Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2 LIGAÇÕES ATÔMICAS
Os elétrons ocupam níveis de energia discretos dentro do átomo. Cada elétron possui
uma energia particular, sendo que não mais que dois elétrons em cada átomo têm a mesma
energia. Isto também implica que há uma diferença discreta de energia entre dois níveis
energéticos.
1
As letras s, p, d e f são as iniciais das palavras inglesas sharp, principal, diffuse e fundamental,
respectivamente.
2
1
1s22s22p63s23p63d104s24p2
A Tabela 2.1 mostra o padrão usado para determinar a quantidade de elétrons nos
níveis de energia, e a Tabela 2.2 resume a distribuição dos números quânticos.
Tabela 2.1 – Padrão usado para determinar a quantidade de elétrons nos níveis
de energia
Camadas l=0 l=1 l=2 l=3 Máximo de
n
Quânticas (s) (p) (d) (f) elétrons
K 1 2 2
L 2 2 6 8
M 3 2 6 10 18
N 4 2 6 10 14 32
O 5 2 6 10 14 32
P 6 2 6 10 18
Q 7 2 6 2
Nota: Os valores 2, 6, 10 e 14 referem-se ao nº de elétrons no nível de energia.
2.2.3 Valência
A valência de um átomo é o número de elétrons que participa na ligação ou reações
químicas; habitualmente, a valência de um átomo é o número de elétrons nos níveis de
energia s e p mais externos. Alguns exemplos são mostrados a seguir:
O átomo de sódio (Na), por exemplo, possui número atômico 11 (Z = 11) e sua
configuração eletrônica é (2, 8, 1); para adquirir estabilidade ele perde um elétron, ou seja,
passa a ter a configuração eletrônica do átomo de neônio (2, 8).
Átomos não estáveis adquirem estabilidade completando, com oito elétrons, os seus
níveis s e p mais externos, ou esvaziando-os totalmente. O alumínio (Al) tem três elétrons
em seus níveis s e p mais externos; ele facilmente cede esses elétrons para esvaziar os
níveis 3s e 3p e ficar estável (a ligação atômica e o comportamento do Al são determinados
pelo mecanismo por meio do qual esses três elétrons interagem com os átomos vizinhos).
O cloro (Cl), como possui número atômico 35 (Z = 35), contém sete elétrons em seus
níveis mais externos 3s e 3p (2, 8, 18, 7); sua reatividade é causada pela capacidade que
tem de completar o nível de energia mais externo aceitando um elétron e ficando com a
configuração eletrônica do kriptônio (2, 8, 18, 8).
Existem compostos onde os átomos tornam-se estáveis com 4, 6, 12, 18 ou outro
valor de elétrons na camada periférica, constituindo-se exceções à Regra do Octeto.
- Exemplos:
Zn++, Ag+, Cu+ → estáveis com 18 elétrons na camada externa;
Fe++ → estável com 14 elétrons na camada externa;
Fe+++ → estável com 13 elétrons na camada externa.
2.2.5 Eletronegatividade
A eletronegatividade descreve a tendência de um átomo ganhar elétrons. Átomos
com seus níveis mais externos quase completos, tal como o cloro (Cl), são fortemente
eletronegativos e, portanto, facilmente aceitam elétrons. Átomos com seus níveis mais
externos quase vazios, tal como o sódio (Na), facilmente cedem elétrons e apresentam
baixa eletronegatividade.
Elementos que possuem números atômicos elevados, também apresentam baixa
eletronegatividade, devido os seus elétrons mais externos estarem a uma distância muito
maior do núcleo (positivo), não sendo, desta forma, fortemente atraídos para o átomo.
A Tabela 2.4 lista a eletronegatividade de vários elementos.
Cl 1s22s22p63s23p5 3,0
Br 1s22s22p63s23p63d104s24p5 2,8
I 1s22s22p63s23p63d104s24p64d104f145s25p5 2,5
At 1s22s22p63s23p63d104s24p64d104f145s25p65d105f146s26p5 2,2
Os elementos com baixa eletronegatividade (< 2,0) são algumas vezes definidos
como eletropositivos, que é o caso dos metais, por exemplo.
Cl– Na+ Cl
–
Nas ligações iônicas a atração eletrostática age em todas as direções, daí serem
chamadas de ligações não direcionais, tendo-se assim, forças de coesão que geram
arranjos tridimensionais.
Si
Ligação
covalente
Si
Si Si Si
Átomo de Silício
Si
Esse tipo de ligação primária é muito forte e, como resultado, os materiais ligados
covalentemente são muito duros, como também exibem elevado ponto de fusão. O
diamante, por exemplo, é constituído de átomos de carbono ligados somente por ligações
covalentes, consequentemente, esse material apresenta alta dureza e elevado ponto de
fusão (> 3300oC).
A ligação covalente apresenta caráter direcional, ou seja, cada ligação só ocorre com
um único átomo; no silício (Si), por exemplo, cada átomo é ligado a quatro átomos
vizinhos por quatro ligações covalentes. Por causa desse caráter direcional, os materiais
ligados covalentemente possuem ductilidade limitada.
Muitos materiais formados por ligações covalentes possuem péssima condutibilidade
elétrica (silício, diamante e muitos materiais cerâmicos), pois os elétrons de valência são
utilizados nas ligações entre os átomos e, portanto, não estão disponíveis para conduzirem
eletricidade.
Em alguns desses materiais (no Si, por exemplo), a introdução deliberada de
pequenas quantidades de outros elementos, denominados dopantes, permite a obtenção de
níveis controlados de condutividade elétrica, formando os materiais semicondutores.
As ligações covalentes podem ser simples, duplas ou triplas; quanto maior o número
de elétrons compartilhados, menores distâncias interatômicas e energias de ligação mais
elevadas são produzidas, conforme pode ser verificado na Tabela 2.5.
C–O 1,5 86
Ligações dativas O– S O–
A ligação metálica possui caráter não direcional, daí os metais apresentarem boa
ductilidade.
Como a ligação metálica é forte, geralmente os metais possuem pontos de fusão
relativamente altos.
Vale ressaltar que esse tipo de ligação é apenas um dos fatores que explicam as
propriedades dos materiais metálicos, pois existem outros relacionados à microestrutura
que também têm um papel crucial na determinação das propriedades dos materiais
metálicos.
estado sólido antes do zero absoluto. A Tabela 2.6 fornece as temperaturas de fusão e de
ebulição dos gases nobres.
a) Polarização induzida
A maior parte das forças das ligações de van der Walls se originam de dipolos
elétricos. A formação de um dipolo elétrico ocorre quando o centro das cargas positivas
não coincide com o centro das cargas negativas nos átomos ou moléculas, dando origens a
regiões positivas e negativas.
À medida que os átomos vão se aglomerando, os seus elétrons não se apresentarão
distribuídos simetricamente a todo instante. Essa deslocalização de certos elétrons no
átomo causa uma pequena polarização no mesmo. Por outro lado, os elétrons de um átomo
repelem os elétrons de outros átomos e atraem núcleos vizinhos.
Um átomo já desbalanceado eletricamente causa induções elétricas mais sensíveis
nos átomos vizinhos; diz-se, nesse caso, que os átomos sofreram uma polarização
induzida.
As forças que unem os átomos por meio das polarizações induzidas são denominadas
de forças de van der Walls, e são as mais fracas em relação às outras ligações.
Essas ligações são responsáveis pela liquefação e solidificação dos gases nobres e
pelas atrações intermoleculares nos líquidos e sólidos constituídos de moléculas apolares.
Por exemplo, a ligação entre os átomos de cloro para formar a molécula de cloro sólido,
Cl–Cl, é a ligação covalente normal, mas as ligações que mantém as moléculas unidas
entre si são as ligações de forças de van der Walls, conforme ilustrado na Figura 2.8.
Ligação covalente
Cl Cl Cl Cl
Cl Cl Cl Cl
He 4,003 2 –268,9
Ne 20,18 10 –245,9
Ar 39,94 18 –185,7
Fontes: VAN VLACK, 1982; FELTRE & YOSHINAGA, 1979.
b) Polarização permanente
As moléculas que apresentam pontes de hidrogênio possuem uma polarização
permanente. A ponte de hidrogênio é consequência da atração entre os núcleos “expostos”
de hidrogênio de uma molécula pelos elétrons não compartilhados da outra (o pequeno
núcleo do hidrogênio, que é um próton, é atraído por elétrons não compartilhados de uma
molécula próxima).
O metano (CH4) e o silano (SiH4) são moléculas apolares e não apresentam pontes de
hidrogênio.
Cada molécula da água (H2O) apresenta duas pontes de hidrogênio no átomo de
oxigênio; enquanto que na amônia (NH3) e no ácido fluorídrico (HF), tanto o nitrogênio
(N) como o flúor (F) apresentam uma ponte de hidrogênio. A Figura 2.9 mostra exemplos
de pontes de hidrogênio.
c) Combinação de ligações
Em muitos materiais, as ligações entre os átomos que os formam são de dois ou mais
tipos. No sulfato de cálcio (CaSO4), por exemplo, as ligações entre os átomos do radical
SO4-- são covalentes, mas a ligação entre este e o átomo de cálcio (Ca) é do tipo iônica
(Figura 2.10).
O O
Ca + O S O Ca ++
+ –O S O–
O O
O cálcio (Ca) cede os seus dois elétrons de valência para completar o grupo SO4-- e,
como resultado, origina-se uma ligação iônica entre os íons Ca++ e SO4--.
As forças de atração entre os átomos os mantêm próximos entre si, mas existe um
limite para essa proximidade, chamado distância de equilíbrio (ao ou ro) , de tal forma, que
no volume que cerca o núcleo de um átomo há um “espaço” vazio. Esse espaço é causado
por forças de repulsão interatômicas, as quais existem paralelamente às forças de atração.
r = cátion
+ – R = ânion
ao = r + R
Atração
Atração
Força líquida
Força
0
Distância interatômica (a)
Repulsão
Repulsão
Energia
U∞
Distância interatômica (a)
Umin
A força de atração (FA) é dada pela ação de duas cargas pontuais e determinada pela
equação:
nb
FR = −
a n +1
( Z 1 ⋅ Z 2 )e 2 nb
FTotal = − − n+1
4πε o a 2 a
A força resultante está associada à tensão necessária para separar dois átomos
(energia de ligação); portanto, materiais que têm forças interatômicas elevadas, também
apresentam energias de ligação bastante elevadas no ponto de equilíbrio.
Consequentemente, esses materiais têm alta resistência mecânica e elevadas temperaturas
de fusão (materiais geralmente duros, como o diamante e o silício). A Tabela 2.8 fornece
os valores de energia para cada tipo de ligação.
a a
( Z e) ⋅ ( Z 2e) nb
U = ∫ [FTotal ]da = ∫ − 1 − n +1 da
∞ ∞
4πε o a 2 a
ou
( Z 1 Z 2 )e 2 b
U =+ + n
4πε o a a
1,0 12 CFC/HC
- Observações:
i) Podem ocorrer exceções onde o NC previsto difere do NC observado;
ii) Nos metais e sólidos iônicos, o NC é governado pelo empacotamento atômico;
iii) Nos sólidos covalentes, o NC é governado pelos limites de compartilhamento.
VAN VLACK, Lawrence H. Princípios de ciência e tecnologia dos materiais. 1.ed. Rio de
Janeiro: Campus Elsevier, 1984.