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AGENDA ESTRATÉGICA 2024-2026 DO IPEA

Trabalhando por um Desenvolvimento Inclusivo,


Sustentável e Democraticamente Construído
AGENDA ESTRATÉGICA 2024-2026 DO IPEA
Trabalhando por um Desenvolvimento Inclusivo,
Sustentável e Democraticamente Construído
Governo Federal

Presidência da República
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Ministério do Planejamento e Orçamento


Ministra Simone Nassar Tebet

Fundação pública vinculada ao Ministério do Planejamento


e Orçamento, o Ipea fornece suporte técnico e institucional
às ações governamentais – possibilitando a formulação de
inúmeras políticas públicas e programas de desenvolvimento
brasileiros – e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e
estudos realizados por seus técnicos.

Presidenta
Luciana Mendes Santos Servo
Diretor de Desenvolvimento Institucional
Fernando Gaiger Silveira
Diretora de Estudos e Políticas do Estado,
das Instituições e da Democracia
Luseni Maria Cordeiro de Aquino
Diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas
Cláudio Roberto Amitrano
Diretor de Estudos e Políticas Regionais,
Urbanas e Ambientais
Aristides Monteiro Neto
Diretora de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação,
Regulação e Infraestrutura
Fernanda De Negri
Diretor de Estudos e Políticas Sociais
Carlos Henrique Leite Corseuil
Diretor de Estudos Internacionais
Fábio Véras Soares
Chefe de Gabinete
Alexandre dos Santos Cunha
Coordenador-Geral de Imprensa e Comunicação Social
Antonio Lassance

Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria
URL: http://www.ipea.gov.br
AGENDA ESTRATÉGICA 2024-2026 DO IPEA
Trabalhando por um Desenvolvimento Inclusivo,
Sustentável e Democraticamente Construído

Brasília, 2023
© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – ipea 2023

EQUIPE TÉCNICA

José Eduardo Malta de Sá Brandão


Coordenador-Geral da Diretoria de Estudos Internacionais

Marinésia Lemos Souto


Coordenadora-Geral da Diretoria de Desenvolvimento Institucional

Mônica Mora Y Araujo de Couto e Silva Pessoa


Coordenadora-Geral da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas

Natália Massaco Koga


Coordenadora-Geral da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia

Pedro Carvalho de Miranda


Coordenador-Geral da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura

Rafael Guerreiro Osorio


Coordenador-Geral da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais

Vanessa Gapriotti Nadalin


Coordenadora-Geral da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais Urbanas e Ambientais

Helder Rogério Sant’Ana Ferreira


Coordenador-Geral de Planejamento Estratégico e Articulação Institucional

Lucas Ferreira Mation


Coordenador-Geral de Ciência de Dados e Tecnologia da Informação

Paulo Augusto Moda Lari


Coordenador-Geral Adjunto de Ciência de Dados e Tecnologia da Informação

Juliana da Paz Stabile


Procuradora-Chefe junto ao Ipea

Flavio Lyrio Carneiro


Coordenador de Planejamento e Análise de Políticas Públicas

As publicações do Ipea estão disponíveis para download gratuito nos formatos PDF (todas)
e EPUB (livros e periódicos). Acesse: http://www.ipea.gov.br/portal/publicacoes

As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não
exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou do
Ministério do Planejamento e Orçamento.

É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções
para fins comerciais são proibidas.

DOI: http://dx.doi.org/10.38116/agendaestrategica2024-2026
SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO........................................................................................................................................ 6

2 O IPEA NA ASSESSORIA AO PLANEJAMENTO DE MÉDIO E LONGO PRAZO................................................. 8

3 O IPEA NO MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS...................................................... 9

4 O IPEA E SUA INSERÇÃO INTERNACIONAL............................................................................................... 11

5 O IPEA E A PESQUISA ESTRATÉGICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS:


EIXOS PRIORITÁRIOS DE ESTUDOS E PESQUISAS...................................................................................... 13

6 AGENDAS ESTRATÉGICAS DAS DIRETORIAS DE ESTUDOS E PESQUISAS................................................... 19


1 APRESENTAÇÃO

Em 2024 o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) completará 60 anos. O


Instituto tem em sua história a marca da construção e colaboração para o desenvol-
vimento nacional. O apoio ao planejamento de médio e longo prazo e às atividades
de elaboração, monitoramento e avaliação de políticas, assim como a realização de
estudos e pesquisas voltados para políticas públicas e como suporte a planos e pro-
gramas dedicados à solução de grandes problemas nacionais, fazem parte de nossa
atuação mais proeminente.

Nossa missão é aprimorar as políticas públicas essenciais ao desenvolvimento


brasileiro por meio da produção e disseminação de conhecimentos e da assessoria
ao Estado nas suas decisões estratégicas. O Ipea se dedica, portanto, a ser uma
instituição de Estado que influencia, de maneira decisiva, as políticas públicas essen-
ciais ao desenvolvimento.

Essas diretrizes orientaram a construção de uma nova agenda estratégica, ins-


crita no programa Planejamento e Orçamento para o Desenvolvimento Sustentável
e Inclusivo, do Ministério do Planejamento e Orçamento, órgão ao qual o Ipea está
vinculado. O objetivo específico do Ipea no Plano Plurianual (PPA) 2024-2027 é:

Assessorar o Estado, produzir e disseminar conhecimento de modo acessível, em apoio


às políticas públicas, inclusive àquelas que reduzam as desigualdades, especialmente
de gênero e raça.

O diferencial desse objetivo é sinalizar o compromisso do Ipea com a redução


das desigualdades e discriminações. Dessa forma, o Instituto se compromete in-
tegralmente com os quatro objetivos da República Federativa do Brasil expressos
desde a constituinte em 1988.

“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regio-


nais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação”.

Com esse objetivo específico, foram estabelecidas as entregas do Ipea no âm-


bito do PPA 2024-2027. Essas entregas buscam traduzir os produtos das principais
ações do Ipea e marcar seu compromisso com a redução das desigualdades.
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 7
A primeira entrega é Diagnósticos, estudos e pesquisas sobre a realidade e as
políticas públicas brasileiras, que marca nosso papel como instituto de pesquisa apli-
cada em políticas públicas. O indicador para essa entrega demarca a importância
de disseminarmos nossos trabalhos, conforme o número de publicações baseadas
em diagnósticos, estudos e pesquisas. O Ipea se comprometeu a produzir mais de
quinhentas publicações a cada ano.

Essas publicações envolvem dois níveis de construção da agenda estratégica:

• três eixos temáticos, que irão orientar matricialmente a discussão ampla da insti-
tuição: inclusão, sustentabilidade e fortalecimento do Estado e da democracia; e
• a agenda de projetos prioritários elaborada por cada diretoria finalística, que deve-
rá traduzir os eixos conforme linhas de pesquisa específicas.
A segunda entrega demarca a assessoria à União, principalmente ao gover-
no federal, mas também aos poderes Legislativo e Judiciário. O indicador bus-
cou compreender os relatórios e demais produtos de pesquisas, mas também as
contribuições para documentos produzidos pelo Estado e os produtos desen-
volvidos pelo Ipea em atividades de assessoria: número de documentos externos
(revistos) e internos (produzidos) entregues a parceiros da União. Isso deman-
dará um grande esforço da casa para registrar cada uma dessas contribuições.
O compromisso é alcançar mais de quarenta documentos entregues anualmente.

A última entrega simboliza o compromisso do Ipea com a agenda de redução


das desigualdades: disponibilização de nova versão do portal Retrato das Desigual-
dades de Gênero e Raça.

Em paralelo a essas ações, o Ipea vem ao longo de sua história desempenhando


atividades de monitoramento e avaliação de políticas públicas, com vistas a contri-
buir para seu aprimoramento. Ao mesmo tempo, tem trabalhado para ampliar sua
inserção internacional.

A agenda estratégica do Ipea para o período 2024-2026 tem por ideia-força o


desenvolvimento inclusivo, sustentável e democraticamente construído. Os três ei-
xos dessa ideia-força são as referências para a construção da pauta prioritária de
pesquisa do Instituto.

As próximas seções descrevem em detalhe os pontos-chave da Agenda Estra-


tégica 2024-2026 no planejamento de médio e longo prazo; no monitoramento e ava-
liação de políticas públicas; na agenda estratégica de pesquisa para 2024-2026; e na
inserção internacional da instituição.
8 Relatório Institucional

PONTOS-CHAVE DA AGENDA ESTRATÉGICA 2024-2026


O Ipea tem por atribuições a assessoria; o apoio ao planejamento de médio e longo
prazo e à construção de planos e programas nacionais; a realização de estudos e
pesquisas sobre os principais problemas nacionais; e o monitoramento e avaliação
de políticas públicas.

O Ipea tem contribuição efetiva e central para:

1) a construção e revisão do PPA;


2) a maior efetividade das políticas públicas, por meio de monitoramento e avaliação;
3) o conhecimento da realidade brasileira, e a análise e propostas de solução para os
principais problemas nacionais; e
4) a inserção e fortalecimento da participação brasileira nos fóruns internacionais,
incluindo a Agenda 2030, a participação no Conselho dos Think Tanks do BRICS
(BRICS Think Tank Council – BTTC), o apoio ao G20 e a organização do Think20
(ou T20 Brasil), grupo de ideias do G20, durante a presidência brasileira do Fórum.
A Agenda Estratégica 2024-2026 pretende garantir uma inserção cada vez
maior do Ipea no centro de governo, com atribuições relacionadas às funções
prioritárias do Estado brasileiro e apoiada em uma carreira fortalecida, que inclua
todos os cargos de nível superior, bem como em orçamento suficiente para fazer
frente às suas atribuições e contribuições para o desenvolvimento brasileiro.

2 O IPEA NA ASSESSORIA AO PLANEJAMENTO DE MÉDIO E


LONGO PRAZO

O Ipea foi criado para pensar o médio e o longo prazos. Na atual gestão, o
Instituto foi convocado a participar desde o início do processo de elabora-
ção do Plano Plurianual 2024-2027, e se prontificou a participar das discus-
sões sobre o planejamento nacional junto ao Ministério do Planejamento e
Orçamento. Nesse processo, o Ipea contribuiu na proposta de Manual de Ela-
boração do PPA, na elaboração do texto, dos indicadores e das metas da Dimen-
são Estratégica do PPA, na construção da Dimensão Tática (participando das
oficinas setoriais e de programas, e assessorando ministérios na definição de
seus indicadores), na assessoria e pesquisa acerca do PPA Participativo e nas Oficinas
de Planejamento Territorial.

Na proposta de programa do Ministério do Planejamento e Orçamento, Plane-


jamento e orçamento para o desenvolvimento sustentável, foi incluído um objetivo
específico para o Ipea – assessorar o Estado, produzir e disseminar conhecimento
de modo acessível, em apoio às políticas públicas, inclusive àquelas que reduzam as
desigualdades, especialmente de gênero e raça –, que destaca seu papel de órgão de
assessoramento. Esse papel é reforçado com a previsão de entrega de estudos
de assessoria à União.
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 9
A partir da aprovação do Plano Plurianual, pretende-se dar continuidade à par-
ceria com a Secretaria Nacional de Planejamento do Ministério do Planejamento e
Orçamento (Seplan/MPO) nos processos de monitoramento e revisão do PPA e de
seus programas, o que poderá envolver o planejamento de longo prazo.

A parceria também envolve o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE), que acaba de iniciar a divulgação dos dados do Censo 2022, os quais se-
rão utilizados para elaboração de diagnósticos, avaliação de políticas públicas
e planejamento de longo prazo. O novo Censo mostra que o Brasil tem um de-
safio de grande envergadura. Os primeiros números divulgados confirmam, por
exemplo, a queda no crescimento populacional, em nível maior que o projetado, e
apontam: o Centro-Oeste como a região em que o número de moradores mais au-
mentou relativamente (13,7%), o Nordeste perdendo participação – mesmo com
algum crescimento (2,9%) –, e capitais já consolidadas, como o Rio de Janeiro,
perdendo população.

Em linhas gerais, o Brasil, nesta terceira década do segundo milênio, está diante
de enormes desafios: envelhecimento populacional acelerado; mudanças climáticas
críticas; cristalização do extremismo político; recrudescimento da desigualdade e da
pobreza; crescimento da dívida pública; racismo, machismo, lgbtfobia e capacitismo
estruturais; desigualdades de gênero e raça, entre outras discriminações. O Minis-
tério do Planejamento e Orçamento deve conduzir uma agenda de discussão sobre
o futuro, envolvendo a melhoria da qualidade de políticas públicas em áreas como
saúde, educação e trabalho, considerando as diferentes faixas etárias. O Ipea estará
preparado para contribuir para uma nova trajetória do país.

3 O IPEA NO MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS


PÚBLICAS

A avaliação e o monitoramento de políticas públicas são parte fundamental na busca


por uma ação mais efetiva do Estado, ao conduzir à utilização de evidências para
informar sua atuação, bem como ao diálogo com a sociedade visando priorizar deci-
sões. Monitorar e avaliar sistematicamente suas próprias ações permite ao Estado
aprender com seus acertos e erros, e assim entregar melhores políticas para o bene-
fício de uma sociedade cada vez mais vocal em suas demandas, e ainda desconfiada
de um Estado que não tem se mostrado capaz de atendê-la satisfatoriamente, em
termos de cobertura, acesso, qualidade e/ou equidade.

A institucionalização de um sistema de M&A permite que essas atividades


sejam realizadas de forma sistemática, e não apenas episódica, com base em fun-
damentos teórico-metodológicos bem assentados e critérios estruturados. Se in-
tegrados ao processo de formulação, planejamento e implementação de políticas,
o monitoramento e a avaliação proporcionam ciclos de aprendizado contínuo e
10 Relatório Institucional

aperfeiçoamento sucessivo das políticas e programas. Além disso, sua institucio-


nalização ajuda a garantir que essas atividades sejam integradas à ação do Estado
de maneira perene, evitando que fiquem completamente à mercê das oscilações
inerentes ao ciclo político.

Embora ainda relativamente incipiente, a institucionalização de um sistema de


monitoramento e avaliação de políticas tem avançado. Esse processo ganhou im-
pulso a partir de 2015, com a criação do Grupo de Trabalho Interministerial para
Acompanhamento de Gastos Públicos do Governo Federal (GTAG) que ao longo do
tempo evoluiu para a implementação do Conselho de Monitoramento e Avaliação
de Políticas Públicas (CMAP), um conselho interministerial de centro de governo. A
institucionalização ganhou novo contorno em 2023, com a criação da Secretaria de
Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas do Ministério do Planejamento e
Orçamento (SMA/MPO). Garantiu-se assim uma estrutura mais robusta de apoio às
atividades de M&A e ao funcionamento do CMAP.

No entanto, a institucionalização do sistema de M&A no Brasil ainda tem muito


a avançar. O Ipea possui características que lhe garantem posição privilegiada para
colaborar com esse avanço, e se tornar um ponto central no sistema de monito-
ramento e avaliação no Brasil. A mais evidente delas é a excelência de seu corpo
técnico. O Instituto tem participado ativamente das avaliações conduzidas no âm-
bito do CMAP. Além disso, o Ipea participou ativamente da elaboração dos guias de
análise ex ante e ex post que constituem os principais referenciais metodológicos
para a formulação, monitoramento e avaliação de políticas públicas e programas do
governo federal.

Outra característica fundamental do Ipea é sua estabilidade institucional, di-


ferentemente de estruturas da administração direta. Essa estabilidade permite ao
Instituto funcionar como uma espécie de memória institucional do Estado brasileiro,
ao permitir que seus técnicos acompanhem a construção e evolução das políticas
públicas em sua área de especialização. Esse conhecimento de longo prazo das ca-
racterísticas institucionais das diferentes áreas de atuação do Estado é fundamental
para o monitoramento efetivo e a qualidade nas avaliações.

A institucionalização do sistema de M&A envolve também o desafio de es-


tabelecer, sistematizar, documentar e aperfeiçoar continuamente o arcabouço
teórico-metodológico que norteia as atividades de monitoramento e avaliação. A
excelência técnica do corpo funcional do Ipea permite ao Instituto almejar posição
fundamental nesse processo como órgão garantidor da estabilidade e qualidade
técnica dessas atividades.

Atualmente, a Secretaria de Monitoramento e Avaliação (MPO) capitaneia um


processo de reestruturação e expansão das atividades de monitoramento e ava-
liação em âmbito federal e do CMAP, em particular. Este órgão tem estabelecido
parceria estratégica com o Ipea nessas atividades, configurando uma oportunida-
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 11
de única para que o Instituto ocupe de forma efetiva esses espaços. Desse modo,
seriam garantidos os benefícios institucionais que podem incluir desde o reconhe-
cimento institucional com ampliação de recursos (orçamentários e de pessoal),
até o estabelecimento legal de atribuições do Instituto no âmbito das atividades
de monitoramento e avaliação de políticas públicas na esfera federal. Para isso,
contudo, um conjunto de mudanças internas precisam ser realizadas, com vistas a
garantir a atuação coordenada e estratégica nessas arenas.

A parceria com a SMA traz três implicações para a atuação do Ipea no horizonte
da nossa agenda. Em primeiro lugar, um apoio mais estruturado e efetivo às avalia-
ções dos próximos ciclos do CMAP. Para além de colaborar na execução das ava-
liações, o Instituto terá um envolvimento desde a definição dos temas e perguntas
de cada ciclo de avaliação, bem como será convidado a participar da coordenação
sempre que o tema estiver entre as expertises da casa.

Em segundo lugar, um apoio à revisão dos guias de análise ex ante e de ava-


liação ex post, que tiveram suas primeiras versões publicadas em 2018. O uso dos
guias para orientar avaliações tem sido cada vez mais difundido no âmbito do CMAP.
Entendemos que esse mesmo material pode contribuir para minimizar o problema re-
latado acima de falta de harmonização em avaliações feitas por diferentes órgãos.

Ainda no contexto dessa parceria, há um esforço em curso capitaneado pela


SMA e apoiado pelo Ipea de mapear, nos diversos órgãos que gerenciam progra-
mas do governo federal, as áreas dedicadas a monitoramento e avaliação. Esse
esforço combinado poderia eventualmente evoluir para um mapeamento de pro-
gramas já avaliados.

O Ipea produzirá ainda um mapeamento de seu trabalho de avaliação, tanto para


identificar as avaliações em curso como para levantar as competências do quadro do
Ipea para diferentes tipos de avaliações já realizadas. O mapa incluirá as publicações
recentes do Ipea sobre o tema e avançará no apoio da rede federal de avaliação, ten-
do a instituição como parte integrante de sua coordenação. Pretende-se contemplar
também um mapeamento das competências do quadro do Ipea para diferentes tipos
de avaliação.

4 O IPEA E SUA INSERÇÃO INTERNACIONAL

O Ipea tem como atribuições a representação do Brasil nas atividades e reuniões pe-
riódicas do Conselho dos Think Tanks dos BRICS (BRICS Think Tank Council – BTTC),
bem como a coordenação da delegação brasileira no Fórum Acadêmico dos BRICS,
cujos temas a serem tratados são definidos e comunicados pela presidência rotativa
deste agrupamento de países aos membros do BTTC no início de cada presidência.
O Ipea também foi recentemente indicado pelo Ministério da Fazenda para represen-
tar o Brasil na rede dos think tanks de finanças dos BRICS.
12 Relatório Institucional

A partir da assunção do Brasil (em 1º de dezembro de 2023) à presidência rotativa


do Grupo dos 20 (G20), grupo de dezenove países mais a União Europeia, o governo
brasileiro torna-se responsável por organizar a Cúpula de Líderes e as reuniões minis-
teriais do G20 em 2024. A presidência do G20 envolve também a definição dos temas
prioritários a serem discutidos nos grupos de trabalho, forças-tarefa ou iniciativas, tan-
to da Trilha de Finanças, liderada pelos ministérios das Finanças (Fazenda, no caso
do Brasil), quanto da Trilha Sherpa, liderada pelos ministérios das Relações Exteriores,
com o envolvimento dos ministérios setoriais. Além da agenda inicial de coordenação
macroeconômica e dos desafios de estabilidade financeira do final da década de 1990,
após a tripla crise do final da primeira década deste século, o G20 passou de um en-
contro de ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais para um encontro
de chefes de governo. Ao fazê-lo, incorporou uma agenda mais ampla e dinâmica, que
aborda os desafios relacionados com a promoção e o financiamento do desenvolvi-
mento sustentável e inclusivo, com a Agenda 2030, particularmente no tema da ação
climática, assim como com questões emergentes que exigem ação coletiva e coorde-
nação em nível global.

Por sua vez, o grupo Think20, ou T20, é um dos grupos de engajamento do


G20 que tem como objetivo mais importante produzir, debater, consolidar e apresen-
tar ideias, em grande parte derivadas de pesquisas baseadas em evidências, sobre
como enfrentar os desafios atuais e emergentes que poderiam ser abordados pelo
processo do G20. O T20 reúne think tanks e institutos de pesquisa do G20, e países
convidados pela presidência rotativa. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o Centro Brasileiro de Relações
Internacionais (Cebri), think tanks brasileiros que estiveram envolvidos em proces-
sos anteriores do T20, lançaram formalmente o Comitê Organizador do T20 Brasil
em 31 de maio de 2023. Esse comitê organizador apresentou uma nota conceitual
com proposta de organização do T20 durante a presidência brasileira, seguindo os
princípios de inclusão, representatividade e eficácia, e buscando ter um impacto
mais amplo nos processos do G20. Como informado nesta nota, espera-se construir
vínculos mais fortes com outros grupos de engajamento para que os temas discu-
tidos, bem como as recomendações e opções de políticas produzidas como parte
do processo do T20 Brasil, reflitam uma compreensão abrangente das questões em
discussão, sejam amplamente divulgados e, como resultado, gozem de maior apoio
e legitimidade.

Adicionalmente, o Ipea tem realizado cooperações com o governo brasileiro


relacionadas à Agenda 2030, tendo por principal atribuição apoiar tecnicamente a
Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS) e,
neste sentido, a coordenação da elaboração do relatório nacional voluntário.

O Ipea trabalha em conjunto com o IBGE, que tem larga experiência na constru-
ção de indicadores e organiza a página nacional dos indicadores oficiais dos Objeti-
vos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Dada sua organização intersetorial, que
reúne diretorias e profissionais das diferentes áreas de conhecimento das políticas
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 13
públicas, o Ipea adquiriu ao longo de sua existência larga experiência em coordenar
e apoiar processos de elaboração de relatórios de país destinados à organismos
internacionais, o que sempre fez em diálogo com as instituições pertinentes do
governo federal.

Outra experiência recente foi a elaboração dos cinco relatórios brasileiros sobre
os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio apresentados na Organização das Na-
ções Unidas (ONU). Responsabilizou-se também pela coordenação da elaboração,
junto com a Presidência da República, do primeiro Relatório Nacional Voluntário dos
ODS, apresentado pelo Brasil ao High-Level Political Forum em 2017. Vale destacar
que, com essa iniciativa, o Brasil passou a ser um dos poucos países do mundo a
dispor de um instrumento que orienta a territorialização dos ODS, mantendo a abran-
gência e a ambição da proposta original.

Assim, com a nova Comissão Nacional prevista para esse ano, o Ipea estará
inserido novamente no assessoramento técnico, na reconstrução do processo nacio-
nal e na elaboração dos relatórios voluntários.

5 O IPEA E A PESQUISA ESTRATÉGICA APLICADA A POLÍTICAS


PÚBLICAS: EIXOS PRIORITÁRIOS DE ESTUDOS E PESQUISAS

A agenda de desenvolvimento hoje é vista como um tripé econômico, social e am-


biental. No debate corrente, reforça-se a visão da superação da pobreza e do au-
mento do consumo pelas classes menos favorecidas como um motor para o desen-
volvimento. Porém, do lado da agenda de sustentabilidade ambiental, percebe-se
que o modelo de produção baseado no consumo vem gerando o esgotamento dos
14 Relatório Institucional

recursos naturais e crises ambientais de diversas ordens, entre elas as mudanças


climáticas e os desastres naturais a elas associadas. Assim, na perspectiva am-
biental, é necessária uma mudança de modelo econômico, incluindo a redução do
processo acelerado de exploração dos recursos naturais, para um modelo baseado
na sustentabilidade de longo prazo do seu uso. Enfrenta-se, dessa forma, o desafio
de conceber um modelo de desenvolvimento baseado no crescimento do consumo de
massa com uma agenda de sustentabilidade ambiental.

Igualmente importante é contemplar a agenda da desigualdade, em suas várias


dimensões, que tem ficado em segundo plano nesse debate. O tema da inclusão
passa pela discussão sobre fome e pobreza, mas não se resume a isso, incluindo as
várias dimensões da desigualdade (gênero, raça, etnia, identidade de gênero, orien-
tação sexual, faixa etária, situação de deficiência, mercado de trabalho, condição de
consumo, segurança, garantia de direitos, origem regional ou localização no territó-
rio, entre outras), bem como a garantia dos direitos a todas as pessoas que compar-
tilham uma comunidade política.

Porém, como conciliar uma agenda de desenvolvimento econômico baseado


na industrialização, com incorporação de tecnologias que podem ser poupadoras de
mão de obra, com a redução das desigualdades em suas diversas dimensões? Como
avançar num processo de produção que considere a sustentabilidade ambiental, mas
compreenda a inserção social, econômica e cultural dos povos em seus territórios?

Em um país em desenvolvimento como o Brasil, é urgente pensar quais são as


bases e o modelo de desenvolvimento que permitiriam criar as condições para avançar
nas agendas da inclusão e da sustentabilidade. Os compromissos internacionais assu-
midos pelo país relativos aos ODS, em suas diferentes dimensões, reforçam a necessi-
dade de se promover um modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável, exigindo
mudanças profundas na forma de produzir, distribuir e consumir bens e serviços.

Nesse sentido, ao mesmo tempo que a agenda estratégica de pesquisa deve


pensar os fundamentos macroeconômicos relacionadas às finanças públicas, à
tributação, à inflação, ao câmbio e a outros elementos das políticas fiscais, mone-
tárias e da agenda microeconômica, a própria agenda de pesquisa econômica tem
que incorporar elementos da inclusão e da sustentabilidade. Assim, essa agenda
deve incorporar o fato de sermos um país de renda média, com profundas desi-
gualdades, com baixa produtividade agregada e também setorial, de economia ba-
seada na elevada participação das commodities e de balança comercial altamente
marcada pela importação de produtos de maior valor agregado.

A transição para um modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável exige


repensar também os modelos de financiamento, considerando desenhos adequa-
dos, eficientes e robustos. Nesse âmbito, assumem caráter prioritário na Agen-
da Estratégica 2024-2026 do Ipea as discussões voltadas a estimar o montante
de investimentos necessários para financiar um modelo social e ecologicamente
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 15
justo e includente. Complementarmente, torna-se central propor instrumentos que
permitam mobilizar recursos de diversas fontes, mesclando-se as domésticas e as
externas, destinados a projetos de investimento em infraestrutura e inovação para
uma economia sustentável e inclusiva.

Os bancos multilaterais e os bancos de desenvolvimento nacionais terão um


papel fundamental neste processo, ao facilitarem investimentos de mais longo pra-
zo e retorno menos certo, permitindo a alavancagem complementar de recursos no
setor privado, bem como a ampliação do acesso ao crédito, aos fundos verdes, ao
mercado de carbono e aos green bonds. Assim, o debate em torno da reforma da
arquitetura financeira internacional, de modo a refletir de modo mais adequado as
mudanças globais e apoiar os países em desenvolvimento, também ganha relevân-
cia na Agenda do Ipea.

A esses elementos são adicionados os desafios de pensar um país cuja demo-


cracia em construção foi estruturalmente questionada pelo poder obtido por grupos
de extrema direita, que colocaram em xeque vários dos avanços obtidos no campo
social, acarretando retrocessos em diversas agendas. Como garantir que uma agenda
de desenvolvimento inclusiva e sustentável seja democraticamente construída e con-
solidada no país diante do extremismo e do esgarçamento do debate político? Como
fortalecer os ritos e instituições da democracia no médio e longo prazo de modo que
possam contribuir para a concretização das mudanças que o país precisa promover?

Considerando esses elementos, a agenda de prioridades em pesquisa do Ipea


para o período de 2024 a 2026 se propõe a pensar o desenvolvimento inclusivo, sus-
tentável e democraticamente construído. Essa agenda de pesquisa está organizada
em torno de três eixos e das agendas de prioridades das seis diretorias singulares
do Ipea.

EIXO 1 – DESAFIOS PARA A INCLUSÃO


O combate às desigualdades e iniquidades voltou ao centro da agenda política no Bra-
sil. Recessão econômica e crises múltiplas conformaram um cenário de retrocessos e
tensões caracterizado pelo aumento da pobreza, da fragilização do mercado de traba-
lho e das restrições à proteção social, que ameaça os padrões correntes de bem-estar
e traz riscos à coesão social do país. Reconhecidamente, o Brasil tem convivido com
níveis extremos de desigualdade em diferentes dimensões do bem-estar. Este proble-
ma se manifesta nos âmbitos social, econômico, político e territorial, expressando-se
em distintas e múltiplas formas de acesso desigual a meios de produção (como terra,
crédito e tecnologia), ao mercado de trabalho (desemprego, informalidade e precari-
zação) e ao trabalho decente, a bens e serviços públicos (como educação e saúde de
qualidade, transporte, água, saneamento adequado, moradia e outros serviços urba-
nos) e a direitos e garantias (como a uma vida segura e ao respeito à diversidade).
16 Relatório Institucional

Nesse contexto, uma estratégia consequente de desenvolvimento inclusivo re-


quer que as diversas formas de desigualdade que se reproduzem na sociedade bra-
sileira sejam objeto de investigação e debate, com atenção à perspectiva da inclusão
com garantia de direitos, especialmente para os grupos mais vulnerabilizados.

Possivelmente a dimensão mais visível e discutida da desigualdade é a relati-


va à renda, que tende a ser tomada como um indicador sintético do bem-estar dos
indivíduos. Contudo, não se pode desconsiderar sua determinação por uma série de
fatores, entre os quais as oportunidades a que o indivíduo teve ou tem acesso, como
aquelas comentadas anteriormente. Além disso, reconhece-se que a capacidade de
auferir renda pode ser comprometida parcial ou totalmente por eventos imprevisíveis,
sendo portanto necessário ter em conta também o acesso a mecanismos de proteção.

Ainda que a renda seja uma medida conhecida e reconhecida das desigualda-
des, a discussão não pode ser resumida a ela. A Agenda Ipea 2024-2026, voltada aos
desafios para a inclusão, confere especial destaque a essas discussões em torno do
fenômeno das desigualdades nas diversas dimensões mencionadas, discriminações
e necessidade de avanço nas garantias de direitos no Brasil.

Sob esse pano de fundo, as desigualdades serão abordadas sob dois prismas.
No primeiro caso, a ideia é que os estudos e pesquisas se dediquem a mensurar
diferentes aspectos mencionados anteriormente e a identificar grupos da popula-
ção em situação de maior vulnerabilidade, por estarem sistematicamente sujeitos
a oportunidades mais restritas. No segundo, o foco volta-se às reflexões a respeito
das políticas públicas adequadas para atuar sobre esses fenômenos, com especial
atenção a mecanismos de proteção, como aqueles previstos nos nossos sistemas
de previdência e assistência social, trabalho, acesso a serviços urbanos, a consi-
derações sobre as desigualdades territoriais e à necessidade de pensar a inclusão
nessa perspectiva.

EIXO 2 – DESAFIOS PARA A SUSTENTABILIDADE


A agenda da sustentabilidade ambiental tornou-se urgente e incontornável para os
governos, as agências multilaterais e a sociedade. As formas contemporâneas de
sociabilidade e o padrão produtivo a elas relacionado têm se mostrado incompatí-
veis com a preservação do meio ambiente e com a estabilidade da temperatura do
planeta. A exploração desenfreada de recursos naturais não renováveis, de um lado,
e a frequência de eventos climáticos extremos e erráticos, provocados pela elevação
da temperatura média global, de outro, produzem danos não desprezíveis sobre a
economia e a qualidade de vida das populações.

A transformação dos padrões produtivos nos mais diversos setores de ativida-


de se configura como um dos elementos mais importantes de uma agenda de refle-
xões voltada à sustentabilidade ambiental, o que inclui a ampliação de fontes reno-
váveis na matriz energética e o aumento de sua eficiência. Ademais, as mudanças
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 17
climáticas impactam redes logísticas, de comunicação, sanitária e habitacional, es-
pecialmente nos grandes centros urbanos. Portanto, a antevisão e o planejamento
de infraestruturas resilientes tornam-se relevantes objetos de pesquisa e assesso-
ramento governamental. É em torno destas questões fundamentais que se organiza
a Agenda Ipea 2024-2026, voltada aos desafios da sustentabilidade no país.

Nesta agenda de pesquisa, a reflexão sobre a transição para uma economia


sustentável se ancora na premissa de um modelo de desenvolvimento baseado em
conhecimento e inovação, orientado para o uso de novas tecnologias e o aproveita-
mento dos potenciais de biodiversidade dos biomas regionais, combinando ganhos
de produtividade e impacto ambiental reduzido. Nessa perspectiva, a discussão so-
bre a infraestrutura para a sustentabilidade orienta-se por dois prismas. No primeiro,
ela é percebida e trabalhada como um setor de atividade contribuinte da expansão
econômica nacional, com foco nos ganhos de produtividade e competitividade em
atividades existentes, e nas possibilidades de incorporação de novos setores à eco-
nomia nacional. No segundo, a atenção se volta à dimensão territorial da infraestru-
tura, na perspectiva de que a solução de carências e a mitigação de déficits devem
se organizar pelas especificidades das demandas reveladas na espacialidade das
redes urbanas nacional e regional, bem como das relacionadas ao mundo rural.

Dada a dimensão continental do país, as enormes escalas para a provisão de


infraestruturas sustentáveis e resilientes exigem atenção aos temas da coordenação
das estratégias governamentais e do investimento público. Assim, a articulação fe-
derativa e de atores e governos, bem como a coordenação intersetorial de políticas,
se tornam temas cruciais para uma agenda de pesquisa consequente. Contribuir
com o planejamento nacional das necessidades, gargalos e soluções nesta área é
eixo prioritário de estudos e pesquisas na Agenda do Ipea.

Por fim, é importante considerar que, no caso brasileiro, a reflexão acerca dos
desafios da sustentabilidade não pode ignorar a resistência de setores produtivos
consolidados, responsáveis por parte relevante do produto nacional e com amplo
poder de veto. Não pode, tampouco, deixar de discutir o risco de que os processos
inovativos venham a reproduzir (ou até a ampliar) as inaceitáveis desigualdades eco-
nômicas, sociais e territoriais que caracterizam o país.

EIXO 3 – DESAFIOS PARA O FORTALECIMENTO DO ESTADO E DA


DEMOCRACIA
Pensar a realidade brasileira hoje e as perspectivas para a mudança rumo a um
modelo de desenvolvimento mais inclusivo e sustentável requer a reflexão acerca
dos diferentes aspectos que marcam o contexto político atual, caracterizado pela
difusão da retórica deslegitimadora da democracia e de suas instituições (sistema
eleitoral, sistema representativo, instâncias participativas etc.) e por agudas tensões
nos níveis local, regional e nacional. Essa reflexão é crucial não apenas para a avalia-
ção dos impactos que se projetam sobre a vida política brasileira, mas também para
18 Relatório Institucional

a ampliação do conhecimento acerca dos contornos necessários da atuação estatal


para enfrentar os desafios colocados ao país.

Nesse sentido, o fortalecimento do Estado democrático, republicano e federati-


vo é condição necessária para o desenvolvimento sustentável e inclusivo. Enfraque-
cer o Estado, debilitar sua burocracia e esvaziar a participação e o controle social
são atalhos para que as políticas públicas sejam capturadas por interesses predató-
rios. O Brasil é pródigo em períodos históricos de crescimento econômico acelerado
em que a ausência de democracia, de autonomia federativa e de uma burocracia
profissional são a regra, e não a exceção – processos históricos reiteradamente pro-
pícios ao aprofundamento das desigualdades. Nesses períodos, a fome, a miséria, a
mortalidade infantil e o analfabetismo foram as marcas mais dramáticas de nosso
retrato social.

Ao mesmo tempo, a adoção crescente das tecnologias de informação e co-


municação (TICs) no mundo da gestão pública provoca mudanças em, no mínimo,
duas dimensões: nos processos internos do Estado e nas relações socioestatais.
Na primeira, destaca-se o uso de algoritmos e inteligência artificial para analisar e
conceder benefícios e/ou acesso a serviços, o que, sob o argumento da aceleração
do acesso, pode ter efeitos de exclusão e reprodução de tratamentos discriminató-
rios. Na segunda, a plataformização da interação dos cidadãos com o Estado, que
vai da requisição de serviços/benefícios até as consultas de opinião e processos
deliberativos, torna essa dinâmica menos transparente, dificultando a compreensão
dos múltiplos usos de registros retidos nas plataformas estatais.

Considerando a relevância dessas questões, a Agenda Ipea 2024-2026 se vol-


ta, em um de seus eixos prioritários de estudos e pesquisas, para a dimensão
político-institucional do desenvolvimento, com foco em temas como: dinâmica
econômica e mudanças sociais; instâncias e instrumentos de participação e diá-
logo social; acesso de grupos de interesse e movimentos sociais à pauta governa-
mental; economia política das políticas públicas; impactos da dinâmica sociopolí-
tica sobre a coesão social; e legitimação democrática da agenda redistributiva, da
equidade e da diversidade.

Quanto ao tema da transformação digital no setor público, ganha centralidade


a análise de sua governança, com estudos que mirem: as capacidades estatais e
outros aspectos organizacionais associados; as restrições impostas por condicio-
nantes externos; e os avanços e insuficiências desse processo, tendo em conta a
perspectiva dos usuários das políticas públicas e dos próprios atores estatais. Na
mesma linha, constituem objeto de interesse da Agenda a dinâmica de processa-
mento da massiva e crescente quantidade de dados à disposição imediata do Estado
e o possível esvaziamento do caráter político dos processos decisórios, que tendem
a afastar a gestão pública ainda mais do controle democrático.
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 19
6 AGENDAS ESTRATÉGICAS DAS DIRETORIAS DE ESTUDOS E
PESQUISAS

As agendas estratégicas de pesquisa e assessoramento técnico do Ipea são a forma


de execução prática de entregas que contribuam, sobretudo, para o apoio à decisão
do Estado e para informar a sociedade das grandes questões que estão em jogo
quanto às agendas e às alternativas de solução de grandes problemas públicos. Tais
trabalhos incidem seja na formulação, planejamento, monitoramento, seja na avalia-
ção para o aprimoramento ou revisão das intervenções governamentais.

A compreensão dos eixos por cada uma das diretorias orienta as prioridades do
Ipea para conformar as agendas de pesquisa e assessoria, e também para consoli-
dar as referências do Instituto no debate público ou no apoio governamental.

O propósito desses trabalhos de pesquisa e assessoria é o de ajudar a qualificar


o debate sobre os rumos do país. O papel do Ipea é produzir evidências que permi-
tam um debate qualificado sobre os principais problemas nacionais, suas causas,
consequências e possíveis linhas de atuação sobre eles. O papel do Ipea é também
elucidar essas evidências no sentido de facilitar a compreensão do grande público
sobre problemas que são intrinsecamente complexos, mas que não podem se res-
tringir a um debate entre técnicos.

DIRETORIA DE POLÍTICAS E ESTUDOS DO ESTADO, DAS


INSTITUIÇÕES E DA DEMOCRACIA (DIEST)

INSTITUIÇÕES, CAPACIDADES E INTERAÇÕES SOCIOESTATAIS PARA O


DESENVOLVIMENTO E A DEMOCRACIA
Contextualização
Em 2023, o Brasil retomou, sob novo governo, a dinâmica interrompida em meados
de 2016, quando se inaugurou um hiato de cerca de seis anos na trajetória de cons-
trução político-institucional do país, hiato este marcado pelo “desmonte” de arranjos
que, sob forte impulso da sociedade, deram suporte à ampliação da atuação do Es-
tado na vida pública e ao alargamento da agenda governamental.

Contudo, o cenário em que essa retomada ocorre é bastante diferente do con-


texto de estabilidade governativa prévio, em especial daquele vigente entre a esta-
bilização da economia, em meados da década de 1990, e o ano de 2013, período
em que o cenário econômico favoreceu o crescimento com alguma redistribuição
da renda e o pacto constitucional de 1988 ganhou concretude em vários âmbitos da
vida brasileira. Há cerca de 10 anos, desde o forte refluxo no ritmo do crescimento
econômico e das “jornadas” de junho de 2013, o país vive um turbilhão político, com
crescente radicalização e polarização da opinião pública, tentativas de restrição do
20 Relatório Institucional

acesso indiscriminado dos grupos sociais à arena pública, a direitos e a padrões


mínimos de bem-estar, e deslegitimação frequente das instituições democráticas.

Sem desconhecer que o fortalecimento do conservadorismo e do extremismo


de direita se dão em escala global, o que se sustenta aqui é que pensar a realidade
brasileira hoje e as perspectivas e possibilidades para a mudança rumo a uma so-
ciedade mais inclusiva e sustentável requer tomar esse contexto particular de tur-
bulências e seus condicionantes em consideração. A necessidade de sopesar os
reflexos que o cenário brasileiro atual projeta sobre a dimensão político-institucional
de nossa democracia é premente, uma vez que o avanço de movimentos autoritá-
rios e de processos de recuo democrático desafiam a atuação estatal, os arranjos
de governança tradicionalmente constituídos e o enquadramento dos projetos de
desenvolvimento, colocando em xeque as ações que vinham sendo implementadas
para enfrentar os graves e históricos problemas do país.

Nesse sentido, se a discussão acerca da ação estatal e dos processos de go-


verno deve seguir avançando na análise dos diferentes aspectos que consubstan-
ciam os arranjos da governança pública no país, incluindo o robustecimento das
capacidades estatais e o aprofundamento das relações do Estado com a sociedade
na produção de bens e serviços, é imperioso que se volte a atenção ao tema da
legitimação social da democracia, focando o olhar também nos aspectos que lhe
conferem sustentação política e simbólica e que dialogam com a questão da coesão
social no país.

Dessa maneira, propõe-se, em sintonia com a Agenda Estratégica Ipea 2024-


2026, uma atualização da pauta de discussões e estudos da DIEST, de modo a agre-
gar aos dois eixos temáticos tradicionais da Diretoria, voltados aos temas governan-
ça e capacidades estatais, de um lado, e relações Estado e sociedade, de outro, um
terceiro, centrado na discussão sobre estratificação, mobilidade, coesão e conflitua-
lidade social. É na interseção entre essas três dimensões que se inscreve a contri-
buição que a DIEST pretende oferecer para uma agenda multifacetada de estudos e
ações de assessoramento em prol do desenvolvimento do país. Com atenção ao mo-
mento político atual e aos aspectos que condicionam a adesão e a sustentação de
um projeto de desenvolvimento comprometido com a inclusão e a sustentabilidade,
o compromisso desta DIEST é o de fomentar também investigações e debates em
torno dos (velhos e novos) desafios ao processamento de conflitos e à promoção da
coesão social e da legitimação democrática no país.

AGENDA PRIORITÁRIA
Governança e capacidades estatais: o papel do Estado para o desenvolvimento
inclusivo, sustentável e democraticamente construído
O papel do Estado para o desenvolvimento inclusivo, sustentável e democraticamen-
te construído é o objeto central do primeiro eixo temático da DIEST, que se preocupa
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 21
em acompanhar as mudanças no ambiente institucional e identificar os condicio-
nantes para a atuação estatal. Situam-se aqui as temáticas da estrutura e do fun-
cionamento do Estado, das capacidades estatais em suas diferentes dimensões, da
governança pública, das relações entre os três Poderes e entre níveis federativos, e
da regulação de políticas públicas. Os estudos sobre produção e uso de evidências
e subsídios informacionais para a ação estatal também se enquadram nesta frente,
assim como aqueles voltados ao tema da transformação digital no setor público, que
começam a ganhar corpo na Diretoria.

Produções da DIEST sobre essas temáticas têm contribuído com conceitos,


aportes teóricos e metodológicos que robustecem as análises de políticas públicas,
especialmente aquelas com enfoque na avaliação de processos das políticas públi-
cas, isto é, dos fatores, processos e dinâmicas que afetam a etapa de implementa-
ção na produção das políticas. No mesmo sentido, inovações têm sido promovidas
para expandir e dinamizar o alcance dos dados e estudos produzidos pelo próprio
Ipea no debate público, com destaque para as plataformas Catálogo de Políticas
Públicas do Poder Executivo Federal, que reúne informações variadas sobre as polí-
ticas federais implementadas nas últimas décadas, Atlas do Estado brasileiro, sobre
o funcionalismo em seus três níveis federativos, e Inclua, que oferece recursos para
identificação e mitigação de potenciais riscos de reprodução de desigualdades so-
ciais em processos cotidianos de execução de políticas públicas.

Relações Estado e sociedade: participação e interfaces socioestatais


No segundo eixo de estudos, pesquisas e assessoramento da agenda prioritária,
que trata das relações socioestatais, configura-se a agenda que discute questões
sobre participação social e a interação entre a esfera do Estado e a sociedade mais
ampla na produção de políticas públicas. Nesta frente estão as pesquisas acerca
das instâncias e instrumentos de participação social, que se voltam à análise da pe-
netração de grupos e movimentos sociais e suas agendas na conformação da pauta
governamental, problema que ganha complexidade com as transformações digitais,
por um lado, e a ascensão de agendas iliberais, por outro. Adicionalmente, está abar-
cado aqui também o tema das parcerias entre Estado e sociedade na implementação
de políticas públicas em diferentes áreas, por meio da atuação de organizações da
sociedade civil. Nesse contexto, cabe destacar a gestão, prevista legalmente como
responsabilidade do Ipea (Decreto no 8.726, de 27 de abril de 2016.), da plataforma
Mapa das Organizações da Sociedade Civil, principal fonte de dados nacional acerca
da atuação dessas organizações.

Estratificação, mobilidade, coesão e conflitualidade social.


O terceiro eixo, por fim, volta-se ao tema dos conflitos e tensões que permeiam e se
agudizam na vida social brasileira, com impactos diretos sobre a segurança pública
e, mais indiretamente (embora de modo intenso), sobre a agenda de políticas públi-
cas e a própria institucionalidade democrática. Nesse âmbito, antigos e novos pro-
blemas despontam, nos desafiando a compreender suas dimensões e seus efeitos.
22 Relatório Institucional

De um lado, encontram-se temas mais tradicionais na agenda da DIEST em tor-


no da violência e da violação sistemática de direitos, discussão que se constrói, em
grande medida, com base em dados sistematizados e disponibilizados ao público
por meio da plataforma Atlas da Violência; nesse âmbito, o olhar também se dirige
para as instâncias de administração de conflitos e controle social (sistema de jus-
tiça, polícias e aparatos de execução penal), as quais têm sido pressionadas pelo
fenômeno recente de espraiamento e contínua transformação do crime organizado
no território nacional, colocando problemas novos e em escala inédita para a gover-
nança da segurança no país.

De outro lado, a agenda vê-se impulsionada também pela agudização de um an-


tagonismo sociopolítico que se reflete tanto no acirramento do conflito distributivo
histórico no Brasil, que põe em questão políticas redistributivas e o arranjo de prote-
ção e promoção social inscrito no texto constitucional de 1988, quanto na eclosão
de um conflito de natureza moral, que se manifesta em discursos extremistas de
apagamento da diversidade e de revogação de direitos garantidos a determinados
segmentos da sociedade (como mulheres, pessoas negras, indígenas, integrantes da
comunidade LGBTQIAPN+, entre outros); em ambos os casos, o que se vê é a desle-
gitimação crescente da democracia e de sua promessa de inclusão.

Assessoramento governamental
Dada a amplitude de sua agenda de estudos e pesquisas, a DIEST tem ampla e diver-
sificada atuação no assessoramento a órgãos da União, seja da Administração Fe-
deral ou no âmbito do Judiciário e das instituições do sistema de justiça. Essa atua-
ção envolve desde contribuições pontuais com iniciativas a cargo das instituições
parceiras até a realização, sob demanda, de levantamentos de dados e pesquisas de
campo, passando pela elaboração de pareceres técnicos e pela atuação em grupos
de trabalho e comitês mais perenes.

Uma das principais frentes do assessoramento prestado pela Diretoria é com-


posta por compromissos formais de cooperação técnica, que atualmente envolvem
os seguintes órgãos e/ou entidades: i) Secretaria-Geral da Presidência da República,
com foco na retomada da participação social no PPA e na relação do governo com
organizações da sociedade civil; ii) Ministério da Gestão e Inovação em Serviços
Públicos, com pauta de ações relacionada ao aprimoramento da gestão de pessoas
e de processos na Administração Pública Federal; iii) Ministério dos Direitos Huma-
nos e da Cidadania, para produção de evidências e outros insumos para informar as
políticas de direitos humanos; iv) Ministério da Igualdade Racial, para geração de
informações acerca do perfil racial do funcionalismo público e na dimensão racial da
violência e da vitimização no Brasil; vi) Controladoria-Geral da União, para realização
da primeira Pesquisa Brasileira de Exposição à Corrupção; vii) Secretaria Nacional
de Segurança Pública, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, para análise e
qualificação dos dados do setor provenientes das 27 Unidades da Federação; e viii)
Conselho Nacional de Justiça, para estudo acerca do processamento dos casos de
assédio moral e sexual pela Justiça brasileira.
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 23
O Ministério do Planejamento e Orçamento naturalmente é parceiro preferencial
da DIEST, estando em curso atualmente projeto de mapeamento de todas as unida-
des dos órgãos ministeriais do governo federal que atuam na função monitoramento
e avaliação (M&A), visando ao robustecimento do sistema de M&A no âmbito federal.

DIRETORIA DE ESTUDOS E POLÍTICAS MACROECONÔMICAS


(DIMAC)

MACROECONOMIA COMO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO


INCLUSIVO, SUSTENTÁVEL E DEMOCRATICAMENTE CONSTRUÍDO
Contextualização
Transformações aceleradas em diferentes dimensões caracterizam o início do sécu-
lo XXI. A transição demográfica em um mundo crescentemente digital e movido pelo
consumo introduzem novas oportunidades, mas também reeditam e mesmo reforçam
antigos desafios. O crescente aquecimento global, os ataques ao Estado de Direito e à
democracia e a tendência a aprofundar as desigualdades sociais sinalizam ameaças
ao sistema econômico e à humanidade. Adicionalmente, esse processo propende a
ampliar a exclusão de grupos vulneráveis, já em situação de desamparo e privação.

Na esfera internacional, a escalada de conflitos entre países (alguns explícitos


e diretos, outros latentes e disfarçados) tem aumentado a incerteza sobre o provi-
mento de matérias-primas, insumos industriais e até mesmo bens de consumo para
grande parte das economias.

Por sua vez, a progressiva autonomização do sistema financeiro em relação à


esfera produtiva, sem adequada regulação, tem mantido elevado o risco do sistema,
com significativas implicações sobre a demanda de bens e serviços, e particularmen-
te sobre o investimento.

Somam-se a isso as dificuldades interpostas pelas conhecidas assimetrias na


estrutura e no funcionamento do comércio e das finanças internacionais, com suas
complementaridades e hierarquias, em relação as quais países em desenvolvimento
estão particularmente mal posicionados.

Nesse ambiente hostil e adverso, torna-se imperioso o Brasil rever as bases de


sustentação do pacto nacional, a fim de reafirmar o compromisso com a democracia,
a mitigação das desigualdades sociais e o comprometimento com políticas em prol
do meio ambiente.

MACROECONOMIA E DESENVOLVIMENTO
As políticas macroeconômicas estruturam o ambiente no qual as decisões dos agen-
tes são tomadas, sendo um parâmetro importante para a dinâmica econômica, tanto
pelos seus efeitos sobre a oferta como sobre a demanda agregada.
24 Relatório Institucional

As instituições cumprem papel fundamental no processo de desenvolvimento.


Dentre as distintas funções institucionais aventadas, a criação das regras de for-
mação, regulação e execução (enforcement) das transações no mercado tornam-se
cruciais para afiançar a estabilidade das transações. Tal papel é especialmente im-
portante nas chamadas instituições estabilizadoras do mercado (market stabilizing
institutions), como as políticas fiscal, monetária e cambial.

O processo de desenvolvimento precisa contar com instituições que minimi-


zem a volatilidade e confiram estabilidade macroeconômica no sentido amplo, as-
segurando taxas de juros relativamente baixas e estáveis, taxas de câmbio que não
reduzam de forma espúria a competitividade doméstica e estabilidade de preços,
mas também que garantam uma trajetória positiva para o nível de produto e empre-
go, assim como a estabilidade do balanço de pagamentos.

Nesse sentido, as políticas macroeconômicas e as instituições a elas associa-


das se configuram como instrumento ativo para o desenho e a implementação de
uma estratégia de desenvolvimento inclusiva e sustentável. Isto porque seus distin-
tos instrumentos condicionam as decisões de produção, inovação e investimento, e
podem ter implicações profundas sobre a distribuição da renda e da riqueza, assim
como sobre o meio ambiente.

No plano fiscal, o sistema tributário e as políticas de arrecadação e transferên-


cias governamentais afetam preços relativos, alterando a alocação de recursos e a
eficiência do sistema econômico. Embora a política fiscal possa gerar ineficiências,
ela também é capaz de prover informações e corrigir falhas, assim como dar origem
a novos mercados que os agentes econômicos, deixados à sua sorte, não seriam
capazes de criar, sendo ambas as formas de atuação do Estado fundamentais ao
desenvolvimento. Ademais, a política fiscal pode afetar a estrutura patrimonial e de
distribuição de renda e riqueza, se configurando como importante indutor do cresci-
mento, sobretudo quando desenhada para favorecer o investimento produtivo. Seus
impactos podem ainda mudar incentivos, de modo a tornar a produção ambiental-
mente sustentável.

Por sua vez, a composição e a magnitude dos gastos governamentais se con-


figuram como outro instrumento poderoso para a indução do desenvolvimento in-
clusivo e sustentável. As despesas públicas reúnem a capacidade de atenuar desi-
gualdades por meio do provimento de bens públicos e de complementar as ações
da iniciativa privada, seja por meio de seu impacto sobre a oferta agregada, seja
através de seus efeitos sobre a demanda agregada. Neste caso, o investimento pú-
blico torna-se particularmente importante, tendo em vista a possibilidade de emular
o investimento privado e a capacidade de ampliar a produtividade, seja ele voltado
para a infraestrutura econômica, seja direcionado à infraestrutura social.

No plano monetário e financeiro, a taxa de juros, variável instrumental por


meio da qual os bancos centrais modernos administram a política monetária com
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 25
a finalidade de manter a inflação sob controle, afeta consumo e investimento, re-
percutindo, assim, sobre a demanda agregada. A política monetária, além disso, é
um dos parâmetros da dívida pública. Portanto, ainda que as decisões de política
monetária não se pautem por isso, a trajetória da dívida é afetada, em grande
medida, pela taxa de juros definida pelo Banco Central, assim como a alocação do
orçamento federal. A taxa de juros baliza as necessidades de financiamento do
setor público e não é neutra em termos distributivos, na medida em que afeta tan-
to os fluxos de rendimentos derivados da propriedade de ativos, quanto o próprio
valor desses ativos. Tendo em vista que a informação e o conhecimento sobre o
funcionamento dos mercados e as operações com ativos são desigualmente dis-
tribuídos, e que alguns serviços financeiros possuem rendimentos crescentes de
escala, a política monetária tem efeitos desiguais sobre a distribuição de renda e
riqueza em geral, mas também sobre determinados subgrupos, como mulheres
e negros.

Soma-se a isso o fato de que a necessidade de garantia da estabilidade da re-


lação dívida/produto interno bruto (PIB) coloca desafios ao provimento de serviços
públicos fundamentais ao desenvolvimento, como educação, saúde, saneamento,
habitação e parcela da infraestrutura econômica, tendo em vista possíveis conflitos
por recursos orçamentários.

As políticas fiscal, monetária e cambial afetam a rentabilidade relativa tanto de


ativos reais quanto financeiros, alterando a alocação de recursos entre setores, com
implicações significativas sobre a estrutura produtiva e a produtividade agregada.
Esta última depende tanto da composição setorial da economia quanto da tecnolo-
gia embutida em máquinas e equipamentos, cujo valor presente dos investimentos
está associado, dentre outras coisas, à magnitude da taxa de juros e da carga tribu-
tária, bem como de sua composição.

Em conjunto, tais políticas podem repercutir sobre a possibilidade de reinven-


ção da economia brasileira e o direcionamento de recursos da sociedade para se-
tores econômicos mais complexos, de maior produtividade, dinâmicos no comércio
internacional e, sobretudo, ambientalmente sustentáveis.

Ademais, as desigualdades eventualmente geradas ou potencializadas por polí-


ticas macroeconômicas desenhadas sem a devida consideração de seus efeitos dis-
tributivos é fator importante no esgarçamento do tecido social e no enfraquecimento
da democracia no Brasil e alhures.

Neste sentido, argumenta-se neste documento que a estratégia de desenvolvi-


mento, juntamente com a coordenação das políticas macroeconômicas, estabele-
cem os limites e as possibilidades para se lidar com os grandes desafios do século
XXI, ou seja, o crescente aquecimento global, os ataques ao Estado de Direito e à
democracia e a tendência ao aprofundamento das desigualdades sociais.
26 Relatório Institucional

AGENDA PRIORITÁRIA
Acompanhamento da conjuntura macroeconômica
Dentre os temas de pesquisa considerados tradicionais da área de macroeconomia,
cabe mencionar a análise da conjuntura macroeconômica. Esta é uma das atividades
mais tradicionais e, certamente, mais relevantes e de maior valor público do trabalho
desenvolvido pela Dimac, envolvendo praticamente toda a diretoria no acompanha-
mento dos principais indicadores de curto prazo da economia brasileira e mundial,
assim como na elaboração das projeções para o ano corrente e o subsequente.

Evolução das finanças públicas federais e dos entes subnacionais


No plano fiscal, o acompanhamento das finanças públicas federais e dos entes
subnacionais permanece uma área central de nossas atividades. Entretanto, novos
temas têm ganhado proeminência nas discussões e estudos da diretoria. Primeira-
mente, ênfase importante tem sido dada ao funcionamento e implicações de regras
fiscais em geral, e aos desdobramentos do chamado Novo Arcabouço Fiscal (NAF),
recentemente proposto pelo Executivo federal. Em segundo lugar, a diretoria tem
envidado esforços significativos no escrutínio das características e na avaliação dos
impactos da reforma tributária, em apreciação no Congresso Nacional.

Eficiência, eficácia e efetividade da política monetária


No plano monetário e financeiro, a diretoria retomou os estudos sobre a eficiência,
eficácia e efetividade da política monetária, sobretudo diante dos novos e múltiplos
objetivos (estabilidade de preços, estabilidade e eficiência do sistema financeiro,
suavização das flutuações do nível de atividade e pleno emprego) atribuídos à au-
toridade monetária pela lei de independência do Banco Central. Além disso, iniciou
estudos com o intuito de avaliar os distintos impactos dos choques de demanda e
de oferta sobre a trajetória da inflação, assim como sobre a fragilidade financeira de
famílias e empresas.

Determinantes da atividade econômica e da produtividade


A Dimac mantém um cardápio bastante abrangente de modelos de previsão (eco-
nométricos) e de projeção (equilíbrio geral dinâmico estocástico) e envidará novos
esforços para ampliar esta carteira, com modelos de simulação e de consistência
entre fluxos e estoques.

Na parte de crescimento, a diretoria conta com inúmeros estudos sobre os de-


terminantes do nível de atividade pelo lado da oferta, particularmente com versões
modificadas de modelos de crescimento balanceado, acrescidos de capital humano.
Conta ainda com a produção inédita de estatísticas sobre o estoque de capital (fí-
sico e humano), organizado setorial e regionalmente. Todavia, a Dimac iniciou tam-
bém esforços na produção de modelos de crescimento comandados pela demanda,
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 27
identificando componentes dos gastos com maior peso na determinação do ritmo
de atividade econômica. Ademais, estes estudos versam ainda sobre os regimes de
política macroeconômica e as instituições de suporte às trajetórias de crescimento.

Novos temas e abordagens também fazem parte dos planos da diretoria para
os próximos anos. Na parte fiscal, a Dimac planeja iniciar uma nova rodada de inves-
tigações sobre multiplicadores fiscais e elasticidade-PIB da arrecadação, tendo em
vista não só a reflexão sobre o impacto dos gastos públicos sobre o crescimento,
como também a sustentabilidade fiscal. Na parte monetária, se pretende iniciar um
projeto de pesquisa voltado para o entendimento da inércia ou persistência inflacio-
nária e dos mecanismos de indexação que lhe estão comumente associados.

Tendências de longo prazo para a economia brasileira


No que tange à reflexão sobre o longo prazo, e tendo em vista a ocorrência da
pandemia e da interrupção das cadeias internacionais de suprimentos, pretende-se
investigar o efeito que esses eventos recentes e assemelhados podem ter sobre
histerese, desemprego de longa duração e produtividade. O longo prazo também
estará contemplado nos esforços futuros de investigação acerca dos condicionan-
tes e dos impactos macroeconômicos das políticas de desenvolvimento produtivo.

Impactos das políticas macroeconômicas sobre a desigualdade e equidade


A inclusão e a sustentabilidade também ganham nova ênfase nos planos da Dimac.
Quanto ao primeiro assunto, pretende-se investigar os impactos das políticas ma-
croeconômicas sobre a desigualdade de renda e riqueza. Porém, o reverso não pas-
sou desapercebido, uma vez que está nos planos da diretoria avaliar os efeitos ma-
croeconômicos das desigualdades, sobretudo de gênero e raça.

Impactos ambientais das políticas macroeconômicas e financiamento de uma


economia sustentável
No que concerne à sustentabilidade, a Dimac propõe estudar os impactos ambien-
tais das políticas macroeconômicas, nos moldes do que tem sido feito pelo Banco
da Inglaterra. Pretende-se conferir ênfase especial aos efeitos das políticas fiscal e
monetária sobre as emissões de CO2, assim como sobre as implicações da transição
energética no crescimento econômico. Nesse aspecto, e tendo em vista a atuação
da diretoria no evento do T20, grupo de engajamento do G20 que estará sob a presi-
dência brasileira em 2024, a Dimac também planeja a realização de estudos sobre o
financiamento da economia sustentável.

ASSESSORAMENTO GOVERNAMENTAL
É importante notar que a estrutura organizacional proposta pela diretoria potenciali-
za duas outras atividades entendidas pela Dimac como centrais, a saber, o assesso-
ramento governamental e a avaliação de políticas públicas. Essas atividades exigem,
28 Relatório Institucional

aliás, que a agenda da diretoria esteja em constante diálogo com interlocutores pre-
ferenciais da Dimac no Executivo federal, tais como Ministério da Fazenda, Banco
Central do Brasil, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Mi-
nistério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos e, sobretudo, o Ministério do
Planejamento e Orçamento.

Tendo em vista a ocorrência de múltiplas e simultâneas políticas públicas, a


diretoria tem mantido o empenho em avaliar possíveis efeitos macroeconômicos
que essas políticas podem ter, tais como a desoneração da cesta básica ou mesmo
o impacto sobre o crescimento e a produtividade dos acordos internacionais de co-
mércio e investimento.

Por fim, é particularmente importante a participação institucional da diretoria na


elaboração e acompanhamento dos instrumentos de planejamento do Executivo fede-
ral, o que reforça nosso reconhecimento da relevância de uma estratégia de desenvolvi-
mento centrada na inclusão, na sustentabilidade e no aprofundamento da democracia.

Neste sentido, a agenda de trabalho da Dimac está voltada para o estudo dos
condicionantes e implicações das políticas macroeconômicas para o crescimento
econômico, a distribuição de renda e a sustentabilidade ambiental.

DIRETORIA DE ESTUDOS E POLÍTICAS SOCIAIS (DISOC)

A QUESTÃO SOCIAL E O DESENVOLVIMENTO INCLUSIVO EM UMA


AGENDA DE PESQUISA PARA O COMBATE ÀS DESIGUALDADES NO BRASIL
Contextualização
O Brasil é um país que convive com e mantém níveis extremos de violência e de-
sigualdade em diferentes dimensões do bem-estar. A profusão de desigualdades
implica uma diversidade de carências e um esforço extraordinário de determinados
grupos populacionais para que consigam níveis mínimos de sobrevivência e digni-
dade social.

Sobre esse pano de fundo, o eixo do desenvolvimento inclusivo, do ponto de vis-


ta social, ganhou força como meta do governo federal. O que se busca nesse padrão
de desenvolvimento é não “deixar pra trás” nenhum grupo da população ao alavancar
o bem-estar médio da nossa sociedade. Ou seja, se pretende evitar que uma estra-
tégia de desenvolvimento venha a ampliar os nossos padrões de desigualdade, tal
como já ocorreu em alguns momentos de nossa história recente.

A sociedade brasileira é heterogênea e as estratégias de desenvolvimento de-


vem estar atentas às especificidades de diversos grupos. É preciso atenção à si-
tuação dos grupos para os quais já existe, ou pode ser produzido, o conhecimento
necessário para balizar as políticas públicas, como a população indígena, negra e
as pessoas com deficiência. Para outros grupos, cuja coleta de dados ainda oferece
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 29
desafios de ordem metodológica e prática – como as pessoas LGBTQIA+ –, é neces-
sário avançar no sentido de permitir que suas especificidades sejam consideradas
no próprio processo de produção do conhecimento.

Para se desenhar uma estratégia eficiente de promoção de um padrão de de-


senvolvimento socialmente inclusivo é necessário ter à disposição algumas informa-
ções relevantes. Essa agenda trata de três tipos de informações necessárias para
embasar essa estratégia.

Um primeiro conjunto de informações a ser levantado diz respeito aos diversos


grupos populacionais carentes em dimensões básicas do bem-estar. Para contem-
plar uma possível volatilidade dessas carências, sempre que possível trataremos de
grupos vulneráveis. Além da identificação desses grupos, que é algo em que já se
avançou bastante no Brasil, pretendemos evidenciar esse nível de carência ou de
vulnerabilidade e em que medida são atendidos pelas políticas sociais existentes,
que procuram minimizar esse problema.

O segundo conjunto de informações diz respeito às desigualdades propriamente


ditas em diferentes dimensões do bem-estar social – não apenas àquelas mais bási-
cas, cuja privação se constitui como objeto de análise do item anterior dessa agenda.

Por fim, levantaremos informações e analisaremos de forma crítica os recursos


que o Estado brasileiro tem disponibilizado para as políticas que tentam atenuar as
referidas carências e desigualdades. Aqui será priorizado o recurso financeiro, em-
bora ensejemos alguns esforços mais incipientes para discutir também os recursos
humanos em algumas das políticas sociais. Em relação aos recursos financeiros,
pretendemos analisar tanto o padrão de gastos do governo federal direcionados às
diversas áreas, como identificar as fontes desses recursos.

AGENDA PRIORITÁRIA
A agenda de pesquisas da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) visa pes-
quisar, analisar e recomendar alternativas de soluções viáveis em relação a essas
questões sociais prioritárias para se alcançar um desenvolvimento inclusivo.

São agendas prioritárias da Disoc, a esse respeito:

As vulnerabilidades extremas na população brasileira


Que parcela da população brasileira se encontra em situações que colocam em risco
uma existência digna, ou mesmo sua sobrevivência? Para isso serão analisados os
fenômenos da pobreza e da insegurança alimentar, colocados como prioritários pelo
atual governo. De forma complementar, analisaremos também a questão da população
em situação de rua, que reflete outra situação extrema de vulnerabilidade. Conhecer as
características da parcela da população brasileira acometida por esses tipos de vulne-
rabilidade é fundamental para o combate desses graves problemas sociais.
30 Relatório Institucional

As desigualdades em marcadores do bem-estar social


A renda talvez seja o indicador sintético mais utilizado para medir o bem-estar. O Brasil
traz historicamente níveis de desigualdade de renda preocupantemente altos. Os deter-
minantes da evolução recente dessa desigualdade são parte estrutural da nossa agenda.
Sabendo da importância de não se prender a esse indicador, analisaremos também as
desigualdades presentes na sociedade brasileira em outras dimensões do bem-estar. Em
particular, planejamos análises relativas ao acesso desigual à educação de qualidade,
bem como ao sistema de seguridade social. Nesse último caso, é importante salientar
que no Brasil o acesso à dimensão dos benefícios contributivos da previdência social
está muito relacionado ao acesso ao emprego formal. Dessa forma, torna-se essencial
a análise tanto dos determinantes da evolução desse segmento do mercado de trabalho
como de alternativas de acesso aos benefícios previdenciários contributivos.

O financiamento das políticas sociais no Brasil


O leque de políticas que visam atenuar os problemas de privação e desigualdades
mencionados nos itens anteriores é vasto. Assegurar o funcionamento adequado
dessas políticas requer assegurar o montante adequado de recursos alocados a
essa finalidade. Nesse sentido, uma outra parte de nossa agenda procura dimensio-
nar os recursos financeiros de fato alocados a um conjunto selecionado de políticas
sociais. De forma complementar, procuramos identificar a origem desses recursos,
de forma a sermos capazes de mapear a origem dos recursos empregados pelo Es-
tado brasileiro em parte das políticas sociais.

ASSESSORAMENTO GOVERNAMENTAL
A agenda proposta pela Disoc dialoga de forma direta com temas também tidos
como prioritários nos ministérios responsáveis pela condução das políticas sociais
no Brasil. Consequentemente, temos condições de subsidiar os gestores dessas po-
líticas, o que de fato já vem acontecendo e continuará ocorrendo nos próximos anos.

Já temos firmadas parcerias para assessorar o Ministério do Planejamento e


Orçamento, o Ministério do Trabalho, o Ministério da Previdência Social, o Ministério
da Saúde, o Ministério do Desenvolvimento Social, o Ministério da Igualdade Racial
e o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. Para além dessas parcerias com
planos de trabalho já estruturados, temos a perspectiva de assessorar também o
Ministério da Cultura, o Ministério das Mulheres e o Ministério da Educação.

Também assessoramos a Secretaria-Geral da Presidência da República em te-


mas mais transversais como os ODS; crianças e adolescentes; jovens; e na ques-
tão dos atingidos por barragens. Por fim, sendo a desigualdade um tema central na
agenda do G20, também estaremos apoiando o governo federal em parceria com a
Diretoria de Estudos Internacionais nesse importante fórum internacional.
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 31
DIRETORIA DE ESTUDOS E POLÍTICAS SETORIAIS, DE INOVAÇÃO,
REGULAÇÃO E INFRAESTRUTURA (DISET)

A PRODUÇÃO DO FUTURO
Contextualização
A produção de bens, serviços e, por conseguinte, de bem-estar social vem passan-
do por profundas modificações e enfrentando desafios sociais e ambientais sem
precedentes. Para a humanidade fazer frente a esses desafios, a produção do futuro
deverá ser mais sustentável e menos intensiva na utilização de recursos naturais
não renováveis, ao mesmo tempo que não poderá deixar de incluir parcela significa-
tiva da população ainda distante de padrões razoáveis de consumo e de bem-estar.
A produção de um futuro melhor para todos exige, mais do que nunca, criatividade
para repensar as formas pelas quais produzimos bens e serviços e distribuímos a
riqueza. Países de renda média como o Brasil possuem desafios adicionais, espe-
cialmente relacionados à redução da desigualdade e da pobreza. Nesse sentido, o
país precisa urgentemente pensar qual pode ser o seu papel e seu potencial frente
aos desafios que se colocam para a produção global neste novo século. Qual seria
o futuro – simultaneamente viável, sustentável e inclusivo – da produção no país? E
mais importante, quais são os requisitos para a construção desse futuro?

As mudanças climáticas constituem o maior desafio já enfrentado pela humani-


dade. A maior frequência de eventos extremos atinge grandes contingentes popula-
cionais, afeta a produção industrial e agrícola, e danifica a infraestrutura dos países,
causando prejuízos econômicos crescentes derivados diretamente desses eventos,
mas também de perdas de produtividade e de impactos indiretos nas cadeias produ-
tivas globais.

Descarbonizar a produção é crucial para minimizar as mudanças climáticas.


Para isso, serão necessárias políticas públicas audaciosas de redução das emissões
e de transição energética, suportadas pela ampliação do conhecimento e pelo de-
senvolvimento de novas tecnologias. Estudos de melhor reputação científica sobre
o tema indicam que as metas climáticas não serão alcançadas apenas com o uso
de tecnologias já existentes, mas dependerão de muitas que ainda estão na fase de
demonstração ou protótipos, exigindo novos investimentos e políticas mais ambicio-
sas de pesquisa e desenvolvimento (P&D). A regulação do mercado de carbono tam-
bém é um mecanismo eficiente para o controle das emissões. Ainda incipiente no
país, seu potencial, desafios e impactos carecem de mais estudos e análises. Tanto
regulação quando desenvolvimento tecnológico são fundamentais para a transição
energética, que pode ser alavancada pela adoção de boas práticas em políticas pú-
blicas, a exemplo do que países como Holanda e Finlândia vêm fazendo.

O Brasil tem um ativo incomparável para contribuir no controle global das emis-
sões: a Amazônia. Paralelamente a melhorar o monitoramento e combater o desma-
32 Relatório Institucional

tamento, é preciso criar alternativas sustentáveis de geração de emprego e renda


para a população local. Para isso, será preciso desenhar políticas eficientes, reava-
liar o papel de políticas como a Zona Franca de Manaus e apostar na produção de
conhecimento sobre a floresta e na mensuração dos serviços ambientais prestados
por ela.

Além dos esforços para redução das emissões, é preciso planejar ações e po-
líticas de adaptação às mudanças climáticas já em curso. As temperaturas médias
globais já estão cerca de 1°C mais altas do que no século XIX, trazendo padrões
climáticos mais extremos e erráticos. Ações de adaptação incluem, entre diversas
outras, a construção de infraestruturas mais resilientes a eventos extremos, tanto
nos grandes centros urbanos quanto em termos de transportes e comunicações den-
tro e entre os países.

A necessidade de conter as mudanças climáticas, contudo, esbarra numa outra


questão crítica, que é mais um desafio do nosso tempo. Como possibilitar a inclusão
social e econômica de parcela significativa da humanidade vivendo em países pobres
e de renda média? Ao mesmo tempo, como reduzir o consumo do capital natural do
planeta? Para que boa parte da população mundial alcance os níveis de bem-estar
dos países ricos, seria necessário um nível de crescimento do produto incompatível
com a disponibilidade de recursos naturais, especialmente se levarmos em conta as
estimativas de redução do capital natural no planeta.

Não há muitos caminhos possíveis frente a esse quadro: deve-se ampliar a


eficiência no uso dos recursos naturais, por um lado, e dividir melhor os frutos do
crescimento econômico por outro. O primeiro caminho passa pelo desenvolvimento
de novas tecnologias produtivas, mais eficientes e menos intensivas em recursos
naturais, o que reforça a necessidade de descarbonização da produção.

O aumento da eficiência no uso dos fatores de produção, não apenas os na-


turais, é um desafio ainda maior para o Brasil. O país tem um histórico de pelo
menos quarenta anos de baixo crescimento da produtividade agregada. O últi-
mo período no qual a produtividade brasileira, e portanto sua renda per capita,
cresceu acima da produtividade do resto do mundo foi nos anos 1970. A pro-
dutividade brasileira não cresce de forma sustentada desde então, o que nos
fez ficar presos ao que ficou conhecido como a “armadilha da renda média”.
O termo caracteriza economias que, depois de alcançar níveis intermediários de renda,
tinham mais dificuldade em continuar crescendo. A continuidade do desenvolvimento
econômico, a partir de determinado nível de renda, alcançado depois da industrializa-
ção desses países, exigiria instituições e políticas públicas mais sofisticadas.

Uma nova onda de avanços tecnológicos nas tecnologias de informação – pos-


sibilitadas pela disponibilidade sem precedentes de informações e dados, e pela
crescente capacidade de armazenamento e processamento dessas informações –
vem transformando profundamente as formas de produção. Tecnologias como inte-
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 33
ligência artificial, robótica e diversas técnicas de manufatura avançada (internet das
coisas – IoT, impressão 3D, entre outras) são capazes de tornar o trabalho humano
menos necessário em uma gama crescente de atividades produtivas, em escala tão
grande ou até maior do que ocorreu quando da invenção da máquina a vapor.

O aumento exponencial da capacidade de processamento dos computadores


tem possibilitado o surgimento de novas ferramentas e aplicações usando, por
exemplo, inteligência artificial. Novas tecnologias da informação também prometem
automatizar uma série de atividades que hoje ainda dependem de intervenção huma-
na. O uso de robôs nas atividades industriais ainda deve crescer muito nos próximos
anos, sendo que a maior restrição para sua difusão não estará nas possibilidades
tecnológicas, mas sim no preço desses equipamentos vis-à-vis os custos da mão de
obra. A substituição de pessoas por máquinas só será economicamente viável quan-
do o seu preço relativo cair ainda mais em comparação com o preço do trabalho, o
que deve acontecer gradualmente e apenas para algumas tecnologias.

Sem dúvida, as novas tecnologias podem ampliar significativamente a eficiên-


cia da atividade econômica e do uso de recursos produtivos, inclusive os recursos
naturais, fornecendo talvez parte das soluções necessárias para os desafios da hu-
manidade. Contudo, uma questão crítica que se coloca é como aumentar a eficiência
sem ampliar as desigualdades econômicas e sociais já muito grandes, especialmen-
te nos países menos desenvolvidos. É fato que as novas tecnologias são poupado-
ras de trabalho. Nesse sentido, outra grande questão do nosso tempo reside em
como melhorar a distribuição dos frutos do progresso técnico. É preciso pensar em
modelos econômicos que permitam que os ganhos de produtividade e eficiência não
se traduzam em maior concentração da riqueza. Redução da jornada de trabalho,
tributação mais progressiva e novas formas de regulação do mercado são críticas
para a construção de um futuro mais eficiente e menos desigual.

AGENDA PRIORITÁRIA
Elaborar soluções viáveis para essas questões requer mobilizar conhecimentos, ela-
borar estudos, pesquisas e assessorias que ajudem o país a formular uma agenda
consistente de inovação, inclusão e desenvolvimento sustentável. Alguns dos pon-
tos de uma agenda de pesquisa nessa direção são listados a seguir.

Produção sustentável e transição energética


Devem-se realizar pesquisas sobre a produção e difusão, no sistema produtivo brasi-
leiro, de tecnologias de produção (industrial e agrícola) de baixo carbono e estímulo
ao uso sustentável dos recursos naturais, especialmente recursos hídricos e ener-
géticos. A agenda de políticas públicas deveria se assentar em incentivos à adoção
dessas tecnologias e na regulação (mercados de carbono e regulação de emissões).
34 Relatório Institucional

Aumento da produtividade e inclusão


O crescimento da renda per capita é fundamental para a melhoria da qualidade de
vida da população brasileira e para a inclusão social. O Brasil precisa ganhar produti-
vidade na sua produção, aumentando a eficiência tanto no uso de recursos humanos
como ambientais sem gerar desemprego e pobreza. Esse equilíbrio exige políticas
públicas bem fundamentadas, assim como a produção e difusão de novas tecnolo-
gias. Também exige repensarmos a repartição dos frutos do progresso técnico e do
aumento da riqueza derivada dos ganhos de produtividade.

Infraestrutura resiliente e infraestrutura para a economia do futuro


A maior frequência de eventos extremos tem impactos gigantescos sobre a infraes-
trutura urbana e sobre a malha de transporte dos países. Elaborar soluções para a
constituição de uma infraestrutura mais resiliente a esse tipo de evento é funda-
mental para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Além disso, as novas
tecnologias de big data e inteligência artificial, fundamentais para os ganhos de pro-
dutividade da economia, requerem uma infraestrutura de dados e informações muito
mais robusta do que aquela que o Brasil dispõe atualmente.

Financiamento do desenvolvimento
Os investimentos necessários para a produção do futuro exigem o desenho de meca-
nismos de financiamento mais eficientes e robustos. Os recursos públicos não serão
suficientes para alavancar esses investimentos, ao passo que muitos dos prejuízos
da falta de investimentos atingem os agentes privados, que consequentemente te-
riam interesse nesse tipo de investimento. Assim, mecanismos que mesclem o uso
de recursos públicos e privados em projetos de investimento em infraestrutura e
inovação para a produção do futuro serão essenciais.

ASSESSORAMENTO GOVERNAMENTAL
Além das atividades de pesquisa da Diset, e como resultado destas, a diretoria tem
atuado ativamente no assessoramento ao desenho, implementação e avaliação de
políticas públicas nas mais diversas áreas. Entre os ministérios e instituições com
os quais a Diset já tem uma relação muito forte de assessoria, estão: i) Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação e seus órgãos vinculados, tais como o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep); ii) Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio
Exterior, incluindo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BN-
DES) e o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI); iii) Ministério da Saúde,
em particular em relação às políticas tecnológicas voltadas à produção de fármacos
para o Sistema Único de Saúde (SUS); iv) Ministério da Educação, em particular a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) na formula-
ção e acompanhamento do Plano Nacional de Pós-Graduação; v) o Banco Central do
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 35
Brasil em uma ampla agenda, baseada em microdados, para o diagnóstico das restri-
ções de crédito na economia brasileira; vi) os órgãos de controle, Tribunal de Contas
da União (TCU) e Controladoria-Geral da União (CGU), que frequentemente acionam a
diretoria para esclarecer questões relativas às políticas industriais e de inovação no
país; e vii) o próprio Ministério do Planejamento e Orçamento, com análises e avalia-
ções sobre políticas públicas realizadas no Conselho de Monitoramento e Avaliação
de Políticas Públicas (CMAP), e com análises sobre a evolução do orçamento federal
em diversas áreas.

Além disso, a diretoria também tem atuado no auxílio e na revisão de documen-


tos em debate pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) junto a organismos
internacionais, nas áreas de atuação da diretoria. A Diset também prevê contribuir
junto à presidência brasileira no G20, em particular por meio da atuação junto aos
outros think tanks participantes do T20.

DIRETORIA DE ESTUDOS INTERNACIONAIS (DINTE)

POLÍTICAS PÚBLICAS NA AGENDA INTERNACIONAL


Contextualização
A agenda prioritária da Diretoria de Estudos Internacionais (Dinte) no quadriênio
2023-2026 consistirá em analisar, acompanhar, documentar e avaliar os efeitos das
transformações sociais, econômicas e geopolíticas globais e das políticas públicas
nacionais, de países estrangeiros e globais sobre a inserção internacional do Brasil
e o bem-estar de sua população.

A retomada de uma política externa comprometida com o multilateralismo, o


desenvolvimento sustentável, a defesa dos direitos humanos e da biodiversidade,
o enfrentamento dos desafios relacionados às mudanças climáticas, a cooperação e
integração regional, e o retorno de uma forte agenda de cooperação com os países
africanos representam um grande desafio e uma grande oportunidade para a Dinte,
em particular, e para o Ipea, como um todo, com vistas a ampliar a influência do
conhecimento produzido na instituição na formulação, monitoramento e avaliação
das políticas públicas, incluindo a política externa, a cooperação internacional para
o desenvolvimento, a política de comércio internacional e promoção de exportações,
a política para atração de investimentos externos e o financiamento internacional.

No entanto, para aumentar a pertinência e efetividade do conhecimento produ-


zido na Dinte e no Ipea em áreas ligadas a e/ou fortemente influenciadas pela agen-
da internacional, se faz necessário um esforço de participação e engajamento com
fóruns, parcerias e iniciativas globais e regionais. Neste quadriênio, a Dinte pretende
aumentar seu engajamento direto e facilitar o envolvimento de outras diretorias do
Ipea nos debates de âmbito global e regional promovidos por organismos ou fóruns
das Nações Unidas e/ou agrupamentos de países e fóruns multilaterais globais e re-
gionais como o G20, o BRICS, o IBAS, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e
36 Relatório Institucional

Caribenhos (Celac), o Mercado Comum do Sul (Mercosul), e a Organização do Trata-


do de Cooperação Amazônica (OTCA), com foco nos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS).

Os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil com diferentes níveis


de formalização e internalização implicam a necessidade de analisar os desafios e
oportunidades que estes representam para as políticas públicas nacionais, incluin-
do a política externa. Estes desafios e oportunidades dialogam com três temas
prioritários do governo, a saber, o plano de transição ecológica (a ser apresentado
no segundo semestre de 2023), políticas relacionadas à neoindustrialização, e a
retomada da agenda dos ODS. No contexto destes três temas prioritários, os es-
tudos e pesquisas da Dinte incorporarão a suas tradicionais áreas de pesquisa –
comércio internacional, investimentos estrangeiros, financiamento internacional,
cooperação internacional para o desenvolvimento e integração regional – temas
relativos ao desenvolvimento sustentável.

No comércio se destacariam o uso e o impacto de medidas tarifárias e não


tarifárias, cuja adoção se baseia em argumentos sobre a proteção ambiental e o
combate à mudança climática, e o impacto de possíveis acordos comerciais sobre a
emissão de gases de efeito estufa. Na área de investimento externo, se ressaltariam
as oportunidades de investimento em atividades de baixo carbono, infraestrutura
resiliente, bioeconomia e transição energética em linha com as prioridades do futuro
plano de transição ecológica e da neoindustrialização. No campo do financiamento
internacional, se destacariam questões relacionadas ao acesso aos fundos verdes,
mercado de carbono, green bonds, os recursos disponíveis nos bancos multilate-
rais de desenvolvimento para financiar os ODS, assim como o debate em torno da
reforma da arquitetura financeira internacional de modo a refletir de maneira mais
adequada as mudanças globais, e apoiar os países menos desenvolvidos no finan-
ciamento dos investimentos necessários à consecução dos ODS e a se devolverem
com acesso à energia limpa, com uma economia de baixo carbono. Na cooperação
internacional, se ressaltaria a produção de dados e relatórios sobre a cooperação
internacional para o desenvolvimento, com foco na sua contribuição para os ODS. Na
integração regional, se destacariam temas relativos a uma maior integração com os
países da América do Sul em termos de comércio, investimento e infraestrutura, com
vistas a contribuir para o desenvolvimento inclusivo e ambientalmente sustentável e
à estabilidade democrática da região.

AGENDA PRIORITÁRIA
Integração regional
Estudos e atividades de assessoramento ligados à integração regional, como foco
nos corredores bioceânicos e nos países amazônicos.
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 37
Comércio internacional e promoção de exportações
Estudos e atividades de assessoramento ligados ao comércio internacional e pro-
moção de exportações, com foco no Mercosul e acordos comerciais, e no tema da
sustentabilidade socioambiental.

Investimento estrangeiro no Brasil


Estudos e atividades de assessoramento ligados ao investimento estrangeiro no Bra-
sil e à transição ecológica.

Financiamento internacional para o desenvolvimento


Estudos e atividades de assessoramento ligados ao financiamento internacional
para o desenvolvimento sustentável e à transição ecológica com foco nos bancos
multilaterais de desenvolvimento e nos fundos verdes.

Cooperação brasileira para o desenvolvimento


Estudos e atividades de assessoramento ligadas aos ODS com foco na mensuração
da cooperação brasileira para o desenvolvimento internacional e avaliação da coo-
peração Sul-Sul.

Países, organismos e fóruns prioritários

ASSESSORAMENTO GOVERNAMENTAL
A Dinte realiza estudos, atividades de assessoramento e, em alguns casos, ativida-
des de representação ligadas a países de interesse especial (e.g. China) ou agrupa-
mentos de países, ou instituições que incluem o Brasil, ou com os quais o Brasil tem
discutido adesão (e.g. Sistema Nações Unidas, G20, BRICS, IBAS, OTCA, Celac, União
de Nações Sul-Americanas – Unasul, Mercosul e Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico – OCDE), incluindo a avaliação da política externa do
Brasil, geopolítica internacional e o combate a ilícitos transnacionais.

Nesse âmbito, há projetos prioritários transversais (com apoio de outras direto-


rias), dentre eles: i) organização do T20 Brasil juntamente com a Funag e o Cebri; ii)
apoio ao governo na produção de documentos para os grupos de trabalho do G20;
iii) apoio à internacionalização da produção do Ipea e da cooperação técnica interna-
cional do Instituto por meio do International Policy Centre for Inclusive Development
(IPCid) e da Coordenação de Assessoramento Internacional e Intercâmbio (Coain);
iv) as publicações Revista Tempo do Mundo (RTM) e Boletim de Economia e Política
Internacional (Bepi); e v) participação na Comissão Nacional dos ODS.
38 Relatório Institucional

DIRETORIA DE ESTUDOS E POLÍTICAS REGIONAIS, URBANAS


E AMBIENTAIS (DIRUR)

DESENVOLVIMENTO REGIONAL INCLUSIVO, COM COESÃO FEDERATIVA


E AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL
Contextualização
As evidências do debate sobre desenvolvimento regional vêm apontando de manei-
ra crescente a necessidade de mudança nas concepções, estratégias e instituições
comumente adotadas. O reconhecimento vem, de um lado, das transformações mais
gerais da economia brasileira, consubstanciadas numa transição produtiva do tipo
regressivo, isto é, em que se combinam um processo de redução da complexidade
produtiva nacional, dada pela desindustrialização, com expansão da produção de
commodities agrominerais exportáveis. De outro lado, percebe-se o esgotamento
prematuro de um ciclo de investimentos públicos em infraestruturas, moradias, ins-
tituições de ensino superior, entre outros, que visavam o fortalecimento do mercado
interno, grosso modo, entre 2007-2014.

Desde 2015 até o presente momento o país vem passando por sucessivas e su-
perpostas crises – econômica, política, ambiental e sanitária –, cujos resultados são
a recorrente desaceleração econômica, redução dos níveis médios de investimento,
aumento do desemprego, queda na massa salarial, e acirramento político-ideológico
em praticamente todas as regiões do país. Este quadro consolidado de problemas
acumulados exige da Dirur/Ipea uma reflexão inovadora para a retomada de estudos
em novas perspectivas sobre os desafios do desenvolvimento regional brasileiro atual.

Agregam-se a este quadro político-econômico-produtivo os desafios impostos


pela questão ambiental. A elevação da temperatura do planeta e seus impactos so-
bre a vida cotidiana nas cidades, no campo e na atividade produtiva já se faz sentir
de modo significativo na forma de eventos extremos (secas, incêndios florestais,
chuvas torrenciais, alagamentos, desmoronamentos de morros cada vez mais fre-
quentes). Processos de desertificação mostram sinais fortes no semiárido brasilei-
ro, assim como irregularidades no ciclo de chuvas aparecem na Amazônia.

A transição do modelo econômico atual em direção a uma economia chamada


de baixo carbono, isto é, com baixa produção do componente carbono, gerador do
efeito estufa, e portanto contribuinte para o aquecimento global, se faz necessária
e urgente.

Em debates internos entre seus pesquisadores, a Dirur vem construindo um pla-


no de trabalho com base em questionamentos sobre problemas regionais, urbanos e
rurais considerados mais candentes, entre eles os seguintes:

• Como garantir o bem-estar e oportunidades para todos, independentemente de


sua localização geográfica, minimizando as externalidades negativas associadas
ao local de moradia? Quais políticas podem ser desenhadas para atingir esses
objetivos? Quais são as ações prioritárias?
Agenda Estratégica 2024-2026 do Ipea 39
• Quais são as atuais ações do Estado, em políticas regionais explícitas ou não, e
quais são seus impactos sobre a distribuição das atividades? Quais são as conse-
quências dessas ações?
• Diante de um sistema produtivo cada vez mais fragmentado e de novas formas de
produção e reorganização da produção (cadeias globais e nacionais), quais são os
caminhos para o desenvolvimento das regiões e do país? Reindustrialização? Re-
giões com foco em serviços? Crescimento impulsionado por atividades terciárias?
Agricultura capitalista para exportação? Um mix de todas as alternativas anterio-
res, numa estratégia de elevação da complexidade produtiva regional?
• Quais são os novos instrumentos de políticas consequentes com esse contexto?
Ampliar o foco em questões setoriais, ou em ações mais horizontais, como in-
fraestrutura e educação? Ou ainda em políticas voltadas para o impulsionamento
de sistemas territoriais de inovação?
• Na perspectiva da sustentabilidade ambiental, como preparar a sociedade civil,
o empresariado e o governo para uma visão concertada sobre o tema? Em que
medida uma estratégia de crescimento ambientalmente sustentável colide com
interesses cristalizados de setores produtivos como os da agricultura ou da pro-
dução mineral para exportação?
• Na busca de fortalecimento da democracia e da melhoria da entrega de políticas
públicas aos cidadãos, como ampliar a coordenação de políticas e consolidar o
pacto federativo?
A Dirur pretende direcionar seu plano de trabalho para os próximos anos de
maneira que seus esforços de pesquisa tenham foco em modelos e trajetórias de
desenvolvimento territorial (urbano, rural, regional e ambiental) sustentadas social,
econômica e ambientalmente. Para tal, seus estudos e pesquisas devem ser orga-
nizados para: i) a redução das disparidades urbano-regionais de desenvolvimento
(dotação de infraestruturas socioprodutivas, fontes de financiamento etc.); ii) me-
lhoria das cidades; iii) a promoção da transição econômica e tecnológica adaptada
às especificidades territoriais (sistemas territoriais de inovação, ganhos de produti-
vidade, ampliação de mercados etc.); e iv) a promoção da transição energética e de
mitigação dos efeitos da mudança climática sobre as regiões brasileiras.

AGENDA PRIORITÁRIA
A diretoria, neste sentido, aponta para a necessidade de renovação de seus esforços
de pesquisa, visando à incorporação e consolidação de uma agenda de mudança es-
trutural, baseada no conhecimento e na inovação, e ambientalmente sustentada pela
atenção simultânea a questões vistas como essenciais, relacionadas a estratégias
regionais de desenvolvimento.

Financiamento de infraestruturas socioeconômicas urbano-rurais


Provisão e financiamento de infraestruturas socioeconômicas urbano-rurais direcio-
nadas à redução da pobreza, diminuição da divergência de rendas per capita e ao
estímulo ao investimento produtivo.
40 Relatório Institucional

Sustentabilidade ambiental para a transição produtiva


Internalização da sustentabilidade ambiental como eixo do desenvolvimento e das
questões de mudança climática e transição energética – impactos territoriais prová-
veis, consequências sobre fluxos populacionais e usos/desusos de infraestruturas ur-
bano-rurais instaladas – como parte constitutiva da estratégia de transição produtiva.

Expansão da produtividade sistêmica regional


Expansão da produtividade sistêmica regional pela realização de esforços de conso-
lidação de sistemas territoriais de inovação e conhecimento para a transição produ-
tiva-ambiental.

Relações federativas e capacidades institucionais na governança e gestão das


políticas públicas
Estudos e assessoria governamental dedicados às relações federativas, às capa-
cidades institucionais, à governança e à gestão das políticas (regionais, urbanas,
rurais e ambientais), com intuito de mobilizar atores a aderir ao esforço de transição
produtiva e ambiental, devem ser impulsionadas neste novo ciclo do seu programa
de trabalho.

ASSESSORAMENTO GOVERNAMENTAL
O esforço de assessoramento governamental para os temas das políticas territoriais
(regional, urbano, rural, ambiental e federativo) tem papel destacado no conjunto das
atividades da Dirur. O histórico de relevantes e numerosas parcerias institucionais
junto a ministérios, agências governamentais, e também na academia, tem permitido
a constante renovação do plano de trabalho pelas provocações e desafios advindos
das demandas e interpelações de parceiros externos.

Neste sentido, a Dirur organizará seu esforço de assessoria governamental em:


i) realização direta de pesquisas para órgãos governamentais, principalmente mi-
nistérios federais, sob demanda temática orientada – Ministério do Planejamento
e Orçamento, Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, Ministério das
Cidades, Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Mi-
nistério da Defesa, Ministério da Agricultura, Secretaria de Relações Institucionais da
Presidência da República, superintendências regionais de desenvolvimento (Superin-
tendência do Desenvolvimento do Nordeste – Sudene, Superintendência de Desen-
volvimento do Centro-Oeste – Sudeco e Superintendência do Desenvolvimento da
Amazônia – Sudam etc.); ii) apoio à realização e monitoramento das ações do Plano
Plurianual (PPA) do governo federal; iii) realização de avaliações ex ante e ex post
de políticas públicas para o Conselho de Monitoramento e Avaliação de Políticas
Públicas (CMAP) do Ministério do Planejamento e Orçamento; e iv) representação do
Ipea junto ao Forum of Federations, para consolidação de estudos e pesquisas sobre
relações federativas e intergovernamentais no Brasil.
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

EDITORIAL

Coordenação
Aeromilson Trajano de Mesquita

Assistentes da Coordenação
Rafael Augusto Ferreira Cardoso
Samuel Elias de Souza

Supervisão
Ana Clara Escórcio Xavier
Everson da Silva Moura

Revisão
Alice Souza Lopes
Amanda Ramos Marques Honorio
Barbara de Castro
Brena Rolim Peixoto da Silva
Cayo César Freire Feliciano
Cláudio Passos de Oliveira
Clícia Silveira Rodrigues
Olavo Mesquita de Carvalho
Regina Marta de Aguiar
Reginaldo da Silva Domingos
Katarinne Fabrizzi Maciel do Couto (estagiária)

Editoração
Anderson Silva Reis
Augusto Lopes dos Santos Borges
Cristiano Ferreira de Araújo
Daniel Alves Tavares
Danielle de Oliveira Ayres
Leonardo Hideki Higa
Natália de Oliveira Ayres

Capa
Andrey Tomimatsu
Danielle de Oliveira Ayres
Flaviane Dias de Sant’ana

The manuscripts in languages other than Portuguese


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Centro Empresarial Brasília 50, Torre B
CEP: 70390-025, Asa Sul, Brasília-DF
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Frutiger 67 bold condensed (títulos, gráficos e tabelas)
Brasília-DF
Missão do Ipea
Aprimorar as políticas públicas essenciais ao desenvolvimento brasileiro
por meio da produção e disseminação de conhecimentos e da assessoria
ao Estado nas suas decisões estratégicas.

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