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ANA

ANAPAULA
PAULA
ANA PAULA

UmaVida
Uma Vidaem
em Arte
Arte
precocementeinterrompida
precocemente interrompida

Dirlene Teixeira
Benedito A. Teixeira
Dirlene Teixeira
Benedito A. Teixeira
Dirlene Teixeira e Benedito A. Teixeira

Ana Paula
Uma Vida em Arte
precocemente interrompida

MouraSA
Curitiba — Brasil
2023
Copyright © da MouraSA Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da MouraSA
Revisão: Dirlene Teixeira e Marina Ferreira

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506

T262

Teixeira, Dirlene
Ana Paula: Uma Vida em Arte, precocemente interrompida / Dirlene Teixeira, Benedito A.
Teixeira – Curitiba: CRV: 2023.
174 p.

Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-5233-2
ISBN Físico 978-65-251-5232-5
DOI 10.24824/978652515232.5

1. Biografias 2. Homenagem 3. Composições textuais 4. Memórias I. Teixeira, Benedito A.


II. Título III. Série

CDU 9 CDD 920.02


Índice para catálogo sistemático
1. Biografias – 920.02

2023
Foi feito o depósito legal conf. Lei nº 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da MouraSA
Todos os direitos desta edição reservados pela: MouraSA – um selo da Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
Conheça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com.br
À memória de nossa querida filha, Ana Paula,
que iluminou nossa vida, e continua a iluminar
por meio de nossas lembranças e de seu legado.
Agradecimentos
Nossa profunda gratidão a todos, familiares e amigos que estive-
ram presentes durante a vida da Ana Paula, expressando-lhe amor e
carinho, compartilhando momentos significativos e contribuindo, de
alguma forma, para que ela fosse a pessoa excepcional que foi.
Nosso agradecimento especial a quem viajou à Irlanda,
em momento tão difícil, para confortar nossa filha e nos confortar.
Nossa enorme gratidão ao namorado e grande companheiro de
nossa filha, e a seus pais, por todo carinho que eles tiveram por Ana
Paula e por toda atenção que tiveram para conosco.
Agradecemos a todos que nos prestaram solidariedade e apoio
após a partida de Ana Paula.
Nosso imenso agradecimento à professora Marina Ferreira, que
nos orientou com muito carinho e profissionalismo no projeto deste
livro, e também pela admiração que demonstrou por nossa querida
filha, sem a ter conhecido em vida.
Prefácio
Este é um livro especial. Dirlene e Benedito o fizeram para dar
voz à filha amada, Ana Paula, que partira no quase Natal de 2021, aos
29 anos de idade.
Em meio à dor indescritível, foram capazes de reunir e compar-
tilhar textos escritos por Ana Paula e que testemunham sua expres-
sividade, sua conexão com a arte e com a natureza, sua luta pelo que
queria, seu compromisso para com a vida coletiva.
A importância da filha motivou os pais a lhe fazer digna homena-
gem, presenteando-nos com este belo e amoroso trabalho.
Entre lágrimas e, para além delas, dispuseram-se a juntar tudo o
que Ana Paula costumava guardar, fosse em papel ou em arquivos dos
meios eletrônicos, selecionando diferentes tipos de texto, digitando-os
e lhes acrescentando comentários. Dirlene e Benedito também produ-
ziram textos narrativos, recordando a trajetória de uma vida que vinha
sendo construída por Ana Paula de maneira admirável. As fotos ilus-
trativas de diferentes momentos acrescentam emoção às recordações.
Lembremo-nos de que o verbo recordar, do latim re-cordis, significa
voltar a passar pelo coração... Sim, esta obra passou pelo coração do
casal. É fruto do mais profundo afeto.
Mais uma preciosidade: a revelação do entusiasmo e da determi-
nação da jovem Ana Paula para com a vida e suas responsabilidades,
num momento em que se diz que os jovens estão desmotivados para
estudo e trabalho, confusos, desligados, dá o que pensar a todos nós.
Sabe-se que, ao longo da juventude, período entre os 15 e 29 anos, a
moçada carece de boa orientação de pais e de professores, carece de
políticas públicas que a trate como seres sociais em formação. Efeti-
vamente não é o que temos visto.
Os textos da Ana Paula refletem sua transformação, seu cresci-
mento, sua consciência da realidade objetiva e subjetiva, seus ques-
tionamentos, suas incertezas, próprios de uma vida bem-estruturada,
bem-acompanhada. Lê-los com atenção nos faz observar sua matu-
ridade crescente nesse período da vida. A franqueza com que ela se
manifesta é sempre notável. Suas qualidades individuais encontraram
terreno fértil para se desenvolverem e se firmarem. As condições de
vida e de educação familiar e escolar acompanharam seu desenvolvi-
mento como pessoa e cidadã.
A conexão que Ana Paula estabeleceu com as artes desde muito
nova está na base de seus valores humanistas, de seu exercício de auto-
conhecimento e de respeito ao outro. Uma jovem de grande valor!
Aos autores-pais, obrigada por este gesto tão precioso de valo-
rização da filha! Que o brilho de Ana Paula chegue a muitos leitores,
sobretudo aos jovens, em forma de carinho e atenção.

Marina Ferreira
julho/2023

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Aos leitores
Que os escritos de nossa filha Ana Paula, nesta obra transcritos,
sejam sementes deixadas por ela a todos que queiram conhecê-las ou
mesmo reconhecê-las, como nós, atribuindo-lhes vida, semeando-as
em nossas mentes e em nossos corações.
Se trouxemos a este planeta uma pessoa tão especial, que primou
por falar e agir tão positiva e artisticamente, que tão jovem manifes-
tou vontade de autoconhecimento, refletindo sobre o que é a vida e
o que somos nós, lutando por seus ideais cotidianamente, fiquemos,
portanto, com suas boas energias em nossa caminhada. Colheremos
flores e frutos!

Benedito e Dirlene
Carta de uma mãe

Com minha filha, num café da loja onde ela trabalhava,


em Dublin, Irlanda. (2019)
Minha “filhinha querida”1, Ana Paula,
Escrever ou falar de você me faz sentir muito bem.
Atualmente eu me dou conta de que, além de ter me realizado
como mulher, tornando-me mãe, “sua mãe”, você veio até minha
vida para me ensinar tantas coisas! Sua sensibilidade e empatia para
com as pessoas, sua nobreza de sentimentos para com os animais e
a natureza me comoveram muito. Você sempre disse que se todos
tivessem consciência e fizessem sua parte poderíamos fazer a dife-
rença. Enfim, toda a sua preocupação em realizar algo, para que esse
nosso mundo fosse melhor, foi uma lição para mim e talvez eu tenha
me tornado uma pessoa um pouquinho melhor, vivenciando como
sua mãe e amiga toda a sua essência de ser humano.
Você foi uma criança encantadora, com talentos especiais no
universo da arte. Cresceu querendo fazer uso desse amor pela arte
em geral, pois acreditava em como ela tinha em si o poder para nos
fazer refletir, melhorar a comunicação entre as pessoas, criar opiniões
mais críticas e não preconcebidas, e ainda conhecer melhor outras
culturas relacionadas a suas histórias. Afinal, você acreditava que
quem tem sensibilidade para apreciar qualquer forma de arte tem
capacidade para entender melhor cada indivíduo e a si mesmo.
Você constantemente sonhou com um mundo sem tanta desi-
gualdade e idealizava projetos para conseguir esse fim.
Tentei ser uma boa mãe, educando-a com muito amor, respon-
sabilidade e integridade. Sei que você entendeu isso, pois foi sempre
muito responsável e íntegra em suas ideias e atos, cumprindo com
suas obrigações e fazendo tudo da melhor maneira. Tenho muito
orgulho da pessoa que você foi, lutou com bravura em tudo o que a
vida lhe apresentou e foi além de qualquer expectativa. Você adquiriu
muitos conhecimentos em diversas áreas e espero, com todo o meu
coração, que essas experiências conquistadas possam ser úteis em
sua vida espiritual.
Sou grata por ter tido você e ter experienciado esse amor
sublime e incondicional que é o de uma mãe pelo filho.
Amo-a eternamente, querida minha!

1 As aspas destacam a expressão que eu sempre usava ao falar com ela.

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Doces lembranças de
uma filha querida

Com minha filha no Museu Portinari, Brodósqui, SP. (2016)

Quero começar esta homenagem agradecendo a dádiva a mim


concedida, o privilégio que tive de ser pai da Ana Paula, que partiu tão
precocemente e deixou um profundo vazio em nossas vidas.
A minha existência pode ser dividida em duas partes: antes e
depois do nascimento da minha filha querida. Casei-me tarde para
a época, eu já havia passado dos 40 anos quando Ana Paula nasceu,
trazendo muita alegria, luz e sentido à minha vida.
Como comecei a trabalhar cedo, ainda criança, eu também me
aposentei cedo e pude acompanhar de perto cada fase, o dia a dia e o
crescimento da minha filha.
O primeiro contato que ela teve com arte e música foi na Escolinha
de Arte do Museu, chegava de lá sempre alegre e cantando as músicas que
havia aprendido. Lembro-me em particular de uma cantiga de roda por-
que ela gostava que a cantássemos juntos, principalmente quando nós
estávamos viajando de carro. Era mais ou menos assim: “A canoa virou,
pois deixaram ela virar, foi por causa da Maria que não soube remar,
ti-ri-rim pra cá, ti-ri-rim pra lá, a Maria é velha e não quis casar”, e a
gente escolhia um nome para substituir Maria. Quando a “vítima” era
eu ou a mãe dela, minha filha ria muito, mas, quando a gente substituía
por Ana Paula, ela ficava muito zangada e ameaçava a chorar; rapida-
mente colocávamos outro nome e ela voltava a dar muitas gargalhadas.
Nós passeávamos bastante nessa época e muito nos divertíamos.
Nessa mesma época, ela também alimentava o sonho de ser bai-
larina. Nós a matriculamos na escola de ballet “Carla Petroni” onde
permaneceu por bastante tempo e participou de várias apresentações
nos teatros de Ribeirão Preto.
Lembro-me com saudade e orgulho da minha filha representando
e dançando, juntamente com as coleguinhas e, em especial, quando
ela usou a sua primeira fantasia, elefantinho.

Circus Dance, Teatro Municipal, Rib. Preto, SP. (1997)

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Com onze anos, no Colégio Pequeno Príncipe, participou de uma
gincana e, sem nenhum constrangimento, cantou pela equipe a música
“Bring Me To Life” da banda Evanescence. Foram muitos aplausos e
elogios para o seu desempenho. Em seguida, ela foi convidada a partici-
par do coral da escola, apresentando-se em diferentes locais da cidade.
Com o passar do tempo, na adolescência, seu apreço pela música e
o surgimento da banda mexicana RBD (conhecida pela trilha sonora da
novela “Rebelde”) de que ela gostava, sabendo cantar todas as músicas,
levaram-na a aprender espanhol e a sonhar em ser cantora. Ana Paula
já era fluente em inglês e francês, quando em uma festa no curso de
línguas da Aliança Francesa, cantou uma música da jovem cantora
francesa Zaz (Isabelle Geffroy), “Je Veux”, deixando os convidados
bastante impressionados.
Após assistirmos a uma apresentação do Coral Minaz, ela ficou
muito entusiasmada, quis conhecê-lo melhor e acabou fazendo parte
do grupo como cantora coralista e assim participou de encenações
do Teatro Minaz em óperas e musicais. Nessa mesma época, estudou
música (teoria e canto), piano e teatro, tendo participado na criação
da peça “Motivo”, na qual também atuou.
A sensibilidade que levava Ana Paula a gostar de várias manifes-
tações artísticas se revelou bem cedo, juntamente com o desenvolvi-
mento de outras habilidades, tendo escrito poesias, contos, narrativas
diversas e letras de músicas.
Minha querida filha sempre viveu a arte de maneira criativa
e sonhadora!
Além de eu sentir um orgulho enorme por suas demonstrações de
vários talentos, também fiquei encantado com seu amor pelos animais
e por sua consciência ecológica, sempre preocupada com a proteção à
natureza e ao meio ambiente. Ela se tornou vegetariana porque, com
tantos recursos naturais que existem, não achou correto que os animais
fossem mortos para nos servirem de alimento. Ela sempre separava o
lixo para reciclar e servir de matéria-prima para novos produtos, evi-
tando o descarte indiscriminado de materiais de difícil decomposição,
que poderiam ficar por muitos anos degradando o solo e poluindo o
nosso planeta.
Como era muito organizada e aplicada, ela passou com facili-
dade por todas as fases escolares, tendo concluído o ensino médio no
Colégio Einstein, quando prestou vestibular e foi aprovada em diver-
sas universidades.
Optou pelo curso de Relações Internacionais da Unesp de Franca,
onde se formou e realizou um excelente trabalho de conclusão de

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curso, motivo de muitos elogios e até citado como fonte de pesquisa.
Seu trabalho aborda a importância e influência da arte e da cultura nas
relações internacionais e, em especial, o cinema, que já teve uma fase
áurea no Brasil, servindo de instrumento facilitador para criar relações
amistosas com outros países, divulgar o Brasil no exterior, auxiliar
a nossa diplomacia a negociar os nossos produtos e serviços e atrair
investimentos estrangeiros. Para isso, cita ela, faz-se necessário que
os nossos governantes sempre deem o devido valor à arte e à cultura,
por meio de ações e leis de incentivo às produções nacionais, já que
não se trata de doações, mas de investimentos, cujos frutos o país irá
colher mais tarde. Lembro-me de que às vezes conversávamos sobre
esses e vários outros assuntos, inclusive uma das últimas vezes que
conversamos sobre isso foi no meu aniversário, quando ela ligou para
me parabenizar e, por telefone, ela me disse: “Que saudade de filosofar
com o papai e falar de tantos assuntos assim”.
Enquanto cursava a Faculdade, ela teve muitas experiências na
área cultural, aproveitou as férias para fazer um curso intensivo de
cinema na Academia Internacional de Cinema de São Paulo, onde
produziram um curta metragem (Título: Papel Perfeito), no qual ela
trabalhou na direção de arte e supervisão de script.
Trabalhou também como voluntária no Fórum Mundial de Negó-
cios Sociais no Rio de Janeiro, onde fornecia informações sobre a
organização NESst (uma das mais antigas organizações no desenvol-
vimento de negócios sociais em mercados emergentes). Em outras
férias adquiriu experiência em um intercâmbio em Londres, estudando
inglês avançado na Eurocentres, embora já possuísse certificados de
proficiência na língua.
No último ano da faculdade, ela já quis trabalhar e começou a dar
aulas de inglês na Escola de línguas CNA, e em casa, aulas particulares
para alguns alunos. Também ministrou aulas de francês e inglês no
curso de gastronomia no Instituto Gastronômico das Américas, IGA
de Ribeirão Preto.
Visitou Nova Iorque, com interesse em arte e cultura, esteve em
museus e teatros, assistindo a musicais. Viajou pela França, visitou
lugares históricos, museus e teatros, assistindo também a musicais e
apresentações operísticas.
Assim que se graduou na faculdade, fez pós-graduação em Ges-
tão Cultural, no Senac-SP, na modalidade a distância, curso a que ela
muito se dedicou, fazendo um ótimo TCC (Trabalho de Conclusão de

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Curso), onde propôs a criação de um Centro Cultural Virtual (Plata-
forma On-line de Educação e Cultura). Este seria acessível à população
de vários níveis socioeconômicos. O objetivo principal seria promover
a educação para a cultura com qualidade e inclusão social, criar um
ambiente de aprendizado crítico, colaborativo, tecnológico e de fácil
acesso, criar demandas de consumo cultural e artístico, com enfoque
no aprendizado e interpretação das línguas e da literatura.
Ela tentou muito conseguir um trabalho na área cultural, no SESC
e na Secretaria de Cultura de Ribeirão Preto, mas percebeu que em
nosso país a cultura e a arte já não estavam sendo suficientemente
valorizadas, e isso só aumentava o seu desejo de morar no exterior,
onde, imaginava ela, teria mais oportunidades, tanto para conseguir um
trabalho como para realizar o seu sonho artístico. E foi assim que ela se
mudou para Dublin, na Irlanda, para estudar e trabalhar. Ela teve expe-
riências diversas de trabalho, cabendo destacar a função de intérprete,
já que ela dominava mais de um idioma, trabalhando, como freelancer,
no Tribunal de Justiça, em Delegacias de Polícia, Hospitais e onde fosse
necessário o serviço de intérprete.
Durante esse tempo na Irlanda, ela procurava por cursos de seu
interesse, como o Masterclass de teatro no The Gaiety School of Acting
e o curso de musical (por 10 semanas) que ela fez na Waltons New
School of Music (com uma ótima performance no final).

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Na Waltons New School of Music, Dublin. (janeiro, 2018)

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Participou de uma apresentação do Dublin City Choral Union, na
St. Patrick ‘s Cathedral e ainda trabalhou como voluntária no Dublin
International Film Festival (Virgin Media), em dois festivais.
Em março de 2019, ela conseguiu um trabalho como tradutora na
empresa LION, em Lisboa. Mudou-se sozinha para Portugal, onde fez
muitos amigos e teve o seu trabalho valorizado pela empresa e pelos
colegas, que admiravam a sua postura e competência. Ela permaneceu
em Lisboa até o final do ano, só saindo, apesar da insistência para que
lá permanecesse, para iniciar em Dublin o curso de mestrado “MSC in
Management”, no National College of Ireland.
Surpreendida por um grave problema de saúde, iniciou imedia-
tamente o tratamento médico e continuou a fazer algumas disciplinas
do mestrado, na medida do que era possível, e fazia cursos online de
seu interesse, relacionados com a área do mestrado. Após ficar curada
com o tratamento, conseguiu um trabalho remoto como freelancer na
empresa APPEN, onde trabalhava algumas horas por dia e logo come-
çou a trabalhar presencialmente também e sua vida voltou ao normal.
Muito feliz, viajou para Espanha e Portugal, com seu namorado e
família, mas, tristemente, após o retorno da viagem, fomos todos sur-
preendidos com a volta da enfermidade, depois de seis meses da “cura”
que julgávamos ter sido bem-sucedida. Contrariando o prognóstico,
que não era bom, minha filha se agarrou à chance que tinha, com tanta
fé, que o seu otimismo me contagiou, e também fiquei acreditando que
a sua partida pudesse ser adiada, e que fosse seguida a ordem natural
da vida: “quando os filhos é que enterram os pais”.
Porém, como não conhecemos o nosso futuro, os sonhos de nossa
filha foram interrompidos abruptamente e ela teve de partir tão cedo,
deixando aqui, para nós, a sua eterna presença e as doces lembran-
ças de uma filha tão dedicada e carinhosa. Ela foi uma guerreira e lutou
até o fim. Lembrei-me então da música “Oh pedaço de mim, Oh metade
afastada de mim”, como foi dolorido!
Ela sempre dizia que precisava concluir muitos projetos que ini-
ciou e os que sonhou realizar, bem como terminar o curso de mestrado,
porque havia lido diversos textos de seu interesse, que a ajudariam a
fazer seu futuro trabalho de conclusão de curso. Uma de suas ideias
era o empreendedorismo vegano e ecológico na Irlanda e suas implica-
ções na vida atual. Ela iria pesquisar, nas empresas, se elas utilizavam
pré-requisitos na fabricação de seus produtos e a importância deles
para os consumidores.

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Assim era Ana Paula, a minha filha querida: tão romântica e sonha-
dora, que se foi para outra dimensão do universo, deixando aqui com-
prados os ingressos para o musical “Rei Leão” que aconteceria em um
teatro de Dublin, a que ela assistiria com o namorado.
Tão otimista e esperançosa que, mesmo em situação extrema-
mente difícil, renovou, de dentro do hospital, o visto para permanecer
na Irlanda.
Pena ela não ter conseguido renovar a permanência dela aqui na
Terra, perto de nós, para terminar de realizar todos os seus sonhos.
Decidimos assim, como uma justa homenagem, publicar uma cole-
tânea de seus escritos, tão criativos e sensíveis, que tenho lido com
muita saudade e admiração.

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Coletânea de textos
de nossa filha

Primeira visita da Ana Paula, após se mudar para Irlanda.


Ribeirão Preto, SP, num bar. (2018)
Observações:

1. Na transcrição dos poemas e das letras de música da Ana


Paula, decidimos manter a forma com que ela os escreveu.
Assim, respeitamos a “licença poética” de que fez uso, no
que se refere ao emprego de pronomes pessoais e à concor-
dância dos verbos com relação a eles, entre outros detalhes
de pontuação.
2. Alguns textos da Ana Paula estão acompanhados de nossos
comentários. A intenção foi a de contextualizar o momento
em que foram produzidos e ou destacar o que chamou
nossa atenção.
Autobiografia

Em Franca, SP. (2012)


PREFÁCIO

Hoje, com 19 anos completos, dou início à tarefa que há tanto


tempo me dispus a cumprir. Escrever a própria história não é nada
fácil, pois talvez seja impossível tratar os fatos com imparcialidade
quando se fez parte deles. Ainda assim, aceito esta tarefa árdua de
registrar minha vivência até os dias de hoje, com a esperança de que
alguém encontre nela alguma utilidade.
Felizmente, guardei em diários muitas das coisas que me acon-
teceram em minha infância e adolescência. Esses diários serão de
extrema importância já que, quanto mais passe o tempo, mais vagas
se tornarão as lembranças, motivo pelo qual eu tenha me apressado
em começar a escrever esta autobiografia.
Antes de mais nada, devo informar ao leitor hipotético que nem
tudo que conste nestas páginas é absolutamente fiel aos acontecimen-
tos de minha vida, são recordações, da forma como eu as guardei
para mim. Por fins éticos, alguns nomes serão ocultados ou mesmo
alterados. Espero ter o talento necessário para redigir minha história
de forma clara e concisa, e o meu maior esforço será por fazê-lo.

CAPÍTULO I – APRESENTAÇÃO

Por meio deste, farei uma breve apresentação sobre a persona-


gem principal: eu mesma. Pois bem, nasci no século XX, em 1992,
numa cidade do interior de São Paulo, Brasil. Sou pisciana, nascida
no primeiro dia do mês do março. Nasci em família de classe média,
sou e certamente sempre serei filha única de meus pais. Quando
criança, o fato de não ter irmãos me causou, em certas situações,
grande tristeza, me sentia solitária na companhia de minha babá,
uma vez que ambos, meu pai e minha mãe, trabalhavam o dia todo.
Com o passar do tempo eu percebi os frutos da solidão, um deles, a
minha enorme criatividade. Sempre tive a prerrogativa de viver em
um mundo só meu, com meus amigos imaginários.
Diferentemente do mundo criado pela maioria das outras
crianças, creio eu, o meu era bem estruturado, digamos assim.
Sempre acreditei desde muito jovem possuir uma missão nessa vida e
a quantidade de livros que li, filmes e séries de televisão a que assisti
contribuíram bastante para que eu tivesse tal convicção.
Na falta de um irmão que me fizesse companhia, a vida me
deu primos queridos. Minha madrinha, irmã de minha mãe, teve dois
filhos, um casal. Convivi muito com os dois, mesmo morando em

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cidade diferente, e posso dizer com toda certeza de que são mais do
que meros primos para mim. Minha mãe e minha tia, assim como
meu tio por parte de mãe, nasceram em uma cidadezinha de Minas
Gerais e se mudaram mais tarde para a cidade em que nasci e em que
vivo atualmente. Minha tia, porém, mudou-se para outra cidade de
Minas, maior e mais desenvolvida do que sua cidade natal; meu tio
voltou a viver em sua terra, teve duas filhas, que também são muito
queridas; e minha mãe permaneceu no interior de São Paulo, onde
construiu sua vida com meu pai e onde eu mais tarde nasci, em 1992.
A família de meu pai, por outro lado, é de origem humilde e de
uma cidade também pequena, mas no estado de São Paulo, bem pró-
xima da minha, aliás. Minha avó teve quatro filhos: meu pai, minha
tia, e meus dois tios. Minha tia não conseguiu ter filhos e adotou um
garoto, meu tio mais novo teve um casal de filhos; e meu tio mais
velho, duas meninas. Tenho muito boas lembranças da convivência
com meus primos. Minha avó paterna passou por dificuldades finan-
ceiras, principalmente depois da morte de meu avô, quando meu
pai tinha apenas 6 anos. O pai de meu pai era um homem honesto
e trabalhador, mas infelizmente, faleceu muito jovem. Nunca tive a
sorte de conhecê-lo. Ainda assim, minha avó não deixou por nenhum
momento de lutar por seus filhos. Posso dizer o mesmo de minha avó
materna, que também teve uma vida nada fácil. Meu avô materno
era um homem sério e sistemático que enfrentou muitas dificuldades
em sua curta vida, tampouco pude conhecê-lo, pois morreu quando
minha mãe era ainda moça. Minha avó foi, assim como minha avó
paterna, uma mulher de fibra e grande coragem, graças a elas meus
pais tiveram a oportunidade de construir uma vida muito melhor do
que se poderia imaginar. Se um dia eu tivesse que falar de pessoas
que me inspiraram, sem sombra de dúvidas, eu as citaria.
Quanto à minha personalidade, não poderia ser exata. Ao longo
de minha vida mudei muito, inclusive com relação aos valores, mas
posso afirmar que algumas características são inerentes à minha
pessoa e praticamente imutáveis. Sou sonhadora e, talvez, idealista,
apesar de me considerar mais “pé no chão” do que já fui. Além disso,
sou uma pessoa que tem medos, mas que se esforça por enfrentá-los.
Já tive a autoestima muito baixa e grandes problemas na infância
e adolescência relacionados a isso. Sou, ainda, uma pessoa ambi-
ciosa, às vezes competitiva, e muito persistente, digamos, bastante
teimosa. Um de meus defeitos, eu diria, se resume a ser extrema-
mente romântica, não só nas relações com o sexo oposto, mas em
todas as minhas relações pessoais. Vejo-me magoada facilmente por

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acreditar no “lado bom” das pessoas, mesmo este não sendo visível.
Resumidamente, creio que essas características sejam suficientes
para a compreensão psicológica de tudo o que escreverei. Entretanto,
o leitor poderá certamente encontrar ao longo dos capítulos outras
virtudes ou defeitos, que eu obviamente não consigo enxergar.

CAPÍTULO II – PRIMEIROS PASSOS

Desde bem novinha eu fui apaixonada pela natureza, não con-


seguia acreditar como as pessoas eram capazes de fazer maldades
contra os animais, ou de destruir as matas, por exemplo. Na primeira
página de meu primeiro diário escrevi:

Querido diário, eu amo a natureza. Eu prometo cuidar


bem dela, então, vou lhe contar uma poesia.

Riqueza

Nossa riqueza é a natureza


Eu vou cuidar bem dela
Que riqueza, a natureza.
Vou cuidar bem das plantas
E dos bichos do mundo
Ai, eu te amo natureza.

Nessa época eu desejava muito ter um animalzinho de estima-


ção em casa, mas me custou muito conseguir a permissão de meus
pais para ter um.

Animais

Animais são da natureza


A riqueza do meu coração
Toda beleza é você,
Meu bichinho de estimação.

A partir de quando aprendi a escrever, demonstrei uma aptidão


pela escrita, poemas me encantavam assim como os livros em geral.
Esperava ansiosamente pelo dia em que leria as coleções de livros
que meus pais haviam comprado para mim ainda quando eu não
sabia ler. Por um lado, eu ainda não tinha medo de quase nada, de

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palhaços ou de qualquer outra coisa como o escuro ou o bicho-papão.
Lembro-me de assistir escondida no apartamento onde vivia a um
filme de terror nada indicado para minha pouca idade. Lembro-me
também de ser levada ao Parque de Exposições da minha cidade
para um evento e de entrar em um Barco Viking, aquela atração
muito comum nos parques de diversão. Segundo meu pai, eu dava
um gritinho agudo, assustada com o “buracão” que eu via aos meus
pés quando o barco balançava. Mas posso dizer que, depois desse
episódio, nenhum brinquedo de parque de diversões me intimidava
como às outras crianças. Eu sempre me senti mais madura do que
as demais, mesmo quando muito pequena.
Por outro lado, meu eu fantasioso talvez estivesse mais pre-
sente do que o normal. Acreditei por muitos anos de minha vida em
Papai Noel, em fadas, bruxas e outras criaturas. Tinha várias ami-
gas invisíveis e criava nomes para cada uma delas. Além disso, era
fissurada em contos de fadas, todo dia quando chegava do trabalho,
meu pai precisava acordar a princesa desmaiada no sofá da sala:
modéstia à parte, eu sempre fui boa em encenar.

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Ana Paula decidiu escrever sua autobiografia, aos 19 anos,
consciente de que a iniciativa lhe daria trabalho.
Desde suas primeiras linhas, observamos a postura
madura de quem acredita que poderia contribuir, de
alguma maneira, ao compartilhar suas experiências com
as pessoas que a lessem.
Sempre foi muito importante para ela fazer as coisas
cuidadosamente, da maneira correta, com sinceridade.
Voltou às próprias agendas de anos passados para resga-
tar, de suas anotações, fatos que porventura a memória
já não registrasse tão nítidos no momento presente.
Ao analisar a condição de ter sido filha única, soube tirar
proveito positivo da situação de ser sozinha: sua criati-
vidade desabrochou e ela pode criar um mundo cheio de
histórias e de personagens-amigos para, depois, escrever
muito sobre tudo isso.
Ana Paula tinha uma maneira peculiar de ver as coisas,
sempre com mais maturidade do que deveria, sempre
um passo adiante de sua idade.
Mesmo reconhecendo as transformações que foram ocor-
rendo em sua personalidade, sabia que algumas de suas
características eram imutáveis. Até admitia que o leitor
de seu texto viesse a perceber outras características que
ela mesma não notara.
Ana Paula integrava-se ao meio, respeitando-o. O
cuidado para com a natureza e com os animais se reve-
lou desde criança.
Aos 19, sua cidadania estava definida. Para ela era muito
importante descobrir de que maneira poderia contribuir
para um mundo melhor.
Embora sua autobiografia tenha ficado inconclusa, regis-
trada está, nesses escritos, a preciosidade de nossa filha.

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PARTE I
A menina e a adolescente
Quando criança,
Ana Paula
sabia brincar com as palavras,
dando-lhes sentido
e graça.

Quando adolescente,
já queria filosofar
ao escrever,
compor ou cantar.

Em Ouro Preto, Minas Gerais. (2006)


Passatempo

O relógio vai andando


E o gato vai passando
O cachorro vai andando
De repente
Passam 7 gatos
Passam 9 cachorros
O relógio
Só reclama:
Não dá pra passar mais depressa?

(2001, aos 9 anos)

33
Em uma das tantas e divertidas idas ao Guarujá! (2001)

34
O pavão

O rabo do pavão
É colorido
Tão bonito!
Parece uma enorme asa.

Uma asa tão bonita


Que é essa
Tão colorida
Tão divertida!

Essa “asa” do pavão


Na verdade
É o próprio rabo
Que engraçado!

(2001, aos 9 anos)

35
Havia uma menina

Havia uma menina


Com um bom coração
Que dentro do bolso
guardava um pião.

Gostava de alguém
Que usava um calção,
bem largão!
Queria dar
um beijão
no seu paizão.

Queria fazer
uma poção
para virar
um pavão.
Para ficar
mais bonita
com penas
coloridas.

Mas era uma criança


com muita esperança
De encontrar alguém
que lhe quisesse bem!
Que pena que acabou
pois o poema nos deixou…

(2002, aos 10 anos)

36
Uma tarde na biblioteca
Com apenas cinco anos de idade, Ana Paula me perguntou onde
ficava a biblioteca da cidade e disse que queria muito conhecê-la. Achei
que tal interesse fosse por influência da Escolinha de Arte do Museu,
que ela frequentava. Expliquei então que era um prédio antigo, onde
funcionava a Biblioteca Municipal, que ficava no centro da cidade e era
chamada de Biblioteca Altino Arantes. Em 2020, após a revitalização do
antigo prédio e a construção de mais uma área moderna ao seu redor,
a biblioteca foi inaugurada com nova denominação, Biblioteca Sinhá
Junqueira, em homenagem a sua legítima idealizadora.
Fomos lá então, em uma tarde, para realizar a sua vontade. Esta-
cionamos perto da praça XV, peguei em sua mãozinha e fomos cami-
nhando, com ela conversando o tempo todo, até chegarmos à biblioteca.
Ela ficou impressionada com a quantidade de livros existentes, achou
interessante a possibilidade de podermos tomar livros emprestados
e já quis que eu fizesse a nossa inscrição. Ela gostou muito da seção
infantil e se encantou com os personagens de Walt Disney, que ela
chamou de “All Gisney”. Achei bonitinha a maneira de ela falar e não
quis corrigir na hora.

Na Pousada do Rio Quente, Goiás. (1997)

37
Assim, repetimos algumas vezes esse trajeto, que ela fazia questão
de ir para devolver o livro e já escolher outro.
Certo dia, ela me pareceu pensativa, e eu perguntei: “O que você
está pensando, filhinha?” E ela respondeu: “Estou pensando no Mic-
key”. Achei muita graça. E foi assim que ela começou a conhecer as
personagens de várias histórias infantis, como Branca de Neve, Cin-
derela, a Dorothy do Mágico de Oz, a Polegarzinha e mais tarde Harry
Potter. Compramos todas as suas fitas VHS e CDs preferidos, a que
assistíamos várias vezes.
Na época, pensei que esse interesse de querer conhecer as coisas
tão cedo se devesse à proposta da escolinha, de educação pela arte,
pois, além de despertar a criança para a cultura em geral, fazia com que
ela se familiarizasse depressa com as letras e sons do nosso alfabeto,
facilitando o aprendizado, tornando-se uma leitora atenta e dedicada.
Hoje eu sei que minha filha tinha muita pressa de aprender, de
realizar os seus sonhos, como se, no seu íntimo, ela soubesse que não
teria todo o tempo do mundo. (Benedito)

38
Minhas lembranças

Em criança,
Inventei uma dança,
Brinquei de boneca,
Escrevi uma peça.

Fui ao teatro,
Comprei um sapato,
Assisti a um filme.
Em casa, fantasiada de
Brinquei no escuro, Emília, personagem de
Chorei atrás do muro. Monteiro Lobato. (1998)

Andei na chuva,
Admirei a lua.

Encontrei passarinho
Dentro de um ninho.

Brinquei de princesa,
Nadei na represa.

Machuquei o dedo,
Tremi de medo.

Tive momentos de glória,


Vivi num livro de histórias!
Teatro Municipal, Rib. Preto,
SP, “A Fantástica Fábrica
(2003, aos 11 anos) de Chocolate”. (2000)

39
A menina do portão

Eu estava tão quietinho,


Cantando bem baixinho,
Quando vi meu amorzinho,
O amor perfeito para mim.

Tinha cachos dourados


E um rostinho delicado,
Olhava para mim,
Parecia um anjo,
Será que era só sonho?

Um amor que eu encontrei,


Era doce, me olhava com carinho
E sorria,
Era uma menininha, tão linda,
Que me olhava, me olhava,
Mas minha vontade era conversar com ela,
Descobrir o segredo da sua beleza,
Mas eu era tímido,
Porém, não existiam barreiras,
Apenas o fato de eu abrir
O portão do meu coração.

(2003, aos 11 anos)

40
O sol

O sol de manhã
Acorda e brilha
Fica o dia inteiro
A iluminar.

Quando chega o fim do dia


No horizonte ele está,
Se pondo tão lindo
Que eu podia até cantar,
Assim num paraíso
Sempre vou estar.

(2004, aos 11 anos)

41
“Sonho meu, sonho meu, sonho meu
Vá buscar quem mora longe [...]”
(Dona Ivone Lara/Délcio Carvalho)

Sonhar

Sonhar é viver,
sonhar é imaginar
sonhar é desejar
criar, inventar.
Viver no mundo da fantasia,
da alegria e do prazer.
Sonhar é querer
Sonhar com você.

(Provável 2004, aos 12 anos)

42
Estranho

Olá estranho
Será que te conheço?
Será que já te vi?
Você nunca esteve aqui.
Se já esteve,
nunca vi.

Depois de pensar
Descobri que conheço a ti.
Mas você nunca me viu
Nem sabe que eu existo
Nem nunca quis saber.
Sou um estranho pra você
Mas você não é pra mim.

(Provável 2004, aos 12 anos)

43
Sonhando acordada
- CANÇÃO -

Estou à beira do mar


a praia está deserta
o clima está ótimo
com esse ventinho gostoso.
Será que estou sonhando?
parece tão real,
o barulho das ondas
me relaxa
e eu penso em você.
A noite caiu depressa
e eu nem mesmo percebi.

O céu toca o chão


quando eu te vejo
em minha cabeça.
As estrelas brilham ainda mais
quando lembro dos seus olhos,
fica uma visão linda em minha mente,
como se fosse real,
nunca tive um sonho tão lindo,
se é que estou sonhando.

Refrão

Devo estar sonhando


mas não importa
devo viver cada momento
como se fosse o último.
Além disso, nunca sonharei assim novamente.

Estou deitada na areia


não tenho preocupações
só quero aproveitar
esse momento.
Afinal, será que vou morrer logo?
Deus é quem sabe

44
se vou te conhecer
ou não
se vai gostar de mim
ou não.

Não sei por que perco tempo


pensando em você
você nem sabe quem sou
e eu nem sei quem é você
mas eu te amo.
Não importa o que aconteça
você vai estar sempre em meu coração

Refrão

Devo estar sonhando


mas não importa
devo viver cada momento
como se fosse o último.
Além disso, nunca sonharei assim novamente.

Vou pensar em você


até eu acordar
Apesar de eu não mais achar
que estou sonhando
pois se estivesse
não pensaria em todas essas coisas
simplesmente iria viver o sonho.

Mas é isso que vou fazer


vou ficar aqui olhando
as estrelas e ouvindo o barulho
do mar até a noite acabar,
quando o silêncio será quebrado
pelas mais diversas criaturas
e quando o sol nascer
e se der início o novo dia
que vai ser cheio de alegria.

45
Refrão

Devo estar sonhando


mas não importa
devo viver cada momento
como se fosse o último.
Além disso, nunca sonharei assim novamente.
Estou sonhando acordada

(2004, aos 12 anos)

46
Em Versailles, Paris. (2007)

47
Just live
– CANÇÃO –

People say what I have to do


They think I can’t think
They think I’m just a little girl
But I’m not, I’m grown up
I’m just trying to live (just live)

I cannot be independent
‘Cause they don’t let me choose
Doing the own choices
It’s what I call living

Refrão 1

Without the voice, without a chance


How can I breathe, wanna be
Without a choice, without a change
How can I fly
I just wanna live my life

Why you think I’m not able to get do


the things that I want
If you think I’m giving up

You’re wrong I don’t give up


I’m just trying to live (just live)
I can not be independent
‘Cause they don’t let me choose
Doing what you love
It’s what I call living

Refrão 1 (sem o último verso)

Without the voice, without a chance


How can I breathe, wanna be
Without a choice, without a change
How can I fly

48
Refrão 2

Without a love without a heart


How can I try
Without the sun, without a light
How can I shine
I just wanna live my life
Just live...

(2006, aos 14 anos)

49
Apenas viver (tradução)

Pessoas dizem o que eu tenho de fazer


Elas acham que eu não consigo pensar
Elas pensam que eu sou apenas uma garotinha
Mas eu não sou, eu cresci
Estou apenas tentando viver (apenas viver)

Eu não posso ser independente


Porque não me deixam escolher
Fazer as próprias escolhas
É o que eu chamo de viver

Refrão 1

Sem a voz, sem uma chance


Como posso respirar, querer ser
Sem uma escolha, sem uma mudança
Como posso voar
Eu só quero viver minha vida

Por que você acha que eu não sou capaz de fazer


As coisas que eu quero
Se você acha que eu estou desistindo
Você está errado eu não desisto
Estou apenas tentando viver (apenas viver)

Eu não posso ser independente


Porque não me deixam escolher
Fazer o que você ama
É o que eu chamo de viver

Refrão 1 (sem o último verso)

Sem a voz, sem uma chance


Como posso respirar, querer ser
Sem uma escolha, sem uma mudança
Como posso voar

50
Refrão 2

Sem um amor sem um coração


Como posso tentar
Sem sol, sem luz
Como posso brilhar
Eu só quero viver minha vida
Apenas viver...

Nos versos dessa canção, a confirmação da precocidade


de nossa filha aos 14 anos, adolescente. Ela já se expres-
sava como uma moça emancipada, que sabia o que queria
(“fazer as próprias escolhas é o que eu chamo de viver”).

51
Ana Paula em
crescimento e vivacidade

Desde pequena, curiosa e interessada, na Escolinha de


Arte do Museu, Ribeirão Preto, SP. (1997)

Após ficar em companhia de sua avó (minha mãe), aos três anos
foi para a Escolinha de Arte do Museu, pois gostamos muito da pro-
posta da escola.
Sua adaptação foi tranquila, na primeira semana seu pai permane-
ceu na escola, estava aposentado na ocasião. Quando ela ficou sozinha,
estranhou um pouco, mas logo se acostumou. Conforme relatórios
de suas professoras, que guardei juntamente com seus trabalhinhos
(desenhos, colagens e outros).
Aos poucos foi se socializando e participando com entusiasmo das
aulas de música, das rodas, fazendo comentários até sem ser solicitada.
Prestava muita atenção quando ouvia histórias e quando estava livre
na classe, pegava um livro e imitava a professora, acompanhando as
palavras com o dedinho. Só entregava o trabalho quando estava satis-
feita com o resultado.
Na hora do lanche, jogava seus restos no lixo e organizava
sua lancheira.
Com o passar do tempo, levava seus livros e procurava ilustrar as
aulas, pois gostava de ler e contar histórias.
Tenho lembranças preciosas dessa fase, as festinhas comemo-
rativas, a apresentação da orquestra, em que os alunos tocavam os
instrumentos e cantavam as músicas.
No Colégio Pequeno Príncipe, onde ela estudou do pré-primário
até a oitava série, também há ocasiões importantes a lembrar. Conti-
nuava sua educação por meio da arte, eu acreditava ser o caminho certo.
Ela fazia reinterpretação das obras de arte nas aulas de educa-
ção artística, e esse contato com a arte despertou muito em mim o
amor que tenho por manifestações artísticas, sobretudo, àquela época,
pela pintura.
Na disciplina Biblioteca, ela adorava ler muitos livros, pois desde
cedo valorizava os livros em geral, guardando-os com cuidado e tinha o
sonho de construir uma biblioteca em casa. Nós chegamos até a pensar
na possibilidade de transformarmos nosso sótão em uma biblioteca...
Havia no colégio um sarau de poesias, do qual ela adorava parti-
cipar e especialmente com as poesias que escrevia. Em uma ocasião
disse toda orgulhosa:

“Agora vou ler uma poesia de minha autoria.”

Sarau de Poesias, biblioteca do Colégio Pequeno Príncipe, Ribeirão Preto, SP. (2003)

54
Na oitava série, Ana Paula, em parceria com sua amiga Natália,
assinava uma coluna no jornal “2 pontos” do colégio, intitulada Papo
Teen. Em 2010, na comemoração do ano 10 do jornal, foi convidada a
escrever uma pequena homenagem.

Ela concluiu muito bem seu primeiro grau.


Às vezes viajávamos e ela tinha 9 anos quando fomos a um hotel
fazenda, lá havia um lago, e o pai dela sugeriu pescar. Ela achou a ideia
interessante, mas quando viu que o anzol feria o peixe, se recusou a
continuar, já se preocupava em não molestar qualquer ser vivo.
Não gostava que se matasse nem uma formiga, uma aranha...
(Dirlene)

55
Lembrança
– CANÇÃO –

Noites sem dormir


Esperando a solução
Como fazer pra realizar esse sonho
Enfim tudo se resolveu
Mas não foi fácil assim não

Tudo que passamos


Tudo que sofremos
Tudo que vivemos
Valeu a pena
Tornamos esse sonho
Uma realidade,
Uma realidade
que vai estar sempre
em nossos corações
E na nossa mente

A sua imagem
Aqui dentro vai sempre estar
Você que foi nosso refúgio
Um sonho louco de muitas
Paixão de outras
Sua olhada pode ser
fruto da nossa imaginação
Mas no fundo acreditamos
que ela realmente existiu
Não importa que já tenha acabado
Ninguém nunca
Vai poder nos tirar isso

Os dias passam
e cada vez mais esse dia
fica pra trás
Mas a lembrança
fica aqui
Porque durou pouco
Mas foi inesquecível

56
E se algum dia eu lembrar
Eu vou chorar, eu vou chorar
Olhar pro céu e agradecer
Por essa oportunidade
Esse dia difícil
Que fica pra trás
Enquanto a lembrança
Fica no coração

(2006, aos 14 anos)

Ana Paula demonstra que sabia valorizar os momentos


felizes, principalmente quando sonhou com eles e con-
seguiu realizá-los!
Como sua mãe, reconheço que ela se inspirou na concre-
tização de um grande sonho para escrever essa canção.
Na sua análise, aos 14 anos, fazer uma viagem de ônibus,
longa, de Ribeirão Preto até Belo Horizonte, hospedar-se
em um hotel, ir mais cedo para o estádio e aguardar por
horas, em fila, até que começasse o show de uma banda
internacional, “o RDB”, que ela adorava, pareceu-lhe
muito difícil, principalmente ao pensar em tudo que foi
feito para que fosse possível a viagem.
E como ela fala na canção foi “um dia difícil”, mas muito
feliz e que ficaria para sempre…

Com seus ídolos, nas paredes de seu quarto. (2006)

57
Me olha outra vez
– CANÇÃO –

Me diz como demonstrar


Que por você sinto algo mais
Me diz como acalmar
Meu coração tão confundido
Se tornou difícil estar perto de você
Já não posso ocultar
O sentimento que mudou
Somente amigos, não dá mais

Refrão

Me olha outra vez


e verá que sou perfeita pra você
Me olha uma vez mais
e nós poderemos tentar
Como queria escutar só de você
Que sente por mim
O que sinto por você… iê iê
Me olha outra vez

Pensei em te falar
Porque eu já não aguento mais
Mas não sei como acabar
Com essa minha agonia
Não consigo ser a mesma com você
Já não é tão fácil
Te ver todo dia
Mais que amigos, será?

58
Refrão (duas vezes)

Me olha outra vez


e verá que sou perfeita pra você
Me olhe uma vez mais
e nós poderemos tentar
Como queria escutar só de você
Que sente por mim
O que sinto por você… iê iê
Me olha outra vez

(2006, aos 14 anos)

Dunas de Marapé, Maceió, Alagoas. (2006)

59
Sei
– CANÇÃO –

Não sei o que pensam de mim


Não sei se falam mal ou bem
Só sei que sou assim e não tem como mudar
Tudo o que sinto fica guardado
Coisas revelo, outras não
Santa? Não, não sou
Mas sei muito bem me dar valor

Não sou mais uma na multidão


Tenho minha própria opinião
Não me influencio fácil
Não caio na sua lábia, é difícil
Se quer me enganar,
elabore sua estratégia desde já

Fico calada se não tenho o que dizer


Fico sem graça se digo algo sem razão
Reconhecer meus erros, nem sempre
Mas sei quando estou errada
Se quiser me amar
Saiba que não posso ser perfeita
Nem se eu tentar.

Refrão

Não sei… o que pensam de mim


Só sei…
Que eu sou assim
Não sei…
Se você gosta de mim
Só sei…
Que te quero para mim
Não sei…
Se dá pra me entender
Só sei…o que quero…ah sim
E que vou poder ter.
(2006, aos 14 anos)

60
Desde muito nova Ana Paula já se sentia segura de si,
sem se importar muito com a opinião dos outros, tinha
convicção de ser alguém diferente, com suas opiniões
formadas e acreditava nelas. Não desistia do que dese-
java e se mantinha firme, empenhando-se para conseguir
seu intento.

61
Doris - my grandmother

I admire my grandma. She was born in Itamogi in 1934. Ita-


mogi is a really small city in Minas Gerais, next to São Sebastião
do Paraíso.
She lived on a farm with her parents and brothers. When she
was a child she used to visit her grandparent who lived in a city
in Minas, next to Itamogi. He was Italian and his name was Pedro
Bugatti, my grandmother liked him a lot and admired him.
She’s got curly hair, she’s not so tall, she’s got light brown hair
and she usually wears trousers and knitted blouse and knitted bags.
She likes watching TV, soap operas, reading, cooking, she
cooks very well, she does the best candies. She also likes sewing and
she’s really talented at handcraft, by the way she helped her mom in
sewing when she was young.
My grandmother is very talented and creative. She’s fair, tole-
rant, determined and exceptionally hard working.
I admire her because she’s worked a lot in her life and she has
always been determined. She knows a lot about life.
(2006, aos 14 anos)

Em Franca, SP, em sua formatura, na graduação, UNESP. (2013)

62
Doris - minha avó (tradução)

Admiro minha avó. Ela nasceu em Itamogi em 1934. Itamogi


é uma cidade bem pequena, em Minas Gerais, próxima a São Sebas-
tião do Paraíso.
Ela morava em uma fazenda com seus pais e irmãos. Quando
criança, costumava visitar o avô que morava em uma cidade mineira,
próxima a Itamogi. Ele era italiano e se chamava Pedro Bugatti,
minha avó gostava muito dele e o admirava.
Vovó tem cabelos encaracolados e não é tão alta, ela tem
cabelos castanho-claros e geralmente usa calças compridas, blusas
e bolsas de tricô.
Ela gosta de assistir às novelas da TV, de ler, de cozinhar,
cozinha muito bem, faz os melhores doces. Ela também gosta de
costura e é muito talentosa no artesanato, a propósito, ela ajudou
sua mãe na costura quando ela era jovem.
Minha avó é muito talentosa e criativa, ela é justa, tolerante,
determinada e excepcionalmente trabalhadora.
Eu a admiro porque ela trabalhou muito em sua vida e sempre
foi determinada. Ela sabe muito sobre a vida.

Essa é uma homenagem da Ana Paula para minha mãe,


em que ela fala de sua admiração pela avó, que cuidou
dela até os 3 anos de idade, para que eu pudesse ir tra-
balhar tranquilamente, sabendo que minha filha estaria
bem cuidada.
Ana Paula desejou muito rever sua vovó (assim ela a
chamava), mas infelizmente não foi possível, antes, pela
pandemia e, por último, quando já se encontrava doente
na Irlanda. Ana Paula a amava muito.
Observem os adjetivos que nossa filha escolheu para defi-
nir características da vovó: “justa, tolerante, determinada
e excepcionalmente trabalhadora”. Expressão sensível
de uma adolescente que tem apreço pelas palavras ao
caracterizar o ente amado!

63
Pensamentos viajantes
aos 14 anos (2006)

Tudo tem um fim, isso é fato. Mas quanto mais significativos


são os momentos, mais inesquecíveis eles são. Se vivemos algo
mágico, isso nunca vai realmente acabar, porque este momento vai
ficar pra sempre no coração e podemos revivê-lo toda vez que qui-
sermos em nossa mente. Porque inesquecível é inesquecível.

A vida é cheia de obstáculos, mas esses obstáculos não existem


só pra nos atrapalhar, eles são importantes pra que possamos aprender
lições e nos esforçarmos mais em alcançar nossos objetivos, pois,
afinal, tudo que é com esforço tem mais valor.

Já percebi que, talvez, na vida haja muito mais desgostos do


que momentos de felicidade, mas também percebi que esses peque-
nos momentos já fazem a vida valer a pena. “FELIZ ANO NOVO”

64
PARTE II
A jovem ativa e pensativa
Ana Paula
construiu
sua identidade
com
reflexão
e
questionamentos

Em Ribeirão Preto, SP,imaginando-se No Jardim Botânico de Dublin,


modelo. (2009) na Irlanda. (2017)
Eu... Eu mesma

[...]
Sou uma garota nascida em Ribeirão Preto no dia 1.º de março
de 1992, me chamo Ana Paula. [...] Isso é suficiente para saber quem
sou? Certamente que não, afinal posso não ser a única pessoa com
esse nome, nascida nesse dia e nesta cidade. Posso dar mais infor-
mações sobre mim mesma, como nome dos pais e meu sobrenome,
mas isso não será suficiente para me conhecer como pessoa. [...]
Começo a pensar em meu passado, talvez dar uma volta por
minha história possa ser um bom caminho... Desde criança eu tinha
muita imaginação, me sentia personagem de um conto de fadas,
de um filme. Tinha muitos sonhos. Alguns deles, por incrível que
pareça, seguem comigo ainda hoje, e acredito tanto neles que creio
que sempre estarão comigo. O que eram sonhos infantis agora são
objetivos e determinação em minha vida. Confesso que tinha uns
planos meio malucos, malucos sim, impossíveis não.
Crescendo, conheci muitas coisas, vivi muitas aventuras e des-
venturas, aprendi muito também com as pessoas que me rodeiam e
com minhas próprias experiências.
Às vezes, sou um pouco pessimista, apesar de ser sonhadora,
um tanto sensível e intuitiva.
Sempre gostei de expressar meus sentimentos na escrita e na
música, aliás, a música é minha grande aliada. Quando não tenho
forças, é ela quem consegue me levantar.
Tento lutar ao máximo pelo que quero, tenho várias qualidades
e defeitos, é claro, sou humana.
Já vivi muitas coisas e, se depender de mim, viverei ainda
muitas outras.
Continuarei respondendo quem eu sou e escrevendo a minha
história. Por enquanto… eu sou eu. Eu com meus valores, meus
defeitos, meus sonhos, minha essência, que é só minha.
Tento ser cada vez melhor e cada vez mais eu mesma.

(2007, quase 15 anos)

68
Desde muito jovem, já se percebia como uma pessoa
autêntica em seus sentimentos. Gostava de expressá-los
por meio da escrita e da música. O fato de ela dizer “o
que eram sonhos infantis agora são objetivos e deter-
minação em minha vida” revela a consciência que ela
tinha, aos 15 anos, de que havia um caminho progres-
sivo a ser trilhado. Uma interpretação profunda do que
é viver. A necessidade de autoconhecimento aparece em
outros textos de sua autoria, demonstrando seu desejo
de fortalecimento e crescimento.

69
Sem cessar
- CANÇÃO –
Paula Teixeira

Sem cessar vou procurar


Um amor impossível
Que me encha de vida
Cure a ferida

E tudo isso não é banal


Tento seguir meu ideal
Mas não consigo
Se fecho os olhos volto a ver
O que é minha vida sem você
Não foi assim que eu pensei viver.

Refrão

Sei que sou alguém mais no mundo


Não sei se o futuro asseguro
O que é fé, quando se quer
Por tudo se luta, na luta há amor
Vivo a vida sem cessar

Até parece que


Estou andando em círculos
Que vivo uma vida
Que não é minha

E tudo isso não é banal


Vivo seguindo um ideal
Mas não resisto
Se fecho os olhos volto a ver
O que é minha vida sem você
Não foi assim que eu pensei viver.

70
Refrão

Sei que sou alguém mais no mundo


Não sei se o futuro asseguro
O que é fé, quando se quer
Por tudo se luta, na luta há amor
Vivo a vida sem cessar

(2008, aos 15 anos)

Ana Paula, desde jovem, gostava de ter “um nome artís-


tico” e, nessa idade, fazia aulas de violão, às vezes com-
punha em parceria com duas amigas também, assim,
denominava-se abreviando seu nome, “Paula Teixeira”.
Mais tarde, quando participava do Coral Minaz, pas-
sou a usar o sobrenome de seu tataravô italiano, “Paula
Bugatti”, pois considerava um nome mais artístico. Este
é o nome dela nas redes sociais.

71
Em atuações artísticas da Companhia Minaz, Ribeirão
Preto, SP. Ao longo de dois anos e meio.

72
(Sem título)

Muitas vezes na vida eu me senti assim: no fim da linha, sem


saber para onde ir, com o coração despedaçado e cheio de rancor.
Tudo que vivi, os momentos ruins e os bons foram ficando para trás
e cada vez que me lembro de cada um deles, tudo que eu sentia se
mostra vivo e eu simplesmente não consigo esquecer. Tudo que é
bom dura pouco e acaba, mas o sofrimento também, por mais que ele
pareça não ter fim. Um dia acordamos e percebemos que tudo muda,
só o que não muda é nossa essência, que continua sempre a mesma
pro resto da vida, pois ela determina quem somos e não quem apa-
rentamos ser; podemos mudar nossa aparência, mas nunca devemos
nos esquecer de quem somos por dentro, que é o que mais importa.
Eu tenho certeza de que todas as coisas que aconteceram comigo
foram meras fases do jogo da vida, e apenas na prática podemos
aprender a jogar. Não importa quantos erros tenha cometido, já que
estou muito longe de ser perfeita, não importa todas as lágrimas que
derramei, pois elas foram sinceras e tiraram pouco a pouco a mágoa
que havia aqui dentro.
Quero recomeçar, e se tiver que passar por tudo outra vez, pas-
sarei. E se tiver que esperar muito pela minha felicidade, esperarei,
porque sei que ela está em algum lugar do meu ser.

(Provável 2007, aos 15 anos)

Em mais um texto, ainda tão jovem, ela demonstra uma


maturidade admirável por entender que nossas experiên-
cias fazem com que aprendamos com os erros e como é
valiosa essa lição. Mas também o quanto é importante
sermos sinceros em nossos sentimentos e, dessa maneira,
encontrarmos respostas em nós mesmos.

73
Vazio
Noite escura
rua deserta
frio…
Sentimento desperta
Solidão…
Não há meios de se expressar
Ela estava sozinha…
sozinha…
Palavras não tinha
Apenas um sentimento
trancafiado em seu coração
Mas ela não sabia
Se era bom ou não
Jovem por fora
Velha por dentro
ela se sentia
O vento batia
Enquanto a chuva
ainda não caía
Pra ela o mundo
tinha acabado
pois dela fora
tirado o que lhe pertencia
Só queria ir embora
Deixar tudo pra trás
Não pensava em nada
Sua vida estava acabada
Não havia nada que
pudesse fazer para
trazer de volta
quem ela amava
Então ela fechou os olhos
e ela se foi
com um único pensamento
na cabeça
a pessoa amada...

(Provável 2007, aos 15 anos)

74
Ana Paula, na flor da idade, descreveu como se apaixo-
nar, apresentando as dores de um coração enamorado,
mas triste por perder a pessoa amada. Neste e em outros
poemas belíssimos, Ana Paula expressou toda sua sensi-
bilidade referente ao amor.

Em estúdio fotográfico, Ribeirão Preto. (2016)

75
(Sem título)

O que foi que aconteceu?


Em que parte do caminho
A gente se perdeu?
Quando foi que a luz
Começou a se apagar
E a escuridão a se alastrar?
O que foi que restou?
Que esse mar não levou?
Ele levou a vida,
Levou o amor

Quando foi que nos tornamos


Verdadeiros egoístas?
Todo esse egoísmo causou
A nossa solidão
O saber é o que nos resta

Corações gritando por amor


Em um lugar lotado e solitário
O que resta é uma esperança cega
De que tudo vai mudar
Fico aqui me perguntando
Se um dia voltarei a respirar

Revendo a situação
Encontro a única solução
Essa solução é a consciência
É o agir, a união
É compartir e amar
E deixar de lado tudo aquilo
Que seja do contrário
Mas mesmo sabendo onde está o erro
Nunca cansamos de errar

76
Quando foi que nos tornamos
Verdadeiros pensadores?
E ao pensar demais causamos
Toda a destruição
O saber é o que nos resta

De que adianta entendermos tudo que nos cerca


Se a nós mesmos não entendemos?
De que adianta sabermos tudo
Se não usamos pra bem o que sabemos?

(2007, aos 15 anos)

77
Esperança

Eu olho em volta
e não há nada que me agrada
Eu fecho os olhos
e na minha mente há um borrão
O tempo passou e estou na mesma
Já cansei de me sentir assim
Parece que é pouco o que me resta
Abro a janela e não há sol
O brilho das estrelas também já se foi
Mas não faz muito tempo que eu as vi brilhar

Mais um ano se passa


e não passa esse vazio
Mesmo não estando
ainda me sinto sozinha
Tudo o que eu quero é ganhar
esse jogo
mas parece que já deu
game over.
Tudo que eu quero
é apagar todas essas lembranças
E deixar de pensar
no que já acabou
Olhar em frente e ver que
algo inesperado me espera.

(2008, aos 16 anos)

78
Por mais que estes versos falem de desassossego, de soli-
dão, da falta de sol e do brilho das estrelas, predomina, ao
final, a postura de olhar em frente, pois o inesperado virá.

79
Breathe
-CANÇÃO-

Could you please leave me alone


Could you please let me find out
What life’s really about
I’m not asking for a simple life
I just wanna live it my way

Please stop acting like you care


I’m just a number in this place
I’m running away, not gonna stay
I’m learning, living
Trying to be a different person in this world

What am I doing here?


Who do you want me to be?
Why do you want me to change?
I feel perfect like this
Go away, let me breathe

Ooh…I’m not gonna stop


That life is all I want
You think it’s booshit?
Well, that’s my way to shine

(2008, aos 16 anos)

80
Respirar (Tradução)

Você poderia, por favor, deixar-me sozinha.


Você poderia, por favor, deixar-me descobrir
O que é a vida realmente
Não estou pedindo por uma vida simples
Apenas quero vivê-la à minha maneira

Por favor, pare de agir como se você se importasse


Eu sou apenas um número neste lugar
Estou fugindo, não vou ficar
Estou aprendendo, vivendo
Tentando ser uma pessoa diferente neste mundo

O que estou fazendo aqui?


Quem você quer que eu seja?
Por que você quer que eu mude?
Eu me sinto perfeita assim
Vá embora, deixe-me respirar

Ooh... eu não vou parar


Essa vida é tudo que eu quero
Você acha que é besteira?
Bem, esse é o meu jeito de brilhar

81
Pensamentos viajantes
aos 16 anos (2008)

UM DIA A GENTE APRENDE...

...a não dar valor a quem não merece e a não esperar demais
das pessoas, pois muitas vezes não receberemos nada em troca pelas
nossas ações.
...a dar valor às pequenas coisas da vida, pois são elas que
realmente valem a pena.
...a esquecer as mágoas e a tirar a tristeza do coração, pois
pouco a pouco a dor passa e a vida sempre continua.
...a olhar sempre pra frente e não viver do passado, pois
por mais que algo nos tenha marcado, ainda restam muitas coisas
por viver.
...a retribuir àqueles que nos estenderam a mão e também
àqueles que, ao contrário, nos fizeram cair, pois isso mostrará
nossa superioridade.

82
Não Deixar Para Depois

A guerra e a violência sempre fizeram parte da história da


humanidade. Desde os primórdios das civilizações, o homem priori-
zou a ganância e o poder. Quantas vezes já pagaram e quantas mais
pagarão os inocentes pelos interesses egocêntricos daqueles que, ao
invés de representar dignamente seu povo, acabaram por tirar-lhes
a paz? Quantos soldados já morreram em nome do que chamam de
pátria? É atrás desta dominação que se escondem os interesses dos
políticos e poderosos, que com sua sede de riquezas sacrificam a vida
daqueles que acreditam estar lutando pelo seu país e das milhões de
pessoas atingidas pelas guerras.
Nos tempos atuais, quase não existe esperança de um mundo de
paz e as pessoas parecem ter se acomodado com a situação. Apesar
de existir dentro de cada um a vontade de mudar, esta acaba sendo
deixada de lado, já que uma grande mudança, ao que aparenta, está
muito longe da nossa realidade no século XXI, e em um mundo
capitalista e globalizado, onde o sucesso individual é a maior das
preocupações, é necessária muita força de vontade para conseguir
fugir dos padrões, lutar por aquilo que julga ser certo e ainda pen-
sar no próximo, principalmente para os que vivem em situação de
pobreza e miséria.
No entanto, resta ainda para muitos o sonho de construir-se a
paz, e aquela velha história de “faça a sua parte” continua sendo o
único caminho a trilhar, mas por onde começar? O primeiro passo, e
talvez o mais difícil de aceitar é mudar a si mesmo, para depois ten-
tar modificar o seu redor. Precisamos mudar nossa forma de pensar,
precisamos ser a mudança que queremos presenciar.
Depois desse grande passo, a humanidade caminhará pela
estrada rumo à paz, realizando simples e pequenas grandes ações,
que começarão no dia a dia de cada ser humano, até contagiar a todos.
Sonho impossível? Aparentemente, sim. Porém, com a força
e a inteligência que o homem possui dentro de si, se usada para o
bem, esse sonho pode tornar-se realidade. Cabe a cada um a decisão
de começar agora ou deixar pra depois. Algum dia, aprenderemos a
lição, pode ser que demore, mas este dia chegará.

(2009, aos 17 anos incompletos)

83
Desde muito jovem, a Ana Paula já acreditava no dever e
no “poder” que cada indivíduo tem ao fazer a sua parte,
pensando no bem comum, e ser um possível exemplo
à inspiração de outros. Ela reconhecia que a mudança
necessária poderia demorar a ocorrer, sobretudo por
vivermos numa sociedade capitalista e globalizada, onde
o padrão é o sucesso individual. Acreditava, no entanto,
que o sonho de um mundo melhor se concretizaria.
Para isso, uma lição deveria ser aprendida: o uso da força
e da inteligência humana para o bem!

84
Eternos aprendizes

Todos os dias, uma sucessão de elementos e atos conhecidos


compõem a nossa vida cotidiana. Esta rotina que seguimos pode ser
imutável ou mudar apenas quando a mudança nos é exigida. Muitas
vezes viver dentro de uma rotina significa organizar o tempo do dia
para que renda mais, entretanto, em excesso, pode levar à monotonia, ao
tédio e ao conformismo, privando-nos do grande prazer da descoberta.
É por isso que às vezes sentimos necessidade de mudança, de
quebrar a rotina e as regras. Porém, essa vontade não se manifesta
em todas as pessoas da mesma maneira. Não é difícil encontrar
verdadeiros pessimistas que, por medo de enfrentar os obstáculos,
retraem-se em uma vidinha medíocre, cansativa e rotineira, fazendo
sempre as mesmas coisas, evitando tudo o que seja novo e desco-
nhecido e reclamando o tempo todo porque a “felicidade” não nasce
da árvore em seu quintal e muito menos cai do céu. Esquecem-se
da palavra “sonho”, pois a seu ver sonhar é sinônimo de iludir-se,
acreditar no impossível, no irreal. Infelizmente, essas pessoas con-
seguem contagiar muitas outras com seu modo de agir.
O diferencial está naquela pessoa que apesar dos “altos e bai-
xos” é capaz de manter um sorriso e buscar experiências novas.
Parece até que esse alguém não passa por momentos ruins, mas a
verdade é que faz tudo para sair da mesmice, enxerga sempre o sol
no horizonte e simplesmente não acredita que sonhar é perder tempo,
pelo contrário, é o que mais nos motiva.
Este segundo modo de vida também pode ser muito contagiante,
só depende da vontade de cada um de incorporar-se a ele. Cada atitude
trará uma consequência, e nós só colheremos o que plantarmos.
Se a cada dia, ao acordar, abrirmos todas as janelas para que
entre a luz, fizermos o que manda o coração e tudo o que for possí-
vel para alcançarmos nossos objetivos, ainda que nada dê certo, ao
dormir teremos a certeza de que tudo valeu a pena.
Todos somos eternos aprendizes e quando se luta por algum
ideal, sem importar-se com a opinião alheia, a alma se enche de
felicidade e satisfação.
Dessa maneira, cada dia será único e nenhum erro cometido em
vão. Sempre poderemos explorar, recomeçar, mudar e principalmente
acreditar que ainda há muito que aprender.

(2009, aos 17 anos)

85
Ana Paula acreditava que não deveríamos ter receio de vivenciar
novas experiências ainda que não dessem certo, pois vivemos um
eterno aprendizado.
Embora existam caminhos para enfrentar as adversidades do coti-
diano, ela destaca que nos dois extremos, no dos pessimistas e no dos
otimistas, há contágio de suas posturas com quem está a seu redor.
Mas, o melhor é nos vermos como “eternos aprendizes”, em meio aos
otimistas, para não deixarmos de ir em frente, aprendendo sempre
mais, evitando o tédio e a mesmice.
Vejam aí um exemplo de quem, na prática, ousou viajar sozinha
a Londres, aos 21 anos, com o otimismo próprio de quem busca rea-
lizar atividades ligadas à cultura, nesse caso, à literatura de que ela
gostava. Após ter lido toda a coleção da britânica J. K. Rowling, sobre
a personagem Harry Potter, um sucesso estrondoso entre os jovens, lá
foi Ana Paula conhecer The Making of Harry Potter, nos estúdios da
Warner Bros. Uma vida rica de conhecimento e arte! Sem mesmice...

Londres. (2013)

86
Vários pontos de partida, um só de chegada

Encontrar a felicidade sempre foi o objetivo implícito em todas


as buscas do ser humano, na busca pelo sucesso, pelo autoconhe-
cimento, até mesmo pelo poder, está embutida a busca pela felici-
dade. Muitas vezes procuramos o caminho que parece mais fácil,
compramos mais do que necessitamos, trabalhamos para consumir
e consumir cada vez mais.
O maior desejo das pessoas é viver feliz, e, para realizá-lo, têm
diversos outros desejos. Mas afinal o que é felicidade? E o que seria
necessário para se alcançar a felicidade? Um importante filósofo,
Epicuro, que estudou o tema, chegou à conclusão de que há três
pré-requisitos básicos para a felicidade: ter amigos, pois o homem
é um ser sociável, que não consegue viver na solidão; ter uma vida
bem analisada, ou seja, ter tempo para a reflexão; por fim, ser autos-
suficiente e ter liberdade. No entanto, felicidade propriamente dita
não tem significado absoluto, é uma condição, um estado de espírito.
Um simples mortal nunca gozará de felicidade plena, todos passamos
por momentos obscuros ao longo da vida.
A diferença entre uma pessoa que se diz feliz e que se sente
assim e uma infeliz está nos valores que atribui às suas experiências
de vida. Enquanto uns preocupam-se em aproveitar os bons momen-
tos e em minimizar os ruins para que se tornem o mais insignificantes
possível, facilmente se sentem mais constantemente felizes do que
aqueles que perdem mais tempo lamentando-se do que desfrutando.
Também existe uma grande diferença entre os que pouco valor dão
a coisas supérfluas e aqueles que julgam seu estado de espírito pela
quantidade de bens materiais que podem comprar e da quantidade
de dinheiro que possuem.
Enfim, seria impossível escrever um roteiro de vida para a
felicidade, devido à peculiaridade de cada indivíduo, cada um tem
seus meios de atingir a satisfação pessoal. É necessário que se criem
objetivos, que se lute por sonhos e metas; fazê-lo da melhor maneira
possível, com otimismo, cercando-se de pessoas queridas que aju-
darão no percurso da vida e lembrar-se de que a felicidade estará
presente nos bons momentos, ainda que durem pouco, é o que trará
verdadeira satisfação e tranquilidade.

(2009, aos 17 anos)

87
Construindo a vida

Como um quebra-cabeça, a vida é feita de milhares de peças


embaralhadas, sem sentido, até que se encaixem todas, ou pelo menos
a maioria delas. A diferença é que a vida não vem com um modelo
na caixa, vamos encaixando as peças desordenadamente, sem saber
o que será montado. Encontramos um modelo com o tempo e a partir
daí fica muito mais fácil montar o quebra-cabeça da vida.
Esse modelo é o que rege as nossas ações: o sonho. Sonhando,
construímos objetivos e lutamos para que se tornem realidade. O amor,
a perseverança, a autoconfiança e a força de vontade são apenas
algumas das peças disponíveis para montarmos esse quebra-cabeça.
Porém, não é possível criar um modelo absoluto e imutá-
vel, ao longo da vida encontramos caminhos diversos e situações
que podem provocar mudanças nos objetivos e a criação de novos
sonhos e metas.
Ninguém é capaz de escrever um roteiro de vida e segui-lo à
risca, nem de prever todos os seus passos. A vida é imprevisível e
tentar medi-la é perder um tempo precioso que não voltará mais.
Cabe a cada um de nós lutar pelo que desejamos com paixão
e não desistir nunca. A única maneira de se escrever a história da
própria vida é simplesmente vivendo-a, e o melhor jeito de fazer isso
é valorizar cada momento, aproveitando ao máximo, afinal, tudo
pode mudar em um piscar de olhos, a incerteza do que ainda virá, e
esta constante busca pelos sonhos são a verdadeira beleza da vida.

(2009, aos 17 anos)

88
Em Ribeirão Preto. (2009)

A imprevisibilidade da vida, em que “tudo pode mudar


em um piscar de olhos”, é que justifica os nossos sonhos
e a busca por sua realização. É necessário que haja
uma harmonia entre nossos sonhos e nossa realidade
para concretizá-los. Não sabemos por quais caminhos
iremos passar, qual iremos escolher. Sabemos que o
quebra-cabeça será montado, sem que cheguemos a um
modelo “absoluto e imutável”, perfeito.

89
Alegria de conviver

O mundo é como uma grande empresa, onde cada indivíduo


tem um cargo e uma ou várias funções, e onde a cooperação e o traba-
lho em grupo são primordiais para que funcione bem. Não importa se
a posição da pessoa é a mais alta ou se não exige dela uma especiali-
zação; ela e todas as outras compõem as engrenagens que movimen-
tam a empresa. Assim é em todas as áreas das relações humanas, que
nem sempre são tão harmônicas. Seja na política de “uma mão lava
outra” ou na vida pessoal de cada um, a convivência sempre existe.
Por mais que o homem tente se isolar do mundo, alienar-se
dele e tornar-se cada vez mais um “Dom Casmurro”, ainda assim
dependerá de outras pessoas. Além das necessidades básicas como
alimentar-se, ter higiene, boas condições de moradia, que ele não
obterá sozinho, necessita de afeto e companhia, por mais que tente
negar isso. “Homem nenhum é uma ilha”.
Apesar de nem sempre harmônica, a relação com o outro nos
dá os alicerces para o autoconhecimento e para a satisfação pessoal.
Claro que muitas vezes todos ao redor parecem assistir a nós, a todo
momento, julgando-nos por cada ato, e o pior é quando a imagem
que nos devolvem não é a que enxergamos no espelho. Porém, é
essa convivência harmônica ou desarmônica que nos torna cada
vez melhores.
Companheiro, do latim “cum panis”, é aquele com quem repar-
timos o pão, e existem várias maneiras de fazê-lo, repartir as expe-
riências, os momentos, os sentimentos, o afeto, e sendo solidário.
Muitos não serão generosos o bastante para retribuir a tudo isso,
mas a capacidade de continuar na busca por novos “companheiros”,
mantendo sempre os velhos, é o que preencherá o vazio da alma ao
longo do caminho da vida.

(2009, aos 17 anos)

90
Para Ana Paula, a convivência é essencial à vida, seja ela
uma experiência harmônica ou não.
Seu texto traz um conhecimento de literatura brasileira
que enriquece seu raciocínio: o narrador da obra de
Machado de Assis é Bentinho, um homem que se tor-
nou “casmurro” porque, ao desconfiar dos outros, mais
especificamente da mulher e de seu amigo, isola-se na
solidão e sofrimento. “Dom Casmurro”, título do romance
conhecido mundialmente, aparece como um exemplo de
que, casmurro ou não, é preciso reconhecer que a vida se
faz com o outro, de quem dependemos em nosso dia a dia.
Ana Paula igualmente enriquece seu texto com o conhe-
cimento de latim, ao explicar o sentido da palavra “com-
panheiro”, aquele com que repartimos nossas vivências,
na alegria de viver.

91
Busca da Identidade

A história da humanidade foi escrita ao longo dos séculos por


gerações de artistas, governantes, cientistas, escritores, pensadores e
intelectuais e por outras pessoas comuns e desconhecidas. Estas não
foram registradas como aquelas, mas também fizeram parte dessa
história. Malfeitores e benfeitores construíram grandes Impérios,
civilizações, provocaram revoluções, mataram milhares, milhões
de pessoas; criaram tecnologias inimagináveis; fizeram cultura e
arte. Nomes como César, Napoleão, Hitler, Einstein, Shakespeare,
Chaplin e Mozart estão gravados nas entranhas da cultura ocidental,
assim como muitos outros.
A maioria das pessoas vive na presença desses grandes nomes
e não se pergunta por que alguns nascem, vivem, morrem e são lem-
brados, enquanto outros são simplesmente esquecidos. [...]
No mundo de hoje, onde a informação viaja quase à velo-
cidade da luz, qualquer coisa pode fazer a fama de alguém, até
mesmo os feitos mais banais e fúteis. Em contrapartida, quando o
objetivo principal é realizar grandes feitos, com esforço e dedica-
ção, o sucesso vem como consequência, diferentemente do sucesso
conseguido com a busca desenfreada da “fama pela fama”, esse
sucesso é passageiro e, ao invés de trazer reconhecimento, traz a
perda da verdadeira identidade. Enfim, a necessidade do homem de
ter reconhecimento é consequência da eterna busca pela identidade,
pela essência da vida. Por essa razão, tantas pessoas acreditam
erroneamente no sucesso absoluto, para alcançar isso se expõem
e muitas vezes deixam a moral e os valores de lado. Essas pessoas
só mais tarde descobrem que simplesmente ser famoso não é a
receita para a felicidade.

(2009, aos 17 anos)

92
Ana Paula reconhece a cultura que se faz ao longo do
tempo, destacando não somente as figuras ilustres que
dela fizeram parte como também os anônimos responsá-
veis por essa construção. Ao pensar o mundo de hoje, ela
sabe que a questão da identidade e a busca da felicidade
esbarram na questão da fama ou do sucesso a qualquer
preço, algo que efetivamente não levará ninguém ao
encontro da própria identidade.

93
Reflexão

Me esconder, me fortalecer, crescer


Nada me faz esquecer
Aceitar e adiar
Não me fazem acreditar
O passado e o futuro
São como um borrão
Nostalgia e o receio
do que ainda virá
Os momentos logo irão
E mais uma lágrima cairá
marcando o fim da ilusão
e o começo de um novo sonho
E o destino estende a mão
para um novo começo
e um novo final.
Mas só chegará esse dia
quando a verdade vier à tona
E eu puder seguir em frente
sem essas dúvidas obscuras que me amuam

(2010, aos 18 anos)

94
Imperdível

Imprevisível e passageira
Passos largos e curtos
Luz e escuridão
Respiração e fôlego
Razão contra emoção
Emoção que faz razão
Caminhada que escreve a história

Palavras que compõem o enredo


e atos que dão o desfecho
Protagonistas e coadjuvantes
Ação e reação
Valores que constroem alicerces
Sonhos que criam esperanças
Metas que sinalizam a estrada

Amores que vêm e vão


Amigos que se fazem presentes
Alegrias e tristezas
Passado, presente e futuro
Lembranças que trazem nostalgia
Dor que fica e que passa
Fim que marca início
Momento que marca o final
Imprevisível e imperdível
Vida

(2011, aos 19 anos)

Ana Paula sempre teve uma sensibilidade muito aflorada


e que eu admirava muito.
Quando li seus poemas, senti-me emocionada por suas
palavras tão profundas, às vezes simples, mas tão verda-
deiras; como estas, onde ela revela tantos momentos que
compõem uma vida e que mesmo a vida sendo imprevi-
sível é imperdível!
Tenho a honra de ser a mãe e a fã mais ardorosa dos
escritos da minha filha.

95
Um passeio pelo nordeste
Como minha filha fez referência ao caráter imprevisível e imperdí-
vel da vida, vou contar um momento de nossa vida em que a vivência
fez com que tudo valesse a pena.
Quando Ana Paula fez 8 anos, fizemos uma viagem para Fortaleza,
no Ceará, onde ela conheceu lindos lugares que nos fizeram muito bem.
Lembro-me de que, depois de voltarmos de um passeio emo-
cionante pelas dunas, ela ficou encantada ao pararmos em um lago
paradisíaco, cheio de peixinhos dourados! Depois do almoço, sen-
timos o prazer de descansarmos nas redes do restaurante à sombra
dos coqueiros.
E tivemos nossas particularidades em vivências inesquecíveis:
um dia, em uma praia distante da cidade, Ana Paula notou que seus
cabelos ficaram bastante embaraçados após nosso divertido banho de
mar. Ela não conseguia penteá-los por causa da água salgada. E o pior:
não havíamos levado o creme condicionador de cabelos. Acontece que
ela estava começando a se sentir mocinha, ficando vaidosa e preocu-
pada com a aparência.
Ao papai aqui coube a iniciativa de sair à procura do produto nos
poucos estabelecimentos comerciais do local, bares! Sem sucesso e já
desanimado, resolvi perguntar ao funcionário de um dos bares se, por
acaso, ele não saberia me dizer onde eu conseguiria encontrar o tal
creme. Ele pensou um pouco e me disse:
- Tem uma funcionária que está para chegar que pode ter.
Aí ele gritou para uma senhora que estava na cozinha:
- A Deninha já chegou?
E ela respondeu, perguntando de lá:
- A Deninha buchudinha? Sim, ela está se trocando e já vem.
Deninha apareceu. Uma mocinha simpática, de gravidez bem
avançada. Foi aí que entendi o “buchudinha”, um termo comumente
empregado por eles para se referirem a uma grávida, diferentemente
daqui do sudeste, onde é usado pejorativamente para falar de alguém
com apetite exagerado, “barrigudinha”. Bem, ela tinha o creme neces-
sário para amaciar os cabelos de minha menina! E nem quis cobrar,
apesar de minha insistência.
Contei o evento para minha filha. Ela rapidamente usou o produto!
Mais tarde, já com os cabelos bem-tratados, rimos do ocorrido...

96
O charme da mocinha...

No dia seguinte, estávamos em uma lojinha na cidade, quando a


mocinha atendente disse para minha filha:
- Aqui no nordeste faz muito sol, e você tão branquinha tem que
usar um “bonéu”. Espera aí que vou pegar mais um de outro “mudelo”
pra você experimentar.
E a Ana Paula olhou rapidamente para mim com uma expressão
indecifrável. Mais tarde, comentamos o assunto e lhe expliquei que
existem diferenças na maneira de falar entre as diversas regiões do país.
Estávamos na cidade, e ela notou a semelhança de uma frase de
autoajuda, “Fortaleça-se”, com uma placa “Fortaleza-CE”. Fiquei admi-
rado por ela observar o jogo de sentidos das palavras.
Ela gostou bastante da viagem e de aprender um pouco da diver-
sidade cultural do Brasil.
Esse jeito curioso e atento de nossa filha com relação aos lugares e
às pessoas só fez aumentar ao longo dos anos, tornando-a uma pessoa
muito especial! (Benedito)

97
O florescer da consciência

A natureza é a base da sobrevivência do ser humano e não só


dele. É fundamental para todas as espécies vivas, porém é finita e o
homem demorou a perceber que um dia possa esgotar-se e a vida na
terra extinguir-se. Os homens não conseguem entrar em um acordo
quando o assunto é preservar a natureza. É muito difícil, no mundo
de hoje, seguir à risca os princípios da ética ambiental.
Quando uma pessoa ou um grupo derruba uma árvore e depois
várias outras, seja para desocupar um local que será utilizado para
uma construção industrial, civil ou comercial, seja para extrair a sua
madeira, talvez não pense que, no futuro, não muito distante, essas
árvores possam fazer uma falta tremenda. Quando jogamos inconse-
quentemente lixo no ambiente, nem sequer lembramos que demorará
centenas e até milhares de anos para decompor-se, enquanto isso
estará por aí como forma de poluição, causando danos à natureza e
a nós mesmos.
Mas a verdade é que muito se fala sobre o tema e muita gente
tem a chamada “consciência ambiental”, no entanto, não a transforma
em ação. De que adianta conscientizar a todos se as ideias não são
postas em prática?
Sem dúvida, este é o maior problema atual, muita reflexão e
pouca ação, e principalmente a falta de olhar coletivo. As necessi-
dades individuais sobrepõem-se às coletivas e a cada vez a ação é
adiada. Isso pode ser explicado pelo capitalismo, que, ao visar o
lucro, seria “prejudicado” pela total preservação dos meios naturais.
Vê-se o exemplo dos Estados Unidos, o país que mais polui a atmos-
fera, e que, entretanto, recusou-se a assinar o Protocolo de Kyoto, ale-
gando que a redução dos gases estufa comprometeria sua economia.
Até quando a humanidade manterá os olhos fechados para o
meio ambiente? Mesmo que já estejam sendo discutidas soluções,
o homem só agirá realmente quando a crise ambiental estiver em
seu ápice. Cabe a nós, portanto, escolher entre o sim e o não, entre
agir agora ou esperar até que seja muito tarde para salvar o planeta.
Não se pode também pensar que os frutos desta mudança serão vis-
tos imediatamente, afinal uma árvore de grande porte demora anos
e anos para crescer, “criar” galhos, folhas, frutos e flores.

(2009, aos 17 anos)

98
A consciência da Ana Paula em relação à natureza,
aos animais, ou seja, a todos os seres vivos que exis-
tem e aqui habitam foi se constituindo ao longo de
seu desenvolvimento.
Desde pequena olhava com atenção e cuidado as coisas
a seu redor e logo entendeu a importância da natureza
para a vida humana no planeta.
Desenvolveu opinião crítica, acreditando que sem-
pre poderia haver uma solução, desde que as ações
se multiplicassem.

99
All my life

All my life
I’ve been looking
for that perfect match
of my life with my soul
of the time with my mind
But I can’t never find my way
To happiness

Joy is always so imprecise


Spinning and spinning
I can’t never find
My way out of loneliness

I tell myself every day


Tomorrow it won’t be the same
Screaming and shouting
as loud as I can
I will find my way to freedom
I will find my way to love
Just as long as I can breathe
I won’t stop looking for me

All this time


I’ve been pretending
to be strong enough
in my weakness
out of the dark
in the silence, making echoes
But I could never find my way
To happiness

Joy is always so undefined

(2010, aos 18 anos)

100
Toda minha vida (tradução)

Toda minha vida


Eu estive procurando
por aquela combinação perfeita
da minha vida com a minha alma
do tempo com a minha mente
Mas eu nunca consigo encontrar meu caminho
Para a felicidade

A alegria é sempre tão imprecisa


Girando e girando
Eu nunca consigo encontrar
Meu caminho para sair da solidão

Eu me digo todos os dias


Amanhã não será o mesmo
Gritando e bradando
o mais alto que posso
Encontrarei meu caminho para a liberdade
Encontrarei meu caminho para amar
Desde que eu possa respirar
Não vou parar de me procurar

Todo este tempo


Eu tenho fingido
para ser suficientemente forte
na minha fraqueza
fora do escuro
no silêncio, fazendo ecos
Mas eu nunca poderia encontrar meu caminho
Para a felicidade

A alegria é sempre tão indefinida

101
Incertezas

Eu quero acreditar no que todos dizem


E me convencer de que é mesmo assim
Mas não paro de me perguntar
se o que vejo nas entrelinhas
é apenas fruto da minha imaginação
ou se eu sou a única que consegue ver além

Todos acham que eu enlouqueci


e que não consigo superar
Mas a questão é que ainda não tive tudo
Que essa história pode me dar
Não sei se falta o desfecho
Ou se é só mais um capítulo
Só sei que não posso esquecer-me do que senti

Eu renasci, eu vivi, eu mudei


Conheci um lado meu
de que eu não tinha notícias
E as marcas dessa mudança continuam vivas
Temo que se tornem uma cicatriz
Se pudesse neste instante escolher o meu destino
Eu digo que faria qualquer coisa para mudar o fim

Eu faria o que fosse preciso pra ganhar


Se eu tivesse ao menos a certeza de valer a pena lutar
Eu sempre segui meu coração sem medidas
Mas percebi que há momentos na vida
em que precisamos moderar nossas ações
e fazer escolhas que não são as melhores
pra assim poder seguir em frente
sem dor, sem mais chorar.
E me pergunto novamente se mais
vale desistir para cessar o sofrimento
do que navegar nesse frio mar,
rumo ao que realmente se deseja.

(Provável 2010, aos 18 anos)

102
Em Ribeirão Preto, SP. (2009)

As “incertezas” de Ana Paula são as incertezas de quem


entende a presença do desejo que nos mobiliza para ações
muitas vezes reprimidas e, por isso mesmo, questionadas,
pois o coração é “sem medidas”. Os quatro últimos versos
expressam a frequente dúvida do que mais valeria, de
fato, nesta vida quando se percebe a força de um senti-
mento, revelando sua intensa sensibilidade e maturidade
ao falar das contradições vividas internamente.

103
The best part

You always know how to make me smile


When you come to pick me up and say hello
I feel like nothing will ever bring me down again
I’ve been romantic for a little while
But it’s the first time it really makes sense
I had my doubts about this love
And now I know that there’s nothing wrong at all

Thank you for making me smile again


Thank you for making me feel again
Like I’m just that girl
Someone was looking for
I didn’t know this one would be you

Life’s funny, you never know


How the next episode will be
In this case you were the best part
The best part of the show

Let’s go away
Where the flowers won’t ever die
I’ll let you be my guy
If you let me be forever your girl
Get in the car, let’s feel alive
We will survive after the storm

(2010, 18 anos)

104
A melhor parte (tradução)

Você sempre sabe como me fazer sorrir


Quando você vem me buscar e diz olá
Sinto que nada vai me derrubar novamente
Já sou romântica há algum tempo
Mas é a primeira vez que isso realmente faz sentido
Eu tinha minhas dúvidas sobre esse amor
E agora eu sei que não há nada de errado

Obrigada por me fazer sorrir novamente


Obrigada por me fazer sentir novamente
Como se eu fosse apenas aquela garota
Que alguém estava procurando
Eu não sabia que esse alguém seria você

A vida é engraçada, você nunca sabe


Como será o próximo episódio
Nesse caso, você foi a melhor parte
A melhor parte do show

Vamos embora
Onde as flores nunca morrerão
Eu deixarei você ser o meu boy
Se você me deixar ser sua garota para sempre
Entre no carro, vamos nos sentir vivos
Nós sobreviveremos depois da tempestade

Ana Paula começou cedo a estudar inglês na Cultura Inglesa,


demonstrou logo gostar do idioma e tinha muita facilidade para
aprendê-lo. Com o passar do tempo, ela se identificou mais ainda
com o inglês, pois sonhava em ir à Inglaterra, país de origem dos
livros que ela amava (a série Harry Potter). Ana Paula sempre
se saiu muito bem, passando com mérito em todos os certifi-
cados de Cambridge, opção que a escola oferecia aos alunos.
Além de escrever poemas em língua inglesa, nesta coletânea
há outros exemplos de sua produção em canções e narrativas.
Um exercício a mais de fluência na língua, o texto subjetivo.

105
Strange love
She opened all the doors
And he got in
She opened up her heart
And gave him her everything
He gave her the strength
She needed to go on
He gave her all the love
She’s never tasted before
Then she tried to get in
But he didn’t open his heart for her
Nobody could ever explain
Why he was so afraid to see
Nobody knew the answers
For that freak case of love
He cared so much about her
but he wouldn’t let it show
he didn’t even know
What he felt after all
She was sure of only one thing
She had never felt that way before
She didn’t know why
Did those kisses make her so weak
And so strong in the same time
He had decided to live his life
They would finally be just friends
Nobody understands
Why he changed his mind so frequently
She was never good enough for him
But he didn’t wanna let her go
And this freaky case of love
Was never seen on earth
Nobody ever found out the end

(2010, aos 18 anos)

106
Estranho amor (tradução)
Ela abriu todas as portas
E ele entrou
Ela abriu seu coração
E deu-lhe tudo
Ele deu-lhe a força
Ela precisava continuar
Ele deu a ela todo o amor
Que ela nunca experimentou antes
Então ela tentou entrar
Mas ele não abriu seu coração para ela
Ninguém jamais poderia explicar
Por que ele estava com tanto medo de ver
Ninguém sabia as respostas
Para aquele estranho caso de amor
Ele se importava tanto com ela
mas ele não deixava transparecer
ele nem sequer sabia
O que ele sentia afinal
Ela tinha certeza de apenas uma coisa
Ela nunca se sentiu assim antes
Ela não sabia por que
Aqueles beijos a deixaram tão fraca
E tão forte ao mesmo tempo
Ele decidiu viver sua vida
Eles finalmente seriam apenas amigos
Ninguém entende
Por que ele mudava de ideia tão frequentemente
Ela nunca foi boa o suficiente para ele
Mas ele não queria deixá-la ir
E este estranho caso de amor
Nunca foi visto na terra
Ninguém nunca descobriu o fim.

107
Amor de Verano
- CANÇÃO –

Adiós, mi amor
Tu silencio dijo todo…
Como duele darme cuenta
Que yo vivía una ilusión

Adiós, dolor
No importa ya lo que pasó
Voy acordarme toda la vida
De cómo me enamoré de ti
Y como me sentí
Cuando te acercaste a mi

Nuestro amor de verano


Un amor de tan lejos
Que ha llegado al final
Gracias por darme cariño
Cuando más lo necesitaba
Sea como sea
Jamás te olvidaré
Aunque mañana no pienses más en mi

(provável 2010, aos 18 anos)

108
Amor de verão (tradução)

Adeus meu amor


Seu silêncio disse tudo...
Como dói perceber
Que eu vivi uma ilusão

Adeus, dor
Não importa o que aconteceu
Vou me lembrar por toda a vida
Como eu me apaixonei por você
e como eu me senti
quando você se aproximou de mim

Nosso amor de verão


Um amor de tão longe
que chegou ao final
Obrigada por me dar carinho
quando eu mais precisei
Seja como for
Jamais o esquecerei
Mesmo que amanhã não pense mais em mim

Ana Paula foi autodidata ao aprender espanhol em sua


adolescência, apenas ouvindo e cantando as músicas da
banda “RBD” e também assistindo à novela em que os
componentes da banda eram os atores. Demonstrava
mais uma vez sua facilidade para línguas. Posteriormente
fez aulas para se aperfeiçoar.

109
La última canción

Hace algún tiempo que nos conocemos


Con miradas empezamos
Fuimos construyendo una historia
Tan lejos de nuestras casas
La pasión al fin me encontró
Cuando tuve que decirte adiós
Y me perdí otra vez entre tus brazos

Ahora ha pasado el tiempo


Los momentos no regresarán
Ya se fueron las vacaciones
Ya se fué tu recuerdo
Pero aun te siento en mi piel
Él corazón no pudo aceptar
Nuestro final

Tenía una esperanza de volverte a encontrar


Me perdí en el intento
Te esperé en vano llegar
Nunca sabré el motivo
Tu silencio me hizo callar
Ahora que miro el pasado
Empiezo a dudar
Que, algún día, me quisiste de verdad

Esta es la última canción


Que se refiere a ti
El fin de la historia
Porque ya no estarás...
Es tiempo de olvidar
Tiempo de cambiar
¿De qué me sirve recordarte?
¿Si ya no estarás…?

(provável 2010, aos 18 anos)

110
A última canção (tradução)

Há algum tempo nós nos conhecemos


Com olhares começamos
Estávamos construindo uma história
Tão longe de nossas casas
A paixão finalmente me encontrou
Quando eu tive que te dizer adeus
E eu me perdi novamente em teus braços

Agora o tempo passou


Os momentos não regressarão
As férias acabaram
Tua lembrança já se foi
Mas eu ainda te sinto em minha pele
O coração não soube aceitar
O nosso final

Tinha esperança de te encontrar de novo


Me perdi com esse intento
Esperei em vão que chegasses
Nunca saberei o motivo
Teu silêncio me silenciou
Agora que olho para o passado
Eu começo a duvidar
Que, um dia, realmente me amou

Esta é a última canção


Que se refere a ti
O fim da história
Porque já não estarás...
É hora de esquecer
Hora de mudar
De que adianta lembrar-me de ti?
Se já não estarás...?

111
O soldado do coração
A mente se afasta de todos os motivos e da razão
O olhar se perde em um olhar
E o pensamento é vencido pela emoção
É impossível conter o impulso que vem do coração
O medo decorre da incerteza
E a certeza é o sentimento
Por mais que se tente apagar
Por mais que se queira desviar a atenção
Está impregnado na pele e na alma
À espreita de qualquer sinal
Com esperança de poder manifestar-se outra vez
É cego e insistente
Impaciente e pouco prudente
Não tem senso algum
e seu norte é abstrato
Não encontra barreiras
Não se limita
Por mais que se pense em arrancar
Não encontra forças bastante fortes
Sua maior força é sua própria existência
É fé, é inquietude, é sofrimento
E acima de tudo é luta

(2011, aos 19 anos)

Ana Paula procurava pensar com clareza nas atitudes


corretas e sensatas que deveria tomar, mas reconhecia a
importância que o sentimento (coração) tinha em todas
as ações. A força do sentimento é algo implacável que
deseja se manifestar, ainda que o faça com imprudência e
insistência, causando “inquietude”, “sofrimento” e “luta”.

112
Já foi

Já foi, já era
Não adianta voltar
Não vai mudar o que passou
Nem vou deixar de lado
O que você provocou
Já foi, acabou
Agora estou tão bem
Nunca me senti assim

Vivi uma história


Sem final feliz
Que bom que não é um conto de fadas
É só um livro de contos

Deixei de lado todo o meu rancor


Se já foi, já terminou
Que bom que você não se apaixonou
Assim estamos iguais
Não vou mais me sentir fraca
Você me fortaleceu

Um dia vai entender


O que eu fui pra você
Um mistério…
Não levou a sério

(2011, aos 19 anos)

113
Seguindo em frente

Com todas as minhas forças


eu luto por um objetivo maior
um objetivo muito maior
do que qualquer coisa
que possa bifurcar meu caminho

Eu tenho medo de não conseguir


mas tenho certeza de que nunca
estive tão segura que agora é a hora,
a hora de mudar e realmente começar
a seguir meu verdadeiro sonho
ele foi deixado meio de lado
mas sempre foi o motivo de tudo

Àqueles que não acreditam


eu vou provar com meu sucesso
pois a força de vontade
faz diferença nessa vida
Posso me enganar, mas não vou me perder

Não será fácil,


muitas coisas ficarão pra trás
e será difícil manter estáveis
todos os meus planos
Digo adeus a tudo que um dia
me fez querer desistir.

Agora vai acontecer o que eu sempre idealizei.

(provável 2011, aos 19 anos)

114
Ana Paula continuava estudando, cumprindo com muita
responsabilidade as exigências da universidade, mas, às
vezes, refletia sobre seus verdadeiros sonhos e projetos
de trabalhar com arte (atuando, cantando, produzindo,
compondo, escrevendo etc.), reafirmando um compro-
misso consigo mesma.

115
Força para seguir

É hora de partir
Hora de esquecer
Os fantasmas e o passado
O que passou não vai voltar
Se no presente tudo está mal
Mesmo assim vou continuar

Tantos erros, tantas mentiras


Que se desvanecem com o tempo
E demoram pra cicatrizar
Ainda que a esperança seja só
um ponto de luz
Ela existe em algum lugar
É permitido errar de novo
Até que se aprenda a acertar
Não deixe de acreditar

Quero deixar a vida me levar


E as lembranças guardar
Deixar de lado toda a dor
e fingir que tá tudo bem
A gente aprende a ser forte
Que nem terremoto é capaz de abalar

Se em algum momento
paro de sonhar
Penso em desistir
Escolho o caminho mais difícil
Que custa muito pra seguir

Aos rancores digo adeus


E mais uma vez decido perdoar
Esse mal não ficará em mim
Não vai mais me afetar

(provável 2012, aos 20 anos)

116
Refletir para prosseguir. (2016)

A maturidade com que Ana Paula reconhece o erro e a


necessidade de seguir em frente, e até mais vezes errar,
revelam sua postura filosófica diante das dificuldades ine-
vitáveis da vida: “a gente aprende a ser forte”. Mesmo se
em algum momento para de sonhar, com a possibilidade
de desistir, ela escolhe o caminho mais difícil, “que custa
muito a seguir”, porque acredita em sua força e sabe que
há esperança.

117
Learning with life

Some things I wish I’d never thought


So many times I was surprised
But now the sound of goodbye
It just doesn’t hurt me anymore
So many times they heard me cry
I was so terrified

Now I look at you


And I feel nothing at all
What the hell is going on with me?

So many times my broken heart


Right now is natural to be disappointed
You’ re not gonna see tears coming from these eyes
No, I ain’t gonna cry again

It’s not like I’m cold as ice


I’m just learning with life
Living according to everybody’s expectations
Instead of dreaming on perfect days
I make it look less dark
That’s all I can do
Pain has slowly faded away
Now I got nothing left to say
You can look away, just walk away

(2012, aos 20 anos)

118
Aprendendo com a vida (tradução)

Algumas coisas eu gostaria de nunca ter pensado


Tantas vezes me surpreendi
Mas agora o som do adeus
Simplesmente não me machuca mais
Tantas vezes me ouviram chorar
Eu estava tão apavorado

Agora eu olho para você


E eu não sinto nada
Que diabos está acontecendo comigo?

Tantas vezes meu coração partido


Agora é natural ficar desapontado
Você não vai ver lágrimas saindo destes olhos
Não, eu não vou chorar de novo

Não é como se eu estivesse frio como gelo


Eu estou apenas aprendendo com a vida
Vivendo de acordo com as expectativas de todos
Ao invés de sonhar com dias perfeitos
Eu faço parecer menos escuro
Isso é tudo que eu posso fazer
A dor desapareceu lentamente
Agora não tenho mais nada a dizer
Você pode desviar o olhar, apenas vá embora

119
PARTE III
A jovem adulta
Ana Paula
deu passos firmes
em busca
de sua autonomia
e de seus sonhos

Edimburgo, Escócia. (2018)


O tempo dirá
- CANÇÃO –

Se eu tenho tanto a lembrar


por que eu só me lembro de você?
Se eu tenho tanto a pensar
por que eu só penso em você?

Nessa noite veio algo em minha cabeça:


esses momentos que você quer que eu esqueça,
confesso que quero esquecer,
coisas que só o tempo irá dizer.

Refrão

Só o tempo dirá, só o tempo dirá


se eu vou encontrar você
Se o destino é nosso
Só o tempo dirá...

Sei que é impossível apagar da memória,


o que está no meu coração,
a distância é forte e ilusória,
não tem medo ou compaixão,
e agora, o que posso fazer?
Só o tempo irá dizer

Refrão

Só o tempo dirá, só o tempo dirá


se eu vou encontrar você
Se o destino é nosso
Só o tempo dirá...

(Provavelmente 2013, aos 21 anos)

123
(Sem título)

O que será pior?


A incerteza ou a certeza
de que aquilo que te enchia de alegria
já não está presente em sua vida?
A mente é capaz de criar mil justificativas
para ir contra o que é óbvio
quando há incerteza
e quando ela não consegue mandar no coração.

Porém, quando o fim já é certo,


dá trabalho aceitar
e então a mente precisa ignorar o coração.
É claro que isso não é lei.

Algumas pessoas guardam suas lembranças


em grandes gavetas com chave
e evitam tirá-las de lá,
enquanto outras demoram dias, meses, ou até anos
para encontrar a combinação certa para fechar o cadeado.
O que será mais sensato então?
Tratar as coisas, as pessoas e as memórias com frieza
e apenas trancá-las nas gavetas da mente
ou lembrar-se sempre delas, mantendo-as destrancadas?

É muito fácil dizer que já não se importa, que já passou,


o difícil é convencer-se disso.
Podemos repetir para o mundo inteiro mentiras
que nos mostrem fortes
e só nós conheceremos a nossa fraqueza,
mas isso não nos tornará pessoas melhores
e nem nos trará a força.

(Provavelmente 2013/2014, aos 21 ou 22 anos)

124
Pensamentos viajantes
aos 22 anos
(2014)

Alguns momentos são plena felicidade


Outros são extrema tristeza
E os demais somente esperança

Um caminho sem fim, sem começo, só meio.


Porque o começo já foi e o fim já chegou,
Só o que resta é o agora.

A vida é um caminho sem volta, ela não rebobina nem acelera.


Ela leva seu tempo, corre com o vento,
sem pressa de chegar ao final.
Mas quando menos se espera, ela acaba,
levando consigo todos os sonhos e ilusões.

125
Guarding angel

I can’t stand the idea of seeing your pain


You’re my guarding angel
So dear to me
I feel responsible for making you happy
And if I can’t do that, I won’t forgive myself
I will never let you go without saying
I love you
I have to understand that life’s short
But I won’t ever forget you
You’re my favorite gift from the sky
When you’re in heaven I hope you think of me
And even if you don’t
I will always think of you

(2014, aos 22 anos)

Essas são as palavras dedicadas à Lily, que Ana Paula


amava muito, de forma especial, chamando-a de “minha
filha”. Acreditava na inocência do animalzinho que, ao
mesmo tempo em que precisa ser protegido por seu dono,
também o protege, como se fosse um anjo mesmo.

126
Anjo da guarda (tradução)

Eu não suporto a ideia de ver sua dor


Você é meu anjo da guarda
Tão querido para mim
Eu me sinto responsável por fazer você feliz
E se eu não puder fazer isso, não vou me perdoar
Nunca vou deixar você ir sem dizer eu amo você
Eu tenho que entender que a vida é curta
Mas eu nunca vou esquecer você
Você é meu presente favorito do céu
Quando você estiver no paraíso,
espero que pense em mim
E mesmo que você não pense
Eu sempre vou pensar em você

No quintal de nossa casa. (2004)

127
Carta para uma princesa

Há tempos não deito o lápis sobre o papel


E hoje volto pra falar de alguém
Alguém que me faz sorrir
Que me faz enxergar a beleza e a bondade
Mas que me traz o medo
Medo de perdê-la
De vê-la chorar
E minha maior alegria é poder lhe abraçar
Todas as manhãs, poder lhe beijar
Esse ser tão pequeno
De coração gigante
Puro como um anjo
E sincero como nenhum humano
Minha companheira
Bichinho de estimação,
irmã e filha
Meu anjo da guarda
Te amo muito!
E nem o tempo vai mudar isso.

(2014, aos 22 anos)

Em casa, abraçando sua princesa. (2016)

128
(Sem título)

Dá uma sensação estranha


Quando você sente que é o fim
É uma sensação inexplicável
Quando você deseja o que
não pode ter
A sua cabeça incoerente
quer pensar em alguém
Que você tá barrando no coração
Mas ela é insistente

Ainda sabendo que é só isso


Você não para de pensar
Aumenta o som na sua mente
Você começa a lembrar

(Provável 2014, aos 22 anos)

129
Dauntless manifest

It’s time to be dauntless


Excuses are for cowards
Brave people face their obstacles
They don’t let their hopeful self die
They leave the past behind
Where it belongs
Memories are knowledge, experience
But they can’t be an excuse
We make decisions for giving up
every day
We often make mistakes
It’s part of who we are
But they can’t define our future
We can’t let anything kill our dreams
We can’t lose faith
We have to give ourselves another
chance to try
Everytime we fail
Giving up is not an option
Starting today, let’s be dauntless

(2014, aos 22 anos)

130
Manifesto destemido (tradução)

É hora de ser destemido


Desculpas são para covardes
Pessoas corajosas enfrentam seus obstáculos
Elas não deixam seu eu esperançoso morrer
Elas deixam o passado para trás
A que ele pertence
As memórias são conhecimento, experiência
Mas elas não podem ser uma desculpa
Tomamos decisões para desistir todos
os dias
Muitas vezes cometemos erros
É parte de quem somos
Mas eles não podem definir nosso futuro
Não podemos deixar que nada destrua nossos sonhos
Não podemos perder a fé
Temos de nos dar outra chance para tentar
Toda vez que falhamos
Desistir não é uma opção
Começando hoje, vamos ser destemidos

131
Personal profile

Hello, everyone. I’m Ana Paula Teixeira. I’m Brazilian and


I live in Ribeirão Preto, in the state of São Paulo. I was born in
Ribeirão and I’ve lived here for 19 years. I studied International
Relations in college and now I’m studying Cultural Management
and Music.
Culture and arts have been long-term interests of mine. When
I finished college, I knew I had to chase my dreams of being a singer
and working with arts, so I immediately looked for a post-graduation
course and a voice teacher.
Besides my passion for culture, I also love languages, English,
Spanish and French are the languages I can speak.
Last year I started to look for a job and I realized it was really
difficult to find something in my domain, especially in my city, so I
sent my CV to an English School. It was a surprise for me when I got
the job because I didn’t have any previous experience in teaching.
I’ve been teaching for almost two years now and it’s been great. The
students are adorable and I love the way I can help people acquire
knowledge, it’s very rewarding.

(2014, aos 22 anos)

132
Perfil pessoal (tradução)

Olá, pessoal. Sou Ana Paula Teixeira. Sou brasileira e moro


em Ribeirão Preto, no estado de São Paulo. Nasci em Ribeirão e
moro aqui há 19 anos. Estudei Relações Internacionais na faculdade
e agora estou estudando Gestão Cultural e Música.
Cultura e artes têm sido meus interesses de longo prazo.
Quando terminei a faculdade, sabia que tinha de correr atrás dos
meus sonhos de ser cantora e trabalhar com artes, então imediata-
mente procurei uma pós-graduação e um professor de canto.
Além da minha paixão pela cultura, também adoro línguas:
inglês, espanhol e francês são as línguas que posso falar.
No ano passado, comecei a procurar um emprego e percebi que
era muito difícil encontrar algo no meu domínio, principalmente na
minha cidade, então enviei meu currículo para uma escola de inglês.
Foi uma surpresa para mim quando consegui o emprego porque
não tinha nenhuma experiência anterior na docência. Leciono há
quase dois anos e tem sido ótimo. Os alunos são adoráveis e amo
a forma como posso ajudar as pessoas a adquirir conhecimento, é
muito gratificante.

Ana Paula diz em seu texto que gostava de dar aulas,


lembro-me de que, com tanto esmero, preparava suas
aulas, ficando um longo tempo para fazê-lo, ilustrava
toda a aula, recortando figuras para apresentar aos alu-
nos. Toda noite me dava um abraço antes de dormir e
eu a apertava, para que suas costas endireitassem com o
movimento de minhas mãos; como em uma massagem,
pois, além do preparo das aulas, ficava muito tempo sen-
tada estudando.

133
Criando uma identidade
(mais uma lembrança de minha filha)

No texto anterior, Ana Paula descreve seu perfil, destacando sua


ligação com a arte e seu gosto pelo aprendizado de várias línguas. Conta
seu contentamento com o exercício pedagógico desde o início de sua
experiência como professora de inglês.
Quando Ana Paula completou seis anos de idade, sentimos que ela
precisava ter um documento para mostrarmos quando fosse necessário,
inclusive para viajarmos. E assim o fizemos.
Quando estávamos no órgão expedidor da carteira de identidade,
deixei que ela mesma explicasse à atendente o que ela queria e por qual
motivo. A atitude dela foi tão graciosa e encantadora, que a moça, sim-
pática e atenciosa, não resistiu ao seu charme e a chamou para dentro
do balcão e, no colo da moça, minha filha foi falando as informações
que a atendente solicitava e assinou na carteira de identidade “ANA
PAULA S. TEIXEIRA” em letras maiúsculas. Despediu-se da moça,
contente. Logo quis colocar o RG em sua carteira, junto ao documento
da escolinha, e com algum dinheiro que eu tive de lhe dar para com-
pletar a carteira.
E ela usou o documento de identidade pela primeira vez, toda
orgulhosa, em nossa viagem para Vitória, no Espírito Santo, realizada
em seguida.
Ficamos hospedados em um hotel-escola, na Ilha do Boi; foi algo
memorável! Ela admirou a atenção dos garçons, tão solícitos, sempre
acompanhando a gente e com uma postura que chamou sua atenção,
com uma das mãos fechada nas costas, na hora do atendimento.
Nessa ilha-bairro, além de vários prédios residenciais, fica o Clube
Ítalo Brasileiro, onde participamos de uma alegre e típica festa italiana.
Lembro-me de que, na época, minha esposa disse para nossa filha que
elas eram descendentes de italiano, Dirlene era bisneta e Ana Paula,
tataraneta. Ela gostou muito da festa e principalmente da comida.
Na verdade, a culinária italiana sempre foi a sua predileta. Talvez um
prenúncio de sua origem italiana.
E, nos últimos anos, Ana Paula estava estudando a língua italiana
online, inclusive acompanhando algumas aulas da USP.
Family origin

I spend a lot of time with my family because I live with my


parents and I often see my aunts, uncles, cousins and my grandmas.
I have inherited many characteristics from my family, especially from
my mom and dad. The interesting thing about it is that my parents
are completely different from each other, they kind of opposite, and
I look like both. I’m clumsy, messy always and distracted like my
father and I’ve inherited his musical talents. My mom on the other
hand is very organized and focused, but she’s very emotional and dra-
matic, just like me, she’s also a perfectionist, and I’m afraid I am too.
I know that my mother’s family came from Italy, my great-
-great grandfather moved to Brazil, probably about 200 years ago,
because my grandmother was born in the 1930s. My father’s family
came from Portugal but I also have Brazilian Indian ancestors.
My family is a mixture of Europe and South America, that’s all I
know. I wish I could know more.
Yes, because it makes a lot of sense, I feel like I’m really euro-
pean sometimes, I can’t deny my brazilian origins though.

(2014, aos 22 anos)

136
Origem familiar (tradução)

Passo muito tempo com minha família porque moro com meus
pais e muitas vezes vejo minhas tias, tios, primos e minhas avós.
Herdei muitas características da minha família, principalmente da
minha mãe e do meu pai. O interessante disso é que meus pais são
completamente diferentes um do outro, meio opostos, e eu pareço
com ambos. Sou estabanada, sempre bagunceira e distraída como
meu pai e herdei seus talentos musicais. Minha mãe, por outro lado,
é muito organizada e focada, mas ela é muito emotiva e dramá-
tica, assim como eu, ela também é perfeccionista, e temo que eu
também seja.
Eu sei que a família da minha mãe veio da Itália, meu tata-
ravô se mudou para o Brasil, provavelmente há cerca de 200 anos,
porque minha avó nasceu na década de 1930. A família do meu pai
veio de Portugal, mas também tenho ancestrais índios brasileiros.
Minha família é uma mistura de Europa e América do Sul, é tudo o
que sei. Eu gostaria de poder saber mais.
Sim, porque faz muito sentido, às vezes eu me sinto muito
europeia, mas não posso negar minhas origens brasileiras.

137
Looking for my way to ness

All my life
I’ve been looking for that perfect match
Of heart and soul
Of time and mind
I can never find my way to happiness

Joy is imprecise
Spinning and spinning
I can never find my way out of loneliness

I tell myself everyday


‘Tomorrow won’t be the same as today’
Screaming and shouting as loud as I can
I will find my way to freedom
I will find my way to love
Just as long as I can breathe
I won’t stop looking for myself

All this time


I’ve been pretending to be strong
Trying to hide my weakness
In the silence, making echoes
I could never find my way to brightness

Joy is always so undefined


Lightening and lightening
I can never find my way out of darkness

(2015, 23 anos a completar)

138
Procurando meu caminho (tradução)

Toda a minha vida


Eu estive procurando por aquela combinação perfeita
De coração e alma
De tempo e mente
Eu nunca consigo encontrar meu caminho para a felicidade

A alegria é imprecisa
Girando e girando
Eu nunca consigo encontrar meu caminho para sair da solidão

Eu digo a mim mesma todos os dias


‘Amanhã não será igual a hoje’
Gritando e bradando o mais alto que posso
Encontrarei meu caminho para a liberdade
Encontrarei meu caminho para amar
Desde que eu possa respirar
Eu não vou parar de me procurar

Todo esse tempo


Eu tenho fingido ser forte
Tentando esconder minha fraqueza
No silêncio, fazendo ecos
Eu nunca poderia encontrar meu caminho para brilhar

A alegria é sempre tão indefinida


Iluminando e iluminando
Eu nunca consigo encontrar meu caminho para sair da escuridão

Esta é outra versão de um poema, também em inglês, que


Ana Paula escreveu aos 18 anos, intitulado All my life.
Nesta nova versão, Looking for my way to ness, ela altera
algumas frases e acrescenta outras, refletindo, com mais
ênfase, a dificuldade de encontrar a si mesma, o equilíbrio
entre coração e mente e o caminho à plenitude da vida.

139
PARTE IV
A adulta jovem
Ana Paula
estava a construir uma vida digna,
preservando seu apreço à arte
e o desejo de lutar
por um mundo mais justo.
Fez de seus estudos
um norte para suas ações.

No dia de sua formatura na UNESP-FRANCA, SP. (2013)


Produção acadêmica
de Ana Paula
1

Trabalho de Conclusão do Curso da Graduação

Cinema e Diplomacia Cultural Brasileira

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais,


Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,
bacharelado em Relações Internacionais

Resumo

Entre os anos 2011 e 2012, Ana Paula dedicou-se à pesquisa e


aos estudos teóricos sobre o papel do cinema na Diplomacia Cultural
Brasileira, campo do conhecimento com que ela mais se identificou, ao
longo de sua graduação, por reconhecer como poderia ser importante
nas relações internacionais de nosso país. Em 2013, concluiu a redação
de seu TCC, apresentando-o à banca examinadora presidida por sua
orientadora, a professora doutora Rita de Cássia Biason.
Além de constarmos de sua lista de agradecimentos, nossa filha
também nos citou em sua dedicatória de uma maneira que nos enche
de orgulho:

A Dirlene e Benedito, pelo amor incondicional e pela excelente


formação que me proporcionaram. E a todos aqueles que, de alguma
forma, despertaram em mim o interesse pela cultura e pela arte.

Transcrevemos a seguir parte da introdução de seu trabalho, cujo


teor nos leva a refletir sobre algo que deveríamos saber, mas pouco
divulgado pelos meios de comunicação:

[...] escolhemos como tema a Diplomacia Cultural, um fenômeno


da diplomacia que sempre existiu, mas que só foi instituciona-
lizado no século XX, primeiramente pelos países do centro, e
tardiamente pelos países periféricos como o Brasil. São escassas

143
as obras e pesquisas sobre o tema, que ainda é desconhecido por
parte da academia, pela brasileira principalmente. Portanto, são
grandes as dificuldades em realizar uma pesquisa que abranja
essas questões, destarte, as bibliografias além de escassas são
muito recentes. O desafio aumenta com a escolha de análise do
cinema como elemento da Diplomacia Cultural, pois as obras que
abarcam esse assunto na maioria das vezes não o relacionam com
a diplomacia ou com a política, e as pesquisas existentes a res-
peito dessa espécie de diplomacia não analisam especificamente,
e em detalhes, a importância e atuação do cinema.
Apesar das dificuldades apontadas, e de outros obstáculos que
possam aparecer durante a realização deste trabalho, acreditamos
na sua relevância, por ser um tema pouco trabalhado no âmbito
das Relações Internacionais. A intenção primordial da escolha
dessa temática é um tanto quanto ambiciosa, pois se espera
que esta pesquisa possa despertar a curiosidade e guiar traba-
lhos posteriores, mesmo que seja somente em relação ao tema
central; e que possa contribuir de alguma forma para que este
seja mais trabalhado no Brasil, e que as portas sejam abertas
aos estudantes e pesquisadores que tenham interesse pela área.
[...]
Esta pesquisa é majoritariamente de natureza teórica. Fez-se
necessário um esforço em definir e conceituar a Diplomacia
como um todo, a sua ramificação cultural, e os usos da cultura
como instrumento político, econômico e social; e não menos
importante, o Soft Power. Em relação a esse último, é essen-
cial a compreensão da teoria neoliberal institucionalista que
conceituou esse tipo de poder. Foi feito ainda um estudo sobre
o cinema norte-americano e seu uso pela Política norte-ameri-
cana, uma vez que a teoria do Soft Power tenha sido concebida
no seio desse país.
Ademais, apresentamos um estudo de caso sobre os festivais
de cinema brasileiros e de programas de incentivo à produção,
distribuição, exportação e divulgação do cinema brasileiro no
exterior, objetivando-se compreender qual a função deles como
meio de realização da diplomacia cultural [...].

A história do cinema brasileiro, no final do século XIX e início


do XX, está contada no primeiro capítulo de seu trabalho acadê-
mico, intitulado “Perspectiva Histórica do Cinema Brasileiro”. Com o
subdesenvolvimento do país e a herança escravocrata e monárquica,
somados à insuficiência de energia elétrica, nosso cinema iniciou sua
trajetória a passos lentos.

144
Com a industrialização na produção de energia, em 1907, a ativi-
dade cinematográfica brasileira ganhou força e ânimo. Entre 1908 e
1911, novos empresários dedicaram-se à produção, exibição e importa-
ção de filmes. A partir de 1925, as produções cinematográficas brasilei-
ras ocorreram não só nas capitais, mas também em cidades do interior.
Em 1927, o cineasta mineiro Humberto Mauro deu início à produção
de uma série de filmes, até 1974, de longas e curtas metragens, reve-
lando-se um grande profissional que efetivamente lutou pelo cinema
nacional. A semente do Cinema Novo estava plantada.
Nos anos 1930 foram produzidas muitas “chanchadas”, musicais
encenados por cantores populares do rádio, atores e atrizes do tea-
tro de revista. No final da década de 1940, foi criado o estúdio Vera
Cruz, responsável pelo filme “Os Cangaceiros”, de 1953, premiado
no Festival de Cannes.
O surgimento do Cinema Novo, a partir dos anos 1950, foi um
marco na história do cinema brasileiro. Foram produzidos muitos fil-
mes, numa abordagem esteticamente moderna, cujos enredos aborda-
vam a realidade social brasileira e a desigualdade socioeconômica da
população. O líder do grupo de cineastas do Cinema Novo foi Glauber
Rocha. Seu premiado filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964),
entre outros, levou o cinema brasileiro a uma postura conscienciosa e
crítica, politizando o debate sobre nossa realidade.
Após o Golpe Militar de 1964, os filmes de crítica social conti-
nuaram a ser produzidos. Os cineastas faziam uso de metáforas para
burlar a censura da ditadura militar. Em 1974, o governo Geisel, para
angariar apoio ao regime ditatorial, criou a Embrafilme, que teria papel
preponderante no cinema brasileiro até sua extinção em 1990.
Ainda no primeiro capítulo, Ana Paula, relata alguns fatos do
final da ditadura militar (1985) e as atitudes drásticas promovidas
pelo governo democrático de Fernando Collor, dissolvendo empre-
sas estatais relacionadas à produção cultural e abolindo a lei Sarney.
Somente após o impeachment do presidente, graças à volta das medi-
das vetadas, a criação da Lei do Audiovisual, além da recriação do
Ministério da Cultura é que o cinema voltou a crescer, revelando mais
cineastas, cujas obras receberam aplausos internacionais e algumas
indicações ao Oscar.
No segundo capítulo, intitulado “Diplomacia Cultural”, Ana
Paula conceitua historicamente o termo diplomacia, processo pací-
fico de negociação entre Estados, elencando suas funções desde seu
surgimento, no século XVIII, na França, destacando sua importância

145
no intercâmbio entre as nações, por meio de uma proposta de diálogo
que prime pelo entendimento entre as partes.
Em seguida, ela explica o significado da designação “diplomacia
cultural”, foco de seu trabalho, narrando o contexto histórico que
lhe deu origem.
Nas últimas décadas do século XX, devido às mudanças políticas e
econômicas no mundo, a natureza da diplomacia também mudou. Os
agentes políticos mundiais elevaram o poder da cultura e das artes em
geral, proporcionando maior aproximação e diálogo entre as nações.
Ela cita a diplomacia cultural através do exercício do poder brando
de que fala Joseph Nye em “Soft Power”, ou seja, a capacidade de
influenciar o comportamento de outrem sem coerção, como foi usado
no cinema norte-americano.
A diplomacia cultural brasileira desenvolveu-se no Itamaraty, no
Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores, atuando
na divulgação, no exterior, de nossa cultura e da língua portuguesa
falada no Brasil.
Ainda no segundo capítulo, Ana Paula explicita as medidas gover-
namentais que contribuíram para com a divulgação de nossas pro-
duções culturais, desde o governo Sarney, Itamar Franco, Fernando
Henrique e Lula, com destaque para as leis de incentivo à produção
cultural, sobretudo no governo Lula. Em alguns comentários, ela cita a
decisão governamental por eventos que fariam com que o Brasil atraísse
investimentos internacionais, a Copa do Mundo de Futebol, em 2014,
e as Olimpíadas, em 2016. Um exemplo de utilização da diplomacia
cultural no cenário internacional.
Ana Paula comenta de maneira esclarecedora a análise feita por
Leila Bijos e Verônica Arruda, no artigo “A diplomacia cultural como
instrumento de política externa brasileira”, publicado na Revista
Diálogos: a cultura como dispositivo de inclusão, v. 13, agosto 2010,
a respeito do diferente tratamento dado à diplomacia cultural nos
governos FHC e Lula.
No terceiro capítulo, intitulado “Diplomacia Cultural e Cinema:
exemplos”, ela aborda a importância e a participação brasileira nos
“Festivais Internacionais”; conta a trajetória do Grupo Inffinito, fun-
dado em 1995, suas produções e as realizações do “Circuito Inffinito de
Festivais”, com apoio do Governo Brasileiro e empresas privadas; relata
os “Encontros com o Cinema Brasileiro”, programa criado pela Ancine
em parceria com o Ministério das Relações Exteriores, para mostrar
filmes brasileiros a curadores de festivais internacionais e comenta o

146
programa “Cinema do Brasil”, uma iniciativa do Sindicato da Indús-
tria Audiovisual do Estado de São Paulo, com o apoio da Apex-Brasil,
ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e da
Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, posteriormente
com suporte do Departamento Cultural do Ministério das Relações
Exteriores e da Ancine. Tem por objetivo ampliar a participação do
audiovisual brasileiro no mercado internacional.
Em “Cultura e Cinema como Ferramenta Política”, título do
quarto capítulo, Ana Paula aborda as relações de poder que per-
passam entre as nações, incluindo análises que envolvem ideologias
e formas de governo que diferem na maneira de as nações lidarem
com questões culturais. Assim ela nomeia os itens tratados neste capí-
tulo: “Neoliberalismo: Relações Transnacionais e Novos atores”; “Soft
Power, Cultura e Cinema”; “Hollywood e o Poder Brando” e “A Política
de Boa Vizinhança e as Chanchadas”.
Em sua conclusão, Ana Paula discorre resumidamente sobre
tudo o que abordou ao longo dos capítulos, aprofundando o tema da
diplomacia cultural, compartilhando a ideia de que existem meios de
persuasão que não perpassam a coerção, mas que é necessário estraté-
gia e capacidade do ator para obter sucesso e em muitos casos o melhor
recurso é a cultura.
A importância da política externa para o fortalecimento de nosso
país, de nossos valores, de nossa cultura, com destaque para o cinema
e o audiovisual. Nesse campo, ela retoma os altos e baixos pelos quais
o país passou com programas de governos que, poucas vezes, fizeram
efetivamente aumentar a visibilidade do Brasil nos festivais de cinema
internacionais, beneficiando a produção nacional. Reforçou a tese de
que o imperialismo estadunidense, que fez de sua poderosa indústria
cinematográfica um modelo para o mundo, teve grande influência no
cinema brasileiro. Assim, a abertura de novos mercados para nossos
produtos sempre esteve aquém do desejável, em vigor apenas durante
os governos mais progressistas.
Hoje ainda não temos uma indústria cinematográfica consolidada,
o que leva diretores e atores a deixarem o Brasil. A população brasileira
não privilegia os filmes nacionais e a maioria prefere os de entreteni-
mento ou televisivos; os que abordam temas mais profundos, sociais
e políticos são vistos apenas por grupos de espectadores mais críticos.
Ainda assim, há esperança de que tudo melhore nesse campo por-
que o cinema brasileiro (e a arte brasileira em geral) pode levar o Brasil
ao mundo, apresentar sua língua e seu povo, falar de sua construção

147
como nação a seus atuais e futuros parceiros, por meio de sua atuação
diplomática, de maneira a ocupar um lugar de destaque e vir a ser reco-
nhecido como uma grande nação com que as outras nações queiram
se relacionar. As obras cinematográficas têm um papel importante na
divulgação de nossas principais qualidades naturais e humanas!

OBS: No QR abaixo, a íntegra do TCC de Ana Paula para os leito-


res que quiserem saber mais sobre diplomacia cultural e cinema, por
meio de um texto bem escrito que, seguramente, irá contribuir para
que pensemos a produção cinematográfica brasileira como um item
importante de nossa formação como pessoas, cidadãos e povo de uma
nação. Mais uma semente que Ana Paula nos deixou. Cuidemos!1

1 Também disponível no link: https://drive.google.com/file/d/11yDU82jG736U1Odh41R9AVHoLjAqN9oZ/


view?usp=drive_link

148
Produção acadêmica
de Ana Paula
2

Pós-Graduação em Gestão Cultural: cultura,


desenvolvimento e mercado

Centro Cultural Virtual: Plataforma Online de


Educação e Cultura

Centro Universitário Senac – Santo Amaro, Polo Ribeirão


Preto – 2015

Resumo

Quando a Ana Paula, após a graduação universitária, dedicou-se


a um curso de especialização em Gestão Cultural, no Centro Uni-
versitário Senac, numa área que já vinha despertando seu interesse,
ela conduziu os estudos ali desenvolvidos à elaboração de um projeto
muito interessante: a criação de um Centro Cultural Virtual, em
Plataforma Online de Educação e Cultura. E este foi o trabalho
que ela apresentou para a obtenção do título de especialista em
Gestão Cultural, em 2015.
A motivação básica que a inspirou foi o amor pela cultura, pela arte
e pela educação, a vontade de produzir transformação social e contri-
buir para a formação cultural de seres humanos críticos e conscientes.
A ordem e a coerência de suas ideias ao longo do projeto revelam
seu posicionamento crítico com relação ao campo da educação brasi-
leira que ainda enfrenta problemas, afastando-se do ensino que deveria
levar em conta a cultura, permanecendo preso a fórmulas tradicionais
ultrapassadas, inviabilizando a formação de um jovem consciente de
seu papel social no mundo.
O Centro Cultural Virtual proposto ofereceria aos jovens de 15 a 30
anos, das classes socioeconômicas B e C, cursos de línguas e de litera-
tura, num primeiro momento. Assim ela definiu seus objetivos e metas:

149
O objetivo da criação deste projeto é promover a educação para
a cultura com qualidade e inclusão social. Criar um ambiente de
aprendizagem crítico, colaborativo, tecnológico e de fácil acesso,
criar demandas de consumo cultural e artístico, contribuindo para
o desenvolvimento desse mercado no Brasil.
Os objetivos específicos relacionam-se à primeira fase do projeto,
em que serão priorizadas atividades voltadas à área de Letras e
Linguística, que engloba estudos literários, linguísticos e interdis-
ciplinares, cujo enfoque é a análise e o aprendizado das línguas e
da literatura. Inclui também a tradução e interpretação de línguas
estrangeiras, a escrita narrativa e estudos teóricos sobre a relação
entre cultura e linguagem. Prevê-se a criação de uma grade de
cursos livres das seguintes disciplinas: Língua Portuguesa, Lín-
gua Inglesa, Língua Francesa, Língua Espanhola, Literatura Por-
tuguesa e Brasileira, Literatura Internacional, Redação e Escrita
Literária, Tradução e Interpretação, Cultura e Linguagem.
Todos os cursos serão divididos em módulos e terão durações
variadas. No primeiro ano do projeto, serão desenvolvidos os
cursos de: Língua Inglesa, Língua Portuguesa, Literatura Por-
tuguesa e Brasileira.
Nos cursos de línguas, propõe-se a inclusão de temas como His-
tória, Folclore, Geografia, Arte, entre outros, aos elementos tradi-
cionais como: Gramática, Escrita e Vocabulário, proporcionando
aos estudantes uma abordagem mais ampla, cultural e comunica-
tiva. No que tange à Literatura, busca-se uma metodologia que
inclua diversos nomes da literatura mundial, ocidental e oriental,
estéticas e estilos diferentes, evitando simplificações ou estudos
superficiais. Além dos cursos online, os participantes poderão
usufruir de diversos conteúdos interativos: biblioteca virtual,
midiateca, blog, fórum, entre outros.

Quanto ao público-alvo, embora tenha priorizado os jovens das


classes B e C, ela abordou as condições sociais das outras classes que
teriam motivo para não querer participar ou que teriam muitas difi-
culdades para isso.

As classes socioeconômicas A e inferiores à C não foram escolhi-


das como foco, o que não impede que elas sejam atendidas pelo
projeto. Entretanto, pressupõe-se que as pessoas das camadas
mais altas da sociedade têm, na maioria dos casos, a oportuni-
dade de estudar nas melhores instituições de ensino do país e de
obter uma base educacional da melhor qualidade, pagando altas
mensalidades, o que faz com que não seja necessária a inclusão

150
desse público no projeto. As classes D e E, por sua vez, têm uma
renda muito baixa, dificultando o pagamento dos custos, ainda
que baixos, da plataforma virtual. Outro empecilho à inclusão
desse público de classes muito baixas é que grande parte delas
possui deficiências educacionais, muitas são analfabetas ou anal-
fabetas funcionais, dificultando o aprendizado.
O aprendizado a ser adquirido por meio da plataforma virtual
pode servir a vários propósitos: estudar para o vestibular, utilizar
o idioma estrangeiro para viagens, entender melhor as obras
literárias, entre outros. No entanto, acredita-se que os fatores
principais de escolha desse modelo educacional pelo público será
a possibilidade de aprender em casa, com maior flexibilidade
de horários e a preços acessíveis. O projeto dirige-se às pessoas
que, por algum motivo, seja falta de tempo ou dificuldade de se
deslocar até uma escola física, preferem estudar a distância, e
que buscam uma metodologia diferenciada das metodologias de
ensino presentes no mercado, uma vez que elas aprenderão não
somente uma língua ou as correntes literárias, mas também sobre
diversos assuntos como arte, patrimônio histórico, costumes
e tradições, entre outros temas que se relacionam diretamente
com a linguagem.

Ao especificar a equipe técnica e pedagógica essenciais à


implementação do projeto, a seriedade profissional de sua proposta
de gestão cultural ficou muito evidente.

Nos setores administrativos serão necessários: gestor e produtor


executivo, gestor financeiro, profissional de marketing e comu-
nicação. Para cuidar do setor técnico e a criação da plataforma
virtual, serão contratados profissionais de tecnologia da infor-
mação e web designers. Para definir grades curriculares e demais
informações referentes aos cursos e produzir o material didático,
serão necessários professores e conteudistas, coordenadores peda-
gógicos, editores e profissionais de captação de áudio e vídeo.

Elucidamos a seguir Corpo docente e Coordenação pedagógica:

No corpo docente, “há uma divisão entre conteudistas, que


serão especialistas, com formação a nível de pós-graduação nas áreas
específicas de cada curso, responsáveis pela confecção dos materiais
didáticos e da elaboração da grade curricular e do conteúdo dos cur-
sos; e docentes (com formação ao menos a nível de graduação e que

151
possuam as qualificações necessárias), os quais serão encarregados
de promover a interação entre os alunos, de corrigir tarefas e realizar
demais atividades pedagógicas”.
Na coordenação pedagógica, “profissional com formação
específica nas áreas de Pedagogia e Letras, que irá coordenar todas as
atividades pedagógicas, desde o estabelecimento de diretrizes metodo-
lógicas até o monitoramento do trabalho do corpo docente. É ele quem
dará a palavra final sobre os materiais didáticos e a grade curricular”.
No planejamento estratégico e produção executiva de sua
proposta, Ana Paula detalhou as três etapas fundamentais: pré-produ-
ção, produção e pós-produção, arrolando itens a serem cuidadosamente
observados e possíveis dificuldades a serem enfrentadas.
Na segunda fase do planejamento estratégico, indicou a utilização
da Análise SWOT ou FOFA, já bastante conhecida no meio empresarial,
para que fossem consideradas as variáveis internas, controláveis, que
dão conta dos pontos fortes e dos pontos fracos do empreendimento,
e as variáveis externas, não controláveis, ou seja, as oportunidades e
as ameaças relacionadas ao negócio em curso.
O trabalho de Ana Paula incluiu oito gráficos que indicam a
vida cultural do público em geral e do público-alvo, relacionando as
atividades de entretenimento e cultura à escolaridade das pessoas.
Colocou nove tabelas para subsidiar reflexões sobre indicadores, pla-
nilhas, comparação de métodos de avaliação etc.
As três partes de sua proposta de criação de um Centro Cultu-
ral Virtual (Apresentação e Conceituação do Projeto; Planejamento e
Execução; Gestão Financeira e Avaliação) e suas Considerações Finais
encontram em suas Referências finais os autores e as obras estudadas,
inclusive os endereços eletrônicos pesquisados.
Os dois últimos parágrafos de suas Considerações Finais dizem:

Por meio do estudo dessas diversas etapas e do conteúdo teórico


explorado neste trabalho, pudemos compreender como funciona
o mundo da gestão cultural, as suas diversas possibilidades de
atuação e seus desafios, como a escassez de recursos, os proble-
mas educacionais aqui abordados e, principalmente, a escassez
de dados sobre o setor cultural, que ainda é bastante tímido no
cenário brasileiro.
De acordo com Durand (2001, p.71), uma visão de interdepen-
dência entre os setores culturais pode contribuir para a superação
dos gargalos neles presentes, “[...] uma visão mais orgânica que
entenda gestão cultural como algo mais do que simplesmente

152
promover eventos e restaurar sítios históricos [...]”. Durand
defende que se invista não só na oferta cultural, mas também na
procura, por meio do investimento em educação.

A epígrafe escolhida por ela, para abrir seu trabalho, é de Imma-


nuel Kant (1724-1804) e diz muito sobre o pensamento da Ana Paula:

É no problema da educação que assenta o grande segredo do


aperfeiçoamento da humanidade.

No QR abaixo, o leitor encontrará o trabalho de Ana Paula


na íntegra2:

2 Também disponível no link: https://drive.google.com/file/d/1_vECg4zp8yKR_v5AJrwWfbVKHSA6glaz/


view?usp=sharing

153
Antes do mestrado:
Irlanda – Portugal – Irlanda
Ana Paula foi morar em Dublin, na Irlanda, em março de 2017.
A partir de então, fez cursos e passou por algumas experiências profis-
sionais. Em 2019, aceitou uma proposta de trabalho, como tradutora,
em Portugal, onde permaneceu de abril a dezembro. Nesses meses,
temporariamente afastada da Irlanda, encontrou pessoas que a aco-
lheram muito bem e a ajudaram nas providências necessárias para
morar lá. Tenho muita gratidão por isso.
Ela apreciava seu trabalho em Lisboa, mas desejava voltar à
Irlanda, refletindo sobre os trabalhos que teve em Dublin, onde obser-
vava as atitudes e organizações das empresas, pensava em sugestões ou
soluções que ela teria para cada situação, o que ela sempre comentava
comigo, pois éramos muito próximas em todos os assuntos. A Irlanda
lhe propiciara a oportunidade de se deparar com desafios profissionais
diante dos quais ela percebeu ter condições de tentar resolver.
Este espírito de liderança que ela possuía fez com que decidisse
voltar e fazer um mestrado na área de Management (Gerenciamento),
já pensando em futuramente criar um negócio próprio com sua iden-
tidade, o qual deveria estar direcionado a uma melhoria do meio
ambiente. Sustentabilidade era palavra-chave em sua vida.
Com determinação, deixou Portugal em 24 de dezembro de 2019,
passando por Coruña, Espanha, na casa dos pais de seu namorado,
Martín, retornando a Dublin, no dia 2 de janeiro de 2020.

154
Produção acadêmica
de Ana Paula
3

National College of Ireland, MSc in Management

Mestrado, Irlanda, 2020-2021


Em janeiro de 2020, começou seu mestrado na National College
of Ireland, estudando MSc in Management, o qual teria em torno de
um ano e meio, incluindo a dissertação. O curso ofereceria o desenvol-
vimento de habilidades gerenciais eficientes, que incluiriam resolução
analítica de problemas, tomada de decisão, comunicação e liderança
eficaz; ofereceria também uma série de módulos eletivos para que os
alunos explorassem outras áreas de interesse ou se aprimorassem em
uma área específica.
No primeiro semestre ela concluiu as seguintes disciplinas:

1. International Business (Negócios internacionais),


com um trabalho de avaliação muito interessante, cuja intro-
dução e conclusão registro aqui, e intitulado: Estratégia de
nível corporativo internacional da ZARA ao longo do tempo.

Introdução: No mundo globalizado de hoje, as organizações


mais bem-sucedidas se expandem internacionalmente, o que é pos-
sível devido às baixas barreiras de mobilidade. Elas oferecem produ-
tos padronizados que são funcionais e de baixo preço para mercados
espalhados pelo mundo. Além disso, buscam oportunidades para
obter vantagens de custo, fabricando produtos no exterior a custos
mais baixos, graças às diferenças nacionais (Levitt, 1983). Ao procurar
oportunidades no exterior, um dos principais fatores considerados é a
distância psicológica. Geralmente iniciam sua expansão internacional
em países com cultura, tamanho populacional e visões políticas seme-
lhantes. Em seguida, elas se movem para mercados mais distantes,
que apresentam riscos, mas com maiores recompensas financeiras.
Outro fator importante é o tamanho do mercado, que atrai e estimula
as empresas a negociar com determinados países devido ao tamanho

155
de sua população (Morgan e Katsikeas, 1997). A Zara é uma das líderes
mundiais na indústria de fast fashion, com um modelo de negócios
constantemente estudado por pesquisadores de negócios, devido ao
seu modelo de distribuição bem-sucedido e cadeia de suprimentos
eficiente (Caro, 2011).
Em sua conclusão, Ana Paula cita que as corporações devem
acompanhar as tendências atuais do mercado, oferecendo produtos
personalizados e padronizados para atender às preferências dos clientes
e atingir determinados segmentos de mercado. À medida que a globa-
lização evolui, para se manterem bem na concorrência, as empresas
devem competir com precisão local em nível global. No futuro, a Zara
provavelmente continuará expandindo seus horizontes, principalmente
com lojas online. Eventos recentes comprovaram a importância de ter
uma forte presença online para manter a lucratividade e atender às
necessidades dos clientes, mesmo em tempos de crise.
Além disso, a Inditex (empresa que possui a Zara e outras marcas)
estabeleceu metas ambiciosas de sustentabilidade a serem cumpri-
das até 2025, como ter 80% da energia utilizada em suas instalações
proveniente de fontes renováveis ​​e o uso de tecidos e materiais 100%
sustentáveis ​​ou reciclados (Inditex, 2019).

2. Entrepreneurship (Empreendedorismo), com um tra-


balho que abordou o seguinte tema: Empreendedorismo e
Inovação no Ambiente Corporativo.

Esse ensaio explora a questão da inovação dentro de uma empresa,


as oportunidades, os desafios enfrentados pelos líderes ao tentar cons-
truir uma estratégia de inovação e a influência do ambiente corporativo,
bem como destaca algumas recomendações.

3. Financial Management (Gestão financeira). Este


módulo oferece as técnicas e conhecimentos necessários para
selecionar, analisar e utilizar conceitos financeiros avançados,
no contexto da gestão de investimentos.

4. Strategy for Decision Making (Estratégia para


Tomada de Decisão), com o trabalho intitulado: Perfil da
Empresa Netflix.

O objetivo foi analisar a operadora americana de mídia over-the-


-top (OTT) Netflix no contexto da indústria em que atua. Além disso,

156
explorar as tendências, oportunidades e ameaças do setor e examinar
como esses fatores macroambientais impactam nas estratégias de negó-
cios e no desempenho desta empresa no mercado global.

No segundo semestre, ela precisou suspender três disciplinas, por


causa de sua enfermidade, mas mesmo assim conseguiu concluir duas:

1. Strategic Project Management (Gestão Estratégica


de Projetos), em que Ana Paula participou do projeto em grupo:
Desenvolvimento de Embalagem Ecologicamente Correta para Linha
Exclusiva de Higiene Pessoal e Beleza da Superdrug3.
Ana Paula costumava comentar comigo suas atitudes nos traba-
lhos em grupo, com liderança reconhecida ao contribuir nas reuniões.

2. Economics for Management (Economia para Gestão).


Os principais objetivos deste módulo são oferecer um conhecimento
pormenorizado dos conceitos, teorias e métodos analíticos subjacen-
tes à macro e à microeconomia, e uma crítica compreensão da análise
econômica e suas aplicações para indivíduos, empresas e ambiente
econômico internacional dentro do qual as empresas operam.

Ela só poderia fazer as disciplinas suspensas no segundo semes-


tre de 2021, por isso continuava estudando online o que era de seu
interesse, o idioma italiano e prosseguia delineando seus planos para
sua dissertação e futuro negócio, após concluir o mestrado. Possuía
esquematizado seu tema para dissertação, todos os capítulos necessá-
rios e também as referências bibliográficas, que já vinha lendo sempre
que podia.
Como ela vivia à frente de seu tempo, já pensava no que poderia
fazer futuramente.
Transcrevo aqui sua IDEIA DE NEGÓCIO, como minha filha dei-
xou, em inglês, agora traduzida por mim:

Linha cosmética de produtos produzidos de forma ética, susten-


tável e acessível. Isso inclui embalagens sustentáveis, livres de
crueldade (testes em animais), veganas e de origem sustentável.
Para ser inicialmente vendido em varejistas em toda a Irlanda e
em um site online.
3 Superdrug é a segunda maior varejista de beleza e saúde no Reino Unido, com mais de 830 lojas de varejo
e 200 farmácias internas, incluindo lojas na Irlanda (Superdrug Careers, 2020). Vende uma combinação de
produtos de marcas globais e sua própria linha exclusiva, tanto online como em lojas físicas.

157
O que tornará minha marca diferente de outras marcas? Os produ-
tos seguem padrões éticos, mas são acessíveis às massas devido
ao seu preço.
Como criar fórmulas?
Onde obter e produzir?
Como produzir com ética e manter os preços baixos?
IDEIAS: Embalagens de recarga, dispensadores a granel, versões
veganas de perfumes conhecidos, formulações simples.
MECANISMO DE BUSCA: Encontre produtos éticos em diver-
sas categorias, filtrando por localização e preço.

No segundo semestre, recomeçou as disciplinas faltantes e che-


gou a fazer o trabalho de Marketing Management (Gestão de
Marketing), entregue em 10/10/2021 (momento em que ela já estava
internada em hospital): O uso de influenciadores da Internet .
Atualmente, do ponto de vista do marketing, é uma ferramenta
poderosa para as empresas se conectarem com clientes.

Triste interrupção

Ana Paula, infelizmente não conseguiu concluir o seu mestrado.


Apesar de sua luta intensa para aqui permanecer e continuar seus
projetos de vida, não foi possível... No dia 23/12/2021, ela partiu.
Algum tempo após sua partida, recebi algumas mensagens de pes-
soas que não sabiam do ocorrido. Essas mensagens me deixaram feliz,
por saber que ela deixou boas lembranças nas pessoas que passaram
por sua vida em outro país.
Registro aqui uma em especial, de um de seus colegas do mestrado,
que fazia parte de seu grupo de trabalho:

Nunca vou esquecer o dia em que a Ana veio para a aula, perto
do dia de Saint Patrick4, ela estava vestida com um traje muito
irlandês e com um fantástico cabelo ruivo, parecia uma garota
irlandesa ou em nossa língua irlandesa “cailín”. Ela realmente
contribuiu para o crescimento dos alunos.

Como eu disse antes, espero que os conhecimentos e as experiên-


cias adquiridos por Ana Paula possam lhe ser úteis em outra dimensão.

4 Saint Patrick (São Patrício) é o padroeiro da Irlanda, comemorado em 17 de março, dia da morte do Santo,
feriado muito festivo no país.

158
PARTE V
Maturidade emocional
Ana Paula ao encontro de seu lugar

para viver e amar: Irlanda

Ana Paula e Martín, em Dublin. (2020)


O encontro de seu lugar
Ana Paula, após sua graduação na universidade, achou que deveria
preparar-se mais para o mercado de trabalho, pois sabia das dificulda-
des que encontraria em seu propósito, a área cultural.
Como era muito organizada, encadernou todos os seus textos da
universidade; afinal, ela tinha ciência da importância do conhecimento
adquirido e que um dia poderia ser-lhe útil. Dedicou-se muito aos
estudos em sua pós-graduação, obtendo ótimos resultados.
Enquanto isso, preparava-se também nas artes, estudando canto,
teatro e participando das apresentações com o Coral Minaz. Ela ado-
rava o meio artístico que vivenciava, sentia-se totalmente integrada,
fez muitos amigos e estava feliz, mas compreendia a instabilidade e a
dificuldade da carreira artística como profissão.
Como tinha o desejo de morar fora do Brasil, planejou, então, com
muito critério, sua ida à Irlanda. Guardou seu próprio dinheiro, não
quis fazer viagem dispendiosa nas suas férias, para ter as condições
necessárias ao seu propósito.
Organizou tudo, inclusive planejou sua ida a Londres em abril,
antes de se mudar, para assistir a uma peça teatral, estrelada pelo
ator de Harry Potter, pois desejava ver sua atuação em algo diferente
da série dos bruxinhos.
Ela sempre foi um pouco mística, gostava de histórias de bruxas,
fadas, magia…e fazia suas meditações.
Em sua pré-adolescência (10 aos 13 anos), colecionava as revis-
tas WITCH, publicada originalmente na Itália e distribuída, à época,
em muitos outros países. Tratava-se da história de cinco adolescentes
escolhidas para proteger o universo, evitando danos causados a ele,
entre muitos assuntos interessantes para essa faixa etária.
Apesar das dificuldades de morar em Dublin, pois quando ela foi
para lá ainda não havia obtido sua cidadania italiana e a vida de imi-
grante não era fácil no país, ela gostava de estar lá e de certa forma dizia
se identificar com a cultura do país, suas origens celtas, seu folclore de
fadas, duendes e magos.
Ela costumava dizer que, na vida, as pessoas são direcionadas para
onde devem ir e que, assim, havia acontecido com ela.
E foi na Irlanda que Ana Paula encontrou seu “amor de alma”,
Martín, uma pessoa muito especial, que a apoiou de todas as formas e

161
foram felizes juntos. Tenho gravada em minha memória a sua expres-
são de felicidade ao abraçá-lo:

Dublin. (2020)

Todo o tempo em que ela esteve em tratamento de saúde, está-


vamos em sua companhia, em Dublin. Ela gostava de fazer festinhas
em certas datas comemorativas. Foi maravilhoso estarmos juntos. Em
alguns momentos, ela cantava e, radiante, gargalhava de forma tão
contagiante e encantadora.
Ela cuidava de sua casa para que fosse muito organizada, com seu
toque especial.
Possuía vasinhos de plantas e ficava feliz quando brotava
uma florzinha.
Adorava cozinhar, principalmente pratos diferentes e sobremesas,
algo que ela aprendeu sozinha, pois não lhe foi ensinado.
Enfim, assumiu todos os cuidados necessários para tornar a casa, um
lar. Assim era seu lar: o reflexo de uma dedicação admirável e comovente!
No último Natal e Réveillon que passamos juntos, toda a ceia
foi idealizada e confeccionada por ela, mesmo estando em trata-
mento de saúde.
Posso afirmar que foram meu Natal e Ano Novo mais feli-
zes! (Dirlene)

162
Pensamentos viajantes
Aos 23 anos (2015)

Londres. (2013)

One day you look back and realize that all those things that
once made you cry now can only make you laugh.
(Um dia você olha para trás e percebe que todas aquelas coisas
que antes faziam você chorar agora só podem fazer você rir.)

There is something really magical about being in contact with


nature, it helps you connect with your inner self, on a deep level. We’re
so blessed to be alive in this beautiful earth and we should never take
this possibility to experience so many wonderful things for granted.
(Há algo realmente mágico em estar em contato com a natu-
reza, ela ajuda você a se conectar com seu eu interior, em um nível
profundo. Somos tão abençoados por estarmos vivos nesta bela terra
e nunca devemos considerar esta possibilidade de experimentar tantas
coisas maravilhosas como garantidas.)

Be yourself, no matter where you are. Be proud of your story, of


everything you’ve accomplished, even if it feels like you’re far from
becoming who you want to be. You are amazing just the way you are.
(Seja você mesmo, não importa onde você esteja. Tenha orgulho
da sua história, de tudo que você realizou, mesmo que pareça que você
está longe de se tornar quem quer ser. Você é incrível do jeito que é.)

163
A experiência ímpar
de ser mãe
Ser mãe é uma missão complexa e a mais grandiosa que uma
mulher pode vivenciar. É o que faz com que a mulher se sinta plena e
absoluta. Trazer através de seu ser um outro ser, por mais que exista
uma individualidade como pessoa, em muitos momentos a mãe se
sente condensada a seu filho.
Quando ele sofre por algum motivo, seu coração aperta em seu
peito e quando ele está feliz a mãe se regozija.
A responsabilidade da mãe é enorme, ela deve guiar seu filho
até que ele possa seguir seu caminho com segurança, pois ele vem de
seu interior para o mundo, e é com todo o seu amor que a mãe com-
preende isso.
O coração de uma mãe precisa ser imenso… tantas são as lembran-
ças que temos e é no coração que devemos guardá-las.
Com tanto amor, lembro-me de passagens da Ana Paula bebê, a
primeira delas é como sentia prazer ao amamentá-la, o elo profundo
de amor que me ligava à minha filha.
Como era bom cuidar dela e enfeitá-la, seus primeiros gestos engra-
çadinhos, os primeiros passos que deu sozinha, as primeiras palavras.
Em criança, adorava dormir com a mamãe, ah que aconchego…
“Posso dormir mamãe?” Era dessa forma que me perguntava se podia
dormir comigo.
Perto de seus 3 anos, após seu banho, enquanto a vestia, deixava a
televisão ligada no Castelo Rá Tim Bum; ela olhava e prestava atenção,
adorava o Nino e cresceu assistindo ao programa, teve um boneco dele
e, quando adulta, foi à exposição do Castelo em São Paulo. Sempre
gostou de ir às casas-museu de autores que lia e visitou muitas em
suas viagens.
Posso visualizar, ainda hoje, como lavava sua mãozinha, pequenina,
quase não alcançava a pia, mas caprichava, como eu lhe havia ensinado.

164
Ana Paula, com dois anos e oito meses. (1994)

Lembro perfeitamente o primeiro banho que tomou sozinha, sem


que eu estivesse perto, foi quando mudamos do apartamento para nossa
casa, cada uma em seu banheiro, ainda não tinha 5 anos.
Sempre gostou de comemorar seu aniversário com festas. Quando
fez 11 anos, fizemos uma festinha surpresa, no rancho de minha prima,
aonde íamos muito. Seu semblante feliz foi inesquecível.

165
E a outra surpresa foi quando fez 17 anos, aqui em casa, planejada
por mim, com a ajuda de uma amiga dela. Jamais vou esquecer seu
sorriso naquele dia, o sorriso mais lindo que já vi.
Apreciava reunir os amigos aqui em casa nas férias, e nós também
gostávamos, era um dia alegre, principalmente por ela estar contente.
Ana Paula adorava as baladas da época, desejava fazer logo seus
18 anos para poder ir a esses eventos.
Gostava também de festivais, foi a vários, para assistir às suas
bandas prediletas.
Sempre gostou de dançar nas festas, nas aulas de zumba ou nos
treinos de academia que fazia. E por falar nisso, também me lembro
de quando íamos juntas à academia, era tão bom, ela dizia que ainda
voltaríamos a ir juntas, pensando que, um dia, eu fosse morar na
Europa, perto dela.
Ser mãe é um presente e uma experiência sublime, e tão difícil de
expressar em palavras.

166
Em nosso apartamento, fevereiro de 1995, Ana Paula antes de completar 3 anos.

167
Ana Paula: nossa flor,
nosso amor,
nossa criança eterna,
em momentos especiais,
tão terna!
Performances
Nos QR Codes abaixo, o leitor poderá visualizar Ana Paula fazendo
uma das coisas que amava, cantar:

On My Own (Musical Os Miseráveis), 2016

Inalcanzable (Banda RBD), 2020

171
Dans Ma Rue (Edith Piaf), 2016

Je Veux (Zaz), 2014

172
The Hills Are Alive (Musical The Sound Of Music)
A Noviça Rebelde, 2016

I Could Have Danced All Night (Musical My Fair


Lady) em Waltons New School of Music, Dublin,
2017

173
SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 11,5 | 12 | 16 | 18
Gelasio 10 | 12
Spirax 30
Papel: Couché 115 g (miolo)
Royal | Supremo 250 g (capa)

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