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QUINTA PALAVRA DE JESUS NA CRUZ

“Depois disso, sabendo Jesus que tudo já estava consumado, para que se cumprisse a
Escritura até o fim, disse: ‘Tenho sede! ‘ Havia ali, uma jarra cheia de vinagre.
Amarrando uma esponja embebida de vinagre num ramo de hissopo levaram-no a
boca”. Jo 19, 28.

É muito difícil de mesurar e explicitar com palavras o que foi a cruz de Cristo, desde
seu primeiro momento no Horto das Oliveiras quando suou sangue, sangue esse que
jorrou abundantemente até o seu suspiro final. Porém, de forma alguma esse suplicio
não teve outro objetivo que não fosse o da salvação da humanidade com um todo, e,
quando na quinta palavra na cruz, onde tampouco conseguia falar, pelo fato da sua
posição e o peso da cruz comprimirem seu diafragma, e somente com muito esforço
conseguia expressar palavras, Ele diz: ‘Tenho sede’. Essa palavra vai com certeza muito
além de uma sede exigida pelo seu corpo já exaurido de forças e necessitado de alivio,
passando todos os limites da capacidade humana, para estar plenamente dentro da
realidade espiritual, onde sua maior sede impulsionado pelo seu amor inexplicável, é o
fim último do sacrifício da cruz; a salvação da humanidade, inserida em pecado. Mas,
se o vemos sofrer e padecer num sofrimento insólito da crucifixão, onde carregou
nossos pecados sobre si, com certeza, todos esses pecados conferidos pela
humanidade num contexto geral do tempo, passado, presente e futuro, o feriram
numa amplitude ainda maior no âmbito espiritual da sua alma divina, com um
sofrimento de imensurável grandeza. Assim, Jesus, não só sofreu a angustia suprema
pelo sofrimento do corpo, mas também um sofrer muitas vezes maior em sua alma
divina. E, ainda hoje sofre, com as misérias deste mundo onde além do pecado que
insiste em fazer sofrer os seus, tem-se as consequências do mesmo na vida de tantos
que também tem sede, mas uma sede de libertação. Como a Samaritana quando vai ao
poço pegar água, e encontra Jesus, que pede a ela: ‘Dá-me de beber’, uma alusão a
cruz, cuja sede é de almas, Ele com seu amor leva a salvação a aquela mulher, dando-
lhes mais que água natural, mas a água viva que jorra do seu lado ferido na cruz,
embebida de amor puro e incondicional. Isto porque a alma do ser humano tem sede
de Deus, como canta os salmos, mas o que nos afasta deste Deus é o pecado, que
transforma o coração humano numa terra árida e seca necessitada de água, mas de
água viva. Mas, a sede de Jesus não se encaixa nesta concepção, mesmo sendo
humano igual em tudo a nós, o que o diferencia é que Ele nunca teve a marca do
pecado em si. A palavra em Lucas confirma, (Lc 10, 19), que Jesus veio procurar e
salvar ao que estava perdido, sarar aos feridos, ser um novo caminho para encontrar o
amor de Deus, onde o povo da sua época não sentia esse amor do Pai, pois tudo
estava nas mãos de uns poucos que se intitulavam escolhidos sem dar a água viva que
estes tanto necessitavam, para também nos dias atuais encontrarmos através de Jesus
na Eucaristia essa água viva que sacia a sede de amor e redime os pecados. E, como
nos diz Santa Catariana, feliz em sua reflexão; que a sede do corpo é limitada, mas a
sede do santo desejo não tem limites, tal que Jesus por essa motivação não poupou
esforço para achegar a humanidade ao colo do Pai, através da sua obediência irrestrita
e contundente. Não tem limites quando vem ao encontro daqueles que sofrem e
padecem de enfermidades, dando-lhes a cura, sofrem e padecem de vícios, quando
lhes dá a libertação, não tem limites quando vai ao encontro dos que tem fome, sendo
ilimitado em tantas instancias do sofrer humano ferido pelo famigerado pecado, que
resultou na sede de Deus por cada um de nós, inferindo a Jesus carregar esse peso em
seus ombros, até a última gota de sangue. Portanto, essa palavra nos arremete ao
mandamento primeiro do amor, que tem duas faces: o amor a Deus e o amor ao
próximo, cabe a nós amar a Deus por tal empreendimento de amor, mas também
amar aqueles que tem sede, levando-lhes essa água viva que a samaritana
experimentou, para que em todos os corações brote o fruto do amor pleno de Deus
para uma humanidade mais justa e igualitária.

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