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Legislação Profissional aplicada à Engenharia

Introdução: Pode-se dizer que a Engenharia surgiu há cerca


de dez mil anos. O vocábulo Engenheiro provém do latim
ingenarius –, pessoas dotadas de engenho e arte de Roma
antiga. No Brasil, a Engenharia tem origem militar, quando
D. João VI criou a Academia Militar do Rio de Janeiro. Antes,
as pessoas versadas em Engenharia e Arquitetura e Urbanismo
vinham da Europa enviados pelos Reis de Portugal, depois
trazidos pela Corte aqui instalada, e em seguida pelo
Império.

Não eram só portugueses, mas de outras


nacionalidades. Isso sem falar-se no Brasil Holandês, do
Conde Maurício de Nassau. O Brasil necessitava de estradas
de ferro, portos, saneamento básico, ou seja, precisava
desenvolver-se, modernizar-se. Não era mais uma simples
Colônia; tornara-se um Império. Fundou-se, então, em 1874,
no Rio de Janeiro, a Escola Politécnica, que formava
profissionais civis na área da Engenharia.

Com a Revolução
de 30, surge a necessidade de o Brasil modernizar seu parque
industrial, o que repercute nas profissões que passam a ser
exigidas pelo mercado, dando ensejo a novas relações de
trabalho. Nesse quadro, em 1933, no governo de Getúlio
Vargas, é promulgado o Decreto Federal n.º 23.569, que
regulamenta as profissões de Engenheiro, Arquiteto e
Agrimensor, e institui os Conselhos Federal e
Regionais de Engenharia e Arquitetura. A Lei n.º 5.194, de
24 de dezembro de 1966, substitui o referido Decreto Federal,
alterando-o no que concerne à Agronomia, que passa
a integrar os Conselhos; a composição destes passa de dez
para dezoito membros; seus presidentes não são mais
designados pelo Poder Público, mas eleitos; são criadas as
câmaras especializadas nos Conselhos Regionais
de Engenharia e Arquitetura – CREAs; são nos conselhos onde
as empresas passam a ser registradas; o Conselho Federal de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA passa a ser
competente para baixar resoluções; o salário mínimo
profissional é assegurado; as profissões são caracterizadas
em razão do interesse social. Ademais da Lei n.º 5.194, essas
profissões são disciplinadas também pelo Decreto Lei n.º
241, de 27 de janeiro de 1967, e pela Lei n.º 6.619, de 16
de dezembro de 1968, principalmente. Existem outros diplomas
legais que introduzem algumas alterações.
A Resolução n.º 1.010, de 22 de agosto de 2005, do CONFEA,
discrimina as atividades das diferentes modalidades da
Engenharia, Arquitetura e Agronomia, tanto em nível superior
quanto médio, que são as seguintes:
Art. 5.º - Para efeito de fiscalização do exercício
profissional dos diplomados no âmbito das profissões
inseridas no Sistema Confea/Crea, em todos os seus
respectivos níveis de formação, ficam designadas as
seguintes atividades, que poderão ser atribuídas de forma
integral ou parcial, em seu conjunto ou separadamente,
observadas as disposições gerais e limitações estabelecidas
nos artigos 7.º, 8.°, 9.°, 10 e 11 e seus parágrafos, desta
Resolução:
Atividade 1 – Gestão, supervisão, coordenação, orientação
técnica; Atividade 2 – Coleta de dados, estudo, planejamento,
projeto, especificação; Atividade 3 – Estudo de viabilidade
técnico-econômica e ambiental; Atividade 4 – Assistência,
assessoria, consultoria; Atividade 5 – Direção de obra ou
serviço técnico; Atividade 6 – Vistoria, perícia, avaliação,
monitoramento, laudo, parecer técnico, auditoria,
arbitragem; Atividade 7 – Desempenho de cargo ou função
técnica; Atividade 8 – Treinamento, ensino, pesquisa,
desenvolvimento, análise, experimentação, ensaio, divulgação
técnica; Atividade 9 – Elaboração de orçamento; Atividade 10
– Padronização, mensuração, controle de qualidade; Atividade
11 – Execução de obra ou serviço técnico; Atividade 12 –
Fiscalização de obra ou serviço técnico; Atividade 13 –
Produção técnica e especializada; Atividade 14 – Condução de
serviço técnico; Atividade 15 – Condução de equipe de
instalação, montagem, operação, reparo ou manutenção;
Atividade 16 – Execução de instalação, montagem, operação,
reparo ou manutenção; Atividade 17 – Operação, manutenção de
equipamento ou instalação; e Atividade 18 – Execução de
desenho técnico. Parágrafo único. As definições das
atividades referidas no caput deste artigo
encontram-se no glossário constante do Anexo I desta
Resolução.
Art. 6.º Aos profissionais dos vários níveis de formação das
profissões inseridas no Sistema Confea/Crea é dada
atribuição para o desempenho integral ou parcial das
atividades estabelecidas no artigo anterior, circunscritas
ao âmbito do(s) respectivo(s) campo(s) profissional(ais),
observadas as disposições gerais estabelecidas nos artigos.
7.º, 8°, 9°, 10 e 11 e seus parágrafos, desta Resolução,
a sistematização dos campos de atuação profissional
estabelecida no Anexo II, e as seguintes disposições:
I – ao técnico, ao tecnólogo, ao engenheiro, ao arquiteto e
urbanista, ao engenheiro agrônomo, ao geólogo, ao geógrafo,
e a o meteorologista compete o desempenho de atividades no(s)
seu(s) respectivo(s) campo(s) profissional(ais),
circunscritos ao âmbito da sua respectiva formação e
especialização profissional; e
II – ao engenheiro, ao arquiteto e urbanista, ao engenheiro
agrônomo, ao geólogo, ao geógrafo, ao meteorologista e ao
tecnólogo, com diploma de mestre ou doutor compete o
desempenho de atividades estendidas ao âmbito das
respectivas áreas de concentração do seu mestrado ou
doutorado.
ALGUNS ASPECTOS SOBRE A PROFISSÃO DE ENGENHEIRO
a) Quem é habilitado para exercer a profissão de
Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro Agrônomo? Os que
possuem, devidamente registrado, diploma
de faculdade ou escola superior de Engenharia,
Arquitetura ou Agronomia, oficiais ou reconhecidas,
existentes no país; os que possuem, devidamente
revalidado e registrado no país, diploma de faculdade
ou escola estrangeira de ensino superior de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia, bem como os que tenham esse
exercício amparado por convênios internacionais de
intercâmbio; os Engenheiros estrangeiros contratados
que, a critério dos Conselhos Federal e Regionais de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia, considerados a
escassez de profissionais de determinada especialidade
e o interesse nacional, tenham seus títulos registrados
temporariamente.
b) Quais os empreendimentos que podem ser realizados
por esses profissionais? a) aproveitamento e utilização
de recursos naturais; b) meios de locomoção e
comunicações; c) edificações, serviços e equipamentos
urbanos, rurais e regionais, nos seus aspectos técnicos
e artísticos; d) instalações e meios de acesso a costas,
cursos, e massas de água e extensões terrestres; e)
desenvolvimento industrial e agropecuário.
c) Quais as atribuições dos Engenheiros e dos
Arquitetos? As atividades e atribuições profissionais
do Engenheiro, do Arquiteto e do Engenheiro
Agrônomo consistem em: a) desempenho de cargos, funções
e comissões em entidades estatais, paraestatais,
autárquicas, de economia mista e privada; b)
planejamento ou projeto, em geral, de regiões, zonas,
cidades, obras, estruturas, transportes, explorações de
recursos naturais e desenvolvimento da produção
industrial e agropecuária; c) estudos, projetos,
análises, avaliações, vistorias, perícias, pareceres e
divulgação técnica; d) ensino, pesquisas,
experimentação e ensaios; e) fiscalização de obras e
serviços técnicos; f) direção de obras e serviços
técnicos; g) execução de obras e serviços técnicos;
h) produção técnica especializada, industrial ou
agropecuária. Os engenheiros, arquitetos e engenheiros
agrônomos poderão exercer qualquer outra atividade que,
por sua natureza, se inclua no âmbito de
suas profissões.
d) Quais os órgãos de fiscalização (sua natureza
jurídica) do exercício profissional do Engenheiro,
Arquiteto e Engenheiro Agrônomo? A verificação
e fiscalização do exercício e atividades das
profissões nela reguladas serão exercidas por um
Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia (CONFEA) e Conselhos Regionais de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA/CAU),
organizados de forma a assegurarem unidade de ação.
Mantidos os já existentes, o Conselho Federal de
Engenharia, bem como o de Arquitetura, e o de
Agronomia promoverão a instalação, nos Estados,
Distrito Federal e Territórios Federais,
dos Conselhos Regionais necessários à execução desta
lei, podendo, a ação de qualquer deles, estender-se
a mais de um Estado. A proposta de criação
de novos Conselhos Regionais será feita pela maioria
das entidades de classe e escolas ou faculdades com
sede na nova Região, cabendo aos Conselhos
atingidos pela iniciativa opinar e encaminhar a
proposta à aprovação do Conselho Federal. Cada
unidade da Federação só poderá ficar na jurisdição
de um Conselho Regional. A sede dos Conselhos
Regionais será no Distrito Federal, em capital de
Estado ou de Território Federal.
Os órgãos de fiscalização são autarquias federais,
ou seja, entidades autônomas de direito público,
criada por lei, e que possuem delegação do
Estado para exercerem determinadas funções. O CONFEA
e os CREAs e CAUs possuem natureza jurídica de
autarquias e as anuidades cobradas dos profissionais
inscritos são de natureza parafiscal.

P E R I C I A
Introdução: As perícias judiciais e extrajudiciais
representam um nicho de mercado para o Engenheiro que pouco
divulgado. A atuação pode ocorrer como perito (nomeado pelo
juízo), como assistente técnico (contratado por parte
litigante) ou ainda como prestador de assistência técnica a
advogados. Demanda conhecimentos complementares que
geralmente não são oferecidos nas universidades por não
contarem com disciplina específica de Engenharia Legal e/ou
de Perícias e Avaliações.
Legislação Aplicável: É o Código de Processo Civil,
instrumento que regulamenta a tramitação de processos
judiciais cíveis. Dispõe que, quando a prova do fato depender
de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido
por perito.
Conhecimento Científico: Diversamente do que acontece com o
conhecimento vulgar, o conhecimento científico não atinge
simplesmente os fenômenos na sua manifestação global, mas
atinge-os em suas causas, na sua constituição íntima,
caracterizando-se desta forma, pela capacidade de analisar,
de explicar, de desdobrar, de justificar, de induzir ou
aplicar leis, de predizer com segurança eventos futuros.
Conhecer perfeitamente é conhecer pelas causas. Saber
cientificamente é ser capaz de demonstrar. O conhecimento
científico difere do conhecimento vulgar e vai muito além
deste, porque explica os fenômenos e não só os verifica.
Legislação Aplicável à Perícia de Engenharia: Destaca-se a
Lei federal 5.194/66, que regula a profissão de Engenheiro
no Brasil. Consta do seu art. 7º - As atividades e
atribuições profissionais do engenheiro, do arquiteto e do
engenheiro-agrônomo consistem em:...c) estudos, projetos,
análises, avaliações, vistorias, perícias, pareceres e
divulgação técnica;
Atribuições Profissionais. Resolução do CONFEA nº 218/73:
Regulamenta o Decreto Federal de 1933 e da Lei federal
5.194/66. Discrimina atividades das diferentes modalidades
profissionais da Engenharia, Arquitetura e Agronomia.
Estabelece 18 atividades, dentre as quais a de número 6 que
refere vistoria, perícia, avaliação, arbitramento, laudo e
parecer técnico.
Espécies de Perícias: 1) Avaliação de bens máquinas;
equipamentos; serviço; 2) Avaliação de processo; produto ;
tributação; 3) Vistorias em veículos, máquinas,
equipamentos; 4) Análise de projetos: segurança do bem,
produto ou serviço; 5) Análise de defeito-patologias-danos
patrimoniais; 6) Análise de custos; orçamento; 7) Prazo de
entrega; lucros cessantes; prejuízo. 8) Reintegração;
Manutenção de posse de bens; Direitos; Direitos sobre a
propriedade Intelectual e a Propriedade Industrial: marcas
e patentes; direito autoral; 9) Contrafação e plágio; 10)
Acidentes no trabalho; periculosidade; Insalubridade; Ruído
(pressão sonora); Acidentes veiculares; Infrações; Crimes
ambientais, etc. As perícias ocorrem na fase de Instrução do
processo judicial, que é a inicial, quando são formadas as
provas: documental e/ou testemunhal e/ou pericial. Definida
a Prova Pericial o Juiz nomeia perito e abre prazo para
formulação de quesitos e indicação de Assistentes (se
desejarem). O perito nomeado geralmente faz parte o cadastro
(deixou lá um currículo) ou do Judiciário (via internet).
Código de Processo Civil: O juiz nomeará o perito, fixando
de imediato o prazo para a entrega do laudo. Incumbe às
partes, dentro de 5 dias, contados da intimação do despacho
de nomeação do perito: a) indicar o assistente técnico; b)
apresentar quesitos. O perito cumprirá escrupulosamente o
encargo que lhe foi cometido, independentemente de termo de
compromisso. Os assistentes técnicos são de confiança da
parte e não sujeitos a impedimento ou suspeição
Resolução 1002 do CONFEA: OBRIGAÇÕES: atuar com
imparcialidade e impessoalidade nos atos arbitrais e
periciais; desempenhar sua profissão ou função nos limites
de suas atribuições e de sua capacidade pessoal de
realização. VEDAÇÕES: formular proposta de salários
inferiores ao mínimo regional; apresentar proposta de
honorários com valores vis ou extorsivos ou desrespeitando
tabelas de honorários mínimos aplicáveis; aceitar trabalho,
contrato, emprego, função ou tarefa, para as quais não tenha
efetiva qualificação;
LAUDO: Peça na qual o perito, profissional habilitado, relata
o que observou e dá as suas conclusões ou avalia,
fundamentadamente, o valor de coisas ou direitos.
Elaboração do Laudo: Estudo do caso (entender o processo).
Preparação e programação da atividade. Estabelecimento do
método. Inspeção do bem (quando for o caso. Busca dos
princípios atuantes (causa e efeito). Procura da relação de
causalidade, indícios, evidências. Preparo da minuta do
laudo. Respostas aos quesitos feitos pelas partes. Redação
final e entrega.
Qualidades Necessárias ao Laudo: As virtudes do laudo
resumem-se em clareza, objetividade e fundamentação. Clareza
na exposição dos fatos periciados, objetividade na
metodologia da pesquisa e fundamentação para abonar as
conclusões e respostas aos quesitos. Sendo o laudo uma peça
de esclarecimentos técnico, deverá ser absolutamente claro
na redação e preciso nos conceitos, além de objetivo na
motivação, visto que sua credibilidade decorre mais da
justificação de suas respostas que das opiniões subjetivas
do perito. Não existe uma norma de divisão, válida para todos
os trabalhos, indistintamente. A divisão mais adequada para
cada trabalho deve surgir da própria natureza, de sua
conjuntura ou de sua maior ou menor complexidade.
Extensão do Laudo: A única norma que atende aos interesses
da ordem e da clareza, poderia ser expressa nestes termos:
divida o todo no menor número de partes possíveis e subdivida
cada parte no menor número de elementos possível. Se o
trabalho pode ser dividido em duas partes, não o dividir em
três; se a primeira parte pode ser dividida em dois
capítulos, não a dividir em três ou quatro. Entretanto, se
a divisão natural de uma parte atinge cinco capítulos,
divida-a em cinco capítulos.
Elementos do laudo conforme a NBR 13.752: a) indicação da
pessoa física ou jurídica que tenha contratado o trabalho e
do proprietário do bem objeto da perícia; b) os requisitos
essenciais e complementares para a elaboração da perícia; c)
relato e data da inspeção; d) diagnóstico da situação
encontrada; e) no caso de perícias de cunho avaliatório,
pesquisas de valores, definição da metodologia, cálculos e
determinação do valor final; f) memórias de cálculos,
resultados, de ensaios e outras informações relativas ao
trabalho pericial; g) nome, assinatura, número de registro
no CREA e credenciais do perito de engenharia.
Elementos do laudo Judicial: Recomenda-se efetuar um
Memorial descritivo inicial contendo: a) Cabeçalho ou título
com referências do processo; b) Objetivos - motivação do
laudo; c) Preliminares técnicas: limitações impostas,
impedimentos, intransponíveis, diligências procedidas,
normas e procedimentos técnicos adotados, justificativa dos
critérios utilizados; d) Descrição do bem; e) Descrição do
estado do bem; f) Análise Técnica; g) Conclusões com
fundamentação; h) Respostas aos quesitos das partes.

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