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ANAPAULA
PAULA
ANA PAULA
UmaVida
Uma Vidaem
em Arte
Arte
precocementeinterrompida
precocemente interrompida
Dirlene Teixeira
Benedito A. Teixeira
Dirlene Teixeira
Benedito A. Teixeira
Dirlene Teixeira e Benedito A. Teixeira
Ana Paula
Uma Vida em Arte
precocemente interrompida
MouraSA
Curitiba — Brasil
2023
Copyright © da MouraSA Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da MouraSA
Revisão: Dirlene Teixeira e Marina Ferreira
T262
Teixeira, Dirlene
Ana Paula: Uma Vida em Arte, precocemente interrompida / Dirlene Teixeira, Benedito A.
Teixeira – Curitiba: CRV: 2023.
174 p.
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-5233-2
ISBN Físico 978-65-251-5232-5
DOI 10.24824/978652515232.5
2023
Foi feito o depósito legal conf. Lei nº 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da MouraSA
Todos os direitos desta edição reservados pela: MouraSA – um selo da Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
Conheça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com.br
À memória de nossa querida filha, Ana Paula,
que iluminou nossa vida, e continua a iluminar
por meio de nossas lembranças e de seu legado.
Agradecimentos
Nossa profunda gratidão a todos, familiares e amigos que estive-
ram presentes durante a vida da Ana Paula, expressando-lhe amor e
carinho, compartilhando momentos significativos e contribuindo, de
alguma forma, para que ela fosse a pessoa excepcional que foi.
Nosso agradecimento especial a quem viajou à Irlanda,
em momento tão difícil, para confortar nossa filha e nos confortar.
Nossa enorme gratidão ao namorado e grande companheiro de
nossa filha, e a seus pais, por todo carinho que eles tiveram por Ana
Paula e por toda atenção que tiveram para conosco.
Agradecemos a todos que nos prestaram solidariedade e apoio
após a partida de Ana Paula.
Nosso imenso agradecimento à professora Marina Ferreira, que
nos orientou com muito carinho e profissionalismo no projeto deste
livro, e também pela admiração que demonstrou por nossa querida
filha, sem a ter conhecido em vida.
Prefácio
Este é um livro especial. Dirlene e Benedito o fizeram para dar
voz à filha amada, Ana Paula, que partira no quase Natal de 2021, aos
29 anos de idade.
Em meio à dor indescritível, foram capazes de reunir e compar-
tilhar textos escritos por Ana Paula e que testemunham sua expres-
sividade, sua conexão com a arte e com a natureza, sua luta pelo que
queria, seu compromisso para com a vida coletiva.
A importância da filha motivou os pais a lhe fazer digna homena-
gem, presenteando-nos com este belo e amoroso trabalho.
Entre lágrimas e, para além delas, dispuseram-se a juntar tudo o
que Ana Paula costumava guardar, fosse em papel ou em arquivos dos
meios eletrônicos, selecionando diferentes tipos de texto, digitando-os
e lhes acrescentando comentários. Dirlene e Benedito também produ-
ziram textos narrativos, recordando a trajetória de uma vida que vinha
sendo construída por Ana Paula de maneira admirável. As fotos ilus-
trativas de diferentes momentos acrescentam emoção às recordações.
Lembremo-nos de que o verbo recordar, do latim re-cordis, significa
voltar a passar pelo coração... Sim, esta obra passou pelo coração do
casal. É fruto do mais profundo afeto.
Mais uma preciosidade: a revelação do entusiasmo e da determi-
nação da jovem Ana Paula para com a vida e suas responsabilidades,
num momento em que se diz que os jovens estão desmotivados para
estudo e trabalho, confusos, desligados, dá o que pensar a todos nós.
Sabe-se que, ao longo da juventude, período entre os 15 e 29 anos, a
moçada carece de boa orientação de pais e de professores, carece de
políticas públicas que a trate como seres sociais em formação. Efeti-
vamente não é o que temos visto.
Os textos da Ana Paula refletem sua transformação, seu cresci-
mento, sua consciência da realidade objetiva e subjetiva, seus ques-
tionamentos, suas incertezas, próprios de uma vida bem-estruturada,
bem-acompanhada. Lê-los com atenção nos faz observar sua matu-
ridade crescente nesse período da vida. A franqueza com que ela se
manifesta é sempre notável. Suas qualidades individuais encontraram
terreno fértil para se desenvolverem e se firmarem. As condições de
vida e de educação familiar e escolar acompanharam seu desenvolvi-
mento como pessoa e cidadã.
A conexão que Ana Paula estabeleceu com as artes desde muito
nova está na base de seus valores humanistas, de seu exercício de auto-
conhecimento e de respeito ao outro. Uma jovem de grande valor!
Aos autores-pais, obrigada por este gesto tão precioso de valo-
rização da filha! Que o brilho de Ana Paula chegue a muitos leitores,
sobretudo aos jovens, em forma de carinho e atenção.
Marina Ferreira
julho/2023
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Aos leitores
Que os escritos de nossa filha Ana Paula, nesta obra transcritos,
sejam sementes deixadas por ela a todos que queiram conhecê-las ou
mesmo reconhecê-las, como nós, atribuindo-lhes vida, semeando-as
em nossas mentes e em nossos corações.
Se trouxemos a este planeta uma pessoa tão especial, que primou
por falar e agir tão positiva e artisticamente, que tão jovem manifes-
tou vontade de autoconhecimento, refletindo sobre o que é a vida e
o que somos nós, lutando por seus ideais cotidianamente, fiquemos,
portanto, com suas boas energias em nossa caminhada. Colheremos
flores e frutos!
Benedito e Dirlene
Carta de uma mãe
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Doces lembranças de
uma filha querida
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Com onze anos, no Colégio Pequeno Príncipe, participou de uma
gincana e, sem nenhum constrangimento, cantou pela equipe a música
“Bring Me To Life” da banda Evanescence. Foram muitos aplausos e
elogios para o seu desempenho. Em seguida, ela foi convidada a partici-
par do coral da escola, apresentando-se em diferentes locais da cidade.
Com o passar do tempo, na adolescência, seu apreço pela música e
o surgimento da banda mexicana RBD (conhecida pela trilha sonora da
novela “Rebelde”) de que ela gostava, sabendo cantar todas as músicas,
levaram-na a aprender espanhol e a sonhar em ser cantora. Ana Paula
já era fluente em inglês e francês, quando em uma festa no curso de
línguas da Aliança Francesa, cantou uma música da jovem cantora
francesa Zaz (Isabelle Geffroy), “Je Veux”, deixando os convidados
bastante impressionados.
Após assistirmos a uma apresentação do Coral Minaz, ela ficou
muito entusiasmada, quis conhecê-lo melhor e acabou fazendo parte
do grupo como cantora coralista e assim participou de encenações
do Teatro Minaz em óperas e musicais. Nessa mesma época, estudou
música (teoria e canto), piano e teatro, tendo participado na criação
da peça “Motivo”, na qual também atuou.
A sensibilidade que levava Ana Paula a gostar de várias manifes-
tações artísticas se revelou bem cedo, juntamente com o desenvolvi-
mento de outras habilidades, tendo escrito poesias, contos, narrativas
diversas e letras de músicas.
Minha querida filha sempre viveu a arte de maneira criativa
e sonhadora!
Além de eu sentir um orgulho enorme por suas demonstrações de
vários talentos, também fiquei encantado com seu amor pelos animais
e por sua consciência ecológica, sempre preocupada com a proteção à
natureza e ao meio ambiente. Ela se tornou vegetariana porque, com
tantos recursos naturais que existem, não achou correto que os animais
fossem mortos para nos servirem de alimento. Ela sempre separava o
lixo para reciclar e servir de matéria-prima para novos produtos, evi-
tando o descarte indiscriminado de materiais de difícil decomposição,
que poderiam ficar por muitos anos degradando o solo e poluindo o
nosso planeta.
Como era muito organizada e aplicada, ela passou com facili-
dade por todas as fases escolares, tendo concluído o ensino médio no
Colégio Einstein, quando prestou vestibular e foi aprovada em diver-
sas universidades.
Optou pelo curso de Relações Internacionais da Unesp de Franca,
onde se formou e realizou um excelente trabalho de conclusão de
17
curso, motivo de muitos elogios e até citado como fonte de pesquisa.
Seu trabalho aborda a importância e influência da arte e da cultura nas
relações internacionais e, em especial, o cinema, que já teve uma fase
áurea no Brasil, servindo de instrumento facilitador para criar relações
amistosas com outros países, divulgar o Brasil no exterior, auxiliar
a nossa diplomacia a negociar os nossos produtos e serviços e atrair
investimentos estrangeiros. Para isso, cita ela, faz-se necessário que
os nossos governantes sempre deem o devido valor à arte e à cultura,
por meio de ações e leis de incentivo às produções nacionais, já que
não se trata de doações, mas de investimentos, cujos frutos o país irá
colher mais tarde. Lembro-me de que às vezes conversávamos sobre
esses e vários outros assuntos, inclusive uma das últimas vezes que
conversamos sobre isso foi no meu aniversário, quando ela ligou para
me parabenizar e, por telefone, ela me disse: “Que saudade de filosofar
com o papai e falar de tantos assuntos assim”.
Enquanto cursava a Faculdade, ela teve muitas experiências na
área cultural, aproveitou as férias para fazer um curso intensivo de
cinema na Academia Internacional de Cinema de São Paulo, onde
produziram um curta metragem (Título: Papel Perfeito), no qual ela
trabalhou na direção de arte e supervisão de script.
Trabalhou também como voluntária no Fórum Mundial de Negó-
cios Sociais no Rio de Janeiro, onde fornecia informações sobre a
organização NESst (uma das mais antigas organizações no desenvol-
vimento de negócios sociais em mercados emergentes). Em outras
férias adquiriu experiência em um intercâmbio em Londres, estudando
inglês avançado na Eurocentres, embora já possuísse certificados de
proficiência na língua.
No último ano da faculdade, ela já quis trabalhar e começou a dar
aulas de inglês na Escola de línguas CNA, e em casa, aulas particulares
para alguns alunos. Também ministrou aulas de francês e inglês no
curso de gastronomia no Instituto Gastronômico das Américas, IGA
de Ribeirão Preto.
Visitou Nova Iorque, com interesse em arte e cultura, esteve em
museus e teatros, assistindo a musicais. Viajou pela França, visitou
lugares históricos, museus e teatros, assistindo também a musicais e
apresentações operísticas.
Assim que se graduou na faculdade, fez pós-graduação em Ges-
tão Cultural, no Senac-SP, na modalidade a distância, curso a que ela
muito se dedicou, fazendo um ótimo TCC (Trabalho de Conclusão de
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Curso), onde propôs a criação de um Centro Cultural Virtual (Plata-
forma On-line de Educação e Cultura). Este seria acessível à população
de vários níveis socioeconômicos. O objetivo principal seria promover
a educação para a cultura com qualidade e inclusão social, criar um
ambiente de aprendizado crítico, colaborativo, tecnológico e de fácil
acesso, criar demandas de consumo cultural e artístico, com enfoque
no aprendizado e interpretação das línguas e da literatura.
Ela tentou muito conseguir um trabalho na área cultural, no SESC
e na Secretaria de Cultura de Ribeirão Preto, mas percebeu que em
nosso país a cultura e a arte já não estavam sendo suficientemente
valorizadas, e isso só aumentava o seu desejo de morar no exterior,
onde, imaginava ela, teria mais oportunidades, tanto para conseguir um
trabalho como para realizar o seu sonho artístico. E foi assim que ela se
mudou para Dublin, na Irlanda, para estudar e trabalhar. Ela teve expe-
riências diversas de trabalho, cabendo destacar a função de intérprete,
já que ela dominava mais de um idioma, trabalhando, como freelancer,
no Tribunal de Justiça, em Delegacias de Polícia, Hospitais e onde fosse
necessário o serviço de intérprete.
Durante esse tempo na Irlanda, ela procurava por cursos de seu
interesse, como o Masterclass de teatro no The Gaiety School of Acting
e o curso de musical (por 10 semanas) que ela fez na Waltons New
School of Music (com uma ótima performance no final).
19
Na Waltons New School of Music, Dublin. (janeiro, 2018)
20
Participou de uma apresentação do Dublin City Choral Union, na
St. Patrick ‘s Cathedral e ainda trabalhou como voluntária no Dublin
International Film Festival (Virgin Media), em dois festivais.
Em março de 2019, ela conseguiu um trabalho como tradutora na
empresa LION, em Lisboa. Mudou-se sozinha para Portugal, onde fez
muitos amigos e teve o seu trabalho valorizado pela empresa e pelos
colegas, que admiravam a sua postura e competência. Ela permaneceu
em Lisboa até o final do ano, só saindo, apesar da insistência para que
lá permanecesse, para iniciar em Dublin o curso de mestrado “MSC in
Management”, no National College of Ireland.
Surpreendida por um grave problema de saúde, iniciou imedia-
tamente o tratamento médico e continuou a fazer algumas disciplinas
do mestrado, na medida do que era possível, e fazia cursos online de
seu interesse, relacionados com a área do mestrado. Após ficar curada
com o tratamento, conseguiu um trabalho remoto como freelancer na
empresa APPEN, onde trabalhava algumas horas por dia e logo come-
çou a trabalhar presencialmente também e sua vida voltou ao normal.
Muito feliz, viajou para Espanha e Portugal, com seu namorado e
família, mas, tristemente, após o retorno da viagem, fomos todos sur-
preendidos com a volta da enfermidade, depois de seis meses da “cura”
que julgávamos ter sido bem-sucedida. Contrariando o prognóstico,
que não era bom, minha filha se agarrou à chance que tinha, com tanta
fé, que o seu otimismo me contagiou, e também fiquei acreditando que
a sua partida pudesse ser adiada, e que fosse seguida a ordem natural
da vida: “quando os filhos é que enterram os pais”.
Porém, como não conhecemos o nosso futuro, os sonhos de nossa
filha foram interrompidos abruptamente e ela teve de partir tão cedo,
deixando aqui, para nós, a sua eterna presença e as doces lembran-
ças de uma filha tão dedicada e carinhosa. Ela foi uma guerreira e lutou
até o fim. Lembrei-me então da música “Oh pedaço de mim, Oh metade
afastada de mim”, como foi dolorido!
Ela sempre dizia que precisava concluir muitos projetos que ini-
ciou e os que sonhou realizar, bem como terminar o curso de mestrado,
porque havia lido diversos textos de seu interesse, que a ajudariam a
fazer seu futuro trabalho de conclusão de curso. Uma de suas ideias
era o empreendedorismo vegano e ecológico na Irlanda e suas implica-
ções na vida atual. Ela iria pesquisar, nas empresas, se elas utilizavam
pré-requisitos na fabricação de seus produtos e a importância deles
para os consumidores.
21
Assim era Ana Paula, a minha filha querida: tão romântica e sonha-
dora, que se foi para outra dimensão do universo, deixando aqui com-
prados os ingressos para o musical “Rei Leão” que aconteceria em um
teatro de Dublin, a que ela assistiria com o namorado.
Tão otimista e esperançosa que, mesmo em situação extrema-
mente difícil, renovou, de dentro do hospital, o visto para permanecer
na Irlanda.
Pena ela não ter conseguido renovar a permanência dela aqui na
Terra, perto de nós, para terminar de realizar todos os seus sonhos.
Decidimos assim, como uma justa homenagem, publicar uma cole-
tânea de seus escritos, tão criativos e sensíveis, que tenho lido com
muita saudade e admiração.
22
Coletânea de textos
de nossa filha
CAPÍTULO I – APRESENTAÇÃO
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cidade diferente, e posso dizer com toda certeza de que são mais do
que meros primos para mim. Minha mãe e minha tia, assim como
meu tio por parte de mãe, nasceram em uma cidadezinha de Minas
Gerais e se mudaram mais tarde para a cidade em que nasci e em que
vivo atualmente. Minha tia, porém, mudou-se para outra cidade de
Minas, maior e mais desenvolvida do que sua cidade natal; meu tio
voltou a viver em sua terra, teve duas filhas, que também são muito
queridas; e minha mãe permaneceu no interior de São Paulo, onde
construiu sua vida com meu pai e onde eu mais tarde nasci, em 1992.
A família de meu pai, por outro lado, é de origem humilde e de
uma cidade também pequena, mas no estado de São Paulo, bem pró-
xima da minha, aliás. Minha avó teve quatro filhos: meu pai, minha
tia, e meus dois tios. Minha tia não conseguiu ter filhos e adotou um
garoto, meu tio mais novo teve um casal de filhos; e meu tio mais
velho, duas meninas. Tenho muito boas lembranças da convivência
com meus primos. Minha avó paterna passou por dificuldades finan-
ceiras, principalmente depois da morte de meu avô, quando meu
pai tinha apenas 6 anos. O pai de meu pai era um homem honesto
e trabalhador, mas infelizmente, faleceu muito jovem. Nunca tive a
sorte de conhecê-lo. Ainda assim, minha avó não deixou por nenhum
momento de lutar por seus filhos. Posso dizer o mesmo de minha avó
materna, que também teve uma vida nada fácil. Meu avô materno
era um homem sério e sistemático que enfrentou muitas dificuldades
em sua curta vida, tampouco pude conhecê-lo, pois morreu quando
minha mãe era ainda moça. Minha avó foi, assim como minha avó
paterna, uma mulher de fibra e grande coragem, graças a elas meus
pais tiveram a oportunidade de construir uma vida muito melhor do
que se poderia imaginar. Se um dia eu tivesse que falar de pessoas
que me inspiraram, sem sombra de dúvidas, eu as citaria.
Quanto à minha personalidade, não poderia ser exata. Ao longo
de minha vida mudei muito, inclusive com relação aos valores, mas
posso afirmar que algumas características são inerentes à minha
pessoa e praticamente imutáveis. Sou sonhadora e, talvez, idealista,
apesar de me considerar mais “pé no chão” do que já fui. Além disso,
sou uma pessoa que tem medos, mas que se esforça por enfrentá-los.
Já tive a autoestima muito baixa e grandes problemas na infância
e adolescência relacionados a isso. Sou, ainda, uma pessoa ambi-
ciosa, às vezes competitiva, e muito persistente, digamos, bastante
teimosa. Um de meus defeitos, eu diria, se resume a ser extrema-
mente romântica, não só nas relações com o sexo oposto, mas em
todas as minhas relações pessoais. Vejo-me magoada facilmente por
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acreditar no “lado bom” das pessoas, mesmo este não sendo visível.
Resumidamente, creio que essas características sejam suficientes
para a compreensão psicológica de tudo o que escreverei. Entretanto,
o leitor poderá certamente encontrar ao longo dos capítulos outras
virtudes ou defeitos, que eu obviamente não consigo enxergar.
Riqueza
Animais
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palhaços ou de qualquer outra coisa como o escuro ou o bicho-papão.
Lembro-me de assistir escondida no apartamento onde vivia a um
filme de terror nada indicado para minha pouca idade. Lembro-me
também de ser levada ao Parque de Exposições da minha cidade
para um evento e de entrar em um Barco Viking, aquela atração
muito comum nos parques de diversão. Segundo meu pai, eu dava
um gritinho agudo, assustada com o “buracão” que eu via aos meus
pés quando o barco balançava. Mas posso dizer que, depois desse
episódio, nenhum brinquedo de parque de diversões me intimidava
como às outras crianças. Eu sempre me senti mais madura do que
as demais, mesmo quando muito pequena.
Por outro lado, meu eu fantasioso talvez estivesse mais pre-
sente do que o normal. Acreditei por muitos anos de minha vida em
Papai Noel, em fadas, bruxas e outras criaturas. Tinha várias ami-
gas invisíveis e criava nomes para cada uma delas. Além disso, era
fissurada em contos de fadas, todo dia quando chegava do trabalho,
meu pai precisava acordar a princesa desmaiada no sofá da sala:
modéstia à parte, eu sempre fui boa em encenar.
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Ana Paula decidiu escrever sua autobiografia, aos 19 anos,
consciente de que a iniciativa lhe daria trabalho.
Desde suas primeiras linhas, observamos a postura
madura de quem acredita que poderia contribuir, de
alguma maneira, ao compartilhar suas experiências com
as pessoas que a lessem.
Sempre foi muito importante para ela fazer as coisas
cuidadosamente, da maneira correta, com sinceridade.
Voltou às próprias agendas de anos passados para resga-
tar, de suas anotações, fatos que porventura a memória
já não registrasse tão nítidos no momento presente.
Ao analisar a condição de ter sido filha única, soube tirar
proveito positivo da situação de ser sozinha: sua criati-
vidade desabrochou e ela pode criar um mundo cheio de
histórias e de personagens-amigos para, depois, escrever
muito sobre tudo isso.
Ana Paula tinha uma maneira peculiar de ver as coisas,
sempre com mais maturidade do que deveria, sempre
um passo adiante de sua idade.
Mesmo reconhecendo as transformações que foram ocor-
rendo em sua personalidade, sabia que algumas de suas
características eram imutáveis. Até admitia que o leitor
de seu texto viesse a perceber outras características que
ela mesma não notara.
Ana Paula integrava-se ao meio, respeitando-o. O
cuidado para com a natureza e com os animais se reve-
lou desde criança.
Aos 19, sua cidadania estava definida. Para ela era muito
importante descobrir de que maneira poderia contribuir
para um mundo melhor.
Embora sua autobiografia tenha ficado inconclusa, regis-
trada está, nesses escritos, a preciosidade de nossa filha.
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PARTE I
A menina e a adolescente
Quando criança,
Ana Paula
sabia brincar com as palavras,
dando-lhes sentido
e graça.
Quando adolescente,
já queria filosofar
ao escrever,
compor ou cantar.
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Em uma das tantas e divertidas idas ao Guarujá! (2001)
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O pavão
O rabo do pavão
É colorido
Tão bonito!
Parece uma enorme asa.
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Havia uma menina
Gostava de alguém
Que usava um calção,
bem largão!
Queria dar
um beijão
no seu paizão.
Queria fazer
uma poção
para virar
um pavão.
Para ficar
mais bonita
com penas
coloridas.
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Uma tarde na biblioteca
Com apenas cinco anos de idade, Ana Paula me perguntou onde
ficava a biblioteca da cidade e disse que queria muito conhecê-la. Achei
que tal interesse fosse por influência da Escolinha de Arte do Museu,
que ela frequentava. Expliquei então que era um prédio antigo, onde
funcionava a Biblioteca Municipal, que ficava no centro da cidade e era
chamada de Biblioteca Altino Arantes. Em 2020, após a revitalização do
antigo prédio e a construção de mais uma área moderna ao seu redor,
a biblioteca foi inaugurada com nova denominação, Biblioteca Sinhá
Junqueira, em homenagem a sua legítima idealizadora.
Fomos lá então, em uma tarde, para realizar a sua vontade. Esta-
cionamos perto da praça XV, peguei em sua mãozinha e fomos cami-
nhando, com ela conversando o tempo todo, até chegarmos à biblioteca.
Ela ficou impressionada com a quantidade de livros existentes, achou
interessante a possibilidade de podermos tomar livros emprestados
e já quis que eu fizesse a nossa inscrição. Ela gostou muito da seção
infantil e se encantou com os personagens de Walt Disney, que ela
chamou de “All Gisney”. Achei bonitinha a maneira de ela falar e não
quis corrigir na hora.
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Assim, repetimos algumas vezes esse trajeto, que ela fazia questão
de ir para devolver o livro e já escolher outro.
Certo dia, ela me pareceu pensativa, e eu perguntei: “O que você
está pensando, filhinha?” E ela respondeu: “Estou pensando no Mic-
key”. Achei muita graça. E foi assim que ela começou a conhecer as
personagens de várias histórias infantis, como Branca de Neve, Cin-
derela, a Dorothy do Mágico de Oz, a Polegarzinha e mais tarde Harry
Potter. Compramos todas as suas fitas VHS e CDs preferidos, a que
assistíamos várias vezes.
Na época, pensei que esse interesse de querer conhecer as coisas
tão cedo se devesse à proposta da escolinha, de educação pela arte,
pois, além de despertar a criança para a cultura em geral, fazia com que
ela se familiarizasse depressa com as letras e sons do nosso alfabeto,
facilitando o aprendizado, tornando-se uma leitora atenta e dedicada.
Hoje eu sei que minha filha tinha muita pressa de aprender, de
realizar os seus sonhos, como se, no seu íntimo, ela soubesse que não
teria todo o tempo do mundo. (Benedito)
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Minhas lembranças
Em criança,
Inventei uma dança,
Brinquei de boneca,
Escrevi uma peça.
Fui ao teatro,
Comprei um sapato,
Assisti a um filme.
Em casa, fantasiada de
Brinquei no escuro, Emília, personagem de
Chorei atrás do muro. Monteiro Lobato. (1998)
Andei na chuva,
Admirei a lua.
Encontrei passarinho
Dentro de um ninho.
Brinquei de princesa,
Nadei na represa.
Machuquei o dedo,
Tremi de medo.
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A menina do portão
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O sol
O sol de manhã
Acorda e brilha
Fica o dia inteiro
A iluminar.
41
“Sonho meu, sonho meu, sonho meu
Vá buscar quem mora longe [...]”
(Dona Ivone Lara/Délcio Carvalho)
Sonhar
Sonhar é viver,
sonhar é imaginar
sonhar é desejar
criar, inventar.
Viver no mundo da fantasia,
da alegria e do prazer.
Sonhar é querer
Sonhar com você.
42
Estranho
Olá estranho
Será que te conheço?
Será que já te vi?
Você nunca esteve aqui.
Se já esteve,
nunca vi.
Depois de pensar
Descobri que conheço a ti.
Mas você nunca me viu
Nem sabe que eu existo
Nem nunca quis saber.
Sou um estranho pra você
Mas você não é pra mim.
43
Sonhando acordada
- CANÇÃO -
Refrão
44
se vou te conhecer
ou não
se vai gostar de mim
ou não.
Refrão
45
Refrão
46
Em Versailles, Paris. (2007)
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Just live
– CANÇÃO –
I cannot be independent
‘Cause they don’t let me choose
Doing the own choices
It’s what I call living
Refrão 1
48
Refrão 2
49
Apenas viver (tradução)
Refrão 1
50
Refrão 2
51
Ana Paula em
crescimento e vivacidade
Após ficar em companhia de sua avó (minha mãe), aos três anos
foi para a Escolinha de Arte do Museu, pois gostamos muito da pro-
posta da escola.
Sua adaptação foi tranquila, na primeira semana seu pai permane-
ceu na escola, estava aposentado na ocasião. Quando ela ficou sozinha,
estranhou um pouco, mas logo se acostumou. Conforme relatórios
de suas professoras, que guardei juntamente com seus trabalhinhos
(desenhos, colagens e outros).
Aos poucos foi se socializando e participando com entusiasmo das
aulas de música, das rodas, fazendo comentários até sem ser solicitada.
Prestava muita atenção quando ouvia histórias e quando estava livre
na classe, pegava um livro e imitava a professora, acompanhando as
palavras com o dedinho. Só entregava o trabalho quando estava satis-
feita com o resultado.
Na hora do lanche, jogava seus restos no lixo e organizava
sua lancheira.
Com o passar do tempo, levava seus livros e procurava ilustrar as
aulas, pois gostava de ler e contar histórias.
Tenho lembranças preciosas dessa fase, as festinhas comemo-
rativas, a apresentação da orquestra, em que os alunos tocavam os
instrumentos e cantavam as músicas.
No Colégio Pequeno Príncipe, onde ela estudou do pré-primário
até a oitava série, também há ocasiões importantes a lembrar. Conti-
nuava sua educação por meio da arte, eu acreditava ser o caminho certo.
Ela fazia reinterpretação das obras de arte nas aulas de educa-
ção artística, e esse contato com a arte despertou muito em mim o
amor que tenho por manifestações artísticas, sobretudo, àquela época,
pela pintura.
Na disciplina Biblioteca, ela adorava ler muitos livros, pois desde
cedo valorizava os livros em geral, guardando-os com cuidado e tinha o
sonho de construir uma biblioteca em casa. Nós chegamos até a pensar
na possibilidade de transformarmos nosso sótão em uma biblioteca...
Havia no colégio um sarau de poesias, do qual ela adorava parti-
cipar e especialmente com as poesias que escrevia. Em uma ocasião
disse toda orgulhosa:
Sarau de Poesias, biblioteca do Colégio Pequeno Príncipe, Ribeirão Preto, SP. (2003)
54
Na oitava série, Ana Paula, em parceria com sua amiga Natália,
assinava uma coluna no jornal “2 pontos” do colégio, intitulada Papo
Teen. Em 2010, na comemoração do ano 10 do jornal, foi convidada a
escrever uma pequena homenagem.
55
Lembrança
– CANÇÃO –
A sua imagem
Aqui dentro vai sempre estar
Você que foi nosso refúgio
Um sonho louco de muitas
Paixão de outras
Sua olhada pode ser
fruto da nossa imaginação
Mas no fundo acreditamos
que ela realmente existiu
Não importa que já tenha acabado
Ninguém nunca
Vai poder nos tirar isso
Os dias passam
e cada vez mais esse dia
fica pra trás
Mas a lembrança
fica aqui
Porque durou pouco
Mas foi inesquecível
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E se algum dia eu lembrar
Eu vou chorar, eu vou chorar
Olhar pro céu e agradecer
Por essa oportunidade
Esse dia difícil
Que fica pra trás
Enquanto a lembrança
Fica no coração
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Me olha outra vez
– CANÇÃO –
Refrão
Pensei em te falar
Porque eu já não aguento mais
Mas não sei como acabar
Com essa minha agonia
Não consigo ser a mesma com você
Já não é tão fácil
Te ver todo dia
Mais que amigos, será?
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Refrão (duas vezes)
59
Sei
– CANÇÃO –
Refrão
60
Desde muito nova Ana Paula já se sentia segura de si,
sem se importar muito com a opinião dos outros, tinha
convicção de ser alguém diferente, com suas opiniões
formadas e acreditava nelas. Não desistia do que dese-
java e se mantinha firme, empenhando-se para conseguir
seu intento.
61
Doris - my grandmother
62
Doris - minha avó (tradução)
63
Pensamentos viajantes
aos 14 anos (2006)
64
PARTE II
A jovem ativa e pensativa
Ana Paula
construiu
sua identidade
com
reflexão
e
questionamentos
[...]
Sou uma garota nascida em Ribeirão Preto no dia 1.º de março
de 1992, me chamo Ana Paula. [...] Isso é suficiente para saber quem
sou? Certamente que não, afinal posso não ser a única pessoa com
esse nome, nascida nesse dia e nesta cidade. Posso dar mais infor-
mações sobre mim mesma, como nome dos pais e meu sobrenome,
mas isso não será suficiente para me conhecer como pessoa. [...]
Começo a pensar em meu passado, talvez dar uma volta por
minha história possa ser um bom caminho... Desde criança eu tinha
muita imaginação, me sentia personagem de um conto de fadas,
de um filme. Tinha muitos sonhos. Alguns deles, por incrível que
pareça, seguem comigo ainda hoje, e acredito tanto neles que creio
que sempre estarão comigo. O que eram sonhos infantis agora são
objetivos e determinação em minha vida. Confesso que tinha uns
planos meio malucos, malucos sim, impossíveis não.
Crescendo, conheci muitas coisas, vivi muitas aventuras e des-
venturas, aprendi muito também com as pessoas que me rodeiam e
com minhas próprias experiências.
Às vezes, sou um pouco pessimista, apesar de ser sonhadora,
um tanto sensível e intuitiva.
Sempre gostei de expressar meus sentimentos na escrita e na
música, aliás, a música é minha grande aliada. Quando não tenho
forças, é ela quem consegue me levantar.
Tento lutar ao máximo pelo que quero, tenho várias qualidades
e defeitos, é claro, sou humana.
Já vivi muitas coisas e, se depender de mim, viverei ainda
muitas outras.
Continuarei respondendo quem eu sou e escrevendo a minha
história. Por enquanto… eu sou eu. Eu com meus valores, meus
defeitos, meus sonhos, minha essência, que é só minha.
Tento ser cada vez melhor e cada vez mais eu mesma.
68
Desde muito jovem, já se percebia como uma pessoa
autêntica em seus sentimentos. Gostava de expressá-los
por meio da escrita e da música. O fato de ela dizer “o
que eram sonhos infantis agora são objetivos e deter-
minação em minha vida” revela a consciência que ela
tinha, aos 15 anos, de que havia um caminho progres-
sivo a ser trilhado. Uma interpretação profunda do que
é viver. A necessidade de autoconhecimento aparece em
outros textos de sua autoria, demonstrando seu desejo
de fortalecimento e crescimento.
69
Sem cessar
- CANÇÃO –
Paula Teixeira
Refrão
70
Refrão
71
Em atuações artísticas da Companhia Minaz, Ribeirão
Preto, SP. Ao longo de dois anos e meio.
72
(Sem título)
73
Vazio
Noite escura
rua deserta
frio…
Sentimento desperta
Solidão…
Não há meios de se expressar
Ela estava sozinha…
sozinha…
Palavras não tinha
Apenas um sentimento
trancafiado em seu coração
Mas ela não sabia
Se era bom ou não
Jovem por fora
Velha por dentro
ela se sentia
O vento batia
Enquanto a chuva
ainda não caía
Pra ela o mundo
tinha acabado
pois dela fora
tirado o que lhe pertencia
Só queria ir embora
Deixar tudo pra trás
Não pensava em nada
Sua vida estava acabada
Não havia nada que
pudesse fazer para
trazer de volta
quem ela amava
Então ela fechou os olhos
e ela se foi
com um único pensamento
na cabeça
a pessoa amada...
74
Ana Paula, na flor da idade, descreveu como se apaixo-
nar, apresentando as dores de um coração enamorado,
mas triste por perder a pessoa amada. Neste e em outros
poemas belíssimos, Ana Paula expressou toda sua sensi-
bilidade referente ao amor.
75
(Sem título)
Revendo a situação
Encontro a única solução
Essa solução é a consciência
É o agir, a união
É compartir e amar
E deixar de lado tudo aquilo
Que seja do contrário
Mas mesmo sabendo onde está o erro
Nunca cansamos de errar
76
Quando foi que nos tornamos
Verdadeiros pensadores?
E ao pensar demais causamos
Toda a destruição
O saber é o que nos resta
77
Esperança
Eu olho em volta
e não há nada que me agrada
Eu fecho os olhos
e na minha mente há um borrão
O tempo passou e estou na mesma
Já cansei de me sentir assim
Parece que é pouco o que me resta
Abro a janela e não há sol
O brilho das estrelas também já se foi
Mas não faz muito tempo que eu as vi brilhar
78
Por mais que estes versos falem de desassossego, de soli-
dão, da falta de sol e do brilho das estrelas, predomina, ao
final, a postura de olhar em frente, pois o inesperado virá.
79
Breathe
-CANÇÃO-
80
Respirar (Tradução)
81
Pensamentos viajantes
aos 16 anos (2008)
...a não dar valor a quem não merece e a não esperar demais
das pessoas, pois muitas vezes não receberemos nada em troca pelas
nossas ações.
...a dar valor às pequenas coisas da vida, pois são elas que
realmente valem a pena.
...a esquecer as mágoas e a tirar a tristeza do coração, pois
pouco a pouco a dor passa e a vida sempre continua.
...a olhar sempre pra frente e não viver do passado, pois
por mais que algo nos tenha marcado, ainda restam muitas coisas
por viver.
...a retribuir àqueles que nos estenderam a mão e também
àqueles que, ao contrário, nos fizeram cair, pois isso mostrará
nossa superioridade.
82
Não Deixar Para Depois
83
Desde muito jovem, a Ana Paula já acreditava no dever e
no “poder” que cada indivíduo tem ao fazer a sua parte,
pensando no bem comum, e ser um possível exemplo
à inspiração de outros. Ela reconhecia que a mudança
necessária poderia demorar a ocorrer, sobretudo por
vivermos numa sociedade capitalista e globalizada, onde
o padrão é o sucesso individual. Acreditava, no entanto,
que o sonho de um mundo melhor se concretizaria.
Para isso, uma lição deveria ser aprendida: o uso da força
e da inteligência humana para o bem!
84
Eternos aprendizes
85
Ana Paula acreditava que não deveríamos ter receio de vivenciar
novas experiências ainda que não dessem certo, pois vivemos um
eterno aprendizado.
Embora existam caminhos para enfrentar as adversidades do coti-
diano, ela destaca que nos dois extremos, no dos pessimistas e no dos
otimistas, há contágio de suas posturas com quem está a seu redor.
Mas, o melhor é nos vermos como “eternos aprendizes”, em meio aos
otimistas, para não deixarmos de ir em frente, aprendendo sempre
mais, evitando o tédio e a mesmice.
Vejam aí um exemplo de quem, na prática, ousou viajar sozinha
a Londres, aos 21 anos, com o otimismo próprio de quem busca rea-
lizar atividades ligadas à cultura, nesse caso, à literatura de que ela
gostava. Após ter lido toda a coleção da britânica J. K. Rowling, sobre
a personagem Harry Potter, um sucesso estrondoso entre os jovens, lá
foi Ana Paula conhecer The Making of Harry Potter, nos estúdios da
Warner Bros. Uma vida rica de conhecimento e arte! Sem mesmice...
Londres. (2013)
86
Vários pontos de partida, um só de chegada
87
Construindo a vida
88
Em Ribeirão Preto. (2009)
89
Alegria de conviver
90
Para Ana Paula, a convivência é essencial à vida, seja ela
uma experiência harmônica ou não.
Seu texto traz um conhecimento de literatura brasileira
que enriquece seu raciocínio: o narrador da obra de
Machado de Assis é Bentinho, um homem que se tor-
nou “casmurro” porque, ao desconfiar dos outros, mais
especificamente da mulher e de seu amigo, isola-se na
solidão e sofrimento. “Dom Casmurro”, título do romance
conhecido mundialmente, aparece como um exemplo de
que, casmurro ou não, é preciso reconhecer que a vida se
faz com o outro, de quem dependemos em nosso dia a dia.
Ana Paula igualmente enriquece seu texto com o conhe-
cimento de latim, ao explicar o sentido da palavra “com-
panheiro”, aquele com que repartimos nossas vivências,
na alegria de viver.
91
Busca da Identidade
92
Ana Paula reconhece a cultura que se faz ao longo do
tempo, destacando não somente as figuras ilustres que
dela fizeram parte como também os anônimos responsá-
veis por essa construção. Ao pensar o mundo de hoje, ela
sabe que a questão da identidade e a busca da felicidade
esbarram na questão da fama ou do sucesso a qualquer
preço, algo que efetivamente não levará ninguém ao
encontro da própria identidade.
93
Reflexão
94
Imperdível
Imprevisível e passageira
Passos largos e curtos
Luz e escuridão
Respiração e fôlego
Razão contra emoção
Emoção que faz razão
Caminhada que escreve a história
95
Um passeio pelo nordeste
Como minha filha fez referência ao caráter imprevisível e imperdí-
vel da vida, vou contar um momento de nossa vida em que a vivência
fez com que tudo valesse a pena.
Quando Ana Paula fez 8 anos, fizemos uma viagem para Fortaleza,
no Ceará, onde ela conheceu lindos lugares que nos fizeram muito bem.
Lembro-me de que, depois de voltarmos de um passeio emo-
cionante pelas dunas, ela ficou encantada ao pararmos em um lago
paradisíaco, cheio de peixinhos dourados! Depois do almoço, sen-
timos o prazer de descansarmos nas redes do restaurante à sombra
dos coqueiros.
E tivemos nossas particularidades em vivências inesquecíveis:
um dia, em uma praia distante da cidade, Ana Paula notou que seus
cabelos ficaram bastante embaraçados após nosso divertido banho de
mar. Ela não conseguia penteá-los por causa da água salgada. E o pior:
não havíamos levado o creme condicionador de cabelos. Acontece que
ela estava começando a se sentir mocinha, ficando vaidosa e preocu-
pada com a aparência.
Ao papai aqui coube a iniciativa de sair à procura do produto nos
poucos estabelecimentos comerciais do local, bares! Sem sucesso e já
desanimado, resolvi perguntar ao funcionário de um dos bares se, por
acaso, ele não saberia me dizer onde eu conseguiria encontrar o tal
creme. Ele pensou um pouco e me disse:
- Tem uma funcionária que está para chegar que pode ter.
Aí ele gritou para uma senhora que estava na cozinha:
- A Deninha já chegou?
E ela respondeu, perguntando de lá:
- A Deninha buchudinha? Sim, ela está se trocando e já vem.
Deninha apareceu. Uma mocinha simpática, de gravidez bem
avançada. Foi aí que entendi o “buchudinha”, um termo comumente
empregado por eles para se referirem a uma grávida, diferentemente
daqui do sudeste, onde é usado pejorativamente para falar de alguém
com apetite exagerado, “barrigudinha”. Bem, ela tinha o creme neces-
sário para amaciar os cabelos de minha menina! E nem quis cobrar,
apesar de minha insistência.
Contei o evento para minha filha. Ela rapidamente usou o produto!
Mais tarde, já com os cabelos bem-tratados, rimos do ocorrido...
96
O charme da mocinha...
97
O florescer da consciência
98
A consciência da Ana Paula em relação à natureza,
aos animais, ou seja, a todos os seres vivos que exis-
tem e aqui habitam foi se constituindo ao longo de
seu desenvolvimento.
Desde pequena olhava com atenção e cuidado as coisas
a seu redor e logo entendeu a importância da natureza
para a vida humana no planeta.
Desenvolveu opinião crítica, acreditando que sem-
pre poderia haver uma solução, desde que as ações
se multiplicassem.
99
All my life
All my life
I’ve been looking
for that perfect match
of my life with my soul
of the time with my mind
But I can’t never find my way
To happiness
100
Toda minha vida (tradução)
101
Incertezas
102
Em Ribeirão Preto, SP. (2009)
103
The best part
Let’s go away
Where the flowers won’t ever die
I’ll let you be my guy
If you let me be forever your girl
Get in the car, let’s feel alive
We will survive after the storm
(2010, 18 anos)
104
A melhor parte (tradução)
Vamos embora
Onde as flores nunca morrerão
Eu deixarei você ser o meu boy
Se você me deixar ser sua garota para sempre
Entre no carro, vamos nos sentir vivos
Nós sobreviveremos depois da tempestade
105
Strange love
She opened all the doors
And he got in
She opened up her heart
And gave him her everything
He gave her the strength
She needed to go on
He gave her all the love
She’s never tasted before
Then she tried to get in
But he didn’t open his heart for her
Nobody could ever explain
Why he was so afraid to see
Nobody knew the answers
For that freak case of love
He cared so much about her
but he wouldn’t let it show
he didn’t even know
What he felt after all
She was sure of only one thing
She had never felt that way before
She didn’t know why
Did those kisses make her so weak
And so strong in the same time
He had decided to live his life
They would finally be just friends
Nobody understands
Why he changed his mind so frequently
She was never good enough for him
But he didn’t wanna let her go
And this freaky case of love
Was never seen on earth
Nobody ever found out the end
106
Estranho amor (tradução)
Ela abriu todas as portas
E ele entrou
Ela abriu seu coração
E deu-lhe tudo
Ele deu-lhe a força
Ela precisava continuar
Ele deu a ela todo o amor
Que ela nunca experimentou antes
Então ela tentou entrar
Mas ele não abriu seu coração para ela
Ninguém jamais poderia explicar
Por que ele estava com tanto medo de ver
Ninguém sabia as respostas
Para aquele estranho caso de amor
Ele se importava tanto com ela
mas ele não deixava transparecer
ele nem sequer sabia
O que ele sentia afinal
Ela tinha certeza de apenas uma coisa
Ela nunca se sentiu assim antes
Ela não sabia por que
Aqueles beijos a deixaram tão fraca
E tão forte ao mesmo tempo
Ele decidiu viver sua vida
Eles finalmente seriam apenas amigos
Ninguém entende
Por que ele mudava de ideia tão frequentemente
Ela nunca foi boa o suficiente para ele
Mas ele não queria deixá-la ir
E este estranho caso de amor
Nunca foi visto na terra
Ninguém nunca descobriu o fim.
107
Amor de Verano
- CANÇÃO –
Adiós, mi amor
Tu silencio dijo todo…
Como duele darme cuenta
Que yo vivía una ilusión
Adiós, dolor
No importa ya lo que pasó
Voy acordarme toda la vida
De cómo me enamoré de ti
Y como me sentí
Cuando te acercaste a mi
108
Amor de verão (tradução)
Adeus, dor
Não importa o que aconteceu
Vou me lembrar por toda a vida
Como eu me apaixonei por você
e como eu me senti
quando você se aproximou de mim
109
La última canción
110
A última canção (tradução)
111
O soldado do coração
A mente se afasta de todos os motivos e da razão
O olhar se perde em um olhar
E o pensamento é vencido pela emoção
É impossível conter o impulso que vem do coração
O medo decorre da incerteza
E a certeza é o sentimento
Por mais que se tente apagar
Por mais que se queira desviar a atenção
Está impregnado na pele e na alma
À espreita de qualquer sinal
Com esperança de poder manifestar-se outra vez
É cego e insistente
Impaciente e pouco prudente
Não tem senso algum
e seu norte é abstrato
Não encontra barreiras
Não se limita
Por mais que se pense em arrancar
Não encontra forças bastante fortes
Sua maior força é sua própria existência
É fé, é inquietude, é sofrimento
E acima de tudo é luta
112
Já foi
Já foi, já era
Não adianta voltar
Não vai mudar o que passou
Nem vou deixar de lado
O que você provocou
Já foi, acabou
Agora estou tão bem
Nunca me senti assim
113
Seguindo em frente
114
Ana Paula continuava estudando, cumprindo com muita
responsabilidade as exigências da universidade, mas, às
vezes, refletia sobre seus verdadeiros sonhos e projetos
de trabalhar com arte (atuando, cantando, produzindo,
compondo, escrevendo etc.), reafirmando um compro-
misso consigo mesma.
115
Força para seguir
É hora de partir
Hora de esquecer
Os fantasmas e o passado
O que passou não vai voltar
Se no presente tudo está mal
Mesmo assim vou continuar
Se em algum momento
paro de sonhar
Penso em desistir
Escolho o caminho mais difícil
Que custa muito pra seguir
116
Refletir para prosseguir. (2016)
117
Learning with life
118
Aprendendo com a vida (tradução)
119
PARTE III
A jovem adulta
Ana Paula
deu passos firmes
em busca
de sua autonomia
e de seus sonhos
Refrão
Refrão
123
(Sem título)
124
Pensamentos viajantes
aos 22 anos
(2014)
125
Guarding angel
126
Anjo da guarda (tradução)
127
Carta para uma princesa
128
(Sem título)
129
Dauntless manifest
130
Manifesto destemido (tradução)
131
Personal profile
132
Perfil pessoal (tradução)
133
Criando uma identidade
(mais uma lembrança de minha filha)
136
Origem familiar (tradução)
Passo muito tempo com minha família porque moro com meus
pais e muitas vezes vejo minhas tias, tios, primos e minhas avós.
Herdei muitas características da minha família, principalmente da
minha mãe e do meu pai. O interessante disso é que meus pais são
completamente diferentes um do outro, meio opostos, e eu pareço
com ambos. Sou estabanada, sempre bagunceira e distraída como
meu pai e herdei seus talentos musicais. Minha mãe, por outro lado,
é muito organizada e focada, mas ela é muito emotiva e dramá-
tica, assim como eu, ela também é perfeccionista, e temo que eu
também seja.
Eu sei que a família da minha mãe veio da Itália, meu tata-
ravô se mudou para o Brasil, provavelmente há cerca de 200 anos,
porque minha avó nasceu na década de 1930. A família do meu pai
veio de Portugal, mas também tenho ancestrais índios brasileiros.
Minha família é uma mistura de Europa e América do Sul, é tudo o
que sei. Eu gostaria de poder saber mais.
Sim, porque faz muito sentido, às vezes eu me sinto muito
europeia, mas não posso negar minhas origens brasileiras.
137
Looking for my way to ness
All my life
I’ve been looking for that perfect match
Of heart and soul
Of time and mind
I can never find my way to happiness
Joy is imprecise
Spinning and spinning
I can never find my way out of loneliness
138
Procurando meu caminho (tradução)
A alegria é imprecisa
Girando e girando
Eu nunca consigo encontrar meu caminho para sair da solidão
139
PARTE IV
A adulta jovem
Ana Paula
estava a construir uma vida digna,
preservando seu apreço à arte
e o desejo de lutar
por um mundo mais justo.
Fez de seus estudos
um norte para suas ações.
Resumo
143
as obras e pesquisas sobre o tema, que ainda é desconhecido por
parte da academia, pela brasileira principalmente. Portanto, são
grandes as dificuldades em realizar uma pesquisa que abranja
essas questões, destarte, as bibliografias além de escassas são
muito recentes. O desafio aumenta com a escolha de análise do
cinema como elemento da Diplomacia Cultural, pois as obras que
abarcam esse assunto na maioria das vezes não o relacionam com
a diplomacia ou com a política, e as pesquisas existentes a res-
peito dessa espécie de diplomacia não analisam especificamente,
e em detalhes, a importância e atuação do cinema.
Apesar das dificuldades apontadas, e de outros obstáculos que
possam aparecer durante a realização deste trabalho, acreditamos
na sua relevância, por ser um tema pouco trabalhado no âmbito
das Relações Internacionais. A intenção primordial da escolha
dessa temática é um tanto quanto ambiciosa, pois se espera
que esta pesquisa possa despertar a curiosidade e guiar traba-
lhos posteriores, mesmo que seja somente em relação ao tema
central; e que possa contribuir de alguma forma para que este
seja mais trabalhado no Brasil, e que as portas sejam abertas
aos estudantes e pesquisadores que tenham interesse pela área.
[...]
Esta pesquisa é majoritariamente de natureza teórica. Fez-se
necessário um esforço em definir e conceituar a Diplomacia
como um todo, a sua ramificação cultural, e os usos da cultura
como instrumento político, econômico e social; e não menos
importante, o Soft Power. Em relação a esse último, é essen-
cial a compreensão da teoria neoliberal institucionalista que
conceituou esse tipo de poder. Foi feito ainda um estudo sobre
o cinema norte-americano e seu uso pela Política norte-ameri-
cana, uma vez que a teoria do Soft Power tenha sido concebida
no seio desse país.
Ademais, apresentamos um estudo de caso sobre os festivais
de cinema brasileiros e de programas de incentivo à produção,
distribuição, exportação e divulgação do cinema brasileiro no
exterior, objetivando-se compreender qual a função deles como
meio de realização da diplomacia cultural [...].
144
Com a industrialização na produção de energia, em 1907, a ativi-
dade cinematográfica brasileira ganhou força e ânimo. Entre 1908 e
1911, novos empresários dedicaram-se à produção, exibição e importa-
ção de filmes. A partir de 1925, as produções cinematográficas brasilei-
ras ocorreram não só nas capitais, mas também em cidades do interior.
Em 1927, o cineasta mineiro Humberto Mauro deu início à produção
de uma série de filmes, até 1974, de longas e curtas metragens, reve-
lando-se um grande profissional que efetivamente lutou pelo cinema
nacional. A semente do Cinema Novo estava plantada.
Nos anos 1930 foram produzidas muitas “chanchadas”, musicais
encenados por cantores populares do rádio, atores e atrizes do tea-
tro de revista. No final da década de 1940, foi criado o estúdio Vera
Cruz, responsável pelo filme “Os Cangaceiros”, de 1953, premiado
no Festival de Cannes.
O surgimento do Cinema Novo, a partir dos anos 1950, foi um
marco na história do cinema brasileiro. Foram produzidos muitos fil-
mes, numa abordagem esteticamente moderna, cujos enredos aborda-
vam a realidade social brasileira e a desigualdade socioeconômica da
população. O líder do grupo de cineastas do Cinema Novo foi Glauber
Rocha. Seu premiado filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964),
entre outros, levou o cinema brasileiro a uma postura conscienciosa e
crítica, politizando o debate sobre nossa realidade.
Após o Golpe Militar de 1964, os filmes de crítica social conti-
nuaram a ser produzidos. Os cineastas faziam uso de metáforas para
burlar a censura da ditadura militar. Em 1974, o governo Geisel, para
angariar apoio ao regime ditatorial, criou a Embrafilme, que teria papel
preponderante no cinema brasileiro até sua extinção em 1990.
Ainda no primeiro capítulo, Ana Paula, relata alguns fatos do
final da ditadura militar (1985) e as atitudes drásticas promovidas
pelo governo democrático de Fernando Collor, dissolvendo empre-
sas estatais relacionadas à produção cultural e abolindo a lei Sarney.
Somente após o impeachment do presidente, graças à volta das medi-
das vetadas, a criação da Lei do Audiovisual, além da recriação do
Ministério da Cultura é que o cinema voltou a crescer, revelando mais
cineastas, cujas obras receberam aplausos internacionais e algumas
indicações ao Oscar.
No segundo capítulo, intitulado “Diplomacia Cultural”, Ana
Paula conceitua historicamente o termo diplomacia, processo pací-
fico de negociação entre Estados, elencando suas funções desde seu
surgimento, no século XVIII, na França, destacando sua importância
145
no intercâmbio entre as nações, por meio de uma proposta de diálogo
que prime pelo entendimento entre as partes.
Em seguida, ela explica o significado da designação “diplomacia
cultural”, foco de seu trabalho, narrando o contexto histórico que
lhe deu origem.
Nas últimas décadas do século XX, devido às mudanças políticas e
econômicas no mundo, a natureza da diplomacia também mudou. Os
agentes políticos mundiais elevaram o poder da cultura e das artes em
geral, proporcionando maior aproximação e diálogo entre as nações.
Ela cita a diplomacia cultural através do exercício do poder brando
de que fala Joseph Nye em “Soft Power”, ou seja, a capacidade de
influenciar o comportamento de outrem sem coerção, como foi usado
no cinema norte-americano.
A diplomacia cultural brasileira desenvolveu-se no Itamaraty, no
Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores, atuando
na divulgação, no exterior, de nossa cultura e da língua portuguesa
falada no Brasil.
Ainda no segundo capítulo, Ana Paula explicita as medidas gover-
namentais que contribuíram para com a divulgação de nossas pro-
duções culturais, desde o governo Sarney, Itamar Franco, Fernando
Henrique e Lula, com destaque para as leis de incentivo à produção
cultural, sobretudo no governo Lula. Em alguns comentários, ela cita a
decisão governamental por eventos que fariam com que o Brasil atraísse
investimentos internacionais, a Copa do Mundo de Futebol, em 2014,
e as Olimpíadas, em 2016. Um exemplo de utilização da diplomacia
cultural no cenário internacional.
Ana Paula comenta de maneira esclarecedora a análise feita por
Leila Bijos e Verônica Arruda, no artigo “A diplomacia cultural como
instrumento de política externa brasileira”, publicado na Revista
Diálogos: a cultura como dispositivo de inclusão, v. 13, agosto 2010,
a respeito do diferente tratamento dado à diplomacia cultural nos
governos FHC e Lula.
No terceiro capítulo, intitulado “Diplomacia Cultural e Cinema:
exemplos”, ela aborda a importância e a participação brasileira nos
“Festivais Internacionais”; conta a trajetória do Grupo Inffinito, fun-
dado em 1995, suas produções e as realizações do “Circuito Inffinito de
Festivais”, com apoio do Governo Brasileiro e empresas privadas; relata
os “Encontros com o Cinema Brasileiro”, programa criado pela Ancine
em parceria com o Ministério das Relações Exteriores, para mostrar
filmes brasileiros a curadores de festivais internacionais e comenta o
146
programa “Cinema do Brasil”, uma iniciativa do Sindicato da Indús-
tria Audiovisual do Estado de São Paulo, com o apoio da Apex-Brasil,
ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e da
Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, posteriormente
com suporte do Departamento Cultural do Ministério das Relações
Exteriores e da Ancine. Tem por objetivo ampliar a participação do
audiovisual brasileiro no mercado internacional.
Em “Cultura e Cinema como Ferramenta Política”, título do
quarto capítulo, Ana Paula aborda as relações de poder que per-
passam entre as nações, incluindo análises que envolvem ideologias
e formas de governo que diferem na maneira de as nações lidarem
com questões culturais. Assim ela nomeia os itens tratados neste capí-
tulo: “Neoliberalismo: Relações Transnacionais e Novos atores”; “Soft
Power, Cultura e Cinema”; “Hollywood e o Poder Brando” e “A Política
de Boa Vizinhança e as Chanchadas”.
Em sua conclusão, Ana Paula discorre resumidamente sobre
tudo o que abordou ao longo dos capítulos, aprofundando o tema da
diplomacia cultural, compartilhando a ideia de que existem meios de
persuasão que não perpassam a coerção, mas que é necessário estraté-
gia e capacidade do ator para obter sucesso e em muitos casos o melhor
recurso é a cultura.
A importância da política externa para o fortalecimento de nosso
país, de nossos valores, de nossa cultura, com destaque para o cinema
e o audiovisual. Nesse campo, ela retoma os altos e baixos pelos quais
o país passou com programas de governos que, poucas vezes, fizeram
efetivamente aumentar a visibilidade do Brasil nos festivais de cinema
internacionais, beneficiando a produção nacional. Reforçou a tese de
que o imperialismo estadunidense, que fez de sua poderosa indústria
cinematográfica um modelo para o mundo, teve grande influência no
cinema brasileiro. Assim, a abertura de novos mercados para nossos
produtos sempre esteve aquém do desejável, em vigor apenas durante
os governos mais progressistas.
Hoje ainda não temos uma indústria cinematográfica consolidada,
o que leva diretores e atores a deixarem o Brasil. A população brasileira
não privilegia os filmes nacionais e a maioria prefere os de entreteni-
mento ou televisivos; os que abordam temas mais profundos, sociais
e políticos são vistos apenas por grupos de espectadores mais críticos.
Ainda assim, há esperança de que tudo melhore nesse campo por-
que o cinema brasileiro (e a arte brasileira em geral) pode levar o Brasil
ao mundo, apresentar sua língua e seu povo, falar de sua construção
147
como nação a seus atuais e futuros parceiros, por meio de sua atuação
diplomática, de maneira a ocupar um lugar de destaque e vir a ser reco-
nhecido como uma grande nação com que as outras nações queiram
se relacionar. As obras cinematográficas têm um papel importante na
divulgação de nossas principais qualidades naturais e humanas!
148
Produção acadêmica
de Ana Paula
2
Resumo
149
O objetivo da criação deste projeto é promover a educação para
a cultura com qualidade e inclusão social. Criar um ambiente de
aprendizagem crítico, colaborativo, tecnológico e de fácil acesso,
criar demandas de consumo cultural e artístico, contribuindo para
o desenvolvimento desse mercado no Brasil.
Os objetivos específicos relacionam-se à primeira fase do projeto,
em que serão priorizadas atividades voltadas à área de Letras e
Linguística, que engloba estudos literários, linguísticos e interdis-
ciplinares, cujo enfoque é a análise e o aprendizado das línguas e
da literatura. Inclui também a tradução e interpretação de línguas
estrangeiras, a escrita narrativa e estudos teóricos sobre a relação
entre cultura e linguagem. Prevê-se a criação de uma grade de
cursos livres das seguintes disciplinas: Língua Portuguesa, Lín-
gua Inglesa, Língua Francesa, Língua Espanhola, Literatura Por-
tuguesa e Brasileira, Literatura Internacional, Redação e Escrita
Literária, Tradução e Interpretação, Cultura e Linguagem.
Todos os cursos serão divididos em módulos e terão durações
variadas. No primeiro ano do projeto, serão desenvolvidos os
cursos de: Língua Inglesa, Língua Portuguesa, Literatura Por-
tuguesa e Brasileira.
Nos cursos de línguas, propõe-se a inclusão de temas como His-
tória, Folclore, Geografia, Arte, entre outros, aos elementos tradi-
cionais como: Gramática, Escrita e Vocabulário, proporcionando
aos estudantes uma abordagem mais ampla, cultural e comunica-
tiva. No que tange à Literatura, busca-se uma metodologia que
inclua diversos nomes da literatura mundial, ocidental e oriental,
estéticas e estilos diferentes, evitando simplificações ou estudos
superficiais. Além dos cursos online, os participantes poderão
usufruir de diversos conteúdos interativos: biblioteca virtual,
midiateca, blog, fórum, entre outros.
150
desse público no projeto. As classes D e E, por sua vez, têm uma
renda muito baixa, dificultando o pagamento dos custos, ainda
que baixos, da plataforma virtual. Outro empecilho à inclusão
desse público de classes muito baixas é que grande parte delas
possui deficiências educacionais, muitas são analfabetas ou anal-
fabetas funcionais, dificultando o aprendizado.
O aprendizado a ser adquirido por meio da plataforma virtual
pode servir a vários propósitos: estudar para o vestibular, utilizar
o idioma estrangeiro para viagens, entender melhor as obras
literárias, entre outros. No entanto, acredita-se que os fatores
principais de escolha desse modelo educacional pelo público será
a possibilidade de aprender em casa, com maior flexibilidade
de horários e a preços acessíveis. O projeto dirige-se às pessoas
que, por algum motivo, seja falta de tempo ou dificuldade de se
deslocar até uma escola física, preferem estudar a distância, e
que buscam uma metodologia diferenciada das metodologias de
ensino presentes no mercado, uma vez que elas aprenderão não
somente uma língua ou as correntes literárias, mas também sobre
diversos assuntos como arte, patrimônio histórico, costumes
e tradições, entre outros temas que se relacionam diretamente
com a linguagem.
151
possuam as qualificações necessárias), os quais serão encarregados
de promover a interação entre os alunos, de corrigir tarefas e realizar
demais atividades pedagógicas”.
Na coordenação pedagógica, “profissional com formação
específica nas áreas de Pedagogia e Letras, que irá coordenar todas as
atividades pedagógicas, desde o estabelecimento de diretrizes metodo-
lógicas até o monitoramento do trabalho do corpo docente. É ele quem
dará a palavra final sobre os materiais didáticos e a grade curricular”.
No planejamento estratégico e produção executiva de sua
proposta, Ana Paula detalhou as três etapas fundamentais: pré-produ-
ção, produção e pós-produção, arrolando itens a serem cuidadosamente
observados e possíveis dificuldades a serem enfrentadas.
Na segunda fase do planejamento estratégico, indicou a utilização
da Análise SWOT ou FOFA, já bastante conhecida no meio empresarial,
para que fossem consideradas as variáveis internas, controláveis, que
dão conta dos pontos fortes e dos pontos fracos do empreendimento,
e as variáveis externas, não controláveis, ou seja, as oportunidades e
as ameaças relacionadas ao negócio em curso.
O trabalho de Ana Paula incluiu oito gráficos que indicam a
vida cultural do público em geral e do público-alvo, relacionando as
atividades de entretenimento e cultura à escolaridade das pessoas.
Colocou nove tabelas para subsidiar reflexões sobre indicadores, pla-
nilhas, comparação de métodos de avaliação etc.
As três partes de sua proposta de criação de um Centro Cultu-
ral Virtual (Apresentação e Conceituação do Projeto; Planejamento e
Execução; Gestão Financeira e Avaliação) e suas Considerações Finais
encontram em suas Referências finais os autores e as obras estudadas,
inclusive os endereços eletrônicos pesquisados.
Os dois últimos parágrafos de suas Considerações Finais dizem:
152
promover eventos e restaurar sítios históricos [...]”. Durand
defende que se invista não só na oferta cultural, mas também na
procura, por meio do investimento em educação.
153
Antes do mestrado:
Irlanda – Portugal – Irlanda
Ana Paula foi morar em Dublin, na Irlanda, em março de 2017.
A partir de então, fez cursos e passou por algumas experiências profis-
sionais. Em 2019, aceitou uma proposta de trabalho, como tradutora,
em Portugal, onde permaneceu de abril a dezembro. Nesses meses,
temporariamente afastada da Irlanda, encontrou pessoas que a aco-
lheram muito bem e a ajudaram nas providências necessárias para
morar lá. Tenho muita gratidão por isso.
Ela apreciava seu trabalho em Lisboa, mas desejava voltar à
Irlanda, refletindo sobre os trabalhos que teve em Dublin, onde obser-
vava as atitudes e organizações das empresas, pensava em sugestões ou
soluções que ela teria para cada situação, o que ela sempre comentava
comigo, pois éramos muito próximas em todos os assuntos. A Irlanda
lhe propiciara a oportunidade de se deparar com desafios profissionais
diante dos quais ela percebeu ter condições de tentar resolver.
Este espírito de liderança que ela possuía fez com que decidisse
voltar e fazer um mestrado na área de Management (Gerenciamento),
já pensando em futuramente criar um negócio próprio com sua iden-
tidade, o qual deveria estar direcionado a uma melhoria do meio
ambiente. Sustentabilidade era palavra-chave em sua vida.
Com determinação, deixou Portugal em 24 de dezembro de 2019,
passando por Coruña, Espanha, na casa dos pais de seu namorado,
Martín, retornando a Dublin, no dia 2 de janeiro de 2020.
154
Produção acadêmica
de Ana Paula
3
155
de sua população (Morgan e Katsikeas, 1997). A Zara é uma das líderes
mundiais na indústria de fast fashion, com um modelo de negócios
constantemente estudado por pesquisadores de negócios, devido ao
seu modelo de distribuição bem-sucedido e cadeia de suprimentos
eficiente (Caro, 2011).
Em sua conclusão, Ana Paula cita que as corporações devem
acompanhar as tendências atuais do mercado, oferecendo produtos
personalizados e padronizados para atender às preferências dos clientes
e atingir determinados segmentos de mercado. À medida que a globa-
lização evolui, para se manterem bem na concorrência, as empresas
devem competir com precisão local em nível global. No futuro, a Zara
provavelmente continuará expandindo seus horizontes, principalmente
com lojas online. Eventos recentes comprovaram a importância de ter
uma forte presença online para manter a lucratividade e atender às
necessidades dos clientes, mesmo em tempos de crise.
Além disso, a Inditex (empresa que possui a Zara e outras marcas)
estabeleceu metas ambiciosas de sustentabilidade a serem cumpri-
das até 2025, como ter 80% da energia utilizada em suas instalações
proveniente de fontes renováveis e o uso de tecidos e materiais 100%
sustentáveis ou reciclados (Inditex, 2019).
156
explorar as tendências, oportunidades e ameaças do setor e examinar
como esses fatores macroambientais impactam nas estratégias de negó-
cios e no desempenho desta empresa no mercado global.
157
O que tornará minha marca diferente de outras marcas? Os produ-
tos seguem padrões éticos, mas são acessíveis às massas devido
ao seu preço.
Como criar fórmulas?
Onde obter e produzir?
Como produzir com ética e manter os preços baixos?
IDEIAS: Embalagens de recarga, dispensadores a granel, versões
veganas de perfumes conhecidos, formulações simples.
MECANISMO DE BUSCA: Encontre produtos éticos em diver-
sas categorias, filtrando por localização e preço.
Triste interrupção
Nunca vou esquecer o dia em que a Ana veio para a aula, perto
do dia de Saint Patrick4, ela estava vestida com um traje muito
irlandês e com um fantástico cabelo ruivo, parecia uma garota
irlandesa ou em nossa língua irlandesa “cailín”. Ela realmente
contribuiu para o crescimento dos alunos.
4 Saint Patrick (São Patrício) é o padroeiro da Irlanda, comemorado em 17 de março, dia da morte do Santo,
feriado muito festivo no país.
158
PARTE V
Maturidade emocional
Ana Paula ao encontro de seu lugar
161
foram felizes juntos. Tenho gravada em minha memória a sua expres-
são de felicidade ao abraçá-lo:
Dublin. (2020)
162
Pensamentos viajantes
Aos 23 anos (2015)
Londres. (2013)
One day you look back and realize that all those things that
once made you cry now can only make you laugh.
(Um dia você olha para trás e percebe que todas aquelas coisas
que antes faziam você chorar agora só podem fazer você rir.)
163
A experiência ímpar
de ser mãe
Ser mãe é uma missão complexa e a mais grandiosa que uma
mulher pode vivenciar. É o que faz com que a mulher se sinta plena e
absoluta. Trazer através de seu ser um outro ser, por mais que exista
uma individualidade como pessoa, em muitos momentos a mãe se
sente condensada a seu filho.
Quando ele sofre por algum motivo, seu coração aperta em seu
peito e quando ele está feliz a mãe se regozija.
A responsabilidade da mãe é enorme, ela deve guiar seu filho
até que ele possa seguir seu caminho com segurança, pois ele vem de
seu interior para o mundo, e é com todo o seu amor que a mãe com-
preende isso.
O coração de uma mãe precisa ser imenso… tantas são as lembran-
ças que temos e é no coração que devemos guardá-las.
Com tanto amor, lembro-me de passagens da Ana Paula bebê, a
primeira delas é como sentia prazer ao amamentá-la, o elo profundo
de amor que me ligava à minha filha.
Como era bom cuidar dela e enfeitá-la, seus primeiros gestos engra-
çadinhos, os primeiros passos que deu sozinha, as primeiras palavras.
Em criança, adorava dormir com a mamãe, ah que aconchego…
“Posso dormir mamãe?” Era dessa forma que me perguntava se podia
dormir comigo.
Perto de seus 3 anos, após seu banho, enquanto a vestia, deixava a
televisão ligada no Castelo Rá Tim Bum; ela olhava e prestava atenção,
adorava o Nino e cresceu assistindo ao programa, teve um boneco dele
e, quando adulta, foi à exposição do Castelo em São Paulo. Sempre
gostou de ir às casas-museu de autores que lia e visitou muitas em
suas viagens.
Posso visualizar, ainda hoje, como lavava sua mãozinha, pequenina,
quase não alcançava a pia, mas caprichava, como eu lhe havia ensinado.
164
Ana Paula, com dois anos e oito meses. (1994)
165
E a outra surpresa foi quando fez 17 anos, aqui em casa, planejada
por mim, com a ajuda de uma amiga dela. Jamais vou esquecer seu
sorriso naquele dia, o sorriso mais lindo que já vi.
Apreciava reunir os amigos aqui em casa nas férias, e nós também
gostávamos, era um dia alegre, principalmente por ela estar contente.
Ana Paula adorava as baladas da época, desejava fazer logo seus
18 anos para poder ir a esses eventos.
Gostava também de festivais, foi a vários, para assistir às suas
bandas prediletas.
Sempre gostou de dançar nas festas, nas aulas de zumba ou nos
treinos de academia que fazia. E por falar nisso, também me lembro
de quando íamos juntas à academia, era tão bom, ela dizia que ainda
voltaríamos a ir juntas, pensando que, um dia, eu fosse morar na
Europa, perto dela.
Ser mãe é um presente e uma experiência sublime, e tão difícil de
expressar em palavras.
166
Em nosso apartamento, fevereiro de 1995, Ana Paula antes de completar 3 anos.
167
Ana Paula: nossa flor,
nosso amor,
nossa criança eterna,
em momentos especiais,
tão terna!
Performances
Nos QR Codes abaixo, o leitor poderá visualizar Ana Paula fazendo
uma das coisas que amava, cantar:
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Dans Ma Rue (Edith Piaf), 2016
172
The Hills Are Alive (Musical The Sound Of Music)
A Noviça Rebelde, 2016
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SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 11,5 | 12 | 16 | 18
Gelasio 10 | 12
Spirax 30
Papel: Couché 115 g (miolo)
Royal | Supremo 250 g (capa)