A IGREJA IDEIAL – Atos 2.

42-47
Pr Rovanildo Vieira Soares

Em conversa com um velho amigo, hoje pastor, falei que nós pastores devemos nos esforçar para ter o
melhor para a igreja. Assim foi o diálogo:

- Olhe, Deus nos confiou o cuidado com o rebanho e nós precisamos nos esforçar para que a igreja tenha o
melhor.

- É rapaz, na nossa igreja, por exemplo, compramos cadeiras acolchoadas, trocamos o som por um de
excelente qualidade e refrigeramos o salão de culto. Depois vamos refrigerar o restante.

- Que bom, meu irmão.

Desisti da conversa, ele estava pensando apenas em conforto físico, o que é muito bom, mas eu queria
conversar era sobre a qualidade da igreja em seu sentido pleno e ideal. Parece que o desconhecimento do
que seja igreja e de qual o ideal do Senhor para ela leva a algumas distorções, daí surgem modelos de
igreja:

- Igreja show: Seus cultos são verdadeiros espetáculos, elas atraem as pessoas com suas luzes, bandas,
pregações que mais parecem palestras motivacionais etc. Particularmente não vejo erro em ter uma igreja
com uma excelente banda, luzes de palco etc. O que não pode é a igreja viver disso.

- Igreja evento: É aquela que tem programações especiais sempre, com pregadores convidados e todo um
aparato para atrais pessoas a partir desses eventos. Não erro em ter evento na igreja. O errado é a igreja se
caracterizar e sobreviver disso.

- Igreja escola: Tem curso sempre e curso de tudo. Isso, na verdade, é muito bom, mas não pode ser a base
da igreja.

- Igreja dos milagres: Atrai pessoas com apelo de coisas sobrenaturais, como curas, soluções de problemas
e expulsão de demônios. Bem, isso deve ter numa igreja, mas uma igreja não é só isso. Conheci uma igreja
que chegou ao cúmulo de fazer abaixo assinado pela saído do pastor porque fazia um mês que nenhum
demônio aparecia nos cultos.

Eu poderia citar mais algumas, mas essas, provavelmente as mais comuns, são suficientes para se perceber
que as pessoas confundem o que a igreja pode e deve ter com o que a igreja é, ou seja, como é a igreja que
não apenas cresce, mas, principalmente como é uma igreja que agrada a Deus. Mas como é essa igreja?
Temos um modelo? Eu penso que a mais primitiva das igrejas cristãs, a de Jerusalém, oferece esse modelo
e o texto de Atos 2. 42-47 mostra ela em sua plenitude, com a qualidade que Deus deseja e agrada a Ele.

A igreja não é um milagre do Novo Testamento, no Antigo Testamento ela se manifestava no povo de Deus,
Israel, mesmo lá o Senhor já mandava pregar para todo mundo (Salmo 96.1-3). Ou seja, Deus sempre quis
um povo internacional. No Novo Testamento, vemos Jesus dizendo que atrairá ovelhas de outro aprisco e
haverá um só rebanho (João 10.16). Paulo diz que Deus fez de judeus e gentios um só povo (Efésios 2.11-
19). As mesmas expressões usadas para a aliança de Deus com o povo de Israel, quando o tomou para seu
povo, são usadas por Pedro, em relação à igreja (Êxodo 19.5,6; 1Pedro 2.9,10)
Vejamos essas qualidade:

1. UMA IGREJA DEDICADA (V42a)

A NVI troca a expressão perseveravam por se dedicavam, parece que essa tradução alternativa tem até
melhor qualidade, ela fala de uma igreja que mais que perseverante, era uma igreja dedicada, ou seja, não
era uma igreja que vivia de sobressaltos ou altos e baixos, não apenas continuavam fazendo, mas faziam e
com dedicação, faziam o melhor. Na mesma linha o apóstolo Paulo diz aos coríntios que eles sejam firmes,
constantes e abundantes (1Corintios 15.58), ou sejam façam sempre, façam muito e façam o melhor.

Ser dedicado é fazer com amor, esmero. É isso que Deus espera de nós como igreja. Nada de sobras, nada
de pouca qualidade. Muitos pastores têm sofrido com igrejas e ovelhas volúveis, de humor e fervor
instáveis, nunca sabem o que pode fazer ou se podem contar com quem pode contar. Isso gera
instabilidade na igreja. Não convêm que sejamos assim.

Aqui parece que temos uma resposta à questão levantada acima a respeito dos modelos de igrejas, com
suas características que não são ruins ou erradas. A questão aqui é a dedicação correta, ou seja, a igreja
pode ter ou fazer muita coisa, que não contra a palavra de Deus e pode não fazer algumas outras, mas há
marcas que ela não pode dispensar, marcas às quais ela tem que se dedicar para ser uma igreja ideal, uma
igreja que agrada a Deus. Essa igreja priorizava isso. Vejamos:

2. UMA IGREJA DEDICADA NO ZELO DOUTRINÁRIO (V42b)

A igreja se dedicava à doutrina dos apóstolos. É interessante que na construção da frase, no grego bíblico, o
Koinê, os apóstolos é que são acentuados, não primeiramente a doutrina. O que se quer dizer aqui é que
eles não apenas se dedicavam a uma doutrina, mas a doutrina correto, o ensino dos apóstolos.

Aprendemos ao menos três coisas importantes aqui:

a) Que Jesus continuaria seu ensino através dos apóstolos (atos 1.1,2), portanto permanecer na doutrina
dos apóstolos é permanecer nos ensinos do próprio Jesus.

b) Que não importa apenas ter uma doutrina, um ensino, é preciso crer de maneira correta. Essa igreja era
composta de gente egressa do judaísmo, que conhecia os costumes e ensinos dos mestres, mas ela se
dedicava ao ensino dos apóstolos. Uma pessoa pode ter uma doutrina sincera, mas está errada. É preciso
conhecer bem as escrituras, para não errar, especialmente nesse tempo de tanta confusão doutrinária.

c) Que a igreja precisa beber de uma fonte só. A igreja de Jerusalém se dedicava a o que seus líderes, os
apóstolos ensinavam, mesmo tendo outras fontes doutrinárias às quais poderiam recorrer. Primeiro o
pastor deve conhecer a verdade e pregar a verdade, segundo a igreja precisa ouvir o que ele e não outro
ensina. Em 1Corintios 14.8 Paulo diz que se a trombeta der som incerto, os soldados não se prepararão
para a batalha. Os pastores precisam ter convicção doutrinária e a igreja precisa ouvi-los, para não ficar
confusa.

Em tempos de tantas vozes, ensinos estranhos, se faz necessário que a igreja tenha ensinadores e ensinos
sólidos, baseados na palavra do Senhor. É preciso entender que doutrina, teologia, ensino é coisa séria, que
a igreja pode até ter outras marcas, mas a dedicação ao Zelo doutrinário é indispensável para uma igreja
ideal. Igreja bem ensinada não cai em ciladas, conhece a verdade e afastas as mentiras e os mentirosos.

3. UMA IGREJA DEDICADA AO AMOR (V42c)

A palavra comunhão aqui é uma tradução de κοινωνια, termo muito comum Novo Testamento, que além
de comunhão também é traduzido como associação, comunhão, fraternidade, relacionamento íntimo,
generosidade, participação, partilha, compartilhamento. Ou seja, comunhão é mais que propósito comum,
é ter em comum, sentimentos e até bens. Isso é expandido no versículo 45 e 46. Eles vivam se dedicavam à
comunhão:

a) Tendo tudo em comum; (V45b)

b) Abrindo mão dos seus recursos para socorrerem os outros (V46)

c) Fazendo refeições comuns, nas casas uns dos outros (V46c), o que para alguém da época só era aceitável
a quem gozasse profunda intimidade e amizade. (Apocalipse 3.20).

Então eles tinham, de fato uma relação familiar. Quando se chamavam de irmãos não o faziam apenas pró-
forma. Havia um sentimento familiar e amoroso entre eles.

Mas o texto do versículo 42 diz que além da comunhão eles dedicavam ao partir do pão, o que é repetido
no versículo 47. Observe que partir o pão (de casa em casa) é distinto de fazer refeições de casa em casa.
Partir o pão aqui é uma expressão para a Ceia do Senhor. (Lucas 24.30; 1Corintios 11.24). Isso também era
um ato de comunhão, porque na ceia a igreja partilha do mesmo pão, mostra que é o mesmo corpo místico
de Jesus.

Para além da comunhão, partir o pão mostra que os primeiros cristão gostavam de cultuar e evangelizar de
casa em casa, que mesmo que houvesse a grande celebração, de todo o corpo, no templo ( V46), essa igreja
se espalhava pelas casas, cultuava e dizia, no momento da ceia, que Jesus morreu nas cruz, recebendo os
pecados em seu corpo e que seu sangue nos purifica de todo o pecado (João 1.7).

Deus nos quer assim, amando uns aos outros, socorrendo uns aos outros, tenho intima comunhão uns com
outros, nos reunindo como corpo para celebração efusiva, adoração reverente e evangelização vigorosa . A
igreja Ideal é dedicada no amor. Numa igreja que agrada a Deus, pode faltar luzes, programações, cursos,
pode faltar até prédio, mas não falta o amor de Cristo.

4. UMA IGREJA DEDICADA À ORAÇÃO (V42d)

A última caraterística da igreja ideal, apresentada no versículo 42 é a oração.

A igreja de Jerusalém, porto a primeira igreja, da qual descendemos, foi gerada na oração, então nós fomos
gerados em oração. Quando Jesus subiu ao céu disse para os seus que ficasse em Jerusalém aguardando o
derramamento do Espirito Santo (Atos 24.49). Então os discípulos foram para Jerusalém e lá de dedicaram
a oração (Atos 1.8-14).
Os que ficaram seguindo ao Senhor, depois de sua morte e ressurreição eram cerca de 120 pessoas (Atos
1.15). Aqui está o núcleo da igreja, 120 irmãos que entre a páscoa e o pentecostes se dedicaram apenas a
oração, até que o Espírito Santo desceu e os encheu. Essa era uma igreja muito abençoada porque, mesmo
antes do revestimento do Espírito ela já se dedicava à oração.

É extremamente comum na Bíblia que os grandes eventos sejam precedidos por tempo de oração, que os
homens de Deus, sejam mostrados como gente de oração. Por exemplo:

Jesus sempre estava orando:

Antes de escolher os 12 Ele se retirou para orar (Lucas 6.12)

Antes de ressuscitar Lázaro Ele orou (Joao 11.41-44)

Antes da sua prisão ele foi orar (Lucas 22.39-44)

Antes de sua prisão definitiva, Paulo orou com os líderes da igreja de Éfeso (Atos 20.36-38)

A história da igreja mostra grandes avivamentos, homens e igrejas tremendamente usadas por Deus. Eles
tinham características diferentes, mas uma lhes era e é comum, todos esses homens e igrejas, onde o
poder de Deus operou grandemente eram dedicados à oração. Devemos orar, porque Jesus, nosso modelo,
nos ensinou, porque isso é ordem do Senhor (1Tessalonicenses 5.19) e porque não há como ser crentes e
igreja operosa sem dedicação à oração.

Numa igreja Ideal, que agrada a Deus, pode faltar muita coisa, menos oração.

CONCLUSÃO:

A igreja ideal, então, é a que se dedica a esses pontos: Zelo doutrinário, amor e oração. Ela pode ter ou não
outras características, mas essas não podem faltar. Queremos ser apenas igreja grande, ou queremos,
acima de tudo agradar a Deus? Eis as marcas que precisamos ter como igreja para agradá-lO.

Essas ações e caraterísticas da igreja trouxeram resultados maravilhosos.

a) Havia temos em cada irmão (V43a). A presença de Deus lhes fazia vigilantes contra o pecado;

b) Deus operava maravilhas através dos apóstolos (V43b);

c) A igreja caiu nas graças do povo (V47a);

d) Deus multiplicou aquela igreja (V47b);

Precisamos crer que o Senhor continuará fazendo isso em nós, seu povo, sua igreja. Eu creio e aguardo a
sua visitação de graça. Você também crer?

Que o Senhor nos abençoe.