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El Niño e suas consequências na agricultura brasileira

GRESSA CHINELATO - 4 DE FEVEREIRO DE 2019

Atualizado em 7 de junho de 2023

GESTÃO AGRÍCOLA

O fenômeno El Niño deve ocorrer a partir do segundo semestre de 2023. Entenda como ele pode afetar
a sua lavoura. Bônus: conheça 5 formas de proteger a sua produtividade!

Excesso ou falta de chuvas, temperaturas acima da média e períodos com fortes restrições hídricas.
Esses são alguns dos reflexos provocados pelo El Niño no Brasil.

Esse fenômeno climático pode resultar em grandes prejuízos, como já pudemos observar em outros
anos: maior volume de chuvas na região Sul do país, temperaturas mais elevadas de forma geral, secas
severas na região Nordeste e outros inúmeros reflexos negativos.

Apesar dos efeitos inevitáveis no clima, existem formas de preparar a fazenda para mitigar os efeitos do
El Niño, mantendo uma boa produtividade e evitando maiores prejuízos às culturas e à rentabilidade dos
cultivos.

Para isso, é indispensável que se entenda o que é o fenômeno El Niño, seus impactos na agricultura e
como o manejo pode ser um aliado para obter bons resultados da lavoura. Confira a seguir!
Índice do Conteúdo [Mostrar]

El Niño: entenda o que é esse fenômeno

El Niño é um fenômeno climático que causa aumento nas temperaturas da superfície do Oceano Pacífico
Tropical e enfraquecimento dos ventos alísios.

Os ventos alísios são um tipo de vento considerado estável e úmido, que incide nas zonas subtropicais
em baixas altitudes.

Eles são resultado do deslocamento das massas de ar frio dos trópicos (de alta pressão) em direção à
zona de baixa pressão, a zona equatorial. Por isso, quando enfraquecidos, esses ventos resultam em
aumento das temperaturas.

Com isso, há diminuição das águas mais frias que afloram próximo à costa oeste da América do Sul. Esse
aquecimento pode alterar o regime de chuvas em muitas regiões, impactando, consequentemente, a
agricultura.

O El Niño registrado na safra de 2015/16 teve temperaturas recordes, com destaque para a força do
fenômeno em 2016. Porém, um dos piores anos foi 1982, quando o El Niño causou vastas mudanças na
circulação atmosférica.

O Brasil sofreu com tempestades torrenciais e, nos Estados Unidos, houve tempestades ao longo da
costa da Califórnia.

Além do El Niño, também pode ocorrer a La Niña. Neste caso, acontece o contrário: há resfriamento das
águas do Pacífico Equatorial, o que altera a dinâmica das chuvas no país e provoca secas, especialmente
na região Sul.

Há também os anos neutros — quando as águas do Pacífico estão com temperatura próxima ao normal,
não ocorrendo nem resfriamento nem aquecimento.
O último El Niño havia ocorrido no ano de 2020 e, depois de três anos de predomínio do fenômeno La
Niña, que resultou em quebras acentuadas da produção de soja do Rio Grande do Sul, o El Niño deve
voltar ao cenário nos próximos meses, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Quando o El Niño vai acontecer?

Após três anos de La Niña, que se encontra em estado de neutralidade, a previsão da OMM é que o El
Niño ocorra nos próximos meses.

As previsões indicam que há chances de o fenômeno ocorrer ainda em maio (60% de probabilidade),
mas é entre julho e setembro que as probabilidades alcançam 80%. Ou seja, nesse período, poderemos
ter mudanças significativas na ocorrência de chuvas, bem como de temperaturas em todo o mundo,
incluindo as diferentes regiões produtoras do Brasil.

Tanto El Niño quanto La Niña podem ser classificados por intensidade: forte, moderado e fraco. Nas
safras de 2020/21 e 2021/22, por exemplo, o La Niña foi considerado moderado.

O El Niño tem aumentado de intensidade, atingindo seu pico nas safras 1982/83, 1997/98 e 2015/16. Já
a La Ninã, por outro lado, teve seus picos nas safras 1973/74, 1988/89 e 2007/08.

Diferente do La Niña, registrado de forma forte menos vezes ao longo dos anos (8 desde 1950), o El Niño
tem sido registrado mais vezes como forte (4 vezes) ou muito forte (5 vezes). Isso acentua os impactos
das mudanças climáticas, provocando temperaturas recordes, chuvas torrenciais em partes do planeta
(com temporais), aumentando as queimadas e muitos outros efeitos — incluindo, é claro, os benéficos.

Quais os efeitos esperados do El Niño no Brasil?

Como eu comentei acima, o fenômeno El Niño pode afetar a temperatura e a quantidade de chuvas em
muitas regiões do mundo. Normalmente, com o El Niño, as temperaturas ficam um pouco acima do
normal no Brasil.
Assim, as altas temperaturas em algumas áreas do país, que chegaram a registrar 4 a 5 graus acima da
mesma época em outros anos, já podem estar relacionadas às mudanças no cenário climático.

De modo geral, nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, pode ocorrer redução das precipitações.

No Sudeste costuma haver aumento das temperaturas. Na região Sul as chuvas podem ser mais
abundantes. Já no Centro-Oeste pode haver irregularidade das chuvas.

Veja o que acontece nas regiões brasileiras com o fenômeno El Niño, de acordo com o CPTEC/INPE:

(Fonte: Cptec/Inpe)

Esse fenômeno pode influenciar nas temperaturas e nas chuvas pelo mundo, conforme os gráficos
abaixo. À esquerda, previsões da temperatura do ar nos meses de maio, junho e julho e, à direita,
precipitações para a mesma época do ano no mundo. Veja:

(Fonte: World Meteorological Organization, 2023).

O gráfico a seguir ilustra o comportamento típico das chuvas durante o El Niño nas diferentes regiões do
planeta.

No Brasil, é possível observar maior volume de chuvas na região Sul do país (principalmente no Rio
Grande do Sul) e menor volume de chuvas nas regiões Norte e Nordeste do país. Confira à direita do
mapa mundi:

(Fonte: Cptec/Inpe)

Efeitos do El Niño na agricultura brasileira


Estima-se que 80% da variação da produtividade agrícola dependa das condições climáticas. Áreas com
redução das chuvas podem desacelerar o desenvolvimento das culturas, ocorrendo queda da
produtividade.

Já em regiões com aumento da precipitação, pode haver inundações nas culturas, o que também tende
a reduzir a produtividade.

Além disso, chuvas em excesso no momento da colheita podem diminuir a qualidade dos produtos e,
ainda, inviabilizar o escoamento da safra.

Culturas anuais podem ser altamente afetadas por essas variações, como é o caso das lavouras de grãos.

As culturas perenes também podem ter redução na produtividade. Mas, como elas ficam por mais
tempo no campo, há possibilidade de se recuperarem após essas variações. No entanto, elas devem ser
monitoradas da mesma forma, para mitigação dos efeitos do fenômeno, sejam eles aumento das
precipitações ou redução.

Para você entender melhor, veja algumas consequências do último El Niño na agricultura brasileira.

Impactos do último El Niño no Brasil

– Nos estados do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), houve falta de chuva no início do
plantio de soja. Isso reduziu a germinação das sementes e causou redução do stand das plântulas;

– No Mato Grosso houve irregularidade nas chuvas no início do plantio. Assim, houve grandes perdas
em uma mesma região e em outras isso não ocorreu;

– Na região Sul, a chuva abundante pode ter favorecido a produtividade dos grãos. Porém, o excesso de
umidade pode ter desfavorecido outras culturas, como o arroz e o trigo (este último principalmente no
momento de colheita, e impactando também o aumento das temperaturas).
Não podemos esquecer que o El Niño também pode trazer benefícios, como o aumento da umidade em
localidades impactadas pelo La Niña e que estejam com baixos volumes acumulados de água no solo e
em reservatórios (caso da região Sul do país).

Isso favorece o plantio e o desenvolvimento das culturas — desde que o aumento das chuvas não seja
em excesso — e aumenta as temperaturas médias do ar durante os estágios mais sensíveis de
desenvolvimento das culturas (polinização e enchimento de grãos).

El Niño também pode aumentar a incidência de doenças em culturas importantes, como o trigo.

Falta ou excesso de chuva causado pelo El Niño no Brasil — o que fazer?

Pesquisadores da Embrapa orientam sobre como proceder quando um desses dois fenômenos ocorre.
Confira:

Excesso de chuva

Realizar o preparo do solo para a semeadura – assim, quando as condições permitirem, o solo já estará
preparado para realizar a semeadura

Semeadura no início do período recomendado

Não semear em solos encharcados

Realizar rotação de culturas, pois alta umidade pode favorecer o desenvolvimento de doenças

Utilizar cultivares resistentes a doenças que podem se desenvolver com alta umidade (com base no
histórico da área de cultivo)

Atenção ao realizar adubação nitrogenada, pois, com excesso de chuva, o nitrogênio pode ser
facilmente lixiviado

Realizar a colheita quando o produto atinge umidade adequada, pois chuvas podem reduzir a qualidade
do produto agrícola

Excesso de chuva pode levar à erosão do solo, lavagem de nutrientes e até mesmo à necessidade de
ressemeadura das culturas, pela redução do estande de plantas.
Falta de chuva

Utilizar sistema de plantio direto. Este sistema pode favorecer a germinação das sementes pela umidade
do solo por causa da palhada

Utilizar cultivares mais resistentes ao estresse hídrico

Utilizar cultivares com sistema radicular mais profundo

Plantio ou semeadura mais profundos

Utilizar irrigação quando possível e necessário

Não utilizar uma população de plantas acima da recomendada

E é claro: você precisa monitorar as condições meteorológicas da sua região tanto em caso de excesso
de chuva como em caso de seca.

5 dicas para ter uma boa produtividade na lavoura mesmo com o El Niño no Brasil

1. Fique de olho nas condições meteorológicas e fenômenos climáticos na sua região

Como a agricultura é muito dependente das condições meteorológicas, você precisa estar de olho nas
previsões climáticas de sua região. Isso é muito importante para o planejamento das suas atividades.

Para te auxiliar nessa atividade, você pode utilizar aplicativos de celular, como Cptec/Inpe, Agritempo,
Tempo Agora, entre outros.

Você também precisa saber se há algum fenômeno, como El Niño ou La Niña, afetando a temperatura e
a precipitação em cada época do ano.

Além disso, conheça os efeitos desses fenômenos em sua região. Assim você poderá se planejar com
base em todos os efeitos causados.

2. Conheça bem sua propriedade e sua lavoura

Você precisa conhecer a sua propriedade — ou seja, você precisa conhecer o clima da região e o tipo de
solo da sua lavoura, dentre outras informações importantes para o cultivo.
E, mais uma vez, não deixe de construir um histórico sobre as pragas e doenças que ocorrem, em que
culturas e quais épocas são as mais críticas.

Esse histórico pode ser mapeado por meio da plataforma Aegro. Assim você consegue entender a
dinâmica e como manejar a praga ou doença de forma mais eficiente, observando ainda o desempenho
dos defensivos no controle.

Além disso, ter conhecimento a respeito das plantas que você cultiva ou vai cultivar é essencial.

Conheça o hábito de crescimento das plantas e quais são as condições ideais para seu desenvolvimento.
Conheça também as pragas, doenças e daninhas que podem afetar a sua lavoura.

3. Realize um bom planejamento da sua atividade agrícola

Os itens 1 e 2 deste tópico te auxiliam no planejamento das atividades agrícolas. Esses conhecimentos
são importantes para o dia-a-dia da fazenda e para obter lucro com sua lavoura.

Ter um planejamento e uma boa gestão agrícola é essencial. Para isso, você pode utilizar anotações,
planilhas e até softwares. Mas não confie na memória para realizar seu planejamento.

Para te ajudar com isso, aqui você pode encontrar um comparativo entre planilhas agrícolas x software:
o que é melhor para sua fazenda.

4. Anote ou registre suas atividades agrícolas

Você precisa registrar todas as atividades: custos, estoque, produção e outros dados da propriedade.

Isso te ajuda a calcular o custo de produção agrícola e ter o histórico da atividade agrícola, além de te
auxiliar no planejamento da próxima safra.
5. Monitore sua lavoura e a proteja dos efeitos do El Niño no Brasil

É importante realizar o monitoramento da lavoura, pois, como já comentei, o El Niño pode causar
efeitos que favorecem doenças, pragas e daninhas.

Caso necessário, realize o controle de pragas, doenças e plantas daninhas na sua lavoura.

Conclusão

Como vimos, o El Niño no Brasil provoca mudanças na temperatura e no regime de chuvas em diversas
regiões. E os efeitos desse fenômeno climático impactam a produção agrícola. Mas você pode conseguir
uma boa produtividade, mesmo com influência do El Niño.

Uma das dicas mais importantes é realizar o planejamento e monitoramento das suas atividades
agrícolas e das previsões climáticas, semana após semana. Lembre-se que o planejamento é essencial
para lucrar com sua empresa rural.

Então, não deixe que o El Niño cause efeitos negativos na sua propriedade!

Você já sentiu as interferências do El Niño no Brasil? O que tem feito para contornar falta ou excesso de
chuva e manter a produtividade da sua lavoura?

Atualizado em 29 de maio de 2022 por Bruna Rhorig.

Bruna é agrônoma pela Universidade Federal da Fronteira Sul, mestra em fitossanidade pela
Universidade Federal de Pelotas e doutoranda em fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul na área de pós-colheita e sanidade vegetal.

CONDIÇÕES CLIMÁTICAS
Gressa

Gressa Chinelato

Sou Engenheira Agrônoma e mestra pela Esalq/USP. Atualmente, estou cursando MBA em Agronegócios
e fazendo doutorado no Programa de Fitopatologia na Esalq.

Ninguém controla a fazenda como o dono

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