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Assessor Editorial
Tiago Costa Rocha
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Pablo Diego Regino
Sociedade Brasileira de Matemática
Presidente: Marcelo Viana Gr
Vice-Presidente: Vanderlei Horita
Primeiro Secretário: Ali Tahzibi
Segundo Secretário: Luiz Manoel de Figueiredo
Terceiro Secretário: Marcela Souza
Tesoureiro: Carmen Mathias
Distribuição e vendas
Sociedade Brasileira de Matemática
Estrada Dona Castorina, 110 Sala 109 - Jardim Botânico
22460-320 Rio de Janeiro RJ
Telefones: (21) 2529-5073 / 2529-5095 a Xo X b X
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ISBN 978-85-8337-007-9
ISBN 978-85-8337-007-9
.!SBM
1. Conceitos de Função. 2. Gráficos de Função.
3. Funções Contínuas. 4. Limites e Derivadas.
I. Título.
COLEÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA
•,. SBM
i11II
Logaritmos - E. L. Lima
Análise Combinatória e Probabilidade com as soluções dos exercícios -
A. C. Morgado, J. B. Pitombeira, P. C. P. Carvalho e P. Fernandez
Medida e Forma em Geometria (Comprimento, Área, Volume e Semelhança) -
E. L. Lima
Meu Professor de Matemática e outras Histórias • E. L. Lima
Coordenadas no Plano com as soluções dos exercícios - E. L. Lima com a
colaboração de P. C. P. Carvalho
Trigonometria, Números Complexos - M. P. do Carmo, A. C. Morgado e E. Wagner,
Notas Históricas de J. B. Pitombeira
Coordenadas no Espaço - E. L. Lima
Progressões e Matemática Financeira - A. C. Morgado, E. Wagner e S. C. Zani
Construções Geométricas - E. Wagner com a colaboração de J. P..Q. Carneiro
Introdução à Geometria Espacial - P. C. P. Carvalho
Geometria Euclidiana Plana - J. L. M. Barbosa
Isometrias - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Médio Vol. 1 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 2 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 3 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
Matemática e Ensino - E. L. Lima
Temas e Problemas - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Episódios da História Antiga da Matemática - A. Aaboe
Exame de Textos: Análise de livros de Matemática - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Medio Vol. 4 - Exercicios e Soluções - E. L. Lima, P. C. P.
Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Construções Geométricas: Exercícios e Soluções - S. Lima Netto
Um Convite à Matemática - D.C de Morais Filho
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 1 - Números Reais - A. Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 2 - Geometria Euclidiana Plana - A.
Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 3 - Introdução à Análise - A. Caminha
A meus filhos Gabriel e Isabela,
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 4 - Combinatória - A. Caminha na esperança de que um dia leiam este livro.
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 5 - Teoria dos Números - A. Caminha
Sumário
Prefácio IX
1 O Conceito de Função 1
1.1 Definições e exemplos . 2
1.2 Monotonicidade, extremos e imagem 14
1.3 Composição de funções . . . . . . 28
1.4 Inversão de funções . . . . . . . . 39
1.5 Funções definidas implicitamente 44
2 Gráficos de Funções 55
2.1 Generalidades e exemplos 56
2.2 Funções trigonométricas . 70
Matemática sem sujar as mãos. Assim sendo, em vários pontos dei- tes dos livros-texto do secundário, fazem sua aparição. Numa terceira
xei a cargo do leitor a tarefa de verificar aspectos não centrais aos etapa, o texto apresenta outros métodos elementares usuais no estudo
desenvolvimentos principais, quer na forma de detalhes omitidos em da geometria, quais sejam, o método analítico de R. Descartes, a tri-
demonstrações, quer na de extensões secundárias da teoria. Nestes ca- gonometria e o uso de vetores; por sua vez, tais métodos são utilizados
sos, frequentemente referi o leitor a problemas específicos, os quais se tanto para reobter resultados anteriores de outra(s) maneira(s) quanto
encontram marcados com * e cuja análise e solução considero parte in- para deduzir novos resultados.
tegrante e essencial do texto. Colecionei ainda, em cada seção, outros De posse do traquejo algébrico construído no volume inicial e do
tantos problemas, cuidadosamente escolhidos na direção de exercitar aparato geométrico do volume dois, discorremos no volume três sobre
os resultados principais elencados ao longo da discussão, bem como aspectos elementares de funções e certos excertos de cálculo diferencial
estendê-los. Uns poucos destes problemas são quase imediatos, ao e integral e análise matemática, os quais se fazem necessários em cer-
passo que a maioria, para os quais via de regra oferto sugestões preci- tos pontos dos três volumes restantes. Prescindindo, inicialmente, das
sas, é razoavelmente difícil; no entanto, insto veementemente o leitor a noções básicas do Cálculo, elaboramos, dentre outros, as noções de
debruçar-se sobre o maior número possível deles por tempo suficiente gráfico, monotonicidade e extremos de funções, bem como examina-
para, ainda que não os resolva todos, passar a apreciá-los como corpo mos o problema da determinação de funções definidas implicitamente
de conhecimento adquirido. por relações algébricas. Na continuação, o conceito de função contínua
O primeiro volume discorre sobre vários aspectos relevantes do con- é apresentado, primeiramente de forma intuitiva e, em seguida, axio- ·
junto dos números reais e de álgebra elementar, no intuito de munir o mática, sendo demonstrados os principais resultados pertinentes. Em
leitor dos requisitos necessários ao estudo dos tópicos constantes dos especial, utilizamos este conceito para estudar a convexidade de gráfi-
volumes subsequentes. Após começar com uma discussão não axiomá- cos - culminando com a demonstração da desigualdade de J. Jensen -
tica das propriedades mais elementares dos números reais, são aborda- e o problema da definição rigorosa da área sob o gráfico de uma fun-
dos, em seguida, produtos notáveis, equações e sistemas de equações, ção contínua e positiva - que, por sua vez, possibilita a apresentação
sequências elementares, indução matemática e números binomiais; o de uma construção adequada das funções logaritmo natural e expo-
texto finda com a discussão de várias desigualdades algébricas impor- nencial. O volume três termina com uma discussão das propriedades
tantes, notadamente aquela entre as médias aritmética e geométrica, mais elementares de derivadas e do teorema fundamental do cálculo,
bem como as desigualdades de Cauchy, de Chebychev e de Abel. os quais são mais uma vez aplicados ao estudo de desigualdades, em
Dedicamos o segundo volume a uma iniciação do leitor à geometria especial da desigualdade entre as médias de potências.
Euclidiana plana, inicialmente de forma não axiomática e enfatizando O volume quatro é devotado à análise combinatória. Começamos
construções geométricas elementares. Entretanto, à medida em que o revisando as técnicas mais elementares de contagem, enfatizando as
texto evolui, o método sintético de Euclides - e, consequentemente, construções de bijeções e argumentos recursivos como estratégias bá-
demonstrações - ganha importância, principalmente com a discussão sicas. Na continuação, apresentamos um apanhado de métodos de
dos conceitos de congruência e semelhança de triângulos; a partir desse contagem um tanto mais sofisticados, como o princípio da inclusão
ponto, vários belos teoremas clássicos da geometria, usualmente ausen- exclusão e os métodos de contagem dupla, do número de classes de
XII Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto XIII
equivalência e mediante o emprego de métricas em conjuntos finitos. exemplos discutidos e dos problemas propostos ao longo do texto, boa
A cena é então ocupada por funções geradoras, onde a teoria elementar parte dos quais oriundos de variadas competições ao redor do mundo.
de séries de potências nos permite discutir de outra maneira problemas Finalmente, números complexos e polinômios são os objetos de
antigos e introduzir problemas novos, antes inacessíveis. Terminada estudo do sexto e último volume da coleção. Para além da teoria
nossa excursão pelo mundo da contagem, enveredamos pelo estudo do correspondente usualmente estudada no secundário - como a noção
problema da existência de uma configuração especial no universo das de grau, o algoritmo da divisão e o conceito de raízes de polinômios
configurações possíveis, utilizando para tanto o princípio das gavetas -, vários são os tópicos não padrão abordados aqui. Dentre outros,
de G. L. Dirichlet - vulgo "princípio das casas dos pombos" -, um destacamos inicialmente a utilização de números complexos e polinô-
célebre teorema de R. Dilworth e a procura e análise de invariantes mios como ferramentas de contagem e a apresentação quase completa
associados a problemas algorítmicos. A última estrutura combinatória de uma das mais simples demonstrações do teorema fundamental da
que discutimos é a de um grafo, quando apresentamos os conceitos bá- álgebra. A seguir, estudamos o famoso teorema de I. Newton sobre
sicos usuais da teoria com vistas à discussão de três teoremas clássicos polinômios simétricos e as igualmente famosas desigualdades de New-
importantes: a caracterização da existência de caminhos Eulerianos, ton, as quais estendem a desigualdade entre as médias aritmética e
o teorema de A. Cayley sobre o número de árvores rotvladas e o teo- geométrica. O próximo tema concerne os aspectos básicos da teoria
rema extremal de P. Turán sobre a existência de subgrafos completos de interpolação de polinômios, quando dispensamos especial atenção
em um grafo. aos polinômios interpoladores de J. L. Lagrange. Estes, por sua vez,
Passamos em seguida, no quinto volume, à discussão dos conceitos são utilizados para resolver sistemas lineares de Vandermonde sem o
e resultados mais elementares de teoria dos números, ressaltando-se recurso à álgebra linear, os quais, a seu turno, possibilitam o estudo
inicialmente a teoria básica do máximo divisor comum e o teorema de uma classe particular de sequências recorrentes lineares. O livro
fundamental da aritmética. Discutimos também o método da descida termina com o estudo das propriedades de fatoração de polinômios
de P. de Fermat como ferramenta para provar a inexistência de solu- com coeficientes inteiros, racionais ou pertencentes ao conjunto das
ções inteiras para certas equações diofantinas, e resolvemos também classes de congruência relativas a algum módulo primo, seguido do
a famosa equação de J. Pell. Em seguida, preparamos o terreno para estudo do conceito de número algébrico. Há, aqui, dois pontos cul-
a discussão do famoso teorema de Euler sobre congruências, constru- minantes: por um lado, uma prova mais simples do fechamento do
indo a igualmente famosa função de Euler com o auxílio da teoria mais conjunto dos números algébricos em relação às operações aritméticas
geral de funções aritméticas multiplicativas. A partir daí, o livro apre- básicas; por outro, o emprego de polinômios ciclotômicos para provar
senta formalmente o conceito de congruência de números em relação a um caso particular do teorema de Dirichlet sobre primos em progres-
um certo módulo, discutindo extensivamente os resultados usualmente sões aritméticas.
constantes dos cursos introdutórios sobre o assunto, incluindo raízes Várias pessoas contribuíram ao longo dos anos, direta ou indire-
primitivas, resíduos quadráticos e o teorema de Fermat de caracteriza- tamente, para que um punhado de anotações em cadernos pudesse
ção dos inteiros que podem ser escritos como soma de dois quadrados. transformar-se nesta coleção de livros. Os ex-professores do Departa-
O grande diferencial aqui, do nosso ponto de vista, é o calibre dos mento de Matemática da Universidade Federal do Ceará, Marcondes
XIV Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto XV
Cavalcante França, João Marques Pereira, Guilherme Lincoln Aguiar ram várias sugestões. Os pareceristas indicados pela SBM opinaram
Ellery e Raimundo Thompson Gonçalves, ao criarem a Olimpíada Cea- decisivamente para que os livros certamente resultassem melhores que
rense de Matemática na década de 1980, motivaram centenas de jovens a versão inicial por mim submetida. O presidente da SBM, professor
cearenses, dentre os quais eu me encontrava, a estudarem mais Ma- Hilário Alencar da Silva, o antigo editor-chefe da SBM, professor Ro-
temática. Meu ex-professor do Colégio Militar de Fortaleza, Antônio berto Imbuzeiro de Oliveira, bem como o novo editor-chefe, professor
Valdenísio Bezerra, ao convidar-me, inicialmente para assistir a suas Abramo Refez, foram sempre extremamente solícitos e atenciosos co-
aulas de treinamento para a Olimpíada Cearense de Matemática e pos- migo ao longo de todo o processo de edição. Por fim, quaisquer erros
teriormente para dar aulas consigo, iniciou-me no maravilhoso mundo ou incongruências que ainda se façam presentes, ou omissões na lista
das competições de Matemática e influenciou definitivamente minha acima, são de minha inteira responsabilidade.
escolha profissional. Os comentários de muitos de vários de ex-alunos Por fim e principalmente, gostaria de agradecer a meus pais, Anto-
contribuíram muito para o formato final de boa parte do material nio Caminha Muniz Filho e Rosemary Carvalho Caminha Muniz, e à
aqui colecionado; nesse sentido, agradeço especialmente a João Luiz minha esposa Mônica Valesca Mota Caminha Muniz. Meus pais me fi-
de Alencar Araripe Falcão, Roney Rodger Sales de Castro, Marcelo zeram compreender a importância do conhecimento desde a mais tenra
Mendes de Oliveira, Marcondes Cavalcante França Jr., Marcelo Cruz idade, sem nunca terem medido esforços para que eu e meus irmãos
de Souza, Eduardo Cabral Balreira, Breno de Alencar Araripe Falcão, desfrutássemos o melhor ensino disponível; minha esposa brindou-me
Fabrício Siqueira Benevides, Rui Facundo Vigelis, Daniel Pinheiro So- com a harmonia e o incentivo necessários à manutenção de meu ânimo.
breira, Antônia Taline de Souza Mendonça, Carlos Augusto David Ri- e humor, em longos meses de trabalho solitário nas madrugadas. Esta
beiro, Samuel Barbosa Feitosa, Davi Máximo Alexandrino Nogueira coleção de livros também é dedicada a eles.
e Yuri Gomes Lima. Vários de meus colegas professores teceram co-
mentários pertinentes, os quais foram incorporados ao texto de uma
ou outra maneira; agradeço, em especial, a Fláudio José Gonçalves,
Francisco José da Silva Jr., Onofre Campos da Silva Farias, Emanuel FORTALEZA, JANEIRO de 2012
Augusto de Souza Carneiro, Marcelo Mendes de Oliveira, Samuel Bar-
bosa Feitosa e Francisco Bruno de Lima Holanda. Os professores João
Antonio Caminha M. Neto
Lucas Barbosa e Hélio Barros deram-me a conclusão de parte destas
notas como alvo a perseguir ao me convidarem a participar do Pro-
jeto Amílcar Cabral de treinamento dos professores de Matemática da
República do Cabo Verde. Meus colegas do Departamento de Mate-
mática da Universidade Federal do Ceará, Abdênago Alves de Barros,
José Othon Dantas Lopes, José Robério Rogério e Fernanda Esther
Camillo Camargo, bem como meu orientando de iniciação científica
Itamar Sales de Oliveira Filho, leram partes do texto final e oferece-
r
XVI Tópicos de Matemática Elementar 3
Para a segunda edição fiz uma extensa revisão do texto e dos pro-
blemas propostos, corrigindo várias imprecisões de língua portuguesa
e de Matemática. Adicionei também alguns problemas novos, no in-
tuito de melhor exercitar certos pontos da teoria, os quais não se en-
contravam adequadamente contemplados pelos problemas propostos
à primeira edição. Nesta segunda edição as sugestões e soluções aos
problemas propostos foram colecionadas em um capítulo separado (o
capítulo 7, para este volume); adicionalmente, apresentei sugestões ou
soluções a todos os problemas com algum grau de dificuldade.
Por fim, gostaria de aproveitar o ensejo para agradecer à comu-
nidade matemática brasileira, em geral, e a todos os leitores que me
enviaram sugestões ou correções, em particular, o excelente acolhi-
mento desfrutado pela primeira edição desta obra.
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CAPÍTULO 1
O Conceito de Função
X y
Figura 1.2: X tem elementos dos quais não parte seta alguma.
R = {(x, y) E X x Y; x ~ y}
Figura 1.3: X tem elementos dos quais parte mais de uma seta. é a relação de X em Y dada por R = {(2, 2), (3, 2), (3, 3)}; de fato,
esses são os únicos pares ordenados (x, y), com x E { 1, 2, 3}, y E
{2, 3, 4, 5} e tais que x ~ y.
Assim como no exemplo anterior, é imediato que as condições exi-
gidas pela "definição" de função estão satisfeitas, de sorte que Idx é O exemplo acima é um caso particular de um procedimento ób-
realmente uma função. vio a que podemos recorrer para construirmos relações específicas R
Para o que segue, fixado arbitrariamente n EN, denotamos por ln entre conjuntos não vazios X e Y: basta especificarmos, de alguma
o conjunto dos n primeiros números naturais, i.e., ln = {1, 2, ... , n }. maneira, um subconjunto do produto cartesiano X x Y. Aqueles pares
Por exemplo, 11 = {1 }, 12 = {1, 2}, 13 = {1, 2, 3} e assim por diante. ordenados de X x Y que satisfizerem a especificação prescrita serão
os elementos de R. Sendo (x, y) um tal par, diremos que x e y são
Definição 1.3. Uma sequência (infinita) de números reais é uma
relacionados por R.
função f : N--+ R Uma sequência (finita) de números reais é uma
Se R é uma relação de X em Y, então R e X x Y por definição.
função f : ln --+ IR, para algum n E N.
Reciprocamente, escolhido um par ordenado (x, y) E X x Y, pode
Dada uma sequência f : N --+ IR (resp. f : ln --+ IR) é costume ocorrer que (x, y) E R ou (x, y) 1 R (i.e., que x e y sejam relacionados
denotar, para k ~ 1 inteiro, ak = f(k). Desta forma, obtemos a por R, ou não). No primeiro caso, escrevemos x Ry; no segundo,
notação usual para sequências, qual seja, x lJ, y. Em símbolos,
a1 = f(l), a2 = f(2), a3 = f(3), .... x Ry {::} (x, y) E R. (1.1)
Como no capítulo 4 do volume 1, denotamos a sequência em questão Assim é que, para a relação do exemplo acima, temos 3 R 2 mas 2 }J, 3,
simplesmente por (ak)k2:1 (resp. (ak)i::;k::;n)· uma vez que 2 ~ 3 é falso.
De um ponto de vista matematicamente mais rigoroso, uma função Dentre todos os tipos de relação que podemos considerar entre dois
é um caso particular de uma relação entre dois conjuntos, de acordo conjuntos não vazios, o principal é aquele dado pela seguinte
com a seguinte
6 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 7
Definição 1.6. Dados conjuntos não vazios X e Y, uma relação f de Exemplo 1. 7. Considere a função f : (Q ---+ R dada por
X em Y é uma função se a seguinte condição for satisfeita:
f (x) = { J x 2 + 1, se x ::; O .
\:;/x E X, :3 um único y E Y; xfy. · x + 1, se x > O
Como antes, escrevemos f : X ---+ Y para denotar que f é uma
Certamente que temos uma função, pois as expressões que definem
função de X em Y e f(x) = y para denotar que o par (x, y) E X x Y
f(x) têm sentido em R e, apesar de devermos aplicar fórmulas dife-
é relacionado por f, i.e., satisfaz xfy. Observe que tal notação faz
rentes, conforme o racional x satisfaça x ::; O ou x > O, cada racional
sentido, uma vez que a definição de função garante que se (x, Y1) e
x tem uma única imagem f (x) bem definida, posto que os casos x ::; O
(x, y2 ) são pares ordenados em X x Y tais que xfy1 e xfy2, então
ex > O cobrem todos os racionais. Assim, por exemplo, f(-1) =
y 1 = y 2 . Por outro lado, é imediato verificar que a definição formal
y'(-1) 2 + 1 = v'2 (uma vez que -1::; O), mas f(2) = 2 + 1 = 3 (uma
acima coincide com a definição informal dada no início desta seção.
vez que 2 > O).
O mais das vezes, trabalharemos com funções f : X ---+ Y tais que
Observe que poderíamos ter definido f(x) escrevendo
X, Y e R Em tais casos, geralmente indicaremos quem é o elemento
f (x) E Y associado a um elemento genérico x E X por meio de uma f (x) = { J x 2 + 1, se x ::; O .
fórmula em x que explicite uma regra que a função deva satisfazer. x + 1, se x 2'.: O
Por exemplo, podemos dizer: considere a função f : R ---+ R dada por
f(x) = x 2 . Isto quer dizer que a função associa, a cada x E R, seu Nesse caso, as condições x ::; O e x 2'.: O cobrem todos os racionais
quadrado x 2 . Veja que os requisitos definidores de uma função estão mas não são mais disjuntas: x = O satisfaz ambas; no entanto, as
satisfeitos, uma vez que, a cada x E R, temos associado um único fórmulas que devemos aplicar a um caso ou outro dão um mesmo
outro real f(x), qual seja, x 2 . Assim é que, ainda em relação a esse resultado quando x = O (uma vez que \1'0 2 + 1 = O+ 1), afastando
assim qualquer possibilidade de inconsistência.
exemplo, temos f( v'2) = (v'2) 2 = 2, f(3) = 32 = 9, etc.
Quando X, Y e R e f: X---+ Y é uma função tal que o elemento Dizemos por vezes que uma função f como a do exemplo acima
f (x) E Y associado a x E X é dado por uma fórmula em x, denotamos está definida por partes, em alusão ao fato de que há uma fórmula
por vezes tal correspondência escrevendo para calcular f(x) quando x E (-oo, O] e outra quando x E (O, +oo)
f:X --+ Y (ou x E [O, +oo), conforme se queira).
X 1----t f(x) Ao lidarmos com uma função f : X ---+ Y, é frequentemente útil de-
nominarmos os conjuntos X e Y, respectivamente, de domínio e con-
Assim, a função do parágrafo anterior, que associa a cada x E R seu
tradomínio da função; nesse contexto, denotaremos X = Dom (!).
quadrado x 2 , poderia ser denotada da seguinte maneira:
Assim é que, para a função f do exemplo 1. 7, o domínio e o contra-
f:R--+ R domínio são, respectivamente, (Q e R.
X 1----t x2 .
O mais das vezes vamos trabalhar com funções f : X ---+ R tais que
Vejamos mais um exemplo. X e R Em tais casos, diremos que f é uma função real (em alusão
8 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 9
ao fato de que f assume valores reais - i.e., de que seu contradomínio pondo
é R) de uma variável real (em alusão ao fato de que um elemento (! + g)(x) f(x) + g(x),
genérico x do domínio X de f - a variável da função - é um número (!. g)(x) f(x) · g(x),
real). (e· f)(x) e· f(x),
Ainda em tais casos, quando os valores f (x) forem dados por uma para todo x E X.
fórmula, como por exemplo f (x) = ~ , salvo menção em con- Algumas observações são pertinentes. Em primeiro lugar, veja que
x(x-1)
trário, convencionamos tomar X como sendo igual ao maior domínio os sinais de adição ria igualdade
possível. De outro modo, tomamos X como igual ao maior subcon-
(! + g)(x) = f(x) + g(x)
junto de R no qual as operações matemáticas que definem a expressão
f (x) têm sentido. Diremos, então, que X é o domínio maximal de têm significados distintos: no primeiro membro temos a definição da
definição, ou simplesmente o domínio maximal de f. função f +g, ao passo que, no segundo membro, f(x)+g(x) representa
a adição usual dos números reais f(x) e g(x). Uma observação análoga
Exemplo 1.8. A título de ilustração, encontremos o domínio maximal
é válida para os sinais de multiplicação utilizados nas definições das
X e R da função f: X---+ R dada por f(x) = ~ - Temos x(x-1) funções f ·g e e· f. Em segundo lugar, assim como com números reais,
omitiremos em geral o sinal de multiplicação, escrevendo f g e cf em .
X { x E R; Jx(x -1) R}
--;::::=l== E vez de f · g e e · f, mas isto não deve causar confusão.
É evidente que f + g, f g e cf são realmente funções de X em R
- {x E R; x(x - 1) > O}. As funções f + g e f g são denominadas, respectivamente, a soma e o
produto das funções f e g. Por outro lado, o produto cf do número
Como, para um produto ser positivo, ambos os fatores devem ter um real e pela função f pode ser visto como caso particular do produto de
mesmo sinal, devemos ter x > Oe x-1 > O, ou então x < Oe x-1 < O, duas funções: tomando g como a função constante e igual a e, temos
i.e., x > 1 ou então x < O. Portanto, f g = cf; ainda para tal g, denotaremos f + g simplesmente por f + e,
X= (-oo, O) U (1, +oo). i.e.,
(! + c)(x) = f(x) + e,
No contexto de funções reais de variável real, temos maneiras pa- para todo x E X.
drão de construir novas funções a partir de outras já conhecidas, utili-
zando as operações aritméticas do contradomínio R das mesmas. Mais Exemplo 1.9. Sendo f e g as funções de R em R dadas por f(x) =
precisamente, dados um conjunto não vazio X e R, um número real e x2: 1 e g(x) = -x + 3, temos
Infelizmente não existe um algoritmo 1 que nos permita encontrar Problemas - Seção 1.1
explicitamente a imagem de uma função qualquer dada. No entanto,
ao longo dos capítulos subsequentes resolveremos o problema de en- 1. Considere a função f : IR. -+ IR. definida por f (x) = x 3 - 2x 2 + 5x.
contrar o conjunto-imagem para vários tipos importantes de funções. Prove que f(x) tem o mesmo sinal de x, para todo real x =1- O.
Terminemos esta seção discutindo a igualdade de duas funções.
Em relação à função f do exemplo 1.7, não faz sentido considerarmos 2. A função f : IR.-+ IR. é tal que f(l) = 2, f( v'2) = 4 e f(x + y) =
f( v'2), uma vez que v'2 (/:. Q e f tem domínio Q. O que poderíamos f(x)f(y), para todos x, y E R Calcule o valor de f(3 + v'2).
fazer seria considerar, em vez de f, a função g : IR. -+ IR. dada por
3. Seja f : IR.-+ IR. uma função tal que f(x + y) = f(x)f(y) para
={ v'x 2 + 1, todos x, y reais. Se (ak)k::::: 1 é uma PA de razão r e f(a 1) =/:- O,
9 ( x) se x ::; O .
x + 1, se x > O prove que a sequência (f(ak))k::::: 1 é uma PG de razão f(r).
Apesar das fórmulas que definem f(x) e g(x) serem as mesmas, para f 4. * Dadas funções reais de variável real f, g : X -t IR., estenda a
elas só podem ser aplicadas a x E Q, ao passo que para gelas podem discussão do texto, apresentando definições apropriadas para a
ser aplicadas a todo x real; assim, não faz sentido pensarmos em f e diferença f - g e o quociente tg das funções f e g.
g como funções iguais, apenas denotadas de duas maneiras distintas.
Mais geralmente, temos a seguinte 5. *A parte inteira de um real x é definida como o maior in-
teiro menor ou igual a x. Explicite a imagem da função parte
Definição 1.11. Duas funções f : X -+ Y e g : W -+ Z são iguais inteira
se X= W, Y = Z e f(x) = g(x), para todo x E X. l J : IR. ----+ IR. (1.2)
X 1----t lxj '
Se duas funções f: X-+ Y e g: W-+ Z forem iguais, escrevemos
f = g. Frisamos que, de acordo com a definição acima, tal notação que associa a cada x E IR. sua parte inteira l x J.
encerra mais significado que escrevermos f(x) = g(x): ela significa
6. * A parte fracionária de um real x é definida por {x} = x- l x J,
a igualdade dos domínios, X = W, e dos contradomínios, Y = Z,
onde l x J denota a parte inteira de x (veja o problema anterior).
assim como a validade da igualdade f(x) = g(x), para todo x E X. Explicite a imagem da função parte fracionária
Se funções f e g como acima não forem iguais, escreveremos f =/:- g e
diremos que f e g são funções diferentes ou distintas. { } : IR. ----+ IR.
(1.3)
X 1----t {x} '
1 Um
algoritmo é uma sequência finita e bem determinada de procedimentos 7. (Torneio das Cidades.) Prove que o n-ésimo natural que não é
executáveis que, rigorosamente seguidos, fornecem a solução de um certo problema. quadrado perfeito é igual a ln+ y'n + !J.
14 Tópicos de Matemática Elementar 3
r
:~
~:
L Antonio Caminha M. Neto 15
8. * Seja f : (Q --+ (Q uma função tal que f(x + y) = f(x) + f(y) Desta forma, se os valores f (x) forem dados por uma expressão que
para todos x, y E (Q. Prove os seguintes itens: dependa de x E X, poderemos encarar o problema de encontrar a
imagem de f como aquele de encontrar os y E R para os quais a
(a) f(O) = O e f(-x) = - f(x) para todo x E (Q. equação f(x) = y tenha pelo menos uma solução x E X. Vejamos
(b) f(x - y) = f(x) - f(y) para todos x, y E (Q. alguns exemplos.
(c) f(kx) = kf(x) para todo x E (Q e todo k E Z. Exemplo 1.12. Uma função afim é uma função f: R--+ R tal que
(d) f (~) =~para todo n E Z \ {O}. f(x) = ax + b para todo x real, onde a e b são números reais dados,
com a# O. Uma função linear é uma função afim f como acima, tal
(e) f (~) = 7:f(l) para todos m,n E Z, n # O.
que b = O.
9. Seja f: R--+ Ruma função tal que f(x+y) = f(x) + f(y), para De acordo com a discussão acima, a imagem de uma função afim
todos x, y E R. Se (ak)k~l é uma PA de razão r, prove que a f como acima pode ser encontrada procurando o conjunto dos y E R
sequência (f(ak))k~I é uma PA de razão f(r). tais que a equação ax + b = y tenha alguma solução x E JR. Mas,
como tal equação sempre admite a solução x = ~, co11d~::.,.;:.;;os que
10. (IMO.) Sejam f, g: R--+ R funções tais que, para todos x, y E R, todo y E R pertence à imagem de f, de sorte que Im (!) = R
tenhamos
f(x + y) + f(x - y) = 2f(x)g(y). Exemplo 1.13. A função de proporcionalidade inversa é a fun-
que procuramos são exatamente as soluções da inequação de primeiro Corolário 1.16. A função quadrática f(x) = ax 2 + bx + e tem sinal
grau s
constante se, e só se, ~ O. Neste caso, temos af(x) 2:: O, para todo
~ + 4ay 2:: O.
x E R De outro modo:
Consideramos agora os casos a > O e a < O separadamente. Se (a) Se~ s O e a> O, então f(x) 2:: O para todo x E R
a> O, então (b) Se~ s O e a< O, então f(x) s O para todo x E IR.
Prova. Analisemos o caso a > O, sendo o outro caso análogo. Se
e segue daí ~ S O, temos da proposição anterior que
~
f (x) 2:: - 4 ª 2:: O, Vx E R
Reciprocamente, suponha que a > Oe f tem sinal constante. Segue
se a< O, então novamente da proposição anterior que a imagem de f contém números
positivos, e a constância de sinal de f garante que deve ser f(x) 2:: O,
para todo x E R Em particular, devemos ter
2 Aqui e em vários outros pontos do texto assumimos que o leitor possua certa
'i['
1,
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,,!1
20 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 21
1
Verifiquemos tal afirmação quando a > O, sendo a análise do caso onde na penúltima passagem utilizamos o fato de que lod + a ~ O,
a < O totalmente análoga. Sendo x 1 < x 2 números reais quaisquer, para todo a E R.
segue de a > O que
A proposição a seguir resolve, para funções quadráticas, o problema
da determinação dos intervalos de monotonicidade.
e f é crescente. Proposição 1.23. Sejam a, b, e E R, com a=/:- O, e J(x) = ax 2+bx+c.
Exemplo 1.21. A função f : [O, +oo) -+ R dada por f(x) x~ 2
(a) Se a > O, então f é decrescente em ( -oo, - 2:] e crescente em
é crescente em R. Para verificar tal afirmação, tome números reais
O ~ a < b. Então
[-;ª, +oo).
b2 ª2 (b) Se a < O, então f é crescente em ( -oo, - ;ª] e decrescente em
f(b) - J(a) -----
b+2 a+2 [- ;a' +oo) .
(a+ 2!(b + 2) [b2(a + 2) - a2(b + 2)], Prova. Façamos a prova do item (a), sendo a prova do item (b)
e, uma vez que (a+ 2)(b + 2) > O, basta mostrarmos que b2(a + 2) -
análoga. Para x 2 > x 1 ~ -;ª,
temos
Analogamente, definimos o que se entende por valor máximo e ao triângulo OQ R que x 2 + y 2 = 1 e, daí,
ponto de máximo de uma função f : I --+ li (I e li intervalo).
Genericamente, os pontos de máximo (resp. mínimo) de uma função 2xy = 2xvl - x 2 = 2Jx 2(1- x 2) = 2vx 2 - x 4 .
são denominados seus pontos extremos; da mesma forma, os valores
Fazendo a substituição z = x 2 , segue da expressão acima para a área
que a função assume em tais pontos são seus valores extremos.
que basta maximizar a função de segundo grau f (z) = z - z 2 , com
Veremos na seção 6.3 como procurar pontos extremos para uma
a condição de que O < z < 1 (uma vez que x < OR = 1). Pela
classe importante de funções, ditas deriváveis. Por ora, contentamo-
proposição 1.25, tal função admite z = ! como seu único ponto de
nos com alguns exemplos elementares, o primeiro dos quais sendo uma
consequência imediata da proposição 1.15.
máximo; como! E (O, 1), segue que o valor máximo desejado é f = 0)
!· Portanto, o valor máximo para a área é 2/'f = 1. •
Proposição 1.25. Em relação à função quadrática J(x) = ax 2+bx+c,
se a > O (resp. a < O), então - 2: é o único ponto de mínimo (resp. Exemplo 1.27. Dado um triângulo ABC no plano, mostre que seu
máximo) de f. Ademais, o valor mínimo (máximo) de f é - _t. baricentro G é o único ponto P do plano de ABC para o qual a soma
-2 -2 -2
AP + BP + CP é a menor possível.
A proposição acima tem várias aplicações interessantes, duas das
quais colecionadas abaixo à guisa de ilustração. Prova. Escolha um sistema Cartesiano de coordenadas, em relação
ao qual tenhamos A(x 1 , y 1 ), B(x 2, y 2 ) e C(x 3, y3). Se P(x, y), então a
Exemplo 1.26. Temos um semicírculo de diâmetro AB, centro O e fórmula para a distância entre dois pontos do plano Cartesiano fornece
raio lcm (figura 1.4). O retângulo PQRS tem o lado PQ situado
-2 -2 -2
sobre o diâmetro do semicírculo e os vértices R e S situados sobre o AP + BP + CP = f(x) + g(y),
mesmo. Calcule o maior valor possível para sua área.
onde
3
Outra estratégia elementar, por vezes útil, para abordar o pro- Solução. Novamente pela desigualdade entre as médias, temos
blema de encontrar os valores máximo e/ ou mínimo de uma função x 2 + 16 2 16 16 16
dada é a utilização de desigualdades. A seguir, vemos dois exemplos x+3+3+3
nesse sentido. > 4 4/x2. 16. 16. 16 =
V
~vx
m '
Exemplo 1.28. Seja f : [O, +oo) ~ IR a função dada por f(x) = x::( e daí
3 3 3
2x - 1 = O. Mas, como x ~ O, concluímos que haverá igualdade na 3. * Ache a imagem da função f: IR*~ IR, dada por f(x) = x + ~-
desigualdade acima se, e só se, x = v12 - 1. Assim, para x ~ O temos
4. Sejam I e IR um intervalo, a E I e f : I ~ IR uma função
2 dada. Se f é crescente (resp. decrescente) em (-oo, a] n I e
f(x) = (x + 1) + x + 1 - 2 ~ 2V2 - 2,
decrescente (resp. crescente) em [a, +oo) n J, então a é o único
de sorte que 2v12 - 2 é o valor mínimo de f, o qual é atingido se, e só ponto de máximo (resp. de mínimo) para f em I.
se, x = v12 - 1. 5. * Sejam X e IR um conjunto não vazio, f : X ~
IR uma função
Para o que falta observe que, para n E N, temos f (n) = n - 1 + dada e e E IR também dado. Relacione as imagens das funções
n!i ~ n - 1 e, daí, f não assume valor máximo. • f e f + e. Mais precisamente, se Y = Im (!), prove que Im (! +
Exemplo 1.29. Encontre o máximo da função f : [O, +oo) ~ IR dada e) = Y + e, onde Y + e denota o conjunto
por f(x) = x2~ 6 . Y +e= {y + e; y E Y}.
26 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 27
6. Motivados pela forma canônica do trinômio de segundo grau 12. Sejam a 1 < a 2 < · · · < an reais dados e f : lR --+ lR a função
ax 2 + bx + c, diremos doravante que dada por
2
f (x) = a { (x + ~)
2a
- ~}
4a2
(1.5)
Prove que f assume um valor mínimo e calcule tal valor mínimo
é a forma canônica da função quadrática f(x) = ax 2 + bx + c. em função de a1, a2, ... , ªn·
Utilize tal forma canônica para dar uma outra demonstração da 13. Em cada um dos itens a seguir, use a desigualdade entre as
proposição 1.15. médias para calcular o valor máximo da função dada:
7. Sejam f(x) = ax 2 +bx+c uma função quadrática tal que~> O, (a)f: lR--+ lR dada por J(x) = 2x;+ 3 ·
e x 1 < x 2 as raízes de J(x) = O. Prove os seguintes itens:
(b) f : lR--+ lR dada por J(x) = 2x:t!;+2.
(a) Se a> O, então f(x) <O{:} x E (xi, x2). (c) f: [O, 1]--+ lR dada por f(x) = x(l - x 3 ).
(b) Se a< O, então f(x) <O{:} x ~ [x1,x2].
14. Em cada um dos itens a seguir, use a desigualdade entre as
8. Seja f(x) = ax 2 + bx + e uma função quadrática. Se existe um médias para calcular o valor mínimo da função dada:
real x 0 tal que af(x 0 ) < O, prove que~> Oe Xo E (x1, x2), onde
(a)f: (O, +oo)--+ lR dada por f(x) = x + i·
x 1 < x 2 são as raízes da equação f(x) = O.
(b) f: (O, +oo)--+ lR dada por f(x) = (x+~1(;+2).
9. Dentre todos os retângulos de mesmo perímetro, prove que o de (c) f: (O, +oo)--+ lR dada por f(x) = x 2 +;,onde a é um real
maior área é o quadrado. positivo dado.
10. A seção reta de um túnel tem o formato de um semicírculo de (d) f: (O, +oo)--+ lR dada por f(x) = x;:a.
raio 5m, e o túnel está dividido em duas faixas de trânsito, de (e) f: (O, +oo)--+ lR dada por f(x) = 6x + ;! .
sentidos contrários, separadas por um canteiro muito estreito.
Os caminhões de uma companhia de transportes têm de atra- 15. (Romênia.) Sejam x, y E lR tais que x 2 - xy + y 2 ~ 2. Mostre
vessar o túnel para levar mercadorias de uma cidade a outra. que x 4 + y4 ~ 8 e explique quando ocorre a igualdade.
Se o comprimento máximo permitido de um caminhão é 18m, 16. (Estados Unidos.) Encontre os valores reais de k para os quais
quais devem ser sua largura e altura a fim de que a companhia a função f : lR \ { -1} --+ lR dada por
transporte o máximo possível de carga em cada caminhão?
( ) 4x + kx + k
2
11. Calcule o valor máximo da função f : lR --+ lR dada por f (x) = fx= x+l.
5x-1
x 2 +1' tenha como imagem a reta menos um intervalo da forma ( - L, L).
1'1'F
il
:1
''
17. (Torneio das Cidades.) Ache todos os x, y, z, t reais tais que Grosso modo, a definição acima significa que, para encontrarmos a
imagem de x E X por g o f, basta encontrarmos a imagem de f (x) E Y
y = x 3 + 2x por g. É fácil verificar que g o f, como definida acima, é de fato uma
z= y 3 + 2y função. Observe também que, para formarmos a composta de f e g,
t = z 3 + 2z devemos ter o domínio de g igual ao contradomínio de f. Vejamos
X= t 3 + 2t alguns exemplos.
Para o problema a seguir o leitor pode achar conveniente recor- Exemplo 1.31. Se f : X --+ Y é uma função arbitrária e ldx : X --+
dar a discussão sobre o mdc de dois inteiros no início do capítulo X e ldy : Y--+ Y são, respectivamente, as funções identidade de X e
1 do volume 1. Para um tratamento mais completo, veja a seção Y, então
1.2 do volume 5. f o ldx = f e ldy o f = f.
Verifiquemos a igualdade f o ldx = f, sendo a outra totalmente aná-
18. (OCM.) Seja f : N--+ Numa função tal que f(mn) = f(m) +
loga. Para tanto, basta notarmos que f o ldx é uma função de X em
f(n) sempre que me n forem primos entre sL Um natural m
Y tal que, para todo x E X,
é dito um ponto de estrangulamento de f se n < m ::::} f (n) <
f(m) e n > m::::} f(n) > f(m). Se f possui infinitos pontos de (! o ldx)(x) = f(Idx(x)) = f(x).
estrangulamento, mostre que ela é crescente.
Exemplo 1.32. Considere as funções f,g: ~--+~dadas por f(x) =
x 2 e g(x) = x 2~ 1 . Temos g o f e f o g funções de~ em~' com
1.3 Composição de funções
1 1 1
Dadas as funções f : X --+ Y e g : Y --+ Z temos, em última (g O f)(x) = g(f(x)) = (f(x)) 2 + 1 (x 2 ) 2 + 1 x4 + 1
análise, regras bem definidas para, partindo de x E X via f, obter
e
y = f(x) E Y e, via g, obter z = g(y) E Z. Parece, então, razoável que
possamos formar u,ma função que nos permita sair de X diretamente
para Z. Este é de fato o caso, e a função resultante é denominada a (J o g)(x) - f(g(x)) - (g(x))' - (x, ~ J x4
1
+ 2x2 + 1 ·
função composta de f e g, de acordo com a seguinte
O exemplo acima mostra algo interessante: podemos ter g o f =/=-
Definição 1.30. Dadas as funções f: X--+ Y e g: Y--+ Z, a função ! og. Bem entendido, pode mesmo acontecer que possamos formar gof
composta de f e g (nessa ordem) é a função g o f: X--+ Z definida, mas não f o g (ou vice-versa); basta termos, por exemplo, f: X--+ Y
para cada x E X, por e g : Y --+ Z, com X =/=- Z. Contudo, mesmo que possamos formar
ambas as funções, o exemplo mostra que, ainda assim, pode ocorrer
(g o f)(x) = g(f (x)). que g o f =/=- f o g.
30 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 31
Exemplo 1.33. Sejam f, g : (O, +oo) --+ (O, +oo) funções tais que A proposição acima é muito importante, na medida em que nos as-
segura que, se tivermos funções f, g eh e pudermos compô-las (nessa
x2 + 1 X+ 2
f(x) = 3x 2 e (! o g)(x) = - 3 -. ordem), podemos denotar a função composta por h o g o f simples-
mente, não nos preocupando com qual composição efetuar primeiro.
Encontre a expressão da função g. É também claro que vale uma observação análoga para mais de três
Solução. Segue da definição de composta que funções.
n
3g(x) 2 + 3 = 3(x + 2)g(x) 2 •
Solução. Veja primeiro que j(n) : R \ { -1, 1} --+ R \ {-1, 1}. Agora
Olhando essa expressão como uma equação do primeiro graú em
g(x)2, obtemos g(x) 2 = x!i
e, daí, g(x) = ±k,
para cada x > O. J< 2)(x) = (f o f)(x) = J(f(x)) = 1 - f(x) = l - ~ =x
Mas, como g deve ter imagem não negativa, deve ser g(x) = k, 1 + f(x) 1+ i~: '
para todo x > O. •
isto é, j< 2) = ldx, a função identidade de X= R \ {-1, l}. Segue daí
Apesar de não ser comutativa, a operação de composição de funções que
é associativa, conforme ensina a seguinte
j<3) = f o j<2) = f o ldx = f e J<4) = f o j<3) = f o f = ldx.
Proposição 1.34. Dadas funções f: X--+ Y, g: Y--+ Z eh: Z--+
W, temos Em geral, se já mostramos que j< 2k-l) = f e j< 2k) = ldx, temos que
h o (g o !) = ( h o g) o f. j<2k+l) = f o j<2k) = f o ldx = f
Prova. Veja primeiro que ambas h o (g o!) e (h o g) o f são funções
e
de X em W. Portanto, para serem iguais, é suficiente que associem,
j(2k+2) = f o j<2k+l) = f o f = ldx.
a cada x E A, um mesmo elemento de W. Para ver isto, basta notar
que Logo, segue por indução que j(n) = f quando n for ímpar e j(n) = ldx
quando n for par. •
(h o (g o f))(x) h((g o f)(x)) = h((g(f(x)))
(h o g)(f(x)) = ((h o g) o f)(x). Dada uma função f : X --+ Y, já vimos exemplos que mostram que
nem sempre a imagem de f é igual ao contradomínio Y. Por outro
• lado, também podemos ter dois elementos distintos no domínio com
32 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 33
a mesma imagem. Para um exemplo, considere a função de segundo Segue, em particular, do exemplo anterior que a função de propor-
grau f(x) = x2; para todo x E IR, temos f(x) = x2 = (-x) 2 = cionalidade inversa (cf. exemplo 1.13) é uma bijeção de IR\ {O} em si
f(-x). Emprestamos nomes especiais às funções cujos contradomínios mesmo.
coincidem com suas imagens, ou que associam imagens distintas a
elementos distintos do domínio, conforme ensina a seguinte Exemplo 1.38. Seja f : [O, 1] -r [O, 1] uma função sobrejetora, tal
que ff(x1) - f(x2)[ ::::; fx1 - x2[ para todos xi, x2 E [O, l]. Prove que
Definição 1.36. Uma função f: X -r Y é dita: há somente duas possibilidades: ou f(x) = x, para todo x E [O, 1] ou
(a) Injetora, ou injetiva ou, ainda, uma injeção, se, para todo J(x) = 1 - x, para todo x E [O, 1].
y E Y, existir no máximo um x E X tal que f(x) = y. Prova. Sejam a, b E [O, 1] tais que f(a) = O e f(b) = 1 (tais a e b
(b) Sobrejetora, ou sobrejetiva ou, ainda, uma sobrejeção, se existem por estarmos supondo que fé sobrejetora). Então, temos por
sua imagem for todo o conjunto Y, i.e., se, para todo y E Y, hipótese que
existir pelo menos um x E X, tal que y = f (x).
1 = f1 - Of = IJ(b) - f(a)f ::::; fb - af ::::; 1,
(c) Bijetora, ou bijetiva ou, ainda, uma bijeção, se for ao mesmo
de modo que fb-af = 1. Mas, os únicos a, b E [O, 1] tais que fb-af = 1
tempo injetora e sobrejetora.
são a = O, b = 1 ou vice-versa. Suponha que a = O e b = 1 (o outro
Um modo eficiente de verificar se uma função f : X -r Y é injetora caso pode ser analisado de modo análogo), e tome e E (O, 1) arbitrário.
é verificar se a implicação Então, segue da desigualdade triangular (equação (7.1) do volume 1)
e da hipótese sobre f que
(1.6)
(a) g o f injetora=} f injetora, mas a recíproca nem sempre é ver- ego f também é injetora.
dadeira.
(d) Escolhido arbitrariamente z E Z, a sobrejetividade de g garante a
(b) g o f sobrejetora =} g sobrejetora, mas a recíproca nem sempre existência de y E Y tal que z = g(y). Por outro lado, a sobrejetividade
é verdadeira. de f assegura a existência de x E X tal que f(x) = y. Então, temos
(c) g, f injetoras =} g o f injetora. (g o f)(x) = g(f(x)) = g(y) = z,
(d) g, f sobrejetoras =} g o f sobrejetora.
de modo que g o f também é sobrejetiva.
(e) g, f bijetoras =} g o f bijetora.
Prova. (e) Segue dos itens (e) e (d) que
(a) Para x 1 e x 2 em X, temos que
g e f bijetoras =} f injetoras e sobrejetoras
g e
f(x1) = f(x2) =} g(f(x1)) = g(f(x2))
=} g o f injetora e sobrejetora
=} (g o f)(x 1) = (g o f)(x2)
=} g o f bijetora.
2. Considere as funções reais de uma variável real f e g, dadas por 9. Dada uma função f : X -----+ Y, definimos seu gráfico como o
J(x) = x - ~ e g(x) = x 2 - i·
Encontre o conjunto-solução da subconjunto G1 do produto Cartesiano X x Y dado por
inequação l(g o f)(x)I > (g o f)(x).
G1 = {(x,y) E X x Y; y = f(x)}.
3. Sejam f e g funções reais de uma variável real, tais que J(x) =
Se F : X -----+ G f é a função definida para x E X por F (x)
2x + 7 e (! o g)(x) = x2 - 2x +3 . Encontre a expressão que (x, f(x)), prove que Fé uma bijeção.
define a função g.
10. * Se I e IR é uma união de intervalos, simétrica em relação a
4. Sejam f e g as funções reais de uma variável real dadas por O E IR, dizemos que uma função f : I-----+ IR é par (resp. ímpar)
f(x) = ax + b, g(x) =ex+ d, com ac #- O. Mostre que se f(x) = J(-x) (resp. f(x) = - J(-x)), para todo x E J.
Prove que toda função f : IR -----+ IR pode ser escrita, de uma
f og =gof {=} (a - l)d = (e - l)b. única maneira, como a soma de uma função par e uma ímpar.
5. Seja f : IR-----+ IR a função definida por 11. Seja f : IR\ {O} -----+ IR uma função tal que f (%) = f(a) - J(b),
para todos os reais não nulos a e b. Prove que f é uma função
par.
f (x) = { :!~, se x #- -b
-1, se x = -b 12. Seja f : IR -----+ IR uma função ímpar. Decida se a função f o f é
par, ímpar, ou nem par nem ímpar.
Se f (! (x)) = x para todo x real, calcule o valor de ab.
13. Seja g: IR-----+ IR uma função ímpar, tal que g(x) > O para x > O.
6. * Se I e IR é um intervalo e f : I -----+ IR é uma função crescente Mostre que existe uma função f : IR -----+ IR tal que g = f o f.
ou decrescente, prove que f é injetiva.
14. (Itália.) Seja f : IR -----+ IR uma função tal que, para todo real
7. Sejam X, Y, Z e IR intervalos e f : X -----+ Y, g : Y -----+ Z funções x, tenhamos J(lü + x) = J(lO - x) e J(20 + x) = - J(20 - x).
dadas. Se f e g forem crescentes (resp. decrescentes), prove que Prove que fé ímpar e encontre p > O tal que f(x + p) = f(x),
g o f também é crescente (resp. decrescente). para todo x E R
8. Seja f : IR\ {O} -----+ IR uma função tal que 15. * Uma função f : IR-----+ IR é periódica se existe um menor real
positivo p, denominado o período de f, tal que f(x+p) = J(x)
para todo x E R Dada uma função periódica f : IR -----+ IR, de
período p > O, faça os seguintes itens
para todo real x #- O. Se u e v são reais não nulos, tais que (a) Seja g: IR-----+ IR também periódica de período p. Se f(x) =
u 2 +v 2 = 1 e f (;J = 2, calcule o valor de f (;)· g(x) para todo x E [O,p), prove que f = g.
38 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 39
(b) Dado a E lR. \ {O}, prove que a função g : lR. ---+ lR. dada por 1.4 Inversão de funções
g( x) = f (ax) é periódica de período 1: 1.
Dentre todas as funções f : X ---+ Y, o caso de uma bijeção é
16. (IMO - adaptado.) Seja f : lR. ---+ [O, 1] uma função tal que, para o melhor possível. Realmente, nesse caso os elementos de X e Y
um certo a E JR., tenhamos estão em correspondência biunívoca, ou seja, a cada elemento de X
corresponde um único elemento de Y via f, e vice-versa. Quando isso
1
f(x +a)= 2 + J f(x) - f(x) 2 , ocorre, podemos obter uma outra função g : Y ---+ X, simplesmente
exigindo que
para todo x E R Prove que f é periódica, i.e., que existe um f(x) = y {:} g(y) = x.
real p > O tal que f(x + p) = f(x), para todo x E R
Uma pergunta natural a esta altura é a seguinte: por que não
17. (OBM.) A função f: Z---+ lR. é tal que f(x)·= x-10 para x > 100 podemos usar a declaração acima para definir a inversa de uma função
e f(x) = f(f (x + 11)) para x:::;; 100. Encontre a imagem de f. bijetiva? De um ponto de vista intuitivo, se f não fosse sobrejetiva,
existiria um elemento y de Y que não seria imagem por f de nenhum
18. (Hungria.) Considere a função f : N ---+ N satisfazendo as con-
elemento de X; assim, não teríamos uma maneira natural de definir
dições a seguir:
g(y) a partir de f. Por outro lado, se f não fosse injetiva, existiriam
(a) f(l) = 2. elementos distintos x 1 e x 2 em X com uma mesma imagem y E Y via
f; quando tentássemos definir g por meio de f, também não haveria
(b) f(2n) = 2f(n) + 1. maneira natural de decidirmos qual, dentre x 1 e x 2 , deveria ser igual
(c) f(f(n)) = 4n + 1. a g(y).
Voltando ao caso em que fé bijetiva, não é difícil ver que g, defi-
Calcule !(1993). · nida como acima, é de fato uma função, ademais tal que (g o!) (x) = x,
para todo x E X, e (! o g)(y) = y, para todo y E Y. De outro modo,
19. Dê um exemplo de uma função sobrejetora f : N ---+ N tal que,
temos g o f = ldx e f o g = ldy. Reciprocamente, se f : X ---+ Y
para todo n EN, o conjunto {x EN; f(x) = n} seja infinito.
e g : Y---+ X são funções tais que g o f = ldx e f o g = ldy, então
20. (OIMU.) Sejam e e a reais positivos dados e Q um quadrado no a proposição 1.39 garante que f deve realmente ser uma bijeção, e o
plano, também dado. Prove que não existe função sobrejetiva problema 1 garante que g é a única função que satisfaz tais igualdades
f : [O, 1] ---+ Q tàl que, para todos O:::;; x, y:::;; 1, tenhamos de composição.
Resumimos a discussão acima na definição a seguir.
d(f(x), f(y)) :::;; clx - Yla+l/2,
Definição 1.41. Seja f : X ---+ Y uma bijeção dada. A função
onde, para pontos A e B do plano, denotamos d(A, B) = AB. inversa de f é a função g : Y ---+ X tal que, para x E X, y E Y,
l
j
40 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 41
temos mesma, i.e, que (Idx)- 1 = ldx. No entanto, a inversa de uma função
g(y) =X{:} Y = l(x). pode ser ela mesma sem que a função seja a identidade; um exemplo
é fornecido pela função de proporcionalidade inversa l : R \ {O} ----+
Daqui em diante, denotaremos a inversa de uma bijeção l : X ----+ Y
JR \ {O} (a qual já sabemos ser bijetiva). De fato, como
por 1- 1 : Y----+ X. Observe que o expoente -1 na notação de função in-
versa não tem nenhum significado aritmético; ele simplesmente chama 1 1
f(x) = Y {:} - = y {:}X= -,
atenção para o fato de que 1- 1 faz o caminho inverso de f, i.e., aplica X y
Y em X em vez de X em Y, revertendo as setas das associações feitas concluímos que
por f. 1
1- 1 (y) =X=-,
Surge, agora, naturalmente, a questão de como calcular efetiva- y
mente a inversa de uma bijeção. Um tal cálculo é, em geral, mais e daí 1-1 = l.
complicado que o de funções compostas. Entretanto, para funções re-
ais de uma variável real l : X ----+ Y, podemos raciocinar da seguinte Exemplo 1.44. Se a, b e e são reais dados, com a > O, as proposições
maneira: fixado y E Y, como 1- 1 (y) = x se, e só se, f(x) = y, a fim 1.15 e 1.23 garantem que a função quadrática l(x) = ax 2 + bx + e,
de explicitar 1- 1 (y) = x basta resolvermos, para x E X, a equação vista como função
l(x) = y. Vejamos, inicialmente, alguns exemplos relevantes.
l : [-..!!._
2a'
+oo) ----+ [- ~ +oo) '
4a'
Exemplo 1.42. Sejam a e breais dados, sendo a =/=- O, e considere a
função afim l : R ----+ R dada por l (x) = ax + b. Mostre que f é uma é uma bijeção. Calcule a expressão de sua invera.
bijeção e calcule tal inversa.
Solução. De acordo com a discussão que precedeu o exemplo 1.42, a
Prova. Note inicialmente que fim de obter a expressão da inversa 1- 1 : [ - t,, +oo) ----+ [- 2bª, +oo)
' y-b de f, devemos fixar y E [- t,, +oo) e resolver, para x E [- 2bª, +oo),
l (x) = y {:} ax + b = y {:} x = - - . a equação l (x) = y, isto é, a equação ax 2 + bx + e - y = O. Ao fazê-lo,
a
a condição x ~ - 2bª garante (lembre-se de que a > O) que
Por outro lado, a definição de 1- 1 exige que tal valor de x deve ser
exatamente igual a J- 1 (y), de maneira que -b + Jb 2 - 4a(c - y) -b + J ~ + 4ac
x- -------
- 2a - 2a '
•
Exemplo 1.43. Uma discussão análoga à do exemplo acima garante
que a inversa da função identidade ldx do conjunto X =/=- 0 é ela
•
42 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 43
Exemplo 1.45. Como caso particular do exemplo anterior4, a função (b) Prove que existe no máximo uma função 9 Y --+ X tal
I : [O, +oo) --+ [O, +oo) dada por I (x) = x 2 é uma bijeção, tendo como que 9 o I = Idx e I o 9 = ldy.
inversa a função raiz quadrada
2. Seja I: [!, +oo)--+ rn,
+oo) a função definida por l(x) = x 2 -
1- 1 : [O, +oo) ---+ [O, +oo) x + 1. Mostre que I é uma bijeção e obtenha a expressão para
X f-t VX sua inversa.
Terminemos esta seção explicitando uma relação útil entre compo- 3. Seja I : IR\ {2} --+ IR\ {3} a função definida por l(x) = 3 :.:::t
sição e inversão de funções. Mostre que I é uma bijeção e obtenha a expressão para sua
Proposição 1.46. Se I : X --+ Y e 9 : Y --+ Z são funções bijetoras, inversa.
então 9 o I : X --+ Z é bijetora e 4. * Sejam n um inteiro positivo e I : IR --+ IR a função dada por
( 90 1) -1 = 1-1
09 -1 . l(x) = xn. Prove que I é uma bijeção se, e só se, n for ímpar.
Nesse caso, calcule a expressão da inversa de I.
Prova. Já sabemos, pelo item (e) da proposição 1.39, que 9 ó I é
bijetora. Por outro lado, como (9 o f)- 1 e 1- 1 o 9- 1 são ambas funções 5. * Sejam X C IR um intervalo e I : X --+ X uma bijeção. Se
de Z em X, a fim de verificar que (9 o f)- 1 = 1- 1 o 9- 1 é suficiente, I for crescente (resp. decrescente), prove que 1- 1 também será
pela unicidade da inversa (cf. problema 1), mostrar que crescente (resp. decrescente).
(f- 1 o 9- 1 ) o (9 o!)= Idx e (9 o!) o (f- 1 o 9- 1 ) = Idz. 6. Sejam I : IR --+ IR uma bijeção e 9 : IR x IR --+ IR x IR a função
definida por 9( x, y) = (x 3 , x - I (y)). Prove que 9 é bijetora e
Mas tal verificação é imediata e será deixada a cargo do leitor.
• encontre a expressão de sua inversa em termos da função inversa
1-1 de 1-
7. (IMO.) Seja G um conjunto (não vazio) de funções afins, pos-
Problemas - Seção 1.4 suindo as seguintes propriedades:
1.5 Funções definidas implicitamente determinar as funções f que satisfazem (1.7). Só a experiência dirá
que relações obtidas a partir de uma relação inicialmente dada serão
Uma função pode ser definida implicitamente por um conjunto de úteis nesse sentido.
propriedades. Por exemplo, sendo g(x) = x + 1 e h(x) = x - 1, a Em geral, um problema interessante é o de encontrar todas as
função f: ~--+~dada por f(x) = x 2 é tal que funções definidas implicitamente por um certo conjunto de relações
dadas. Uma vez que não há uma teoria geral a esse respeito, no que
f(g(x)) = g(x) 2 e f(h(x)) = h(x)2,
segue, veremos alguns exemplos que ilustram um certo número de
ou seja, ela é tal que técnicas úteis no trato de funções definidas implicitamente.
f(x+l) = (x+1) 2 =x 2 +2x+l e J(x+l) = (x-1) 2 =x 2 -2x+l. Exemplo 1.47 (Canadá). Ache todas as funções f: N--+ N, crescen-
tes e tais que f(2) = 2 e f(mn) = f(m)f(n), para todos m, n EN.
Daí, temos que a função acima satisfaz, para todo x E~' a relação
Solução. De 1 ~ J(l) < J(2) = 2 obtemos J(l) = 1. Agora J(4) =
f (X + 1) - f (X - 1) = 4x. f(2)J(2) = 4 e J(8) = J(4)J(2) = 8. Suponha pois, por hipótese de
indução, que J(2k) = 2k para um certo natural k. Então
Podemos tentar reverter os passos acima, perguntando agora quais são
as funções f : ~ --+ ~ tais que
f (x + 1) - f (x - 1) = 4x, V x E R (1. 7) e segue que J(2n) = 2n para todo inteiro não negativo n. Portanto,
fixado n natural, segue de f ser crescente que
É claro que a função f (x) = x 2 não é a única, pois, como é fácil veri-
ficar, para qualquer constante real e a função fc(x) = x 2 + e também
satisfaz ( 1. 7).
Corno uma função f : ~ --+ ~ satisfazendo (1. 7) não está dada Mas, uma vez que J(2n + 1), J(2n + 2), ... , J(2n+1 - 1) são naturais,
por seus valores, e sim por uma relação que deve satisfazer, dizemos a única possibilidade é termos
que a função está definida implicitamente. Note que, a partir de ( 1. 7),
f(2n + 1) = 2n + 1, J(2n + 2) = 2n + 2, ... , J(2n+l - 1) = 2n+1 - 1.
podemos descobrir outras relações que a função satisfaz. Por exemplo,
se g: ~--+~é dada por g(x) = x 2 , temos Finalmente, como esse raciocínio é válido para todo n natural, segue
que f (m) = m para todo m natural. •
f(g(x) + 1) - f(g(x) - 1) = 4g(x)
Exemplo 1.48 (OIM). Se D = ~ - {-1, O, 1}, encontre todas as
ou, ainda,
funções f : D --+ ~ tais que, para todo x E D, tenhamos
f(x 2 + 1) - f(x 2 - 1) = 4x 2 , V x E~- (1.8)
Assim, qualquer função que satisfizer (1.7) também satisfará (1.8). f(x)2 f ( 1 - x) = 64x.
l+x
Entretanto, a relação (1.8) pode não ser muito útil para ajudar a
46 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 47
Solução. Note antes de tudo que, como X=/=- o, temos f(x) 2 f e~;) =/=- tendo em mente que essa substituição é meramente uma composição de
Ü para todo x E D. Em particular, J(x) =/=- O para todo x E D. Seja funções. Doravante, sempre que não houver perigo de confusão, ado-
agora g(x) = i~;para x E D. A definição de D garante facilmente taremos essa simplificação de linguagem, a qual já aparece no exemplo
que g(D) e D, de modo que podemos compor f com g. Assim, para a seguir. Ao lê-lo, tente identificar as composições que foram masca-
todo x E D, temos radas por substituições.
Exemplo 1.49 (Polônia). Encontre todas as funções f : R--+ R tais
(1.9)
que, para todos x, y E R, tenhamos
f (1-x)
1+ f (X)
X
2
= 64
(1-x)
1+ X '
bf(a) - af(b) = (a 2 - b2 )ab,
a qual deve ser satisfeita para todos a, b E R Em particular, quando
para todo x E D. Elevando ao quadrado ambos os membros da relação ab =/=- O, dividindo ambos os membros dessa relação por ab segue que
do enunciado e dividindo o resultado pela relação acima, obtemos devemos ter
f(a) _ f(b) = ª2 _ b2
J(x)3 = 64x2 (1-x)
1 +x a b '
para todos a, b E R \ {O}. Portanto, sendo g : R \ {O} --+ R a função
dada por g(x) = 1C:) - x 2 , a relação acima diz que g(a) = g(b), para
e, daí, J(x) = 4 3 x 2 (i~;). todos a, b E R \ {O}. Em outras palavras, g deve ser constante, isto é,
Até este ponto, mostramos apenas que, se f existir, deve ser dada deve existir um real k tal que g(x) = k para todo x E R \ {O}. Mas
por essa expressão. Temos, pois, de verificar que f, assim definida, isso é o mesmo que ser f(x) = x 3 + kx, para todo x E R \ {O}.
realmente satisfaz a relação do enunciado para todo x E D. Mas tal Por outro lado, fazendo x = y = 1 na relação do enunciado, obte-
verificação é imediata e será deixada a cargo do leitor. • mos f(O) = O para qualquer função que satisfaça aquelas condições.
Ainda em relação ao exemplo anterior, com um pouco mais de Como 03 + k · O = O, concluímos que qualquer função que satisfaça as
prática poderíamos prescindir de definir a função g para em seguida condições do enunciado deve ser da forma f (x) = x 3 + kx, para todo
compô-la com f a fim de obter (1.9). Ao invés disso, poderíamos xER
Novamente temos de verificar que toda função desse tipo satisfaz
apenas ter dito
as condições do enunciado, o que é imediato e será, uma vez mais,
Substituindo x por i~; na relação do enunciado, obtemos ... , deixado a cargo do leitor. •
48 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 49
Definição 1.50. Se X é um conjunto não vazio e f: X--+ X é uma Solução. Seja f uma função satisfazendo as condições do enunciado.
função dada, um elemento x 0 E X é dito um ponto fixo de f se Fazendo x = y = O em (a), obtemos
f(xo) = Xo.
f(O) = f(O + O) = f(O) + f(O) = 2f(O),
Se I e lR é um intervalo, uma função decrescente f : I--+ I admite
no máximo um ponto fixo. De fato, se x 1 , x 2 E I fossem pontos fixos de modo que segue que f(O) = O. Fazendo y = x em (a), obtemos
de f, com x 1 < x 2 , seguiria de f ser decrescente que
f(2x) = f(x + x) = f(x) + f(x) = 2f(x),
Prova. As hipóteses sobre f garantem que x + f(x) é ponto fixo de f f(nx) = nf(x), 'í/ n EN, x E lR (1.10)
para todo x E lR. Por outro lado, o caráter decrescente de f garante,
de acordo com a discussão anterior, a existência de no máximo um Em particular, fazendo x = 1 em (1.10), obtemos f(n) = n, para todo
ponto fixo para f, de sorte que deve existir a E lR tal que x + f (x) = a i
n EN. Fazendo agora x = em (1.10), segue que
para todo x E JR, o que é o mesmo que f(x) = a - x para todo x E JR.
Portanto 1 = f(l) = f ( n · ~) = nf (~),
J(f(x)) = f(a - x) = a - (a - x) = x,
para todo x E lR.
• de modo que f (i) = i· Finalmente, x = i em (1.10), com m EN,
fornece
O próximo exemplo desenvolve ideias úteis em muitas outras si-
tuações, e a primeira parte do argumento que apresentamos a seguir
resolve o problema 8, página 14.
!(:) =f(n· !) =nf(!) =n· ! = ;.
Exemplo 1.52. Encontre todas as funções f: lR--+ lR tais que f(l) = Vamos ver o que ocorre com os racionais negativos. Para isso, façamos
1 e, para todos x, y E JR, tenhamos y = -x no item (a), obtendo
1
50 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 51
Problemas - Seção 1.5 8. (Áustria-Polônia.) Prove que não existe função f : Z -+ Z tal
que, para todos x, y E Z, tenhamos
1. * Generalize a discussão do parágrafo anterior ao exemplo 1.51,
mostrando que, se I e :IR. é um intervalo e f, g : I -+ I são f(x + f(y)) = f(x) - y.
funções tais que f é decrescente e g é crescente, então existe no
máximo um x 0 E I tal que f(xo) = g(xo). 9. (Romênia.) Ache todas as funções f : Z-+ Z tais que f(O) = 1
e
2. Ache todos os reais positivos x para os quais J2_+ Jx = ~- f(f(k)) + f(k) = 2k + 3,
3. Encontre todas as funções f : Q -+ Q tais que para todo k E Z.
6. (Espanha.) Encontre todas as funções crescentes f : N -+ N tais 13. Ache todas as funções f : [O, 1] -+ [O, 1] tais que f(O) o,
que, para todo n EN, tenhamos f(n +f(n)) = 2f(n). f(l) = 1 e
+ y) + f(x - y) = 2f(x),
f(x
7. Encontre todas as funções f : :IR. -+ Z tais que:
para todos os x, y E [O, 1] tais que x - y, x + y E [O, l].
(a) f(x +a)= f(x) + a, para todo x E :IR. e todo a E Z. 14. (Lituânia.) Seja f: Z-+ Z uma função tal que f(m 2 + f(n)) =
(b) J(f(x)) = O para x E [O, 1). f(m) 2 + n, para todos m, n inteiros.
54 Tópicos de Matemática Elementar 3
19. (Irã.) Obtenha todas as funções f : IR-+ IR tais que, para todos Quando f : X -+ IR for uma função real de variável real, com
x, y reais, tenhamos X e IR uma união finita de intervalos (possivelmente X = IR), o
gráfico de f se reveste de significativa importância geométrica, uma
J(f (x + y)) = f(x + y) + f(x)f(y) - xy.
vez que
20. (Polônia.) Encontre todas as funções f: Q~-+ Q~ satisfazendo, G J e X x Y e IR x IR,
para todo racional positivo x, as seguintes condições: e esse último conjunto pode ser identificado com o plano, munido de
(a) f(x + 1) = f(x) + 1. um sistema Cartesiano de coordenadas fixado 1 .
1 Referimoso leitor ao capítulo 6 do volume 2 para uma discussão sobre sistemas
(b) f(x 3 ) = f(x)3.
Cartesianos de coordenadas.
56 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 57
Nosso propósito neste capítulo é examinar alguns exemplos e pro- um ponto (x 0 , y0 ) no plano Cartesiano, com x0 E [a, b). Claramente,
priedades simples de gráficos de funções f : X ---+ ~' quando X e ~ (xo, y0 ) E r; além disso, se x 0 for uma solução da equação f(x) = y0 ,
for uma união finita de intervalos, postergando para os capítulos 4, 5 i.e., se J(x 0 ) = y0 , então teremos também (x 0 , y0 ) E Gt. Assim, a reta
e 6 a discussão das propriedades dos gráficos de funções contínuas e horizontal de ordenada y0 intersectará o gráfico exatamente quando
deriváveis. y0 pertencer à imagem de f. O raciocínio para uma função qualquer
Em tudo o que segue supomos fixado, no plano, um sistema Car- f : X ---+ ~' com X e ~' é inteiramente análogo e nos permite concluir
tesiano de coordenadas. que
Há uma interpretação geométrica bastante simples para a imagem Se I e ~ é um intervalo, a monotonicidade de uma função f
de uma função real de uma variável real em termos de seu gráfico. Para I ---+ ~ também nos diz muito sobre o comportamento de seu gráfico.
exibi-la, marquemos, no plano Cartesiano da figura 2.1, os pontos de Por exemplo, supondo que f seja crescente (resp. decrescente) em I,
interseção do gráfico de uma função f : [a, b) ---+ ·~ com uma reta concluímos que, à medida que a variável x aumenta em I, os valores
horizontal r, de ordenada y = y0 . Seja (x 0 , y0 ) um ponto comum J(x) aumentam (resp. diminuem) em~' de maneira que o gráfico de
f sobe (resp. desce).
Por outro lado, se y0 E ~ é o valor mínimo de f : I ---+ ~ e x 0 E I é
um ponto de mínimo de f (cf. definição 1.24), então o ponto (x, f(x))
está acima ou coincide com o ponto (x, y0 ), para todo x E I (cf. figura
2.2). De outra forma, o gráfico de f está contido no semiplano superior
fechado determinado pela reta horizontal y = y0 , tocando tal reta no
ponto (xo, Yo).
Observe que os conceitos de valor máximo e ponto de máximo de
uma função f : I ---+ ~ admitem interpretações geométricas análogas
às discutidas acima.
Vale ainda observar que nem todo subconjunto do plano (munido
Figura 2.1: imagem x gráfico. de um sistema Cartesiano xOy) pode ser visto como gráfico de uma
função. De fato, suponha dada uma função real de uma variável real
f : X ---+ ~' tal que X é uma união finita de intervalos. Se (x 0 , y0 ) E
à reta e ao gráfico. Por pertencer ao gráfico de f, o ponto (x 0 , y0 ) Gt, então x 0 E X, pela definição de gráfico; por outro lado (e mais
deve ser tal que Xo E [a, b) e f(x 0 ) = y0 . Reciprocamente, seja dado importante), fixado x 0 E X, se A 1 (x 0 , y1 ) e A 2 (x 0 , y 2 ) são pontos sobre
58 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 59
(-3, O) X
Y = Yo
Figura 2.2: ponto de mínimo de f : I--+ IR. Figura 2.3: subconjuntos do plano que não são gráficos de funções.
o gráfico de f, então, novamente pela definição de gráfico, temos i.e., o gráfico de f é a reta paralela ao eixo-x e passando pelo ponto
(O, e) do eixo-y (figura 2.4).
Y1 = f(xo) = Y2,
Exemplo 2.2. Lembre-se (cf. definição 1.2) de que a função identi-
de maneira que A1 = A2 . Em resumo, para x 0 E JR, a reta vertical dade IdIR : lR --+ lR é tal que IdIR (x) = x, para todo x E R Seu gráfico
x = x 0 do sistema Cartesiano em questão intersecta o gráfico de f é, portanto, o conjunto
se, e somente se, x 0 E X; ademais, nesse caso tal reta intersecta o
gráfico em exatamente um ponto. Assim, o subconjunto C do plano Gld]R = {(x,y); x E lR e y = x} = {(x,x); x E JR}.
Cartesiano esboçado na figura 2.3 não representa o gráfico de função É um exercício fácil de geometria Euclidiana verificar que os pontos da
alguma f : [-3, 3] --+ JR, uma vez que toda reta vertical paralela às forma (x, x) e (-x, x) são os pontos do plano Cartesiano situados sobre
retas tracejadas e situada na faixa cinza intersecta Cem mais de um as bissetrizes dos ângulos formados pelos eixos coordenados, sendo
ponto.
que os da forma (x, x) pertencem ao primeiro ou terceiro quadrantes.
Por fim, vejamos alguns exemplos importantes de gráficos de fun- Portanto, o gráfico da função ldIR é a reta da figura 2.5, denominada
çoes. a bissetriz dos quadrantes ímpares. Observe que o conjunto dos
pontos da forma (x, -x), i.e., a bissetriz dos quadrantes pares, é o
Exemplo 2.1. Seja f : lR --+ lR a função constante e igual a e. O
gráfico da função f : lR --+ lR dada por f (x) = - x.
gráfico de f é o conjunto
Exemplo 2.3. A função modular é a função f : lR --+ lR dada
G1 = {(x,y); x E lR e y =e}= {(x,c); x E JR}, por f(x) = !xi. Segue imediatamente da definição de módulo de um
!'r'
: 1
(O, e)
(O, a)
o X
X
(a, O)
número real (cf. seção 2.2 do volume 1) que Figura 2.5: gráfico da função identidade ldJR..
1 / X X
1 /
1 /
1 /
(x,x).-/
'/
/
/
Figura 2.6: gráfico da função modular f(x) = lxl. Figura 2.7: gráfico da função afim f(x) = ax + b.
2(yo - k)
2
y =a (-!_)
2a
2
+ b (-.!!__)+e=
2a
- 4a
~.
Basta, então, resolvermos em x 0 , y0 e k o sistema de equações
•
Terminamos esta seção estabelecendo, na proposição a seguir, uma
1 = a _ Xo = b Xõ 1( k)
2(yo - k) ' Yo - k ' 2(y0 - k) + 2 Yo + = e, importante relação entre os gráficos de uma bijeção e de sua inversa.
64 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 65
(a, b) E G1 {::} b = J(a) Exemplo 2.8. Recorde que a função de proporcionalidade inversa é a
{::} a= 1- 1 (b) função f: IR\ {O}-+ IR\ {O}, tal que f(x) = para todo x E IR\ {O}. i,
De posse da discussão desenvolvida até o momento, podemos esbo-
{::} (b,a) E G1-1.
çar muito acuradamente seu gráfico. De fato, f é claramente decres-
Mas, como os pontos (a, b) e (b, a) são simétricos em relação à reta cente em (O, +oo); também já sabemos que fé ímpar (cf. problema
y = x, nada mais há a fazer. • 10, página 37), de sorte que, pelo problema 5, seu gráfico é simétrico
.1
/
/
para todo x E J. Prove que, nesse caso, o gráfico de f está
/
/
/
contido na faixa horizontal do plano Cartesiano delimitada pelas
/
/
/
retas y = ±M.
/
/
/
4. * Se I e IR é um intervalo e f, g : I -+ IR são funções dadas,
/
/
explique como identificar os pontos comuns aos gráficos de f e
/
g, traçados em um mesmo sistema Cartesiano.
(b) Se f for ímpar, então GI é simétrico em relação à origem. (c) g ( x) = - f (x) é obtido refletindo o gráfico de f ao longo do
eixo das abscissas.
6. Em cada um dos itens a seguir, esboce, num mesmo sistema
Cartesiano, os gráficos das funções reais de uma variável real (d) g(x) = f(-x) é obtido refletindo o gráfico de f ao longo do
listadas: eixo das ordenadas.
(b) g(x) = f(x) + a é obtido transladando o gráfico de f de a, 20 leitor deve ter cuidado com o sentido em que a palavra alongando é utilizada
paralelamente ao eixo das ordenadas. aqui; para tanto, compare os casos O < a < 1 e a > 1.
70 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 71
2. 2 Funções trigonométricas seção 5.3 mostraremos (cf. exemplo 5.19) que tal gráfico é "emborcado
para baixo" no intervalo [O, n]. Assumindo por enquanto a validade
A função seno é a função sen : lR ----+ JR, que associa a cada x E lR dessas afirmações, podemos finalmente esboçar o gráfico da função
o seno de um arco de x radianos: seno.
sen : lR --+ lR Exemplo 2.10. Reunindo as informações de que dispomos até o mo-
x f-------t sen x mento sobre a função seno em [O, n] (imagem, continuidade e con-
Analogamente, definimos a função cosseno por cavidade), juntamente com o fato de que a mesma é crescente em
[O, iJ, decrescente em [i, n] e satisfaz sen (n - x) = senx, a fim de
cos : lR --+ lR esboçarmos razoavelmente o gráfico da mesma nesse intervalo basta
X f-------t COS X tabelarmos alguns valores de senx para x E [O, iJ, o que fazemos a
segmr:
As propriedades básicas das funções seno e cosseno são estabeleci-
das na proposição a seguir, para a qual o leitor pode achar útil recordar o 7r
6
7r
4
7r
3
7r
2
os enunciados do problema 15, página 37 e do problema 10, página 37. o 1/2 \1'2/2 v13/2 1
Proposição 2.9. As funções seno e cosseno têm como imagem o in- De posse das informações acima e utilizando a periodicidade do
tervalo [-1, 1] e são periódicas de período 21r. Ademais, a função seno seno, obtemos imediatamente a figura 2.11, primeiro no intervalo [O, n]
é ímpar e a função cosseno é par. e, em seguida, no intervalo [-n, 1r].
do gráfico em cada um dos intervalos da forma [-n + 2kn, 1r + 2kn], -7r ~' X
onde k E Z.
________ ____ _
2 ' , .....
Por outro lado, uma vez que a função seno é ímpar, a fim de -1
obtermos seu gráfico no intervalo [-n, n], é suficiente construí-lo no
intervalo [O, n]; feito isto, ao refleti-lo em torno da origem do plano
Cartesiano obtemos (de acordo com o item (c) do problema 10, página Figura 2.11: gráfico das funções seno e cosseno.
37, uma vez que a função seno é ímpar) o gráfico no intervalo [-n, n].
Provaremos na seção 4.1 (cf. exemplo 4.10) que o gráfico da função
seno é uma curva contínua, i.e., sem interrupções. Por outro lado, na Observemos agora que, a partir das fórmulas de adição de arcos,
72 Tópicos de Matemâtica Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 73
temos
cosx = sen (x+ i).
a
Portanto, o item (a) do problema 10, página 68, garante que, urna vez
esboçado o gráfico da função seno, obtemos o esboço correspondente
ao gráfico da função cosseno transladando o gráfico da função seno de b
-i paralelamente ao eixo das abscissas. Na figura 2.11, o gráfico da
função cosseno no intervalo [-1f, 7í] é representado pela curva ponti- Figura 2 .12: definindo o ângulo a.
lhada, situada na faixa do plano Cartesiano entre as retas y = -1 e
y = 1.
(figura 2.12). Assim, ternos das fórmulas de adição de arcos que
Vejamos, agora, um exemplo relevante de aplicação das fórmulas
de adição de arcos da proposição 7.18 do volume 2, o qual nos diz f (x) a cos x + b sen x
I l'I'
como proceder para estudar as funções construídas corno uma certa J a 2 + b2(cos a cosx +sena senx)
,,','I
sorna de múltiplos das funções seno e cosseno. J a 2 + b2 cos(x - a). (2.2)
Exemplo 2.11. Dados reais positivos a e b, seja f: R--+ R a função Em particular, segue de I cos(x - a)I :::; 1 que
dada por
lf(x)I = Va2 + b2Icos(x - a)I:::; Ja 2 + b2,
f(x) = acosx + bsenx.
e não é difícil provar, a partir daí, que a imagem de f é precisamente
Escrevendo
o intervalo [-e, e], onde e= Ja 2 + b2 (veja o problema 1).
acosx + bsenx = Ja 2 + b2 ( ª cosx + b senx), Voltemo-nos, por fim, ao estudo da função tangente, i.e., da
J a2 + b2 . J a2 + b2
função que associa, a cada real x em seu domínio, o número real tg x.
observemos que Urna vez que
a b tg: D --+ R
cosa = e sena = . 1
J a2 + b2 v a2 b2 + X f--t tgx
i
74 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 75
y
Para x E D, temos
1 Como o leitor deve suspeitar, o outro é o número 1r, definido no volume 2 como
o valor numérico da área de um círculo de raio 1.
78 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 79
Dada uma sequência (an)n2'.I (em~), estamos interessados em re- (a) Se an = ~' então an ~ O: de fato, dado E > O, a fim de que
conhecer se os números reais an se aproximam cada vez mais de um lan - OI < E basta que n > ~; assim, uma vez fixado n 0 EN tal
certo número real l, à medida que n aumenta; por exemplo, se an = ~' que no> ~' temos lan - OI < E, para n > n 0 .
então é razoável dizer que os números an se aproximam de O à medida
que n aumenta, haja vista que o resultado da divisão de 1 por n é (b) Se an = (-1)\ então (an)n2:1 não converge: de fato, como os
cada vez menor à medida que n aumenta. Temos então a definição a termos da sequência são alternadamente iguais a 1 ou -1, não
seguir. podem aproximar-se todos de um mesmo real l (formalize esse
argumento intuitivo).
Definição 3.1. Dizemos que uma sequência (an)n:::: 1 converge para
um real l quando, uma vez prescrito um erro E > O para o valor de l, (c) Se an = 1 + (-~)n, então an ~ 1: isso porque lan - li = ~' de
existir um índice n 0 EN tal que lan - li < E, para todo n > n 0 . maneira que lan - li < E para n > !..
E
tenhamos de aumentar o natural n 0 da definição de convergência. Em Portanto, a fórmula do desenvolvimento binomial nos dá
outras palavras, é de se esperar que n 0 dependa de E > O. De qual-
1
quer modo, o importante para assegurar a convergência da sequência lq In = (1 + ar ~ 1 + na
(an)n2'.I é o fato de que, fixada arbitrariamente uma aproximação E> o,,
sejamos capazes de escolher n 0 E N tal que e, daí,
No intuito de familiarizar o leitor com o importante conceito de Assim, se queremos que lan - OI < E
'
basta impormos que - 1-
l+na
< E
limite de sequências, colecionamos, no que segue, vários exemplos ele- ou, equivalentemente, que n > i (~ - 1). •
mentares de sequências convergentes e divergentes.
Exemplo 3.4. A sequência (an)n2:i, dada para n > 1 por an
vnTI - fo, converge para O.
l
1!
1
80 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 81
Prova. Veja que an = vn+Í+vn· Assim, dado E> O, tome no EN tal {n1 < n 2 < n3 < · · ·} do conjunto de índices. Como a função j t-+ nj
que n 0 > 4! 2 , de sorte que entre N1 e N é uma bijeção, toda subsequência de uma sequência é,
ainda, uma sequência. Ademais, podemos denotá-la por (ank)kEN·
n >no==} vn + 1 + vn > vno + 1 +../no> 2.,/nõ > -1 E Proposição 3.6. Se (an)n~l é uma sequência com limite l, então:
e, daí, (a) Se an 2:: a (resp. an ~ a), para todo n 2:: 1, então l 2:: a (resp.
1
n > no ==} lan - OI = .~ . r;;; < E. l ~a).
vn+l+vn
• (b) Toda subsequência (ank)k~l de (an)n~l ainda converge para l .
Proposição 3.5. Se a sequência (an)n~l convergir, então seu limite é an < l +E= l + (a - l) = a,
único.
o que é um absurdo.
Prova. Sejam li e l 2 reais distintos e suponha que a sequência con-
vergisse simultaneamente para li e h- Tomando E= !Ili - hl > O, a (b) Seja dado E > O. Como an ~ l, existe um natural n 0 tal que
definição de limite garante a existência de n1, n2 E N tais que lan - li < E, para n > no. Mas, como n 1 < n2 < n3 < ···,existe um
índice ni na subsequência tal que nj > n 0 para j 2:: i; portanto, para
tais j, temos lani-ll < E, o que é o mesmo que dizer que ank ~ l. •
Daí, pela desigualdade triangular, Apesar da notação carregada, o item (b) da proposição acima pode
ser resumido em palavras de uma maneira bastante simples: basica-
mente ele afirma que, se todos os termos de uma sequência se apro-
o que é um absurdo. • ximam de um real l à medida que aumentamos seus índices, então,
quando consideramos somente uma parte (ainda infinita) desses ter-
A proposição a seguir lista algumas propriedades básicas de limi- mos, eles continuam se aproximando de l à medida que aumentamos
tes de sequências. Para seu enunciado, dada uma sequência (an)n~l, seus índices.
definimos uma subsequência da mesma como a sequência obtida a A proposição acima possui o seguinte corolário imediato, o qual
partir de (an)n~l, restringindo-nos a um subconjunto infinito N1 = fornece uma condição suficiente para a divergência de uma sequência.
82 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 83
Corolário 3.7. Uma sequência que possui duas subsequências con- Prova.
vergindo para limites distintos é divergente. (a) Se e = O, então can ---+ O = ca. Suponhamos e -=1- O, e seja dado
E > O. Existe no E N tal que n > n 0 :::} lan - ai < 1
~
1
. Daí,
Até agora, exceto por alguns exemplos bastante simples, não vimos
ainda como seria possível descobrir o limite de uma sequência que n >no:::} lcan - cal= lcllan - ai< lei· 1; 1 = E.
saibamos ser convergente. Para tanto, precisamos entender como é
possível operar com limites de sequências, problema que examinamos (b) Provemos que an + bn ---+ a + b (provar que an - bn ---+ a - b é
a partir de agora. Precisaremos, inicialmente, do seguinte resultado análogo). Dado E> O, existem n 1, n 2 EN tais que
auxiliar. é
n > n1:::} lan - ai < 2 e n > n2:::} lbn - bl < 2"é
Lema 3.8. Toda sequência convergente é limitada.
Portanto, tomando n > max{n 1,n2}, temos
Prova. Seja (an)n 21 uma sequência que converge para o limite l. En-
l(an + bn) - (a+ b)I :S lan - ai+ lbn - bl < ~+~=E.
tão, existe n 0 EN tal que
Seja agora L > O tal que lbnl < L para todo n EN. Dado 1: > O,
n >no:::} lan - li < 1, tome n 0 E N tal que
'! i
Então
Por fim, se L = max{l+lal, la1I, la2I, ... , lano-11}, então lanl < L para lanbn - abl lanbn - abn + abn - abl :S lan - allbnl + lallbn - bl
é é é é
todo n E N, e a sequência é limitada. • < 2L . L + lal . 2lal + 1 < 2+ 2 = E.
(c) Se an---+ O e (bn)n>I é limitada, então anbn---+ O. (d) Pela última parte do item (b), basta mostrarmos que 1 ---+ b.
1
bn
Para tanto, observemos que
(d) Se an ---+ a e bn ---+ b, com b, bn -=1- O para todo n ;::: 1, então
an ------'- g,
bn ---, b"
84 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 85
Dado E > O, escolha n 0 E N tal que proposição 1.14 do volume 1 garante que tal conjunto possui supremo,
digamos sup A = l. Afirmamos que an --+ l. Para tanto, seja E > O
lbl bl < 2E .
n >no=} 2 < lbn - dado; como l - E não é mais cota superior de A, algum elemento de
A é maior que l - E, digamos ano > l - E. Mas, como ªno :::; ªno+l :::;
Para n > n 0 , temos então que
ano+ 2 :::; • • • , concluímos que an > l - E, para n 2: no. Assim, para
n 2: no, temos
l - E < an :::; l < l + E,
• como desejado.
•
Para o que segue, recordemos que uma sequência (an)n21 de nú- O teorema acima e a definição de convergência garantem que, se
meros reais é simplesmente uma função f : N --+ JR, para a qual uma sequência limitada for monótona a partir de um determinado
convencionamos a notação an = J(n). Portanto, (an)n21 é: termo, então ela ainda será convergente. Exploramos essa observação
• monótona crescente (resp. decrescente, não decrescente, não nos dois exemplos a seguir.
crescente) se an < ªn+l (resp. an > ªn+i, an :::;· ªn+l, an 2: ªn+1), Exemplo 3.11. Dado um real positivo a, a sequência (an)n21 dada
para todo n 2: 1. por an = efa, é convergente e seu limite é igual a 1.
• limitada, se existe um real positivo M tal que lanl < M, para
Prova. Se a > 1, então a 1 > a 2 > a3 > · · · > 1, de sorte que,
todo n 2: 1.
pelo teorema de Bolzano-Weierstrass, existe l = limn-++oo ªn· Para
O resultado mais importante sobre limites de sequências é o teo- mostrarmos que l = 1, seja an = 1 + bn. Então
rema a seguir, conhecido na literatura como o teorema de Bolzano-
Weierstrass2.
sorte que a sequência é limitada; portanto, se mostrarmos que ela é Frisamos que, por vezes, não precisamos mostrar que uma dada
decrescente a partir de seu terceiro termo sua convergência seguirá do sequência converge, mas somente garantir que ela possui uma sub-
teorema de Bolzano-Weierstrass. Para o que falta, dado n > 2 inteiro, sequência convergente. Nesse sentido, o teorema 3.14 a seguir, devido
temos a Weierstrass e conhecido na literatura como o teorema de Wei-
erstrass, dá uma condição suficiente para a existência de uma tal
v1n > n+«n + 1 {:} n n+ 1 > (n + 1r {:} n > ( 1 + ~) n subsequência. Antes, contudo, precisamos de um lema importante em
si, conhecido como o lema dos intervalos encaixantes. No que
Provemos a última desigualdade acima. Para n = 3 ela é de verificação
segue, se I e IR é um intervalo finito, escrevemos III para denotar seu
imediata; para n > 3, basta mostrarmos que ( 1 + i) n < 3. Para tanto,
comprimento.
observemos que
Lema 3.13. Sejam dados os intervalos ln = [an, bnJ, n E N, tais que
(l + ! )n
n
= 1+ (n) ! + (n) 2_ + ... + (n) 2_
1 n 2 n2 n nn 11 ::) 12 ::) Í3 ::) · · ·. Se limn-++oo IInl = O, então existe um único l E IR
tal que íln2:l ln= {l}.
e
(n)k 2_nk = k!(n -n! k)!nk = ~k! . n(n - 1) · ·nk· (n - k + 1) < ~k! <- _1_
2k-l'
Prova. Note, inicialmente, que a interseção dos ln é vazia ou unitária;
de fato, se existissem reais a < b em tal interseção, teríamos [a, b] e
íln2:l ln; em particular, [a, b] C ln e, daí, IInl 2:: b - a, o que é uma
de sorte que
contradição.
1+ (n) ! + (n) 2_ + ... + (n) 2_
1 n 2 n2 n nn
Por outro lado, a condição de encaixe 11 ::) h ::) h ::) · · · garante
que a1 S a2 S a3 S · · · S b1, e o teorema de Bolzano garante a
1 1 1 existência de l = limn-++oo ªn· Afirmamos que l E íln2:l ln- Como
< 1+1+-+-+···+-
2 22 2n-l l = sup{ an; n E N}, segue que an S l para todo n E N. Por outro
1
3--<3. lado, fixado m E N, temos an S bm, para todo n E N, e o item (a)
2n-l
da proposição 3.6 garante que l = limn-++oo an S bm. Mas, como o m
Resta mostrarmos que o limite da sequência é 1. Para tanto, se fixado foi escolhido arbitrariamente, temos l S bm para todo m E N.
an = 1 + bn e n 2:: 2, então Segue então que l E [am, bm] = Im, para todo m E N, conforme
n = ann = ( 1 + bn )n -> 1 + (n) + (n)
l bn b2 > n( n 2- 1) . b2n,
2· n
desejávamos mostrar.
•
Teorema 3.14 (Weierstrass). Toda sequência limitada admite uma
de sorte que subsequência convergente.
2 2
O< bn < --1.
n- Prova. Seja 10 = [a0 , b0 ] um intervalo fechado e limitado contendo a
Portanto bn ---+ O quando n ---+ +oo, o que, por sua vez, garante que sequência limitada (an)n2'.l · Dentre os intervalos [a 0 , ªº~bo J e [ ªº~bo, bo],
an = 1 + bn ---+ 1. • escolha um que contenha uma infinidade de termos da sequência (an)n2'.l,
88 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 89
e denote tal intervalo por 11 . Proceda do mesmo modo com li, obtendo Portanto, dados m, n > n 0 , temos
um intervalo fechado 12 C 11 tal que lhl = !ll1I eh contenha uma in-
finidade de termos da sequência (an)n>l· Prosseguindo indutivamente,
construímos uma sequência 11 , h, 13 , ... de intervalos fechados tais que e a sequência é de Cauchy.
11 ::) h ::) h ::) · · · e lln+1I = llnl/2, para todo n ~ 1. Portanto, pelo Reciprocamente, seja (an)n>l uma sequência de Cauchy. Então,
lema dos intervalos encaixantes, existe e E IR tal que ílk2:l h = {e}. existe no E N tal que Iam - anl < 1 param, n > n 0 . Em particular,
Para terminar, escolha n 1 E N tal que an 1 E 11; em seguida, após Iam - ano+l l < 1 para todo m > no, e a sequência tem todos os seus
ter escolhido nj E N tal que ani E lj, tome nj+l E N tal que nj+l > nj termos contidos em
e ani+ 1 E 1H 1 (isto é possível pela definição dos lj). Por fim, um argu-
mento análogo ao usado na prova do lema dos intervalos encaixantes
garante que ani --+ e. •
de sorte que é limitada. Portanto, pelo teorema de Bolzano-Weierstrass
O conceito de sequência convergente tem um apelo geométrico bem a sequência (an)n>l possui uma subsequência convergente, digamos
forte, qual seja, a ideia de que os termos da sequência se aproximam ank --+ l. Provemos que, em verdade, an --+ l.
mais e mais de um certo número real, à medida que seus índices au- Dado E> O, existe N 0 EN tal que
mentam. Mas também é de se esperar que, se os termos de uma E
sequência ficarem cada vez mais próximos uns dos outros, a sequência
nk > No ::::} lank - li < 2.
deva convergir. Esta observação leva à definição a seguir. Por outro lado, como a sequência é de Cauchy, existe N 1 E N tal que
E
Definição 3.15. Uma sequência (an)n>I é dita uma sequência de m, n > N1 ::::} Iam - anl < 2'
Cauchy se, dado E > O, existir n 0 E N tal que
Sendo M = max{N1, N2} e fixando nk > M, temos
que para todo n E N, onde O < e < 1 é um real fixado. Mostre que tal
sequência é convergente.
1 90 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 91
Prova. Pelo teorema 3.16, basta mostrarmos que se trata de uma 4. (Torneio das Cidades.) Seja (an)n 21 uma sequência de naturais
sequência de Cauchy. Para tanto, iterando a propriedade satisfeita dois a dois distintos, todos maiores que 1. Prove que há infinitos
pela sequência, é imediato que, para todo k E N, tenhamos naturais k tais que ak > k.
10. (Romênia.) A sequência (xn)n>l é tal que ,Jxn+l + 2:::; Xn:::; 2, 15. (Turquia.) Seja (an)n:::::i uma sequência de inteiros tal que O <
para todo n :2'.: 1. Encontre todos os possíveis valores de x 1986 . an+l - an < ,Ja;;,, para todo n natural. Dados números reais x
e y, com O :::; x < y :::; 1, prove que existem naturais m e n tais
11. (Leningrado.) Seja (an)n::::: 1 uma sequência de números reais tal
que
que, para todos m, n E N, tenhamos
Prove que a sequência assim definida é decrescente, conclua sua 3.2 Séries de números reais
convergência e calcule o limite correspondente.
Seja (an)n:::::i uma sequência de números reais. Pela série
13. (Romênia.) Sejam k um natural fixado e (an)n::::: 1 a sequência
definida por
an = J + J + ··· + v'k,
k k
ou simplesmente Ln:::::i an, entendemos a sequência (sn)n::::: 1 , onde sn =
com exatamente n raízes quadradas. a 1 + a2 + · · · + an para n :2'.: 1. O número real Sn é denominado a
(a) Mostre que (an)n:::::i é convergente. n-ésirna sorna parcial da série Ln:::::i an, e dizemos que tal série
converge para s E IR. se a sequência (sn)n::::: 1 de suas somas parciais
(b) Mostre que, quando k é ímpar, o limite da sequência é um
converge para s. Nesse caso, dizemos· que s é a sorna da série e
número irracional.
escrevemos
(c) Encontre todos os valores naturais de k para os quais o
limite da sequência seja um número inteiro.
Lªn
n2:1
= s. (3.1)
14. Para cada real positivo a, considere a sequência (an)n>l definida Em outras palavras, quando escrevermos Lk2:l ak = s, estaremos di-
por a 1 = 1 e, para k :2'.: 1 inteiro, zendo que as somas finitas sn = a 1 + a2 + · · · + an se aproximam mais
e mais do número real s, à medida que n---+ +oo. É nesse sentido que
ªk+1 = !2 (ak + .!!._)
ªk
. a igualdade (3.1) deve ser pensada, como um limite.
Por vezes, teremos em mãos uma sequência (an)n>O de números
Prove que a sequência converge para y'a,. reais, em cujo caso a série correspondente será denotada por Ln:::::o ªn·
T
! 94 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 95
Deixamos ao leitor a tarefa (imediata) de adaptar as discussões acima A recíproca da proposição acima não é válida, i.e., há séries di-
e porvir a tal situação. vergentes Lk>l ak para as quais ak --+ O. O exemplo clássico é o da
Nosso interesse primordial nesta seção é encontrar critérios que série harmô~ica, i.e., da série Lk:::,:i f;, cuja divergência é discutida
permitam decidir se uma dada série é ou não convergente. Caso não no exemplo a segufr e encontrará uso posterior nestas notas.
o seja, diremos que se trata de uma série divergente. Vejamos dois Exemplo 3.20. Dado n E N, se m é o único natural tal que 2m <
exemplos de séries divergentes. n < 2m+1, então
n 1
Exemplo 3.18. As séries Lk:::,:l k e Lk:::,:I (-1 )k são divergentes. I:k2:;+1. (3.2)
k=l
Prova. A primeira série diverge por ter n-ésima soma parcial sn = Em particular, a série harmônica é divergente.
1+ 2 + · · · + n = n(ntl), logo divergente. No segundo caso, a n-ésima Prova. Veja que, para todo inteiro k > 1,
soma parcial Sn da série é tal que Sn = O, se n for par, e sn = -1, se • 1 1 1 1 1 1 1
n for ímpar, de sorte que também é uma sequência divergente. • 2k-l + 1 + 2k-l + 2 + ... + 2k > 2k + 2k + ... + 2k = 2·
2k-l vezes
Dada uma série Ln:::,:l an, referimo-nos a um termo genérico an
Portanto,
como o termo geral da série. A proposição a seguir dá uma condição
necessária para a convergência de uma série em função de seu termo 1 n 1
geral. 1+2+1:-:
j=3 J
para um certo real não nulo q. Nesse sentido, temos o seguinte resul-
• tado importante .
T
96 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 97
1
Proposição 3.21. Dado q E IR\ {O}, a série geométrica Lk2':l qk-l Mas, como r > 1, temos O < 2r-l < 1, e segue da proposição
converge se, e só se, O < JqJ < 1. Neste último caso, sua soma é igual anterior que
1
1 2r-l
a 1-q·
L
k20
2(r-l)k = 2r-l _ 1·
Prova. Se JqJ ~ 1 a série geométrica não converge, uma vez que seu
termo geral qk-l não converge para O. Suponha agora que O< JqJ < 1, Portanto, concluímos que O < sn < 2;~~~ 1 , de sorte que a sequência
e seja sn = 1 + q + · · · + qn-l. Pela fórmula para a soma dos termos (sn)n2:1 das somas parciais é realmente limitada. li
de uma PG finita, temos
Terminemos nossa bateria inicial de exemplos com mais uma apli-
1 - qn 1 qn
s = =-----. cação do teorema de Bolzano à convergência de séries. No exemplo
n 1-q 1-q 1-q
a seguir, introduzimos uma das mais importantes constantes da Ma-
Portanto, para mostrarmos que a série converge para 1 ~q, basta temática, o número e, o qual desempenhará papel preponderante na
mostrarmos que qn ----+ O quando n----+ +oo, o que fizemos no exemplo seção 5.1.
3.3. li
ti
Exemplo 3.23. A série Lk2".0 converge para um número irracional
Chegamos, finalmente, ao exemplo prometido. e, tal que 2 <e< 3. Em símbolos,
Exemplo 3.22. Prove que a série Lk2':l Jr converge, qualquer que
seja o racional r > 1 fixado 3 . (3.3)
1
< I::
k20
2 (r-l)k ·
Agora, segue do item (b) da proposição 3.6, juntamente com s 2 = 2 e Escrevendo tn = n!sn E N para todo inteiro n > 1, e observando que
sn < ~~ para todo inteiro n 2: 4, que 2 < e < 3. 1 n+ 2
-+---- 1 1 2
Mostremos, agora, que e é irracional (de modo que, em particular, n n(n + 1)2 -+
n
+----
(n + 1) 2 n(n + 1)2
e =/=- 3). Para tanto, observe inicialmente que, para naturais 1 < n < 1 1 2 21
m, temos < 3 + 4 2 + 3 . 42 = 48 < l,
m 1 1 para todo inteiro n > 2, chegamos, por fim, à estimativa
Sm - Sn L k! < L k!
k=n+l k2'.n+l tn-1 < (n - l)!e < tn-1 + 1,
1 (1 + _1_ + 1 + ... ) (3.4) válida para todo inteiro n > 2.
(n + 1)! n + 2 (n + 2)(n + 3)
1 1 1 n+2 Suponha, agora, que fosse e = P. com p q E N. Fazendo n
q' '
< (n + 1)! L
(n + 2)k = (n + 1)! . n + 1'
k2'.0
q + 1 > 2 nas desigualdades acima, teríamos
onde utilizamos, uma vez mais, a fórmula para a soma de uma série tq < (q - l)!p < tq + 1,
geométrica na última igualdade.
Portanto, ainda para naturais 1 < n < m, temos a partir dos
o que é obviamente uma contradição.
Sm = Sn +
m 1
n+
1
L -kl. < Sn + (n+ 1) 1. • --1,
n+2 e= lim
k--++oo
(1 + .!)
k
k
k=n+l
Para uma aproximação de e com cinco casas decimais corretas, veja o
e segue do item (a) da proposição 3.6 que problema 5.
1 n+2 Para conhecimento do leitor, observamos que o número e é de fato
e= lim Sm :::; Sn
m--++oo
+ (n + l)I. · - -.
n +1
'
transcendente, no sentido da seção 8.1 do volume 6. Uma prova deste
'
fato foge ao escopo destas notas e pode ser encontrada em [21 J.
Assim, Voltando ao desenvolvimento da teoria, a próxima proposição cons-
1 n+ 2
Sn <e:::; Sn + (n + l)! ·n+ 1. titui-se na análoga, para séries, da proposição 3.9, e tem por finalidade
nos ensinar como operar com séries convergentes.
Multiplicando tal desigualdade por (n - 1)! e observando que sn
Sn-l + ~' concluímos que Proposição 3.24. Se Lk>l ak e Lk>l bk são séries convergentes e e
é um número real qualquer~ então: -
1 1 n+2
(n - l)!sn-1 + -n < (n - l)!e < (n - l)!sn-1 + -n + nn+
( l) 2 , (a) a série Lk2'.l cak converge e Lk>l cak = e Lk>l ªk·
T
I i
(b) a série Lk 21 (ak + bk) converge e Lk 21 (ak + bk) = Lk2:l ak + Exemplo 3.26. Existe uma sequência (ak)k2:l de números reais posi-
Lk21 bk. tivos tal que ambas as séries Lk>l
-
ak e Lk>l
-
kla k convirjam?
Prova. Solução. Suponha que sim. Então, o item (b) da proposição 3.24,
(a) Se sn é a n-ésima soma parcial da série Lk2:l ak, então a n-ésima juntamente com a desigualdade entre as médias, forneceria
soma parcial da série Lk2:l cak é csn· Portanto, segue do item (a) da
proposição 3.9 que
Nas notações da proposição anterior, observamos que, se l = 1, a de sorte que a sequência (sn)n>l também é de Cauchy. Logo, pelo
série Lk2:l ak pode convergir ou divergir. De fato, para an = ~ temos teorema 3.16 a sequência (sn)n2 1 é convergente, conforme queríamos
demonstrar. •
ªk+l = _k_ -+ l
ªk k +1 ' A recíproca da proposição acima não é válida, quer dizer, há séries
mas a série Lk2:l i diverge; por outro lado, para an = ,;2 temos convergentes que não são absolutamente convergentes, sendo o exem-
plo clássico desse fenômeno fornecido pela série Lk2:l (-l~n-i, a qual é
(k + 1)2 -+ 1, convergente (como caso particular do exemplo mais geral a seguir) e
, . '""""
tal que a série formada pelos valores absolutos de seus termos (a série
mas a sene L..,k2:l k12 converge.
harmônica) é divergente.
Para séries Lk2:l ak com infinitos termos negativos e infinitos ter-
O exemplo a seguir é devido a G. W. Leibniz4, sendo conhecido na
mos positivos, os resultados obtidos até o momento nada dizem acerca
literatura como o critério de Leibniz para a convergência de séries
de sua convergência. Remediamos esta situação a partir de agora, co-
alternadas.
meçando com a seguinte
Definição 3.28. Uma série Lk2:l ak é absolutamente convergente Exemplo 3.30 (Leibniz). Se (an)n>l é uma sequência não crescente
se a série Lk2:l lakl é convergente. de reais positivos, tal que an -+ O, então a série Lk2:l (-l)k-lak é
convergente.
A utilidade do conceito de série absolutamente convergente é evi-
denciada na proposição a seguir e no exemplo subsequente. Prova. Para cada n E N, seja Sn = a 1 + a 2 + · · · + ªn· A condição
Proposição 3.29. Toda série absolutamente convergente é conver- a1 2:: a2 2:: a3 2:: · · · > O garante facilmente que
gente.
(3.5)
Prova. Seja Lk2:l ak uma sene absolutamente convergente e, para
cada n 2:: 1, sejam Sn = a1 + a2 + · · · + an e tn = la1I + la2I + · · · + lanl· Por outro lado, para cada m E N, temos
Dados inteiros m > n 2:: 1, temos
Problemas - Seção 3.2 6. * Dada uma sequência (a1, a 2, a 3, ... ) de algarismos, prove que
existe um único elemento x E ~ satisfazendo a seguinte condição:
,
1. D a do um numero rea1 a > 1, prove que a sene
, . L...k
""" 2k-1
21 aJc é fixado um erro máximo 1~n , n E N, temos
convergente e calcule sua soma.
10. Sejam (an)n 21 uma sequência de reais positivos tal que .r:ja;,,---+ l.
O critério de convergência de séries dado pelo caso l < 1 é co- 15. Seja Tn um triângulo retângulo cujos lados medem 4n 2 , 4n4 -1 e
nhecido na literatura como o teste da raiz. 4n4 + 1, onde n é um número inteiro positivo. Seja an a medida,
em radianos, do ângulo oposto ao lado de medida 4n2 . Mostre
O critério de convergência de séries dado pelo próximo problema que
é devido ao matemático norueguês do século XIX Niels Henrik
Abel, sendo conhecido na literatura como o critério de Abel.
Evidentemente, {O}, Z, (Q e o próprio lR. são subgrupos aditivos de afirmamos que (m+l)x E Gn(a-E,a+E). De fato, se fosse (m+l)x 2:
JR.. Para um exemplo menos óbvio, dados números reais x 1, ... , xk, é a+ E, teríamos
imediato verificar (cf. problema 1) que o conjunto mx ::;: a - E < a + E ::;: ( m + 1 )x,
(3.6) de sorte que
x = (m + l)x - mx 2: (a+ E) - (a - E) = 2E,
é um subgrupo aditivo de lR..
Seja, agora, G um subgrupo aditivo arbitrário de lR. e tome x E G. uma contradição à escolha de x. Portanto, (m + l)x E (a - E, a+ E) e,
Pela definição acima, temos O = x - x E G. Segue então daí que, para como x, mx E G, temos também (m + l)x = mx + x E G.
x, y E G, temos -y = O - y E G e, portanto, x + y = x - (-y) E G.
Logo, G é fechado para a operação de adição, e uma fácil indução (b) Se inf(G~) = a: > O, afirmamos inicialmente que a: E G~. Para
permite mostrar que tanto suponha, por contradição, que a: (/:. G~. Então a definição de
ínfimo de um conjunto de números reais garantiria a existência de
{ma:; m E Z} e G, V a: E G. (3.7) elementos /3, 1 E G~ tais que a: < /3 < 1 < 20:. Mas, como G é um
subgrupo aditivo de JR., seguiria daí que 1 - f3 E G~, com
O teorema a seguir fornece a caracterização dos subgrupos aditivos de
O< 1 - /3 < 20: - a: = O:,
lR. que nos será útil.
o que, por sua vez, contradiria o fato de que a: = inf(G~). Assim,
Teorema 3.33. Seja G # {O} um subgrupo aditivo de lR. e G~ a: E G~.
G n JR.~. Tome, agora, x E G~ qualquer e faça q = e r = x - a: l~J l~J,
de sorte que q E Z+, O ::;: r < a: e x = qa + r. Se r > O, então o
(a) Se inf(G~) = O, então G é denso em JR..
fato de G ser um subgrupo aditivo de lR. implica r = x - qa E G~,
(b) Se inf(G~) =a:> O, então G = Ga. com O< r < 0:. Mas, como isso contradiz o fato de que a:= inf(G~),
concluímos quer= O e, daí, x = qa E Ga. Portanto,
Prova.
G~ e {na; n E N}
(a) Suponhamos que inf(G~) = O, e sejam a um real arbitrário e E> O
uma aproximação também arbitrária, e provemos que Gn(a-E, a+E) # e, como a inclusão oposta já foi estabelecida em (3.7), temos mesmo
0. Como x E G se, e só se, -x E G, basta analisarmos o caso a 2: O. G~ = {na; n EN}.
Se a - E < O temos O E G n (a - E, a+ E) e nada mais há a fazer.
Finalmente, como G = G~ U {O} U G*:_, com G*:_ = {-x; x E G~}, é
Suponhamos, pois, que a - E 2: O.
imediato que
G = {ma:; m E Z} = Gª.
A condição inf(G~) = O garante a existência de x E G~ tal que
x < 2E. Sendo m o maior inteiro não negativo tal que mx ::;: a - E, •
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 111
110
No corolário a seguir, utilizamos novamente a notação estabelecida Afirmamos primeiro que existem m, n E Z tais que m < O < n e
m + na E A n (O, 8). Por contradição, suponha que
em (3.6).
Nosso próximo corolário refina a conclusão do corolário anterior. kox :::;; a - E< a+ E:::;; (k 0 + l)x
Prova. Para P E 1r, denotemos J(P) sistematicamente por P', de Afirmação 2. Para todo inteiro positivo n, temos
sorte que d(P, Q) = PQ e d(f(P), J(Q)) = P'Q'. Mostremos pri-
meiro que f deve preservar distâncias -vf:3. PQ = n ==} P'Q' = n.
u
~: ....
Q
p
/V\ R Q
Vamos mostrar primeiramente que existe um triângulo de lados l, -mk XQ. Mas, como isto vale para todo vértice da triangulação, devemos
e nn.13. Para tanto, como mk + nk.J3 < l, temos l + (-mk) > ter necessariamente P' Q' = l.
nkv'3; também l + (mk + nkv'3) > O, o que implica l + nkv'3 > -mk;
finalmente, a partir de l - 1 < mk + nk.J3, temos
f Q'
•
nkv'3
Figura 3.3: P'Q' 2: PQ. 1. * Dados números reais x 1 , ... , xk, verifique que o conjunto
CAPÍTULO 4
Funções Contínuas
em dizer que o gráfico em questão é descontínuo, uma alusão à existên- então, pondo c = max{-a, b}, temos
cia de vários saltos ao longo do mesmo. Note que isso aparentemente
não ocorre com o gráfico da função g : IR ----+ IR dada por g ( x) = x2 , o [a 2 , b2 ], se O ::::; a < b
qual certamente mereceria ser denominado contínuo. g([a, b]) = { [O, c2] , se a < O < b
[b2 , a 2 ] , se a < b ::::; O
y
Em particular, para todo y no intervalo de extremos g(a) e g(b), existe
x E [a, b] (x = ±.Jy, conforme o caso), tal que g(x) = y.
Estamos, agora, em posição de generalizar a discussão acima com
a definição a seguir. Para tanto, em tudo o que segue, X denot; uma
o X
união de intervalos da reta, salvo menção em contrário.
1.
120 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 121
g(x) = x 2 , x E IR, possui tal propriedade. Desse modo, ela aparente- arbitrado um erro r > Opara a posição do ponto P0 (i.e., arbitrado um
mente nos compele a dizer que, se uma função f : X --+ IR possui a disco D(P0 ; r), de centro P0 e raio r), devemos ter P E D sempre que
propriedade do valor intermediário, então f é uma função de gráfico a abscissa x de P aproximar x 0 com erro suficientemente pequeno,
contínuo, i.e., sem saltos. Todavia, o leitor pode verificar facilmente digamos menor que um certo ó > O (leia-se delta). Em símbolos,
que a função f : [O, 2] --+ IR dada por arbitrador > O, deve existir ó> O tal que
Xo b X
1--1
26 X
Em tudo o que segue, salvo menção explícita em contrário X C R Prova. Vamos mostrar que a função identidade é contínua, deixando
denota uma união de intervalos e 1 e R denota um intervalo. a prova da continuidade das funções constantes a cargo do leitor. Te-
mos que mostrar que Id é contínua em x 0 , para todo x 0 E R; para
Definição 4.2. Uma função f: X--+ Ré contínua em um ponto tanto, de acordo com a definição 4.2, dado E> O, devemos ser capazes
x 0 E X se a seguinte condição for satisfeita: dado E > O, existe ô > O de encontrar ô > O tal que
tal que
(4.2)
lx-:- xol <ô=* IId(x) - Id(xo)I < E.
x E X, lx - xol <ô=* lf(x) - f(xo)I < E.
Mas isso é o mesmo que
I'''",.1
A função f é dita contínua se o for em todo xo E X.
lx - xol <ô=* lx - x0 < E,
1
l,
1
1
Uma tal função é dita racional, e o exemplo anterior, juntamente logo, f satisfaz uma condição do tipo (4.3) no intervalo[,, +oo), e um
com a discussão no parágrafo que precede o exemplo 4.3, garante que argumento análogo ao da prova do lema 4.6 garante a continuidade de
funções racionais são contínuas, onde estiverem definidas. f em xo.
Antes de apresentar mais exemplos, precisamos do seguinte Precisamos, agora, do seguinte resultado auxiliar.
Mas, uma vez que lf(x) - J(xo)I :S cix - xol < cô para lx - xol < 8,
basta tomarmos 8 =~para que lf(x) - J(xo)I < E. •
A'
Exemplo 4.7. A função modular J(x) = !xi, x E R, é contínua pelo o Q
lema anterior. De fato, segue da desigualdade triangular que, para
x, y E R, temos
De posse do lema acima, o lema 4.6 garante a continuidade das O exemplo a seguir mostra um uso típico da regra da cadeia para
funções seno e cosseno, conforme ensina o próximo exemplo. funções contínuas.
Exemplo 4.10. As funções seno e cosseno são contínuas. De fato, a Exemplo 4.12. A função f : lR --+ lR dada por f(x) = sen (x 2 ) é
partir das fórmulas de transformação em produto e do lema anterior, contínua. De fato, se g, h : lR--+ lR são as funções dadas por g(x) =
temos para x, y E lR que senx e h(x) = x 2 , então g eh são contínuas e f = g oh; portanto, f
é contínua pela regra da cadeia.
I cos x - cos y 1 = 21 sen ( x ; y) 11 sen ( x ; y) 1
Y E Y, IY - Yol < 8::::} lg(y) - g(yo)I < E. (4.4) não possui a propriedade do valor intermediário.
l..ii
Por outro lado, a continuidade de f garante a existência de 8' > O tal 2. * Prove que toda função contínua no sentido da relação (4.1) é
que contínua no sentido da definição 4.2, e vice-versa.
x E X, lx - xol < 8'::::} f(x) - f(xo) < 8. ..__.,
1
.._,.,-, 1
3. * Se D = lR \ {rr /2 + k1r; k E Z}, use o exemplo e a discus-
Y YO são no parágrafo que precede o exemplo 4.3 para estabelecer a
Portanto, segue das relações acima (com y = f(x) em (4.4)) que continuidade da função tangente,
x E X, lx - xol < 8'::::} lf(x) - J(xo)I < 8::::} lg(f(x)) - g(f(xo))I < E, tg : D --+ lR
o que estabelece a continuidade da função g o f.
• X f------+ tg X
r;
1
4. * Para n EN, prove que a função x 1--t y'x, x > O, satisfaz uma Mas, a última desigualdade acima acarreta que
desigualdade do tipo (4.3) em cada intervalo [a,b] C (0,+oo).
f(xo)
Conclua, a partir daí, que f é contínua. f(x) - f(xo) > - -2 -,
5. Se I e IR é um intervalo e f : I ---+ IR é uma função contínua, o que é o mesmo que f(x) > f(;o), para todo x E I tal que lx - x0 1<
explique por que a função lfl : I---+ IR também é contínua. ô. •
.
6. E xp11que - f( x ) =
por que a f unçao 3 x4-2x3+1
x 2 +1 , x E TI])
m., e cont'mua.
,
Uma aplicação judiciosa do lema acima é o que nos permite provar
a propriedade do valor intermediário para funções contínuas definidas
7. Justifique a continuidade da função f : (-1, +oo) ---+ IR dada, num intervalo [a, b]. Começamos com um caso especial da mesma,
para x > -1, por f(x) = ~- conhecido como o teorema de Bolzano 3 , para o qual o leitor pode
achar conveniente revisar a definição e as propriedades elementares
do supremo de um conjunto não vazio e limitado superiormente de
4.2 O teorema do valor intermediário números reais (cf. capítulo 1 do volume 1).
Nesta seção, mostramos que funções contínuas definidas num inter- Teorema 4.14 (Bolzano). Seja f : [a, b] ---+ IR uma função contínua.
valo [a, b] satisfazem a propriedade do valor intermediário e apresenta- Se f(a)f(b) < O, então existe e E (a, b) tal que f(c) = O.
mos várias aplicações desse fato. Comecemos enunciando e provando
o lema de permanência do sinal para funções contínuas. Prova. Suponha, sem perda de generalidade, que f(a) <O< f(b), e
seja
Lema 4.13. Sejam I e IR um intervalo e f : I ---+ IR uma função A= {x E [a, b]; f é negativa no intervalo [a, x]}.
contínua. Se x 0 E I é tal que f(xo) > O (resp. f(xo) < O), então
Como a E A por hipótese, temos A=/= 0. Por outro lado, A é limitado
existe c5 > O tal que
(uma vez que A e [a, b]) e, portanto, existe e= sup A.
f(xo) f(xo) Note inicialmente que e > a, pelo lema de permanência do sinal.
x E J, lx - x0 1< c5 ~ f(x) > - 2 - (resp. f(x) < - -2 -). De fato, se fosse f(a) < O, teríamos, de acordo com aquele resultado,
a existência de O < c5 < b - a tal que f(x) < O para x E [a, a+ c5) e,
Em particular, f ainda é positiva (resp. negativa) em In(xo-ô, x 0 +c5).
daí, e 2:: a+ ô.
Prova. Façamos a prova no caso em que f(x 0 ) > O, sendo a prova no Agora, afirmamos que f(c) = O. Por contradição, suponha pri-
outro caso totalmente análoga. A definição de continuidade garante meiro que f(c) < O. Então e< b (uma vez que f(b) > O) e, novamente
que, para E = f(;o), existe c5 > O tal que pelo lema de permanência do sinal, existiria O < c5 < b - e tal que f
1 1
seria negativa em (e - ô, e+ c5) n [a, b]. Mas, como e = sup A, podemos
f(xo)
x E J, lx - xol < c5 ~ lf(x) - f(xo)I <E= - 2 -. 3 Após Bernard Bolzano, matemático alemão dos séculos XVIII e XIX.
130 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 131
tomar d E ( e - ô, e) n A, de sorte que f < O em [a, c1]; portanto, tería- com ao, a1, ... , an E lR, an =/=- O e n ímpar, então a imagem de f é
!J
mos f < O em [a, d] U (e- ó, e+ = [a, e+ !L contradizendo o fato de o conjunto de todos os números reais. Em particular, f possui pelo
ser e = sup A. Por outro lado, se f (e) > O, existiria ô > O tal que f menos uma raiz real.
seria positiva em (e- ô, e+ 6) n [a, b]; em particular, A n (e- ô, e]= 0
e, daí, teríamos sup A s e - ô, uma nova contradição. Logo, a única Prova. Dado d E JR, faça g(x) = f (x )-d. Então g : lR--+ lR também é
possibilidade é termos f(c) = O. • polinomial, e basta garantirmos a existência de e E lR tal que g(c) = O.
O argumento do parágrafo anterior reduz nosso problema a mostrar
O teorema a seguir é conhecido como o teorema do valor inter- a existência de e E lR tal que f(c) = O. Para tanto, suponhamos, sem
mediário. Como é costume na literatura, doravante nos referiremos perda de generalidade, que an > O. Então, para x =/=- O, repetidas
ao mesmo simplesmente como o TVI. aplicações da desigualdade triangular fornecem
Teorema 4.15 (TVI). Sejam f, g : [a, b] --+ lR funções contínuas. Se f(x)
f(a) < g(a) e f(b) > g(b) (ou vice-versa), então existe e E (a, b) tal
que f(c) = g(c). Em particular, se um real d pertence ao intervalo de
extremos f(a) e f(b), então existe e E (a, b) tal que f(c) = d.
Exemplo 4.16. Seja f : [O, 1] --+ [O, 1] uma função contínua. Prove
que existe um real O e s s 1 tal que f(c) = e (i.e., que f tem pelo
o qual, por sua vez, é positivo para lxl > .l :E~-=- 1 la·I.
menos um ponto fixo). an J-0 J
Em resumo, se
Prova. Se f(O) = O ou f(l) = 1, nada há a fazer; senão, f(O) > O e
f(l) < 1. Considerando a função g : [O, 1] --+ lR dada por g(x) = x,
temos, então, f(a) > g(a) e f(b) < g(b), e o TVI garante a existência
A > max { 1, al I:
n j=O
1 aj 1} ,
de O< e< 1 tal que f(c) = g(c) (ou, o que é o mesmo, f(c) = e). •
- f(x)
ent ao~> O para x = ±A. Mas, como n 1mpar,
, segue que f(-A) <
Exemplo 4.1 7. Se f : lR --+ lR é uma função polinomial da forma
O< J(A) e o TVI garante a existência de e E [-A, A] tal que f(c) =
O. •
132 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 133
Exemplo 4.18 (Romênia). Existe uma função contínua f : IR. --r IR. Prova. Note inicialmente que, para cada x E IR., temos
tal que
J(x) E Q {:} f(x + 1) tf_ Q? f(f(x)) = x 2 + 1 * J(f(f(x))) = f(x 2 + 1)
Solução. Suponha que exista uma tal f e defina g : IR. --r IR. por
* f(x) 2 + 1 = f(x 2 + 1)
g(x) = f(x+ 1)- f(x). Então, g é contínua (pela regra da cadeia para
* f(x)2+1=f(-x)2+1
funções contínuas) e, pela condição do enunciado, transforma todo * f(x) = ±f(-x)
número real num irracional. Mas, como todo intervalo não degenerado Agora, se f(a) = f(/3) = O, então
contém números racionais (cf. problema 1.5.2 do volume 1), a fim de
não obtermos uma contradição ao TVI a única possibilidade é g ser a 2 + 1 = J(f(a)) = f(O) = f(f(/3)) = /3 2 + 1,
constante. Assim, existe um número irracional a tal que f (x + 1) -
f(x) =apara todo x E IR. e, daí, de modo que f tem no máximo dois zeros. Há três possibilidades:
f(x + 2) - f(x) = f(x + 2) - f(x + 1) + f(x + 1) - f(x) = 2a, (4.5) • f(x) =1- O, para todo real x: pelo TVI, f tem sinal constante em R
Mas, como f(x) = ±f(-x) para todo real x, segue que f(x) = J(-x)
também para todo x E R para todo real x, e f é par.
Afirmamos, agora, que existe x 0 E IR. tal que f(x 0 ) E Q; de fato,
tome um real qualquer a; se f (a) não for racional, segue de nossas • f tem um único zero, digamos em x = a: como f(-a) = ±f(a) = o,
hipóteses que f(a + 1) será racional e basta, então, tomar x 0 = a devemos ter a = -a, de modo que a = O. Mas, daí,
ou x 0 = a+ 1. Por outro lado, fixado um tal x 0 , nossas hipóteses
asseguram que f(j(O)) = 02 + 1 = 1 * f(O) =1- O,
o que é uma contradição.
f(xo) E Q * f(xo + 1) tf_ Q * f(xo + 2) E Q.
• f tem exatamente dois zeros, em x = a ex= -a, para algum a> O:
Logo, f(x 0 + 2} - f(x 0 ) E Q, o que contradiz (4.5) e termina a de-
pelo TVI, f tem sinal constante no intervalo (-a, a). Considere a
monstração. • função g(x) = f(x) - x. Se f > O em (-a, a), então
Para o exemplo a seguir, recorde que uma função f : IR. --r IR. é par g(O) = f(O) - O> O e g(a) = f(a) - a= -a< O,
se f(-x) = f(x), para todo real x.
de modo que existe O< e< a tal que g(c) = O. Se f < O em (-a, a),
Exemplo 4.19. Seja f : IR. --r IR. uma função contínua e tal que então
J(f(x)) = x 2 + 1, para todo x E R Prove que fé par.
g(O) = f(O) - O< O e g(-a) = f(-a) - (-a)= a> O,
134 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 135
de modo que existe -a< e< O tal que g(c) = O. Em qualquer caso, de maneira que f(x) < ~ e g(x) > ny'x. Em particular, f(x) < g(x)
f admite um ponto fixo e. Mas se ~ < ny'x, i.e., se x > (~) n~i. Portanto, f(x) < g(x) para
x > max { 1, (~) n~l } ·
f(c) =e==} e= J(f(c)) = c2 + 1 ==} c2 - e+ 1 = O,
o que é um absurdo, haja vista tal equação não possuir raízes reais. • • para O < x < 1, temos
1 1 · 1 1
Exemplo 4.20. Sejam m, n ~ 1 inteiros fixados. Calcule, para x > O, -xm > - - > · · · > -x2 > -X e X < Jx < · · · < n-VX < y'x '
xm-1
o número de soluções da equação
de maneira que f(x) > ~ e g(x) < ny'x. Em particular, f(x) > g(x)
-1 + -12 + -13 + ... + - 1 = X+ Jx + \7X
3
+ ... + y'x. m nG ·
> nyx, 1.e., se x < (~)n~ Portanto, f(x) > g(x) para
x x x xm se -;;- 1 .
Solução. Afirmamos que a equação acima admite somente uma solu- Ü< X < min { 1, ( ~) n~l } .
• para x > 1, temos Prova. Se f não é injetiva, então f claramente não pode ser nem
crescente, nem decrescente. Reciprocamente, se f não é nem crescente,
1 1 1 1
-xm < - - < · · · < -x2 < -X e
xm-1 X > Jx > · · · > n-VX > y'x, nem decrescente, então existem a< b < e em I tais que f(a) ::::; f(b) ~
ri:
• 1
f(c) ou f(a) 2:: f(b) ::; f(c). Suponha que f(a) ::; f(b) 2:: f(c) (o outro ' Observe que podemos supor E > O tão pequeno que x 0 ± E E ( a, b)
caso é análogo) e escolha d E R tal que (senão, diminua o E > O dado, de forma que essa condição seja satis-
feita). Lembrando que fé crescente, tome
max{f(a), f(c)} ::; d::; f(b).
O< ô< min{ ôo, f(xo + E) - f(xo), f(xo) - f(xo - E)}.
O TVI garante a existência de x 0 E (a, b) e x 1 E (b, e) (logo x 0 , x 1 E J)
tais que f(xo) = d e f(x1) = d, de modo que f(xo) = f(x1). Em Então,
particular, f não é injetiva.
Para o item (a), suponha f crescente e I = (a, b), com a, b E R (os . f(x) - f(xo) < ô :::} f(x) - f(xo) < f(xo + E) - f(xo)
demais casos são totalmente análogos). Para cada intervalo [e, d] e :::} f(x) < f(xo + E) :::} x < Xo + E
(a, b), o TVI e o fato de f ser crescente garantem que a imagem por
f do intervalo [e, d] é o intervalo [f(c), f(d)]. Mas, como e, analogamente,
i, 1i
n21
Em qualquer caso, a escolha acima para ô garante que
é imediato verificar que
lf(x) - f(xo)I < ô :::} -8 < f(x) - f(xo) < ô
:::} -E < X - Xo < E
7. (Leningrado.) Seja f : IR ---+ IR uma função contínua satisfa- 15. (Crux.) Seja f : IR ---+ IR uma função contínua que assume valores
zendo, para todo x E IR, a relação f(x)f(x + 2) + f(x + 1) = O. positivos e negativos. Dado k > 2 natural, prove que existem
Mostre que existem infinitos valores reais de x tais que f (x) = O. reais a 1 , a 2 , ... , ak em progressão aritmética e tais que
11. Encontre todas as funções contínuas f : [O, 1] ---+ [O, 1] tais que 18. (Bielorrússia.) Encontre todas as funções f, g, h : IR ---+ IR tais
(! o J)(x) = x, para todo x E [O, l]. que, para todos x, y E IR, tenhamos
J(x + y3 ) + g(x 3 + y) = h(xy).
12. * Sejam dados um intervalo I e um subconjunto não vazio J de
I, tendo as seguintes propriedades:
14. Se a é um irracional dado, encontre todas as funções contínuas Proposição 4.24. Uma função f : I ---+ IR é contínua se, e só se,
f : IR ---+ IR tais que a seguinte condição for satisfeita: para todo a E I e toda sequência
(an)n2:1 de elementos de I, temos
J(x) = J(x + 1) = J(x + a),
lim an =a:::} lim f(an) = f(a).
para todo x E R n~+= n~+=
142 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 143
Prova. Inicialmente, suponha que f é contínua. Então, dado E > O,
para todo n E N. Portanto, sendo monótona e limitada, a sequência
existe ó > O tal que
(an)n2'.1 é convergente pelo teorema de Bolzano-Weierstrass, digamos
x E J, )x - a) <ó=} lf(x) - f(a)) < E.
para l 2 1 (aqui estamos usando o item (a) da proposição 3.6). Agora,
a continuidade da função x H- Jx, x 2 Ogarante, mediante o emprego
Seja, agora, (an)n2'.l uma sequência de elementos de I, convergindo da proposição anterior, que
para a E J. Como limn---Hoo an = a, existe no EN tal que
an ~ l =}.;a;;,~ VÍ =} a2n ~ VÍ,
n > no =} )an - a) < ó. onde utilizamos, na última implicação acima, que a2n = .;a;;,. Mas,
como toda subsequência de uma sequência convergente converge para
Logo, a conjunção das duas condições acima garante que
1
1
/f ( vx) / = lf(x)I.
2
lan - ai < -n e lf(an) - f(a)) 2 E. Fixe um real positivo X e seja ªn = ,vx para n E N_ Como
2
Ilustramos a importância da proposição acima em dois exemplos, Por outro lado, )f(an)) = IJ(x)) para todo n garante que IJ(an)) ~
O primeiro dos quais fornece outra prova para o resultado do exemplo
IJ(x)), de maneira que lf(x)I = O, pela unicidade do limite de sequên-
cias.
3.12.
Finalmente, dado x > O, temos
Exemplo 4.25. Se a > O e an = via, então an ~ 1.
1 O= f(-x) + f((-x)2) = f(-x) + f(x 2) = f(x),
Prova. Façamos a prova no caso em que a 2 1, sendo a prova para o
1:
uma vez que x 2 > O =} f(x 2) = O. Logo, a única função satisfazendo
caso O < a < 1 totalmente análoga. Se a 2 1, então an 2 ªn+1 2 1,
as condições dadas é a função identicamente nula. •
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 145
144
então:
A seguir, definimos uma noção mais farte de continuidade para
(a) As funções f ± g, f · g também são contínuas em x 0 . funções, a qual mostramos em seguida ser equivalente à noção usual
para funções definidas em intervalos I = [a, b] e R
(b) Se g ( x 0 ) -=/= Oe J e I é um intervalo tal que g -=/= O em J, então
a função tg : J --t lR. também é contínua em x 0 . Definição 4.28. Uma função f: I --t lR. é uniformemente contínua
se a seguinte condição for satisfeita: dado E > O, existe <5 > O tal que
Prova. Seja (an)n2::1 uma sequência em I, tal que limn-++oo an = Xo.
A continuidade das funções f e g em x 0 garante, de acordo com a
x, Y E I lx - vi < <5 ==?" lf(x) - f(y)I < E. (4.7)
proposição anterior, que
Em palavras, a diferença entre a definição de função uniformemente
lim J(an) = J(xo) e lim g(an) = g(xo).
n~+oo n~+oo contínua e a definição de função contínua é que, dado E > O, para uma
função uniformemente contínua o <5 > O, cuja existência é garantida
(a) Segue da proposição 3.9 que pela definição acima, serve para todos x, y E J; por outro lado, na
definição 4.2 (de função contínua), tal <5 depende, em princípio, do
11
11 lim (f ± g)(an) - lim (f (an) ± g(an)) Xo E I fixado.
n~+oo n~+oo
lim f (an) ± lim g( an) É imediato, a partir da definição acima, que toda função unifor-
n~+oo n~+oo
memente contínua é contínua. Por outro lado, o teorema a seguir
J(xo) ± g(xo) = (f ± g)(xo).
fornece uma importante classe de exemplos de funções uniformemente
Portanto, novamente pela proposição anterior, as funções f ± g são contínuas.
contínuas em x 0 . O argumento para a função f · g é análogo e será
Teorema 4.29. Toda função contínua f : [a, b] --t lR. é uniformemente
deixado ao leitor.
contínua.
146 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 147
Prova. Por contradição, suponha que f é contínua mas que (4. 7) não Prova. Como f é uniformemente contínua, para E = 1 existe fJ > O
seja válida. Então, existe E > O tal que, para todo ô > O, podemos tal que
encontrar x, y E [a, b] satisfazendo x, y E [a, b], lx - YI <ô::::} lf(x) - f(y)I < 1. (4.9)
lx - YI < ô e lf(x) - f(y)I ~ E.
Escolha agora números reais a = x 0 < x 1 < · · · < Xk = b tais que
Xi - xi-1 < ô para 1 ::; i ::; k, e seja
Em particular, escolhendo ô = -!;;, concluímos pela existência de ele-
M = max{lf(xi)I, ... , IJ(xk)I}. (4.10)
mentos Xn, Yn E [a, b] tais que
Para x E [a, b], existe 1 ::; i ::; k tal que x E [xi-l, xi], de modo que
(4.8) segue em particular que lx - xil < ô. Então, segue de (4.9) e (4.10)
que
Como (xn)n2'.I é uma sequência em [a, b], o teorema de Weierstrass
lf(x)I ::; lf(x) - f(xj)I + IJ(xj)I < 1 + lf(xj)I ~ 1 + M,
3.14 garante a existência de uma subsequência (xnkh2'.1 de (xn)n2'.I,
convergindo para algum x 0 E [a, b]. Segue da desigualdade triangular
que
de sorte que a função f é limitada.
A última propriedade de funções contínuas que estudaremos nessa
•
seção é também devida a Weierstrass, e afirma que toda função con-
IYnk - Xol < IYnk - Xnkl + lxnk - Xol
1 k
tínua f : [a, b] -----t IR assume valores extremos no intervalo [a, b].
< - + lxnk - xol--+ O.
nk Teorema 4.31 (Weierstrass). Se f : [a, b] -----t IR é uma função contí-
Portanto, a proposição 4.24 assegura que nua, existem Xm, xM E [a, b] tais que
Por outro lado, como a sequência (f(xnk))k?.1 é uma subsequência contínua f : [a, b] ----t JR, temos f limitada pelo corolário 4.30, de
da sequência (f(xn))n?.1 (que, por sua vez, converge para m), con- sorte que existem
cluímos, a partir da proposição 3.6, que (f(xnk))k?.l também converge
para m. Logo, a unicidade do limite de sequências e o que fizemos m = inf{f(x); x E [a, b]} e M = sup{f(x); x E [a, b]}.
acima garantem que J(xo) = m. •
Faça, agora, os seguintes itens:
Por fim, o corolário a seguir estende o item (a) do teorema 4.21
para funções contínuas mas não necessariamente monótonas. (a) Sem€}. Im (!) e g: [a, b] ----t JR é a função dada por g(x) =
f(xf-m, para todo x E [a, b], mostre que existe e > O tal que
Corolário 4.32. Se f : [a, b] ----t JR é contínua, então existem reais g(x)::; e, para todo x E [a,b].
e ::; d tais que Im (!) = [e, d].
(b) Aind~ sob as hipóteses do item (a), conclua que J(x) 2:
Prova. Pelo teorema de Weierstrass, existem Xm, XM E [a, b] tais que m + e, para todo x E [a, b], e chegue a uma contradição.
f atinge seus valores mínimo e máximo, respectivamente, em Xm e (c) Argumente de maneira análoga aos itens (a) e (b) para
em XM· Sendo f(xm) = e e f(xM) = d, temos, em particular, que mostrar que M E Im (!).
,1'
Im (!) e [e, d].
1 ! Por outro lado, fixado y E [e, d], o TVI garante a existência de 4. (Romênia.) Seja f : JR ----t JR uma função sobrejetiva, satisfazendo
um real x pertencente ao intervalo de extremos Xm e x M e tal que a seguinte propriedade: para toda sequência divergente (an)n>I,
f(x) = y; em particular, Im (!) :J [e, d]. • a sequência (f(an))n?.1 também é divergente. Prove que j é
bijetiva e que J- 1 é contínua.
1. Dados números reais a < b, dê exemplo de uma função contínua com ao, a1, ... , an E lR e an =/:- O. Se n é par e an > O, prove que:
e ilimitada f : (a, b) ----t R
(a) Existe A> O tal que f(x) > a0 para JxJ > A.
2. Encontre todas as funções contínuas f : JR ----t JR tais que, para (b) Existe Xo E [-A, A] tal que f(x 0) = min{f(x); x E JR}.
todos x, y E JR, tenhamos f(x + y) = f(x) + J(y).
6. (Leningrado.) As funções contínuas f, g : [O, 1] ----t [O, 1] são tais
3. O propósito deste problema é apresentar uma outra demonstra-
que f O g = g o f. Se f for não decrescente, prove que existe
ção do teorema 4.31. Para tanto, recorde que, dada uma função O::; a::; 1 tal que f(a) = g(a) = 1.
150 Tópicos de Matemática Elementar 3
A(!; k) = L mi(xi - Xi-1) e A(!; k) = L Mi(xi - Xi-1), Prova. Suponha f não decrescente, sendo o caso f não crescente
i=l i=l
totalmente análogo. Sejam k E N e P = {a = x 0 < x 1 < · · · < Xk = b}
onde a partição de [a, b] tal que Xi - Xi-l = bt, para 1 :::; i :::; k. Então,
mi= min{J(x); Xi-l :::; x:::; xi} e Mi= max{f(x); Xi-1 :::; x:::; xi} mi= min{f(x); Xi-1 :::; x:::; xi}= J(xi-1)
154 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 155
,,
1
,:
e, analogamente, Mi= f(xi), de sorte que Analogamente,
A(f; k) - A(f; k)
k
L Mi(xi -
i=l
Xi-1) -
k
L mi(xi -
i=l
Xi-1) A(f; k) =
b)n+l k
(k ;(i -1r.
k
A proposição 5.1 garante a existência de um único real positivo
L((f (xi) - f(xi-1))(xi - Xi-1)
A(f) tal que
e~ a)
i=l
k
;<(J(x,) - f(x,_,)) ( kb)n+l ~(i
k
-
i=l
1r ::S A(f) ::S (b)n+l
k
k
~ in.
i=l
(b ~ ª) (f(b) - f(a)), Por outro lado, o problema 4.21 do volume 1 garante que
onde aplicamos a fórmula (4.8) do volume 1 para somas telescópicas ( -b) n+l ~
k bn+l
(i-lr<-< -
( b)n+l k
~Ín
na última igualdade acima. Mas, uma vez que ·
k {;;f_ n +1 k {;;f_ '
de sorte que
(b ~ ª) (f(b) - f(a))--+ O
A(f) =
bn+l
n + 1·
quando k--+ +oo, concluímos a prova da igualdade (5.1), nesse caso. Mais geralmente, para uma função contínua arbitrária f: [a, b] --+
Prova. Nas notações da discussão acima, basta mostrarmos que existe Somando ambos os membros de (5.4) e ambos os membros de (5.5)
um único número real I tal que para 1 ::::; i ::::; k, obtemos sucessivamente
k
S(f; k) SIS S(f; k), 'í/ k EN.
S(f; k) = L ( min
.
i=l
[Xi-1,Xi]
1) (xi - Xi-1)
Mostremos inicialmente que, se k, l EN e k l l, então
S(f; l)
Para tanto, observe que se k l l, então Pk e Pz, de sorte que a partição
Pz induz uma partição em cada intervalo [xi-l, xi] determinado por e, analogamente, S(f; k) 2 S(J; l), conforme desejado.
dois elementos consecutivos de Pk. Sendo Agora, dados k, l E N arbitrários (i.e., não necessariamente tais
que k l l), segue de (5.3) e do fato de k, l l kl que
Xi-1 = Yiü < Yil < ... < Yiti = Xi
S(J; k) ::::; S(J; kl) ::::; S(J; kl) ::::; S(J; l).
tal partição induzida por Pz, temos claramente que
Portanto, fixando arbitrariamente l E N, as desigualdades acima ga-
min 1 ::::; min 1 e max f ::::; max 1,
[Xi-1,Xi] [Yi,j-1,Yij] [Yi,j-1,Yij] [Xi-1,xi] rantem que
sup{S(J; k); k EN}::::; S(J; l).
para todo 1 ::::; j ::::; ti, de maneira que
Mas, a arbitrariedade do l escolhido garante, agora, que
min
( [Xi-1,Xi] 1) (xi - xi-1) = ( min
[Xi-1,Xi]
1) t_(Yij - Yi,j-1)
.
J=l
sup{S(J; k); k EN} S inf{S(J; l); l EN}.
= t
J=l
.
( min
[Xi-1,Xi]
1) (Yij - Yi,j-1) (5.4) Para concluir a demonstração, é suficiente mostrarmos que a desi-
gualdade acima é, de fato, uma igualdade. Para este fim, basta que,
para cada E > O dado, encontremos k E N tal que
S Lti ( .min . 1)
j=l [Y,,1-I,Y,1]
(Yij - Yi,j-1)
S(J; k) - S(J; k) < E.
158 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 159
A fim de garantirmos a existência de um tal k, invocamos o teorema Vale observar que a notação acima, devida a Leibniz, tem sua razão de
4.29, segundo o qual f é uniformemente contínua. Portanto, existe ser: o símbolo J lembra um S estilizado, e está presente para recordar
8 > O tal que que o cálculo do valor da integral envolve um processo de aproximação
E por somas; os números a e b recordam o domínio da função f que
x, y E [a, b], lx - YI < 8 =* lf(x) - f(y)I < b _a· está sendo integrada; dx recorda que o valor da integral é calculado
como o limite de sequências de somas, cada uma das quais envolvendo
Mas, se k E N for tal que bt
< 8 e para tal k tomarmos Pk como
certas diferenças Xi :..... Xi-I de elementos de Pk, diferenças essas que
acima, então, para xi-l ::::; x < y <:S: xi, temos
eram classicamente denotadas por ~xi. Por fim, observe que tanto
b-a faz denotarmos a integral de f sobre o intervalo [a, b] como em (5.6)
IX - YI <
-
X·i - X·i - 1 = -k- < 8'
ou escrevendo
de modo que segue que
E
1b f(t)dt.
lf(x) - f(y)I < b- a· De fato, uma tal mudança de notação equivale a mudarmos o nome
Em particular, se mi e Mi denotam, respectivamente, os valores míni- da variável, o que certamente não afeta o valor da integral.
mo e máximo de f no intervalo [xi-l, xi], temos que Outra observação interessante (e óbvia) é que, para uma função f
como acima e não negativa, a integral (5.6) ainda retém a interpre-
E
M· - m· < - - V 1 ::::; i ::::; k.
i i b-a' tação de área da região Ri. Para f geral, sob certas condições (5.6)
representa a diferença entre as áreas das regiões sob e acima do gráfico
Logo, para tal escolha de k, temos de f, no sentido do problema 3.
k É possível mostrar que, para uma função contínua arbitrária f :
S(f; k) - S(f; k) = L)Mi - mi)(xi - Xi-1) [a, b] --+ IR, temos
i=l
< L
k
b~ a · ( Xi - xi-I)
1b f(x)dx = 1c f(x)dx + 1b f(x)dx, (5.7)
i=l
E
b _ a · (b - a) = E.
para todo a < e < b. De fato, se estendermos o conceito de integral
1 !
pondo
se verifica para todos a, (3, 'Y E [a, b]. Prova. Suponha f crescente (o outro caso é análogo), e seja F :
Prosseguindo com o desenvolvimento da teoria, o teorema 5.3 ga- (a, b) --+ R a integral indefinida em questão. Dados x, y E ( a, b) tais
rante a consistência da definição a seguir. No enunciado da mesma, que x < y, seja e= x~y > x. Segue de (5.8) que
permitimos que a = -oo ou b = +oo.
F(y) - F(x) = A(fl[x,y]) 2: A(fl[c,y)) 2: f(c)(y - e) > O,
Definição 5.4. Seja f : (a, b) --+ R é uma função contínua. Fixado
x 0 E ( a, b), a integral indefinida de f baseada em xo é a função e F é crescente.
F: (a, b) --+ R dada por A continuidade de F se estabelece com um cálculo análogo: para
x, y E [a, b] tais que x < y ~ e, segue, do que fizemos acima e nova-
F(x) = t f(t)dt. mente de (5.8), que
1
lxo
!
li' De modo análogo, definimos o que vem a ser a integral indefinida IF(y) - F(x)I = F(y) - F(x) = A(fl[x,y]) ~ f(y)(y- x) ~ f(c)(y- x).
baseada em x 0 de uma função contínua f com domínio de uma das
formas [a, b], [a, b) (possivelmente b = +oo) ou (a, b] (possivelmente
a= -oo).
Portanto, pelo lema 4.6, f é contínua.
•
Ainda em relação à definição acima (e também às suas extensões),
vale observar a seguinte consequência de (5.7): para a, (3 E (a, b),
temos (cf. problema 2) Problemas - Seção 5.1
F((3) - F(a) = 1f3 f(t)dt. (5.8) 1. Seja f :· [a, b] --+ R a restrição de uma função afim ao intervalo
[a, b]. Se fé não negativa, a região R 1 é um triângulo ou um tra-
Exemplo 5.5. Se n E N e f : [O, +oo) --+ R é a função dada para
pézio. Mostre que, em um qualquer de tais casos, o valor obtido
x 2: O por f {x) = xn, é imediato verificar que a integral indefinida de
para a área de Ri ao seguirmos o procedimento geral descrito
f baseada em O é a função F: [O, +oo)--+ R tal que F(x) = :n:; para
no início desta seção coincide com o valor obtido mediante o
X 2: Ü.
emprego das fórmulas usuais da geometria Euclidiana plana.
Uma consequência importante da discussão acima é que a integral
indefinida baseada em qualquer ponto é sempre contínua. Façamos a 2. * Use a igualdade (5.7) e a definição de integral indefinida para
prova dessa afirmação para funções contínuas e monótonas f : (a, b) --+ deduzir a relação (5.8).
R, postergando a análise do caso geral para a seção 6.4.
3. Seja f : [a, b] --+Ruma função contínua com um número finito
Lema 5.6. Seja f : (a, b) --+Ré uma funçao contínua, não negativa e de zeros no intervalo [a, b], digamos x 1 < x 2 < · · · < xk. Se
monótona. Fixado x 0 E ( a, b), a integral indefinida de f baseada em
x 0 é uma função contínua e crescente. Rj = {(x, y) E R2 ; a~ x ~ b e O~ y ~ f(x)}
11!1""\"".
l'i 'i
a região do plano situada entre os gráficos de f e g. Definimos com igualdade se, e só se, existe .À E lR tal que f(x) = ..Xg(x),
a área de R19 por para todo x E [a, b].
sob o gráfico de f (cf. figura 5. 3), temos Prova. Segue do lema 5.6 o fato de a função log ser contínua e cres-
cente. Para explicitar sua imagem, seja f : (O, +oo) -+ lR a função
A(fl[l,x]), se X> 1 de proporcionalidade inversa. Para m E N, repetidos usos de (5.7),
logx = { O, se x = 1 juntamente com o exemplo 3.20, fornecem
-A(f1[x,1]), se X< 1 2m 2m
Para a comodidade do leitor, mantemos a notação da integral como log2m = A(f1[1,2m]) = LA(fl[j-1,j]) >
j=l j=l J
> 1 + ;. L;.
área na discussão a seguir.
Analogamente,
y log2-m < -1- m
2'
de sorte que a continuidade de f garante, por intermédio do TVI, que
Logo, Im (log) = R
Resta provar (5.9), o que faremos para x, y > 1, sendo os demais
casos totalmente análogos. Para tanto, afirmamos inicialmente que
/
/
/
/ A(fl[x,xy]) = A(fl[l,y])·
/
/
1.
/
/
De fato, fixada a partição P = {1 = x 0 < x 1 < · · · < xk = y} de [1, y],
X tal que Xi - Xi-I = y~I para 1 ~ i ~ k, a partição correspondente Q
de [x, xy J é Q = {x = Yo < Y1 < · · · < Yk = xy}, com Yi = axi para
1 ~ i ~ k. Então, uma vez que fé decrescente, temos
i.
k k l
Figura 5.3: definição de log x para x > 1.
A(fl[x,xy]; k) = L
i=l
f(Yi)(Yi - Yi-1) = L - ·(axi - axi-1)
i=l axi
l k l k
li
Por fim, segue daí e de (5.7) que Por fim, se r for um racional negativo, então s -r é racional e
positivo, de modo que
log(xy) A(fl[l,xy]) = A(fl[l,x]) + A(fl[x,xy])
logxr = log(xs)- 1 = -logx 8 = -(s · logx) = rlogx.
logx + A(fl[l,y])
logx + logy. •
O corolário a seguir traz mais algumas propriedades úteis da função
• Provaremos, na próxima seção, que o gráfico da função logaritmo
natural é emborcado para baixo. Admitindo este fato por ora e reu-
nindo as informações de que dispomos até o momento, esboçamos seu
logaritmo natural. gráfico na figura 5.4.
1
inicialmente que (5.9) e uma fácil indução fornecem
''
/
o e X
log xn = n log x, /
/
/
/
/
para todo n EN. A partir daí, concluímos que /
/
O teorema a seguir compatibiliza a definição atual de e com aquela Mas, uma vez que log é crescente, as desigualdades acima garantem
dada no exemplo 3.23. que
( + -nl)n = L 1. e1
en+l
<
n
(1 + !)
n < e.
Teorema 5.10. e= lim 1 k' ·
n--++oo
k2:0 Portanto, fazendo n----+ +oo e utilizando o resultado do exemplo 4.25
e do problema 6, página 91, obtemos o resultado.
Para concluir a demonstração, é suficiente mostrarmos que
1
lim
n--++oo
( + -l)n =
1
n
lim '
n--++oo L
°n
""" 1
-
k!
.
n k=O
n+l
Para tanto, veja que, pela fórmula do desenvolvimento binomial, temos
1 1+ .!.n n()l
L Z =L nk
k!(n~ k)!nk
n 1 1
k=O k=O
Figura 5. 5: estimando log (1 + i) .
1 ~ I__ . n(n - 1) ... (n - k + 1)
+ L k! nk
k=l
n 1 n 1
Prova. Inicialmente, mostremos que, se e é a única solução da equa-
ção logx = 1, então e= limn--++oo (1 + ~r-
Para tanto, observe (cf.
< 1+ I::
k=l
k! = I::
k=O
k!;
lim
n--++oo
( + -l)n : : ;
1
n
lim '
n--++oo L
°n
""" 1
-
k!
.
k=O
e, analogamente, Por outro lado, fixado n 0 > 1 inteiro, temos, para n > n 0 também
inteiro, que
log ( 1 + ~) > n : 1 .
1 ~ I__. n(n - 1) ... (n - k + 1)
i Portanto, segue do corolário anterior que +L k! nk
I' k=l
(1 + !)n 1
11
para todo n 0 EN. Por fim, fazendo n 0 ---+ +oo na última desigualdade, .1 = exp(x + (-x)) = exp(x) · exp(-x),
segue que
l)n de sorte que exp(-x) = (exp(x))- 1 . Por outro lado, uma fácil indu-
lim ( 1 + -
n-++oo
2: lim
n
n 1
-k,,
n-++oo
L . ção a partir de (a) fornece exp(xn) = (exp(x)r, para todo n E N.
k=O
Portanto,
o que, por sua vez, conclui a demonstração.
• exp(x) = exp((xl/nr) = (exp(x 1ln)r,
Uma vez que a função logaritmo natural log : (O, +oo) ---+ lR é uma de modo que exp(x 1/n) = (exp(x)) 1/n. Agora, se m, n E N e r = !!!
bijeção crescente e contínua, podemos considerar sua inversa n'
segue que
' !
e
log ax = log( ex Ioga) = X log a,
por exemplo, se a = b = !,
então ab = 0, que é um número
i I j irracional. Se a e b forem irracionais positivos, é sempre verdade
,,
1
1
para todos x, y E R Por outro lado, se x E (Q, digamos x = ~' com que ab é irracional? Justifique sua resposta.
m E Zen EN, segue do corolário 5.9 que
5. Prove que a equação x 2 = 2x tem exatamente três raízes reais,
a = en
r !1!.]oga -
-
elog Vctm -- Vnr:;;;;am·
U"", uma das quais é irracional.
em outras palavras, neste caso a definição (5.11) concorda com o sen- 6. (Israel.) Encontre todas as soluções reais do sistema de equações
tido que temos atribuído a ax até agora. Em particular, temos a0 = 1
x + log( x + J x2 + 1) = y
e a1 = a. { y + log(y + J y 2 + 1) = z .
z + log( z + J z 2 + 1) = x
uma potência natural, podemos escolher o expoente de forma a (a) 2f(m 2 + n 2 ) = f(m) 2 + f(n)2, para todos m, n E Z+.
prescrever os algarismos iniciais do resultado. Para abordá-lo, o
(b) Sem, n E Z+, com m 2: n, então f(m 2 ) 2: f(n 2 ).
leitor pode achar conveniente recordar o material da seção 3.3
(mais precisamente o corolário 3.35).
5.3 Funções côncavas e convexas
9. Sejam a > 1 um inteiro que não é potência de 10 e s uma
sequência finita de algarismos decimais, o primeiro dos quais é Nesta seção, estamos interessados em estudar funções convexas e
não nulo. Prove que existe uma potência de a cuja representação côncavas. Para tanto, em tudo o que segue I e IR denota um intervalo.
decimal começa, à esquerda, pela sequência de algarismos s.
Definição 5.12. Uma função contínua f: I -r IR é:
10. (Rússia.) Mostre que, para 1 < a < b < e reais quaisquer,
tem-se (a) convexa, se f (x!y) :s; f(x)1f(y), para todos x, y E/.
loga(logª b) + logb(logb e)+ logc(logc a) > O. (b) côncava, se f (x!y) 2: f(x)1f(y), para todos x, y E/.
12. Prove que existem infinitos n E N tais que as representações f((l - t)x + ty)) :s; (1 - t)f(x) + tf(y).
decimais de 2n e 5n começam, à esquerda, com o algarismo 3.
13. Encontre todas as funções f : N -r IR satisfazendo as condições (b) f é côncava se, e só se,, para todos x, y E I e todo t E [O, 1],
tivermos
a segmr:
t=
m
2k+l =
1
2
(m -1 + m + 1)
2k+l 2k+ 1 =
1( n
2 2k
n + 1)
+~ .
X (l - t)x + ty y
Pondos= ; eu= n;t1 , temos s, u E [O, 1] e t = !(s + u). Portanto,
segue da convexidade de f e da hipótese de indução que
Figura 5.6: gráfico de uma função convexa.
f((l - t)x + ty) = f ( (1- S; U) X+ (S; U) Y)
f ( ((1 - s)x + sy): ((1- u)x + uy))
Reciprocamente, suponha que fé convexa. Fixados x, y E J, mos-
tremos primeiramente (cf. figura 5.6) que < J((l - s)x + sy) + J((l - u)x + uy)
2
J((l - t)x + ty)) :::; (1 - t)f(x) + tf(y), (5.12) 1
< 2[((1 - s)f(x) + sf(y)) + ((1 - u)f(x) + uf(y))]
para todo racional diádico t E [O, 1] (cf. problema 1.5.4 do volume 1).
Para tanto, façamos indução sobre k 2:: 1. (l _ S; U) f (X) + ( S; U) f(y)
Para k = 1, já temos a validade de (5.12) para t = O, e 1. Para ! (1 - t)f(x) + tf(y).
t =~'aplicando a convexidade de f duas vezes, obtemos
As afirmações a seguir são, agora, bastantes evidentes e fornecem A definição 5.12 garante que toda função estritamente convexa
as seguintes interpretações geométricas úteis dos caracteres convexo (resp. côncava) é convexa (resp. côncava). Entretanto, nem toda
ou côncavo de uma dada função: função convexa (resp. côncava) é estritamente convexa (resp. estrita-
mente côncava), como atesta o seguinte
• f é convexa se, e só se,, para todos a < b em I, a porção do
gráfico de f situada entre as retas x = a e x = b não estiver Exemplo 5.15. Toda função afim é convexa (e também côncava). De
acima da reta que passa pelos pontos (a, f(a)) e (b, f(b)). fato, se f : R ---+ R for afim, é imediato verificar que
Definição 5.14. Uma função contínua f: I---+ Ré: Exemplo 5.17. Fixado n EN, a função f: (O, +oo)---+ R dada para
x ~ O por f(x) = xn é estritamente convexa. De fato, supondo por
(a) estritamente convexa se, para todos x, y E I distintos, tiver- hipótese de indução que
mos
f ( X+ Y) f(x) + f(y)
2 < 2 .
(b) estritamente côncava se, para todos x, y E I distintos, tiver- para todos x, y > O, com igualdade se, e só se, x = y, temos
mos
180 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 181
Por outro lado, • cos (x;y) = 1: a condição x, y E [O, 7r] garante que -~ :::; x? :::;
~; nesse intervalo, temos cos (x;y) = 1 se, e só se, x? = O, i.e.,
se, e só se, x = y.
{::} (xn + yn)(x + y) :::; 2(xn+l + yn+l)
• sen (x+y) = O· segue de x+y E [O 7r] que x+y = O ou 7r· mas
{::} xny + xyn :::; Xn+l + yn+l 2 ' 2 ' 2 '
como x, y E [O, 7r], isso é o mesmo que pedir que x = y = O ou
'
1
o que é verdade; ademais, uma rápida inspeção das desigualdades
Exemplo 5.20. A função tangente é estritamente convexa no inter-
acima garante que há igualdade se, e só se, x = y.
1 ;'
valo [O,~). De fato, para x, y E [O,~) não ambos nulos, as fórmulas
1
Exemplo 5.18. A função log : (O, +oo) --+ IR é estritamente côncava. de adição de arcos fornecem
x;y
1
i I
2 {::} sen (~) < sen (~) cos (~)
e claramente a igualdade ocorre se, e só se, x = y.
COS (X?) - 2 COS X COS Y
Exemplo 5.19. A função seno é estritamente côncava no intervalo {::} cos x cos y: :; cos 2 ( x; y)
[O, 7r]. De fato, para O:::; x, y:::; 7l', é suficiente mostrarmos que
{::} 2 COS X COS y :::; 1 + COS ( X + y)
sen x + sen y: :; 2 sen ( x ; y) , {::} cos x cos y :::; 1 - sen xsen y
{::} cos(x - y) :::; 1,
com igualdade se, e só se, x = y. Para tanto, transformando o primeiro
membro em produto, obtemos o que é sempre verdade. Por outro lado, os cálculos acima também
mostram que
sen x + sen y = 2 sen ( x ; y) cos ( x ; y) .
A condição x, y E [O, 7r] garante que x? E [O, 7r] e, daí, que sen (x;y) ~
X+ y) =
tg ( - 2 -
tg X+ tg y{::} cos(x - y) = 1 {::} x = y,
2
O; mas, como sempre temos cos (x;y) :::; 1, segue que
de sorte que a função é estritamente convexa no intervalo em questão.
2 sen ( x ; Y) cos ( x ; Y) : :; 2 sen ( x ; Y) ,
A continuação, provamos uma versão da proposição 5.13 para fun-
ocorrendo a igualdade se, e só se, cos (x?) = 1 ou sen (x?) = O. ções estritamente convexas e estritamente côncavas, a qual encontrará
Analisemos essas duas possibilidades separadamente: utilidade na próxima seção.
182 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 183
Proposição 5.21. Uma função contínua f : I ----+ IR é estritamente Problemas - Seção 5.3
convexa (resp. estritamente côncava) se, e só se,
1. Sejam I, J e IR intervalos e f :I
----+ J uma bijeção contínua. Se
J((l - t)x + ty)) < (> )(1 - t)f(x) + tf(y), (5.13) fé convexa (resp. estritamente convexa), prove que 1- 1 : J----+ I
é côncava (resp. estritamente côncava), e vice-versa.
para todos x, y E I distintos e todo t E (O, 1).
2. * Prove que a soma de um número finito de funções estritamente
Prova. Examinemos a convexidade estrita de f (a análise do outro convexas (resp. estritamente côncavas) e de mesmo domínio
caso sendo totalmente análoga), observando inicialmente que se (5.13) também é uma função estritamente convexa (resp. estritamente
!)
11
for válida para todos x, y E I e todo t E (O, 1), então (tomando t = côncava).
f é estritamente convexa.
Reciprocamente, suponha que fé estritamente convexa e fixe x, y E
3. Esboce o gráfico da função f : IR\ {O} ----+ IR, dada para x -=/=- O
I distintos e O < t < 1. Se z = (1 - t)x + ty, então x < z < y, de por f (x) = x + ~.
modo que podemos escolher a E (x, z) e b E (z, y) tais que z = ª!b· 4. * Prove que a função f : (O, 1) ----+ IR, tal que f(x) = v1f=x para
Ademais, sendo a= (l-s)x+sy e b = (l-u)x+uy, com s, u E (O, 1), x E (O, 1), é estritamente convexa.
segue de z = ª!b que t = ª!u. Portanto, a convexidade estrita de f,
juntamente com a proposição 5.13, garante que 5. Sejam I, J e IR intervalos e g : I ----+ J, f : J ----+ IR funções
estritamente convexas (resp. estritamente côncavas). Se f for
J((l - t)x + ty) = f(z) = f (a; b) < f(a); f(b) crescente, prove que f o g : I ----+ IR também é estritamente con-
vexa (resp. estritamente côncava).
1
= 2[J((l - s)x + sy) + J((l - u)x + uy)]
6. * Prove que a função f : (O, 7r) ----+ IR, dada para x E (O, 7r) por
1 f(x) = logsenx, é estritamente côncava.
:S: 2[((1 - s)f(x) + sf(y)) +((1 - u)f(x) + uf(y))]
7. Seja f : (a, b) ----+ IR uma função contínua, não negativa e cres-
= ( 1 - -s+u)
2- J(x) + (s+u)
- 2- f(y) cente (resp. decrescente). Prove que toda integral indefinida de
= (1 - t)J(x) + tf(y). f (cf. definição 5.4) é estritamente convexa (resp. estritamente
côncava) .
• 8. Use o resultado do problema anterior para provar que:
9. Se f : (O, +oo) --"? lR. é uma função contínua, crescente (resp. não Suponha agora que, para um certo n > 1 e todos x 1 , ... , Xn E I e
decrescente) e convexa (resp. estritamente convexa), prove que t 1, ... , tn E (O, 1), com t1 + · · ·+tn = 1, tenhamos t1X1 + · · ·+tnXn E I
a função g: (O, +oo)--"? JR., dada para x >Opor g(x) = xf(x), e
também é estritamente convexa.
com igualdade se, e só se, x 1 = · · · = Xn· Consideremos elementos x 1 ,
5.4 A desigualdade de Jensen ... 'Xn, Xn+1 E I e ti, ... ' tn, tn+l E (O, 1) tais que t1 + ... +tn +tn+I =
1. Defina
Para nós, a importância da discussão sobre funções côncavas e t1X1 + · · · + tnXn
y= l = S1X1 + · · · + SnXn,
convexas levada a cabo na seção anterior reside no seguinte teorema, -tn+l
conhecido como a desigualdade de J ensen 1 . com Sj = i-t+i, para 1 :S: j :S: n. Como s1 + · · · + sn = 1 e Sj E (O, 1)
para 1 :S: j :S: n, segue da hipótese de indução que y E J. Daí,
Teorema 5.22 (Jensen). Sejam I e lR. um intervalo aberto e f : I-?
lR. uma função contínua. Se x 1, ... , Xn E I e ti, ... , tn E (O, 1), com t1X1 + · · · + tnXn + tn+1Xn+1 = (1 - tn+1)Y + tn+1Xn+1 E J
t 1 + · · · + tn = 1, então t1X1 + · · · + tnXn E J. Ademais:
e a convexidade estrita de f
(a) Se f for convexa, então f(t1X1 + · · · + tn+1Xn+1) f((l - tn+I)Y + tn+1Xn+1)
< (1 - tn+1)f(y) + tn+if(xn+I),
com igualdade se, e só se, y = Xn+1 · Aplicando agora a outra metade
ocorrendo a igualdade no caso em que f é estritamente convexa da hipótese de indução, obtemos
se, e só se, X1 = · · · = Xn·
f(y) + · · · + SnXn)
f(s1X1
(b) Se f for côncava, então < sif(x1) + · · · + snf(xn)
1
l t (tif(x1) + · · · + tnf(xn)),
- n+l
ocorrendo a igualdade no caso em que f é estritamente côncava com igualdade se, e só se, x 1 = · · · = Xn-
se, e SÓ se, X1 = · · · = Xn· Juntando as duas desigualdades acima, concluímos que
Prova. Suponhamos f estritamente convexa (os demais casos são to- f(t1X1 + · · · + tn+1Xn+1) < (1 - tn+1)f(y) + tn+IÍ(Xn+I)
talmente análogos) e façamos a prova por indução sobre n > 1. O caso < (tif(x1) + · · · + tnf(xn)) + tn+IÍ(Xn+1),
n = 2 segue da hipótese de convexidade estrita e da proposição 5.21. ocorrendo a igualdade se, e só se, y = Xn+1 e x 1 = · · · = Xn· Mas
1 Após o matemático e engenheiro dinamarquês dos séculos XIX e XX Johan é imediato verificar que tais condições equivalem a x 1 = · · · = Xn =
Jensen. Xn+1, conforme desejado. •
186 Tópicos de Matemática Elementar 3
Antonio Caminha M. Neto 187
1·
2
f(x) = -1 +2-x
-,
a convexidade estrita de f é uma consequência imediata da convexi-
dade estrita da função de proporcionalidade inversa e do problema 12,
página 69.
Portanto, aplicando a desigualdade de Jensen, obtemos
n
Lf(ai)
i=l
n
~nf -2:ai
n i=l
) (l
=nf -
n
(1) = 2 ,
2n - 1
Ao o
Figura 5.7: polígono de área máxima inscrito em um semicírculo.
ocorrendo a igualdade se, e só se, a 1 = a 2 = · · · = an e, portanto, se,
Agora, uma vez que a função seno é estritamente côncava no in-
e so, se, ª1 = ª2 = · · · = an = -.
1
n
•
tervalo [O, 1r], segue da desigualdade de Jensen que
Nosso próximo exemplo utiliza a desigualdade de Jensen para re- n-l
7r
solver um interessante problema de geometria. I:senai:::; (n - l)sen = (n - l)sen - - ,
n-l
i=l
188 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 189
com igualdade se, e só se, a 1 = · · · = ªn-l = n:_ 1. Logo, há um único Lema 5.26 (Young). Sejam p e q reais positivos tais que .!.p + .!.q = 1.
polígono de área máxima satisfazendo as condições do enunciado. • Dados a, b > O, temos
aP bq
O exemplo a seguir utiliza a desigualdade de Jensen para dar outra ab S - + -, (5.15)
p q
prova da desigualdade entre as médias aritmética e geométrica. com igualdade se, e só se, aP = bº.
Exemplo 5.25. Demonstre a desigualdade entre as médias aritmética Prova. Já sabemos que a função logaritmo natural é estritamente
e geométrica, para n > 2 reais positivos, como corolário da desigual- côncava em (O, +oo). Portanto, dados reais positivos x 1 e x 2 , e t 1, t 2 >
dade de Jensen. O tais que t1 + t2 = 1, temos pela desigualdade de Jensen que
Prova. Dados n > 2 reais positivos a 1, a2 , ... , an, a sobrejetividade log(t1x1 + t2x2) 2: t1 log X1 + t 2 log x 2 ,
li da função logaritmo natural garante a existência de números reais x 1,
com igualdade se, e só se, x 1 = x 2 • Fazendo t 1 = .!.,
p
t 2 = .!.,
q
x 1 = aP e
x 2 , ... , Xn tais que aj = logxj para 1 S j S n. X2 = bº, obtemos
De acordo com o exemplo 5.18, a função log : (O, +oo) --+ IR é
estritamente côncava. Portanto, temos pela desigualdade de Jensen log (ªP
p
+ bº) 2:
q
~p log aP + ~q log bº = log ab '
que
com igualdade se, e só se, aP = bº. Por fim, como a função logaritmo
log X1 + log x~+ · · · + log Xn S log ( X1 + X2 : ··· + Xn) natural é crescente, segue da desigualdade acima que
aP bq
ou, ainda, -p +-q 2: ab,
(5.14)
com igualdade se, e só se, aP = bº.
A desigualdade da proposição a seguir é uma consequência da de-
•
com igualdade se, e só se, x 1 = x 2 = · · · = Xn- sigualdade de Young, sendo conhecida na literatura como a desigual-
Por fim, como log é uma função crescente, a desigualdade entre as dade de Hõlder 3 . Observe que, quando p = q = 2, tal desigualdade
médias segue prontamente de (5.14). se reduz à desigualdade de Cauchy (7.13) do volume 1.
2 Após 3 Após Otto Hõlder, matemático alemão dos séculos XIX e XX.
William H. Young, matemático inglês dos séculos XIX e XX.
190 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 191
aPn
bK. 1. (Romênia.) Sejam I e R um intervalo e f : I ---+ R uma fun-
ção estritamente convexa e crescente. Prove que a sequência
Prova. Fazendo A= CE:= 1 af) 11P e B = (I:::= 1 b{) 11 q, temos (f (n) )n~l não contém uma PA infinita.
A gora, sendo b· t
Xi =1
a·
e Yi = ifj, emos
n n ( p q) l .n l n
L
i=l
XiYi ::;; L -
i=l p
+- = - L
xi
q p i=l
Yi
xi
P
+ - L Yiq -_
q i=l
1. com igualdade se, e só se, a1 = a2 = · · · = ªn·
11
(b) Use a desigualdade de Jensen para mostrar que, dentre to-
dos os polígonos de n lados inscritos em r, os regulares são
Reciprocamente, é imediato verificar que, se a condição acima for sa- os únicos de área máxima.
1
L. --:::==
n Xi~ ylXI+···+yXn
t=l
Vl - > - ->
n - 1 -
Xi - v'n-=-I '
·
CAPÍTULO 6
Limites e Derivadas
.
SeJa f .. (a , b) ~ JR uma função contínua e . Xo E ( a, b) ·
Se
t Y - f(xo) = m(x - xo),
A(xo, f(xo)), X1 E (a, b) \ {xo} e B1(x1, f(x1)), dizemos que are a (6.2)
ÁÊ1 é uma secante ao gráfico de G1 de f (cf. figura 6.1, onde, para para algum m E R Portanto, comparando (6.1) e (6.2) e tendo em
i = 1, 2, tomamos xi E (a, b) \ {xo}, fizemos Bi(xi, f(xi)) e traçamos conta a discussão do parágrafo anterior, somos levados a concluir que
+----t
as secantes ABi ao gráfico de !) . os quocientes f(xi)-J(xo)
x1-xo aproximam m cada vez melhor à medida que
x 1 aproxime x 0 cada vez melhor. De outra forma, concluímos que a
única definição razoável para a reta tangente ao gráfico de f no ponto
A é a reta de equação (6.2), onde
Admitindo que exista uma noção razoável de reta tangente a G f em Definição 6.1. Fixado x 0 E JR, uma vizinhança de x 0 é um intervalo
A um pouco de intuição geométrica torna razoável supor que a reta Ida forma I = (x 0 - r, x 0 + r ), onde ré um real positivo. Nesse caso,
~ deva aproximar-se cada vez mais· de uma tal tangente à medida,
AB
diremos quer é o raio de I e que I é ar-vizinhança de x 0 .
que B se aproxime de A ao 1ongo d e Gf' ou ' O que é o mesmo, a Se I é ar-vizinhança de x 0 , então todo x E I é dito uma r-apro-
medida que x se aproxime de Xo em (a, b) · ximação de x 0 ou, ainda, uma aproximação de x 0 com erro menor
Observe que, se X1 E (a, b) \ {xo} e B(x1, f(x1)), a equação da quer.
secante ÃÊ ao gráfico de f tem a forma
Definição 6.2. Sejam X e JR um intervalo, x 0 E X e f : X\ { x 0 } ~ JR
- f(xo) = (f(x1) - f(xo)) (x - xo); (6.1) uma função dada. Dizemos que f tem limite L quando x tende a
y X1 - Xo Xo, e denotamos
por outro lado, a pretensa reta tangente a Gf em A, se não for vertical, lim f(x) = L, (6.4)
x--+xo
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 199
198
onde utilizamos a desigualdade triangular na penúltima passa- Prova. Suponha, inicialmente, que f seja contínua em x 0 . Então, a
gem acima. Portanto, caso seja possível escolhermos <5 > O de definição 4.2 garante que, dado E > O, existe <5 > O para o qual
tal forma que <5(<5 + 6) ~ E, teremos
x E X e lx - xol < <5 =} lf(x) - f(xo)I < E.
Agora que já discutimos o conceito de limite com certo cuidado, é contínua, a proposição anterior garante que
utilizamo-lo para caracterizar as funções contínuas, conforme ensina a
lim f(x) = lim g(x) = g(l) = -~.
seguinte X-+ 1 X-+ 1 2
Um fato importante sobre limites de funções é que se limx--+xo f (x) =
Proposição 6.4. Sejam X e lR uma união de intervalos e f : X --+ lR
L, com L -=f. O, então existe uma vizinhança I de x 0 tal que f tem o
uma função dada. Para x 0 E X, temos f contínua em Xo se, e só se,
mesmo sinal de L em X n (I \ {x 0 }). Este é, grosso modo, o conteúdo
lim f(x) = f(xo). do lema a seguir, o qual se constitui no análogo do lema 4.13, sendo
x--+xo também conhecido como o lema de permanência do sinal.
202 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 203
Lema 6.6. Sejam x 0 E X e f : X\ { x0 } --+ lR uma função dada. Se (a) Façamos a prova para f + g, sendo a prova para f - g comple-
limx--+xo f (x) = L, com L =/= O, então existe 6 > O tal que tamente análoga. Como indicado anteriormente, tentaremos estimar
l(f +g)(x)-(L+M)I por excesso em termos de lf(x)-LI e lg(x)-MI:
L/2 < f(x) < 3L/2, se L > O
{ como
x E X e O< lx - xol < 6 ~ _ 3L/2 < f(x) < -L/2, se L < O
l(f + g)(x) - (L + M)I = l(f(x) - L) + (g(x) - M)I
Prova. Suponha L > O (o outro caso é análogo). Pela definição de ::; lf(x) - LI+ lg(x) - MI
limite, dado E = ~ > O, existe 6 > O tal que
(pela desigualdade triangular), a fim de que 1(f + g) (x) - (L + M) 1 < E
L para x E X próximo a (mas diferente de) x 0 , é suficiente que tenhamos
x E X e O< lx - xol < 6 ~ lf(x) - LI < 2· IJ(x)-LI < ! e lg(x)-MI < f Mas, como! > O e limx--+xo f(x) = L
e limx--+xo g( x) = M, a definição de limite garante a existência de reais
Portanto, para cada um de tais x temos -~ ::; f(x) - L < ~' ou, o positivos 61 e 62 tais que
que é o mesmo, ~ < f(x) < :f.
3 • E
x E X e O< lx - xol < 61 ~ lf(x) - LI < 2
\ ,
De posse do lema acima, colecionamos na proposição a seguir al-
e
gumas regras operatórias que simplificam o cálculo efetivo de limites. E
1
1
1
\f(x) - L\ < min { [f, 3(\M~ + l)} Uma fácil _iI~duçã~ permite estender as fórmulas dos itens (a) e
(~) da proposiçao acima a uma quantidade finita de funções. Espe-
e cificamente
. , se x 0 E X e f 1, · · ·, f n ·
· X \ { Xo } ---+ JN.. f orem tais
· que
[f, 3(\L( + l)} ·.
11])
Proposição 6.8. Sejam x 0 E X e f, g, h : X\ { xo} --+ lR funções tais Lema 6. 9. limx---+O se; x = 1.
que g(x) pertence ao intervalo de extremidades J(x) e h(x), para todo Prova. Como queremos calcular um limite, podemos nos restringir
x E X\ {xo}- Se limx---+xo J(x) = limx---+xo h(x) = L, então limx---+xo g(x) ao intervalo lxl < l S~ponha primeiro x > O. Sendo C(A~B) = x O
e
x E X e O< lx - xol < ô2 =} lh(x) - LI < E.
Figura 6.3: o limite trigonométrico fundamental.
Portanto, se ô = min {81, ô2}, temos ô > O e
Jf(x) - LI < E
x E X e O< lx - xol <ô=} { Jh(x) _ LI < E senx = BD< AB < C(A~B) = x
ou, ainda, se;x < 1. Por outro lado, sabemos do volume 2 que a área
Assim, para x E X tal que O< lx - xol < ô, temos
do setor circular AO B é igual a 1r · 2: = ! , ao passo que a área do
lg(x) - LI :S max{lf(x) - Lj, lh(x) - Lj} :S max{ E, E} = E. triângulo AOC é igual a! AC; portanto, também temos
O caso x < O pode ser tratado analogamente e fornece a mesma De modo análogo à discussão até aqui, dada uma função f : X\
desigualdade acima. Então, segue de (6.8), juntamente com o teorema {xo} -r IR, podemos definir noções de limites laterais para f em x 0 ,
do confronto e a continuidade da função cosseno, que limx-+O existe se:x respectivamente à esquerda e à direita, pondo:
e senx (i) limx-+xo- f(x) = L quando, para cada E> O dado, existir ô> O
1 = limcosx < lim-- = l. tal que
x-+0 - x-+0 X
Outra ferramenta muito útil no que concerne o cálculo de limites é (ii) limx-+xo+ f(x) = L quando, para cada E> O dado, existir ô> O
dada pela próxima proposição. Para o enunciado da mesma, recorde tal que
que uma função f : X -, IR é limitada se existir M > O tal que O< x - Xo <ô~ lf(x) - LI < E. (6.10)
deixando ao contexto a tarefa de elucidar se se trata de um limite Assim como antes, deixamos ao leitor a tarefa de elaborar defini-
ordinário ou lateral; uma observação análoga é válida para uma função ções análogas à acima para limx-t-oo f(x) = L e limx-t±oo f(x) = ±oo.
f : (Xo, b) ---+ IR tal que exista limx-txo+ f (x). Por outro lado, observe que a proposição 6.13 continua válida se
Terminamos esta seção observando que também podemos definir X::) (a,+oo) (resp. X::) (-oo,b)) e trocarmos x 0 por +oo (resp.
noções de limites infinitos e limites no infinito, começando com o caso -oo), sendo as demonstrações nesses casos essencialmente as mesmas.
de limites infinitos. Um dos mais importantes usos de limites infinitos e no infinito é
para a identificação das assíntotas horizontais e verticais do gráfico de
Definição 6.12. Dada uma função f : X\ {x0 } ---+ IR, escrevemos uma função, de acordo com a seguinte
limx-txo f(x) = +oo se, dado M > O arbitrário, existir ô> O tal que
Definição 6.15. Se f: X\ {xo}---+ IR é tal que limx-txo f(x) = ±oo,
x E X e O< /x - x 0 / <ô=? f(x) > M. dizemos que a reta x = x 0 é uma assíntota vertical do gráfico de f.
Analogamente, se X::) (a,+oo) (resp. X::) (-oo,b)) e f: X---+ IR é
Deixamos ao leitor a tarefa de elaborar definições análogas à defi- . tal que limx-t+oo f (x) = L (resp. limx-t-oo f (x) = L) , dizemos que a
nição acima para limx-txo f(x) = -oo e limx-txo± f(x) = ±oo. reta y = L é uma assíntota horizontal do gráfico de f.
A proposição a seguir estabelece alguns limites infinitos simples.
Sua prova não difere em grau de dificuldade da prova da proposição
6.7, de modo que a deixamos como exercício para o leitor.
Problemas - Seção 6.1
Proposição 6.13. Dadas funções f,g: X\ {x0 }---+ IR, temos
11 1. Dada uma função f : X \ {Xo} ---+ IR, prove que se limx-txo f (x)
(a) Se lim f(x) = L > O e lim g(x) = ±oo, então lim f(x)g(x) = existir, então ele é único.
x-txo x-txo x-txo
±oo.
2. * Estabeleça as generalizações dos itens (a)e (b) da proposição
(b) Se lim f(x) = L < O e lim g(x) = ±oo, então lim f(x)g(x) = 6.7, conforme discutidas logo após a prova da mesma.
x-txo x-txo x-txo
=fOO.
3. * Estenda a proposição 6. 7 para limites laterais.
Voltemo-nos agora à consideração de limites no infinito.
4. Prove a proposição 6.13 e sua análoga para limites no infinito.
Definição 6.14. Se existe a> O tal que X::) (a, +oo) e f: X---+ IR 5. Sejam f, g : (a, +oo) ---+ IR funções tais que f é limitada e
é uma função dada, escrevemos limx-t+oo f(x) = L se, dado E > O, limx-t+oog(x) = O. Prove que limx-t+oof(x)g(x) = O; em se-
existir A > O tal que
guida, use este fato para mostrar que limx-t+oo se;x = O.
7. Seja f : X\ {x 0 } -+Ruma função tal que limx-+xo J(x) = L. 6.2 Propriedades básicas de derivadas
Se (an)n2:l é uma sequência em X\ {xo} tal que liIDn-,+oo an =
x 0 , prove que limn-++oo f(an) = L. Conclua, a partir daí, que Tendo estabelecido firmemente o conceito de limite, retomamos,
com a definição a seguir, a discussão que levou a (6.3).
limx-+O sen .!X não existe.
8. Se X ::) (a, +oo) e f : X -+ R é uma função dada, dizemos que Definição 6.16. Sejam I e Rum intervalo aberto e f: I-+ Ruma
a reta y = ax + b é uma assíntota oblíqua do gráfico de f se função dada. Fixado x 0 E I, diremos que f é derivável em x 0 se
limx---Hoo(f(x) - (ax + b)) = O. Nesse caso, prove que existir o limite
. f(xo
11m + h) - J(xo) . (6.11)
h-+0 h
a= lim f(x) e b = lim (f (x) - ax).
x-++oo X x-++oo · Nesse caso, tal limite será denominado a derivada de f em x 0 , sendo
Em seguida, elabore o conceito de assíntota oblíqua y = ax + b denotado por f' (x 0 ).
caso X contenha uma semirreta da forma (-oo, /3), e mostre
Nas notações da definição acima, observe que, quando escrevemos
como calcular a e b nesse caso. · J(xo + h), estamos supondo implicitamente que h é tão pequeno que
9. Em cada um dos itens a seguir, encontre as assíntotas verticais Xo + h também pertençe a I = Dom(!). Tal suposição não impõe
11
:11
e oblíquas (cf. problema anterior) da função dada restrição alguma à definição, uma vez que estamos calculando um
1
limite e o domínio de fé um intervalo aberto. Note, ainda, que .exigir
. ,:!\
,1,,
!ti, (a) f: R \{O}-+ R tal que f(x) = x + ~ para x # O. que o limite acima exista é o mesmo que exigir que exista o limite
:.1:
1,(11 (b) f: R \ (-a, a)-+ R tal que J(x) = ~v'x 2 - a 2 para !xi 2:: a.
1:\: lim f(x) - f(xo).
n
1
1
11
i,l
1111, J(x) = anXn + an-1Xn-l + · · ·+ a1x + ao, Isto porque, fazendo x 0 + h = x, temos h = x - x 0 e, além disso,
1
(b) Se n E N e f : IR --+ IR é a função dada, para x E IR, por Mas, como m > O, segue do item (b) que
f(x) = xn, então fé derivável em IR e f'(xo) = nx~- 1 , para
. f (xo + h) - f (xo)
todo x 0 E R 11m~~~-'-~------'-----'- - -1- · lim .!_((xo + h)m - xm)
h-tO h x5m h-tO h O
(c) Se n E Zé negativo e f : IR\ {O} --+ IR é a função dada, para 1 . mxm-1 = -mxo-m- 1 = nxno- 1
-x2m
- O
x E IR\ {O}, por f(x) = xn, então f é derivável em IR\ {O} e o
f'(x 0 ) = nx~- 1 , para todo x 0 E IR\ {O}.
Prova.
•
(a) Sendo J(x) = e para todo x E IR, temos A seguir, mostramos que a função seno é derivável e calculamos
sua derivada em cada ponto da reta, aumentando assim nosso estoque
lim f(xo + h) - f(xo) = lime - e = lim O= O. de exemplos.
h-tO h h-tO h h-tO
(b) Pela fórmula do desenvolvimento binomial, temos Exemplo 6.18. A função seno é derivável em todo x 0 E IR, com
sen'x 0 lim -
h-tO
~ · cos ( x 0
sen-
~
+ -2 h)
2
sen
lim -
h-tO
~ (
h - · lim cos x 0 + -
h-tü 2
h)
2
. senh
hm -h-. COSXo = COSXo,
(c) Se n = -m, com m > O inteiro, então h-tO
f(xo + h) -
h
f(xo) 1 (
h (xo
1
+ h)m
1 )
XÕ
•
Observações 6.19. Antes de prosseguir com o desenvolvimento da
(
Xo + ~)
mx0
• _hl ((xo + h)m - x~). teoria, teçamos duas observações úteis.
216 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 217
1. Uma vez que derivadas são limites, dada uma função f : [a, b) -+ Para o exemplo a seguir, observamos que um cálculo imediato (cf.
IR, podemos considerar a derivada lateral à direita em a, i.e., o problema 1) permite mostrar que se f : I-+ IR é derivável em x 0 E J,
o limite então, fixado e E IR, a função g : I -+ IR dada por g = e · f também é
J' (a)= lim f(x) - f(a)' derivável em x 0 , com
+ x--+a+ X - a
g'(xo) =e· J'(xo).
caso tal limite exista. Analogamente, para f : (a, b] -+ IR po-
demos considerar a derivada lateral à esquerda em b, i.e., o Exemplo 6.20. Se n E Z\ {O} e f : IR -+ IR é a função dada por f (x) =
limite xn, então, de acordo com o item (b) do exemplo 6.17, a função derivada
f'_(a) = lim f(x) - f(b) de fé a função f': IR-+ IR dada por f'(x) = nxn- 1 . Portanto, segue
x--+b- X - b
novamente daquele exemplo e do último parágrafo acima que f' é
(novamente caso tal limite exista). Ademais, sempre que disser- derivável, com f"(x) = n(n - l)xn- 1 , para todo x E R
mos que uma função f : [a, b] -+ IR é derivável, ficará implícito
que as derivadas de f em x = a e x = b são laterais; entretanto, A definição de derivada, juntamente com a relação (6.3), nos per-
sempre que não houver perigo de confusão, escreveremos sim- mitem apresentar outra definição relevante.
plesmente f'(a) e f'(b) (em vez de f~(a) e J:_(b)) para denotar
Definição 6.21. Sejam I e IR um intervalo aberto e f : I -+ IR uma
tais derivadas.
função derivável em x 0 E I. A reta tangente ao gráfico de f no
2. Por vezes, denotaremos a derivada de uma função f num ponto ponto (x 0 , f (x 0 )) é a reta que passa por tal ponto e tem coeficiente
x 0 utilizando a notação alternativa (devida a Leibniz) 1{(x0 ), de angular igual a f'(x 0 ).
sorte que
Segue da definição acima e de (6.2) que a reta tangente ao gráfico
df (xo) = lim f(x) - f(xo).
dx x--+xo X - Xo
de f em (xo, f(xo)) tem equação
Tal simbologia se justifica pelo fato de que, classicamente, a y - f(xo) = J'(xo)(x - xo).
fração do segundo membro acima era escrita como ~ lx e, daí,
XQ
Ilustramos a noção de reta tangente a um gráfico no exemplo a
1{ recorda que a derivada é o limite de tais quocientes, i.e.,
seguir.
df
-(xo) = hm. -D.f IX .
dx x--+xo D.x xo Exemplo 6.22. Sejam f : (O, +oo) -+ IR a restrição da função de
proporcionalidade inversa ao primeiro quadrante do plano Cartesiano
Voltando ao curso normal da teoria, se I e IR for um intervalo e GI seu gráfico. Sejam, ainda, A um ponto qualquer de Gf e P e
e uma função f : I -+ IR for derivável em todo x 0 E I, diremos +------+
Q os pontos sobre os eixos Cartesianos, tais que a reta PQ tangencia
simplesmente que f é derivável em I. Nesse caso, fica bem definida
G1 em A (cf. figura 6.5). Prove que:
a função derivada f' : I-+ IR, que associa a cada x E I a derivada
J'(x) de f em x. (a) AP = AQ.
218 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 219
(b) Se O é a origem do sistema Cartesiano em questão, então a área Após os exemplos iniciais acima, a partir de agora estudamos de
do triângulo POQ independe da posição de A sobre Gf. maneira mais sistemática o problema do cálculo de derivadas, adi-
ando aplicações desse conceito para a próxima seção. Comecemos
y mostrando que uma função derivável em um ponto é necessariamente
contínua em tal ponto.
p
Proposição 6.23. Se uma função f :I ----+ lR é derivável em xo E I,
então fé contínua em x 0 .
x-xo
Prova. Se x 0 > O e A é o ponto (xo, f (xo)) = ( xo, x10 ) , então a reta Por outro lado, como a função x i--+ IJ'(xo)(x - xo)I é claramente
tangente a Gf em A tem equação y - }0 = f'(xo)(x - x 0 ). Mas, como contínua, podemos supor que o <5 escolhido acima também é tal que
f'(x 0 ) = -::\ (pelo exemplo 6.17), concluímos que a equação da reta
Xo O< lx - xol < <5:::} lf'(xo)(x - xo)I < ~-
em questão é y - -1.. = -::\(x - x 0 ) ou, ainda,
XQ Xo
Prova. Para confirmar a afirmação do exemplo, observe que (b) Inicialmente, observe que
mulas que relacionam as derivadas de duas funções deriváveis dadas Agora, como g é derivável em x 0 , segue da proposição 6.23 que g é
com a derivada de certas funções obtidas a partir das funções iniciais. contínua em x 0 e, daí,
(a) f ± g é derivável em x0, com (! ± g)'(x0) = f'(x 0) ± g'(x 0). Portanto, fazendo h--+ O em (6.13) e utilizando as propriedades ope-
ratórias de limites, concluímos que
(b) fg é derivável em a, com (Jg)'(xo) = f'(xo)g(xo) + f(xo)g'(xo).
. (Jg)(x0 + h) - (Jg)(xo) . J(xo + h) - f(xo) 1. ( + h)
Prova. 11m h = 11m h · 1m g x 0
h--+0 h--+0 h--+0
(a) Provemos que f + g é derivável em xo, com(!+ g)'(x0) = J'(xo) +
.
+ !( xo ) · 11m g(xo + h) - g(xo)
g'(x 0), sendo a prova das afirmações relativas a f - g completamente h
h--+0
análoga. Como
= f'(xo)g(xo) + f(xo)g'(xo).
(! + g)(xo + h) - (! + g)(xo) f(xo + h) - f(xo)
h h
g(xo+ h) - g(xo)
•
+ h ' Exemplo 6.26. Seja f: R--+ R a função polinomial dada por
as propriedades operatórias de limites garantem que se f'(x 0) e g'(x0)
existirem, então (! + g)' (x 0 ) também existirá e
(! + g )'( Xo ) = 11m
. (! + g)(xo + h) - (! + g)(xo)
h
com a0 , a 1 , ... , an E R e an =J. O. Utilizando repetidas vezes o exemplo
h--+0 6.17 e o item (a) da proposição anterior, concluímos que fé derivável
= lim (f(xo + h) - f(xo) + _g(_xo_+_h)_-_g(_xo_)) em R, com f' : R --+ R também polinomial, tal que
h--+0 h h
. f(xo + h) - J(xo) 1. g(xo + h) - g(xo)
11m
= + 1m ---'----'---'-~
h--+0 h h--+0 h
= f'(xo) + g'(xo). para todo x E R.
222 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 223
A mais importante dentre todas as regras de derivação é a regra Teorema 6.28. Se I, J e lR são intervalos abertos e g : I --+ J e
da cadeia para derivadas, a qual é o objeto do teorema 6.14 a seguir, f : J --+ lR são funções deriváveis, então f o g : I --+ lR também é
para cuja prova precisamos de alguns preliminares. derivável, com
Sejam I e lR um intervalo aberto e f : I--+ lR uma função derivá- (j o g)' (X) = j' (g (X)) g' (X) , (6.14)
vel. Para cada x E I e h -=/=- O tal que x + h E I, definindo para todo x E J.
A prova do teorema a seguir pode ser omitida numa primeira lei- Já temos limh--+O rt) = O. Quanto a s(hl(h)), há dois casos a considerar:
tura.
224 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 225
(i) Onde r,(h) = O, temos s(hr,(h)) = s(O) = O. Agora, sendo g: lR-+ lR a função dada para x E lR por g(x) = x2,
temos f (x) = (sen o g) (x), de sorte que a regra da cadeia fornece
(ii) Onde r,(h) -1- O, temos
f'(x) = sen'g(x) · g'(x) = 2xcos(x 2).
s(hr,(h)) = s(hr,(h)) . (h).
h hr,(h) 'f/ Portanto, se f(x) = sen (x 2) fosse periódica, a discussão do parágrafo
anterior garantiria que f' seria limitada, o que, obviamente, não é o
Mas, como r,(h) é limitada para h próximo de O, segue da proposição
caso e nos fornece uma contradição. •
6.10 que limh-+O hr,(h) = O e, da igualdade acima, concluímos que
Corolário 6.31. Se J, g : I -+ lR são funções deriváveis em I, com
lim s(hr,(h)) = O. g(x) -1- O para todo x E I, então i.g : I-+ lR é derivável em I, com
h-+0 h
f' (x) = f' (x + T), de sorte que T também é um período para f'.
Segue, daí, que ;'(~] + J(x)(-g(x)- 2)g'(x)
Im (!') = Im (f([o,r]), f'(x )g(x) - f(x )g'(x)
e a continuidade de f' garante, juntamente com o corolário 4.32, que g(x)2
f' é uma função limitada.
•
226 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 227
Exemplo 6.32. Se D = {~ + k7r; k E Z}, então a função tangente Exemplo 6.34. A função arctg : IR-----+ (-~, ~) é derivável, com
tg : IR\ D-----+ IR é derivável e tg 'x = sec 2 x, para todo x E IR\ D. De / 1
fato, segue da fórmula do corolário anterior que arctg y = - -
1 + y2
para todo y E R
, sen 'x cos x - sen x cos' x cos 2 x + sen 2x 1
tg X=--------- ---- -- = -- = sec 2 x.
COS2 X 2
cos x 2
cos x Solução. Inicialmente, observe que tg 'x = sec 2 x =J. o, para todo
x E ( - ~, ~), de sorte que a função arctg é derivável pelo teorema
Examinemos, agora, a derivabilidade da inversa de uma função
anterior. Ademais, se y E IR ex = arctgy, então y = tgx e (6.15)
derivável.
fornece
Teorema 6.33. Sejam I, J e IR intervalos abertos e I : I-----+ J uma arctg'y = _l_ = _l_ = 1 _ 1
bijeção derivável. Se f'(x) =/:- O para todo x E J, então 1- 1 : J-----+ I é tg 'x sec 2 x 1 + tg 2x 1 + y2 ·
derivável em J. Ainda nesse caso, se x E I e y = l(x) E J, então
Terminamos esta seção apresentando, ao leitor, o conceito de deri-
•
u-l)'(y) = f'~x). (6.15) vada de ordem superior. Para tanto, sejam dados um intervalo J e IR
e uma função I: I-----+ R Dizemos que I é duas vezes derivável em
Prova. Vamos nos limitar a deduzir a fórmula para (f- 1 )'(y), assu- Xo E I se existir um intervalo J e I contendo i 0 , tal que I é derivável
mindo a derivabilidade de 1- 1 (para uma prova deste fato, referimos ao em J e a função derivada f' : J -----+ IR é derivável em x 0 E J. Nesse
leitor o capítulo 8 de [34]). Por simpliddade de notação, seja g = 1- 1 . caso, dizemos que (f')'(x0 ) é a derivada segunda de I em x 0 , a qual
Como (g o f) (x) = x para todo x E I, temos (g o I)' (x) = 1, para todo será denotada doravante simplesmente por I" (x 0 ). Se I for derivável
x E I. Portanto, a regra da cadeia garante que em I e f' também for derivável em I, diremos simplesmente que I
é duas vezes derivável em I, e fica bem definida a função derivada
g' (j (X)) J' (X) = 1 segunda I" : I -----+ R
Mais geralmente, seja dado k E N e suponha que já definimos Oque
para todo x E J, de modo que, pondo y = l(x) E J, obtemos se entende por I ser k vezes derivável em I, bem como Oque se entende
pela k-ésima derivada l(k)(x 0 ), de I em x 0 E J. Denotando por l(k) :
g'(y) = g'(f(x)) = f'~x). I -----+ IR a função k-ésima derivada de I, definimos a (k + 1)-ésima
derivada de I em x 0 pondo
• j(k+l)(xo) = (f(k))'(xo),
Como aplicação do teorema acima, mostramos no exemplo a seguir caso tal derivada exista.
que a função arco-tangente (cf. exemplo 4.23) é derivável e calculamos Por fim, se l(kl(xo) existe, para todo k EN e x 0 E J, dizemos que
sua derivada. I é infinitamente derivável em J.
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 229
228
Exemplo 6.35. As funções sen, cos : IR -+ IR são infinitamente deri- 4. * No exemplo 4.23, definimos as funções arcsen : [-1, 1] -+
[- ~, ~] e arccos : [-1, 1] -+ [O, 7r] como as inversas das funções
váveis, com
sen : [-~, ~] -+ [-1, 1] ecos: [O, 7r] -+ [-1, 1], respectivamente.
sen( 4k) = sen, sen( 4k+l) = cos, sen( 4k+ 2) = -sen, sen(4 k+ 3) = - cos Use o teorema 6.33 para provar que as restrições das funções
arcsen e arccos ao intervalo aberto ( -1, 1) são deriváveis, com
e
1
arcsen 'x = ----;::::== e arccos' x = - ----;::::=l==
cos(4 k) = cos, cos(4 k+1) = -sen, cos(4 k+ 2) = - cos, cos(4 k+ 3) = sen, Jl-x 2 Jl - x 2 '
para todo x E (-1, 1).
para todo k EN.
5. Prove que a função f : (O, +oo) -+ IR, dada para x > O por
i i
1
f (x) = sen ,/x, não é periódica.
gráfico de f, obtida de acordo com a definição 6.21, coincide 1 Após o matemático francês do século XVII Guillaume F. Antoine, Marquês
1 '
com a reta que passa por A e é perpendicular ao raio O A. de l'Hôspital.
1
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 231
230
Se k E N não é quadrado perfeito, mostre que f é derivável em Definição 6.37. Se I e IR é um intervalo aberto e f : I---+ IR é uma
função derivável, dizemos que x 0 E I é um ponto crítico de f se
x=vk. f'(xo) = O.
Podemos, agora, enunciar e provar o seguinte resultado fundamen-
6.3 A primeira variação de uma função tal, conhecido como o teste da primeira derivada para extremos
Vimos, na seção 4.3, que toda função contínua f : (a, b] ---+ IR atinge locais.
valores extremos (i.e., máximo e mínimo) em (a, b]. Nesta seção, ana- Proposição 6.38. Se I e IR é um intervalo aberto e f : I ---+ IR é
lisaremos se adicionando hipóteses genéricas razoáveis sobre f (por uma função derivável, então todo extremo local de f também é ponto
' .
exemplo, supondo f derivável), existe algum procedimento que nos crítico.
permita calcular efetivamente os pontos extremos correspondentes.
Em tudo o que segue, I denota. um intervalo da reta. Ademais, Prova. Analisemos o caso em que x 0 E I é um ponto de mínimo local
para f, sendo a prova no outro caso totalmente análoga.
O interior de I é o intervalo obtido de I pela exclusão de sua(s)
232 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto
233
Tome i5 > O tal que (x 0 - ô, x 0 + <5) e I e uma função contínua f : [a, b] ~ IR atinge valores extremos em [a, b];
de outra forma, para uma tal f existem xm, xM E [a, b], tais que
O< lhl <ô=} f(xo + h) - f(xo) ;: : : O.
f(xm) = min{f(x); x E [a, b]}
Para O < h < i5, temos então que f(xM) = max{f(x); x E [a, b]} (6.16)
J(xo + h) - J(xo) > 0 Teorema 6.40 (Lagrange). Se f: [a, b] ~ IR é uma função contínua
h - ' em [a, b] e derivável em (a, b), então existe e E ( a, b) tal que
de sorte que
1
!
!
•
234 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 235
(a) Se f'(x) = O para todo x E J, então fé uma função constante. para todo x-=/=- x 0 . Fazendo agora x---+ x 0 , concluímos que fé derivável
(b) Se existem E IR\ {O} tal que f'(x) = m para todo x E J, então em x 0 e f'(x 0 ) = O. Mas, como x 0 foi escolhido arbitrariamente em
Ii f é uma função afim. IR, segue que f' (x) = O para todo x E IR, de sorte que, pelo corolário
i
anterior, f é constante.
Prova. Fixe [a, b] e I e seja x E (a, b] um ponto qualquer. Pelo Por fim, é imediato verificar que toda função constante satisfaz as
TVM, existe e E ( a, x) tal que condições do enunciado. •
I'
J'(c) = f(x) - f(a). A próxima consequência do TVM nos ensina como obter os in-
1, x-a tervalos de monotonicidade de uma função derivável. A proposição a
Analisemos, agora, os itens (a) e (b) separadamente: seguir é por vezes referida na literatura como o estudo da primeira
variação de uma função derivável 2 .
(a) Nas hipóteses do item (a), temos f'(c) = O, de modo que f(x) =
f(a). Mas, como x E (a, b] foi escolhido arbitrariamente, segue que f Proposição 6.43. Se f : I ---+ IR é uma função contínua em I e
derivável no interior de I, então:
é constante em [a, b]. Por fim, como I é a união de intervalos encai-
xantes [ai, bi] (verifique este fato!), concluímos que fé constante em I. (a) f' 2:: O no interior de I se, e só se, fé não decrescente em I.
2 Essaterminologia alude ao papel preponderante da primeira derivada no re-
(b) Nas hipóteses do item (b), se g : I ---+ IR é a função definida por
sultado em questão, bem como ao fato de que, classicamente, a primeira derivada
g(x) = f(x) - mx para todo x E J, então g é derivável e g'(x) = de uma função derivável era denominada sua primeira variação.
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 237
236
(b) Se f' > O no interior de 1, então f é crescente em 1, mas a de modo que f(b) > f(a). Logo, fé crescente em 1.
Para ver que a recíproca não é verdadeira, considere f : IR -+ IR
recíproca não é válida.
dada por f (x) = x 3 • Ela é crescente em toda a reta, mas f' (O) = O. •
(c) f' :S O no interior de 1 se, e só se, f é não crescente em 1.
Agora, vejamos como utilizar os resultados acima para estudar
(d) Se f' < O no interior de 1, então f é decrescente em 1, mas a máximos e mínimos de funções.
recíproca não é válida.
Exemplo 6.44. Se f : [O, +oo) -+ IR é a função dada por f (x) = x:.:l,
Prova. Provemos somente os itens (a) e (b), sendo a prova dos itens mostre que f atinge um valor mínimo em [O, +oo) e calcule tal valor.
(c) e (d) inteiramente análoga.
Solução. Se f atinge um valor mínimo em [O, +oo), o corolário 6.39
(a) Suponha primeiro f não decrescente em 1. Para um ponto x no garante que tal ocorre em O ou em um ponto crítico de f.
Calculando a primeira derivada de f, obtemos
interior de 1, tome ô> O tal que (x-8,x+ô) C 1. Se O< h < ô, então
x + h E 1, de sorte que f(x + h) - f(x) ;:::: O. Portanto, f(x+hz-f(x) ;:::: O
f'(x) = 2x(x + 1) - (x 2 + 3) · 1 = x 2 + 2x - 3
e, fazendo h-+ O+, obtemos (x + 1) 2 (x + 1) 2 '
f '( X ) = 1Im
. f(x + h)h - f(x) >_ O. de sorte que f' (x) = O se, e só se, x = 1 (lembre-se de que devemos
h--+0+ ter x ;:::: O). Por outro lado, como x 2 + 2x - 3 = (x + 3)(x - 1),
Reciprocamente, suponha que f' ;:::: O no interior de 1. Se a, b E 1 concluímos que f' é negativa no intervalo (O, 1) e positiva no intervalo
são tais que a < b, a continuidade de f em 1 garante sua continuidade (1, +oo). Portanto, a proposição anterior garante que fé decrescente
também em [a, b]. Por outro lado, como (a, b) está contido no interior no intervalo [O, 1] e crescente no intervalo [1, +oo), de modo que segue
de 1, temos f derivável em (a, b), de sorte que o TVM garante a que f realmente atinge seu valor, o fazendo em x = 1. Logo, o valor
existência de e E ( a, b) tal que mínimo de fé f(l) = 2. •
f(b) - f(a) = f'(c) ;:::: O. O exemplo a seguir utiliza o estudo da primeira variação de uma
b-a função para dar uma outra prova da desigualdade entre as médias
aritmética e geométrica.
Logo, f(b) ;:::: f(a), e a arbitrariedade da escolha de a< bem 1 garante
que f é não decrescente em 1. Exemplo 6.45. Dados n > 1 inteiro e reais positivos a 1 , a 2 , ... , an,
i
use a proposição 6.43 para provar que
I
1
i
1
(b) Suponha que f' > O no interior de 1, e sejam a< b dois pontos
quaiquer de 1. Novamente pelo TVM, existe e E (a, b) tal que
8. Mostre que (::J f+l ~ (~f, para todos m, n EN. 15. * O propósito deste problema é provar o famoso teorema de
Darboux3 : se f : I--+ IR é uma função derivável, então a função
9. A função derivável f : IR --+ IR é tal que I f' (x) 1 :S: e < 1 para f' : I--+ IR (ainda que não seja contínua) satisfaz a propriedade
todo real x, onde e é uma constante real positiva. Mostre que do valor intermediário. Para tanto, tome a < b em I e prove
existe um único x 0 E IR tal que J(xo) = Xo. que:
10. Para cada real p > 1, calcule o menor valor possível da soma (a) Se f'(a) <O< f'(b) (ou vice-versa), então existe e E (a, b)
x + y, onde x e y são reais tais que tal que f'(c) = O.
(b) Se f'(a) <d< f'(b) (ou vice-versa), então existe e E (a, b)
(x +\li+ x2 )(y + J1 + y2 ) = p. tal que f'(c) = d.
16. (Romênia.) Prove que não existe função derivável f: (O, +oo)--+
11. (Romênia.) Calcule o menor valor possível da expressão
(O, +oo) tal que, para todos x, y reais positivos, tenhamos
2 1
x+y+--+-,
X+ y 2xy
f(x) 2 ~ f(x + y)(f(x) + y).
il
! para x, y reais positivos. 17. (Leningrado.) Se f : IR --+ IR é uma função polinomial tal que
baseada em a e x 0 < x pertencem ao intervalo [a, b], sabemos que Fazendo x ----+ x 0 , a heurística acima sugere a existência da derivada
de F em x 0 , com
F(x) - F(xo) = A(Jl[a,x]) - A(Jl[a,xo]) = A(Jl[xo,x])·
F'(xo) = lim F(x) - F(xo) = lim (f(xo) + f(x)) = f(xo)
Por outro lado, uma vez que f é contínua, é razoável supor que uma x---+xo X - Xo x---+xo 2
boa aproximação para A(Jl[xo,x]) seja a área do trapézio que tem o pela continuidade de f.
segmento [x 0 , x] como um de seus lados não paralelos e bases de com- O propósito principal desta seção é colocar o argumento acima em
primentos f(x 0 ) e f(x) (cf. figura 6.6). bases rigorosas. Para tanto, começamos recordando que, se f : [a, b] ----+
IR é uma função contínua e F é uma integral indefinida de f, digamos
y baseada em a E [a, b], então
F(x) = 1x f(t)dt,
para todo x E [a, b]. Em particular, para x 0 , x E [a, b], temos
li
a x0 x
F(x) - F(xo) = 1x f(t)dt -1xº f(t)dt = 1x f(t)dt. (6.18)
b X
a a xo
I'
Isto posto, podemos enunciar e provar o resultado principal desta
,1 seção, o qual se constitui em um dos mais importantes resultados
il
Figura 6.6: aproximando a área sob o gráfico de f. básicos do Cálculo, sendo conhecido na literatura como o teorema
fundamental do Cálculo.
onde utilizamos a desigualdade triangular para integrais (cf. problema Por outro lado, se F é baseada em x 0 , a continuidade de F garante
6, página 163) na última igualdade acima (o módulo fora da integral que
J:
se deve a que, se x < x 0 , então 0 IJ(t) - f(xo)ldt :S: O).
A continuidade de f garante agora que, para E > O dado, existe F(b) - F(a) lim (F(b - E) - F(a
E-.0+
+ E))
ô> O tal que
Portanto, para lx- x 0 1 < ô, temos lt- xol < ô para todo t pertencente lim
E-.0+
1b-E f(t)dt.
a-E
ao intervalo de extremidades x 0 ex, de modo que
F(x) - F(xo) - f (xo) 1 :s; 1 . Elx - xol = E, para todo x E [a, b]. Portanto, obtemos a partir do teorema funda-
I
x - x0 lx - xol mental do Cálculo a fórmula
e Fé derivável em xo, com F'(xo) = J(xo).
• d
-d
X
1xxo
f(t)dt = f(x). (6.21)
No que segue, colecionamos algumas consequências úteis do teo-
. rema fundamental do Cálculo. Exemplo 6.48. A função logaritmo natural log : (O, +oo) -r IR é
Corolário 6.47. Se f : [a, b] -r IR é uma função contínua e F: [a, b] -r
derivável e tal que log' x = i,
para todo x E (O, +oo). De fato, como
lba
f(x)dx = lim
1b-E f(x)dx.
E-.O+ a+c
(6.19)
é a integral indefinida da função de proporcionalidade inversa baseada
em 1, segue de (6.21) que
exp'(x) = -1,-
log y
= y = exp(x). Prova. Se G: I--+ IR é a função do segundo membro de (6.22), segue
de (6.21) que G'(x) = f(x), para todo x E I. Portanto,
Vimos, no exemplo anterior, que a função exponencial exp : IR --+ IR
é derivável e igual à sua derivada. Reciprocamente, veremos a seguir (F - G)'(x) = F'(x) - G'(x) = J(x) - f(x) = O
que tal propriedade caracteriza a função exponencial.
para todo x E I, e segue do corolário 6.41 a existência de e E IR tal
Proposição 6.49. Se f : IR --+ IR é uma função derivável, tal que
que (F - G)(x) = e, para todo x E I. Mas, como F(x 0 ) = G(x 0 ),
J(O) = 1 e J'(x) = J(x) para todo x E IR, então f = exp.
temos e = O e nada mais há a fazer. •
Solução. Consideremos a função auxiliar g : IR --+ IR dada, para x E
IR, por g(x) = e-x J(x). Calculando a derivada de g, obtemos De posse da proposição acima, o corolário a seguir garante que, se
f : [a, b] --+ IR é uma função contínua, então, para calcular a integral
g'(x) = -e-x f(x) + e-x J'(x) = -e-x J(x) + e-x J(x) = O,
J: f(x)dx, é suficiente encontrar uma primitiva de f.
e o corolário 6.41 garante que g é uma função constante. Mas, como Doravante, dada uma função contínua F: [a, b] --+ IR, denotamos
g(O) = eºf(O) = 1, segue que g(x) = 1 para todo x E IR e, daí,
f(x) = ex para todo x E IR. • F (x) i::: = F (b) - F (a).
Mostremos, agora, como utilizar o teorema fundamental do Cálculo
para calcular integrais efetivamente. Antes, contudo, precisamos de Corolário 6.52. Se f : [a, b] --+ IR é uma função contínua e F : [a, b] --+
uma definição. IR é uma primitiva de f, então
Definição 6.50. Dados um intervalo I e IR e uma função contínua
f: I--+ IR, uma primitiva de f em I é uma função derivável F: I--+ lba J(t)dt = F(x) x=a·
,x-b (6.23)
IR tal que F'(x) = f(x), para todo x E I.
Em termos do conceito acima, o teorema fundamental do Cálculo
Prova. Faça x 0 = a ex= bem (6.22).
•
mostra que toda integral indefinida de uma função contínua f : [a, b] --+ Exemplo 6.53. Calcule cada uma das integrais J01r sen xdx, J01r sen 2 xdx
IR é uma primitiva de f em [a, b]. Reciprocamente, temos a seguinte e f 01r cos 2 xdx.
Proposição 6.51. Sejam dados um intervalo I e IR e uma função
Solução. Como a função - cos é uma primitiva da função sen, segue
contínua f : I --+ R Se F : I --+ IR é uma primitiva de f em I, então,
do corolário anterior que
fixado x 0 E I, temos
Quanto à segunda integral, como sen2 x = ~ (1 - cos 2x) e ! sen 2x = O corolário a seguir da fórmula de integração por partes é por vezes
2 cos 2x, temos bastante útil.
117r
- (1 - cos 2x)dx Corolário 6.55. Se f : [a, b] -+ R é uma função derivável e com
2 o derivada contínua no intervalo [a, b], então
~ (x _ sen 2x) 1x=1r = ~-
2 2 x=O 2
1abf(x)dx =
lx-b 1ba xf'(x)dx.
xf(x) x=a - (6.25)
Por fim, como sen2 x + cos2 x = 1, temos
Prova. Trocando f por g em (6.24), obtemos
11r cos2 xdx = 11r (1 - sen2 x)dx
2(
2 - x 2dx = lirn R 2 arcsen ( Rx )
E-+0+
1
-R+E
-R
- lirn
-
E-+0+ (-R+E
E-+0+
xv'R2 - x 2
1x=R-E
x=-R+E
+
1R-E
-R+E V R2 -
x2
x2
dx
)
f~W+ R arcsen ( R ~ E)- arcsen (-~+E))
1 R-E x2 - f~W,_ R 2 ( arcsen ( 1- ; ) - arcsen (-1 + ;) )
= lirn dx.
E-+O+ -R+E v' R2 - x2 R 2 ( arcsen 1 - arcsen ( -1)) = 1r R 2 ,
Urna vez que onde utilizamos a continuidade da função arcsen na penúltima igual-
dade acima. •
x2 2 R2 + R2 R2
x - = -v'R2 - x2 + '
JR2 - x2 v'W-~ v'W-~
ternos
Problemas - Seção 6.4
x2
1 R
-R
'\/'R2 - x 2dx = lirn 1
E-+ 0 +
R-E
R-E
-R+E v'R 2 - x 2
1R-E
dx
R2 )
1. Para n EN, seja f : IR--+ IR a função dada por f(x) = xn, para
todo x E IR. Para b > O, use o corolário 6.55 para calcular a área
= lirn ( - 1 v'R2 - x2dx + 2 2dx sob o gráfico de Íl[O,bJ.
E-+0+ -R+E -R+E VR - X
= -1 R
-R
1R-E
v'R2 - x 2dx
R2
+ E--+D+
lirn ·
-R+E v' R2 - x2
dx, Para o problema a seguir, dado x > O definimos xx = exlogx.
de rnodo que 2. * Ern cada urn dos itens a seguir, verifique que a fórmula dada
para a derivada da função correspondente está correta:
A(r) = 2 j R
-R
'\/'R2 ~ x 2dx = lirn
E-+O+
1R-E
-R+E v'R 2
R2
- x2
dx. (a) Se f: (O, +oo) --+ IR é tal que f(x) = xx para todo x E IR,
então f'(x) = (1 + logx)xx.
Por fim, a regra da cadeia, juntamente corn o resultado do pro- (b) Se f : IR--+ IR é tal que f(x) = ax para todo x E IR, onde
blema 4, página 229, fornece a > O é urn real dado, então f' (x) = ax log a.
(c) Se f: (O, +oo) --+ IR é tal que J(x) = xª para todo x > O,
d (X)
dx arcsen R =
1
v' R2 - x2 onde a > O é urn real dado, então f' (x) = axª- 1 .
Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 253
- 1
b-a
1b f(x)dx
a
= .
J(c).
O< 1ran 1 1
f(x)sen (1rx)dx = g(O) + g(l) E Z.
(e) Por fim, obtenha uma contradição mostrando que, se n for
ll. (Romênia.) Seja F o conjunto das funções contínuas f : [O, 1r] ---+ escolhido inicialmente de forma tal que 1ran < n!, então
l tais que
6.5 A segunda variação de uma função Analogamente, como u--+ y se, e somente se, t--+ 1, obtemos a partir
da primeira desigualdade em (6.26) que
Começamos esta seção mostrando que a concavidade ou convexi-
dade de uma função duas vezes derivável está intimamente relacionada J'(y) ~ f(y) - f(x).
ao sinal de sua segunda derivada. Em seguida, utilizamos tal relação y-x
para, em conjunção com a desigualdade de Jensen, obter mais algumas
Portanto f' (y) ~ f' (x), i.e., a função f' é não decrescente em I, de
desigualdades interessantes.
sorte que a proposição 6.43 garante que f" ~ O em I.
Teorema 6.57. Se I for um intervalo aberto e f : I --+ ~ for duas Reciprocamente, suponha agora que f" ~ O (resp. f" > O) em
vezes derivável em I, então: I, ou seja, que a função f' é não decrescente (resp. crescente) em l.
Tome x < y em I, O < t < 1 e seja u = (1 - t)x + ty. Pelo TVM,
(a) f é convexa em I se, e só se, !" ~ O em l. existem r, s E I tais que x < r < u < s < y e
(b) Se f" > O em I, então fé estritamente convexa em l. J'(r) = f(u) - f(x), J'(s) = f(y) - J(u).
u-x y-u
(c) fé côncava em I se, e só se, f" :S: O em I.
Mas, como f'(r) :S: f'(s) (resp. f'(r) < f'(s)), temos que
(d) Se f" < O em I, então fé estritamente côncava em l.
J(u) - f(x) :S: (resp. <) f(y) - f(u)
Prova. Façamos a prova dos itens (a) e (b), sendo a prova dos demais u-x y-u
itens totalmente análoga.
Suponha, inicialmente, que f é convexa. Então, dados x < y em I ou, ainda, que
e O < t < 1, temos f(u) - f(x) < (resp. <) f(y) - f(u)
t(y - x) (1 - t)(y - x)"
J((l - t)x + ty) :S: (1 - t)f(x) + tf(y).
Mas isso é o mesmo que
Fazendo u = (1 - t)x + ty, segue da desigualdade acima que
f((l - t)x + ty) :S: (resp. <) (1 - t)f(x) + tf(y),
f(y) - f(u) f(y) - f(x) f(u) - f(x)
~~~~- > > . . (6.26)
y-u - y-x - u-x
Por outro lado, como u --+ x se, e somente se, t --+ O, concluímos, a
de modo que f é convexa (resp. estritamente convexa).
•
O teorema anterior é conhecido como o estudo da segunda va-
partir da segunda desigualdade acima, que riação de uma função duas vezes derivável. A seguir, obtemos uma
consequência geométrica importante de tal teorema, para a qual pre-
J(y) - f(x) ~ lim f(u) - f(x) = J'(x).
y- X t--+0 U - X cisamos, inicialmente, de uma definição.
256 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 257
Definição 6.58. Sejam I um intervalo aberto e f : I--+ IR uma função Segue que o gráfico de f está inteiramente contido na faixa do plano
contínua. Um ponto x 0 E I é denominado um ponto de inflexão de Cartesiano delimitada pelas retas y = O e y = 1, e que tal gráfico se
f se existir 8 > Otal que fé convexa (resp. côncava) em In(xo-8, xo) aproxima tanto quanto queiramos de tais retas à medida que x --+ +oo
e côncava (resp. convexa) em I n (x 0 , Xo + 8). e x --+ -oo, respectivamente. Por outro lado, como f(O) = !,
segue
Solução. Primeiramente, veja que O < J(x) < 1, para todo x E IR. Exemplo 6.61 (IMO). Prove que, para todos os reais positivos a, b, e,
Ademais, como limx-t+oo ex = +oo e limx--+-oo ex = O, temos que temos
a b e
lim f(x) = O e x--+-oo
lim J(x) = 1. ----;::::==+ + >1.
x--++oo J a2 + bc Jb 2 + ac J c2 + ab -
258 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 259
Prova. Note, primeiramente, que a expressão do primeiro membro na lim g(x) = lim f(x)
x~-oo x~-oo
+ 2 x~+oo
lim f(x) = 1
desigualdade do enunciado é igual a
e
1 2
1 1 1 g(-2log2) = - +- > 1.
J1 + 8bc
a2
+ Jl + 8~g + J1 + 8ªb.
c2
Por outro lado, temos
J3 JI7
e
(i) x, y, z > -2 log 2: pela desigualdade de Jensen, temos
x E (-2log7, -2log2) =} g(x) > g(-2log2) > 1.
Definição 6.62. Dados reais positivos a1, a 2, ... , an e a E :IR, defini- ou, ainda,
mos a média de potências de ordem a dos números a1, a2, ... , an
como o número Ma = Ma(a1, ... , an) tal que
Portanto, concluímos que é suficiente analisar os casos O < a < /3
( af+a~+·+a\':) 1/a ,sear-
_j_ O
M a -- { n e O= a< /3.
1
1
y'a1a2 ... an, se a= O Sem perda de generalidade, suponha que a 1 = max1::,:i::;n{ai}· En-
tão, como nem todos os a/s são iguais, temos
Teorema 6.63. Sejam dados reais positivos a1, a2, ... , ªn· Se a < f3
são reais quaisquer, então
(6.27)
<
ocorrendo a igualdade em uma qualquer das desigualdades acima se,
e só se, todos os ai forem iguais.
e, analogamente, min 1::,:i::;n{ ai} < Ma. Resta, pois, mostrarmos que
Prova. Podemos supor, sem perda de generalidade, que nem todos os
a/s são iguais. Suponha, ainda, que (6.27) valha (com desigualdades
estritas) para todos O < a < /3. A primeira desigualdade acima equivale a
Dados x < y < O, temos -x > -y > O; como os números...!...,
a1
... ,...!...
an
também são positivos e nem todos iguais, segue de nossas hipóteses
que
que, por sua vez, é uma decorrência imediata da desigualdade entre
as médias aritmética e geométrica.
Para provarmos a segunda desigualdade, fazendo M 13 = K, basta
Agora, um cálculo fácil fornece mostrarmos que
-
1
(
ª+ ª2ª+ ···+anª)1/a <
ª1
1
K n
para todo t E :IR, de sorte que as desigualdades acima fornecem ou, ainda, que
Denotando bi = (ai/ K)f3, temos que os b/s não são todos iguais e ou, ainda,
satisfazem
senx se X =/=- O
(e) f: lR. ~ lR. tal que f(x) = { x '
1, se x = O
2. Esboce o gráfico da função f: lR.-+ lR. dada por
-1/x2 __J,. O
f(x) = { e , se x, .
O, se x = O
3. Sejam x, y, z reais positivos com soma dos quadrados igual a 8.
CAPÍTULO 7
Prove que a soma de seus cubos é maior ou igual que 16/'j,.
6. Sejam O < X1, X2, X3, X4 < 1r números reais tais que x 1 + x 2 +
X3 + X4 = 21r. Prove que
Seção 1.1
4
II -senxi
-<-
16
X· - 7r4. 2. Comece fazendo x = 1 e y = v'2 na relação dada para calcular f(l +
i=l i
\1'2).
7. Sejam a 1 , a 2 , ..• , an reais maiores ou iguais a 1. Prove que
7. Se an é o n-ésimo natural que não é quadrado perfeito, então existem
1 1 1 n
--+
a1 + 1
. +···+ an + 1 -> f/ a1 a2 ... an + 1 .
a2 + 1
inteiros positivos s e t, tais que 1 :S s :S 2t e an = t 2 + s (t 2 é o
maior quadrado perfeito menor ou igual a an)· Como há exatamente
8. Sejam a 1 , a 2 , ... , an reais pertencentes ao intervalo [o,!] e tais an números inteiros de 1 a an, exatamente t dos quais são quadrados
que a1 + a2 + · · · + an < 1. Prove que perfeitos (os números 12, 22, ... , t 2), temos que an é o (an - t )-ésimo
não quadrado perfeito. Então, n = an - t = t 2 + s - t, de sorte que
a1a2 ... an[l - (a1 + a2 + · · · + an)] 1
----------------'-'---~ < - -
(a 1 + a2 + · · · + an)(l - a1)(l - a2) ... (1 - an) - nn+l"
266 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 267
Agora, como s > O, temos 10. Sendo l a largura e h a altura do caminhão (medidas em metros),
é imediato que o volume de carga que o mesmo pode transportar é
ªn = t 2 + s = n + t = n +~n - s + 4
1 1 1
+ 2 < n + vn + 2· igual a l8lhm3; portanto, temos de maximizar o produto lh. A fim de
que o caminhão possa entrar no túnel, sua seção reta (um retângulo
Por outro lado, utilizando o fato de que s :::; 2t, obtemos, como acima, de lados medindo l e h) deve ter diagonais de comprimento d, com
an > n + vn - ! . Portanto, d :::; 5m; mas, como d = v'l2 + h2 , temos então que
1j lh = zJ d2 _ z2 :::; zJ25 _ z2 = J25z2 _ z4.
(n+vn+i)-1 <an <n+vn+i,
it Pondo x = l 2, concluímos que basta maximizar a função f(x) -
1,
li, de sorte que ªn = ln + vn + ! J. 25x - x 2 , com O < x < 5.
('.
i: 8. Para (b), use (a); para (c), considere inicialmente o caso k E N, 11. Mostre, inicialmente, que devemos procurar o menor real positivo a
:-,i
,1 via indução; por fim, aplique o resultado de (c) para obter (d) e os tal que f (x) :S a, para todo x E IR; equivalentemente, isso é o mesmo
resultados de (c) e (d) para obter (e). que procurar o menor real positivo a tal que ax 2 - 5x + (a + 1) ~ O
para todo x E R
9. Use a fórmula para o termo geral de uma PA e o item (c) do problema
anterior. 12. Considere separadamente os casos n par e n ímpar, utilizando em
ambos a desigualdade triangular.
10. Como IJ(x)I :S 1 para todo x E IR, a propos1çao 1.14 do volume
1 garante a existência de L = sup{IJ(x)I; x E IR}. Suponha que 13. Para o item (a), aplique a desigualdade entre as médias aritmética e
sup{lg(x)I; x E IR} > 1 e aplique a desigualdade triangular à relação geométrica ao denominador da expressão que define a função. Para
do enunciado para chegar a uma contradição. o item (b), escreva J(x) = 2 + :3~
1 e, em seguida, proceda como em
(a). Por fim, para o item (c), obseve que f(x) 3 = x 3 (1 - x 3 ) 3 e, pela
desigualdade entre as médias aritmética e geométrica, que
1
Seção 1.2 x 3 (1 - x 3 )3 = - · 3x3 (1 - x 3 )3
3
3. Observe inicialmente que, pelo exemplo 7.4 do volume 1, temos x +
< ! ( 3x3 + ( 1 - x 3 ) + (1 - x 3 ) + (1 - x 3 ) ) 4
-3 4
i
~ 2, para todo x > O, ocorrendo a igualdade se, e só se, x = 1.
14. Para o item (b) ' escreva (x+IO)(x+ 2) = ((x+1)+ 9)((x+1)+1) = (x + 1) +
7. Use a forma canônica de f. x+l x+l
x!i + 10; para o item (c), escreva ~ = 2~ + 2~; para (d), escreva
8. Use novamente a forma canônica de f. x = 3;_3 + 3;_3 no denominador.
3
9. Se um retângulo de perímetro 2p tem dimensões x e y, então x+y = p. 15. Comece escrevendo x 4 +y4 = (x 2+y 2)2 -2(xy) 2 :::; (2+xy) 2 -2(xy) 2 ,
A partir daí, mostre que sua área depende de x de acordo com a função e veja essa última expressão como uma função de segundo grau em
quadrática f(x) = -x2 +px e aplique o resultado da proposição 1.25. z =xy.
268 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 269
16. Comece escrevendo f(x) = 4 (x + 1 + xii) + (k + 8). Em seguida, 13. Tome f(x) = -g(x) para x:::;; O e f(x) = -x para x 2: O.
aplique os resultados dos problemas 3 e 5.
14. A fim de mostrar que fé ímpar, observe que f(20+x) = f(10+(10+
17. Comece provando que a função f(x) = x 3 + 2x é crescente. Em x)) = f(lO - (10 + x)) = f(-x) e, analogamente, f(20 - x) = f(x).
seguida, observe que as equações do sistema podem ser escritas da Para a segunda parte, calcule f (40 + x) em termos de f (x).
forma y = f(x), z = f(y), t = f(z) e x = f(t), suponha x 2: y e
15. Para o item (a), comece mostrando que todo x E lR pode ser escrito
conclua, a partir do caráter crescente de f, que x 2: y 2: z 2: t 2: x.
da forma x = pq + a, com q E Z e a E [O,p).
18. Fixados m, n naturais, seja
16. Fazendo g(x) = f(x) +~'mostre que g(x +a)= J~ - g(x)2 e, daí,
Ik = [(kmn + l)n, (kmn + l)m]. que g(x + 2a) = g(x), para todo x E lR.
Como ((k + l)mn + l)n < (kmn + l)m para k > %~(tn--n), existe 17. Seja X= {x E Z; x > 100}. Temos Im(f) = f(X) U f(Z \ X). Por
ko EN tal que um lado, f (X) = {y E Z; y > 90}. Agora, se 90 :::;; x :::;; 100, temos
LJ
h = [(komn + l)n, +oo). 101 :::;; x + 11 :::;; 111 e f(x) = f(f(x + 11)) = f(x + 1). Logo,
k~ko
!(90) = !(91) = · · · = !(100) = !(!(111)) = !(101) = 91.
Como f tem infinitos pontos de estrangulamento, existem k 2: ko e p
naturais tais que pé ponto de estrangulamento e p Eh- Então, Vamos mostrar, por indução, que f(90-x) = 91 para todo inteiro x 2:
1. Para x = 1, temos !(89) = f(f(lOO)) = !(91) = 91. Admitindo,
f((kmn + l)n) < f(p) < f((kmn + l)m).
por hipótese de indução, que f(90-x) = 91 para todo x < n, temos,
Mas, kmn + 1 é relativamente primo com m e com n, de modo que para x = n, que
f(kmn + 1) + f(n) < f(kmn + 1) + f(m) f(90 - n) = !(!(101- n)) = f(91) ~ 91,
e, daí, f(n) < f(m). uma vez que 101- n:::;; 100, o que completa a indução. Logo, f(x) =
91 para todo inteiro x :::;; 100, de modo que
d(f(x), f(xj)) :::; cix - Xjla+l/ 2 :::; kª:1/2 · 8. Se g = J- 1 , comece mostrando que o que se pede equivale à existência
de inteiros positivos x < y < z em PA e tais que g(x) < g(y) < g(z);
Portanto, sendo Cj o círculo do plano com centro f(xj) e raio k"~1;2, em seguida, mostre que podemos supor que x = 1. Para o que falta,
segue que fixe t E lR e mostre que não podemos ter g(t) > g(2t-1) > g(4t-3) >
g(8t - 7) > .. · > g(l).
Então
. Q = f([ü, 1]) e Co u C1 U .. · U Ck-1,
o que implica (A(F) denota a área da figura F) Seção 1.5
k-1
1 = A(Q)=A(uJ:Jcj):::;I:A(Cj) 2. Observe inicialmente que x = 4 é uma solução dessa equação. Em
j=O seguida, veja ambos os membros da equação como funções de (O, +oo)
(
C )2 7íC2 em si mesmo e aplique o resultado do problema anterior.
k1r ka+l/2 = k2a ·
3. Fazendo g(x) = f(x) - f(O) na relação do enunciado, conclua que
Mas como a > O e k > 1 é arbitrário, chegamos a uma contradição,
basta considerar o caso em que f(O) = O. Sob tal suposição, faça
uma' vez que a relação k2 ª :::; 1rc2 não é verdadeira para k suficiente-
y = O para obter f (!) = f~x), para todo x E <Q. Em seguida, use a
mente grande.
relação do enunciado para concluir que f(x + y) = f(x) + f(y), para
todos x, y E <Q, de sorte que f(x) = f(l)x, para todo x E Q.
4. Use a relação do enunciado para provar por indução que f(n) = f(l),
para todo n EN; em seguida, considere o caso n < O.
272 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 273
7. Faça x = a = O em (a) para concluir que J(O) = O. Em seguida, para todo x E R Por outro lado, fazendo y = -x na relação do
fazendo x = O em (a), mostre que f(a) =apara todo a E Z. Tomando enunciado e utilizando uma vez mais as relações acima, obtemos
agora x E [O, 1), use que J(x) E Z e J(f(x)) = O para concluir que
1
J(x) = O. Por fim, para x E IR qualquer, troque x por {x} e faça 2= f(O) = f(x)f(a + x) + J(-x)f(a - x)
a= lxJ em (a) para concluir que J(x) = lxJ. = f(x)f(-x) + f(-x)f(x) = 2f(x) 2 .
8. Comece calculando f(x + J(y + J(O))) de duas maneiras distintas
Portanto, se mostrarmos que f(x) 2: O para todo x E IR, seguirá da
para concluir que f(O) = O. Em seguida, deduza, a partir daí, que
J(f(y)) = -y, para todo y E Z, de sorte que f é bijetiva. A partir
última relação acima que f(x) = t
para todo x E R Para o que
falta, basta fazermos y = x na relação do enunciado, obtendo
dessa última relação, calcule J(J(f(x))) de duas maneiras distintas
para concluir que fé ímpar. Troque x por J(x) na relação do enun- f(2x) = f(x)f(a - x) + f(x)f(a - x) = 2f(x) 2
1
11 ciado para concluir que f(J(x) + J(y)) = J(f(x + y)) e, daí, que
i' J(x) + f(y) = f(x + y), para todos x, y E Z. Por fim, use indu- e, daí, f(x) = 2f (~) 2 2: O, para todo x E R
11,
ção para obter J(x) = f(l)x, para todo x E Z, chegando, assim, à
12. Faça x = y = O para obter f(O) = L Em seguida, use indução para
11 contradição -1 = J(f(l)) = J(l)f(l) 2: O.
l,'/
i'
1
;\
274 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 275
todos a, b E [O, l]. Mostre, a partir daí, que f(x) = x, para todo f não tem pontos fixos em (O, +oo). Por fim, fazendo x = y em (a),
x E [O, 1] n (Q). Para o que falta, imite a passagem de (Q) a ffi. do conclua que J(x) = - x~l para todo x E S.
exemplo 1.52.
18. Comece observando que, se uma tal f existir, então f(Fk) = Fk+l
14. Para o item (a), comece fazendo m = O na relação do enunciado para para todo k E N, onde (Fn)n>l é a sequência de Fibonacci. Mos-
obter J(f(n)) = f(0) 2 + n; conclua, então, que f é bijetiva. Em tre então, com o auxílio do problema 5.29 do volume 1, que uma
seguida, tome k E Z tal que J(k) = O e seja l = J(O); então, temos possibilidade para f é termos
l = f(O) = J(f(k)) = f(0) 2 +k = l 2 +k, ao passo que, fazendo m = k
e n = O na relação do enunciado, temos k 2 + l = k. Logo, k = l = O.
Quanto a (b), façam= 1 e n = O na relação do enunciado para obter para todos 1 :S i1 < i2 < · · · < Íj naturais.
f(l) = 1; em seguida, deduza que J(f(n) + 1) = n+ 1 e, a partir daí,
que f(n) = n, para todo inteiro não negativo n. Por fim, estenda o 19. Se fé uma tal função, faça y = O na relação do enunciado para obter
argumento aos inteiros negativos, mostrando que f (n) = n para todo J(z) = (c+l)z, para todo z E Im (!), onde e= f(O); deduza, a partir
n E Z. daí, que cf(x+y) = f(x)f(y)-xy, para todos x,y E ffi.. Para mostrar
que e= O, suponha que e=/= O e conclua que O tt- Im (!); faça, agora,
15. Fazendo x = y = 1, conclua que f(l) = l. Em seguida, mostre que x = e e y = -e na última relação acima, obtendo f(c)f(-c) = O e
J(f(xy)) = x 2 y 2 f(xy) = J(f(x)f(y)), obtendo então que f(xy) = chegando, assim, a uma contradição. Obtivemos que f(x)f(y) = xy,
J(x)f(y), para todos x, y E N; conclua, a partir daí, que f(x 2 ) = para todos x, y E ffi.; para terminar, tome Yo E Im (!) tal que f (yo) =/=
f(x) 2 , para todo x EN. Por fim, se f(x) < x 2 para um certo x EN, O; então, J(yo) = (e+ l)yo = Yo e, daí, f(x)yo = xyo, para todo
escreva J(x) 3 = f(x 3 ) > f(xf(x)) = x 2 f(x) 2 para obter f(x) > x 2 , xER
uma contradição; analogamente, mostre que não pode ser f(x) > x 2 ,
de sorte que f(x) = x 2 , para todo x EN. 20. Observe que, por (a), temos f(x + k) = f(x) + k, para todo k EN.
.1ome, agora, m, n E n~T e use o f ato de que (n2+m)3
'T"'
n3 -
n3 E N para
16. Troque x por x - 2 e y por 2 em (a) para concluir que f(x) = O, calcular
para x 2:: 2. Faça agora x = y = O em (a) para obter, a partir de m3 (n3 + m)3 - n3)
f (3n + n3
(b), que J(O) = l. Por fim, para O < x < 2, troque y por 2 - x
em (a) para concluir que f(x) 2:: 2 ~x; por outro lado, mostre que de duas maneiras distintas, obtendo a equação
f (x + f(x)) = J(2)f(x) = O e conclua que f(x) :S 2 ~x' para cada
um de tais x.
onde a = f (~). Conclua, a partir daí, que f (x) = x, para todo
17. Observe inicialmente que, pelo item (b), f tem no máximo um ponto
X E Qi.
fixo em cada um dos intervalos ( -1, O), (O, +oo). Se existir um ponto
fixo xo de f tal que -1 < xo < O, faça x = y = xo em (a) para concluir
que x5 + 2xo também é ponto fixo de f e, daí, que x5 + 2xo = xo, o
que é uma contradição. Argumente analogamente para concluir que
276 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 277
o X
X
Figura 7.2: gráficos de Í2 e f4.
1. Mostre que, se fosse a> b, teríamos, eventualmente, an > ªtb > bn.
2. Suponha, sem perda de generalidade, que a1 :::; a2 < a3 < ··· e
mostre que não podemos ter b1 > b2 > b3 > · · · .
Figura 7.4: gráfico de x f--+ 2x/(x + 1).
3. Inicialmente, observe que
5. Suponhamos, por contradição, que f fosse periódica, de período T > n Ír0 (y'n)k 1
O. Então, deveria ser f(T) = f(O) = 2. Mas aí ViaF = -1ª1---+ ~ < 1
2 = f(T) = COST + cos(aT) :::; 1 + 1 = 2, quando n--+ +oo. Portanto, fixado urn real a tal que !
1 1
<a < 1,
. t e no E n Jr0
t a 1 que n > no :::::} V . d a, íaf
urna vez que o cosseno de qualquer número real é no máximo 2. Assim, ex1s ThT
1 '1 íaf < a ou, am nk
< an .
k
deve ser Mas, corno an --+ O quando n --+ +oo, o rnesrno sucede com nn.
a
COST = cos(aT) = 1. Alternativamente, faça ial = 1 + a, com a > O, e veja que, para
n > k,
Para tanto, devem existir inteiros (não nulos) k, l tais que T = 2k7r
e aT = 2l1r. Dividindo membro a membro essas duas igualdades,
chegamos a a= l/k, contradizendo o fato de ser a irracional. laln = (1 +ar= t (~)aj > (
j=O J k
n )ak+l
+1
6. Inicialmente, mostre que a igualdade f (x + 31r) = f (x) implica a _ n(n - 1) ... (n - k) k+l
igualdade ( -1 rsen ( 5! + l~7r) = sen ( 5!), sempre que nx # i + k1r - (k+l)! ·a ·
282 Tópicos de Matemática Elementar 3
Antonio Caminha M. Neto 283
Portanto, para n > k, temos 9. Use o fato de tn = -to - t1 - · · · - tn--l = O para escrever
com a última expressão acima tendendo a O quando n -t +oo. v'k+n - 1 + v'k +n·
Por fim, faça k -t +oo.
4. Construa, indutivamente, uma subsequência (ank)k2'.1 tal que ank > 10. Faça a substituição trigonométrica Xn = 2 cos Yn, com Yn E [O,~],
nk, a1, a2, · · ·, ªnk-1 · use um pouco de trigonometria e conclua que Yn+l ~ 2yn, para todo
n ~ 1. A partir daí, mostre que Yn :S Yn2t 2 k :S 2k7'.;_ 1 , para todo k ~ 1,
de sorte que Yn = O para todo n ~ 1.
5. Escreva e = (1 - tk)c + tkc e use a desigualdade triangular para
escrever lck - cl :S (1 - tk)lak - cl + tklbk - cl- 11. Inicialmente, use a condição do enunciado para mostrar que l(an+l -
an) - (ak+l - ak)I < ~- Em seguida, fazendo n -t +oo, conclua que
existe l = limn--,+oo(an+l - an), e mostre que ak+l - ªk = l, para
6. Note primeiro que lbn - li :S max{lan - li, lcn - li}, para todo n EN.
todo k EN.
Portanto, dado E > O e tomando no E N tal que n > no ==} lan -
li, lcn - li < E, teremos lbn - li < E para n > no, de modo que bn -t l. 12. Conclua, a partir da definição de an, que ªk--l + 1 = l;1ak, para todo
inteiro k ~ 2. A partir daí, mostre que
14. Primeiramente, use a desigualdade entre as médias aritmética e geo- Fixe k > no, np, de modo que ....E:k.....
ªk+p
> y; conclua pela existência de
métrica para concluir que ªk+I 2: Ja, para todo k E N. Agora, Po > p tal que
faça k ---+ +oo na recorrência acima para concluir que, se (an)n>l for -ªk
- 2 : y > -ªk- -
ªk+po ªk+po+l
convergente, então seu limite é igual a Ja. Para o que falta, use a
desigualdade triangular para obter Por fim, suponha que ªk :S x e chegue a uma contradição.
ªk+Po+l
!2 lak - ªk-11 · 11 - ª
ªkªk-1
1 ªn-1)
Cn = ( l +an Cn-1, 'in 2: 1.
1
< 2lªk - ªk-11, Reescrevendo esta relação como Cn
soma telescópica
para k > 2. Por fim, conclua a convergência de (an)n::=::1 a partir do
exemplo 3.17.
(7.1)
15. Prove inicialmente que ªn+l 2: an + 1 e, daí, que an 2: n para todo
n 2: 1. Agora, use produtos telescópicos para mostrar que, fixado Por outro lado, a assertiva do problema equivale a termos ~
Cn-1
<
p EN, temos 2- 1/n, para infinitos n E N. Suponha o contrário, i.e., que existe N
natural tal que a desigualdade oposta se verifica para todo n 2: N.
Então, para n > N, temos
e, daí,
p-1
1 < ªn+p < II ªn+j+l <II
p-1 (
1+
1 )
.
an j=O ªn+j j=O Jan+j onde C = CN · 2(1+!+··+,\-) é uma constante positiva. Se 2k-l :S n <
2k, então
Mostre, então, que
n-Hoo
11m
. ( 1 + -1- ) ( 1+
Fn ~
1 ) ··· ( 1 + -1- -) = 1.
Jan+p-1
< 1+ (t + 1)+ (l + ... + t) + ...
+ · · · + ~ 1)
Agora, se y = 1, conclua o que se pede a partir do limite acima.
Se y < 1, conclua a partir do limite acima que podemos escolher np +( 2L1 2k
natural tal que n > np ::::} --2:1.L
an+p
> y. Utilizando que ak >
-
k para todo < 1 + 1 + 1 + · · · + 1 = k,
k, mostre que podemos escolher no natural tal que l+ 1
v1ªno+1
< y- x.
Em seguida, conclua que n > no e p natural fornecem de modo que
286 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 287
desejado. n a· a· 9 1
x- " '-J =
L,; lüj """
L,; _Jlüj <
- """
L,; lüj lün
j=l j2:n+l j2:n+l
Seção 3.2
1ª =
7. Use que -n+l ...!.... - a n1+ 1 para todo n E N.
an
!,;
1. Faça Sn = L~=l 2 1 e, ern seguida, mostre que
= a+ ~
a -1
(! _~) _
a an
2n - 1.
an
se k > ªj + 1. Para o item (b), ternos 11. Pela definição de convergência para séries, basta mostrarmos que a
sequência (xn)n>l, dada para n ~ 1 por Xn = a1b1 +a2b2+· · ·+anbn,
1 1 1 1
-= < <--. é convergente. Mas, corno sabemos, isso é o rnesrno que mostrar que
a2k a1 + (2k - l)r (2k - l)r - 2k-lr
ela é urna sequência de Cauchy. Para o que falta, sejam dados inteiros
Aplique, agora, o teste da comparação. positivos m e n, com m > n. Segue da identidade de Abel (identidade
288 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 289
(7.20) do volume 1) e da desigualdade triangular que para todo n E N; a partir daí, conclua por indução que bn = n~l
para todo n ~ 1.
lxm - Xnl = lanbn + ªn+Ibn+l + · · · + ambml
= l(sn - Sn-l)(bn - bn+I) + (sn+l - Sn-1)(bn+l - bn+2)
+ (sn+2 - Bn-1)(bn+2 - bn+3) + ···+
+ (sm-l - Sn-1)(bm-l - bm) + (sm - Bn-1)bm)I Seção 3.3
S (lsnl + lsn-1l)(bn - bn+I) + (lsn+II + lsn-1l)(bn+l - bn+2)
+ (!sn+2! + lsn-1l)(bn+2 - bn+3) + · · · + 2. Use o corolário 3.35 para construir indutivamente uma sequência
(ak)k~l, tal que ak = mk + nka, para inteiros mk e nk satisfazendo o
+ (!sm-1! + lsn-1l)(bm-l - bm) + (!sm! + lsn-1l)bm)I.
item (a), e !aÃ: - li < !, para todo l ~ 1.
A partir daí, se M > O for tal que lskl < M para todo k ~ 1, então
quando n --+ +oo. Portanto, a sequência (xn)n~l é realmente de 2. Comece observando que o conjunto (xo-ô, xo+ô) x (f(xo)-E, f(xo)+
Cauchy. E) é um retângulo aberto centrado em Po (xo, f (xo)) e de lados para-
lelos aos eixos. Em seguida, lembre-se de que todo disco centrado em
12. Nas notações do problema anterior, faça ak = (-l)k e bk = í· Po contém um retângulo aberto centrado em Po e de lados paralelos
aos eixos, e vice-versa.
13. Para a primeira parte, suponha que algum x E (O, 1) admite duas
expansões decimais distintas satisfazendo as condições do enunciado 4. Imite a discussão do exemplo 4.8.
e derive uma contradição. Quanto à segunda parte, defina f (x) =
(y, z), com y = O, a1a3a5 ... e z = O, a2a4a5; . .. 5. Use a regra da cadeia para funções contínuas.
15. Sendo an = 2/3n, basta provar que /31 + /32 + /33 + · · · = l Equiva-
lentemente, sendo bn = tg (/31 + · · · + /3n) para n ~ 1, basta provar
Seção 4.2
que bn--+ 1 quando n--+ +oo. Use trigonometria para mostrar que
2(n + 1)2bn + 1 2. Use o TVI em cada caso. Esboçar os gráficos das funções envolvidas
bn+l = 2(n + 1) 2 - bn ' pode ajudar.
Antonio Caminha M. Neto 291
290 Tópicos de Matemática Elementar 3
12. A prova desse resultado é uma simples adaptação do argumento da que Yo E (xo, xo + J(xo)). Use que J(xo + J(xo)) = J(xo) para
prova do teorema de Bolzano. Mais precisamente, suponha I = [a, b] mostrar ser possível escolhermos n E N e e E lR tal que a reta r de
(os demais casos podem ser tratados de maneira similar), e defina equação x + ny = e deixa o ponto (Yo, J(yo)) e os pontos (xo, f(xo)),
A = {x E [a, b]; [a, x] e J}. Se e = supA, use a condição (ii) (xo+ f(xo), f(xo+ J(xo)) = (xo, f(xo)) em semiplanos opostos. Mos-
para mostrar que e E J. Em seguida, tome 8 > O como em (a) e tre, agora, que o TVI garante a existência de reais a E (xo, Yo) e
d E A n (e - 8, e) para concluir que e E A. Por fim, suponha e< b e b E (Yo, xo + f(xo)) tais que os pontos A(a, f(a)) e B(b,f(b)) estão
use novamente (i) (com O< 8 < b - e) para concluir que e+! E A, sobre a reta r, i.e., tais que a+ nf(a) = e e b + nf(b) = e. Por fim,
o que é uma contradição. conclua que f(c) = f(a+nf(a)) = J(a) e J(c) = J(b+nf(b)) = J(b),
de sorte que f(a) = f(b) e, portanto, a= b.
13. Por contradição, suponha que existisse x E [O, 1] tal que f(x) < O.
Utilize o lema 4.13, juntamente com o problema 1.5.4 do volume 1, 18. Fazendo x = y = O, obtemos f(O) + 9(0) h(O). Assim, definindo
=
para chegar a uma contradição. fi(x) = f(x)- f(O), 91 (x) = 9(x)- 9(0) e h1(x) = h(x)-h(O), temos
14. Mostre que a condição do enunciado garante que J(O) = J(m + na), fi(x + y3) + 91(x 3 + y) = h1(xy),
para todos m, n E Z. Em seguida, use o corolário 3.34 do lema de
Kronecker, juntamente com o resultado do problema anterior, para com fi (O) = 91 (O) = h1 (O) = O. Podemos, portanto, começar su-
provar que f é constante. pondo que f (O) = 9(0) = h(O) = O. Fazendo y = -x3 na relação
do enunciado, obtemos 9(x - x 9 ) = h(-x4 ) para todo x. Fazendo
15. Defina a função auxiliar 9 : lR -+ lR tal que 9(x) = I:J=l f(x + jr), x = -y3, obtemos f (-y9 + y) = h( -y4 ), para todo y E JR; daí, segue
com r > Oa ser escolhido posteriormente. Em seguida, se f(xo) <O< que f(x-x 9 ) = 9(x-x 9 ). Mas, como a imagem da função polinomial
f (x 1 ), aplique o lema de permanência do sinal para 9 para mostrar x f-t x - x 9 é o conjunto dos números reais (pelo exemplo 4.17), te-
que r pode ser escolhido de forma tal que 9(xo) < O < 9(x1). Por mos f(x) = 9(x), para todo x E R A relação do enunciado se reduz,
fim, aplique o TVI. então, a
f(x + y3) + J(x 3 + y) = h(xy). (7.2)
16. Observe inicialmente que, para x E (O, 1), a função 9(x) = x(f(x) -
f(O)) mede a área do retângulo que tem os pontos (O, J(O)) e (x, f(x)) Fazendo sucessivamente y = -x3 ex = -y3 em (7.2) e levando em
como extremidades de uma diagonal; portanto, existe O < x1 < 1 tal conta que f(O) = O, obtemos, respectivamente,
que esse retângulo tem área igual a ~. Argumentando de maneira
f(x - x 9 ) = h(-x4 ) e J(-y 9 + y) = h(-y4 ),
análoga, construa retângulos R 1, ... , Rk, cada um dos quais tendo
lados paralelos aos eixos coordenados e área ~' cuja união cobre o de modo que f(x - x 9 ) = J(-x 9 + x). Usando de novo o fato de
gráfico de f e está contida no quadrado [O, 1] x [O, 1] do plano Car- que a imagem da função polinomial x f-t x - x 9 é JR, segue que f é
tesiano. Por fim, use a desigualdade de Cauchy para mostrar que uma função par, i.e., tal que que f(x) = J(-x), para todo x E R
k ":5:. n. Fazendo, agora, y = O em (7.2), obtemos f(x) + f(x 3) = O, de modo
que f(x) = - J(x 3). Voltando a (7.2), essa relação nos dá
17. Suponha, por contradição, que existam xo, Yo E lR para os quais
f(xo) < f(y 0 ); suponha, ademais, (os outros casos são análogos) f(x3 + y) - J((x + y3)3) = h(xy).
294 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 295
Mas, f par implica, então, 4. Comece utilizando a segunda hipótese do enunciado para mostrar que
fé injetiva; para tanto, tome x, y E lR distintos e considere (an)n>l
f(x3 + y) - J(-(x + y3)3) = h(xy). a sequência divergente tal que a2k = x e a2k-l = y, para todo k 2: 1.
Por fim, use as hipóteses sobre f para mostrar que 1- 1 transforma
Daí, segue que, se a E lR for tal que existam reais x e y satisfazendo sequências convergentes em sequências convergentes.
o sistema de equações
5. Para o item (a), adapte o argumento da prova do exemplo 4.17. Para
o item (b), use o resultado do item (a), em conjunção com o teorema
4.31.
então h(a) = O. Provemos que esse é o caso para todo a :S: O. Se 6. Pelo exemplo 4.16, a função g tem um ponto fixo xo. Se Xn = g(xn-1)
a = O, já temos h( a) = O. Se a # O, então a segunda equação do para n 2: 1, mostre que a sequência (xn)n2:1 é não decrescente e tal
sistema acima equivale a y 9 +3y6x+3x 2 y 3 +y+2x 3 = O. Escrevendo que f(xn) = Xn, para todo n 2: 1. Se Xn ---+ a, use a proposição 4.24
x = ~, segue que basta garantirmos a existência de um real y tal que para mostrar que f(a) = g(a) = a.
Seção 5.1 3. Examine os gráficos das funções definidas, para x > O, pelos dois
membros da igualdade em questão.
5. Para o item (a), se k EN, mostre que S..(J; k) ~ S..(g; k). Para o item
(b), se À > O, mostre que S..(>.J; k) = >.S..(J; k). Em seguida, use a 4. Faça a = b = v'2 e analise separadamente as possibilidades ab racional
definição de integral. e ab irracional, observando, neste último caso, que (ab)h E Q.
6. Observe que -lf(x)I ~ f(x) ~ lf(x)I, para todo x E [a, b]. Em 5. Esboce os gráficos das funções x t-+ x 2 e x t-+ 2x. Em seguida, use
seguida, use o item (a) do problema anterior. o TVI para mostrar que existe xo E (-2, O) tal que x~ = 2xo. Para
mostrar que xo é irracional, argumente por contradição.
7. Observe que
1b (f(x) - tg(x))2dx ~ O,
6. Primeiramente, note que a função f(x) = x + ../x2 + 1 é sempre
positiva e crescente e, assim, a função g( x) = x + log f (x) está bem
para todo t E JR. Desenvolvendo (f(x) - tg(x))2, conclua que At2 - definida no conjunto dos números reais e é também crescente. Agora,
l!
2Bt+C ~ O, para todo t E JR, onde A= g(x) 2 dx, B = l!
f(x)g(x)dx o sistema pode ser escrito como
eC= l! f(x)2dx. Em seguida, use o corolário 1.16. g(x) = y, g(y) = z, e g(z) = x.
8. Mostre inicialmente que, fixado t E [O, 1], o fato de f ·ser não decres- Suponhamos, sem perda de generalidade, que x = max{x,y,z}. En-
cente garante que A(RJ) é maior ou igual que a área do retângulo de tão, g(x) = max{g(x), g(y), g(z)}, de modo que y ~ z, x. Em par-
base [t, 1] e altura f(t), i.e., que ticular deve ser y = x, e um argumento análogo prova que deve ser
1 1
f(x)dx ~ (1 - t)f(t) ~ J(t) - t.
x = y = z. Mas aí, basta resolvermos a equação log(x+ ../x2 + 1) = O
ou, ainda, x + vx 2 + 1 = 1, a qual tem x = O como única solução.
Em seguida, fixes E [O, 1] e faça t = g(s) na desigualdade acima para 7. Se k E Z+ é tal que lük ~ n < 10k+1, conclua que k = llog10 nJ.
obter
J(g(s)) - g(s) ~ 11
f(x)dx.
8. Queremos que, para certos n, l EN, tenhamos
1 1
(f(g(s)) - g(s))ds ~ 11
f(x)dx).
l = kq e mostre que, nesse caso, a última condição acima equivale
à existência de um natural n tal que n E [10ª {i_p, 10ª {!p + 1), para
o quê é suficiente termos 10ª( {!p + 1 - {i.p) > 1 ou, ainda, q >
-log10 ( {!p + 1 - {i_p).
Tomando logaritmos decimais, isso é o mesmo que mostrar que exis- o que é uma contradição. Agora, argumente de modo análogo para
tem inteiros positivos m e n tais que log 10 s + m :S n log10 a :S mostrar que não podemos ter f(a) 2': a 2 + 1.
log 10 (s + 1) + m ou, ainda,
14. Comece mostrando que f (O) = O, 1 ou 2. Nos dois primeiros ca-
log 10 s:::; -m + nlog 10 a :S log 10 (s + 1). sos, mostre que f é constante. No terceiro, mostre inicialmente
que f(m) = 2m sempre que m é uma potência de 2. Em seguida,
Se mostrarmos que log 10 a é irracional, a prova estará terminada de- tome n < me suponha que f(m) = f(n); mostre, por indução, que
vido ao corolário 3.35. Suponha, por contradição, que log 10 a E Q, f(m 2 k) = f(n 2 k) e, para chegar a uma contradição, escolha a, b, e EN
digamos log 10 a= ~' com p, q E N primos entre si. Então aq = lQP, . que 1og2 n < 2cb < 2ca < 1og2 m.
tais
de sorte que, pelo teorema fundamental da aritmética (cf. introdução
ao capítulo 1 do volume 1), podemos escrever a= 2k5 1b, onde b não
tem fatores 2 nem 5 e k e l são inteiros não-negativos. Mas aí, temos
2kq5lqbq = 2P5P e, portanto, b = 1, kq = p e lq = p, de modo que em Seção 5.3
particular k = l. Ocorre que isso nos daria a = 2k 5k = lük, o que é
uma contradição.
3. f é ímpar e sua restrição a (O, +oo) é convexa (pelo problema ante-
rior), assume seu valor mínimo em x = 1 e está contida na porção do
10. Comece mostrando que Ioga (Ioga b) > logb(logª b) e logc(logc a) > primeiro quadrante delimitada pelo eixo das ordenadas e pela bissetriz
logb (logc a). Em seguida, aplique o item (e) do problema 1. dos quadrantes ímpares.
11. Se ao = O, bo = O, an+l = 2an + 1 e bn+l = 3bn + 5, mostre que 4. Escreva f(x) = (x:2f = -.;f=x" + vb
e mostre que cada uma
f(an) = bn, para todo n 2': O. Conclua, a partir daí, que f(2n - 1) = -vi e t f--.+
das funções t f--.+ ./t'
t E (O, 1), é estritamente convexa.
~(3n - 1) para todo n 2': O, e resolva a equação 2n - 1 = x para n. Em seguida use o resultado do problema 2.
12. Queremos mostrar que existem infinitos inteiros k e l tais que 3 · lük < 6. Aplique o resultado do problema anterior.
2n < 4 . lOk e 3 . 101 < 5n < 4 · 101 ou, ainda (tomando logaritmos
7. Sendo F uma integral indefinida de f e a < x < y < b, use (5.8) e a
decimais), que log 10 3 < -k + n log 10 2 < log 10 4 e log10 3 < -l +
monotonicidade de f para comparar as diferenças F(y) - F (x!y) e
n log 10 5 < log 10 4. Use, agora, o resultado do corolário 3.35.
F (x!y) - F(x).
13. Tome a> 2 inteiro, e suponha que f(a) ::::; a 2 - 1. Sem, n E N são
9. Use as hipóteses sobre f para mostrar que, para x e y positivos e
. tais que
log 22 m log 22 distintos, tem-se
log a 2 < -;;; < log(a 2 - 1)'
então 2n < am e (a 2 - l)m < 22n. Portanto, duas aplicações de (c),
xf(x) + yf(y) 2': f
x+y
(x 2
+ y 2 ) 2': f
x+y
(x + y).
2
seguidas por aplicações de (a) e (b), nos dão
300 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 301
- - · sen PBA
- > -.
1
1. Suponha que existam naturais n1 < n2 < n3 < · · · tais que a sequên- .
sen PAC·
.
sen PCB
8
cia (J(nk))k?.I seja uma PA. Use a convexidade estrita e o caráter
crescente de f para obter sucessivamente, para k > 1, Por fim, aplique a desigualdade de Jensen à função estritamente côn-
cava x f-t log sen x (cf. problema 6, página 183) para chegar a uma
contradição.
5. Sendo ai = AiÔÂi+l para 1 ::; i ::; n (com An+l = A1), temos O < Seção 6.1
ai < 7r. Mostre, agora, que o perímetro do polígono é r ~f= 1 tg ~i;
em seguida, use a convexidade estrita da função tg : (O,~) --+ R 1. Adapte, ao presente caso, a demonstração da unicidade do limite de
uma sequência, dada na proposição 3.5.
6. A lei dos senos fornece a+ b + e = 2R( sen  + sen Ê + sen ê). Agora,
aplique a desigualdade de Jensen à função sen : (O, 1r) --+ JR. 6. Multiplique o numerador e o denominador da fração por 1 + cos x.
Em seguida, use o limite trigonométrico fundamental.
7. Aplique a desigualdade de Jensen à luz do resultado do problema 4,
página 183. 7. Para a segunda parte, analise o comportamento de f ao longo das
sequências (an)n?.I e (bn)n?.I, tais que an = 2~1r e bn = 2n1r.!.1r7 2 , para
8. De acordo com o problema 5.1.7 do volume 2, temos x + y + z = h. todo n 2:: 1.
Mostre, agora, que a função f : (O, h) --+ lR dada por f(x) = ~+~ é
estritamente convexa e aplique a desigualdade de Jensen. 10. Adapte, ao presente caso, a discussão do exemplo 4.17.
9. Por contradição, suponha que PÂB, PÊC, PÔA > 30º. Então, 11. Comece fazendo x = 1 em (a) para obter f(J(y)) = yf(l), para todo
temos sen PÂB, sen PÊC, sen PÔA > !·
Use a forma trigonomé- y > O. Em seguida, use essa relação para mostrar que f é injetiva
trica do teorema de Ceva (cf. problema 7.3.37 do volume 2) para e, então, que f(l) = 1 e J(J(x)) = x, para todo x > O. Se a > O
302 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto
303
i
é ponto fixo de f, mostre que também o é, de sorte que podemos 10. Sendo T > O o período de f, mostre que j(k)(T) = j(k)(o), para
supor que a 2: 1. Conclua que ak é ponto fixo de f para todo k EN, todo inteiro k 2: O. Conclua que, para O :::; k :::; n - 1, tais equações
e use (b) para mostrar que a = 1. Por fim, fazendo x = y em (a), fornecem um sistema de equações nas incógnitas cos(jT), 1 :::; j :::; n,
conclua que J(x) = 1,
para todo x > O. cuja única solução é cos(jT) = 1, para todo 1 :::; j :::; n - para provar
este último fato, você terá de utilizar o resultado da proposição 6.5
do volume 6.
Seção 6.2 11. Provemos que J'(vk) = O. Como vk (j. Q, segue que J(vk) = O.
5. Adapte, ao presente caso, a discussão do exemplo 6.30. Daí, sendo x um irracional diferente de vk temos
6. Inicialmente, verifique que a discussão que precede o lema 6.27 nos _f(.;._x'---)-_f'----'(c--vk--'-k) = 0
permite escrever, para x E I \ { xo}, x-vk ·
Basta, pois, mostrarmos que
f(x) f'(xo) + r~~:oo)
g(x) = g'( XQ ) + s(x-xo)'
x-xo lim J(x) - f(vk) - O
x-+v'k X - ,vk - .
. .r(x-xo) . s(x-xo) _ O
com 1Imx---+xo x-xo e 1Imx---+xo x-xo - . xEIQ)
7. Pela continuidade da função logaritmo natural, basta mostrar que Para tanto, seja x = ~, com p, q E N, uma fração irredutível. Temos
lim x log
x---t+oo
(1 + ~) = a
X
f(x) - !( vk) 1
x-vk /p/q-vk/ q2/p-q,vk/
.
ou, ainda (fazendo y = x 1) , que 1·1my---+O+ log(l+ay)
Y = a. p ara t ant o,
use a regra de l'Hôspital. = p + qvk
q2 /p2 - q2 k 1
< p + q,vk -
- q2 - q
! (P.q + Fk)k .
8. Escolha um sistema Cartesiano de coordenadas tal que F(O, e) e d :
{y = -e}. Em seguida, obtenha a equação de P em um tal sistema, Dado E> O, tome n EN tal que n > 2v;+ 1 e seja
escreva Pi(ai, bi), para i = 1, 2, e calcule a abscissa Xi do ponto de
A= {p/q; p, q EN, O< q :S n}.
interseção da tangente a P traçada por Pi com a diretriz d. Por fim,
use a colinearidade de Pi, P2 e F para concluir que X1 = x2. Veja que A é um conjunto finito. Tomando
9. Para k 2: O, ponha j(k)(x) = ake-xsenx + bkcx cosx, de sorte que
J = min{l, {/x - Vk/; x E A}},
lk+l\x) = -(ak + bk)e-xsenx + (ak - bk)e-x cosx
temos que /~ - vk/ < J =} q 2: n, ao passo que ~ < vf + 1 implica
e, portanto, ªk+l = -(ak +bk), bk+I = ak-bk. Conclua, a partir daí,
que bk+ 2 + 2bk+1 + 2bk = O, para k 2: O, e use o material da seção 4.3 f(x) - f(vk) = ! (P. + yk) < 2,/f + 1 < E.
do volume 1 para obter j(k) (O) = bk. x-vk q q n
304 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto
305
Seção 6.3 8. Conclua que é suficiente mostrar que a função f(x) = 1 , x > O, (x+;t+
atinge seu valor mínimo em x = n. Para tanto, estude a primeira
4. Aplique o resultado da proposição 6.43 à função f [O, +oo) --+ IR variação de f.
dada por f(x) = ex - x - 1.
9. Use o TVM em conjunção com o resultado do problema 7, página
5. Claramente, basta mostrarmos que j(k) (O) existe e é igual a O, ~ara 150.
todo k # O. Para tanto, observe inicialmente que limx---+O e-l/x =
O = f(O), de sorte que f é contínua em R Examinemos, ~gora a 10. Mostre, inicialmente, que
primeira derivada de f. Para x # O, temos f'(x) = ;3 ·
e-l/x ; para
x = O, observe inicialmente que y = ~ (p( v1 + x 2 - x) + tcv1 + x2 + x)).
f(x) - f(O) _ e-l/x2 Em seguida, estude a variação da função f : IR--+ IR tal que f(x) =
X-Ü X x+ y, onde y é dado em função de x como acima.
Fazendo t = i, temos t --+ ±oo quando x --+ O e f(xl=l(O) t
;t2· 11. Use a desigualdade entre as médias para dois números para concluir
Como et 2 > 1 + t 2 pelo problema anterior, segue que que a expressão acima é maior ou igual que f(x + y), onde f(t) =
f
t + + fi para t > O. Em seguida, estude a primeira variação da
f(x)-f(O) 1 = ~ < _it_i --+ O função f.
l
X - Ü et 1 + t2
Mostre que isso é suficiente para garantir que limx--+c f(xl=I(c) existe Seção 6.4
e é igual a L.
4. Estude a primeira variação da função J(x) = (1 + l)x
(O )( . . x , para x E
15. Para o item (b), use o resultado de (a). Para o item (a), considere dois '+oo aqm, para x, g(x) > O, definimos g(x)x como exp(x logg(x))).
casos separadamente: se f não for injetiva em [a, b] mostre que basta 5. Derive g(x) = e-x f(x) e utilize a proposição 6.43.
usar o TVM; se f for injetiva em (b), conclua que f será monótona
6. Adapte, ao presente caso, a discussão do exemplo 6.56.
e, daí, que f' 2: O em [a, b] ou f' :S O em [a, b].
7. Por contradição, derive a igualdade p(x) -- log x e , em segm"d a, use o
16. Comece utilizando a relação do enunciado para mostrar que, se uma resultado do problema 10, página 212 .
tal f existisse, então teríamos f' (x) :S -1, para todo x > O. Em
seguida, use o TVM para mostrar que f deveria assumir valores ne- 8. Tomando logaritmos naturais, concluímos que basta comparar os nú-
meros le e log7l' 7l' • p ara t anto, estude a primeira
· · varia,ção da função
gativos.
f: (0,+oo)--+ lR dada por f(x) = lo~x, para x E (0,+oo), mos-
17. Aplique repetidas vezes o seguinte fato: se k E lR é tal que f (x) + trando que seu valor mínimo é atingido somente em x = e.
kf'(x) 2: O para todo x E JR, então J(x) 2: O para todo x .E R Para 9. Adapte a sugestão dada ao problema anterior.
provar tal fato, comece utilizando o resultado do problema 10, página
10. Aplique o TVM usual à integral indefinida de f baseada no ponto a.
212, para mostrar que f tem grau par e coeficiente líder positivo. Em
seguida, tome (pelo problema 5, página 149) xo E lR tal que f atinge 11. Inicia~~ente, use os cálculos do exemplo 6.53 para mostrar que existe
seu valor mínimo em xo e aplique o corolário 6.38. uma umca fo E F da forma fo(x) = Acosx+Bsenx, com A,B E R
Agora, expanda a desigualdade fo'll' (f (x) - f o(x) )2 dx 2: O para chegar
18. Use o TVM para garantir a existência de e E (a, b) tal que J'(c) = 1. ao resultado desejado.
Se f(c) = e, mostre que basta aplicar o TVM mais duas vezes. Se
f(c) < e, use o TVM para garantir a existência de a E (O, e) e 12. Para o item (a), estude a variação da função x f---+ log(x + 1) - x
(3 E ( e, 1) tais que f' (a) < 1 e f' (,B) > 1; em seguida, aplique o ~ 2: O. :ªra o item (b), observe inicialmente que, pela fórmula d~
mtegraçao por partes, temos
teorema de Darboux (cf. problema 15). Se f(c) > e, argumente de
maneira análoga. rl xn r1
nxn-l rl d
n lo xn + a dx = n lo x. xn + a dx = lo x. dx log(xn + a)dx
19. Comece usando o TVM para mostrar que existe O < 8 < 1 tal que
Jf(x)J < JxJ, para JxJ < 8. Itere esse argumento, mostrando que (com
= log(a + 1) -1 1
log(xn + a)dx.
o mesmo 8) Jf(x)J :S JxJn, para lxl < 8 e todo n EN. Conclua, a partir Por outro lado, pelo item (a), temos
daí, que f(x) = O, para lxl < 8. Em seguida, estenda o argumento
acima, mostrando que, se f(xo) = O, então existe 8 > O tal que
J(x) = O, para lx - xol < 8. Por fim, use o resultado do problema 12,
loga < lal log(xn + a)dx = 11 (ioga+ log ( :n + 1)) dx
página 140, para concluir que f(x) = O, para todo x E R < loga + rl xn dx.
lo a
308 Tópicos de Matemática Elementar 3 Antonio Caminha M. Neto 309
Por fim, combine os cálculos acima para inferir o limite do enunciado. onde s = a1 + a2 + · · · + an; a partir daí, reescreva tal desigualdade
como
Seção 6.5
tlog ( 1
i=l
:i .)
ai
:S -(n+ l)logn+log ( ~ ) .
1 s
2. É imediato que J(x) < 1 para todo x E lR e limlxl-++oo e-l/x2 = 1. Se ai < ! para 1 :Si :S n, aplique a desigualdade de Jensen à função
Assim, o gráfico de f é simétrico em relação ao eixo das ordenadas f(x) = log ( 1.:x), O< x <!;posteriormente, mostre que
(pois f é par), está inteiramente contido na faixa do plano Cartesiano
situada entre as retas y = O e y = 1 e se aproxima mais e mais da reta 8
nlog ( - 8
- ) + (n + 1) logn :S log ( - - ) .
y = 1 quando x --+ ±oo. Agora, mostramos no problema 5, página n-s l-s
239, que f é duas vezes derivável, com f'(O) = J"(ü) = O e, para
x#O,
f '( x ) = ~. eJ"(
x) = (4 - 66x ) • e -1/x2 ..
2
-l/x2
3 e
X X
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CAPÍTULO A
Glossário