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Sustentabilidade

O uso das energias renováveis tem desempenhado um papel cada vez mais vital na matriz energética
do Brasil. Um grande motor desse avanço tem sido o crescimento do setor de biomassa como fonte
de energia. No entanto, o atual cenário regulatório carece de uma estrutura que integre
efetivamente essas fontes renováveis e permita sua coexistência ou até mesmo substituição das
fontes de energia não renováveis, como o gás natural, que é uma fonte de transição.

No momento, as regulamentações tratam projetos de energias renováveis, incluindo a biomassa, de


forma separada. Eles são submetidos a requisitos estabelecidos pela ANEEL (Agência Nacional de
Energia Elétrica) e pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) para
obter autorizações de exploração. Essa abordagem fragmentada impede a exploração de sinergias
valiosas, como o compartilhamento eficiente de infraestrutura, o aproveitamento da
complementaridade entre diferentes fontes de energia e a agilização do processo de obtenção de
licenças e autorizações.

Fontes do Estudo da Complementaridade para transição de energia não renovável para renovável:

A Figura 1 [1] ilustra os números da geração de energia elétrica no Brasil, por fonte, destacando a
geração de biomassa que obteve um papel importante na participação de energi, que poderia
complementar a energia promovida por combustíveis não renováveis, como o gás natural.

Figura [1] – Participação das fontes na capacidade Instalada no ano de 2022.


Existem várias opções de matérias-primas e tecnologias disponíveis para gerar eletricidade a partir
da biomassa [1]. As fontes de matéria-prima para produzir energia a partir da biomassa são
extremamente diversificadas e incluem:

Resíduos agrícolas; Dejetos de animais; Resíduos provenientes das indústrias florestais, de papel e
celulose, e alimentícia; Resíduos urbanos (lixo); Matéria orgânica presente em esgotos sanitários;
Culturas energéticas, tais como as provenientes de rotação de cultura, florestas energéticas (como
eucalipto e pinus), gramíneas (como capim elefante), culturas de açúcar (como cana-de-açúcar e
beterraba), culturas de amido (como milho e trigo) e oleaginosas (como soja, girassol, colza,
sementes oleaginosas, pinhão-manso e óleo de palma).

A pesquisa documental tem como base o estudo do marco regulatório do setor elétrico brasileiro
vigente, por meio da consulta às seguintes resoluções normativas da ANEEL:

Resolução Normativa ANEEL nº 391/2009 [3].

Resolução Normativa ANEEL nº 482/2012 [4].

Além disso, também são consideradas as seguintes leis e regulamentações:

Decreto federal nº 5.163, de 30 de julho de 2004 [5].

Lei nº 5.655, de 20 de maio de 1971 [6].

Lei federal nº 9.074, de 7 de julho de 1995 [7].

Lei federal nº 9.991, de 24 de julho de 2000 [8].

Essas leis e regulamentações são os pilares da análise realizada neste trabalho.

Marco Regulatório das Fontes Renováveis de Energia no Setor Elétrico Brasileiro

Esta é uma síntese do conjunto de regulamentações aplicáveis às fontes de energia renovável


abordadas neste estudo. Esse conjunto inclui leis federais, decretos e normas regulatórias emitidas
por órgãos como a ANEEL, ANP e CONAMA.

Leis Federais e Decreto:

Lei Federal nº 5.655 de 20 de maio de 1971: Esta lei prevê a destinação de recursos da Reserva
Global de Reversão (RGR) - encargo pago pelas empresas de energia elétrica - para instalações de
produção a partir de fontes de biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas.

Lei Federal nº 9.427 de 26 de dezembro de 1996: Inclui várias disposições que favorecem a utilização
de fontes alternativas renováveis.

Lei Federal nº 9.074 de 7 de julho de 1995: Estabelece que a implantação de usinas termelétricas de
potência igual ou inferior a 5.000 kW estão dispensadas de concessão, permissão ou autorização,
devendo apenas ser comunicadas ao poder concedente.

Lei Federal nº 9.478 de 6 de agosto de 1997: Inclui entre os objetivos da política energética nacional
a utilização de fontes alternativas de energia, mediante o aproveitamento econômico dos insumos
disponíveis e das tecnologias aplicáveis. Além disso, atribui ao Conselho Nacional de Política
Energética (CNPE) a tarefa de rever periodicamente as matrizes energéticas e estabelecer diretrizes
para programas específicos, como os de uso da energia solar, da energia eólica e de outras fontes
alternativas.

Lei Federal nº 9.991 de 24 de julho de 2000: Cria incentivos para fontes alternativas, isentando a
obrigação de investir 1% da receita operacional líquida concedida às empresas que geram energia a
partir das fontes eólica, solar, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas.

Lei Federal nº 10.438 de 26 de abril de 2002: Institui o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas
de Energia Elétrica (PROINFA) e cria a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que visa
aumentar a competitividade da energia produzida a partir de fontes renováveis.

Lei Federal nº 10.848 de 15 de março de 2004: Estabelece dois ambientes de contratação de energia:
o livre e o regulado, sendo a principal norma que disciplina a contratação de fontes de energia
elétrica para suprimento do mercado nacional.

Decreto federal nº 5.163 de 30 de julho de 2004: Definiu a geração distribuída como a produção de
energia elétrica oriunda de empreendimentos conectados diretamente no sistema elétrico do agente
de distribuição comprador.

Lei Federal nº 12.490 de 16 de setembro de 2011: Altera a Lei nº 9.478 de 1997 para garantir o
fornecimento de biocombustíveis em todo o território nacional, incentivar a geração de energia
elétrica a partir da biomassa e de subprodutos da produção de biocombustíveis, devido ao seu
caráter limpo, renovável e complementar à fonte hidráulica.

Normas Regulatórias da CONAMA, ANP e ANEEL

Resolução CONAMA nº 279/2001: Esta resolução estabelece procedimentos e prazos para o


licenciamento ambiental simplificado de empreendimentos elétricos com pequeno potencial de
impacto ambiental, como usinas termelétricas e sistemas associados.

Resolução Normativa ANEEL nº 077/2004 de 19/08/2004: Esta resolução define os procedimentos


relacionados à redução das tarifas de uso dos sistemas elétricos de transmissão e distribuição para
empreendimentos de biomassa ou cogeração qualificada, com potência instalada menor ou igual a
30.000 kW. Ela também revoga o art. 22 da Resolução 281 de 01.10.1999 e a Resolução 219 de
23.04.2003.

Resolução Normativa ANEEL nº 235/2006: Esta resolução estabelece requisitos para o


reconhecimento da qualificação de centrais termelétricas co-geradoras, com foco na participação nas
políticas de incentivo ao uso racional dos recursos energéticos. De acordo com o art. 8º, as centrais
termelétricas que utilizam exclusivamente biomassa como fonte primária de energia não necessitam
de qualificação para receber os benefícios previstos na legislação, desde que respeitem as condições
específicas.

Resolução Normativa ANEEL nº 247/2006: Define as condições para a comercialização de energia


elétrica originária de empreendimentos de geração que utilizam fontes primárias incentivadas, com
unidade ou conjunto de unidades consumidoras cuja carga seja maior ou igual a 500 kW, no âmbito
do Sistema Interligado Nacional – SIN.

Resolução Normativa ANEEL nº 391/2009: Esta resolução estabelece os requisitos necessários para a
outorga de autorização de exploração e alteração da capacidade instalada de usinas eólicas. Ela
também define usina eólica como instalação de produção de energia elétrica a partir da energia
cinética do vento, com uma categoria especial para usinas eólicas com capacidade instalada igual ou
inferior a 5.000 kW.

Resolução CONAMA nº 436/2011: Define os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos


para fontes fixas instaladas ou com pedido de licença de instalação anteriores a 02 de janeiro de
2007, categorizados por poluente e tipologia de fonte.

Resolução Normativa ANEEL nº 482/2012: Esta resolução trata da produção descentralizada de


energia elétrica por instalações de pequeno porte e cria um sistema de compensação de energia
elétrica. Ela permite que consumidores que instalam pequenas unidades de produção de energia
elétrica, com até 1.000 kW de capacidade, utilizando fontes renováveis ou co-geração qualificada,
possam abater a energia que injetam na rede elétrica da energia que retiram dela, gerando créditos
válidos por até 36 meses.

Resolução Normativa ANEEL nº 687/2015: Altera a Resolução Normativa nº 482, de 17 de abril de


2012, e os Módulos 1 e 3 dos Procedimentos de Distribuição – PRODIST. Introduz a figura da "geração
compartilhada", que permite que diversos interessados se unam em consórcios ou cooperativas,
instalem micro ou minigeração distribuída e utilizem a energia gerada para reduzir as faturas dos
consorciados ou cooperados.

Resolução ANP nº 08/2015: Estabelece a especificação do Biometano de origem nacional


proveniente de resíduos orgânicos gerados nas atividades agropecuárias (RASP) destinado ao uso
veicular e instalações residenciais e comerciais, para ser comercializado em todo o território
nacional. Além disso, define as obrigações de controle da qualidade a serem cumpridas pelos
diferentes agentes econômicos que comercializam o produto em todo o território nacional.

A avaliação da legislação atual é fundamental para identificar lacunas e oportunidades de melhoria


na regulação do setor energético. Criar um arcabouço regulatório mais abrangente e específico para
as energias renováveis, como a biomassa, pode promover uma transição mais eficiente para uma
matriz energética mais limpa e sustentável, além de fomentar o crescimento do mercado de energia
no país. Isso pode incluir a formulação de políticas, incentivos e regulamentações que incentivem a
integração e desenvolvimento dessas fontes de energia.
[1] Balanço Energético Nacional de 2023 – Relatório Final do Ministério de Minas e Energia – MME.
Disponível em: <https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/
PublicacoesArquivos/publicacao-748/topico-687/BEN2023.pdf>. Acesso em: 28 out. 2023

[2] Annual Report 2022 IEA Bioenergy. Disponível


em:<https://www.ieabioenergy.com/wp-content/uploads/2023/05/Annual-Report-2022.pdf>.
Acesso em: 28 out. 2023

[3] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA-ANEEL. Resolução 391. Disponível em:


<https://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:agencia.nacional.energia.eletrica:resolucao.normativa:200
9-12-18;391>. Acesso em: 28 out. 2023.

[4] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA-ANEEL. Resolução 482. Disponível em:


<https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=342518> Acesso em: 28 out. 2023.

[5] PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA - PLANALTO-CASA CIVIL. Decreto Federal nº 5.163, de 30 de julho de


2004. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/norma/407687#:~:text=REGULAMENTA%20A
%20COMERCIALIZA%C3%87%C3%83O%20DE%20ENERGIA,ELETRICA%2C%20E%20DA%20OUTRAS
%20PROVIDENCIAS.>. Acesso em: 28 out. 2023.

[6] PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA - PLANALTO-CASA CIVIL. Lei nº 5.655, de 20 de maio de 1971.


Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5655-20-maio-1971-
357738-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 28 out. 2023.

[7] PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA - PLANALTO-CASA CIVIL. Lei federal nº 9.074, de 7 de julho de 1995.
Disponível em: <https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?
tipo=LEI&numero=9074&ano=1995&ato=c1ag3YU5UeJpWTf30>. Acesso em: 28 out. 2023.

[8] PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA - PLANALTO-CASA CIVIL. Lei federal nº 9.991, de 24 de julho de 2000.
Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2000/lei-9991-24-julho-2000-359823-
publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 28 out. 2023.

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