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Assuma o papel principal da sua vida | Conheça o Budismo • BS • Ed.

2651 • 24/01/2024 • ()

BS

CONHEÇA O BUDISMO

Assuma o papel principal da sua vida


Aplicar o princípio da “unicidade da vida e seu ambiente” é ser
protagonista do próprio destino e transformar o mundo ao redor por
meio da prática budista

Um dos princípios expostos no Budismo de Nichiren Daishonin é o da


“unicidade da vida e seu ambiente” (esho-funi). Esse conceito tem
importância fundamental para entendermos as relações que
estabelecemos ao longo da vida em diversos contextos: família,
trabalho, vizinhança, organização e, por fim, a sociedade.

Vamos entender o conceito

Para melhor compreensão desse princípio, podemos analisar a palavra


esho-funi da seguinte maneira: esho é a combinação das primeiras
sílabas de eho e shoho. Shoho refere-se ao sujeito, isto é, ao ser dotado
de vida, por exemplo, nós, seres humanos. Eho indica o objeto que
sustenta e possibilita a expressão da vida, ou seja, o ambiente do ser
vivo. Funi corresponde a dois fenômenos independentes, mas
inseparáveis. Assim, pelo próprio significado literal, o termo esho-funi
revela que a pessoa e seu ambiente são dois fenômenos independentes,
porém unos em sua existência fundamental. Em outras palavras, a
pessoa e seu ambiente formam uma vida única e completa, e nenhuma
pode existir separada da outra.

Esse princípio indica que a vida, em sentido amplo, não se restringe


apenas aos aspectos físicos, mas se estende para o ambiente em que
habita. Ou seja, um ser vivo nasce (fusão dos cincos componentes),1
cresce e se desenvolve a partir da sua relação com o mundo à sua volta,
constituído pelos pais, amigos, professores etc (ambiente social). Essa
interação com o mundo ao seu redor se dá em determinado ambiente,
seja em casa, na escola, no trabalho ou na comunidade (ambiente
natural).

Corpo e sombra
No escrito Os Presságios, Nichiren Daishonin apresenta uma analogia
que ilustra esse conceito:

As dez direções são o “ambiente”, e os


seres vivos são a “vida”. Para ilustrar, o
ambiente é como a sombra; e a vida é
como o corpo. Sem o corpo, não pode
haver sombra; e sem a vida, não existe
ambiente. Do mesmo modo, a vida é
moldada por seu ambiente.2
Com o exemplo do corpo e da sombra, Daishonin nos mostra a maneira
correta de considerarmos as diversas circunstâncias que nos cercam no
dia a dia, especialmente quando queremos transformá-las. É importante
conscientizarmo-nos de que a mudança das condições que nos rodeiam
passa obrigato-riamente pela nossa própria transformação. Conforme o
exemplo citado por Daishonin, querer transformar o ambiente sem a
mudança de si próprio é tão absurdo quanto a tentativa de endireitar
uma sombra sem mexer o corpo. Enfim, podemos compreender o fato
inegável de que a pessoa e seu ambiente são inseparáveis. Contudo, o
princípio de esho-funi não se restringe apenas a uma simples explicação
da relação de unicidade entre os dois, mas vai muito além, elucidando de
que forma a vida se manifesta no ambiente, conferindo-lhe
características peculiares.

Você é reativo ou proativo?


Quando se fala sobre como nosso ambiente nos afeta e como nós o
influenciamos, em relação a esse tema, comumente ouvimos, na
sociedade em geral, o termo “proatividade”, utilizado em comparação
com “reatividade”.

Qualquer ser humano é reativo, ou seja, age de acordo com as


circunstâncias ao seu redor. Por exemplo, se está com fome, procura
comer. Se está com sono, tenta dormir, e assim por diante. Isso também
é verdadeiro na busca de soluções para seus problemas, pois ele reage
diante deles a fim de resolvê-los.

Por outro lado, em alguns momentos, as pessoas também lançam mão


de sua proatividade, ou seja, ao prever um acontecimento ou
necessidade, elas planejam e tomam as providências para que o
resultado obtido seja favorável. A proatividade ainda compreende
mantermos uma atitude positiva e produtiva ao lidarmos com
determinada questão, executando ações apropriadas.

Analisando esses aspectos da natureza humana, podemos verificar


também que, quanto mais agirmos de forma proativa, maiores serão as
chances de sermos bem-sucedidos. Ao contrário, se adotarmos uma
postura conformista, negligente ou desinteressada, ou se reagirmos
somente depois que formos afetados por uma circunstância negativa,
provavelmente será mais difícil ultrapassá-la.

O Budismo de Nichiren Daishonin é uma filosofia que procura


desenvolver em cada pessoa a sabedoria que a conduz a uma vida de
realizações, independentemente de ela estar passando ou não por
problemas.

Contínuo desenvolvimento

As atividades da BSGI estão repletas de oportunidades que comprovam


essa afirmação. Por exemplo, quantas vezes são feitas recomendações
— antes mesmo de os problemas surgirem — de como a pessoa deve
“cuidar da saúde para não ficar doente”, “dirigir com cuidado a fim de
evitar acidentes”, “estudar com afinco visando garantir um futuro
melhor”, “esforçar-se no trabalho”, “ser uma pessoa digna de confiança”,
e assim por diante?

Pode-se dizer que, na verdade, budista é alguém com grande capacidade


proativa e que usa a sabedoria evidenciada com a prática da fé em meio
à sua realidade, comprovando que o budismo realmente se manifesta na
vida diária.
Por exemplo, com relação às atividades pelo kosen-rufu na organização
de base, uma atitude proativa é essencial. Como ser proativo numa
reunião de palestra, numa visita familiar ou no movimento da Juventude
Soka? Novamente, a proatividade está em não apenas agir para
solucionar alguma questão depois que ela surgir, mas atuar para
prevenir esse tipo de situação, buscando um desenvolvimento constante
e bem estruturado. Mesmo quando forem necessárias providências para
atender a alguma demanda, uma postura proativa com disposição e
determinação faz toda a diferença. Esse comportamento aflora
naturalmente quando estamos munidos de sabedoria, energia vital e boa
sorte provenientes da recitação do daimoku e do estudo do budismo por
meio dos incentivos de Ikeda sensei. Nosso mestre também afirma:

Em uma batalha, é necessário ser proativo.


(...) O presidente Toda dizia: “Quando
vencemos, a tendência é plantar as
sementes da futura derrota. Ao contrário,
quando perdemos, podemos criar a causa
para a vitória futura”. Ele sempre nos
advertia, dizendo: “Vocês devem manter a
guarda, mesmo depois de uma vitória”.
Quando somos vitoriosos é que devemos
reconstruir a organização e solidificar
nossa própria base.3
Transformar o interior para mudar o exterior

Entendendo o princípio budista de esho-funi, compreendemos que as


relações que estabelecemos com as pessoas, o local em que nos
encontramos e vivemos, ou seja, tudo o que se manifesta em nosso
cotidiano está relacionado com nossa condição de vida. Portanto, se
hoje desfrutamos um lar harmonioso ou um bom ambiente de trabalho,
ou se vivemos relações conflitantes num ambiente permeado por
sentimentos e atitudes negativas, somos responsáveis por isso, pois
tanto a felicidade como o sofrimento estão contidos em nossa vida.

Segundo a filosofia de Nichiren Daishonin, a prática budista nos capacita


a atingir o estado de buda, a mais alta condição de vida. Manifestar o
estado de buda é construir uma condição interior sólida, capaz de
influenciar, de forma positiva, todo o ambiente em que vivemos. Isso é
enfatizado claramente por Ikeda sensei:
Uma pessoa que atinge o estado de buda é
igual ao átomo que detona uma reação
físsil. Sua força vital é pura e profusa e
causa notáveis mudanças no âmago de
outras vidas. Como a grama que começa a
ressecar, mas que pode ser restaurada
com uma boa chuva, ou como uma
caravana é revitalizada pela água fresca ao
chegar a um oásis, os indivíduos e seus
ambientes podem ser infundidos do poder
e da alegria de viver quando descobrem a
força vital do estado de buda.4
Meio ambiente global

Ikeda sensei discorre sobre a visão budista em relação à preservação


ambiental e ao futuro da vida no planeta Terra com base no princípio de
“unicidade da vida e seu ambiente”.

No segundo capítulo do livro Escolha a Vida, denominado “O Meio


Ambiente”, sensei dialoga com o historiador britânico Arnold J. Toynbee
sobre as visões ocidental e oriental da relação do homem com o planeta
e sobre soluções para as questões desencadeadas pelo desequilíbrio
nessa relação.

A doença de Minamata, gerada pela poluição ambiental e que atingiu


muitas pessoas em uma região do Japão na década de 1970, é um dos
temas do capítulo “Revitalização”, do volume 15, do romance Nova
Revolução Humana, de autoria de Ikeda sensei.

Saiba mais

Encarte Guia para a Vitória que acompanha esta edição do BS.

Princípio do Mês. In: Terceira Civilização, ed. 395, jul. 2001.

Dinâmica sobre esho-funi, leia na RDez, ed. 119, out. 2011.

Podcast:
https://www.brasilseikyo.com.br/podcast/programa/3/episodio/unicidade-
da-vida-e-seu-ambiente/144

Fontes:
Brasil Seikyo, ed. 1.635, 12 jan. 2002, p. A3.

Brasil Seikyo, eds. 1.624 a 1.627, 20 out. a 10 nov. de 2001.

Notas:

1. Os “cinco componentes da vida” (go’on seken): Em resumo, cada pessoa é uma integração
temporária da forma, percepção, concepção, vontade e consciência. De maneira mais
ilustrativa, podemos dizer que cada pessoa possui, antes de tudo, uma forma, que é o corpo;
percebe as coisas que acontecem ao redor, por exemplo, ouve uma música e a registra na
mente; constitui, então, uma ideia (concepção) sobre o que percebeu, considerando a música
alegre ou triste; em seguida, manifesta o desejo de responder à ideia que formou, como
dançando, cantando ou chorando, a partir da impressão que teve da música; e, por fim,
adquiri uma consciência sobre a interação com o ambiente externo, como o impacto que a
música teve sobre as emoções.
2. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 673,
2020.
3. Brasil Seikyo, ed. 1.635, 12 jan. 2002, p. A3.
4. IKEDA, Daisaku. Vida — Um Enigma, uma Joia Preciosa. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, p.
177-178.
5. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 4,
2020.

Ilustrações: GETTY IMAGES

Fotos: BS

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