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EDUCAÇÃO MÓDULO
POLÍTICA PARA
CIDADANIA

Poder Legislativo: conhecendo


a Câmara Municipal
JOSÉ RAULINO CHAVES PESSOA JÚNIOR
SUMÁRIO
1. Introdução......................................................................... 35

2. Entre o individual e o coletivo:

a construção da esfera pública............................................. 36

3. Representação política: autorização

e a dimensão descritiva e simbólica...................................... 38

4. Poder Legislativo no âmbito municipal e a atuação

dos vereadores e das vereadoras.......................................... 42

5. Câmara Municipal e o trabalho legislativo............................. 45

Referências........................................................................ 47

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1
INTRODUÇÃO

A
política pode ser compreen- especialistas que acompanham seu
dida como a possibilidade de processo (técnicos(as), jornalistas e
mediação de conflitos sem acadêmicos(as)). Para que a política
que haja a destruição dos seja verdadeiramente democrática,
conflitantes, especialmente quando não se restringindo aos desejos de uma
falamos de política democrática. Seria, única pessoa ou de um pequeno gru-
portanto, um mecanismo de negocia- po, é necessário participação dos(as)
ção de interesses a fim de encontrar cidadãos(as). Precisa existir a atuação
respostas para decisões que precisam do “demos”, palavra grega que significa
ser tomadas coletivamente. Quando “povo” e que forma o termo “democra-
desenvolvemos formas de controle e cia” ou governo do povo.
fiscalização, e as decisões políticas são Pensando nessa efetividade da políti-
monitoradas e aprimoradas, alcança- ca democrática, o presente curso busca
mos uma melhor eficiência. Ao aper- qualificar-nos para que possamos enten-
feiçoar constantemente as normas, a der e participar dos processos políticos.
burocracia pode reduzir o desperdício Neste fascículo, refletiremos o Poder
de tempo. Por fim, quando as questões Legislativo no âmbito municipal, apre-
políticas são acompanhadas com mais sentando as características principais
interesse, o debate político torna-se desse Poder político e abordando sua
público e podemos entender melhor instituição principal, a Câmara Munici-
e participar das negociações e acordos pal. Considerando o conteúdo proposto,
que envolvem as decisões coletivas. esperamos que, ao final da leitura, você
No cenário posto, percebemos que, possa: a) entender a relevância do Poder
para funcionar de maneira honesta, Legislativo como espaço de debate de
eficiente, ágil, transparente e inclusiva, soluções para problemas coletivos; b)
a política necessita de monitoramen- identificar quais as atribuições dos vere-
to e participação dos(as) cidadãos(ãs). adores e vereadoras, compreendendo o
Política não deve ser relegada aos(às) processo de eleição e atuação no cargo;
profissionais que operam seu sistema c) conhecer como ocorrem as atividades
político-administrativo (políticos(as) legislativas na Câmara Municipal. Vamos
profissionais e burocratas) ou aos(às) iniciar nossa jornada!

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ENTRE O INDIVIDUAL E O COLETIVO:
A CONSTRUÇÃO DA ESFERA PÚBLICA

A
política não é apenas “eu acho Primeiro vamos abordar o conceito de socializados(as) e interagimos com pesso-
que...”. Isso conforma uma opi- “público” e sua oposição ao domínio pri- as que não se limitam ao nosso universo
nião ou crença pessoal sobre uma vado. Podemos definir o espaço da vida íntimo ou círculo familiar básico, sendo
questão ou problema da cidade privada como o território físico ou virtual de domínio comunitário, geral e coletivo,
ou do país. Isso é importante, mas nem só marcado pela existência particular dos su- como as relações que desenvolvemos em
de opiniões pessoais vive a política. A opi- jeitos, sendo de domínio restrito e particu- instituições, como a escola e a igreja, ou os
nião é o material bruto que precisa ser po- lar de pessoas ou grupos, como as relações espaços em que encontramos nossos(as)
lido e lapidado, trabalhado e refinado pela familiares que acontecem em nossa casa, a amigos(as), como praças públicas ou em-
ação política democrática. E como isso conta particular de e-mail, nosso perfil nas presas, como cinemas e shopping centers.
ocorre? Através da construção de espaços redes sociais ou a conta corrente que temos Nessa definição inicial, o espaço privado é
públicos de debate e discussão das ques- no banco. Já o espaço da vida pública é o marcado por questões pessoais, de foro ín-
tões coletivas. lugar da existência coletiva em que somos timo, e as relações que estabelecemos em

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nossas casas. Em oposição a esse cenário, so superior ou profissionalizante. Em tal ando como espaço de debate sobre os pro-
o espaço público pode ser definido como circunstância dramática, esses jovens de- blemas políticos, propondo criativamente
as relações que extrapolam nossas existên- siludidos e sem esperança de dias melho- resolução para as questões coletivas. Repre-
cias individuais e nosso lar. res acabam envolvidos em situações que senta os interesses da população e busca
Pois bem, vamos complexificar um pou- os deixam ainda mais vulneráveis, como o resoluções para as demandas sociais. Esse
co mais. Pensemos agora na diferença entre uso de drogas lícitas ou ilícitas. Na leitura Poder deve ser o mais diverso e inclusivo
um problema de cunho individual ou pri- desse cenário trágico, os pais de João e possível para dar conta das demandas cole-
vado e uma questão de caráter coletivo ou seus vizinhos percebem que o problema tivas de uma sociedade plural e polifônica,
público. O limite muitas vezes é tênue, mas não é individual e exclusivo de João, mas integrada por distintas vozes.
vamos avaliar considerando uma situação de muitos jovens do bairro e, possivelmen- Quando pensamos na vida coletiva, a
hipotética, como a que se segue. te, da cidade. diversidade de opiniões é natural. Quan-
Os pais de João estão preocupados Pelo exemplo acima, percebemos que o do temos um ambiente marcado por au-
porque ele concluiu o ensino médio e não “problema de João” não é individual, mas sência de discordância e formado por um
encontra emprego. João anda desanimado uma questão coletiva ou pública. A solução único pensamento, experimentamos uma
e, nos últimos dias, têm bebido bastante, o pública para o problema citado não seria, situação artificial criada por algum poder
que tem preocupado muito seus pais. Esse portanto, um emprego apenas para João, autoritário. Pensemos na cidade de Forta-
caso do João é um problema que sua fa- mas uma política pública ampla para as ju- leza, capital do estado do Ceará, com uma
mília está enfrentando de maneira privada, ventudes. Como problema público, deman- população de 2 milhões, 428 mil e 678 pes-
individual. Os pais de João já estão deses- da uma solução coletiva. A resolução dessa soas, segundo o Censo do Instituto Brasi-
perados e, nessa angústia, eles passaram questão coletiva é política e depende da leiro de Geografia e Estatística (IBGE), em
a conversar com seus vizinhos sobre o criação de programas políticos específicos 2022. É natural que haja discordância en-
problema do seu filho. Porém, nessas con- para as juventudes, geração de emprego e tre as pessoas, divergência de vontades e
versas perceberam que outros jovens do renda, capacitação profissional e educação. uma pluralidade de visões de mundo. Esse
mesmo bairro estão passando pela mes- O Legislativo é o poder que recebe e aco- cenário deve ser valorizado e potencializa-
ma situação que João. Eles não encontram lhe as demandas sociais que foram elabora- do. Como isso é possível? Através de uma
emprego e não conseguem ter acesso à das e aperfeiçoadas pela esfera pública. É o representação política plural. Mas o que é
continuidade dos estudos, como um cur- elo entre o(a) cidadão(ã) e o governo, atu- representação política?

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REPRESENTAÇÃO POLÍTICA:
AUTORIZAÇÃO E A DIMENSÃO
DESCRITIVA E SIMBÓLICA

Q
uando pensamos em represen- bleias que reunissem todo o povo da cidade imposto deve ser cobrado na produção ou
tação, precisamos ter em mente para deliberar sobre as políticas públicas. no consumo das mercadorias? Qual o teto
que os modernos sistemas polí- Outro ponto é que as questões políticas mínimo para que um(a) cidadão(ã), en-
ticos são democracias represen- são complexas e suas soluções dependem quanto pessoa física, não pague imposto de
tativas. Isso significa que os(as) cidadãos(ãs) de conhecimento técnico e especializado, renda? Qual deve ser a taxação de produtos
comuns não exercem diretamente a gerência o que dificulta o entendimento por parte importados? As respostas a essas questões
da vida coletiva. Em vez disso, nós elege- do(a) cidadão(ã). Pensemos, por exemplo, não são simples, existindo uma variedade
mos pessoas, políticos(as) profissionais, que nas discussões sobre a reforma tributá- de opiniões e de soluções técnicas. Esse é
exercem esses cargos. A defesa em torno da ria. As votações no Congresso sobre essa um forte argumento em defesa da repre-
representação enfatiza que em sociedades pauta envolvem questionamentos, como: sentação, pois a arena política precisa de
populosas seria impossível promover assem- as grandes fortunas devem ser taxadas? O operadores(as) capacitados(as) com exper-

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tise suficiente para tomar decisões de forma e autorizamos que este(a) nos represente
racional e eficiente. politicamente. O voto funciona como o Ter-
Assim, nas democracias representati- mo de Autorização, citado no exemplo an-
vas, temos dois corpos distintos: os repre- terior. As eleições permitem a concessão de
sentados, que compõem o conjunto de autoridade aos(às) eleitos(as). Outra dimen-
cidadãos(ãs) eleitores(as) que participam são importante da representação refere-se
politicamente a partir do processo eleitoral, à ideia de espelho, de representação como
elegendo pessoas que irão ocupar os cargos reflexo de alguma coisa ou alguém. (Re)
eletivos; e os(as) representantes , que ocu- presentar é tornar presente algo ou alguma
pam cargos institucionais legitimados pelo coisa que está ausente. Significa espelhar de
processo eleitoral e irão gerenciar o Estado. alguma forma o que está inexistente. Esse es-
Vamos analisar as dimensões da repre- pelhamento pode se dar de duas formas dis-
sentação política. Nossa reflexão é inspirada tintas: a) podemos buscar um reflexo preciso
na obra da cientista política Hannah Pitkin. e acurado do que está ausente, traduzindo
A primeira dimensão está ligada à ideia de uma representação descritiva; ou, ao contrá-
autorização, como possibilidade de uma rio, b) o espelhamento pode ser caracteriza-
pessoa autorizar outra a agir em seu nome. do por um retrato abstrato ou arbitrário do
Através de uma procuração, uma pessoa re- que se busca refletir, compondo uma repre-
presenta outra, sendo licenciada e autoriza- sentação simbólica.
da para agir em seu nome. Na representação descritiva busca-se
Pensemos no seguinte exemplo: soli- uma correspondência das características
citamos um novo RG e precisamos retirar socioeconômicas entre os(as) representan-
o documento, porém não podemos ir pes- tes e representados(as). Para se legitimarem
soalmente ao local. O que faríamos? Nós os(as) representantes precisam espelhar a
podemos permitir que outra pessoa realize comunidade, a opinião pública ou os varia-
essa ação. Isso é possível através de um Ter- dos interesses que integram a sociedade.
mo de Autorização que precisamos lavrar Na democracia é importante que grupos mi-
em Cartório. Com esse mecanismo, auto- noritários tenham acesso à representação.
rizamos uma pessoa a nos representar em Esses grupos compõem grande relevância
determinada situação, podendo receber em termos numéricos, mas por algum mar-
nosso novo RG. cador, como gênero, raça/etnia, sexualidade
Em termos da política democrática, essa ou classe social são excluídos e marginali-
representação por autorização acontece zados na sociedade e no processo político,
quando votamos em algum(a) candidato(a) sendo consideradas “minorias” políticas.

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Para refletir

Levantamento do Censo Demográfico do


IBGE, em 2022, indicou que a população brasi-
leira é composta por 203 milhões de habitan-
tes, sendo 48,2% homens e 51,8% mulheres.
Porém, quando observamos a porcentagem de
mulheres nos cargos públicos, visualizamos que
essa proporção não se traduz na esfera política.
Essa sub-representação feminina se aprofunda
quando observamos um recorte racial.
Nas eleições de 2022 para a Câmara Federal
foram eleitas 91 mulheres como deputadas, nú-
mero que representa somente 17,7% do total de
513 assentos disponíveis. Esse valor, ainda que
pequeno, foi maior do que o total de mulheres
eleitas em 2018, quando apenas 77 alcançaram
representação. Esse crescimento compreende o
aumento do número de mulheres negras e in-
dígenas. O que é de fundamental importância,
considerando que a presença das mulheres em
sua diversidade pode promover políticas públi-
cas mais inclusivas e representativas.

Para ver mais detalhes sobre a sub-repre-


sentação feminina nas eleições de 2002 veja
a matéria publicada pelo Portal da Câmara
dos(as) Deputados(as):
Link:
https://www.camara.leg.br/noticias/911406-
-bancada-feminina-aumenta-18-e-tem-2-repre-
sentantes-trans/

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A representação simbólica, por outro história. Isso significa que a representação gresso e nos partidos políticos.
lado, parte da premissa de que o símbolo simbólica só existe e se perpetua porque as Quando pensamos em representa-
não reflete uma realidade concreta, sendo pessoas acreditam. ção, em inclusão e incorporação dos(as)
uma abstração ou convenção. O(a) repre- Nas manifestações de junho de 2013, cidadãos(ãs), temos um Poder político
sentante, legitimado(a) pelo processo elei- você deve ter visto cartazes com a frase que espelha essa ideia, trata-se do Poder
toral, seria um símbolo que representa a to- “não me representa”. Essa ideia denuncia- Legislativo. O Legislativo é o coração da
talidade dos(as) cidadãos(ãs). Pensemos no va a ausência de conexão entre represen- democracia, o espaço por excelência da
caso dos símbolos ou signos que represen- tantes e representados. Significava dizer diversidade de opiniões e interesses da
tam o Brasil como nação. Temos a bandeira, que o corpo dos representantes, os(as) sociedade. Você já deve ter escutado a
o hino nacional ou as cores verde e amarelo. políticos(as) que elegemos a partir do voto, expressão “casa do povo” em relação ao
Nenhum desses símbolos tem a intenção não estavam representando os ideais e(ou) local em que se reúnem os(as) parlamen-
de ser uma cópia exata do país. Eles ope- anseios dos(as) cidadãos(ãs). Esses senti- tares que integram o Poder Legislativo.
ram como elementos que remetem à ideia mentos de não-representação merecem Essa ideia parte da compreensão de que
da nação brasileira. Um símbolo representa atenção, pois, caso não sejam respondi- Congresso, Assembleias ou Câmaras Muni-
uma ideia, ou um signo que tem determina- dos, podem redundar em perda de crença cipais vocalizam o interesse da população
do significado, porque essa representação e confiança nas instituições políticas, no de forma ampla. A seguir, iremos abordar o
foi convencionada e reafirmada ao longo da jogo democrático, nas eleições, no Con- Poder Legislativo no âmbito municipal.

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PODER LEGISLATIVO NO ÂMBITO
MUNICIPAL E A ATUAÇÃO DOS
VEREADORES E DAS VEREADORAS

O
Poder Legislativo nos municípios
é ocupado por vereadores(as).
Nessa seção, veremos quais as
funções desse(a) representante
político(a) e as possibilidades de atuação
na Câmara Municipal .
Compete ao Município a oferta da edu-
cação básica, como creches, educação in-
fantil e o ensino fundamental; os serviços
de atenção básica à saúde nos postos de
saúde e hospitais; o transporte público lo-
cal; o planejamento e manutenção das vias
urbanas ao cuidado da iluminação, calça-
das, limpeza pública e saneamento básico;
a gestão de parques e praças da cidade; a
promoção de eventos culturais e atrações
turísticas; a oferta de habitação popular,
como conjuntos habitacionais; programas
de assistência social; e o controle de zoono-
ses e bem-estar de cães e gatos.
No âmbito municipal, o Poder Executivo
é exercido pelo cargo de Prefeito(a) e Vice-
-prefeito(a) em colaboração com o secreta-
riado escolhido e nomeado por estes(as).
Já o Poder Legislativo é assumido pelos(as)
vereadores(as) que atuam na Câmara Mu-
nicipal. Sabemos que o Poder Legislativo é
responsável por formular e revisar os pro-
jetos e políticas públicas executados pelo
Poder Executivo, além de fiscalizar e esta-
belecer limites para esse Poder. Assim, o
Poder Legislativo municipal é responsável
por fiscalizar, acompanhar, monitorar as
políticas públicas que ocorrem na cidade,
como a disponibilidade de medicamen-

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tos nos postos de saúde, a contratação de
funcionários(as) para os hospitais, a meren-
da em escolas e as vagas nas creches.
A atividade legislativa dos(as)
vereadores(as) não se restringe a criar leis
municipais que regulamentam a vida pú-
blica na cidade. Esse poder debate, discu-
te, analisa e propõe soluções para os pro-
blemas políticos do município. Para que o
Executivo municipal possa criar e executar
projetos e políticas públicas é necessá-
ria a aprovação pela Câmara Municipal.
Vereadores(as) discutem os projetos e dese-
nhos das políticas públicas encaminhadas
pelo(a) prefeito(a), sugerindo alterações
nos projetos com o intuito de aperfeiçoá-lo,
criando novos elementos ou alterando seu
desenho. O executivo municipal pode vetar
as decisões da Câmara Municipal sobre al-
gum projeto, mas o Legislativo tem o poder
de decisão final, podendo assim derrubar o
veto do(a) prefeito(a). Percebemos, assim,
que o(a) vereador(a) não é funcionário(a)
do(a) prefeito(a).
A Câmara Municipal também fiscaliza e
monitora as políticas públicas do governo
municipal, investigando a qualidade des-
tas e sua execução financeira. Caso os(as)
vereadores(as) entendam que o Poder Exe-
cutivo cometeu alguma irregularidade ou
crime, como o desvio de recursos públicos
para propósitos pessoais e privados, a Câ-
mara pode iniciar um processo de impea-
chment (impedimento) e caçar o mandato
do(a) prefeito(a), retirando-o(a) do poder.

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Desenhado assim, pode parecer que o limitando as diretrizes e funcionamento do
Legislativo municipal tem total autonomia Legislativo municipal. O Regimento tem por
para resolver todos os problemas políticos objetivo a transparência e eficiência dos traba-
da cidade. Porém, esse Poder tem um limi- lhos na Câmara, determinar sua composição,
te importante: a prerrogativa de gestão do divisão e regras de funcionamento. Veremos
orçamento público é do Executivo. Quem isso com mais detalhes no último subtópico.
cria a política pública municipal e também Como casa política, a Câmara Municipal
a executa é o(a) prefeito(a), podendo os(as) é marcada pelo diálogo, debate e nego-
vereadores(as) monitorar sua execução e ciação, podendo, nessa interação, ocorrer
propor melhorias e alterações. situações que polarizam opiniões e criam
A atividade legislativa dos(as) conflitos mais exaltados. Esse embate deve
vereadores(as) é guiada por dois documen- ser entendido como algo constituinte da po-
tos públicos. O primeiro é a Lei Orgânica do lítica. O único problema no comportamento
Município, espécie de Constituição da Cida- parlamentar exaltado ou tom de voz eleva-
de, que estabelece como o município é or- do em um debate político é que isso desá-
ganizado em termos político-administrativo, gue em desrespeito, agressão, violência ou
como ocorre o sistema tributário da cidade e intolerância. Essa situação não deve ser to-
quais são as competências do(a) prefeito(a), lerada em um cenário democrático! O Regi-
vereadores(as) e demais agentes públicos. É mento Interno é o documento que norteia
um instrumento valioso para o planejamento o comportamento dos(as) vereadores(as)
político e social, uma vez que define as linhas na Câmara e, quando existe um consenso,
mestras das políticas públicas da cidade, por exemplo, que determinado parlamentar
como os serviços públicos de saneamento, atravessou o limite do que é considerado
saúde, educação etc. A Lei Orgânica pode ser democrático ele(a) pode ser acusado(a) de
aperfeiçoada e modificada a qualquer mo- quebra de decoro parlamentar, podendo in-
mento pela Câmara Municipal. clusive perder o cargo.
O segundo é o Regimento Interno da Câ- Entendemos quais as funções desempe-
mara . Esse documento é direcionado à ati- nhadas pelos(as) vereadores(as), vamos ago-
vidade legislativa dos(as) vereadores(as), de- ra conhecer melhor a Câmara Municipal?

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CÂMARA MUNICIPAL E O
TRABALHO LEGISLATIVO

Q
uantos(as) vereadores(as) for-
mam a Câmara? A quantidade
de assentos no legislativo mu-
nicipal é estabelecida consi-
derando o número de habitantes de cada
cidade. O limite de cadeiras na Câmara
segue a ordem de proporcionalidade,
podendo variar entre 9 e 55 lugares. Sua
organização pode variar, mas podemos
destacar os espaços principais em que a
atividade legislativa ocorre.
O Parlamento é o local da fala e do de-
bate. Essa atribuição fundamental do Po-
der Legislativo acontece no Plenário, local
da atividade legislativa necessária para
analisar, discutir, modificar, votar, definir,
aprovar ou rejeitar projetos. Qualquer de-
liberação ou decisão tomada pelos(as)
vereadores(as) é realizada nesse espaço,
para que sejam legalmente válidas. No Ple-
nário, ocorrem as Sessões da Câmara ou
Sessões Ordinárias, destinadas às delibe-
rações e trabalhos de rotina parlamentar.
O Regimento Interno, que citamos anterior-
mente, estabelece todas as regras para o
funcionamento da Câmara, como o tempo
de fala de cada vereador(a) na tribuna e o
dia e hora das sessões.
A Tribuna é o espaço reservado para
que cada parlamentar possa discursar e dar
sua opinião sobre a pauta que está sendo
discutida. Normalmente, a tribuna fica lo-

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calizada na frente da sala e é elevada, para Redação, que verifica se os projetos não
que os membros possam ser vistos(as) por contrariam as leis federais e estaduais, ou
todos os(as) presentes. A tribuna represen- seja, sua constitucionalidade e legalida-
ta a liberdade de expressão democrática, de, e revisa a redação dos textos; Comis-
pois os(as) parlamentares podem falar li- são de Finanças e Orçamento, que avalia
vremente sem sofrer constrangimento ou os aspectos orçamentários dos projetos e
represália. A Câmara Municipal tem um sua viabilidade financeira; e Comissão de
espaço para a população assistir e acom- Obras, Serviços Públicos, que acompanha
panhar as reuniões do Plenário, trata-se da as obras públicas e os projetos relativos à
Plateia ou Galeria. urbanização municipal, como iluminação
Quem organiza as pautas do que será pública, política habitacional, limpeza pú-
discutido no Plenário? Por que um assunto blica, transporte coletivo etc. As Comissões
(y) é debatido e outro (x) é ignorado? Quem Temporárias são criadas para analisar al-
determina a urgência das votações, os pro- gum tema específico e são extintas quando
jetos debatidos e os problemas discutidos é a análise é encerrada. Existem as comis-
a Mesa Diretora, sobretudo a partir do car- sões Especiais de Inquérito ou Comissão
go de Presidente(a) da Câmara. De manei- Parlamentar de Inquérito (CPI) que inves-
ra geral, a Mesa Diretora é ocupada pelos tigam irregularidades da administração
cargos de presidente(a), vice-presidente(a) pública municipal, analisando denúncia de
e secretário(a) que assumem a direção, improbidade administrativa ou corrupção
administração e execução das delibera- do Poder Executivo.
ções aprovadas em Plenário. Os membros Temos também os Gabinetes dos(as)
da Mesa Diretora são eleitos(as) pelos(as) Vereadores(as), os escritórios dos(as) par-
vereadores(as) na primeira sessão legislati- lamentares. Nesse espaço, o(a) vereador(a)
va, no ano seguinte às eleições. planeja seu mandato e se reúne com
Outro espaço importante para a ativida- seus(suas) assessores(as). Cidadãos(ãs)
de legislativa é assumido pelas Comissões podem procurá-los(as) nestes espaços
Parlamentares . As comissões realizam es- para terem informação sobre sua legislatu-
tudos e investigações sobre os projetos e ra, seus projetos e políticas prioritárias. Ou-
questões levadas à Plenário para discussão tro espaço importante para recepção do(a)
e deliberação. Importante ressaltar que as cidadão(ã) que procura a Câmara Munici-
Comissões não legislam, deliberam ou jul- pal é a Ouvidoria . Esse órgão é o canal de
gam as questões propostas, elas qualificam comunicação entre cidadão(ã) e Câmara,
o debate legislativo ao apresentarem estu- sendo incumbido por acolher suas deman-
dos conclusivos na forma de pareceres ou das, analisando e direcionando para os
relatórios especializados, que podem ser setores responsáveis pela resolução dos
aprovados ou reprovados nas votações do casos. Podemos procurar a Ouvidoria para
Plenário. Os(as) vereadores(as) integrantes sugerir ideias de aprimoramento dos servi-
das comissões são indicados pelos(as) líde- ços públicos, requerer providências do po-
res dos partidos ou blocos parlamentares. der público sobre alguma medida específi-
Temos variados tipos de comissões. ca ou denunciar algum ato ilícito do poder
As Comissões Permanentes são as mais público municipal.
importantes e, de modo geral, as Câma- A importância do(a) vereador(a) no mu-
ras possuem três: Comissão de Justiça e nicípio é significativa. Muitas vezes esse

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poder não é valorizado ou é pouco com-
preendido pela população que não está
suficientemente informada sobre a função
da casa legislativa e dos(as) representantes.
Esse fascículo buscou fornecer elementos
para que você possa entender e acompa-
nhar a atividade legislativa na sua cidade.
Vimos como o legislativo municipal é res-
ponsável por criar as leis que regulamentam
a vida pública nas cidades e por fiscalizar as
políticas e projetos que são executadas pelo
governo municipal. Abordamos como a Câ-
mara Municipal é organizada. Ressaltamos
que o(a) cidadão(ã) pode e deve acompanhar
as sessões no Plenário para entender e parti-
cipar dos debates sobre as questões públicas
da sua cidade. Além disso, existe a possibili-
dade de acessar o gabinete do(a) vereador(a)
em quem votou, obtendo mais informações
sobre algum problema político do município.
Outro canal de comunicação com a Câmara é
a Ouvidoria, espaço de acolhimento das de-
mandas e questões do(a) cidadão(ã).
Finalizado nosso debate, esperamos que
as ideias discutidas e os conceitos apresen-
tados sirvam de estímulo para ampliar sua
participação no debate público da cidade.

REFERÊNCIAS
CADERNOS ADENAUER XI (2010), nº 3.
Educação política: reflexões e práticas
democráticas. Rio de Janeiro: Fundação
Konrad Adenauer, 2010.
DANTAS, Humberto; SILVA, Bruno Souza
da. Poder Legislativo Municipal. Enten-
der de política começa por aqui. Rio de
Janeiro: Konrad-Adenauer-Stiftung, 2018.
PITKIN, Hanna. “Representação: Pala-
vras, instituições e ideias”. In: Revista Lua
Nova. São Paulo: nº 67, 2006. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/ln/a/pSDrmVSqRq
ggw7GXhxBjCgG/?format=pdf&lang=pt>.

EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 47


AUTOR:

José Raulino Pessoa Chaves Júnior


Pós-doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar). Professor vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Políticas Pú-
blicas da Universidade Estadual do Ceará (PPGPP/UECE). Doutor em Ciência Po-
lítica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), mestre em Sociologia
e bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atua
principalmente nas seguintes áreas de pesquisa: partidos e sistemas partidários,
eleições e representação política, elites políticas, política subnacional e poder
local, políticas públicas, cidadania e institucionalização democrática.

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