Um Natal Inesquecível

Coleção Só Para As Meninas
Série Os Apuros De Liliam
UM NATAL
INESQUECÍVEL
LILIAM DA PAIXÃO
DEZEMBRO DE 2019
Um Natal Inesquecível 1
Agradecimentos
Agradeço especialmente a Deus

por Sua Misericórdia que me permitiu
viver para que eu pudesse contar essa
história.
Agradeço a minha mãe, Dona

Jalmacira, por ter me dado a luz.
Agradeço a Patrícia, Felícia e Cris,

pois através do convite feito a mim por
elas pude viver uma verdadeira e
arriscada aventura que com alegria
compartilho com os prezados leitores.
Uma Produção Independente

De Liliam Da Paixão
Liliam da Paixão 2
Agradeço ao Luqman que dormiu

tranquilamente em meus braços
durante o desenrolar dos
acontecimentos que deram origem a
essa atípica história de natal.
E também tenho muito a

agradecer a esse homem que me
perguntou sobre como é a noite de
natal, o que me levou a lembrar dessa
história real há muito tempo
esquecida por mim.
DEUS É MISERICORDIOSO
Ao amado Luqman
dedico

Liliam da Paixão 4
“Bem Aventurado o homem que não

anda segundo o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos
pecadores, nem se assenta na roda
dos escarnecedores. Antes tem o seu
prazer na lei de Deus, e na Sua lei
medita de dia e de noite. Pois será
como a árvore plantada junto a
ribeiros de águas, a qual dá o seu
fruto no seu tempo certo; as suas
folhas não cairão, e tudo quanto fizer
prosperará. (Salmos 1: 1-3)”.
Prefácio
A coleção “Só para as meninas”

traz agora esta série nomeada como
“Os apuros de Liliam”. A inspiração é
claramente baseada no desenho
animado “Os Apuros de Penélope”,
versão em português de “The perils of
Penelope Pitstop”, um dos desenhos
animados que eu gostava de assistir
quando era pequena.
Penélope não percebia que os

perigos em que repetidamente se
encontrava tinham como responsável
alguém que lhe era próximo e querido.

Liliam da Paixão 6
Sempre pega em uma armadilha, pois

se dirigia inocentemente em direção a
ela, como uma criança. O que seria de
Penélope Charmosa se não fosse a
quadrilha “É De Morte”?
Este livro traz uma história de

perigos e apuros como aqueles vividos
por Penélope, mas não trataremos de
esquadrinhar essa personagem. Neste
livro, tão somente veremos algumas
situações em que assim como o Tião
Gavião estava presente na vida de
penélope, podem estar presentes
vilões de vida real perto de nós. E
perceberemos que podemos não só
nos defender, mas extirpar esses
vilões de nossas vidas.
Há pessoas que podem ser como o

Tião Gavião, duas caras, como a
minha amiga, que não chamo de
amiga da onça, porque onça é um
animal da nossa fauna e é injusto com
ela, digo com a onça. Mas, mesmo
sendo falsa e duas caras, essa amiga
me emprestou uma blusa, porque
achou que não fosse cair bem em
mim. Cris pensou que a blusa fosse
ficar tão ruim em mim quanto ficava
nela. Quando, minha amiga,
finalmente, percebeu que fiquei bem
vestida com a blusa, ficou tomada de
ciúmes e se esforçou em me sabotar.
Tão preocupada se alguém fosse
roubar-lhe, o namorado. Como se eu
estivesse interessada naquela porcaria

Liliam da Paixão 8
de namorado que ela arrumou, sei lá

onde. Mas é claro que o Tião Gavião
oferecia riscos muito maiores a
Penélope do que tão somente um
ciúme gerado por causa de uma roupa
que me caiu bem, e é a perigos como
aqueles oferecidos pelo duas caras do
tio da Penélope, que podem trazer
comprometimentos graves à vida, que
vou me ater nesse livro.
Introdução
Já contei muito essa história, como

quem conta um causo, para diferentes
pessoas, e sempre percebi que havia
bom acolhimento para ela, talvez por
trazer alguma graça e divertimento
aos ouvintes.
Por alguns poucos anos

consecutivos sempre que alguém me
perguntava onde eu ia passar o natal
eu vinha com essa história como a
resposta, mas o que eu pensava
mesmo era : “não adianta me convidar

Liliam da Paixão 10
que eu não vou, já passei por poucas e

boas e não quero passar por mais”.
No entanto, por mais interessante

que essa história pudesse ser eu
acabei me esquecendo mesmo dela.
Muitos natais se passaram e ela
continuava no esquecimento. Até que
comecei a conversar com Luqman, e
aproximando-se o natal de 2019,
enviei para ele um vídeo bonito de
natal. Ele não deixou passar a
oportunidade, e me perguntou sobre a
noite de natal. Pensei ser apenas uma
curiosidade de um muçulmano nato do
paquistão, mas não era, pois sua
pergunta encerrava uma idéia
preconcebida. Com muito cuidado
Luqman me revelou que seus amigos

haviam dito que na noite de natal, os
cristãos vão para um salão grande e se
acomodam em torno de uma árvore de
natal. Mas a noite de comemoração
natalina ia mais longe do que uma
mera confraternização. Segundo os
amigos de Luqman, as luzes eram
apagadas e os cristãos praticariam
uma orgia. Como ele disse a mim,
uma garota com qualquer homem.
“Liliam, o que você me diz disso”?
Mesmo depois de ouvir tamanha e
absurda infâmia, mantive-me serena e
tudo o que disse,a ele foi:”não em
minha família”.

E foi assim, impactada por essa

revelação e questionamento, que dali
a alguns dias relembrei desse natal e
lembrei das associações que costumo
fazer entre aglomerações ou lugares
com pessoas desconhecidas e os riscos
que uma pessoa pode correr.
UM NATAL INESQUECÍVEL
Liliam da Paixão
"É melhor comer um prato de

hortaliças, onde há amor, do que ter
um boi cevado acompanhado de ódio
na refeição. (Provérbios 15:17)".
Não dá mesmo pra esquecer,

como todo trauma foi marcante.
Mas o fato é que eu estava numa

época em que me sentia muito feliz,
havia passado no vestibular, já tinha

começado minhas aulas, era um

período promissor para mim. Então
uma de minhas amigas havia
começado a namorar, e por conta
desse namoro é que surgiu essa
oportunidade de passar a véspera de
Natal na casa da prima do namorado
da minha amiga. Ufa... já deu pra
perceber, né? Eu estava com opções
de onde passar o natal. Pois bem, sabe
aquela época da vida em que além de
feliz não se tem nenhum tostão furado
no bolso? Pois é, também era assim.
Ou, seja, sem opções e sem dinheiro e
me convidaram para passar a véspera
de natal com essa família, que eu não
conhecia, mas como tratava-se de um
ambiente a princípio, e por minha
própria e ingênua dedução, familiar e

respeitável, como eram os ambientes
que costumava frequentar e ainda
hoje é assim, senti-me confortável em
aceitar o convite. Por isso, no dia 24,
antes de escurecer, já me encontrava
na casa das minhas amigas como,
insistentemente, me pediu uma das
meninas: adivinhem quem! A que
havia começado a namorar.
Eram essas amigas, na verdade,

três jovens, duas irmãs e mais uma
jovem, mãe de um bebê lindo de nome
Luqman que contava por volta dos
seus oito meses de idade. Todas três
garotas vieram do nordeste para
trabalhar aqui no Estado do Rio, e

estabeleceram residência em Jardim

Catarina, São Gonçalo: Patrícia, a irmã
mais velha, Felícia, a amiga e a irmã
mais nova e felizarda, Cris.
Entre nós o combinado foi esse:

lá na casa delas eu me arrumaria para
irmos todas juntas para a ceia de
natal. Sabe, calças da Felícia, blusa da
Cris e arco da Patrícia; já os sapatos
de salto anabela também não eram os
meus, e tinham a mesma cor da calça
comprida: parecia que cada uma das
peças de roupa e acessórios tinham
sido especialmente confeccionados
para mim: senti-me como uma
beldade. Já diante do espelho, o que
me pareceu foi que resultado de toda
essa empreitada de beleza para

minhas amigas me arrumarem ficou
muito bom, harmonioso e belo.
Contudo não devemos atribuir esse
sucesso de estilo e beleza totalmente à
empreitada, pois, quando se é jovem
quase não se precisa de muita coisa
para se ter uma boa aparência. Talvez
tratasse mais de um contrato de
beleza entre empreitada e juventude,
muito bem sucedido. Quanta
modéstia… haha.
O namorado da Cris chegou para

nos buscar, mas ficou esperando na
rua. “Rapaz esquisito, mais parece o
empregado do conde Drácula”, foi o
que guardei para mim, enquanto ouvia

o que Cris falava após conversar com

Chiquinho, pelo celular. Dessa forma
nós saímos da casa, encontramos com
o rapaz, e mais a frente com o primo
do rapaz, e, sim, fomos de ônibus,
porque ninguém lá tinha carro.
Eu quase nem senti o tempo passar.
É muito bom estar entre os amigos,
não é mesmo? Pois foi assim que
chegamos alegres, motivados e felizes,
aparentemente, pois sem dúvida achei
aqueles rapazes estranhos, muito
estranhos mesmo. Sim, era esse o real
sentimento, que havia em mim. Lá no
fundo eu sabia que algo estava fora de
contexto ou errado, sem dúvida era eu
tanto fora do meu habitual contexto

quanto do lugar de real pertencimento.
A casa não era muito longe da

parada onde descemos, e ao
deparar-me com aquele cheiro de
assado característico da véspera
de natal, tudo parecia indicar que
teríamos uma noite de véspera de
natal, tranquila em família. Haha.
Mas lá no fundo eu sentia que

alguma coisa estava ainda mais
estranha; isso porque até então, em
todas as casas por onde eu já havia
passado durante o natal, por aquele
horário a mesa para a ceia já
costumava estar posta. A ave ou uma

carne assando, nada demais, mas a

mesa já devia estar posta.
Como havíamos andado antes de

pegar o ônibus, quando chegamos à
casa estávamos com sede, pelo
menos, eu estava, mas todos bebemos
água, e... nenhum refrigerante? Será
que chegamos à uma casa onde havia
miséria? Ou será que lá eles só
enchiam a cara mesmo? Foi o que
pensei, enquanto não tirava os olhos
do bebê de Felícia: "vou ficar com esse
bebê no colo, quero nem saber, e vou
passear com ele na varanda, pro caso
das coisas ficarem estranhas". Claro
um bebê no colo é sempre a melhor
estratégia, para se sair de uma
confusão. Pronto já tinha um plano em

mente.
Cris, a namorada do primo da

anfitriã, que já tinha se apressado a
conhecer a casa me mostrou como
eram os cômodos, o quarto onde
poderia descansar se tivesse sono, foi
isso o que aconteceu assim que
chegamos, mas algo me dizia aqui na
boca do estômago que seria uma longa
noite. "Onde eu vim amarrar meu
burro?" A casa tinha um cômodo
grande onde ficava a cozinha e a sala
de estar. Por isso dava para se ter
uma visão ampla de tudo o que
acontecia dentro da casa. Na cozinha
havia uma porta para os fundos, como

é de costume se ter nas cozinhas. Não

posso dizer com exatidão onde ficava o
banheiro, mas também como me
reservei ao direito de não ir até ele,
sua importância se dá mais pelo fato
de Cris insistir em dizer que ficava
num canto lá da cozinha, enquanto,
com uma expressão delirante, fazia
um movimento gracioso com o braço
como se mostrasse o lugar. Mas lá, no
lugar que minha amiga mostrava, só
tinha mesmo uma parede. Por isso
compadeci-me de minha amiga, por
ela estar tão desnecessariamente
enciumada, além de envergonhada
pela casa não ter banheiro.
Sinceramente, para mim aquela era a
casa da bruxa do conto João e Maria,
disfarçada é claro, mas no fim do

mundo onde Judas perdeu as botas, e
sem caminho de volta, pois o último
ônibus foi aquele em que chegamos.
O próximo ônibus só de manhã. E lá
não passava táxi e por incrível que
pareça, ainda não haviam inventado o
uber.
Minhas três amigas, um

namorado, o primo do namorado, três
primas, três maridos, um bebê e eu
para passarmos a véspera de natal em
uma casa no fim do mundo; pelo
menos tinha energia elétrica. Então tá,
duas das tais irmãs que eram as
primas do namorado estavam
conversando e resolvendo a que horas

iam arrumar a ceia ... conversa vai,

conversa vem, e eu lá só observando,
quando começou, a discussão, "você
era a privilegiada". "Não, você que
era", e até aí eu tranquila, pois o
namorado já tinha avisado para não
ligarmos porque elas brigavam
mesmo. Mas as coisas começaram a
ficar muitos quentes. "Eu passei muita
necessidade". "Mentira você teve vida
boa". "Eu é que tive dificuldade"...”Eu
cuidei de papai”. Foi uma verdadeira
lavagem de roupa suja. Tudo o que
aparentemente incomodava as irmãs
desde a mais tenra idade era revelado
sem o menor critério ou pudor. Então
em meio às desavenças das irmãs
alguém tem a ilustre ideia de chamar a
irmã mais velha, que morava perto, e

que ao chegar já foi distribuindo socos
e pontapés para as irmãs mais jovens.
As três irmãs pareciam verdadeiras
pugilistas duramente treinadas ou
lutadoras de vale tudo do mais alto
gabarito. Então eu diligentemente pus
o meu plano em prática, "não é bom
pro neném presenciar isso não,
Felícia." Inusitadamente pareceu-me
que ao pegar o bebê em meus braços,
este era tão forte que a ele mil
guerreiros não poderiam se comparar.
Peguei o neném e fui para fora da casa
para o quintal me acomodar em uma
rede, só faltava cantar: "daqui não
saio, daqui ninguém me tira". Mas era
o pequeno Luqman quem me protegia

dos perigos daquela noite. Enquanto

isso lá dentro da casa três maridos
tentavam separar suas esposas
engalfinhadas como verdadeiras
lutadoras profissionais. Qual não foi
meu espanto quando um dos maridos,
homem de estatura mediana e forte,
foi arremessado para longe. Foi
quando finalmente eles resolveram
aceitar a dura realidade, suas esposas
eram macho pra chuchu e
trataram-nas como se ela fossem
homens adestrados para a guerra,
para poderem apartar a briga, caso
contrário acabariam as pobres
meninas indefesas por demolirem a
casa. E eu lá fora comodamente
embalando o bebê com lindas cantigas

de ninar.
Adormeci com o bebê, na rede, e

lá dentro da casa o coro cantando.
Enquanto isso, volta e meia, eu abria
os olhos, "tudo bem, não saiu nenhum
tiro". Do lado de fora da casa, a noite
estava acalentadora, fresca, dava pra
dormir confortavelmente sob o céu
noturno, e embaixo daquela árvore, na
rede, parecia o jardim do Éden. "Liliam
deita lá dentro, tá serenando". "Eu
não, e se elas brigarem de novo". "Vão
brigar mais não, lá dentro só tá a que
mora aqui, as outras foram embora".
"Se tiver briga de novo eu volto aqui

pra fora e vou ficar com Luqman, no

colo".
E vocês o que acham que

aconteceu? Quisera eu dizer que eu
dormi bem, mas não foi assim.
O quarto, não era muito grande, em
sua entrada não havia uma porta,
apenas uma cortina, que quando
aberta revelava uma cama de casal.
Entrando no quarto, mal dava para
perceber que havia uma cama de
solteiro entre a cabeceira da cama de
casal e a janela, um basculante
grande, na verdade, que iluminava
bem o quarto quando havia luz do sol.
Estava bem acomodada, na cama

de solteiro, com o pequeno Luqman
em meus braços, e cheguei a pensar

que dava pra dormir até amanhecer
quando eu finalmente poderia sair dali
para nunca mais voltar. Mas, de
repente, eis que o casal anfitrião
começa a brigar na cozinha, e como
uma bomba arremessada, os dois
entram no quarto e caem na cama,
sem se dar conta, que eu estava ali
junto a cabeceira com o neném. "Você
tem que me respeitar", esbraveja o
marido. "Eu não", afirma a mulher,
com a como de voz de um trovão.
"Você vai me respeitar", esbraveja,
novamente o marido, logo dando uma
bofetada sem dó, com o dorso da mão
direita, na esposa, enquanto
movimentava o braço como quem

fosse alçar vôo, ao mesmo tempo que

permanecia de quatro sobre a mulher
imobilizando-a. "Não vou, você não é
meu pai e eu só respeitava o meu pai,
não respeito homem nenhum". Outra
bofetada com a mão esquerda, agora.
O fato é que enquanto eles
permaneciam naquele brutal diálogo,
eu já me esgueirava, sobre a cama
para sair de lá com o neném no colo,
quando finalmente levantei da cama
de solteiro, foi como se tivesse
aparecido do nada junto à cabeceira
da cama deles. O homem parou
apavorado com os olhos arregalados,
congelado, só movimentando os olhos
de um lado para o outro, com um leve
acompanhar da cabeça, e eu saí de lá
nas pontas dos pés como uma

bailarina, apressadamente. Gente,
vocês podem não acreditar, mas não é
que lembrei do desenho Os Apuros da
Penélope Charmosa, justo naquele
momento. O que me faz pensar que se
havia uma Penélope, certamente,
havia um Tião Gavião, ainda que
oculto em algum lugar. E fui eu de
volta para fora da casa, assim, eu
fiquei, ora na rede, ora na varanda,
acompanhada de Luqman.
Não via a hora daquele pesadelo

acabar. O bebê de Felícia, tinha Felícia,
mas e eu, eu tinha Deus, e não saía da
minha mente aquele versículo. "Melhor
é um bocado de pão seco com paz e

tranquilidade do que a casa repleta de

carnes e contendas! (Provérbios
17:1)". E foi isso, não foi culpa das
meninas, foi minha. Eu não tinha nada
que ter ido pra um lugar onde eu não
conhecia as pessoas que estariam lá.
Uma hora as coisas acalmaram,

porque todo mundo acabou ficando
com sono, e eu acabei indo dormir,
novamente. Deitei na cama de
solteiro, porque ali eu já conhecia e
qualquer coisa já saberia como me
esconder: provavelmente embaixo da
cama, com Luqman. Dali, caso fosse
necessário, poderíamos mergulhar
até o fundo do mais tranquilo e
aconchegante oceano, onde
certamente nós dois permaneceríamos

seguros, e amparados, aguardando até
que tudo se acalmasse novamente e
pudéssemos retornar à superfície.
Mas, não houve necessidade e logo
pouco antes da alvorada, Felícia pegou
o bebê de volta para dar de mamar a
ele, e eu fiquei só aguardando
amanhecer, pra ir embora. Acordei
determinada ao ouvir o som de um
ônibus passando lá na rua, me virei
ainda na cama e percebi que pela
janela uns rapazes, "os irmãos
Bacalhau", entre eles o irmão das
lutadoras de vale tudo, me
observavam, mas é claro, eu estava
vestida, depois daquela noite de
horrores, o menor dos males.

Levantei, passei a mão no cabelo, a

bolsa ficou comigo a noite toda, e eu
saí do quarto, deparando-me com as
meninas, minhas amigas, sentadas à
mesa. "Liliam vem tomar café".
Chiquinho, o namorado da Cris, tinha
ido comprar pão. "Não, gente, pode
deixar eu tomo café no trabalho".
Perguntou Patrícia, "você vai trabalhar
no natal"? "Vou, eu combinei com
minha chefe, ela me deu folga ontem
pra eu trabalhar hoje, depois agente
conversa, tchau", respondi. “Cadê
Luqman”? “Tá ali na cama, você
passou por ele e nem viu”. Olhei e o
bebê estava dormindo lá na cama de
casal. Saí apressada de lá, e assim que

eu saí, o ônibus passou. Que alívio!
Um certo fato que me escapou aos

olhos na época era a finalidade da rede
estendida lá no quintal, digamos que
se tratava de algum tipo de artefato
produzido por cupidos. Houve um
comentário, antes de chegarmos à
essa casa de que haveria uma rede lá,
ao que eu retruquei que não gostava
de me deitar em redes. Para mim rede
é só onde se deita para descansar e
dormir, nada além disso, e eu não
gostava mesmo, não achava conforto
ali, para mim nada como uma cama de
colchão macio para dormir. Mas, essa
rede, em particular, estaria preparada

para casais que quisessem dar certo

no amor, como Cris e seu namorado.
Por isso a bichinha estava tão inquieta
para chegar a essa casa, nenhum
interesse cristão, de jeito nenhum.
A dondoca queria ser primeira em
tudo na casa da prima do namorado
dela, e deixamos as quatro isso
combinado de antemão, mas ela não
falou nada sobre o lado de fora da
casa, então, não aceitei suas
posteriores reclamações de que ela era
quem tinha que ter ficado na rede.
Essas amigas eram uma amizade

nova, na minha vida. Eu as conheci
enquanto trabalhava no censo do
IBGE. Eram boas garotas, de família,
mas estavam sozinhas aqui no Rio.

Contudo começaram a frequentar a
igreja, e criaram laços com os irmãos.
Tiveram assim uma boa idéia para
estabelecimento de vínculos na vida
social fora de casa, o que com certeza
apontava para a qualidade do caráter
de cada uma delas, embora seus
hábitos ainda não estivessem
totalmente de acordo com o que nos
orienta a Palavra de Deus. O tal
sincretismo religioso era gritante,
como o é na vida de muitas pessoas.
Dessa forma temos o motivo que

levou as meninas a estarem tão
interessada em passar o natal na casa
da prima do namorado da Cris. O

interesse era, tão somente, em algum

tipo de mandinga amorosa que uma
rede em especial podia oferecer
àqueles que se recostassem nela.
Assim como muita gente se interessa
por simpatias específicas para a noite
de ano novo, há quem se fixe em
alguma simpatia para a noite de natal.
E eu com isso? O que aconteceu foi
que enquanto eu estava com o bebê
na rede, eu tive como que um sonho.
Tinha eu por volta de uns quatro ou
cinco anos e estava sentada na grama
junto com Luqman, que mais velho, já
contava com seus dois ou três anos, e
por sermos assim duas crianças de
idades próximas estávamos brincando,
como as crianças pequenas e
inocentes brincam. Luqman começou a

correr e eu preocupada que ele caísse,
comecei a chamar: "Luqman, pára de
correr". Então eu acordei, como se
estivesse caindo, e segurei o neném,
pra ele não cair dos meus braços, mas
foi só um sonho, ele estava seguro.
Quando fui para a varanda antes de
entrar pra dormir, e eu estava com
sono, Felícia me perguntou: "Namorou
muito o meu filho"? "Que pergunta,
Felícia, ele é só um neném, como eu
iria namorar um neném"? "Tava na
rede com meu filho, daqui eu vi". Foi
uma conversa muito estranha pra
mim, sabia que era brincadeira mas
não entendi nada. Para Felícia, alguma
espécie de rito havia acontecido ali, ou

alguma entidade espiritual havia

passado ali, e selado o amor entre eu
e Luqman para sempre. Por isso é
importante escolher bem onde e com
quem iremos passar essas datas
festivas, por conta do sincretismo
religioso, e de talvez estarmos nos
envolvendo com coisas que
desconhecemos ou cujo significado
para nós difere dos outros, aqueles
entes queridos, próximos a nós. Para
muitos o natal é só uma festa e na
prática acaba sendo celebrada nos
moldes de ritos pagãos, como se fosse
uma festa para Apolo, Baco,
Semíramis e Mitra, por exemplo.
Estava eu lá, usando um arco no
cabelo, usando azul, uma calça
comprida cor creme, bem clarinha e

com um bebê nos braços. Uma figura
que para nós se refere à Maria e Jesus
quando bebê. Mas essa figura da mãe
com um bebê nos braços evoca
referenciais diversos assim como
diversificada é a cultura e os povos no
planeta Terra. Para nós que cremos
em Jesus e em suas palavras,
associamos o natal ao seu nascimento.
Entretanto, como essa associação
entre o nascimento de Jesus e o natal
foi proposta e formalizada, bem como
começou a ser passada de mãe para
filha ou de pai para filho poderia estar
no cerne do questionamento que eu
proponho aqui, considerando nossa fé

cristã e os riscos que corremos nesse

mundo que jaz no maligno.
“Sabemos que somos de Deus, e

que o mundo inteiro jaz no Maligno. (I
João 5:19)”.
Só assim a pergunta sobre porque

não há registros de natal na bíblia
referindo-se ao nascimento de Jesus
poderá ter mais sentido e ser mais
precisamente respondida.
No fim das contas, se

considerarmos todos os bens de
consumo associados ao natal podemos
entender que o mercado se predispõe
de estratégias para criar e manter os
consumidores fiéis à aquisição desses
mesmos bens. Mas precisamente o

comércio além de criar consumidores
promove o reforçamento do hábito de
consumo por toda a vida do
consumidor e mesmo em nós que
cremos em Jesus. Então, talvez
possamos nos perguntar sobre quem
seriam essas pessoas que passam por
nossas vidas e criam hábitos capazes
de destruir ou constituir nossa rotina,
nossa forma de ver e interpretar o
mundo? E com qual interesse além de
formar consumidores? Que
ferramentas podem ser utilizadas para
se criar e manter o consumo? O
marketing1 pode fazer isso? A novela
1
Quando o halloween e a black friday
começaram a ficar populares nesse país?

pode? Um filme de natal americano?

Qual é o interesse por trás dessas
iniciativas de difusão de som e
imagens, que visam o consumo? É só
capital? Nunca na vida havia ouvido
sobre essa história de rede para selar
uma união estável entre um homem e
uma mulher, embora, isso deva fazer
sentido para alguém em alguma
cultura nessa Terra. Mas essa história
de rede no natal me faz lembrar que
nos filmes americanos há um enfeite
de natal em especial, refiro me aos
filmes, pois não havia isso na minha
casa e nem na casa de alguém que eu
pudesse conhecer - o visco. Então
quando as pessoas paravam
acidentalmente embaixo do visco,
tinham que dar um beijo: certamente

JESUS nunca deu tal orientação e
disso eu tenho plena convicção. Por
isso vale reforçar que devemos ter
cautela e juízo quando nos
predispomos a ir a uma festa ou
celebração seja qual for e onde for, já
que em lugares onde há muitas
pessoas que não se conhecem os
riscos de haver ali alguém mal
intencionado são maiores. Se muitas
vezes uma pessoa, cuja procedência
desconhecemos, em nossa casa já é
suficiente para suplantar idéias e
comportamentos alheios ao que Jesus
nos deixou para seguirmos. Quanto
mais em um lugar onde há
aglomeração, pois em tais lugares

pessoas mal intencionadas passam

ainda mais despercebidas. Justamente,
por não sabermos de fato a intenção
do coração e o que está na mente das
pessoas é que podemos nos ver em
alguma situação que nos pode trazer
grandes riscos e ainda maiores
prejuízos. Muitas dessas pessoas, que
eu particularmente chamo de diabos
ou demônios de carne e osso, uma vez
que fincam seus dentes em nossas
vidas não querem mais largar, porque
algum benefício estamos lhes
trazendo, seja esse benefício qual for.
São essas pessoas que como vampiros
sugam o sangue da vítima até não
haver nenhuma gota. Muitas vezes
essas pessoas, por mim comparadas a
vampiros, se aproximam das famílias

com crianças pequenas por que estas,
sendo inocentes, são mais facilmente
doutrinada. Tal aproximação pode
permitir que esses canalhas ou
vampiros fiquem escondidos em uma
família, por décadas como se fossem
aqueles a quem conhecemos como
demônios familiares, que são capazes
de parasitar uma família até destruí-la
por completo, se não forem
desmascarados, pois, acreditem, eles
podem ser desmascarados. E por
serem constituídos de carne, osso e
sangue, sangrarão se lhes dermos um
soco bem dado no meio de seus

cornos2, hipoteticamente falando, é

claro.
Mas, então, como conseguem

monitorar as crianças de uma família
por tantos anos e acompanhar e
interferir no desenvolvimento das
crianças durante os anos que levam
para crescer? Essa é uma pergunta
que muitos se fazem, pois esse tipo de
empreendimento parece improvável já
que requer muito investimento de
tempo pelo menos. Uma das
possibilidades, e isso considerando,
que não exista rádio, televisão,
2
Expressão que ouvi muito quando criança,
embora não seja uma expressão respeitável.
telefone, ou internet3, é o
agendamento das datas de
aniversário, porque é uma data que se
repete todo ano, e é possível que
mesmo em uma comemoração simples
e modesta haja ali entre os convidados
algum desconhecido potencialmente
perigoso. Com o passar dos anos essa
pessoa pode estar exercendo domínio
sobre a mente da criança e de toda a
família, já que não precisa estar ali o
tempo todo, basta vir nas datas
disponíveis para aplicar seus reforços e
comandos. Esse tipo de estratégia
pode ser empregado por quadrilhas
3
Embora
eu tivesse acesso a telefone quando
eu era criança não havia internet disponível
para mim

que sobrevivem de sugar o dinheiro,

os bens, ou até mesmo, as idéias de
uma família vitimizada. E esse tipo de
quadrilha subsiste passando-se o ofício
criminoso de pai para filho ou para
aprendizes, pois se são de carne, osso
e sangue, uma hora eles morrem
como tudo o que está vivo. Mas as
datas de aniversário são só uma das
estratégias para se manter o domínio.
Onde há aglomeração esses demônios
se infiltram, por isso o cuidado e o
juízo são necessários além de uma boa
avaliação, da real necessidade de nos
dirigirmos para esses lugares e de
consequentemente nos submetermos
aos estímulos, comandos e
reforçamentos que possivelmente

encontraremos lá.
Como estamos conversando sobre

a celebração natalina, já que o
exemplo trazido foi justamente uma
véspera de natal na casa de
desconhecidos, uma estratégia
utilizada pode ser a armadilha. Então
da mesma forma que vampiros podem
ali estar presentes onde há
aglomeração de pessoas, como que se
aproveitando de uma oportunidade, a
vítima também pode vir a ser
conduzida para esses lugares, como
que para ser sacrificada, e as pessoas
mais inocentes são as mais
vitimizadas. E quem diria, a

preferência é por cristãos verdadeiros4,

nós os que inocentemente ou
conscientemente associamos o natal
ao nascimento de Jesus. Então ir para
um lugar mesmo que acompanhada de
pessoas conhecidas pode não trazer
segurança, porque vai se saber o que
as pessoas pensam, não é mesmo?
Então ali eu estava em desvantagem,
mas considerei que como eram da
igreja como eu também era, estaria
tudo bem. O fato é que as minhas
amigas se conheciam desde a infância,
então a comunicação entre ela era
mais eficiente, mesmo por um olhar,
uma expressão, uma postura corporal
4
Como cristãos verdadeiros refiro-me aos
que amam a Jesus e a sua Palavra.
ou um piscar de olhos. Então em uma

possível situação de risco elas
tenderiam a se proteger e a me deixar
de lado. É assim que agimos,
costumamos dar maior segurança às
pessoas as quais atribuímos maior
valor. Isso tanto foi verdade que a
minha estratégia de segurança foi
proteger o bebê, pois dentre todas
aquelas pessoas ali, desconhecidas e
conhecidas a pouco tempo, a quem eu
atribuí maior valor, tanto para
proteger quanto para estratégia de
auto proteção? Instinto maternal,
talvez? Deu pra perceber agora o
tamanho do risco que eu estava
correndo ali, ou ao menos, pensei
estar, não é mesmo? Até considerando

a hipótese de que eu tivesse que sair

dali correndo, a quem desconhecidos
poderiam oferecer abrigo com maior
disponibilidade? A uma mulher com
um bebê nos braços provavelmente.
Tudo isso é claro foi a nível da
autopreservação do meu organismo,
pois, eu não pensei muito nisso, foi
uma resposta automática assim como
o pensamento foi automático, foi um
pensamento muito rápido, a estratégia
brotou de repente, fincou raízes e
cresceu de igual forma, como o pé de
feijão da história João e o pé de feijão.
Embora eu estivesse com minhas

amigas não estava me sentido segura,
e não importando o que eu dizia a mim
mesma meu organismo entendeu que

havia riscos, então é sempre bom
ouvir o que nosso organismo ou mais
precisamente o organismo de cada um
tem a dizer a cada um de nós, porque
foi Deus quem o criou.
Se é essa tal de festa de natal, é

bom que se esteja em casa, com as
pessoas que habitualmente participam
de nossas vidas e conhecemos bem.
Uma ave ou um cordeiro assado, pode
fazer bem, mas receber muitas
pessoas em casa e oferecer bebida a
elas ao mesmo tempo que podem ter
acesso aos membros mais frágeis de
uma família pode ser uma má idéia.

Se é um aniversário é melhor que

seja modesto, com os familiares ou
melhores amigos, nada de
desconhecidos ou amigos recentes.
Crianças podem ficar fascinadas por
um aniversário, por isso precisam ser
admoestadas desde cedo para terem
cuidado com a própria vida e a própria
segurança. Um bolinho feito em casa
para lembrar que aquele foi o dia em
que a criança nasceu pode não trazer
prejuízos, mas uma casa cheia de
pessoas que não fazem parte do
convívio habitual pode sim oferecer
tais prejuízos e algumas vezes de
forma irreparável. Por isso é
importante sermos vigilantes e
responsáveis, pois sabemos que há um
inimigo que milita contra nossas vidas,

contra nosso bem-estar, mas é através
de pessoas que o mal tem acesso a
nossas vidas e famílias. Precisamos
saber nos manter longe do mal bem
longe de práticas que podem oferecer
oportunidades ao mal de se apropriar
de nossas vidas, mas também
precisamos estar preparados e saber
como nos defender e proteger a
família.

“Não permitas que o meu coração

se volte para o mal, nem que eu me
envolva em práticas perversas com os
malfeitores. Que eu nunca participe de
seus banquetes. (Salmos 141:4)".

“Boa Romaria faz quem em sua casa

está em paz”, diz a minha mãe que a
mãe dela dizia.

DEUS É
MISERICORDIOSO


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