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& direito
2002–2004
Gustavo Lins Ribeiro presidente
Antonio Carlos de Souza Lima vice-presidente
2004–2006
Miriam Pillar Grossi presidente
Peter Henry Fry vice-presidente
temas antropológicos
2006–2008
Luís Roberto Cardoso de Oliveira presidente
Roberto Kant de Lima vice-presidente
para estudos jurídicos
2008–2010
Carlos Alberto Caroso Soares presidente
Lia Zanotta Machado vice-presidente
apoio
copyright ©, 2012 dos autores
sumário
edição, capa e projeto gráfico
Contra Capa
direito e saúde
520 Introdução Sérgio Carrara publica-se aqui o resultado de esforços feitos durante cinco
gestões da Associação Brasileira de Antropologia (aba), que repre-
526 Corpo sentam um passo significativo na reflexão sobre as relações entre a
Olívia Maria Gomes da Cunha antropologia e o direito. Nas duas últimas décadas, em consequência,
mas não exclusivamente, de ações motivadas pela promulgação da
532 Vida e morte
Constituição de 1988, a aba e os antropólogos brasileiros têm busca-
Rachel Aisengart Menezes
do ampliar, de maneira substancial, o diálogo com os chamados ope-
539 Loucura e responsabilidade radores do direito e o sistema jurídico brasileiro. Seja na realização
Jane Russo de laudos periciais decorrentes de demandas de reconhecimento de
Ana Teresa A. Venancio territórios indígenas e quilombolas, seja em discussões sobre segu-
Idade e ciclo de vida rança pública, direitos de minorias e cidadania, ou na preocupação
546
Daniela Riva Knauth com os direitos humanos em sentido amplo, o diálogo com o direito
tem se mostrado cada vez mais denso e presente no horizonte do
552 Saúde e doença oficio antropológico. As dificuldades de compreensão mútua entre
Alessandra de Andrade Rinaldi os profissionais dessas duas áreas, no entanto, nem sempre são claras
ou de fácil superação, razão pela qual um dos principais objetivos
558 Comentário jurídico Paulo Gilberto Cogo Leivas deste livro é contribuir para melhorar a comunicação entre antro-
pólogos e advogados.
Antropologia e direito têm visões diferentes sobre os direitos e as
567 índice remissivo perspectivas de ambas as disciplinas para a compreensão da vida em
sociedade têm pouca proximidade. Além de diferenças no campo
conceitual que dificultam o diálogo, a antropologia produz conhe-
cimento com base em pesquisa empírica e cultiva a preocupação em
11
em simples consumidores de bens e serviços ofertados pela inicia-
tiva privada; e que os titulares dos direitos sociais são reduzidos ao 3.
papel de “clientes”, o acesso a educação, saúde e previdência passa
a depender do poder aquisitivo de cada um dos indivíduos ou fa-
mílias. De modo previsível, os excluídos, que não têm como pagar
por esses serviços, convertem-se em “sem direitos” e configuram um
problema político e social, cujo impacto no futuro das instituições
jurídicas no país pode ser estimado à luz dos indicadores sociais direitos territoriais
acima apresentados.
Coordenação Eliane Cantarino O’Dwyer
josé eduardo faria
referências bibliográficas
peirano, Mariza
(2003) “A marcha política como ritual”. In: Rituais ontem e hoje. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, p. 44–47.
revel, Jacques
(1989) A invenção da sociedade. Lisboa: Difel, 1990.
a instituição da categoria
terras tradicionalmente ocupadas
1 No Brasil, a condição de ex-escravos como “proprietários” por intermédio de escravos tiveram a chance de se converter em “proprietários”, ou seja,
de uma forma comunitária só aparece legalmente no art. 68 do adct de tratou-se de um processo individualizado e não referido a uma camada
1988. Após a “Lei de Liberdade dos Índios” do período pombalino, de 1775, social propriamente dita. No art. 68, acima citado, a titulação definitiva
ou a Abolição da escravatura em 1888, não se definiram preceitos legais das terras está condicionada à expressão comunitária.
que assegurassem aos libertos o acesso à terra. Para efeito de contraste, 2 Antes disso, leis municipais aprovadas no estado do Paraná reconheceram
recorde-se que nos Estados Unidos constitui-se formalmente com a Abo- criatórios comuns. Entre elas, a Lei n. 9 da Câmara de São João do Triunfo,
lição da escravatura uma camada de “black farmers”, implicando o pro- de 6 de fevereiro de 1948, e a Lei n. 149 da Câmara Municipal de Palmeira, de
cesso de elevar os ex-escravos à condição de cidadãos investidos da iden- 6 de maio de 1977, que procuraram delimitar responsabilidades inerentes
tidade de “proprietários”. No Brasil, apenas os alforriados, os beneficiários ao uso das terras de agricultura e de pastagens, com suas respectivas mo-
de doações por disposição testamentária e os filhos naturais de senhores dalidades de cercados.
deborah duprat