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As torções incluem:
Eu tinha sete anos quando vi pela primeira vez toda a vida restante
desaparecer dos olhos de um homem. E nos anos seguintes, tornou-se sem
brilho. Apenas uma noite normal de semana em que meu velho me
acordava e me levava para o porão, ou como eu gostava de chamar, sua
masmorra de tormento, enquanto mamãe se trancava em seu quarto.
Ela sempre sabia que algo estava acontecendo. No começo, me
perguntei por que ela nunca se preocupou em tentar me salvar da
brutalidade do que estava acontecendo no nível mais baixo e escuro da
nossa casa. Pelos gritos casuais e pelas frequentes vezes em que eu subia as
escadas coberto de sangue, em horários estranhos da manhã, ela devia
saber que algo sinistro estava acontecendo.
No entanto, ela nunca fez nada para impedir isso.
Em vez disso, ela agiu alheia à situação. Como um cervo apanhado
pelos faróis de um carro em alta velocidade, atordoado e confuso.
Uma noite, quando eu tinha apenas dez anos, meu pai me acordou.
Ainda me lembro de cada detalhe vividamente, como se fosse ontem.
— Levante-se — ele ordenou, puxando as cobertas. — Está na hora.
Ele saiu do quarto e eu pulei da cama, ouvindo as batidas fortes de
seus passos desaparecerem enquanto ele descia as escadas. Esfregando os
olhos com os punhos, exausto das minhas reviravoltas habituais, entrei no
corredor e imediatamente congelei.
Pela primeira vez, minha mãe estava lá, espiando por trás da porta do
quarto. Seus olhos estavam arregalados, cheios de angústia. Eu nunca tinha
visto ninguém parecer tão horrorizada. Tão totalmente indefesa. Seu
coração estava partido por mim. Pela criança que ela sabia que nunca
poderia proteger.
— Está tudo bem. — eu a tranquilizei. — Está tudo bem, mãe. Estou
bem.
O som que veio dela em seguida foi um som que eu nunca esqueceria.
Um soluço de alívio.
E me virei para as escadas, pronto para o que viria a seguir.
Normalmente, ele apenas me faria assistir. Mas esta noite... era muito
diferente das demais.
— As pontas dos dedos estão cheias de terminações nervosas. —
explicou ele, olhando nos meus olhos azuis vazios. — Eles enviam sinais para
o seu cérebro. Sinais de dor.
Ele caminhou até a mesa de metal onde um homem que eu nunca
tinha visto antes estava deitado indefeso, preso com correntes grossas. Elas
chacoalhavam com cada tentativa desesperada de escapar.
Embora eu desejasse poder dizer a ele que não adiantava.
Ele não iria a lugar nenhum.
— É pior do que outras partes do corpo. — explicou meu pai. —
Digamos, seu braço. — Ele mergulhou a lâmina da faca na carne do bíceps
do homem sem aviso prévio. A dor pura tornou-se aparente quando o
homem gritou através do pano enrolado em sua boca, escondido atrás de
várias camadas de fita adesiva.
Fiquei imóvel como pedra. Nem mesmo um piscar de olhos.
Para mim, isso era normal.
Uma lição de aprendizado.
Muito mais importante que a escola.
— Agora observe. — instruiu meu pai, posicionando o dedo indicador
do homem entre a tesoura de poda. — Observe como os dedos são mais
sensíveis.
Com isso, ele cortou o dedo do homem, lentamente. Pura agonia
acendeu em seus olhos, enquanto ele chutava as pernas e agitava os braços.
Ele chorou, implorou, lágrimas de absoluto horror enquanto meu pai cortava
o osso do seu dedo.
O homem sacudiu os pulsos, tentando se afastar, para acabar com a
dor. Meu pai gemeu em desaprovação, antes de apertar os cabos da tesoura
de poda com as duas mãos, aplicando a pressão certa. Vários pedaços do
dedo do homem colidiram com o chão enquanto ele fechava os olhos com
força, seu corpo entrando em estado de choque.
— Droga, Damien. — meu pai repreendeu, me lançando um olhar
entusiasmado pelo canto do olho. — Mais perto. Venha cá, porra.
Engoli em seco, observando ansiosamente a mão ensanguentada do
homem enquanto me aproximava, o vermelho carmesim esguichando do
coto.
Meu pai rosnou e enxugou as gotas de suor da testa com as costas do
braço. Ele agarrou minha nuca com impaciência e me puxou para perto da
mesa de metal. Meus braços estavam congelados ao lado do corpo.
— Sua vez. — ele ordenou, batendo a tesoura contra meu peito, me
trazendo de volta à realidade. A constatação de que eu estava prestes a
ensanguentar as próprias mãos, pela primeira vez, me deixou confuso.
Nervoso.
Mas fiz o que me foi dito.
Foi uma luta no início. Cortar a pele era fácil, mas cortar o osso era um
desafio. Mesmo que fosse apenas um dedo mínimo. Dei tudo o que tinha e
usei toda a força que pude reunir. Aos dez anos, não era tão fácil como se
poderia pensar.
— Bom — elogiou meu pai ao som da sinfonia de um homem sendo
torturado. — Mais pressão, Damien. Use as duas mãos.
Então, eu fiz. E para consternação do homem, para minha vantagem,
funcionou.
Pedaços de ossos dos dedos estavam agora expostos, saindo de sua
carne. Finalmente, seu dedo quebrou e caiu no chão sujo de concreto.
— Bom. Muito bom.
Olhei para meu pai, notando sua aprovação. A diversão era evidente
em seus olhos.
— Você está pronto. — ele anunciou vagamente, tirando a tesoura da
minha mão. — Já se passaram três anos. Você já assistiu por tempo
suficiente.
A adrenalina correu através de mim.
Eu sabia o que isso significava. Esse era o momento em que meu pai e
eu trocávamos de lugar na sala.
E eu não tinha certeza se estava pronto para o que viria a seguir.
— Você sabe o que tem que fazer. — afirmou ele, entregando-me a
faca já ensanguentada.
Tem de fazer. Tem de fazer. Tem de fazer.
— Não posso — gaguejei, com as mãos tremendo. Coração batendo
forte. Estômago embrulhado. Eu realmente tinha o que era preciso? Olhei
para o homem deitado indefeso sobre a mesa e recuei diante do medo em
seus olhos.
Houve um breve lampejo de esperança. Era como se ele acreditasse
que eu poderia salvá-lo.
Acreditasse que poderia ir contra meu pai.
Balancei a cabeça, incerto. — Não posso...
— Você pode e você vai. — meu pai gritou. Eu o chateie. Isso estava
claro. E eu não pretendia levar uma surra esta noite. — Eu não criei meu
único filho para ser um maldito maricas! Você é um maldito maricas?
— Não senhor...
— Então acabe com isso, Damien. — ele exigiu, me empurrando com
força contra a mesa. Estremeci com a dor das minhas costelas batendo
contra a estrutura de metal, mas lutei contra isso. — Pelo amor de Deus!
Acabe com isso agora mesmo! Agora!
Levantei a faca sobre a cabeça, antes de descer com força, enfiando a
lâmina no abdômen do homem. Por um breve momento, meu olhar vagou
para seu rosto. Seus olhos estavam quase saltando das órbitas. Ele ficou
atordoado. Seu corpo estremeceu involuntariamente.
— De novo, Damien! — meu pai gritou violentamente.
Uma raiva como nenhuma outra me atingiu do nada, consumindo cada
fibra do meu ser. Arranquei a lâmina e esfaqueei o homem novamente, uma
e outra vez. Concentrei-me principalmente em seu abdômen, mas de
alguma forma ele ainda respirava. No momento em que enfiei a faca em seu
peito, acertei o osso e meu aperto no punho escorregou. Ignorando a dor na
palma da minha mão, enterrei a lâmina em seu pescoço, errando a jugular
por um centímetro. O sangue continuou a respingar em todas as direções
até que minhas mãos, braços e rosto ficaram cobertos pela substância
quente e pegajosa.
Seus gemidos se transformaram em gorgolejos, eventualmente, ele
ficou em silêncio.
Perdi a noção do tempo. A adrenalina começou a diminuir e meus
braços de repente pareciam pudim. Segurei o cabo da faca com ainda mais
força e soltei grunhidos ferozes de puro ódio, não pelo homem deitado
diante de mim, mas pelo homem parado a poucos metros atrás de mim.
Eu me encolhi quando ele colocou a mão no meu ombro.
— Chega — ele ordenou, eu fiquei imóvel, com falta de ar. — Dê-me a
faca. — Puxei a lâmina da barriga do homem, derramando ainda mais
sangue no processo. Seu corpo nu estava saturado com isso. E finalmente,
uma constatação me atingiu fortemente.
Eu o matei.
Ele estava morto.
E agora... tudo que eu conseguia ver era vermelho.
— O trabalho está feito. — meu pai me disse.
Embora eu não tivesse tanta certeza. Curvei meus dedos dormentes e
ensanguentados em torno do punho com mais pressão e fiquei mais tenso a
cada segundo que passava.
Eu poderia acabar com isso.
Realmente acabar com isso.
Eu poderia salvar minha mãe.
Tudo o que tinha que fazer era pegá-lo desprevenido. Cortar sua
garganta...
— Damien. — ele retrucou, me trazendo de volta à realidade
enquanto agarrava meu ombro, me girando para encará-lo.
Olhei para seus olhos frios e vazios.
— Dê-me a faca, filho. — ele instruiu calmamente, com os olhos
estreitados. — Você se saiu bem.
Eu me saí bem. Eu me saí bem. Eu me saí bem.
— Estou orgulhoso de você.
Orgulhoso de mim. Orgulhoso de mim. Orgulhoso de mim.
— Você tem o que é preciso.
Eu tenho o que é preciso. Eu tenho o que é preciso. Eu tenho o que é
preciso.
Um zumbido surdo se instalou em meus ouvidos e minha visão ficou
embaçada.
E eu entreguei a ele a faca, derrotado.
— Bom. — ele murmurou, acariciando minha cabeça como um
cachorro. — Agora, tire suas roupas ensanguentadas e lave-se.
Piscando para ele, permaneci em silêncio.
— Ei! — ele zombou, estalando os dedos na minha cara, tirando-me
do estado de choque em que de repente eu estava entrando. — Ouviu-me?
Sem questioná-lo, fiz o que me foi dito. Comecei com minha camisa
branca, encharcada de sangue e suor. Minha calça de pijama veio em
seguida.
Até que eu estava de cueca diante dele, minha pele estava manchada
de manchas vermelhas.
— Agora vá lavar as mãos na pia. — ele ordenou com firmeza.
Lutei contra a exaustão total enquanto cambaleava até a pia no canto
do porão. A água ficou escura. Minha cabeça latejava.
Não importa o quanto eu lavasse as mãos, a água continuava
vermelha. Foi então que notei o longo corte na palma da minha mão. Fiquei
olhando para ele, completamente entorpecido. Eu não senti nada.
— Você se cortou, droga. — disse ele, olhando por cima do meu
ombro. Ele examinou o ferimento antes de amarrar frouxamente um pano
em minha mão, em uma péssima tentativa de estancar o sangramento.
— O que agora? — Perguntei.
— Agora você sobe e toma banho.
— Então o quê?
— Então você vai para o seu quarto enquanto eu limpo a bagunça que
você fez. — ele retrucou, impaciente, me empurrando para o fundo da
escada. — Você precisa de pontos. Estarei lá em cima em breve.
Minha saliva engrossou em minha boca e o zumbido surdo em meus
ouvidos voltou com força total. Balancei a cabeça, fazendo exatamente o
que me foi dito. — Sim, senhor.
Fui para a escola com pontos na palma da mão no dia seguinte, como
se nada tivesse acontecido. Nenhum professor ou aluno questionou como
eu havia conseguido o ferimento. Era como se eu fosse apenas um garoto
mundano de dez anos. Como se eu não tivesse testemunhado um
assassinato na noite anterior.
Como se eu não tivesse matado o homem.
Pela primeira vez na minha vida, o sangue de alguém estava em
minhas mãos. Não do meu pai.
Depois daquela noite, algo mudou dentro de mim.
E nos anos seguintes a vida continuou. Meu pai se aventurou e caçou
nossas próximas vítimas, acorrentou-as em nosso porão e fui encarregado
de abatê-las.
Vinte e três de setembro, quando completei treze anos, foi a primeira
noite em que ele me levou para a floresta depois de escurecer. Essa foi a
primeira noite em que ele me mostrou como caçar pessoas. Não animais.
Pessoas.
Ele me ensinou como usar as sombras a meu favor. Como rastrear.
Ele transformou isso em um jogo e eu fiquei cada vez mais ansioso
para jogar.
Até a noite do meu décimo quinto aniversário.
CAPÍTULO DOIS
JENSEN
Crescer sem um lugar real para chamar de lar foi difícil. Eu sempre tive
meus próprios problemas, assim como todo mundo. Lutar contra minha
doença mental na adolescência e na idade adulta foi algo que eu nunca teria
previsto.
Os baixos foram ruins o suficiente para me deixar em uma espiral,
através de inúmeras internações em enfermarias psiquiátricas por ter
delírios ou tentar me matar.
Mas os altos…
Os altos eram tão intensamente eufóricos que eram a única coisa
neste mundo que me fazia continuar.
Mantendo-me vivo.
Duas semanas depois de conhecer Jensen, e de passar a maior parte
do tempo com ele, ele tentou me avisar que algo estava acontecendo.
Que eu estava em uma espiral naquela noite... e estava.
Eu simplesmente não sabia disso na época.
Para mim, eu era invencível.
Pegamos carona até a cidade e esse foi meu pior erro. Jensen estava
relutante. Não foi culpa dele.
Ele só entrou no carro porque era um bom amigo.
Um verdadeiro amigo.
Eu o admiro por isso até hoje.
Os caras que nos pegaram deviam ter vinte e tantos ou trinta e poucos
anos. Ambos estavam sob influência de álcool, principalmente o motorista.
Lembrei-me do olhar preocupado de Jensen, mas ignorei completamente.
Eu não me importei.
Não havia uma única merda que eu pudesse ceder naquele lindo
momento de euforia. Meus sentidos foram aguçados para um nível
totalmente novo. Eu estava muito focado na música estridente do que no
fato de que estávamos por toda a estrada, batendo no meio-fio e
ocasionalmente desviando para o trânsito em sentido contrário.
O cara que dirigia e seu amigo estavam tropeçando em baseados.
Eu pedi alguns.
Acontece que eles não estavam dispostos a compartilhar.
Quando chegamos a Boston, de alguma forma ainda vivos, eu já estava
entediado com eles. Fiquei ressentido com eles por não compartilharem as
drogas. Eu precisava de uma nova aventura. Novas pessoas.
Mesmo que fossem quase duas da manhã naquele momento.
Eu saltei ansiosamente do carro em movimento e ignorei os gritos de
Jensen atrás de mim. Cerca de um minuto depois, ele finalmente me
alcançou na calçada.
E ele não estava muito feliz.
— Micah — ele retrucou, me fazendo parar.
— Jensen — respondi brincando.
— O que você está fazendo aqui?
— Passeio turístico.
Ele exalou bruscamente, com os olhos arregalados. — Estou falando
sério. — disse ele com firmeza. — Isso é loucura.
— Olhe! — exclamei, sorrindo para os prédios, que ainda brilhavam
com luzes. Eles eram tão grandes. Tão impressionantemente alto. — Olhe
em volta! Boston é tão bonita à noite. Não é?
— Micah...
— Não é? — Eu insisti, pegando sua mão.
Nossos olhos se encontraram quando eu entrelacei meus dedos nos
dele. Foi o olhar mais intenso que já compartilhei com alguém. Mesmo
depois de conhecê-lo há apenas duas semanas, senti como se já tivessem se
passado anos.
Estávamos destinados a sermos amigos.
Para nos encontrarmos.
Seus lábios se separaram, mas ele não disse nada.
Ele ficou sem palavras.
— Sim. — ele disse cautelosamente, antes de se afastar. — É lindo.
Nunca estive aqui antes.
— Boston?
— Não...
— Saia daqui. Você está falando sério?
Ele assentiu, acompanhando-me enquanto eu caminhava pela calçada.
— Sim. Nunca estive.
— Até agora. — eu o corrigi com uma risada. — Ve? E você nem queria
vir aqui esta noite. Você realmente precisa começar a viver sua vida.
— É tarde — ele rebateu. — Muito tarde. E...
— Esta é a melhor hora para vir à cidade. — eu disse a ele. — Não há
muitas pessoas por perto, e aqueles que estão por perto são muito legais.
— Com que frequência você vem aqui? — ele perguntou-me.
— Sempre que eu quero.
— Você nunca é pego?
Eu bufei baixinho. — Eu sempre sou pego. Quem se importa? Claro
que não.
— Ótimo. — ele suspirou. — Eu preciso fumar. — Ele puxou seu maço
de cigarros e me ofereceu um.
Eu aceitei com alegria. — Nunca conheci ninguém como você, Jensen.
Ele acendeu a ponta antes de me jogar o isqueiro. — Não?
— Você é diferente. Você realmente se importa.
Eu o observei pressionar o filtro nos lábios enquanto dava uma
pequena tragada. Meu pulso acelerou no segundo em que ele colocou os
olhos nos meus.
— Eu não ia deixar você entrar sozinha em um carro qualquer. Você é
meu amigo, aqueles caras eram esquisitos...
— Seu amigo. — eu o interrompi no meio da frase.
— Bem, sim. — Ele hesitou. — Somos amigos, não somos?
— Nunca tive um amigo de verdade.
— Tudo bem, amigo. Acho que você está ficando um pouco
emocionado. — Jensen sorriu torto, exalando uma grande nuvem de
fumaça. — Mas... eu também não.
Se ao menos tivéssemos pegado uma carona de volta para o nosso
programa a partir daí. Logo depois daquele momento. Exceto que, em vez
disso, escolhi ser imprudente.
Impulsivo.
Felizmente não havia câmeras de segurança quando decidi que seria
uma ideia divertida jogar um tijolo pela vitrine de uma loja qualquer.
Vidros se estilhaçaram por toda parte e o alarme disparou. Jensen e eu
saímos correndo pela rua e não paramos até que nossos pulmões carentes
implorassem por oxigênio.
Ele encostou as costas na lateral do prédio de tijolos e respirou fundo.
— Que porra é essa, Micah! — ele gritou com raiva. — Porque você fez isso?
Eu comecei a rir. — Ele pensou que eu estava roubando, mas não
estava.
— Quem? — ele engasgou.
— Eu disse a ele para se foder e ele me chamou de punk. Bem feito.
— Quem, Micah? — ele perguntou, agarrando firmemente meus
ombros e me sacudindo. — Quem? Porque não havia ninguém lá!
Eu casualmente dei de ombros. — O dono.
— Quando?
Andando pelo beco escuro e estreito, cobri o rosto com as mãos. — Há
poucos meses atrás? Um ano ou algo assim? Eu não sei, porra! Por que isso
Importa?
— Poderíamos ser presos...
— Não vamos.
— Como você sabe disso? — ele rosnou em frustração.
— Eu só sei!
— Você não está pensando direito. É hora de ir para casa...
— Não temos a porra de uma casa! — Eu gritei, explodindo em
gargalhadas incontroláveis. Curvando-me, com as mãos apoiadas nos
joelhos, tentei recuperar o fôlego. — Você é engraçado, cara. Você é muito
engraçado! Você sabe disso?
— Você sabe o que eu quis dizer, Micah! — ele argumentou, ficando
mais chateado quanto mais eu ria. — Porra! Você acha que isso é uma
piada?
— Por que você está tão bravo? — perguntei, enfiando a mão nos
bolsos da calça dele em busca dos cigarros. Ele me deu um tapa
imediatamente. — Cara, relaxe! Viva um pouco!
— Acabou. — ele deixou escapar, erguendo os braços em derrota.
— Por que tão sério? — Eu provoquei, mostrando a ele minha melhor
impressão de Coringa.
E eu acertei. Grande momento.
De repente, ele me deu as costas e se dirigiu para a rua.
— Onde você está indo? — Eu gritei para ele.
Ele olhou por cima do ombro e me lançou um olhar irritado enquanto
eu o perseguia. — De volta ao programa. — ele murmurou secamente.
— Oh vamos lá. Não seja um desmancha-prazeres.
— Estou cansado, Micah. Não durmo há dois dias. — Jensen esfregou
as mãos no rosto e agora eu estava vendo as bolsas escuras sob seus olhos
pela primeira vez. — Eu só quero dormir. — acrescentou.
— Dormir é superestimado.
Ele revirou os olhos. — Talvez para você. — ele respondeu.
— Tanto faz. — eu respondi, virando-me e indo na direção oposta. —
Porra, vá embora, então. Todos eles fazem.
— Venha comigo...
— Até mais, Jensen!
— Venha comigo, Micah. — eu o ouvi me chamar.
Embora eu tenha fingido que não o ouvi. Como se ele nem existisse.
Porque ele não existia.
Só houve uma coisa que existia.
2
…Mania .
Num minuto você está perdido e no minuto seguinte... você foi
encontrado.
Você é o único criador do seu próprio destino.
Uma onda de extrema adrenalina entra em ação. Seu coração acelera
a uma velocidade insondável, junto com os pensamentos em sua mente. A
ansiedade alimenta ainda mais a mania.
Ela atinge você a toda velocidade do nada.
Você não está mais limitado pelos limites do seu corpo físico.
Você pode ser qualquer coisa ou qualquer pessoa que você quiser ser.
Não há limites, porra. Sem consequências. Sem distrações. Tudo faz
sentido... E ainda assim nada faz. Tudo tem significado... E ainda assim nada
tem.
E ainda assim, tudo é absolutamente lindo.
A vida é linda.
Você está operando com clareza controlada por hiperatividade. Nada
é impossível naquele momento. O mundo é seu para criar. Para possuir.
Ver é arte. Ouvir é música. Respirar é viver.
Você está chapado.
Tão incrivelmente chapado.
Você se arrisca. Riscos. Porque por que diabos não?
Sua doença não é mental.
…Você finalmente está livre.
…
Até… você bater.
E…
…queimar.
Eu odiava aniversários, mas era o dia do meu décimo quinto. Para mim
era apenas mais um dia, mas para minha mãe era diferente. Naquela
manhã, ela me puxou de lado no corredor, mantendo a voz baixa. — Depois
de hoje, podemos começar tudo de novo. Em algum lugar novo. Muito,
muito longe. — ela me disse. — Eu sempre quis ajudar você, Damien. Mas
não consegui. Até agora.
No início, não acreditei nela.
Mas havia algo no olhar dela.
Ela quis dizer isso, de todo o coração.
Depois de todos esses anos, finalmente iríamos partir.
Eu ia comer cereal no café da manhã, mas, no meio do caminho para
colocar o leite na tigela, percebi que estava estragado.
Meu pai entrou na cozinha, todo vestido de preto, as olheiras me
lembrando de como ficamos acordados até tarde na noite passada.
Ele estreitou os olhos, apontando para a tigela sobre a mesa com um
aceno de cabeça. — Você vai desperdiçar comida perfeitamente boa? — ele
provocou.
— O leite estragou. — eu disse a ele.
— E? — ele perguntou, levantando a voz.
— Está tudo bem. — minha mãe saiu correndo, pegando a tigela.
Ele bateu com o punho na mesa com um baque forte, ela gritou com
sua ação inesperada.
— Deixe isso, Donna. — ele ordenou, imediatamente ela obedeceu. —
Sente-se.
Ela sentou-se calmamente à mesa, por um breve momento, nossos
olhos se encontraram.
Ele me empurrou para longe do balcão e de volta para a mesa da
cozinha. — Deixe de ser um maricas e coma seu maldito cereal, Damien. —
ele rosnou. — Sua mãe trabalha duro para colocar comida na mesa, e é
assim que você a retribui?
Abaixei minha cabeça.
Ele estava chateado comigo por causa da noite passada.
Apaguei e perdi o controle.
— Por favor, Mitch — minha mãe começou a implorar. — É o
aniversário dele...
De repente, ele bateu na nuca dela, jogando-a para frente.
Sem pensar bem, corri em direção a ele, tomado pela raiva.
Normalmente, ele só me batia. Às vezes, um tapa. Outras vezes, ele não
parava até eu estar enrolado no chão.
Mas ele nunca havia tocado minha mãe antes.
Até agora.
Ele pegou meu punho na palma da mão e torceu meu braço até que
ele ficou preso nas minhas costas.
— Pare com isso, Mitch! — minha mãe gritou.
Com isso, ele me empurrou na cadeira antes de se virar para dar um
tapa no rosto dela. Ela gritou de dor e tudo que vi foi vermelho.
Um sinal de que eu estava prestes a ter um apagão.
— Afaste-se dela. — gritei, saltando pela cozinha e empurrando-o com
todas as minhas forças, fazendo-o voar de volta.
Minha mãe se encolheu de medo. — Damien!
Ele cambaleou em minha direção e deu um soco em meu queixo, me
jogando para trás. Minha visão imediatamente ficou confusa. Mas em todas
as nossas aulas, ele me ensinou a bloquear a dor. Agora, em vez de temer,
eu abracei.
Antes que eu pudesse entender, eu estava no chão da cozinha e ele
estava pairando sobre mim, me batendo até perder os sentidos. Ele fez
questão de prestar a maior parte de sua atenção em meu abdômen e
costelas.
Depois de cerca de um minuto levando socos, olhei para ele e ri.
Isso o irritou e ele me deu um soco bem na boca.
— Tudo. Sobre. Leite. Estragado. — ele grunhiu entre golpes lentos e
calculados.
— Deixe meu filho em paz. — minha mãe soluçou, pulando em suas
costas sem avisar.
Ele a empurrou fora e ela caiu ao meu lado no chão frio de ladrilhos.
Sangue escorria de seu lábio.
Ela piscou para mim, lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
— Cale a boca, vadia. — ele retrucou, olhando para ela como um
louco.
Antes que ele pudesse fazer outro movimento, rastejei em cima da
minha mãe aterrorizada, protegendo-a da sua raiva. Olhando para ela, notei
o terror em seus olhos. Todos esses anos eu estive me perguntando por que
ela nunca tinha me protegido, agora percebi que era porque fui eu quem há
protegeu o tempo todo.
E eu estava bem com isso, porque ela precisava ser protegida de
monstros como meu pai. Ele agarrou meu cabelo e me levantou, antes de
me jogar na cadeira em frente à tigela com leite fétido.
Ela chorou atrás de mim, para proteger a mulher inocente que me deu
à luz e me criou, enfiei uma colher de cereal na boca ensanguentada. E
forcei o leite azedo e grosso e o cereal sem mastigar.
— Vê? — ele questionou com raiva. — Isso não foi tão difícil, foi?
— Não, senhor. — eu sufoquei, enquanto ele se despedia da sala.
Durante todo o dia escolar, passei meu tempo correndo para dentro e
fora do banheiro, vomitando até a morte por causa do meu delicioso café da
manhã. As cólicas estomacais eram as piores, considerando o quanto minha
caixa torácica estava machucada por levar chutes no mesmo lugar repetidas
vezes.
Jensen e Micah nunca me perguntaram o que aconteceu.
Isso era o que eu admirava neles.
Eles nunca esperaram nada de mim.
Havia um bilhete na minha mesa de cabeceira quando cheguei da
escola.
Sinto muito por esta manhã. Esteja em casa às onze da noite. Seu pai
estará na igreja. Certifique-se de que sua mala esteja pronta. Estamos indo
embora. Eu te amo, Damien.
- Mãe
Papai não poderia ter visto porque ele estava fora durante o dia e
nunca voltava para casa antes da meia-noite. Sempre me perguntei o que
ele fazia no trabalho na igreja local, incomumente silenciosa.
Ele nunca me contou.
E eu nunca perguntei.
Tudo que eu sabia era que minha mãe dedicava praticamente todo o
seu tempo como garçonete em um pequeno restaurante no centro da
cidade, trabalhando duro para sobreviver.
Enchi minha mochila de roupas e a coloquei debaixo da cama.
Meu telefone se acendeu com uma mensagem de Jensen.
Festa na casa de Marcus esta noite. Você está dentro?
Estarei lá, mandei de volta.
A festa foi boa. A música estava tão alta que eu mal conseguia me
ouvir falar. Houve consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade. A
fumaça dos cigarros e baseados enchia o ar ao nosso redor, a casa inteira
estava quase completamente desocupada e todos estavam dançando.
— Oi, Damien. — Penny falou arrastada, pressionando seus seios
empinados contra meu abdômen machucado. — Você nunca me respondeu.
Claro que não.
Eu não estava interessado em sexo.
Eu estava mais interessado em derramar sangue.
— Vou te mandar uma mensagem de volta, baby. — Micah ronronou.
— Tudo que você precisa fazer é me dar seu número.
— Cai fora, Micah. — Penny gemeu, inclinando a cabeça para trás
para olhar para o meu rosto. Como ela ainda não tinha notado o
desinteresse por trás do meu olhar estava além da minha compreensão. —
Quer encontrar um quarto... para que possamos conversar?
Conversar. Eu ri baixinho. — Você não conseguiria lidar comigo mesmo
se tentasse.
— Vamos descobrir. — ela respondeu sedutoramente, piscando para
mim.
— Hoje não, Penny. — respondi, desinteressado.
Ela rosnou e deu um passo para trás, não se agarrando mais a mim. —
Como quiser. — ela murmurou, virando-se.
Até que meus dedos se fecharam em seu pulso e eu a trouxe de volta
para mim.
— Vamos. — eu soltei, levando-a para a parte de trás da casa.
Seguimos por um longo corredor antes de virar à direita. Assim que
fechei a porta atrás de nós, Penny agarrou minha camisa, me puxando para
mais perto. Levantando minha mão, passei meus dedos por seus longos
cabelos loiros avermelhados. Era tão macio e ela cheirava a flores.
Ela tirou os sapatos e ficou na ponta dos pés, nem chegando perto da
minha altura. Agarrando minha nuca, ela puxou minha cabeça para baixo e
pressionou seus lábios contra os meus.
Seu brilho labial cereja cobriu minha boca e eu me inclinei, deslizando
minha língua pela linha de seus lábios. Sem aviso, ela mordeu meu lábio.
Saboreei o gosto de cobre do sangue e meu pau se contraiu contra o
zíper.
Mas mal.
Ela puxou minhas calças para baixo e me empurrou para a cama.
Recostei-me, observando enquanto a excitação desaparecia de seus olhos.
Penny esfregou minha virilha sobre minha boxer, quando nada aconteceu, e
meu pau ficou mole, ela franziu a testa.
— Devo tirar a roupa ou algo assim?
— Não. — respondi tristemente, não me sentindo nem um pouco
excitado. As meninas simplesmente não faziam isso por mim. Os caras
também não. Não importa quanta pornografia eu assistisse, e tinha assistido
algumas merdas estranhas, nada parecia mais me deixar duro.
Não desde o momento em que comecei a sentir minha única excitação
em machucar pessoas.
De causar dor.
Dor de verdade.
— Seu pau não funciona? — ela brincou, olhando para mim como se
eu tivesse dez cabeças. Ela me esfregou através da minha boxer com força.
— Que porra é essa, Penny. — eu grunhi, me afastando de seu toque
áspero.
— O que você tem? — ela ridicularizou, os olhos estreitados.
— Muita coisa. — respondi presunçosamente, segurando a barriga
rindo incontrolavelmente. — Há muita coisa errada comigo, Penny.
Ela saiu correndo do quarto com raiva, me deixando sozinho. Por um
tempo, fiquei perdido em meus pensamentos, até que ouvi passos fracos
vindos do corredor.
Jensen entrou no quarto primeiro e Micah seguiu logo atrás.
— Você está bem? — Jensen perguntou.
Suspirei, passando as mãos pelos cabelos. Levantando-me da cama e
levantando as calças, dei de ombros. — Estou bem. — Olhando para a hora
no meu telefone, soltei um suspiro profundo. Dez e quarenta e cinco. — Eu
tenho que ir.
— Tão cedo? — Micah perguntou. — Você só bebeu duas cervejas.
— Tomaremos o suficiente para compensá-lo. — rebateu Jensen. —
Vejo você amanhã?
Fechando os olhos, após um momento de silêncio, ele assentiu em
compreensão mútua. Eu nem precisei responder. Ele simplesmente sabia.
Micah também.
— Avise-nos se precisar de nós, cara. — disse Jensen. — Você sabe
que estaremos lá.
Acabei saindo da festa o mais sóbrio possível, pronto para começar
uma nova aventura. Eram dez minutos a pé da casa de Marcus antes de eu
chegar em casa. Eu ainda tinha tempo mais que suficiente de sobra.
Mas no momento em que entrei, uma sensação estranha tomou conta
de mim. Algo não parecia certo.
— Mãe. — gritei, inquieto, olhando para o topo da escada.
Veio o silêncio.
Talvez ela ainda estivesse no trabalho.
Talvez ela tenha mudado de ideia.
Ou talvez…
Ao passar pela porta da cozinha, de repente fiquei paralisado no lugar.
Meu estômago revirou e meu coração quase parou. O tempo agora deixou
de existir.
Todo o meu mundo desmoronou ao meu redor.
A paralisia total tomou conta de mim enquanto olhava para a imagem
de minha mãe deitada no chão da cozinha em uma poça de sangue. Ela
estava morta. Ela estava morta. Ela estava morta.
De repente, ela se contraiu.
Corri até ela, tropeçando nos próprios pés, caí no chão ao lado dela.
Seus olhos estavam abertos... mas por pouco.
— Mãe — gritei, enquanto o vermelho carmesim escorria das feridas
abertas em seus braços como uma torneira. Pressionei minhas mãos sobre
elas, tentando controlar o sangramento. Eu falhei. — Mãe? Mãe?
Tremendo incontrolavelmente, peguei um pano de prato no balcão e
pressionei o pano contra seus pulsos. Em segundos, estava saturado de
sangue.
— Mãe — repeti, segurando seu rosto entre as mãos, tentando ver a
vida em seus olhos. Estava lá. Ainda estava lá. — Fique comigo, mãe. Por
favor.
— Damien... — ela murmurou, quase nenhum som em sua voz. — Eu
não...
— Eu vou salvar você. — murmurei, quando ela ergueu a mão e roçou
as pontas dos dedos em minha bochecha.
Lágrimas deixaram seus olhos. Ela soltou um soluço sufocado e
balançou a cabeça.
Havia tanto sangue. O cheiro de cobre era tão forte que quase pude
sentir seu gosto. Não importa o quanto eu pressionasse as feridas, elas eram
profundas demais.
Ela fechou os olhos com força e chorou impotente enquanto eu a
puxava para o meu colo.
— Eu vou — tentei o meu melhor para assegurá-la. Prometer a ela. —
Eu vou salvar você, mãe. — Balançando-a suavemente contra meu peito, eu
a segurei com força. — Vai ficar tudo bem. — Seus olhos permaneceram
abertos, mas ela começou a desaparecer. — Por favor. — implorei ao
homem poderoso lá em cima, levantando-a em meus braços.
Exceto, apenas o diabo respondeu.
Apressando-nos para fora da porta da frente e para a noite escura de
verão, segurei seu corpo totalmente mole contra meu peito. Assim que
chegamos à calçada, caí de joelhos, mantendo-a por perto.
— Peguei você, mãe. — eu disse a ela, olhando diretamente em seus
olhos. — Te peguei.
Toda a cor desapareceu de seu rosto. Seus olhos se fecharam.
— Não, não, não. — murmurei fracamente, deitando-a na calçada.
Puxando minha camisa pela cabeça, usei-a para aplicar pressão, prendendo-
a firmemente em volta do braço com o corte mais profundo. — Ei. —
Segurei sua bochecha com a mão, traçando sua pele fria com o polegar. —
Olhe para mim. OLHE para mim!
Ela não fez isso.
Ela havia perdido muito sangue.
Cheguei tarde demais.
— Não morra comigo, mãe. Não, não, não!
Tentei gritar por socorro, mas, para minha derrota, não saiu nada.
Um vizinho apareceu do nada.
— A ambulância está a caminho. — explicou ele, ajoelhando-se diante
de mim, tentando ajudar.
— Não toque nela, porra. — eu cuspo, pressionando com mais força as
fendas abertas.
Ele recuou.
O sangue derramado agora era um filete lento e constante.
— Mãe — gritei para ela, sentindo a pulsação em sua garganta com
minhas mãos trêmulas e manchadas de sangue. Meu coração afundou. Meu
estômago embrulhou. — Porra! — Eu gritei. — PORRA!
Ajoelhei-me sobre ela e comecei a RCP.
E eu não parei.
Nem por um único segundo.
Eu não sabia quanto tempo havia passado. O tempo pareceu parar.
O zumbido surdo que pulsava em meus ouvidos impedia-me de ouvir
as sirenes da ambulância ao longe. Ignorei as luzes piscando e a multidão de
pessoas que agora assistiam horrorizadas da rua. Havia muito sangue. Não
apenas o sangue de qualquer um.
Da minha mãe.
Inclinei sua cabeça para trás e soprei oxigênio em sua boca, esperando
que chegasse aos seus pulmões.
Esperando que isso a trouxesse de volta para mim.
Mas isso não aconteceu.
De repente, os paramédicos estavam me arrastando. Eu os empurrei
para longe de mim num frenesi ardente de raiva e corri de volta para ela.
Levantando seu corpo delicado em meu colo, aninhei sua cabeça contra meu
peito, desejando que ela voltasse para mim.
— Sinto muito. — eu disse a ela, repetidamente. — Me desculpe
mamãe. Eu sinto muito.
E finalmente, isso me atingiu como um trem de carga com força total.
Ela se foi.
Uma parte de mim morreu naquela noite com ela.
Uma parte de mim que nunca poderei recuperar.
Mas, diferentemente da maioria das pessoas, para mim ficar triste não
era uma opção.
Era como se agora houvesse uma pequena chama no lugar da minha
alma, que aos poucos se transformou em um enorme fogo sobre o qual o
próprio diabo jogou um monte de pneus em chamas.
Os pneus nunca param de queimar.
Nem o diabo.
E aquele fogo me consumiu.
Até que não sobrou nada.
CAPÍTULO CINCO
DAMIEN
NOITE DA INICIAÇÃO
Peter,
Está ficando pior. Temo por Damien cada vez mais a cada dia. Eu tenho
que tirá-lo daqui. Esta casa está contaminada pelo diabo. Sei que pedi para
você cuidar dele de longe, mas não consigo afastar a sensação de que algo
terrível vai acontecer conosco se ficarmos aqui por mais tempo.
Estou levando ele embora. Seu pai se tornou um monstro terrível a
cada dia, não vou deixar isso continuar. Eu amo demais Damien e não
suporto mais vê-lo sofrer. Por favor, encontre-nos na cabana na noite do seu
décimo quinto aniversário.
11h30.
Obrigado por tudo.
Se algo acontecer comigo, saiba que não foi pelas minhas próprias
mãos. Eu nunca abandonaria meu filho.
—Donna
JENSEN
MICAH
Seus peitos saltaram por todo o lado enquanto eu a fodia com força
por trás. Meus quadris batiam ruidosamente contra sua bunda a cada
estocada. Eu penetrei nela com mais força, alcançando a frente de sua
cintura para deslizar minha mão entre suas coxas.
Pressionei os meus dedos sobre o seu clitóris, as suas pernas
começaram a tremer, fazendo-a sacudir para frente.
— Sim, por favor. — ela implorou, empurrando-se contra mim. — Não
pare.
Enquanto esfregava seu clitóris, ela inchou de necessidade sob meu
toque firme. Eu bati nela repetidamente, enviando-a ainda mais para cima
na cama com cada impulso. Seus gemidos abafados e ansiosos logo se
transformaram em gritos altos e satisfeitos de felicidade.
— Oh, porra, sim — ela choramingou, caindo sobre seus antebraços.
Ela enterrou o rosto no colchão, agarrando os lençóis enquanto eu
aumentava a velocidade. Observando o sangue escorrer pelas costas dela
devido aos pequenos cortes que eu tinha feito, me enterrei mais fundo,
batendo nela impiedosamente. Ela estava encharcada. Os seus sucos
continuaram a escorrer pelas suas coxas e a acumular-se na cama enquanto
eu a levava ao seu quarto orgasmo.
— Porra. — ela choramingou, esguichando em volta de mim enquanto
suas paredes internas agarravam meu pau com força.
— Uma garota tão bagunceira. — eu mordi, agarrando seus quadris,
minhas pontas dos dedos pressionando profundamente sua pele enquanto
eu desejava gozar.
Mas não consegui. Eu nunca consegui.
Deve ter sido algum tipo de maldição.
— Por favor, goze comigo. — ela lamentou, exausta, embora fosse eu
quem fizesse todo o trabalho.
Seu corpo estava escorregadio de suor. O meu também estava. Eu
estava encharcado, respirando com dificuldade e rápido, meu peito subindo
e descendo a cada expiração forte.
— Damien. — Jensen gritou, abrindo a porta do meu quarto.
— Oh meu Deus. — Cindy engasgou, rolando para fora da cama com
um baque alto, apertando os lençóis contra o peito. — Que diabos! Saia!
— Foi mal. — ele deixou escapar, irritado, desviando o olhar.
— Sim? — Soltei uma respiração superficial, meus joelhos afundando
ainda mais no colchão enquanto me virava ligeiramente para ele. — O que
é?
Ele baixou o olhar para meu pau ereto com um aceno de cabeça antes
de fixar seus olhos nos meus. — Precisamos ir. — ele me disse.
— Pelo amor de Deus. Estou um pouco ocupado no momento. —
Suspirei, jogando minha cabeça para trás. — Posso encontrar você lá mais
tarde?
— Não. — ele confirmou.
E assim que ele disse a palavra, eu entendi.
Tirei a camisinha e joguei no lixo ao lado da minha mesa de cabeceira.
Não é como se eu fosse gozar tão cedo, de qualquer maneira.
— Desculpe. — eu disse a Cindy, caminhando casualmente até minha
cômoda. Coloquei uma calça, ouvindo o som da minha porta se fechando
atrás de mim.
Meu pau amoleceu imediatamente.
— Você está indo? Desse jeito? — Ela reclamou. — Onde você está
indo?
— Trabalhar.
— Tão tarde?
Eu a ignorei.
Cindy demorou a recolher as roupas que estavam espalhadas pelo
chão, quando eu estava pronto para ir, ela estava me esperando na porta,
olhando para mim com os olhos arregalados.
— Você deveria dizer ao seu amigo para bater na próxima vez. — ela
murmurou.
— Vou fazer.
— Você vai me acompanhar até o meu carro?
— Claro. — eu disse.
— Vamos fazer isso de novo algum dia?
— Sim.
— Você não parece interessado. — ela calmamente resmungou.
— Eu estou baby. — Suspirei impacientemente, colocando uma mecha
solta de cabelo atrás da orelha dela. — Agora, deixe-me acompanhá-la.
Foi no dia em que vi Quinn pessoalmente pela primeira vez que minha
obsessão realmente começou. Imediatamente, fiquei viciado. À primeira
vista, fiquei cativado por sua beleza. Ela era a mulher mais deslumbrante
que eu já vi na minha vida.
Suas longas mechas loiras caíam lindamente em suas costas. Ela
prendeu o lenço em volta do pescoço e enfiou a ponta do nariz rosado no
casaco, tentando encontrar consolo no ar rigoroso do inverno. Eu a segui até
uma pequena cafeteria no centro da cidade, me perguntando se isso era
simplesmente uma coisa que acontece uma vez na lua azul ou se era uma
parte diária de sua rotina matinal.
Eu já sabia muito sobre ela da Ordem.
Mas foram os pequenos detalhes deixados de fora de seu arquivo que
me fizeram sentir mais atraído do que qualquer outra coisa.
Eu queria saber tudo.
Ela abriu a porta da cafeteria e saiu do caminho para esperar o idoso
que descia a calçada irregular com a ajuda da bengala.
Esperei que ele sorrisse para ela com apreciação enquanto ela
esperava pacientemente. Mas para minha surpresa, ele baixou o olhar para
o chão com uma careta fria.
E ela segurou a porta aberta para ele enquanto ele entrava com
cuidado.
Quinn não parecia incomodada com isso do jeito que eu estava. Lá
estava ela, parada no frio enquanto o ar gelado roçava sua pele, fazendo um
ato aleatório de gentileza.
E ela não pediu nada em troca. Nem esperava.
Ela escolheu fazer isso pela bondade de seu coração, simplesmente
porque isso a fazia se sentir bem.
A fez sorrir.
E para mim, isso foi fascinante. Eu não tinha conhecido uma pessoa
genuína assim em minha vida. Jurei que ela sempre estaria protegida. E eu
faria tudo ao meu alcance para mantê-la segura. Esta era minha segunda
chance.
Uma chance onde eu poderia tentar me redimir depois de não ter
conseguido proteger minha mãe.
Ela era tão preciosa para mim. Tão inocente.
Assim como Quinn.
Enquanto isso, olhei em volta e vi o mal em cada esquina. No meu
mundo, desde criança, fui sufocado por um espesso manto de escuridão.
Escuridão que me engoliu inteiro.
Mas naquele dia... naquele exato momento... Quinn se tornou minha
luz.
JENSEN
MICAH
Meu trabalho era cuidar dela. Para mantê-la a salvo deste mundo
sombrio e cruel.
Era estritamente profissional para mim.
Até que a vi pela primeira vez.
Daquele dia em diante, havia algo único nela. Ela sempre tinha um
sorriso no rosto, mas me perguntei se era uma máscara. Naquele momento
da vida dela, eu não achava que fosse. Eu acreditei que era real. Presumi
que ela simplesmente nasceu assim. Uma pessoa totalmente feliz.
Damien, Jensen e eu assistimos do nosso jipe enquanto ela estava em
sua caixa de correio, rasgando o envelope com impaciência. Ver a felicidade
no rosto dela ao ler que foi aceita na faculdade foi um dos melhores dias da
minha vida. Ela estava em êxtase, chorando e gritando de excitação. Ela
abraçou a mãe com muita força, nós três também podíamos sentir isso.
Estávamos lá no primeiro dia em que ela chegou ao campus. A mãe
dela ajudou-a a trazer todos os seus pertences e depois almoçaram juntas
num pequeno café a cerca de um quarteirão de distância.
Mesmo que nunca tenhamos dito uma única palavra para Quinn,
pudemos compartilhar tantos momentos incríveis com ela.
Até os tristes.
Aqueles que partiram não só o coração dela, mas o nosso também.
Ela está lidando com o estresse da faculdade. Sentindo saudades de
casa e se escondendo em seu quarto.
Houve altos e baixos, pouca coisa em sua vida permaneceu igual. Nada
era constante.
Exceto nós.
Nós sempre estivemos lá.
E isso nunca iria mudar.
DAMIEN
DAMIEN
JENSEN
MICAH
DAMIEN
MICAH
Quando eu tinha dez anos, perdi meu pai para o suicídio. O pior de
tudo foi ouvir o som do tiro. Eu não apenas ouvi, mas senti o exato
momento em que meu melhor amigo deixou este mundo. Ele era meu
mundo. E num piscar de olhos minha vida virou de cabeça para baixo.
A morte dele deixou um vazio em meu coração e nunca me recuperei
totalmente.
E embora ele tenha me deixado lindas lembranças, isso é tudo que
tenho agora.
Lembranças.
Junto com os constantes e irritantes “e se” e “porquês”.
E se ele nunca morresse?
Como seria minha vida agora?
E se eu conseguisse detê-lo antes que ele puxasse o gatilho?
Por que ele voluntariamente escolheu me deixar para trás?
Por que ele fez isso com minha mãe?
Por que ele fez isso comigo?
Por quê?
…Por quê?
…POR QUÊ?
Mas nunca saberei, então, por enquanto, vivo minha vida com milhões
de perguntas sem resposta e diferentes cenários em mente.
É difícil para a maioria das crianças de dez anos compreender
totalmente o suicídio.
Já é um assunto delicado e comovente.
E quando é seu pai? O homem que criou você? Mimou você?
Amou você?
É quase impossível entender.
Mesmo agora, aos vinte e três anos, ainda não consigo entender isso.
Não houve bandeiras vermelhas ou sinais de alerta. Não havia carta.
Essa é a parte que mais dói.
Ele nunca disse adeus.
Seu falecimento completamente inesperado e trágico afetou
profundamente minha mãe, ainda enlutada, mesmo treze anos depois. Ela
se tornou extremamente superprotetora comigo, já que sou sua única filha.
Ela se tornou cautelosa.
Excessivamente cautelosa.
Como se ela estivesse constantemente esperando que algo terrível
acontecesse comigo também.
Mal ela sabe... eu sinto o mesmo por ela.
Desde pequena, mesmo antes da morte do meu pai, sempre me senti
deslocada. Mas perdê-lo realmente me confundiu. Durante todos esses
anos, estive perdida.
Procurando meu lugar no universo.
E agora, depois de conhecer Ghost, Jason e Michael ontem à noite...
Algo dentro de mim foi ativado. Há uma faísca inegável. Uma pitada de vida
despertou em minha alma.
Acordei esta manhã sentindo total serenidade e isso me aterrorizou.
Mesmo depois de tudo o que aconteceu entre nós quatro na noite passada,
e toda a química que tivemos, eu não conseguia lidar com a ideia de parecer
estúpida aos olhos deles.
Eu não queria ser uma daquelas pessoas que acorda sorrindo,
esperando pelo melhor, antes que a pessoa com quem acabou de passar a
noite diga para eles saírem e chama um uber.
Nosso acordo era por uma noite, então eu mantive isso, deixando
Damien ainda dormindo na cama, sem nem mesmo me despedir.
Porque a verdade é... por que alguém ainda me queria depois de já me
ter?
Eu tinha apenas dezoito anos quando meu tio me explicou tudo, sem
esconder nada. Ele sabia que eu odiava meu pai e também sabia que eu
poderia lidar com isso.
Afinal… eu era sobrinho dele. Sua própria carne e sangue.
Para ele, isso significava alguma coisa. Isso significava tudo.
Os laços familiares selaram meu destino.
A Ordem do Invisível foi originalmente fundada pelo meu tio. Ele
desprezava meu pai. Seu próprio irmão. E foi por isso que ele me recrutou.
Ele sabia que eu faria qualquer coisa para irritar meu pai. Vingança,
por tudo que ele fez minha mãe passar.
Me fez passar.
Pouco depois de prestar juramento perante a sociedade, descobri toda
a verdade sobre meu pai.
Ele sendo o segundo em comando e co-fundador de um culto
perturbado com sede em Salem, Massachusetts. Um homem chamado Eli é
o líder sádico. Logo depois disso, tudo na nossa vida começou a fazer
sentido. Todas as noites que ele passou fora de casa enquanto eu crescia,
dedicando todo o seu tempo a uma igreja local.
Minha suposta educação fodida finalmente fez sentido.
Todos os assassinatos que ele me fez testemunhar.
Os assassinatos que ele me fez cometer.
Ele me criou para ser um assassino, na esperança de que um dia eu me
juntasse a ele e à sua causa fodida. Realmente juntar-se a ele. Ajudar o
Sagrado Divino a cumprir seus planos sinistros.
Sejam quais forem.
Desde seus rituais sombrios e insensíveis, até sacrifícios não apenas de
animais, mas também de humanos, as pessoas normais os rotulariam como
um culto.
Um culto satânico.
Embora, é claro, eles se autodenominam O Sagrado Divino.
Exceto que não há nada de divino no que eles fazem. Eles caçam os
sem-teto. Tomando civis inocentes como suas vítimas. Todas as idades.
Até crianças.
E depois de todos estes anos, eles ainda não foram capturados.
Nenhum dos desaparecimentos foi atribuído a eles. Há muitos policiais
corruptos nesta cidade.
Ainda sabemos muito pouco sobre suas verdadeiras intenções. Mas a
certa altura, tínhamos algumas pessoas lá dentro que usávamos em nosso
benefício. O que sabemos é que se você se juntar a eles, nunca mais
encontrará o caminho de volta. Assim que você for um deles... você estará
praticamente morto.
Os ratos foram exterminados no momento em que descobriram que
tinham ligações com A Ordem.
Esse foi o fim de tudo.
Pouco depois de eu nascer, meu tio reuniu um grupo de pessoas para
observá-los de longe e reportar quaisquer atividades suspeitas. Foi assim
que a sociedade foi originalmente criada. Os membros da Ordem tornaram-
se os vigilantes de Salem, por assim dizer.
Eles acabaram com os assassinatos de inocentes.
E em vez disso, optaram por matar monstros verdadeiros. Aqueles que
mereciam isso.
Aqueles que mereceram.
O mal.
Essa era a única maneira pela qual o tio Peter poderia realmente
justificar o fim da vida de alguém.
E contanto que houvesse sangue em minhas mãos e eu pudesse me
livrar da coceira? O desejo de matar? É melhor você acreditar que eu estava
a bordo.
Eu precisava de uma saída para liberar meus demônios interiores.
Os demônios que meu pai me passou.
Isso foi bem antes de eles finalmente firmarem uma trégua. E agora,
esta trégua foi quebrada.
Com o passar dos anos, de alguma forma veio à tona que havia uma
enorme diferença entre A Ordem e O Sagrado Divino. Todos os membros do
culto estão proibidos de ter filhos. Se essa linha for ultrapassada e a gravidez
não for interrompida, os concebidos serão um dia sacrificados. Quando
chegar a hora.
Um ritual que eles chamam de A Noite Final.
Seja lá o que for.
Evidentemente, como ainda estou aqui, vivo, mas morto por dentro,
meu pai tem planos para mim.
Os planos, tenho certeza, são muito piores do que morrer de verdade.
CAPÍTULO VINTE
JENSEN
Desconhecido:
Olá Quinn. É o Michael. Peguei seu número no telefone de Ghost
Desculpe se isso é estranho.
Desconhecido nº 2:
Você estava tão linda hoje
Eu:
Deixe-me adivinhar. Jason?
Você também conseguiu meu número no telefone de Ghost?
Jensen:
Não
Recebi de Michael.
Damien:
Você está me ignorando?
Eu:
Talvez.
Damien:
O que está errado?
Eu fiz alguma coisa?
Micah:
Você está bem?
Jensen:
Espero que você esteja bem.
Killian:
Há um sobrevivente.
Eles ainda não divulgaram um nome.
Killian:
Oh?
Vou mandar alguns homens para o hospital.
Para terminar o trabalho.
As portas se abrem e Micah entra, olhos arregalados, seu corpo
bombeando com adrenalina quando ele me encontra no final do corredor.
Não se preocupe, mando a mensagem de volta. Nós cuidamos disso.
— Puta merda, que pressa. — Micah exala bruscamente. — Você
sempre foi um bastardo tão inteligente.
Eu bufo.
— Ele está morto, Damien. — ele confirma. — Não há como trazê-lo
de volta disso.
— Não. — eu deixei escapar secamente. — Não há.
E seguimos para a escada.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
QUINN
Acordo com uma luz nebulosa entrando pela janela. Rolando para o
meu lado, meu olhar se fixa em Jensen. Quase esqueci que fui para a cama
com ele e Quinn ontem à noite, depois que Damien e eu voltamos do
hospital.
Ele ainda está dormindo, deitado de costas, com os braços apoiados
no travesseiro ao lado da cabeça. Isso me leva de volta à época em que
éramos colegas de quarto em casas coletivas. Exceto que eu sempre
acordava do outro lado do quarto dele.
Agora, ele está na minha cama, bem ao meu lado.
Quinn não está à vista e a porta está fechada.
Respirando fundo, passo os dedos pelos cabelos, relembrando em
minha mente meu encontro com Jensen na casa segura. Eu, de joelhos,
lábios em volta de seu pau.
Ansiosamente fico ereto, coloco meu rosto nas mãos.
Uma parte de mim o odeia. No entanto, outra parte de mim só quer
senti-lo contra mim novamente.
Suspiro com raiva, balançando a cabeça em uma frustração quente e
sexual que está profundamente enraizada.
Sem aviso, há movimento ao meu lado. A respiração de Jensen sopra
minha pele, então seus lábios quentes e macios pressionam minha parte de
trás do ombro.
— Sinto muito. — ele sussurra, significativamente.
Sua mão encontra meu bíceps e ele lentamente passa as pontas dos
dedos pelo meu braço. Um arrepio percorre minha espinha em resposta ao
seu toque, enquanto fecho os olhos, abaixando a cabeça. Ele beija minha
nuca, me inspirando.
— Sinto muito, Micah. — ele diz calmamente.
Viro minha cabeça e nossos olhos se cruzam.
— Sinto muito. — ele repete. — Por machucar você. Eu nunca quis te
machucar. Por favor, me perdoe.
— Porra. — murmuro, minha voz baixa. De repente, estou perdido em
seus olhos sinceros. — Eu não sou apenas um cara com quem você pode
brincar. Eu sou seu melhor amigo.
— Você é mais do que isso.
— Sou? — Eu questiono, enquanto seus olhos exploram os meus.
— Eu não sou como você. — ele me diz. — Você já sabe quem você é.
Mas eu? Ainda estou me encontrando.
— O que você quer, Jensen?
— Eu quero ficar com Quinn. — ele começa, me pegando
desprevenido. Ele abaixa o olhar para meus lábios. — Mas eu também quero
ficar com você. No fundo, sempre quiz.
— Ficar comigo. — repito, minha voz desaparecendo.
— Ficar com você. — Sem avisar, ele acaricia minha coxa. — Eu quero
que você me mostre.
Meu pau cresce entre minhas coxas. Tomando minha ereção tensa em
minha mão, eu me acaricio lentamente, ganhando velocidade antes que ele
alcance entre minhas pernas. Ele curva os dedos em volta das minhas bolas
e as massageia suavemente, enquanto um nó se forma no meu estômago.
— Te mostrar o quê? — Eu pergunto, respirando profundamente.
— Tudo — ele confessa, finalmente sendo honesto consigo mesmo. —
No que você está pensando agora, Micah?
— Você. — eu afirmo, me acariciando mais devagar.
Seus dentes roçam levemente meu ombro. — Eu? — ele ecoa. —
Empurrando em sua bunda apertada com meu pau grosso? Eu dividindo
você ao meio? Fodendo você com força?
Virando a cabeça, olho profundamente para aqueles impressionantes
olhos castanhos. — Não. — respondo com firmeza.
Seu rosto endurece imediatamente.
De repente, eu o agarro e o viro. Completamente pego de surpresa,
agora de joelhos, ele solta um suspiro profundo.
— Eu te fodendo. — digo a ele, puxando lentamente sua boxer pelos
quadris. — Eu quero tanto me enterrar dentro de você. — Eu exalo
bruscamente, tentando organizar meus pensamentos. — Muito rápido?
— Faça isso. — ele declara imediatamente. — Possua-me, Micah.
Pegando o lubrificante da gaveta da minha mesa de cabeceira,
esguicho apenas o suficiente nos dedos. Eu lentamente trabalho um dedo
dentro dele, dando-lhe todo o tempo do mundo para se ajustar à invasão.
Isso pode ser novo para ele, mas não é para mim.
— Porra. — ele exala bruscamente, ficando tenso contra mim.
— Relaxe. — digo cuidadosamente a ele. — Isso tornará isso muito
mais fácil.
Jensen geme quando adiciono outro, esticando seu buraco apertado
em volta dos meus dedos, acostumando-o à sensação. Em breve, encontro o
lugar certo. Seus gemidos de prazer me encorajam a penetrá-lo ainda mais,
com os nós dos dedos profundamente. O tempo passa, eventualmente, uma
respiração aguda fica presa em sua garganta enquanto ele empurra minha
mão, querendo mais.
Em seguida, cubro meu pau e sua bunda com mais lubrificante. No
momento em que ele se vira para olhar para mim, pressiono a ponta contra
sua entrada. Eu lentamente empurro nele e um suspiro me escapa. Sua
bunda é definitivamente virgem. Ele é tão apertado.
— Jesus... — ele respira profundamente, alcançando minhas costas
para agarrar minha coxa, cravando as pontas dos dedos em minha pele.
— Você quer que eu pare? — Eu pergunto, ficando imóvel.
— Não. — ele retruca.
Com isso, afundo ainda mais nele, esticando-o bem. Ele parece
incrível. Por mais que eu queira perder totalmente o controle e transar com
ele com força, eu me seguro. Empurrando para frente, empurro-o mais
fundo, e sua bunda me aperta com força.
— Porra, Micah. — ele solta entre os dentes cerrados, alcançando
entre as pernas para acariciar seu pau. — Sim… porra...
— Sim? — Eu gemo, me afastando um pouco antes de acertá-lo com
mais força.
— Porra. — ele grunhe, empurrando contra mim, encontrando meus
impulsos. — Sim. Porra, sim.
Atingindo o ponto certo, sinto seu corpo tenso contra o meu.
— Mais. — ele incentiva.
— Há tanto tempo que estou esperando por esse momento. —
confesso, agora transando com ele sem piedade, coberto de suor. Impulso,
após impulso, eu enfio nele com força, enterrando meu pau duro em sua
bunda. A sensação do meu orgasmo iminente cresce rapidamente dentro de
mim. À medida que acelero o passo, ele acaricia seu pau mais rápido,
respirando pesadamente. — Estar dentro de você. Enchendo você com
minha porra.
De repente, eu explodo dentro dele, batendo meus quadris contra
suas nádegas com pancadas altas. Eu grito de espanto. Pura descrença.
A intensidade literalmente me surpreende.
Não transo com um homem há quase um ano. Mas nunca, nem nos
meus sonhos mais loucos, imaginei perder-me no Jensen. Ele finalmente
recuperando o juízo.
No entanto, aqui está ele, gemendo ferozmente, gozando nos lençóis
enquanto reivindica sua libertação.
Ele cai de bruços e eu caio no colchão ao lado dele. Além do som de
nossas respirações irregulares, o quarto está silencioso. Olho para o teto e
fecho os olhos, cedendo à exaustão.
— Isso foi... — sua voz desaparece. — Insanamente bom.
— Porra. — eu rio, tentando recuperar o fôlego.
— Então, estamos bem?
— Absolutamente pra caralho.
Inesperadamente, algo roça levemente meu abdômen. Quando ganho
forças para abrir os olhos, meu olhar desce para a cicatriz grossa sob as
pontas dos dedos de Jensen.
A cicatriz que ambos temos, num local quase idêntico.
Damien incluído.
A marca da Ordem.
E por um breve momento, um flashback da minha iniciação me engole
por inteiro.
Uma dor lancinante irradia na parte inferior do meu abdômen. Tiro a
lâmina da minha carne e observo a ponta ensanguentada da faca enquanto
meu sangue começa a escorrer. O vermelho carmesim pinga nas folhas
mortas e na sujeira abaixo de mim.
Lutando para ficar de pé, aperto meu abdômen com a mão enquanto
os receptores de dor em meu corpo aumentam. De repente, há um calor
furioso e ardente dentro de mim.
Um calor como nenhum outro.
Um forte choque elétrico atinge meu abdômen a cada passo à frente.
Caindo de joelhos, me inclino para frente, desejando me levantar.
A Ordem espera…
CAPÍTULO VINTE E SEIS
QUINN
DAMIEN
— Cuidado com o passo. — eu aviso, agarrando seu bíceps com mais
força.
Ela começa a tropeçar no meio-fio, mas faço questão de mantê-la
firme. Com uma risada, ela passa o braço em volta da minha cintura. — O
que eu faria sem você? — ela pergunta brincando.
— Garota desajeitada. — brinca Micah.
— Estamos sempre aqui para te pegar se você cair. — promete Jensen.
Embora isso tenha sido muito brega, ela sorri largamente. — Sou uma
garota de sorte. — ela nos diz.
Conversas silenciosas ecoam por todo o restaurante quando
entramos. Assim que Micah e Quinn entram na cabine, Jensen e eu
trocamos olhares silenciosos.
— Estaremos de volta. — afirma Jensen, olhando para Micah.
Micah assente.
— O quê? Você quer dizer que está indo embora? — ela faz beicinho.
— Acabamos de chegar.
— Temos algo que precisamos descartar. — respondo, forçando um
sorriso torto.
— Antes que comece a cheirar mal. — acrescenta Jensen, com humor,
inclinando-se para beijar-lhe a bochecha.
— Nojento. — ela murmura, franzindo o nariz com uma expressão de
desgosto. — Desculpe, vocês têrem que lidar com isso.
— Não fique, amor. Vejo você em breve. — eu digo, pressionando
meus lábios contra o topo de sua cabeça.
Jensen e eu saímos do restaurante com grande urgência. De repente, é
tudo negócio. Entramos no jipe e seguro o volante com tanta força que os
nós dos dedos ficam brancos.
Há silêncio entre nós.
Nós dois estamos cheios de ódio completo.
Na minha cabeça, eu executo atos de violência de massacre de cada
maldito membro do Divino Sagrado. Nós os destruiremos.
Eles nunca tocarão nela.
Nós nos certificaremos disso.
Eles estão mortos.
— O símbolo esculpido no porco. — murmura Jensen, em voz baixa. —
São eles. Eles voltaram.
Fechando os olhos com força, viro o pescoço, tentando aliviar a
tensão. Agarrando o volante com mais força, a raiva me consome. A buzina
toca alto quando eu bato meu punho no centro.
— Você sabe o que isso significa. — ele começa, com uma voz cheia de
raiva.
Minha respiração fica presa. Eu sei exatamente o que isso significa.
Todos nós sabemos.
Exibir a cabeça de um porco na porta de seu alvo é um ritual para o
Divino Sagrado. É um sinal de que eles estão vindo. Eles escolheram sua
próxima vítima.
— A próxima lua cheia é daqui a exatamente um mês. — diz Jensen
entre os dentes cerrados. — Temos um mês até...
— Eles virem atrás dela. — termino por ele, olhando-o diretamente
nos olhos. — Eles estão vindo atrás dela, Jensen. Eles sabem quem ela é.
EPÍLOGO
QUINN
UMA SEMANA DEPOIS
FIM
Notas
[←1]
Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade.
[←2]
Mania é uma condição caracterizada por uma mudança radical do humor e dos níveis de
energia. A pessoa em estado maníaco sofre de alterações de humor, pensamentos acelerados,
explosão de energia e comportamentos inconsequentes e exagerados.
[←3]
Grippy-sock significa meia antiderrapante é uma espécie de palavra-código para
estabelecimento de saúde mental, porque quando você está em um, eles lhe dão meias
antiderrapantes em vez de sapatos
[←4]
Soco em inglês é Punch que também se traduz para Ponche.
[←5]
O ATI, abreviatura de Assessment Technologies Institute, é um programa utilizado por cerca de
70% das escolas de enfermagem dos Estados Unidos para ajudar os estudantes de enfermagem
a aprender e dominar conceitos importantes de enfermagem.