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Não há quem desconheça o ditado que diz que é melhor prevenir do que remediar.

Desculpe o
chavão, mas ele cai como uma luva no caso dos acidentes com a visão. Uma grande porcentagem
das lesões oculares causadas por esses motivos gera defeitos visuais permanentes. Muitos
trabalhadores sentem na pele essa estatística: dentre os acidentes oculares de trabalho, 12%
causam problemas irreversíveis. Mesmo a oftalmologia sendo uma das áreas da Medicina que
mais avança no mundo e tendo no Brasil a segunda maior comunidade de especialistas do
planeta, ainda assim, muitos acidentes causam cegueira completa. Portanto, torna-se fácil
entender a importância da prevenção e da manutenção da saúde dos olhos. A nossa “máquina de
ver” é uma perfeita combinação de músculos e lentes que, juntamente com o cérebro, nos permite
enxergar o mundo; 85% de nosso relacionamento com o meio ambiente deve-se ao modo como
podemos vê-lo. A manutenção do bom funcionamento de um dos nossos sentidos mais bem
apurados depende dos cuidados que cada um lhe confere no dia-a-dia. Há quem afirme que nossa
vitalidade e esperança possam ser medidas pelo brilho dos olhos. Poesia a parte, o cuidado para
evitar um dano irreversível aos nossos olhos é uma necessidade e tudo o que evolui nesse sentido
deve ser avaliado e, se comprovado, colocado em prática. Nas empresas, é preciso respeitar
normas e leis de segurança e usar os equipamentos recomendados, como os óculos de proteção.
Obviamente, esses óculos, bem como os outros Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) não
previnem os acidentes; contudo, são peças-chave para evitar ou ainda amenizar as possíveis
lesões. A prevenção dos acidentes propriamente dita deve ser prioridade e a utilização correta e
freqüente dos EPIs adequados será fator determinante na continuidade da saúde dos
trabalhadores de cada empresa. Iluminação correta dos ambientes, ventilação, ergonomia,
períodos de pausa, educação e treinamento dos funcionários são as partes a serem cumpridas
pelas empresas; detalhes importantes e determinantes no quesito bem estar dos funcionários. E há
ainda, as razões sócio-econômicas, que apontam para o aumento da produtividade dos que
trabalham em ambiente saudável. E, aposto, que as empresas têm grande interesse nisso. E já
que estamos falando sobre os acidentes oculares, para se ter uma idéia, a inaptidão para o
trabalho causada pelo comprometimento da visão é muito maior do que qualquer outro tipo de
acidente uma vez que é em média de 15 semanas, quando não permanente, contra as cinco para
aqueles que afetam outras partes do corpo. Outro dado alarmante é a situação dos gastos com
acidentes ocupacionais oculares no Brasil. Sem contar a sub-notificação, a estimativa do Conselho
Brasileiro de Oftalmologia é que os acidentes ocupacionais oculares correspondam a 150 mil
casos por ano, com maior freqüência entre homens na faixa etária de 20 a 40 anos, quando se
está no auge da produtividade. Trata-se de um custo anual estimado em R$ 328 milhões para os
cofres da saúde brasileira apenas com os tratamentos que tentam reverter os acidentes oculares; e
muitos não surtem resultados.
Grande aliado: óculos de proteção

Por tudo isso, insistimos no uso de um dos mais importantes aliados nessa batalha contra as
lesões oculares ocasionadas pelo trabalho: os óculos de proteção. E temos que levar em
consideração que esse EPI deve ser apropriado, de boa qualidade, combinando conforto e
segurança, resistência e leveza. Já vi trabalhadores tendo sua função impossibilitada devido aos
óculos ou máscaras (que também agem na proteção facial) desconfortáveis e incômodos. Muitos,
por desconhecerem os perigosos riscos a que estão expostos – com fagulhas, gases, pancadas,
pó, vento, areia ou energia radiante, abandonam os olhos à mercê da sorte. Afinal, não há quem
consiga enxergar o local exato para a solda, por exemplo, quando se tem uma lente que insiste em
ficar embaçada. Uma hora, cansa. E o trabalhador tira a proteção... É nesse momento que o
acidente, geralmente, acontece. Os bons óculos de proteção devem ser modulados de acordo com
a necessidade e função do trabalhador e não somente ele deve estar com os óculos de proteção,
como também todos que o cercam. Nunca é demais repetir que os aparatos devem ter Certificação
do Ministério do Trabalho e Emprego, que é gravada nos óculos, e possuir o Certificado de
Aprovação da Fundacentro. Os trabalhadores devem ter sempre à mão os materiais de limpeza
dos óculos. Os mais utilizados são com lentes de vidro temperado ou endurecido, com três
milímetros de espessura, que apresentam ótimas qualidades ópticas. Há ainda, as lentes com
vidros laminados coloridos e plásticos. Lembrando que não são apenas os trabalhadores que
manipulam equipamentos emissores de radiação e faíscas (como os soldadores) ou aqueles que
estão expostos a gases e vapores químicos que precisam adotar um equipamento para proteger
os olhos. Quem trabalha em ambiente de menor risco, como dentistas ou laboratoristas, também
devem usar protetores.

Óculos Corretivos e Lentes de Contato

Como 60% da população brasileira entre 18 a 40 anos precisam de lentes corretivas – devido a
algum tipo de desvio de refração (miopia, astigmatismo, hipermetropia) – elas podem ser
acopladas aos óculos de proteção. Ou ainda, os trabalhadores podem usar os óculos de proteção
sobre os óculos corretivos ou as lentes de contato. Se utilizados sozinhos, os óculos de segurança
corretivos devem ter protetores laterais; os feitos com vidro temperado ou lentes de plástico acrílico
não fornecem proteção contra impactos fortes e não devem ser utilizados ao trabalhar em áreas
com escombros, a menos que estejam cobertos com óculos de proteção ou viseira. Em áreas onde
há perigo de fortes impactos, deve-se utilizar lentes fabricadas com policarbonato ou Trivex®. Os
novos óculos de segurança com lentes de policarbonato devem ser resistentes para reduzir
arranhões. As lentes de contato podem apresentar um risco significativo de abrasão corneana ao
trabalhar em áreas com pó, a menos que sejam utilizados óculos de proteção bem ajustados ou
um respirador que cubra o rosto inteiro e esses, geralmente, não se ajustam adequadamente sobre
os óculos convencionais ou os óculos de segurança, por isso, devem ser utilizados acessórios
corretivos compatíveis com o respirador. E tudo deve ser adaptado por um profissional. Uma
recomendação: elimine o pó ou escombros com uma escova, aspirador ou sacudindo o capacete,
cabelo e a testa, bem como o topo da proteção ocular antes de removê-la. Não esfregue os olhos
com as mãos ou roupas sujas.

Há que se frisar que a exposição à luz da soldagem causa graves queimaduras nos olhos e no
tecido circundante. As lentes para proteção contra soldagem devem estar marcadas com o número
de cor e o soldador deve usar a cor mais escura possível para cada tipo de solda (soldagem com
tocha – de 1,5 a 3, soldagem com arco elétrico – de 10 a 14, sendo 14 o mais escuro de todas).

Para quem utiliza lentes de contato é importante lembrar de sempre lavar as mãos antes de
manuseá-las. Usar a unha para retirá-las dos olhos pode ser muito perigoso. De qualquer forma,
cabe ao médico oftalmologista prescrever e supervisionar a adaptação das lentes de contato,
zelando pela saúde ocular do paciente. Importantíssimo: lentes de contato não são lentes de
segurança, que fique claro! Os óculos de proteção são necessários também para quem é usuário
das lentes de contato, tanto as gelatinosas quanto as rígidas.
Aconteceu a lesão. O que fazer?

Todos devem estar preparados para os primeiros-socorros a um colega ou parceiro de trabalho


que tenha sofrido um acidente ocular. O trabalhador também deve ter ciência das ações a serem
tomadas no caso de acidentes para no caso de acontecer com ele próprio, ele saiba orientar quem
o esteja ajudando ou consiga, ele mesmo, agir rapidamente. A agilidade no atendimento pode ser
determinante nas possíveis seqüelas para a visão. A primeira e mais importante medida de socorro
é a lavagem dos olhos com água limpa em abundância. A única exceção se faz às perfurações
oculares, que devem ser encaminhadas imediatamente ao oftalmologista para os devidos reparos.
É importante evitar a compressão do globo ocular até a avaliação da extensão da lesão provocada
pelo acidente. Sempre é importante o estudo do acidente por um oftalmologista, que possui os
equipamentos necessários para um adequado exame do olho.

Resumidamente, podemos apontar as ações adequadas para cada tipo de acidente. Dentre os
mais comuns estão: 1) lascas nos olhos - não esfregue os olhos; utilize um colírio, lave os olhos
em abundância; consulte um médico se o objeto ainda permanecer no olho, ou se a dor ou
vermelhidão persistirem; 2) cortes, picadas ou objetos estranhos nos olhos - não lave o olho; não
tente retirar o objeto introduzido no olho; estabilize o olho com uma proteção rígida sem aplicar
pressão, como por exemplo, a parte inferior de um copo de papel; consulte um médico
imediatamente; 3) queimaduras químicas - lave imediatamente o olho com água ou qualquer
líquido que se possa beber; abra o olho ao máximo possível; continue lavando por pelo menos 15
minutos; no caso de soluções ardentes ou básicas, continue lavando enquanto estiver a caminho
do consultório médico; se houver lentes de contato nos olhos, lave sobre as lentes; consulte um
médico imediatamente; 4) golpes nos olhos - aplique uma compressa fria sem pressionar; pode-se
colocar gelo em um saco plástico e acomodá-lo suavemente no olho machucado; consulte um
médico se a dor persistir ou se houver perturbação da visão, sangue ou descoloração do olho, o
que pode indicar uma lesão interna.

Casos duvidosos

Recentemente, circulou pela Internet a descrição de dois casos de cegueira ocasionados por “uma
centelha elétrica ao tentar fechar uma chave e outro que ao levantar a máscara protetora para
melhor posicionar um eletrodo, tocou inadvertidamente o metal produzindo um arco voltaico;
ambos os traumas não ocasionaram dor nos trabalhadores que só constataram o problema quando
chegaram em suas casas e, ao retirarem as lentes, retiraram também suas córneas”. Assim como
tantos outros temas discutidos pela web, o assunto causou profundo estranhamento entre os
especialistas e foi motivo de inúmeras discussões sem, entretanto, conclusões fundamentadas. Em
nossa opinião, os casos clínicos não estão devidamente demonstrados, nem descritos com dados
pertinentes. O fato é que, como já descrito nesse texto, as lentes de contato não são proteção para
os olhos e – as gelatinosas - precisam de hidratação, pois mesmo sob a máscara podem secar e
aderir à córnea como uma ventosa. Mas, o que causa dúvida é que o usuário das lentes percebe
de imediato um problema – visão borrada e desconforto – que o obriga a tentar tira-las. Claro que o
médico deve ser imediatamente contatado caso o usuário sinta qualquer dificuldade em retirar
suas lentes. Contudo, dados mais aprofundados sobre esse tema ainda estão em estudo, sendo
que nenhum alarde é necessário, devido a falta de embasamento científico na descrição dos
casos. Vamos aguardar!

Prevenção e proteção Nós, oftalmologistas, temos ciência que o uso dos óculos protetores é ainda pouco
difundido em nosso meio. Infelizmente! São urgentes e necessárias mais campanhas educativas, no intuito de
incentivar e conscientizar os trabalhadores da importância do seu uso rotineiro e habitual; além dos
empresários, que devem ser agentes multiplicadores das informações para manter a saúde da visão de seus
funcionários. Somente o maior intercâmbio de informações entre as empresas e seus funcionários, somado à
intensificação das campanhas pela prevenção de acidentes e uso de EPIs, são fatores capazes de mudar
uma realidade triste, de pessoas que perdem a visão devido à acidentes evitáveis. Um sonho ambicioso é que
todas as pessoas tenham a possibilidade de protegerem a saúde de sua visão, com plena consciência da
importância dos olhos em suas vidas.

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