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CENTRO DE HUMANIDADES – CH
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO – PROGRAD
CURSO DE LETRAS
DO PÃO AO BERRO:
A PADARIA ESPIRITUAL NA OBRA DE EDNARDO, UM OLHAR DE
RESISTÊNCIA E INTERTEXTUALIDADE
CRATO - CE
2023
SHIRLEY PINHEIRO LIMA
DO PÃO AO BERRO:
A PADARIA ESPIRITUAL NA OBRA DE EDNARDO, UM OLHAR DE
RESISTÊNCIA E INTERTEXTUALIDADE
CRATO – CE
2023
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade Regional do Cariri – URCA
Bibliotecária: Ana Paula Saraiva de Sousa CRB 3/1000
SHIRLEY PINHEIRO LIMA
DO PÃO AO BERRO:
A PADARIA ESPIRITUAL NA OBRA DE EDNARDO, UM OLHAR DE
RESISTÊNCIA E INTERTEXTUALIDADE
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________
Professor Francisco Flávio Cavalcanti de Queiroz – Urca (Orientador)
___________________________________________
Professora Francisca Eugênia Duarte – Urca (1ª Avaliadora)
___________________________________________
Professora Sibéria de Menezes Carvalho de Queiroz – Seduc – Ceja (2ª Avaliadora)
Aprovado em 11/12/2023.
4
Mainha,
este trabalho, bem como tudo o que eu faço, é para você.
AGRADECIMENTOS
Escrever sempre foi a minha arte e a forma que eu encontrei de dar um sentido à minha
existência. A ela, recorro nos bons e maus momentos, bem como nas horas ociosas. A ela
atribuo também, qualquer possibilidade de expressão neste mundo que nos abriga, mas que
pesa sobre os nossos ombros e, por vezes, insiste em nos atirar em abismos de solidão.
Quando isso acontece, eu escrevo.
Talvez por ter dado tanta importância ao ato de escrever, acabei transformando o processo de
escrita deste trabalho em algo mais assustador e solitário do que ele de fato é. A cobrança
natural da vida tornou-se irrelevante diante da minha própria cobrança e inúmeras tentativas
falhas de alcançar uma suposta perfeição. Os olhares julgadores, provavelmente nem
existiram, no entanto refletiam a minha própria insegurança e a dura constatação da minha
incapacidade de concluir este, que é o trabalho mais importante que já escrevi até aqui.
Nesse meio tempo, o mundo ao meu redor entrou em colapso. Entre as inúmeras mortes pela
pandemia do Covid-19, o caos político instaurado no Brasil, as guerras internacionais e as
mudanças climáticas, eu não sabia mais o que desejar ou esperar da vida. A relação com a
escrita já não era a mesma. Eu já não era a mesma. No entanto, meu encargo seguia igual
(bem como seus obstáculos): escrever este trabalho.
Felizmente, apesar dos pesares, este mundo que nos acondiciona, também nos proporciona os
meios para suportá-lo. E a eles, eu sou imensamente grata. E é difícil, até injusto, tentar
nomeá-los, pois acredito que todas as pessoas que cruzaram o meu caminho e acrescentaram
positivamente à minha trajetória mereciam um espaço nestes agradecimentos, mas é
inevitável que a minha memória não me traia e que alguns nomes passem despercebidos. A
esses, que o universo lhes transmita a minha gratidão.
Agradeço primeiramente a Deus, cuja relação tem se tornado cada vez mais íntima e singular,
a Exu, a quem eu recorro nos momentos de desesperança, e a Nossa Senhora das Graças. Eu,
que nunca fui muito religiosa, descobri Neles a fé que tanto ansiava. Desde então, tenho
percebido a minha caminhada mais leve e, quando a vida pesa, me refugio em suas orações
em busca de me reconectar.
Ao meu tio José Roberto e à minha tia Raniela. Dizem que família a gente não escolhe, mas
se pudesse, eu os escolheria mil vezes. E da forma mais sincera que nossa relação nos
permite, agradeço também ao meu pai. Parafraseando Renato Russo: és parte ainda do que me
faz forte, para ser honesta, só um pouquinho infeliz.
À Simone de Oliveira, com toda a carga que esse termo clichê carrega, minha melhor amiga.
Sempre que o ato de existir pesa demais e o sentimento que nada dura nessa vida, eu me
lembro de você que, entre encontros e desencontros, é minha maior certeza. Um dia, quando
estivermos bem velhinhas, você com seus filhos e eu com meus gatos, a vida bem vivida e as
memórias eternizadas pela palavra, nós brindaremos à presença, aos desabafos e até às
discussões, essas não nos faltam.
Lucélia Andrade, um dia eu lhe disse que a senhora não fazia ideia de sua influência na minha
trajetória, até tentei explicar em poucas palavras, mas a Língua Portuguesa jamais será
suficiente para expressar a minha gratidão. O semestre em que você me acolheu em sua
disciplina foi essencial à minha formação e crucial à minha forma de ver o passado, o presente
e, especialmente, o futuro. E, como se não bastasse, devo a você a existência deste trabalho.
Foi na sua aula que concebi a ideia para essa pesquisa e boa parte do que trago nela, aprendi
com a senhora. Obrigada por tamanho encantamento.
Luciana Bessa, o que seria de mim sem você? Tem um poema de Carlos Drummond de
Andrade que sempre te dedico, em que ele diz que “amizade é um meio de nos isolarmos da
humanidade cultivando algumas pessoas”. Como você bem sabe, eu sou mestre em me isolar
e leiga em cultivar pessoas. Mas em 2021, o universo me presenteou com a sua presença que,
desde sua chegada, mudou os rumos da minha vida. Você é minha maior impulsionadora
desde muito tempo. Eu sou incapaz de definir o valor das nossas conversas, dos nossos cafés,
das nossas parcerias, do nosso companheirismo e dos momentos maravilhosos que você tem
me proporcionado. De você, eu nunca me isolei.
Agradeço à minha avó, Maria Bentivi, que na verdade é minha bisavó, mas que para sempre
eu chamarei de Mãe. A senhora é uma das minhas pessoas favoritas do mundo, um dos meus
pilares e uma das minhas razões de viver.
E finalmente, Mainha. Absolutamente tudo o que sou hoje, sou por e para você. Muitas coisas
me dão orgulho nessa vida, mas sempre que te ouço dizer, toda contente e orgulhosa, que sou
uma boa filha, tua parceira e tua confidente, meu coração se derrete da forma mais bonita
possível e sinto que o propósito da minha existência está concluído. A você agradeço, não só
a minha vida, mas todo o suporte incondicional, até mesmo quando não concorda comigo.
7
Todo mundo sabe
Principalmente o bom Deus, que tudo vê
Que os homens vão dizer que a vida é dura e incompleta
(...)
Pra quem amassa o pão da poesia
Na limpeza e na alegria
Contra o lixo nuclear
(...)
(Belchior, 1982)
RESUMO
Em uma sociedade, todo gesto é político, seja o termo mobilizado ou não. Quando
relacionada com a política, a arte assume o importante papel de produtora de fenômenos de
transformação, reprodução e compreensão de um sistema social. Assim como a História, é
comum observar a ciclicidade dos movimentos artísticos e sua relação com outros gêneros,
textos, enunciados e discursos, para além do espaço-tempo. Na linguística e nos estudos
literários, essa relação entre um texto e outro é conceituada a partir das teorias de
intertextualidade, em que todo texto é resultado da relação intertextual com outros
enunciados. A partir desses pressupostos, o objetivo desta pesquisa é analisar as ocorrências
de resistências e intertextualidades presentes na letra da canção “Artigo 26”, do cantor
cearense Ednardo, cujos textos-fontes são as produções e discursos do grêmio literário Padaria
Espiritual, em especial seu Programa de Instalação. Esta trata-se de uma pesquisa
bibliográfica e descritiva, para a qual foram utilizados livros e artigos publicados sobre a
Padaria Espiritual, bem como textos e poemas produzidos pelos membros do grêmio e a
produção musical do cantor Ednardo. Como embasamento teórico, utilizamos Sânzio
Azevedo (2011); I. V. Koch; A.C. Bentes; M. M. Cavalcante (2008); Gleudson Passos
Cardoso (2002) e Gilmar de Carvalho (2013), dentre outros. O estudo percebe que o artista
cearense engajou sua arte na luta contra a censura do governo ditatorial, inspirado em suas
próprias raízes, a Padaria Espiritual, uma das mais fascinantes fontes de resistência artísticas
do Ceará.
Palavras-chave: Padaria Espiritual. Ednardo. Intertextualidade.
ABSTRACT
In a society, every gesture is political, whether the term is mobilized or not. When related to
politics, art assumes the important role of producing phenomena of transformation,
reproduction and understanding of a social system. Just like History, it is common to observe
the cyclicality of artistic movements and their relationship with other genres, texts, statements
and discourses, beyond space-time. In linguistics and literary studies, this relationship
between one text and another is conceptualized based on theories of intertextuality, in which
every text is the result of an intertextual relationship with other statements. Based on these
assumptions, the objective of this research is to analyze the occurrences of resistance and
intertextualities present in the lyrics of the song “Artigo 26”, by Ceará’s singer Ednardo,
whose source texts are the productions and speeches of the literary group Padaria Espiritual,
especially its Installation Program. This is a bibliographic and descriptive research, for which
books and articles published about Padaria Espiritual were used, as well as texts and poems
produced by members of the guild and the musical production of the singer Ednardo. As a
theoretical basis, we used Sânzio Azevedo (2011); I. V. Koch; A.C. Bentes; M. M. Cavalcante
(2008); Gleudson Passos Cardoso (2002) and Gilmar de Carvalho (2013), among others. The
study realizes that the artist from Ceará engaged his art in the fight against the censorship of
the dictatorial government, inspired by his own roots, Padaria Espiritual, one of the most
fascinating sources of artistic resistance from Ceará.
Keywords: Padaria Espiritual. Ednardo. Intertextuality.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 12
2 INTERTEXTUALIDADE 15
3 ENTRE REGIMES E SECAS: Fortaleza e a atuação intelectual na segunda metade
do século XIX 18
4 PADARIA ESPIRITUAL: uma sociedade de rapazes de Letras e Artes 21
5 O BERRO DE EDNARDO: porque cantar parece com não morrer 26
6 DO PÃO AO BERRO: a Padaria Espiritual na obra de Ednardo 31
6.1 VOCÊ JÁ LEU O ARTIGO 26? 32
7 CONCLUSÃO 39
REFERÊNCIAS 40
1 INTRODUÇÃO
mesmo que queira, jamais deverá fazer uma arte desinteressada. O artista
pode pensar que não serve a ninguém, que só serve à Arte, digamos assim.
Aí está o erro, a ilusão. No fundo, o artista está sendo um instrumento nas
mãos dos poderosos. O pior é que o artista honesto, na sua ilusão de arte
livre, não se dá conta de que está servindo de instrumento, muitas vezes para
coisas terríveis (Barbosa, 1974, p. 10).
12
popular, bem como a literatura, foi fundamental na disseminação do imaginário e ideais de
liberdade na sociedade brasileira.
Partindo dessas premissas, nos debruçamos sobre as produções de duas grandes fontes
artísticas do Ceará: a Padaria Espiritual, agremiação criada pelo romancista Antônio Sales
(1868-1940) e o cantor e compositor José Ednardo Soares Costa Sousa (1945), um dos
maiores representantes da música cearense em todo o território nacional. Portanto, o objetivo
deste artigo é analisar as relações de intertextualidade, arte e resistência dos objetos e a
influência da Padaria Espiritual na canção "Artigo 26", que compõe o disco Berro (1976), de
Ednardo, lançando um olhar histórico sobre os diferentes períodos de produção dos artistas
cearenses.
13
De caráter simbolista, a Padaria Espiritual foi um movimento literário que nasceu na
capital cearense, nas últimas décadas do século XIX. Segundo Sânzio de Azevedo (2011), no
Café Java, um dos quiosques localizados na praça do Ferreira, reuniam-se jovens intelectuais
de Fortaleza que “bebiam café e literatura, naquela fase da vida em que tudo são planos,
sonhos, desejo de construir alguma coisa, de projetar-se, enfim” (Azevedo, 2011, p.17). Foi
nesse espaço que foi concebida a ideia de criação da mais original agremiação
artístico-literária do Ceará. Quase um século depois, a Padaria Espiritual serviu de inspiração
para duas canções do fortalezense Ednardo, cujas letras são compostas por referências e
conceitos do Programa de Instalação da Padaria Espiritual, ressignificadas a partir dos
discursos adotados pelo cantor.
Este artigo é uma pesquisa bibliográfica e descritiva, para a qual foram utilizados
livros e artigos publicados sobre e pela Padaria Espiritual, o contexto histórico e político do
Ceará no período de sua criação e a produção musical do cantor Ednardo. A partir dessas
leituras, buscamos descrever cada uma dessas categorias. Como embasamento teórico,
utilizamos Sânzio Azevedo (2011); I. V. Koch; A.C. Bentes; M. M. Cavalcante (2008);
Gleudson Passos Cardoso (2002) e Gilmar de Carvalho (2013), dentre outros.
14
2 INTERTEXTUALIDADE
Todo texto revela uma relação com outros textos, ao passo que o discurso de um
enunciado sempre estará em diálogo com os discursos de outrem. Esse conceito surge pela
primeira vez de forma implícita em Bakhtin (1982 apud Siqueira, 2017), em sua análise do
romance polifônico de Dostoievski, mostrando o valor bivocal ou plurivocal da palavra, ao
estabelecer “múltiplos contatos no interior do mesmo discurso ou com outros discursos
(discurso dialógico)” (Siqueira, 2017, p. 14).
Partindo deste princípio, todo texto é resultado da relação intertextual com outros
enunciados, logo, a intertextualidade é intrínseca aos discursos produzidos e pode ou não
tornar difícil a percepção e identificação dessa relação entre os textos (Oliveira; Fernandes;
Sousa, 2017). Nesse sentido, Koch; Bentes; Cavalcante (2012) dividem intertextualidade em
duas categorias: intertextualidade em sentido restrito (Stricto Sensu) e intertextualidade em
sentido amplo (Lato Sensu).
Segundo as autoras, a intertextualidade stricto sensu acontece quando “um texto, está
inserido em outro texto (intertexto) anteriormente produzido, que já faz parte da memória
social de uma coletividade ou uma memória discursiva” (Koch; Bentes; Cavalcante, 2012, p.
17). Esta categoria está subdividida em quatro tipos: temática, encontrada em textos
científicos de uma mesma área do saber; estilística, quando o produtor do texto imita, repete
ou parodia estilos ou variedades linguísticas de outro autor; explícita, quando o texto
referência a fonte do intertexto, atribuindo a outro enunciador, o que foi citado, e implícita,
quando o intertexto aparece sem qualquer menção à sua fonte, no texto produzido. Nesta, o
15
produtor do texto espera que o leitor reconheça a presença do intertexto a partir de sua própria
memória discursiva. No que concerne à intertextualidade lato sensu, as autoras afirmam que
as ligações que podem ser estabelecidas nos textos ocorrem “não apenas com enunciados
isolados, mas com modelo gerais e e/ou abstratos de produção e recepção de textos/discursos”
(Bauman; Briggs, 1995 apud Koch; Bentes; Cavalcante, 2012, p. 85)
A alusão acontece quando o enunciado supõe a percepção de uma relação entre ele e
outro texto, reconhecida apenas por quem conhece previamente o texto referenciado. Para
Genette (2010 apud Oliveira; Fernandes; Sousa, 2017, p. 635), esta é a forma menos explícita
de intertextualidade, já que sua menção a outro enunciado é feita de forma indireta. Para
perceber a presença da alusão no texto é necessário que o leitor recorra às suas leituras
16
prévias. O plágio trata-se da apropriação do texto de outro autor e da “omissão proposital e
desonesta da autoria” (Koch; Bentes; Cavalcante, 2012, p.128). De acordo com Oliveira,
Fernandes e Sousa (2017, p. 636):
Para embasar essa pesquisa e analisar a letra da canção, proposta no capítulo anterior,
usaremos o conceito de dois dos subtipos de relações intertextuais de copresença, propostos
por Piègay-Gross (2010 apud Oliveira; Fernandes; Sousa, 2017): alusão e referência, pois
acreditamos que, dentre os conceitos apresentados no referencial teórico, estes são os mais
adequados à nossa proposição.
17
3 ENTRE REGIMES E SECAS: Fortaleza e a atuação intelectual na segunda
metade do século XIX
18
De acordo com o historiador Gleudson Passos Cardoso (2002), durante a transição de
regimes, através das linhas editoriais dos jornais partidários, revistas científicas e periódicos
literários, os intelectuais fortalezenses da época levavam ao público leitor tanto “os interesses
políticos das oligarquias locais pelo poder provincial, bem como os modelos científicos, os
sistemas filosóficos e as narrativas literárias que deveriam contribuir na formação dos novos
estado e nação brasileiros” (Cardoso, 2002, p. 41).
É nesse cenário que se destacam duas frentes de jornalismo (político/literário —
científico), formado por escritores boêmios, poetas e romancistas, que se confrontaram em
calorosos debates nos periódicos do Centro Literário e da Padaria Espiritual, na tentativa de
informar os leitores acerca das discussões travadas nos centros urbanos brasileiros.
Estimulados pelas diferentes posições sociais em que se encontravam, os intelectuais
de Fortaleza se organizavam em dois grupos, cujos ideais divergiam. O grupo Mocidade
Cearense, formado por uma elite abastada, detentora de poder na política local e uma
burguesia beneficiada pela cultura algodoeira, defendia uma ideia de patriotismo ligada à
imagem de José de Alencar. Defensores do racionalismo filosófico, e organizadores de
campanhas em prol do movimento abolicionista, os membros da Mocidade Cearense foram
responsáveis pela criação de algumas das principais agremiações cearenses, dentre elas a
Academia Francesa (1873), o Clube Literário (1886), o Instituto do Ceará (1887), e a
Academia Cearense (1894), o que, para Cardoso (2002), demonstrava a preocupação desses
sujeitos em demarcar sua esfera de atuação política.
Em oposição, estavam os Novos do Ceará, grupo formado por intelectuais letrados,
mas descendentes de classes populares mais baixas, tanto da capital, quanto do interior, que
acreditavam na ideia pregada pelo movimento republicano de oportunidades de ascensão
social através do mérito. Foram esses jovens artistas, escritores e poetas que criaram aquela
que se tornou a agremiação literária mais conhecida do Ceará: a Padaria Espiritual.
20
4 PADARIA ESPIRITUAL: uma sociedade de rapazes de Letras e Artes
No dia 30 de maio de 1892, na rua Formosa, nº 105, nasceu aquela que viria a ser a
agremiação literária mais ousada e original do Ceará. A Padaria Espiritual, idealizada por
Antônio Sales, surgiu como uma solução ao desânimo e insatisfação dos jovens intelectuais
fortalezenses com os espaços dedicados às Letras, atuantes nos últimos anos do século XIX.
A sociedade de rapazes de letras e artes se propunha a ser diferente das tantas de caráter
formal que havia em Fortaleza. Sales queria que “fosse uma coisa nova, original e mesmo um
tanto escandalosa, que sacudisse o nosso meio e tivesse uma repercussão lá fora” (Sales, 1938
apud Azevedo, 2011, p. 18).
A Padaria Espiritual se distinguia pela irreverência e originalidade. O caráter
humorístico, proposto em sua sessão inaugural, fica evidente desde a escolha de seu nome,
considerado “estapafúrdio” pelo poeta Olavo Bilac, aos textos publicados no periódico
intitulado “O Pão”. Em sua primeira edição, datada de 10 de julho de 1892, “O Pão” traz um
texto de apresentação em que adianta o seu descompromisso e distanciamento do formalismo
acadêmico:
XVI — Aquele que durante uma semana não disser uma pilhéria de espírito,
pelo menos, fica obrigado a pagar no sábado café para todos os colegas.
Quem disser uma pilhéria considerada superiormente fina, pode ser
dispensado da multa na semana seguinte.
XVII — O Padeiro que for pegado em flagrante delito de plágio falado ou
escrito pagará café e charutos para todos os colegas (Azevedo, 2011, p. 25).
21
No segundo artigo do Programa de Instalação, Antônio Sales denomina os membros
da agremiação de Padeiros, sendo um Padeiro-mor (presidente); dois Forneiros (tesoureiros);
um Guarda-livros (bibliotecário); um Investigador das Cousas e das Gentes, chamado de Olho
da Providência e os demais sócios eram os Amassadores. Com o limite de vinte gremistas,
podendo “admitir sócios honorários, que se denominaram — Padeiros Livres” (Azevedo,
2011, p. 20), todos os Padeiros tinham um “nome de guerra”, pseudônimo pelo qual eram
tratados nas Fornadas, como eram denominadas as sessões, que aconteciam no Forno, local
onde eram realizadas leituras críticas das produções originais e inéditas ou de outras obras
encontradas na imprensa.
As narrativas produzidas pela Padaria Espiritual estavam sempre permeadas pela vida
simples e bucólica. Num movimento contrário à Belle Époque, que se interpunha nos espaços
públicos do Brasil, alinhando os pensamentos e o modo de vida das elites nacionais aos
padrões europeus, os Padeiros eram críticos ferrenhos ao patriotismo republicano e à ordem
capitalista que se instaurou junto ao novo regime. Os membros da Padaria resistiam à
descaracterização dos costumes regionais e satirizavam os valores da nova burguesia, que
desprezavam os velhos hábitos e defendiam a ideia de modernização e progresso a partir da
valorização dos bens materiais e da negação da cultura popular, condenando as danças e
tradições populares, bem como o maracatu, os fandangos, cultos religiosos, curandeirismos,
dentre outros. A Padaria Espiritual se colocava, então, como "a inimiga mais terrível que
possuía a burguesia", como afirma Sabino Batista, sob nome de guerra "Sátiro Alegrete", no
poema que compôs para comemorar o primeiro ano do grêmio:
Padeiros! O calendário
Do tempo marca afinal
O primeiro aniversário
Da nossa mãe espiritual.
O grande indiferentismo
Dos ignaros banqueiros
Nunca causou prejuízo
A nenhum de nós, padeiros.
(...)
Segundo Gleudson Passos Cardoso (2006), para os Padeiros, impedir o avanço dessa
nova ordem começava na preservação dos costumes tradicionais, dos modos de vida no sertão
e da linguagem popular. Esta última, é uma preocupação do grupo desde sua implantação,
uma vez que o décimo quarto artigo de seu Programa de Instalação proibia o uso de palavras
estranhas à língua vernácula e condenava indignas de publicidade as peças literárias que
23
falassem de animais e plantas estranhos à fauna e flora brasileira. Para alguns críticos da
Literatura Brasileira, essas preocupações adiantam os ideais de nacionalismo e regionalismo
da Semana de 22 em São Paulo, antecedendo em trinta anos, um dos principais pensamentos
dos modernistas sulistas. Em 1895, na nona edição d’O Pão, o grêmio reitera sua diligência
com a linguagem utilizada pelos seus membros:
24
preocupações de seus amassadores com o cotidiano, abordando assuntos como as escolas e
bibliotecas públicas de Fortaleza.
O “pão do espírito”, como eram chamadas as produções fornecidas pelos Padeiros
“aos sócios em particular e aos povos em geral”, em alusão ao primeiro artigo do seu
Programa de Instalação era o “alimento da alma”.
Um diálogo publicado na primeira edição d’O Pão traz uma discussão acerca do preço do
periódico, que torna explícito o caráter “nutritivo” atribuído por seus autores àquelas
publicações, uma vez que o jornal era o “alimento”, “consumido” por aqueles que tinham
“fome” de conhecimento.
25
5 O BERRO DE EDNARDO: porque cantar parece com não morrer
José Ednardo Soares Costa Sousa nasceu em Fortaleza, em 1945, onde iniciou sua
carreira musical duas décadas depois. Filho do diretor do Ginásio Dom Bosco, cresceu em
meio aos livros da biblioteca do colégio, época em que entrou em contato com diversas obras
da literatura, desde as clássicas às populares. Cedo também, foi o seu contato com a música.
Aos seis anos, foi incentivado pela mãe a estudar piano clássico e, aos catorzes anos, teve
certeza de que queria fazer música. Nesse período, Ednardo já fazia os próprios arranjos no
piano, a partir das músicas que se popularizaram na rádio.
26
As primeiras apresentações musicais de Ednardo foram nos festivais que revelaram
grandes nomes da música popular cearense, como os cantores Belchior e Fagner. Em 1970,
com sua musicalidade mais profissional e consciente, Ednardo ganhou o II Festival
Nordestino, com a música “Beira Mar” que trazia imagens da cidade de Fortaleza, uma
característica que se tornaria recorrente em sua obra, a partir dali.
Na Beira Mar
Entre luzes que lhe escondem
Só sorrisos me respondem
Que eu me perco de você
Você nem viu
(Ednardo, 1970)
Inspirado nas conversas na universidade, nos bares e nos ideais de liberdade em meio
àquele contexto de repressão, as letras de Ednardo foram transpassadas pelo seu processo de
27
despertar político.
Em 1970, já morando em São Paulo, Ednardo ascende nos palcos sudestinos ao lado
de uma leva de cantores cearenses que saíram de suas terras ao mesmo tempo, em busca de
mais visibilidade no cenário musical em São Paulo e no Rio de Janeiro. Juntos, Ednardo,
Belchior, Fagner, Jorge Mello, Wilson Cirino, Amelinha, Rodger Rogério, Téti e outros
artistas fizeram parte de um grupo de efervescência cultural que ganhou destaque na televisão
e ficou conhecido como “O Pessoal do Ceará”.
Aldeia, Aldeota
Estou batendo na porta pra lhe aperriar
Pra lhe aperriar, pra lhe aperriar
Eu sou a nata do lixo, eu sou do luxo da aldeia
Eu sou do Ceará
Antes do lançamento do disco, Ednardo foi chamado à Polícia Federal para prestar
esclarecimentos sobre a letra de “Terral”. Os militares interpretaram a frase “braços, corpos
suados na praia fazendo amor” como uma apologia e incitação à sexualidade, ao que Ednardo
rebateu dizendo que “o ato de fazer amor é um ato natural; aliás, o senhor deve ter nascido de
um ato deste, com sua mamãe e o seu papai” (Ednardo, 2003 apud Castro, 2017, p. 39). Em
razão da censura, a letra foi modificada e o termo “fazendo” foi substituído por “falando”.
30
6 DO PÃO AO BERRO: A Padaria Espiritual na obra de Ednardo
Em 1976, Ednardo lançou “Berro”, seu segundo disco solo, produzido por Osmar Zan
e Marcelo Duran, pela gravadora RCA. Com arranjos dos músicos Roberto Aurélio, Brandão,
Crimélio e do próprio Ednardo, o LP contém onze faixas em que o artista mistura rock, rock
alternativo, frevo, baião, dentre outros estilos.
Em 1975, eu virei uma caldeira. Uma caldeira que você enche de lenha,
começa a botar fogo, e não tem válvula de escape. Fui acumulando as coisas,
sem poder botar fora. E isso é o tipo de coisa que pode funcionar muito
legal, mas também pode contribuir pra o aniquilamento do criador. Porque
você pensa mil coisas e não consegue extravasar. [...] Então, 75 foi um ano
de tentativas em várias áreas - o Festival da Globo, a RCA, tudo. Houve até
uma tentativa heroica de fazer shows no pau e pedra, transando microfones,
emendando, indo nas universidades, me oferecendo, acertando tudo,
arranjando os instrumentos, e fazendo os shows. Foi um murro
violentíssimo, isso tudo. Um murro que transparece muito no 'Berro'. Por
isso, inclusive, esse título. Porque ou você faz arte, ou é o gigolô da própria
arte. [...] 'Berro' é o resultado disso tudo; é meu grito, minha raiva. Como é
que você quer que a gente seja terno, passando um ano fazendo show
emendando fiozinho? Minha música é meu momento (O Globo, 1976).
Agora, tem gente que me acusa de ‘nostalgia’ aguda, sempre que falo do
Ceará. Não é. Quando a gente mora no Nordeste é bombardeado o tempo
todo com o Rio e São Paulo, com as coisas do ‘sul-maravilha’. [...] Mas eu
acho que para se universalizar a gente não tem que romper com as próprias
raízes. Tem é que aprofundar. Tanto faz falar na fome do Nordeste, como na
de Bangladesh. Então, por que não falar das coisas de lá, pelo amor de Deus?
Eu acho que se eu sou de lá, e agora estou aqui, tenho é que aproveitar as
duas coisas e fazer a síntese [...] Por isso, no 'Berro', eu procuro, inclusive,
cantar coisas importantes de lá, que nem chegaram muito aqui (O Globo,
1976).
A seguir, partindo dos conceitos de relações intertextuais de copresença, explícitas e
implícitas, já discutidas anteriormente, analisaremos a letra da, já citada música, “Artigo 26” e
31
as evocações, feitas pelo cantor, às características que marcaram o grêmio cearense.
Artigo 26
( 01 ) Olha o padeiro entregando o pão
( 02 ) De casa em casa entregando o pão
( 03 ) Menos naquela, aquela, aquela, aquela não
( 04 ) Pois quem se arrisca a cair no alçapão?
( 05 ) Pois quem se arrisca a cair no alçapão?
32
( 27 ) Nê pa dê qua, nê pa dê qua, padê burrê
( 28 ) Igualitê, fraternitê e libertê
( 29 ) Merci bocu, merci bocu
( 30 ) Não há de que
“Artigo 26” é a segunda faixa do disco “Berro”, nela, Ednardo traz à luz a Padaria
Espiritual, movimento, que, nas palavras do cantor, era “um negócio danadíssimo, muito
sério, que atingia principalmente a área cultural, na transição entre Brasil Império e Brasil
República” (O Globo, 1976). Em um contexto de repressão, ditadura e censura, o cantor
retoma, através de manifestações intertextuais, símbolos de resistência e regionalidade,
ressignificando-os em seu próprio discurso. Começaremos nossa análise pelos elementos
explícitos de intertextualidade.
Nos versos 13, 14 e 15, encontramos mais uma referência aos membros da padaria,
33
bem como de sua função. “Um olho vivo, vivo, vivo, vivo, a procurar/ mais uma ideia pro
padeiro amassar/ mais uma ideia pro padeiro amassar”. O “olho vivo” refere-se ao Olho da
Providência, o membro da Padaria que ficava responsável por observar as movimentações e
acontecimentos citadinos e levar, às Fornadas, novos assuntos para serem debatidos e
amassados entre os Padeiros. No Programa de Instalação da Padaria Espiritual, o Olho da
Providência é descrito como “um Investigador das Coisas e das Gentes” (Azevedo, 2011, p.
19).
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo
menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será
obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem
como a instrução superior, está baseada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser
humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais
ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da
manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que
será ministrada a seus filhos (Organização das Nações Humanas, 1948).
a presença da língua francesa no texto não ocorre por acaso. É uma marca de
heterogeneidade mostrada, marcada na superfície linguística. Constitui-se,
pois, como um dos elementos fundamentais no processo de significação,
34
trazendo para a cena enunciativa um dos principais elementos da cultura de
um povo que é a sua língua. [...] Ela é ressignificada a partir dos elementos
da cultura popular do Ceará. A própria utilização da língua francesa com
sotaque brasileiro/cearense aponta para o efeito de pastiche, de brincadeira.
Na letra de Ednardo, “Il n’y a pas de quoi Pas de bourré/ Egalité, fraternité et liberté/
Merci beaucoup”, se transforma em “Nê pa dê qua, padê burrê/ Igualitê, fraternitê e libertê/
Merci bocu”. Diante disso, atentamos ao verso 08, da letra (“Igualitê, fraternitê e libertê”).
Nele, o compositor nos introduz a mais uma referência ao movimento revolucionário da
burguesia francesa, dessa vez ao seu lema “Egalité, fraternité et liberté”, que ecoou pelo
mundo, espalhando a ideologia dos revolucionários.
A primeira encontra-se no verso 11, “Rua formosa, moça bela a passear”, nele, o autor
faz alusão à rua em que se localizaram as sedes do grêmio. Em Azevedo (2011), a sessão
inaugural da Padaria já aconteceu em seu primeiro prédio, na Rua Formosa, nº 105 (hoje,
Barão do Rio Branco). Mobiliada somente com uma mesa de pinho, um armário e cadeiras, a
primeira sede do grêmio ficava nas dependências de antigo armazém do comerciante José
Bruno Menescal. Ainda na primeira fase da Padaria, as fornadas passaram a acontecer no nº
106, depois mudaram-se para o nº 11, antes de decidirem realizar as sessões nas casas dos
próprios gremistas.
36
na boca é o que te cura”. Nestes versos, Ednardo alude ao discurso da Padaria Espiritual, cujo
fim era distribuir o pão do espírito, necessário àqueles que têm fome de conhecimento, sendo
assim, O Pão é essencial à coletividade. Em 1982, na primeira edição do jornal, Álvaro
Martins, sob pseudônimo de Polycarpo Estouro, publicou um poema que expressa essa
necessidade d’O Pão para a sociedade:
37
Ao nosso grande ideal;
Que no fim desta campanha,
Pudemos, a vosso lado,
Vos mostrar o resultado
Da massa... espiritual!
(O PÃO, 1892, p. 02).
38
7 CONCLUSÃO
A partir dessas noções, a pesquisa nos permitiu perceber a influência dos textos da
Padaria Espiritual na canção “Artigo 26” de Ednardo, principalmente do seu Programa de
Instalação, lido por Antônio Sales, em 1892, na ocasião da criação do grêmio. Os principais
preceitos da Padaria serviram de inspiração para o cantor cearense, que construiu a sua letra a
partir de referências e alusões à produção do grêmio.
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REFERÊNCIAS
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(4:24).
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CE: Museu do Ceará, 2006.
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2013. E-book. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/49991. Acesso em: 31
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(Coletânea Terra Bárbara). ISBN: 978-85-7529-813-8. Disponível em:
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