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A Escolástica - Consideraes Sobre A Sua Unidade e Diversidade Internas. Mirabi
A Escolástica - Consideraes Sobre A Sua Unidade e Diversidade Internas. Mirabi
RECEBIDO: 25.05.2013
ACEITO: 30.05.2013
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Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Professor-
Adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) nos Cursos de
Mestrado e Graduação em História e Professor-Colaborador do Programa de História
Comparada da UFRJ.
TÔRRES, Moisés Romanazzi (org.). Mirabilia 16 (2013/1)
A Filosofia Monástica e Escolástica na Idade Média
La Filosofía Monástica y Escolástica en la Edad Media
Monastic and Scholastic Philosophy in the Middle Ages
Jan-Jun 2013/ISSN 1676-5818
I. Proposições iniciais
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La Filosofía Monástica y Escolástica en la Edad Media
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Monastic and Scholastic Philosophy in the Middle Ages
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Eis ainda que a própria língua, um latim fossilizado numa formalização que
também se fecha sobre si mesma, complementava de maneira bastante
cômoda o fato de que a Escolástica se apresentava como corpo fechado de
saber. A Summa era o seu típico gênero literário, um texto cuidadosamente
elaborado, subdividido e monumental por excelência – a ponto de autores
como Panofsky estudarem suas relações com o caráter monumental das
catedrais que começavam a ser construídas por esta mesma época
(PANOFSKY, 1951). O livro, por fim, é o seu instrumento – não mais um
livro para ser guardado como tesouro, mas um livro que realmente se
destinava a circular no âmbito de leitores especializados, e a se tornar
efetivamente instrumento de estudo que se prestava à leitura e à multiplicação
de cópias.
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Por fim, o ponto essencial. O que traz uma verdadeira unidade à Escolástica é
o seu método: o mestre escolástico deve extrair do texto canônico – que traz à
Escolástica o princípio de Autoridade – a matéria para um problema, e a partir
daí desenvolvê-lo em relação a um interlocutor imaginário pronto a lhe opor
objeções. A base do método é o desejo de explicitar tudo, esgotando
sistematicamente todas as possibilidades. O método escolástico desenvolve-se
em torno de alguns pontos essenciais, entre eles a ‘precisão vocabular’ e a
‘Dialética’ – conjunto de operações que fazem do objeto de saber um
problema que será exposto e sustentado contra o interlocutor real ou
imaginário. Para tal, parte-se da letio, que é o comentário do texto, e em
seguida empreende-se a análise de profundidade que principia com a própria
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Sobre a questão do Método – que é talvez a mais importante, já que, tal como
já reessaltamos, o método é precisamente o que traz uma unidade à
Escolástica – há também textos já clássicos que esclarecem o método da
Escolástica, como a Introduction à l’etude de Saint Thomas d’Aquin, do Padre
Chenu (1974).
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Enquanto isso, entre 1269 e 1271, uma ruptura também se estabelecia a partir
do confronto entre São Tomás de Aquino (1225-1274) – que tentava salvar o
aristotelismo por outros caminhos filosóficos distintos do racionalismo de
Siger de Brabante – e Jean Peckam, teólogo franciscano que liderava os
mestres partidários do neo-agostinismo. Novamente a questão de base era
uma discussão que poderia ser resumida com uma indagação: “Deus estava
acima da Lógica, ou haveria limites para o próprio Criador do Universo, que
não poderia criar mundos ilógicos?” Todo este ambiente intelectual prepara
de maneira bastante tensa a querela de 1277, que finalmente penderia a favor
dos teólogos mais conservadores.
Tal como ressalta Etienne Gilson no seu tratado sobre A Filosofia na Idade
Média, de modo geral os grandes pensadores do século XIII acreditaram na
possibilidade de unir a teologia natural e a teologia revelada, “a primeira
concordando com a segunda nos limites de sua própria competência e
reconhecendo a sua autoridade em todas as questões relativas a Deus e que ela
própria não conseguia resolver” (GILSON, 1958: 638). O grande esforço dos
escolatas era determinar um ponto de vista onde todos os dados da fé e todos
os conhecimentos racionais pudessem surgir como elementos de um único
sistema intelectual (ibid, 638).
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Com relação à crucial questão que já havia sido colocada em 1277 como
ponto de ruptura e viragem da Escolástica – a questão sobre a liberdade de
Deus ou a sua sujeição a um universo lógico que não poderia ser transposto
nem mesmo pelo Criador – Duns Escoto insistirá enfaticamente na liberdade
radical da ação de Deus. Em contraste com os grandes sistemas de
pensamento da escolástica realista do século XIII, o pensamento de Duns
Scoto é impregnado do que muitos veriam como um irrealismo místico, sob o
ângulo da inserção no sensível e no quotidiano (CHAUNU, 1993: 99). Mas,
por fim, ele já está perfeitamente inserido nos novos tempos, com o matiz de
uma “angústia quase existencial”, para retomar as palavras de Pierre Chaunu.
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O novo mundo, sob o peso daquilo que Chaunu verá como uma crise de um
mundo superpovoado diante de espaços que se fecharam, anseia por novas
soluções, bem distintas daquela antiga tentativa de racionalidade aristotélica
mesclada à teologia que se podia construir a partir de um corpo canônico e
fechado de textos. Novas respostas estarão no Misticismo, na Nova Devoção,
na atitude mais pastoral diante da vida. O Nominalismo será uma das
expressões destes novos tempos.
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Bibliografia
ALESSIO, Franco, “Escolástica” in LE GOFF, Jacques e SMITH, Jean-Claude (orgs).
Dicionário de História Medieval, vol.I. São Paulo : EDUSC, 2002.
CHAUNU, Pierre. “As correntes de pensamento”. In: O Tempo das Reformas (1250-1550) A
Crise da Cristandade. Lisboa: Edições 70, 1993.
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Jan-Jun 2013/ISSN 1676-5818
CHENU, M-D. Introduction à l’etude de Saint Thomas d’Aquin. Paris / Montreau : Institut
d’etudes médiévales, 1974.
GILSON, Etienne. La Philosophie au Moyen Age. Paris : Payot, 1958.
GILSON, Etienne. Jean Duns Scot, introduction a ses positions fundamentales. Paris : Vrim, 1951.
LE GOFF, Jacques. Os Intelectuais na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 1993.
PANOFSKY, Erwin. Arquitetura Gótica e Escolástica. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
VAN STEENBERGHEN, F. “Le mouvement doctrinal du Xle au XIVe siecle” in
FLICHE e MATIN (orgs) Histoire Générale de l’Eglise, tomo VIII. Paris : Bloud & Gay, 1951.
VERGER, Jacques. Homens e Saber na Idade Média. Bauru: Educ, 1999.
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