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SENHORES DA

LIBERDADE
Capítulo 18.

Novela de

Renan Fernandes.

Escrita por

Renan Fernandes.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

CENA 1. APARTAMENTO DO PRADO VELHO. SALA. INT. NOITE.

Retrospectiva das últimas cenas do capítulo anterior.

Nicholas surge no local, ansioso, e se surpreende ao encontrar Carenina no

ambiente. Ela está, no momento, sentada no sofá central, ao lado de Rafaela

e de Hugo. Quando o nota, Carenina corre para abraçá-lo e beijá-lo. Nicholas,

apesar da leve desconfiança, se deixa conduzir pelo gesto de carinho de sua

namorada.

NICHOLAS — Mas, que surpresa, Carenina!

CARENINA — Pois é, Nicholas. Eu vim apenas fazer uma

visitinha para a Rafaela e para o Hugo. Botar a

conversa em dia.

RAFAELA — (levanta-se/aproxima-se) Exatamente, meu

irmão. Por sinal, eu adorei a visita da Carenina.

CARENINA — Agora, eu vou saindo. Preciso chegar antes do

jantar, senão a minha mãe fica daquele jeito que

você sabe, apreensiva e me fazendo cobranças

absurdas.

NICHOLAS — Claro, claro. Bom te ver, Carenina. Agora, eu vou

correndo tomar um banho, porque estou atrasado

para o trabalho.

CARENINA — Ótimo. Então, bom trabalho.

NICHOLAS — Muito obrigado. E a gente se vê.

CARENINA — Com toda a certeza.

CLOSES alternados. Carenina olha de soslaio para Rafaela e Hugo, em um

gesto interrogativo. Após, volta a beijar Nicholas e se despede.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

Ele, por sua vez, se direciona até o corredor dos quartos, enquanto Rafaela

se afasta de Hugo e fecha a varanda.

CENA 2. RUAS DO PRADO VELHO. EXT. NOITE.

Carenina percorre algumas quadras da Rua Imaculada Conceição, pensativa.

De chofre, ela atravessa o logradouro, olha rapidamente em direção ao

apartamento de Nicholas e decide pegar um táxi em direção ao trabalho dele.

CENA 3. RUA DA BALADA BOSSA NOVA. EXT. NOITE.

Minutos depois, Carenina já se encontra no local, no banco de acompanhante

do táxi, que está estacionado do outro lado da rua da balada onde Nicholas

trabalha. Finalmente, ela avista a chegada do namorado e decide descer do

táxi, indo em direção à fachada da Casa Noturna. Todavia, antes de alcançar

Nicholas, Carenina para de andar no meio da calçada no instante quando

observa a chegada de Guilherme. Ela, por sinal, conhece este sujeito, o qual

foi colega de profissão de sua mãe, Maristela, na Universidade Federal do

Paraná. Intrigada, Carenina nota, de longe, a relação íntima e de cumplicidade

entre Nicholas e Guilherme, ocasião em que decide se aproximar deles.

CARENINA — Que coincidência saber que vocês dois se

conhecem.

CLOSES alternados. Nicholas e Guilherme ficam assustados com a presença

de Carenina, a qual se aproxima de seu namorado e o beija rapidamente. Na

sequência, ela questiona:

CARENINA — Por qual motivo vocês tiveram essa reação

assustada? Eu também estou surpresa em saber que

vocês dois são amigos.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

Você não comentou com o Guilherme, Nicholas, que

nós dois somos namorados? Ou por acaso eu

descobrir o vínculo entre vocês era algo que estava

fora de cogitação? Sim, porque pelo visto vocês

devem ter uma intimidade muito grande, a ponto de

guardarem segredos de Estado que jamais podem

ser violados por terceiros. E então, o que vocês têm

a me dizer sobre isso? Podem se abrir comigo! Eu

quero conhecer vocês dois melhor!

Nicholas e Guilherme voltam a se entreolhar com bastante receio e

expectativa. Carenina, por sua vez, alterna o seu olhar interrogativo para

ambos, oportunidade em que a imagem congela no semblante compenetrado e

desconfiado dela, que não para de encará-los com extrema apreensão.

ABERTURA DO ENREDO:

Tema: METAL CONTRA AS NUVENS – LEGIÃO URBANA.

CENA 4. RUA DA BALADA BOSSA NOVA. EXT. NOITE.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

Música de suspense. Na frente da Balada Bossa Nova, no horário noturno, que

está fervendo de pessoas jovens, Carenina foi visitar Nicholas e se

surpreendeu ao encontrá-lo junto com Guilherme, velho conhecido da família.

Ao notar Carenina, e se surpreendendo ao descobrir que ela namora Nicholas,

Guilherme procura disfarçar o objetivo que lhe trouxe até o amigo.

GUILHERME — Poxa, Carenina. Realmente, essa cidade de

Curitiba é um ovo, como todos os turistas e

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

apreciadores desse município dizem. Que notícia

ótima saber que você e o Nicholas namoram. Nossa,

uma coincidência surpreendente. Aliás, para você

ter uma noção, Carenina, acredita que, nesses dias

mesmo, eu encontrei a sua mãe, a Maristela, por

acaso, pelas ruas dessa metrópole maravilhosa?

Então, veja só como são as coisas, não é verdade?

Até parece que o destino estava escrevendo esse

grande reencontro entre todos nós.

Carenina fica surpresa e, ao mesmo, tempo, desconfiada do tom afetado e

ansioso de Guilherme, o qual parece estar querendo disfarçar o

constrangimento diante dela. Mesmo assim, ela continua interagindo no

assunto, sempre alternando olhares entre Guilherme e Nicholas, que, por sua

vez, está compenetrado.

CARENINA — Eu não sabia, Guilherme, que você tinha visto a

minha mãe por esses dias. De qualquer maneira,

agora eu estou curiosa. Afinal de contas, você e o

Nicholas se conhecem de onde? É uma amizade

antiga? É um vínculo que eu posso considerar de

grande afinidade?

NICHOLAS — Calma, Carenina. Você está muito ansiosa, e sem

motivo aparente. Já chegou aqui com um jeito que

me deixou muito incomodado. Deixe eu te explicar,

que assim você fica mais calma.

CARENINA — Eu não estou desconfiada de nada, Nicholas.

Aliás, nenhuma razão eu teria para isso, ou teria?

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Guilherme e Nicholas se entreolham de soslaio e, na sequência, voltam a

encarar Carenina com sutis gestos de temor.

NICHOLAS — É claro que não tem. Até porque, eu e o Guilherme

realmente somos velhos conhecidos e grandes

amigos. Nós nos conhecemos em Foz do Iguaçu. É

uma amizade que foi construída aos poucos, desde

a adolescência. Éramos colegas no ensino médio.

Dois grandes parceiros, com um vínculo de lealdade

muito forte. Só que nós perdemos contato por esses

caminhos. Mas, por uma feliz coincidência, voltamos

a ter contato aqui em Curitiba. O Guilherme é um

dos meus professores de Química lá na Federal do

Centro Politécnico.

CARENINA — Ah, sim. Claro. Meu Deus. Eu até tinha me

esquecido, Guilherme, da sua especialização na

Federal.

Carenina esboça um sorriso que mescla espanto com desconfiança. O clima é

evidentemente constrangedor.

Corte descontínuo. Enquanto Carenina, Guilherme e Nicholas continuam

conversando na calçada que fica em frente à Balada Bossa Nova, na fachada

da Danceteria Brooklyn, a qual fica no outro lado da rua, Carmem se encontra

na frente do aludido recinto e observa, de longe, Guilherme junto com

Nicholas e com Carenina. Após ficar um tempo olhando para os três, Carmem

decide se direcionar para o interior do estabelecimento da Danceteria

Brooklyn.

Corta imediatamente para:

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CENA 5. DANCETERIA BROOKLYN. CAMARIM. INT. NOITE.

Segundos depois, Carmem chega apressadamente até a salinha particular das

dançarinas e se direciona até o telefone situado numa estante do canto

direito. Ela disca os números e aguarda ansiosamente o retorno da ligação.

Finalmente, do outro lado da linha, Lisaveta atende.

CARMEM — (T) Alô. Lisa? Você me pediu para te ligar quando

tivesse uma notícia importante. Pois, então. Você

estava certa. Os dois continuam juntos. O Nicholas

e o Guilherme. Quando você me contou, há poucas

horas, que os dois continuavam mantendo contato e

que o Nicholas estava no apartamento do

Guilherme, eu nem acreditei. Agora, pude constatar

com os meus próprios olhos. Eles estão na frente da

Balada Bossa Nova, conversando e interagindo de

maneira bem espontânea. Ah, minha amiga. Quantas

lembranças ruins. Como é difícil para mim rever o

Guilherme depois de tudo o que ele me fez lá em

Foz do Iguaçu.

CENA 6. CASA DE CARMEM. SALA. INT. NOITE.

Atenção edição: alternar esta cena com a anterior.

Lisaveta se encontra sentada no sofá, com o telefone no ouvido esquerdo. Por

sinal, ela está hospedada na casa da amiga, Carmem. Cumpre registar que

Carmem também morou na cidade de Foz do Iguaçu e sabe que Guilherme,

Nicholas e Marcos, irmão de Lisaveta, se envolveram em um esquema de

contrabando, no ano de 1994.

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Para completar, Carmem teve um relacionamento com Guilherme, o qual lhe

abandonou sem motivo aparente e se mudou para Curitiba com o intuito de

começar uma nova vida. Voltando ao contexto da presente cena, Lisaveta

continua interagindo com Carmem pelo telefone, demonstrando uma reação

de profunda indiferença.

LISAVETA — Tudo bem, Carmem. Eu sei das suas mágoas, das

suas dores e de tudo de negativo que você sente

quando a gente menciona o nome do Guilherme. Mas,

agora, vamos focar no presente. Porque, depois de

tudo isso que você me contou, está mais do que

evidente que a minha intuição feminina estava

certa. Ele e o Nicholas estão juntos em algum

esquema criminoso aqui em Curitiba. Eu não posso

dizer com precisão se eles já tinham combinado

antes de virem morar aqui ou se acabaram mesmo

se reencontrando depois daquela operação policial

em Foz do Iguaçu, que prendeu o meu irmão e

deixou eles ilesos.

CARMEM — (T) E o que você pretende fazer agora, Lisa?

LISAVETA — (rancorosa) (T) Bom, minha amiga, se o destino

colocou esses dois no meu caminho novamente, é

sinal de que eu preciso agir. Eu simplesmente vou

seguir os passos desses dois moleques prepotentes.

E, a depender do que eu descobrir, não vou ter o

menor remorso de fazer uma denúncia anônima e

acabar com a festinha particular deles.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

Mas, para isso, eu vou precisar da sua ajuda,

Carmem. Por favor, não me deixe na mão nessa

altura do campeonato. Pense que isso também é

importante para você. Depois de tudo o que o

Guilherme te aprontou, ele com certeza merece

uma lição, enquanto você merece ser reparada por

todos os danos que sofreu.

CARMEM — (receosa) (T) Tudo bem, Lisa. Eu aceito te

ajudar. Mas, como? Você já tem alguma ideia em

mente?

LISAVETA — (T) Sim. Hoje à noite, nós vamos segui-los com o

seu carro. Eu vou rapidinho até aí, antes que a gente

perca os dois de vista. O Nicholas eu sei que vai

continuar trabalhando até de madrugada. Mas, o

Guilherme eu não garanto que esteja aí por muito

tempo.

CARMEM — (T) Então, venha logo. Eu vou estar te esperando

aqui na frente da Danceteria.

LISAVETA — (T) Ótimo. Pode deixar.

Corta imediatamente para:

CENA 7. DANCETERIA BROOKLYN. CAMARIM. INT. NOITE.

Após Carmem desligar o telefone, ela se afasta do local, percorre um

corredor exíguo e retorna para a fachada da Danceteria. Ato contínuo, passa

a observar novamente a frente da Balada Bossa Nova, lugar no qual Carenina,

Guilherme e Nicholas continuam conversando.

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Corte descontínuo. Carenina decide se despedir de Guilherme e de Nicholas.

CARENINA — Bom. Agora, chegou a minha hora. Eu preciso

chegar logo em casa, senão a minha mãe é capaz de

acionar todo o setor de segurança pública para vir

no meu encalço. Como eu já tinha lhe falado,

Nicholas, o jantar para a dona Maristela é

praticamente um ritual litúrgico.

NICHOLAS — Tudo bem, Carenina. Pode ir tranquila. Daqui a

pouco, o Guilherme também já está saindo.

GUILHERME — Verdade.

Os três voltam a se encarar com uma expressão constrangida. Desse modo,

Carenina beija Nicholas, abraça-o rapidamente, acena um adeus para

Guilherme com a sua mão direita e segue o seu caminho pela calçada. Depois

que Carenina some do ponto de vista de ambos, Nicholas e Guilherme voltam

a conversar sobre assuntos secretos em comum.

GUILHERME — Poxa vida, hein, meu chapa? Que dia mais agitado.

Primeiro, é a Lisaveta incomodando. Na sequência, é

a Carenina atrapalhando os nossos negócios.

NICHOLAS — Com relação à Lisaveta, a culpa é toda sua. Porque

foi você que trouxe ela até o seu apartamento.

Mesmo sabendo o nível de ardil daquela pilantra.

GUILHERME — Tudo certo, Nicholas. Não vamos perder o nosso

tempo jogando na cara um do outro a nossa falta de

prudência. Já aprendemos a lição e podemos voltar

a conversar tranquilamente. O foco é o nosso

problema atual.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

A partir desse instante, uma música de suspense começa a tocar. Nicholas,

comedidamente, olha ao redor, verifica a grande movimentação de pessoas e,

sutilmente, decide puxar Guilherme até um canto mais discreto, ainda na

frente da Balada, lugar no qual ambos possam conversar com mais intimidade.

NICHOLAS — Agora, você pode falar sem medo. O que está

acontecendo?

GUILHERME — Você vai ter que dar um jeito de sair mais cedo

daqui, meu velho. Infelizmente, nessa noite, não vai

ter como você fiscalizar as nossas transações

apenas por meio de telefonemas ou de visitas

esporádicas dos nossos fornecedores e clientes.

NICHOLAS — Como assim? Explique direito qual é o problema

real.

GUILHERME — Você precisa correr para vigiar o transporte

daquela nossa “mercadoria” valiosa. Eu tive notícias

de que o filho do Samuel planeja interceptar o

caminhão que transporta a “carga”, justamente para

roubar a munição e se apropriar dela para abastecer

a própria gangue.

NICHOLAS — O Jonathan... Então, efetivamente, ele assumiu o

lugar do pai.

GUILHERME — Sim. Por isso, precisamos agir rápido.

NICHOLAS — Tudo certo. Eu aceito a missão. Daqui a poucas

horas, nós vamos até a Rodovia dos Minérios e

vamos dar cobertura para que o transporte chegue

incólume até o destino final.

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CLOSES alternados entre a expressão apreensiva de Guilherme e o

semblante nervoso e, ao mesmo tempo, compenetrado de Nicholas.

CENA 8. APARTAMENTO DO PRADO VELHO. SALA. INT. NOITE.

Ao embalo da música instrumental Pavan – Michael Maxwell, Rafaela se

encontra sozinha com Hugo na sala. Ela observa o sobrinho dormindo no sofá

central e, na sequência, sente um calafrio no corpo. Após, decide fechar a

varanda e começa a caminhar, pensativa, ao redor do espaço do apartamento.

Está visivelmente preocupada. Depois de muito pensar, Rafaela opta por ligar

para a sua amiga, Tamara, pegando o telefone na estante do canto e discando

os números.

RAFAELA — (T) Oi, Tamara. Desculpe incomodar você nessa

hora. É que hoje eu estava precisando desabafar.

Sim, eu estou passando por alguns problemas e

preocupações. Será que eu poderia ir até a sua casa

junto com o Hugo? (T) O Nicholas está trabalhando.

Vai passar a madrugada fora. (T) Claro, aceitamos

jantar com você, sim. (T) Então, eu vou chamar o

Hugo e nós vamos para aí daqui a pouco. (T) Tchau.

A partir do momento em que Rafaela desliga o telefone, a cena passa a ser

embalada pela música Pinta Nina, Santa Maria – Vangelis, a qual se estenderá

até a última cena do primeiro bloco. Rafaela aproxima-se sutilmente de Hugo

e tenta acordá-lo.

RAFAELA — Hugo. Acorda. Troque de roupa rapidinho porque

nós vamos sair. Já vou chamar o táxi e nós vamos

até a casa da Tamara.

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HUGO — (levantando-se) Tudo bem, tia.

Assim, Hugo se despreguiça, levanta-se do sofá e se direciona até o corredor

dos quartos. Rafaela, de seu turno, demonstra preocupação e olha ao redor,

apreensivamente.

CENA 9. CASA DO BAIRRO SÃO LOURENÇO. JARDIM. INT. NOITE.

Carenina surge no local, direciona-se até a entrada do quiosque e nota, de

longe, Leôncio e Franco entretidos no jogo de sinuca. Porém, decide não

incomodá-los e, por isso, segue caminho até o interior da casa.

Corte descontínuo. Carenina surge no ambiente da sala e observa sua mãe,

Maristela, sentada em uma escrivaninha no canto, por onde analisa algumas

petições.

CARENINA — (aproxima-se) Desculpa não ter chegado antes,

minha mãe. Acabei atrasando para o jantar.

MARISTELA — Calma, Carenina. Depois, você pode requentar a

comida sem problemas. Eu só queria conversar

contigo sobre um outro assunto rápido.

CARENINA — Claro, mãe. Pode falar.

MARISTELA — (objetiva) Eu queria que você falasse um pouco

mais sobre o seu relacionamento com o tal de

Nicholas. Ou melhor, eu gostaria que você fizesse

um relato mais aprofundado dele. Afinal de contas,

eu não tenho noção alguma do tipo de pessoa que

você está lidando e que foi inserido, a toque de

caixa, na sua vida.

Carenina fica intrigada com o jeito de sua mãe, que a encara obstinadamente.

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CENA 10. RUA DA DANCETERIA BROOKLYN E DA BALADA BOSSA

NOVA. EXT. NOITE.

Nicholas e Guilherme saem da Balada Bossa Nova, ingressando no veículo

automotor do segundo. Logo atrás, Carmem e Lisaveta os seguem de carro.

CENA 11. VILA PAROLIN. CASEBRE. EXT. NOITE.

Paralelamente ao acontecimento da cena anterior, Jonathan sai com os seus

comparsas em direção à Rodovia dos Minérios. Todos entram em seus carros.

CENA 12. CASA AMARELA. EXT. NOITE.

Na Avenida Marechal Floriano Peixoto, os sujeitos que vieram de caminhão

colocam os últimos objetos da casa de Madame Betty e vão embora. Logo

atrás, notam-se viaturas da Polícia Civil seguindo o caminhão sutilmente.

CENA 13. BAIRRO SÃO BRAZ. CASA DE TAMARA. EXT. NOITE.

Rafaela e Hugo descem do táxi. Simultaneamente, Tamara surge do quintal e

abre o portão para aqueles entrarem. Enquanto isso, Munir fica parado na

porta, de braços cruzados.

TAMARA — (solícita) Podem entrar. Lá dentro, você me conta

melhor o que está acontecendo de sério, Rafaela.

RAFAELA — Pode deixar, Tamara.

CENA 14. RODOVIA DOS MINÉRIOS. EXT. NOITE.

Nicholas e Guilherme surgem do carro na Rodovia dos Minérios e nem

observam que são seguidos por Carmem e por Lisaveta. Clima tenso.

PRIMEIRO BREAK.

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CENA 15. RODOVIA DOS MINÉRIOS. EXT. NOITE.

Continuação imediata da última cena do bloco anterior.

Clima tenso. Na Rodovia dos Minérios, nas proximidades da Rua Mateus Leme,

são 22 horas da noite. Neste local, os comparsas de Guilherme e de Nicholas

andam de caminhão, transportando armas e munições de uso permitido e de

uso restrito. O objetivo é transportar as mercadorias para o Porto de

Paranaguá. Portanto, não se trata de contrabando, mas sim tráfico de armas,

dada a especialidade do delito. Ocorre que Jonathan, o qual assumiu o

comando da facção rival após a longa conversa que teve com o seu pai, Samuel,

está disposto a interceptar o caminhão inimigo, disposto a roubar o

armamento pesado, e, via de consequência, abastecer a sua facção.

Paralelamente a isso, os cúmplices de Madame Betty caminham de caminhão

na via oposta da Rodovia em que estão Guilherme, Nicholas, seus comparsas,

Jonathan e sua gangue. Nesse contexto, ao mesmo tempo em que, de um lado,

Jonathan e sua gangue, de carro, atravessam o veículo de Nicholas e de

Guilherme, cercando o caminhão com armas, de outro lado, a Polícia Civil, sob

a autoridade do Delegado Lúcio, na via oposta, intercepta o caminhão dos

comparsas de Madame Betty, no interior do qual estão contidos os aparelhos

eletrônicos de jogos clandestinos. Logo atrás, Nicholas e Guilherme observam

a movimentação suspeita e se assustam. Ainda, o carro onde estão Carmem e

Lisaveta está na traseira do veículo de Guilherme, sendo que elas também

notam todo o desdobramento do incidente, atônitas. De chofre, Jonathan, o

qual desceu do veículo automotor, junto com sua gangue, após render os

comparsas da facção rival, no caminhão, avista o Delegado Lúcio do outro lado

da Rodovia. Este também o vê. Momento de tensão e de silêncio. CLOSES

alternados em todos os personagens presentes.

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CENA 16. CASA AMARELA. SALA. INT. NOITE.

Madame Betty se encontra no telefone, conversando com o investigador

Bruno. Ela está sentada no sofá e, pelo ambiente, pode-se notar a janela com

a cortina branca entreaberta, por meio da qual Betty consegue visualizar a

intensa movimentação na Avenida Marechal Floriano Peixoto.

MADAME BETTY — (T) Oi, Bruno, pode falar. Algum problema? (T)

Como assim? Então, quer dizer que a polícia já

estava de olho na movimentação do transporte dos

meus utensílios que saíram deste recinto? E por

qual motivo você não me avisou antes? Eu não posso

acreditar que você estava fazendo ordem de

serviço na rua justo na hora que aquele Delegadinho

estava combinando de me pegar no flagrante. (T)

Única coisa que eu posso ter esperança agora é de

que os transportadores consigam escapar da polícia,

desviando o caminho ou encontrando uma rota

alternativa. Não tem como eu me comunicar com

eles mais nessa altura do campeonato. (T) Ah, meu

Deus. Eu estou encalacrada. Mas, não vou dar o

braço a torcer. E muito menos pedir clemência pela

minha liberdade. (T) É exatamente isso. Não vou

fugir daqui. Essa casa é o meu lugar, o meu habitat

natural. (T) Simplesmente, se a polícia chegar até o

meu território, vou recepcioná-los com todo o

requinte e bom gosto de uma dama educada e

cavalheira. (T) Não sou covarde.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

(T) Já passei por situações bem piores e tirei de

letra. (T) Passar bem.

Revoltada, Madame Betty desliga o telefone com rapidez e violência, quase

fazendo o aparelho cair no chão. Na sequência, levanta-se do sofá, dá uma

olhada rápida na rua por meio da janela com a cortina branca entreaberta e

se direciona até um espelhinho do canto. De lá, ela olha para o seu próprio

reflexo e fica extremamente pensativa.

MADAME BETTY — (p/si) Agora que o meu Jonathan assumiu o

comando deixado pelo Samuel, eu simplesmente dou

uma bandeira dessas. Mas, tudo certo. Enquanto eu

procuro me virar com os justiceiros de araque, eu

torço muito para que o meu neto seja bem-sucedido

na sua missão de interceptar as mercadorias da

gangue rival. Isso só vai nos fortalecer. Sou capaz

até de recitar mil ave-marias e dez mil salve-

rainhas. Mas, nós vamos conseguir vencer todo o

esse desafio. A nossa dinastia é forte, guerreira,

tradicional na sua tenacidade e obstinação. Tudo vai

dar certo. E ninguém vai atrapalhar o nosso avanço.

CLOSE na sua expressão compenetrada através do reflexo do espelho.

CENA 17. RODOVIA DOS MINÉRIOS. EXT. NOITE.

Continuação da cena 15.

Música de suspense. O Delegado Lúcio e Jonathan continuam se encarando de

longe. Cada qual está em um lado distinto da Rodovia e com as armas apontadas

um para o outro.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

Mais atrás, do lado onde se encontra Jonathan, Nicholas e Guilherme

continuam observando a movimentação, atônitos. Nicholas, inclusive, fica

estarrecido com a presença da Polícia Civil do outro lado da Rodovia.

NICHOLAS — Meu Deus, Guilherme. Sujou para a gente. Vamos

meter o pé daqui. Nem que a gente tenha que cortar

caminho de marcha ré, pela contramão. Mas, a

polícia não pode nos ver aqui. Muito menos o

Delegado Lúcio, que já me conhece de longa data.

GUILHERME — Você ficou maluco, Nicholas? Se a gente fizer

isso que você está pensando, é aí que nós vamos

assinar o nosso atestado de burrice. Vamos dar

muito na cara e vão passar a perseguir a gente.

Deixe de ser precipitado e passe a raciocinar, meu

camarada. A princípio, nós somos apenas dois

cidadãos comuns que tiveram a infelicidade de

cruzar caminho numa Rodovia em que está

ocorrendo uma blitz policial. A operação da polícia

era outra. Eles interceptaram outro caminhão. O

Jonathan é que está encalacrado, veja só. Ele

pensou que fosse se dar bem passando a gente para

trás, e agora está na mira do Delegado. Ele, sim, é

que deve rezar um pai nosso e um credo antes de

tomar qualquer atitude. A alma dele já está

encomendada, meu parceiro.

Nicholas e Guilherme se entreolham, atônitos.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

Corte descontínuo para o veículo de Carmem e de Lisaveta, o qual está na

traseira do veículo de Nicholas e de Guilherme.

CARMEM — Que situação, meu Deus do céu. Olha a que ponto

nós chegamos, Lisaveta, por conta dessa sua

impulsividade de querer especular a vida criminosa

do Nicholas e do Guilherme.

LISAVETA — E você deve alguma coisa para a polícia por acaso?

Não faz sentido você estar tão amedrontada assim.

CARMEM — Como não faz sentido, Lisa? A polícia e os

bandidos estão armados. Começando uma troca de

tiros, nós podemos correr o risco de sermos vítimas

de uma bala perdida. E aí eu quero ver essa sua

coragem toda no meio do fogo cruzado.

De repente, um primeiro tiro ecoa na região, o que assusta Carmem e Lisaveta,

que se entreolham, exasperadas.

Corte descontínuo para o local onde se encontram o Delegado Lúcio e

Jonathan. Foi este quem disparou o primeiro tiro. Na defensiva, Lúcio revida.

Assim, começa uma troca de tiros incessantes entre a facção de Jonathan e

a equipe policial do Delegado Lúcio. Imediatamente após, tanto Lúcio quanto

Jonathan ingressam em seus respectivos carros. O Delegado Lúcio, por sinal,

aciona reforço pelo walkman da viatura. Por outro lado, alguns policiais

concentram a atenção nos comparsas de Madame Betty, enquadrando-os,

algemando-os e conduzindo-os até uma das viaturas da Polícia Civil. Enquanto

isso, a outra metade da Polícia Civil, comandada pelo Delegado Lúcio, percorre

a contramão da Rodovia, seguindo o caminhão de armas que foi roubado por

dois comparsas de Jonathan.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

Este, de seu turno, após a rápida troca de tiros com Lúcio, retorna para o seu

veículo e dá meia-volta pelo acostamento, seguindo na direção de Curitiba e

fugindo da polícia.

Corte descontínuo para o veículo de Guilherme e de Nicholas, os quais

observam a fuga de Jonathan.

GUILHERME — Meu chapa, só nos resta ir no encalço do

Jonathan.

NICHOLAS — Como é que é, Guilherme? Mas, e o caminhão de

armas?

GUILHERME — Eu sei o que eu estou fazendo. Nós não podemos

seguir o caminhão com os bandidos, porque a polícia

já está atrás deles e qualquer exposição nossa vai

nos comprometer. Por isso, vamos contar com a

sorte. Caso os comparsas do Jonathan consigam

fugir da polícia com o caminhão contendo os

armamentos ilegais, nós sequestramos o Jonathan e

pedimos as armas como preço de resgate.

NICHOLAS — (assustado) Sequestrar, Guilherme?

GUILHERME — (frio e calculista) Nicholas, não se deixe levar

pela emoção e pelo politicamente correto. Nós

praticamente estamos fazendo justiça pelas

próprias mãos. Não podemos deixar o safado do

Jonathan prevalecer sobre a gente. Quando você

aceitou voltar a trabalhar comigo, tinha consciência

total de que estava assumindo todos os riscos e

todas as responsabilidades.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

Não há mais como você voltar atrás. Vamos para a

frente. Não temos tempo a perder.

NICHOLAS — Tudo certo. Então, vamos atrás do Jonathan.

Nicholas reluta, mas concorda com Guilherme, o qual, com o volante em mãos,

também entra pelo acostamento e passa a seguir o veículo automotor de

Jonathan.

Mais atrás, Carmem e Lisaveta também decidem segui-los.

CARMEM — Isso que você está me pedindo para fazer, Lisa,

é loucura.

LISAVETA — Fique tranquila, porque, até agora, no meio dessa

adrenalina toda, nem o Guilherme, tampouco o

Nicholas, perceberam a nossa presença. De hoje

não passa, Carmem. Nós vamos descobrir o que

esses dois estão aprontando.

Assim, cena termina fazendo uma ampliação do local e destacando os veículos

de Jonathan, Guilherme e Nicholas e Lisaveta e Carmem, respectivamente,

saindo da Rodovia e ingressando em uma rua que se direciona até o município

de Curitiba.

CENA 18. BAIRRO SÃO BRAZ. CASA DE TAMARA. SALA. INT.

NOITE.

Rafaela e Hugo foram visitar Tamara na casa dela, no bairro São Braz. Munir

também se encontra no local. No interior da residência, observa-se uma

decoração árabe bastante evidente. Ademais, neste momento, enquanto

Rafaela, Hugo e Tamara se encontram sentados no sofá, Munir está sentado

em cima de uma almofada no chão, ao mesmo tempo em que fuma um narguilé.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

RAFAELA — Eu queria muito agradecer a hospitalidade de

vocês dois. O jantar, por sinal, estava divino.

TAMARA — Que bom que você gostou, Rafaela. Agora, sobre

aquele outro assunto, você pode deixar o Hugo

pousando essa noite aqui, sim. Eu e o Munir não

vamos nos incomodar.

MUNIR — (levanta-se) É isso mesmo, Rafaela. Sem

ressentimentos pela grosseria e ingratidão do seu

irmão. Eu mesmo posso indicar o quartinho do Hugo,

se você permitir.

RAFAELA — Claro, Munir. Permito, sim.

Assim, Hugo dá um beijo de despedida em Rafaela e se deixa conduzir por

Munir até o corredor dos quartos. Enquanto isso, Rafaela e Tamara voltam a

conversar. Tamara, inclusive, percebe que a sua amiga está extremamente

angustiada.

TAMARA — Agora, nós podemos conversar com mais

tranquilidade, Rafaela. Percebi que você não queria

se expor por conta da presença do Hugo. Com

certeza, o assunto que você tem a tratar conosco é

muito pesado para uma criança escutar e

compreender.

RAFAELA — É, sim, Tamara. Eu realmente estou muito

preocupada. No começo, eu pensei que pudesse ser

uma paranoia. Mas, no fundo, eu percebo que estou

tentando me iludir. A situação não está nada boa,

minha amiga.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

Ao mesmo tempo em que Rafaela termina de proferir a última frase, Munir

volta ao local, sozinho, e se senta ao lado de sua esposa, Tamara, colocando a

sua mão direita sobre a mão direita dela.

MUNIR — Eu sinto muito, Rafaela, se eu estou me metendo

onde não sou chamado. Sinto muito, também, por

todo o meu comportamento agressivo e desumano

com você e com o seu irmão. Nada daquilo passou de

uma simples implicância. O meu problema nunca foi

com você, compreenda.

RAFAELA — Eu não tenho mágoa de você, Munir. Eu relevo as

suas atitudes porque me recordo muito bem da

forte amizade que você nutria pelo meu pai. Então,

fique bastante despreocupado.

MUNIR — Que bom, Rafaela. Mas, enfim. Eu não pude

deixar de ouvir a sua última frase. E, sendo bem

sincero, eu devo concordar que você não deve mais

ficar se ludibriando com a realidade dos fatos.

TAMARA — (sem jeito) Munir, por favor. É melhor, não.

MUNIR — Tamara. Se a Rafaela veio até aqui, jantar e

conversar conosco, é porque ela tem uma

desconfiança concreta de que nós possamos saber

algo a respeito da vidinha duvidosa e malandra do

Nicholas.

RAFAELA — Você foi preciso e cirúrgico, Munir. Desde quando

eu tive uma conversa séria com a Tamara, lá no

apartamento, quando você estava ameaçando nos

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

despejar, a mim e ao meu irmão, é que eu percebi

que algum dado importante estava sendo omitido a

respeito das condutas do Nicholas. Eu não sou boba.

Apesar da minha idade, que pode denunciar uma

ingenuidade juvenil, a vida já me proporcionou

experiência suficiente para saber quando uma

pessoa está mentindo e trapaceando. Infelizmente,

o meu irmão continua fazendo coisa errada. E o mais

preocupante é que ele pode estar envolvido em algo

mais perigoso e grave do que aquele esquema de

contrabando de Foz do Iguaçu.

MUNIR — Você precisa ser forte, Rafaela. Já sabe da

verdade. Então, eu posso esclarecer o que eu sei.

(objetivo) O seu irmão, Rafaela, é um traficante de

drogas. Eu e os meus amigos já flagramos ele

vendendo e negociando entorpecentes em regiões

famosas em serem pontos de tráfico aqui em

Curitiba e na Região Metropolitana. E eu tenho a

plena certeza de que não é só isso. O Nicholas

também está envolvido com outros crimes

recorrentes. Eu sinto muito se essa verdade que eu

estou te apontando é seca, severa e nada sutil. Mas,

como eu sei que você é uma menina inteligente,

responsável e ética, tendo puxado todas os

atributos e qualidades do próprio pai, eu não podia

mais ficar calado e permitindo que o Nicholas

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

continuasse te enganando. No fim das contas, nem

o filho ele está respeitando. Quem dirá você, que é

irmã.

Ao som de uma música instrumental emocionante, Rafaela deixa escorrer

lágrimas em seus dois olhos. Porém, controla o nervosismo, toma uma golada

de água e coloca o copo na mesinha ao lado.

RAFAELA — Como eu queria que as coisas não chegassem a

esse ponto. Como eu sonhava em ver o meu irmão

regenerado, dando a volta por cima e deixando para

trás os erros do passado. (levanta-se/afobada) Eu

acho que já tomei muito o tempo de vocês. Já estão

sendo generosos demais deixando o Hugo dormir

aqui por essa noite. Até porque, o Nicholas diz que

está trabalhando na Casa Noturna nesse horário.

Mas, quem garante isso? Quem garante que eu

possa encontrá-lo até mesmo vivo na manhã

seguinte? Porque, diante de tudo isso, eu nem

sequer consigo compreender como o meu irmão está

saindo ileso, exposto a esse submundo nojento e

violento.

TAMARA — (levanta-se/aproxima-se) Por favor, Rafaela.

Você está muito nervosa. Pouse aqui em casa,

também. Você não pode ficar sozinha no seu

apartamento nesse estado de desespero.

RAFAELA — Pode ficar calma, minha amiga. Eu não estou

desesperada. Isso foi apenas um desabafo.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

Muito pelo contrário. Eu estou muito consciente e

forte, obstinada em encontrar uma solução que

possa beneficiar o meu sobrinho. Porque o Hugo

precisa ainda mais da minha proteção nessa

situação toda.

Munir também se levanta e fica abraçado com Tamara. O casal encara Rafaela

com um semblante que mescla pena com compreensão.

RAFAELA — Amanhã cedo eu volto para pegar o Hugo. Agora,

eu vou dar uma espairecida. Muito obrigada por

tudo.

A partir deste instante, começa a tocar uma música de encerramento de

capítulo, que se estenderá até a última cena. Rafaela vai embora da casa,

enquanto Munir e Tamara acompanham os passos dela pelo olhar. Quando

perdem Rafaela de vista, o casal se entreolha, abraça-se e se direciona até o

corredor dos quartos.

Corta imediatamente para:

CENA 19. PARQUE BARIGUI. EXT. NOITE.

Rafaela caminha por uma ruazinha que termina na entrada do Parque Barigui.

Finalmente, ela ingressa até o referido ambiente e começa a andar nas

proximidades da enorme e iluminada lagoa. No local, mesmo diante do horário

noturno e tardio, notam-se pedestres caminhando ou correndo pelo parque,

enquanto Rafaela anda a passos curtos, com a cabeça baixa e sem focalizar

ninguém. Por fim, ela para perto da lagoa e, pelo farol que ilumina a água,

consegue observar o seu reflexo. Rafaela joga uma pedrinha na lagoa e o seu

rosto, sob o ponto de vista da água corrente, fica desfocado.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

CENA 20. BAIRRO SÃO LOURENÇO. CASA DE MARISTELA. SALA.

INT. NOITE.

Carenina e Maristela conversam. Esta, por sinal, sai de sua escrivaninha,

aproxima-se da filha e passa a encará-la olho no olho. Aquela, de seu turno,

fica de braços cruzados, incomodada com o tema da confabulação.

CARENINA — Se a sua preocupação, minha mãe, é saber se eu

estou caindo na cilada de me envolver com um novo

Jonathan, pode ficar tranquila. Eu não estou

repetindo o mesmo erro. Se isso viesse a acontecer,

sem dúvida, eu seria um caso muito raro de mulher

masoquista que adora se deixar atrair por homens

escrotos. Ou não tão raro assim, não é verdade?

Mas, fique sossegada. Eu te garanto que o Nicholas

é honesto e íntegro. Eu não podia ter tido melhor

sorte nessa minha vida, depois do desastre daquela

relação problemática que eu tive com o bandidinho

do Jonathan.

MARISTELA — Que bom, minha filha. Assim eu fico mais aliviada.

E me perdoe se eu, de vez em quando, adoto essa

postura que, muitas vezes, é interpretada como

carrasca, tirana e autoritária. Tudo o que eu faço

ou digo é tão somente para o bem dos meus filhos.

Eu jamais poderia ser conivente com o sofrimento

seu e do Franco. Jamais seria omissa ou ficaria

inerte, sabendo que vocês estão desamparados.

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

CARENINA — Claro, minha mãe. Eu estou começando a te

entender. Finalmente, o seu jeito tem se mostrado

menos agressivo e mais palatável para mim. Sei que

você erra de maneira bem-intencionada, procurando

sempre acertar. Por isso, não se preocupe. Caso eu,

eventualmente, me dê conta de que o Nicholas não

é quem eu pensava, eu vou ser a primeira a tomar

uma atitude a meu favor e me livrar de uma nova

armadilha. Eu sei me defender. E vou saber como

agir quando o pior puder vir a acontecer.

MARISTELA — Que bom, Carenina. Eu fico feliz que você pense

assim.

Por derradeiro, mãe e filha se abraçam calorosamente, ao mesmo tempo em

que Leôncio e Franco surgem pela porta. Pai e filho, por sinal, ficam felizes

pelo que presenciam, e sorriem um para o outro, cúmplices.

CENA 21. CASA AMARELA. SALA. INT. NOITE.

Madame Betty se encontra vestida com uma outra roupa. Está com um vestido

preto, com salto alto, com uma bolsa branca e uma chapeleira enorme e

escura. No mesmo instante em que passa um batom escarlate no espelho do

canto da sala, pode-se notar, por meio da janela com a cortina entreaberta, a

chegada de viaturas da Polícia Civil. Os policiais batem palmas e Madame

Betty sai de seu recinto, indo ao encontro deles pelo portão.

POLICIAL — Madame Betty. Nós estamos aqui com uma ordem

do juiz que decretou a sua prisão preventiva. A

senhora já estava sendo investigada há tempos e,

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

hoje, obtivemos provas de que aqui nesse seu

recinto funciona um esquema do jogo do bicho. Por

favor, nós solicitamos que a senhora nos acompanhe

sem oferecer resistência. Que tudo possa

acontecer nos trâmites legais, sem abusos ou

surpresas.

MADAME BETTY — (irônica) Tudo bem. Eu estou pronta para o que

der e vier. Mas, por gentileza, sem algemas. Eu sou

uma senhora de categoria, refinada e exemplar.

Não tenho a necessidade de ser constrangida ou

humilhada gratuitamente como se não existissem os

direitos humanos. Eu mereço e quero respeito.

Assim, ela é conduzida sutilmente até o banco de trás de uma das viaturas.

Por fim, os dois carros da polícia civil saem do local e caminham na canaleta

da Avenida Marechal Floriano Peixoto.

CENA 22. CASA DO BAIRRO SÃO LOURENÇO. CASA DE MARISTELA.

SALA. INT. NOITE.

Franco e Leôncio, nesse instante, estão sentados no sofá e assistindo

televisão. Maristela e Carenina, por outro lado, estão no canto da sala,

conversando, perto da escrivaninha. De chofre, a televisão passa o noticiário

da prisão de Madame Betty, fato que deixa Leôncio extremamente assustado.

CENA 23. RODOVIA DOS MINÉRIOS. EXT. NOITE.

A perseguição policial continua na busca dos bandidos que roubaram o

caminhão com armas ilegais. Nesse contexto, nota-se a viatura do Delegado

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SENHORES DA LIBERDADE CAPÍTULO 18

Lúcio atrás de uma outra viatura, que está no encalço do caminhão, que corre

a toda velocidade. De repente, um dos bandidos surge pela janela do banco de

acompanhante do caminhão e atira freneticamente na direção da viatura mais

próxima, atingindo os pneus dianteiros e fazendo esse veículo se descontrolar

no meio da pista. O Delegado Lúcio, logo atrás, freia o seu carro para evitar

uma colisão. O outro veículo da polícia recupera o equilíbrio e consegue frear.

Contudo, eles perdem o caminhão com armas de vista. Assim, o Delegado Lúcio

desce do veículo, ansioso e decepcionado.

DELEGADO LÚCIO — Não foi dessa vez. Mas, sem problemas. Eu

consegui anotar a placa do caminhão. Nós vamos

conseguir rastrear esses bandidos. Podem apostar.

CENA 24. RUAS DO BAIRRO MERCÊS. EXT. NOITE.

Nicholas e Guilherme continuam seguindo Jonathan de carro. Lisaveta e

Carmem estão logo atrás, também dirigindo um veículo. Nesse diapasão, em

uma rua do bairro Mercês, onde se tem uma vista panorâmica e privilegiada

do bairro Centro Cívico, Nicholas e Guilherme conseguem interceptar o

veículo automotor onde se encontra Jonathan. Aqueles, por sinal, descem do

carro disfarçados com uma balaclava no rosto. Eles miram os seus respectivos

revólveres na frente do veículo de Jonathan, o qual os observa pelo painel.

GUILHERME — (gritando) Perdeu, meu irmão! Pode descer de

mansinho! E sem nenhum tipo de brincadeira

indecente!

Carmem e Lisaveta observam tudo, dentro do veículo que está estacionado

numa esquina discreta. Imagem congela no semblante estarrecido das duas.

FIM DO CAPÍTULO 18.

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