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SUR

Clube de Literatura Latino-americana


Resumo 2022, Alessandro Atanes

O retorno dos encontros presenciais do SUR ocorreu em 5 de setembro com uma conversa
sobre a poesia de Solano Trindade (1908-1974), poeta, ator, folclorista, teatrólogo e cineasta,
cuja trajetória é marcada pela luta pelas tradições culturais, identidade racial e social da
população negra e das classes populares. É autor dos livros Poemas de uma vida simples
(1944), Seis tempos de poesia (1958) e Cantares ao meu povo (1961). A escolha do autor se
deve a um diálogo com a Mostra Literária Solano Trindade, intervenção poética do bacharel
em Artes Cênicas Maycon Benedito contemplada pelo Fundo Municipal de Cultura,
apresentada dias antes na própria JM.

Caribe e Antilhas

Detalhe da capa de Omeros (pintura de Derek Walcott)

Em seguida, em 26 de setembro, iniciamos uma viagem do SUR pelo Caribe e Antilhas, por
literaturas marcadas também pela presença da população negra, mas também por uma
herança francesa e inglesa pouco afeita à América Latina. O encontro inicial foi O som da
maré: as Antilhas de Derek Walcott (1930-2017), com a leitura dos capítulos iniciais do poema
Omeros (1990), obra-prima que lhe rendeu o Nobel de Literatura de 1992.
Na edição brasileira da obra (1994), o livro é assim descrito: "... Com um desenho circular, que
enfeixa tanto o mundo atemporal dos heróis gregos como o dia-a-dia de uma aldeia de
pescadores do Caribe, Omeros (grego moderno para Homero) é, antes de tudo, uma história
viva do Oceano, dos povos e idiomas que por ele ressoam”.

A leitura de Derek Walcott se desdobrou no encontro seguinte, Mito e História no poema


"Omeros" (10/10), em que foram lidos capítulos em que o pano de fundo são os ciclos
econômicos de caráter colonial/extrativista em Santa Lucia, país natal do autor.
Em 24/10, seguindo pelas Antilhas, a leitura foi o ensaio Belo como um encontro múltiplo, de
1991, do autor Milan Kundera, cujo ponto de partida é o encontro do surrealista André Breton
com poetas e intelectuais das Antilhas em 1941, durante uma conferência em Porto Príncipe,
Haiti.

Em 7/11, após uma boa parte da conversa travada a partir do alívio com as eleições nacionais,
completamos o passeio pelas Antilhas com a leitura de Léocadie Timothée, um dos capítulos
de Traversée de la Mangrove (1989), romance de Maryse Condé.

Como leitura de fundo de toda essa parte sobre o Caribe / Antilhas foi indicado o ensaio Bom
dia e adeus à negritude (1977), de René Depestre, em que o poeta traça uma história do
conceito de negritude desde as vanguardas antilhanas dos anos 30 até os anos 70 e no qual
aponta a revolução cubana como marco de uma americanidade alcançável pelos povos do
continente, uma "americanidade" que suplanta as identidades do europeu, do índio e do
africano. Depestre aponta José Martí como um dos autores-símbolo dessa busca por uma
americanidade.

Méxicos

O ensaio de Depestre segue como guia para os encontros seguintes: em 21/11, iniciamos uma
temporada pelo México, com a leitura de Los hombres que dispersó la danza (1929), primeiro
livro de Andrés Henestrosa, poeta e intelectual mexicano nascido em 1906, um conjunto de
fábulas e mitos zapotecos com os quais cresceu e chegou à adolescência (Henestrosa
aprendeu espanhol somente aos 15 anos); e também a leitura de breves textos de 2013 e 2014
da escritora Yásnaia Elena Aguilar Gil, publicados em português pela revista Puñado em
novembro de 2021, em que trata da diversidade linguística e literária do México.

Em 19/12, encerramos o trecho México com a conferência proferida em 1990, Do barroco ao


Neobarraco: Fontes Coloniais dos Tempos Pós-Modernos, o Caso Mexicano, de Serge
Gruzinski, pesquisador francês autor de obras que tratam de como, em meio à violência
decorrente da conquista espanhola, grupos indígenas buscaram adaptações capazes de
devolver sentido ao mundo por meio de uma série de reinvenções culturais que levaram a um
mundo novo - colonial, mestiço e moderno.

Copa do Mundo

Entre os dois encontros mexicanos, fizemos uma leitura aproveitando a efeméride da Copa do
Mundo de Futebol, o conto Buba, do escritor chileno Roberto Bolaño (1953-2003), do livro
Putas assassinas, originalmente de 2001, publicado no Brasil em 2008, em que um ex-jogador
chileno conta sua passagem por um clube de Barcelona e a conquista naquela temporada do
campeonato nacional e o primeiro título continental.

SUR

Criado em 2017 e 2019, o SUR Clube de Literatura Latino-americana promoveu dezenas de


encontros, lendo e discutindo nomes clássicos como Jorge Luis Borges, Gabriela Mistral ou
José Lezama Lima, contemporâneos como Roberto Bolaño ou mesmo autores inéditos no
Brasil como a série de poesia atual peruana com nomes como Óscar Limache ou Karina
Valcárcel. Além da leitura e discussão, os participantes do SUR também já tiveram a
experiência de conhecer textos originais “por dentro” durante os exercícios de tradução.

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