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ANÁLISE DO COEFICIÊNTE DE COMPACIDADE DE BACIAS HIDRÓGRÁFICAS

BRASILEIRAS

Jonielson da Silva Pires

RESUMO

O estudo das bacias hidrográficas é essencial para o planejamento da


utilização dos recursos hídricos, bem como, para compreensão dos comportamentos
hídricos de determinada região, o que auxilia na definição das estratégias de
intervenção e de uso do solo e da água, o que é fundamental quando se trata de
empreendimentos relacionados ao agronegócio. Um dos aspectos fundamentais que
devem ser investigados em uma bacia hidrográfica é o seu coeficiente de
compacidade, que indica a suscetibilidade da região a inundações e enchentes.
Esse índice pode ser obtido a partir da análise de características morfométricas da
bacia, obtendo como resultado um valor capaz de indicar a existência de tendência
para ocorrência desses fenômenos. Nesse contexto, este trabalho teve como
objetivo verificar o coeficiente de compacidade dessas sub-bacias brasileiras e
compreender como ele pode indicar a suscetibilidade da região a inundações. Para
isso, foi utilizado o software de geoprocessamento QGIS para análise dos dados
vetoriais das sub-bacias brasileiras obtidas junto a Agência Nacional de Águas. Os
resultados demostraram que as três sub-bacias com maior suscetibilidade de
inundação são Piranhas, Açu e outros, Uruguai e Negro e Uruguai, Chapecó, Passo
Fundo e outros e as com menor tendencia para inundação foram Litorâneas de São
Paulo, Cachoeira e outros e Litorâneas do Rio de Janeiro. Considerou-se ser
fundamental o conhecimento e prática sobre a gestão de bacias hidrográficas para
que o profissional do agronegócio seja capaz de planejar e acompanhar o
desenvolvimento de atividades que dependam dos recursos hídricos, algo essencial
para o agronegócio.

Palavras-chave: Bacia hidrográfica. Geoprocessamento. Coeficiente de


compacidade. Gestão de recursos hídricos.
INTRODUÇÃO

A gestão de bacias hidrográficas e recursos hídricos é fundamental para o


planejamento de ações de intervenção humana, principalmente nas áreas do
agronegócio que utilizam bastante esse recurso e também dependem da sua
estabilidade para sua operação. Uma das formas de monitorar e prever possíveis
impactos relacionados aos recursos hídricos é através da análise do coeficiente de
compacidade, que pode indicar o quanto determinada região é suscetível a
inundação, o que ajuda no planejamento da instalação e operações dos
empreendimentos (CAMPANHARO, 2010).
Para explorar melhor a importância da análise do coeficiente de compacidade
de uma bacia hidrográfica, neste trabalho, será realizada a verificação o coeficiente
de compacidade de sub-bacias e sua relação com possíveis inundações nas regiões
mais baixas. Para tal, foi realizada uma investigação utilizando um software de
geoprocessamento que permitirá a observação de um vetor composto pelas sub-
bacias hidrográficas brasileiras. O objetivo é verificar o coeficiente de compacidade
dessas sub-bacias e compreender como ele pode indicar a suscetibilidade da região
a inundações.

MATERIAIS E MÉTODOS

De acordo com Santos et al. (2012), o coeficiente de compacidade é uma


medida que relaciona a área de uma bacia hidrográfica com seu perímetro. Ele é um
indicador importante para entender como a água flui e se acumula no terreno e
identificar as áreas mais propensas a enchentes e inundações. Bacias hidrográficas
com coeficientes de compacidade altos, ou seja, mais irregulares, tendem a ter uma
menor suscetibilidade a enchentes, uma vez que a água escoa mais rapidamente
pelo terreno.
Por outro lado, bacias com coeficientes de compacidade mais baixos, ou seja,
mais circulares, têm uma menor capacidade de armazenamento de água e uma
maior suscetibilidade a inundações, pois a água leva mais tempo para escoar pelo
terreno. Dessa forma, o coeficiente de compacidade é um indicador importante para
identificar áreas de risco e elaborar estratégias de gestão mais eficientes para as
bacias hidrográficas (SANTOS et al., 2012). O coeficiente de compacidade é dado
conforme apresentado na Equação 1.

P
Kc = 0.28 Equação 1
√A

Onde:
Kc = coeficiente de compacidade (adimensional);
P = perímetro da bacia;
A = área da bacia;

Nesse contexto, Fritzsons e Mantovani (2010) explicam que o valor de Kc


sempre será maior que 1, assim, quanto mais próximo de 1 for o coeficiente de
compacidade, mais compacta e circular é a bacia, o que aumenta o tempo de
escoamento da água, sendo, portanto, mais suscetível a inundações. No contrário,
quando o Kc for mais elevado, mas irregular é a bacia, o que favorece o
escoamento, tornando-a menos propensa a ocorrência de inundações e enchentes.
A análise do coeficiente de compacidade também é relevante para o
planejamento urbano e o desenvolvimento sustentável das regiões próximas às
bacias hidrográficas. Compreender como as bacias se comportam durante as
chuvas intensas é fundamental para evitar desastres naturais e promover um uso
mais consciente e responsável do solo (FRITZSONS; MANTOVANI, 2010).
Para determinação dos coeficientes de compacidade das sub-bacias
brasileiras foi utilizado o software de geoprocessamento QGIS, versão 3.22.3, em
conjunto com dados vetorizados das sub-bacias brasileiras através do acesso ao
Sistema de Informações de Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas
(ANA). A seguir, são apresentados os passos dede a instalação do software até a
determinação dos coeficientes de compacidades das sub-bacias brasileiras.
Primeiramente, foi realizado o download do software QGIS no endereço
eletrônico “https://qgis.org/pt_BR/site/”, em seguida, foi iniciado o processo
instalação e aceitação dos termos de utilização do programa, ao fim foi apresentada
a tela demostrando que a instalação foi bem sucedida, conforme de pode observar
nas Figuras 1 e 2.
Figura 1 – Início do processo de instalação do software QGIS

Fonte: Arquivo do autor

Figura 2 – Fim do processo de instalação do software QGIS

Fonte: Arquivo do autor

Após a instalação do mapa, foi configurado o sistema de referência de


coordenadas do software para o SIRGAS 2000 / BRAZIL POLYCONIC, sendo uma
projeção cartográfica utilizada no Brasil para representar o território nacional de
forma mais precisa e adequada às suas características geográficas. Posteriormente,
foi adicionada uma nova camada vetorial a partir dos dados das sub-bacias
hidrográficas brasileiras disponibilizadas pela ANA, sendo a mesma reprojetada para
se adequar as sistema de coordenadas SIRGAS 2000. Finalizada essa etapa, é
apresentado um mapa contendo os limites das sub-bacias brasileiras, conforme
apresentado na Figura 3.

Figura 3 – Representação da camada vetorial contendo as sub-bacias brasileiras

Fonte: Arquivo do autor

Em seguida, na camada vetorial configurada, foi acessada a tabela de


atributos, onde foram inseridas colunas de perimétrico, área e coeficiente de
compacidade da bacia. Esses dados foram manipulados utilizando a calculadora de
campo da tabela de atributos, definindo as variáveis e a fórmula para determinação
do coeficiente. Após essa etapa, na tabela de atributos foram incluídas três novas
colunas, indicando os valores do perímetro, área e coeficiente de compacidade de
cada bacia, conforme apresentado na Figura 4.
Figura 4 – Janela de atributos contendo as colunas de perímetro, área de Kc

Fonte: Arquivo do autor

Em seguida, foi verificado quais eram as sub-bacias brasileiras com menor e


com maior coeficiente de compacidade. Isso foi realizado ajustando a ordenação do
Kc na própria janela de atributos. Nas Figuras 5 e 6 são apresentadas essas sub-
bacias.

Figura 5 – Seleção das três sub-bacias com menores Kc

Fonte: Arquivo do autor


Figura 6 – Seleção das três sub-bacias com maiores Kc

Fonte: Arquivo do autor

RESULTADOS

As sub-bacias de Piranhas, Açu e outros, Uruguai e Negro e Uruguai,


Chapecó, Passo Fundo e outros, foram as que apresentaram menor coeficiente de
compacidade do Brasil, mais próximos de 1. Isso significa que as partes baixas
dessas regiões são suscetíveis a enchentes e inundações, pois seu formato
favorece a concentração e a retenção da água da chuva por mais tempo, além de
tornar baixa sua capacidade de escoamento. Assim, na ocorrência de grandes
volumes de chuva essas regiões podem ser impactadas por inundações.
Por outro lado, as sub-bacias Litorâneas de São Paulo, Cachoeira e outros e
Litorâneas do Rio de Janeiro, foram as que obtiveram maior coeficiente de
compacidade, o que significa que essas regiões tem menor propensão para a
ocorrência de enchentes. Mas é importante lembrar que, as regiões de São Paulo e
Rio de Janeiro, apesar do alto Kc, sofrem constantemente com inundações e
enchentes, mas que são fruto da ocupação desordenada do solo e da fragilidade na
gestão das suas bacias hidrográficas.
Assim, além da análise do coeficiente de compacidade, é importante analisar
o contexto do território para verificar as possibilidades de ocorrência de enchentes,
de modo a planejar com maior segurança as intervenções que causem algum tipo de
impacto na bacia hidrográfica local.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O coeficiente de compacidade é uma medida da forma da bacia hidrográfica,


calculado a partir da relação entre a área e o perímetro da bacia. Quanto menor for o
coeficiente de compacidade, mais circular será a bacia e, portanto, mais suscetível a
inundações e eventos hidrológicos extremos. Já uma bacia com um coeficiente de
compacidade maior será mais irregular e, consequentemente, terá uma menor
suscetibilidade a inundações, pois as águas da chuva tendem a escoar mais
rapidamente, evitando seu acumulo nas áreas baixas da região.
Ao utilizar esses parâmetros morfométricos, é possível obter informações
precisas e confiáveis sobre as bacias hidrográficas, auxiliando no planejamento e
gestão dessas áreas, sendo essencial para um profissional do agronegócio. Por
exemplo, a análise do coeficiente de compacidade pode ajudar o profissional na
definição de áreas de risco e no estabelecimento de medidas de prevenção a
inundações, enquanto o conhecimento da área e do perímetro da bacia pode
fornecer informações importantes sobre a capacidade de armazenamento de água e
o potencial hidroenergético da região.

REFERÊNCIAS

CAMPANHARO, W. A. Diagnostico físico da bacia do rio Santa Maria do Doce –


ES. 2010. 78 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia
Florestal) – Universidade Federal do Espírito Santo, Espírito Santo, 2010.

FROTZSONS, E.; MANTOVANI, L. E. Os substratos geológicos e os coeficientes


morfométricos em bacias hidrográficas do carste dolomítico no Estado do Paraná.
Revista Brasileira de Geografia Física, v. 3, n. 3, p. 181-189, 2010.

SANTOS, A. M. et al. Análise morfométrica das sub-bacias hidrográficas Perdizes e


Fojo no município de Campos do Jordão, SP, Brasil. Revista Ambiente & Água, v.
7, n. 3, p. 195-211, 2012.

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