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HORROR

Dicionário Digital do Insólito Ficcional17 de janeiro de 2019


Claudio Zanini

Termo complexo que designa um gênero ficcional ou leitmotiv em outros gêneros que
objetiva causar no público leitor ou espectador certa experiência emocional ou
psicológica (NICKEL, 2010, p.14) pautada no medo e na repulsa. A etimologia do termo
indica sua origem no verbo latino ‘orrere’, (‘eriçar’, em provável referência ao
eriçamento dos cabelos quando da exposição de alguém ao horror). Noël Carroll reitera
tal etimologia, e agrega a ela a palavra do francês antigo ‘orror’, que pode significar
‘reagir raivosamente’ ou ‘tremer’ (1990, p.24). O termo é frequentemente confundido ou
utilizado erroneamente de maneira intercambiável com ‘terror’. Em seu ensaio de
1826 On the Supernatural in Poetry, Ann Radcliffe diferencia os dois termos afirmando
que enquanto o terror expande a alma e desperta nossas faculdades ao mais alto grau da
vida, o horror as contrai e congela, quase que aniquilando-as (p.150).

A obscuridade e a incerteza, assim como o mal, são elementos fundamentais na ficção de


horror, e sua articulação resulta no sobrenatural, um dos tropoi mais importantes do
gênero. As manifestações do sobrenatural no horror são variadas, e incluem histórias
de vampiros (Drácula, de Bram Stoker, 1897), lobisomens (The Howling, de Gray
Brandner, 1977), fantasmas (A Volta do Parafuso, de Henry James, 1898), zumbis (A
Noite dos Mortos-Vivos, de George A. Romero, 1968) e manifestações sinistras
do duplo (O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson, 1886), entre outros.

Noël Carroll diferencia o horror-arte, o horror presente na ficção e em outras expressões


artísticas, do horror natural, aquele causado por desastres ecológicos, armas nucleares e
pelo nazismo, por exemplo (1990, p.12). Para Carroll, o horror-arte é um gênero
originário do gótico e que teve início “pela época da publicação de Frankenstein – (…) –
e que persiste, frequentemente de forma cíclica, através dos romances e peças do século
XIX, e da literatura, quadrinhos, revistas pulp, e filmes do século XX” (1990, p.13 –
tradução minha).

Outro tropo fundamental da ficção de horror, o monstro surge como expressão de


anormalidade ou perturbação da ordem natural. Carroll sugere que a reação das
personagens humanas perante o monstro serve como balizador da resposta que a ficção
de horror espera do público; desta forma, o monstro combina nojo, náusea e repulsa, e
está frequentemente associado “à imundície, à decadência, à deterioração, ao lodo, e
assim por diante” (CARROLL, 1990, p.22).

A complexidade ontológica do termo se dá principalmente devido ao fato de que gêneros


e modos tão distintos quanto a ficção científica, o conto de fadas, o fantástico e
o insólito podem tangenciar o horror através de seus recursos formais e estilísticos, ainda
que este não seja seu objetivo principal. Além dos diversos gêneros e modos literários, a
ficção de horror tem nos quadrinhos e no vídeo game outros campos férteis de expressão.
Entretanto, é o cinema que proporcionou a maior cristalização do gênero, além de sua
subdivisão em gêneros como o body horror, os filmes de possessão, o horror religioso,
o pornô da tortura, o filme de estupro e vingança, o slasher, e o found footage, entre
outros.

REFERÊNCIAS

CARROLL, Noël (1990). The Philosophy of Horror, of Paradoxes of the Heart. Nova
York: Routledge.
HORROR. Online Etymology Dictionary. In https://www.etymonline.com/word/horror.
Acesso em 01.Mai.2019.
NICKEL, Philip J (2010). “Horror and the Idea of Everyday Life: On Skeptical Threats
in Psycho and The Birds”. In: FAHY, Thomas. The Philosophy of Horror. Lexington:
The University Press of Kentucky, p.14-32.
RADCLIFFE, Ann (1826). “On the supernatural in poetry”. New Monthly Magazine, 7,
p.145-152. In http://seas3.elte.hu/coursematerial/RuttkayVeronika/ radcliffe_sup.pdf.
Acesso em 01.Mai.2019.

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