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Construções Geométricas

6* edição

WÊLSBM
COLEÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA
C o n s tru ç õ e s G e o m é tr ic a s
Copyright © 2007, 2005, 2001, 2000, 1999, 1993, Eduardo Wagner
Direitos reservados pela Sociedade Brasileira de Matemática.

C o le çã o d o P ro fe sso r d e M a te m á tica

C o m itê E d itoria l
Abdênago Alves de Barros
Abramo Hefez
Djairo Guedes de Figueiredo
Helena J. Nussenzveig Lopes (Bditora-Chefe)
José Alberto Cuminato
Sílvia Regina Costa Lopes

Capa
Ana Luisa Passos Videira sob projeto de Rodolfo Capeto

S o c ie d a d e B ra sileira d e M a te m á tica
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IS B N : 978-85-244-0084-1

F IC H A C A T A L O G R Â F IC A P R E P A R A D A P E L A S E Ç Ã O D E T R A T A M E N T O D A
I N F O R M A Ç Ã O D A B I B L I O T E C A P R O F E S S O R A C H IL L E B A S S I - I C M C /U S P

Wagner, Eduardo
W132c Construções geométricas / Eduardo Wagner com a
colaboração de José Paulo Q. Carneiro- - 6.ed.
Rio de Janeiro: SBM, 2007.

110 p. (Coleção do Professor de Matemática; 9)

ISBN 978-85-244-0084-1

1. Construções geométricas. I. Carneiro, José Paulo


Q., colaborador. II. Título.
Construções Geométricas

6* edição

WÊLSBM
COLEÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA
H sbm
C O L E Ç Ã O D O P R O F E SSO R D E M A T E M Á T I C A

• Logaritmos - E. L. Lima
• Análise Combinatóría e Probabilidade com as soluções dos exercícios - A. C. Morgado,
J. B. Pitombeira, P. C. P. Carvalho e P. Fernandez
• Medida e Forma em Geometria (Comprimento, Área, Volume e Semelhança,) -
E. L. Lima
• Meu Professor de Matemática e outras Histórias - E. L. Lima
• Coordenadas no Plano com as soluções dos exercícios - E. L. Lima com a colaboração
de P. C. P. Carvalho
• THgonometria, JVúmeros Complexos - M. P. do Carmo, A. C. Morgado, E. Wagner,
Notas Históricas de J, B. Pitombeira
• Coordenadas no Espaço - E. L. Lima
• Progressões e Matemática Financeira - A, C. Morgado, E. Wagner e S. C. Zani
• Construções Geométricas - E. Wagner com a colaboração de J. P. Q. Carneiro
• Introdução à Geometria Espacial - P. C. P. Carvalho
• Geometria Euclidiana Plana - J. L. M. Barbosa
• Isoinctrias - E. L. Lima
• A Matemática do Ensino Médio Vol. 1 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
• A Matemática do Ensino Médio V ol 2 - E. L. Lima, P, C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
• A Matemática do Ensino Médio Vol. 3 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
• Matemática e Ensino - E. L. Lima
• Temas e Problemas - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
• Episódios da História Antiga da Matemática - A. Aaboe
• Exame de Textos: Análise de livros de Matemática - E. L. Lima
• Temas e Probíemas Elementares - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e A. C.
Morgado
• A Matemática do Ensino Médio: Soluções e Exercícios- E. L. Lima, P. C. P. Carvalho,
E. Wagner e A. C. Morgàdo
• Construções Geométricás: Exercícios e Soluções - S. Lima Netto

C O L E Ç Ã O IN IC IA Ç Ã O C IE N T ÍF IC A

• Números Irracionais e Transcendentes - D. G. de Figueiredo


• Primalidade em Tempo Polinomial - Uma Introdução ao Algoritmo AKS - S. C.
Coutinho
Prefácio

Este livro foi escrito para um curso de aperfeiçoamento de professores


secundários organizado pelo IMPA, Instituto de Matemática Pura e Aplicada
e patrocinado pela fundação VITAE.

Estando as Construções Geométricas cada vez mais ausentes dos


currículos escolares, esta publicação pretende ajudar a resgatar o assunto do
esquecimento e mostrar a sua importância como instrumento auxiliar no
aprendizado da Geometria. Os problemas de construção são motivadores, às
vezes intrigantes e freqüentemente conduzem à descoberta de novas
propriedades. São educativos no sentido que em cada um é necessária uma
análise da situação onde se faz o planejamento da construção, seguindo-se a
execução dessa construção, a posterior conclusão sobre o número de soluções
distintas e também sobre a compatibilidade dos dados.

O livro está dividido em cinco capítulos. O primeiro trata das


Construções Elementares, ou seja, da criação das primeiras ferramentas que
serão utilizadas na solução-dos problemas e o segundo trata das Expressões
Algébricas, onde se interpreta geometricamente algumas equações da
álgebra. O leitor perceberá imediatamente a enorme diferença entre as
formas de raciocinar nesses dois capítulos. Enquanto que num as construções
são executadas a partir das propriedades das figuras, no outro os problemas
são inicialmente resolvidos algébrica mente sendo a construção executada a
partir do resultado obtido. O terceiro e o quarto capítulos tratam
respectivamente das Áreas e das Construções aproximadas que permitem
resolver (de forma aproximada), entre outros, os célebres problemas da
quadratura do círculo e da triseção do ângulo.
É oportuno dizer que quase todo o material contido nos quatro
primeiros capítulos já era conhecido há 2000 anos. Entretanto, é curioso
verificar que as Construções Geométricas permaneceram imunes ao tempo
(ao contrário de diversos outros tópicos da Matemática que foram
continuamente modificados) sendo tão útil hoje como em qualquer outra
época para a educação do jovem estudante de Matemática.

O quinto capítulo trata das construções sob o ponto de vida das


Transformações Geométricas. É a parte “moderna” do livro onde um novo
elemento é introduzido: a noção de função. Associando a cada ponto do plano
um outro através de certas regras, as funções (ou transformações) dão
movimento às figuras. Essa nova idéia, desenvolvida (principalmente) no
século 19 tornou mais rica a antiga caixa de ferramentas que era até então
disponível, possibilitando soluções simples e elegantes de diversos problemas
que antes demandavam considerável esforço, ou que não tinham sido
resolvidos. Neste livro, só algumas transformações são abordadas e mesmo
assim de forma bastante breve, pretendendo-se apenas dar uma noção dessa
nova idéia e suas aplicações.

Uma lista de exercícios aparece no final de cada capítulo sendo os


primeiros naturalmente os mais fáceis. Raramente os enunciados são
acompanhados de figuras. O esboço de um desenho que contenha os dados
apresentados no problema é parte fundamental de sua solução. Muitos
enunciados podem parecer ao leitor um tanto vagos. Isto é proposital pois
obriga a esse leitor colocar no papel os dados de forma mais geral possível e
com isso antecipar uma outra parte importante da solução que é a da
verificação da compatibilidade dos dados.

Não se deve esquecer que não há método fácil para se aprender


Matemática (ou qualquer outra coisa). A segurança que se pode adquirir em
um assunto tem uma só origem: a prática, a experiência muitas vezes
repetida onde os insucessos têm tanto valor quanto os sucessos.

Desejo agradecer aos professores Elon Lages Lima e Paulo Cesar Pinto
de Carvalho pelas valiosas sugestões que recebi, ao professor José Paulo
Quinhões Carneiro pela autoria do Apêndice e ao professor Jonas Miranda
pela diagramação e composição do livro e pela possibilidade de utilizar o
computador como versão moderna da régua e do compasso. Desejo
igualmente agradecer a Canrobert Mac-Cormick Maia pela qualidade das
figuras que acompanham o texto.

Rio de Janeiro, janeiro de 1993.


Eduardo Wagner
Nota

Um segmento de reta de extremidades A e B é representado por AB. Se dois


segmentos AB e CD são congruentes escrevemos AB = CD. Muitas vezes
representamos um segmento por uma letra minúscula escrevendo então
AB = a. Em todo o texto, os segmentos não estão explicitamente associados a
números reais (os seus comprimentos). Entretanto se na notação AB = o o
leitor interpretar a como a “medida” de AB em certa unidade, não há
problema. A soma de segmentos e a diferença de segmentos são usadas sem
maiores formalidades. Também, quando a é um segmento e n é u m natural,
as expressões na e % possuem significado claro. Logo no início, o leitor
encontrará expressões do tipo a > b onde a e b são segmentos. Nesses casos,
acreditamos que a falta das definições não causará maiores dificuldades na
compreensão do texto. Enfim, este pequeno curso está voltado para o lado
prático e não formal.
Conteúdo

Capítulo 1 - Construções Elementares 1


1. Introdução 1
2. Paralelas e perpendiculares 2
3. Amediatriz 4
4. A bissetriz 4
5. O arco capaz 5
6. Divisão de um segmento em partes iguais 8
7. Traçado das tangentes a um círculo 8
Exercícios 21

Capítulo 2 - Expressões Algébricas 29


1. A 4- proporcional 29
2. Vo^ ± b'Á 32
3. aVrTf n natural 34
4. A média geométrica 35
5. O segmento áureo , 40

6. — , a2 e Vã 42
a
Exercícios 45

Capítulo 3 - Áreas 49
1. Equivalências 49
2. Partições 52
Exercícios 58

Capítulo 4 - Construções Aproximadas 60


Exercícios 68
Capítulo 5 - Transformações Geométricas 70
1. Translações 71
2. Reflexões 73
3. Rotações 75
4. Homotetias 80
Exercícios 85
Apêndice A - Construções Possíveis Usando Régua
e Compasso 91
1. Introdução 91
2. As regras do jogo 92
3. Formulação algébrica do problema 93
4. O princípio básico da solução do problema 96
5. Um critério de não-construtibilidade 99
6. O critério geral de construtibilidade 100
7. Solução dos célebres problemas gregos 101
8. Polígonos regulares construtíveis 103
9. Outros tipos de construções 107
Referências 109
1 •Construções Elementares

1. Introdução
As construções com régua e compasso já aparecem no século V
aC, época dos pitagóricos, e tiveram enorme importância no de­
senvolvimento da Matemática grega. Na Grécia antiga, a palavra
número era usada só para os inteiros e uma fração era considerada
apenas uma razão entre números. Estes conceitos, naturalmente,
causavam dificuldades nas medidas das grandezas. A noção de
número real estava ainda muito longe de ser concebida, mas, na
época de Euclides (século III aC) uma idéia nova apareceu. As
grandezas, no lugar de serem associadas a números, passaram a
ser associadas a segmentos de reta. Assim, o conjunto dos números
continuava discreto e o das grandezas contínuas passou a ser tra­
tado por métodos geométricos. Nasce então nesse período uma
nova álgebra, completamente geométrica onde a palavra resolver
era sinônimo de construir. Nessa álgebra, por exemplo, a equação
ax = b não tinha significado porque o lado esquerdo era associado
à área de um retângulo., o lado direito a um segmento de reta e um
segmento não pode ser igual a uma área. Entretanto, resolver a
equação ax = bc significava encontrar a altura x de um retângulo
de base a que tivesse a mesma área de um retângulo de dimensões
b e c. Vamos mostrar, como primeiro exemplo, como esse problema
era resolvido na Grécia antiga.
Constrói-se o retângulo OADB com OA = u e OB = b (figura
1). Sobre o lado OA toma-se um ponto C tal que OC = c (se c > a,
C está no prolongamento de OA) e traça-se CE paralelo a OB que
intersecta OD em P. Traça-se então por P a paralela XY a OA e a
2 Construções Elementares

solução é OX = X.

Fig. 1 - Resolvendo a equação ü x — b c .

A justificativa é a seguinte. São congruentes os triângulos:


OAB e OBD, OCP e OXP e ainda PYD e PED. Portanto os retân­
gulos CAYP e XPEB têm mesma área e conseqüentemente OCEB
e OÀYX são também equivalentes. Daí, OC •OB = OA ■OX ou
bc = ax.
Para executar a construção da figura 1, foi necessário o traça­
do de retas paralelas e perpendiculares. Como se sabe, a régua é
capaz apenas de traçar uma reta quando dois de seus pontos são
conhecidos e o compasso serve apenas para traçar um círculo de
centro e raio dados. Portanto, o traçado de paralelas e perpendi­
culares são os primeiros problemas que precisamos resolver.

2. Paralelas e perpendiculares
Para traçar por um ponto P uma perpendicular a uma reta r,
traçamos um círculo de centro P cortando a reta r em A e B (figura
2). Em seguida, traçamos círculos de mesmo raio com centros em
A e B obtendo Q, um dos pontos de interseção. A reta PQ é perpen­
dicular a AB e a justificativa é fácil. Como PA = PB e QA = QB, a
reta PQ é mediatriz de AB e portanto perpendicular a AB.
Para traçar por um ponto P uma paralela a uma reta r pode­
mos proceder da seguinte forma. Traçamos três círculos, sempre
com mesmo raio: o primeiro com centro em P, determinando um
Construções Elementares 3

ponto A na reta r; o segundo com centro em A, determinando um


ponto B na mesma reta e o terceiro com centro em B, determinando
um ponto Q sobre o primeiro círculo (figura 3).

Fig. 2 - Traçando por P uma perpendicular a r .

Fig. 3 - Traçando por P uma paralela a r .

A reta PQ é paralela a r e a justificativa também é fácil. Da


forma como foi feita a construção, PABQ é um losango e portanto,
seus lados PQ e AB são paralelos.
Tendo resolvido os dois primeiros problemas podemos, na prá­
tica, permitir o uso de esquadros que tom am mais rápido o traçado
de paralelas e perpendiculares, ficando claro que esses novos ins­
4 Construções Elementares

trumentos vão apenas simplificar as construções mas não são in­


dispensáveis.
Mostramos, a seguir, algumas construções que serão ferra­
mentas úteis para a solução dos problemas.

3. A mediatriz
A mediatriz de um segmento AB é a reta perpendicular a AB que
contém o seu ponto médio. Para construir, traçamos dois círculos
de mesmo raio, com centros em A e B. Sejam P e Q os pontos de
interseção desses círculos (figura 4). A reta PQ é a mediatriz de
AB porque sendo APBQ um losango, suas diagonais são perpen­
diculares e cortam-se ao meio. E importante lembrar a seguinte
propriedade:
A mediatriz de um segmento é o conjunto de todos os pontos
que equidistam dos extremos do segmento.

4. A bissetriz
A bissetriz de um ângulo AOB é a semi-reta OC tal que AOC =
COB. Costuma-se dizer que a bissetriz “divide” um ângulo em
Construções Elementares 5

dois outros iguais. Para construir a bissetriz do ângulo AOB dado,


traça-se um círculo de centro O determinando os pontos X e Y nos
lados do ângulo (figura 5).

Fig. 5 - A bissetriz de AOB.

Em seguida, traçam-se dois círculos de mesmo raio com centros em


X e Y que possuem C como um dos pontos de interseção. A semi-
reta OC é a bissetriz do ângulo A O B . De fato, pela construção feita,
os_triângulos OXC e OYC são congruentes (caso LLL) e portanto
XOC = COY. Lembremos ainda que:
A bissetriz de um ângulo é o conjunto de todos os pontos que
equidistam dos lados do ângulo.

5. O arço capaz
Consideremos dois pontos, A e B sobre um círculo. Para todo ponto
M sobre um dos arcos, o ângulo AMB = 0 é constante. Este arco
chama-se arco capaz do ângulo 0 sobre o segmento AB (figura 6).
Um observador, portanto, que se mova sobre este arco, consegue
ver o segmento AB sempre sob mesmo ângulo. Naturalmente que
se um ponto N pertence ao outro arco, o ângulo ANB é também
constante e igual a 180° — 0.
E ainda interessante notar que se M é qualquer ponto do
6 Construções Elementares

círculo de diâmetro AB, o ângulo AM B é reto (figura 7) e portanto


cada semi-círculo é também chamado de arco capaz de 90° sobre
AB.

Fig. 6 •0 arco AMB é o arco capaz do ângulo 0 sobre o segmento AB.

Fig. 7 - AMB é umarco capaz de 90° sobre AB.

Antes de construir o arco capaz de um ângulo dado sobre um


segmento dado, devemos mostrar como se transporta um ângulo
de um lugar para outro. Suponhamos então que um ângulo 0 de
vértice V é dado e que desejamos construir um ângulo BÂX = 0
sendo dada a semi-reta AB (figura 8).
Para resolver este problema, traçamos um círculo qualquer
de centro V, determinando os pontos P e Q nos lados do ângulo 0
e um círculo de mesmo raio com centro em A determinando P' em
AB. Em seguida, com raio PQ, traçamos um círculo de centro P'
para determinar Q' sobre o primeiro círculo. É claro que, com essa
Construções Elementares 7

Fig. 8 - Transporte de um ângulo.

Fig. 9 - Construção do arco capaz.

Para construir o arco capaz procedemos da seguinte forma.


Dado o segmento AB (figura 9), traçamos a sua mediatriz e o
ângulo BÂX = 9 (dado). A perpendicular a AX traçada por A
encontra a mediatriz de AB em O, centro do arco capaz. O arco de
centro O e extremidades A e B situado em semi-plano oposto a X
(semi-planos relativos a AB) é o arco capaz do ângulo 0 sobre AB.
Para justificar a construção observe que se C é o p o n to médio de AB
então e se BAX = 0, teremos CAO = 9 O °-0 ,A O C = 0 e A O B = 2 0 .
Portanto, como a medida do ângulo inscrito é a metade da medida
8 Construções Elementares

do ângulo central correspondente teremos para qualquer ponto M


do arco construído, AMB — 0.

6. Divisão de um segmento em partes iguais


Esta é uma construção muito fácil. Para dividir um segmento
AB, por exemplo, em 5 partes iguais, traçamos uma semi-reta
qualquer AX (figura 10) e sobre ela construímos, com o compasso,
os segmentos iguais AA i, A i A 2, A 2A3, A3A4 e A4A5. As parale­
las a A5B traçadas pelos pontos A i , A 2) A3 e A4, determinarão no
segmento AB os pontos P i, P2, P3 e P4 que o dividirão em 5 partes
iguais.

7. Traçado das tangentes a um círculo


a) A tangente a um círculo por um ponto P deste círculo é a reta
perpendicular em P ao raio OP. A construção pode ser a su­
gerida na figura 11 ou simplificada se o uso de esquadros for
permitido.
b) Para traçar as tangentes a um círculo por um ponto P exterior
devemos inicialmente obter os pontos de tangência. Se O é
0 centro jfo círculo e A é um dos pontos de tangência então 0
ângulo PAO é reto. Logo, A pertence a um arco capaz de 90°
Construções Elementares 9

sobre PO (como vimos em 1.5). Determinamos então o ponto


médio de PO e traçamos o círculo de diâmetro PO que determi­
nará sobre o círculo dado os pontos de tangência procurados
A e A ' (figura 12).

Fig. 11 - Tangente por um ponto do círculo.

Fig. 12 - As tangentes a um círculo por um ponto exterior.

Observação. Em Geometria, a expressão (antiga) lugar geomé -


10 Construções Elementares

trico designa o conjunto de todos os pontos que possuem uma de­


terminada propriedade. Assim, dizemos que no plano, a mediatriz
é o lugar geométrico dos pontos que equidistam dos extremos de
um segmento; o círculo é o lugar geométrico dos pontos que estão
a uma distância dada de um ponto fixo, etc.
Devemos deixar claro que quando dizemos que uma figura F é
o lugar geométrico dos pontos que possuem a propriedade p, que­
remos dizer que todo ponto de F possui a propriedade p e nenhum
ponto fora de F possui a propriedade p.
Freqüentemente, nos exercícios deste capítulo, podemos repa­
rar que certo ponto da figura que deve ser construída possui duas
propriedades. Neste caso, ele será determinado pela interseção
dos lugares geométricos correspondentes. Vejamos alguns exem­
plos.
Exem plo 1. Construir o triângulo ABC sendo dados os lados
AB = c, BC = a e o ângulo A = 0.

Para resolver um problema de construção, é conveniente fazer


um esboço de uma figura supondo o problema resolvido (figura 13).

Fig. 13 - Dados do Exemplo 1.

Observando essa figura, podemos planejar a solução, ou seja,


que dado deve ser colocado primeiro na folha de papel e que cons­
truções devem ser realizadas para atingir a solução. Neste nosso
exemplo, podemos decidir colocar o lado AB = a no papel (em
Construções Elementares 11

qualquer posição) e construir a semi-reta AX tal que BÂX = 0


(figura 14). O vértice C será então um dos pontos de interseção da
semi-reta AX com o círculo de centro B e raio a.
x

Fig. 15 - Se 0, c e a sao dados com a > c a solução é única.


Com os dados apresentados, nosso problema teve duas solu­
ções. Os triângulos ABCi e ABC 2 possuem os mesmos elementos
dados. Podemos observar que esse problema nem sempre possui
solução. Se 0 lado BC = a for pequeno demais (a < c sen 0), 0
círculo de centro B e raio a não cortará a semi-reta AX. Ainda,
essa construção mostra porque uma correspondência entre dois
triângulos do tipo ALL não é necessariamente uma congruência.
12 Construções Elementares

Os triângulos ABCi e ABC 2 da figura 11 possuem o mesmo ângulo


A, o mesmo lado AB = c e os lados BCi = BC 2 = a e não são
congruentes. Entretanto, com uma informação adicional, o caso
ALL pode tornar-se uma congruência. Esse 4o caso de congruência
de triângulos pode ser enunciado da seguinte forma:
Uma correspondência ALi L2 entre dois triângulos é uma con­
gruência se LZ>U.
A figura 15 mostra que se nos dados do exemplo 1 tivermos
a^ c 0 problema possui uma e apenas uma solução.

Exem plo 2. Construir o triângulo ABC sendo dados o lado BC, a


altura h. relativa a esse lado e 0 ângulo A.

Neste exemplo, podemos observar que colocando 0 lado BC no


papel (em qualquer posição), o vértice A relaciona-se com este lado
através de duas propriedades. Em primeiro lugar, a distância de A
à reta BC é conhecida (altura do triângulo) e portanto este vértice
pertence a uma reta paralela a BC distando h de BC. Em segundo
lugar, se o lado BC já está fixo e o ângulo A é conhecido, então 0
vértice A pertence a um arco capaz desse ângulo construído sobre
BC. A interseção desses “lugares geométricos” determina o vértice
A do triângulo (figura 16) e o problema está resolvido.
Cabem ainda alguns comentários. Devemos observar em cada
problema 0 número de soluções distintas que podemos obter. No
nosso exemplo, a paralela a BC cortou 0 arco capaz nos pontos A e
A'. Ambos satisfazem aos dados do problema mas, neste caso, os
triângulos ABC e A'BC são congruentes porque um é imagem do
outro por uma simetria em relação à mediatriz de BC. Dizemos
então que o nosso problema tem uma única solução. Devemos
Construções Elementares 13

também notar que nem sempre existe a solução. Se h. for maior


que certo valor, a paralela a BC distando h. de BC não cortará o
arco capaz. Os problemas de construção freqüentemente servem
de motivação para interessantes problemas de Geometria como,
por exemplo este: determinar uma relação entre o lado a de um
triângulo, a altura h relativa a esse lado e o ângulo À para garantir
a existência do triângulo(*).

Fig. 16 - Solução do Exemplo 2.

O próximo exemplo também se refere à construção de triân­


gulos.

Exem plo 3. Construir ò triângulo ABC sendo dadas as medianas


m a e m.b e a altura h a.

Na figura 17 mostramos um triângulo ABC com os elemen­

(*) A resposta é ^ ).
14 Construções Elementares

tos dados: AM. = m a,BN = m.b e AD = Ka. Observando esta


figura com atenção descobrimos que o triângulo A D M pode ser
construído porque A D M é reto e os lados AD e A M são conheci­
dos. Para obter uma conecção entre BN e o que já foi construído,
lembremos que as medianas de um triângulo cortam-se em um
ponto (baricentro) que divide cada uma delas na razão 2:1. Assim,
observando ainda a figura 17, o ponto G pode ser determinado so­
bre A M porque AG = |ma. Em seguida, poderemos determinar
o ponto B na reta D M porque GB = |mb e como C é simétrico
de B em relação a M, o problema estará resolvido se os dados,
naturalmente, forem compatíveis.
A

Fig. 18 - Obtendo | de cada mediana.


Construções Elementares 15

Uma vez realizado o plano da construção, passaremos a sua


execução. Na figura 18 fizemos PQ = m a e PR = mb e construímos
PQ' = |mQe PR' — f rrib que iremos precisar.
Em seguida traçamos uma reta r, fixamos um ponto D sobre
ela e construímos a perpendicular AD com AD = Ha. Com centro
em A traçamos um círculo de raio m a determinando um ponto M
sobre r e o triângulo A D M está construído (figura 19). Podemos
então assinalar o ponto G sobre AM. tal que AG = |mQ = PQ'.
Devemos agora obter um ponto B sobre r de forma que se tenha
GB = |mb = PR'. Ora, isto pode ser feito de duas maneiras. Pode­
mos construir GB “para a esquerda” como na figura 19A ou “para
a direita” como na figura 19B, obtendo duas soluções diferentes
para o problema.
Concluímos então que os dados apresentados não determinam
um único triângulo (ao contrário do Exemplo 2). As relações en­
tre os dados que tornam a construção possível é novamente um
interessante exercício.

Fig. 19A
16 Construções Elementares

Fig. 19B

Exemplo 4. São dados um círculo de centro O e um ponto P


desenhados no papel e ainda um segmento a. Pede-se traçar por
P uma reta que determine no círculo uma corda igual a a.
Neste caso, dizemos que o problema tem dados em posição, ou
seja, eles são apresentados como na figura 20.

Fig. 20 - Dados do Exemplo 4.

Vamos dividir a análise deste problema em duas partes.


Inicialmente observemos que em um círculo dado, todas as
cordas de mesmo comprimento são tangentes a um outro círculo,
concêntrico com o primeiro. De fato, para qualquer posição de AB
os triângulos AOB são congruentes porque OA e OB são raios.
Construções Elementares 17

Assim, as alturas relativas à AB são todas iguais e o ponto M, pé


da altura, percorre um círculo de centro O (figura 21).

Em seguida, observemos todas as secantes ao círculo dado


que passam por P (figura 22). Sendo M o ponto médio de qual­
quer corda AB, temos OM sempre perpendicular a PB. O ponto M
pertence então ao arco capaz de 90° sobre PO.

A construção pode então ser feita. Desenhamos no círculo


dado uma corda qualquer igual a a e em seguida um círculo C de
centro O tangente a essa corda (figura 23). Construímos então o
círculo C' de diâmetro PO que intersecta C em M e M/. A reta PM
18 Construções Elementares

(ou PM') é a solução do problema.

Neste exemplo, descobrimos mais dois lugares geométricos;


o lugar geométrico das cordas de um círculo que possuem mesmo
comprimento e o lugar geométrico dos pontos médios das cordas de
um círculo cujas retas suportes passam por um ponto fixo. O leitor
podería ainda perguntar se, neste problema, o ponto P poderia ser
dado no interior do círculo. A resposta é sim e a análise é feita
exatamente da mesma forma.
Nota. As Construções Geométricas devem, em nossa opinião,
acompanhar qualquer curso de Geometria na escola secundária.
Os problemas são motivadores, às vezes intrigantes e freqüente-
mente conduzem à descoberta de novas propriedades. São edu­
cativos no sentido que em cada um é necessária uma análise da
situação onde se faz o planejamento da construção, seguindo-se a
execução dessa construção, a posterior conclusão sobre o número
de soluções distintas e também sobre a compatibilidade dos dados.
No nosso próximo exemplo, mostramos uma interessante situação
resolvida com a descoberta de uma propriedade que decorre ape­
nas da igualdade dos ângulos alternos internos nas retas parale­
las.
Exem plo 5. São dados um círculo C, uma reta r e um ponto A so-
Construções Elementares 19

bre r (figura 24). Construir um círculo C', tangente exteriormente


a C e tangente em A à reta r.

A r

Fig. 24 - Dados do Exemplo 5.

Novamente temos um problema onde os dados já aparecem


em posição na folha de papel. Vamos analisar a situação, supondo
o problema resolvido, como na figura 25. Sejam O o centro de C,
T o ponto de tangência entre C e C' e O' o centro de C'.

É sabido que OO' contém T e que 0 'A é perpendicular a r.


20 Construções Elementares

Tracemos por O uma perpendicular a r que intersecta C em N e S


(N “acima” de S). Tracemos ainda os segmentos TA e TN_e o leitor
já deve perceber onde queremos chegar. Os ângulos NOT e TO'A
são iguais porque são alternos internos nas paralelas NO e O'A.
Como os triângulos NOT e TO'A são isósceles então

ÕTN = 1 ( 180 ° - NOT) = 1 ( 180 ° — TCVA) = ÕÔÀ.

Isto mostra que os pontos N , T e A são colineares! A construção


agora é fácil. Traçando por O uma perpendicular a r obtemos N.
A reta NA determina T sobre o círculo C e a perpendicular por A
à reta r e a reta OT determinam O', centro de C'. O problema está
resolvido.
Não devemos, entretanto, parar aí. Faltam as conclusões.
Na situação apresentada, em que r não corta C, o problema tem
solução para todo A sobre r?
A resposta é sim. Se A for o pé da perpendicular N O à reta r
então O' é o ponto médio de SA e para qualquer outra posição de
A sobre r a construção é a que apresentamos. O que ocorre se r for
secante a C? Neste caso, para todo ponto A sobre r e exterior a C
obtemos duas soluções como o leitor pode verificar.
Este problema sugere naturalmente um outro. Na mesma
situação da figura 24, construir um círculo C" tangente interior­
mente a C e tangente em A à reta r. A solução é semelhante à que
fizemos, bastando considerar S no lugar de N .

Exem plo 6. Dado um triângulo ABC, traçar uma paralela a BC


que corta AB em M e AC em N e de forma que se tenha AN = MB.

Temos aqui um exemplo cuja solução servirá de sugestão para


vários outros exercícios. Na figura 26 temos MN paralelo a BC e
devemos ter AN = MB.
Repare que não adianta conhecermos em uma figura segmen­
tos iguais sem uma conexão entre eles. Tracemos portanto na
nossa figura de análise, ND paralelo à MB. Como MNDB é um
paralelogramo, temos MB = ND. Conseqüentemente AN = ND,
Construções Elementares 21

o triângulo AND é isósceles, e portanto ADN = D AN. Mas, como


ND e AB são paralelas, ADN = DAB (alternos internosj. Logo,
DAN = DAB e concluímos que AD é bissetriz do ângulo A.
A

Fíg. 26

A construção é imediata. A bissetriz do ângulo A do triângulo


ABC determina D sobre BC e a paralela a AB por D determina N
em AC. O problema tem, é claro, solução para qualquer triângulo
ABC.

Exercícios
(£) Construir um quadrado conhecendo sua diagonal.
2. Construir um quadrado dados em posição os pontos médios de
dois lados adjacentes.
3, ' Construir o círculo circunscrito a um triângulo.
47) Construir o círculo ipscrito em um triângulo.
5. Construir um trapézio conhecendo as bases a e b e os outros
dois lados c e d.
6. Construir um hexágono regular, dado em posição um lado.
7. Construir uma perpendicular ao segmento AB pelo ponto A,
estando este ponto muito próximo do bordo do papel.
8. Dados em posição um círculo C e uma reta r construir um círculo
de raio dado tangente a r e tangente exteriormente a C.
22 Construções Elementares

9. São dados em posição as retas r e s e o círculo C. Determinar


os pontos de C que são equidistantes de r e s. Qual é o número
máximo de soluções?

10. São dados em posição um círculo C e uma reta r. Determinar


um ponto P sobre r de forma que as tangentes traçadas de P ao
círculo C formem um ângulo a, dado.

11. Construir os tangentes comuns a dois círculos dados em posi­


ção.

Construir o triângulo ABC conhecendo o lado a e os ângulos B

13. Construir o triângulo A B C conhecendo os lados a e b e a altura

14. Construir o triângulo ABC conhecendo os lados b e c e a altura


ha-

15. Construir o triângulo A B C conhecendo os lados b e c e a m e­


diana m a.

16. Construir o triângulo ABC conhecendo o lado a, o ângulo  e


a m ediana m Q.

17-^ Construir o triângulo A B C conhecendo os lados a e b e o ângulo


Â.

18. Construir o triângulo ABC conhecendo o lado a, o ângulo  e


a m ediana mt,.

19. Construir o triângulo A B C conhecendo o lado a e as m edianas


m.b e m c.

20. Construir o triângulo A B C conhecendo o lado a e as alturas


hb e h c.

21. Construir o triângulo ABC conhecendo a mediana m a e as


alturas h a e hb.
Construções Elementares 23

22. Construir o triângulo ABC conhecendo a mediana m a e as


alturas hb e h c.

23. Construir o triângulo AB C conhecendo o lado a, a soma s = b + c


dos outros dois lados e a altura hb.

24. Construir o triângulo ABC conhecendo o lado a, o ângulo A e


a soma s = b + c dos outros dois lados.

25. Construir o triângulo ABC conhecendo o lado a, o ângulo A e


a diferença d — b - c dos outros dois lados.

26. Construir o triângulo ABC conhecendo o perímetro 2p e os


ângulos B e C.

27. Construir o triângulo ABC conhecendo o perímetro 2p, o ângulo


A e a altura h Q.

28. Construir o triângulo A B C conhecendo o lado a, a altura h a e


o raio R do círculo circunscrito.

29. Construir o triângulo ABC conhecendo a altura h Q, a mediana


m Qe o raio R do círculo circunscrito.

3(h) Construir o triângulo ABC conhecendo o ângulo A, o lado b e


o raio r do círculo inscrito.

31. Construir um triângulo conhecendo os comprimentos da al­


tura, mediana e bissetriz relativas a um mesmo vértice.

32. Determinar o raio do círculo circunscrito ao triângulo ABC


cujo vértice C é inacessível (figura 27).

33. Traçar por P uma reta que passe pelo ponto de interseção
(inacessível) das retas r e s (figura 28).

34. Construir o trapézio ABCD conhecendo a soma das bases


AB + CD = s, as diagonais AC = p e BD = q e o lado AD — a.
24 Construções Elementares

/ 35. J D ados dois pontos A e B de um m esm o lado de um a reta r,


determ inar o ponto P sobre r de forma que PA + PB seja mínimo.

36. A s paralelas r e s são as m argens de um rio e os pontos A


é B representam cidades em lados opostos desse rio (figura 29).
D eseja-se construir u m a ponte P Q ( P e r , Q e S ) perpendicular às
m argens de form a que construindo as estradas AP e BQ o percurso
Construções Elementares 25

total de A a B seja mínimo. Determinar a posição da ponte.

A •

•B

Fig. 29

37. Um navio N deseja atingir o porto P da carta náutica mostrada


na figura 30. Em certo momento, o capitão avistando os faróis A, B
e C mede os ângulos ANB = 35° e BNC = 67°. Use régua, com­
passo e transferidor para obter a posição do navio nesse instante
e determine a distância do navio ao porto sabendo que a escala da
carta é 1:10000.

Fig. 30
26 Construções Elementares

38. Construir o triângulo ABC sabendo que AB — 5,3 cm, cos A =


0,6 e que o lado BC é o menor possível.
39. Construir um retângulo conhecendo o comprimento da diago­
nal igual a 4,7 cm e seu semi-perímetro 6,3 cm.
40. Dados em posição os pontos A,B e P e dado também um
segmento m (fig. 31), traçar por P uma reta r de forma que A
e B estejam do mesmo lado de r e que a soma das distâncias de A
e B à r seja 2m.

• 8

Fig. 31 - Dados do exercício 40

41. Dados em posição os pontos A , B e P e dado também um


segmento m (fig. 32), traçar por P uma reta r de forma que A
e B fiquem em lados opostos de r e que a soma das distâncias de A
e B à r seja m.

M
h

Fig. 32 - Dados do exercício 41


Construções Elementares 27

42. Substitua nos problemas 40 e 41 a palavra soma por diferença.

43. São dados os círculos C e C ' como na figura 33. Traçar por A
ía secante PAQ a esses círculos ( P e C , Q G C') de forma que se
tenha PQ = a (dado).

Fig. 33 - Dados do exercício 43


\
/ 44.) Usando a figura 33, traçar a secante PAQ de comprimento
V máximo.

45. ) Usando ainda a figura 33, traçar a secante PAQ de forma que
se tenha PA = AQ.

46. De um círculo C conhecemos apenas a parte que se vê na figura


34. Limitando-se ao espaço disponível, determine o raio de C.

Fig. 34
28 Construções Elementares

4 7 . ) Construir um quadrado dados em posição um ponto de cada


uni dos lados.

48. São dados os pontos A , B, C e D , nesta ordem sobre um a reta.


Traçar por A e B duas paralelas e por C e D outras duas paralelas
de form a que as interseções dessas retas form em um quadrado.

49. São dados os pontos A e B de um m esm o lado de um a reta r.


D eterm inar um ponto P sobre r de form a que o ângulo entre r e PB
seja o dobro do ângulo entre PA e r.

50. São dados os pontos A e B de u m m esm o lado de u m a reta


r. D eterm inar o ponto P sobre r de form a de o ângulo A PB seja
m áxim o.
2 * Expressões Algébricas

Neste capítulo, trataremos os problemas de construção de forma


completamente diferente. Se a solução de um problema não nos
ocorre através dos recursos dados no capítulo anterior, podemos
adotar como incógnita algum segmento ainda desconhecido e ten­
tar exprimí-lo em função dos elementos conhecidos. Com isso,
obteremos uma “fórmula” que calcula esse segmento desconhecido
em função dos dados do problema. Este capítulo se dedica então
a construir fórmulas. Imaginemos, por exemplo, o problema de
construir um quadrado quando se conhece a soma da diagonal
com o lado. A idéia que desenvolveremos neste capítulo consiste
em escrever s = a\/2 + a onde s é um segmento conhecido e a o
lado do quadrado ainda desconhecido. Temos então

s = a[y/l + 1),

a = — ou ainda
v/2 + 1
Q = $ { V l — 1 ).

Temos então uma “fórmula” que calcula o lado do quadrado em


função do segmento dado e dentro de poucas páginas veremos como
ela pode ser construída.

1. A 4^ proporcional
Dizemos que o segmento x é a 4 - proporcional entre os segmentos
a, b e c quando
£
b
= -.
x
m
Esta relação é equivalente a ax = bc que discutimos na introdução
deste livro, usando as idéias dos gregos antigos. Porém, usando
o ainda mais antigo Teorema de Tales podemos obter uma outra
30 Expressões Algébricas

construção para x na relação (1). Sobre um ângulo qualquer de


vértice O tomemos sobre um lado OA = a e AC = c e sobre o outro
lado OB = b (figura 35).

Fig. 35

Traçando por C uma paralela a AB, obtemos D na semi-reta


OB. Então, BD = x é a solução da equação (1).
Vejamos um exemplo de aplicação da 4 - proporcional e da
forma de raciocinar neste capítulo.

Exem plo 7. Inscrever no triângulo ABC dado (figura 36) um


quadrado tendo um lado sobre BC.
A

Fig. 36 - Dado do Exemplo 7.

Supondo o problema resolvido, vemos na figura 37 o quadrado


MNPQ inscrito em ABC com o lado M.N sobre BC. Seja então x
o lado desse quadrado e consideremos BC = a e a altura de ABC
Expressões Algébricas 31

(relativa a BC) igual a h.

Fig. 37

0 triângulo APQ tem base PQ = x e a altura h - x e é seme­


lhante a ABC. Portanto, podemos escrever

x h —x
a H

Daí,

xh = ah — ax,
ax + xh = ah

e
ah
a+ h
2
( )

Temos então uma fórmula que calcula x em função d e a e k . Para


construir x, observe que a relação (2) pode ser escrita na forma

a+ h h
a x

ou seja, x é 4A proporcional entre a + h, a e h. A figura 38 mostra


32 Expressões Algébricas

então como podemos obter x.

Fig. 38 - Construção de

Uma vez que x é conhecido, podemos traçar a altura AD do


triângulo ABC e sobre ela construir DE = x (figura 39). A paralela
por E a BC determina os vértices P e Q do quadrado procurado.
A

Fig. 39 - Solução do Exemplo 7.

2. V a2 ± b2

Se x = \/a2 + b2 onde a e b são segmentos dados, então x é a


hipotenusa de um triângulo retângulo cujos catetos são a e b
(figura 40A).
Se x = v ã 2 —b2 então x é agora um cateto de um triângulo
retângulo de hipotenusa a, onde o outro cateto é igual a b (figura
Expressões Algébricas 33

40B).

Fig. 40A - X = y/ a 2 + b2. Fig. 40B - X = y j d 2 — b 2.

Expressões do tipo V a 2 ± b2 ± c 2 ± . .. podem ser construídos


sem dificuldade, bastando aplicar várias vezes os procedimentos
descritos acima. Consideremos, por exemplo, o problema de con­
struir a diagonal de um paralelepípedo retângulo de dimensões
a, b e c. Sabemos que o comprimento dessa diagonal é dado por

x = y/a2 + b2 + c2.

Fazendo m = V a2 + b2 e em seguida x = V m 2 + c2 determinamos


x como mostrado na figura 41.

Fig. 41 - Construindo y / a ^ + b ^ + c 2.
34 Expressões Algébricas

3. ay^n, n natural
Dado um segmento a, podemos obter todos os segmentos da se-
qüência ay/l, a>/3, ay/4, . .. pela óbvia construção da figura 42.

Fig. 42 ■Construindo a^/n.

Entretanto, quando n é grande podemos buscar um caminho


mais curto. Por exemplo, se desejamos construir a\/2T devemos
proceder como na figura 43.

Exem plo 8. Construir um quadrado conhecendo a soma s da


diagonal com o lado.
Este foi o problema que utilizamos para introduzir este capítu­
lo. Se a é o lado do quadrado procurado, encontramos a = s ( y/2—1),
que agora podemos construir. Com um triângulo retângulo de
catetos iguais a s obtemos s\/2 e em seguida, subtraindo s deste
Expressões Algébricas 35

• - Pig. 44 - Solução do Exemplo 8.

4. A média geométrica
Dados dois segmentos a e b, definimos a sua média aritmética por
a+ b
m= 2
e a sua média geométrica por

g= V^.
I
36 Expressões Algébricas

A construção da primeira é elementar e a da segunda pode ser


feita utilizando-se as conhecidas relações do triângulo retângulo:
h2 = m n ou b2 = cim (figura 45).

Fig. 45 - h2 = mn, b2 — am.

A primeira relação significa que a altura relativa a hipotenusa


é média geométrica entre as projeções dos catetos sobre a hipote­
nusa e a segunda significa que um cateto é média geométrica entre
a hipotenusa e sua projeção sobre ela.
As construções da média geométrica de dois segmentos dados
são mostrados nas figuras 46A e 46B. O leitor pode ainda reparar
que quando os dois segmentos são "grandes” em relação ao espaço
disponível, deve-se preferir a segunda construção.
Podemos também usar o conceito de potência de um ponto em
relação a um círculo para resolver o problema de determinar um
segmento b quando a e \/ab são dados. Na figura 47 a secante PAB
e a tangente PT ao círculo possuem a relação PT2 = PA •PB (este
valor é chamado de potência do ponto P em relação ao círculo).

i — a ------------------ b ----------------

Fig. 46A
Expressões Algébricas 37

Fig. 46B

Fig. 4 7 -PT2 = PA - PB.

Assim, se a e \/ãb. são dados, desenhamos PT = \/ãb e um


círculo qualquer tangente em T a PT. Em seguida, determinamos
um ponto A desse círculo tal que PA = a. A reta PA determinará
o ponto B sobre o círculo e teremos PB = b.

Exem plo 9. Resolver graficamente a equação x2 — ax + b2 = O


onde a e b são segmentos dados.

1- solução. Resolvendo algebricamente a equação dada obtemos

a ± V o 2 —4b^
x =
2
38 Expressões Algébricas

Ora, o radical r = \/a2 — (2b)2 é um cateto de um triângulo re­


tângulo cuja hipotenusa é a e o outro cateto é 2b. Se a > 2b a
construção pode ser feita e em seguida, as raízes
r
2
são facilmente obtidas.
Na figura 48, o triângulo ABC, retângulo em A foi construído
com AB = 2b e BC = a, obtendo-se AC = r. Pelo ponto P, médio de
BC traçou-se PQ paralela a AB para obter CQ - r/2. O círculo de
centro C e raio CQ determinou M e N n a reta BC tais que PM = xi
e PN = xz, as raízes da equação dada.

Fig. 48 - Resolvendo a equação x2 — ax + b 2 = 0.

2^ solução. No caso da equação x2- a x + b 2 = 0 podemos imaginar


uma solução diferente. Sendo xi e xz as raízes, temos que x-\+xj =
a e X1 X2 = b2. O problema passa então a ser o de determinar dois
segmentos, conhecendo-se a sua soma e a sua média geométrica .
Podemos então desenhar um semi-círculo de diâmetro AB = a e
uma paralela a AB distando b de AB (figura 49). Essa paralela (se
b < j ) determinará um ponto C sobre o semi-círculo e a projeção
Expressões Algébricas 39

de C sobre AB é o ponto P tal que PA = xi e PB = x2.

Fig, 49 ■Resolvendo a equação x1 — ax + b2 = 0.

Exem plo 10. São dados dois pontos A e B de um mesmo lado


de uma reta r. Construir um círculo passando por A e B que seja
tangente a r.

O caso particular em que AB é paralelo a r será deixado como


exercício para o leitor. Vamos imaginar então que AB não seja
paralelo a r e , neste caso, existe um ponto P de interseção entre
40 Expressões Algébricas

AB e r (figura 50). Sendo T o ponto de tangência entre o círculo


e a reta r, teremos PT2 = PA ■PB, ou seja, PT é média geométrica
entre PA e PB. Uma vez que o ponto T foi determinado, o centro
do círculo será a interseção da perpendicular a r traçada por T e a
mediatriz de AB.
Na figura 50, encontramos o ponto P, interseção de AB com r.
A perpendicular por A a PB encontrou o semi-círculo de diâmetro
PB em C. Temos então PC2 = PA • PB e portanto PC = PT.
Seguiram-se as construções elementares que determinaram o cen­
tro O do círculo procurado.

5. O segmento áureo
Tomemos um segmento AB e um ponto C no seu interior dividindo-
o em duas partes com a seguinte propriedade: a razão entre a
menor parte e a maior parte é igual a razão entre a maior parte e
o segmento total, ou seja,
CB AC
(figura 51).
AC AB

A C B

Fig. 51

O segmento AC com essa propriedade é chamado de segmento


áureo interno de AB. Fazendo AB = a obtemos
V 5- 1
AC = a-
2
Esta razão fascinou os gregos antigos e com justa razão. O número
(\ /5 — 1}/2 continuou a aparecer durante o desenvolvimento da
Matemática em inúmeras situações. Por exemplo, o número
Q(\/5 — 1)/2 é o comprimento do lado do decágono regular inscrito
em um círculo de raio a.
Podemos imaginar ainda um segmento AB e um ponto C' ex­
terior a AB com a mesma propriedade enunciada anteriormente,
Expressões Algébricas 41

ou seja,
BC'
— (figura 52).
ÃB

A B C'

Fig. 52

O segmento AC7com essa propriedade é chamado de segmento


áureo externo de AB. Fazendo AB = a obtemos

Fig. 53 - AC e AC/ são os segmentos áureos de AB.


42 Expressões Algébricas

Observemos ainda que

AC ■AC' = a
\/5 — 1 V5 + 1
= a = AB2
2 a — ^—

ou seja, AB é média geométrica entre AC e AC'.


Para construir, desenhamos o segmento AB = a e um círculo
de centro O e raio A B /2 tangente em B à reta AB (figura 53). A
reta AO corta o círculo em C e C ' onde
y/5- 1 Vs + 1
AC = a ■ e AC' = a •
2 2
Outras propriedades do segmento áureo podem ser vistas em
[5],

6. i,a2e x/ã
Se a e b são segmentos a soma a + b e a diferença a —b (se a > b)
foram utilizadas sem uma definição explícita. Isto pode, entre­
tanto, ser feito de forma natural. Tomemos AB - a. O círculo de
centro B e raio b determina na reta AB um ponto C tal que B esteja
entre A e C (figura 54). Definimos então a + b = AC. S e b < a, o
círculo de centro B e raio b detrmina na reta AB um ponto D entre
A e B. Definimos então a —b = AD.

Fig. 54

Para n natural definimos facilmente os significados de na, -


e o Teorema de Pitágoras dá sentido à expressão a^/n como vimos
Expressões Algébricas 43

no item 3 deste capítulo. O que significa entretanto a expressão


Certamente não é um segmento porque se ^ = c então a — bc
e um segmento não é igual a uma área.
Até o momento, nenhum segmento foi usado para medir ou­
tros segmentos, ou seja, não associados a cada segmento um nú­
mero real (positivo) como estamos hoje acostumados a fazer. Se
entretanto estabelecemos um segmento unitário, quer dizer, um
segmento a que associaremos o número 1 a expressão a /b poderá
ser representada por um segmento. Fazendo f = x, escrevemos
^ = x, o que é equivalente a

b _ 1
a x

e x é quarta proporcional entre b, a e o segmento unitário (figura


55).

Fig. 55

Dizemos então qué estando estabelecido um segmento unitá­


rio, a expressão x = ^ é construtível. Da mesma forma, expressões
como a2 e yfã que antes não faziam sentido, poderão ser con­
struídas, ou seja, poderão ser representadas por outros segmentos.
As figuras 56, 57 e 58 mostram as construções dessas expressões.
Nelas, aparece uma semi-reta cuja origem está associada o número
0 e um ponto associado ao número 1. Estabelecida esta unidade,
cada segmento a terá um comprimento, que por comodidade será
também chamado de a e será representado pelo ponto dessa semi-
44 Expressões Algébricas

reta de abscissa a.

As construções que apresentamos nesta seção necessitam de


um segmento estabelecido como unitário, ou seja, a nossa unidade
de medida. Mudando esta unidade, os resultados, é claro, serão
diferentes. Isto ocorre porque as expressões aqui apresentadas
Expressões Algébricas 45

não são homogêneas. Uma expressão envolvendo segmentos a, b,


c, ... é homogênea se quando multiplicamos cada um deles por
um fator K(K > 0), a expressão fica multiplicada por K. Assim,

í> (D
as expressões ay^n, \/u2 + b2, v^ãb, \/a4 + b4 são homogêneas
podem ser construídas independente do segmento unitário.*
última delas, entretanto, não possui significado geométrico. De­
vemos então imaginar aqui que a e b são números reais que re­
presentam os comprimentos de dois segmentos dados. Expressões
como as que aparecem nos exercícios 13 e 14, por exemplo, devem
ser interpretadas da mesma forma.

Exercícios
1. Construir x = onde a, b, c, d, e são segm entos dados.

l í X Construir x = V a 2 + 3b 2 onde a e b são segm entos dados.

ÓJi. JConstruir x = onde a é um segmento e n é um número


natural.
4. Construir um segmento de comprimento \/5,8 centímetros.
Construir x = ^ onde a e b são segmentos dados.

6. C onstruir x = ^ b _ c.

7 . - Construir x = ■

8. íResolver o sistem a:

xp = b

9 .} Resolver o sistem a:

x2 —p 2 = a2
x+ p =b

(* ) Veja [6] página 190 e o Apêndice deste livro para saber mais sobre expressões
construtíveis.
46 Expressões Algébricas

r
j 10. Resolver o sistema:
x2 + y 2 a
xy = b2

ll.\ Resolver o sistema:

12. ^Resolver a equação x2 — a x - b2 = 0.

13. Construir x tal que -4 = -L- + — .


x2 a2 b2
-j -j ^
14. iDonstruir x tal que - — — | — .
x a b
15. Construir um triângulo retângulo conhecendo a soma dos
catetos e a altura relativa à hipotenusa.

16. São dados um círculo e um ponto P exterior. Traçar por P uma


secante PAB ao círculo de tal forma que A seja médio de PB.
17. Construir um triângulo retângulo conhecendo a hipotenusa e
a soma dos catetos.

18. A média harmônica de dois segmentos a e b é o segmento h


tal que
_ 2ab
h = ------- .
a+ b
Construa a média harmônica de a e b.

19. Um retângulo áureo é um retângulo em que uma dimen­


são é segmento áureo da outra. Construir um retângulo áureo
de perímetro dado.

(^O.^Tnscrever em um círculo dado um retângulo de perímetro dado.

2 1 . São dados um círculo C e uma tangente t. Construir um


quadrado que tenha dois vértices em C e os outros dois vértices
em t.
Expressões Algébricas 47

22. Construir um trapézio isósceles circunscritível conhecendo as


suas bases.
23. / São dados os pontos A e B sobre uma reta r. Construir os
círculos C e C ' tangentes entre si, de forma que C seja tangente a
r em A, C' seja tangente a r em B e o raio de C seja o dobro do raio
de C'.

24. O lado do decágono regular inscrito num círculo de raio R é


R• . Considere a seguinte construção.
Dado um círculo de centro O e raio R considere dois diâmetros
perpendiculares AB e CD. Seja M o ponto médio de OA. O círculo
de centro M e raio MC corta OB em P.
Prove que OP é o lado do decágono regular inscrito nesse
círculo e construa o polígono.
25. Q lado do pentágono regular inscrito num círculo de raio R é
^ , \ZlO -2C5

Considerando a construção descrita no exercício anterior pro­


ve que CP é o lado do pentágono regular inscrito nesse círculo e
construa o polígono.
26. Construa um pentágono regular conhecendo o seu lado.
27. Construa um pentágono regular conhecendo uma de suas dia­
gonais.
28. É dado um quadrado. Construa um octógono regular cortando
os “cantos” desse quadrado.
\ _
29. yS ão dados dois pontos A e B de um mesmo lado de uma reta
r. Determinar o ponto P sobre r de forma que o ângulo APB seja
máximo.
30. São dados os pontos A e B e os segmentos m e n. Dividir
harmonicamente AB na razão m /u , ou seja, obter os pontos M e
N da reta AB tais que
M A _ NA _ m
MB ~~ RB _ r i '
48 Expressões Algébricas

Nota: O círculo de diâmetro M.N chama-se círculo de Apolônio do


segmento AB na razão m /u . Para todo ponto P deste círculo tem-se
APM = MPB e ™ (Veja [2] pág. 25).

31. São dados os pontos A , B e C nesta ordem sobre u m a reta r.


Construir o conjunto dos pontos P tais que APB = BPC.

32. São dados um círculo C e os segmentos h e m . Inscrever em C


um trapézio de altura h de forma que a soma das bases seja m.

33. Dados dois pontos A e B e um segmento k, construir o conjunto


dos pontos P tais que PA2 + PB2 = k 2.

34. Construir o triângulo ABC conhecendo o lado BC = a, a altura


ha e a soma dos quadrados dos outros dois lados; AB 2 + AC2 = k 2.

35. j São dados os pontos A e B de um mesmo lado de uma reta r.


Determinar o ponto P sobre r tal que PA2 + PB2 seja mínimo.

36. Construir x = \/a4 + b4.

37. Dados os segmentos a e b e um segmento unitário construa


x = ab.

, 38.) Dado um segm ento a e usando um segm ento unitário construa


lxA= tfã.

39. iDados os segmentos a, b e c construa, utilizando um segmento


unitário, x — Vabc.

40. Dado um segmento a e utilizando um segmento unitário, cons­


trua x = a3/2.
3# Áreas

1. Equivalências
Neste capítulo trataremos das áreas dos polígonos. Não diremos
aqui que a área de um polígono P é igual a A, mas sim que a área de
P é igual a a2, onde a é um segmento. Isto quer dizer que o polígono
P é equivalente a um quadrado de lado u. Precisamos portanto de
um método que permita transformar um polígono qualquer em
um quadrado de mesma área. Podemos iniciar considerando um
triângulo.

Fig. 59

Se um triângulo é dado {figura 59) sejam: b um lado qualquer


e h a altura correspondente. Se este triângulo é equivalente a um
quadrado de lado a então

2 bh
a = — ou

o que quer dizer que a é média geométrica entre b /2 e h. A


construção é conhecida e está feita na figura 60.

Fig. 60

Para transformar um polígono qualquer em um quadrado e-


quivalente vamos primeiro transformar esse polígono em um tri­
ângulo equivalente. Para isso, devemos lembrar que a área de um
triângulo não muda quando mantemos sua base fixa e deslocamos
o vértice oposto sobre uma paralela a essa base. Na figura 61, os
triângulos ABC e A'BC têm mesma área.
Áreas 51

Consideremos agora o problema de transformar um quadrilá­


tero em um triângulo equivalente.
Na figura 62 mostramos um quadrilátero ABCD qualquer.
Traçamos então por C uma reta paralela à diagonal BD que encon­
tra AB em C . Desta forma, os triângulos CBD e C'BD são equiva­
lentes e portanto o triângulo A C 'D é equivalente ao quadrilátero
ABCD.
\

Fig. 62 - A C D é equivalente a ABCD.

O que ocorre, entretanto, se AB CD não for convexo? Nenhuma


dificuldade. Na figura 63 mostramos que a mesma construção
transforma o quadrilátero não convexo ABCD no triângulo A C D
de mesma área.

Fig. 63 - A C D é equivalente a ABCD,


52 Áreas

Para resolver o problema geral - o de transformar um polígono


qualquer em um quadrado equivalente - basta mostrar que um
polígono de n lados pode ser transformado em um polígono equi­
valente de n - 1 lados. A figura 64 mostra um polígono Ai A 2 . .. A n.
Traçando por Ai uma paralela a A 2A n obtemos o ponto A', na reta
A n- i A n e é claro que o polígono A', A 2 . .. A n_i (de n - 1 lados) é
equivalente ao polígono Ai A 2 . .. A n (de n lados).

Fig. 64 - Ai A 2 ... A n é equivalente a A\ A 2 ... A n_

2. Partições
Nesta seção vamos examinar alguns problemas que consistem em
dividir uma área em partes que satisfazem a certas condições. Não
desenvolveremos aqui uma teoria. Os exemplos mostrarão as prin­
cipais idéias. É preciso, entretanto lembrar duas propriedades da
Geometria que utilizaremos com freqüência:
1 - Se dois triângulos têm mesma altura então a razão entre suas
áreas é a razão entre suas bases.
2 - A razão entre as áreas de figuras semelhantes é o quadrado
Áreas 53

da razão de semelhança.
A primeira propriedade tem demonstração simples e dela de­
corre que qualquer mediana de um triângulo divide esse triângulo
em dois outros de mesma área. A segunda propriedade demonstra-
se facilmente para triângulos (e conseqüentemente para polígo­
nos) e para o círculo. Para o caso geral, o leitor pode encontrar a
demonstração em [3], pág. 48.
Exem plo 11. Traçar pelo vértice A do triângulo ABC dado uma
reta AD que divida esse triângulo em dois outros, ADB e ACD
cujas áreas sejam proporcionais aos segmentos m e n, dados.
Utilizando a Propriedade 1 desta seção, para que a razão entre
as áreas de ADB e ADC sejam respectivamente proporcionais aos
segmentos dados m e n é preciso que se tenha D B /D C = m /n . A
figura 65 mostra essa construção.

Área de A D B __ m
Fig. 6 5 - Área deA D C ti 1

Exem plo 12. É dado um ponto P sobre o lado AB do triângulo


54 Áraas

ABC. Traçar por P uma reta que divida esse triângulo em duas
partes equivalentes.
Para resolver este problema, transformemos o triângulo ABC
no triângulo equivalente PBA ' traçando por A a reta A A ' paralela
a PC (figura 66). A

b M1 C A'

Fig. 66 - PM divide ABC emduas partes equivalentes.


Sendo M o ponto médio de BA', a mediana PM do triângulo
PBA' divide esse triângulo em duas partes equivalentes e conse-
qüentemente divide ABC em duas partes equivalentes.
Exem plo 13. Dado um triângulo ABC, traçar uma paralela a BC
que divida esse triângulo em duas partes equivalentes.
Seja MN a reta procurada (figura 67) como os triângulos AMN
Áreas 55

e ABC são semelhantes temos, pela propriedade 2 desta seção,

Área de AM N 1 /A M \ 2
Área de ABC 2 \ AB /

Portanto, A M — 4 r ' \/2- Para construir, traçamos o semi­


círculo de diâmetro AB e pelo centro O desse semi-círculo a per­
pendicular O M ' a AB. Desta forma
AB
A M ' = — •y/2 = AM .

Fig. 67 - MN divide ABC em duas partes equivalentes.

Exem plo 14. Dado o triângulo ABC, determinar um ponto P


no seu interior de forma que as áreas dos triângulos PAB, PBC e
PAC sejam respectivamente proporcionais aos segmentos m, n e
p, dados.

Consideremos inicialmente o problema de encontrar os pontos


D e E sobre BC de forma que os triângulos ADB, ADE e AEC te­
nham áreas respectivamente proporcionais aos segmentos dados
m, n e p. Como esses triângulos têm mesma altura então devemos
ter
AD DE EC
m n p
56 Áreas

e a construção está na figura 68.

Fig. 68 - ADB, ADE e AEC têm áreas respectivamente p ro p o rc io n a is a m ,n e p .

Em seguida, tracemos por D uma paralela a AB e por E uma


paralela a AC. Se P é o ponto de interseção dessas retas (figura
69) então ABD e ABP têm mesma área e também AEC e APB têm
mesma área. Logo, PBC têm mesma área que ADE e o problema
está resolvido.
A

Fig. 69 - PAB, PBC e PC A têm áreas respectivamente proporcionais a m , n e p .


Áreas 57

Exem plo 15. Dado um círculo, traçar um outro concêntrico de


forma que as áreas do círculo menor e da coroa sejam respectiva­
mente proporcionais aos segmentos m e n, dados.

Seja C o círculo dado e seja r o seu raio. Desejamos construir


um círculo C1com o mesmo centro O e raio r' de forma que a área
de C' e a área compreendida entre C e C ' sejam proporcionais a m
e n, respectivamente. Ora, isto é equivalente a ter as áreas de C1
e C respectivamente proporcionais m e m + n. Temos então

Área deC' m / r'


Área deC m+ u \r

Para obter r', consideremos um raio O A do círculo C e um


ponto B deste raio tal que OB/BA = m /u (figura 70). Traçando o
semi-círculo de diâmetro OA e a perpendicular BD a OA temos
58 Áreas

O D 2 - OB ■OA
Como O A = r e OB/O A = m /m + n,

OD2 ---------•r
m+ n
ou
m
m+ n’
portanto, OD = r' o raio do círculo C'.

Exercícios
l) Dado um triângulo ABC construir o triângulo A ^ C ' equiva­
lente a ABC e tal que  ' =  e A 'B ' = A 'C '.
2^ Construir um quadrado equivalente a um trapézio dado.
(3/ Construir um quadrado cuja área seja a soma das áreas de dois
outros quadrados dados.
Construir um triângulo equilátero cuja área seja a diferença
das áreas de dois outros triângulos equiláteros dados.
(5) Construir um triângulo equilátero equivalente a um triângulo
dado.
6. Dado o triângulo ABC, construir o triângulo A 'B 'C' equivalente
a ABC conhecendo dois lados de A ^ C '.
7. São dados um quadrado e dois segmentos m e n. Traçar por
um vértice do quadrado uma reta que divida sua área em partes
proporcionais a m e n.
( & ) Inscrever em um círculo dado um retângulo equivalente a um
quadrado dado.
9. Dado um triângulo ABC traçar DE paralelo a BC de forma que
a área de ADE seja 2/3 da área de ABC.
10. Determinar o ponto P no interior do triângulo ABC de forma
que as áreas dos triângulos PAB, PBC e PCA sejam iguais.
Áreas 59

11. Traçar pelo ponto P (figura 71) duas retas que dividam o
triângulo ABC em três partes de mesma área.
A

12. Traçar pelo ponto P (figura 72) uma reta que divida o quadri­
látero ABCD em duas partes equivalentes.

13. Encontrar os pontos B sobre r e C sobre s (figura 73) de forma


que BC passe por M e a área de ABC seja mínima.

Fig. 73
4* Construções Aproximadas

Alguns problemas de natureza simples não podem ser resolvi­


dos com a régua e o compasso. O mais importante deles é o da
retificação da circunferência. Como o número n não pode ser cons­
truído a partir do segmento unitário (veja Apêndice) não podemos
obter um segmento igual ao comprimento de uma circunferência.
Entretanto, podemos obter este resultado com boa aproximação.
A idéia mais simples para obter aproximadamente o compri­
mento de um semi-círculo é reparar que

V2 + \/3 ~ n
Considerar a igualdade nesta relação significa cometer um
erro relativo inferior a 0,15%. Para se ter uma idéia de como este
erro é pequeno, basta notar que em uma medida de 100 metros a
diferença entre 0 valor aproximado e 0 real ficaria em menos de
15 centímetros. Na figura 74 mostramos esta construção onde o
segmento PQ é aproximadamente igual ao comprimento do semi­
círculo de diâmetro AB.

Fig. 74 - PQ é aproximadamente igual ao comprimento do semi-círculo de diâmetro AB.

Um outro processo para obter a retificação de um semi-círculo


Construções Aproximadas 61

é o seguinte. Dado um círculo de centro O, traçamos um diâmetro


AB e uma reta r tangente em B (figura 7fif Em seguida, deter­
minamos na reta r um ponto C tal que BOC = 30° e o ponto D
tal que CD seja três vezes o raio do círculo (B deve ficar entre C e
D). O segmento AD é aproximadamente igual ao comprimento de
metade do círculo e agora, o erro relativo é menor que 0,0019%.
Para que o leitor perceba a eficiência deste método o erro cometido
é menor que 2 centímetros em uma medida de 1 quilômetro.

Fig. 75 • é aproximadamente igual ao comprimento de melade do círculo.

Muitos outros processos foram inventados para retificar o cír­


culo de forma aproximada com erros ainda menores e o leitor cu­
rioso poderá encontrar um deles em [5] pág. 39.
Passamos agora a descrever um processo que permite retificar
arcos até 90°. A precisão não é tão grande como nos processos ante­
riores mas é satisfatória para os problemas práticos. Para retificar
um arco AB de um círculo (figura 76) traçamos o diâmetro por A
e prolongamos esse diâmetro de 3/4 do raio do círculo obtendo o
ponto C. A reta CB encontra a tangente traçada por A em D e o
segmento AD é uma boa aproximação para o comprimento do arco
AB. O erro cometido não é uniforme, ou seja, depende do arco que
62 Construções Aproximadas

estamos retificando.

Fig. 76 - Retificação do arco AB.

Fig. 77

Para estudar o erro cometido nesta construção para cada arco


retificado consideremos em um círculo de raio 1 um arco AB de
Construções Aproximadas 63

comprimento x(x^7r/2) como na figura 77. O diâmetro A A ' foi


prolongado de um comprimento A'C = 3 / 4 e a reta CB encontrou
a tangente por A em D. Verificaremos que AD — y é uma boa
aproximação de x.
Para relacionar x e y tracemos BE perpendicular a A A ' ob­
tendo BE = senx e OE = cosx. A semelhança dos triângulos ADC
e EBC fornece
AD _ AC
EB" ~ ÊC
ou
V ^ H /4
senx 7/4 + cosx

ou ainda
11 sen X
y = _ _ ----------
7 + 4 cos X

Esta curiosa função é bastante próxima de y - x n o intervalo


r TÍ. 11 . 22
[0, - J. Para x = n /2 encontramos y = — , ou seja 7t ~ — que
é a aproximação obtida por Arquimedes no século III a.C. O erro
máximo desta construção ocorre para

5
x — cos— ~ 72°
16

e é menor que 1%. Seu gráfico da função pode ser visto na figura
78 e uma análise maiá detalhada do seu comportamento encontra-
se em [4], pág. 21. Uma variante desta construção, com traçados
mais simples está no exercício 7 deste capítulo.
Um outro interessante método aproximado para retificar ar­
cos de círculo deve-se a M. d’Ocagne (1867-1938). Dado um arco AB
(menor que 170°) em um círculo de centro O, inicialmente divide-
se a corda AB em 3 partes iguais pelos pontos E e F como mostra
a figura 79. A reta OF determina D sobre o círculo e a paralela
traçada por B à O D encontra AD em C. O segmento AC é uma
64 Construções Aproximadas

boa aproximação para o comprimento do arco AB.

Fig. 79 - Retificação do arco AB pelo processo de d’0cagne.

Para dar uma idéia de porque funciona esse método, conside­


ra-se no círculo unitário um arco AB de comprimento x e o seg­
mento AC de comprimento y construído da forma que descreve-
Construções Aproximadas 65

mos. Esperamos então que a função que relaciona x e y seja bas­


tante próxima de y = x em um intervalo do tipo [0, a].
Como os cálculos são um tanto exaustivos, daremos apenas
uma breve indicação dos passos necessários para satisfazer o leitor
curioso. No círculo unitário, com AOB = x, calcula-se o compri­
mento da corda AB pela lei dos cossenos. Em seguida, usa-se a
relação de Stewart no triângulo AOB para calcular OF. Como os
três lados do triângulo AOF são conhecidos, calculamos o cosseno
— 2
de AOF e usamos esse valor para calcular AD = - y no triângulo
AOD. O resultado é
1 + 2 cos x
y
y/5 + 4 cos X
Novamente, podemos avaliar a eficiência dessa construção
observando o gráfico da função correspondente na figura 80. A
aproximação em relação à reta y = x é excelente até 120° (2,1
radianos) e bastante razoável deste ponto até 172° (3 radianos).

R ,. «0 - Grático d« tj = ^ ^

Outro problema que devemos abordar é o de dividir um círculo


em um número n qualquer de partes iguais. Este problema é
66 Construções Aproximadas

simples para ri = 2,4 ,8 ,1 6, .. . e também para n = 3,6,12,24, —


E possível dividir exatamente um círculo em 10 partes iguais
porque o lado do decágono regular inscrito em um círculo de raio R
\/5 - 1 .
é igual a R •— - — , que já mostramos como construir (Capítulo 2,
seção 5). Assim, o problema está resolvido para n — 5,10,20,___
Para que outros valores de n poderemos dividir um círculo exata­
mente em n partes iguais? Não é uma pergunta fácil mas o leitor
poderá obter uma resposta no Apêndice deste livro. Entretanto,
não é difícil perceber que é possível dividir um círculo exatamente
em 15 partes iguais. Na figura 81, A, B e C dividem o círculo em
3 partes iguais e A, D, E, F e G dividem o mesmo círculo em 5
partes iguais. Desta forma, o arco AB é igual a 1/3 do círculo e
o arco AE é igual a 2/5 do círculo. Portanto, o arco BE é igual a
2/5 — 1/3 = 1/15 do círculo e o problema de dividir um círculo em
partes iguais fica resolvido para n — 15,30,60,....
A

Porém, não é possível dividir exatamente um círculo em 7, 9,


1 1 ,1 3 ,1 4 ,1 8 ,1 9 partes iguais, citando apenas os valores menores
Construções Aproximadas 67

que 20(*). Mostramos então a seguir um processo que permite


obter aproximadamente a divisão de um círculo em n partes iguais,
para qualquer valor de n .*

Fig. 82 - Divisão aproximada do círculo em 7 partes iguais.

Traçamos um diâmetro AB e determinamos os pontos P e Q


de forma que os triângulos ABP e ABQ sejam equiláteros. Em

(* ) Curiosamente, é possível dividir um círculo exatamente em 17 partes iguais. A


construção descoberta por Gauss no fim do século 18 está comentada no Apêndice deste
livro.
68 Construções Aproximadas

seguida, dividimos o diâmetro AB em n partes iguais pelos pontos


1,2 ,.. . , n —1 (numerados, por exemplo de A para B). As retas que
unem P e Q aos pontos de ordem par, determinam nos semi-círculos
opostos os pontos que dividem aproximadamente esse círculo em n
partes iguais. A figura 82 mostra a divisão aproximada do círculo
em 7 partes iguais e uma análise desse processo pode ser encon­
trada em [4].

Exercícios
1. Construir um quadrado equivalente a um círculo dado.
2. Determinar sobre um círculo dado um arco de comprimento
dado.
3. Construir um quadrado equivalente a um setor circular dado.
4. Construir um círculo cujo comprimento é dado.
5. Construir um eneágono regular inscrito num círculo dado.
6. Dividir um ângulo em três partes iguais.
7. Um dos processos descritos no texto para retificar, aproximada­
mente arcos até 90° possui a seguinte variante.
Se AB é o arco que desejamos retificar, traçamos o diâmetro
A A ' e o diâmetro MN perpendicular a AA'. Determina-se então
o vértice C do triângulo equilátero M.NC de forma que A ' seja
interior a esse triângulo. A reta CB encontra a tangente traçada
por A em D e o segmento AD é uma boa aproximação para o arco
AB. _
Mostre que se no círculo unitário AB = x e AD = y então
( l + x / 3 ) sen X

\/3 + cos X

e que essa função é próxima de y = x no intervalo [0, f J.


8. Construa um quadrado equivalente à região abaixo (figura 83).
9. Construa sobre um círculo dado um arco de comprimento dado.
Construções Aproximadas 69

10. A figura 84 mostra duas polias tangentes que podem girar


livremente em torno de seus centros. Determinar graficamente o
ângulo de giro da polia maior quando a menor dá 1/4 de volta.
5 . Transformações Geométricas

Neste capítulo, trataremos dos problemas de construção sob o


ponto de vista das Transformações Geométricas, que são funções
que associam a cada ponto do plano um outro ponto também do
plano através de certas regras. Como as propriedades estarão, em
geral, apenas enunciadas, recomendamos os livros [7], [8], e [9] da
lista de referências para as demonstrações e outros esclarecimen­
tos.
Uma transformação T no plano 17 é uma função T: 17 —>17 que
associa a cada ponto A do plano um outro ponto A' — T(A) do
plano chamado imagem de A por T. Se F é uma figura (portanto
um conjunto de pontos de 77) definiremos F' = T(F) como o conjunto
das imagens dos pontos de F. As transformações que utilizaremos
aqui são todas bijetivas, ou seja, transformações em que pontos
distintos possuem sempre imagens distintas e também que cada
ponto do plano é imagem de um outro ponto desse plano.
Uma transformação bijetiva T: 77 —> 17 possui uma inversa
T_1: 17 —^17 onde para todo ponto A' de 17, U ^ A ') é o único ponto
A do plano 17 tal que T(A) = A'.
A transformação identidade Id: 77 —> 17 é definida por Id(A) =
A para todo ponto A do plano 17.
Finalmente, dadas duas transformações Ti e Tz no plano defi­
nimos a composta T2 o Tu 17 —> 17 como a transformação que a cada
ponto A do plano 17, associa 0 ponto

A / - ( T 2 o T1) ( A ) = T 2(Ti (A)).

Em particular, para qualquer transformação bijetiva T, temos

T o T 1 = T 1 o T = Id.

As primeiras transformações que estudaremos são as isome-


Transformações Geométricas 71

trias, ou seja, aquelas que preservam distâncias. Mais precisa­


mente, T é uma isometria quando

d[T(A),T(B)] = d(A,B)

para quaisquer pontos A e B do plano TT. Toda isometria possui as


seguintes propriedades:
a) a imagem de uma reta por uma isometria é uma reta.
b) uma isometria preserva paralelismo.
c) uma isometria preserva ângulos.
Como conseqüência da definição, a imagem de uma figura F
por uma ispmetria, é uma figura F' congruente a F. As isometrias
que abordaremos aqui são a translação, a reflexão e a rotação.

5.1. Translações
A translação determinada pelo vetor v é a transformação Tv: FI —» TT
que leva cada ponto A do plano TT no ponto A ' = A + v desse plano
(figura 85).

Fig. 85 - Translação determinada pelo vetar v.

A translação transforma toda reta em outra paralela e por ser


uma isometria, transforma qualquer figura em outra congruente.
A figura 86 mostra a translação determinada pelo vetor v aplicada
a um triângulo ABC.
Um caso típico da utilização da translação para resolver um
problema de construção está no exemplo seguinte.

E x e m p lo 16. Dados os pontos M e N e os círculos Ci e C2, cons­


truir o paralelogramo MNPQ onde P pertence a C2 e Q pertence a
72 Transformações Geométricas

Ci (figura 87).

Fig. 86 - A franslação Tv transforma ABC emA ,B,C/.


M N
• •

Fig. 87 - Dados do exemplo 16.

Seja v = Mbi. Como MNPQ é um paraielogramo, a translação


Tv leva Q em P. Aplicando essa transformação ao círculo Ci temos
que C^ — Tv(Ci) contém o ponto P. Logo o vértice P do paralelo-
gramo MNPQ é um ponto de interseção dos círculos C 2 e Cí (figura
88). Para obter C', basta aplicar a translação ao centro Oi de C 1
obtendo = Tv(Oi) e em seguida traçar 0 círculo de centro
com mesmo raio que Ci. Neste exemplo, os dados apresentados
Transformações Geométricas 73

permitiram a obtenção de duas soluçoes: MNPQ e M N P ^ ' .


M N

5.2. Reflexões
Dada uma reta r, dizemos que o ponto A ' é simétrico do ponto A
em relação a r quando r é mediatriz de A A '. Se A pertence a r,
diremos que o seu simétrico em relação a r é ele próprio.
A reflexão em tom o da reta r (também chamada de simetria
em relação a r) é a transformação ST que faz corresponder a cada
ponto A do plano o ponto A' = Sr(A), simétrico de A em relação a
r (figura 89).

Fig. 89 - S 1 A ) = A'.
74 Transformações Geométricas

A construção do simétrico de um ponto em relação a uma reta


não oferece dificuldade. Um processo bastante prático consiste em
traçar pelo ponto A dois círculos quaisquer com centros em r. O
outro ponto comum a esses círculos será A', simétrico de A.
A reflexão é uma isometria e portanto transforma cada figura
F em uma outra F congruente a F. Entretanto, a reflexão inverte a
orientação do plano, como se pode ver na figura 90, onde o triângulo
ABC foi transformado em A'B'C'.

A'
Fig. 90 -A reflexão STtransforma ABC emA ^ C '.

Exem plo 17. Dados dois pontos A e B de um mesmo lado de uma


reta r, determinar o ponto P sobre r de forma que PA + PB seja
mínimo.

Consideremos, como na figura 91, os pontos A e B, a reta r e o


simétrico de B em relação a r.
O ponto P procurado está na interseção de r com AB'. De fato,
como a reta r é mediatriz de BB' teremos para qualquer outro ponto
Transformações Geométricas 75

Q dessa reta,
QA + QB = QA + QB' > AB' = PA + PB' = PA + PB.

Fig. 91 - 0 caminho mínimo de A para B passando por r .


É interessante notar que este exemplo é análogo ao princípio
da reflexão da luz nos espelhos planos. Segundo esse princípio, se
a luz deve ir de uma fonte A a um espelho r e daí ao olho B de
um observador, então o ângulo de incidência é igual ao ângulo de
reflexão.

5.3. Rotações
Fixemos um ponto O no plano TT agora orientado (como a tradição
recomenda, o sentido positivo é o anti-horário). Dado um ângulo
a, a rotação de centro O -e amplitude a é a transformação que a
cada ponto A do plano Fí associa o ponto A ' — Ra(A) de forma que
se tenha O A ' = OA, ÁO~A = a e o sentido de A para A ' (em torno
de O), positivo (figura 92).
Para todo k inteiro, as rotações de amplitudes <x + k 360° são
idênticas. Em particular para 0°^a<360°, a rotação de amplitude
a é igual à rotação de amplitude 360° — a.
A rotação é uma isometria e portanto transforma retas em
retas. A figura 93 mostra como construir a reta r', imagem da reta
76 Transformações Geométricas

r por uma rotação de centro O e amplitude a.

A'

Fig. 92 - A rotação de centro O e amplitude cx leva A em A'.

Fig. 93 • A rotação R «. leva r e m r ' .

A imagem de uma figura F por uma rotação é uma figura F' =


Ra(F) cogruente a F. Ainda, se P e Q são pontos de F e se P' = RafP)
e Q' = Ra(Q) então as retas PQ e P'Q' formam ângulo a (figura
94).
'Mostramos a seguir um problema de construção resolvido com
Transformações Geométricas 77

auxílio de uma rotação.

c'

Fjg. 94 - A rotação Ra transforma ABC emA /B/C/.

Exem plo 18. São dados um ponto A e as retas r e s. Construir


o triângulo equilátero ABC onde os vértices B e C pertencem res­
pectivamente a r e s .

Se ABC é equilátero,'BAC = 60°. Então, uma rotação de


centro A e amplitude +60° ou de amplitude —60° levará B em C,
como mostra a figura 96.
Aplicando uma dessas rotações à reta r que contém B, obtere­
mos uma reta r' que contém o ponto C, imagem de B. A interseção
de r' com s é o vértice C do triângulo e o problema estará resolvido.
A figura 97 mostra apenas uma das soluções. A rotação de centro
A e amplitude 60° transformou r em r', determinando C sobre s.
Um arco de centro A e raio AC determina B sobre r, completando
78 Transformações Geométricas

a solução.
s

Fig. 96 -As rotações de centro A que levam6 emC.

A rotação de 180° em torno de um ponto O tem particular


interesse sendo também chamada de meio-giro ou de simetria em
relação ao ponto O.* Fixado o ponto O, esta transformação associa
a cada ponto A do plano, o ponto A ' = So(A) de forma que O seja

(* ) ou ainda simetria de centro O.


Transformações Geométricas 79

ponto médio de A A ' (figura 98).

A'
Fig. 98- A simetria emrelação a O leva A emA ;.

Uma aplicação desta transformação pode ser vista no exemplo


seguinte.

Exem plo 19. Dadas duas retas r e s e um ponto M, determinar


os pontos A sobre r e B sobre s de forma que M seja o ponto médio
do segmento AB.

Ora, se M é médio de AB então B = Sm (A). Como A pertence a


r, transformamos esta reta por uma simetria de centro M obtendo
uma reta r' = Sm (t) que contém B. Como r' é paralela a r, basta
80 Transformações Geométricas

aplicar esta transformação a um ponto ?, qualquer de r (figura 99).

5.4. Homotetias
Fixado um ponto O no plano 11 e dado um número real k ^ 0, a
homotetia de centro O e razão k é a transformação que a cada ponto
A do plano 11 associa o ponto A ' = H0lk(A) tal que

ÕÃ? = k ■õ X

Fig. 101-Õ A ' = k- õ X (k > 0).


Se k > 0 a homotetia chama-se direta e se k < 0, inversa . Se
k = 1 então A ' = A e portanto a H0,i é a transformação identidade.
Se k = - 1 , então õ X = —ÕÂ e, neste caso, a transformação é uma
simetria em relação ao ponto O (ou rotação de 180° em torno de
O ).
Transformações Geométricas 81

Se o ponto O pertence a uma reta r então a imagem de r por


uma homotetia de centro O é coincidente com r. Se O não pertence
a uma reta r então v’ — Ho.kM é uma reta paralela a r (*) (figura
101) .

Fig. 101 - A homotetia de centro transforma a reta r em uma reta r' ||r.

A homotetia portanto preserva ângulos. Além disso, se A e


B são dois pontos quaisquer do plano e se A ' = H0 ,k(A) e B ' =
Ho,k(B) então A'B' — |k|AB, decorrendo esse fato da semelhança
dos triângulos OAB e OA'B' (figura 102).

Fig. 102 - Se Õ Ã ^ = k ■õ X e OB^ = k • ÕÊÍ então A'B' = |k| • AB.

A homotetia transforma então qualquer figura F em uma figu­


ra F' semelhante a F. A figura 103 a seguir, mostra as imagens de

(* ) ver [3] pág. 38 para a demonstração


82 Transformações Geométricas

um triângulo ABC pelas homotetias de razao 5/3 e de razão —1/2.

Fig. 103 - A homotetia de centro O e razão5/3 transforma ABC emA] B] Ci e a homotetia


de centro O e razão —1/2 transforma ABC emA 2B2C2.

Exem plo 20. São dados um ponto P e um círculo C. Traçar por


P uma secante PAB ao círculo de forma que A seja ponto médio de
PB.
Devemos observar, inicialmente que este problema pode ser
resolvido por via algébrica da seguinte forma. Sejam: O 0 centro
do círculo, r 0 seu raio e PO = d onde r e d são conhecidos (figura
104).
B

Fazendo PB = x e usando 0 conceito de potência de um ponto


em relação a um círculo temos
PA- PB = (d — r)(d + r)
Transformações Geométricas 83

OU

ou ainda
x = V2 ■\/d2 —r2.
Assim, PB = x pode ser facilmente construído como mostra a
figura 105 e 0 problema está resolvido.

Fig. 105 - Solução do exemplo 20 utilizando métodos do capítulo 2.

Vamos agora resolver 0 mesmo problema por um processo in­


teiramente diferente. Se P é fixo e se A é médio de PB então
podemos escrever PB = 2 • PA. Isto significa que B é imagem
de A por uma homotetia de centro P e razão 2. Aplicando essa
transformação ao círculo C temos que Cf, sua imagem, contém o
ponto B. Portanto, 0 ponto B está determinado pela interseção de
C e C'. A figura 106 mostra como construir C' = HP>2(C).

Fig. 106 - Solução do exemplo 20.


84 Transformações Geométricas

Em diversas situações usamos a homotetia apenas para am­


pliar ou reduzir uma figura, sem preocupação portanto com a
razão. Para dar um primeiro exemplo desta importante utilização
da homotetia, consideremos novamente o problema que serviu de
motivação para o capítulo 2 deste livro.
“Construir um quadrado conhecendo a soma s da diagonal com
o lado.”
Podemos agora imaginar a seguinte solução para este proble­
ma. Construimos um quadrado ABCD, qualquer, e sobre a semi-
reta AC assinalamos um ponto E tal que CE = CB (figura 107),
Traçando EB obtemos o triângulo ABE onde AB é o lado do qua­
drado e AE é a soma da diagonal com o lado. Precisamos apenas
colocar o que foi construído nas dimensões corretas. Para isso,
consideremos na semi-reta AE o ponto E' tal que AE' = s (dado)
e a homotetia de centro A que leva E em E' resolve o problema.
Traçando por E' uma paralela a EB obtemos B' na reta AB. O
segmento AB' é o lado do quadrado procurado.

Um outro exemplo desta utilização “informal” da homotetia


pode ser apreciado no seguinte problema.
“Inscrever em um triângulo ABC, dado, um quadrado que
tenha um lado sobre BC, um vértice sobre AB e outro sobre AC.”
Transformações Geométricas 85

Este problema foi também resolvido por métodos algébricos


no Exemplo 6 do capítulo 2 . Mostraremos então uma outra (e
elegante) solução.
Podemos facilmente construir um quadrado M.NPQ, qualquer,
com um lado (MTM) sobre BC e com um vértice (Q) sobre AC como
mostra a figura 108. Uma homotetia de centro B colocará o qua­
drado na posição correta bastando para isso obter P' interseção de
BP com AC.
A

Fig. 108 - Inscrevendo um quadrado no triângulo ABC.

Os exercícios deste capítulo estão divididos em duas partes.


A primeira é um complemento do texto, onde solicitamos ao leitor
caracterizar as inversas das transformações, bem como algumas
composições e suas propriedades. Na segunda parte, apresenta­
mos exercícios de construção para serem resolvidos com auxílio
das transformações. •- -

Exercícios

1- Parte. Transformações
1 . a) Se Tv é a translação determinada pelo vetor v, determine sua
inversa T " 1.
b) Determine a composta de duas translações: Tu e Tv.
86 Transformações Geométricas

2. Determine a inversa de Sr, reflexão em torno da reta r.


3. S e r e s são retas paralelas, mostre que a composta das reflexões
Sr e Ss é uma translação.
4. Se r e s são retas concorrentes, mostre que a composta das
reflexões $r e Ss é uma rotação.

5. Sejam SA e SB rotações de 180° em torno de A e B, respectiva­


mente.
a) Mostre que a composta de SA e SB é uma translação.
b) Que relação existe entre SA o S B eSBO SA?

6. Sejam SA, SB e Sc rotações de 180° em torno de A, B e C, respec­


tivamente, ou, em outras palavras, simetrias centrais em relação
a esses pontos. Mostre que as compostas dessas transformações
são simetrias centrais mostrando como construir seus centros.

7. Caracterize os pontos fixos das transformações abordadas neste


capítulo.

8. Determine a inversa de uma rotação Ra.


9. Se Ra e Rp são rotações de mesmo centro, verifique que Rp oRa =
R« ° Rp ~ Ra+p-
Nota: A composta de duas rotações de amplitudes <x e (3 e centros
distintos é uma rotação de amplitude < x + | 3 s e c x + { 3 ^ k 360°. Os
dois próximos exercícios justificam essa afirmação e para maiores
detalhes o leitor poderá consultar [8] ou [9].

10 . Sejam RA,«e RBiprotações de centros A e B e amplitudes a e (3,


respectivamente. Dada uma reta r, qualquer, sejam r' = RA)a(r) e
r" = RB,p(r'}. Mostre que o ângulo (orientado) de r para r' é a + (3.

1 1 . Considere as rotações RA,Ke RB,p como no exercício anterior.


Construa o ponto C tal que BAC = —oc/2 e ABC = (3/2. Prove que
C é o centro da rotação composta das duas primeiras, ou seja,

R b ,P ° R a , cc= R c , oc+|J
Transformações Geométricas 87

12. Prove que A composta de duas rotaçoes de am plitudes oc e —oc


é a transform ação identidade ou u m a translação.

13. D eterm ine a inversa de um a hom otetia Ho,k-

14. D eterm ine a composta H o , k 2 ° H 0 ,kP de duas hom otetias de


m esm o centro.

15. Considere, no plano, dois pontos O i e O 2 e um vetor à l l


Transform e Ãtl em A ] B 1 por um a hom otetia de centro Oi e razão
k i . Transform e, em seguida, A i Bi em A 2B 2 por u m a hom otetia de
centro O 2 e razão k2 .
a) M ostre que se k ik 2 = 1, a composta H o 2,k2° H o , ,k, é a trans-
formação identidade ou u m a translação.
b) M ostre que se k ik 2 # 1, a composta das duas homotetias
H oj.ki e H o 2,k2 é um a hom otetia de razão k ik 2 cujo centro
O é colinear com Oi e O 2 .

16. Dados dois círculos de raios diferentes, m ostre como construir


os dois centros das hom otetias (direta e inversa) que transform am
um no outro.

2^ Parte. Construções
17. N a figura 109, os pontos A e B representam cidades e as
paralelas r e s representam um rio. D eterm inar a posição de um a
ponte M N (M sobre ,r e N sobre s) perpendicular às m argens de
form a que se tenha AM . — NB.

18. Construir um paralelogramo conhecendo os lados e 0 ângulo


entre as diagonais.

19. Dado um triângulo ABC determ inar os pontos M sobre AB e N


sobre A C de forma que se tenha M N = l (dado) e ainda, M B = N C.

20. São dados os pontos B e C e as retas r e s não paralelas.


D eterm inar 0 triângulo A B C de form a que os pontos médios de AB
88 Transformações Geométricas

e AC pertençam a r e s , respectivamente.
A

B
Fig. 1 0 9 - Dados do exercício 17.

21 . Construir o quadrilátero convexo ABCD conhecendo os com­


primentos das diagonais, o ângulo formado por elas e dois lados
opostos.
Sugestão: Use a figura 110 construída de forma que se tenha BB^ =
DD^ = Ã j2.
A

22. Construir o quadrilátero convexo ABCD conhecendo o ângulo


A, os comprimentos das diagonais, o ângulo entre elas e sabendo
Transformações Geométricas 89

que a soma AD + BC é mínima.


23. São dadas duas retas r e s e um ponto O.
a) Construir o quadrado de centro O tal que dois vértices opostos
pertencem a r e s .
b) Construir o quadrado de centro O tal que dois vértices adja­
centes pertencem a r e s .
V. Construir
24. São dados os pontos A e G, uma reta r e um círculo
o triângulo ABC de baricentro G sabendo que B pertence a r e C
pertence a T.
25. Construir o quadrado ABC D conhecendo o vértice A, um ponto
da reta BC e um ponto da reta CD.
26. São dadas duas retas r e s e um ponto O. Construir o triângulo
equilátero ABC de centro O sabendo que dois de seus vértices per­
tencem: um a r e outro a s.
27. São dados os pontos M e N e as retas r e s não paralelas. Cons­
truir o paralelogramo ABCD com A sobre r e C sobre s sabendo que
M e N são os pontos médios dos lados AB e BC, respectivamente.
28. Construir um triângulo conhecendo os pontos médios dos três
lados.
29. Construir um pentágono conhecendo os pontos médios dos
cinco lados.
30. São dados um ponto A e um círculo V de um mesmo lado de
uma reta r. Determinar B sobre r e C sobre T de forma que AB + BC
seja mínimo.
31. São dados os pontos B e C em lados opostos da reta r. Deter­
minar A sobre r de forma que esta reta seja bissetriz do ângulo
bX c .
32. Inscrever um quadrado em um semi-círculo dado.

33 . São dados um ângulo XAY e um ponto P, interior. Traçar um


círculo passando por P e tangente aos lados do ângulo dado.
90 Transformações Geométricas

? 4'- S1 ° f n í 8 T P° nt0S B e C e as retas r e s. Construir o


do triângulo pertence
do 8? ° reta
a s.
^ A Per‘ enCe à reta r e « ue 0 baricentro

35. São dados um circulo r e um ponto P interior. Traçar por P


uma corda AB de forma que PB seja o dobro de PA.

Ü L S,ã0 d^ ° S T P° nt° A ’ Uma reta r’ um P° nt0 M *>bre r e um


angulo a. Construir o triângulo ABC com B e C sobre r de forma
que M seja medio de BC e BAC = <x.

r lfa T A ABCDE
regular dB
ac°D Fde
T forma que
" 7C *e D estejam
T' C°sobre
" r. ° pentá« “ °

A8BCD°„ndeaR
S dT rl ‘ aS r 6 * 6 POn‘ ° A ' Construir 0 lad rad o
ABCD onde B e C pertencem respectivamente à r e s.

o n / r r r r ° ‘ riângUl° ABC dado- um tri“ gulo MNP de forma


qu edada lado deste triângulo seja perpendicular a um lado de

<0 São dados um triângulo ABC e um ângulo a. Construir um


circulo de centro O tangente àsretas AB e AC e cortando o lado
BC em pontos P e Q tais que POQ = «.
Apêndice A.
Construções Possíveis
Usando Régua e Compasso

José Paulo Q. Carneiro

1. Introdução
Conta a lenda que, em 429 a.C., os atenienses dirigiram-se ao
célebre oráculo de Apoio na ilha de Delos, suplicando a graça de
fazer cessar uma peste que então assolava a sua cidade. O oráculo
respondeu, exigindo que fosse construído um outro altar no tem ­
plo da divindade, com o dobro do tamanho do que lá existia. Os
atenienses construiram então o novo altar, dobrando a aresta do
antigo (em forma de um cubo), o que, naturalmente, multiplicou o
volume do altar por oito (a nova aresta, claro, deveria ser ^ 2 vezes
a anterior). Devido a esta falha, a peste continuou e dizimou um
grande número de atenienses. Assim, o problema de “duplicar o
cubo” ficou conhecido como o “problema de Delos”. Construir, deve
ser ressaltado, significava para os gregos, construir apenas com
régua e compasso.
Esta lenda, que não faz justiça à brilhante escola ateniense
que, logo em seguida, produziría Platão (428-347 a.C.), Teeteto
(415-369 a.C.) e Eudoxo (408-355 a.C.), deve ter contribuído para
formar a convicção de que a exigência de utilizar somente régua e
compasso para construções geométricas tinha uma origem quase
religiosa e mística. No entanto, já o historiador e pensador Plu-
tarco (46-120 d.C.) testemunhava que a separação exigida por
Platão entre “a mecânica e a geometria” tinha raízes profundas
nas próprias concepções filosóficas do platonismo, que sublinha­
92 Apêndice: Conslruções Possíveis Usando Régua e Compasso

vam a diferença entre o que é objeto dos sentidos e o que é objeto da


inteligência pura. Do ponto de vista matemático, podemos ir mais
longe, e ver aí também uma intuição genial; não esquecendo que
a concepção grega de número real era inteiramente geométrica, a
distinção entre construções com régua e compasso e construções
mecânicas (amplamente utilizadas por eles) continha já um germe
de classificação dos números reais, como ficaria claro séculos mais
tarde.
De fato, desde cedo os gregos esbarraram na dificuldade (como
veremos, uma impossibilidade) de, somente com régua e compasso,
duplicar o cubo, quadrar o círculo (isto é, construir um quadrado
com área igual à de um círculo dado), tri-seccionar um ângulo
genérico e construir certos polígonos regulares, como o heptágono,
por exemplo. Na realidade, a dificuldade por eles encontrada tes­
temunha a favor de sua perspicácia, isto é, eles perceberam que
havia aí um problema, o que algumas pessoas até hoje não per­
cebem, confundindo construções aproximadas ou mecânicas com
construções exatas com régua e compasso. No entanto, eles não
tinham ainda o instrumental matemático que lhes permitisse mos­
trar que tais construções eram, na verdade, impossíveis, o que só
viria a ocorrer na virada do século XVIII para o XIX d.C.
A história do completo esclarecimento deste problema é uma
das mais interessantes e instrutivas da história da Matemática,
passando pela “consolidação” dos números complexos, com o gran­
de Gauss (1777-1855), e pela criação da teoria dos grupos com o
genial Galois (1811-1832).

2. As regras do jogo
Para abordar o problema de quais construções são possíveis com
régua e compasso, comecemos por lembrar que as construções “per­
mitidas” são: traçar uma reta, conhecendo dois de seus pontos;
traçar um círculo, conhecendo o seu centro e um ponto do círculo;
determinar as interseções de retas ou círculos já construídos com
retas ou círculos já construídos.
93

Não são permitidos : traçar um círculo de raio ou centro “ar­


bitrários”; usar uma graduação previamente preparada da régua
ou do compasso; tomar sobre uma reta um ponto “arbitrário”; des­
lizar a régua até uma certa posição; etc.
Além disto, lembramos que, pelas construções indicadas no
Capítulo 1, é possível, somente com régua e compasso, construir
um ponto (não arbitrário) fora de uma reta, e traçar por este ponto
(ou qualquer outro já construído) uma paralela ou uma perpendi­
cular a esta reta. De qualquer forma, vamos registrar novamente
estas construções, valendo-se da Figura 111. Sendo r a reta deter­
minada por A e B, os círculos de centro A e raio AB, e de centro B e
raio BA, determinam um ponto C fora de r. Por outro lado, dado P
fora de r, o círculo de centro P e raio PA determina em r o ponto D;
os círculos de centros A e D, passando por P, determinam o ponto
Q, de modo que PQ é a perpendicular a r passando por P, enquanto
os círculos de centro P e raio AB e centro B e raio AP determinam
S, de modo que PS é a paralela a r por P. Estas construções serão
utilizadas sem maiores comentários, simplesmente mencionando
a construção de uma paralela ou uma perpendicular nas condições
convenientes.

Fig. 111

3. Formulação algébrica do problema


Consideremos uma reta básica r, determinada pelos pontos A e
B. Adotando a abscissa 0 para A e 1 para B, cada ponto da reta
94 Apêndice: Construções Possíveis Usando Régua e Compasso

determina um único número real e reciprocamente. É claro que


um segmento AP será construtível a partir de AB se e somente
se o ponto P, ou, equivalentemente, sua abscissa x, for construtí­
vel (Figura 112). Assim, em vez de segmentos ou figuras cons-
trutí veis, falaremos de números construtíveis (a partir de agora,
“construtível” significa “construtível com régua e compasso”).

A B P ,
---------------- ,--------- i------------------------------- 1-------------------- -
0 1 x
Fig. 112

Assim, o problema da duplicação do cubo passa a equivaler


ao da construtibilidade de \fí, já que esta é a medida da aresta
do cubo que tem o dobro do volume do cubo de aresta AB, isto
é, 1. Analogamente, o problema da quadratura do círculo passa a
equivaler ao da construtibilidade do número n, e assim por diante.
Observe agora as construções sugeridas nas figuras 113 e 114,
que foram feitas com paralelas, para se tornar auto-explicativas.
Elas mostram que, se os números a e b forem construtíveis, então
também o serão a + b, —a, ab e 1/a (se a ^ 0). (Verifique que as
construções são válidas, quaisquer que sejam os sinais de a e b).

Estas propriedades têm uma consequência imediata e impor­


tante, que é a seguinte: como as construções são feitas a partir de
0 e 1 , então são construtíveis: 1 + 1 = 2 ; 2 + 1 = 3 ; etc., assim como
—1, —2, —3, etc., ou seja, todos os inteiros. Consequentemente, são
construtíveis todos os quocientes de inteiros, isto é, os racionais.
95

Em suma, todos os racionais são construtíueis.

E xercício 1 . Construa —2/7; construa 1,333 • ■

Por outro lado, é fácil ver que não só os racionais são cons-
trutíveis. A figura 115 mostra que, se a > 0 for construtível, então
^/ã também será construtível.

Na figura 115, o ponto P foi determinado pela interseção do


círculo de centro a /2 e raio a / 2 , com a reta perpendicular a r por
1 ; em seguida, o círculo de centro O e raio OP intercepta r em i/ã
(por quê?).

E xercício 2. Construa \/2; v^3 ; \/ 1 + \/2.

Uma observação de nomenclatura: as propriedades ilustra­


das nas figuras 113 e 114 costumam ser resumidas na frase: “o
96 Apêndice: Construções Possíveis UsandD Régua e Compasso

conjunto dos números construtíveis forma um corpo ” (ou melhor


ainda, um subcorpo do corpo dos números reais), expressão esta
que significa exatamente que se trata de um conjunto de números
reais que possui 0 e 1 e é fechado para a adição, multiplicação, e
cálculo de simétricos e de inversos (de elementos não nulos).

4. O princípio básico da solução do problema


Quando se efetuam construções com régua e compasso, muitas
vezes é necessário “sair” da reta básica r, ainda que seja para
depois voltar a ela (como ocorreu na construção de i/ã ). Os pontos
do plano obtidos por estas construções (segundo as mesmas regras
do jogo) serão também chamados de pontos construtíveis do plano.
Com este conceito, é imediato que um ponto do plano P — (a; b) será
construtível se e somente se os números a e b forem construtíveis.
Por exemplo, na figura 115, o ponto P = (1; \/a — 1). Como já
sabemos que os números racionais são construtíveis, então são
construtíveis todos os pontos do plano com ambas as coordenadas
racionais. Partindo inicialmente destes, que outros pontos serão
construtíveis ?
Em primeiro lugar, quando uma reta une dois pontos (a; |3) e
(y ; 6) de coordenadas racionais, a equação desta reta é da forma
ax + by + c = 0, onde a, b e c também são racionais.
E xercício 3. Justifique a última afirmativa, verificando que
a = ó — fi; b = <x —y ; c = py — ocô.

Em seguida, quando usamos a régua para achar a interseção


de duas retas deste tipo, o ponto de interseção nada mais é que a
solução de um sistema da forma:

ax + by + c = 0

E xercício 4.
{ a/x + b 'y + c ' = 0 ^

Supondo que o sistema (1) tenha solução, resolva-o.


Ora, sendo a, a ', etc., racionais, as coordenadas da solução
97

do sistema 0 ) são racionais; por exemplo, a primeira é: (bc' —


b ' c ) / ( a b ' — a'b), como o leitor deve ter verificado no exercício 4 .
Por outro lado, se um círculo tiver centro (a; (3) de coordena­
das racionais, e passar pelo ponto (y;ó), também de coordenadas
racionais, sua equação será da forma x 2 + p 2 + ax + bp + c = 0,
onde a, b e c são racionais.

E xercício 5. Justifique a última afirmativa, verificando que:


a = —2a; b — —2(3; c — 2ay + 2(3ò —y 2 — õ2.

Se, agora, construirmos um novo ponto, obtido pela régua e


pelo compasso, como interseção de uma reta e de um círculo destes
tipos, este ponto será a solução de um sistema da forma:

J x 2 + p 2 + ax + bp + c = 0
j a'x + b'p + c' = 0 ^

onde, lembramos, a, a/, etc., são racionais. As soluções deste sis­


tema, quando existem, são (um ou dois) pontos, com ambas as
coordenadas da forma p + qy^r, onde p, q e r são racionais, e r> 0.

E xercício 6. Verifique a última afirmativa, resolvendo o sistema


(2). Sugestão: se b ' 7^ 0, tire o valor de p na segunda equação e
leve na primeira, etc.

Finalmente, quando obtemos um novo ponto, pela interseção


de dois círculos cujas equações possuem coeficientes racionais,
recaímos em um sistema do tipo:

f x2 + p 2 + ax + bp + c = 0
1 x 2 + p 2 + a 'x + b 'p + c y = 0

0 qual é equivalente ao seguinte:

x2 p 2 + ax + bp + c = 0
(3 ')
(a — a')x + (b —b y)p + (c — c y) = 0

que é da forma (2 ) e, portanto, leva à mesma conclusão.


98 Apêndice: Construções Possíveis Usando Régua e Compasso

E xercício 7. Verifique algebricamente e interprete geometrica­


mente a equivalência entre os sistemas (3) e (30.

A primeira conclusão de todas estas considerações é a se­


guinte: se partirmos de todos os pontos do plano com coordenadas
racionais, e fizermos construções com régua e compasso, envol­
vendo apenas uma interseção de reta com reta, reta com círculo,
ou círculo com círculo, as coordenadas dos novos pontos obtidos, ou
continuam sendo racionais, ou, no máximo, passam a ser da forma
a + b-^/c, onde a, b e c são racionais e c^O (observe que os números
desta forma incluem os racionais; por exemplo, 1/3 + VVJÁ é ra­
cional).
O que acontece quando prosseguimos fazendo construções com
régua e compasso? Se repassarmos o raciocínio feito com os ra­
cionais, veremos que, numa segunda etapa de nossa construção
com régua e compasso, os novos números obtidos serão da forma
a + b-y/c, onde, por sua vez, a, b e c são da forma anteriormente
indicada. Por exemplo, se na primeira etapa tivermos obtido, por
exemplo, 1 + \/2 , na segunda etapa poderemos ter, por exemplo,
4(1 + VI) + 5^3(1 + V2). O motivo pelo qual isto sempre ocorre
está ilustrado no exercício seguinte.

E xercício 8. Verifique que o conjunto dos números da forma


a + bV2, onde a e b são racionais, é um corpo (sugestão:para o in­
verso, use “racionalização de denominadores”). Você concorda que
o número 2 , neste exemplo, poderia ser substituido por qualquer
racional positivo ?

Re capitulemos então: um número construtível é obtido como


primeira coordenada de um ponto que tenha sido obtido a partir
dos pontos iniciais 0 e 1 da reta básica, através de um número finito
de interseções de retas e/ou círculos. Pela discussão acima, fica
claro então que um número será construtível se e somente se pu­
der ser escrito em termos de números racionais , usando somente
adições, multiplicações, simétricos, inversos e raízes quadradas.
99

E xercício 9. Verifique que é construtível o número:

3 - 0 , 2 \Kl +y/2

\ 2/11 + \ / 6 ■
(Evidentemente, não é para construí-lo; basta argumentar como
ele seria construído).

5. Um critério de não-construtibilidade
O problema agora é como reconhecer se um dado número (por
exemplo, s/2 ou n) pode ou não ser escrito da forma há pouco des­
crita.
Observe, primeiro, este exemplo de um número da forma indi­
cada e, portanto, construtível: y/2+V 1 + y/% = a. Escrevendo esta
igualdade ná forma: \/l + \/3 — oi — y/2 e elevando ao quadrado,
obtém-se: 1 + \/3 = ocz + 2 —2 \f2a, isto é: \/3 + 2\/2a = oc2 + 1 . Ele­
vando novamente ao quadrado, e simplificando, obtém-se: 4\/6a =
oâ —6oc2 —2. Elevando mais uma vez ao quadrado, verifica-se que:
a 8 —1 2 a 6 + 32a4 —72a2+ 4 = 0. Ou seja, constata-se que o número
a é raiz de um polinômio (no caso: x 8 — 12x6 + 32x4 — 72x2 + 4)
com coeficientes racionais, e até mesmo inteiros. Naturalmente,
isto foi só um exemplo, mas cremos que não seja muito difícil se
convencer de que um número que possa ser escrito apenas com
somas, produtos, etc., e raízes quadradas de números racionais,
seja sempre raiz de um polinômio de coeficientes inteiros; basta­
ria partir de uma expressão tal como a do exercício 9, chamá-la de
x, e, seguindo o que foi feito no exemplo, elevar à quarta potência,
passar alguns termos para o outro lado, depois elevar a uma outra
potência de 2 conveniente, etc. De fato, temos aí um teorema: todo
número construtível é raiz de uma equação polinomial (também
dita algébrica) de coeficientes inteiros.
Aproveitamos para informar que os números (reais ou com­
plexos) que são raízes de polinômios coeficientes inteiros são ditos
algébricos, enquanto os outros são ditos transcendentes. Por exem­
100 Apêndice: Construções Possíveis Usando Régua e Compasso

plo, o número \fí é algébrico, pois é raiz da equação x 3 —2 = 0, e é


fácil arranjar uma infinidade de exemplos de números algébricos.
E xercício 10 . Mostre que 1 + y/l é algébrico.
Existe também uma infinidade de números transcendentes,
mas é, em geral, muito difícil provar que um número específico
é transcendente. O primeiro a exibir números comprovadamente
transcendentes foi Liouville (1809-1882); somente em 1873, Her-
mite mostrou que o famoso número e (base dos logaritmos natu­
rais) é transcendente, e em 1882, Lindemann provou que o não
menos famoso número n é transcendente, isto é - repetimos - não
é raiz de equação algébrica alguma com coeficiente inteiros. A
demonstração de que n é transcendente é longa e trabalhosa, além
de envolver conhecimentos de diversas áreas da Matemática, prin­
cipalmente de Cálculo Diferencial.
O que importa aqui é que, pelo que foi dito, um número cons-
trutível tem que ser, antes de mais nada, algébrico. Portanto, todo
número transcendente não é construtíuel. Em particular, n não
é construtível. Já havíamos observado que o célebre problema
da quadratura do círculo equivalia a construir n. Segue-se então
nosso primeiro resultado historicamente importante: o círculo não
é quadrável.

6. O critério geral de não-construtibilidade


Mas será que todo número algébrico é construtível? A resposta
é não. Se retornarmos às contas que fizemos na seção anterior,
observamos que a equação satisfeita pelo número construtível V2
+ \ /l + \/3 é de grau 8. Na realidade, o processo descrito, baseado
em elevações ao quadrado, à quarta, etc., conduzirá sempre a uma
equação cujo grau é uma potência de 2 .
Aparentemente, isto não quer dizer muito, pois, por exemplo,
</2 é raiz da equação x 4 — 2 = 0, cujo grau é uma potência de 2 ,
mas também é raiz da equação x 5 — 2 x — 0, cujo grau não é uma
potência de 2. No entanto, há uma diferença grande; o que há de
101

crucial é que \fl é raiz de um polinômio do quarto grau que não


mais se decompõe no produto de dois outros (com coeficientes intei­
ros) de graus positivos menores, ou seja, é irredutível, enquanto
o polinômio x5 — 2x é redutível, pois se fatora em x(x4 — 2). O
fato de natureza geral que ocorre aqui é o seguinte: todo número
algébrico a é raiz de um único (a menos de um fator constante)
polinômio de coeficientes inteiros, irredutível ( isto é, que não se
fatora em outros de graus positivos menores e coeficientes intei­
ros). O grau deste polinômio é dito o grau de a. Assim por exemplo,
v^2 é algébrico de grau 3, pois é raiz do polinômio irredutível x3—2.
E xercício 11. Verifique que são algébricos e determine o grau de
sfl ; V2 + y/l.
E agora podemos enunciar a maneira definitiva de reconhecer
se um número não é construtível: um número só será construtível
se for algébrico, de grau igual a uma potência de 2 .
Esperamos ter tornado plausível este resultado, porém o leitor
interessado na demonstração deste belíssimo teorema deve procu­
rar a bibliografia citada no final. Apenas para aguçar a curiosidade
do leitor e estimulá-lo a se aprofundar em Álgebra, mencionamos
que sua justificativa é relativamente fácil e se baseia em fatos bem
fundamentais da teoria das extensões de corpos, com incursões
em alguns tópicos elementares de Álgebra Linear. Já o estabeleci­
mento de uma condição suficiente para a construtibilidade é mais
difícil e seu lugar natural de estudo é a teoria dos grupos e a teoria
de Galois.

7. Solução dos célebres problemas gregos


Já vimos que o círculo não é quadrável.
Vejamos agora porque o cubo não é duplicável. De fato, a
duplicação do cubo com régua e compasso equivale, como foi visto,
à construtibilidade de \fl. Porém, \/2 é algébrico de grau 3, que
não é uma potência de 2 .
Finalmente, verifiquemos porque é impossível tri-seccionar
um ângulo genérico com régua e compasso. Observe primeiro que

i
102 Apêndice: Construções Possíveis Usando Régua e Compasso

não definimos ainda “ângulo construtível”. Mas é claro (ver Figura


116) que um ângulo será “construtível” com régua e compasso, no
sentido óbvio do termo, se e somente se seu cosseno (ou seu seno)
for “construtível”, no sentido técnico que estamos usando.

Por exemplo, o ângulo de 6 0 ° é construtível, pois cos 6 0 ° = 1 / 2


é racional e, portanto, construtível. Também é verdade que o
ângulo reto, por exemplo, pode ser tri-seccionado com régua e
compasso, pois isto equivale a construir o ângulo de 3 0 ° , que é
construtível (por que?). Se, porém, fosse possível tri-seccionar
qualquer ângulo construtível, então o ângulo de 20° seria cons­
trutível e, portanto, seu cosseno. No entanto, fazendo 0 = 2 0 °
na fórmula trigonométrica: cos3 0 = 4 cos3 0 — 3 c o s 0 , e pondo a =
cos 2 0 ° , verifica-se que 1/ 2 = 4 a 3 — 3cx, isto é, ot é raiz da equação
8x3 — 6x — 1 = 0 . O polinômio 8x3 — 6x — 1 é do terceiro grau e é
irredutível pois, se ele se fatorasse em dois outros de graus posi­
tivos menores, um deles teria que ter grau um e, portanto, seria
da forma ax — b, com a e b inteiros; mas então, ele teria b /a como
raiz, o que, no caso, é impossível.

E xercício 12. Mostre que o polinômio 8x3 — 6x - 1 não pode ter


uma raiz da forma b /a , onde a e b são inteiros (sugestão: substi­
tua a pretensa raiz na equação, elimine os denominadores, e use
argumentos de divisibilidade).
103

8. Polígonos regulares construtíveis


Naturalmente, o problema de construir o polígono regular de n
lados (daqui por diante designado por Pn), ou, o que vem a dar
no mesmo, dividir o círculo em n arcos de mesmo comprimento,
reduz-se ao de construir o seu ângulo central 360°/n, ou, como
sabemos, seu cosseno. Os célebres “Elementos” de Euclides (330-
275 a.C.) fornecem a construção, com régua e compasso, de Pn, para
n = 3; 4; 5; 6; 8; 10 e 15 (estas construções já foram comentadas no
presente livro). Desde então, vinha sendo especulado se os que
faltam na lista, por exemplo, P7 ou P9, eram ou não construtíveis.
Este problema só veio a ser decidido a partir de Gauss, em 1796.
Inicialmente, observamos que, se Pn for construtível, então
P2n também 0 será, já que é imediato construir a metade de um
arco previamente construído. Em seguida, notamos que, se Ptl for
construtível e n tiver um fator mí?3, então Pm também será cons­
trutível pois, sendo n = mq, é só ligar de q em q os vértices de
Pn e obteremos Pm. Por exemplo, se de fato P 15 for construtível,
ligando seus vértices de 3 em 3, obteremos o pentágono regular.
Por outro lado, se m e u forem primos entre si, e Pm e Pn fo­
rem construtíveis, então também será construtível Pmn- De fato,
sendo m e n primos entre si, um fato básico de aritmética garante
que existem naturais a e b tais que am — bn = 1. Neste caso,
360°/m n = a.(360°/u) - b.(360°/m ), 0 que indica que 0 ângulo
central de Pmn pode ser obtido marcando, com o compasso, a ve­
zes 0 ângulo central de Pn menos b vezes o ângulo central de Pm.
Juntando estes fatos,' vê-se que, se p ^1 ■••p^mfor a decomposição
do número n em fatores primos, então Pn. será construtível se e
somente se, para cada pt, 0 polígono regular de p ^1 lados 0 for.
Mais ainda, como 0 fator 2 não causa problema, temos que nos
preocupar apenas com os primos ímpares.
Gauss foi o primeiro a relacionar 0 problema da construção
de Pn com as chamadas “raízes n-ésimas da unidade”, isto é, as
soluções complexas da equação xn = 1. De fato, estas soluções
dividem 0 círculo unitário em n arcos de mesmo comprimento,
104 Apêndice: Construções Possíveis Usando Régua e Compasso

a partir da solução 1. Especificamente, as soluções da equação


xn = 1 são: 1 ; tu;tu2; ••■;tun_1, onde tu = cos 0 + i sen 0, com
0 = 360°/n. A construtibilidade de Pn, como vimos, é equivalente­
mente, à de cos 0 , ou, de modo equivalente, à de 2 cos 0 = cu + tü =
tu -I- 1 /tu.
Antes de passar aos fatos de natureza geral, consideremos
primeiro o caso do pentágono regular, ilustrado na figura 117.

Na equação x 5 — 1 = (x — 1) (x4 -I- x 3 + x 2 + x + 1) = 0, se


tirarmos a raiz 1, vemos que cu satisfaz a tu4 + cu3 + tu2 + tu + 1 = 0.
Pondo tu + 1/tu = oí, e notando que tu4 = 1/tu; tu3 = 1/tu2, além
de tu2 -I- 1/tu2 = a 2 — 2, conclui-se que a 2 + a — 1 = 0 . Isto não
só mostra que a é algébrico de grau 2 (logo, construtível), como
permite, no caso, calcular explicitamente oí = { V 5 — 1 ) / 2 .

E xercício 13. Construa o pentágono regular, usando que


2 c o s (3 6 0 ° /5 ) = ( \ / 5 - 1 ) / 2 .
Se procedermos de forma análoga para o heptágono regular, a
equação relevante fica, agora: tu6 + tu5 + tu4 + tu3 + tu2 + tu + 1 = 0.
Neste caso, a substituição tu + l/u> = a conduz agora à equação:
a 3 + a 2 — 2 a — 1 = 0.
E xercício 14. Por um raciocínio análogo ao do exercício 12,
105

conclua que o polinômio x 3 + x 2 —2 x — 1 é irredutível.

Como a — 2 cos(360°/7) é algébrico de grau 3, então o heptá-


gono regular não é construtível.
Observando os exemplos do pentágono e do heptágono, repa­
ramos que, para chegar ao grau de 2 cos(360°/n ), tivemos primeiro
que passar pelo polinômio x n_1 + •••+ 1 , de grau n — 1 , e, em
seguida, pela substituição u> + 1 /u> — cx, que reduziu o grau do po­
linômio relevante a (n — 1 )/2. Gauss provou que este fato é geral,
se n for primo. De acordo com o nosso critério geral, isto acarreta
que, se n for primo, Pn só será construtível se (n —1)/2, e portanto
também n — 1 , for uma potência de 2 , o que significa que n deve
ser da forma 2 k + 1 ; porém, neste caso, o próprio k (se positivo)
tem que ser também uma potência de 2 , pois se k tivesse um fator
ímpar maior que 1 , o número n não seria primo.

E xercício 15. Mostre que, se a for ímpar, então b Q-I-1 é divisível


por b +1 (sugestão: b é côngruo de —1 , módulo b + 1 ) e que, portanto,
n = 2ac + 1 é divisível por 2 C+ 1 .

Gauss mostrou ainda que, de fato, esses polígonos são cons-


trutíveis, chegando-se, então, ao seu famoso resultado: se n for
primo, então o polígono regular de n lados será construtível se e
somente se n for da forma 22 ' -I-1 .
Os números naturais da forma 22"1+1 possuem uma história
interessante. Já haviam sido discutidos por Fermat (1601-1665),
que conjecturava que todos eles fossem primos. Na realidade,
se atribuirmos a m o s valores 0; 1 ; 2 ;3;4, obteremos os chama­
dos “números primos de Fermat” (às vezes também chamados “de
Gauss”), a saber: 3 ; 5 ; 17 ; 257 ; 65.537; mas, a partir d a í , não
se descobriu até hoje nenhum número primo desta forma, não se
conhecendo, porém, um teorema geral que decida se são ou não
primos. Só para dar alguns exemplos curiosos, Euler, em 1732
(quando não havia calculadoras eletrônicas), foi o primeiro a des­
cobrir que 22 + 1 — 4.294.967.297 não é primo, pois é igual a 641
vezes 6.700.417 (!), enquanto, em 1958, foi provado que 22 + 1é

L
106 Apêndice: Construções Possíveis Usando Régua e Compasso

divisível por 5 x 21947+ 1 (!); a propósito, tente calcular com quantos


algarismos se escreveria este número!
A descoberta da construtibilidade do polígono regular de 17
lados foi feita por Gauss, juntamente com o estabelecimento das
bases de toda esta teoria, um mês antes de ele completar 19 anos, e
quando ainda não havia decidido se ia ser matemático ou filólogo.
Este assunto entusiasmou tanto alguns alemães do século XIX que
um certo Richelot publicou, em 194 páginas de quatro números se­
guidos de uma conhecida revista de Matemática, a construção do
polígono regular de 257 lados, com todos os cálculos pertinentes,
enquanto um amador dedicou dez anos a fazer o mesmo com o de
65.537 lados; o material respectivo encheu um baú, que se encon­
tra guardado na Universidade de Góttingen, e que, dizem as más
línguas, ninguém jam ais leu (!).
Quanto ao polígono regular de dezessete lados, você mesmo
pode imaginar uma construção, se souber que, como calculou
Gauss, cos(360°/17) é igual a:

Usando a teoria de Gauss, pode-se ir mais longe ainda e provar


que, para n um natural em geral, será construtível se e somente
se n se decompuser em fatores primos na forma: 2 ^ 1 ••■p m, onde
os pt são primos de Fermat (repare que o expoente de cada pt é
obrigatoriamente 1). Assim, são construtíveis os polígonos regu­
lares com números de lados iguais a:

enquanto não são construtíveis os que têm números de lados iguais


a:
107

9. Outros tipos de construções


Um fato digno de nota é que todas as construções que podem ser
feitas com régua e compasso podem também ser feitas apenas com
o compasso ! Esta afirmativa foi provada por Mascheroni, em
1797. Para justificá-la, basta, evidentemente, mostrar como se
encontra, só com o compasso, a interseção de duas retas, dadas
apenas por dois pontos (isto é, sem traçar a reta), e a interseção de
uma tal reta com um círculo. Em 1928, foi encontrado, numa livra­
ria de Copenhagen, um livro de Mohr, datado de 1672, onde este
fato já aparecia, mas tinha passado desapercebido pelo público
matemático.
Alguém poderia perguntar qual o interesse próprio das cons­
truções apenas com compasso. Em primeiro lugar, devemos res­
saltar que, dentro da linha de “pureza” procurada pelos gregos, o
compasso é, sob um certo aspecto, mais nobre que a régua, uma
vez que nesta, somos obrigados a utilizar o seu “fio”, que já foge dos
dois pontos iniciais que determinam a reta, isto é, os outros pontos
da reta são determinados pela régua, “plagiando” um instrumento
físico previamente construído, enquanto que o compasso é de fato
um instrumento baseado em apenas dois pontos, correspondentes
ao centro e um ponto de passagem, ou seja, o compasso acom­
panha mais de perto a “teoria”. Por outro lado, deve ser observado
que, justamente no final do século XIX, com o uso cada vez maior
dos motores de explosão, passou a interessar particularmente aos
cientistas o problema de como transformar, mecanicamente, um
movimento circular ém um movimento retilíneo, o que equivale,
geometricamente, a construir retas só com compasso. Neste sen­
tido, é particularmente interessante uma obra de 1877, intitulada
“Como desenhar uma linha reta: uma lição sobre engrenagens” ,
do inglês A.B.Kempke.
Além disto, poderia ser suscitada a questão se as construções
possíveis com régua e compasso poderiam também ser feitas ape­
nas com a régua. Basta rever a discussão feita na seção 3, para ver
que a resposta é negativa, pois, neste caso, nunca conseguiriamos
108 Apêndice: Construções Possíveis Usando Régua e Compasso

construir, por exemplo, y/2. No entanto, de forma bastante sur­


preendente, o grande geômetra Steiner (1796-1863) mostrou que é
possível efetuar todas estas construções, utilizando apenas a régua
e um único círculo fixo, juntamente com o seu centro.
Finalmente, deve ser ressaltado que, usando apenas régua e
compasso, porém sem as restrições que nos impusemos, consegue-
se ampliar a gama de construções possíveis. Por exemplo, Arqui-
medes tri-seccionava um ângulo arbitrário, usando a seguinte
construção, ilustrada na figura 118: dado o ângulo COD = x, um
semi-círculo de centro O e raio r corta em C o lado OC. Marcam-
se, sobre a régua, os pontos A e B, distando r (aqui já começa a
violação das nossas regrasl). Desliza-se a régua ( novamente proi-
bido\), mantendo A sobre o prolongamento de OD, e B sobre o
semi-círculo, de modo que a régua passe por C, obtendo então o
ângulo CAD = p. Nesta posição, tem-se p — x/3.

E xercício 16. Justifique a construção de Arquimedes.


Referências

[1] Geometria Euclidiana Plana - João Lucas Marques Barbosa. SBM,


Rio de Janeiro, 1985.

[2] Geometria Plana II - A. C. Morgado, E. Wagner, M. Jorge. Editora


Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1973.

[3] Medida e Forma em Geometria - Elon Lages Lima. 1MPA/VITAE,


Rio de Janeiro, 1991.

[4] Revista do Professor de Matemática nB17. SBM, 1990.

[5] Revista do Professor de Matemática nB20. SBM, 1992.

[6] Meu Professor de Matemática - Elon Lages Lima. IMPA/VITAE, Rio


de Janeiro, 1992. SBM, 1993.

[7] Coordenadas no Plano - Elon Lages Lima. IMPA/VITAE, Rio de


Janeiro, 1992.

[8] Geometrografia 2 - Virgílio Athayde Pinheiro. Editora Bahiense, Rio


de Janeiro, 1986.

[9] Geometric Transformations / - I . M . Yaglom. Random House, New


York, 1962.

[10] Men of Mathematics - Bell, E. T. Touchstone, New York, 1986.

[11] História da Matemática - Boyer, C. Ed. Edgar Blucher, São Paulo,


1976.

[12] Éléments d’Histoire des Mathématiques - Bourbaki, N. Hermann,


Paris, 1969.
110 Referências

[13] What is Mathematics? —Courant, R.; Robbins, H. Oxford University


Press, London, N. Y.

[14] Foundations of Euclidean and Non-euclidean Geometry - Faber, G..


M. Dekker, N. Y., 1983.

[15] A First Course in Abstract Álgebra - Fraleigh, J. B. Addison-Wesley,


Amsterdam, 1976.

[16] Carl Friedrich Gauss - Hall, T. The MIT Press, Cambridge, 1970.

[17] Ruler and Compasses - Hudson, H. Chelsea Publishing Company,


1953.

[ IS^#47/» om5 Problems of Mathematics - Tietze, H. Graylock Press,


Baltimore, 1965.
BSBM
(continuação dos títulos publicados)

C O L E Ç Ã O T E X T O S U N IV E R S IT Á R IO S

• Introdução à Computação Algébrica com o Maple - L. N. de Andrade


• Elementos de Aritmética - A. Hefez
• M étodos Matemáticos para a Engenharia - E. C. de Oliveira e M. Tygel

• Geometria Diferencial de Curvas e Superfícies - M. P, do Carmo


• Matemática Discreta - L. Lovász, J. Pelikán e K. Vesztergombi
• Álgebra Linear - H. P. Bueno
• Introdução às Ftmções de uma Variável Complexa - C .S . Fernandez, N. C. Bornardes Jr.
• Elementos de Topologia Geral - E. L. Lima
• A Construção dos Números - J. Ferreira

C O L E Ç Ã O M A T E M Á T I C A A P L IC A D A

• introdução a Inferência Estatística - H. Bolfarine e M. Sandoval

C O L E Ç Ã O O L IM P ÍA D A S D E M A T E M Á T I C A

• Oiijnpiadas Brasileiras de Matemática, Ia a 8- - E. Mega, R. Watanabe


• Olimpíadas Brasileiras de Matemática, 9a a 16- - C. Moreira, E. Motta, E. Tengan,
L. Amâncio, N. Saldanha* P< Rodrigues
• 21 Aulas de Matemática Olímpica - C. Y. Shine

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