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ESCOLA DE ENFERMAGEM
SÃO PAULO
2022
LUCIANE RÉGIO MARTINS
VERSÃO CORRIGIDA
SÃO PAULO
2022
Nome: Luciane Régio Martins
Aprovado em: / /
Banca Examinadora
Agradeço, primeiramente, com carinho especial, à Professora Dr.ª Sônia Barros. pelo
acolhimento, orientações, sobretudo, ensinamentos e aprendizados, por confiar e
acreditar, com quem aprendi que é “sempre pelo afeto”, que a verdadeira
transformação profissional e pessoal encontra sentido. Agradeço ao Dr. Luís Eduardo
Batista, por ter aceitado o ser coorientador, mostrar caminhos e por sua presença e
intelectualidade. A ambos, peço desculpas pelo tempo que a branquitude me fez
titubear. Com amor, agradeço por me auxiliarem no processo decolonial de
identificação do racismo institucional, dos privilégios da branquitude, para destramar
o circuito manicomial racista, sexista, capitalista e de supremacia branca na sociedade
brasileira.
Agradeço à Prof.ª Dr.ª Ana Luisa Aranha e Silva pelo “sim” (abrindo as portas
da EEUSP em 2014), e por me aproximar profissionalmente da Enfermeira Caroline
Ballan, que divide comigo sonhos de formar Enfermeiros em Saúde Mental. Admiro
sua luta por dignidade para todes.
Amigas/os sem vocês, a vida não teria a menor graça! Por isso, agradeço a
Alessandra Trindade, Bruno Dorneles, Sabrina Silva, Marcya Cabral, Cristina Chagas,
Angela Becker, Cesar Bicca, Imran Ahmed, Audisséia Felippo, Verônica Lopes,
Lusinete Lopes e Eucllides Dantas. In memoriam, aqueles que me fazem falta todos
os dias, Stella Chebli e Edson Rosa. Também, Fabiane Capelassi de Souza e Ana
Maria.
RESUMO
ABSTRACT
GC Grupo Condutor
RI Racismo institucional
RP Reforma Psiquiátrica
1 INTRODUÇÃO
Nos diálogos de Lélia Gonzalez (de 1975, até a segunda metade da década de
1990), a autora destaca na “história oficial” brasileira, o “discurso pedagógico
internalizado”, base de diversos “estereótipos” direcionados à população negra, tais
como, “passividade, infantilidade, incapacidade intelectual, aceitação tranquila da
escravidão” (Gonzales, 2020, p.50). Além disso, remete a este preconceito, a ideia do
brasileiro como um ser “cordial” e pacífico, que se ancora na miscigenação como
fundamento da ideologia racista de igualdade, ou seja, o mito da democracia racial
(Gonzales, 2020).
Com a Constituição Federal foi possível incluir a saúde como direito de toda
população brasileira (Brasil, 1988), e a criação do SUS universalizou o acesso como
“direito fundamental”, e destinou ao Estado o dever de “prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício”. Pelo princípio da Universalidade, o direito ao
acesso da população negra aos serviços de saúde foi deflagrado, no entanto, este,
não tem sido assegurado na prática concreta dos serviços de saúde brasileiros, devido
ao racismo institucional. (Brasil, 1988; 1990a; Werneck, 2016)
De acordo com o Atlas da Violência de 2020, entre 2008 e 2018, 75,7% das
vítimas de homicídio eram negras. Esta taxa aumentou 11,5% entre negros e diminuiu
12,9% entre não negros (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2020). Além disso,
destaca-se a iniquidade em saúde entre pessoas brancas e negras, pois, a expectativa
de vida ao nascer de brancos é de 73,9 anos, enquanto a de negros (pretos e pardos)
é de 67,8 anos (Waiselfisz, 2011).
A exclusão da pessoa com problemas de saúde mental pode ser ainda maior
quando ela é negra, dada a expressiva realidade racista no Brasil. Ao analisar, na
perspectiva racial os resultados do Censo Psicossocial dos Hospitais Psiquiátricos,
identificou-se que a maioria dos moradores de hospitais psiquiátricos no estado de
São Paulo, 60,29% eram brancos. Assim descrito pelos autores (Barros et al., 2008):
Em 1989, o deputado Paulo Delgado foi autor do projeto de Lei n.º 3.657 (que
originou a Lei n.º 10.216/2001), ancorando-se em três artigos que discorreram sobre:
a proibição de abertura e contratualização de novos hospitais psiquiátricos com o ente
público; o destino de verbas para recursos não-manicomiais de tratamento; e, a
comunicação das internações compulsórias ao judiciário. Além disso, na década de
1980, iniciou-se uma articulação do Movimento da Reforma Psiquiátrica (RP) com os
movimentos sociais, sendo que essa parceria de luta se fortaleceu a partir da década
de 1990 (Brasil, 1989; Pitta, 2011).
INTRODUÇÃO| 35
Além disso, as mulheres sofrem com violências domésticas, sendo que esses,
INTRODUÇÃO| 39
Sendo assim, observa-se que tanto os “loucos” em geral foram excluídos pela
sociedade, também as mulheres em desigualdade de gênero, posição social desigual,
que tem salários menores ou sem remuneração são mais acometidas pelos problemas
de saúde mental, com destaque para as mulheres pretas e pardas, viúvas,
divorciadas, principais responsáveis pela família e sem atividades de lazer (Araújo,
Pinho, Almeida, 2005).
1.1.5 Pressuposto
2 OBJETIVOS
3 CAMINHO METODOLÓGICO
As concepções teóricas que sustentam o olhar para este estudo estão definidas
a partir das três dimensões do Racismo, aplicadas no contexto do Brasil por Werneck
(2016), elaboradas em Jones (2002), na complexidade do racismo à brasileira
(Munanga, 2017).
racismo institucional (RI), realoca este, na dimensão estrutural, ou seja, nas “formas
organizativas, políticas e normas que resultam em tratamentos e resultados
desiguais”, como acesso material, que afeta as condições de vida concretas, pela
“indisponibilidade e/ou acesso reduzido a políticas de qualidade”, pela assimetria de
acesso ao poder, por meio de “menor acesso à informação/menor participação e
controle social/escassez de recursos”, e por isso esta é considerada a “dimensão mais
negligenciada do racismo” (Werneck, 2016, 541-2).
que tenham problemas de saúde mental graves e persistentes, e/ou que necessitem
de acompanhamento diário, com capacidade para realizar 220 atendimentos mensais
e funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, sendo oferecidos atendimentos
que englobam as necessidades singulares; em grupos e atendimento individual com
os técnicos de referência, com atividades terapêuticas grupais e, ainda, visitas
domiciliares, grupos de família, reuniões do conselho gestor e assembleias. No
entanto, estima-se que o montante dos atendimentos seja superior, até 260
atendimentos/mês, com uma população de 500 (prontuários ativos), e em torno de
2.000 prontuários inativos. A supervisão técnica Freguesia do Ó/Brasilândia está
localizada na Freguesia do Ó.
Ano de Autores/Título
Publicação
Barros S, et al. Relatório técnico do diálogo deliberativo “O processo de cuidar em
2020 saúde mental da criança/ adolescente negro usuário de CAPSIJ”. São Paulo: EEUSP,
2020.
Barros S, Santos JC, Candido B, Batista LE, Gonçalves MM. Atenção à Saúde Mental
2022 de crianças e adolescentes negros e o racismo. Revista Interface. 2022;26:e21525.
PROJETO GUARDA-CHUVA
Etapa II - DOUTORADO
3
Retomou-se contato por telefone, ofertando oportunidade de escolha do local para as entrevistas:
1) CAPSij II; 2) Na residência da entrevistada; 3) UBS/ESF de referência. A maioria das mulheres
optou por ir ao CAPSij II Brasilândia, pelo local oferecer protocolo de prevenção e detecção da
COVID 19, com aferição de temperatura e busca por sintomas gripais para acesso, com menos fluxo
de pessoas e menor possibilidade de contágio.
CAMINHO METODOLÓGICO| 54
OBJETIVO GERAL
Conhecer o percurso das mulheres, mães, cuidadoras de crianças/adolescentes com problemas de
saúde mental, usuários do CAPSij, em relação à Rede de Atenção à Saúde (RAS).
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Na análise do discurso, Fiorin (2005, p.10) compreende que todo discurso é cultural e
“produzido a partir de certas condicionantes históricas”.
Alerta o autor que, nem todo “amontoado de palavras” é uma frase e o “discurso
não é um amontoado de frases”, necessitando que as construções tenham além de
sintaxe (estrutura do discurso, uma “sintaxe discursiva”) e uma semântica (fatores
sociais e uma “semântica discursiva”, a qual iremos nos deter, onde encontra-se a
“determinação ideológica) (Fiorin, 1990, p. 17-9).
4 RESULTADOS
RESULTADOS| 57
4 RESULTADOS
Em relação à renda, 16,6% das mulheres (duas pardas e uma preta) recebem
o Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS4) como fonte exclusiva de renda,
com valor de um salário-mínimo, na época, R$ 998,00. Uma dessas mulheres
(autodeclarada preta) tem nível superior completo e por receber o benefício do filho e
ser a única cuidadora, não é possível que a mesma trabalhe, sendo essa a realidade
da maioria das famílias que tem como provedora apenas a mãe da
criança/adolescente. Ainda, 11,1% das mulheres autodeclaradas pardas (2), que são
as únicas provedoras, com salários inferiores ao atual salário mínimo (R$ 300,00 e
R$ 1.000,00); 5,5% das mulheres (autodeclarada parda) informa que recebe apenas
o bolsa família; 5,5% das mulheres (autodeclarada preta) informa que o filho mais
velho é o provedor com valor de pouco mais que salário mínimo (R$ 1.280,00); 5,5%
das mulheres (autodeclarada parda, avó materna), é a principal provedora, conta com
aposentadoria como fonte de renda.
Quando a mulher vive com o pai da criança/adolescente refere que o mesmo
como provedor (5 pardas, 1 preta e 1 branca), com salário entre R$ 2.500,00 e
R$ 1.100,00, valor superior ao salário-mínimo, que remete ao status patriarcal de
privilégios dos homens. Uma das mulheres autodeclaradas parda, com nível superior
4
Lei Orgânica de Assistência Social ou lei 8.742/93
RESULTADOS| 59
e trabalha, contabiliza duas fontes (seu salário e aposentadoria do marido), com renda
de R$ 6.000,00. A mulher autodeclarada como indígena tem fonte de renda a
aposentadoria do pai da criança/adolescente negro, cerca de R$ 1.200,00, por ser um
pouco mais que o BPC/LOAS, optou por manter esse benefício herdado (pai falecido).
Sobre o tipo de moradia, a maioria reside de aluguel (6 mulheres, por
autodeclaração: 3 pardas, 1 preta, 1 indígena e 1 branca), cedida (5 mulheres, por
autodeclaração: 3 pretas, 2 pardas), própria (5 mulheres, por autodeclaração, todas
pardas), ocupação (2 mulheres, por autodeclaração: 1 parda e 1 preta). As moradias
são em sua maioria de alvenaria com revestimento, com 2 até 5 cômodos.
Coabitam
(número de Casa: tipo e
Faixa Quesito pessoas: M
Instrução Ocupação Renda número de
Etária Raça/cor – mãe, P – cômodos
pai, F –
filho(s)
Pai, Salário e
Benefício Alugada,
Parda EMC Do lar social, 4 MP2F alvenaria*, 2
20 a 30
anos R$ 2.200,00
Do lar e Ocupação, 1
eventualmente cômodo de
40 a 50 Parda EMC Mãe, salário, 2 MF alvenaria*, e
anos manicure R$ 300,00
autônoma 1 cômodo de
madeira
RESULTADOS| 60
Coabitam
(número de Casa: tipo e
Faixa Quesito pessoas: M
Instrução Ocupação Renda número de
Etária Raça/cor – mãe, P – cômodos
pai, F –
filho(s)
Mãe,
Não Aposentadoria/ Alugada,
Indígena Do lar Benefício do M2F
alfabetizada alvenaria*, 3
pai falecido,
R$ 1.200,00
I. Atenção à Saúde;
Escola;
III. Gênero;
IV. Racismo.
Em4_L28 a 31: “Mãe: Não, no posto eu não vou não. Toda hora que a gente
vai lá não tem médico. Olha, é difícil de ir lá. Quando eu fiquei ruim, eu fui para
o hospital. É, lá no AMA. Lá de Perus.”
Em11_L121: “Posto de saúde, não, quando eu passo mal, eu vou para o AMA.”
Em5_19 a 21: “Olha, casos urgentes mesmo, eu vou no Pronto Socorro, [...]
por causa das minhas meninas eu vou no hospital, porque são menores de
idade”.
Em2_L15 a 17: “Faz um bom tempo que eu passei mal [...] eu fui parar no
hospital por causa da pressão, muito alta, mas tranquilo, a minha mãe ficou
com os meninos, e eu fui com o vizinho.”
Em5_22 e 23: “Ah, eu frequento, mas não para casos urgentes, acho que no
máximo assim, mais urgente, no caso de tomar vacina, sim, eu frequento, mas
não no caso de urgência.”
Em10_19 a 21: “tanto a UBS, né? No SUS, quanto o particular, porque eu tenho
convênio, mas eu sempre ando em conjunto porque... hoje eu posso ter e
amanhã não, eu prefiro estar ali com os dois, lado a lado.”
Em5-38 e 39: “Nos Postos de Saúde, para medir pressão, como que… de
temperatura, essas coisas... já no hospital, sim, claro…” {sobre atendimento de
RESULTADOS| 63
Enfermagem}
Em1_12-13: “[...] vários exames na fila [...] conseguir uma vaga, [...]
encaminhamento para ortopedista.”
Em2_L26: “Porque preciso para marcar, para poder passar lá. Aí eu tenho que
ir…”
Em5_L24 e 25: “Sim, eu tenho o posto, é como eu disse, eu não... faz um bom
tempo que eu não vou, mas eu tenho o posto assim…aquela coisa...”
Em11_L129-131: “Já fiz papa tudo mas vai fazer cinco anos que eu não passo
no papa, né? Porque com essa doença [...] tá difícil o médico aí agora que eu
consegui marcar uma consulta pra mim depois de cinco anos consegui marcar
uma consulta para mim no posto lá.”
Em4_L172 a 175: (mãe) Faz um tempo que eu não faço, eu não queria fazer
naquele lugar, naquele posto...eu não vou. Tem que passar fila, não pode você
passar, (inaudível) chega naquela consulta não tem médico, tá? Eu até desisto.
Fico em casa.”
Em4_L178 a 182: (mãe) {sobre a ACS} “Passa lá, mas vai nas outras pessoas
que estão precisando mais. Então, elas só vão lá e avisa. Ela nem perguntou
como que eu estava, o dia que eu passei mal, passei mal aqui, fiquei ruim e fui
para o hospital. (inaudível) então, ninguém quer saber como você está, então,
eu nem vou...então nem falo, como que eu estou.”
Por meio dos discursos, as rotinas de ações desenvolvidas, tal como a coleta
do preventivo do câncer do útero (Papanicolau), são exemplificadas pela frase
temática a seguir.
Em1_L461 a 464: “Faz tempo que eu não consigo fazer, porque está muito
ruim o posto, lá… de casa, então, não tem ginecologista, [...] você tem que
marcar a consulta com a enfermeira. Com a enfermeira eu consigo pedir
certos exames e tudo mais, não muito de boa vontade, mas enfermeira não
RESULTADOS| 64
é um médico.”
Em5_29 a 33: “Bom, eu vou nesse posto há bastante tempo, não lembro assim
de ter alguma reclamação, lembro que o ginecologista que nos atendia, ele
tinha a fama, né? De demorar bastante, mas nos atendeu, tipo… uma, perto
de duas horas, muitas grávidas, mas em relação a isso, eu não tenho o que
reclamar, sempre respondendo às perguntas, isso me deixou confortável, era
um bom profissional, só demorava”.
Em5_34 a 37: “Olha... acho que uns 15 (minutos), porque ele mexia na minha
barriga e fazia perguntas de como eu estava, explicava o mês que eu estava,
então, e às vezes, dependendo da situação, até me medicava, falava para mim
procurar fazer um ultrassom e tal, bem variado, bom, assim, no máximo…”
Em2_L9 a 11: “Eu vou na minha consulta também [...] um problema de mioma,
tenho um nódulo na tireoide.”
Em5_L26-7: “Só das gravidezes mesmo [...] nas gravidezes, fiz tudo
bonitinho...”
Em6_L14: “Eu vou no posto, quando precisa, não vou sempre” [...] “vou pra
passar ele, na pediatria.”
Em13_L11-12: “Eu faço os exames periódicos [...] Todos os exames que são
pedidos [...] não tomo nenhuma medicação.”
Em1_L145: [você tem problema cardíaco?] “Eu tive, fiz a cirurgia, né?”
Em1_L452 a 456: “Eu tenho muitas dores na coluna, eu tinha que esperar
passar no médico para começar a fazer os exercícios, mas eu não pude
esperar, porque eu sabia que eu precisava melhorar [...] a coluna meio que toca
RESULTADOS| 66
Em1_L470 a 473: “[...] estou esperando para ortopedista, [...] preciso definir
essas dores vasculares [...], da coluna, eu preciso ginecologista, que eu
estou esperando também, e eu estou esperando para fazer o exame para o …
eu preciso fazer exame para bursite, preciso fazer os exames do coração [...]
eu sou toda complicada, tenho muitas dores
aqui, no pulso, no braço todo, eu tive que ficar imobilizada uns dias.”
Em2_L31: “Meu mioma [...] vai ter o ultrassom [...] eu passei oito meses
menstruada direto [...]”
Em2_L34 a 37: “Por causa da troca de injeção, por causa do mioma [...] eu não
posso engravidar [...] já sou operada [...] tomo a injeção por causa do mioma
[...] deu errado e passei oito meses direto. Muito estresse, a pessoa fica muito
estressada, muito preocupada.”
Em2_L42 a 45: “Tenho um pouco de insônia [...] durmo e acordo, durmo, acordo
de novo [...] cuidando do meu outro filho mais velho, né? Porque eu tenho
preocupação com ele.”
Em3_86 a 88: “Eu tenho bronquite, diabetes e pressão alta [...] tenho asma.”
Em3_L249 a 251: “Eu sempre parece que quero ficar no controle da situação
como alguma coisa fugiu da minha situação eu fico me comendo, que foi no
caso cheguei do CAPS e o XXXX já não tava essas Coca-Cola.”
Em18_L107 a 115: “[...] estou tentando marcar um lugar para fazer a biópsia.
Que nem isso aqui, estou me tratando nas Clínicas, [...] eles falaram que não
tinha tanta urgência para me operar, porque [...] é benigno. [...] se dá para
esperar, eu espero, aí vou fazer o Papanicolau, posto me chamou, por causa
do útero, para ver se é benigno ou maligno...”,
Em18_L145 a 147: “Junta tudo, dinheiro, fumo 9 cigarros por dia, estou aqui
conversando com a senhora, mas eu estou doida pra sair lá fora e fumar. Sou
muito ansiosa.”
Em4_L38 a 43: (mãe) “É, sinto falta de ar. Tenho pressão alta e bronquite. Só
esses… e o remédio de calmante. Quando eu tomo ele é só para dormir.
Consigo nem se levantar… aí, esses dias, ‘ai, mãe, quero ir pra lá’, aí... nem
estou tomando…estou cuidando dele. Lá em casa é assim.”
Em11_13 a 16: “Tenho bronquite, eu não posso ficar muito nervosa, tô com
medo de infarto [...] não posso passar muito nervoso, eu sou muito nervosa, os
estresses deixou mais nervoso ainda, que eu tenho que cuidar de um, cuidar
de outro, cuidar de outro... Então, para mim é correria sozinha, então, eu não
cuido da minha saúde, aí, o que eu posso dizer que eu queria muito cuidar
da minha saúde [...] mas como eu tenho meu filho que assim agitado então
não dá.”
Em11_278 a 283: “A médica agora vai marcar uma consulta para mim... para
mim ver se dá um remédio para mim, controlado, igual do meu filho, para mim
tomar, para ver se eu tomo e durmo um pouco, para ficar calma, porque eu tô
passando muito nervoso, muito, muito, agitada.”
Em2_L12 a 14: “Tomo losartan, dois, todo dia, eu tomo dois e um para fazer
xixi que eu não sei o nome ainda não aprendi, aquele nome” [...] {É
hidroclorotiazida?} “É, é esse mesmo.”
antipsicóticos), e um tempo para si com amigas, com outras pessoas, pois para elas,
conversar produz saúde.
Em1_L22-24: “Corro pra lá, tem que sempre encaixar dentro da rotina, não
tem como fazer em qualquer lugar [...] Só encaixando com a rotina.”
Em4_L199 a 202: “Ela passou uns remédios para mim tomar para vozes, ainda
estou tomando esse remédio, é muita coisa, sono, aí, nessas correrias eu não
tomo esses remédios, estão lá em casa esses remédios [...] sinto tontura
quando tomo ele, aham!”
Em14_L2 a 5: “Ah, para mim me manter bem, eu tenho que distrair a minha
mente, ocupar com outras coisas, mas é difícil, não vai pensar que é fácil, não
é não [...] Eu procuro conversar mais com as pessoas, sabe... não me isolar
mais, porque no começo eu me isolava muito, mas é pior.”
Em1_L448 a 452: “Eu tenho que me cuidar por causa da falta de alguns
nutrientes, que é da carne, então, eu faço reposição de B12, agora eu estou
RESULTADOS| 69
bem desleixada, até faz alguns dias que eu não faço, me alimento bem, muita
fruta, muita verdura, começando a me exercitar em casa, porque não posso
fazer nenhuma atividade fora.”
Em1_L465 a 467: “Preciso fazer outros exames, do coração, estou curada, mas
eu tenho que estar sempre fazendo, para poder ver se está tudo bem, pelo
menos de 3 em 3 anos.”
Em13_L41 a 45: “[...] meu gasto funciona mais na feira, do que no mercado.
[...] seleciona mais as coisas da feira, do que do mercado [...] menos
industrializados [...] foca mais na fruta, do que em coisas industrializadas.”
Em13_L46 a 52: “A chia, a linhaça [...] farofa de ovo com linhaça [...] gordura
nada [...] Fritura eu não consigo nem comer mais, nem pastel na feira mais
[...] não consigo comer gordura, fritura… [...] está cortado [...] salada [...] muita
coisa leve. [...] gosto muito do peixe, mas é caríssimo o peixe, esta parte... mas,
aí, eu troco o preço da carne, pelo preço do peixe [...]”
Em13_L54 a 57: “E eu gosto do peixe mais simples, a sardinha [...] comer com
mais simplicidade [...] diminuir [...] montante [...] Aquele prato generoso não
existe mais [...] Mais qualidade e menos quantidade.”
Em13_L58 a 72: “Não como fritura há muito tempo, diminuí o açúcar... [...]
vendo o brigadeiro [...] mas eu não como. Dificilmente eu como. [...] para
experimentar, uma vez ou outra, mas eu quase que não como [...] nos lugares
[...] vou no iogurte [...] uma fruta [...] percebi que o segredo é não fumar, não
beber e andar [...] meu pai sempre almoçou, jantou, tomou café da tarde,
[...] faço isso [...] tomo café, almoço, lanche da tarde, jantar e tudo sempre
no mesmo horário. Tenho uma rotina, que é para o intestino estar
sempre... Pronto. Sempre naquela sequência [...] quem vive comigo tem que
viver assim.”
RESULTADOS| 70
Em13_L63 a 66: “Meu pai tem noventa e sete anos [...] longevidade... eu
percebi que o segredo é não fumar, não beber e andar, porque ele
entregava jornal. Então essa parte cardio dele é muito [...] boa.”
Em13_L78-80: “[...] almoçar em casa, [...] qualidade de vida [...] levo marmita
[...] a salada, o legume… ‘marmiteira’, tranquila.”
Em13_L88: “Porque eu tenho horário. Ele precisava do horário.” Em16_L55
a 57: “Eu tomo fluoxetina, Diazepam... o XXXX…. Aí, tomo
amiodarona para o Coração… aí, losartana, e tomo diurético
[hidroclorotiazida?] isso… e tomo de três em três meses injeção, pra não
menstruar.”
Em17_L3-4: “Me cuido muito mal, essa cirurgia que eu fiz [...] fiz uma ponte de
safena.”
Em17_L35-36: “Não, tem três meses, mas não estou 100%, não… ainda tem
os machucados na pele, faço curativos, tem essa aqui que tem que ficar presa
2… 3 meses. {a camisa elástica}”
Em17_L51 a 53: “Fumando menos, mas eu bebi... nossa [...] não está
cicatrizando, quando eu passo aqui… ainda dói, está doendo, por isso que eu
uso essa faixa.”
As mulheres referem não ter com quem “contar”, serem as únicas responsáveis
pela sustentabilidade da vida, da casa, faz com que se sintam inseguras, não
consigam fazer cuidados para sua saúde. Sobretudo, nos discursos aparecem o medo
de morrer e de familiares não conseguirem cuidar de seus filhos.
Em11_L10-11: “Minha saúde? [...] eu não cuido, né? Porque eu tenho que
cuidar de três crianças [...] meus três filhos. Eu moro sozinha, pago
aluguel, então para mim é bem difícil cuidar da minha saúde.”
Em5_167 a 172: “Encontrei outras mães, [...] contando umas histórias, algumas
que eu não me identificava, [...] minha filha estava um pouco mais evoluída, [...]
eu, nossa, realmente, minha filha passou por isso [...] lá fora não tem muitos
exemplos, não vou negar, tá, eu me identifico, é normal... é normal, não vou
falar lá fora, não tem muitos exemplos, sabe? Tipo, principalmente na minha
casa, não tem muitos exemplos, você não tem muita informação, daí, chega
aqui, eu sou tipo… sou mais uma.”
Outro aspecto abordado nos discursos, retrata o CAPSij como Apoio Técnico
e Afetivo, reconhece a importância do serviço e a diferença que produz no cotidiano
como apoio técnico e afetivo. Em diversos grupos terapêuticos com crianças
pequenas, o número de técnicos é aproximadamente de um
técnico/terapeuta/trabalhador para “uma criança”, “um para um”, produzindo sensação
de tranquilidade, como exposto em frase temática a seguir.
Em1_L200 a 203: “No CAPS, eu sei que tem mais profissional do que
menino, praticamente, entende, são quatro profissionais, seis meninos, vai
uma média assim, tipo, eles estão bem amparados, bem amparados [...],
eles estão bem cuidados, eu fico bem tranquila”
Em4_L167-168: “O XXXX não pode sair do CAPS, não pode, e ele tem que
estar lá, porque não tem outra solução.”
Em5_248 a 249: “Bom, eu não sei dizer como estão as atividades, como são
as atividades daqui, então, eu não questiono, confio.”
Em18_L60 a 66: “Eu estou falando, se não fosse aqui!? Acho que não sei
o que seria não {e eles ajudaram?} De tudo, até comida, [...] muito bom
essas reuniões [...] enquanto as crianças saem com as cuidadoras [...] as
mães ficam conversando entre nós, umas com as outras, uma falando
como que o filho tá, como o filho não tá… o que uma faz, a outra fala não…
mas a minha filha lá, também ficou assim, agora ela cresceu, ela melhorou… o
grupo de família é bom, é importante [...] A gente fica num desespero tipo,
será que essa fase dela nunca vai passar? A outra… ‘passa sim, a minha tá
melhor e era pior que ela’ [...] isso ajuda, a gente vai para casa mais tranquila,
que eu já tenho comigo que só a mão de Deus, como que vai ser?”
Em4_L161: (avó) “Eu espero que sim, porque aqui eu me sinto como que se
eu estou em casa.”
Em6_L88-89: “Eles ajudam, sim, com atendimento com ele, com remédio, no
desenvolvimento, bastante.”
RESULTADOS| 73
Em6_L85-86: “Porque seria melhor, se ele passasse com fono [...], porque ele
não fala.”
Em17_L152 a 155: “Mas é que é ruim aqui porque não é individual, lógico que
o grupinho é importante, mas ela deveria ter algo individual, uma fono
individual.”
Em4_L155-156: “As meninas daqui, elas vão lá na minha casa. Duas vezes
elas iam, elas iam uma vez por semana, agora elas não vão, mas normal,
essa epidemia.”
Em5_249 a 253: “Então, eu acredito que nessa pandemia, eu queria que eles
fossem mais presentes para essas pessoas em casa, visitassem mais,
tentassem ser mais presentes. No início eles foram, até que eles me
ajudaram com uma cesta básica, ajudou muito, mas agora a pandemia
foi… os comércios foram abrindo, as coisas estão normalizando, não é
que está nada normal.”
Em5_254 a 263: “Sim e por exemplo, eu não posso ficar trazendo ela aqui, e
as mães não podem trazer as crianças para cá, só que acredito que a
pandemia, eu acredito que, principalmente para uma autista, muda muita
coisa.”.
Em5_266 a 271: “Eu acho que o CAPS precisava ter mais um pouco de
assistência para as mães em casa, porque… como eu disse, eu ainda sou
privilegiada por conta do pai, imagina as crianças que nem isso tem, é isso, só
minha questão, ser mais presente com as mães em casa, mas enquanto eu
frequentava aqui, que eu trazia ela aqui, eu não… todas minhas perguntas
eram respondidas, se a gente... sempre que eu precisei deles, eles me
ajudavam, não tenho o que reclamar.”
Em5_273 a 276: “Só uma vez, na sexta, e não foi nenhuma visita, né. A moça
só foi no portão da minha casa, então não foi, eles me ligavam, tinha…
acho que era uma vez por semana, eles ligavam e perguntavam como está
ela, aí, uma vez parou, até que pai dela até questionou, o CAPS não ligou
mais? Não.”
Em5_283 a 285: “Uma atividade do CAPS que poderia ajudar nessas coisas,
eu acho bem importante, ou só do tipo, olha… ela tá estressada, o que eu
posso fazer? O que eu posso fazer para acalmar?”
acho que não… Ah, às vezes, acho que eles ligam. É, de vez em quando
ela liga, quando ela precisa de alguma coisa, ela liga. Agora que o CAPS
agora, só no próximo ano.”
Em2_L185: “Aqui foi tudo bom, desde que eu entrei nas lutas.” Em2_L189:
“Fazem muitas coisas da paz, espairecer a mente dele aqui.”
Em3_L9-10: “Pelo menos ele não se corta mais, né? Não fala tanto em morte.”
Em10_L71-72: “Ele veio para cá para fazer as terapias, também, foi um divisor
de águas, foi das melhores coisas que aconteceu.”
Em10_76 a 78: “Ajudou bastante, hoje ele se socializa, ele fala, e ele está
bem pra caramba, está na escola, ele tem as dificuldades dele, tem os dias
dele, mas ele está super bem.”
Em11_32 a 34: “Tão bonzinho, eles ajudam a gente, tudo que a gente precisa
eles ajuda, nunca fala que não. Eu gosto do atendimento daqui muito. é isso
que me ajuda aqui bastante.”
Em14_L65-66: “Mas aqui era bom, ele cansava mais, sabe, ele interagia mais,
outros lugares... então acalmava ele um pouco.”
Em17_L152: “Eu acho que aqui ajuda entendeu, até porque tem crianças,
ajuda.”
(mãe) “Não, não está melhor. Cada dia que ele está crescendo, ele está ficando
pior, quando ele chega aqui ele está calmo, quando ele chega em casa, ele
quer agredir a gente. Esses dias ele agrediu. Olha, eu estou todo machucada.”
RESULTADOS| 75
Em4_L94 a 97: (avó) “Então, e o que eu mais quero é isso, não tem o que falar,
e estou sempre no CAPS, porque os remédio que dá não tá adiantando
nada, não está fazendo nada, os remédio que dá não está adiantando
nada, mas eu não posso porque é a única coisa que eu tenho para pedir
socorro.”
Em11_27 a 31: “Porque eu queria que melhorasse aqui, né? Que os médicos...
que os médicos que já acompanhavam nós, ficassem aqui, né? Mas alguns
estão saindo, tá entrando outros novos, então, eu queria que melhorasse
isso.”
Em18_L171 a 173: “Estou um pouco mais tranquila vou ser sincera, por causa
aqui do CAPS … Tentando, mas ela tomou um remédio desde cinco anos e ela
tá com 13, eu acredito que o remédio já não dá mais...”
Em1_L72 a 80: “Ele era pequenininho,[...] eu trabalhava [...] casada [...] tinha
convênio ele fez diversos exames [...] lembro do médico [...] ‘você vai fazer
todos os exames, se todos esses exames derem ok, que ele tá bem nos
exames, é porque ele é autista mesmo’. [...] Fizemos vários exames, ficamos
bastante tempo nessa de... se tinha, se não tinha, se tinha, se não tinha, e
aí... logo que eu peguei o diagnóstico, [...] consegui a vaga pra ele na AMA,
Associação dos Autistas.”
Em1_L126 a 135: “Na minha família todo mundo já tinha percebido [...] meu
irmão já tinha percebido... ele conhecia crianças com autismo na situação onde
ele morava, [...] ‘ o XXXX enfileirando... peraí, que vou tirar o óculos’,
enfileirando, fazendo aquelas coisas clássicas [...] de autismo, e eu não fazia
ideia, só um traço, [...] minha irmã viu também, ela é da área da saúde, ‘olha,
acho que está diferente’, aí, quando eu... magina... aí, quando eu peguei a lista
do diagnóstico, a lista de sintomas na internet, aí, me caiu... era autista, não
tinha como (choro).”
Em5_L147 a 152: “[...] aí, apareceu uma menininha na idade dela, assim, as
duas pegaram uns pregadores, sentaram uma de costas pra outra e começou
a brincar, a gente ficou, ‘nossa’, com a família, ‘que engraçado’… ‘elas foram
brincar da mesma coisa, mas não juntas’ e aí, a vó dela e a mãe dessa
menina vieram conversar comigo, aí, ah, o que ela faz? Ela ama mexer na
terra... a XXXXX, ‘ah, a minha filha também’... ‘ela gosta de fazer isso’ … ‘ah,
minha filha é autista’... e eu [...] comecei a desconfiar, [...] eu e o pai dela
começamos a pesquisar e a ficar desconfiados, foi então, quando uma
psicóloga...”
Em18_30 a 43: “Na época que ela nasceu, eu trabalhava em casa de família
[...] chegava tarde, ela já estava dormindo, foi crescendo, [...] falava, de repente
parou de falar, começou com essa agressividade, aí, eu via que ela pegava
alicate de unha, puxava a unha assim [...] ‘não tá doendo?’”
Em5_L165 e 166: "Fizeram uma reunião e mandaram vim aqui para o CAPS, e
aí, eu conheci o pessoal do CAPS…”
Em11_L21 a 23: “Comecei descobrir que ele tem esse probleminha, essa
agitação, toda, toda hora a escola ligava para mim, ‘ai, seu filho não está me
dando paz’, pulava portão, batia nas crianças.”
Em18_L164 a 169: “Ela tinha dois para três anos... e o diagnóstico dela
recebi com cinco anos, que ela começou a mudar… Ela começou a falar,
depois foi parando, bloqueio de falar, foi a creche que falou: ‘BBBB (diz seu
nome), XXXX é diferente’… Falei: ‘é diferente como?’ ‘Ela tem autismo,
leva ela no médico, sua filha tem um problema’, ela ficava lá no meio, não
brincava com as outras crianças, as crianças chegavam perto dela e ela batia.”
Em1_L89 a 94: “[...] Coloquei ele numa creche, ele me falava (o pai),
queria uma escolinha, aí, eu coloquei ele numa escolinha, [...] levei ele
na época do convênio [...] e a profe, ‘mãe, fica tranquila, ele só é
pequenininho ainda’... [...] falei: ‘ele não fala nada’, ‘mas ele tá
soltando ma ma mã... ele vai falar’, ‘mas ele não fala’ , ... ‘fica
tranquila… fica tranquila’, foi pior pra gente, porque a gente não
pode prevenir... coloquei ele numa escolinha, e aí, eu percebi a
gravidade do problema quando eu vi o grupo de pequenininhos,
porque eu não tive criança no meu convívio, quando criança, eu sou a
última criança, eu e minha irmã, o resto todos mais velhos, então, não
acompanhei desenvolvimento na época de criança, [...] ver meu filho,
pra mim ele tava no desenvolvimento... desenvolvimento errado.”
Em2_L130 a 133: “Se você olhar para ele, não parece que ele tem nada, [...]
se ficar alguns minutos, [...] ele começa com uns jogado de braço e agora
aumentou porque trocou um remédio, [...] o doutor disse [...] paciência, que
tem um "colateral.”
Em10_L66-67: “No fundo, eu já sabia que ele tinha um problema [...] tempo [...]
passando, e [...] avaliando, tratando e demorou para [...] diagnóstico, [...] não
deu o diagnóstico [...] de cara… demorou uns dois anos para ele falar, ‘eu
acho que é alguma coisa.’”
RESULTADOS| 79
Em18_L35 a 37: “Ficava muito tempo assim parada brincando, parece que
paralisava, coisa de dois minutinhos, aí, foi frequente, então levei no
Mandaqui (Hospital Psiquiátrico): ‘Sua filha tem Autismo’. ‘O que é isso,
autismo?’ Aí, foi explicando, e corri pra cá [...] foi quando ela começou a
frequentar aqui. [...]
Em18_L151 a 163: “Médica vinha toda hora com aquela coisa de sugar, aspirar
[...] uma outra veio, ‘ela é muito nova, você está toda hora na menina’, no que
ela fechou a boca, a crise da XXXX não parava, a equipe já pegou aquele
botijão de gás, já levou ela [...] depois de uma hora vieram me chamar,
entubaram essa menina, depois de 15 dias que tiraram [...] deu alta de um dia
para o outro, a XXXX chegava em casa assim {olha pra cima} [...] acho que a
XXXX não está reconhecendo a gente não, a menina totalmente vaga [...]
o médico explicou, [...] mexeu com o cérebro dela, aí... eu ia ter lá cabeça
de processar ninguém, né? Eu queria ver minha filha bem, né? Sei lá, você
larga a criança para o hospital e sai com um problema pior ainda.”
Em1_L 207 a 217: “Estou bem emotiva em relação a isso [...] O problema não
é o diagnóstico, o diagnóstico é muito triste, saber de uma série de coisas que
o autismo roubou do meu filho, e que por mais que eu tente recuperar, a mãe
vira uma eterna terapeuta, eu aprendi uma série de coisas, eu fiz a minha
graduação é em Pedagogia para poder me especializar, eu fiz o estágio na
escola dele por dois anos, então[...], mãe não tem que ser terapeuta, mãe não
tem que ser profissional, mãe é mãe, mas eu sou profissional com meu filho,
em casa. Boa parte do que ele aprende, boa parte do que ele é, tudo isso é um
treino constante que eu faço com ele, que essa ... (oportunidade? inaudível),
RESULTADOS| 80
para que ele tenha uma vida com qualidade, no máximo que eu posso
oferecer.”
Em3_L286 a 287: “Eu agoniada, mas tava preocupada com o XXXX, dele
surtar a qualquer momento.”
Em3_L305 a 307: “Aí, só que ele lá embaixo ele colocou o fone no ouvido fica
escondido de todo mundo. Falei: ‘agora o ZZZZZ vai surtar.’”
Em3_L374 a 377: “Antes por causa do XXXX, para lidar melhor com a crise
dele, porque eu só chorava, é ver meu filho cortado e já me dava desespero,
vou perder meu filho, aí, chorava, chorava, né? E sofria muito de ver ele
sofrendo e não saber mais o que fazer para ajudá-lo.”
Em3_382 a 383: “Já chorei muito abraçada com meu filho nos meus
braços, já vi meu filho sangrando e meu marido até tirar, eu até limpar os
braços dele, ele passou no pescoço também, eu falo para ele que ele já é um
vitorioso desde a hora que ele nasceu, porque eu tive diabetes gestacional, né?
Eu me internei na Cachoeirinha até ele nascer com oito meses.”
Em3_L464 a 469: Então, os 15 anos, a gente ficou ao lado dele a noite inteira,
que realmente ele cortou todo o braço mesmo, deu meia-noite eu falei
para o guardinha, eu estava conversando com ele, ‘meu filho tá fazendo 15
anos aqui na maca, meu Deus, por que isso?’ A noite inteira sem dormir, ele
acordou meio sonolento procurando assim, ‘mãe’… ‘a mãe tá aqui, pode
dormir que tô aqui.’ Sabe? Ali do lado dele o tempo todo.”
Em3_L456-457: “Você ver sangue toda hora toda hora na cozinha, e correr
com ele.”
Em4_L108 a 110: (avó): “Como o XXXX ele foge de casa, do nada, uma porta
aberta, do nada ele vaza, começa a falar, dia e noite, é muito ruim, a gente
não sabe o que faz.”
Em5_L57/58: “Eu já não sei diferenciar o que que é uma crise, o que é
manha, você tem uma criança manhosa, a parte mais automática é você
repreender.”
Em5_L59 a 61: “Uma criança autista, você está reprimindo, e parece que
ela tem um bloqueio, que ela não entende que você tá repreendendo.”
Em4_L24 a 26: “Porque não é fácil cuidar dele, porque ele é um pouco violento,
ele já está grande, ele quer ir para a rua, e é muito difícil.”
RESULTADOS| 81
Em4_L50 a 52: (mãe) “Eu vou para cima também, eu não vou deixar acabar
com todas nós. Eu não vou deixar. Mas ele está mais forte que a gente. Até
engordei. Ó lá... toda machucada.”
Em4_L54 a 60: (mãe) “Na sexta quando eu saí daqui mesmo, ele já me agrediu,
olha aqui a cicatriz, e foi para cima dela. Aí, os vizinhos já no portão, porque eu
fui para cima dele, falou que vai chamar o conselho, falou que não pode bater,
então, ele pode bater na gente, e a gente não pode bater… e se a polícia vai
vim, vai prender nós, aí, a gente evita bater, eu não vou deixar, quando chega,
aí, eu não deixo [...] A gente não quer bater, mas ele pouco… ele pega eu…
fica muito agitado.”
Em4_L64-65: (avó) “Coisa de óbito, parece que ele não entende a gente mais,
não é fácil, está muito difícil, me atira até faca, deixa a gente até sem força.”
Em4_L61 a 63: (avó) “Ele está andando dentro de lugar que ele não pode… ele
está andando dentro das ‘boca’, eu já fui intimada com os PCC de lá, entendeu?
Ele não para, é preciso mudar, o pessoal já veio conversar comigo.”
Em18_L70 a 78: “Eu tô com medo, eu tenho medo, [...] ela tá crescendo [...] eu
vim pedir para o médico se não passa algum remédio para tomar de dia, porque
ela começa a agredir a gente, grita, os morador vem, ‘que tá acontecendo com
a XXXX?’ Ela fica assim, batendo nela mesma, daqui a pouco dá aquela crise
de choro nela, aí, passa [...] Só dentro de casa, não dá pra sair com ela, que
nem agora pra tirar ela do carro aqui, do carro que foi buscar, foi muito difícil
para tirar ela de dentro do carro.”
Em18_L81 a 87: “O córrego é de ponta a ponta na [...] que eu moro, não tem
como sair com ela, às vezes, ela corre [...] tem que ficar pedindo, gritando para
os outros pegar, para segurar, se vai sair com ela na viela, você tem que ficar
de frente dela rodeando, [...] uma vez, ela deu um tapa em um senhor, o senhor
passou mal [...] tinha problema de pressão alta, [...] ela tem muita força, um
tapa dela dói muito.”
Em4_L88-89: (mãe) “Nada ele gosta, nada ele quer, ele só gosta... só quer
fazer o que ele quer, e aí, a gente não pode deixar, fazer o que ele quer… e
logo ele surta.”
Em5_L61/62: “Então, você acaba tipo... eu devo orientá-la? Mas eu não sei
RESULTADOS| 82
se ela tá se orientando.”
Em5_L63 a 65: “Eu li uma vez que os autistas, então, que é o caso dela, eles
se estressam e quando eles vão se deitar, eles têm … todo aquele movimento
que é agitado durante a noite.”
Em5_L65/66: “Ela tem uma noite muito chata, então, ela grita, ela chora, ela
fala, ela quer andar, pular na minha cama, mesmo deixando tudo no escuro
[...]”
Em9_L33 a 35: “O XXXX ele é assim, ele é calmo, não vou falar que ele é uma
criança agitada, nervosa… ele já foi muito agitado.”
Em9_L35 a 38: “O XXXX quando entrou aqui era uma criança complicada, não
dava para sair com ele nem para o supermercado, ele queria quebrar tudo, hoje
não, hoje o XXXX tá mais calmo, às vezes ele fica o dia todo... mãe,
mãe...mãe, mãe…ele fica e me enerva.”
Em10_54 a 58: “Quando ele começou a andar, [...] fez um ano e meio [...]
mudou da água para o vinho [...] desconheci meu filho [...] nesse momento foi
difícil [...] você não sabe o que tem, [...] não dormia, só chorava, só gritava,
batia, se batia o tempo inteiro, no começo foi muito difícil [...] passado pelo
médico [...] neurologista.”
Em10_60 a 64: “Foi quando ele começou a ficar muito agitado, que eu vi que
tinha alguma coisa estranha, né?… passou a não dormir à noite, uma criança
que dormia desde recém-nascido a noite inteira, passou a não dormir à noite,
ele passou a não querer estar com as pessoas e não gostava de ser tocado, e
eu falei: ‘não, tem alguma coisa errada.’”
Em10_L141 a 143: “Ele não ficava com ninguém, e eu, eu que sou a mãe,
eu perdia a paciência com ele, né? Ficava imaginando outra pessoa
cuidando dele.”
Em17_L22-23: “Eu termino xingando ela, batendo {ela chora muito}, quero
que ela faça as coisas, mas ela não faz nada, entende?”
Em18_L1 a 4: “Ela não deixa cortar unha em casa [...] cortar unha, cabelo,
queria ver se ela vinha para cá, [...] está começando a ter crise, [...] deu para
quebrar os vidros dentro de casa, vou ter que mandar quebrar tudo os
RESULTADOS| 83
Em18_L43-44: “Que nem lá em casa, fazendo comida, ela põe a mão nas
panelas, põe no fogão.”
Em18_L45 a 47: “Porque antes, ela tomava banho, agora para pôr no
banheiro, tem que empurrar, ligar o chuveiro, enfiar com roupa e tudo, e
ir tirando a roupa dela… e lá em casa é só eu, ela e minha filha de 22 anos.”
Em18_L136 a 139: “Ela toma três risperidonas para dormir, que é para o
autismo [...] para dar, tem que fazer o Tang normal [...] aí, eu ponho os três
remédios, amasso e dou pra ela tomar.”
Em1_L104 a 110: “A família dele, do pai, a gente travou uma guerra, eles
falavam que eu estava louca, inventei doença, [...] o pai dele chegou a me
ameaçar logo, que ia tirar meu filho [...] porque eu tava inventando, ‘isso não
existe.’ A falta de informação! [...] lembro que uma vez que o avô falou para
mim: [...] ‘você tá inventando isso pra ele, se ele tivesse isso que você está
falando, dava pra ver na cara’. Confundindo com Síndrome de Down.”
Em1 L111_112: “Eu tive que travar uma briga e foi tão desgastante, não
cheguei a viver o luto do filho perfeito, acho que estou vivendo isso hoje.”
Em5_156 a 163: “Foi tipo... o que que é autismo? [...] caraca, o que que vai ser,
o que minha filha vai ser tipo… como? E aí? [...] minha família também teve um
choque [...] minha irmã mais velha como muito claro, é quase uma mãe pra
mim, ela, daí, falou, era de se desconfiar, né? E aí, a gente já estava meio que
se acostumando por falta, dos atrasos dela, mas foi difícil, ainda mais quando
vem uma profissional, olhar para teus olhos e falar, olha, ao que me parece é
um espectro autista, aí, você fica tipo... eu não sabia nem o que falar, eu saí do
posto quieta e o pai dela, tipo… ‘e aí? Você não vai falar nada?’ e eu não sei o
que que eu falo! foi bem...”
Em5_242 a 244: “Eu não vou falar pra você, há um preconceito, na minha casa
todo mundo fala assim, ah… aqui, não sei o que… ah… não, não há um
preconceito na minha casa, também não há na família dele, do pai dela, mas...
é diferente, as crianças ser… como dizer, ah... típicas outras são as atípicas e
tal e aí você é uma criança diferente, eu não me sinto assim tão abraçada
RESULTADOS| 84
Em6_L45-49: “Pra mim assim, ele tem esse problema dele, mas eu não vejo
problema nele, nem em mim [...] tem pessoas que não tem braços, nem pernas,
não enxergam queriam estar no lugar dele, no meu, então não tenho problema,
sou feliz, durmo feliz, acordo feliz, sou feliz o dia todo, eu sou assim [...] não
tenho problema nenhum.”
Em6_L95: “Tem dificuldades, sim, mas eu consigo levar uma vida normal.”
Em6_97-98: “Não tô nem aí, nem um pouquinho mesmo, não é fingimento, não
é nada, continuo no salto.”
Em6_114-115: “Eu acho que eu tenho que estar melhor do que ele, pra poder
passar o que eu tenho de melhor.”
Em6_117-118: “Então vou fazer o que posso, vou dá o meu melhor pra eles.”
Em13_L209-210: “Porque eu não achava que seria assim ‘ah, não ele não vai
falar.’”
Em8_L25 a 30: “Porque a sociedade não sabe lidar com isso. As pessoas
dizem que você não dá educação. Eles acham que é birra. A sociedade acha
que é birra, que não tem educação. E não é bem assim, o que é birra, o que é
autismo, entendeu? [...] ela dá risada, você é que tem que saber lidar com a
sociedade, muitas mães aqui no CAPS, elas não conseguem lidar com eles.”
Em8_L31 a 35: “Eles não podem fazer o que eles querem, e nem a sociedade
quer, você tem que aprender a lidar com os dois, com eles e com a sociedade,
a sociedade não quer dar espaço pra eles, mas eles também não seguem a
RESULTADOS| 85
Em18_L82 a 87: “Quando ela mais nova quando vinha pro CAPS, fazia as
danação dela dentro do ônibus, acho que a teimosia, ‘ah... moço desculpa…’
Remédio da minha filha, os pais brincando com os filhos na praça… sangue…
não fica assim no meio da rua não, se tiver assim no meio da rua, eu te
arrebento. [...] ele também nunca viu uma pessoa com autismo?”
Em1_L21 a 24: “Corro pra lá, tem que sempre encaixar dentro da rotina, não
tem como fazer em qualquer lugar [...] Só encaixando com a rotina. [o tempo
todo? então, é primeiro ele e depois você?] O tempo todo. Sempre. Só o que
dá, sobra do tempo, de acordo com rotina dele.”
Em3_L448-449: “Aí, eu não aguentava ficar lá, meu marido... ‘quer trocar?’
eu, ‘não, você tem que trabalhar de manhã’, aí, 30 dias assim.”
Em3_L274-275: “Tinha que ter sempre alguém para mim tomar banho,
minha menina ou ele para alguém tá vigiando o menino.”
Em3_L449 a 461: “Quando eu via que ele punha o pé para levantar eu também
levantava [...] ligada no telefone, o pai dele ligava, e aí, XXXX? Tá aqui no
computador, ele abaixava a cabeça… ou quando ele começava a colocar no
último volume aquela música de depressão, alguma coisa a gente [...] que fazer
com ele… que tirou apontador do meu lápis de olho para se cortar [...] tudo [...]
uma tortura aquilo ficou na minha mente [...] você ver sangue toda hora toda
hora na cozinha, e correr com ele [...] ele falou: “quando eu fizer 15 anos
eu vou morrer, vou me matar.”.
Em3_L465 a 468: “Minha filha tinha ido viajar com a minha sogra, passou o
Natal comigo, mas no Ano (Novo) viajaram, a gente poderia ter ido não
fomos, ficou eu e o pai dele sentados no quintal, coisando um churrasco,
aí... XXXX vem comer com o pai! ‘Não quero’ [...]”
RESULTADOS| 86
Em4_L98 a 101: (avó) “Assim, também, ela, a YYYY (Mãe), ela também tem
problema, então, ela não tem muita paciência, então, assim, eu tenho que
cuidar dele, tenho que cuidar dela... tenho que cuidar da filha, então fica
tudo para mim, eu fico sozinha, na verdade é tudo mais eu.”
Em4_L102 a 108: (avó) “Eu me cuido por último porque… eu cuido de mim,
mas o que eu cuido de mim não está dando conta… não está dando conta
dos cuidados. Porque para eu ter um bom cuidado, eu tinha que ter um bom
assim, ficar de boa, ficar sem ficar essa pressão… hoje já passou, graças a
deus tá tudo bem, aí, eu fico e amanhã? Como vai ser o dia? [...] Sempre
preocupada. Eu já deito preocupada naquilo, já deito preocupada naquilo.”
Em4_L111 a 115: (avó) “Já conhecem, ela tem XX anos, eu comecei a cuidar
dela... ela tinha dez anos, está entendendo? Criei ela, criei a irmã dela, criei
a filha, agora estou com o filho… E de todos eles deu trabalho, mas todos,
mais é ele, porque ele se informa muito rápido das coisas.”
Em4_L147 a 1521: (avó) “Lá no começo, que ela (a mãe) me dava muito
trabalho, eu fiz um tratamento de psicólogo, inclusive eu descobri o problema
dela, porque a gente brigava muito, eu e elas, por causa das coisas que elas
faziam e eu não gostava, e eu trabalhava, não tinha tempo de cuidar direito e
eu queria saber, por que que elas eram assim? Eu explicava uma coisa, elas
faziam outra. Aí, eu tive que passar no psicólogo.”
Em5_51 a 53: “Em geral? É bem estressante, muito complicado, porque, ah,
tipo, [...] nós, mães, temos aquela coisa, tem que saber o que você fazer,
porque é seu filho e eu não sei o que fazer”.
Em5_55 a 57: “[...] sobre ter alguém pra ficar com ela, isso muda bastante, mas
ter uma criança com... uma neuro típica é complicado, muito difícil, muito
estressante, assim, você não sabe o que fazer.”
Em5_66 a 69: “Ela tem uma noite muito chata, então, ela grita, ela chora, ela
fala, ela quer andar, pular na minha cama, mesmo deixando tudo no escuro,
isso acaba me atrapalhando quando a gente vai dormir, isso acaba
atrapalhando quem quer dormir, porque moro no mesmo quintal com minha
família.”
Em9_L31-32: “Quando ele dorme à noite eu descanso… fica todo dia… ‘mãe,
mãe, mãe’... é complicado.”
Em3_L17 a 19: “Ele mesmo falou que mexeu em alguma coisa computador
parou de novo e que ele é um lixo que ele só faz merda, e começa querer voltar
aquelas conversas que ele falava sempre, até falei para ele: ‘você não é isso,
acidente acontece, todo mundo erra.’”
Em4_L90 a 93: (mãe) “Muito ruim. Muito ruim porque a primeira vez que
levaram ele, a SAMU, eu estou doente desde esse dia, elas me ajudaram,
dor no peito, na cabeça, e eu fico pensando naquele dia que eu vi levando
ele, o que será de mim, sem ele?”
Em4_L186-187: “É meu filho né. É difícil. [...] Não é porque ele quer, né?”
Em5_53 a 54: “E, sobre eu cuidar da saúde, assim, eu não vou dizer que
minha filha me atrapalhou muito, isso seria mentira, porque eu lembro que
eu cheguei a me cuidar, cheguei a fazer Papanicolau, essas coisas, e mesmo
com ela nascida [...]”
Em7_L3 a 6: “O XXXX é assim... chegou em uma época que ele não é aquele
menino agressivo. Ele é um menino que não dá muito trabalho. Ele é uma
pessoa simples, uma pessoa calma, sabe? Só na hora que precisa dar o
remedinho dele que, se está tudo controlado ele fica calmo.”
Em9_79 a 83: “O XXXX, eu acredito que lá pelos 14, ele vai estar bem
melhor. É porque o XXXX corresponde, eu trabalho a mente do XXXX um
pouco. Comprei o jogo da memória para jogar com ele, e ele tá… (inaudível)
eu comprei giz para ele riscar o chão… fazer educação física, eu acho que o
XXXX até tá indo! agora a psicóloga e a fono, estão paradas.”
Em9_L88 a 98: “É que às vezes eu acho que as mães são tão complicadas.
Uma vez eu falei: ‘aqui... eu não trato o XXXX como um autista.’ Eu não…
não vou poupar ele, ah, ele é autista e eu vou ter que poupar ele… não. Eu
trato ele como todo mundo [...] se precisar ele levar uma bronca, ele leva,
se precisar castigo ele fica de castigo. Eu não vou poupar ele. Eu lavo a
louça, ele seca. (inaudível)... se tratar como um autista, ele vai ficar
incapacitado [...] quando estão tratando como autista, estão
incapacitando de fazer as coisas, eu falo para as minhas irmãs, olha... ele é
autista, mas ele não é deficiente. Capazes eles são. E ele faz tudo muito bem.”
Em10_107 a 109: “Eu fiquei brava. Eu fiquei brava, porque é um direito, é válido
para todos, independente… você tem que tá preparada. E aí, eu falei: ‘não,
ele vai ficar, vocês têm que estar preparados para isso’. E aí, o bati pé {na
Escola}”
RESULTADOS| 88
Em18_99 a 101: “Como que eu vou fazer isso com a XXXX? Eu não me
imagino sem a XXXX, um minuto! Só na morte.”
Em5_72 a 76: “Eu não vou mentir, há uma decepção, porque você vê outras
crianças, e nossa e minha filha não vai... não chegou nisso, por outro lado, de
todas as decepções que eu tive, as pequenas vitórias já me deixam felizes,
então, ah... ela fez uma coisinha, e tudo bem… (inaudível), ela fez... então isso
me deixa feliz, então, esses seriam os meus sentimentos e acho que é isso [...]”
Em17_L140 a 141: “Quando ela tinha três anos era pior. Eu estava a ponto de
enlouquecer, eu trabalhava, quando ela era pequena, quando ela era
menorzinha eu trabalhava … eu saia chorando para não ter que ir para casa,
aí… minha patroa falava: ‘como assim? A gente quer ir para casa!’ Eu não
aguento mais, não quero mais. Eu não tinha prazer.”
Em3_L379-380: “Tenho medo ainda das ações dele, do que se passa dentro
da cabeça dele.”
Em6_27-30: “Eu sou bem tratada, eu e meus filhos, porque eu acho assim, a
pessoa pobre não precisa entrar no lugar malvestido, né? Então, procuro
sempre vestir bem ele, meus filhos, eu ando bem-vestida, meus filhos e
as pessoas estando assim, as pessoas tratam bem, muito bem, pelo
menos no meu caso.”
Em6_L35: “Por racismo não, só devido o problema que ele tem autismo.”
Em7_L114 a 117: “Não. Jamais. É... sempre tem um, né? Sempre tem um
que às vezes fala umas besteiras, mas a gente escuta por aqui e sai lá.
Então a gente esquece. Mas o XXXX nunca foi uma pessoa que veio da
tristeza não. Ele sempre deu alegria, é joia rara da gente.”
Em6_L42 a 44: “Eles não vão me ajudar em nada, eu olhando que está com
preconceito do autismo eu não ligo, não ligo mesmo, não é fingimento, eu
não ligo de verdade.”
Em7_L121-122: “São dois filhos, dois morenos e dois brancos. O que faleceu
era a minha cor e ele já puxou o pai, mais branquinho, igual a outra menina.”
Em11_L152 a 155: “Xingou, falou assim... que eu era uma desocupada, que eu
não tinha o que fazer, ficar andando com uma criança daquele jeito, eu tinha
que ficar cuidando dele dentro de casa, falei: ‘mas eu precisava sair, foi um dia
que eu vim para cá {CAPS}.”
A partir das frases temáticas, pode-se dizer que um local onde a discriminação
ocorre, está relacionada a ambientes escolares.
Em14_L11 a 19: “Quando ele estava na EMEI, ele sofria bullying, e ele entendia
isso. Então, ele se tornou agressivo, e tentava, sabe… agredir, e chorava na
sala, e era bullying, e tinha o estrabismo no olho dele, e ele tinha muito bullying
na sala, e aí, ele descontava nele mesmo, ele se autoagredia, ele gritava muito
[...] olho dele é mais alinhado, era bem tortinho, quando ele sofria bullying,
sabe, era dele se estressar ou me bater, descontava nele mesmo, ele se
autoagredia dentro da sala, ele fazia, ficava muito nervoso, gritava muito,
chorava muito.”
Em14_L21-22: “Era por isso, até hoje, se ele se exclui, ele desconta nele
mesmo, ele não sabe se controlar as emoções dele.”
Em6_L77-78: “Eu não vejo isso, mas um dia pode acontecer. Mas não vejo,
né? Não sei porque ”
Outro tema identificado nos discursos, abordam seis subtemas, tais como: o
Apoio familiar; as amigas como apoio afetivo, apoio com limite; participação do pai das
crianças/adolescentes; os homens, a masculinidade e o machismo; cuidado dos filhos
sem apoio.
Em5_220 a 223: “Sim, são um quintal de três casas, com meu quatro, é…
RESULTADOS| 91
meu pai e o cantinho dele, ele tá solteiro, eu e as duas, e o pai delas que a
gente acabou se divorciando, ah, separou, mais… e a minha irmã mais velha
com os três filhos dela e o noivo dela, e minha irmã do meio com as duas filhas
dela, só os três”.
Em5_L228 a 232: “Tipo, ah, ele… ah, a minha filha é autista, ele, sei lá… sem
aquele preconceito de opinião, não. Assim como ele abraçou bastante a
causa, ele cuida bem dela, ele tem, tipo, ah, não, ela está estressada é por
causa disso, ‘ah, fala para o pai o que você quer’, entendeu? Um pouco ele
abraça mais, tanto que… quando minha filha mais nova vai pra cima dela,
ele defende ela, porque sabe que…”
Em14_L69: “A minha mãe, o pai dele não liga, não... o pai dele tem dois filhos
autistas.”
Em10_L167 a 169: “É que minha irmã trabalha, né? Mas nos finais de
semana, ela... se precisar, ela fica com ele, mamãe também, consigo
contar com eles sim.”
Em9_30-31: “Às vezes, eu converso com alguma colega, mas não dá nem
tempo, nem sempre dá… porque o XXXX me ocupa! 24 horas!”
Em10_L160-161: “Ah, amiga, dorme aqui em casa. Vamos, vamos não sei
aonde, as minhas amigas ajudaram bastante.”
a escola.”
Em5_235 a 237: “Então, assim, tipo assim, falta de pessoas não tem, posso
não ter uma pessoa ali, ah vou trabalhar, vou arrumar um emprego, ficar com
minha filha, talvez não tenha, mas sempre tem pessoas ao redor, nunca estou
sozinha.”
Em14_222 a 232: “Sim. Médico… Eu já faltei várias vezes médico, médico meu,
dentista, por causa dele. Ah, ela {a mãe} ia sair, não tinha ninguém… e não
tinha como levar ele junto, não dá… aí, eu tinha que… faculdade eu já faltei.
Várias vezes, não tinha quem olhasse, eu tinha que faltar… ou tinha que sair
mais cedo, tinha que falar com a professora para sair mais cedo, para ir embora
logo com ele, muitas vezes ter que ir com ele de aplicativo, porque o ônibus
demora… e não é barato, e aí, depois das 4h é mais caro… aí, eu ainda sou
obrigada a tirar de onde não tem, a parcelar mil vezes no cartão, para poder
manter… comprar um pouco, não tem outro jeito, tem coisa que eu compro, só
que seja parcelado em um monte de vezes, para poder fazer mais coisas, não
dá. Senão não consigo, não consigo.”
Outro subtema que emerge dos discursos, trata sobre a participação do pai
das crianças/adolescentes, exemplo de contradição, quando as mulheres mantêm
relação de respeito com ex-cônjuges, mas esses não desenvolvem seu papel junto
aos filhos.
Em1_L227 a 229: “Uns anos atrás, me enlacei muito com a família, eu tinha um
relacionamento muito maduro, muito... nós somos amigos até hoje”
Em1_L526 a 530: “Ele só vai para Minas com a família, quando era pequeno,
eles mudaram, depois que ficou grande, nossa, nem isso eles não fazem, ele
amava viajar [...] depois que ele ficou grande, nem isso eles fazem, sabe?
Viajar? Nunca mais. E ele gostava tanto.”
RESULTADOS| 93
Em6_L64 a 67: “O outro está com o pai [...] o outro pego de 15 em 15 dias,
quando eu estava com o pai dele, vinha os dois juntos, e às vezes, comigo, e
às vezes, com o pai ou então todo mundo junto.”
Em6_L70-71: “Se ele estivesse com a vida ruim, então ou eu pegaria, mas
estou vendo que ele está muito bem, tô tranquila.”
Em8_L89 a 95: “Eu sofro porque o pai dela não dá pensão pra ela, eu tenho
que ficar lembrando pra ele, que ela existe. [...] A minha depressão é só isso,
eu tenho que ficar mostrando para ele, que eu tenho uma filha especial. Ele fica
lá fora, falando com os vizinhos, ela fica escutando a voz dele, querendo ficar
com ele, e ele não entra para dentro. A mãe dele é assim, ela não tem paciência
com ela, ele não tem paciência comigo. Aí, ele diz, ‘separa', eu digo, ‘separo’,
é mais um problema para a cabeça dela... ele paga aluguel com os salário dela,
paga as outras coisas, e ela é apaixonada por ele.”
Em8_132 a 134: “É comum o que a gente passa. Eu acho que a pior coisa que
eu passo é a falta de apoio ... do pai dela. Ele tem uma filha especial, a filha
dele não é igual a todo mundo. [...] Não achou uma xuxinha pra ela, não acha.”
Em8_L135 a 140: “Ele não gosta, ele fica me pressionando. A coisa mais difícil
é ele achar uma bala. Ele tem uma bomboniere, eu que tem que dar... mas ele
não tem... Não traz um pirulito pra ela. Ele chega ele brinca com o cachorro,
ele não vai ver ela e ela olha assim pra ele... aí, depois que ela sai, eu digo
assim, você não se dá conta, e ele diz ‘eu não vi’, você brincou com o
cachorro na frente dela, você não raciocina que ela veio duas vezes olhar
pra você?”
Em8_141 a 142: {no caps} “Veio algumas vezes... mas ele não vem, ele não
gosta, ‘ficar ouvindo aquelas coisas que eles falam.’”
Em8_L143 a 149: “Não, imagina! Todo mundo, eu que levo, ela também não
gosta. Eu vou para lá... os dois nem se dão muito. Ele vai uma vez por ano lá.
Então, ele fica... Você pode ir embora. Coisa mais fácil, assim... Eu tenho que
pagar aluguel... ele diz ‘você pode pegar suas coisas...’. Eu vou gastar muito
mais que você, você pega a sua roupa, vai... Você não está feliz, me deixa
quieta com ela. Não me ajuda, não me atrapalha. Ele ah... Ele quer que eu saia.
Eu e ela saia. E que ele fique na boa.”
RESULTADOS| 94
Em10_L137-138: “A gente entrou num acordo, né? Eu trabalhava fora, mas daí
a gente implantou, hoje até que o XXXXX até que fica com alguém, mas
antigamente não ficava com ninguém.”
Em10_L143-144: “Aí, a gente entrou num acordo, eu vou ficar à disposição dele
e ele vai trabalhar, a gente aperta daqui, aperta dali e deu certo.”
Em11_57 a 59: “Quem cria sou eu, aí, eu falei: ‘ah, deixa pra lá’, eu crio os três
sozinha, aí, tô criando até hoje, cada um é de um pai, né? Então, eu crio os três
sozinha, dois é registrado de um pai, esse maiorzinho não é.”
Em14_109 a 113: “Ele não se importa, o pai dele... ligo, que o XXXX quer ver
ele, sente saudades dele, ele não quer saber, ele diz que tem vergonha do
XXXX, que ele é doido, fala tudo isso, ele tem vergonha da filha também, dos
dois, ele tem orgulho do filho da mulher dele, que ela tem outro filho, dos filhos
dele não... os dois dele que tem autismo.”
Em18_L170-171: “O pai dela visita para pedir pela pensão dela. ‘Não… louca,
problema mental?’ Foi embora.”
Em14_L68: “O pai dele não liga não... o pai dele tem dois filhos autistas.”
Em14_L121 a 123: “Semana passada, ele deu um carro para a mulher dele,
um carro. E o filho dele andando de ônibus com esta dificuldade, faz a terapia,
sem dinheiro, ele não está nem aí, ele está no conforto na casa dele.”
Em14_242 a 247: “Além do pai dele, como pai, né?… nem mil reais ele dá,
quando quer… por isso eu coloquei ele na justiça, eu não tenho como esperar
a hora que ele quer, o dia que ele quer, a hora que ele acha que tem quer dar,
ele tem condições, ele não se importa, igual eu falei, ele deu um carro para a
mulher dele, ele não se importa com o filho dele, tem ficar parcelando aplicativo,
andando de ônibus, tudo tem que ser eu… ele não tá nem aí.”
Em14_L97 a 103: “Ele tem muito do pai, ele pegava tudo aquilo do pai... ele
era muito explosivo assim com a gente (inaudível), um dia eu parei e disse,
‘meu filho, você está totalmente nervoso’, ele começou a gritar, chorar muito
ficar soluçando... na escola, ele via o pai dos outros meninos, ele ficava me
puxando, sabe? Ele tem muito medo do pai, até hoje, o pai perto, ele se
encolhe... por mais que ele seja especial, ele viu muita coisa que deve ter ficado
assim na cabeça dele.”
Em3_L195 a 197: “Teve um desses meus irmãos, que no mesmo dia em que
RESULTADOS| 95
minha mãe estava morta, lá dentro esperando para sair, ele falou sobre vender
a casa [...] esse que está amargurado comigo.”
Em14_L85 a 88: “Relacionamento te põe pra baixo, mexe com seu psicológico
[...] toda aquela manipulação que eles fazem [...] ele pegava tudo aquilo do
pai… de chorar muito, ficar soluçando, {o pai} bater na mulher {a atual mulher},
até hoje o pai perto, ele se encolhe, ele viu muita coisa, fica assim na cabeça."
Em8_L18 a 20: “É que minha família não tem sabedoria para lidar, a família do
pai... ela não se dá nem com o pai dela, se eu faltar, ela vai ter que se virar,
comecei a fonoterapia por isso.”
Em11_L121 “Estava lá, na Cachoeirinha, aí, eu liguei pro meu outro filho,
que tem nove anos, falei pra ele fala pro XXXX que eu tava esperando ele lá
em cima, para mim pegar ele e trazer para cá.”
Em11_L175 a 277: “Então, para mim fica difícil, né? Porque eu tenho que dar
atenção pra uma, atenção pra outro pro outro, e aí, fica muita coisa na minha
cabeça, aí, bagunça minha cabeça, não aguento.”
Em1_486 a 493: “A ordem natural das coisas é morrer primeiro a mãe e depois
o filho, eu torço todos os dias para ter a sorte de ou a gente morrer no mesmo
dia, ou que ele consiga partir antes, sabe? Nem que eu tenha lá, meus 97 anos,
e ele 77, ele viveu bastante, mas eu não vou ficar em paz até… não vou ficar
tranquila, o que eu garanto para ele? Se a gente não tem residência assistida,
o que eu espero que quando ele estiver velho, seja uma realidade, para eu
poder descansar, porque esse é um dos meus maiores medos.”
a Sustentabilidade da família.
Em1_L530 a 542: “Não é saber que, ah, hoje eu não tenho… não, a gente não
tem condições. As pessoas, ah, se ela começar a trabalhar direitinho, começar
a estudar bonitinho, ela vai ter, no nosso caso não é… tipo, não vai ter, não vai
ter cara! A não ser por caridade, com gente te ajudando, mas por mérito
próprio? Que é o que eu queria, não tenho… na luta, eu queria um espaço
melhor, [...] fora dali, entendeu? Desculpa esse chororô aqui… nos últimos dias
eu estou muito apreensiva sobre isso, sabe?”
Em16_L24-25: “Eu estou muito triste. Quer dizer, eu fico com ele, né, peço pra
um pagar uma conta pagar outra, durante a pandemia… Eles mandaram uma
cesta para o XXXX, uma para mim e outra pra ele, não tem como cuidar só com
a cesta… não tem como, tá muito difícil.”
Em18_L172 a 180: “Comprei um barraco [...] na viela, [...] ele recebe um bônus,
trabalho para os outros, lavo, porque eu tenho máquina, [...] conserto, o
emprego que peguei na minha vida foi empregada doméstica [...] a patroa me
achou nessas internet, foi na minha casa, viu que minha casa era de telha, e
ela ajuda, deu de presente, foi por isso que eu consegui depois fazer em cima
[...] comecei a receber o auxílio, comprei a laje, bati a laje, agora um pouco
mais pra frente, para poder alugar… sabe, nunca me interessei em ficar parada,
não tem como ficar parada, isso já é de mim.”
Em5_254 a 263: Eu acredito, assim, por exemplo, não tenho muita dificuldade
de usar a máscara, ele já identificou que toda hora que vai sair, precisa de
máscara, então, entendeu, se eu quero sair de casa… é, antes era a chave, ela
via pegando a chave, ah... vai sair de casa, ah, eu… estou pegando a máscara,
quer dizer que eu vou sair, porque eu preciso sair de casa, e eu, digamos que
eu tenho sorte, eu tenho quintal, amiga, a família tá aí, comigo. A única pessoa
de fora é o pai, e pai tá todo, vem cá, mas para autista é diferente, ficar só em
casa, ainda mais ela que tinha uma rotina, ela tinha uma rotininha, ela acordava
cedo, ia para a escola, brincava, ficava um pouquinho...”
Em9_L19 a 23: “Ele ficou muito preso, coisas que fazia antes, agora não faz...
toda XXXX-feira ele vinha aqui, no CAPS, agora não dá mais... numa feira, eu
vou correndo, porque eu deixo ele em casa, ele quer descer para ir comigo. A
caminhada nada, nem pensar. Passei o dia domingo, assim… não tem onde
levar as crianças, um parquinho, um shopping, nada disso.”
RESULTADOS| 97
Em9_48 a 54: “Agora nessa pandemia... Ele ficou um pouco agitado, ele tinha
parado, agora ele agitou um pouco. Aí, levei ele no neurologista que passou o
remédio só para noite, quando eu vejo que ele tá muito agitado, eu dou o
remédio e ele dorme tranquilo. Isso mexeu muito, né? Na cabeça das crianças.
Já estava acostumado a levantar 5 horas da manhã, tomar café para ir para a
escola e teve que parar tudo isso.”
Em11_L47 a 51: “Veio essa pandemia, aí, apertou para todo mundo muita
gente foi embora, muita gente ficou sem emprego, muita gente tá passando
fome, então, fica difícil para todo mundo.”
Em14_L29 a 31: “Não me adaptei com aula online, porque para conseguir o
acesso à internet é muita, muita gente, e dá para ter a internet no celular... e
aí, eu não consegui… não me adaptei, aí, tranquei."
Em14_L33 a 37: “É que não tem nada, tudo pela internet, e tem o Wi-Fi lá... é
das 7h às 10h, lá… era mais por isso mesmo, só que mesmo assim era muito
difícil, eles colocou um só, para economizar gasto, era o único acesso ao
professor, era só por e-mail, às vezes demora muito tempo a responder, estava
muito difícil, daí, não dava muito pra aula.”
Em5_264 a 266: “... porque que parou… ah, legal, pode dormir até mais tarde,
é legal, mas... ele está estranhando e as noites também, isso irrita muito ele,
às vezes ele fica fechado em casa o dia todo, levo ele para o quarto e ele não
quer nada, e tal.”
Dentre os discursos das mulheres, temas que emergiram foram associados aos
Desejos da mãe; receios da mãe; planos da mãe, a questão financeira; a filha como
companheira.
Em3_L413 a 415: “A parte com as outras pessoas realmente eu fiz, mas claro
que eu ainda tenho meu filho, que para mim também me sentir mais aliviada
eu queria que meu filho estivesse bem, tem 16 anos, né? Trabalhar como
aprendiz, voltar para escola, entendeu?”
Em5_193 a 199: “Verbalmente, eu até espero assim, um dia, ela falar alguma
RESULTADOS| 98
coisa, assim, eu falo que, com cinco anos, ela não dizer eu te amo, mas não
verbalmente, eu vejo que e ele não responde, a gente… não brinco com muita
frequência, mas eu estou ali com ela nos jogos que elajoga, estou presente nas
coisas que ela faz, eu... mentira, porque brincar… eu brinco com ela porque ela
me mede, ela mostra os brinquedos pra mim, e eu tenho essa esperança de
que um dia ela vai evoluir, que ela vai se sentir bem, que ela vai… enfim,
conquistar o futuro dela.”
Em5_199 a 201: “Com meus receios, mas eu nem posso dizer que tenho
receios, assim, como uma mãe de uma criança especial, mas, sim, receios de
uma mãe, as mães todas têm receios do que o filho vai ser.”
Outra frase temática relacionada aos discursos das mulheres, aponta para os
planos da mãe, reiterando a defesa das crianças.
Em5_203 a 205: “Olha, para eu ser justa, ela não me impede. Isso, eu sou
sincera. Talvez não por ser uma criança especial, mas por ser uma criança que
precisa de cuidados, que precisa de alguém para ficar com ela.”
Em5_206 a 210: “[...] e eu vejo assim... que meu emprego vai ser meu alicerce,
assim, agora, tenho planos de cursos, de faculdade, eu ainda não tenho. Eu
tenho aquela ideia bem do alicerce, eu vou trabalhar, eu vou me estabilizar, ter
contas ali pagas, eu vou pagar minhas contas, e aí, quando eu ver, ‘ah, eu tô
tranquila’, eu posso pensar em alguma coisa”.
Em5_238 a 239: “Tem a questão financeira, sim, um trabalho para mim, que
estou desempregada, é essencial.”
Em5_227: “Nossa, a questão financeira, eu não tenho o que reclamar dele não,
e ele abraçou, eu nunca tive esse problema.”
Em9_L8 a 10: “O custo de vida sai muito caro, o custo de vida tá caro,
supermercado… você vai no supermercado, é absurdo, no açougue, então, tá
complicado!”
Em11_L34-35: “Foi por ele, que eu estou aqui, hoje, porque eu ganho o
benefício dele, dá para pagar aluguel, minha água, minha luz, mantimento.”
parte de cima. Eu moro numa casa de três cômodos, eu pago R$ 580,00, aí,
vem água a luz [...] pra mil reais dá pra nada, só de luz, esse mês, eu paguei
R$ 180,00”
Em14_L150 a 155: “O LOAS para mim é pouco, só comida, ele come muito,
não sei se você já ouviu dizer que criança que tem esse problema, ele tem uma
fome maior do que as pessoas, ele tem muita fome, ele come muito, um pacote
de biscoito, e põe tudo num pote, e ele come sozinho, comida, ele come o dele,
ele não deixa eu comer, ele quer comer o meu... ele quer comer do outro.”
Em14_L212 a 213: “O LOAS não dá, trabalhar é impossível. Aí, corta. Sendo
que é tão pouco… Só para ele, aí, tem água, tem luz, tem a comida...”
Em16_L15 a 22: “[...] falta as coisas, tem que pedir. Eu nunca fui de pedir,
eu sempre trabalhei desde os nove, [...] quando ele nasceu, [...] me deram a
escolha... você quer trabalhar, eu ganhava dois salários na época, não tinha
como eu parar de trabalhar, ganhava o ticket [...] quando eu precisei dele, que
não podia mais trabalhar… e foi embora.”
Em17_73 a 80: “Quando é alto custo é muito longe, aí, tem que pegar ônibus,
metrô, aí, o dinheiro de comprar, entendeu… aí, tem a pomada que tem
que passar aqui, que o médico passou, não tem no posto, não... faz uma
exceção, é R$ 60,00. Ai, faz a conta, R$ 1.045,00 do benefício, R$ 400,00
na casa, tem que comer, tem que comprar remédio, ainda bem que tem o
bolsa, que meu bolsa família do mês passado, porque se a gente tem
dinheiro o remédio a gente compra, com meu bolsa família… desse mês
passado eu comprei clopidogrel, sinvastatina, acabou o dinheiro.”
Em3_L104 a 107: “Minha filha que sempre foi amigona minha, mesmo, para
tudo, que nem um dia que ela veio aqui uma vez… ela falou: ‘minha mãe é
minha melhor amiga’, realmente eu aconselho muito ela, ela me aconselha
muito também, a gente conversa muito, ela divide isso do irmão comigo, me
ajuda muito.”
Em5_212 a 219: “Eu… eu lembro que uma amiga minha, de uns dez anos atrás
mesmo, a gente saia juntas, ela me chamou para ir na casa dela, e aí, eu falei,
peguei a minha filha e falei vamos sair e até quando eu só tinha ela, todas
minhas amigas, a XXXXX é minha parceira de sair, eu saio sempre com
ela, eu tenho minhas amigas de volta, algumas amigas, faço algumas
colegas, (inaudível) ah, e depois que eu tive ela, eu ainda tive outro
emprego, eu tive outras amigas, essas pessoas para conhecer, então,
dessa parte assim… essa solidão assim, eu já não sinto. Eu tenho um
pouco de dificuldade hoje de sair, eu não vou dizer que é por causa dela,
ela não me impede”.
Em1_L145 a 146: “Passava o dia no canto [...] não tinha nenhum tipo de
atividade de fato, [...] alguém mediando essas atividades, não tinha, [...] entrava
chorando e saia chorando.”
Em4_L330-333: “A escola não pode, mas também pode ter um risco dele
machucar alguém, e aí, como que fica? [...] Não, mas eles iam para a escola,
mas a escola não adiantava nada, eles ficavam lá, e aí?”
Em7_97-108: “Então, foi uma escola que ele se adaptou bem, mas daí veio o
bullying. Um menino veio e ficou gritando no ouvido dele. É... mas também o
bichinho ficava sozinho, porque todo mundo saía, né? Daí a pessoa vinha e
ficava gritando no ouvidinho dele. Gritando no ouvido dele e ele sentadinho ali...
então ele pegou birra e nunca mais foi. E é isso. Deixou a gente muito triste,
né? Porque era uma coisa de sair, que ele estava gostando... tinha muito apoio
das pessoas, dos alunos... mas sempre tem uma pessoa pra tirar a paz dos
outros, né? Mas, ele tá lá em casa, de boa, não dá trabalho nenhum, graças a
deus. Ele faz as coisas, a gente ensina ele fazer... a tomar conta dele mesmo,
né? Porque tem que aprender, né? Fazer as coisinhas deles. Então é isso. Mas
nunca nada me abateu nem tirou a minha paz.”
Em7_L211 a 213: “A gente já tentou, meu marido foi não sei em quantas
escolas e ele não vai, depois que ele sofreu esse bullying, sabe? A gente foi
ver outra escola para ver se ele se interagia.”
Em8_L12 a 15: “Minha filha é muito aérea. Inclusive ela tem uma professora
em casa só pra ela... é o lugar que ela aprende melhor, porque na sala ela fica
assim... andando. Ela não presta atenção. É que são 29 alunos, 29 alunos
falando, dois ou três especiais na sala. Uma estagiária para dar conta dos três,
não tem como.”
Em8_L57-58: "Então, se ela não sabe, tem que ter a estagiária, tem que ter
ensaio, entendeu? Se ela quer ensinar só as crianças normal, ela não vai se
orgulhar. As outras, abraçavam... tinham aquele carinho, essas aí, não tinham
o carinho, eles são carentes. [...] e os autistas para inserir tem que ser
conquistados, se você não conquistar eles, você não vai conseguir. Eu acho...
se você não tiver carinho, compreensão com eles, você não vai conseguir dar
aula. Você não sabe o que tem na casa dele, qual o comportamento dele, se
você não conhecer um pouco, ficar só no bom dia, boa tarde, não vão conseguir
dar aula para ela.”
Em14_276 a 280: “E eu queria ficar mais tempo na escola antiga do XXXX que
é melhor, eles não deixam uma hora, e não tem uma lei que proíbe…? A
diretora disse que não, a lei na Região Norte, a política é essa, devido eles
acharem que não pode demorar tanto na escola, funcionários com … tiraram a
vaga dele, colocaram outro… mas era bem boa essa escola.”
Uma das entrevistadas referiu que a não inclusão do filho, mesmo em escola
particular, o que a desencoraja a acreditar que na escola pública seja diferente.
Em1_L156 a 16[L3] 5: “[...] faço o que eu posso para o XXXX estar inserido na
sociedade, porque eu entendo que é importante [...] Agora, pegar meu filho com
diagnóstico de autismo, no nível que ele tem, e colocar ele numa sala de aula
para aprender sobre história do Brasil, que eu acho é o que ele aprenderia
nessa idade [...] sem nenhum tipo de apoio pedagógico de fato, uma criança
que nem vai conseguir ficar sentada ali, eu não tenho coragem, de verdade.”
Em1_186 a 195: “Teve uma época que veio meio que um... (inaudível) no
convênio, e as crianças tinham que ser obrigadas a passar um tempo de
adaptação na escola pública, foi um caos lá. A criança estava lá numa escola
especial, é... é... especial, aí, eles colocam ele ali, ele regride, porque ela não
tem o profissional ali para mediar e a escola ... os profissionais não fazem ideia,
infelizmente, os profissionais não conhecem e sabem quase nada de autismo,
e aí, essas crianças são sendo cobaias de uma falsa inclusão, eu acho que o
mundo ideal é o mundo da inclusão mesmo, mas quando você tem alguma
coisa pra isso... quando você tem suporte. Simplesmente, a gente não tem,
quem vai colocar o filho como cobaia?”
Em4_L302 a 313: (avó) “Na escola, elas não podem nem ir! [...] Não, não pode.
A única escola é a que ele está hoje, a única que eu não tenho o que reclamar
é esta que o XXXX, é a “B”, perto da minha casa [...] Escola da prefeitura, até
B.O. eles deram de fazer.[...] É muito triste… Porque a escola não quer, não
quero aqui na escola, não ponho… [...] É ao contrário, a escola que fez contra
mim [...] E a única mesmo que sustentou ele até hoje, que tá um tempo, que
não tirou ele… que está lá o nome dele foi a “B”. Ele não vai para a escola, mas
também eles não tiram. E a professora, todo dia, fala com a gente, pergunta
como ele está, manda liçãozinha… é o que ele faz.”
Em4_L325 a 333: (avó) “É porque é assim, às vezes, ele vai… levanta, levanta
e vai na cadeira de um, vai na cadeira de outro, pega uma coisa de uma pessoa,
pega de outro, e as crianças não tem o que falar, a professora falava daí ele
começava a xingar. … lá na “C” também, na outra escola, não conseguiu ficar
com ele por causa disso [...] A escola não pode, mas também pode ter um risco,
dele machucar alguém e aí como que fica? [...] Não mas eles iam para a escola,
mas a escola não adiantava nada, eles ficavam lá e aí?"
RESULTADOS| 103
Em2_L126 a 128: “As professoras me enrolaram muito para não querer arrumar
[...] eu fui levando as cartas da TO, da psicóloga para escola, até quando elas
conseguiram [...] não queria colocar a segunda, porque achava que ele não
precisava.”
Em18_17 a 25: “Ela foi só até a primeira série, porque se entrava 1h… 1h30,
ela mandava buscar. Se entrava às 7h, 7h30 ela mandava buscar, porque eu
lembro uma vez, eu fui buscar ela, ela estava com uma marca no braço. Eu não
vou mentir, eu tirei ela para não agredir a mulher que cuidava dela. E, às vezes,
chegava com ela, já sabia que ela tinha problema, a professora passou por
mim, e via ela, fingia que não via, ia trabalhando… professora, professora, ó a
XXXX, ela está aqui.”
RESULTADOS| 104
Em18_L26-27: “Uma luta para ir para na escola, porque eu não ia embora, [...]
eu ficava lá fora, se é para XXXX ficar dentro do pátio da escola separada das
crianças, eu não vou trazer mais, ela não estudou, ela não frequentou a escola”
Em1_151 a 154: “Coloquei ele na AMA, que é a associação dos amigos dos
autistas, é uma escola referência, quando eu digo “referência” entre aspas, é
porque ela tem muito nome e tudo mais... sei que lá é um atendimento... sei lá,
acho que podia ser melhor.”
Em1_L166 a 180: “Enquanto ele tiver o subsídio que ele tem, porque ele, hoje,
está numa escola conveniada com o governo do Estado, é uma escola “barra”
atendimento terapêutico, eu só tiro de lá para colocar em uma outra do mesmo
modelo. [...] retirá-lo de lá, eu não tenho coragem”[...] o poder público precisa
escutar as mães quando elas escolhem esse tipo de opção, eu entendo
que cada caso é um caso, eu entendo, tá? Tem criança que eu vejo na escola
dele e eu falo para as mães, por que não coloca na rede regular? A criança vai
aprender tanto na troca, e a sociedade para aprender precisa trocar, mas eu
acho que para meu filho, não. Porque ele não ia saber nenhum tipo
daquele conteúdo . Meu filho não lê, meu filho não escreve, meu filho está
sendo alfabetizado, mas dentro do sistema ABA, que a escola não vai dar
continuidade. Hoje, é o que ele pode, para troca na sociedade ele tem no
CAPS, no Circo escola, e na comunidade geral quando eu levo para
passear, meu filho não fica recluso, eu faço o que eu posso pro meu filho estar
sempre em sociedade.”
Em1_L186 a 198: “Porque teve uma época que veio [...] no convênio [...] as
crianças tinham que ser obrigadas a passar um tempo de adaptação na escola
pública, foi um caos lá, a criança estava lá numa escola especial, [...] ai eles
colocam ele ali, ele regride porque [...] não tem o profissional ali para mediar e
a escola, os profissionais não fazem ideia, infelizmente, os profissionais não
conhecem e sabem quase nada de autismo, e aí, essas crianças são sendo
cobaias de uma falsa inclusão, eu acho que o mundo ideal é o mundo da
inclusão mesmo, mas quando você tem alguma coisa pra isso, quando você
tem suporte. Simplesmente, a gente não tem, quem vai colocar o filho como
cobaia? O professor do meu filho tem... tá numa sala com uns... são no máximo
seis alunos, na sala do meu filho tem cinco, com quatro profissionais, entende?
[...] Todos tem autismo, só vai mudando o nível e tal, na sala dele são mais ou
menos todos com o mesmo nível, mesmo diagnóstico”
Em1_199 a 203: “[...] é um grupo menor, [...] crianças com algum tipo de
transtorno, elas são mais inocentes, são mais boazinhas e eu não vejo nenhum
grupo de meninos típicos que vão vandalizar meu filho. Porque eu quero saber,
quem garante isso? Esse é o problema né?”
Em1_L203 a 206: “No CAPS eu sei que tem mais profissional do que
menino, praticamente, entende, são quatro profissionais, seis meninos, vai
uma média assim, tipo, eles estão bem amparados, bem amparados
(inaudível), eles estão bem cuidados, eu fico bem tranquila”.
Em4_L334 a 336: “Esse ano todo, esse ano todo ele ficou fora da escola, esse
ano ficou fora do CAPS, mas das escolas, das atividades, que denunciam, tem
que denunciar.”
Em5_280 a 283: “Por exemplo, ele vai para a escola como todas as crianças lá
em casa, eles receberam atividades, não só ele como exclusiva, mas como
todas as crianças, né? Eu não vou conseguir passar as atividades com ele,
porque eu não sei se eu vou conseguir fazer, acabo não fazendo, então…
sabe?”
Em10_L113 a 122: “Na escola dele não tem… minha sobrinha é professora,
ela quem imprime lá os desenhos, umas folhinhas para eles lá, eles fazem a
atividade lá, na escola dele mesmo, não tem [...] uma ave foi lá em casa, mas
não é nem da escola dele, eu acho que é um trabalho que eles estão fazendo
com todas as crianças para saber como elas estão, só. Mas a escola mesmo
entrar em contato, não [...] ligaram e eles falaram que não, que a crise, que não
tá tendo atividade, nem nada. Até desencanei de ligar.”
Em9_L55 a 57: “Quando eu vou na escola com ele pegar o trabalho dele, “você
não pode abraçar os professores, não dá a mão”, e ele olha ela de longe…
RESULTADOS| 106
cumprimenta ela de longe [...] Quando ele não sabe, não responde, vem… mãe
e isso aqui? Isso aqui? Aí, eu fico com ele e ele consegue fazer tranquilo [...]
professora faz chamada no vídeo para ele... ele se comporta direitinho com
ela.”
Em14_L52 a 56: “Ele tá, mas não tem conseguido acompanhar, não é adaptado
para ele, é totalmente diferente das apostilas, ele não consegue, porque ele tá
naquela fase de rabiscar, aí, nem rabiscar ele ainda não tem nenhum
movimento de pegar, da pinça. Ele não tem, ainda... treinando isso, está
treinando, então não dá pra fazer.”
Em14_57 a 59: “Claro que faz falta, faz falta as crianças, a social, é ruim pra
ele, ele é muito, ele é um autista, que ele está naquela fase de que... ele não
quer falar, ele fica mudo, então ele não fala nada com as outras crianças… na
escola”
Em14_63-64: “A rotina dele era muito diferente, era muito pesada .. ia para
outra terapia, vinha para cá, ia pra escola … ele era outra coisa.”
Em3_L426-426: “Que o pai já não teria nenhuma obrigação mais, que ele é
maior de idade.”
Em5_97 a 103: “[...] é minha primeira filha e ele já tinha uma filha. Essa é minha
primeiro filha, [...] a gente tipo, ah, ‘você pode ficar em casa para cuidar para
cuidar’, até porque minha filha, talvez pelo autismo, de leite ela nunca foi muito
fã... de leite de lata, era só leite do peito, não dá para deixar uma criança
assim… e aí, a gente acabou conversando, ele falou: ‘não, olha… eu tenho
uma condição boa para você ficar em casa’, e eu fiquei em casa, ai, eu pedi as
contas no meu emprego, aliás, a gente pediu para eles mandarem a gente
embora.”
Em5_124: “Sou apaixonada pela ideia de ser mãe e especialmente ser mãe de
menina”
Em5_125 a 129: “De uma menina, é … tipo… eu lembro disso, foi com uma
colega de trabalho, falava: ‘ai, eu quero tanto ter uma menina.’ E aí, uma
menina falou assim pra mim: ‘ai... nossa, se você pensa tanto e se você tiver
um menino é verdade menino, você vai acabar decepcionada.’ Aí, eu falei:
‘verdade, um menino, né?’ Tão legal, comecei a imaginar como seria ter um
menino pra adaptar isso na minha cabeça, mas quando tive uma menina, eu
fiquei bem feliz...”
bastante, e esse peso… Porque assim, eu vejo o seguinte, nem pelas pessoas,
eu vejo por mim também, é a mulher, ela se mata, ela se cuida, ela faz tudo,
ah, ela é guerreira, mas ela não… a mãe, o pai que faz nem metade disso, ele
já é aplaudido, é interessante isso aí.”
Em13_190-191: “Você é filha do seu pai. Pensa no sobrenome dele que você
tá levando. Eu ia para a escola com um peso.”
Em3_L128 a 130: “Eu fui me modelando em muitas coisas sabe, então, tipo,
assim, às vezes, até minha mãe falava, porque eu sou muito nervosa, eu
to aprendendo a mudar algumas coisas agora. [ ] ele sempre
procurou agradar, mas antes ele bebia, mas ele nunca me agrediu, sempre
presente no dinheiro, nas coisas da casa, mas ele tava no começo vivendo
uma vida de solteiro sendo casado, aí eu sempre falando assim… ‘eu vou
desistir, eu vou desistir, vou desistir’, mas tinha uma coisa comigo que falava,
se eu desistir dessa pessoa, essa pessoa não é ruim, é trabalhador,
tirando o vício da bebida, não tem nenhum e talvez vai se estragar no
mundo.”
Em3_L141 a 143: “Eu falei: ‘não vou desistir e fala pro meu marido, estou
anulando minha vida pra viver a sua.’”
Em3_L146 a 150: “Eu que sempre fui mais nervosa, aí, ele ia falar para minha
mãe, ‘minha sogra, a XXXXX, tá nervosa, né?’, até minha filha falou: ‘mãe,
sempre foi você mesmo’. Aí, minha mãe sempre me aconselhava nisso, né?
‘XXXXX, você é muito nervosa, filha, você tem um bom marido, mas você é
muito nervosa, é um vício, ele vai melhorar você não crê?”
Em13_L161-162: “Dizia ‘você não vê que pessoa tal é enfermeira? Porque ela
estudou para ser enfermeira. Ela ganha mais. Vai ganhar mais, vai ter mais
possibilidades’ [...] deixava isso bem claro para a gente”
Em13_L167 a 167: “[...] chegou a falar [...] claramente [...] se ela tivesse a
RESULTADOS| 109
possibilidade de usar um método contraceptivo [...] teria usado e não teria nove
filhos [...] falou assim: ‘é que eu não sabia disso, não tinha acesso ainda...’”
Em3_L228-229: “É, mas eu sei como você não vai fazer, XX, porque você é do
jeito que a mamãe criou, eu sei como você é.”
Em13_L112-114: “O dinheiro que tem é pra família, para pagar o aluguel, para
comer... isso dói muito. A gente não merecia isso, né? A gente merecia uma
outra expressão [...] Planejamento de vida.”
Em13_L115 a 116: “Eu tenho muita pena, quando eu vejo uma moça de quinze,
dezesseis anos grávida [...] porque não planejou.”
Em1_L214 a 223: “A gente fica em segundo plano, não tem como. Então, a
minha graduação foi EaD, porque eu não podia fazer em nenhuma faculdade
comum, [...] agora [...] tenho minha graduação e não posso trabalhar. Porque
para trabalhar, eu teria que arrumar... gente, eu não sinto confiança pra alguém
cuidar o dia inteiro, e daí, o quanto eu teria que pagar pra poder, pra um
cuidador o dia inteiro com meu filho, o dia inteiro, então quando eu digo, teria
que ficar com ele o dia inteiro, levar para as coisas todas, e aí, professor ganha
o suficiente pra pagar como? É e... acompanhante... mais bancar uma vida...
daria elas por elas, [...] ou, eu ganharia, no final das contas, até menos, do
que eu tenho hoje.”
Em3_L428 a 430: “Um dos meus projetos era fazer o curso que eu gosto que
seria de ou design de sobrancelha ou negócio de unhas que eu sempre gostei
muito do negócio de unhas.”
Em10_L140-141: “...antes dele, e aí, depois que ele nasceu, ainda cheguei
trabalhar um tempo, mas depois...”
Em5_L88 a 93: “Eu tinha 19 anos, sabe né, a vida era… eu estava trabalhando,
então minha vida era isso, era trabalhar, chegar em casa, era dormir, tipo, vida
bem rotineira [...] e veio uma criança e eu, eu falo isso para as minhas irmãs,
eu falo isso também, eu nunca fui aquela pessoa que gostava de criança, nunca
fui fã de criança, essa é a verdade [...] As minhas amigas chegavam com os
filhos delas, e eu ficava tipo, ai…pra lá... e ai, quando ela nasceu, mudou tudo
isso pra mim, sabe...”
Em5_121 a 124: “E a segunda parte que me deixou assim... Foi o meu corpo
começou a mudar, como você mesmo viu, eu era uma adolescente, né? E aí
mudou, mas nada assim que eu... ‘nossa, que horror... me arrependo de ser
mãe’, não, não teve…”
Em5_110 a 113: “[...] Só que no primeiro dia que eu fiquei no hospital, eu estava
sozinha, estava eu e ela, meu marido estava trabalhando e acho que ele ainda
trabalhava no…(inaudível), eu estava com ela no colo e ela começou a chorar
e eu comecei a chorar junto, acho que foi a primeira vez que eu falei: é, eu sou
mãe’...”
Em5_114 a 121: “E, no início também foi bem complicado pra mim, porque eu…
ficava… fechada, né? Ficava meio que isolada, ficava isolando os amigos de
certa forma, né? Porque eu estava sempre cuidando da minha da bebê,
também não tinha acesso às minhas amigas, algumas eu perdi contato, até tipo
sumia mesmo, me distanciava, e eu sentia o que todo mundo fala da solidão
materna, né? Que você se sente sozinha, você se sente sem amigos e... às
vezes, eu via, né? O homem saindo de casa, eu via meus amigos aí… os
amigos queria fazer churrasco, comemorar a vida da sua filha, saber o que
aconteceu, mas você mesmo não consegue ter seus amigos, você não tem
nada.”
Em5_103 a 110: “E... no primeiro dia no hospital ainda, que foi muito
engraçado, assim… eu de boa, sou tranquila, tudo de boa, e… vou ter uma
RESULTADOS| 111
filha, mas eu tenho... eu moro com minhas irmãs, eu moro com meu pai, eu
moro com... meu marido na época, depois a gente terminou o relacionamento,
aí, eu falava: ah, qualquer coisa, eu não vou tá sozinha.’ Todo mundo ali já tem
uma experiência com filho, a única pessoa que não teve um filho foi eu, tem
minha cunhada, todo mundo ali teve uma experiência com filho, menos eu…
eu não fui a primeira, se ela chorar vai ter quem tem a quem recorrer...”
Em5_131 a 134: “É, e isso eu posso ficar tranquila, porque minha família é
bem... gosta muito dela e além das minhas irmãs que eu tenho, tenho
sobrinhas, são quatro sobrinhas todas, fora a família do pai, tem muitas irmãs,
tem muita mulher na vida dela assim, fora o pessoal do CAPS, professora...”
Em2_L157: “Acho que não tem mais nada, cuidar dos meus filhos, lutar por
eles.”
Em10_L128-129: “Precisa, não é fácil, nem um pouco, fica pior, aí, você vai se
deixando de lado.”
Em13_L216 a225: “Ele ingeriu água do parto e [...] teve que fazer cirurgias,
com quarenta e oito horas de nascido [...] tive que correr. [...] recebi alta para
acompanhar [...] não tive tempo de pensar em problema. Eu tive tempo de
resolver [...] com ponto da cesárea [...] entrei na ambulância [...] eu subi escada,
eu andei de ônibus [...] não me preocupei. A cesárea era a última coisa que eu
me preocupava. Eu me preocupava com ele.”
Em6_L99 a 103: “Tem muitas mães que têm filhos, [...] às vezes, o problema
não é tão grave, é até menor do que o dele... faz quase tudo como uma pessoa
normal. E... tem depressão a mãe, por causa da criança que tem problema, eu
vejo, ela chora, nem se arruma, [...] e ela só tem um filho. Eu tenho dois e o
YYYY é mais grave do que ele.”
Em6_L108 a 119: “[...] tem mães que me vê com dois (filhos), vê eu bem, [...]
nunca tô pra baixo, nunca vão ver, [...] o meu jeito é esse, [...] acordo assim,
estou viva, vamos vencer. Vamos fazer tudo como se fosse o último dia de vida,
porque eu não sei o dia de amanhã, [...] se eu tô de pé, vamos fazer do dia o
melhor de todos, hoje, amanhã fazer o dia ser ótimo, todos os dias fazer, eu
penso assim. Tem pessoas que vivem pra baixo com depressão, então como
vai cuidar? Eu acho que eu tenho que estar melhor do que ele, pra poder passar
o que eu tenho de melhor.
RESULTADOS| 112
Em10_L129 a 135: “Eu aprendi que eu não tenho que dar conta de tudo, né?
E o dia que não der tudo bem, a mulher, né? A gente se cobra muito, e eu
aprendi que eu não tenho que dar conta de tudo, que no dia que tiver bem no
dia, no outro dia míngua, pronto, isso me fez bem comigo, me libertou, né? Que
você se cobra demais, e veja que você não consegue, você fica frustrada, hoje
não, hoje se der deu, se não der, amanhã dá, e se não der amanhã, semana
que vem dá e tá tudo bem.”
Em4_L164 a 166: (avó) “E eu parei mais de trabalhar mesmo, porque tinha que
ter os dias certos para vir aqui, e eu não vinha no CAPS.”
fortalecimento e sororidade.
Em3_L95 a 99: “Eu sei que você é um bom companheiro, tem as crianças, mas
para mim é complicado entendeu? Falei para ele, eu estava acostumada com
a minha mãe, alguém para ir lá e conversar porque eu sou uma pessoa assim
que, a gente tem amigos, mas nem tudo para amigos a gente fala, depende do
que a gente tá passando, né?”
Em3_156-157: “Nós passamos tanta coisa com meus irmãos, nem sabe.”
Em3_L158 a 160: “Se a gente come arroz e feijão puro, nós estamos passando
aqui... porque a gente fizer, a mamãe só confia em você, não conta para
ninguém, assunto meu e seu, ninguém precisa saber, então são muitas coisas.”
Em3_L171 a 173: “Eu ia esquecer? Sua mãe contava para igreja que era seu
aniversário, que você... porque era tudo, sabe?”
Em3_L229 a 232: “Era eu e ela, ela fez muita bondade para muita gente sabe,
então, eu sou, eu sou assim, eu não consigo dizer não, eu não consigo ser ruim
e depois aquelas pessoas que eu ajudo, me pagam com muita gratidão.”
Em3_L326 a 329: “Fazia doces mesmo que nós duas tinha diabetes. Tinha vez
que a gente abusava é para a gente medir o nosso diabete, tava lá nas alturas.
Mãe, a gente abusou, fala até para a médica, A XXXXX fica brava comigo mas
a gente comentou você pode chupar sorvete, a ZZZZZ vai lá e compra, aí, eu
e ela.”
Em3_L330-331: “Aí, minha tia fala para mim cada doce que você quiser, cada
doce que você se lembra dela, lembra com alegria que ela gostava dessas
coisas, sabe?”
Em3_L399-400: “Eu sempre com a minha mãe do meu lado, a gente levava ele
para as clínicas e saia às cinco horas da manhã.”
Em3_L163-166: “Minha mãe falou: ‘nunca... eu sei quem é minha filha e coisas
importantes da vida da gente, eu não conto na casa de ninguém, eu amo todos,
mas a que eu sou mais apegada é você e meus netos, que nasceram e
cresceram aqui comigo.’”
Em3_L191 a 194: “Para mim a minha dor é minha dor, diferente da deles”, como
minha tia já me explicou, né? Que o homem sabe e por eu ser a única mulher.”
Em3_L178-179: “Eu sinto que desde que minha mãe morreu muita coisa
mudou em mim”
Em3_L178-179: “Eu sinto que, desde que minha mãe morreu, muita coisa
mudou em mim.”
Em3_L182 a 184: “É difícil, não é bolo, não é roupa, não é nada, não tem isso
que mude em mim, é aqui dentro, a falta dela, é a presença dela ali.”
Em3_185 a 186: “Eu misturo tudo isso em mim, esse sentimento de saudade
com revolta.”
Em3_L314 a 316: “O que eu me culpei, assim, depois foi que chegou lá era
lacrado só no rostinho, né ? Aí, eu falei: ‘gente, vocês não me deixaram entrar,
eu tinha que ter entrado lá e ter abraçado ela e beijado ela pela última vez.’”
Em3_L321-322: “Falei pro moço ‘não dá pra abrir aqui para eu abraçar e beijar
minha mãe?’ Ele falou: ‘não pode, moça.’”
Em3_L353 a 358: “Eu não asso pernil, que a minha mãe adorava isso, sabe?
Começava a chegar final de ano, aí, o pernil, né? Ela fazia as coisas, dava tanta
alegria, eu falei: ‘isso eu não vou fazer.’ Ele falou: ‘não, XXXXX, não precisa ter
pernil, se não quiser cozinhar nem nada, XXXXX’. Mesmo assim eu fiz, mas
não teve como eu dizer que eu não chorei, e de lá para cá, eu tô assim, sabe?
Eu choro, eu converso com ela, eu sinto muito.”
Em3_L233 a 235: “Isso é uma coisa que não tem que haver cobranças e
preocupações, nem a você, nem a BBB. É em relação a mãe, não sei quanto
tempo eu vou levar a me recuperar, eu não sei nem se vou me recuperar.”
Em13_L133 a 143: “A minha mãe era analfabeta [...] carregou esta frustração
de nunca estudar. E de ter tido filhos e de ter ficado [...] ela falava: [...] ‘ai, não
arranja barriga não, que com o dinheiro que você vai gastar para dar para a
criança, você pode comprar batom, sapato...’ E aquilo me fascinava [...] aquela
ideia [...] ‘não quer comprar uma roupa, um soutien bonito, um sapato, uma
bolsa, um batom?’ Aquilo vinha um brilho, assim, no meu olho... ‘e assim, com
seu dinheiro? Então não arranja barriga. Se você arrumar um filho, você vai ter
que cuidar do filho’. Então eu já via aquilo como... ela falou: ‘filho, só quando
você pode criar, não arranja filho antes da hora, né?’”
Em13_L151-152: “Vai viver, vai para o carnaval, vai arrumar o cabelo. Dando
para mulher, a possibilidade de aproveitar a sua vida como mulher [...] nem
tanto se sacrificar pelo filho... deixa [...] para hora que você realmente
puder...”
Em13_L173-175: “Ela era muito feminista, [...] ela cuidava de crianças, para
RESULTADOS| 115
outras mulheres poderem trabalhar [...] por uma bagatela [...] falava assim:
‘para que que eu vou explorar ela? A vida já explora [...] vou ajudar, para que
ela possa trabalhar, para melhorar.’”
Em2_L20-22: “Escuto bastante louvor, [...] minha mãe é evangélica, [...] tipo
seguindo [...] vou devagarzinho, mas estou indo [...] Me dá um pouco de paz.”
Em3_L78-83: “Minha tia é espírita. Ela me explica muito lado espiritual [...] mas
para mim perder, não chorar, né? Ficar chamando tanto ela, senão, ela não
descansa onde ela tá, e ela fica triste e vem de alguma forma perto de mim,
porque ela sabe que eu tô triste, eu tô sofrendo, ou fazendo alguma coisa.”
Em3_L155: “Tem que ter fé, que ela, o que ela era uma mulher de fé.”
Em6_L24-26: “Eu creio em Deus [...] Não tenho lugar específico, às vezes, vou
no templo de Salomão, não sou fanática em religião.”
Em6_L115 a 117: “O que eu puder fazer, farei, o que eu não puder, só Deus.
Fazer ele falar é só com Deus [...] tem coisa que eu não posso, é só Deus.”
Em7_L109: “De mim mesma, do meu interior, de deus, que me dá forças cada
vez mais.”
Em11_181-182: “Sou da igreja, né? Nunca usei nada de errado, né? Criando
meus filhos e indo para igreja.”
Em11_185 a 187: “Ajuda. Ajuda ficar em paz, ajuda a ficar mais calma, né?
ouvindo a palavra de Deus, né? Deus consola meu coração, fala umas coisas
boa pra mim, que eu tava precisando, né? Então eu fico mais aliviada quando
eu tô dentro da igreja.”
Em11_261: “Mas eu tenho fé em Deus que logo, logo essa epidemia vai acabar.
Só ter fé.”
Em11_270 a 272: “Eu só tenho minha mãe mesmo, a minha mãe tem os
problema dela, lá, então eu, meu problema, eu deito no meu colchão e fico
RESULTADOS| 116
orando e pedindo para Deus me dá força pra criar essas três benção, só isso
que eu peço para Deus.”
Em13_L117 a 130: “Eu tinha vinte e poucos anos [...] planejei isso [...]
trabalhava e fui atrás [...] fui para uma faculdade que me dava um incentivo
[...] a PUC. Não tinha o PROUNI [...] eles falavam que era o dinheiro do padre
[...] usei o dinheiro da arquidiocese [...] com oitenta por cento de bolsa e
depois eu devolvi. Depois de formada, eu fui trabalhar para devolver [...] para
que outras pessoas pudessem estudar. [...] Se eu não pagar, a outra pessoa
não vai poder estudar. Esse dinheiro voltando para instituição, vai fazer com
que outras bolsas sejam concedidas. É uma mão lava a outra. Se você não
pensar no social, [...] vai querer fazer medicina, odontologia, que é mais caro,
até... e ela não vai poder fazer, por que eu não paguei? [...] a culpa foi minha?
[...] jamais eu atrapalharia a vida de alguém. Não tenho esse direito.”
Em13_L157 a 159: “É preguiça? Depois não reclama [...] não vai ganhar o que
você devia. Eu perguntava: ‘ganha mais?’ e ela: [...] ´sim, a pessoa sabe mais,
ganha mais´. E eu ficava muito curiosa.”
Em14_L38: “É, eu entrei justamente para poder ajudar ele em casa, mas
não deu.”
Em3_L178-179: “Eu sinto que, desde que minha mãe morreu, muita coisa
mudou em mim.”
Em2_L6-7: “Porque ele não tá saindo de casa, não tá pegando sol, vejo que as
mãos dele tá mais branquinha, os pés também.”
Em6_L1-4: “Ele não é considerado negro [...] eu tenho outro filho, que é
considerado, que é considerado que é negro. {qual é a cor da pele dele?}
Parda, ele na verdade, pardo, mais pra branco.”
Em13_L5: “Eu sou parda, mas eu não acho que ele seja negro.”
Em13_L7 a 13: “O pai não é pardo como eu, a gente nem define muito mais
isso... [...] nenhum problema que ele seja pardo, branco, negro... na verdade,
eu não tenho muito essa exigência, de que faça a cor.”
Em2_L114-116: “Sempre tem um lugar, a gente ouve, eu não ligo, vou te falar
uma coisa, eu não dou atenção [...] às vezes, a pessoa também tá naquele dia
[...] a gente [...] tem que entender, eu não ligo, nem nunca reparei nesse tipo
de coisa.”
Em2_L187 a 189: “Eu acho que o XXXX nem entende isso, acho que raça pra
ele, vai para outro sentido, uma coisa que não tem nada a ver.”
Em10_L96-97: “Na questão da cor que eu tenho presenciado, ele não… ele
também não tem noção disso.”
Em2_L119 a 121: “Meu primeiro que tem 24 hoje, então, eu acho que é por isso
que eu não ligo mais para essas coisas, não é que eu não me recordo, não me
lembro de ninguém ter sido racista comigo, não. Racismo, não.”
Em5_351 a 353: “É, hoje, eu assumo meus cachos (ela sorri), mas até um
tempo atrás, normalmente, eu sofria com isso, sabe? Do tipo, ‘ah, por que não
faz uma progressiva?’ ‘Cabelo duro, que não sei o que…’”
Em5_354 e 355: “Ah, falavam isso na escola, eu devia ter meus 12 anos, olhou
assim pra mim do nada e falou: ‘ah, vai… ó, sua cabelo duro.’”
Em5_356 a 358: “E já teve coleguinha [...] que olhava assim, não minhas
RESULTADOS| 119
amigas, que amigas mesmo eu nunca tive nada, mas minhas colegas olharem
e falar assim: ‘ah você, é… nossa, por que você não faz uma progressiva?
Cabelo liso, e já aconteceu também, que…’”
Em5_359 a 361: “[...] sofri muito bullying [...] de falar eu sou negra e as pessoas
dizerem: ‘não, você não é negra’, mas, em relação do cabelo, do cabelo, teve
uma vez que eu também fiquei mal, lá pela cor da gengiva, o pessoal rindo, é
isso…”
Em5_398 a 400: “Fala do nariz, eu nunca escutei essa questão, como eu não
sou considerada negra, então uns dizem: ‘ah, você não é negra, você tem a
pele clara’, a pessoa vai ser racista para outro [...] faz uma piadinha [...] ‘Eu to
aqui’ [...] você fica... ”
Em5_402 e 403: “Eu lembro uma vez, eu tava num salão de cabelereiro e ele
era especializado em loiras, só tinha loiras, e eu lá tava tipo...”
Em5_404 a 407: “E eu tava cortando o meu cabelo, ela olhou pra mim e disse:
‘o meu pai é preto, aquele preto safado, os pretos são assim tudo safado’, …
aí, eu fiquei olhando assim, ‘ não fala isso do negro’… e ela assim, ‘é verdade’,
que eu não sei o que, não sei o que… eu acho que foi racista no salão, só tava
eu lá.”
Em5_408 a 410: “Uma outra funcionária que também era branca, ela tipo ouviu,
e ela ficou tipo… (concordando). É como ele mesmo, olhar para a pessoa, ah,
de escutar, de falar, preta, aquele cabelo duro, não sei o que...”
Em5_412 e 413: “Nunca tipo direta… Ou senão. ‘ah, era uma brincadeira, não
estava falando sério. Você se ofendeu com isso?’”
Em8_L36 a 41: “Imagina, nós estamos em 2021 ainda tem esse negócio do
preconceito e do racismo, essas coisas... aí, na escola, antigamente, quando
ela ia, ela era empurrada, achavam engraçado o cabelo dela, deveria ir para
estudar... deveriam dizer: ‘você vai para a escola para estudar, ou prestar
atenção no cabelo dela?’ Deveria vir para estudar. O cabelo dela é só diferente
do seu. Assim, o racismo você tem que acompanhar eles, sozinha a sociedade
não vai mudar.”
Em8_L43: “Eles podem fingir que aceita e tudo, mas eles não vão mudar.{Onde
sofreu racismo?} Na escola, no ônibus, em qualquer lugar, às vezes...
antigamente, eu respeitava essa coisa de idade... muitos idosos... ‘o que que
esta menina está fazendo sentada aí?’ Eu ficava com ela em pé, hoje em dia
não, pego a carteirinha dela, o mesmo direito que ela tem, o senhor tem, então,
falando de idoso que não consegue parar em pé... eu não sei viver, eu levo
minha filha para qualquer lugar, é direito deles, porque já disseram que autismo
RESULTADOS| 120
não tem cura, tem melhora, autismo é uma doença e não tem cura, ela tem
melhora, tem uns que conseguem fazer faculdade, levar vida normal, tudo...
casar, ... fez faculdade tem um médico, fez faculdade, autista, né?”
Em13_L95 a 97: “Eu chegava para algum lugar tipo Michelle Obama, jantava
e depois ia para o lugar [...] Convidou [...] na Casa Branca [...] falou: [...]
‘venham jantados’, porque era só um petisco [...] eu falei: ‘poxa, eu preciso.’”
5 ANÁLISE DOS DADOS
ANÁLISE DOS DADOS| 122
O relatório das desigualdades (2022), quase 20 anos depois, refere que 77%
das mulheres negras se consideram “classe média baixo” ou “pobre”, sendo que 59%
das pessoas concordaram que a população negra recebe salários menores por serem
negros, tendo aumentado “8 pontos percentuais” entre 2019-2022, o acesso ao nível
superior, possivelmente pela Lei de Cotas, 84% dos entrevistados concordaram que
a pobreza afeta mais a população negra do que os pobres brancos, 87% dos
brasileiros concordaram que os governantes tem “obrigação” de diminuir a
desigualdade social e, outro dado contraditório, é que 68% concordaram que eleger
pessoas negras para cargos políticos tem menor possibilidades. Nesse breve retrato
atualizado, percebe-se que as desigualdades raciais, de gênero e de classe sociais
têm sido percebidas pelos brasileiros nos últimos anos, no entanto, as condições
permanecem semelhantes, mesmo com uma pequena melhora no acesso às
universidades, continuam discrepâncias relacionadas às condições de vida,
salários/renda e o racismo velado nas concepções de sociedade, quando relatam
menos chances de pessoas negras serem eleitas. (OXFAM, 2022)
É preciso assegurar, não apenas saúde para todos, mas, sobretudo, intervir
radicalmente para ampliação do acesso à vida material com dignidade para as
mulheres negras e suas famílias. Nas concepções históricas relacionadas às
pesquisas sobre racismo e seus efeitos no Brasil, a pioneira que utilizou raça como
categoria analítica foi apresentada por Barbosa (1998). Lopes, Werneck (2010)
explicitam que, o conceito de raça não se refere a aspectos biológicos, genéticos, de
diferentes fenótipos. Raça é uma construção social ideológica de estratificação social,
cujo “estrato inferior da hierarquia sociorracial” é destinado à população negra, e
sistematizada pelo racismo (Lopes, Werneck, 2010). Assim como em Stuart Hall, o
ANÁLISE DOS DADOS| 124
De acordo com pesquisa publicada no final dos anos 90, sobre “Cor nos Censos
Brasileiros”, existia a necessidade de produzir “estudos e pesquisas sobre as
dimensões antropológicas e psicossociais”, na perspectiva racial (Rosemberg, 1999,
p. 135). Anjos (2013), socióloga, refere questionamento da “tríade de categorias
branca-parda-preta” utilizadas na autodeclaração pelo IBGE, pois, na visão do
“movimento negro [...] uma categoria intermediária entre “branca” e “preta”, [...] abre
aos respondentes a possibilidade de declaração de uma cor mais clara ou
“branqueamento” nas respostas” (Anjos, 2013, 104).
[...] os brancos retiram dos negros sua ontologia, inventando-o pelo “não ser”,
por um “sentimento de inexistência” e não puramente de inferiorização, que
para o autor, “é o correlato nativo da superiorização europeia”, ou seja, “é o
racista que cria o inferiorizado” (Fanon, 2020, p. 125).
sociais em saúde, apontados pela OMS como aspectos estruturantes das condições
de vida e seus efeitos psicossociais, contradições na espiral dialética, em que o
racismo produz, sistematiza as iniquidades, pois, opera como um “dispositivo de
racialidade”. Segundo a autora, o racismo institucional é capaz de penetrar nos
“diferentes campos da vida social”, onde “produz seus resultados”, “reduzindo a
abrangência da autonomia” intimamente ligado “à criação e manutenção de
preconceitos”, estruturando o “tratamento desigual (discriminação)” (Werneck, 2016,
p. 541).
Por meio dos discursos das participantes, elas relatam medo de morrer antes
dos filhos adquirirem autonomia e preocupam-se com a continuidade do cuidado, a
partir de políticas de amparo dos mesmos em situações extremas. Relatam
discriminações dos filhos pelos problemas de saúde mental ou deles sofrerem
racismo, ambos no âmbito educacional-escolar, também por parte da família,
sobretudo dos homens (pai das crianças/adolescentes), profissionais da área da
saúde e especialistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).
identidade do sujeito negro”, que a autora refere ser determinada por meio da
“internalização compulsória e brutal de um ideal do ego branco” (Santos, 2021, p. 25).
Santos (2021) assinala que existe um “custo emocional da sujeição, negação e
massacre de sua identidade original, de sua identidade histórico-existencial” (Santos,
2021, p. 46).
Para Santos (2021), o ideal do ego “engendra uma ferida narcísica, grave e
dilacerante”, que demanda a construção de “um outro ideal do ego”, capaz de romper
essa lógica, reconstruindo subjetivamente “valores e interesses” por meio de
“militância política, lugar privilegiado de construção transformadora da história”
(Santos, 2021, p. 77). Nesse processo de internalização de sentimentos de “culpa e
inferioridade, insegurança e angústia”, é o que provoca a “autodesvalorização,
timidez, retraimento e ansiedade fóbica”, no que ela cita preceitos fanonianos ao dizer
que, o “parceiro branco é transformado em instrumento tático, numa luta cuja
estratégia é cumprir os ditames superegóicos, calcados nos valores hegemônicos da
ideologia dominante (Santos, 2021, p.73-77).
(Papanicolau), que é uma ação com protocolos específicos definidos pela PAISM,
desenvolvida por Enfermeiros/as. Este não é um atendimento exclusivo de médicos
especialistas em ginecologia, principalmente, quando de rotina, pressupondo um
trabalho articulado em equipe multiprofissional. Segundo o protocolo de Enfermagem
na atenção primária, elaborado por um conjunto de pesquisadoras do COREN/SP, a
consulta de enfermagem é uma ferramenta importante na detecção precoce de risco
para câncer do colo do útero, tendo como materialização, a coleta do exame
preventivo do tipo “Papanicolau”, realizada privativamente pelo Enfermeiro, capaz de
avaliar a necessidade de outros encaminhamentos quando necessário. (COREN/SP,
2020)
Esse conceito assim disposto, para além de ter servido de base para a Reforma
Psiquiátrica Italiana, a qual influenciou a RPbA, abre-se em desdobramentos
passíveis de serem utilizados como fulcro de pensar políticas de saúde mental na
perspectiva dos direitos humanos. Nesse caso, assim como o objeto de investigação
deste estudo, os efeitos psicossociais do racismo que têm sido evidenciados por
pesquisas científicas, sobretudo nos últimos anos, propondo análises para além da
coleta do quesito raça-cor (a partir do acúmulo do grupo de pesquisa Enfermagem e
as Políticas de Saúde Mental - GEnPSM/EEUSP*), aquilombamento antirracista na
RAPS, compreensão das dimensões étnico-raciais a partir dos determinantes de
saúde na produção do sofrimento psíquico. (Barros et al., 2022; Barros et al., 2020;
Barros, Ballan, Batista, 2021; Barros, Batista, 2017; David, 2018; 2021; Silva, Oliveira,
2021; Silva et al., 2017)
Fanon, o racismo, que sistematiza relações “entre branco e negro, ou seja, entre quem
detém o poder e quem não o tem” e que essa dinâmica “era sempre uma relação
institucional, onde os papéis haviam sido definidos pelo sistema” (Basaglia, 1985,
p.320). Diz que Fanon pode escolher a revolução, dizendo que sua realidade era
diferente e a ele cabia viver “as contradições do sistema que (nos) determina, gerindo
uma instituição que negamos, exercendo uma ação terapêutica que refutamos[...]”
(Basaglia, 1985, p.320-321). Isso confere a Fanon seu pioneirismo legítimo de ideias
revolucionárias de liberdade antirracista na psiquiatria.
Esse cenário pode ser revisitado por meio de pesquisas científicas realizadas
sobre os retrocessos, tal como a “(re)manicomialização” na política de saúde mental
brasileira, apontada por Passos et al (2021), com uso de recursos públicos para
contratualização de comunidades terapêuticas, em detrimento dos recursos
comunitários de saúde mental, de base territorial, para uma lógica hospitalocências
de internações psiquiátrica.
Nesta pandemia, vimos que muitos outros cidadãos ficaram sem voz e sem
poder e, com a mesma lógica, devemos continuar a produzir processos de
desinstitucionalização, ou seja, de restituição de voz, de sentido e de poder
aos que estão privados deles. E teremos que fazer isso com a dureza
necessária (Saraceno, 2021, p. 5).
O conceito atual, cunhado por Piedade (201[7] 7), trata-se da dororidade, que é
definido como a experiência de “dor” das “mulheres pretas”, que singular, e
antirracista, por isso contempla a realidade brasileira e assim se diferencia de
sororidade (“que pode ser não racista”), nas palavras da autora:
Hospital Juqueri, reforçando que gênero é uma “construção social [...] entendido como
uma prática discursiva”, que apaga a história das mulheres. Essa ideia tem princípios
da loucura no “final do século XIX”, na qual a medicina consolidou “a dominação
masculina”, recebendo uma espécie de “chancela científica” ao associar "loucura e
feminilidade” (Freitas, 2021, p.36).[8]
Lerner (2019), refere que o patriarcado utiliza não somente a instituição família,
mas também outras, como as “religiões, a Escola e as Leis”, reiteradas por Aronovich,
que sistematiza as ideias da autora na apresentação. Dessa maneira, as diversas
dificuldades e discriminações enfrentadas pelas mulheres na Escola dos filhos, e
expressas nos discursos explicitados, torna contraditória a Escola não exercer seu
papel como agente potencializador, assim como Gomes (2017) refere, “potência de
emancipação”. Entretanto, essa contradição pode ser remetida à premente estrutura
da sociedade brasileira e suas formas de expressões racista, patriarcal e capitalista.
Gomes (2017), lembra que a educação “não é um campo fixo e nem somente
conservadora”, sobretudo, um “espaço-tempo inquieto, [...] ao mesmo tempo
indagador e indagado pelos coletivos diversos” e “ao mesmo tempo, de um dinamismo
incrível e de uma tensão conservadora”, por onde pode se incidir mudanças
significativas na compreensão da “realidade da população negra e sua relação com a
diáspora africana” e nas dimensões da “interpretação da raça como estrutural e
estruturante” (Gomes, 2017, p. 25-6). Para a autora, a superação é possível, ao
identificar-se o diagrama das “formas de discriminações” e “colonialidade do poder, do
ser e do saber'', cujo centro está “o racismo, o patriarcado e o capitalismo global”.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como propósito compreender o percurso das mulheres, mães,
cuidadoras de crianças/adolescentes negros com problemas de saúde mental,
usuários do CAPSij na RAS, e também, caracterizar o processo saúde- doença dessas
mulheres, possibilitar espaços de reflexão na perspectiva de promover a qualidade da
relação entre os familiares-crianças/adolescentes- serviços, contribuir com
proposições para a atenção das necessidades específicas da população do estudo.
Assim, buscou-se revisitar marcos da construção histórica do racismo e da Reforma
Psiquiátrica brasileira Antimanicomial, na perspectiva da garantia de acesso a direitos.
Nesse caminho, foi possível compreender que o apoio que elas precisam é
psicossocial localizado no aumento de contratualidade para si e seus filhos, que passa
pela desconstrução do preconceito para com a loucura, sobretudo, na perspectiva
racial, junto às políticas de saúde e de saúde mental. O cuidado psicossocial precisa
ser emancipador, promover a cidadania de direitos, apoiá-las pela perspectiva racial
e de gênero e seus filhos, e não tratar de cuidar apenas dos efeitos, patologizando e
medicalizando-os, sem enfrentar os problemas. Para Saraceno (2001, p.112),
precisamos enfrentar os problemas reais no cuidado em saúde mental, “aumentar
oportunidades de troca de recursos e afetos”, abertura nos espaços “da relação” e “de
negociação”, de exercício desses direitos.
Assim, como Lélia González deixou em sua tese e legado de humanidade, não
é apenas o capitalismo, mas como esse está estruturado por meio do racismo no
Brasil. Nas ideias da autora, a sociedade brasileira é singular, atípica, dada a
colonização e colonialidade instaurada no inconsciente e praticada cotidiana e
veladamente (Gonzáles, 2020).
dos médicos, da assistência social e justiça. A falta do apoio que elas precisam,
intensifica o sofrimento psíquico, debilitam sua saúde de diversas maneiras, pois não
tem um tempo para si próprias, no que elas afirmam: “não tenho vida”.
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APÊNDICES
APÊNDICES| 164
APÊNDICES
1- Identificação da Mulher-Cuidadora
Iniciais:
Idade: Raça/cor:
Escolaridade:
2 - Questões:
2.2 Quando você tem algum problema de saúde, que serviços de saúde
você procura?
mental?
respeito?
APÊNDICES| 165
(Mulheres-cuidadoras)
Assinatura do pesquisador:
São Paulo, de , de
ANEXOS