x) =
0, caso contrário.
logo f é integrável à Lebesgue. É claro que este resultado podia ser obtido de forma mais
rápida observando que a função de Dirichelet é uma função simples. Esse exemplo foi
retirado da seguinte referência [2].
O corolário a seguir mostra a linearidade da integral de Lebesgue.
b) f + g ∈ M + (X, Σ) e
Z Z Z
[f (x) + g(x)] dλ = f (x) dλ + g(x) dλ.
Capítulo 4. Integral 24
Demonstração.
a) Para c = 0, temos
Z Z Z Z
c · f (x) dλ = 0 dλ = 0 = 0 · f (x)dλ = c f (x) dλ.
Para c > 0, seja (ϕn ) uma sequência monótona crescente de funções simples em
+
M (X, Σ), então pelo Lema 6 (ϕn ) converge para f . Com isso, c · (ϕn ) é uma sequência
monótona convergindo para c · f . Assim, aplicando o Lema 7, parte a), e o Teorema da
Convergência Monótona, obtemos que
Z Z Z Z
c · f (x) dλ = n→∞
lim c · ϕn (x) dλ = c n→∞
lim ϕn (x) dλ = c f (x) dλ.
O Lema de Fatou é muito importante, pois é com ele que conseguimos a desigualdade
da permutabilidade do sinal de integral com o sinal de limite, quando não temos a hipótese
da sequência (fn ) ser crescente.
Lema 10. (Lema de Fatou) Seja (fn ) ∈ M + (X, Σ) uma sequência de funções. Então
Z Z
[lim inf fn (x)] dλ 6 lim inf fn (x) dλ.
Demonstração.
Seja gm = inf{fm , fm+1 , ...}, então gm 6 fm , para m 6 n. Com isso,
Z Z Z Z
gm (x) dλ 6 fn (x) dλ ⇒ gm (x) dλ 6 lim inf fn (x) dλ
n→∞
Uma vez que (gm ) é uma sequência crescente e que converge para lim inf fn , o
n→∞
Teorema da Convergência Monótona implica que
Z Z Z
lim inf fn (x) dλ = n→∞
n→∞
lim gm (x) dλ 6 lim inf
n→∞
fn (x) dλ.
Logo, Z Z
lim inf fn (x) dλ 6 lim inf fn (x) dλ.
n→∞ n→∞
Capítulo 4. Integral 25
Demonstração.
Como f > 0 segue que ρ(E) > 0. Se E = 0, então fχE = 0 para todo ponto tal que
ρ(∅) = 0. Para ver que ρ é σ-aditivo, sejam (En )n∈N uma sequência disjunta de conjuntos
[
em Σ, com E = En e fn uma função definida por
n>1
n
X
fn = f χE k .
k=1
Demonstração.
(⇒) Sejam ϕ um função simples, com 0 6 ϕ(x) 6 f (x), ∀x, e o conjunto E = {x ∈
[
X; f (x) > 0} = En = {x ∈ X; f (x) > 1/n}. Então, por hipótese temos que λ(En ) = 0
n61
e ϕ(x) = 0 em E c .
Assim,
Z
ϕ(x) dλ = 0 · λ(E c ) + a1 · λ(E1 ) + ... + an · λ(En ) = 0,
(⇐) Seja
( )
[ 1 [
E = {x ∈ X; f (x) > 0} = x ∈ X; f (x) > = En ,
n>1 n n>1
1
um conjunto, temos que · χEn 6 f (x) · χEn , com isso
n
Z Z
1
0 = f (x) dλ > f (x) dλ > · λ(En ) > 0
En n
Demonstração.
Seja N = {x ∈ X; fn (x) ↑ f (x)} ∈ Σ um conjunto, com λ(N c ) = 0.
Podemos, então, escrever
Demonstração.
Seja (hn ) uma sequência, dada por
n
X ∞
X
hn = gk (x) e h= gk (x).
k=1 k=1
como o somatório é finito podemos passar ele sobre o sinal de integral, portanto
n
Z X n Z
X ∞ Z
X
lim
n→∞
gk (x) dλ = n→∞
lim gk (x) dλ = gk (x) dλ
k=1 k=1 k=1
Logo,
∞
Z X ∞ Z
X
gk (x) dλ = gk (x) dλ
k=1 k=1
Se E ∈ Σ, definimos
Z Z Z
f (x) dλ = +
f (x) dλ − f − (x) dλ. (4.9)
E E E
Demonstração.
(⇒) Observe que |f (x)| = f + (x) + f − (x). Por hipótese f é integrável, com isso f +
e f− também são integráveis, ou seja,
Z Z
+
f (x) dλ < ∞ e f − (x) dλ < ∞.
Portanto,
Z Z Z
|f (x)| dλ = +
f (x) dλ + f − (x) dλ < ∞.
Logo, |f | é integrável.
(⇐) Observe que 0 6 f + 6 |f | e 0 6 f − 6 |f |. Por hipótese |f | é integrável, então
f+ e f − também são integráveis, ou seja,
Z Z
f + (x) dλ < ∞ e f − (x) dλ < ∞.
Portanto,
Z Z Z
f (x) dλ = f + (x) dλ − f − (x) dλ < ∞.
Logo, f é integrável.
Assim,
Z Z Z
f (x) dλ = +
f (x) dλ − f − (x) dλ
Z Z
6 f + (x) dλ + f − (x) dλ
Z Z
= +
f (x) dλ + f − (x) dλ
Z
= |f (x)|dλ.
Demonstração.
Sabemos que |f | 6 |g|, então −|g| 6 f 6 |g|. Por hipótese g é integrável, então,
pelo Teorema 4, |g| é integrável, com isso f e |f | são integráveis também. Como |f | 6 0 e
|g| 6 0, então pela parte a) do Lema 8, obtemos que
Z Z
|f (x)| dλ 6 |g(x)| dλ.
Capítulo 4. Integral 29
Demonstração.
Se α = 0, então 0 · f = 0, assim
Z Z Z Z
α · f (x) dλ = 0 dλ = 0 = 0 f (x) dλ = α f (x) dλ.
Demonstração.
Como fn → f e |fn | 6 g, temos que −g 6 fn 6 g ⇒ −g 6 f 6 g. Temos por
hipótese que g é integrável, então −g também é, com isso f é integrável.
Por hipótese, g − fn > 0 e g − fn → g − f , com isso o lema de Fatou implica que
Z Z
[g(x) − f (x)] dλ 6 lim inf [g(x) − fn (x)] dλ,
n→∞
assim Z Z Z Z !
g(x) dλ − f (x) dλ 6 g(x) dλ + lim inf
n→∞
− fn (x) dλ .
Por outro lado, g + fn > 0 e g + fn → g + f , com isso o lema de Fatou implica que
Z Z
[g(x) + f (x)] dλ 6 lim inf [g(x) + fn (x)] dλ,
n→∞
assim Z Z Z Z
g(x) dλ + f (x) dλ 6 g(x) dλ + lim inf fn (x) dλ
n→∞
Z Z
⇒ f (x) dλ 6 lim inf
n→∞
fn (x) dλ.
Portanto,
Z Z Z
lim sup fn (x) dλ 6 f (x) dλ 6 lim inf fn (x) dλ.
n→∞ n→∞
Logo, Z Z
f (x) dλ = n→∞
lim fn (x) dλ.
Capítulo 4. Integral 31
Definição 21. Sejam uma função limitada f : [a, b] −→ R e P = {t0 , t1 , ..., tn } uma
partição de [a, b]. Temos as seguintes notações
Com isso, as integrais inferior e superior da função limitada f : [a, b] −→ R são definidas,
respectivamente, por Z b
f (x) dx = sup s(f ; P )
a P
e Z b
f (x) dx = inf S(f ; P ),
a P
o sup e o inf sendo tomados relativamente a todas as partições de P do intervalo [a, b].
Definição 23. Uma função limitada f : [a, b] −→ R diz-se integrável à Riemann quando
sua integral superior e sua integral inferior são iguais. Esse valor em comum chama-se a
integral de Riemann de f e é indicado por
Z b
f (x) dx.
a
Definição 24. Seja f : [a, +∞) −→ R uma função, tal que para todo α ∈ (a, +∞), a
restrição de f ao intervalo [a, α] é limitada e Riemann integrável. A integral imprópria de
Riemann de f é definida por
Z ∞ Z α
f (x) dx = α→∞
lim f (x) dx,
a a
desde que o limite acima exista em R . Quando o limite é finito, dizemos que a integral
imprópria de f é convergente.
Demonstração.
Observe que, existe M > 0, tal que |f (x)| 6 M . Por hipótese, f é Riemann
integrável, então existem (ϕn ) e (ψn ) funções escadas, tais que
Defina ϕ(x) = limn→n ϕn (x) e ψ(x) = limn→n ψn (x), assim ϕ e ψ são mensuráveis
e pelo item 2 obtemos que ϕ(x) 6 f (x) 6 ψ(x). Com isso, o Teorema da Convergência
Dominada implica que
Z Z Z Z
lim ϕn (x) dλ = ϕ(x) dλ e lim ψn (x) dλ = ψ(x) dλ.
n→∞ [a,b] [a,b] n→∞ [a,b] [a,b]
Assim,
Capítulo 4. Integral 33
Z Z
ϕ(x) − ψ(x) dλ = lim ϕn (x) − ψn (x) dλ
[a,b] n→∞ [a,b]
Z Z
= lim ϕn (x) dλ − lim ψn (x) dλ
n→∞ [a,b] n→∞ [a,b]
Z b Z b
= lim ϕn (x) dx − lim ψn (x) dx
n→∞ a n→∞ a
Z b Z b
= f (x) dx − f (x) dx = 0.
a a
Lembrando que
Z n
X
φ(x) dx = aj |Ij |
j=1
e Z n
X
ϕ(x) dλ = aj λ(Ej ).
j=1
Com isso, podemos ver que na integral de Riemann multiplicamos cada aj pelo comprimento
de cada intervalo Ij , já na integral de Lebesgue multiplicamos cada aj pela medida de
cada conjunto Ej , isso vem do fato de termos estendido a função de medida para assim
ela conseguir medir conjuntos mais gerais. Observe ainda que os conjuntos Ej pode ser
intervalos como também podem não ser.
Vimos que na integral de Lebesgue temos três teoremas para a passagem do sinal
de limite sobre o sinal de integral, cujas suas hipóteses são mais fáceis de se obter, do
que pedir que uma sequência de funções (fn ) convirja uniformemente para uma função f ,
como é na integral de Riemann.
O exemplo a seguir mostra como temos a permutação do limite com a integral na
integração de Lebesgue, mas não temos na integração de Riemann.
Exemplo 14. Sejam a enumeração dos racionais no intervalo [a, b], dada por r1 , r2 , ..., rn , ...,
e
1, se x = rk
fn (x) = ,
0, caso contrário
e que Z b
f (x) dx (4.10)
a
não existe.
Assim, não conseguimos escrever
Z b Z b
f (x) dx = lim fn (x) dx (4.11)
a n→∞ a
Capítulo 4. Integral 35
Teorema 9. Seja f : [a, +∞) −→ R uma função, tal que para todo α ∈ (a, +∞), a
restrição de f ao intervalo [a, α] é limitada e Riemann integrável. Então,
i) f é mensurável
ii) se f é Lebesgue integrável em [a, +∞), obtemos que
Z Z +∞
f dλ = f dx. (4.12)
[a,+∞) a
Demonstração.
Seja (un )n∈N uma sequência arbitrária em (a, +∞), tal que un → ∞. Pelo Teorema
8, a restrição de f ao intervalo [a, un ] é Lebesgue integrável e:
Z Z un
f dλ = f dx, (4.13)
[a,un ] a
para todo sequência un em (a, +∞), com un → ∞. Vamos verificar (4.14), primeiro para
o caso em que f é não negativa. Pelo Lema de Fatou, temos
Z Z Z Z
f dλ = lim inf fχ[a,un ] dλ 6 lim inf fχ[a,un ] = lim inf f dλ.
[a,+∞] [a,+∞] n→∞ n→∞ [a,+∞] n→∞ [a,un ]
portanto (4.14) está provado para f > 0. Em geral, se f : [a, +∞) −→ R é uma função
Lebesgue integrável, então (4.14) é satisfeita para f + e f − , pois f + > 0 e f − > 0, ou seja,
Z Z Z Z
−
lim
n→∞ [a,un ]
+
f dλ = f dλ+
e lim
n→∞ [a,un ]
f dλ = f − dλ.
[a,+∞] [a,+∞]
Capítulo 4. Integral 36
Com isso,
Z Z Z
lim f dλ = lim +
f dλ − lim f − dλ
n→∞ [a,un ] n→∞ [a,un ] n→∞ [a,un ]
Z Z
= +
f dλ − f − dλ
[a,+∞] [a,+∞]
Z
= f dλ.
[a,+∞]
No exemplo a seguir veremos que é possível que uma função tenha uma integral
imprópria de Riemann convergente, mas que não seja Lebesgue integrável.
sin (x)
Exemplo 15. Considere a função f : [0, +∞) −→ R definida por f (x) = , ∀x > 0
x
e f (0) = 1. Temos que f é contínua e portanto f |[0,u] é limitada e Riemann integrável
para todo u ∈ (0, +∞). Temos que f se anula nos pontos kπ, com k inteiro positivo, f é
positiva nos intervalos da forma (kπ, kπ + π), com k inteiro positivo par e f é negativa nos
intervalos da forma (kπ, kπ + π), com k inteiro positivo ímpar. Para cada inteiro k > 0,
seja Z
ak = |f | dλ > 0.
[kπ,kπ+π]
Assim,
Z ∞ Z ∞
+ −
X X
f dλ = ak , f dλ = ak (4.15)
[0,+∞] k=0,kpar [0,+∞] k=1,kímpar
Além do mais,
Z n−1
(−1)k ak ,
X
f dλ =
[0,nπ] k=0
e portanto,
Z n−1 ∞
(−1)k ak = (−1)k ak .
X X
lim
n→∞
f dλ = n→∞
lim
[0,nπ] k=0 k=0
Z
sin (x)
= dλ
[kπ,kπ+π] x+π
Z
sin (x)
6 dλ = ak ,
[kπ,kπ+π] x
note que na segunda igualdade acima fizemos a mudança y = x − π na integral de Riemann
e como a medida λ é invariante por translação, com isso temos o resultado que queríamos.
∞
(−1)k ak
X
Com esse resultado e o fato de ak → 0, segue do critério de Dirichlet que a série
k=0
converge.
Defina
∞
(−1)k ak = L ∈ R.
X
k=0
Agora vamos mostrar que Z
lim f dλ = L. (4.16)
u→∞ [0,u]
para todo n > n0 . Podemos escolher n0 também de modo que an < /2, ∀n > n0 . Dado
u ∈ R, u > n0 π, seja n > n0 o maior inteiro, tal que nπ 6 u, com isso nπ 6 u < nπ + π e
Z Z Z n Z
k
X
f dλ = f dλ − f dλ = (−1) ak − f dλ.
[0,u] [0,nπ+π] [u,nπ+π] k=0 [u,nπ+π]
Com isso,
Z n Z
(−1)k ak +
X
L− f dλ 6 L − f dλ
[0,u] k=0 [u,nπ+π]
n
(−1)k ak + an < ,
X
6 L−
k=0
A seguir mostraremos que f não é Lebesgue integrável. Para isso, vamos fazer
uma estimativa inferior para os números ak . Dado um inteiro k > 0, obtemos, para
kπ + π/4 6 x 6 kπ + π − π/4, que
√ √
2 sin (x) 2 1
| sin (x)| > e > ,
2 x 2 kπ + π
com isso
√
Z Z
sin (x) 2 1 π
ak = |f | dλ > dλ > .
[kπ,kπ+π] [kπ+ π4 ,kπ+π− π4 ] x 2 kπ + π 2
Capítulo 4. Integral 38
5 Os espaços Lp
5.1 Norma
Queremos construir um espaço de funções Lebesgue integráveis, para que ele seja
um espaço vetorial normado. Então, para começarmos vamos definir o que é uma norma.
Definição 25. Se V é um espaço vetorial. Uma função N em V é dita uma norma para
V se satisfaz:
i) N (v) > 0, ∀v ∈ V ;
ii) N (v) = 0 se, e somente se, v = 0;
iii) N (αv) = |α|N (v), para todo v ∈ V e α ∈ R;
iv) N (u + v) 6 N (u) + N (v), ∀u, v ∈ V .
Se a condição ii) é descartada, a função N é dita uma semi-norma (ou uma pseudo-
norma) para V. Um espaço vetorial normado é um par (V, N ), onde V é um espaço vetorial
e N é uma norma.
Assim, a seguir definiremos quem é a norma do espaço L(X, Σ, λ) e mostraremos
que ela é uma semi-norma.
Definição 26.
Z Seja (X, Σ, λ) um espaço de medida. Se f ∈ L(X, Σ, λ), definimos
Nλ (f (x)) = |f (x)| dλ.
Lema 11. O espaço L(X, Σ, λ) é um espaço vetorial com as operações definidas por
e Nλ é uma semi-norma em L(x, Σ, λ). Além disso, Nλ (f (x)) = 0 se, e somente se, f (x) = 0,
λ-q.t.p, para x ∈ X.
Demonstração.
É claro que L = L(X, Σ, λ) é um espaço linear sobre as operações indicadas.
Capítulo 5. Os espaços Lp 40
`: Nλ é uma semi-norma.
Z
i) Nλ (f (x)) = |f (x)| dλ > 0, para f ∈ L.
Z Z Z
iii) Nλ (α · f (x)) = |αf (x)| dλ = |α||f (x)| dλ = |α| |f (x)| dλ = |α|Nλ (f (x)).
Z Z Z
iv) Nλ (f (x) + g(x)) = |f (x) + g(x)| dλ 6 |f (x)| + |g(x)| dλ = |f (x)| dλ +
Z
+ |g(x)| dλ = Nλ (f (x)) + Nλ (g(x)).
Agora vamos mostrar que Nλ (f (x)) = 0 ⇔ f (x) = 0, λ-q.t.p., para x ∈ X.
(⇒) Se Nλ (f (x)) = 0, então
Z
f (x) dλ = 0
Demonstração.
Sabemos que as operações vetoriais em L1 estão definidas por α[f ] = [αf ] e
[f ] + [g] = [f + g],Z e que o elemento neutro em L1 é [0]. Mostraremos somente que a
equação k [f ] k1 = |f | dλ define uma norma em L1 .
Z
Certamente k [f ] k1 > 0 e k [0] k1 = 0. Além disso, se k [f ] k1 = 0, então |f | dλ = 0,
assim f (x) = 0, λ-q.t.p., para x ∈ X. Portanto, [f ] = [0], com isso as propriedades (iii) e
(iv) da primeira definição são satisfeitas. Logo, k · k1 rende uma norma em L1 .
Capítulo 5. Os espaços Lp 41
Definição 30. Uma sequência (fn )n∈N em Lp converge em Lp para f ∈ Lp , se para todo
> 0 dado, existe um número natural N > 0, tal que se n > N , então k fn − f kp < .
Definição 31. Uma sequência (fn )n∈N é dita de Cauchy se para todo > 0, existir um
n0 ∈ N, tal que m, n > n0 implica que k fm − fn kp < .
Lema 12. Se a sequência (fn )n∈N ∈ Lp converge para f ∈ Lp , então esta é uma sequência
de Cauchy.
Demonstração.
Capítulo 5. Os espaços Lp 42
Por hipótese (fn ) → f em Lp , ou seja, ∀/2 > 0, ∃n0 ∈ N, tal que n > n0 ⇒
k fn (x) − f (x) k< /2. Com isso, para m, n > n0 temos que
k fm (x) − fn (x) k=k fm (x) − f (x) + f (x) − fn (x) k=k fm (x) − f (x) − [fn (x) − f (x)] k6
6k fm (x) − f (x) k + k fn (x) − f (x) k< + = .
2 2
Demonstração.
Como visto anteriormente o espaço Lp (R) é um espaço vetorial normado. Agora,
para estabelecer a completude, seja (fn )n∈N uma sequência de Cauchy relativa a norma
k · kp . Assim, dado > 0, existe M (), tal que se m, n > M (), então
Z
|fm − fn |p dλ = k fm − fn kpp < p . (5.1)
Com isso, existe uma subsequência, (gk )k∈N , de fn , tal que k gk+1 − gk kp < 2−k ,
para k ∈ N. Defina g por
∞
X
g(x) = |g1 (x)| + |gk+1 (x) − gk (x)|, (5.2)
k=1
com isso g ∈ M + (X, Σ). Então, pelo lema de Fatou, temos que
Z Z ( n
)p
P
X
|g| dλ 6 lim inf
n→∞
|g1 | + |gk+1 − gk | dλ.
k=1
k−1
X
Como |gk | 6 |g1 |+ |gj+1 (x)−gj (x)| 6 g e gk converge λ-q.t.p. para f , o Teorema
j=1
da Convergência Dominada implica que f ∈ Lp (R). Desde que |f − gk |p 6 2p g p , obtemos,
do Teorema da Convergência Dominada, que 0 = n→∞lim k f − gk kp , com isso gk converge
em Lp (R) para f .
Como visto em (5.1), se m > M () e k é suficientemente grande, então
Z
|fm − gk |p dλ < p .
sempre que m > M (). Isto prova que a sequência fn converge para f , na norma de
Lp (R).
Definição 32. Dizemos que uma família G de funções integráveis é densa em L1 , se para
qualquer f ∈ L1 e > 0, existe g ∈ G, tal que k f − g k1 < .
Teorema 15. O espaço L2 (R) é separável, no sentido de que existe uma coleção enumerável
{fk } de elementos em L2 (R), de modo que suas combinações lineares sejam densas em
L2 (R).
Demonstração.
Considere a família de funções da forma rχE (x), onde r é um número complexo com
partes reais e imaginárias racionais, e E é um retângulo em R com vértices de coordenadas
racionais.
`: Combinações lineares finitas desse tipo de função são densas em L2 (R).
Suponha f ∈ L2 (R) e seja > 0. Considere, para cada n > 1, a função gn definida
por
f (x), se |x| 6 n e |f (x)| 6 n
gn (x) = .
0, caso contrário
Capítulo 5. Os espaços Lp 44
Z
2
Z
2
|g − ψ| dλ 6 2N |g − ψ| dλ 6 .
4
Definição 33. Seja V um espaço vetorial sobre R. Um produto interno sobre V é uma
função h·, ·i : V × V −→ R que satisfaz as seguintes propriedades, para todo u, v, w ∈ V e
α, β ∈ R,
i) hv, vi > 0;
ii) hv, vi = 0 se, e somente se, v = 0;
iii) hαu + βv, wi = αhu, wi + βhv, wi;
iv) hv, wi = hw, vi;
O produto interno induz uma norma via k f k2 = hf, f i. De fato k f k é uma norma
i) k f k2 = hf, f i > 0;
ii) k f k2 = hf, f i = 0 ⇔ f = 0;
iii) k αf k2 = hαf, αf i = αhf, αf i = α2 hf, f i;
iv) k f + g k2 = hf + g, f + gi = hf, f i + hf, gi + hg, f i + hg, gi
=k f k2 +2hf, gi+ k g k2
6k f k2 +2 k f kk g k + k g k2
= (k f k + k g k)2
∀f, g ∈ V e ∀α ∈ R.
Definição 34. Um espaço de Hilbert é um par (H, h·, ·i), onde H é um espaço vetorial sobre
R e hf, gi é o produto interno, ∀f, g ∈ H, onde H é completo na métrica d(f, g) = k f −g k.
Nos exemplos a seguir apresentamos dois importantes espaços de vetoriais e mos-
tramos que de fato eles são espaços de Hilbert.
denota o espaço de funções integráveis quadradas, que são diferentes de 0, que estão em E,
( Z )
2
L2 (E) = f ∈ E; |f (x)| dλ < ∞ .
E
Z !1/2
2
Vamos mostrar que k f k= |f (x)| dλ é uma norma. Sejam f, g ∈ L2 (E)
E
e α ∈ R. Então
Z !1/2
2
i) k f k= |f (x)| dλ > 0, pois |f (x)| > 0;
E
Z !1/2
2
ii) (⇒) Se k f k= 0, então |f (x)| dλ = 0. O Corolário 4 implica que
E
f = 0, λ-q.t.p. .
Z !1/2
2
(⇐) Se f (x) = 0, então pelo Corolário 4, obtemos que |f (x)| dλ = 0, ou
E
seja, k f k = 0.
Z !1/2
2
iii) k αf k = |αf (x)| dλ
E
Z !1/2
2 2
= |α| |f (x)| dλ
E
Z !1/2
2 2
= |α| |f (x)| dλ
E
Z !1/2
2
= |α| |f (x)| dλ
E
= |α| k f k.
Z
iv) k f + g k = 2
|f (x) + g(x)|2 dλ
E
Z
= |f 2 (x) + 2f (x)g(x) + g 2 (x)| dλ
E
Z
6 |f (x)|2 + 2|f (x)g(x)| + |g(x)| dλ
E
Z Z Z
2
= |f (x)| dλ + 2|f (x)g(x)| dλ + |g(x)| dλ
E E E
Z
=k f k2 +2 |f (x)g(x)| dλ+ k g k2 .
E
Pela Desigualdade de Cauchy - Schwarz, temos que
Z
2
k f k +2 |f (x)g(x)| dλ+ k g k2 6 k f k2 +2 k f kk g k + k g k2 .
E
Com isso,
k f + g k2 6 k f k2 +2 k f kk g k + k g k2
= (k f k + k g k)2 .
Capítulo 6. Espaços de Hilbert e Séries de Fourier 47
Logo, k f + g k 6 k f k + k g k.
Sabemos que E ⊂ Rd e que L2 (Rd ) é completo com a métrica d(f, g) = k f − g k,
então L2 (E) é completo com a métrica d(f, g) = k f − g k.
Logo, L2 (Rd ) é um espaço de Hilbert.
Note que L2 (Rd ) é separável e que E ⊂ Rd , então obtemos que L2 (E) é separável.
Sejam (an )n∈N , (bn )n∈N sequências numéricas. Se denotarmos sequências infinitas por a e
b, o produto interno e a norma em `2 (N) são, respectivamente,
+∞ +∞
!1/2
2
X X
ha, bi = ak b k e kak= |an | . (6.1)
n=0 n=0
Portanto, h·, ·i é um produto interno. Esse produto interno induz a norma em (6.1).
Agora, vamos provar que `2 (N) é completo na métrica d(a, b) =k a − b k. De fato,
seja (an )n∈N sequência de Cauchy em `2 (N). Dado > 0, existe N , tal que m, n > N ⇒
k an − am k=k an − am k< .
Capítulo 6. Espaços de Hilbert e Séries de Fourier 48
Fixado k, temos que (ank )n∈N é de Cauchy em R, como R é completo, então existe
aek , tal que ank → aek .
Seja a∞ = (ae1 , ae2 , ae3 , ...).
`: a∞ ∈ `2 .
Fixe L ∈ N. Sabemos que toda sequência de Cauchy é limitada, então
L L
|ank |2 6 c < ∞ ⇒ |aek |2 6 c < ∞ ⇒k a∞ k`2 = |aek |2 6 c < ∞.
X X X
`: an → a∞ em `2 .
Fixado L ∈ N. Dado > 0, existe N , tal que m, n ∈ N, então
L L ∞
|ank − amk |2 < ⇒ |aek − amk |2 6 ⇒ |aek − amk |2 6 .
X X X
Demonstração.
Por hipótese hf, gi = 0, então hg, f i = 0.
Assim,
k f + g k2 = hf + g, f + gi
= hf + g, f i + hf + g, gi
= hf, f i + hg, f i + hf, gi + hg, gi
= hf, f i + hg, gi.
Logo, k f + g k2 = k f k2 + k g k2 .
Demonstração.
n
k f k2 = k ak ek k2
X
k=1
Xn n
X
= h ak e k , ak e k i
k=1 k=1
n
X Xn
= hak ek , ak e k i
k=1 k=1
Xn Xn
= hak ek , ak ek i
k=1 k=1
Xn
= hak ek , ak ek i
k=1
n
|ak |2 .
X
=
k=1
representação é única.
Teorema 17. Qualquer espaço de Hilbert separável tem uma base ortonormal.
Demonstração.
Por hipótese um espaço de Hilbert H é separável, então podemos escolher uma
coleção enumerável de elementos F = {hk } em H, de modo que as combinações lineares
finitas de elementos em F sejam densas em H.
Capítulo 6. Espaços de Hilbert e Séries de Fourier 50
k=1
Demonstração.
(⇒) Note que se {ek }∞
k=1 é uma base ortonormal, então
∞
X ∞
X
k f k2 = hf, f i = h hf, ek iek , hf, ek iek i
k=1 k=1
∞
X ∞
X
= hhf, ek iek , hf, ek iek i
k=1 k=1
∞ X
X ∞
= hhf, ek iek , hf, ek iek i
k=1 k=1
∞ X
X ∞
= hf, ek ihf, ek ihek , ek i
k=1 k=1
∞
X
= hf, ek ihf, ek i
k=1
∞
|hf, ek i|2 .
X
=
k=1
∞
|hf, ek i|2 . Queremos mostrar que {ek }∞
X
(⇐) Seja k f k2 = k=1 é uma ortonormal.
k=1
Capítulo 6. Espaços de Hilbert e Séries de Fourier 51
∞
X ∞
X
Dado f ∈ H, existe ak , tal que f = ak ek . Considere g = f − hf, ek iek , para
k=1 k=1
mostrar que g = 0. Então
∞
X ∞
X
k g k2 = hf − hf, ek iek , f − hf, ek iek i
k=1 k=1
∞
X ∞
X ∞
X ∞
X
= hf, f i − hf, hf, ek iek i − h hf, ek iek , f i + h hf, ek iek , hf, ek iek i
k=1 k=1 k=1 k=1
∞
X ∞
X ∞ X
X ∞
= hf, f i − hf, hf, ek iek i − hf, hf, ek iek i + hhf, ek iek , hf, ek iek i
k=1 k=1 k=1 k=1
∞
X ∞
X ∞ X
X ∞
= hf, f i − hf, ek ihf, ek i − hf, ek ihf, ek i + hf, ek ihf, ek ihek , ek i
k=1 k=1 k=1 k=1
∞ ∞ ∞
2 2
|hf, ek i|2
X X X
= hf, f i − |hf, ek i| − |hf, ek i| +
k=1 k=1 k=1
2 2 2 2
= kf k −kf k −kf k +kf k
= 0.
Definição 38. Sejam dados dois espaços de Hilbert, H e H0 , com os respectivos produtos
internos k · k e k · k0 . Uma transformação U : H −→ H0 entre esses espaços é chamada de
unitária, se
(i) U é linear, isto é, U (αf + βg) = αU (f ) + βU (g);
(ii) U é uma bijeção;
(iii) k U f k0 =k f k, ∀f ∈ H.
Observe que como U é bijetivo, então ele possui uma inversa U −1 : H0 −→ H, que
é também é unitária.
Observe também que de (iii), temos que se U é unitário, então hU f, U gi0 = hf, gi,
∀f, g ∈ H.
Corolário 8. Quaisquer dois espaços de Hilbert com dimensão infinita são unitariamente
equivalentes.
Capítulo 6. Espaços de Hilbert e Séries de Fourier 52
Demonstração.
Se H e H0 são dois espaços de Hilbert de dimensão infinita, podemos escolher para
cada uma base ortogonal, {e1 , e2 , ...} ⊂ H e {e 0 1 , e 0 2 , ...} ⊂ H0 . Em seguida, considere
∞
X
a transformação definida da seguinte maneira: se f = ak ek , então U (f ) = g, onde
k=1
∞
0
X
g = ak e k . Claramente, a transformação U é linear e invertível. Além disso, pela
k=1
∞
|ak |2 =k f k2H0 e o corolário
X
identidade de Parseval, devemos ter k U f k2H0 =k g k2H0 =
k=1
está provado.
Corolário 9. Quaisquer dois espaços de Hilbert com dimensão finita são unitariamente
equivalentes se, e somente se, eles têm a mesma dimensão.
O próximo teorema caracteriza bases de um espaço de Hilbert .
Demonstração.
(i) ⇒ (ii) Sejam as combinações lineares finitas de elementos em {ek }, que são
densas em H. Dado f ∈ H, com hf, ej i = 0, ∀j, desejamos provar que f = 0. Por hipótese,
existe uma sequência {gn } de elementos em H que são combinações lineares finitas de
elementos em {ek }, tal que k f − gn k→ 0, quando n → ∞. Como hf, ej i = 0, ∀j, então
hf, gn i = 0, ∀n. Com isso,
n
|ak |2 , se N → ∞, então obtemos a desigualdade de Bessel
X
Com isso, k f k2 >
k=1
∞ ∞
|ak |2 6k f k2 , a qual implica que a série |ak |2 converge. Assim, {SN (f )}∞
X X
k=1 forma
k=1 k=1
N
|ak |2 , quando N > M .
X
uma sequência de Cauchy em H, pois k SN (f ) − SM (f ) k2 =
k=M +1
Como H é completo, existe g ∈ H, tal que SN (f ) → g, quando N → ∞. Fixe j e
note que ∀N suficientemente grande, hf − SN (f )i, ej = aj − aj = 0. Como SN (f ) → g,
então hf − g, ej i = 0, ∀j. Com isso, f − g = 0, por hipótese f = 0, assim f = g. Logo,
∞
X
f= ak ek .
k=1
(iii) ⇒ (iv) Seja (iii). Observe que de (6.2), para N → ∞, obtemos que
N
2 2
|ak |2 ,
X
k f k =k f − f k +
k=1
∞
|ak |2 .
X
com isso k f k2 =
k=1
(iv) ⇒ (i) Seja (iv). Então, novamente por (6.2), vemos que lim k f −SN (f ) k= 0,
N →∞
N
X
com isso f = lim SN (f ). Como SN (f ) = ak ek , com ak = hf, ek i, ou seja, SN (f ) é uma
N →∞
k=1
combinação linear finita de elementos em {ek }, então temos i).
f ∼ Sf
para indicar que a soma à direita é a série de Fourier da função à esquerda no intervalo
(a, b).
Capítulo 6. Espaços de Hilbert e Séries de Fourier 54
Teorema 20. Se f ∈ C([0, 2π]), com f (0) = f (2π) e a série de Fourier de f converge
uniformemente para g, então g = f .
Esse teorema nos diz que as séries de Fourier de funções contínuas e periódicas que
convergem uniformemente, convergem necessariamente para a respectiva função.
Teorema 21. Se f é 2π-periódica, contínua e suave por partes, então a série de Fourier
de f converge para f absolutamente e uniformemente em R.
Como visto no teorema acima as condições para uma função convergir uniforme-
mente para sua série de Fourier, são periodicidade, continuidade e suavidade por partes.
Ou seja, qualquer função que não se enquadra nessas três condições não irá convergir
uniformemente para a sua série de Fourier. Além disso, sabemos que o espaço L2 não
possui somente funções contínuas, ou seja, nem sempre é possível obter a convergência
uniforme. Então, como conseguir a convergência de uma função qualquer no espaço L2
para sua série de Fourier? É essa pergunta que queremos responder com o Teorema de
Riesz-Fischer.
Demonstração.
De fato, vamos provar as seguintes relações
Z π !2
1
√ dx = 1 (6.4)
−π 2π
1 Zπ 1 Zπ
√ cos (nx) dx = √ sin (mx) dx = 0 (6.5)
2π −π 2π −π
Z π
cos (nx) cos (mx) 1, se m = n
dx = (6.6)
−π π 6 n
0, se m =
Z π
sin (nx) sin (mx) 1, se m = n
dx = (6.7)
−π π 0, se m 6= n
Z π
cos (nx) sin (mx)
dx = 0 (6.8)
−π π
Para provar as seguintes relações, vamos precisar das seguintes relações trigonomé-
tricas
1
sin (nx) sin (mx) = {cos [(m − n)x] − cos [(m + n)x]} (6.9)
2
Capítulo 6. Espaços de Hilbert e Séries de Fourier 55
1
cos (nx) cos (mx) = {cos [(m − n)x] + cos [(m + n)x]} (6.10)
2
1
cos (nx) sin (mx) = {sin [(m − n)x] + sin [(m + n)x]} (6.11)
2
isso para m 6= n. Para m = n, temos
1
sin (mx)2 = {1 − cos (2mx)} (6.12)
2
1
cos (mx)2 = {1 + cos (2mx)} (6.13)
2
1
cos (mx) sin (mx) = sin (2mx). (6.14)
2
Com isso, vamos provar as relações
• relação (6.4):
Z π !2 π
1 x π π
√ dλ = = + =1
−π 2π 2π −π
2π 2π
• relação (6.5):
!
1 Zπ 1 sin (nπ) sin (−nπ)
√ cos (nx) dλ = √ − = 0, ∀n = 1, 2, ...
2π −π 2π n n
!
1 Zπ 1 −cos(mπ) cos (−mπ)
√ sin (mx) dλ = √ + = 0, ∀n = 1, 2, ...
2π −π 2π n n
1
=1+ sin (2mπ) = 1
2πm
• relação (6.7): se m 6= n, então
Z π ( )
sin (nx) sin (mx) 1 Zπ
dx = cos [(m − n)x] − cos [(m + n)x] dx
−π π 2π −π
" #π
1 1 1
= sin [(m − n)x] − sin [(m + n)x]
2π m − n m+n −π
" #
1 1 1
= sin [(m − n)π]− sin [(m + n)π] = 0,
π m−n m+n
∀m = 1, 2, ... e n = 1, 2, ... .
Se m = n, então
sin2 (mx)
Z π ( )
1 Zπ
dx = 1 − cos (2mx) dx
−π π 2π −π
" #π
1 1
= x − sin (2mx)
2π 2m −π
1
=1− sin (2mπ) = 1
2πm
• relação (6.8): se m 6= n, então
Z π ( )
cos (nx) sin (mx) 1 Zπ
dx = sin [(m − n)x] + sin [(m + n)x] dx
−π π 2π −π
" #π
1 1 1
= − cos [(m − n)x]− cos [(m + n)x]
2π m − n m+n −π
(
1 1
= − [cos [(m − n)π] − cos [(m − n)π]]−
2π m−n
)
1
− [cos [(m + n)π] − cos [(m + n)π]] = 0.
m+n
Se m = n, então
Z π ( )
cos (nx) sin (mx) 1 Zπ
dx = sin (2mx) dx
−π π 2π −π
" #π
1 1
= − cos (mx)
2π 2m −π
( )
1 1
= − [cos (2mπ) − cos (2mπ)] = 0.
2π 2m
forma uma base ortonormal em L2 ([−π, π]). Ou seja, se f é uma função em L2 , tal que |f |2
é integrável, então sua série de Fourier converge para f . A convergência é a convergência
na norma k · k2 , isto é,
"Z " n n
!#2 #
a0 X X
lim f (x) − + ak cos (kx) + bk sin (kx) dλ = 0. (6.15)
n→∞ [−π,π] 2 k=1 k=1
Demonstração.
Estabelecemos anteriormente que o conjunto trigonométrico é ortonormal. Então,
agora precisamos mostrar somente que o conjunto trigonométrico é uma base. Para isso,
seja f uma função contínua em R, com hf, ek i = 0, para cada ek . Se f 6= 0, então existe
um x0 , tal que |f | atinge um máximo. Suponha que f (x0 ) > 0. Seja δ suficientemente
f (x0 )
pequeno para que f (x) > , ∀x ∈ (x0 − δ, x0 + δ).
2
Considere a seguinte função:
que converge para +∞, quando n → ∞. Isso é uma contradição da suposição 0 = hf, tn i, ∀n.
Portanto, qualquer função real com valor real ortogonal a todo polinômio trigonométrico
deve ser identicamente zero.
Agora, considere f uma função não contínua. Definimos, então, a seguinte função
contínua Z x
F (x) = f (t) dλ.
−π
cos (kx)
Seja fk (x) = √ . Aplicando nossa hipótese, obtemos que
π
Z π
0= f (x) cos (kx) dλ
−π
que levam em funções não contínuas integráveis a Lebesgue que não pertencem a R. Isso
se deve pelo fato de `2 (N) × `2 (N) ser completo, mas R não ser.
Por outro lado, considere a função G : L2 −→ `2 (N) × `2 (N), definida por G(f ) =
((an )∞ ∞
n=0 , (bn )n=0 ), onde os an e bn são os coeficientes de Fourier de f . Pelo Teorema 17,
o conjunto trigonométrico é base de L2 , logo, pelo Corolário 8, G é uma transformação
unitária, em particular uma bijeção. Com isso, a série de Fourier induz uma bijeção do L2
em `2 (N).
60
7 Considerações finais
Referências
[1] Robert G. Bartle. The Elements of Integration and Lebesgue Measure. Wiley Classics
Library, New York, 1 edition, 1995. Citado 2 vezes nas páginas 3 e 41.
[2] Rui Loja Fernandes. O integral de lebesgue. Notas NBSIR 78-1434, Departamento
de Matemática Instituto Superior Técnico, Lisboa, 2004. Citado na página 23.
[3] Elon Lages Lima. Análise Real, Volume 1. Coleção Matemática Universitária, IMPA,
Rio de Janeiro, 12 edition, 2017. Citado na página 31.
[5] Karen Saxe. Beginning Functional Analysis. Springer, St. Paul, USA, 2002. Citado
2 vezes nas páginas 45 e 58.
[6] René L. Schilling. Measures, Integrals and Martingales. Cambridge University Press,
Cambridge, UK, 1 edition, 2005. Citado na página 12.
[7] Elias M. Stein and Rami Shakarchi. Real Analysis: Measure Theory, Integration, and
Hilbert Spaces. Princeton University Press, New Jersey, 1 edition, 2005. Citado 3
vezes nas páginas 2, 3 e 45.
[8] Daniel V. Tausk. Notas para o curso de medida e integração. Notas. Citado na
página 35.
[9] S.J. Taylor. Introduction to Measure ande Integration. British Library, Londres, 1
edition, 1972. Citado na página 4.
[10] David Williams. Probability with Martingales. Cambridge University Press, New
York, 1 edition, 1991. Citado 3 vezes nas páginas 3, 9 e 11.