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LIÇÃO 10

QUANDO OS PAIS
SEPULTAM SEUS FILHOS

ISAQUE C. SOEIRO

SUBSÍDIO TEOLÓGICO DA REVISTA DE ADULTOS


DADOS CATALOGRÁFICOS

Diagramação e arte:
Isaque C. Soeiro

Correção orto-gramatical:

SOEIRO, Isaque Costa. Quando os Pais Sepultam


Seus Filhos: subsídio bíblico-teológico da lição nº
10 de adultos da CPAD. São José de Ribamar, MA:
IPEC, 2023. 12 p.

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02 de junho de 2023
O presente texto serve de apoio aos Educadores da
Escola Bíblica Dominical, especialmente aos que
ensinam a Revista de Adultos do currículo da CPAD.

Este 2º Trimestre de 2023 tem como título:


“Relacionamentos em Família: superando desafios
e problemas com exemplos da Palavra de Deus",
comentada pelo pastor-teólogo Elienai Cabral. De
modo geral, este trimestre faz uma exposição bíblica e
biográfica sobre várias famílias, apontando os
problemas humanos e as soluções de Deus para a
instituição familiar.

As citações bíblicas foram retiradas da Nova Almeida


Atualizada – NAA (SBB, 3ª Ed.), salvo as indicações em
contrário e devidamente referenciadas.

Este breve subsídio de apoio à LIÇÃO 10, “Quando os Pais


Sepultam Seus Filhos”, foi escrito tendo como objetivos:

Apresentar um esboço sintético sobre as principais


lições ensinadas pelo patriarca Jó concernente à
perda dos seus filhos;

Refletir sobre lições que os pais devem considerar


durante a vida e na morte do filho.
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INTRODUÇÃO
O que a Bíblia diz acerca da morte física de uma pessoa? De
modo geral, a morte física é a cessação da vida humana no
presente pela separação radical e agoniante da alma e espírito
do corpo físico, como parte da consequência da entrada do
pecado na esfera humana. Além disso, a morte física não cessa a
vida da pessoa, visto que a existência na eternidade é uma
realidade, continuando além-túmulo.

O presente texto comenta o texto de Jó 1.1-21 extraindo e


organizando em um esboço sintético lições importantes sobre
como os pais devem reagir à morte de um filho. As ideias
esboçadas envolvem tanto a convivência dos pais com os filhos
antes da morte como o ensino exemplificado por Jó quando, na
sua saga de provações, recebeu a notícia da morte de todos os
seus dez filhos.

Bons estudos!
01

A PATERNIDADE E A MORTE DE FILHOS

Com a Queda de Adão e Eva toda a humanidade caiu em pecado e,


com o pecado, veio a morte espiritual e a dura realidade da morte
física. Gênesis 3.19 apresenta o veredito de Deus sobre Adão e sua
descendência: “Com o suor do rosto você obterá alimento, até que
volte à terra da qual foi formado. Pois você foi feito do pó, e ao pó
voltará” (NVT) e, Romanos 5.12 apresenta a síntese teológica sobre
pecado e morte: “Portanto, da mesma forma como o pecado entrou
no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a
morte veio a todos os homens, porque todos pecaram” (NVI).

Após a Queda, a morte física passou a ser uma implacável e


inescapável realidade na existência humana que pode ocorrer a
qualquer momento, independentemente da idade, se homem ou
mulher, situação socioeconômica, cultural, religiosa etc. (Gn 3.19; Hb
9.27). No rastro da realidade da morte física, a duração da vida
humana nesse mundo material foi reduzida e o corpo humano passou
a padecer enfermidades, dores e degeneração até a morte física (cf.
Gn 6.3).

No âmbito da medicina clínica e legal, a morte física é a cessação


definitiva da vida como resultado de uma série de processos: parada
irreversível da circulação sanguínea, respiração e oxigenação,
incluindo a parada do cérebro em sua totalidade quanto ao seu fluxo
sanguíneo e de controle das funções vitais e atividade elétrica. E, no
âmbito bíblico-teológico, a morte física é a interrupção da vida no
corpo humano pela separação abrupta e agoniante da alma e espírito
do corpo físico com suas funções vitais.
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Esses assuntos servem de base e contexto para examinar a dura


perda que Jó sofreu com a morte dos seus filhos enquanto
banqueteavam, isso como parte da intensa saga de tentações que
abateu sobre ele.

Na sequência é apresentado um esboço sintético sobre a passagem


bíblica de Jó 1.1-21 no que concerne à perda que Jó sofreu com a
morte inesperada de todos seus filhos.

1.1
JÓ NA VIDA DOS FILHOS:
O Impacto Mútuo da Vida Amorosa de Pais e Filhos.

A dor na morte é ainda mais aflitiva por causa do peso de todos


os sentimentos, convivências, atitudes mutuamente benéficas,
cuidados amorosos e lembranças adoráveis que foram
construídos e mutuamente experimentados entre os pais com
seus filhos. Quanto mais amor cultivado durante a vida, maior a
dor desoladora sentida pelo familiar/amigo que fica.

À vista disso, tão ou mais importante do que a forma como os


pais reagem à morte dos filhos é a forma como os pais
cuidaram dos seus filhos durante a vida. Neste sentido, o
patriarca Jó amou e cuidou dos seus filhos em vida. No caso do
patriarca Jó, a notícia da morte de todos os seus filhos foi
recebida num contexto de um profundo amor familiar entre pais
e filhos.

O texto bíblico de Jó 1.1-21 mostra três verdades sobre como


Jó acertadamente amou e cuidou dos filhos, como segue:
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1.1.1 - Jó cultivou um relacionamento com os filhos


marcado por amor cuidadoso. O texto bíblico relata:
“Nasceram-lhe sete filhos e três filhas” (Jó 1.2).

O patriarca Jó e sua esposa foram agraciados por Deus com


fertilidade e obtiveram a graça de conceberem dez filhos. Jó,
homem íntegro e temente a Deus, construiu um ambiente
doméstico com relações familiares firmemente fortalecidas pelo
amor, com sentimentos e atitudes honrosas e dignificantes.

1.1.2 - Jó cultivou um relacionamento com os filhos


marcado por união e confraternização. O texto bíblico relata:
“Os filhos dele iam às casas uns dos outros e faziam
banquetes, cada um por sua vez, e mandavam convidar as
suas três irmãs a comerem e beberem com eles” (Jó 1.4).

Os pais possuem autoridade sobre os filhos e são


determinantes para construir um lar favorável ao
relacionamento familiar mutuamente amoroso e cuidadoso.
Seguindo esse princípio, o patriarca Jó cultivou relações
familiares pautadas na comunhão e confraternização tanto
entre eles (Jó e esposa) e os filhos como entre os filhos entre
si. Deste modo, festas, banquetes e confraternizações eram
uma cultura familiar preservada pelos filhos, de tal modo que
existia entre eles um “ciclo de banquetes” (v.5).

1.1.3 - Jó cultivou um relacionamento com os filhos


marcado pelo temor diante de Deus. O texto bíblico relata:
“Quando se encerrava um ciclo de banquetes, Jó chamava os
seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e
oferecia holocaustos segundo o número de todos eles. Pois Jó
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pensava assim: ‘Talvez os meus filhos tenham pecado e


blasfemado contra Deus em seu coração.’ Jó fazia isso
continuamente” (Jó 1.5).

A principal evidência do amor inominável de Jó pelos filhos foi


como sempre dedicou tempo para representar seus filhos
diante de Deus. Ou seja, Jó tinha a preocupação não somente
com a alegria da vida presente, mas sempre tinha em propósito
a vida eterna com Deus.

Jó assumiu durante a vida dos filhos a função singular de um


“sacerdote familiar”. O expositor reformado John MacArthur
comenta: “Essas ofertas eram para cobrir qualquer pecado que
seus filhos pudessem ter cometido durante a semana,
indicando como era profunda a sua devoção espiritual. Esse
registro está incluído a fim de demonstrar a retidão e a virtude
de Jó e de sua família, o que torna o seu sofrimento ainda mais
impressionante”[1].

À vista desse fato e da integridade de Jó, é apropriado sugerir


que o patriarca Jó tinha usado de conselhos verbais e dado
testemunho pessoal pela forma como vivia, para ensinar seus
filhos o valor da comunhão com Deus.

[1] BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil –


SSB, 2010, p.639.
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1.2
JÓ NA MORTE DOS FILHOS:
O Impacto da Dor dos Pais na Morte dos Filhos.

Após a Queda no pecado, as relações familiares e a genealogia


humana passaram a ser marcada por esse fim abrupto, radical
e duro que é a morte física. Por mais certa que a morte seja,
ainda assim, é uma realidade dura que inesperadamente abala
as relações familiares ligadas pelos profundos laços de amor,
união e bem-querer. Sobretudo, essa realidade é ainda mais
dolorosa aos pais que amam seus filhos de modo incondicional.

O patriarca Jó sofreu um golpe difícil de mensurar e descrever,


pois, num só momento perdeu pela morte a vida de todos os
seus dez filhos! O texto bíblico ressalta três fatos:

1.2.1 - Jó não esperava a morte dos seus filhos, pelo que


foi absolutamente imprevisto. O texto bíblico relata: “Também
este ainda falava quando veio outro e disse: Os seus filhos e as
suas filhas estavam comendo e bebendo vinho na casa do
irmão mais velho. De repente, eis que se levantou um vento
muito forte do lado do deserto e bateu contra os quatro cantos
da casa. Ela caiu sobre os jovens, e eles morreram. Só eu
consegui escapar, para trazer a notícia” (Jó 1.18-19).

A morte é uma certeza; contudo, é sempre inesperada. Para os


pais, a morte dos seus filhos é tida como uma impossibilidade,
haja vista que – normalmente – espera-se que os mais novos
devam sepultar os mais velhos. Os pais, portanto, não esperam
a morte dos filhos, ainda que seja um fato possível.
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O patriarca Jó sabia que aquele era dia de confraternização, no


qual seus dez filhos estavam confraternizando na casa do seu
primogênito (v.13). Jó sabia que seus filhos estavam em
ambiente familiar festivo, receptivo, alegre e de contentamento;
esse ambiente era diametralmente oposto do cenário de morte,
choro e luto. Jó perdeu seus filhos durante um momento
marcante da sua cultura familiar, um dia em que a ideia de
morte não se passava pela sua cabeça.

1.2.2 - Jó, no seu estado paternal, perdeu o que de mais


valioso possuía: a vida dos seus filhos. O texto bíblico relata:
“Nasceram-lhe sete filhos e três filhas” (Jó 1.2).

Certamente que o patriarca Jó compreendia que seus filhos


eram bênção do Senhor, pois Deus é o autor da vida (cf. Jó
1.10). Principalmente no contexto sociocultural patriarcal, Jó
sabia que seus filhos eram a principal e maior bênção que Deus
poderia conceder a ele e sua esposa. Jó certamente recebeu
seus filhos como diz o texto: “Os filhos são um presente do
Senhor, uma recompensa que ele dá. Os filhos que o homem
tem em sua juventude são como flechas na mão do guerreiro”
(Sl 127.3-4/NVT).

À vista disso, certamente que a notícia da morte de todos os


seus dez filhos foi a mais dolorosa e, por isso, o autor do texto
resolveu colocar esse fato terrível em último lugar na sequência
das perdas naquele dia mau (v.14-19). Perdeu seus bens –
rebanhos e servos – mas, a dor da ausência absoluta dos filhos
na convivência diária nesta vida foi a mais aflitiva! A morte dos
filhos rompeu brutalmente os profundos laços do amor, da
convivência pessoal, da alegria da presença física, das relações
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afetivas mutuamente manifestadas e deixou uma vacância


inominável.

1.2.3 - Jó lamentou a perda, mas agradeceu a Deus. O texto


bíblico relata: “Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou
a cabeça, prostrou-se em terra e adorou. E disse: Nu saí do
ventre de minha mãe e nu voltarei. O Senhor o deu e o Senhor
o tomou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1.20-21)

Em primeiro lugar, o patriarca Jó chorou o amargo e necessário


luto pela morte dos seus filhos. Ele tomou todas as atitudes
simbólicas do mundo antigo da manifestação dolorosa do luto
pela morte do ente querido. Ele “se levantou”, “rasgou seu
manto” e “raspou sua cabeça” em sinal de profundo lamento e
luto. De fato, o período de luto é necessário, no qual a
estupefação, o choro, as lágrimas e a consternação expressam
a dor por causa do profundo amor e apreço pelo que partiu. O
luto honra quem partiu e serve de ajuda consoladora para o que
fica.

Em segundo lugar, o patriarca Jó agradeceu a Deus pela


bênção da vida dos filhos. Mesmo no meio da intensa dor em
luto, Jó expressou o verdadeiro agradecimento e adoração a
Deus pela vida dos dez filhos. Ele tomou todas as atitudes
simbólicas do mundo antigo de contrição e adoração: “prostrou-
se em terra e adorou” (v.20). “O fundamento da adoração é
honrar a Deus como Soberano e afirmar Sua liberdade para
agir em nossas vidas”[2].

[2] RICHARDS, Lawrence. Guia didático do leitor da Bíblia. 2ª ed. Rio de Janeiro,
RJ: CPAD, 2021, p.331.
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Diante da morte dos filhos, Jó teve o discernimento que olhar a


vida em retrospectiva agradecendo a Deus pela alegria que
desfrutou com seus filhos. Ele não murmurou, não ficou com
ressentimento para com Deus, antes, o adorou
verdadeiramente!

A vida de Jó, segundo a narrativa bíblica, prosseguiu a sua


saga após o período de luto. O luto é um período necessário,
mas é preciso avançar após o luto, guardando a memória
afetiva e honrosa dos entes queridos que partiram.
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CONCLUSÃO

"ANTES E APÓS A PERDA DOS FILHOS"

A saga de Jó é marcada por perdas e dor e provas cujo peso é


imensurável. Nesse contexto, a morte dos dez filhos na mesma
catástrofe se sobressai em estupefação, dor e luto. Mas, mesmo
nesse momento, no seu “dia mau”, o patriarca Jó exemplificou lições
valiosas para o servo de Deus, entre as quais são destacadas:

1. Os pais devem cultivar na relação com os filhos tudo quanto é


devido, honroso e amoroso. O luto não deveria ser um momento
para um choro de remorso ou um lamento de arrependimentos por
ter negligenciado o cuidado, a disciplina e o amor ao filho que cedo
partiu. Pelo contrário, o pai e a mãe que serviram aos seus filhos
conforme a vontade de Deus saberão cumprir os dias de luto abrindo
espaço para a gratidão e adoração a Deus pela oportunidade de gerar
filhos que foram educados no temor do Senhor e que tiveram
oportunidade de desfrutarem de amorosa convivência familiar.

2. Os pais devem criar os filhos no temor do Senhor para viverem na


eternidade com Deus. O maior dom que os pais podem dá aos filhos
é uma educação cotidiana que ensina viver em comunhão com Deus,
tendo em vista que a vida no presente é passageira, mas a vida eterna
é uma realidade digna de ser desfrutada somente na presença de
Deus. Grande consolo para os pais é quando o filho que partiu servia
e tinha comunhão com Deus, pois, assim, o agradecimento e a
adoração a Deus são muito maiores pela convicção de que o filho que
partiu está com o Senhor numa vida eterna de indizível alegria e gozo!
Essa esperança é abundantemente consoladora.
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3. Os pais devem aproveitar a oportunidade de desfrutar a vida


convivida com os filhos. Aos pais cabem o dever de criar um
ambiente familiar favorável à expressão do amor mútuo, do cuidado
carinhoso e valorização. Para aqueles que assim fazem, devem zelar
por esse ambiente e relacionamento com os filhos. Para aqueles que
falharam, sempre é tempo de arrependimento, de mudança e de
reconstruir um relacionamento digno entre pais e filhos.

A Deus seja a honra e a glória pela oportunidade de viver e que o


Senhor conceda consolo e cuidado sobre todos aqueles pais e mães
que sofreram a perda de filhos.

“O Senhor se importa profundamente com a morte de seus fiéis”


(Salmos 116.15/NVT).
AUTOR: PR. ISAQUE C. SOEIRO, pastor auxiliar na Igreja Evangélica
Assembleia de Deus na cidade de Satubinha (MA) e filiado na
CEADEMA – Convenção Estadual das Igrejas Evangélicas Assembleias
de Deus no Maranhão.
Graduações em: Bacharel em Administração (UNITINS-TO), Bacharel
em Teologia (FATEH-MA).
Pós-graduações em: Especialização em Gestão Educacional (UNISEB-
COC), Especialização em Ciência das Religiões (ILUSES/FATEH-MA),
Mestrado em Teologia (FAETAD) e Mestrando em Ciência das
Religiões (ILUSES/LUSÓFONA).
Diretor do Instituto Pentecostal de Educação Cristã – IPEC.
E-mail: ic.soeiro.ic@gmail.com.

REVISOR: PR. MÁRIO SARAIVA, pastor auxiliar na Igreja Evangélica


Assembleia de Deus em Buriticupu (MA) e filiado na CEADEMA –
Convenção Estadual das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no
Maranhão.
Graduações em: Licenciatura em Letras, com habilitação em
Português, Inglês e suas respectivas literaturas (Universidade
Estadual do Maranhão – UEMA).
Pós-graduações em: Especialista em Teologia (Universidade Estácio
de Sá – UNESA), Pós-Graduando em Exegese Bíblica (Centro de
Estudos Bet-Hakam) e Mestrando em Ciências Teológicas
(Universidade de Desenvolvimento Sustentável – UDS, Assunção,
Paraguai).
E-mail: pr.mariosaraiva@gmail.com
REALIZAÇÃO

APOIO

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