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Impactos do lixo marinho e Ação “Praia

Local, Lixo Global”


Os impactos ambientais mais evidentes estão
relacionados à morte de animais. Esse problema tem sido
considerado tão grave, que já existem registros de
ingestão ou enredamento em lixo para a maioria das
espécies existentes de mamíferos, aves e tartarugas
marinhas.
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Atualmente, o lixo deixou de ser apenas um problema sanitário em zonas urbanas e tornou-
se um dos principais grupos de poluentes em ecossistemas marinhos, inclusive em áreas
não urbanizadas. Juntamente com outros grupos de poluentes, como petróleo, metais
pesados e nutrientes, o lixo tem ameaçado a saúde do ambiente marinho de diversas
maneiras.

Os impactos ambientais mais evidentes estão relacionados à morte de animais. Esse


problema tem sido considerado tão grave, que já existem registros de ingestão ou
enredamento em lixo para a maioria das espécies existentes de mamíferos, aves e tartarugas
marinhas. Muitos animais confundem resíduos plásticos com seu alimento natural. Sua
ingestão pode causar o bloqueio do trato digestivo e/ou sensação de inanição, matando ou
causando sérios problemas à sobrevivência do animal. O enredamento em materiais
sintéticos, como resíduos de pesca, também é muito perigoso. Isso tem afetado
especialmente populações de animais com hábitos curiosos, como focas e gaivotas, seja no
Havaí ou em ilhas sub-antárticas.

Em estudos realizados sobre a quantidade e composição de resíduos flutuantes, em praias,


e/ou depositados no leito marinho, os plásticos são os mais freqüentes. Fatores como seu
elevado tempo de decomposição, sua abundante utilização pela sociedade moderna e
ineficácia ou inexistência de programas de gerenciamento de resíduos sólidos explicam
essa constatação. Um tipo de plástico pouco conhecido são as esférulas plásticas, nibs ou
pellets. Os nibs possuem poucos milímetros de diâmetro e são matéria prima para a
fabricação de produtos plásticos, sendo perdidos em grande quantidade durante seu
manuseio e transporte. Na Nova Zelândia, por exemplo, foram verificados depósitos com
mais de 100.000 esférulas por metro linear de praia. No Brasil, os nibs já foram observados
no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Bahia, mas provavelmente ocorrem
em todo litoral. Apesar do pequeno tamanho, os nibs causam grande preocupação, visto que
inúmeras espécies de aves têm ingerido esse tipo de material e, além do dano físico, os nibs
podem ser vetores de poluentes químicos, como agrotóxicos, aderidos em sua superfície
externa.

O lixo depositado nas praias brasileiras pode ter sido deixado pelos banhistas, transportado
pelos rios que cruzam zonas urbanas ou trazido pelas correntes marinhas. Juntos, os ventos
alísios (de nordeste) e o padrão de circulação superficial do oceano Atlântico Sul
favorecem o transporte dos resíduos flutuantes jogados no mar pelos navios para as praias
brasileiras. Uma breve caminhada pelas praias da Costa dos Coqueiros, no litoral norte da
Bahia, pode mostrar algumas surpresas, como acúmulo na areia do lixo jogado no mar por
navios estrangeiros. Foi isso que aconteceu no verão de 2001 numa caminhada de 10,3 km
entre as praias do Forte e Imbassaí, motivando a criação da Ação “Praia Local, Lixo
Global” (www.globalgarbage.org) com objetivo de monitorar o problema e buscar
soluções.

Na Costa dos Coqueiros, os impactos do lixo à vida marinha são agravados por se tratar de
área de reprodução de tartarugas marinhas, com intensas atividades do Projeto TAMAR.
Isso significa que além dos obstáculos naturais, as tartarugas precisam superar o lixo
flutuante e aquele depositado na praia para garantir sua sobrevivência.

Além dos danos à vida marinha, o lixo no litoral da Bahia entra em conflito com uma das
principais atividades econômicas da região: o turismo. As pesquisas realizadas no Brasil e
em outros países mostram que o lixo nas praias também pode causar ferimentos nos
banhistas, diminuição das atividades turísticas e danos a embarcações. Por exemplo, na
África do Sul, o prejuízo causado pelo lixo ao turismo é da ordem de milhões de dólares; no
litoral sul do Brasil foi observado que cerca de 20% dos banhistas já sofreram algum tipo
de ferimento associado a lixo em praia; enquanto em algumas regiões dos Estados Unidos o
entupimento da entrada de água para a refrigeração do motor com plásticos é a principal
causa de danos a embarcações.
O monitoramento da chegada do lixo internacional em cerca de 70 km de praias
praticamente desabitadas no litoral norte da Bahia a partir de 2001 registrou embalagens de
mais de 60 países. Estados Unidos, Itália e África do Sul são os países com maior número
de embalagens. O plástico é o material mais freqüente, seguido por metais. Isso aumenta
ainda mais a gravidade do problema, considerando o elevado tempo de decomposição
destes materiais. Atualmente o monitoramento é realizado em um trecho de 141,5 km entre
Mangue Seco e Praia do Forte. A intenção é expandir as atividades para o maior número de
localidades possíveis.

Outro poluente pouco conhecido que tem sido monitorado são os sinalizadores (lightsticks)
utilizados na pesca de espinhel ou por mergulhadores. Esses sinalizadores são uma
embalagem de plástico contento líquido oleoso que produz luminosidade por
aproximadamente 12 horas. Perdidos ou jogados no mar, os sinalizadores também se
acumulam nas praias. Eles têm sido utilizados inconseqüentemente pela população local
para acender fogo, como chaveiros, lubrificantes e até mesmo como bronzeadores, óleo
para massagens contra dores musculares e para curar micoses, vitiligo e reumatismo!
Apesar dos fabricantes afirmarem que seu produto não é tóxico no caso de contato acidental
com a pele, o resultado do seu uso sistêmico e contínuo é desconhecido em longo prazo,
podendo se tornar um problema de saúde pública se não for devidamente investigado e
avaliado.

A solução dos problemas aqui descritos passa essencialmente pelo conhecimento científico
das origens e impactos dos poluentes em ambiente marinho, afinal apenas problemas
devidamente conhecidos podem ser gerenciados. Atualmente a Ação “Praia Local, Lixo
Global” conta com três programas em ação. O programa “ID Garbage” busca a
identificação das origens do lixo encontrado nas praias da Costa dos Coqueiros,
intimamente associado ao programa “Amigos do Lixo”, que reúne pessoas de todo mundo
interessadas em recolher e catalogar o lixo encontrado nas caminhadas na Costa dos
Coqueiros. Já o programa “Onda Verde” é uma iniciativa que tem o apoio de atletas e
surfistas como Wilson Nora e Armando Daltro, buscando a difusão das idéias de “Praia
Local, Lixo Global” no mundo do Surf.

A expansão do trabalho e a busca pela diminuição da poluição marinha por resíduos sólidos
dependem muito de novas articulações. Nesse sentido está sendo realizada uma associação
com a expedição Aventura no Brasil Costal (www.aventuranobrasilcostal.com.br),
programa idealizado pelo jornalista científico Luiz Peazê, que tem o objetivo de difundir
assuntos ligados à gestão costeira e educação ambiental através expedição em cruzeiro à
vela ao longo da costa brasileira, de sul a norte e de norte a sul, intermitente por no mínimo
cinco anos. Os objetivos e ideais convergentes de ambos projetos apontam para uma
excelente parceria. Assim, a metodologia e ações de “Praia Local, Lixo Global” poderão ser
difundidas em praias de todo Brasil.

Isaac Rodrigues dos Santos (Oceanógrafo) & Ana Cláudia Friedrich (Mestre em
Engenharia Oceânica), membros da comissão científica de “Praia Local, Lixo Global”; &
Fabiano Prado Barretto, gerente de projetos e idealizador de “Praia Local, Lixo Global”.

Acessado em 5/3//14 em:


http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/artigos_agua_salgada/impactos_do_lixo_mari
nho_e_acao_%E2%80%9Cpraia_local,_lixo_global%E2%80%9D.html

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