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Márcia Braga

COLEÇÃO

Desejos entrelinhas
Educação alimentar
e nutrição

Alimentação infantil

Volume 5
Parimpar
Belo Horizonte
2023
Projeto Editorial: PARIMPAR e Pimpa Estúdio

Capa (concepção): Geraldir E. B. (Gerar)

Revisão: Patrícia Costa

Catalogação da Publicação (CIP)


Ficha catalográfica feita pela Editora Parimpar

B813d

Desejos entrelinhas: alimentação infantil.


(vol. 5)/ Márcia Braga. Belo Horizonte [MG]:
PARIMPAR, 2023.

3,31 MB ePUB.

ISBN 978-65-00-39282-1

1. Nutrição. 2. Comportamento humano. 3.


Alimentação. 4. Saúde/ nutrição. 5 Prevenção.
Título.
CDD: 613
CDU: 613.3

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parcial desta obra, de qualquer meio, salvo com autorização ex-
pressa e por escrito da Editora (de acordo com a Lei do Direito Au-
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ra, seus colaboradores e a todos aqueles que trabalham com o livro
no Brasil.
APRESENTAÇÃO

A série Desejos entrelinhas: educação ali-


mentar e nutrição foi criada com o objetivo de
levar ao Leitor informações sobre a impor-
tância de se alimentar com consciência e de
modo saudável.

Os relatos são apresentados pelo olhar da Nu-


tricionista Márcia Braga, advindos do seu
labor na clínica, ou seja, fruto da escuta
diária.

Há, evidentemente, um cuidado ético em


preservar nomes e particularidades,
portanto, em todos os casos que farão parte
desta série, os nomes foram substituídos,
assim como alguns detalhes secundários a
história também foram modificados, para
que as identidades dos envolvidos fossem
preservados.

Espera-se que o conteúdo auxilie o Leitor em


identificar melhor os produtos que escolhe
para compor a sua dieta e a compreender que
o nosso corpo dá sinais, no comportamento,
na forma de se movimentar, na maneira de
pensar e de agir, considerando inclusive, o
que escolhemos para alimentá-lo.

Boa leitura!

Patrícia Costa
Caso Clínico:
alimentação infantil

Ana Maria, 36 anos, advogada, recentemente


separada e mãe de Pablo, 5 anos e Ester, 3 anos,
chega ao meu consultório e inicia um longo relato
sobre sua vida, pois as múltiplas atividades que de-
sempenha estão esgotando seu tempo e, por mais
que se esforce, acredita estar falhando em sua
tarefa materna, considerando a correria diária e,
por vezes, lhe falta paciência.

Relatou que diante da escassez de tempo compra


alimentos industrializados e não saudáveis (gulo-
seimas, biscoitos com alto teor de gorduras e
açúcar, refrigerantes, etc.), de consumo prático e
que muito agradam às crianças. Tal situação
agrava-se, dito por Ana Maria que, para distrair na
hora das refeições, a família tem hábito de assistir
televisão, usar celular para utilizarem os jogos ele-
trônicos.

O ex-marido fica com as crianças uma vez por


semana e, no que lhe concerne, segue os hábitos
das guloseimas.

Como resultante dessa alimentação inadequada, as


crianças encontram-se obesas. Pablo, 5 anos, está
com 1,08 m e pesa 26,2 Kg e Ester, 3 anos, mede
0,92 m e pesa 22 kg.

Aquela agitação materna obrigou-me a primeira-


mente acalmá-la, então deixei a Ana Maria falar
compulsivamente por alguns minutos, só depois
pude sugerir que procurasse um tratamento tera-
pêutico.
De fato, em alguns momentos da vida, necessita-
mos de uma maior reflexão, pois saúde perfeita
exige equilíbrio físico e mental. Essa máxima, in-
clusive é defendida pela Organização Mundial de
Saúde (OMS): “saúde é um estado de completo bem-
estar físico, mental e social e não somente ausência de
afecções e enfermidades”.

Quanto às crianças, expliquei para a Ana Maria


como a alimentação é imprescindível na promoção
da saúde e proteção contra doenças.
APONTAMENTOS

A obesidade infantil tem como característica o


excesso de gordura corporal em crianças de até 12
anos, sendo considerado sobrepeso, quando o peso
da criança está, no mínimo, 15% acima do peso de
referência para a sua idade.

Segundo o relatório público do SISVAN (Sistema


Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional), os
dados de pessoas acompanhadas na Atenção
Primária à Saúde, apontam que, até meados de
setembro de 2022, mais de 340 mil crianças brasi-
leiras, entre 5 e 10 anos de idade foram diagnosti-
cadas com obesidade. Estes dados refletem a
situação do excesso de peso, da obesidade e dos
marcadores de consumo alimentar em crianças
brasileiras acompanhadas na Atenção Primária à
Saúde (APS).
Infelizmente, observamos no Brasil que os índices
de sobrepeso e obesidade infantil refletem os
padrões mundiais, para tanto, basta observar esses
dados publicados pela OMS, em 2022:

“Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo são obesas –


650 milhões de adultos, 340 milhões de adolescentes
e 39 milhões de crianças. Esse número continua au-
mentando. A OMS estima que, até 2025, aproximada-
mente 167 milhões de pessoas – adultos e crianças –
ficarão menos saudáveis por estarem acima do peso
ou obesas.”

Com estes dados alarmantes e preocupantes ne-


cessitamos criar ações preventivas afim de
reverter o excesso de peso em crianças e adoles-
centes, pois segundo artigos publicados numa
revista estrangeira dedicada aos estudos sobre
obesidade, The Lancet, a intervenção se faz funda-
mental por vários motivos:
1. ganhar excesso de peso na infância e na ado-
lescência pode levar ao sobrepeso e à obesidade ao
longo da vida;

2. o excesso de peso na infância e na adolescên-


cia está associado a um maior risco e início precoce
de doenças crônicas, como o diabetes, tipo 2;

3. a obesidade na infância e adolescência tem


consequências psicossociais adversas e reduz o
nível de escolaridade;

4. crianças e adolescentes são mais suscetíveis


ao marketing de alimentos do que adultos, o que
torna necessária a redução da exposição das
crianças a alimentos obeso gênicos (que
engordam).”

5. É importante analisar que o comportamento


alimentar de crianças e adolescentes sofre várias
interferências e influências, principalmente do
ambiente em que estão inseridos.

6. Ambiente alimentar é definido pelos ambi-


entes físico, econômico, político e sociocultural
onde um indivíduo vive e que podem afetar a qua-
lidade da alimentação e o estado nutricional dos
indivíduos.

7. Um ambiente que propicie bons hábitos ali-


mentares é capaz de influenciar no desenvolvi-
mento de um comportamento alimentar saudável
e prevenir doenças crônicas não transmissíveis,
como a obesidade.
Fonte:

NCD Risk Factor Collaboration. The Lancet, v.390, p.2627–42,


2017.Simmonds et al. Obes rev, n.17, v.2, p.95-107, 2015.Ministério
da Saúde. Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN),
2018.

São inúmeros os fatores que predispõem as


crianças ao ganho de peso com facilidade: hábitos
alimentares errados, inclinação genética, estilo de
vida sedentário, distúrbios psicológicos, proble-
mas na convivência familiar, entre outros.

A obtenção de orientação de um profissional habi-


litado contribuirá beneficamente para as escolhas
alimentares adequadas e, avaliação dos problemas
que causaram o ganho de peso.

Para prevenir a obesidade devemos intervir desde


cedo, idealmente antes mesmo de o bebê ser con-
cebido. Uma boa nutrição na gravidez, seguida de
amamentação exclusiva até os seis meses de idade
e continuada, até dois anos, é o melhor para todos
os bebês e crianças pequenas.

Incentivar hábitos alimentares saudáveis em


crianças é uma das melhores maneiras de garantir
um adulto saudável e, para iniciar a maneira mais
correta de ensinar é dando bom exemplo, entre-
tanto, os costumes domésticos devem conter ali-
mentos naturais e nutritivos.

Ao fazer compras semanais, mensais e até mesmo


diárias, incentive seus filhos a ajudar a escolher
frutas e vegetais e evite as guloseimas. Faça-os
participar do preparo dos alimentos; eles ficarão
mais empolgados para comer o que eles mesmos
fizeram, além de educá-los sobre os cuidados na
cozinha.

Procure variar os alimentos e permita que as


crianças tenham a sensação de escolha e, explique
a eles, de forma simples, o que eles precisam
consumir. Neste momento uma boa opção é
montar os pratos de forma colorida e, quando
possível, divertida, em formato de carinhas ou bi-
chinhos, por exemplo.

É importante incentivá-los a comer devagar e


fazer o momento das refeições o mais tranquilo
possível. Jamais os deixe comer em frente à televi-
são, celular ou tablets, e incentive-os a comer na
mesa junto à família.
Atente para os lanches e outras refeições que seus
filhos fizerem fora de casa para que sejam saudá-
veis e tão balanceada quanto a que você serve a
eles.

As refeições devem conter os nutrientes funda-


mentais e a hidratação adequada.

Siga as orientações que organizamos para que você


consiga manter a saúde das crianças sempre em
dia!

Hidratação

A concentração de água na formação do organismo


de uma criança é de 80%. Por esse motivo, crianças
precisam repor a água do organismo com mais fre-
quência. No caso de sucos, prefira os naturais e se
possíveis caseiros usando frutas frescas. Atenção
no que seu filho bebe: bebidas ricas em açúcar,
como os sucos em pó ou de caixinhas e refrigeran-
tes, são apontadas como uma das maiores causas
de obesidade infantil.

Proteínas

São fundamentais para o crescimento e desenvol-


vimento cerebral e dos ossos nas crianças. As pro-
teínas de origem animal, como carnes, ovos e lati-
cínios, possuem todos os aminoácidos essenciais –
aqueles que nosso corpo não consegue de produzir,
mas precisa para funcionar. São eles: o triptofano,
fenilalanina, isoleucina, leucina, lisina, metionina,
treonina, histidina e valina. Os de origem vegetal
encontrados na soja, quinoa ou brócolis são in-
completos, mas possuem outras propriedades
fundamentais na nutrição. Então, para seus filhos,
escolha cortes de carne sem gordura, frango sem
pele, peixes oleosos como salmão, queijos brancos
e iogurtes.
Carboidratos

Crianças precisam de energia, mas não podem se


tornar dependentes de açúcar para isso. Então, a
melhor forma são carboidratos. Pães, massas e
grãos são a melhor fonte, especialmente os inte-
grais. Cereais matinais são boas opções, desde que
não sejam carregados de açúcar e flavorizantes. A
aveia é ideal para o café da manhã, especialmente
se for servida com frutas como banana e mamão,
pois também contém uma boa quantia de fibras.

Verduras e frutas

Contém as vitaminas e minerais essenciais para a


saúde de seus filhos e são importantes em todas as
refeições e lanches. Procure variar os tipos, cores e
sabores. Este grupo de alimentos são imprescindí-
veis para o organismo humano.
Associe a alimentação equilibrada, à prática de ati-
vidade física e exposição solar moderada são
fatores que contribuem para desenvolvimento
saudável da criança.

Voltando ao caso de Pablo e Ester...

Orientei a mãe quanto a escolha de alimentos mais


saudáveis desde o momento das compras. A im-
portância de criar rotina e ter um momento tran-
quilo na hora das refeições. O comer deve ter hora
e lugar, sem distrações como televisão, celular,
tablet, videogame.

Recomendei, quando possível, a participação das


crianças no momento das compras, deixando-as
escolherem os alimentos saudáveis na feira ou no
supermercado. Nada de distrações ou guloseimas.
Importante já orientá-las sobre as frutas e alimen-
tos de estação, preços, composições legais para
que elas cresçam, sabendo que alimentação
saudável também pode ser realizada com pouco
dinheiro no bolso.

No preparo dos alimentos, tente sempre incluir a


criança nas tarefas. Leve a criança para a cozinha,
para ajudar a preparar a refeição.

E a refeição deve ser feita em família sempre que


possível.

Realizei plano alimentar individualizado para


perda de peso das crianças.

Promover uma educação alimentar de forma lúdica


com as crianças, para maior entendimento das
mesmas. Além disso, trabalhei com moldes de ali-
mentos, montando pratos saudáveis. Contei histó-
rias, explicando a importância do consumo de
frutas, legumes e verduras. Expliquei sobre ali-
mentos que deveriam ser evitados como doces,
frituras e refrigerantes e quanto a importância de
não beliscar guloseimas entre o intervalo das re-
feições. Ah! E sobre a água, na dinâmica de orien-
tação, dispensei um bom momento para falar
sobre importância de tomar água, com frequência.

Realizadas tais condutas, o tratamento familiar foi


um sucesso.

Pablo e Ester ganharam estrelinha de prêmio, a


mamãe Ana Maria está mais tranquila e equilibra-
da e confesso que me senti muito realizada com
este trabalho.
Márcia Braga

É graduada em Nutrição pelo Centro


Universitário UNA - BH; Pós-graduada em
Nutrição Clínica pela Faculdade São Camilo -
BH. Foi Assessora técnica Conselho Regional
de Nutricionistas da 9ª Região, Nutricionista
no Hospital Público Regional de Betim, além
de realizar Atendimento Clínico em
consultório.

SAIBA MAIS
parimpar.com.br/marcia-braga

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