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OS 7 PECADOS CAPITAIS

A. Boulenger

(Doutrina Católica – Manual de Instrução Religiosa – Moral)

Vocábulos

1º. Pecados capitais. 1º. O termo pecado tem, nesta lição, duplo sentido.
Significa:

a) vício, quando se consideram a soberba, a avareza, a luxúria, etc., como


maus hábitos que levam ao pecado;

b) pecado atual, quando se trata de um ato transitório, seja ele causado


por uma disposição habitual ou não. Assim muitos cometerão o pecado de
orgulho, sem ter o vício de soberba.

2º. Capitais (do latim "caput": cabeça, fonte). De acordo com a própria
etimologia da palavra, esses pecados tem tal nome:

a) porque podem ser pecados gravíssimos, dignos da pena de morte;

b) porque, nos primeiros séculos da Igreja, eram equiparados a outros


muito graves, como a idolatria, o homicídio, o adultério, e condenados a
uma penitência pública;

c) porque são origem, fonte de vários outros, ainda que não sejam
necessariamente e sempre, pecados mortais.

PECADOS CAPITAIS

Há sete pecados, ou vícios, que podem ser tidos como graves, quer quanto à
sua natureza, quer quanto às suas consequências. Estes sete pecados
capitais são:

1) Soberba;
2) Avareza;
3) Luxúria;
4) Inveja;
5) Gula;
6) Ira;
7) Preguiça.

Alguns: soberba, avareza, inveja, ira e preguiça, quando desídia do


intelecto, são mais especialmente pecados do espírito. A luxúria e a gula,
pelo contrário, são pecados do corpo. 

1. SOBERBA
1º. Natureza. Soberba é a estima excessiva da própria pessoa. Manifesta-
se principalmente de três maneiras: 

a) o soberbo mostra-se ufano das qualidades que tem, não se lembra que
deve por elas dar glória a Deus: "Que tens tu, diz São Paulo, sem o teres recebido?
E se o recebeste, como é que te glorias, como se aquilo fosse teu?" (I Cor IV, 7);

b) atribui-se dotes que não possui;

c)rebaixa as vantagens dos outros. É parecido com o fariseu que coteja suas
virtudes com os senões do próximo.

2º. Derivadas da soberba. A soberba produz a ambição, a presunção, e a


vanglória.

A. Ambição é o desejo descomedido de glória, honras, fortuna, poder, etc.


o ambicioso anda atrás das posições de destaque e das dignidades. "Apreciam o
primeiro lugar nos banquetes, os assentos mais elevados nas sinagogas" (Mt XXIII,
6) diz Nosso Senhor, falando dos Escribas e dos Fariseus.

B. Presunção é a demasiada confiança em si próprio. Presunção e ambição


não raro andam a par. O presunçoso exagera seus talentos, julga-se
preparadíssimo para qualquer encargo. E trata de meter-se em negócios e
empregos altos, para os quais lhe falecem habilidades e competência.

C. Vanglória é a mania de se envaidecer por predicados, mais brilhantes e


espalhafatosos, do que reais e sólidos; de colher louvores, e pasmar os
circunstantes, quanto não há motivo para tanto. Este gaba-se de uma estirpe
nobre, de linhagem ilustre; aquele é altaneiro por causa do palacete; este outro, é
pela roupa, ou pelo automóvel. Esquecidos, todos, de que se houver glória nisso,
não é a eles que deve ninbar (não quer dizer que todo luxo é soberba e impostura.
Não é, quando fica em relação natural com a posição que se ocupa na sociedade.
Então, justifica-se no ponto de vista hierárquico e econômico. Quem não atendesse
às exigências da fortuna que possui cairia no excesso oposto que entra no segundo
pecado capital [avareza]).

A vanglória, por sua vez, gera:

a) a jactância. A jactância, a bazófia, ou gabolice está doida pelos elogios.


Baba-se por eles, suplica-os. E quando não os consegue logo, vai-se, o sujeito,
encomiando a si mesmo. Nas palestras, não deixa os outros falar. Só ele, só dele.
Não aprecia os companheiros, nem se importa com eles, e por isso, conta, o que
fez e não fez, mandou e desmandou, suas boas obras, virtudes, esmolas (em dois
casos é permitido dar a conhecer o bem que se obrou: a) para livrar-se de censura
imerecida; b) para instruir e edificar o próximo, como o pratica São Paulo na
Epístola aos Gálatas);

b) a hipocrisia é outro fruto espúrio da vanglória. As felicitações que os


gabolas se outorgam nos seus alardes palavrosos, o hipócrita quer granjeá-las por
seus atos fiteiros, e suas virtudes de aparato. Anda deslembrado dos conselhos de
Nosso Senhor: "Tende cuidado em não fazer vossas boas obras para serdes vistos
pelos homens ... quando dais esmola, não toqueis trombeta, como costumam os
hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para que vos honrem os homens’ (Mt VI, 1,2);
citemos, ainda, o aferro, a obstinação, a teimosia, três vocábulos mais ou menos
sinônimos, exprimindo o apego que se tem ao próprio parecer, não querendo que
vingue a opinião dos outros, nem até quando a razão está com eles.

3º. Malícia da soberba. É pecado grave, quando o orgulho quer elevar-se


acima de Deus e dos superiores. É tido como fonte de todos os males.

4º. Remédios. Os meios para curar a chaga do orgulho são:

a) um exame atento, demorado, sincero, das nossas misérias, das nossas


falhas e fraquezas; da inconsistência dessas coisas que nos envaidecem;

b) a contemplação da humildade de Nosso Senhor, que, sendo Deus, se


rebaixou a ponto de revestir-se da humanidade, e sujeitar-se a todas as
contingências mais triviais e vis da nossa natureza; depois, a todos os ultrajes.

2. AVAREZA
 
 
1º. Natureza. Avareza é o amor desregrado às riquezas. Assume duas
modalidades:
 
a) É avarento o que anda aflito por ganhar mais dinheiro, sempre excogita
artes de aumentar seus cabedais, e antes trata os bens como donos do que como
servos. A fortuna, para ele, é um fim, e não o meio de prover às necessidades da
existência.
 
b) É avarento mais encontradiço, o que está afeiçoado a seus tesouros.
Sovina. Não dá nada. E quando precisa gastar, parece que lhe arrancam um pedaço
da alma. A economia é outra coisa. Consiste em regular as despesas pelos
rendimentos,: aquelas não excedendo estes. Não é vício. É virtude preciosa,
estímulo do trabalho, e mãe da prosperidade. A avareza tanto se aninha no coração
do pobre, como no do rico. Avulta, não raro, com a idade. Recrudesce com a
velhice.
 
2º. Efeitos. Da avareza nascem:
a) a injustiça para com o próximo: fraudes, trapaças, roubos;
b) a traição: Judas vendeu seu Mestre por trinta moedas;
c) o empedernimento do coração para com os indigentes. O avarento não se
compadece da miséria: nunca abre a mão para obsequiar, para dar esmola aos
pobres.
 
3º. Malícia. A avareza pode vir a ser pecado grave:
a) contra Deus: o avarento prefere, com efeito, a tudo, o dinheiro. Adora o
ouro. É seu ídolo. Deus não existe mais para ele.
b) contra o próximo: o avarento, certo é que não cumpre o dever de
caridade. E este dever, em determinados casos, constitui obrigação imperiosa.
 
4º. Remédios. Dois remédios podem fazer bem ao avarento:
a) lembre-se amiúde que tudo passa neste mundo; que são perecedouros,
frágeis, e de pouquíssimo valor, os bens da terra. Caducam rapidamente. Única
riqueza de verdade é amar a Deus.
b) medite nos exemplos de Jesus Cristo. Era riquíssimo, quis nascer, viver e
morrer, paupérrimo.
 
 
3. LUXÚRIA
 

Luxúria, ou lascívia, é o vício contrário à pureza, proibido pelo 6º e 9º


Mandamentos da Lei de Deus.

I. A pureza. 6º e 9º Mandamentos
 
1º. Excelência da virtude da pureza. A castidade, ou pureza, consiste na
abstenção dos prazeres carnais ilícitos. Nenhuma virtude tem mais valor do que a
castidade, porque ela, melhor que as outras, é o domínio do espírito sobre a carne,
da alma sobre o corpo. Por isso, não é de estranhar que esta virtude, preceito ou
lei natural muito embora, fique sendo como que apanágio e monopólio da religião
católica. É a pura verdade afirmar que não a conheceu o mundo pagão, e que, hoje
em dia, desabrocha e viceja apenas no ambiente do Catolicismo.
 
2º. Objeto do 6º e 9º Mandamentos. O 6º e 9º Mandamentos da Lei de
Deus proíbem os pecados de luxúria, contrários à virtude da pureza. Única
diferença entre os dois, é que o 9º, repetindo o 6º, vai além, reforça a proibição,
abarcando a mais os maus pensamentos e maus desejos. Assim, enquanto o 6º
Mandamento veda atos, olhares e palavras ofensivas da modéstia cristã, o 9º
atalha o mal na própria fonte, e condena o simples pensamento impuro, o simples
desejo desonesto: de um lado, pois, os atos exteriores, e do outro, os atos
interiores, como sendo, estes, causa daqueles, e comparáveis à fagulha que ateia o
incêndio. Na explanação desta matéria, andaremos lembrados, de contínuo, dos
prudentes avisos de Santo Afonso de Ligório e São Francisco de Sales, concordes
nisso, e ambos com São Paulo, dizendo que não é bom, tocar em termos muito
explícitos nestes assuntos, e que já se ofende a castidade, só com o nomear a
impureza.
 
II. O que é proibido pelo sexto Mandamento da Lei de Deus.
 
O 6º Mandamento da Lei de Deus proíbe:
 
1º. As más ações. Há certas coisas indecentes que o menino não se
atreveria a praticar à vista de seus pais ou de seus mestres, e que desonram e
envergonham os autores, quando essas coisas vêm a ser conhecidas. Ora, aquilo,
ainda que fique ignorado dos homens, não está escondido aos olhos de Deus. Logo,
é pecado mortal por natureza. Sempre. Esteja, o culpado, só, ou na companhia de
outras pessoas. Entretanto, a malícia varia segundo a qualidade destas pessoas e
segundo as coisas más que se fazem.
 
2º. Maus olhares. Consistem em demorar a vista, por gosto e sem
necessidade, nos objetos ou nas pessoas que podem excitar as paixões: por
exemplo, estátuas, imagens ou pessoas que não têm a devida decência.
 
3º. Escritos e palavras desonestas. Quer dizer, qualquer escrito (maus
livros e maus jornais), qualquer palavra (cantigas ou conversas despudoradas) que
ofendem o recato, ou abertamente, às escâncaras, ou disfarçadamente, por meio
de equívocos, ambigüidades, reticências. Nada mais prejudicial do que as más
leituras. Quanto às más conversas, afirma São Paulo (I Cor XV, 33) "que
corrompem os bons costumes".
III. O que proíbe o 9º Mandamento

O 9º Mandamento proíbe:
 
1º. Os maus pensamentos. O pecado de pensamento, que os teólogos,
chamam de "deleitação morosa", consiste em se demorar, voluntariamente, na
imaginação de uma coisa ruim, sem querer mesmo chegar à prática da mesma. Tal
deleitação, ou gozo, é chamada morosa, do vocábulo latim "mora" atraso, diz Santo
Tomás, porque a razão, em lugar de repelir sem tardança, como fôra de mister, as
cogitações impuras que se apresentam, se demora nelas (immoratur), as acolhe
com agrado, e nelas se compraz livremente (por aí se vê que vai grande diferença
entre "deleitação morosa" e "sugestão má". Esta independe da vontade. É uma
tentação, nem mais nem menos). Quem se entregou à deleitação morosa tem que
declarar na confissão, a natureza específica deste pensamento; por exemplo, se
tem voto de castidade, ou se as cogitações diziam respeito a uma parenta, ou a
uma pessoa casada. É pecado mortal, quando a coisa é mesmo ruim, e o
consentimento pleno. Do contrário, é venial. E não há pecado nenhum, quando se
combate e se afugenta a representação do mal, e se reprova.
 
2º. Os maus desejos. O desejo é mais do que o pensamento, porque, com
a imaginação do ato mau, está a intenção e vontade de praticá-lo. Perante Deus, é
a mesmíssima coisa: querer ver, ouvir ou fazer, coisas impudicas, e ver, ouvir, ou
fazer. Agora os desejos desonestos são como os pensamentos: culpados,
exatamente na proporção em que são voluntários.

IV. Gravidade dos atos contra a pureza.

É facílimo avaliar a gravidade dos atos contra a pureza, pela meditação das
consequências desastradas que acarretam na alma e no corpo:
 
a) Na alma. Nublam, entenebrecem, e materializam, a inteligência. Cegam-
na para as coisas de Deus (I Cor II, 14). Desmoralizam e embrutecem o coração
que, então, se separa e afasta de Deus, abandona a religião, cai na impiedade.
 
b) No corpo. A impureza estraga a saúde, exaure as forças, traz as doenças
mais repugnantes e vergonhosas, as enfermidade mais asquerosas, e não raro, fim
prematuro. Portanto, são mortais, geralmente, os pecados de impureza, a não ser
que a irreflexão diminua esta gravidade.

V. Causas que levam à impureza.


 
As causas determinantes de pecados contra a castidade podem se classificar
em: exteriores e interiores.
 
1º. Causas exteriores. São as que deparamos fora do nosso espírito
viciado e do nosso coração corrupto pelo pecado original:
 
a) As más leituras. Esta rubrica geral abrange os livros ímpios, licenciosos,
jornal ruim, revista ruim, e em especial, folhetins e romances que pintam ou
encarecem o vício: denominam-se realistas ou naturalistas, e o que querem, é
estadear o crime em todos seus pormenores, toda a hediondez, sem rebuços; ou
denominam-se psicológicos, pretendendo escalpelar as almas com seus
sentimentos mais abjetos, em todos seus refolhos. Uns e outros provocam
desgraças. Não há iludir ou anestesiar a consciência. Ninguém se imuniza contra
este tóxico violento, traiçoeiro e fatal. Dirão que procuram unicamente as belezas
literárias, o encanto das descrições, a magia do estilo. É verdade. Isca fementida.
Engodo. Procura-se tudo isso, e encontra-se mais alguma coisa: o veneno, que a
alma engole por doses pequenas ou grandes, e que mata. Não se hão de perlustrar
pântanos lodosos e pestilenciais sem apanhar pingos de lama. É absurdo. E será
mesmo tão minguada a nossa literatura, que só nesses charcos se poderão
descobrir modelos de estilo, de bela dição, de alta cultura clássica?
 
b) Espetáculos. Teatros e cinemas não são maus por índole, por natureza,
é claro. Haveriam mesmo de aformosear a alma, educar a vontade, e nobilitar o
coração. Infelizmente, sucede quase sempre o contrário. E passam a ser
verdadeiras escolas do crime e da imoralidade. Glorificação do vício, apoteose e
triunfo da impureza, e menosprezo ou escárnio da virtude, isto é que é. Alexandre
Dumas o disse alto e bom som: a mãe prudente não assiste aos espetáculos, e
muito menos levaria aí sua filha.
 
c) Dança e baile. Sendo exercício corporal, a dança é ginástica nada
reprovável. A Bíblia refere, em muitas passagens, sem nota alguma pejorativa, as
danças praticadas pelas moças e senhoras de Israel, para divertimento (Juízes XXI,
21, 23; Jerem. XXXI, 4,13) antes religioso, manifestação de piedade, do que
mundano. A filha de Jefté vai ao encontro do pai, e vai dançando com uma porção
de companheiras (Juízes XI, 34). Quando Davi, vencedor de Golias, regressa
triunfante, as mulheres de Israel o ovacionam e celebram, com danças, a glória
dele (Reis XVIII, 6, 7; XXI, 11). Davi ia dançando diante da Arca da Aliança, que
ele mandava recolher, com inaudita pompa (II Reis VI, 5). Nota-se, entretanto,
que, as mais das vezes, dançavam, as jovens, sozinhas, separadas dos moços (Ex
XV, 20; I Samuel XVIII, 6).
 
A dança moderna, conhecida por nomes variadíssimos, é outra coisa.
Altamente condenável, por causa da liberdade infrene que nela reina, dos encontros
que ali se realizam. Excetuando determinadas reuniões de família, a regra geral é
que não se deve dançar. Muito menos ainda, se hão de frequentar bailes públicos,
ou bailes mascarados, que são os mais perigosos. Em que conta teremos os tais
bailes de caridade? São organizados para angariar donativos, para aliviar os
desamparados, ou as vítimas de alguma calamidade: inundação, seca, incêndio,
etc.; motivo de beneficência. Ora, para saber o que vale este sistema, examinemos
o caso. Será, um baile, mais puro e menos arriscado, porque o fim é a esmola? Que
tem uma coisa com outra? Onde é que se viu alterada a essência de uma coisa
porque se lhe mudou o destino?
 
d) Reuniões mundanas e más companhias. "Dize-me com quem andas,
que te direi quem és". A frequentação, os passeios, as amizades, ou familiaridade
com pessoas levianas, frívolas, em busca de passatempos quaisquer, e que gastam
o dia no ócio e na moleza, são também causas de muitos pecados de impureza.
 
e) Modas desonestas. Nos trajes femininos, a moda apresenta, por vezes,
excentricidades que constituem verdadeiro desafio e insulto ao bom gosto e ao
pudor. Tais modas são reprovadas pela religião, pela moral, e até pelo senso
comum.
 
2º. Causas interiores. As causas provenientes de nós mesmos são:
 
a) Orgulho. Deus não ama os que "se ensoberbecem nos seus juízos",
desampara-os, e deixa-os "entregues a paixões de ignomínia" (Rm I, 21,26).

 
b) Intemperança. "Não vos embebedeis com vinho, diz São Paulo, isto é,
fonte de devassidão: mas inebriai-vos do Espírito Santo" (Ef V, 18). Quem anda
atrás dos deleites dos festins, dá a mão às tentações da carne e da concupiscência.

 
c) Ócio. A preguiça é mãe de todos os vícios, e São Jerônimo afirma,
desassombrado que, se está um demônio solicitando ao mal o homem que
trabalha, estão mais de cem demônios tentando o que está desocupado.
 
VI. Remédios contra a impureza.

1º. Meios naturais.


 
a) é preciso lembrar, primeiro, a fuga das ocasiões que podem levar ao
pecado, quer dizer, a supressão, de vez, de todas as causas acima mencionadas.
 
A ocasião se diz remota ou próxima. 
 
a) Ocasião remota é a que conduz, de modo muito indireto, até a ofensa a
Deus. Tais ocasiões enxameiam pelo mundo, não há como evitá-las sempre, porque
se alastram por todas parte. A melhor boa vontade não o conseguiria. Fugir delas
não constitui obrigação.
 
b) Ocasião próxima é a que provoca a tal ponto que é quase certo
cometermos o pecado, se ela não for removida. (1) A ocasião próxima será
necessária de necessidade física ou moral: necessidade física, quando é de todo
impossível suprimi-la; necessidade moral, quando a dificuldade é grande. Em
ambos estes casos, é preciso lançar mão de todos os preservativos e orações,
recepção dos Sacramentos da Penitência e Eucaristia. Renovar, amiúde, o propósito
de nunca mais pecar. (2) Ou a ocasião próxima pode ser afastada, e então, há
obrigação imperiosa de removê-la. É condição "sine qua non" para obter a
absolvição. A Igreja impõe esta regra, porque conhece o que diz a Sagrada
Escritura: "Quem ama o perigo, há de cair no abismo" (Ecl. III, 24).
 
b) a vigilância é guarda dos sentidos, da imaginação e das afeições;
c) a humildade;
d) a mortificação;
e) o trabalho, são outros tantos meios naturais e auxiliares poderosos na
luta pela pureza.
 
2º. Meios sobrenaturais. Com os meios naturais, é indispensável ainda, o
emprego dos meios sobrenaturais. Os principais são:
 
a) Oração. Deus nada recusa a quem pede.
b) Confissão. Desvendar a chaga é curá-la.
c) Comunhão freqüente. A Eucaristia é o alimento da força.
d) Devoção a Maria Santíssima. Vendo perigo, a criancinha recolhe-se
junto da mãe. Maria Santíssima é mãe de todos nós, e ela tanto estima a
virtude de pureza, que protegerá seus devotos que lhe suplicam auxílios,
que se recolhem pela prece, à sombra benéfica de sua égide maternal.
 
 
4. INVEJA
 
 
1º. Natureza. A inveja deriva-se da soberba. Consiste no regozijo pela
desgraça que sucede ao próximo e no pesar pela boa sorte dele, como se a
felicidade alheia perturbasse a nossa. Logo, a inveja tem duas caras: expandida e
risonha perante o mal dos outros; amarrada e tristonha diante da prosperidade
alheia.
 
O distintivo essencial da inveja é a falta de caridade. Portanto, não tem
inveja:
 
1. quem se entristece porque vê que é feliz e passa bem uma pessoa que
não o merece. Não é inveja, é "zelo desatinado" porque a repartição dos bens deste
mundo é da conta exclusiva de Deus;
 
2. quem fica triste com a promoção de fulano, porque isto poderá causar
transtornos; é "temor legítimo", se não ajuizado;
 
3. quem anda acabrunhado, porque outro ganhou o lugar que ele mesmo
havia pleiteado por seus esforços; chama-se "brio, emulação".
 
Ciúme é uma face da inveja. Não se alegra com os reveses e dissabores
alheios. Mas tem o receio exacerbado de perder o bem que possui, e cobiça
violentamente o bem dos outros.
 
2º. Efeitos. Da inveja nascem a calúnia, a maledicência, a delação, as
rivalidades, as discórdias, o ódio e até o homicídio.
 
3º. Malícia. A inveja ofende a caridade que devemos ao próximo. É tanto
mais culpada quanto mais avultado fôr o dano que ela causar aos outros.
 
4º. Remédios. 
 
a) primeiro meio para tratamento desta enfermidade moral é recordarmos
que todos os homens tem igual natureza e igual destino. Não são irmãos em Cristo
todos os católicos? E não são todos eles membros da mesma sociedade que é a
Igreja?
 
b) segundo meio, é ponderarmos as conseqüências nefandas que formam
o séquito da inveja.

 
5. A GULA.
 
 
1º. Natureza. Gula é o amor desordenado ao alimento. Quando se aplica de
modo especial à bebida chama-se embriaguez, alcoolismo.
 
A. Considerada em geral, a gula manifesta-se de duas maneiras:
 
a) pelo excesso na quantidade. O guloso multiplica as refeições; come a
torto e a direito; ou então come demais, ou muito depressa, avidamente;
 
b) por excessiva exigência na qualidade. Peca por gula o que procura
iguarias finas, e requinta nos prazeres do paladar; e até, quem repisa, a toda hora,
na conversa, esses tópicos.
 
B. Embriaguez é a forma mais torpe e repugnante da gula. Com efeito,
quem cai neste vício até ficar bêbado, perde o uso da razão e resvala abaixo dos
brutos.
 
C. Alcoolismo é a paixão dos excitantes, das bebidas fortes. O alcóolico não
chega a embebedar-se; mas, em doses exageradas e múltiplas, ingurgita o temível
veneno. Tornou-se hábito, necessidade fatal.
 
2º. Efeitos. A gula em geral provoca: 
 
a) o abandono das obrigações religiosas;
 
b) a transgressão das leis do jejum e da abstinência;
O alcoolismo tem conseqüências ainda mais desastradas. Com efeito, o
alcoolismo não é senão embriaguez no estado crônico:
 
a) no indivíduo viciado por este funestíssimo hábito, aparecem as doenças
mais impiedosas (...) As faculdades intelectuais embotam-se gradualmente, e
breve, a vítima acha-se como que bestificada. No ponto de vista moral destrói o
pudor e os brios, deixando apenas a medrar os instintos da animalidade.
 
b) na família é fautor de anarquia. O alcóolico foge do lar; deixa no
desamparo mulher e filhos. E se, porventura ainda trabalha, gasta com o vício tudo
o que vai ganhando.
 
c) para a sociedade também o alcoolismo é um flagelo, um cancro. Nos
países onde grassa, queima as veias de um povo inteiro, dessora e desfibra a raça
mais profundamente do que a chacina das batalhas.
 
3º. Malícia. 
O amor exagerado do comer e do beber não é, em si, pecado grave.
Adquire, porém, este caráter, quando levado ao ponto de menosprezar e
transgredir o preceito da penitência.
Com a embriaguez, o caso é outro. Quando acidental e involuntária,
desculpa-se; mas se for propositada, é pecado mortal. Quanto às faltas cometidas
pelo bêbado, ele é responsável no grau em que as previu: a culpabilidade não está
no ato, está na causa.
Tanto mais culpado é o alcoolismo quanto mais lamentáveis são os estragos
que produz.
 
4º. Remédios. Para sanar este defeito da gula são eficazes as seguinte
receitas:
 
a) evitar tudo o que lisonjeia demais o paladar, como as iguarias saborosas
e muito finas;
 
b) pensar que isto de comer e beber não é o fim da atividade humana.
Existe o alimento para a vida, não a vida para o alimento.
 
c) os pais devem incutir no ânimo dos filhos o amor da temperança e
sobretudo dar-lhes bons exemplos a respeito.
 
d) as donas de casa zelem por ter um lar confortável e atraente, que agrade
às visitas, ao esposo e aos filhos, desviando-os da freqüentação de tabernas e
botequins.
 
 
6. IRA
 
 
1º. Natureza. Ira é um movimento desordenado da alma que se revolta
contra o que não lhe apraz. Muitas vezes, é o resultado do orgulho que se julga
melindrado, e quer desforçar-se. Mas é também uma paixão proveniente da índole,
e que a vontade custa a senhorear.
Nem sempre alcança, a ira, o mesmo grau de violência. Por isso distinguem-
se:
 
a) a impaciência;
b) a raiva;
c) o arrebatamento, que se derrama em berros e desaforos;
d) o furor, que se traduz por insânias, acessos próximos da loucura;
e)a vingança, que é o desejo cultivado de prejudicar a quem nos
desagradou.
 
Há certa cólera que não é pecado. Vem a ser, apenas, justa indignação,
quando se manifesta dentro de limites razoáveis: na hora azada, contra quem a
merece, e com intensidade prudente. Um pai de família se mostrará oportuna e
eficazmente irritado com o comportamento mau do filho, e infligirá uma correção
enérgica que produza frutos de emenda. Um superior de comunidade, no
desempenho do seu cargo, castiga publicamente uma ofensa à regra. A cólera,
então, não é vício, é virtude. 
 
Na Sagrada Escritura, temos muitos fatos destes. Moisés, ao deparar com o
bezerro de ouro, deixa-se arrebatar pelo furor da ira santa, e quebra as tábuas da
Lei (Ex XXXII, 19). Deus, muitas vezes, ira-se contra os pecadores (Sl CV, 40).
Nosso Senhor lança mão do chicote, e tange para fora, irado, os vendilhões do
Templo (Mt XXI, 12). Zanga com os Fariseus, que andavam espiando, para ver se
haveria de curar, em dia de Sábado, o enfermo com a mão ressequida (Mc III, 5).
São cóleras santas que têm justificativa no fim almejado: debelar ou fustigar o mal,
e emendar os pecadores.
 
2º. Efeitos. A ira gera as disputas, as quisílias, doestos e vitupérios, brados
e invectivas, rancor, ódios, assassínios e demandas.
 
3º. Malícia. Quando a cólera provém da índole, do gênio, é culpa venial só,
a não ser que se desmande em crises, e seja deliberada. Quando inclui o desejo
desnorteado de vingança, ofende a justiça ou a caridade, e então é pecado grave.
 
4º. Remédios. Para amordaçar e refrear a cólera, é preciso:
 
a) atalhar logo o primeiro ímpeto;
b) lembrar-se do preceito do Senhor: "Amai vossos inimigos ... fazei o bem
aos que vos odeiam" (MT V, 44);
c) meditar o exemplo do divino Mestre, Cordeiro manso e humilde de
coração.
 
 
7. PREGUIÇA
 
 
1º. Natureza. Preguiça é o apego desmedido ao descanso que leva a omitir
nossas obrigações, ou a descuidá-las. O espírito e o corpo do homem que trabalha
necessitam de repouso. Mas, este não pode vir a ser regra geral, e com que o único
fruto da existência.
 
Distinguem-se:
a) preguiça espiritual;
b) preguiça corporal.
 
Aquela é falta de ânimo, de coragem no cumprimento dos deveres
religiosos, na oração. Esta é desleixo das nossas obrigações de estado.
 
2º. Efeitos. A preguiça faz ociosa a vida, e franqueia, a todas as tentações,
os caminhos da alma. "A preguiça é a mãe de todos os vícios". A preguiça espiritual
põe em perigo a salvação eterna, pois "cada um há de receber a própria
remuneração, conforme o próprio trabalho" (I Cor III, 8).
 
3º. Malícia. É pecado grave, a preguiça, quando chega até o esquecimento
de Deus e das nossas obrigações mais importantes.
 
4º. Remédios. Para extirpar a preguiça, reflita-se que o trabalho é lei
universal imposta pelo Criador. Os ricos não são dispensados. Existe, para eles, o
grande dever da caridade, que os manda trabalhar a fim de aliviar, mais
eficazmente, a sorte dos pobres.
 

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