Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Um Professor Muito Especial
Um Professor Muito Especial
Anahí Puente pensou que não era mais que outro refrão que acrescentar
a já larga preparada lista de duras lições que tinha recebido. Olhou
assombrada o número que estava junto aos restos de sua muito cara
comida, esperando havê-lo ouvido mal.
Anahí teve que fazer um esforço para não gritar. A uma engenheira
como ela, hábil e inteligente, não lhe devia custar muito reconhecer que
o número que havia junto ao prato era o seu. Uma incômoda mecha de
cabelo loiro caiu sobre seus olhos azuis quando olhou assombrada seu
prêmio.
Mas foi muito lenta. Uns dedos de unhas muito bem cuidadas agarraram
o bilhete de Anahí.
Mas teve que admitir que Alfonso Herrera era atraente. Tinha um bonito
corpo e uns traços igualmente definidos. De marcadas maçãs do rosto,
seu queixo parecia de granito, tinha uma boca muito sensual, e as
sobrancelhas da cor do cabelo. Olhava-a com certa ferocidade, como um
guerreiro antigo.
Mas Cristian Chaves não parecia ser capaz de interpretar seu gesto de
aborrecimento, do mesmo modo que era incapaz de dar corretamente a
previsão do tempo.
- Anahí Puente.
- Senhorita.
- Sou uma das belas e sexy’s engenheiras da Play Tyme - respondeu com
frieza.
- Um mês? E o que vou fazer com ele durante o mês? - perguntou, sem
pensar o que dizia.
- Senhorita Puente?
Anahí estava descendo pela escada do cenário quando escutou a voz do
Cristian Chaves.
Cristian sorriu.
Todo mundo parecia haver-se levantado para dançar, mas não a perderia
de vista. Era alta e de cabelo brilhante. A Alfonso nunca tinha apreciado
as loiras, sobretudo se eram tão antipáticas como Anahí Puente.
Enquanto a seguia se deu conta da tensão que ela tinha nos ombros.
Gostava de gente que caminhava ereta, mas aquela mulher parecia um
sargento. Ao chegar à mesa, ela logo se sentou. Estava só. A pessoa que
a tivesse acompanhado ao jantar devia estar dançando ou procurando
algo para beber. Provavelmente teria sorrido e saído para esconder-se em
qualquer lugar, depois do acontecido. Embora não estava seguro de que
ela não estivesse só desde o começo.
Anahí se inclinou sobre a mesa para agarrar sua bolsa. Alfonso não pôde
evitar olhar seu decote, embora só por razões profissionais, é obvio.
Deu um passo para trás, antes de se chocar contra seu forte peito.
- Oh, não - disse Anahí, antes que Alfonso pudesse fazê-lo. - Marty, não
estou com vontade agora, de verdade.
- Por que?
- Aqui tem o meu cartão. Não tenho nenhum certificado nem nada
parecido. Minha contribuição à causa foi bastante inesperada. Mas na
parte posterior do cartão estão o endereço de minha academia e os
horários.
Era uma lástima. Ela aproveitaria muito as atividades. Era evidente que
sofria de estresse. Sua expressão preocupada, seus ombros tensos, seu
frasco de pastilhas contra a acidez, demonstravam um problema que
estava acostumado a tratar. Seu pai tinha sofrido os mesmos sintomas
antes de sofrer seu enfarte fatal. Mas Alfonso tentou não pensar nisso
enquanto se dirigia à saída do salão.
Era culpa dele. Tinha deixado a porta aberta e ao que parecia, ela o tinha
seguido sem notar onde se encontrava, por ser aquela área nova, na
empresa.
- Não sabia que estava... saiu tão depressa... Queria vê-lo antes de que
partisse. Tenho que falar com você, mas esperarei lá fora.
Estendeu-lhe seu cartão, mas ele nada fez para segurá-lo. Sua pequena
figura se refletia nos espelhos das paredes. Montões de Anahí’s que lhe
diziam com toda educação que guardasse seu cartão e que fosse para o
inferno. Perguntou-se como era possível que não apercebeu antes que as
loiras eram muito atraentes. E aquele vestido negro de seda era o
contraste perfeito para sua pele clara, cor de marfim.
- Bom, não posso fazer nada a esse respeito – brincou -. Mas posso te
programar umas boas sessões de exercício. Ajudei a mulheres ainda
mais magrelas.
Alfonso lhe colocou a mão na nuca, acariciando seu cabelo, para notar
os músculos de seu pescoço. Ao fazê-lo, franziu o cenho.
- Descobri!
- O que acontece?
- Justo o que pensava. Pescoço duro. Incapaz de se curvar. Muita tensão.
- Está muito tensa. Acredito que poderia fazer algo por você - disse, com
expressão inocente.
- Não?
Um pouco mais perto e poderia sentir seu peito nu, um peito tão
masculino e perfeito como o David, de Michelângelo. Mas Alfonso não
era de pedra. Era de carne e osso. Seu peito estava coberto de cabelo
negro, que lhe descia para o estômago, duro e liso. E seus shorts curtos
marcavam a forma de suas coxas.
- Sou uma mulher muito ocupada, senhor Herrera. Não tenho tempo para
continuar com estas tolices.
- Tentei ser educada, mas tenho que lhe confessar que ganhar o prêmio
fez-me sentir muito envergonhada. Agora todas as pessoas com as quais
trabalho suspeitam que estarei babando em seus bíceps, como o resto de
todas essas estúpidas mulheres. Que possivelmente estou interessada
em...
- Perder o tempo com um tipo sem cérebro como eu? - interrompeu-a.
- Não, senhor Herrera. Julgo-o pelo mesmo nível que aos muitos
machistas que me encontrei. Você é arrogante e egoísta. Embora tenha
que admitir que sua rotina profissional é uma maneira muito original de
tentar uma aproximação.
- Se tivesse intenção de lhe beijar o teria feito. Não sou civilizado. Sou o
homem das cavernas, lembra? E utilizo métodos muito mais diretos para
me aproximar de uma mulher, como este.
Mas em lugar disso ficou olhando-o, muito assombrada para dizer nada
coerente.
- Por que fez isso?
Por uma vez em sua vida, Herrera tampouco soube o que dizer.
Passaram uns segundos antes de que inclinasse a cabeça e dissesse,
sorrindo:
Anahí se tinha graduado com uma das dez melhores notas de sua classe
no Nortwestern e era uma das pessoas com mais talento do departamento
de engenharia. De fato, passou os seguintes minutos usando seu talento
para insultar mentalmente a Alfonso Herrera com os qualificativos mais
duros e brilhantes que pôde encontrar. Infelizmente ele estava na ducha,
e não podia ouvir o que ela estava dizendo.
Gostou?
Citar
Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Ficou a passear pelo vestuário, quase decidida a segui-lo e lhe dizer
vários insultos. Mas não. Tinha recuperado a prudência suficiente para
dar-se conta de que fazer tal coisa teria sido uma estupidez. Já tinha
cometido um engano ao segui-lo até ali. Não sabia o que podia ocorrer
caso o enfrentasse, completamente nu. Certas possibilidades fizeram que
uma onda de calor percorresse seu corpo.
Entretanto, tinha que admitir que não tinha sido a massagem, por muito
que tivesse gostado. Os culpados eram seus olhos de mel, sensuais e
perceptivos, com uma inteligência que a tinha pego de surpresa. Tinha
cedido durante um momento ante suas palavras, que prometiam que
aliviaria sua tensão como se realmente se importasse com ela. Teve uma
estranha sensação. Claro que lhe importava. Sobre tudo em certa zona
por debaixo de seus shorts. Além disso, não necessitava nem sua ajuda
nem a de ninguém em questões sexuais.
Seu beijo não a tinha estremecido tanto como certas palavras que havia
dito. Tinha comentado que o vigor de seus músculos não era o mais
adequado. E se por acaso fora pouco, tinha-a chamado esquelética.
Deteve-se para olhar-se em um dos espelhos. Inclinou a cabeça e se
observou com atitude crítica. Tinha passado bastante tempo deitando-se
tarde, saltando algumas refeições e dormindo pouco. Certamente o
vestido ficava algo solto. Dobrou um braço para testar seus bíceps. Mas
aquilo era ridículo. Anahí se separou do espelho desgostosa. Ela era uma
engenheira, não uma lutadora.
Embora fora certo, não era assunto de Alfonso Herrera. Não era mais
que um troglodita. Em circunstâncias normais, não teria conseguido
nada dela. Mas estava cansada. Passou todo o sábado fazendo as coisas
que não podia fazer durante a semana. E ao que parecia, nunca
encontrava tempo para dormir. Esqueceu-se de comer e durante o jantar
não fez outra coisa que magoar-se um pouco e beber muito vinho com o
estômago vazio.
Tinha que reconhecer que se encontrava muito tensa. Embora não
necessitava de Herrera para relaxar-se. Agarrou seu cartão e o rasgou em
pedacinhos, deixando-o em um lugar apropriado para assegurar-se de
que ele o veria. Mas aquele gesto a deixou insatisfeita. Não era
suficiente para expressar quão incômoda estava com seu
comportamento.
Abriu a porta de acesso aos boxes e deu uma olhada. O vapor indicava
que gostava das duchas largas com água muito quente. Pensou que lhe
teria vindo melhor uma fria, especialmente se se dedicava a intimidar as
mulheres que não conhecia para as beijar.
Gostou?
Citar
Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Olhou o lugar onde tinha deixado sua camiseta e seus shorts, frente aos
boxes. Nem sequer tinha fechado. De modo que abriu e descobriu que
dentro tinha uns jeans, uma camiseta e uma jaqueta escura. Ao parecer, a
única concessão do Herrera ao traje de gala de beneficência.
Então teve uma súbita e diabólica idéia. Pensou que não devia fazê-lo,
que era uma vingança excessiva, mas recordou as vozes desafiantes de
seus irmãos, quando era pequena.
Agarrou suas roupas e as levou. Não teve que ir nas pontas dos pés. Um
esquadrão de infantaria poderia ter destroçado o vestuário e Alfonso não
se teria dado conta. Podia ouvir sua voz apesar do som da água. Estava
cantando uma canção do Gilbert e Sullivan. Anahí surpreendeu-se.
A sauna.
Se tinha adquirido a Corporação Play Tyme, era certo que passariam por
coisas excitantes. E Anahí queria tomar parte disso. Colocou a fotografia
do Diaz junto a seu computador para inspirar-se e tirou seu teclado de
debaixo de um montão de papéis.
Gostou?
Citar
Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Ligou o computador e se tranqüilizou um pouco. Gostava dos
computadores. Geralmente respondiam quando lhes davam as ordens
adequadas. Diferente dos homens, muito obstinados e imprevisíveis.
- Annie?
Exceto pelo fato de que tinha ganho um homem que a tinha beijado com
tanto ardor que até se esqueceu de seu próprio nome durante uns
segundos. Mas evidentemente não disse nada disso.
- Por que? Nem sequer são dez da noite. Já sabe que costumo ficar até as
doze.
- Quando foi a última vez que levantou a vista desse computador para
ver o que ocorre fora?
Anahí deu a volta para olhar pela janela, obediente, e o que viu a
surpreendeu. Quase não podia ver-se o céu entre a espessa cortina da
tormenta de neve que estava caindo. Levantou-se e colou o rosto no
vidro. O estacionamento já estava completamente branco. No telejornal
se limitaram a dizer que seria um simples dia nubloso.
- Que jovem?
- Um que não pode arrancar seu carro. Não posso ajudá-lo até que
chegue Bill.
Além disso, tinha estacionado o carro bastante longe. Anahí saiu pela
porta norte e caminhou junto à parede para resguardar-se o máximo
possível durante a curta caminhada até o carro. Ao menos não fazia
calor. Nem tão frio como esperava. Os flocos de neve caíam a seu redor.
Já havia uma capa de vários centímetros, suficiente para que
empapassem a fina pele de seus sapatos e suas meias de nylon.
Quando chegou ao lugar onde tinha estacionado, descobriu que seu carro
azul estava completamente coberto de neve. Não havia nenhum outro
veículo, salvo uma caminhonete. Havia alguém junto a ela. Devia
tratar-se do jovem a que se referiu Stan.
Teve o impulso de voltar para seu carro e esquecer do assunto, mas não
podia deixá-lo na nevasca. Enquanto se aproximava, Alfonso esbarrou
no capô, frustrado.
- Não pega.
- Posso entender uma explicação mais técnica. Não acredito que deva
pensar ser óbvio que não sei nada sobre carros só pelo fato de que sou
uma mulher.
- E só porque seja um homem, não acredito que tenha por que pensar
que sei algo sobre carros.
Sua justa e rápida resposta fez que se sentisse bastante tola. De modo
que se aproximou só para esconder sua vergonha.
- Nesse caso, deveria saber que é necessário revisar os carros antes que
chegue o inverno. Deveria tê-lo levado em outubro. A...
Gostou?
Citar
Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
- Olhe, em outra oportunidade te agradeceria pelos conselhos. Mas
provavelmente quando terminá-los, estaremos completamente cobertos
de neve. Não acredito que possa fazer nada por mim. Será melhor que vá
embora. Eu entrarei até que chegue o reboque.
Alfonso sorriu.
- Teria gostado de fazê-lo, mas tive certos problemas para me vestir.
- Oh, não, obrigado. Para que te comporte como uma louca outra vez?
Como saber se não acabarei no fundo de um barranco em qualquer
parte? Prefiro encontrar nós em minha cueca a morrer de frio.
- Não te deixarei em qualquer lugar – disse -. Sinto muito pelo que fiz
com sua roupa. Foi uma criancice. Não sei o que me passou. Parece que
consegue tirar o que há de pior em mim.
Anahí se perguntou como ele era capaz de sorrir com tanto encanto
quando ambos estavam tão gelados como dois esquimós perdidos em
uma tormenta. Ou como podia sentir-se tão excitada.
- Será melhor que deixemos uma coisa clara agora. Levarei-te, mas se
me prometer que não haverá surpresas.
- Surpresas?
Girou a chave de contato sem pensar duas vezes. A camada de neve era
ainda fina, de modo que o limpador de pára-brisas a eliminou em
seguida. Embora o interior do carro começasse a esquentar, teve que
soprar as pontas dos dedos. Tinha-os gelados. Alfonso então tirou as
luvas e as ofereceu.
Anahí fez um gesto negativo com a cabeça.
- O cavalheirismo não funciona comigo.Você as necessita tanto quanto
eu.
Alfonso não a compreendeu. Era filho único, e teria dado algo para ter
irmãos.
- Suponho que deve te incomodar muito - comentou ela.
- Como te atreves!
- Isso não é o que acaba de dizer. Você... - Anahí começou a dizer toda
série de incongruências, embora o absurdo daquela discussão fez com
que pensasse no aborrecimento, tanto que estava a ponto de rir.
- Por que ficou até tão tarde? A festa terminou faz muito tempo.
- Não fiquei na festa. Subi ao escritório para terminar um trabalho que
queria ter preparado para na segunda-feira. Não me dei conta da hora
que era.
- Não fui com ninguém - disse ela -. Mas poderia havê-lo feito, se tivesse
querido.
Esperava que ela soubesse, porque ele não tinha nem a menor idéia. Não
estava acostumado a afastar-se tanto da estrada principal. A maior parte
de seus clientes eram atletas, não yuppies que freqüentam clubes sociais.
E Alfonso gostava que fosse assim.
Gostou?
Citar
Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Aprumou-se no assento, incomodado. Tinha-lhe entrado neve nas botas
e as meias três-quartos estavam molhados. Sentia um formigamento de
frio nos pés. Perguntou-se como ela estava agüentando, tendo em vista
que usava meias de nylon, sapatos de salto e um abrigo bastante fino.
- Isso não foi minha idéia. Acredite, foi tão humilhante quanto a você.
- Bom, já sabe como somos, os brutos como eu. Muito músculo e pouco
cérebro.
- E não o sou. Ou ao menos não o era. Mas suponho que aprendi que o
mundo dos negócios requer mais diplomacia e menos orgulho.
A julgar por sua expressão, Alfonso pensou que a lição tinha sido
dolorosa. Seu bocejo cansado lhe intrigou tanto quanto seu sorriso triste.
Mas antes de que pudesse perguntar alguma coisa, o carro começou a
morrer.
- Nada. Nunca pensei que chegaria o dia em que uma mulher utilizasse a
desculpa de haver ficado sem gasolina comigo!
Agarrou sua bolsa e tirou o frasco dos antiácidos. Mas igual ao tanque
do carro, o tubo estava vazio. Fez um gesto de frustração, atirou o tubo
no assento posterior e se afastou do olhar de Alfonso. Se estivesse a sós,
teria começado a chorar.
Só podia ver uma linha de árvores, uma cerca e o que parecia ser o
campo.
- Magnífico. Nesse caso teremos que esperar a que alguém nos ajude.
Tem mantas ou algo assim no porta-malas?
Começou a desabotoar a parka. Mas assim que ela se deu conta do que
estava fazendo, negou-se.
Gostou?
Citar
Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
- Não! Já foi suficientemente terrível que te meta em tudo isto, por
minha causa, para que agora deixe que te congele.
Anahí pensou que devia resistir. Mas ao notar seu corpo sentiu
imediatamente os benéficos efeitos de seu calor. Seu orgulho
desapareceu.
Teve que fazer um verdadeiro esforço para não apoiar a cabeça em seus
ombros e começar a chorar. Sentia-se muito arrependida pelo que tinha
feito, deixando que o carro ficasse sem gasolina, e esquecendo as
mantas. Especialmente, depois de ter dado um sermão em Alfonso a
respeito do que tinha que providenciar para o carro no inverno. Sempre
tinha sido muito eficiente. Completamente capaz de enfrentar qualquer
situação. E entretanto, não se reconhecia a si mesmo.
Sua vida parecia ter entrado em uma espiral fora de controle desde o dia
que a despediram daquele trabalho e retornou a casa de seus pais.
Receberam-na com uma festa surpresa. Organizaram-na para felicitá-la
pelo que esperavam que fosse uma promoção certa e uma viagem a
Alemanha. Sua avó a recebeu com lágrimas de orgulho e seu pai se
vestiu para a ocasião. Até seus irmãos, Pat e Bill, brincaram com ela lhe
dizendo que já tinham contado a novidade a meia cidade. Seu irmão
maior, Mike, tinha chegado de avião com sua mulher, do oeste, só para
assistir ao acontecimento.
E não foi capaz de fazer outra coisa que ficar na porta, sem fala, sorrindo
com tristeza, com aquele bilhete rosa no bolso que acabava de arruinar
sua auto-estima. Perguntou-se se alguma vez voltaria a ser como era.
Entretanto, não estava disposta a chorar diante de Alfonso Herrera.
Gostou?
Citar
Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Embora tivesse um problema, tendo em vista que estava no colo de um
homem, supunha-se que devia apoiar a cabeça em seu ombro. Era o
normal. E se sentia incômoda estando tão perto dele. Tirou as luvas e
insistiu em que ao menos as colocasse, já que compartilhava sua parka
com ela.
- Ou o que?
- Ou encontro alguma outra forma para relaxar. - respondeu, de repente
tão consciente como ela da intimidade da situação.
- Estás já aquecida?
Anahí se deu conta das rugas que sulcavam sua face. Não eram rugas de
dor, mas sim de uma pessoa acostumada a rir muito. Como ela no
passado. Então não podia recordar quando deixara de fazê-lo.
Gostou?
Citar
Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Sem pensar-lhe duas vezes, acariciou-lhe a bochecha. Alfonso a olhou
surpreso mas não fez nada para detê-la.
- Nesse caso, não posso imaginar como beija quando o faz a sério.
Alfonso a beijou.
Ela quis resistir, mas estava muito excitada para poder fazê-lo. A força
de seu abraço e o calor de seus lábios fez que uma onda de calor
percorresse seu corpo. Entregou-se a ele, convidando-o. Alfonso lhe
colocou uma mão na nuca e logo continuou beijando-a lenta e
sensualmente.
Começou a acariciá-la subindo da cintura, até chegar a seus seios. Anahí
se estremeceu, arqueando-se ante o desejo. Tinha passado muito tempo
negando o prazer e soltou um gemido enquanto se agarrava a seus
ombros. Seu mundo começava a estar deliciosamente fora de controle.
Ao pensá-lo teve medo e se separou dele para voltar para seu assento.
Alfonso nem sequer teve tempo para reagir. Mas não tentou detê-la.
Estava tão assombrado quanto ela.
Gostou?
Citar
Marci. .
Marci. . - 02/06/2009
Anahí respirou profundamente várias vezes para tranqüilizar-se. Seu
coração batia tão depressa que tinha a impressão de que era o único som
que podia escutar-se no interior do carro.
- Eu o farei.
Antes de que pudesse fazer nada, Alfonso abriu a porta e saiu. Uma
rajada de ar frio entrou no carro. Parecia estar ansioso por colocar certa
distância entre ambos e ao dar-se conta se estremeceu.
Sem o amparo de seu corpo, não passou muito tempo antes de que
começasse a ficar gelada de novo. Abraçou-se a si mesma. O resultado
era um pobre substituto do corpo do Alfonso, mas entretanto funcionava
muito menos comprometedor.
Não tinha nem idéia do que estaria pensando Alfonso, mas teve a
decência de não dizer nada. De modo que se deu a volta e agarrou a
bolsa e as chaves do carro.
Mas o perigo maior que tinha em mente não era o frio, a não ser a
presença tentadora de Alfonso.
Começou a caminhar para as casas, mas não tinha dado uns poucos
passos quando Alfonso se aproximou e a levantou, agarrando-a em seus
braços com uma facilidade que a deixou pasmada. Tentou protestar, mas
ele a olhou de tal forma que não se atreveu a isso.
- Oh!
Anahí notou, envergonhada, que tinha estado agarrada a ele com muita
força. Soltou-o e ficou em pé com tanta rapidez que teria acabado no
chão se ele não a tivesse segurado novamente. Apesar de que a tinha
levado nos braços quase todo o tempo, ela estava com os pés dormentes
e gelados.
Uma mulher idosa saiu ao corredor, vestida com um quimono. O que lhe
faltava aquela noite era ter que agüentar a fofoqueira de sua vizinha, a
senhora McGinty.
- Até que enfim, já está aqui, Annie. Estava muito preocupada com a
nevasca sabendo que tinha saído para a festa, de modo que fiquei
acordada para comprovar que voltava sã e salva.
Mas sua vizinha não lhe prestava atenção. Olhava Alfonso com
curiosidade. Entretanto, Anahí não estava disposta nem a apresentá-los
nem a lhe dar nenhuma explicação.
- Não - respondeu.
Annie abriu a porta de sua casa e deu boa noite à sua vizinha. Deixou
que entrasse Alfonso e fechou a porta de repente.
- Por Deus, Anahí - disse, irritado -. Será melhor que tire esse abrigo e
coloque algo seco. Está empapado. Só tentava te ajudar.
Anahí deu um passo atrás, de tal maneira que a mesa de madeira maciça
se interpôs entre eles.
- Muito bem. Nesse caso, me diga onde está o telefone para que possa...
- Não olhe, Anahí. Acredito que sua casa foi assaltada por um maníaco
por comida industrial.
- Muito bem - respondeu ele ante seu assombro -. Olhe, Anahí, não é
necessário que te comporte assim comigo. Só sou um convidado em sua
casa. É livre para subir e trocar de roupa se quiser.
- Obrigado, é possível que o faça. Ao menos irei procurar uma sandália.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Tirou-se os sapatos de salto e subiu as escadas, que Alfonso supôs,
levavam ao quarto. Observou-a enquanto subia. Parecia tão tensa e
empertigada como quando a tinha conhecido aquela noite.
Alfonso sorriu. Estava seguro de que não voltaria a dizer que era um
bom homem. Tirou a parka e a pendurou no cabide da entrada . Logo
discou os números das companhias de táxi e perguntou se poderia
conseguir algum depois da tormenta de neve. As duas primeiras
companhias sequer atendiam a ligação.
Exceto por uma coisa. Sob a caixa de pizza que havia no sofá algo se
mexeu. Alfonso ficou tenso. O apartamento era novo, mas não podia ter
ratos. Então viu o rabo dourado. A caixa de papelão caiu a um lado e
apareceu um gato siamês. Alfonso respirou aliviado e o animal o olhou
com curiosidade. Era o tipo de gato adequado para Anahí: distante e
sério. Sorriu ao pensá-lo. Um gato profissional.
A mulher que aparecia naquela fotografia era muito diferente da que ele
tinha conhecido. Perguntou-se o que ocorrera para que mudasse tanto.
Não tinha idéia. Só sabia que estava disposto a trabalhar duro com ela
para que recuperasse aquele sorriso novamente. Mas atrás das
fotografias havia algo igualmente interessante. Um documento
emoldurado, seu título em engenharia. Magna Cum Sentencie. E ao lado,
seu certificado de master em desenho industrial.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Foi como se lhe dessem uma bofetada. Recordou então ser difícil
encontrar algum ponto em comum entre eles. Simplesmente não havia.
Como não o havia anos atrás entre ele e Marcy. Nem sequer quis
apresentá-lo a seus amigos nem a sua família.
- Estás melhor?
- Tiveste sorte?
- Não, não tive sorte. Nem sequer funcionam os ônibus. Nada exceto os
veículos de emergência. Talvez possa chamar à polícia.
- E o que lhes dirá? Socorro! Me salvem desta mulher!
- Bom, falou-me de uma oficina que está aberta toda a noite. Fica muito
longe?
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
- A meio quilômetro pela estrada, mas não podes partir com este tempo.
Annie suspirou.
- Bom, suponho que terei que te hospedar até amanhã.
Certamente não era a oferta mais calorosa que tinha recebido em sua
vida.
- Não, obrigado - disse, empertigando-se -. Entre a temperatura que faz
lá fora e a que faz aqui, prefiro a do exterior.
Nem sequer tinha dado dois passos quando notou uma mão em seu
braço.
- Como um trem que se choca contra o final de uma linha? - sugeriu ele
-. Sinto o mesmo.
- Bom, seu sofá será mais cômodo que qualquer oficina suja. Além
disso, é só até amanhã.
- É mais cômodo do que parece.
Alfonso lhe disse que não se preocupasse com isso, mas Anahí
imediatamente começou a retirar as coisas que havia sobre o sofá.
Enquanto ela se inclinava, Alfonso não pôde evitar olhar pelo decote
profundo do pijama. Mostrava algo alvo debaixo.
Alfonso esteve a ponto de suspirar. Talvez uma noite fosse muito para
suportar.
Cama. Quis dizer que fosse para a cama, mas ao pensá-lo começou a
imaginar o que sentiria dormindo com ela.
Queria lhe perguntar de onde o tinha tirado, mas não lhe pareceu uma
boa idéia. Apesar de que não podia evitar pensar nisso. Aproximou-se e
perguntou com toda a normalidade que pôde:
- Está certa de que ninguém vai zangar se por me descobrir em seu sofá?
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
- Quem iria se incomodar?
- Com certeza. O deixou por aqui quando saiu de casa. Minha mãe tinha
a hábito de comprar muitos pijamas. Não queria que os filhos do juiz
Puente tivessem que sair correndo da casa nus, como selvagens, caso
houvesse um incêndio.
Mas nem sequer tinha dado um par de passos quando se deteve de novo,
voltou-se, sorriu-lhe e disse:
Alfonso sabia o que ela queria dizer. Ocorria o mesmo com ele. Estava a
sós com ela e era muito consciente de seus encantos. Despertavam seu
desejo. Teria dado algo por um par de pesos para aliviar-se. Queria lhe
dizer que subisse logo, que iria embora de sua residência antes que
ocorresse algo que os dois lamentariam. Mas aquela estranha expressão
apareceu de novo em seus olhos.
Alfonso suspirou.
O animal começou a miar frente à porta de vidro que dava ao pátio, com
tanta força como para despertar todo o edifício.
Anahí pensou que talvez a blusa do pijama não cobrisse tanto como
supunha. Mas tampouco lhe tinha ocorrido pensar que Alfonso estaria no
chão, olhando-a de baixo para cima. Nervosa, apagou a luz da sala.
- Sim...
- Bom, aqui estamos. Uma tormenta de neve fora e uma lareira acesa
dentro. As luzes apagadas, o vinho... Eu diria que é um cenário bastante
romântico para unir um fisioculturista e uma engenheira.
- Eu?
- Bom...
Anahí duvidou. Não queria lhe contar a respeito do emprego que tinha
perdido. Não queria falar sobre a humilhação que aquilo lhe impôs, ao
ter que enfrentar seus amigos e sua família naquela festa.
- Você lia, cantava, fazia esqui aquático... me diga algo que não tenha
deixado de fazer.
- Tenho que fazê-lo, para crescer. Além disso estou assistindo a vários
cursos e freqüento aulas de golfe.
-Golfe?
- Pois é. Meu pai não aprovava minha atual profissão mais do que você
aceita. Queria que deixasse de fazer esporte, que fizesse algo intelectual,
como participar de debates ou coisas parecidas. Precisamente estávamos
discutindo sobre isso o dia em que...
- Não sei o que aconteceu com seu pai, mas estou segura de que não foi
sua culpa.
- Suponho que parte de mim sabe. Mas outra parte... Não deixo de me
dizer que devia ter dado conta de quão difíceis que lhe pareciam as
coisas, do tão esgotado que estava e de quão infeliz era. Mas então era
muito egoísta para me dar conta disso. Desde pequeno era muito grande
em altura e desajeitado. Quando completei os dezesseis anos mudei, e
passei de patinho feio do colégio para herói. Os outros meninos vinham
me pedir permissão para fazer coisas.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
- E o sucesso com as garotas também…
- De modo que agora está procurando outra coisa. Uma mulher que te
queira por sua inteligência.
Anahí lhe acariciou o cabelo, dando-se conta de que passara toda a noite
desejando fazê-lo. Era um cabelo forte e entretanto muito suave.
Alfonso a olhou.
Anahí não soube interpretar o que havia em seus olhos, mas fosse o que
fosse o pegou pela mão. Abriu-a e a beijou na palma, conseguindo que
se estremecesse dos pés à cabeça.
Então, Alfonso recolheu a mão.
- Temos que parar com tudo isto. Não acredito que seja uma boa idéia.
- O que?
Alfonso a observou.
- Anahí!
- Sim.
Anahí o olhou.
Segurou seu rosto entre as mãos e a beijou nos lábios, nas bochechas e
no queixo com extremada delicadeza. Ela suspirou e correu os dedos
pelo dorso das mãos, beijando-lhes. Quando viu a marca da gata em seus
nódulos seu desejo transformou-se em
preocupação.
Perguntou-se o que teria acontecido. Até poucas horas antes era como
um computador que tivesse estado aceso durante muito tempo. Alfonso
tinha a impressão de ter pulsado a tecla inadequada. Ou talvez tivesse
sido ela. Em todo caso suas mãos o acariciavam por debaixo da
camiseta, provocando sua resposta.
Excitado, beijou-a ainda com mais força e lhe acariciou os seios sob a
blusa do pijama. Começou a desabotoar-lhe e de repente Anahí o
agarrou no punho para detê-lo.
- Não...
- Não? - perguntou, olhando-a -. Anahí, mudaste de idéia ou tenta me
deixar louco?
- Isso também. Mas me referia que, igual a ela... pratico o sexo seguro.
Enquanto a observava, com seu corpo iluminado pela luz do fogo, quase
ficou sem respiração. Tinha a pele cor marfim, e seus seios quase
cobertos pelo cabelo. Tinha inclinado a cabeça e fechado os olhos.
Parecia esconder multidão de encantadores mistérios femininos, tão
velhos como Eva. Sentou-se a seu lado, no carpete. Pôde ver seus seios
através de seu cabelo, e o jogou para trás para poder apreciá-los melhor.
Abraçou-se a ele e se entregou com paixão. Alfonso girou com ela sobre
o carpete e beijaram-se quase imediatamente. Sua resposta foi rápida.
Pensou que se não tivesse cuidado ela o tomaria ali mesmo, com a
mesma velocidade com que Anahí fazia as coisas. Estava claro o que
esperava dele, do duro e sempre disposto homem das cavernas. Talvez
fora o momento adequado para mostrar à dama outra faceta de Alfonso
Herrera, que raramente revelava. Não tinha muitas coisas que oferecer a
uma mulher assim, mas ao menos tinha uma.
Mas Alfonso não era como a maior parte dos homens, além de ter
músculos de aço, possuía uma vontade de ferro. De outro modo não teria
podido explicar como podia beijá-la durante tanto tempo com tanta
lentidão e tanta delicadeza.
Estava aterrorizada.
Viveu muito tempo só para o relógio, fazendo tudo com pressa. E tinha
medo de descobrir o que poderia aprender se se detivesse em algum
momento e começasse a pensar ou a entregar-se completamente ao
Alfonso.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Estava a ponto de desmaiar entre seus braços. Alfonso começou a
beijá-la no pescoço e ela sussurrou:
- Claro que pode - disse, lhe acariciando a nuca -. Relaxe, Anahí, deixe
vir...
Surpreendia-lhe descobrir que o prazer não tinha por que ser uma
labareda rápida ou um instante fugaz. Era algo lento e constante que
consumia cada átomo de seu ser. Perguntou-se como podia torturá-la
com tanto aprimoramento.
Ele sorriu, mas a tirou. E assim que o fez Anahí suspirou e lhe acariciou
o peito e os ombros. Alfonso agarrou de novo sua mão.
Anahí assentiu. Alfonso lhe beijou as pontas dos dedos e guiou sua mão
sobre seu peito. Podia sentir o calor de seu corpo. Quase era impossível
acariciá-lo com tanta suavidade. De repente sentia um inexplicável
acanhamento ao explorar seu corpo com tanto desejo como ele explorava
o seu.
Soube que tinha chegado o momento de sua vitória quando Anahí jogou
para trás a cabeça e deixou escapar um pequeno grito. Só então se
permitiu chegar ao final. Deixou seu auto-controle de lado e se fundiu
em seu corpo.
Ficou assim, abraçado a ela, durante um bom momento, sentindo o bater
de seus corações, saboreando a sensação de alívio, bem-estar e calma
que percorria seu corpo. Esperava que ela sentisse o mesmo. Mas
quando saiu de seu torpor para lhe separar o cabelo da face, viu
horrorizado que ela estava chorando.
- Machuquei-te?
- Não, não é nada. É só que fazia tanto tempo da última vez que... foi
muito bonito.
- Bonito?
Ela o olhou entre soluços.
- Obrigado.
Entretanto, era difícil admitir que era um homem de uma mulher só.
Quanto a Anahí, parecia estar interessada em desempenhar seu trabalho
e continuar em busca de novos desafios. Era uma mulher dedicada por
completo à sua profissão. E se alguma vez decidisse aquietar-se, o faria
com um tipo enfadonho e rico, não com alguém como ele.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Tentou recordar o que havia dito antes de adormecer, aquela tolice a
respeito de apaixonar-se por ele. Não, não acreditava que fosse possível.
Aquela relação não tinha muito futuro. Talvez seria melhor levá-la a sua
cama e deixá-la lá. Mas parecia muito mais difícil do que tinha pensado.
Olhou-a. Tinha os lábios levemente entreabertos e uma expressão
relaxada.
Sempre tinha tido uma fraqueza pelas mulheres assim, sobretudo pelas
que tinham uns olhos azuis tão vulneráveis. E a simples visão de seu
corpo, pálido e nu era suficiente para fazê-lo arder de desejo. Mas se
obrigou a fazê-lo. Soltou-a lentamente e a carregou em seus braços. Ela
protestou em sonhos. Levou-a até o segundo piso. A luz da rua foi
suficiente para lhe iluminar o caminho.
Seu quarto era feminino, mas não muito pessoal. Tanto as cortinas como
o edredom da cama, que estava sem fazer, eram brancos como a neve.
Deitou-a sobre a cama e se deu conta de que era enorme. Muito grande
para uma mulher só. Entretanto, assim que a deixou sobre ela se deu
conta da razão pela qual a teria escolhido.
Alfonso decidiu que faria um favor aos dois. Partiria antes de que
despertasse pela manhã.
*
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Anahí suspirou com os beijos do Alfonso e a sensação que lhe produzia
o contato de sua cálida pele e do fogo. Então a visão desapareceu em
metade de uma nuvem de fumaça azul. E surgindo como um gênio, a
senhora McGinty se materializou ante seus olhos
como saindo de uma garrafa, com o cabelo cheio de cachos.
Mas era muito tarde. A anciã senhora levou Alfonso consigo, sorrindo.
- Alfonso! - exclamou.
- Alfonso?
Esta vez o chamou em voz mais alta. Não recebeu nenhuma resposta e se
sentiu insegura. Levantou-se da cama com tanta rapidez que esteve a
ponto de cair. Agarrou o roupão e o colocou, amarrou o cinto e desceu as
escadas.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
A metade de caminho parou para olhar a sala. Ainda permaneciam os
rescaldos na lareira, como uma lembrança do romântico interlúdio que
tinha compartilhado com Alfonso. Tanto as mantas como os lençóis que
lhe tinha deixado para que dormisse estavam perfeitamente dobrados em
cima do sofá. E sua parka tinha desaparecido.
Uma intensa sensação de vazio se apoderou de seu estômago.
- Alfonso! - gritou.
- Mas o que...?
Alfonso pulou para trás, deixando cair a metade das achas de madeira
que tinha pego para substituir aos que havia na gaveta de ferro. Com
aquele rosto duro, o cabelo caindo sobre a face, e a parka molhada e fria
parecia uma espécie de mineiro. E entretanto, ninguém lhe teria parecido
tão atrativo naquele momento. Teve que resistir para não atirar-se a seu
pescoço. Recuperando o equilíbrio, deixou os troncos na gaveta e a
olhou preocupado.
Anahí o olhou nos olhos e tentou encontrar uma resposta lógica. Mas
não tinha nenhuma.
- Pensei que tinha te trocado por um edredom.
Nem sequer se tinha imaginado que tinha sonhado com ele, nem que se
despertou aterrorizada ao acreditar que tinha ido embora sem despedir-se
dela.
Não tinha razão para sentir-se tão triste. Desde não ter estado meio
sonolenta, jamais teria reagido daquele modo. Apesar do que tinha
ocorrido entre eles na noite anterior, apenas o conhecia. Era virtualmente
um estranho. Embora um estranho que tinha bebido vinho com ela,
compartilhando confidências e lhe feito amor apaixonada e
delicadamente. Tinha sido algo mágico. Mas por alguma razão tudo
parecia diferente à luz do sol que atravessava as janelas da cozinha.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Inclusive Alfonso tinha um aspecto diferente. Seus olhos pareciam sorrir
ao vê-la, mas havia um resquício de preocupação neles. Ou talvez fora
porque se sentira muito exposta. Ele estava vestido e ela meio nua.
Apertou o cinto do roupão com mais força e evitou fitar-lhe os olhos. Ele
se inclinou para recolher os troncos que tinha deixado cair.
- Meu Deus, é tão tarde... é quase meio-dia. Devia ter despertado mais
cedo - disse, com nervosismo, arrumando o cabelo.
- Não tem importância. Estavas muito cansada, de modo que fui ver
como se encontravam as estradas. Pode-se circular por elas
perfeitamente. A neve se derreteu.
Sua voz se apagou assim que se deu conta de tudo o que ele tinha feito
enquanto ela ormia.
Ao dar-se conta do muito que tinha feito por ela, se ruborizou. Fazia
amor apaixonadamente, tinha conseguido que relaxasse, e que se
esquecesse de seu trabalho, de suas amargas lembranças, e de tudo
aquilo que não fora o simples prazer que existia entre um homem e uma
mulher.
Realmente, não eram muitos. Não tinha razão para sentir-se tão
incômoda ante seu cavalheirismo.
- Cuidar de gente é uma das coisas que melhor sei fazer. A maior parte
das mulheres gosta muito.
- Não tem nada a ver com isso. Tem a ver com ontem à noite.
- A que se refere?
Anahí quis lhe dar uma explicação. Mas tentava explicar-se mais para si
mesmo que para ele.
- Oh, não, obrigado - disse, metendo as mãos nos bolsos -. Acredito que
será melhor que me vá. Encontrei um de seus vizinhos no
estacionamento. Prometeu uma carona até a oficina.
- Espera...
- Não nos damos a mão, ou algo assim? Podemos ser amigos, ao menos.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Aquilo soou estúpido inclusive a ela mesma.
Ponderou consigo que teria sido melhor ter ido embora a noite passada,
evitando a ambos aquele momento. Se fosse um cavalheiro, o teria feito.
Perguntou-se o que faria Anahí quando ele partisse. Provavelmente
voltaria para seu trabalho, comeria um pouco mais de comida gordurosa
e calórica e trabalharia em algumas estatísticas aborrecidas até que
voltasse a sentir-se tão tensa como antes, arruinando a formosa
expressão de sua boca. Não sabia por que se preocupava tanto com ela.
Suspirando, largou sua mão da sua.
- Se cuida - disse, beijando-a brevemente. Depois deu a volta e partiu.
Agarrou Capeta em seus braços e de repente pensou que não tinha falado
com o Alfonso a respeito do que ia fazer com seu prêmio. Saiu para
chamá-lo, mas já não o encontrou.
Anahí sorria. Depois de ter ganho Alfonso como prêmio, esperava que
acontecesse aquilo. Mas estava segura de que não duraria muito tempo.
Enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta e tirou as partes do cartão que
Alfonso lhe tinha dado. Só tinha que ceder o prêmio a outra pessoa.
Pensou ao menos em uma dúzia de pessoas que poderiam estar
interessadas em frequentar sua academia, mas sempre tinha alguma
objeção. O certo era que era mais complicado afastar-se de Alfonso do
que trocá-lo por um edredom.
Até que o conheceu não se deu conta do quão solitária que estava. Era
muito ocupada com seu trabalho para reparar que nem sequer tinha
amigos no Quad Cities. Só conhecidos.
Não estava acostumada à solidão, depois de ter crescido em uma casa
cheia de irmãos, amigos, e um pai e uma mãe sempre dispostos a
convidar alguém. A metade da vizinhança se criou em sua casa.
De modo que optou por ligar para uma velha amiga do colégio. Carla
estava trabalhando em Nova Iorque como agente literária. Adorou saber
notícias de Anahí. Em pouco tempo começaram a fofocar e a rir juntas
como nos velhos tempos. De quebra, contou-lhe sobre Alfonso Herrera.
Mas uma voz em seu interior perguntou quando. Talvez quando tivesse
sessenta anos e se aposentasse? Despertaria uma manhã e descobriria
que tinha perdido toda sua vida?
- Fim do trajeto.
Anahí se assustou ao ouvir aquela voz, que lembrava muito Alfonso.
Mas só era uma gravação. O transporte interno se deteve frente ao
terminal do edifício principal, e o motorista estava esperando que
saltasse para continuar com sua viagem.
Não, tinha que manter o controle sobre as coisas. De modo que tentou
animar-se enquanto se dirigia ao edifício de escritórios. Como sempre, o
departamento de engenharia estava quase vazio. A única pessoa que
estava habitualmente era Rosemary Peters, a elegante loira que no
momento, estava inclinada à mesa de Anahí.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Nunca se dera bem com a secretária, mas ao vê-la fez um esforço para
sorrir.
Anahí não soube a que se referia até que viu que tinham colocado um
montão de fotografias coloridas de fisioculturistas, em poses variadas,
no interior de seu escritório.
Havia uma nota do Marty Fremont sobre uma delas.
- Já vejo. Tão ocupada que não pôde assistir à uma importante reunião?
- Que reunião?
- Como?
O homem voltou-se e a viu. Não era o gerente. Era o próprio dono. Diaz.
Aaron Diaz. O multimilionário, o magnata.
Diaz lhe fez um gesto com a mão para que se sentasse, e Anahí
obedeceu. Kuno lhe ofereceu uma cadeira como cortesia, um gesto que
ela odiava. Afastou-se dele e agarrou a folha informativa sobre a
reunião. Era evidente que a maior parte dela corria a cargo do próprio
Diaz e a julgar pelos rostos dos assistentes não parecia muito prazerosa.
Seu tom era suave, mas dava a impressão de que era melhor não discutir
com ele. Seria melhor enfrentar-se com um tigre faminto. O gerente da
empresa, que estava sentado a sua direita, arqueou uma sobrancelha.
Anahí levou uma mão instintivamente à sua pasta, cheia das sugestões
que Becker tinha estado desprezando durante os últimos meses. Aquela
era sua oportunidade. Mas não se sentia capaz de falar. Cabia a
possibilidade de que se confundisse e cometesse um terrível engano.
Gostou?
Citar
Marci. .
Marci. . - 03/06/2009
- Quero ver funcionando imediatamente – disse -. Eu não gosto de
perder dinheiro, senhor Becker. Se quisesse dedicá-lo a obras benéficas
teria comprado uma igreja, e não uma fábrica.
Anahí tentava encontrar forças para falar. Mas sua confiança parecia ter
desaparecido em alguma parte. Quase podia escutar a seus irmãos, lhe
dizendo:
- Senhor Diaz.
- Sim, senhor.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Guardou as fotografias em sua pasta e desabou na cadeira, com aquela
horrível sensação na boca do estômago. Apenas se deu conta de que
Diaz estava olhando seu relógio.
Todos se levantaram. A ironia foi que Kuno Becker lhe deu um tapinha
no ombro ao passar, aumentando sua sensação de derrota. Ficou sentada
só na sala muito tempo depois que todos saíram. As palavras de Diaz
ainda permaneciam em sua memória, como um eco.
Terminou por largar os pesos. Igual a sua vida, também aquilo tinha sido
um fracasso. Não lhe interessava outra coisa. Não podia tirar da cabeça a
cena da sala da reunião, nem deixava de pensar no que poderia ter feito
se houvesse dito as coisas de maneira diferente. Se tivesse trabalhado no
domingo estaria preparada. Se comparecesse ao seu escritório, teria
ordenados seus documentos como o resto dos engenheiros. E ao fim
chegou à ridícula conclusão de que se não tivesse dormido aquela noite
com Alfonso Herrera teria prestado mais atenção ao seu trabalho.
Abriu os olhos. Frente a ela estava a última pessoa que esperava ver.
- Alfonso!
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Guardou as fotografias em sua pasta e desabou na cadeira, com aquela
horrível sensação na boca do estômago. Apenas se deu conta de que
Diaz estava olhando seu relógio.
- A reunião terminou. Tenho um almoço de negócios e logo tenho que
pegar um avião. Mas espero que tenham algumas respostas quando
retornar aqui no mês que vem. E lembrem-se: Não estou acostumado a
fracassar.
Todos se levantaram. A ironia foi que Kuno Becker lhe deu um tapinha
no ombro ao passar, aumentando sua sensação de derrota. Ficou sentada
só na sala muito tempo depois que todos saíram. As palavras de Diaz
ainda permaneciam em sua memória, como um eco.
Terminou por largar os pesos. Igual a sua vida, também aquilo tinha sido
um fracasso. Não lhe interessava outra coisa. Não podia tirar da cabeça a
cena da sala da reunião, nem deixava de pensar no que poderia ter feito
se houvesse dito as coisas de maneira diferente. Se tivesse trabalhado no
domingo estaria preparada. Se comparecesse ao seu escritório, teria
ordenados seus documentos como o resto dos engenheiros. E ao fim
chegou à ridícula conclusão de que se não tivesse dormido aquela noite
com Alfonso
Herrera teria prestado mais atenção ao seu trabalho.
Abriu os olhos. Frente a ela estava a última pessoa que esperava ver.
- Alfonso!
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Estava em frente a ela, impedindo que levantasse os pesos. E não lhe
custou muito. Seu coração batia a toda velocidade, e embora não
estivesse esgotada, o simples fato de tocá-la teria bastado para que lhe
bambeassem as pernas. Não pôde evitar sentir-se alegre, eufórica, como
se não o visse há anos.
- Alfonso - sussurrou, sorrindo.
- Exercício.
- Disse-te que tinha que te cuidar um pouco, não que te matasse. Fez
alongamento antes?
Com tudo o que tinha passado, não precisava discutir com Alfonso a
respeito de um assunto estúpido. Além disso, já lhe doíam bastante os
músculos.
- Não deveria ter feito com tanta raiva e velocidade – disse -. Quanto
tempo faz da última vez que fez exercício de verdade?
- Não sei.
- Vim ver o chefe de pessoal. Ainda tenho que discutir alguns detalhes
da academia.
- Não deveria fazer exercício dessa forma. Faz uns alongamentos para te
acalmar.
Cada vez que se movia podia ver perfeitamente a silhueta de seus seios.
Alfonso suspirou. Talvez fora ele que precisasse tranqüilizar-se um
pouco.
- Exato.
Ficou boquiaberta.
- Você foi a pessoa com a qual ele iria almoçar... meu deus, Alfonso,
tem idéia de quem é?
- Sim, claro.
- Não queria dizer isso. Mas do que tinham que falar? Não parece estar
muito interessado nos assuntos financeiros.
- Não, e seu amigo Diaz não sabe falar de outra coisa que não seja
negócios. Ficou impressionado com o programa que criei para melhorar
a forma física dos trabalhadores e reduzir com isso o custo com
acidentes trabalhistas e das licenças. Gosta de tirar o máximo proveito
do potencial de cada pessoa. Embora seria mais apropriado dizer que o
que gosta de é usar as pessoas em seu próprio benefício. Queria que eu
fosse ao este para desenvolver um programa similar em sua cadeia de
hotéis e cassinos, como assessor chefe.
- Não posso acreditar. Estiveste com o Diaz durante toda uma hora.
Daria meu braço direito por poder ficar quinze minutos a sós com ele.
No final, o que havia entre eles era a noite que tinham feito amor,
apaixonada e desenfreadamente. Mas não disse nada. Na realidade os
dois sabiam que se tratava de algo mais profundo, algo que preferiam
evitar. Anahí desviou o olhar e se concentrou nos laços das sapatilhas.
Alfonso se alegrava muito disso, agora que sabia que tinha intenção de ir
ao hotel. Talvez não tivesse em mente uma aventura, mas não sabia
como poderia reagir Diaz se lhe apresentasse a oportunidade. Era tão
famoso na sedução como nos negócios.
- Ai!
- Nada...
- Tente.
Anahí fez um gesto negativo com a cabeça. Não gostava de chorar sobre
os ombros de outros, mesmo sendo um ombro tão tentador e poderoso
como o de Alfonso. De qualquer maneira, sabia que não compartilhava
de suas ambições. Mas a massagem que ele fazia a tranqüilizou. Sua
tensão desapareceu rapidamente e soltou um gemido de prazer. As mãos
de Alfonso eram mágicas. Seus olhos eram tão sensuais que em pouco
tempo se viu contando tudo o que tinha ocorrido, inclusive o acontecido
na sala de reunião.
- Não. Por que tenho que repetir isso a todo mundo? Não eram minhas!
- Bom, não seria tão terrível. Estou certo de que a metade dos homens
que estavam na reunião colecionam fotografias da Playboy.
Subitamente Alfonso notou que algo tinha mexido com ela e começou a
tocá-la com mais ardor. Emocionado, inclinou-se sobre ela para beijá-la.
- Alfonso...
Anahí vestiu o pulôver. Deu-se conta de que estava tremendo, nem tanto
pela debilidade de seus músculos e sim pelo desejo que ardia em seu
interior.
Ambos se afastaram um pouco, tentando acalmarem-se. Alfonso enfiou
as mãos nos bolsos, como se fora o lugar mais seguro para as colocar.
- Isso não é o que queria dizer, e sabe muito bem. Refiro-me a isto tão
peculiar que ocorre entre nós.
- Peculiar? Ah sim, que um homem e uma mulher se atraiam e se
desejem. Sim, suponho que é bastante estranho.
- Muito bem. Não direi mais nada - disse, fazendo um gesto zangado -.
Tinha esquecido que é uma profissional muito ocupada. De todas
formas, nunca acreditei que fosse passar um mês inteiro em minha
academia.
Anahí estava disposta a lhe pedir desculpas de novo por não querer seu
prêmio e inclusive a lhe dar explicações. Mas em lugar disso franziu o
cenho.
- Bom...
Algo em seu incrédulo tom de voz fez que Anahí se sentisse como
Capeta quando a acariciavam de forma que não gostava.
Anahí tentou dar uma explicação, embora mais para si mesmo que para
ele.
- Quero que seja meu preparador, nada mais. Se for à sua academia, o
mínimo que exijo é receber o prêmio que ganhei. Afinal tive que pagar
por aquele bilhete.
Ela o observou, admirando seu corpo. Sua boca ainda molhada pelo
beijo que se deram.
- Agora posso. Mas espero que fique claro que nossa relação será
estritamente profissional, certo?
A idéia pareceu tão excitante a Anahí que teve que afastá-la da cabeça
fazendo um grande esforço e respirando profundamente.
- Estritamente profissional - insistiu, oferecendo a mão.
Havia meia dúzia de pessoas fazendo exercício, incluindo uma loira que
levantava pesos. Em sua opinião tinha um corpo bonito, embora talvez
um pouco musculosa. E logo viu os homens.
- Ah, pensava que queria vir incógnita. Talvez tivesse medo de que
alguém pudesse ver que entrava - disse, baixando a voz até transformá-la
num sussurro melodramático. - Imagine... Entrar em um ginásio cheio de
halterofilistas.
- Todo mundo em meu trabalho sabe, e não tenho que guardar segredos a
ninguém mais, exceto à senhora McGinty. Desde sábado passado não
deixou de me fazer perguntas sobre você, e suponho que nós estamos de
acordo em que não queremos que ninguém pense que há algo sério entre
nós.
- Oh, não, claro. Não podemos permitir que alguém possa pensar algo
assim.
Anahí estava nervosa e não sabia o que fazer, de modo que deixou sua
bolsa de esporte no mostrador e desabotoou o abrigo. Alfonso se
endireitou e se aproximou para ajudá-la.
- Como?
Queria vê-la de novo, por mais idiota que parecesse. Apesar do ocorrido
na sábado, parecia que há anos não se viam. Tinha sido um acidente,
uma casualidade, o resultado de uma rifa e de uma tormenta de neve.
Devia estar louco ao pensar que poderia ser o preparador de uma mulher
que o excitava constantemente. Seu aroma enchia todo o ar, fazendo que
recordasse a noite que tinha sido dela, apaixonadamente dela.O simples
fato de pensar nisso despertava seu desejo. Não era o mais apropriado
naquele momento. A idéia consistia em ajudar a Anahí a livrar-se de seu
estresse, não a intranqüilizá-la ainda mais. Era um perfeito idiota. Se
tivesse um mínimo de senso comum teria insistido em que se exercitasse
com outro dos preparadores. Mas então recordou a expressão teimosa de
Anahí e as palavras que havia dito no dia anterior quando sugeriu aquela
possibilidade:
Mas por outro lado se sentia aliviada de poder escapar embora só fosse
por uma noite, de um lugar tão físico. Eufemismo que escondia a
verdadeira razão, a de escapar de Alfonso. Depois de um longo dia de
trabalho, tratando com administrativos e suportando todas as negativas
do Kuno Becker cada vez que lhe apresentava um projeto para reduzir
gastos, Alfonso era uma espécie de baluarte forte, seguro, divertido e
com tal força interior que o invejava.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Aproximou-se da vidraça da porta da academia, colando seu nariz nela
como uma criança gulosa olhando doces em uma vitrine. Afastou-se,
sentindo-se completamente estúpida. Embora o primeiro andar estivesse
às escuras, podia ver que havia luz no segundo. Era a casa de Alfonso.
Nunca a tinha convidado a entrar.
Mas tinha que recordar uma e outra vez que tinha sido ela que tinha
insistido em manter uma relação estritamente profissional. Alfonso se
limitou a aceitar. Tratava-a com tal cortesia que às vezes queria gritar.
Era o preparador perfeito. Pormenorizado, duro, paciente e sempre
disposto a animá-la. Na realidade não podia queixar-se de nada.
Exceto de que queria que brincasse outra vez com ela, que falasse de
maneira sedutora e que a abraçasse.
- Olá – disse -. Saí muito tarde do trabalho. Não tinha dado conta de que
era mais tarde que as nove.
Anahí não sabia o que fazer, de modo que ele a agarrou pela lapela do
abrigo para que entrasse e depois fechou a porta. Ficou em pé, olhando-o
e sem dizer nada até que ele teve que perguntar:
- O que houve?
Alfonso os tirou.
Entretanto, não era isso. Estava muito atraente com eles. Davam-lhe um
toque de fragilidade que contrastava encantadoramente com sua
fortaleza física. Mas como sempre, duvidou que Alfonso pudesse
compreender um cumprimento desse tipo e se imitou a dar uma olhada
em sua casa.
- É a minha casa. - disse com certo desprezo, como se esperasse que não
gostasse.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Mas gostou. Era uma casa singela, masculina, mas tão grande, cálida e
generosa como ele mesmo. A sala ocupava toda a parte dianteira do
edifício, e o chão estava coberto de tapetes. Tinha algumas poltronas e
um sofá, tudo de grande tamanho e cômodo, lógico para um homem
como Alfonso. Havia uma pequena televisão em uma quina, mas todo o
espaço livre estava ocupado por estantes cheias de livros.
Passou uma mão pelos lombos dos livros e uma das prateleiras se
moveu. Alfonso a segurou.
- Brad e Ram?
- Sim.
Alfonso sorriu e Anahí pensou que era a primeira vez em muito tempo
que sorria de maneira aberta. Tinha a curiosa impressão de que aquelas
sessões que serviam para que ela relaxasse, produziam o efeito contrário
nele.
- Ah, bom... - disse, sorrindo -. É preferível que estejam aqui do que nas
rua, metendo-se em turmas ou algo assim. Embora pareça uma estranha
maneira de administrar um negócio.
- Para todo mundo exceto para mim - disse ela, com suavidade.
- Sou seu preparador. Supõe-se que devo te tratar com certa dureza -
disse, recuperando sua seriedade e tirando seu casaco do armário -. Olhe,
sinto que tenha feito todo o caminho para nada. Acompanharei-te ao
carro.
Parecia ter recordado que tinha que manter distância dela. Anahí pensou
que provavelmente queria voltar para a paz e à solidão da noite que tinha
interrompido, talvez a ler o jornal.
- Sim, claro, será melhor que eu vá. Mas não é necessário que me
acompanhe.
- De todas formas...
- Maldita seja, Anahí. Tem que ser sempre tão independente? Por que
não pode te limitar a sorrir, assentir e dizer obrigado quando quero fazer
algo por você?
Anahí estava preparada para seguir discutindo com ele, mas algo em
seus olhos a deteve. Estava irritado, mas sobretudo parecia sentir-se
ferido. De modo que por uma vez em sua vida engoliu seu orgulho.
Caminharam em silencio para seu carro. Fazia frio e soprava uma brisa
gelada do Mississipi. Anahí estremeceu e Alfonso teve que resistir ao
impulso de abraçá-la. Tinha ganho uma pequena batalha, persuadindo-a
para que o deixasse acompanhá-la. E não devia tentar sua sorte.
Alfonso fingia contemplar as vistas, embora só tinha olhos para ela. Seu
delicado perfil parecia mais pálido que nunca sob a luz da lua. Era
maravilhosa. Muitas noites tinha sonhado que aparecia em sua porta, tal
como tinha feito. Mas suas fantasias não incluíam um bate-papo a
respeito dos guris que freqüentavam seu ginásio, nem terminavam
acompanhando-a a seu carro. Tinham mais a ver com a cama. Sonhava
ver seu cabelo sobre o travesseiro, sentir seu cálido corpo e contemplar o
brilho de seus olhos. Todas terminavam com um profundo sentimento de
frustração.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Mas lhe tinha prometido que manteriam uma relação estritamente
profissional e Alfonso era um homem de palavra, capaz de cumprir suas
promessas embora naquele caso estivessem a ponto de matá-lo. Olhou-a
e se perguntou como se sentiria ela. Quando chamou a sua porta
acreditou ver uma expressão de solidão e tristeza nela. Mas
provavelmente só se devia à sua imaginação. Perguntava-se por que
razão seguiria freqüentando a academia. Talvez por obstinação, para lhe
demonstrar que podia ir um mês seguido sem problemas.
Aqueles momentos lhe recordavam que sob a fria executiva havia uma
pessoa cálida e encantadora, e inclusive podia imaginar que não estavam
tão longe um do outro. Aquilo era o mais perigoso de sua fantasia.
- É uma vista preciosa. Pergunto-me por que nunca vim por este
caminho.
Anahí suspirou.
- Como sabe?
- Além de que nem sequer sabia que hora era, costumo notá-lo por seu
cabelo - disse, incapaz de resistir à tentação de tocar-lhe.
- Meu cabelo?
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
- Quando tem um bom dia sempre vem com o cabelo solto ou recolhido
em um rabo-de-cavalo. Em caso contrário aparece com um coque.
- Sim.
- De novo?
Anahí apertou os lábios. Estava evidente que lhe era difícil falar sobre
isso. Era muito orgulhosa. Mas continuou:
- Para piorar as coisas, meus pais estavam tão convencidos de que iriam
me promover que prepararam uma festa surpresa e convidaram metade
da cidade. A mesma noite. Tive que suportar a humilhação de lhes dizer
que tinham me despedido.
Alfonso deixou cair sua mão. Sempre que falava daquele tipo em um
tom tão reverencial conseguia irritá-lo.
- Tanto o admira?
- A poesia?
- Claro que sim. Mas não vá dizendo-o por aí.
- Exatamente.
- O que?
- Falar sobre você mesmo desse modo. Como se não fosse mais que um
montão de músculos.
- Não sei. Suponho que seja porque a maior parte das pessoas me vê
desse modo. Só lhes dou o que esperam de mim. Conan o bárbaro. Não é
assim que você me chamou?
- Talvez.
Alfonso se deu conta de que era verdade. Disso e de que Anahí estava
muito mais perto dele. Em algum ponto da conversação deveriam ter
parado, porque agora estavam olhando-se de frente.
Anahí o olhava diretamente nos olhos, com doçura. Apesar do frio que
fazia, era muito romântico. A lua se refletia na água e em seu cabelo e
iluminava seus preciosos lábios. Era um momento ideal para fazer
promessas. Promessas que logo podiam quebrar-se. Estúpidas promessas
que não deviam ser possíveis.
Mas não podia resistir por muito mais tempo. Inclinou-se para beijá-la, e
em lugar do protesto que esperava, Anahí respondeu do mesmo modo,
suspirando e aproximando-se dele.
Atraiu-a para si, abraçando-a. Alfonso acariciou-lhe o cabelo. Algo se
quebrou em seu interior. E todas as barreiras que tinha edificado durante
os últimos dias ruíram ante seu apaixonado comportamento. Beijou-a
com doçura, envolvido por uma espiral de paixão.
Alfonso agarrou seu rosto entre as mãos olhando-a aos olhos com
doçura.
- Deixa que te leve de volta à minha casa e lhe demonstrarei isso.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
CAPÍTULO 8
Não chegaram a seu carro. A casa do Alfonso estava muito mais perto,
igual a sua enorme cama de madeira, grande e aconchegante. Sobre os
lençóis de algodão havia um edredom brilhante que destoava por
completo. Meio sem jeito, Alfonso contou que sua avó o fizera, e ele o
conservava porque não queria ferir os sentimentos da gentil senhora.
Anahí sorriu. Era um típico gesto de Alfonso, seu gentil bárbaro. Como
o apaixonado beijo que acabava de lhe dar.
Quando a ajudou a tirar a jaqueta não fez nenhum esforço para resistir à
sua cavalheiresca atitude. Nem sequer lhe disse que podia fazê-la só.
Desta vez estava contente de que o fizesse. Tanto que quando lhe tocou
se estremeceu. Podia notar o contato suave e quente de seus dedos
através de seu pulôver de cachemira.
Alfonso deixou a jaqueta em uma cadeira que havia junto à cama depois
tirou o pulôver. O abajur de noite demarcava ainda mais seus duros
traços e a solene expressão de seus olhos que nunca o abandonava.
Anahí fez um gesto negativo com a cabeça. Tinha todo o calor que podia
desejar.
- Nem rifas.
- Nem gatos.
Suas palavras a embriagaram, mas por uma vez não se importou. Tinha
estado competindo tanto tempo, tentando abrir caminho em uma
profissão tradicionalmente masculina, que tinha esquecido de certos
prazeres da condição de mulher.
- É linda - disse.
Podia notar sua respiração acelerada em sua pele. Anahí lhe acariciou os
braços e os ombros.
Sorriu com aquele sorriso que tanto gostava a Anahí. Encantadora, vaga
e muito sedutora.
Quando por fim chegaram à cama, Annie já não foi capaz de negar o
muito que tinha desejado que isso acontecesse, o muito que desejava a
Alfonso Herrera e o quão desesperada necessitava que ele a desejasse de
novo. O importante eram suas carícias, seus sorrisos e sua voz profunda.
- Não sabe quantas noites sonhei com este momento - disse ele, quase
dolorosamente.
Alfonso parecia lhe pedir mais e mais a cada segundo, em cada beijo,
cada vez que repetia seu nome em um sussurro. Não só seu corpo, mas
também sua alma. E quando conseguiu que chegasse ao clímax, toda a
tensão acumulada durante os últimos dias desapareceu. Sentia-se
estranhamente limpa, como se houvesse renascido.
Mas Anahí o beijou para impedir que continuasse falando. Sabia que ia
dizer algo que não queria ouvir.
- Como você quiser - disse, beijando sua mão e dizendo a si mesmo que
não deveria ser tão impaciente. Ao menos já conseguira algo importante
ao notar que uma mulher tão difícil como ela estivesse analisando a
situação para descobrir o que ocorrera entre eles.
Olhou por cima do ombro e observou uma ruiva alta que estava junto a
ele, em um dos edifícios da universidade de Iowa. Era Marcy. Alfonso
se surpreendeu. Pensava que havia se livrado de todas as suas
fotografias.
- Só uma garota que conheci na universidade.
- Mmm... - murmurou.
Quando Marcy o abandonou era muito jovem. A visão daquela foto foi
suficiente para despertar nele velhas e dolorosas lembranças, e todos os
medos que na ocasião imaginava serem os mais terríveis. Estava
profundamente apaixonado por Anahí. Antes que pudesse lhe fazer mais
uma pergunta a respeito, virou a página. Quando ela se interessou por
outra das fotografias se sentiu aliviado.
- Suponho que deveria. É meu padrasto. Casou-se com minha mãe faz
dez anos. Agora vivem na Florida.
- Black Bart Benton é seu padrasto?
- Claro que sei. Não sabe a quantidade de vezes que meus irmãos e eu
dizíamos que queríamos ser como ele. Meu pai nos levava sempre a ver
suas lutas, apesar da opinião de minha mãe.
Anahí não tinha sido tão feliz em sua vida. Inclusive estando a ponto de
perder seu emprego e interromper com isso sua carreira. Tudo mudou a
partir da noite que esteve na casa de Alfonso. Nada a assustava. Nem a
iminente volta de Diaz nem as negativas contínuas de seu chefe cada vez
que propunha algo. Freqüentemente se sentia tão tola como a
personagem de uma velha canção que se lembrava vagamente, algo
sobre ver flores em árvores que nem sequer tinham folhas.
Seguiu freqüentando a academia, mas a tensão que havia entre eles era
agora muito diferente. Esperavam que saíssem todos os clientes. Alfonso
colocava o aviso de <> e se voltava para ela com o desejo refletido no
rosto. Ela se aproximaria dele e subiriam à sua casa. Tomavam banho
juntos e iam para a cama. Ou, dependendo da urgência de seu desejo, em
um lugar na academia. Tinha muita vontade de descobrir o que se sentia
fazendo-o ali.
Algumas noites saíam para jantar e depois voltavam para casa de Anahí,
terminando a noite transando em frente à lareira. Tinha aprendido a
compartilhar sua cama, mas conservava a hábito de dormir no centro, de
tal forma que quase não deixava espaço para Alfonso. E ele não se
queixava disto.
O lençol só o cobria até a cintura, de tal forma que podia ver suas costas
e seus ombros. Eram muito atraentes, mas sua verdadeira força residia
em seu rosto. Um rosto interessante, forte. O rosto de um homem seguro
de si mesmo e ao mesmo tempo adorável. Gostava de seu queixo
marcado, a sensual curva de sua boca. Amava suas pestanas compridas e
o aura de inocência que tinha enquanto dormia. Definitivamente,
amava-o. Não podia seguir se enganando. Apaixonou-se por ele apesar
de não querer. Não estava preparada para isso, mas tinha acontecido.
Não tinha precisado de sete anos, tal como lhe havia dito sua velha
companheira de ginásio, Carla. Sorriu ao pensar que só tinha necessitado
de trinta e três dias, seis horas e quatorze minutos. Ou talvez se
apaixonara por ele no instante em que levantou o olhar de seu bilhete e
viu que se dirigia para ela.
Tinha estado cega. Sua obstinação a tinha impedido de notar antes. Mas
agora sabia e era a emoção mais profunda que tinha experimentado até
agora. Seu coração deu um salto e ela se inclinou para beijá-lo no rosto e
despertá-lo.
- Anahí?
Anahí suspirou.
- Sim. Diferente de sua dona, Capeta não parece muito interessada em
praticar o sexo seguro. Escapou um dia pela porta de atrás e ao que
parecer encontrou o seu gatão.
- Agora entendo.
- Não deveria dar massagens a menos que saiba o que está fazendo.
E de fato o fez.
- Aniversário?
- Parece ter se esquecido que hoje faz um mês que freqüento sua
academia. Suponho que meu prêmio expira com isso.
- Ah, isso...
Alfonso tinha tentado não pensar neste dia. O relacionamento deles era
muito importante para preocupar-se com o ridículo assunto da rifa. Mas
não sabia qual seria seu futuro, nem deveria fazer. Não lhe parecia muito
adequado continuar da mesma forma, indo de uma casa a outra até que
ela perdesse seu trabalho e fosse embora de Quad Cities. Os dois tinham
estado evitando pensar nisso, mas Alfonso sabia que não podiam
continuar assim. Não ia ser fácil, mas tinha que tocar no assunto.
- Pronto?
- Oh, sim. Está aqui - disse, lhe passando o fone e pedindo desculpas
com o olhar.
- Sim? Oh, olá, mamãe. Quem era? Não, ninguém. É o homem que veio
consertar o telefone. É, estava com defeito, não funcionava muito bem.
Parecia uma de suas brincadeiras habituais, mas não o era. Anahí notou
certa tensão nele, que alguns minutos antes não tinha existido. Sentou-se
e se cobriu com o lençol.
- Não queria te insultar, Alfonso. Não podia dizer a minha mãe que
estava dormindo com um homem que ela não conhece.
- De modo que ainda não disseste a sua família que está saindo com um
levantador de pesos?
- Não! Quero dizer... que você tenha uma academia não tem nada
demais.
Anahí não tinha contado o que sentia por ele a ninguém, entre outras
coisas porque nem sequer se atrevia a aceitá-lo perante si mesma.
- De fato, não tem nada que ver com o presente. É algo do passado, pelo
que ocorreu então. Ela sempre dizia a todos que eu era zelador - disse,
permanecendo em silêncio uns segundos antes de continuar -. E tinha
boas razões para fazê-lo, porque era exatamente o que eu era. Não
estudava na universidade. Era uma das pessoas que se encarregavam da
limpeza.
- Meu pai sofreu um ataque do coração durante o primeiro ano. Tive que
deixar de estudar para ajudar minha mãe a cuidar dele. Sempre pensei
que podia continuar estudando depois, mas quando meu pai morreu
havia tantas faturas a pagar que... Em vez de voltar para o colégio
terminei por me começar a trabalhar. O emprego da universidade foi um
dos muitos trabalhos que fiz.
- A Marcy importava.
- Nesse caso era uma condenada idiota. E fico feliz, porque caso
contrário estaria casado com ela e teriam um montão de crianças.
- Talvez - disse, enfiando as mãos nos bolsos -. Mas isso só serve para
ressaltar que existe outra diferença entre nós que estivemos esquecendo.
Eu não tenho medo de dizer que quero sentar a cabeça, ter uma casa e
uma família.
- Eu também. Algum dia.
- Faz muito tempo que o mais importante em minha vida foi minha
carreira. Não me preocupava com outra coisa que não fora voltar a
perder meu trabalho. Nem sequer tinha tempo para o amor, para pensar
em me casar...
- Sei. É bastante inconveniente, não é assim? - disse, quase com
amargura -. Sobre tudo com um cara como eu. Não me encaixo em seu
mundo profissional, Anahí. Às vezes me conformo em pensar que você
se encaixaria em minha vida, mas não posso me enganar. Você quer
outra coisa.
- Virá esta noite, sim? Vou preparar um jantar especial para nós. É nosso
aniversário, lembra-se?
Mas assim que saiu e fechou a porta, Anahí pensou que parecia
conformado, como se tivesse escrito o capítulo final de sua relação e não
terminasse precisamente de maneira feliz.
Anahí deixou sua bolsa de lado, atônita. Era o maior de seus temores,
embora tinha se convencido de que não ia acontecer. Mas havia voltado
a perder o emprego. Em teoria, deveria ter sofrido uma forte dor de
estômago, mas em lugar disso tinha uma estranha sensação que não
podia definir.
- Não posso acreditar - disse a secretária -. Faz vinte anos que trabalho
aqui, desde que saí do colégio. Pensava que não o deixaria nunca até que
me aposentasse. Eu gostava de meu trabalho. E agora não sei o que
fazer...
- A você isso não importa. Nada a prende a este lugar. Pode partir
tranqüilamente e só será uma linha mais em seu currículo.
- Para quê? Para lhe rogar que não nos deixe sem trabalho?
Rosemary sorriu. Parecia olhá-la com novos olhos. Não sabia se era
respeito ou se duvidava dela, mas em qualquer caso foi procurar as
pastas.
Foi mais difícil do que tinha pensado. Rosemary não podia encontrar as
pastas. Becker, como bom rato que era, apressou-se a abandonar o barco,
esvaziando seu escritório antes de partir. Não sabia se estavam entre o
montão de papéis que tinha deixado ou se pelo contrário os tinha atirado
ao cesto de lixo.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Felizmente, podia acessar a eles de outro modo. Seu chefe se queixou
em repetidas ocasiões sobre o tempo que passava no escritório, e se viu
obrigada a terminar o projeto em casa. Estavam no computador que tinha
em seu quarto.
Entretanto o mais difícil ia ser contatar Aaron Diaz. Encerrou-se no
gabinete do diretor geral e não recebia a ninguém, nem à imprensa nem
aos empregados que acabara de despedir. Mas tinha que sair alguma vez.
Anahí passou o dia dando voltas e esperando. E pouco antes das cinco da
tarde chegou sua oportunidade. Viu-o dirigindo-se ao elevador, seguido
por um bando de advogados, assessores e secretárias. Anahí avançou
para ele e conseguiu alcançá-lo no preciso momento em que entrava no
elevador. Empurrou literalmente uma secretária que pretendia entrar e
ficou a sós com ele quando se fecharam as portas.
Anahí se ruborizou.
- Já lhe disse então que tudo foi um engano. Se tivesse comigo a pasta
que acreditava ter naquela ocasião, talvez não teria fechado a empresa.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Anahí se ruborizou.
- Já lhe disse então que tudo foi um engano. Se tivesse comigo a pasta
que acreditava ter naquela ocasião, talvez não teria fechado a empresa.
- Por favor - disse Anahí -. Sei que não está satisfeito com os resultados
da Play Tyme, mas podem melhorar-se substancialmente.
- Ah, sim, o senhor Kuno Becker. Que desastrado. Nem sequer sabia
colocar uma gravata.
- Em sua casa?
- Como?
Diaz pulsou o botão do elevador, que voltou a ficar em marcha.
- Tem que ser agora, senhorita Puente. Tenho um vôo às dez. Tem o
carro estacionado perto? Minha limusine pode segui-la até sua casa.
- À minha casa? Mas espere. Eu não queria dizer que...
Partiu antes de que Anahí pudesse dizer qualquer coisa. Diaz agia como
o executivo que era, e ela parecia uma aficionada a seu lado. As coisas
tinham escapado de seu controle.
Mas se viajaria às dez ia ser impossível. Não sabia o que fazer. Estava
morta de medo. Alfonso ia apresentar-se em sua casa às sete, porque o
tinha convidado para jantar em comemoração ao seu aniversário. Teria
que avisá-lo por telefone. Estava certa de que ele o compreenderia. Que
compreenderia que trabalharia em sua casa com o Aaron Diaz até altas
horas da noite.
Não podia acreditar. Aaron Diaz estava com ela no saguão de seu prédio.
O extraordinário multimilionário e magnata, um dos homens mais ricos
e poderosos do planeta. Lembrou que tinha comentado a Alfonso que
faria qualquer coisa para estar dez minutos com ele, e agora estava
desesperada tentando encontrar uma forma de livrar-se imediatamente de
seu admirado executivo.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
Pegou as chaves na bolsa, tentando tirar da cabeça a idéia de que Diaz
pudesse interpretá-la mal. Quando colocou a chave na fechadura, a porta
da senhora McGinty se abriu. Anahí fez um gesto, perguntando-se como
podia saber sempre quando chegava. Talvez tivesse um radar.
- Não - murmurou ela, abrindo a porta -. Desta vez foi jogando pôquer.
Anahí convidou Diaz a entrar, sem lhe dar oportunidade alguma para
que entendesse aquela estranha conversa.
- Oh, é claro...
- Como?
- Quero dizer que a única razão pela que queria ver-me a sós era para me
mostrar esses informe.
- Não pensará de verdade que tentava seduzi-lo para não perder meu
emprego...
- Evidentemente.
Parecia haver tocado alguma fibra em seu interior, porque sua expressão
foi de tristeza. Tirou o braço do respaldo e se endireitou levemente.
- Espero que não me culpe por ter tirado uma conclusão equivocada,
senhorita Puente - disse, fazendo um gesto para a mesa, romanticamente
preparada.
Diaz ponderou:
- Admito que o senhor Herrera é muito bom em seu trabalho.
- Então, não vai escutar o resto de minhas propostas? Não parece muito
interessado em salvar a empresa.
- Querida senhorita Puente, faz tempo que perdi todo interesse pela Play
Tyme. Meu único interesse agora é salvar o que puder.
- Sei - disse ela, com amargura -. Não quer que o associem à palavra
fracasso. Mas se abandonar a Play Time agora será precisamente o que
dirão. Terá fracassado.
- Me deixe ver.
Aproximou-se dele e examinou seu pescoço. Diaz deu um pulo. Para ser
um homem de aspecto tão tranqüilo e civilizado, seus músculos
pareciam de pedra. Estava totalmente retesado.
- Alfonso sempre consegue que deixe de doer o meu pescoço. Acho que
me lembro de como o faz.
- Puxe forte.
Mas seus esforços só conseguiram piorar a situação. Anahí tentou dar a
volta levemente ao pulôver para desenganchá-lo, e então se deu conta de
que alguém estava batendo na porta.
Era Alfonso.
- Puxe forte.
Mas assim que se abriu ficou gelado ante a cena que se desenvolvia ante
seus lhos. Anahí estava tombada no sofá com o Aaron Diaz. O magnata
parecia zangado e ela tentava separar-se dele.
Mas Alfonso não escutou mais nada. Um instinto furioso fez que lhe
ardesse o sangue e se apressou a defender sua mulher. Atirou as rosas ao
chão e se atirou contra Diaz, que não pôde reagir. Alfonso o agarrou do
pescoço da jaqueta e o colocou em pé.
Furioso, não podia ouví-la. Deu-lhe um soco no rosto que Anahí teve
que fechar os olhos.
- Mataste Diaz...
- Como?
Anahí estremeceu quando notou que era a ela a quem ele olhava com
fúria agora.
- Era para ser uma estadia rápida antes de tomar o avião. Tínhamos que
discutir a respeito de certos projetos.
- Oh, não, senhor Diaz, não pode partir agora - disse Anahí -. Será
melhor que lhe coloque um pouco de gelo, ou que chame um médico...
- Não vai chamar à polícia nem a seus advogados pelo que ocorreu? -
perguntou com ansiedade.
- Alegra-me que não esteja zangado e que não respondesse a seu murro.
- Que não respondesse? Querida, não teria chegado aonde estou se não
soubesse sobreviver.
- É meu.
- Obrigado, senhor Diaz. E obrigado também por ter sido tão paciente
com Alfonso.
- Sim, partiu-se.
Anahí suspirou.
- Não tinha nada que ver com isso. Diaz fechou a empresa. Tentava
convencê-lo de que não o fizesse. Não queria falar com ele esta noite,
mas era a única oportunidade que me teria dado. E agora nosso jantar se
arruinou. Sinto muito.
- Pode ser que não. Diaz levou minhas propostas. Talvez as leia e troque
de opinião.
Gostou?
Citar
Moderação - Web's da Marci.
Moderação - Web's da Marci. - 03/06/2009
- Depois de quase lhe quebrar o queixo? - disse, movendo a mão -.
Pensei que estava em perigo e não pude evitá-lo. É a primeira vez em
minha vida que bato em alguém. Comportei-me como um bárbaro.
- Como? Não te incomodou? Não vai me dizer que não necessita que
cuidem de você?
- Suponho que sim. Talvez não tivesse dado conta até esta noite. Perdi
muito tempo pensando só em minha carreira. Preocupava-me tanto que
me promovessem que esqueci das razões pelas quais me formei em
engenheira, da garota que queria construir pontes. E não me esqueci só
disso. Esqueci-me do importante. Como Diaz.
- Diaz?
- Não o fará - disse ele -. Já não pensa que é o homem com mais êxito do
mundo?
Teve que lutar com todas suas forças para convencê-lo de que a deixasse
retirar o que tinha comprado pela manhã. Quando lhe deu o folheto da
agência de viagens, fez um gesto de estranheza.
- Abra-o.
- Oh, meu pai te fará um montão de perguntas sobre Black Bart. Minha
mãe o levará a um musical, e se meus irmãos estiverem lá ali discutirão
sobre qual lado você jogará futebol com eles. Em outras palavras, o
amarão tanto quanto eu.
Alfonso não foi capaz de olhá-la nos olhos durante um instante. Anahí o
observou. Estava verdadeiramente emocionado com seu presente.
- Também no meu.
- As duas coisas.
Encantada com seus beijos, Anahí não protestou até que Alfonso a
agarrou em seus braços, disposto a levá-la escada acima.
FIM.