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Nos 13 primeiros capítulos de "Memorial do Convento", José Saramago nos conduz por um

mergulho profundo na complexidade da sociedade portuguesa do século XVIII. O romance


não se limita a uma narrativa histórica convencional, mas se desdobra em camadas de
significados que abrangem desde a construção do grandioso Convento de Mafra até as
vidas intricadas dos personagens.

A construção do convento, encomendada pelo rei D. João V, emerge como um símbolo


poderoso ao redor do qual se desenrolam as vidas dos protagonistas, Baltasar e Blimunda.
A grandiosidade da estrutura reflete a ostentação do poder régio, enquanto suas paredes e
corredores testemunham não apenas a ascensão monárquica, mas também as vidas
comuns dos que ali trabalham. Essa dualidade entre o monumental e o humano constitui
um aspecto central da obra, delineando as tensões entre a nobreza e as classes mais
baixas.

A escrita inconfundível de Saramago, caracterizada por suas longas frases e ausência de


pontuação convencional, desafia os leitores a se perderem nos meandros do texto. Esse
estilo peculiar contribui para a sensação de imersão na história, criando uma atmosfera
única que envolve o leitor na narrativa. As palavras fluem como um rio, levando-nos através
das vicissitudes dos personagens e da sociedade retratada.

A presença marcante de Blimunda, com seus poderes de visão peculiar, adiciona um


toque de misticismo à trama. Ela é uma personagem fascinante que transcende as
limitações do realismo histórico, proporcionando uma perspectiva única sobre os eventos.
Sua busca pela verdade e sua conexão com o espiritual introduzem elementos filosóficos e
metafísicos, enriquecendo a trama com diversas interpretações possíveis.

Além disso, o romance explora temas atemporais como a opressão, a busca pela
liberdade e as complexidades da condição humana. A construção do convento é mais do
que uma mera obra arquitetônica; ela é uma metáfora para as estruturas sociais que
moldam e restringem as vidas daqueles que a compõem.

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