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DIVERSIDADE CULTURAL NO HOSPITAL: CRENÇAS, RITUAIS E PRÁTICAS …

INTRODUÇÃO
A saúde é uma das vertentes mais afetadas em contexto migratório, resultado do desconhecimento do acesso aos serviços de saúde, da insegurança económica, das dificuldades
comunicacionais e do isolamento com que o migrante frequentemente é confrontado. O recurso a rituais e a práticas de proteção da saúde do país de origem é uma realidade, permitindo manter
a sua identidade cultural, e simultaneamente, garantindo e resolvendo problemas de saúde menos complexos. A prática da medicina tradicional, respeita as crenças individuais e coletivas de
uma comunidade, e ocorre em simultâneo com os cuidados preconizados em contexto hospitalar.

O conhecimento das práticas relacionadas com a saúde da população migrante assume particular importância para um cuidar individualizado e que respeite as crenças e o migrante como
PESSOA e ser único. Em contexto pediátrico, as práticas de saúde estão intimamente relacionadas com rituais de proteção e com prátic as curativas que afastam o “mau-olhado” e
que ajudam a prevenir e a curar rapidamente as doenças.

ASSIM SENDO, SABIA QUE…?


Na Comunidade Africana
Na Comunidade Nepalesa A alimentação é entendida como
O parto é habitualmente realizado em uma fonte de força e de saúde. Os
casa e assistido por parteiras tradicionais. alimentos são preparados com
Após o parto, a placenta, designada de https://www.unfpa.org/news/astrologers-shamans-and-priests-mobilize-against-child-marriage-nepal https://face2faceafrica.com/article/10-african-proverbs-about-smiling-that-would-light-you-up condimentos e com sal.
‘bucha-co-satthi’ que significa “amiga do Povo muito supersticioso, pelo que o
bebé”, é geralmente enterrada. uso de amuletos é frequente,

https://exame.abril.com.br/mundo/impactos-globais-de-um-problema-africano/
funcionando como proteção. O uso

https://cotni.org/news/united-states/2013/11/08/ten-questions-kids-have-about-africa
Entre o 4º e o 12º dia, após o nascimento,
https://www.pinterest.pt/pin/786652259887848140/?lp=true

acorre o ritual no qual a criança é do amuleto colocado na região


formalmente apresentada à sua família e umbilical destina-se a afastar o mal e
recebe o seu nome. não deve ser retirado sem antes se
https://www.abc.net.au/news/2015-08-16/children-at-salyantar-camp-in-nepal/6700504 explicar aos familiares essa
necessidade.
Recorrem com frequência a
https://www.fluentu.com/blog/chinese/2018/02/11/chinese-new-year-movies/

curandeiros e feiticeiros utilizando


http://aquilombandodfe.blogspot.com/2015/08/amamentar-direito-de-quem.html

http://emilimaia.com/wp-content/uploads/2018/04/cordao-2.jpg

mistura de folhas e outros


produtos naturais para a confeção de
“remédios”.

http://kathmandupost.ekantipur.com.np/news/2017-07-21/action-plan-delay-leaves-goal-in-
doubt.html

https://www.freetheslaves.net/nepal-bringing-all-the-children-home-from-slavery/

http://www.chinadaily.com.cn/a/201809/05/WS5b8f3127a310add14f389aef.html

https://www.huffpost.com/entry/18-captivating-photos-of-kids-dressed-
up-as-hindu-gods-and-goddesses_n_57bf3ffee4b02673444f1c9d
Na Comunidade Chinesa
Após o nascimento do bebé, a mulher
deve respeitar 1 mês de resguardo em
httpswww.humanium.orgenchina

casa, evitando o frio (andar descalça,


sair à rua, ingerir líquidos e alimentos
frios). A mãe recusa amamentar se não
https://www.ccaifamily.org/
https://www.huffpost.com/entry/18-captivating-photos-of-kids-dressed-up-as-

cumprir este resguardo, pois acredita


httpswww.nytimes.com20151030worldasiachina-end-one-child-policy.html

que o seu leite não se adequa às Na Comunidade Hindu


hindu-gods-and-goddesses_n_57bf3ffee4b02673444f1c9d

necessidades do bebé. Nessa fase O preto é tipo como uma cor que
quem cuida do bebé é o pai, as avós e desvia a atenção. É comum o uso
as tias. diário do cajal que pode ser
Os chineses são muito supersticiosos e colocado nos olhos, na cabeça, na
receiam a morte, preferindo não falar no palma das mãos, na planta dos pés
assunto, uma vez que está relacionada
httpswww.humanium.orgenchina2

ou ainda atrás das orelhas.


https://www.lainformacion.com/mundo/el-pueblo-gitano-la-minoria-etnica-mas-extendida

com a finitude do tempo. Evitam Também são utilizadas pulseiras


o número 4, devido à parecença com a pretas nas mãos ou pulseiras de
palavra “morte” em mandarim. ouro ou prata com bolinhas pretas,
https://www.pinterest.pt/pin/457467274624890795/?lp=true

No processo de luto, os familiares entendidas como objetos que


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vestem roupa branca e/ou faixa preta afastam o mau-olhado.


colocada no braço esquerdo e enrolam
tiras de pano brancas atadas à cabeça.

https://www.hinduismupdater.org/hinduism-personalised/hindu-family-puja/

Na Comunidade Cigana
A família cigana é uma família alargada onde os avós, os tios e os primos têm um papel muito importante na
educação e no desenvolvimento da criança. Os elementos mais velhos da família são muito respeitados, sendo
comum os outros membros pedirem-lhes conselhos e opiniões. A hospitalização é vista como um “mal maior”, pois é
um meio hostil, onde ocorre a separação do grupo. Existe a crença de que o “leite materno dá força” pelo que a
criança decide quando deixa de amamentar podendo este processo durar alguns anos.

CONCLUSÃO
As comunidades migrantes que acorrem ao Hospital Dona Estefânia apresentam inúmeras crenças e práticas tradicionais relacionadas com a saúde, que os profissionais de saúde devem
conhecer e integrar nos seus cuidados. O cuidar culturalmente competente assume-se como uma prática de excelência, por forma a compreender e ir ao encontro das verdadeiras necessidades
de saúde destas comunidades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Lopes, J. et al (2009). Multiculturalidade - Perspectiva da Enfermagem: Contributos para Melhor Cuidar. 1ª Edição. Loures: Lusociência. 271p. ISBN 978-972-8930-45-5.
Meneses, T. (2014). Cuidados culturalmente competentes à criança e família de cultura chinesa. Dissertação de Mestrado em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediatria. Lisboa: Escola Superior de Enfermagem de Lisboa.
Martins, A. S. G. (2008). Crenças de saúde em minorias étnicas: a gravidez em mulheres africanas em Portugal. Tese de dissertação em Mestrado em Psicologia Social e das Organizações.
Mendes, M.; Magano, O.; Candeias, P. (2014). Estudo Nacional sobre as Comunidades Ciganas. Lisboa: ACM, IP. Alto Comissariado para as Migrações
Moleiro, C.; Silva, A.; Rodrigues, R. & Borges, V. (2009). Health and Mental Health Needs and Experiences of Minority Clients in Portugal. International Journal of Migration, Health and Social Care. Vol. 5 Issue: 1, 15-24. https://
doi.org/10.1108/17479894200900003
Monteiro, I. & Ramos, N. (2018). Práticas e crenças de saúde na comunidade Hindu em Portugal. Psicologia, Saúde & Doenças. 19(1), 64-70. https://dx.doi.org/10.15309/18psd190110
Reis, N. (2002) – A Importância dos Factores Sócio-Culturais na Hospitalização. Estudo de Cabo Verde, Guiné- Bissau e S. Tomé e Príncipe. Lisboa. [s.n.]. 112p.
Saraiva, H. (2010). Aleitamento Materno: Promoção e Manutenção. 1ªEdição. Lisboa: Lidel Edições Técnicas, Lda. 223p. ISBN 978-972-757-659-3.

Área da Mulher, Criança e Adolescente

Contactos:

Palmira Silva: Enfermeira Directora Adjunta, CHULC, Área da Mulher, Criança e Adolescente (AMCA), Hospital D. Estefânia,
Anabela Namora: Enfermeira, CHULC, Área da Mulher, Criança e Adolescente (AMCA), Hospital D. Estefânia, – Unidade de Intervenção de Ambulatório – Cirurgia de Ambulatório
Ivete Monteiro: Enfermeira, CHULC, Área da Mulher, Criança e Adolescente (AMCA), Hospital D. Estefânia, Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais; Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais, CEMRI, Universidade Aberta

Data de realização: Maio 2019

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