Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

VINÍCIUS GANDOLFI DE MORAIS

PERGUNTA I:
MODERNIDADE TÉCNICA

CURITIBA
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
DATA: Novembro de 2021
NOME: Vinícius Gandolfi de Morais
DISCIPLINA: História Contemporânea IV
TURMA: HH208-A
DOCENTE: Priscila Piazentini Vieira

PERGUNTA I

"Na verdade, a maioria das pessoas acredita que a tecnologia é uma


amiga leal. Há duas razões para isso. Primeiro, a tecnologia é uma amiga.
Torna a vida mais fácil, mais limpa e mais longa. Pode alguém pedir mais de
um amigo? Segundo, por causa de seu relacionamento longo, íntimo e
inevitável com a cultura, a tecnologia não convida a um exame rigoroso de
suas próprias consequências. ~ o tipo de amigo que 'pede confiança e
obediência, que a maioria das pessoas está inclinada a dar porque suas
dádivas são verdadeiramente generosas. Mas, é claro, há o lado nebuloso
desse amigo. Suas dádivas têm um pesado custo. Exposto nos termos mais
dramáticos, pode-se fazer a acusação de que o crescimento descontrolado da
tecnologia destrói as fontes vitais de nossa humanidade. Cria uma cultura sem
uma base moral. Mina certos processos mentais e relações sociais que tornam
a vida humana digna de ser vivida. Em suma, a tecnologia tanto é amiga como
inimiga".

POSTMAN, Neil. Tecnopólio. A rendição da cultura à tecnologia. São Paulo: Nobel,


1994, p. 12.

Partindo da discussão do trecho acima, quais foram as relações


estabelecidas com a tecnologia entre os séculos XIX e XX? E quais são as
relações que você estabelece com a tecnologia na atualidade? Dê exemplos e
comente.

Entre o final do século XIX e o início do século XX, a humanidade presenciou


grandes avanços tecnológicos graças às revoluções industriais que haviam ocorrido.
Esses inúmeros inventos, que vieram a aperfeiçoar desde em larga escala as
máquinas manufatureiras das grandes fábricas até em menor escala, no âmbito
doméstico, em utensílios diversos compartilhados dentro da estrutura familiar,
colocou a sociedade sob uma nova perspectiva de se enxergar e viver a vida
contemporânea. Era a chegada da modernidade técnica e da reprodutibilidade, com
impactos sociais que persistem até os dias de hoje.

A partir daquele momento a mecanização assume o controle, principalmente


na esfera trabalhista, com o operariado tendo pouco tempo de se adaptar às novas
tecnologias. Essa nova ótica acaba por gerar uma mudança radical no ambiente
material e psíquico do mundo ocidental, ressoando diretamente na vida dos
trabalhadores. Também acaba por gerar visões distintas daquelas experenciadas
anteriormente, onde riqueza passa a significar valor monetário e não mais a
aquisição de terras produtivas, além de noções de um mercado autorregulado.

Um dos maiores exemplos de indústria que se beneficiou dessas mudanças


foi a de tecidos, que prosperou graças ao surgimento das formas modernas de
capitalismo tecnocrata, ritmos da máquina e implantação do tear mecânico, que
eliminava os operários especializados. Outra indústria que saiu ganhando foi a dos
meios de comunicação, graças à alta quantidade de inventos significativos como o
telefone, o cinema, o telégrafo e a prensa rotativa à energia.

No entanto, os efeitos sociais propiciados por toda essa modernidade técnica


logo atraíram críticas diversas de vários estudiosos. Principalmente pautados no
lema de que as pessoas já não eram mais vistas como cidadãos (aos olhos civis) ou
filhos de Deus (aos olhos religiosos), mas sim como consumidores do mercado,
essas vozes dissonantes foram um ponto vital para o início de questionamentos e
debates filosóficos acerca de questões de até onde a tecnologia estava indo e como
se lidar com seu progresso. O Movimento Luddita, ocorrido entre 1811 e 1816, é um
exemplo de reação direta desse questionamento, visto que pregavam uma oposição,
mesmo que ingênua, contra a tecnologia.

No entanto, a flexibilidade da tecnologia em permitir principalmente amplitude


cultural e científica ao restante da sociedade foi uma das características que permitiu
que ela continuasse se acentuando com o passar do tempo. No âmbito educacional,
a alta quantidade de materiais didáticos sendo produzidos favoreceu maiores índices
de alfabetização, e consequentemente uma população mais crítica, principalmente
em relação à liberdades políticas e religiosas.

No mundo atual, totalmente sedimentado e dependente da tecnologia, o


debate persiste: ao mesmo tempo que há uma sociedade mais informatizada e
democrática graças aos avanços tecnológicos, ela também recebe duras críticas
pelo fato dos indivíduos serem vistos como meros objetos à favor do consumismo
desenfreado. Situações precárias de trabalho por conta da “uberização” de
aplicativos que facilitam praticamente todos os aspectos da vida cotidiana tais como
alimentação e transporte, assim como aqueles voltados para relacionamentos
românticos que funcionam como um “cardápio humano”; eles terminam por minar a
liberdade humana de se lidar com questões inerentes à vida e gerando
repercussões a longo prazo, que se não tratadas de imediato, podem alterar a face
humana de modo definitivo.

Você também pode gostar