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Olho para a casa de praia e suspiro ao escutar os gritos animados de minha

irmã Emily e minha prima Victoria. Fala sério, nós sempre estamos aqui, não
importa se alguém está doente ou se não tem vontade de vir, nós vamos chegar
aqui em quatro horas de viagem. Sem contar com as músicas que o pai de Emily
põe. Ele deveria rever seus conceitos musicais, não só ele como minha mãe
também. Porra, ninguém merece escutar country por tanto tempo consecutivo.
— Ah, vamos lá Coco, você ama quando estamos aqui. — Reviro os olhos mas
ainda assim sorrio para Jackson.
— Pai, o meu terror é chegar aqui. — Declaro ao marido de minha mãe antes
de deitar a cabeça em seu ombro escutando sua risada. — Mas é sério, me diz,
por favor, que vai me deixar controlar seu rádio.
Mais uma risada escapa de sua boca e eu me afasto para encarar seus olhos
lacrimejantes.
— Coco, querida, eu não vou aguentar dois minutos de bota aqui e tira dali
para por lá.
Caio na gargalhada ao escutar que ele está relatando as músicas de Victoria
como se fosse eu quem escutasse enquanto estamos em casa. Reviro os olhos
e escuto Victoria bater palmas lentamente enquanto vem em nossa direção
retirando o óculos do rosto. Meu Deus, lá vem.
— Tio Jack, quanta falta de etiqueta, eu escutei de lá. — As bochechas
rechonchudas e brancas do homem começam a ganhar pigmentação e eu
sorrio discretamente antes de coçar minha garganta e me preparar para meu
show.

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— Papai! Eu não acredito que disse palavras tão chulas quanto essas!—
Estalo a linga no céu da boca algumas vezes antes de cruzar os braços. — E
não é “bota lá, tira de cá, e enfia ali.” É:”mete onde der...
— Chloe Grace Cooper! — Mamãe me para no meio da frase e meus olhos se
abrem mais automaticamente. Merda. — Que palhaçada é essa?
— Desculpa pai, desculpa mãe, mas a culpa é de Victoria, eu estava indo ao
meu quarto. — Jogo um beijo ar para ambos.
Saio correndo sem ao menos me virar para ver se um dos dois me segue
pronto para me esfolar viva.
Encontro meu quarto no fim do corredor e abrindo a porta posso sentir o
cheiro de coco do jeito que eu sempre peço para deixarem. Eu, literalmente,
amo a equipe de limpeza dessa casa.
Olho pela janela vendo o pequeno lago da propriedade e solto uma risada ao
lembrar do dia em que joguei alguns dos pertences de Victoria dentro dele,
vou, novamente, culpa-la por meu ato de rebelião, Victoria tem dois anos a
minha frente, então, é lógico que mamãe a deixaria no comando para ir tomar
alguns drinques com o pai.
Victoria decidiu se aproveitar de seu poder e começou a dar ordens a mim e
a Emily, que ainda não entendia nada e sorria ao achar que era uma
brincadeira, o pequeno nível de TDAH não ajudou nem um pouco, a menina
parecia um cachorrinho em treinamento.
Victoria deixou-me tão frustrada que resolvi me vingar enquanto ela
tentava me dar mais ordens, depois disso ela nunca mais quis “brincar” dessa
forma com nenhuma de nós. Balanço minha cabeça sentindo um aperto no
peito, saudades, tenho muita saudade dessa época em nossa vida, desde que
comecei a faculdade de medicina não tive tempo algum para nossas noites de
sábado, na verdade, quase não vejo minha família, mesmo morando no
mesmo lugar.
É sempre uma viajem, uma prova, uma pesquisa, um trabalho com curto
prazo, Deus, eu quase não vou a igreja!
Jogo-me na cama pensando em quantas vezes deixei de ir para estudar
porque passei um tempo com minha irmã escutando sobre os últimos
romances que ela está interessada, como se fosse viver um romance na
adolescência.
Lembrando dela...Emily passa pela porta do meu quarto dando uma de suas
risadas espontâneas enquanto se joga na cama ao meu lado tentando entrar
em mim...mas que droga é essa agora?

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— Shi...Poxa, Emily, o que é isso?! — Quase grito enquanto ela ainda tenta
entrar em minhas costas. — Para com isso, você vai me machucar e eu vou te
bater!
— Emily Grace! Eu vou te matar! — Que porra é essa? Por que elas não
podem agir com maturidade? Droga, mamãe vai estar gritando conosco daqui
alguns segundos eu não quero ser culpada por isso!
— Parem com isso! Emily eu não vou te proteger, quero mais é ver ela acertar
aquela colher em você. — Declaro empurrando minha irmã mais nova de
minha cama, que graça, acha mesmo que eu a protegeria ao invés de ver o
circo pegar o mais fogo do que desejo. Por esse motivo fico de pé em minha
cama e pulo batendo palmas e torcendo, como fazia na escola. — Acerta ela
Vic! Tomara que você fique com um galo, Emily, sim, sim! Um lindo galo.
— Mamãe! — Covarde.
— Não seja molenga. — Victoria incentiva. — Vamos lá vadia, eu vou cair
matando.
— Vivi, não chame a Emily de vadia, é muito baixo. — Repreendo ainda
torcendo por ela. Não há nada melhor do que ver sua irmã apanhando
porque...por que diabos ela está apanhando a final? — Ei, ei, por que quer
bater nela.
— Lembra aquele batom que ganhei da Dior? — Assinto, aquele vermelho era
de matar qualquer um, não era atoa que ela ficou com o cara mais gato da
minha escola no último ano sem ao menos estudar lá. — A bi...merda! A sem
parafusos da sua irmã achou que seria muito legar usá-lo em uma receita que
assistiu no YouTube. Aquele aplicativo mente, Emily!
Solto uma risada vendo o rosto vermelho de minha irmã, ela está longe de
estar arrependia, na verdade, vejo um pouco de orgulho em suas feições.
Deve ter funcionado, pela primeira vez.
— Emi, o que quer que você tenha feito, funcionou? — A pergunta de oitenta
dólares é posta sobre a mesa a espera de uma resposta.
Emily me encara retirando os tênis e sorrindo pequeno.
— Sim, a sombra ficou linda. — Faço um hi-five com ela demostrando meu
orgulho.
— Isso aí garota.
— Eu vou matar as duas, seus pais não sentirão falta de qualquer maneira.
Olho para Emily e antes que ela decida passar pela porta primeiro eu já
estou correndo, eu vim ao mundo primeiro, se fosse para alguém morrer que
fosse a que não tinha muitos planos. Não estou aqui para morrer a toa.

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Passo por minha mãe em alta velocidade antes de quase me jogar pela
cerca que separa o deque da piscina, Emília solta um gritinho enquanto
minha mãe grita com todas nós sobre não corrermos como loucas. Papai para
seus trabalhos em carregar as malas para dentro de casa quando olha para
Emily e eu. Viro em meus calcanhares vendo Victoria com uma colher de pau
batendo lentamente em sua mão e com um sorriso endiabrado nos lábios.
— Certo, a cerca que separa a casa da praia é viva e o portão está aberto,
papai ainda está nos escaneando, esperando o momento em vai cair ou será
usado como escudo.— Abrindo meu melhor sorriso para Emily solto os
cabelos e respiro fundo sentido o ar puro. — E aí, quer nadar?
Emily solta uma risadinha antes de corrermos juntas em direção as baixas
ondas que fazem um agradável barulho ao nos receber de braços abertos,
meu short jeans fica cada vez mais apertado em todos os cantos enquanto
bato os pés e os braços para me afastar o mais rápido possível da costa.
Estabilizo meu peso para que consiga exatamente ver Emily alguns pés antes
de mim e Victoria fazendo sinais obscenos e nos xingando.
Solto uma risada sugando uma enorme quantidade de ar para meus pulmões
e impulsiono o corpo para que fique boiando, observo o céu azul, tão claro
quanto poderia estar para uma linda manhã de verão, literalmente minha
estação do ano favorita e a mais esperada.
Posso receber alguns tipos de julgamentos quando digo isso mas nunca vou
entender realmente. Eu gosto do calor, da chuva e é claro, de férias! Não dá
para fazer muitas das coisas como: ir a praia, ir a piscina ou fazer piqueniques
no campo no inverno, você congela ao tentar sair de casa, seus lábios ficam
secos ao ponto de racharem, sua pele fica tão maltratada que você pensa que
vai congelar ou morrer de hipotermia em qualquer momento do dia.
Precisamos falar do outono? Ele é chato, a única coisa que realmente me
agrada no outono, de certo, é a parte da colheita, eu acho incrível ver aquele
amontoado de crianças correndo pelos campos prontos para pegar o que lhes
forem entregues. A curiosidade junto ao sentido de aventura deles é o que me
traz a esse estado gozoso. Deus, eu amo ver a felicidade de qualquer criança
em apenas ser livre.
— Você está morta? — A voz masculina um pouco afastado de mim pergunta,
e, com todo respeito que ainda no mundo é semeado, que porra de pergunta é
essa?! E por que diabos eu o responderia se estivesse morta? Como eu faria
isso? — Eu deveria chamar as autoridades? Droga, pensa, Jordan, pensa,
pensa.
— Para começar, Jordan, — começo a abaixar as pernas e olhar para o
homem em cima de uma prancha a centímetros de mim. — Eu acho que você

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não deveria falar com mortos dessa forma. — Dou uma risada e começo a
bater os pés para me afastar. — Depois, você deveria conferir o movimentos
constante do peito, eu acho bom você não olhar para os meus peitos agora,
cara, isso não seria legal. — Ele assente engolindo em seco — E, é claro, para
fechar, não pergunte a um cadáver o que ele deve fazer, você pode se
assustar, como parece estar agora... lamentável.
— Desculpe, por isso, mas você está um pouco afastado da costa, boiando e
de olhos fechados, sabe, isso não parece ser um bom motivo para eu olhar e
não achar ser um cadáver.
— Ponto. — Continuo batendo os braços e pernas, que começam a dar sinal
de quem não quer mais fazer tal trabalho.
— Pode se apoiar aqui na prancha, sabe. — Ele só pode ter parafusos a
menos.
— Não, obrigada, posso voltar nadando, na verdade, eu estou voltando.
— Oh, sim, é claro, eu sou um estranho para você...você está certa.
Ele está mesmo desconcertado? Solto uma risada balançado a cabeça.
— Até um outro momento, Jordan.
— Ei, posso saber seu nome?
— Chloe, Chloe Cooper. — Digo me afastando a braçadas rápidas.
Jordan. Até que o nome é bem legal.

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Evitar, só preciso evitar ser vista e assim posso fugir disso.
Olho para meu notebook na intenção de evitar o olhar do homem que desde
que me transferi para essa faculdade tem os olhos em mim. Ok, isso soou bem
obsessivo, não que eu saiba se ele é ou deixa de ser, longe disso, mas a real é
que ele tem os olhos e mim com uma curiosidade...estonteante. A professora
clínica Psicanalítica volta a falar com sua incomum alegria para as oito da
noite. Ainda não faço a menor ideia do que estou fazendo nessa sala de aula
para falar a verdade, ainda não estou entendendo o que estou fazendo com
essas aulas, talvez seja o trauma?
Não, tenho total certeza de que me certifiquei se estava completamente
curada antes de largar minha faculdade em Vancouver e vir para o Houston
cursar o que certamente desvia da minha carreira. Que como minha mãe
gosta de me lembrar todas as vezes “ não é nem um pouco saudável, e é
completamente forçada”. As vezes eu torço para que ela estava certa e eu
acorde do sonho mais louco da minha vida e me pequeno anjinho pule em
meus braços dizendo que sentiu minha falta durante a noite, que meu
marido, sim, nós nos casaríamos enquanto eu dormi, eu só não me lembro.
Quero que o homem que escolhi amar diga que sonhou comigo e já está
passando da hora de termos mais um pequeno serzinho correndo pelos
corredores da nossa casa.
Solto um suspiro baixo para não atrair a atenção de ninguém mas ainda
assim o homem a minha frente me encara descaradamente, como se
procurasse a razão do meu suspiro, sua preocupação genuína quase me faz
sorrir para ele, talvez eu até sorriso se ele não fosse um maluco que quer, a
qualquer custo, minha atenção.

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A professora ainda pula de um lado para o outro enquanto demostra um
tipo de distúrbio mental.
Volto minha atenção para minha correntinha passando a língua sobre os
lábios, minha mente pode não estar nada feliz com a decisão de deixarmos
uma parte de nosso passado tão perto de nós, porém, meu coração se alegra
em saber que uma parte, a nossa melhor parte, está tão perto de nós. Acaricio
meu potinho de amor infinito enquanto anoto alguma das coisas que a
animada senhora comenta fazendo algumas pessoas na sala rirem. Na real,
ela não é nem um pouco engraçada, ela é exagerada e gosta bastante de
atenção, eles dão isso a ela e ela os agradece fazendo trabalhos moles valendo
notas absurdas, a mulher realmente é carente demais, ela estuda sobre isso e
consegue ser pior do que nossos pacientes.
As nove ela declara o fim da aula, querendo ou não escuro algumas preces e
agradecimentos sussurra dos ao meu lado. Molly, a garota que mora ao meu
lado na rua ao lado do prédio da faculdade está na porta da sala com uma
sacola de comida em mãos e um sorriso reconfortante, devolvo-lhe um
sorriso grato e passo meus braços em torno do seu pescoço.
— Boa noite — Pisco algumas vezes olhando para o lado, fecho meus olhos
quando vejo que a foz profunda e aveludada pertence ao carinha obsessivo
das aulas de psicologia. — Oi Molly.
Molly se derrete na mesma hora ao escutar o poste a nossa frente saudá-la
com seu próprio nome. Sério? Ela está feliz por conseguir o mínimo? Essa
mulher deveria passar um tempo com a minha prima, oh, ela iria aprender
que não arranjou nada do que lhe pertence no lixão.
— Oi, Kelly. — Kelly...está aí, nunca tinha conhecido um homem com esse
nome, talvez ele seja “diferente”. — O que faz aqui? Pensei que fizesse aula
com os outros.
— Não, não sou como aquelas pessoas que andam grudadas umas às outras.
— Ele abre um sorriso de canto para minha amiga, posso chama-la assim,
certo? Claro que posso, Molly é um amor, e em pensar que a conheci há uma
semana.
O tio de Molly precisava passar o apartamento e eu precisa de um
apartamento seguro, confortável e perto da faculdade. Não gosto nem um
pouco de ter que enfrentar o trânsito dessa cidade, muito menos às oito da
noite toda quarta feira. Fãs podem ser malucos, não vou ter que enfrentar
contratar um segurança só para sair de casa porque tem alguém me
espionando e sabendo de todos os meus horários, não que morado perto da
faculdade isso possa mudar alguma coisa.

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Voltando ao x da questão, Molly se mostrou mais do que prestativa em me
ajudar e em nenhuma vez tocou no assunto internet, o que por sua vez me fez
ama-la de cara. Molly fez questão de me aparentar o prédio, mesmo que eu
tenha negado cinco vezes, a menina é bem mais insistente do que parece,
Molly também me apresentou algumas casas de shows que têm perto, eu
obviamente não comparecerei, mas ela estava feliz em me contar o que a
anima, a garota me mostrou um karaokê famoso por juntar muitos alunos aos
fins de semana ou ao fim das aulas. Conheci também um bar onde o dono é
fanático por Grey’s Anatomy e batizou o nome do lugar de Joe’s. Por pouco, eu
juro que foi por muito pouco que eu não revirei olhos ao ver as assinaturas
dos atores da série.
— E você, acho que nunca nos apresentamos formalmente. — Volto ao meu
eixo quando Kelly volta dois círculos verdes escuros como a floresta na
primavera em minha direção. — Prazer, Kelly Paul LeBlanc.
Assunto com a cabeça e estendo a mão em sua direção.
— Chloe Cooper. — Esqueça o meio, não é mais a mesma coisa.
— É um prazer finalmente conseguir sua atenção, Cooper.
— Uma pena que não vá durar por muito tempo. — Devolvo, oh, merda, eu
deveria guardar essas habilidades para quando realmente precisar.
Oh, não, não mesmo Grace, ele ainda pode ser um maluco perseguidor.
— Afiada. — Diz em francês, ergo a sobrancelha para ele, é sério, se
escondendo atrás de outro idioma? Patético. — Molly, deveria levar sua
amiga para nossa despedida de verão.
— Eu estou aqui, e eu ainda tenho juízo perfeito para concordar ou
descordar. —Ralho fazendo um ruído no final. — E a resposta é não. — Pisco
para ele. — Molly, podemos ir?
— É...claro, sim, vamos. — Seguro um sorriso ao ver seu nervosismo diante
do enorme poste a nossa frente. Argh, seus pacientes terão medo de sua
altura.
Seguro a gargalhadas pela péssima piada que meu cérebro raciocinou em
menos tempo do que julgo necessário.
— Adeus, Kelly. — Desejo girando em meus calcanhares.
— Ah, não diga adeus, Cooper, minha mãe diz que é errado se despedir dessa
forma quando ainda vamos nos ver de novo daqui dois dias, na minha casa,
certo, Molly?

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— Eu acho que você deveria cuidar mais da sua vida.— Observo em francês
fazendo seus lábios se alegarem um sorriso. — Juro que está patético, e não
tente flertar comigo novamente.
— Eu acho que isso é coisa da sua cabeça, Chloe. — Reviro os olhos. Se é
assim que ele quer enfrentar...
— Só para de me encarar como um sociopata.
— O que posso fazer, você e esse seu silêncio misterioso chamam atenção. —
Dá de ombros coçando a nuca.
— Desvie-a.
— Impossível, estou no período analítico. — Reviro meus olhos e volto para
Molly que parece estar em um intenso jogo de ping pong.
— Só nos dê licença, LeBlanc.
Ele, como um ótimo cavalheiro sai de nosso caminho e me faz arrastar Molly
que por alguns segundos pareceu presa em um limbo. Passo depressa pelos
alunos que se aglomeram pelas escadas esperando por outros para
aproveitarem a noite de quarta feira. Fecho meus olhos por dois segundos
quando o vento quente bate em meu rosto trazendo uma careta ao meu rosto.
Odeio sinusite, ela não deveria ser um problema em pleno 2017, credo.
— Te vejo amanhã, Chloe. — Pulo assustada ao escutar a voz com o sotaque
afiado no francês que Kelly possui ao meu lado. Observo seu grande sorriso
enquanto anda até um grupo de garotos igualmente altos.
— O que vocês estavam conversando? E por que não me disse que falava
francês?!
Solto uma risada começando a caminhar com ela em direção a rua iluminada
onde moramos.
— Oh, eu não falo tão bem, pode acreditar, aprendi o básico quando ainda
está a viajando feito louca pelo mundo. — Dou de ombros pondo um pé na
frente do outro vedo meu tênis novo, tênis esse que teve que receber vinte e
quatro fotos e dois vídeos de recomendação. — Falo espanhol também e até
comecei a aprender a aprender italiano mas...poxa, será que precisamos
mesmo falar tantos idiomas? Inglês não é a grande base de tudo?
— Você tem razão,— deixo que a pequena mulher passe a minha frente
carregando nosso jantar. — Agora fiquei curiosa, você parou de fazer
viagens?
— Não, ainda não, mas não faço como antes, na real faz dois anos que não
viajo dessa forma, só estive em Nova York e Vegas para fazer alguns acordos
e fotos. — Dou um passo para dentro do elevador junto de um ser curioso que

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me encara esperando por mais.— Desde que perdi meu noivo minha vontade
de viajar se esvaiu, não é a mesma coisa.
Viu só, eu estou bem mais do que curada.
Falar sobre uma ferida fechada com band-aid seria algo que me faria entrar
em colapso e motivos para chorar por mais de duas horas seguidas, hoje, não
é muito diferente, eu realmente quero muito me debouçar em lágrimas sem
ao menos esperar pelo sono, como fiz durante três anos e meio. Perder quem
eu mais amei e o pequeno pedaço de amor que fizemos juntos foi não só uma
decepção como também meu maior penhasco, o meu fundo do poço chegou e
eu não estava nenhum pouco preparada para as inúmeras consequências que
a felicidade sofreria.
Fecho meus olhos reprimindo um soluço, não quero voltar a ser aquela
Chloe, quero a mesma Chloe de cinco anos atrás, a Chloe que só queria cuidar
e ficar perto de crianças que não conhecem ao menos o que é sinônimo de
felicidade.
Automaticamente levo minha mão até onde meu pequeno guerreiro se
estabeleceu por tempo suficiente para me fazer sentir a mulher mais
poderosa de todo mundo.
— Chloe, tudo bem? — Meus olhos estão ardendo tanto que não sei se sou
capaz de abrir a boca novamente.
— Te vejo amanhã Lily. — Pego o pacote que me é estendido e entro em meu
apartamento, não antes de escutar meu nome ser chamado.
— Minha porta vai estar destrancada, meu quarto é a terceira porta a
esquerda, não precisa bater, sei que será você. — Suspiro de forma trêmula.
— Você não precisa ser sozinha, Grace. Podemos ser amigas.
As lágrimas ganham espaço quando assinto e me tranco em meu novo
casulo.
Por que preciso passar por isso meu Deus?
Quais são as linhas que traçou? Por que existem tantas curvas? O que mais
vou perder para ganhar?

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Molly continua animada enquanto caminhamos na esteira do prédio. A
garota não parou de falar dessa tal festa de despedida desde que LeBlanc
abriu aquela linda boca para falar conosco, Molly tem enchido meu saco
desde então para que eu compareça a tal festa dos sonhados “amigos” dela.
Acho que ela nunca parou para meditar sobre essa amizade, um deles está
doido para abrir suas pernas, o outro não está nem aí, para outro ela é
irrelevante e para LeBlanc ela é uma ponte entre as amigas dela. Deus
perdoe-me por isso mas eles sabem como jogar, e também são gostosos, eu
não assumiria nada do tipo se não fosse verdade mas, Deus, eu cairia de
joelhos...merda, merda, merda, desvie o caminho, Cooper, desvie, desvie.
Voltando aos pensamentos antigos, Molly tem enchido meu saco para que
eu apareça ao seu lado na festa daqui dois dias, eu já afirmei não querer, não
poder e muito menos sentir vontade. Eu não os conheço, para qual fim eu iria
até a casa deles? Sei bem que vai estar cheio desses jogadores do qual um,
único, é meu colega, mas fora isso não, eu não comparecer em um lugar onde
não conheço ninguém e a única pessoa que conheço vai me dar as costas para
foder com o novo quarterback da faculdade ao lado, que nem ao menos é
perto, fica a quase meia hora de distância daqui e mesmo assim, o
mulherengo vai vir visitá-los.
— E você vai comigo. — Reviro os olhos ainda correndo e sentindo o suor
escorrer por minhas costas. — Ah, vamos lá Chloe, você já fez amizade com
um deles...
— Eu não fiz amizade com ele, já nos conhecíamos lá de Vancouver, estudei
meio semestre na mesma escola que ele. — Dou de ombros relatando Daniel.
— Daniel e eu não nos conhecemos hoje, ou ontem, nos conhecemos há quase

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dose anos. Não somos amigos, somos conhecidos que não veem mal algum
em não manter distância.
Molly solta um resmungo diminuindo a intensidade de seus passos e eu
continuo malhando, afastando a sensação de estar gorda, de me sentir gorda.
Talvez essa seja a pior parte em crescer com brincadeiras do tipo, você nunca
vai estar magra o suficiente para se bar no espelho se ver do jeito que
“sempre quis”. Oh, o que eu não daria para ter o corpo de uma Barbie. Mesmo
que quando eu olhe no espelho observe a barriga reta, a bunda grande e os
seios médios tentando achar uma escapatória para fora do tope, ainda não é
como se fosse suficiente, ainda parece faltar algo.
— Garota, se eu for no seu passo e eu desmaio em três minutos. — Solto uma
risada curta enquanto diminuo a capacidade de corrida. Molly, mesmo não
sabendo, me fez recordar que ainda não tomei café da manhã, não comi nada
além de um banana e tomei um copo de água. Precisava me limpar.
— Certo, você acabou de me lembrar de algo importante. — Pisco algumas
vezes sentindo minhas pernas começarem a agir como se fosse gelatinas para
suportar meu peso. — Precisamos voltar agora.
— Não, não mesmo, ainda tenho que falar com você e se voltarmos você se
esconderá em seu apartamento. — Respiro fundo enquanto começo a suar
frio, misericórdia, eu odeio, com todas as minhas forças ter puxado o enorme
problema que a família da minha mãe tem com pressão baixa, não que eu
esteja reclamando demais, afinal de contas eu poderia ter diabetes ao invés
de pressão arterial prejudicada. — Você está bem, parece pálida.
— Tenho alguns minutos antes de desmaiar as seus pés por falta de comida.
— Ergo a sobrancelha apontando para o elevador. — O que acha de
subirmos?
Molly segura meu braço e por pouco não me arrasta para fora da academia
com nossas coisas jogadas de qualquer forma dentro da sua enorme bolsa, ela
não é nem um pouco exagerada. Abro um sorriso segurando a barra gelada
do elevador vendo que a esquerda está totalmente trêmula, assim como
minhas pernas e lábios.
— Vamos para minha casa, é mais perto.
— Não, Molly. — Meu coração acelera e não penso demais antes de entrar em
seu apartamento me jogando contra seu enorme sofá cinza, e muito fofo, juro,
é como uma linda cama. Fecho meus olhos sentindo o suor escorrer por
minha testa me causando arrepios. — Jesus, não frite coisas agora, por favor,
eu tenho gastrite, por do que está preste a desmaiar em seu maravilhoso sofá
vai ser sentir o cheiro de gordura. — Com os ainda fechado escuto os
xingamentos que Molly profere enquanto praticamente corre de um lado

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para o outro em sua cozinha, eu ao menos tive a oportunidade olhar bem
para seu apartamento, e não é como se eu fosse conseguir abrir meus olhos
agora.
Jogo meu corpo de um modo mais aberto quando me sinto desconfortável na
posição em que me joguei. Sinto vontade de me jogar embaixo do chuveiro ao
invés de ingerir qualquer coisa que Molly esteja trazendo para meu alcance.
— Abra a boca. — Sua ordem por pouco não me faz rir. Faço o que me é
mandado, ainda que contra minha vontade. — Por isso eu não tive filho —
sua fala me faz franzir o cenho levemente, como é? — Só Deus sabe como
seria difícil cuidar de você e de um filho, olha só. — Molly solta uma risada
contente passando a mão em minha cabeça. — Eu deveria te matar. — Dessa
vez consigo abrir um pequeno sorriso para ela levantando a cabeça.
— Obrigada, Molly. — Bebo um pouco do suco de laranja que compramos
ontem mesmo.
— Nunca mais saio com você para malhar. — Aponta o dedo em minha
direção fazendo com que eu faça uma careta em sua direção. — Não faça essa
cara, é feia.
— Eu nunca vi careta ser algo bonito, não mesmo — Dou um sorriso para ela
e Molly solta mais um dos seus xingamentos, eu não fazia ideia de que a
garota xingava dessa forma. — Você está com fome?
— É claro que sim, eu estava fritando bacons, bacons Chloe, e você
literalmente disse que precisava tanto daquele cheirinho depois de ficar por
quase duas horas malhando. — Reviro os olhos, só malhamos por uma hora.
— Fico te devendo um jantar.
— Já que é assim, vamos sair na sexta a noite — Meus olhos se abrem mais do
que necessário. Abro a boca para discordar mas não tenho tempo já que a
garota se vira e anda a passos largos até a cozinha.
Sair sexta a noite, não mesmo.
Fecho meus olhos pondo algumas uvas na boca, penso em como era bom
quando Victoria, Emily e eu passávamos as noites de sexta vestidas em
nossos pijamas vendo filmes, comendo e fofocando sobre a vida dos outros.
Abro um sorriso lembrando de minha irmã dizendo que me visitaria depois
da edição da Vogue e Dior. Ela ainda não participa dos eventos da garota
Vogue ou Dior mas sempre que pode me acompanha para todo canto, dentro
do continente claro, é assim que sempre tem edições limitadas e produtos
ainda não lançados de algumas marcas.

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— Já pensou sobre? O que eu estou falando, você não vai pensar, você só vai.
— Pego uma garfada dos ovos mexidos ainda quente de seu prato. — O que
vai usar?
— Meu pijama. — Ligo sua televisão e fico a procura da série das
Kardashians. O último capítulo foi excitante.
— Ousada, daqueles de renda, ou daqueles de seda? Sempre achei que sua
pele combina com seda. — Olho para meus braços, e por segundos penso
sobre isso.
Victoria é bem mais escura do que eu, o que seriamente me inveja, eu amo a
forma como sua pele brilha ao ser beijada pelo sol, já eu tenho a cor de um
favo de mel, ninguém sabe se é amarelo, ou se é dourada, é estranha. Mas
ainda assim recebe seus dias de glória e clama o sol como se fosse seu maior
amante.
— Na verdade, ele é infantil. — Essa era a graça de nossas sextas. — Tem até
umas princesas dançando. — De esgueira vejo seu rosto se retorcer em uma
careta achando graça de minhas palavras, mas não estou brincando, meu
pijama de sexta contém princesas dançando com seus pares para todos os
lados, lógico que a bela e a fera são os que ficam sobre meu coração mas
todas são tão lindas.
— Você está brincando, certo? — Nego com um aceno vendo Chris Janer
dançando com fervor junto do marido. Solto um riso baixo vendo os olhos
horrorizados de Kendall e Khloe. — Você não parece estar brincando.
— Porque realmente não estou brincando. — Estico minhas pernas sentindo
meu coração agora mais calmo, minha pulsação normalizada e com certeza
mais sangue rodando pela minha boca. — Sério Molly, não vou te
acompanhar em uma festa da qual você vai me abandonar assim que
chegarmos.
— Você não vai ficar sozinha, os garotos vão ficar com você, e com certeza
terá muitos outros querendo uma casquinha. — Ela ri de sua piada e eu abro
um sorriso, Jesus me ajude a nunca querer arrancar sua língua. — Pensa bem,
faz quanto tempo que não transa?
Olho para o teto e quase, por muito pouco, não fico com vergonha por ser
sincera com ela.
— Quatro anos e meio. — Digo entre dentes bebendo mais suco.
Molly não reage a minha resposta me fazendo olhar para o lado a tempo de
ver seus olhos esbugalhados em minha direção a mão perto do peito a
garganta oscilando.

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— Quatro anos e meio? — Sussurra antes de se virar completamente para
mim. — Como você...não sente tesão? Assim, com todo respeito ao seu noivo,
mas, poxa, uma mulher precisa de atenção em partes específicas...me
entende?
Solto uma risada jogando a cabeça para trás. Por Deus, ela acha mesmo que
não sei me cuidar? Eu só não precisei de ninguém ali, ok, ok, eu até precisei,
mas...tudo bem.
— Eu tenho meus métodos, Garfield, não se preocupe. — Lembro do meu
grande amigo durante as vezes em que me senti confiante o suficiente para
isso. — Todas as vezes em que me sentia bem o suficiente eu mesma me dava
a minha atenção merecida, não se preocupe.
— Mas são quatro anos e meio. — Abro um sorriso concordando. — Seu...não
tem problema se eu me referir a ele como morto, certo? Ele literalmente está.
— Dou de ombros não querendo explicar o motivo. — Seu luto só pode ter
sido muito intenso. — Balanço os ombros, também não é um assunto do qual
eu goste. — Ele era ótimo na cama, não é? Porque se até depois...
— Com quantos anos você perdeu a virgindade? — Solto antes que ela
continue a falar.
— Dezoito, mas que tipo de pergunta é essa? O foco aqui é como o seu...
— Você viveu dezoito anos sem sexo, e ainda por cima passou por uma fase
em que só pensava nisso, como uma gata no cio, e quer mesmo dizer que é
um absurdo passar quatro anos e meio sem sexo?
— Pensando por esse lado...mas depois que temos o gosto não dá para voltar
com o rabo entre as patas.
— Lógico que sim, a mudança nem foi tanta, afinal, eu tive bons amigos
quando precisei. — Pisco para Molly que sorri sapeca e pega a garrafa de suco
que tem em mãos para o meio do sofá onde me encontro.
Molly, em fim, parece ter esquecido da louca ideia de me ter em um lugar
cheio de estranhos que com certeza tem algum conhecimento de revistas,
sites de fofocas e tabloides. Graças a tudo que aconteceu há quatro anos,
minha vida acelerou muito, até demais, acabei perdendo o controle e bum!
Para todos os lados a notícia do noivado, a suposta gravidez, traições,
famílias. Foi horrível, e eu espero nunca mais ter de passar por isso. É
estressante e muitas vezes humilhante ter de ver seu rosto em alguns sites
com comentários maldosos sobre como você se veste, se porta, sorri, acena,
interage, sente raiva, tristeza, amor...Merda, aquilo não foi para qualquer um,
e o quanto mais afastada das fofocas eu puder estar melhor será.
— Oh, oh — Molly se anima batendo palmas e eu como mais uvas. — Vamos
sair para comparar nossas roupas depois das aulas, e não me venha dizer que
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não pode ou inventar qualquer compromisso, você disse que estava livre na
sexta, domingo e terça. — Jogo minha cabeça para trás mordendo minha
língua.
— Não vou ficar por mais de uma hora. — A contragosto as palavras escapam
de minha língua, como eu queria que voltassem como foram.
— Você toma remédio para controlar a pressão? — Assinto desviando os
olhos para mensagens histéricas de Victoria sobre as fotos que tenho que
fazer daqui um mês. — Por que não o tomou ainda?
— Troquei alguns dos meus medicamentos para...tenho que ter certeza que
não haverão alterações comigo, de qualquer forma, preciso fazer um checape
com meu médico, tomei ontem e me senti bem, um pouco mais de sono
mas...esquece, não sei por que estou te contando como se você fosse a médica.
— Porque você percebeu que sou sua amiga, é isso que amigas fazem. — Jogo
um pequeno cacho que escapou do emaranhado em um rabo de cavalo e
penso sobre as palavras, pensar é uma coisa, agir e falar é completamente
diferente. — Sou sua amiga, certo?
— Você está se tornando, mas não posso afirmar como se fossemos amigas de
trezentos anos. — Dou de ombros vendo seus ombros caírem um pouco. —
Não é como se eu não gostasse de você, eu te adoro, mas, eu estou
acostumada com um tipo de amizade que não se acha em qualquer lugar.
— Vou te mostrar, sou sua amiga, Chloe Cooper.

Olho meu twitter enquanto continuo seguindo Molly em diversas lojas e


mercados, eu só preciso entrar em uma loja e comprar o estudo que tenho
namorado há mais de uma semana. A Mad, empresa está que venho
namorando há anos, lançou uma coleção fora de época e tenho mais do que
certeza de que daqui há algumas semas eles estarão anunciando a próxima
coleção, mas dessa vez é a de outono.
O que eu não daria para voltar para Vancouver e passar todo o outono com
meus pais e minha irmã. Por falar nela, sua mensagem sobre querer me
acompanhar até o Equador em duas semanas foi recebida e ignorada com
todo sucesso. Com apenas treze anos minha irmã modela e faz desfiles para
marcas que estão iniciando nesse meio, o que posso dizer sobre Emily ser

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apaixonada pelas passarelas mais do que é pelo seu sonho da faculdade?
Nada, gosto que ela tenha o mesmo tesão pelas passarelas que eu tenho pelas
fotos de capa que faço.
Deixando Molly passar na frente vejo a nova foto que Emily me enviou, abro
um sorriso ao ver seu cabelo preso em um coque muito bem alinhado e seu
corpo alto vestido com roupas dos anos setenta, com certeza foi minha mãe
quem me enviou já que Emily parece estar fazendo isso agora mesmo. Enviou
um coração em resposta as suas fotos e volto minha atenção para a loja da
Gucci onde Molly entrou há pouco.
Meu telefone começa a zumbir com o nome de Victoria na tela, abro um
sorriso grande e recosto meu corpo em uma parede próxima, deixando que
Molly se divirta em suas compras, ou quase isso.
— Quem aí está morrendo com a minha ausência?! — Dou risada ao escutar
suas palavras mas assinto quando sinto um aperto no peito.
— Pode ter certeza de que já passei no hospital três vezes só essa semana. —
Na real foram duas, mas ela não precisa nem saber que isso é verdade.
— Ei, pequena coelhinha, eu posso me mudar para o Texas também. — Agora
solto uma verdadeira gargalhada, Victoria odeia o clima indeciso da cidade.
— Você não gosta do Texas — um senhor com um chapéu do Texas para bem
a minha frente fazendo uma careta e balançando a cabeça, o que foi? Eu adoro
a cidade, mas me mudaria para LA na primeira oportunidade. — E sua
faculdade é aí, já está quase no final, sem falar que seu emprego está aí
também.
— Por acaso você mora no meio do deserto? — As vezes parece que sim, mas
não diria isso com tantos moradores amadores do cidade tão perto. — Aposto
que muitas pessoas estão doidas para aprender uma ou duas coisinhas sobre
sensualidade.
— Acho que os idosos daqui desaprovariam sua ideia, prima. — Molly volta
com uma pequena bolsa da loja e sorri grande ao me avistar. — Eu te ligo
mais tarde, preciso ir comprar um vestido.
— Você vai finalmente sair? Porra, eu deveria beijar essa sua vizinha. —
Balanço a cabeça em negativa antes de desligar e andar em direção a uma
Molly muito mais do que feliz.
— O que tem aí? — Pergunto voltando a andar em direção ao paraíso,
também apelidado de Mademoiselle.
— Achei uma linda calça em liquidação, era a última e ficou perfeita em mim,
você deveria ter entrado, o verão é sem dúvida o melhor momento para se
comprar, ainda mais quando se existe liquidação pré-outono.

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Sorrindo para suas palavras paro em frente ao McDonald’s em prol de uma
casquinha, depois de andar tanto eu preciso.
Depois de uma casquinha, um hambúrguer e um copo grande de refrigerante
voltando a andar pelas ruas movimentadas de Houston. A conversa com
Molly é sempre algo fácil, nunca precisamos do minuto da vergonha, gosto
disso.
Garfield comenta sobre as novas atividades que um dos seus professores vai
fazer com que todos que enceraram o último semestre com nota baixa façam
um trabalho, que no mínimo demorará três semanas. Molly parece radiante
ao coar que ganhou uma nova chance para conseguir se alinhar na matéria.
— Aqui. — Digo apontando para a grande loja na esquina.
— Vai mesmo comprar aqui, sabe, até a Gucci parece ter mais amor aos
estudantes. — Solto uma risada levando ela para o interior da loja.
Da última vez que estive aqui ela era completamente rosa com detalhes
vermelhos e dourados, essa vez está tão azul quanto se é possível, não que
isso seja ruim. A loja parece ser as portas para o céu, é lindo, todos as obras
desenhadas do chão ao teto junto dos espelhos que refletem o chão ao tento
dando a impressão de estar pisando em ambos ao mesmo tempo é linda.
— Uau, aqui é lindo. — Molly elogia começando a andar pela loja.
— Boa tarde, posso ajudá-las? — A atendente loura com um coque muito
mais do que bem amarrado pergunta. Abro um sorriso para ela e retiro meu
celular da bolsa.
— Boa tarde. Eu quero muito saber se ainda existe a possibilidade de haver
algum vestido da última coleção inusitada. — Mostro a ela a foto que tirei da
minha tela. — Será que consigo achar aqui?
A mulher solta uma risadinha para meu tom de súplica e me guia para a
parte mais afastada da porta.
— Você tem sorte, os últimos estão na Itália, aqui e Madrid — Solto um
suspiro audível. — Acho que vendemos as últimas quatro.
— Não, não...por favor, me diz que sobrou um. — Ainda achando graça ela
levanta a pequena peça branca para mim. — Deus te abençoe. — Ele é lindo,
com uma pequena abertura nas costas deixando toda a frente fechada, apenas
a clavícula é exposta como as pernas. Tenho certeza de que apenas alcançará
minha coxa e deixará o resto para a mais fértil imaginação. — Eu vou levar.
— Tudo bem — Quase pulo de alegria — Não quer nem mesmo ver se as
medidas condizem com as suas? — Assinto puxando o cartão da bolsa.

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Molly reaparece ao meu lado com os olhos saltando em minha direção. Uh,
ela com certeza reparou em alguns preços aqui. Sorrio para ela enquanto
escuto a mulher perguntas minhas medidas.
— Busto?
— Oitenta.
— Esse aqui é oitenta e um, tudo bem? — Concordo com um único aceno.—
Cintura?
— Sessenta e sete. — É foi um enorme desafio me por dentro de um trinta e
oito novamente.
— Quadril?
— Oitenta e oito.

— Ok, parece ter sido quase feito com suas medidas, bem, o comprimento é
de setenta e dois, tudo bem? — Assinto quase pulando de alegria, preciso
ligar para o meu pai e dizer que o que está acontecendo não é um assalto. —
São oito mil.
Garfield engasga ao meu lado e logo está olhando para outro lugar.
— Aqui.— Estendo o cartão em sua direção e por impulso me jogo nos braços
de Molly. — Eu não acredito que consegui.
— Você só pode ser louca. — Beijo sua bochecha enquanto danço a espera da
meu novo amor. — Bom, pelo menos você parece mais feliz do que antes, já
se animou para a festa?
— Claro, uma belezinha dessa muda vidas. — Pego minha bolsa, o cartão e
me despeço da loura, agora alegre.
Parece que a sexta do pijama vai ficar para outro dia.

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Olho para a nossa última foto pensando em uma forma de apagar sem que
em meu peito o compasso se perca, as estribeiras do amor que cultivei não
esteja mais querendo me afundar e me inundar de dor, por que precisa ser
tão difícil apagar.
Tem certeza de que quer deletar?
A mensagem brilha há um tempo na tela me avisando de que aquilo não
pode ser uma boa opção.
— Oi Cooper — O sotaque francês chama em minhas costas me fazendo
revirar os olhos, que carinha insistente. — E então, vai a nossa festa?
— Por que eu deveria ir a sua festa? — Pergunto desligando o celular.
— Porque, como um bom menino, parei de ficar te encarando, como você
mandou, não te chamei por dois dias seguidos, e nunca te perturbo, além de
ser lindo, charmoso, educado...
— Será que a propaganda já acabou? — Como essas garotas consegue fazer
fila para sentar no egocêntrico?
— Meus amigos querer te conhecer. — Ele só pode ter algum dos problemas
que Laura citou hoje.
— Diga que eu a eles que não tenho tempo — Endireito minha bolsa em meu
ombro e começo a andar, porém, como da última vez Kelly tem outros planos.
Minhas pernas quase perdem o compasso enquanto me puxa em direção a
uma mesa repleta de postes malhados, e sem dúvida alguma lindos, Deus
abençoe cada pecado que anda por aqui.

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— Ei, pessoal, essa aqui é a Chloe, minha amiga. — Olho para ele sem
entender o motivo de Kelly estar falando por mim e me arrastando como se
eu fosse um pequeno animal de estimação.
— Nunca mais faça nada disso — Falei entre dentes para que só ele escute,
ninguém precisa saber do que se trata. — Não me arraste como seu mascote
pessoal, não abra a boca para falar por mim sem antes pedir minha opinião,
não tome decisões por mim, LeBlanc, você não me conhece.
Kelly sorri quase batendo palmas e pulando.
Apontando para os amigos ele começa a falar livremente sobre cada um, eu
só quero ir para casa e me jogar sob a ducha antes de correr alguns
quilômetros.
O mais calado deles se chama Gabriel, Gabriel é alto, como todos, forte, forte
demais, um sorriso sonso que te faz abaixar a calcinha e depois que acaba se
perfura o porquê de não ter feito antes e o motivo de ter estado lá.
Matheus é o do meio, com o mesmo sorriso ensaiado de Gabriel que me
analisa como se estivesse vendo se tenho ou não bom porte para conversar
com ele. Matheus é simpático, não paquera e nem diz nada do que eu não
queira escutar, parece ser fácil ter uma conversa com esse cara, sorrio para
ele que me devolve um sorriso brilhante em resposta. Eu posso me apaixonar.
Calebe é o mais doido de todos, não parou de falar nem mesmo quando eu
estava conversando com o que descobri ser seu primo. O garoto parece ter
engolido o rádio de tanto que fala e gesticula sobre o que quer dizer. Cabe me
faz dar risadas e revirar os olhos levantando o dedo do meio em sua direção.
Kelly parece mais do que orgulho ao me ver sorrindo e rindo da cara de seus
colegas de casa o que é mais do que estranho.
— Quer morar com a gente? — Solto uma risada alta ao escutar a proposta de
Matheus — Tem um quarto lá, Chloe, você pode morar com a gente.
— Não, eu não vou morar com três brutamontes, eu nem conheço vocês.
— Ah, vamos lá, o que há para se descobrir? — Gabriel pergunta. — Sou
Gabriel, esse é Matheus, Calebe e Kelly, o que quer a mais?
— O que fazem? O que comem? Quem dorme lá? — Estendo a mão para cima
travando minha frase pela metade. — Por que diabos eu estou perguntando
isso? Não vou andar com vocês?
— Claro que vai, Chloe. — Reviro os olhos ao sentir a mão de Kelly em meu
ombro.— Ma jolie. — o desgraçado praticamente sussurra em meu ouvido me
fazendo estremecer — agora somos seus amigos.

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— Por que você precisa ser tão estranho, cara? — Pergunto ajeitando minha
bolsa. — Pare de ser assim...agora!
Todos eles soltam uma leve risada, menos Gabriel que apenas estende sua
sobrancelha para cima e faz uma careta.
— Mi ricordi mia madre. — Resmunga voltando a beber o líquido de seu
pequeno cantil.
— Eu entendo italiano.— Alfineto. — E não me compare a sua mãe.
— Ele acabou de te comparar a mãe dele? — Ralha Calebe parecendo segurar
o riso. Eu o encaro como se fosse jogar minha bolsa em sua cara nesse
momento, com pessoas a volta como testemunha — Isso não é legal da sua
parte, Beaumont.
Reviro os olhos e giro em meus calcanhares me dirigindo para o
estacionamento e para bem longe deles.
— Vejo você mais tarde? — Matheus grita fazendo algumas pessoas me
encararem diretamente, o quê? Precisa de convite para entrar na festa dos
esquisitos gostosa como...foco Chloe!
— Nós iremos até você se não aparecer, Grace!— A ameaça de Calebe usando
meu nome não acabou de me fazer estremecer, certo?
— Estoque sua gasolina, Blackwood — desconverso parada no meio do da
entrada da faculdade. — Minha amiga quer uma chance. — Aponto, não é
mentira, Molly está doida por um desses caras.
— Nosso trabalho é agradar, senhorita Cooper. — Seu chapéu invisível me é
estendido, abro um sorriso para ele e balanço a cabeça indo em direção ao
meu novo bebê, presente adiantado do meu querido papai. — Até mais,
Cooper.
Jesus, eles são tão escandalosos assim sempre? Não dá para agir como se eu
conhecesse os queridinhos da faculdade se eles são tão desparafusados dessa
forma.
Com get it together tocando no rádio vou até o único lugar em que consigo
sentir um pouco de paz. Pego o pote de Nutella que permanece escondido em
meu porta luvas desde que descobri que Molly é fanática pelo creme de cacau.
Eu poderia estar sendo velada nesse momento por culpa de um pote dessa
coisinha, Molly realmente deveria ir a algum médico especialista.
Jogo minha cabeça para trás ao chegar na metade da música favorita de
minha mãe, bem, essa e mais cinquenta fazem parte desse título, mas , quem
sou eu para dizer que ela não deveria ter mais de uma opção nos favoritos?
“Estou farto de você não estar aqui comigo

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Quando você sabe que o amor é tudo que eu preciso
Eu não quero ficar
Eu realmente não quero ficar
Eu realmente não quero ir...”
Canto junto com uma das integrantes, integrantes essas que eu nunca nem
mesmo quis pesquisar o nome, eu deveria fazer isso, elas são incríveis juntas,
separadas também podem fazer um lindo estrago.
Bato na buzina quando o carro da frente simplesmente fica parado enquanto
somos liberados pelo sinal.
Ainda sentindo o gosto do creme de avelã em minha boca estaciono na
mesma vaga de sempre e cumprimento o segurança e o seu novo ajudante
que não parece feliz em me vez como seu amigo, por esse motivo eu nunca
mais trouxe as pequenas barrinhas de chocolate e caramelo. Oh, ele não sabe
o que está perdendo não tendo uma amizade comigo.
— Daniel, como vai? — Estendo a pequena bolsa em que sempre carrego para
esse lugar.
— Olá Chloe, — Daniel sorri em minha direção e aceita rapidamente minha
bolsa. — Você não aparece aqui há um bom tempo.
— Talvez seja porque ela não é doente. — Reviro os olhos para o pequeno
Robin.
— Joice me ligou ontem dizendo que tinha feito o parto de sêxtuplos, não é
fenomenal?!
— Sinto pena da mãe — Responde comendo uma barrinha enquanto olha
para o nada..— O pai está aí? Eu estaria surtando.
— Sim, ele chegou a postar uma foto com eles. — Suspiro puxando minha
bolsa para mais perto do meu ombro enquanto me despeço e quase corro em
direção e elevadores. Não acredito que vou mesmo conhecer sêxtuplos com
uma gestação bem evoluída e sem complicações.
Batendo palmas dentro do elevador busco me acalma para não assustar a
família que não faz a menor ideia de quem eu possa ser.

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Observo todos os novos pequenos serezinhos e me sinto com uma alegria
que não seria ao menos capaz de explicar, eles são incríveis e por algum
milagre estão todos quietos enquanto observo junto de um homem que tem o
olhar mais apaixonado que eu poderia ver.
— Qual desses é o seu?— A mesma pergunta, a mesma resposta e mesmo
assim é como me dilacerar por inteira.
— Não, o meu já não está mais aqui. — Vejo pelo reflexo do vidro o momento
em que sua cabeça vira em minha direção.
— Eu não sei se eu deveria sentir muito ou perguntar como é depois que
somos abandonados pelas assas das enfermeiras.— Abro um sorriso quando
ele coça o braço com uma expressão sem graça.
— Bem, por que não me diz quem ou quais são os seus?
E lá está todo o amor que vou há pouco novamente.
— São aqueles, ali — Olho para onde ele aponta e vejo o espaço com quatro
meninas e dois meninos escolhidos juntos embaixo do banho de sol azul,
alguns estão sem uma faixa sobre os olhos mas outros estão com elas e
segurando o corpo do que está mais perto. — Eu nem acredito que sou pai e
ainda mais pai de seis bebês.
Meu coração se encontra em perfeito colapso enquanto imagino como deve
ter sido mágico a hora em que viu seus bebês abrirem os olhos em sua
direção, ou escutar o choro, ou só ter ciência de que daqui uns dias poderão
estar juntos no quarto do pai.
Massageio meu peito por cima da roupa enquanto ele continua a falar da
sua experiência magnífica ao se tornar pai.
— Eu não deveria encher seus ouvidos com essas histórias. — Sorrio para ele
me sentindo bem melhor. — Mas, então, o que faz aqui?
— Gosto daqui, e mesmo que as vezes seja o mais completo caos, também
tem a mais completa paz. — Gesticulo com as mãos em direção as fileiras com
bebês, alguns com nomes outro sem ao menos ter identificação. — Uma nova
esperança para qualquer coisa que eles possam fazer.
— Até se envolver com drogas?— sua brincadeira me faz dar uma risada.
— Minha mãe tem um jeito um tanto diferente para resolver isso. — O
homem ao meu lado gargalha e isso me faz querer ficar horas aqui, fora do
caos, do perigo e de qualquer lobo mal a espreita, apenas paz, amor e
desordem.

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— Molly!— Grito pela quarta vez enquanto passo óleo em meu cabelo. —
Pelo amor de Deus, mulher, você não vai casar naquela festa! E é só uma festa
na piscina, nada a mais. — Retoco meu batom e vejo se meu rosto tem uma
cor saudável o suficiente, Jesus, uma maquiagem realmente pode mudar
vidas, quem diz que eu quase tive um colapso, não dormi e muito menos
fiquei bem o dia todo? — Eu vou ir sem você, tenho um...uau, você está linda.
Molly se encontra em um pequeno vestido no estilo verão com alguns
detalhes de renda. A menina conseguiu ficar com um corpo três vezes melhor
do que já tinha.
— Eu passei horas me arrumando para você, que ficou uma hora em frente ao
espelho estar mais bonita, gostosa e sensual?
— Não me sinto a última coisa mas se quiser continuar massageando meu
ego pode continuar, ele está amando, eu juro. — Molly solta uma risada e
cruzamos nossos braços indo em direção ao elevador juntas. — Você está
maravilhosa, Molly, isso eu posso jurar.
— Obrigada Chloe,— Ela quase deita a cabeça em meu pescoço segurando
minha cabeça me fazendo olhar para cima, — Nossa, você tem um cheiro
divino — ainda sem tirar o rosto do meu pescoço ela passa o dedo e a porta
do elevador se abre no terceiro andar onde um homem um pouco mais velho
do que nós nos encara na metade do caminho com seu terno e celular na
orelha. Afasto Molly de mim e me apoio na parede ainda olhando para o
homem que pisca um par de vezes e começa a sorrir alegremente. Aperto o
menos um novamente em prol de me afastar o máximo do sorrisinho
estranho.
Molly começa a gargalhar enquanto se apoia no vidro do elevador, não
aguento e acabo rindo junto com ela até sair do elevador em direção ao meu
carro, eu não concordaria com outra coisa por dois motivos: quero chegar em
casa daqui a pouco e viva. — com Molly não vou poder ao menos ter a certeza
de ter a chave de casa no final da festa.
— Lembre, vou ficar por apenas uma hora. — Digo saindo da garagem indo
em direção as ruas poucos movimentadas e tomadas por condomínios com
casas de alto nível. — Eles são ricos por acaso? — A pergunta escorrega antes
que eu possa percebe e Molly já está rindo novamente. — Você bebeu antes
de sair?
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— Não, mas eu deveria. — Balanço a cabeça em negação — E acho que eles
não são ricos, só têm uma condição financeira melhor do que a de alguns. —
Concordo ao entrar na rua com casas enormes e decoradas de um jeito lindo
e igual, espera, todos aqui tem o mesmo design? Parece um pouco sem noção
mas se são eles que estão pagando, por que me meter? — É aquela casa ali.
— Aponta para a casa com iluminação exagerada, se Molly não dissesse eu
ficaria eternamente perdida já que todas as casas estão apagadas e
concidentemente essa é a única casa com o som alto e luzes estrondosas.
Estaciono o mais afastado possível e espero Molly descer e se afastar um
pouco para pegar uma nova colher do meu vício. Depois de uma enorme
colher estar dentro da minha boca confiro se meus lábios não estão com a cor
diferente do meu vermelho tinto, que graças a Victoria pertence a edição
limitada da Chanel. Oh, eu nunca fui tão grata por danças eróticas na minha
vida!
— Ei, não vem? É claro que vem, mas o que está esperando? Vem. — Saio do
carro vendo que deveria ter escolhido um salto um pouco menor. Concentro
minha respiração e sigo em frente, a tal festa começava às 20h com o atraso
de Molly conseguimos chegar às 22h, e eu estou longe de estar reclamando,
só quero beber alguma coisa e cair fora.
— Oh, eu vou fazer sexo!— A garota exclama ao pé do meu ouvido com um
sorriso enorme. — E eu tenho certeza de que vai ser vendo estrelas me
tocando.
— Veja bem se essas estrelas não terão cegonhas descansando. — Solto uma
risada e logo entendo o que ela quis dizer, que puta homão é aquele ali. —
Certo, não vamos ser egoístas, o céu não brilha para uma única pessoa.
Uh, e se dependesse da minha carência ele iria brilhar como brilha nas
montanhas do sul, puta merda.

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A loira mais gostosa rebola em meu colo como se a noite não fosse ter fim, e
eu? Oh, eu estou amando receber seus gemidos altos a cada tapa que recebe.
Ela arfa quando aperto uma banda de sua bunda, e que bunda, cara, como eu
gostaria de me afundar entre essas duas belezinhas.
— Vamos lá para cima? — Qual é seu nome? Foda-se, o importante é que ela
quer um pouco de animação.
— Querida, eu sou o convidado de honra — Acaricio seu rosto corado
enquanto ela geme mais uma vez jogando a cabeça em meu pescoço, solto
uma risada enquanto acaricio sua grande bunda redonda.
— Porque latinos têm que ser tão gostosos quando abrem a boca? — Beijo
sua têmpora antes de dar duas batidinhas em sua bunda pedindo para que ela
saia de cima de mim. Será que ela já parou para estudar geografia?
Kelly olha para a loira de cima a baixo e sorri pequeno para mim. Voltando a
dançar enquanto dança me levanto balançando os ombros e batendo a mão
na sua, trocamos um abraço de lado de um jeito forte. Nem dá para acreditar
que esse é o mesmo ‘varapau’ que brincava comigo pelo quarteirão.
— Caralho, você mudou!— Exclamo olhando bem para ele. — Quem diria que
Marie iria ter de engolir a própria língua?
Kelly solta uma risada e bate mais duas vezes em minha mãe como sempre
faz.
— E você? Cara, você nem parece mais um macarrão em decomposição —
Solto uma risada alta escutando essa ofensa. — Faz quanto tempo que não

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nos vemos? E agora o quê, você virou o quarterback do time? Puxa, você é
rapidinho, hein.
— Sim, sim, capitão. — Balanço a cabeça não querendo entrar em detalhes
sobre isso. — Acho que eu não te vejo há um ano e meio, fez bem a você.
— Já entendi que você me ama, cara, não precisa mais elogios.
— Oh, desculpa todo poderoso, nada mais sairá daqui. — Fecho minha boca
em uma linha reta. — E aí, o que temos aqui?
— Olhe em volta, faça suas escolhas. — Kelly abre os braços com um sorriso
brilhante, literalmente brilhante, desde que o retardo resolveu pôr um dente
de ouro que reflete mais luz do que deveria. — Só não...uh, olha lá.
Será que ele caiu ou a mãe jogou de propósito?
Pisco olhando na direção que ele olha e posso ter certeza de que no próximo
ação de graças o agradecimento em especial irá para os grandes artistas que
colaboraram para o dia de hoje ser tão especial. Puta que pariu, a pequena
mulher caminha em nossa direção com mais decisão do que eu jamais terei
em jogo nas finais, ignora comentários e chamados, ela está, literalmente,
focada em nós.
Quadris largos, cintura estreita, peitos grandes e posso ter certeza de que
tem uma bunda do tamanho do mundo. Caralho, isso sim deveria ser
chamado de colírio, ela parece ser o sol de início da manhã, não é quente o
suficiente para nos fazer procurar um lugar mais frio, oh não, para que frio se
você tem o verão inteiro bem a sua frente? Desnecessário, muito mais do que
desnecessário.
Kelly acerta dois tapas em minhas costas mas isso nunca seria o suficiente
para me fazer desviar os olhos de um colírio jamais experimentado.
— Cara, mais um pouco e eu vou secar. — E a voz...puta merda. — Pare de me
olhar como se eu fosse uma coisa estranha.
— Você é divina. — Escapa e eu não dou a mínima, não contei nenhuma
mentira. — Não estou acostumado com tamanha beleza.
A morena solta uma risada baixa enquanto balança a cabeça.
— Fico lisonjeada de qualquer forma. — Com um aceno de cabeça ela se vira
para Kelly que tem um sorriso reservado para ela. — Vim me despedir.
— Não, Chloe. — Reclama segurando suas mãos. — Fica só mais um
pouquinho, você chegou há o quê, meia hora?
— Uma hora. — ela o corrige sorrindo.— O combinado era esse.
— Esse era o combinado com a Molly, não comigo e com os outros.

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Chloe...até o nome é bonito e delicado e...
— Por que não fica por mais meia hora? O que tem de tão importante em
casa? — Pergunto também querendo sua presença prolongada.— O beer
pong vai começar daqui a pouco.
— Não curto muito.
— Videogame?
— Passo.
— Barriu de cerveja?
— Esquece. Cara, desiste, não seja como Molly e Kelly.
— Sinuca?— Ela fica em silêncio e isso me anima. — Quer jogar uma partida?
Posso te fazer perder o mais rápido possível para você voltar para casa.
Um estalar de língua ecoa entre nós quando ela revira os olhos.
— Você não deveria considerar isso, Cooper. — E esses lábios...uh, que lábios.
Chloe continua a olhar para mim como se estivesse me estudando de modo
nada divertido, eu pareço uma prova surpresa, não sei se gosto disso.
— Essa é uma fala arrogante para quem não conhece o oponente. — Ergo a
sobrancelha escutando seu blefe. Ela acabou de concordar comigo?— Pode
começar a guiar...
— Noah, Noah Walker. — Ela estende a mão em cumprimento mas eu a puxo
mais perto. — Gosto de contato físico, princesa. — Vejo seus braço nu se
arrepiar completamente ao final da minha frase. Quem quer que tenha
inventado o espanhol merece um beijo direto dos lábios de Noah Walker,
claro, se for mulher...e gostosa. De jeito nenhum vou dar meus lábios a uma
estranha.
— Oh, Walker, para sua sorte eu também amo um contato físico. — Suspiro
quando seu espanhol flutua entre nós.— E se não me soltar em cinco
segundos vai entender bem que tipo de contato é esse.
Ergo a mão em sinal de redenção e solto uma risada balançando a cabeça.
Aponta para a sala do outro lado da sala e deixo que Chloe passe na minha
frente com uma bunda, que nem deveria receber esse nome de tão grande, ela
balança de um lado para o outro, para cima e para baixo...porra, mexo nas
minhas calças quando sinto meu pau se endurecendo com a mais bela visão
de Chloe quicando sobre meu pau com toda essa ignorância.
— Cacete.— Sussurro vendo a sala vazia. Fecho os olhos fazendo uma prece a
qualquer santo desocupado que possa me ouvir.
— Bilhar inglês, sinuca ou três tabelas?

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Sua fala é de alguém que realmente entende do assunto, mas, pensa bem
Walker, você consegue falar de jogos de basquete sem saber o que é um ala
pivô, isso não é crime, ela deve ter se informado em algum lugar, a internet é
cheia dessas coisas hoje em dia.
— Bilhar inglês — Seus olhos brilham enquanto ela prepara a mesa sem
esperar por mim...E, caralho, ela tem olhos amarelos! Eles são amarelos como
duas pedras preciosas. Jesus, ela é a cópia de uma gatinha tinhosa. Respire,
Walker, volte ao jogo.— Então, o que faz aqui? Tipo, como conheceu os meus
amigos?
— Não conheço seus amigos, sei o nome deles e o que estudam, mas não os
conheço. — Reviro os olhos. — Não faz assim, parece até uma criança
birrenta.
— Como é seu nome? E de qualquer forma, você não respondeu minha
pergunta.
— Sou Chloe Grace Cooper, estudo medicina, estou no período analítico junto
com o seu amigo, nem se eu te explicasse você entenderia. Molly, minha
amiga, os conhece há um tempo, eu não. Mais alguma coisa que preciso
acrescentar ao currículo, senhor Walker?
— Qual é a cor da sua calcinha?
Chloe mordisca o lábio inferior mas logo está sorrindo enquanto passa giz
na ponta do taco ainda me encarando como se eu fosse uma série de
problemas matemáticos, não sei o motivo, e nem quero saber, mas eu gosto
de ser diferente aos olhos dela, algo “impossível”. Talvez o álcool que bebi há
um tempo já esteja fazendo seu efeito.
— Ganhe e descubra — assopra o excesso de giz — Vamos apostar o seguinte,
se ganhar, pode pedir o que quiser, desde que não envolva sexo, de nenhuma
espécie.— Pondera fazendo meu amigo ficar triste ainda que pulse mais e
mais forte ao som da melodia de sua voz.— Mas, fora isso, pode pedir, e, como
uma boa jogadora, eu faço.
— E se você ganhar?
Me peça sexo!
Oh, amor, eu posso te fazer gozar de pé, deitada, sentada, sobre meu rosto,
com o meu pau...peça, meu bem.
— Eu penso até lá. — Apontando para as roxas listradas ela sorri. — Fico com
as roxas.
Inferno de jogo!

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Eu não deveria de dito que topava fazer isso aqui, puta que pariu, por que
eu a convidei?! Caralho, Walker, ela tem uma linda bunda redonda empinada
e pronta para te receber e receber uns tapas até ficar vermelha...será que ela
gosta...recuar, recue soldado, volte de onde está, o jogo, volte para o jogo.
— Gosta de levar tapas? — Chloe solta uma risada enquanto encaçapa uma de
suas bolas.
— Depende do quão quente ele seja. — Sinto a tensão em minhas
panturrilhas quando meu pau aumenta de tamanho quase me fazendo revirar
os olhos. — Vamos, eu acabei de perder uma jogada.
Anuo e me concentro na bola laranja, esqueço a bunda de Chloe por dois
segundos enquanto encaçapo uma das bolas e pulo para a próxima, e mais
uma antes que a dona da melhor vista do mundo soltar um gemido que é
engolido rapidamente.
— Não faz isso. — Ordeno entre dentes erguendo meu taco, nivelando meus
olhos aos olhos amarelos brilhantes.
— O quê? Eu acabei de bater esse taco na minha coxa, não é algo que não me
faça soltar uns murmúrios. — Ela dá de ombros concentrando em suas
últimas cinco bolas.
Ela tem lindas e grossas coxas. Porra, elas devem apertar mais só que
demonstrou de longe. Olha só como são lindas daqui, elas poderiam estar ao
redor do meu pescoço, da minha cintura...Jesus, eu estou enlouquecendo.
Sinto a pulsação direto na cabeça do meu pau e respiro fundo algumas vezes
para fazer com que minhas bolas não fiquem roxas com as imagens que estão
sendo projetadas em minha mente.
— Eu estou duro — Chloe solta uma risada mas perde a tacada faltando três
bolas, ela balança a cabeça segurando o próprio pescoço, que parece ainda
mais lindo agora.
— Eu sei — Solto um gemido esganiçado quando ela sussurra.
— Chloe...
Pelo menos os peitinhos ( que não têm nada de diminutivo), eu amo peitos,
peitos são mais do que legais.
— É sua vez, Walker. — Engulo em seco e concordo. Se ela prefere assim.
A bola quase cai na caçapa mas desacelera perto e para sem ao menos estar
na ponta.
— Obrigada. — Sorri mostrando os dentes antes de derrubar suas duas
últimas bolas, falta uma, mas não há a menor condição de que eu a deixe

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perder, meu pau não me permite mais dar muitos passos sem sentir dor e
incômodo. — Eu posso deixar que...ei, tudo bem?
— Você tá molhada? — Chloe revira os olhos mas eu me aproximo ainda
assim, mesmo depois de ela derrubar sua última bola levando a vitória
consigo. Paro atrás dela, seu corpo se torna minúsculo peto do meu, meus
braços parecem dois dos seus, meu peito tampa todo seu corpo fica
escondido e encolhido sob mim.— Eu preciso saber Chloe.
Seu cheiro é mais do que apenas viciante, é tropical, refrescante, lembra o
verão e tem um leve cheiro de coco mas se parar para analisar parece puro
coco com outros aromas a volta.
Beijo seu pescoço, enquanto ela não me afastar há esperança prolongada. Me
perco em seu cheiro e vejo o exato momento em que ela estende as mãos
sobre a mesa, chupo levemente o lóbulo de sua orelha enfeitada pelo que
parecem pérolas, escuto seu gemido e solto um pequeno ronronar em
concordância.
Uso uma das mãos para segurar seu corpo no lugar enquanto me precioso
contra ela mostrando minha dolorosa ereção por esse enorme rabo
empinado para mim, e a outra deslizo pela lateral de seu corpo até achar seu
peito, ah, sim, minha perdição, aperto um dos meus novos amigos e a ouço
gemer e gemo na mesma proporção.
— Noah...
— Sim, meu bem? — Continuo me esfregando em sua bunda vendo sua
cabeça cair na mesa com um suspiro. — Assim?
Mexo mais forte vendo seus olhos se reviraram e suas unhas castigarem a
superfície verde.
— Não...merda, você parece ser bom nisso. — Sorrio e beijo sua nuca
apertando sua bunda e seio ao mesmo tempo. Sua pele escura está ainda mais
bonita com a pouca iluminação, o verde da mesa e o vestido branco que usa...
Se Deus alguma vez anunciou seus preferidos ele incluiu Chloe e nunca
proferiu uma única palavra sobre isso.— Não posso.
— Não vai dizer que namora agora, ou vai? — Paro de mexer mesmo que ela
reclame. Mesmo que ela me revele uma coisinha como essa eu ainda vou
querer ser o culpado pelos nós em seja cabelo na manhã seguinte.
— Não sou uma vadia, se eu estivesse com alguém não iria estar aqui com
você e muito menos nessa posição. — Ela levanta a cabeça mas já estou
sorrindo novamente e pronto para me ajoelhar para ela e mostrar o quanto
quero venerar seu corpo por essa noite.— Porra, Noah.
— Vai responder a minha pergunta?

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— Qual? Você fala tanto. — Deixo minhas mãos escorregarem para o interior
de suas coxas e faço círculos ali sentindo o local mais quente que as Bahamas
no verão.
— Vai me mostrar a cor da sua calcinha, meu bem? — Ela suspira quando
passo os dedos pelo tecido úmido, ela deveria ser considera o próprio fruto
proibido, e como negar? Como dizer não a uma ótima, esplêndida e pronta
tentação? Um único pedaço não faz mal, é como a branca de neve e a maçã,
um ímã e metal. Eu preciso provar o que tem por baixo desse vestidinho.
— Hum...— Continuo pincelando com calma sentindo meus dedos unidos.
— Isso é um sim?
— Hum...— Abro um sorriso gigante segurando sua bunda com as duas mãos
antes de segurar a barra do pequeno e sofisticado vestido branco. É
simplesmente a melhor noite da minha vida.
Quase pulo de alegria enquanto prolongo a satisfação do pequeno fruto a
minha frente que quase geme pondo as mãos para trás.
— Você só pode ‘tá de sacanagem comigo! — Me assusto erguendo meu
corpo e tapando Chloe de forma protetora.
Olho para a intrusa ainda sem deixar que ela veja Chloe e vise versa.
A loira de mais cedo está parada na porta com um copo vermelho em mãos
e um rosto muito, muito vermelho. Pisco algumas vezes me obrigando a
lembrar o nome dela para manda-la nos dá privacidade, eu estava quase
conseguindo o que passei quase uma hora inteira desejando. Porra, ela não
vai mesmo atrapalhar meus planos de esvaziar minhas bolas dentro da linda
mulher depois de prova-la de todas as maneiras conhecidas e indescritíveis,
oh não, não mesmo, não hoje boneca.
Olho para a mulher que tem minha atenção e que agora está parada ao meu
lado com um olhar acusador.
— Você namora?!— Chloe pergunta em espanhol e quase gozo escutando sua
voz irritada e no meu idioma natal.
— O quê? Não, claro que não, eu a conheci hoje!
Posso ser um idiota mas não faria isso com a loirinha, ela também é
linda...não como a pequena Afrodite acusadora, mas é linda. Eu com certeza
teria entrado em uma conversa sobre acrescentarmos mais alguém.
— Será que podem falar em inglês ou a queridinha aí não só sabe a língua do
roubo? — Quê?
— Como é? Eu não tenho nada a ver com vocês dois.— Concordo com Chloe
querendo levá-la para o quarto mais próximo.

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— Você estava com a bunda empinada, logicamente se oferecendo ao meu
homem e quer me dizer isso?
— Seu homem? — Interrompo com uma mão erguida. — Gatinha, eu te
conheço há três hora, não sei ao menos seu nome, vamos com calma.
— Eu estou indo embora.
— Não — Eu e a loira maluca dizemos ao mesmo tempo.
— Vadiazinha do caralho — Completa me fazendo piscar um monte de vezes.
— Eu vou falar com o Kelly, me despedir dos garotos.— Avisa com a postura
implacável.
— Pode ficar mais um pouco? — Pergunto olhando em seus olhos.
— Não mesmo — Ela olha para a loira que parede uma chaleira de chá pro tá
para estourar.— Cuide disso.
— Sua puta barata!
— Você está começando a me ofender de verdade. — Avisa ajustando a bolsa
nos ombros.
Antes de chegar perto da porta a loira arremessa o copo com uma bebida
verde em Chloe a fazendo soltar um arquejo surpresa pelo ato imprudente.
Grace me encara entes de olhar para as roupas agora levemente manchada
e com uma grande bolha transparente, o líquido ilumina sua calcinha rosa
claro fazendo uma parte dentro de mim vibrar com animação.
— Uh, eu tenho certeza de que consegue limpar isso aí ali no banheiro.—
Debocha com a mão sobre o peito.
Puxo Chloe para perto de mim e retiro minha camisa a entregando vendo
que seus olhos ainda estão em estado de choque.
— Eu sinto muito. — Declaro passando minha blusa por sua cabeça.— Eu
faço questão de lhe dar outro.
Ok, essa merda parece cara, grife com certeza, tudo nela grita isso.
— Eu duvido que você conseguiria me dar outro — Ela acabou de me chamar
de pobre? — E está tudo bem, eu adoro crianças. — Ela sorri docemente
mesmo que os olhos estejam pegando fogo. Ódio não chega nem perto do que
essa mulher está sentindo pela loira.
— Vagabunda...
— Já chega, sai dessa sala, se possível da casa o mais rápido que puder!—
Rosno olhando diretamente em seus olhos.
— Noah...

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— Jasmim, pare de descer a um nível tão baixo por um homem, ainda mais
um como ele. Se quer um desse é só ir procurar pela festa, tem muitos. —
Chloe começa e eu me pego pensando em suas palavras, o que ela quer dizer
com um homem como eu? — Mas, se não for o suficiente, pode usá-lo. Ele é
bonito, está disponível e pronto para aquecer uma dama.
— Acabou de oferecer sua transa a outra mulher? Curte essa coisas? Sabe,
aqui não tem meus brinquedos favoritos mas podemos brincar. —
Entretanto, por favor, vamos trocar a loira.
— Não vamos transar, querido.
— Tudo bem, podemos fazer amor se quiser, eu já te amo de qualquer forma.
Me dê o que desejo, Chloe.
— Se você soubesse quantas vezes já disseram que me amavam dessa forma.
E assim ela sai sem ao menos esperar a passagem da loira, Chloe
compartilhou seu nome, porém, não faço questão de me recordar.
— Ótimo, de pau duro e sem uma transa, que noite gloriosa, obrigado loira.
— Pensei que me quisesse — seu resmungo me faz revirar os olhos.
— Você fez uma enorme cena por tão, tão pouco...eu te entendo, também faria
por mim, eu sou um arraso. Porém, eu não estava fazendo planos para te
chupar — Sou sincero ao ver seu rosto se mortificar. — Eu só quero esvaziar,
me entende?
A garota me dá as costas e sai batendo o pé e eu vou logo atrás com um
pequeno sorriso e uma dor latejante. Sim, uma boceta, a melhor, a mais
bonita e a...pessoa aí de cima que me escutou, obrigado.
Sorrio para a doce morena que me sorri de volta elevando o copo. Ela
precisa e eu quero dar. Agora sim a noite voltou ao normal. Mesmo que meu
pau ainda lateje com pensamentos obscenos sobre a menina de coco, ou
melhor, o anjo de coco com uma bunda do tamanho do mundo. Acho que eu
estou apaixonado. E quem não estaria? Aqueles peitos e aquela bunda são de
outro mundo.

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— Isso querida, você está sendo mais do que um boa garota.
Jogo minha cabeça para trás enquanto fodo a boca da mulher ajoelhada aos
meus pés. Ouço o som dos seus engasgos mas não paro, não quando sinto
suas garras mexendo em minhas bolas como se fossem um de seus
brinquedos. Minha respiração se encurta quando sinto puxões vindo direto
das minhas panturrilhas e me fazendo forçar a garota ao limite. Explodo em
sua boca vendo seu rosto coberto por lágrimas escuras, de certo a culpa é de
toda a maquiagem que cobre seu rosto, com certeza.
— Você sabe o que fazer. — Sem mais uma outra palavra pego minha carteira
e uma camisinha vendo que a garota lambe o dedos enquanto abre as pernas,
e, por Deus que visão do paraíso. A pele lisa mais do que me agrada, a mancha
que ela está fazendo na cama de LeBlanc também. A boceta gulosa que me
teve por toda noite ainda está querendo mais e mais, sorte, sorte resume meu
início de manhã.
Bombeio meu pau até senti-lo duro e pronto para meter sem nenhuma
piedade nela. Solto um riso baixo quando a cadela balança os cabelos lisos e
os joga para trás enquanto fica de quatro no meio da cama, balança a pequena
bunda em minha direção, como um troféu de início da manhã. Ponho a
camisinha e sem dizer mais uma única palavra puxo seu cabelo em um rabo
de cavalo e guio meu pau até que esteja em uma quente fenda molhada.
Respiro entre dentes e mero sem ao menos respirar uma segunda vez.
A garota grita como se estivesse sendo estrangulada e por pouco não faz
meu pau murchar. Continuo socando dentro dela até sentir a incrível

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sensação de ser tele-transportado para uma nova dimensão, não, melhor
ainda, a incrível e mais conhecida dimensão do sexo, onde o orgasmo era o
limite, e se esse orgasmo fosse meu seria melhor ainda.
A garota grita como uma vadia e faz sons estrangulados enquanto nossos
corpos se colidem em um único movimento, solto um suspiro agridoce
segurando seu cabelo com mais força e rebolando, isso faz com que a garota
jogue a cabeça na cama e suspire ao invés de gritar mais uma vez. Acerto um
tapa na sua pequena bundinha vendo que ela volta para mim sempre que
afasto. Respiro entre dentes quando os músculos da minha perna se
tensionam e meu pau pulsa com mais força dentro dela, a garota me aperta
com uma grande força enquanto chama meu nome de maneira escandalosa,
mesmo assim gozo dentro da camisinha acelerando meus movimentos cada
vez mais fundo, mais molhado, mais impuro. Oh, sim, isso aqui é o próprio
mapa desenhado de modo detalhado do inferno, e eu amo isso.
Enquanto sou ordenhado pela bela mulher empinada para mim ouço seu
risinho e gemidos baixos, isso sim é um trabalho digno.
Saio de dentro dela retirando a camisinha e limpando o suor que escorre
por minha testa rapidamente. Dou um beijo na testa da garota em
agradecimento pelo orgasmo enquanto pego minhas calças e ando em
direção oposta a cama. Quando eu voltar ela já vai ter ido, certo? Ela entendeu
que deve apenas caminhar até a saída?
— As postas da frente estão abertas, não precisa se preocupar. — Vejo-a
pisca algumas vezes enquanto me olha torto. O quê, fui grosseiro? Ninguém
nunca reclamou.— Obrigado pelo ótimo início de manhã...linda.
Bato a porta do banheiro em anexo e finjo não estar nem um pouco
preocupado com a garota do outro lado da porta.
A água gelada castiga meus músculos superiores e me faz pensar com mais
clareza na mesma hora. Programo meu celular para me dar as informações do
início da manhã enquanto lavo o cabelo com alguns produtos de cabelo que
Calebe deve esconder nesse quarto, grande erro. Ouço a previsão do tempo e
a temperatura ao mesmo tempo que leio sobre todos os ingredientes que
compõe o shampoo, não é tão cheiroso quanto o meu mas ainda assim é bom.
— Alana,— Sim, a voz do meu telefone tem um nome, qual é? Quem é que não
apelida o próprio smartphone em pelo 2017?— Preciso que você me diga o
que tenho para hoje.

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— Por que estão procurando por mais um idiota para dividir a casa? —
Pergunto a Matheus pondo uma quantidade generosa de omelete inglês feito
por Calebe na boca. Eu jamais diria isso em voz alta, mas o cara sabia o que
fazer quando o assunto era uma espátula e um fogão. — Não faz nenhum
sentido.
Matheus revira os olhos e volta a atenção para mim.
— É, quando se não é rico as contas começam a mudar sua cabecinha de
vento. — Solto um riso amargo ao escutar sua acusação. Rico? Eu estava
longe de ser isso. Meu pai literalmente vendeu um de seus carros para me
comprar um apartamento sem que eu precisasse me preocupar com horas
extras no trabalho, meu velho, literalmente, limpou todo seu fundo de
garantia de vida apenas para me dar um carro e esse cara acha que eu saio
por aí jogando dinheiro para o vento? Ah, não, a história aqui é bem diferente.
Aceno para Matheus querendo rir de sua cara enquanto me lembro de
quantos cilindros de carros eu já tive que limpar, apenas esse verão, sem
contar com os que já limpei com papá no México.
— Rico? Walker? — Reviro os olhos junto de LeBlanc antes e rimos juntos. O
barco de LeBlanc tem bem menos furos do que o meu.— Irmão, estamos
embarcados no mesmo Titanic, e, pasmem, ele está afundando! — Solto uma
risada bebendo meu suco duvidoso de laranja.
— Onde você tem ficado esse tempo, Walker? — Fico encarando Beaumont e
procurando por motivos para esse cara está tão irritado às oito da manhã. O
clima está até ameno.
— No meu apartamento. — Dou de ombros vendo Matheus apontar para mim
com indignação. — Não se anime, ursinho, ele fica bem perto da sarjeta da
Main St.
Pela primeira vez em anos ouço a risada de Gabriel pelo cômodo junto de
uma tosse falada ao levantar os braços.
— Foi mal,— falso — mas escutar que o maurisinho, galanteador e pegador
de quase metade das faculdades de Houston está morando “perto” da sarjeta,
é o cúmulo. — Abro um sorriso de canto dando mais atenção ao meu dejejum.
— Coisa da vida, Beaumont. — Dou de ombros bebendo mais do líquido
laranja amargo. Isso estava na validade? — Mas e aí? Já escolheram alguém?
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— Chloe não quer nos ter por perto — O cérebro desse cara não pode
funcionar de modo convencional.— Ela nos esnobou, Walker. — Calebe ainda
é o mesmo Calebe. Abro um sorriso ainda maior, gatinha ardilosa...e...recua,
Walker, você sabe que não é certo!
Mas desde quando fazemos o certo?
— Não podemos pôr um completo desconhecido aqui dentro, é loucura. —
Ralha Matheus e eu concordo. Eu não deveria, eles são exatamente o que o
nono hóspede não pode ser. Qual o sentido?
— Por que não vem para cá Walker? — LeBlanc se manifesta mais uma vez.

— Porque tenho um apartamento mais do que confortável? — Pode até ser


longe da Rice university mas ainda é meu.
— Onde exatamente você mora Walker? — Reviro os olhos ao perceber que
irão me persuadir.
— Ashford Santa Cruz, satisfeito? — Pego minha louça caminhando em
direção a lavadora com o olhar dos quatro sobre mim, credo.— O que foi?
— Isso não fica a cinquenta minutos da Rice?
— Trinta e cinco — num dia bom. — E as vezes vou de metrô. — É sério que
vou ser o interrogado?
— Quanto custa uma mensalidade naquele lugar?
— Bem, pelo que eu pesquisei são oitocentos e dezenove dólares —
Massageio meu peito pensando em toda essa grana. — E vocês?
— Juntando todos nós daria em torno de quase dois mil dólares — Fico
esperando pelas risadas que nunca surgem e assumo que estão esperando
por mim. Minha risada é baixa mais insistente da sua existência. Eles acham
mesmo que morar em área nobre é coisa que nós devemos fazer?
Continuo rindo até que Calebe erga uma sobrancelha para me fazer parar.
— Acabou? — Aceno.— E aí? O que achou?
Solto mais uma risada.
— Irmão, desculpa, mas, acha mesmo que vou deixar de não pagar aluguel
algum para pagar, o quê? Quanto vale o aluguel aqui? Cinco mil?
— Quatro mil oitocentos e oitenta e um e vinte e nove centavos.— Eles ainda
cobram os centavos? Os caras são bons.
— Daria novecentos e setenta e seis e vinte centavos, se, e somente se, não
contássemos a porra dos centavos. — Reviro os olhos apoiando o corpo no
balcão. — Não vou dizer que gosto de estudar a quase quarenta minutos da
universidade e que estudar a vinte seria uma benção mas não posso me dar

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ao luxo de simplesmente largar tudo lá e vir até aqui e começar a pagar para
dormir na mesma casa que vocês.
— Jesus, quanta pobreza. — Balanço a cabeça para Beaumont que apenas
continua olhando para seu telefone. Saco meu celular vendo uma mensagem
de bom dia da minha mãe e reviro os olhos. A mulher é chata para caralho,
mas não vai deixar de ser a mulher mais importante da minha vida por isso,
sorrio para a mensagem e respondo rapidamente perguntando como estão as
coisas por lá.
San Miguel de Allende, a cidade onde cresci é incrível, não só pela
vizinhança que tive ao meu redor ou as datas festivas, a cidade em si é
incrível, toda a vibração e energia, essa merda toda que maconheiros
costumam dizer enquanto estão brisados. A “pequena” cidade comparada a
Houston superava de lavada qualquer coisa que essa cidade aqui tivesse a
oferecer, menos los àngeles del gran culo, ainda maiores quando estão
estendidos sobre uma mesa verde com um taco em mãos.
— E você vai? — Kelly pergunta a mim.
E eu vou aonde? Para casa? Para a academia? Sim e sim, mas do que ele está
falando aí? Concordo com um aceno de cabeça ainda lembrando das tortilhas
que só minha terra é capaz de oferecer, além de comida de verdade, não essa
merda de fastfood completos de gorduras e tudo mais, nojento.
— Mas, por pura curiosidade, aonde vamos? — Pergunto girando meu
celular.
— Lembra daquela discoteca? — Que palavra velha, Blackwood. — É a noite
dos negões daqui duas semanas, final de semana, e você concordou ir
conosco. Não é longe da Westward.
Nós estamos perto da Westward. Por que ele precisa complicar tudo que
diz?
— Façam com que a Chloe esteja lá. — Desafio.
— Ah, vai aprender a desafiar, Walker. — Debocha o primo de Blackwood,—
aquela ali não é para o teu bico.
Solto um suspiro alto começando a me afastar cada vez mais deles. Olho a
casa em volta e é realmente grande, quem não gostaria de morar aqui por
esse aluguel? Seria incrível, além de ser perto da Houston Christian
university, e ter a ajuda para tarefas extracurriculares que eles oferecem.
Aceno em despedida e me guio até meu Toyota RAV4 preto. Papá poderia ter
economizado milhares de dólares com um carro, mas mami insistiu que esse
seria o melhor para mim, além de ser meu presente de formatura e de
aceitação na Rice, ela não foi nem um pouco exagerada.

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Acelero em caminho ao conjunto de apartamentos mais afastado de onde
estou, e quase, por míseros segundos, eu não dou ré e fico nessa pequena
mansão. Ainda não dá para acreditar que existem pessoas que gostam de não
ter dinheiro, puta que pariu!

Ter mãe insistente e linguaruda é a pior coisa do mundo, e eu tenho


fundamentos para dizer algo assim.
Guadalupe Antunes Walker espalhou para todas as amigas que esse é o ano em
quo filho dela começa a jogar profissionalmente pela NFL, o que fez com que
muitas senhoras fossem até meu Facebook comentar sobre minha “nova
trajetória.” Como se eu não fizesse isso há mais de quinze anos. Metade da minha
vida é dedicada ao esporte mas só agora fui ganhar o reconhecimento, até
mesmo de mami, o que de certa forma deve fazê-la ter criado certo
arrependimento e agora todos e todas que chegam perto de mim é pelo meu
dinheiro, dinheiro esse que eu nunca vi. Porém, Antunes não deixa de ser minha
mãe, e mães têm um incrível senso para coisas como essa.
Os draft da NFL é apenas em abril e esse não foi meu melhor ano na temporada,
logicamente não participei, não quando iria receber a proposta de sair de campo
no mesmo instante. Nossa temporada foi ridícula, péssima em todos os níveis, e
ainda me faltam dois anos com meu time, eu posso esperar por um tempinho.
Alguns dos nossos melhores jogadores foram embora, agora vivendo suas vidas
adultas e quase sucedidas, claro que nem todos conseguiram o emprego
esperado ou algo do tipo, e por essa razão estou no face time com minha mãe
tendo lhe dizer que eu posso não conseguir um espaço na NFL, e ela não está
aceitando nada bem até agora.
— Mãe, entenda de uma vez, por favor, eu posso acabar ficando apenas como
arquiteto civil, e sinceramente, mami, eu vou amar, adoro o que estudo.
— Minha nossa senhora de Guadalupe, olhe o que esse menino está dizendo e
não escute! — Roga pela santa me fazendo respirar fundo, como a santa faria
alguma coisa de tão longe? E por que diabos ela olharia para o que estou dizendo
sem me escutar?! Que tipo de parafernália é essa agora?— Noah, filho, você
deveria parar de pensar tão baixo ou pouco de si mesmo, seu pai mesmo já disse
que você é o melhor do seu time, por que não pode simplesmente acreditar? O

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que foi, surgiu alguém para dizer o contrário? Me diga o nome, amor, a mamãe
pode resolver.
E simples assim eu volto a ter sete anos de idade e alguém implicou comigo por
eu gostar de algo “incomum” para os mexicanos. Fecho meus olhos, agora eu
chamo por nossa senhora de Guadalupe e peço para que faça minha mãe
entender.
— Mamãe, as coisas não funcionam assim, e a senhora bem sabe que tenho
autoestima para mais de cinco pessoas guardada em mim. — ela sorri orgulhosa
com o fato. — Eu acredito em você e no papá, ok? — Mais um aceno e eu respiro
aliviado. — Você está bem?
— Claro que não! — Sento na banqueta no mesmo instante esperando ela
reaparecer na câmera antes de fazer perguntas. —...daí meu filho vai para longe
de mim, não liga mais para a mamãe dele, não vem visitar, é só trabalho,
faculdade, o tal treino, mais trabalho e essas mulheres que só querem seu
dinheiro, nem parece que tem uma mãe.
E o prêmio para mulher mais dramática do ano de 2017 vai para... Guadalupe
Antunes Walker! Uma salva de palmas pessoal.
— Mami, eu sei que está sentindo minha falta, mas, pelo amor dos santos, eu
passei dois dias aí com vocês.— No último feriado eu fui vê-los, mesmo que tenha
causado um pequeno rombo em minha carteira.— Não posso ficar indo até San
Miguel todos os fins de semana, mãe, é muito caro, você sabe.
A mulher abaixa cabeça, possivelmente pensando em um modo de me fazer ir
até lá e buscá-la para deixar mais perto de mim, mamãe sempre teve muita
necessidade do meu afeto, e eu não ligo nem um pouquinho, não mesmo, gosto
de vê-la e tê-la por perto na mesma proporção que ela me quer. Ter uma mãe
como Antunes não é algo fácil, não mesmo, as vezes é exaustivo mas quando você
percebe que é o único a fazê-la feliz ( não que papá não faça, longe disso), as
coisas se tornam muito mais fáceis de entender. Guadalupe é a melhor mulher do
mundo, e, como ela diz: a mulher da minha vida. Então ela está pensando em uma
forma de me ter mais perto de si me deixa feliz, muito mesmo.
— Sinto sua falta, bebê.
Assinto, fazendo um coração com os dedos e mandando um beijo desengonçada
com ele (o coração).
— Também sinto, mamãe. — Talvez eu tenha ficado um pouco mais animado
com a ideia de que o dia de ação de graças está mais próximo do que pensei.—
Pensa pelo lado positivo, vamos estar juntos daqui uns dias.
Guadalupe revira os olhos, quase entediada.

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— Faltam semanas, especificamente, meses, Noah. — Solto uma leve risada para
seu tom desgostoso. — Ainda estamos em...em qual mês estamos?
— Um dia para outubro — Respondo enquanto pego mais uma tortilha que ela
me ajudou a fazer. — Viu, só alguns dias até novembro, e também tem o dia de
los muertos, sabe que também tem os consecutivos a esses.
Com essas informações Guadalupe para de reclamar e começa a falar sobre os
modos como devo lavar as roupas para que o cheiro de perfume fique mais do
que ficaria no jeito convencional.
Escuto com atenção tudo que ela diz e anoto alguns pontos importantes sobre o
modo como limpar a casa e deixá-la com um cheiro de limpeza ( palavras dela)
por mais de uma semana.
Desde quando por amaciante junto com outros produtos de limpeza deixa a
casa cheirosa? E por que ninguém diz nada sobre isso?!
Quanto egoísmo aos independentes.

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— Sua galinha sortuda!— O gritinho de Victoria me faz rir enquanto como um
dos meus croissant. — Primeiro teve o privilégio de passar a noite de sexta com
outros seres humanos e bebida, a melhor parte, e depois quase transou?! Porra,
há quanto tempo a gente não se fala? Três anos?
Esfrego minhas bochechas ainda sentindo resquícios de vergonha por ter
deixado o garoto-galinha tocar nos meus seios e na minha vagina, Jesus, eu não
vim aqui para isso, não mesmo.
— Não foi assim, e eu não teria feito se estivesse mais sóbria.— Como se eu
tivesse posto um gole de álcool na boca.
— Conta outra, Coco
— Certo, eu não bebi, mas...devo estar no meu período fértil ou algo assim, é a
única explicação lógica que tenho me permitido, acreditar, Vivi. — Suspiro
olhando para suas longas pernas esticadas em um poly dance.— Pensa comigo,—
passo a língua pelo ganache que escorre pelas laterais da minha boca —
Desculpa, por isso, tem uma padaria francesa aqui perto do apartamento e não
tem como resistir a todas as essências que eles produzem.
Limpo meus lábios e dedos e volto a me concentrar em Victoria que agora gira
em torno da barra de ferro com uma única mão.
— Eu não vejo a hora de poder estar aí. — Ela fala enquanto se põe de pé e
começa a contar os passos até chegar em uma cadeira. — Imagine nós duas em
uma balada? Seus amiguinhos podem ir também.

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— Não somos amigos. — Reviro os olhos e abano as mãos bebericando meu chá
de camomila. — Voltando ao meu raciocínio, é o seguinte, todos que me conhece
intimamente sabem que eu não arriscaria minha saúde por um pênis, ainda mais
tão usado quando já foi, é bem sem noção para falar a verdade.— Victoria bebe
sua água e ainda me encera esperando por mais. — É sério, os dedos
estavam...meu Deus! Victoria, ele poderia estar tocando em outra antes de eu
chegar...puta merda, e se ele...
— Pare de pirar! — Ordena e eu me calo, só por alguns segundos antes de
começar a gritar e andar de um lado para o outro.— Você quer parar de andar
feito uma louca de um lado para o outro e voltar a tomar seu chá namastê? Não
vai acontecer nada, você já se limpou, se obstinou de qualquer coisa que uma
mocreia pode ter passado.
Encolho meus ombros pensando em Jasmine.
— Não vamos chama-las de mocreia, por favor, elas só estão com tesão, e isso é
um bom sinal, Vivi. — Dou de ombros quando ela bufa. — O cara é uma delícia e
eu as entendo.
— Brigaria por ele?
Solto uma risada alta ao me pegar imaginando o dia em que eu entraria em uma
dessas brigas feias por um homem. Não, credo, não foi assim que minha mãe me
ensinou. Vivian sempre deixou bem claro que coisas como essas só pessoas sem
estudos e educação fazem. E se minha mãe disse eu acredito, fielmente.
— Apenas se eles estivesse carregando a Cartie da mamãe, um Versasse novo,
um Coco Rabane, uma das muitas edições limitadas da Mademoiselle, uma
Cristian Dior e, é claro, um lançamento da Bugatti.
Victoria solta um alto assobio e eu rio baixinho comendo meu doce novamente.
— Elas brigariam com o vento para sempre — Nossa risada estoura pelo
computador. — Sério que precisaria de tanto?
— Acha mesmo que eu entraria em uma briga por um pênis se ele não valesse
apena?
— Pelo que eu vejo; esse pênis pertence a um príncipe herdeiro, porque, porra
Coco, eu até tento te ajudar, porém, você não ajuda.
— Culpe meu pai, não a mim, eu tenho metade dessas coisas, menos o Bugatti, ele
diz que o dia em que abrir a carteira para me dar um desse ele está louco ou
trilionário. — Bebo meu chá ao som da risada de Victoria e me sinto menos
abandonada por minha família, sem exagerar no drama, aqueles ali não parecem
sentir nem um pouco minha falta, a não ser Emily, ela é carente a um nível que
poucos são acostumados a ver. — Mas, brincadeiras a parte, eu só entraria em

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um bati boca se, e olhe lá, ele valesse apena, entretanto, a gente já descobriu
quem é Noah Walker, Vivi, e ele não vale a pena os esforços.
Concentro minha atenção em meu café da manhã enquanto Victoria ensina deus
novos passos para mim, viro o laptop de cabeça para baixo quando minha prima
entra em uma posição absurda sem ao menos segurar na barra, não é possível
que ela use essas movimentações na cama, porra! Isso é... Deus amado.
Bato palmas enquanto cantarolo a melodia de uma de suas músicas exóticas,
finjo jogar dinheiro pela tela quando engatinha na minha direção, jogo um beijo
enquanto ela dança de quatro e do nada senta fazendo seus seios balançarem e
seus quadris entrarem em um ritmo de movimento diferente. Sua cabeça é
jogada para trás antes que ela volta a ficar de pé mostrando sua bunda pouco
coberta por um tecido fino e um biquíni que não deixa tanto para imaginação.
Aplaudo minha prima quando ela termina sua apresentação de dança.
— Um dia eu ainda me junto a você.
Anuncio jogando a cabeça para trás bebendo meu chá quase gelado, merda.
Balanço a cabeça enquanto Victoria me explica que seria mais do que fácil para
eu aprender a usar uma barra de ferro já que dançava jaz, fiz ballet, ginástica
rítmica e de quebra fui capitã das líderes de torcida em minhas escolas. Aceno
para ela provando uma das torradas light que contei, se era para ser gostoso
passou longe do bom.

Em meus fones a aula de anatomia é ditada enquanto corro na esteira, apenas


para não perder o costume porque a vontade de vir até aqui estava zerada de
todas as formas que consegui pensar.
O professor de anatomia começa a falar sobre o plexo-lombar e eu franzo a
sobrancelha, não é estranho ouvir sobre mas achei que tivesse posto na aula
avançada.
Mais dez minutos correndo e o Spotify pergunta se já estou pronta para a
próxima aula, não, eu não estou, mas amanhã tenho que voltar à universidade e
voltar um pouco menos ciente do que estou fazendo com a minha vida é algo
catastrófico. Paro com a esteira pronta para voltar para casa e me afundar nos
assuntos das últimas aulas, avançar antes que me peçam isso. Descanso a testa
na parede de metal sentindo o gelado bater firme em meu sistema.

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Por que diabos eu escolhi a medicina?! Existem tantas outras formas de ajudar
as pessoas, Chloe, você poderia distribuir comida para pessoas em situação de
desvantagem, poderia trabalhar como uma advogada para o sistema, ou ser
pedagoga, eu poderia me tornar uma ótima professora, até que os pais tentassem
se meter em assuntos que não estudaram para ser. Ok, eu ainda poderia estudar
a mente das crianças, isso é bem legal, eles são com minis adultos tentando
decorar tudo que nós já temos guardado em nossa mente, talvez todos os pais
devessem estudar um pouco sobre isso, ainda mais quando são ignorantes.
Meu silencioso apartamento me recebe e eu agradeço pelo silêncio enquanto
sinto meu peito se afundar por isso. Falta muito para o dia sete? Minha terapeuta
vai gostar de ouvir umas coisas por duas horas seguidas, eu sei que vai.
Organizo o chão da sala como um guia para um assassinato e começo da
esquerda para a direita, errado? Talvez, mas é ainda melhor do que fazer debaixo
para cima.
Três horas depois meus olhos ardem, minha cabeça está preste a explodir e
meu estômago reclama de fome. Ótimo, eu não tenho certeza se deixei algo
preparado para isso, como eu penso em tudo.
Suspiro quando meu telefone comece a zumbir com mensagens, Molly com
certeza está tendo um ótimo domingo, mas se está me mandando tantas
mensagens assim com certeza algo deu errado no meio da transa. Abro o
aplicativo de mensagens e vejo o número, que com certeza não pertence a Molly,
e o de Molly com um polegar para cima.
Número desconhecido:
— Ei, Chloe!
[11:32]
— Chloeeee...Olá.
[11:33]
— Uh, posso falar em francês por aqui.
[11:33]
Mas que porra é essa?
Número desconhecido:
— Molly me passou seu contato, mas não pode brigar com ela! É feio.
[11:40]
Que merda está acontecendo aqui, e quem está me mandando mensagem?!
— É o Kelly, ma joile, não se assuste.
[11:42]
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— Vi no seu Instagram que você é bem famosa, hein.
[1142]
— Garota Vogue? Eu nem sabia que isso existia.
[11:43]
Eu atirei chiclete na cruz?
— O que você quer?
[11:44]
É só uma pergunta inocente, esse contato não vai durar muito aqui.
Número desconhecido:
— Tá com fome?
[11:46]
É sério isso?
— O quê?
[11:47]
Por que eu ainda dou corda?
— Molly disse que você era sozinha...
[11:47]

— Tchau Kelly.
[11:48]
— Espera, está com fome ou não?
[11:49]

Eu sou solitária? Faça-me o favor, eu gosto de ficar sozinha as vezes, isso não é
ser solitária.
Minha cabeça gira quando meu estômago faz um barulho alto. Certo, eu estou
com muita fome, mas ele não precisa saber. Eu não vou responder a mais
nenhuma de suas perguntas. Por que ele está sendo implacável quando me tem
como assunto? Isso não é normal, não mesmo, ninguém trata que não conhece
assim, e se ele quiser me vender? Eu bem sei que o trágico de humanos, mulheres
em maioria, é forte ainda. Não quero ser traficada e vendida a uma boate onde
seria abusada até a morte, não é legal nem mesmo pensar nisso, não mesmo, eu
ainda tenho uma pequena Cooper para fazer ser melhor do que eu sou, para ser
um centro maior do que eu sou.
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Não vou me juntar a sociopatas.
Meu estômago faz o mesmo barulho mais uma vez e meu telefone apita com
mais e mais mensagens de Kelly, eu vou bloqueá-lo...quando acabar de comer.
— Sim
[11:55]
Não vou dar detalhes mesmo, eu ainda posso ser traficada.
Número desconhecido:
— Podemos ir buscar você.
[11:55]
Oh, não, aí já é demais, sei bem como funcionar sob pressão em um carro,
quando eu estou no volante, não quando estou no banco do passageiro junto a
outros homens enormes me prendendo com uma faca na garganta.
— Só me diz o endereço.
[11:57]
Número desconhecido:
— Quanto mal humor
[11:57]
O que está fazendo Chloe? Onde estamos indo?
Diz logo antes que eu te bloqueie.
[11:59]
Número desconhecido:
— A pizzaria perto da Main St.
[11:59]
Até que é boa.
Número desconhecido:
— Conhece?
[12:00]
Envio um polegar para cima em resposta antes de ir tomar um banho e
diminuir a quentura do meu corpo.

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Abro a câmera do aplicativo de mensagens e mando uma foto minha, onde
estou e começo a escrever para minha mãe e Victoria.
Ninguém pode me chamar de louca, só estou sendo prevenida com minha
própria segurança.
— Estou indo sair com alguns malucos (possíveis sociopatas), não se
assustem tanto, eu estou com fome.
Saio do carro vendo a fachada da pizzaria Hut, muito parecida com a dos
mercados que têm por aqui. Ponho o óculos sobre os olhos e tranco o carro
quando chego a uma distância considerável. Vejo a mensagem de Victoria que
consiste em um dos bonequinhos de teclado gargalhando e uma mensagem um
fato ofensiva. Abro um sorriso quando minha mãe, muito preocupada comigo,
manda uma mãozinha acenando. Eu tenho certeza de que ela já aprendeu a
mexer em um celular mas não está nem aí.
Um dos funcionários do Hut chega perto de mim quando me estico em minhas
botas tentando avistar a gangue de postes.
— Olá, bem vinda ao pizza Hut, precisa de uma mesa com acompanhante ou está
procurando por alguém? — O garoto pergunta com um sorriso ensaiado, pois é
garoto, ninguém merece trabalhar em pleno domingo.
— Oi, tudo bem? Você por acaso viu quatro homens altos como...
— Eu disse que seria melhor se nós tivéssemos buscado ela, cara — Ergo um
dedo quando escuto a voz do sem parafuso. — Agora cadê ela? Sumiu, e se deixar
está perdida, ela com certeza não é texana.
— Mas sei o que significa GPS, bobão. — Ralho, mau humorada pela crítica.
— Uh, você chegou.
— Está me chamando de idiota por acaso, Calebe?
— Quanto mau humor gatinha, precisa de alimento?
— Eu vou te mostrar o a...
— Chega! — Kelly ordena entre nós dois. — Vamos todos nos sentar e comer de
maneira civilizada.
— Com essa coisa que você tem aí atrás?

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— Como é que é? — Pergunta o Frank Stein.— Você quer partir pro ataque
princesinha? Hum, quer vir?
— Oh, querido eu posso perder uma belezinha dessas aqui na sua garganta,
chega mais perto para você ver. — Paro em posição de luta, mesmo tendo três
vezes menos seu tamanho. Mire nas bolas Chloe. — Vamos lá grandão, deixe-me
visualizar melhor essa sua carótida.
Meus pés saem do chão e o corpo de algum dos postes começa a se movimentar.
— Aonde tem uma mesa para cinco? — Tinha que ser Kelly, e só não vou
reclamar de estar no colo porque minhas pernas estão cansadas. — Vocês vão se
comportar, certo?
— Se ele implicar comigo mais uma vez eu enfio a ponta do garfo na garganta
dele. — Fuzilo Calebe com o olhar e bufo quando sou posta em meu lugar.
Eu posso estar levemente mais mau humorada do que ficaria normalmente se
ele julgasse minha inteligência, mas o que posso fazer? Não como desde o café da
manhã, não descanso devidamente desde sexta-feira a tarde e ainda estão a
espera de que eu seja a pessoa mais bem humorada dessa vida? Pelo amor de
Deus! Eu tenho certeza de que até o melhor e o mais bonzinho dos samaritanos
se controlaria para não arremessar alguma coisa na cabeça de qualquer um
deles.
Tudo bem, pode ser que eu esteja estressada pela minha tensão pré menstrual,
mas aí precisaria se conversar com a nossa velha amiga Eva depois de acabar
com a raça dela. Uh, que Deus me perdoe, mas, essa mulher não vai passar
despercebida dos meus olhos quando eu a ver, ah, não mesmo. Ela me faz sofrer
por dias, sangrar como uma cachoeira e ainda espera meu perdão? Pior, a puta só
fez isso por uma maçã ( mesmo que tenha sido no sentido figurado da palavra e a
maçã nunca tenha existido realmente) isso não vai acabar com todo ódio que a
população feminina tem nutrido por ela nesses últimos milênios.
— Oi pessoal, meu nome é Brad e eu vou atender vocês hoje. — Guardo meu
óculos e olho diretamente para Brad que ainda sorri, por que ele sorri tanto? Não
tem graça nenhuma aqui.— Querem dar uma olhada no cardápio ou optar pela
promoção do dia?
Olho para minhas unhas que precisam de um retoque na manicure, quando eu
tiver tempo de respirar.
— Aquelas asinhas de frango vão cair bem — olho para Matheus depois de sua
fala, quer mesmo comer asinhas de frango e pizza? — Três baldes daquelas
e...você não vai comer salada, né?
— Desde quando se pede salada em uma pizzaria? — Esse problema é genético.
— Vou querer o melhor doce que você tiver aí, Brad, e uma pizza, a maior, de
queijo e pepperoni, muito pepperoni.— Minha boca saliva ao proferir meus
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pensamentos — O que mais tem por aqui? Ah, preciso de um copo grande de
coca cola, ou qualquer coisa da mesma linha, pode ser refrigerante de laranja ou
de maracujá.
Brad acena e se vira para os outros me fazendo espelhar seus movimentos a
tempo de ver todos me encarando abismados, menos Kelly, esse aí parece mais
do que feliz em me ver falar de comida, na verdade, tudo que eu fale ou expresse
parece deixar o cara mais feliz, isso é estranho, cativante para quem tiver ele por
perto, mas estranho para quem prefere se afastar.
— Pode trazer nossas asinhas primeiro, sem interromper o pedido dela, é
claro.— Avisa Kelly e o garoto se retira com um aceno.
Gabriel bufa sem ao menos se preocupar com nossa existência ou qualquer
coisa que o remeta a isso.
Por que eu topei sair com eles mesmo?
Não foi só pela fome, infelizmente não posso dizer ou afirmar isso, na verdade
eu meio que cogito gostar da existência dessas pessoas, não costumo gostar de
seres humanos, oh não, não muito. Seres humanos, adultos em sua maioria, me
fazer perder todas as esperanças que novas pequenas vidas me trazem.
Mas, o caos que se instala na mesa quando um dos garotos levanta uma pauta,
da qual não entendo, me faz voltar para casa, é como passar um almoço de
família com Victoria e Emily ao meu lado. Prendo uma risada quando o olhar
embasbacado de Calebe e a exclamação de Matheus preenchem a mesa. O garoto
que nos atendeu volta a nossa mesa com dois baldes de frango frito com molho
vermelho por cima, com certeza é de comer chorando.
— E aí, princesinha, quer fazer as honras? — Por pouco, muito pouco mesmo,
não jogo o molho de pimenta em seus olhos. Calebe continua sorrindo, dou-lhe
um sorriso em resposta. Pisco docemente enquanto pego uma das coxas e mordo
sem nem uma delicadeza.— Recomendada?
Termino de mastigar sentindo minha garganta aperta pela enorme quantidade
de pimenta que foi acrescentada na receita.
Faço um biquinho olhando para a coxa, se tivesse menos pimenta e mais
tempero iria ser a melhor comida de todas, mas, não é, é bem mais comum do
que a propaganda que fazem.
— Não, na verdade é bem pacata. — Dou de ombros e agradeço ao Brad por
trazer meu pedido, muito mais bonito, de dar água na boca.— Tem mais pimenta
do que tempero, não é bom.
Kelly continua a me encarar como se procurasse as respostas para suas
perguntas mais profundas, e, cara, isso é muito estranho...e estranhamente

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reconfortante, ainda vou procurar o motivo, mas, essas pessoas sem noção me
fazem estranhamente bem, ou talvez eu esteja meio louca... é contagioso.
— Entende de temperos? — Pergunta enquanto os lobos devoram a pimenta
com frango.
Dou de ombros, o que não parece agradar muito Kelly.
— Eu viajava muito, é fácil reconhecer comida boa de comida qualquer. —
Aponto para suas asinhas. — Deveriam experimentar a da Grécia, ou a da
Espanha, são muito melhores que essa aí.
Kelly me dá uma careta antes de pôr uma das pimentas na boca. Sorrio
enquanto bebo um gole da minha Coca cola, se esses caras querem se fazer de
forte estão no caminho errado.
Gabriel está mais vermelho do que a rosa da Bela e a fera, prendo uma risada
quando ele tosse de maneira violenta. Solto uma gargalhada mas disfarço com
uma golada do meu refrigerante. Olho para Matheus que tenta disfarçar mas
bebê metade do copo d’água com velocidade.
Deixo de disfarçar a risada quando Calebe tosse até chorar e tenta puxar ar.
Minha barriga começa a doer mas não dou a mínima, oh não, não quando Kelly
derrama lágrimas junto de Matheus e Gabriel parece um dragão prestes a pegar
fogo e Calebe está a dois passos da morte.
Saco meu celular no intuito de gravar cada mínima reação que eles estão tendo.
Bebo mais do meu refrigerante quase me afogando quando Gabriel me encara e
dá uma mordida ainda maior na coxa, o que obviamente não dá certo, o garoto
parece está preste a entrar em combustão.
Minha risada aumenta o nível quando ele chora, bebe água e tosse.
— Jesus!— Exclamo segurando minha barriga vendo que estão a passos da
morte, uh, isso seria bom. — É sempre bom ter um celular em mãos. — Olho para
o vídeo gravado e solto mais uma risada, a careta de Gabriel fica nítida. — Eu
avisei que não era boa.
Como uma fatia da minha pizza e ignoro a presença deles por alguns segundos
já que uma nova competição se inicia. Será que homem possuiu cérebro como as
mulheres? Talvez, um talvez bem longe do distante, sim.
Continuo meu almoço soltando risadas altas como não fazia desde que deixei
Victoria em Vancouver, balanço a cabeça sentindo lágrimas quentes tomarem
conta do meu rosto. Respiro com dificuldade pelas risadas, arfo quando Calebe
quase tomba da cadeira por pôr a asinha perto demais dos olhos. Idiota.
A pizza que eles pediram é posta sobre a mesa mas também ignorada com
sucesso, ninguém está nem aí para isso, todos querem apenas focar na idiota
aposta sobre o pote de asinhas, até agora Gabriel e Matheus estão na frente, Kelly
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nem mesmo se atreveu, Calebe está batendo na mesa e torcendo para que
qualquer um perca.
Fico imaginando todos os efeitos colaterais que esses pequenos alimentos
podem trazer durante a noite ou pela manhã é estrondosa, eu adoraria ver o que
vai acontecer com eles, até comigo mesmo. Merda, vou ter que passar em alguma
farmácia se ainda quiser estar de pé depois de comer isso com o estômago
enjoado que possuo.
Só de imaginar onde irei passar a noite minha cabeça fica tonta.
Peço licença enquanto eles se concentram nas últimas asas, puxo Brad de lado e
lhe entrego meu cartão pedindo que feche nossa conta, em agradecimento pelas
risadas.
Depois de devolver meu cartão eu caminho em direção aos toaletes.
— Você pagou a conta. — Gelo em meu lugar, pronta para me sentar novamente
as cabeças dos postes estão viradas em minha direção. Engulo em seco sabendo
que entraremos em uma livre discussão sobre ego aqui. — Por que fez isso,
Chloe?
A voz profunda de Kelly me incomoda de um jeito estranho, ele lembra meu pai,
que horror.
— Bem, — coço minha garganta e bebo um gole da água que ele pediu para todos
nós — eu tenho dinheiro e não me importo de gastar.
— Eu não vou brigar por uma coisa boba dessa,— o aviso de Matheus me faz rir
baixinho — Adorei sua iniciativa, garota.
Passo a língua pelos lábios e acaricio minhas coxas rapidamente no pano de
couro sintético.
— Eu não gostei — Gabriel avisa e eu sou de ombros olhando para minhas unhas.
— Porém, não irei reclamar, quanto menos gastar é melhor.
Concordo com suas palavras e espero Calebe e Kelly dar o veredito sobre isso.
— Sabe boneca, eu até queria te impressionar e tudo mais, mas, porra, — Calebe
põe a mão sobre o peito e eu seguro um riso, — impressionar rico é missão
impossível decretada pela minha conta bancária, se quer continuar me mimando
eu vou adorar.
Ele finge linchar as unhas e eu dou risada de sua performance.
Kelly apenas me encara sorrindo antes de esticar a mão esperando por algo.
Franzo minhas sobrancelhas para ele e viro minha cabeça de lado esperando por
respostas mais concretas às suas ações.

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— A chave do carro, você veio de carro, certo? — Assinto mas não estico minha
mão em sua direção, minha BMW é muito nova para ser levada. — Vamos lá
Chloe, deixe-me fazer algo por você.
Franzo meus lábios mas estico minha mão em sua direção com molhe de chaves
onde um símbolo da pediatria está pendurada junto a uma pequena bolsa e um
sapato de cristal.
— Você por um acaso é a Cinderela? — Nego com um dedo e faço um biquinho
pronta para responder.
— Minha prima dizia que eu me parecia com a Ella por conta de coisas do
passado.
— O que faz durante os fins de semana Chloe? — A pergunta de Calebe me pega
de surpresa mas ainda assim sinto vontade de responder.
Quem são eles?
Dou de ombros para ele e desvio o olhar para minha bolsa.
— Geralmente vejo filmes, vou à academia e estudo.
— Chato — Resmunga Matheus e me encara divertido. — Ainda bem que é nossa
amiga agora. — Eu não sou amiga de ninguém aqui, sou uma louca ingênua que
acredita demais na palavra de um ser humano. — Bem, já que parece ser mais
sozinha do que Gabriel, podemos ficar juntos hoje.
— Não.
— Sim — Afirma Kelly já se levantado com duas caixas de pizzas e um sorriso. —
Aparentemente vamos ao mercado. — Torço os lábios para suas palavras.
— Quero alguns nuggets — Gabriel resmunga se dando por vendido quando nem
eu fiz isso.
— Sorvete. — Calebe lambe os lábios — Vamos comer sorvetes e mais todas
essas besteira que garotas comem enquanto assistem.
Pisco quando meu peito queima junto dos meus olhos.
Puta merda, quem foi que fez isso e por que está brincando dessa forma? Não é
nem um pouco legal, eu e meus hormônios estamos odiando cada segundo.
— Por quê?
Minha pergunta paralisa os quatro no meio do caminho.
— Porque nós também precisamos de distração? — Matheus faz a pergunta mas
ainda não entendo o porquê de quererem me incluir.
— Ma joile, somos todos seres humanos a procura de morfina, serotonina e
endorfina para algumas coisas — O francês flutua entre Kelly e eu, e por
segundos sinto meu rosto esquentar.— Não se sinta mal, Chloe, todos nós temos
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problemas que não queremos compartilhar, não por ora, — seus braços circulam
meus ombros dando os primeiros passos em direção a saída sendo seguidos
pelos seus amigos que conversam sobre o que quer que seja, minha atenção é
completamente de Kelly.— Podemos sentar em uma roda daqui algumas
semanas para falar sobre isso.
Solto uma risada mesmo sentindo o rosto quente.
— Acho que posso gostar de vocês.
Kelly solta uma risada abrindo a porta do carona para mim.
— É bom que goste...coco,— um arrepio toma conta do meu corpo quando escuto
isso.— Você ainda cheira a coco, como da última vez.
Abro um sorriso contido enquanto ele se certificar inconscientemente se meu
cinto está no lugar, e só digo que ele está inconsciente porque me encara com a
testa franzida se fazendo milhares de perguntas sobre meu cheiro.
— É minha marca registrada. — Digo quando ele senta ao meu lado.
Kelly balança a cabeça sorrindo grande e se virando para mim.
— Como eu estava dizendo joile: é bom que goste de nós porque não vamos a
lugar nem um. — Ergo minha sobrancelha. — Ah, por favor, gosto de você, então,
vou tê-la por perto até que você fuja como um daqueles gatos domésticos.—
Solto uma risada para suas palavras quando na real eu deveria sair gritando.
— Então nada de ir embora?
— Nem ao menos tentar.

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Olho para as quatro cabeças espalhadas pela sala assistindo um filme
infantil escolhido por mim depois de uma discussão sobre o que iríamos
assistir, e por saudades da minha irmã eu escolhi um filme da Disney, na
verdade o favorito dela: Abracadabra.
Um tanto sem noção, mas muito bom.
Mesmo já sabendo as falas desse filme de trás para frente eu dou toda
minha atenção para a tela enorme da sala de filmes deles. Calebe, com o posto
de mais abusado dentre os demais, tem o pé estendido sobre minha perna
enquanto entrou praticamente jogada sobre a poltrona testando os ângulos
enquanto sorrio vendo Mary brigar com as irmãs mais novas.
Escuto a risada de Calebe correr pela sala enquanto rouba uma das minhas
balas, obviamente recebendo um soco na perna pelo ato. Kelly me faz cafuné
e eu quase fecho os olhos me deleitando do prazer que se acumula em minha
cabeça. Relaxo meus ombros vendo o dia das bruxas se desenrolar de forma
animada entre as crianças.
— Ei, o que vamos fazer no dia das bruxas? — Não intervenho em uma
resposta, apenas me concentro em minha bala de gelatina com formato de
dente, isso não deveria ser tão viciante, é um perigo no meio da sociedade.
— O mesmo de sempre — Gabriel revira os olhos quando Kelly explica a
Matheus.— Uma festa fantasia depois de passar naquela ONG e fazer nossa
parte. — Kelly olha para mim e movimenta os ombros. — Vai com a gente,
né?
Eu juro que ainda vou descobrir o que esse cara tem comigo.
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Será que é karma de outra vida? Ou eu era apegada a ele e agora é o
contrário?
— Minha prima vai chegar para passar o dia das bruxas comigo. — Respondo
pondo mais gelatinas em formatos diversificados na boca. Mal engulo antes
de pôr uma resposta na ponta da língua.— Pode ser que minha irmã também
venha, o que faz de mim uma babá declarada.
— Você tem irmã mais nova, Chloe? — Calebe pergunta com uma
sobrancelha erguida e eu levanto meu celular para que ele veja uma foto
minha com minha pequena família.
— Esses são meus pais e minha irmã, Victoria também é, mas a gente não
estava por perto. — Dou de ombros e bebo um gole de água sem desviar os
olhos de Calebe enquanto vejo suas reações ao olhar minhas fotos com
Victoria, a cada nova foto uma nova reação me faz rir de sua animação,
Victoria gostaria de ter um Calebe para a aquecer depois de uma noite
cansativa.
— Sua prima é uma delícia. — Oh, agora quem perdeu o pudor foi Matheus?
— Com todo respeito, é claro, eu tenho um enorme respeito por ela e toda
essa linda composição de curvas e...
— Puta merda.— Interrompe Calebe quase babando.— Eu com certeza posso
te acompanhar até o aeroporto quando ela chegar. — Assinto mesmo que ele
não me olhe e Kelly ainda esteja fazendo carinho em minha cabeça enquanto
ri. — Não importa a hora, pode me ligar, eu juro que atendo.
Puxo meu celular de volta pensando na hora de ir embora, daqui a uma hora
tenho que estar em casa, prometi a Emily que passaria a noite com ela e não
vai ser agora que irei decepciona-la, ainda mais por um grupo muito
atencioso de estranhos.
Não faço promessas que não posso cumprir, é como o Julius com contagem
de dinheiro, é exato. Não faz sentindo algum dizer, no caso, prometer com
palavras vazias, não só a pessoa que receberia minha palavras vai sair mal
com eu também, em algum momento da vida eu iria me foder sem nem saber
o que está acontecendo.
Sinceramente, acho que minha mãe tem sua parcela de culpa para que eu
não tenha uma mente “maldosa”.
Gabriel sai da sala sem nem olhar para trás enquanto Matheus e Calebe
brincam de joquempô para saber quem vai ficar com o último pacote de
chips. Eu poderia levantar e sair sobre a proteção de Kelly facilmente, mas,
ainda é interessante ver os dois queimando neurônios em algo tão singular
quanto a divisão.

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— Por que não traz sua prima para cá e passamos o halloween juntos? —
Kelly pergunta e eu apoio minha mão sob o queixo olhando para ele.
Kelly é lindo, isso é fato, olhos verdes, maxilar marcado, nariz reto e fino,
maçãs inchadas e bochechas proporcionais. Um lindo anjo, oh sim, a mãe não
errou.
Mas, ficar ao lado de anjos nos lembra que anjos não existem, pelo menos
não para ficar ao meu lado por mais do que minutos. Kelly parece ser bom,
mais do que isso, ele parece ser puro, não no sentindo mais limpo da palavra
mas ainda assim puro. E mesmo que isso devesse ser maravilhoso, não é, oh,
não, não pode ser bom.
Conheço o inferno, sei que como no céu os anjos também vagam por lá, não
de um jeito pleno e livre, não, entretanto, livres e satisfeitos com o sofrimento
alheio.
Essas pessoas animadas e fora de todos os eixos possíveis não parecem nem
um pouco como os anjos caídos que tive o desprazer de conviver por um
tempo, pelo contrário, eles parecem trazer a cura para doenças das quais a
ciência ainda não sabe ao menos da existência.
Gosto da leveza que estão tentando me tratar, gosto que não “finjam” por
me ter por perto, gosto que eu seja boa o bastante para permitir que se
sintam à-vontade. Deito minha cabeça sobre o apoiador de copos e ouço a
porta bater, não tiro meus olhos de Kelly, não tem como, existem coisas
dentro de mim que gostam desses olhos, o que é uma merda.
— O que foi?— Seu sorriso, talvez o verdadeiro, está em seus lábios me
presenteando com uma bela visão,
Continuo o estudando, sem sorrir ou ter reações.
Quem é você, Kelly? Me diz, não se esconde.
— Você parece bem curiosa, e tudo bem, seria estranho se não tivesse. — Ele
suspira batendo o indicador em meu nariz.— Sou Kelly Paul LeBlanc Junior
— Ele quase sussurra, agora mais próximo de mim. — E não tenho milhões
de cascas esperando que você desvenda e descubra o pior, não sou um santo,
estou longe disso Chloe, mas não sou um monstro que te quer por perto para
te destruir.
— Por que me quer por perto?
Ele fecha os olhos e respira fundo.
— Eu não tenho minha família por perto — isso por acaso deveria responder
minha pergunta? — Esses idiotas me fazem sentir que tenho com quem
contar se algo der errado, ou algo do tipo. — Continuo olhando para seus
olhos, sem desviar. — Não somos perfeitos, Chloe, estamos bem mais fora do
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padrão do que demonstramos, porém, somos até que felizes com o que
temos, ok, talvez Gabriel...— Solto uma risada baixa e ele dá um leve toque em
minha testa. — Você está estudando psicologia e nem mesmo se conhece?
O que é isso agora? Estou em uma seção?
— Você quase chorou duas vezes durante o filme, toda as vezes que ria
olhava para o telefone parecendo esperar que alguém ligasse, estava
apertando os próprios dedos como se fosse encontrar conforto ali. — Suspiro
sem acreditar.— Deitou no meu peito quando ofereci afeto, sorriu
inconsciente quando Calebe pós os pés sobre seu colo e aconchegou Matheus
quando quase deitou nos seu pés. — Ergo a cabeça para olhar diretamente
para ele sem nenhuma diferença exorbitante de tamanho. — Todos nós
sentimos falta de casa, Chloe, e isso é mais do que normal, afinal, isso é sinal
de que somos bem tratados e temos um lugar nos aguardando quando
voltarmos, se voltarmos.
Meu coração parece um cavalo de corrida do jeito que está acelerado, me
machucando, me lembrando que estou acordada e escutando palavras que
não faço ideia se são para me acalmar ou só me lembrar que decidi me afastar
de tudo que ele tocou.
— Seu consultório vai ter uma fila. — Kelly acaricia meu queixo e sorri largo
antes de me oferecer o rosto sério e sem requisitos de brincadeira alguma.
— Te quero por perto porque conheço os seus sentimentos, te quero por
perto porque parece uma incógnita, te quero por perto porque gostei de você
a primeira vista. — Kelly me aperta ainda mais contra si — Você me deixa
curioso, e eu não gosto de ser curiosos. — Deito minha cabeça em seu ombro,
não querendo, mas me permitindo, não deixando, mas sentindo. — Lógico
que a primeira vista, há meses, guarde isso, eu te achei linda, gostei da sua
casca, porém, iniciamos o semestre juntos, e eu me fascinei por seu silêncio,
quando percebi queria carregar você para todo lado.
— Por que é tão aberto? — Homens que conheci não diriam metade.
Será que a faculdade já está cobrando seu preço? Eu estou enlouquecendo,
eu estou comendador a não ver coisas onde claramente existe. Ele não
deveria falar assim comigo, como se fosse normal observar uma pessoa por
meses e desejar levá-la para todo lugar! Porra, isso tem nome e é obsessão!
— Do que adianta meu silêncio ou meias verdades? Você está assustada, eu
estou surtando e matando a pose de durão, é difícil à beça, Chloe. — Solto um
riso baixo e tranquilo contra seu peito em nosso abraço estranho. — Você
está muito assustada?
— Não — Suspiro alto quando me arrepio por inteira. — E essa é a parte
assustadora, querer ficar.

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O peito de Kelly vibra e me aconchego mais.
— É mais do que bem vinda. — Por que agora? — Não sei até onde vamos, ou
até quando essa nova amizade pode durar mas...por que não tentar, não é
mesmo?
— Ok
— Ok?
Assinto precisando e não querendo me afastar.
Ser adulta é uma merda, mentiram para mim e me deixaram ser iludida por
toda minha vida enquanto eu dizia que tudo iria melhorar quando fizesse
maior idade. Falso.
Tudo piora, tudo complica, tudo é estranho, tudo é motivo para
desconfiança...tudo é um completo caos.
Controlo minha respiração enquanto me afasto fazendo beicinho. Não quero
dormir, não quero lembrar, não quero ao menos ter de retornar lá.
— Seja um bom amigo, Kelly.
Kelly ergue seu dedo mindinho e nesse momento tenho total certeza de que
deixei de ser a Chloe e fui possuída por outra pessoa, eu não deveria estar
erguendo meu dedo em sua direção, não deveria estar lhe oferecendo um
sorriso, não deveria sentir que podemos ir longe ou sentir meu coração
acelera só em pensar em nós.
— O melhor que você pode sonhar e desejar. — Recebo um beijo na testa e
fecho os olhos.
Meu Deus, se isso for um sonho ou ‘paranoia da minha cabeça, por favor, me
deixe aqui. A carência está realmente afetando meus pensamentos.
— No próximo final de semana vamos assistir Moana.— Ergo a sobrancelha,
como é? — Estou há meses tentando ter duas palavras vindas de sua boca,
agora somos amigos,— e novamente volta a proferir,— final de semana
vamos assistir Moana.
— Gosta de Moana?
Ele aponta para as costas cobertas por uma blusa branca.
— Tenho um pequeno Maui aqui atrás.
Solto uma risada sentindo o medo e apreensão rastejar por meu sistema.
— Por que parece que vamos assinar o papel do nosso casamento agora? —
Kelly solta uma risada para minha pergunta e me aperta mais.
— A grosso modo, agora somos casados.

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Meus olhos pensam enquanto faço uma das manobras internas com a
ajuda da minha companheira, que no momento deve estar pensando que
estamos em um reality show e não com um “ser humano” quase morto em
uma mesa com nossas mãos dentro de si. Reviro os olhos pedindo para uns
dos instrumentistas que muda de lugar a cada segundo. Com toda calma
ainda continuo focada em um aneurisma na aorta torácica, não é simples,
nem um pouco legal, e tudo piora quando não se dorme direito.
Ainda assim, o último grupo teve o dobro de sorte ao ficar com uma simples
apendicequitomia, eu queria muito que eu e minha dupla tivéssemos ficado
com isso, seria muito mais fácil identificar uma dor “comum” do que
identificar uma artéria rompida dentro e uma caixa torácica de um rapaz com
vinte e dois anos depois de ultrapassar do limite de bebido além do limite e
entrado em uma briga com sua namorada, pronto, esse foi o estopim para que
Dom, como eu o apelidei já que o boneco não tem nome, estivesse em nosso
hospital, ouço o som que as máquinas fazem, estão calmas, não como
deveriam, mas, porra, o cara tem um aneurisma dentro do peito, não é como
se eu disse que ele precisa de calma.
Vamos lá Dom, têm pessoas te esperando lá fora.
Eu realmente preciso de café e uma cama.
Jade começa a conversar com um dos garotos novos da nossa equipe
enquanto termino os últimos ajustes da retirada do aneurisma, é bem menor
do que a namorada disse. Quer saber, eu preciso mesmo da minha psicóloga,
eu estou enlouquecendo aqui dentro.
Pronta para retirar todos os tubos do corpo de Dom começo a escutar os
aparelhos alterando os sons, que se dane, que se dane, que se dane.
Respiro fundo e guardo todo o oxigênio para mim, Jesus, não deixe que esse
boneco chegue ao céu de bonecos, não comigo, por favor!
Merda, eu preciso de uma nota alta, eu realmente preciso de um A nessa
matéria, onde estão os professores auxiliares que disseram que não nos
deixariam sozinhos durante tudo o processo? Filhos da puta.
— Pressão alterada — A voz de José entra em contato com meu cérebro
quando quero que todos se calem para que eu, ao menos, consiga enxergar o
que houve na retirada do aneurisma.

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Repasso toda a cirurgia em minha cabeça,
Nada, nada fora do padrão, nada fora do que me foi ensinado, tudo do
mesmo jeito que aprendemos, desde a anestesia até a finalização. Todo o
procedimento é algo tão simples que é meio vergonhoso admitir que posso
ter errado meus passos durante a cirurgia.
Jesus, não, por favor.
A morte desse boneco é a minha também, eu sei que já sabe que sou muito
mais do que curiosa para te conhecer, mas, eu realmente não quero acelerar
esse processo, não para agora, sabe. Pode ser que eu tenha pedido há três
minutos para me pôr no lugar de Dom, mas senhor, quem nunca disse uma
besteirinha assim?
— Pressão caindo. — Puta que pariu.
Minha cabeça começa a latejar enquanto Jade parece próxima a ter um
ataque de nervos.
Penso em todas as coisas que poderiam acontecer e descarto todas as que
envolvem a cirurgia, o processo é minimalista demais, além de ser muito
rápido, seria quase como pôr um em um milhão para estar aqui, prestes a
morrer
— Foda-se, Cooper. — Ergo meus olhos para Jade que já contém um bisturi
em mãos. Mas...— Esse boneco não vai morrer, não com a gente! Que outra
pessoa mate ele e não devolva para as mãos da namorada, que é muito
corajosa por estar com esse estrume que briga depois de beber! — Eu não
deveria rir mas é quase impossível não rir de sua voz nervosa.
— A pressão continua declinando, já está em sete por nove. — Ok, ainda dá
para viver assim.
Respiro mais algumas vezes antes de pegar o anticéptico que me é
estendido, escuto um dos instrumentadores rezando baixinho enquanto jogo
o líquido marrom sobre a pele clara do boneco ainda escutando o barulho
ensurdecedor das máquinas.
— Entrando em arritmia cardíaca. — Oh Dom, se você não estivesse valendo
boa parte do meu curso eu te mataria.
Meu coração parece um cavalo de corrida em dia de competição.
Puta merda, eu não deveria ter saído da minha casa para enfrentar uma
prova surpresa, oh, não, não mesmo. Como minha calma me faz falta.
E quer saber de uma coisa? Eu fiz a cirurgia corretamente, eu finalizei como
deveria, após avançar os sinais, o que vier é lucro ou bomba, mas o principal

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juramento de um médico é salvar, independente das circunstâncias...pois
bem, esse boneco não vai conhecer o papai do céu dos bonecos hoje.
Pego o líquido anticéptico e jogo sobre o peito do boneco que já foi induzido
por novos remédios e o coração já se acalmou, mas a pressão ainda continua
caindo junto com os batimentos, não era para isso acontecer.
Não quero ter que entrar com um miligrama de adrenalina nele mas daqui
alguns segundos é isso que vamos ter de fazer.
— Todos prontos para começar uma cirurgia às cegas? — Pergunto quando
Jade pressiona o bisturi no peito agora marrom do boneco. O xenon que
estava mais afastado volta para cima de nós juntos de nossas head spots
voltam para nossa cabeças.
Jade rasga o peito do boneco fazendo os aparelhos apitarem ainda mais alto.
A pressão em meu peito parece duplicar quando uma quantidade absurda de
sangue sai de dentro do boneco, quem caralhos abasteceu esse boneco?!
Ouço o som de vômito um pouquinho mais afastado mas não tenho tempo
de me virar e ver, jogo algumas tolhas dentro do peito de Dom enquanto Jade
usa o sugador com rapidez. Eu juro por tudo que me pedirem que não fazia
ideia de que um boneco de...do que Dom é feito? Esqueça, entretanto, eu
ainda poderia jurar de pés juntos quando fosse dizer que não fazia ideia de
que um boneco poderia ser abastecido com tanto sangue, e ainda por cima
nós sermos as sorteadas para receber todo ele.
Sinto que algo gelado desce por meu pescoço e braço mas não paro para
saber do que se trata. Suspiro trêmula quando termino de tirar as toalhas que
joguei dentro da boneca, respiro de forma entrecortada pensando em todos
os pequenos pontos que ganhei e perdi durante alguns minutos. Uma das
instrumentadores limpa minha testa e faço uma nota mental de agradecê-la
quando sairmos desse caos. Sinceramente, eu me sinto dentro de uma
cirurgia de verdade e não em uma simulação muito bem feita.
— Achei! — O quase grito de Jade me faz suspirar em alívio.— Cooper,
preciso que você passe para esse lado e faça a sutura. — Assinto jogando mais
duas toalhas no chão. Trocamos de lugar o mais rápido possível enquanto
observo a infeliz ateria partida e jorrando mais sangue do que deveria. Oh
Deus, eu deveria receber para isso.
E ainda me perguntam por que eu gosto de cérebros, eu posso prometer a
qualquer um que um cérebro não teria a metade do sangue que sai da barriga
desse cara, é muito nojento.
Estendo a mão ainda sem dizer uma palavra, sinceramente tenho minhas
duvidas de que se eu abrisse a boca seria para chorar, e não seria por alguns
segundos.

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Com as fórceps abro o suficiente para visualizar o tamanho do estrago que
conseguimos fazer, sério, se ele fosse um ser humano iria ter um lugar na
minha lista negra, seu nome viria depois do...Foco Cooper.
Com a ajuda auxiliar de um dos enfermeiros volto a limpar toda área que
precisa de atenção, depois de alguns segundos pensando em que tipo de fio
eu deveria usar para fazer a sutura escolho o Dexon, um fio 4-0 que se tornou
meu queridinho nas últimas aulas.
Com a sutura pronta e a pressão voltando a se estabelecer solto um alto
suspiro e quase ponho a mão na cabeça, quase, por muito pouco mesmo. Meu
peito se acalma a medida que o minutos cardíaco de Dom entra em completa
paz. Deixo que jade feche o boneco e quase jogo meu corpo contra a parede
de vidro escuro que nos dá uma bela visão para a sala quando estamos nos
preparando. Jade que treme mais do que um prédio com a passada de
ciclones concorda e eu espero até que ela termine para sairmos sair juntas,
como todas as duplas.
Merda, eu mereço uma jarra de cerveja.
Devolvendo todos os instrumentos para uma de nossas ajudantes jade
quase joga sua luva em Dom me arrancando um sorriso.
— Seu filho da puta, sádico, descontrolado...eu deveria matar você, boneco
de...
— Jade McKagan, Chloe Cooper e toda a equipe...— A voz de uma de nossas
professoras percorre a sala fazendo todos olharmos para cima, minhas mãos
trêmulas são devidamente escondidas dentro do meu jaleco sujo, sem
emoções aqui. — Eu estou impressionada. — Abro um sorriso quando meu
peito fica inquieto de um jeito bom. Orgulho, orgulho de mim mesma...e toda
equipe, é claro. — Podemos conversar sobre isso depois e a sós.
Franzo a sobrancelha para suas palavras, como assim a sós? Só temos nós e
a equipe.
— Ei coco! — Meu olhos se alargam quando a voz de Kelly invade meu
sistema trazendo diversos arreios consigo. — Cheguei a tempo de te ver
dominando a porra...
— Acho que já está bom Sr.LeBlanc, sua amiga já entendeu que está mais do
que feliz. — As luzes de aquário se acendem dando vislumbre de três dos
meus professores e metade da turma, e Kelly, que não faz parte dessa turma
mas por algum motivo se enfiou dentre as pessoas para me observar.
— Antes de conversamos, queria dizer que estou orgulhoso do trabalho em
equipe que desenvolveram sem ao menos se conhecerem. — A voz arrastada
de Jales dita com afinco.— Todos estão de parabéns pelo excelente
desemprenho.
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Agradeço passando a mão pela bochecha vendo o vermelho em minhas
luvas.
Olho em direção a Kelly que tem um celular em mãos enquanto parece bater
boca com uma das professoras auxiliares, merda o que ele está tentando fazer
lá em cima? Não estrague tudo Kelly, por favor.
Kelly dá de ombros e força um enorme sorriso em minha direção antes
passar os dedos pelos lábios me pedido silenciosamente para imita-lo, faço o
que pede com um grande sorriso vitorioso e logo dou-lhe as costas quando
meu nome é chamado.
Esse homem pode até ser um psicopata mas ainda assim faz meu cérebro
ser confundido ao pensar que estamos em casa e ele está torcendo por nós
como um dos nossos torceria. Respiro de forma trêmula quando sinto uma
enorme vontade de chorar, chorar por falta, o pior choro que existe. Deixo
que toda equipe passe na frente e fico no corredor olhando para minhas mãos
agora sem luvas e sangue. Limpas mas por pouco não sujei.
Não espero ter todos meus pacientes vivos e bem, na verdade esse seria um
sonho, todavia sei que a vida real não é um sonho, sei que vão morrer em
minhas mãos, sei que eu serei julgada por toda a família do paciente, sei que
quero mexer na parte mais perigosa possível do corpo de um ser humano, em
fase de crescimento, diga-se de passagem...sei que esse é o abismo mais
perigoso do mundo, mas, porra, é o que faz a adrenalina se transformar em
morfina em apenas segundos.
O cheiro de éter misturado ao de metal e diversos outros produtos de
esterilização me fazer bem, fazem com que eu me sinta viva.
Fecho meus olhos e braços me rodeiam com força, mais força do deveria ter
em um abraço comum. Quase choro ao sentir o aperto de conforto. Círculo
meus braços ao redor do poste que não ligou e ao menos hesitou em me ter
em seus braços mesmo com meu corpo ainda com requisitos de sangue seco.
Ele pode ser sangue de halloween, mas não deixa de ser sangue.
— Oh, pequena Coco, você foi surpreendente lá dentro.— Um beijo é
depositado em minha cabeça quando uma lágrima escorre pelo canto
esquerdo de meu olho. Por que logo Coco, Kelly?— Eu estou orgulho para
caralho, Coco, tirei até algumas fotos escondido, eu posso até ser processado,
mas, foda-se, você estava incrível toda seria daquele jeito.
Solto uma risada enquanto deixo lágrimas teimosas rolar por meu rosto me
apegando ao corpo do quase gigante, posso usar a desculpa de estar com as
pernas bambas, não é?
Se não posso fugir, por que não devo ficar?

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Conformada em deixar que os quatro homens a minha frente paguem
rodadas de cerveja para mim, jogo meu corpo contra o estofado preto do
estabelecimento e respiro fundo atualizando meu Instagram, Facebook e
twitter. Faz quase um dia e meio que não posto nada e tem mais de trezentas
mensagens de pessoas desconhecidas perguntando sobre meu paradeiro.
Acho que essa deveria ser a hora em que eu me sinto acolhida, certo? Sinto-
me sem medo de continuar postando onde estou, com quem e com que
roupa?
E esse é o primeiro ensinamento de todas as garotas da internet, nunca,
jamais, em nenhuma hipótese poste tudo em tempo real, dê um espaço de
pelo menos duas horas ou saia do lugar antes de postar. Porque, por algum
motivo, algumas pessoas julgam ser muito interessante ir até onde você está
para sentar e conversar com um celular apontado em sua direção. Será que
alguma delas já parou para pensar que são estranhos perseguindo alguém?
Pisco algumas vezes quando um dos garçons põe três enormes canecas de
cerveja sobre a mesa. Puxo uma com um gemido alto. Isso, era disso que eu
estava falando.
Kelly ergue sua caneca junto dos outros quando todos têm uma. Quase
danço em meu lugar quando batemos nossos copos damos um grande gole.
Porra, há quanto tempo eu não bebo em plena quarta-feira? Cacete, eu só
tenho vinte e um anos, não deveria estar tão reclusa assim. Matheus deita a
cabeça em meu ombro de olhos fechados e solta um pequeno urro de dor
quando estica as costas.
— O que arrumou aí? — Talvez minha curiosidade ainda possa ser minha
tragédia.
— Treino, pequena Cooper. — Ele se aconchega, bebendo mais um pouco
antes de falar:— Kelly é o único ouro sortudo.
— Por quê? — Como um dos amendoins e volto a olha-lo.
— O treinador gostou do último treino dele, sem graça, ele não fez nada. —
Reclama me fazendo rir. — Chloe, você acreditaria se eu dissesse que ele só
brigou com a gente?

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— Por isso ele é o queridinho do treinador. — Dou de ombros passando a
mão por sua blusa. — Ele cobra, vocês obedecem, bom, lide com isso amigo,
ao que parece seu treinador gostou bastante do instinto de líder dele.
Matheus revira os olhos e pega alguns dos dardos que ganhamos pela
contidas de canecas de cerveja. Secretamente eu amei, sou apaixonada por
“jogos de bar” como esse. Papai dedicou mais do que apenas alguns meses de
sua vida quando me conheceu para me ensinar tudo que sabia, e eu como
uma boa aluna prestei muita atenção em suas aulas, tanto que quase segui
pelo mesmo caminho que ele me tornando desembargadora. Mamãe estaria
mais do que feliz em me ver ao lado do marido brilhando mais do que nunca.
Solto um suspiro encarando os dardos lembrando do bobão do Jack, eu sinto
mais falta dele do que irei admitir a ele e a mamãe, mas eles fazem falta na
minha rotina, gritando, xingando, destilando esporros e, é claro, revirando os
olhos todas as vezes que Emily pede colo, ou acalento.
— O que foi? — Dou de ombros para a pergunta de Calebe. — Que tal uma
aposta.
— Cara, você está falido, como um falido aposta com uma pessoa rica? — Eu
até poderia corrigir Gabriel, mas para isso eu teria que abrir minha boca, e
esse não é um trabalho que eu queira ter, não agora.
Meus pais são ricos, eu tenho condições suficiente para comprar uma casa
de quase cem mil metros quadrados em um bom lugar, não sou dona do
mundo nem algo parecido, porém, gosto de fingir que sou com toda a bruta
mesada que cai em minha conta todo mês..
— Cala essa boca Beaumont, — a ordem de Matheus me faz sorri de lado.— E
aí princesa, como vai ser?
Eu até poderia puxar meu cartão ou qualquer coisa parecida da minha bolsa
mas Kelly apenas me encara com uma sobrancelha arqueada, como quem diz
que não devo mexer um músculo se quer. Eu com certeza deveria respeita-
lo...se estivéssemos no século XVI, entretanto, pasmem, não estamos mais no
século XVI, e sim no XXI, que enorme tristeza sinto em meu peito quando
retiro algumas notas de cem dólares.
— O que querem? — Pergunto sorrindo de lado.
— Quinhentos — Ergo minha sobrancelha para o sorriso de Calebe.
— Ok, então eu fico com mil. — Kelly bebe sua cerveja e eu continuo encarar
os dois.
— Quem disse que você vai ganhar?
A voz de Matheus sempre foi tão gutural assim? Céus...

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— Por que não vão na frente? — Gabriel nos encara com tédio e puxa o
celular abrindo um sorriso de canto para a loira que pisca para ele do outro
lado do bar. Ele me lembra um dos personagens que Emily sempre odiou em
um desenho infantil...como é mesmo o nome? Smurf? Talvez...uh, um,
Gargamel, ah, sim, ele é bem parecido com o Gargamel, não de aparência, de
aparência ele está bem longe disso, na verdade ele poderia tomar conta da
capa da Forb sem nenhuma discussão contraria.
Olhos azuis penetrantes, pele clara, cabelo liso com mexas mais claras,
muito próximo ao louro para dizer a verdade. Sua mandíbula é firme e
marada, não com a de Kelly que tem um queixo mais pontudo, não, a de
Beaumont é bem mais quadrada, muito parecida com o resto do corpo
malhado.
— Não me olhe assim, Cooper, curto as loiras — Arqueio a sobrancelha
soltando uma risada. Mesmo que por algum dito do divino eu não tenho
certeza se cairia em seus “encantos”. — O que foi Cooper?
— Eu não disse nada.
— Então pare de me encarar como uma psicopata, LeBlanc curte essas
loucuras, eu não. — Solto uma risada e ele aperta a ponta do nariz, é bem
mais fácil do que pensei o deixar estressado. — Por que não vai brincar com
as outras crianças?
— Gostei de você.
— O sentimento não é recíproco — Ele finalmente me encara com um
mínimo sorriso debochado antes de voltar a me encarar como se fosse uma
estátua.— Suma.
— Fica calmo, homem. — Ergo minhas mãos e ando em direção a dupla
dinâmica e Kelly que ri e grava a desgraçada tentativa de dois adultos
acertarem o centro do alvo.
Paro ao lado deles e espero até que os quase gritos de excesso de raiva,
urros e dominação alfa tenha acabado para começar a jogar os meus dardos.
Sorrio quando acerto quatro de cinco e deixo um em minha mão já que o alvo
está repleto de dardos que os monstros S.A jogaram.
Com um sorriso presunçoso bato palminhas e estico a mão direita na
direção dos partas, quero meu dinheiro, já posso imaginar meu novo sapato,
ah, sim, eu o namorei por dois dias seguidos.
E, como minha mãe sempre me disse: dinheiro de aposta é dinheiro que nos
livramos em segundos.
Já que preciso me livrar dele em segundos, não me custa ser com um belo
salto cor Moss rose. Além de lindo vai combinar com o novo vestido etherial

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rose. Victoria nunca erra, não mesmo, o vestido é mais que lindo, uma
verdadeira pena (graças a Deus) não coube nela, sua altura e pouca cintura
não agradaram a forma do vestido em nada.
— Você roubou, Chloe. — Pisco algumas vezes para a acusação de Blackwood.
— Oh, sim, agora eu sou a mulher elástico, ah, e não esqueça, também tenho
poder do flash...uh, puxa vida, como me esquecer do poder dá mente, não dá
para esquecer que eu os hipnotizei para ganhar. — Meu tom arranca uma
risada de Kelly que está com os braços cruzados ao meu lado.— Não seja um
mau perdedor, Blackwood.
— Ok, ok, pode não ter roubado, mas não acho que seja justo. — Reviro os
olhos e dou tapinhas em suas costas.
— Só não demore muito para entregar meu dinheiro. — Pisco para ambos. —
Posso cobrar os juros.
— Credo, parece até as ligações que recebo do banco central.
— Posso ser pior do que os passadores de maconha.— Pelo que pude notar,
àqueles ali ninguém deve, nem mesmo em pensamento. — Foi bom jogar com
vocês.
Kelly me oferece seu copo e eu bebo fazendo uma careta ao sentir o gosto de
licor de chocolate com menta na ponta da minha língua. Eca! Como pode se
beber algo tão ruim assim, ainda mais sem suco ou qualquer coisa para
aliviar.
— Que tal jogarmos sinuca? — Matheus pergunta pondo uma garrafinha de
água em minhas mãos.
— Uh, não caia nesse conto, irmão. — A voz baixa chama minha atenção para
as costas de Kelly. — Ela te distrai para ganhar. — Sorriso com as palavras do
moreno pervertido. — Como vai, meu bem?
— Estava mais que bem antes da sua difamação, meu bem. — Dou alguns
goles em minha água observando seu corpo malhado. Que Deus abençoe. A
blusa branca, a calça preta assim como a jaqueta fazem minha temperatura
subir mais do que deveria ser necessário. — Como vai Noah?
— Com saudades. — Reviro os olhos para sua falsa comoção.— Por que não
vem para casa comigo?
— Gosto do minha casa, gatinho, sinto muito. — Solto descansando minha
coluna em Kelly. — Tá’ afim de perder mais alguma coisa para mim?
— Esperem, esperem, alto lá. — Paraliso com a voz de Calebe. — Desde
quando se conhecem?

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— Conheci seu amigo na festa que deram — Todos concordam e eu ergo
minha sobrancelha para Noah.
— Faça sua imaginação virar realidade, amor.
Fecho meus olhos fingindo saborear suas palavras.
— Sua fala é perigosa, não acha? — Abaixo meu tom para que apenas Kelly
ele me escutem. Noah dá de ombros e continua me perfurando com os olhos
castanhos claros. É como se exigisse uma resposta melhor do que a anterior.
O problema é que ficar cercada por esses caras me deixa nervosa, me faz
dispensar pensamentos lógicos, como agora.— Um dia, eu prometo
E simples assim temos mais uma pessoa na mesa, mais um copo, mais uma
aposta e o triplo de risadas com os primos, ou monstros S.A, como eu prefiro
chamar.
— Se a Cooper ganhar eu mesmo chamo a segurança. — De uma forma bem
madura, mostro minha língua para os quatro.
Então vamos jogar!

72
O sol de três da tarde queima minha pele sem a menor piedade, suspiro
abanando meu rosto que parece estar pegando fogo. Victoria, que se encontra
ao lado de Emily, dança e canta uma de suas músicas sem nexo algum
enquanto me convida a sair da minha toalha para ficar delas.
Emily com apenas nove anos gargalha enquanto tenta imitar gesto quase
obscenos com a prima, solto uma risada ao vê-la pôr ambas as mãos no chão
e sacudir a bunda para o céu, aponto a câmera do meu telefone para as duas
quando voltam a postura e somente balançam o quadril de um lado para o
outro, Emily, mesmo que quase de um jeito desengonçado acompanha todos
os passos da prima me garantindo muita serotonina.
Assim que posto o vídeo recebo algumas mensagens que resolvo ignorar por
ora, não vou envolver trabalho com minhas férias, não mesmo, papai me
levaria a alto mar e me faria observar amarrada e amordaçada como ele
jogaria meu celular na água enquanto bebe uma garrafa de cerveja sorrindo.
— Vamos lá vadia, levante-se e venha dançar, mexer essa bunda que não é
tocada a muito tempo. — Por pouco não ergo meu dedo médio em direção a
Victoria, por muito pouco mesmo. — Vem, Coco, vamos mostrar à pequena
Cooper como nós fazemos a noite.
— Victoria! — Ninguém, nem mesmo meus pais, precisando saber da minha
vida sexual que não é nem um pouco ativa, bem, não do jeito que Victoria
espera de uma garota de dezessete anos que está na faculdade. — Fica quieta.
— Oh, não, não mesmo, tia, você sabe das...
— Ok, ok, eu já estou de pé, você não precisa mesmo entrar em detalhes. —
Ergo meu corpo limpando meu busto coberto por algumas gotas de suor.

73
— Do que ela está falando, Coco? — A curiosidade da pequena Grace ainda
me cativa, mesmo que às vezes me faça querer afoga-la de uma maneira bem
feia. — O que fazem a noite?
— Coisas macabras, Cooper em crescimento. — Victoria explica com um
sorriso diabólico. Minha irmã estremece e eu solto risada, Deus, como é fácil
enganar minha irmã.— Poderíamos fazer uma sopa com seus
órgãos...enquanto você assisti.
Reviro os olhos pegando uma lata de Coca-Cola.
— Para com isso Victoria, nem dá para pegar os órgãos de uma pessoa e
deixar ela viva. — Emily olha para suas unhas pintadas de rosa e isso me
garante mais uma dose de entusiasmos, ela ainda pinta as unhas com a minha
cor favorita, mesmo sendo a que ela menos gosta.— Não é verdade, irmã?
— Quer testa? — Victoria ergue a faca com ponta afiada em sua direção e eu a
faço baixar, já está bom.
— Sim, é verdade, querida, não podemos fazer isso...ainda. — Ofereço minha
coca cola para que ela se mantenha quieta por algum tempo. — O que tem
para hoje?
— Festa da fogueira. — Responde balançando sua bunda.
— Legal, sempre quis ir. — Viramos para a pequena cópia de papai e
soltamos uma risada em conjunto, ah, Emily, quando vai aprender? — Qual a
graça? Vou contar para a mamãe.
— Faça isso amor, ela dirá a mesma coisa que nós, não. — As vezes penso se
Victoria cogita a ideia de que minha pequena irmã não é...como posso
dizer...como crianças prodígios.
— Para com isso Victoria! — A mais velha dá de ombros algumas vezes e
Emily se vira para mim — Irmã?
— Emily, lá não é um lugar que você pode estar. — Explico pausadamente. —
Existem coisas das quais você não está pronta para ver ou experimentar, mas,
eu prometo que assim que fizer 18 anos vamos comemorar seu aniversário
em uma boate, o que acha?
Seus pequenos braços caem ao lado do corpo de forma impotente.
— Eu não quero esperar por quase 10 anos, Chloe. — Não Coco, não irmã, ou
qualquer coisa como essas. Respiro fundo e seguro seus ombros para dizer-
lhe com palavras certas que estamos indo para uma quase orgia. — Não, não
tente me tratar como uma criança!
Afasto minhas mãos dela e Victoria cai na risada, falsa, mas ainda assim ri.

74
— Ah, vamos lá, Emily, não é como se fosse uma idosa de oitenta anos. —
Victoria revira os olhos — Você não vai e acabou, Emily, não tente chamar
atenção para mudar isso, merda.
Fuzilo Victoria com o olhar mas não digo nada sobre isso, deixo Emily gritar
e correr em direção a casa, passando por papai, que por pouco não deixa cair
as costelas de porco que está há uma hora preparando com uma delicadeza
que não o pertence.
Pegando uma nova lata de Coca-Cola foco meu olhar em Victoria. Dou alguns
goles para não dizer nada do que vá me arrepender em segundos, posso na
tragar Emily como meu raio de sol e essas coisas mas ela continua sendo
minha irmã mais nova e eu sou a única que tenho o direito de dizer algo
quando ela está agindo como uma vadia mimada, e agora não era um desses
momentos.
— Não volte a falar com ela dessa forma. — Aviso desviando o olhar para as
ondas que batem na pedra mais afastada da casa. — E eu não estou brincando
Victoria, eu não faria como Emily e apenas quebraria sua maquiagem, eu
realmente posso te quebrar ao meio se fizer Emily chorar dessa forma de
novo.
— Uh, Cooper ficou esquentadinha. — Dou-lhe um sorriso, entretanto, não
estou brincando, eu realmente vou quebrar alguns dentes dela se fizer Emily
chorar por palavras feias. — Fica tranquila, nós já passamos por coisas piores
com nossas mães.
— E isso não nos dá o direito de fazer o mesmo com Emily, ela só tem 9 anos,
Victoria, não precisa de seu ódio para foder com a mente dela.— Suspiro
massageando minha têmpora. — Sério, se a mamãe ficar sabendo disso vai
acabar com nossa noite.
— Ok, ok, eu peço desculpa a pirralha por minhas “duras” palavras.
Com um tom irônico e uma reverência ainda mais irônica, Victoria anda em
direção a casa com um lindo caminhar.
Papai senta a minha frente e oferece batatas fritas e uma garrafa de
ketchup.
— Gostei de te ver defendendo sua irmã.
— Não é como se eu gostasse que dissessem algo sobre ela.— Dou de ombros
e como uma das batatas. — Acha que ela vai ficar bem?
— Ela é uma Grace-Cooper, como não ficaria?

75
As festas da fogueira que ocorrem na casa de um dos amigos de Victoria são
sempre tão cheias que chega a ser quase impossível passar pelo tsunami de
pessoas sem pisar no pé de alguém ou ser levada.
Jeffrey, um colega que fizemos há dois anos quando viemos fugida de casa,
assim como hoje, é um cara super atencioso com Victoria, consequentemente
comigo também já que quer a atenção da minha prima e percebeu que ando
atrás de Victoria como um lindo chaveiro.
Quase bocejo ao chegar cozinha mal arrumada, com diversos copos no chão
e garrafas de bebidas fazias, Vivi joga uma lata de energético em minha
direção antes de pegar uma de cerveja para ela. Oh, ainda bem que minha
mãe, mesmo que desconfiada, fecha os olhos quando vou sair com Victoria e
finge que não posso morrer na volta de casa.
— Vamos ficar lá fora.— Aviso já nos guiando para o lugar apertado que é a
casa de Jeff. Deus, como os pais dele não desconfiam que todo ano rola a
maior festa na praia por entre esses condomínios?
Sem dar chance de Vic parar para conversar com alguns garotos que tentam
chamar nossa atenção ou nos parar para fumar ou cheirar mais e mais
carreiras de um pó branco.
E Emily acha mesmo que algum dia eu a quero dentro de uma casa como
essa? Uh, não, não neném, o mais longe que puder ficar, ficará.
— Ei, vejam se não é minha dupla de Cooper’s favorita. — Sorrio devagar ao
escutar a voz de Jeff.
— Somos as únicas que você conhece, bobão. — Passo meus braços por seu
pescoço e beijo sua bochecha com leve cheiro de conhaque. — Você está
começando a pôr para fora o que bebê pelos poros.
— Oh, oh — Ganho um beijo no canto da boca e solto uma risada — Tão
atrevida, Coco.
— Não, boneco, só eu uso esse apelido — Vivi, protesta beijando os lábios de
Jeff. — Espero não estar beijando outra através da sua boca.
— Não fale como se não gostasse.

76
— Gosto quando sou eu quem a pego, não quando você vem com a boca suja.
— Reviro os olhos ficando de lado por eles. — Tem alguém para minha
priminha aqui, neném?
Jeff suspira quando as mãos de Victoria escorrega por seu corpo.
— Tenho, um amigo meu, de confiança, Cooper, chegou há quatro dias. —
Assinto não tão interessada, afinal, ele diz isso há dois anos, a única coisa
nova é que se trata de alguém de confiança.— Ele...ah, olha ele aí.
Olho para o garoto magro e alto, esbelto, com os cabelos grandes, na altura
dos ombros para ser sincera. Os olhos estão focados em mim, como se eu
fosse...o que eu sou ao seus olhos? Ele entreabre a boca antes de sorrir para
mim mostrando profundas covinhas. Ó Deus, eu já disse que sou apaixonada
por covinhas? Céus...ou inferno, depende do ponto de vista.
Meu coração acelera quando ele vem caminhando em minha direção como
um predador nato, eu pareço ser a presa, e do jeito em que meu coração se
encontra, eu não duvidaria nada disso.
— Chloe. — Ele segura minha mão apertando. Sua voz é baixa, calma,
diferente. Me faz querer virar a cabeça de lado e saber o que mais ele tem a
me dizer.
— Eu me lembro de você. — Como esquecer, ele atrapalhou meu descanso
sobre a água. — O garoto da água...espera, eu vou lembrar seu nome... Jordan!
— Comemoro por guardar seu nome em meu subconsciente.
— É bom te ver de novo e, é claro, saber que está bem. — Levanto meus
braços e dou uma continha em sua frente.— E linda.
— Que galanteador você é, Jordan.— O garoto abaixa a cabeça e balança os
pés na areia, sem graça — Se continuar assim posso acabar o verão
apaixonada.
Jordan solta uma risada passando as mãos sobre a nuca de modo nervoso
antes de limpar as mãos em seu short de praia.
— Não ficou desconfortável ou qualquer coisa do tipo? Sabe, eu posso me
afastar agora mesmo, os caras estão insistindo para que eu seja mais ousado
mas isso não combina comigo, eu não sou assim, eu sinto muito se isso te
magoou.
Ok, ok, controle-se Chloe. Contro...
— Eu vou te apresentar aos meus pais se continuar a falar. — Estou ficando
hipnotiza por casa palavra que sai de sua boca nervosa.
— Desculpa.
— Não gostaria de conhecer meus pais?

77
— Me apresentaria a eles?
— Se me conquistasse. — E falta pouco, eu juro, muito pouco.
Seu jeito calmo, nervoso e um pouco risonho me faz querer aperta-lo como
um ursinho de pelúcia, me faz querer me apaixonar pela primeira fez,
e...merda, eu não deveria pensar assim, não mesmo, mas, seu corpo me deixa
quente, quente demais para, o que aparenta, ele possa apagar. Jordan parece
ser certo, certo de verdade, e eu quero o pecado, quero que ele me arraste e
me mostre o lado pecaminoso do mundo, o caminho da luxúria. Quero fogo,
mas quero com ele, quero que ele me mostre.
Pela primeira vez desde a sexta série eu estou gostando de um garoto a
primeira vista. Na praia não valeu, foi rápido e grosseiro, quero mais contato.
Seus olhos me fazem querer mais conversa, suas palavras me fazem querer
mais atenção, seu jeito me faz querer mais, mais e mais.
Jordan parece ter algo, algo que estou curiosa o suficiente para querer uma
fatia.
Talvez essa seja a minha parte adolescente e carente falando, a parte que
nunca foi usada porque ninguém jamais foi digno dela. Não até me fazer parar
e querer escutar qualquer coisa que saia de sua boca, como Jordan está
fazendo. Isso é preocupante, eu não deveria estar assim por um alguém que
conheço a dois minutos, mas ainda assim aqui estou eu, de frente para o mar,
com um quase desconhecido conversado sobre sua família.
Na verdade, Jordan está falando sobre seu irmão que mora na Hungria e não
curte fazer muito contanto com o Canadá, dá para entender, ao que ele parece
ter deixado escapar, seu pai não foi seu maior apoiador quando resolveu
seguir seu sonho longe de casa, Deus, eu não posso nem mesmo imaginar
meus pais não apoiando minha ida até outro país atrás da minha felicidade,
na verdade, mamãe seria a primeira a me apoiar e dizer que faria minhas
malas sem o menor problema.
Depois ela choraria por horas e diria que eu estou a abandonando.
Papai, céus, papai não iria querer me ter longe, iria tentar mudar minha
cabeça todos os dias, a cada dois minutos, é claro. Victoria não se importaria
tanto já que é mais uma desculpa para sair do Canadá e conhecer um novo
lugar.
Agora, Emily, ah, minha pequena Grace, ela choraria até mesmo se eu
dissesse isso sobre brincadeira, me faria jurar pela bandeira que eu iria voltar
antes de ela perceber que saí. Minha irmãzinha não iria achar nada justo que
eu sair de perto dela deixando-a com Victoria como irmã mais velha.
Victoria é bruta demais, isso não posso negar, mas, pelo histórico de Emily,
ela até que precisaria de alguém com um pulso mais firme que o meu para lhe
78
mostrar o mundo, eu obviamente iria tentar esconder tudo que achasse
desnecessário ser de seu conhecimento.
Emily é inocente, e não por sua idade, é uma coisa dela, ser inocente faz
parte de quem ela é. E mesmo que eu lute contra tudo e todos é impossível
deixar seus olhos fechados para a maldade do mundo por tanto tempo. Coisas
ruins acontecem, coisas que não têm explicação alguma, ou sentindo,
acontecem o tempo todo, mas ela não precisa saber disso agora, pelo menos
não assim.
— Me fala um pouco da sua irmã? — A pergunta vem com delicadeza, como
se fosse um típico proibido para todos.
— O quer saber sobre ela? — Dou de ombros e bebo mais do líquido em
minha latinha, mesmo sabendo que se eu der mais um gole será de
mentira.— Emily é incrível, claro, eu não diria isso a ela, afinal de contas, ela é
minha irmã. — Reviro os olhos mas sorriso quando Jordan solta uma risada
baixa. — Eu amo tê-la como irmã mais nova, sabe, posso transformá-la em
minha pequena cópia ainda melhor do que eu já sou, e olha, eu sou ótima em
tudo que faço.
Jordan solta mais uma risada e amassa o boné que está em suas mãos
enquanto me olha diretamente nos olhos.
— Não somos iguais, somos muito diferente, ela é muito ingênua e isso me faz
perder a paciência com ela muitas vezes, ela gosta das pessoas e eu gosto de
odiar o câncer que é o ser-humano, ela quer crescer e eu quero que ela fique
com a idade que se encontra para sempre. Sou egoísta, Jordan, não gosto de
escutar ou ver o fim de histórias, não quando estou envolvida.
— Sendo assim então somos iguais. — Ganho um afago nos braços arrepiados
pelo vento forte. — Quer ir para perto da fogueira? — Assinto o
acompanhando até um pequeno grupo que bebe sem nenhuma preocupação
enquanto outro fuma e dança alegremente uma dança que não combina com
a batida do pop que toca pelo local.
Não perdemos o ritmo da conversa, não ficamos ditando rumos de
conversa, acontece, nos embolamos no meio de tantos assuntos que
entramos.
Terminamos um dos assuntos dando risadas já que não sabemos onde
começamos e como terminamos com o planejamento de nossas
aposentadorias. Deito minha cabeça no ombro de Jordan sentindo que fica
tenso na mesma hora com minha proximidade. Afasto minha cabeça de seu
ombro na mesma hora, o cara não me deixou ficar desconfortável em
momento algum e não seria eu fazer isso com ele.
— Desculpa, eu não queria te deixar descon...

79
— Chloe, — ele chama me fazendo piscar algumas vezes por interromper
meu raciocínio. — Eu posso te beijar? — Seu rosto ganha um tom rosado,
sinceramente, toda sua pela esquenta alguns graus. — Por favor.
Ele acabou de me permissão?! Ele não avançou e esperou que eu fosse
recíproca? Ah meu Deus! Esse sim é o cara dos sonhos de qualquer uma.
Assinto sem saber muito o que dizer ou fazer, Jordan é lindo e eu quero mais
do que apenas alguns beijos, quero tudo, sem metades.
Seus lábios são macios, quentes e receptivos. Gosto da atenção que me dá,
gosto de como é calmo, ditado, como uma dança da qual nunca fomos
apresentados a coreografia mas sabemos de cor, é como o mais leve dos
sentimentos. Eu gosto da calmaria que seu beijo me traz, oh, sim, eu gosto
bastante de me sentir calma, sem ruídos ou chamados, apenas nós.
Nós
Eu gosto de como isso pode soar.

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Correndo pela quingentésima vez sobre a arquibancada o suor pinga em
meus olhos e escuto boa parte do time me xingar por terem o mesmo
problema no momento.
Caralho, eu não tenho...ok, eu tenho culpa, saí de casa no mesmo horário de
todos os outros dias e por culpa de uma via foi interditada, somente por isso,
(minha culpa), eu cheguei quatro minutos atrasado...pela sétima vez. Eu posso
ser expulso mais tarde? Com toda certeza, posso dar adeus aos olheiros dos
próximos jogos? Sim, mas ainda assim finjo que não tem acontecido nada na
minha vida.
Uma das vezes que ne atrasei foi apenas porque dormi, dormi além dá conta
depois de ter passado a noite inercie em um dos projetos que deveria ser
entregue hoje, no atraso seguinte eu quis me aproveitar do tempo que tinha
antes do treino com Joice e pode ser que tenha passado cinco minutos a mais
do que deveria com a garota, o quê, ela precisava de atenção! O cão dela tinha
morrido, ou fugido, ou qualquer merda dessa, a coitada só queria esquecer o
e estava acontecendo, é claro que ajudei.
Em uma das únicas vezes que cheguei adiantado foi no treino de segunda
quando dormi na casa dos meus amigos. Tudo bem, eu sei que estou sendo
teimoso o suficiente para não ceder a necessidade de ir morar lá, mas, não se
trata mais apenas teimosia e sim de ego, eu os negligenciei e agora preciso
que cedam a mim, isso não é legal para um homem.
O apito soa quando um dos jogadores novos vomita sobre os próprios pés.
Graças a Guadalupe!

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Todos suspiram e se jogam contra os encosto de seus respectivos lugares.
Merda, sei que tenho que encarar o treinador em seu escritório daqui um
tempo mas não estou pronto para isso. Não quero que ele use seu tom calmo
para me pôr de inválido para baixo, eu juro que não quero isso, é vergonhoso.
Minha garganta está seca, fazendo contrate a minha pele mais do que
apenas úmida. Meus estômago embrulha mas finjo estar bem, ah, merda,
agora não, porra!
Ouço o som de vômito a alguns passos de mim e não me atrevo a olhar para
o lado, assim como metade do time, sentir-se fraco não é nem mesmo opção
de pensamento em momentos como esse aqui. Respiro algumas vezes e
recebo um tapa em minhas costas, olho para o capitão do time que dá um
pequeno sorriso em minha direção, esse cara deveria parar de ser tão
tremendamente insuportável, um pau no cu, para ser direto.
— Certo, já que iniciamos o treino tão bem...— Puta merda, tenho certeza de
que algum idiota ainda vai tentar me afogar no chuveiro como tentamos fazer
da última vez tom Toddy. — Quero cem flexões, e com o mínimo resmungo,
som, ou até pensamento eu posso mudar um pouco, deixar mais interessante
para mim.
Caralho...porra, eu preciso mesmo de um meio de transporte mais rápido,
ou talvez de mais grana. E lá se vai toda minha economia.
— O que estão esperando, seus molengas! Vamos, vamos, corram, desçam,
passem pelo circuito e comecem as flexões...— Ouço um suspiro baixo vindo
das minhas cotas e fecho os olhos começando a correr em direção ao
gramado bem tratado da universidade. — Oh, merda! Eu escutei um
resmungo, é meu dia de sorte!
Xingo toda a família do treinador em minha cabeça enquanto continuo
correndo pelo circuito de pneus, cones, escalada e parede de força. Com a
respiração escarça começo a fazer flexões junto do capitão do time e um dos
tackles.
— Não seus filhos da puta. — Grita com um megafone em nossa cara, não
paramos mesmo quando seu assistente chega com uma mangueira, com
certeza é nosso dia de sorte. — Eu quero apenas uma das mãos no chão,
quero ver vocês chorarem e imploraram por menos, vamos lá filhinhos de
mamãe! Quero receber mais ligações como a última que recebi! — Quem foi o
filho da puta que passou o contanto do treinador para a mãe?!
Se fosse apenas a reclamação iria ser bem normal, todos aqui já fizeram
isso, mas querer passar o contanto do treinador e ser ligeiramente humilhado
na frente de todos? Oh, esse sim é um belo sádico.

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— Não estou gostando desse silêncio — ralha com os pés bem a minha frente.
— Puxe a contagem, Walker, quero rápido...e não pense em atrasar um só
número! — Ele grita bem acima de minha cabeça fazendo meus músculos
tensionarem. — Agora, porra!
— Trinta e cinco! — Grito com toda a força que ainda habita em mim, mesmo
que ela esteja pronta para se evaporar em alguns minutos.
Já comemos por quase duas horas e meia em subida e descida, já fizemos
esse circuito mais de dez vezes, e sem dúvidas, já corremos por mais de duas
horas esse campo, parando por dois minutos a cada exercício que envolvesse
força bruta, o que resulta a quatro minutos nessas últimas hora. Minha
barriga dói quando continuo a gritar com todo minha equipe, olhando para
frente vemos os corredores nos encarando enquanto Bruce continua a durar
mais e mais regras, troca de mão, palmas durante as flexões, no final, ele
acrescenta mais cinquenta enquanto nos força a gritar o horário de todos os
treinos, ao que parece não sou o único aqui que têm chegado atrasado.

Estremeço enquanto caminho até o pequeno escritório do treinador Bruce,


meu corpo dói e pede descanso e muita morfina, nada além de morfina e
cama. Eu preciso mesmo de um bom sono, e ainda são nove da noite, porra, é
sexta e eu deveria estar planejando um lugar para ir e não em que posição
vou dormir depois de me entupir de remédios para a administração da dor
que corre por todo meu sistema.
Bato na porta do todo poderoso não recendo sua resposta de imediato,
porém, tenho mais do que certeza de que se apenas encostasse na porta
novamente a bronca que estou preste a levar seria triplicada.
— Entre — Fala depois de quase dez minutos, e eu tenho propriedade para
falar, olhei em meu relógio esse tempo todo. — Walker, meu incrível jogador,
quarterback do time, e é claro, o bebê mais atrasado da história do meu time.
Engulo em seco ao ver seu sorriso.
Bruce aponta para a cadeira a sua frente e me sento sem ao menos hesitar,
porra, eu tenho quase que o dobro de seu tamanho, ele deveria está tremendo
a mim e não o contrário, porra.
— Senhor...

83
— Eu não quero ouvir mais uma explicação de merda — Pisco um par de
vezes recuperando a compostura, ok, não direi uma única palavra se assim
ele deseja. — Mas eu gostaria de saber Walker, qual seria o “motivo” de seu
atraso dessa vez? Pelo que fiquei sabendo o último foi por uma garota, uh,
pobre coitada, o pobre cão se perdeu em um parque para cães.— Oh, então foi
io, seu cachorro se perdeu, não morreu, puxa, ela não deveria me contar
enquanto gemia sobre meu pau.— E agora, James, qual a sua verdade?
— Saí no mesmo horário de sempre, senhor...
— Vou te interromper. — Seu aviso vem carregado de desdém, o que me
irrita bastante. — Você não tem percebido que seu “horário de sempre” é
tarde demais?! O que faria se fosse dia de jogo? Faria que todos nós nos
sentássemos em uma mesa e tomássemos café juntos? Isso é o que passa pela
sua cabeça quando os olheiros estiverem aqui? “Sair no horário de sempre” e
esperar que eles vejam o quão comprometido com o horário você é ? Porra,
Walker, eu curto muito o seu jogo para ter de assinar sua saída do time.
Minha respiração é rasa enquanto escuto sem abrir a boca, nem mesmo um
pequeno ruído sai de minha boca quando minha mandíbula trinta e meus
dentes rangem um ao outro. O caralho que vou deixar a oportunidade da
minha vida por culpa de simples horários, não me fodi durante boa parte da
minha vida para receber nãos por aí, eu sou um Walker, não escuto palavras
como essa, ou frases montadas.
— Não senhor. — Abaixo minha cabeça, reconheço meu erro mesmo que
queria estourar a cabeça de Jones agora mesmo.— Peço desculpas, senhor,
reconheço meus erros, não vão voltar a ocorrer.
— Não mesmo, não comigo. — Ergo minha cabeça na mesma hora, a vontade
de socar seu crânio tinha morrido um segundo atrás. — Por ser um bom jogar
eu vou te dar mais uma chance, James, não me importo com o que tem
passado, quero você aqui as quinze horas em ponto, nenhum minuto a mais e
nenhum a menos, quero olhar para o campo e ver seu rosto lá, nem que seja
estardalhando no chão, foda-se se isso não é possível para você. Você veio
para cá com o objetivo de jogar, enquanto suas notas estão sendo mais do que
excelentes seus horários também vão voltar a ser. — Mus dentes rangem um
ao outro mais uma vez. — Não me importa se para isso você tenha que dormi
sob as estrelas desse gramado, não estou nem aí se vai ter que se vender para
comprar uma moto para ser mais rápido. — Concordo ao ver que fala mais do
sério já que usa sem tom neutro. — Mais um atraso de um segundo e você
está fora, não adianta implorar ou qualquer coisa como essa, eu já dei minha
palavra, agora quero seu compromisso.
Assinto sentindo o suor descer por minhas costas como pedras de gelo, além
de um corpo dolorido tenho uma cabeça pior do que deveria ter. Estou

84
fodido, além de “não cumprir” seus horários estou a beira de um precipício de
dividas ao tentar a chance em um apartamento mais próximo a universidade.
Porra, tinha que ser logo agora?
Mesmo frustrado continuo a concordar com todos os termos de Bruce, não
discordo de uma única sílaba que vaze de sua boca, não serei louco de fazer
tal coisa, gosto de ter meu pau no lugar.
Suspiro mais uma vez e aperto a mão firme do treinado, selando nosso trata
de divididas.
— Espero que estejamos conversados, Noah. Não quero perder meu
quarterback bem no início da temporada depois de toda a frustração que foi o
adiamento dos jogos.— O assunto aqui realmente foi mais sério do que o
esperado.
— Sim, senhor.
— Você tem sessenta e nove hora até o próximo treino, aproveite, Walker.—
Forço um sorriso em sua direção e ando em direção a porta.— Não seja
minha decepção, Walker.
Nego suas palavras e ando a passos rápidos para meu carro, ah, porra, se eu
ainda tivesse energia eu poderia mesmo gritar e xingar meu Toyota RAV4,
com toda certeza eu poderia xingar meu amigo por toda a frustração que tem
me feito passar por não saber voar, ainda. Solto uma curta risada enquanto
tomo um dos remédios reservas que já estão compactuados no porta luva.
Depois que conheci meu treinador não pude mais deixar de andar com um
energético e remédio de múltiplas variedades. Tem até remédio para sono, eu
devo estar chegado em um estado crítico.
Fecho meus olhos antes de acelerar em direção ao conjunto de
apartamentos a quase uma hora de distância daqui. Eu realmente deveria ter
dado ouvido aos babacas quando disseram que era mais do que boa ideia eu
ir morar com eles, isso há dois anos, hoje em dia percebo que deveria tê-los
escutado, nem que por dois minutos.
Paro na em minha garagem particular pensando em mil coisas e ao mesmo
tempo em nada, tenho trabalhos para fazer, e parar para pensar não é uma
opção quando também marquei de encontrar meus amigos amanhã para
aproveitar a noite de love song ou apenas R&B
Foda-se, foi insuportável passar a semana escutado Calebe nomear a noite
que acontece a cada três meses como a noite dos negões, ele a batizou assim
depois que fez uma contagem, repetindo-a três vezes, enquanto sóbrio, de
quantas pessoas negras existiam a mais que as brancas. Essa foi uma má
noite para Gabriel, que se encontrava como um vampiro de filme adolescente,
abro um sorriso enquanto permito que água quente castigue todo meu

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sistema antes de uma boa noite de sono, obviamente depois de comer algo
permitido pela dieta exageradamente balanceada que o estrume do
assistente mais novo de Bruce fez questão de fazer junto de um nutricionista.
Aquele cara ainda vai acabar chegando bem próximo de um assassinato,
metade dos assassinos com certeza sairão impune, já o
assistente...pobrezinho, que tenha um bom plano funerário.

Somos recebidos no espaço escuro por uma voz melodiosa, feminina de


certo, a música é desconhecida por mim mas não por Kelly que balança os
ombros fazendo uma careta de aprovação quando um garoto se junta a ela.
“ Estou aqui sozinho, não queria sair
Meu coração não mexe, está incompleto
Queria que houvesse uma maneira de fazer você entender...”
De onde diabos essas músicas vêm? Vai ser esse melancolia a noite toda?
Ao que parece Beaumont concorda comigo plenamente já que está no bar
tomando seu segundo copo de whisky, com certeza do barato, solto uma
risada e ganho uma cerveja esticada por Matheus. O sorriso caçador no rosto
de Calebe me faz olhar em direção ao seu destino e tenho plena vista de um
grupo com garotas variadas dançando agarradas uma a outra enquanto a
música muda, não os movimentos, oh não, que Deus esteja abençoando cada
movimento que elas fazem entre si. Esse lugar vai pegar fogo antes mesmo
das duas da manhã, cara.
Mãos pequenas seguram minha cintura por trás obrigando-me a mexer meu
quadril de um lado para o outro, olho para baixo e lambo os lábios quando
visualizo unhas pintadas de branco e os dedos que aprendi bem a reconhecer
nos últimos dias. Ok, eu posso ter perseguido a garota de coco-cítrico por
todo lado, mas quem pode provar?
— Você não deveria chegar assim nas pessoas, meu bem. — Puxo-a para que
pare bem a minha frente com um sorriso largo. — Chegou agora? — Tenho
quase que gritar para que ela me escute e mesmo assim ela nega com a
cabeça ainda mexendo os quadris maravilhosos de um lado para o outro.
— Você deveria estar dançando, cara.— Mexo meus ombros ao som da voz de
Calebe, que por algum caralho de motivo está cantando bem perto da minha
orelha enquanto eu observo a beleza que Chloe se encontra hoje.
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Cabelo solto com uma linda presilha brilhante segundo algumas mexas, uma
maquiagem leve, revelando boa parte de suas marcas de expressão. A roupa é
bem diferente da que vi da última vez, Chloe porta calças largas e que caem
abaixo de sua cintura, acomodando-se em seu quadril de um lindo modo.
Sorrio vendo a pequena blusa de algum time de futebol antigo, e, bem, foda-
se, o número é o mesmo que está estampado em minha blusa hoje em dia.
Sua cintura fina acomoda uma espécie de cordão e eu me pergunto o motivo
de ela estar com um cordão na cintura. Qual é o intuito?
— Você já está me olhando bastante, de novo, meu bem. — Pela proximidade
em que nos encontramos eu poderia tomar seus lábios para mim e arriscar
levar uma bela porrada, e ok, eu sairia feliz só de ter chegado aos portões do
céu. — Pare de me olhar assim, Noah.
Suas bochechas ganham uma leve, a mais leve que já vi, pigmentação ao me
encarar com os lábios encarcerados entre dentes.
— Se não fosse pelo dinheiro, carros, estrelas de cinema, joias. — Calebe
começa ainda em nosso alcanço. Esse cara está querendo uma porra em um
dos olhos, não é possível. Nos dê espaço, porra! — E todas essas coisas que eu
tenho...
Olho para Chloe que parece se animar drasticamente, e, pelo incrível que
pareça isso me excita, saber que uma música qualquer pode a deixar excitada
dessa forma me deixa mais do que feliz.
— Tudo por uma música? — Pergunto em seu ouvido descendo as mãos por
sua cintura. — Olha, meu bem, conheço...
— Ah, cale essa boa e me dê ela aqui.
Abro a boca para xingar Calebe mas ele já está se afastando com Chloe
enquanto cantam animados. Pela felicidade de Chloe eu posso sorri e
balançar a cabeça procurando um lugar no bar para me sentar e observa-los
dançando. Agora, pela felicidade de Calebe por estar tocando no que não
deveria, eu o mataria, e não seria no sentido literal da palavra, eu o arrastaria
até um dos inúmeros becos que ocupam essas bandas. Ele morreria afogado
no próprio sangue por me interromper com Chloe, mas, Chloe está feliz e isso
é o importante.
Sento em uma das banquetas observando o desenrolar da dança, colados,
diga-se de passagem. Chloe fica cada vez mais linda por esse ângulo e eu
posso jurar por tudo que é sagrado que poderia passar horas vendo-a dançar
por esse ângulo, sozinha. Nunca com um abutre como Calebe ou Matheus que
achou mais do que legal se juntar a dança enquanto me encara. Ergo meu
dedo médio para ele e bebo mais um gole da minha cerveja quase quente pelo

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tempo que perdi tanto atenção àqueles cabeças de vento que se esfregam em
Chloe sem pudor.
Não penso em coisas como amor ou paixão sobre a garota, é tudo mais
sobre atração física, quero o que ela quiser dar e mais um pouco, oh, céus,
sim, quero tudo e mais um pouco daquela mulher, quero que ela me queira,
que queime ao pensar em mim, quero que me sinta tanto quando eu desejo
senti-la há semanas.
O que será que passa pela cabeça da pequena Grace quando me encara
ainda mordendo os lábios e dançando uma nova música com as costas
grudadas na barriga e no pau de Calebe? Balanço a cabeça em negação para
ela enquanto a chamo com os dedos. Dançando a primeira música conhecida
por mim, Chloe se aproxima ainda balanço os quadris e chamando atenção de
algumas pessoas sentadas ao meu lado. Por dentro meu eu de 14 anos
comemora com gritos e fogos ao saber que apenas eu tenho essa atenção, não
os que estão ao lado e sim eu, a garota mais linda da noite está entre minhas
penas seus cuzões, apenas para mim.
— Por que me fez parar a dança? — Pergunta tirando a fina camada de suor
em sua testa. Os generosos cachos que lhe caem como cascata pelas costas
agora ocupam certo lugar em seu rosto também. — Vamos, meu bem, não me
faça perder a noite entre suas pernas.
Porra, porra, eu gostaria de me perder entre suas pernas. Gostaria que ela
me mostrasse o caminho para o labirinto que é a trilha entre suas coxas e
nunca me dissesse como sair de lá. Cristo sim, sim, isso.
Seguro uma mecha de seu cabelo e sinto o cheiro de morango, esse sim é o
caminho do paraíso...ou será meu caminho mais reto para o inferno?
— Você está tão linda.— Seguro minha vontade de deitar minha cabeça em
seu pescoço e me perder em seu cheiro. — Tão, tão gostosa.
Chloe solta uma risada e rodeia meu pescoço com ambas as mãos, deixa seu
corpo quase que colado ao meu ainda sorrindo. Bom, muito bom mesmo.
— Recebo muitos elogios como esses, Walker, entretanto, fico lisonjeada por
você se dar ao trabalho de me analisar. — Jogo o foda-se para o ar e mergulho
meu rosto em seu pescoço querendo morder até sentir seu gosto na ponta da
minha língua, até decora-lo como tenho feito com seu cheiro nesse último
tempo, quero me fundir a ela, quero...céus, quero tudo e mais, muito mais do
que ela me daria. Quero coisas das quais não sei nomear, só quero que ela
entregue. — Uh, que menino ousado. — Me puxando como um cachorro pelos
cabelos Chloe solta uma risadinha e cola seu peito ao meu, que peitos
fantásticos. Todos deveriam dizer algo sobre a mais bela mágica que é tê-los
entro os lábios. — Meu bem, olhe para mim. Olhos nos meus, vamos.

88
Desvio, com muito esforço, os olhos de seus seios e sorrio para seu rosto
vermelho e suado, com fios teimosos ainda tomando conta de sua bochecha.
— Não sou fã disso aqui Noah — Ela pratica celibato ou está se guardando
para o marido? Ah, neném, nós podemos pegar o primeiro voo para Vegas
agora mesmo, assinamos nosso casamento e transamos como loucos,
ponto.— Não sou uma pessoa que curte apenas uma noite e esquece o que
houve, gosto de passar horas conversando depois, gosto do carinho, gosto de
contato, me entende? E isso que você quer é apenas fogo e gasolina, não
gosto.
Ela quer namorar? Podemos também, o importante é tê-la nua, em minha
cama e implorando por meu pau.
— Podemos até nos casar se quiser, amor. — Declaro buscando seus lábios e
recendo sua bochecha em resposta. — Chloe...
— Não, você tem noção de que pode estar sujo aí embaixo?
— Ei, ei, assim me ofende. — Massageio meu peito desejando massagear o
seu. — Se quiser exames podemos ir lá agora mesmo.
— Quer tanto assim transar comigo? — Viro minha cabeça de lado, ela está
maluca? É a mulher mais gostosa de todo o campus e tem coragem de me
perguntar isso?
— Assim me ofende também.
Chloe solta uma risadinha e beija minha bochecha.
— Consegue me provar isso?
— Mas é claro, me dê sua mão aqui.
— Noah!
— O quê? Vou só te mostrar o quão duro estou. — Ela solta uma risada mas
ainda mexe as coxas.— Quer ir para minha casa? É aqui perto.
— Não, já te disse que não vamos transar.
— É, e isso já tem semanas, já estou enlouquecendo, meu bem.
— Para mim, parece bem.
— Ok, o quer de mim?
— Mais do que pode me dar.
— Eu não sei o que é, como pode ter certeza?
— Eu vou ser a única?
Pisco várias e várias vezes ante de raciocinar suas palavras... Única? Porra,
só tenho 22 anos, como ela pode esperar mais de mim? É impossível...eu acho.

89
— Não. — Sou honesto.
— Então nada de conhecer minha amiguinha, aqui. — Ganho um selinho e
perco a oportunidade de puxá-la para um beijo descente, beijo esse que a fará
mudar de ideia. Essa ideia ridícula, que nem deveria estar em sua cabeça para
começo de conversa.
— Chloe...— Por pouco não me rastejo sobre seus pés.
“Baby, eu sei que você gosta de mim, você é minha futura esposa
Soulja Boy Diga a eles, sim
Você pode ser minha Bonnie, eu posso ser seu Clyde
Você poderia ser minha esposa, me mande uma mensagem, me ligue...
Até mesmo a música está querendo jogar na minha cara que não irei sair
daqui com a garota de coco-cítrico
— Quer dançar?
— Quero transar.
— Vamos, Noah, quer dançar comigo?
Se for em uma cama, com certeza.
— Vou ganhar um beijo? — Quem não arrisca não petisca, certo?
— Quem sabe, se for um bom garoto eu te deixo brincar um pouco. — Sorrio
grande puxando seu corpo para mais perto, agora segurando sua nuca e
puxando os cabelos da área. Escuto seu suspiro e sorrio maior. Pairo sobre
sua boca e mordisco seu lábio inferior sem delicadeza alguma, mostrando
toda minha frustração, empurrando minha ereção contra sua barriga
amostra.
— Abre para mim, Chloe.
Ela nega e abre os olhos sorrindo para mim.
Ganho mais um de seus selinhos e isso me deixa mais excitado e ao mesmo
tempo espumando de ódio pela negligência.
— Dançar.
Que rima com: transar.
Olha que incrível.

90
Entre as pernas de Kelly sinto suas mãos me rodeando e o queixo apoiado
sobre minha cabeça enquanto conversa com os amigos, eu por outro lado,
falo animadamente com Molly sobre suas aulas de corte e costura, com muita
animação me convido para servir de sua modelo para coleção de inverno, eu
amo novas coleções, amo saber de novas tendências e de estar a par de tudo
que se passa.
Kelly alisa minha cintura deixando me cair ainda mais contra seu peito, falta
trinta minutos para sermos devidamente expulsos do local e ainda assim
estamos bebendo e conversando sobre a vida como se o segurança e os
garçons não estivessem bufando para nós a cada vez que passam ao nosso
lado. Desvio meus olhos de Molly por dois segundos apenas para olhar para
Noah que tem olhos menores do que quando nos falamos, há quase três
horas. Não paramos cara conversar depois disso, dançamos, bebemos e
rimos, mas nenhuma conversa, nada como antes. Talvez eu até devesse me
sentir mal por tê-lo pressionado sobre uma resposta, resposta que me
agradasse, mas, não, não me sinto mal, não ser a única na cama, na vida ou na
companhia de alguém não é algo que está nos meus planos, na real, estar com
alguém não está nos meus planos, estar sozinha me faz bem... Por enquanto,
ao menos.
Volto meus olhos para Molly balançando os ombros em comemoração ao
que Garfield está conquistando em suas aulas. Damos um hi-five quando
marcamos de nos encontrarmos em Paris para a semana de moda. Até parece
que teremos tempo para isso, é quase uma missão impossível, mas não serei
eu a desanimar as duas crianças que habitam em nós.

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Puxo o copo de Kelly para perto de mim, bebo sem ao menos olhar do que se
trata, de qualquer forma, é doce, quente e estranho. Parece que puseram fogo,
gelo, e... Acho que bebi demais. Fecho meus olhos e recebo um afago na
barriga, olho para cima e Kelly me oferece uma garrafinha de água com um
olhar acusador, reviro os olhos mas aceito de bom grado a garrafa.
— Você sabe beber, Coco? — Dou de ombros escondendo o sorriso, balanço a
cabeça em negativa e deixo minha cabeça pesada cair sobre seu peito. —
Merda, vou te levar para casa.
Eu mereço? Realmente mereço depois de tudo que fiz?
— Não precisa, estou bem, só um pouco alta. — Kelly abre um sorriso de
canto e beija minha testa. Tendo sido criada por uma mãe que não gosta de
contato físico, é bem diferente receber mais do que dá. Kelly não necessita
receber, ele quer dar, quer mostrar que tem e que está disposto a entregar
em minhas mãos, mesmo que eu possa jogar tudo para o ar em algum
momento, ele ainda assim insiste em me tratar assim. — O que foi?
— Acho que não mereço você. — Kelly ri e me puxa, quase me pondo em seu
colo, dou dois tapas em sua mão mas ele não se desgruda, deixa nosso corpos
a merecer um do outro.
— Ou você amanhece com alguém ou vê o amanhecer em alguém. — O que
será que colocaram na bebida desse cara? — Não me olhe assim, um dia vai
entender.
— Então você me ama?
Kelly dá de ombros e afaga os meus. Pisco algumas vezes, o que diabos é
isso?
— O que é o amor?
— Cara, você bebeu demais, vamos, me leve para casa. — Solto uma risada
pegando minhas coisas.— Eu vou dirigindo.
Kelly passa os braços por meus ombros enquanto solta uma risada baixa.
Qual a graça agora?
— Os seus pensamentos depois de algumas bebidas é hilário. — Olho para
órbitas verdes intensos e arqueio minhas sobrancelhas em sua direção. — Eu
não pus álcool na boca, Chloe.
— Até parece, vamos, Kelly, me dê essas chaves aqui.
— Olhe para minha, joile, eu sou preto, já passam das duas da manhã e seu
carro é caro. — Nego balançando as mãos, pedindo por explicações lógicas. —
Acha mesmo que algum policial iria aceitar minhas explicações? Mesmo que
achassem apenas um por cento de álcool em meu sangue eles iriam me culpar

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por qualquer coisa. — Mas...— E, tudo iria piorar depois que vissem que não é
meu nome no documento do carro. — Ele ergue os braços com um sorriso
triste. — Pronto, eu sou um ladrão, praticando condução perigosa e
possivelmente sequestrando a filha de alguém depois de tê-la drogado, sabe
como é, para pedir dinheiro no dia seguinte.
Pisco diversas vezes, eu nunca tive que passar por isso, não sei como seria,
não quero ao menos imaginar como deve ser constrangedor ser acusado por
coisas que claramente não fez.
— Não fala assim — isso me deixa mal, Kelly.
— Infelizmente esse é o mundo onde vivemos, mas, não se preocupe, eu levo
o carro, vamos lá para casa, é mais perto e isso daria menos tempo atrás de
um volante com você ao meu lado resmungando. — Ergo meu dedo médio e
puxo Molly de canto.
— Estou indo para casa, ok?
— Eu te ligo amanhã, tudo bem? — Ela explica olhando para um loiro de
sorriso brilhante. Examino o homem de cima a baixo, vale a pena, muito a
pena. — Vamos?
— Você me oferecendo divisão de transa? — Ponho a mão sobre o peito e ela
dá de ombros rindo, imito seus gestos, dando um beijo em cada lado de sua
bocha, mania essa que ela me fez ter, dou alguns passos em direção a loucos,
e eu juro que não digo isso por falta da boa educação que minha mãe me deu,
longe disso.
Gabriel ri, ele ri, não é alucinação de minha cabeça, não, não é, eu estou
sóbria para isso. Meu Deus, o cara que vive me expulsando de todos os
lugares em que julga não me ter como necessidade está rindo dos monstros
S.A que dançam sobre o balcão, com uma garrafa de cerveja em cada mão,
Calebe mostra sua performance no canto erguendo a voz para que fique em
um agudo, mais do que imperfeito. Solto uma risada e puxo meu celular
apontando em direção aos quatro já que agora Noah dança com uma
garrafinha de água, ele dança como se estivesse dançando uma melodia
calma.
Matheus começa a cantar Dangerously in love. Eu posso me arrepender
disso num futuro distante, entretanto, no presente, não estou me importando
tanto. Eu amo Beyoncé.
— Amor, eu te amo — começo num tom nada baixo próximo deles.— Você é
minha vida, meus momentos mais felizes eram incompletos. Se você não
estava ao meu lado... Você é minha ligação. — Meus braços são puxados por
mãos firmes, me grudando ao peito duro que bem me acostumei, durante
essa noite.

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Não ligo para sua falta de comunicação, a música é boa, o momento melhor
ainda, não estamos aqui para tomar café e discutir sobre nossas vidas, sobre
sermos e deixarmos de ser. Deito minha cabeça em seu peito, cansada,
carente e querendo o que não se tem.
“Nunca irei embora,
Só continue me amando
Do jeito que eu te amo, me ame...

Fecho meus olhos fingindo que ao invés do tom desafinadíssimo de Matheus


estou escutando a voz da Beyoncé, três vezes melhor, quatro vezes pior, três
vezes mais desastroso. Suas mãos começam a afagar minhas costas em um
movimento contínuo, como se gostasse, não percebesse e mesmo que
tentasse seu subconsciente não o permite. Deixo que ele se aproveite de cada
segundo da nossa proximidade, cada segundo em que me deixo a merecer de
seu toque, olhar e palavras não ditas.
— Você ainda me deve um beijo. — Sussurra, sorrio e nego.
— A cada dez palavras suas, nove são conteúdos sexuais, já percebeu? — Ele
dá de ombros e eu ponho minhas mãos em seu cabelo, deixo meus dedos o
penetrar ainda com seu olhar sobre minha boca. — Não me recordo de lhe ter
como um bom menino.
Noah ri e deixa a cabeça cair de lado, nunca deixando de afagar minhas
costas.
— Sou sempre um bom menino, basta olhar por meus olhos.— Suas mãos
descem até minha bunda e eu aperto seu cabelo, o repreendendo.— Ai.
— Tire suas mãos daí.
— É tão grande. — Recebo um beijo no queixo, no pescoço e nos lábios. Abro
um sorriso e dou-lhe acesso. — Uma fatia? Bem pequena?
— Quando estiverem sóbrios — Pisco algumas vezes e Noah solta um bufo
alto — Vamos, Chloe.
— Vocês só podem me odiar, é a única explicação.
Solto um riso feliz e deslizo de volta para os braços do poste, adeus muralha.
Mando um beijo para Noah e entrego minha bolsa para Kelly, deixando-me
livre de qualquer incômodo que não seja minha roupa. Sinto a rajada de ar
gelado em minhas costas e me arrepio, no momento não sei se amo ou odeio
o frio, eu já o odiei por tanto, talvez eu pudesse aprender a ama-lo, talvez,
talvez.

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Fecho meus olhos recebendo rajadas de ventos cada vez mais geladas que a
anterior. Isso é bom, muito bom.

Quente, de fato essa é a única definição que tenho para o modo em que me
sinto. Posso até mesmo estar sentindo o suor escorrendo por minha pele,
droga, por que diabos eu deixei de ligar o ar-condicionado? Achei que tivesse
deixado toda a casa em dezoito graus.
Rolo na cama e abro os olhos rapidamente quando uma mão segura meu
quadril.
Porra.
Não
Não
Não...
Por favor Chloe, não tenha passado tanto dos limites e ido se deitar com
Walker sabendo que iria ser tratada como uma vadia logo após.
Passo rapidamente toda, ou quase toda noite em minha mente, como um
filme onde não existe pause. Não, não me lembro de beber demais, na
verdade, bebi pouco, não exagerei na bebida, bebi água também. Então essa
mão não é de Walker, não pode ser, não fizemos isso. Eu não fiz isso comigo
mesma.
— Ma joile, só para saber, você está bem? — Suspiro aliviada.
Sim, sim, sim... Espera, o que estamos fazendo juntos em uma cama?
— Por que estamos dormindo na mesma cama? — Olho para baixo vendo
uma blusa do Dallas Maverick, por que não estou com minhas calças ou
minha blusa? — E por que não estou com minhas roupas?
— Porque você tirou. — Olho para Kelly que já se encontra de pé esticando o
corpo, e que corpo. — E porque não achei seguro deixar você sozinha em seu
apartamento.
— É sério isso?

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— Sim, você foi jogando suas roupas enquanto subia as escadas, aliás como
sabia onde encontrar meu quarto? A casa não é maior do bairro mas ainda
assim é grande o suficiente.
— Eu não sei, Kelly, eu nem sei como tirei minhas roupas, não sei quando
concordei em dormi com você e...
— Linda, você nem mesmo me perguntou se poderia dormir aqui, só se jogou
de calcinha na minha cama e me mandou ir à merda por te acordar para pôr
uma blusa. — Ele dá de ombros e ri da minha careta. — Vem, vamos comer
alguma coisa.
Nego e volto a me jogar em seus travesseiros, preciso elogiar, eles são de
primeira linha, algodão, com toda certeza. Abraço seus travesseiros que
carregam meu cheiro e o dele em um emaranhado e finjo não me importa
quando ele começa a puxar meus pés para fora da cama.
— Não quero sair daqui, Kelly, ainda são seis da manhã.
— Não, já são oito, vamos, levante, temos que comer. — Ignorando suas
palavras continuo de olhos fechados, sono, sono esse que quase nunca ponho
em regularidade. — Ok — Abro meus olhos pronta para comemorar minha
vitória sobre ele.
Arquejo quando meu estômago entra em contato com o seu ombro sem a
menor das piedade. Merda. Qual a desse cara?!
— O que é isso?! Kelly! — Grito chamando sua atenção mas só recebo risos e
mais risos de sua parte, porra. — Me solta.
— Não grite, linda, os outros ainda devem estar dormindo.
Mas que homem hipócrita!
Eu deveria estar dormindo, eu deveria estar em casa, eu não deveria estar
aqui para início de conversa.
Não estou querendo ser ignorante aos cuidados de Kelly sobre mim,
entretanto, ainda somos estranhos, estranhos que estão doidos para saberem
mais e mais sobre o que escondem sob suas máscaras, é normal, estudamos a
mente humana, somos curiosos por escolha, porém, minha escolha de desejar
sentar e descobrir camada por camada de Kelly não parece ser natural, longe
disso, a necessidade avassaladora de querer que ele sente comigo e conte
sobre seus medos, segredos, sonhos, coisas que não diz a mais ninguém.
Sento sobre o balcão e pisco forte ao perceber que o poste que se movimenta
pela cozinha parece ter a estranha obsessão por me ter como confidente
também.
Essa é a parte em que me sinto assustada e corro o mais rápido possível
para os braços da minha família e aguento firme toda a dor que ainda tenho
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guardada sobre aquele lugar, mesmo tendo mudado tantas coisas, casas,
bairros e amizades, é como se ele ainda pudesse estar ao meu lado... Cristo,
como eu gostaria que isso...
— O que prefere: leite com ovos e bacon ou suco com ovos e bacon?
Ele me tirou da cama para dizer que não sabe cozinhar nada além de ovos e
bacon?
— Quero panqueca com caramelo, frutas e torradas com geleia. — Paul ergue
suas sobrancelhas grassas e rir apontado a espátula em minha direção.
— Gata, não tinha essas opções aí no menu. — Sorrio para sua voz arrastada
pelas pronúncias em francês.
— Posso fazer, só preciso dos ingredientes.
— Você sabe cozinhar? Sabe, não quero ligar para seus pais, que ainda nem
tive o prazer de conhecer, para dizer que a filha deles morreu, e por pouco
não me matou, enquanto tentava fazer comida. — Dou um leve tapa em seu
peito e procuro por ingredientes. — Certo, tem uma mulher na cozinha, hora
de sair.
— Nada disso, — aponto minha colher de pau em sua direção, olho para a
porta da geladeira que contém uma enorme lista de alimentos de uma
alimentação regrada e balanceada, uau, eu não respeitaria isso nem que
minha vida dependesse.— É sua?
— De todos nós. — Responde depois de avaliar e coçar a nuca. — Do que
precisa?
— Frutas, ovos, pão, farinha, açúcar, fermento, manteiga, leite e...acho que só
isso. — Dou de ombros observando os ingredientes da massa de panqueca
ser posto sobre o balcão de mármore branco.— Você só tem isso de frutas? —
Olho para as pequenas bananas e o cacho de uva triste. Como alguém com um
físico desse pode comer essas coisas?
— O que foi? Elas devem estar há um tempo aí.— Nego-me a comer qualquer
uma dessas frutas tristes. — Ah, vamos lá, coco, elas nem estão tão feias
assim, parecem... Eu não vou me arriscar a dizer que parecem gostosas
quando parecem ter saído de um filme de terror.
Aceno comprimindo os lábios.
— Vá ao mercado. — Quase ordeno contando a mexer em minha massa. Ele
não disse ser meu amigo, amigos correm até o mercado quando os amigos
pedem. — Preciso de pão e frutas, e você não tem nem mesmo café, como
podem sobreviver aqui?

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— Ok, chefe, vou comprar frutas frescas para você — Sorrio vitoriosa. — Que
tipo de pão você quer?
— Pão para torradas, sabe, aquele quadrado que colocamos dentro de uma
torradeira e...
— Eu já volto.
Solto uma risada e começo a fazer panquecas. Eu não estou com raiva, eu
deveria estar. Na verdade, não, não deveria procurar motivos para me deixar
chateada, na verdade deveria agradecer por não estar nem um pouco mal
humorada por ter sido despertada às oito da manhã com a desculpa de que
precisa me alimentar.
Lembrete mental: nunca mais xingar Emily por me acordar às dez da manhã
para passar horas assistindo algum filme idiota.
Sorrio ao me lembrar dela e por pouco não abandono tudo na cozinha e
corro até o quarto onde sei que minha bolsa estaria junto de meu telefone.
Sinto saudades da carência de Emily, carência essa que está sendo muito bem
preenchida por cinco intrusos que não me dão ao menos tempo para pensar
sobre o que faço, ou como faço, ou o modo em que penso sobre essas atitudes.
É bem menos cansativo, isso eu tenho que admitir.
Não ficar duas, até mesmo três, horas pensando sobre o modo em que agi
com alguém é bom. Muito bom. Não parei muitas vezes para pensar se
minhas atitudes tinham atingindo de modo negativo outras vezes, às vezes eu
posso me sentir atacada, e ninguém irá pensar sobre como me deixou ou
coisa parecida.
Estar sendo preenchida por ignorantes, sensuais, cantores, bobões e amigos
e do jeito que estou sendo tratada está mesmo fechado a rachadura que ainda
luta para me dilacerar por completo. Cacete, ainda dói pensar sobre o Canadá,
porém, o jeito em que Kelly fantasia sobre minha terra me faz querer voltar
quase que imediatamente.
Como uma das panquecas já prontas e me movimento pela cozinha sem dar
a menor bola para a casa não ser minha. Eles invadiram meu espaço, agora é
minha vez de fazer, uma vingança por não me dar o benefício da dúvida, não
em voz alta.
Balanço a bunda em uma cabeça imaginaria enquanto procuro o que têm
em sua geladeira.
Ovos, bacon, salsinha, verduras, legumes, água, suco industrializado, queijos
diversificados, leite.
Esperava por mais besteiras do que realmente encontrei. Pego um
saquinho de minis cenouras e limpo a cozinha comendo uma por uma, como

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não gostar dessas pequenas gostosuras? Elas, além de linda, são melhores do
que a em tamanho “real”. A quantidade de energéticos que eles
contrabandeiam em sua geladeira é surreal. Como um ser humano que sabe
de todos os riscos que bebidas como essa podem causar no funcionamento de
seu corpo pode aceitar que seus amigos beba? Reviro os olhos pegando o
galão de suco de laranja.
Esse suco é péssimo, contém gosto de plástico, não um plástico apetitoso, é
realmente plástico, bem ruim. Deveriam comprar uma máquina de espremer
frutas e legumes. Assim podem tomar todos os sucos sem noção que essa lista
manda. Ainda bem que nunca tive corpo de atleta, ser magra e malhar
algumas vezes por semana me deixa muito longe dessa classificação, e
também nunca tive muito vontade de me tornar uma. A não ser fazer parte do
grupo das líderes de torcida, eu precisava ser a capitã, apenas para jogar na
cara da vadia da Geni, eu era, e ainda sou a melhor em tudo que ela tenta
copiar de mim.
— Aqui. — Kelly anuncia assim que retorna, o corpo molhado explica alguma
coisa sobre a demora para chegar de um mercado que deveria ser a cinco
minutos em um veículo. — Feche os olhos.
Ergo a sobrancelha mas faço o que me é pedido.
Se olhos fechados estico minhas mãos e sinto algo pesado sendo depositado
sobre elas. Seguro o sorriso que teima em ser descoberto, não deveria estar
gostando tanto desses momentos com ele.
— Abra. — Obedeço, o que deu em mim? — E aí, gostou?
Oh meu Deus!
Sim, sim, sim, sim, sim.
— Cara, eu posso te jurar amor agora mesmo. — Kelly solta uma risada e abre
os braços, como um canguru vou até ele sorrindo, balançando o enorme pote
de Nutella. Céus, eu amo chocolate com avelã, a melhor mistura que o ser
humano poderia ter inventado. — Obrigada, Moana.— Digo em um quase
sussurro voltando a admirar o pote de ouro.— Como sabia que eu gostava?
— Espere, espere, espere aí! — Ele me afasta de seu corpo com o rosto
totalmente franzido. — Acabou de me chamar de Moana?!
— Não, eu acabei de te perguntar como soube que eu gostava...
— Chloe!
— Sim, sim, eu te chamei de Moana, e digo mais, combinou bastante,
guerreiro. — Leio a grande tatuagem em seu peito e sorrio: sacrifício.
Realmente, todos precisamos fazer alguns ao longo dos anos. — Ok, chega de
amor e afeto, vamos comer já que me acordou para isso.
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— Do que precisa?
— As panquecas estão prontas, preciso que você faça o suco, eu faço as
torradas, você trouxe geleia?
— De mel, algum problema?
— Não, eu gosto.
Calando o mundo externo novamente voltamos a fazer nossa atividades
em conjunto, dançado pela cozinha atrás do que se é preciso, trabalhado com
maestria, Kelly se sente orgulhoso da enorme bagunça que fez e me mostra
enorme jarra de suco de laranja e toranja e alguma outra coisa que ele não
quis me mostrar, aplaudo todo seu esforço e mostro meu prato com lindas
torradas com bordas mais queimadas, do jeito certo, ao meu ver, é claro.
Enquanto ponho uma frigideira sobre o fogo Kelly põe uma música em seu
celular e dança junto comigo, se é que mexer a bunda e cabeça sejam julgadas
como danças, e não faz mal se não for, é bom estar dançando com um homem
de quase dois metros de alturas que faz ruídos baixos logo atrás de mim,
mexendo o corpo e segurando o meu bem perto para fazer os mesmos
momentos. Solto risada sem perder meus ovos de vista.
Já com o fogo desligado, Kelly me faz ir até o chão segurando meu quadril
para si. Jogo minha cabeça para trás e rebolo sem o menor pudor ou
vergonha. Cacete, há quanto tempo eu não me sentia tão leve quanto agora?
Dando dois passos para o lado faço careta cantando em meio a sussurros,
soltamos gritos agudos (além de mudos) imitamos todas as caretas que Card
b seria capaz de fazer se estivesse em um palco.
A batida muda, mas a alegria desse homem não acaba, agora dançamos
colados, como em um dos filmes da Disney, como ele mesmo disse, não me
oponho, quero mais dessa leveza antes de voltar para a faculdade, desligamos
sobre toda a cozinha, não ligamos para a comida que esfria sobre o balcão,
não ligamos se a casa tem câmeras, não estamos nem aí se algum vizinho
pode passar a qualquer momento e nos ver pela parede com alguns vidros do
chão ao teto, foda-se tudo que não for Kelly e eu no meio da cozinha, rindo,
sorrindo e guardando cada segundo.
Beijo sua bochecha quando a música acaba, entretanto, não me atrevo a
desgrudar de seu corpo, ainda não estou pronta.
— Obrigada por isso.
Ele faz uma reverência exagerada e beija minha mão.
— Eu quem tenho que agradecer por ceder seu tempo a mim.— Sem graça,
empurro seu peito para longe de mim.

100
Arrumo o balcão como um jantar para dois e faço Kelly sentar ao meu lado
com olhos brilhantes sobre a comida. Rio de sua animação e começo a comer
sem a menor cerimônia. E, com certeza, é nesse momento que eu agradeço a
Vivian sobre todos os dotes de culinária que me deu, não só ela como o
YouTube também, aquele site nunca errou, e Emily que não tenha acesso aos
meus pensamentos.
— Isso aqui é bom. — Ponho a mão sobre o peito, gradecida. Bebo um gole
de seu suco e sorrio para ele também.
— Olhe só, você também tem seus dotes culinários. — Kelly enrola seu
bigode, bigode esse invisível, coitado ele não tem alguns neurônios, como se
fosse um chefe refinado. — E eu amei a geleia que comprou.
— Não vou ser modesto, eu comprei, eu levo os créditos. — Bato minha mãos
na sua quando ele ergue.
A conversa rasa sobre o que vamos fazer com o resto do fim de semana
continua sem problema algum, mas é com Kelly que estou conversando,
ambos estudamos para nós tornar psicólogos, ele pode parar em uma parte
da anatomia humana mas eu continuo, e todo esse movimento contínuo com
os dedos e os lábios, pode sim dar indícios de que está nervoso sobre alguma
coisa, e querendo ou não, sei que esse nervosismo vai ser jogado sobre mim.
— Diga.
O homem suspira aliviado e deixa o garfo sobre o prato quase limpo.
— Por que não gosta de falar sobre sua vida antes do Texas?
— Como sabe que tive uma vida fora daqui?
— Ah, vamos lá, coco, não sou idiota, você tem vinte e dois anos, vive bem
para caralho, foi miss Dior, garota Vogue e ainda faz publicações sobre
algumas lojas e marcas que eu nem sabia da existência, ninguém sem uma
vida antes tem esse poder aí.
Solto uma risada e limpo meus lábios com sua fala. O cara não é tão idiota,
gosto disso.
— Fui miss Dior duas vezes consecutivas, sou, não era, garota Vogue, e faço
citações de marcas em minhas redes sociais porque além de dar dinheiro,
bastante por enquanto, é algo legal. — Dou de ombros mexendo em minhas
uvas pela metade. — Ganhei bastante visibilidade por minhas postagens
quando completei 16 anos, investi mais nisso, fiz desfiles por muito tempo,
com 18 eu já não dependia de nada vindo dos meus pais, mas é claro que não
deixava de aceitar, tenho uma bela imagem para as pessoas da internet.
— E fora da internet?

101
— O que acha de mim?
— Gata. — Seu tom brincalhão se garante uma uva entre os olhos. — Ok, ok,
gosto de conversar com você, não é rasa, gosta de conversar, nem sempre
aceita meus tópicos se estivermos entre muitas pessoas mas conversa de
adulto pra adulto, e, é claro, acho peculiar seu amor por crianças.
— No Canadá, alguns podem concordar com você, outros podem me fantasiar
como uma verdadeira bruxa, o conto é tão bom que você pode até concordar
com tudo e mais um pouco. — Suspiro exausta, assim que me sinto só de
pensar neles.
— O que você fez? Matou alguém, namorou o filho do deputado, ameaçou de
morte o juiz da suprema corte? O que tentou fazer, hum?
— Namorei um belo rapaz, que me amava do mesmo modo que amo o verão,
me venerava como um crente fanático, me tinha em seu centro. — Observo
que Kelly volta a comer com interesse na história, mas é cedo, cedo demais
para dizer os detalhes. — Nos amamos como dois loucos, necessitados
daquele amor, daquela paz, necessitados um do outro, como se não
conseguíssemos mais respirar sem a presença um do outro. Foi insano. Um
amor insensato.
A cabeça se Kelly balança como uma bola de basquete enquanto eu continuo
alisando a bainha da minha blusa.
— Amar de mais faz um mal muito grande, nós dois sabemos disso, bom, eu
descobrir isso da pior forma. — E o que poderia fazer? Partilhar o amor em
frações e ir distribuindo? — Nos conhecemos em um verão na casa de praia
dos meus pais, foi amor a segunda vista, ele dizia que me amou a primeira
vista, boiando, longe da costa. — Sorrio ao me lembrar de seu desespero ao
pensar em mim como um cadáver. — Foi incrível, Kelly, eu juro, amei cada
partícula do ser daquele cara, amei até não conseguir mais.
Kelly para de mastigar e quase me segura pelos ombros quando paro de
contar.
— E o que mais aconteceu? Hum, ele te maltratou? Sumiu?! Olha bem Chloe,
posso ir dar uma lição nesse cara se quiser, eu realmente faria isso. — E é isso
que mais me assusta nessa amizade, esse querer pertencer, esse sentir que
realmente pertence, eu já senti isso antes e isso me levou para bem longe de
onde deveria estar.
— Não vai ser preciso. — Meus olhos se embaçam por lágrimas não
derramadas e...porra, isso é meio constrangedor. — Ainda amo ele, Kelly,
cada fibra do meu ser ainda ama ele.
— Então onde ele está? — Dou de ombros, espero que Jordan esteja bem, não
gosto muito de pensar nisso, me causa dor, mas às vezes é tão necessário.
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— Eles estão bem.
A confusão é formada em suas feições e isso me faz rir, rir e esquecer do que
estava prestes a dizer.
— E chega disso, sim?
— Não...
— Bom dia, pessoal. — A voz de Noah entorpece meu sistema e fico em alerta
instantâneo. — Oh, olhem só, temos café da manhã de verdade aqui.
Abro um sorriso para ele e bebo mais do suco de Kelly.
Sem a menor desculpa, apenas me levado e ando em direção as escadas,
preciso pôr minhas calças e minha blusa, além de que, é dia de desfile para
Emily, eu preciso ir, quer dizer, eu vou estar em uma tela de computador, mas
nem por isso vou estar feia ou qualquer coisa do tipo. Conto os passos até a
escada, como tenho mania de fazer com todo novo ambiente, estranho? Sim,
mas eu posso ficar cega um dia, presido aprender a reconhecer espaços.
— Belas pernas, Cooper! — Walker canta e eu sorrio de lado.
— Deram muito trabalho para moldar, obrigada por notar. — Noah lambe os
lábios e bebe do mesmo copo que eu bebia há segundos atrás. Nego com a
cabeça e ele ergue o copo. Kelly nos observa com olhar de falcão, sorrio de
forma passiva para ele mas Kelly não se convence nem um pouco.
Cristo, arrumei o irmão que nunca tive?
Eu posso gostar disso.

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