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Um Professor Muito Especial - Susan Caroll

Anahí Portilla se matava de trabalhar para ser alguém superior na


empresa!
Era fria e distante do mundo social, não relaxa e era sempre tensa... Mas
por causa de uma confusão, uma rifa lhe deu um prêmio especial, que
iria lhe ensinar como se sentir mais viva, mais relaxa, mais sensual e
completamente amada!

Alfonso Herrera, era o prêmio, e se sentia irritado com a ganhadora, não


que Anahí fosse feia, na verdade ela estava longe disso, mas ele se
irritava com essa pose de ‘princesa de gelo’, totalmente arrogante... Mas
como ela ganhou, ele teria de servir a ela, porém iria fazer mais do que
isso, ele iria ensiná-la a viver, tornando-se UM PROFESSOR MUITO
ESPECIAL.
CAPÍTULO 1
Não compre nunca uma rifa a menos que saiba qual é o prêmio.

Anahí Puente pensou que não era mais que outro refrão que acrescentar
a já larga preparada lista de duras lições que tinha recebido. Olhou
assombrada o número que estava junto aos restos de sua muito cara
comida, esperando havê-lo ouvido mal.

- E o número ganhador é o 705 - repetiu o apresentador usando o


microfone da orquestra.
- OH, não!

Anahí teve que fazer um esforço para não gritar. A uma engenheira
como ela, hábil e inteligente, não lhe devia custar muito reconhecer que
o número que havia junto ao prato era o seu. Uma incômoda mecha de
cabelo loiro caiu sobre seus olhos azuis quando olhou assombrada seu
prêmio.

O homem estava de pé no cenário da orquestra, com aspecto de


encontrar-se tão deslocado como Tarzan em meio ao moderno desenho
arquitetônico do complexo de escritórios da Play Tyme.

O salão de recepções, com seu teto de cristal, tinha sido transformado


em uma sala de baile de gala benéfico que celebrava a Associação Have
A Heart todos os anos. E o saguão, habitualmente vazio, estava ocupado
pela orquestra e por um bom número de mesas com toalhas.

Anahí pensou com ironia que se deslocasse Alfonso Herrera à frente da


fonte e das pequenas palmeiras teria passado perfeitamente a imagem de
rei dos macacos. Ia vestido para a ocasião. Não levava nada mais que um
short curto ajustado e uma camiseta sem mangas. Tinha seu indomável
cabelo negro preso em uma tira de couro, e os músculos de seus braços
ainda porejavam em minúsculos brilhantes de suor, por causa da
demonstração que tinha feito minutos antes no novo equipamento
Nautilus, adquirido pela empresa.
Apesar da distância, Anahí notou que seu quadrado queixo mantinha
uma expressão arrogante. Ao menos não parecia estar envergonhado
ante o fato de que acabavam de vendê-lo como se tratasse de um
escravo.
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Vendê-lo não era a palavra correta. Acabavam de rifá-lo, e isso era
inclusive pior. Voltaram a chamar à ganhadora do prêmio e um
murmúrio se estendeu pelas mesas. Todo mundo olhava seu número.
Jogou uma olhada a seu redor para assegurar-se de que ninguém se dava
conta e agarrou sua papeleta, disposta a rasgá-la em mil pedaços sob a
mesa.

Mas foi muito lenta. Uns dedos de unhas muito bem cuidadas agarraram
o bilhete de Anahí.

- Oh, olhe. Annie ganhou o prêmio! - exclamou a secretária do


departamento de engenharia, Rosemary Peters -. Aqui! Temos a
ganhadora! Anahí Puente!

As senhoras presentes começaram a gritar. Rosemary fez uma careta,


perfeitamente consciente do muito que a incomodava todo aquilo. De
certa forma era uma vingança pela quantidade de vezes que Anahí a
tinha obrigado a fazer horas extraordinárias.

Teve que resistir ao impulso de esconder-se debaixo da mesa. Todas os


olhares se voltaram para ela. Todo mundo queria ver a mulher que
acabava de ganhar Conan, o Bárbaro.

- Pensei que o prêmio seria um microondas ou algo assim - protestou.

Ninguém a ouviu. Começaram a aplaudir, e o apresentador insistiu:

- Venha receber seu prêmio.

Não tinha outro remédio que levantar-se e confrontá-lo com dignidade,


embora não lhe funcionou fácil. Seu vestido negro de seda se enredou
nas cordas dos balões de gás que adornavam todas as cadeiras.

Enquanto tentava liberar-se, dava-lhe a impressão de que todos aqueles


rostos estúpidos riam dela. Separou-se os balões a um lado e começou a
abrir caminho entre as mesas, incomodamente consciente dos aplausos e
dos olhares curiosos.
Anahí teria gostado de parar-se em cada mesa, rir e assegurar ao
apresentador e aos diretores da Corporação Play Tyme que se tratava só
de um engano. Ela era uma mulher de negócios, uma engenheira, uma
profissional. Nunca olhava os calendários cheios de homens, jamais
assistia a espetáculos com bailarinos e nem sequer gostava dos tipos
musculosos. Jurava e perjurava que estava segura de que o prêmio seria
um microondas.
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Mas protestar só teria piorado a situação. Além disso, seu prêmio estava
esperando-a. Enquanto se aproximava do cenário levantou o olhar e
pensou que Alfonso Herrera era um dos homens mais altos que tinha
conhecido. Embora talvez fora por sua postura. Subido ali parecia o
colosso de Rodhes, com as pernas separadas e os braços cruzados sobre
o peito.

Entretanto, cabia a possibilidade de que tivesse aquela impressão só


porque tampouco tinha visto nenhum homem tão musculoso a tão curta
distância. Anahí não gostava dos fisiculturistas. Não apreciava as veias
inchadas nem o fato de que um homem pudesse desenvolver tanto seu
peito para ter um porte maior que o seu.

Mas teve que admitir que Alfonso Herrera era atraente. Tinha um bonito
corpo e uns traços igualmente definidos. De marcadas maçãs do rosto,
seu queixo parecia de granito, tinha uma boca muito sensual, e as
sobrancelhas da cor do cabelo. Olhava-a com certa ferocidade, como um
guerreiro antigo.

Por um momento, Anahí notou que seu corpo respondia da mesma


forma, primitiva e feminina. Entretanto, antes de poder zangar-se
consigo mesma voltou a escutar a voz do apresentador, tão jovial.

- Venha aqui, querida. Ele não morde.

Então se deu conta de que ficou quieta, olhando ao Alfonso Herrera


como uma adolescente fascinada. A platéia rompeu em uma gargalhada
e ela se ruborizou. Tentou recuperar sua dignidade e se dirigiu para as
escadas do cenário, arrependendo-se de haver calçado sapatos de salto
naquela noite.

O apresentador, Cristian Chaves, aproximou-se para ajudá-la a subir. Era


um conhecido apresentador da televisão local, e aparecia todos os dias
na tela, no telejornal das seis em ponto. Mas Anahí não se impressionou.
Entretanto, Cristian sorriu lhe mostrando seus perfeitos dentes brancos.

- Como se chama nossa mocinha? - perguntou, lhe passando o braço por


cima dos ombros, aproximando o microfone.
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Marci. .
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Mocinha. Anahí fez um esforço para não lhe gritar que muitos homens
tinham
morrido por menos.

Mas Cristian Chaves não parecia ser capaz de interpretar seu gesto de
aborrecimento, do mesmo modo que era incapaz de dar corretamente a
previsão do tempo.

- Seu nome, querida - insistiu.

Ao final conseguiu responder entre dentes.

- Anahí Puente.

- Bom, senhora Puente...

- Senhorita.

- Veio com alguém, senhorita Puente, ou é uma das belas e sexy’s


secretárias da Play Tyme?

- Sou uma das belas e sexy’s engenheiras da Play Tyme - respondeu com
frieza.

Chaves soltou um longo assobio.

- Engenheira? É algo assim como uma perita em eficácia? Uma dessas


pessoas que sempre procuram problemas?

- Oh, geralmente não tenho que buscá-los, senhor Chaves. Eles me


procuram.

Conseguiu com que o público risse. Embora duvidou que tivessem


entendido tudo o que escondia aquela pequena brincadeira.

Cristian fez um exagerado gesto para o Alfonso Herrera.

- Bom, Anahí Puente, extraordinária engenheira, aposto o que queira a


que nunca desenhou algo tão perfeito como o homem que temos aqui.

O aplauso se fez ainda mais entusiasmado. Embora as únicas que


aplaudiam eram as mulheres. Cristian lhe colocou uma mão nas costas e
a guiou para o lugar onde se encontrava Alfonso, empurrando-a
literalmente em seus braços. Anahí esteve a ponto de perder o equilíbrio
sobre seus saltos, e Herrera a segurou para que não caísse. O calor de
suas mãos e de seu olhar fizeram que um calafrio lhe percorresse o
corpo. Depois separou as mãos e voltou à sua posição anterior; como se
fora uma estátua, alheio àquela humilhante situação. Anahí teria gostado
de comportar-se de idêntica forma.

Quando Cristian Chaves começou a falar como se fora o apresentador de


um concurso, sentiu-se envergonhada.

- Senhorita Anahí Puente, ele é seu durante todo um mês!


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Todo dela. Estava tão perto de seu poderoso corpo que sentia a boca
seca. Os olhos mel escuros e selvagens do Herrera a olhavam com tal
intensidade que se perguntou qual dos dois era o prêmio.

- Um mês? E o que vou fazer com ele durante o mês? - perguntou, sem
pensar o que dizia.

Toda a sala veio abaixo. Começaram a gritar sugestões de todo tipo.


Quase todas procediam de seus companheiros de departamento. E seu
chefe, Kuno Becker, era o mais entusiasmado de todos.

Anahí cerrou os dentes, tensa. Tinha a impressão de estar a ponto de


perder todo o respeito que tinha conseguido ganhar na empresa durante
os últimos dezoito meses, sendo a única mulher engenheira da empresa.

Pareceu-lhe notar que Alfonso Herrera também sorria, embora fosse


impossível estar segura ante aquele pétreo perfil. Queria dar a volta e
fugir, mas com isso só teria conseguido sentir-se mais ridícula do que já
se sentia. Assim que deixou de rir, Cristian Chaves a informou a
respeito:

- O senhor Herrera, que como se sabe, é o proprietário da Academia


Herrera, disponibilizou graciosamente seu tempo e suas instalações. Seu
prêmio consiste em participar de forma gratuita durante um mês, de sua
academia. Alfonso será seu instrutor físico pessoal. Certo, Alfonso?

Herrera não respondeu, nem sequer emitiu um som, limitando-se a


assentir. Ao que parece Conan tampouco falava. A comunicação ia ser
um problema interessante entre eles. Teria que lhe falar como a Jane, de
Tarzan. Eu Anahí, você Alfonso.

Mas estava segura de que não ia existir nenhum tipo de comunicação


entre eles. Encontraria um modo ou outro de renunciar a seu prêmio,
com tanta rapidez e elegância como o possível. Aquele não era o
momento para fazê-lo.

Todo mundo a olhava. De modo que sorriu e se dispôs a escutar o


blábláblá do Cristian Chaves, com seus comentários pouco inteligentes.
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Marci. .
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Quando por fim permitiram que descesse do cenário, suspirou aliviada.
Ruborizada, perguntou-se sobre o motivo que a tinha levado a
comparecer àquela horrível comemoração.

Embora conhecia muito bem a resposta. Suas ambições pessoais, seus


sonhos, sua obsessão por ter êxito daquela vez. Convinha-lhe trocar
opiniões com os executivos e beber uns coquetéis com eles para poder
subir no escalão da empresa. No passado se comportou como uma
perfeita ingênua ao acreditar, para ser promovida, bastava ter talento e
caráter. Tinha cometido um engano em seu último trabalho, e se sentia
tão humilhada que aprendeu bem a lição. Tinha despertado para o
mundo real.

- Senhorita Puente?
Anahí estava descendo pela escada do cenário quando escutou a voz do
Cristian Chaves.

- Não se esqueceu de nada? - perguntou o homem do tempo.

Anahí o olhou assombrada.

- Seu prêmio! - insistiu.

O auditório estalou em outra sonora gargalhada, ante uma horrorizada


Anahí.

Esperavam que levasse Alfonso consigo, naquele mesmo instante.


Geralmente, era difícil que não reagisse de imediato a qualquer situação.
Resolver problemas era sua especialidade. Mas aquela vez superava tudo
o que já tinha passado. Talvez tivesse que aproximar-se e levar Alfonso
pela mão, ou estalar os dedos e lhe dizer que a seguisse como se fosse
um cão adestrado.

Quando o colosso começou a caminhar em sua direção, se sentiu


aliviada. Seguiu-a dando grandes passadas. Alfonso deteve-se ao passar
junto ao Cristian Chaves e sorriu. Aquele era o primeiro gesto cordial
que tinha notado naquele indivíduo.
Alfonso se inclinou para Cristian e lhe disse ao ouvido, entredentes:

- Chaves, vou te tirar o braço do smoking e enrolá-lo no seu pescoço


bem apertado.

Cristian sorriu.

- Venha, amigo. Lembre-se que é uma noite de gala beneficente, e em


prol da sua cruzada para libertar o mundo do colesterol e da falta de
exercício físico.
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Marci. .
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- Vim aqui com a idéia de fazer uma demonstração e partir. Quando me
ofereci a doar algo, não esperava que o prêmio fosse eu, amigo.

- Mas saiu-se muito bem. Vendemos mais bilhetes do que em uma


sessão de cinema pornô. Além disso, dê uma olhada à ganhadora. Se
fosse eu, não me incomodaria em passar um mês pondo as mãos nela.

Cristian assinalou com um gesto o lugar em que estava Anahí, que


esperava nas escadas, impacientemente batendo com a ponta do pé no
chão.

- É… - murmurou Alfonso -. Justo o que eu necessitava. Uma


engenheira esnobe e
empertigada.

- E com muito caráter. Venha, Alfonso. Vá conversar um momento com


os xerifes da cidade, se divirta e tenta disfarçar suas tendências
anti-sociais. Quase me destroçou a mão, a mesma necessito para
apresentar o programa de previsão do tempo.

Chaves se separou dele para dar início à dança, com a música da


orquestra de jazz Harmonic e Ballroom, recém chegada do Aledo,
Illinois.

Alfonso levantou o olhar e tentou tranqüilizar-se. Não tinha sentido falar


com Chaves a respeito de dignidade e humilhação pública. Não
entenderia. Conhecia aquele indivíduo desde que estavam no ginásio.
Faria qualquer coisa para chamar a atenção sobre si.

Alfonso desceu a escada, instante em que a orquestra começava a tocar.


Sorriu, recordando certo sonho que tinha quando jovem, que comparecia
em classe com roupas de baixo. Era o mais parecido a um pesadelo que
podia imaginar-se. Sem mais roupa do que seus shorts, em meio de toda
aquela gente vestida em trajes sociais.

Tampouco se sentiria mais à vontade entre todos aqueles executivos se


tivesse levado um smoking. Suas conversas o aborreciam. Sempre
falavam de seu trabalho, de seus carros ou da enorme quantidade de
dinheiro que gastavam com seus filhos nos colégios mais caros do país.
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Marci. .
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Só queria dar o certificado do prêmio à senhorita Puente para partir
imediatamente. Nem sequer queria conversar um pouco com ela, que
não parecia muito contente. De fato, ela não o esperara, se dirigindo para
sua mesa, abrindo caminho entre as pessoas que se dirigiam para a pista
de dança.

Todo mundo parecia haver-se levantado para dançar, mas não a perderia
de vista. Era alta e de cabelo brilhante. A Alfonso nunca tinha apreciado
as loiras, sobretudo se eram tão antipáticas como Anahí Puente.

Enquanto a seguia se deu conta da tensão que ela tinha nos ombros.
Gostava de gente que caminhava ereta, mas aquela mulher parecia um
sargento. Ao chegar à mesa, ela logo se sentou. Estava só. A pessoa que
a tivesse acompanhado ao jantar devia estar dançando ou procurando
algo para beber. Provavelmente teria sorrido e saído para esconder-se em
qualquer lugar, depois do acontecido. Embora não estava seguro de que
ela não estivesse só desde o começo.

Anahí se inclinou sobre a mesa para agarrar sua bolsa. Alfonso não pôde
evitar olhar seu decote, embora só por razões profissionais, é obvio.

Quando se ergueu de improviso o pegou desprevenido.

- Oh! - exclamou, ao senti-lo tão perto.

Deu um passo para trás, antes de se chocar contra seu forte peito.

Alfonso sorriu. Parecia-lhe que Anahí mantinha sempre um equilíbrio


precário. Teve que voltar a agarrá-la pelos ombros para que não acabasse
no chão. Seu cabelo lhe caiu sobre as mãos. Para falar a verdade
percebeu que ela não era exatamente ruiva, mas sim de um loiro intenso,
avermelhado e dourado, com mechas. Era suave e sensual, como o
contato de sua pele sob seus dedos. Embora devia ser o único doce que
havia naquela mulher.
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Marci. .
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Anahí separou-se dele e o olhou com suprema frieza. Alfonso podia ler o
que significava sua expressão de recriminação. Pensava que como quase
todos os atletas e a gente que se dedicava ao esporte, ele também era um
perfeito idiota.

- Ah, está aqui, senhor Herrera - disse sorrindo, como se acabasse de


encontrar com ele.

Antes que pudesse dizer algo, um homem os interrompeu. Levava uma


jaqueta realmente horrível, que parecia tirada do armário de uma tribo
canibal. Apresentou-se como Martin Fremont, o relações públicas da
empresa. Levava uma câmera. Colocou-a literalmente debaixo do nariz
do Alfonso e disse com clareza:

- Vamos tirar umas fotografias.

- Oh, não - disse Anahí, antes que Alfonso pudesse fazê-lo. - Marty, não
estou com vontade agora, de verdade.

- Venha, Anahí, sairão boas. São para a revista da empresa.

Disse-lhes que ficassem juntos e logo acrescentou:


- Alfonso, talvez fora boa idéia que Anahí subisse aos seus ombros.

- Terá que ser sobre meu cadáver, Fremont. Ou sobre o teu!

- Bom, Anahí, talvez pudesse te aproximar dele e agarrá-lo fortemente


no braço como se admirasse sua musculatura.

Suas sugestões a estavam incomodando, mas ao Alfonso não importava


nada daquilo.

- Nada de fotografias -disse ele com firmeza.

Mas Puente e o tal Fremont estavam discutindo e não o ouviram.

Alfonso elevou o tom de voz:

- Já disse, nada de fotografias!

Aquela vez conseguiu que prestassem atenção. A senhorita Puente o


olhou como se não esperasse que ele pudesse falar.

- Venha, senhor Herrera, não seja tímido - comentou Marty, ajustando a


objetiva de sua câmera -. Que tal apenas uma? Pode passar o braço ao
redor de Anahí.

Alfonso não disse nada, limitou-se a arrancar-lhe a câmera das mãos.

- Ei! – protestou Marty.

- A senhorita não quer fotografias, e eu tampouco - disse.


Deu um passo adiante, ameaçador. Marty o olhou assustado. Sua avó
sempre lhe dizia que não devia aproveitar-se de seu tamanho para
assustar às pessoas. Quase podia vê-la lhe dando conselhos, com seu
cabelo grisalho. Sempre estava de acordo com ela. Mas Anahí já tinha
tido o bastante para uma noite.

- Volte a guardar a câmera ou a engula, senhor Fremont - disse Alfonso


educadamente.

- Claro, senhor Herrera. O que você quiser.

Deu-lhe sua câmera e o homenzinho desapareceu entre a multidão,


procurando um tema menos perigoso.

Alfonso se voltou para Anahí. Não esperava que estivesse agradecida,


mas algo lhe disse que a expressão de sua boca não demonstrava
satisfação.

- Acredito que me teria me livrado dele sozinha, com delicadeza.

Alfonso, que já estava suficientemente aborrecido consigo mesmo por


agir daquele modo com Marty, não se importou se ela iria gostar de seu
comentário. Estava farto de que o provocassem.

- Moça, se continuasse a conduzir a situação daquela maneira, teríamos


terminado na capa do Quad City Teme.

- Marty só queria tirar fotografias para a revista interna da empresa. E


me faça o favor de não me chamar de moça.

- Por que?

- Parece-me um aparte machista e antiquado. Eu sou uma mulher. Uma


mulher e
uma profissional.

Alfonso levantou uma sobrancelha ante semelhante declaração. Agora já


não sentia saudades que caminhasse tão erguida. Tinha que fazê-la, por
ser um robô.

Os dois permaneceram em silêncio até que Alfonso o quebrou lhe


estendendo a mão.

- Bom, senhorita Puente. Suponho que devo felicitá-la.

- Me felicitar? Por que?

- Por ganhar, certamente – disse-lhe, sorrindo.

Anahí não respondeu. Alfonso sabia que os banqueiros, os contadores e


os fiscais de impostos necessitavam de senso de humor por completo.
Ao que parecia, tinha que acrescentar à lista os engenheiros.
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Marci. .
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Anahí ignorou a mão que lhe tinha estendido. Em lugar de apertá-la,
agarrou sua bolsa e tirou um frasco de pastilhas contra a acidez de
estômago. Alfonso sabia que não era exatamente Romeu, mas não
recordava ter causado tal impressão em nenhuma outra mulher.
Observou-a fascinado enquanto colocava na boca um montão de
tabletes, como se fossem balas de hortelã.

- Sim, claro... Quanto ao prêmio que ganhei, senhor Herrera...

- Serei seu treinador pessoal, de modo que pode me chamar Alfonso.

- Bem, Alfonso. Como ia dizendo...

Entretanto, ele a interrompeu.

- Aqui tem o meu cartão. Não tenho nenhum certificado nem nada
parecido. Minha contribuição à causa foi bastante inesperada. Mas na
parte posterior do cartão estão o endereço de minha academia e os
horários.

Anahí agarrou o cartão e o observou com apreensão, como se segurasse


um par de meias sujas.

- Mas fica no subúrbio, no Rack Island, um bairro bem afastado... -


protestou.

- O local é tão grande que não posso me estabelecer em um bairro


melhor. Sinto muito. Procura-me quando quiseres começar o
treinamento.

Despediu-se dela com um gesto e partiu. Já tinha terminado com sua


obrigação. Agora, era ela que tinha que se decidir. Embora tinha a
esperança de não ter que vê-la nunca mais. Sobre tudo tendo em conta a
maneira que tinha se referido ao bairro onde estava sua academia, como
se tratasse de um lugar muito pobre para ela.

Era uma lástima. Ela aproveitaria muito as atividades. Era evidente que
sofria de estresse. Sua expressão preocupada, seus ombros tensos, seu
frasco de pastilhas contra a acidez, demonstravam um problema que
estava acostumado a tratar. Seu pai tinha sofrido os mesmos sintomas
antes de sofrer seu enfarte fatal. Mas Alfonso tentou não pensar nisso
enquanto se dirigia à saída do salão.

Avançou pelo corredor para a mini-academia da Corporação Play Tyme.


Alfonso tinha assessorado à empresa em seu projeto de promover a
saúde física entre seus empregados.
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Marci. .
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Entrou no vestuário de cavalheiros desejando não demora-se mais.
Ainda podia aproveitar a noite. Se se apressasse, ainda podia ver aquela
ópera na televisão.
Alfonso estava tirando a camiseta quando escutou um ruído. Fixou o
olhar e viu a mulher que esperava não ter que ver nunca mais, de pé em
frente a ele, na entrada do vestuário.

- Senhor Herrera - disse Anahí, gelando ao contemplar seu peito nu -.


Oh, sinto muito...

Era culpa dele. Tinha deixado a porta aberta e ao que parecia, ela o tinha
seguido sem notar onde se encontrava, por ser aquela área nova, na
empresa.

Anahí tampou os olhos com uma mão e deu a volta.

- Não sabia que estava... saiu tão depressa... Queria vê-lo antes de que
partisse. Tenho que falar com você, mas esperarei lá fora.

Enquanto saía, notou que se ruborizou. Alfonso, em qualquer outro caso,


teria feito o necessário para tranqüilizá-la e não deixá-la embaraçada.
Mas havia algo nela que despertava o diabo que havia dentro dele.

Deixou sua camiseta a um lado e a seguiu.


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Marci. .
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CAPÍTULO 2
Alfonso se apoiou no batente da porta do vestuário, com uma pose
calculada para que ela ficasse perfeitamente consciente de que não vestia
nada além do short curto.

Anahí Puente deu a volta e fixou o olhar em uma máquina de chicletes


que havia na parede, com súbito interesse.

- Posso fazer algo por você? - perguntou Alfonso.

- Sim. Acredito que se cometeu um terrível engano. Pensei que o prêmio


era um microondas.

Ele franziu o cenho.


- Como?

Anahí parecia estar mais tranqüila, embora suas bochechas estavam


rubras.
Não lhe ficava mau, pensou Alfonso. Estava muito pálida.

Observando sua expressão, parecia que nunca tinha visto o peito nu de


um homem em sua vida.

- Só comprei a rifa para contribuir com o baile de gala benéfico -


apressou-se a explicar. - Não tinha nem idéia de qual era o prêmio.
Esperava que fosse um microondas, uma batedeira ou algo assim.

Alfonso a olhou com ironia. Teria compreendido que preferisse umas


férias no Havaí a passar um mês com ele em uma academia. Mas preferir
um acessório de cozinha lhe parecia humilhante.

Cruzou os braços e disse:


- Deveria se considerar afortunada. Ganhaste algo que te pode ser útil.

- Esse é o problema, senhor Herrera - disse, com um de seus sorrisos


falsos -. Não posso perder um mês indo a seu local.

- É uma academia. Um lugar onde a gente vai suar e a trabalhar duro.

- Já suei bastante em toda minha vida. Além disso, sou sócia de um


clube que tem academia.
- Mesmo? Aqueles com campos de golfe, carrinhos para transportar os
associados, banheiras com borbulhas e um pequeno bar.

Anahí fez caso omisso de seu comentário e continuou:


- Não quero esbanjar sua generosa contribuição. Se não se importar,
darei o cartão a algum interessado.
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Sua sugestão tinha proporcionado uma válvula de escape, tirando-os de
uma situação que não agradava a nenhum dos dois. Mas o diabo
novamente soprou a Alfonso, que teve que dizer:

- Sinto muito. O prêmio é intransferível.

- Tentei dizer-lhe da maneira mais educada possível, senhor Herrera, que


não necessito de seus serviços.

Estendeu-lhe seu cartão, mas ele nada fez para segurá-lo. Sua pequena
figura se refletia nos espelhos das paredes. Montões de Anahí’s que lhe
diziam com toda educação que guardasse seu cartão e que fosse para o
inferno. Perguntou-se como era possível que não apercebeu antes que as
loiras eram muito atraentes. E aquele vestido negro de seda era o
contraste perfeito para sua pele clara, cor de marfim.

Alfonso tentou deixar de lado tais pensamentos. Anahí seguia brandindo


seu cartão, com insistência.

- Não necessito de um preparador físico, senhor Herrera.

- Será melhor que deixe que eu avalie se precisa ou não.

Esfregou o queixo pensativo e começou a dar voltas ao redor de Anahí.


Ela ficou rígida. Era tudo o que necessitava. Alfonso não recordava
haver-se divertido tanto desde que colocou uma rã no ginásio, em Mary
Jane Henner, na cestinha onde levava sua comida.

Agarrou-a pelos ombros e a tocou como um médico. Apesar de seus


protestos, desceu as mãos pelos seus braços. Certamente, não se tinha
equivocado. Era um feixe de nervos. Notava a tensão em seus músculos,
em sua face, em seus olhos e na expressão de seus lábios,
inesperadamente vulneráveis.

Esquecendo que tinha começado o exame só para provocá-la, suavizou o


toque de suas mãos. Pareceu-lhe estranho que, precisamente quando a
tocou com mais delicadeza, ela se separasse.

- Senhor Herrera! Como se atreve?

- É parte de meu trabalho.

- Seu trabalho consiste em apalpar as mulheres?

- Não. Meu trabalho consiste em diagnosticar o exercício que necessita


cada pessoa.
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Marci. .
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Embora fosse difícil recordá-lo ali, notando seu aroma, suave, precioso e
feminino.
Sacudiu a cabeça para recuperar o controle.

- Precisa trabalhar um pouco esses músculos.

- Tenho os músculos que quero, obrigada – disse -. E não quero me


converter em uma mulher cheia de pelotes de músculos.
- Em um mês não os conseguiria. Além disso, não tem que preocupar-se.
Um pouco de exercício não fará mal a seu corpo e sua vida sexual -
disse, sorrindo.

- Não estava pensando nisso!

- Bom, não posso fazer nada a esse respeito – brincou -. Mas posso te
programar umas boas sessões de exercício. Ajudei a mulheres ainda
mais magrelas.

Alfonso se deu conta imediatamente de que tinha escolhido um termo


pouco correto. Ela tinha um corpo espetacular. Uma vez que trabalhava
com atletas, o treinador que havia nele teria insistido para que ela
desenvolvesse mais sua musculatura. Mas observando seus seios, sua
fina cintura e seus preciosos quadris tinha que admitir que não havia
nada mau naquele corpo. Nada mau absolutamente.

Alfonso lhe colocou a mão na nuca, acariciando seu cabelo, para notar
os músculos de seu pescoço. Ao fazê-lo, franziu o cenho.

- Descobri!

- O que acontece?
- Justo o que pensava. Pescoço duro. Incapaz de se curvar. Muita tensão.

- Refere-se a meus músculos ou a meu caráter?

Embora Alfonso estava falando a sério, notou um brilho inquietante em


seu olhar. Parecia começar a suspeitar que ele não era o homem das
cavernas que ela imaginou. Era muito mais complexo e interessante, e
começava a parecer divertido tudo aquilo.

- Está muito tensa. Acredito que poderia fazer algo por você - disse, com
expressão inocente.

- Duvido-o. Eu... Oh!


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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Quando começou a lhe dar uma massagem, ela soltou um gemido.
Tentou resistir, mas a sensação era muito agradável. Tentava recordar
que só o tinha seguido para renunciar a seu prêmio, mas seus olhos a
estremeciam mais do que tinha conseguido qualquer outro homem, e
parecia ter dedos mágicos.
- Noto muita tensão nesta zona - murmurou, lhe tocando sensualmente as
costas.

- Não estou tensa...

- Acredito que poderia te ajudar.

- Não necessito ajuda.

Mas relaxou apesar da negativa.

- Acredite ou não, dá-me a impressão de que está muito estressada e não


é muito feliz. Se pudesse te colocar em minhas mãos durante um mês...

- Não quero estar em suas mãos.

- Não?

- Não - repetiu, com pouca convicção.


Cerrou os olhos para concentrar-se naquela sensação maravilhosa. Uma
onda de calor percorreu seu corpo, fazendo que dobrasse os joelhos.
Virtualmente estava em seus braços.

Um pouco mais perto e poderia sentir seu peito nu, um peito tão
masculino e perfeito como o David, de Michelângelo. Mas Alfonso não
era de pedra. Era de carne e osso. Seu peito estava coberto de cabelo
negro, que lhe descia para o estômago, duro e liso. E seus shorts curtos
marcavam a forma de suas coxas.

Anahí estremeceu, consciente de que ele se encontrava a poucos


centímetros dela. Seus olhos pareciam hipnotizá-la, através dos espelhos,
e seus lábios eram uma verdadeira promessa, muito mais doces que os
traços de sua face. Sentia-se bastante mais relaxada do que tinha estado
em toda a noite, e entretanto aquele homem lhe produzia uma
interessante tensão interior. Parecia emanar da fascinação que sentia pelo
gesto de sua boca. Desejava beijá-lo.

Quando a atraiu para si com delicadeza notou que também ele a


desejava. Falava em um sussurro. Ia beijá-la e ela queria que o fizesse.
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Assustou-se tanto que recuperou seu sentido comum imediatamente.
Liberou-se de seus sensuais dedos e respirou profundamente,
estremecida, com as faces ardendo. Estava zangada com ele mais que
consigo.

Recuou, se afastando até esbarrar na bicicleta ergométrica,


contornando-a, e interpondo-a entre eles. Depois deixou o cartão no
selim.

- Sou uma mulher muito ocupada, senhor Herrera. Não tenho tempo para
continuar com estas tolices.

- Tolices? -repetiu ele, ainda desejando-a com o olhar.

- Sou engenheira. É uma profissão bastante séria, que requer de mim


sessenta ou setenta horas de trabalho por semana. Não tenho tempo para
ir fazer exercício em uma academia. Nem para nenhuma outra coisa.

- Já vejo - disse ele, cerrando os olhos.

- Tentei ser educada, mas tenho que lhe confessar que ganhar o prêmio
fez-me sentir muito envergonhada. Agora todas as pessoas com as quais
trabalho suspeitam que estarei babando em seus bíceps, como o resto de
todas essas estúpidas mulheres. Que possivelmente estou interessada
em...
- Perder o tempo com um tipo sem cérebro como eu? - interrompeu-a.

- Sim... Bom, não exatamente.

- Oh, acredito que explicaste bastante bem - disse, aproximando-se dela


muito devagar -. Desde que nos conhecemos não tem feito outra coisa
que me catalogar como a um tipo de homem pré-histórico que acabam
de ressuscitar. Um espécime interessante, mas que deve ser mantida
congelada. Estou certo?

O coração de Anahí batia mais depressa à medida que ele se aproximava


dela. Sabia que não era boa idéia irritar um homem como Alfonso, mas
estava tão zangada que não lhe importava as conseqüências.

- Não, senhor Herrera. Julgo-o pelo mesmo nível que aos muitos
machistas que me encontrei. Você é arrogante e egoísta. Embora tenha
que admitir que sua rotina profissional é uma maneira muito original de
tentar uma aproximação.

- Do que está falando?

- Sei muito bem o que estava tentando conseguir.


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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
- Só tentava te ajudar. Acredito que levaste isso muito a sério.

- Estava tentando me beijar!

- Se tivesse intenção de lhe beijar o teria feito. Não sou civilizado. Sou o
homem das cavernas, lembra? E utilizo métodos muito mais diretos para
me aproximar de uma mulher, como este.

Antes de que Anahí pudesse respirar, agarrou-a entre seus braços e a


beijou, apaixonada e abertamente. Ela protestou sem muita convicção,
afrouxando os punhos.

Seu aborrecimento desapareceu ante o desejo que percorreu seu corpo ao


notar seus seios contra a pele nua de Alfonso, separados só pela fina
malha de seu vestido. Era uma paixão transbordante e primitiva. Anahí
deixou de resistir e o beijou com maior ardor que o dele.

Alfonso a soltou bruscamente e ela teve que apoiar-se à bicicleta


ergométrica para manter o equilíbrio, quase sem respiração. Devia
esbofeteá-lo, ou ao menos tratá-lo com frieza. Era o que estava
acostumada a fazer com os tipos como ele.

Mas em lugar disso ficou olhando-o, muito assombrada para dizer nada
coerente.
- Por que fez isso?

Por uma vez em sua vida, Herrera tampouco soube o que dizer.
Passaram uns segundos antes de que inclinasse a cabeça e dissesse,
sorrindo:

- Se não saber a razão, estiveste trabalhando muito. Se ao final decidires


vir a minha academia, considerarei um caso urgente.

Depois agarrou uma toalha, a colocou ao redor do pescoço e se dirigiu à


ducha deixando-a ali parada.

Anahí se tinha graduado com uma das dez melhores notas de sua classe
no Nortwestern e era uma das pessoas com mais talento do departamento
de engenharia. De fato, passou os seguintes minutos usando seu talento
para insultar mentalmente a Alfonso Herrera com os qualificativos mais
duros e brilhantes que pôde encontrar. Infelizmente ele estava na ducha,
e não podia ouvir o que ela estava dizendo.
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Marci. .
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Ficou a passear pelo vestuário, quase decidida a segui-lo e lhe dizer
vários insultos. Mas não. Tinha recuperado a prudência suficiente para
dar-se conta de que fazer tal coisa teria sido uma estupidez. Já tinha
cometido um engano ao segui-lo até ali. Não sabia o que podia ocorrer
caso o enfrentasse, completamente nu. Certas possibilidades fizeram que
uma onda de calor percorresse seu corpo.

Desgostosa consigo, tentou apagar aquelas imagens da mente.

Acostumada a encarar qualquer situação, naquele instante não tinha nem


idéia do que estava passando. Tinha tratado com homens muito mais
agressivos que Alfonso Herrera, colocando-os em seu lugar com um
simples olhar ou uma palavra certeira. Nenhum homem a beijava a
menos que quisesse. Ela sempre estava no controle em suas relações,
tanto as estáveis como as esporádicas. Mas não cabia relação alguma
com Herrera. Só era um homem que acabava de ganhar em uma rifa.
Certamente, não a classe de pessoa a que estaria disposta a ver de
maneira continuada, embora fizesse umas massagens maravilhosas.

Entretanto, tinha que admitir que não tinha sido a massagem, por muito
que tivesse gostado. Os culpados eram seus olhos de mel, sensuais e
perceptivos, com uma inteligência que a tinha pego de surpresa. Tinha
cedido durante um momento ante suas palavras, que prometiam que
aliviaria sua tensão como se realmente se importasse com ela. Teve uma
estranha sensação. Claro que lhe importava. Sobre tudo em certa zona
por debaixo de seus shorts. Além disso, não necessitava nem sua ajuda
nem a de ninguém em questões sexuais.
Seu beijo não a tinha estremecido tanto como certas palavras que havia
dito. Tinha comentado que o vigor de seus músculos não era o mais
adequado. E se por acaso fora pouco, tinha-a chamado esquelética.
Deteve-se para olhar-se em um dos espelhos. Inclinou a cabeça e se
observou com atitude crítica. Tinha passado bastante tempo deitando-se
tarde, saltando algumas refeições e dormindo pouco. Certamente o
vestido ficava algo solto. Dobrou um braço para testar seus bíceps. Mas
aquilo era ridículo. Anahí se separou do espelho desgostosa. Ela era uma
engenheira, não uma lutadora.

Quanto ao resto, cabia a possibilidade de que estivesse um tanto tensa.


Como todo mundo. Porque tinha um trabalho muito exigente.
Entretanto, não queria aceitar que estivesse curvada ou que fora infeliz.
Disse a si mesma que só eram tolices e continuou dando voltas, nervosa.

Embora fora certo, não era assunto de Alfonso Herrera. Não era mais
que um troglodita. Em circunstâncias normais, não teria conseguido
nada dela. Mas estava cansada. Passou todo o sábado fazendo as coisas
que não podia fazer durante a semana. E ao que parecia, nunca
encontrava tempo para dormir. Esqueceu-se de comer e durante o jantar
não fez outra coisa que magoar-se um pouco e beber muito vinho com o
estômago vazio.
Tinha que reconhecer que se encontrava muito tensa. Embora não
necessitava de Herrera para relaxar-se. Agarrou seu cartão e o rasgou em
pedacinhos, deixando-o em um lugar apropriado para assegurar-se de
que ele o veria. Mas aquele gesto a deixou insatisfeita. Não era
suficiente para expressar quão incômoda estava com seu
comportamento.

Abriu a porta de acesso aos boxes e deu uma olhada. O vapor indicava
que gostava das duchas largas com água muito quente. Pensou que lhe
teria vindo melhor uma fria, especialmente se se dedicava a intimidar as
mulheres que não conhecia para as beijar.
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Olhou o lugar onde tinha deixado sua camiseta e seus shorts, frente aos
boxes. Nem sequer tinha fechado. De modo que abriu e descobriu que
dentro tinha uns jeans, uma camiseta e uma jaqueta escura. Ao parecer, a
única concessão do Herrera ao traje de gala de beneficência.

Então teve uma súbita e diabólica idéia. Pensou que não devia fazê-lo,
que era uma vingança excessiva, mas recordou as vozes desafiantes de
seus irmãos, quando era pequena.

Vamos, Annie, faça. Aposto que não te atreve.


Fazia muito tempo que não pensava naquilo. Patrick, Bill e Mike sempre
conseguiam que se metesse em problemas. Ao recordá-los, sorriu com
nostalgia, sentindo falta daqueles dias, quando as coisas eram muito
mais simples. E logo se endireitou decidida a levá-lo a cabo sua
travessura.

Agarrou suas roupas e as levou. Não teve que ir nas pontas dos pés. Um
esquadrão de infantaria poderia ter destroçado o vestuário e Alfonso não
se teria dado conta. Podia ouvir sua voz apesar do som da água. Estava
cantando uma canção do Gilbert e Sullivan. Anahí surpreendeu-se.

Pôs mãos à obra imediatamente. Começou a fazer nós em seu jeans, em


sua camiseta, em suas meias três-quartos e em sua cueca, com a destreza
de uma mulher acostumada a vingar-se de seus irmãos. Depois agarrou
suas meias três-quartos e seus sapatos e os escondeu na cesta onde
estavam as toalhas. Mas sua jaqueta merecia algo especial. Olhou a seu
ao redor e então se deu conta.

A sauna.

Anahí entrou na pequena saleta e deixou a jaqueta em um dos bancos de


madeira. Depois colocou a temperatura ao máximo e fechou a porta,
sorrindo.
Deveria sentir-se envergonhada. Não tinha se divertido tanto desde que
encheu as calças do Mike com salada de batatas. Certamente, não era o
comportamento mais adequado para uma engenheira. Era uma criancice,
um sintoma de imaturidade. Mas surpreendentemente prazerosa.

Pôs-se a assobiar e partiu dali enquanto Alfonso continuava na ducha.


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Marci. .
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CAPÍTULO 3
Anahí não quis voltar para a festa. Depois de seu encontro com Alfonso
não se sentia de humor para manter conversações estúpidas entre
coquetéis, com a elite da empresa. De modo que caminhou para o saguão
e usou seu cartão de acesso para chegar ao elevador. Apertou o botão do
quarto piso e entrou, apoiando-se em uma das paredes.

Teria preferido passar o dia no lugar a que se dirigia agora. As portas se


abriram e diante dela apareceu o departamento de engenharia da Play
Tyme, iluminado unicamente pelas luzes de segurança. Nada se via
enquanto avançava entre as mesas.

Acendeu parte das luzes e se dirigiu a seu escritório, apenas um


cubículo. Seu escritório defrontava com uma enorme janela com
excelente vista… ao estacionamento dos trabalhadores da indústria. Era
novembro e já tinha surgido no céu a lua. Estava algo coberto. Pela
primeira vez Cristian Chaves tinha acertado em seu prognóstico do
tempo.

Anahí se sentou em sua poltrona e observou o desastre que estava seu


escritório. Ainda jaziam ali os restos do sanduíche que tinha deixada na
sexta-feira sem terminar, junto com os formulários inacabados da
empresa.

Em cima do montão estava a última edição da revista da empresa.


Entrevistavam o novo dono. Anahí o olhou admirada. Era Aaron Diaz,
um magnata empreendedor e agressivo. A revista Teme o havia descrito
como o novo rei MIDAS, o homem com mais êxito do mundo. Nem
sequer tinha completo quarenta anos e tudo o que tocava parecia
converter-se em ouro.

Se tinha adquirido a Corporação Play Tyme, era certo que passariam por
coisas excitantes. E Anahí queria tomar parte disso. Colocou a fotografia
do Diaz junto a seu computador para inspirar-se e tirou seu teclado de
debaixo de um montão de papéis.
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Ligou o computador e se tranqüilizou um pouco. Gostava dos
computadores. Geralmente respondiam quando lhes davam as ordens
adequadas. Diferente dos homens, muito obstinados e imprevisíveis.

Começou a pensar em Alfonso de novo. Perguntou-se se estaria


procurando como um louco sua roupa no vestuário. Por alguma razão,
imaginar-lhe nu, com apenas uma toalha ao redor dos quadris,
parecia-lhe excitante. Mas não podia permitir-se aquelas distrações.
Tinha que concentrar-se em seu programa. Passara muitas horas
desenvolvendo-o. Desenhar novos métodos e sistemas era a parte de seu
trabalho que mais gostava. Acreditava ter criado uma linha de produção
muito mais dinâmica do que a que tinham, incorporando conceitos como
as unidades de trabalho pequenas e a robótica. Estava segura de que
surpreenderia a todo mundo, inclusive seu chefe, Kuno Becker.

Mas devia tomar cuidado. Já se havia sentido tão segura em outra


ocasião, no passado. Não podia esquecer-se daquilo, não desde o dia em
que entrou no gabinete do diretor geral da Assessores Tecnoindustriales,
muitos anos atrás.

Acabava de sair da universidade e estava cheia de entusiasmo. Estava


segura de buscar a recompensa a tantos anos de estudo e trabalho duro.
Poderia ter sido uma das empregadas mais jovens da empresa, e não
duvidava que ofereceriam a ela a vaga que tanto desejava no estrangeiro,
na Alemanha, lugar onde tinham muitos clientes. Mas em lugar disso
saiu cinco minutos depois dos escritórios com o rosto assustado e um
bilhete rosa na mão. Demissão.
- Mas por que? - foi tudo o que pôde perguntar.

- Redução de pessoal - responderam.


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Marci. .
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Sua avaliação pessoal dizia que era trabalhadora e inovadora, mas que
não correspondia à imagem da empresa. Nunca soube o que queriam
dizer com isso. Aquela jovem triunfadora acabava de receber a primeira
negativa de sua vida. Ainda lhe doía o estômago quando pensava nisso.
Deteve-se para tomar-se outro tablete de antiácido. Não tinha intenção
de voltar a fracassar.

Começou a digitar no computador com mais vigor que antes.


Concentrada em seu trabalho, perdeu o sentido da realidade até que uma
voz a chamou, assustando-a tanto que deu um pulo na cadeira.

- Annie?

Levou a mão ao coração e olhou o guarda de segurança noturno. Stan


Hartman empurrou a boina para trás da cabeça.
- Perdoa. Não queria te assustar. Vi a luz e resolvi ver o que ocorria. Não
podia imaginar que estaria trabalhando num sábado de noite, sobretudo
com a festa acontecendo aí embaixo.

- Era bastante aborrecida.

Exceto pelo fato de que tinha ganho um homem que a tinha beijado com
tanto ardor que até se esqueceu de seu próprio nome durante uns
segundos. Mas evidentemente não disse nada disso.

- Bom, será melhor que não fique até muito tarde.

- Por que? Nem sequer são dez da noite. Já sabe que costumo ficar até as
doze.

- Esta vez não. A menos que queira passar a noite aqui.

Anahí o olhou assombrada e Stan sorriu.

- Quando foi a última vez que levantou a vista desse computador para
ver o que ocorre fora?
Anahí deu a volta para olhar pela janela, obediente, e o que viu a
surpreendeu. Quase não podia ver-se o céu entre a espessa cortina da
tormenta de neve que estava caindo. Levantou-se e colou o rosto no
vidro. O estacionamento já estava completamente branco. No telejornal
se limitaram a dizer que seria um simples dia nubloso.

- Por todos os diabos...

- Acredito que já existem diversas estradas impedidas ao tráfego. Será


melhor que te apresse, Annie.
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Marci. .
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Não necessitou que dissesse nada mais. Apagou o computador, agarrou a
bolsa e se dirigia a toda pressa para o elevador, quando Stan a chamou.

- Por favor, Annie, quando chegar ao estacionamento, diga ao jovem que


entre.

- Que jovem?

- Um que não pode arrancar seu carro. Não posso ajudá-lo até que
chegue Bill.

- Farei-o - disse, concordando e lhe desejando boa-noite.

As portas do elevador se fecharam. Ao chegar no térreo, não perdeu


tempo algum em agarrar seu abrigo do armário do saguão. Tudo estava
silencioso e escuro. O povo que estava na festa devia ter partido ao
inteirar-se da nevasca que caía. Anahí desejou ter feito o mesmo.
Sobretudo que calçava sapatos de salto alto e um abrigo fino de
cachemira que nem sequer tinha botões.

Além disso, tinha estacionado o carro bastante longe. Anahí saiu pela
porta norte e caminhou junto à parede para resguardar-se o máximo
possível durante a curta caminhada até o carro. Ao menos não fazia
calor. Nem tão frio como esperava. Os flocos de neve caíam a seu redor.
Já havia uma capa de vários centímetros, suficiente para que
empapassem a fina pele de seus sapatos e suas meias de nylon.

Quando chegou ao lugar onde tinha estacionado, descobriu que seu carro
azul estava completamente coberto de neve. Não havia nenhum outro
veículo, salvo uma caminhonete. Havia alguém junto a ela. Devia
tratar-se do jovem a que se referiu Stan.

Anahí se dirigiu para ele para repassar a mensagem quando se aprumou.


Ao reconhecer a figura do Alfonso Herrera...
Anahí se dirigiu para ele para repassar a mensagem quando se aprumou.
Ao reconhecer a figura do Alfonso Herrera, paralisou-se, recordando o
que lhe tinha feito à sua roupa e perguntando-se se não teria se excedido
um pouco. Não esperava voltar a vê-lo. Mas ali estava uma vez mais seu
prêmio. Certamente, aquela noite teve sorte. Não pensava voltar a
comprar outra rifa em sua vida.
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Alfonso não a reconheceu a princípio. Estava muito ocupado com sua
caminhonete. Ao menos parecia ter encontrado toda sua roupa. Estava
muito melhor preparado para o inverno do que ela. Anahí se estremeceu,
afundando-se mais em seu abrigo e invejando ao Alfonso por ter uma
parka e luvas.

Teve o impulso de voltar para seu carro e esquecer do assunto, mas não
podia deixá-lo na nevasca. Enquanto se aproximava, Alfonso esbarrou
no capô, frustrado.

- Por que não lhe dá um chute, senhor Herrera? Sempre me acalma.

Alfonso voltou-se imediatamente, surpreso à aproximação dela. Parecia


muito mais agressivo que nunca, zangado e coberto de neve.

- Algum problema com seu veículo? – perguntou Anahí -. O que


ocorreu?

- Não pega.

Anahí conteve a respiração. Supunha-se que estava ali para ajudá-lo e


tinha a impressão de que a estava insultando.

- Posso entender uma explicação mais técnica. Não acredito que deva
pensar ser óbvio que não sei nada sobre carros só pelo fato de que sou
uma mulher.

- E só porque seja um homem, não acredito que tenha por que pensar
que sei algo sobre carros.

Sua justa e rápida resposta fez que se sentisse bastante tola. De modo
que se aproximou só para esconder sua vergonha.

- Não pega? Deixou as luzes acesas?

- Não, claro que não!


Anahí jogou uma olhada à bateria.

- Já sei o que acontece. Um dos malditos cabos se soltou - confessou


Alfonso.

- Com efeito, tem razão - disse, observando-o de perto -. E o mau é que


se trata do que conecta o alternador à bateria. Quando foi a última vez
que o revisou?

- Quando troquei o óleo, em setembro.

- Suponho que não pensou na possibilidade de usar anticongelante.

- Para mim ou para a caminhonete?

- Quanto tempo faz que vive aqui, Herrera?

- Toda minha vida.

- Nesse caso, deveria saber que é necessário revisar os carros antes que
chegue o inverno. Deveria tê-lo levado em outubro. A...
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
- Olhe, em outra oportunidade te agradeceria pelos conselhos. Mas
provavelmente quando terminá-los, estaremos completamente cobertos
de neve. Não acredito que possa fazer nada por mim. Será melhor que vá
embora. Eu entrarei até que chegue o reboque.

- Terá esperado muito tempo. Temos problemas com os reboques,


inclusive quando faz bom tempo. Sobretudo de noite. Deveria te haver
partido com alguém, quando terminou a festa.

Alfonso sorriu.
- Teria gostado de fazê-lo, mas tive certos problemas para me vestir.

Anahí se ruborizou. Embora ao menos, aquilo conseguiu que sentisse um


pouco de calor.

- Suponho que terei que levá-lo.

- Oh, não, obrigado. Para que te comporte como uma louca outra vez?
Como saber se não acabarei no fundo de um barranco em qualquer
parte? Prefiro encontrar nós em minha cueca a morrer de frio.

- Não te deixarei em qualquer lugar – disse -. Sinto muito pelo que fiz
com sua roupa. Foi uma criancice. Não sei o que me passou. Parece que
consegue tirar o que há de pior em mim.

- Questão de opinião. Talvez seja o que há de melhor. Beija muito bem,


quando está zangada.

Anahí se perguntou como ele era capaz de sorrir com tanto encanto
quando ambos estavam tão gelados como dois esquimós perdidos em
uma tormenta. Ou como podia sentir-se tão excitada.

- Será melhor que deixemos uma coisa clara agora. Levarei-te, mas se
me prometer que não haverá surpresas.

- Surpresas?

- Sabes a que me refiro.

- Ah, não mais beijos. Pensei que tivesse gostado.

- Não, não gostei.


- Essa é a razão pela qual os engenheiros não têm senso de humor. Não
te zangue, não queria dizer nada com isso. Considera-o uma forma de
terapia. Algumas pessoas necessitam de um estímulo. Em seu caso,
pensei que seria melhor um beijo.

- Bom, pois considera que estou curada e não volte a me beijar.

- Asseguro-te que é a última coisa que pensaria neste momento.


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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Anahí começou a caminhar para seu carro, de modo que não se deu
conta do gesto que fez Alfonso. Seguiu-a, e antes de acomodar-se no
assento do acompanhante tirou a neve dos pés. Seu automóvel era muito
pequeno para ele.

Girou a chave de contato sem pensar duas vezes. A camada de neve era
ainda fina, de modo que o limpador de pára-brisas a eliminou em
seguida. Embora o interior do carro começasse a esquentar, teve que
soprar as pontas dos dedos. Tinha-os gelados. Alfonso então tirou as
luvas e as ofereceu.
Anahí fez um gesto negativo com a cabeça.
- O cavalheirismo não funciona comigo.Você as necessita tanto quanto
eu.

- Não é um assunto de cavalheirismo. É você quem dirige, e prefiro que


não tenha os dedos gelados. Maldita seja, vista-os!

Aceitou as luvas a contra gosto e as colocou. Ficavam muito grandes.


- Não vi nem suas luvas nem seu abrigo quando...

- Quando transformou minha roupa num ninho de ratos?

Ao menos, tinha a decência de sentir-se envergonhada.

- Felizmente deixei meu abrigo no saguão - continuou ele -. Faz muito


bons nós. Esteve em algum acampamento?

- Não. Mas tenho três irmãos - disse, com gesto de aborrecimento.

Alfonso não a compreendeu. Era filho único, e teria dado algo para ter
irmãos.
- Suponho que deve te incomodar muito - comentou ela.

Alfonso sorriu com ironia.


- Nem tanto. Surpreendeu-me muito que pensasse que podia vingar-se de
mim desse modo. Certamente não és a mulher estressada e arrogante que
eu pensava.

- Como te atreves!

- Ei, disse que não és.

- Isso não é o que acaba de dizer. Você... - Anahí começou a dizer toda
série de incongruências, embora o absurdo daquela discussão fez com
que pensasse no aborrecimento, tanto que estava a ponto de rir.

Alfonso se inclinou no assento para vê-la melhor. Fazia verdadeiros


esforços para não estalar em uma gargalhada.
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
- Por todos os anjos do paraíso. Não posso acreditar nisso. A engenheira
Puente tem senso de humor.
- Será melhor que aperte o cinto. Deixarei-te no próximo posto de
gasolina.

Alfonso suspirou e se acomodou. Anahí acelerou o veículo. Ele não


disse nada, para não desconcentrá-la. Não achava tão fácil sair dali, uma
vez que tudo estava cheio de neve. Além disso, o vento fazia com que
caíssem fortes rajadas que impossibilitavam a visão. Entretanto, em
pouco tempo saíram do estacionamento.

Alfonso teria preferido estar no assento do motorista, mas supôs que


qualquer sugestão a respeito teria acabado em outra discussão. E não
estava tão acostumado a controlar seu mau humor. Tentou
tranqüilizar-se pensando que não havia motivo para preocupar-se. Anahí
parecia ser uma boa motorista, e dirigia bastante devagar. Os limpadores
de pára-brisas se moviam de um a outro lado, permitindo que
comprovassem o estado da estrada. Uma máquina de limpar neve
tentava inutilmente limpar o caminho.

Entretanto, virtualmente não havia tráfico. Alfonso supôs que qualquer


um com dois neurônios de memória teria partido para a casa há muito
tempo atrás. O que o fez perguntar a respeito dela:

- Por que ficou até tão tarde? A festa terminou faz muito tempo.
- Não fiquei na festa. Subi ao escritório para terminar um trabalho que
queria ter preparado para na segunda-feira. Não me dei conta da hora
que era.

Alfonso arqueou uma sobrancelha. Trabalhar num sábado de noite.


Obviamente, era uma espécie de viciada no trabalho.

- Já a pessoa com a qual foi à festa não se importou?

- Não fui com ninguém - disse ela -. Mas poderia havê-lo feito, se tivesse
querido.

- Certamente -murmurou.Podia imaginar todos aqueles tipos


engravatados inclinando-se sobre sua mesa de trabalho para lhe pedir seu
número de telefone. Além de um corpo esplêndido, tinha um dos perfis
mais belos que tinha visto em sua vida. As sardas que adornavam a
ponta de seu nariz eram muito graciosas, e lhe davam um aspecto mais
doce, vulnerável. Tinha um queixo duro e arrogante, mas que ele
apreciava tanto quanto sua boca sensual.

Nem sequer recordava o que tinha ocorrido para que acabasse


beijando-a. Surpreendeu-lhe muito que ela devolvesse o beijo, de
maneira certamente passional, e se perguntou o que teria acontecido se
não se tivesse zangado de repente.
Mas tinha que recuperar a prudência e esquecer-se daquele assunto. Não
tinha sentido que se sentisse atraído por aquela mulher, que obviamente
pensava que ele estava a um passo do elo perdido. Não tinha nada em
comum com ela. Nem seu estilo de vestir, nem seu maravilhoso título
universitário, nem seu gosto pelas festas daquele tipo. Provavelmente,
sua maior ambição era conseguir a chave do lavabo de executivos.
Certamente não era seu tipo de mulher. Além disso, tinha sofrido uma
amarga experiência a respeito.

Quando Anahí reduziu a velocidade e saiu da estrada principal para


dirigir por uma estrada secundária, Alfonso ficou tenso. Seu veículo
tinha tração nas quatro rodas, mas não estava seguro de que não fossem
ficar perdidos em algum lugar e tivesse que ficar a esperar ajuda.

- Está segura de que é boa idéia? - murmurou.

- Sei aonde vou - respondeu.

Esperava que ela soubesse, porque ele não tinha nem a menor idéia. Não
estava acostumado a afastar-se tanto da estrada principal. A maior parte
de seus clientes eram atletas, não yuppies que freqüentam clubes sociais.
E Alfonso gostava que fosse assim.
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Aprumou-se no assento, incomodado. Tinha-lhe entrado neve nas botas
e as meias três-quartos estavam molhados. Sentia um formigamento de
frio nos pés. Perguntou-se como ela estava agüentando, tendo em vista
que usava meias de nylon, sapatos de salto e um abrigo bastante fino.

- Me diga uma coisa, Anahí...

- Quase todo mundo me chama de Annie - interrompeu.

- Eu gosto mais Anahí. É um nome muito bonito.

Ela apertou os lábios ao ouvi-lo, mas Alfonso continuou falando.

- Como é possível que tivesse tempo para preparar o carro para o


inverno e não pensasse em você mesma?

- Suponho que escutei o relatório meteorológico equivocado.

- Imagino que se refere ao do Chaves, não? Poderia haver lhe advertido


sobre ele. Cada vez que se apresentava no colégio com calças curtas
sabíamos que íamos alcançar os dez graus baixo de zero.
- Como? Estudaram juntos no colégio?

- Como o ouve - respondeu, olhando pela janela. De repente se


arrependeu de ter começado a conversação.

- E são amigos hoje?

- Nem tanto. Digamos que trabalhamos juntos algumas vezes.

- No que? Rifando seus músculos?

- Isso não foi minha idéia. Acredite, foi tão humilhante quanto a você.

- Pois você disfarçou bem.

Seu tom irônico o surpreendeu. Encolheu os ombros e disse:

- Bom, já sabe como somos, os brutos como eu. Muito músculo e pouco
cérebro.

Para sua surpresa, Anahí pareceu arrepender-se.


- Sinto muito. Estava pensando que... Suponho que não estive muito
educada esta noite. Não queria parecer antipática recusando meu prêmio.
É só que...

- Sei. É uma mulher ocupada. O que é que faz exatamente para a


corporação Play Tyme?

- Só sou uma mais no departamento de engenharia. Não é tão


interessante. Não tenho um serviço de responsabilidade, e além disso
meu chefe acredita que uma mulher só serve em um escritório para fazer
café. Embora eu tenha um master em desenho industrial.
Gostou?
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
- Não dá a impressão de uma mulher que se entrega facilmente.

- E não o sou. Ou ao menos não o era. Mas suponho que aprendi que o
mundo dos negócios requer mais diplomacia e menos orgulho.

A julgar por sua expressão, Alfonso pensou que a lição tinha sido
dolorosa. Seu bocejo cansado lhe intrigou tanto quanto seu sorriso triste.
Mas antes de que pudesse perguntar alguma coisa, o carro começou a
morrer.

- O que houve? - perguntou.

Anahí moveu a cabeça. Teve o tempo justo de encostar o carro no


acostamento antes que parasse por completo. Os limpadores de
pára-brisas continuaram funcionando, assim como as luzes. Ficou ali,
sentada, com expressão de culpabilidade.

- O que aconteceu? Não tinha suficiente anticongelante?

- Não é isso - respondeu ela, em voz baixa -. Não tinha suficiente


gasolina.

- Como? - perguntou, olhando-a com incredulidade -. O ponteiro de


relógio do depósito está no ponto mais baixo. Não sei como será seu
carro, mas em minha caminhonete isso significa que o depósito está
vazio.

- Já sei o que significa - disse ela.

Apagou tudo menos as luzes de emergência. De repente, o mundo a seu


redor se converteu em algo silencioso, dominado pela neve que caía.

Alfonso se acomodou no assento e respirou profundamente. Certamente,


a noite estava sendo muito movimentada. Primeiro a rifa, logo lhe
quebrava o carro e agora lhe ocorria aquilo. Depois de uma série tão
enorme de desastres, só havia uma coisa que um homem pudesse fazer.
Não pôde evitar rir.

- O que te faz rir tão gracioso?

- Nada. Nunca pensei que chegaria o dia em que uma mulher utilizasse a
desculpa de haver ficado sem gasolina comigo!

- Acredita de verdade que parei aqui, no meio do nada, só para ficar a


sós contigo? Ou tem um ego do seu tamanho, ou pensa que sou idiota.
Sempre tenho cheio o tanque, nunca o deixo pela metade. Mas estive
dando tantas voltas hoje que...
Gostou?
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
- Está bem, te tranqüilize. Só era uma brincadeira. Não é culpa de
ninguém. Estas coisas acontecem.
- Mas não a mim - disse, zangada.

Agarrou sua bolsa e tirou o frasco dos antiácidos. Mas igual ao tanque
do carro, o tubo estava vazio. Fez um gesto de frustração, atirou o tubo
no assento posterior e se afastou do olhar de Alfonso. Se estivesse a sós,
teria começado a chorar.

- Onde estamos? - perguntou ele, tentando ver através da neve -.


Estamos muito longe do posto de gasolina que me falou?

Só podia ver uma linha de árvores, uma cerca e o que parecia ser o
campo.

- Estamos a uns quantos quilômetros do lugar civilizado mais próximo.


Peguei um atalho para chegar antes, mas não devia ter abandonado a
estrada principal. Como pude ser tão estúpida?

Esfregou os olhos. Estava à beira de um ataque de nervos.

Alfonso se perguntou quando tinha sido a última vez que tinha


conseguido dormir bem. Poderia tê-la massageado de boa vontade, mas
estava seguro de que ela o teria rechaçado acusando-o de ser um
bárbaro.
- Suponho que será melhor que fiquemos no carro – disse -. Imagino que
a polícia passa por esta estrada de vez em quando, não?

- Suponho que na estatal sim.

- Magnífico. Nesse caso teremos que esperar a que alguém nos ajude.
Tem mantas ou algo assim no porta-malas?

- Não - gemeu Anahí -. Precisamente as agarrei esta manhã e tinha que


colocá-las no carro, mas não o fiz. Como pude ser tão descuidada?

- Não importa. Sobreviveremos.

Entretanto, não estava tão seguro de que ela o conseguisse. A


temperatura no interior do veículo baixava com rapidez, e Anahí estava
começando a tremer de frio com aquele abrigo completamente inútil. Era
uma das mulheres mais desesperadoras que tinha conhecido, mas não
podia permanecer impassível por mais tempo.

Começou a desabotoar a parka. Mas assim que ela se deu conta do que
estava fazendo, negou-se.
Gostou?
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
- Não! Já foi suficientemente terrível que te meta em tudo isto, por
minha causa, para que agora deixe que te congele.

- Ninguém vai congelar-se.

Antes que pudesse protestar, inclinou-se e a atraiu para si, sentando-a em


seu colo e fechando sua parka sobre ela, abraçando-a com força.

- Tem a hábito de abraçar sempre assim as mulheres?

- Não, mas te tranqüilize. Não estou brincando. Será melhor que


fiquemos muito juntos para trocarmos calor.

Anahí pensou que devia resistir. Mas ao notar seu corpo sentiu
imediatamente os benéficos efeitos de seu calor. Seu orgulho
desapareceu.

Teve que fazer um verdadeiro esforço para não apoiar a cabeça em seus
ombros e começar a chorar. Sentia-se muito arrependida pelo que tinha
feito, deixando que o carro ficasse sem gasolina, e esquecendo as
mantas. Especialmente, depois de ter dado um sermão em Alfonso a
respeito do que tinha que providenciar para o carro no inverno. Sempre
tinha sido muito eficiente. Completamente capaz de enfrentar qualquer
situação. E entretanto, não se reconhecia a si mesmo.

Sua vida parecia ter entrado em uma espiral fora de controle desde o dia
que a despediram daquele trabalho e retornou a casa de seus pais.
Receberam-na com uma festa surpresa. Organizaram-na para felicitá-la
pelo que esperavam que fosse uma promoção certa e uma viagem a
Alemanha. Sua avó a recebeu com lágrimas de orgulho e seu pai se
vestiu para a ocasião. Até seus irmãos, Pat e Bill, brincaram com ela lhe
dizendo que já tinham contado a novidade a meia cidade. Seu irmão
maior, Mike, tinha chegado de avião com sua mulher, do oeste, só para
assistir ao acontecimento.

E não foi capaz de fazer outra coisa que ficar na porta, sem fala, sorrindo
com tristeza, com aquele bilhete rosa no bolso que acabava de arruinar
sua auto-estima. Perguntou-se se alguma vez voltaria a ser como era.
Entretanto, não estava disposta a chorar diante de Alfonso Herrera.
Gostou?
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Embora tivesse um problema, tendo em vista que estava no colo de um
homem, supunha-se que devia apoiar a cabeça em seu ombro. Era o
normal. E se sentia incômoda estando tão perto dele. Tirou as luvas e
insistiu em que ao menos as colocasse, já que compartilhava sua parka
com ela.

Alfonso as guardou no bolso e quando a abraçou de novo se estremeceu.


Na escuridão do interior do carro, era muito consciente de seu queixo
quadrado e da calidez de seus olhos mel.

Sentia-se envergonhada por havê-lo julgado mau e disse, sem pensar:

- É um bom homem, Alfonso Herrera.

- Um bom homem? -perguntou, sorrindo.

- A maior parte dos homens teria se comportado de outra forma,


sobretudo depois do que te disse a respeito de que tinha que ter mais
cuidado com sua caminhonete.

- A vida é muito curta para zangar-se por algo. Só se consegue úlceras


com isso. Quando me zango, me ponho a dar golpes no saco de boxe,
ou...

- Ou o que?
- Ou encontro alguma outra forma para relaxar. - respondeu, de repente
tão consciente como ela da intimidade da situação.

Só usava uma camiseta debaixo da parka. Anahí se acomodou e colocou


as mãos sobre o seu peito, brincando com os dedos inconscientemente.
Seu próprio corpo se estremeceu em resposta. Então se deu conta do
efeito que estava causando nele e separou as mãos envergonhada.

- Estás já aquecida?

- Oh... sim, obrigada.

Tentou responder com normalidade, como se tivesse por hábito sentar-se


sobre um homem todos os dias. Mas se esforçava para notar suas duras
coxas sem perder a sensatez. De fato, esperava que o que estava sentindo
fosse só sua perna.

Alfonso tinha tantas dificuldades em encontrar o lugar adequado para


onde girar a cabeça como ela. Entretanto, naquela posição estavam
condenados a olharem-se nos olhos.

Anahí se deu conta das rugas que sulcavam sua face. Não eram rugas de
dor, mas sim de uma pessoa acostumada a rir muito. Como ela no
passado. Então não podia recordar quando deixara de fazê-lo.
Gostou?
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Sem pensar-lhe duas vezes, acariciou-lhe a bochecha. Alfonso a olhou
surpreso mas não fez nada para detê-la.

- Tem olhos muito bonitos - murmurou.

- E suponho que da próxima vez irá me dizer que tenho um bonito


sorriso. Se vir algo mais bonito em mim, é possível que a atire pelo
pára-brisa para aterrissar sobre um monte de neve.

- Oh, não, seu sorriso não é bonito. É atraente - disse, piscando e


perguntando-se o que a tinha feito dizer aquelas coisas.

Talvez seu cérebro estivesse deixando de funcionar por causa do frio.


Sentia-se eufórica em seus braços.

- Tem um pequeno vão entre os dentes - continuou, lhe tocando a boca.

- Nunca quis usar aparelho.


- Na idade Média diziam que ter um vão entre os dentes era sinal de uma
grande predisposição à lascívia. Talvez essa seja a razão pela qual se
comportou de maneira tão estranha esta noite.

- Estranha? A que se refere?

- A que me beijou sem me conhecer de nada.

- Já te disse que só era um jogo.

- Nesse caso, não posso imaginar como beija quando o faz a sério.

- Bom, suponho que seria mais parecido com isto.

Alfonso a beijou.

Ela quis resistir, mas estava muito excitada para poder fazê-lo. A força
de seu abraço e o calor de seus lábios fez que uma onda de calor
percorresse seu corpo. Entregou-se a ele, convidando-o. Alfonso lhe
colocou uma mão na nuca e logo continuou beijando-a lenta e
sensualmente.
Começou a acariciá-la subindo da cintura, até chegar a seus seios. Anahí
se estremeceu, arqueando-se ante o desejo. Tinha passado muito tempo
negando o prazer e soltou um gemido enquanto se agarrava a seus
ombros. Seu mundo começava a estar deliciosamente fora de controle.
Ao pensá-lo teve medo e se separou dele para voltar para seu assento.

Alfonso nem sequer teve tempo para reagir. Mas não tentou detê-la.
Estava tão assombrado quanto ela.
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Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Anahí respirou profundamente várias vezes para tranqüilizar-se. Seu
coração batia tão depressa que tinha a impressão de que era o único som
que podia escutar-se no interior do carro.

Quando por fim pôde falar, disse:

- Acredito que já nos esquentamos o bastante. Estou segura de que


terminará passando algum carro de polícia, e não quero que nos
descubram.

- Por que? - perguntou, sorrindo -. Agora colocam multas por


acariciar-se em carros estacionados?
Anahí o olhou com recriminação.

- Sinto muito - continuou ele -. Só tentava te manter quente. Suponho


que nos excedemos um pouco.

Um pouco não era a expressão mais adequada. Estiveram se beijando


com tanta paixão e energia como se para evitar o naufrágio do Titanic. O
iceberg derreteria.

Acendeu o contato para que os limpador de pára-brisas ficassem em


funcionamento. E ao contemplar a cena não pôde evitar seu suspiro de
alívio.

- Parou de nevar! Talvez devesse sair para ver aonde estamos.

- Eu o farei.

Antes de que pudesse fazer nada, Alfonso abriu a porta e saiu. Uma
rajada de ar frio entrou no carro. Parecia estar ansioso por colocar certa
distância entre ambos e ao dar-se conta se estremeceu.

Sem o amparo de seu corpo, não passou muito tempo antes de que
começasse a ficar gelada de novo. Abraçou-se a si mesma. O resultado
era um pobre substituto do corpo do Alfonso, mas entretanto funcionava
muito menos comprometedor.

Alfonso voltou para carro rapidamente.

- Acredito que há uns edifícios mais à frente.

Apesar de seus protestos, Anahí saiu do veículo. Fazia um frio intenso,


contra o que suas finas meias de nylon não podiam fazer nada. Mas
quase não se deu conta disso. Era de noite, mas na distância podia ver-se
uma linha de edificações. Ficou com a boca aberta. Até então não se deu
conta de onde estava, confundida pela tormenta de neve e pela presença
do Alfonso.

- Parecem residenciais - disse Alfonso -. Sabe onde...?


Gostou?
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Marci. . - 02/06/2009
- Sim – interrompeu -. Vivo ali.

Não tinha nem idéia do que estaria pensando Alfonso, mas teve a
decência de não dizer nada. De modo que se deu a volta e agarrou a
bolsa e as chaves do carro.

- Não acredito que estejamos a mais de meio quilômetro. Podemos ir


andando.

- Com os saltos que usas?

- Conseguirei. Acredito que é melhor isso que ficar no carro, morrendo


de frio.

Mas o perigo maior que tinha em mente não era o frio, a não ser a
presença tentadora de Alfonso.

Começou a caminhar para as casas, mas não tinha dado uns poucos
passos quando Alfonso se aproximou e a levantou, agarrando-a em seus
braços com uma facilidade que a deixou pasmada. Tentou protestar, mas
ele a olhou de tal forma que não se atreveu a isso.

- Não diga nenhuma palavra, a menos que queira que te jogue em um


monte de
neve.
Anahí notou que falava a sério. De modo que engoliu seu orgulho.
Enquanto caminhavam através do campo não pôde fazer outra coisa que
agarrar-se a seu pescoço. E pela primeira vez em sua vida, Anahí Puente
se permitiu o luxo de apoiar a cabeça no ombro de alguém.
Gostou?
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Marci. .
Marci. . - 03/06/2009
CAPÍTULO 4
Em pouco tempo chegaram à segurança do edifício de apartamentos
onde vivia. Mas Alfonso seguia levando-a em seus braços. Anahí
levantou a cabeça de seu ombro com lentidão.

- Já pode me colocar no chão, Alfonso.

- Talvez poderia, se soltasse meu o pescoço.

- Oh!

Anahí notou, envergonhada, que tinha estado agarrada a ele com muita
força. Soltou-o e ficou em pé com tanta rapidez que teria acabado no
chão se ele não a tivesse segurado novamente. Apesar de que a tinha
levado nos braços quase todo o tempo, ela estava com os pés dormentes
e gelados.

- Está bem? - perguntou.

Ela assentiu. Parecia estar muito preocupado em que ela ficasse de pé


novamente. Era uma sensação cálida que a fazia sentir-se protegida.
Uma sensação que não tinha sentido há muito tempo.

Em todo caso se obrigou a recompor-se ao chegar à porta de seu


apartamento. Abriu a bolsa e procurou suas chaves, mas sentia tanto frio
que se lhe tremiam as mãos. Alfonso estava a ponto de ajudá-la quando
se abriu a porta do apartamento vizinho.

Uma mulher idosa saiu ao corredor, vestida com um quimono. O que lhe
faltava aquela noite era ter que agüentar a fofoqueira de sua vizinha, a
senhora McGinty.

- Até que enfim, já está aqui, Annie. Estava muito preocupada com a
nevasca sabendo que tinha saído para a festa, de modo que fiquei
acordada para comprovar que voltava sã e salva.

Anahí fez um esforço por sorrir.


- Estou bem, senhora McGinty. Tive um problema com o carro, mas isso
é tudo. Será melhor que volte para sua casa. Faz muito frio no corredor,
e...

Mas sua vizinha não lhe prestava atenção. Olhava Alfonso com
curiosidade. Entretanto, Anahí não estava disposta nem a apresentá-los
nem a lhe dar nenhuma explicação.

- É um de seus encantadores irmãos do leste? - perguntou.

- Não - respondeu.

Já tinha encontrado a chave.

- Um colega de trabalho então? – insistiu ela.

- Não exatamente. Ganhou-me em uma rifa esta noite - respondeu


Alfonso.Anahí o fuzilou com o olhar, recriminando sua atitude, mas o
mal já estava feito. A senhora McGinty abriu a boca de repente,
assombrada.

- Eu era o prêmio - continuou Alfonso.

Falava com inocência, mas seus olhos brilhavam maliciosos.


- De verdade? - perguntou a senhora -. Eu nunca ganhei nada em minha
vida, salvo um edredom feito a mão em um jogo de bingo.

- Teria preferido poder trocá-lo por seu edredom - murmurou Anahí.

A senhora McGinty olhou Alfonso com assombro e suspirou.

- Querida, se tivesse vinte anos menos aceitaria a troca, sem pestanejar.

Annie abriu a porta de sua casa e deu boa noite à sua vizinha. Deixou
que entrasse Alfonso e fechou a porta de repente.

Acendeu a luz do salão e disse:

- Muito obrigado, Herrera. Haverá bastante comentário havendo ganho


nessa ridícula rifa diante de todos meus colegas de trabalho como agora,
que minha vizinha se inteirou do assunto. Em pouco tempo o saberá toda
a cidade.

- Não sei do que te queixa. Pensava em me trocar por um edredom.


Anahí estremeceu.
- Um bom edredom me seria bastante útil agora.

- Isso é porque não me deste nenhuma oportunidade - disse,


aproximando-se dela.

Tirou-se as luvas e estava a ponto de ajudá-la a tirar o casaco quando ela


se afastou.

- Por Deus, Anahí - disse, irritado -. Será melhor que tire esse abrigo e
coloque algo seco. Está empapado. Só tentava te ajudar.

Anahí deu um passo atrás, de tal maneira que a mesa de madeira maciça
se interpôs entre eles.

- Quando tenta me ajudar a me aquecer sempre acaba complicando-se


todo. E não sei se meu seguro de vida cobre incêndios.

- Não se deve brincar com fogo. Se estiver se referindo ao beijo que


trocamos em seu carro, reconheço que as coisas fugiram um pouco do
nosso controle. Mas não foi só culpa minha.

- Não disse que era - falou, ruborizando-se.


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Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Tirou o abrigo e o pendurou no armário sem deixar de olhá-lo em
nenhum momento. Voltava a comportar-se como uma perfeita solteirona
virgem, tratando-o como se fora Atila, rei dos hunos.

- Será melhor que tire também os sapatos e as meias. É possível que


tenha sintomas de hipotermia nos pés.

- Certo, mas posso comprová-lo eu mesma.

- Muito bem. Nesse caso, me diga onde está o telefone para que possa...

Alfonso deixou de falar. Ao olhar a seu redor descobriu o estado no que


se encontrava sua casa. Supôs que os móveis deviam estar em algum
lugar, embora era difícil encontrá-los. Tudo estava cheio de roupas sem
dobrar, caixas vazias e sujas de hambúrgueres e pizzas e montões de
pastas com os papéis esparramados por toda parte.
Não era o que esperava de uma casa de uma perita em eficácia.

- Não olhe, Anahí. Acredito que sua casa foi assaltada por um maníaco
por comida industrial.

- Já te disse antes que ultimamente estive muito ocupada. O telefone está


ali.

Tirou um montão de papéis e cartas sem abrir da mesinha que havia no


corredor e debaixo apareceu um telefone sem fio. Anahí estendeu a
antena do fone e pulsou uma tecla.

Alfonso admirou a forma em que seu cabelo, dourado e avermelhado,


caía sobre seus ombros. Excitava-o. Talvez tivesse razão ao desconfiar
dele. Nem sequer estava seguro de poder confiar nele mesmo quando ela
se encontrava perto. Ainda recordava como o tinha beijado no carro.

- Aqui o tem - disse, lhe dando o aparelho -. É o último modelo.


Suponho que sabe usá-lo.

Ao aproximar-se notou seu encantador aroma.

- Muito bem - respondeu ele ante seu assombro -. Olhe, Anahí, não é
necessário que te comporte assim comigo. Só sou um convidado em sua
casa. É livre para subir e trocar de roupa se quiser.
- Obrigado, é possível que o faça. Ao menos irei procurar uma sandália.
Gostou?
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Tirou-se os sapatos de salto e subiu as escadas, que Alfonso supôs,
levavam ao quarto. Observou-a enquanto subia. Parecia tão tensa e
empertigada como quando a tinha conhecido aquela noite.

Alfonso sorriu. Estava seguro de que não voltaria a dizer que era um
bom homem. Tirou a parka e a pendurou no cabide da entrada . Logo
discou os números das companhias de táxi e perguntou se poderia
conseguir algum depois da tormenta de neve. As duas primeiras
companhias sequer atendiam a ligação.

Enquanto esperava a que respondessem começou a passear pela sala, e


esteve a ponto de pisar em uma lata que estava no chão. Começava a
fazer uma idéia do tipo de mobiliário que havia debaixo da roupa e do
lixo. Elegante e caro.

As paredes eram de terracota, sem decoração alguma, e o chão estava


coberto por um grosso carpete cor terra. Havia uma lareira que não tinha
sido utilizada nunca, e o desenho em cor creme do sofá e das poltronas
era bastante moderno. Quanto às mesas de cristal, eram tão impessoais
como se as tivesse alugado. Aquele piso lhe dava a sensação de ser um
lugar vazio e sem calor humano.

Exceto por uma coisa. Sob a caixa de pizza que havia no sofá algo se
mexeu. Alfonso ficou tenso. O apartamento era novo, mas não podia ter
ratos. Então viu o rabo dourado. A caixa de papelão caiu a um lado e
apareceu um gato siamês. Alfonso respirou aliviado e o animal o olhou
com curiosidade. Era o tipo de gato adequado para Anahí: distante e
sério. Sorriu ao pensá-lo. Um gato profissional.

Deixou o telefone de lado e chamou o gato com suavidade. Alfonso


orgulhava-se em ter sucesso com os animais e com as senhoras idosas.
Até a senhora McGinty se declarou disposta a trocá-lo por seu edredom.
E o gato tampouco seria imune a seu encanto. Resistiu um pouco a
princípio, mas em pouco tempo deixou que acariciasse o lombo.
Ronronou e se virou de barriga para cima. Mas quando se inclinou para
lhe acariciar o estômago, a gata se virou novamente e o mordeu no dedo.
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
- Maldita seja! - exclamou.

A gata se afastou tranqüilamente e Alfonso olhou a marca dos pequenos


dentes em seus nódulos. Certamente, era o tipo de animal adequado para
Anahí Puente.
Empertigou-se e viu um móvel que não tinha reparado antes. Tratava-se
de uma estante de madeira, que não se encaixava absolutamente com o
resto da decoração. E entretanto, era o único móvel que dava
personalidade à residência.

Intrigado, aproximou-se um pouco mais. Não esperava encontrar outra


coisa que livros de matemática ou engenharia. E com efeito estavam ali,
mas misturados com todo tipo de volumes distintos. Parecia que Anahí
era como ele. Lia com avidez qualquer coisa que caísse em suas mãos.
Procurou algum título que ele também tivesse lido, e se surpreendeu ao
ver que procurava algo em comum com ela. Aquilo começava a ser mais
perigoso que uma simples atração física.

Voltou-se para trás e então viu umas fotografias. Havia um casal de


idosos, de aspecto distinto. Supôs que eram seus pais. Também havia
uma de Anahí com calças curtas e um corpete, entre dois jovens altos
com brilhos avermelhados no cabelo. Um terceiro jovem estava detrás
dela, lhe pondo chifres. Evidentemente se tratava de seus irmãos. Mas o
que lhe chamou mais a atenção foi a expressão de Annie. Seus olhos
estavam cheios de vida, irradiavam força e alegria.

A mulher que aparecia naquela fotografia era muito diferente da que ele
tinha conhecido. Perguntou-se o que ocorrera para que mudasse tanto.
Não tinha idéia. Só sabia que estava disposto a trabalhar duro com ela
para que recuperasse aquele sorriso novamente. Mas atrás das
fotografias havia algo igualmente interessante. Um documento
emoldurado, seu título em engenharia. Magna Cum Sentencie. E ao lado,
seu certificado de master em desenho industrial.
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Foi como se lhe dessem uma bofetada. Recordou então ser difícil
encontrar algum ponto em comum entre eles. Simplesmente não havia.
Como não o havia anos atrás entre ele e Marcy. Nem sequer quis
apresentá-lo a seus amigos nem a sua família.

Então caiu na realidade de que tampouco Anahí tinha querido lhe


apresentar à sua vizinha. Depois de tanto tempo, devia haver-se
acostumado a isso, mas ainda lhe fazia muito mal.

Furioso, dirigiu-se ao saguão, telefone na mão e disposto a partir dali de


qualquer jeito, em um táxi ou em um caminhão. Em algo que pudesse
extirpá-lo daquela casa.

Quando Anahí desceu, ainda estava mais frustrado. Não sabia se


sentia-se decepcionado ou aliviado. Anahí tinha colocado um pijama de
homem, de flanela, que ficava tão grande que escondia todas as suas
curvas. Perguntou-se se seria de algum amigo ou namorado dela e teve
ciúmes.
Anahí hesitou ao chegar ao último degrau, muito consciente do que tinha
vestido. Alfonso se deteve sem terminar de digitar o número de telefone.

- Estás melhor?

Ela assentiu, e ao dar-se conta de que estava ao telefone, baixou a voz e


perguntou em um sussurro:

- Tiveste sorte?

Alfonso fez um gesto negativo. O sujeito com o qual falava ao telefone


não parecia muito disposto a enviar um táxi em uma noite como aquela:

- A menos que vá ter um criança, esqueça! - gritou, desligando o


telefone.

Alfonso apagou o aparelho e recolheu a antena.

- Não, não tive sorte. Nem sequer funcionam os ônibus. Nada exceto os
veículos de emergência. Talvez possa chamar à polícia.
- E o que lhes dirá? Socorro! Me salvem desta mulher!

Alfonso sorriu. Mas apesar de sua brincadeira, tinha a impressão de que


queria desfazer-se dele desde o começo. E esse simples pensamento lhe
incomodou muito mais do que quis aceitar. Assim, agarrou sua parka.

- Bom, falou-me de uma oficina que está aberta toda a noite. Fica muito
longe?
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- A meio quilômetro pela estrada, mas não podes partir com este tempo.

- Não tenho muitas opções, concorda?

Annie suspirou.
- Bom, suponho que terei que te hospedar até amanhã.

Certamente não era a oferta mais calorosa que tinha recebido em sua
vida.
- Não, obrigado - disse, empertigando-se -. Entre a temperatura que faz
lá fora e a que faz aqui, prefiro a do exterior.

Nem sequer tinha dado dois passos quando notou uma mão em seu
braço.

- Alfonso, espere... por favor.

Ele a olhou. Estava mordendo o lábio inferior. Seus olhos azuis


pareciam
indecisos.

- Não creio que deva partir.

- Por que não? É evidente que minha presença a incomoda.

- Sim, é certo - respondeu com sinceridade -, mas não me importa que


fique até amanhã. Pode dormir no sofá. Acredite ou não, há um debaixo
de todos esses papéis, e muito bonito. Não posso permitir que saia com
esta nevasca.

- Não se preocupe por mim, não acontecerá nada.


Mas parecia tão preocupada que não pôde evitar acariciá-la sob os olhos
com o polegar.

- Você precisa de seu sono de beleza, garota. E não o terá enquanto eu


estiver aqui. Estaria todo o tempo preocupada com a possibilidade de
que eu perdesse o controle e cedesse a meus impulsos pré-históricos.

- De fato não estou tão preocupada com seus impulsos pré-históricos,


mas com os meus.

Sua repentina confissão o deixou assombrado, mas não tanto como a


expressão de seus olhos. Fechou-os, e ao abri-los estavam cheios de
desejo. E entretanto sua voz denotava certo nervosismo.

- O beijo que me deu no carro... mexeu comigo. Geralmente sou muito


precavida e fria. Não recordo de me envolver com tanta rapidez a
alguém.

- Como um trem que se choca contra o final de uma linha? - sugeriu ele
-. Sinto o mesmo.

- Mas nós dois somos maiores, não? - perguntou, rendendo-se. -


Supõe-se que deveríamos ser capazes de controlar nossos impulsos, ao
menos até amanhã.
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Até aquela noite Alfonso teria estado de acordo. Estava acostumado a
orgulhar-se de seu auto-controle. Um homem de ferro. Mas não podia
resistir aos olhos azuis de Anahí. Despertavam nele um incontrolável
desejo. Uma voz em seu interior insistiu que fugisse dali o quanto antes.

- De verdade, Alfonso, não vá. Fique, por favor.

Vestida só com uma camisola e cheirando a perfume, teria sido capaz de


fazer o que pensava que era o melhor para ambos. Mas de pé com um
pijama muito grande, com umas sapatilhas que deixavam ver seus dedos
e com o cabelo caindo sobre os ombros, parecia extremamente jovem e
necessitada. Tratava-se de uma situação excepcional, visto que não
deixaria facilmente que alguém a visse naquele estado.

Alfonso começou a tirar a parka, contra seu próprio senso comum.

- Bom, seu sofá será mais cômodo que qualquer oficina suja. Além
disso, é só até amanhã.
- É mais cômodo do que parece.

- Já dormi em lugares piores.

- Trarei um travesseiro e uma manta do armário.

Alfonso lhe disse que não se preocupasse com isso, mas Anahí
imediatamente começou a retirar as coisas que havia sobre o sofá.
Enquanto ela se inclinava, Alfonso não pôde evitar olhar pelo decote
profundo do pijama. Mostrava algo alvo debaixo.

Alfonso esteve a ponto de suspirar. Talvez uma noite fosse muito para
suportar.

- Deixe que eu faça sozinho. Vá para a...

Cama. Quis dizer que fosse para a cama, mas ao pensá-lo começou a
imaginar o que sentiria dormindo com ela.

- Precisa de mais alguma coisa? Outra manta ou uma escova de dentes?

- Parece que está acostumada a ter convidados - disse, incapaz de afastar


o olhar de seu pijama.
- Não, na realidade não.

Queria lhe perguntar de onde o tinha tirado, mas não lhe pareceu uma
boa idéia. Apesar de que não podia evitar pensar nisso. Aproximou-se e
perguntou com toda a normalidade que pôde:

- Está certa de que ninguém vai zangar se por me descobrir em seu sofá?
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- Quem iria se incomodar?

- Talvez o indivíduo que esqueceu o pijama.

- Oh, a ele. Tem razão. Certamente lhe incomodaria muito - disse,


sorrindo -. Meu irmão maior, Mike, tem bastante caráter e um forte
instinto protetor. Mas não se preocupe. Vive em San Diego.

- Seu irmão? Ah, é dele.


Tentou não parecer um perfeito idiota, mas não o conseguiu.

- Com certeza. O deixou por aqui quando saiu de casa. Minha mãe tinha
a hábito de comprar muitos pijamas. Não queria que os filhos do juiz
Puente tivessem que sair correndo da casa nus, como selvagens, caso
houvesse um incêndio.

- Seu pai é juiz?

- Sim, no oeste da Pensilvânia.

Alfonso fez um gesto estranho. Tampouco naquilo se parecia muito a


ele, filho que era de um mecânico de uma pequena localidade do meio
oeste. Anahí estava abraçada a seu travesseiro, de modo que o solicitou.

- Boa noite, Anahí.

Para alguém que estava a ponto de desmaiar de cansaço, ela


demonstrava a intenção de prolongar a conversa.

- Sinto não ter outro pijama para poder emprestar .

- Não importa. Sempre durmo nu.


Seus olhares se encontraram. Por um momento, sua confissão encheu o
ambiente de possibilidades. Deveriam separar-se imediatamente.

- Boa noite, Anahí - repetiu, com mais ênfase.

- Oh, sim, boa noite, Alfonso.

Mas nem sequer tinha dado um par de passos quando se deteve de novo,
voltou-se, sorriu-lhe e disse:

- É estranho, de repente já não me sinto cansada.

Alfonso sabia o que ela queria dizer. Ocorria o mesmo com ele. Estava a
sós com ela e era muito consciente de seus encantos. Despertavam seu
desejo. Teria dado algo por um par de pesos para aliviar-se. Queria lhe
dizer que subisse logo, que iria embora de sua residência antes que
ocorresse algo que os dois lamentariam. Mas aquela estranha expressão
apareceu de novo em seus olhos.

Alfonso suspirou.

- Quer que acenda a lareira?


Anahí pareceu alegrar-se com a sugestão.
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- Seria maravilhoso. Posso procurar uma garrafa de vinho, se quiser.
Sempre me ajuda a dormir. Bebe vinho, não?

- Não, só leite das cabras do Himalaya.

Aquilo pareceu surpreendê-la. Mas depois sorriu, dando-se conta de que


ele estava brincando. Enquanto acendia o fogo pensou que ainda cabia a
possibilidade de que pudesse salvar-se.

Anahí se dirigiu à cozinha, perguntando-se onde podia encontrar taças


limpas. Certamente, não na máquina de lavar pratos. Estava
completamente cheia e tinha se esquecido de ligá-la. Teria que tirar as da
baixela, presente de sua mãe. Enquanto as buscava, tentou não pensar no
que começava a sentir por Alfonso. Fazia muito tempo desde a última
vez que tivera companhia masculina, muito tempo da última vez que
tinha convidado a um homem à sua casa. Sentia-se como uma debutante
em seu primeiro baile.
Mas Alfonso só era um homem que tinha ganho em uma rifa, alguém
com o qual não esperava mais do que passar a noite. Partiria pela manhã,
assim que parasse de nevar.

Encheu as taças de vinho. Depois prendeu a garrafa sob o braço e


caminhou para o salão, andando com todo o cuidado. Alfonso já
mantinha acesa a lareira e a residência começava a esquentar-se. Mas
quando foi lhe dar a taça de vinho, sua gata achou que era o momento
adequado para cruzar a sala a toda pressa. Arranhou-a nos pés nus e fez
que perdesse o equilíbrio.

A garrafa começava a escorregar e Alfonso conseguiu salvar sua taça e a


garrafa, mas não assim a taça de Anahí, que acabou derramando-se sobre
o pijama.

- Maldito inseto! - exclamou.

Agarrou uma toalha do montão de roupa e secou a perna. Enquanto isso,


Alfonso apoiou a sua taça antes de que derramasse todo o resto.

- É minha gata, Capeta - explicou, como se fora necessário apresentá-la.

O animal começou a miar frente à porta de vidro que dava ao pátio, com
tanta força como para despertar todo o edifício.

- Já nos conhecemos - disse, com gesto irônico -. Que diabos se passa


com ela?
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- Às vezes fica um pouco louca. Deve estar em cio outra vez - comentou,
cruzando a residência para pegá-la no colo.

A gata seguia olhando para o exterior do apartamento.

- Pobrezinha - murmurou, esfregando sua face com ela -. É a gata mais


sedenta de carinho do mundo.

- Deve ser mesmo, se for capaz de cheirar a um gato macho debaixo de


toda esta neve - disse, aproximando-se com Anahí à janela.

Inclinou-se para acariciá-la, mas logo pensou melhor.

- Eu gostaria que ela tivesse filhotes, antes de castrá-la.


- E suponho que com algum gato com pedigree e um montão de
certificados de pureza sangüínea.

- Seria bastante irresponsável de minha parte se deixasse que cruzasse


com qualquer...

- Com um simples gato de rua? - perguntou, terminando a frase por ela.

- Bom, sim – disse -. Você não o aprova?

- Oh, não. Alegra-me saber que os gatos praticam o sexo seguro.

Falava com um tom sarcástico que a deixou perplexa. Agarrou à gata e a


colocou na cozinha. Inclinou-se para olhar as calças de seu pijama,
manchado de vinho. Depois de
pensar um momento decidiu tirá-las. A parte superior a cobria
suficientemente. Tirou-se as calças e logo acalmou Capeta com um prato
de leite, esperando que dormisse. Quando voltou para a sala, Alfonso já
se acomodara.

Estava sentado curvado, no carpete, apoiado sobre os cotovelos e


olhando o fogo. Mas assim que ouviu que voltava se endireitou.
- Já acalmastes a gata? – perguntou - O que fez? Deu-lhe uma ducha de
água fria…

Ao ver suas pernas nuas ficou sem fala.

Anahí pensou que talvez a blusa do pijama não cobrisse tanto como
supunha. Mas tampouco lhe tinha ocorrido pensar que Alfonso estaria no
chão, olhando-a de baixo para cima. Nervosa, apagou a luz da sala.

- As lareiras são mais bonitas vistas na escuridão, não é mesmo?

- Sim...

Mas Alfonso não estava olhando o fogo. Seus olhares se cruzaram. As


chamas do fogo se refletiam em seus olhos escuros.
Anahí se sentou no carpete sem muita elegância, sobre os calcanhares.
Alfonso lhe deu sua taça de vinho, que tinha enchido novamente, e os
dois beberam em silêncio enquanto ela tentava pensar em algo a
conversar. Tinha que ser capaz de falar com um homem sobre algo mais
que contratos elétricos ou máquinas. Talvez porque Alfonso a tirava do
rumo. Havia algo nele que a atraía poderosamente.
Alfonso estava sentado com as pernas cruzadas, e sua camiseta e seu
jeans marcavam as linhas de seu corpo. Mechas de cabelo negro lhe
caíam sobre a face, um rosto cheio de ângulos duros, de uma beleza
quase selvagem. Era algo primitivo, escuro e perigoso.

Alfonso girou a taça em seus dedos, examinando-a como se esperasse


que a delicada peça se partisse ao tocá-la.

- Bom, aqui estamos. Uma tormenta de neve fora e uma lareira acesa
dentro. As luzes apagadas, o vinho... Eu diria que é um cenário bastante
romântico para unir um fisioculturista e uma engenheira.

- Não sei - disse, pensativa. - Ultimamente não reconheceria algo


romântico nem mesmo...

- Se fosse seu prêmio em uma rifa? - perguntou com ironia -. Confia em


mim. Isto é tão romântico como parece. Só falta é a música.

- Você poderia cantar.

- Eu?

- Eu o ouvi cantando na ducha - disse, sorrindo -. Tem uma bonita voz


de barítono.

Alfonso ficou boquiaberto, com uma expressão muito cômica. Anahí


não pôde evitar o riso.

- De acordo, Puente. Quanto quer para não denunciar nada a respeito?

- Não é nada que deva se envergonhar. Eu também cantava no banheiro.

- Suponho que algo normal, como rock and roll.

- Não exatamente. Eu gostava muito das melodias dos musicais da


Broadway.

- Música antiga e velhos mistérios, não é?

Anahí o olhou como perguntando-se a que se referia e Alfonso fez um


gesto para a estante.

- Vi que tem uma boa coleção do Mickey Spillane e Raymond Chandler.

- Ah, sim, isso. Costumava ler bastante.


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Fazia muito tempo que não abria um livro que não fora técnico, mas se
sentiu aliviada ao descobrir que podia falar com ele de algo. Inclinou-se,
apoiando-se nos cotovelos, relaxando um pouco e saboreando o vinho, a
luz do fogo e o som quase hipnótico da voz do Alfonso.

A conversação passou dos livros à música, à política e finalmente à


família de Anahí. Assim que começaram a conversar, foi incrivelmente
fácil falar com ele qualquer assunto. Surpreendentemente tinham muitas
coisas em comum. Os dois eram de esquerda, aos dois os apaixonavam
os mistérios e compartilhavam gosto inclusive no relativo aos velhos
musicais de Hollywood. Talvez fora pelo irônico senso de humor de
Alfonso, ou talvez fora por algo mais básico, algo na maneira como a
olhava ou a tocava quando não encontrava as palavras adequadas para
dizer algo. Mas sentia como se o conhecesse desde muito tempo, como
se pudesse falar com ele de tudo, por mais íntimo que fosse.

- Era muito moleca. Sempre seguia meus irmãos, embora me tornassem


a vida impossível. Passavam-se todo o tempo me desafiando a fazer
coisas. Estive a ponto de quebrar o pescoço em certa ocasião, quando
subi uma escada de incêndios em uma demonstração que fizeram os
bombeiros no colégio...
Anahí deixou de falar. De repente se sentia envergonhada por ter estado
falando tanto.

- Sinto muito. Não há nada mais aborrecido que escutar as histórias de


infância de outra pessoa. Devo estar te aborrecendo muito.

- Absolutamente. Entretanto, tenho a impressão que não costumas visitar


sua família. Por que escolheste viver aqui, tão longe deles?

- Bom...

Anahí duvidou. Não queria lhe contar a respeito do emprego que tinha
perdido. Não queria falar sobre a humilhação que aquilo lhe impôs, ao
ter que enfrentar seus amigos e sua família naquela festa.

- Suponho que para procurar novas oportunidades, novas provocações, e


para...
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Para escapar. Era a verdadeira razão, mas era muito difícil de aceitar. De
modo que concluiu quase pedindo desculpas.
- Claro que meu trabalho no Play Tyme não é muito interessante. Nem
importante. Dedicamo-nos a fabricar pequenos motores para barcos.

- Os motores pequenos permitem que muita gente se divirta. O que tem


de mau em conseguir que as pessoas vivam bem?

- Nada, suponho - respondeu. Nunca tinha pensado em seu trabalho


daquele ponto de vista -. Quando estava na universidade sempre quis ter
minha própria lancha. Praticava o esqui aquático.

- Você lia, cantava, fazia esqui aquático... me diga algo que não tenha
deixado de fazer.

Alfonso fez a pergunta com suavidade. E parecia estar cheio de


sugestões e possibilidades, como seu olhar.

- Bom, eu gosto de meu trabalho.

- Já o notei. Até traz serviço para casa, certo?

- Tenho que fazê-lo, para crescer. Além disso estou assistindo a vários
cursos e freqüento aulas de golfe.
-Golfe?

- Claro, fazem-se contatos importantes nos campos de golfe.

- De modo que nem sequer o faz porque você goste?

- Sou uma mulher ambiciosa. E não é fácil abrir-se caminho em uma


profissão que neste país ainda é considerada como de homens. Estou
tentando ascender profissionalmente.

- Me faça um favor, Anahí - disse, em tom sombrio -. Não o tente com


muito empenho.

- Ninguém morreu por trabalhar muito.

- Ah, não? Isso era o que dizia meu velho pai.

Um músculo se retesou em seu rosto. Havia algo triste em sua expressão


que fez com que Anahí hesitasse antes de perguntar. Entretanto, quase
não havia dito nada sobre si mesmo e estava intrigada.
- Que fazia seu pai?

Alfonso parecia resistir a responder, mas ao final respondeu com


orgulho e à defensiva:

- Era mecânico de carros. O melhor da cidade - explicou, ante sua


surpresa -. Parece surpreendida.

- Suponho que sim, considerando o pouco que sabe sobre carros.


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- Ele nunca deixava que eu me aproximasse da oficina. Queria que me
formasse em médico ou presidente de um banco, alguém que trabalhasse
com a cabeça, não com as mãos - disse, com amargura -. Também ele
tinha ambições. De fato, deixou o trabalho que gostava para conseguir
uma colocação em um escritório.

- E o que tem isso de mau? - perguntou.

- Terminou com úlceras e com problemas de coração. De fato, morreu de


enfarte fulminante quando eu estava no ginásio.
- Oh. Sinto muito...

Alfonso trocou de posição e olhou o fogo.

- Pois é. Meu pai não aprovava minha atual profissão mais do que você
aceita. Queria que deixasse de fazer esporte, que fizesse algo intelectual,
como participar de debates ou coisas parecidas. Precisamente estávamos
discutindo sobre isso o dia em que...

Alfonso deixou de falar e deixou a taça de lado. Ficou em silêncio.

Anahí não sabia como interpretar suas emoções, seu sentimento de


culpabilidade, ou a dor pela perda de um pai que, obviamente, tinha
amado muito. Não estava acostumada confortar as pessoas. Não
apreciava gestos suaves. Depois de ter crescido com seus irmãos, o mais
carinhoso que sabia fazer era dar um soco no braço, ou nas costas e dizer
que não se preocupasse, que tudo ficaria bem. Mas se aproximou dele e
lhe separou o cabelo da face com uma delicadeza que nem sequer sabia
que possuía.

Alfonso se encolheu como uma criança.

- Não sei o que aconteceu com seu pai, mas estou segura de que não foi
sua culpa.

Alfonso sorriu com tristeza.

- Suponho que parte de mim sabe. Mas outra parte... Não deixo de me
dizer que devia ter dado conta de quão difíceis que lhe pareciam as
coisas, do tão esgotado que estava e de quão infeliz era. Mas então era
muito egoísta para me dar conta disso. Desde pequeno era muito grande
em altura e desajeitado. Quando completei os dezesseis anos mudei, e
passei de patinho feio do colégio para herói. Os outros meninos vinham
me pedir permissão para fazer coisas.
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- E o sucesso com as garotas também…

- Sim, claro - admitiu.

- Suponho que muitas garotas atraentes tentaram aproximar-se de você.

- Certamente. No início, era ótimo, com o tempo, começou a ficar


intolerante.
- Sem essa. É um homem. Não me diga que você não gosta desse tipo de
coisas.

- Um homem se cansa de que as mulheres só o admirem por seus


músculos. À medida em que se torna adulto, espera mais coisas de uma
mulher.

- De modo que agora está procurando outra coisa. Uma mulher que te
queira por sua inteligência.

- Algo assim – comentou.

Anahí lhe acariciou o cabelo, dando-se conta de que passara toda a noite
desejando fazê-lo. Era um cabelo forte e entretanto muito suave.

- O que pensa? - perguntou intrigada.

Alfonso a olhou.

Anahí não soube interpretar o que havia em seus olhos, mas fosse o que
fosse o pegou pela mão. Abriu-a e a beijou na palma, conseguindo que
se estremecesse dos pés à cabeça.
Então, Alfonso recolheu a mão.

- Temos que parar com tudo isto. Não acredito que seja uma boa idéia.

- O que?

- Que fique aqui.

- Mas agora que começávamos a nos entender. Não o compreendo.

- Como que não? Sabe que me atrai muitíssimo.

- Vestida assim? - perguntou, passando uma mão pelo cabelo -. Com um


pijama de flanela?

Alfonso a observou.

- Sim. É que o pijama não é suficiente para cobrir todos os seus


encantos.
Levantou-se, e Anahí sentiu uma profunda decepção. Se não o tivesse
conhecido, teria estado trabalhando até cair esgotada. Mas Alfonso
estava ali com ela, e as escadas que levavam a seu quarto nunca lhe
tinham parecido tão escuras e solitárias até aquele instante.

Conversaram até altas horas da madrugada, trocando idéias,


pensamentos, interesses, opiniões, até parte de seu passado. E queria
continuar conversando. Sem saber o que estava fazendo, acariciou-o no
peito para que não partisse.

- E é errado? – sussurrou -. É errado se sentir atraído por mim?


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- Sabe de sobra a que me refiro. Acabamos de nos conhecermos. Mas
evidente que não poderá haver duas pessoas mais diferentes sobre a
terra.

- Porque eu uso pijama e você não? - perguntou, acariciando-o ainda.

Estava assombrada com sua audácia e seu poder. Notava os batimentos


de seu coração cada vez mais acelerados, e embora em outra
oportunidade deveria se sentir alarmada, só conseguiu excitar-se com
isso.

- O que se sente ao dormir sem pijama? - perguntou.

- Anahí!

- Quero sabê-lo, de verdade. Nunca dormi nua. Inclusive depois de fazer


amor, sempre fui tão prática e vestia logo uma camisola. O que se sente
ao dormir nu?

- É uma sensação agradável.

- Como quando me beijou antes?

- Sim.

Anahí o olhou.

- Faz muito tempo que não me sinto tão bem.

- Sei - disse, com tristeza e suavidade.


Alfonso se inclinou para beijá-la. Só queria lhe dar um beijo de boa
noite, mas suas boas intenções desapareceram sob a paixão que o
devorava. Seus olhos estavam cheios de desejo. Alfonso se aproximou
ainda mais, consumidos os dois por uma paixão tão transbordante como
o vento que soprava no exterior.

Segurou seu rosto entre as mãos e a beijou nos lábios, nas bochechas e
no queixo com extremada delicadeza. Ela suspirou e correu os dedos
pelo dorso das mãos, beijando-lhes. Quando viu a marca da gata em seus
nódulos seu desejo transformou-se em
preocupação.

- Oh, Alfonso, Capeta fez isso? Devia ter te avisado...

Mas ele a sossegou com outro beijo. Houveram muitas advertências em


uma só noite. E não estava mais disposto a acatar nenhuma delas.
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CAPÍTULO 5
Nenhum homem podia comportar-se com nobreza todo o tempo.
Alfonso tinha tentado, controlando o desejo que sentia por Anahí. Mas
não conseguiu. Por alguma razão, ela o tinha provocado e agora ele não
podia resistir.

Não podia pensar naquelas circunstâncias. Estava sobre ele, com o


cabelo caindo a ambos os lados. Seu rosto cheio de desejo, seus lábios
como uma doce tentação. Alfonso a beijou apaixonadamente.

Perguntou-se o que teria acontecido. Até poucas horas antes era como
um computador que tivesse estado aceso durante muito tempo. Alfonso
tinha a impressão de ter pulsado a tecla inadequada. Ou talvez tivesse
sido ela. Em todo caso suas mãos o acariciavam por debaixo da
camiseta, provocando sua resposta.

Esteve a ponto de gemer. Necessitava-a. Mas não podia aproveitar-se


dela naquelas circunstâncias. Embora não sabia muito bem quem se
estava aproveitando de quem. De fato, estava tirando a camiseta naquele
exato momento.

Excitado, beijou-a ainda com mais força e lhe acariciou os seios sob a
blusa do pijama. Começou a desabotoar-lhe e de repente Anahí o
agarrou no punho para detê-lo.

- Não...
- Não? - perguntou, olhando-a -. Anahí, mudaste de idéia ou tenta me
deixar louco?

- Nenhuma das duas coisas - respondeu, observando-o -. Em certa forma


sou como minha gata.

- Necessita muito carinho? - perguntou.

- Isso também. Mas me referia que, igual a ela... pratico o sexo seguro.

- Está certo - comentou como se tivesse levado um banho de água fria -.


Eu também. De fato não vim preparado para fazer amor em uma noite
como esta.

- Eu sim - respondeu, ruborizando-se.

Alfonso a olhou assombrado.

- Há uma caixa no armário do banheiro. Na terceira prateleira –


continuou, ruborizada.

- Suponho que junto às escovas de dentes para convidados, não?


Anahí sorriu com ironia.

- Sinto muito, não posso evitá-lo. Digamos que se deve à perita em


eficácia que há em mim. Sempre estou preparada para qualquer
contingência.
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- Não tem que se desculpar - murmurou.

Dirigiu-se ao banheiro para pegar os preservativos. Sexo seguro. O


problema era que a relação que pudessem manter Anahí e ele não seria
nunca segura, em nenhum caso. Alguém terminaria ferido e tinha a
impressão de que ia ser ele.

Era interessante que descrevesse como uma contingência o desejo que


ambos sentiam. Aquela frase teria sido suficiente para apagar por
completo o ardor de um homem. Mas enquanto agarrava a caixa da
prateleira se sentiu aliviado. Ao menos parecia ser a única contingência
na vida dessa mulher.
Tirou um dos preservativos da caixa e retornou ao salão. Assim que a
viu, todos seus esforços por recuperar a prudência desapareceram.

Anahí tirou a blusa do pijama e estava sentada em frente ao fogo,


abraçada a seus joelhos. Uma pose interessante para alguém que só
vestia uma calcinha minúscula, de renda negra. Incrivelmente atraente.
Imaginava-a como a mulher de negócios total, fria, calculadora e com
roupas íntimas de algodão. De modo que lhe surpreendeu vê-la daquele
modo. Era uma verdadeira caixa de surpresas.

Enquanto a observava, com seu corpo iluminado pela luz do fogo, quase
ficou sem respiração. Tinha a pele cor marfim, e seus seios quase
cobertos pelo cabelo. Tinha inclinado a cabeça e fechado os olhos.
Parecia esconder multidão de encantadores mistérios femininos, tão
velhos como Eva. Sentou-se a seu lado, no carpete. Pôde ver seus seios
através de seu cabelo, e o jogou para trás para poder apreciá-los melhor.

Era deliciosa. Inteligente, forte e doce, selvagem e vulnerável,


apaixonada e fria. Uma verdadeira dama. A classe de mulher com a qual
não deveria sonhar. De repente recordou vários fragmentos de poesia do
romantismo que tinha lido, e se sentiu um perfeito imbecil. Tentou
esconder sua confusão afastando a blusa do pijama que ela tinha deixado
no chão e brincando.

- Os engenheiros normalmente não gostam de perder o tempo, verdade?


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- É parte de minha bagagem, senhor Herrera - sussurrou.

Abraçou-se a ele e se entregou com paixão. Alfonso girou com ela sobre
o carpete e beijaram-se quase imediatamente. Sua resposta foi rápida.
Pensou que se não tivesse cuidado ela o tomaria ali mesmo, com a
mesma velocidade com que Anahí fazia as coisas. Estava claro o que
esperava dele, do duro e sempre disposto homem das cavernas. Talvez
fora o momento adequado para mostrar à dama outra faceta de Alfonso
Herrera, que raramente revelava. Não tinha muitas coisas que oferecer a
uma mulher assim, mas ao menos tinha uma.

Rindo e protestando, separou-se dela.

- Fique calma, minha dama. Temos toda a noite para nós.

- Não, não a temos - disse, olhando o relógio de parede -. São quase…

Mas Alfonso se interpôs para que não pudesse ver o relógio.

- Acredito que esta noite vou te ensinar sobre o tempo.


Anahí sorriu.

- E o que pode me ensinar a respeito? - perguntou, movendo seus quadris


de maneira provocadora.

- Que podemos pará-lo.

- Que idéia mais assustadora.

Alfonso conseguiu que se calasse lhe dando um beijo e logo se separou


para que houvesse mais distância entre seus corpos. Entretanto a agarrou
pelos punhos e a beijou de novo.

Algo frustrada, Anahí resistiu a princípio para depois relaxar-se,


confiando em que Alfonso não manteria aquele ritmo tão lento durante
muito tempo. Nos quesitos sexuais e de trabalho, a maior parte dos
homens era mais rápida que ela.

Mas Alfonso não era como a maior parte dos homens, além de ter
músculos de aço, possuía uma vontade de ferro. De outro modo não teria
podido explicar como podia beijá-la durante tanto tempo com tanta
lentidão e tanta delicadeza.
Estava aterrorizada.

Viveu muito tempo só para o relógio, fazendo tudo com pressa. E tinha
medo de descobrir o que poderia aprender se se detivesse em algum
momento e começasse a pensar ou a entregar-se completamente ao
Alfonso.
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Estava a ponto de desmaiar entre seus braços. Alfonso começou a
beijá-la no pescoço e ela sussurrou:

- Alfonso, por favor. Não posso continuar deste modo.

- Claro que pode - disse, lhe acariciando a nuca -. Relaxe, Anahí, deixe
vir...

Mas aquilo era precisamente o que a assustava. E entretanto não podia


negar-se a seu toque mágico. Seus dedos começaram a lhe acariciar os
ombros, lhe dando massagens e descendo para seus seios.
Quando finalmente os tocou, Anahí mordeu o lábio inferior. Tinha umas
mãos preciosas, grandes, duras, morenas em contraste com a cor pálida
de sua pele. Seus fortes dedos eram delicados e conseguiam que se
estremecesse toda. Deixou escapar um grito de prazer.

Surpreendia-lhe descobrir que o prazer não tinha por que ser uma
labareda rápida ou um instante fugaz. Era algo lento e constante que
consumia cada átomo de seu ser. Perguntou-se como podia torturá-la
com tanto aprimoramento.

- Alfonso. Ao menos... tire a camiseta.

Ele sorriu, mas a tirou. E assim que o fez Anahí suspirou e lhe acariciou
o peito e os ombros. Alfonso agarrou de novo sua mão.

- Não posso te tocar?

- Só se prometer que será mais delicada comigo desta vez – disse -. Me


trate como se fosse de cristal.

Anahí assentiu. Alfonso lhe beijou as pontas dos dedos e guiou sua mão
sobre seu peito. Podia sentir o calor de seu corpo. Quase era impossível
acariciá-lo com tanta suavidade. De repente sentia um inexplicável
acanhamento ao explorar seu corpo com tanto desejo como ele explorava
o seu.

Entretanto, obrigou-se a continuar lentamente, saboreando o contato com


os músculos de seu peito, que tinha desenvolvido com tanta paciência
como a que usou Michelângelo para esculpir seu David. Os dois podiam
jogar aquela lenta tortura, e Anahí se excitou quando notou a reação que
estava causando nele.
Quando a abraçou de novo, os movimentos de Alfonso já não eram tão
tranqüilos. Abraçou-a com força, colando-se literalmente a ela, pele
contra pele. Beijou-a. Anahí nunca teria imaginado que existiam
diversos tipos de beijos, ter texturas e sensações tão distintas, desde o
mais leve toque até o beijo avassalador. E Alfonso parecia conhecer
todos.

Depois foi descendo para seus seios e os beijou. Anahí se arqueou


gemendo. Estremeceu-se, e o prazer que sentia cresceu até limites
insuspeitados quando começou a tocá-lo sob a abertura da calça.

Alfonso tinha começado a suar levemente, mas ainda tinha sobras de


energias para brincar:

- As loiras ficam muito bem de renda negra.

- Mas ficamos melhor sem elas - comentou ela.


Alfonso sorriu. Estava disposto a ser paciente, e a atendeu, tirando sua
calcinha. Logo, sua paciência durou pouco tempo. Beijou-a no ventre e
logo lhe acariciou as coxas.
Esta vez seu estremecimento foi muito mais violento. Alfonso a estava
tocando em sua intimidade. Anahí se sentia como uma flor que se abria,
com uma intensa necessidade implorando para ser satisfeita.

Abraçou-o e lhe cravou as unhas nas costas.

- Alfonso, por favor. Não posso esperar mais…

- Nem eu, garota. Nem eu - respondeu, beijando-a nos lábios e tirando o


resto da roupa que vestia.

Ao contemplar seu corpo nu Anahí ficou admirada. Duro, musculoso,


muito masculino. Nunca tinha perdido tanto o controle com ninguém.
Inclusive fazer amor tinha sido durante muito tempo uma espécie de
competição para ela. Mas se rendeu por completo a Alfonso, deixando
que a levasse aonde quisesse.

Ele logo afastou suas pernas e entrou nela.


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Jamais tinha conhecido a uma mulher tão doce e frágil. Nem a uma
mulher cujos olhos expressassem tanta força, necessidade e paixão como
os seus. Só a disciplina que tinha aprendido a manter sobre seu próprio
corpo evitou que ele a tomasse de maneira rápida, forte e primitiva. Não
queria comportar-se assim com ela.

Cada centímetro de seu corpo queria afastar-se de Anahí, mas se obrigou


a entrar mais nela, começando os movimentos rítmicos e deixando-se
levar pelo desejo até seu clímax. Beijou-a. Ela disse seu nome, gemendo,
como em um mantra repetitivo.

Com a fronte salpicada de gotas de suor, Alfonso impôs um ritmo como


um maratonista na reta final e quando estava a ponto de desfazer-se
dentro dela se deteve um pouco. Não tinha chegado tão longe para
terminar de qualquer jeito. Prezava, em primeiro lugar, por obter o
prazer de vê-la chegar ao orgasmo.

Soube que tinha chegado o momento de sua vitória quando Anahí jogou
para trás a cabeça e deixou escapar um pequeno grito. Só então se
permitiu chegar ao final. Deixou seu auto-controle de lado e se fundiu
em seu corpo.
Ficou assim, abraçado a ela, durante um bom momento, sentindo o bater
de seus corações, saboreando a sensação de alívio, bem-estar e calma
que percorria seu corpo. Esperava que ela sentisse o mesmo. Mas
quando saiu de seu torpor para lhe separar o cabelo da face, viu
horrorizado que ela estava chorando.

Ficou assombrado. Sabia que existia a possibilidade de que se


arrependesse a qualquer momento, mas não pensou que pudesse ser tão
logo.

- Anahí, o que te ocorre?

Ela moveu a cabeça. Alfonso tentou lhe limpar as lágrimas, mas só


conseguiu que chorasse mais.

- Machuquei-te?

Uma vez mais fez um gesto negativo com a cabeça.

- Não, não é nada. É só que fazia tanto tempo da última vez que... foi
muito bonito.

- Bonito?
Ela o olhou entre soluços.

- Está bem, foi maravilhoso, está satisfeito?


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Anahí lhe atingiu no peito com um punho, mortificada e aliviada ao
mesmo tempo. Certamente tinha sido maravilhoso, um dos momentos
mais mágicos de sua existência. Jamais tinha experimentado algo
parecido, e não era capaz de fazer outra coisa além de chorar como uma
criança. Perguntou-se quando tinha sido a última vez que se permitiu
chorar diante de um homem. Ao menos, não no colégio, quando seu
irmão lhe deu um golpe com uma bola de futebol.

Afastou-se um pouco de Alfonso, tentando recuperar seu orgulho. Mas


estava muita cansada. Tinha resistido a aquela sensação durante dias,
semanas. E tinha a impressão de que não havia nada, até ali, que
realmente valhesse a pena.

Salvo Alfonso. Abraçou-a e colocou sua cabeça sobre seu ombro,


murmurando palavras doces ao seu ouvido. Anahí não tinha forças para
resistir, e deixou escapar a terrível tensão que tinha acumulado,
chorando. Quando terminou de fazê-lo, sentia-se muito melhor do que se
sentia há muito tempo. Inclusive pensou que era possível que dormisse
hoje sem ter horríveis pesadelos nas que acabava esmagada sob montões
de documentos impressos por um computador.

Anahí suspirou e o olhou nos olhos. Milagrosamente tinha um lenço


entre as mãos. Anahí o aceitou e assoou o nariz.

- Obrigado.

- Estás melhor agora? - perguntou.

Anahí assentiu. Tinha a impressão de que lhe devia alguma explicação a


respeito do motivo por ter se comportado daquela forma, mas nem
sequer ela o conhecia. De qualquer maneira, não mais importava.
Alfonso não perguntou nada.

Quando voltou a abraçá-la, seu suspiro foi de alegria. Beijou-a na fronte,


em silêncio. Fazia só umas poucas horas que o havia encontrado pela
primeira vez, e já sabia que nunca tinha conhecido a um homem que
entendesse tão bem as necessidades de uma mulher, um homem que
fosse tão pouco egoísta. Aproximou-se ainda mais dele e lhe acariciou o
braço.
- É um homem surpreendente, Alfonso Herrera. Quando disse a respeito
de parar o tempo, nunca supus que... de verdade, jamais pensei que
poderia...
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- Fazer amor com uma mulher sem agarrá-la pelo cabelo e atingi-la com
um porrete? - perguntou com ironia.

- Sim, quero dizer, não! Mas me surpreendeste.

Começava a sentir-se tão relaxada que era difícil concentrar-se e falar


com coerência.

- É... incrivelmente delicado para ser um bárbaro - concluiu, bocejando


contra seu ombro -. Seria muito fácil me apaixonar por você.

- Oh, claro - disse, rindo com amargura.

Anahí não se deu conta. Seus olhos estavam fechados, quase


adormecida.Mas Alfonso continuou acordado por muito tempo,
escutando o vento nas portas de vidro e contemplando o fogo. Doía-lhe
um pouco o ombro pela posição em que estava, mas não quis mover-se
para não incomodá-la. Tinha a impressão de que Anahí não tinha tido
uma experiência tão profunda e tranqüila havia muito tempo.

Além disso, gostava da sensação de tê-la em seus braços quase tanto


como a de fazer amor com ela. Sobretudo tendo em conta que acabava
de conhecê-la.

Franziu o cenho, tentando saber o que estava ocorrendo. Tinha


conseguido que se tranqüilizasse durante ao menos uma noite. Mas a que
preço? Não estava seguro do que poderia conseguir à luz do dia. Já não
estava disposto a aceitar relações de uma só noite. Tinha tido muitas
durante sua vida, antes e depois do rompimento com Marcy. Aventuras
apaixonadas e curtas que o deixavam mais insatisfeito e vazio que antes.

- Isso acontece porque você não gosta de ir de um lugar a outro todo o


tempo - estava acostumada a dizer sua avó.

Entretanto, era difícil admitir que era um homem de uma mulher só.
Quanto a Anahí, parecia estar interessada em desempenhar seu trabalho
e continuar em busca de novos desafios. Era uma mulher dedicada por
completo à sua profissão. E se alguma vez decidisse aquietar-se, o faria
com um tipo enfadonho e rico, não com alguém como ele.
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Tentou recordar o que havia dito antes de adormecer, aquela tolice a
respeito de apaixonar-se por ele. Não, não acreditava que fosse possível.
Aquela relação não tinha muito futuro. Talvez seria melhor levá-la a sua
cama e deixá-la lá. Mas parecia muito mais difícil do que tinha pensado.
Olhou-a. Tinha os lábios levemente entreabertos e uma expressão
relaxada.

Sempre tinha tido uma fraqueza pelas mulheres assim, sobretudo pelas
que tinham uns olhos azuis tão vulneráveis. E a simples visão de seu
corpo, pálido e nu era suficiente para fazê-lo arder de desejo. Mas se
obrigou a fazê-lo. Soltou-a lentamente e a carregou em seus braços. Ela
protestou em sonhos. Levou-a até o segundo piso. A luz da rua foi
suficiente para lhe iluminar o caminho.

Seu quarto era feminino, mas não muito pessoal. Tanto as cortinas como
o edredom da cama, que estava sem fazer, eram brancos como a neve.
Deitou-a sobre a cama e se deu conta de que era enorme. Muito grande
para uma mulher só. Entretanto, assim que a deixou sobre ela se deu
conta da razão pela qual a teria escolhido.

Instintivamente ela se moveu para o centro, abraçou-se ao travesseiro e


tomou posse de ambos os lados do colchão. Era evidente que Anahí
Puente não tinha lugar suficiente para um homem em sua cama, muito
menos em sua vida.
Alfonso a cobriu com o lençol e com o edredom, sorrindo. Já tinha
aprendido várias lições sobre coisas impossíveis. E não estava disposto a
acrescentar o nome de Anahí na lista. Deitada ali era toda feminilidade e
doçura. Mas na manhã seguinte, assim que se levantasse, despertaria a
profissional independente e fria. Sabia que se arrependeria do que tinha
feito aquela noite, de haver-se mostrado tão vulnerável a ele.

Alfonso decidiu que faria um favor aos dois. Partiria antes de que
despertasse pela manhã.

*
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Anahí suspirou com os beijos do Alfonso e a sensação que lhe produzia
o contato de sua cálida pele e do fogo. Então a visão desapareceu em
metade de uma nuvem de fumaça azul. E surgindo como um gênio, a
senhora McGinty se materializou ante seus olhos
como saindo de uma garrafa, com o cabelo cheio de cachos.

- Senhora McGinty... – disse -. O que está fazendo aqui?


- Não se recorda? – riu -. Prometeu que faria um trato comigo. O bárbaro
musculoso em troca de meu edredom!

- Não! Não, mudei de idéia!

Mas era muito tarde. A anciã senhora levou Alfonso consigo, sorrindo.

- Alfonso! - exclamou.

Tentou levantar-se e segui-los. Mas a senhora McGinty lhe deixou em


troca o edredom que lhe tinha prometido e os dois desapareceram diante
de seus olhos.

Então despertou. Piscou ante a forte luz do sol que atravessava as


cortinas e descobriu que estava completamente enrolada em seu
edredom. Certamente, tinha sido um sonho bastante raro. Atirou o
cabelo para trás, ainda sonolenta e confusa, surpreendida ao descobrir
que estava só na cama. Além disso, devia ter despertado no carpete,
frente à lareira e com Alfonso.

- Alfonso? - perguntou em um suspiro.


Ninguém respondeu. O piso estava tão silencioso que pôde escutar o tic
tac do despertador quando marcou o seguinte minuto. Faltavam 15
minutos para o meio-dia.
Quase meio-dia. Deveria ter despertado muito antes para dar de comer à
gata. As máquinas de limpar neve já teriam cuidado das estradas. E atrás
delas chegariam os caminhões, os veículos privados e os táxis.

De repente, ficou gelada ao pensá-lo.

- Alfonso?

Esta vez o chamou em voz mais alta. Não recebeu nenhuma resposta e se
sentiu insegura. Levantou-se da cama com tanta rapidez que esteve a
ponto de cair. Agarrou o roupão e o colocou, amarrou o cinto e desceu as
escadas.
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A metade de caminho parou para olhar a sala. Ainda permaneciam os
rescaldos na lareira, como uma lembrança do romântico interlúdio que
tinha compartilhado com Alfonso. Tanto as mantas como os lençóis que
lhe tinha deixado para que dormisse estavam perfeitamente dobrados em
cima do sofá. E sua parka tinha desaparecido.
Uma intensa sensação de vazio se apoderou de seu estômago.

- Alfonso! - gritou.

Terminou de descer e se dirigiu para a cozinha. Abriu a porta de repente


e quase atingiu Alfonso na cabeça.

- Mas o que...?

Alfonso pulou para trás, deixando cair a metade das achas de madeira
que tinha pego para substituir aos que havia na gaveta de ferro. Com
aquele rosto duro, o cabelo caindo sobre a face, e a parka molhada e fria
parecia uma espécie de mineiro. E entretanto, ninguém lhe teria parecido
tão atrativo naquele momento. Teve que resistir para não atirar-se a seu
pescoço. Recuperando o equilíbrio, deixou os troncos na gaveta e a
olhou preocupado.

- Anahí? Estás bem? O que aconteceu?

Anahí o olhou nos olhos e tentou encontrar uma resposta lógica. Mas
não tinha nenhuma.
- Pensei que tinha te trocado por um edredom.

- Como? - perguntou, levantando uma sobrancelha como se duvidasse de


sua sanidade.

Anahí ruborizou, sentindo-se tola.

- Não, nada, era um sonho.

- Pois deve ser verdadeiramente raro sonhares.

- Sim, que o foi - disse, sorrindo.

Nem sequer se tinha imaginado que tinha sonhado com ele, nem que se
despertou aterrorizada ao acreditar que tinha ido embora sem despedir-se
dela.

Não tinha razão para sentir-se tão triste. Desde não ter estado meio
sonolenta, jamais teria reagido daquele modo. Apesar do que tinha
ocorrido entre eles na noite anterior, apenas o conhecia. Era virtualmente
um estranho. Embora um estranho que tinha bebido vinho com ela,
compartilhando confidências e lhe feito amor apaixonada e
delicadamente. Tinha sido algo mágico. Mas por alguma razão tudo
parecia diferente à luz do sol que atravessava as janelas da cozinha.
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Inclusive Alfonso tinha um aspecto diferente. Seus olhos pareciam sorrir
ao vê-la, mas havia um resquício de preocupação neles. Ou talvez fora
porque se sentira muito exposta. Ele estava vestido e ela meio nua.
Apertou o cinto do roupão com mais força e evitou fitar-lhe os olhos. Ele
se inclinou para recolher os troncos que tinha deixado cair.

- Meu Deus, é tão tarde... é quase meio-dia. Devia ter despertado mais
cedo - disse, com nervosismo, arrumando o cabelo.

- Não tem importância. Estavas muito cansada, de modo que fui ver
como se encontravam as estradas. Pode-se circular por elas
perfeitamente. A neve se derreteu.

- Perfeito - disse, embora em um tom não precisamente alegre -. Temos


que fazer algo com os nossos carros.

- Já o fiz - disse, esfregando-as mãos -. Falei por telefone com a oficina.


Um guincho rebocará o meu. Quanto ao teu, pedi emprestado gasolina o
suficiente para que possa andar durante um bom trecho. Está estacionado
em frente a sua casa.

- Obrigado, mas não era necessário que o fizesse, nem que se


preocupasse por...

Sua voz se apagou assim que se deu conta de tudo o que ele tinha feito
enquanto ela ormia.

Capeta estava deitada em seu caminha, devorando uma prato de atum.


Aquilo explicava porque não subiu em sua cama pedindo comida pela
manhã. Não se tinha dado conta até então, mas toda a cozinha estava
imaculadamente limpa. Era a primeira vez que a via assim em semanas.
Inclusive tinha esquecido da cor que tinha os ladrilhos.

- Alfonso! Deu que comer ao gato e limpaste os pratos...

- Não se preocupe, não quebrei nada.

- Não queria dizer isso. Mas não deveria se incomodar.

Ao dar-se conta do muito que tinha feito por ela, se ruborizou. Fazia
amor apaixonadamente, tinha conseguido que relaxasse, e que se
esquecesse de seu trabalho, de suas amargas lembranças, e de tudo
aquilo que não fora o simples prazer que existia entre um homem e uma
mulher.

- Não deveria havê-lo feito.


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- Não tinha outra coisa a fazer. Não conseguia dormir, de modo que
limpei os pratos. Não me custava nada.

Realmente, não eram muitos. Não tinha razão para sentir-se tão
incômoda ante seu cavalheirismo.

- Não estou acostumada a convidar a alguém a minha casa e que me


tratem deste modo.

- Cuidar de gente é uma das coisas que melhor sei fazer. A maior parte
das mulheres gosta muito.

Anahí podia compreendê-lo. Mas tinha medo de deixar que ele a


seduzisse em tantos aspectos positivos.
- Sinto muito - continuou ele -. Se tivesse sabido que ia ofender-te, não
teria lavado os pratos.

- Não tem nada a ver com isso. Tem a ver com ontem à noite.

- A que se refere?

- A que provavelmente não deveríamos deixar que ocorresse nada.

Alfonso permaneceu em silencio durante uns segundos e logo disse:

- Não, provavelmente não, mas ocorreu. Não tem sentido nos


arrependermos agora.

Anahí quis lhe dar uma explicação. Mas tentava explicar-se mais para si
mesmo que para ele.

- Minha vida é muito complicada agora. Não estou preparada para


manter uma relação séria com ninguém.

- Compreendo-a. Eu tampouco tenho vontades de comprar alianças.


Anahí se obrigou a sorrir, aliviada pela decisão que havia tomado. Ao
menos, acreditava estar aliviada.

- Bem, alegra-me ter esclarecido as coisas. Gostaria de tomar o café da


manhã?

- Oh, não, obrigado - disse, metendo as mãos nos bolsos -. Acredito que
será melhor que me vá. Encontrei um de seus vizinhos no
estacionamento. Prometeu uma carona até a oficina.

- Poderia te levar eu mesma...

- Não. Nem sequer está vestida.

Afastou-se dela imediatamente. Anahí se sentiu horrorizada ao sentir que


Alfonso estava a ponto de ir embora.

- Espera...

Alfonso estava já a meio caminho da porta da cozinha. Ao deter-se,


Anahí notou que suas bochechas se avermelhavam ainda mais.

- Não nos damos a mão, ou algo assim? Podemos ser amigos, ao menos.
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Aquilo soou estúpido inclusive a ela mesma.

- Nunca seremos exatamente amigos. Só sou o cara que você ganhou


ontem em uma rifa, recorda?

Mas a acariciou, e ao fazer soube que tinha cometido um engano. A


maciez de sua pele lhe recordou o difícil que tinha sido não beijá-la
quando apareceu na cozinha. Estava linda pela manhã, após uma noite
de sono tranqüilo e o cabelo revolto. Sabia que despedir-se dela não ia
ser fácil, mas não esperava que fosse tão embaraçoso.

Ponderou consigo que teria sido melhor ter ido embora a noite passada,
evitando a ambos aquele momento. Se fosse um cavalheiro, o teria feito.
Perguntou-se o que faria Anahí quando ele partisse. Provavelmente
voltaria para seu trabalho, comeria um pouco mais de comida gordurosa
e calórica e trabalharia em algumas estatísticas aborrecidas até que
voltasse a sentir-se tão tensa como antes, arruinando a formosa
expressão de sua boca. Não sabia por que se preocupava tanto com ela.
Suspirando, largou sua mão da sua.
- Se cuida - disse, beijando-a brevemente. Depois deu a volta e partiu.

Capeta se moveu imediatamente. Sempre que se abria a porta, tentava


sair disparada à rua a procurar o seu gato. Nem sequer se importava a
neve. Anahí ainda estava algo assombrada por seu beijo, mas conseguiu
evitar que o animal escapasse.

Agarrou Capeta em seus braços e de repente pensou que não tinha falado
com o Alfonso a respeito do que ia fazer com seu prêmio. Saiu para
chamá-lo, mas já não o encontrou.

Naquelas circunstâncias, certamente não esperaria que aparecesse em


sua academia. Uma manhã tinha sido suficientemente difícil. Todo um
mês com ele poderia converter-se em algo insuportável, tendo-o como
preparador e tentando esquecer a noite que passaram juntos, resistir à
tentação de fazer amor com ele novamente. Não, era uma possibilidade
que nem sequer podia considerar.Fechou a porta e acariciou à gata com
o queixo. De repente, sua casa lhe parecia terrivelmente vazia e
silenciosa.

- Isto é ridículo - murmurou ao ouvido do gato -. Afinal, só o conheço


desde ontem à noite. Isso irá passar em alguns dias.

Mas quando Capeta começou a miar, Anahí sentiu vontade de unir-se a


ela.
CAPÍTULO 6

Anahí colocou o capacete na cabeça. Não era o mais adequado como


complemento para seu traje de jaqueta, mas era necessário se queria
entrar na fábrica da Play Tyme. Se afastou de um montão de faíscas que
saíam das laterais das máquinas e fez algumas anotações. O ruído que
havia na fábrica aquela segunda-feira era insuportável, mas não evitou
que pudesse escutar perfeitamente certos comentários.

- Que tal seus bíceps, Annie?

- E aí, Puente! Já é de aço?

- Annie! Deveria ver o concurso desta noite. O prêmio é outro cara


esportista!

Anahí sorria. Depois de ter ganho Alfonso como prêmio, esperava que
acontecesse aquilo. Mas estava segura de que não duraria muito tempo.
Enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta e tirou as partes do cartão que
Alfonso lhe tinha dado. Só tinha que ceder o prêmio a outra pessoa.
Pensou ao menos em uma dúzia de pessoas que poderiam estar
interessadas em frequentar sua academia, mas sempre tinha alguma
objeção. O certo era que era mais complicado afastar-se de Alfonso do
que trocá-lo por um edredom.

- Tome cuidado, Puente.

A voz fez que se esquecesse de seus pensamentos. Esteve a ponto de


transpassar a zona de segurança, pela terceira vez aquela manhã. Sabia
de sobra que a falta de concentração era em muitos casos causadora dos
acidentes, mas não se sentia capaz de concentrar-se em nada.
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Suspirou, pôs a pasta sob o braço e voltou para complexo de escritórios.
Estava cansada, embora não sabia por que. Certamente, não tinha
passado todo o fim de semana trabalhando. Era incrível quanta energia
podia perder uma mulher depois de ter estado com um homem. Mas se
negava a admitir o que tinha feito dizendo-se que só tinha conseguido
tirá-la um pouco do sério.

Até que o conheceu não se deu conta do quão solitária que estava. Era
muito ocupada com seu trabalho para reparar que nem sequer tinha
amigos no Quad Cities. Só conhecidos.
Não estava acostumada à solidão, depois de ter crescido em uma casa
cheia de irmãos, amigos, e um pai e uma mãe sempre dispostos a
convidar alguém. A metade da vizinhança se criou em sua casa.

O terrível vazio em que ficou seu apartamento depois da partida de


Alfonso lhe fez sentir falta de seu lar. Pensou na possibilidade de
telefonar para seus pais, mas sua mãe sempre sabia quando lhe ocorria
algo e seu pai se preocupava com ela. Tinha medo de que não
acreditassem em seu discurso a respeito do muito que gostava de seu
trabalho e o quanto bem se sentia morando naquela cidade.

De modo que optou por ligar para uma velha amiga do colégio. Carla
estava trabalhando em Nova Iorque como agente literária. Adorou saber
notícias de Anahí. Em pouco tempo começaram a fofocar e a rir juntas
como nos velhos tempos. De quebra, contou-lhe sobre Alfonso Herrera.

Falou dele com tanto entusiasmo, que Carla exclamou:

- Tem o corpo do Davi, de Michelângelo, uns olhos mel escuros ardentes


e perigosos, é divertido e delicado e sabe arrumar a casa? Já o pediu em
casamento?

- Só o conheço de um dia - protestou.


- Bom, às vezes é o bastante.

- Acredito que temos que nos conhecermos um pouco mais. Ao menos,


uma semana.

- Legal, Puente. Você continua a mesma. Necessita de sete anos para


começar algo sério com um homem. Me dê seu número de telefone e eu
o pedirei em casamento!.
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Anahí riu, mas a brincadeira de sua amiga permaneceu em sua memória
muito tempo depois que desligou o telefone. Carla sempre tinha sido a
romântica, a atrevida. Anahí sempre tinha sido muito pragmática em
suas relações com os homens. Apaixonar-se podia chegar a ser algo
ineficaz, incômodo. Logo teria tempo para isso no futuro.

Mas uma voz em seu interior perguntou quando. Talvez quando tivesse
sessenta anos e se aposentasse? Despertaria uma manhã e descobriria
que tinha perdido toda sua vida?

- Fim do trajeto.
Anahí se assustou ao ouvir aquela voz, que lembrava muito Alfonso.
Mas só era uma gravação. O transporte interno se deteve frente ao
terminal do edifício principal, e o motorista estava esperando que
saltasse para continuar com sua viagem.

Incômoda por estar sempre pensando no Alfonso, levantou-se de seu


assento. O Mini-trem se afastou e ela se dirigiu para o escritório.

Certamente não esqueceria dele. Tinha-a impressionado, e só em umas


horas. Tinha conseguido que sorrisse, que relaxasse. Mas não teria feito
amor com ele se não ficassem presos por aquela tormenta de neve e se
sua vida inteira não estivesse fora de controle.

Talvez tivesse razão. Talvez precisasse trabalhar com mais calma e


cuidar um pouco mais de si. Por isso tinha trazido sua roupa esportiva,
disposta a utilizar as novas instalações de ginástica da empresa,
desenhadas pelo Alfonso. Estava agradecida por seu conselho. Tentava
convencer-se de que isso era tudo. Mas recordava perfeitamente aquela
noite do sábado, enquanto o abraçava e sentia seu peito nu, ou a maneira
que ele tinha de beijá-la.

Não, tinha que manter o controle sobre as coisas. De modo que tentou
animar-se enquanto se dirigia ao edifício de escritórios. Como sempre, o
departamento de engenharia estava quase vazio. A única pessoa que
estava habitualmente era Rosemary Peters, a elegante loira que no
momento, estava inclinada à mesa de Anahí.
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Nunca se dera bem com a secretária, mas ao vê-la fez um esforço para
sorrir.

- Posso te ajudar em algo, Rosemary?

Rosemary a olhou com a mesma expressão de desaprovação que sempre


guardava para ela.

- Oh, não. Só estava admirando essas obras de arte.

Anahí não soube a que se referia até que viu que tinham colocado um
montão de fotografias coloridas de fisioculturistas, em poses variadas,
no interior de seu escritório.
Havia uma nota do Marty Fremont sobre uma delas.

- Annie, se as coisas não forem bem com o Herrera basta procurar um


destes.
Anahí recolheu as fotografias e as guardou em uma pasta para devolver
ao Marty, aborrecida.

- Quer algo mais? – perguntou -. Esta manhã estou muito ocupada.

- Já vejo. Tão ocupada que não pôde assistir à uma importante reunião?

- Que reunião?

- A reunião de emergência que estava programada para esta manhã às


dez.

- Como?

De repente entrou em pânico. Tudo estava em silêncio porque não havia


ninguém mais no andar.

- Malditos sejam! Por que ninguém me avisou?

- Suponho que não estava em seu escritório quando o disseram - disse,


encolhendo os ombros e retornando à sua mesa.
A velha sensação retornou ao estômago de Anahí. Um simples olhar a
seu relógio bastou para que se desse conta de que eram quase dez e
meia. Anahí agarrou sua pasta de notas e se dirigiu ao elevador.
Rosemary ainda teve tempo de lhe informar que a reunião tinha trocado
de lugar e se celebrava na sala da diretoria.

Chegaria com meia hora de atraso. Deu um tapa no painel do elevador,


como para que fosse mais rápido. Quando as portas se abriram, disparou
corredor abaixo, quase deixando cair a pasta enquanto arrumava o
cabelo. Ofegante, entrou na sala.
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Marci. .
Marci. . - 03/06/2009
De repente se perguntou por que realizaram a reunião ali, quando
geralmente o faziam na cafeteria. Tudo estava em silêncio dentro da
sala. As paredes eram cobertas de painéis e o chão tinha um carpete de
cor azul escura. Pôde notar a tensão inclusive
antes de entrar.

Ao redor da mesa de carvalho polida estava toda a equipe. Engenheiros,


contadores, vendedores, sentados como crianças prestes a receberem
castigos. Seu chefe, Kuno Becker, estava sentado na fila da esquerda,
bem no meio. Parecia tão preocupado quanto os demais.
A pessoa que estava na cabeceira da mesa se encontrava de costas a ela,
olhando pelas janelas. Não podia ver seu perfil. Só via uns dedos largos
e delicados que descansavam no braço da poltrona, com um anel de
ouro. Seu coração deu um salto. Aquilo ia ser pior do que tinha pensado.
Já era bastante ruim chegar atrasada a uma reunião, ainda mais estando
presente o gerente da empresa.

O homem voltou-se e a viu. Não era o gerente. Era o próprio dono. Diaz.
Aaron Diaz. O multimilionário, o magnata.

Anahí reconheceu seu rosto imediatamente, exatamente da mesma forma


em que uma criança teria identificado a seu esportista favorito.
Freqüentemente aparecia nas capas de revistas e em de programas de
televisão. Mais do que o próprio presidente dos Estados Unidos. E tinha
uma presença mais arrogante e segura que a do chefe de estado. Vestido
com um traje cinza escuro e perfeitamente penteado, irradiava o poder
de um grande felino. E seu olhar de predador se cravou nela. Notou que
lhe dobravam os
joelhos.

- Ocorre algo, senhorita? - perguntou Diaz -. Ou errou de escritório?

Sua pergunta fez que os presentes a olhassem. Antes de que pudesse


responder, Kuno Becker ficou de pé. Conseguiu olhá-la e sorrir a Diaz
ao mesmo tempo.

- É a senhora Puente, engenheira.

- Senhorita - corrigiu Anahí.

- Bom, senhorita Puente - continuou Diaz -. Alegra-me que se junte a


nós.
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Marci. .
Marci. . - 03/06/2009
Fechou a porta e disse:

- Sinto chegar tarde. Não me tinham informado...

- Já sabe como são as mulheres - interrompeu-a Kuno -. Provavelmente


teria que empoar o nariz, retocar o batom, enquanto nós estamos
trabalhando.

- Eu imagino - comentou Diaz olhando com desdém sua jaqueta


amassada.
Becker apertou o laço da gravata, nervoso. Anahí se sentia envergonhada
e furiosa. Mas qualquer comentário que fizesse para defender-se só
conseguiria piorar as coisas.

Diaz lhe fez um gesto com a mão para que se sentasse, e Anahí
obedeceu. Kuno lhe ofereceu uma cadeira como cortesia, um gesto que
ela odiava. Afastou-se dele e agarrou a folha informativa sobre a
reunião. Era evidente que a maior parte dela corria a cargo do próprio
Diaz e a julgar pelos rostos dos assistentes não parecia muito prazerosa.

- Meu sucesso se deve a que me ocupo pessoalmente de minhas


empresas. Quase todas estão no este. Esta é minha primeira aventura no
meio oeste, meu primeiro investimento industrial. E até o momento não
gostei do que vi.

Seu tom era suave, mas dava a impressão de que era melhor não discutir
com ele. Seria melhor enfrentar-se com um tigre faminto. O gerente da
empresa, que estava sentado a sua direita, arqueou uma sobrancelha.

- Os benefícios baixaram o ano passado, senhor Diaz. Mas tenho toda a


equipe trabalhando nisso, especialmente o departamento de engenharia.

- Sim, senhor - acrescentou Kuno -. Estamos estudando os projetos de


possíveis métodos para aumentar a produção. De fato, espero um
relatório completo hoje mesmo.

Anahí levou uma mão instintivamente à sua pasta, cheia das sugestões
que Becker tinha estado desprezando durante os últimos meses. Aquela
era sua oportunidade. Mas não se sentia capaz de falar. Cabia a
possibilidade de que se confundisse e cometesse um terrível engano.
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Marci. . - 03/06/2009
- Quero ver funcionando imediatamente – disse -. Eu não gosto de
perder dinheiro, senhor Becker. Se quisesse dedicá-lo a obras benéficas
teria comprado uma igreja, e não uma fábrica.

Becker assentiu e lhe assegurou que se faria como dissesse.

Anahí tentava encontrar forças para falar. Mas sua confiança parecia ter
desaparecido em alguma parte. Quase podia escutar a seus irmãos, lhe
dizendo:

- Não seja medrosa, te atreva.

A reunião estava a ponto de terminar. O coração lhe batia a toda


velocidade, mas ficou em pé e disse:

- Senhor Diaz.

Seus olhos verdes a observaram. Anahí limpou a garganta e abriu a


pasta.

- Precisamente tenho aqui os resultados de uma investigação que estive


levando a cabo. Acredito ter encontrado alguns problemas que...

De repente se deteve, horrorizada. Na pressa de comparecer à reunião,


ela pegou a pasta errada. Estava a ponto de oferecer o montão de
fotografias de fisioculturistas que tinham deixado em seu escritório.

Anahí tentou fechar a pasta, mas só conseguiu que as fotografias caíssem


sobre a mesa. Uma delas acabou diante do próprio Diaz. Depois de um
momento de susto, uma gargalhada unânime explodiu na sala. Anahí
teria preferido desaparecer instantâneamente.

Diaz examinou a fotografia com um sorriso irônico, levantando uma


sobrancelha.

- E isto que é, senhorita Puente? Uma sugestão para que troquemos os


trajes da companhia?

- Não - acertou a dizer -. Enganei-me de pasta...

Kuno Becker interveio então.

- A senhorita Puente parece algo distraída esta manhã.

Diaz olhou a fotografia e comentou:

- Sugiro que se concentre em algo mais importante, senhorita Puente -


disse, lhe devolvendo a fotografia.

Anahí tentou dar alguma desculpa, encontrar alguma forma para


recuperar-se de tamanha humilhação, mas só foi capaz de dizer:

- Sim, senhor.
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Guardou as fotografias em sua pasta e desabou na cadeira, com aquela
horrível sensação na boca do estômago. Apenas se deu conta de que
Diaz estava olhando seu relógio.

- A reunião terminou. Tenho um almoço de negócios e logo tenho que


pegar um avião. Mas espero que tenham algumas respostas quando
retornar aqui no mês que vem. E lembrem-se: Não estou acostumado a
fracassar.

Todos se levantaram. A ironia foi que Kuno Becker lhe deu um tapinha
no ombro ao passar, aumentando sua sensação de derrota. Ficou sentada
só na sala muito tempo depois que todos saíram. As palavras de Diaz
ainda permaneciam em sua memória, como um eco.

«Não estou acostumado a fracassar».

Sabia exatamente a que se referia. Fracassos como Anahí Giovana


Puente.

Apertando os dentes conseguiu levantar os pesos até os ombros, até que


os braços começaram a tremer pelo esforço. Sua roupa esportiva de cor
azul estava empapada de suor e o rosto estava avermelhado.

Terminou por largar os pesos. Igual a sua vida, também aquilo tinha sido
um fracasso. Não lhe interessava outra coisa. Não podia tirar da cabeça a
cena da sala da reunião, nem deixava de pensar no que poderia ter feito
se houvesse dito as coisas de maneira diferente. Se tivesse trabalhado no
domingo estaria preparada. Se comparecesse ao seu escritório, teria
ordenados seus documentos como o resto dos engenheiros. E ao fim
chegou à ridícula conclusão de que se não tivesse dormido aquela noite
com Alfonso Herrera teria prestado mais atenção ao seu trabalho.

Mas pensasse o que pensasse, nada ia mudar. Teve uma oportunidade de


ouro e a desperdiçou. Queria dar golpes contra a parede, frustrada e com
um profundo sentimento de impotência. Mas em lugar disso fechou os
olhos e seguiu levantando os pesos até lhe doerem os músculos. Seus
braços estavam tremendo pelo esforço. E naquele instante uma mão se
fechou sobre a sua.

Abriu os olhos. Frente a ela estava a última pessoa que esperava ver.

- Alfonso!
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Guardou as fotografias em sua pasta e desabou na cadeira, com aquela
horrível sensação na boca do estômago. Apenas se deu conta de que
Diaz estava olhando seu relógio.
- A reunião terminou. Tenho um almoço de negócios e logo tenho que
pegar um avião. Mas espero que tenham algumas respostas quando
retornar aqui no mês que vem. E lembrem-se: Não estou acostumado a
fracassar.

Todos se levantaram. A ironia foi que Kuno Becker lhe deu um tapinha
no ombro ao passar, aumentando sua sensação de derrota. Ficou sentada
só na sala muito tempo depois que todos saíram. As palavras de Diaz
ainda permaneciam em sua memória, como um eco.

«Não estou acostumado a fracassar».

Sabia exatamente a que se referia. Fracassos como Anahí Giovana


Puente.

Apertando os dentes conseguiu levantar os pesos até os ombros, até que


os braços começaram a tremer pelo esforço. Sua roupa esportiva de cor
azul estava empapada de suor e o rosto estava avermelhado.

Terminou por largar os pesos. Igual a sua vida, também aquilo tinha sido
um fracasso. Não lhe interessava outra coisa. Não podia tirar da cabeça a
cena da sala da reunião, nem deixava de pensar no que poderia ter feito
se houvesse dito as coisas de maneira diferente. Se tivesse trabalhado no
domingo estaria preparada. Se comparecesse ao seu escritório, teria
ordenados seus documentos como o resto dos engenheiros. E ao fim
chegou à ridícula conclusão de que se não tivesse dormido aquela noite
com Alfonso
Herrera teria prestado mais atenção ao seu trabalho.

Mas pensasse o que pensasse, nada ia mudar. Teve uma oportunidade de


ouro e a desperdiçou. Queria dar golpes contra a parede, frustrada e com
um profundo sentimento de impotência. Mas em lugar disso fechou os
olhos e seguiu levantando os pesos até lhe doerem os músculos. Seus
braços estavam tremendo pelo esforço. E naquele instante uma mão se
fechou sobre a sua.

Abriu os olhos. Frente a ela estava a última pessoa que esperava ver.

- Alfonso!
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Estava em frente a ela, impedindo que levantasse os pesos. E não lhe
custou muito. Seu coração batia a toda velocidade, e embora não
estivesse esgotada, o simples fato de tocá-la teria bastado para que lhe
bambeassem as pernas. Não pôde evitar sentir-se alegre, eufórica, como
se não o visse há anos.
- Alfonso - sussurrou, sorrindo.

Alfonso não lhe devolveu o sorriso. Limitou-se a olhá-la com seriedade.

- Que demônios está fazendo?

- Exercício.

- É assim que o chama? Pensei que estava tentando deslocar os ombros.

- Disse-me que tinha que trabalhar um pouco minha postura.

- Disse-te que tinha que te cuidar um pouco, não que te matasse. Fez
alongamento antes?

- Fiz umas flexões de joelho - disse, zangada.

Com tudo o que tinha passado, não precisava discutir com Alfonso a
respeito de um assunto estúpido. Além disso, já lhe doíam bastante os
músculos.
- Não deveria ter feito com tanta raiva e velocidade – disse -. Quanto
tempo faz da última vez que fez exercício de verdade?

Sábado à noite, com você, em frente à minha lareira, pensou Anahí.

E por alguma razão, Alfonso pareceu adivinhar seus pensamentos.

- E antes disso? - acrescentou.

- Não sei.

De repente se sentia envergonhada. Acabava de se dar conta de que seu


aspecto devia ser lamentável. Estava suarenta e tinha o cabelo revolto.
Certamente sua face estava tão avermelhada como seu cabelo. Agarrou
uma toalha e se secou.

Alfonso estava com o cabelo preso com uma tira de couro, e


incrivelmente vestia um terno estilizado. Calças cinzas, uma camisa com
uma gravata e uma jaqueta escura. Perguntou-se onde teria encontrado
roupa do seu tamanho. Estava muito atraente, mas percebia-o
incomodado, como se uma simples flexão de seus braços fosse suficiente
para rasgá-lo todo.
- O que te traz aqui?

- Vim ver o chefe de pessoal. Ainda tenho que discutir alguns detalhes
da academia.

- Ah.Anahí se sentiu decepcionada. Esperava que o motivo de sua visita


fora visitá-la. Mas parecia que a despedida do dia anterior tinha sido o
final de sua relação.

Alfonso olhou o material que Anahí usara, para assegurar-se de que


estava em perfeito estado. Preferia fazê-lo a encarar a mulher que não
saía de sua cabeça. Estava despenteado o seu precioso cabelo e algumas
mechas caíam sobre a face. Era incapaz de deixar de olhar aqueles
lábios, a maneira que tinha de arquear-se ou os movimentos que
realizava enquanto se secava com a toalha. Estava com o pulôver do
moletom colado ao corpo como uma segunda pele.

Ficou tenso. Passara as últimas vinte e quatro horas tentando


convencer-se de que o que tinha ocorrido entre eles era só uma aventura.
Mas tinha se enganado. Desejava-a tanto que custou muito não
aproximar-se dela, abraçá-la e beijá-la como na primeira vez. Pensou
com ironia que a vida era mais simples na pré-história, quando um
homem não tinha problema em agarrar a mulher que desejasse e levar-la
para a sua caverna.
Desejava tirá-la dali. Estava de novo com aquele olhar de angústia. Ao
entrar no ginásio a observou com atenção, e não parecia estar fazendo
exercício, e sim exorcizando algum tipo de demônio. Era óbvio que não
ouvira seu conselho, quando lhe disse que devia cuidar-se um pouco
mais. Além disso, não parecia muito disposta a permitir que ele a
cuidasse. Mas não pôde evitar fazer um comentário.

- Não deveria fazer exercício dessa forma. Faz uns alongamentos para te
acalmar.

Anahí esfregou o nariz e encolheu os ombros.


- De acordo.

Deixou a toalha ao lado e começou a fazer exercícios de braços,


encolhendo-os e estirando-os.

Cada vez que se movia podia ver perfeitamente a silhueta de seus seios.
Alfonso suspirou. Talvez fora ele que precisasse tranqüilizar-se um
pouco.

- Só vieste para comprovar o estado dos equipamentos? Não parece estar


vestido para isso.
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
- Estive almoçando com um de seus chefes, de modo que pensei que
seria melhor vestir uma jaqueta.

Era mentira. Vestiu-se assim porque esperava encontrá-la, para


impressioná-la.

- Foste almoçar com o chefe da seção de pessoal? Pobrezinho - disse,


enquanto
tocava a ponta dos pés com ambas as mãos.

- Não. Estive almoçando com o dono.

Anahí se deteve e o olhou com assombro.

- Com o dono? Quer dizer...? Refere-se ao Diaz?

- Exato.

Ficou boquiaberta.
- Você foi a pessoa com a qual ele iria almoçar... meu deus, Alfonso,
tem idéia de quem é?

- Sim, claro.

- É um dos indivíduos mais ricos e poderosos do planeta.

- Pois come como todo mundo - disse, algo irritado.

Conhecia perfeitamente qual era a posição social de Aaron Diaz, mas


não compreendia por que Anahí se impressionava tanto. Ou
compreendia perfeitamente e se incomodava, sobretudo quando
lembrava de Aaron, atraente e bem vestido, como se acabasse de sair da
capa de alguma revista. O tipo de homem que agradaria a Anahí.

- E por que queria Diaz...?

- Ver um sujeito musculoso como eu?

- Não queria dizer isso. Mas do que tinham que falar? Não parece estar
muito interessado nos assuntos financeiros.

- Não, e seu amigo Diaz não sabe falar de outra coisa que não seja
negócios. Ficou impressionado com o programa que criei para melhorar
a forma física dos trabalhadores e reduzir com isso o custo com
acidentes trabalhistas e das licenças. Gosta de tirar o máximo proveito
do potencial de cada pessoa. Embora seria mais apropriado dizer que o
que gosta de é usar as pessoas em seu próprio benefício. Queria que eu
fosse ao este para desenvolver um programa similar em sua cadeia de
hotéis e cassinos, como assessor chefe.

- Alfonso, que incrível oportunidade...

- Já lhe disse que não.

- Não queres? - perguntou com incredulidade.


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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
- Eu gosto de ser meu próprio chefe, Anahí. Minha academia não é uma
empresa multimilionária, mas é minha. Não ambiciono possuir uma
estúpida posição social. Só serve para ter úlceras e passar a vida arrasado
com montões de papéis. Disse-lhe que não sou um homem ambicioso.

- Não, claro que não - disse ela.


Alfonso supôs que a tinha decepcionado. De repente se sentiu bastante
estúpido vestido com a jaqueta. Desfez o nó da gravata e a tirou,
dobrando-a e guardando-a no bolso. Era lógico que não podia competir
com Diaz, perante Anahí.

- Não posso acreditar. Estiveste com o Diaz durante toda uma hora.
Daria meu braço direito por poder ficar quinze minutos a sós com ele.

- Você e centenas de mulheres de todo o país.

- Não me referia a ter uma aventura com ele...

- Não tem que me dar explicações.

No final, o que havia entre eles era a noite que tinham feito amor,
apaixonada e desenfreadamente. Mas não disse nada. Na realidade os
dois sabiam que se tratava de algo mais profundo, algo que preferiam
evitar. Anahí desviou o olhar e se concentrou nos laços das sapatilhas.

- Só me referia que teria gostado de ter esta oportunidade - disse, com


olhos brilhantes -. Talvez ainda tenha uma oportunidade. Se tivesse
suficiente coragem agarraria minha pasta e iria vê-lo no hotel.
- Não! - exclamou Alfonso, tão surpreso por sua veemência como Anahí
-. Ele viajou. Um assunto de última hora o obrigou a antecipar seu vôo a
Nova Iorque.

Alfonso se alegrava muito disso, agora que sabia que tinha intenção de ir
ao hotel. Talvez não tivesse em mente uma aventura, mas não sabia
como poderia reagir Diaz se lhe apresentasse a oportunidade. Era tão
famoso na sedução como nos negócios.

Anahí deixou cair os ombros, entristecida.

- Está bem. - murmurou.

Atirou a toalha com força ao chão e logo levou a mão ao ombro,


gemendo.
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Alfonso esqueceu por completo a promessa que tinha feito de manter
distância e se aproximou em duas grandes passadas. Ela ainda não
trabalhara um dia inteiro e já parecia mais tensa que quando a conheceu.
Ela tentou afastar-se, mas ele a obrigou a permanecer quieta. Franziu o
cenho e examinou seu ombro com os dedos.

- Ai!

- Mas que demônios tem feito?

- Nada...

- Então, como é possível que esteja tão tensa?

- Porque tive uma manhã horrorosa. Só isso.

- Bom, me conte o que aconteceu.

- Não, não o entenderia.

- Tente.

Anahí fez um gesto negativo com a cabeça. Não gostava de chorar sobre
os ombros de outros, mesmo sendo um ombro tão tentador e poderoso
como o de Alfonso. De qualquer maneira, sabia que não compartilhava
de suas ambições. Mas a massagem que ele fazia a tranqüilizou. Sua
tensão desapareceu rapidamente e soltou um gemido de prazer. As mãos
de Alfonso eram mágicas. Seus olhos eram tão sensuais que em pouco
tempo se viu contando tudo o que tinha ocorrido, inclusive o acontecido
na sala de reunião.

- Esteve colecionando fotos de fisioculturistas?

- Não. Por que tenho que repetir isso a todo mundo? Não eram minhas!

- Bom, não seria tão terrível. Estou certo de que a metade dos homens
que estavam na reunião colecionam fotografias da Playboy.

- Mas não as atiram em cima de uma mesa de reunião. É tão pouco


profissional...

- Não é o fim do mundo.

- Não, mas sim o fim de minhas esperanças de impressionar Diaz.

Anahí se arrepiou quando Alfonso tocou a base de seu pescoço. Suas


mãos eram tão perigosamente sedutoras que Anahí pensou que deveria
ter uma permissão legal para as usar.

- Sinto-me uma completa fracassada. Tenho quase vinte e sete anos e


não sou mais que uma simples engenheira. Provavelmente nem sequer
serei promovida.

- Isto é tão importante para você? – murmurou -. Sonha em ter um


bonito escritório algum dia com suas iniciais gravadas na porta?
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Anahí sempre tinha pensado que o era, mas naquele instante, olhando
seus olhos, já não estava tão certa. Nem sequer se deu conta do momento
em que lhe tinha tirado o pulôver para lhe massagear as costas. Suas
mãos se moviam sobre seus ombros nus com um ritmo lento e sensual.
Sentiu uma onda de calor, como se estivesse a ponto de derreter-se.
Todos os músculos de seu corpo relaxaram em seus braços.

Subitamente Alfonso notou que algo tinha mexido com ela e começou a
tocá-la com mais ardor. Emocionado, inclinou-se sobre ela para beijá-la.

Anahí não protestou embora tivesse querido, pela posição em que se


encontravam. Beijou-a e ela devolveu seu beijo, apaixonada. Seu sutiã
esportivo baixou um pouco mais. Em pouco tempo estaria tocando seus
seios nus, e ela desejava que o fizesse, não podia esperar. Só um
resquício de sua razão lhe recordou como era fácil seduzí-la. Entretanto
foi suficiente para que resistisse, separando-se-se dele.

- Alfonso...

Seus olhos estavam cheios de desejo e a excitavam. Se a tivesse beijado


de novo apesar de seus protestos, teria se derretido literalmente,
esquecendo por completo quem era e onde se encontrava. No ginásio de
sua empresa. Em qualquer momento poderia aparecer qualquer de seus
companheiros. Não só podia fazer que o tempo se detivesse. Podia
conseguir que desaparecesse.

Mas Alfonso respirou profundamente e a soltou.

- Meus impulsos pré-históricos - explicou, sorrindo - parecem escapar do


meu controle sempre que estou perto de você. Sinto muito.

- Não por isso...

Anahí vestiu o pulôver. Deu-se conta de que estava tremendo, nem tanto
pela debilidade de seus músculos e sim pelo desejo que ardia em seu
interior.
Ambos se afastaram um pouco, tentando acalmarem-se. Alfonso enfiou
as mãos nos bolsos, como se fora o lugar mais seguro para as colocar.

- A próxima vez que fizer exercício escolha pesos mais leves. E


alongue-se antes.
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- Obrigado pelo conselho. Sobretudo que vem de um homem que sempre
faz o possível para acelerar meus batimentos cardíacos.

- Se quer fazer esporte de verdade, usa o cartão que te dei. Refiro-me ao


prêmio que ganhou - explicou, ante seu olhar atônito.

- Ah - disse, ruborizando-se -. Sim, claro, mas nas atuais circunstâncias


não acredito que seja muito seguro freqüentar sua academia.

- Ora, mantenho em perfeito segurança todos os equipamentos.

- Isso não é o que queria dizer, e sabe muito bem. Refiro-me a isto tão
peculiar que ocorre entre nós.
- Peculiar? Ah sim, que um homem e uma mulher se atraiam e se
desejem. Sim, suponho que é bastante estranho.

- Sim, principalmente para duas pessoas que já decidiram que não


querem manter nenhuma relação.

- Muito bem. Não direi mais nada - disse, fazendo um gesto zangado -.
Tinha esquecido que é uma profissional muito ocupada. De todas
formas, nunca acreditei que fosse passar um mês inteiro em minha
academia.

Anahí estava disposta a lhe pedir desculpas de novo por não querer seu
prêmio e inclusive a lhe dar explicações. Mas em lugar disso franziu o
cenho.

- O que quer dizer com isso?

Alfonso encolheu os ombros.

- É melhor encarar a verdade. Fazer exercício a sério em minha


academia é muito diferente de dar voltas por um clube de campo ou
jogar uma partida em um campo de golfe e tomar depois um banho.
Anahí colocou as mãos na cintura.
- Está dizendo que não sou o suficientemente forte para sobreviver a seu
treinamento?

- Bom...

Algo em seu incrédulo tom de voz fez que Anahí se sentisse como
Capeta quando a acariciavam de forma que não gostava.

- Está me desafiando, Herrera? - perguntou com suavidade.

Seus olhares se encontraram e Alfonso sorriu.

- Sim, talvez o esteja fazendo. Além disso, se não se sentir a salvo


comigo, há mais preparadores físicos que podem ocupar-se de você.
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- Não quero outra pessoa. Quero que seja você!
Suas palavras os deixaram atônitos aos dois. Alfonso arqueou uma
sobrancelha.

Anahí tentou dar uma explicação, embora mais para si mesmo que para
ele.

- Quero que seja meu preparador, nada mais. Se for à sua academia, o
mínimo que exijo é receber o prêmio que ganhei. Afinal tive que pagar
por aquele bilhete.

- Anahí, quando o comprou não sabia me distinguir de um microondas.

Ela o observou, admirando seu corpo. Sua boca ainda molhada pelo
beijo que se deram.

- Agora posso. Mas espero que fique claro que nossa relação será
estritamente profissional, certo?

- Claro. O que acha que eu posso fazer? Possuí-la enquanto pedalas na


bicicleta ergométrica?

A idéia pareceu tão excitante a Anahí que teve que afastá-la da cabeça
fazendo um grande esforço e respirando profundamente.
- Estritamente profissional - insistiu, oferecendo a mão.

- Como quiser - disse, selando o trato com um aperto de mão.

Seu contato foi suficiente para que se estremecesse.


Estritamente profissional. Anahí se perguntou a quem ia ser mais difícil
manter o trato.
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CAPÍTULO 7
Anahí deu outra volta no cachecol ao redor do pescoço, para se defender
do frio vento de novembro. Havia montões de barro a ambos os lados da
rua, como aviso da tormenta de neve do sábado enquanto caminhava
pelo bairro do Rock Island, conhecido como O Distrito. Várias ruas
tinham sido fechadas ao tráfego, e estavam cheias de lojas, restaurantes,
escritórios e outros pequenos negócios. Quase todas as lojas fechavam às
cinco, mas um dos locais, situado em um edifício de tijolo de três
andares, tinha ainda as luzes acesas. Tratava-se da Academia Herrera.

Anahí começou a caminhar mais devagar. Depois de duvidá-lo durante


um instante, abriu a porta e entrou. Limpou os pés e deu uma olhada ao
redor. A sua direita havia um mostrador vazio e outra porta. A sua
esquerda um grande painel, que era o único a separá-la da academia.
Estava assombrada. Alfonso sempre dizia que em seu negócio não
faltava nada. Mas jamais tinha visto tantos equipamentos em sua vida.
Pesos, todo tipo de máquinas, bicicletas, e muitos outros tipos de objetos
para esporte desenhados para modelar o corpo humano de mil maneiras
diferentes.

- Isto não é uma academia – murmurou -. É uma câmara de torturas


medieval.

Havia meia dúzia de pessoas fazendo exercício, incluindo uma loira que
levantava pesos. Em sua opinião tinha um corpo bonito, embora talvez
um pouco musculosa. E logo viu os homens.

Moveu a cabeça com lentidão. Tinham-na desafiado a muitas coisas


ridículas em sua vida, mas aquela superava a todas as demais. Passar
todo um mês com Alfonso Herrera, um homem cuja habilidade para
desconcentrá-la funcionava assustadoramente, era o menos razoável que
poderia ter feito. Até considerou a possibilidade de partir. De fato, já
tinha dado um passo para trás, em direção à porta, quando se encostou a
um sólido peito masculino.

- Vai a algum lugar, senhorita Puente? - perguntou Alfonso.


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Anahí o olhou. Não sabia quando tinha chegado e temia que percebesse
sua reação inicial, de seu irresistível desejo de dar a volta e sair
correndo. Seus olhos brilhavam de maneira estranha.

Conteve a respiração e o observou. Só vestia shorts, uma camiseta e uma


toalha no pescoço. Parecia que acabara de fazer exercício. Tinha o
cabelo úmido e os braços brilhavam. Até o suor lhe ficava bem.

Suspirou profundamente. Mas não estava disposta a admitir seu


nervosismo.

- Estava observando, tentando te encontrar.

- Claro. E o que é isto? - disse, desenrolando o cachecol -. Um disfarce?

- Não. Faz frio lá fora, sabia?

- Ah, pensava que queria vir incógnita. Talvez tivesse medo de que
alguém pudesse ver que entrava - disse, baixando a voz até transformá-la
num sussurro melodramático. - Imagine... Entrar em um ginásio cheio de
halterofilistas.

- Todo mundo em meu trabalho sabe, e não tenho que guardar segredos a
ninguém mais, exceto à senhora McGinty. Desde sábado passado não
deixou de me fazer perguntas sobre você, e suponho que nós estamos de
acordo em que não queremos que ninguém pense que há algo sério entre
nós.

Alfonso a olhou com olhos penetrantes e tristes ao tempo.

- Oh, não, claro. Não podemos permitir que alguém possa pensar algo
assim.

Um pesado silêncio encheu a sala.

Anahí estava nervosa e não sabia o que fazer, de modo que deixou sua
bolsa de esporte no mostrador e desabotoou o abrigo. Alfonso se
endireitou e se aproximou para ajudá-la.

Anahí o olhou enquanto o fazia.

- Oferece este serviço a todas as pessoas que vêm aqui?


- Não. Só aos que cheiram a perfume francês.

Anahí agarrou seu abrigo.

- Bom. Não quero que tenha nenhuma consideração especial comigo só


porque sou uma mulher.

- Magnífico. Não se preocupe, não a terei. E lhe advirto isso. É possível


que no passado fora verdadeiramente Atila.

- Posso enfrentar isso.


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- Muito bem. Nesse caso vá ao vestuário e tire a roupa.

- Como?

- Vá trocar de roupa -disse Alfonso, sorrindo e lhe dando sua bolsa.


Anahí o olhou. Enxergar duplo sentido em tudo o que dizia não era um
bom começo para sua pretensão de manter uma relação estritamente
profissional com ele.

Alfonso lhe indicou o caminho ao vestuário de mulheres e ela partiu sem


dizer uma palavra. Enquanto admirava seu corpo ao partir, seu sorriso
desapareceu. Tentava convencer-se que havia dito que fora à academia
só por uma questão de negócios. Mas não era tão tolo para não dar-se
conta de que a razão era outra, muito distinta.

Queria vê-la de novo, por mais idiota que parecesse. Apesar do ocorrido
na sábado, parecia que há anos não se viam. Tinha sido um acidente,
uma casualidade, o resultado de uma rifa e de uma tormenta de neve.

Em outras circunstâncias, Anahí nunca teria dado a ele uma segunda


oportunidade. Era brilhante, atraente e educada. Quando dizia que ela
era um fracasso estava deixando-o ainda abaixo de seu nível. Em lugar
de ter vários títulos pendurados nas paredes tinha o calendário de um
banco. Não tinha nada salvo a academia e uma velha caminhonete
estacionada ao lado.

O negócio ia bem. Ao menos rendia o suficiente para pagar as faturas.


Mas a expressão de Anahí ao entrar não lhe tinha escapado. Estava
orgulhoso de seu local, embora não fosse um clube para senhoras. Não
havia banheiras com hidromassagens, nem espreguiçadeiras, nem um bar
para encontros sociais. Tinha ouvido ela dizer que era como uma câmara
de tortura medieval. E tinha a impressão de que o único atormentado ia
ser ele.

Devia estar louco ao pensar que poderia ser o preparador de uma mulher
que o excitava constantemente. Seu aroma enchia todo o ar, fazendo que
recordasse a noite que tinha sido dela, apaixonadamente dela.O simples
fato de pensar nisso despertava seu desejo. Não era o mais apropriado
naquele momento. A idéia consistia em ajudar a Anahí a livrar-se de seu
estresse, não a intranqüilizá-la ainda mais. Era um perfeito idiota. Se
tivesse um mínimo de senso comum teria insistido em que se exercitasse
com outro dos preparadores. Mas então recordou a expressão teimosa de
Anahí e as palavras que havia dito no dia anterior quando sugeriu aquela
possibilidade:

-Não quero a ninguém mais. Quero que seja você.

Tomara que tenha sido o mais certo.

Durante as duas semanas que seguiram à visita do Diaz, Anahí notou


que a atmosfera de seu trabalho se rarefez. especulava-se que tomariam
decisões importantes e que demitiriam um montão de cabeças. E tinha a
impressão de que só por ter deixado cair aquelas fotografias uma dessas
cabeças ia ser a sua.Trabalhava tanto que sempre chegava tarde a seus
treinamentos com Alfonso. Mas arrumava um jeito de sempre
comparecer.
Até a noite da quarta-feira.

A academia estava fechada. Olhou seu relógio, incapaz de acreditar que


fosse tão tarde. Alfonso nunca fechava antes das nove. Mas seu relógio
parou. Uma das muitas coisas que tinha que fazer era trocar a bateria e
não tinha idéia de que hora podia ser.

Olhou para o interior, espantada em o quanto decepcionada e frustrada


que se sentia. Começava a gostar de muito da tabela de exercícios que
Alfonso tinha preparado para ela, e tinha que admitir que se preocupava
muito mais com seu corpo do que se preocupou em toda sua vida.

Mas por outro lado se sentia aliviada de poder escapar embora só fosse
por uma noite, de um lugar tão físico. Eufemismo que escondia a
verdadeira razão, a de escapar de Alfonso. Depois de um longo dia de
trabalho, tratando com administrativos e suportando todas as negativas
do Kuno Becker cada vez que lhe apresentava um projeto para reduzir
gastos, Alfonso era uma espécie de baluarte forte, seguro, divertido e
com tal força interior que o invejava.
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Aproximou-se da vidraça da porta da academia, colando seu nariz nela
como uma criança gulosa olhando doces em uma vitrine. Afastou-se,
sentindo-se completamente estúpida. Embora o primeiro andar estivesse
às escuras, podia ver que havia luz no segundo. Era a casa de Alfonso.
Nunca a tinha convidado a entrar.

Pendurou a bolsa de esporte ao ombro e suspirou. Durante as duas


últimas semanas tinha aprendido a respeitá-lo, a apreciar a disciplina que
era necessária para manter um corpo como o que ele tinha. O ruim é que
usava a mesma disciplina com ela.

Mas tinha que recordar uma e outra vez que tinha sido ela que tinha
insistido em manter uma relação estritamente profissional. Alfonso se
limitou a aceitar. Tratava-a com tal cortesia que às vezes queria gritar.
Era o preparador perfeito. Pormenorizado, duro, paciente e sempre
disposto a animá-la. Na realidade não podia queixar-se de nada.
Exceto de que queria que brincasse outra vez com ela, que falasse de
maneira sedutora e que a abraçasse.

Queria que voltasse a parar o tempo.

Anahí desprezou imediatamente aquele pensamento. Ainda não estava


preparada para reconhecer que necessitava de certas coisas nos homens,
e muito menos de Alfonso Herrera. Virou-se, disposta a voltar para
carro. E assim que o fez começou a pensar em sua casa como em um
lugar frio, escuro e solitário. Em troca, a luz do andar de Alfonso parecia
cálida e brilhante.
Anahí mordeu o lábio inferior. O mínimo que podia fazer depois de ter
chegado tarde era desculpar-se a ele. Antes que pudesse controlar seu
impulso se apressou a contornar o edifício. Uma escada de madeira
conduzia ao piso superior. Anahí tocou a campainha. Sentia-se como
uma criança que ia pedir doce. Teve que chamar duas vezes antes de que
a porta se abrisse. Alfonso apareceu vestido com um pulôver e umas
calças jeans. Tinha o jornal em uma mão e usava óculos.
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- Anahí?

Sua surpresa fez que Anahí se sentisse ainda mais incômoda.

- Olá – disse -. Saí muito tarde do trabalho. Não tinha dado conta de que
era mais tarde que as nove.

- É que ainda não são nove.

- Mas... Como o ginásio está fechado...


- Sempre fecho mais cedo na véspera do dia de ação de graças.

Anahí tinha esquecido por completo.

- Não viu o pôster que havia no mostrador?

Anahí fez um gesto negativo com a cabeça. Incomodava-lhe pensar que,


apesar de ser tão meticulosa e de viver sempre dependente do relógio,
não sabia nem o dia nem a hora em que vivia. Alfonso devia pensar que
tinha perdido a razão. Mas não observou nenhuma recriminação em sua
expressão, só assombro. Como se estivesse se perguntando o que fazia
ali. Alegrou-lhe que não dissesse nada porque não teria sabido o que
responder.

Ao que parecia, ele se alegrava de vê-la. Alegrava-se muito. O brilho de


seus olhos escuros fez com que seu coração começasse a bater a mais
rápido. Mas logo se tranqüilizou e a convidou a entrar.

- Bom, entra pelo um minuto para te esquentar.

Anahí não sabia o que fazer, de modo que ele a agarrou pela lapela do
abrigo para que entrasse e depois fechou a porta. Ficou em pé, olhando-o
e sem dizer nada até que ele teve que perguntar:
- O que houve?

- Nada. É que nunca te vi de óculos.

Alfonso os tirou.

- Só os uso para ler.

- Dão-lhe um aspecto muito...

- Inteligente? - sugeriu Alfonso com sarcasmo.

Entretanto, não era isso. Estava muito atraente com eles. Davam-lhe um
toque de fragilidade que contrastava encantadoramente com sua
fortaleza física. Mas como sempre, duvidou que Alfonso pudesse
compreender um cumprimento desse tipo e se imitou a dar uma olhada
em sua casa.

- De modo que este é o lugar que retornas todas as noites - murmurou.

- É a minha casa. - disse com certo desprezo, como se esperasse que não
gostasse.
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Mas gostou. Era uma casa singela, masculina, mas tão grande, cálida e
generosa como ele mesmo. A sala ocupava toda a parte dianteira do
edifício, e o chão estava coberto de tapetes. Tinha algumas poltronas e
um sofá, tudo de grande tamanho e cômodo, lógico para um homem
como Alfonso. Havia uma pequena televisão em uma quina, mas todo o
espaço livre estava ocupado por estantes cheias de livros.

Não se surpreendeu. Já sabia que era uma pessoa com grandes


inquietações, sempre faminta por aumentar seus conhecimentos. No
passado ela também tinha sido assim, antes de que começasse a
calculá-lo todo. O que fazia, lia ou dizia.

Passou uma mão pelos lombos dos livros e uma das prateleiras se
moveu. Alfonso a segurou.

- Tome cuidado; Não é muito seguro. Os meninos que freqüentam a


academia a fizeram em grupo. Me deram de presente isso.

- Brad e Ram?
- Sim.

Parecia surpreso. Certamente não esperava que lembrasse de seus


nomes.

- Apesar de me obrigar a fazer exercício até desfalecer, consegui


interagir um pouco com as pessoas da academia.

- Sei. Ram sempre faz todo o possível para aproximar-se de todas as


mulheres bonitas que aparecem por aqui. Deveria ter mais cuidado com
os adolescentes, senhorita Puente.

- Os jovens não me preocupam, senhor Herrera. São os adultos. Têm


muita mais prática e experiência.

Alfonso sorriu e Anahí pensou que era a primeira vez em muito tempo
que sorria de maneira aberta. Tinha a curiosa impressão de que aquelas
sessões que serviam para que ela relaxasse, produziam o efeito contrário
nele.

- De fato, Ram é muito gentil. Conversamos muitas vezes nas bicicletas.

- Supõe-se que deveria fazer exercícios de respiração, não conversar.


- Ram só estava contando o muito que te deve por ter impedido que
abandonasse o ginásio e o bem que você faz aos meninos que vão à
academia. Eles o admiram.

Alfonso brincou com os óculos, sentindo-se um pouco inibido.


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Durante as últimas semanas tinha aprendido muitas coisas sobre ele. Por
exemplo, que adorava ajudar às pessoas, sobre tudo às crianças. De fato,
colaborava com toda classe de organizações humanitárias, mas não
estava acostumado a falar disso. Não como a maior parte da gente que
ela conhecia. Nunca faziam nada, e se o faziam era só para conseguir
que seu rosto aparecesse nos jornais.

Recordou a noite em que o conheceu, no baile de gala benéfico. Alfonso


estava ali porque acreditava na causa a que ia destinar-se o dinheiro.
Entretanto, todos os outros, incluindo ela, só estavam por conveniência
social. Sentiu-se envergonhada por isso.

Confirmando seus pensamentos, Alfonso tentou não dar importância ao


comentário de Ram.
- O que faço é ajudar um pouco os meninos lhes deixando que venham
grátis à academia e em troca, peço que façam algum trabalho. De outro
modo teria que contratar a várias pessoas para manter a academia limpa.

- A trinta meninos? Porque esse é o número que disse Ram...

- Ah, bom... - disse, sorrindo -. É preferível que estejam aqui do que nas
rua, metendo-se em turmas ou algo assim. Embora pareça uma estranha
maneira de administrar um negócio.

- Talvez não. Mas é estranho.

- Sim – brincou -. Já o falamos antes. Sou um tipo encantador.

- Para todo mundo exceto para mim - disse ela, com suavidade.

- Sou seu preparador. Supõe-se que devo te tratar com certa dureza -
disse, recuperando sua seriedade e tirando seu casaco do armário -. Olhe,
sinto que tenha feito todo o caminho para nada. Acompanharei-te ao
carro.

Parecia ter recordado que tinha que manter distância dela. Anahí pensou
que provavelmente queria voltar para a paz e à solidão da noite que tinha
interrompido, talvez a ler o jornal.

- Sim, claro, será melhor que eu vá. Mas não é necessário que me
acompanhe.

- É obvio que sim - disse, colocando o casaco -. Nesta parte da cidade é


um pouco perigoso passear de noite em determinadas ocasiões.
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- Já sou maior de idade, Alfonso. Posso cuidar de mim mesma,
especialmente depois de ter freqüentado sua academia. Olhe os músculos
que desenvolvi!

- Onde? - disse, tocando seu braço -. Deixou-o em casa?

- De todas formas...

- Maldita seja, Anahí. Tem que ser sempre tão independente? Por que
não pode te limitar a sorrir, assentir e dizer obrigado quando quero fazer
algo por você?
Anahí estava preparada para seguir discutindo com ele, mas algo em
seus olhos a deteve. Estava irritado, mas sobretudo parecia sentir-se
ferido. De modo que por uma vez em sua vida engoliu seu orgulho.

- Obrigado, Alfonso - disse, olhando-o com suavidade -. Eu gostaria


muito que me acompanhasse.

Caminharam em silencio para seu carro. Fazia frio e soprava uma brisa
gelada do Mississipi. Anahí estremeceu e Alfonso teve que resistir ao
impulso de abraçá-la. Tinha ganho uma pequena batalha, persuadindo-a
para que o deixasse acompanhá-la. E não devia tentar sua sorte.

As luzes se refletiam nas escuras águas do rio que separava as duas


localidades, Rock Island e Davenport. O ruído dos carros, as risadas e as
vozes que procediam do barco cassino ancorado no pier quebravam o
silêncio da noite.

Alfonso fingia contemplar as vistas, embora só tinha olhos para ela. Seu
delicado perfil parecia mais pálido que nunca sob a luz da lua. Era
maravilhosa. Muitas noites tinha sonhado que aparecia em sua porta, tal
como tinha feito. Mas suas fantasias não incluíam um bate-papo a
respeito dos guris que freqüentavam seu ginásio, nem terminavam
acompanhando-a a seu carro. Tinham mais a ver com a cama. Sonhava
ver seu cabelo sobre o travesseiro, sentir seu cálido corpo e contemplar o
brilho de seus olhos. Todas terminavam com um profundo sentimento de
frustração.
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Mas lhe tinha prometido que manteriam uma relação estritamente
profissional e Alfonso era um homem de palavra, capaz de cumprir suas
promessas embora naquele caso estivessem a ponto de matá-lo. Olhou-a
e se perguntou como se sentiria ela. Quando chamou a sua porta
acreditou ver uma expressão de solidão e tristeza nela. Mas
provavelmente só se devia à sua imaginação. Perguntava-se por que
razão seguiria freqüentando a academia. Talvez por obstinação, para lhe
demonstrar que podia ir um mês seguido sem problemas.

Era difícil de acreditar que gostasse de fazê-lo, porque não tinha


evoluído muito em todas aquelas semanas. Às vezes parecia relaxada e
ria e brincava com Ram e seus amigos. Supôs que não lhe custava muito
relacionar-se com eles, depois de ter passado sua infância em companhia
de três irmãos.

Aqueles momentos lhe recordavam que sob a fria executiva havia uma
pessoa cálida e encantadora, e inclusive podia imaginar que não estavam
tão longe um do outro. Aquilo era o mais perigoso de sua fantasia.

Anahí deteve-se ao chegar no final do passeio. Naquele ponto o rio se


espalhava contra as rochas. Meteu as mãos nos bolsos e olhou o céu
estrelado.

- É uma vista preciosa. Pergunto-me por que nunca vim por este
caminho.

- Porque não há nenhum lugar onde estacionar.

- Seguimos então pelo caminho mais longo?

- Sim. Como a academia fechada pensei em dar um passeio para te


forçar a caminhar.

De fato, só queria que tivesse um pouco mais de tempo com ele.

- Sinto-me muito bem passeando neste momento - disse ela.

- Tiveste outro mau dia no escritório?

Anahí suspirou.

- Como sabe?
- Além de que nem sequer sabia que hora era, costumo notá-lo por seu
cabelo - disse, incapaz de resistir à tentação de tocar-lhe.

O vento balançava seu cabelo, e ao virar a face acariciou também sua


bochecha.

- Meu cabelo?
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- Quando tem um bom dia sempre vem com o cabelo solto ou recolhido
em um rabo-de-cavalo. Em caso contrário aparece com um coque.

- Puxa, não tinha me dado conta - disse, sorrindo e tocando-lhe -. Mas


tem razão, tive um mau dia.

Anahí deu uns passos e franziu o cenho.

- Há certos rumores que circulam pelo escritório. Enfim, se as coisas não


melhorarem logo, Diaz pode decidir-se a fechar a Play Tyme.
- Isso seria nefasto para a economia da cidade. Muita gente ficaria sem
trabalho.

- Sim.

Mas naquele momento, Alfonso só estava preocupado por ela, pela


engenheira de cabelo loiro-avermelhado e olhar distante e triste.

- O que fará se isso ocorre?

- Suponho que voltar para o leste.

Era precisamente a resposta que Alfonso não queria ouvir, embora


estivesse esperando-a.

- Não seria muito fácil voltar para casa de novo - acrescentou.

- De novo?

- É um desses pequenos detalhes de minha vida que eu não gosto de


falar. Mas este seria o segundo trabalho que perco em dois anos.
Trabalhava para uma importante empresa de Pittsburgh, e quando
chegou a época das promoções, em lugar de me promover, me
demitiram.

Anahí apertou os lábios. Estava evidente que lhe era difícil falar sobre
isso. Era muito orgulhosa. Mas continuou:

- Para piorar as coisas, meus pais estavam tão convencidos de que iriam
me promover que prepararam uma festa surpresa e convidaram metade
da cidade. A mesma noite. Tive que suportar a humilhação de lhes dizer
que tinham me despedido.

Anahí acelerou o passo, como se ao fazê-lo pudesse esquecer. Alfonso a


seguiu e abraçou-a pelo ombro.

- Bom, se Diaz decide fechar a fábrica não será tua culpa.

- Não, mas se tivesse a oportunidade de falar com ele... Se tivesse


podido lhe mostrar minhas idéias talvez poderia havê-lo convencido que
salvasse a empresa. Não acredito que se alegre fechando a empresa e
deixando tanta gente sem trabalho.
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- Não? Pelo que sei sobre Diaz, o que lhe preocupa é ganhar dinheiro. O
ser humano não lhe importa, nem a ele nem a nenhum empresário.

- Nesse caso o convenceria de que pode tirar muitos benefícios. Estou


seguro de que me escutaria. É um homem de negócios brilhante.

Alfonso deixou cair sua mão. Sempre que falava daquele tipo em um
tom tão reverencial conseguia irritá-lo.

- Tanto o admira?

- Suponho que sim - respondeu, lentamente -. Afinal é o homem com


mais sucesso no mundo, não é assim?

- Mmm... Talvez deveria ler certo poema do Edgar Lê Masters, sobre um


sujeito chamado Richard Cory.

Anahí o olhou surpreendida.

- A poesia?
- Claro que sim. Mas não vá dizendo-o por aí.

- Entre a poesia e as canções de antigos musicais poderia te fazer


chantagem... - disse, brincando embora seu sorriso desapareceu de
repente-. Espera um momento. Richard Cory? Não é um poema sobre
certo indivíduo rico e admirado que terminou dando um tiro na cabeça?

- Exatamente.

Anahí franziu o cenho.

- Não estará tentando me dizer que Diaz pode...

- Suicidar-se? Não acredito. Esse tipo de gente se estima muito para


fazê-lo. Mas uma das boas coisas que tem meu trabalho é que aprendi a
ler nos olhos da gente. Seu admirado multimilionário não parece muito
feliz. Vive sempre no limite. Reconheço os sintomas porque são os
mesmos que teve meu pai antes de morrer.

Anahí permaneceu em um silêncio sombrio e Alfonso lhe acariciou a


bochecha.

- Às vezes você me preocupa muito, Anahí.


- Não acredito que tenha motivo para preocupar-se. Dificilmente poderia
trabalhar até morrer se forem me despedir dentro de pouco.

- É uma mulher com caráter. Não duvido absolutamente que acabará na


direção de alguma empresa se for o que desejas. O que me pergunto é se
verdadeiramente seria feliz. É isso que deseja de verdade? Por isso se
formou engenheira?

- Não, eu gostava da profissão por um montão de coisas tolas, coisas de


adolescente.
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- Me conte.

Anahí afastou o olhar, resistindo a dizer nada. Mas finalmente o fez.

- Quando era pequena tinha um jogo de montar. Cresci sonhando em


desenhar e construir todo tipo de coisas. Como pontes.

- Isso não me parece nenhuma tolice.


- Mas não sabe até onde chegavam meus delírios. Sonhava em deixar um
rastro imortal no mundo. Edificar algo maravilhoso, como as pirâmides.
Não pensaste alguma vez nelas? Quando penso como deveriam sentir-se
os engenheiros que as desenharam...

- Penso em que poderia ser um dos muitos escravos musculosos que


transportaram os blocos de pedras - disse, sorrindo ante seu entusiasmo.

Anahí o olhou e franziu o cenho.

- Por que faz isso, Alfonso?

- O que?

- Falar sobre você mesmo desse modo. Como se não fosse mais que um
montão de músculos.

- Não sei. Suponho que seja porque a maior parte das pessoas me vê
desse modo. Só lhes dou o que esperam de mim. Conan o bárbaro. Não é
assim que você me chamou?

Era certo e tinha que admiti-lo, mas contra-atacou de todas formas.


- Sim, e você disse que era uma solteirona virgem.

- De modo que nós dois nos equivocávamos.

- E pode ser que agora nos conhecemos melhor.

- Talvez.

Alfonso se deu conta de que era verdade. Disso e de que Anahí estava
muito mais perto dele. Em algum ponto da conversação deveriam ter
parado, porque agora estavam olhando-se de frente.

Anahí o olhava diretamente nos olhos, com doçura. Apesar do frio que
fazia, era muito romântico. A lua se refletia na água e em seu cabelo e
iluminava seus preciosos lábios. Era um momento ideal para fazer
promessas. Promessas que logo podiam quebrar-se. Estúpidas promessas
que não deviam ser possíveis.

Mas não podia resistir por muito mais tempo. Inclinou-se para beijá-la, e
em lugar do protesto que esperava, Anahí respondeu do mesmo modo,
suspirando e aproximando-se dele.
Atraiu-a para si, abraçando-a. Alfonso acariciou-lhe o cabelo. Algo se
quebrou em seu interior. E todas as barreiras que tinha edificado durante
os últimos dias ruíram ante seu apaixonado comportamento. Beijou-a
com doçura, envolvido por uma espiral de paixão.

Quando se separaram os dois estavam tremendo. Anahí suspirou


estremecida e apoiou a cabeça em seu ombro.

- Alfonso – sussurrou -, alguma vez você pensou no que fizemos naquela


primeira noite em minha casa?

- Não penso em outra coisa - gemeu ele.

- Estive me perguntando se não estaria equivocada. Talvez não fora só


uma aventura sem importância.

- Não - disse Alfonso, beijando-a na frente -. Sei que não o era.

Ela o olhou tremendo e com esperança.

- Como pode estar tão seguro?

Alfonso agarrou seu rosto entre as mãos olhando-a aos olhos com
doçura.
- Deixa que te leve de volta à minha casa e lhe demonstrarei isso.
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CAPÍTULO 8
Não chegaram a seu carro. A casa do Alfonso estava muito mais perto,
igual a sua enorme cama de madeira, grande e aconchegante. Sobre os
lençóis de algodão havia um edredom brilhante que destoava por
completo. Meio sem jeito, Alfonso contou que sua avó o fizera, e ele o
conservava porque não queria ferir os sentimentos da gentil senhora.

Anahí sorriu. Era um típico gesto de Alfonso, seu gentil bárbaro. Como
o apaixonado beijo que acabava de lhe dar.

Quando a ajudou a tirar a jaqueta não fez nenhum esforço para resistir à
sua cavalheiresca atitude. Nem sequer lhe disse que podia fazê-la só.
Desta vez estava contente de que o fizesse. Tanto que quando lhe tocou
se estremeceu. Podia notar o contato suave e quente de seus dedos
através de seu pulôver de cachemira.

Alfonso deixou a jaqueta em uma cadeira que havia junto à cama depois
tirou o pulôver. O abajur de noite demarcava ainda mais seus duros
traços e a solene expressão de seus olhos que nunca o abandonava.

Esfregou-se os braços com nervosismo quando apagou o abajur. A única


luz que iluminava a residência era a lua, cujo reflexo se infiltrava através
das persianas. Puxou-a para si e de repente sentiu que suas pernas não
eram capazes de sustentá-la. Inclusive na penumbra tinha uma sombra
enorme e a silhueta de seu corpo era conscientemente masculina. Anahí
estremeceu.

- Tem frio? Posso acender os aquecedores.

Anahí fez um gesto negativo com a cabeça. Tinha todo o calor que podia
desejar.

- Não. Só estou um pouco assustada – confessou -. Agora não temos


nenhuma desculpa para nos arrependermos. Os dois estão aqui por
iniciativa própria.

- Não há tormentas a culpar por isso... - disse, beijando-a na frente.

- Nem rifas.

- Nem carros estragados - comentou ele, lhe tocando o nariz.


- Nem veículos que fiquem sem gasolina...

- Nem gatos.

- Gatos? - perguntou Anahí dando um passo atrás, justo no momento em


que Alfonso ia beijá-la.
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- Sim. Se Capeta não tivesse derramado o vinho nunca teria tirado as
calças do pijama. E não teria que suportar toda a noite a visão tentadora
de suas pernas.

- Estiveste as vendo toda a semana na academia e resististe bastante


bem.

- Com muito mais dificuldade do que imagina.

Acariciou-lhe a bochecha e a beijou sob o ouvido. Ela se estremeceu


como resposta e suspirou. Tinha que admitir que durante todos aqueles
dias, contemplando a férrea resistência de Alfonso ao aproximar-se dela,
perguntou-se mais de uma vez sobre a incrível atração que sentia por ele.

- Ainda me acha desejável? - perguntou, incapaz de dissimular o tom de


ansiedade de sua voz -. Sei que em ocasiões posso ser difícil, muito
preocupada com o trabalho para ser atraente.

- É uma das engenheiras mais atraentes que conheci em minha vida -


comentou brincando -. Desejo-te mais do que tenha desejado jamais a
nenhuma outra mulher. Quando deixa solto o cabelo poderia conseguir
que qualquer homem caísse a seus pés. Ah, garota…esqueço até do meu
nome.

Suas palavras a embriagaram, mas por uma vez não se importou. Tinha
estado competindo tanto tempo, tentando abrir caminho em uma
profissão tradicionalmente masculina, que tinha esquecido de certos
prazeres da condição de mulher.

Começou a tirar as presilhas do coque. Soltou o cabelo, que caiu sobre


seus ombros. Raramente tentava ser provocadora, mas era divertido
observar o efeito que causou no Alfonso.

Notou que segurava a respiração. Acariciou seu cabelo de maneira quase


reverencial, agarrando-a depois pela cabeça para beijá-la. Foi um beijo
longo, lento, que se prolongou até que começou a sentir-se fora de si em
seus braços.
Os beijos aumentaram a urgência de seu desejo. Estava tão encantada
que não se deu conta de que tinha sido ela ou Alfonso quem lhe tirara o
pulôver. O de Alfonso logo teve idêntica sorte. A lua iluminava seu
peito.
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Começou a acariciar as costas e o pescoço e tirou o sutiã. Anahí sentiu
um calafrio de prazer quando ele o conseguiu, embora sentisse um pouco
de frio. Mas o frio desapareceu em seguida, substituído pelo fogo das
mãos do Alfonso que cobriam seus seios, acariciando-a de tal forma que
não pôde conter um gemido. Quando a beijou entre os seios jogou a
cabeça para trás e suspirou.

- É linda - disse.

Podia notar sua respiração acelerada em sua pele. Anahí lhe acariciou os
braços e os ombros.

- Você também é lindo, senhor Herrera - sussurrou, avançando por seu


peito, seu estômago e a zona que havia abaixo de sua cintura.
Ao tocá-lo, seus músculos se retesaram e seu rosto adotou a cor do
desejo. Estava disposta a utilizar todos seus encantos com ele.

- Vai mostrar-me outra vez como fazer as coisas com tranqüilidade? -


murmurou ela.

- Não, se continuar me tocando desse modo - disse, agarrando-a pelos


punhos para que impedi-la.

Sorriu com aquele sorriso que tanto gostava a Anahí. Encantadora, vaga
e muito sedutora.

Alfonso a atraiu para si de novo, abraçando-a com força, peito contra


peito, de tal modo que os dois podiam sentir os batimentos do coração
do outro, como queria saborear a sensação e lhe demonstrar o muito que
a desejava. Anahí necessitava muito mais sentir-se querida do que todos
os cálidos beijos que pudesse lhe dar.

Quando por fim chegaram à cama, Annie já não foi capaz de negar o
muito que tinha desejado que isso acontecesse, o muito que desejava a
Alfonso Herrera e o quão desesperada necessitava que ele a desejasse de
novo. O importante eram suas carícias, seus sorrisos e sua voz profunda.

- Acalme-se. Temos todo o tempo do mundo.


Abraçada a ele soube que tinha razão. Iria deter o tempo para ela uma
vez mais.
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Alfonso jogou a um lado o edredom quando a pousou sobre a cama.
Logo se colocou sobre ela, com o cabelo caindo dos lados e a luz que
atravessava as persianas iluminando levemente seu rosto. Anahí nunca
deixaria de surpreender-se dos muitos contrastes de Alfonso Herrera, a
brutalidade de sua imagem, a força e a delicadeza que havia naquele
homem. Sem dúvida ele era o mais carinhoso que já tinha conhecido.

- Não sabe quantas noites sonhei com este momento - disse ele, quase
dolorosamente.

Anahí sorriu com suavidade, acariciando seu cabelo e seu rosto.

- Já não precisa sonhar. Estou aqui, contigo.

- E estou muito feliz por isso.


Deitados um frente ao outro, Alfonso a abraçou para sentir seu corpo.
Beijou-a, acariciou-a, explorou-a redescobrindo os seus mais íntimos
segredos. Em pouco tempo Anahí estava nua, sem saber como tirou o
resto da roupa, que agora jazia no chão. Cada vez mais excitada, o suave
e forte toque de suas mãos era mágico.
Sempre conseguia excitá-la até a insanidade, os seus dedos se arrastando
prazerosamente por sua pele quente e em seu úmido sexo, que mais
parecia seda pura. Dispôs-se a deixar que ele entrasse nela. Era o ato
mais natural e bonito do mundo. Tão natural, que quando o fez, abriu
suas pernas para recebê-lo e começou a mover-se, sentindo-o penetrá-la
até o fundo de seu ser, ritmicamente os dois se fundiram como se só
fossem uma pessoa.

Alfonso parecia lhe pedir mais e mais a cada segundo, em cada beijo,
cada vez que repetia seu nome em um sussurro. Não só seu corpo, mas
também sua alma. E quando conseguiu que chegasse ao clímax, toda a
tensão acumulada durante os últimos dias desapareceu. Sentia-se
estranhamente limpa, como se houvesse renascido.

Depois permaneceram abraçados muito tempo. Ela tinha a cabeça sobre


seu ombro e se sentia aliviada. Alfonso tinha razão. Certamente, o que
tinha ocorrido entre eles não era nenhuma casualidade, nenhuma
aventura. A intensidade de seu desejo parecia ter crescido desde a
primeira noite.
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Esteve tanto tempo sem mover-se que ele perguntou com ansiedade:

- Estás bem, Anahí?

- Não se preocupe, desta vez não vou chorar - disse, sorrindo.

- O que me preocupa é se quando raiar o dia volte a se arrepender de


tudo.

- Foi isso o que fiz da última vez? - perguntou com suavidade,


respondendo em seguida -. Sim, suponho que sim. Estava obcecada pelo
controle sobre minha vida, de saber exatamente o que era ou o que
queria. Mas você me atrai tanto que me sinto confusa. Não entendo o
que está se passando.

- Posso explicar se quiser - disse.

Mas Anahí o beijou para impedir que continuasse falando. Sabia que ia
dizer algo que não queria ouvir.

- Não, Alfonso. Passei quase toda a vida planejando-a toda, analisando-a


até não poder mais. Agora o que quero é me divertir com você e
aproveitar o instante.

Alfonso ficou tenso, antes de mostrar-se concordando com ela.

- Como você quiser - disse, beijando sua mão e dizendo a si mesmo que
não deveria ser tão impaciente. Ao menos já conseguira algo importante
ao notar que uma mulher tão difícil como ela estivesse analisando a
situação para descobrir o que ocorrera entre eles.

De qualquer maneira, ele não precisava analisar nada. Entre o desespero


e a felicidade, sabia de sobra o que estava ocorrendo. Apesar de todas
suas boas intenções e cautelas se apaixonara por Anahí Giovanna
Puente.

Passaram o dia de ação de graças na casa de Alfonso, descansando,


fazendo amor, comendo peru congelado e vendo o desfile pela televisão.
Nunca achara tão lindo o edredom que lhe presenteou sua avó até em
que Anahí se cobriu com ele, enquanto estavam sentados no sofá. Ela
encontrava-se em seu colo, olhando um de seus velhos álbuns de
fotografias.
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Alfonso observou seu cabelo loiro e pensou que nunca a tinha visto tão
relaxada e contente. Em contraste, ele se encontrava angustiado e não
parava de trocar de canal. Anahí não imaginava a causa de sua agitação.
Era ela que não sabia o que queria. Ele sabia desde o começo. Tinha
gostos simples, dava-se por satisfeito com sua academia e a única
ambição que tinha era comprar uma casa um dia, compartilhar sua vida
com uma futura esposa e talvez ter um par de crianças e um cão.

E em contrapartida, apaixonou-se por uma mulher de carreira. Não


compartilhava nada de suas ambições. Apaixonar-se por uma mulher que
poderia desaparecer em qualquer momento não era uma boa idéia.
Desafiava toda a razão. Mas o amor e a razão nunca caminharam juntos.

Às vezes tinha a impressão de que a conhecia mais do que ela mesma.


Tinha-lhe contado muitas coisas sobre a garota travessa que tinha sido,
que acompanhava sempre a seus três irmãos e dormia sonhando que
construía pontes quando crescesse. Sua imagem de executiva não
combinava com ele, mas tampouco com o que havia na mente dela.
Entretanto, aquilo não queria dizer que ficaria com ele.

Quando fazia amor havia algo em seus olhos, um brilho estranho, um


eco de alguma emoção profunda, que certamente nem sequer ela tinha
conhecimento. Havia a esperança de que aquela emoção terminasse
convertendo-se em amor, se fosse paciente e lhe dedicasse o tempo
necessário. Mas se Diaz fechasse a Play Tyme não sabia o que poderia
acontecer.

A risada de Anahí interrompeu seus pensamentos. Quando a olhou se


deu conta de que ria de uma de seus fotografias no ginásio. Ele e o resto
dos rapazes de uma equipe de futebol posavam com uma das pernas das
calças levantadas.

- Que diabos estavam fazendo?

- Uma competição para saber quem tinha as pernas mais bonitas.


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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
- Eu teria votado em você - disse, passando a página do álbum -. Ahá!
Quem é esta? Uma antiga namorada?

Olhou por cima do ombro e observou uma ruiva alta que estava junto a
ele, em um dos edifícios da universidade de Iowa. Era Marcy. Alfonso
se surpreendeu. Pensava que havia se livrado de todas as suas
fotografias.
- Só uma garota que conheci na universidade.

- Mmm... - murmurou.

Era estranho. Não se lembrava de seu rosto, e entretanto recordava


perfeitamente o efeito que exercia sobre ele. Devem ter tirado aquela
fotografia em um dos raros momentos em que não importava à Marcy
que os vissem juntos.

Quando Marcy o abandonou era muito jovem. A visão daquela foto foi
suficiente para despertar nele velhas e dolorosas lembranças, e todos os
medos que na ocasião imaginava serem os mais terríveis. Estava
profundamente apaixonado por Anahí. Antes que pudesse lhe fazer mais
uma pergunta a respeito, virou a página. Quando ela se interessou por
outra das fotografias se sentiu aliviado.

Ao vê-la Anahí deu um pulo.

- Puxa! Está ao lado de Black Bart Benton... Conhece-o?

- Suponho que deveria. É meu padrasto. Casou-se com minha mãe faz
dez anos. Agora vivem na Florida.
- Black Bart Benton é seu padrasto?

Seu tom de voz o surpreendeu.

- Sim, é um sujeito excelente. Ajudou-me a montar a academia até a


inauguração. Mas me surpreende que saiba quem ele é.

- Claro que sei. Não sabe a quantidade de vezes que meus irmãos e eu
dizíamos que queríamos ser como ele. Meu pai nos levava sempre a ver
suas lutas, apesar da opinião de minha mãe.

- Seu pai, o juiz Puente?

- Bom, nós não o chamávamos de vossa excelência em casa, sabe? -


disse, olhando-o e beijando-o na bochecha -. Viu? Conhecemos cada vez
mais a respeito um do outro.

- Suponho que sim.

- E eu gostaria de conhecer muito mais.


Colocou as mãos ao redor do pescoço e o álbum de fotografias
escorregou de seu colo.
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Alfonso a abraçou, beijando-a com paixão e tentando fazer esquecer o
desconforto que sentia. Ainda havia um detalhe insignificante que não
conhecia sobre Alfonso Herrera.
Não sabia nada sobre Marcy, e não estava certo da importância que isso
pudesse ter.

Anahí não tinha sido tão feliz em sua vida. Inclusive estando a ponto de
perder seu emprego e interromper com isso sua carreira. Tudo mudou a
partir da noite que esteve na casa de Alfonso. Nada a assustava. Nem a
iminente volta de Diaz nem as negativas contínuas de seu chefe cada vez
que propunha algo. Freqüentemente se sentia tão tola como a
personagem de uma velha canção que se lembrava vagamente, algo
sobre ver flores em árvores que nem sequer tinham folhas.

Seguiu freqüentando a academia, mas a tensão que havia entre eles era
agora muito diferente. Esperavam que saíssem todos os clientes. Alfonso
colocava o aviso de <> e se voltava para ela com o desejo refletido no
rosto. Ela se aproximaria dele e subiriam à sua casa. Tomavam banho
juntos e iam para a cama. Ou, dependendo da urgência de seu desejo, em
um lugar na academia. Tinha muita vontade de descobrir o que se sentia
fazendo-o ali.

Algumas noites saíam para jantar e depois voltavam para casa de Anahí,
terminando a noite transando em frente à lareira. Tinha aprendido a
compartilhar sua cama, mas conservava a hábito de dormir no centro, de
tal forma que quase não deixava espaço para Alfonso. E ele não se
queixava disto.

No dia anterior tinham visitado um colégio no qual Alfonso estava


desenvolvendo outro de seus programas de saúde pública. Anahí
acordou no meio da noite. Estava entre Alfonso e um enorme osso de
pelúcia que tinha ganho em um bingo. Sua sorte parecia ter mudado.
Tinha ganho Alfonso e um ossinho em menos de um mês. A senhora
McGinty morreria de inveja.
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Sorrindo, sentou à cabeceira da cama. De qualquer maneira, teria que
estar ao lado de Alfonso, posição que o tinha agradado. Estava
preocupado pela demonstração que tinha feito para os pré-escolares,
porque várias crianças se assustaram perante seu tamanho. Anahí o
acalmou, afirmando que não teriam medo dele se levasse um enorme
osso de pelúcia sob o braço. E Alfonso pareceu considerar seriamente a
idéia.

Nunca tinha conhecido a nenhum homem que se preocupasse com sua


imagem de masculinidade. Era uma das muitas coisas que amava nele.
Voltou-se, apoiando-se em um cotovelo, para olhá-lo enquanto dormia.

O lençol só o cobria até a cintura, de tal forma que podia ver suas costas
e seus ombros. Eram muito atraentes, mas sua verdadeira força residia
em seu rosto. Um rosto interessante, forte. O rosto de um homem seguro
de si mesmo e ao mesmo tempo adorável. Gostava de seu queixo
marcado, a sensual curva de sua boca. Amava suas pestanas compridas e
o aura de inocência que tinha enquanto dormia. Definitivamente,
amava-o. Não podia seguir se enganando. Apaixonou-se por ele apesar
de não querer. Não estava preparada para isso, mas tinha acontecido.

Não tinha precisado de sete anos, tal como lhe havia dito sua velha
companheira de ginásio, Carla. Sorriu ao pensar que só tinha necessitado
de trinta e três dias, seis horas e quatorze minutos. Ou talvez se
apaixonara por ele no instante em que levantou o olhar de seu bilhete e
viu que se dirigia para ela.

Tinha estado cega. Sua obstinação a tinha impedido de notar antes. Mas
agora sabia e era a emoção mais profunda que tinha experimentado até
agora. Seu coração deu um salto e ela se inclinou para beijá-lo no rosto e
despertá-lo.

Entretanto, naquele preciso instante, Capeta decidiu subir à cama. Até a


gata parecia haver-se acostumado à presença daquele estranho na cama
de Anahí. Divertida, contemplou que o animal se dirigia diretamente ao
Alfonso para brincar com seu cabelo.
Alfonso despertou com um sorriso.

- Anahí?

Abriu os olhos e se deu conta de que estava a ponto de dar um beijo a


uma gata siamesa. Anahí estalou em gargalhadas e Alfonso grunhiu e a
desceu da cama.

- Alfonso! - protestou ela -. Em sua condição tem que ter um pouco de


cuidado com ela.

Alfonso se sentou. Esfregou-se os olhos, passou a mão pelo cabelo e


logo perguntou:

- Sua condição? É que vai ter gatinhos?

Anahí suspirou.
- Sim. Diferente de sua dona, Capeta não parece muito interessada em
praticar o sexo seguro. Escapou um dia pela porta de atrás e ao que
parecer encontrou o seu gatão.

- Agora entendo.

- Bom, não foi a única.

Aproximou-se dele e começou a lhe dar uma massagem no pescoço da


mesma forma que ele estava acostumado a dar a ela. Mas Alfonso a
deteve.

- Não deveria dar massagens a menos que saiba o que está fazendo.

- Sei exatamente o que estou fazendo - murmurou.

Empurrou-o para que ficasse de costas e esperou não haver-se


equivocado ao dizer tal coisa. Beijou-o. Amava-o com tal intensidade
que tinha medo. Endireitou-se para trás e notou que ele abria os olhos de
repente, surpreso e encantado pela maneira que tinha de despertá-lo.

- Bom, a que se deve tudo isto?


- A nada - disse, suspirando -. Só pretendo demonstrar toda a minha
gratidão por tudo o que tem feito por mim.

Alfonso arqueou as sobrancelhas.

- Além disso - continuou, apoiando a cabeça em seu peito -, conseguiu


que volte a apreciar as pequenas coisas, os pequenos prazeres que quase
tinha me esquecido. Como tomar uma xícara de café pela manhã, ler um
bom livro ou passear pelo rio. E o que é mais importante, voltei a me
preocupar com o que ocorre no mundo, fora de meu trabalho.
Ajudou-me a lembrar o quanto importante é ajudar aos outros, tocar às
pessoas.

- Espero que não na academia - brincou.

- Alfonso, estou falando sério - queixou-se, olhando-o.


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Seu olhar divertido se suavizou. Retirou-lhe o cabelo do ombro.
- Sinto-me como se me houvesse devolvido à vida e não sei como
poderei te pagar por isso.

- Já pensarei em algo, querida - disse ele, abraçando-a.

E de fato o fez.

Muito tempo depois, Alfonso sentou-se na cama. Anahí estava


sonolenta, com a cabeça sobre o travesseiro, o rosto tão satisfeito como o
de sua gata. Sua face ainda brilhava, como conseqüência da paixão que
tinham compartilhado.

- Bom, é uma maneira encantadora de começar um dia - comentou,


contente consigo mesmo -. Muito melhor que o café que tentou que
tomasse.

- Considera-o um presente de aniversário.

- Aniversário?

- Parece ter se esquecido que hoje faz um mês que freqüento sua
academia. Suponho que meu prêmio expira com isso.

- Ah, isso...

Alfonso tinha tentado não pensar neste dia. O relacionamento deles era
muito importante para preocupar-se com o ridículo assunto da rifa. Mas
não sabia qual seria seu futuro, nem deveria fazer. Não lhe parecia muito
adequado continuar da mesma forma, indo de uma casa a outra até que
ela perdesse seu trabalho e fosse embora de Quad Cities. Os dois tinham
estado evitando pensar nisso, mas Alfonso sabia que não podiam
continuar assim. Não ia ser fácil, mas tinha que tocar no assunto.

Antes de que pudesse abrir a boca o telefone começou a tocar. Salvo


pelo gongo. Agarrou-o e disse:

- Pronto?

- Anahí? - perguntou uma voz feminina.

- Oh, sim. Está aqui - disse, lhe passando o fone e pedindo desculpas
com o olhar.

- Sim? Oh, olá, mamãe. Quem era? Não, ninguém. É o homem que veio
consertar o telefone. É, estava com defeito, não funcionava muito bem.

Em princípio, Alfonso deveria ter se alegrado porque ela inventou tão


rapidamente uma mentira, evitando maiores explicações. Mas lhe doeu
na alma, como se lhe tivessem enfiado uma agulha, despertando nele
inseguranças que acreditava já serem esquecidas. A história com a
Marcy voltou mais uma vez.
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Anahí prosseguiu com a ligação durante vários minutos, respondendo
com monossílabos à sua mãe. Abriu os olhos olhando ao céu,
perguntando-se como teriam conseguido todas as mães aquela habilidade
inata para fazer que qualquer um se sentisse
culpado. Tinha vinte e sete anos. Vivia só e entretanto acreditava que
tinha que dar desculpas falsas a respeito da presença do Alfonso, como
se fora uma adolescente.

- Tentarei-o, mamãe. De verdade – prometeu -. Mas agora tenho que


partir para o trabalho, ou chegarei tarde. Sim, eu também te amo.

Desligou o telefone e suspirou, disposta a voltar para os braços do


Alfonso. Mas ele estava sentado na beira da cama, vestindo-se. Já tinha
colocado os jeans e começava a enfiar as meias três-quartos e os sapatos.

- Era minha mãe - disse.

Alfonso não levantou o olhar.

- Sei, imaginei isso. Sinto ter atendido ao telefone.

- Não era nada. Disse-lhe que...

- Que era um empregado da empresa de telefones - disse, levantando-se


-. Afinal progredi um pouco na carreira. A namorada que tive na
universidade dizia a seus pais que eu era o zelador.

Parecia uma de suas brincadeiras habituais, mas não o era. Anahí notou
certa tensão nele, que alguns minutos antes não tinha existido. Sentou-se
e se cobriu com o lençol.

Enquanto enfiava a camiseta, Anahí disse:

- Não queria te insultar, Alfonso. Não podia dizer a minha mãe que
estava dormindo com um homem que ela não conhece.
- De modo que ainda não disseste a sua família que está saindo com um
levantador de pesos?

- Não! Quero dizer... que você tenha uma academia não tem nada
demais.

Anahí não tinha contado o que sentia por ele a ninguém, entre outras
coisas porque nem sequer se atrevia a aceitá-lo perante si mesma.

- Não me envergonho de estar contigo. És inteligente e muito educado.

Mas aquilo só serviu para incomodá-lo mais.


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- Bom, há outra coisa que quero esclarecer entre nós. De fato, trata-se de
algo que deveria ter te contado faz muito tempo, Anahí.

Agora era ela que estava preocupada. Olhou-o perguntando-se que


segredo obscuro ele tinha escondido.
- É sobre a namorada que tive na universidade.

- Oh, não. Vai me contar que é casado.

- Claro que não.

- Nesse caso... está tentando voltar pra ela?

- Não, faz anos que não vejo Marcy.

Anahí repetiu aquele nome mentalmente, odiando-a.

- De fato, não tem nada que ver com o presente. É algo do passado, pelo
que ocorreu então. Ela sempre dizia a todos que eu era zelador - disse,
permanecendo em silêncio uns segundos antes de continuar -. E tinha
boas razões para fazê-lo, porque era exatamente o que eu era. Não
estudava na universidade. Era uma das pessoas que se encarregavam da
limpeza.

Anahí respirou aliviada.


- Muito bem, de modo que nunca cursou uma universidade...

- Anahí, nem sequer terminei o científico.

Anahí ficou boquiaberta.

- Meu pai sofreu um ataque do coração durante o primeiro ano. Tive que
deixar de estudar para ajudar minha mãe a cuidar dele. Sempre pensei
que podia continuar estudando depois, mas quando meu pai morreu
havia tantas faturas a pagar que... Em vez de voltar para o colégio
terminei por me começar a trabalhar. O emprego da universidade foi um
dos muitos trabalhos que fiz.

Alfonso começou a caminhar para a cadeira, passando a mão pelo


cabelo.

- Nem sequer tenho o diploma do supletivo. Tentei voltar a estudar, por


volta dos 25 anos, e a professora do curso era uma das amigas de Marcy.
Fiquei tão envergonhado que dei a volta e sumi.

Ambos permaneceram em silencio durante um momento. Anahí não


sabia se o abraçava ou o empurrava para que reagisse. Levantou-se da
cama e o encarou.
- Esse é o terrível segredo, Alfonso Herrera? Acredita de verdade que
me importa?
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- Você tem dois títulos e eu nem sequer tenho o bacharelado. Isso deve
te surpreender, não?

- Sim, surpreende-me e me irrita - disse, caminhando para ele -.


Surpreende-me porque você é muito mais culto do que a maior parte dos
meus ex-professores da universidade. E me irrita porque acredita que
isso possa me incomodar.

- A Marcy importava.

- Nesse caso era uma condenada idiota. E fico feliz, porque caso
contrário estaria casado com ela e teriam um montão de crianças.

- Talvez - disse, enfiando as mãos nos bolsos -. Mas isso só serve para
ressaltar que existe outra diferença entre nós que estivemos esquecendo.
Eu não tenho medo de dizer que quero sentar a cabeça, ter uma casa e
uma família.
- Eu também. Algum dia.

- Algum dia. Esse é o problema. Eu o quero agora e com você. Eu te


amo.

Faziam amor muitas vezes, mas nunca tinham falado de seus


sentimentos. As palavras saíram da boca do Alfonso com tal força, que
Anahí ficou sem respiração.

- Eu... Eu também te amo. Mas...

Alfonso cruzou os braços.

- Mas não é suficiente, verdade?

Anahí moveu as mãos tentando explicar-se.

- Faz muito tempo que o mais importante em minha vida foi minha
carreira. Não me preocupava com outra coisa que não fora voltar a
perder meu trabalho. Nem sequer tinha tempo para o amor, para pensar
em me casar...
- Sei. É bastante inconveniente, não é assim? - disse, quase com
amargura -. Sobre tudo com um cara como eu. Não me encaixo em seu
mundo profissional, Anahí. Às vezes me conformo em pensar que você
se encaixaria em minha vida, mas não posso me enganar. Você quer
outra coisa.

- Não estou segura do que quero – exclamou - Alfonso, você foi o


responsável por me tranqüilizar e por ter começado a me perguntar o que
é importante para mim, para minha vida. E agora me pede que me case
contigo... Sinto-me muito confusa.

Alfonso a olhou durante uns segundos e logo suspirou. Deixou cair os


braços, avançou para ela e a abraçou.
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- Sinto muito, tem razão. Estava tentando que relaxasse e priorizasse sua
vida. Não queria conseguir o contrário. Não temos que decidir nada
agora.

- Não é o certo? - disse, apertando a face contra seu ombro -. Podemos


seguir como estamos, até agora?
- Claro, como você quiser - disse, lhe dando uns tapinhas nas costas -.
Será melhor que te vista. Não quero que chegue tarde. Além disso, tenho
que abrir a academia.

Beijou-a rapidamente e partiu escada abaixo.

Anahí se aproximou do corrimão.

- Virá esta noite, sim? Vou preparar um jantar especial para nós. É nosso
aniversário, lembra-se?

- Sim, o final de nosso primeiro mês - disse, agarrando seu casaco -.


Estarei aqui, amor.

Mas assim que saiu e fechou a porta, Anahí pensou que parecia
conformado, como se tivesse escrito o capítulo final de sua relação e não
terminasse precisamente de maneira feliz.

Brincou com sua gata, perguntando-se o que lhe estava ocorrendo.


Acabava de deixar que partisse o homem mais maravilhoso que tinha
conhecido em sua vida, convencido de que não lhe importava tanto em
comprometer-se. Acreditava que era como aquela cretina chamada
Marcy, que se envergonhava de estar apaixonada por ele.
Apertou os lábios com determinação. Teria que lhe mostrar o quanto
estava equivocado.
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CAPÍTULO 9
Era a primeira vez que chegava tarde desde que trabalhava para a Play
Tyme. Mas sabia qual era a melhor forma de lhe mostrar que estava
apaixonada por ele, de modo que ficou a fazer todos os preparativos para
o jantar romântico que planejava.

Quando chegou ao trabalho estava de bom humor. Embora lhe


envergonhava reconhecer que desejava que fosse noite. Mas tudo mudou
assim que entrou no edifício de escritórios. Algo não ia bem. Notou-o
imediatamente. A atmosfera estava muito carregada e tudo estava
tranqüilo, quando geralmente fervia.

Tinha uma sensação estranha, que foi aumentando enquanto se dirigia a


seu escritório. Rosemary Peters estava olhando à parede com a
maquiagem borrada e os olhos avermelhados. Era a primeira vez que via
a elegante mulher exibindo algum sinal de preocupação.

Aproximou-se de sua mesa e disse:


- Bom dia, Rosemary. Aconteceu alguma coisa?

Rosemary levantou o olhar.

- Quer dizer que ainda não sabe?

- Cheguei tarde. Todo mundo está muito estranho.

- Aconteceu. Finalmente. Diaz enganou a todos. Fecharemos as portas


esta tarde às cinco em ponto.

Anahí deixou sua bolsa de lado, atônita. Era o maior de seus temores,
embora tinha se convencido de que não ia acontecer. Mas havia voltado
a perder o emprego. Em teoria, deveria ter sofrido uma forte dor de
estômago, mas em lugar disso tinha uma estranha sensação que não
podia definir.

Ficou ali, em silêncio, olhando Rosemary assoando o nariz com um


lenço.

- Não posso acreditar - disse a secretária -. Faz vinte anos que trabalho
aqui, desde que saí do colégio. Pensava que não o deixaria nunca até que
me aposentasse. Eu gostava de meu trabalho. E agora não sei o que
fazer...

- Sinto muito, Rosemary...

Ela a olhou com certo ressentimento.

- A você isso não importa. Nada a prende a este lugar. Pode partir
tranqüilamente e só será uma linha mais em seu currículo.

- Isso não é verdade – disse -. Quero viver aqui.


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Graças a Alfonso Herrera, que também era o responsável por não estar
arrasada pelas notícias que acabava de receber. De fato, importava-lhe
pouco ter perdido seu emprego. Sentia mais por toda a gente que tinha
estado trabalhando tantos anos na empresa. Gente como Rosemary e
Kuno, Stan, o guarda de segurança, e os meninos da fábrica.

- Esta é uma decisão definitiva?


A secretária assentiu.

- Disse-o pessoalmente Diaz. Chegou esta manhã. Está no gabinete do


diretor geral, discutindo os detalhes finais com os advogados.

- Alguém tentou conversar com ele?

- Para quê? Para lhe rogar que não nos deixe sem trabalho?

- Alguém terá que lhe mostrar que é necessário que o reconsidere.


Acredito que esta empresa pode salvar-se. Onde estão as minhas pastas?

- Acredito que na mesa do Kuno - disse, arqueando uma sobrancelha -.


Por que? Não me diga que está pensando em falar com ele.

- Pode ser. Poderia ir procurar essas pastas?

Anahí agarrou sua bolsa e se dirigiu a sua mesa com determinação.

- Realmente acredita que conseguirá algo com essas pastas? - perguntou,


entre incrédula e esperançosa.
- Não sei, mas tenho que tentá-lo - disse, encolhendo os ombros -. O que
posso perder? Já estou despedida.

Rosemary sorriu. Parecia olhá-la com novos olhos. Não sabia se era
respeito ou se duvidava dela, mas em qualquer caso foi procurar as
pastas.

Pensar que poderia conseguir que um homem como Diaz trocasse de


opinião era uma loucura, mas tinha que tentá-lo. De outro modo voltaria
a perder outro emprego e ainda teria a impressão de que não tinha feito
todo o possível para evitá-lo.

Foi mais difícil do que tinha pensado. Rosemary não podia encontrar as
pastas. Becker, como bom rato que era, apressou-se a abandonar o barco,
esvaziando seu escritório antes de partir. Não sabia se estavam entre o
montão de papéis que tinha deixado ou se pelo contrário os tinha atirado
ao cesto de lixo.
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Felizmente, podia acessar a eles de outro modo. Seu chefe se queixou
em repetidas ocasiões sobre o tempo que passava no escritório, e se viu
obrigada a terminar o projeto em casa. Estavam no computador que tinha
em seu quarto.
Entretanto o mais difícil ia ser contatar Aaron Diaz. Encerrou-se no
gabinete do diretor geral e não recebia a ninguém, nem à imprensa nem
aos empregados que acabara de despedir. Mas tinha que sair alguma vez.
Anahí passou o dia dando voltas e esperando. E pouco antes das cinco da
tarde chegou sua oportunidade. Viu-o dirigindo-se ao elevador, seguido
por um bando de advogados, assessores e secretárias. Anahí avançou
para ele e conseguiu alcançá-lo no preciso momento em que entrava no
elevador. Empurrou literalmente uma secretária que pretendia entrar e
ficou a sós com ele quando se fecharam as portas.

- Senhor Diaz, por favor - disse, tentando tranqüilizar-se -. Tenho que


falar com você.

O atrativo executivo a olhou com aborrecimento, como se estivesse


acostumado a que uma mulher se metesse com ele no elevador todo os
dias.

- Darei uma entrevista de imprensa ao seu devido tempo, mas não


concedo entrevistas pessoais.

- Não sou da imprensa. Sou... Era um de seus engenheiros.

Diaz a olhou com o cenho franzido.


Anahí tinha um aspecto muito diferente do que tinha durante a reunião
daquele primeiro encontro. Então vestia um traje de jaqueta e tinha o
cabelo recolhido em um coque. Mas hoje estava com um vestido cor
creme e um pulôver ajustado que marcava seu corpo, que tanto gostava
Alfonso. Além disso, usava o cabelo solto.

De repente, Diaz pareceu reconhecê-la.

- Ah, sim. Já recordo, senhorita Puente. A engenheira que estava fazendo


um relatório sobre... fisioculturistas.

Anahí se ruborizou.

- Já lhe disse então que tudo foi um engano. Se tivesse comigo a pasta
que acreditava ter naquela ocasião, talvez não teria fechado a empresa.
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Anahí se ruborizou.

- Já lhe disse então que tudo foi um engano. Se tivesse comigo a pasta
que acreditava ter naquela ocasião, talvez não teria fechado a empresa.

- Você acredita? - perguntou, com total desinteresse.

A luz do elevador se acendeu. Estavam a ponto de chegar ao primeiro


andar, de modo que só lhe ocorreu uma solução. Desesperada-se, pulsou
o botão de parada. Ao menos tinha conseguido que Diaz reagisse.
Olhou-a, incomodado. De repente parecia um tigre enjaulado, ainda
tranqüilo, mas que podia exibir as unhas a qualquer instante.

- Por favor - disse Anahí -. Sei que não está satisfeito com os resultados
da Play Tyme, mas podem melhorar-se substancialmente.

- Parece-me incrível, tendo em conta que seu departamento não tinha


nenhuma idéia a respeito de como consegui-lo. Onde esteve todo este
tempo, senhorita Puente?

- Tentando que um chefe machista levasse a sério minhas idéias.

- Ah, sim, o senhor Kuno Becker. Que desastrado. Nem sequer sabia
colocar uma gravata.

- Não quis escutar nenhuma de minhas recomendações. Acredito que


atirou minhas pastas no lixo. Mas tenho cópias em minha casa.

- Em sua casa?

- Sim, e não está longe daqui. Se pudesse me conceder uns minutos...

Diaz baixou o olhar. Anahí se envergonhou ao dar-se conta de que em


seu nervosismo o estava segurando pela jaqueta. Tirou a mão com
rapidez e Diaz ficou em silêncio. Anahí não tinha nem idéia do que ele
podia estar pensando.

- Muito bem, senhorita Puente. Conseguiu despertar meu interesse.

Anahí respirou aliviada e esperançosa. Mas tentou comportar-se de


maneira profissional.

- Magnífico, senhor Diaz. Podemos agendar assim que o considere


conveniente.

- Agora é o momento mais conveniente.

- Como?
Diaz pulsou o botão do elevador, que voltou a ficar em marcha.

- Tem que ser agora, senhorita Puente. Tenho um vôo às dez. Tem o
carro estacionado perto? Minha limusine pode segui-la até sua casa.
- À minha casa? Mas espere. Eu não queria dizer que...

Diaz nem sequer escutou seus protestos.

- Pegue seu casaco e reúna-se comigo na porta principal dentro de


quinze minutos, ordenou, olhando seu relógio.

Partiu antes de que Anahí pudesse dizer qualquer coisa. Diaz agia como
o executivo que era, e ela parecia uma aficionada a seu lado. As coisas
tinham escapado de seu controle.

Não pretendia convidá-lo a subir a seu apartamento. Ou ao menos, não


tinha tal intenção. Limitou-se a mencionar que os arquivos estavam ali,
esperando conseguir reunir-se com ele no escritório no dia seguinte, à
primeira hora da manhã.

Mas se viajaria às dez ia ser impossível. Não sabia o que fazer. Estava
morta de medo. Alfonso ia apresentar-se em sua casa às sete, porque o
tinha convidado para jantar em comemoração ao seu aniversário. Teria
que avisá-lo por telefone. Estava certa de que ele o compreenderia. Que
compreenderia que trabalharia em sua casa com o Aaron Diaz até altas
horas da noite.

Não acreditaria. Sua estúpida admiração infantil pelo Diaz já tinha


causado suficientes problemas entre eles. Só havia uma forma de salvar
aquela situação. Afinal, era uma perita em eficácia. Imprimiria as pastas
para apresentar ao Diaz e conseguir que ele se fosse antes que chegasse
Alfonso. Mas enquanto se apressava a agarrar seu casaco notou uma
pontada no estômago. Aquilo podia acabar em um verdadeiro desastre, e
nunca em sua vida se sentira tão incapaz.

Não podia acreditar. Aaron Diaz estava com ela no saguão de seu prédio.
O extraordinário multimilionário e magnata, um dos homens mais ricos
e poderosos do planeta. Lembrou que tinha comentado a Alfonso que
faria qualquer coisa para estar dez minutos com ele, e agora estava
desesperada tentando encontrar uma forma de livrar-se imediatamente de
seu admirado executivo.
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Pegou as chaves na bolsa, tentando tirar da cabeça a idéia de que Diaz
pudesse interpretá-la mal. Quando colocou a chave na fechadura, a porta
da senhora McGinty se abriu. Anahí fez um gesto, perguntando-se como
podia saber sempre quando chegava. Talvez tivesse um radar.

- Annie, olhe o que ganhei no bingo - disse a anciã.

Ao ver a silhueta elegante do Diaz ficou boquiaberta.

- Outro? - perguntou sua vizinha -. estiveste jogando no bingo outra vez?

- Não - murmurou ela, abrindo a porta -. Desta vez foi jogando pôquer.

A senhora McGinty o olhou de acima a abaixo.

- Trocarei isso pelo saco de batatas que acabou de ganhar, ok?.

Anahí convidou Diaz a entrar, sem lhe dar oportunidade alguma para
que entendesse aquela estranha conversa.

- Sente-se – disse -. Irei imprimir as pastas.


Anahí se dirigiu a toda velocidade para seu quarto, onde ficava o
computador. Olhou seu relógio. Eram 17:45 horas. Estava certa de
terminar com o Diaz em menos de uma hora. Teria o tempo justo para
servir o jantar e trocar de roupa antes que Alfonso chegasse.
Antecipadamente, tinha preparado quase todas as coisas e a mesa já
estava posta, com a baixela da China e velas compridas.

Em poucos minutos sua impressora fez uma cópia do relatório. Olhou-o


e retornou à sala. Surpreendeu-lhe observar que Diaz tomou muito a
sério seu oferecimento. Tirou a jaqueta, afrouxou a gravata, sentando no
sofá passando um braço pelo encosto.

Anahí sorriu e deixou o relatório sobre a mesinha de café.

- Bom, a primeira proposta se refere à utilização da robótica em...

- Me perdoe interrompê-la. Seria possível que bebesse algo antes que


comecemos? Tenho sede.

- Oh, é claro...

Anahí olhou o relógio e correu à cozinha. Encheu um copo de água e o


levou. Quando o provou fez um gesto de estranheza, como se não tivesse
bebido água em toda sua vida. E sua expressão foi ainda mais rara
quando Anahí voltou a insistir com o relatório.
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Estava entusiasmada em um discurso a respeito dos dispositivos de
segurança infestado de estatísticas quando Diaz emitiu um som e Anahí
o olhou.

Deixou seu copo de água a um lado e murmurou:

- Começo a acreditar que verdadeiramente me trouxe para seu


apartamento para me mostrar isso.

- Como?

- Quero dizer que a única razão pela que queria ver-me a sós era para me
mostrar esses informe.

- É obvio. Por qual outro motivo o faria?

Diaz arqueou uma sobrancelha e Anahí se indignou ao compreender a


que se referia.

- Não pensará de verdade que tentava seduzi-lo para não perder meu
emprego...

Diaz encolheu os ombros.


- Outras mulheres o têm feito com freqüência.

- Nesse caso esteve com as mulheres equivocadas - disse ela.

- Evidentemente.

Parecia haver tocado alguma fibra em seu interior, porque sua expressão
foi de tristeza. Tirou o braço do respaldo e se endireitou levemente.

- Espero que não me culpe por ter tirado uma conclusão equivocada,
senhorita Puente - disse, fazendo um gesto para a mesa, romanticamente
preparada.

- Estou esperando alguém.

- Suponho que a um desses cavalheiros que apareciam nas fotografias


que trouxe para a sala de reuniões, não é assim?

- Não. Trata-se de Alfonso Herrera. Acredito que o conhece.

- Ah, sim, o levantador de pesos. Ao observar seu apartamento me dei


conta do tipo de homens que aprecias - disse, com evidente ironia.

- Alfonso é um homem com tanta inteligência como talento - replicou,


zangada -. E você deve pensar o mesmo, uma vez que lhe ofereceu uma
colocação em sua cadeia de hotéis.

Diaz ponderou:
- Admito que o senhor Herrera é muito bom em seu trabalho.

- O que faz é importante para as pessoas. Que é mais do que pode


dizer-se sobre você, senhor Diaz – alfinetou. - Não parece que se
preocupe absolutamente com a sorte de toda a gente que deixou sem
trabalho.

- Não, certamente não perdi o sono por isso.


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Diaz se levantou e agarrou a jaqueta que tinha deixado sobre o sofá.
Estava disposto a partir. Fez a única coisa que podia fazer.
Tranqüilizar-se e tentar falar em outro tom.

- Então, não vai escutar o resto de minhas propostas? Não parece muito
interessado em salvar a empresa.

- Querida senhorita Puente, faz tempo que perdi todo interesse pela Play
Tyme. Meu único interesse agora é salvar o que puder.

- Sei - disse ela, com amargura -. Não quer que o associem à palavra
fracasso. Mas se abandonar a Play Time agora será precisamente o que
dirão. Terá fracassado.

Diaz a olhou com impaciência, mas Anahí continuou falando.

- Muito bem. Me dê esse relatório. Não lhe prometo nada. Analisarei-o


durante o vôo.

Satisfeita com a concessão, Anahí colocou o relatório em uma pasta.


Diaz foi vestir a jaqueta, mas quando enfiava um dos braços parou e
levou uma mão ao pescoço.
- O que houve? - perguntou Anahí.

- Nada – murmurou - Às vezes tenho um puxão bastante forte no


pescoço...

- Me deixe ver.

Aproximou-se dele e examinou seu pescoço. Diaz deu um pulo. Para ser
um homem de aspecto tão tranqüilo e civilizado, seus músculos
pareciam de pedra. Estava totalmente retesado.

Anahí recordou o comentário que tinha feito Alfonso sobre ele:


«Não é feliz. Vive sempre no limite».

Franziu o cenho e disse:


- Deveria relaxar-se mais freqüentemente, senhor Diaz. Cuidar-se um
pouco mais. Toda essa pressa não é boa para nada.

- Você começa a parecer como seu amigo, o senhor Herrera.

- Alfonso sempre consegue que deixe de doer o meu pescoço. Acho que
me lembro de como o faz.

Anahí pressionou o local e Diaz empalideceu.

- Não importa, senhorita Puente. Obrigado de qualquer jeito.

Afastou-se dela e se dirigiu à porta. Ao fazê-lo deu um passo para trás.


Infelizmente naquele preciso instante apareceu Capeta, que ficara todo o
tempo debaixo do sofá.
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Diaz lhe pisou no rabo e a gata saiu disparada, derrubando o abajur.
Assustado, Diaz recuou e caiu com Anahí no sofá. Acabou literalmente
em cima dela, enquanto o abajur se fazia em pedacinhos no chão. Os
dois se moviam tentando levantar-se.

- Oh, basta! - exclamou, horrorizada ao contemplar que a manga de seu


pulôver se enredou em seus botões -. Vai rasgar o meu vestido.

- Puxe forte.
Mas seus esforços só conseguiram piorar a situação. Anahí tentou dar a
volta levemente ao pulôver para desenganchá-lo, e então se deu conta de
que alguém estava batendo na porta.

- Anahí! Está aí? - perguntou uma voz familiar.

Era Alfonso.

Os dois trocaram um olhar de surpresa e redobraram seus esforços por


libertar-se.

Alfonso acabava de chegar, com um buquê de flores sob o braço. Sabia


que ainda era cedo, mas estava ansioso por vê-la. Queria desculpar-se.
Comportou-se como um idiota pela manhã, zangando-se pela inteligente
desculpa que tinha dado a sua mãe por telefone. Sua velha insegurança
tinha sido a única culpada disso. Sabia que Anahí não era como Marcy.
O que eles sentiam era algo muito mais profundo e forte que sua paixão
de adolescente. Já tinha se passado suficiente tempo desde aquilo para
que a ferida estivesse ainda aberta. Equivocou-se em pressioná-la para
que fizesse algo para o qual não estava preparada ainda.

Impaciente, tinha chegado a duas conclusões. Que não deixaria que


Anahí desaparecesse de sua vida e que estava disposto a esperar todo o
tempo necessário. E ensaiara dizer-lhe isso aquela noite.
Esperava que estivesse em casa depois das cinco, que não fora um
daqueles dias que ficava a trabalhar até tarde. Começou a chamar na
porta no preciso momento em que escutou ruído no interior. Alfonso
pôde ouvir o miado de Capeta, seguido por um forte golpe.
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Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
- Anahí? - repetiu, franzindo o cenho e colando o ouvido à porta.

Os sons que chegavam do interior eram bastante estranhos. Como se


alguém se estivesse brigando. E nesse momento escutou Anahí:

- Basta! Vai rasgar o meu vestido.

Uma voz masculina respondeu, ameaçadora:

- Puxe forte.

O pulso de Alfonso se acelerou.


- Anahí! - exclamou, batendo na porta -. Está tudo bem?

Ninguém respondeu. Começava a alarmar-se. Girou o maçaneta. Se não


abrisse logo derrubaria a porta.

Mas assim que se abriu ficou gelado ante a cena que se desenvolvia ante
seus lhos. Anahí estava tombada no sofá com o Aaron Diaz. O magnata
parecia zangado e ela tentava separar-se dele.

- Oh, Alfonso! Isto não é o que parece...

Mas Alfonso não escutou mais nada. Um instinto furioso fez que lhe
ardesse o sangue e se apressou a defender sua mulher. Atirou as rosas ao
chão e se atirou contra Diaz, que não pôde reagir. Alfonso o agarrou do
pescoço da jaqueta e o colocou em pé.

- Alfonso! Não! - gritou ela.

Furioso, não podia ouví-la. Deu-lhe um soco no rosto que Anahí teve
que fechar os olhos.

Entretanto, aquilo não evitou que escutasse o tremendo impacto em seu


queixo. Quando voltou a abrir os olhos Diaz, o homem com mais êxito
do mundo jazia no chão de seu piso, gemendo.
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CAPÍTULO 10
Anahí se tampou a boca com a mão. Olhou aterrorizada para Diaz e se
afastou do sofá.

- Alfonso, o que fizeste?

- Te salvei desse canalha. Estás bem, amor? - Perguntou, atraindo-a para


si.

- Mataste Diaz...

Mas o magnata gemeu, para contradizê-la. Levantou-se e levou a mão ao


queixo. Anahí pôde notar a tensão que crescia em Alfonso e se preparou
para interpor-se entre os dois homens. Entretanto, Diaz não parecia
muito disposto a responder. Além disso, nenhum homem em seu são
julgamento teria enfrentado Alfonso naquele estado. Anahí nunca o tinha
visto tão furioso. Sua respiração era acelerada e seus olhos brilhavam
com fogo. Parecia um guerreiro selvagem da antigüidade.
- Oh, Alfonso, não entende...

- Entendo-o perfeitamente - disse, olhando o Diaz -. Será melhor que no


futuro mantenha as mãos afastadas dela.

Diaz se sentou no sofá, olhando Alfonso.

- Nunca a toquei - disse, tocando o lábio partido -. De fato, foi bem ao


contrário.

- É certo, Alfonso - disse ela -. Foi minha culpa.

- Como?

Anahí estremeceu quando notou que era a ela a quem ele olhava com
fúria agora.

- Não o estava agarrando exatamente. Tentava lhe dar uma massagem.

Alfonso cruzou os braços.


Anahí só estava complicando as coisas.

- Tinha um torcicolo no pescoço. Tentava aliviá-lo um pouco, fazendo o


que você me faz. Então apareceu Capeta e ele perdeu o equilíbrio, de tal
forma que caímos no sofá...

Anahí sentiu um calafrio. Tinha medo de que Alfonso não acreditasse.

- E que demônios faz Diaz aqui, em primeiro lugar?

- Era para ser uma estadia rápida antes de tomar o avião. Tínhamos que
discutir a respeito de certos projetos.

Anahí assinalou com um gesto a pasta onde estavam. Alfonso mantinha


uma atitude beligerante, embora começava a duvidar. Anahí recebeu
uma inesperada ajuda por parte do Diaz.
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- A senhorita Puente está dizendo a verdade, Herrera. Meu pai me disse
algo que não deveria esquecer, que não misturasse nunca os negócios
com o prazer - comentou, esfregando o queixo -. E acredite, nada do
ocorrido neste apartamento pode considerar-se prazeroso. Exceto, claro
está, que a dor desapareceu que meu pescoço.

- Já lhe disse que Alfonso é muito bom com essas coisas.

- Pois se este é um exemplo de seus métodos, Herrera, não acredito que


tenha muitos clientes - disse Diaz.

Alfonso se ruborizou levemente. Deixou cair os braços e disse:

- Se tiver cometido um engano, sinto muito.

- Não sente tanto quanto eu - disse, levantando-se e agarrando seu


casaco.

- Oh, não, senhor Diaz, não pode partir agora - disse Anahí -. Será
melhor que lhe coloque um pouco de gelo, ou que chame um médico...

Mas Diaz parecia estar completamente recuperado e se dirigiu à porta.

- Tenho que pegar um avião, senhorita Herrera.


Anahí olhou para Alfonso. Mas não ia conseguir nenhuma ajuda dele,
que voltou-se, enfiou as mãos nos bolsos e ficou olhando para a parede.
Teria que tentar tranqüilizá-lo ela mesma. Surpreendeu-lhe ver que Diaz
agarrava as pastas para levar consigo, embora agora seria difícil que não
fechasse a empresa.

- Não vai chamar à polícia nem a seus advogados pelo que ocorreu? -
perguntou com ansiedade.

- Não, senhorita Puente - disse, caminhando pelo corredor -. Não se


preocupe. Não tenho nenhuma intenção de denunciar seu atlético senhor
Herrera.

Anahí respirou aliviada.

- Alegra-me que não esteja zangado e que não respondesse a seu murro.

- Que não respondesse? Querida, não teria chegado aonde estou se não
soubesse sobreviver.

Despediu-se cortesmente e se dirigiu à entrada. De repente Anahí viu


que tinha caído um papel no carpete. Agarrou-o e não pode evitar
investigá-lo. Era uma notificação de divórcio.
- Senhor Diaz, espere!

Diaz se deteve e olhou atrás.

- Isto deve ser seu.


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Quando o viu, reconheceu-o e disse:

- É meu.

Mas não fez nada para agarrá-lo.

- Estou certa de que não quererá perdê-lo.

- Não passaria nada se o fizesse. Já o li. A terceira vez já se conhece


mais ou menos o conteúdo.

Mas finalmente agarrou o documento e o guardou no bolso, com certa


tristeza. Por uma vez, o elegante senhor Diaz parecia sentir-se
incomodado.

- Obrigado, senhor Diaz. E obrigado também por ter sido tão paciente
com Alfonso.

- Não entendo nada referente ao senhor Herrera, mas o invejo.

- Inveja ao Alfonso? - perguntou, surpreendida.

- Sim. Aparentemente seria capaz de fazer qualquer coisa, arriscar sua


vida, para salvá-la. No meu caso, nunca me importaria tanto com uma
mulher para isso.

Durante uns segundos, os olhos felinos do Diaz expressaram uma


profunda tristeza. Mas depois se tranqüilizou, contendo sua emoção.
Quando voltou a caminhar já tinha o mesmo aspecto arrogante de
sempre, mas aos olhos de Anahí já não era um homem com êxito. Bem
ao contrário. Provavelmente era o homem mais triste que tinha
conhecido.

Anahí fechou a porta, quase incapaz de enfrentar Alfonso depois do


acontecido. Estava apreensiva, mas o aborrecimento de Alfonso tinha
desaparecido. Ele tentava tirar a gata debaixo do sofá para ver se tinha se
machucado.

- Ele partiu? - perguntou ao vê-la.

- Sim, partiu-se.

- E suponho que com ele também se partiu a possibilidade de que seja


promovida.

Anahí suspirou.

- Não tinha nada que ver com isso. Diaz fechou a empresa. Tentava
convencê-lo de que não o fizesse. Não queria falar com ele esta noite,
mas era a única oportunidade que me teria dado. E agora nosso jantar se
arruinou. Sinto muito.

- Não, sou eu que o sente - disse, suavizando sua expressão e deixando a


gata a um lado -. Comportei-me como um bruto e estraguei todo.

- Pode ser que não. Diaz levou minhas propostas. Talvez as leia e troque
de opinião.
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- Depois de quase lhe quebrar o queixo? - disse, movendo a mão -.
Pensei que estava em perigo e não pude evitá-lo. É a primeira vez em
minha vida que bato em alguém. Comportei-me como um bárbaro.

- Sim, mas eu o adorei por isso.

- Como? Não te incomodou? Não vai me dizer que não necessita que
cuidem de você?

- Se tivesse estado verdadeiramente em perigo teria gostado que


estivesse aqui.

Alfonso a olhou durante uns segundos, assombrado pelo que estava


escutando.

- Nesse caso mudou muito desde a noite em que nos conhecemos.

- Suponho que sim. Talvez não tivesse dado conta até esta noite. Perdi
muito tempo pensando só em minha carreira. Preocupava-me tanto que
me promovessem que esqueci das razões pelas quais me formei em
engenheira, da garota que queria construir pontes. E não me esqueci só
disso. Esqueci-me do importante. Como Diaz.

- Diaz?

- Tinha razão. É infeliz. Divorciou-se pela terceira vez. Para um homem


que odeia tanto fracassar nos negócios, não parece que tenha muita sorte
em sua vida privada. Esqueceu que terá que preocupar-se com as
pessoas. Não quero terminar como ele.

- Não o fará - disse ele -. Já não pensa que é o homem com mais êxito do
mundo?

- Não, Alfonso - disse, aproximando-se dele e sorrindo -. É você.

A expressão do Alfonso era de gratidão e de incredulidade. Não tinha


mais que uma opção para convencê-lo: Beijando-o.

Uns segundos depois o olhou e murmurou:

- Feliz aniversário, senhor Herrera. Tenho um presente para você.

- Melhor que o que já me deste? - murmurou, beijando-a.


- Talvez.

Teve que lutar com todas suas forças para convencê-lo de que a deixasse
retirar o que tinha comprado pela manhã. Quando lhe deu o folheto da
agência de viagens, fez um gesto de estranheza.

- O que é isto? Uma viagem de ida a Marte?

- Abra-o.

Alfonso o fez com extrema lentidão. Quando tirou os dois bilhetes de


avião, pareceu confuso.
- Dois bilhetes de avião a Pittsburgh. Para você e para mim?

- Não, pensei que você gostaria de sair em férias com a loira da


academia – respondeu -. Claro que são para nós. Pittsburgh não está
muito longe do lugar onde vivem meus pais.

- E como acredita que reagirão quando aparecer com um levantador de


pesos para jantar?

- Oh, meu pai te fará um montão de perguntas sobre Black Bart. Minha
mãe o levará a um musical, e se meus irmãos estiverem lá ali discutirão
sobre qual lado você jogará futebol com eles. Em outras palavras, o
amarão tanto quanto eu.

Alfonso não foi capaz de olhá-la nos olhos durante um instante. Anahí o
observou. Estava verdadeiramente emocionado com seu presente.

- Me apresentar a seus pais é algo muito sério – disse -. Ao menos, no


lugar de onde venho.

- Também no meu.

Colocou os bilhetes de novo no envelope, de maneira quase reverencial.

- O mês que ganhou na academia terminou. Mas quero que continue


freqüentando comigo. Quero que esteja comigo para sempre.

- Tenta me pedir que me case contigo ou me vender uma carteira


permanente para sua academia?

- As duas coisas.

- Fará-me um desconto familiar?


- Talvez possa arrumar.

A brincadeira de Alfonso disfarçou a profunda emoção que via em seus


olhos. A mesma que ela sentia. Beijou-a, selando com isso o que tinha
começado na noite da tormenta de neve.

- Ainda se arrepende de ter ganhado a rifa? - murmurou, beijando-a na


fronte.

- Acredito que foi a noite mais afortunada de minha vida – sussurrou -.


Amo você, Alfonso.

- E eu a você. Mais do que pode imaginar.

Alfonso passou os seguintes minutos tentando mostrar-lhe, e


esqueceram-se por completo de seu jantar de aniversário.

Encantada com seus beijos, Anahí não protestou até que Alfonso a
agarrou em seus braços, disposto a levá-la escada acima.

- Pensei que queria que te admirasse por sua inteligência.


- Já teremos tempo para isso, amor - respondeu Alfonso, com aquele
sorriso que tanto gostava -. Todo o tempo do mundo.

FIM.

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