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Faculdade de Arquitetura
Programa de Pesquisa e Pós Graduação em Arquitetura - PROPAR
Porto Alegre
2009
M152i Maciel, Angela Becker
Iniciação ao ensino do projeto arquitetônico :
paradigmas e reducionismos / Angela Becker Maciel
; orientação de Rogério de Castro Oliveira.
Porto Alegre : UFRGS, Faculdade de Arquitetura,
2009.
CDU: 72.011.1
72.07
DESCRITORES
Projeto arquitetônico
72.011.1
Ensino da arquitetura
72.07
Bibliotecária Responsável
2
Aos meus alunos.
3
AGRADECIMENTOS
4
- Já estou pronto - disse o Imperador. – Acham que esta roupa me
assenta bem? E novamente mirou-se no espelho, a fim de fingir que se
admirava vestido com a roupa nova a andar com as mãos no ar. 0
Imperador foi ocupar seu lugar no cortejo da procissão, embaixo do
luxuoso dossel e todos os que estavam nas ruas e nas janelas
exclamaram:
- Como está bem vestido o Imperador! Que cauda magnífica! A roupa
assenta nele como uma luva!
Ninguém queria dar a perceber que não podia ver coisa alguma, para não
passar por tolo ou por incapaz. 0 caso é que nunca a roupa do Imperador
alcançara tanto sucesso.
- Mas eu acho que ele não veste roupa alguma! - exclamou então um
menino.
- Ouçam! Ouçam o que diz esta criança inocente! - observou seu pai a
quantos o rodeavam. Imediatamente todo mundo comunicou pelo
ouvido as palavras que o menino acabava de pronunciar.
- Não veste roupa alguma. Foi isso o que assegurou este menino.
- O Imperador está sem roupa! - começou a gritar o povo.
O Imperador fez um trejeito, pois sabia que aquelas palavras eram a
expressão da verdade, mas pensou:
- A procissão tem de continuar.
E assim, continuou mais impassível que nunca e os camaristas
continuaram segurando a sua cauda invisível.
5
RESUMO
6
ABSTRACT
7
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 8
1.1 Apresentação 9
REFERÊNCIAS 162
8
1. INTRODUÇÃO
9
1.1 Apresentação
10
mais adiante discutidos detalhadamente. Esses resultados iniciais identificaram
muito cedo inconsistências recorrentes no discurso das introduções ao projeto
arquitetônico que autorizaram tomar como hipótese inicial de trabalho o
reconhecimento da insuficiência das referências paradigmáticas vigentes frente ao
desafio de propor ao aluno um quadro explicativo capaz de efetivamente
"apresentá-lo" à prática projetual. Igualmente por hipótese, a investigação parte
do princípio de que a eleição de tais métodos e procedimentos não é feita ao
acaso, mas é amparada pela escolha de manuais didáticos considerados acessíveis
ao aluno, ou com suficiente conteúdo explicativo para amparar a atividade
docente. É interessante relembrar que Kuhn1 já associava a delimitação de um
domínio paradigmático ao conjunto de livros-texto adotados, sem discussão, como
base na formação em uma prática. Aceita-se, portanto, o princípio de que a leitura
crítica desses textos permite explicitar a origem e o contexto de enunciação das
noções tacitamente aceitas pelo docente, que delas se dá conta, ou não. Esses
livros são o testemunho de um corpus de crenças compartilhadas pelos
ministrantes.
1
KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2005. p. 70.
2
Ibidem, p.67.
11
disponíveis: a restrita oferta editorial faz com que, no âmbito da grande dispersão
das escolas de arquitetura nos cenários nacional e internacional, verifique-se uma
impressionante padronização nos títulos sugeridos nas referências bibliográficas a
que se tem acesso em programas de ensino e artigos publicados sobre o tema. Os
casos estudados nesta tese, selecionados, qualitativamente, a partir de um amplo
percurso de leitura, não têm a pretensão de esgotar a relação dos manuais (ou
pseudomanuais) com maior presença nas práticas de ensino, mas sustentam
plausivelmente sua recorrência e exemplaridade na aceitação tácita que lhes é
dada, no dizer de Kuhn, pelos "praticantes" envolvidos na difusão dos paradigmas.
12
• sugerir critérios para eleição de manuais didáticos que possam,
efetivamente, balizar os procedimentos didáticos que iniciam o estudante no
aprendizado do projeto arquitetônico.
3
DURAND, Jean N. L. Précis des Leçons d’Architecture donnés à l’ècole Polytechnique. Paris, 1819.
13
1.2 Situação Atual
4
SALAMA, Ashraf. 1995. Design Education and Studio Work in the Conventional Approach. In: New Trends in
Architectural Education: Designing the Design Studio. USA. p.56
5
CASTLE, H. Editorial. Back to School: Architectural Education-the Information and the Argument. Architectural Design.
Set. 2004. p. 4.
14
ao longo do curso.6 As seqüências de projeto e as de tecnologia obedecem a
lógicas diferentes e são, na prática, independentes. Essa situação reflete uma
antiga dicotomia entre arte e ciência que merece ser revisada. Todavia, esta
discussão não é objeto desta tese.
6
OCHSHORN, Jonathan. Separating Science from Architecture: Why Technology is taught outside the Design Studio? In:
Proceedings of the 1989 ACSA East Central Regional Conference, Ann Arbor, MI, outubro 19-21, 1989; republicado
em The Architecture of the In-Between, p. 453-460
7
CORONA MARTINEZ, Alfonso. Ensayo sobre el proyecto. Buenos Ayres: Libreria Técnica, 1991.
8
STEVENS, Gary. O círculo privilegiado. Fundamentos sociais da distinção arquitetônica. Brasília: Editora UNB, 2003.
9
Ibidem, p. 233.
10
Ibidem, p. 234.
15
como o desenvolvimento da expressão gráfica desvinculada do ensino projetual,
fato que não acontecia na École. Todavia a estrutura básica permaneceu; apenas
foram postergadas as disciplinas referentes à construtibilidade, como se verá nos
próximos capítulos.
11
SALAMA, Ashraf. 1995. Design Education and Studio Work in the Conventional Approach. In: New Trends in
Architectural Education: Designing the Design Studio. USA p.56.
Dr. Ashraf Salama é professor associado do Departamento de Arquitetura da Universidade King Fahd do Petróleo e Minerais
– KFUPM. Tem apresentado diversos trabalhos em conferências nacionais e internacionais, revistas e jornais. Publicou três
livros sobre educação na arquitetura. E foi membro da UIA – Unesco Comitê Internacional de Educação Arquitetônica e
Diretor da Architectural Education Work Association for People – Environments Studies.
Disponível em: http:// faculty.kfupm.edu.sa/ARCH/asalama/Biography.htm. Acesso em: 07/01/07.
12
SCALBERT, Irénée. La valeur du sens comum. Architecture D´Aujourd’ hui. p. 58-59
16
Townscape (que foi descrito como um modelo de felicidade topográfico) é de
proporcionar prazer na percepção imediata das coisas. Além disso, este prazer não
depende de conhecimento, e é o que o torna facilmente acessível e popular.13
13
SCALBERT, Irénée. La valeur du sens comum. Architecture D´Aujourd’ hui. P. 58-59
14
STEVENS, Gary. O círculo privilegiado. Fundamentos sociais da distinção arquitetônica. Brasília: Editora UNB, 2003.
p.231.
15
TOURNIKIOTIS, Panayotis. La historiografia de la arquitectura moderna. Madrid: Mairea, 2001.
16
PACHANE, Graziela Giusti. A importância da formação pedagógica para o professor universitário. A experiência
da UNICAMP. Tese (doutorado) 2003, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas.
17
Colocando o argumento em termos pessoais, essas reflexões encontram
pontos de contato com minha própria prática docente. As questões aqui levantadas
prolongam constatações surgidas no decorrer dos dez anos em que atuei (e ainda
atuo) como ministrante de uma das turmas da disciplina de Introdução ao Projeto
Arquitetônico II do Curso de Arquitetura da UFRGS, assim como no
desenvolvimento de minha dissertação de mestrado17, que embora abordasse
apenas indiretamente o contexto pedagógico da prática projetual, construiu
argumentos suficientemente fortes para dar continuidade a estudos ulteriores
nessa área. Igualmente, eu não tenho a pretensão de desenvolver uma tese sobre
a pedagogia da arquitetura, cujo âmbito excede o do ensino do projeto. Contudo,
penso ser crucial para a prática docente elucidar, no plano das teorias do
conhecimento, o que é pertinente para a construção de uma propedêutica do
projeto arquitetônico. Nesse intuito, este trabalho enfoca o aprendizado de quem
se inicia na sua prática, pretendendo contribuir para a formação do professor que
a ele se dedica. Desta forma, esta tese não se propõe a estabelecer um tratado
sobre a aquisição de conhecimento no projeto de arquitetura18, mas a elucidar
quais são as epistemologias subjacentes aos procedimentos didáticos efetuados na
sua iniciação, mostrando a quais crenças estão atreladas e questionando sua
vigência face à contemporaneidade.
17
MACIEL, Angela Becker. Variações programáticas e aspectos distributivos: uma análise de apartamentos em Porto
Alegre. Dissertação (mestrado) 2004. Porto Alegre: PROPAR, UFRGS.
18
Para saber mais: Oliveira, Rogério de Castro. Construções figurativas : representação e operação no projeto de
composições espaciais : traçados, modelos, arquiteturas. Tese (doutorado) 2000. Porto Alegre: PPGE, UFRGS.
19
DIEZ, Fernando. Crise de Autenticidade. Arquitetura Argentina 1990-2002. Tese (doutorado). Porto Alegre: PROPAR,
UFRGS. p.309.
18
Levamos para a universidade nossas concepções cognitivas hauridas do senso
comum (...). O pensamento do professor encontra-se preso a manifestações
empiristas20 e aprioristas21 de todo tipo, às vezes sutis, ás vezes grosseiras,
aliando-se, neste caso, até aos preconceitos primitivos22.
20
Empirista: o sujeito é totalmente determinado pelo mundo do objeto ou pelos meios físicos e social, ao nascer é uma
tabula rasa.(Becker, 2001, p. 17)
21
Apriorista: o sujeito nasce com o conhecimento já programado na sua herança genética, induz ao mito do talento.
22
BECKER, Fernando. A origem do conhecimento e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2003. p. 97-98.
23
_________________Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 32.
19
1.3 Fundamentação Teórica
20
aflora, seguindo a concepção de Kuhn, nos manuais, ou livros didáticos, adotados
na formação dos quadros profissionais que atuam segundo normas aceitas
tacitamente.
21
dos alunos podem trazer conflitos. O saber escolar, freqüentemente, os leva a
resolver os problemas como questões matemáticas: há respostas certas ou
erradas, enquanto, em projeto não se observa esta dicotomia.
22
principiante, conhecimentos que lhe possibilitem adquirir as primeiras noções do
projeto das edificações.
Fonte: POZO, Juan Ignácio et ali. A solução de problemas. Aprender a resolver, resolver
para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998. p 141.
23
na aula de prática de projetos, se faz necessário, principalmente, nos primeiros
anos do curso, o aprendizado de conhecimentos específicos.
28
POZO, Juan Ignácio et ali. A solução de problemas. Aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed,
1998. p 141.
29
SCHÕN, Donald. Educando o profissional reflexivo. Um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre:
Artmed, 2000.
30
Opus cit., SHÕN.
31
POZZO, Juan Ignazio. A solução de problemas: aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed,
1998. p. 89.
24
Pozo diz que além da solução de problemas ser “o próprio objeto da
aprendizagem” pode ser, também, o meio para aquisição desse conhecimento.
Desta maneira, os procedimentos didáticos para ensinar a projetar devem
contemplar a mesma estratégia cognitiva.
Pesquisas (PURCELL et al, 2006; POZO, 2002; CROSS, 1999) com alunos
em fase final de curso e iniciantes32 mostraram que os primeiros chegaram mais
rapidamente a uma solução conveniente do que os calouros. Este resultado
confirma que projetar se aprende, contrariando a crença na capacidade inata.
Outra evidência é que o conhecimento acumulado pelo estudante ao final do curso
lhe fornece melhores condições para atingir as soluções em um menor prazo. Esse
conhecimento, que como se viu, é de cunho declarativo e procedimental, é
explicitado através dos manuais didáticos.
32
POZO, Juan Ignácio. La solución de problemas. Madrid: Santillana, 1994. p.38-41.
25
invariavelmente oculta em manuais que se propõem a fundamentar os
procedimentos didáticos das disciplinas de iniciação ao projeto arquitetônico.
26
1.4 Métodos
27
Os manuais foram elencados a partir de pesquisa exploratória da bibliografia
recomendada no primeiro ano das quinze escolas de arquitetura que obtiveram as
notas máximas no Enade de 2006.
33
Análise de outros manuais recomendados para iniciantes são apresentadas como apêndice desta tese.
28
Cabe descobrir o que eles são, as intenções secretas que camuflam tanto suas
pretensões explicitas quanto suas ideologias tácitas, e definir seu verdadeiro
estatuto34.
Embora, esses três manuais sejam diferentes em suas origens e idéias, são
recomendados como embasamento teórico para iniciação ao projeto arquitetônico.
Não se pretende investigar as causas da permanência destes escritos, mas verificar
se continuam adequados à formação de arquitetos no século XXI. Para tanto uma
leitura crítica dos conteúdos se faz necessária.
Os manuais elencados são denominados best sellers, pois tem sido os mais
vendidos desde sua primeira edição. As livrarias especializadas possuem
exemplares destes livros à venda, conforme consulta efetuada nas seguintes redes
de livrarias do Brasil: Catarinense, Cultura, FNAC e Saraiva.
34
CHOAY, Françoise. A regra e o modelo. São Paulo: Editora Perspectiva, 1985. p. 2
35
COLQHOUN, Alan Composição x projeto. In: Modernidade e tradição clássica. Ensaios sobre arquitetura 1980-1987.
São Paulo: Cosac & Naif, 2004. p.54.
29
Os manuais, incluídos no corpus desta pesquisa, extraídos das
recomendações correntes em programas de disciplinas voltadas à iniciação ao
projeto, serão objeto de análise no desenvolvimento posterior da argumentação.
Já, os manuais considerados representativos do ensino nas escolas École des
Beaux- Arts e Bauhaus, os livros de Durand36 e Guadet e os livros de Moholy-Nagy,
Kandinsky e Klee, respectivamente, ao se impor como referências
historiograficamente reconhecidas e, essencialmente, para os efeitos do presente
estudo, por terem sido produzidos diretamente a partir da prática docente dos
autores são apresentados a seguir.37 Principalmente, o livro de Durand serviu de
exemplo para outros congêneres, que apesar de serem escritos muito mais tarde,
mantiveram os mesmos conceitos clássicos e a mesma estrutura. Bruno Zevi em
seu tom quase anedótico comenta sobre Initiation a l´architecture (1938) de
Georges Gromort:
Como primeiro livro de arquitetura se pode dar para um leigo ler, mas com uma
advertência: esta é a enciclopédia das categorias da arquitetura; lembra que a
arquitetura começa quando são eliminadas essas categorias. Contudo, se a crítica
tem uma utilidade, é a de eliminar com paixão um aspecto da arquitetura, ainda
que parcial. O autor, pelo contrário, pegou todos os licores críticos, os misturou,
adicionou muita água, e o resultado é sua estética de arquitetura.38
36
Embora Durand fosse professor na École Polythecnique, rival da École des Beaux-Arts, e seu manual fosse dirigido a seus
alunos engenheiros, era amplamente utilizado como manual didático pelos alunos de arquitetura da Beaux-Arts.
37
Evidentemente, as publicações de ambas as escolas excedem estes autores, no entanto são os mais conhecidos.
38
ZEVI, Bruno. Saber ver la arquitectura. Buenos Aires: Editorial Poseidon, 1958. p. 148. “esta es la enciclopedia de las
categorías de la arquitectura; recuerda que la arquitectura empieza cuando son eliminadas estas categorías. Por lo demás, si
la crítica tiene una utilidad, es la de eliminar con pasión un aspecto de la arquitectura, aunque sea parcial. El autor, por el
contrario, ha tomado todos los licores críticos, los mezclado juntos a añadido mucho agua, y el resultado es una estética de
la arquitectura”
30
com o passado, próprio das vanguardas artísticas, à exposição de técnicas de
desenho (design) de objetos genéricos (arquitetônicos ou não), à iniciação a
práticas artísticas essencialmente gráficas, transpondo técnicas da fotografia e da
pintura à prática do projeto.
31
2. MANUAIS DIDÁTICOS PRECURSORES
32
2.1 Manuais Didáticos da École des Beaux-Arts
39
PEREZ-GOMEZ, Alberto. Architecture and the crisis of modern science. Cambridge: MIT Press, 1983. p. 299
40
Ibidem. p 299.
33
Arquitetura seria válida enquanto visasse utilidade e progresso como resultado da
aplicação da ciência.
41
LEUPEN, Bernard et al. Proyecto y análisis. Evolución de los Principios en Arquitectura. Barcelona: Gustavo Gili, 1999. p.
133.
42
CHOAY, Françoise. A regra e o modelo. São Paulo: Editora Perspectiva, 985. p. 214.
34
Durante o século XIX, as idéias do Iluminismo foram substituídas por outro
paradigma: o Romantismo. Julien Guadet foi professor de Teoria da Arquitetura na
École des Beaux Arts, no período entre 1894 e 1904, redigindo o Éléments et
théorie de l'architecture: cours professé à l'école nationale et spéciale des beaux-
arts entre 1901 e 1904. Nos quase cem anos que separam as publicações dos
manuais didáticos de Durand e Guadet, a população de Paris teve seu tamanho
triplicado, expandindo-se de quinhentos mil em 1801 para três milhões em 190143.
Houveram as reformas urbanas de Napoleão III e George Haussmann, colocando
em discussão a questão urbana. Logo, suas teorias estão de acordo com os
paradigmas vigentes. O manual didático de Guadet não apresenta a visão
reducionista de Durand, em que o edifício é uma colagem de partes. Guadet coloca
o edifício como um fragmento da construção da cidade.
43
FRAMPTON, P. 14
44
SOLÁ-MORALES, Ignasi. Inscripciones. Barcelona: Gustavo Gili, 2003. p. 7.
35
Guadet ao ensino, e por extensão, à própria arquitetura deve-se ao papel atribuído
à tradição acadêmica francesa como símbolo da decadência e da oposição à
modernidade. É certo que a estrutura da École serviu de modelo para o ensino de
arquitetura, mas, como afirma Kuhn45, todo modelo quando há mudanças de
paradigma, precisa ser revisado.
45
KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2005.
36
2.1.1 Précis des Leçons d’Architecture données a l'École Royale Polytechnique
46
DURAND, J.N.L. Recueil et paralléle des edifices detout genre, anciens et modernes. Paris: 1799-1801
37
Figura 3: Manuais de Durand
47
Segundo CHOAY (1980), no século XVIII, é que a metáfora da escrita foi aplicada à utilização arquitetônica das ordens,
particularmente por J. F. Blondel.
48
ARÍS, Carlos Martí. Las variaciones de la identidad. Ensayo sobre el tipo en arquitectura. Barcelona: Serbal, 1993.
p.140
49
CORONA MARTINEZ, Alfonso. Ensayo sobre el proyecto. Buenos Ayres: Libreria Técnica, 1991.
38
Figura 4: Marche a suivre dans la composition d’un projet quelconque
1. Traçado dos eixos principais da composição
(nome e situação das partes principais)
6. Cortes e fachadas
Fonte: MADRAZO, Leandro. Durand and the Science of Architecture. JAE (1984-), Vol. 48,
No. 1 (Sep, 1994), p. 16. Disponível em: http://www.jstor.org/ Acesso em: 01/09/2006.
50
PEREZ-GOMEZ, Alberto. Architecture and the crisis of modern science. Cambridge: MIT Press, 1983. p. 308
39
é uma “compilação de plantas, cortes e fachadas de edifícios, abstraídas de
referências culturais e históricas”.51
51
Opus cit. PEREZ-GOMEZ, p. 312.
52
Segundo LATOUCHE (1980), mythistoire significa que não há oposição entre mito e história; o tempo passado, recente e
contemporâneo não apresenta solução de continuidade.
53
Opus cit. PEREZ GOMES. p. 313.
54
COLLINS, Peter. Los ideales de la Arquitectura Moderna: su evolución (1750-1950). Barcelona: Gustavo Gili, 1965. p.
226.
55
BONTA, Juan Pablo. Tres notas sobre el processo de diseño. In: Suma nº 98, fevereiro 1976. p. 49-59.
40
suas funções (teatros, mercados e hospitais) e com a corrente estética (templos
egípcios, palácios romanos, detalhes mouriscos).
56
MÜLLER, Werner & VOGEL, Gunther. Atlas de arquitectura. 2. Del românico a la actualidad. Madrid : Alianza Editorial,
1995. p. 451
57
Ibidem, p. 469.
58
Comment pourra-t-on composer soi-même, si l’on ne connaît pas parfaitement tous les objets avec lesquels on doit
composer ? Comment imaginer un ensemble quelconque d’une maniére au moins supportable, si l’on n’a nulle idée des
parties qui doivent le former, et si l’ont ne sait pas d’avantage comment en géneral les parties doivent être combinées?
41
que às suas teorias subjacentes. Contudo, Pérez Gomes59 acredita que o manual
de Durand inaugurou um reducionismo na ação projetual ao sugerir que os
problemas de projeto pudessem ser solucionados por algoritmos.
Este procedimento produz uma simplificação dos métodos projetuais, mas também
dos significados atribuídos à arquitetura, tendência que se evidenciou nas
tentativas metodológicas das décadas de sessenta e setenta do século passado.61
59
PEREZ-GOMEZ, Alberto. Architecture and the crisis of modern science. Cambridge: MIT Press, 1983. p. 308
60
Falso tratado é como denomina CHOAY (1980), ao tratado que desprovido de teorizações, não passa de um catálogo.
61
CORONA MARTINEZ, Alfonso. Ensaio sobre o projeto. Brasília: Editora UNB, 2002.
62
ARIS. Carlos Marti. Las variaciones de la identidad. Ensayo sobre el tipo em arquitectura. Barcelona: Serbal, 1993.
p. 137.
42
2.1.2 Éléments et théorie de l'architecture: cours professé à l'École Nationale et
Spéciale des Beaux-Arts
43
destes conhecimentos o aspirante fazia seus exercícios de projeto nos ateliês. Os
ateliês, na primeira fase da École, localizavam-se fora da sede, consistindo em
grupos de alunos orientados por um arquiteto de renome. Em sua versão original,
havia uma hierarquia entre os veteranos (ancients), os novatos (aspirants) e os
calouros (nouveaux); orientados pelo mestre (patron). A tendência do ateliê
(l’esprit d’atelier) era ser marcado por uma forte estratificação e autoritarismo, o
que não impedia que, ali, se desenvolvesse um espírito de camaradagem entre os
participantes. Era praxe, os novatos desenharem para os veteranos no
desenvolvimento dos grandes projetos, cujo ápice era participar do cobiçado Prix
de Rome; num certo sentido, a produção do ateliê assumia um caráter coletivo, e
o sucesso de um aluno em particular era saudado como um sucesso do grupo.
63
SCOTT BROWN, Denise. Learning the wrong lessons from the. Beaux-Arts’, AD vol. 48, 1978.
64
SANTOS, Roberto Eustáquio dos. Disciplina e Legitimação do Conhecimento. p. 27.
Disponível em: www.arq.ufmg.br/ia/disciplina. Acesso em: 02/01/07.
44
Figura 6: Processo educacional na École des Beaux-Arts
Escolha Preparação para admissão Requisitos para diplomação
ateliê
• Elaboração de uma proposta • Aprovação mínima em seis dos
projetual em doze horas dezoito exercícios de projeto com vistas
• Desenho de observação de um urbanas:
elemento decorativo modelado em • Aprovação nos cursos de Construção
gesso e de Teoria e História
• Projeto final com especificações
técnicas e estimativas de custos
• Prova prática em escritório de
arquitetura
Fonte: SALAMA, Ashraf. 1995. Design Education and Studio Work in the Conventional
Approach. In: New Trends in Architectural Education: Designing the Design Studio. USA.
65
SCOTT BROWN, Denise. Learning the wrong lessons from the. Beaux-Arts’, AD vol. 48, 1978.
45
XIX, na composição arquitetônica a compreensão do todo era indispensável ao
conhecimento das partes. Nesta construção, as relações estabelecidas entre as
partes precediam às próprias partes. Para Guadet, o resultado compositivo e
formal do projeto era uma decorrência das inter-relações entre programa, cultura,
contexto e sistemas construtivos, em contraposição à obediência a códigos
estilísticos específicos e programas pré-determinados. Esta interdependência entre
os operadores do projeto é reafirmada, por Guadet, ao longo dos capítulos de seu
manual.
(...) Também os estudos que eu proponho aos iniciantes são embasadores aos da
construção, são apenas noções de construtibilidade. Depois eu lhes mostrarei que
as formas de arquitetura derivam dessas noções (...). Como método, eu sempre
procurarei passar do simples ao complicado, do conhecido ao desconhecido; eu
pretendo mostrar que na arquitetura tudo procede da dedução.66
78 (...) Aussi les études que je propose aux debutants sont préalables à cella de la construction, et ne comportent que les
notions de constructibilité. Je leur montrerai d’ailleurs que de ces notions dérivent les formes d’architecture.(...)Comme
méthode, je chercherai toujours à passer du simple au composé, du connu à l’inconnu ; j’aspire à montrer que dans
l’architecture tout procéde de la dèduction.
46
Sustentava que aprendidas às noções básicas, caberia ao professor orientar
o estudante na fomentação e aplicação desses conhecimentos, sem, no entanto
incutir-lhe seu juízo de valor estético.
(...) Como todo artista eu posso ter minhas preferências e minhas aversões, mas
eu jamais defendi como professor, a propaganda estreita nem a excomunhão.67
Não existe livro destinado aos que começam a estudar arquitetura, tampouco para
os que têm a tarefa de lhes ensinar as noções elementares. Comecei a escrever o
livro do aluno e do mestre; trabalho considerável, mas interessante e útil que eu
possa, talvez, fazer bem, depois de mais de vinte anos ensinando e detectando as
lacunas que sofrem nossos alunos (...). O livro que pretendo publicar é um manual
didático. E por quê? - Porque carece, eu repito mais uma vez.68
Esses livros são excelentes a consultar mais tarde, como repertório, pois não
podem apresentar a ordem lógica dos estudos porque eles obedecem a uma ordem
67
(...) Je puis avoir comme tout artiste mes preferences et mes aversions, mais je n’ais jamais complis comme professeur la
propagande étroite ni l’excommmunication
68
Il n’y a pas de livre usuel fait pour ceux qui commencent a etudier l’architecture, non plus que pour ceux qui entreprenent
la tâche de leur en enseigner les éléments. Le livre de l’élève et du maître, j’avais voulu le tenter, et j’en avais commencé la
préparation : travail considérable, mais interessant et utile, que je pouvais peut-être mener à bien, aprés plus de vingt
anées d’enseignement et d’expérience des lacunes dont souffrent nos élèves.(...) C’est bien le livre élémentaire, le livre de
classe, à la portée des debutants, que je prêtends publier. Et pourquoi ?- Parce qu’il manque, je le répèt encore une fois.
47
alfabética: ensinando abóbada, que não é certamente a primeira coisa que se deve
saber, e é depois de muitos volumes que se encontrarão as paredes, que deveria
ter aparecido nos estudos antes das abóbadas.69
69
Ces livres, excelents à consulter plus tard come répertoire, ne peuvent présenter l’ordre logique des études, puis qu’ils
obeissent au hasard de l’ordre alphabétique : ils definissent d’abord l’abaque, qui n’est certes pas la premiére chose á
conaître, et c’est aprés plusieurs volumes qu’on recontrera le mur, qui certes doit apparaître dans les études avant l’abaque.
70
ARIS. Carlos Marti. Las variaciones de la identidad. Ensayo sobre el tipo em arquitectura. Barcelona: Ediciones del
Serbal, 1993. p. 50
48
LIVRO V: Elementos de arquitetura: tetos, pisos, aberturas, escadas, elementos
diversos
Infelizmente, outro fator que contribuiu para seu esquecimento foi a sua
quase ausência de ilustrações. Contudo, essa negação não impediu a sobrevivência
de procedimentos didáticos beaux-arts, adotados, de alguma forma, até hoje.
71
Destes livros, apenas o de Howard Robertson tem uma versão para a língua espanhola; Los princípios de la Composición
Arquitetocnica, editado em 1955.
72
The Art Bulletin, College Art Association. 1953. p. 169-174
Disponível em: http://www.jstor.org/stable/3047484. Acesso em: 16/09/08.
49
A negação do ensino da École des Beaux-Arts a partir da crítica modernista
foi seguida de tentativas das vanguardas artísticas do século vinte para superá-lo,
com a criação de outros contextos de formação do arquiteto.
50
2.2 Manuais Didáticos da Bauhaus
73
No ensaio dedicado à relatividade (1905), intitulado Elektrodynamik Bewegter Körper (Movimento eletrodinâmico dos
corpos), Einstein (1879-1955) afirma que espaço e tempo são valores relativos e não absolutos, ao contrário do que se
acreditava até então. Afirma ainda ser a da luz a velocidade máxima no universo e acrescenta: para o corpo que se
deslocasse a essa velocidade, o tempo sofreria uma dilatação, ao mesmo tempo em que se registraria uma contração do
espaço. Assim, o corpo que permanecesse em repouso envelheceria em relação ao outro corpo, em movimento.
Disponível em: http://www.fisicabrasil.hpg.ig.com.br/einstein.html. Acessado em: 08/02/07.
74
Sigmund Freud (1856-1939) em 1899, publica “A interpretação dos sonhos” livro que marca o nascimento da psicanálise
75
Jean Piaget (1896-1980), biólogo por formação, pesquisou sobre os processos cognitivos nas crianças. Publicou diversos
livros publica seu primeiro artigo sobre psicologia.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean Piaget. Acesso em: 06/07/05.
76
John Dewey é reconhecido como um dos fundadores da escola filosófica de Pragmatismo, um pioneiro em psicologia
funcional, e representante principal do movimento da educação progressiva norte-americana durante a primeira metade do
século XX.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Dewey. Acesso em: 03/ 06/2005.
51
A República de Weimar se encerrou em 1933. Neste período, assistiu-se a
uma efervescência cultural que transcendeu os limites da própria Alemanha. Houve
notáveis progressos da pesquisa nas ciências exatas com Einstein, Planck,
Oppenheimer e Pauling entre outros. Nas ciências humanas e sociais pode-se
destacar Lukács, Benjamin, Husserl, Heiddegger, Arendt, Reich, Horney, Weber,
Scheller, Adorno, Marcuse e Horkheimer; na literatura, Brecht, Heinrich Mann,
Thomas Mann; na música, Stravinsky e Bartok.77
É importante frisar que, até 1928, a Bauhaus foi uma escola de design (isto
é, de projeto, em sentido amplo); arquitetura era uma das atividades
contempladas, assim como o teatro e a dança (cenografia e manequins), a
escultura e a tecelagem, além do desenho de objetos.
77
CURY, Carlos Roberto Jamil. A constituição de Weimar: Um capítulo para a educação. Educação & Sociedade. Educ.
Soc. vol. 19 n. 63 Campinas Aug. 1998
78
COLLINS, Peter. Los ideales de la Arquitectura Moderna: su evolución (1750-1950). Barcelona: Gustavo Gili, 1965.
p. 231
79
TOURNIKIOTIS, Panayotis. La historiografia de la arquitectura moderna. Madrid: Mairea, 2001. p. 238
52
primeiro quarto de século tinham a mesma direção teórica e analítica e por ser um
fenômeno alemão por antonomásia influenciou, sobejamente, a Bauhaus.
80
Opus Cit. TOURNIKIOTIS, p. 239
81
GLUCK, Mary. Interpreting Primitivism, Mass Culture and Modernism: The Making of Wilhelm Worringer's
Abstraction and Empathy. New German Critique, No. 80, Special Issue on the Holocaust (Spring - Summer, 2000), p.
149-169. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/488637. Acesso em: 12/12/08.
82
We regard as this counter-pole an aesthetics which proceeds not from man's urge to empathy, but from his urge to
abstraction. Just as the urge to empathy as a pre-assumption of aesthetic experience finds its gratification in the beauty of
53
Enquanto as teorias da primeira geração dos arquitetos do século XX giravam em
torno da simbologia e abstração, ou, ao redor de espaço e volume, ou na
integração de ambos – todos concordavam com dois princípios: a rejeição do
ecletismo e a minimização da expressão do uso. No entanto, a expressão funcional
83
foi o fator deflagrador e decisivo no trabalho dos arquitetos modernistas.
the organic, so the urge to abstraction finds its beauty in the life-denying inorganic, in the crystalline or, in general terms, in
all abstract law and necessity.
83
Whether the theories of the first generation of twentieth century architectural thinkers centered around symbol and
abstraction, or around space, or volume, or the integration of both- they all agree in two concepts: in the rejection of
eclecticism and in the minimization of functional expression. This functional expression, however, was the starting point and
decisive factor in the work of contemporaneous creative architects. It will be up to the architects of the second half of our
century to express in their creations those ideas which were the intrinsic problems of the theoreticians of the first decades of
our century.
ZUCKER, Paul. The Paradox of Architectural Theories at the Beginning of the "Modern Movement". In: The
Journal of the Society of Architectural Historians, Vol. 10, No. 3 (Oct., 1951), p. 8-14.
Disponível em: http://www.jstor.org/stable/987445. Acesso em: 12/12/08.
54
No começo desse período (entre 1920 e 1930) o uso de desenhos pictóricos e
escultóricos abstratos como meio de criar formas arquitetônicas foi explorado por
aqueles arquitetos que pouco construíam e cuja única recompensa era a honra de
serem considerados os iniciadores do Movimento Moderno84.
Mas como Kuhn observa essa atitude não garantiu que pudessem “praticar
85
seu ofício sem um conjunto dado de crenças recebidas” . Apesar da tentativa de
liberação de cânones artísticos e conseqüente negação da composição enquanto
reconhecimento de preexistências (na Bauhaus não há mais composição e sim
criação), os elementos de arquitetura e de composição, elementos básicos
definidos por Guadet, professor da École des Beaux-Arts, em seu manual didático,
foram substituídos, na Bauhaus, pelos elementos da arte abstrata: ponto, linha e
plano.
84
COLLINS, Peter. Los ideales de la Arquitectura Moderna: su evolución (1750-1950). Barcelona: Gustavo Gili,
1965. p. 226.
85
KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2005. p.23.
86
87
BOWSER, Wayland. Reforming design education. JAE, vol. 37, nº 2, wintter1983. pp. 12-14.
Disponível em: http://www.jsla.org/stable/1424740. Acesso em: 20/08/08
55
O fim último de toda a atividade plástica é a construção. Adorná-la era, outrora, a
tarefa mais nobre das artes plásticas, componentes inseparáveis da magna
arquitetura. Hoje elas se encontram numa situação de auto-suficiência singular, da
qual só se libertarão através da consciente atuação conjunta e coordenada de
todos os profissionais. Arquitetos, pintores e escultores devem novamente chegar a
conhecer e compreender a estrutura multiforme da construção em seu todo e em
suas partes; só então suas obras estarão outra vez plenas de espírito arquitetônico
que se perdeu na arte de salão. As antigas escolas de arte foram incapazes de criar
essa unidade, e como poderiam, visto ser a arte coisa que não se ensina? Elas
devem voltar a serem oficinas. Esse mundo de desenhistas e artistas deve, por fim,
tornar a orientar-se para a construção. Quando o jovem que sente amor pela
atividade plástica começar como antigamente, pela aprendizagem de um ofício, o
"artista" improdutivo não ficará condenado futuramente ao incompleto exercício da
arte, uma vez que sua habilidade fica conservada para a atividade artesanal, onde
pode prestar excelentes serviços. Arquitetos, escultores, pintores, todos devemos
retornar ao artesanato, pois não existe "arte por profissão". Não há nenhuma
diferença essencial entre artista e artesão, o artista é uma elevação do artesão, a
graça divina, em raros momentos de luz que estão além de sua vontade, faz
florescer inconscientemente obras de arte, entretanto, a base do "saber fazer" é
indispensável para todo artista. Aí se encontra a fonte de criação artística.
Formemos, portanto, uma nova corporação de artesãos, sem a arrogância
exclusivista que criava um muro de orgulho entre artesãos e artistas. Desejemos,
inventemos, criemos juntos a nova construção do futuro, que enfeixará tudo numa
única forma: arquitetura, escultura e pintura que, feita por milhões de mãos de
artesãos, se alçará um dia aos céus, como símbolo cristalino de uma nova fé
vindoura.88
88
GROPIUS, Walter. Manifesto Bauhaus. Weimar, abril, 1919. Tradução: Hilde Engel, Willy Keller, Nice Rissone e Edgar
Welzel. Disponível em: www.arkitekturbo.com/bau_geral_por.html. Acesso em: 17/09/08.
56
Figura 8: Gropius e a Bauhaus
57
Figura 9: Henry Van de Velde: mobiliário e arquitetura
58
Figura 10: Currículo da Bauhaus
89
DROSTE, Magdalena. Bauhaus; 1919-1933. Berlim: Taschen, 2004. p. 37.
59
Figura 11: Estudantes da Bauhaus em Weimar
90
The Course of Training in the Architecture Department. From “Bauhaus-junge menschen kommtans bauhaus,” advertising
pamphlet, published by the Bauhaus in Dessau (1929) P. 151
91
O termo design só aparece em 1945.
60
aspectos estéticos, funcionais e econômicos. Além de poder atender a uma
demanda crescente, Gropius esperava que a escola pudesse se tornar auto-
suficiente, sem depender das verbas do Estado.
\
Fonte: disponível em: http://www.bauhaus.de/. Acesso em: 22/03/07
92
WICK, Rainer. Pedagogia da Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 13
93
Ibidem.
94
O termo construtivismo deriva da expressão russa konstruktivisty que se “refere a maneira como o arquiteto estrutura ou
organiza seu pensamento; como ele organiza seu modo de projetar e como constrói um conjunto previamente constituído
de formas apropriadas ao trabalho do arquiteto. In : COOKE, Catherine. ‘Form is a function X’: the development of the
constructivist architect’s design method. In: AD p. 34-49
61
“sistematização e as bases científicas do processo de elaboração do projeto e a
95
sua implementação no ensino prático e teórico.” Se Gropius até agora havia se
preocupado principalmente com a imagem, “formas e cores típicas”, Meyer
enfatizou os aspectos funcionais, visando maior adequação ao usuário. Meyer não
concordava com Gropius quanto à importância do Vorkurs e solicitou sua
eliminação, mediante a seguinte justificativa:
95
DROSTE, Madalena. Bauhaus, 1919-1933. Berlim: Taschen, 2004. p. 193.
96
MEYER, Hannes. El arquitecto em la lucha de classes y otros escritos. Barcelona: Gustavo Gili, 1972. p. 110.
62
Figura 13: Trabalho desenvolvido no curso de Hannes Meyer
Meyer permaneceu na direção até 1930, sendo substituído por Mies van der
Rohe que foi o último diretor da Bauhaus. Sua primeira atitude foi despolitizar a
escola identificada com o Marxismo professado na gestão anterior. Suas
concepções sobre arquitetura diferiam das de Meyer, que sempre defendeu
arquitetura como produto de uma coletividade cujo objetivo maior era responder
às questões sociais. Embora as idéias básicas fossem semelhantes – a
97
mecanização do trabalho e a relevância das Artes como campo de investigação -
sob o ponto de vista ideológico, as convicções divergiam. Enquanto para Mies, a
primeira tarefa no processo de renovação das artes era sua purificação e o
descobrimento de suas leis psicológicas e formais (Gestaltheorie98), Meyer
postulava que para conceber um edifício99, fosse necessário compreender, estudar
todos os seus aspectos: todas as suas conexões internas e externas.
97
COLQHOUN, Alan. Modern Architecture. Oxford: University Press, 2002. p. 120-135.
98
A escola gestáltica de psicologia desenvolveu-se a partir das teorias de psicólogos alemães sobre a percepção visual. Estas
teorias pretendiam explicar como percebemos formas e padrões. Partindo da noção Romântica de que se percebe a
totalidade e não as partes isoladamente, estabeleceram uma série de princípios sobre qual forma seria a mais adequada, a
lei da boa forma.
Leis de percepção visual. Posicionamento que afirma serem a carga emocional e os conceitos estéticos atributos de uma
obra de arte e não do seu espectador. In : Houaiss eletrônico.
99
O método de projeto para os construtivistas consistia em um fracionamento do problema para definir um programa,
verificando todos os seus condicionantes, requerimentos e necessidades. Este programa respondia aos aspectos sócio-
culturais e ao estudo das disponibilidades do sistema construtivo: a forma deveria ser a resultante necessária deste
programa. Esta forma deveria ser dinâmica à medida que responderia as alterações sociais (usabilidade) ao longo do tempo.
Desta maneira, a forma é a grande incógnita, a ser revelada pela correta aplicação da fórmula. Ela é resultante e não
origem. Estes conceitos são extremamente contemporâneos: o caráter sistêmico do projeto, a flexibilidade e usabilidade dos
63
Com Mies, a Bauhaus tornou-se exclusivamente uma escola de arquitetura.
O Vorkurs tornou-se optativo e aos estudantes foi permitido participar das aulas
sobre princípios técnicos construtivos desde a segunda fase. No entanto, para a
arquitetura, a ênfase na “boa forma” teve um efeito nefasto. No projeto
arquitetônico constatou-se que a especulação pela forma mais significativa pôs,
em segundo plano, aspectos programáticos e construtivos, praticamente,
ignorando o usuário.
O edifício passou a ser, muito mais, a resposta a um ou mais dos eventos como
programa, restrições ou incentivos legais, materiais, expressão plástica, processo
construtivo e/ ou qualidade icônica do que a solução mais adequada á coexistência
desses fatores.102
espaços. Infelizmente, a experiência do Vkhutemas durou apenas quatro anos e pouca é a bibliografia disponível sobre o
assunto. In: COOKE, Catherine. ‘Form is a function X’: the development of the constructivist architect’s design method.
In: AD p.34-49.
100
COLLINS, Peter. Los ideales de la Arquitectura Moderna: su evolución (1750-1950). Barcelona: Gustavo Gili, 1965.
p. 291.
.101 HERDEG, Klaus. The decorated diagram. Harvard architecture and the failure of the Bauhaus legacy. London: the MIT
Press, 1983. The building becomes a haphazard record of such random events as program, legal restrictions or inducements,
materials, plastic expression, building process, and icon quality rather than a manifestation of their considered coexistence,
or better, their resolution into a coherent whole.
102
Opus cit. HERDEG, p. 2.
64
Figura 14: O Diagrama Decorado
Parece que as intenções do projeto dos edifícios herdados
da Bauhaus foram reduzidas a dois critérios
independentes: plantas originadas a partir da disposição
funcional e criação de um interesse visual, provocando um
hiato entre planta e aparência, espaço interior e aspecto
exterior. Mesmo a mais elementar função de proteção do
tempo, foi sacrificada em nome de algum “grande ideal”
(princípio) defendido pelo “manual” da Bauhaus de
Gropius.
Fonte: HERDEG, Klaus. The decorated diagram. Harvard architecture and the failure of the
Bauhaus legacy. London: the MIT Press, 1983.
103
WICK, Rainer. Pedagogia da Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 13
104
DROSTE, Madalena. Bauhaus, 1919-1933 Berlim: Taschen, 2004. p.193.
65
abordada. Quando os alunos iniciavam a projetar arquitetura eram solicitados a
fazer uma proposta utilizando como ponto de partida o ponto, a linha e as
superfícies. Como era realizada esta passagem do Vorkurs para arquitetura não
fica claro. Também, não foram publicados livros que relatem os procedimentos
didáticos das disciplinas voltadas ao ensino de projeto arquitetônico.
105
WICK, Rainer. Pedagogia da Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 353
66
enquanto o ensino acadêmico se baseava na transmissão da informação, a ruptura
epistemológica do ensino de Klee e Kandinsky pode entender-se como o privilegiar
do autoconhecimento vivenciado através duma experiência, antes de mais nada,
existencial.106
Fonte: BAYER, Herbert; GROPIUS, Walter & GROPIUS, Ise. Bauhaus: 1919-1928. New
York: Museum of Modern Art, 1952. p. 23.
106
RODRIGUES, Antonio Jacinto. A Bauhaus e o ensino artístico. Lisboa: Editorial Presença, 1989. p. 209.
67
No Vorkurs, a maior carga horária, era dedicada à Instrução Prática. Em
1924, compreendia quatro manhãs por semana, as aulas sobre Estudos da Forma,
ministradas por Moholy-Nagy, duas manhãs, enquanto as aulas de Kandinsky e
Klee se resumiam a três horas semanais.107 A integração entre a teoria e a prática
foi um dos aspectos fundamentais da formação Bauhaus, através da participação
efetiva de seus estudantes na concretização de suas concepções.108
107
DROSTE, Madalena. Bauhaus. Berlim: Taschen, 2004. p. 65
108
Ibidem. p. 214.
109
BAYER, Herbert; GROPIUS, Walter & GROPIUS, Ise. Bauhaus: 1919-1928. New York: Museum of Modern Art, 1952. p.
25.
110
KRIPPENDORFF, Klaus. The semantic turn. A new foundation for design. New York: Taylor & Francis, 2006. p. 204.
68
e português. Moholy-Nagy, Kandinsky e Klee eram reconhecidos no panorama
artístico de vanguarda, independentemente da Bauhaus. Por essa razão, seus
manuais didáticos foram mais difundidos e seguem influenciando111, até hoje, o
ensino. É emblemática a proposta da disciplina do primeiro ano da Faculdade de
Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, relatada em publicação
recente.112
O que moveu os oito professores envolvidos foi à tentativa de recuperar alguns dos
princípios que nortearam o trabalho pedagógico inédito de Klee, Kandinsky e
Moholy-Nagy no Vorkurs (Curso Preliminar/ Estudo da Forma) da Bauhaus
principalmente em uma das quatro áreas de interesse: estudo da configuração,
estudo das formas básicas, configuração de superfícies, corpos e espaço e estudo
da composição.
111
Outros professores da Bauhaus, também, escreveram sobre seu procedimentos didáticos.
112
BARKI, José. Noções de concepção do projeto: a experiência da disciplina estudo da forma I. In: ANDRADE, Luciana,
BRONSTEIN, Laís & SILLOS, Jacques. ARQUITETURA E ENSINO: reflexões para uma reforma curricular. Rio de Janeiro:
FAU/ UFRJ, 2003. p. 115
113
Dentre os temas desenvolvidos: os elementos básicos da forma, cores, o valor do ensino teórico na pintura, pedagogia da
arte, análise dos elementos primários da pintura.
69
2.2.1 Do Material à Arquitetura
114
MOHOLY-NAGY, Lázló. Do material à Arquitetura. Barcelona: Gustavo Gili, 2005. p. 243
70
(...) aqueles que aprendem pelo método histórico parecem ter aprendido muito,
quando o que realmente aprenderam é a classificar e datar os monumentos do
passado. Na realidade, apenas alguns aprendem realmente a experimentar o
115
milagre do espaço bem projetado.
SUMARIO
Prefácio
Introdução
Questões educativas
O material
A continuação do caminho do material: o volume
O espaço (arquitetura)
115
BAYER, Herbert; GROPIUS, Walter & GROPIUS, Ise. Bauhaus: 1919-1928. New York: Museum of Modern Art, 1952.
p. 122
71
sentir, ou melhor, a capacidade do sujeito para constituir a realidade a partir de
elementos das sensações. Assim, os procedimentos didáticos de Moholy-Nagy
visavam liberar o aluno de seus condicionantes culturais através de exercícios que
estimulassem a liberação sensorial.
116
MOHOLY-NAGY, Do material à Arquitetura. Barcelona: Gustavo Gili, 2005. p. 21-67.
117
WICK, Rainer. Pedagogia da Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 1989 . 205
72
A composição e a construção são dois aspectos do mesmo problema. (...) A
construção exige – comparada com a composição - um maior caudal de
conhecimentos, coisa que não supõe, sem dúvida, a eliminação da inspiração
intuitiva.118
118
MOHOLY-NAGY, Lázló. La Nueva Visión y Reseña de um Artista. Buenos Aires: Ediciones Infinito, 1963. p. 53.
119
Ibidem, p. 200.
73
Os exercícios eram solicitados na seqüência de cinco estágios: o estágio de
bloco, o modelado (cavado), o perfurado (atravessado), o suspenso e o cinético.
O que importa não é uma configuração externa escultórica deslocada, mas são
apenas as relações espaciais, que estabelecem conteúdos necessários para a
vivência de um plano de criação, com isso, em certas circunstâncias, pode ser
criada uma fronteira rigorosa de grande superfície, que separe exterior de interior,
uma vez que na arquitetura os elementos construtivos não são figurações
120
Opus cit. MOHOLY-NAGY. P. 195.
74
escultóricas deslocadas, mas são posições espaciais. Assim o interior da construção
se liga com o exterior por meio de sua articulação espacial.121
121
Opus cit MOHOLY-NAGY. P. 222.
122
Segundo projeto de Moholy-Nagy, onde elevadores e passadiços, deslocando-se em vários sentidos, acentuam a ação
cênica; Aujourd’hui, Art et Architecture nº 17. Paris, mai 1958, p. 26.
75
2.2.2 Ponto e Linha sobre o Plano
123
O termo criação não supõe preexistências, ao contrário do termo composição.
124
WICK, Rainer. Pedagogia da Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 255.
125
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Wassily_Kandinsky#A_Bauhaus_e_.C3.BAltimos_anos
126
Opus cit. WICK. p. 259.
127
KANDINSKI, Wassily. Curso da Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
76
seqüência temporal e temática.128 Aulas expositivas e exercícios práticos
encontram-se dispersos ao longo das mais de duzentas páginas do livro.
128
Opus cit. WICK, p. 268.
129
Opus cit. KANDINSKI. P. 9
130
KANDINSKI, Wassily. Ponto linha e Plano: contribuição para a análise dos elementos picturais. Rio de Janeiro: Edições
70, 1989.
77
O objetivo último desta ciência será a grande síntese que ultrapassará os próprios
limites da arte, permitindo ao artista dominar a sua criação por intermédio de sua
ciência aplicada. (...) Ponto, linha e Plano é um esforço para definir um método
aplicado (...). O método aqui proposto consiste no estudo desses dois elementos,
primeiro em abstrato, sem suporte material, depois em relação com uma superfície
material, ou seja, com o plano.131
Esses textos são, também, o resumo dos conteúdos das aulas que ministrou
na Bauhaus.132 Veja-se o programa de suas aulas, ministradas no primeiro
semestre de 1928.
131
KANDINSKI, Wassily. Ponto linha e Plano: contribuição para a análise dos elementos picturais. Rio de Janeiro: Edições
70, 1989. p. 9-10
132
WICK, Rainer. Pedagogia da Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 268.
78
d) Utilização da cor para reforçar os resultados das propostas133
133
WINGLER, Hans Maria. The Bauhaus: Weimar, Dessau, Berlin, Chicago. Cambridge Mass: MIT, 1986. p. 144
Kandinsky`s course (1 st semester)
Abstract form elements
Introduction: analysis in the 19th century, remaining elements of synthesis, beginning – end, new basis for synthesis
Color theory: isolated color, system of colors, interrelationships, tensions, effects, fitness.
Form theory: isolated form, system of forms, interrelationships, tensions, effects, fitness.
Color and form theory: relationships of colors and forms, arrangement of the same with respect to tensions and effects.
Base: tensions. Method of instructions: Lecture, exercises by students and subjects that are either chosen or assigned,
group discussions of projects, and exercises in accurate analysis.
Analytical draftsmanship
Elementary: accurate drawing or still lives arranged by the students themselves, limited plan, large-scale form.
Development of the structural network: Primary problem: accurate relationship between the individual groups of forms and
of individual forms to large scale forms.
Translation of the object into structural tensions, emphasis of the supporting elements, dynamics, focus.
Utilization of colors in order to systematically reinforce the results of the project of(c).
134
Opus cit. WINGLER, p. 30-31.
79
A linha horizontal corresponde dentro da concepção humana à linha ou superfície
sobre a qual o homem repousa ou morre. A horizontal é, portanto, uma base de
sustentação fria. (...) na linha vertical o plano é substituído pela altura, ou seja, o
frio pelo quente. (...) a linha diagonal (...) define sua sonoridade interior – união
em partes iguais do quente e do frio.135
135
KANDINSKI, Wassily. Ponto linha e Plano: contribuição para a análise dos elementos picturais. Rio de Janeiro: Edições
70, 1989. p. 62.
136
Opus cit. KANDISNKI. p. 45.
80
2.2.3 Contribuições para a Teoria Plástica da Forma
Desde o princípio e cada dia que passa, vejo com maior claridade o meu papel,
nomeadamente, o de comunicar à experiência que tenho adquirido com a
configuração das idéias (desenhar e pintar) relativa à organização da multiplicidade
em unidade. Transmito essa experiência, parte, através de sínteses (isto é, deixo-
vos verem as minhas obras) e parte, por meio de análises (isto é, subdivido minhas
obras nas suas partes essenciais).140
137
WICK, Rainer. Pedagogia da Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 335
138
Ibidem, p. 335 e 336
139
KLEE, Paul. Écrits sur l’art. 2 vol. org. Jürg Spiller.p. 98-511.
140
DROSTE, Madalena. Bauhaus. Merlim: Taschen, 2004. p. 65.
81
Análise e síntese eram a base dos procedimentos didáticos de Klee que
lidavam com problemas de geometria e estereometria (medições) para conduzir os
alunos ao fenômeno visual. Klee investigava as origens da forma, suas
141
possibilidades de transformação e desenvolvimento. Iniciava suas aulas com o
142
“ponto que se põe em movimento” discorrendo sobre as categorias de linhas e
seus aspectos subjetivos, a seguir trabalha a terceira dimensão e a perspectiva a
partir do exemplo de duas linhas que convergem para um ponto. Na terceira lição,
são tratados aspectos de equilíbrio na composição. A quarta aula é dedicada à
estrutura, que para Klee é de “natureza puramente plástica”.143 A estrutura é
fornecida pela repetição de certos elementos. Nas lições subseqüentes, são
abordados problemas referentes à força da gravidade assim como dos movimentos
do cosmo e dos movimentos na pintura. O curso encerra-se com a teoria das
cores.
I. Geral
1. Explanação da teoria da composição
141
BAYER, Herbert; GROPIUS, Walter & GROPIUS, Ise. Bauhaus: 1919-1928. New York: Museum of Modern Art, 1952. p.
524.
142
WICK, Rainer. Pedagogia da Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 336
143
Ibidem.. p. 338.
82
2. Ordens gerais
3. Ordens específicas
4. Composição
II. Projeto planimétrico
A. Regra
1. Aproximações para forma, ocorrência de tensões
2. Esquemas
3. Forma em relação a formato e tamanho
4. Formatos intermediários
5. Configurações de formas
6. Formas compostas
B. Exceções à regra
1. Exceções com arranjos perpendiculares
2. Posições irregulares, formas irregulares
3. Configurações de formas irregulares
4. Descentralização
5. Irregularidade livre
6. Irregularidades de curvas
7. Digressões (contrário de concêntrica)
8. Progressões144
Klee modificava o teor de suas aulas à medida que fazia suas investigações.
Suas pesquisas sobre as formas abstratas retroalimentavam seus procedimentos
didáticos. Klee não concordava que a iniciação artística pudesse ser um método
espontâneo, idéia contrária à de alguns professores da Bauhaus.
144
The compulsory Basic Design Courses of Albers, kandinski, Klee, Schlemmer, and Schmidt (1928). Do catálogo do
Congresso Internacional de Professores de Arte, Praga, 1928. In: WINGLER, Hans Maria. The Bauhaus: Weimar, Dessau,
Berlin, Chicago. Cambridge Mass: MIT, 1986. p. 144
83
2.3 Considerações
145
KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2005.
146
CALOVI PEREIRA, Cláudio. Teoria acadêmica e projeto arquitetônico: Julien Guadet e o Hôtel des Postes de Paris
(1880). In: Arqtexto n.6 (2005), p. 89.
84
aprendizado dessas noções elementares o aluno estaria apto para iniciar a
projetar. Este questionamento é manifesto na seguinte afirmativa:
Não existe livro destinado aos que começam a estudar arquitetura, tampouco para
os que têm a tarefa de lhes ensinar as noções elementares. Comecei a escrever o
livro do aluno e do mestre; trabalho considerável, mas interessante e útil que eu
possa, talvez, fazer bem, depois de mais de vinte anos ensinando e detectando as
lacunas que sofrem nossos alunos (...). O livro que pretendo publicar é um manual
didático. E por quê? - Porque carece, eu repito mais uma vez.147
Viu-se que os escritos de Durand (fins do séc XVII) representam uma visão
de mundo Iluminista, pela qual a realidade era factível de ser fragmentada e
catalogada, pois o conhecimento das partes resultaria na compreensão do todo. O
mundo de Guadet (início do séc. XX), era mais complexo, e já se percebia que do
reconhecimento das partes não se alcançaria a compreensão do todo. Em Guadet
a expressão, ou caráter do edifício, era resultado da composição dos elementos de
construção. Neste manual, observa-se uma preocupação com a viabilidade
construtiva dos edifícios e com a reação do usuário, fatores ausentes nos manuais
de Durand.
Il n’y a pas de livre usuel fait pour ceux qui commencent a etudier l’architecture, non plus que pour ceux qui entreprenent la
tâche de leur en enseigner les éléments. Le livre de l’élève et du maître, j’avais voulu le tenter, et j’en avais commencé la
préparation : travail considérable, mais interessant et utile, que je pouvais peut-être mener à bien, aprés plus de vingt
anées d’enseignement et d’expérience des lacunes dont souffrent nos élèves.(...) C’est bien le livre élémentaire, le livre de
classe, à la portée des debutants, que je prêtends publier. Et pourquoi ?- Parce qu’il manque, je le répèt encore une fois.
148
Viu-se que Durand foi adotado como manual didático.
85
na Bauhaus, os escritos de Kandinsky e Klee, remetem aos ensinamentos de
Guadet.
Figura 25: Casa de Walter Gropius e Pavilhão em Barcelona de Mies Van der Rohe
86
Quanto á estrutura de ensino, a permanência dos ateliês vinculada a
procedimentos didáticos teórico-práticos e as relações aluno-tutor permaneceram.
A diferença consistiu no curso preliminar – Vorkurs - no primeiro ano do curso,
voltado a todas as manifestações artísticas. No sistema École des Beaux-Arts, o
aspirante a arquiteto estava imerso em arquitetura desde o início de seus estudos.
Assim, desde os primeiros procedimentos didáticos para o desenvolvimento da
expressão gráfica, havia uma relação direta com arquitetura; desenhavam-se
objetos arquitetônicos, visando, o aprendizado das técnicas e dos materiais
construtivos.
87
aprendia-se quais eram os elementos de arquitetura e composição dos edifícios de
outras épocas. Esse conhecimento era solicitado quando das aulas de composição
no ateliê, seja como cópia para desenvolver a observação e a expressão gráfica ou
como modelo para compreender princípios compositivos.
149
DROSTE, Magdalena. Bauhaus; 1919-1933. Berlim: Taschen, 2004. p. 40.
88
exercícios de análise e síntese feitos nos cursos de Kandinsky e Klee versavam
sobre suas próprias obras. A ausência de uma orientação pedagógica contribuiu
para que as relações de ensino aprendizagem fossem tradicionais. As aulas eram
expositivas seguidas por exercícios de fixação dos conteúdos.
Assim, estas duas escolas embora, como se viu, apresentem alguns pontos
em comum, confirmando o que nos diz Kuhn: “nenhum grupo pode praticar seu
150
ofício, sem um conjunto dado de crenças recebidas” . p. 23, em suas origens e
objetivos representam paradigmas diferentes.
150
KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2005, p.23
89
A partir de meados dos anos sessenta, houve uma revisão crítica ao
Modernismo, e por extensão à Bauhaus e uma tentativa de revalorização dos
ensinamentos da École. Infelizmente, as lições de Guadet foram ignoradas e se
retrocedeu ao manual de Durand, que, como visto, era muito adequado aos
paradigmas da época em que foi escrito, mas anacrônico ao século XX.
151
KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Prespectiva, 2005. p. 177.
90
estaria prejudicando a aprendizagem dos calouros, provocando lacunas
cognitivas.152
152
Freqüentemente os professores reclamam que certos assuntos já deveriam ter sido abordados anteriormente.
153
KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Prespectiva, 2005. p. 177.
91
3. MANUAIS DIDÁTICOS BEST-SELLERS
92
Verificando-se as referências bibliográficas sugeridas para os estudantes do
primeiro ano, três livros são, sempre, recomendados: Saber ver arquitetura
(1948) do italiano Bruno Zevi, Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem (1979) do
norte-americano Francis D. K. Ching e Lições de arquitetura (1991) do holandês
Herman Hertzberger; três épocas, culturas e contextos muito diferentes. Desses
três, Zevi tem o maior número de exemplares nas bibliotecas consultadas, depois,
respectivamente, Ching e Hertzberger.
Cabe descobrir o que eles são, as intenções secretas que camuflam tanto suas
pretensões explicitas quanto suas ideologias tácitas, e definir seu verdadeiro
estatuto154.
Embora, esses três manuais sejam diferentes em suas origens e idéias, são
recomendados como embasamento teórico para iniciação ao projeto arquitetônico.
Não se pretende investigar as causas da permanência destes escritos, mas verificar
se continuam adequados à formação de arquitetos no século XXI. Para tanto uma
leitura crítica dos conteúdos se faz necessária.
154
CHOAY, Françoise. A regra e o modelo. São Paulo: Editora Perspectiva, 985. p. 2
93
3.1 Saber Ver Arquitetura
155
ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. Título Original: Saper vedere l'architettura.
1948. Copyright by Bruno Zevi. 1ª edição brasileira: outubro de 1978; 6ª ed.
156
TOURNIKIOTIS, Panayotis. La Historiografia de la Arquitetura Moderna: Pevsner, Kaufmann, Giedion, Zevi,
Benévolo, Hitchcock, Banham, Collins, Tauri. Madrid: Mairea/ Celeste, 2001. p. 67
157
Disponível em: http://pt.shortopedia.com/L/I/Livros__page7
158
ZEVI, Bruno. Saber ver la arquitectura. Buenos Aires: Poseidon, 1958. p.14
94
Tournikiotis alerta para a conotação dos termos utilizados pelo autor em
seus textos. Para Bruno Zevi moderno significa contemporâneo enquanto
159
funcionalismo e racionalismo são “conceitos equivalentes.”
159
Opus Cit., TOURNIKIOTIS, p. 67.
160
Zevi quando publica o ensaio sobre a “Linguagem moderna da arquitetura”, em 1974, em seu tom anedótico, comenta no
prefácio que, a depois de John Summerson ter publicado, em 1966, um ensaio intitulado “A linguagem clássica da
arquitetura”, ficou esperando a publicação de uma anti tese, “A linguagem anticlássica da arquitetura, ou melhor, a
linguagem moderna da arquitetura. Vale lembrar que quando Zevi fala em moderna, quer dizer contemporâneo, e é neste
sentido, que redige seu livro. Uma arquitetura que não reproduza o passado, mas que considere as condições do presente,
visto que os contextos são muito diversos.
95
Figura 27: Outros livros de Bruno Zevi
161
ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 65.
96
Valendo-se de uma experiência racionalista amadurecida trinta anos antes que a
européia, Frank Lloyd Wright se ergue, desde meados deste século XX, os
materiais brutos, como profeta e gênio da tendência orgânica.162
162
ZEVI, Bruno. El lenguaje moderno de la Arquitectura. Barcelona: Poseidon, 1978. p. 234.
163
ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 57.
164
TOURNIKIOTIS, Panayotis. La Historiografia de la Arquitetura Moderna: Pevsner, Kaufmann, Giedion, Zevi,
Benévolo, Hitchcock, Banham, Collins, Tauri. Madrid: Mairea/ Celeste, 2001. p. 71
165
ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 65.
97
leigo somado á incapacidade de comunicação das qualidades desse espaço por
seus produtores, os arquitetos.
(...) uma planta pode ser bela no papel, como quatro fachadas podem parecer
bem estudadas pelo equilíbrio de seus cheios e vazios, de suas saliências e
reentrâncias, como o volume em seu conjunto, pode ser igualmente
proporcionado (...) ”167
166
Ibidem, p. 11. Esta observação de Zevi será comentada nos próximos manuais a serem analisados.
167
Ibidem, p. 14.
98
arquitetura é a qualidade de seu espaço interno, “onde os homens vivem e se
movem”.168
Todos aqueles que, ainda que fugazmente, refletiram sobre este tema, sabem que
o caráter essencial da arquitetura - o que a distingue das outras atividades
artísticas está no fato de agir com um vocabulário tridimensional que inclui o
homem. A pintura atua sobre duas dimensões, a despeito de poder sugerir três ou
quatro delas. A escultura atua sobre três dimensões, mas o homem fica de fora,
desligado, olhando do exterior as três dimensões. Por sua vez, arquitetura é como
uma grande escultura escavada, em cujo interior o homem penetra e caminha.169
A definição mais precisa que se pode dar atualmente da arquitetura é a que leva
em conta o espaço interior. A bela arquitetura será arquitetura que terá um espaço
interior que nos atrai, nos eleva nos subjuga espiritualmente; arquitetura feia será
aquela que tem o espaço interior que nos aborrece e nos repele. O importante,
porém, é estabelecer que tudo que não tem espaço interior não é arquitetura. A
história da arquitetura é a historia das concepções espaciais. As demais coisas (a
decoração, a escultura, a pintura, os motivos econômicos, valores sociais ou
funcionais e as razões técnicas) são importantes, porém são funções da concepção
espacial.170
168
ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 1-8.
169
Ibidem, p. 17
170
Ibidem, p.28
171
MONTANER, Josep Maria. Arquitetura e crítica. Barcelona: Gustavo Gili, 2007
172
ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 63-64
99
ciente das possibilidades de interpretações infundadas, Zevi, já, advertia que da
leitura rápida de suas teorias poderiam advir duas conclusões apressadas:
173
Ibidem, p. 25.
174
Ibidem, p.28.
100
Figura 28: Fallingwater House, Mill Run, Pennsylvania, USA
175
1. Elenco dei contenuti e delle funzioni, derivato da William Morris e dal movimento Arts and Crafts, al quale Wright ha
aderito in chiave della macchina.
2. Asimmetria e dissonanza. Invero il maestro di Taliesin è l’Arnold Schönberg dell’architettura.
3. Tridimensionalità antiprospettica, intesa a rifiutare l’edificio come scatola, osservato da un punto di vista statico
rinascimentale.
4. Scomposizione quadrimensionale. Wright è il padre del movimento olandese De Stijl.
5. Strutture in aggetto, a guscio e a membrana, ovvero la fine dello scisma tra ingegneria e architettura.
6. Spazi vivi, dinamici, fluidi: l’essenza stessa dell’identità wrightiana.
7. Continuità tra interno e esterno, edificio, paesaggio e tessuto urbano. [il testo originale è pubblicato in Frank Lloyd
Wright. Europe and Beyond, a cura di A. Alofsin, Berkeley- Los Angeles – London, 1999]
101
Figura 29: Composição quadrimensional e estrutura em balanço,
cascas e membranas
Fonte: Zevi, Bruno. A linguagem Moderna da Arquitetura. Lisboa: Dom Quixote, 1984.
(...) nenhuma representação é suficiente, precisamos nós mesmos ir, ser incluídos,
tornarmo-nos e sentirmo-nos parte e medida do conjunto arquitetônico, devemos
nós mesmos, nos mover. Todo resto é didaticamente útil, praticamente necessário,
intelectualmente fecundo; mas é meras alusão e função preparatória dessa hora
em que, todos nós, seres físicos, espirituais e, sobretudo humanos, vivemos os
espaços com uma adesão integral e orgânica.176
176
ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 51.
102
época para poder apreciar cada produção arquitetônica, descrevendo estes
fatores:
Comenta que, embora todos estes fatores estejam sempre presentes, não
possuem a mesma importância relativa. Assim, muitas vezes alguns fatores têm
mais influência que os outros na resposta arquitetônica. A partir de uma série de
exemplos, mostra quais foram os fatores determinantes em cada época e lugar.
Faz breves observações sobre a arquitetura clássica da Grécia e Roma, passa por
Bizâncio, comenta os espaços medievais, irrompe na Renascença, critica
duramente o espaço urbanístico do século XIX, afirmando que foi uma “época de
mediocridade inventiva e de esterilidade poética.” Ao chegar ao século XX,
enaltece o advento das novas técnicas que permitiram a “planta livre”, citando: Le
Corbusier, Mies Van der Rohe e Frank Lloyd Wright e suas casas paradigmáticas.
177
ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 14.
103
interpretação, o que introduz o risco do erro na subjetividade do conhecedor, de
sua visão de mundo e de seus princípios de conhecimento.178
178
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez; Brasília DF: UNESCO, 2006.
p. 20.
104
matéria de arquitetura. (...) em arquitetura, conteúdo social, efeito psicológico e
valores formais se materializam no espaço.179
As obras com finalidade didática, por exemplo, esforçam-se por estabelecer regras
e princípios de uma correção sintática tão insossa, de uma aridez tão anônima e de
uma dogmática tão ingênua que mesmo as pessoas mais interessadas encontram
dificuldades para entender.
Toda posição crítica vital fundamenta suas raízes em uma consciência estética
determinada pelas intenções artísticas na qual se desenvolve. (...). Desobstruir o
terreno da mitologia histórica e dos tabus monumentais, aderir à arte em sua fase
criadora, ler as obras do passado com os olhos de seus artistas, julgar Borromini,
com a mesma falta de preconceito e com a mesma confiança com que se julga
Neutra, significa, não somente, abrir caminho à arquitetura moderna, senão,
também, à arquitetura dos séculos passados.180
179
ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 126
180
Ibidem, p. 131
105
maioria das pessoas verá cair à cortina dos preconceitos que confinam a cultura
arquitetônica a um lugar mofado acadêmico e falso. (...) Portanto, entre as
promessas, as tarefas, as esperanças e a potencialidade de nossa obra coletiva,
está também, a nova história da arquitetura, da qual estas páginas, acerca da
interpretação espacial, querem servir de auspicio.181
Zevi não pretendeu escrever um manual didático. Seu livro é uma reflexão,
um ensaio (como informa o subtítulo) sobre as diversas maneiras de se conceber e
interpretar arquitetura. Utilizando-se de exemplares de períodos e lugares
diversos, o autor mostra que, nem sempre, a interpretação da arquitetura é
condizente com sua concepção. Alerta para a necessidade das pessoas se
liberarem de idéias preconcebidas, para “saber ver arquitetura”. O texto de Zevi é
de difícil compreensão, tornando-se ainda menos claro em sua versão para o
português da Martins Fontes.
181
ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p.132.
106
3.2 Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem
Tente ler um ou todos os livros sugeridos, se você os achar fascinantes, você está
no caminho certo, mas, se você os considerar aborrecidos, pense novamente na
sua escolha.183
182
Chinês, japonês, coreano, indonésio, malásio, espanhol, alemão, norueguês, português, italiano e hebraico.
183
Try reading one or more of the following books. If you find them fascinating you are probably on the right track. If you
find them boring, then think again.
107
Figura 30: How do I chose?
It is difficult to tell in advance if you have the aptitude for architecture, because there is
nothing that you experience at Second Level that is anything like it. Courses in
architecture and architectural technology are of their nature vocational. In choosing one
you are usually making quite a big decision about your career direction. So it is important
to research it well.
Collect all the information you can from the course booklets published by the educational
institutions. Look at the subjects you will have to study during the course - do they appeal
to you? Talk to your parents and school career guidance counsellor. Talk to an architect if
you know one. Go to Open Days.
Try reading one or more of the following books. If you find them fascinating you are
probably on the right track. If you find them boring, then think again.
CHING, Francis. Architecture: Form, Space, Order. Van Nostrand Reinhold, 1996.
CHING, Francis. Building Construction Illustrated. Van Nostrand Reinhold, 1991.
GORDON, J.E. Structures, or Why Things Don't Fall Down. Penguin, 1991.
NUTTGENS, Patrick. The Story of Architecture. Second edition. Phaidon, 1997.
RASMUSSEN, Steen Eiler. Architecture for Beginners. Chapman & Hall. 1964.
ROTHERY, Sean. A Field Guide to the Buildings of Ireland. Lilliput Press, 1997.
BRENNAN, Marie & MCNICHOLL, Ann. Shaping Space: Architecture in the Transition Year.
RIAI, 1998.
Fonte: disponível em: http://www.riai.ie/education/choose.html. Acesso: em 15/06/2006.
108
184
moderna” . Este movimento defendia a “pura referência histórica à cultura
185
popular” . O resultado foi uma colagem de diversos estilos e tendências, que
terminou virando um pastiche. Neste cenário, de uma quase licenciosidade
estilística, Ching publica esse livro, em 1975.
184
FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p.355.
185
MELVIN, Jeremy. ...ISMOS. Entender a arquitectura. Seixal: Editora Lisma, 2006. p. 128
186
For more than thirty years, the beautifully illustrated Architecture: Form, Space, and Order has been the classic
introduction to the basic vocabulary of architectural design. This classic visual reference helps both students and practicing
architects understand the basic vocabulary of architectural design by examining how form and space are ordered in the built
environment. Using his trademark meticulous drawing, Professor Ching shows the relationship between fundamental
elements of architecture through the ages and across cultural boundaries. By looking at these seminal ideas, Architecture:
Form,Space, and Order encourages the reader to look critically at the built environment and promotes a more evocative
understanding of architecture.
109
Figura 31: Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem, edição 2008.
187
KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Prespectiva, 2005. p. 177
110
campo das ciências, da tecnologia, das artes, dos ofícios etc. “188 Conceito, por sua
vez, é tomado na acepção kantiana, “a partir de noções, que ultrapassam a
possibilidade da experiência”, ou seja, “um conceito nada mais é do que uma
forma pela qual uma intuição particular, vem a ser pensada como universal, como
pertencente a uma mesma classe de objetos reunidos por traços comuns.”. Esta
imprecisão nos termos pode sugerir certa superficialidade epistemológica,
questionável em uma publicação destinada, principalmente, aos iniciantes.
188
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 1.0. São Paulo: Editora Objetiva, 2001
189
CHING, Francis. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. São Paulo, Martins Fontes, 1999, p. VII
190
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 1.0. São Paulo: Editora Objetiva, 2001.
111
[...] Este trabalho continua a ilustrar as maneiras como os elementos
fundamentais e os princípios do projeto arquitetônico se manifestam no decorrer
da história humana.
191
KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Prespectiva, 2005. p. 66.
192
MONTANER, Josep Maria. As Formas do Século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2002.
193
CHING, Francis. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. São Paulo, Martins Fontes, 1999. p. VII
194
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 1.0. São Paulo: Editora Objetiva, 2001.
112
195
uma maneira descontextualizada, “como se houvessem saído do nada” , como
nos propõe o autor. (Provavelmente, o autor não leu o “Saber ver arquitetura”,
cujo argumento é justamente o contrário).
195
HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000. p.
28.
113
[...] De qualquer maneira, pressupõe-se que o conjunto de condições existentes - o
problema - seja pouco satisfatório E que um novo conjunto de condições - uma
solução - se faça desejável. O ato de criar arquitetura, portanto, constitui um
processo de solução de problema ou de projeto196.
Viu-se que arquitetura é uma disciplina e uma prática, por meio da qual se
gera algum tipo de produto intelectual capaz de se materializar em artefatos, no
caso, os espaços edificados. No entanto, não se cria edificações (criação),
inventam-se edificações. Assim, a formulação mais correta seria: o ato de inventar
edificações. Esses esclarecimentos ficam faltando, deixando em aberto o
entendimento daquilo que o autor estaria efetivamente dizendo quando discorre
sobre a arquitetura.
196
CHING, Francis. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. São Paulo, Martins Fontes, 1999. p. IX.
114
aventa-se a possibilidade de transcrever um projeto em algoritmos. Essas
tentativas se tornaram populares através dos livros de Cristopher Alexander e
Cristopher Jones, que não serão analisados, por fugirem ao escopo desta tese.
Esta nova visão de mundo admite que, existem respostas mais adequadas
que outras, a verdade deixa de ser única, não se cogita mais em um “vocabulário
de projeto que é tanto elementar quanto atemporal”. Contudo, um projeto
arquitetônico apresenta diversos aspectos problemáticos, cujas soluções envolvem
inúmeros processos. Logo, resolver um projeto passa a ser enfrentar problemas
incompletos e complexos, cuja solução não existe a priori e nem é única. A
complementação dos dados do problema vai sendo construída á medida em que
este se define. Não existe uma única solução correta, mas a que será considerada,
dentre um amplo universo de escolhas, a mais adequada à situação descrita.
115
Prosseguindo na leitura, no segundo parágrafo são apresentados
procedimentos para alcançar a solução do problema.
197
CHING, Francis. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. São Paulo, Martins Fontes, 1999. p. 9.
198
Ibidem.
116
essenciais” têm variado de acordo com as regras do paradigma vigente na época
da redação do manual. Ademais, apresentar um “amplo rol de soluções”
assemelha-se a uma tarefa hercúlea neste século XXI.
199
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 1.0. São Paulo: Editora Objetiva, 2001.
200
Opus cit. CHING, p. 9.
201
POZO, Juan Ignácio. Aprendizes e mestres. A nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002. p. 30
117
refere à capacidade de comunicação de seus elementos estilísticos. Não se está
decompondo frases em palavras e palavras em letras.
202
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 1.0. São Paulo: Editora Objetiva, 2001.
118
Figura 33: Elementos primários
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p. 3.
Toda forma pictórica começa com o ponto que se coloca em movimento (...). O
ponto se move e a linha203 nasce-a primeira dimensão. Se a linha se desloca para
formar uma superfície204, obtemos um elemento bidimensional. No movimento da
superfície para espaços, o encontro de superfícies dá surgimento ao corpo
(tridimensional) (...) Uma síntese de energias cinéticas que movem o ponto
convertendo-o em linha, a linha convertendo-a em superfície e a superfície
convertendo-o em uma dimensão espacial205.
203
Na versão em português, line é traduzida para “reta”, um termo inadequado.
204
Na versão em português, plane é traduzida para “plano”, um termo inadequado.
205
KLEE, Paul. The Thinking Eye: The notebooks of Paul Klee, 1961. É a versão em ingles do livro de Klee organizado por
Jürg Spiller.
119
de quadrados, círculos e triângulos. Usado como recurso pedagógico, esse
reducionismo pode induzir a uma redução da complexidade do processo de
projeto.
Viu-se no capítulo anterior que Paul Klee foi professor de Teoria da Forma
no Vorkurs da Bauhaus. Esse curso introdutório não era específico para os alunos
da arquitetura, mas extensivo aos alunos de todas as artes. Seus procedimentos
didáticos estavam baseados nas suas pesquisas sobre a concepção da obra de
arte, enquanto desenho e pintura. Embora discorra sobre o ponto, a linha e a
superfície, o ponto não é motivo de reflexões teóricas (ao contrário da teoria de
Kandinsky), mas torna-se significativo quando, em movimento, forma a linha. O
espaço para Klee é o resultado, na pintura, da convergência de duas linhas para
um ponto, sendo essa sua terceira dimensão.
120
arquitetônicos pinçados de diversas épocas e locais, cujo simples arranjo é
questionável.
121
em inglês, shape se refere a duas dimensões, enquanto form absorve as outras
duas. Este é mais um dos equívocos da versão para português da Martins Fontes.
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p.34.
210
Opus cit. CHING, p. 35.
211
Ver página 80 e 81 desta tese.
122
Ao longo deste capítulo forma é superfície (quando o exemplo é uma planta
baixa ou fachada) e forma, também é volume, quando o exemplo é uma
perspectiva. Para ilustrar o que entende por forma, Ching parte dos sólidos
platônicos e fragmenta-os em superfície e volume. Descreve superfície e volume
conforme suas “propriedades formais e relacionais” e passa a analisar desde o
busto da Rainha Nefertite até a Casa III de Peter Eisemann, passando pela igreja
Il Redentore do Pallladio, casa Shodham de Le Corbusier, entre outros exemplos.
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p.36-37.
212
Na cultura chinesa, par de forças ou princípios fundamentais do universo, ao mesmo tempo antagônicos e
complementares, em perpétua oscilação de predominância (supremacia relativa ou passageira do yin ou do yang), presentes
nas manifestações orgânicas, psicológicas e sociais do ser humano e na dimensão inorgânica da natureza.
123
que a utilidade do vaso depende.
Perfuramos portas e janelas para fazer uma casa;
e é destes espaços onde não há nada
que a utilidade da casa depende.
Portanto, da mesma forma que nos aproveitamos daquilo que é,
devemos reconhecer a utilidade do que não é.213
213
Opus cit. CHING, p. 91.
214
Ver página 63 desta tese.
215
Ver páginas 48 e 49 desta tese.
124
Figura 36: Plano Superior
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p.34
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p.129.
125
Figura 38: Plano vertical único
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p.129.
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p.129.
216
HERDEG, Klaus. The decorated diagram. Harvard architecture and the failure of the Bauhaus legacy. London: the MIT
Press, 1983.
126
A seguir são analisadas as possibilidades de aberturas nos planos, sem
nenhuma consideração sobre seus condicionantes, inter-relações ou
conseqüências. Quando se refere à luz, afirma:
A cor e o brilho da luz do sol podem criar uma atmosfera alegre dentro do cômodo,
enquanto uma luz do dia mais difusa pode impregná-la de um clima sombrio, [...]
é possível prever seu impacto visual sobre as superfícies, formas e espaço de um
recinto, com base no tamanho, na localização e na orientação de janelas e
clarabóias dos planos de delimitação.217
Esta abordagem do sol e da luz, não pode ser mais reducionista, ignora
quaisquer outros efeitos. A vista é considerada o “foco do espaço que pode ser
para dentro ou para fora”.218
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p. 174.
217
CHING, Francis. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. São Paulo, Martins Fontes, 1999. p. 171.
218
Ibidem p. 174.
127
[...] uma boa casa é algo simples, assim como uma reunião de muitas; e para fazê-
la, é preciso um salto conceitual dos componentes individuais para uma visão do
todo. As escolhas [...] representam maneiras de reunir as partes.219
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p.187 e 206
219
Opus cit. CHING, p. 177.
220
Ver página 35 desta tese.
221
BLOOMER, Kent & MOORE, Charles. Body, Memory and Architecture. Yale: University Press, 1977.
128
nossos corpos nosso movimento estão em constante diálogo com nossos
edifícios.222
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p. 259
222
Opus Cit. CHING, p. 227.
223
Ver página 48 desta tese.
129
sensações e necessidades, embora, a citação, que inicia o capítulo224, esteja
relatando sensações.
(...) dentro da Vila Foscari temos consciência da espessura das paredes que
separam os recintos, a cada uma das quais foi conferida uma forma precisa e
definitiva. (...) O visitante experimenta realmente estas proporções? A resposta é
sim - não as medidas exatas, mas a idéia fundamental por trás delas. Recebemos a
impressão de uma composição nobre, firmemente integrada, em que cada recinto
apresenta uma forma ideal dentro de um todo maior. Também sentimos que os
recintos são relacionados em termos de tamanho. Nada é trivial - tudo é grande e
integral.225
224 RASMUSSEN, Steen Eiler. Arquitetura vivenciada. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
225
Opus Cit., CHING, p. 277
130
Figura 44: Proporção e escala
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999 p. 289 e 337
226
ARHEIM, Rudolph. A Dinâmica da Forma Arquitetônica. p.319
227
Opus Cit., CHING, p.319.
131
Figura 45: The dynamics of architectural form
228
CHING, Francis. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. São Paulo, Martins Fontes, 1999. p. 321
132
Figura 46: Princípios
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. P 237-289
133
facilita o propósito como comunica significado. A arte da arquitetura torna nossa
existência não só visível, mas significativa.229
229
CHING, Francis. Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. São Paulo, Martins Fontes, 1999. p.374
230
Ibidem, p.15.
134
Figura 47: Da reta ao plano
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p. 289 e 33
231
MONTANER, Josep Maria. As Formas do Século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. p. 8.
232
Ibidem, p. 8.
135
O livro analisado resume-se a uma coleção de imagens, de fragmentos de
edificações, colhidos anacronicamente em uma tentativa anárquica de
sistematização: muita ilustração e texto reduzido a tópicos. São 423 edifícios de
135 arquitetos e construtores, destes 423 edifícios são mostrados 545 desenhos
sem escala, perfazendo, aproximadamente, 1,20 desenhos por exemplar. Nestas
ilustrações, observa-se a supremacia da planta baixa diagramática.
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p. 364, 365.
136
da seção áurea ao Modulor, inserindo na página 291 a comparação entre a Villa
Foscari de Palladio e a vila Garches de Le Corbusier, discutida por Colin Rowe.233
Fonte: CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999. p. 299, 307.
233
ROWE, Colin Manierismo y arquitectura moderna. Barcelona: Gustavo Gli 1999
137
ênfase é puramente formal (estilística) desconsiderando a característica sistêmica
do projeto. Outra questão preocupante é a irrelevância do usuário: este nunca
comparece como sujeito coadjuvante nos edifícios, é coisificado como unidade de
medida.
234
KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Prespectiva, 2005. p. 66.
138
3.3 Lições de Arquitetura
139
referentes preexistentes ou fixos na realidade externa”. A matriz, assim
estabelecida, definia o edifício, propriamente dito, seus espaços internos e
externos.
140
A leitura do prefácio esclarece as pretensões e idiossincrasias do autor.
É inevitável que o trabalho que você faz como um arquiteto deve servir como o
ponto de partida para o seu ensino, e obviamente a melhor maneira de explanar o
que você quer dizer é fazê-lo com base na sua experiência prática. De fato,
esse é o fio condutor desse livro. Ao invés de apresentar cada trabalho
separadamente, explicando cada uma de suas características, os diferentes
componentes textuais foram organizados de maneira em que, em seu conjunto,
apresente algo como uma teoria; à medida que os elementos vão sendo
organizados, a prática é transformada em teoria. (...) Arquitetos (e não
somente eles) costumam ignorar suas fonte de inspiração e até mesmo sublimá-las
- como se isso fosse possível. Mas com essa atitude o processo de projeto fica
obscuro, enquanto desvendar o que lhe motivou e lhe inspirou no primeiro
momento, pode ser benéfico e auxiliá-lo nas suas decisões. (...) Como todos
sabem, métodos para projeto são impossíveis de fornecer. Eu não tenho
essa pretensão, e também não vem ao caso se é possível aprender a projetar. O
objetivo de minhas “lições” sempre foi o de estimular os alunos, para neles
despertar um esquema mental que os permita fazer seu próprio trabalho; meu
objetivo neste livro é o mesmo.237
237
HERTZBERGER, Herman. Lessons for students in architecture. Rotterdam: Vitgeverij Publisshers, 1993. 1ª ed. 1991.
p.5
141
238
programado em sua herança genética” , quando afirma que pretende “estimular
os alunos, para neles despertar um esquema mental”.
O professor acredita que o aluno aprende por si mesmo. Ele pode, no máximo,
auxiliar a aprendizagem do aluno, despertando o conhecimento que já existe nele.
– Ensinar? – Nem pensar! Ensinar prejudica o aluno. Como diz um professor
(Becker, 1994): “Ninguém pode transmitir. É o aluno que aprende”. Outro
professor afirma: “você não transmite o conhecimento. Você oportuniza, propicia,
239
leva a pessoa a conhecer”.
238
BECKER, Fernando. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 20
239
Ibidem, p. 20.
240
BARONE, Ana Cláudia Castilho. Team 10: arquitetura como crítica. São Paulo: Anna Blume-Fapesp, 2002. p. 96
241
Opus cit., BARONE. p. 18-19
242
Opus Cit., BARONE. p. 98-99
142
Na Bauhaus de Gropius, o mobiliário, o edifício e a cidade poderiam ser
projetados da mesma maneira, no entanto suas conotações sociais só foram
discutidas no período de Hannes Meyer.
143
Figura 54: Domínio público - Fazendo e concedendo espaço - Provocando espaços.
245
A segunda parte do livro intitulada “Criando espaço, deixando espaço” é
subdividida em dez capítulos. O primeiro, “Estrutura e Interpretação”,246 define os
conceitos que serão abordados ao longo dos outros nove capítulos.
245
HERTZBERGER, Herman. Lessons for students in architecture. Rotterdam: Vitgeverij Publisshers, 1993. 1ª ed. 1991.
p. 90
246
Ibidem, p.92.
144
Figura 55: Domínio público e privado
247
O segundo, “Forma e interpretação” descreve lugares que demonstram
248
as “diferentes interpretações ao longo do tempo” e explicitam os conceitos
explanados no capítulo anterior. No terceiro, “A estrutura como espinha dorsal
gerativa: urdidura e trama”,249 mostra a “diversidade de interpretações individuais
que poderão coincidir no tempo”. Passa a descrever os conceitos através de
fragmentos de diversos projetos realizados por arquitetos de renome internacional.
O quarto capítulo, “A grelha”, exemplifica o conceito de estrutura, especificamente,
no espaço urbano.
247
Opus cit., HERTZBERGER, p. 94.
248
Ibidem, p. 108.
249
Ibidem, p. 108.
145
Figura 56: Forma e interpretação
Naturalmente, cada edifício bem projetado tem uma idéia coerente com uma
distinguível unidade temática, uma identidade no vocabulário, no material e no
método de construção. Mas aqui, o essencial é o projeto baseado em uma
estratégia sistematizada. Começando pelas partes, percorre-se o edifício várias
vezes para verificar se todas as partes pertencem ao mesmo tema. (...) Esse
método de trabalho implica, na verdade, na definição da própria estrutura do
projeto. (...) Este processo de projeto, inspirado pelo estruturalismo, opõe-se ao
funcionalismo onde a organização espacial e a forma são o resultado de
especificações funcionais.250
250
HERTZBERGER, Herman. Lessons for students in architecture. Rotterdam: Vitgeverij Publisshers, 1993. 1ª ed. 1991.
p. 126 (tradução da autora)
146
Todavia, as ilustrações não são acompanhadas de legendas, não havendo ligação
direta entre texto e figura (detalhe importante em um livro que pretende ser
didático).
251
HERTZBERGER, Herman. Lessons for students in architecture. Rotterdam: Vitgeverij Publisshers, 1993. 1ª ed. 1991.
p. 147
147
Figura 58: Forma e usuários
Projetar devia ser uma questão de organizar o material de tal modo que seu
potencial fosse inteiramente explorado. Tudo que fosse moldado deliberadamente
deveria funcionar melhor, i. e, deveria ser ajustado para fazer o que é esperado
dele por pessoas diferentes em situações diferentes e em épocas diferentes.252
252
Opus cit. HERTZBERGER, p. 151
148
Figura 59: Forma convidativa: o espaço habitável entre as coisas
149
entanto, como a exemplificação desses conceitos é mostrada através de
fragmentos de edifícios, prejudica seu caráter didático, especialmente para alunos
iniciantes. Esses não possuem, ainda, um conhecimento específico, declarativo,
sobre o objeto de estudo. Essa competência será construída ao longo de sua
vivência acadêmica e por toda sua vida profissional, através de sua própria prática,
vivências em edifícios ou de fontes secundárias como periódicos, livros, filmes,
entre outras. Não há dúvida de que quanto maior for seu repositório de casos
análogos, melhor é seu desempenho ao enfrentar um problema de projeto.253
253
Na acepção de Chomski, desempenho Competência é o domínio e habilidade de se desenvolver processos mentais.
254
CEIA, Carlos. E – Dicionário de Termos Literários. Disponível em: http//: www.tcsh.unl.pt/edtl. Acesso em: 03/04/06.
150
3.4 Considerações sobre os manuais best- sellers analisados
151
Outrossim, não se furte de ler os comentários, às vezes, mordazes, que Zevi
faz no final do livro sobre uma bibliografia escolhida.
Este livro teve sua primeira edição em 1979 e a última versão data de 2008.
Viu-se que, escrito sob a égide do pós-modernismo, adota e mescla princípios de
composição apresentados nos manuais clássicos de Durand e Guadet da École des
Beaux-Arts e teorias expressas nos livros, principalmente, de Klee e Kandinsky do
curso preliminar da Bauhaus.
152
Sua leitura apontou inconsistências que o desabonam como manual
didático: a imprecisão dos termos, a miscelânea de conceitos apresentados, a
simplificação exagerada dos projetos que o ilustram, a redundância de algumas
afirmações e a omissão deliberada do comportamento humano no ambiente.
Identificaram-se no texto evidências dissimuladas de paradigmas diversos.
Todavia, não é, necessariamente, a coexistência desses paradigmas que torna o
manual confuso, mas a sua dissimulação. Valem para esse livro as críticas que
Bruno Zevi fez em 1948 ao livro de Georges Gromort, Iniciação à arquitetura:
255
ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 149.
256
CLARK, Roger H.. Arquitectura: temas de composicion. Mexico: G. Gili, 1987.;
257
UNWIN, Simon. Analysing architecture. London: Routledge, 1997.
258
REIS, Antonio Tarcísio. Repertório, análise e síntese: uma introdução ao projeto arquitetônico. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2000.
259
BAKER, Geofrey H. - Análisis de la forma. Urbanismo y Arquitectura.1989. México. GG. 1991
153
todo. Embora se proponha a discutir na primeira parte o Domínio Público, ou seja,
contextualizando os edifícios, suas exemplificações contemplam, em sua maioria,
fragmentos de projetos de lugares e épocas distintas, caindo em uma
generalização simplificadora, que remete à Durand.
Mas, qual é o fio condutor que coloca estes livros como suporte teórico para
os procedimentos didáticos efetuados na iniciação ao projeto arquitetônico?
Indubitavelmente os best-sellers analisados são escritos por arquitetos que
concebem o projeto arquitetônico de modo diferente. Além disto, a análise de
conteúdo mostrou que pouco auxilia os calouros na compreensão de como abordar
um problema de projeto arquitetônico.
154
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
155
A análise dos manuais didáticos best-sellers, atualmente adotados como
referências bibliográficas em cursos de iniciação ao projeto, confirmou a suposição
expressa no início deste estudo que esses manuais, cuja intenção é sugerir
procedimentos didáticos, encontram-se inadequados ao fim a que se propõem.
Incorrem em um reducionismo não condizente com a construção de paradigmas
contemporâneos para o ensino de arquitetura, pois não enunciam
consistentemente seus fundamentos.
260
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez Editora, 2006. p. 20.
156
iniciação ao projeto, colocando em discussão o problema dos fundamentos da
prática projetual e de sua didática.
261
CORONA MARTINEZ, Alfonso. Ensayo sobre el proyecto. Buenos Aires: Libreria Técnica, 1991. p. 88
262
Un museo de disposiciones eternas, una colección de figuras que asegurarían de una vez por todas a arquitectonicidad de
las invenciones.
157
novato vai aprender fazendo. Como se viu, essa propedêutica foi utilizada por
Durand em outro contexto paradigmático.
Mesmo hoje, arquitetos que reconhecem uma afinidade entre arte e arquitetura,
costumam fazer jogos formais e falham na compreensão transcendental do
significado em arquitetura. (...) arquitetura não pode ser um jogo particular de
combinações, uma “linguagem formal” inventada a priori (arquitetura para
arquitetos), ou uma questão de mera decoração de estruturas com conotações
históricas arbitrárias; a dimensão transcendental necessária não pode ser
menosprezada. (...) Isso é particularmente evidente no ensino de Arquitetura.265
263
BRANDÃO. Carlos Antônio Leite. Linguagem e Arquitetura: o problema do conceito. Artigo desenvolvido na
pesquisa "Hermenêutica e Arquitetura” da Escola de Arquitetura da UFMG, sob o auxílio do CNPq.
264
CORONA MARTINEZ, Alfonso. Ensaio sobre o projeto. Brasília: Editora UNB, 2002
265
Even today, architects who recognize an affinity between their profession and art usually play formal games, but fail to
understand the transcendental dimension of meaning in architecture. (…) architecture cannot be a private game of
combinations, one “formal language’ invented a priori (architecture for architects), or a question of merely decorating
158
Contudo, a recomendação desses livros para uso de calouros é freqüente,
sugerindo que a ênfase no resultado formal seja a tônica, ou seja, a preocupação
de transmitir aos novatos um léxico formal. Em que pesem todas as considerações,
esse fato sinaliza que os ministrantes das disciplinas de iniciação ao projeto
concordam com esta abordagem ou, ao menos, a aceitam tacitamente, sem
aprofundar criticamente a leitura de seus pressupostos. Entrementes, pesquisas
realizadas266 apontam que o ensino de arquitetura não tem conseguido abarcar a
complexidade das atribuições do oficio, reiterando a necessidade de uma profunda
reflexão sobre o modus operandi das escolas.
Estamos atrasados porque nos falta incorporar ao ensino, o que tentamos fazer na
prática. (...) é irreal supor que podemos reconverter a arquitetura em repetição
artesanal. ”267
technological structures with arbitrary historical quotations; the necessarily transcendental (semantic) dimension of
meaning cannot be disregarded.(…) The illusion remains, however, that practice can be reduced to a system of rational
prescriptive rules. This is particular evident in architectural education.
266
“RIBA Constructive Change: A Strategic Study into the future of the Architects’ Profession”. Disponível em: research.
it.uts.edu.au.pdf
267
Estamos atrasados porque nos falta incorporar a la enseñanza lo que intentamos hacer em la prática. (...) es irreal
suponer que podemos reconvertir la arquitectura en repetición artesanal. CORONA MARTINEZ, Alfonso. Ensayo sobre el
proyecto. Buenos Aires: Libreria Técnica, 1991. p. 86
159
que aprender a projetar arquitetura não é saber reproduzir edifícios segundo
determinado cânones, mas compreender como se desenrola a ação projetual.
Portanto, aprender a projetar implica construir um repertório de possibilidades de
ações projetuais derivadas de “princípios abstratos, genericamente aplicáveis, mas
268
também de experiências concretas específicas” e não somente dos resultados
concretos destas ações. Contudo, a aquisição desse repertório não se encerra com
o fim do ano letivo, este vai sendo construído ao longo da vida do indivíduo.
268
HEYLIGHEN, A. In case of architectural design. Critique and praise of Case-Based Design in Architecture. PhD
dissertation, Department of Architecture, Katholieke Universiteit Leuven, Belgium, 2000.
160
arquitetônico não contemplam nem um caso, nem outro. Uma leitura crítica desses
textos revelou paulatinamente um cenário confuso, pouco propício a levar ao
estudante uma compreensão do que seja, no plano das ações, projetar. Constata-
se, de fato, que o objeto de estudo é o produto (o edifício) e não os processos (o
projeto), quando o que de fato interessa é a interação, no fazer arquitetônicos,
dessas duas categorias, com o deslocamento, no plano didático, do primeiro em
direção ao segundo.
269
Étude de processus d’élaboration d´ UN project d’ architecture. BENDEDDOUCH, Assya. Le Processus d’élaboration
d’un projet d’architecture. L´agrandissement du Musée des beaux-arts de Montréal. Montréal : L’Harmattan,
1998. p. 34.
161
dos processos do projeto, que são perdidas caso sejam analisadas
separadamente.270
270
HEYLIGHEN, A. In case of architectural design. Critique and praise of Case-Based Design in Architecture. PhD
dissertation, Department of Architecture, Katholieke Universiteit Leuven, Belgium, 2000.
271
CABRAL, Cláudia. Tipologias comerciais em Porto Alegre: da rua comercial ao shopping Center. Dissertação
(mestrado) 1996. Porto Alegre: PROPAR UFRGS.
CANEZ, Anna Paula. Arnaldo Gladosch, o edifício e a metrópole. Dissertação (doutorado) 2006. Porto Alegre: PROPAR
UFRGS.
KIEFER, Flávio. Fundação Iberê Camargo – Álvaro Siza. São Paulo: Cebac Naity, 2008.
FREITAS, Eduardo Lisboa Galvão de. Vila Planetário: estigma ou paradigma? Dissertação (mestrado) 2001. Poro
Alegre: PROPAR UFRGS.
LUCCAS, Luís Henrique Hass, Arquitetura Moderna Brasileira em Porto Alegre, sob o mito do “gênio artístico
nacional”. Dissertação (doutorado) 2004. Porto Alegre: PROPAR UFRGS.
COMAS, Carlos Eduardo Dias. Precisões brasileiras: sobre um estado passado da Arquitetura e do urbanismo
moderno: a partir dos projetos de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, MMM Roberto, Affonso Reidy, Jorge Moreira
& Cia. 1936-45. Dissertação (doutorado) 2002. Paris: Universidade de Paris VIII. s
MACIEL, Angela Becker. Variações programáticas aspectos distributivos: uma análise de apartamentos em Porto
Alegre. Dissertação (mestrado) 2004. PROPAR UFRGS.
162
as relações paradigmáticas se confundem para gerar um padrão que remete não a
um novo paradigma, construído sobre os que o antecederam, mas a uma
dissolução das práticas formativas que caracteriza, de fato, a lacuna conceitual de
uma crise paradigmática. O sintoma dessa crise aflora, seguindo a concepção de
Kuhn, nos manuais, ou livros didáticos, adotados para formação dos quadros
profissionais que atuam segundo normas aceitas tacitamente.
163
REFERÊNCIAS
BAYER, Herbert; GROPIUS, Walter & GROPIUS, Ise. Bauhaus: 1919-1928. New
York: Museum of Modern Art, 1952.
BARONE, Ana Cláudia Castilho. Team 10: arquitetura como crítica. São Paulo:
Anna Blume-Fapesp, 2002.
164
BENDEDDOUCH, Assya. Le Processus d’élaboration d’un projet
d’architecture. L´agrandissement du Musée des beaux-arts de Montréal.
Montréal : L’Harmattan, 1998.
BLOOMER, Kent & MOORE, Charles. Body, Memory and Architecture. Yale:
University Press, 1977.
BONTA, Juan Pablo. Tres notas sobre el proceso de diseño. In: Suma nº 98,
fevereiro 1976.
CHING, Francis. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo, Martins Fontes,
1999.1ª ed. 1979.
165
CHOAY, Françoise. A regra e o modelo. Sobre a teoria da arquitetura e do
urbanismo. São Paulo: Editora Perspectiva, 1980.
166
DUPLAY, Michel. Methode ilustree de creation architecturale. Paris: Du
Moniteur, 1982.
167
GUADET,Julien. Éléments et théorie de l'architecture: cours professé à
l'École Nationale et Spéciale des Beaux-Arts. Paris: 1902.
HERDEG, Klaus. The decorated diagram. Harvard architecture and the failure of
the Bauhaus legacy. London: the MIT Press, 1983.
KRIPPENDORFF, Klaus. The semantic turn. A new foundation for design. New
York: Taylor & Francis, 2006. p. 204.
168
KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Prespectiva,
2005.
169
NEUWEILER, G. A origem de nosso entendimento. Scientific American Brasil.,
São Paulo, n. 32, p., 64-71, Junho 2005.
170
POZO, Juan Ignacio. Aprendizes e mestres. A nova cultura da aprendizagem.
Porto Alegre: Artmed, 2002.
SALAMA, Ashraf. 1995. Design Education and Studio Work in the Conventional
Approach. In: New Trends in Architectural Education: Designing the Design
Studio. USA.
171
SCOTT BROWN, Denise. Learning the wrong lessons from the Beaux-Arts,
AD vol. 48, 1978.
172
ZÜCKER, Paul. The Paradox of Architectural Theories at the Beginning of the
"Modern Movement". The Journal of the Society of Architectural Historians,
Vol. 10, No. 3 (Oct., 1951), p. 8-14.
Disponível em: http://www.jstor.org/. Acesso em: 12/12/08.
173
APÊNDICE A - Precedents in architecture
272
This lucid guide to architectural precedence explains how to analyze existing buildings with the aid of diagrams. Included
is factual data on eighty-eight structures of wide-ranging function, style, and period— a welcome reference source for the
novice and seasoned professional alike.
174
Este livro versa sobre arquitetura. (...) esperamos alcançar idéias arquetípicas que
possam ajudar na gestação de formas arquitetônicas (...). Não pretendemos incitar
uma interação ou ressurgimento nem parcial nem total de um estilo. Com um
sentido consciente da precedência que identifica temas e modelos, esperamos,
principalmente, alcançar idéias arquetípicas que possam ajudar na gestação de
formas arquitetônicas.
Quatremère estabeleceu uma diferença entre modelo, que é uma coisa, e tipo, que
é uma idéia e que constituiu a única base válida para imitação. A essência do tipo é
um princípio elementar, espécie de núcleo, mas apresenta-se diferente em cada
país. Retomada por Argan nos anos 1960, a noção de tipologia tornou-se tema
central do discurso arquitetônico. Argan adotou a distinção entre tipo e modelo de
Quatremère, enfatizando que apenas o tipo deveria ser o ponto de partida para o
projeto. Passando para o campo do urbanismo e da preservação do patrimônio,
Aldo Rossi propunha o tipo como contendo idéias, que são os elementos
irredutíveis nas cidades – elementos culturais que deveriam ser preservados.
273
COLLINS, Peter. Los ideales de la Arquitectura moderna: su evolución (1750-1950). Barcelona: Gustavo Gili, 1965. p.
274
TOURNIKIOTIS, Panayotis. La historiografia de la Arquitetura Moderna. Madrid: Mairea/ Celeste, 2001. 187-188
175
Posteriormente, apesar da diferença de contexto, essas idéias obtiveram bastante
aceitação entre os arquitetos nos Estados Unidos.275
275
PEREIRA, Sonia Gomes. A Historiografia da Arquitetura Brasileira no Século XIX e os Conceitos de Estilo e
Tipologia. In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume II, n. 3, julho de 2007. Disponível em:
http://www.dezenovevinte.net/19e20/
176
projeto transcende esta preocupação. Evidentemente, alguns arquitetos
modernistas como Mies van der Rohe e Le Corbusier reduziram a complexidade de
dos problemas arquitetônicos enfrentados, para alcançar o impacto visual
desejado. Todavia, como afirma Venturi, o arquiteto pode determinar como
resolver o problema, mas isso não significa que possa determinar quais os que vai
considerar, pois nesse caso, corre o “risco de separar a arquitetura da experiência
da vida e das necessidades da sociedade”.276
276
VENTURI, Robert. Complexidade e Contradição na Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 5
177
Figura 62: Quadro comparativo das categorias de análise
Elementos Precedentes
espaços de uso e de circulação circulação e o espaço-uso,
iluminação e ventilação, recolhimento das águas, iluminação natural
beleza x utilidade, massa, adição e subtração,
equilíbrio, estrutura,
planta baixa, simetria e equilíbrio
caráter e tradição, geometria, repetitivo e o singular
proporções, hierarquia
relação entre a planta baixa, o corte
e a fachada; unidade e o conjunto
aspectos histórico-culturais dos edifícios,
economia,
utilidade.
178
Figura 64: Diagramas de plantas
179
Os “precedentes” de Clark & Pause, encontram-se desvinculados do
programa e desenraizados do lugar, não conseguindo fugir da noção de
composição elementar de Durand, em que o projeto é uma colagem de
fragmentos em duas dimensões. Assim, vê-se retomado como modelo o manual
didático de composição elementar de Durand, cuja conseqüência é um
questionável reducionismo do processo projetual. As idéias que perpassam o texto
são muito similares às de Ching: é preciso conhecer exemplares reconhecidos pelo
campo a fim de adquirir um repertório; as obras ditas como de arquitetura
possuem qualidades que perpassam o tempo e o espaço, mas essas qualidades
não são devidamente explicitadas.
180
APÊDICE B - Architecture: Design Notebook
181
los; o ato de projeto é um processo de tipo cíclico, que se resolve a medida que o
problema começa a ser definido com mais clareza.277
277
FAWCETT, A. Peter. Arquitectura. Curso básico de proyectos. Barcelona: Gustavo Gili, 1999. p. 8.
182
Figura 69: O contexto do projeto
Além disso, do mesmo que seus antecessores modernos, tais edifícios oferecem
um potencial novo para a criação da forma, algo que sempre ocupou um lugar
primordial na criação nas preocupações do arquiteto.278
278
FAWCETT, A. Peter. Arquitectura. Curso básico de proyectos. Barcelona: Gustavo Gili, 1999. p. 18.
183
do terreno, na face norte. E como se isto já não fosse suficiente, queria guardar
seus três carros de época, neste mesmo nível, junto á rua.279
279
Opus cit. FAWCETT, p. 14,15.
184
Figura 71: Le Corbusier e James Stirling
Caso se siga as instruções (quase sempre pouco claras) desse manual, não
se chegam a nenhum resultado. A abordagem dos tópicos é superficial e restringe-
se às opiniões do autor. Embora faça referencias históricas estas se mostram
anacrônicas.
280
FAWCETT, A. Peter. Arquitectura. Curso básico de proyectos. Barcelona: Gustavo Gili, 1999.p. 24
185
Os traçados reguladores de Le Corbusier eram do classicismo, o Modulor foi
uma adaptação de uma regra clássica. Estes cânones não eram modernistas, mas
as operações que Le Corbusier fez não obedeciam ao paradigma clássico, como
nos mostra Colin Rowe no texto A matemática da vila ideal281.
281
ROWE, Collin. Manierismo y arquitectura moderna y otros ensayos. 3 ed. Barcelona: G.Gili, 1999.
186
A conclusão é que a postura que se adotar na fase inicial desse complexo processo
de projeto em relação a escolha e expressão da estrutura, terá, inevitavelmente,
um efeito profundo sobre o resultado formal.282
282
Opus Cit., ROWE, p. 62.
283
Ibidem, p. 67.
187
Figura 74: Tecnologias
284
ROWE, Collin. Manierismo y arquitectura moderna y otros ensayos. 3 ed. Barcelona: G.Gili, 1999. p.67.
285
grifo do autor do livro
286
Opus Cit., ROWE, p. 112.
188
Discordo de Fawcett do que apresenta como “exploração inicial de um
território desconhecido”. O autor a medida, em que reduz e simplifica os
condicionantes externos do projeto, compromete o entendimento da complexidade
do projeto. Sua proposta parece ser a de tentativa e erro. A omissão em vez de
facilitar o processo, complica, pois o torna menos compreensível. Qual seria a
contrapartida? Tornar o território menos desconhecido. Como?
287
MARTI ARIS, Carlos. Las variaciones de la identidad. Ensayo sobre el tipo en arquitectura. Barcelona: Serbal, 1993.
p. 32
189
APÊNDICE C - Claves del construir arquitectónico
Los tres tomos Principios y II y III. Elementos estudian los aspectos esenciales del
saber constructivo necesario para participar profesionalmente en el mundo de la
arquitectura. Su objetivo principal es aportar un método que permita organizar y
exponer ese saber que compense la actual tendencia hacia la fragmentación del
conocimiento que, si bien es útil en muchos campos de la ciencia y la técnica, es
especialmente nociva en una actividad de síntesis como la arquitectura. La
superación de la división estanca entre lo artístico y lo técnico y, dentro de este
último, entre los conocimientos de construcción, estructuras, acondicionamiento e
instalaciones es uno de los objetivos prioritarios que debe asumir la enseñanza
actual de la Arquitectura en todos sus niveles y orientaciones. Los autores desean
que este libro sea una aportación en ese sentido y en el nivel básico de esos
conocimientos, donde, obviamente, es más necesaria su integración.291
288
GONZALEZ, José Luiz; CASALS, Albert e FALCONES, Alejandro. Claves del construir arquitectonico. Tomo I.
Princípios. Barcelona: Gustavo Gili, 1997.
289
Ibidem.
290
Ibidem.
291
Apresentação dos livros no catálogo da editora. Disponível em: http//: www,gustavogili.com.es.
190
Figura 75: Claves del construir arquitectónico, tomo I
I.Espacio III.Integridade
1. Uso, delimitadores, estrutura PESSOAS
2. El primer embate gravitatório 8. Seguridade de uso
PESSOAS E EDIFÍCIO
II. Ambiente 9. El fuego
NATURAL 10. Los embates horizontais
3. Água EDIFÍCIO
4. Calor y frio 11. El passo del tiempo
5. Luz IV.Produción
ARTIFICIAL 12. Técnicas del construir
6. Contaminación 13. Conformación materiales
7. Ruído 14. Conformación edifício
V. Estética
15. Técnicas de produción y conveniencia estética
16. Razones práticas (uso e duración) y conveniencia estética.
191
5. eficiência direta e meio ambiental de seus processos de
materialização.292
292
GONZALEZ, José Luiz; CASALS, Albert e FALCONES, Alejandro. Claves del construir arquitectonico. Tomo I.
Princípios. Barcelona: Gustavo Gili, 1997. p. 10.
192
Figura 76: Claves Del Construir Arquitetônico, tomo II
I. LA FORMACIÓN DEL ESPACIO 5. Elementos horizontales
EXTERIOR 5.1 Vigas o jácenas de forjados
1. Elementos horizontales 5.2 Forjados
1.1 El terreno natural 5.3 Elementos portantes de cubiertas ligeras
1.2 Pavimentos exteriores 6. La estructura como unidad
2. Elementos verticales 6.1 Estructuras de muros
2.1 Elementos de contención de tierras 6.2 Estructuras porticadas
2.2 Cercas, vallados y pantallas III. LA COMPARTIMENTACIÓN DEL
2.3 Arbolado INTERIOR
II. LA ESTRUCTURA PORTANTE 7. Entrepisos
3. Cimentaciones 8. Particiones
3.1 El terreno de cimentación 8.1 Tabiques y paredes
3.2 Cimentaciones superficiales 8.2 Puertas
3.3 Cimentaciones por pilotes 9. Revestimientos
3.4 Contención de tierras en sótanos 9.1 La envolvente interior como unidad
4. Elementos verticales 9.2 Pavimentos interiores
4.1 Muros o paredes 9.3 Falsos techos
4.2 Pies derechos 9.4 Revestimiento de paredes y techos
10. Escaleras
Fonte: disponível em: http//: www.gustavogili.com.es. Acesso em: 07/04/06.
193
Figura 77: Claves Del Construir Arquitetônico, tomo III
194
Figura 78: Claves del construir arquitectónico Tomo I. Principios
Los tres tomos Principios y II y III. Elementos) estudian los aspectos esenciales del
saber constructivo necesario para participar profesionalmente en el mundo de la
arquitectura. Su objetivo principal es aportar un método que permita organizar y
exponer ese saber que compense la actual tendencia hacia la fragmentación del
conocimiento que, si bien es útil en muchos campos de la ciencia y la técnica, es
especialmente nociva en una actividad de síntesis como la arquitectura. La
superación de la división estanca entre lo artístico y lo técnico y, dentro de este
último, entre los conocimientos de construcción, estructuras, acondicionamiento e
instalaciones es uno de los objetivos prioritarios que debe asumir la enseñanza actual
de la Arquitectura en todos sus niveles y orientaciones. Los autores desean que este
libro sea una aportación en ese sentido y en el nivel básico de esos conocimientos,
donde, obviamente, es más necesaria su integración.293
Fonte: Catálogo virtual da editora Gustavo Gili. Disponível em: www.gustavogili.com.es
293
Los tres tomos Principios y II y III. Elementos) estudian los aspectos esenciales del saber constructivo necesario para
participar profesionalmente en el mundo de la arquitectura. Su objetivo principal es aportar un método que permita
organizar y exponer ese saber que compense la actual tendencia hacia la fragmentación del conocimiento que, si bien es
útil en muchos campos de la ciencia y la técnica, es especialmente nociva en una actividad de síntesis como la
arquitectura. La superación de la división estanca entre lo artístico y lo técnico y, dentro de este último, entre los
conocimientos de construcción, estructuras, acondicionamiento e instalaciones es uno de los objetivos prioritarios que debe
asumir la enseñanza actual de la Arquitectura en todos sus niveles y orientaciones. Los autores desean que este libro sea
una aportación en ese sentido y en el nivel básico de esos conocimientos, donde, obviamente, es más necesaria su
integración.
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