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Maria Dolores
Instituto Divulgação
Editora André Luiz
Rua Lord Cochrane, 594 - Cx. Postal 4 2 . 3 8 3
CEP 01000 - São Paulo - Brasil
C.G.C. 47.112.263/001-56
Edição
1.° a 15.° milheiro
Agosto de 1978
/
Coração e V i d a / 1 0 19. Alma de Artista/68
1. Palavras da V i d a / 1 2 20. Amor Materno/70
2. Renúncia Maternal/14 21. Canção da F é / 7 6
3. Anseio e P r e c e / 1 8 22. História de um C ã o / 7 8
4. O Irmão da Caridade/20 23. A Mensagem da R o c h a / 8 2
5. Presença de J e s u s / 2 4 24. Tempo e V i d a / 8 6
6. Não Digas/26 25. A Enfermeira do A l é m / 8 8
7. Conversas/28 26. Súplica de T o d o s / 9 2
8. A Promoção/30 27. Paterno A m o r / 9 6
9. Poder da Prece/36 28. Encontro da F é / 1 0 0
10. Todos Ricos/42 29. O Culpado Vê Culpas/102
11. Diante do M u n d o / 4 4 30. Legenda Sublime/106
12. Canção da Esperança/46 31. Justiça/108
13. História de uma Festa/48 32. Indulgência e N ó s / 1 1 2
14. Amor e Perdão/52 33. Canção do T e m p o / 1 1 4
15. Prece/56 34. Cantiga da Vida/116
16. Um Retrato do Aborto/58 35. Prece por Auxílio/118
17. Caminho de Elevação/62 36. Prece de Louvor/120
18. Cantiga da Reencarnação/64 37. Aviso/122
Leitor amigo: e a grandeza, que lhe assinalam as manifestações,
Ajustando o coração, qual em cada página deste volume que mais
se fora um violino de luz incrustado se assemelha a um concerto da verdade em música
à própria vida, Maria Dolores de ternura e paz, amor e esperança.
nos endereça este livro.
Dispensando apresentações que lhe destaquem os
Vibrante de fé e elevação, a irmã méritos - ela que já possui toda uma
que se dedicou a traduzir nobre e extensa legião de amigos e admiradores a lhe
observações e vivências em acompanharem, na Terra, o brilho da ascensão
melodias do sentimento espiritual - nos entrega a própria
revela-nos a compreensão alma neste livro, convertido em escrínio de bênçãos.
Imaginemo-nos, desse modo,
Coração
instalados, ante a ribalta da vida
e ouçamos, através da
leitura, o concerto de júbilo
e renovação, beleza e encantamento
que Maria Dolores, tangendo o próprio
e Vida
coração, nos oferece por festa de
,^luz, em nome do Senhor.
EMMANUEL
Uberaba, 18 de abril de 1978
CORAÇÃO E VIDA
Maria Dolores
Levanta-te, cada dia,
Pensa em Deus, louva e agradece,
Mesmo num lance de prece
A bênção de trabalhar
E cumpre as obrigações
Que a vida te deu às horas,
Doando a paz onde moras,
Partindo do próprio lar.
Se resguardas na lembrança
Alguma ofensa sofrida,
Deixa ofensa esquecida
Na luz eterna do bem;
Não busques descanso inútil
Trabalho é apoio preciso,
Não afastes teu sorriso
Do coração de ninguém.
Exerce a beneficência
Das palavras benfazejas,
-
À estrela conferiste
A bênção de agüentar-se e refulgir sem véu,
Tal qual sucede ao Sol que nos conduz
Pelas vias do Céu.
Atribuíste à Terra
A função de compor e recompor
A forma em que o trabalho nos confere
A ciência do amor.
4
O Irmão
da Caridade Era assim que vivia o servo do Senhor:
Coração transformado em pousada de amor.
Aos romeiros sem lar, de visita à choupana,
A lhe pedirem rumo, amparo e vida nova
4
Sabia atenuar os rigores da prova,
Doando-lhes consolo à rude estrada humana.
Frei Damião vivia numa choça, Mais tarde, adoeceu... E, mesmo assim,
A mais humilde que idear se possa^ Curvado para a Terra, erguia as mãos trementes,
Um recanto perdido, entre serros perdidos, Socorrendo viajores e doentes,
Amparando aos doentes e aos caídos. Embora sempre a febre a recordar-lhe o fim...
Mãos calosas na gleba, ele mesmo produz
O pão que come e a roupa que o reveste De corpo gasto e desarticulado,
E agora mais cansado, mais sozinho, Numa noite de gelo, ele escuta um chamado:
Acolhe os viajantes do caminho, — Damião, Damião, há mau tempo, abre a porta,
Quais se fossem Jesus. Liberta-me do frio que me corta!...
A 22 1 C O
Ç R A A O E V I D A
CORAÇÃO E VIDA Q O
\y Francisco Cândido Xavier Maria Dolores
Levanta-se o velhinho e abre a cabana estreita, Damião não vacila, ergue-se com carinho,
Vê diante de si um enfermo que se arrasta, Ele conhece a dor dos tristes do caminho...
Nota-lhe o corpo em lepra, a desfazer-se todo, Lembra outras noites más, chuvosas e nevoentas,
E um pedinte de estrada em chaga, sangue e lodo E abraça-lhe, ao deitar-se, as chagas purulentas...
— Abriga-me hoje só - ele diz, suplicante - Mas nisso a choça escura se ilumina...
Damião sente um choque... E busca o itinerante
Damião não vacila e dá-lhe o próprio teto. Mas já não vê o pobre suplicante...
Opiniões, confidências,
Diálogos, comentários,
— São forças de efeitos vários
Que se ampliam a granel;
Há palavras que são flores,
Outras recordam espinhos
Nos lares e nos caminhos
Espalhando fogo e fel.
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A Promoção
O jovem milionário
Adamastor Macário,
Rapaz rude e violento,
Derramando alegria,
Sentia-se feliz em seu mais belo dia,
Pois era o dia de seu casamento.
— Socorre-nos, senhor,
Salve meu filho! Pague-lhe um tratamento..
E rematou com lágrimas na voz:
— Por amor a Jesus, tenha pena de nós!...
Adamastor, porém,
Mesmo casado
Continuou brutalizado
E um modelo completo de avareza... Mais tempo decorreu
Recolhia, ele próprio, as migalhas da mesa E Macário a lutar, sem qualquer companheiro,
Que sobrassem de cada refeição Só queria dinheiro e mais dinheiro...
Para fazer negócio, às escondidas... Até que, um dia, a morte veio arrebatá-lo.
E ei-lo, dia por dia, a repetir fremente, Adamastor, velhinho,
Na mais estranha desesperação: Num lance do caminho,
— Dinheiro, sim... Beneficência, não... Caíra do cavalo,
Nada me peçam que não dou vintém, Fora pisoteado e, ante as perdas de sangue,
Não dou nem mesmo um pão à fome de ninguém. Gritava, agonizante, entre as pedras de um mangue
— Eu não quero morrer, eu não quero morrer...
O tempo foi passando, Mas a morte, por si, não queria saber
Pedisse quem pedisse, Se ele queria ou não
A resposta era n ã o . . . Toda aquela secura E, assim, agiu na hora...
Parecia loucura
Em vez de sovinice. Desencarnado agora,
Talvez decepcionada, alma triste e vazia, O antigo milionário,
Com as atitudes do marido avaro, Sente-se louco, aflito e solitário,
Breve, morreu a esposa em desamparo, Sob o fardo das lágrimas que leva...
Sem deixar-lhe um só filho à casa enorme e fria... Só pensava em dinheiro e via-se na treva...
CORAÇÃO E VIDA CORAÇÃO E VIDA í
Francisco Cândido Xavier Maria Dolores
Amor e Perdão
Levava flores para o Mestre morto,
Tinha o peito magoado e enternecido.
A senhora, entretanto,
Falava, contrafeita:
— Não protesto, nem digo que estou certa,
Sei apenas que estou em minha profissão,
Tanto quanto angario apreço e estimação,
Creio que faço o bem, liberando a mulher
Do fardo que ela traz quando não quer;
Além do mais, preciso do dinheiro
Para dar minha filha a um caminho seguro,
Uma bela mansão, um marido e o futuro
Perita auxiliar de ginecologia, Sem aflição e sem dificuldade...
Sempre atenta às questões de luxo Ela agora possui quinze anos completos;
Sonho vê-la feliz ao dar-me vários netos...
A senhora dizia: e r e c o n f o r t o
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Caminho
de Elevação Se aspiras a servir, alma querida,
Não deixes de aprender, ante as lições da vida.
Entretanto,
De espírito cansado,
A desfazer-se em pranto,
Nas vascas da agonia,
Ouviu a voz do corpo fatigado,
Que, por fim, lhe dizia:
, CORAÇÃO E VIDA
CORAÇÃO E VIDA .
Franciscp Cândido Xavier 6/
Maria Dolores
Deus te abençoe, alma querida e bela, Nas mais altas visões em que caminhas,
Na arte a que te dás por luz constantemente acesa Que o teu sonho se eleve e amplamente ressoe!...
Para exaltar cultura e sentimento, Alma de artista, gênio, luz, trabalho,
Aprimorando a Natureza. Deus te inspire e abençoe.
CORAÇÃO E VIDA v
Maria Dolores
Porque a fé verdadeira
Que redime e renova a Humanidade,
Os perigos da marcha e as surpresas da treva. E vale, em tudo para a vida inteira,
A fé que tanto ama e anda de rastros
Se a tua fé não ouve ou ainda não ouviu, Quanto vibra e se eleva para os astros,
Entre as flores que leva Fé valente e profunda,
Desde o berço da crença até agora, Que inspira, exemplifica, ergue e fecunda,
O insulto em que a maldade se avigora, Será sempre obtida na batalha,
A fim de que lhe dês, Na Terra ou Mais Além,
Outra vez e outra vez, No coração que luta ou se estraçalha
O apoio da paciência e a lição da bondade... Para a glória do Bem.
CORAÇÃO E VIDA v
Maria Dolores
E contou comovido:
— Quando na Terra, um pobre cão rafeiro
Que eu nunca soube de onde vinha,
Fez-se meu companheiro
Na tapera isolada que eu mantinha.
Era um cão vagabundo, um desses cães,
Cujo medo de banho desconsola,
Vendo-lhe a boca enorme e as bochechas caídas,
As crianças chamavam-no Beiçola.
Bernento e preguiçoso, muitas vezes,
Procurei desterrá-lo,
Mas Beiçola voltava e me seguia
Estivesse eu a pé ou trotando a cavalo.
Já não sabia o que fazer do cão,
Que já me habituara a suportar
Num misto de amizade e de aversão.
Certa manhã de sábado, eu devia,
Ir do campo à cidade,
A fim de resgatar antiga conta
Cujo prazo vencia.
Montei no meu pequira muito cedo
, CORAÇÃO E VIDA CORAÇÃO E VIDA
Francisco Cândido Xavier Maria Dolores
Cujo penhasco, em cima, erguia-se-lhe ao lado: Aos que me espancam devo abrir os braços
— Pára, ouve e reflete, meu amigo, A fim de que me arranquem aos pedaços.
Não te mates em vão, Os homens que me buscam
Por mais te fira a provação Ferem-me sem cessar com lâminas e limas,
Não olvides que Deus está contigo. Fazem comigo casas e obras-primas,
O sofrimento é vida que te apruma, Não se lembram, porém, na agressão que me alcança,
Não acharás a morte, em parte alguma... Que Deus, em mim, lhes guarda a vida e a segurança.
Declaras-te infeliz, tens o peito magoado, Agora, em minha dor, por mais gema e mais grite,
Afirmas que ninguém te dá valor, Estraçalham-me o corpo a dinamite.
Que não passas de um ser estranho e sofredor, Mas em nada lastimo as lutas que confesso,
A morrer de amargura e desagrado; Busco servir a Deus que me fez tal qual sou,
Por maior seja a angústia em que te expresses, Para guardar o mundo e estender o progresso.
Tens contigo a razão por dom divino, Sou em minha aspereza,
Podes modificar o teu próprio destino, Por determinação da natureza,
Quanto a mim, tal qual sou, não sei se me conheces Alto poder vencido,
Sou a rocha esquecida Mas Deus que é tudo em todos sempre foi
Que deve sustentar os processos da vida... O Anônimo Esquecido...
Calço o leito dos mares,
Carrego a Terra toda em total disciplina, Depois de longa pausa, a rocha ainda lhe diz:
Aceito sem queixar-me a lei que me domina, — Vive, trabalha, sofre, aprende, luta,
Não sei se o meu trabalho é singelo ou de vulto, Não olvides que Deus te acompanha e te escuta,
Sei, porém, que na esteira das idades, Nem te esqueças que podes ser feliz.
Suporto sobre mim os campos e as cidades
Sem que ninguém me anote o esforço oculto... O homem desanimado transformou-se,
Sou o piso dos rios e das fontes, Abraçado ao penhasco, ele, o quase suicida,
Protejo entre os arados e os tratores, Suplicou a chorar: - Perdoa-me, Senhor!
Desde o vale mais baixo à eminência dos montes, Ouvi a voz da pedra... Agora entendo a dor
O cultivo dos frutos e das flores. A fim de compreender a grandeza da vida.
Devo, porém, dizer-te que, além disso,
Desde as eras passadas, E erguendo para o Alto os braços seus,
Sempre sofri com rudes marteladas... Traduzindo a alegria em pranto ardente,
Picaretas, formões e outros instrumentos Exclamou, reverente:
Arrebentam-me a forma, entre golpes violentos; — Obrigado, meu Deus!
CORAÇÃO E VIDA
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Maria Dolores
Depois da morte é que vemos,
Quando a luz se nos revela,
Quanta sombra e bagatela
Guardamos no coração.
Quantos lamentos inúteis
Complicavam-nos a vida,
Quanta palavra perdida,
Quanto tempo gasto em vão!...
Companheiros enganados
São tantos que, às vezes, penso
Que ninguém conseguiria
Enumerá-los num censo
A nomes de cada um...
Maria Dolores
Maria Dolores
Em certa ocasião,
O nosso cavalheiro,
Dava-se por inteiro
A certo festival de comemorações,
Em cerimônias desdobradas...
Brotavam nas estradas
Palavras e atitudes estragadas,
Era quase a loucura em muita gente...
Dois dias com três noites
De fogos de artifício em céu luzente,
E o nosso amigo usava, instante a instante,
O tempo disponível,
Sem se importar, sequer, com mudanças de nível,
E aparecia sempre acompanhado
Por uma das parceiras
Que trazia de lado...
ráfl) CORAÇÃO E VIDA CORAÇÃO E VIDA (
Francisco Cândido Xavier Y Ivb,
Maria Dolores
Era a terceira noite em que estivera ausente O homem tomba morto, após giro instantâneo,
Entretanto, A bala lhe arrasara os recessos do crânio...
Não se sentia em falta... A senhora, porém, está ferida...
A esposa era a esposa, a mulher diferente, O marido aproxima-se, interroga,
Que devia viver, atirada num canto, Ela, contudo, vê que se lhe esvai a vida,
Sem direito nenhum de reclamar, Perdendo o próprio sangue a lhe vasar do peito;
Porque sempre dispunha Tenta, em vão, expressar-se e não encontra o jeito.
Do que fosse preciso para o lar. Mas colocando as mãos, debalde, sobre o corte
Ela fita no esposo o triste olhar da morte
Ele destranca a porta, de mansinho, E responde somente,
Pé ante pé, segue devagarinho Como quem se revela muito dificilmente,
Para o aposento conjugal... Ao morrer, em seguida a prolongado "ai!"
Mas, avançando, vê que a esposa se debruça — O homem que você achou comigo
Nos ombros de outro homem, E mais que amigo,
— Um homem que lhe afaga a cabeleira espessa... Era o seu próprio pai.
-Gofi) CORAÇÃO E VIDA - CORAÇÃO E VIDA QyT)
Francisco Cândido Xavier Maria Dolores
Alma querida, na Terra,
Se alguma prova te alcança,
Não te percas da esperança,
— Luz da fé sempre a brilhar...
Nas crises mais dolorosas,
Feitas de dores extremas,
Nunca te aflijas. Não temas,
Nem deixes de confiar.
Se o pessimismo aparece,
Mostrando trevas e males,
Nada comentes, nem fales
Fora da crença no Bem;
Pensa em Deus, lembrando o Sol
Que, em tudo, acalenta a vida,
Do sábio à erva escondida,
Sem menosprezo a ninguém.
O sacerdote amigo
Este episódio aconteceu, há tempos, Aconchegou-se mais ao penitente
E está guardado na memória E lhe falou, paternalmente:
De quantos compartilham desta historial — "Na semana passada,
Ouvi a confissão inesperada
Um condenado à morte pela forca Do homicida infeliz...
Acusado de um crime, Ele morreu comigo, após contar-me
Sem proteção a.que se arrime, Calculando as palavras, uma a uma,
Tudo aceitou sem reclamar. Que não tendes culpa alguma...
No derradeiro alento,
A hora da execução chegara, enfim... Cansado de remorso e sofrimento,
Muita gente na praça se adensava Pediu-me vos livrasse, ante as autoridades,
No intuito de aplaudir Documentadamente,
A presença da morte, em estranho festim. Porquanto, ele somente
Explodiam na tarde clara e quente E o responsável pelo crime
Estas palavras de clamor: Que vos foi imputado injustamente,
— "Morte ao bandido!... Morte ao matador! E devo executar-lhe as últimas vontades".
CORAÇÃO E VIDA CORAÇÃO E VIDA v
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Maria Dolores
Maria Dolores
Maria Dolores
Maria Dolores
Francisco
Cândido y Maria
Xavier Dolores