Você está na página 1de 33

OLHARES JURÍDICOS SOBRE DIREITOS

HUMANOS E FUNDAMENTAIS
PEMBROKE COLLINS
EDITORIAL BOARD

PRESIDENT Felipe Dutra Asensi

MEMBERS Adolfo Mamoru Nishiyama (UNIP, Brazil)


Adriano Moura da Fonseca Pinto (UNESA, Brazil)
Adriano Rosa (USU, Brazil)
Alberto Shinji Higa (Procuradoria Geral de Jundiaí, Brazil)
Alessandra T. Bentes Vivas (DPRJ, Brazil)
Arthur Bezerra de Souza Junior (UNINOVE, Brazil)
Aura Helena Peñas Felizzola (Universidad de Santo Tomás, Colombia)
Carlos Mourão (PGM, Brazil)
Claudio Joel B. Lossio (Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal)
Coriolano de Almeida Camargo (UPM, Brazil)
Daniel Giotti de Paula (INTEJUR, Brazil)
Danielle Medeiro da Silva de Araújo (UFSB, Brazil)
Denise Mercedes N. N. Lopes Salles (UNILASSALE, Brazil)
Diogo de Castro Ferreira (IDT, Brazil)
Douglas Castro (Foundation for Law and International Affairs, United States)
Elaine Teixeira Rabello (KIT, Netherlands)
Glaucia Ribeiro (UEA, Brazil)
Isabelle Dias Carneiro Santos (UFMS, Brazil)
Jonathan Regis (UNIVALI, Brazil)
Julian Mora Aliseda (Universidad de Extremadura, Spain)
Leila Aparecida Chevchuk de Oliveira (TRT 2ª Região, Brazil)
Luciano Nascimento (UEPB, Brazil)
Luiz Renato Telles Otaviano (UFMS, Brazil)
Marcelo Pereira de Almeida (UFF, Brazil)
Marcia Cavalcanti (USU, Brazil)
Marcio de Oliveira Caldas (FBT, Brazil)
Matheus Marapodi dos Passos (Universidade de Coimbra, Portugal)
Omar Toledo Toríbio (Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Peru)
Ricardo Medeiros Pimenta (IBICT, Brazil)
Rogério Borba (UVA, Brazil)
Rosangela Tremel (JusCibernética, Brazil)
Roseni Pinheiro (UERJ, Brazil)
Sergio de Souza Salles (UCP, Brazil)
Telson Pires (Faculdade Lusófona, Brazil)
Thiago Rodrigues Pereira (Novo Liceu, Portugal)
Vania Siciliano Aieta (UERJ, Brazil)
ORGANIZAÇÃO:
ORGANIZADORES
ARTHUR BEZERRA DE SOUZA JUNIOR, DENISE MERCEDES N. N. L. SALLES,
ARTHUR BEZERRA DE SOUZA JUNIOR, DANIEL GIOTTI DE
SÉRGIO DE SOUZA SALLES, TELSON PIRES
PAULA, EDUARDO KLAUSNER, ROGERIO BORBA DA SILVA

DIREITOS HUMANOS
JURIDICIDADE E EFETIVIDADE
OLHARES JURÍDICOS SOBRE
DIREITOS HUMANOS E
FUNDAMENTAIS

GRUPO M ULT IFOC O


Rio de Janeiro, 2019

DEERFIELD BEACH, FL – UNITED STATES


PEMBROKE COLLINS
2023
Copyright © 2023 | Arthur Bezerra de Souza Junior, Denise Mercedes N. N. L. Salles,
Sérgio de Souza Salles, Telson Pires (orgs.)

EDITORIAL PRESIDENCYFelipe Asensi


PUBLISHING Felipe Asensi
EDITORIAL COORDINATION Vanessa Abraim

PROOFREADING Pembroke Collins' Team

GRAPHIC PROJECT AND COVER Diniz Gomes

FORMATTING Diniz Gomes

PEMBROKE COLLINS
1191 E Newport Center Dr #103 - Deerfield Beach
FL 33442 - United States
info@pembrokecollins.com
www.pembrokecollins.com

ALL RIGHTS RESERVED

No part of this book can be used or reproduced by any means without this Publisher's written permis-
sion.

FINANCING

This book was financed by the International Council for Higher Studies in Law (CAED-Jus), by the
International Council for Higher Studies in Education (CAEduca) and by Pembroke Collins.

All books are submitted to the peer view process in double blind format by the Publisher and, in the case
Collection, also by the Editors.

O45

Olhares jurídicos sobre direitos humanos e fundamentais / Arthur


Bezerra de Souza Junior, Denise Mercedes Nuñez Nascimento
Salles, Sérgio de Souza Salles, Telson Pires (org.). – Deerfield Beach,
FL: Pembroke Collins, 2023.

540 p.

ISBN 979-8-88670-056-5

1. Direitos humanos. 2. Direitos fundamentais. 3. Direitos civis.


I. Souza Junior, Arthur Bezerra de (org.). II. Salles, Denise Mercedes
Nuñez Nascimento Lopes (org.). III. Salles, Sérgio de Souza (org.).
IV. Pires, Telson (org.).

CDD 323

Librarian: Aneli Beloni


CRB7 049/21
SUMÁRIO

ARTIGOS — DIREITO CIVIL 15

CASO BRUMADINHO E A RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS


AMBIENTAIS 17
Anselmo Oliveira da Silva
Anna Paula Moreno Reis

ATENÇÃO INTEGRAL E VIOLAÇÃO AO DIREITO DO AUTISTA


NO FORNECIMENTO DO TRATAMENTO TERAPÊUTICO E
MULTIDISCIPLINAR PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: UMA QUESTÃO
DE INCLUSÃO 32
Misaias da Silva Machado
Anna Paula Moreno Reis

EXTENSÃO OBJETIVA DA CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA EM


CONTRATOS COLIGADOS: UMA ANÁLISE CRÍTICA DO RECURSO
ESPECIAL N° 1.639.035/SP 51
Mariana Capaverde Keller
Eloise Caruso Bertol

ADOÇÃO E ANÁLISE DA MOROSIDADE DO SEU PROCEDIMENTO 68


Niclégia Xênia de Alencar Olegário

O DANO MORAL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO: A INDENIZAÇÃO


PUNITIVA COMO MECANISMO EFICIENTE DE CONTROLE SOCIAL À
LUZ DO DIREITO BRASILEIRO 85
Priscila Boy Otz David
ARTIGOS — DIREITO INTERNACIONAL E COMUNITÁRIO 107

REFUGIADOS AMBIENTAIS NO BRASIL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA


IMIGRAÇÃO HAITIANA 109
Isadora Savazzi Rizzi

DIREITOS HUMANOS E O PRINCÍPIO DE NON-REFOULEMENT


APLICADO ÀS MIGRAÇÕES DECORRENTES DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS 127
Isadora Savazzi Rizzi

E.S.G. DANS LA TRANSNATIONALITÉ DE LA PROTECTION DE


L’ENVIRONNEMENT L’ACCORD DE PARIS ET L’ACCORD D’ESCAZÚ 145
Vanessa Gonçalves Alvarez

DIREITO DE PERSEGUIÇÃO (HOT PURSUIT) A NAVIOS ESTRANGEIROS


NO ALTO MAR 160
Sérgio Laranjinho

A DEFESA DOS REFUGIADOS ATRAVÉS DO DIREITO À IGUALDADE 177


Lidiane Vitória Moura da Costa

ARTIGOS — DIREITO PENAL 197

REMIÇÃO DA PENA PELA LEITURA NO BRASIL: A EFICÁCIA DO


INSTITUTO NOS ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS SOB A ÓTICA
LEGISLATIVA 199
Maria Eduarda Trindade Jacob

STEALTHING E A POSSIBILIDADE ANÁLOGA DO ABORTO LEGAL 217


Anna Carolyne Oliveira Borgatte Ramos
Felipe Magalhães Carvalho

UMA ANÁLISE DE COMO O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO


TIPIFICA O CRIME DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA 236
Lívia Maria Coutinho Ribeiro
Felipe de Magalhães Carvalho
A (DES)PENALIZAÇÃO DA LOUCURA ENQUANTO UM INSTRUMENTO
DE PERPETUAÇÃO DO PATRIARCADO E DE VIOLÊNCIAS DE GÊNERO 255
Beatriz Lago Rosier

STEALTHING: ADEQUAÇÃO DO DIREITO PENAL BRASILEIRO E A


POSSIBILIDADE JURÍDICA DO ABORTO 274
Jeisy Schaiane Doi
Fernanda de Araújo Bugai

PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO SOCIETATE NA SENTENÇA DE


PRONÚNCIA DO JÚRI: UMA AFRONTA AOS DIREITOS HUMANOS 294
Gabryel Gustavo de Carvalho Machado

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E RECONHECIMENTO FACIAL —


SELETIVIDADE PENAL RACIAL 307
Lucas da Silva Oliveira
Caroline dos Santos Silva

DIREITO PENAL DO INIMIGO E ESTADO DE DIREITO 321


Lucas da Silva Oliveira
Caroline dos Santos Silva

AS IMPLICAÇÕES DO USO DOS ALGORITMOS NA JUSTIÇA CRIMINAL 338


Rodston Ramos Mendes de Carvalho

A LINHA TÊNUE ENTRE A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O DISCURSO


DE ÓDIO 350
Rosiane de Jesus Nascimento Borges

A TIPIFICAÇÃO DO ATO LIBIDINOSO: APLICAÇÃO DO DELITO DE


ESTUPRO OU IMPORTUNAÇÃO SEXUAL 369
Rosana de Jesus Nascimento

O CRIME DE ESTELIONATO NA INTERNET E AS DIFICULDADES EM


COMBATÊ-LO 383
Flávia Alves Borges
ARTIGOS — DIREITO PROCESSUAL 401

OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS E O DIREITO


AO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO:
UM ESTUDO DA NECESSIDADE DE UMA RELEITURA DO SISTEMA DE
IMPUGNAÇÃO EM PROL DE UM ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 403
Leonardo Leal David

DA MUTATIO LIBELLI E A POSSIBILIDADE DE ADITAMENTO DA


DENÚNCIA APÓS O OFERECIMENTO DE ALEGAÇÕES FINAIS PELAS
PARTES 419
Carlos André Belanda Souza

DA ATRIBUIÇÃO INVESTIGATÓRIA NOS CRIMES DOLOSOS CONTRA


A VIDA PRATICADOS POR MILITARES ESTADUAIS NO EXERCÍCIO DA
FUNÇÃO 437
Carlos André Belanda Souza

A RELEITURA DO SISTEMA DE IMPUGNAÇÃO DO PROCESSO PENAL


À LUZ DO NECESSÁRIO AMPARO AO ACUSADO: O ESVAZIAMENTO
DA PRETENSÃO ACUSATÓRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO, A PARTIR
DO AFASTAMENTO DA JUSTA CAUSA PROVOCADO PELA SENTENÇA
ABSOLUTÓRIA 455
Leonardo Leal David

A EVOLUÇÃO DA AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE


SEXUAL 473
Ramon Nunes Melo

O RECONHECIMENTO DE PESSOAS NO PROCESSO PENAL


BRASILEIRO: UMA BREVE ANÁLISE DOS REFLEXOS JURÍDICO-SOCIAIS 491
Natalia Dias da Silva

QUAL O MOMENTO DO ÔNUS DA PROVA ADOTADO PELA


SISTEMÁTICA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015,
CONDIZENTE COM UM MODELO DEMOCRÁTICO DE PROCESSO? 509
Reginaldo de Oliveira Silva
RESUMOS 527

DIREITO E REFÚGIO: UMA ANÁLISE DOS MECANISMOS DO PROCESSO


DE SOLICITAÇÃO DE REFÚGIO NO BRASIL 529
Maria Eduarda Oliveira Fontes
Guilherme Saldanha Santana

INFLUÊNCIA DAS MÍDIAS EM DECISÕES DO TRIBUNAL DO JÚRI 531


Anderson Lopes
Fabio Pereira

A RESPONSABILIDADE PENAL DO PSICOPATA À LUZ DO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 537
Bruna Barreto
Fabio Pereira
CONSELHO CIENTÍFICO DO CAED-JUS

Adriano Rosa (Universidade Santa Úrsula, Brasil)


Alexandre Bahia (Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil)
Alfredo Freitas (Ambra College, Estados Unidos)
Antonio Santoro (Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Brasil)
Arthur Bezerra de (Universidade Nove de Julho, Brasil)
Souza Junior
Bruno Zanotti (PCES, Brasil)
Claudia Nunes (Universidade Veiga de Almeida, Brasil)
Daniel Giotti de Paula (PFN, Brasil)
Danielle Ferreira (Universidade Federal do Sul da Bahia, Brasil)
Medeiro da Silva de
Araújo
Denise Salles (Universidade Católica de Petrópolis, Brasil)
Edgar Contreras (Universidad Jorge Tadeo Lozano, Colômbia)
Eduardo Val (Universidade Federal Fluminense, Brasil)
Felipe Asensi (Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Brasil)
Fernando Bentes (Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, Brasil)
Glaucia Ribeiro (Universidade do Estado do Amazonas,
Brasil)

11
Gunter Frankenberg (Johann Wolfgang Goethe-Universität -
Frankfurt am Main, Alemanha)
João Mendes (Universidade de Coimbra, Portugal)
Jose Buzanello (Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil)
Klever Filpo (Universidade Católica de Petrópolis, Brasil)
Luciana Souza (Faculdade Milton Campos, Brasil)
Marcello Mello (Universidade Federal Fluminense, Brasil)
Maria do Carmo (Universidade Federal do Sul da Bahia, Brasil)
Rebouças dos Santos
Nikolas Rose (King’s College London, Reino Unido)
Oton Vasconcelos (Universidade de Pernambuco, Brasil)
Paula Arévalo Mutiz (Fundación Universitária Los Libertadores,
Colômbia)
Pedro Ivo Sousa (Universidade Federal do Espírito Santo,
Brasil)
Santiago Polop (Universidad Nacional de Río Cuarto,
Argentina)
Siddharta Legale (Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Brasil)
Saul Tourinho Leal (Instituto Brasiliense de Direito Público,
Brasil)
Sergio Salles (Universidade Católica de Petrópolis, Brasil)
Susanna Pozzolo (Università degli Studi di Brescia, Itália)
Thiago Pereira (Centro Universitário Lassale, Brasil)
Tiago Gagliano (Pontifícia Universidade Católica do Paraná,
Brasil)
Walkyria Chagas da (Universidade de Brasília, Brasil)
Silva Santos

12
APRESENTAÇÃO - SOBRE O CAED-Jus

O Conselho Internacional de Altos Estudos em Direito


(CAED-Jus) é iniciativa consolidada e reconhecida de uma rede de
acadêmicos para o desenvolvimento de pesquisas jurídicas e reflexões
interdisciplinares de alta qualidade.
O CAED-Jus desenvolve-se via internet, sendo a tecnologia parte
importante para o sucesso das discussões e para a interação entre os par-
ticipantes através de diversos recursos multimídia. O evento é um dos
principais congressos acadêmicos do mundo e conta com os seguintes
diferenciais:

• Abertura a uma visão multidisciplinar e multiprofissional sobre


o direito, sendo bem-vindos os trabalhos de acadêmicos de di-
versas formações;
• Democratização da divulgação e produção científica;
• Publicação dos artigos em livro impresso nos Estados Unidos
(com ISBN Americano) e distribuição mundial, com envio da
versão ebook aos participantes;
• Galeria com os selecionados do Prêmio CAED-Jus de cada
edição;
• Interação efetiva entre os participantes através de ferramentas via
internet;
• Exposição permanente do trabalho e do vídeo do autor no site
para os participantes;
• Coordenadores de GTs são organizadores dos livros publicados.

13
O L H A R E S J U R Í D I C O S S O B R E D I R E I TO S H U M A N O S E F U N D A M E N TA I S

O Conselho Científico do CAED-Jus é composto por acadêmicos


de alta qualidade no campo do direito em nível nacional e internacional,
tendo membros do Brasil, Estados Unidos, Colômbia, Argentina, Por-
tugal, Reino Unido, Itália e Alemanha.
Em 2022, o CAED-Jus organizou o seu tradicional Congresso
Interdisciplinar de Direitos Humanos e Fundamentais (CDHF
2022), que ocorreu entre os dias 14 e 16 de dezembro 2022 e contou
com 67 Grupos de Trabalho com mais de 240 artigos e resumos ex-
pandidos de 21 universidades e 12 programas de pós-graduação stricto
sensu. A seleção dos trabalhos apresentados ocorreu através do processo
de peer review com double blind, o que resultou na publicação dos 07 livros
do evento.
Esta publicação americana é financiada por recursos do Conselho
Internacional de Altos Estudos em Direito (CAED-Jus), do Conselho
Internacional de Altos Estudos em Educação (CAEduca) e da Editora
Pembroke Collins e cumpre os diversos critérios de avaliação de livros
com excelência acadêmica internacionais.

14
A (DES)PENALIZAÇÃO DA LOUCURA
ENQUANTO UM INSTRUMENTO DE
PERPETUAÇÃO DO PATRIARCADO E
DE VIOLÊNCIAS DE GÊNERO
Beatriz Lago Rosier64

INTRODUÇÃO

Inicialmente, ao se pensar na figura da pessoa louca, tem-se que,


por se comportarem de forma diferente do apresentado por seus seme-
lhantes, sempre estiveram permeadas pela ideia do mistério e da ameaça.
Ora justificada por um suposto tratamento em hospitais, ora pela simples
imposição de medidas de detenção, o movimento excludente sempre
objetivou a retirada dessa pessoa do convívio social, partindo do pres-
suposto positivista de que esse indivíduo é perigoso e coloca em risco a
ordem social.
Nesse diapasão, as descobertas do movimento feminista assumem
relevante importância por proporcionarem a retomada da discussão so-
bre certas questões historicamente difundidas e pacificadas, como, no
caso em comento, a imagem da pessoa louca e o seu inerente status de
perigosa, abrindo espaço para novas discussões sobre a criação do con-

curso em 2022.2.

255
O L H A R E S J U R Í D I C O S S O B R E D I R E I TO S H U M A N O S E F U N D A M E N TA I S

ceito da loucura feminina e todas as nuances relativas à construção de tal


estereótipo.
Nesse cenário, o presente artigo busca discutir as contrariedades
acerca do tratamento jurídico da medida de segurança, evidenciadas em
especial quando tais questões são atravessadas por uma perspectiva de
gênero e pelo uso do diagnóstico da loucura enquanto instrumento ora
de penalização e ora de despenalização, a depender do sujeito que se
queira atingir.

1 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA MULHER PSICÓTICA

A partir de uma lógica de persecução da ordem social, a loucura


assume a herança da lepra e suscita reações de exclusão e purificação da
sociedade. Nesse diapasão, vislumbra-se, na Era Moderna, um planeja-
mento segregatório que afirma, com a confiança inerente à racionalida-
de, quais tipos de vida valem a pena e quais tipos não. Nesse ponto, tal
juízo de maior ou menor valor sobre certas vidas surge de uma sociedade
em que

a norma hegemónica de lá liberdad es clasista e patriarcal: bur-


guesa, machista, heterossexual, heteroerótica y misógina. Por eso
son libres historicamente los indivíduos y los grupos so-
ciales que pertencenen a las classes sociales dominantes,
a los grupos genéricos dominantes (hombres, adultos, producti-
vos o ricos y heterosexuales).65 (LAGARDE, 2005, p. 152, grifo
nosso).

Assim, como aponta Foucault (2001, p. 148), a prática da atividade


psiquiátrica se aproxima muito mais de um ramo de higiene pública do
que de uma especialização da teoria médica, na medida em que a lou-

256
ARTHUR BEZERRA DE SOUZA JUNIOR, DENISE MERCEDES N. N. L. SALLES,
SÉRGIO DE SOUZA SALLES, TELSON PIRES (ORGS.)

cura passou a ser codificada como uma patologia pelos psiquiatras, para,
em nome do saber médico, garantir esse sistema de proteção social. Isso
posto, sob a justificativa de serem loucas e delinquentes, o Estado serve
às classes dominantes e isola as pessoas “desviantes” — em sua maioria
mulheres, negros e pobres — em lugares longe dos olhos da sociedade
“normal”, reafirmando, mais uma vez, o uso do conceito de loucura
como modelo de controle estatal, objetivando uma higienização social
(FARIAS, 2017, p. 103).
Assim, partindo de um referencial machista e controlador, as mu-
lheres com condutas desviantes do modelo patriarcal são caracterizadas
como histéricas e aprisionadas pela loucura (FARIAS, 2017, p. 101). Em
termos históricos, a criminalização do feminino insurgente esteve pre-
sente desde o movimento da caça às bruxas, haja vista o atual reconheci-
mento de que estas, em verdade, eram assassinadas por se atreverem a ser
corajosas, não conformistas e sexualmente livres (MORGAN, 1970, p.
100). As bruxas, então, sempre eram descritas como loucas, alucinadas e
sexualmente pervertidas (FEDERICI, 2017, p. 290).
Ao se pensar em uma perspectiva republicana e a latente necessidade
de consolidação de uma nação moderna, o papel da mulher delineado e
esperado pelos ideais burgueses é a boa mãe, responsável por sua prole,
boa esposa e dona de casa, e qualquer desobediência ou manifestação
de desejos significa estar louca (MACHADO; CALEIRO, 2008, p. 4).
Ainda nessa linha de pensamento, Margareth Rago (2002, p. 186–187)
pontua que as tarefas de reprodução continuaram sendo impostas às mu-
lheres e as que se recusavam deveriam ser percebidas como desviantes.
No que tange à pessoa desviante, Howard Becker (2008, p. 15)
pontua ainda que a existência da outsider pressupõe a imposição de regras
sociais — o desvio, então, pode ser entendido como o produto de uma
transação entre um grupo social e uma pessoa que é vista por esse grupo
como infrator da regra.
Na visão disposta acima, um ato será mais ou menos considerado
desviante a depender de quem o comete e de quem se sente prejudicado
por ele (BECKER, 2008, p. 15). Sob tal perspectiva, então, pode-se jus-
tificar o porquê de algumas condutas, ao serem praticadas por mulheres,
possuírem consequências totalmente diferentes caso fossem os homens

257
O L H A R E S J U R Í D I C O S S O B R E D I R E I TO S H U M A N O S E F U N D A M E N TA I S

os agentes — o homem, na maioria das vezes, representa a posição de


poder, e a mulher, por sua vez, a ameaça que pode o tirar deste local.
Por todos os argumentos expostos, depreende-se que, ao considerar
a historicidade da patologização da mulher “diferente”, é definido, em
sentido contrário, um padrão feminino no qual as mulheres deveriam
estar enquadradas, visto que “a patologização da diferente garantia o
exemplo da violência que aconteceria às mulheres que desviassem suas
condutas” (COSTA; PASSOS; GOMES, 2017, p. 147), qual seja, a in-
ternação nos manicômios — judiciários ou não.

2 A PENALIZAÇÃO DA MULHER LOUCA

Tratando-se da teoria do delito, tem-se que para que uma conduta


seja considerada um crime a mesma deve ser típica, ilícita e culpável. As-
sim, considerando que a imputabilidade se constitui enquanto elemento
estruturante do crime, não se pode afirmar que as mulheres e os ho-
mens com transtornos mentais cometem crimes, haja vista que esses são
considerados inimputáveis. Dessa forma, optou-se pela expressão (des)
penalização a partir da interpretação da natureza da medida de segurança
enquanto pena, ainda que legalmente não seja reconhecida como tal, por
se tratar de resultado de uma sentença de absolvição imprópria.
Analisa-se, então, a relação entre a loucura feminina e o Direito
Penal, bem como as formas de produção de exclusão social, “conside-
rando, em especial, o paradigma da racionalidade masculina que produz
a loucura como uma característica naturalizada em todas as mulheres,
emergente de sua sexualidade e de sua relação com os outros” (MAG-
NO, 2017, p. 196). Em estudos sobre o surgimento e a evolução da pri-
são como uma forma de punição pública, as instituições psiquiátricas
servem como instituições de controle das mulheres tal como as prisões
servem no controle dos homens; por isso, “os homens delinquentes
eram tidos como criminosos, enquanto as mulheres delinquentes eram
tidas como insanas” (DAVIS, 2018, p. 71).
A título histórico, sabe-se que a primeira instituição dedicada ao
acolhimento de loucas(os) criminosas(os) foi na Inglaterra, o Asilo de
Bedlem, onde, em 1786, através da Insane ofenders bill, previu-se no âm-

258
ARTHUR BEZERRA DE SOUZA JUNIOR, DENISE MERCEDES N. N. L. SALLES,
SÉRGIO DE SOUZA SALLES, TELSON PIRES (ORGS.)

bito legislativo a necessidade de que todos que tivessem cometido delitos


em alienação mental fossem absolvidos e internados no manicômio cri-
minal pelo tempo determinado pelo rei. Ocorre que, conforme apon-
tam estudos, essa experiência se revelou ineficaz em razão das condições
desumanas às quais os internados eram submetidos, sofrendo com a apli-
cação de inadequadas práticas terapêuticas (CORREIA, 2019, p. 36).
Ao se examinar a linha cronológica das escolas do Direito Penal,
percebe-se que a aproximação entre Psiquiatria e Direito tenha começa-
do na Escola Clássica, no entanto, o tratamento dado aos inimputáveis
por transtornos psiquiátricos não era o mesmo que o visto atualmente, à
medida que se excluíam os loucos que cometiam qualquer tipo de delito.
Inaugurada por Cesare Beccaria e difundida por Francesco Carrara, a
Escola Clássica possui, inequivocamente, uma vertente política liberal
e humanitária, buscando desenvolver o problema do limite do poder de
punir frente à liberdade individual (MENDES, 2012, p. 31).
A centralização do livre-arbítrio como fundamento da punibilida-
de, base da ideologia clássica, impõe que o indivíduo só seja penalmente
responsabilizado quando presente o seu livre-arbítrio, ou seja, quando
pratique o crime a partir de uma vontade livre e consciente orientadora
da sua conduta (BAUMONT, 2018, p. 30). Nesse sentido, então, as(os)
criminosas(os) loucas(os), por não possuírem a capacidade de se autode-
terminar, não poderiam ser responsáveis penalmente e, assim, deveriam
ser entregues às suas famílias ou internadas(os) em hospícios públicos,
caso necessário para a segurança dos cidadãos (CARRARA, 2010, p.
17). Para representar essa ideia, Foucault (2001, p. 39) cria a metáfora da
porta giratória, pois quando o patológico entra em cena, a criminalidade
deve desaparecer.
Levando em consideração que, durante o período do Brasil Impé-
rio, as legislações penais pautavam-se na ideia do livre-arbítrio clássico,
o art. 10, § 2º do Código Penal de 1830 previa como inimputáveis os
“loucos de todo gênero”, salvo em lucidez parcial no momento do cri-
me (BRASIL, 1830). Nesse cenário, quem assume o papel de identificar
a abrangência desta terminologia é o juiz ou júri da ocasião. Tendo em
vista que a psiquiatria brasileira ainda estava em fase de nascimento, a
loucura era identificada, pelo juiz, através da presença do delírio, esta-

259
O L H A R E S J U R Í D I C O S S O B R E D I R E I TO S H U M A N O S E F U N D A M E N TA I S

do reconhecível, e sem a interferência de especialistas de outras áreas


(SANTOS, 2015, p. 1.219).
Pouco tempo depois, o art. 27 do Código Penal de 1890 altera a
realidade, aplicando como critério de verificação da inimputabilidade
a responsabilidade moral (BRASIL, 1890), abrangendo os episódios de
loucura para diversos outros casos, como sonambulismo, epilepsia, delí-
rio febril, hipnose (SANTOS, 2015, p. 1.219), dentre outros — quando
se pensa em uma perspectiva de gênero, verifica-se que esses episódios
se assemelham com a discussão realizada no tópico anterior, com relação
à loucura feminina. Assim, sob a justificativa de exigência da seguran-
ça dos cidadãos, percebe-se um contexto legitimador da internação de
mulheres em hospitais públicos, na medida em que, além de loucas, ao
cometer crimes essas mulheres supostamente tornam-se perigosas e pre-
cisam ser isoladas.
Esse cenário apenas se altera quando o olhar do Direito Penal se vol-
ta para a natureza do autor do delito. Buscando investigar a racionalidade
por trás da infração, o saber jurídico passa a ter que enfrentar os delitos
cometidos por aqueles que não possuem capacidade para entender suas
próprias ações (WEIGERT, 2015, p. 53).
Essa junção se firmou na Escola Positivista, cujos maiores expoen-
tes são Cesare Lombroso, Rafael Garofalo e Enrico Ferri. Nesse mo-
mento, é latente a necessidade de se defender a sociedade da ação da(o)
delinquente; assim, a compreensão do delito abandona a ideia de uma
causação espontânea, mediante um ato livre de vontade, e passa a buscar
“todo o complexo das causas na totalidade biológica e psicológica do
indivíduo, e na totalidade social que determina a vida do indivíduo”
(BARATTA, 2018, p. 38).
Enrico Ferri, citado por Vera Regina Andrade, menciona a impres-
cindibilidade dessa mudança de protagonista da ciência criminal à me-
dida que o crime praticado se configura como um sintoma apto a revelar
uma personalidade mais ou menos perigosa do agente, para a qual se
deve dirigir a defesa social (FERRI apud ANDRADE, 1994, p. 138).
Nesse sentido, com bases deterministas, a lógica da defesa social se firma
enquanto um dos fundamentos das ciências penais, ao passo que, sob a
justificativa de que o homem estaria fatalmente determinado a cometer

260
ARTHUR BEZERRA DE SOUZA JUNIOR, DENISE MERCEDES N. N. L. SALLES,
SÉRGIO DE SOUZA SALLES, TELSON PIRES (ORGS.)

crimes, a sociedade estaria determinada a reagir para defender a sua pró-


pria conservação (ANDRADE, 1994, p. 141).
Bebendo da fonte da teoria da degeneração de Morel — que esta-
belece a hereditariedade como vínculo de transmissão de toda forma de
degeneração psíquica (CAPONI, 2012, p. 520) —, Cesare Lombroso
(2007) constrói o conceito de “criminoso nato”, segundo o qual, a partir
da presença de certos parâmetros biológicos, o criminoso era um sujeito
menos evoluído e, por isso, estaria predisposto ao crime. Assim, carac-
terísticas como tatuagens, visão, estrutura óssea, hereditariedade bioló-
gica, alcoolismo, religião e sexualidade, quando reunidas, enquadrariam
um sujeito como criminoso, sendo papel da criminologia estudá-lo e
reprimi-lo visando a prevenção do crime.
Dentro do gênero “criminoso nato”, os dementes morais são uma
espécie e, segundo a teoria lombrosiana “são infelizes com a demência
no sangue [...], faltam-lhes o sentimento afetivo e senso moral; nasceram
para cultivar o mal e para cometê-lo” (LOMBROSO, 2007, p. 201).
E mais, em razão da tendência hereditária, haveria na essência dos de-
mentes morais uma suposta “falta de freios” da qual deriva a irresistibi-
lidade dos seus atos (LOMBROSO, 2007, p. 217); em que pese a teoria
do “criminoso nato” ser de grande importância para a Criminologia, a
deixaremos de lado, no momento, para dar enfoque maior a como Lom-
broso transporta essa teoria ao universo feminino, criando a “mulher
delinquente”.
A obra A Mulher Delinquente: A Prostituta e a Mulher Normal, escrita
por Cesare Lombroso e Gugliemo Ferrero, além de caracterizar a mu-
lher normal como ser naturalmente inferior ao homem, desenha crité-
rios biológicos que justificam a criminalidade e a loucura feminina. Para
os autores, a criminalidade seria uma característica atávica às mulheres
insanas; diretamente associada com a prostituição, em que ambas seriam
constituídas por impudicícia, lascívia e semi-imbecilidade. Isso posto,
em razão de uma hipotética natureza passiva e regressiva da prostituta,
“o retorno atávico da loucura moral incita à realização de crimes mais
graves, e sempre presentes na prática da perversidade sexual” (LOM-
BROSO; FERRERO, 2017, p. 498).

261
O L H A R E S J U R Í D I C O S S O B R E D I R E I TO S H U M A N O S E F U N D A M E N TA I S

Assim como feito na teoria masculina, os autores procuravam de-


linear um tipo criminal na mulher, no entanto, considerando que este
objetivo não foi atingido, afirmaram que a escassez relativa do tipo seria
justificada, pois as mulheres, desde as referidas como mais selvagens às
classificadas como mais civilizadas, seriam menos inclinadas ao crime
do que os homens (LOMBROSO; FERRERO, 2017, p. 309). Isso
posto, a criminosa nata, para os autores, menos comum, possuiria uma
aproximação maior do tipo masculino, com a diminuição atávica dos
seus caracteres sexuais (LOMBROSO; FERRERO, 2017, p. 395); por
outro lado, as criminosas ocasionais, que seriam a maioria das mulheres
delinquentes, poderiam ser “criminosas natas, mas de um tipo atenua-
do”, ou mulheres normais vivendo em contextos de “fortalecimento de
certa imoralidade que é latente em todas” (LOMBROSO; FERRERO,
2017, p. 412).
Ainda sob a perspectiva lombrosiana, “um aspecto característico da
mulher louca, e consequentemente da criminosa louca, é o exagero se-
xual” (LOMBROSO; FERRERO, 2017, p. 460). Ao se investigar tal
discurso, é possível perceber o argumento, já trazido anteriormente, de
que um dos pontos mais associados à loucura feminina seria a sexuali-
dade da mulher. Ademais, os autores estabelecem uma suposta relação
de causa-efeito entre a loucura feminina e a criminalidade, no sentido
de que as pacientes histéricas “não ofereceriam diferença em relação às
delinquentes-natas, exceto que a doença fornece um vírus especial que
desenvolve suas faculdades mais perversas” (LOMBROSO; FERRE-
RO, 2017, p. 607).
Ante o exposto, infere-se que a fundamentação da loucura femi-
nina, neste momento da história, decorre de uma lógica determinista.
Ou seja, por possuírem certas características, as mulheres, naturalmente,
já poderiam ser consideradas potencialmente criminosas, justificando a
adoção de medidas que objetivassem a proteção da sociedade dessas pes-
soas perigosas e que colocavam em perigo toda a ordem social.
Com o fito de examinar a criminalização da loucura no Brasil, apre-
senta-se as teorias da colonialidade do poder e do saber, formulada por
Aníbal Quijano (2005, p. 126). A colonialidade do poder pode ser en-
tendida como a manutenção das estruturas coloniais e dos seus modelos

262
ARTHUR BEZERRA DE SOUZA JUNIOR, DENISE MERCEDES N. N. L. SALLES,
SÉRGIO DE SOUZA SALLES, TELSON PIRES (ORGS.)

de pensamentos e relações sociais de poder; em razão desta, as relações


sociais de exploração se constituem em torno da disputa pelo controle
do sexo, da reprodução das espécies, da divisão do trabalho e seus pro-
dutos, incluindo o conhecimento e a autoridade, bem como seus instru-
mentos de coerção (CURIEL, 2020, p. 131).
Seguindo a mesma linha de raciocínio, a colonialidade do saber
consiste na elaboração de um único modelo válido de produção de
conhecimento, devendo este ser neutro, objetivo, universal e posi-
tivo (CURIEL, 2020, p. 132). Sob tal perspectiva, Quijano (2005,
p. 126) estabelece a centralização da elaboração intelectual pelos
europeus, produzindo, então, uma “perspectiva de conhecimento e
um modo de produzir conhecimento que demonstram o caráter do
padrão mundial de poder, qual seja, o colonial/moderno, capitalista
e eurocentrado”.
Nessa linha de intelecção, adota-se as teorias supramencionadas para
justificar o porquê, durante o estudo já feito até o momento, utilizou-se
de estudos e fenômenos europeus para delinear alguns pontos relacio-
nados à loucura feminina. Assim, convergindo com o posicionamento
adotado por Mariane Junqueira (2017), a partir da colonialidade do saber
e do poder, ocorreu a implantação de aspectos jurídico-científicos pelos
países centrais em países periféricos.
Todavia, Junqueira segue afirmando que, além da imposição exter-
na, verificou-se também uma vontade interna das classes dominantes dos
países periféricos de se apropriarem das ideologias de controle dos países
centrais. Por tal nuança, as teorias da colonialidade foram essenciais para
a construção de uma criminologia brasileira eminentemente racista e
para a criminalização da loucura na América Latina (JUNQUEIRA,
2017), perspectiva que, por meio da justificativa de anormalidade e peri-
culosidade nata a alguns indivíduos, selecionou e excluiu os indesejáveis
à ordem social dominante.
Com raízes lombrosianas, a criminalização da loucura no Brasil é
construída pelo médico Nina Rodrigues, o qual, através do conceito
de “degeneração psíquica”, atribuía a certos indivíduos, estrategicamen-
te pensados, uma periculosidade nata que justificava a sua exclusão da
sociedade. Dessa maneira, a criminalização da loucura como forma de

263
O L H A R E S J U R Í D I C O S S O B R E D I R E I TO S H U M A N O S E F U N D A M E N TA I S

exclusão da população não branca é justificada através da afirmação do


higienista no sentido de que o mestiçamento influenciava diretamen-
te a procedência hereditária da degeneração (RODRIGUES, 2011, p.
62–63). Por tal perspectiva, pode-se falar que a mesma seletividade clas-
sista e racista do sistema penal aparece, também, no âmbito dos mani-
cômios judiciários (QUINÁGLIA SILVA; CALEGARI, 2018, p. 167);
no entanto, tal aspecto será abordado mais profundamente em tópicos
posteriores.
No decorrer do século XX, então, se organiza um poder médi-
co-judiciário pátrio que leva a mulher ou o homem ao tribunal não
apenas com o seu crime, mas com um exame psiquiátrico responsá-
vel por abordar muito mais o nível de periculosidade que essa pessoa
possa representar do que a conduta delitiva cometida (IBRAHIM,
2012, p. 46). Como menciona Mariane Junqueira (2017), “em cada
espaço foram selecionados os indesejáveis à moral e ordem social do-
minante para serem excluídos por meio da justificativa da anormali-
dade e periculosidade”.
Assim sendo, Fernanda Barros-Brisset (2009, p. 38) afirma que a
parceria entre Psiquiatria e o Direito foi a incubadora responsável pela
gestação e concepção do conceito de indivíduo perigoso. Ocorre que a
busca pela anormalidade e periculosidade sempre foi mais incisiva caso
a agente infratora fosse do sexo feminino, por todas as razões já analisa-
das anteriormente, relacionadas ao desvio do papel socialmente imposto
a elas. E mais, a associação entre a negritude e a degenerescência era
frequente, por ser objeto de preocupação dos detentores de poder bra-
sileiro; logo, as mulheres negras seriam, ainda mais do que as mulheres
brancas, consideradas perigosas, sofrendo um controle social muito mais
rígido (COSTA, 2020, p. 473).
Por todo o exposto, consolida-se no Brasil a concepção de que as
loucas criminosas são pessoas naturalmente perigosas e que, em razão
da sua periculosidade nata, precisam ser excluídas do convívio social,
sempre sob a justificativa da defesa social. É assim que, por meio da im-
posição da medida de segurança, essas mulheres marcadas pela anorma-
lidade são internadas nos manicômios judiciários, atualmente Hospitais
de Custódia e Tratamento Psiquiátrico.

264
ARTHUR BEZERRA DE SOUZA JUNIOR, DENISE MERCEDES N. N. L. SALLES,
SÉRGIO DE SOUZA SALLES, TELSON PIRES (ORGS.)

3 A DESPENALIZAÇÃO DO HOMEM LOUCO

Muito se tratou, até o momento, sobre a penalização da loucura fe-


minina, no entanto, o outro lado da mesma moeda também merece im-
portância, qual seja, a despenalização da loucura masculina. Em outras
palavras, passar-se-á à análise se, e de qual forma, a mesma loucura usada
para internar mulheres que cometem delitos é também um instrumento
de despenalização dos homens praticantes de fatos típicos e ilícitos.
O artigo 27, § 4º, do Código Penal Republicano de 1890 (BRASIL,
1890) dispõe que não seria considerado criminoso os que se achassem
“em estado de completa privação de sentidos e de inteligência no ato de
cometer o crime”, ao passo que o art. 6866 previa que o condenado em
estado de loucura só entraria em cumprimento de pena quando recupe-
rasse as suas faculdades intelectuais e, caso a enfermidade se manifestasse
durante a execução da pena, esta ficaria suspensa. Logo, o louco crimi-
noso não poderia sofrer pena — já que no momento da ação era louco
— e nem poderia sofrer medida de segurança, haja vista no momento de
a consequência jurídica já haver retomado a sua faculdade mental; assim,
a loucura foi posta ao homem infrator como uma “porta de saída” do
sistema prisional.
Não se pode deixar de reconhecer que tal redação do texto nor-
mativo é do ano de 1890, quase dois séculos passados, motivo pelo qual
tanto as redações legislativas, quanto a sociedade no geral já passaram por
mudanças em relação ao tema. No entanto, a loucura como um instru-
mento de legitimação do cometimento de delitos por homens não está
totalmente extinta da nossa sociedade.
Pelo contrário, em especial no tocante aos crimes cometidos con-
tra mulheres, utiliza-se do argumento de supostos surtos psicóticos e de
severo estresse psicológico, os quais comprometem a compreensão da
realidade, para justificar, por exemplo, a execução de 68 facadas por todo

265
O L H A R E S J U R Í D I C O S S O B R E D I R E I TO S H U M A N O S E F U N D A M E N TA I S

o corpo de uma mulher que, simplesmente, não queria dar continuidade


ao relacionamento67. Ilustrando as afirmações acima, expõem-se algu-
mas jurisprudências recentes:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIME CONTRA A


VIDA. HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO MOTIVO TOR-
PE, MEIO CRUEL, RECURSO QUE IMPOSSIBILITOU A
DEFESA DA VÍTIMA E FEMINICÍDIO. DELITO CONE-
XO DE OCULTAÇÃO DE CADÁVER. [...] SENTENÇA DE
PRONÚNCIA. IRRESIGNAÇÃO DO ACUSADO. PLEITO
VISANDO A IMPRONÚNCIA. AUSÊNCIA DE ANIMUS
NECANDI. ACUSADO QUE SUPOSTAMENTE NÃO
POSSUÍA CONDIÇÕES DE COMPREENDER A ILICITU-
DE DO FATO. AUSÊNCIA DE PROVAS CABAIS DA FALTA
DE DETERMINAÇÃO DA VONTADE. LAUDO PERICIAL
QUE, A PAR DE CONSTATAR DOENÇA MENTAL, CON-
CLUI PELA CONSCIÊNCIA DE ILICITUDE DO SUJEITO
À ÉPOCA DOS FATOS. SUBMISSÃO AO CONSELHO DE
SENTENÇA. [...] (TJ-SC - RSE: 00029047120198240005 Bal-
neário Camboriú 0002904-71.2019.8.24.0005, Relator: Luiz Neri
Oliveira de Souza, Data de Julgamento: 05/03/2020, Quinta Câ-
mara Criminal)

No caso em comento, vislumbra-se que foi pleiteada pelo acusado a


instauração do incidente de insanidade mental, no entanto, em que pese
tenha sido realizada perícia médica, não foi constatada doença mental
que retirasse do sujeito a consciência da ilicitude dos fatos. A mesma
estratégia foi utilizada em outro processo, veja-se:

JÚRI. FEMINICÍDIO (ART. 121, § 2.º, INC. II, IV E VI, E §


2.º- A, INC. I, CP) E TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUA-

266
ARTHUR BEZERRA DE SOUZA JUNIOR, DENISE MERCEDES N. N. L. SALLES,
SÉRGIO DE SOUZA SALLES, TELSON PIRES (ORGS.)

LIFICADO (ART. 121, § 2.º, INC. V, C.C. ART. 14, INC. II,
CP). DECISÃO QUE INDEFERIU INSTAURAÇÃO DE
INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL. APELAÇÃO
CRIMINAL INTERPOSTA PELA DEFESA. (....). PLEI-
TO DE INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE INSANI-
DADE. INVIABILIDADE. INEXISTÊNCIA DE DÚVIDA
PLAUSÍVEL ACERCA DA HIGIDEZ MENTAL DO ACU-
SADO NO MOMENTO DOS CRIMES OU SUPERVE-
NIÊNCIA DE DOENÇA MENTAL APTA A JUSTIFICAR
A INSTAURAÇÃO DO PRETENDIDO INCIDENTE.
HIPÓTESE LEGAL DO ART. 149 DO CPP NÃO CON-
FIGURADA. RECURSO DESPROVIDO. (TJ-PR - APL:
00163663520208160021 Cascavel 0016366-35.2020.8.16.0021
(Acórdão), Relator: Miguel Kfouri Neto, Data de Julgamen-
to: 19/09/2020, 1ª Câmara Criminal, Data de Publicação:
22/09/2020)

Portanto, nota-se que o ser louco ou não está mais associado aos
efeitos políticos que se quer imprimir sobre o agente do que propria-
mente a uma condição inerente ao ser. A loucura afirma-se enquanto
um conceito construído no tempo e no espaço e poderá produzir efeitos
positivos ou negativos, em termos de penalização, variando convenien-
temente conforme o sujeito tido como louco ou louca.

CONCLUSÃO

Neste diapasão, estereótipos de gênero criados e consolidados so-


cialmente são responsáveis por influenciar diretamente no diagnóstico
da loucura, bem como na apreciação, pelos magistrados, de certos fa-
tos relevantes ao julgamento de injustos penais cometidos por mulhe-
res com transtornos mentais, em especial com relação à periculosidade.
Ante a evidente desigualdade fruto da relação de poder entre gêneros, o
Conselho Nacional de Justiça, em 2021, criou o Protocolo para Julga-
mento com Perspectiva de Gênero, por meio do qual se adotam medidas
de enfrentamento à violência contra mulheres, bem como se salienta a
importância de se discutir sobre estereótipos de gênero.

267
O L H A R E S J U R Í D I C O S S O B R E D I R E I TO S H U M A N O S E F U N D A M E N TA I S

Todavia, após o estudo pormenorizado acerca da penalização da


loucura, tem-se que não há efetiva observância do referido Protocolo. O
limiar de verificação da periculosidade da agente com transtornos men-
tais infratora, enquanto fundamento da medida de segurança, é muito
menor quando se trata de uma mulher, inclusive por considerar, ainda
hoje, todo o papel socialmente imposto à mulher, especialmente relacio-
nando-a ao cuidado da família.
Partindo dessa perspectiva, se um homem e uma mulher — ambos
com transtornos mentais que os incapacitem de entender a ilicitude do
fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento — cometem
um homicídio, tentado ou consumado, contra um familiar, é a mulher
que será considerada louca, perigosa e internada, pois, a partir de uma
perspectiva patriarcal e opressora, cabia a ela o cuidado da sua prole.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Vera Regina. Dogmática e sistema penal: em busca


da segurança jurídica prometida. 1994. 366 f. Tese (Doutorado
em Direito) — Programa de Pós-Graduação em Direito, Facul-
dade de Direito, Universidade Federal de Santa Catarina, Floria-
nópolis, 1994. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/hand-
le/123456789/106397. Acesso em: 30 out. 2022.

BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito


Penal: introdução à sociologia do Direito Penal. Tradução de Jua-
rez Cirino dos Santos. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2018.

BARROS-BRISSET, Fernanda Otoni de. Genealogia do conceito


de periculosidade. Responsabilidades, Minas Gerais, v. 1, n. 1,
2009. Disponível em: https://app.uff.br/observatorio/uploads/GE-
NEALOGIA_DO_CONCEITO_DE_PERICULOSIDADE.
pdf. Acesso em: 30 out. 2022.

BAUMONT, Clarissa de. Cronos e o aprisionamento eterno do


louco criminoso: sobre vozes que silenciam e discursos de ver-
dade na execução das medidas de segurança de internação. 2018.
234 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social e Institucio-

268
ARTHUR BEZERRA DE SOUZA JUNIOR, DENISE MERCEDES N. N. L. SALLES,
SÉRGIO DE SOUZA SALLES, TELSON PIRES (ORGS.)

nal) — Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Ins-


titucional, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2018. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/
handle/10183/193914/001093121.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 30 out. 2022.

BECKER, Howard. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Tra-


dução de Maria Luiza X. Borges. 1. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2008.

BRASIL. Decreto nº. 847, de 11 de outubro de 1890. Promulga o Co-


digo Penal. Diário Oficial, Rio de Janeiro, 11 out. 1890. Disponí-
vel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/
d847.htm. Acesso em: 7 out. 2022.

BRASIL. Lei de 16 de dezembro de 1830. Manda executar o Código


Criminal. Diário Oficial, Rio de Janeiro, 6 dez. 1830. Disponí-
vel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim-16-12-
1830.htm. Acesso em: 07 out. 2022

CAPONI, Sandra. O conceito de degeneração na história da psiquiatria


moderna. In: SILVA, Cibelle Celestino; SALVATICO, Luis (org.).
Filosofia e história da ciência do Cone Sul. Porto Alegre: Edi-
tora Rumos, p. 520–528, 2012. Disponível em: http://www.afhic.
com/wp-content/uploads/2019/01/o-conceito-de-degeneracao-
-na-historia.pdf. Acesso em: 8 out. 2022.

CARRARA, Sérgio Luis. A história esquecida: os manicómios judiciá-


rios no Brasil. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvol-
vimento Humano, p. 16–29, 2010. Disponível em: http://pepsic.
bvsalud.org/pdf/rbcdh/v20n1/04.pdf. Acesso em: 4 jun. 2022.

CORREIA, Ludmila Cerqueira. Avanços e impasses na garantia


dos direitos humanos das pessoas com transtornos men-
tais autoras de delito. 2019. 174 f. Dissertação (Mestrado em
Ciências Jurídicas) — Programa de Pós-Graduação em Direito,
Faculdade de Direito, Universidade Federal da Paraíba, João Pes-
soa, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/bits-

269
O L H A R E S J U R Í D I C O S S O B R E D I R E I TO S H U M A N O S E F U N D A M E N TA I S

tream/123456789/16008/1/Arquivototal.pdf. Acesso em: 30 out.


2022.

COSTA, Bruna Martins; BOITEUX, Luciana. Controle penal da lou-


cura e do gênero: reflexões interseccionais sobre mulheres egressas
da medida de segurança no Rio de Janeiro. Revista Brasileira de
Políticas Públicas, Brasília: Centro Universitário de Brasília, v.
10, n. 2, 2020.

COSTA, Juliana Agostinho da; PASSOS, Rachel Gouveia; GOMES,


Tathiana Meyre da Silva. Além do aparente: problematizações so-
bre a generificação das relações a partir de um grupo de mulheres.
In: PEREIRA, Melissa de Oliveira; PASSOS, Rachel Gouveia
(org.). Luta Antimanicomial e feminismos: discussões de gê-
nero, raça e classe para a reforma psiquiátrica brasileira. 1. ed. Rio
de Janeiro: Editora Autografia, 2017.

CURIEL, Ochy. Construindo metodologias feministas a partir do fe-


minismo decolonial. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.)
Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de
Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.

DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas? Tradução de Marina


Vargas. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Difel, 2018.

FARIAS, Ingrid. Nem loucas, nem criminosas: “A resistência da luta


feminista frente aos modelos de controle”. In: PEREIRA, Melissa
de Oliveira; PASSOS, Rachel Gouveia (org.). Luta Antimani-
comial e feminismos: discussões de gênero, raça e classe para a
reforma psiquiátrica brasileira. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Au-
tografia, 2017.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação


primitiva. Tradução de Coletivo CYCORAX. São Paulo: Editora
Elefante, 2017.

FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no Collège de France


(1974–1975). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Editora
Martins Fontes, 2001.
270
ARTHUR BEZERRA DE SOUZA JUNIOR, DENISE MERCEDES N. N. L. SALLES,
SÉRGIO DE SOUZA SALLES, TELSON PIRES (ORGS.)

IBRAHIM, Elza Maria Mussi. Manicômio judiciário: o testemunho


de um olhar vivido. 2012. 146 f. Dissertação (Mestrado em Psico-
logia) — Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Faculdade
de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2012.

JUNQUEIRA, Mariane. Algumas considerações sobre gênero e saúde


mental: as mulheres nos manicômios judiciários no Brasil. In: SE-
MINÁRIO INTERNACIONAL FAZENDO GÊNERO, 11. &
WOMEN´S WORDS CONGRESS, 13. Florianópolis, Brasil,
2017. Anais.

LAGARDE, Marcela. Los cautiverios de las mujeres: madresposas,


monjas, putas, presas y locas. Cidade do México: Editora Univer-
sidad Nacional Autónoma de México, 2005.

LOMBROSO, Cesare. O homem delinquente. Tradução de Sebas-


tião José Roque. São Paulo: Editora Ícone, 2007.

LOMBROSO, Cesare; FERRERO, Gugliemo. A mulher delin-


quente: a prostituta e a mulher normal. Tradução de Antônio
Fontoura. Curitiba: Antônio Fontoura Editora, 2017.

MACHADO, Jacqueline; CALEIRO, Regina. Loucura feminina:


doença ou transgressão social? Revista Desenvolvimento So-
cial, Montes Claros, v. 1, n. 1, jul. 2008. Disponível em: https://
www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/article/view/1393.
Acesso em: 9 maio 2022.

MAGNO, Patrícia Carlos. Mulheres, Medida de Segurança e a cegueira


do sistema de justiça: o papel das Defensorias Públicas. In: PEREI-
RA, Melissa de Oliveira; PASSOS, Rachel Gouveia (org.). Luta
Antimanicomial e feminismos: discussões de gênero, raça e
classe para a reforma psiquiátrica brasileira. 1. ed. Rio de Janeiro:
Editora Autografia, 2017.

MENDES, Soraia. (Re)pensando a criminologia — reflexões sobre


um novo paradigma desde a epistemologia feminista. 2012. 267 f.

271
O L H A R E S J U R Í D I C O S S O B R E D I R E I TO S H U M A N O S E F U N D A M E N TA I S

Tese (Doutorado em Direito, Estado e Constituição) — Programa


de Pós-Graduação em Direito, Faculdade de Direito, Universida-
de de Brasília, Brasilia, 2012. Disponível em: https://repositorio.
unb.br/bitstream/10482/11867/1/2012_SoraiadaRosaMendes.pdf.
Acesso em: 30 out. 2022.

MORGAN, Robin. Sisterhood is powerful. Nova York: Vintage,


1970.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América


Latina. In: LANDER, Egduardo (org.). A colonialidade do sa-
ber: eurocentrismo e Ciências Sociais. Perspectivas Latino-Ame-
ricanas. Buenos Aires: Clacso, 2005.

QUINAGLIA SILVA, Érica; CALEGARI, Marília. Crime e Loucura:


Estudo sobre a medida de segurança no Distrito Federal. Revista
Anthropológicas, São Paulo, ano 22, v. 29, n. 2, abr. 2018.

RAGO, Margareth. Os mistérios do corpo feminino, ou as muitas des-


cobertas do “amor venéris”. Projeto História, São Paulo, v. 25,
dez. 2002. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/re-
vph/article/view/10587/7877. Acesso em: 30 out. 2022.

RODRIGUES, Raymundo Nina. As raças humanas e a responsa-


bilidade penal no Brasil. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de
Pesquisa Social, 2011. Disponível em: https://static.scielo.org/scie-
lobooks/h53wj/pdf/rodrigues-9788579820755.pdf. Acesso em: 30
maio 2022.

SANTOS, Ana Luiza Gonçalves dos; FARIAS, Francisco; PINTO,


Diana de Souza. Por uma sociedade sem hospitais de custódia e
tratamento psiquiátrico. História, Ciências & Saúde, Mangui-
nhos, v. 22, n. 4, abr. 2015. Disponível em: https://www.scielo.
br/j/hcsm/a/gJ9qpL4J9wvTHfcFZdqBqXM/?lang=pt&format=p-
df. Acesso em: 31 out. 2022.

SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura. Rio de Janeiro: Editora


Zahar, 1978.

272
ARTHUR BEZERRA DE SOUZA JUNIOR, DENISE MERCEDES N. N. L. SALLES,
SÉRGIO DE SOUZA SALLES, TELSON PIRES (ORGS.)

WEIGERT, Mariana de Assis Brasil e. Entre silêncios e invisibili-


dades: os sujeitos em cumprimento de medida de segurança nos
manicômios judiciários brasileiros. 2015. 267 f. Tese (Doutorado
em Psicologia Social e Institucional) — Programa de Pós-Gra-
duação em Psicologia Social e Institucional, Faculdade de Psico-
logia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2015. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/hand-
le/10183/140989/000991174.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Aces-
so em: 30 out. 2022.

273

Você também pode gostar