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A questão "cor" ou "raça" nos censos nacionais

Article · January 2013

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Gabriele dos Anjos


Foundation of Economics and Statistics Siegfried Emanuel Heuser
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A questão “cor” ou “raça” nos censos nacionais

Gabriele dos Anjos Historiadora e Doutora em Sociologia, Pesquisadora da


Fundação de Economia e Estatística

Resumo
Este texto apresenta uma análise de como a questão “cor/raça” nos
censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está
ligada aos referenciais ideológicos das políticas públicas. As formas pelas
quais o IBGE levanta e trata essa informação variam ao longo do tempo e
dependem das estruturas de oportunidades políticas e das concepções
de “sociedade” e “nação” presentes das instituições estatais. São consi-
deradas as discussões sobre a existência da questão nos levantamentos
censitários, analisa-se como o quesito tem sido pesquisado ao longo do
tempo e sugere-se uma periodização para seus usos. Tendo analisado
como esse indicador está relacionado às configurações políticas de cada
período, considera-se como o IBGE incorpora as novas demandas de
informação racial e a dinâmica da produção da informação sobre cor ou
raça pelo IBGE.

Palavras-chave: IBGE; cor ou raça; políticas públicas.

Abstract
This paper presents an analysis of how survey about color/race in the
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE’s Censuses is
attached to ideologies that guide the public policies’ formulation. The way
IBGE gathers and treats that information varies along time and depends
on political opportunity structures and also on state representations about
Brazilian “society” and “nation”. The paper includes discussions about the
existence of color/race questions in census taking. It presents how the
question has been surveyed throughout the time, and it is suggested a
periodization for its uses. It is analized how the indicator is related to
political configuration in each period, and is considered how IBGE
incorporates new demands on racial information and also the production
of color/race information dinamics.

Key words: IBGE; color/race; public policies.

*
Artigo recebido em 12 abr. 2013.
Revisor de Língua Portuguesa: Breno Camargo Serafini.
**
E-mail: gabriele@fee.tche.br
Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 41, n. 1, p. 103-118, 2013
104 Gabriele dos Anjos

se ter uma ideia das possibilidades de uso científico ou


Introdução técnico da informação sobre cor como um “indicador
social” válido, é necessário romper com uma posição
Este texto apresenta uma análise de como a de naturalização do social e negação da política, cor-
questão “cor ou raça”, nos levantamentos censitários respondentes a um uso acrítico do “indicador” e voltar-
nacionais realizados pelo Instituto Brasileiro de Geo- se para sua história, para as condições de sua per-
grafia e Estatística (IBGE), está ligada aos referenciais manência nos levantamentos estatísticos nacionais e
ideológicos que orientam a formulação de políticas pú- das mudanças em sua concepção, captura e usos so-
1
blicas . Essa análise é feita a partir de diferentes fon- ciais.
tes empíricas: além dos resultados dos levantamentos Este texto está estruturado da seguinte forma: em
censitários e de outras pesquisas do IBGE, são consi- primeiro lugar, são brevemente apresentadas as dis-
derados manuais de instrução aos entrevistadores e os cussões e tomadas de posição em torno da questão
questionários de coleta de informação. É também cor ou raça nos levantamentos censitários. Em segun-
analisada a bibliografia sobre a coleta de informação do, é analisado como o “quesito cor” tem sido pesqui-
sobre cor/raça e seus resultados, o que inclui a própria sado ao longo do tempo pelo IBGE, sugerindo-se uma
produção do IBGE sobre o assunto. periodização correspondente a cada configuração de
Considera-se que as formas pelas quais o IBGE uso social e político do indicador. Os dois itens seguin-
captura e trata a informação sobre cor ou raça variam tes apresentam a análise de como a informação sobre
ao longo do tempo. Essa variação corresponde à ab- cor está relacionada às conjunturas políticas de cada
sorção pelo IBGE das demandas de informação dos período e de como forças sociais concorreram para
agentes sociais em diferentes estruturas de oportu- continuidade ou mudanças na concepção e uso do
nidades políticas. Corresponde também a concepções indicador. No último item, é apresentada a análise de
de “sociedade” e “nação” brasileiras disseminadas pelo como o IBGE absorve e incorpora as novas demandas
aparato estatal e partilhadas pelos responsáveis pelo de informação racial no início do século XXI. Por fim,
Censo. Desde o início do século XXI, configura-se uma são apresentadas algumas considerações sobre a di-
conjuntura em que as definições que orientam a coleta nâmica da produção da informação sobre cor ou raça
da informação sobre cor nos levantamentos estatís- pelo Instituto.
ticos circunscrevem um grupo social — os “negros”,
mas também os “indígenas” ou outros — que é objeto
de formulação e implementação de políticas públicas.
O Estatuto da Igualdade Racial (Brasil, 2010, p. 3) de-
1 As categorias raciais do
fine como “população negra” “[...] o conjunto de pes-
soas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o
Censo e seus problemas
quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto 2
As categorias cor ou raça do IBGE — “branca”,
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que
“parda”, “preta”, “amarela” e “indígena” — são questio-
adotam auto-definição análoga”. Dotando a coleta de
nadas por diferentes consumidores de estatísticas ra-
informações sobre cor ou raça de um novo sentido
ciais. Esse questionamento diz respeito principalmente
enquanto política de informação, esse uso das defini-
à tríade de categorias branca-parda-preta, e é sobre
ções do IBGE no planejamento de policies surge sob
elas que a análise está centrada. Para os militantes do
condições específicas e está relacionado a mudanças
movimento negro, o que se questiona é a existência de
na captura da informação estatística implementadas
uma categoria intermediária entre “branca” e “preta”,
por esse instituto.
que abre aos respondentes a possibilidade de declara-
A análise das mudanças de orientação quanto à
ção de uma cor mais clara ou “branqueamento” nas
captura e tratamento da informação mostra que o “in-
respostas (Marx, 1998, p. 163). Ela promoveria uma
dicador social” cor não é um “dado da realidade” que
negação da “negritude” e dificultaria a criação de uma
basta ser registrado e “lido” em suas variações. Antes,
identidade comum entre os “não brancos” (Loveman;
o formato desse indicador é dependente das condições
sociais e políticas de sua produção. Dessa forma, para
2
Este texto toma as noções de “cor” ou “raça” tais como definidas
1
A autora agradece a Isabel Rückert, Mercedes Rabelo, Mauro pelos agentes sociais em pauta. No caso, os termos “raça” e
Braz dos Santos e Thiago Andreis, bem como aos pareceristas “cor” parecem ter sentidos intercambiáveis; no entanto, seus
anônimos, pelos valiosos comentários e sugestões ao texto. usos merecem um estudo à parte, pois a ênfase na “cor” pode
Eventuais imprecisões e omissões, se bem que indesejadas, são denotar uma negação da diferenciação racial (ver Camargo,
de inteira responsabilidade da autora. 2010, p. 245).
Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 41, n. 1, p. 103-118, 2013
A questão sobre “cor” ou “raça” nos Censos nacionais 105

Muniz; Bailey, 2011, p. 4; Marx, 1998, p. 254; Mu-


nanga, 2008; Skidmore, 1992a, p. 13).
2 A classificação racial do
Para os cientistas sociais, a tríade é questionada
por (a) impedir a observação e o estudo das desigual-
IBGE e as formas de
dades entre brancos e não brancos (Wood; Carvalho; captura da informação
Horta, 2010, p. 123); e (b) estar ligada a uma interpre-
tação das relações raciais brasileiras segundo a qual o As respostas a uma questão não codificada da
mulato ocuparia uma posição social intermediária que Pesquisa das Concepções Étnico Raciais da Popula-
mitigaria as diferenças entre brancos e pretos (Bailey; ção (PCERP), realizada em 2008 pelo IBGE, em al-
Loveman; Muniz, 2013; Marx, 1998, p. 67; Skidmore, guns estados brasileiros (IBGE, 2011), mostram que,
2001, p. 65). Além disso, os próprios termos usados ao não se codificar a pergunta sobre cor ou raça do
para classificação são criticados por alguns autores, indivíduo, obtém-se uma distribuição da população em
por (c) não condizerem com as categorias utilizadas 14 categorias raciais, não necessariamente ligadas à
pela população (Bailey; Telles, 2002, p. 3; Loveman; “cor” (Tabelas 1 e 2).
Muniz; Bailey, 2011, p. 3). Enquanto a categoria “par- Ao se compararem os dados da Tabela 1 com os
da” captura todos os que não se enquadram nas ou- do Censo de 2010, circunscritos segundo a mesma de-
tras categorias, e abarca todas as categorias mistas e limitação da PCERP, presentes na Tabela 2, obser-
intermediárias, ela não seria usada pela maior parte da vam-se grandes diferenças na distribuição segundo
população, que parece preferir a categoria “morena”, cores ou raças. Principalmente os “pretos” apresentam
apenas parcialmente ligada à miscigenação (Bailey; uma proporção significativamente menor na autoclassi-
Telles, 2002, p. 6-7; Loveman; Muniz; Bailey, 2011, p. ficação não codificada: são 1,4% da população total
4; Telles, 2011, p. 13). nessa classificação e, na autoclassificação precodifi-
Além disso, são também consideradas (d) as pos- cada do Censo, são 6,0% do total dos estados selecio-
sibilidades de reclassificação a partir de diferentes cri- nados. Os “pardos”, na primeira classificação, são
térios de identificação racial (Bailey; Loveman; Muniz, 13,6% e, na segunda, 30,0% — uma diferença de cer-
2013, p. 110; Muniz, 2012, p. 255); e (e) seus efeitos ca de 16,4 p.p. Os brancos, por sua vez, apresentam
na caracterização que os cientistas sociais fazem da uma proporção menor na pesquisa não codificada: são
dinâmica racial brasileira, especialmente das relações 49% na pesquisa de 2008 e 62,3% no total dos esta-
entre raça e desigualdade social. Bailey, Loveman e dos selecionados do Censo de 2010.
Muniz (2013) observam que a magnitude das desi- A comparação entre essas duas pesquisas mos-
gualdades de renda de acordo com as divisões raciais tra que o formato de pesquisa com as classificações
varia de acordo com o esquema racial utilizado pelos tradicionais é apenas um dentre possíveis. Mas, além
cientistas sociais. Assim, pode-se demonstrar com in- disso, a aparente uniformidade da classificação censi-
formações estatísticas a pertinência de uma divisão bi- tária para cor ou raça, observável nos censos, ao lon-
nária entre brancos e não brancos no estudo da go do tempo, encobre diferenças nas definições de al-
desigualdade social (Wood; Carvalho; Horta, 2010). gumas de suas categorias. Assim, antes de tudo, é
Mas também se pode demonstrar com o mesmo tipo preciso conhecer como o “quesito cor” teve suas cate-
de informação que as desigualdades raciais contri- gorias definidas e foi coletado ao longo do tempo pelo
buem muito pouco para o quadro da desigualdade so- IBGE. Observe-se o quadro sinóptico (Quadro 1):
cial, que é comum às diferentes divisões raciais, e que, Note-se, em primeiro lugar, que, enquanto as ca-
dentro de cada categoria racial, existem diferenças so- tegorias “branca” e “preta” sempre constaram nos le-
ciais significativas (Loveman; Muniz; Bailey, 2011, p. vantamentos estatísticos nacionais sem definições,
15). desde o primeiro censo nacional, assim como a “ama-
Esses questionamentos e tomadas de posição in- rela” — única que evoca claramente “origem” em sua
dicam uma intensa demanda por informação estatística definição —, as categorias “parda”, “mestiça”, “cabo-
válida, que cresce com o aumento dos recursos técni- cla”, “indígena” tiveram intersecções, inclusões, exclu-
cos para a realização das pesquisas censitárias e do- sões e substituições ao longo do tempo. Nos censos
miciliares. No entanto, há que se considerar também de 1950 e 1980, a categoria “parda” englobava “indíge-
os usos governamentais da variável cor ou raça, deter- nas”, e, em 1960, somente “indígenas” fora dos aldea-
minantes na permanência dessa informação nos levan- mentos. A categoria “cabocla”, que, em 1872, com-
tamentos nacionais. preendia os indígenas, seria, nos censos seguintes,
subsumida na categoria “parda”. Da mesma forma, a

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categoria “mestiça” foi subsumida na categoria “parda”. qualquer designação diferente das categorias “branca”
4
Mas, em 1890, substituía a “parda” de 1872, incluindo e “preta”, como no Censo de 1980 e “branca, preta,
5
somente os filhos de “pretos” e “brancos”, excluindo amarela e indígena”, como no censo de 1991 .
outros casos de miscigenação (Camargo, 2010, p. Foi somente no Censo de 2010 que as decla-
235). rações deixaram de ser traduzidas e passaram a ser
As diferentes definições de algumas categorias le- enquadradas. Nesse censo, os respondentes foram
varam a questionar a validade de análises das varia- obrigados a escolher dentre as cinco categorias ofere-
ções ao longo do tempo dos contingentes populacio- cidas, só se aceitando respostas iguais às categorias
6
nais segundo a cor (Camargo, 2010, p. 248). Interna- estabelecidas. Nesse levantamento, consolidou-se
mente ao IBGE, essa dificuldade de encontrar uma uma função clara da informação sobre raça e etnia na
correspondência “efetiva” entre a declaração de cor e a definição de políticas públicas. O levantamento desse
cor “verdadeira” (vale dizer: na ausência de um critério quesito corresponde definitivamente às necessidades
único disseminado entre a população e sancionado de informação das instituições voltadas à definição de
pelo estado) justificou a supressão do quesito “cor” em políticas para grupos étnica ou racialmente definidos.
dois censos, o de 1920 (Camargo, 2010, p. 238; Love- A operação de enquadramento das respostas às
man, 2009, p. 460) e o de 1970 (Costa, 1974; IBGE, categorias precodificadas no censo parece correspon-
1970, p. 3). Também justificou que, no Censo de 1940, der a um esforço de fixação das mesmas junto à
houvesse a instrução de preenchimento do quesito população — e, por seu caráter pervasivo, o censo
“cor” com um traço (“-”)para as categorias diferentes parece ser um dos poucos mecanismos de fixação das
de “branca”, “preta” e “amarela”, tratadas como “parda” classificações raciais em escala nacional — ao mesmo
na análise (Camargo, 2010). tempo em que se toma como garantido que essas ca-
Em segundo lugar, é preciso considerar as formas tegorias encontram correspondência com as existentes
de coleta e como elas capturaram a produção e a e disseminadas no território nacional. Às instituições
oferta de classificações raciais existentes no Brasil. A estatais interessa não só conhecer e absorver um
não institucionalização do racismo no Brasil, que grande número de designações à miscigenação, que
implicou a inexistência de barreiras oficiais de acesso também são objeto de pesquisas. Interessa fundamen-
a recursos a determinadas “raças” (Marx, 1998) pode talmente impor um termo que, na comunicação entre
ser relacionada à aceitação pelas instituições de os informantes e o IBGE, suplante qualquer outro. Inte-
estatística nacional das respostas dos entrevistados ressa, finalmente, disseminar junto à população uma
3
aos questionamentos sobre “cor” . Isso tanto nos designação que encontre correspondência nas políti-
censos realizados até 1950, cujos formulários podiam cas públicas.
ser preenchidos por “chefes de família” ou “indivíduos”, Se essa forma de captura da informação está li-
ou pelos recenseadores, quanto, a partir de 1960, gada a uma conjuntura político-institucional específica,
quando se baseou em declarações prestadas a uma o caráter contingente dessas definições e formas de
questão precodificada, em questionários preenchidos apreensão das respostas aponta para as dificuldades
pelo recenseador (IBGE, [1960a], p. 28; IBGE, 1950a, em capturar e analisar a informação racial em um país
p. 5; IBGE, 1940a, p. 4; IBGE, [1960a], p. 7; Instruc- com uma miríade de classificações raciais. No entanto,
ções..., 1890, p. 5). essas dificuldades também são fruto das formas pelas
Nos censos de 1960 a 2000, o que se tem é a quais as burocracias estatais concebem a relação
tradução, para as categorias do Censo, orientada nos entre raça e nacionalidade brasileira. Além disso, é
manuais do recenseador, das designações raciais usa-
das pelos entrevistados. Enquanto as categorias “bran-
4
ca” e “preta” parecem ser automaticamente tomadas A orientação ao entrevistador é a seguinte: “[...] considerar [...]
Parda, para as [cores] diferentes de branca, preta e amarela, tais
como dadas, pois, nos manuais do entrevistador, nada
como: mulata, mestiça, índia, etc.” (IBGE, 1980, p. 1).
é dito sobre elas, a categoria “parda” inclui a maior 5
“Será assinalado o retângulo Parda para as declarações diferen-
diversidade de designações possíveis: “mulato”, tes de branca, preta, amarela ou indígena, tais como mulata,
“caboclo”, “cafuzo”, “mameluco”, “mestiço”. Também é mestiça, cabocla, cafuza, mameluca, etc.” (IBGE, 1990, p. 60).
aberta a possibilidade de que essa categoria inclua 6
As instruções para a coleta são as seguintes: “Leia as opções de
cor ou raça para a pessoa e registre aquela que for declarada.
Caso a declaração não corresponda a uma das alternativas
3
Embora se saiba que, nas situações em que o entrevistado está enunciadas no quesito, releia as opções para que a pessoa se
impossibilitado de responder, outra pessoa do domicílio pode classifique na que julgar mais adequada”. Dessa forma, a
fazê-lo em seu lugar (Osório, 2003, p. 12), está-se levando em categoria “parda” tem uma definição tautológica, como “pessoa
conta as instruções do Instituto para a coleta de informação. que se declarar parda” (IBGE, 2010, p. 192).
Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 41, n. 1, p. 103-118, 2013
A questão sobre “cor” ou “raça” nos Censos nacionais 107

preciso considerar que as informações oficiais sobre man, 1999, p. 913), além das suas concepções de na-
raça servem a propósitos políticos e sociais que variam ção (Loveman, 2009; Marx, 1998; Skidmore, 1992a).
ao longo do tempo (Nobles, 2000, p. 1738). Assim, é No entanto, existe um momento de mudança, quando
pertinente considerar como esses usos sociais e políti- diferentes agentes passam a influenciar as orientações
cos da informação racial influíram e influem nas defini- a partir das quais eram levantadas as informações
ções das categorias raciais oficiais e em suas formas sobre raça. Assim, é possível considerar dois grandes
7
de coleta. períodos para a República . Um primeiro período
Melissa Nobles propõe uma periodização para a abrange seis censos (de 1890 até 1970), em que uma
história da categoria “cor” nos censos. Em um primeiro determinada concepção das elites estatais quanto ao
período (1872-1910), o censo refletiu as concepções lugar das raças na nação dominaram a coleta, as
populares e das elites sobre a composição racial bra- análises e os usos da informação censitária. No se-
sileira. Em um segundo período (1920-50), promoveu e gundo período, que abrange quatro censos (de 1980
reportou o branqueamento da população nacional, e, até 2010), as concepções dominantes sobre a compo-
de 1960 a 2000, o censo passou a ter as categorias sição racial brasileira foram questionadas por diferen-
raciais questionadas dentro do IBGE e por grupos da tes grupos sociais que até então não participavam do
sociedade civil (Nobles, 2000, p. 1743). Embora se planejamento estatal. Esses grupos passaram a de-
concorde com a descrição dos processos presentes na mandar outro formato das informações estatísticas,
periodização de Nobles, propõe-se que se considere mais adequado ao que queriam demonstrar sobre a
outra periodização. Em todos os censos, está em composição racial no Brasil. Essas demandas foram
pauta a visão das elites políticas e intelectuais (dos progressivamente assumidas pelo IBGE, e são resulta-
quais os responsáveis e formuladores do censo são do disso as mudanças nas formas de captura da infor-
parte) quanto à composição racial nacional e, em mação sobre raça no último censo.
particular, sobre a miscigenação racial no Brasil (Love-

Tabela 1
Pessoas de 15 anos ou mais de idade, total e distribuição percentual por cor ou raça, nas 14 categorias mais frequentes,
segundo unidades da Federação, no Brasil — 2008

PESSOAS DE 15 ANOS OU MAIS DE IDADE


UNIDADES DA
Total Distribuição Percentual por Cor ou Raça nas 14 Categorias Mais Frequentes
FEDERAÇÃO E TOTAL
(1) Branca Parda Preta Indígena Amarela Morena Morena clara
Total ................................. 47.540.099 49,0 13,6 1,4 0,4 1,5 18,7 3,0
Amazonas ........................ 2.158.153 16,2 23,3 1,7 1,5 1,6 40,5 8,6
Paraíba ............................. 2.755.674 31,9 10,9 0,7 0,4 0,8 37,6 8,1
São Paulo ......................... 30.616.595 51,4 14,5 1,3 0,2 1,9 17,0 2,1
Rio Grande do Sul ............ 8.110.801 63,5 3,8 1,6 1,1 0,4 10,5 1,9
Mato Grosso ..................... 2.113.582 30,4 18,6 2,0 0,2 1,0 29,4 6,1
Distrito Federal ................. 1.785.294 29,5 29,5 0,7 - 1,0 16,3 4,8
PESSOAS DE 15 ANOS OU MAIS DE IDADE
UNIDADES DA
Total Distribuição Percentual por Cor ou Raça nas 14 Categorias Mais Frequentes
FEDERAÇÃO E TOTAL
(1) Negra Mulata Mestiça Alemã Clara Italiana Brasileira Outras
Total ................................ 47.540.099 7,8 0,6 0,6 0,5 0,4 0,4 0,8 1,4
Amazonas ......................... 2.158.153 3,6 0,4 0,2 - 1,2 - 0,1 1,0
Paraíba ............................ 2.755.674 4,3 1,3 1,2 - 0,6 - - 2,2
São Paulo ........................ 30.616.595 8,9 0,4 0,4 - 0,3 0,1 0,4 1,1
Rio Grande do Sul ........... 8.110.801 5,0 0,5 1,3 3,0 0,7 2,0 2,9 1,9
Mato Grosso ..................... 2.113.582 9,7 0,3 - 0,1 0,3 0,0 0,2 1,4
Distrito Federal ................. 1.785.294 10,9 2,8 1,9 - 0,2 - - 2,4
FONTE: IBGE (2011).
NOTA: Cor ou raça declarada de forma espontânea.
(1) Exclusive sem declaração.
7

7
No censo de 1872, realizado no período imperial, o levantamen- complementar em relação ao quesito sobre condição livre ou
to sobre cor estava orientado por preocupações quanto à conta- escrava (Camargo, 2010, p. 228; Loveman, 2009. p. 442, Marx,
gem e identificação da população escrava, e era secundário, ou 1998, p. 73).
Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 41, n. 1, p. 103-118, 2013
108 Gabriele dos Anjos

Tabela 2

Pessoas de 15 anos ou mais de idade, por cor ou raça, nas unidades da Federação selecionadas, no Brasil — 2010

UNIDADES DA FEDERAÇÃO COR OU RAÇA (%)


PESSOAS
E TOTAL Branca Parda Preta Indígena Amarela
Total ............................................ 50.224.479 62,3 30,0 6,0 0,4 1,3
Amazonas .................................... 2.327.972 21,5 68,7 4,7 4,1 1,0
Paraíba ........................................ 2.813.647 39,2 52,8 6,2 0,5 1,3
São Paulo .................................... 32.401.281 64,5 28,0 5,9 0,1 1,5
Rio Grande do Sul ...................... 8.464.425 84,0 9,8 5,6 0,3 0,3
Mato Grosso ............................... 2.255.487 37,9 51,4 8,4 1,0 1,2
Distrito Federal ........................... 1.961.667 42,4 47,2 8,4 0,3 1,7
FONTE: Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2013).
NOTA: Dados do universo; exclusive sem declaração.

Quadro 1

Classificações raciais utilizadas nos censos nacionais no Brasil — 1872-2010

CATEGO-
RIAS DE 1872 1890 (raça) 1920 (1) 1940 1950 1960
COR/RAÇA
Presente, também entendido
Branca Presente como resultado de - Presente Presente Presente
mestiçagem
Presente,
Presente, apenas para
combinado à
Preta africanos ou nascidos no - Presente Presente Presente
condição de
Brasil por uniões endogâmicas
livre/escravo
Presente, designando
Presente, designando os
“mulato, caboclo, cafuzo,
que se declararam
Parda Idem Ausente - (2) etc.” e indígenas vivendo
índios, mulatos,
fora dos aldeamentos
caboclos, cafuzos
indígenas
Designa população originada
da mistura de “pretos” com os
contingentes migratórios
Mestiça Ausente - (2) Ausente Ausente
“brancos”. Não abrange
pretos+caboclos nem
pretos+mestiços

Presente, Ausente Ausente


Caboclo compreende Ausente - (2) Subsumido na categoria Subsumido na categoria
os indígenas “pardo” “pardo”

Amarela Ausente Ausente - Presente Presente Presente


Presente, designando
Ausente
apenas “indígenas
Indígena Ausente Ausente - Ausente Subsumido na categoria
vivendo em aldeamentos
“pardo”
ou postos indígenas”
(continua)

Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 41, n. 1, p. 103-118, 2013


A questão sobre “cor” ou “raça” nos Censos nacionais 109

Quadro 1

Classificações raciais utilizadas nos censos nacionais no Brasil — 1872-2010

CATEGO-
RIAS DE 1970 (1) 1980 (3) 1991(3) 2000 (3) 2010
COR/RAÇA
Branca - Presente Presente Presente Presente
Preta - Presente Presente Presente Presente
- Presente “declarações diferentes
Presente “para as diferentes Presente “pessoa que se
de branca, preta amarela ou
de branca, preta e amarela, enquadrar como parda ou se
Parda indígena, tais como mulata, Presente
tais como mulata, mestiça, declarar mulata, cabocla,
mestiça, cabocla, cafuza,
índia, etc.” cafuza, mameluca ou mestiça”
mameluca, etc.”
- Ausente Ausente
Ausente
Mestiça Subsumido na categoria Subsumido na categoria Ausente
Subsumido na categoria “pardo”.
“pardo”. “pardo”.
-
Ausente
Ausente
Caboclo Ausente Subsumido na categoria Ausente
Subsumido na categoria “pardo”.
“pardo”.
- Presente “só para pessoa de Presente “de origem japonesa,
Amarela Presente Presente
raça amarela” chinesa, coreana, etc.”
- Ausente Presente, “para os que vivem Presente (com
Presente “dentro e fora do
Indígena Subsumido na categoria em aldeamento, como as que questões
aldeamento”
“pardo” vivem fora de aldeamento especificas)
FONTE: IBGE (1940a, 1950a, 1960a, 1980, 1990, 2000, 2010).
FONTE: “Instrucções...”, (1890).
FONTE: “Recenseamento...”, (1872).
FONTE: Camargo, (2010).
(1) Não houve investigação do quesito “cor” neste Censo. (2) Todas as categorias declaradas designando mestiçagem foram subsumidas com um traço horizontal (“-” )
na coleta (Camargo, 2010).(3) Quesito pesquisado apenas para a amostra.

retrocesso e à degeneração (Loveman, 1999, p. 914).


3 O primeiro período (Censo A própria Diretoria Geral de Estatística, em 1872,
de 1890 ao de 1970): propunha o estabelecimento de uma política educacio-
nal como solução para esse problema (Camargo,
nação, miscigenação e 2010, p. 228; Loveman, 2009, p. 443). No entanto, o
que se impõe a essas elites é a ideia de que o Brasil
categorias censitárias se civilizaria pelo “branqueamento” de sua população
(Andrews, 1996, p. 485; Loveman, 2009). Essa con-
Nos censos realizados durante o período republi- cepção propunha que a população brasileira iria se tor-
cano até o de 1970, o quesito cor estava, implícita ou nando progressivamente branca pela mistura entre as
explicitamente, conectado ao “problema” da miscige- raças, contribuindo para isso tanto o decréscimo “natu-
nação racial. Essa problemática ocupou as elites inte- ral” da população negra — por conta de uma taxa de
lectuais e políticas brasileiras e, de forma geral, as eli- natalidade mais baixa, doenças e desorganização so-
tes de países com escravidão ou conflito interétnico no cial, ou seja, pela ausência de políticas de mitigação
momento em que a condição livre ou escravo deixa de das péssimas condições de vida de ex-escravos e
ser a principal distinção social (Loveman, 2009, p. 442; seus descendentes — quanto a imigração de europeus
Marx, 1998, p. 73). Entre o final do século XIX e o pri- ao Brasil (Camargo, 2010, p. 231-232; Loveman, 2009,
meiro quarto do século XX, define-se um pensamento p. 466; Skidmore, 1976, p. 81).
sobre as populações de ascendência africana e sua in- As estatísticas oficiais foram usadas para de-
serção na “nação”. Para as elites nacionais, ou “aque- monstrar esse processo. Muito embora o quesito racial
les em condições de fazer política social”, tratava-se nos censos tenha sido, em vários momentos, questio-
das possibilidades de o Brasil tornar-se mais uma das nado por membros do IBGE a partir de argumentos
nações civilizadas e em progresso, mas com um técnicos — e justamente esse, da imprecisão das cate-
grande contingente populacional inculto e miscige- gorias raciais, e da possibilidade de declarações “inve-
nado, o que, na visão europeia, condenava o Brasil ao
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110 Gabriele dos Anjos

rídicas” sobre a “raça” do informante —, nas publica- cracia racial”, dominante entre as elites culturais e polí-
ções do Instituto “raça” é central para a imagem de na- ticas de então e ainda disseminada na população bra-
ção brasileira, é parte do trabalho de “[...] não apenas sileira (Skidmore, 1992a, p. 12; Skidmore, 2001, p. 65;
descrever a realidade, mas de modelar o auto-entendi- Winant, 1992, p. 179), ao contrário de outras concep-
mento nacional” (Loveman, 2009, p. 439). Assim, mes- ções racistas, confere um caráter positivo à presença
mo no Censo de 1920, no qual o quesito racial não foi de “raças” não brancas na composição social da na-
pesquisado, em seu texto de introdução é assinalado ção. Uma série de políticas de estado estava ligada a
que o Brasil atingiria a pureza étnica através da misci- essa concepção: o fim do apoio à imigração europeia
genação e da imigração europeia (Andrews, 1996, p. durante o Estado Novo, o incentivo às expressões
486; Loveman, 2009, p. 463; Skidmore, 1976, p. 220- culturais, como o samba e o candomblé, por Vargas
221), usando-se os dados dos censos anteriores para (Marx, 1998, p. 170-171), tomados como componentes
corroborar essa afirmação. Essa afirmação do bran- de uma cultura “brasileira” mais abrangente (Marx,
queamento repete-se na introdução do Censo de 1940 1998, p. 257).
(Skidmore, 1976, p. 228). Assim, o censo, uma publi- A própria ausência do quesito cor no Censo de
cação garantida pelo estado, endossava uma visão de 1970 pode ser relacionada à importância da ideia de
sociedade e nação peculiarmente racista como “cientí- harmonia racial nas concepções dominantes de nação
fica” (Loveman, 2009, p. 463). e de unidade nacional do período, que foram reforça-
Além disso, tanto a autodeclaração como a exis- das durante o regime militar (Loveman, 2009 — sobre
tência de uma categoria intermediária entre “preto” e o Censo de 1920; Skidmore, 1992a, p. 10). Quando se
“branco” parecem ter contribuído para a afirmação do lê o documento que condensa as discussões internas
branqueamento. Isto porque, se os responsáveis pelo do IBGE sobre a permanência do “quesito cor” nesse
planejamento censitário queixavam-se da reserva de levantamento censitário (IBGE, 1970), vê-se que,
parte da população em declarar-se mestiça (Camargo, nelas, é observada a “[...] impossibilidade de fixação
2010, p. 235), foi justamente a categoria intermediária de conceitos válidos que tornem mais uniformes as
“parda”, que possibilitava a declaração de mestiços co- declarações” (IBGE, 1970, p. 3), o que já era
mo “brancos” e dos “pretos” como “pardos”, de acordo considerado pelos elaboradores dos censos anteriores
com um esquema de classificação racial em que o (Schwartzmann, 1999, p. 85); no entanto, o quesito é
mais claro é mais valorizado (Marx, 1998, p. 163; também considerado um dos poucos meios de se
Wood; Carvalho; Horta, 2010, p. 120). Embora esse ar- conhecer “[...] o caldeamento das raças formadoras da
gumento seja comum àqueles que querem enfatizar o etnia brasileira” (IBGE, 1970, p. 3), uma “[...] classi-
quanto o sistema preto-pardo-branco impediu uma ficação historicamente consagrada [...]”, com expres-
identidade entre os não brancos (Marx, 1998, p. 163), sões “[...] continuamente usadas [...]” (IBGE, 1970,
como se essa identidade fosse historicamente neces- anexo 1, p. 4). Ao final dessas discussões, a decisão,
sária (a partir de Loveman, 1999, p. 914), os dados que contou com o voto do então presidente do IBGE,
censitários mostram que, entre 1872 e 1960, a propor- foi de excluir o quesito, o que acompanhava outras
ção de declarados de cor “branca” não cessava de políticas de silenciamento da questão racial — a
crescer. Com os declarados “pretos”, ocorre o contra- consideração dos estudos sobre discriminação racial
rio, eles decaíram para cerca de metade da proporção como “subversivos”, a expulsão da universidade de
original (Tabela 3). pesquisadores com perspectivas críticas sobre a situa-
Na segunda metade do século XX, consolidou-se ção do “negro” na sociedade brasileira, a proibição de
como “[...] ideologia semi-oficial do estado” (Andrews, veiculação do tema discriminação racial pela imprensa
1996, p. 488) uma visão de nação segundo a qual a (Andrews, 1996, p. 491; Marx, 1998, p. 172; Skidmore,
marca distintiva da sociedade brasileira seria a 2001, p. 66), em uma conjuntura de crescente deman-
miscigenação entre “raças” distintas e a incorporação da de informações sobre a temática e de intensificação
de elementos culturais de “raças” consideradas inferio- das críticas à condição social da população não bran-
res no mundo ocidental (Skidmore, 1976, p. 210-211). ca.
Difundida em outros países, para “[...] promover uma Uma cartilha produzida pelo IBGE (1960) a ser
imagem favorável do Brasil” (Skidmore, 1976, p. 229), difundida junto à população, para que essa cooperasse
ela mostraria uma “superioridade” do País em relação com o recenseamento de 1960, ilustra o caráter da
a outros com políticas explícitas de segregação e do- concepção de harmonia entre raças e sua presença no
minação racial (Andrews, 1996, p. 488; Skidmore, trabalho do Instituto durante o período considerado
1976, p. 228). Essa ideologia, conhecida como “demo- (Figura 1). Ela apresentava a miscigenação como cen-

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A questão sobre “cor” ou “raça” nos Censos nacionais 111

tral para a formação do “brasileiro”: “Nosso povo resul- estanque entre as categorias raciais oficiais. Para a
ta de uma mistura que aos poucos vai formando o tipo concepção e coleta de dados censitários sobre cor ou
brasileiro”. Ao não haver uma discriminação entre ra- raça, a ideia de “democracia racial” redobrava a ideolo-
ças perante o estado brasileiro, estas eram tomadas gia do branqueamento. Em primeiro lugar, porque ela
como equivalentes às “cores”, também indistintas pe- mantinha o esquema preto-pardo-branco já existente.
rante o estado-nação: “todos somos brasileiros, com Em segundo lugar, porque, ao mesmo tempo, ela
os mesmos direitos e obrigações”. desestimulava o uso das informações estatísticas para
Essa ideia de que o estado não discriminava as um exame crítico das condições de existência dos sub-
raças e consagrava a mistura delas (Nobles, 2000, p. grupos raciais e a possibilidade de proposição de
1744), absorvida e disseminada pelo IBGE, impedia políticas de estado segundo esses critérios.
aos elaboradores do censo de proporem uma definição

Tabela 3
Distribuição percentual da população, segundo cores selecionadas, no Brasil — 1872-2010
CORES 1872 1890 1920 (1) 1940 1950 1960 1970 (1) 1980 1991 2000 2010
Branca ......... 38,1 44,0 ... 63,5 61,7 61,0 ... 54,2 51,6 53,7 48,7
Parda .......... 42,9 41,4 ... 21,2 26,5 29,5 ... 38,8 42,6 38,9 41,6
Preta ........... 19,7 14,5 ... 14,6 11,0 8,7 ... 5,9 5,0 6,2 8,2
FONTE: Camargo (2010).
FONTE: IBGE (2010);
FONTE: Wood; Carvalho; Horta (2010).
(1) Quesito não pesquisado

Figura 1

FONTE: IBGE, 1960, p. 13.

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112 Gabriele dos Anjos

Para o movimento negro, composto por uma mi-


4 O segundo período (a ríade de organizações (Winant, 1992, p. 186), trata-se
partir de 1980): novas de denunciar as “[...] barreiras impressionantes à exis-
tência física e cultural [...]” da população negra, e o
demandas por informação “esquecimento e a desvalorização” pelas políticas pú-
blicas (Sant’Anna, 2009). Trata-se também de afirmar
censitária uma identidade negra distinta, e seus valores e tradi-
ções. A ideia de que a miscigenação produziria uma in-
A partir do final dos anos 70, dois grupos sociais distinção entre raça, um Brasil “moreno” de vários ma-
vão investir na pesquisa censitária: cientistas sociais e tizes de cores, é fortemente questionada (Sant’Anna,
grupos ligados ao chamado “movimento negro”. São 2009). A categoria “parda” do censo — que, conforme
eles que vão pressionar a direção do IBGE para a se lê nos manuais do entrevistador do IBGE, designa a
inclusão da questão sobre cor no Censo de 1980 miscigenação e abriga a diversidade de classificações
(Andrews, 1996, p. 496). As informações censitárias raciais possíveis — é reinterpretada a partir do critério
passaram a ser consideradas por esses grupos como da ascendência racial e agregada à categoria “preta”,
essenciais para demonstrar que a “democracia racial” para constituir a população “negra”.
seria um “mito”. Essa junção de categorias é acompanhada por
Para os cientistas sociais, tratava-se da intensifi- uma campanha de mobilização da população em 1991,
cação da demanda por informações censitárias que promovida por organizações do movimento negro,
configurava uma nova tendência de estudos, até então organizações não governamentais (ONGs) voltadas
tributários, de métodos qualitativos e da pesquisa his- para o “social” e centros de pesquisa universitários
tórica (Skidmore, 2001). Para essa nova ênfase, pa- (Sant’Anna, s.d.), para que essa não busque “clarear”
rece ter contribuído, em primeiro lugar, a política de sua cor “verdadeira” ou negar sua ascendência africa-
formação de professores universitários no exterior, a na na declaração censitária (Marx, 1998, p. 260; Wi-
qual propiciou que cientistas sociais entrassem em nant, 1992, p. 179). A partir do diagnóstico de que o
contato com metodologias quantitativas e problemá- Censo de 1980 “não refletia o peso percentual da
ticas de raça por parte daqueles que estudaram nos população afro-descendente à época”, a campanha
Estados Unidos. Em segundo lugar, também devem tinha por objetivo que a população declarasse sua
ser consideradas as influências que o enfraquecimento “‘cor’ a partir da conscientização de suas origens étni-
do sistema de segregação racial norte-americano teve cas”, tentando impor ao IBGE e à população outro
sobre a percepção do Brasil como país “menos racista” princípio de classificação racial, baseado na origem, e
que os Estados Unidos (Andrews, 1996, p. 492; Skid- não na aparência física (Loveman, 1999, p. 915;
more, 2001, p. 70). Sant’Anna, s.d.). Para o movimento negro, trata-se,
Os estudos a partir do final dos anos 70 desta- principalmente, de fomentar uma categoria identitária
cavam a persistência das desigualdades raciais, inde- que configure um contingente populacional perfeita-
pendentemente de outros fatores sociais, como classe mente demarcável: a população “negra”, não pela cor,
ou escolaridade, utilizando-se, para isso, de dados dos mas pela ascendência. Além disso, interessa demons-
censos e das Pesquisas Nacionais por Amostra de trar, com os dados censitários, a relevância numérica
Domicílio (PNAD) - (Skidmore, 1992, p. 58; Skidmore, da população “negra”, mostrando a importância da pro-
2001, p. 64). Esses estudos mostravam que os que se posição de policies e legitimando seus porta-vozes na
declararam de cor “preta” e “parda” estavam social- cena política (Sant’Anna, 2009; para uma perspectiva
mente mais próximos, e mais distantes dos declarados analítica, ver Loveman, 1999, p. 915).
de cor “branca” (Andrews, 1996, p. 499; Marx, 1998, p. A discriminação racial e a condição do negro na
68). Com os resultados dessas análises, passa-se a sociedade brasileira como problema tratável no espaço
questionar a diversidade racial brasileira e a impos- político ganha terreno a partir dos anos 80, primeiro
sibilidade de estabelecer diferenças entre dois grandes com a criação de estruturas governamentais munici-
grupos raciais. Isso vai contra estudos anteriores, que pais e estaduais, e, a partir dos anos 90, com uma
destacavam a imprecisão e a diversidade das classifi- série de iniciativas do Governo Federal para tratamen-
cações raciais brasileiras e a posição intermediária do to da questão (Htun, 2004; Skidmore, 2003, p. 1394;
mulato (Skidmore, 1992a, p. 10; Skidmore, 2001, p. Winant, 1992, p. 188), que culminaram com a criação
67). da Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade
Racial (Seppir) em 2003. Nesse processo, estão

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A questão sobre “cor” ou “raça” nos Censos nacionais 113

envolvidos ativamente militantes do movimento negro, afro-brasileira” (Wood; Carvalho; Horta, 2010, p. 123).
que passam a atuar na política partidária e em insti- Mesmo tratando-se de uma operação analítica, ela
tuições estatais, professores universitários e também conflui com outras tomadas de posição que orientam
técnicos mais diretamente ligados à instituições de ações de estado. Assim, as ciências sociais participam
pesquisa estatais, como o Instituto de Pesquisa Eco- desse processo de redefinição dos usos das catego-
nômica Aplicada (Htun, 2004, p. 76-77). Como resul- rias raciais censitárias, justificando-o tecnicamente e
tado disso, o “[...] estado brasileiro adota progressiva- demonstrando a presença de desigualdades raciais no
mente uma visão centrada na raça” (Bailey; Peria, País.
2010, p. 594).
A pertinência da classificação racial na elabo-
ração de políticas públicas, até pouco tempo estranha
a um estado que afirmava a miscigenação e a indefi-
5 IBGE, mudança e
nição de raças, traz a exigência de demarcações ra- permanência das
ciais claras que possibilitem a identificação de uma
população-alvo, sua quantificação, e a caracterização categorias raciais
de suas condições de existência para a proposição de
políticas. É por isso que o Plano Nacional de Promo- Desde o final dos anos 70, o IBGE mostra-se
ção da Igualdade Racial, publicado em 2009, propõe permeável a essas demandas. É bastante possível que
uma série de ações a populações demarcadas pela tal porosidade esteja relacionada ao investimento no
raça, e nele se prevê o estímulo à “[...] inclusão do aperfeiçoamento dos quadros técnicos do órgão,
quesito raça ou cor em todos os formulários de coleta bastante similar à política de qualificação dos profes-
de dados de alunos em todos os níveis dos sistemas sores universitários do mesmo período. Nos anos 70, a
de ensino, público e privado”, ou “[...] promover a direção do IBGE retirou a questão cor do censo, mas
identificação e levantamento sócio-econômico de todas também fomentou “convênios com centros nacionais e
as comunidades remanescentes de quilombo do Bra- internacionais de pesquisa”, o que teria estimulado “[...]
sil”, e “[...] registrar a identidade etnicorracial dos bene- a reflexão crítica dentro do IBGE, inovando seu escopo
ficiários nos diversos instrumentos de cadastro dos das pesquisas e metodologias” (Oliveira, 2003, p. 34).
programas de assistência social, de segurança alimen- Foi a partir dessas condições institucionais que uma
tar e de renda da cidadania” (Brasil, 2009, online). pesquisadora do IBGE propôs que a pergunta sobre
Assim, as categorias raciais do IBGE recebem um cor fosse incluída em uma pesquisa amostral, de forma
novo uso. Em primeiro lugar, mantem-se a autodecla- não codificada, visando conhecer as “regularidades” do
ração como principal procedimento de identificação vocabulário racial e a “ambiguidade racial ou étnica
dos “negros” na implementação de políticas de ação brasileira” (Costa, 1974, p. 101-102). De fato, a PNAD
afirmativa (Htun, 2004, p. 74). Em segundo lugar, de 1976 incluiu uma questão não codificada sobre cor.
consolida-se, no IBGE e em outras instituições esta- A análise dos resultados dessa pesquisa foi feita por
tais, a junção de “pretos” e “pardos” para a composição três outras pesquisadoras do IBGE (Oliveira; Porcaro;
da população “negra” (dentre outros, Bailey; Peria, Araújo, 1985), utilizando-se a pós-codificação “negro”
2010, p. 594). Esse procedimento é questionado por como junção de “pretos” e “pardos”. Para essa reclas-
alguns cientistas sociais como arbitrário e baseado em sificação, as pesquisadoras baseiam-se no “pensa-
critérios sem ligação alguma com a história nacional mento social brasileiro”, ou como as ciências sociais
(Bailey; Peria, 2010, p. 600; para uma tomada de po- trataram, em “pretos e pardos em suas manifestações
sição “intelectual” de grande repercussão, ver Bour- sociais e culturais” (Oliveira; Porcaro; Araújo, 1985, p.
dieu; Wacqüant, 2002). Outros cientistas sociais, no 11). Baseiam-se também em “[...] pesquisas sobre
entanto, referendam esse uso das categorias do IBGE, identidades étnicas [...]” e “[...] contatos com entidades
com base em justificativas técnicas. É o caso de negras” (Oliveira; Porcaro; Araújo, 1985, p. 11).
Wood, Carvalho e Horta (2010), cujo trabalho conside- A década de 90 e os anos 2000 marcaram a
ra que como “[...] uma grande proporção de pretos [na continuidade da preocupação com a captura dessa
coleta censitária] reclassifica-se ao longo do tempo, a informação internamente ao IBGE. Em 1998, foi
distinção entre pretos e pardos é altamente instável introduzido um conjunto de questões na Pesquisa
comparada à dicotomia entre brancos e afro-brasileiros Mensal de Emprego, para apreender como as catego-
[...]”, sendo necessário “[...] desmanchar as categorias rias do IBGE estariam adequadas à “[...] forma pela
censitárias pardo e preto em uma única designação qual a população se identifica [...]” e se um critério de

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origem seria, ou não, mais pertinente que o critério de tas no Censo de 2010: se “pretos” e “pardos” são ofi-
cor (Schwartzmann, 1999, p. 85). Em 2008, a Pesqui- cialmente classificados como “população negra”, públi-
sa das Características Étnico-raciais da População co de inúmeras políticas atuais, é preciso que a popu-
(PCERP) foi feita também para aprimorar os levanta- lação se utilize somente dessas categorias para auto-
mentos estatísticos de raça/etnia (IBGE, 2011; IBGE, classificar-se no momento da pesquisa censitária, em
2013). Essa pesquisa, que tem como base um questio- concordância com as necessidades estatais de cir-
nário bastante complexo, é fruto da atual conjuntura de cunscrição e identificação. Essa solução composta
tratamento da questão racial pelo estado e dos de- mantem a cor “parda” sob novas condições.
bates sobre a pertinência das formas de levantamento
estatístico e suas categorias frente às “repetidas de-
mandas da sociedade”. Ou seja, sua própria elabo-
ração envolveu o contato, em reuniões e seminários,
6 Considerações finais
de técnicos do IBGE com o movimento negro, ONGs
A análise apresentada procurou demonstrar como
voltadas à questão indígena, além de secretarias
os levantamentos estatísticos sobre “cor” ou “raça” são
estaduais e instituições de pesquisa (IBGE, 2013). A
resultado de opções politicamente orientadas. Esses
PCERP abrange questões sobre auto e hetero identifi-
levantamentos parecem ser resultado de duas dinâmi-
cação, questão não codificada sobre identificação de
cas estreitamente relacionadas. A primeira delas é téc-
cor ou raça, percepção da discriminação racial e
nica e diz respeito à organização da coleta de infor-
dimensões que configuram a identificação de cor ou
mação e seus problemas, e às formas com as quais o
raça (IBGE, 2011).
IBGE procurou lidar com a imprecisão das categorias
Esse esforço ganha progressivamente legitimida-
disseminadas entre a população. Dentro de um
de no IBGE. Se o primeiro estudo sobre a questão
esquema de captura que prevê sempre a autodecla-
racial realizado por pesquisadoras do Instituto só pode
ração, há que se ter uma categoria que registre a mis-
ser publicado nove anos após a pesquisa que lhe deu
cigenação, ou, no mínimo, a miríade de classificações
origem, em um recuo da direção do IBGE à posição
possíveis. Em meio à impossibilidade de suprimir essa
não racialista vigente nas instituições estatais (Skid-
categoria, o IBGE permanentemente tentou estabele-
more, 1992; Skidmore, 2001, p. 66), é o próprio presi-
cer uma regularidade à captura da “fluidez” da informa-
dente do órgão que apresenta os resultados da pesqui-
ção. Em vários momentos, os problemas relacionados
sa de 1998, em artigo de uma revista da área de
a essas tentativas foram apontados pelos técnicos do
ciências sociais (Schwartzmann, 1999). A pesquisa de
Instituto. No entanto, a opção do que fazer está princi-
2008 ganhou uma publicação exclusiva, nos moldes da
palmente submetida à dinâmica política, que diz res-
publicação do censo.
peito ao levantamento estatístico como empreendi-
Tais pesquisas não possibilitam a introdução de
mento estatal, e, assim, submetido às forças políticas
outras classificações nas pesquisas censitárias ou do-
dominantes.
miciliares. Antes, elas representam uma diversificação
Até 1970, a informação sobre cor ou raça não
das preocupações do IBGE, informadas principalmente
tinha um papel central na formulação de políticas. Ela
pelo conhecimento das ciências sociais sobre a ques-
é parte de uma não política, ou da ausência de políti-
tão. Essa diversificação possibilita a realização de aná-
cas voltadas à população identificada como “negra”,
lises e a proposição de hipóteses, mas em paralelo às
informada pelas ideologias do branqueamento e da
classificações existentes. Schwartzmann (1999, p. 90)
“democracia racial”. Em uma conjuntura de paulatina
apresenta os argumentos que fundamentam essa
absorção da questão racial como preocupação estatal,
opção: a imprecisão dos termos que poderiam substi-
a informação estatística ganha importância e passou a
tuir a cor “parda”, negação da dicotomia brancos e não
ser central nos procedimentos de identificação das
brancos, e a pouca adesão da população ao critério de
populações-alvo das policies. Nesse sentido, as de-
origem. Assim, o IBGE opta por manter sua forma de
mandas de definição conceitual de cientistas sociais e
captura das classificações raciais nacionais e incorpo-
militantes são reforçadas pela demanda estatal. É isso
ra questões sobre “raça” e “etnia” a pesquisas pon-
que define a diversificação de pesquisas sobre o tema
tuais, que, diferentemente das do século XX, contam
e os procedimentos de enquadramento das respostas
com mais recursos tecnológicos para sua realização.
sobre cor ou raça no último censo. Tanto essa diversi-
No entanto, as demandas estatais por delimitação
ficação quanto esse enquadramento não suprimem a
de uma população-alvo de políticas de ação afirmativa
cor “parda” e atendem às demandas por vezes diver-
parecem estar ligadas ao enquadramento das respos-
gentes dos diferentes grupos: ativistas que querem
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A questão sobre “cor” ou “raça” nos Censos nacionais 115

constituir uma população “negra”, cientistas sociais a COSTA, T. C. N. A. O princípio classificatório “cor”, sua
favor ou contra a demarcação racial e o estado, que complexidade e implicações para um estudo censitário.
quer demarcar uma população-alvo e informar a formu- Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v.
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