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PEDAGOGIA

CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA REFLEXÃO


SOBRE A INTENCIONALIDADE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Belo Horizonte
2017
PEDAGOGIA

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo pesquisar sobre a compreensão do


currículo e sua articulação com a Proposta Pedagógicas no cotidiano da Educação
Infantil. As legislações vigentes apontam o Currículo como sendo um conjunto de
escolhas feitas em consonância com as concepções e princípios que norteiam cada
instituição; sendo um projeto de educação desenvolvido juntamente por todos os
envolvidos na prática educativa. Diante disso, levanta-se a seguinte
problematização: Como o currículo deve ser compreendido na Educação Infantil ?
Como podemos organizá-lo?Quais experiências escolares devem ser apropriadas
as crianças nessa fase? Compreender o conceito de currículo contribui para a
reflexão crítica de uma prática pedagógica mais coerente e intencional entre aquilo
que se acredita e o que se faz, tendo em vista que toda instituição educativa precisa
comprometer-se em promover uma educação de qualidade. O presente artigo
trata-se de uma revisão de literatura e está fundamentado nas orientações das leis
vigentes: Lei 9.394/96 de 20 de dezembro, Resolução CNE/CEB n 05/09 ,e nas
contribuições de alguns autores que investigam o tema, como: Faria e Salles
(2012), e de Vagula e Steinle (2013) Moreira e Candau (2006),bem como alguns
documentos: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI
(1998), e as Proposições Curriculares para a Educação Infantil (BELO
HORIZONTE, SMED,2015).A partir da temática em estudo, propõe-se contribuir
com reflexões sobre as concepções de currículo e sua organização nos espaços da
educação infantil.

Palavras-chave: Currículo. Educação Infantil. Proposta Pedagógica.

INTRODUÇÃO

A pesquisa desenvolvida busca analisar as compreensões de currículo, bem


como sua articulação com a Proposta Pedagógicas e suas possibilidades de organização
e concretização na Educação Infantil,
As mudanças que ocorreram em nossa sociedade nos últimos anos, no contexto
social e político, interferiram de forma significativa na realidade da Educação Infantil.
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O exemplo disso foi seu reconhecimento como primeira etapa da Educação Básica, lhe
conferindo status de educação e não mais assistência social. .Com a atualização e a
revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais, o trabalho desenvolvido com crianças de
0 a 5 anos foi reconhecido legalmente com caráter educativo, definindo-se normas para
a elaboração das propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil.
Anteriormente, as creches e pré-escolas organizavam seu trabalho de modo próprio. De
modo geral, essa organização, era pouco sistematizada e muitas vezes fragmentada e
sem explicitação dos princípios que norteavam sua prática. As mudanças no
atendimento às crianças dessa faixa etária, em especial, a maneira de se conceber o
Currículo e o modo como organizá-lo, levantou questões que ainda são desafiadoras
para muitos profissionais da Educação Infantil.
Diante disso levanta-se a seguinte problematização: Como o currículo deve ser
compreendido na Educação Infantil ? Como podemos organizá-lo?, Quais experiências
escolares devem ser apropriadas as crianças nessa fase?”são indagações que embora
nem sempre percebidas no âmbito da discussão, são perceptíveis na prática educativa
dos autores e executores no cotidiano escolar.
Assim, o presente trabalho justifica-se pela necessidade de se compreender o
conceito de Currículo percebendo a sua articulação com os elementos constituintes da
Proposta Pedagógica da instituição de Educação Infantil. Compreender o Currículo
contribui para a reflexão crítica de uma prática pedagógica mais coerente e intencional
entre aquilo que se acredita e o que se faz. Tendo em vista que toda instituição
educativa precisa comprometer-se com sua prática educativa, a fim de promover uma
educação de qualidade. Não podemos desconsiderar que a criança, no seu dia a dia,
desde o momento que chega a escola, vivencia experiências diversas, positivas ou
negativas que irão interferir diretamente na sua constituição enquanto sujeito. Por isso, é
imprescindível que essas experiências sejam pensadas e planejadas. Nesse sentido,é
fundamental que seus profissionais tenha consciência da Proposta Pedagógica da
instituição onde trabalha para desenvolver uma prática coerente com essa proposta.
O presente artigo trata-se de uma revisão de literatura, centrada nas contribuições de
alguns em autores que investigam o tema,como: Moreira e Candau (2006),SALLES e
FATIMA (2012),Moreira e Silva “(1997),bem como alguns documentos e a legislação
vigente: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI (1998),
CNE/CEB n. 20/09 de da Resolução CNE/CEB n. 05/09, que definem as DCNEI –
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e as Proposições
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Curriculares para a Educação Infantil ( BELO HORIZONTE, SMED,2015).A partir da


temática em estudo, propõe-se contribuir com reflexões sobre as concepções de
curriculo e sua organização nos espaços da educação infantil.

2. DESENVOLVIMENTO

A sociedade moderna tem gerado uma crescente produção e especialização do


conhecimento, refletindo diretamente na educação. Essa por sua vez, vem buscando
ressignificar sua concepção de modo a acompanhar o desenvolvimento social. Como
exemplo disso, exemplificamos a organização do currículo escolar.

O currículo escolar foi concebido historicamente como um conjunto de conhecimentos


compartimentados e organizados em áreas e disciplinas isoladas entre si, estabelecidos
por faixa etária. Em sua trajetória sofreu influencia de algumas correntes pedagógicas,
dentre elas a da teoria tradicional, consolidada por Tyler, que afirmou que o currículo
deveria “centrar-se em questões de organização e desenvolvimento” (SILVA, 2003b,
p.23) com objetivos claros e bem definidos, centrados na figura do professor como
detentor do conhecimento. Neste enfoque, os conhecimentos eram selecionados e
abordados sem levar em conta a realidade social e cultural dos seus autores. Como
consequência, percebia se o desinteresse dos alunos pelos estudos, incidindo no elevado
índice de evasão escolar.

Na busca por preencher as lacunas no processo de aprendizagem, diversos profissionais


vem buscando ressignificar o currículo escolar. Segundo Traldi (1984, pag. 26), o termo
“currículo” origina-se do latim “curriculum” e significa “ curso, carreira, percurso ``...{
.Para ele, o currículo é uma espécie de “ pista de corrida” , a trajetória escolar dos
alunos ao longo do percurso escolar. Recentemente, a preocupação com o currículo foi
tomando novos rumos. Moreira e Candau (2006, p.86) definiram o currículo “ como as
experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio a
relações sociais, e que contribuem para a construção da identidade de nossos(as)
estudantes”.
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Silva (2007) endossa esse conceito ao defender que o currículo corresponde a um


conjunto de experiências e conhecimentos que a instituição oferece as crianças, sendo
que essas experiências podem promover a transformação ou a manutenção das relações
de poder, pois privilegia algum um tipo de conhecimento.

Diante desse novo olhar sobre o currículo, que enfatiza mais “experiências” do que
“conteúdos”, dirigimos nossa atenção neste trabalho, para o Currículo na Educação
Infantil, buscando compreender algumas questões que ainda são desafiadoras para
muitos profissionais da educação, especialmente quando se diz respeito a prática
educativa no cotidiano escolar na Educação Infantil. Entender “como o currículo deve
ser compreendido na Educação Infantil”, como organizá-lo, “quais experiências
escolares devem ser apropriadas as crianças nessa fase” e “como concretizá-lo no
cotidiano da escola” são indagações que embora nem sempre percebidas no âmbito da
discussão, são perceptíveis na prática educativa dos autores e executores no cotidiano de
muitas instituições escolares. Buscar respostas para estas questões é fundamental para
uma prática pedagógica coerente, intencional e consistente, que visa proporcionar aos
alunos uma educação de qualidade.

Essas perguntas são pertinentes, considerando o fato de que apenas recentemente,


através da Lei de Diretrizes e Base para a Educação Nacional – LDBEN (Lei 4024/61) o
trabalho desenvolvido com crianças de 0 a 5 anos foi reconhecido como caráter
educativo pela legislação brasileira. A Educação Infantil passou a ser considerada a
primeira etapa da Educação Básica (Lei de Diretrizes e Bases, Lei n: 9394/96, artigo
29), tendo como finalidade, o desenvolvimento integral de crianças até seis anos de
idade. Ainda surgem muitas duvidas sobre o trabalho desenvolvido nessa etapa da
educação, e em especial os questionamentos sobre o currículo e sua organização.

É importante lembrar que, anterior a esse processo, o atendimento as crianças de 0 a 5


anos, realizado em creches e pré-escolas, apresentavam concepções diferentes do
proposto pela legislação que rege a Educação Infantil hoje. Também apresentavam
concepções distintas entre si. Enquanto a educação nas creches tinha um caráter
assistencialista, que privilegiava o cuidar, como descreve: Haddad (1993. P. 24):

“Durante muito tempo, a creche serviu a função de combate à pobreza e a


mortalidade infantil. Para atingir esses objetivos, adotou padrões de
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funcionamento que variavam conforme o que se acreditava serem os


determinantes da pobreza e da mortalidade infantil”.

A educação proposta nas pré-escolas tinha como característica preparar a criança para
ingressar no Ensino Fundamental, apoiando se em atividades mecânicas e a práticas
descontextualizadas.

Na busca por resposta as inquietações citadas anteriormente, é necessário considerar


como o MEC através do Parecer CNE/CEB n. 20/09 de da Resolução CNE/CEB n.
05/09, que definem as DCNEI – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil concebe o currículo e sua organização para Educação Infantil:

Art. 3 O Currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de práticas


que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os
conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental,
científicos e tecnológicos de modo a promover o desenvolvimento integral de
crianças de 0 a 5 anos de idade.

De acordo com a legislação, na Educação Infantil a ideia de currículo associa-se ao


conjunto de esforços pedagógicos desenvolvidos com intensões educativas denominadas
“Proposta Pedagógica”, ou “Projeto Político Pedagógico”. Assim, explicitar o currículo
na Proposta Pedagógica representa apontar quais são as experiências a serem
trabalhadas com as crianças dessa faixa etária.

Mas o que é especificamente uma “Proposta Pedagógica” ou “Projeto Político


Pedagógico”: Segundo Moreira e Candau (2006, pag. 20),

Proposta Pedagógica é a busca de construção da identidade, da organização e da


gestão do trabalho de cada instituição educativa. O Projeto reconhece e legitima a
instituição educativa como histórica e socialmente situada, constituída por sujeitos
culturais que se propõem a desenvolver uma ação educativa a partir de uma unidade
de propósitos. Assim são compartilhados desejos, crenças, valores, concepções que
definem os princípios da ação pedagógica e vão delineando em um processo de
avaliação continua e marcado pela provisoriedade, suas metas, seus objetivos, suas
formas de organização e suas ações.

Diante desse conceito, podemos construir a visão de currículo como um conjunto de


escolhas, relacionadas às concepções e princípios que norteiam cada instituição. De
acordo com o RCNEI, essas escolhas dizem respeito às práticas educativas, a
organização e modo de funcionamento da instituição, os conhecimentos mais
significativos, as habilidades a serem desenvolvidas considerando o objetivo geral de
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cada instituição, seu contexto social, as características e expectativas de cada grupo que
compõe a sua comunidade escolar.

Reafirmando a concepção apresentada, O documento Proposições Curriculares para a


Educação Infantil, de Belo Horizonte, 2014, além de conceber o currículo como um
“conjunto de escolhas”, compreende-o também como:

“um caminho elaborado e traçado solidariamente pelos atores do processo


educativo. Sendo um caminho, ele se constitui durante a trajetória daqueles
que o percorrem. O currículo se concretiza e se ressignificar durante a
caminhada daqueles que estão no cotidiano das vivências escolares de um
contexto educacional específico.” (p. 46).

Nessa perspectiva, compreendemos que as escolhas efetivadas no currículo não podem


ser estanques ou definitivas, pelo contrário, propõe-se um planejamento e pressupõe que
ele será complementado e enriquecido de acordo com a realidade das crianças. Assim, o
currículo deve estar em processo de permanente construção e reformulação por parte
dos sujeitos com a finalidade de alcançar os objetivos propostos.

Esse processo de construção do Currículo implica antes considerar quais as concepções


que irão nortear o trabalho educativo. Moreira e Silva “(1997, p.23) afirmam que toda
concepção imprime relações de ideologia, cultura e poder”. Elaborar a Proposta
Pedagógica da instituição requer dialogo, e reflexão sobre crenças e valores que estão
subjacentes a pratica, buscando fundamentação teórica e legal. Implica também
reflexão sobre visão de “criança”, de “sociedade”, “de ser humano”, de
“desenvolvimento e aprendizagem”, de “educação e de cuidado”.

Diante disso, abro aqui um parênteses para ressaltar que, considerando a complexidade
que envolve a elaboração do Currículo, é imprescindível que haja a participação de
todos neste processo. Pais e familiares, crianças, professores, profissionais das diversas
instancias da escola, comunidade, precisam participar, expressando opiniões e
expectativas quanto ao currículo escolar.

Existem alguns autores como: Jean Piaget, Vygotsky, Wallon, por exemplo, que
discutem teoricamente essas visões. Do ponto de vista legal, as DCNEI orientam as
instituições a elaborarem suas Propostas Pedagógicas referenciadas em alguma
concepção.

Ao se pensar em currículo, em quais conteúdos ou experiências proporcionar aos


alunos, é necessário pensar antes na criança: qual a concepção de criança que
acreditamos, e qual lugar ela ocupa no processo educativo:

A Resolução n 5/2009/CEB/CNE, art. 4, não só traz a concepção de criança, como


também a define como o centro do processo educativo. Vejamos:

```) criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos


que , nas interações, relações e praticas cotidianas que vivencia, constrói sua
identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa,
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experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade,


produzindo cultura.

O RCNEI, em consonância com o documento citado, concebe a criança como sujeito


histórico, um ser social que apresenta capacidades próprias e ocupa seu espaço
exercendo diversas linguagens e assim com a mediação do professor constrói
conhecimentos, ampliando seus saberes. Em seu texto afirma que:

“A criança como todo ser humano é um sujeito social e histórico e faz parte de uma
organização familiar que está inserida em uma sociedade, com determinada cultura,
em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social
em que se desenvolve, mas também o marca.” (Brasil, 1998, p. 21-22).

Considerar a criança como sujeito é compreender que elas têm desejos, inquietações,
opiniões, saberes. Que elas são capazes de criar, de agir, de interagir , de raciocinar, de
expressar e decidir. É considerar que essas relações são dialógicas e contribuem para o
desenvolvimento tanto da criança quanto do adulto com quem ela se relaciona.

Reconhecer a criança como sujeito social e histórico é entender que seus desejos,
opiniões, inquietações, capacidades de agir e decidir, são construídos historicamente na
cultura do meio social em que ela está inserida. É refletir sobre qual tipo de sujeito
queremos formar: um sujeito critico, capaz de agir na sociedade transformando-a, ou um
sujeito passivo a subordinação das classes dominantes:.

Considerá-la como sujeito de direito, é considerar que independente de sua origem,


raça, história ou classe social, ela é cidadã, e como tal, tem os mesmos direitos de todas
as crianças.

Reconhecê-la como ser da natureza é reconhecer sua inserção no meio físico,


percebendo que suas ações interferem diretamente sobre ele.

Valorizar a criança como sujeito sociocultural é colocá-la no centro do processo


educativo, como determina a legislação citada. Isso implica na necessidade dos
professores e profissionais da educação buscar compreender suas especificidades,
necessidades e potencialidades. Cada criança precisa ser reconhecida e acolhida, a partir
do conhecimento de suas características individuais, de grupo e de sujeito de um tempo
específico do desenvolvimento humano: a infância.
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Nesse sentido, a Resolução CNE/CEB, 2009, discute algumas especificidades das


crianças na Educação Infantil:

O conhecimento científico hoje disponível autoriza a visão de que desde o


nascimento a criança busca atribuir significado a sua experiência e nesse processo
volta-se para conhecer o mundo material e social, ampliando gradativamente o
campo de sua curiosidade e inquietações, mediadas pelas orientações, materiais,
espaços e tempos que organizam situações de aprendizagem e pelas explicações e
significados que ela tem acesso. O período de vida atendido pela Educação Infantil
caracteriza-se por marcantes aquisições: a marcha, a fala, o controle esfincteriano, a
formação da imaginação, e da capacidade de fazer conta e de representar usando
diferentes linguagens. (Brasil, CNE/CEB, 2009)

Assim, pensar na criança, requer conhecimento de alguns aspectos específicos da


infância como: biológicos: compreendendo como ocorre o desenvolvimento cognitivo e
motor em cada faixa etária. Das interações que ela estabelece com o mundo: e que é
mediada pelo outro, ela percebe-se como sujeito, e como pertencente a um grupo. Neste
processo a criança se identifica com o outro e ao mesmo tempo se diferencia dos outros
ao perceber que suas características a tornam única. Das atitudes de exploração e de
experimentação, que utilizam como estratégias para conhecerem o que lhes é estranho.
Também da utilização da imitação e da repetição como estratégias para explorarem o
mundo. Da brincadeira como forma privilegiada da criança apropriar-se do
conhecimento. Do contexto sociocultural elas estão inseridas. Do papel da escola neste
processo.

Dessa forma, conhecer as especificidades da criança, direciona o olhar para a escolha


das experiências que contribuirão para o seu desenvolvimento.

Por isso, na Proposta Pedagógica essas concepções devem ser descritas de forma clara,
pois a partir da compreensão da criança que se deseja formar serão fundamentadas todas
as ações pedagógicas. Assim, uma proposta que considera as crianças como seres plenos
em seu tempo, com capacidade de compreender o mundo a seu próprio modo,
atribuindo-lhe significados, orientarão a sua prática propondo situações de
aprendizagem onde a criança seja a protagonista. Os professores que compreendem as
crianças como sujeitos competentes buscam na vivência cotidiana, adotar uma postura
de efetiva escuta, tentando entender como elas estão pensando, os conhecimentos que
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estão construindo, as hipóteses que estão elaborando, e a partir dessas observações,


planejar sua prática educativa.

É preciso ter em mente que o foco do seu trabalho é a criança, e não nas atividades que
se propõe. Para isso, Lima (2013) pontua ser necessário desenvolver uma metodologia
de coleta de informações, que passa pela observação atenta e pela pesquisa. Com
relação a ouvir histórias, por exemplo, o professor deve se perguntar:: as crianças
apreciam ouvir histórias e manusear livros: que tipo de histórias as crianças gostam
mais: o que fazer para despertar ou ampliar o interesse por leituras. Pensar dessa forma
é reafirmar a dinamicidade e flexibilidade do currículo, afirmando que a criança está em
constante processo de formação.

Assim, entendemos que a forma como uma instituição de Educação Infantil concebe a
criança, nos seus aspectos físicos, psíquicos, biológicos, sociais e culturais, determina a
maneira como organizará o seu currículo.

Historicamente, as escolas de Educação Infantil no Brasil, organizam seu Currículo de


diferentes maneiras, norteadas por diferentes concepções. Seja por áreas de
conhecimento, através datas comemorativas, através de livros didáticos, por organização
de atividades, por eixos de trabalho e até mesmo mesclando as várias categorias.
Segundo SALLES e FATIMA (2012) essa indefinição ou mesmo essa diversidade nas
formas de, historicamente, estruturar o Currículo, “além de revelarem concepções,
evidenciam a inexistência, ate então, de diretrizes que definissem com maior clareza a
identidade dessa etapa da Educação Básica”.

Na ausência dessas diretrizes, o Referencial Curricular Nacional para a Educação


Infantil, RCNEI, lançado pelo Ministério da Educação, em 1998, serviu de apoio as
instituições na elaboração de sua proposta curricular, passando a ser visto e amplamente
utilizado como se fosse uma determinação legal.

A criação do documento legal: Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação


Infantil - DCNEI, pelo Conselho Nacional de Educação, em 2009, representou um
avanço significativo para a Educação Infantil, sendo o primeiro documento legal a
apresentar uma definição clara de Currículo para as crianças da faixa etária de 0 a 5
anos. Dessa forma, como já citado anteriormente neste trabalho, as DCNEI/2009, em
seu art.3, concebem o Currículo da Educação Infantil como:
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Art. 3 O Currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de práticas


que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os
conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental,
científicos e tecnológicos de modo a promover o desenvolvimento integral de
crianças de 0 a 5 anos de idade.

(BRASIL, CNE/CEB, 2009).

No seu artigo 9, essas Diretrizes definem que as praticas pedagógicas que compõem a
proposta curricular da Educação Infantil tenham como eixos norteadores, as interações e
as brincadeiras, garantindo experiências que:

I. Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de


experiências sensoriais, expressivas, corporais, que possibilitem
movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos
e desejos da criança.
II. Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo
domínio por elas dos vários gêneros e formas de expressão gestual, verbal,
plástica, dramática e musical.
III. Possibilitem as crianças experiências de narrativas, de apreciação e
interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes
suportes e gêneros textuais orais e escritos.
IV. Recriem, em contextos significativos para as crianças, relações
quantitativas, medidas, formas e orientações espaço temporais.
V. Ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades
individuais e coletivas.
VI. Possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da
autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-organização,
saúde e bem-estar,
VII. Possibilitem experiências éticas e estéticas com outras crianças e grupos
culturais, que alarguem seus padrões de referencia e de identidades no
diálogo e reconhecimento da diversidade,
VIII. Incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento,
a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e
social, ao tempo e a natureza,
IX. Promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas
manifestações de musica, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia,
dança, teatro, poesia e literatura.
X. Promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da
biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como não
desperdício dos recursos naturais,
XI. Propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e
tradições culturais brasileiras,
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XII. Possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores,


máquinas fotográficas e outros recursos tecnológicos e midiáticos.
Assim, o artigo detalha experiências envolvendo diferentes linguagens e conhecimentos
que possibilitam o desenvolvimento das crianças, garantindo a elas espaço e tempo para
se movimentar, explorar, interagir, criar, e expressar-se de diferentes formas.

Buscando compreender como uma instituição de Educação Infantil pode organizar seu
Currículo, diante de várias possibilidades, exemplificamos neste trabalho, a organização
do Currículo por “campos de experiência”, sugerido por FARIA e SALLES ,(Currículo
na Educação Infantil – Dialogo com os demais elementos da Proposta Pedagógica,2.ed.
São Paulo,2012). Acreditamos que tal organização, é coerente com as Diretrizes legais,
pois valorizam, em sua prática pedagógica, os eixos: interação e brincadeira.

A organização do Currículo por campos de experiência, conforme defendem as autoras


FARIA e SALLES “buscam agrupar as diversas experiências relacionadas aos saberes
e conhecimentos, a serem trabalhadas intencionalmente numa instituição de Educação
Infantil”(pg. 78).

As crianças se desenvolvem e constituem-se como sujeitos socioculturais através das


relações que estabelecem com o mundo a sua volta, utilizando-se de diferentes
linguagens. No cotidiano escolar, através das interações que estabelece com os outros e
com o ambiente, vivenciam experiências diversas - positivas ou negativas, que gerarão
impactos na formação da sua identidade. As experiências sejam: lúdicas, estéticas, de
respeito, de autonomia, de cooperação, de investigação, de desafios, de submissão, de
discriminação, de competição, entre várias outras, marcam e transformam os sujeitos
envolvidos, interferindo na sua constituição e definindo seu modo de ser, de conviver e
de aprender.

A esse respeito afirma MOREIRA, 2004: “Nós aprendemos e ensinamos em meio a


experiências, em meio às relações que estabelecemos na escola. Tudo isso tem que ser
organizado, pensado, planejado, não é algo que acontece de qualquer jeito”. Essa
afirmação nos conclama a refletir sobre o fazer pedagógico pautado em experiências
propostas de forma intencional, planejada e organizadas. Temos o importante papel de
selecionar e propiciar ricas e significativas experiências relativas as múltiplas
linguagens num Currículo de Educação Infantil.
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Nesta perspectiva, FARIA e SALLES (Currículo, na Educação Infantil, 2012, pg.79)


propõem a organização dessas experiências relacionando-as a “saberes e conhecimentos
que contemplem as múltiplas relações da criança com os conhecimentos da natureza e
da cultura, mediadas pelas linguagens”. Segundo as autoras, essas experiências
propostas, pretendem “provocar” os professores a “ampliar” a compreensão do leque de
possibilidades de experiências, de acordo com as características e a realidade
sociocultural na qual as crianças estão inseridas. Para tal, as autoras Faria e Salles
(2012, P.80) agrupam as experiências propostas às crianças em três grandes campos de
experiência: “Eu no mundo social e natural., Linguagens e Artes,. Matemática. Cada
campo é subdividido de forma a tratar de suas especificidades e de como as crianças, no
seu processo de apropriação e transformação dos saberes e conhecimentos próprios
daquele campo de experiências, podem aprender e se desenvolver.

Diante do exposto a respeito do Currículo, considerando sua necessária articulação com


os demais elementos da Proposta Pedagógica da Instituição de Educação Infantil,
acreditamos que uma das formas de concretizar o Currículo no trabalho cotidiano junto
às crianças se dá pelas opções metodológicas do professor. Não desconsiderando que
essas opções estão relacionadas às concepções que envolvem posturas, atitudes,
procedimentos e ações. Assim, uma opção metodológica pode levar o professor a
assumir uma postura de mediador do conhecimento, ajudando o aluno a refletir sobre o
seu próprio processo de desenvolvimento, ou simplesmente assumir o papel de
transmissor de informações. Na definição de estratégia e procedimentos, pode limitar ao
trabalho apenas nos espaços internos e a materiais restritos, ou pode ampliar o uso de
espaços e materiais proporcionando o contato com a natureza e com diferentes aspectos
da cultura.

Por isso, é fundamental que as formas de trabalho do professor sejam coerentes com as
concepções que foram definidas na Proposta Pedagógicas da instituição. O professor
precisa buscar continuamente estratégias que condizem com essas concepções,
promovendo o desenvolvimento integral das crianças.

A esse respeito, FARIA e SALLES (2012) afirmam que :

“quando falamos de opções metodológicas de trabalho na Educação Infantil, não diz


respeito a método, uma vez que não nos referimos a um caminho preestabelecido,
com passos delimitados para se chegar a determinado lugar. Estamos sim, tratando
de formas de trabalhar que vão sendo construídas pelos professores na pratica
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cotidiana com um grupo de crianças e que vão sendo modificadas nas diferentes
situações com as quais o professor e a criança se defronta”. (pg.185)

Diante desta afirmação entendemos que não há uma metodologia privilegiada. O


professor precisa conhecer diferentes maneiras de trabalhar para que possa selecionar
aquelas que são mais apropriadas à faixa etária das crianças e que provoquem sua
curiosidade e seu desejo de agir sobre o mundo.

Existem diferentes metodologias de trabalho utilizadas na Educação Infantil. Dentre


elas podemos citar os projetos, as oficinas ou ateliês, as sequencias de atividades, e as
atividades significativas como estratégias de êxito para dinamizar e ampliar o alcance
do Currículo. O uso dessas diferentes metodologias pode possibilitar ricas interações
entre as crianças e os adultos envolvidos. Pode também favorecer a flexibilização dos
tempos para a realização do trabalho e possibilidades para uma ação planejada e
intencional bem como para a invenção e escolha das crianças. Também podem
favorecer aprendizagens significativas para a construção de saberes e conhecimentos
sobre o sujeito, a sociedade, a natureza e as múltiplas linguagens.

Diante de tudo que vimos sobre o Currículo, em como ele dialoga e articula com os
demais elementos de uma Proposta Pedagógica, podemos considera-lo como o coração
de uma instituição. Sendo assim, é imprescindível que todos os envolvidos no processo
educativo tenham pleno conhecimento dele.

Na gestão democrática, é função do gestor educacional promover espaços e tempos


para a elaboração, implementação, avaliação e reelaboração da Proposta Política
Pedagógica da instituição de Educação Infantil. No entanto, não é tarefa exclusivamente
sua a elaboração do documento. Cabe ao gestor buscar estratégias para envolvimento
dos professores, de outros funcionários da escola, das famílias, das crianças, e de outros
parceiros da comunidade, trabalhando numa perspectiva democrática e participativa.
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4 Considerações finais

O trabalho pedagógico é uma atividade profissional na qual ter consciência do que


fazemos, para que fazemos e como fazemos são fatores determinantes. Neste sentido,
compreender o Currículo como parte de um conjunto de ações do fazer pedagógico que
denominamos Proposta Pedagógica, é fundamental para a intencionalidade da prática
educativa por parte do coletivo de uma instituição de Educação Infantil.
As práticas desenvolvidas no cotidiano escolar devem traduzir de fato as concepções, as
finalidades e os objetivos que orientam a Proposta Pedagógica para que haja harmonia e
nexo entre aquilo em que acreditamos e o que fazemos. Os envolvidos no processo
educativo precisam ter consciência da ação educativa que está sendo proposta as
crianças. Como vimos, elas passam a maior parte de seu tempo na escola, onde
vivenciam diversas experiências que constituirão a sua identidade. Essas experiências
exprimem ideologia, concepções e valores que muitas vezes é desconhecida pelos
próprios professores e profissionais do coletivo escolar. Entender quais são as
concepções que norteiam o trabalho educativo nos faz refletir sobre que tipo de ser
humano pretende-se formar e as contribuições que a Educação Infantil pode dar na
tarefa de construir uma sociedade melhor. Assim, essas indagações são fundamentais na
decisão das escolhas das experiências que serão propostas as crianças dessa faixa etária.
A busca por respostas a algumas indagações sobre o Currículo na Educação Infantil
proporcionou aprendizagens significativas e enriquecedoras para a formação
profissional. Compreender o Currículo como um conjunto de escolhas desperta em nós
o senso crítico, e leva-nos a refletir sobre a necessidade de uma prática educacional
comprometida com uma educação de qualidade, que busca a valorização da criança
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enquanto sujeito sociocultural.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação. Resolução CNE/CEB n 05. Institui as Diretrizes


Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Diário Oficial da União. Brasília, 17
de dezembro de 2009.

Brasil. Referencial curricular nacional para a educação infantil/ Ministério da Educação


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