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SACRAMENTOS DE INICIAÇÃO:
Alicerces da vida cristã

Jardel Rodrigues1

RESUMO

O tema da pesquisa busca mostrar que os Sacramentos instituídos por nosso Senhor Jesus
Cristo, sobretudo os sacramentos da iniciação cristã, são alicerces para nossa vida. Nos ajuda
na nossa vida cristã e nos faz compreender cada vez mais o sentido de ser discípulo missionário.
Nos prepara para bem vivermos os outros Sacramentos principalmente a Eucaristia. Por isso
será abordado a maravilha que é a Celebração do Mistério Cristão, através da Economia
Sacramental, na liturgia, sustento, direcionamento para nossa salvação até que nosso Senhor
venha novamente. Se baseará também na Tradição da Igreja, Sagrada Escritura e seu Sagrado
Magistério. Não tem a pretensão essa pesquisa de esgotar nenhuma forma usada por nosso
Senhor em buscar seus filhos dispersos por todo o mundo para trilharem o caminho da salvação,
e sim ajudar a apontar a via ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo para que através de nossa
fé dom de Deus, possamos crescer em graça e sabedoria com os presentes que nos é dado pela
Trindade Santa aqui na terra através da Santa Mãe Igreja, onde todos com sua liberdade abraçam
as graças concedida para um dia podermos vivermos a vida eterna.

Palavras-chave: Sacramentos, Celebração do Mistério Cristão, Economia Sacramental e


Iniciação Cristã.

ABSTRACT
The research topic seeks to show that the sacraments instituted by our Lord Jesus Christ,
especially the sacraments of Christian initiation, are foundations for our life. They help us in
our Christian life and make us understand more and more what it means to be a missionary
disciple. It prepares us to live the other sacraments well, especially the Eucharist. For this
reason, the marvel that is the Celebration of the Christian Mystery will be approached, through
the Sacramental Economy, in the liturgy, support, and direction for our salvation until our Lord
comes again. It will also be based on the Tradition of the Church, Sacred Scripture and its
Sacred Magisterium. This research does not intend to exhaust any form used by our Lord in
searching for his children dispersed throughout the world to walk the path of salvation, but to
help point the way taught by our Lord Jesus Christ so that through our faith, God's gift, we can
grow in grace and wisdom with the gifts that are given to us by the Holy Trinity here on earth

1 Graduação Bacharelado em Teologia pelo Centro Universitário de Maringá, cursando especialização em


Catequese pela Faculdade Católica de Santa Catarina.
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through Holy Mother Church, where all with their freedom embrace the graces granted so that
one day we can live eternal life.

Keywords: Sacraments, Celebration of the Christian Mystery, Sacramental Economy, and


Christian Initiation. Sacraments.

INTRODUÇÃO

Em nossa caminhada aqui na terra participamos de maneira livre de um projeto


maravilhoso realizado por Deus Pai, criador de todas as coisas. Com amor somos criado e temos
a autêntica afirmação do Nosso Senhor Jesus Cristo que não seremos órfãos, pois o Espírito
Santo o Paráclito permanecerá sempre em nós é a morada de Deus em nós, “não vos deixarei
órfãos, venho a vós”2 (Jo 14,8).
O trabalho aqui apresentado tem a proposta de trazer uma reflexão mostrando que
Deus não se engana e cumpre suas promessas, mas é preciso cada um de nós trilharmos o
caminho da Verdade, para podermos através da nossa vivência e experiência, celebrarmos tão
grande mistério. Sendo assim o Senhor faz todos seus filhos participantes de uma vida plena e
abundante já aqui na terra, e através da Igreja nos dá a possibilidade de celebrarmos,
participarmos juntos como irmãos, do cumprimento final de sua promessa que é a vida eterna.
Dessa forma justifica-se o tema da pesquisa aqui proposta para percebermos a
maravilha que é mergulharmos na celebração do mistério cristão. Sua liturgia nos alimenta, faz
crescer a nossa fé, também nos faz compreender o real sentido dos sacramentos em nossa vida,
sobretudo os sacramentos da iniciação cristã, batismo, crisma e eucaristia, alicerces,
fundamentos para a vida de todo o cristão em sua caminhada para serem discípulos missionários
de Jesus. A pesquisa é direcionada principalmente para os féis da Igreja Católica Apostólica
Romana, já iniciados no caminho catequético, como ministros ordenados, consagrados e leigos,
em especial catequistas para melhor reflexão sob os efeitos e ações da Economia Sacramental
em nossa caminhada missionária, catequistas de toda a Igreja, mas como muito carinho os da
nossa diocese de Lages que estão na linda caminhada do processo de catequese da iniciação à
vida cristã com inspiração catecumenal.
O presente trabalho é de cunho bibliográfico, buscando na riqueza da nossa Igreja, os
testemunhos de irmãos que em um caminho diário de conversão foram em seu tempo de

2 BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada CNBB, 2°ed. São Paulo: Editora CNBB, 2019.
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peregrinação aqui na terra deixando-se conduzir pelo Espírito Santo, e registraram a vontade de
Deus Pai nos mais variados escritos, primeiramente na Tradição da Igreja, Sagrada Escritura,
Sagrado Magistério, e tantos outros documentos de tamanha magnitude que nos ajudam a amar,
celebrar, viver e compreender o projeto de amor realizado por nosso Senhor através dos
Sacramentos por Ele instituído e que servem como graça para todos os que o buscam viver
dentro de seu coração.
Com certeza como supracitado não somos órfãos e temos um Pai maravilhoso que
insistentemente nos chama a vivermos em plenitude seu amor, mas temos que, não por mérito,
mas por graça irmos ao encontro desse amor. A intenção desse trabalho é então mostrar as vias
preparadas com muito amor por Deus através da Igreja. Dessa forma o trabalho está organizado
na seguinte ordem: Cap. 1 Celebração do Mistério Cristão na Economia Sacramental; 2.
Sacramentos; Sacramentos da Iniciação Cristã.
Dessa forma, o objetivo desse trabalho é a compreensão da importância de bem
celebrarmos, vivermos, experienciarmos dentro da condição de cada um fiel batizado os
sacramentos instituídos por Jesus Cristo, um pedacinho do céu aqui terra. Com certeza não tem
a pretensão esse trabalho em cessar as diversas formas que Deus Pai busca seus amados filhos
pelo mundo inteiro, mas colaborar com a nossa fé naquilo que é a forma mais certa e eficiente
para cada fiel católico em perceber os sinais, e graças que Ele quer nos dar aqui na nossa
caminhada peregrina desde a nossa criação até o dia da Glória eterna.

DESENVOLVIMENTO

Um Pai amado que tudo faz para não perder um só filho, um Deus que não desiste de
seus filhos, “Ele nos fez conhecer o mistério de sua vontade, segundo o desígnio benevolente
que formou desde sempre em Cristo” (Ef 1,9). Não podemos deixar de refletir sobre aquilo que
é realizado em nós como benesses através da Santíssima Trindade de nos preparar para uma
vida plena e gloriosa. Condição a qual acabamos perdendo através do pecado original cometido
por Adão e Eva. Foi assim por todos os tempos, uma insistência inesgotável de amor e
ensinamentos de um Pai. Esse Pai nos escolhe como filhos, nos dá graças e bênçãos para
caminharmos unidos ao Seu encontro, nos abraça em nossas quedas, nos corrige em nossas
fraquezas, nos atende em nossas súplicas se for para nosso bem, e principalmente nos dá total
liberdade para escolher ou não percorrer esse caminho de Salvação.
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1. CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO

O mistério que somos chamados a celebrar se completa sempre em Jesus Cristo,


principalmente em seu mistério pascal, na sua paixão, morte, ressurreição. No mistério pascal
Cristo realizou a obra da nossa salvação. “É este mistério de Cristo que a Igreja anuncia e
celebra em sua liturgia, a fim que os fiéis vivam e deem testemunho dele no mundo” (CIgC, n,
1068), complementada com a seguinte citação:

A Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, se opera o fruto da nossa


Redenção, contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem
aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é
simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis,
empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina,
mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o
visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos.
A Liturgia, ao mesmo tempo que edifica os que estão na Igreja em templo santo no
Senhor, em morada de Deus no Espírito, até à medida da idade da plenitude de Cristo,
robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos
que estão fora, como sinal erguido entre as nações, para reunir à sua sombra os filhos
de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só pastor (SC, n. 2).

A liturgia é esse convite maravilhoso do Senhor para a manutenção da nossa fé em


nossa vida peregrina, em toda nossa vida cristã, “na liturgia da nova aliança, toda a ação
litúrgica, especialmente da celebração da Eucaristia e dos sacramentos é um encontro entre
Jesus e a Igreja” (CIgC, n. 1089). Por isso é, um mover-se necessário nossa participação como
membros deste Corpo Místico de Cristo, como nos recorda a Lumen Gentium, n. 7:

O filho de Deus, vencendo, na natureza humana a Si unida, a morte, com a Sua morte
e ressurreição, remiu o homem e transformou-o em nova criatura (cfr. Gál. 6,15; 2
Cor. 5,17). Pois, comunicando o Seu Espírito, fez misteriosamente de todos os Seus
irmãos, chamados de entre todos os povos, como que o Seu Corpo. É nesse corpo que
a vida de Cristo se difunde nos que creem, unidos de modo misterioso e real, por meio
dos sacramentos, a Cristo padecente e glorioso. Com efeito, pelo Batismo somos
assimilados a Cristo; todos nós fomos batizados no mesmo Espírito, para formarmos
um só corpo (1 Cor. 12,13). Por este rito sagrado é representada e realizada a união
com a morte e ressurreição de Cristo: fomos sepultados, pois, com Ele, por meio do
Batismo, na morte; se, porém, nos tornámos com Ele um mesmo ser orgânico por
morte semelhante à Sua, por semelhante ressurreição o seremos também (Rom. 6, 4-
5). Ao participar realmente do corpo do Senhor, na fração do pão eucarístico, somos
elevados à comunhão com Ele e entre nós. Porque há um só pão, nós, que somos
muitos, formamos um só corpo, visto participarmos todos do único pão (1 Cor. 10,17).
E deste modo nos tornamos todos membros desse corpo (1 Cor. 12,27), sendo
individualmente membros uns dos outros (Rom. 12,5).

Essa comunhão nos leva a cada vez mais em nossa participação e caminhada ser
cheios da sabedoria dada por Deus Pai, para crescermos no amor a Deus e aos irmãos. É um
5

deixar o coração sempre escancarado ao agir do Espírito Santo, “na liturgia o Espírito Santo é
o pedagogo da fé do povo de Deus, o artífice das obras primas de Deus, que são os sacramentos
da nova aliança” (CIgC, n. 1097), para uma permanente efusão em nossa vida, o dinamismo
d’Ele nos conduzirá em nossas ações. Aliás a palavra liturgia, no grego conforme o autor, quer
dizer:

Tem como formação etimológica “lit”, “leit”, povo, da mesma forma que está presente
na palavra “leigo”, laós, do grego. O sufixo “urgia” tem o mesmo significado do
sufixo cirurgia, siderurgia ou metalurgia, entre outras. O sufixo advém da palavra
grega ergon, que significa “ação”. Essa palavra secular da língua grega, liturgia, foi
aplicada ao culto divino conforme o Livro dos Atos dos Apóstólos (At 13,2)3

Caminhar juntos nesta obra de Cristo é essencial para nossa vida, é uma verdadeira
comunhão que a liturgia realiza e manifesta como sinal visível entre Deus e os homens. “A
liturgia não esgota toda a ação da Igreja, ela deve ser precedida pela evangelização, pela fé e
pela conversão” (CIgC, n. 1072). Através da vivência e celebração na liturgia descobrimos que
a Igreja é um corpo só aqui na terra como no céu. “A liturgia, no contexto da história da
salvação, contém a dimensão escatológica, isto é, a liturgia celebrada e vivida por nós hoje é o
anúncio da liturgia celebrada no céu.”4 Este tempo em que vivemos é tempo de graça é o tempo
propício para esta unidade. Nossos apóstolos foram enviados por Jesus Cristo como
anunciadores do Evangelho, mas também foram enviados para efetivarem o que anunciavam:
“a obra de salvação por meio do sacrifício e dos sacramentos, em torno dos quais gravita toda
a vida litúrgica” (SC, n. 6). Mas como vamos compreender essa dinâmica em nossa vida, se
não participamos, não celebramos, ou fazemos isso conforme a nossa vontade, esse é um grande
desafio de cada cristão católico.

1.1. ECONOMIA SACRAMENTAL

A Economia Sacramental manifesta esse tempo da Igreja militante, a Igreja do povo


de Deus, “no dia Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo a Igreja é manifestada ao mundo”
(CIgC, n. 1076). Jesus Cristo age na Igreja pelos sacramentos, através do Espírito Santo. Aqui
podemos compreender o quanto é preciso celebrarmos, pôr em prática, viver esta administração

3
DE MORAES, Pe Micael. Introdução à Teologia Católica para Leigos: teologia litúrgica, 1ª. ed. Santo
Amaro, Escritório Administrativo da RCC, 2023. p. 174.
4 CARVALHO, Humberto Robson. Liturgia: elementos básicos para a formação de catequistas. 1ª. ed. São

Paulo: Paulus, 2018. p. 18.


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dos sacramentos em nós, na nossa vida em Cristo Jesus. Ficamos incompletos não vivendo estas
graças santificantes em nossa vida. Se todos os sacramentos partem de Jesus Cristo, também
não podemos acreditar em alguns e em outros não. Há uma ordenação realizada de forma
eficiente em nós através da Economia Sacramental, é o que afirma Santo Tomás de Aquino na
Suma Teológica:

Como dissemos, os sacramentos da Igreja se ordenam a dois fins: à perfeição do


homem no concernente ao culto de Deus, segundo a religião da vida cristã; e também
como remédio contra a falta do pecado. Ora, em relação a esses dois fins foram
convenientemente instituídos sete sacramentos. Pois, a vida espiritual tem uma certa
conformidade com a vida do corpo; assim como também as coisas materiais têm uma
certa conformidade com as espirituais. Ora, a vida do nosso corpo é susceptível de
dupla perfeição; quanto à nossa própria pessoa e quanto à toda a comunidade da
sociedade em que vivemos, porque o homem é um animal naturalmente social. Ora,
em relação a si mesmo a nossa vida corpórea é suscetível de dupla perfeição. Uma
consiste em adquirirmos uma perfeição vital, essencialmente falando. Outra é
acidental e consiste na remoção dos obstáculos à vida, como a doença e outras
semelhantes5

A Igreja militante sabiamente em sua Tradição e Sagrado Magistério, bem como nas
obras de tantas testemunhas da verdade, continua realizando a vontade da Santíssima Trindade,
e mesmo nesse tempo tão desafiador no caminho da evangelização continua cumprindo através
de todo o Povo de Deus sua missão, porque as portas de sua misericórdia nunca se fecham. Por
isso os sacramentos instituídos por Jesus Cristo é a Igreja, como nos fala São Leão Magno no
seu sermão 74,2, pois “aquilo que era visível em nosso Salvador passou para seus mistérios”
(CIgC, n. 1116). E com muita sabedoria a Igreja expõe que não podemos ter comunhão com
Cristo sem eles, podemos não ter entendimento o suficiente de tal mistério, mas para nosso bem
maior devemos buscar não com nossas forças, mas pela graça nos dada a vivência deles em
nossa vida cristã. A Igreja sempre teve que combater muitas confusões em relação aos
sacramentos, o Concílio Ecumênico de Trento, realizado de 1545 a 1563, na sua seção VII
sobre os sacramentos, nos ajuda melhor entender um período de muitas heresias que foram
combatidas neste concílio:

Se alguém disser que os sacramentos da Nova Lei não foram todos instituídos por
Jesus Cristo Nosso Senhor, ou que são mais ou menos que sete, a saber: Batismo,
Confirmação, Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio; ou que
algum destes sete não é verdadeira e propriamente sacramento – seja excomungado.6

5TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2001. p. 17; Sum. Theol. I, q. 2, a. 3c
6CONCÍLIO DE TRENTO, Contra os inovadores do século XVI, 1545-1563, Sec VII, não paginado.
Disponível em: <https://www.montfort.org.br/bra/documentos/concilios/trento/>. Acesso em 22 fev. 2023
7

E nossos Santos Padres sempre compreendendo a necessidade das ovelhas, em unidade


uns com os outros e com toda a Igreja, foram conforme seu Pontificado, escutando a voz do
Senhor e foram enriquecendo em nosso Depósito Sagrado da Doutrina Cristã, outros tesouros
que servem para orientar o Povo de Deus. E novamente a Sacrosanctum Concilium nos diz que
os sacramentos servem para nossa santificação, nos fortalecem, nos alimentam:

Os sacramentos estão ordenados à santificação dos homens, à edificação do Corpo de


Cristo e, enfim, a prestar culto a Deus; como sinais, têm também a função de instruir.
Não só supõem a fé, mas também a alimentam, fortificam e exprimem por meio de
palavras e coisas, razão pela qual se chamam sacramentos da fé. Conferem a graça, a
cuja frutuosa recepção a celebração dos mesmos otimamente dispõe os fiéis, bem
como a honrar a Deus do modo devido e a praticar a caridade. Por este motivo,
interessa muito que os fiéis compreendam facilmente os sinais sacramentais e recebam
com a maior frequência possível os sacramentos que foram instituídos para alimentar
a vida cristã (SC, n. 59).

Em uma reflexão simples podemos perceber que a Economia Sacramental, nos leva a
uma vida plena aqui na terra quando nos esforçamos para bem vive-la, pois somos agraciados
pelo amor infinito do Pai, que através de Seu Filho amado Jesus Cristo às instituem ainda
durante a sua estada aqui na terra, e através da Igreja da qual Jesus é a cabeça e nós os membros,
guiada pelo Espírito Santo faz a graça acontecer em cada um irmão filho de Deus, e cada um
desses irmãos amados, resgatados, cheios das graças, santificados pelo Espírito Santo são
verdadeiros testemunhos de tão grande amor, e vão ao encontro daqueles que estão ainda inertes
à graça pois a igreja é a casa de todos os filhos de Deus, sempre aberta e acolhedora.

2. SACRAMENTOS DA IGREJA

Sacramento, ou a palavra latina sacramentum mais que um significado etimológico de


juramento ou um ritual de iniciado na vida militar dos jovens soldados romanos, é para nós
cristãos católicos uma graça sinais dado por Deus. A apropriação da palavra é correta, mas na
vida dos cristãos os efeitos, as ações, dos sacramentos instituídos por nosso Senhor Jesus Cristo
é bem maior. Vamos então nos apropriar dessa definição para os sacramentos:

Os sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja,
por meio das quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos visíveis sob os quais os
sacramentos são celebrados significam e realizam as graças próprias de cada
sacramento. Produzem fruto naqueles que os recebem com as disposições exigidas”
(CIgC, n. 1131).
8

Acima nós temos uma explicação da dispensação dos sacramentos na Igreja, em cada
fiel, “na Igreja Antiga na linguagem grega primeiramente os sinais visíveis da salvação eram
chamados mistério na linguagem latina se traduziu por sacramento.”7 A Sagrada Escritura no
Antigo Testamento não apresenta uma explicação dos Sacramentos como percebemos hoje, já
a Patrística não formulou o problema, não tinham a preocupação de fundamentar os
Sacramentos em Jesus, já que era naturalmente entendido que a Igreja era uma extensão de
Cristo. Já a Escolástica se preocupa em mostrar teologicamente sua instituição e eficácia. A
vinda do messias que se concretizaram na primeira vinda do Filho enviado pelo Pai através da
ação do Espírito Santo, a Palavra de Deus encarnada é o Sacramento primordial “Cristo é o
sacramento primordial, o sinal da ação salvífica de Deus. O sinal do amor total, universal. O
amor de Deus pelo homem é a realidade pelo qual Cristo é o sinal.”8
Símbolos; palavras; e sinais sempre foram; é; e serão, a maneira que Deus recorre para
nos apresentar seus mistérios, a grande crise vivida nos tempos atuais é que por falta de
conhecimento; vivência; perseverança; não nos esforçamos em mergulhar nesses mistérios
como um ato de amor através da graça nos dada. É assim também com os sacramentos, se não
entendermos o que a liturgia nos fornece através dos ritos; símbolos; sinais; vamos nos
confundindo e abrindo mão de mergulhar mais fundo nesta Água Viva. Os sacramentos agem
em nossa vida através da graça, na ação visível realizada pela liturgia, para nos preparar para
receber o amor infinito do Pai, através do invisível, para esse frutificar e se transformar em
amor ao próprio Pai e aos irmãos, que então concretiza em nós esse caminho de salvação, e esta
ação é invisível aos nossos olhos carnais, só é possível ver com os olhos do coração, a não ser
que o Pai queira nos dar a ver com os nossos olhos carnais. Mas a celebrando vamos crescendo,
sentindo e percebendo sua ação em nossa vida. Não é um acúmulo de graças e bênçãos, mas é
um crescimento em sabedoria que vamos recebendo em nossa disposição por essa fonte
inesgotável de Água Viva que jorra sem parar em nosso favor.

2.1. OS SETE SACRAMENTOS

São sete os sacramentos da nova lei, mas são ordenados para seu determinado fim.
Voltando para o número sete (7), sabemos que ele representa uma importância enorme na
aritmética bíblica, aparecendo muitas vezes. “O número 7 na Bíblia, nos transmite a ideia de

7 MORAES, 2023, p. 186


8
SANTO AMBRÓSIO. Os Sacramentos e o Mistério. Edição digital. Petrópolis: Vozes, 2019.
9

totalidade, interação, conclusão, perfeição e consumação.”9 Em relação aos Sacramentos da


Igreja instituídos por nosso Senhor Jesus Cristo são sete também: O Batismo, a Confirmação,
a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio. “Os sete
sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: Dão
à vida de fé do cristão origem e crescimento, cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre
as etapas da vida natural e as da vida espiritual” (CIgC, n, 1210). Fica assim fácil compreender
o sentido de tão grande graça que é os sacramentos nos acompanhando por toda a nossa vida
peregrina aqui na terra, a Santíssima Trindade em sua perfeição faz com que estejamos
protegidos em qualquer lugar se assim desejarmos. Cada sacramento com o seu fim, nos dá a
vivermos uma vida no caminho da graça, estando a serviço do Pai e o irmão. Cabe refletirmos
que na sabedoria de Deus, que nos é dada compreendermos a necessidade de vivermos e
buscarmos cada sacramento em nossa vida, ao mesmo tempo que também reconhecemos a
condição de não poder viver determinado sacramento enquanto não buscarmos a reconciliação
com Deus. Os sacramentos nunca foram títulos ou propriedades, e sim graças abundantes na
vida de cada cristão católico, para que ele cresça e viva o amor que é a virtude maior de cada
filho de Deus. O Mistério de Cristo que celebramos na liturgia, através da Celebração
Eucarística é para nós o caminho dado através da Santa Mãe Igreja para bem vivermos e
entendermos esse limiar, que não afasta e sim acolhe cada condição, suprindo através dos
mistérios vividos a falta de cada fiel. Mas na sagrada Liturgia não se esgota toda a ação da
Igreja.

A sagrada Liturgia não esgota toda a ação da Igreja, porque os homens, antes de
poderem participar na Liturgia, precisam de ouvir o apelo à fé e à conversão: «Como
hão de invocar aquele em quem não creram? Ou como hão de crer sem o terem
ouvido? Como poderão ouvir se não houver quem pregue? E como se há de pregar se
não houver quem seja enviado? (Rom. 10, 14-15). É por este motivo que a Igreja
anuncia a mensagem de salvação aos que ainda não têm fé, para que todos os homens
venham a conhecer o único Deus verdadeiro e o Seu enviado, Jesus Cristo, e se
convertam dos seus caminhos pela penitência. Aos que creem, tem o dever de pregar
constantemente a fé e a penitência, de dispô-los aos Sacramentos, de ensiná-los a
guardar tudo o que Cristo mandou, de estimulá-los a tudo o que seja obra de caridade,
de piedade e apostolado, onde os cristãos possam mostrar que são a luz do mundo,
embora não sejam deste mundo, e que glorificam o Pai diante dos homens. (SC, n. 9).

Como acima mencionamos são sete os sacramentos instituídos por nosso senhor Jesus
Cristo, peço licença para falar aqui dos sacramentos da iniciação cristã.

9 O NÚMERO Sete na Bíblia e seu significado, Disponível em: https://bibliotecadopregador.com.br/numero-7-na-


biblia/#:~:text=2023%20%2D%20Biblioteca%20do%20Pregador%20%2D%20Estudos%20B%C3%ADblicos> Acesso em:
21 de fev. 2023.
10

2.2 SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ

Os Sacramentos da iniciação cristã é constituída pelo: Batismo, Confirmação e


Eucaristia. Antes de tudo somos convidados a refletirmos a restauração almejada pelo Concílio
Vaticano II, em relação ao catecumenato, proposta de caminho dos sacramentos da iniciação
cristã. Não podemos deixar de perceber que o Espírito Santo agindo de forma iluminativa na
Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, em 1963, através da reforma litúrgica
relaciona os três atributos necessários para todo o fiel participar da liturgia; que é de forma
ativa, piedosa e consciente. Aos fiéis que percorrem o caminho de formação à iniciação cristã,
devem os mesmos ter a oportunidade que os levem a viver nesses períodos, tanto as crianças,
adolescentes e adultos, através de uma catequese renovada a disponibilização de reconhecer o
chamado atrativo feito pelo próprio Senhor Jesus Cristo o qual insere cada fiel no Mistério
Pascal. Aqui a grande esperança da iniciação à vida cristã com inspiração catecumenal, é
viabilizar esse caminho de maneira que isso seja algo a se concretizar em toda a vida cristã do
catequizando, fazendo com que ele seja um discípulo missionário de Jesus. O processo de
iniciação cristã é marcado por seu caráter simbólico levando o iniciado a perceber aquilo que
está além das aparências físicas.

Uma forma particularmente importante do símbolo é o rito, que pode ser definido
como ação simbólica, constituída de gestos e palavras significativas que expressam a
fé. Por sua natureza simbólica, o rito mexe com os sentimentos, e envolve a
comunidade e se repete fortalecendo o que já foi assumido.10

Esta iniciação cristã nos transforma de simples criaturas a filhos de Deus, nos alicerça
em um ardor missionário como nos fala Dom Orlando Brandes em sua Cartilha Sobre a
Iniciação Cristã.

Iniciação Cristã: é o nome que se dá ao processo pelo qual uma pessoa é incorporada
ao mistério de Cristo, morto e ressuscitado. Pela iniciação a pessoa de simples criatura
passa a ser filha de Deus. Esta transformação radical se realiza no âmbito da fé e supõe
um itinerário catequético chamado catecumenato realizado em etapas. Sabia unir fé,
conhecimento, liturgia e vida. Quem passava por esta catequese fazia um grande
encontro com Cristo, uma experiência profunda do amor de Deus. A Iniciação Cristã
transformava a vida da pessoa, formava discípulos do evangelho que participavam das

10
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Iniciação à Vida Cristã: itinerário para formar
discípulos missionários. (Documentos da CNBB- 107). Brasília: Edições CNBB, 2017. p. 47.
11

celebrações, engajavam-se na comunidade eclesial, e tinham grande ardor


missionário.11

Como já mencionado temos um grande desafio que é apresentar em cada comunidade


uma catequese que possa fazer cumprir o verdadeiro objetivo dos sacramentos da iniciação
cristã ao iniciado. Uma catequese que possa a cada encontro preparar o catequizando para sua
vida cristã, ir realizando uma preparação na edificação das coisas divinas na vida cristã desse
catequizando. É um esforço de todos da comunidade, desde a família à comunidade ao qual ela
frequenta, temos que assumir que não é um faz de contas ou um período qualquer que os fiéis
estão percorrendo e com muita seriedade e dinamismo precisamos cumprir nosso papel
evangelizador.

Isso constitui grande desafio que questiona a fundo a maneira como estamos educando
na fé e como estamos alimentando a experiência cristã; desafio que devemos encarar
com decisão, coragem e criatividade, visto que em muitas partes a iniciação cristã tem
sido pobre ou fragmentada. Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em
contato com Jesus Cristo e convidando-as para segui-lo, ou não cumpriremos nossa
missão evangelizadora.12

A iniciação cristã é o alicerce lançado para o edifício de uma vida cristã missionária,
sendo essencial para a sustentação de uma vida inteira.

Pelos sacramentos da iniciação cristã – Batismo, Confirmação e Eucaristia são


lançados os alicerces de toda a vida cristã. A participação na natureza divina, que os
homens recebem como dom mediante a graça de Cristo, apresenta certa analogia com
a origem, o desenvolvimento e sustentação da vida natural. Os fieis, de fato renascidos
no Batismo, são fortalecidos pelo sacramento da Confirmação e depois nutridos com
o alimento da vida eterna na Eucaristia” (CIgC, n. 1212).

2.2.1 SACRAMENTO DO BATISMO

O sacramento do Batismo é a porta que dá acesso aos outros sacramentos, ele nos
liberta do pecado. É batismo porque somos mergulhados, imergidos ou aspergidos na água que
purifica, lava, deixa alvo mais que a neve. Nesse mergulhar morre o homem velho, ao subir já
está ressurgido com vestes branca o homem novo, ressuscita como “nova criatura” (2 Cor 5,
17). É “o banho da regeneração e da renovação no Espírito.” (Tt 3, 5), através da água e do
Espírito é realizado este nascimento o qual sem ele “ninguém pode entrar no Reino dos Céus”
(Jo 3, 5). É também chamado banho da iluminação, pois nos tornamos “filho da luz” (Ef 5, 8).

11
BRANDES, Orlando, Dimensão Bíblico Catequético, cartilha sobre a iniciação cristã, Londrina. Disponível
em https://docs.google.com/document/d/1O4OBlxiFOj4epvxZpHwqw6YfXghmztmqq0jJNd-
K_AU/edit?hl=pt_BR. Acesso em 27 de fevereiro, 2023, 21:30.
12 CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE, V, 2007, Aparecida.

Documento de Aparecida: texto conclusivo. 7. ed. Brasília: CNBB, 2008. p. 134; DAp. 287.
12

O Santo Batismo é o fundamento de toda a vida cristã, a porta da vida no Espírito, a


porta que dá acesso aos demais sacramentos. Pelo Batismo, somos libertados do
pecado e regenerados como filhos de Deus, nos tornamos membros de Cristo; somos
incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão: "o Batismo é o sacramento
da regeneração mediante a água e a palavra"(Concílio de Florença) ” (CIgC, n.
1213).

O sacramento do Batismo nos é prefigurada em toda a história do Povo de Deus, mas


podemos discorrer a de São João Batista, na inovação do pedido da confissão dos pecados “e
confessando seus pecados, eram por ele batizados no rio Jordão” (Mt 3, 6), e preparação dos
seus discípulos à chegada de messias. Mas todas elas encontram sua realização no Batismo de
Cristo onde o próprio João batizando Jesus faz cumprir o que profetizava. Há ali nesse momento
elementos de fé as quais são referenciais para a vida dos cristãos batizados. João realizava um
batismo de arrependimento e de preparação para a vinda do messias, naquele momento Jesus
se deixa batizar, e a Trindade Santa se manifesta e Jesus começa sua vida pública e nessa
Epifania todos reconhecem Jesus como o Messias. Mais tarde Jesus já vivendo seu Ministério
e passando pela paixão, morte e ressurreição aparece aos onze apóstolos até então, e diz: “Ide,
pois, e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo” (Mt 28, 19).
O Batismo é o morrer do homem velho para ressuscitar o homem novo, é o retornar à
originalidade do Jardim do Édem. Pelágio (360-420) e seus seguidores afirmavam que o
batismo era apenas uma consagração a Deus, negavam o pecado das origens e sua transmissão
as gerações futuras.

Para Pelágio (360-420), a natureza humana é sumamente boa, consequentemente, se


salvará por si mesma. A natureza humana é boa em si mesma e sua pecaminosidade
não tem origem em Deus. De tal modo que, nada provém do externo ao ser humano
que o faça ser bom. Ele é autossuficiente, levando em conta a lei moral e sua liberdade
– livre-arbítrio. O que venha a ser graça, além da concedida por Deus no ato criador,
não vem do Criador, mas é mérito humano.13

Mas a Igreja Católica Apostólica Romana, deixa claro sua importância salvífica para
o perdão dos pecados e salvação das almas, o sacramento do Batismo age em nós de forma
indelével, são sinais as quais nos unem a Cristo e nos torna retentor do Espírito Santo, nos
fazem ser sacerdotes, profetas e reis, nos coloca a caminho de uma missão dada a cada um
batizado aqui na terra. Seus gestos, símbolos e ritos, nos levam a evidenciar uma preparação
mistagógica para celebração, nos direcionam ao invisível “nosso mistagogo Santo Ambrósio

13
SESBOÜÉ, SJ Bernard (dir.) (et al). História dos Dogmas: o homem e sua salvação. 2ª ed. São Paulo: Loyola,
2010. Tomo 2. P.243-245
13

em suas catequeses sobre o batismo diz: “No Batismo, vemos a água, o bispo e o levita, que
nos lembram inocência, piedade, graça e santificação. Por isso as que não se veem são maiores
que as que se veem.”14 A água é o elemento humilde, mas não é ela que purifica a alma e que
dá as graças e sim o Espírito Santo, ou seja toda a Trindade Santa.
Importa salientar que na constituição da estrutura batismal leva-se em consideração
alguns aspectos importantes, tanto para o rito de adultos como para crianças.”15

a) Sinal da cruz;
b) Anúncio da Palavra;
c) Exorcismo;
d) Unção com o ‘Óleo dos catecúmenos’ / imposição das mãos;
e) Profissão de Fé (credo);
f) Água batismal, antecedida pela invocação do Espírito Santo (epiclese) sobre a
mesma;
g) O batismo em si (Uso da meteria e da forma próprias do rito);
h) Unção com o Óleo do Crisma;
i) Parte eucarística (para o adulto pode participar da comunhão);

Ao sermos batizados estamos começando uma caminhada de fé, esperança, como meta
para todo o batizado deve se concretizar através da caridade, buscamos incessantemente o fim
último que é a santidade.

Deus é totalmente puro. Jesus ao proclamar as bem aventuranças, diz que os corações
puros verão a Deus. Assim, viver a santidade, que já começa aqui e atinge sua
plenitude na eternidade, é não se deixar contaminar pelas coisas que divergem dos
desígnios de Deus. Jesus em seu discurso de despedida, reza pelos apóstolos e por
nós: “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade. E por eles eu me santifico
para que também eles sejam santificados na verdade” (Jo 17, 17-19).16

2.2.2 SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

14
SANTO AMBRÓSIO, 2019, não paginado.
15 RICA, par. 18-29. Sobre os instrumentais para a ‘celebração do Batismo’.
16 LIRA, Bruno C., OSB. BATISMO: preparando o batismo. 1ª. ed. São Paulo: Paulus, 2020. p. 69.
14

Para podermos entender um pouco o sacramento da Confirmação, voltemos ao filho


que recebeu o sacramento do Batismo foi batizado abrindo assim as portas para a graça de Deus
Pai. Agora amadurecido na fé e vivendo essa filiação mesmo que adotiva, na Crisma recebe
essa força especial para se tornar um soldado de cristo, pronto para o discipulado e para a missão
em testemunhar Jesus Cristo. “Como o batismo é uma geração espiritual para a vida cristã,
assim a confirmação é um crescimento espiritual que faz o homem avançar até a idade perfeita
espiritual.”17 Há a necessidade de estarmos mais fortes porquê a confirmação que eu realizo da
minha fé em testemunhar Jesus Cristo, está prestes a ser provada como o ouro no fogo.

Pelo sacramento da Confirmação os fiéis são vinculados mais perfeitamente à Igreja,


enriquecidos de força especial do Espírito Santo, e assim mais estritamente à fé que,
como verdadeiras testemunhas de Cristo, devem difundir e defender tanto por palavras
como por obras (LG, n. 11).

Muitas vezes não compreendemos o sacramento da Crisma na sua essencialidade, até


mesmo na administração em nossa vida a confundimos como um novo batismo, ou somente
uma confirmação do batismo, mas o Crisma é um sacramento dentre os sete, que tem uma
ordenação específica. Podemos ter várias explicações teológicas e até mesmo pastorais em
relação ao que hoje em nossos tempos se realiza na administração do sacramento da
Confirmação, mas não podemos esquecer da sua graça santificante em nossa vida.

O sacramento da confirmação nos confere o poder espiritual de fazer certas outras


ações sagradas além das que o batismo nos torna possíveis. Pois, no batismo
recebemos a faculdade de praticar o que conduz à nossa salvação própria, isto é, o que
respeita à nossa vida individual; ao passo que a confirmação nos dá o poder de praticar
atos pertinentes ao combate espiritual contra os inimigos da fé. 18

O rito essencial do sacramento segue com óleo do santo crisma, sinal da unção, feita
na fronte com a imposição de mãos e por estas palavras, “recebe o Espírito Santo dom de Deus”
(CIgC, n. 1300), há um desígnio e impressão na alma e no corpo, o óleo é sinal de “abundância,
alegria, pureza, agilidade e cura” (Dt 11,14; Sl 23,5; Is 1,6). O Espírito Santo derrama uma
efusão especial na crisma “o efeito na Confirmação é efusão especial do Espírito Santo, como
foi outorgado em outrora aos apóstolos no dia de Pentecostes” (CIgC, n, 1302). Agora o filho
adotivo está ungido está sobre a graça produzindo nele crescimento e aprofundamento da graça

17
TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Sum. Theol. não paginado, III, q. 72, a. 5. Disponível em:
http://agnusdei.50webs.com/stabat9.htm>. Acesso em 27 de fevereiro, 2023, 22:39.
18
TOMÁS DE AQUINO. Sum. Theol. não páginado III, q. 72, a. 5
15

batismal. A força e a alegria, faz paralelo com a proteção e coragem, para seguir Jesus Cristo
em sua vocação.

2.2.3 SACRAMENTO DA EUCARISTIA

Começamos refletindo a eucaristia em sua definição que significa ação de graças,


graças a Deus nós damos, oferecemos graças por tudo o que nos dá de forma amorosa. É Deus
Pai nos dando tudo até mesmo quando devemos agradecer pelo tudo. Nessa preparação da
iniciação cristã, nos candidatamos a viver na liturgia esse ápice que é a Eucaristia, tudo é
direcionado a este momento que reunidos como Igreja, participamos.

O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o Sacrifício
eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos,
até Ele voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial
da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de
caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é
concedido o penhor da glória futura (SC n. 47).

Jesus diz a seus discípulos que dará sua vida em alimento para a vida do mundo, “Eu
sou o pão vivo que desceu do céu (Jo 6, 51), e de maneira firme diz “em verdade, em verdade
vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue não tereis
a vida em vós mesmos” (Jo 6, 53). É para muitos, motivo de escândalos, ainda é assim até hoje.
Jesus sabia quem cria e quem não, e muitos o abandonaram, mas Ele pergunta aos Doze, vocês
também vão embora? Pedro responde “a quem nós iremos Senhor? Tu tens palavras de vida
eterna (Jo 6, 68).
Quando Jesus na Santa Ceia verbaliza, consegue fazer com que todos os apóstolos
percebem naquele momento a necessidade de se realizar tudo aquilo que vos foi ensinado, a se
realizar tudo o que foi designado por Deus Pai. É necessário a comunhão com Ele, é necessário
que os apóstolos continuem essa comunhão e participação. É naquele momento instituído a
eucaristia e o sacerdócio. Jesus nos ensina a viver com ele através da Mãe Igreja de forma
mistagógica esse momento, a liturgia nos propõe através da vivência de cada fiel.

É tarefa da celebração litúrgica repropor continuamente a memória (anamnese)


deste evento primordial, não só como objeto de culto, mas também como norma e
16

inspiração para o compromisso cristão que busca uma adequação entre as situações
humanas e as exigências do Reino 19

A celebração eucarística, nos dá a oportunidade de sermos introduzidos na Páscoa do


Senhor, um memorial perfeito que é realizado e nos impulsiona na nossa missão, na nossa
evangelização.

Bento XVI também contempla a ligação entre a celebração eucarística e a vida no


mundo: “O mistério da Eucaristia habilita-nos e impele-nos a um compromisso
corajoso nas estruturas deste mundo para lhes conferir aquela novidade de relações
que tem a sua fonte inexaurível no dom de Deus 20

Podemos buscar então uma significação à Eucaristia, desde a preparação através da


iniciação cristã na Igreja, que nos leva à primeira comunhão, até à ultima celebração eucarística
terrena que na esperança de cada um cristão nos levará viver uma comunhão eterna no céu.
Podemos também refletir uma opinião do Pe. Celestino André Trevisan: “Eucaristia é o
sacramento que contém, sob as espécies de pão e vinho, verdadeira, real e substancialmente
presente o Corpo e Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, para alimento
de nossas almas.”21

CONCLUSÃO

Com este trabalho podemos perceber que Deus nos ama de forma infinita, pois não
desiste de um só filho, nos escolhe para seus desígnios mais não nos deixa órfãos nessa
caminhada nos dá através de sua providência tudo que necessitamos, mas também respeita a
nossa liberdade, pois nos faz livres.
Deus nos faz participar de seus Mistérios, porque tem um projeto maravilhoso para
nós, o da vida eterna, por isso para concretizar esse projeto envia seu filho nosso senhor Jesus
Cristo para nossa redenção. Ele é Verbo encarnado, caminho da salvação. Nos ensina a amar o
Pai e aos irmãos, institui os Sacramentos, sinais e graças, para nossa vida aqui na terra.

19
PISTOIA, A. Compromisso. In: SARTORE, D.; TRIACCA A. M. (Ed.). Dicionário de Liturgia. São Paulo:
Paulus. 2004.p. 196-209, p.200.
20
BENTO XVI. Exortação Apostólica Pós-sinodal Sacramentum Caritatis. São Paulo: Paulinas, 2007, nº 91.
21 TREVISAN, Celestino André. A Eucaristia. 1ª. ed. Campinas: Raboni, 1995. p. 21.
17

Cada Sacramento nos disponibiliza as graças necessárias, para toda a vida. No Batismo
me torno novo homem e filho adotivo de Deus. Na Confirmação me torno ungido como o
Senhor, fortalecido para a missão. Na Eucaristia participo a cada momento do Mistério Pascal
vivo de forma plena em todos os momentos a comunhão.
Podemos afirmar que os sacramentos da iniciação cristã, são alicerces para toda a vida
e nos preparam para viver como discípulos missionários de Jesus Cristo. Por isso a sua boa
administração deve ser realizada por todos nós que somos parte do Corpo de Cristo, através da
Mãe Igreja. Pois só assim será eficaz o esforço do Concílio Vaticano II, em voltar a termos uma
catequese renovada através do catecumenato.

REFERÊNCIAS

AMBRÓSIO, Santo. Os Sacramentos e os Mistérios: iniciação cristã na Igreja primitiva.


Coleção Clássicos da Iniciação Cristã. Rio de Janeiro: Vozes, 2019.

BENTO XVI. Exortação Apostólica Pós-sinodal Sacramentum Caritatis. São Paulo:


Paulinas, 2007.

BRANDES, Orlando, Dimensão Bíblico Catequético, cartilha sobre a iniciação cristã,


Londrina.

CARVALHO, Humberto Robson. Liturgia: elementos básicos para a formação de catequistas.


1ª. ed. São Paulo: Paulus, 2018.

CNBB. Formação de catequistas: critérios pastorais. 7a ed. São Paulo, Paulinas, 1990.

CONCÍLIO DE TRENTO, Contra os inovadores do século XVI, 1545-1563, Sec VII,


Disponível em: <https://www.montfort.org.br/bra/documentos/concilios/trento/>.

CONCÍLIO VATICANO II, 1962-1965, Vaticano. Constituição Conciliar Sacrosanctum


Concilium. Vaticano: 1963. Disponível em:<
https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html>.

CONCÍLIO VATICANO II, 1962-1965, Vaticano. Constituição Dogmática Lumen Gentium.


Vaticano: 1964.Disponível em:<
https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html>

CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO (CELAM).


Documento de Aparecida: texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano e do Caribe. Brasília: Edições CNBB; São Paulo: Paulinas, 2007.
18

CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE, V,


2007, Aparecida. Documento de Aparecida: texto conclusivo. 7. ed. Brasília: CNBB, 2008.

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DOS BRASIL. Iniciação à Vida Cristã:


itinerário para formar discípulos missionários. Brasília: CNBB, 2017.

DE MORAES, Pe Micael. Introdução à Teologia Católica para Leigos: teologia litúrgica,


1ª. ed. Santo Amaro, Escritório Administrativo da RCC, 2023.

FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: Brasília: Edições CNBB,


2013.

LIRA, Bruno C., OSB. Batismo: preparando o batismo. 1ª. ed. São Paulo: Paulus, 2020
O NÚMERO Sete na Bíblia e seu significado,
Disponívelem:https://bibliotecadopregador.com.br/numero-7-na-
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PISTOIA, A. Compromisso.In:SARTORE, D.; TRIACCA A. M. (Ed.). Dicionário de


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RITUAL DA INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS, Sobre os instrumentais para a


‘celebração do Batismo’. São Paulo: Paulus, 2016.

SESBOÜÉ, SJ Bernard (dir.) (et al). História dos Dogmas: o homem e sua salvação. 2ª ed.
São Paulo: Loyola, 2010. Tomo 2.

TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Sum. Theol. III, q. 72, a. 5. Disponível em:
http://agnusdei.50webs.com/stabat9.htm>.

TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2001.

TREVISAN, Celestino André. A Eucaristia. 1ª. ed. Campinas: Raboni, 1995.

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