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Tópicos de Matemática Elementar: introdução à análise

Copyright© 2013 Antonio Caminha Muniz Neto.


Direitos reservados pela Sociedade Brasileira de Matemática
Tópicos de
Coleção Professor de Matemática Maten1ática Elen1entar
Comitê Editorial
Abdênago Alves de Barros Volume 3
Abramo Refez (Editor-Chefe)
Djairo Guedes de Figueiredo Introdução à Análise
José Alberto Cuminato

Antonio Caminha Muniz Neto


Roberto lmbuzeiro Oliveira
Sílvia Regina Costa Lopes

Assessor Editorial
Tiago Costa Rocha

Capa y
Pablo Diego Regino
Sociedade Brasileira de Matemática
Presidente: Marcelo Viana Gr
Vice-Presidente: Vanderlei Horita
Primeiro Secretário: Ali Tahzibi
Segundo Secretário: Luiz Manoel de Figueiredo
Terceiro Secretário: Marcela Souza
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Distribuição e vendas
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ISBN 978-85-8337-007-9

MUNIZ NETO, Antonio Caminha.


Tópicos de Matemática Elementar: introdução à análise funcional /
Caminha Muniz Neto.
-2.ed. -- Rio de Janeiro: SBM, 2012.
v.3 ; 331 p. (Coleção Professor de Matemática; 26)
2ª edição
2013
Rio de Janeiro
F(x) = (x 0 ) + 1: J(t)dt,

ISBN 978-85-8337-007-9

.!SBM
1. Conceitos de Função. 2. Gráficos de Função.
3. Funções Contínuas. 4. Limites e Derivadas.
I. Título.
COLEÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA
•,. SBM
i11II

COLEÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

Logaritmos - E. L. Lima
Análise Combinatória e Probabilidade com as soluções dos exercícios -
A. C. Morgado, J. B. Pitombeira, P. C. P. Carvalho e P. Fernandez
Medida e Forma em Geometria (Comprimento, Área, Volume e Semelhança) -
E. L. Lima
Meu Professor de Matemática e outras Histórias • E. L. Lima
Coordenadas no Plano com as soluções dos exercícios - E. L. Lima com a
colaboração de P. C. P. Carvalho
Trigonometria, Números Complexos - M. P. do Carmo, A. C. Morgado e E. Wagner,
Notas Históricas de J. B. Pitombeira
Coordenadas no Espaço - E. L. Lima
Progressões e Matemática Financeira - A. C. Morgado, E. Wagner e S. C. Zani
Construções Geométricas - E. Wagner com a colaboração de J. P..Q. Carneiro
Introdução à Geometria Espacial - P. C. P. Carvalho
Geometria Euclidiana Plana - J. L. M. Barbosa
Isometrias - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Médio Vol. 1 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 2 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 3 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
Matemática e Ensino - E. L. Lima
Temas e Problemas - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Episódios da História Antiga da Matemática - A. Aaboe
Exame de Textos: Análise de livros de Matemática - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Medio Vol. 4 - Exercicios e Soluções - E. L. Lima, P. C. P.
Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Construções Geométricas: Exercícios e Soluções - S. Lima Netto
Um Convite à Matemática - D.C de Morais Filho
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 1 - Números Reais - A. Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 2 - Geometria Euclidiana Plana - A.
Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 3 - Introdução à Análise - A. Caminha
A meus filhos Gabriel e Isabela,
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 4 - Combinatória - A. Caminha na esperança de que um dia leiam este livro.
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 5 - Teoria dos Números - A. Caminha
Sumário

Prefácio IX

Prefácio à segunda edição XVII

1 O Conceito de Função 1
1.1 Definições e exemplos . 2
1.2 Monotonicidade, extremos e imagem 14
1.3 Composição de funções . . . . . . 28
1.4 Inversão de funções . . . . . . . . 39
1.5 Funções definidas implicitamente 44

2 Gráficos de Funções 55
2.1 Generalidades e exemplos 56
2.2 Funções trigonométricas . 70

3 Mais sobre Números Reais 77


3.1 Limites de sequências . 78
3.2 Séries de números reais 93
3.3 O lema de Kronecker . 107
VIII Tópicos de Matemática Elementar 3

4 Funções Contínuas 117


4.1 Definição e exemplos ....... 117
4.2 O teorema do valor intermediário 128
4.3 Continuidade sequencial ... 141

5 A Concavidade de uma Função 151


5.1 A integral de urna função contínua 152
5.2 A função logaritmo natural . 163
5.3 Funções côncavas e convexas 175
Prefácio
5.4 A desigualdade de Jensen 184

6 Limites e Derivadas 195


6.1 Limites de funções ......... 196
6.2 Propriedades básicas de derivadas . 213
6.3 A primeira variação de urna função 230
Esta coleção evoluiu a partir de sessões de treinamento para olim-
6.4 O teorema fundamental do Cálculo 241
píadas de Matemática, por rnirn ministradas para alunos e professores ·
6.5 A segunda variação de urna função 254
do Ensino Médio, várias vezes ao longo dos anos de 1992 a 2003 e,
7 Soluções e Sugestões 265 rnais recentemente, corno orientador do Programa de Iniciação Cien-
tífica para os premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das
Referências 309 Escolas Públicas (OBMEP) e do Projeto Amílcar Cabral de coopera-
ção educacional entre Brasil e Cabo Verde.
A Glossário 317 Idealmente, planejei o texto corno urna mistura entre urna iniciação
suave e essencialmente autocontida ao fascinante mundo das competi-
ções de Matemática, alérn de urna bibliografia auxiliar aos estudantes
e professores do secundário interessados ern aprofundar seus conhe-
cimentos rnaternáticos. Resurnidarnente, seu propósito primordial é
apresentar ao leitor urna abordagem de quase todos os conteúdos ge-
ralmente constantes dos currículos do secundário, e que seja ao rnesrno
tempo concisa, não excessivamente tersa, logicamente estruturada e
rnais aprofundada que a usual.
Na estruturação dos livros, rne ative à rnáxirna do eminente rnate-
rnático húngaro-americano George Pólya, que dizia não se poder fazer
X Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto XI

Matemática sem sujar as mãos. Assim sendo, em vários pontos dei- tes dos livros-texto do secundário, fazem sua aparição. Numa terceira
xei a cargo do leitor a tarefa de verificar aspectos não centrais aos etapa, o texto apresenta outros métodos elementares usuais no estudo
desenvolvimentos principais, quer na forma de detalhes omitidos em da geometria, quais sejam, o método analítico de R. Descartes, a tri-
demonstrações, quer na de extensões secundárias da teoria. Nestes ca- gonometria e o uso de vetores; por sua vez, tais métodos são utilizados
sos, frequentemente referi o leitor a problemas específicos, os quais se tanto para reobter resultados anteriores de outra(s) maneira(s) quanto
encontram marcados com * e cuja análise e solução considero parte in- para deduzir novos resultados.
tegrante e essencial do texto. Colecionei ainda, em cada seção, outros De posse do traquejo algébrico construído no volume inicial e do
tantos problemas, cuidadosamente escolhidos na direção de exercitar aparato geométrico do volume dois, discorremos no volume três sobre
os resultados principais elencados ao longo da discussão, bem como aspectos elementares de funções e certos excertos de cálculo diferencial
estendê-los. Uns poucos destes problemas são quase imediatos, ao e integral e análise matemática, os quais se fazem necessários em cer-
passo que a maioria, para os quais via de regra oferto sugestões preci- tos pontos dos três volumes restantes. Prescindindo, inicialmente, das
sas, é razoavelmente difícil; no entanto, insto veementemente o leitor a noções básicas do Cálculo, elaboramos, dentre outros, as noções de
debruçar-se sobre o maior número possível deles por tempo suficiente gráfico, monotonicidade e extremos de funções, bem como examina-
para, ainda que não os resolva todos, passar a apreciá-los como corpo mos o problema da determinação de funções definidas implicitamente
de conhecimento adquirido. por relações algébricas. Na continuação, o conceito de função contínua
O primeiro volume discorre sobre vários aspectos relevantes do con- é apresentado, primeiramente de forma intuitiva e, em seguida, axio- ·
junto dos números reais e de álgebra elementar, no intuito de munir o mática, sendo demonstrados os principais resultados pertinentes. Em
leitor dos requisitos necessários ao estudo dos tópicos constantes dos especial, utilizamos este conceito para estudar a convexidade de gráfi-
volumes subsequentes. Após começar com uma discussão não axiomá- cos - culminando com a demonstração da desigualdade de J. Jensen -
tica das propriedades mais elementares dos números reais, são aborda- e o problema da definição rigorosa da área sob o gráfico de uma fun-
dos, em seguida, produtos notáveis, equações e sistemas de equações, ção contínua e positiva - que, por sua vez, possibilita a apresentação
sequências elementares, indução matemática e números binomiais; o de uma construção adequada das funções logaritmo natural e expo-
texto finda com a discussão de várias desigualdades algébricas impor- nencial. O volume três termina com uma discussão das propriedades
tantes, notadamente aquela entre as médias aritmética e geométrica, mais elementares de derivadas e do teorema fundamental do cálculo,
bem como as desigualdades de Cauchy, de Chebychev e de Abel. os quais são mais uma vez aplicados ao estudo de desigualdades, em
Dedicamos o segundo volume a uma iniciação do leitor à geometria especial da desigualdade entre as médias de potências.
Euclidiana plana, inicialmente de forma não axiomática e enfatizando O volume quatro é devotado à análise combinatória. Começamos
construções geométricas elementares. Entretanto, à medida em que o revisando as técnicas mais elementares de contagem, enfatizando as
texto evolui, o método sintético de Euclides - e, consequentemente, construções de bijeções e argumentos recursivos como estratégias bá-
demonstrações - ganha importância, principalmente com a discussão sicas. Na continuação, apresentamos um apanhado de métodos de
dos conceitos de congruência e semelhança de triângulos; a partir desse contagem um tanto mais sofisticados, como o princípio da inclusão
ponto, vários belos teoremas clássicos da geometria, usualmente ausen- exclusão e os métodos de contagem dupla, do número de classes de
XII Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto XIII

equivalência e mediante o emprego de métricas em conjuntos finitos. exemplos discutidos e dos problemas propostos ao longo do texto, boa
A cena é então ocupada por funções geradoras, onde a teoria elementar parte dos quais oriundos de variadas competições ao redor do mundo.
de séries de potências nos permite discutir de outra maneira problemas Finalmente, números complexos e polinômios são os objetos de
antigos e introduzir problemas novos, antes inacessíveis. Terminada estudo do sexto e último volume da coleção. Para além da teoria
nossa excursão pelo mundo da contagem, enveredamos pelo estudo do correspondente usualmente estudada no secundário - como a noção
problema da existência de uma configuração especial no universo das de grau, o algoritmo da divisão e o conceito de raízes de polinômios
configurações possíveis, utilizando para tanto o princípio das gavetas -, vários são os tópicos não padrão abordados aqui. Dentre outros,
de G. L. Dirichlet - vulgo "princípio das casas dos pombos" -, um destacamos inicialmente a utilização de números complexos e polinô-
célebre teorema de R. Dilworth e a procura e análise de invariantes mios como ferramentas de contagem e a apresentação quase completa
associados a problemas algorítmicos. A última estrutura combinatória de uma das mais simples demonstrações do teorema fundamental da
que discutimos é a de um grafo, quando apresentamos os conceitos bá- álgebra. A seguir, estudamos o famoso teorema de I. Newton sobre
sicos usuais da teoria com vistas à discussão de três teoremas clássicos polinômios simétricos e as igualmente famosas desigualdades de New-
importantes: a caracterização da existência de caminhos Eulerianos, ton, as quais estendem a desigualdade entre as médias aritmética e
o teorema de A. Cayley sobre o número de árvores rotvladas e o teo- geométrica. O próximo tema concerne os aspectos básicos da teoria
rema extremal de P. Turán sobre a existência de subgrafos completos de interpolação de polinômios, quando dispensamos especial atenção
em um grafo. aos polinômios interpoladores de J. L. Lagrange. Estes, por sua vez,
Passamos em seguida, no quinto volume, à discussão dos conceitos são utilizados para resolver sistemas lineares de Vandermonde sem o
e resultados mais elementares de teoria dos números, ressaltando-se recurso à álgebra linear, os quais, a seu turno, possibilitam o estudo
inicialmente a teoria básica do máximo divisor comum e o teorema de uma classe particular de sequências recorrentes lineares. O livro
fundamental da aritmética. Discutimos também o método da descida termina com o estudo das propriedades de fatoração de polinômios
de P. de Fermat como ferramenta para provar a inexistência de solu- com coeficientes inteiros, racionais ou pertencentes ao conjunto das
ções inteiras para certas equações diofantinas, e resolvemos também classes de congruência relativas a algum módulo primo, seguido do
a famosa equação de J. Pell. Em seguida, preparamos o terreno para estudo do conceito de número algébrico. Há, aqui, dois pontos cul-
a discussão do famoso teorema de Euler sobre congruências, constru- minantes: por um lado, uma prova mais simples do fechamento do
indo a igualmente famosa função de Euler com o auxílio da teoria mais conjunto dos números algébricos em relação às operações aritméticas
geral de funções aritméticas multiplicativas. A partir daí, o livro apre- básicas; por outro, o emprego de polinômios ciclotômicos para provar
senta formalmente o conceito de congruência de números em relação a um caso particular do teorema de Dirichlet sobre primos em progres-
um certo módulo, discutindo extensivamente os resultados usualmente sões aritméticas.
constantes dos cursos introdutórios sobre o assunto, incluindo raízes Várias pessoas contribuíram ao longo dos anos, direta ou indire-
primitivas, resíduos quadráticos e o teorema de Fermat de caracteriza- tamente, para que um punhado de anotações em cadernos pudesse
ção dos inteiros que podem ser escritos como soma de dois quadrados. transformar-se nesta coleção de livros. Os ex-professores do Departa-
O grande diferencial aqui, do nosso ponto de vista, é o calibre dos mento de Matemática da Universidade Federal do Ceará, Marcondes
XIV Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto XV

Cavalcante França, João Marques Pereira, Guilherme Lincoln Aguiar ram várias sugestões. Os pareceristas indicados pela SBM opinaram
Ellery e Raimundo Thompson Gonçalves, ao criarem a Olimpíada Cea- decisivamente para que os livros certamente resultassem melhores que
rense de Matemática na década de 1980, motivaram centenas de jovens a versão inicial por mim submetida. O presidente da SBM, professor
cearenses, dentre os quais eu me encontrava, a estudarem mais Ma- Hilário Alencar da Silva, o antigo editor-chefe da SBM, professor Ro-
temática. Meu ex-professor do Colégio Militar de Fortaleza, Antônio berto Imbuzeiro de Oliveira, bem como o novo editor-chefe, professor
Valdenísio Bezerra, ao convidar-me, inicialmente para assistir a suas Abramo Refez, foram sempre extremamente solícitos e atenciosos co-
aulas de treinamento para a Olimpíada Cearense de Matemática e pos- migo ao longo de todo o processo de edição. Por fim, quaisquer erros
teriormente para dar aulas consigo, iniciou-me no maravilhoso mundo ou incongruências que ainda se façam presentes, ou omissões na lista
das competições de Matemática e influenciou definitivamente minha acima, são de minha inteira responsabilidade.
escolha profissional. Os comentários de muitos de vários de ex-alunos Por fim e principalmente, gostaria de agradecer a meus pais, Anto-
contribuíram muito para o formato final de boa parte do material nio Caminha Muniz Filho e Rosemary Carvalho Caminha Muniz, e à
aqui colecionado; nesse sentido, agradeço especialmente a João Luiz minha esposa Mônica Valesca Mota Caminha Muniz. Meus pais me fi-
de Alencar Araripe Falcão, Roney Rodger Sales de Castro, Marcelo zeram compreender a importância do conhecimento desde a mais tenra
Mendes de Oliveira, Marcondes Cavalcante França Jr., Marcelo Cruz idade, sem nunca terem medido esforços para que eu e meus irmãos
de Souza, Eduardo Cabral Balreira, Breno de Alencar Araripe Falcão, desfrutássemos o melhor ensino disponível; minha esposa brindou-me
Fabrício Siqueira Benevides, Rui Facundo Vigelis, Daniel Pinheiro So- com a harmonia e o incentivo necessários à manutenção de meu ânimo.
breira, Antônia Taline de Souza Mendonça, Carlos Augusto David Ri- e humor, em longos meses de trabalho solitário nas madrugadas. Esta
beiro, Samuel Barbosa Feitosa, Davi Máximo Alexandrino Nogueira coleção de livros também é dedicada a eles.
e Yuri Gomes Lima. Vários de meus colegas professores teceram co-
mentários pertinentes, os quais foram incorporados ao texto de uma
ou outra maneira; agradeço, em especial, a Fláudio José Gonçalves,
Francisco José da Silva Jr., Onofre Campos da Silva Farias, Emanuel FORTALEZA, JANEIRO de 2012
Augusto de Souza Carneiro, Marcelo Mendes de Oliveira, Samuel Bar-
bosa Feitosa e Francisco Bruno de Lima Holanda. Os professores João
Antonio Caminha M. Neto
Lucas Barbosa e Hélio Barros deram-me a conclusão de parte destas
notas como alvo a perseguir ao me convidarem a participar do Pro-
jeto Amílcar Cabral de treinamento dos professores de Matemática da
República do Cabo Verde. Meus colegas do Departamento de Mate-
mática da Universidade Federal do Ceará, Abdênago Alves de Barros,
José Othon Dantas Lopes, José Robério Rogério e Fernanda Esther
Camillo Camargo, bem como meu orientando de iniciação científica
Itamar Sales de Oliveira Filho, leram partes do texto final e oferece-
r
XVI Tópicos de Matemática Elementar 3

Prefácio à 2-ª- edição

Para a segunda edição fiz uma extensa revisão do texto e dos pro-
blemas propostos, corrigindo várias imprecisões de língua portuguesa
e de Matemática. Adicionei também alguns problemas novos, no in-
tuito de melhor exercitar certos pontos da teoria, os quais não se en-
contravam adequadamente contemplados pelos problemas propostos
à primeira edição. Nesta segunda edição as sugestões e soluções aos
problemas propostos foram colecionadas em um capítulo separado (o
capítulo 7, para este volume); adicionalmente, apresentei sugestões ou
soluções a todos os problemas com algum grau de dificuldade.
Por fim, gostaria de aproveitar o ensejo para agradecer à comu-
nidade matemática brasileira, em geral, e a todos os leitores que me
enviaram sugestões ou correções, em particular, o excelente acolhi-
mento desfrutado pela primeira edição desta obra.

FORTALEZA, OUTUBRO de 2013

Antonio Caminha M. Neto


XVIII Tópicos de Matemática Elementar 3
1 .

!í,li

CAPÍTULO 1

O Conceito de Função

De posse do ferramental algébrico desenvolvido no volume 1, co-


meçamos, neste capítulo, o desenvolvimento das propriedades elemen-
tares de funções. Como naquele volume, assumiremos do leitor uma
relativa familiaridade com conjuntos e operações elementares com os
mesmos.
Após apresentar os conceitos mais básicos sobre funções, como as
noções de domínio, contradomínio e imagem, alguns exemplos relevan-
tes são introduzidos. Em seguida, introduzimos as noções de monoto-
nicidade e valores extremos, discutindo vários exemplos que, apesar de
elementares, se revelarão bastante úteis. O capítulo continua com o
estudo das operações de composição e inversão de funções, e culmina
com a orquestração de todo o material discutido no estudo de funções
definidas implicitamente por relações algébricas, as quais podem ser
vistas como análogos discretos de equações diferenciais ordinárias.
2 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 3

1.1 Definições e exemplos não correspondem a funções.

Sejam dados conjuntos não vazios X e Y. Informalmente, uma X y


função f de X em Y é uma regra que associa a cada x E X um único
y E Y. Por vezes podemos visualizar uma função f : X --+ Y de
uma maneira mais concreta por meio de diagramas como o da figura
1.1, onde cada seta indica que elemento y E Y está associado a cada
xEX.

X y

Figura 1.2: X tem elementos dos quais não parte seta alguma.

A situação da figura 1.2 é proibida porque não há nenhuma seta


partindo do elemento 1 E X. A situação da figura 1.3 é proibida
porque do elemento 1 E X parte mais de uma seta.
As três definições a seguir explicitam alguns tipos extremamente
Figura 1.1: exemplo de função f de X em Y. úteis de funções.

Definição 1.1. Dados conjuntos não vazios X e Y e fixado um ele-


Escrevemos f : X --+ Y para denotar que f é uma função de X em mento e E Y, a função constante e de X em Y é a função f : X --+ Y
Y. Nesse caso, o elemento y E Y associado a x E X por fé denotado tal que f(x) = e para todo x E X.
por y = f (x), sendo denominado a imagem de x E X pela função
f. No exemplo da figura 1.1, temos X = {1, 2, 3}, Y = {a, b, e, d} e No caso extremo da função constante e igual a e, definida acima,
f(l) = a, f(2) = a, f(3) = e. Assim, a é a imagem de 1 e de 2 por f, todo x E X está associado a um mesmo y E Y, qual seja, y = e. Con-
e e é a imagem de 3 por f. tudo, as condições impostas na "definição" de função são plenamente
Como atestado pelo exemplo acima, a definição de função permite satisfeitas, i.e., todo x E X está associado a um único y E X.
que, no diagrama correspondente, um ou mais elementos de Y não
recebam setas ou, ainda, que um ou mais elementos de Y recebam mais Definição 1.2. Dado um conjunto não vazio X, a função identidade
de uma seta (observe que ambas essas possibilidades estão presentes de X, denotada por ldx : X--+ X, é a função dada por Idx(x) = x,
na figura 1.1). Note, contudo, que os diagramas das figuras 1.2 e 1.3 para todo x E X.
4 Tópicos de Matemática Elementar 3
'
t'.

Antonio Caminha M. Neto 5

X y Definição 1.4. Dados conjuntos não vazios X e Y, uma relação de X


em Y (ou entre X e Y, nessa ordem) é um subconjunto R do produto
cartesiano X x Y, i.e., R é um conjunto de pares ordenados do tipo
(x, y), com x E X e y E Y. Se Ré uma relação de X em X, diremos
simplesmente que R é uma relação em X.

Exemplo 1.5. Se X= {1, 2, 3} e Y = {2, 3, 4, 5}, o conjunto

R = {(x, y) E X x Y; x ~ y}

Figura 1.3: X tem elementos dos quais parte mais de uma seta. é a relação de X em Y dada por R = {(2, 2), (3, 2), (3, 3)}; de fato,
esses são os únicos pares ordenados (x, y), com x E { 1, 2, 3}, y E
{2, 3, 4, 5} e tais que x ~ y.
Assim como no exemplo anterior, é imediato que as condições exi-
gidas pela "definição" de função estão satisfeitas, de sorte que Idx é O exemplo acima é um caso particular de um procedimento ób-
realmente uma função. vio a que podemos recorrer para construirmos relações específicas R
Para o que segue, fixado arbitrariamente n EN, denotamos por ln entre conjuntos não vazios X e Y: basta especificarmos, de alguma
o conjunto dos n primeiros números naturais, i.e., ln = {1, 2, ... , n }. maneira, um subconjunto do produto cartesiano X x Y. Aqueles pares
Por exemplo, 11 = {1 }, 12 = {1, 2}, 13 = {1, 2, 3} e assim por diante. ordenados de X x Y que satisfizerem a especificação prescrita serão
os elementos de R. Sendo (x, y) um tal par, diremos que x e y são
Definição 1.3. Uma sequência (infinita) de números reais é uma
relacionados por R.
função f : N--+ R Uma sequência (finita) de números reais é uma
Se R é uma relação de X em Y, então R e X x Y por definição.
função f : ln --+ IR, para algum n E N.
Reciprocamente, escolhido um par ordenado (x, y) E X x Y, pode
Dada uma sequência f : N --+ IR (resp. f : ln --+ IR) é costume ocorrer que (x, y) E R ou (x, y) 1 R (i.e., que x e y sejam relacionados
denotar, para k ~ 1 inteiro, ak = f(k). Desta forma, obtemos a por R, ou não). No primeiro caso, escrevemos x Ry; no segundo,
notação usual para sequências, qual seja, x lJ, y. Em símbolos,
a1 = f(l), a2 = f(2), a3 = f(3), .... x Ry {::} (x, y) E R. (1.1)

Como no capítulo 4 do volume 1, denotamos a sequência em questão Assim é que, para a relação do exemplo acima, temos 3 R 2 mas 2 }J, 3,
simplesmente por (ak)k2:1 (resp. (ak)i::;k::;n)· uma vez que 2 ~ 3 é falso.
De um ponto de vista matematicamente mais rigoroso, uma função Dentre todos os tipos de relação que podemos considerar entre dois
é um caso particular de uma relação entre dois conjuntos, de acordo conjuntos não vazios, o principal é aquele dado pela seguinte
com a seguinte
6 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 7

Definição 1.6. Dados conjuntos não vazios X e Y, uma relação f de Exemplo 1. 7. Considere a função f : (Q ---+ R dada por
X em Y é uma função se a seguinte condição for satisfeita:
f (x) = { J x 2 + 1, se x ::; O .
\:;/x E X, :3 um único y E Y; xfy. · x + 1, se x > O
Como antes, escrevemos f : X ---+ Y para denotar que f é uma
Certamente que temos uma função, pois as expressões que definem
função de X em Y e f(x) = y para denotar que o par (x, y) E X x Y
f(x) têm sentido em R e, apesar de devermos aplicar fórmulas dife-
é relacionado por f, i.e., satisfaz xfy. Observe que tal notação faz
rentes, conforme o racional x satisfaça x ::; O ou x > O, cada racional
sentido, uma vez que a definição de função garante que se (x, Y1) e
x tem uma única imagem f (x) bem definida, posto que os casos x ::; O
(x, y2 ) são pares ordenados em X x Y tais que xfy1 e xfy2, então
ex > O cobrem todos os racionais. Assim, por exemplo, f(-1) =
y 1 = y 2 . Por outro lado, é imediato verificar que a definição formal
y'(-1) 2 + 1 = v'2 (uma vez que -1::; O), mas f(2) = 2 + 1 = 3 (uma
acima coincide com a definição informal dada no início desta seção.
vez que 2 > O).
O mais das vezes, trabalharemos com funções f : X ---+ Y tais que
Observe que poderíamos ter definido f(x) escrevendo
X, Y e R Em tais casos, geralmente indicaremos quem é o elemento
f (x) E Y associado a um elemento genérico x E X por meio de uma f (x) = { J x 2 + 1, se x ::; O .
fórmula em x que explicite uma regra que a função deva satisfazer. x + 1, se x 2'.: O
Por exemplo, podemos dizer: considere a função f : R ---+ R dada por
f(x) = x 2 . Isto quer dizer que a função associa, a cada x E R, seu Nesse caso, as condições x ::; O e x 2'.: O cobrem todos os racionais
quadrado x 2 . Veja que os requisitos definidores de uma função estão mas não são mais disjuntas: x = O satisfaz ambas; no entanto, as
satisfeitos, uma vez que, a cada x E R, temos associado um único fórmulas que devemos aplicar a um caso ou outro dão um mesmo
outro real f(x), qual seja, x 2 . Assim é que, ainda em relação a esse resultado quando x = O (uma vez que \1'0 2 + 1 = O+ 1), afastando
assim qualquer possibilidade de inconsistência.
exemplo, temos f( v'2) = (v'2) 2 = 2, f(3) = 32 = 9, etc.
Quando X, Y e R e f: X---+ Y é uma função tal que o elemento Dizemos por vezes que uma função f como a do exemplo acima
f (x) E Y associado a x E X é dado por uma fórmula em x, denotamos está definida por partes, em alusão ao fato de que há uma fórmula
por vezes tal correspondência escrevendo para calcular f(x) quando x E (-oo, O] e outra quando x E (O, +oo)
f:X --+ Y (ou x E [O, +oo), conforme se queira).
X 1----t f(x) Ao lidarmos com uma função f : X ---+ Y, é frequentemente útil de-
nominarmos os conjuntos X e Y, respectivamente, de domínio e con-
Assim, a função do parágrafo anterior, que associa a cada x E R seu
tradomínio da função; nesse contexto, denotaremos X = Dom (!).
quadrado x 2 , poderia ser denotada da seguinte maneira:
Assim é que, para a função f do exemplo 1. 7, o domínio e o contra-
f:R--+ R domínio são, respectivamente, (Q e R.
X 1----t x2 .
O mais das vezes vamos trabalhar com funções f : X ---+ R tais que
Vejamos mais um exemplo. X e R Em tais casos, diremos que f é uma função real (em alusão
8 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 9

ao fato de que f assume valores reais - i.e., de que seu contradomínio pondo
é R) de uma variável real (em alusão ao fato de que um elemento (! + g)(x) f(x) + g(x),
genérico x do domínio X de f - a variável da função - é um número (!. g)(x) f(x) · g(x),
real). (e· f)(x) e· f(x),
Ainda em tais casos, quando os valores f (x) forem dados por uma para todo x E X.
fórmula, como por exemplo f (x) = ~ , salvo menção em con- Algumas observações são pertinentes. Em primeiro lugar, veja que
x(x-1)
trário, convencionamos tomar X como sendo igual ao maior domínio os sinais de adição ria igualdade
possível. De outro modo, tomamos X como igual ao maior subcon-
(! + g)(x) = f(x) + g(x)
junto de R no qual as operações matemáticas que definem a expressão
f (x) têm sentido. Diremos, então, que X é o domínio maximal de têm significados distintos: no primeiro membro temos a definição da
definição, ou simplesmente o domínio maximal de f. função f +g, ao passo que, no segundo membro, f(x)+g(x) representa
a adição usual dos números reais f(x) e g(x). Uma observação análoga
Exemplo 1.8. A título de ilustração, encontremos o domínio maximal
é válida para os sinais de multiplicação utilizados nas definições das
X e R da função f: X---+ R dada por f(x) = ~ - Temos x(x-1) funções f ·g e e· f. Em segundo lugar, assim como com números reais,
omitiremos em geral o sinal de multiplicação, escrevendo f g e cf em .
X { x E R; Jx(x -1) R}
--;::::=l== E vez de f · g e e · f, mas isto não deve causar confusão.
É evidente que f + g, f g e cf são realmente funções de X em R
- {x E R; x(x - 1) > O}. As funções f + g e f g são denominadas, respectivamente, a soma e o
produto das funções f e g. Por outro lado, o produto cf do número
Como, para um produto ser positivo, ambos os fatores devem ter um real e pela função f pode ser visto como caso particular do produto de
mesmo sinal, devemos ter x > Oe x-1 > O, ou então x < Oe x-1 < O, duas funções: tomando g como a função constante e igual a e, temos
i.e., x > 1 ou então x < O. Portanto, f g = cf; ainda para tal g, denotaremos f + g simplesmente por f + e,
X= (-oo, O) U (1, +oo). i.e.,
(! + c)(x) = f(x) + e,
No contexto de funções reais de variável real, temos maneiras pa- para todo x E X.
drão de construir novas funções a partir de outras já conhecidas, utili-
zando as operações aritméticas do contradomínio R das mesmas. Mais Exemplo 1.9. Sendo f e g as funções de R em R dadas por f(x) =
precisamente, dados um conjunto não vazio X e R, um número real e x2: 1 e g(x) = -x + 3, temos

e funções reais de uma variável real f, g : X ---+ R (de mesmo domínio!), X


(! + g)(x) = f(x) + g(x) = + (-x + 3)
definimos as funções X+ 1
2

x + (x2 + 1) (-x + 3) -x 3 + 3x2 + 3


f + g, f · g e e· f : X ---+ R x2 +1 x2 +1
10 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 11

x -x 2 + 3x Note, por fim, que o intervalo [1, +oo) é um subconjunto próprio do


(f g)(x) = f(x)g(x) = · (-x + 3) =
X
2
+1 X
2
+1 contradomínio II de f.
e Mais geralmente, dada uma função f: X-+ Y, o conjunto ima-
y13 y13 y13 X xy3
( f) (x) = 3f (x) = 3 . x2 + 1 = x2 + 1 . gem, ou simplesmente a imagem da função f é o conjunto Im (!),
cujos elementos são as imagens f(x) E Y dos elementos x E X:
Deixamos ao leitor a verificação de que as operações de adição
e multiplicação para funções acima definidas satisfazem propriedades .Im(f) = {f(x) E Y; x E X}.
análogas àquelas das operações correspondentes com números reais.
Em particular, temos sempre Im (!) e Y, e a discussão acima mostra
Mais precisamente, para f, g, h : X -+ II e a, b, c E II, temos:
que pode ocorrer Im (!) # Y.
• Comutatividade: f + g = g + f; fg = gf. No exemplo discutido acima, mostramos que a imagem da função
era um subconjunto próprio do contradomínio da mesma. No entanto,
• Associatividade: f + (g + h) = (! + g) + h; f(gh) = (f g)h.
não chegamos a explicitar precisamente tal conjunto-imagem. Em si-
• Distributividade: f(g + h) = f g + fh. tuações específicas essa tarefa pode ser consideravelmente difícil, como
atesta o seguinte
Por fim, note que a associatividade da adição e da multiplicação
de funções permite definir, de modo inteiramente análogo, a soma ou Exemplo 1.10. Explicitemos a imagem da função f : Q \ {O} -+ Q ·
o produto de um número finito qualquer de funções de X em R Su- dada por f (r) = } , se o racional r estiver escrito da forma r = i,
onde
gerimos ao leitor consultar o problema 4 para uma extensão adicional a E Z, b E N e mdc (a, b) = 1 (para maiores detalhes sobre o mdc de
da discussão acima. dois inteiros, veja a introdução ao capítulo 1 do volume 1 ou a seção
Voltemos ao estudo do contradomínio de uma função f: X-+ Y. 1.2 do volume 5).
É importante notar que o contradomínio Y em geral não coincide com Certamente a função f está definida de maneira não ambígua, uma
o conjunto formado pelas imagens dos elementos de X. Ilustremos essa vez que todo racional não nulo admite uma representação única como
diferença utilizando novamente a função f do exemplo 1.7. Já observa- quociente de dois inteiros primos entre si, sendo o denominador natu-
mos que o contradomínio da mesma é o conjunto II dos números reais. ral. Por exemplo, -! = -./ e, daí, f ( -! ) ! .
= Por outro lado, como
Por outro lado, o conjunto formado pelas imagens f (x) dos elementos b E N, vemos imediatamente que
do domínio Q de f certamente não contém números reais menores que
1. De fato, para um racional x qualquer, temos x 2 + 1 2: 1 e, daí, lm (!) e { ~; b E N} = { 1, ~, 1, ~, ... }.
f (x) = Vx 2 + 1 2: v'i = 1; Ademais, é imediato que todos os números do último conjunto acima
pertencem à imagem de f, já que f (}) =} para todo b EN. Portanto,
por outro lado, para um racional x > O, temos f(x) = x +1 > 1, de
maneira que 1 1 1 }
Im(f)= { 1,2'3'4'"' .
{f(x); x E Q} e [1, +oo).
12 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 13

Infelizmente não existe um algoritmo 1 que nos permita encontrar Problemas - Seção 1.1
explicitamente a imagem de uma função qualquer dada. No entanto,
ao longo dos capítulos subsequentes resolveremos o problema de en- 1. Considere a função f : IR. -+ IR. definida por f (x) = x 3 - 2x 2 + 5x.
contrar o conjunto-imagem para vários tipos importantes de funções. Prove que f(x) tem o mesmo sinal de x, para todo real x =1- O.
Terminemos esta seção discutindo a igualdade de duas funções.
Em relação à função f do exemplo 1.7, não faz sentido considerarmos 2. A função f : IR.-+ IR. é tal que f(l) = 2, f( v'2) = 4 e f(x + y) =

f( v'2), uma vez que v'2 (/:. Q e f tem domínio Q. O que poderíamos f(x)f(y), para todos x, y E R Calcule o valor de f(3 + v'2).
fazer seria considerar, em vez de f, a função g : IR. -+ IR. dada por
3. Seja f : IR.-+ IR. uma função tal que f(x + y) = f(x)f(y) para
={ v'x 2 + 1, todos x, y reais. Se (ak)k::::: 1 é uma PA de razão r e f(a 1) =/:- O,
9 ( x) se x ::; O .
x + 1, se x > O prove que a sequência (f(ak))k::::: 1 é uma PG de razão f(r).

Apesar das fórmulas que definem f(x) e g(x) serem as mesmas, para f 4. * Dadas funções reais de variável real f, g : X -t IR., estenda a
elas só podem ser aplicadas a x E Q, ao passo que para gelas podem discussão do texto, apresentando definições apropriadas para a
ser aplicadas a todo x real; assim, não faz sentido pensarmos em f e diferença f - g e o quociente tg das funções f e g.
g como funções iguais, apenas denotadas de duas maneiras distintas.
Mais geralmente, temos a seguinte 5. *A parte inteira de um real x é definida como o maior in-
teiro menor ou igual a x. Explicite a imagem da função parte
Definição 1.11. Duas funções f : X -+ Y e g : W -+ Z são iguais inteira
se X= W, Y = Z e f(x) = g(x), para todo x E X. l J : IR. ----+ IR. (1.2)
X 1----t lxj '
Se duas funções f: X-+ Y e g: W-+ Z forem iguais, escrevemos
f = g. Frisamos que, de acordo com a definição acima, tal notação que associa a cada x E IR. sua parte inteira l x J.
encerra mais significado que escrevermos f(x) = g(x): ela significa
6. * A parte fracionária de um real x é definida por {x} = x- l x J,
a igualdade dos domínios, X = W, e dos contradomínios, Y = Z,
onde l x J denota a parte inteira de x (veja o problema anterior).
assim como a validade da igualdade f(x) = g(x), para todo x E X. Explicite a imagem da função parte fracionária
Se funções f e g como acima não forem iguais, escreveremos f =/:- g e
diremos que f e g são funções diferentes ou distintas. { } : IR. ----+ IR.
(1.3)
X 1----t {x} '

que associa a cada x E IR. sua parte inteira {x}.

1 Um
algoritmo é uma sequência finita e bem determinada de procedimentos 7. (Torneio das Cidades.) Prove que o n-ésimo natural que não é
executáveis que, rigorosamente seguidos, fornecem a solução de um certo problema. quadrado perfeito é igual a ln+ y'n + !J.
14 Tópicos de Matemática Elementar 3
r
:~
~:
L Antonio Caminha M. Neto 15

8. * Seja f : (Q --+ (Q uma função tal que f(x + y) = f(x) + f(y) Desta forma, se os valores f (x) forem dados por uma expressão que
para todos x, y E (Q. Prove os seguintes itens: dependa de x E X, poderemos encarar o problema de encontrar a
imagem de f como aquele de encontrar os y E R para os quais a
(a) f(O) = O e f(-x) = - f(x) para todo x E (Q. equação f(x) = y tenha pelo menos uma solução x E X. Vejamos
(b) f(x - y) = f(x) - f(y) para todos x, y E (Q. alguns exemplos.
(c) f(kx) = kf(x) para todo x E (Q e todo k E Z. Exemplo 1.12. Uma função afim é uma função f: R--+ R tal que
(d) f (~) =~para todo n E Z \ {O}. f(x) = ax + b para todo x real, onde a e b são números reais dados,
com a# O. Uma função linear é uma função afim f como acima, tal
(e) f (~) = 7:f(l) para todos m,n E Z, n # O.
que b = O.
9. Seja f: R--+ Ruma função tal que f(x+y) = f(x) + f(y), para De acordo com a discussão acima, a imagem de uma função afim
todos x, y E R. Se (ak)k~l é uma PA de razão r, prove que a f como acima pode ser encontrada procurando o conjunto dos y E R
sequência (f(ak))k~I é uma PA de razão f(r). tais que a equação ax + b = y tenha alguma solução x E JR. Mas,
como tal equação sempre admite a solução x = ~, co11d~::.,.;:.;;os que
10. (IMO.) Sejam f, g: R--+ R funções tais que, para todos x, y E R, todo y E R pertence à imagem de f, de sorte que Im (!) = R
tenhamos
f(x + y) + f(x - y) = 2f(x)g(y). Exemplo 1.13. A função de proporcionalidade inversa é a fun-

Se f não é identicamente nula e If (x) 1 :::; 1 para todo x E R,


ção f: R \{O}--+ R \ {O} dada por f(x) = i, para todo x E R \ {O}.
Para encontrar sua imagem, é suficiente encontrar os y E R para
prove que lg(x)I :::; 1, para todo x E R
os quais exista x # O real (i.e., x pertencente ao domínio de !) , tal que
i
f(x) = y, i.e., tal que = y. Se y = O, tal equação claramente não
1.2 Monotonicidade, extremos e imagem admite solução; por outro lado, se y # O, a mesma equação admite a
solução x = !, de sorte que Im (!) = R \ {O}.
Comecemos esta seção concentrando-nos no problema de encontrar
a imagem de uma função dada. Para tanto, recorde que a imagem de A continuação, precisamos da definição a seguir.
uma função f: X--+ Y é o conjunto Definição 1.14. Uma função quadrática ou de segundo grau é
uma função f : R --+ R tal que f (x) = ax 2 + bx + e, para todo x real,
lm (!) = {f(x) E Y; x E X}.
onde a, b e e são números reais dados, com a# O. O discriminante~
Se a função f é real de uma variável real, i.e., se f : X --+ R, com da função fé o discriminante do trinômio de segundo grau ax 2 +bx+c,
X e R, uma maneira particularmente útil de declararmos sua imagem i.e., ~ = b2 - 4ac.
é escrevermos
O problema da determinação da imagem de uma função quadrática
Im (!) = {y E Y; y = f(x) para algum x E X}. é suficientemente importante para ser colecionado na seguinte
16 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 17

Proposição 1.15. Em relação à função quadrática f (x) = ax 2 +bx+c, de maneira que


temos que:
Im (!) = { y E IR; y S - ~} = ( -oo, - ~]
(a) Se a> O, então Im(f) = [-!,+oo).
Para o que falta, veja que, para y E Im (!), as soluções da equação
(b) Se a< O, então Im (!) = ( -oo, -!] .
ax 2 + bx + e = y ({::} ax 2 + bx + (e - y) = O) são
Ademais, em qualquer um dos casos acima, temos
x - -b±Jb2 -4a(c-y) _ -b±J~+4ay (l.4)
~ b - 2a - 2a ·
f (x) = - 4a {::} x = - 2a ·
Portanto, a equação f(x) = y admite uma solução única se, e só se,
Prova. Seguindo a ideia geral esboçada anteriormente, basta encon- ~ + 4ay = O, ou, o que é o mesmo, se, e só se, y = - sendo esse o !;
trar os y E IR para os quais a equação ax 2 + bx +e= y, i.e., a equação caso, temos, a partir de (1.4), que x = - 2ba· •

de segundo grau ax 2 + bx + (e - y) = O, tenha solução. Também,


Para o que segue, convencionamos dizer que a função quadrática
assim como antes, uma condição necessária e suficiente para a exis-
f ( x) = ax 2 + bx + e tem sinal constante quando f (x) 2:: O para todo
tência de raízes 2 é que o discriminante dessa última equação seja não
negativo, i.e., que b2 - 4a(c - y) 2:: O. Mas, como b2 - 4ac = ~' os y
x E IR ou f (x) s
O para todo x E R

que procuramos são exatamente as soluções da inequação de primeiro Corolário 1.16. A função quadrática f(x) = ax 2 + bx + e tem sinal
grau s
constante se, e só se, ~ O. Neste caso, temos af(x) 2:: O, para todo
~ + 4ay 2:: O.
x E R De outro modo:

Consideramos agora os casos a > O e a < O separadamente. Se (a) Se~ s O e a> O, então f(x) 2:: O para todo x E R
a> O, então (b) Se~ s O e a< O, então f(x) s O para todo x E IR.
Prova. Analisemos o caso a > O, sendo o outro caso análogo. Se
e segue daí ~ S O, temos da proposição anterior que
~
f (x) 2:: - 4 ª 2:: O, Vx E R
Reciprocamente, suponha que a > Oe f tem sinal constante. Segue
se a< O, então novamente da proposição anterior que a imagem de f contém números
positivos, e a constância de sinal de f garante que deve ser f(x) 2:: O,
para todo x E R Em particular, devemos ter
2 Aqui e em vários outros pontos do texto assumimos que o leitor possua certa

familiaridade com a noção de raiz quadrada, sem nos preocuparmos em estabelecer - ~ =f


4a
(-!!__)
2a
2:: O.
sua existência rigorosamente. A esse respeito, veja, por exemplo, o capítulo 3 de
[34]. Logo,~ S O.

18 Tópicos de Matemática Elementar 3 f
f,
º Antonio Caminha M. Neto

como condição necessária e suficiente para a igualdade.


19

Observação 1.17. Uma pequena modificação do argumento apresen-


tado no corolário acima permite concluir que
A fim de prosseguirmos nosso estudo de funções, precisamos agora
i. Se~< O e a> O, então f(x) > O para todo x E IR. da seguinte
ii. Se~< O e a< O, então f(x) < O para todo x E IR.
Definição 1.19. Seja I e IR um intervalo. Uma função f : I--+ IR é
O corolário acima pode ser utilizado para dar uma prova mais di- dita:
reta da desigualdade de Cauchy (teorema 7.14 do volume 1), conforme
ensina o seguinte (a) crescente se, para todos x 1 < x2 em I, tivermos J(xi) < f(x2).
Exemplo 1.18. Dados n > 1 inteiro e números reais a1, a2, ... , an (b) decrescente se, para todos x1 < x 2 em I, tivermos f(x1) >
não todos nulos e b1 , b2, ... , bn também não todos nulos, considere a f(x2).
função quadrática
(c) não decrescente se, para todos x1 < x 2 em I, tivermos J(x1):::;
J(x) (a1x - b1) 2 + (a2x - b2) 2 + · · · + (anx - bn) 2
f (x2).
Ax 2 -2Bx+C,
onde A = a~ + a~ + · · · + a;,, B = a1b1 + a2b2 + · · · + anbn, C = (d) não crescente se, para todos x1 < x 2 em I, tivermos f(x1) 2
b~ + b~ + ... + b;,. f(x2).
Uma vez que f(x) é uma soma de quadrados, devemos ter J(x) 2 O
Ademais, em um qualquer dos casos acima, dizemos que a função f é
para todo x E IR. Por outro lado, como A > O, o corolário 1.16
monótona em ! 3 .
garante que ~ = 4( B 2 - AC) :::; O. Portanto, B 2 :::; AC, ou, o que é
o mesmo, IBI :::; v1A.Jc. Substituindo os valores de A, B e Cem tal A respeito da definição acima, um problema interessante é o de
desigualdade, obtemos a desigualdade de Cauchy. encontrar os intervalos de monotonicidade de uma função, i.e., dada
De acordo com a dedução acima, a igualdade na desigualdade de uma função f : I --+ IR, onde I e IR é um intervalo, pede-se investigar
Cauchy equivale à igualdade ~ = O para a função, que por sua vez em que intervalos f é crescente (resp. decrescente). Vejamos alguns
equivale à existência de um único a E IR tal que f(a) = O. Mas, como exemplos elementares, postergando uma análise mais geral para a se-
f(a) é uma soma de quadrados, temos J(a) = O se, e só se, cada um ção 6.3.
de tais quadrados for zero, i.e., se, e só se,
Exemplo 1.20. A função afim f : IR --+ IR, dada para x E IR por
a1n - b1 = a2a - b2 = · · · = anil - bn = O.
f(x) = ax + b é crescente se a> O e decrescente se a< O.
Por fim, como ao menos um dos bi é não nulo, temos a =/:- O e, escre-
3 Nas notações desta definição, vale observar que, para alguns autores, uma
vendo À= l,a
obtemos
função f satisfazendo a condição do item (a) (resp. (b), (e), (d)) é dita estritamente
crescentes (resp. estritamente decrescentes, crescentes, decrescentes).
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20 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 21
1

Verifiquemos tal afirmação quando a > O, sendo a análise do caso onde na penúltima passagem utilizamos o fato de que lod + a ~ O,
a < O totalmente análoga. Sendo x 1 < x 2 números reais quaisquer, para todo a E R.
segue de a > O que
A proposição a seguir resolve, para funções quadráticas, o problema
da determinação dos intervalos de monotonicidade.
e f é crescente. Proposição 1.23. Sejam a, b, e E R, com a=/:- O, e J(x) = ax 2+bx+c.
Exemplo 1.21. A função f : [O, +oo) -+ R dada por f(x) x~ 2
(a) Se a > O, então f é decrescente em ( -oo, - 2:] e crescente em
é crescente em R. Para verificar tal afirmação, tome números reais
O ~ a < b. Então
[-;ª, +oo).
b2 ª2 (b) Se a < O, então f é crescente em ( -oo, - ;ª] e decrescente em
f(b) - J(a) -----
b+2 a+2 [- ;a' +oo) .
(a+ 2!(b + 2) [b2(a + 2) - a2(b + 2)], Prova. Façamos a prova do item (a), sendo a prova do item (b)

e, uma vez que (a+ 2)(b + 2) > O, basta mostrarmos que b2(a + 2) -
análoga. Para x 2 > x 1 ~ -;ª,
temos

a2 (b + 2) > O. Para tanto, veja que a(x~ - Xi)+ b(x2 - x1)


b2(a + 2) - a2(b + 2) b2a - a2b + 2(b2 - a 2) a(x2 - X1) ( X2 + X1 + ~) > o,
ab(b - a)+ 2(b - a)(b + a)
(b - a)[ab + 2(b + a)]; uma vez que X2 > X1 ~ -;ª implica X2 - X1 > O e X2 + X1 + ~ > O. O
caso x 1 < x 2 ~ - 2: é análogo e também será deixado ao leitor. •
como O ~ a < b, segue que ambos os fatores do último produto acima
são positivos e, daí, b2 (a + 2) - a2 (b + 2) > O. A próxima definição é, de certa maneira, complementar à definição
1.19.
Exemplo 1.22. A função f : R -+ R dada por f(x) = x 3 + 2x é
crescente. De fato, para números reais quaisquer a < b, temos Definição 1.24. Sejam I e Rum intervalo e f: I-+ Ruma função
dada. Dizemos que y0 E R é o valor mínimo de f em I se as duas
J(b) - f(a) b3 a3 + 2b - 2a
-
condições a seguir forem satisfeitas:
(b - a)(b2 + ba + a2) + 2(b - a)
(b - a)(b2 + ab + a2 + 2). (a) Im (!) e [Yo, +oo).

Como b - a > O, basta mostrarmos que a2 + ab + b2 + 2 > O; uma (b) Yo E Im (!).


possibilidade é usar a desigualdade entre as médias para dois numeras:
Nesse caso, os reais x 0 E I tais que f(x 0 ) = y0 são denominados os
a2 + b2 + ab + 2 ~ 2labl + ab + 2 ~ labl + 2 > O, pontos de mínimo da função f.
22 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 23

Analogamente, definimos o que se entende por valor máximo e ao triângulo OQ R que x 2 + y 2 = 1 e, daí,
ponto de máximo de uma função f : I --+ li (I e li intervalo).
Genericamente, os pontos de máximo (resp. mínimo) de uma função 2xy = 2xvl - x 2 = 2Jx 2(1- x 2) = 2vx 2 - x 4 .
são denominados seus pontos extremos; da mesma forma, os valores
Fazendo a substituição z = x 2 , segue da expressão acima para a área
que a função assume em tais pontos são seus valores extremos.
que basta maximizar a função de segundo grau f (z) = z - z 2 , com
Veremos na seção 6.3 como procurar pontos extremos para uma
a condição de que O < z < 1 (uma vez que x < OR = 1). Pela
classe importante de funções, ditas deriváveis. Por ora, contentamo-
proposição 1.25, tal função admite z = ! como seu único ponto de
nos com alguns exemplos elementares, o primeiro dos quais sendo uma
consequência imediata da proposição 1.15.
máximo; como! E (O, 1), segue que o valor máximo desejado é f = 0)
!· Portanto, o valor máximo para a área é 2/'f = 1. •
Proposição 1.25. Em relação à função quadrática J(x) = ax 2+bx+c,
se a > O (resp. a < O), então - 2: é o único ponto de mínimo (resp. Exemplo 1.27. Dado um triângulo ABC no plano, mostre que seu
máximo) de f. Ademais, o valor mínimo (máximo) de f é - _t. baricentro G é o único ponto P do plano de ABC para o qual a soma
-2 -2 -2
AP + BP + CP é a menor possível.
A proposição acima tem várias aplicações interessantes, duas das
quais colecionadas abaixo à guisa de ilustração. Prova. Escolha um sistema Cartesiano de coordenadas, em relação
ao qual tenhamos A(x 1 , y 1 ), B(x 2, y 2 ) e C(x 3, y3). Se P(x, y), então a
Exemplo 1.26. Temos um semicírculo de diâmetro AB, centro O e fórmula para a distância entre dois pontos do plano Cartesiano fornece
raio lcm (figura 1.4). O retângulo PQRS tem o lado PQ situado
-2 -2 -2
sobre o diâmetro do semicírculo e os vértices R e S situados sobre o AP + BP + CP = f(x) + g(y),
mesmo. Calcule o maior valor possível para sua área.
onde
3

J(x) = l ) x - xi) 2 = 3x 2 - 2(x1 + X2 + x3)x + (x~ + x~ + x~)


i=l

e, analogamente, g(y) = 3y2 - 2(y1 + Y2 + y3)y + (y~ + Y~ + Yi).


A p Q X Q B Como x e y são variáveis independentes, a fim de minimizarmos
a soma AP2 + B P 2 + C P 2 é suficiente minimizarmos as funções
Figura 1.4: maximizando a área de PQRS. quadráticas f e g. Para tanto, recorrendo à proposição 1.25 concluímos
que f e g atingem seus valores mínimos somente nos pontos x =
Hx1 +x2+x3) e y = }(Y1 +y2+y3), respectivamente, os quais são (cf.
Solução. Sendo OQ = x e QR = y, temos que a área de PQRS é equação (6.3) do volume 2) precisamente as coordenadas do baricentro
igual a 2xy. Por outro lado, segue do teorema de Pitágoras aplicado G do triângulo ABC. •
24 Tópicos de Matemática Elementar 3 í
I
r~
I
' C amm
Antomo "hMN
a . eto 25

Outra estratégia elementar, por vezes útil, para abordar o pro- Solução. Novamente pela desigualdade entre as médias, temos
blema de encontrar os valores máximo e/ ou mínimo de uma função x 2 + 16 2 16 16 16
dada é a utilização de desigualdades. A seguir, vemos dois exemplos x+3+3+3
nesse sentido. > 4 4/x2. 16. 16. 16 =
V
~vx
m '
Exemplo 1.28. Seja f : [O, +oo) ~ IR a função dada por f(x) = x::( e daí
3 3 3

Qual o valor mínimo que f assume? A função f assume um valor


máximo? f(x) =
vx
x 2 + 16 :::;
m
32·
Solução. Inicialmente, note que A igualdade ocorre se, e só se, x 2 = \6 , ou seja, se, e só se, x = Js
(uma vez que x ~ O). Assim, ~ é o valor máximo de f. •
x2 + 1 x2 - 1+2
f(x) =
x+l x+l
2 2
X - 1 + - - = (x + 1) + - - - 2.
x+l x+l Problemas - Seção 1.2
Portanto, aplicando a desigualdade entre as médias para dois números, 1. Para reais dados a e b, com a #
O, considere a função afim
obtemos f : IR~ IR, definida por f(x) = ax + b. Se (ak)k:::: 1 é uma PA de
razão r, prove que a sequência (bk)k>I, dada para k ~ 1 inteiro
(x + 1) + - 2-
x+l
~ 2J(x + 1) · -x+l
2 - = 2V2,
por bk = f(ak), é uma PA de razão ar.

ocorrendo a igualdade se, e só se, x + 1 = x!i,


i.e., se, e só se, x 2 + 2. Ache a imagem da função f: IR~ IR dada por f(x) = x2~ 1 .

2x - 1 = O. Mas, como x ~ O, concluímos que haverá igualdade na 3. * Ache a imagem da função f: IR*~ IR, dada por f(x) = x + ~-
desigualdade acima se, e só se, x = v12 - 1. Assim, para x ~ O temos
4. Sejam I e IR um intervalo, a E I e f : I ~ IR uma função
2 dada. Se f é crescente (resp. decrescente) em (-oo, a] n I e
f(x) = (x + 1) + x + 1 - 2 ~ 2V2 - 2,
decrescente (resp. crescente) em [a, +oo) n J, então a é o único
de sorte que 2v12 - 2 é o valor mínimo de f, o qual é atingido se, e só ponto de máximo (resp. de mínimo) para f em I.
se, x = v12 - 1. 5. * Sejam X e IR um conjunto não vazio, f : X ~
IR uma função
Para o que falta observe que, para n E N, temos f (n) = n - 1 + dada e e E IR também dado. Relacione as imagens das funções
n!i ~ n - 1 e, daí, f não assume valor máximo. • f e f + e. Mais precisamente, se Y = Im (!), prove que Im (! +
Exemplo 1.29. Encontre o máximo da função f : [O, +oo) ~ IR dada e) = Y + e, onde Y + e denota o conjunto
por f(x) = x2~ 6 . Y +e= {y + e; y E Y}.
26 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 27

6. Motivados pela forma canônica do trinômio de segundo grau 12. Sejam a 1 < a 2 < · · · < an reais dados e f : lR --+ lR a função
ax 2 + bx + c, diremos doravante que dada por

2
f (x) = a { (x + ~)
2a
- ~}
4a2
(1.5)
Prove que f assume um valor mínimo e calcule tal valor mínimo
é a forma canônica da função quadrática f(x) = ax 2 + bx + c. em função de a1, a2, ... , ªn·
Utilize tal forma canônica para dar uma outra demonstração da 13. Em cada um dos itens a seguir, use a desigualdade entre as
proposição 1.15. médias para calcular o valor máximo da função dada:
7. Sejam f(x) = ax 2 +bx+c uma função quadrática tal que~> O, (a)f: lR--+ lR dada por J(x) = 2x;+ 3 ·
e x 1 < x 2 as raízes de J(x) = O. Prove os seguintes itens:
(b) f : lR--+ lR dada por J(x) = 2x:t!;+2.
(a) Se a> O, então f(x) <O{:} x E (xi, x2). (c) f: [O, 1]--+ lR dada por f(x) = x(l - x 3 ).
(b) Se a< O, então f(x) <O{:} x ~ [x1,x2].
14. Em cada um dos itens a seguir, use a desigualdade entre as
8. Seja f(x) = ax 2 + bx + e uma função quadrática. Se existe um médias para calcular o valor mínimo da função dada:
real x 0 tal que af(x 0 ) < O, prove que~> Oe Xo E (x1, x2), onde
(a)f: (O, +oo)--+ lR dada por f(x) = x + i·
x 1 < x 2 são as raízes da equação f(x) = O.
(b) f: (O, +oo)--+ lR dada por f(x) = (x+~1(;+2).
9. Dentre todos os retângulos de mesmo perímetro, prove que o de (c) f: (O, +oo)--+ lR dada por f(x) = x 2 +;,onde a é um real
maior área é o quadrado. positivo dado.
10. A seção reta de um túnel tem o formato de um semicírculo de (d) f: (O, +oo)--+ lR dada por f(x) = x;:a.
raio 5m, e o túnel está dividido em duas faixas de trânsito, de (e) f: (O, +oo)--+ lR dada por f(x) = 6x + ;! .
sentidos contrários, separadas por um canteiro muito estreito.
Os caminhões de uma companhia de transportes têm de atra- 15. (Romênia.) Sejam x, y E lR tais que x 2 - xy + y 2 ~ 2. Mostre
vessar o túnel para levar mercadorias de uma cidade a outra. que x 4 + y4 ~ 8 e explique quando ocorre a igualdade.
Se o comprimento máximo permitido de um caminhão é 18m, 16. (Estados Unidos.) Encontre os valores reais de k para os quais
quais devem ser sua largura e altura a fim de que a companhia a função f : lR \ { -1} --+ lR dada por
transporte o máximo possível de carga em cada caminhão?
( ) 4x + kx + k
2

11. Calcule o valor máximo da função f : lR --+ lR dada por f (x) = fx= x+l.
5x-1
x 2 +1' tenha como imagem a reta menos um intervalo da forma ( - L, L).
1'1'F
il
:1
''

28 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 29

17. (Torneio das Cidades.) Ache todos os x, y, z, t reais tais que Grosso modo, a definição acima significa que, para encontrarmos a
imagem de x E X por g o f, basta encontrarmos a imagem de f (x) E Y
y = x 3 + 2x por g. É fácil verificar que g o f, como definida acima, é de fato uma
z= y 3 + 2y função. Observe também que, para formarmos a composta de f e g,
t = z 3 + 2z devemos ter o domínio de g igual ao contradomínio de f. Vejamos
X= t 3 + 2t alguns exemplos.

Para o problema a seguir o leitor pode achar conveniente recor- Exemplo 1.31. Se f : X --+ Y é uma função arbitrária e ldx : X --+
dar a discussão sobre o mdc de dois inteiros no início do capítulo X e ldy : Y--+ Y são, respectivamente, as funções identidade de X e
1 do volume 1. Para um tratamento mais completo, veja a seção Y, então
1.2 do volume 5. f o ldx = f e ldy o f = f.
Verifiquemos a igualdade f o ldx = f, sendo a outra totalmente aná-
18. (OCM.) Seja f : N--+ Numa função tal que f(mn) = f(m) +
loga. Para tanto, basta notarmos que f o ldx é uma função de X em
f(n) sempre que me n forem primos entre sL Um natural m
Y tal que, para todo x E X,
é dito um ponto de estrangulamento de f se n < m ::::} f (n) <
f(m) e n > m::::} f(n) > f(m). Se f possui infinitos pontos de (! o ldx)(x) = f(Idx(x)) = f(x).
estrangulamento, mostre que ela é crescente.
Exemplo 1.32. Considere as funções f,g: ~--+~dadas por f(x) =
x 2 e g(x) = x 2~ 1 . Temos g o f e f o g funções de~ em~' com
1.3 Composição de funções
1 1 1
Dadas as funções f : X --+ Y e g : Y --+ Z temos, em última (g O f)(x) = g(f(x)) = (f(x)) 2 + 1 (x 2 ) 2 + 1 x4 + 1
análise, regras bem definidas para, partindo de x E X via f, obter
e
y = f(x) E Y e, via g, obter z = g(y) E Z. Parece, então, razoável que
possamos formar u,ma função que nos permita sair de X diretamente
para Z. Este é de fato o caso, e a função resultante é denominada a (J o g)(x) - f(g(x)) - (g(x))' - (x, ~ J x4
1
+ 2x2 + 1 ·
função composta de f e g, de acordo com a seguinte
O exemplo acima mostra algo interessante: podemos ter g o f =/=-
Definição 1.30. Dadas as funções f: X--+ Y e g: Y--+ Z, a função ! og. Bem entendido, pode mesmo acontecer que possamos formar gof
composta de f e g (nessa ordem) é a função g o f: X--+ Z definida, mas não f o g (ou vice-versa); basta termos, por exemplo, f: X--+ Y
para cada x E X, por e g : Y --+ Z, com X =/=- Z. Contudo, mesmo que possamos formar
ambas as funções, o exemplo mostra que, ainda assim, pode ocorrer
(g o f)(x) = g(f (x)). que g o f =/=- f o g.
30 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 31

Exemplo 1.33. Sejam f, g : (O, +oo) --+ (O, +oo) funções tais que A proposição acima é muito importante, na medida em que nos as-
segura que, se tivermos funções f, g eh e pudermos compô-las (nessa
x2 + 1 X+ 2
f(x) = 3x 2 e (! o g)(x) = - 3 -. ordem), podemos denotar a função composta por h o g o f simples-
mente, não nos preocupando com qual composição efetuar primeiro.
Encontre a expressão da função g. É também claro que vale uma observação análoga para mais de três
Solução. Segue da definição de composta que funções.

Exemplo 1.35. Seja f : R \ {-1, 1} --+ R \ {-1, 1} a função dada


2 = (f )( ) = f( ( )) = g(x) 2 + 1
X+
3 og X gX 3g(x)2 ' por f(x) = i~:-
Para cada n EN, encontre a expressão que define a
função
de mo do que g(x)2+1 _ x+2 · d f f f.
39 (x) 2 - - 3- ou, ain a, j(n) = O O ••• O

n
3g(x) 2 + 3 = 3(x + 2)g(x) 2 •
Solução. Veja primeiro que j(n) : R \ { -1, 1} --+ R \ {-1, 1}. Agora
Olhando essa expressão como uma equação do primeiro graú em
g(x)2, obtemos g(x) 2 = x!i
e, daí, g(x) = ±k,
para cada x > O. J< 2)(x) = (f o f)(x) = J(f(x)) = 1 - f(x) = l - ~ =x
Mas, como g deve ter imagem não negativa, deve ser g(x) = k, 1 + f(x) 1+ i~: '
para todo x > O. •
isto é, j< 2) = ldx, a função identidade de X= R \ {-1, l}. Segue daí
Apesar de não ser comutativa, a operação de composição de funções que
é associativa, conforme ensina a seguinte
j<3) = f o j<2) = f o ldx = f e J<4) = f o j<3) = f o f = ldx.
Proposição 1.34. Dadas funções f: X--+ Y, g: Y--+ Z eh: Z--+
W, temos Em geral, se já mostramos que j< 2k-l) = f e j< 2k) = ldx, temos que
h o (g o !) = ( h o g) o f. j<2k+l) = f o j<2k) = f o ldx = f
Prova. Veja primeiro que ambas h o (g o!) e (h o g) o f são funções
e
de X em W. Portanto, para serem iguais, é suficiente que associem,
j(2k+2) = f o j<2k+l) = f o f = ldx.
a cada x E A, um mesmo elemento de W. Para ver isto, basta notar
que Logo, segue por indução que j(n) = f quando n for ímpar e j(n) = ldx
quando n for par. •
(h o (g o f))(x) h((g o f)(x)) = h((g(f(x)))
(h o g)(f(x)) = ((h o g) o f)(x). Dada uma função f : X --+ Y, já vimos exemplos que mostram que
nem sempre a imagem de f é igual ao contradomínio Y. Por outro
• lado, também podemos ter dois elementos distintos no domínio com
32 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 33

a mesma imagem. Para um exemplo, considere a função de segundo Segue, em particular, do exemplo anterior que a função de propor-
grau f(x) = x2; para todo x E IR, temos f(x) = x2 = (-x) 2 = cionalidade inversa (cf. exemplo 1.13) é uma bijeção de IR\ {O} em si
f(-x). Emprestamos nomes especiais às funções cujos contradomínios mesmo.
coincidem com suas imagens, ou que associam imagens distintas a
elementos distintos do domínio, conforme ensina a seguinte Exemplo 1.38. Seja f : [O, 1] -r [O, 1] uma função sobrejetora, tal
que ff(x1) - f(x2)[ ::::; fx1 - x2[ para todos xi, x2 E [O, l]. Prove que
Definição 1.36. Uma função f: X -r Y é dita: há somente duas possibilidades: ou f(x) = x, para todo x E [O, 1] ou
(a) Injetora, ou injetiva ou, ainda, uma injeção, se, para todo J(x) = 1 - x, para todo x E [O, 1].
y E Y, existir no máximo um x E X tal que f(x) = y. Prova. Sejam a, b E [O, 1] tais que f(a) = O e f(b) = 1 (tais a e b
(b) Sobrejetora, ou sobrejetiva ou, ainda, uma sobrejeção, se existem por estarmos supondo que fé sobrejetora). Então, temos por
sua imagem for todo o conjunto Y, i.e., se, para todo y E Y, hipótese que
existir pelo menos um x E X, tal que y = f (x).
1 = f1 - Of = IJ(b) - f(a)f ::::; fb - af ::::; 1,
(c) Bijetora, ou bijetiva ou, ainda, uma bijeção, se for ao mesmo
de modo que fb-af = 1. Mas, os únicos a, b E [O, 1] tais que fb-af = 1
tempo injetora e sobrejetora.
são a = O, b = 1 ou vice-versa. Suponha que a = O e b = 1 (o outro
Um modo eficiente de verificar se uma função f : X -r Y é injetora caso pode ser analisado de modo análogo), e tome e E (O, 1) arbitrário.
é verificar se a implicação Então, segue da desigualdade triangular (equação (7.1) do volume 1)
e da hipótese sobre f que
(1.6)

é satisfeita, para todos x 1 , x 2 E X. Da mesma forma, para garantirmos 1 ff(l) - f(O)f


que f é sobrejetora, devemos ser capazes de, para cada y E Y, obter < ff(l) - f(c)f + ff(c) - f(O)f
pelo menos uma solução x E X para a equação f(x) = y. Vejamos < f1 - cf + fc - Of
alguns exemplos. (1- e)+ e= 1
Exemplo 1.37. Se X e IR é um conjunto não vazio e f: X -r X é
e, daí, deve ser ff(c) - f(O)f = fc - Of. Mas, como e, f(c) 2 O, segue
uma função tal que f (! (x)) = x para todo x E X, então f é bijetiva.
que f(c) = e. Por fim, a arbitrariedade do e E [O, 1] escolhido garante
Prova. Sejam x1 e x2 números reais tais que f(x 1) = f(x 2). De que f(x) = x, para todo x E [O, 1]. •
acordo com (1.6), para mostrarmos que f é injetiva é suficiente pro-
var que x1 = x2. Para tanto, observe que J(x1) = f(x 2) implica A proposição a seguir ensina como se comportam funções injetoras,
sobrejetoras e bijetoras em relação à composição.
J(f(x 1)) = J(f(x 2)) e, daí, em x1 = x2 pela hipótese.
A sobrejetividade de f é imediata: fixado y E X e tomando x = Proposição 1.39. Sejam f : X -r Y e g : Y -r Z funções dadas.
f(y) E X, temos f(x) = J(f(y)) = y e, daí, y E Im (!). • Então:
l'!""""1
1

Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 35


34

(a) g o f injetora=} f injetora, mas a recíproca nem sempre é ver- ego f também é injetora.
dadeira.
(d) Escolhido arbitrariamente z E Z, a sobrejetividade de g garante a
(b) g o f sobrejetora =} g sobrejetora, mas a recíproca nem sempre existência de y E Y tal que z = g(y). Por outro lado, a sobrejetividade
é verdadeira. de f assegura a existência de x E X tal que f(x) = y. Então, temos
(c) g, f injetoras =} g o f injetora. (g o f)(x) = g(f(x)) = g(y) = z,
(d) g, f sobrejetoras =} g o f sobrejetora.
de modo que g o f também é sobrejetiva.
(e) g, f bijetoras =} g o f bijetora.
Prova. (e) Segue dos itens (e) e (d) que
(a) Para x 1 e x 2 em X, temos que
g e f bijetoras =} f injetoras e sobrejetoras
g e
f(x1) = f(x2) =} g(f(x1)) = g(f(x2))
=} g o f injetora e sobrejetora
=} (g o f)(x 1) = (g o f)(x2)
=} g o f bijetora.

onde, na última passagem, utilizamos o fato de g o f ser injetora. Te-


mos agora que dar um exemplo no qual f seja injetora mas g o f não

Revisitemos o exemplo 1.37 à luz da proposição acima.
o seja. Para tanto, basta tomarmos X = Y = Z = IR, f(x) = x e
g(x) = x 2 . Exemplo 1.40. Sejam X um conjunto não vazio e f :X --+ X uma
função tal que f o f = ldx, então f é bijetora.
(b) Escolhido arbitrariamente z E Z, a sobrejetividade de go f garante
a existência de pelo menos um x E X tal que z = (go f)(x). Mas, daí, Solução. De fato, como a função identidade ldx : X --+ X é uma
z = g(f(x)), de sorte que g também é sobrejetora. Para o exemplo bijeção, segue dos itens (a) e (b) da proposição anterior que f é injetora
necessário à segunda parte, tomemos novamente X = Y = Z = IR, e sobrejetora, logo bijetora. •
g(x) = x e J(x) = x 2 .

(c) Utilizando sucessivamente as injetividades de g e f, temos, para


x 1 e X2 em X, que Problemas - Seção 1.3
=} g(f(x1)) = g(f(x2))
=} f (x1) = f (x2) 1. Sejam f, g : IR--+ IR funções tais que g(x) = 2x-3 e(! o g)(x) =
2x 2 - 4x + 1. Encontre a expressão que define a função f.
36 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 37

2. Considere as funções reais de uma variável real f e g, dadas por 9. Dada uma função f : X -----+ Y, definimos seu gráfico como o
J(x) = x - ~ e g(x) = x 2 - i·
Encontre o conjunto-solução da subconjunto G1 do produto Cartesiano X x Y dado por
inequação l(g o f)(x)I > (g o f)(x).
G1 = {(x,y) E X x Y; y = f(x)}.
3. Sejam f e g funções reais de uma variável real, tais que J(x) =
Se F : X -----+ G f é a função definida para x E X por F (x)
2x + 7 e (! o g)(x) = x2 - 2x +3 . Encontre a expressão que (x, f(x)), prove que Fé uma bijeção.
define a função g.
10. * Se I e IR é uma união de intervalos, simétrica em relação a
4. Sejam f e g as funções reais de uma variável real dadas por O E IR, dizemos que uma função f : I-----+ IR é par (resp. ímpar)
f(x) = ax + b, g(x) =ex+ d, com ac #- O. Mostre que se f(x) = J(-x) (resp. f(x) = - J(-x)), para todo x E J.
Prove que toda função f : IR -----+ IR pode ser escrita, de uma
f og =gof {=} (a - l)d = (e - l)b. única maneira, como a soma de uma função par e uma ímpar.

5. Seja f : IR-----+ IR a função definida por 11. Seja f : IR\ {O} -----+ IR uma função tal que f (%) = f(a) - J(b),
para todos os reais não nulos a e b. Prove que f é uma função
par.
f (x) = { :!~, se x #- -b
-1, se x = -b 12. Seja f : IR -----+ IR uma função ímpar. Decida se a função f o f é
par, ímpar, ou nem par nem ímpar.
Se f (! (x)) = x para todo x real, calcule o valor de ab.
13. Seja g: IR-----+ IR uma função ímpar, tal que g(x) > O para x > O.
6. * Se I e IR é um intervalo e f : I -----+ IR é uma função crescente Mostre que existe uma função f : IR -----+ IR tal que g = f o f.
ou decrescente, prove que f é injetiva.
14. (Itália.) Seja f : IR -----+ IR uma função tal que, para todo real
7. Sejam X, Y, Z e IR intervalos e f : X -----+ Y, g : Y -----+ Z funções x, tenhamos J(lü + x) = J(lO - x) e J(20 + x) = - J(20 - x).
dadas. Se f e g forem crescentes (resp. decrescentes), prove que Prove que fé ímpar e encontre p > O tal que f(x + p) = f(x),
g o f também é crescente (resp. decrescente). para todo x E R

8. Seja f : IR\ {O} -----+ IR uma função tal que 15. * Uma função f : IR-----+ IR é periódica se existe um menor real
positivo p, denominado o período de f, tal que f(x+p) = J(x)
para todo x E R Dada uma função periódica f : IR -----+ IR, de
período p > O, faça os seguintes itens

para todo real x #- O. Se u e v são reais não nulos, tais que (a) Seja g: IR-----+ IR também periódica de período p. Se f(x) =
u 2 +v 2 = 1 e f (;J = 2, calcule o valor de f (;)· g(x) para todo x E [O,p), prove que f = g.
38 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 39

(b) Dado a E lR. \ {O}, prove que a função g : lR. ---+ lR. dada por 1.4 Inversão de funções
g( x) = f (ax) é periódica de período 1: 1.
Dentre todas as funções f : X ---+ Y, o caso de uma bijeção é
16. (IMO - adaptado.) Seja f : lR. ---+ [O, 1] uma função tal que, para o melhor possível. Realmente, nesse caso os elementos de X e Y
um certo a E JR., tenhamos estão em correspondência biunívoca, ou seja, a cada elemento de X
corresponde um único elemento de Y via f, e vice-versa. Quando isso
1
f(x +a)= 2 + J f(x) - f(x) 2 , ocorre, podemos obter uma outra função g : Y ---+ X, simplesmente
exigindo que
para todo x E R Prove que f é periódica, i.e., que existe um f(x) = y {:} g(y) = x.
real p > O tal que f(x + p) = f(x), para todo x E R
Uma pergunta natural a esta altura é a seguinte: por que não
17. (OBM.) A função f: Z---+ lR. é tal que f(x)·= x-10 para x > 100 podemos usar a declaração acima para definir a inversa de uma função
e f(x) = f(f (x + 11)) para x:::;; 100. Encontre a imagem de f. bijetiva? De um ponto de vista intuitivo, se f não fosse sobrejetiva,
existiria um elemento y de Y que não seria imagem por f de nenhum
18. (Hungria.) Considere a função f : N ---+ N satisfazendo as con-
elemento de X; assim, não teríamos uma maneira natural de definir
dições a seguir:
g(y) a partir de f. Por outro lado, se f não fosse injetiva, existiriam
(a) f(l) = 2. elementos distintos x 1 e x 2 em X com uma mesma imagem y E Y via
f; quando tentássemos definir g por meio de f, também não haveria
(b) f(2n) = 2f(n) + 1. maneira natural de decidirmos qual, dentre x 1 e x 2 , deveria ser igual
(c) f(f(n)) = 4n + 1. a g(y).
Voltando ao caso em que fé bijetiva, não é difícil ver que g, defi-
Calcule !(1993). · nida como acima, é de fato uma função, ademais tal que (g o!) (x) = x,
para todo x E X, e (! o g)(y) = y, para todo y E Y. De outro modo,
19. Dê um exemplo de uma função sobrejetora f : N ---+ N tal que,
temos g o f = ldx e f o g = ldy. Reciprocamente, se f : X ---+ Y
para todo n EN, o conjunto {x EN; f(x) = n} seja infinito.
e g : Y---+ X são funções tais que g o f = ldx e f o g = ldy, então
20. (OIMU.) Sejam e e a reais positivos dados e Q um quadrado no a proposição 1.39 garante que f deve realmente ser uma bijeção, e o
plano, também dado. Prove que não existe função sobrejetiva problema 1 garante que g é a única função que satisfaz tais igualdades
f : [O, 1] ---+ Q tàl que, para todos O:::;; x, y:::;; 1, tenhamos de composição.
Resumimos a discussão acima na definição a seguir.
d(f(x), f(y)) :::;; clx - Yla+l/2,
Definição 1.41. Seja f : X ---+ Y uma bijeção dada. A função
onde, para pontos A e B do plano, denotamos d(A, B) = AB. inversa de f é a função g : Y ---+ X tal que, para x E X, y E Y,
l
j
40 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 41

temos mesma, i.e, que (Idx)- 1 = ldx. No entanto, a inversa de uma função
g(y) =X{:} Y = l(x). pode ser ela mesma sem que a função seja a identidade; um exemplo
é fornecido pela função de proporcionalidade inversa l : R \ {O} ----+
Daqui em diante, denotaremos a inversa de uma bijeção l : X ----+ Y
JR \ {O} (a qual já sabemos ser bijetiva). De fato, como
por 1- 1 : Y----+ X. Observe que o expoente -1 na notação de função in-
versa não tem nenhum significado aritmético; ele simplesmente chama 1 1
f(x) = Y {:} - = y {:}X= -,
atenção para o fato de que 1- 1 faz o caminho inverso de f, i.e., aplica X y
Y em X em vez de X em Y, revertendo as setas das associações feitas concluímos que
por f. 1
1- 1 (y) =X=-,
Surge, agora, naturalmente, a questão de como calcular efetiva- y
mente a inversa de uma bijeção. Um tal cálculo é, em geral, mais e daí 1-1 = l.
complicado que o de funções compostas. Entretanto, para funções re-
ais de uma variável real l : X ----+ Y, podemos raciocinar da seguinte Exemplo 1.44. Se a, b e e são reais dados, com a > O, as proposições
maneira: fixado y E Y, como 1- 1 (y) = x se, e só se, f(x) = y, a fim 1.15 e 1.23 garantem que a função quadrática l(x) = ax 2 + bx + e,
de explicitar 1- 1 (y) = x basta resolvermos, para x E X, a equação vista como função
l(x) = y. Vejamos, inicialmente, alguns exemplos relevantes.
l : [-..!!._
2a'
+oo) ----+ [- ~ +oo) '
4a'
Exemplo 1.42. Sejam a e breais dados, sendo a =/=- O, e considere a
função afim l : R ----+ R dada por l (x) = ax + b. Mostre que f é uma é uma bijeção. Calcule a expressão de sua invera.
bijeção e calcule tal inversa.
Solução. De acordo com a discussão que precedeu o exemplo 1.42, a
Prova. Note inicialmente que fim de obter a expressão da inversa 1- 1 : [ - t,, +oo) ----+ [- 2bª, +oo)
' y-b de f, devemos fixar y E [- t,, +oo) e resolver, para x E [- 2bª, +oo),
l (x) = y {:} ax + b = y {:} x = - - . a equação l (x) = y, isto é, a equação ax 2 + bx + e - y = O. Ao fazê-lo,
a
a condição x ~ - 2bª garante (lembre-se de que a > O) que
Por outro lado, a definição de 1- 1 exige que tal valor de x deve ser
exatamente igual a J- 1 (y), de maneira que -b + Jb 2 - 4a(c - y) -b + J ~ + 4ac
x- -------
- 2a - 2a '

onde~= b2 - 4ac é o discriminante de f. Logo,


Exemplo 1.43. Uma discussão análoga à do exemplo acima garante
que a inversa da função identidade ldx do conjunto X =/=- 0 é ela

42 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 43

Exemplo 1.45. Como caso particular do exemplo anterior4, a função (b) Prove que existe no máximo uma função 9 Y --+ X tal
I : [O, +oo) --+ [O, +oo) dada por I (x) = x 2 é uma bijeção, tendo como que 9 o I = Idx e I o 9 = ldy.
inversa a função raiz quadrada
2. Seja I: [!, +oo)--+ rn,
+oo) a função definida por l(x) = x 2 -
1- 1 : [O, +oo) ---+ [O, +oo) x + 1. Mostre que I é uma bijeção e obtenha a expressão para
X f-t VX sua inversa.
Terminemos esta seção explicitando uma relação útil entre compo- 3. Seja I : IR\ {2} --+ IR\ {3} a função definida por l(x) = 3 :.:::t
sição e inversão de funções. Mostre que I é uma bijeção e obtenha a expressão para sua
Proposição 1.46. Se I : X --+ Y e 9 : Y --+ Z são funções bijetoras, inversa.
então 9 o I : X --+ Z é bijetora e 4. * Sejam n um inteiro positivo e I : IR --+ IR a função dada por
( 90 1) -1 = 1-1
09 -1 . l(x) = xn. Prove que I é uma bijeção se, e só se, n for ímpar.
Nesse caso, calcule a expressão da inversa de I.
Prova. Já sabemos, pelo item (e) da proposição 1.39, que 9 ó I é
bijetora. Por outro lado, como (9 o f)- 1 e 1- 1 o 9- 1 são ambas funções 5. * Sejam X C IR um intervalo e I : X --+ X uma bijeção. Se
de Z em X, a fim de verificar que (9 o f)- 1 = 1- 1 o 9- 1 é suficiente, I for crescente (resp. decrescente), prove que 1- 1 também será
pela unicidade da inversa (cf. problema 1), mostrar que crescente (resp. decrescente).

(f- 1 o 9- 1 ) o (9 o!)= Idx e (9 o!) o (f- 1 o 9- 1 ) = Idz. 6. Sejam I : IR --+ IR uma bijeção e 9 : IR x IR --+ IR x IR a função
definida por 9( x, y) = (x 3 , x - I (y)). Prove que 9 é bijetora e
Mas tal verificação é imediata e será deixada a cargo do leitor.
• encontre a expressão de sua inversa em termos da função inversa
1-1 de 1-
7. (IMO.) Seja G um conjunto (não vazio) de funções afins, pos-
Problemas - Seção 1.4 suindo as seguintes propriedades:

1. * Seja I : X --+ Y uma função dada.


(a) Se I, 9 E G, então I o 9 E G.
(b) Se I E G, então 1- 1 E G.
(a) Se 9: Y--+ X é uma função tal que 9 o I = Idx e I o9 =
(c) Para toda I E G, existe x f E IR tal que I (x f) = x f.
ldy, prove que I é uma bijeção.
4 Aquie no exemplo anterior estamos nos apoiando no conhecimento anterior Prove que existe um real x 0 tal que l(x 0 ) = x 0 para toda I E G.
do leitor. A rigor, a discussão apresentada só pode ser rigorosamente justificada
com a introdução do conceito de função contínua, o que faremos no capítulo 4. A 8. (França.) Seja I : N --+ N uma bijeção. Prove que existem
esse respeito, veja também o exemplo 4.22. naturais a< b < e tais que l(a) + l(c) = 2l(b).
44 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 45

1.5 Funções definidas implicitamente determinar as funções f que satisfazem (1.7). Só a experiência dirá
que relações obtidas a partir de uma relação inicialmente dada serão
Uma função pode ser definida implicitamente por um conjunto de úteis nesse sentido.
propriedades. Por exemplo, sendo g(x) = x + 1 e h(x) = x - 1, a Em geral, um problema interessante é o de encontrar todas as
função f: ~--+~dada por f(x) = x 2 é tal que funções definidas implicitamente por um certo conjunto de relações
dadas. Uma vez que não há uma teoria geral a esse respeito, no que
f(g(x)) = g(x) 2 e f(h(x)) = h(x)2,
segue, veremos alguns exemplos que ilustram um certo número de
ou seja, ela é tal que técnicas úteis no trato de funções definidas implicitamente.

f(x+l) = (x+1) 2 =x 2 +2x+l e J(x+l) = (x-1) 2 =x 2 -2x+l. Exemplo 1.47 (Canadá). Ache todas as funções f: N--+ N, crescen-
tes e tais que f(2) = 2 e f(mn) = f(m)f(n), para todos m, n EN.
Daí, temos que a função acima satisfaz, para todo x E~' a relação
Solução. De 1 ~ J(l) < J(2) = 2 obtemos J(l) = 1. Agora J(4) =
f (X + 1) - f (X - 1) = 4x. f(2)J(2) = 4 e J(8) = J(4)J(2) = 8. Suponha pois, por hipótese de
indução, que J(2k) = 2k para um certo natural k. Então
Podemos tentar reverter os passos acima, perguntando agora quais são
as funções f : ~ --+ ~ tais que

f (x + 1) - f (x - 1) = 4x, V x E R (1. 7) e segue que J(2n) = 2n para todo inteiro não negativo n. Portanto,
fixado n natural, segue de f ser crescente que
É claro que a função f (x) = x 2 não é a única, pois, como é fácil veri-
ficar, para qualquer constante real e a função fc(x) = x 2 + e também
satisfaz ( 1. 7).
Corno uma função f : ~ --+ ~ satisfazendo (1. 7) não está dada Mas, uma vez que J(2n + 1), J(2n + 2), ... , J(2n+1 - 1) são naturais,
por seus valores, e sim por uma relação que deve satisfazer, dizemos a única possibilidade é termos
que a função está definida implicitamente. Note que, a partir de ( 1. 7),
f(2n + 1) = 2n + 1, J(2n + 2) = 2n + 2, ... , J(2n+l - 1) = 2n+1 - 1.
podemos descobrir outras relações que a função satisfaz. Por exemplo,
se g: ~--+~é dada por g(x) = x 2 , temos Finalmente, como esse raciocínio é válido para todo n natural, segue
que f (m) = m para todo m natural. •
f(g(x) + 1) - f(g(x) - 1) = 4g(x)
Exemplo 1.48 (OIM). Se D = ~ - {-1, O, 1}, encontre todas as
ou, ainda,
funções f : D --+ ~ tais que, para todo x E D, tenhamos
f(x 2 + 1) - f(x 2 - 1) = 4x 2 , V x E~- (1.8)
Assim, qualquer função que satisfizer (1.7) também satisfará (1.8). f(x)2 f ( 1 - x) = 64x.
l+x
Entretanto, a relação (1.8) pode não ser muito útil para ajudar a
46 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 47

Solução. Note antes de tudo que, como X=/=- o, temos f(x) 2 f e~;) =/=- tendo em mente que essa substituição é meramente uma composição de
Ü para todo x E D. Em particular, J(x) =/=- O para todo x E D. Seja funções. Doravante, sempre que não houver perigo de confusão, ado-
agora g(x) = i~;para x E D. A definição de D garante facilmente taremos essa simplificação de linguagem, a qual já aparece no exemplo
que g(D) e D, de modo que podemos compor f com g. Assim, para a seguir. Ao lê-lo, tente identificar as composições que foram masca-
todo x E D, temos radas por substituições.
Exemplo 1.49 (Polônia). Encontre todas as funções f : R--+ R tais
(1.9)
que, para todos x, y E R, tenhamos

Substituindo a expressão de g na relação acima, chegamos a (x - y)f(x + y) - (x + y)f(x - y) = 4xy(x 2 - y2 ).

1-x 1--1-x) = (1+ 1 -x )


Solução. Como essa relação deve ser válida para todos os x, y E R,
f
(
1+ X
)
f ( 1+ ~ 64 X
ela deve ser válida se fizermos x = ª!b e y = ª;b, com a, b E R.
Substituindo esses valores de x e y na relação do enunciado chegamos
ou, ainda, à relação

f (1-x)
1+ f (X)
X
2
= 64
(1-x)
1+ X '
bf(a) - af(b) = (a 2 - b2 )ab,
a qual deve ser satisfeita para todos a, b E R Em particular, quando
para todo x E D. Elevando ao quadrado ambos os membros da relação ab =/=- O, dividindo ambos os membros dessa relação por ab segue que
do enunciado e dividindo o resultado pela relação acima, obtemos devemos ter
f(a) _ f(b) = ª2 _ b2
J(x)3 = 64x2 (1-x)
1 +x a b '
para todos a, b E R \ {O}. Portanto, sendo g : R \ {O} --+ R a função
dada por g(x) = 1C:) - x 2 , a relação acima diz que g(a) = g(b), para
e, daí, J(x) = 4 3 x 2 (i~;). todos a, b E R \ {O}. Em outras palavras, g deve ser constante, isto é,
Até este ponto, mostramos apenas que, se f existir, deve ser dada deve existir um real k tal que g(x) = k para todo x E R \ {O}. Mas
por essa expressão. Temos, pois, de verificar que f, assim definida, isso é o mesmo que ser f(x) = x 3 + kx, para todo x E R \ {O}.
realmente satisfaz a relação do enunciado para todo x E D. Mas tal Por outro lado, fazendo x = y = 1 na relação do enunciado, obte-
verificação é imediata e será deixada a cargo do leitor. • mos f(O) = O para qualquer função que satisfaça aquelas condições.
Ainda em relação ao exemplo anterior, com um pouco mais de Como 03 + k · O = O, concluímos que qualquer função que satisfaça as
prática poderíamos prescindir de definir a função g para em seguida condições do enunciado deve ser da forma f (x) = x 3 + kx, para todo
compô-la com f a fim de obter (1.9). Ao invés disso, poderíamos xER
Novamente temos de verificar que toda função desse tipo satisfaz
apenas ter dito
as condições do enunciado, o que é imediato e será, uma vez mais,
Substituindo x por i~; na relação do enunciado, obtemos ... , deixado a cargo do leitor. •
48 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 49

Para o próximo exemplo precisamos da seguinte (b) f(xy) = f(x)f(y).

Definição 1.50. Se X é um conjunto não vazio e f: X--+ X é uma Solução. Seja f uma função satisfazendo as condições do enunciado.
função dada, um elemento x 0 E X é dito um ponto fixo de f se Fazendo x = y = O em (a), obtemos
f(xo) = Xo.
f(O) = f(O + O) = f(O) + f(O) = 2f(O),
Se I e lR é um intervalo, uma função decrescente f : I--+ I admite
no máximo um ponto fixo. De fato, se x 1 , x 2 E I fossem pontos fixos de modo que segue que f(O) = O. Fazendo y = x em (a), obtemos
de f, com x 1 < x 2 , seguiria de f ser decrescente que
f(2x) = f(x + x) = f(x) + f(x) = 2f(x),

para todo x E JR. Fazendo agora y = 2x em (a), segue que


uma contradição à hipótese x 1 < x 2 .
f(3x) = f(x + 2x) = f(x) + f(2x) = f(x) + 2f(x) = 3f(x),
Exemplo 1.51 (Argentina). Seja f: lR--+ lR uma função decrescente e
tal que f(x+ f(x)) = x+ f(x) para todo real x. Prove que J(f(x)) = x para todo x E lR. Repetindo o argumento acima concluímos, por
para todo real x. indução sobre n EN, que

Prova. As hipóteses sobre f garantem que x + f(x) é ponto fixo de f f(nx) = nf(x), 'í/ n EN, x E lR (1.10)
para todo x E lR. Por outro lado, o caráter decrescente de f garante,
de acordo com a discussão anterior, a existência de no máximo um Em particular, fazendo x = 1 em (1.10), obtemos f(n) = n, para todo
ponto fixo para f, de sorte que deve existir a E lR tal que x + f (x) = a i
n EN. Fazendo agora x = em (1.10), segue que
para todo x E JR, o que é o mesmo que f(x) = a - x para todo x E JR.
Portanto 1 = f(l) = f ( n · ~) = nf (~),
J(f(x)) = f(a - x) = a - (a - x) = x,
para todo x E lR.
• de modo que f (i) = i· Finalmente, x = i em (1.10), com m EN,
fornece
O próximo exemplo desenvolve ideias úteis em muitas outras si-
tuações, e a primeira parte do argumento que apresentamos a seguir
resolve o problema 8, página 14.
!(:) =f(n· !) =nf(!) =n· ! = ;.
Exemplo 1.52. Encontre todas as funções f: lR--+ lR tais que f(l) = Vamos ver o que ocorre com os racionais negativos. Para isso, façamos
1 e, para todos x, y E JR, tenhamos y = -x no item (a), obtendo

(a) f(x + y) = f(x) + f(y). O= f(O) = f(x + (-x)) = f(x) + f(-x),

1
50 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 51

ou ainda Exemplo 1.53 (Lituânia). Encontre todas as funções f : N---+ N tais


f(x) = -f(-x), \/ x ER (1.11) que, para todos os naturais m e n, tenhamos
Em particular, sendo x < O racional, segue de (1.11) e do fato de ser
J(f(m) + f(n)) = m + n.
-x um racional positivo que f(x) = -f(-x) = -(-x) = x; portanto,
f(x) = x, para todo x E (Q. Solução. Provemos primeiramente que f é injetiva. Para tanto, se-
Como f(x) = x para todo x E (Q, desconfiamos que a função jam m e n naturais tais que f(m) = f(n) = k. Então f(2k) =
identidade seja a única satisfazendo as condições do enunciado. Para J(f(n) + f(n)) = 2n e, analogamente, f(2k) = 2m, de modo que deve
confirmar tal suposição, voltemos nossa atenção à condição do item ser m = n.
(b). Inicialmente, mostremos que se para um certo x E R tivermos Seja agora k > 1 natural. De (k - 1) + 2 = k + 1, segue que
f(x) = O, então x = O. De fato, caso fosse x-=/:- O, fazendo y = em i
(b) teríamos J(f(k - 1) + f(2)) = k + 1 = J(f(k) + f(l)).
Pela injetividade de f, temos então f(k - 1) + f(2) = f(k) + f(l)
ou, ainda, f(k) - f(k - 1) = f(2) - f(l), para todo natural k > 1.
o que é uma contradição. Agora, fazendo y = x -=/:- O em (b), obtemos Escrevendo essa relação para k = 2, 3, ... , n e somando as igualdades
assim obtidas, chegamos a
f(x 2 ) = f(x · x) = f(x) · f(x) = J(x) 2 > O; (1.12)
f(n) = (n - 1)(!(2) - f(l)) + f(l),
portanto, se x,y E R, com x < y, e a-=/:- O for tal que y - x = a2 ,
então, aplicando sucessivamente (a), (1.11) e (1.12), obtemos para todo natural n > 1. Fazendo n = 2f(l) na relação acima, segue
então que
f(y) - f(x) = f(y) + f(-x) = f(y - x) = f(a 2 ) = f(a) 2 > O,
de sorte que f é crescente. Suponha, por fim, que existe a E R tal que 2 = J(f(l) + f(l)) = f(2f(l)) = (2f(l) - l)(f (2) - f(l)) + f(l)
f(a) < a e tome (cf. problema 1.5.2, volume 1) um racional r tal que
ou, ainda,
f(a) < r < a; o caráter crescente de f fornece
f(2) - f(l) = 2 - f(l) .
r = f(r) < f(a), 2f(l) - 1
Mas f(2) - f(l) é inteiro, de modo que 2f(l) - 1 divide 2 - f(l).
o que é uma contradição. Analogamente, não podemos ter f (a) > a,
Assim, deve ser 2f(l) - 1 :::; 12 - f(l)I e é fácil concluir, a partir daí,
e a única possibilidade é f (a) = a. Mas, como a E R foi escolhido
que a única possibilidade é f(l) = 1, de modo que f(2) = 2. Segue
arbitrariamente, devemos ter f(x) = x para todo x E R. •
então que f (n) = n, para todo n natural. •
Nosso último exemplo mostra que, para funções f : N---+ N, argu-
mentos elementares de divisibilidade serão por vezes úteis.
52 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 53

Problemas - Seção 1.5 8. (Áustria-Polônia.) Prove que não existe função f : Z -+ Z tal
que, para todos x, y E Z, tenhamos
1. * Generalize a discussão do parágrafo anterior ao exemplo 1.51,
mostrando que, se I e :IR. é um intervalo e f, g : I -+ I são f(x + f(y)) = f(x) - y.
funções tais que f é decrescente e g é crescente, então existe no
máximo um x 0 E I tal que f(xo) = g(xo). 9. (Romênia.) Ache todas as funções f : Z-+ Z tais que f(O) = 1
e
2. Ache todos os reais positivos x para os quais J2_+ Jx = ~- f(f(k)) + f(k) = 2k + 3,
3. Encontre todas as funções f : Q -+ Q tais que para todo k E Z.

10. (Romênia.) Sejam k > 1 um inteiro ímpar e A= {x 1 , x 2, ... , xk}


um conjunto de k números reais. Obtenha todas as funções
injetivas f : A -+ A tais que
para todos x, y E Q.

4. (Áustria.) Encontre todas as funções f : Z \ {O} -+ Q tais que,


para todos x, y E Z \ {O} para os quais x + y seja múltiplo de 3,
tenhamos 11. Sejam a um real dado e f: :IR.-+ :IR. uma função tal que f(O) = !
e, para todos x, y E :IR., tenhamos

f(x + y) = f(x)f(a - y) + f(y)f(a - x).


5. (Vietnã.) Ache todas as funções f: :IR.-+ :IR. tais que
Prove que f é constante.
1 1 · 1
2J(xy) + 2J(xz) - f(x)f(yz) 2'.: 4, 12. Ache todas as funções f: Q-+ Q~ tais que f(x+y) = f(x)f(y),
para todos x, y, z E :IR.. para todos x, y E Q.

6. (Espanha.) Encontre todas as funções crescentes f : N -+ N tais 13. Ache todas as funções f : [O, 1] -+ [O, 1] tais que f(O) o,
que, para todo n EN, tenhamos f(n +f(n)) = 2f(n). f(l) = 1 e
+ y) + f(x - y) = 2f(x),
f(x
7. Encontre todas as funções f : :IR. -+ Z tais que:
para todos os x, y E [O, 1] tais que x - y, x + y E [O, l].
(a) f(x +a)= f(x) + a, para todo x E :IR. e todo a E Z. 14. (Lituânia.) Seja f: Z-+ Z uma função tal que f(m 2 + f(n)) =
(b) J(f(x)) = O para x E [O, 1). f(m) 2 + n, para todos m, n inteiros.
54 Tópicos de Matemática Elementar 3

(a) Prove que f(O) = O e f(l) = 1.


(b) Ache todas tais funções.

15. (OIM.) Encontre todas as funções crescentes f : N -+ N, tais


que f(yf(x)) = x 2 f(xy), para todos x, y EN.

16. (IMO.) Ache todas as funções f: [O, +oo)-+ IR satisfazendo as CAPÍTULO 2


duas condições a seguir:

(a) f(xf(y))f(y) = f(x + y), para todos x, y E [O, +oo).


(b) f (2) = Oe f (x) # Opara O~ x < 2.
17. (IMO.) Seja S = {x E IR; x > -1}. Obtenha todas as funções
Gráficos de Funções
f : S -+ S que satisfaçam as duas condições a seguir:
(a) f(x+ f(y)+xf(y)) = y+ f(x)+yf(x)), para todos x, y E S.
(b) f~) é crescente em cada um dos intervalos (-1, O) e (O, +oo).

18. (IMO.) Decida se existe uma função f : N-+ N satisfazendo as


condições a seguir:
Dada uma função f : X -+ Y, o gráfico de f é o subconjunto G f
(a) f(l) = 2.
do produto Cartesiano X x Y definido por
(b) f(n) < f(n + 1), para todo n EN.
(c) J(f(n)) = f(n) + n, para todo n EN. Gt = {(x,y) E X x Y; y = f(x)}. (2.1)

19. (Irã.) Obtenha todas as funções f : IR-+ IR tais que, para todos Quando f : X -+ IR for uma função real de variável real, com
x, y reais, tenhamos X e IR uma união finita de intervalos (possivelmente X = IR), o
gráfico de f se reveste de significativa importância geométrica, uma
J(f (x + y)) = f(x + y) + f(x)f(y) - xy.
vez que
20. (Polônia.) Encontre todas as funções f: Q~-+ Q~ satisfazendo, G J e X x Y e IR x IR,
para todo racional positivo x, as seguintes condições: e esse último conjunto pode ser identificado com o plano, munido de
(a) f(x + 1) = f(x) + 1. um sistema Cartesiano de coordenadas fixado 1 .
1 Referimoso leitor ao capítulo 6 do volume 2 para uma discussão sobre sistemas
(b) f(x 3 ) = f(x)3.
Cartesianos de coordenadas.
56 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 57

Nosso propósito neste capítulo é examinar alguns exemplos e pro- um ponto (x 0 , y0 ) no plano Cartesiano, com x0 E [a, b). Claramente,
priedades simples de gráficos de funções f : X ---+ ~' quando X e ~ (xo, y0 ) E r; além disso, se x 0 for uma solução da equação f(x) = y0 ,
for uma união finita de intervalos, postergando para os capítulos 4, 5 i.e., se J(x 0 ) = y0 , então teremos também (x 0 , y0 ) E Gt. Assim, a reta
e 6 a discussão das propriedades dos gráficos de funções contínuas e horizontal de ordenada y0 intersectará o gráfico exatamente quando
deriváveis. y0 pertencer à imagem de f. O raciocínio para uma função qualquer
Em tudo o que segue supomos fixado, no plano, um sistema Car- f : X ---+ ~' com X e ~' é inteiramente análogo e nos permite concluir
tesiano de coordenadas. que

A imagem de f é precisamente o conjunto dos y0 E ~ tais que a reta


2.1 Generalidades e exemplos horizontal de ordenada y0 intersecta o gráfico de f.

Há uma interpretação geométrica bastante simples para a imagem Se I e ~ é um intervalo, a monotonicidade de uma função f
de uma função real de uma variável real em termos de seu gráfico. Para I ---+ ~ também nos diz muito sobre o comportamento de seu gráfico.
exibi-la, marquemos, no plano Cartesiano da figura 2.1, os pontos de Por exemplo, supondo que f seja crescente (resp. decrescente) em I,
interseção do gráfico de uma função f : [a, b) ---+ ·~ com uma reta concluímos que, à medida que a variável x aumenta em I, os valores
horizontal r, de ordenada y = y0 . Seja (x 0 , y0 ) um ponto comum J(x) aumentam (resp. diminuem) em~' de maneira que o gráfico de
f sobe (resp. desce).
Por outro lado, se y0 E ~ é o valor mínimo de f : I ---+ ~ e x 0 E I é
um ponto de mínimo de f (cf. definição 1.24), então o ponto (x, f(x))
está acima ou coincide com o ponto (x, y0 ), para todo x E I (cf. figura
2.2). De outra forma, o gráfico de f está contido no semiplano superior
fechado determinado pela reta horizontal y = y0 , tocando tal reta no
ponto (xo, Yo).
Observe que os conceitos de valor máximo e ponto de máximo de
uma função f : I ---+ ~ admitem interpretações geométricas análogas
às discutidas acima.
Vale ainda observar que nem todo subconjunto do plano (munido
Figura 2.1: imagem x gráfico. de um sistema Cartesiano xOy) pode ser visto como gráfico de uma
função. De fato, suponha dada uma função real de uma variável real
f : X ---+ ~' tal que X é uma união finita de intervalos. Se (x 0 , y0 ) E
à reta e ao gráfico. Por pertencer ao gráfico de f, o ponto (x 0 , y0 ) Gt, então x 0 E X, pela definição de gráfico; por outro lado (e mais
deve ser tal que Xo E [a, b) e f(x 0 ) = y0 . Reciprocamente, seja dado importante), fixado x 0 E X, se A 1 (x 0 , y1 ) e A 2 (x 0 , y 2 ) são pontos sobre
58 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 59

(-3, O) X

Y = Yo

Figura 2.2: ponto de mínimo de f : I--+ IR. Figura 2.3: subconjuntos do plano que não são gráficos de funções.

o gráfico de f, então, novamente pela definição de gráfico, temos i.e., o gráfico de f é a reta paralela ao eixo-x e passando pelo ponto
(O, e) do eixo-y (figura 2.4).
Y1 = f(xo) = Y2,
Exemplo 2.2. Lembre-se (cf. definição 1.2) de que a função identi-
de maneira que A1 = A2 . Em resumo, para x 0 E JR, a reta vertical dade IdIR : lR --+ lR é tal que IdIR (x) = x, para todo x E R Seu gráfico
x = x 0 do sistema Cartesiano em questão intersecta o gráfico de f é, portanto, o conjunto
se, e somente se, x 0 E X; ademais, nesse caso tal reta intersecta o
gráfico em exatamente um ponto. Assim, o subconjunto C do plano Gld]R = {(x,y); x E lR e y = x} = {(x,x); x E JR}.
Cartesiano esboçado na figura 2.3 não representa o gráfico de função É um exercício fácil de geometria Euclidiana verificar que os pontos da
alguma f : [-3, 3] --+ JR, uma vez que toda reta vertical paralela às forma (x, x) e (-x, x) são os pontos do plano Cartesiano situados sobre
retas tracejadas e situada na faixa cinza intersecta Cem mais de um as bissetrizes dos ângulos formados pelos eixos coordenados, sendo
ponto.
que os da forma (x, x) pertencem ao primeiro ou terceiro quadrantes.
Por fim, vejamos alguns exemplos importantes de gráficos de fun- Portanto, o gráfico da função ldIR é a reta da figura 2.5, denominada
çoes. a bissetriz dos quadrantes ímpares. Observe que o conjunto dos
pontos da forma (x, -x), i.e., a bissetriz dos quadrantes pares, é o
Exemplo 2.1. Seja f : lR --+ lR a função constante e igual a e. O
gráfico da função f : lR --+ lR dada por f (x) = - x.
gráfico de f é o conjunto
Exemplo 2.3. A função modular é a função f : lR --+ lR dada
G1 = {(x,y); x E lR e y =e}= {(x,c); x E JR}, por f(x) = !xi. Segue imediatamente da definição de módulo de um
!'r'
: 1

60 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 61


y
y

(O, e)
(O, a)

o X

X
(a, O)

Figura 2.4: gráfico da função constante f(x) = e, V x E R

número real (cf. seção 2.2 do volume 1) que Figura 2.5: gráfico da função identidade ldJR..

Gt {(x, lxl); x E IR}


{(x, lxl); x E IR+} U {(x, lxl); X E IR_} Para o que segue, recorde (cf. problema 6.3.13 do volume 2) que,
dados um ponto F e uma reta d no plano, com F ~ d, a parábola de
{(X, X); X E IR+} U {(X, - X); X E IR_}.
foco F e diretriz d (cf. figura 2.8) é o lugar geométrico dos pontos
Como os pontos (x, -x) e (x, x) são simétricos em relação ao eixo-x, P do plano tais que
o gráfico da função modular é obtido refletindo a porção do gráfico da P F = dist(P, d).
função ldJR. situada no terceiro quadrante em relação ao eixo-x (cf. Por fim, o eixo da parábola é a reta que passa por F e é perpendicular
figura 2.6). à diretriz d, e o vértice da mesma é seu ponto V de interseção com o
eixo.
Exemplo 2.4. SeJ(x) = ax+b é uma função afim, então seu gráfico
Mostraremos, no que segue, que o gráfico de toda função quadrá-
é o subconjunto do plano Cartesiano dado por
tica é uma parábola. Mais precisamente, temos o seguinte
G1 = {(x,y);x,y E IR e y = ax + b}. Teorema 2.5. Para a, b, e E IR, com a =J. O, o gráfico da função qua-
drática f (x) = ax 2 + bx + e é a parábola de eixo {x = - la} e vértice
De acordo com a discussão da seção 6.2 do volume 2, o gráfico de fé
V (-;ª, - fa), "aberta para cima" se a > O, e "aberta para baixo" se
a reta de equação y-ax-b = O, com coeficiente angular a e passando
a< O.
pelos pontos A(-~, ü) e B = (O, b). A figura 2.7 esboça o gráfico de
f(x) = ax + b para a, b > O. Prova. Procuremos x 0 , y0 , k E IR tais que Yo =J. k e, sendo F(xo, Yo) e
62 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 63
y

1 / X X
1 /
1 /
1 /
(x,x).-/
'/
/
/

Figura 2.6: gráfico da função modular f(x) = lxl. Figura 2.7: gráfico da função afim f(x) = ax + b.

d: {y = k }, tenhamos o que é imediato: dividindo as duas primeiras equações, obtemos x 0 =


- 2: ; em seguida, substituindo a primeira equação e o valor de x 0 na

P E G1 ~ PF = dist(P,d). terceira equação, segue que

Para tanto, sendo P(x, y), observemos que

P E Gf ~ y = ax 2 + bx + e por fim, resolvendo o sistema


1 ~
e
Yo - k = 2ª, Yo + k = - 2ª,
PF = dist(P, d)~ J(x - xo) 2 + (y - Yo) 2 = IY - kl,
obtém-se y0 = l-.ó.
4a
e k = - l+.ó..
4a
de sorte que queremos que
Finalmente, uma vez que o vértice V da parábola é a interseção da
y = ax2 + bx + e {::} (x - xo) 2 + (y - Yo) 2 = (y - k) 2
reta x = - ;ªcom o gráfico, temos
1 .Xo + k2
{::} y=
2(yo - k)
X
2
-
Yo - k
Xo Yo -
x+-----
2

2(yo - k)
2
y =a (-!_)
2a
2
+ b (-.!!__)+e=
2a
- 4a
~.
Basta, então, resolvermos em x 0 , y0 e k o sistema de equações

Terminamos esta seção estabelecendo, na proposição a seguir, uma
1 = a _ Xo = b Xõ 1( k)
2(yo - k) ' Yo - k ' 2(y0 - k) + 2 Yo + = e, importante relação entre os gráficos de uma bijeção e de sua inversa.
64 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 65

Exemplo 2. 7. Esboce o gráfico da função raiz quadrada

f : [O, +oo) -----+ [O, +oo)


X f-----+ VX
Solução. Vimos no exemplo 1.45 que f é a inversa da função g
[ü,+oo) -+ [ü,+oo) dada por g(x) = x 2 . Como já conhecemos o
gráfico de g, segue da proposição anterior que o gráfico de f é obtido
como o simétrico do gráfico de g em relação à reta y = x (figura 2.9) .

y I g
I
I
I
/
I /
I /
Figura 2.8: parábola de foco F e diretriz d. I
/
/
I
I /
/ f
I /
1/

Em seguida, ilustramos tal resultado na construção dos gráficos de


duas funções importantes.
/ X
/
/
Proposição 2.6. Se os conjuntos não vazios I, J C IR são uniões /
/
finitas de intervalos e f : I -+ J é uma bijeção, então os gráficos de f /
/

e 1- 1 são simétricos em relação à bissetriz dos quadrantes ímpares do


plano Cartesiano.
Figura 2.9: gráfico de x f---+ y'x.
Prova. Fixe a E I e b E J. Pela definição de função inversa, temos
que

(a, b) E G1 {::} b = J(a) Exemplo 2.8. Recorde que a função de proporcionalidade inversa é a
{::} a= 1- 1 (b) função f: IR\ {O}-+ IR\ {O}, tal que f(x) = para todo x E IR\ {O}. i,
De posse da discussão desenvolvida até o momento, podemos esbo-
{::} (b,a) E G1-1.
çar muito acuradamente seu gráfico. De fato, f é claramente decres-
Mas, como os pontos (a, b) e (b, a) são simétricos em relação à reta cente em (O, +oo); também já sabemos que fé ímpar (cf. problema
y = x, nada mais há a fazer. • 10, página 37), de sorte que, pelo problema 5, seu gráfico é simétrico
.1

Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 67


66

Problemas - Seção 2.1


em relação à origem do plano Cartesiano; por outro lado, f é a inversa
de si mesma, e a proposição anterior garante que seu gráfico também 1. Seja f : IR -+ IR a função quadrática dada por f (x) = ax 2 +bx+c,
é simétrico em relação à bissetriz dos quadrantes ímpares; por fim, onde a-=/:- O. Sabendo que x 1 = -1 e x 2 = 5 são as raízes de f, e
mostraremos na seção 5.3 que seu gráfico é emborcado para cima em que f(l) = -8, pede-se:
(0,+oo).
Observando que f(x) = i
se aproxima cada vez mais de zero à (a) Encontrar a, b, e.
medida que x aumenta, chegamos ao esboço do gráfico de f constante (b) Calcular f(O).
da figura 2.10, construído com o auxílio das observações acima e dos (c) Calcular as coordenadas do vértice de f.
pontos auxiliares (n, ~), para 1 ::::; n :S 4 inteiro.
(d) Esboçar o gráfico de f.
y 2. Sejam I e IR um intervalo e f : I -+ IR uma função dada.
/ y= X Dizemos que fé limitada se existe M > O tal que lf(x)I : : ; M,
/

/
/
para todo x E J. Prove que, nesse caso, o gráfico de f está
/
/
/
contido na faixa horizontal do plano Cartesiano delimitada pelas
/

/
/
retas y = ±M.

3. * Se e IR é um intervalo e f : I -+ I é uma função dada,


I
X mostre que os pontos fixos de f são, precisamente, as abscissas
dos pontos de interseção do gráfico de f com a bissetriz dos
/
/ quadrantes ímpares.
/
/

/
/
/
4. * Se I e IR é um intervalo e f, g : I -+ IR são funções dadas,
/
/
explique como identificar os pontos comuns aos gráficos de f e
/
g, traçados em um mesmo sistema Cartesiano.

Para o próximo problema, sugerimos ao leitor reler o enunciado


Figura 2.10: gráfico da função f(x) = i· do problema 10, página 37.

5. * Sejam I e IR uma união de intervalos, simétrica em relação a


O E IR, e f: I-+ IR uma função dada. Prove que:

(a) Se f for par, então G f é simétrico em relação ao eixo das


ordenadas.
68 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 69

(b) Se f for ímpar, então GI é simétrico em relação à origem. (c) g ( x) = - f (x) é obtido refletindo o gráfico de f ao longo do
eixo das abscissas.
6. Em cada um dos itens a seguir, esboce, num mesmo sistema
Cartesiano, os gráficos das funções reais de uma variável real (d) g(x) = f(-x) é obtido refletindo o gráfico de f ao longo do
listadas: eixo das ordenadas.

(e) g(x) = af(x) é obtido alongando2 o gráfico de f vertical-


(a) fi(x) = x 2 , h(x) = x 4 e h(x) = x 3 .
mente do fator a, se a > O.
(b) Íi (X) = X, Í2 (X) = x 3 e Í3 (X) = x 5.
(f) g(x) = f(ax) é obtido alongando o gráfico de f horizontal-
7. Esboce o gráfico da função f: IR----+ IR tal que f(x) = ijx, para mente do fator a, se a> O.
todo x E R
11. Sejam I um intervalo da reta e f : I ----+ IR uma função dada.
8. Esboce, com justificativa, o gráfico da função parte inteira, l J: Que relação existe entre os gráficos de f e da função g : I ----+ IR
IR----+ IR (cf. problema 5, página 13).
dada por g(x) = lf(x)I? Utilize suas conclusões, juntamente
com o resultado do problema anterior, para esboçar os gráficos
Para o próximo problema sugerimos ao leitor reler o enunciado das funções abaixo listadas:
do problema 15, página 37.
(a) g(x) = lx~ll' para x E IR\ {-1}.
9. * Faça os seguintes itens:
(b) g(x) = lx2 - 41, para x E R
(a) se f : IR----+ IR é periódica de período p > O, explique como
construir o gráfico de f conhecendo a porção do mesmo (c) g( X) = 1x 2 - 1X + 21 + 21, para X E R
para OS x < p; (d) g(x) = 1- (x~ 2) 2 ' para todo real x-=/=- 2.
(b) use o item (a) para construir o gráfico da função parte fra-
cionária, { } : IR ----+ IR (cf. problema 6, página 13). 12. * Esboce o gráfico da função f: IR\ {2}----+ IR dada por f(x) =
X
2-x·
10. * Sejam f : IR ----+ IR uma função dada e a -=/=- O um real dado.
Prove que o gráfico de: 13. Prove que o gráfico da função de proporcionalidade inversa é
(a) g(x) = f(x + a) é obtido transladando o gráfico de f de obtido pela rotação trigonométrica da hipérbole de equação x 2 -
-a, paralelamente ao eixo das abscissas. y2 = 2, do ângulo trigonométrico de ~ radianos.

(b) g(x) = f(x) + a é obtido transladando o gráfico de f de a, 20 leitor deve ter cuidado com o sentido em que a palavra alongando é utilizada
paralelamente ao eixo das ordenadas. aqui; para tanto, compare os casos O < a < 1 e a > 1.
70 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 71

2. 2 Funções trigonométricas seção 5.3 mostraremos (cf. exemplo 5.19) que tal gráfico é "emborcado
para baixo" no intervalo [O, n]. Assumindo por enquanto a validade
A função seno é a função sen : lR ----+ JR, que associa a cada x E lR dessas afirmações, podemos finalmente esboçar o gráfico da função
o seno de um arco de x radianos: seno.
sen : lR --+ lR Exemplo 2.10. Reunindo as informações de que dispomos até o mo-
x f-------t sen x mento sobre a função seno em [O, n] (imagem, continuidade e con-
Analogamente, definimos a função cosseno por cavidade), juntamente com o fato de que a mesma é crescente em
[O, iJ, decrescente em [i, n] e satisfaz sen (n - x) = senx, a fim de
cos : lR --+ lR esboçarmos razoavelmente o gráfico da mesma nesse intervalo basta
X f-------t COS X tabelarmos alguns valores de senx para x E [O, iJ, o que fazemos a
segmr:
As propriedades básicas das funções seno e cosseno são estabeleci-
das na proposição a seguir, para a qual o leitor pode achar útil recordar o 7r
6
7r
4
7r
3
7r
2
os enunciados do problema 15, página 37 e do problema 10, página 37. o 1/2 \1'2/2 v13/2 1

Proposição 2.9. As funções seno e cosseno têm como imagem o in- De posse das informações acima e utilizando a periodicidade do
tervalo [-1, 1] e são periódicas de período 21r. Ademais, a função seno seno, obtemos imediatamente a figura 2.11, primeiro no intervalo [O, n]
é ímpar e a função cosseno é par. e, em seguida, no intervalo [-n, 1r].

Prova. Imediata da discussão das seções 7.1 e 7.2 do volume 2. • y


De acordo com a proposição acima e a discussão contida no pro-
blema 15, página 37, a fim de esboçarmos o gráfico da função seno, é -------------.,..1 /
/
/
suficiente fazê-lo no intervalo [-n, 1r], copiando em seguida essa porção /

do gráfico em cada um dos intervalos da forma [-n + 2kn, 1r + 2kn], -7r ~' X

onde k E Z.
________ ____ _
2 ' , .....

Por outro lado, uma vez que a função seno é ímpar, a fim de -1
obtermos seu gráfico no intervalo [-n, n], é suficiente construí-lo no
intervalo [O, n]; feito isto, ao refleti-lo em torno da origem do plano
Cartesiano obtemos (de acordo com o item (c) do problema 10, página Figura 2.11: gráfico das funções seno e cosseno.
37, uma vez que a função seno é ímpar) o gráfico no intervalo [-n, n].
Provaremos na seção 4.1 (cf. exemplo 4.10) que o gráfico da função
seno é uma curva contínua, i.e., sem interrupções. Por outro lado, na Observemos agora que, a partir das fórmulas de adição de arcos,
72 Tópicos de Matemâtica Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 73

temos
cosx = sen (x+ i).
a
Portanto, o item (a) do problema 10, página 68, garante que, urna vez
esboçado o gráfico da função seno, obtemos o esboço correspondente
ao gráfico da função cosseno transladando o gráfico da função seno de b
-i paralelamente ao eixo das abscissas. Na figura 2.11, o gráfico da
função cosseno no intervalo [-1f, 7í] é representado pela curva ponti- Figura 2 .12: definindo o ângulo a.
lhada, situada na faixa do plano Cartesiano entre as retas y = -1 e
y = 1.
(figura 2.12). Assim, ternos das fórmulas de adição de arcos que
Vejamos, agora, um exemplo relevante de aplicação das fórmulas
de adição de arcos da proposição 7.18 do volume 2, o qual nos diz f (x) a cos x + b sen x

I l'I'
como proceder para estudar as funções construídas corno uma certa J a 2 + b2(cos a cosx +sena senx)
,,','I
sorna de múltiplos das funções seno e cosseno. J a 2 + b2 cos(x - a). (2.2)

Exemplo 2.11. Dados reais positivos a e b, seja f: R--+ R a função Em particular, segue de I cos(x - a)I :::; 1 que
dada por
lf(x)I = Va2 + b2Icos(x - a)I:::; Ja 2 + b2,
f(x) = acosx + bsenx.
e não é difícil provar, a partir daí, que a imagem de f é precisamente
Escrevendo
o intervalo [-e, e], onde e= Ja 2 + b2 (veja o problema 1).
acosx + bsenx = Ja 2 + b2 ( ª cosx + b senx), Voltemo-nos, por fim, ao estudo da função tangente, i.e., da
J a2 + b2 . J a2 + b2
função que associa, a cada real x em seu domínio, o número real tg x.
observemos que Urna vez que

cos x = o{:: }- x = 27f + k1f, :3 k E Z,

o domínio (maximal) da função tangente é o conjunto


Portanto, o ponto P ( v'a~+b2 , v'a:+b2 ) pertence à porção do ciclo tri- 7f
D= R \ { 2 + k1f; k E Z},
gonométrico r situada no primeiro quadrante e, daí, existe um real
a E (O, i) tal que de sorte que a função desejada é

a b tg: D --+ R
cosa = e sena = . 1
J a2 + b2 v a2 b2 + X f--t tgx

i
74 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 75
y
Para x E D, temos

sen (x + 1r) -senx


tg (X+ 7r ) = = = tg X,
cos(x + 1r) - cosx
1
e é imediato verificar que nao existe um real O < p < 1r tal que
tg (x + p) = tgx, para todo x E D. Portanto, a função tangente é 7í 7í 7í 7í
X
-21-4I 4 12
periódica de período 1r. Ademais, uma vez que D é um subconjunto 1 1 1
1 -1 1
de lR simétrico em relação a O e 1 1
1 1
1 1
sen (-x) -senx 1
tg (-X )
1
= = = - tg X 1 1
cos(-x) cosx 1 1
1 1

para todo x E D, concluímos que a função tangente é ímpar.


Figura 2.13: gráfico da função tangente.
Dado o aci~a exposto, para esboçar o gráfico da função tangente
é suficiente tê-lo à mão no intervalo [O,~). De fato,"8eu caráter í~par
garante que o gráfico no intervalo ( - ~, O] é obtido por reflexão em
torno da origem do sistema Cartesiano da porção do mesmo no inter-
Problemas - Seção 2.2
valo [O,~). Por outro lado, uma vez esboçado o gráfico no intervalo
( - ~, ~), a periodicidade da função tangente nos permite esboçá-lo em 1. * Sejam a e b reais não ambos nulos, e f : lR -t lR a função dada
todos os intervalos da forma ( - ~ + k1r, ~ + k1r), com k E Z: basta por
transladar o gráfico no ( - ~, ~) de k1r unidades paralelamente ao eixo f(x) = acosx + bsenx.
das abscissas, para todo k E Z.
Provaremos na seção 4.1 (cf. problema 3, página 127) que o gráfico (a) Obtenha, com justificativa, o conjunto Im (!).
da função tangente, restrita ao intervalo ( - ~, ~), é uma curva contí- (b) Prove que f é periódica de período 21r.
nua, i.e., sem interrupções. Por outro lado, na seção 5.3 mostraremos
(c) Esboce os gráficos de f e da função seno em um mesmo
(cf. exemplo 5.20) que tal gráfico é "emborcado para cimd' no inter- sistema Cartesiano.
valo [O,~). Assumindo por enquanto a validade dessas afirmações, e
de posse da discussão dos parágrafos anteriores, podemos esboçar o 2. Seja f : lR -t lR a função dada por f(x) = 2 senx + cos 2x.
gráfico da função tangente de forma análoga ao feito no exemplo 2.10, Calcule os valores máximo e mínimo de f, bem como os números
obtendo aproximadamente a figura 2.13. reais x para os quais f assume tais valores.

3. (Canadá.) Calcule o número de soluções reais da equação sen x =


X
10·
76 Tópicos de Matemática Elementar 3

4. Encontre o valor máximo assumido pela função f : [-1, 1] -+ lR


definida por f(x) = 3x + 4J5 - x 2 .

5. (Nova Zelândia.) Seja a um número irracional dado. Prove que


a função f : lR -+ JR, definida por

f(x) = cosx + cos(ax), CAPÍTULO 3


para x E JR, não é periódica.

6. Encontre valores inteiros de n para os quais a função f : lR -+ JR,


dada para x E lR por

f (x) = cos (nx) sen ( 5: ) ,


Mais sobre Números Reais
é periódica de período 31r.

7. (Canadá.) Prove que a função f lR -+ lR dada por f(x)


sen (x 2 ) não é periódica.

Antes de prosseguirmos em nosso estudo de funções, precisamos


de um pequeno interlúdio técnico, a fim de apresentar as noções de
limite de uma sequência (infinita) de números reais e de série conver-
gente. Dentre outras aplicações, tais noções nos permitirão apresentar
o importante exemplo de uma série geométrica convergente, bem como
introduzir o segundo dos dois mais famosos números da Matemática1 ,
o número e. Apresentamos ainda um famoso teorema de Kronecker
sobre subconjuntos densos da reta, o qual encontrará várias aplicações
interessantes, aqui e em capítulos subsequentes.

1 Como o leitor deve suspeitar, o outro é o número 1r, definido no volume 2 como
o valor numérico da área de um círculo de raio 1.
78 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 79

3.1 Limites de sequências Exemplos 3.2.

Dada uma sequência (an)n2'.I (em~), estamos interessados em re- (a) Se an = ~' então an ~ O: de fato, dado E > O, a fim de que
conhecer se os números reais an se aproximam cada vez mais de um lan - OI < E basta que n > ~; assim, uma vez fixado n 0 EN tal
certo número real l, à medida que n aumenta; por exemplo, se an = ~' que no> ~' temos lan - OI < E, para n > n 0 .
então é razoável dizer que os números an se aproximam de O à medida
que n aumenta, haja vista que o resultado da divisão de 1 por n é (b) Se an = (-1)\ então (an)n2:1 não converge: de fato, como os
cada vez menor à medida que n aumenta. Temos então a definição a termos da sequência são alternadamente iguais a 1 ou -1, não
seguir. podem aproximar-se todos de um mesmo real l (formalize esse
argumento intuitivo).
Definição 3.1. Dizemos que uma sequência (an)n:::: 1 converge para
um real l quando, uma vez prescrito um erro E > O para o valor de l, (c) Se an = 1 + (-~)n, então an ~ 1: isso porque lan - li = ~' de
existir um índice n 0 EN tal que lan - li < E, para todo n > n 0 . maneira que lan - li < E para n > !..
E

Alternativamente, se (an )n2'.l convergir para l, diremos que a sequên-


cia é convergente e que l é um limite da sequência, o que denotamos
(d) Se (an)n2:1 é uma sequência constante, com an = e para todo
n ~ 1, então an ---+ e.
escrevendo
an ~ l OU lim an = l.
n--++oo Exemplo 3.3. Se an = qn, com O < lql < 1, então an ~ O.
Por fim, uma sequência que não é convergente é dita divergente.
Em geral, diminuindo a aproximação E > O, é de se esperar que Prova. Como !
1 1
> 1, podemos escrever !
= 1 + a, com a > O.
1 1

tenhamos de aumentar o natural n 0 da definição de convergência. Em Portanto, a fórmula do desenvolvimento binomial nos dá
outras palavras, é de se esperar que n 0 dependa de E > O. De qual-
1
quer modo, o importante para assegurar a convergência da sequência lq In = (1 + ar ~ 1 + na
(an)n2'.I é o fato de que, fixada arbitrariamente uma aproximação E> o,,
sejamos capazes de escolher n 0 E N tal que e, daí,

n >no::::} lan - li < E.

No intuito de familiarizar o leitor com o importante conceito de Assim, se queremos que lan - OI < E
'
basta impormos que - 1-
l+na
< E

limite de sequências, colecionamos, no que segue, vários exemplos ele- ou, equivalentemente, que n > i (~ - 1). •
mentares de sequências convergentes e divergentes.
Exemplo 3.4. A sequência (an)n2:i, dada para n > 1 por an
vnTI - fo, converge para O.
l
1!
1
80 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 81

Prova. Veja que an = vn+Í+vn· Assim, dado E> O, tome no EN tal {n1 < n 2 < n3 < · · ·} do conjunto de índices. Como a função j t-+ nj
que n 0 > 4! 2 , de sorte que entre N1 e N é uma bijeção, toda subsequência de uma sequência é,
ainda, uma sequência. Ademais, podemos denotá-la por (ank)kEN·
n >no==} vn + 1 + vn > vno + 1 +../no> 2.,/nõ > -1 E Proposição 3.6. Se (an)n~l é uma sequência com limite l, então:
e, daí, (a) Se an 2:: a (resp. an ~ a), para todo n 2:: 1, então l 2:: a (resp.
1
n > no ==} lan - OI = .~ . r;;; < E. l ~a).
vn+l+vn
• (b) Toda subsequência (ank)k~l de (an)n~l ainda converge para l .

A definição de convergência de uma sequência não deixa claro se Prova.


o. limite de uma sequência convergente é único. De outra forma, em (a) Suponhamos que an 2:: a, para todo n 2:: 1, e mostremos que l 2:: a
princípio poderia ocorrer que uma certa sequência convergisse para (o outro caso é análogo). Por contradição, se l < a, tome E = a - l. A
mais de um limite. No entanto, como mostra o resultado a seguir, isto definição de limite de sequências garante a existência de um índice n 0
não ocorre. tal que n >no==} lan - li < E; em particular, para n > n 0, temos

Proposição 3.5. Se a sequência (an)n~l convergir, então seu limite é an < l +E= l + (a - l) = a,
único.
o que é um absurdo.
Prova. Sejam li e l 2 reais distintos e suponha que a sequência con-
vergisse simultaneamente para li e h- Tomando E= !Ili - hl > O, a (b) Seja dado E > O. Como an ~ l, existe um natural n 0 tal que
definição de limite garante a existência de n1, n2 E N tais que lan - li < E, para n > no. Mas, como n 1 < n2 < n3 < ···,existe um
índice ni na subsequência tal que nj > n 0 para j 2:: i; portanto, para
tais j, temos lani-ll < E, o que é o mesmo que dizer que ank ~ l. •
Daí, pela desigualdade triangular, Apesar da notação carregada, o item (b) da proposição acima pode
ser resumido em palavras de uma maneira bastante simples: basica-
mente ele afirma que, se todos os termos de uma sequência se apro-
o que é um absurdo. • ximam de um real l à medida que aumentamos seus índices, então,
quando consideramos somente uma parte (ainda infinita) desses ter-
A proposição a seguir lista algumas propriedades básicas de limi- mos, eles continuam se aproximando de l à medida que aumentamos
tes de sequências. Para seu enunciado, dada uma sequência (an)n~l, seus índices.
definimos uma subsequência da mesma como a sequência obtida a A proposição acima possui o seguinte corolário imediato, o qual
partir de (an)n~l, restringindo-nos a um subconjunto infinito N1 = fornece uma condição suficiente para a divergência de uma sequência.
82 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 83

Corolário 3.7. Uma sequência que possui duas subsequências con- Prova.
vergindo para limites distintos é divergente. (a) Se e = O, então can ---+ O = ca. Suponhamos e -=1- O, e seja dado
E > O. Existe no E N tal que n > n 0 :::} lan - ai < 1
~
1
. Daí,
Até agora, exceto por alguns exemplos bastante simples, não vimos
ainda como seria possível descobrir o limite de uma sequência que n >no:::} lcan - cal= lcllan - ai< lei· 1; 1 = E.
saibamos ser convergente. Para tanto, precisamos entender como é
possível operar com limites de sequências, problema que examinamos (b) Provemos que an + bn ---+ a + b (provar que an - bn ---+ a - b é
a partir de agora. Precisaremos, inicialmente, do seguinte resultado análogo). Dado E> O, existem n 1, n 2 EN tais que
auxiliar. é
n > n1:::} lan - ai < 2 e n > n2:::} lbn - bl < 2"é
Lema 3.8. Toda sequência convergente é limitada.
Portanto, tomando n > max{n 1,n2}, temos
Prova. Seja (an)n 21 uma sequência que converge para o limite l. En-
l(an + bn) - (a+ b)I :S lan - ai+ lbn - bl < ~+~=E.
tão, existe n 0 EN tal que
Seja agora L > O tal que lbnl < L para todo n EN. Dado 1: > O,
n >no:::} lan - li < 1, tome n 0 E N tal que
'! i

o que, por sua vez, implica

Então

Por fim, se L = max{l+lal, la1I, la2I, ... , lano-11}, então lanl < L para lanbn - abl lanbn - abn + abn - abl :S lan - allbnl + lallbn - bl
é é é é
todo n E N, e a sequência é limitada. • < 2L . L + lal . 2lal + 1 < 2+ 2 = E.

Proposição 3.9. Sejam (an)n>I


-
e (bn)n>I
-
sequências convergentes de (c) Seja L > O tal que lbnl < L para todo n;::: 1. Dado E> O, tomamos
números reais e e é um número real qualquer. n 0 EN tal que
é

(a) Se an---+ a, então can---+ ca.


n > no :::} 1ªn 1 <- ·
L
Então
é
n > no :::} 1anbn - O1 = 1an 11 bn 1 < L · L = E.

(c) Se an---+ O e (bn)n>I é limitada, então anbn---+ O. (d) Pela última parte do item (b), basta mostrarmos que 1 ---+ b.
1
bn
Para tanto, observemos que
(d) Se an ---+ a e bn ---+ b, com b, bn -=1- O para todo n ;::: 1, então
an ------'- g,
bn ---, b"
84 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 85

Dado E > O, escolha n 0 E N tal que proposição 1.14 do volume 1 garante que tal conjunto possui supremo,
digamos sup A = l. Afirmamos que an --+ l. Para tanto, seja E > O
lbl bl < 2E .
n >no=} 2 < lbn - dado; como l - E não é mais cota superior de A, algum elemento de
A é maior que l - E, digamos ano > l - E. Mas, como ªno :::; ªno+l :::;
Para n > n 0 , temos então que
ano+ 2 :::; • • • , concluímos que an > l - E, para n 2: no. Assim, para
n 2: no, temos
l - E < an :::; l < l + E,

• como desejado.

Para o que segue, recordemos que uma sequência (an)n21 de nú- O teorema acima e a definição de convergência garantem que, se
meros reais é simplesmente uma função f : N --+ JR, para a qual uma sequência limitada for monótona a partir de um determinado
convencionamos a notação an = J(n). Portanto, (an)n21 é: termo, então ela ainda será convergente. Exploramos essa observação
• monótona crescente (resp. decrescente, não decrescente, não nos dois exemplos a seguir.
crescente) se an < ªn+l (resp. an > ªn+i, an :::;· ªn+l, an 2: ªn+1), Exemplo 3.11. Dado um real positivo a, a sequência (an)n21 dada
para todo n 2: 1. por an = efa, é convergente e seu limite é igual a 1.
• limitada, se existe um real positivo M tal que lanl < M, para
Prova. Se a > 1, então a 1 > a 2 > a3 > · · · > 1, de sorte que,
todo n 2: 1.
pelo teorema de Bolzano-Weierstrass, existe l = limn-++oo ªn· Para
O resultado mais importante sobre limites de sequências é o teo- mostrarmos que l = 1, seja an = 1 + bn. Então
rema a seguir, conhecido na literatura como o teorema de Bolzano-
Weierstrass2.

Teorema 3.10 (Bolzano-Weierstrass). Toda sequência monótona e


limitada é convergente. de sorte que O < bn < ~- Portanto, bn --+ O quando n --+ +oo, o que
por sua vez garante que an = 1 + bn --+ 1.
Prova. Suponhamos que (an)n 21 é uma sequência monótona não de- Se O < a < 1 e an = efa,, provamos analogamente que an --+ 1. •
crescente e limitada, i.e., que
Exemplo 3.12. A sequência (an)n21 dada por an = {/ri, é convergente
e seu limite é igual a 1.
para algum M > O (os demais casos são análogos). Então M é uma Prova. Os termos iniciais da sequência são v'2, ?'3, ~' ... , e é fácil
cota superior para o conjunto A = { a1, a2, a3, ... }, de sorte que a verificar diretamente que v'2 < ,v'3 e ,v'3 > ~ > {15. Como 2n 2: n 2
2 Após Karl Weierstrass, matemático alemão do século XIX. para n 2: 4 (por indução, por exemplo), temos a 2 2: an para n 2: 4, de
86 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 87

sorte que a sequência é limitada; portanto, se mostrarmos que ela é Frisamos que, por vezes, não precisamos mostrar que uma dada
decrescente a partir de seu terceiro termo sua convergência seguirá do sequência converge, mas somente garantir que ela possui uma sub-
teorema de Bolzano-Weierstrass. Para o que falta, dado n > 2 inteiro, sequência convergente. Nesse sentido, o teorema 3.14 a seguir, devido
temos a Weierstrass e conhecido na literatura como o teorema de Wei-
erstrass, dá uma condição suficiente para a existência de uma tal
v1n > n+«n + 1 {:} n n+ 1 > (n + 1r {:} n > ( 1 + ~) n subsequência. Antes, contudo, precisamos de um lema importante em
si, conhecido como o lema dos intervalos encaixantes. No que
Provemos a última desigualdade acima. Para n = 3 ela é de verificação
segue, se I e IR é um intervalo finito, escrevemos III para denotar seu
imediata; para n > 3, basta mostrarmos que ( 1 + i) n < 3. Para tanto,
comprimento.
observemos que
Lema 3.13. Sejam dados os intervalos ln = [an, bnJ, n E N, tais que
(l + ! )n
n
= 1+ (n) ! + (n) 2_ + ... + (n) 2_
1 n 2 n2 n nn 11 ::) 12 ::) Í3 ::) · · ·. Se limn-++oo IInl = O, então existe um único l E IR
tal que íln2:l ln= {l}.
e

(n)k 2_nk = k!(n -n! k)!nk = ~k! . n(n - 1) · ·nk· (n - k + 1) < ~k! <- _1_
2k-l'
Prova. Note, inicialmente, que a interseção dos ln é vazia ou unitária;
de fato, se existissem reais a < b em tal interseção, teríamos [a, b] e
íln2:l ln; em particular, [a, b] C ln e, daí, IInl 2:: b - a, o que é uma
de sorte que
contradição.
1+ (n) ! + (n) 2_ + ... + (n) 2_
1 n 2 n2 n nn
Por outro lado, a condição de encaixe 11 ::) h ::) h ::) · · · garante
que a1 S a2 S a3 S · · · S b1, e o teorema de Bolzano garante a
1 1 1 existência de l = limn-++oo ªn· Afirmamos que l E íln2:l ln- Como
< 1+1+-+-+···+-
2 22 2n-l l = sup{ an; n E N}, segue que an S l para todo n E N. Por outro
1
3--<3. lado, fixado m E N, temos an S bm, para todo n E N, e o item (a)
2n-l
da proposição 3.6 garante que l = limn-++oo an S bm. Mas, como o m
Resta mostrarmos que o limite da sequência é 1. Para tanto, se fixado foi escolhido arbitrariamente, temos l S bm para todo m E N.
an = 1 + bn e n 2:: 2, então Segue então que l E [am, bm] = Im, para todo m E N, conforme
n = ann = ( 1 + bn )n -> 1 + (n) + (n)
l bn b2 > n( n 2- 1) . b2n,
2· n
desejávamos mostrar.

Teorema 3.14 (Weierstrass). Toda sequência limitada admite uma
de sorte que subsequência convergente.
2 2
O< bn < --1.
n- Prova. Seja 10 = [a0 , b0 ] um intervalo fechado e limitado contendo a
Portanto bn ---+ O quando n ---+ +oo, o que, por sua vez, garante que sequência limitada (an)n2'.l · Dentre os intervalos [a 0 , ªº~bo J e [ ªº~bo, bo],
an = 1 + bn ---+ 1. • escolha um que contenha uma infinidade de termos da sequência (an)n2'.l,
88 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 89

e denote tal intervalo por 11 . Proceda do mesmo modo com li, obtendo Portanto, dados m, n > n 0 , temos
um intervalo fechado 12 C 11 tal que lhl = !ll1I eh contenha uma in-
finidade de termos da sequência (an)n>l· Prosseguindo indutivamente,
construímos uma sequência 11 , h, 13 , ... de intervalos fechados tais que e a sequência é de Cauchy.
11 ::) h ::) h ::) · · · e lln+1I = llnl/2, para todo n ~ 1. Portanto, pelo Reciprocamente, seja (an)n>l uma sequência de Cauchy. Então,
lema dos intervalos encaixantes, existe e E IR tal que ílk2:l h = {e}. existe no E N tal que Iam - anl < 1 param, n > n 0 . Em particular,
Para terminar, escolha n 1 E N tal que an 1 E 11; em seguida, após Iam - ano+l l < 1 para todo m > no, e a sequência tem todos os seus
ter escolhido nj E N tal que ani E lj, tome nj+l E N tal que nj+l > nj termos contidos em
e ani+ 1 E 1H 1 (isto é possível pela definição dos lj). Por fim, um argu-
mento análogo ao usado na prova do lema dos intervalos encaixantes
garante que ani --+ e. •
de sorte que é limitada. Portanto, pelo teorema de Bolzano-Weierstrass
O conceito de sequência convergente tem um apelo geométrico bem a sequência (an)n>l possui uma subsequência convergente, digamos
forte, qual seja, a ideia de que os termos da sequência se aproximam ank --+ l. Provemos que, em verdade, an --+ l.
mais e mais de um certo número real, à medida que seus índices au- Dado E> O, existe N 0 EN tal que
mentam. Mas também é de se esperar que, se os termos de uma E

sequência ficarem cada vez mais próximos uns dos outros, a sequência
nk > No ::::} lank - li < 2.
deva convergir. Esta observação leva à definição a seguir. Por outro lado, como a sequência é de Cauchy, existe N 1 E N tal que
E
Definição 3.15. Uma sequência (an)n>I é dita uma sequência de m, n > N1 ::::} Iam - anl < 2'
Cauchy se, dado E > O, existir n 0 E N tal que
Sendo M = max{N1, N2} e fixando nk > M, temos

O resultado fundamental acerca de sequências de Cauchy é o con-


teúdo do seguinte resultado. de modo que an --+ l.

Teorema 3.16. Uma sequência (an)n2:I é convergente se, e só se, for Vejamos um exemplo interessante de aplicação do teorema acima.
de Cauchy. Exemplo 3.17. Seja (an)n>l uma sequência de números reais tal que
Prova. Seja (an)n::::: 1 uma sequência convergente, com limite l. Dado
E > O, a definição de convergência garante a existência de n 0 E N tal

que para todo n E N, onde O < e < 1 é um real fixado. Mostre que tal
sequência é convergente.
1 90 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 91

Prova. Pelo teorema 3.16, basta mostrarmos que se trata de uma 4. (Torneio das Cidades.) Seja (an)n 21 uma sequência de naturais
sequência de Cauchy. Para tanto, iterando a propriedade satisfeita dois a dois distintos, todos maiores que 1. Prove que há infinitos
pela sequência, é imediato que, para todo k E N, tenhamos naturais k tais que ak > k.

5. Sejam (an)n21 e (bn)n21 sequências de números reais e, para cada


n E N, seja tn E [O, 1] um real fixado. Denote por (Cn)n21 a
Sejam, agora, n e p naturais dados. Temos sequência definida por
n+p-1 n+p-1
lan+p - anl ::; L lak+l - akl ::; L ck-lla2 - a1I
k=n k=n para todo n EN. Se ak, bk -te, prove que Ck -te.
la2 - a1lcn-l ( 1 ; ~p:l), 6. * Prove o teorema do confronto: sejam (an)n21, (bn)n21 e
(Cn)n 21 sequências tais que an ::; bn ::; Cn, para todo n E N. Se
e a última expressão acima tende a O quando n -t +oo, pelo exemplo an, Cn -t l, para algum l E R, então Cn -t l.
3.3. Portanto, (an)n 21 é, realmente, uma sequência ·de Cauchy. •
7. Seja (an)n 21 uma sequência de números reais tais que, para todos
os m, n E N, tenhamos
2mn
Iam - anl::; 2 2·
Problemas - Seção 3.1 m +n
Prove que a sequência é constante.
1. * Sejam (an)n21 e (bn)n21 sequências convergentes de números
8. (Áustria-Polônia.) Seja (an)n 21 uma sequência de reais positi-
reais, com limn-Hoo an = a e limn-Hoo bn = b. Generalize o
vos, tais que
item (a) da proposição 3.6, mostrando que se an ::; bn para todo
n ~ 1, então a ::; b.
ªk+2 = .Jam + Ja,.,
para todo k ~ 1. Prove que a sequência é convergente e calcule
2. (Hungria.) Seja (Rn)n 21 uma sequência infinita de retângulos seu limite.
dois a dois distintos no plano Cartesiano, cada um deles com
vértices (O, O), (an, O), (O, bn) e (an, bn), para algum par de intei- 9. Sejam n > 1 um inteiro fixado e t 0 , t 1, ... , tn reais também fi-
ros positivos an, bn. Prove que há dois desses retângulos tais que xados, tais que t 0 + ti + · · · + tn = O. Prove que a sequência
um contém o outro. (ak)k21, dada por

3. Generalize o resultado do exemplo 3.3, mostrando que, dados


ak = toVk + kv'k+l + ... + tnvk + n
k E N e a E R, com ial > 1, temos
k
;n
-t O quando n -t +oo. converge para O.
92 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 93

10. (Romênia.) A sequência (xn)n>l é tal que ,Jxn+l + 2:::; Xn:::; 2, 15. (Turquia.) Seja (an)n:::::i uma sequência de inteiros tal que O <
para todo n :2'.: 1. Encontre todos os possíveis valores de x 1986 . an+l - an < ,Ja;;,, para todo n natural. Dados números reais x
e y, com O :::; x < y :::; 1, prove que existem naturais m e n tais
11. (Leningrado.) Seja (an)n::::: 1 uma sequência de números reais tal
que
que, para todos m, n E N, tenhamos

16. Seja (an)n>l uma sequência de reais positivos. Mostre que a


Prove que a sequência é uma PA. desigualdade

12. (Bulgária.) Para cada n EN, seja


se verifica para infinitos inteiros positivos n.
a = n+ 1 (2 1
+ 2 + ... + 2n)
2
.
n 2n+l 1 2 n

Prove que a sequência assim definida é decrescente, conclua sua 3.2 Séries de números reais
convergência e calcule o limite correspondente.
Seja (an)n:::::i uma sequência de números reais. Pela série
13. (Romênia.) Sejam k um natural fixado e (an)n::::: 1 a sequência
definida por

an = J + J + ··· + v'k,
k k
ou simplesmente Ln:::::i an, entendemos a sequência (sn)n::::: 1 , onde sn =
com exatamente n raízes quadradas. a 1 + a2 + · · · + an para n :2'.: 1. O número real Sn é denominado a
(a) Mostre que (an)n:::::i é convergente. n-ésirna sorna parcial da série Ln:::::i an, e dizemos que tal série
converge para s E IR. se a sequência (sn)n::::: 1 de suas somas parciais
(b) Mostre que, quando k é ímpar, o limite da sequência é um
converge para s. Nesse caso, dizemos· que s é a sorna da série e
número irracional.
escrevemos
(c) Encontre todos os valores naturais de k para os quais o
limite da sequência seja um número inteiro.
Lªn
n2:1
= s. (3.1)

14. Para cada real positivo a, considere a sequência (an)n>l definida Em outras palavras, quando escrevermos Lk2:l ak = s, estaremos di-
por a 1 = 1 e, para k :2'.: 1 inteiro, zendo que as somas finitas sn = a 1 + a2 + · · · + an se aproximam mais
e mais do número real s, à medida que n---+ +oo. É nesse sentido que
ªk+1 = !2 (ak + .!!._)
ªk
. a igualdade (3.1) deve ser pensada, como um limite.
Por vezes, teremos em mãos uma sequência (an)n>O de números
Prove que a sequência converge para y'a,. reais, em cujo caso a série correspondente será denotada por Ln:::::o ªn·
T
! 94 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 95

Deixamos ao leitor a tarefa (imediata) de adaptar as discussões acima A recíproca da proposição acima não é válida, i.e., há séries di-
e porvir a tal situação. vergentes Lk>l ak para as quais ak --+ O. O exemplo clássico é o da
Nosso interesse primordial nesta seção é encontrar critérios que série harmô~ica, i.e., da série Lk:::,:i f;, cuja divergência é discutida
permitam decidir se uma dada série é ou não convergente. Caso não no exemplo a segufr e encontrará uso posterior nestas notas.
o seja, diremos que se trata de uma série divergente. Vejamos dois Exemplo 3.20. Dado n E N, se m é o único natural tal que 2m <
exemplos de séries divergentes. n < 2m+1, então
n 1
Exemplo 3.18. As séries Lk:::,:l k e Lk:::,:I (-1 )k são divergentes. I:k2:;+1. (3.2)
k=l
Prova. A primeira série diverge por ter n-ésima soma parcial sn = Em particular, a série harmônica é divergente.
1+ 2 + · · · + n = n(ntl), logo divergente. No segundo caso, a n-ésima Prova. Veja que, para todo inteiro k > 1,
soma parcial Sn da série é tal que Sn = O, se n for par, e sn = -1, se • 1 1 1 1 1 1 1
n for ímpar, de sorte que também é uma sequência divergente. • 2k-l + 1 + 2k-l + 2 + ... + 2k > 2k + 2k + ... + 2k = 2·
2k-l vezes
Dada uma série Ln:::,:l an, referimo-nos a um termo genérico an
Portanto,
como o termo geral da série. A proposição a seguir dá uma condição
necessária para a convergência de uma série em função de seu termo 1 n 1
geral. 1+2+1:-:
j=3 J

Proposição 3.19. Se a série Lk:::,:i ak é convergente, então ak--+ O.

Prova. Dado E > O, queremos provar que existe n 0 E N tal que


n > no =} lanl < E. Seja l = Lk:::,:I ªk· Pela definição de convergência
de uma série, existe n 0 E N tal que

n 2: no=} l(a1 + a2 + · · · + an) - li < ~-


No que segue mostraremos que, parar > 1 racional, a série Lk:::,:l

Ir
Daí, pela desigualdade triangular, temos, para n > n 0 , que converge. Para tanto, precisamos examinar a convergência de uma
série geométrica, i.e., uma série da forma
lanl :::; l(a1 + a2 + · · · + an) - li+ ll - (a1 + a2 + · · · + ªn-1)1 "\"""" k-1
E E L.tq '
<
- 2
- +-=E.
2
k21

para um certo real não nulo q. Nesse sentido, temos o seguinte resul-
• tado importante .
T
96 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 97

1
Proposição 3.21. Dado q E IR\ {O}, a série geométrica Lk2':l qk-l Mas, como r > 1, temos O < 2r-l < 1, e segue da proposição
converge se, e só se, O < JqJ < 1. Neste último caso, sua soma é igual anterior que
1
1 2r-l
a 1-q·
L
k20
2(r-l)k = 2r-l _ 1·
Prova. Se JqJ ~ 1 a série geométrica não converge, uma vez que seu
termo geral qk-l não converge para O. Suponha agora que O< JqJ < 1, Portanto, concluímos que O < sn < 2;~~~ 1 , de sorte que a sequência
e seja sn = 1 + q + · · · + qn-l. Pela fórmula para a soma dos termos (sn)n2:1 das somas parciais é realmente limitada. li
de uma PG finita, temos
Terminemos nossa bateria inicial de exemplos com mais uma apli-
1 - qn 1 qn
s = =-----. cação do teorema de Bolzano à convergência de séries. No exemplo
n 1-q 1-q 1-q
a seguir, introduzimos uma das mais importantes constantes da Ma-
Portanto, para mostrarmos que a série converge para 1 ~q, basta temática, o número e, o qual desempenhará papel preponderante na
mostrarmos que qn ----+ O quando n----+ +oo, o que fizemos no exemplo seção 5.1.
3.3. li
ti
Exemplo 3.23. A série Lk2".0 converge para um número irracional
Chegamos, finalmente, ao exemplo prometido. e, tal que 2 <e< 3. Em símbolos,
Exemplo 3.22. Prove que a série Lk2':l Jr converge, qualquer que
seja o racional r > 1 fixado 3 . (3.3)

Prova. Pelo teorema de Bolzano-Weierstrass, basta mostrarmos que


a sequência (sn)n2':l das somas parciais Sn = L~=l Jr é limitada. Para Prova. Seja ( sn)n>o a sequência das somas parciais da série do enun-
tanto, dado n EN, tomem EN tal que 2m > n. Então ciado, i.e.,
1 1 1
s =1+-+-+···+-
( ;. + :. ) + · · · + ( {2m~l )" + · .. + {2"' ~ !)") n 1! 2! n!"
Sn '.Ô 1 +
Para tal sequência, temos claramente 1 = s 0 < s 1 < s 2 < · · · ; por
1 1 m 1 1 outro lado, como k! > 2k-l para todo inteiro k > 2, temos, para n ~ 4
< 1+ 2 . 2r +4 . 4r + ... + 2 - . 2(m-l)r
inteiro, que
1 1 1
<l+ 2r-l + 4r-l + · · . + (2(m-l)(r-1)

1
< I::
k20
2 (r-l)k ·

onde utilizamos a fórmula para a soma de uma série geométrica na


3 Se já tivéssemos definido potências kr com r > O real (o que só vamos fazer
na seção 5.2), o argumento da prova apresentada funcionaria igualmente bem para última igualdade acima. Portanto, a sequência (sn)n>o é monótona
mostrar que a série ~k2':l fr é convergente. e limitada, logo convergente, pelo teorema de Bolzano-Weierstrass.
98 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 99

Agora, segue do item (b) da proposição 3.6, juntamente com s 2 = 2 e Escrevendo tn = n!sn E N para todo inteiro n > 1, e observando que
sn < ~~ para todo inteiro n 2: 4, que 2 < e < 3. 1 n+ 2
-+---- 1 1 2
Mostremos, agora, que e é irracional (de modo que, em particular, n n(n + 1)2 -+
n
+----
(n + 1) 2 n(n + 1)2
e =/=- 3). Para tanto, observe inicialmente que, para naturais 1 < n < 1 1 2 21
m, temos < 3 + 4 2 + 3 . 42 = 48 < l,
m 1 1 para todo inteiro n > 2, chegamos, por fim, à estimativa
Sm - Sn L k! < L k!
k=n+l k2'.n+l tn-1 < (n - l)!e < tn-1 + 1,
1 (1 + _1_ + 1 + ... ) (3.4) válida para todo inteiro n > 2.
(n + 1)! n + 2 (n + 2)(n + 3)
1 1 1 n+2 Suponha, agora, que fosse e = P. com p q E N. Fazendo n
q' '
< (n + 1)! L
(n + 2)k = (n + 1)! . n + 1'
k2'.0
q + 1 > 2 nas desigualdades acima, teríamos

onde utilizamos, uma vez mais, a fórmula para a soma de uma série tq < (q - l)!p < tq + 1,
geométrica na última igualdade.
Portanto, ainda para naturais 1 < n < m, temos a partir dos
o que é obviamente uma contradição.

Alternativamente a (3.3), provaremos na seção 5.1 que



cálculos acima que

Sm = Sn +
m 1
n+
1
L -kl. < Sn + (n+ 1) 1. • --1,
n+2 e= lim
k--++oo
(1 + .!)
k
k

k=n+l
Para uma aproximação de e com cinco casas decimais corretas, veja o
e segue do item (a) da proposição 3.6 que problema 5.
1 n+2 Para conhecimento do leitor, observamos que o número e é de fato
e= lim Sm :::; Sn
m--++oo
+ (n + l)I. · - -.
n +1
'
transcendente, no sentido da seção 8.1 do volume 6. Uma prova deste
'
fato foge ao escopo destas notas e pode ser encontrada em [21 J.
Assim, Voltando ao desenvolvimento da teoria, a próxima proposição cons-
1 n+ 2
Sn <e:::; Sn + (n + l)! ·n+ 1. titui-se na análoga, para séries, da proposição 3.9, e tem por finalidade
nos ensinar como operar com séries convergentes.
Multiplicando tal desigualdade por (n - 1)! e observando que sn
Sn-l + ~' concluímos que Proposição 3.24. Se Lk>l ak e Lk>l bk são séries convergentes e e
é um número real qualquer~ então: -
1 1 n+2
(n - l)!sn-1 + -n < (n - l)!e < (n - l)!sn-1 + -n + nn+
( l) 2 , (a) a série Lk2'.l cak converge e Lk>l cak = e Lk>l ªk·
T
I i

100 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 101

(b) a série Lk 21 (ak + bk) converge e Lk 21 (ak + bk) = Lk2:l ak + Exemplo 3.26. Existe uma sequência (ak)k2:l de números reais posi-
Lk21 bk. tivos tal que ambas as séries Lk>l
-
ak e Lk>l
-
kla k convirjam?

Prova. Solução. Suponha que sim. Então, o item (b) da proposição 3.24,
(a) Se sn é a n-ésima soma parcial da série Lk2:l ak, então a n-ésima juntamente com a desigualdade entre as médias, forneceria
soma parcial da série Lk2:l cak é csn· Portanto, segue do item (a) da
proposição 3.9 que

~ cak = lim CSn = e lim Sn = e L ªk·


L....J n--++oo n--++oo Logo, pelo critério de comparação para séries, a série harmônica seria
k>l k>l
convergente, o que é um absurdo. •
(b) Se sn e tn são respectivamente as somas parciais das séries Lk2:l ak
e Lk>l bk, então a n-ésima soma parcial da série Lk>l (ak + bk) é A seguir, discutimos um critério muito útil para a convergência de
sn + t~. Portanto, o item (b) da proposição 3.9 fornece uma série de números reais positivos com base no comportamento de
seus termos, critério este conhecido como o teste da razão.
~(ak+bk) = lim (sn+tn) = lim sn+ lim tn = Lªk+ Lbk.
L....J n--++oo n--++oo n--++oo ·
' I' k2:l k2:1 k2:1 Proposição 3.27. Sejam (an)n>l uma sequência de reais positivos tal

• que ª:: 1 -+ l. Se l < 1, a série Lk2:l ak converge; se l > 1, a série


Lk2:l ak diverge.
Uma rápida análise dos argumentos apresentados nos exemplos
3.22 e 3.23 fornece o seguinte resultado mais geral, conhecido como o Prova. Provemos que, se l < 1, então a série Lk2:l ak converge (a
prova da divergência da série no caso l > 1 é análoga). Sendo l < 1,
critério de comparação para a convergência de séries.
podemos tomar l < q < 1. Por definição, a convergência ªn+i an -+ l
i! Proposição 3.25. Sejam (ak)k 21 e (bk)k21 sequências de números garante a existência de n 0 E N tal que
!

reais positivos, tais que ak :S bk para todo k ·:2'. 1. Se a série Lk2:l bk


convergir, então a série Lk2:l ak também convergirá e

Portanto, para n :2: n 0 , temos


k2:1 k2:1

Prova. Se Sn = L~=l ak e tn L~=l bk, temos O < Sn :S tn para


todo n E N. Como a sequência (tn)n>l é convergente, ela é limitada.
Portanto, a sequência (sn)n2:l é monótona e limitada, logo convergente Assim, para n :2: n 0 , os termos da série Lk2:l ak são majorados pelos
pelo teorema de Bolzano-Weierstrass. Para o que falta, basta fazer termos da Lk2:l an 0 qn-no, a qual converge, pelas proposições 3.24 e
n-+ +oo na desigualdade sn :S tn, utilizando em seguida o resultado 3.21. Portanto, segue do critério de comparação que a série Lk2:l ak
do problema 1, página 90. • é convergente. •
102 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 103

Nas notações da proposição anterior, observamos que, se l = 1, a de sorte que a sequência (sn)n>l também é de Cauchy. Logo, pelo
série Lk2:l ak pode convergir ou divergir. De fato, para an = ~ temos teorema 3.16 a sequência (sn)n2 1 é convergente, conforme queríamos
demonstrar. •
ªk+l = _k_ -+ l
ªk k +1 ' A recíproca da proposição acima não é válida, quer dizer, há séries
mas a série Lk2:l i diverge; por outro lado, para an = ,;2 temos convergentes que não são absolutamente convergentes, sendo o exem-
plo clássico desse fenômeno fornecido pela série Lk2:l (-l~n-i, a qual é
(k + 1)2 -+ 1, convergente (como caso particular do exemplo mais geral a seguir) e
, . '""""
tal que a série formada pelos valores absolutos de seus termos (a série
mas a sene L..,k2:l k12 converge.
harmônica) é divergente.
Para séries Lk2:l ak com infinitos termos negativos e infinitos ter-
O exemplo a seguir é devido a G. W. Leibniz4, sendo conhecido na
mos positivos, os resultados obtidos até o momento nada dizem acerca
literatura como o critério de Leibniz para a convergência de séries
de sua convergência. Remediamos esta situação a partir de agora, co-
alternadas.
meçando com a seguinte
Definição 3.28. Uma série Lk2:l ak é absolutamente convergente Exemplo 3.30 (Leibniz). Se (an)n>l é uma sequência não crescente
se a série Lk2:l lakl é convergente. de reais positivos, tal que an -+ O, então a série Lk2:l (-l)k-lak é
convergente.
A utilidade do conceito de série absolutamente convergente é evi-
denciada na proposição a seguir e no exemplo subsequente. Prova. Para cada n E N, seja Sn = a 1 + a 2 + · · · + ªn· A condição
Proposição 3.29. Toda série absolutamente convergente é conver- a1 2:: a2 2:: a3 2:: · · · > O garante facilmente que
gente.
(3.5)
Prova. Seja Lk2:l ak uma sene absolutamente convergente e, para
cada n 2:: 1, sejam Sn = a1 + a2 + · · · + an e tn = la1I + la2I + · · · + lanl· Por outro lado, para cada m E N, temos
Dados inteiros m > n 2:: 1, temos

lsm - snl lan+l + an+2 + · · · + aml


< lan+il + lan+2I + · · · + laml o que claramente garante, em conjunção com (3.5), que a sequência
(sn)n21 é de Cauchy. Logo, (sn)n 21 é convergente, conforme desejado .
Como a sequência (tn)n 21 converge, ela é de Cauchy; portanto, dado
E> O, existe n 0 EN tal quem> n >no=} ltm - tnl < E. Com tais E 4 Gottfried

Wilhelm Leibniz, matemático e filósofo do século XVII, é consi-
derado, juntamente com I. Newton, um dos criadores do Cálculo Diferencial e
e n 0 , segue da desigualdade acima que
Integral. De fato, algumas das notações que utilizamos até hoje foram criadas já
por Leibniz, e resistiram ao teste do tempo.
11
1'
1.'
1

104 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 105

Problemas - Seção 3.2 6. * Dada uma sequência (a1, a 2, a 3, ... ) de algarismos, prove que
existe um único elemento x E ~ satisfazendo a seguinte condição:
,
1. D a do um numero rea1 a > 1, prove que a sene
, . L...k
""" 2k-1
21 aJc é fixado um erro máximo 1~n , n E N, temos
convergente e calcule sua soma.

2. Se (an)n 21 é uma PA infinita e não constante de termos positivos,


prove que:
para todo natural k 2:: n.
(a) A série Ek 21 ª1k é divergente.
!
7. Seja (an)n 21 a sequência de números reais positivos definida por
(b) A série Lk>l - 1 é convergente. a1 =!e an+I = a~+an, para n EN. Prove que a série Lk>l 1+1
- ª2k
- ªk
converge e
3. (NMC.) Seja A um conjunto finito de naturais da forma 2a3b5c, 1
para algum terno (a, b, e) de inteiros não negativos. Prove que """
L..J ak +1= 2·
li]! k21
1
1::i
I:-<4.
X 8. Seja (an)n 21 uma sequência de números reais positivos, tal que
1,·
f,1
,,
xEA
a série Ek 21 ai
converge. Prove que, ~ara todo a > ! racional,
i" a série
I,::·,
4. Seja (ak)k 21 uma sequência de reais positivos e e> O um número
1,;
·I real tal que a 1 + a 2 + · · · + an < e, para todo n E N. Prove que
a série Ek 21 ;ké divergente.
1 também converge.
5. * O objetivo deste problema é provar que e~ 2, 71828, com cinco
casas decimais corretas. Para tanto, faça os seguintes itens: 9. Sejam (an)n 21 uma sequência de números reais positivos, tal
que a série Ek 21 ak converge. Prove que a série Ek 21 Vªkªk+I
(a) Para n > 10 inteiro, prove que também converge.

10. Sejam (an)n 21 uma sequência de reais positivos tal que .r:ja;,,---+ l.

(a) Se l < 1, prove que a série Ek 21 ak converge.


(b) Use o item (a), juntamente com o fato de que 10! > 2 · 106 ,
para provar que O < e - L...k=l
"""10 ki1 < 10-6 · (b) Se l > 1, prove que a série Ek 21 ak diverge.
(c) Conclua, a partir de (b), que 2,71828 é uma aproximação (c) Se l = 1, dê exemplos mostrando que a série Ek 21 ak pode
de e com cinco casas decimais corretas. convergir ou divergir.
'r
1

106 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 107

O critério de convergência de séries dado pelo caso l < 1 é co- 15. Seja Tn um triângulo retângulo cujos lados medem 4n 2 , 4n4 -1 e
nhecido na literatura como o teste da raiz. 4n4 + 1, onde n é um número inteiro positivo. Seja an a medida,
em radianos, do ângulo oposto ao lado de medida 4n2 . Mostre
O critério de convergência de séries dado pelo próximo problema que
é devido ao matemático norueguês do século XIX Niels Henrik
Abel, sendo conhecido na literatura como o critério de Abel.

11. Sejam (an)n;::,:l e (bn)n;::,:l duas sequências de números reais satis-


3.3 O lema de Kronecker
fazendo as seguintes condições:
O resultado principal desta seção poderia ter sido visto já no ca-
(a) A sequência (sn)n;::,: 1, definida para n E N por sn = a1 +
pítulo 1 do volume 1. Postergamo-lo pelo simples fato de que sua
· · · + an, é limitada.
demonstração (bem como as aplicações que dele faremos, aqui e a
posteriori) é bem mais refinada que o material constante daquele ca-
pítulo introdutório, cabendo melhor aqui.
Prove que a série Lk;::,:i akbk converge.
Comecemos recordando a definição a seguir.
12. Use o critério de Abel para provar que a série Lk;::,:l (-~l é con-
Definição 3.31. Um subconjunto X de IR é denso (em IR) se, para
vergente.
todo a E IR e toda aproximação E > O dada, tivermos
13. Mostre que todo O < x < 1 admite uma única expansão decimal
da forma x = O, a 1 a 2 a 3 ... , com ak i= O para infinitos valores de X n (a - E, a+ E) i= 0.
k. Em seguida, use este fato para dar um exemplo de função
Um resultado bastante útil sobre densidade de subconjuntos de
sobrejetora f : (O, 1) --+ (O, 1) x (O, 1).
IR é o corolário 3.34 a seguir, conhecido na literatura como o lema
14. No plano Cartesiano, considere a sequência (An)n;::,:1 de pontos de Kronecker 5 . A demonstração que apresentamos para o mesmo
tal que A 1 = (1, O) e satisfazendo as seguintes condições: não é a mais simples possível, mas tem a vantagem de apresentar
algumas ideias interessantes em si mesmas 6 . Precisamos primeiro de
(i) OAnAn+l é retângulo em An, tal que AnAn+l = l. outra definição.
(ii) OAn+1An+2 tem interior disjunto de OAnAn+l, para todo
n?:_l. Definição 3.32. Um subconjunto não vazio G de IR é dito um sub-
grupo aditivo de IR se, para todos x, y E G, tivermos x - y E G.
---+
Prove que, à medida que n--+ +oo, a semirreta OAn dá infinitas 5 Após Leopold Kronecker, matemático alemão do século XIX.
voltas em torno da origem. 6 Aqui, seguimos, essencialmente, [34].
F
1

108 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 109

Evidentemente, {O}, Z, (Q e o próprio lR. são subgrupos aditivos de afirmamos que (m+l)x E Gn(a-E,a+E). De fato, se fosse (m+l)x 2:
JR.. Para um exemplo menos óbvio, dados números reais x 1, ... , xk, é a+ E, teríamos
imediato verificar (cf. problema 1) que o conjunto mx ::;: a - E < a + E ::;: ( m + 1 )x,
(3.6) de sorte que
x = (m + l)x - mx 2: (a+ E) - (a - E) = 2E,
é um subgrupo aditivo de lR..
Seja, agora, G um subgrupo aditivo arbitrário de lR. e tome x E G. uma contradição à escolha de x. Portanto, (m + l)x E (a - E, a+ E) e,
Pela definição acima, temos O = x - x E G. Segue então daí que, para como x, mx E G, temos também (m + l)x = mx + x E G.
x, y E G, temos -y = O - y E G e, portanto, x + y = x - (-y) E G.
Logo, G é fechado para a operação de adição, e uma fácil indução (b) Se inf(G~) = a: > O, afirmamos inicialmente que a: E G~. Para
permite mostrar que tanto suponha, por contradição, que a: (/:. G~. Então a definição de
ínfimo de um conjunto de números reais garantiria a existência de
{ma:; m E Z} e G, V a: E G. (3.7) elementos /3, 1 E G~ tais que a: < /3 < 1 < 20:. Mas, como G é um
subgrupo aditivo de JR., seguiria daí que 1 - f3 E G~, com
O teorema a seguir fornece a caracterização dos subgrupos aditivos de
O< 1 - /3 < 20: - a: = O:,
lR. que nos será útil.
o que, por sua vez, contradiria o fato de que a: = inf(G~). Assim,
Teorema 3.33. Seja G # {O} um subgrupo aditivo de lR. e G~ a: E G~.
G n JR.~. Tome, agora, x E G~ qualquer e faça q = e r = x - a: l~J l~J,
de sorte que q E Z+, O ::;: r < a: e x = qa + r. Se r > O, então o
(a) Se inf(G~) = O, então G é denso em JR..
fato de G ser um subgrupo aditivo de lR. implica r = x - qa E G~,
(b) Se inf(G~) =a:> O, então G = Ga. com O< r < 0:. Mas, como isso contradiz o fato de que a:= inf(G~),
concluímos quer= O e, daí, x = qa E Ga. Portanto,
Prova.
G~ e {na; n E N}
(a) Suponhamos que inf(G~) = O, e sejam a um real arbitrário e E> O
uma aproximação também arbitrária, e provemos que Gn(a-E, a+E) # e, como a inclusão oposta já foi estabelecida em (3.7), temos mesmo
0. Como x E G se, e só se, -x E G, basta analisarmos o caso a 2: O. G~ = {na; n EN}.
Se a - E < O temos O E G n (a - E, a+ E) e nada mais há a fazer.
Finalmente, como G = G~ U {O} U G*:_, com G*:_ = {-x; x E G~}, é
Suponhamos, pois, que a - E 2: O.
imediato que
G = {ma:; m E Z} = Gª.
A condição inf(G~) = O garante a existência de x E G~ tal que
x < 2E. Sendo m o maior inteiro não negativo tal que mx ::;: a - E, •
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 111
110

No corolário a seguir, utilizamos novamente a notação estabelecida Afirmamos primeiro que existem m, n E Z tais que m < O < n e
m + na E A n (O, 8). Por contradição, suponha que
em (3.6).

Corolário 3.34 (Kronecker). Se a é um número irracional, então o m + na E A n (O, 8) :::} n :::;; O.


subgrupo aditivo G 1,a = {m + na; m, n E Z} de lR. é denso em R Escolha (pelo corolário anterior) x 0 = m 0 + n 0 a E A n (O, 8), com
no :S; O o maior possível. Como A n (O, x 0 ) é infinito pelo lema de
Prova. Por simplicidade de notação, seja G = G1,a· Para provar
que G é denso em JR., pelo teorema anterior é suficiente provar que Kronecker, podemos tomar x 1 = m 1 + n 1a E A n (O, x 0 ), com n 1 < no.
inf(G~) = O. Se este não fosse o caso, novamente pelo teorema anterior Então
existiria um real positivo f3 tal que inf(G~) = f3 > O e G = Gf3. Mas, xo - x1 = (mo - m1) + (no - n1)a E A n (O, x 0 ) e A n (O, 8),
uma vez que a é irracional e tanto a quanto 1 + a são elementos de
G* existiriam inteiros não nulos e distintos m e n tais que o que é uma contradição, uma vez que n 0 - n 1 > O. Portanto, podemos
+'
escolher m + na E A n (O, 8), com n > O. Isto posto se fossem > O
' - '
a = n/3 e 1 + a = m/3. teríamos m + na 2 a 2 8, outra contradição. Logo, m < O e, daí,
A n (O, 8) #- 0.
Logo, por um lado teríamos f3 = ; (/:. Q, ao passo que, por outro,
Tome, agora, x E A n (O, 8) e considere os números da forma kx,
teríamos com k E Z+. Sendo k 0 o maior inteiro não negativo para o qual
(m - n)/3 = (1 + a) - a= 1, kox :S; a - E, afirmamos que (k 0 + l)x E (a - E, a+ E). De fato, se fosse
i.e., f3 = m~n E Q, o que é um absurdo. • (ko + l)x 2 a+ E, teríamos

Nosso próximo corolário refina a conclusão do corolário anterior. kox :::;; a - E< a+ E:::;; (k 0 + l)x

Corolário 3.35. Se a é um número irracional, então os conjuntos a e, daí,


seguir são densos em JR.: 8> x = (ko + l)x - k0 x 2 (a+ E) - (a - E) = 2E,
(a) A= {m + na; m, n E Z em< O< n}. uma contradição à escolha de 8.

(b) B={m+na;m,nEZen<O<m}. Exemplo 3.36 (OBM). Sejam 7r um plano Euclidiano e f : 7f ---+ 7f

uma função tal que


Prova. Sem perda de generalidade, suponha que a> O. Provemos o
item (a), sendo a prova do item (b) totalmente análoga. Dados a E lR. d(P, Q) = 1 * d(f(P), f(Q)) = 1,
e uma aproximação E > O, queremos provar a existência de x E A tal
que a - E < x < a + E. Suponha que a - E 2 O (os demais casos são para todos P, Q E 7f. Prove que f é uma isometria de 7f, i.e., prove
análogos) e seja 8 = min{ a, 2E} > O. que, para todos P, Q E 7r, tem-se d(P, Q) = d(f(P), f(Q)).
112 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 113

Prova. Para P E 1r, denotemos J(P) sistematicamente por P', de Afirmação 2. Para todo inteiro positivo n, temos
sorte que d(P, Q) = PQ e d(f(P), J(Q)) = P'Q'. Mostremos pri-
meiro que f deve preservar distâncias -vf:3. PQ = n ==} P'Q' = n.

Afirmação 1. Basta mostrarmos o caso n = 2, sendo o caso geral totalmente


análogo. Sejam P e Q pontos tais que PQ = 2, e R o ponto médio do
segmento PQ, tal que PR= RQ = 1 (figura 3.2). Considere pontos
De fato, dados dois pontos P e Q do plano tais que PQ = .J:3, construa S T
pontos R e S tais que os triângulos Q RS e P RS sejam equiláteros
de lado 1 (figura 3 .1). Gire o losango P RQ S, com centro em P e no

u
~: ....
Q
p
/V\ R Q

1 .... Figura 3.2: PQ = 2 * P'Q' = 2.


1
1
1 s R
1
Se T tais que PRS, RST e QRT sejam triângulos equiláteros de lado
vl, .... +------+
.... .... 1, situados em um mesmo semiplano dos determinados pela reta PQ .
....
l1'
Utilizando a Afirmação 1 duas vezes~, é imediato que P'Q' = 2 .
p
Analogamente, podemos provar que

Figura 3.1: PQ = J3 * P'Q' = J3. PQ = nV3 ==} P'Q' = nV3.


Afirmação 3. P'Q' 2 PQ, para todos os pontos P e Q do plano.
sentido anti-horário, até obter um losango PTUV para o qual QU = 1. A fim de provar essa afirmação, seja PQ = l, tal que l não é nem
Observe que as imagens P', R' e S' de P, R e S formam um tri- natural nem da forma n-vf:3, para algum n E N. Pelo corolário 3.35
ângulo equilátero de lado 1. Como Q' R' = Q' S' = 1, segue que (veja também o problema 2), podemos tomar sequências (mk)k2'. 1 e
Q' = P' ou P' R' Q' S' é um losango congruente a P RQ S (de modo que (nk)k2'.I de inteiros satisfazendo as seguintes condições:
P'Q' = -vf:3). Para descartar a primeira possibilidade basta observar
que, se P' = Q', então T', U' e V' estão todos sobre o círculo de centro 1. mk < O < nk, para todo k 2 1;
P' = Q' e são vértices de um triângulo equilátero de lado 1, o que é
um absurdo.
ii. limk-Hoo(mk + nk-vf:3) = l;
iii. max{O, l - 1} < mk + nk-vf:3 < l, para todo k 2 1.
114 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 115

Vamos mostrar primeiramente que existe um triângulo de lados l, -mk XQ. Mas, como isto vale para todo vértice da triangulação, devemos
e nn.13. Para tanto, como mk + nk.J3 < l, temos l + (-mk) > ter necessariamente P' Q' = l.
nkv'3; também l + (mk + nkv'3) > O, o que implica l + nkv'3 > -mk;
finalmente, a partir de l - 1 < mk + nk.J3, temos

Portanto, a desigualdade triangular garante a existência de um ponto


+------+ -
R E 1r \ PQ tal que PR = nk.J3 e RQ = -mk; como já temos
PQ = l, nada mais há a fazer.
Segue do que fizemos acima que (cf. figura 3.3) P'Q' + R'Q' 2:
P'R' ou, ainda, P'Q' 2: P'R' - R'Q'. Mas, como P'R' = nkv'3 e
R'Q' = -mk, obtemos P'Q' 2: nk.J3 + mk. Por outro lado, como
nk.J3 + mk-+ l quando k-+ +oo, segue daí que P'Q' 2: l = PQ.
Figura 3.4: PQ = l * P'Q' = l.
R'
R

f Q'

nkv'3

p Q P' Problemas - Seção 3.3

Figura 3.3: P'Q' 2: PQ. 1. * Dados números reais x 1 , ... , xk, verifique que o conjunto

Considere novamente pontos P e Q do plano, com PQ = l. Com é um subgrupo aditivo de IR.


+------+
base na reta PQ e tendo o ponto P como origem, triangule o plano
com triângulos equiláteros de lado 1.
2. * Dados a, l E IR,com a irracional, mostre que existem sequên-
cias (mkh?.1 e (nkk::::1 de inteiros satisfazendo as seguintes con-
Pelo que fizemos acima, as imagens por f dos vértices dessa trian-
dições:
gulação formam uma triangulação análoga do plano. Por outro lado,
se X é um vértice arbitrário da triangulação original (cf. figura 3.4), (a) mk <O< nk, para todo k 2: 1;
temos X'Q' 2: XQ, para todo ponto Q do plano. Geometricamente,
(b) limk-++=(mk + nka) = l.
isto significa que Q' não está no interior do círculo de centro X' e raio
116 Tópicos de Matemática Elementar 3

CAPÍTULO 4

Funções Contínuas

Neste capítulo, formalizamos o conceito de função contínua, pen-


sado intuitivamente como uma função cujo gráfico é uma curva sem
interrupções. Como resultado de nossas discussões, apresentamos cri-
térios suficientes para garantir a continuidade de uma função e, dentre
outros resultados importantes, mostramos que toda função contínua
possui a propriedade do valor intermediário. Por fim, apresentamos
várias aplicações interessantes de tal propriedade.

4.1 Definição e exemplos


Consideremos, inicialmente, a função f: ~--+~dada por f(x) =
{x} (a função parte fracionária), cujo gráfico está esboçado na figura
4.1. Após um rápido exame, certamente nos sentiríamos confortáveis
118 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto
119

em dizer que o gráfico em questão é descontínuo, uma alusão à existên- então, pondo c = max{-a, b}, temos
cia de vários saltos ao longo do mesmo. Note que isso aparentemente
não ocorre com o gráfico da função g : IR ----+ IR dada por g ( x) = x2 , o [a 2 , b2 ], se O ::::; a < b
qual certamente mereceria ser denominado contínuo. g([a, b]) = { [O, c2] , se a < O < b
[b2 , a 2 ] , se a < b ::::; O
y
Em particular, para todo y no intervalo de extremos g(a) e g(b), existe
x E [a, b] (x = ±.Jy, conforme o caso), tal que g(x) = y.
Estamos, agora, em posição de generalizar a discussão acima com
a definição a seguir. Para tanto, em tudo o que segue, X denot; uma
o X
união de intervalos da reta, salvo menção em contrário.

Definição 4.1. Dizemos que uma função f : X ----+ IR possui a pro-


priedade do valor intermediário se, para todo intervalo [a, b] e X
Figura 4.1: gráfico de J(x) = {x }. e todo Yo pertencente ao intervalo de extremidades J(a) e J(b), existir
Xo E [a, b] tal que y = f(x).

Surge, então, a questão de obter um critério razoável para identi-


ficar a existência ou não de tais saltos num gráfico, discernindo entre y
duas possibilidades como as acima descritas. Para desenvolvermos al-
guma intuição sobre como fazê-lo, restrinjamos o domínio da função f(a)
x t--+ { x} ao intervalo [Í, ~], denotando a nova função assim obtida
ainda por f, por simplicidade de notação; concluímos facilmente que

Im(f) =[o,~] u [~, 1); a


f(b)
x0 X

em particular, existem valores de y no intervalo de extremos f (Í) e


j(~), por exemplo y = 156 , tais que nenhum X E rn, ~] satisfaz f(x) = y.
Por outro lado, é fácil verificar que tal não ocorre com a função g Figura 4.2: a propriedade do valor intermediário.
acima; mais precisamente, fixado um intervalo [a, b] e IR, se denotar-
mos por g([a, b]) a imagem da restrição de g a [a, b], i.e.,
A discussão acima garante que a função f (x) = {x}, x E IR, não
g([a, b]) = {g(x) E IR; x E [a, b]}, possui a propriedade do valor intermediário, ao passo que a função
1

1.
120 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 121

g(x) = x 2 , x E IR, possui tal propriedade. Desse modo, ela aparente- arbitrado um erro r > Opara a posição do ponto P0 (i.e., arbitrado um
mente nos compele a dizer que, se uma função f : X --+ IR possui a disco D(P0 ; r), de centro P0 e raio r), devemos ter P E D sempre que
propriedade do valor intermediário, então f é uma função de gráfico a abscissa x de P aproximar x 0 com erro suficientemente pequeno,
contínuo, i.e., sem saltos. Todavia, o leitor pode verificar facilmente digamos menor que um certo ó > O (leia-se delta). Em símbolos,
que a função f : [O, 2] --+ IR dada por arbitrador > O, deve existir ó> O tal que

se O ::::; x ::::; 1 lx - xol <ó::::} PP0 < r. (4.1)


f(x) = { :,_ !
2'
sel<x:s;2
É possível mostrar (cf. problema 2) que a validade da condição
satisfaz a propriedade do valor intermediário, mas seu gráfico apre-
(4.1) equivale à seguinte descrição geométrica alternativa (figura 4.4):
senta um salto em x = 1, de sorte que f não é o protótipo do que
arbitrado um erro E > O (lê-se épsilon) para o valor de f em x 0 , i.e.,
desejamos chamar de função contínua.
arbitrada uma faixa horizontal
A fim de formularmos adequadamente o conceito de função contí-
nua, analisemos a situação sob outro ponto de vista. Seja f : (a, b) --+
IR x (f (x 0 ) - E, f (xo) + E)
IR uma função dada, xo E (a, b) fixado e P0 (x 0 , f(x 0 )) E G1 ; para
x E (a, b) \ {x0 }, seja, ainda, P(x, f(x)) E Gt· Para que o gráfico G1 do plano Cartesiano, simétrica em relação ao ponto P0 (x 0 , f(x 0 )), deve
de f mereça ser denominado contínuo, nossa intuição diz que, para x existir outro erro ó> O tal que, para x E X satisfazendo lx - x 0 1 < ó,
próximo a x 0 , devemos ter P próximo a P0 . o ponto P(x, f(x)) pertença à faixa em questão. Isto posto, podemos
finalmente enunciar a definição formal de função contínua.

Xo b X
1--1
26 X

Figura 4.3: ponto de vista correto para função contínua.

Figura 4.4: elaborando o ponto de vista correto para função contínua.


Mais precisamente, essa proximidade significa (cf. figura 4.3) que,
122 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 123

Em tudo o que segue, salvo menção explícita em contrário X C R Prova. Vamos mostrar que a função identidade é contínua, deixando
denota uma união de intervalos e 1 e R denota um intervalo. a prova da continuidade das funções constantes a cargo do leitor. Te-
mos que mostrar que Id é contínua em x 0 , para todo x 0 E R; para
Definição 4.2. Uma função f: X--+ Ré contínua em um ponto tanto, de acordo com a definição 4.2, dado E> O, devemos ser capazes
x 0 E X se a seguinte condição for satisfeita: dado E > O, existe ô > O de encontrar ô > O tal que
tal que
(4.2)
lx-:- xol <ô=* IId(x) - Id(xo)I < E.
x E X, lx - xol <ô=* lf(x) - f(xo)I < E.
Mas isso é o mesmo que
I'''",.1
A função f é dita contínua se o for em todo xo E X.
lx - xol <ô=* lx - x0 < E,
1

Em que pese a discussão geométrica anterior, ao ler a definição


acima, quase certamente restou ao leitor a impressão de que ela é
de sorte que podemos tomar qualquer ô E (O, E].

pouco palatável. Sendo esse o caso, recomendamos adiar o embate Exemplo 4.4. O exemplo 4.3 garante, juntamente com a discussão
com os épsilons e deltas envolvidos para a seção 6.1, quando o con- do parágrafo que o precede, que toda função do tipo x H- axk (a E R
ceito mais geral de limite de uma função num ponto será discutido e k E N) é contínua. Portanto, também é contínua toda soma finita
em detalhe; exceto pela discussão de alguns exemplos e prova de uns de funções desse tipo, i.e., toda função f: R--+ R do tipo
poucos resultados (quase todos heuristicamente plausíveis à luz da
discussão geométrica supracitada), tal atitude não resultará em perda
f(x) = anXn + ªn-1Xn-l + · · · + a1x + ao,
apreciável de continuidade da exposição. para certos n EN e ao, a1, ... , an E R. Uma tal função é dita polino-
Provaremos mais adiante (cf. proposição 4.27) que, se f, g : X --+ R mial.
são funções contínuas em x 0 E X, então as funções f ± g, f ·g : X --+ R
Exemplo 4.5. Se f : R --+ R é uma função polinomial como no
também são contínuas em x 0 . Também provaremos mais adiante que,
exemplo anterior, dizemos que x 0 E Ré uma raiz de f se f(xo) = O.
se g(x 0 ) # O, então existe um intervalo aberto J, centrado em x 0 e tal
Provaremos, no capítulo 3 do volume 6, que o conjunto das raízes
que g(x) # O para todo x E X n J. Nesse caso, mostraremos ainda
de uma função polinomial é finito. Portanto, se f e g são funções
que a função i. : X n 1--+ Ré contínua em x 0 . Por ora, assumiremos
g polinomiais e Rg = { X1 < x2 < · · · < xk} é o conjunto das raízes de
as afirmações acima sem demonstração, utilizando-as para apresentar
g, o conjunto
alguns exemplos relevantes de funções contínuas 1 .
1 1 R \ Rg = (-oo,x1) U (x1,x2) U ... U (xk-i,xk) U (xk,+oo)
1
Exemplo 4.3. A função identidade Id : R --+ R e toda função cons-
tante são contínuas. é uma união finita de intervalos abertos, no qual fica bem definida a
função
1 Também mostraremos mais adiante (cf. teorema 4.15) que toda função contí-

nua satisfaz a propriedade do valor intermediário. -f.. R \ Rg-+ R


g

l,
1
1

Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 125


124

Uma tal função é dita racional, e o exemplo anterior, juntamente logo, f satisfaz uma condição do tipo (4.3) no intervalo[,, +oo), e um
com a discussão no parágrafo que precede o exemplo 4.3, garante que argumento análogo ao da prova do lema 4.6 garante a continuidade de
funções racionais são contínuas, onde estiverem definidas. f em xo.
Antes de apresentar mais exemplos, precisamos do seguinte Precisamos, agora, do seguinte resultado auxiliar.

Lema 4.9. Para todo x E R, temos isenxl ::; !xi.


Lema 4.6. Se e> O é uma constante e f : I--+ Ré uma função tal
que Prova. Mostremos inicialmente que sen x ::; x, para O ::; x ::; ~. Tal
lf(x) - f(y)I :S cix - YI, V x, y E J, (4.3) desigualdade é óbvia para x = O; para O < x ::; ~' marque, na figura
então f é contínua2 . 4.5, o arco anti-horário A,....._P de comprimento R(ÂP) = x.

Prova. De fato, fixados x 0 E R e E> O, queremos encontrar 8 > O tal


que
lx - xol < 8 ==} lf(x) - f(xo)I < E. B

Mas, uma vez que lf(x) - J(xo)I :S cix - xol < cô para lx - xol < 8,
basta tomarmos 8 =~para que lf(x) - J(xo)I < E. •
A'
Exemplo 4.7. A função modular J(x) = !xi, x E R, é contínua pelo o Q
lema anterior. De fato, segue da desigualdade triangular que, para
x, y E R, temos

lf(x) - f(y)I = llxl - IYII :S lx - YI· B'


Exemplo 4.8. A função raiz quadrada f : [O, +oo) --+ R, tal que
J(x) = Jx para x ~ O, é contínua. De fato, seja dado E > O. Se Figura 4.5: lsenxl ~ lxl.
xo = O, então lf(x) - f(xo)I ~ Jx < E, contanto que O ::; x < E2 ;
portanto, nesse caso basta tomar 8 = E2 . Se x 0 > O e x > ? , então +-----+
Se Q é o pé da perpendicular baixada de P à reta AA', então
Jx > v;"0 , de sorte que
sen x = PQ < R(AP) = x.
r,:. lx - xol 2
lf(x) - f(xo)I = lv;L - Foi= r,:. ~< ~lx - xol;
3 yXo
yX + yXo Agora, como sen (-x) = -senx, segue imediatamente que isenxl ::;
função que satisfaz (4.3) é dita Lipschitziana, em homenagem ao ma-
2 Uma
lxl para !xi :S ~; mas, como isenxl :S 1 < ~' temos que isenxl ::; !xi
temático alemão do século XIX Rudolf Lipschitz. para lxl >~e, daí, para todo x E R •
126 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 127

De posse do lema acima, o lema 4.6 garante a continuidade das O exemplo a seguir mostra um uso típico da regra da cadeia para
funções seno e cosseno, conforme ensina o próximo exemplo. funções contínuas.
Exemplo 4.10. As funções seno e cosseno são contínuas. De fato, a Exemplo 4.12. A função f : lR --+ lR dada por f(x) = sen (x 2 ) é
partir das fórmulas de transformação em produto e do lema anterior, contínua. De fato, se g, h : lR--+ lR são as funções dadas por g(x) =
temos para x, y E lR que senx e h(x) = x 2 , então g eh são contínuas e f = g oh; portanto, f
é contínua pela regra da cadeia.
I cos x - cos y 1 = 21 sen ( x ; y) 11 sen ( x ; y) 1

< 21 sen ( x ; y) 1 ~ 21 x ; yI Problemas - Seção 4.1


lx-yl.
1. Prove que:
Portanto, o lema 4.6 garante a continuidade da função cosseno, e o
argumento para a função seno é totalmente análogo. (a) A função f : lR \ {O} --+ lR dada por J(x) = i
possui
a propriedade do valor intermediário e é contínua, mas a
Terminamos esta seção examinando a continuidade de uma com-
função f : lR --+ lR dada por
posição. O resultado da proposição a seguir é conhecido como a regra
da cadeia para funções contínuas. .!. se x-'- O
f(x)= { x' '
O, se x = O
Proposição 4.11. Se X, Y e lR são uniões de intervalos e f : X--+ Y
e g : Y --+ lR são funções contínuas, então g o f : X --+ lR também é não possui tal propriedade.
contínua. (b) A função f : lR --+ lR dada por
Prova. Sejam x 0 E X e y0 = J(x 0 ). Dado E> O, a continuidade de g f(x) = { x_2x+, 1, se x ~ O
garante a existência de 8 > O tal que se x < O

Y E Y, IY - Yol < 8::::} lg(y) - g(yo)I < E. (4.4) não possui a propriedade do valor intermediário.
l..ii

Por outro lado, a continuidade de f garante a existência de 8' > O tal 2. * Prove que toda função contínua no sentido da relação (4.1) é
que contínua no sentido da definição 4.2, e vice-versa.
x E X, lx - xol < 8'::::} f(x) - f(xo) < 8. ..__.,
1
.._,.,-, 1
3. * Se D = lR \ {rr /2 + k1r; k E Z}, use o exemplo e a discus-
Y YO são no parágrafo que precede o exemplo 4.3 para estabelecer a
Portanto, segue das relações acima (com y = f(x) em (4.4)) que continuidade da função tangente,
x E X, lx - xol < 8'::::} lf(x) - J(xo)I < 8::::} lg(f(x)) - g(f(xo))I < E, tg : D --+ lR
o que estabelece a continuidade da função g o f.
• X f------+ tg X
r;
1

128 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 129

4. * Para n EN, prove que a função x 1--t y'x, x > O, satisfaz uma Mas, a última desigualdade acima acarreta que
desigualdade do tipo (4.3) em cada intervalo [a,b] C (0,+oo).
f(xo)
Conclua, a partir daí, que f é contínua. f(x) - f(xo) > - -2 -,

5. Se I e IR é um intervalo e f : I ---+ IR é uma função contínua, o que é o mesmo que f(x) > f(;o), para todo x E I tal que lx - x0 1<
explique por que a função lfl : I---+ IR também é contínua. ô. •
.
6. E xp11que - f( x ) =
por que a f unçao 3 x4-2x3+1
x 2 +1 , x E TI])
m., e cont'mua.
,
Uma aplicação judiciosa do lema acima é o que nos permite provar
a propriedade do valor intermediário para funções contínuas definidas
7. Justifique a continuidade da função f : (-1, +oo) ---+ IR dada, num intervalo [a, b]. Começamos com um caso especial da mesma,
para x > -1, por f(x) = ~- conhecido como o teorema de Bolzano 3 , para o qual o leitor pode
achar conveniente revisar a definição e as propriedades elementares
do supremo de um conjunto não vazio e limitado superiormente de
4.2 O teorema do valor intermediário números reais (cf. capítulo 1 do volume 1).
Nesta seção, mostramos que funções contínuas definidas num inter- Teorema 4.14 (Bolzano). Seja f : [a, b] ---+ IR uma função contínua.
valo [a, b] satisfazem a propriedade do valor intermediário e apresenta- Se f(a)f(b) < O, então existe e E (a, b) tal que f(c) = O.
mos várias aplicações desse fato. Comecemos enunciando e provando
o lema de permanência do sinal para funções contínuas. Prova. Suponha, sem perda de generalidade, que f(a) <O< f(b), e
seja
Lema 4.13. Sejam I e IR um intervalo e f : I ---+ IR uma função A= {x E [a, b]; f é negativa no intervalo [a, x]}.
contínua. Se x 0 E I é tal que f(xo) > O (resp. f(xo) < O), então
Como a E A por hipótese, temos A=/= 0. Por outro lado, A é limitado
existe c5 > O tal que
(uma vez que A e [a, b]) e, portanto, existe e= sup A.
f(xo) f(xo) Note inicialmente que e > a, pelo lema de permanência do sinal.
x E J, lx - x0 1< c5 ~ f(x) > - 2 - (resp. f(x) < - -2 -). De fato, se fosse f(a) < O, teríamos, de acordo com aquele resultado,
a existência de O < c5 < b - a tal que f(x) < O para x E [a, a+ c5) e,
Em particular, f ainda é positiva (resp. negativa) em In(xo-ô, x 0 +c5).
daí, e 2:: a+ ô.
Prova. Façamos a prova no caso em que f(x 0 ) > O, sendo a prova no Agora, afirmamos que f(c) = O. Por contradição, suponha pri-
outro caso totalmente análoga. A definição de continuidade garante meiro que f(c) < O. Então e< b (uma vez que f(b) > O) e, novamente
que, para E = f(;o), existe c5 > O tal que pelo lema de permanência do sinal, existiria O < c5 < b - e tal que f
1 1
seria negativa em (e - ô, e+ c5) n [a, b]. Mas, como e = sup A, podemos
f(xo)
x E J, lx - xol < c5 ~ lf(x) - f(xo)I <E= - 2 -. 3 Após Bernard Bolzano, matemático alemão dos séculos XVIII e XIX.
130 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 131

tomar d E ( e - ô, e) n A, de sorte que f < O em [a, c1]; portanto, tería- com ao, a1, ... , an E lR, an =/=- O e n ímpar, então a imagem de f é
!J
mos f < O em [a, d] U (e- ó, e+ = [a, e+ !L contradizendo o fato de o conjunto de todos os números reais. Em particular, f possui pelo
ser e = sup A. Por outro lado, se f (e) > O, existiria ô > O tal que f menos uma raiz real.
seria positiva em (e- ô, e+ 6) n [a, b]; em particular, A n (e- ô, e]= 0
e, daí, teríamos sup A s e - ô, uma nova contradição. Logo, a única Prova. Dado d E JR, faça g(x) = f (x )-d. Então g : lR--+ lR também é
possibilidade é termos f(c) = O. • polinomial, e basta garantirmos a existência de e E lR tal que g(c) = O.
O argumento do parágrafo anterior reduz nosso problema a mostrar
O teorema a seguir é conhecido como o teorema do valor inter- a existência de e E lR tal que f(c) = O. Para tanto, suponhamos, sem
mediário. Como é costume na literatura, doravante nos referiremos perda de generalidade, que an > O. Então, para x =/=- O, repetidas
ao mesmo simplesmente como o TVI. aplicações da desigualdade triangular fornecem
Teorema 4.15 (TVI). Sejam f, g : [a, b] --+ lR funções contínuas. Se f(x)
f(a) < g(a) e f(b) > g(b) (ou vice-versa), então existe e E (a, b) tal
que f(c) = g(c). Em particular, se um real d pertence ao intervalo de
extremos f(a) e f(b), então existe e E (a, b) tal que f(c) = d.

Prova. Para a primeira afirmação, note que a função h = f - g é


i: contínua e tal que h(a)h(b) = (f (a)-g(a) )(f (b)-g(b)) < O. Portanto,
1 o teorema de Bolzano garante a existência de e E ( a, b) tal que h( e) =
O, i.e., tal que J(c) = g(c). O caso particular em questão é obtido
fazendo g igual à função constante e igual a d em [a, b]. • Portanto, se lxl 2 1, então lxl S lxl 2 s ··· s lxln e, daí,
No que segue, discutimos algumas aplicações interessantes do TVI.

Exemplo 4.16. Seja f : [O, 1] --+ [O, 1] uma função contínua. Prove
que existe um real O e s s 1 tal que f(c) = e (i.e., que f tem pelo
o qual, por sua vez, é positivo para lxl > .l :E~-=- 1 la·I.
menos um ponto fixo). an J-0 J
Em resumo, se
Prova. Se f(O) = O ou f(l) = 1, nada há a fazer; senão, f(O) > O e
f(l) < 1. Considerando a função g : [O, 1] --+ lR dada por g(x) = x,
temos, então, f(a) > g(a) e f(b) < g(b), e o TVI garante a existência
A > max { 1, al I:
n j=O
1 aj 1} ,

de O< e< 1 tal que f(c) = g(c) (ou, o que é o mesmo, f(c) = e). •
- f(x)
ent ao~> O para x = ±A. Mas, como n 1mpar,
, segue que f(-A) <
Exemplo 4.1 7. Se f : lR --+ lR é uma função polinomial da forma
O< J(A) e o TVI garante a existência de e E [-A, A] tal que f(c) =
O. •
132 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 133

Exemplo 4.18 (Romênia). Existe uma função contínua f : IR. --r IR. Prova. Note inicialmente que, para cada x E IR., temos
tal que
J(x) E Q {:} f(x + 1) tf_ Q? f(f(x)) = x 2 + 1 * J(f(f(x))) = f(x 2 + 1)

Solução. Suponha que exista uma tal f e defina g : IR. --r IR. por
* f(x) 2 + 1 = f(x 2 + 1)

g(x) = f(x+ 1)- f(x). Então, g é contínua (pela regra da cadeia para
* f(x)2+1=f(-x)2+1
funções contínuas) e, pela condição do enunciado, transforma todo * f(x) = ±f(-x)
número real num irracional. Mas, como todo intervalo não degenerado Agora, se f(a) = f(/3) = O, então
contém números racionais (cf. problema 1.5.2 do volume 1), a fim de
não obtermos uma contradição ao TVI a única possibilidade é g ser a 2 + 1 = J(f(a)) = f(O) = f(f(/3)) = /3 2 + 1,
constante. Assim, existe um número irracional a tal que f (x + 1) -
f(x) =apara todo x E IR. e, daí, de modo que f tem no máximo dois zeros. Há três possibilidades:

f(x + 2) - f(x) = f(x + 2) - f(x + 1) + f(x + 1) - f(x) = 2a, (4.5) • f(x) =1- O, para todo real x: pelo TVI, f tem sinal constante em R
Mas, como f(x) = ±f(-x) para todo real x, segue que f(x) = J(-x)
também para todo x E R para todo real x, e f é par.
Afirmamos, agora, que existe x 0 E IR. tal que f(x 0 ) E Q; de fato,
tome um real qualquer a; se f (a) não for racional, segue de nossas • f tem um único zero, digamos em x = a: como f(-a) = ±f(a) = o,
hipóteses que f(a + 1) será racional e basta, então, tomar x 0 = a devemos ter a = -a, de modo que a = O. Mas, daí,
ou x 0 = a+ 1. Por outro lado, fixado um tal x 0 , nossas hipóteses
asseguram que f(j(O)) = 02 + 1 = 1 * f(O) =1- O,
o que é uma contradição.
f(xo) E Q * f(xo + 1) tf_ Q * f(xo + 2) E Q.
• f tem exatamente dois zeros, em x = a ex= -a, para algum a> O:
Logo, f(x 0 + 2} - f(x 0 ) E Q, o que contradiz (4.5) e termina a de-
pelo TVI, f tem sinal constante no intervalo (-a, a). Considere a
monstração. • função g(x) = f(x) - x. Se f > O em (-a, a), então

Para o exemplo a seguir, recorde que uma função f : IR. --r IR. é par g(O) = f(O) - O> O e g(a) = f(a) - a= -a< O,
se f(-x) = f(x), para todo real x.
de modo que existe O< e< a tal que g(c) = O. Se f < O em (-a, a),
Exemplo 4.19. Seja f : IR. --r IR. uma função contínua e tal que então
J(f(x)) = x 2 + 1, para todo x E R Prove que fé par.
g(O) = f(O) - O< O e g(-a) = f(-a) - (-a)= a> O,
134 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 135

de modo que existe -a< e< O tal que g(c) = O. Em qualquer caso, de maneira que f(x) < ~ e g(x) > ny'x. Em particular, f(x) < g(x)
f admite um ponto fixo e. Mas se ~ < ny'x, i.e., se x > (~) n~i. Portanto, f(x) < g(x) para
x > max { 1, (~) n~l } ·
f(c) =e==} e= J(f(c)) = c2 + 1 ==} c2 - e+ 1 = O,
o que é um absurdo, haja vista tal equação não possuir raízes reais. • • para O < x < 1, temos

1 1 · 1 1
Exemplo 4.20. Sejam m, n ~ 1 inteiros fixados. Calcule, para x > O, -xm > - - > · · · > -x2 > -X e X < Jx < · · · < n-VX < y'x '
xm-1
o número de soluções da equação
de maneira que f(x) > ~ e g(x) < ny'x. Em particular, f(x) > g(x)
-1 + -12 + -13 + ... + - 1 = X+ Jx + \7X
3
+ ... + y'x. m nG ·
> nyx, 1.e., se x < (~)n~ Portanto, f(x) > g(x) para
x x x xm se -;;- 1 .

Solução. Afirmamos que a equação acima admite somente uma solu- Ü< X < min { 1, ( ~) n~l } .

ção. Primeiramente, note que, para x > Oe k inteiro positivo, a função


x M x\ é decrescente, ao passo que a função x M ijx é crescente. Mas, Finalmente, a discussão acima garante que podemos tomar reais
como uma soma de funções crescentes de mesmo domínio é crescente O < a < 1 < b tais que f(a) > g(a) e f(b) < g(b), de maneira que o
e uma soma de funções decrescentes de mesmo domínio é decrescente TVI garante a existência de e E (a, b) tal que f(c) = g(c). •
(prove este fato!), concluímos que as funções f, g : (O, +oo) -+ IR tais
Terminamos esta seção utilizando o TVI para estudar a continui-
que
dade da inversa de uma função contínua cujo domínio é um intervalo.
1 1 1 1
J(x)=-+-+-+···+- e g(x)=x+Jx+Tx+···+v'x
X X2 x3 xm Teorema 4.21. Se I e IR é um intervalo (resp. aberto, fechado ou
são, respectivamente, decrescente e crescente, Como as soluções da semiaberto) e f : I -+ IR é uma função contínua, então f é injetiva se,
equação do enunciado correspondem aos valores positivos de x tais e somente se, f é crescente ou decrescente. Ademais, em um qualquer
que f(x) = g(x), o problema 1, página 52, garante que tal equação desses casos temos que:
tem, no máximo, uma solução.
(a) a imagem de fé um intervalo J (resp. aberto, fechado ou semi-
Para mostrarmos que há de fato alguma solução, vamos usar o
aberto);
TVI, observando inicialmente que f e g são claramente contínuas em
(O, +oo ). Para tanto, consideremos dois casos separadamente: (b) J- 1 : J -+ I é contínua.

• para x > 1, temos Prova. Se f não é injetiva, então f claramente não pode ser nem
crescente, nem decrescente. Reciprocamente, se f não é nem crescente,
1 1 1 1
-xm < - - < · · · < -x2 < -X e
xm-1 X > Jx > · · · > n-VX > y'x, nem decrescente, então existem a< b < e em I tais que f(a) ::::; f(b) ~
ri:
• 1

136 Tópicos de Matemática Elementar 3 i Antonio Caminha M. Neto 137

f(c) ou f(a) 2:: f(b) ::; f(c). Suponha que f(a) ::; f(b) 2:: f(c) (o outro ' Observe que podemos supor E > O tão pequeno que x 0 ± E E ( a, b)
caso é análogo) e escolha d E R tal que (senão, diminua o E > O dado, de forma que essa condição seja satis-
feita). Lembrando que fé crescente, tome
max{f(a), f(c)} ::; d::; f(b).
O< ô< min{ ôo, f(xo + E) - f(xo), f(xo) - f(xo - E)}.
O TVI garante a existência de x 0 E (a, b) e x 1 E (b, e) (logo x 0 , x 1 E J)
tais que f(xo) = d e f(x1) = d, de modo que f(xo) = f(x1). Em Então,
particular, f não é injetiva.
Para o item (a), suponha f crescente e I = (a, b), com a, b E R (os . f(x) - f(xo) < ô :::} f(x) - f(xo) < f(xo + E) - f(xo)
demais casos são totalmente análogos). Para cada intervalo [e, d] e :::} f(x) < f(xo + E) :::} x < Xo + E
(a, b), o TVI e o fato de f ser crescente garantem que a imagem por
f do intervalo [e, d] é o intervalo [f(c), f(d)]. Mas, como e, analogamente,

(a,b) = LJ [a+ ~,b- ~], f(x) - f(xo) > -8:::} x > xo - E.

i, 1i
n21
Em qualquer caso, a escolha acima para ô garante que
é imediato verificar que
lf(x) - f(xo)I < ô :::} -8 < f(x) - f(xo) < ô
:::} -E < X - Xo < E

:::} lx - xol < E,


onde e= inf{f(x); x E (a, b)} e d= sup{f(x); x E (a, b)}.
Mostremos por fim o item (b), supondo ainda que f : (a, b) -+ (e, d)
é crescente. Então (cf. problema 5, página 43), J- 1 : (e, d)-+ (a, b) é
conforme desejado.

crescente. Agora, fixado y0 E (e, d), seja xo = J- 1(yo). Dado E > O, Como primeira aplicação do teorema acima, damos uma prova al-
queremos ô > O tal que ternativa para o problema 4, página 128.

Y E (e, d), IY - Yol <ô:::} u- (y) -


1 Í- 1 (Yo)I < E. (4.6) Exemplo 4.22. Para n EN, a função potência n-ésima é a função
f : R -+ R dada por f(x) = xn. Se n é par, denote ainda por f a
Para tanto, seja 80 = min{y0 - e, d-y0 } e suponha, inicialmente, que restrição f : [O+ oo) -+ R; como f é contínua, crescente e f(k) =
O < 8 < 80 (de sorte que a condição IY - Yol < ô seja suficiente para kn > k para k E N, temos pelo TVI que Im (!) = [O, +oo), e o
garantir que y E (e, d)). Denotando x = J- 1(y), temos y = f(x) e teorema anterior garante a (boa definição e a) continuidade da função
podemos reescrever (4.6) da seguinte forma: queremos O < ô< 80 tal
que J- 1 : [O, +oo) ----+ [O, +oo)
lf(x) - f(xo)I <ô:::} lx - xol < E. X f------+ {!jx
138 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 139

Analogamente, se n é ímpar, então I é contínua, crescente, Im (!) = IR Problemas - Seção 4.2


e
1-1 : lR --+ lR 1. A função contínua I: (-oo, 1) U (1, +oo)---+ JR, dada por
X f----t y'x
f(x) = { x, se x E (-oo, 1)
é contínua. Em qualquer um dos casos acima, a função 1-1 é denomi- x2 + 1, se x E (1,+oo) '
nada a função raiz n-ésima.
satisfaz l(O) <! < 1(2), mas não existe e no domínio de I tal
O próximo exemplo introduz inversas para restrições apropriadas
das funções seno, cosseno e tangente.
que I (e) = !. Por que esse exemplo não contraria o TVI?

2. Calcule o número de soluções reais de cada uma das equações


Exemplo 4.23. A restrição da função seno ao intervalo [-~, ~], que
abaixo:
também denotaremos por sen : [-~, ~]---+ [-1, 1], é uma bijeção contí-
nua e crescente. A função arco-seno é sua inversa arcsen : [-1, 1] ---+ (a) lx 1+ 1 = x 4 .
[-~,~],de sorte que, para x E [-1, 1] e y E [-~, ~],
(b) COS X = x2 •
arcsen x = y {:::} sen y = x. (c) senx = f
Observe ainda que, graças ao teorema 4.21, a função arco-seno é cres- 3. Mostre que a função f : lR---+ lR dada por f(x) = x 3 senx é tal
cente e contínua. que seu gráfico intersecta toda reta não vertical em um conjunto
Denote também por cos a restrição da função cosseno ao intervalo infinito de pontos.
[O, 1r], de modo que cos : [O, 1r] ---+ [-1, 1] é uma bijeção contínua e
decrescente. A função arco-cosseno é sua inversa arccos: [-1, 1]---+ 4. Dado n > 1 inteiro, explicite uma função contínua I : [O, 1] ---+
[O, 1r], a qual é contínua (novamente pelo teorema 4.21) e decrescente. [O, 1] com exatamente n pontos fixos.
Veja também que, para x E [O, 1r] e y E [-1, 1], temos 5. (Bulgária.) Sejam n > 1 inteiro e a 1 , a 2 , ... , an reais positivos
arccos x = y {:::} cos y = x. dados. Prove que a equação

Por fim, a restrição da função tangente ao intervalo ( - ~, ~) é uma


bijeção contínua tg : ( - ~, ~) ---+ JR, de sorte que sua inversa, a função
possui exatamente uma solução real positiva.
arctg : [-1, 1] ---+ [-~, ~], é contínua e crescente. Também, temos
6. Sejam x 1 , x 2 , ... , Xn reais escolhidos do intervalo [O, l]. Prove
arctg x = y {:::} tg y = x.
que existe x E [O, 1] tal que
140 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 141

7. (Leningrado.) Seja f : IR ---+ IR uma função contínua satisfa- 15. (Crux.) Seja f : IR ---+ IR uma função contínua que assume valores
zendo, para todo x E IR, a relação f(x)f(x + 2) + f(x + 1) = O. positivos e negativos. Dado k > 2 natural, prove que existem
Mostre que existem infinitos valores reais de x tais que f (x) = O. reais a 1 , a 2 , ... , ak em progressão aritmética e tais que

8. (Leningrado.) Seja f : IR ---+ IR uma função contínua tal que


f(x)f(f(x)) = 1, para todo real x. Se !(1000) = 999, calcule 16. (Torneio das Cidades.) Prove que, para cada natural n, o gráfico
!(500). de qualquer função contínua e crescente f : [O, 1] ---+ [O, 1] pode
9. (Austrália.) Encontre todos os a E IR tais que, para toda função ser coberto por n retângulos, cada um dos quais de área -\ n
e
contínua f : [O, 1] ---+ IR satisfazendo a condição f(O) = f(l), lados paralelos aos eixos coordenados.
exista x 0 E [O, 1 - a] para o qual f(x 0 ) = f(x 0 + a). 17. (Leningrado.) Seja f : IR ---+ IR uma função contínua tal que,
10. Seja f: IR---+ IR uma função tal que J(x + l)J(f(x) + 1) + 1 = O, para todo real x, tenhamos f(x + f(x)) = f(x). Prove que fé
para todo real x. Prove que f não é contínua. constante.

11. Encontre todas as funções contínuas f : [O, 1] ---+ [O, 1] tais que 18. (Bielorrússia.) Encontre todas as funções f, g, h : IR ---+ IR tais
(! o J)(x) = x, para todo x E [O, l]. que, para todos x, y E IR, tenhamos
J(x + y3 ) + g(x 3 + y) = h(xy).
12. * Sejam dados um intervalo I e um subconjunto não vazio J de
I, tendo as seguintes propriedades:

(a) Para todo x 0 E J, existe ô> Otal que (x-ô, x 0 +'5)nJ e I.


4.3 Continuidade sequencial
(b) Se (an)n2:1 é uma sequência de pontos de J e l E I é tal que Nesta seção, relacionamos os conceitos de limite de uma sequên-
an ---+ l, então l E J. cia convergente e continuidade de uma função. O resultado principal
é a proposição a seguir, a qual será utilizada diversas vezes no que
Mostre que J = I.
segue. Em palavras, ela assegura que funções contínuas são caracteri-
13. * Se f: [O, 1] ---+ IR é uma função contínua, tal que f(r) 2:: O para zadas pela propriedade de transformarem sequências convergentes em
todo racional diádico r E [O, 1], prove que f(x) 2:: O, para todo sequências convergentes.
X E [0,1]. Em tudo o que segue, I denota um intervalo da reta.

14. Se a é um irracional dado, encontre todas as funções contínuas Proposição 4.24. Uma função f : I ---+ IR é contínua se, e só se,
f : IR ---+ IR tais que a seguinte condição for satisfeita: para todo a E I e toda sequência
(an)n2:1 de elementos de I, temos
J(x) = J(x + 1) = J(x + a),
lim an =a:::} lim f(an) = f(a).
para todo x E R n~+= n~+=
142 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 143
Prova. Inicialmente, suponha que f é contínua. Então, dado E > O,
para todo n E N. Portanto, sendo monótona e limitada, a sequência
existe ó > O tal que
(an)n2'.1 é convergente pelo teorema de Bolzano-Weierstrass, digamos
x E J, )x - a) <ó=} lf(x) - f(a)) < E.
para l 2 1 (aqui estamos usando o item (a) da proposição 3.6). Agora,
a continuidade da função x H- Jx, x 2 Ogarante, mediante o emprego
Seja, agora, (an)n2'.l uma sequência de elementos de I, convergindo da proposição anterior, que
para a E J. Como limn---Hoo an = a, existe no EN tal que
an ~ l =}.;a;;,~ VÍ =} a2n ~ VÍ,
n > no =} )an - a) < ó. onde utilizamos, na última implicação acima, que a2n = .;a;;,. Mas,
como toda subsequência de uma sequência convergente converge para
Logo, a conjunção das duas condições acima garante que
1

o mesmo limite, temos também que a2n ~ l, e a unicidade do limite


n >no=} lan - ai <ó=} )f(an) - f(a)) < E,
de sequências fornece l = v'l, de sorte que l = 1. •
Exemplo 4.26 (Suécia). Ache todas as funções contínuas f: lR-+ lR
o que é o mesmo que dizer que limn-Hoo f(an) = f(a). tais que f(x) + f(x 2) = O, para todo x E R
Reciprocamente, suponha que f não é contínua em a E J. Então,
a negação da definição de continuidade garante a existência de E > O Solução. Seja f uma função qualquer satisfazendo as condições do
tal que, para todo ó > O, temos )f(x) - f(a)) 2 E para algum x E/ enunciado. Fazendo respectivamente x = O ex = 1, obtemos f(O) =
f(l) = O. Por outro lado, uma fácil indução garante que, para x > O
satisfazendo )x - ai < ó. Em particular, tomando n E N e ó = ;,
verificamos a existência de an E I tal que en EN,

1
/f ( vx) / = lf(x)I.
2

lan - ai < -n e lf(an) - f(a)) 2 E. Fixe um real positivo X e seja ªn = ,vx para n E N_ Como
2

a função lfl também é contínua e an = 2,vx ~ 1 pelo exemplo


Em particular, segue das condições acima que a sequência (an)n2'.1 anterior, segue da proposição 4.24 que
assim construída converge para a, ao passo que a sequência (f(an))n2'.1
não converge para f (a). • IJ(an)) ~ )f(l)j = O.

Ilustramos a importância da proposição acima em dois exemplos, Por outro lado, )f(an)) = IJ(x)) para todo n garante que IJ(an)) ~
O primeiro dos quais fornece outra prova para o resultado do exemplo
IJ(x)), de maneira que lf(x)I = O, pela unicidade do limite de sequên-
cias.
3.12.
Finalmente, dado x > O, temos
Exemplo 4.25. Se a > O e an = via, então an ~ 1.
1 O= f(-x) + f((-x)2) = f(-x) + f(x 2) = f(x),
Prova. Façamos a prova no caso em que a 2 1, sendo a prova para o
1:
uma vez que x 2 > O =} f(x 2) = O. Logo, a única função satisfazendo
caso O < a < 1 totalmente análoga. Se a 2 1, então an 2 ªn+1 2 1,
as condições dadas é a função identicamente nula. •
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 145
144

(b) Como an --t Xo E J, descartando um número finito de termos se


A proposição acima permite provar facilmente as afirmações feitas '
necessário, podemos supor que an E J, para todo n 2:: 1. Portanto,
no parágrafo sucedâneo à definição 4.2. Antes, contudo, vale obser-
varmos o seguinte: se g : I --t lR. é uma função contínua em x 0 E I e
g(x 0 ) -=/= O, o lema 4.13 garante a existência de <5 > O tal que a função
g não se anula no intervalo J = I n (x 0 - <5, x0 + <5). Portanto, ao
considerarmos a função i,
tal que i(x) = g(x)' sempre suporemos que
seu domínio é o intervalo J. Isto posto, vamos ao resultado prometido.
e, utilizando uma vez mais a proposição anterior, concluímos a prova
Proposição 4.27. Se f, g : I --t lR. são funções contínuas em x 0 E J, da continuidade da função f:
J --t lR. em x 0 . •

então:
A seguir, definimos uma noção mais farte de continuidade para
(a) As funções f ± g, f · g também são contínuas em x 0 . funções, a qual mostramos em seguida ser equivalente à noção usual
para funções definidas em intervalos I = [a, b] e R
(b) Se g ( x 0 ) -=/= Oe J e I é um intervalo tal que g -=/= O em J, então
a função tg : J --t lR. também é contínua em x 0 . Definição 4.28. Uma função f: I --t lR. é uniformemente contínua
se a seguinte condição for satisfeita: dado E > O, existe <5 > O tal que
Prova. Seja (an)n2::1 uma sequência em I, tal que limn-++oo an = Xo.
A continuidade das funções f e g em x 0 garante, de acordo com a
x, Y E I lx - vi < <5 ==?" lf(x) - f(y)I < E. (4.7)
proposição anterior, que
Em palavras, a diferença entre a definição de função uniformemente
lim J(an) = J(xo) e lim g(an) = g(xo).
n~+oo n~+oo contínua e a definição de função contínua é que, dado E > O, para uma
função uniformemente contínua o <5 > O, cuja existência é garantida
(a) Segue da proposição 3.9 que pela definição acima, serve para todos x, y E J; por outro lado, na
definição 4.2 (de função contínua), tal <5 depende, em princípio, do
11
11 lim (f ± g)(an) - lim (f (an) ± g(an)) Xo E I fixado.
n~+oo n~+oo
lim f (an) ± lim g( an) É imediato, a partir da definição acima, que toda função unifor-
n~+oo n~+oo
memente contínua é contínua. Por outro lado, o teorema a seguir
J(xo) ± g(xo) = (f ± g)(xo).
fornece uma importante classe de exemplos de funções uniformemente
Portanto, novamente pela proposição anterior, as funções f ± g são contínuas.
contínuas em x 0 . O argumento para a função f · g é análogo e será
Teorema 4.29. Toda função contínua f : [a, b] --t lR. é uniformemente
deixado ao leitor.
contínua.
146 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 147

Prova. Por contradição, suponha que f é contínua mas que (4. 7) não Prova. Como f é uniformemente contínua, para E = 1 existe fJ > O
seja válida. Então, existe E > O tal que, para todo ô > O, podemos tal que
encontrar x, y E [a, b] satisfazendo x, y E [a, b], lx - YI <ô::::} lf(x) - f(y)I < 1. (4.9)
lx - YI < ô e lf(x) - f(y)I ~ E.
Escolha agora números reais a = x 0 < x 1 < · · · < Xk = b tais que
Xi - xi-1 < ô para 1 ::; i ::; k, e seja
Em particular, escolhendo ô = -!;;, concluímos pela existência de ele-
M = max{lf(xi)I, ... , IJ(xk)I}. (4.10)
mentos Xn, Yn E [a, b] tais que
Para x E [a, b], existe 1 ::; i ::; k tal que x E [xi-l, xi], de modo que
(4.8) segue em particular que lx - xil < ô. Então, segue de (4.9) e (4.10)
que
Como (xn)n2'.I é uma sequência em [a, b], o teorema de Weierstrass
lf(x)I ::; lf(x) - f(xj)I + IJ(xj)I < 1 + lf(xj)I ~ 1 + M,
3.14 garante a existência de uma subsequência (xnkh2'.1 de (xn)n2'.I,
convergindo para algum x 0 E [a, b]. Segue da desigualdade triangular
que
de sorte que a função f é limitada.
A última propriedade de funções contínuas que estudaremos nessa

seção é também devida a Weierstrass, e afirma que toda função con-
IYnk - Xol < IYnk - Xnkl + lxnk - Xol
1 k
tínua f : [a, b] -----t IR assume valores extremos no intervalo [a, b].
< - + lxnk - xol--+ O.
nk Teorema 4.31 (Weierstrass). Se f : [a, b] -----t IR é uma função contí-
Portanto, a proposição 4.24 assegura que nua, existem Xm, xM E [a, b] tais que

f(xm) = min{f(x); x E [a, b]} e f(xM) = max{f(x); x E [a, b]}.

Prova. Provaremos a existência de Xm, sendo a prova da existência


Por outro lado, (4.8) garante que lf(xnk) - f(Ynk)I ~ E, desigual- de x M totalmente análoga. Como f é limitada, existe
11 dade esta em flagrante contradição com o último limite acima. •
m = inf{f(x); x E [a, b]}.
Vale ressaltar que nem toda função contínua é uniformemente con- Por outro lado, a definição de ínfimo garante a existência de uma
tínua; por exemplo, o leitor pode provar sem dificuldade que a função sequência (xn)n2'.I em [a, b] tal que f (xn) -----t m. Mas, como toda
f : IR -----t IR definida por f (x) = x 2 , para todo x E IR, é contínua sequência limitada possui uma subsequência convergente, podemos to-
mas não é uniformemente contínua. Por outro lado, o teorema acima mar uma subsequência (xnk)k2'.I de (xn)n2'.I que converge para um real
admite a seguinte consequência importante. Xo E [a, b]. Então, da continuidade de f, obtemos

Corolário 4.30. Toda função contínua f : [a, b] -----t IR é limitada.


148 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto
149

Por outro lado, como a sequência (f(xnk))k?.1 é uma subsequência contínua f : [a, b] ----t JR, temos f limitada pelo corolário 4.30, de
da sequência (f(xn))n?.1 (que, por sua vez, converge para m), con- sorte que existem
cluímos, a partir da proposição 3.6, que (f(xnk))k?.l também converge
para m. Logo, a unicidade do limite de sequências e o que fizemos m = inf{f(x); x E [a, b]} e M = sup{f(x); x E [a, b]}.
acima garantem que J(xo) = m. •
Faça, agora, os seguintes itens:
Por fim, o corolário a seguir estende o item (a) do teorema 4.21
para funções contínuas mas não necessariamente monótonas. (a) Sem€}. Im (!) e g: [a, b] ----t JR é a função dada por g(x) =
f(xf-m, para todo x E [a, b], mostre que existe e > O tal que
Corolário 4.32. Se f : [a, b] ----t JR é contínua, então existem reais g(x)::; e, para todo x E [a,b].
e ::; d tais que Im (!) = [e, d].
(b) Aind~ sob as hipóteses do item (a), conclua que J(x) 2:
Prova. Pelo teorema de Weierstrass, existem Xm, XM E [a, b] tais que m + e, para todo x E [a, b], e chegue a uma contradição.
f atinge seus valores mínimo e máximo, respectivamente, em Xm e (c) Argumente de maneira análoga aos itens (a) e (b) para
em XM· Sendo f(xm) = e e f(xM) = d, temos, em particular, que mostrar que M E Im (!).
,1'
Im (!) e [e, d].
1 ! Por outro lado, fixado y E [e, d], o TVI garante a existência de 4. (Romênia.) Seja f : JR ----t JR uma função sobrejetiva, satisfazendo
um real x pertencente ao intervalo de extremos Xm e x M e tal que a seguinte propriedade: para toda sequência divergente (an)n>I,
f(x) = y; em particular, Im (!) :J [e, d]. • a sequência (f(an))n?.1 também é divergente. Prove que j é
bijetiva e que J- 1 é contínua.

5. * Seja f: JR ----t JR a função polinomial dada para x E JR por

Problemas - Seção 4.3

1. Dados números reais a < b, dê exemplo de uma função contínua com ao, a1, ... , an E lR e an =/:- O. Se n é par e an > O, prove que:
e ilimitada f : (a, b) ----t R
(a) Existe A> O tal que f(x) > a0 para JxJ > A.
2. Encontre todas as funções contínuas f : JR ----t JR tais que, para (b) Existe Xo E [-A, A] tal que f(x 0) = min{f(x); x E JR}.
todos x, y E JR, tenhamos f(x + y) = f(x) + J(y).
6. (Leningrado.) As funções contínuas f, g : [O, 1] ----t [O, 1] são tais
3. O propósito deste problema é apresentar uma outra demonstra-
que f O g = g o f. Se f for não decrescente, prove que existe
ção do teorema 4.31. Para tanto, recorde que, dada uma função O::; a::; 1 tal que f(a) = g(a) = 1.
150 Tópicos de Matemática Elementar 3

7. *O propósito deste problema é provar o teorema do ponto


fixo de Banach4 na reta. Para tanto, sejam O < c < 1 real e
f : lR ----+ lR uma função tal que

IJ(x) - f(y)I ~ clx - YI, V x, Y E R (4.11)

Faça os seguintes itens: CAPÍTULO 5


(a) Escolha x 0 E lR arbitrariamente e defina a sequência (xn)n::::1
pondo xk = f(xk-i), para todo k E N. Prove que lxk+l -
xkl ~ cixk - Xk-I[, para todo k EN.
(b) Conclua, a partir do exemplo 3.17, que (xn)n::::1 é conver-
gente.
(c) Se a = limn--++oo Xn, use a continuidade de f (a qual é
A Concavidade de uma Função
garantida por (4.11)) para mostrar que a é seu único ponto
1 ! fixo.
i
8. Dê exemplo de uma função contínua f : lR ----+ lR, sem pontos
1, 1
fixos e tal que IJ(x) - f(y)[ < [x - y[, para todos x, Y E R

O problema do cálculo da área sob o gráfico de uma função contínua


e não negativa f: [a, b] ----+ JR, bem como o problema de decidir quando
o gráfico de uma função contínua é emborcado para cima ou para baixo,
são discutidos com cuidado neste capítulo. Como subproduto de tal
discussão, introduzimos o conceito de integral de uma função contínua
e estudamos as propriedades de duas das mais ubíquas funções da
Matemática, as funções logaritmo natural e exponencial; obtemos,
ainda, a partir de um estudo detalhado dos caracteres côncavo ou
convexo de uma função contínua, a poderosa desigualdade de Jensen,
a qual generaliza várias das desigualdades estudadas no capítulo 7 do
4 Após Stefan Banach, matemático polonês do século XX. volume 1.
n
1

152 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 153

5.1 A integral de uma função contínua


Se f : [a, b] ---+ :IR é uma função contínua e não negativa, definimos
a região sob o gráfico de f como a porção R 1 do plano Cartesiano (cf.
figura 5.1) dada por

R 1 = {(x, y) E 1R2 ; a:::; x:::; b e O:::; y:::; f(x)}.

y Figura 5.2: áreas inferior e superior.

(os quais existem, pelo teorema 4.31).


Em outras palavras (cf. figura 5.2), A(!; k) (resp. A(!; k)) é a
área da região poligonal do plano contida em (resp. contendo) Ri,
a b X
obtida pela união dos retângulos do semiplano superior com lados ·
erigidos sobre os intervalos [xi-l, xi] e alturas respectivamente iguais
a mi (resp. Mi)·
Figura 5.1: a região sob o gráfico de f. Isto posto, dizemos que R 1 tem área mensurável se

sup{A(f; k)}; k EN}= inf{A(f; k); k EN} (5.1)


A fim de tentar definir um conceito adequado de área para a região
e, sendo esse o caso, definimos a área A(!) de Ri como o valor comum
R 1 , tomemos k EN e a partição P ={a= xo < X1 < · · · < xk = b}
acima.
do intervalo [a, b], tal que Xi - Xi-l = b1/ para 1 :::; i :::; k; em seguida,
Vejamos um exemplo geral relevante.
definamos a área inferior e a área superior de Ri com respeito à
partição P, respectivamente, por Proposição 5.1. Se f : [a, b] ---+ :IR é contínua, não negativa e monó-
k
tona, então a área de R 1 está bem definida.
k

A(!; k) = L mi(xi - Xi-1) e A(!; k) = L Mi(xi - Xi-1), Prova. Suponha f não decrescente, sendo o caso f não crescente
i=l i=l
totalmente análogo. Sejam k E N e P = {a = x 0 < x 1 < · · · < Xk = b}
onde a partição de [a, b] tal que Xi - Xi-l = bt, para 1 :::; i :::; k. Então,

mi= min{J(x); Xi-l :::; x:::; xi} e Mi= max{f(x); Xi-1 :::; x:::; xi} mi= min{f(x); Xi-1 :::; x:::; xi}= J(xi-1)
154 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 155
,,
1

,:
e, analogamente, Mi= f(xi), de sorte que Analogamente,

A(f; k) - A(f; k)
k

L Mi(xi -
i=l
Xi-1) -
k

L mi(xi -
i=l
Xi-1) A(f; k) =
b)n+l k
(k ;(i -1r.
k
A proposição 5.1 garante a existência de um único real positivo
L((f (xi) - f(xi-1))(xi - Xi-1)
A(f) tal que

e~ a)
i=l
k
;<(J(x,) - f(x,_,)) ( kb)n+l ~(i
k
-
i=l
1r ::S A(f) ::S (b)n+l
k
k
~ in.
i=l

(b ~ ª) (f(b) - f(a)), Por outro lado, o problema 4.21 do volume 1 garante que

onde aplicamos a fórmula (4.8) do volume 1 para somas telescópicas ( -b) n+l ~
k bn+l
(i-lr<-< -
( b)n+l k
~Ín
na última igualdade acima. Mas, uma vez que ·
k {;;f_ n +1 k {;;f_ '
de sorte que
(b ~ ª) (f(b) - f(a))--+ O
A(f) =
bn+l
n + 1·

quando k--+ +oo, concluímos a prova da igualdade (5.1), nesse caso. Mais geralmente, para uma função contínua arbitrária f: [a, b] --+

• R (i.e., não necessariamente não negativa), ainda podemos tomar k E


N e a partição P ={a= Xo < x 1 < · · · < Xk = b} do intervalo [a,b],
Utilizemos a proposição anterior para apresentar um exemplo im- tal que Xi - Xi-1 = bka para 1 ::S i ::S k. Nesse caso, definamos a
portante, o qual encontrará uso posteriormente. soma inferior e a soma superior de f com respeito à partição P
respectivamente por
Exemplo 5.2. Dado n E N, a função f : [O, b] --+ R, definida para k k
x E [O, b] por f(x) · xn, é contínua, não negativa e crescente, de sorte S(f; k) = L mi(xi - Xi-1) e S(f; k) = L Mi(Xi - Xi-1),
que a proposição acima garante a boa definição da área da região sob i=l i=l
seu gráfico. Sendo k E N e P = {O = Xo < X1 < · · · < Xk = b} a com mi e Mi definidos como anteriormente (observe, contudo, que
partição de [a, b] tal que Xi - Xi-l = ~ para 1 ::S i ::S k, temos Xi = ~ S(f; k) e S (f; k) não têm mais as interpretações geométricas anterio-
para O ::S i ::S k e, daí, res).
Nas notações acima, dizemos que fé integrável sobre o intervalo
[a, b] se
sup{S(f; k)}; k EN}= inf{S(f; k); k EN} (5.2)
156 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 157

e, sendo esse o caso, definimos a integral de 1 sobre o intervalo [a, b] e, analogamente,


como o valor comum acima. A esse respeito, temos 'o seguinte resul-
tado, cuja prova pode ser omitida numa primeira leitura.

Teorema 5.3. Toda função contínua 1 : [a, b] ----+ IR é integrável.


max
( [xi-1,xi] 1) (xi - Xi-1) 2 t
. l
J=
( max
[Yi,j-1,Yij]
1) (Yij - Yi,j-1). (5.5)

Prova. Nas notações da discussão acima, basta mostrarmos que existe Somando ambos os membros de (5.4) e ambos os membros de (5.5)
um único número real I tal que para 1 ::::; i ::::; k, obtemos sucessivamente
k
S(f; k) SIS S(f; k), 'í/ k EN.
S(f; k) = L ( min
.
i=l
[Xi-1,Xi]
1) (xi - Xi-1)
Mostremos inicialmente que, se k, l EN e k l l, então

[S(f; l), S(f; l)] e [S(f; k), S(f; k)]. (5.3)


< t t
i=l j=l
( _min .
[Y,,1-1,Y,1]
1) (Yij -Yi,j-1)

S(f; l)
Para tanto, observe que se k l l, então Pk e Pz, de sorte que a partição
Pz induz uma partição em cada intervalo [xi-l, xi] determinado por e, analogamente, S(f; k) 2 S(J; l), conforme desejado.
dois elementos consecutivos de Pk. Sendo Agora, dados k, l E N arbitrários (i.e., não necessariamente tais
que k l l), segue de (5.3) e do fato de k, l l kl que
Xi-1 = Yiü < Yil < ... < Yiti = Xi
S(J; k) ::::; S(J; kl) ::::; S(J; kl) ::::; S(J; l).
tal partição induzida por Pz, temos claramente que
Portanto, fixando arbitrariamente l E N, as desigualdades acima ga-
min 1 ::::; min 1 e max f ::::; max 1,
[Xi-1,Xi] [Yi,j-1,Yij] [Yi,j-1,Yij] [Xi-1,xi] rantem que
sup{S(J; k); k EN}::::; S(J; l).
para todo 1 ::::; j ::::; ti, de maneira que
Mas, a arbitrariedade do l escolhido garante, agora, que
min
( [Xi-1,Xi] 1) (xi - xi-1) = ( min
[Xi-1,Xi]
1) t_(Yij - Yi,j-1)
.
J=l
sup{S(J; k); k EN} S inf{S(J; l); l EN}.

= t
J=l
.
( min
[Xi-1,Xi]
1) (Yij - Yi,j-1) (5.4) Para concluir a demonstração, é suficiente mostrarmos que a desi-
gualdade acima é, de fato, uma igualdade. Para este fim, basta que,
para cada E > O dado, encontremos k E N tal que
S Lti ( .min . 1)
j=l [Y,,1-I,Y,1]
(Yij - Yi,j-1)
S(J; k) - S(J; k) < E.
158 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 159

A fim de garantirmos a existência de um tal k, invocamos o teorema Vale observar que a notação acima, devida a Leibniz, tem sua razão de
4.29, segundo o qual f é uniformemente contínua. Portanto, existe ser: o símbolo J lembra um S estilizado, e está presente para recordar
8 > O tal que que o cálculo do valor da integral envolve um processo de aproximação
E por somas; os números a e b recordam o domínio da função f que
x, y E [a, b], lx - YI < 8 =* lf(x) - f(y)I < b _a· está sendo integrada; dx recorda que o valor da integral é calculado
como o limite de sequências de somas, cada uma das quais envolvendo
Mas, se k E N for tal que bt
< 8 e para tal k tomarmos Pk como
certas diferenças Xi :..... Xi-I de elementos de Pk, diferenças essas que
acima, então, para xi-l ::::; x < y <:S: xi, temos
eram classicamente denotadas por ~xi. Por fim, observe que tanto
b-a faz denotarmos a integral de f sobre o intervalo [a, b] como em (5.6)
IX - YI <
-
X·i - X·i - 1 = -k- < 8'
ou escrevendo
de modo que segue que
E
1b f(t)dt.
lf(x) - f(y)I < b- a· De fato, uma tal mudança de notação equivale a mudarmos o nome
Em particular, se mi e Mi denotam, respectivamente, os valores míni- da variável, o que certamente não afeta o valor da integral.
mo e máximo de f no intervalo [xi-l, xi], temos que Outra observação interessante (e óbvia) é que, para uma função f
como acima e não negativa, a integral (5.6) ainda retém a interpre-
E
M· - m· < - - V 1 ::::; i ::::; k.
i i b-a' tação de área da região Ri. Para f geral, sob certas condições (5.6)
representa a diferença entre as áreas das regiões sob e acima do gráfico
Logo, para tal escolha de k, temos de f, no sentido do problema 3.
k É possível mostrar que, para uma função contínua arbitrária f :
S(f; k) - S(f; k) = L)Mi - mi)(xi - Xi-1) [a, b] --+ IR, temos
i=l

< L
k

b~ a · ( Xi - xi-I)
1b f(x)dx = 1c f(x)dx + 1b f(x)dx, (5.7)
i=l
E
b _ a · (b - a) = E.
para todo a < e < b. De fato, se estendermos o conceito de integral
1 !
pondo

Se f : [a, b] --+ IR é uma função contínua, denotamos a integral I


• 1c f(x)dx = O e 1ª f(x)dx = -1b f(x)dx,

de f sobre o intervalo [a, b] escrevendo então é imediato verificar que a igualdade

1b f(x)dx. (5.6) t f(x)dx - [ f(x)dx + t f(x)dx


160 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 161

se verifica para todos a, (3, 'Y E [a, b]. Prova. Suponha f crescente (o outro caso é análogo), e seja F :
Prosseguindo com o desenvolvimento da teoria, o teorema 5.3 ga- (a, b) --+ R a integral indefinida em questão. Dados x, y E ( a, b) tais
rante a consistência da definição a seguir. No enunciado da mesma, que x < y, seja e= x~y > x. Segue de (5.8) que
permitimos que a = -oo ou b = +oo.
F(y) - F(x) = A(fl[x,y]) 2: A(fl[c,y)) 2: f(c)(y - e) > O,
Definição 5.4. Seja f : (a, b) --+ R é uma função contínua. Fixado
x 0 E ( a, b), a integral indefinida de f baseada em xo é a função e F é crescente.
F: (a, b) --+ R dada por A continuidade de F se estabelece com um cálculo análogo: para
x, y E [a, b] tais que x < y ~ e, segue, do que fizemos acima e nova-
F(x) = t f(t)dt. mente de (5.8), que
1
lxo
!
li' De modo análogo, definimos o que vem a ser a integral indefinida IF(y) - F(x)I = F(y) - F(x) = A(fl[x,y]) ~ f(y)(y- x) ~ f(c)(y- x).
baseada em x 0 de uma função contínua f com domínio de uma das
formas [a, b], [a, b) (possivelmente b = +oo) ou (a, b] (possivelmente
a= -oo).
Portanto, pelo lema 4.6, f é contínua.

Ainda em relação à definição acima (e também às suas extensões),
vale observar a seguinte consequência de (5.7): para a, (3 E (a, b),
temos (cf. problema 2) Problemas - Seção 5.1

F((3) - F(a) = 1f3 f(t)dt. (5.8) 1. Seja f :· [a, b] --+ R a restrição de uma função afim ao intervalo
[a, b]. Se fé não negativa, a região R 1 é um triângulo ou um tra-
Exemplo 5.5. Se n E N e f : [O, +oo) --+ R é a função dada para
pézio. Mostre que, em um qualquer de tais casos, o valor obtido
x 2: O por f {x) = xn, é imediato verificar que a integral indefinida de
para a área de Ri ao seguirmos o procedimento geral descrito
f baseada em O é a função F: [O, +oo)--+ R tal que F(x) = :n:; para
no início desta seção coincide com o valor obtido mediante o
X 2: Ü.
emprego das fórmulas usuais da geometria Euclidiana plana.
Uma consequência importante da discussão acima é que a integral
indefinida baseada em qualquer ponto é sempre contínua. Façamos a 2. * Use a igualdade (5.7) e a definição de integral indefinida para
prova dessa afirmação para funções contínuas e monótonas f : (a, b) --+ deduzir a relação (5.8).
R, postergando a análise do caso geral para a seção 6.4.
3. Seja f : [a, b] --+Ruma função contínua com um número finito
Lema 5.6. Seja f : (a, b) --+Ré uma funçao contínua, não negativa e de zeros no intervalo [a, b], digamos x 1 < x 2 < · · · < xk. Se
monótona. Fixado x 0 E ( a, b), a integral indefinida de f baseada em
x 0 é uma função contínua e crescente. Rj = {(x, y) E R2 ; a~ x ~ b e O~ y ~ f(x)}
11!1""\"".
l'i 'i

162 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 163

e 6. * Dada uma função contínua f : [a, b] --+ JR, prove a desigual-


Rj = {(x, y) E JR.2; a~ x ~ b e f(x) ~ y ~ O}, dade triangular para integrais:

use (5.7) para provar que


lt f(x)dxl :ô t lf(x)ldx.

7. Prove a desigualdade de Cauchy para integrais: se f, g :


Para o próximo problema, dadas funções contínuas f, g: [a, b] --+ [a, b] --+ lR são funções contínuas, então
JR, tais que g(x) ~ f(x) para todo x E [a, b], seja

R19 = {(x,y) E lR2 ; a~ x ~ b e g(x) ~ y ~ f(x)}


1 b
ª f(x)g(x)dx ~
( b
1 f(x)2dx
) 1/2 (
1
b 1/2
g(x)2dx) ,

a região do plano situada entre os gráficos de f e g. Definimos com igualdade se, e só se, existe .À E lR tal que f(x) = ..Xg(x),
a área de R19 por para todo x E [a, b].

8. (Leningrado.) Se f, g: [O, 1] --+ [O, 1] são funções contínuas, com


A(R19 ) = 1b (f (x) - g(x))dx.
f não decrescente, prove que
4. Prove o princípio de Cavalieri: para i = 1, 2, sejam Íi, gi :
[a, b] --+ lR funções contínuas, tais que gi(x) ~ Íi(x) para todo
1 1
(! o g)(x)dx ~ 1 1
f(x)dx + 1
1
g(x)dx.
x E [a, b]. Se, para todo x E [a, b], o segmento que une os pontos
(x, fi (x)) e (x, g1 ( x)) tem comprimento igual ao segmento que 5.2 A função logaritmo natural
une os pontos (x,h(x)) e (x,g2(x)), então A(R1i 91 ) = A(R12 92 ).
Conforme antecipado na introdução a este capítulo, a discussão da
5. * Sejam f, g : [a, b] --+ lR funções contínuas e .À E JR. Prove que:
seção anterior permite definir rigorosamente uma das mais importan-
(a) Se f(x) ~ g(x) para todo x E [a, b], então 1: f(x)dx ~ tes funções da Matemática, e o fazemos agora.
1: g(x)dx. Definição 5. 7. A função logaritmo natural, log: (O, +oo) --+ JR, é
(b) t ..Xf(x)dx = ..XJ,ba f(x)dx. a função definida por
!
a .
X 1
Para o próximo problema, observe que se f : [a, b] --+ lR é uma logx = -dt.
1 t
função contínua, então a regra da cadeia para continuidade ga-
rante que lfl = 1· I o f: [a, b] --+ lR também o é. Em particular, Sendo f : (O, +oo) --+ lR a função de proporcionalidade inversa,
lfl é integrável, pelo teorema 5.3. i.e., tal que f(x) = ~ para todo x > O, em termos de área da região
164 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 165

sob o gráfico de f (cf. figura 5. 3), temos Prova. Segue do lema 5.6 o fato de a função log ser contínua e cres-
cente. Para explicitar sua imagem, seja f : (O, +oo) -+ lR a função
A(fl[l,x]), se X> 1 de proporcionalidade inversa. Para m E N, repetidos usos de (5.7),
logx = { O, se x = 1 juntamente com o exemplo 3.20, fornecem
-A(f1[x,1]), se X< 1 2m 2m
Para a comodidade do leitor, mantemos a notação da integral como log2m = A(f1[1,2m]) = LA(fl[j-1,j]) >
j=l j=l J
> 1 + ;. L;.
área na discussão a seguir.
Analogamente,
y log2-m < -1- m
2'
de sorte que a continuidade de f garante, por intermédio do TVI, que

Im(log) ~ [- ; , ;J, \f m EN.

Logo, Im (log) = R
Resta provar (5.9), o que faremos para x, y > 1, sendo os demais
casos totalmente análogos. Para tanto, afirmamos inicialmente que
/
/
/
/ A(fl[x,xy]) = A(fl[l,y])·
/
/
1.
/
/
De fato, fixada a partição P = {1 = x 0 < x 1 < · · · < xk = y} de [1, y],
X tal que Xi - Xi-I = y~I para 1 ~ i ~ k, a partição correspondente Q
de [x, xy J é Q = {x = Yo < Y1 < · · · < Yk = xy}, com Yi = axi para
1 ~ i ~ k. Então, uma vez que fé decrescente, temos
i.
k k l
Figura 5.3: definição de log x para x > 1.
A(fl[x,xy]; k) = L
i=l
f(Yi)(Yi - Yi-1) = L - ·(axi - axi-1)
i=l axi
l k l k
li

A proposição a seguir lista algumas propriedades úteis da função


L
i=l
~·(xi - Xi-1) = L f(xi)(xi - xi-1)
Xi i=l
logaritmo natural. A(f1[i,yJ; k),
Proposição 5.8. A função logaritmo natural é contínua, crescente e e segue daí que
tem imagem R Ademais, para todos x, y > O, temos
A(fl[x,xy]) sup{A(fl[x,xy]; k); k EN}
log(xy) = logx + logy. (5.9) sup{A(f1[1,yJ; k); k EN}= A(f1[1,yJ)·
166 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 167

Por fim, segue daí e de (5.7) que Por fim, se r for um racional negativo, então s -r é racional e
positivo, de modo que
log(xy) A(fl[l,xy]) = A(fl[l,x]) + A(fl[x,xy])
logxr = log(xs)- 1 = -logx 8 = -(s · logx) = rlogx.
logx + A(fl[l,y])
logx + logy. •
O corolário a seguir traz mais algumas propriedades úteis da função
• Provaremos, na próxima seção, que o gráfico da função logaritmo
natural é emborcado para baixo. Admitindo este fato por ora e reu-
nindo as informações de que dispomos até o momento, esboçamos seu
logaritmo natural. gráfico na figura 5.4.

Corolário 5.9. Para todo x > O, temos log x- 1 = - log x e log xr = y


r log x, para r E Q.
/ y = X
Prova. Primeiramente, segue de (5.9) que /
/
/
/
/ logx
O= log 1 = log(x · x- 1 ) = logx + logx- 1 /
/
/
/
1 --:,T-----
i I
e, daí, temos a primeira igualdade. Para a segunda igualdade, observe //1
// 1
1

1
inicialmente que (5.9) e uma fácil indução fornecem
''
/
o e X

log xn = n log x, /
/
/
/
/
para todo n EN. A partir daí, concluímos que /
/

log X = log( Xl/n r= n log Xl/n,

ou, o que é o mesmo,


1
log x 1ln = - log x. Figura 5.4: gráfico de log : (O, +oo) ----+ R
n
De posse dos casos particulares acima e sendo r = II!,
n
com m, n E N,
De posse dos resultados acima, redefinimos o número e como a
temos
única solução da equação log x = 1. Em resumo,
1
log xr = log xm/n = log(x 1ln)m = m log xl/n = m · - log x = r log X. log e= 1.
n
168 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 169

O teorema a seguir compatibiliza a definição atual de e com aquela Mas, uma vez que log é crescente, as desigualdades acima garantem
dada no exemplo 3.23. que

( + -nl)n = L 1. e1
en+l
<
n
(1 + !)
n < e.
Teorema 5.10. e= lim 1 k' ·
n--++oo
k2:0 Portanto, fazendo n----+ +oo e utilizando o resultado do exemplo 4.25
e do problema 6, página 91, obtemos o resultado.
Para concluir a demonstração, é suficiente mostrarmos que

1
lim
n--++oo
( + -l)n =
1
n
lim '
n--++oo L
°n
""" 1
-
k!
.
n k=O
n+l
Para tanto, veja que, pela fórmula do desenvolvimento binomial, temos
1 1+ .!.n n()l
L Z =L nk
k!(n~ k)!nk
n 1 1
k=O k=O
Figura 5. 5: estimando log (1 + i) .
1 ~ I__ . n(n - 1) ... (n - k + 1)
+ L k! nk
k=l
n 1 n 1
Prova. Inicialmente, mostremos que, se e é a única solução da equa-
ção logx = 1, então e= limn--++oo (1 + ~r-
Para tanto, observe (cf.
< 1+ I::
k=l
k! = I::
k=O
k!;

figura 5.5) que portanto, segue do problema 1, página 90, que

lim
n--++oo
( + -l)n : : ;
1
n
lim '
n--++oo L
°n
""" 1
-
k!
.
k=O
e, analogamente, Por outro lado, fixado n 0 > 1 inteiro, temos, para n > n 0 também
inteiro, que
log ( 1 + ~) > n : 1 .
1 ~ I__. n(n - 1) ... (n - k + 1)
i Portanto, segue do corolário anterior que +L k! nk
I' k=l
(1 + !)n 1
11

_n_ < log < > 1 ~ I__. n(n - 1) ... (n - k + 1)


n+l n + Lk=l k'· k
n
ou, ainda,
n
logen+l<log (
1+;;, l)n <loge.
no 1 ( 1) (
1 + ~ k! 1 - ;;, . . . 1 -
k 1)
: .
'
I 170 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 171
1 !
Fazendo n---+ +oo e utilizando novamente o resultado do problema 1, e, daí, exp(x + y) = ab. Por fim, os cálculos acima fornecem
página 90, obtemos
exp(x) · exp(y) = ab = exp(x + y).
l)n no 1
lim ( 1 + -n
n-++oo
2: L
k=O
k',. (b) Fazendo y = -x em (a) e utilizando o fato de exp(O) = 1, obtemos

para todo n 0 EN. Por fim, fazendo n 0 ---+ +oo na última desigualdade, .1 = exp(x + (-x)) = exp(x) · exp(-x),
segue que
l)n de sorte que exp(-x) = (exp(x))- 1 . Por outro lado, uma fácil indu-
lim ( 1 + -
n-++oo
2: lim
n
n 1
-k,,
n-++oo
L . ção a partir de (a) fornece exp(xn) = (exp(x)r, para todo n E N.
k=O
Portanto,
o que, por sua vez, conclui a demonstração.
• exp(x) = exp((xl/nr) = (exp(x 1ln)r,
Uma vez que a função logaritmo natural log : (O, +oo) ---+ lR é uma de modo que exp(x 1/n) = (exp(x)) 1/n. Agora, se m, n E N e r = !!!
bijeção crescente e contínua, podemos considerar sua inversa n'
segue que

exp: lR---+ (O, +oo), (5.10)


exp(xmfn) = exp((xm)lfn) = (exp(xm))l/n
denominada a função exponencial. Assim, para x, y E JR, sendo ((exp(x))m)l/n = (exp(x))m/n = (exp(x)r.
x > O, temos
Finalmente, se r E (Q for negativo, digamos r -s, com s E (Q
logx = y {::} x = exp(y).
positivo, segue da primeira parte de (b) que
Em particular, segue de log 1 = O e loge 1 que exp(O) 1 e
exp(l) = e. Ademais, temos a seguinte exp(x-s) = (exp(x 8 ))-1 = (exp(x))s)- 1
(exp(x))-s = (exp(x)r.
Proposição 5.11. Para x, y E JR, temos:

(a) exp(x + y) = exp(x) · exp(y). •


(b) exp(-x) = (exp(x))- 1 e exp(xr)--:- er ser E (Q. Denotando, doravante,

Prova. exp(x) = ex,


(a) Sendo a = exp(x) e b = exp(y), temos a, b > O e log a x,
log b = y. Portanto, segue da proposição 5.8 que concluímos, a partir do item (b) da proposição acima, que tal notação
é consistente com o sentido usual que emprestamos ao número ex,
x + y = log a + log b = log( ab) quando x E (Q.
172 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 173
1
1 A função exponencial nos permite definir, rigorosamente, potências (c) logª (xy) = logª x + logª y.
ax, para a real positivo e x E R De fato, nas notações do parágrafo (d) logª e = logb e· logª b.
anterior, pomos
(5.11) (e) logª b · logb e · logc a = 1.

2. Prove que o número log 10 2 é irracional.


de sorte que
3. Calcule o número de soluções reais da equação logx = (x - 1) 2 .
4. O conjunto dos racionais não é fechado em relação à potenciação;

' !
e
log ax = log( ex Ioga) = X log a,
por exemplo, se a = b = !,
então ab = 0, que é um número
i I j irracional. Se a e b forem irracionais positivos, é sempre verdade
,,
1

1
para todos x, y E R Por outro lado, se x E (Q, digamos x = ~' com que ab é irracional? Justifique sua resposta.
m E Zen EN, segue do corolário 5.9 que
5. Prove que a equação x 2 = 2x tem exatamente três raízes reais,
a = en
r !1!.]oga -
-
elog Vctm -- Vnr:;;;;am·
U"", uma das quais é irracional.

em outras palavras, neste caso a definição (5.11) concorda com o sen- 6. (Israel.) Encontre todas as soluções reais do sistema de equações
tido que temos atribuído a ax até agora. Em particular, temos a0 = 1
x + log( x + J x2 + 1) = y
e a1 = a. { y + log(y + J y 2 + 1) = z .
z + log( z + J z 2 + 1) = x

Problemas - Seção 5.2 7. Se n E N, mostre que a representação decimal de n tem exata-


mente llog10 n J + 1 algarismos.
1. * Para O < ai= 1, seja logª : (O, +oo) -+ IR a função logaritmo
8. (OBM.) Sejam m E N e a 1 , a2 , ••. , am E {O, 1, 2, ... , 9}, com
na base a, definida para x > O por
a 1 i= O. Dado k E N, prove que existe n E N tal que a repre-
logx sentação decimal de nk começa (à esquerda) com a sequência de
logªx = -1 - .
oga algarismos a1a2 ... ªm·
Prove que logª é bijetiva e sua inversa é a função x 1--t ax. Ade-
mais, dados reais positivos a, b, e, x, y, prove também que: Mostramos no problema acima que, fixado o expoente de uma
potência natural, podemos escolher a base de forma a prescrever
(a) log = loge. os algarismos iniciais do resultado. O próximo problema garante
(b) logª é crescente, se a > 1, e decrescente, se O < a < 1. que o contrário também é verdade, i.e., que fixada a base de
174 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 175

uma potência natural, podemos escolher o expoente de forma a (a) 2f(m 2 + n 2 ) = f(m) 2 + f(n)2, para todos m, n E Z+.
prescrever os algarismos iniciais do resultado. Para abordá-lo, o
(b) Sem, n E Z+, com m 2: n, então f(m 2 ) 2: f(n 2 ).
leitor pode achar conveniente recordar o material da seção 3.3
(mais precisamente o corolário 3.35).
5.3 Funções côncavas e convexas
9. Sejam a > 1 um inteiro que não é potência de 10 e s uma
sequência finita de algarismos decimais, o primeiro dos quais é Nesta seção, estamos interessados em estudar funções convexas e
não nulo. Prove que existe uma potência de a cuja representação côncavas. Para tanto, em tudo o que segue I e IR denota um intervalo.
decimal começa, à esquerda, pela sequência de algarismos s.
Definição 5.12. Uma função contínua f: I -r IR é:
10. (Rússia.) Mostre que, para 1 < a < b < e reais quaisquer,
tem-se (a) convexa, se f (x!y) :s; f(x)1f(y), para todos x, y E/.

loga(logª b) + logb(logb e)+ logc(logc a) > O. (b) côncava, se f (x!y) 2: f(x)1f(y), para todos x, y E/.

A proposição a seguir refina as condições de convexidade e conca-


11. (OBM.) Dê exemplo de uma função f : [O, +oo) -r IR tal que vidade sobre f.
f(O) = O e, para todo x E IR, valha f(2x + 1) = 3f(x) + 5.
Proposição 5.13. Se f : I -r IR é uma função contínua, então:
O problema a seguir estabelece uma recíproca do problema 1.2.11 (a) f é convexa se, e só se,, para todos x, y E I e todo t E [O, 1],
do volume 1. tivermos

12. Prove que existem infinitos n E N tais que as representações f((l - t)x + ty)) :s; (1 - t)f(x) + tf(y).
decimais de 2n e 5n começam, à esquerda, com o algarismo 3.

13. Encontre todas as funções f : N -r IR satisfazendo as condições (b) f é côncava se, e só se,, para todos x, y E I e todo t E [O, 1],
tivermos
a segmr:

(a) fé crescente. f((l - t)x + ty)) 2: (1 - t)f(x) + tf(y).


(b) f(l) = 1 e f(2) = 4.
(c) f(xy) = f(x)f(y), para todos x, y EN. Prova. Façamos a prova do item (a) (a prova de (b) é completamente
análoga), observando inicialmente que, se f for contínua e satisfizer a
14. (Coréia do Sul.) Encontre todas as funções f : Z+ -r Z+ satis- condição do item (a), então basta tomar t = !
para concluirmos que
fazendo as seguintes condições: se trata de uma função convexa.
176 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 177

inteiro, distingamos dois subcasos:


J(y) ......
...... ... ...... (i) m é par, digamos m = 2n: então t = ~' e a validade de (5.12)
(1 - t)f(x) + tf(y) - --:.~..,-- ...... segue da hipótese de indução .
f(x) 1
J((l - t)x + ty) (ii) m é ímpar, digamos m = 2n + 1: então

t=
m
2k+l =
1
2
(m -1 + m + 1)
2k+l 2k+ 1 =
1( n
2 2k
n + 1)
+~ .
X (l - t)x + ty y
Pondos= ; eu= n;t1 , temos s, u E [O, 1] e t = !(s + u). Portanto,
segue da convexidade de f e da hipótese de indução que
Figura 5.6: gráfico de uma função convexa.
f((l - t)x + ty) = f ( (1- S; U) X+ (S; U) Y)
f ( ((1 - s)x + sy): ((1- u)x + uy))
Reciprocamente, suponha que fé convexa. Fixados x, y E J, mos-
tremos primeiramente (cf. figura 5.6) que < J((l - s)x + sy) + J((l - u)x + uy)
2
J((l - t)x + ty)) :::; (1 - t)f(x) + tf(y), (5.12) 1
< 2[((1 - s)f(x) + sf(y)) + ((1 - u)f(x) + uf(y))]
para todo racional diádico t E [O, 1] (cf. problema 1.5.4 do volume 1).
Para tanto, façamos indução sobre k 2:: 1. (l _ S; U) f (X) + ( S; U) f(y)
Para k = 1, já temos a validade de (5.12) para t = O, e 1. Para ! (1 - t)f(x) + tf(y).
t =~'aplicando a convexidade de f duas vezes, obtemos

f e:3y) = f ("l"'/ y) ~ f ("l"')/ f(y)


f(x)+f(y) + J(y) 1 3
Agora, sejam x, y E I e t 0 E [O, 1] um real qualquer. A continuidade
de f garante, via regra da cadeia, a continuidade da função g : [O, 1] -t
IR, tal que
< 2 2 = 4f(x) + 4f(y), g(t) = (1 - t)f(x) + tf(y) - J((l - t)x + ty)),
conforme desejado. Por fim, para t i basta trocar x por y no para t E [O, l]. Por outro lado, mostramos acima que g(t) 2:: O, para
argumento acima. todo t E [O, 1] que é um racional diádico, de sorte que a densidade dos
Suponha agora que (5.12) seja válida para um certo k E N, todos mesmos em [O, 1] garante, mediante o problema 13, página 140, que
x,y E I e todo O:::; n:::; 2k inteiro. Se t = 2 ~ 1 , com O:::; m:::; 2k+1 g(t) 2: O para todo t E [O, 1], conforme desejado. •
178 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 179

As afirmações a seguir são, agora, bastantes evidentes e fornecem A definição 5.12 garante que toda função estritamente convexa
as seguintes interpretações geométricas úteis dos caracteres convexo (resp. côncava) é convexa (resp. côncava). Entretanto, nem toda
ou côncavo de uma dada função: função convexa (resp. côncava) é estritamente convexa (resp. estrita-
mente côncava), como atesta o seguinte
• f é convexa se, e só se,, para todos a < b em I, a porção do
gráfico de f situada entre as retas x = a e x = b não estiver Exemplo 5.15. Toda função afim é convexa (e também côncava). De
acima da reta que passa pelos pontos (a, f(a)) e (b, f(b)). fato, se f : R ---+ R for afim, é imediato verificar que

• f é côncava se, e só se,, para todos a < b em I, a porção do


gráfico de f situada entre as retas x = a e x = b não estiver
abaixo da reta que passa pelos pontos (a, f(a)) e (b, f(b)). para todos x, y E R. Em particular, funções afins não são nem estri-
De outra forma, sendo tamente convexas nem estritamente côncavas.

Vejamos agora alguns exemplos na direção positiva.


R+U) = {(x, y) E R 2 ; y ~ f(x)}
Exemplo 5.16. A restrição da função de proporcionalidade inversa
e
ao conjunto dos reais positivos é uma função estritamente convexa. De
'R,_(J) = {(x, y) E R2 ; y :s; f(x)},
fato, denotando J(x) = ;- para x > O, segue do item (b) do exemplo
temos que 7.4 do volume 1 que, para todos x, y > O, temos
• f é convexa se, e só se, R+ (!) é uma região convexa do plano.
f (X+ Y) =
2
_2_ < ;-
x+y -
+
2
t = f(x) + f(y)
2 '
• f é côncava se, e só se, 'R,_ (J) é uma região convexa do plano.
A próxima definição refina as noções de função côncava e convexa. com igualdade se, e só se, x = y.

Definição 5.14. Uma função contínua f: I---+ Ré: Exemplo 5.17. Fixado n EN, a função f: (O, +oo)---+ R dada para
x ~ O por f(x) = xn é estritamente convexa. De fato, supondo por
(a) estritamente convexa se, para todos x, y E I distintos, tiver- hipótese de indução que
mos
f ( X+ Y) f(x) + f(y)
2 < 2 .

(b) estritamente côncava se, para todos x, y E I distintos, tiver- para todos x, y > O, com igualdade se, e só se, x = y, temos
mos
180 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 181

Por outro lado, • cos (x;y) = 1: a condição x, y E [O, 7r] garante que -~ :::; x? :::;
~; nesse intervalo, temos cos (x;y) = 1 se, e só se, x? = O, i.e.,
se, e só se, x = y.
{::} (xn + yn)(x + y) :::; 2(xn+l + yn+l)
• sen (x+y) = O· segue de x+y E [O 7r] que x+y = O ou 7r· mas
{::} xny + xyn :::; Xn+l + yn+l 2 ' 2 ' 2 '
como x, y E [O, 7r], isso é o mesmo que pedir que x = y = O ou
'

{::} (x - y)(xn - yn) ~ O, X =y = 7!'.


1

1
o que é verdade; ademais, uma rápida inspeção das desigualdades
Exemplo 5.20. A função tangente é estritamente convexa no inter-
acima garante que há igualdade se, e só se, x = y.
1 ;'
valo [O,~). De fato, para x, y E [O,~) não ambos nulos, as fórmulas
1
Exemplo 5.18. A função log : (O, +oo) --+ IR é estritamente côncava. de adição de arcos fornecem
x;y
1

De fato, para todos x, y > O, temos ~ yfxfj; mas como log é


crescente, segue que t
g
(x+y)
2
< tgx+ tgy
- 2
{::} sen (~)
x;y) -
< sen(x+y)
2 COS X COS y
1
x+ y)
log ( - 2 - ~
;-; :; ; log x + log y,
logyxy =
COS (

i I
2 {::} sen (~) < sen (~) cos (~)
e claramente a igualdade ocorre se, e só se, x = y.
COS (X?) - 2 COS X COS Y

Exemplo 5.19. A função seno é estritamente côncava no intervalo {::} cos x cos y: :; cos 2 ( x; y)
[O, 7r]. De fato, para O:::; x, y:::; 7l', é suficiente mostrarmos que
{::} 2 COS X COS y :::; 1 + COS ( X + y)
sen x + sen y: :; 2 sen ( x ; y) , {::} cos x cos y :::; 1 - sen xsen y
{::} cos(x - y) :::; 1,
com igualdade se, e só se, x = y. Para tanto, transformando o primeiro
membro em produto, obtemos o que é sempre verdade. Por outro lado, os cálculos acima também
mostram que
sen x + sen y = 2 sen ( x ; y) cos ( x ; y) .

A condição x, y E [O, 7r] garante que x? E [O, 7r] e, daí, que sen (x;y) ~
X+ y) =
tg ( - 2 -
tg X+ tg y{::} cos(x - y) = 1 {::} x = y,
2
O; mas, como sempre temos cos (x;y) :::; 1, segue que
de sorte que a função é estritamente convexa no intervalo em questão.
2 sen ( x ; Y) cos ( x ; Y) : :; 2 sen ( x ; Y) ,
A continuação, provamos uma versão da proposição 5.13 para fun-
ocorrendo a igualdade se, e só se, cos (x?) = 1 ou sen (x?) = O. ções estritamente convexas e estritamente côncavas, a qual encontrará
Analisemos essas duas possibilidades separadamente: utilidade na próxima seção.
182 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 183

Proposição 5.21. Uma função contínua f : I ----+ IR é estritamente Problemas - Seção 5.3
convexa (resp. estritamente côncava) se, e só se,
1. Sejam I, J e IR intervalos e f :I
----+ J uma bijeção contínua. Se
J((l - t)x + ty)) < (> )(1 - t)f(x) + tf(y), (5.13) fé convexa (resp. estritamente convexa), prove que 1- 1 : J----+ I
é côncava (resp. estritamente côncava), e vice-versa.
para todos x, y E I distintos e todo t E (O, 1).
2. * Prove que a soma de um número finito de funções estritamente
Prova. Examinemos a convexidade estrita de f (a análise do outro convexas (resp. estritamente côncavas) e de mesmo domínio
caso sendo totalmente análoga), observando inicialmente que se (5.13) também é uma função estritamente convexa (resp. estritamente
!)
11

for válida para todos x, y E I e todo t E (O, 1), então (tomando t = côncava).
f é estritamente convexa.
Reciprocamente, suponha que fé estritamente convexa e fixe x, y E
3. Esboce o gráfico da função f : IR\ {O} ----+ IR, dada para x -=/=- O
I distintos e O < t < 1. Se z = (1 - t)x + ty, então x < z < y, de por f (x) = x + ~.
modo que podemos escolher a E (x, z) e b E (z, y) tais que z = ª!b· 4. * Prove que a função f : (O, 1) ----+ IR, tal que f(x) = v1f=x para
Ademais, sendo a= (l-s)x+sy e b = (l-u)x+uy, com s, u E (O, 1), x E (O, 1), é estritamente convexa.
segue de z = ª!b que t = ª!u. Portanto, a convexidade estrita de f,
juntamente com a proposição 5.13, garante que 5. Sejam I, J e IR intervalos e g : I ----+ J, f : J ----+ IR funções
estritamente convexas (resp. estritamente côncavas). Se f for
J((l - t)x + ty) = f(z) = f (a; b) < f(a); f(b) crescente, prove que f o g : I ----+ IR também é estritamente con-
vexa (resp. estritamente côncava).
1
= 2[J((l - s)x + sy) + J((l - u)x + uy)]
6. * Prove que a função f : (O, 7r) ----+ IR, dada para x E (O, 7r) por
1 f(x) = logsenx, é estritamente côncava.
:S: 2[((1 - s)f(x) + sf(y)) +((1 - u)f(x) + uf(y))]
7. Seja f : (a, b) ----+ IR uma função contínua, não negativa e cres-
= ( 1 - -s+u)
2- J(x) + (s+u)
- 2- f(y) cente (resp. decrescente). Prove que toda integral indefinida de
= (1 - t)J(x) + tf(y). f (cf. definição 5.4) é estritamente convexa (resp. estritamente
côncava) .
• 8. Use o resultado do problema anterior para provar que:

(a) a função logaritmo natural é estritamente côncava.


(b) para n > 1 inteiro, a função x H- xn, x 2 O, é estritamente
convexa.
184 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 185

9. Se f : (O, +oo) --"? lR. é uma função contínua, crescente (resp. não Suponha agora que, para um certo n > 1 e todos x 1 , ... , Xn E I e
decrescente) e convexa (resp. estritamente convexa), prove que t 1, ... , tn E (O, 1), com t1 + · · ·+tn = 1, tenhamos t1X1 + · · ·+tnXn E I
a função g: (O, +oo)--"? JR., dada para x >Opor g(x) = xf(x), e
também é estritamente convexa.
com igualdade se, e só se, x 1 = · · · = Xn· Consideremos elementos x 1 ,
5.4 A desigualdade de Jensen ... 'Xn, Xn+1 E I e ti, ... ' tn, tn+l E (O, 1) tais que t1 + ... +tn +tn+I =
1. Defina
Para nós, a importância da discussão sobre funções côncavas e t1X1 + · · · + tnXn
y= l = S1X1 + · · · + SnXn,
convexas levada a cabo na seção anterior reside no seguinte teorema, -tn+l
conhecido como a desigualdade de J ensen 1 . com Sj = i-t+i, para 1 :S: j :S: n. Como s1 + · · · + sn = 1 e Sj E (O, 1)
para 1 :S: j :S: n, segue da hipótese de indução que y E J. Daí,
Teorema 5.22 (Jensen). Sejam I e lR. um intervalo aberto e f : I-?
lR. uma função contínua. Se x 1, ... , Xn E I e ti, ... , tn E (O, 1), com t1X1 + · · · + tnXn + tn+1Xn+1 = (1 - tn+1)Y + tn+1Xn+1 E J
t 1 + · · · + tn = 1, então t1X1 + · · · + tnXn E J. Ademais:
e a convexidade estrita de f
(a) Se f for convexa, então f(t1X1 + · · · + tn+1Xn+1) f((l - tn+I)Y + tn+1Xn+1)
< (1 - tn+1)f(y) + tn+if(xn+I),
com igualdade se, e só se, y = Xn+1 · Aplicando agora a outra metade
ocorrendo a igualdade no caso em que f é estritamente convexa da hipótese de indução, obtemos
se, e só se, X1 = · · · = Xn·
f(y) + · · · + SnXn)
f(s1X1
(b) Se f for côncava, então < sif(x1) + · · · + snf(xn)
1
l t (tif(x1) + · · · + tnf(xn)),
- n+l

ocorrendo a igualdade no caso em que f é estritamente côncava com igualdade se, e só se, x 1 = · · · = Xn-
se, e SÓ se, X1 = · · · = Xn· Juntando as duas desigualdades acima, concluímos que

Prova. Suponhamos f estritamente convexa (os demais casos são to- f(t1X1 + · · · + tn+1Xn+1) < (1 - tn+1)f(y) + tn+IÍ(Xn+I)
talmente análogos) e façamos a prova por indução sobre n > 1. O caso < (tif(x1) + · · · + tnf(xn)) + tn+IÍ(Xn+1),
n = 2 segue da hipótese de convexidade estrita e da proposição 5.21. ocorrendo a igualdade se, e só se, y = Xn+1 e x 1 = · · · = Xn· Mas
1 Após o matemático e engenheiro dinamarquês dos séculos XIX e XX Johan é imediato verificar que tais condições equivalem a x 1 = · · · = Xn =
Jensen. Xn+1, conforme desejado. •
186 Tópicos de Matemática Elementar 3
Antonio Caminha M. Neto 187

Os exemplos a seguir elencam algumas aplicações da desigualdade


Exemplo 5.24. Sejam dados, no plano, um semicírculo r de raio
de Jensen.
R e um diâmetro A 0 A 1 de r. Para cada inteiro n > 2, mostre que
Exemplo 5.23 (BMO). Seja n > 1 e a 1 , ... , an reais positivos com existe um único n-ágono A 0 A 1 A 2 ... An-l satisfazendo as seguintes
soma igual a 1. Para cada 1 :::; i :::; n, defina bi = a 1 + · · · + ªi-l + condições:
ai+l + · · · + an. Prove que (a) A2, ... , An-1 E r.
a1 ª2 an n (b) A área de A 0 À 1 A 2 .•• An-l é a maior possível.
--+--+
1 + b1 1 + b2
.. ·+ >--
1 + bn - 2n - 1 '
Solução. Considere a figura 5. 7 como representativa da situação do
com igualdade se, e só se, a1 = a2 = · · · = an = i. problema, e seja AiÔAi+l = ai, para 1 :::; i :::; n - 1 (com An = A0 ).
Então a 1 + a 2 + · · ·+ ªn-l = 1r e a fórmula do seno para a área de um
Prova. Substituindo bi = 1 - ai para 1 :::; i :::; n, basta provar que triângulo fornece

Para tanto, afirmamos inicialmente que a função f : (-oo, 2) ---+ lR


dada por f (x) = 2 _:x é estritamente convexa. De fato, como

2
f(x) = -1 +2-x
-,
a convexidade estrita de f é uma consequência imediata da convexi-
dade estrita da função de proporcionalidade inversa e do problema 12,
página 69.
Portanto, aplicando a desigualdade de Jensen, obtemos

n
Lf(ai)
i=l
n
~nf -2:ai
n i=l
) (l
=nf -
n
(1) = 2 ,
2n - 1
Ao o
Figura 5.7: polígono de área máxima inscrito em um semicírculo.
ocorrendo a igualdade se, e só se, a 1 = a 2 = · · · = an e, portanto, se,
Agora, uma vez que a função seno é estritamente côncava no in-
e so, se, ª1 = ª2 = · · · = an = -.
1
n

tervalo [O, 1r], segue da desigualdade de Jensen que
Nosso próximo exemplo utiliza a desigualdade de Jensen para re- n-l
7r
solver um interessante problema de geometria. I:senai:::; (n - l)sen = (n - l)sen - - ,
n-l
i=l
188 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 189

com igualdade se, e só se, a 1 = · · · = ªn-l = n:_ 1. Logo, há um único Lema 5.26 (Young). Sejam p e q reais positivos tais que .!.p + .!.q = 1.
polígono de área máxima satisfazendo as condições do enunciado. • Dados a, b > O, temos
aP bq
O exemplo a seguir utiliza a desigualdade de Jensen para dar outra ab S - + -, (5.15)
p q
prova da desigualdade entre as médias aritmética e geométrica. com igualdade se, e só se, aP = bº.
Exemplo 5.25. Demonstre a desigualdade entre as médias aritmética Prova. Já sabemos que a função logaritmo natural é estritamente
e geométrica, para n > 2 reais positivos, como corolário da desigual- côncava em (O, +oo). Portanto, dados reais positivos x 1 e x 2 , e t 1, t 2 >
dade de Jensen. O tais que t1 + t2 = 1, temos pela desigualdade de Jensen que

Prova. Dados n > 2 reais positivos a 1, a2 , ... , an, a sobrejetividade log(t1x1 + t2x2) 2: t1 log X1 + t 2 log x 2 ,
li da função logaritmo natural garante a existência de números reais x 1,
com igualdade se, e só se, x 1 = x 2 • Fazendo t 1 = .!.,
p
t 2 = .!.,
q
x 1 = aP e
x 2 , ... , Xn tais que aj = logxj para 1 S j S n. X2 = bº, obtemos
De acordo com o exemplo 5.18, a função log : (O, +oo) --+ IR é
estritamente côncava. Portanto, temos pela desigualdade de Jensen log (ªP
p
+ bº) 2:
q
~p log aP + ~q log bº = log ab '
que
com igualdade se, e só se, aP = bº. Por fim, como a função logaritmo
log X1 + log x~+ · · · + log Xn S log ( X1 + X2 : ··· + Xn) natural é crescente, segue da desigualdade acima que
aP bq
ou, ainda, -p +-q 2: ab,

(5.14)
com igualdade se, e só se, aP = bº.
A desigualdade da proposição a seguir é uma consequência da de-

com igualdade se, e só se, x 1 = x 2 = · · · = Xn- sigualdade de Young, sendo conhecida na literatura como a desigual-
Por fim, como log é uma função crescente, a desigualdade entre as dade de Hõlder 3 . Observe que, quando p = q = 2, tal desigualdade
médias segue prontamente de (5.14). se reduz à desigualdade de Cauchy (7.13) do volume 1.

• Proposição 5.27 (Holder). Sejam a 1, a2 , •.. , an e b1, b2 , ... , bn reais


positivos dados, e p, q > O tais que .!.p + .!.q = 1. Então
Podemos obter outras desigualdades interessantes refinando o uso
da desigualdade de Jensen em conexão com a função logaritmo natural.
n ( n ) l/p ( n ) l/q
Em particular, a desigualdade (5.15) a seguir é conhecida como a
1
~aibi S ~af · ~bf ,
I • desigualdade de Young 2 .
1 !
--::--~~~~~~~~~

2 Após 3 Após Otto Hõlder, matemático alemão dos séculos XIX e XX.
William H. Young, matemático inglês dos séculos XIX e XX.
190 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 191

com igualdade se, e só se, Problemas - Seção 5.4

aPn
bK. 1. (Romênia.) Sejam I e R um intervalo e f : I ---+ R uma fun-
ção estritamente convexa e crescente. Prove que a sequência
Prova. Fazendo A= CE:= 1 af) 11P e B = (I:::= 1 b{) 11 q, temos (f (n) )n~l não contém uma PA infinita.

n n a· b· 2. Dados n > 1 reais positivos a 1 , a2 , ..• , an, prove que


~
L.....t a·b·
ii-
< AB {::} ~ B<-1.
....!:. • .....:
L.....tA
i=l i=l

A gora, sendo b· t
Xi =1

e Yi = ifj, emos

n l n com igualdade se, e só se, a 1 = a2 = · · · = ªn·


~ x'l! = -AP ~ al! = 1
L.....t i L.....t i '
i=l i=l 3. Dados k > 1 inteiro e a 1 , a2 , ..• , an reais positivos, prove que
e queremos provar que I:::= 1 XiYi < 1. Mas pela desigualdade de
Young, segue que

n n ( p q) l .n l n
L
i=l
XiYi ::;; L -
i=l p
+- = - L
xi

q p i=l
Yi
xi
P
+ - L Yiq -_
q i=l
1. com igualdade se, e só se, a1 = a2 = · · · = ªn·

4. Sejam r um círculo de centro O e raio R, n > 2 um inteiro fixado


Para haver igualdade, devemos ter xf = y'f para 1 < i < n ou, e A 1 A 2 .•• An um n-ágono convexo inscrito em r.
ainda,
aPi bqi
(a) Se O não pertence ao interior de A 1 A 2 ... An, use um argu-
AP Bq'
mento geométrico para mostrar que há polígonos inscritos
para 1::;; i::;; n. De outro modo, devemos ter
em r e com área maior que a área de A 1 A 2 ..• An-

11
(b) Use a desigualdade de Jensen para mostrar que, dentre to-
dos os polígonos de n lados inscritos em r, os regulares são
Reciprocamente, é imediato verificar que, se a condição acima for sa- os únicos de área máxima.
1

tisfeita, teremos igualdade. •


5. Sejam dados um círculo r de centro O e raio r e n > 2 inteiro.
Dentre todos os n-ágonos convexos A 1 A 2 ... An circunscritos a
r, prove que os regulares são os de perímetro mínimo.
192 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 193

6. Seja ABC um triângulo acutângulo de lados AB = e, AC= b


11. Prove a desigualdade de Minkowski4 : para k > 1 inteiro e
e BC= a. Se Ré o raio do círculo circunscrito a ABC, prove
a1, a2, ... , an, b1, b2, ... , bn reais positivos, temos
que
a + b + e :::; 3RV3,
com igualdade se, e só se, ABC for equilátero.

7. Sejam n > 1 inteiro e x 1 , x 2 , ... , Xn reais positivos com soma


com igualdade se, e só se,
igual a 1. Prove que

L. --:::==
n Xi~ ylXI+···+yXn
t=l
Vl - > - ->
n - 1 -
Xi - v'n-=-I '
·

com igualdade em uma qualquer das desigualdades acima se, e


,
80 se, X1 = · · · = Xn = n1 ·
8. (Romênia.) Seja ABC um triângulo equilátero de altura h, P
um ponto em seu interior e x, y e z as distâncias de P aos lados
de ABC. Prove que
h-x h-y h-z 3
- - + - - + - - > -,
h+x h+y h+z - 2
com igualdade se, e só se, P for o centro do polígono.

9. (IMO.) Se ABC é um triângulo com todos os ângulos menores


que 150º e P é um ponto em seu interior, mostre que ao menos
um dos ângulos LP AB, LP BC e LPC A é menor ou igual a
30º.

10. Prove a seguinte generalização da desigualdade entre as médias,


conhecida como a desigualdade ponderada entre as médias:
dados reais positivos a 1, a 2, ... , an e naturais k1, k2, ... , kn tais
que ..!..
k1
+ ..!..
k2
+ · · · + .1...
kn
= 1' temos
ak1 ak2 akn
- 1- + - 2- + · · · + _!!:__ 2:: a1a2 · · · an,
k1 k2 kn
com igualdade se, e só se, a1 = a2 = · · · = ªn· 4 Após Hermann Minkowski, matemático alemão dos séculos XIX e XX.
194 Tópicos de Matemática Elementar 3

CAPÍTULO 6

Limites e Derivadas

Vimos, na seção 5.1, como resolver o problema do cálculo da área


da região sob o gráfico de uma função contínua e não negativa f :
[a, b] ---+ IR, problema este que motivou a introdução do conceito de
integral de uma função contínua. Um dos propósitos deste capítulo
é analisar outro problema geometricamente relevante relativo a grá-
ficos, qual seja, o da definição do conceito de reta tangente a um
gráfico em um ponto do mesmo. Surpreendentemente, mostraremos
que a solução de tal problema, quando existir, resultará intimamente
relacionada ao conceito de integral, sendo a ponte entre ambos o fa-
moso teorema fundamental do Cálculo, objeto da seção 6.4. Ao longo
do caminho, mostraremos também como utilizar derivadas para resol-
ver, pelo menos em tese, os problemas da obtenção dos intervalos de
monotonicidade e concavidade de uma função (duas vezes) derivável,
e do esboço razoavelmente acurado dos gráficos de tais funções.
196 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto
197

6.1 Limites de funções tem equação da forma

.
SeJa f .. (a , b) ~ JR uma função contínua e . Xo E ( a, b) ·
Se
t Y - f(xo) = m(x - xo),
A(xo, f(xo)), X1 E (a, b) \ {xo} e B1(x1, f(x1)), dizemos que are a (6.2)
ÁÊ1 é uma secante ao gráfico de G1 de f (cf. figura 6.1, onde, para para algum m E R Portanto, comparando (6.1) e (6.2) e tendo em
i = 1, 2, tomamos xi E (a, b) \ {xo}, fizemos Bi(xi, f(xi)) e traçamos conta a discussão do parágrafo anterior, somos levados a concluir que
+----t
as secantes ABi ao gráfico de !) . os quocientes f(xi)-J(xo)
x1-xo aproximam m cada vez melhor à medida que
x 1 aproxime x 0 cada vez melhor. De outra forma, concluímos que a
única definição razoável para a reta tangente ao gráfico de f no ponto
A é a reta de equação (6.2), onde

m = lim J(x1) - f(xo).


x1 --+xo X1 - Xo (6.3)

l Aqui, a expressão do segundo membro acima representa intuitivamente


o valor limite dos quocientes f(xi)-J(xo)
x1-xo
à medida que x 1 tende a x 0 ,
X caso tal "limite" exista em algum sentido a ser precisado.
Uma vez que a discussão acima ainda se encontra num patamar
relativamente vago, adiamos seu prosseguimento para a próxima seção,
+----t +----t
Figura 6.1: secantes AB1 e AB2 ao gráfico de f. a fim de colocar a noção de limite em bases mais sólidas. Para tanto,
começamos com a seguinte

Admitindo que exista uma noção razoável de reta tangente a G f em Definição 6.1. Fixado x 0 E JR, uma vizinhança de x 0 é um intervalo
A um pouco de intuição geométrica torna razoável supor que a reta Ida forma I = (x 0 - r, x 0 + r ), onde ré um real positivo. Nesse caso,
~ deva aproximar-se cada vez mais· de uma tal tangente à medida,
AB
diremos quer é o raio de I e que I é ar-vizinhança de x 0 .
que B se aproxime de A ao 1ongo d e Gf' ou ' O que é o mesmo, a Se I é ar-vizinhança de x 0 , então todo x E I é dito uma r-apro-
medida que x se aproxime de Xo em (a, b) · ximação de x 0 ou, ainda, uma aproximação de x 0 com erro menor
Observe que, se X1 E (a, b) \ {xo} e B(x1, f(x1)), a equação da quer.
secante ÃÊ ao gráfico de f tem a forma
Definição 6.2. Sejam X e JR um intervalo, x 0 E X e f : X\ { x 0 } ~ JR
- f(xo) = (f(x1) - f(xo)) (x - xo); (6.1) uma função dada. Dizemos que f tem limite L quando x tende a
y X1 - Xo Xo, e denotamos
por outro lado, a pretensa reta tangente a Gf em A, se não for vertical, lim f(x) = L, (6.4)
x--+xo
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 199
198

A esta altura, vale frisar que justificar a validade de um certo


y
limite mediante o emprego da definição acima é um jogo de gato e
rato: arbitrado um erro E > O para o candidato L a limite, temos de
ser capazes de encontrar um erro 8 > O para x 0 ( o qual, em geral,
dependerá tanto do E dado quanto do próprio x 0 ) de modo que a
validade da condição O < lx - x 0 1 < 8 para um elemento x E X
acarrete a validade da condição IJ(x) - LI < E.
b X Vejamos, em alguns exemplos, como implementar a estratégia aci-
Xo
1--1 ma. Em tudo o que segue, por vezes omitiremos quaisquer referências
28 explícitas ao domínio e/ou contradomínio das funções envolvidas, con-
centrando-nos em suas expressões em termos da variável independente
(x, em geral). Sempre que tal ocorrer, convencionamos que o domínio
Figura 6.2: limite de uma função. da função é seu domínio maximal de definição (cf. seção 1.1), e o
1 '
contradomínio é o conjunto dos números reais.
1
. . hança J de L , existir uma vizinhança I de
se, para cad a v1zm Xo tal Exemplos 6.3.
que (6.5)
x E X n (I \ {xo}) =} f(x) E J. (a) limx--+ 2 (-2x+7) = 3: seja dado E> O. Partindo de x E IR sujeito
a um erro do tipo O< lx - 21 < ô, temos
Denotando respectivamente por 8 e Eos raios de I e J' uma maneira
equivalente de formular (6.5) é dizer que, para cada E> O dado (o :ue
l(-2x + 7) - 31 = 1- 2x + 41 = 2lx - 21 < 25.
é o mesmo que dar a vizinhança J)' deve existir 8 > O (o que e o
mesmo que existir a vizinhança I) tal que Escolhendo então ô > O tal que 25 ::=::; E, temos que
x E X, e O< \x - xo\ < 8 =} \f(x) - L\ <E· (5 ,5)
f(x)EJ
X E IR, e o< lx - 21 <ô=} l(-2x + 7) -31 < 25 ::=::; E,
xEI\{xo}

Veja a figura 6.2. ( conforme desejado.


E m pa1avras, (6 .6) Ocorre quando ' fixado um erro E > O .para- O
valor de) L existir um erro 8 > O para Xo tal que 8-aprox1ma?oes (b) limx--+ 3 x 2 = 9: seja dado E > O. Partindo de x E IR sujeito a um
--1- de x ' em X correspondam a E-aprox1maçoes
· - J(x ) de L . Amda. erro do tipo O < lx - 31 < ô, temos
X I Xo O j( ) - ' 1
de outro modo, (6.6) ocorre quando pudermos tornar x tao prox-
mo de L quanto desejado, bastando para isso tomarmos x-# X\ {xo} IX2 - 91 1X - 3II X + 3I < ÔIX - 3 + 6 I
suficientemente próximo de Xo ·
< 5(lx - 31 + 6) < 5(5 + 6),
200 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 201

onde utilizamos a desigualdade triangular na penúltima passa- Prova. Suponha, inicialmente, que f seja contínua em x 0 . Então, a
gem acima. Portanto, caso seja possível escolhermos <5 > O de definição 4.2 garante que, dado E > O, existe <5 > O para o qual
tal forma que <5(<5 + 6) ~ E, teremos
x E X e lx - xol < <5 =} lf(x) - f(xo)I < E.

X E lR e o< 1X - 3\ < <5 =} 1 2 -


x 9\ < <5 ( <5 + 6) ~ E' Em particular, se x E X e O < lx - x 0 1 < <5, ainda teremos lf(x) -
f(xo)I < E, de sorte que (6.6) é satisfeita. Logo, limx--+xo f(x) = f(x 0 ).
conforme desejado. Resta mostrar que a escolha de <5 > O é
Reciprocamente, suponha que limx--+xo f(x) = f(xo). Então, de
possível, para o quê basta resolver a inequação <5(<5 + 6) ~ E. Ao acordo com a definição, dado E> O, existe <5 > O tal que
fazê-lo, obtemos
O < <5 ~ Vf+9 - 3. x E X e O< lx - xol < <5 =} lf(x) - f(xo)I < E.

Mas, uma vez que a condição I f (x )- f (x 0 ) 1 < E é trivialmente satisfeita


Em retrospectiva, se tivermos uma função f : X --+ lR e quisermos
quando x = x 0 , certamente podemos escrever a implicação acima como
provar que limx--+xo f(x) = L, o segredo para descobrir quais <5 > O
funcionam para um E dado é argumentar da seguinte forma: partindo x E X e lx - xol < <5 =} lf(x) - f(xo)I < E.

de x E X sujeito a um erro do tipo O< \x - xo\ < <5, estimamos o erro


\f(x)-L\ em termos de <5 por excesso, obtendo, digamos, uma desigual-
Portanto, a definição 4.2 garante que fé contínua em x 0 .
Exemplo 6.5. Se f : lR \ { ±1} --+ lR é a função dada por f(x)

dade do tipo \f(x) - L\ < E(b), onde E representa uma certa função
xª;f~:+ 2 , utilizemos a proposição anterior para calcular limx--+l f (x ).
de <5. Em seguida, impomos que tal erro E(b) não ultrapasse o erro E
Para tanto, observemos inicialmente que 1 é raiz do numerador e do
desejado, descobrindo então os valores apropriados de <5 ( usualmente,
denominador da expressão que define f(x), com x 3 - 3x 2 + 2 = (x -
esse segundo passo se resume a resolver, para <5 > O, a inequação
l)(x 2 - 2x - 2) e x 2 -1 = (x - l)(x + 1). Por outro lado, em lR \ { ±1}
E(b) ~ E). Por fim, se <5 > O satisfizer E(b) ~ E, teremos claramente
temos
que (x - 1) (x 2 - 2x - 2) x 2 - 2x - 2
x E X e O< \x - x 0 \ < <5 =} \f(x) - L\ < E(b) ~ E, f(x) = (x - l)(x + 1) = x+1 ;
1. conforme desejado. mas, uma vez que a função g : lR \ { -1} --+ lR dada por g(x) = x2 ;!~- 2

Agora que já discutimos o conceito de limite com certo cuidado, é contínua, a proposição anterior garante que
utilizamo-lo para caracterizar as funções contínuas, conforme ensina a
lim f(x) = lim g(x) = g(l) = -~.
seguinte X-+ 1 X-+ 1 2
Um fato importante sobre limites de funções é que se limx--+xo f (x) =
Proposição 6.4. Sejam X e lR uma união de intervalos e f : X --+ lR
L, com L -=f. O, então existe uma vizinhança I de x 0 tal que f tem o
uma função dada. Para x 0 E X, temos f contínua em Xo se, e só se,
mesmo sinal de L em X n (I \ {x 0 }). Este é, grosso modo, o conteúdo
lim f(x) = f(xo). do lema a seguir, o qual se constitui no análogo do lema 4.13, sendo
x--+xo também conhecido como o lema de permanência do sinal.
202 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 203

Lema 6.6. Sejam x 0 E X e f : X\ { x0 } --+ lR uma função dada. Se (a) Façamos a prova para f + g, sendo a prova para f - g comple-
limx--+xo f (x) = L, com L =/= O, então existe 6 > O tal que tamente análoga. Como indicado anteriormente, tentaremos estimar
l(f +g)(x)-(L+M)I por excesso em termos de lf(x)-LI e lg(x)-MI:
L/2 < f(x) < 3L/2, se L > O
{ como
x E X e O< lx - xol < 6 ~ _ 3L/2 < f(x) < -L/2, se L < O
l(f + g)(x) - (L + M)I = l(f(x) - L) + (g(x) - M)I
Prova. Suponha L > O (o outro caso é análogo). Pela definição de ::; lf(x) - LI+ lg(x) - MI
limite, dado E = ~ > O, existe 6 > O tal que
(pela desigualdade triangular), a fim de que 1(f + g) (x) - (L + M) 1 < E
L para x E X próximo a (mas diferente de) x 0 , é suficiente que tenhamos
x E X e O< lx - xol < 6 ~ lf(x) - LI < 2· IJ(x)-LI < ! e lg(x)-MI < f Mas, como! > O e limx--+xo f(x) = L
e limx--+xo g( x) = M, a definição de limite garante a existência de reais
Portanto, para cada um de tais x temos -~ ::; f(x) - L < ~' ou, o positivos 61 e 62 tais que
que é o mesmo, ~ < f(x) < :f.
3 • E
x E X e O< lx - xol < 61 ~ lf(x) - LI < 2
\ ,
De posse do lema acima, colecionamos na proposição a seguir al-
e
gumas regras operatórias que simplificam o cálculo efetivo de limites. E

Para O item (c) da mesma, cumpre observarmos o seguinte: dados


x E X e O< lx - xol < 62 ~ lg(x) - MI< 2.
X e JR, xo E X e g : X\ {x0 } --+ lR tal que limx--+xo g(x) = M, com Portanto, sendo 6 = min{ 61 , 62 }, temos 6 > O e a concomitância das
M =!= O, 0 lema 6.6 garante a existência de 60 > O tal que a função g condições x E X e O < lx - x 0 1 < 6 acarreta simultaneamente em
não se anula no conjunto Y = (X\ {x 0 }) n (Xo - 60, Xo + 60). Portanto, IJ(x) - LI < ! e lg(x) - MI < ! e, daí, em
ao considerarmos a função i, tal que i(x) = g(x)' sempre suporemos E E

implicitamente que seu domínio é o conjunto Y.


IJ(x) - LI ::; IJ(x) - LI+ lg(x) - MI < 2 + 2 = E,
conforme desejado.
Proposição 6.7. Sejam x 0 E X e f,g: X\ {xo}--+ lR duas funções
dadas. Se limx--+xo f(x) = L e limx--+xo g(x) = M, então: (b) Novamente aqui, estimemos l(fg)(x) - LMI por excesso em ter..,
mos de lf(x) - LI e lg(x) - MI: inicialmente, segue da desigualdade
(a) limx--+xoU ± g)(x) = L ± M. triangular que

(b) limx--+xoU · g) = L · M. l(fg)(x) - LMI IJ(x)(g(x) - M) + (f(x) - L)MI


< lf(x)llg(x) - MI+ lf(x) - LIIMI
(c) limx--+xo (i) (x) = §:r, caso M =/= O. < (lf(x) - LI+ ILl)lg(x) - MI+ lf(x) - LIIMI
Prova. Em todos os itens a seguir, suponhamos dado E> O. IJ(x) - Lllg(x) - MI+ ILllg(x) - MI
+IMIIJ(x) - LI.
Antonio Caminha M. Neto 205
Tópicos de Matemática Elementar 3
204
excesso em termos de lg(x) - MI: como lg(x)I > IMI para x E y
Portanto, a fim de que \(f g)(x) - (LM)\ < E para x E X próximo a temos 2
'
(mas diferente de) x 0 , é suficiente que tenhamos cada uma das parcelas _1__ 2_1 = lg(x)-M\ < ~
\J(x)-L\\g(x)-M\, \L\\g(x)-M\ e \M\\J(x)-L\ menor que!· Para 1g(x) M \g(x)\IMI - M2 lg(x) - MI
tanto, basta que tenhamos, por exemplo,
e, a fim de que )g(~) - if) < E, basta termos lg(x) - MI < ~ 2E.
\f(x) - L\, \g(x) - M\ < [f, Portanto, ad~c~onalm~nte ao 60 > O acima, basta escolhermos (in-
vocandoM~E defimçao de limite) um real 61 > O para O qual lg(x) _
E E
MI < - 2-, para todo x E X tal que O < lx - xol < 6 · sendo
\g(x) - M\ < 3(\L\ + 1) e \J(x) - L\ < 3(\M\ + 1).
6 = min{ 60, 61} > O, temos para x E Y e O < lx - x 1 6 que ~
Em suma, é suficiente que tenhamos 1g ( x ) 1 <
IMI e 1g ( x ) - M 1 < -M2E
- , conforme .
necessáno. o •
2 2

1
1

1
\f(x) - L\ < min { [f, 3(\M~ + l)} Uma fácil _iI~duçã~ permite estender as fórmulas dos itens (a) e
(~) da proposiçao acima a uma quantidade finita de funções. Espe-
e cificamente
. , se x 0 E X e f 1, · · ·, f n ·
· X \ { Xo } ---+ JN.. f orem tais
· que
[f, 3(\L( + l)} ·.
11])

1 \g(x) - M\ < min { hmx---+xo fi(x) = Lj para 1 :=:; j :=:; n, então

Mas, se E1 = min { ./f,


3 (l;l+l)} e E2 = min { ./f,
3 (ILÍ+i)}, então
}~~o (!1 ± Í2 ± · · · ± fn)(x) = L1 ± L2 ±···±Ln
E1 , E2 > O, e a definição de limite garante a existência de erros 61 , 62 > O e
tais que \J(x) - L\ < E1, para todo x E X tal que O< \x - xo\ < 61, e lim (fih · · · Ín)(x) = L1L2 · · · L n·
x---+xo
\g(x) - M\ < E2 , para todo x E X tal que O< \x- x 0 \ < 62 . Portanto,
se 6 = min {61 , 62 }, então 6 > Oe a concomitância das condições x E X Em pa:"ticular, se k E N e f : X\ { x 0 } ---+ lR for tal que limx---+xo J(x) =
e O < \x - x 0 \ < 6 acarreta, simultaneamente, em \J(x) - L\ < E1 e
L, entao
lim f(xl = Lk.
\g(x) - M\ < E2 , como necessário. x---+xo
Também, se g : X---+ lR for contínua em x 0 , a proposição 6.4 e do item
(c) Conforme antecipado no parágrafo anterior à prova, o lema de (b) da proposição acima fornecem
permanência do sinal garante a existência de 60 > O tal que \g(x)\ >
l~I para x E X e O< \x - x 0 \ < 60 . Portanto, consideramos como i lim f(x)g(x) = Lg(x 0 ).
x---+xo
a função l : Y \ {x 0} ---+ :IR, onde Y = (X\ {xo}) n (xo - 60 , xo + ~oravante, assumiremos as· observações acima sem maiores comentá-
g
60 ), de sorte que em princípio faz sentido analisarmos o problema da rios.
existência ou não do limite limx---+xo ( i) (x). A proposição a seguir é conhecida na literatura como o teorema
Como i = f ·i, pelo item (b) basta mostrarmos que limx---+xo 1
g( x) = do .co~f~onto. Conforme veremos logo em seguida à sua prova, ela é
mmto util para o cálculo de limites.
i1. Para tanto, como nos itens anteriores, estimemos \ }x) - i1 \ por
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 207
206

Proposição 6.8. Sejam x 0 E X e f, g, h : X\ { xo} --+ lR funções tais Lema 6. 9. limx---+O se; x = 1.
que g(x) pertence ao intervalo de extremidades J(x) e h(x), para todo Prova. Como queremos calcular um limite, podemos nos restringir
x E X\ {xo}- Se limx---+xo J(x) = limx---+xo h(x) = L, então limx---+xo g(x) ao intervalo lxl < l S~ponha primeiro x > O. Sendo C(A~B) = x O

também existe e é igual a L. comprimento do arco AB (figura 6.3), temos


Prova. Dado E > O, queremos encontrar ô > O tal que as condições
x E X e O < lx - x 0 1 < ô impliquem lg(x) - LI < E. Para tanto, se c
f(x)::::; g(x) ::::; h(x), então J(x) - L::::; g(x) - L::::; h(x) - L e, a partir
daí, é fácil concluir que

lg(x) - LI :S max{lf(x) - LI, lh(x) - LI}- (6.7)

Se h(x) ::::; g(x) ::::; J(x), concluímos, de modo análogo, a validade de


(6.7). o A
Agora, invocando a definição de limite, sabemos que existem nú-
meros reais 81 , 82 > O, tais que

x E X e O< lx - xol < ô1 =} lf(x) - LI < E

e
x E X e O< lx - xol < ô2 =} lh(x) - LI < E.
Figura 6.3: o limite trigonométrico fundamental.
Portanto, se ô = min {81, ô2}, temos ô > O e

Jf(x) - LI < E
x E X e O< lx - xol <ô=} { Jh(x) _ LI < E senx = BD< AB < C(A~B) = x
ou, ainda, se;x < 1. Por outro lado, sabemos do volume 2 que a área
Assim, para x E X tal que O< lx - xol < ô, temos
do setor circular AO B é igual a 1r · 2: = ! , ao passo que a área do
lg(x) - LI :S max{lf(x) - Lj, lh(x) - Lj} :S max{ E, E} = E. triângulo AOC é igual a! AC; portanto, também temos

• de maneira que cos x <


x = C(AB) < AC= tgx,

si:x. Combinando essas duas desigualdades,


O teorema do confronto torna possível calcularmos um limite co-
obtemos
nhecido na literatura como o limite trigonométrico fundamental, senx
cosx < - - < 1. (6.8)
o qual se revelará de grande importância na próxima seção. X
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 209
208

O caso x < O pode ser tratado analogamente e fornece a mesma De modo análogo à discussão até aqui, dada uma função f : X\
desigualdade acima. Então, segue de (6.8), juntamente com o teorema {xo} -r IR, podemos definir noções de limites laterais para f em x 0 ,
do confronto e a continuidade da função cosseno, que limx-+O existe se:x respectivamente à esquerda e à direita, pondo:

e senx (i) limx-+xo- f(x) = L quando, para cada E> O dado, existir ô> O
1 = limcosx < lim-- = l. tal que
x-+0 - x-+0 X

• -ô< x - Xo <O~ lf(x) - LI < E. (6.9)

Outra ferramenta muito útil no que concerne o cálculo de limites é (ii) limx-+xo+ f(x) = L quando, para cada E> O dado, existir ô> O
dada pela próxima proposição. Para o enunciado da mesma, recorde tal que
que uma função f : X -, IR é limitada se existir M > O tal que O< x - Xo <ô~ lf(x) - LI < E. (6.10)

\f(x)\ :S M, V x E X. Referimos ao leitor a figura 6.4 para uma interpretação geométrica da


noção de limite lateral à direita, deixando como exercício a interpre-
Proposição 6.10. Sejam x 0 E X e f,g: X\ {xo}--:+ IR funções tais tação correspondente para limites laterais à esquerda.
que fé limitada em X e limx-+xo g(x) = O. Então, limx-+xo f(x)g(x) =
O, mesmo que não exista limx-+xo f(x).
Prova. Dado E> O, queremos encontrar ô> O tal que

x E X e O< \x - xo\ <ô~ \f(x)g(x)\ < E.

Para tanto, se M > O é tal que \f(x)\ :S M para todo x E X\


Xo b X
{xo}, então \f(x)g(x)\ ::::; M\g(x)\ para todo x E X\ {xo}, e basta
H
encontrarmos ô > O tal que \g(x)\ < ~ para todo x E X tal que ô
O < \x - xo\ < ô. Para tanto, é suficiente observarmos que a definição
de limite aplicada a limx-+xo g(x) = O garante a existência de ô> Otal
que E Figura 6.4: limite lateral à direita.
x E X e O< \x - xo\ <ô~ \g(x)\ < M'

conforme desejado. • Ainda em relação a limites laterais, é imediato formular e provar,


Exemplo 6.11. Se f: IR\ {O} -r IR é a função tal que f(x) = seni para os mesmos, resultados análogos àqueles da proposição 6. 7 (cf.
para x -/=- O, então \f (x) \ ::::; 1, para todo x E IR\ {O}. Como limx-+O x = problema 3). Por fim, para uma função f : (a,x 0 ) - , IR tal que e-
xista limx-+xo- f(x) = L, escreveremos, por vezes, limx-+xo f(x) = L,
O, segue da proposição acima que limx-+O x · sen ~ = O.
210 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 211

deixando ao contexto a tarefa de elucidar se se trata de um limite Assim como antes, deixamos ao leitor a tarefa de elaborar defini-
ordinário ou lateral; uma observação análoga é válida para uma função ções análogas à acima para limx-t-oo f(x) = L e limx-t±oo f(x) = ±oo.
f : (Xo, b) ---+ IR tal que exista limx-txo+ f (x). Por outro lado, observe que a proposição 6.13 continua válida se
Terminamos esta seção observando que também podemos definir X::) (a,+oo) (resp. X::) (-oo,b)) e trocarmos x 0 por +oo (resp.
noções de limites infinitos e limites no infinito, começando com o caso -oo), sendo as demonstrações nesses casos essencialmente as mesmas.
de limites infinitos. Um dos mais importantes usos de limites infinitos e no infinito é
para a identificação das assíntotas horizontais e verticais do gráfico de
Definição 6.12. Dada uma função f : X\ {x0 } ---+ IR, escrevemos uma função, de acordo com a seguinte
limx-txo f(x) = +oo se, dado M > O arbitrário, existir ô> O tal que
Definição 6.15. Se f: X\ {xo}---+ IR é tal que limx-txo f(x) = ±oo,
x E X e O< /x - x 0 / <ô=? f(x) > M. dizemos que a reta x = x 0 é uma assíntota vertical do gráfico de f.
Analogamente, se X::) (a,+oo) (resp. X::) (-oo,b)) e f: X---+ IR é
Deixamos ao leitor a tarefa de elaborar definições análogas à defi- . tal que limx-t+oo f (x) = L (resp. limx-t-oo f (x) = L) , dizemos que a
nição acima para limx-txo f(x) = -oo e limx-txo± f(x) = ±oo. reta y = L é uma assíntota horizontal do gráfico de f.
A proposição a seguir estabelece alguns limites infinitos simples.
Sua prova não difere em grau de dificuldade da prova da proposição
6.7, de modo que a deixamos como exercício para o leitor.
Problemas - Seção 6.1
Proposição 6.13. Dadas funções f,g: X\ {x0 }---+ IR, temos
11 1. Dada uma função f : X \ {Xo} ---+ IR, prove que se limx-txo f (x)
(a) Se lim f(x) = L > O e lim g(x) = ±oo, então lim f(x)g(x) = existir, então ele é único.
x-txo x-txo x-txo
±oo.
2. * Estabeleça as generalizações dos itens (a)e (b) da proposição
(b) Se lim f(x) = L < O e lim g(x) = ±oo, então lim f(x)g(x) = 6.7, conforme discutidas logo após a prova da mesma.
x-txo x-txo x-txo
=fOO.
3. * Estenda a proposição 6. 7 para limites laterais.
Voltemo-nos agora à consideração de limites no infinito.
4. Prove a proposição 6.13 e sua análoga para limites no infinito.
Definição 6.14. Se existe a> O tal que X::) (a, +oo) e f: X---+ IR 5. Sejam f, g : (a, +oo) ---+ IR funções tais que f é limitada e
é uma função dada, escrevemos limx-t+oo f(x) = L se, dado E > O, limx-t+oog(x) = O. Prove que limx-t+oof(x)g(x) = O; em se-
existir A > O tal que
guida, use este fato para mostrar que limx-t+oo se;x = O.

x E X ex> A=? /f(x) - L/ < E. 6. Calcule limx-tO l-~~sx.


212 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 213

7. Seja f : X\ {x 0 } -+Ruma função tal que limx-+xo J(x) = L. 6.2 Propriedades básicas de derivadas
Se (an)n2:l é uma sequência em X\ {xo} tal que liIDn-,+oo an =
x 0 , prove que limn-++oo f(an) = L. Conclua, a partir daí, que Tendo estabelecido firmemente o conceito de limite, retomamos,
com a definição a seguir, a discussão que levou a (6.3).
limx-+O sen .!X não existe.

8. Se X ::) (a, +oo) e f : X -+ R é uma função dada, dizemos que Definição 6.16. Sejam I e Rum intervalo aberto e f: I-+ Ruma
a reta y = ax + b é uma assíntota oblíqua do gráfico de f se função dada. Fixado x 0 E I, diremos que f é derivável em x 0 se
limx---Hoo(f(x) - (ax + b)) = O. Nesse caso, prove que existir o limite
. f(xo
11m + h) - J(xo) . (6.11)
h-+0 h
a= lim f(x) e b = lim (f (x) - ax).
x-++oo X x-++oo · Nesse caso, tal limite será denominado a derivada de f em x 0 , sendo
Em seguida, elabore o conceito de assíntota oblíqua y = ax + b denotado por f' (x 0 ).
caso X contenha uma semirreta da forma (-oo, /3), e mostre
Nas notações da definição acima, observe que, quando escrevemos
como calcular a e b nesse caso. · J(xo + h), estamos supondo implicitamente que h é tão pequeno que
9. Em cada um dos itens a seguir, encontre as assíntotas verticais Xo + h também pertençe a I = Dom(!). Tal suposição não impõe
11
:11

e oblíquas (cf. problema anterior) da função dada restrição alguma à definição, uma vez que estamos calculando um
1
limite e o domínio de fé um intervalo aberto. Note, ainda, que .exigir
. ,:!\
,1,,
!ti, (a) f: R \{O}-+ R tal que f(x) = x + ~ para x # O. que o limite acima exista é o mesmo que exigir que exista o limite
:.1:

1,(11 (b) f: R \ (-a, a)-+ R tal que J(x) = ~v'x 2 - a 2 para !xi 2:: a.
1:\: lim f(x) - f(xo).
n
1
1
11

10. * Sejam n E N e f : R -+ R a função polinomial tal que x-+xo X - x0


1

i,l
1111, J(x) = anXn + an-1Xn-l + · · ·+ a1x + ao, Isto porque, fazendo x 0 + h = x, temos h = x - x 0 e, além disso,
1

h-+ O~ x-+ Xo- Portanto, sendo f derivável em x 0 E /, podemos


com a0 , a 1 , ... , an E R e an # O. Prove que: escrever
(a) Se n é par, então limtxl-++oo J(x) = +oo. J'(xo) = lim f(xo + h) - f(xo) = lim f(x) - f(xo) (6.12)
(b) Se n é ímpar, então limx-+±oo J(x) = ±oo. h-+0 h x-+xo X - x0
A seguir, calculamos as derivadas de algumas funções simples.
11. (IMO.) Encontre todas as funções f : (O, +oo) -+ (O, +oo) satis-
fazendo as seguintes condições: Exemplo 6.17.
(a) J(xf(y)) = yf(x), para todos os x, y > O. (a) Se f: R-+ Ré uma função constante, então fé derivável em R
(b) J(x)-+ O quando x-+ +oo. e J'(xo) = O, para todo x 0 E R
214 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 215

(b) Se n E N e f : IR --+ IR é a função dada, para x E IR, por Mas, como m > O, segue do item (b) que
f(x) = xn, então fé derivável em IR e f'(xo) = nx~- 1 , para
. f (xo + h) - f (xo)
todo x 0 E R 11m~~~-'-~------'-----'- - -1- · lim .!_((xo + h)m - xm)
h-tO h x5m h-tO h O

(c) Se n E Zé negativo e f : IR\ {O} --+ IR é a função dada, para 1 . mxm-1 = -mxo-m- 1 = nxno- 1
-x2m
- O
x E IR\ {O}, por f(x) = xn, então f é derivável em IR\ {O} e o
f'(x 0 ) = nx~- 1 , para todo x 0 E IR\ {O}.
Prova.

(a) Sendo J(x) = e para todo x E IR, temos A seguir, mostramos que a função seno é derivável e calculamos
sua derivada em cada ponto da reta, aumentando assim nosso estoque
lim f(xo + h) - f(xo) = lime - e = lim O= O. de exemplos.
h-tO h h-tO h h-tO

(b) Pela fórmula do desenvolvimento binomial, temos Exemplo 6.18. A função seno é derivável em todo x 0 E IR, com

f(xo + h~ - f(xo) = ~[(xo + h)" _ xQ] = ~ [t. (:)xô-khk _xô]


sen 'x 0 = cos x 0 .

Prova. As fórmulas de transformação em produto nos dão

= 1'; (:)xo-khk-•, sen (x 0 + h) -


h
senx 0 sen ~
= ~ · COS
2
(
Xo
h)
+2 .
de sorte que Como a função cosseno é contínua, segue dos cálculos acima e do limite
. f(xo + h) - f(xo) trigonométrico fundamental (cf. lema 6.9) que
11m
h
h-tO

sen'x 0 lim -
h-tO
~ · cos ( x 0
sen-
~
+ -2 h)
2

sen
lim -
h-tO
~ (
h - · lim cos x 0 + -
h-tü 2
h)
2
. senh
hm -h-. COSXo = COSXo,
(c) Se n = -m, com m > O inteiro, então h-tO

f(xo + h) -
h
f(xo) 1 (
h (xo
1
+ h)m
1 )


Observações 6.19. Antes de prosseguir com o desenvolvimento da
(
Xo + ~)
mx0
• _hl ((xo + h)m - x~). teoria, teçamos duas observações úteis.
216 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 217

1. Uma vez que derivadas são limites, dada uma função f : [a, b) -+ Para o exemplo a seguir, observamos que um cálculo imediato (cf.
IR, podemos considerar a derivada lateral à direita em a, i.e., o problema 1) permite mostrar que se f : I-+ IR é derivável em x 0 E J,
o limite então, fixado e E IR, a função g : I -+ IR dada por g = e · f também é
J' (a)= lim f(x) - f(a)' derivável em x 0 , com
+ x--+a+ X - a
g'(xo) =e· J'(xo).
caso tal limite exista. Analogamente, para f : (a, b] -+ IR po-
demos considerar a derivada lateral à esquerda em b, i.e., o Exemplo 6.20. Se n E Z\ {O} e f : IR -+ IR é a função dada por f (x) =
limite xn, então, de acordo com o item (b) do exemplo 6.17, a função derivada
f'_(a) = lim f(x) - f(b) de fé a função f': IR-+ IR dada por f'(x) = nxn- 1 . Portanto, segue
x--+b- X - b
novamente daquele exemplo e do último parágrafo acima que f' é
(novamente caso tal limite exista). Ademais, sempre que disser- derivável, com f"(x) = n(n - l)xn- 1 , para todo x E R
mos que uma função f : [a, b] -+ IR é derivável, ficará implícito
que as derivadas de f em x = a e x = b são laterais; entretanto, A definição de derivada, juntamente com a relação (6.3), nos per-
sempre que não houver perigo de confusão, escreveremos sim- mitem apresentar outra definição relevante.
plesmente f'(a) e f'(b) (em vez de f~(a) e J:_(b)) para denotar
Definição 6.21. Sejam I e IR um intervalo aberto e f : I -+ IR uma
tais derivadas.
função derivável em x 0 E I. A reta tangente ao gráfico de f no
2. Por vezes, denotaremos a derivada de uma função f num ponto ponto (x 0 , f (x 0 )) é a reta que passa por tal ponto e tem coeficiente
x 0 utilizando a notação alternativa (devida a Leibniz) 1{(x0 ), de angular igual a f'(x 0 ).
sorte que
Segue da definição acima e de (6.2) que a reta tangente ao gráfico
df (xo) = lim f(x) - f(xo).
dx x--+xo X - Xo
de f em (xo, f(xo)) tem equação
Tal simbologia se justifica pelo fato de que, classicamente, a y - f(xo) = J'(xo)(x - xo).
fração do segundo membro acima era escrita como ~ lx e, daí,
XQ
Ilustramos a noção de reta tangente a um gráfico no exemplo a
1{ recorda que a derivada é o limite de tais quocientes, i.e.,
seguir.
df
-(xo) = hm. -D.f IX .
dx x--+xo D.x xo Exemplo 6.22. Sejam f : (O, +oo) -+ IR a restrição da função de
proporcionalidade inversa ao primeiro quadrante do plano Cartesiano
Voltando ao curso normal da teoria, se I e IR for um intervalo e GI seu gráfico. Sejam, ainda, A um ponto qualquer de Gf e P e
e uma função f : I -+ IR for derivável em todo x 0 E I, diremos +------+
Q os pontos sobre os eixos Cartesianos, tais que a reta PQ tangencia
simplesmente que f é derivável em I. Nesse caso, fica bem definida
G1 em A (cf. figura 6.5). Prove que:
a função derivada f' : I-+ IR, que associa a cada x E I a derivada
J'(x) de f em x. (a) AP = AQ.
218 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 219

(b) Se O é a origem do sistema Cartesiano em questão, então a área Após os exemplos iniciais acima, a partir de agora estudamos de
do triângulo POQ independe da posição de A sobre Gf. maneira mais sistemática o problema do cálculo de derivadas, adi-
ando aplicações desse conceito para a próxima seção. Comecemos
y mostrando que uma função derivável em um ponto é necessariamente
contínua em tal ponto.
p
Proposição 6.23. Se uma função f :I ----+ lR é derivável em xo E I,
então fé contínua em x 0 .

Prova. Para x E I, a desigualdade triangular fornece

IJ(x) - J(xo)I ~ IJ(x) - f(xo) - f'(xo)(x - xo)I + IJ'(xo)(x - xo)I


o Q X
~ lx - xo 1· I f(x) - J(xo) - f '( Xo )1 + IJ'( Xo )( x - Xo )1 .
X-Xo
Agora, dado E> O, podemos tomar O< <5 < 1 tal que
Figura 6.5: tangente ao gráfico de x f---+ i·
f (X) - f (Xo)
O< lx - xol < <5 :::} I - f (xo) < -2E ·
1 1

x-xo

Prova. Se x 0 > O e A é o ponto (xo, f (xo)) = ( xo, x10 ) , então a reta Por outro lado, como a função x i--+ IJ'(xo)(x - xo)I é claramente
tangente a Gf em A tem equação y - }0 = f'(xo)(x - x 0 ). Mas, como contínua, podemos supor que o <5 escolhido acima também é tal que
f'(x 0 ) = -::\ (pelo exemplo 6.17), concluímos que a equação da reta
Xo O< lx - xol < <5:::} lf'(xo)(x - xo)I < ~-
em questão é y - -1.. = -::\(x - x 0 ) ou, ainda,
XQ Xo

Portanto, para tal <5 temos que


X6Y +X= 2xo.
E E
Substituindo sucessivamente x = O e y = O em tal equação, obtemos
O< lx - xol < <5:::} lf(x) - f(xo)I ~ 2 + 2 = E,
P ( O, ; 0 ) e Q(2x 0 , O), ou vice-versa, e os itens (a) e (b) seguem ime-
diatamente:
de modo que segue a continuidade de f. •
O exemplo clássico a seguir mostra que existem funções não deri-
(a) AP = AQ {:} 2A = P + Q, o que é imediato verificar. váveis em certos pontos de seus domínios.

Exemplo 6.24. A função f : lR----+ lR dada por f(x) = lxl é contínua


(b) A(POQ) = ! OP · OQ = ! · ; 0 • 2xo = 2.
• em toda a reta mas não é derivável em x = O.
220 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 221

Prova. Para confirmar a afirmação do exemplo, observe que (b) Inicialmente, observe que

f(O + h) - f(O) = 0j = { 1, se h > O (Jg)(x0 + h) - (Jg)(xo) = (f(xo + h) - f(xo)) ( h)


h h -l, se h<O h . h g~+
(6.13)
Portanto não existe limh--+0 f(O+hz-f(O).

No que segue, apresentamos algumas regras de derivação, i.e., fór-


• + ( g(xo + hl- g(xo)) f(xo).

mulas que relacionam as derivadas de duas funções deriváveis dadas Agora, como g é derivável em x 0 , segue da proposição 6.23 que g é
com a derivada de certas funções obtidas a partir das funções iniciais. contínua em x 0 e, daí,

Proposição 6.25. Se f, g : I--+ R são funções deriváveis em x 0 E J, lim g(xo + h) = g(xo).


então: h--+0

(a) f ± g é derivável em x0, com (! ± g)'(x0) = f'(x 0) ± g'(x 0). Portanto, fazendo h--+ O em (6.13) e utilizando as propriedades ope-
ratórias de limites, concluímos que
(b) fg é derivável em a, com (Jg)'(xo) = f'(xo)g(xo) + f(xo)g'(xo).
. (Jg)(x0 + h) - (Jg)(xo) . J(xo + h) - f(xo) 1. ( + h)
Prova. 11m h = 11m h · 1m g x 0
h--+0 h--+0 h--+0
(a) Provemos que f + g é derivável em xo, com(!+ g)'(x0) = J'(xo) +
.
+ !( xo ) · 11m g(xo + h) - g(xo)
g'(x 0), sendo a prova das afirmações relativas a f - g completamente h
h--+0
análoga. Como
= f'(xo)g(xo) + f(xo)g'(xo).
(! + g)(xo + h) - (! + g)(xo) f(xo + h) - f(xo)
h h
g(xo+ h) - g(xo)

+ h ' Exemplo 6.26. Seja f: R--+ R a função polinomial dada por
as propriedades operatórias de limites garantem que se f'(x 0) e g'(x0)
existirem, então (! + g)' (x 0 ) também existirá e

(! + g )'( Xo ) = 11m
. (! + g)(xo + h) - (! + g)(xo)
h
com a0 , a 1 , ... , an E R e an =J. O. Utilizando repetidas vezes o exemplo
h--+0 6.17 e o item (a) da proposição anterior, concluímos que fé derivável
= lim (f(xo + h) - f(xo) + _g(_xo_+_h)_-_g(_xo_)) em R, com f' : R --+ R também polinomial, tal que
h--+0 h h
. f(xo + h) - J(xo) 1. g(xo + h) - g(xo)
11m
= + 1m ---'----'---'-~
h--+0 h h--+0 h
= f'(xo) + g'(xo). para todo x E R.
222 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 223

A mais importante dentre todas as regras de derivação é a regra Teorema 6.28. Se I, J e lR são intervalos abertos e g : I --+ J e
da cadeia para derivadas, a qual é o objeto do teorema 6.14 a seguir, f : J --+ lR são funções deriváveis, então f o g : I --+ lR também é
para cuja prova precisamos de alguns preliminares. derivável, com
Sejam I e lR um intervalo aberto e f : I--+ lR uma função derivá- (j o g)' (X) = j' (g (X)) g' (X) , (6.14)
vel. Para cada x E I e h -=/=- O tal que x + h E I, definindo para todo x E J.

r(h) = f(x + h) - f(x) - f'(x)h Prova. Sejam x E I e y = g(x). A derivabilidade de f, juntamente


com o lema anterior, nos permite escrever
temos f(x + h) = f(x) + f'(x)h + r(h) e
f(y + t) = f(y) + tf'(y) + s(t),
lim r(h) = lim (f(x + h) - f(x) - J'(x)) = O, .
h--+0 h h--+0 h onde 1Imt--+O t -- O. Ana1ogamente, a d erivabilidade de g e o lema
s(t)
-
anterior fornecem
pela definição de derivada. Reciprocamente, temos o seguinte resul-
tado auxiliar. g(x + h) = g(x) + hg'(x) + r(h),
Lema 6.27. Sejam I e lR um intervalo aberto, f : I --+ lR uma onde limh--+O rt) = O. Se r, (h) = g' (x) + rt) , a condição limh--+O rt) = O
função dada e x 0 E J. Se existir um número real L tal que r(h) = garante que a função r, é limitada para h próximo de O. Agora,
f(x + h) - f(x) - Lh satisfaça a condição limh--+O rt) = O, então a
(! o g)(x + h) - (! o g)(x) = f(g(x + h)) - f(g(x))
função fé derivável em xo, com f'(xo) = L.
= f(g(x) + hg'(x) + r(h)) - f(g(x))
Prova. A condição dada equivale a = f(g(x) + hr,(h)) - f(g(x))
= J'(g(x))hr,(h) + s(hr,(h))
lim r(h) = lim (f(x + h) - f(x) - L) = O = J'(g(x))(hg'(x) + r(h)) + s(hr,(h))
h--+0 h h--+0 h
= J'(g(x))g'(x)h + J'(g(x))r(h) + s(hr,(h)).
ou, o que é o mesmo, a
Portanto, para mostrarmos que f o g é derivável em x e que vale
lim f(x + h) - f(x) = L. (6.14), é suficiente, pelo lema anterior, provarmos que
h--+0 h
lim f'(g(x))r(h) + s(hr,(h)) = O.
• h--+0 h

A prova do teorema a seguir pode ser omitida numa primeira lei- Já temos limh--+O rt) = O. Quanto a s(hl(h)), há dois casos a considerar:
tura.
224 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 225

(i) Onde r,(h) = O, temos s(hr,(h)) = s(O) = O. Agora, sendo g: lR-+ lR a função dada para x E lR por g(x) = x2,
temos f (x) = (sen o g) (x), de sorte que a regra da cadeia fornece
(ii) Onde r,(h) -1- O, temos
f'(x) = sen'g(x) · g'(x) = 2xcos(x 2).
s(hr,(h)) = s(hr,(h)) . (h).
h hr,(h) 'f/ Portanto, se f(x) = sen (x 2) fosse periódica, a discussão do parágrafo
anterior garantiria que f' seria limitada, o que, obviamente, não é o
Mas, como r,(h) é limitada para h próximo de O, segue da proposição
caso e nos fornece uma contradição. •
6.10 que limh-+O hr,(h) = O e, da igualdade acima, concluímos que
Corolário 6.31. Se J, g : I -+ lR são funções deriváveis em I, com
lim s(hr,(h)) = O. g(x) -1- O para todo x E I, então i.g : I-+ lR é derivável em I, com
h-+0 h

Exemplo 6.29. A regra da cadeia nos permite calcular a derivada da


• (!_)'
g
(x) = J'(x)g(x) - f(x)g'(x),
g(x)2
função cosseno. De fato, cos x = (sen o g) (x), onde g : lR -+ lR é a para todo x E I.
função dada por g(x) = ~ -x, para todo x E lR. Portanto, temos pela
Prova. Se T : lR \ {O} -+ lR é a função de proporcionalidade inversa,
regra da cadeia que
i.e., se r(x) = x- 1 , para x -1- O, então, pelo item (c) do exemplo 6.17,
cos' x (sen o g)' (x) = sen 'g (x) · g' (x) = cos g(x) · (-1) T é derivável e r'(x) = -x- 2 , para todo x E lR \ {O}. Por outro lado,
temos
-cos (i-x) = -senx. J(x)
g(x) = f(x) · (r o g)(x)
Exemplo 6.30 (Canadá). Prove que a função f : lR-+ lR dada por
para todo x E 1, de sorte que as regras de derivação de um produto e
f (x) = sen (x 2 ) não é periódica. da cadeia fornecem
Prova. Primeiramente, observe que, se f : lR -+ lR for uma função
derivável e periódica, então sua derivada f' : lR -+ JR, além de contínua (t)' (x) = J'(x) · (r o g)(x) + J(x) · (r o g)'(x)
(cf. proposição 6.23), será também periódica. De fato, sendo J(x) =
J(x + r), para algum real T > O, temos pela regra da cadeia que J' (X) · g(~) + j (X) · T (g (X)) g' (X)
1

f' (x) = f' (x + T), de sorte que T também é um período para f'.
Segue, daí, que ;'(~] + J(x)(-g(x)- 2)g'(x)
Im (!') = Im (f([o,r]), f'(x )g(x) - f(x )g'(x)
e a continuidade de f' garante, juntamente com o corolário 4.32, que g(x)2
f' é uma função limitada.

226 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 227

Exemplo 6.32. Se D = {~ + k7r; k E Z}, então a função tangente Exemplo 6.34. A função arctg : IR-----+ (-~, ~) é derivável, com
tg : IR\ D-----+ IR é derivável e tg 'x = sec 2 x, para todo x E IR\ D. De / 1
fato, segue da fórmula do corolário anterior que arctg y = - -
1 + y2
para todo y E R
, sen 'x cos x - sen x cos' x cos 2 x + sen 2x 1
tg X=--------- ---- -- = -- = sec 2 x.
COS2 X 2
cos x 2
cos x Solução. Inicialmente, observe que tg 'x = sec 2 x =J. o, para todo
x E ( - ~, ~), de sorte que a função arctg é derivável pelo teorema
Examinemos, agora, a derivabilidade da inversa de uma função
anterior. Ademais, se y E IR ex = arctgy, então y = tgx e (6.15)
derivável.
fornece
Teorema 6.33. Sejam I, J e IR intervalos abertos e I : I-----+ J uma arctg'y = _l_ = _l_ = 1 _ 1
bijeção derivável. Se f'(x) =/:- O para todo x E J, então 1- 1 : J-----+ I é tg 'x sec 2 x 1 + tg 2x 1 + y2 ·
derivável em J. Ainda nesse caso, se x E I e y = l(x) E J, então
Terminamos esta seção apresentando, ao leitor, o conceito de deri-

u-l)'(y) = f'~x). (6.15) vada de ordem superior. Para tanto, sejam dados um intervalo J e IR
e uma função I: I-----+ R Dizemos que I é duas vezes derivável em
Prova. Vamos nos limitar a deduzir a fórmula para (f- 1 )'(y), assu- Xo E I se existir um intervalo J e I contendo i 0 , tal que I é derivável

mindo a derivabilidade de 1- 1 (para uma prova deste fato, referimos ao em J e a função derivada f' : J -----+ IR é derivável em x 0 E J. Nesse
leitor o capítulo 8 de [34]). Por simpliddade de notação, seja g = 1- 1 . caso, dizemos que (f')'(x0 ) é a derivada segunda de I em x 0 , a qual
Como (g o f) (x) = x para todo x E I, temos (g o I)' (x) = 1, para todo será denotada doravante simplesmente por I" (x 0 ). Se I for derivável
x E I. Portanto, a regra da cadeia garante que em I e f' também for derivável em I, diremos simplesmente que I
é duas vezes derivável em I, e fica bem definida a função derivada
g' (j (X)) J' (X) = 1 segunda I" : I -----+ R
Mais geralmente, seja dado k E N e suponha que já definimos Oque
para todo x E J, de modo que, pondo y = l(x) E J, obtemos se entende por I ser k vezes derivável em I, bem como Oque se entende
pela k-ésima derivada l(k)(x 0 ), de I em x 0 E J. Denotando por l(k) :
g'(y) = g'(f(x)) = f'~x). I -----+ IR a função k-ésima derivada de I, definimos a (k + 1)-ésima
derivada de I em x 0 pondo

• j(k+l)(xo) = (f(k))'(xo),
Como aplicação do teorema acima, mostramos no exemplo a seguir caso tal derivada exista.
que a função arco-tangente (cf. exemplo 4.23) é derivável e calculamos Por fim, se l(kl(xo) existe, para todo k EN e x 0 E J, dizemos que
sua derivada. I é infinitamente derivável em J.
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 229
228

Exemplo 6.35. As funções sen, cos : IR -+ IR são infinitamente deri- 4. * No exemplo 4.23, definimos as funções arcsen : [-1, 1] -+
[- ~, ~] e arccos : [-1, 1] -+ [O, 7r] como as inversas das funções
váveis, com
sen : [-~, ~] -+ [-1, 1] ecos: [O, 7r] -+ [-1, 1], respectivamente.
sen( 4k) = sen, sen( 4k+l) = cos, sen( 4k+ 2) = -sen, sen(4 k+ 3) = - cos Use o teorema 6.33 para provar que as restrições das funções
arcsen e arccos ao intervalo aberto ( -1, 1) são deriváveis, com
e
1
arcsen 'x = ----;::::== e arccos' x = - ----;::::=l==
cos(4 k) = cos, cos(4 k+1) = -sen, cos(4 k+ 2) = - cos, cos(4 k+ 3) = sen, Jl-x 2 Jl - x 2 '
para todo x E (-1, 1).
para todo k EN.
5. Prove que a função f : (O, +oo) -+ IR, dada para x > O por
i i
1
f (x) = sen ,/x, não é periódica.

Problemas - Seção 6.2


6. * Prove a versão a seguir da regra de l'Hôspital 1 : se J, g:
J-+
IR são funções deriváveis em x 0 E I e tais que f(x 0 ) = g(x 0 ) = O

1. * Sejam I e IR um intervalo aberto e f : I -+ IR uma função e g'(x 0 ) # O, então


derivável em x 0 E J. Fixado e E IR, prove que a função g : I-+ IR lim f(x) = f'(xo)
dada por g =e· f também é derivável em x 0 , com x---+xo g(x) g'(x 0 ) ·

g'(xo) =e· J'(xo). 7. Se a é um real positivo, prove que limx---++oo (1 + ;r = eª.


8. Seja P a parábola de foco F e diretriz d. Se Pi, A E P são tais
2. Seja r um racional não nulo e f : (O, +oo) -+ IR a função dada
que F E PiP2, prove que as tangentes a P traçadas pelos pontos
por J(x) = xr. Prove que fé derivável, com f'(x) = rxr-l para
Pi e P2 intersectam-se sobre a reta d.
todo x > O.
9. (OBMU.) Se J(x) = e-xsenx e j(n) denota a n-ésima derivada
3. Dado R > O, seja f : (-R, R) -+ IR a função dada por J(x) =
ºº
de f, calcule j(2 1)(o).
J R 2 - x 2 . Prove que:
10. (OBMU.) Dados reais não nulos a 1 , a 2 , ... , an, mostre que o pe-
(a) O gráfico de fé o semicírculo de centro na origem do plano
ríodo da função f : IR -+ IR, dada para x E IR por
Cartesiano, contido no semiplano superior do mesmo e com n
raio R. f(x) = L ªí cos(jx),
(b) Dados x 0 E (-R,R) e A(x 0 ,J(x0 )), a reta tangente ao j=l

gráfico de f, obtida de acordo com a definição 6.21, coincide 1 Após o matemático francês do século XVII Guillaume F. Antoine, Marquês
1 '
com a reta que passa por A e é perpendicular ao raio O A. de l'Hôspital.
1
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 231
230

extremidade(s), caso ela(s) exista(m). Por exemplo, se I = [a, b],


é exatamente 21r.
[a, b), (a, b] ou (a, b), o interior de I é o intervalo (a, b); analogamente,
se I = [a, +oo) ou (a, +oo), seu interior é o intervalo (a, +oo) etc.
Para o próximo problema, o leitor achará conveniente dispor
Nosso propósito nesta seção é resolver o problema descrito no pri-
de uma extensão da definição de limx-+xo f (x) ao caso de uma
meiro parágrafo para funções f : I ---+ R contínuas em I e deriváveis
função f : X ---+ IR, onde X e IR é um conjunto não vazio
em seu interior. Para tanto precisamos, inicialmente, da definição a
qualquer, e x 0 E IR é o limite de uma sequência de elementos
seguir.
distintos de X (por exemplo - e esse será, essencialmente, o caso
de nosso interesse no problema em questão-, podemos ter X= Definição 6.36. Dada uma função f : I ---+ IR, dizemos que x 0 E J
Q e x 0 = J2). Felizmente, tal extensão é formalmente idêntica é ponto de máximo local (resp. mínimo local) para f se existe
à definição de que já dispomos: dizemos que limx-+xo f (x) existe E > O tal que f(xo) 2 f(x) (resp. f(x 0 ) ::::; f(x)), para todo x E
e é igual a L se, para todo E > O, existe ô > O (dependendo de (xo - E, x 0 + E) n I.
E) tal que Genericamente, um ponto de máximo ou mínimo local para uma
x E X e O< lx - xol <ô~ lf(x) - LI < E.
função f : I ---+ IR é denominado um extremo local de f. Se J for
um intervalo aberto e f : I ---+ IR for derivável, mostraremos a seguir
que os extremos locais de f .são zeros da derivada f' de f. Entre-
11. (OIMU.) Seja f : (O, +oo) ---+ IR a função definida por:
tanto, uma vez que tais zeros desempenham papel preponderante na
O, se x ~ Q discussão subsequente, antes de apresentarmos a prova desse resultado
f(x) ={ i_ se x = E com p,q EN; mdc(p,q) = 1 · introduzimos uma nomenclatura relevante.
q3' q

Se k E N não é quadrado perfeito, mostre que f é derivável em Definição 6.37. Se I e IR é um intervalo aberto e f : I---+ IR é uma
função derivável, dizemos que x 0 E I é um ponto crítico de f se
x=vk. f'(xo) = O.
Podemos, agora, enunciar e provar o seguinte resultado fundamen-
6.3 A primeira variação de uma função tal, conhecido como o teste da primeira derivada para extremos
Vimos, na seção 4.3, que toda função contínua f : (a, b] ---+ IR atinge locais.
valores extremos (i.e., máximo e mínimo) em (a, b]. Nesta seção, ana- Proposição 6.38. Se I e IR é um intervalo aberto e f : I ---+ IR é
lisaremos se adicionando hipóteses genéricas razoáveis sobre f (por uma função derivável, então todo extremo local de f também é ponto
' .
exemplo, supondo f derivável), existe algum procedimento que nos crítico.
permita calcular efetivamente os pontos extremos correspondentes.
Em tudo o que segue, I denota. um intervalo da reta. Ademais, Prova. Analisemos o caso em que x 0 E I é um ponto de mínimo local
para f, sendo a prova no outro caso totalmente análoga.
O interior de I é o intervalo obtido de I pela exclusão de sua(s)
232 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto
233

Tome i5 > O tal que (x 0 - ô, x 0 + <5) e I e uma função contínua f : [a, b] ~ IR atinge valores extremos em [a, b];
de outra forma, para uma tal f existem xm, xM E [a, b], tais que
O< lhl <ô=} f(xo + h) - f(xo) ;: : : O.
f(xm) = min{f(x); x E [a, b]}
Para O < h < i5, temos então que f(xM) = max{f(x); x E [a, b]} (6.16)
J(xo + h) - J(xo) > 0 Teorema 6.40 (Lagrange). Se f: [a, b] ~ IR é uma função contínua
h - ' em [a, b] e derivável em (a, b), então existe e E ( a, b) tal que
de sorte que

+ h)h - J(xo) >~ 0·


f(b1 =:(a) = J'(c).
! '( Xo ) _
- 1.lm
f(xo
h-tO+ Prova. Suponhamos, primeiramente, que f(a) = J(b) = O e mos-
tremos que existe e E (a, b) tal que f'(c) = O. Para tanto, sejam
Raciocinando de modo análogo com O> h > -i5, concluímos que
Xm,XM E [a,b] como em (6.16). Se Xm,XM E {a,b}, então, para todo
+ h)h - x E [a, b], temos
! '( Xo ) _
- 1.
lm
J(xo f(xo) < 0
_
h-tO-
O= f(xm) ~ f(x) ~ f(xM) = O,
e, daí, f'(xo) = O.

Como corolário do teste da primeira derivada, temos o seguinte


• de sorte que f é identicamente nula em [a, b], e nada há a fazer. Senão,
suponha, sem perda de generalidade, que xM E (a, b). Então O teste
!. critério de pesquisa de pontos extremos. da primeira derivada garante que f' (x M) = O, e basta tomar e = x M.
Para o caso geral, seja g : [a, b] ~ IR a função dada por
Corolário 6.39. Seja f : I ~ IR uma função contínua em I e derivável
no interior de I. Se f atinge um valor extremo (máximo ou mínimo)
em I, então o ponto extremo correspondente é uma das extremidades
g(x) = f(x) - [ G=:) !(a)+(:=:) f(b)],
de I ou um ponto crítico de f. para todo x E [a, b]. Claramente g é contínua em [a, b] e derivável em
(a, b), com g(a) = g(b) = O e
Prova. Seja x 0 E !tal que f(x 0 ) = min{f(x); x E I} (o caso em que
x 0 E I é ponto de máximo pode ser tratado de modo análogo). Se Xo g'(x) = J'(x) _ (- f(a) + f(b)) .
for uma extremidade de I, nada mais há a fazer. Senão, x 0 pertence b-a b-a
ao interior de I, o qual é um intervalo aberto, e o teste da primeira Portanto, tomando e E ( a, b) tal que g' (e) = O (cuja existência é ga-
derivada garante que x 0 é ponto crítico de f. • rantida pela primeira parte da prova), obtemos, a partir da igualdade
acima, que
Nosso próximo resultado é um importante teorema devido a J. L.
Lagrange e conhecido como o teorema do valor médio (abreviado 0 = J'(c) _ f(b) - f(a).
b-a
TVM). Para a prova do mesmo, recordamos (cf. teorema 4.31) que

1
!
!

234 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 235

Nas notações do TVM, observamos que o caso particular J(a) =


J'(x) - m = O, para todo x E J. Portanto, segue do item (a) que
J(b) = O do mesmo precede Lagrange, sendo devido ao matemático
g é constante, digamos g(x) = n para todo x E J, e segue, daí, que
francês do século XVII Michel Rôlle e conhecido na literatura como o
J(x) = mx + n para todo x E J, conforme desejado.
teorema de Rôlle.
Geometricamente, tendo em vista a discussão do início da seção •
6.1 sobre a reta tangente ao gráfico de uma função derivável, o TVM Exemplo 6.42 (OIMU). Encontre todas as funções f : IR ---+ IR tais
garante (nas notações de seu enunciado) a existência de e E (a, b) tal que
que a tangente ao gráfico de f passando pelo ponto (e, f (e)) é paralela (J(x) - f(y)) 2 ::; lx - Yl 3 ,
à secante que une os pontos (a, f(a)) e (b, J(b)). Além disso, o TVM
para todos os x, y E R
admite várias consequências relevantes, as quais elencamos a partir de
agora. Solução. Se f é uma de tais funções, então, fixado x 0 E IR, temos

Corolário 6.41. Se I e IR é um intervalo aberto e f : I ---+ IR é uma


função derivável, então: If(x) - f(xo) 12::; lx - xol,
X-Xo

(a) Se f'(x) = O para todo x E J, então fé uma função constante. para todo x-=/=- x 0 . Fazendo agora x---+ x 0 , concluímos que fé derivável
(b) Se existem E IR\ {O} tal que f'(x) = m para todo x E J, então em x 0 e f'(x 0 ) = O. Mas, como x 0 foi escolhido arbitrariamente em
Ii f é uma função afim. IR, segue que f' (x) = O para todo x E IR, de sorte que, pelo corolário
i
anterior, f é constante.
Prova. Fixe [a, b] e I e seja x E (a, b] um ponto qualquer. Pelo Por fim, é imediato verificar que toda função constante satisfaz as
TVM, existe e E ( a, x) tal que condições do enunciado. •

I'
J'(c) = f(x) - f(a). A próxima consequência do TVM nos ensina como obter os in-
1, x-a tervalos de monotonicidade de uma função derivável. A proposição a
Analisemos, agora, os itens (a) e (b) separadamente: seguir é por vezes referida na literatura como o estudo da primeira
variação de uma função derivável 2 .
(a) Nas hipóteses do item (a), temos f'(c) = O, de modo que f(x) =
f(a). Mas, como x E (a, b] foi escolhido arbitrariamente, segue que f Proposição 6.43. Se f : I ---+ IR é uma função contínua em I e
derivável no interior de I, então:
é constante em [a, b]. Por fim, como I é a união de intervalos encai-
xantes [ai, bi] (verifique este fato!), concluímos que fé constante em I. (a) f' 2:: O no interior de I se, e só se, fé não decrescente em I.
2 Essaterminologia alude ao papel preponderante da primeira derivada no re-
(b) Nas hipóteses do item (b), se g : I ---+ IR é a função definida por
sultado em questão, bem como ao fato de que, classicamente, a primeira derivada
g(x) = f(x) - mx para todo x E J, então g é derivável e g'(x) = de uma função derivável era denominada sua primeira variação.
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 237
236

(b) Se f' > O no interior de 1, então f é crescente em 1, mas a de modo que f(b) > f(a). Logo, fé crescente em 1.
Para ver que a recíproca não é verdadeira, considere f : IR -+ IR
recíproca não é válida.
dada por f (x) = x 3 • Ela é crescente em toda a reta, mas f' (O) = O. •
(c) f' :S O no interior de 1 se, e só se, f é não crescente em 1.
Agora, vejamos como utilizar os resultados acima para estudar
(d) Se f' < O no interior de 1, então f é decrescente em 1, mas a máximos e mínimos de funções.
recíproca não é válida.
Exemplo 6.44. Se f : [O, +oo) -+ IR é a função dada por f (x) = x:.:l,
Prova. Provemos somente os itens (a) e (b), sendo a prova dos itens mostre que f atinge um valor mínimo em [O, +oo) e calcule tal valor.
(c) e (d) inteiramente análoga.
Solução. Se f atinge um valor mínimo em [O, +oo), o corolário 6.39
(a) Suponha primeiro f não decrescente em 1. Para um ponto x no garante que tal ocorre em O ou em um ponto crítico de f.
Calculando a primeira derivada de f, obtemos
interior de 1, tome ô> O tal que (x-8,x+ô) C 1. Se O< h < ô, então
x + h E 1, de sorte que f(x + h) - f(x) ;:::: O. Portanto, f(x+hz-f(x) ;:::: O
f'(x) = 2x(x + 1) - (x 2 + 3) · 1 = x 2 + 2x - 3
e, fazendo h-+ O+, obtemos (x + 1) 2 (x + 1) 2 '

f '( X ) = 1Im
. f(x + h)h - f(x) >_ O. de sorte que f' (x) = O se, e só se, x = 1 (lembre-se de que devemos
h--+0+ ter x ;:::: O). Por outro lado, como x 2 + 2x - 3 = (x + 3)(x - 1),
Reciprocamente, suponha que f' ;:::: O no interior de 1. Se a, b E 1 concluímos que f' é negativa no intervalo (O, 1) e positiva no intervalo
são tais que a < b, a continuidade de f em 1 garante sua continuidade (1, +oo). Portanto, a proposição anterior garante que fé decrescente
também em [a, b]. Por outro lado, como (a, b) está contido no interior no intervalo [O, 1] e crescente no intervalo [1, +oo), de modo que segue
de 1, temos f derivável em (a, b), de sorte que o TVM garante a que f realmente atinge seu valor, o fazendo em x = 1. Logo, o valor
existência de e E ( a, b) tal que mínimo de fé f(l) = 2. •

f(b) - f(a) = f'(c) ;:::: O. O exemplo a seguir utiliza o estudo da primeira variação de uma
b-a função para dar uma outra prova da desigualdade entre as médias
aritmética e geométrica.
Logo, f(b) ;:::: f(a), e a arbitrariedade da escolha de a< bem 1 garante
que f é não decrescente em 1. Exemplo 6.45. Dados n > 1 inteiro e reais positivos a 1 , a 2 , ... , an,
i
use a proposição 6.43 para provar que
I
1
i
1
(b) Suponha que f' > O no interior de 1, e sejam a< b dois pontos
quaiquer de 1. Novamente pelo TVM, existe e E (a, b) tal que

f(b) - f(a) = f'(c) > O, ocorrendo a igualdade se, e só se, a 1 = a 2 = · · · = ªn·


b-a
238 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto
239

Prova. Façamos indução sobre n > 1, sendo a prova do caso n = 2


Problemas - Seção 6.3
aquela apresentada na seção 7.2 do volume 1. Seja dado k > 2 inteiro
e suponha, por hipótese de indução, que já provamos a desigualdade 1. Prove a proposição 1.25 utilizando os métodos desenvolvidos
1
do enunciado para quaisquer n = k - 1 reais positivos, com igualdade nesta seção.
se, e só se, eles forem todos iguais.
Dados k reais positivos a1, ... , ªk-I, ak, seja f : (O, +oo) ----+ lR. a 2. Utilize o estudo da primeira variação para encontrar, se houver,
função dada para x > O por o valor máximo da função f : [O, +oo) ----+ lR. dada para x > O
_y'x ' _,
por f (x) - x2+16.
1
f(x) = a1 + · · · + an-1 + X - n{'./a1 ... ªn-1X.
'1
3. Encontre, se houver, os valores máximo e mínimo da função
i ' Se mostrarmos que f(x) ~ O para todo x > O, com igualdade se, e
só se, a 1 =. · · = ªn-I = x, concluiremos em particular que f(an) ~ O,
f : lR. ----+ lR. dada, para x E :IR., por f (x) = axJ+b, onde a e b são
reais positivos dados.
com igualdade se, e só se, a 1 = · · · = ªn-1 = an, conforme desejado.
Para tanto, observe que f é derivável, com 4. Prove que ex> 1 + x, para x > O.
J'(x) = 1 - {/ai ... ªn-1Xl/n-l 5. Se f : lR. ----+ lR. é a função dada por
para todo x > O. Portanto, sendo x 0 = n-..ya1 ... ªn-1, temos f' < O 1/x 2 ....L
em (O, x 0 ), f'(x 0 ) = O e f' > O em (xo, +oo ), de maneira que f é f(x) = { e- , se x, O
O, se x = O
decrescente em (O, x 0 ] e crescente em [xo, +oo ). Assim, atinge seu
valor mínimo em x = x 0 , sendo f(x) = f(xo) se, e só se, x = Xo. mostre que f é duas vezes derivável em JR., com J(k)(o) = O
Por fim, uma simples substituição fornece para todo O :::::; k :::::; 2 (com um pouco mais de trabalho, pode-se
f(xo) = a1 + ... + ªn-1 - (n - 1) n-..ya1 ... ªn-1, (6.17) mostrar que f é infinitamente derivável em JR., com J(k)(o) = O
para todo k ~ O).
de modo que f(x 0 ) ~ O, pela hipótese de indução. Logo,
6. Sejam f, g : lR.----+ lR. funções deriváveis, tais que f (O) = O, g(O) =
J(x) ~ J(xo) ~ O 1, f'(x) = g(x) e g'(x) = - f(x), para todo x E R Prove que
para todo x > O, ocorrendo a igualdade se, e só se, x = xo e f(xo) = O. f(x) = senx e g(x) = cosx, para todo x E R
Basta agora observar que, graças a (6.17 ) e à hipótese de indução,
7. Seja f : lR. ----+ lR. uma função duas vezes derivável e tal que
1
1 f(xo) = O se, e só se, a 1 = · · · = ªn-I, de forma que há igualdade se, f"(x) - - f(x), para todo x E R Mostre que
e só se, ª1 = · · · = ªn-1 = x.
• f(x) = f(O) cosx + J'(ü)senx,

para todo x E JR..


Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 241
240

8. Mostre que (::J f+l ~ (~f, para todos m, n EN. 15. * O propósito deste problema é provar o famoso teorema de
Darboux3 : se f : I--+ IR é uma função derivável, então a função
9. A função derivável f : IR --+ IR é tal que I f' (x) 1 :S: e < 1 para f' : I--+ IR (ainda que não seja contínua) satisfaz a propriedade
todo real x, onde e é uma constante real positiva. Mostre que do valor intermediário. Para tanto, tome a < b em I e prove
existe um único x 0 E IR tal que J(xo) = Xo. que:

10. Para cada real p > 1, calcule o menor valor possível da soma (a) Se f'(a) <O< f'(b) (ou vice-versa), então existe e E (a, b)
x + y, onde x e y são reais tais que tal que f'(c) = O.
(b) Se f'(a) <d< f'(b) (ou vice-versa), então existe e E (a, b)
(x +\li+ x2 )(y + J1 + y2 ) = p. tal que f'(c) = d.

16. (Romênia.) Prove que não existe função derivável f: (O, +oo)--+
11. (Romênia.) Calcule o menor valor possível da expressão
(O, +oo) tal que, para todos x, y reais positivos, tenhamos
2 1
x+y+--+-,
X+ y 2xy
f(x) 2 ~ f(x + y)(f(x) + y).
il
! para x, y reais positivos. 17. (Leningrado.) Se f : IR --+ IR é uma função polinomial tal que

12. (BMO.) Em um triângulo ABC, temos


f(x) - J'(x) - J"(x) + f (x)
111 ~ O,

para todo x E IR, prove que f(x) ~ O, para todo x E R


 48 ÍJ 23Ê 48 Â
sen 23 - cos - = sen - cos -
2 2 2 2 18. (OIMU.) Seja f : [O, 1] --+ [O, 1] uma função contínua, derivável
no intervalo (O, 1) e tal que f(O) = O e f(l) = 1. Prove que
Calcule a razão ~~. existem a, b E [O, 1] distintos e tais que f'(a)f'(b) = 1.
13. Prove a seguinte generalização do TVM, devida a Cauchy: se 19. (OBMU.) Encontre todas as funções deriváveis f : IR --+ IR tais
f, g : [a, b] --+ IR são funções contínuas em [a, b] e deriváveis em que f(O) = O e lf'(x)I :S: lf(x)I, para todo x E R
(a, b), então existe e E (a, b) tal que

(f(b) - f(a))g'(c) = (g(b) - g(a))f'(c). 6.4 O teorema fundamental do Cálculo


Retomemos por um momento o caso de uma função contínua e
14. Sejam I e IR um intervalo aberto, e E I e f : I--+ IR uma função
positiva f : [a, b] --+ R Se F : [a, b] --+ IR é a integral indefinida de f
contínua, derivável em I \ {e}. Se existe L = limx---+c f' (x), prove
3 Após o matemático francês dos séculos XIX e XX Jean-Gaston Darboux.
que fé derivável em e, com f'(c) = L.
242 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 243

baseada em a e x 0 < x pertencem ao intervalo [a, b], sabemos que Fazendo x ----+ x 0 , a heurística acima sugere a existência da derivada
de F em x 0 , com
F(x) - F(xo) = A(Jl[a,x]) - A(Jl[a,xo]) = A(Jl[xo,x])·
F'(xo) = lim F(x) - F(xo) = lim (f(xo) + f(x)) = f(xo)
Por outro lado, uma vez que f é contínua, é razoável supor que uma x---+xo X - Xo x---+xo 2
boa aproximação para A(Jl[xo,x]) seja a área do trapézio que tem o pela continuidade de f.
segmento [x 0 , x] como um de seus lados não paralelos e bases de com- O propósito principal desta seção é colocar o argumento acima em
primentos f(x 0 ) e f(x) (cf. figura 6.6). bases rigorosas. Para tanto, começamos recordando que, se f : [a, b] ----+
IR é uma função contínua e F é uma integral indefinida de f, digamos
y baseada em a E [a, b], então

F(x) = 1x f(t)dt,
para todo x E [a, b]. Em particular, para x 0 , x E [a, b], temos
li

a x0 x
F(x) - F(xo) = 1x f(t)dt -1xº f(t)dt = 1x f(t)dt. (6.18)
b X
a a xo
I'
Isto posto, podemos enunciar e provar o resultado principal desta
,1 seção, o qual se constitui em um dos mais importantes resultados
il
Figura 6.6: aproximando a área sob o gráfico de f. básicos do Cálculo, sendo conhecido na literatura como o teorema
fundamental do Cálculo.

Teorema 6.46. Se f : [a, b] ----+ IR é uma função contínua e F : [a, b] ----+


Ademais, também é razoável supor que tal aproximação seja tanto
IR é uma integral indefinida de f, então Fé derivável no intervalo [a, b],
melhor quanto mais próximo x estiver de x 0 , de maneira que
com F'(x) = f(x) para todo x E [a, b].
f(xo) + f(x)) Prova. Fixado x 0 E [a, b], temos, a partir de (6.18), que, para x E
A(Jl[x 0 ,x]) ~ ( 2 (x - Xo)
[a, b] \ {x0 },
para x - x 0 pequeno. Portanto, concluímos que
IF(x)x -- XoF(x 0) _ f(xo)[ __ 1
lx - xol
11xxo f(t)dt - f(xo) I
F(x) - F(xo) f(xo) + f(x)
~ xol 11~ (J(t) - f(xo))dt[
X-Xo ~ 2
lx
para x - x 0 pequeno, sendo tal aproximação tanto melhor quanto mais
próximo x estiver de xo. < lx ~ xol l{
lf(t) - f(xo)ldt[,
244 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 245

onde utilizamos a desigualdade triangular para integrais (cf. problema Por outro lado, se F é baseada em x 0 , a continuidade de F garante
6, página 163) na última igualdade acima (o módulo fora da integral que
J:
se deve a que, se x < x 0 , então 0 IJ(t) - f(xo)ldt :S: O).
A continuidade de f garante agora que, para E > O dado, existe F(b) - F(a) lim (F(b - E) - F(a
E-.0+
+ E))
ô> O tal que

t E [a, b], lt - xol <ô:::} IJ(t) - f(xo)I < E.


,~'J\_ (f' f(t)dt- L+, f(t)dt)

Portanto, para lx- x 0 1 < ô, temos lt- xol < ô para todo t pertencente lim
E-.0+
1b-E f(t)dt.
a-E
ao intervalo de extremidades x 0 ex, de modo que

11~ IJ(t) - f(xo)ldtl :S: 11: Edtl = Elx - x 0 1.


Por fim, basta combinar (6.20) com a igualdade acima.

Se F é a integral indefinida de f baseada em x 0 E [a, b], sabemos



que
Por fim, os cálculos acima garantem que, para x E [a, b] tal que
O < 1x - Xo 1 < ô, temos F(x) = 1x xo
J(t)dt,

F(x) - F(xo) - f (xo) 1 :s; 1 . Elx - xol = E, para todo x E [a, b]. Portanto, obtemos a partir do teorema funda-
I
x - x0 lx - xol mental do Cálculo a fórmula
e Fé derivável em xo, com F'(xo) = J(xo).
• d
-d
X
1xxo
f(t)dt = f(x). (6.21)
No que segue, colecionamos algumas consequências úteis do teo-
. rema fundamental do Cálculo. Exemplo 6.48. A função logaritmo natural log : (O, +oo) -r IR é
Corolário 6.47. Se f : [a, b] -r IR é uma função contínua e F: [a, b] -r
derivável e tal que log' x = i,
para todo x E (O, +oo). De fato, como

IR é uma integral indefinida de f, então Fé contínua no intervalo [a, b].


Em particular,
logx = J, x-dt
1
1
t

lba
f(x)dx = lim
1b-E f(x)dx.
E-.O+ a+c
(6.19)
é a integral indefinida da função de proporcionalidade inversa baseada
em 1, segue de (6.21) que

Prova. Se F : [a, b] -r IR é uma integral indefinida de f, o teorema


fundamental do Cálculo garante que F é derivável, logo contínua pela
log' X= -
d J,x f(t)dt = -.1
dx 1 X
proposição 6.23. Para o que falta, segue de (6.18) que
A função exponencial exp : IR -r IR é derivável e tal que exp' (x) =

F(b) - F(a) = 1b J(t)dt. (6.20)


exp(x), para todo x E IR. De fato, como a derivada da função loga-
ritmo natural é sempre não nula, se x E IR e y = exp(x), segue do
246 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 247

teorema 6.33 que para todo x E I.

exp'(x) = -1,-
log y
= y = exp(x). Prova. Se G: I--+ IR é a função do segundo membro de (6.22), segue
de (6.21) que G'(x) = f(x), para todo x E I. Portanto,
Vimos, no exemplo anterior, que a função exponencial exp : IR --+ IR
é derivável e igual à sua derivada. Reciprocamente, veremos a seguir (F - G)'(x) = F'(x) - G'(x) = J(x) - f(x) = O
que tal propriedade caracteriza a função exponencial.
para todo x E I, e segue do corolário 6.41 a existência de e E IR tal
Proposição 6.49. Se f : IR --+ IR é uma função derivável, tal que
que (F - G)(x) = e, para todo x E I. Mas, como F(x 0 ) = G(x 0 ),
J(O) = 1 e J'(x) = J(x) para todo x E IR, então f = exp.
temos e = O e nada mais há a fazer. •
Solução. Consideremos a função auxiliar g : IR --+ IR dada, para x E
IR, por g(x) = e-x J(x). Calculando a derivada de g, obtemos De posse da proposição acima, o corolário a seguir garante que, se
f : [a, b] --+ IR é uma função contínua, então, para calcular a integral
g'(x) = -e-x f(x) + e-x J'(x) = -e-x J(x) + e-x J(x) = O,
J: f(x)dx, é suficiente encontrar uma primitiva de f.
e o corolário 6.41 garante que g é uma função constante. Mas, como Doravante, dada uma função contínua F: [a, b] --+ IR, denotamos
g(O) = eºf(O) = 1, segue que g(x) = 1 para todo x E IR e, daí,
f(x) = ex para todo x E IR. • F (x) i::: = F (b) - F (a).
Mostremos, agora, como utilizar o teorema fundamental do Cálculo
para calcular integrais efetivamente. Antes, contudo, precisamos de Corolário 6.52. Se f : [a, b] --+ IR é uma função contínua e F : [a, b] --+
uma definição. IR é uma primitiva de f, então
Definição 6.50. Dados um intervalo I e IR e uma função contínua
f: I--+ IR, uma primitiva de f em I é uma função derivável F: I--+ lba J(t)dt = F(x) x=a·
,x-b (6.23)
IR tal que F'(x) = f(x), para todo x E I.
Em termos do conceito acima, o teorema fundamental do Cálculo
Prova. Faça x 0 = a ex= bem (6.22).

mostra que toda integral indefinida de uma função contínua f : [a, b] --+ Exemplo 6.53. Calcule cada uma das integrais J01r sen xdx, J01r sen 2 xdx
IR é uma primitiva de f em [a, b]. Reciprocamente, temos a seguinte e f 01r cos 2 xdx.
Proposição 6.51. Sejam dados um intervalo I e IR e uma função
Solução. Como a função - cos é uma primitiva da função sen, segue
contínua f : I --+ R Se F : I --+ IR é uma primitiva de f em I, então,
do corolário anterior que
fixado x 0 E I, temos

F(x) = F(x 0 ) + 1: J(t)dt, (6.22) 1 O


1r
senxdx = - cosx
,x-1r
x=O
= - cos1r + cosü = 2.
248 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 249

Quanto à segunda integral, como sen2 x = ~ (1 - cos 2x) e ! sen 2x = O corolário a seguir da fórmula de integração por partes é por vezes
2 cos 2x, temos bastante útil.

117r
- (1 - cos 2x)dx Corolário 6.55. Se f : [a, b] -+ R é uma função derivável e com
2 o derivada contínua no intervalo [a, b], então
~ (x _ sen 2x) 1x=1r = ~-
2 2 x=O 2
1abf(x)dx =
lx-b 1ba xf'(x)dx.
xf(x) x=a - (6.25)
Por fim, como sen2 x + cos2 x = 1, temos
Prova. Trocando f por g em (6.24), obtemos
11r cos2 xdx = 11r (1 - sen2 x)dx

_ x\x=1r - f1r sen2 xdx


1b J(x)g'(x)dx = f(x)g(x)i::: -1b J'(x)g(x)dx.
x=O Jo
7í 7í Basta, agora, fazer g(x) = x para todo x E [a, b] na igualdade acima.
2 = 2·
- 7r-

• Como aplicação da fórmula de integração por partes, utilizamos o
conceito de integral para calcular, no exemplo a seguir, a área de um
Nos cursos tradicionais de Cálculo, considerável quantidade de
tempo é devotada ao desenvolvimento de técnicas para o cálculo de círculo de raio R.
integrais, técnicas estas conhecidas genericamente por técnicas de in-
Exemplo 6.56. Use o material desenvolvido até aqui para dar outra
tegração. A proposição a seguir, corolário imediato do teorema funda-
11. demonstração de que um círculo de raio R tem área igual a 1r R 2 .
mental do Cálculo, traz a que talvez seja a mais útil de todas elas, a
fórmula de integração por partes. Prova. Seja r um círculo de centro O e raio R, e escolha um sistema
Cartesiano de coordenadas tal que 0(0, O). Se f : [-R, R] -+Ré a
Proposição 6.54. Se f, g : [a, b] -+ R são funções deriváveis e com
função dada, para x E [- R, R], por f (x) = VR 2 - x 2 , então a região
derivadas contínuas no intervalo [a, b], então
Ri sob o gráfico de f é um semicírculo de raio R, de forma que

[ f'(x)g(x)dx = f (x)g(x)[: - [ f(x)g'(x)dx.

Prova. Basta observar que, pelo teorema fundamental do Cálculo,


(6.24)
A(r) = 2A(R1) = 21: f(x)dx = 21: vR 2 - x 2 dx.

Agora, a ideia é aplicarmos a fórmula (6.25) para calcular a última


[ (f'(x)g(x) + f(x)g'(x))dx = [ (fg)'(x)dx = f(x)g(x{:- integral acima. Contudo, como f' (x) = ~ , a qual não está
R -x
definida para x = ±R, não podemos fazê-lo diretamente; em vez disso,
• utilizamos (6.25) em conjunção com (6.19), conforme descrito a seguir.
250 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 251

Para O< E< f, segue de (6.19) e (6.25) que e, daí,

JR-R v'R R-f


1 R
'\/'R2 - x2dx = lirn
1R-E
v'R2 - x 2dx
A(r) 2

2(
2 - x 2dx = lirn R 2 arcsen ( Rx )
E-+0+
1
-R+E
-R
- lirn
-
E-+0+ (-R+E

E-+0+
xv'R2 - x 2
1x=R-E

x=-R+E
+
1R-E

-R+E V R2 -
x2
x2
dx
)
f~W+ R arcsen ( R ~ E)- arcsen (-~+E))
1 R-E x2 - f~W,_ R 2 ( arcsen ( 1- ; ) - arcsen (-1 + ;) )
= lirn dx.
E-+O+ -R+E v' R2 - x2 R 2 ( arcsen 1 - arcsen ( -1)) = 1r R 2 ,

Urna vez que onde utilizamos a continuidade da função arcsen na penúltima igual-
dade acima. •
x2 2 R2 + R2 R2
x - = -v'R2 - x2 + '
JR2 - x2 v'W-~ v'W-~

ternos
Problemas - Seção 6.4
x2
1 R

-R
'\/'R2 - x 2dx = lirn 1
E-+ 0 +
R-E
R-E

-R+E v'R 2 - x 2
1R-E
dx
R2 )
1. Para n EN, seja f : IR--+ IR a função dada por f(x) = xn, para
todo x E IR. Para b > O, use o corolário 6.55 para calcular a área
= lirn ( - 1 v'R2 - x2dx + 2 2dx sob o gráfico de Íl[O,bJ.
E-+0+ -R+E -R+E VR - X

= -1 R
-R
1R-E
v'R2 - x 2dx
R2
+ E--+D+
lirn ·
-R+E v' R2 - x2
dx, Para o problema a seguir, dado x > O definimos xx = exlogx.

de rnodo que 2. * Ern cada urn dos itens a seguir, verifique que a fórmula dada
para a derivada da função correspondente está correta:

A(r) = 2 j R
-R
'\/'R2 ~ x 2dx = lirn
E-+O+
1R-E
-R+E v'R 2
R2
- x2
dx. (a) Se f: (O, +oo) --+ IR é tal que f(x) = xx para todo x E IR,
então f'(x) = (1 + logx)xx.
Por fim, a regra da cadeia, juntamente corn o resultado do pro- (b) Se f : IR--+ IR é tal que f(x) = ax para todo x E IR, onde
blema 4, página 229, fornece a > O é urn real dado, então f' (x) = ax log a.
(c) Se f: (O, +oo) --+ IR é tal que J(x) = xª para todo x > O,
d (X)
dx arcsen R =
1
v' R2 - x2 onde a > O é urn real dado, então f' (x) = axª- 1 .
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 253

JR é um intervalo e f : I ---+ (O, +oo) é u~a fu~ção


e Calcule inf /EF f 01f J(x)2dx.
3. Se J
derivável, calcule as derivadas de cada uma das funçoes abaixo: 12. (Romênia.)
(a) g: J-+ lR dada por g(x) = logf(x), para todo x E J. (a) Mostre que log(x + 1) ::; x, para todo x ~ O.
(b) g: J-+ JR dada por g(x) = f(xY, para todo x E J, onde
(b) Dado a > O, mostre que limn-++oo n f01 x;:ª dx = log ( ª! 1 ).
r / Oé um número racional.
13. * O objetivo deste problema é utilizar o material desenvolvido
1 + ;:; )n < (l + n+l
. . ( 1 1 ) n+l
4. Para n ~ 1 mte1ro, prove que . nesta seção para estabelecer a irracionalidade de 7f. Para tanto,
S. Seja J : JR -+ lR uma função derivável, tal que f (O) = O e faça os seguintes itens:
f'(x) > J(x), para todo x E IR. Prove que f(x) > O, para todo (a) Mostre que é suficiente estabelecer a irracionalidade de 1r 2 .
xER (b) Fixado n EN, seja f(x) = ihxn(l - xt. Prove que:
Para O próximo problema o leitor pode achar útil recordar o
enunciado do problema 6.3.10 do volume 2.
i. A função f é da forma f (x) = ih E!:n akxk, com ak E
Z para n ::; k ::; 2n.
6. Generalize a fórmula para a área de um círculo, provando que a ii. Se O< x < 1, então O< f(x) < ih·
área de uma elipse de eixo maior 2a e eixo menor 2b é igual a iii. Para todo k ~ 1, as k-ésimas derivadas J(k)(O) e
1l'ab. J(k)(l) de f nos pontos O e 1 são números inteiros.

7. (Croácia.) Prove que não existe uma função polinomial p: IR---+


(c) Suponha que 1r2 = i, com a, b EN. Se
JR tal que p( x) = log x, para todo x E IR. g(x) = bn(1f2n J(x) _ 7í2n-2 j(2)(x) + 7f2n-4j(4)(x) _ ... ),
8, Decida qual dos números e7r e 7fe é o maior. mostre que
9. Encontre todos os a, b E N tais que a -=/:- b e ab = bª. d
-(g'(x)sen (1rx) - 1rg(x) cos(1rx)) = 1r 2an f(x)sen (1rx).
dx
lO. Prove O teore:ma do valor médio para integrais: dada uma
(d) Conclua, a partir do item anterior, que
função contínua f : [a, b] ---+ IR, existe e E [a, b] tal que

- 1
b-a
1b f(x)dx
a
= .
J(c).
O< 1ran 1 1
f(x)sen (1rx)dx = g(O) + g(l) E Z.
(e) Por fim, obtenha uma contradição mostrando que, se n for
ll. (Romênia.) Seja F o conjunto das funções contínuas f : [O, 1r] ---+ escolhido inicialmente de forma tal que 1ran < n!, então
l tais que

11[ J(x) senxdx = 11[ f(x) cosxdx ___:_ l. O< 1ran 11


f(x)sen (1rx)dx < l.
254 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 255

6.5 A segunda variação de uma função Analogamente, como u--+ y se, e somente se, t--+ 1, obtemos a partir
da primeira desigualdade em (6.26) que
Começamos esta seção mostrando que a concavidade ou convexi-
dade de uma função duas vezes derivável está intimamente relacionada J'(y) ~ f(y) - f(x).
ao sinal de sua segunda derivada. Em seguida, utilizamos tal relação y-x
para, em conjunção com a desigualdade de Jensen, obter mais algumas
Portanto f' (y) ~ f' (x), i.e., a função f' é não decrescente em I, de
desigualdades interessantes.
sorte que a proposição 6.43 garante que f" ~ O em I.
Teorema 6.57. Se I for um intervalo aberto e f : I --+ ~ for duas Reciprocamente, suponha agora que f" ~ O (resp. f" > O) em
vezes derivável em I, então: I, ou seja, que a função f' é não decrescente (resp. crescente) em l.
Tome x < y em I, O < t < 1 e seja u = (1 - t)x + ty. Pelo TVM,
(a) f é convexa em I se, e só se, !" ~ O em l. existem r, s E I tais que x < r < u < s < y e

(b) Se f" > O em I, então fé estritamente convexa em l. J'(r) = f(u) - f(x), J'(s) = f(y) - J(u).
u-x y-u
(c) fé côncava em I se, e só se, f" :S: O em I.
Mas, como f'(r) :S: f'(s) (resp. f'(r) < f'(s)), temos que
(d) Se f" < O em I, então fé estritamente côncava em l.
J(u) - f(x) :S: (resp. <) f(y) - f(u)
Prova. Façamos a prova dos itens (a) e (b), sendo a prova dos demais u-x y-u
itens totalmente análoga.
Suponha, inicialmente, que f é convexa. Então, dados x < y em I ou, ainda, que
e O < t < 1, temos f(u) - f(x) < (resp. <) f(y) - f(u)
t(y - x) (1 - t)(y - x)"
J((l - t)x + ty) :S: (1 - t)f(x) + tf(y).
Mas isso é o mesmo que
Fazendo u = (1 - t)x + ty, segue da desigualdade acima que
f((l - t)x + ty) :S: (resp. <) (1 - t)f(x) + tf(y),
f(y) - f(u) f(y) - f(x) f(u) - f(x)
~~~~- > > . . (6.26)
y-u - y-x - u-x
Por outro lado, como u --+ x se, e somente se, t --+ O, concluímos, a
de modo que f é convexa (resp. estritamente convexa).

O teorema anterior é conhecido como o estudo da segunda va-
partir da segunda desigualdade acima, que riação de uma função duas vezes derivável. A seguir, obtemos uma
consequência geométrica importante de tal teorema, para a qual pre-
J(y) - f(x) ~ lim f(u) - f(x) = J'(x).
y- X t--+0 U - X cisamos, inicialmente, de uma definição.
256 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 257

Definição 6.58. Sejam I um intervalo aberto e f : I--+ IR uma função Segue que o gráfico de f está inteiramente contido na faixa do plano
contínua. Um ponto x 0 E I é denominado um ponto de inflexão de Cartesiano delimitada pelas retas y = O e y = 1, e que tal gráfico se
f se existir 8 > Otal que fé convexa (resp. côncava) em In(xo-8, xo) aproxima tanto quanto queiramos de tais retas à medida que x --+ +oo
e côncava (resp. convexa) em I n (x 0 , Xo + 8). e x --+ -oo, respectivamente. Por outro lado, como f(O) = !,
segue

Podemos agora enunciar e provar o corolário desejado.


que o gráfico de f intersecta o eixo das ordenadas no ponto ( O, ! ).
Para analisarmos a primeira variação de f, note que um cálculo
Corolário 6.59. Sejam I um intervalo aberto e f : I--+ IR uma função imediato com o auxílio da regra da cadeia fornece
duas vezes derivável. Se x 0 E I é um ponto de inflexão de J, então 4ex
f"(xo) = O. J'(x) = - (1 + 8ex)3/2 < O,
Prova. Suponha que fé convexa em (xo-8, xo) e côncava em (xo, xo+
para todo x E IR, de sorte que f é decrescente em toda a reta. Por
8), com 8 > O escolhido tão pequeno que (x 0 - 8, xo + 8) C I (o
fim, quanto à segunda variação de f, calculando f" (novamente com
outro caso pode ser tratado de forma análoga). Então, pelo teorema o auxílio da regra da cadeia) obtemos
anterior, temos J"(x) ~ Oem (x 0 - 8, xo) e f"(x) :'.S: Oem (xo, Xo + 8).
Se f"(x 0 ) < O, podemos escolher a E (x 0 - 8, x0 ) tal que J"(a) ~ O.
Aplicando agora o teorema de Darboux (cf. problema 15, página 241),
concluímos pela existência de b E (a, xo) (logo b E (xo - 8, xo)) tal que
f"(b) < O, o que é uma contradição. Se f"(x 0 ) > O, chegamos a uma Então, o sinal de f" coincide com o sinal de 4ex -1, de sorte que (cf. te-
contradição de modo análogo. Logo, J"(xo) = O. • orema 6.57) J é estritamente convexa para x > -2 log 2, estritamente
côncava para x < -2 log 2 e o ponto x 0 = - 2 log 2 é seu único ponto
Os resultados discutidos ao longo deste capítulo permitem esbo- de inflexão. Por fim, -2 log 2 ~ -1, 38 e J(-2 log 2) = ~ ~ O, 58.
çar gráficos de funções duas vezes deriváveis com razoável precisão. Reunindo as informações acima, obtemos o esboço para o gráfico
Vejamos como fazer isto no exemplo a seguir. de f constante da figura 6.7

Exemplo 6.60. Esboce o gráfico da função f : IR --+ IR dada por •


1 Terminamos esta seção ilustrando o uso da desigualdade de Jensen
J(x) = yl + 8ex em conjunção com o teorema 6.57.

Solução. Primeiramente, veja que O < J(x) < 1, para todo x E IR. Exemplo 6.61 (IMO). Prove que, para todos os reais positivos a, b, e,
Ademais, como limx-t+oo ex = +oo e limx--+-oo ex = O, temos que temos
a b e
lim f(x) = O e x--+-oo
lim J(x) = 1. ----;::::==+ + >1.
x--++oo J a2 + bc Jb 2 + ac J c2 + ab -
258 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 259

y (iii) x ~ -2 log 2 < y, z: novamente pela desigualdade de Jensen,


temos
---------- y - 1
0,58 f(x) + f(y) + f(z) 2 f(x) + 2f ( y; z) = f(x) + 2f (-~).
-1,38 X
Se g: (-oo, -2 log 2] -+ lR é a função dada por

g(x) = f(x) + 2f (-~),


Figura 6.7: gráfico da função X f-7 vl~8eX.
note inicialmente que

Prova. Note, primeiramente, que a expressão do primeiro membro na lim g(x) = lim f(x)
x~-oo x~-oo
+ 2 x~+oo
lim f(x) = 1
desigualdade do enunciado é igual a
e
1 2
1 1 1 g(-2log2) = - +- > 1.
J1 + 8bc
a2
+ Jl + 8~g + J1 + 8ªb.
c2
Por outro lado, temos
J3 JI7

Fazendo ~g = ex, ~g = eY e ~g = ez, temos x+y+z = O e queremos X) 4ex 4e-x/ 2


provar que g'(x) = f'(x) - f' (-2 = - (1 + 8ex)3/2 + (1 + 8e-x/2)3/2'
f(x) + f(y) + f(z) 2 1,
de sorte que g'(x) < O se, e só se, -2log7 < x < -2log2. Portanto,
onde f : lR -+ lR é a função cujo gráfico foi analisado no exemplo an-
terior. Há, pois, três possibilidades: x E ( -oo, -2 log 7] =} g(x) > 1

e
(i) x, y, z > -2 log 2: pela desigualdade de Jensen, temos
x E (-2log7, -2log2) =} g(x) > g(-2log2) > 1.

f(x) + f(y) + f(z) 2 3f ( x+y+z)


3 = 3f(O) = 1. •
A discussão subsequente fornece uma ampla generalização da de-
(ii) x, y ~ -2 log 2 < z: então
sigualdade entre as médias, conhecida como a desigualdade entre as
2 médias de potências. Para tanto, precisamos, inicialmente, definir o
f(x) + f(y) + f(z) 2 f(x) + f(y) 2 2f(-2log2) = J3 > 1. que vêm a ser tais médias.
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 261
260

Definição 6.62. Dados reais positivos a1, a 2, ... , an e a E :IR, defini- ou, ainda,
mos a média de potências de ordem a dos números a1, a2, ... , an
como o número Ma = Ma(a1, ... , an) tal que
Portanto, concluímos que é suficiente analisar os casos O < a < /3
( af+a~+·+a\':) 1/a ,sear-
_j_ O
M a -- { n e O= a< /3.
1

1
y'a1a2 ... an, se a= O Sem perda de generalidade, suponha que a 1 = max1::,:i::;n{ai}· En-
tão, como nem todos os a/s são iguais, temos
Teorema 6.63. Sejam dados reais positivos a1, a2, ... , ªn· Se a < f3
são reais quaisquer, então

(6.27)

<
ocorrendo a igualdade em uma qualquer das desigualdades acima se,
e só se, todos os ai forem iguais.
e, analogamente, min 1::,:i::;n{ ai} < Ma. Resta, pois, mostrarmos que
Prova. Podemos supor, sem perda de generalidade, que nem todos os
a/s são iguais. Suponha, ainda, que (6.27) valha (com desigualdades
estritas) para todos O < a < /3. A primeira desigualdade acima equivale a
Dados x < y < O, temos -x > -y > O; como os números...!...,
a1
... ,...!...
an
também são positivos e nem todos iguais, segue de nossas hipóteses
que
que, por sua vez, é uma decorrência imediata da desigualdade entre
as médias aritmética e geométrica.
Para provarmos a segunda desigualdade, fazendo M 13 = K, basta
Agora, um cálculo fácil fornece mostrarmos que

-
1
(
ª+ ª2ª+ ···+anª)1/a <
ª1
1
K n

para todo t E :IR, de sorte que as desigualdades acima fornecem ou, ainda, que

( (ai/K)ª + (a2/K)ª + · · · + (an/K)ª)l/a < 1.


n
262 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 263

Denotando bi = (ai/ K)f3, temos que os b/s não são todos iguais e ou, ainda,
satisfazem

b1 + b2 + · · · + bn = _1_ ( af + ag- + · · · + a~) = 1;


. 1
hm-log
cx-+O a
(ª1 + a2 + · · · +
n
ª~) = log(a1a2 · · · an) .
n
n Kf3 n
Mas, uma vez que
ademais, uma vez que (ai/ KY, = b~1f3, queremos mostrar que
a°'+ a°'+···+ a°')
lim log ( 1 2 n = log 1 = O,
bcx/(3 + b°'/(3 + ... + b°'/(3) 1/cx cx-+0 n
( 1 2 n <l. (6.28)
n aplicando a regra de l'Hôspital (cf. problema 6, página 229) ao pri-
meiro membro acima, juntamente com o resultado do item (c) do
Para o que falta, consideremos a função f : (O, +oo) -t IR dada problema 2, página 251, obtemos
por f(x) = x°'lf3. Uma vez que O< a//3 < 1, temos

J"(x) = i (i-1) x°'lf3- 2 < O, . 1 1og (


11m-
cx-+Oa
ª1 + ª2 +
n
···+ a~) =
r d1 (
cx1-!fõ da og
ª1 + ª2 +
n
... + a~)
= lim (log a1)a1 + · · · + (log an)a~
de sorte que fé estritamente côncava pelo teorema 6.57. Segue então cx-+0 a 1 + · · · + a~
da desigualdade de Jensen que log a1 + · · · + log an
n
f (b1) + · ~ · + f (bn) < f ( b1 + · ~ · + bn) = f ( 1) = 1, log( a1 a2 ... an)
n
desigualdade que é exatamente (6.28).

Fixados a 1, a 2, ... , an > O, vale notar que a função f : IR -t IR,
dada por Problemas - Seção 6.5
f(a) = 1vla(a1, .. . ,an)
para a E IR, é contínua. De fato, a expressão de f é, para a # O, 1. Em cada um dos itens a seguir, esboce o gráfico da função dada,
claramente a de uma função contínua. Assim, resta mostrar que explicitando assíntotas, intervalos de monotonicidade, intervalos
de convexidade ou concavidade e pontos de inflexão:
lim f (a) = f (O).
cx-+0 (a) f: IR\ {O} -t IR tal que f(x) = x +;;,para x # O.
Para tanto, a continuidade das funções x f--+ ex ex f--+ log x garante
(b) f: IR -t IR tal que f(x) = x2~ 1, para x E IR.
que basta mostrarmos que
(c) f: IR\ {-1} -t IR tal que f(x) = x 3~ 1, para x # -1.
lim log f (a) = log f (O)
cx-+0 (d) f: (0,+oo) -t IR tal que f(x) = xlogx, para x > O.
264 Tópicos de Matemática Elementar 3

senx se X =/=- O
(e) f: lR. ~ lR. tal que f(x) = { x '
1, se x = O
2. Esboce o gráfico da função f: lR.-+ lR. dada por
-1/x2 __J,. O
f(x) = { e , se x, .
O, se x = O
3. Sejam x, y, z reais positivos com soma dos quadrados igual a 8.
CAPÍTULO 7
Prove que a soma de seus cubos é maior ou igual que 16/'j,.

4. Sejam x 1 , x 2 , ... , Xn reais não negativos e com soma igual a !-


Mostre que
:ft 1 - Xj ~ ( 2n - 1) n Soluções e Sugestões
j=l 1 + Xj 2n + 1

5. (Estados Unidos.) Dados reais positivos a, b e e, prove que


a+b+c
aª.bb ee>
_ ( a+ b + e ) ,
3
com igualdade se, e só se, a = b = e.

6. Sejam O < X1, X2, X3, X4 < 1r números reais tais que x 1 + x 2 +
X3 + X4 = 21r. Prove que
Seção 1.1
4
II -senxi
-<-
16
X· - 7r4. 2. Comece fazendo x = 1 e y = v'2 na relação dada para calcular f(l +
i=l i
\1'2).
7. Sejam a 1 , a 2 , ..• , an reais maiores ou iguais a 1. Prove que
7. Se an é o n-ésimo natural que não é quadrado perfeito, então existem
1 1 1 n
--+
a1 + 1
. +···+ an + 1 -> f/ a1 a2 ... an + 1 .
a2 + 1
inteiros positivos s e t, tais que 1 :S s :S 2t e an = t 2 + s (t 2 é o
maior quadrado perfeito menor ou igual a an)· Como há exatamente
8. Sejam a 1 , a 2 , ... , an reais pertencentes ao intervalo [o,!] e tais an números inteiros de 1 a an, exatamente t dos quais são quadrados
que a1 + a2 + · · · + an < 1. Prove que perfeitos (os números 12, 22, ... , t 2), temos que an é o (an - t )-ésimo
não quadrado perfeito. Então, n = an - t = t 2 + s - t, de sorte que
a1a2 ... an[l - (a1 + a2 + · · · + an)] 1
----------------'-'---~ < - -
(a 1 + a2 + · · · + an)(l - a1)(l - a2) ... (1 - an) - nn+l"
266 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 267

Agora, como s > O, temos 10. Sendo l a largura e h a altura do caminhão (medidas em metros),
é imediato que o volume de carga que o mesmo pode transportar é
ªn = t 2 + s = n + t = n +~n - s + 4
1 1 1
+ 2 < n + vn + 2· igual a l8lhm3; portanto, temos de maximizar o produto lh. A fim de
que o caminhão possa entrar no túnel, sua seção reta (um retângulo
Por outro lado, utilizando o fato de que s :::; 2t, obtemos, como acima, de lados medindo l e h) deve ter diagonais de comprimento d, com
an > n + vn - ! . Portanto, d :::; 5m; mas, como d = v'l2 + h2 , temos então que
1j lh = zJ d2 _ z2 :::; zJ25 _ z2 = J25z2 _ z4.
(n+vn+i)-1 <an <n+vn+i,
it Pondo x = l 2, concluímos que basta maximizar a função f(x) -
1,
li, de sorte que ªn = ln + vn + ! J. 25x - x 2 , com O < x < 5.
('.
i: 8. Para (b), use (a); para (c), considere inicialmente o caso k E N, 11. Mostre, inicialmente, que devemos procurar o menor real positivo a
:-,i

,1 via indução; por fim, aplique o resultado de (c) para obter (d) e os tal que f (x) :S a, para todo x E IR; equivalentemente, isso é o mesmo
resultados de (c) e (d) para obter (e). que procurar o menor real positivo a tal que ax 2 - 5x + (a + 1) ~ O
para todo x E R
9. Use a fórmula para o termo geral de uma PA e o item (c) do problema
anterior. 12. Considere separadamente os casos n par e n ímpar, utilizando em
ambos a desigualdade triangular.
10. Como IJ(x)I :S 1 para todo x E IR, a propos1çao 1.14 do volume
1 garante a existência de L = sup{IJ(x)I; x E IR}. Suponha que 13. Para o item (a), aplique a desigualdade entre as médias aritmética e
sup{lg(x)I; x E IR} > 1 e aplique a desigualdade triangular à relação geométrica ao denominador da expressão que define a função. Para
do enunciado para chegar a uma contradição. o item (b), escreva J(x) = 2 + :3~
1 e, em seguida, proceda como em
(a). Por fim, para o item (c), obseve que f(x) 3 = x 3 (1 - x 3 ) 3 e, pela
desigualdade entre as médias aritmética e geométrica, que
1
Seção 1.2 x 3 (1 - x 3 )3 = - · 3x3 (1 - x 3 )3
3
3. Observe inicialmente que, pelo exemplo 7.4 do volume 1, temos x +
< ! ( 3x3 + ( 1 - x 3 ) + (1 - x 3 ) + (1 - x 3 ) ) 4

-3 4
i
~ 2, para todo x > O, ocorrendo a igualdade se, e só se, x = 1.
14. Para o item (b) ' escreva (x+IO)(x+ 2) = ((x+1)+ 9)((x+1)+1) = (x + 1) +
7. Use a forma canônica de f. x+l x+l
x!i + 10; para o item (c), escreva ~ = 2~ + 2~; para (d), escreva
8. Use novamente a forma canônica de f. x = 3;_3 + 3;_3 no denominador.
3

9. Se um retângulo de perímetro 2p tem dimensões x e y, então x+y = p. 15. Comece escrevendo x 4 +y4 = (x 2+y 2)2 -2(xy) 2 :::; (2+xy) 2 -2(xy) 2 ,
A partir daí, mostre que sua área depende de x de acordo com a função e veja essa última expressão como uma função de segundo grau em
quadrática f(x) = -x2 +px e aplique o resultado da proposição 1.25. z =xy.
268 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 269

16. Comece escrevendo f(x) = 4 (x + 1 + xii) + (k + 8). Em seguida, 13. Tome f(x) = -g(x) para x:::;; O e f(x) = -x para x 2: O.
aplique os resultados dos problemas 3 e 5.
14. A fim de mostrar que fé ímpar, observe que f(20+x) = f(10+(10+
17. Comece provando que a função f(x) = x 3 + 2x é crescente. Em x)) = f(lO - (10 + x)) = f(-x) e, analogamente, f(20 - x) = f(x).
seguida, observe que as equações do sistema podem ser escritas da Para a segunda parte, calcule f (40 + x) em termos de f (x).
forma y = f(x), z = f(y), t = f(z) e x = f(t), suponha x 2: y e
15. Para o item (a), comece mostrando que todo x E lR pode ser escrito
conclua, a partir do caráter crescente de f, que x 2: y 2: z 2: t 2: x.
da forma x = pq + a, com q E Z e a E [O,p).
18. Fixados m, n naturais, seja
16. Fazendo g(x) = f(x) +~'mostre que g(x +a)= J~ - g(x)2 e, daí,
Ik = [(kmn + l)n, (kmn + l)m]. que g(x + 2a) = g(x), para todo x E lR.

Como ((k + l)mn + l)n < (kmn + l)m para k > %~(tn--n), existe 17. Seja X= {x E Z; x > 100}. Temos Im(f) = f(X) U f(Z \ X). Por
ko EN tal que um lado, f (X) = {y E Z; y > 90}. Agora, se 90 :::;; x :::;; 100, temos
LJ
h = [(komn + l)n, +oo). 101 :::;; x + 11 :::;; 111 e f(x) = f(f(x + 11)) = f(x + 1). Logo,
k~ko
!(90) = !(91) = · · · = !(100) = !(!(111)) = !(101) = 91.
Como f tem infinitos pontos de estrangulamento, existem k 2: ko e p
naturais tais que pé ponto de estrangulamento e p Eh- Então, Vamos mostrar, por indução, que f(90-x) = 91 para todo inteiro x 2:
1. Para x = 1, temos !(89) = f(f(lOO)) = !(91) = 91. Admitindo,
f((kmn + l)n) < f(p) < f((kmn + l)m).
por hipótese de indução, que f(90-x) = 91 para todo x < n, temos,
Mas, kmn + 1 é relativamente primo com m e com n, de modo que para x = n, que

f(kmn + 1) + f(n) < f(kmn + 1) + f(m) f(90 - n) = !(!(101- n)) = f(91) ~ 91,

e, daí, f(n) < f(m). uma vez que 101- n:::;; 100, o que completa a indução. Logo, f(x) =
91 para todo inteiro x :::;; 100, de modo que

Im(f) = {y E Z; y > 90} U {91} = {91, 92, 93, ... }.


Seção 1.3
18. De J(f(n)) = 4n + 1, obtemos, aplicando o item (c) duas vezes, que
8. Faça x =; nas relações acima.
f(4n + 1) = f(f(f(n))) = 4f(n) + 1.
10. Comece supondo que f = g + h, onde g, h: I--+ lR são tais que g é
par e h é ímpar. Em seguida, use as definições de função par e ímpar Por outro lado, é fácil provar por indução, com o auxílio dos itens (a)
para escrever g(x) e h(x) em função de f(x) e de f(-x). e (b), que f(2k) = 2k+1 _ 1. Consequentemente, novamente pelo item
(c), obtemos
11. Inicialmente, mostre que f(l) = O. Em seguida, faça a= 1 e b = -1
para calcular f(-1). Por fim, faça b = -a.
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 271
270

Dessa forma, como 1993 = 4·448+ 1, segue que f (1993) = 4f (448)+ 1,


Seção 1.4
!(448) = 2f(224) + 1, !(224) = 2f(112) + 1, !(112) = 2f(61) + 1,
f(61) = 4f(15)+1. Por outro lado, f(15) = f(2 4 -1) = 4·2 3 +1 = 33, 1. Para o item (a), use a proposição 1.39; para o item (b), use a propo-
de maneira que, substituindo esse valor nas relações acima, obtemos sição 1.34.
f (1993) = 4285.
6. Mostre que, para a, b E lR fixados, o sistema de equações x 3 = a e
19. Encontre uma partição de N da forma N = A1 U A2 U A3 U. · ., com x - f(y) = b admite a solução única x = ija, y = J- 1 ( ija- b).
An infinito, para todo n EN. Em seguida, defina f pondo f(x) = n,
7. Inicialmente, mostre que basta provar que duas funções quaisquer em
para todo x E An.
G comutam em relação à operação de composição de funções. Para
20. Suponha que exista uma tal função. Sejam k > 1 inteiro e Xj = f, tanto, use os itens (a) e (b), juntamente com o fato de que a única
para O:::; j:::; k. Dado um real x E [xj,Xj+1], temos função h E G da forma h(x) = x + a, para algum a E JR, é h = ldJR.

d(f(x), f(xj)) :::; cix - Xjla+l/ 2 :::; kª:1/2 · 8. Se g = J- 1 , comece mostrando que o que se pede equivale à existência
de inteiros positivos x < y < z em PA e tais que g(x) < g(y) < g(z);
Portanto, sendo Cj o círculo do plano com centro f(xj) e raio k"~1;2, em seguida, mostre que podemos supor que x = 1. Para o que falta,
segue que fixe t E lR e mostre que não podemos ter g(t) > g(2t-1) > g(4t-3) >
g(8t - 7) > .. · > g(l).
Então
. Q = f([ü, 1]) e Co u C1 U .. · U Ck-1,
o que implica (A(F) denota a área da figura F) Seção 1.5
k-1
1 = A(Q)=A(uJ:Jcj):::;I:A(Cj) 2. Observe inicialmente que x = 4 é uma solução dessa equação. Em
j=O seguida, veja ambos os membros da equação como funções de (O, +oo)
(
C )2 7íC2 em si mesmo e aplique o resultado do problema anterior.
k1r ka+l/2 = k2a ·
3. Fazendo g(x) = f(x) - f(O) na relação do enunciado, conclua que
Mas como a > O e k > 1 é arbitrário, chegamos a uma contradição,
basta considerar o caso em que f(O) = O. Sob tal suposição, faça
uma' vez que a relação k2 ª :::; 1rc2 não é verdadeira para k suficiente-
y = O para obter f (!) = f~x), para todo x E <Q. Em seguida, use a
mente grande.
relação do enunciado para concluir que f(x + y) = f(x) + f(y), para
todos x, y E <Q, de sorte que f(x) = f(l)x, para todo x E Q.

4. Use a relação do enunciado para provar por indução que f(n) = f(l),
para todo n EN; em seguida, considere o caso n < O.
272 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 273

5. Faça x = y = z = O para obter f(O) = !;


em seguida, obtenha para todo x E B, e f(x) < x, para todo x E C. Se IBI = l e a é o valor
J(l) = !
de maneira análoga. Faça y = z = 1 para concluir que comum de lf(xj )-xjl, conclua que O= I:,J=
1 (f(xj)-xj) = (2l-k)a
t
J(x) 2: para todo x E R Por fim, utilize uma substituição análoga e, a partir daí, que a = O, o que é uma contradição.
para concluir que J(x) :S !, para todo x E R 11. Fazendo x = y = O na relação dada, obtemos f (O) = 2f(O)f(a) e,
6. Em cada um dos intervalos [n, n + f(n)] e [J(n), 2f(n)] há f(n) + 1 daí, f(a) = !·Fazendo y = O, obtemos f(x) = f(a - x), para todo
naturais. Use, pois, o caráter crescente de f, juntamente com f(n + x E IR, de modo que f(-x) = f(a + x), também para todo x E R
J(n)) = 2f(n), para concluir que J(n + k) = J(n) + k, para todos Agora, substituindo y = a na relação do enunciado e utilizando as
1 :::; k :::; J(n). Tome agora k, n naturais, com n > k. Use que relações deduzidas acima, segue que
J(n) 2: n para mostrar que f(n) > k e, pelo que fizemos acima, que 1 1
J(n) = n - 1 + J(l). f(-x) = J(x+a) = J(x)f(O)+ J(a)f(a-x) = 2J(x)+ 2J(x) = J(x),

7. Faça x = a = O em (a) para concluir que J(O) = O. Em seguida, para todo x E R Por outro lado, fazendo y = -x na relação do
fazendo x = O em (a), mostre que f(a) =apara todo a E Z. Tomando enunciado e utilizando uma vez mais as relações acima, obtemos
agora x E [O, 1), use que J(x) E Z e J(f(x)) = O para concluir que
1
J(x) = O. Por fim, para x E IR qualquer, troque x por {x} e faça 2= f(O) = f(x)f(a + x) + J(-x)f(a - x)
a= lxJ em (a) para concluir que J(x) = lxJ. = f(x)f(-x) + f(-x)f(x) = 2f(x) 2 .
8. Comece calculando f(x + J(y + J(O))) de duas maneiras distintas
Portanto, se mostrarmos que f(x) 2: O para todo x E IR, seguirá da
para concluir que f(O) = O. Em seguida, deduza, a partir daí, que
J(f(y)) = -y, para todo y E Z, de sorte que f é bijetiva. A partir
última relação acima que f(x) = t
para todo x E R Para o que
falta, basta fazermos y = x na relação do enunciado, obtendo
dessa última relação, calcule J(J(f(x))) de duas maneiras distintas
para concluir que fé ímpar. Troque x por J(x) na relação do enun- f(2x) = f(x)f(a - x) + f(x)f(a - x) = 2f(x) 2
1

11 ciado para concluir que f(J(x) + J(y)) = J(f(x + y)) e, daí, que
i' J(x) + f(y) = f(x + y), para todos x, y E Z. Por fim, use indu- e, daí, f(x) = 2f (~) 2 2: O, para todo x E R
11,
ção para obter J(x) = f(l)x, para todo x E Z, chegando, assim, à
12. Faça x = y = O para obter f(O) = L Em seguida, use indução para
11 contradição -1 = J(f(l)) = J(l)f(l) 2: O.
l,'/
i'
1

1 9. Faça k = O para concluir que f(l) = 2; em seguida, use indução para


provar que f(nx) = f(xr, para todos x E (Q, n EN; mostre, a partir
daí, que f(x) = J(l?, para todo x E (Ql+· Fazendo agora y = -x,
mostrar que f(n) = n + 1, para todo n E N. Use agora a relação mostre que f(-x) = f(x)-1; conclua então que f(x) = f(l)x, para
do enunciado pará mostrar que, se f (-1) = a, então não pode ser todo x E (Ql. Por fim, use o fato de o contradomínio de f ser o conjunto
a < O nem a > O. Por fim, faça uma nova indução para concluir que dos racionais positivos para concluir que f(l) = l.
f(-n) = -n + 1, para todo n EN.
13. Fazendo x + y = a ex - y = b, mostre que f(a) + f(b) = 2f (ªtb),
10. Inicialmente, podemos supor que f não tem pontos fixos. Escreva para todos a, b E [O, l]. Fazendo x = y, mostre que f(2x) = 2f(x),
A= B u C, onde B e C são conjuntos disjuntos e tais que J(x) > x, para todo x E [O, 1], e conclua que f(a) + f(b) = f(a + b), para

;\
274 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 275

todos a, b E [O, l]. Mostre, a partir daí, que f(x) = x, para todo f não tem pontos fixos em (O, +oo). Por fim, fazendo x = y em (a),
x E [O, 1] n (Q). Para o que falta, imite a passagem de (Q) a ffi. do conclua que J(x) = - x~l para todo x E S.
exemplo 1.52.
18. Comece observando que, se uma tal f existir, então f(Fk) = Fk+l
14. Para o item (a), comece fazendo m = O na relação do enunciado para para todo k E N, onde (Fn)n>l é a sequência de Fibonacci. Mos-
obter J(f(n)) = f(0) 2 + n; conclua, então, que f é bijetiva. Em tre então, com o auxílio do problema 5.29 do volume 1, que uma
seguida, tome k E Z tal que J(k) = O e seja l = J(O); então, temos possibilidade para f é termos
l = f(O) = J(f(k)) = f(0) 2 +k = l 2 +k, ao passo que, fazendo m = k
e n = O na relação do enunciado, temos k 2 + l = k. Logo, k = l = O.
Quanto a (b), façam= 1 e n = O na relação do enunciado para obter para todos 1 :S i1 < i2 < · · · < Íj naturais.
f(l) = 1; em seguida, deduza que J(f(n) + 1) = n+ 1 e, a partir daí,
que f(n) = n, para todo inteiro não negativo n. Por fim, estenda o 19. Se fé uma tal função, faça y = O na relação do enunciado para obter
argumento aos inteiros negativos, mostrando que f (n) = n para todo J(z) = (c+l)z, para todo z E Im (!), onde e= f(O); deduza, a partir
n E Z. daí, que cf(x+y) = f(x)f(y)-xy, para todos x,y E ffi.. Para mostrar
que e= O, suponha que e=/= O e conclua que O tt- Im (!); faça, agora,
15. Fazendo x = y = 1, conclua que f(l) = l. Em seguida, mostre que x = e e y = -e na última relação acima, obtendo f(c)f(-c) = O e
J(f(xy)) = x 2 y 2 f(xy) = J(f(x)f(y)), obtendo então que f(xy) = chegando, assim, a uma contradição. Obtivemos que f(x)f(y) = xy,
J(x)f(y), para todos x, y E N; conclua, a partir daí, que f(x 2 ) = para todos x, y E ffi.; para terminar, tome Yo E Im (!) tal que f (yo) =/=
f(x) 2 , para todo x EN. Por fim, se f(x) < x 2 para um certo x EN, O; então, J(yo) = (e+ l)yo = Yo e, daí, f(x)yo = xyo, para todo
escreva J(x) 3 = f(x 3 ) > f(xf(x)) = x 2 f(x) 2 para obter f(x) > x 2 , xER
uma contradição; analogamente, mostre que não pode ser f(x) > x 2 ,
de sorte que f(x) = x 2 , para todo x EN. 20. Observe que, por (a), temos f(x + k) = f(x) + k, para todo k EN.
.1ome, agora, m, n E n~T e use o f ato de que (n2+m)3
'T"'
n3 -
n3 E N para
16. Troque x por x - 2 e y por 2 em (a) para concluir que f(x) = O, calcular
para x 2:: 2. Faça agora x = y = O em (a) para obter, a partir de m3 (n3 + m)3 - n3)
f (3n + n3
(b), que J(O) = l. Por fim, para O < x < 2, troque y por 2 - x
em (a) para concluir que f(x) 2:: 2 ~x; por outro lado, mostre que de duas maneiras distintas, obtendo a equação
f (x + f(x)) = J(2)f(x) = O e conclua que f(x) :S 2 ~x' para cada
um de tais x.
onde a = f (~). Conclua, a partir daí, que f (x) = x, para todo
17. Observe inicialmente que, pelo item (b), f tem no máximo um ponto
X E Qi.
fixo em cada um dos intervalos ( -1, O), (O, +oo). Se existir um ponto
fixo xo de f tal que -1 < xo < O, faça x = y = xo em (a) para concluir
que x5 + 2xo também é ponto fixo de f e, daí, que x5 + 2xo = xo, o
que é uma contradição. Argumente analogamente para concluir que
276 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 277

Seção 2.1 h e f4 se tornam cada vez maiores e, eventualmente, ultrapassam


qualquer valor predefinido. Por último,
3. Como a bissetriz dos quadrantes ímpares do plano Cartesiano é o
conjunto dos pontos (x, y) do mesmo tais que x = y, concluímos que
lxl < 1 :::::} x4 < x2 , lxl > 1 :::::} x4 > x2 e lxl = 1 :::::} x4 = x2 = 1,
justificando o fato de o gráfico de f 4 estar situado abaixo do gráfico
x0 E I é ponto fixo de f ~ f(xo) = xo ~ (xo, xo) E GJ· de h no intervalo (-1, 1) e acima fora do intervalo [-1, 1] (veja a
figura 7.2).
Portanto, os pontos fixos de f são exatamente as abscissas dos pontos
onde o gráfico de f intersecta a bissetriz dos quadrantes ímpares do y
plano Cartesiano. Na figura 7.1, supondo que f é crescente para
x < x 1 e decrescente para x > x3, temos que os pontos fixos de x2
f são x 1 , x 2 e X3, os quais são as abscissas dos pontos A, B e C,
respectivamente.

o X

X
Figura 7.2: gráficos de Í2 e f4.

As funções Í3 e f5 são positivas para x > O, negativas para x < O


e se anulam em x = O. Também, é claro que se trata de funções
Figura 7 .1: pontos fixos de uma função f. ímpares e, daí, seus gráficos são simétricos em relação à origem do
sistema Cartesiano. Agora, à medida que lxl aumenta é evidente que
os valores de lfl e 191 se tornam cada vez maiores e, eventualmente,
4. Resolva, para x E J, a equação f(x) = g(x). ultrapassam qualquer valor prefixado. Por último,

6. As funções h e f 4 são sempre não negativas e só se anulam em x = O.


Também, é claro que são funções pares, de forma que seus gráficos justificando o fato de o gráfico de f5 estar, no intervalo (-1, 1), mais
são simétricos em relação ao eixo vertical do sistema Cartesiano. Por próximo do eixo horizontal que o gráfico de Í3 e mais distante de tal
outro lado, à medida que lxl aumenta, é evidente que os valores de eixo fora do intervalo [-1, 1] (veja a figura 7.3).
278 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 279

x3 demais itens podem ser analisados de forma similar.

11. De posse do gráfico de f, mostre que obtemos o gráfico de g do se-


guinte modo: refletimos, ao longo do eixo das abscissas, a porção do
gráfico de f situada abaixo de tal reta.

12. Em princípio, pode parecer que não podemos usar o resultado do


problema anterior, haja vista que a função em questão não tem por
domínio o conjunto dos reais. Contudo, como
X
2x 2x + 2 - 2 2
-----2---
x+l x+l - x+l'
podemos raciocinar de modo análogo, esboçando o gráfico de f do
seguinte modo: primeiro, traçamos o gráfico de x t--+ i-; em seguida,
transladamos o gráfico anterior uma unidade para a esquerda, ob-
tendo o gráfico de x t--+ x.!.i; agora, alongamos o gráfico anterior na
direção vertical, pelo fator 2, obtendo o gráfico de x t--+ x!i; refle-
timos o resultado no eixo horizontal, obtendo x t--+ - x!i; por fim,
transladamos o gráfico refletido duas unidades para cima, obtendo o
Figura 7.3: gráficos de Í3 e f5. x!i.
gráfico de x t--+ O resultado final é a figura abaixo:

13. Use o resultado do problema 8.2.4 do volume 2.


7. Observe que f é a inversa da função g : lR--+ lR tal que g(x) = x3,
para todo x E R Em seguida, aplique o resultado da proposição 2.6.

9. A figura 4.1 esboça o gráfico da função parte fracionária. Seção 2.2


10. Para o item (a), basta mostrarmos que (x, y) é um ponto do gráfico 1. Para os itens (a) e (b), referimos o leitor à discussão do exemplo 2.11,
de f se, e só se, (x - a, y) é um ponto do gráfico de g. De fato, se mais precisamente à equação (2.2); quanto ao item (c), sugerimos ao
(x, y) pertence ao gráfico de f, então f(x) = y e, daí, g(x - a) = leitor rever os itens (a) e (e) do problema 10, página 68.
J((x - a) + a) = y, quer dizer, (x - a, y) pertence ao gráfico de
g; provamos a recíproca do mesmo modo. Para o item (b), basta 2. Use uma das fórmulas do arco duplo do problema 7.2.3 do volume 2
mostrarmos que (x, y) é um ponto do gráfico de f se, e só se, (x, y+a) para cos2x.
é um ponto do gráfico de g. De fato, se (x, y) pertence ao gráfico de
3. Use o resultado do problema 4, página 67.
f, então J(x) = y e, daí, g(x) = f(x)+a = y+a, quer dizer, (x, y+a)
pertence ao gráfico de g; provamos a recíproca do mesmo modo. Os 4. Opere a mudança de variável x = v'5 cosa, onde O::; a ::; 1r.
280 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 281

y para k E Z. Ern seguida, se n é ímpar, por exemplo, mostre que a


última igualdade implica a igualdade sen ( 5! + 1 cos f;) = O, (1f;)
para todo x E lR. tal que nx # i + k1r para k E Z; conclua, então, que
n divide 15.

7. Suponha que tal função seja periódica de período p > O; calcule


f(x + p) com a ajuda das fórmulas de adição de arcos e, ern seguida,
analise a igualdade f(x + p) = f(x).
(0,2)
--------------+---------------------
1
1
1
1
1
(-1,0)1 Seção 3.1
X

1. Mostre que, se fosse a> b, teríamos, eventualmente, an > ªtb > bn.
2. Suponha, sem perda de generalidade, que a1 :::; a2 < a3 < ··· e
mostre que não podemos ter b1 > b2 > b3 > · · · .
Figura 7.4: gráfico de x f--+ 2x/(x + 1).
3. Inicialmente, observe que

5. Suponhamos, por contradição, que f fosse periódica, de período T > n Ír0 (y'n)k 1
O. Então, deveria ser f(T) = f(O) = 2. Mas aí ViaF = -1ª1---+ ~ < 1
2 = f(T) = COST + cos(aT) :::; 1 + 1 = 2, quando n--+ +oo. Portanto, fixado urn real a tal que !
1 1
<a < 1,
. t e no E n Jr0
t a 1 que n > no :::::} V . d a, íaf
urna vez que o cosseno de qualquer número real é no máximo 2. Assim, ex1s ThT
1 '1 íaf < a ou, am nk
< an .
k
deve ser Mas, corno an --+ O quando n --+ +oo, o rnesrno sucede com nn.
a
COST = cos(aT) = 1. Alternativamente, faça ial = 1 + a, com a > O, e veja que, para
n > k,
Para tanto, devem existir inteiros (não nulos) k, l tais que T = 2k7r
e aT = 2l1r. Dividindo membro a membro essas duas igualdades,
chegamos a a= l/k, contradizendo o fato de ser a irracional. laln = (1 +ar= t (~)aj > (
j=O J k
n )ak+l
+1
6. Inicialmente, mostre que a igualdade f (x + 31r) = f (x) implica a _ n(n - 1) ... (n - k) k+l
igualdade ( -1 rsen ( 5! + l~7r) = sen ( 5!), sempre que nx # i + k1r - (k+l)! ·a ·
282 Tópicos de Matemática Elementar 3
Antonio Caminha M. Neto 283

Portanto, para n > k, temos 9. Use o fato de tn = -to - t1 - · · · - tn--l = O para escrever

nk (k + 1)! nk ak = to(Vk - ~ ) + t1(vk+l - v'k + n) + · · ·


laln
< ak+l n(n - 1) ... (n - k) + tn--1 ( v'k + n - 1 - v'k + n)
(k + 1)! 1 to
ak+l n(l - i) ... (1 - ~)'

com a última expressão acima tendendo a O quando n -t +oo. v'k+n - 1 + v'k +n·
Por fim, faça k -t +oo.

4. Construa, indutivamente, uma subsequência (ank)k2'.1 tal que ank > 10. Faça a substituição trigonométrica Xn = 2 cos Yn, com Yn E [O,~],
nk, a1, a2, · · ·, ªnk-1 · use um pouco de trigonometria e conclua que Yn+l ~ 2yn, para todo
n ~ 1. A partir daí, mostre que Yn :S Yn2t 2 k :S 2k7'.;_ 1 , para todo k ~ 1,
de sorte que Yn = O para todo n ~ 1.
5. Escreva e = (1 - tk)c + tkc e use a desigualdade triangular para
escrever lck - cl :S (1 - tk)lak - cl + tklbk - cl- 11. Inicialmente, use a condição do enunciado para mostrar que l(an+l -
an) - (ak+l - ak)I < ~- Em seguida, fazendo n -t +oo, conclua que
existe l = limn--,+oo(an+l - an), e mostre que ak+l - ªk = l, para
6. Note primeiro que lbn - li :S max{lan - li, lcn - li}, para todo n EN.
todo k EN.
Portanto, dado E > O e tomando no E N tal que n > no ==} lan -
li, lcn - li < E, teremos lbn - li < E para n > no, de modo que bn -t l. 12. Conclua, a partir da definição de an, que ªk--l + 1 = l;1ak, para todo
inteiro k ~ 2. A partir daí, mostre que

7. Mostre que Iam - anl :S n:~%


2 2 + n~~% 2 e, em seguida, faça k -t +oo.
ªk--l - ak < (k
2(k + 1) 2
+ l)(k + 2) (ak - ªk+1)
8. Se a= min{a1,a2} e f3 = max{a1,a2}, conclua que (an)n>l é limi- e conclua que a sequência (an)n>l é não crescente para n > 2. Por
tada, considerando separadamente os casos O < a ::::; f3 ::::; 4, 4 ::::; a ::::; f3 fim, faça k -t +oo na igualdade ªk--1 + 1 = k!l ak para concluir que
e O < a ::::; 4 ::::; (3. Se a1 ::::; a2 ::::; a3 ou a1 ~ a2 ~ a3, escreva an -t 1 quando n -t +oo.
ªk+2 - ªk+l = yfaw - vªk--1 para concluir que, caso a sequência
13. Mostre, sucessivamente, que a;;= k+an--1 e a;;,+ 1 -a;;= an-an--1, e
dada é monótona, ela será convergente; fazendo k -t +oo na recor-
conclua, a partir daí, que a sequência (an)n2:1 é crescente. Use agora
rência do enunciado, conclua que ak -t 4. Se a1 ::::; a3 ::::; a2 ou
que a;;, < k + an para concluir que an < ~ (1 + v'4k + 1) para todo
a1 ~ a3 ~ a2, conclua, como acima, que as subsequências de índices
n ~ 1, de sorte que a sequência em questão é convergente. Agora, faça
pares e ímpares são convergentes, digamos a2k--l -t e e a 2 k -t d; fa-
n -t +oo em a;;,= k + ªn--l para concluir que an -t ~(1 + v'4k + 1)
zendo k -t +oo na recorrência do enunciado, conclua que d= Jc+v'd
quando n -t +oo. A partir daí, os itens (b) e (c) são relativamente
e e = y'c + v'd, de sorte que e = d = 4.
imediatos.
284 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 285

14. Primeiramente, use a desigualdade entre as médias aritmética e geo- Fixe k > no, np, de modo que ....E:k.....
ªk+p
> y; conclua pela existência de
métrica para concluir que ªk+I 2: Ja, para todo k E N. Agora, Po > p tal que
faça k ---+ +oo na recorrência acima para concluir que, se (an)n>l for -ªk
- 2 : y > -ªk- -
ªk+po ªk+po+l
convergente, então seu limite é igual a Ja. Para o que falta, use a
desigualdade triangular para obter Por fim, suponha que ªk :S x e chegue a uma contradição.
ªk+Po+l

!2 lak - ªk-1 + .!!____


ªk
- -ª-1
ªk-1
16. Seja co, c1, c2,, .. a sequência definida por co = 1e

!2 lak - ªk-11 · 11 - ª
ªkªk-1
1 ªn-1)
Cn = ( l +an Cn-1, 'in 2: 1.
1
< 2lªk - ªk-11, Reescrevendo esta relação como Cn
soma telescópica
para k > 2. Por fim, conclua a convergência de (an)n::=::1 a partir do
exemplo 3.17.
(7.1)
15. Prove inicialmente que ªn+l 2: an + 1 e, daí, que an 2: n para todo
n 2: 1. Agora, use produtos telescópicos para mostrar que, fixado Por outro lado, a assertiva do problema equivale a termos ~
Cn-1
<
p EN, temos 2- 1/n, para infinitos n E N. Suponha o contrário, i.e., que existe N
natural tal que a desigualdade oposta se verifica para todo n 2: N.
Então, para n > N, temos

e, daí,
p-1
1 < ªn+p < II ªn+j+l <II
p-1 (
1+
1 )
.
an j=O ªn+j j=O Jan+j onde C = CN · 2(1+!+··+,\-) é uma constante positiva. Se 2k-l :S n <
2k, então
Mostre, então, que

n-Hoo
11m
. ( 1 + -1- ) ( 1+
Fn ~
1 ) ··· ( 1 + -1- -) = 1.
Jan+p-1
< 1+ (t + 1)+ (l + ... + t) + ...
+ · · · + ~ 1)
Agora, se y = 1, conclua o que se pede a partir do limite acima.
Se y < 1, conclua a partir do limite acima que podemos escolher np +( 2L1 2k
natural tal que n > np ::::} --2:1.L
an+p
> y. Utilizando que ak >
-
k para todo < 1 + 1 + 1 + · · · + 1 = k,
k, mostre que podemos escolher no natural tal que l+ 1
v1ªno+1
< y- x.
Em seguida, conclua que n > no e p natural fornecem de modo que
286 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 287

Seja r tal que 2r-l :S N < 2r e sejam> r. Então, i


3. Comece mostrando que LxEA < I::!rc=O 2aib5c. Ern seguida, es-
creva o segundo somatório acima corno o produto de três séries geo-
C2r + C2r+l + • • • + C2m-l = métricas.
= (c2r + · · · + C2r+1-1) + (c2r+1 + · · · + C2r+2-1)
+ · · · + (c2m-1 + · · · + C2m-1) 4. Use a desigualdade ( L~=l }k) (I::~=l ak) > n 2, válida para todo
~ C. (2r. 2-r-l + 2r+l. rr-2 + ... + 2m-l. rm) nEN.
C·(m-r)
2 6. Inicialmente, use o teste da comparação para mostrar que a série
mostrando que a sorna dos Cn pode ser tornada arbitrariamente grande. Lj2:l tdj converge. Agora, denotando por x o valor de sua sorna,
Contudo, por (7.1) essa sorna nunca pode exceder ao. Essa contradi- observe que, para k ~ n,
ção mostra que __fn_ < 2- 1/n se verifica para infinitos n EN, conforme
Cn-1

desejado. n a· a· 9 1
x- " '-J =
L,; lüj """
L,; _Jlüj <
- """
L,; lüj lün
j=l j2:n+l j2:n+l

Seção 3.2
1ª =
7. Use que -n+l ...!.... - a n1+ 1 para todo n E N.
an
!,;
1. Faça Sn = L~=l 2 1 e, ern seguida, mostre que

1 1 1 ) 2n - 1 8. Use que a~+ da ~ \~,para todo k E N; ern seguida, aplique o


(a - l)Sn =aSn -Sn =a+2 ( -
a + a2
- + · · · +an-1
-- - -an- resultado da proposição 3.22.

= a+ ~
a -1
(! _~) _
a an
2n - 1.
an

Agora, use os resultados do exemplo 3.3 e do problema 3, página 90,


para concluir que Sn ---+ a~l + (a~l) 2 quando n ---+ +oo. 10. Para o item (a) (a prova do item (b) é análoga), seja q = 1 1 E (O, 1)t
e torne no E N tal que v'an < q para n > no ou, o que é o rnesrno,
2. Seja r > O a razão da PA. Para o item (a), ternos an < qn para n > no. A partir daí, adapte a argumentação do final
1 1 1 da prova do teste da razão.
-= >----
ªk a1 + (k - l)r 2(k - l)r

se k > ªj + 1. Para o item (b), ternos 11. Pela definição de convergência para séries, basta mostrarmos que a
sequência (xn)n>l, dada para n ~ 1 por Xn = a1b1 +a2b2+· · ·+anbn,
1 1 1 1
-= < <--. é convergente. Mas, corno sabemos, isso é o rnesrno que mostrar que
a2k a1 + (2k - l)r (2k - l)r - 2k-lr
ela é urna sequência de Cauchy. Para o que falta, sejam dados inteiros
Aplique, agora, o teste da comparação. positivos m e n, com m > n. Segue da identidade de Abel (identidade
288 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 289

(7.20) do volume 1) e da desigualdade triangular que para todo n E N; a partir daí, conclua por indução que bn = n~l
para todo n ~ 1.
lxm - Xnl = lanbn + ªn+Ibn+l + · · · + ambml
= l(sn - Sn-l)(bn - bn+I) + (sn+l - Sn-1)(bn+l - bn+2)
+ (sn+2 - Bn-1)(bn+2 - bn+3) + ···+
+ (sm-l - Sn-1)(bm-l - bm) + (sm - Bn-1)bm)I Seção 3.3
S (lsnl + lsn-1l)(bn - bn+I) + (lsn+II + lsn-1l)(bn+l - bn+2)
+ (!sn+2! + lsn-1l)(bn+2 - bn+3) + · · · + 2. Use o corolário 3.35 para construir indutivamente uma sequência
(ak)k~l, tal que ak = mk + nka, para inteiros mk e nk satisfazendo o
+ (!sm-1! + lsn-1l)(bm-l - bm) + (!sm! + lsn-1l)bm)I.
item (a), e !aÃ: - li < !, para todo l ~ 1.
A partir daí, se M > O for tal que lskl < M para todo k ~ 1, então

lxm - Xnl S 2M(bn - bn+I) + 2M(bn+l - bn+2)+


+ 2M(bn+2 - bn+3) + · · · + 2M(bm-l - bm) + 2Mbm Seção 4.1
= 2Mbn--+ O

quando n --+ +oo. Portanto, a sequência (xn)n~l é realmente de 2. Comece observando que o conjunto (xo-ô, xo+ô) x (f(xo)-E, f(xo)+
Cauchy. E) é um retângulo aberto centrado em Po (xo, f (xo)) e de lados para-
lelos aos eixos. Em seguida, lembre-se de que todo disco centrado em
12. Nas notações do problema anterior, faça ak = (-l)k e bk = í· Po contém um retângulo aberto centrado em Po e de lados paralelos
aos eixos, e vice-versa.
13. Para a primeira parte, suponha que algum x E (O, 1) admite duas
expansões decimais distintas satisfazendo as condições do enunciado 4. Imite a discussão do exemplo 4.8.
e derive uma contradição. Quanto à segunda parte, defina f (x) =
(y, z), com y = O, a1a3a5 ... e z = O, a2a4a5; . .. 5. Use a regra da cadeia para funções contínuas.

14. Sendo an = AnÔAn+l, temos senan = Jn·


Agora, use o ciclo tri- 6. Use o problema anterior, a regra da cadeia e o exemplo 4.5.
gonométrico para mostrar que sena > a, para todo a E (O,!),
e conclua, a partir da divergência da série I:k~l Fk'
que I:k~l ªk 7. Idêntica à sugestão do problema anterior.
também diverge.

15. Sendo an = 2/3n, basta provar que /31 + /32 + /33 + · · · = l Equiva-
lentemente, sendo bn = tg (/31 + · · · + /3n) para n ~ 1, basta provar
Seção 4.2
que bn--+ 1 quando n--+ +oo. Use trigonometria para mostrar que
2(n + 1)2bn + 1 2. Use o TVI em cada caso. Esboçar os gráficos das funções envolvidas
bn+l = 2(n + 1) 2 - bn ' pode ajudar.
Antonio Caminha M. Neto 291
290 Tópicos de Matemática Elementar 3

3. Se y = ax + b é urna reta não vertical, i.e., tal que a i= O, basta


de modo que f(O) + f(l) = 1. Se f(O) = f(l) = t
nada há a fazer.
provarmos que a função g : lR --+ JR, dada para x E lR por g(x) =
Senão, podemos supor, sern perda de generalidade, que f(O) < < !
f(l). Nesse caso, corno f é contínua, segue do TVI a existência de
x 3 senx - ax - b, é tal que g(x) = O para infinitos valores reais de x.
Para o que falta, suponhamos a > O (o caso a < O pode ser tratado
O < x < 1 tal que f (x) = !.
de modo análogo). Mostre que, para k E N suficientemente grande, 7. Primeiro, suponha que f(O = O. Corn x = O, obtemos f (1) =
ternos g(k7r) <O< g(k1r + ~); ern seguida, aplique o TVI. f(O)f (2) + f (1) = O. Fazendo, agora, x = 1, obtemos f (2) =
4. Analise a função f : [O, 1] --+ [O, 1] dada por f(x) = x + (1 - f(l)f(3) + f(2) = O. Prosseguindo do rnesrno modo, concluímos que
x)2sen 1r(n - 2)x.
f(n) = O para todo inteiro positivo n. Suponha, pois, que f(O) > O (o
caso f(O) < O pode ser tratado da rnesrna maneira). Então, segue de
5. Corno x = O não é solução, podemos reescrever a equação ern questão f(O)f (2) + f (1) = O que f (1) e f (2) devem ter sinais contrários. Mas
corno f(x) = O, onde f: (O, +oo)--+ lR é a função dada por aí, o TVI garante que deve haver urn real a E (1, 2) tal que f(a) = O.
Argumentando corno no caso f(O) = O, conclua que f(a + n) = O,
f(x) = L
n~ai - 2 + n. para todo inteiro positivo n.
i=l X
8. Faça x = 1000 e, ern seguida, use o TVI para concluir que a irnagern
Assim, devemos mostrar que f possui exatamente urna raiz positiva.
de f contém o intervalo [9~9 , 999]. Use novamente o TVI para tornar
Para tanto, corno a função x f-+ J-!,z + ai é contínua e decrescente,
xo E lR tal que f (xo) = 500 e, por firn, faça x = xo na relação do
e corno f é urna sorna finita de funções desse tipo, segue que f é
enunciado.
tarnbérn contínua e decrescente, o que implica dizer que f tern no
rnáxirno urna raiz positiva. Por outro lado, 9. Mostre primeiro que, se n E N, então a= !,, satisfaz as condições do
n enunciado. Ern seguida, se a i= !,, para todo n E N, construa urna
-n = lirn f(x) <O< f(l) =L Jl + ai - n. função contínua f : [O, 1] --+ lR tal que f(x + a) i= f(a), para todo
x--tO i=l
x E [O, 1- a].
Assim, segue do TVI que f possui exatamente urna raiz positiva,
10. Use a relação satisfeita por f para obter urna contradição ao TVI.
situada no intervalo (O, 1).
11. Inicialmente, mostre que urna tal f é urna bijeção de [O, 1] ern si
6. Seja f: [O, 1] --+ lR a função dada por
rnesrno. Ern seguida, use o teorema 4.21 para concluir que f é cres-
1 n cente ou descrescente. Por firn, suponha f crescente (o caso f decres-
f(x) = - L lx - Xil· cente pode ser tratado de modo análogo), de forma que (pela sobreje-
n i=l
tividade de f e novamente pelo teorema 4.21) f (O) = Oe f(l) = 1. Se
1
Basta garantirmos a existência de x E [O, 1] para o qual f(x) 2· existe x E (O, 1) tal f(x) < x, então o fato de f ser crescente, junta-
Para tanto, note que mente corn a hipótese do problema, garante que x = J(f(x)) < f(x),
1 n 1 n o que é urna contradição; analogamente, não podemos ter f(x) > x,
f(O)=-I:xi e f(l) = 1 - - L Xi, de forma que f(x) = x é a única possibilidade.
n i=l n i=l
··~

292 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 293

12. A prova desse resultado é uma simples adaptação do argumento da que Yo E (xo, xo + J(xo)). Use que J(xo + J(xo)) = J(xo) para
prova do teorema de Bolzano. Mais precisamente, suponha I = [a, b] mostrar ser possível escolhermos n E N e e E lR tal que a reta r de
(os demais casos podem ser tratados de maneira similar), e defina equação x + ny = e deixa o ponto (Yo, J(yo)) e os pontos (xo, f(xo)),
A = {x E [a, b]; [a, x] e J}. Se e = supA, use a condição (ii) (xo+ f(xo), f(xo+ J(xo)) = (xo, f(xo)) em semiplanos opostos. Mos-
para mostrar que e E J. Em seguida, tome 8 > O como em (a) e tre, agora, que o TVI garante a existência de reais a E (xo, Yo) e
d E A n (e - 8, e) para concluir que e E A. Por fim, suponha e< b e b E (Yo, xo + f(xo)) tais que os pontos A(a, f(a)) e B(b,f(b)) estão
use novamente (i) (com O< 8 < b - e) para concluir que e+! E A, sobre a reta r, i.e., tais que a+ nf(a) = e e b + nf(b) = e. Por fim,
o que é uma contradição. conclua que f(c) = f(a+nf(a)) = J(a) e J(c) = J(b+nf(b)) = J(b),
de sorte que f(a) = f(b) e, portanto, a= b.
13. Por contradição, suponha que existisse x E [O, 1] tal que f(x) < O.
Utilize o lema 4.13, juntamente com o problema 1.5.4 do volume 1, 18. Fazendo x = y = O, obtemos f(O) + 9(0) h(O). Assim, definindo
=
para chegar a uma contradição. fi(x) = f(x)- f(O), 91 (x) = 9(x)- 9(0) e h1(x) = h(x)-h(O), temos
14. Mostre que a condição do enunciado garante que J(O) = J(m + na), fi(x + y3) + 91(x 3 + y) = h1(xy),
para todos m, n E Z. Em seguida, use o corolário 3.34 do lema de
Kronecker, juntamente com o resultado do problema anterior, para com fi (O) = 91 (O) = h1 (O) = O. Podemos, portanto, começar su-
provar que f é constante. pondo que f (O) = 9(0) = h(O) = O. Fazendo y = -x3 na relação
do enunciado, obtemos 9(x - x 9 ) = h(-x4 ) para todo x. Fazendo
15. Defina a função auxiliar 9 : lR -+ lR tal que 9(x) = I:J=l f(x + jr), x = -y3, obtemos f (-y9 + y) = h( -y4 ), para todo y E JR; daí, segue
com r > Oa ser escolhido posteriormente. Em seguida, se f(xo) <O< que f(x-x 9 ) = 9(x-x 9 ). Mas, como a imagem da função polinomial
f (x 1 ), aplique o lema de permanência do sinal para 9 para mostrar x f-t x - x 9 é o conjunto dos números reais (pelo exemplo 4.17), te-
que r pode ser escolhido de forma tal que 9(xo) < O < 9(x1). Por mos f(x) = 9(x), para todo x E R A relação do enunciado se reduz,
fim, aplique o TVI. então, a
f(x + y3) + J(x 3 + y) = h(xy). (7.2)
16. Observe inicialmente que, para x E (O, 1), a função 9(x) = x(f(x) -
f(O)) mede a área do retângulo que tem os pontos (O, J(O)) e (x, f(x)) Fazendo sucessivamente y = -x3 ex = -y3 em (7.2) e levando em
como extremidades de uma diagonal; portanto, existe O < x1 < 1 tal conta que f(O) = O, obtemos, respectivamente,
que esse retângulo tem área igual a ~. Argumentando de maneira
f(x - x 9 ) = h(-x4 ) e J(-y 9 + y) = h(-y4 ),
análoga, construa retângulos R 1, ... , Rk, cada um dos quais tendo
lados paralelos aos eixos coordenados e área ~' cuja união cobre o de modo que f(x - x 9 ) = J(-x 9 + x). Usando de novo o fato de
gráfico de f e está contida no quadrado [O, 1] x [O, 1] do plano Car- que a imagem da função polinomial x f-t x - x 9 é JR, segue que f é
tesiano. Por fim, use a desigualdade de Cauchy para mostrar que uma função par, i.e., tal que que f(x) = J(-x), para todo x E R
k ":5:. n. Fazendo, agora, y = O em (7.2), obtemos f(x) + f(x 3) = O, de modo
que f(x) = - J(x 3). Voltando a (7.2), essa relação nos dá
17. Suponha, por contradição, que existam xo, Yo E lR para os quais
f(xo) < f(y 0 ); suponha, ademais, (os outros casos são análogos) f(x3 + y) - J((x + y3)3) = h(xy).
294 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 295

Mas, f par implica, então, 4. Comece utilizando a segunda hipótese do enunciado para mostrar que
fé injetiva; para tanto, tome x, y E lR distintos e considere (an)n>l
f(x3 + y) - J(-(x + y3)3) = h(xy). a sequência divergente tal que a2k = x e a2k-l = y, para todo k 2: 1.
Por fim, use as hipóteses sobre f para mostrar que 1- 1 transforma
Daí, segue que, se a E lR for tal que existam reais x e y satisfazendo sequências convergentes em sequências convergentes.
o sistema de equações
5. Para o item (a), adapte o argumento da prova do exemplo 4.17. Para
o item (b), use o resultado do item (a), em conjunção com o teorema
4.31.

então h(a) = O. Provemos que esse é o caso para todo a :S: O. Se 6. Pelo exemplo 4.16, a função g tem um ponto fixo xo. Se Xn = g(xn-1)
a = O, já temos h( a) = O. Se a # O, então a segunda equação do para n 2: 1, mostre que a sequência (xn)n2:1 é não decrescente e tal
sistema acima equivale a y 9 +3y6x+3x 2 y 3 +y+2x 3 = O. Escrevendo que f(xn) = Xn, para todo n 2: 1. Se Xn ---+ a, use a proposição 4.24
x = ~, segue que basta garantirmos a existência de um real y tal que para mostrar que f(a) = g(a) = a.

7. O item (a) segue imediatamente de (4.11). Quanto a (e), por um lado


y12 + 3ays + (3a2 + l)y4 + 2a3 =O ..
temos
Para tanto, seja p(y) = y12 + 3ay8 + (3a 2+ 1)y4 + 2a 3. Se a < O, então f(a) = J( lim Xn) = lim f(xn) = lim Xn+l = a;
n---++oo n---++oo n---++oo
p(O) = 2a3 < O e p(-a) > O, de modo que o TVI garante que p tem ao
menos uma raiz real. Para terminarmos, veja que f(x-x 9) = h(-x 4 ), por outro, se (3 E lR for tal que f ((3) = (3, então
de modo que f(x - x 9 ) = O para todo x E R Usando novamente a
la - f31 = lf(a) - f(f3)1 :S: eia - f31,
sobrejetividade de f, segue que f = O. Daí, (7.2) nos dá h = O.
Então, as funções f, g e h que satisfazem as condições do enunciado juntamente com O < e < 1, garante que la - f31 = O, conforme
são as funções constantes f = f(O), g = g(O) e h = h(O), tais que desejado.
f(O) + g(O) = h(O). 8. Pondo f(x) = ~(x + )x 2 + 1), temos claramente f(x) < x para todo
real x. Ademais,
1 x2 -y2
f(x) - f(y) - x-y+-------
Seção 4.3 2 )x 2 +1+#+1
1
1. Basta tomar f (a, b) ---+ lR tal que f (x) (x-a)(x-b), para todo 21x-yl 1 + x+y
X E (a,b). vx 2 J
+ 1 + y2 + 1

2. Mostre inicialmente que f(x) = f(l)x, para x E (Q. Em seguida,


1
< 21x -yl 1 + lxl + IYI
fixado xo E JR, escolha uma sequência (an)n>l em Q, tal que an ---+ xo
v x2 + 1+ J y2 + 1
quando n ---+ +oo, e aplique a proposição 4.24. < lx-yl.
296 Tópicos de Matemâtica Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 297

Seção 5.1 3. Examine os gráficos das funções definidas, para x > O, pelos dois
membros da igualdade em questão.
5. Para o item (a), se k EN, mostre que S..(J; k) ~ S..(g; k). Para o item
(b), se À > O, mostre que S..(>.J; k) = >.S..(J; k). Em seguida, use a 4. Faça a = b = v'2 e analise separadamente as possibilidades ab racional
definição de integral. e ab irracional, observando, neste último caso, que (ab)h E Q.

6. Observe que -lf(x)I ~ f(x) ~ lf(x)I, para todo x E [a, b]. Em 5. Esboce os gráficos das funções x t-+ x 2 e x t-+ 2x. Em seguida, use
seguida, use o item (a) do problema anterior. o TVI para mostrar que existe xo E (-2, O) tal que x~ = 2xo. Para
mostrar que xo é irracional, argumente por contradição.
7. Observe que
1b (f(x) - tg(x))2dx ~ O,
6. Primeiramente, note que a função f(x) = x + ../x2 + 1 é sempre
positiva e crescente e, assim, a função g( x) = x + log f (x) está bem
para todo t E JR. Desenvolvendo (f(x) - tg(x))2, conclua que At2 - definida no conjunto dos números reais e é também crescente. Agora,
l!
2Bt+C ~ O, para todo t E JR, onde A= g(x) 2 dx, B = l!
f(x)g(x)dx o sistema pode ser escrito como
eC= l! f(x)2dx. Em seguida, use o corolário 1.16. g(x) = y, g(y) = z, e g(z) = x.
8. Mostre inicialmente que, fixado t E [O, 1], o fato de f ·ser não decres- Suponhamos, sem perda de generalidade, que x = max{x,y,z}. En-
cente garante que A(RJ) é maior ou igual que a área do retângulo de tão, g(x) = max{g(x), g(y), g(z)}, de modo que y ~ z, x. Em par-
base [t, 1] e altura f(t), i.e., que ticular deve ser y = x, e um argumento análogo prova que deve ser

1 1
f(x)dx ~ (1 - t)f(t) ~ J(t) - t.
x = y = z. Mas aí, basta resolvermos a equação log(x+ ../x2 + 1) = O
ou, ainda, x + vx 2 + 1 = 1, a qual tem x = O como única solução.

Em seguida, fixes E [O, 1] e faça t = g(s) na desigualdade acima para 7. Se k E Z+ é tal que lük ~ n < 10k+1, conclua que k = llog10 nJ.
obter
J(g(s)) - g(s) ~ 11
f(x)dx.
8. Queremos que, para certos n, l EN, tenhamos

(a1a2 ... am~)10 ~ nk ~ (a1a2 ... a m ~ h o


Por fim, use o fato de s E [O, 1] ter sido escolhido arbitrariamente, l l
para concluir que
ou, ainda, 101p ~ nk < 101(p + 1), onde p = (a1a2 ... am)10. Tome

1 1
(f(g(s)) - g(s))ds ~ 11
f(x)dx).
l = kq e mostre que, nesse caso, a última condição acima equivale
à existência de um natural n tal que n E [10ª {i_p, 10ª {!p + 1), para
o quê é suficiente termos 10ª( {!p + 1 - {i.p) > 1 ou, ainda, q >
-log10 ( {!p + 1 - {i_p).

Seção 5.2 9. Queremos mostrar que existem m, n EN tais que

2. Suponha que log 10 2 é racional e chegue a uma contradição.


298 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 299

Tomando logaritmos decimais, isso é o mesmo que mostrar que exis- o que é uma contradição. Agora, argumente de modo análogo para
tem inteiros positivos m e n tais que log 10 s + m :S n log10 a :S mostrar que não podemos ter f(a) 2': a 2 + 1.
log 10 (s + 1) + m ou, ainda,
14. Comece mostrando que f (O) = O, 1 ou 2. Nos dois primeiros ca-
log 10 s:::; -m + nlog 10 a :S log 10 (s + 1). sos, mostre que f é constante. No terceiro, mostre inicialmente
que f(m) = 2m sempre que m é uma potência de 2. Em seguida,
Se mostrarmos que log 10 a é irracional, a prova estará terminada de- tome n < me suponha que f(m) = f(n); mostre, por indução, que
vido ao corolário 3.35. Suponha, por contradição, que log 10 a E Q, f(m 2 k) = f(n 2 k) e, para chegar a uma contradição, escolha a, b, e EN
digamos log 10 a= ~' com p, q E N primos entre si. Então aq = lQP, . que 1og2 n < 2cb < 2ca < 1og2 m.
tais
de sorte que, pelo teorema fundamental da aritmética (cf. introdução
ao capítulo 1 do volume 1), podemos escrever a= 2k5 1b, onde b não
tem fatores 2 nem 5 e k e l são inteiros não-negativos. Mas aí, temos
2kq5lqbq = 2P5P e, portanto, b = 1, kq = p e lq = p, de modo que em Seção 5.3
particular k = l. Ocorre que isso nos daria a = 2k 5k = lük, o que é
uma contradição.
3. f é ímpar e sua restrição a (O, +oo) é convexa (pelo problema ante-
rior), assume seu valor mínimo em x = 1 e está contida na porção do
10. Comece mostrando que Ioga (Ioga b) > logb(logª b) e logc(logc a) > primeiro quadrante delimitada pelo eixo das ordenadas e pela bissetriz
logb (logc a). Em seguida, aplique o item (e) do problema 1. dos quadrantes ímpares.

11. Se ao = O, bo = O, an+l = 2an + 1 e bn+l = 3bn + 5, mostre que 4. Escreva f(x) = (x:2f = -.;f=x" + vb
e mostre que cada uma
f(an) = bn, para todo n 2': O. Conclua, a partir daí, que f(2n - 1) = -vi e t f--.+
das funções t f--.+ ./t'
t E (O, 1), é estritamente convexa.
~(3n - 1) para todo n 2': O, e resolva a equação 2n - 1 = x para n. Em seguida use o resultado do problema 2.

12. Queremos mostrar que existem infinitos inteiros k e l tais que 3 · lük < 6. Aplique o resultado do problema anterior.
2n < 4 . lOk e 3 . 101 < 5n < 4 · 101 ou, ainda (tomando logaritmos
7. Sendo F uma integral indefinida de f e a < x < y < b, use (5.8) e a
decimais), que log 10 3 < -k + n log 10 2 < log 10 4 e log10 3 < -l +
monotonicidade de f para comparar as diferenças F(y) - F (x!y) e
n log 10 5 < log 10 4. Use, agora, o resultado do corolário 3.35.
F (x!y) - F(x).
13. Tome a> 2 inteiro, e suponha que f(a) ::::; a 2 - 1. Sem, n E N são
9. Use as hipóteses sobre f para mostrar que, para x e y positivos e
. tais que
log 22 m log 22 distintos, tem-se
log a 2 < -;;; < log(a 2 - 1)'
então 2n < am e (a 2 - l)m < 22n. Portanto, duas aplicações de (c),
xf(x) + yf(y) 2': f
x+y
(x 2
+ y 2 ) 2': f
x+y
(x + y).
2
seguidas por aplicações de (a) e (b), nos dão
300 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 301

Seção 5.4 deduzir que

- - · sen PBA
- > -.
1
1. Suponha que existam naturais n1 < n2 < n3 < · · · tais que a sequên- .
sen PAC·
.
sen PCB
8
cia (J(nk))k?.I seja uma PA. Use a convexidade estrita e o caráter
crescente de f para obter sucessivamente, para k > 1, Por fim, aplique a desigualdade de Jensen à função estritamente côn-
cava x f-t log sen x (cf. problema 6, página 183) para chegar a uma
contradição.

10. Use a concavidade estrita da função logaritmo natural, nos moldes do


e 2nk > nk-1 + nk+l· Por fim, chegue a uma contradição.
exemplo 5.25.
2. Use o caráter estritamente convexo da função de proporcionalidade
inversa.
11. Faça S = (~f= 1 (ai+ bi)k)11k e escreva
n n
3. Use a convexidade estrita da função f(x) = xk, com x > O. sk = I: ai(ªi + bit- 1 + I: bi(ªi + bit- 1 .
i=l i=l
4. Para o item (b), observe inicialmente que, pelo item (a), podemos su-
por que O pertence ao interior de A1A2 ... An. Sendo 'ai = AiÔAi+l Em seguida, escolha q > O tal que = 1 -i !
e aplique a desigualdade
para 1 ::; i::; n (com An+l = A1), isso garante que O< ai < 1r para de Hõlder a cada um dos somatórios acima.
todo i. Agora, use a desigualdade de Jensen, nos moldes do exemplo
5.24.

5. Sendo ai = AiÔÂi+l para 1 ::; i ::; n (com An+l = A1), temos O < Seção 6.1
ai < 7r. Mostre, agora, que o perímetro do polígono é r ~f= 1 tg ~i;
em seguida, use a convexidade estrita da função tg : (O,~) --+ R 1. Adapte, ao presente caso, a demonstração da unicidade do limite de
uma sequência, dada na proposição 3.5.
6. A lei dos senos fornece a+ b + e = 2R( sen  + sen Ê + sen ê). Agora,
aplique a desigualdade de Jensen à função sen : (O, 1r) --+ JR. 6. Multiplique o numerador e o denominador da fração por 1 + cos x.
Em seguida, use o limite trigonométrico fundamental.
7. Aplique a desigualdade de Jensen à luz do resultado do problema 4,
página 183. 7. Para a segunda parte, analise o comportamento de f ao longo das
sequências (an)n?.I e (bn)n?.I, tais que an = 2~1r e bn = 2n1r.!.1r7 2 , para
8. De acordo com o problema 5.1.7 do volume 2, temos x + y + z = h. todo n 2:: 1.
Mostre, agora, que a função f : (O, h) --+ lR dada por f(x) = ~+~ é
estritamente convexa e aplique a desigualdade de Jensen. 10. Adapte, ao presente caso, a discussão do exemplo 4.17.

9. Por contradição, suponha que PÂB, PÊC, PÔA > 30º. Então, 11. Comece fazendo x = 1 em (a) para obter f(J(y)) = yf(l), para todo
temos sen PÂB, sen PÊC, sen PÔA > !·
Use a forma trigonomé- y > O. Em seguida, use essa relação para mostrar que f é injetiva
trica do teorema de Ceva (cf. problema 7.3.37 do volume 2) para e, então, que f(l) = 1 e J(J(x)) = x, para todo x > O. Se a > O
302 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto
303

i
é ponto fixo de f, mostre que também o é, de sorte que podemos 10. Sendo T > O o período de f, mostre que j(k)(T) = j(k)(o), para
supor que a 2: 1. Conclua que ak é ponto fixo de f para todo k EN, todo inteiro k 2: O. Conclua que, para O :::; k :::; n - 1, tais equações
e use (b) para mostrar que a = 1. Por fim, fazendo x = y em (a), fornecem um sistema de equações nas incógnitas cos(jT), 1 :::; j :::; n,
conclua que J(x) = 1,
para todo x > O. cuja única solução é cos(jT) = 1, para todo 1 :::; j :::; n - para provar
este último fato, você terá de utilizar o resultado da proposição 6.5
do volume 6.
Seção 6.2 11. Provemos que J'(vk) = O. Como vk (j. Q, segue que J(vk) = O.
5. Adapte, ao presente caso, a discussão do exemplo 6.30. Daí, sendo x um irracional diferente de vk temos

6. Inicialmente, verifique que a discussão que precede o lema 6.27 nos _f(.;._x'---)-_f'----'(c--vk--'-k) = 0
permite escrever, para x E I \ { xo}, x-vk ·
Basta, pois, mostrarmos que
f(x) f'(xo) + r~~:oo)
g(x) = g'( XQ ) + s(x-xo)'
x-xo lim J(x) - f(vk) - O
x-+v'k X - ,vk - .
. .r(x-xo) . s(x-xo) _ O
com 1Imx---+xo x-xo e 1Imx---+xo x-xo - . xEIQ)

7. Pela continuidade da função logaritmo natural, basta mostrar que Para tanto, seja x = ~, com p, q E N, uma fração irredutível. Temos

lim x log
x---t+oo
(1 + ~) = a
X
f(x) - !( vk) 1
x-vk /p/q-vk/ q2/p-q,vk/
.
ou, ainda (fazendo y = x 1) , que 1·1my---+O+ log(l+ay)
Y = a. p ara t ant o,
use a regra de l'Hôspital. = p + qvk
q2 /p2 - q2 k 1
< p + q,vk -
- q2 - q
! (P.q + Fk)k .
8. Escolha um sistema Cartesiano de coordenadas tal que F(O, e) e d :
{y = -e}. Em seguida, obtenha a equação de P em um tal sistema, Dado E> O, tome n EN tal que n > 2v;+ 1 e seja
escreva Pi(ai, bi), para i = 1, 2, e calcule a abscissa Xi do ponto de
A= {p/q; p, q EN, O< q :S n}.
interseção da tangente a P traçada por Pi com a diretriz d. Por fim,
use a colinearidade de Pi, P2 e F para concluir que X1 = x2. Veja que A é um conjunto finito. Tomando
9. Para k 2: O, ponha j(k)(x) = ake-xsenx + bkcx cosx, de sorte que
J = min{l, {/x - Vk/; x E A}},
lk+l\x) = -(ak + bk)e-xsenx + (ak - bk)e-x cosx
temos que /~ - vk/ < J =} q 2: n, ao passo que ~ < vf + 1 implica
e, portanto, ªk+l = -(ak +bk), bk+I = ak-bk. Conclua, a partir daí,
que bk+ 2 + 2bk+1 + 2bk = O, para k 2: O, e use o material da seção 4.3 f(x) - f(vk) = ! (P. + yk) < 2,/f + 1 < E.
do volume 1 para obter j(k) (O) = bk. x-vk q q n
304 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto
305

Seção 6.3 8. Conclua que é suficiente mostrar que a função f(x) = 1 , x > O, (x+;t+
atinge seu valor mínimo em x = n. Para tanto, estude a primeira
4. Aplique o resultado da proposição 6.43 à função f [O, +oo) --+ IR variação de f.
dada por f(x) = ex - x - 1.
9. Use o TVM em conjunção com o resultado do problema 7, página
5. Claramente, basta mostrarmos que j(k) (O) existe e é igual a O, ~ara 150.
todo k # O. Para tanto, observe inicialmente que limx---+O e-l/x =
O = f(O), de sorte que f é contínua em R Examinemos, ~gora a 10. Mostre, inicialmente, que
primeira derivada de f. Para x # O, temos f'(x) = ;3 ·
e-l/x ; para
x = O, observe inicialmente que y = ~ (p( v1 + x 2 - x) + tcv1 + x2 + x)).
f(x) - f(O) _ e-l/x2 Em seguida, estude a variação da função f : IR--+ IR tal que f(x) =
X-Ü X x+ y, onde y é dado em função de x como acima.
Fazendo t = i, temos t --+ ±oo quando x --+ O e f(xl=l(O) t
;t2· 11. Use a desigualdade entre as médias para dois números para concluir
Como et 2 > 1 + t 2 pelo problema anterior, segue que que a expressão acima é maior ou igual que f(x + y), onde f(t) =
f
t + + fi para t > O. Em seguida, estude a primeira variação da
f(x)-f(O) 1 = ~ < _it_i --+ O função f.
l
X - Ü et 1 + t2

quando t--+ ±oo. Portanto, fé derivável em x = O, com f'(ü) = O.


12. Fazendo a = sen 4e /3 = sen J, mostre que basta analisar a igualdade
f(a) = f(/3), onde f(x) = (l~;~)24, x E (O, 1). Estude, então, a
Para a segunda derivada, note que, para x # O, temos f'(x) = ;fr · primeira variação de f.
f(x). Portanto, pela regra do produto, segue que
13. Aplique o teorema de Rôlle à função h : [a, b] --+ IR dada, para x E
J"(x) = ( 4 ~~x2) f(x) [a, b], por h(x) = (f(b) - f(a))g(x) - (g(b) - g(a))J(x), x E [a, b].

14. Tome, em I \ {e}, uma sequência (xn)n2:1, com Xn --+ e. Se Xn > e


para x # O, e um argumento análogo ao feito acima para calcular
(resp. Xn < e), então, aplicando o TVM ao intervalo [e, xn] (resp.
J'(O) mostra que f"(ü) existe e também vale O. [xn, e]), concluímos pela existência de Yn E (e, Xn) (resp. Yn E (xn, e))
tal que
6. Faça h(x) = f(x)senx + g(x) cosx e l(x) = f(x) cosx - g(x)senx,
de sorte que h(O) = 1 e l(ü) = O. Em seguida, calcule h'(x) e l'(x) f'(Yn) = f(xn) - J(c).
Xn -e (7.3)
e conclua que h é constante e igual a 1, ao passo que l é constante e
Em qualquer caso, temos Yn --+ e e Yn # e, de forma que, por
igual a O.
nossas hipóteses, temos f' (Yn) --+ L. Portanto, segue de (7.3) que
f(xn)- f(c) L Ü · , . .
7. Se g, h: IR--+ IR são tais que g(x) = f(x) - f(O) cosx e h(x) = g'(x), xn-c --+ . rac10c1mo acima mostrou que
para todo x E IR, mostre que h'(x) = -g(x). Em seguida, use o
resultado do problema anterior para mostrar que g(x) = f'(ü)senx. Xn--+ e::::} f(xn) - f(c) --+ L.
Xn -e
306 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 307

Mostre que isso é suficiente para garantir que limx--+c f(xl=I(c) existe Seção 6.4
e é igual a L.
4. Estude a primeira variação da função J(x) = (1 + l)x
(O )( . . x , para x E
15. Para o item (b), use o resultado de (a). Para o item (a), considere dois '+oo aqm, para x, g(x) > O, definimos g(x)x como exp(x logg(x))).
casos separadamente: se f não for injetiva em [a, b] mostre que basta 5. Derive g(x) = e-x f(x) e utilize a proposição 6.43.
usar o TVM; se f for injetiva em (b), conclua que f será monótona
6. Adapte, ao presente caso, a discussão do exemplo 6.56.
e, daí, que f' 2: O em [a, b] ou f' :S O em [a, b].
7. Por contradição, derive a igualdade p(x) -- log x e , em segm"d a, use o
16. Comece utilizando a relação do enunciado para mostrar que, se uma resultado do problema 10, página 212 .
tal f existisse, então teríamos f' (x) :S -1, para todo x > O. Em
seguida, use o TVM para mostrar que f deveria assumir valores ne- 8. Tomando logaritmos naturais, concluímos que basta comparar os nú-
meros le e log7l' 7l' • p ara t anto, estude a primeira
· · varia,ção da função
gativos.
f: (0,+oo)--+ lR dada por f(x) = lo~x, para x E (0,+oo), mos-
17. Aplique repetidas vezes o seguinte fato: se k E lR é tal que f (x) + trando que seu valor mínimo é atingido somente em x = e.
kf'(x) 2: O para todo x E JR, então J(x) 2: O para todo x .E R Para 9. Adapte a sugestão dada ao problema anterior.
provar tal fato, comece utilizando o resultado do problema 10, página
10. Aplique o TVM usual à integral indefinida de f baseada no ponto a.
212, para mostrar que f tem grau par e coeficiente líder positivo. Em
seguida, tome (pelo problema 5, página 149) xo E lR tal que f atinge 11. Inicia~~ente, use os cálculos do exemplo 6.53 para mostrar que existe
seu valor mínimo em xo e aplique o corolário 6.38. uma umca fo E F da forma fo(x) = Acosx+Bsenx, com A,B E R
Agora, expanda a desigualdade fo'll' (f (x) - f o(x) )2 dx 2: O para chegar
18. Use o TVM para garantir a existência de e E (a, b) tal que J'(c) = 1. ao resultado desejado.
Se f(c) = e, mostre que basta aplicar o TVM mais duas vezes. Se
f(c) < e, use o TVM para garantir a existência de a E (O, e) e 12. Para o item (a), estude a variação da função x f---+ log(x + 1) - x
(3 E ( e, 1) tais que f' (a) < 1 e f' (,B) > 1; em seguida, aplique o ~ 2: O. :ªra o item (b), observe inicialmente que, pela fórmula d~
mtegraçao por partes, temos
teorema de Darboux (cf. problema 15). Se f(c) > e, argumente de
maneira análoga. rl xn r1
nxn-l rl d
n lo xn + a dx = n lo x. xn + a dx = lo x. dx log(xn + a)dx
19. Comece usando o TVM para mostrar que existe O < 8 < 1 tal que
Jf(x)J < JxJ, para JxJ < 8. Itere esse argumento, mostrando que (com
= log(a + 1) -1 1
log(xn + a)dx.
o mesmo 8) Jf(x)J :S JxJn, para lxl < 8 e todo n EN. Conclua, a partir Por outro lado, pelo item (a), temos
daí, que f(x) = O, para lxl < 8. Em seguida, estenda o argumento
acima, mostrando que, se f(xo) = O, então existe 8 > O tal que
J(x) = O, para lx - xol < 8. Por fim, use o resultado do problema 12,
loga < lal log(xn + a)dx = 11 (ioga+ log ( :n + 1)) dx

página 140, para concluir que f(x) = O, para todo x E R < loga + rl xn dx.
lo a
308 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 309

Por fim, combine os cálculos acima para inferir o limite do enunciado. onde s = a1 + a2 + · · · + an; a partir daí, reescreva tal desigualdade
como

Seção 6.5
tlog ( 1
i=l
:i .)
ai
:S -(n+ l)logn+log ( ~ ) .
1 s

2. É imediato que J(x) < 1 para todo x E lR e limlxl-++oo e-l/x2 = 1. Se ai < ! para 1 :Si :S n, aplique a desigualdade de Jensen à função
Assim, o gráfico de f é simétrico em relação ao eixo das ordenadas f(x) = log ( 1.:x), O< x <!;posteriormente, mostre que
(pois f é par), está inteiramente contido na faixa do plano Cartesiano
situada entre as retas y = O e y = 1 e se aproxima mais e mais da reta 8
nlog ( - 8
- ) + (n + 1) logn :S log ( - - ) .
y = 1 quando x --+ ±oo. Agora, mostramos no problema 5, página n-s l-s
239, que f é duas vezes derivável, com f'(O) = J"(ü) = O e, para
x#O,
f '( x ) = ~. eJ"(
x) = (4 - 66x ) • e -1/x2 ..
2
-l/x2
3 e
X X

Portanto, f é crescente em [O, +oo), decrescente em ( -oo, O], estrita-


mente convexa para lxl < ,J6 e estritamente côncava para lxl > ,J6'
De posse das informações acima, esboçe o gráfico de f.

3. Use a desigualdade entre as médias de potências.

4. Use a concavidade estrita da função f (x) = log t;~, O < x < 1,


juntamente com a desigualdade de Jensen.

5. Use a convexidade estrita da função f (x) = x log x, x > O, juntamente


com a desigualdade de Jensen.

6. Aplique a desigualdade de Jensen à função f(x) = log se!x, x E (O, 1r).


7. Faça ai= exi, com Xi ~ O, mostre que a função J(x) = ex~ 1 , x ~ O,
é estritamente convexa e aplique a desigualdade de Jensen.

8. Comece escrevendo a desigualdade do enunciado como


n
II 1-ai a· :S nn+l
1 s
. 1- s'
i=l i
310 Tópicos de Matemática Elementar 3

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316 Tópicos de Matemática Elementar 3

CAPÍTULO A

Glossário

APMO: Asian-Pacific Mathematical Olympiad.

Áustria-Polônia: Olimpíada de Matemática Austro-Polonesa.

BMO: Balkan Mathematical Olympiad.

Baltic Way: Baltic Way Mathematical Contest.

Crux: Crux Mathematicorum, periódico de problemas da Sociedade


Canadense de Matemática.

IMO: International Mathematical Olympiad.

Israel-Hungria: Competição Binacional Israel-Hungria.


318 Tópicos de Matemática Elementar 3

Miklós-Schweitzer: The Miklós-Schweitzer Mathematics Competi-


tion (Hungria).

NMC: Nordic Mathematical Contest.

OBM: Olimpíada Brasileira de Matemática.


Índice Remissivo
OBMU: Olimpíada Brasileira de Matemática para Universitários.

OCM: Olimpíada Cearense de Matemática.

OCS: Olimpíada de Matemática do Cone Sul.


Área teorema fundamental do, 243
OIM: Olimpíada Ibero-americana de Matemática. inferior, 152 Cauchy
sob um gráfico, 153 sequência de, 88
OIMU: Olimpíada Ibero-americana de Matemática Universitária. superior, 152 Cavalieri
princípio de, 162
ORM: Olimpíada Rioplatense de Matemática. Abel
Concavidade
critério de, 106
da função seno, 180
Putnam: The William Lowell Mathematics Competition (Estados Niels Henrik, 106
Conjunto
Unidos). Assíntota
denso, 107
horizontal, 211
Cosseno
Torneio das Cidades: The Tournament of the Towns, olimpíada oblíqua, 212
função, 70
intermunicipal mundial de Matemática. vertical, 211
Critério
Banach de Abel, 106
Stefan, 150 de comparação para, 100
teorema do ponto fixo de, 150 de Leibniz, 103
Bijeção, 32
Bolzano Darboux
teorema de, 129 teorema de, 241
Derivada
Cálculo de uma função num ponto, 213
320 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 321

função, 216 Função, 2, 6 exponencial, 170 real, 7


lateral à direita, 216 k-ésima derivada, 227 gráfico de uma, 55 seno, 70
lateral à esquerda, 216 ímpar, 37, 70 identidade, 3 seno, concavidade da, 180
primeira, teste da, 231 afim, 15 imagem de uma, 11 sobrejetiva, 32
segunda, 227 arco-cosseno, 138 infinitamente derivável, 227 sobrejetora, 32
segunda, função, 227 arco-seno, 138 injetiva, 32 tangente, 73
Desigualdade bijetiva, 32 injetora, 32 uniformemente contínua, 145
de Cauchy para integrais, 163 bijetora, 32 integrável, 155 valor máximo de uma, 22
de Holder, 189 côncava, 175 inversa, 39 valor mínimo de uma, 21
de Jensen, 184 composta, 28 limitada, 67 Funções
de Minkowski, 193 constante, 3 limite de uma, 197 diferença de, 13
de Young, 188 contínua, 122 linear, 15 iguais, 12
triangular para integrais, 163 contínua em um ponto, 122 . Lipschitziana, 124 operações com, 8, 13
Diretriz, de uma parábola, 61 contradomínio, 7 logaritmo natural, 163 produto de, 9
Discriminante convexa, 175 modular, 59 quociente de, 13
de função de segundo grau, 15 cosseno, 70 monótona, 19 soma de, 9
Domínio, 7 crescente, 19 não crescente, 19
maximal, 8 de proporcionalidade inversa, não decrescente, 19 Gráfico
maximal de definição, 8 15 par, 37, 70 movimentando um, 68
de segundo grau, 15 parte fracionária, 13 transladando um, 68, 72
Eixo, de uma parábola, 61
de uma variável real, 8 parte inteira, 13
Elementos Holder
decrescente, 19 período de uma, 37
relacionados, 5 desigualdade de, 189
definida por partes, 7 periódica, 37, 70
Extremo Otto, 189
derivável, 216 polinomial, 123
local, 231
derivável em um ponto, 213 ponto de máximo de uma, 22 Imagem
ponto, 22
derivada, 216 ponto de mínimo de uma, 21 de um elemento, 2
valor, 22
derivada segunda, 227 ponto fixo de uma, 48 Injeção, 32
Fórmula domínio de uma, 7 potência n-ésima, 137 Integral
de integração por partes, 248 duas vezes derivável num ponto, primitiva de uma, 246 de uma função, 156
Foco, de uma parábola, 61 227 quadrática, 15 Integral indefinida, 160
Forma canônica estritamente côncava, 178 racional, 124 Intervalo
de uma função quadrática, 26 estritamente convexa, 178 raiz quadrada, 42 interior de um, 230
~
1

322 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 323

Isometria, 111 de potências, 260 para derivadas, 222 superior, 155


Minkowski Relação Subsequência, 80
Jensen em um conjunto, 5
desigualdade de, 193 Tangente
desigualdade de, 184 entre conjuntos, 5
função, 73
Parábola, 61 Reta
Kronecker reta, 217
diretriz de uma, 61 tangente, 217
lema de, 107 Teorema
eixo de uma, 61
Leopold, 107 de Bolzano, 129
foco de uma, 61 Série
l'Hôspital absolutamente convergente, 102 de Bolzano-Weierstrass, 84
vértice de uma, 61
Marquês de, 229 convergente, 93 de Darboux, 241
Parte fracionária, 13
regra de, 229 de números reais, 93 de Rôlle, 234
Parte inteira, 13
Lateral divergente, 94 de Weierstrass, 87
Ponto
derivada, 216 geométrica, 95 do confronto, 91, 205
crítico, 231
Leibniz harmônica, 95 do ponto fixo de Banach, 150
de inflexão, 256
critério de, 103 soma de uma, 93 do valor intermediário, 130
de máximo local, 231
G. W., 103 do valor médio, 232
de mínimo local, 231 soma parcial de uma, 93
Lema do valor médio para integrais,
extremo, 22 termo geral de uma, 94
de Kronecker, 107 252
fixo de uma função, 48 Séries
de permanência do sinal, 128, Primitiva critério de comparação para, fundamental do Cálculo, 243
201 Teste
de uma função, 246 100
dos intervalos encaixantes, 87 Princípio da raiz, 106
Seno
Limite da razão, 101
de Cavalieri, 162 função, 70
de uma função, 197 Trinômio de segundo grau
Sequência
infinito, 210 Quadrantes forma canônica de um, 26
convergente, 78
lateral, 209 bissetriz dos quadrantes, 59 de Cauchy, 88 Vértice, de uma parábola, 61
no infinito, 210 divergente, 78 Valor extremo, 22
.
t ngonome . f un d amenta1, 206Rôlle
't nco - finita, 4 Valor médio
Lipschitz, Rudolf, 124 Michel, 234 infinita, 4 para integrais, teorema do, 252
teorema de, 234
Logaritmo limite de uma, 78 teorema do, 232
Raiz
na base a, 172 Sobrejeção, 32 Variação
de função polinomial, 123
natural, função, 163 Soma primeira, 235
Regra da cadeia
Média para continuidade, 126 inferior, 155 segunda, 255
~
324 Tópicos de Matemática Elementar 3
l
Vizinhança, 197 •1seM
Weierstrass
teorema de, 87 (continuação dos títulos publicados)
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 6 - Polinômios - A. Caminha
Young Treze Viagens pelo Mundo da Matemática - C. Correia de Sa e J. Rocha (editores)
desigualdade de, 188 Como Resolver Problemas Matemáticos - Terence Tao
William H., 188
COLEÇÃO PROFMAT

Introdução à Álgebra Linear - A. Hefez e C.S. Fernandez


Tópicos de Teoria dos Números - C. G. Moreira, F. E Brochero e N. C. Saldanha
Polinômios e Equações Algébricas - A. Hefez e M.L. Villela
Tópicos de Historia de Matemática - T. Roque e J. Bosco Pitombeira
Recursos Computacionais no Ensino de Matemática - V. Giraldo, P. Caetano e F.
Mattos
Temas e Problemas Elementares - E. Lages Lima, P. C. Pinto Carvalho, E. Wagner
e A. C. Morgado
Números e Funções Reais - E. Lages Lima
Aritmética - Abramo Hefez
Geometria - Antonio Caminha Muniz Neto

COLEÇÃO INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Números Irracionais e Transcendentes - D. G. de Figueiredo


Números Racionais e Irracionais - Ivan Niven

COLEÇÃO TEXTOS UNIVERSITÁRIOS

Introdução à Computação Algébrica com o Maple - L. N. de Andrade


Elementos de Aritmética - A. Hefez
Métodos Matemáticos para a Engenharia - E. C. de Oliveira e M. Tygel
Geometria Diferencial de Curvas e Superfícies - M. P. do Carmo
Matemática Discreta - L. Lovász, J. Pelikán e K. Vesztergombi
Álgebra Linear: Um segundo Curso - H. P. Bueno
Introdução às Funções de uma Variável Complexa - C. S. Fernandez e N. C.
Bernardes Jr.
Elementos de Topologia Geral - E. L. Lima
A Construção dos Números - J. Ferreira
Introdução à Geometria Projetiva - A. Barros e P. Andrade
Análise Vetorial Clássica - F. Acker
.!SBM
(continuação dos títulos publicados)
Funções, Limites e Continuidade - P. Ribenboim
Fundamentos de Análise Funcional - D. Pellegrino, E. Teixeira e G. Botelho
Teoria dos Números Transcendentes - D. Marquez

COLEÇÃO MATEMÁTICA APLICADA

Introdução à Inferência Estatística - H. Bolfarine e M. Sandoval


Discretização de Equações Diferenciais Parciais - José Cuminato e Messias
Meneguette

COLEÇÃO OLIMPÍADAS DE MATEMÁTICA

Olimpíadas Brasileiras de Matemática, la a 8a - E. Mega, R. Watanabe


Olimpíadas Brasileiras de Matemática, 9a a 16a - C. Moreira, E. Motta,
E. Tengan, L. Amâncio, N. C. Saldanha e P. Rodrigues
21 Aulas de Matemática Olímpica - C. Y. Shine
Iniciação à Matemática: Um curso com problemas e soluções - K.I.M Oliveira e
A.J.C.Fernández

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