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Centro de Documentação e Pesquisa

Helena Antipoff - CDPHA

BOLETIM DO CDPHA
Número 30

Belo Horizonte - MG
Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, 2021
nº 30, 2021 1
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HELENA ANTIPOFF

BOLETIM DO CDPHA

Número 30

Apoio

Belo Horizonte, MG
2021

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 2


Ficha catalográfica:
Boletim do CDPHA / Centro de Documentação e Pesquisa
Helena Antipoff – N. 30 (2020).
Belo Horizonte: CDPHA, 1981-

Anual
ISSN 1806-1931

1. Educação – Periódicos. 2. Psicologia – Periódicos


Pesquisas. I. Centro de Documentação e Pesquisa Helena
Antipoff.

CDD 370

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CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HELENA ANTIPOFF
CDPHA

Diretoria 2020-2022

PRESIDENTE DE HONRA
Elza de Moura

PRESIDENTE
Regina Helena de Freitas Campos

VICE-PRESIDENTES
Vicente Tarley Ferreira Alves
(Fundação Helena Antipoff)
Maria do Carmo Coutinho de Moraes
(Associação Pestalozzi de Minas Gerais)
Sílvia Maria Medeiros Magalhães
(ACORDA – Associação Comunitária do Rosário)
Filomena de Fátima Silva
(ADAV – Associação Milton Campos para o Desenvolvimento e
Assistência a Vocações de Bem Dotados)

DIRETORIA TÉCNICA
Adriana Araújo Pereira Borges
Adriana Otoni Silva Antunes Duarte
Deolinda Armani Turci
Lilian Sipoli Carneiro Cañete

DIRETORIA ADMINISTRATIVA
Christiane Campos de Araújo
Cleuza Glória de Fátima Amorim de Oliveira
Miriam Aparecida de Brito Nonato
Renata Silva Cruz

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DIRETORIA FINANCEIRA
Carlyle dos Passos Laia
Raquel Martins de Assis
Wanderson de Sousa Cleres

CONSELHO FISCAL
Titulares
Camila Jardim de Meira
Carolina Silva Bandeira de Melo
Maria de Fátima Pio Cassemiro

Suplentes
Elizabeth Coutinho de Moraes
Sérgio Domingues
Sergio Faleiro Farnese

CONSELHO CONSULTIVO
André Elias Morelli Ribeiro, Arthur Arruda Leal Ferreira, Bernard Schneuwly,
Clarice Moukachar Batista Loureiro, Deborah Rosária Barbosa, Dener Silva,
Marilene Proença Rebello de Souza, Marina Massimi, Marina Sorokina,
Mitsuko Aparecida Makino Antunes, Mônica Maria Farid Rahme, Natalia
Masolikova, Nydia Negromonte Franco, Paula Dantas de Oliveira Pelizer,
Rachel de Sousa Vianna, Rita Hofstetter, Sérgio Dias Cirino, Riviane
Borghesi Bravo, Silvia Parrat-Dayan, Tatiana Campos Vasconcelos

COORDENADORES REGIONAIS
Marilene Oliveira Almeida (FHA)
Erika Lourenço (UFMG)

Contato:
Sala Helena Antipoff
Biblioteca Central – Universidade Federal de Minas Gerais
Av. Antônio Carlos, 6627 – Campus Pampulha
31270-901 Belo Horizonte (MG)

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CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HELENA ANTIPOFF
CDPHA

BOLETIM DO CDPHA

COMISSÃO EDITORIAL
Deolinda Armani Turci
Erika Lourenço
Regina Helena de Freitas Campos

COMISSÃO ORGANIZADORA
Adriana Araújo Pereira Borges (UFMG, CDPHA)
Camila Jardim de Meira (UEMG-Ibirité, CDPHA)
Carlyle dos Passos Laia (Fundação Helena Antipoff, CDPHA)
Cleuza Glória de Fátima Amorim Oliveira (Museu Helena Antipoff, CDPHA)
Christiane Campos de Araújo (UEMG-Ibirité, CDPHA)
Deolinda Armani Turci (UEMG)
Érika Lourenço (UFMG, CDPHA)
Lilian Sípoli Carneiro Cañete (UEMG-Ibirité, CDPHA)
Marc Ratcliff (Presidente, Fondation Archives Jean Piaget,
professor FAPSE/UNIGE)
Marilene Oliveira Almeida (Escola Guignard-UEMG, CDPHA)
Maria de Fátima Pio Cassemiro (CDPHA)
Miriam Aparecida de Brito Nonato (Museu Helena Antipoff, CDPHA)
Raquel Martins de Assis (UFMG, CDPHA)
Gracia Maria Clérico (Universidad del Litoral, Santa Fé, Argentina)
Regina Helena de Freitas Campos (UFMG, Presidente CDPHA)
Ricardo Ribeiro Martins (UEMG)
Carolina Lobo Silva (ESSA-FHA)

COMISSÃO CIENTÍFICA
Erika Lourenço (UFMG - Coordenadora)
Deolinda Armani Turci (FAE-UEMG - Coordenadora)

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Raquel Martins de Assis (UFMG - Coordenadora)
Rodolfo Luís Leite Batista (Centro Universitário Presidente
Tancredo de Almeida Neves)
Adriana Araújo Pereira Borges (UFMG)
Marilene Oliveira Almeida (Escola Guignard-UEMG)
Regina Helena de Freitas Campos (UFMG)
Sérgio Faleiro Farnese (UFMG)

PROMOÇÃO
Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff (CDPHA)
Fundação Helena Antipoff
Programa de Pós-graduação em Educação – UFMG
Archives Jean Piaget – Université de Genève – Suíça
Sociedade Brasileira de História da Psicologia

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CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HELENA ANTIPOFF
CDPHA

BOLETIM DO CDPHA Número 30 Ano 2020

Apresentação 9

Programação do 38º Encontro Anual Helena Antipoff eIII Congresso Brasileiro


de História da Psicologia
Atividades Síncronas 21
Atividades Assíncronas
Mesas-redondas 28
Roda de conversa 31
Exposições e Vídeos 32
Sessões Coordenadas 33

Resumos das conferências 39

Resumos das mesas-redondas 50

Resumos das sessões coordenadas 102

Assuntos do CDPHA:
Atas da Assembleia Geral do CDPHA 186
Arquivos UFMG de História da Psicologia no Brasil 198
The UFMG Archives of the History of Psychology in Brazil 215
Boletim do CDPHA – Instruções para os autores 231

Índice Remissivo 236

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APRESENTAÇÃO

Temos muita satisfação em anunciar a realização do XXXVIII Encontro


Anual Helena Antipoff, nos dias 29 a 31 de março de 2021, em formato
online, com atividades síncronas e assíncronas. O evento deveria ter sido
realizado em março de 2020, mas com a ocorrência da pandemia da Covid-
19, fomos forçados a suspender sua realização e, agora, retomamos a pro-
gramação estabelecida na época, com acréscimo de algumas atividades.

O evento é uma iniciativa já tradicional do Centro de Documentação e


Pesquisa Helena Antipoff (CDPHA) e conta com a parceria da Fundação He-
lena Antipoff, da Universidade Federal de Minas Gerais, da Unidade Ibirité da
Universidade do Estado de Minas Gerais (sediada na Fundação Helena Anti-
poff), dos Archives Jean Piaget da Universidade de Genebra e da Sociedade
Brasileira de História da Psicologia.

Esta edição do Encontro Antipoff acolhe também o Colóquio Internacio-


nal Jean Piaget no Brasil e América Latina, realizado em parceria com
os Archives Jean Piaget e a Faculté de Psychologie et des Sciences de l’Édu-
cation da Universidade de Genebra, na Suíça. A realização do Colóquio - que
contará com conferência do presidente dos Archives Piaget, professor Marc
Ratcliff, do professor Bernard Schneuwly e da pesquisadora Silvia Parrat-
Dayan, ex-alunos de Piaget e grandes conhecedores de sua obra - faz re-
ferência à memória do psicólogo suíço, passados 40 anos do seu falecimen-
to, ocorrido em 1980. Vários eventos, em diversas partes do mundo, estão
sendo realizados com essa mesma motivação, trazendo à luz trabalhos de
pesquisa sobre a presença do trabalho de Piaget como cientista, epistemólo-
go, psicólogo e educador, inspirando e promovendo o desenvolvimento da
Psicologia, da Epistemologia e das Ciências da Educação em diferentes con-
tinentes. Essa rede de pesquisadores reunidos em torno da obra de Piaget e

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de seus desdobramentos contemporâneos está sendo ativada a partir dos
Archives Piaget.

A proposta do Colóquio se baseia na conexão bem estabelecida entre


as obras de Jean Piaget e de Helena Antipoff, colegas de trabalho na Escola
de Ciências da Educação da Universidade de Genebra - o Instituto Jean-
Jacques Rousseau nos anos de 1927-1929. Os dois autores compartilharam
a liderança de Édouard Claparède nas áreas da Psicologia e das Ciências da
Educação, trabalharam juntos em pesquisas sobre o desenvolvimento cogniti-
vo e sócio-afetivo de crianças e adolescentes e contribuíram fortemente para
o desenvolvimento dessas áreas de estudo. No Brasil, Antipoff adotou os tra-
balhos de Piaget, entre outros, como referência relevante em aulas e pesqui-
sas.

O Colóquio recebe pesquisadores que abordam a obra de Piaget de


diferentes perspectivas, enriquecendo o debate sobre suas contribuições nas
áreas da Pedagogia, Educação para a Paz, Educação Internacional, Psicolo-
gia Educacional, Epistemologia e Psicossociologia, em um rico mosaico
transdisciplinar conforme o próprio autor desejava.

Tema do 38º Encontro Anual Helena Antipoff

Nossos estudos têm verificado e demonstrado as conexões e trocas


ocorridas entre a Psicologia e as Ciências da Educação genebrinas, russas
(e, após 1917, soviéticas), e a obra teórica e prática que Helena Antipoff
desenvolveu no Brasil desde 1929 até seu falecimento, em 1974. A trajetória
da educadora é uma história fascinante, por suas interligações e contri-
buições originais a importantes correntes do pensamento científico e filosófico
do século 20, de grande impacto na teoria educacional na atualidade, e por
mostrar possibilidades de aplicações práticas de conhecimentos gerados pe-
las Ciências da Educação na gestão de políticas e instituições de saúde e

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educação contemporâneas.1

Muitas vezes, ficamos nos perguntando por que, tendo acesso a toda
essa experiência educacional acumulada por Antipoff e seus/suas colabora-
dores/as no espaço ocupado pela antiga e famosa Fazenda do Rosário e em
outras instituições, os educadores brasileiros têm procurado em outros paí-
ses, prioritariamente, informações e orientações que consideram mais rele-
vantes. É claro que é muito importante buscar o diálogo internacional para
alimentar nossa curiosidade, potencializar nossa criatividade e a troca de ex-
periências consistentes, nesses tempos de globalização.

Não é por outro motivo que elegemos o tema “Circulação e interna-


cionalização de saberes e práticas científicas em Psicologia, Ciências
Humanas e Educação – questões históricas e contemporâneas” como
foco de nosso evento de 2020. Mas queremos deixar claro que o fazemos em
atitude atualmente denominada “decolonial”, querendo, com isso, promover o
intercâmbio de ideias e propostas geradas em diferentes contextos com gran-
de respeito mútuo entre as diferentes regiões do planeta e valorizando
adequadamente as diversas contribuições.

Neste sentido, são convidados para nosso evento colegas da Universi-


dade de Genebra, uma das principais instituições de origem e difusão das
Ciências da Educação no século 20; Universidade de Salamanca, na Espan-

1
Campos, Regina H.F. & Lourenço, Érika (2019) Helena Antipoff: Science as a Pass-
port for a Woman’s Career between Europe and Latin America. Transversal: Interna-
tional Journal for the Historiography of Science 6: 15-34. Disponível em: https://
www.historiographyofscience.org/index.php/transversal/article/view/123/200Acesso
13/08/2019>; Cassemiro, Maria de Fátima Pio, & Campos, Regina Helena de Freitas.
(2019). Formação de Professores para a Educação Especial - Propostas de Helena
Antipoff e seus Colaboradores na Fazenda do Rosário nos Anos de 1960. Revista
Brasileira de Educação Especial, 25(2), 337-354. Epub 13 de junho de 2019.https://
doi.org/10.1590/s1413-653825190002000010; BORGES, Adriana Araújo Pereira, &
CAMPOS, Regina Helena de Freitas. (2018). A Escolarização de Alunos com Deficiên-
cia em Minas Gerais: das Classes Especiais à Educação Inclusiva1. Revista Brasileira
de Educação Especial, 24(spe), 69-84. https://doi.org/10.1590/s1413-
65382418000400006.

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ha; Universidades de Santa Fé e de Córdoba, na Argentina; Finland Universi-
ty, na Finlândia, e Centro Solzhenitsyn, em Moscou. Contribuem também co-
legas brasileiros vindos da Universidade do Estado de Minas Gerais, Univer-
sidade do Vale do Itajaí, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Universidade de São Paulo, Universidade Esta-
dual Paulista – Assis, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Universi-
dade Católica Dom Bosco, Universidade Federal de São João del Rei, Uni-
versidade da Paz de Brasília, Universidade Federal de Viçosa, Universidade
Federal do Ceará e Universidade Federal Fluminense – Rio das Ostras, re-
presentando essa rica rede de colaboração que construímos e que muito nos
orgulha.

A obra de Antipoff evidencia que, em nosso país, foram promovidas


ações de grande valor no aperfeiçoamento da experiência educacional para
nossas crianças e jovens, que não podem ser esquecidas. Pelo contrário,
devem ser lembradas por suas características articuladas à nossa demanda
social e cultural e atenção ao contexto local. Sabemos atualmente que o con-
hecimento, para funcionar como conhecimento e gerar os frutos esperados
em termos de tecnologias, inclusive as tecnologias sociais promotoras de
melhor qualidade de vida, deve sempre ser apropriado e “indigenizado”, como
dizem os historiadores da ciência, no contexto mais próximo. 2 Pensar global-
mente e atuar localmente é o lema da governança e da reflexão contem-
porâneas. Helena Antipoff soube fazer isso com maestria, mobilizando a ba-
gagem pessoal e profissional obtida na Europa atravessada por guerras, re-
voluções, intensa atividade de produção de conhecimentos nas Ciências da

2
Branco & Cirino (2017) História da Psicologia em Contexto: teoria, conceitos e impli-
cações metodológicas Revista Sul Americana de Psicologia, 5(2): 172-194; Lourenço,
E.; Assis, R.M. & Campos, R.H.F. (Orgs.) (2012) História da Psicologia e Contexto
Sociocultural – Pesquisas contemporâneas, novas abordagens. Belo Horizonte: CDP-
HA Ed. PucMinas.

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Educação e militância pelos direitos humanos, trazendo e adaptando essa
experiência às condições brasileiras. Por esse motivo, sua obra ultrapassa
fronteiras e é reconhecida internacionalmente, como testemunha o documen-
tário “Entre-mundos – Vida e Obra de Helena Antipoff” - realizado por
Guilherme Reis e Ana Paula Arantes, com o apoio da Fundação Helena Anti-
poff e do CDPHA - que será exibido durante o evento.

Museu Helena Antipoff no Sistema Brasileiro de Museus

Neste momento, festejamos também a integração do Museu Helena


Antipoff, instalado na Fundação Helena Antipoff, ao Sistema Brasileiro de Mu-
seus. Essa iniciativa favorece o maior conhecimento da obra antipoffiana,
cuja consistência científica e grande alcance humano e social têm sido am-
plamente reconhecidos pelos estudiosos da educação contemporânea. No
Museu, estão preservados a coleção de objetos que pertenceram à educado-
ra, sua biblioteca pessoal e os arquivos preciosos que documentam suas
ações e reflexões que resultaram na proposição e implantação de ações dire-
cionadas a uma educação de qualidade e socialmente relevante. Em pers-
pectiva pluridisciplinar e colaborativa, Antipoff se voltou, desde sua chegada
ao Brasil, em 1929, para a educação de grupos excluídos, como os excepcio-
nais e as populações de baixa renda, com intensa participação na proposição
de políticas públicas nessas áreas. Suas ações se baseavam em atividades
de pesquisa consistente, promovendo a relação teoria e prática e o desenvol-
vimento do saber em ambientes democráticos e de respeito aos direitos hu-
manos. Nossos estudos sobre sua obra têm mostrado reiteradamente o
quanto as propostas de Helena Antipoff podem guiar ações educativas dese-
jáveis na atualidade, mostrando formas práticas de atingir os objetivos busca-
dos pelos educadores, com ênfase na liberdade, atividade e interesse dos
educandos, objetivando favorecer o trabalho em equipe e a autonomia por

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meio de atividades que buscam promover a criatividade e a capacidade críti-
ca.3 Pretende-se também integrar a esse projeto a ideia de constituição de
um Museu da Criança, sonho de Helena Antipoff, que, com isso, visava a di-
vulgar conhecimentos científicos sobre a infância que vinham sendo produ-
zidos em laboratórios de pesquisa educacional. Em continuidade aos trabal-
hos de Antipoff, temos atualmente um histórico importante de pesquisas so-
bre crianças e adolescentes no Brasil e em outros países que podem contri-
buir para o planejamento social e educativo das novas gerações.

Helena Antipoff no Museum of Russia Abroad

Em mais uma evidência desse reconhecimento, a obra antipoffiana


está agora representada no Museum of Russia Abroad - instituição inaugura-
da em 28 de maio de 2019, em Moscou, por iniciativa do governo russo, da
prefeitura de Moscou e da Alexander Solzhenitsyn House of Russia Abroad -,
organizado no intuito de lembrar a vida e a obra de emigrantes russos que
deixaram seu país por conflitos políticos ou étnicos, ou por razões pessoais e
familiares, e que construíram obras relevantes nos países que os acolheram. 4

A organização do Museum of Russia Abroad é fruto do trabalho dos


pesquisadores do Centro Solzhenitsyn, instituído, em 1995, como Library-
Foundation “Russia Abroad” e renomeado como House of Russia Abroad em
2005, ao qual foi atribuído o nome de Alexander Soljzhenitsyn (dissidente
soviético, Prêmio Nobel de Literatura em 1970) em 2008. Desde sua fun-
dação, o Centro tem sido responsável por reunir informações e documen-

3
Duarte, Adriana Otoni Silva Antunes, & Campos, Regina Helena de Freitas. (2020).
Escola ativa no Brasil na obra da psicóloga e educadora Helena Antipoff. Psicologia
Escolar e Educacional, 24, e200499. Epub March 02, 2020. https://
doi.org/10.1590/2175-35392020200499;
Almeida, Marilene Oliveira; Assis, R. M. . Liberdade e Expressão Artística nos Projetos
Educacionais de Helena Antipoff e Augusto Rodrigues (1940-1960). Revista Portugue-
sa de Educação Artística, v. 8, p. 31-49, 2018.
4
O endereço do Museu é: 109240, Moscow, NizhniiaRadishevskaiastreet, 2.

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tação e pela realização de pesquisas sobre a chamada diáspora russa. Esse
esforço resultou na coleta de relatos, textos, livros, imagens e objetos que
retratam aspectos das vidas pessoais e profissionais dos homenageados no
Museum of Russia Abroad, documentando aspectos importantes da presença
mundial da cultura e da intelectualidade russas em países estrangeiros du-
rante o século 20.

Localizado anexo ao Centro Alexander Soljzhenitsyn, em um prédio de


quatro andares construído especialmente para abrigá-lo, o Museu impressio-
na os visitantes pela beleza da exposição, pelo registro historiográfico compe-
tente e expressivo da vida dos exilados e migrantes russos no contexto das
transformações sociais e dos conflitos políticos que marcaram o século 20.
Exibe objetos de uso pessoal, vestimentas, malas, livros, correspondências,
máquinas de escrever, peças de mobília, medalhas, moedas e itens de co-
leções, lado a lado com fotografias, imagens de vídeo, músicas, livros e regis-
tros de vozes. Permite assim, com sensibilidade, que se vislumbrem as dife-
rentes faces da diáspora russa: a rotina e o estilo de vida dos migrantes, as
dificuldades enfrentadas, a nova vida que construíram em terras mais ou me-
nos distantes, o impacto cultural de seu trabalho em outros países, a saudade
de casa que a memória manteve viva nas gerações seguintes.

Figura 1: Prédio do Museum of Russia Abroad, Moscou, Rússia, 2019

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Especialmente interessante para nós é a vitrine dedicada à Helena An-
tipoff, que é lembrada em uma exposição de objetos pessoais (sapatos, luvas
e peças de artesanato mineiro que colecionou), de um retrato ao lado das
imagens dos demais personagens ali representados, de livros e fotografias
que ilustram sua trajetória, bem como as biografias de seu marido, o escritor
e jornalista Victor Iretsky (1882-1936), e de seu filho, o também psicólogo
Daniel Antipoff (1919-2005). Os objetos e documentos em exposição foram
cedidos pela Fundação Helena Antipoff, pelo Centro de Documentação e
Pesquisa Helena Antipoff e pela familia Antipoff, com a autorização do Con-
selho do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da cidade de Ibirité, em Mi-
nas Gerais, onde Helena Antipoff viveu e dirigiu o Complexo Educacional da
Fazenda do Rosário entre os anos de 1940 e 1970. A historiadora Marina
Sorokina, do Centro Solzhenitsyn, visitou o acervo Antipoff por duas vezes,
em 2012 e 2017, e se responsabilizou pela exposição junto com a psicóloga
Natalia Masolikova, estudiosa da história da psicologia na Rússia e na União
Soviética e da trajetória de Antipoff naquele país, anterior à sua vinda para o
Brasil.5

5
Masolikova, N. (2014) Helena Antipoff’s Russian Years. In: Sorokina, M. &
Masolikova, N. (2014) The global educational space and academic migrants – The
legacy of Russian-Brazilian psychologist Helena Antipoff (1892-1974) in science,
education and human rights (Latin America, Europe and Russia). Proceedings of the
International Colloquium. Moscow: Alexander Solzhenitcyn’s House of Russia Abroad,
p. 25-45. Cf. também: http://www.russiangrave.ru/person?prs_id=75.

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Figura 2: Vitrine sobre a
vida e a obra de Helena
Antipoff, Museum of Russia
Abroad, Moscou, Rússia,
2019.

Helena Antipoff e a Educação Especial no Brasil

Lembrando a obra pioneira de Helena Antipoff na área da Educação


Especial no Brasil, o evento acolhe também o lançamento do livro 3 Fases da
Educação Especial em Minas Gerais: Um resgate iconográfico (Org.
Adriana Araújo Pereira Borges, Regina Helena F. Campos e Paulo Vitor Ro-
drigues da Silva, Belo Horizonte, CDPHA, LAPPEEI/Faculdade de Educação
da UFMG), fruto do projeto “Psicologia e educação inclusiva: da escola sob
medida de Claparède à educação para todos e para cada um”, financiado
pela Fapemig e coordenado por nossa colega Adriana Borges, membro da
Diretoria do CDPHA e professora de Políticas Públicas de Educação Especial

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e Inclusão na FAE/UFMG. Vincula-se também ao projeto financiado pelo
CNPq, Portal Pioneiros da Educação Especial no Brasil: instituições, persona-
gens e práticas, que reúne pesquisadores de outras universidades bra-
sileiras. O projeto focaliza personagens importantes na construção da área da
Educação Especial no Brasil: Helena Antipoff, em Minas Gerais; Ulisses Per-
nambucano, em Pernambuco; Ana Maria Poppovic, em São Paulo; Olívia Pe-
reira, no Rio de Janeiro, para citar alguns. Considera também vários outros
educadores, atuando em outros estados da federação. O objetivo do projeto é
mapear pessoas, iniciativas, instituições e práticas da educação especial es-
tabelecidas em diferentes regiões do Brasil. A retomada dessa história, neste
momento específico, em que o Ministério da Educação propõe mudanças na
“Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, de
2008, é ainda mais pertinente. Compreender o papel dessas pessoas em ca-
da época e em cada local é resgatar a influência desses atores na consti-
tuição das políticas públicas, o que contribui para a compreensão do proces-
so de estabelecimento da Educação Especial e Inclusiva no Brasil. Para além
das determinações internacionais, é necessário interpretar como esses agen-
tes constituíram práticas e se organizaram em torno da questão da deficiên-
cia. Também nesse caso, faz-se necessário ultrapassar a visão estreita de
que o desenvolvimento da ciência no Brasil emana de regiões econômicas
mais avançadas, focalizando e retomando experiências locais, suas singulari-
dades e suas inovações. Reunindo pesquisadores de diferentes regiões, a
pesquisa pretende, em um segundo momento, construir um portal, com o ma-
terial coletado, que possa se constituir como acervo para o desenvolvimento
de outras pesquisas. A socialização do banco de dados, que será constituído
com documentos oficiais, cartas, fotos, vídeos, tabelas estatísticas, jornais,
revistas, relatórios, entre outros, será uma referência para os pesquisadores
do campo da Educação Especial. O projeto pretende ainda reunir pesquisas
já em execução dentro de diferentes grupos de pesquisa, criando uma rede

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de pesquisadores interessados na história da Educação Especial e Inclusiva.
Futuramente, a constituição dessa rede permitirá a mobilidade estudantil de
alunos da pós-graduação, aumentando a interlocução e a parceria entre os
envolvidos.

Assim, consideramos que a realização dos dois eventos – o XXXVIII


Encontro Anual Helena Antipoff associado ao Colóquio Internacional
Jean Piaget no Brasil e América Latina – certamente contribuirá para es-
treitar os laços de colaboração acadêmica e científica entre pesquisadores da
história e da situação contemporânea das áreas da Psicologia Educacional,
Educação Especial, Inclusão e Ciências da Educação na tradição pluridiscipli-
nar e colaborativa inaugurada por Jean Piaget, Helena Antipoff e outros pes-
quisadores ligados à perspectiva construtivista.

Belo Horizonte e Ibirité, março de 2021.

Diretoria do Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff

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Programação

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Programação | Atividades Síncronas

29/03/2021 Segunda-feira
08:00 às 09:30 Mesa de Abertura
Raquel Martins de Assis (Presidente da Comissão Organiza-
dora)
Regina Helena de Freitas Campos (Presidente do CDPHA)
Julia Figueiredo Goytacaz Sant'Anna (Secretária de Estado da
Educação, MG)
Vicente Tarley Ferreira Alves (Presidente da Fund. Helena
Antipoff)
Dayse Moreira Cunha (Diretora da Faculdade de Educação,
UFMG)
Christiane Campos de Araújo (Coordenadora de Extensão
UEMG-Ibirité)
Rodrigo Lopes Miranda (Presidente da Sociedade Brasileira
de História da Psicologia)
09:30 às 10:30 Intervalo
10:30 às 12:00 Conferência | A Formação e a Atuação de Helena Antipoff
em Intersecção com Noções e Conceitos da Internaciona-
lização Curricular

Conferencista: José Marcelo Freitas de Luna (Univali, Brasil /


Universidade de Coimbra, Portugal)

Coordenação: Raquel Martins de Assis (UFMG, Brasil)


Debatedor: Gracia Maria Clerico (Universidad del Litoral,
Argentina)
12:00 às 13:00 Intervalo
13:00 às 14:30 Conferência | Jean Piaget, diplomata do internacionalismo
educativo

Conferencista: Rita Hofstetter e Bernard Schneuwly


(Université de Genève, Suiça)

Coordenação: Regina Helena Freitas Campos (UFMG, Brasil)


Debatedor: Milton Campos (UFRJ, Brasil)

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Programação | Atividades Síncronas

29/03/2021 Segunda-feira
14:30 às 15:30 Intervalo

15:30 às 17:00 Conferência | Piaget e a educação: um olhar a partir da


contemporaneidade

Conferencista: Marilene Proença (USP / Academia Paulista de


Psicologia, Brasil)

Coordenação: Déborah Rosária Barbosa (UFMG, Brasil)


Debatedor: Renata Cruz (UFMG, Brasil)
17:00 às 18:00 Intervalo

18:00 às 20:00 Mesa-Redonda | Internacionalização e interculturalidade –


conexões com a obra de Jean Piaget
Coordenação: Ricardo Ribeiro Martins (UFMG, Brasil)
Debatedor: Raquel Martins de Assis (UFMG, Brasil)
Educação para a paz e ecologia integral: inspiração em Piaget
no legado de Pierre Weil
Maurício Andrés (Agência Nacional de Águas, Unipaz, Brasil)
Intercâmbio escolar e internacionalização de saberes
Juan Medici (Diretor Executivo AFS do Brasil, Argentina e
Uruguai)
Competencias interculturales en la internacionalización curri-
cular: aporte para la integridade de la formación universitaria
Gracia Maria Clerico (Universidad del Litoral, Argentina)
Circulação e internacionalização de estudantes e instituições
de ensino
Juan Francisco Álvarez (Representante em Minas Gerais da
Universidade de Salamanca, Espanha)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 22


Programação | Atividades Síncronas

30/03/2021 Terça-feira
08:00 às 09:30 Conferência | How does an author be turned into a
classic? A method to analyse the reception through the
case of Piaget in France
Conferêncista: Marc Ratcliff (Université de Genève / Archives
Jean Piaget, Suíça)
Coordenação: Sérgio Cirino (UFMG, Brasil)
Debatedor: André Morelli (UFF, Brasil)
09:00 às 10:00 Intervalo
10:00 às 12:30 Mesa-Redonda | O Museu da Criança – Perspectivas para
o futuro a partir de um sonho de Helena Antipoff
Coordenação: Regina Helena Campos (Centro de Documen-
tação e Pesquisa Helena Antipoff / UFMG, Brasil)
Pollyanna Lacerda Machado (SECULT | DIMUS | Sistema de
Museus de Minas Gerais, Brasil)
Angela Gutierrez (Instituto Cultural Flávio Gutierrez, Brasil)
Marina Sorokina (Museum Russia Abroad, Rússia)
Natalia Masolikova (Museum Russia Abroad, Rússia)
Miriam Nonato (Museu Helena Antipoff, Brasil)
Sérgio Faleiro Farnese (Centro de Documentação e Pesquisa
Helena Antipoff, Brasil)
Marilene Oliveira Almeida (UEMG / Fundação Helena Antipoff,
Brasil)
12:30 às 13:30 Intervalo
13:30 às 15:00 Conferência | Notas sobre a Atualidade de Piaget na
Educação

Conferencista: Lino de Macedo (USP, Brasil)

Coordenação: Mitsuko Antunes (PUC-SP, Brasil)


Debatedor: Pina Marsico (Universidade de Salerno, Itália, e
Universidade Federal da Bahia, Brasil)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 23


Programação | Atividades Síncronas

30/03/2021 Terça-feira
15:00 às 16:00 Intervalo
16:00 às 18:00 Mesa-Redonda | Recepção da obra de Jean Piaget no
Brasil e América Latina

Coordenação: Carolina Melo (UFV, Brasil)

Heranças cariocas – testemunhos da circulação diferencial de


discursos piagetianos no Instituto de Psicologia da UFRJ e no
ISOP (anos 1970-1980)
Arthur Arruda (UFRJ, Brasil)

A recepção das ideias de Piaget: assimilações e diálogos (im)


pertinentes no Brasil
Mário Sérgio Vasconcelos (UNESP-Assis, Brasil)

Leituras de Piaget censuradas na Argentina durante a ditadu-


ra militar
Patrícia Scherman (Universidad de Córdoba, Argentina)

Movimientos centrífugos y centrípetos en el Centro Internacio-


nal de Epistemología Genética: circulaciones suizo-argentinas
Ramiro Tau (Universidade de Genebra, Suiça)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 24


Programação | Atividades Síncronas

31/03/2021 Quarta-feira
08:00 às 09:30 Conferência | Por que Piaget me encantou?

Conferencista: Sílvia Parrat-Dayan (Archives Jean Piaget,


Université de Genève, Suíça)

Apresentação: Regina Helena de Freitas Campos (Centro


Documentação Pesquisa Helena Antipoff / UFMG, Brasil)

09:30 às 10:30 Intervalo


10:30 às 12:30 Mesa-Redonda | Questões teóricas sobre a obra de Piaget
Coordenação: Érika Lourenço (UFMG / Centro Documentação
Pesquisa Helena Antipoff, Brasil)
Caminhos futuros – por uma Psicossociologia integrando
Piaget e Habermas
Milton Campos (Estudos de Comunidades e Ecologia Social /
UFRJ, Brasil)
Das diferenças às estruturas: Piaget em busca de seu método
em 1920
André Morelli (UFF, Brasil)
Contribuição dos estudos do Instituto Jean Jacques Rousseau
para a psicologia escolar e educacional no Brasil
Deborah Rosária Barbosa (UFMG, Brasil)
Apropriações das ideias de Jean Piaget pela cultura impressa
de Minas Gerais/Brasil (1930-1940): o caso da Revista do
Ensino
Raquel Martins de Assis (UFMG, Brasil)

12:30 às 13:30 Intervalo

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 25


Programação | Atividades Síncronas

31/03/2021 Quarta-feira
13:30 às 15:30 Mesa-Redonda | Aspectos da recepção da obra de Jean
Piaget no Brasil e na América Latina
Coordenação: Maria de Fátima Pio Cassemiro (Centro de
Documentação e Pesquisa Helena Antipoff)
Debate Piaget-Wallon sobre a origem e desenvolvimento do
pensamento simbólico
Dener Silva (UFSJ, Brasil)
O método histórico-crítico de Jean Piaget aplicado a uma
pesquisa epistemológica sobre Carl Rogers
Paulo Coelho Castelo Branco (UFC, Brasil)
O self government e o trabalho em equipe – diálogos com
Piaget na pedagogia da Fazenda do Rosário
Adriana Otoni (UEMG, Brasil)
15:30 às 16:30 Intervalo
16:30 às 18:30 Reunião Encerramento Colóquio Piaget: Planejamento de
ações de intercâmbio e cooperação, publicações, etc.
Rodrigo Lopes Miranda (UCDB / Presidente SBHP, Brasil)
André Morelli (SBHP, UFF, Brasil)
Silvia Parrat-Dayan (Archives Piaget / Université de Genève,
Suíça)
Lino de Macedo (USP – USP, Brasil)
Arthur Arruda (UFRJ, Brasil)
Bernard Schneuwly (Université de Genève, Suíça)
Rita Hofstetter (Université de Genève, Suíça)
Regina Helena de Freitas Campos (Presidente CDPHA /
UFMG, Brasil)
Equipe do CDPHA (Belo Horizonte e Ibirité, Brasil)

18:30 às 19:30 Intervalo

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 26


Programação | Atividades Síncronas

31/03/2021 Quarta-feira
19:30 às 21:30 Mesa-Redonda | Internacionalização de saberes e
cooperação entre instituições – possiblidades atuais
Coordenação: Carlyle dos Passos Laia (Fundação Helena
Antipoff, Brasil)
As diretrizes da UEMG para internacionalização: atores e
objetivos
Maria Eduarda da Silva Rodrigues de Oliveira (UEMG, Brasil)
Internacionalização do currículo: desafios e perspectiva
Ligia Barros de Freitas (UEMG, Brasil)
Intercâmbios e internacionalização curricular
José Marcelo Luna (UNIVALI, Brasil)
Circulação e internacionalização de estudantes e instituições
de ensino
Juan Francisco Álvarez (Universidade Salamanca, Espanha)
Intercâmbio Virtual e compartilhamento de saberes na escola
Rosa Drumond (Virtual Exchange Maker, Brasil)
Intercâmbio escolar e internacionalização de saberes
Juan Medici, Diretor Executivo AFS do Brasil, Argentina e

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 27


Programação | Atividades Assíncronas

Mesas-Redondas
MESA-REDONDA | Circulação e internacionalização das ciências da
educação no século 20 a partir de documentos de acervos históricos
europeus e latinoamericanos

Coordenação: Marilene Oliveira Almeida (UEMG, Fundação Helena Antipoff,


Brasil)

O diálogo entre Helena Antipoff e Jean Piaget acerca do desenvolvimento do


juízo moral na criança
Regina Helena Campos e Sérgio Farnese (UFMG, Brasil)

A pedagogia antipoffiana entre a Europa e o Brasil: diálogos


Camila Jardim de Meira (UEMG/UFMG, Brasil)

Variações da Colaboração Pedagógica estabelecida entre o Bureau Internacio-


nal de Educação (BIE) e o Brasil
Clarice Moukachar Loureiro (Université de Genève, Suíça)

MESA-REDONDA | Quem são, onde estão e o que fazem os nossos ex-


alunos? Estudos sobre as trajetórias profissionais de egressos
universitários

Coordenador: Sérgio Dias Cirino (UFMG, Brasil)

Aspectos metodológicos de pesquisa com egressos


Simone Dutra Lucas (UFMG, Brasil); Tatiana Pereira Queiroz (UFMG, Brasil)

Acompanhamento de discentes pela escuta falar: reflexões de uma prática


Aidê Cristina Silva Teixeira Macedo (UFMG, Brasil); Cristina Duarte Viana
Soares (UFMG, Brasil)

Trajetórias profissionais de egressos de um programa de doutorado em psicolo-


gia
Laurent Franck Junior Charles (UFMG, Brasil)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 28


Programação | Atividades Assíncronas

Mesas-Redondas
MESA-REDONDA | Arquivos, histórias, mulheres e educação – desafios e
possibilidades
Coordenação: Marilene Oliveira Almeida (UEMG, Fundação Helena Antipoff,
Brasil)
Arquivos na história: mulheres, ciências e educação
Polyana Valente (FIOCRUZ, UEMG, Brasil)
Repositórios institucionais e acesso livre ao conhecimento: a experiência de
pesquisa no acervo Virgínia Schall
Christiane Campos de Araújo (UEMG, Brasil)
Conexões de arquivos Brasil-Suíça - a biografia de Artus-Perrelet
Marilene Oliveira Almeida (UEMG, Fundação Helena Antipoff, Brasil)

MESA-REDONDA | Pioneiros da educação especial no Brasil – persona-


gens, instituições e práticas

Coordenação: Adriana Borges (UFMG, Brasil)

Sarah Couto César e a institucionalização da Educação Especial no Brasil


Márcia Pletsch (UFRRJ, Brasil)

O Brasil e as origens da educação especial como campo de conhecimento


compartilhado
Mônica de Carvalho Magalhães Kassar (UFMS, Brasil)

Anísio Teixeira e Helena Antipoff: diálogos no campo da história da educação


especial no Brasil
Fernando Gouvea (UFRRJ, Brasil)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 29


Programação | Atividades Assíncronas

Mesas-Redondas
MESA-REDONDA | Pesquisas históricas no Museu Helena Antipoff -
experiências de ensino, pesquisa e extensão

Coordenação: Camila Jardim de Meira (UEMG/Unidade Ibirité / Doutoranda em


Educação – FaE UFMG)
Mediação: Camila Jardim de Meira (UEMG, Brasil)

Laboratório de Psicologia e Pesquisas Pedagógicas Édouard Claparède: uma


perspectiva histórica para o desenvolvimento de estudos educacionais no
município de Ibirité
Paula Dantas de Oliveira Pelizer (Graduanda em Pedagogia UEMG / Unidade
Ibirité e Graduanda em Psicologia Newton Paiva)

Granjinhas e a educação dos corpos das/dos normalistas Fazenda do Rosário -


Ibirité (1957-1967)
Andreia de Fátima Marques Mendes

Da “alavanca do desejo despertado” ao corpo social: contribuições de


Claparède e Rousseau para ciência da criança
Paula Lopes Aquino da Silva (Graduanda em Pedagogia UEMG – Unidade de
Ibirité)

Contribuições de J.F. Pestalozzi (1746 – 1827) para ciências da educação:


primeiras leituras
Cleide Aparecida Alves (Graduanda em Pedagogia UEMG / Unidade Ibirité)

Iniciação científica no Museu Helena Antipoff: explorando fontes documentais


Paula Dantas de Oliveira Pelizer (UFMG, Brasil)
Andreia de Fátima Marques Mendes (UEMG, Brasil)

Contribuições de E. Claparède (1873 – 1940), J.J. Rousseau (1712-1778) e J.F.


Pestalozzi (1746 – 1827) para Ciências da Educação: primeiras leituras e refle-
xões a partir de textos clássicos identificados no Museu Helena Antipoff
Paula Lopes Aquino da Silva (UEMG, Brasil)
Paula Dantas de Oliveira Pelizer (UFMG, Brasil)
Rayane Kênia Marques de Paula (UEMG, Brasil)
Cleide Aparecida Alves (UEMG, Brasil)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 30


Programação | Atividades Assíncronas

Roda de Conversa
Projeto Cidadãos Globais - Intercâmbios, interculturalidade e internaciona-
lização do currículo

Coordenação: Carlyle dos Passos Laia (Fundação Helena Antipoff, Brasil)

Intercambistas estrangeiros e brasileiros


Apresentação: Carolina Lobo Silva (ESSA-Fund. Helena Antipoff, Brasil)

Casos de sucesso na Fundação Helena Antipoff

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 31


Programação | Atividades Assíncronas

Exposições e Vídeos

Vídeo | Visita Virtual ao Museu Helena Antipoff (CDPHA/FHA)

Exposição Virtual | Encontros Anuais Helena Antipoff – memórias e


conexões

Organização: Fátima Pio Cassemiro (CDPHA, Brasil) e Marilene Oliveira


Almeida (FHA/UEMG/CDPHA, Brasil)
Documentário | “Entre mundos – Vida e Obra de Helena Antipoff”

Realização: Cineasta Guilherme Reis e Roteirista Ana Amélia Arantes, Brasil


Coordenação: Maria Alice Lopes Braga (FHA, Brasil)

Vídeo | Roda de conversa - Os bastidores do documentário Entre Mundos

Exposição | Exposição virtual sobre História da Psicologia Aplicada em


Minas Gerais – a experiência do SOSP (Serviço de Orientação e Seleção
Profissional)

Organização: Deolinda Armani Turci & Mário Gomes Ferreira (UEMG, Brasil)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 32


Programação | Atividades Assíncronas

Sessões Coordenadas

Sessão Coordenada 1 | Ciência aberta, Museus e acesso ao Conhecimento


Coordenador(a): Delba Teixeira Rodrigues Barros

English as medium of instructions (emi) como metodologia facilitadora de comu-


nicação e circulação de saberes
Delba Teixeira Rodrigues Barros ; Rosângela Escalda

Museu: um lugar também para aprender


Élida Cristina Nazelli Riquetti; Gabirelle de Aguilar Magnani; Giovana Melo Gui-
marães

As configurações museais contemporâneas do Amsterdam Museum e a relação


com o seu público
Leonardo Gonçalves Ferreira

Sessão Coordenada 2 | Circulação, Recepção e Contemporaneidade das


Obras de Jean Piaget no Brasil e na América Latina 1
Coordenador(a): Deolinda Armani Turci

O real e o virtual: a construção das estruturas lógicas elementares e infralógicas


de tempo
Daniela Borges da Silva Melo; Orly Zucatto Mantovani de Assis

Da escola de aperfeiçoamento de Minas Gerais ao curso de pedagogia da Uni-


versidade do Estado de Minas Gerais: circulação das obras de Jean Piaget na
formação de professores.
Deolinda Armani Turci

Aproximações teóricas entre Édouard Claparède e Jean Piaget: perspectivas e


entendimentos acerca de desenvolvimento mental durante o movimento peda-
gógico do século XIX
Paula Dantas de Oliveira Pelizer; Mônica Freitas Ferreira Novaes; Camila Jar-
dim de Meira; Regina Helena de Freitas Campos

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 33


Programação | Atividades Assíncronas

Sessões Coordenadas

Sessão Coordenada 3 | Circulação, Recepção e Contemporaneidade das


Obras de Jean Piaget no Brasil e na América Latina 2
Coordenador(a): Raquel Martins de Assis

As implicações do jogo na obra de Jean Piaget: dos indícios epistemológicos à


percepção dos expoentes da psicogênese
Kleber Tuxen Carneiro; Orly Zucatto Mantovani de Assis

Interfaces entre o "método de projeto" e as granjinhas escolares da Fazenda do


Rosário (1960) - conexões Brasil- Estados Unidos - Europa.
Pedro Henrique Oliveira Guimarães; Regina Helena Campos Freitas; Marilene
Oliveira Almeida
Sessão Coordenada 4 | Circulação e Internacionalização de Saberes:
conexões locais e globais 1

Coordenador(a): Sérgio Domingues

Psicologia patológica versus misticismo: uma história da circulação de saberes


entre a França e o Brasil na primeira metade do século XX.
Carolina Silva Bandeira de Melo

A importância da afetividade no processo de aprendizagem e na construção do


conhecimento.
Ana Lúcia Pinto de Camargo Meneghel; Édison Manoel da Silva; Orly Zucatto
Mantovani de Assis

Representação de Deus: estudo exploratório sob a perspectiva da psicologia


genética.
Carolina Souza Guilhermino; Dener Luiz da Silva

Recepção e Circulação de conceitos psicológicos: o controle e contracontrole


social, de Holland a Pereira de Sá.
Rodrigo Lopes Miranda; Roberta Garcia Alves; Lucas Ferraz Córdova

A recepção da análise do comportamento de B. F. Skinner no curso de Pedago-


gia da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (1968-1985).
Sérgio Domingues; Regina Helena de Freitas Campos

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 34


Programação | Atividades Assíncronas

Sessões Coordenadas

Sessão Coordenada 5 | Circulação e Internacionalização de Saberes:


conexões locais e globais 2

Coordenador(a): Marilene Oliveira Almeida

O debate internacional sobre o ensino do desenho - interseções entre "desenho


espontâneo" e o "método" Artus-Perrelet
Marilene Oliveira Almeida; Maria do Carmo de Freitas Veneroso; Regina Helena
de Freitas Campos

A conexão Suiça-Brasil - internacionalização de saberes sobre o ensino do de-


senho.
Marilene Oliveira Almeida; Maria do Carmo de Freitas Veneroso; Regina Helena
de Freitas Campos

Antipoff e a educação em Marx - aproximações e distanciamentos.


Sérgio Faleiro Farnese; Regina Helena de Freitas Campos

Diálogo entre a pedagogia socialista e a "pedagogia antipoffiana" na formação


integral do sujeito.
Wanderson de Sousa Cleres; Teodoro Adriano Costa Zanardi; Janete Amorim
Ribeiro
Sessão Coordenada 6 | História, Política e Práticas em Educação
Especial 1

Coordenador(a): Erika Lourenço

Instituto Pestalozzi: uma análise dos regimentos escolares.


Adriana Araújo Pereira Borges; Gabriella Lara Silva; Raissa Cristina Almeida
Coelho Brandão

Pioneiros da educação especial brasileira: a trajetória de Helena Antipoff no Rio


de Janeiro e os impactos para educação especial.
Getsemane de Freitas Batista; Leila Lopes de Ávila; Sheila Venância da Silva
Vieira

Na Baixada Fluminense/RJ, uma escola pioneira em inclusão escolar.


Leila Lopes de Ávila

Três fases da educação especial em Minas Gerais -um resgate iconográfico.


Paulo Vitor Rodrigues da Silva; Adriana Araújo Pereira Borges; Regina Helena
de Freitas Campos
Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 35
Programação | Atividades Assíncronas

Sessões Coordenadas

Sessão Coordenada 7 | História, Política e Práticas em Educação


Especial 2

Coordenador(a): Erika Lourenço

A Educação inclusiva e os professor da educação básica de Belo Horizonte.


Deolinda Armani Turci; Giovana Moura de Souza; Érika Lourenço

A inclusão de crianças com deficiência na educação infantil: relato de uma ex-


periência em uma EMEI de Belo Horizonte.
Érika Lourenço; Luciana Aparecida de Andrade; Gabriela Kunzendorkk Bueker
Drumond; Eduardo Lopes; Elizabeth Junqueira Santos

Alunos com deficiência na educação básica: um retrato da rede municipal de


ensino de Belo Horizonte.
Rafael Henrique de Resende Marciano; Michele Aparecida de Sá

O trabalho docente com estudantes com deficiência em cursos técnicos de nível


médio no Brasil e em Portugual.
Sandra Freitas de Souza; Maria Auxiliadora Monteiro Oliveira

A mediação na prática pedagógica de Feuerstein e o desenvolvimento de habili-


dades cognitivas.
Tatiana Campos Vasconcelos; Regina Helena de Freitas Campos

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 36


Programação | Atividades Assíncronas

Sessões Coordenadas

Sessão Coordenada 8 | História da Psicologia 1

Coordenador(a): Rodolfo Luis Leite Batista

A organização de arquivos como prática de ensino de história da psicologia em


cursos de graduação.
Rodolfo Luis Leite Batista

Mapeando produções feminias no Brasil: um estudo bibliométrico nos Arquivos


Brasileiros de Psicotécnica (1949-1968).
Rodrigo Lopes Miranda; Guilherme Santos Souza

História do Centro de Estudos e Pesquisa em Psicologia Aplicada - CEPPA da


Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM (2010-2018).
Ana Laura Domingues de Sousa; Sara Lorraine Gualberto Silva; Walter Mariano
de Faria Silva Neto

Os diários dos cursos da Fazenda do Rosário.


Renato Batista da Silva; Raquel Martins de Assis

Reflexões sobre a formação do psicólogo nos interiores do Brasil.


Paulo Coelho Castelo Branco

Sessão Coordenada 9 | História da Psicologia 2

Coordenador(a): Aline Moreira Gonçalves

Historiografia da ciência e história da psicologia: possíveis interlocuções.


Eva Maria dos Santos Mesquita; Dener Luiz da Silva

Discurso médico-higienista na educação escolar mineira: um estudo histórico


sobre a Revista do Ensino (1925-1930).
Maria Cecilia Moura Bicalho; César Rota Júnior

A pesquisa escolológica e a formação científica de professores - a experiência


de Helena Antipoff na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Hori-
zonte (1929-1943).
Renata Silva Cruz; Regina Helena de Freitas Campos

História da assistência à saúde mental em Minas Gerais: um passado ignorado.


Aline Moreira Gonçalves; Marcos Vieira Silva

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 37


Programação | Atividades Assíncronas

Sessões Coordenadas

Sessão Coordenada Extra

Coordenador(a): Raquel Martins de Assis

O baú, a colcha, as memórias.


Rosilene Maria da Silva Gaio

Educação, desenvolvimento bio-psico-social e ethos: estudo de uma carta de


Helena Antipoff endereçada ao filho.
Carmem Miriam Maciel Junqueira

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 38


Resumo das
Conferências

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 39


A FORMAÇÃO E A ATUAÇÃO DE HELENA ANTIPOFF EM
INTERSECÇÃO COM NOÇÕES E CONCEITOS DA
INTERNACIONALIZAÇÃO CURRICULAR

José Marcelo Freitas de Luna


PPGE - Univali

Parece apoiada na consensualidade a afirmação de que o conhecimento nem


sempre se assenta sobre trilhas disciplinares. Parece também consensuado o
fato de que a formação acadêmico-científica insiste na subdivisão do conheci-
mento em áreas com fronteiras supostamente conhecidas e estabilizadas co-
mo a Educação, a Linguística, a Sociologia, entre outras. Por outro lado, ao
assumirmos como problemas científicos as demandas contemporâneas, co-
mo o ensino e a aprendizagem em contextos multiculturais, por exemplo,
constatamos que, para bem tratá-las, precisamos de aparato teórico-
metodológico de perspectivas diversas. Os fundamentos teórico-
metodológicos das áreas de Psicologia, Ciências Humanas e Educação, exa-
minados à luz da Internacionalização do Currículo, apresentam convergências
e divergências que podem ser melhor descritas e explicadas como inter-
secções. Pontualmente, o referencial da IoC permite-nos tratar da abordagem
da infusão, pela qual o currículo é passível de infusão de conteúdo programá-
tico que reflete perspectivas variadas; provê os alunos de conhecimento so-
bre as diferenças culturais entre as práticas profissionais no mundo, e oportu-
niza aos acadêmicos de todas as áreas de conhecimento experimentar uma
dimensão internacional, multicultural e idealmente intercultural. Com essa
explanação teórico-prática, defendemos a tese de que o intercâmbio de pes-
soas e a intersecção de ideias são promotores da internacionalização curricu-
lar. Assim fazendo, fidelizamos com o objetivo deste processo, que é o de
questionar os paradigmas a partir de uma postura investigativa que se erige
do incorformismo com saberes universalizantes e práticas monoculturais e

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 40


excludentes. Como Grupo de Pesquisa em Estudos Linguísticos e Internacio-
nalização do Currículo, assumimos haver variedade e diversidade de pontos
de contato, de percursos metodológicos afins, de sintonias conceituais trans-
disciplinares, de confluências; de relacionamentos entre áreas e autores cujas
obras se aproximam do referencial teórico-metodológico da Internacionali-
zação do Currículo – IoC sob a perspectiva da educação intercultural. A bus-
ca por diálogos com outras áreas do conhecimento como os estudos Cultu-
rais, Antropologia, Sociologia, entre outras, bem é referida em alguns estudos
da área da IoC (LEASK, 2015; LUNA, 2016). Contudo, a revisão de literatura
sobre estudos acerca das intersecções aponta para lacunas de aprofunda-
mento de outros conceitos e de outras noções, como também aponta para
lacunas de aprofundamento de autores cujo trabalho se associa mais direta-
mente ao Brasil. A proposição desta intervenção é a de contribuir com o
preenchimento desse referencial teórico, que requer combinações com áreas
e autores que favoreçam uma compreensão sócio-histórica do processo de
IoC. Assim orientados e motivados, tomamos contato com a produção biobi-
bliográfica de Helena Antipoff. Essa “russa mais mineira não há” - para usar
um dos versos do poema drummondiano – teve a sua formação e atuação
estudadas pelo GP. Foram fontes de pesquisa artigos e livros científicos, ví-
deos, jornais e materiais diversos publicados sobre a professora e pesquisa-
dora até maio de 2020. A pergunta que orientou a pesquisa foi: como a for-
mação e a atuação de Helena Antipoff fazem intersecção com noções e con-
ceitos da internacionalização curricular? Nesta palestra, apresentamos e dis-
cutimos as intersecções encontradas pelos seguintes pontos: cultura, intercul-
turalidade, internacionalização doméstica, currículo, o outro, identidade e glo-
cal.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 41


JEAN PIAGET, DIPLOMATA DO INTERNACIONALISMO EDUCATIVO

Rita Hofstetter
Bernard Schneuwly
Universidade de Genebra

Quem explorar os arquivos do Bureau Internacional de Educação (BIE)


encontrará milhares de cartas, mas também notas, memorandos da caneta de
Piaget. Tendo como objetivo a construção do que se poderia chamar de
“internacionalismo educativo” - as convicções e realizações de uma miríade
de atores individuais e coletivos convencidos da necessidade de aplicar os
métodos de colaboração internacional no campo da educação para pacificar o
mundo -, Piaget aparece como um verdadeiro diplomata, atuando tanto no
cenário das organizações internacionais quanto no dos governos. Ele sempre
perseguiu os objetivos do BIE, fundado em 1925: manter no trabalho
"objetividade científica rigorosa" e "neutralidade", que ele afirmou ser
"absoluta" "do ponto de vista nacional, filosófico, confessional e, sobretudo,
político". Nossa apresentação descreverá essa atividade, mostrando que ela
está sempre articulada com elaborações teóricas sobre educação e
desenvolvimento. Vamos mostrá-lo descrevendo três fases e esboçando uma
coda:

- 1929 a 1934: descreveremos Piaget como negociador em duas frentes: na


das organizações internacionais, entre as quais o BIE deve encontrar seu
lugar (Liga das Nações, Bureau Internacional do Trabalho, Instituto
Internacional de Cooperação Intelectual), e na dos países do mundo que são
membros potenciais do BIE, entre os quais escolherá um número para
negociações mais intensas. Essa ofensiva diplomática anda de mãos dadas
com uma teorização da educação na perspectiva da compreensão
internacional e do desenvolvimento do juízo moral, intimamente ligados.

- 1934 a 1939: essa fase consiste em uma reorientação da estratégia

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 42


piagetiana. Vamos mostrar que Piaget certamente continuou suas
negociações para obter novos membros. Mas a sua diplomacia consiste
agora, antes, em inventar dispositivos que permitam a qualquer país do
mundo participar nas atividades do BIE mesmo sem ser membro. O modo de
funcionamento desses dispositivos é profundamente influenciado pela teoria
do “Juízo moral”, que Piaget transpõe para dar forma às interações entre
países do mundo, mesmo que sejam, politicamente, radicalmente opostas
como os fascistas italianos e os republicanos franceses.

- 1945 a 1953: a guerra deu origem à uma grande organização internacional


em matéria de educação: a UNESCO. Como manter o pequeno BIE junto a
esse gigante? Descreveremos as habilidosas negociações conduzidas por
Piaget para conseguir isso. Através dessas negociações, ele se tornou um
diplomata oficial que ocupa múltiplas funções em conexão com a UNESCO.
Isso o levou, mais uma vez, a reformular suas ideias educacionais na
perspectiva do entendimento internacional e em articulação com a nova forma
de internacionalismo educativo. Esse universalismo ameaçado pela Guerra
Fria, ele desistiu dessas atividades em 1953.

Coda: foi a militância anticolonial que obrigou Piaget, em 1964, a vestir


novamente as suas roupas diplomáticas para gerir um conflito entre países
africanos e asiáticos, aos quais se juntaram os países comunistas, por um
lado, e os países da Europa Ocidental e da América do Norte e Latina, por
outro. Cansado, percebendo que seus princípios de cooperação e
reciprocidade - os do “Juízo moral” - já não funcionavam em um mundo
profundamente transformado, renunciou ao cargo de diretor do BIE em 1967.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 43


HOW DOES AN AUTHOR BE TURNED INTO A CLASSIC? A METHOD TO
ANALYSE THE RECEPTION THROUGH THE CASE OF PIAGET IN
FRANCE

Marc J. Ratcliff
University of Geneva

How do you transform a scientific author into a classic? In this talk, I take
stock of the theories of reception from Jauss (Iser, Bourdieu, Picard, Oatley,
etc.) by applying it to the notion of author (Calvino, Zekian, Antoine-Mahut,
etc.), which oscillated between historicization and timelessness of the work.
My historicist approach offers new and specific methodological tools to disen-
tangle, within the reception of a work, its transformation into a classic. I stu-
died the case of Piaget in France during the interwar period. I first updated the
concept of reception by applying it to the history of science, and this required
relating reception to networks. By working on a reception corpus, exclusively
on scientific journals, we are dealing with readers who can be identified by
their productions. In the first part, the survey covered 59 French journals from
1921 to 1941 and showed the existence of more than 350 articles citing Piaget
for 150 authors and 22 anonymous. Three main fields of reception appeared,
psychology, pedagogy and philosophy, but their rhythms of reception of Piage-
t’s works were very different. A first tool presented is the analysis of textual
genres which highlighted three functions, description (book review), discussion
(author articles) and arbitration (review of third-party works, which mentionned
Piaget). A second analysis tool that I named the citation profiles analyzes the
way in which an author was cited in a journal and answers several questions,
in particular by what textual genres did Piaget enter journals, and what fun-
ctions allow you to transform an author into a classic? For psychology, the
most important function for transforming an author into a classic was arbitra-
tion. The second part dealt with Piaget’s networks in France, cutting across

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 44


the three main fields of reception: psychology, pedagogy and philosophy. For
this, a number of ego-documents were used to identify Piaget’s relationships
with members of the psychology and philosophy societies, and the educators.
It showed in particular how Piaget could, both through his networks and the
quality of his work, enter the main French journals related to these fields. The
third part related reception to networks: to measure these relations, I compa-
red the reception by Piaget of the work of others by network, to the reception
of Piaget’s work by others and by network. The comparisons made highlighted
a new unit of measurement, the “yield” clearly differentiated for each specific
network. This yield also contributed to promoting the visibility of Piaget, hel-
ping transforming his work into a classic. In conclusion, I draw the consequen-
ces of this research and these tools to underline the specificity of the history of
science in the face of the literary field for the case of the transformation of an
author into a classic. This, by emphasizing the solidarity of the three functions
(describe, discuss, arbitrate) endorsed by the textual genres, and by showing
that the entanglement of networks and reception can be the subject of a rigo-
rous analysis.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 45


NOTAS SOBRE A ATUALIDADE DE PIAGET NA EDUCAÇÃO

Lino de Macedo
Instituto de Psicologia
Universidade de São Paulo

Pode-se argumentar em favor da atualidade de Piaget na educação invocan-


do, ao menos, três aspectos, subdivididos, cada um deles, em dois elemen-
tos. (1a) As ditas “metodologias ativas” ocupam, hoje, boa parte do lugar do
que antes chamávamos de “abordagens construtivistas”. (1b) Os modelos de
professor “Taos, Paris, Atenas e Eldorado”, de inspiração piagetina, evocam
os desafios que docentes enfrentam, hoje. (2a) Biologia e conhecimento, em
uma visão epigenética, estão presentes em muitos campos. (2b) Organização
e adaptação desafiam, igualmente, nosso organismo e inteligência. (3a) O
“sujeito epistêmico” de Piaget equivale, hoje, ao conceito de “commons”. (3b)
Competências essenciais ou competências-chave, igualmente, correspondem
ao que esse autor invocava como direito de todos. A educação em sua visão
sistêmica e complexa é a que nos possibilita todos esses desenvolvimentos.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 46


POR QUE PIAGET ME ENCANTOU?

Sílvia Parrat-Dayan
Archives Piaget, Universidade de Genebra

O objetivo desta fala é salientar a importância da obra de Piaget que, como se


sabe, é notável, considerável, meritória. Mas o exercício que eu gostaria de
fazer é de esboçar a importância desta obra para mim. O que é que eu vejo
como fundamental de um ponto de vista pessoal. Esse exercício me leva a
ressaltar os conceitos que são essenciais na teoria, tais como assimilação,
acomodação, metodologia, construtivismo, interacionismo, equilibração. Ele
me incita também a tentar mostrar como é que essa teoria transformou pro-
fundamente minha forma de pensar, como é que essa teoria me ajudou a
pensar não só os temas da psicologia, mas também os problemas quotidia-
nos e os problemas teóricos de outros domínios, tais como a História ou a
Antropologia. Assim, posso dizer que o professor Piaget me ensinou a me
interrogar e procurar aquilo que está detrás de uma conduta, para poder en-
tender o seu significado. Ele me ensinou a ter ideias e saber que, nem sem-
pre, elas correspondem à realidade desejada. É por isso que sempre era ne-
cessário “ver”, interrogar as crianças e “ver”. É por isso que antes de começar
uma experiência, nós, os pesquisadores, fazíamos o que podemos qualificar
de experiências “para ver”. O que nos permitia continuar na direção imagina-
da ou mudar de caminho. E as crianças sempre procuravam ideias novas. E
claro, nós tínhamos que ficar atentos a tudo! Ter ideias novas e as procurar
interroga nossa criatividade, conceito inerente à teoria de Piaget. Piaget me
ensinou também que, quando os resultados são interessantes, se experimen-
ta uma profunda satisfação. O professor Piaget me mostrou isso alguns me-
ses depois que eu o conheci. Gostaria de contar um episódio que ficou grava-
do na minha memória. Alguns meses depois de assistir ao curso de Piaget,
me inscrevi para apresentar os resultados de uma pesquisa que estava fazen-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 47


do. Já dá para ver que mal começávamos a assistir aos cursos teóricos, os
estudantes estavam imersos na pesquisa. Eu tinha que contar uma experiên-
cia sobre a causalidade, experiência interessante, mas difícil. Evidentemente
eu tinha preparado minha fala muito bem. Mas chegado o momento, estar
diante Piaget e diante de todo um auditório, me intimidou. Durante provavel-
mente um minuto, não soube o que dizer. Um silêncio, para mim, interminá-
vel. De repente, tive a ideia de colocar ao auditório as mesmas perguntas que
tinha colocado às crianças. As respostas dos adultos eram fantasiosas e in-
corretas. Não era o resultado esperado. Mas o rosto de Piaget mudou. Um
sorriso o iluminava. Assim aprendi que resultados não esperados podem ser
bem mais interessantes do que os que poderíamos imaginar. Aprendi sobre-
tudo que uma experiência intelectual pode nos dar felicidade. Então, bem
mais confiante, consegui contar a minha experiência, que provocou múltiplas
perguntas. No final, Piaget insistiu sobre a satisfação que ele experimentou
de ter me ouvido. Bom começo na escola de Piaget! Criatividade e prazer são
elementos de uma boa pesquisa, que podem transformar essa atividade nu-
ma verdadeira paixão, que ficará sempre com o pesquisador. Assim, quando
alguns dizem que Piaget jamais se interessou pela afetividade, eu fico duvi-
dando! A afetividade é o motor da pesquisa e ele transmitiu isso! Se ele não
estudou o problema, foi porque ele se apaixonou por outros aspectos da con-
duta humana. Tudo isso me lembra uma frase que os pesquisadores (e eu
mesma também) diziam a miúdo: a experiência é muito divertida, ou me diver-
ti muito interrogando as crianças. Mas isso não significa que não se trabalhe,
que, às vezes, se passem momentos difíceis, que não sabemos como inter-
pretar, nem como classificar as condutas. Mas salienta a atividade prazerosa
que constitui a pesquisa. O que me incita a mencionar um outro elemento da
teoria: a presença do outro. O outro é fundamental nessa teoria. Poder contar
com um outro, além do eu, significa poder aceder a um ponto de vista diferen-
te e ter elementos para organizar ou reorganizar seu próprio pensamento.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 48


Isso implica uma grande confiança no outro e uma grande responsabilidade
do outro, conceito importante, de novo, na teoria. E, claro, a evolução da soci-
edade mudou tanto essa prática, que vinte anos mais tarde você não pergun-
ta mais nada a ninguém e só mostra seus resultados uma vez publicados! Na
época piagetiana, a ajuda mútua, a cooperação era a regra. E mais, o outro
tinha prazer em intervir, ajudar, propor, discutir. Por que a teoria de Piaget me
encantou? A palavra encantar tem o sentido de maravilhar, fascinar. Mas tam-
bém tem o sentido de enfeitiçar. É possível conciliar as duas significações?

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 49


Resumo das
Mesas-Redondas

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 50


MESA-REDONDA | INTERNACIONALIZAÇÃO E INTERCULTURALIDADE
CONEXÕES COM A OBRA DE JEAN PIAGET

Educação para a paz e ecologia integral: inspiração em Piaget no legado


de Pierre Weil

Maurício Andrés
Agência Nacional de Águas
Unipaz, Brasília, DF

Resumo: A UNIPAZ – Universidade Holística Internacional de Brasília – foi


criada no Brasil, em 1987, abriu suas atividades em 1988 e, desde então, ex-
pandiu-se por diversas cidades brasileiras e no exterior. São vários núcleos
que mantêm uma unidade entre si, mas têm variações regionais em seus pro-
gramas e atividades.

Seu inspirador foi o psicólogo e educador Pierre Weil, que nasceu, em Estras-
burgo, em 1924. Na sua juventude, viveu os dramas da guerra e foi aluno de
Léon Walther e Jean Piaget na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educa-
ção (Instituto Jean Jacques Rousseau) da Universidade de Genebra. Essa
influência foi marcante em sua forte formação científica de base.

Pierre formulou a teoria fundamental da UNIPAZ. A educação para a paz ali


proposta contempla a paz social, a paz com a natureza e a paz consigo mes-
mo. O preâmbulo do ato constitutivo da UNESCO inspirou a concepção da
UNIPAZ: “Uma vez que as guerras nascem no espírito dos homens, é no es-
pírito dos homens que devem ser erguidos os baluartes da paz.”.

Palavras-chave: Pierre Weil - cultura de paz – UNIPAZ – UNESCO – ecologia


integral

Abstract UNIPAZ - International Holistic University of Brasília - was created in


Brazil in 1987 and opened its activities in 1988 and has since expanded to

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 51


several Brazilian cities and abroad. There are several centers that maintain a
unity among themselves but have regional variations in their programs and
activities.

Its inspiration came from the psychologist and educator Pierre Weil, who was
born in Strasbourg in 1924. In his youth he lived the dramas of war and was a
student of Léon Walther and Jean Piaget at the Faculty of Psychology and
Educational Sciences (Jean Jacques Rousseau Institute), at Geneva Universi-
ty. This influence was remarkable in his strong scientific formation.

Pierre Weil formulated the fundamental theory of UNIPAZ in which Peace Ed-
ucation contemplates social peace, peace with nature and peace with oneself.
The preamble to the constitutive act of UNESCO inspired the concept of
UNIPAZ: "Since wars begin in the minds of men, it is in the minds of men that
the defences of peace must be constructed”.

Key words: Pierre Weil – peace culture – UNIPAZ- UNESCO – integral ecolo-
gy

Competencias interculturales en La internacionalización curricular:


aporte para La integridade de la formación universitária

Gracia Maria Clerico


Universidad del Litoral, Argentina

Partiendo de los interrogantes: ¿por qué vale la pena internacionalizar nuestro


currículum?, ¿qué le aporta a nuestros alumnos dicha internacionalización?
¿y a nosotros como docentes?, se ofrece una reflexión sobre el sentido que
adquiere este índole de propuestas en el marco cultural actual de cambio
epocal y de acentuación de la cooperación Sur-Sur entre las universidades de
las región.Luego de brindar precisiones conceptuales para esclarecer los

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 52


alcances de esta cuestión, se da a conocer una experiencia de internacionali-
zación curricular titulada: “Encuentro intercultural en docencia, investigación y
extensión para la internacionalización curricular de Cátedras de Psicología y
Psicoanálisis”.

Se presentan los principales logros y desafíos que implica este tipo de expe-
riencias para potenciar la articulación entre las tres funciones universitarias y
fortalecer la integralidad de la formación en vistas a ofrecer oportunidades de
educación intercultural.

Se dan a conocer así avances de una investigación aprobada como CAI+D


2016 por Universidad Nacional del Litoral, titulada: “La interculturalidad en la
internacionalización de la educación superior: estudio de una experiencia en-
tre universidades de Argentina y Brasil”.

Se trata de un estudio de casos focalizado en dicho proyecto de internaciona-


lización curricular iniciado en 2016 que hoy involucra a docentes de ocho
asignaturas que pertenecen al área de la psicología de cinco universidades
de la región: Universidad Nacional del Litoral (UNL), Universidad Autónoma
de Entre Ríos (UADER), de Argentina, Universidad Federal de Mina Gerais
(UFMG), Universidad Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM),
y de forma muy reciente, la Universidad Federal de Mato Grosso (UFMG),
de Brasil. En términos relacionales, la palabra “inter” nos resulta valiosa para
mostrar el trayecto realizado, en tanto concepto permeable, que nos aleja de
las acciones disociadas de nuestra arquitectura institucional para imaginar
ámbitos articulados o enlazados que hasta el momento han aparecido escin-
didos. Las dinámicas interculturales se ponen en evidencia en la convergen-
cia entre tres funciones sustantivas de la universidad, mientras que la intercul-
turalidad como campo temático refiere al contacto y la interacción entre diver-
sos entramados culturales. En estas propuesta se abordan curricularmente
algunas problemáticas inherentes a la niñez, adolescencia y juventud en con-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 53


textos latinoamericanos desde una perspectiva intercultural (Clérico e Ingui,
2017), utilizando como método la realización de estudios de casos compara-
dos (Cássia Vieira; Martins de Assis y De Freitas Campos, 2013) llevados a
cabo por los alumnos de las cátedras involucradas a través de la aplicación
de entrevistas en profundidad siguiendo todas una misma guía orientati-
va. Las problemáticas seleccionadas definen una temática de creciente inte-
rés en virtud de los contextos cambiantes en que se encuentran imbuidos los
países de nuestra región. No resulta un detalle menor el hecho que las univer-
sidades participantes pertenezcan al mismo contexto, el latinoamericano. Esto
supone un verdadero desafío, en términos de la posibilidad que se nos ofrece
de contribuir desde nuestra tarea académica con los procesos de integración
regional. De tal forma, esta experiencia da cuenta que es posible tender
puentes entre actores de distintos países e instituciones para propiciar la edu-
cación intercultural.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 54


MESA-REDONDA | RECEPÇÃO DA OBRA DE JEAN PIAGET NO BRASIL
E AMÉRICA LATINA

Heranças cariocas – testemunhos da circulação diferencial de discursos


piagetianos no Instituto de Psicologia da UFRJ e no ISOP (anos 1970-
1980)

Arthur Arruda Leal Ferreira


Luiz Eduardo Prado da Fonseca
Universidade Federal do Rio de Janeiro

O objetivo deste trabalho é trazer o testemunho, sob uma perspectiva históri-


co-crítica, da circulação diferencial de discursos piagetianos, no último quarto
do século XX, em espaços académicos, com o Instituto de Seleção e Orien-
tação Profissional (ISOP) da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Instituto de
Psicologia (IP) da Universidade do Brasil (UB), posteriormente Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O ISOP, fundado, em 1947, por Emílio
Mira y López, foi marcado pela promoção e divulgação da psicologia aplicada,
tendo importante atuação no reconhecimento da própria profissão de psicolo-
gia no Brasil. Seus objetivos eram, dessa forma, não só teóricos, mas princi-
palmente conectavam preocupações políticas sobre a vida produtiva da
nação e econômicas de maximização de ganhos com técnicas de governo do
sujeito produtivo. Paralelamente ao funcionamento do ISOP, existia o IP da
UB, cujo funcionamento se deu de 1939 até 1967, quando a UB se converte
em UFRJ e aquele instituto se transforma no atual Instituto de Psicologia da
UFRJ. É conhecida a “disputa” entre o ISOP e o IP da UB, especialmente no
que toca à questão “teoria” versus “prática”. O trabalho que melhor condensa
essa divisão é o de Mancebo (1997, p. 166), que, analisando o desenvolvi-
mento da psicologia no Rio de Janeiro do século XX, estabelece que “Sua

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 55


visão [de Nilton Campos – um dos primeiros diretores do IP] muito afastada
da prática entrava frequentemente em choque com a de Mira y López, cuja
preocupação era exatamente divulgar, tornar conhecida, provocar o interesse
pelas técnicas psicológicas”. Essa divisão de vocações institucionais tende a
se apagar quando, na década de 1970, o ISOP cria o Programa de Pós-
graduação em Psicologia, e o IP, poucos anos antes, em 1968, cria sua Di-
visão de Psicologia Aplicada. É no correr dos anos 1970 e 1980 que ISOP e
IP irão apresentar uma mais intensa circulação de discursos de matriz piage-
tiana por meio de dois personagens: Antônio Gomes Penna e Franco Lo
Presti Seminério, ambos presentes nas duas instituições. O que este trabalho
busca, em um tom mais de testemunho, é analisar as circulações diferenciais
dos enunciados piagetianos por meio do trabalho desses dois docentes e
pesquisadores do IP/ISOP: ainda que ambos tenham produzido obras didáti-
cas para apresentação de Piaget (Penna, 1978 e Seminério, 1986), a aborda-
gem desse autor seguirá caminhos diversos. A proposta é que, em Seminério
(1986, 1987 e 1988), podemos encontrar uma apropriação de Piaget mais
voltada para produção de um modelo cognitivo e educacional (as Linguagens
da Cognição), ao passo que, em Penna, é possível encontrar uma tomada
mais epistemológica (Penna, 1987) do autor suíço. A abordagem desses mo-
dos de circulação, apropriação e tradução será apresentada a partir de relatos
memorialísticos, notadamente de experiências de trabalhos como estudante e
orientando de Penna e Seminério.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 56


A recepção das ideias de Piaget: assimilações e diálogos
(im)pertinentes no Brasil

Mário Sérgio Vasconcelos


Universidade Estadual Paulista

Qual foi a porta de entrada das ideais de Jean Piaget no Brasil? Como essas
ideias se disseminaram? Quais são e onde se constituíram os núcleos piage-
tianos brasileiros? Para responder a essas questões, coletamos dados em
arquivos, anais, livros, periódicos, currículos, memoriais e realizamos entre-
vistas com 41 profissionais de expressão que trabalharam e/ou trabalham
com as ideias de Piaget no Brasil. Realizamos essa pesquisa dentro dos limi-
tes da história descritiva e fizemos um "mapeamento" da propagação dessas
ideias pelo país, indicando tendências político-sociais, educacionais e científi-
cas que permearam tal difusão. O universo de dados com os quais trabalha-
mos levou-nos, entre outras, às seguintes conclusões: a) o movimento da
Escola Nova abre espaço para a difusão das ideias de Piaget no Brasil; b) a
associação entre as pesquisas epistemológicas de Piaget e a educação deve-
se, também, aos encargos de Piaget em instituições dessa área, assim como
aos próprios conceitos sobre os quais elabora sua teoria; c) a propagação das
ideias de Piaget tem início no final da década de 1920 e consolida-se na dé-
cada de 1970 com a formação de "núcleos" piagetianos em sete estados bra-
sileiros; d) nas décadas de 1960 e 1970, a corrente behaviorista aparece co-
mo o principal obstáculo à divulgação da teoria piagetiana. Por outro lado
aparece, por contraponto, como fonte de motivação para que se propague o
ideário piagetiano; e) nos anos de 1980, começa a se fazer sentir a presença
de pesquisas piagetianas interculturais dirigidas à realidade brasileira e inicia-
se a divulgação das ideias de Piaget através da expansão do movimento
construtivista; f) a partir da década de 1990, as variações do ideário vigos-
tskiano se tornam as principais fontes de oposição às ideias de Piaget; g)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 57


atualmente a maioria das pesquisas de referencial piagetiano é realizada por
iniciativas individuais, contudo continuam existindo núcleos piagetianos ativos
no Brasil.

Palavras-chave: Piaget - recepção - construtivismo - Brasil

Leituras de Piaget censuradas na Argentina durante a


ditadura militar

Patricia Scherman
Universidad de Córdoba, Argentina

O controle da cultura e da educação que o governo da última ditadura militar


exerceu na Argentina (1976-1984) teve um impacto direto na formação profis-
sional do psicólogo. Um dos principais instrumentos desse controle foi a cen-
sura de autores e textos, que no ensino universitário foram articulados cuida-
dosamente com a inspeção permanente do material de estudo e a perse-
guição de professores e alunos. Nesta apresentação, tentaremos mostrar
uma vigilância particular que operou no caso das produções que estavam
sendo desenvolvidas na Argentina a partir da perspectiva piagetiana. Vere-
mos como, durante a ditadura, o acesso ao universo de conhecimentos gera-
do a partir dessa perspectiva foi limitado, em um contexto em que a psicologia
era considerada uma disciplina perigosa ou até subversiva. De acordo com
depoimentos coletados e escritos da época, após o golpe militar na Argentina,
foi questionada a utilização de textos de autores como Freud e Piaget. Não
houve censura aberta a esses autores, o que poderia levar à destruição de
seus textos como em outros casos, mas havia um clima de suspeita sobre
eles. Iremos indagar sobre a natureza dessa restrição, que, sem atingir a cen-
sura, serviu como recomendação. Perguntamos quais elementos tiveram im-
pacto para que ocorressem, em que aspectos essa censura e autocensura foi

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 58


realizada e como ela foi associada a autores de circulação proibidos ou restri-
tos. A estrutura geral de nossa pesquisa tenta entender melhor os debates
sobre o papel do psicólogo e a natureza científica da psicologia na Argentina,
no início da década de 1970. Onde alguns lutaram para definir o psicólogo
como profissional orientado para a mudança, como um intelectual que de dife-
rentes maneiras poderia contribuir substancialmente para a transformação da
ordem social, outros procuraram acentuar o aspecto eminentemente técnico
da intervenção profissional. É por isso que ressaltamos que a censura instala-
da pelo governo militar foi exercida sobre leituras e produções feitas a partir
da perspectiva piagetiana que buscavam transcender a perspectiva técnica e
que poderiam fornecer ferramentas conceituais para um profissional compro-
metido com um horizonte transformador do sujeito e da ordem social.

Palavras-chave: Piaget - Argentina - Córdoba, Ferreiro - Censura - Ditadura -


História recente.

Movimientos centrífugos y centrípetos en el Centro Internacional de


Epistemología Genética: circulaciones suizo-argentinas.

Ramiro Tau
Universidad de Ginebra

Los estudios acerca de la circulación de saberes y prácticas relacionadas con


el programa de investigación de la Escuela de Ginebra se han centrado casi
exclusivamente en procesos de sentido único. Es así como, diversas publica-
ciones, han tratado la recepciónde la obra de Jean Piaget y sus colaborado-
res en diferentes contextos internacionales, como un caso particular de apro-
piación o lectura. Mayoritariamente estos trabajos se han interesado en los
usos e interpretaciones regionales de las tesis piagetianas, realizadas por
didactas, pedagogos y psicólogos interesados en el campo educativo. En me-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 59


nor medida, se ha intentado mostrar de qué modo la Epistemología Genética
contribuyó a la definición de los problemas fundamentales del campo psicoló-
gico, durante los años de consolidación de las carreras y facultades de psico-
logía. Las publicaciones sobre estas recepciones en países de Latinoamérica
no han sido la excepción, aunque han tenido la singularidad de subrayar la
complejidad inherente a una obra heterogénea y de difícil clasificación. Sin
embargo, salvo algunas entrevistas o menciones breves, no existen trabajos
sistemáticos sobre el rol específico que tuvieron los investigadores extranje-
ros en el Centro Internacional de Epistemología Genética (CIEG). En esta
línea, una parte de nuestra investigación reciente trata de mostrar, a través
del análisis microhistórico de las interacciones entre los actores involucrados,
qué tipo de prácticas, conocimientos y estilos se consagraron en el Centro de
Ginebra. Más específicamente, qué tipos de hibridaciones epistémicas o fe-
cundaciones cruzadas se establecieron entre las tesis del programa piage-
tiano y los conocimientos y marcos teóricos de los investigadores externos.
En esta presentación nos ocuparemos de indagar el recorrido académico de
los cinco argentinos que colaboraron de manera directa con Piaget durante la
segunda mitad del siglo XX: Antonio Battro, Mario Bunge, Rolando García,
Emilia Ferreiro y Silvia Parrat-Dayan. Nos detendremos en los proyectos es-
pecíficos de los que participaron, en sus roles en la investigación empírica y
en la discusión teórica, así como en sus principales contribuciones originales
al programa general. Asimismo, discutiremos los efectos de estas colabora-
ciones en la recepción de la obra piagetiana en Argentina, intentando mostrar
el papel de mediadores clave que cada uno de estos investigadores jugó en
campos epistémicos tan diversos como los de la informática, la epistemología,
la teoría de los sistemas complejos, la psicolinguística o la educación, aunque
también en la política y la planificación universitaria.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 60


MESA-REDONDA | QUESTÕES TEÓRICAS SOBRE A OBRA DE
JEAN PIAGET

Erika Lourenço
Universidade Federal de Minas Gerais

Jean Piaget (1896-1980), embora nunca tenha atuado como pedagogo ou


como psicólogo, exerceu ao longo do século XX e exerce, ainda hoje, impor-
tante influência nas pesquisas e práticas desenvolvidas nestes dois campos.
Neste “Colóquio Internacional Jean Piaget no Brasil e na América Latina”,
realizado em memória dos 40 anos do falecimento de Piaget, esta mesa-
redonda tem como objetivo resgatar a história do autor e algumas questões
teóricas presentes em sua obra. Trataremos, assim, dos passos de Piaget
rumo ao desenvolvimento do seu método clínico, a partir dos experimentos
que realizou com os testes de Cyril Burt (1883-1971); do olhar que propõe
sobre a criança como sujeito ativo em seu processo de desenvolvimento e
aprendizagem, da valorização dos erros nos processos de escolarização e do
lugar que atribui às interações com o mundo e com outros sujeitos; da sua
abordagem à problemática da construção da moralidade, colocada aqui em
debate com Habermas (1929- ); e, finalmente, do impacto que suas con-
cepções sobre a inteligência, a organização do raciocínio infantil, o desenvol-
vimento cognitivo e o desenvolvimento moral da criança tiveram sobre os
educadores brasileiros no período entre 1930 e 1940. Esperamos que com
esses trabalhos, possamos não apenas manter viva a memória das contri-
buições do autor, mas também reconhecer seu impacto no presente e a pers-
pectivas que nos apresenta na psicologia, na educação e em tantas outras
áreas do saber com quem sua obra dialoga.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 61


Caminhos futuros – por uma Psicossociologia integrando
Piaget e Habermas

Milton N. Campos
Université de Montréal
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Não temos a pretensão de falar sobre o papel que teve a produção de Jean
Piaget, nem a de Jürgen Habermas para o conhecimento epistemológico, filo-
sófico e psicossocial no Brasil, até porque temos, em nosso país, grandes e
profundos conhecedores dos sábios suíço e alemão. Para nós, a melhor ma-
neira de honrá-los, no ano em que se completam 40 anos da morte do primei-
ro e dos passados 90 anos de vida do segundo, é dar um testemunho teórico
modesto da influência que tiveram em nosso trabalho. Tanto Piaget, como
Habermas, fundaram, não sem razão, o conhecimento psicossocial na proble-
mática moral das relações, na ética das interações. No que tange a Piaget,
tratou essa questão, desde o início de sua vida acadêmica, com as obras
“Linguagem e Pensamento na Criança” e “Juízo Moral na Criança”. A proble-
mática da construção da moralidade levou-o a conceber o Modelo da Troca
de Valores, onde revela a estrutura das interações e de como os conteúdos
nela transitam. Já em Habermas, sua teoria capital do Agir Comunicativo trata
das mesmas questões de um ponto de vista do ser humano adulto, mas, co-
mo se interessa pelo lugar da cultura na explicação dos fenômenos psicosso-
ciais, abre espaço para interpretações hermenêutico-críticas. O primeiro lida
com o mecanismo onde transitam as significações, o segundo como o meca-
nismo produz sentidos. A partir de ambos os autores, propomos pensar a co-
municação interpessoal, de grupos e/ou social a partir da perspectiva constru-
tivista-crítica da ecologia dos sentidos. A teoria da ecologia dos sentidos e os
métodos construtivistas-críticos dela derivados permitem, em um primeiro
momento, o estudo da dimensão ética das interações do ponto de vista estru-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 62


tural – ou seja, integra contribuições de Piaget. Em um segundo momento,
permitem o estudo de como, a partir de perspectivas culturais e sócio-
políticas, sentidos são produzidos nas inter-relações entre os sistemas admi-
nistrativo-políticos e os mundos vividos dos sujeitos – ou seja, assume-se
também habermasiana. Tal olhar permite captar universos de produções in-
tersubjetivas que carregam sentidos embebidos das constituições psicossoci-
ais, culturais e político-econômicas dos seres humanos. A complexidade das
possibilidades do compartilhamento contemporâneo pode ser, de acordo com
nosso juízo, ao menos suposta através da ferramenta conceitual da ecologia
dos sentidos. Ela nos leva, portanto, ao entendimento de que, nas trocas co-
municativas que implicam éticas, as ecologias de sentidos são e estão essen-
cialmente ancoradas em intersubjetividades onde, se a estrutura é mecanis-
mo biológico constituinte da espécie, a experiência de existir e seus sentidos
é o fundamento da vida psicossocial.

Palavras-chave: Piaget - Habermas - Ecologia dos Sentidos - Psicossociolo-


gia - Construtivismo-crítico

Das diferenças às estruturas: Piaget em busca de seu método em 1920

André Elias Morelli Ribeiro


Universidade Federal Fluminense

Em 1919, Piaget se mudou para Paris, interessado em estudar psicologia ex-


perimental. Ele chegou na cidade em um momento de crescimento da escala
Binet-Simon, que já estava consolidada e sendo progressivamente utilizada
em vários países. Por indicação de um conterrâneo, Pierre Bovet, Piaget
atuou, em 1920, no laboratório que ficava numa escola na rua Grange-aux-
Belles, sob supervisão do próprio Théodore Simon. Ainda estudante de psico-
logia, mas já doutor em malacologia, Piaget recebeu a missão de adaptar pa-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 63


ra crianças de Paris o teste de inteligência de Cyril Burt. Ademais, ele tinha
liberdade de realizar os próprios experimentos, em dias específicos, com as
mesmas crianças. Em 2015, todos os documentos e objetos guardados por
Piaget em seu escritório pessoal foram doados para a Universidade de Gene-
bra, então passou a ser possível analisar os registros relativos a esse perío-
do, proporcionando a oportunidade de um novo olhar sobre a questão que
antes estava limitada aos textos escritos pelo próprio Piaget e colaboradores.
A análise da atuação de Piaget, nesse laboratorio, foi feita a partir do que foi
denominado protocolo, ou seja, documentos manuscritos pelo próprio Piaget
que registram as entrevistas conduzidas pelo mesmo junto às crianças da
escola. Esses materiais são um registro do cotidiano de pesquisas de Piaget
no período e revelam elementos das pesquisas piagetianas com o teste de
Burt e variantes antes de suas publicações. Os documentos foram analisados
a partir de uma série de variáveis quantitativas, como data, idade da criança e
natureza das perguntas, entre outros, e de natureza qualitativa a partir da
leitura do texto disponível no protocolo. A análise desses documentos, com-
parados com diferentes elementos, como os artigos e livros de Piaget que
mencionam essas pesquisas, as entrevistas de Piaget, sua autobiografia e as
análises de seus críticos e biógrafos, revelam que o teste teve um papel fun-
damental no desenvolvimento do método clínico. Por um lado, o modelo de
pesquisa de Burt favoreceu o modelo da lógica adotado por Piaget como fun-
damento epistemológico pelo formato das perguntas que propunha. Por outro,
o modelo clínico exigido pelo próprio teste favoreceu o contato de Piaget com
o conteúdo dos pensamentos, que seria tão caro ao seu método e revelaria a
ele um caminho para desenvolver seu método. Por fim, o próprio ambiente de
pesquisa francês favoreceu o desenvolvimento do método clínico, colocando
essa etapa primeva da carreira de Piaget na psicologia como fundamental
para sua obra e seu pensamento.

Palavras-chave: Jean Piaget (1896-1980) - história da psicologia - Método

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 64


Clínico - Epistemologia genética

Contribuição dos estudos do Instituto Jean Jacques Rousseau para a


psicologia escolar e educacional no Brasil

Deborah Rosária Barbosa


Universidade Federal de Minas Gerais

Jean Piaget foi o pesquisador do Instituto Jean-Jacques Rosseau que mais se


destacou e veio a dirigir o Instituto por quarenta anos. A importância desse
Instituto está relacionada à guinada que seus pesquisadores deram no que
tange à compreensão dos processos de desenvolvimento e aprendizagem.
Na tradição do Instituto, havia uma preocupação de erigir o campo da
Psicologia da Criança, do Desenvolvimento e a aplicabilidade no campo
educativo. Os teóricos do Instituto eram defensores da união dos
conhecimentos pedagógicos aos da Psicologia como forma de aprimoramento
dos processos educacionais. O “olhar para a criança”, naquele momento
histórico, é de suma importância para mudar o foco do centro do processo
educativo que, na escola tradicional, estava no professor. Piaget traz à tona
conceitos que transformam as ideias sobre genética na perspectiva da
gênese dos fenômenos. Com sua epistemologia genética e método clínico
piagetiano muda a forma de investigação na Psicologia e Educação. Piaget e
seus colaboradores ampliam os estudos dos processos básicos cognitivos
com as pesquisas sobre inteligência, memória, desenvolvimento moral e
aprendizagem. A visão interacionista ao chegar ao Brasil, inicialmente pela
Escola Nova e, posteriormente, com a introdução dos estudos de Piaget,
Vigotski e Wallon nas graduações em Psicologia e Educação, trouxe novas
perspectivas de atuação. Podemos afirmar que muda não apenas o olhar
sobre o aprendiz, mas também a forma de intervenção e atuação junto a este

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 65


que, agora, é compreendido não mais como fruto de algo pré-determinado
(inatismo) ou do meio que o constituiu (ambientalismo), mas um sujeito ativo
no seu processo de produção do seu próprio conhecimento. As contribuições
de Piaget que merecem destaque e serão enfatizadas nessa exposição são:
1) a mudança da compreensão da genética; 2) o método clínico piagetiano
que rompe com o modelo biomédico hegemônico; 3) o destaque para o
sujeito ativo no processo de construção do desenvolvimento e aprendizagem;
4) a valorização dos erros no processo de escolarização; 5) o papel das
interações com os objetos da cultura, do mundo, e relações interpessoais. As
pesquisas e práticas que proliferaram a partir dessas contribuições podemos
afirmar que se constituíram em um verdadeiro movimento “contra-
hegemônico”, em contraposição à toda a Psicologia “normativa” e
“classificatória” que era tônica do momento. Mesmo que algumas teorias ou
práticas da época possam ainda serem identificadas nesse modelo normativo,
e cujo foco centrava-se no “indivíduo”, vê-se surgir proposições que buscam
entender os processos de escolarização de modo diferente, pela gênese dos
fenômenos, pelo papel ativo do aprendiz e ampliando os olhares sobre o
ensinar, o aprender e as práticas de Psicologia e Educação. Piaget, mas não
só ele, traz para a cena principal a compreensão de uma visão que vai às
raízes do fenômeno (gênese), que concebe o aprendiz como construtor e,
portanto, transformador (ativo) da realidade, valorizando a ação como forma
de conhecer e também tem como prerrogativa um adensamento sobre o
papel interativo nos processos de ensino e aprendizagem, o que pode-se
afirmar constituiu-se em solo fértil para a construção do que hoje
denominamos de Psicologia Educacional e Escolar na perspectiva crítica.

Palavras-chave: Psicologia Escolar - Psicologia Educacional - Instituto Jean


Jacques Rousseau

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 66


Apropriações das ideias de Jean Piaget pela cultura impressa de Minas
Gerais/Brasil (1930-1940): o caso da Revista do Ensino

Raquel Martins de Assis


Universidade Federal de Minas Gerais

Apresentamos uma pesquisa cujo objetivo foi investigar a apropriação de teo-


rias de Jean Piaget, em Minas Gerais/Brasil, por meio da Revista do Ensino
entre 1930 e 1940. Tal período corresponde à realização da reforma educa-
cional iniciada em 1927/1928, momento em que se deu fortemente a divul-
gação de teorias psicológicas e escolanovistas nas escolas mineiras, princi-
palmente após a chegada da educadora e psicóloga russa Helena Antipoff.
Trata-se de uma pesquisa em História da Psicologia da Educação que preten-
de trazer contribuições para a compreensão de como intelectuais, professores
e educadores, na primeira metade do século XX, conceituavam e sistematiza-
vam teorias psicológicas e educacionais, apropriando-se de um autor estran-
geiro. Entendemos, a partir de Chartier, que revistas podem ser tomadas co-
mo um corpus capaz de expressar aspectos da visão de mundo de um deter-
minado grupo que partilha, conscientemente ou não, um sistema ideológico.
Dessa maneira, periódicos responsáveis pela divulgação de pesquisas e prá-
ticas recentes em psicologia e educação, podem expressar apropriações ope-
radas por educadores sobre conceitos, ideias e teorias. Foi feito um levanta-
mento das referências a Jean Piaget a partir da consulta a sessenta e um
exemplares da Revista do Ensino, presentes no Centro de Documentação da
Biblioteca da Faculdade de Educação da UFMG (CEDOC-UFMG) e no Museu
da Escola Professora Ana Maria Casasanta Peixoto/Magistra. Desse conjun-
to, encontramos dez textos que citam conceitos e ideias de Jean Piaget, sen-
do o nome do autor suíço designado explicitamente. Além dessas citações
diretas, foram encontrados também textos em que conceitos utilizados podem
ser atribuídos à Piaget, sugerindo indícios de apropriação do autor pelos edu-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 67


cadores. A partir da análise das categorias “referências diretas a Piaget” e
“indícios da utilização de conceitos do autor”, pudemos perceber em que con-
texto de discussões o psicólogo suíço é citado e por quais grupos. As referên-
cias a Piaget são menos frequentes do que aquelas feitas a psicólogos con-
sagrados como Binet, Claparède e Dewey. As ideias do autor foram apropria-
das por educadores em geral, profissionais da Rede de Ensino e por profes-
soras que cursavam a Escola de Aperfeiçoamento, evidenciando o papel des-
sa instituição na recepção da psicologia suíça em contexto mineiro. Dois inte-
lectuais católicos também citam explicitamente Piaget em seus escritos, suge-
rindo a leitura do autor entre esse grupo de educadores. Citações de concei-
tos e temas piagetianos ocorrem principalmente quando se discute a inte-
ligência e a organização do raciocínio infantil. Também aparecem menções
ao termo egocentrismo quando se trata do desenvolvimento cognitivo e moral
da criança. O interesse dos educadores brasileiros por Piaget recai principal-
mente sobre a relação indivíduo/meio e sobre a importância dessa interação
na construção das estruturas mentais e dos processos lógicos de conheci-
mento. Assim, os estudos piagetianos parecem ter sido valorizados por escla-
recer os mecanismos psíquicos subjacentes à socialização da criança, in-
cluindo aí, entre outros aspectos, as capacidades de aprender e de se relacio-
nar com o conhecimento do mundo específicas de cada idade.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 68


MESA-REDONDA | ASPECTOS DA RECEPÇÃO DA OBRA DE
JEAN PIAGET NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA

Debate Piaget-Wallon sobre a origem e desenvolvimento


do pensamento simbólico

Dener Luiz da Silva


Universidade Federal de São João del Rei

Apresentamos os resultados de uma investigação acerca da interlocução en-


tre Jean Piaget (1896-1980) e Henri Wallon (1879-1962) sobre a gênese e
desenvolvimento do pensamento simbólico. A natureza e o surgimento da
Função Simbólica ou Função Semiótica (FS) foi, durante as décadas de 1930
e 1940, dos principais temas debatidos entre os dois psicólogos genéticos.
Embora tenham se utilizado do conceito com acepções muito próximas, diver-
giram quanto à explicação de sua origem e desenvolvimento. Utilizou-se da
metodologia de estudo teórico-conceitual e histórico para selecionar e anali-
sar o corpus do trabalho, nosso olhar priorizando a perspectiva da história
internalista. A partir da leitura e análise dos livros "Do ato ao pensamen-
to" (1942) de Wallon e "A formação do Símbolo" (1945) de Piaget, procurou-
se identificar as concepções de representação e como cada autor descrevia e
analisava a temática. No livro "Do ato ao pensamento", Wallon apresenta sua
teoria sobre a transição entre a ação/movimento corporal para o pensamento
ou a ideia (pensamento representacional ou simbólico). Nos dizeres de sua
síntese materialista dialética: "Entre o ato motor e o pensamento a evolução
se explica, simultaneamente, por oposição e pelo mesmo" (Wallon,
1942/1970: 239). Já no livro "A formação do símbolo na criança", Piaget pro-
cura dar prosseguimento à tese de que há continuidade genética entre o ato
motor e o ato representativo. Assinala que o processo de desenvolvimento do

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 69


pensamento simbólico é regido pelos invariantes funcionais do desenvolvi-
mento: Adaptação, Organização e Equilibração. Procura demonstrar a prepa-
ração, por parte dos comportamentos próprios do estágio Sensório–Motor,
dos comportamentos próprios da função simbólica, com ênfase na Imitação e
no Jogo. Ambos os autores concordam que o surgimento do pensamento sim-
bólico e da representação marca a presença de uma função simbólica defini-
da como capacidade de evocar objetos ausentes através da representação
mental, relacionando objeto real, objeto simbólico (significante) e significado.
Diversos fatores explicam as discordâncias entre Piaget e Wallon: horizontes
teóricos e objetos de interesse diversos, programas de pesquisa, comunidade
de interlocutores, questões institucionais etc.. Assinalamos que os programas
de investigação protagonizados por cada autor eram distintos. Piaget visava à
compreensão dos processos da construção progressiva do conhecimento,
enquanto Wallon pretendia focalizar o sujeito psicológico em sua totalidade
corporal, emocional e cognitiva. Em consequência, Piaget e Wallon possuíam
concepções diversas frente à representação. No primeiro, ela é um dos as-
pectos do ato de conhecimento sendo instrumento desse processo. No se-
gundo, é entendida como derivada, inicialmente, da capacidade corporal
(proprioplástica) 'colorida' pela afetividade, sendo elemento na interação soci-
al, no longo caminho de diferenciação/individuação, objetivando produzir um
eu singular e autônomo: a pessoa. (CAPES)

Palavras-chave: Jean Piaget - Henri Wallon - pensamento simbólico - repre-


sentação - história da Psicologia

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 70


O método histórico-crítico de Jean Piaget aplicado a uma pesquisa
epistemológica sobre Carl Rogers

Paulo Coelho Castelo Branco


Universidade Federal do Ceará

Piaget se interessou pela Sociologia das Ciências pela sua incursão no cam-
po da Epistemologia, entendida por ele como o estudo da constituição das
condições de acesso aos conhecimentos válidos e suas (re)organizações em
um paradigma. Piaget possibilita uma posição analítica que investiga as con-
dições constitutivas de um conhecimento psicológico e suas ampliações teóri-
cas. Destarte, objetiva-se desenvolver uma reflexão sobre a contribuição do
método histórico-crítico piagetiano e suas implicações para estudar epistemo-
logicamente conceitos psicológicos. Utiliza-se como base as obras “Psicologia
e Epistemologia”, “Lógica e Conhecimento Científico” e “Psicogênese e Histó-
ria das Ciências”. Apresenta-se o método histórico-crítico como uma investi-
gação sobre os elementos que constituem um conhecimento psicológico para
retraçar sua evolução em um caráter internalista e externalista. Para isso,
discute-se a noção de fieri (devir científico), a qual estabelece o cerne de um
conhecimento e o fio condutor que lhe possibilita avançar, superando suas
crises e lacunas teórico-metodológicas. Contudo, nenhum conhecimento se
desenvolve internamente por si próprio, dado que está engendrado por acon-
tecimentos contextuais que lhe possibilitam um espírito científico da época
(Zeitgeist). Nesse sentido, Piaget exemplifica tal articulação pelas epistemolo-
gias: científicas, que resolvem os problemas no interior da própria ciência;
metacientíficas, que fazem importes teóricos e metodológicos de outras ciên-
cias; paracientíficas, que atrelam teorias e métodos de campos diversos na
busca de avanços complementares. Esses modos de pensar indicam uma
variedade de quadros epistêmicos e incutem a necessidade de um critério
metodológico para analisar como ocorreu tal problematização, proposição,

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 71


variação e ampliação do conhecimento psicológico em seus aspectos interna-
listas-externalistas. Assim, o método histórico-crítico propõe: (1) conhecer
profunda e internamente uma ciência em relação à história do seu criador,
seu objeto de estudo, método, teoria e prática, bem como recortar hipotetica-
mente qual seria o seu fieri condutor – ou um deles; (2) discutir e apontar os
problemas e as limitações dessa ciência com base em seu próprio terreno
epistêmico; (3) pelo fieri, estabelecer uma lógica de análise dentro da própria
ciência respeitando a história do seu criador e o seu contexto histórico; (4)
verificar o que o criador da ciência analisada assimilou e elaborou das ideias
que lhe perpassaram. Exemplifica-se isso tomando a noção de organismo
como o fieri que possibilitou o desenvolvimento da Psicologia Humanista de
Rogers, desde o aconselhamento não-diretivo até a abordagem centrada na
pessoa, nos anos de 1928 até 1987. Este fieri foi imprescindível para Rogers
estabelecer sua proposta terapêutica no cenário acadêmico estadunidense. O
estudo disso ocorreu pela organização e leitura cronológica das obras e teo-
rias rogerianas que continham sua concepção organísmica; identificação dos
autores que lhe foram referentes; leitura e apreensão de suas ideias psicoló-
gicas dessas influências; avaliação do que Rogers apropriou dessas ideias.
Constata-se que o fieri em tela foi desenvolvido pela elaboração de influên-
cias funcionalistas, pragmatistas, gestaltistas, personalistas, psicanalíticas
neofreudianas, holísticas e sistêmicas. Conclui-se que o método é útil para
pesquisar as conexões entre uma influência e outra e verificar como esse
conhecimento (re)integra estruturas precedentes, evolui e constitui algo de
novo para a ciência estudada.

Palavras-chave: Carl Rogers - epistemología - métodos de pesquisa-


psicologia - teoria piagetiana

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 72


O self government e o trabalho em equipe – diálogos com Piaget na
pedagogia da Fazenda do Rosário

Adriana Otoni Silva Antunes Duarte


Regina Helena de Freitas Campos
Universidade Federal de Minas Gerais

Esse artigo objetiva demonstrar a utilização do trabalho em equipe e do self-


government por meio dos cursos de formação para professores rurais do
Complexo Educacional da Fazenda do Rosário, ofertados por Helena Antipoff
e seus colaboradores, em Ibirité, Minas Gerais, no período de 1949 a 1973.
Como fontes da pesquisa, foram coletados depoimentos de ex-alunas que
participaram dos cursos, encontrados em dois cadernos de diários arquivados
no Memorial Helena Antipoff, em Ibirité/MG, assim como realizadas entrevis-
tas com quatro ex-participantes dos cursos. A partir da análise de conteúdo
qualitativa, constatou-se que nos cursos enfatizavam-se a liberdade, a ativida-
de e o interesse dos alunos, objetivando favorecer a vivência prática das alu-
nas relacionadas ao trabalho em equipe e o self-government. Além de propi-
ciarem o desenvolvimento de uma compreensão recíproca, levando em consi-
deração o ponto de vista do outro e de incentivarem o debate e a solução de
conflitos por meio do consenso e da tomada de decisões partilhadas para o
alcance de uma solução que seria mais eficaz para o grupo. Percebe-se que
as experiências da Escola Nova, da Escola Ativa de Genebra e do modelo
difundido por Jean Piaget no período em que se tornou dirigente do Bureau
International d’Éducation foram referências apropriadas por Antipoff e seus
colaboradores na construção dos cursos para professores rurais da Fazenda
do Rosário.

Palavras-chave: Escola Ativa - Self government - trabalho em grupo

Abstract: This article aims to demonstrate the use of teamwork and self-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 73


government through training courses for rural teachers at the Educational
Complex of Fazenda do Rosário, offered by Helena Antipoff and her collabo-
rators, in Ibirité, Minas Gerais, in the period of 1949 to 1973. As sources of the
research, testimonies were collected from former students who participated in
the courses found in two diary notebooks filed at the Helena Antipoff Memori-
al, in Ibirité / MG, as well as interviews with four former course participants.
From the qualitative content analysis, it was found that in the courses the stu-
dents 'freedom, activity and interest were emphasized, aiming to favor the stu-
dents' practical experience related to teamwork and self-government. In addi-
tion to promoting the development of a mutual understanding, taking into ac-
count the other's point of view and encouraging debate and conflict resolution
through consensus and shared decision-making to reach a solution that would
be more effective for the group. It can be seen that the experiences of the Es-
cola Nova, the Escola Ativa in Geneva and the model disseminated by Jean
Piaget in the period when he became director of the Bureau International d'É-
ducation, were appropriate references by Antipoff and his collaborators in the
construction of courses for rural teachers at Fazenda do Rosário.

Key words: Active School - Self government - group work

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 74


MESA-REDONDA | QUEM SÃO, ONDE ESTÃO E O QUE FAZEM OS
NOSSOS EX-ALUNOS? ESTUDOS SOBRE AS TRAJETÓRIAS
PROFISSIONAIS DE EGRESSOS UNIVERSITÁRIOS

Sérgio Dias Cirino


Simone Dutra Lucas
Tatiana Pereira Queiroz
Aidê Cristina Silva Teixeira Macedo
Cristina Duarte Viana Soares
Laurent Franck Junior Charles
Universidade Federal de Minas Gerais

Quem são nossos ex-alunos? Onde estão? O que fazem? A universidade os


preparou para os desafios do mundo do trabalho? O que os próprios egres-
sos pensam sobre a universidade? Como a universidade se apropria das ex-
periências de seus egressos? Essas e outras questões são transversais às
discussões sobre o tema “egressos” atualmente em universidades em todo o
mundo. O acompanhamento dos egressos se faz importante, pois proporcio-
na conhecimento sobre as trajetórias, a atuação e a inserção no mercado de
trabalho, permite levantar informações para a (re)elaboração dos cursos e
suas políticas educacionais. Em relação à avaliação de egressos dos cursos
de graduação, é importante destacar que a partir da lei 10.861/2004, que ins-
tituiu o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (SINAES), criaram-
se instrumentos de avaliação institucional para indicar a qualidade das IES,
bem como de seus cursos de Graduação, e o desempenho de seus estudan-
tes. No nível da Pós-graduação, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-
soal do Ensino Superior (CAPES) tem manifestado o desejo de considerar a
atuação profissional dos egressos como elemento importante na avaliação
dos de mestrado e doutorado. O objetivo da mesa é colocar em debate dife-
rentes trabalhos que usaram diferentes metodologias para estudar egressos
da graduação e da pós-graduação. Espera-se que o debate proporcionado

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 75


pela mesa possa iluminar futuras pesquisas e discussões sobre o tema.

Aspectos metodológicos de pesquisa com egressos

Simone Dutra Lucas


Sérgio Dias Cirino
Tatiana Pereira Queiroz
Universidade Federal de Minas Gerais

Os objetivos são identificar e analisar aspectos metodológicos utilizados em


18 pesquisas publicadas, em 2019, no e-book intitulado “UFMG Pesquisa
Egressos”. A análise envolveu: metodologias, fontes de identificação dos
egressos, instrumentos de coleta de dados, estratégias de coletas de dados,
aspectos abordados e dificuldades para o desenvolvimento das pesquisas.
Foram utilizadas metodologias qualitativas e estudos mistos – metodologias
qualitativas associadas à metodologias quantitativas. As fontes de identifi-
cação foram: bases de dados institucionais, tais como pró-reitorias, colegia-
dos de cursos, conselhos profissionais, listas telefônicas, contatos com cole-
gas, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e de Política Urbana,
Classificação Brasileira de Ocupações e Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior. Os instrumentos de coletas de dados foram
questionários e entrevistas, em sua maioria semiestruturados. As estratégias
de coleta de dados foram a realização de entrevistas; a aplicação presencial
de questionários, via contatos telefônicos, por e-mail, pelo Google Docs, pelo
Facebook, e observações em sala de aula. Entre os aspectos abordados,
destacam-se os econômicos, simbólicos, culturais e sociais envolvendo as
trajetórias pessoal e profissional, tais como: sexo, idade, cor/raça, local de
residência, trajetória escolar e acadêmica, natureza da instituição em que cur-
sou o ensino médio, escolaridade dos pais dos egressos, motivos da escolha

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 76


do curso de graduação; evasão da graduação; reprovações; trancamento de
matrículas; conexões entre desigualdades no acesso e permanência no en-
sino superior, a assistência estudantil e a inserção profissional; impacto das
ações afirmativas na vida profissional e acadêmica; bolsas de assistência es-
tudantil; participação em entidades estudantis; dimensões simbólicas e afeti-
vas das interações infocomunicacionais; apego e vínculo com a instituição
acadêmica; perfil profissional; pretensões profissionais; hierarquia entre ca-
rreiras; competitividade no acesso a cursos superiores; nota de corte para
ingresso no curso superior; inserção no mercado de trabalho - exercício pro-
fissional; opinião sobre o curso de graduação – currículo, estágios; autoava-
liação da competência profissional para ingressar no mercado de trabalho;
ações e estratégias adotadas no início da docência; aprendizagens mais sig-
nificativas no início da docência; relação entre formação inicial e iniciação à
docência; desemprego; se estava fazendo pós-graduação; evasão da pro-
fissão; atuação profissional antes e depois do ingresso no curso; influencias
do curso na atuação profissional; natureza das instituições de trabalho – pú-
blicas ou privadas; motivos do ingresso e abandono da carreira; satisfação
profissional; mobilidade social em relação ao grupo familiar; contribuição da
participação em pesquisa científica entre alunos de graduação para a for-
mação de mestres e doutores; participação em eventos científicos de nature-
za distinta; entrevistas com empregadores dos setores público e privado; en-
trevistas com docentes dos cursos dos egressos; análise dos aprovados em
concursos públicos; análise dos participantes em cargos de chefia em serviço
público. Pode-se observar aspectos comuns entre as pesquisas analisadas,
pertencentes a diferentes áreas do conhecimento. As principais dificuldades
encontradas são desatualização das informações para localização dos partici-
pantes, pouca disposição do egresso em participar, escassez de referenciais
teóricos e metodológicos.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 77


Acompanhamento de discentes pela escuta FAFAR:
reflexões de uma prática

Cristina Duarte Vianna Soares


Aidê Cristina Silva Teixeira
Cristina Mariano Ruas
Universidade Federal de Minas Gerais

As políticas públicas de expansão universitária, a lei de cotas e o sistema de


seleção unificada modificaram o ensino superior, sobretudo no que se refere
ao perfil dos ingressantes, em sua maior parte, minorias sociais. Alterações
no perfil socioeconômico dos discentes ensejaram novos desafios às IES,
para repensar a forma de ensino e monitorar a taxa de eficiência, o índice de
efetividade e consequentemente a eficácia do curso. Esses parâmetros se
relacionam com o sucesso do curso e se contrapõem com a evasão. Ressalta
-se que a Portaria MEC 1382 de 31/10/2017 apresenta tal requisito como indi-
cador da qualidade do curso. O Colegiado de Farmácia, juntamente com a
Assessoria Educacional da Faculdade de Farmácia (FaFar-UFMG), preocupa-
dos com esse cenário e com o intuito de se aproximar de seus académicos,
implantaram o serviço Escuta Acadêmica FaFar. A Escuta permite avaliar o
grau de pertencimento e vinculação institucional dos estudantes, já que é sa-
bido que a falta de afiliação universitária interfere diretamente no seu desem-
penho acadêmico e bem-estar. Com a Escuta, pode-se captar os conteúdos
significativos de vivências universitárias, conhecer os desafios enfrentados e
suas estratégias de superação. A Escuta de qualidade ao estudante torna-se
então estratégia no combate à evasão, já que permite conhecer e avaliar as
suas causas e orientar questões concernentes à trajetória acadêmica para a
permanência/sucesso do estudante no curso. Pesquisa longitudinal, iniciada
na FaFar, com todos os estudantes ingressantes no curso de Farmácia a par-
tir de 2018, é realizada de forma contínua a fim de acompanhar aspectos da

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 78


trajetória acadêmica e, futuramente, verificar a inserção e consolidação na
carreira profissional dos egressos mediante monitoramento por questionários
on line nos 1º, 3º e 7º anos após a conclusão do curso. Inicialmente, foi apli-
cado um questionário preliminar (Google docs), intitulado “Avaliação dos
egressos do curso de Farmácia da UFMG”, com amplitude de egressos for-
mados até então. Os dados foram analisados por meio de software SPSS
(IBM) e alguns resultados gerais foram compilados. Essas informações são
usadas para avaliar a matriz curricular e subsidiar o processo de reestrutu-
ração do curso de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais 2017, bem
como aprimorar o instrumento de coleta de dados. O acompanhamento dos
egressos, enquanto estudantes, permite: a) avaliar o perfil socioeconômico e
cultural, a fim de verificar mobilidade social; b) subsidiar ações para imple-
mentação de políticas institucionais, a fim de diminuir a evasão; c) monitorar a
inserção profissional e consolidação da carreira; d) obter feedback para apri-
moramento do curso; e) aproximar a graduação da pós-graduação, uma vez
que as necessidades do mercado podem sinalizar demandas à formação con-
tinuada. Com essa pesquisa, pode-se obter dados para a compreensão da
democratização do acesso ao ensino superior e da efetivação das políticas
públicas para a mobilidade social e diminuição das desigualdades. Ao ouvir
os seus estudantes e egressos, a Universidade exercita a capacidade de se
manter em permanente reflexão/avaliação e aprimora a missão de ofertar
educação de qualidade e relevância social.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 79


Trajetórias profissionais de egressos de um programa de
doutorado em psicologia

Laurent Franck Junior Charles


Sérgio Dias Cirino
Universidade Federal de Minas Gerais

Investigamos a trajetória profissional dos egressos do doutorado do programa


de pós-graduação em Psicologia de uma universidade pública federal brasilei-
ra. A Pós-Graduação no Brasil foi instituída, em 1965, por meio do parecer nº
977 do Conselho Federal de Educação, que estabelece as definições e carac-
terísticas da pós-graduação no País, apesar de ter sido prevista no Estatuto
das Universidades Brasileiras desde 1930. Ela tem como objetivo aprofundar
e desenvolver a formação científica ou cultural obtida na graduação, e os títu-
los de mestrado e de doutorado são considerados critérios para ingresso e
ascensão na carreira docente. Nesse sentido, houve uma expansão do Siste-
ma Nacional de Pós-Graduação por meio do aumento do número dos egres-
sos de pós-graduação no país. A comissão de acompanhamento do Progra-
ma Nacional de Pós-graduação do Ministério da Educação, com base nas
previsões, demonstra que, entre os anos de 2015 e 2020, terá um aumento
aproximado de 25% e de 52% no número de alunos titulados nos cursos de
mestrado e de doutorado respectivamente. No estudo aqui relatado, analisa-
mos a trajetória profissional de todos os 88 doutores, do sexo feminino (56) e
masculino (32), formados pelo programa de pós-graduação em Psicologia em
uma universidade pública federal brasileira, com tempos de inserção profis-
sional diferentes num período de sete anos (2012-2019). A metodologia usa-
da foi a de análise documental, com dados obtidos por meio do currículo Lat-
tes, LinkedIn, entre outros e transformados em um banco de dados. A análise
documental procurou examinar o perfil acadêmico e profissional dos egressos

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 80


do programa, a sua procedência e os seus destinos profissionais. Os resulta-
dos obtidos são referentes aos dados coletados em 2019. Os resultados
apontam que 73 egressos (83%) atuam como docentes de ensino superior
público e privado. A quantidade de egressos atuando como docentes coinci-
dem com a literatura, apontando que a universidade é a principal empregado-
ra dos doutores. Os resultados também indicam que a docência não é mais
uma atividade complementar do psicólogo, mas passa a ser uma área de
atuação exclusiva. O alto índice de inserção profissional, levando em conta o
pouco tempo de titulação de muitos egressos, pode indicar uma qualidade da
formação recebida, dos profissionais ou boas oportunidades do mercado de
trabalho. Esses achados também indicam uma eficácia do programa, uma vez
que a inserção dos egressos no mercado, quer seja como docentes, quer seja
como profissionais, representa um excelente indicador da eficácia do progra-
ma e uma importante dimensão na sua avaliação. (Organização dos Estados
Americanos – OEA)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 81


MESA-REDONDA | ARQUIVOS, HISTÓRIAS, MULHERES E EDUCAÇÃO –
DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Arquivos na história: mulheres, ciências e educação

Polyana Aparecida Valente


Fiocruz/MG

Os arquivos, durante muito tempo, foram tomados como os guardiões de do-


cumentos e, consequentemente, da verdade sobre os eventos passados. No
entanto, a historiografia mais recente propõe mudanças de perspectivas e
apropriações dos arquivos. Eles são pensados como instituições construídas
dentro de interações políticas e relações de poder no espaço e no tempo, dei-
xando o estigma de um lugar de salvaguarda da verdade, para serem analisa-
dos e refletidos como instituição e objeto dentro de um processo de formação
social. Nessa nova concepção teórica, amplia-se a noção de arquivos, seus
tipos e dimensões. Muda também a relação do historiador com os mesmos.
Como propõe Alburquerque Jr. (2009), no texto “O tecelão dos tempos: o his-
toriador como artesão das temporalidades”, o historiador se vê diante de uma
cesta cheia de documentos, relatos, imagens, narrativas e cores, misturadas
de forma caótica. Diante do caos e das tantas possibilidades, ele estabelece
uma ordem, uma trama. Nesse processo, tudo importa: as condições do do-
cumento, como estão guardados, quem guarda, escreve, os cheiros, man-
chas, ausências e intencionalidades. O historiador, enfim, atribui sentidos ao
passado. Pensando nessas mudanças, o presente trabalho propõe reflexões
sobre o fazer historiográfico nos arquivos e sobre a própria escrita da História:
qual a importância e os usos dos documentos para a História? O que busca-
mos nos arquivos, verdades ou construções narrativas? Que personagens e
versões da História estão presentes nos arquivos? Para pensar tais questões,

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 82


recortamos, para a análise, a presença das mulheres nos arquivos, especial-
mente as que possuem trajetórias no campo da ciência e da educação. Pro-
curamos saber quem são essas mulheres, a que grupos sociais pertencem, e
compreender como se dá a inserção delas nesses campos? Compreendemos
que historicamente houve um silêncio sobre presenças femininas nos es-
paços públicos e nas narrativas historiográficas, o que refletiu no apagamento
das mulheres nos arquivos. Por isso, a importância da produção de narrativas
composta por novos enredos, personagens e enquadramentos. Para tanto,
utilizaremos como aporte teórico a História das Mulheres, viés analítico que
procura demonstrar a experiência das mulheres, independente da história dos
homens e das instituições, elegendo as mulheres como protagonistas.

Financiamento: INOVA/Fiocruz

Repositórios institucionais e acesso livre ao conhecimento:


a experiência de pesquisa no acervo Virgínia Schall

Christiane Campos de Araújo


Universidade do Estado de Minas Gerais

O movimento de Acesso Livre ao conhecimento científico tem sido alvo de um


número crescente de debates e conquistado uma quantidade significativa de
defensores. Tal movimento objetiva promover gratuitamente a distribuição da
literatura científica e diminuir os problemas enfrentados pelas universidades
com os elevados valores necessários para a aquisição e a manutenção de
suas coleções. O Acesso Livre se divide em duas vertentes: a Via Dourada,
publicação em periódicos em acesso livre (Open Access Journals), e a Via
Verde, publicação em periódicos com depósito concomitante em repositórios
institucionais ou em repositórios temáticos. Hoje, os repositórios institucionais
representam um caminho alternativo que possibilita às universidades estabe-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 83


lecer mudanças necessárias na comunicação científica. Esses repositórios
podem ser definidos como bibliotecas digitais de uma dada instituição, que
guardam, preservam e garantem livre acesso à produção científica por meio
da internet. Mas, é preciso salientar que os repositórios institucionais são,
antes de tudo, um ator político, com um papel inédito no ciclo de comunicação
científica. Outra possibilidade de repositório que vem se delineando são os
chamados repositórios biográficos, que têm o objetivo de disponibilizar a pro-
dução de um pesquisador notório de forma a contar sua história. Esse tipo de
repositório se organizaria a partir dos arquivos pessoais desses pesquisado-
res, podendo contribuir, ao lado dos arquivos de origem institucional, para a
salvaguarda do patrimônio documental e a compreensão das sociedades mo-
dernas. Para isso, é necessário a realização de tratamento arquivístico, a fim
de que, após sua organização, seja possível garantir e disponibilizar o acesso
a esses acervos. É nesse sentido que está sendo organizado o arquivo pes-
soal da pesquisadora da Fiocruz, Virgínia Schall, falecida em 2015 e que teve
papel de destaque na constituição dos campos da Educação em Saúde, Saú-
de Coletiva, Ensino de Ciências e Divulgação Científica. O acervo deixado por
Schall tem aproximadamente 25 metros, entre documentos textuais, iconográ-
ficos, audiovisuais e sonoros, e digitais. Uma atenção especial foi dada à pro-
dução de materiais educativos da pesquisadora, com o intuito de preservá-
los, identificá-los, catalogá-los e disponibilizá-los para acesso livre no reposi-
tório institucional da Fiocruz, instituição a qual dedicou muitos anos de trabal-
ho.

Financiamento: PCRH/UEMG

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 84


Conexões de arquivos Brasil-Suíça, a biografia de Artus-Perrelet

Marilene Oliveira Almeida


Universidade do Estado de Minas Gerais
Fundação Helena Antipoff

Reflexões sobre como o professor tem lidado com a questão do passado em


sua formação e atuação docente perpassam algumas das pesquisas voltadas
para a história da educação. As pesquisas históricas ajudam o professor a
compreender as experiências do passado, não como soluções aplicáveis para
os problemas atuais, mas a entender a história da educação como indissociá-
vel da ação educativa. Um aspecto intrigante é que as mulheres sempre esti-
veram presentes na trama dessa história, mas não necessariamente na sua
narrativa. Desde 2015, o acervo do Centro de Documentação e Pesquisa He-
lena Antipoff – CDPHA, seção Ibirité, integra um positivo intercâmbio de pes-
quisadores iniciantes dos cursos de licenciatura da Universidade do Estado
de Minas Gerais – Unidade Ibirité. Outras frentes, já antes estabelecidas,
compõem pesquisas de pós-gradução ligadas aos programas da Universida-
de Federal de Minas Gerais. Tendo como característica ser um arquivo pes-
soal e institucional, o acervo de Helena Antipoff (1892-1974) agrega ainda
saberes sobre a atuação e a presença feminina no campo da educação no
Brasil e em outros países, oferecendo-nos fontes sobre um contexto histórico
capaz de conectar histórias, como no caso da artista e professora suíça Loui-
se Artus-Perrelet (1867-1946), que integrou a comitiva europeia de educado-
res na Reforma Francisco Campos (1927-1929). Artus-Perrelet é autora de
um “método” de ensino do desenho para crianças, voltado para a formação
de professores primários, sistematizado no livro Le Desssin au service de l’é-
ducation, originalmente publicado em francês (1917) e traduzido para espan-
hol (1921) e português (1930). A artista trabalhou como professora de Desen-
ho e Modelagem na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Hori-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 85


zonte por dois anos, entre 1929 e 1931, ministrou palestras e um curso inten-
sivo de Desenho e Jogos Educacionais, no Rio de Janeiro, antes de seu re-
torno para a Suíça. A experiência de ampliação da pesquisa em diversos
acervos ajudou a construir a biografia contextualizada de Artus-Perrelet, ten-
do nos revelado nuances de um certo apagamento de seu legado na história
do ensino de arte tanto na Suíça quanto no Brasil. Foram consultados o acer-
vo do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará - MAUC, em Fortale-
za, onde se encontram fontes sobre o artista suíço Jean-Pierre Chabloz (1910
-1984), ex-aluno da educadora no Instituto Jean-Jacques Rousseau, em Ge-
nebra, contratado como designer dos cartazes para divulgação da campanha
de extração da borracha brasileira; o sistema integrado das bibliotecas da
Université de Genève; os dossiês do Département de l'instruction publique de
Genève; hemerotecas digitais com jornais brasileiros e estrangeiros. Os resul-
tados da pesquisa demonstraram a importância de reverberarmos pesquisas
que tragam para a cena da história da educação a forte presença das mulhe-
res ainda pouco visibilizadas.

Financiamento: CAPES; PCRH/UEMG

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 86


MESA-REDONDA | PIONEIROS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL –
PERSONAGENS, INSTITUIÇÕES E PRÁTICAS

Sarah Couto César e a institucionalização da Educação


Especial no Brasil

Márcia Denise Pletsch


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Observatório de Educação Especial e Inclusão Educacional

A institucionalização da Educação Especial ocorreu durante o regime da dita-


dura, com a criação do Centro Nacional de Educação Especial (Cenesp). O
objetivo deste texto é apresentar e discutir o papel de Sarah Couto César,
que foi a primeira diretora-geral do Cenesp, na articulação política para insti-
tucionalizar a Educação Especial nos diferentes estados brasileiros. Igual-
mente, pretende refletir sobre os acordos internacionais com a Usaid na es-
truturação das propostas do Cenesp para formação de professores-
pesquisadores da área. Em termos metodológicos, usaremos documentos e
registros realizados por meio de entrevistas com Sara Couto César, os quais
integram o banco de dados do Observatório de Educação Especial e Inclusão
Educacional. Os resultados foram estruturados a partir de duas premissas
centrais. A primeira é de que a compreensão da institucionalização da Edu-
cação Especial, no Brasil, somente é possível se analisada de forma articula-
da com as mudanças sociais e econômicas, bem como com os interesses de
grupos sociais dominantes. A segunda é de que somente avançaremos ao
analisar a Educação Especial e sua constituição em diálogo com a Educação
em geral. Nesse sentido, apresentamos os dados focando: a) as propostas de
educação de professores/pesquisadores para a Educação Especial; b) as
influências internacionais para a elaboração de políticas na área, como os

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 87


acordos MEC/Usaid e da ONU; c) o papel de Sara Couto César à frente do
CENESP.

Palavras-chave: Educação Especial - Cenesp - Sara Couto César

O Brasil e as origens da educação especial como campo de


conhecimento compartilhado

Mônica de Carvalho Magalhães Kassar


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Entre final do século XIX e início do século XX, organizou-se um campo de


conhecimento que recebeu várias denominações, até a atual “educação es-
pecial”: pedagogia dos anormais (FONTES, 1933), pedagogia dos deficientes
(WÜRTH, 1939), pedagogia especial, ortopedagogia, pedagogia curativa
(ROSENBLUM 1961), educação de excepcionais (BRASIL, 1961). Esse cam-
po especializou-se em educar crianças que, por diversos aspectos, afastaram
-se do que se considerou “normal” em diferentes momentos históricos e orga-
nizações sociais. Na educação brasileira, a população-foco de ações diferen-
ciadas foi identificada e classificada de modos distintos desde as primeiras
atenções profissionais e normatizações que a eles se referiram: crianças idio-
tas (BILAC, 1905/2008), débil de espírito (PIZZOLI, 1914), anormais (PINTO,
1928), débeis físico e mental (SÃO PAULO, 1933), excepcional (BRASIL,
1961), alunos com deficiências (BRASIL, 1971). Como área de conhecimento,
essa pedagogia parece organizar-se de forma mais sistematizada no início do
século XX, de modo que, em 1937, foi criada a “Sociedade Internacional para
a Educação da Criança Excepcional” pelo pedagogo suíço Heinrich Hansel-
mann. A partir dessa iniciativa, em 1939, Hanselmann e Therese Simon orga-
nizaram o I Congresso Internacional da Educação da Criança Excepcional
(HANSELMANN; SIMON, 1940), em que participaram pesquisadores, princi-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 88


palmente dos campos da psicologia e da medicina/pediatría, e representantes
de mais de trinta países. O Brasil enviou como representante Thiago Würth,
“professor de deficientes”, que estava à frente da Escola Pestalozzi na cidade
de Canoas, no Rio Grande do Sul. O propósito deste trabalho é identificar a
posição do representante brasileiro nessa organização inicial e de traçar pos-
síveis derivações dessa participação na organização da educação especial
no Brasil. Para o desenvolvimento da pesquisa, estão sendo consultados do-
cumentos produzidos no período investigado (final do século XIX e início do
século XX), em especial as atas e registros relativos à ocorrência do I Con-
gresso Internacional da Educação da Criança Excepcional, produzidos e pu-
blicados em Genebra, local do congresso, e no Brasil pelo participante envia-
do.

Palavras-chave: educação especial - anormais - excepcionais

Anísio Teixeira e Helena Antipoff: diálogos no campo da história da


educação especial no Brasil

Fernando Gouvêa
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Laboratório de História da Educação Latino-Americana

Esta exposição tem os seguintes objetivos: compreender a trajetória do inte-


lectual mediador Anísio Teixeira como um criador de instituições públicas de
ensino e pesquisa; analisar a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Edu-
cacionais, os seus objetivos e a sua estrutura; entender a dinâmica de funcio-
namento do Centro Regional de Pesquisas Educacionais de Minas Gerais;
desvelar as articulações entre o Centro Regional de Pesquisas Educacionais
de Minas Gerais e o Instituto Superior de Educação Rural (ISER) e, por fim,
examinar as parcerias institucionais estabelecidas por Anísio Teixeira e Hele-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 89


na Antipoff nos anos 1950 a 1960. Evidentemente, trata-se de uma aborda-
gem sucinta, haja vista a natureza de um resumo. Entre as diversas insti-
tuições de ensino e pesquisa criadas por Anísio Teixeira e seus colaborado-
res, é necessário destacar o Instituto de Pesquisas Educacionais, em 1933, e
a Universidade do Distrito Federal, em 1935, no cargo de Diretor-Geral de
Instrução Pública do Distrito Federal. Após dez anos de afastamento, retornou
à gestão das questões educacionais no cargo de Secretário de Educação da
Bahia e criou a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia e o
Centro Educacional Carneiro Ribeiro (Escola Parque), ambas em 1951, o
mesmo ano de criação da Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de ní-
vel Superior (CAPES) na função de Diretor do Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos (INEP). Nesse cargo, fundou o Centro Brasileiro de Pesquisas
Educacionais (CBPE), em 1955, com o objetivo de fundamentar a recons-
trução educacional do país em bases científicas. Assim, o CBPE foi estrutura-
do em divisões. A saber, Divisão de Aperfeiçoamento do Magistério, Divisão
de Documentação e Informação Pedagógica, Divisão de Estudos e Pesquisas
Educacionais e Divisão de Estudos e Pesquisas Sociais. Cabe destacar que
na estrutura organizativa do CBPE havia os Centros Regionais de Pesquisa
Educacional. Tais Centros foram implantados em São Paulo, Bahia, Recife,
Rio Grande do Sul e Minas Gerais, com o foco nas pesquisas e estudos de
caráter regional. O Centro Regional de Minas Gerais, sob a direção de Mário
Casasanta, estava localizado em Belo Horizonte, no Instituto de Educação, e
possuía as mesmas divisões do CBPE. A partir de 1958, ocorreram as parce-
rias entre o Centro Regional de Minas Gerais e o ISER, especificamente, na
participação de profissionais do Centro no Curso Normal Regional e na cons-
trução de um setor de Pesquisas da Comunidade no âmbito do ISER sob a
coordenação do antropólogo Oracy Nogueira. Por fim, o cotejamento dos Bo-
letins Mensais do CBPE e dos documentos do Centro de Documentação e
Pesquisa Helena Antipoff possibilitará o aprofundamento das afinidades eleti-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 90


vas, das redes de sociabilidades e dos diálogos entre Anísio Teixeira e Hele-
na Antipoff, ambos como expressões da “feliz” junção de pensamento e ação
e, mais ainda, intelectuais mediadores na produção e na difusão do conheci-
mento, bem como na criação de instituições de ensino e pesquisa.

Palavras-chave: Anísio Teixeira - Helena Antipoff - História da educação es-


pecial no Brasil, anos 1950 e 1960

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 91


MESA REDONDA | PESQUISAS HISTÓRICAS NO MUSEU HELENA
ANTIPOFF: experiências de ensino, pesquisa e extensão

Camila Jardim de Meira


Universidade do Estado de Minas Gerais

Propõe-se apresentar resultados de experiências relacionadas aos eixos da


Educação Superior: Ensino, Pesquisa e Extensão, na exploração de fontes
históricas do Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff – CDPHA,
proporcionando aos graduandos da Universidade do Estado de Minas Gerais
– Unidade de Ibirité acesso ao acervo e maior conhecimento da história da
Unidade, da educação e do campo pedagógico no Brasil. As atividades reali-
zadas no Museu Helena Antipoff – Ibirité/MG exploram as fontes históricas do
acervo, por meio da perspectiva historiografia pluralista, conduzida com pres-
supostos da nova história. Assume-se a concepção de historiografia pluralista
definida por Barbosa (2011) como estudos que ora enfocam uma abordagem
biográfica, ora temática, além de estudos bibliométricos. Na tentativa de ex-
plorar o vasto acervo museológico realizou-se nos anos de 2017, 2018 e
2019 as seguintes atividades: Projetos de Pesquisa fomentados pelo Progra-
ma de Apoio à Pesquisa – PAPq UEMG – a) Memórias Revisitas (2017 –
2018) e b) Práticas Pedagógicas na Fazenda do Rosário (2019). No eixo da
Extensão foi proposto o Projeto fomentado pelo Programa de Apoio à Ex-
tensão PAEx UEMG e Fundação Helena Antipoff - FHA (2016 e 2019):
GRANJINHAS ESCOLARES. No que se refere ao eixo do Ensino, foram pro-
postas as seguintes Disciplinas Optativas: no ano de 2018 – Tópicos Específi-
cos / Helena Antipoff e Estudos Escolológicos; em 2019 – Tópicos Especiais /
Ciências da Criança – contribuições de Edouard Claparède e Tópicos Espe-
ciais / Ciências da Criança – contribuições de J.J. Rousseau e J.F. Pestalozzi.
Tais ações conectam os graduandos com a história institucional e permitem
iniciação à Pesquisa e Extensão. Além de valorizar os lugares de memória

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 92


(Nora 1984) circunscritos no cotidiano da instituição que abriga tanto o Mu-
seu, quanto a Universidade. Enfim, tais propostas evidenciam perspectivas
dos estudantes envolvidos e proporcionam espaços para que relatem suas
experiências e produções a partir de estudos do acervo. Ainda, destacam-se
os processos de produção, circulação (Pickren, 2012), recepção e apro-
priação (Chartier. 2002) de conhecimentos no Século XX, evidenciando con-
cepções educacionais fundantes o pensamento pedagógico atual. Buscando
destacar conhecimentos produzidos, apropriados e difundidos a partir da ex-
periência registrada no Museu em questão.

Palavras-chave: Pesquisas históricas - Museu Helena Antipoff - Ensino - Pes-


quisa - Extensão

Laboratório de Psicologia e pesquisas pedagógicas Édouard Claparède:


uma perspectiva histórica para o desenvolvimento
de estudos educacionais no municipio de Ibirité

Paula Dantas de Oliveira Pelizer


Centro Universitário Newton Paiva

Este trabalho primeiros resultados de uma pesquisa realizada a partir de estu-


do exploratório de fontes documentais relacionadas ao Laboratório de Psico-
logia e Pesquisas Educacionais Édouard Claparède, instituído por Helena
Antipoff (1892-1974) na Fazendo do Rosário em 1955. Para a compreensão
das transições e tensões sociais decorrentes de mudanças sócio-políticas e
ideológicas na Educação Brasileira no período estudado, foi realizado um es-
tudo Prosopográfico de pensadores relacionados a implementação dos proje-
tos de Educação e de Psicologia no Brasil, dentre eles Helena Antipoff e Édo-
uard Claparède (1873-1940). Durante a pesquisa, foram questionadas quais
seriam as possíveis contribuições da Psicologia Educacional e de sua apli-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 93


cação prática para: a compreensão do desenvolvimento das funções psíqui-
cas superiores em processos de ensino-aprendizagem caracteristicamente
ativos, e a formação integral dos sujeitos em uma perspectiva de “Educação
Humanizada”? Considera-se que algumas áreas de estudo da mente humana
e do funcionamento do cérebro foram influenciadas pelo Movimento Pedológi-
co (séculos XIX e XX), como a Psicologia Educacional e a Psicologia Cogniti-
va, principalmente a partir de uma perspectiva funcional da “Teoria de Asso-
ciação”. O Associacionismo entende ser possível o estabelecimento de novos
caminhos neurais e a fixação de outros, processos que poderiam ser realiza-
dos pelas funções: da memória, da emoção e da inteligência; compreendendo
-se a mente humana como um sistema que se comunica dinamicamente com
outros sistemas. Esta pesquisa buscou identificar os elementos e métodos
utilizados pelo Laboratório de Psicologia da Fazenda do Rosário por meio de
estudo documental de caráter historiográfico, propondo uma sistematização
das formas de avaliação utilizadas para os escopo do projeto de educação
implementado contexto investigado, além da identificação de processos de
apropriações de conhecimentos científicos relacionados ao ensino. Inicial-
mente foi realizada uma análise documental (Ludke e André, 1986) no acervo
do CDPHA e na clínica de Psicologia Édouard Claparède, parte da atual Fun-
dação Helena Antipoff. Em seguida, iniciou-se um Estudo Prosopográfico do
psicólogo e educador Édouard Claparède, considerando a análise das fontes
históricas e pressupostos da Nova História, principalmente dos conceitos de
“recepção, apropriação e circulação” (CHARTIER, 1995; CERTEAU, 2000). A
pesquisa foi conduzida numa perspectiva de historiografia pluralista, que ora
direciona para estudos bibliográficos, ora para pesquisas e associações temá-
ticas (BARBOSA, 2011), considerando principalmente as variáveis qualitati-
vas concebidas no processo de investigação e na análise dos documentos
históricos. Por meio das análises documentais e das relações estabelecidas
com as obras de intelectuais da Psicologia Educacional (séculos XIX e XX),

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 94


contatou-se a realização de ampla pesquisa na área da Psicologia no municí-
pio de Ibirité, evidenciando uma preocupação histórica com o aprimoramento
das práticas pedagógicas. Pode-se concluir que o desenvolvimento de pes-
quisas que busquem verificar os conceitos e aplicações teóricas propostos no
decorrer da história, principalmente na interseção entre as áreas da Psicolo-
gia e da Pedagogia, poderiam contribuir para uma compreensão de elemen-
tos necessários no desenvolvimento de métodos de ensino e aprimoramento
de técnicas educacionais.

Palavras–chave: Laboratório de Psicologia e Pesquisas Educacionais Édo-


uard Claparède - Helena Antipoff - Édouard Claparède

Financiamento: Programa de Apoio à Pesquisa da Universidade do Estado de


Minas Gerais - PApq

Granjinhas e a educação dos corpos das/dos normalistas Fazenda do


Rosário - Ibirité (1957-1967)

Andreia de Fátima Marques Mendes


Universidade do Estado de Minas Gerais

Esta pesquisa surgiu a partir de estudos realizados na Disciplina Optativa


Tópicos Específicos: Pesquisas Históricas no Museu Helena Antipoff,
vinculada ao Curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Minas
Gerais/Unidade Acadêmica de Ibirité – MG, e teve como objetivo central
compreender como se deu a educação das/os corpos das/dos normalistas por
meio dos métodos de ensino utilizados nas Granjinhas na Fazenda do
Rosário no período de 1957 a 1967. Inicialmente buscou-se identificar
aspectos nas práticas educacionais das Granjinhas que indiquem como os
corpos das/dos normalistas eram ou não disciplinalizados. Para tanto foi
realizado um estudo documental com uma abordagem qualitativa, utilizando

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 95


as fontes primárias do Museu Helena Antipoff. Assim, foi selecionado para
início do estudo o livreto escrito por Áurea Nardelli 1957/1967, a escolha da
fonte ocorreu por se tratar de suposto o marco inicial do Projeto das
Granjinhas nos Cursos da Fazenda do Rosário, tais informações estão
descritas em atas localizadas no Museu. Também foram estudados atas,
relatórios e diários. Os documentos evidenciam que este projeto piloto teve
duração de 10 anos e originou as outras Granjinhas. Assim como as outras
atividades da Fazenda do Rosário os corpos eram educados com o objetivo
de torná-los aptos para o trabalho. Existia uma rotina diária desde o horário
em que se levantava até o momento em que as/os normalistas iam se deitar,
tais dados foram anteriormente evidenciados por Mendes (2018). Percebe-se
que toda rotina era programada para um melhor aproveitamento das tarefas
diárias. Entretanto o contato com os documentos provocou outros
questionamentos, inclusive sobre quem eram os sujeitos envolvidos nos
processos educativos e como suas histórias individuais dialogam com
histórias coletivas, eles estariam simplesmente à serviço de estratégias
“macro” e contemporâneas para educação dos corpos? Neste sentido,
pretende-se no ano de 2020 realizar pesquisas prossopografias para
compreensão destes sujeitos e dos grupos em que estão inseridos. Assim
iniciou-se um estudo acerca de Áurea Nardelli, tendo como ponto de partida o
estudo de sua carreira na Fazenda do Rosário, por meio de informações
sobre ela constantes em fontes históricas. Enfim, pretende evidenciar projetos
e percursos individuais e coletivos em uma “suposta educação do corpos”
presente na Fazenda do Rosário.

Palavras-chave: Educação dos Corpos - Fazenda do Rosário - Granjinhas

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 96


Da “Alavanca do desejo despertado” ao corpo social: contribuições de
Claparède e Rousseau para ciência da criança

Paula Lopes Aquino da Silva


Universidade do Estado de Minas Gerais

O presente trabalho tem por finalidade explicitar os esforços e contribuições


realizados por Rousseau (1951) e Claparède (1954) no concerne ao pensar
no campo da Ciência da Criança. Tais estudos surgem em decorrência das
Disciplinas intituladas por “Ciência da Criança” tendo como foco de estudo a
obras clássicas dos teóricos em questão, evidenciadas a partir do acervo do
Museu Helena Antipoff. Na disciplina cursada no primeiro semestre do ano de
2019, estudou-se o livro “Educação Funcional” (1954) de autoria de E. Clapa-
réde (1873-1940). No segundo semestre uma segunda Disciplina foi pensada
a partir de perspectivas dos estudiosos Rousseau e Pestalozzi, tendo como
proposição a leitura e estudo da obra de Rousseau, “Emílio, ou, da Edu-
cação” (1995), e um livro escrito por Firmino Costa em 1965, sobre Pestaloz-
zi, pois, apesar de inúmeras buscas não encontrou-se nenhuma obra de Pes-
talozzi traduzida para a Língua Portuguesa. O acesso ao Museu Helena Anti-
poff e o contato como algumas cartas em espanhol de autoria de Pestalozzi
(1827), enriqueceu os estudos sobre o autor. Durante a trajetória de partici-
pação nas disciplinas, para facilitar e fomentar a leitura, foram definidas
“Chaves de leitura”. Foram dessas delimitações que surgiram as discussões
acerca das contribuições dos autores para a Ciência da Criança. Claparède
relaciona-se ao campo da Psicologia Experimental, contribuiu de maneira sig-
nificativa no campo da Psicologia em diálogo com a Educação, suas contri-
buições na contemporaneidade estão presentes, influenciaram pensadores
como, Sigmund Freud (1856-1939); e, Antipoff (1892-1974), Piaget (1896-
1980), dentre outros. Entretanto, Claparède é geralmente pouco mencionado
no ambiente acadêmico. Além das contribuições teóricas do autor no movi-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 97


mento de pensar relações entre a Psicologia e a área da educação. Cla-
parède propõe-se à pensar uma Educação Funcional, explicitando os proces-
sos mentais que são realizadas pelas crianças referindo ao seu papel, e res-
saltando a utilidade desse mecanismo para uma ação, seja presente, futura,
para a vida do indivíduo. O autor formula ao longo do livro e explicita: termos,
a exemplo “alavanca do desejo”, Leis e Atos para ilustrar a estrutura do que
ele denomina por “Funcional”. Não podemos negar as influências de Rous-
seau sobre Claparède. No livro “Emílio, ou da Educação”, o autor evidencia a
necessidade de dar atenção a infância, e de se conhecer a criança. Rous-
seau foi um dos primeiros autores a pensar a infância, de pensar a criança,
em sua ambiência vista e entendida como “mini-adulto”. Rousseau se esforça
para unir sua proposta pedagógica a propor uma Educação do homem, mais
também de um cidadão exemplar, dessa proposta que originou o interesse
em averiguar o que o autor chama de “corpo social”. Dessa forma, os arqui-
vos encontrados no Museu suscitam questionamentos, ao mesmo tempo, que
nos apresentam “respostas”. A leitura das obras permitiu avançar na com-
preensão de conceitos e concepções que trazem a criança para o centro do
processo, além disso, criam novos questionamentos que provocam novos
estudos acerca da compreensão da Educação e da Pedagogia.

Palavras-chave: Psicologia - Educação - Infância

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 98


Contribuições D J.F. Pestalozzi (1746 – 1827) para ciencias
da educação: primeiras leituras

Cleide Aparecida Alves


Universidade do Estado de Minas Gerais

Este trabalho pretende trazer um relato acerca de reflexões da obra de J.F.


Pestalozzi (1746-1827) a partir de estudos realizados durante Disciplina Opta-
tiva Tópicos Especiais: Contribuições de Rousseau e Pestalozzi para a Ciên-
cia da Criança, cursada na Licenciatura em Pedagogia da Universidade do
Estado de Minas Gerais - Unidade Ibirité. O componente curricular teve como
objetivo principal realizar leitura de obra dos autores, entretanto não foi possí-
vel localizar um livro de Pestalozzi traduzido para a Língua Portuguesa. Ini-
cialmente foi identificado no Museu Helena Antipoff, o livro “Pestalozzi” escrito
por Firmino Costa no ano de 1965, o acesso ao Museu Helena Antipoff tam-
bém permitiu a identificação da Obra: “Cartas sobre La Educación Prima-
ria” (1827), escrita por Pestalozzi com tradução em Língua Espanhola. Apesar
da Disciplina cursada propor um diálogo entre as ideias educacionais de Pes-
talozzi e Jean-Jacques Rousseau no livro Emílio ou da Educação de (1951)”.
Optou-se pelo foco nos conceitos e ideias de Pestalozzi. As aulas na Discipli-
na tiveram um formato próximo de um grupo de pesquisa, além das leituras
prévias e intenso debate, evidenciou-se o contexto de elaboração das obras
estudadas. As cartas escritas por Pestalozzi, fazem uma defesa pelo método
intuitivo e pela aproximação das crianças com a natureza. Além disso, eviden-
ciou-se diferenças sutis entre a obra escrita “pelo autor” e a obra “escrita so-
bre o autor”. Na obra de Firmino, Pestalozzi é descrito como grande amigo da
humanidade e vinculado à religiosidade católica, decerto Pestalozzi traz gran-
de marca da religião e da espiritualidade, chegando relacionar a finalidade da
educação “a elevação espiritual da natureza humana”, entretanto o autor pro-
fessava a fé protestante. Pequenos detalhes apontam para a importância de

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 99


realização de leituras mais próximas da fonte original. Nas cartas lidas, Pesta-
lozzi faz uma defesa pela educação pelo amor e vincula a figura do educador,
à figura maternal. Ressalta ainda, a necessidade de não se apressar a cria-
nça, que deverá seguir o “curso da natureza do homem”. Assim tendo a natu-
reza como guia, não se deve colocar as palavras antes das coisas e sim “as
coisas antes das palavras”. A descrição detalhada de Pestalozzi do seu dia a
dia como educador revelam maneiras de se pensar a educação por meio do
amor, um amor reflexivo e uma educação capaz de conduzir os homens “à
felicidade”. Enfim, a leitura do texto “original” permite localizar o autor em sua
ambiência e ampliar as reflexões.

Palavras-chave: Pestalozzi - Museu Helena Antipoff - Educação - Método In-


tuitivo.

Contribuições de E. Claparede (1873 – 1940) E J.J. Rousseau (1712-1778)


para ciências da educação: primeiras leituras

Rayane Kênia Marques de Paula


Universidade do Estado de Minas Gerais

Este trabalho é proveniente de estudos e discussões realizadas em duas dis-


ciplinas optativas do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Mi-
nas Gerais, Unidade Ibirité, a partir de obras identificadas no Museu Helena
Antipoff. Dentre elas destacam-se as livros lidos: “A Educação Funcional de
Edouard Claparède (1954)” e “Emílio ou da Educação de Jean-Jacques Rous-
seau (1951)”. Claparède no texto “Educação Funcional” colocou à tona ques-
tões que talvez não tenhamos nos feito há um tempo, mas são imprescindí-
veis à Educação: “que é uma criança? Para que serve a infância?”. Tais ques-
tionamentos mantem-se atuais, principalmente quando o foco é a criança co-
mo sujeito em desenvolvimento, em consonância com concepções apregoa-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 100


das pelo atual Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990). A obra
de Claparède pauta-se em prerrogativas levantadas por Rousseau, que evi-
dencia no livro “Emílio ou da Educação”, a necessidade de considerar o esta-
do da infância, enfatizando as aprendizagens e processos pelos quais a cria-
nça passa, assim suas experiências são propícias e devem ser analisadas
para criação de referências, que servirão para sua formação adulta. As leitu-
ras realizadas incitaram questionamentos e evidenciaram a necessidade de
mudança em práticas educacionais. Além disso, as disciplinas propostas pro-
porcionou, maior contato com o acervo do Centro de Documentação e Pes-
quisa Helena Antipoff – CDPHA, incluindo a Sala Antipoff na Biblioteca central
da UFMG, e possibilitou observar que em consonância com os teóricos estu-
dados a obra da educadora Helena Antipoff, registra práticas que concebe
educação como um “laboratório”. Dessa forma, o foco está no estudo da cria-
nça e suas particularidades, considerando suas vivências e aquilo que ela
carrega consigo. Colocar em evidência a ideia de que a criança está em de-
senvolvimento biopsicossocial, suas necessidades e interesses, rompe com a
necessidade dos adultos de ter sempre uma definição e moldes para as
coisas que as crianças ainda não decidiram ou ainda não descobriram.

Palavras-chave: Ciência Da Criança - Educação - Infâncias - Museu Helena


Antipoff

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 101


Resumo das
Sessões Coordenadas

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 102


SESSÃO COORDENADA 1: CIÊNCIA ABERTA, MUSEUS E ACESSO AO
CONHECIMENTO

ENGLISH AS MEDIUM OF INSTRUCTION (EMI) COMO METODOLOGIA


FACILITADORA DE COMUNICAÇÃO E CIRCULAÇÃO DE SABERES

Delba Teixeira Rodrigues Barros


Universidade Federal de Minas Gerais
Rosângela Escalda

English as a Medium of Instruction (EMI) é uma metodologia que visa a pre-


parar estudantes de graduação e pós-graduação – bem como profissionais de
diversos países - para participarem de atividades acadêmicas em língua in-
glesa. Segundo definição, EMI é “o uso do idioma inglês para ensinar discipli-
nas acadêmicas (exceto o próprio inglês) em países ou jurisdições em que o
primeiro idioma da maioria da população não é o inglês”. Centrado no modelo
do aprendizado integrado de conteúdo e idioma - Content & Language
Integrated Learning (CLIL) -, o EMI contribui para que o estudante/
pesquisador desenvolva confiança na sua habilidade de comunicar ideias,
achados e reflexões em idioma inglês. O foco dessa metodologia é a comuni-
cação do conteúdo e não a excelência no idioma. Conectado ao Quadro Eu-
ropeu Comum de Referência (QECR), o objetivo é que os participantes alcan-
cem a proficiência B2, equivalente a um usuário independente. Uma de suas
características é contribuir para reduzir o medo do aluno de cometer erros no
idioma, além de ter um objetivo duplo: conteúdo e idioma de aprendizado.
Fundamenta-se em um modelo de quatro Cs: Conteúdo (deve incluir habilida-
des de pensamento crítico); Comunicação (ensino de idiomas planejado e
incidental); Cognição (incorporação da linguagem acadêmica) e Cultura
(introdução a diferentes narrativas). Seu lema é “usar idiomas para aprender

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 103


e aprender a usar idiomas”. Considerando a potencialidade do EMI, foi pro-
posto um modelo de seminário para um grupo de pesquisa da área da psico-
logia, dividido em quatro módulos. O objetivo do primeiro módulo é estimular
os participantes a falarem em inglês focando em tópicos de seus projetos de
pesquisa, reforçando a importância da comunicação de suas ideias e achados
científicos em detrimento da perfeição do uso do idioma. A essência do se-
gundo módulo é o desenvolvimento de vocabulário específico da área, aten-
tando para pronúncia e ampliação dos termos pertinentes à sua área de con-
hecimento. O terceiro e o quarto módulos abordam a preparação de breves
palestras e estratégias de apresentações, criação de slides e exploração das
ideias de forma clara e precisa. Como tarefa final, cada participante do semi-
nário apresentará, ao grande grupo, uma breve palestra de, no máximo, dez
minutos. Cada apresentação será seguida de uma discussão focada em es-
tratégias para melhorar a comunicação da pesquisa, incluindo o vocabulário e
a própria palestra. Na conclusão do seminário, serão compartilhados aprendi-
zados, dúvidas e aspectos a serem abordados na próxima turma. Espera-se
que o seminário contribua para que os pesquisadores do grupo se engajem
no esforço de melhorar suas habilidades em interagir com seus colegas e
praticar uma comunicação clara e cuidadosa no idioma inglês. Acredita-se
que, como resultado, se sintam mais confiantes quando tiverem a oportunida-
de de participar de reuniões de circulação e internacionalização de saberes
globais usando o idioma inglês como ferramenta de transmissão.

Palavras-chave: English as a Medium of Instruction - EMI - Internacionali-


zação

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 104


MUSEU: UM LUGAR TAMBÉM PARA APRENDER

Élida Cristina Nazelli Riquetti


Gabrielle de Aguilar Magnani
Giovana Melo Guimarães
Universidade Federal de Minas Gerais

Este artigo é o resultado de noventa horas de observação do estágio obriga-


tório, em ambiente não escolar, realizado por três alunas do curso de Peda-
gogia da Universidade Federal de Minas Gerais, sendo que cada uma efetiva-
mente observou em um período de trinta horas no Museu de História Natural
e Jardim Botânico da UFMG (MHNJB). Objetiva discutir como as interações
em espaços de museus podem contribuir no processo de aprendizagem de
alunos, através do ensino não formal, rico em significações, ludicidade, con-
textualizações, interatividade entres sujeitos e possibilidades, para que se
construa o conhecimento, além de agregar à aprendizagem feita nas escolas
com os saberes trabalhados no museu. As informações relatadas neste tra-
balho foram coletadas por meio de observação não participante, análise de
relatórios de estágio das autoras do artigo e revisão bibliográfica. Os resulta-
dos demonstraram a relevância que museus têm na apropriação e consoli-
dação de conhecimentos em alunos da educação formal, bem como sua
função na sociedade como um instrumento a ser utilizado por professores e
pelas escolas. Sendo o museu também um local de educar as pessoas, ao
mesmo tempo em que se acessa o acervo e desfruta do ambiente da nature-
za, percebeu-se uma ampliação das possibilidades de um aproveitamento
pedagógico dos acervos, proporcionando uma aprendizagem aliada a ele-
mentos cognitivos e afetivos, podendo gerar uma maior motivação dos alunos
para uma escuta mais compreensível e acessível. O MHNJB foi um lugar es-
sencial para se perceber o quão importante as visitas aos museus podem ser
e o seu grande potencial de contribuição no processo de aprendizagem dos

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 105


alunos, realizando o mesmo de uma forma mais lúdica. Foi através deste es-
tágio que pode-se entender que o museu não é um lugar chato ou entediante
como muitos pensam, mas que pode ser um espaço divertido, que permite
interações entre os visitantes e as atrações, para que assim a visita não seja
algo massante e sim um momento de descontração e diversão. Constatou-se
que a educação no museu não é uma ruptura, mas uma continuação da
aprendizagem significativa e contextualizada com a realidade e o concreto,
que permite a ampliação do espaço, discursos, objetos e linguagens. Por es-
sa razão, permitir que alunos façam excursões direcionadas a esses espaços
com seus professores e monitores do museu é fundamental para aliar o que
se aprende nas escolas com a realidade material concreta presente em am-
bientes museais.

Palavras-chave: museus - formação em Pedagogia - educação não formal

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 106


AS CONFIGURAÇÕES MUSEAIS CONTEMPORÂNEAS DO AMSTERDAM
MUSEUM E A RELAÇÃO COM O SEU PÚBLICO

Leonardo Gonçalves Ferreira


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
Campus Leopoldina

Observa-se, nas últimas décadas, não apenas uma vigorosa proliferação dos
museus pelo mundo, mas também um profundo processo de remodelação de
suas configurações e pressupostos. Fato é que o museu mudou, buscando
um novo papel social frente aos atuais contornos da globalização. Em linhas
gerais, pode-se dizer que o museu nasceu, e se constituiu, como uma das
instituições que mais refletiam as características do mundo ocidental mo-
derno. Academicista, cientificista, enciclopedista e historicista, o museu confi-
gurava-se como o guardião da história oficial da nação e dos “vencedores”,
evitando discursos que pudessem evidenciar a pluralidade e a diversidade de
seu contexto social. Não obstante, o museu tentou, nos últimos anos, ampliar
seu escopo de abrangência, repensar seu lugar na sociedade e remodelar
sua estrutura. É possível observar que os museus buscaram alargar seus
processos de patrimonialização, o que implicou na tentativa de inclusão de
narrativas passíveis de constituir múltiplas composições identitárias. Determi-
nados grupos sociais, e suas memórias, até então excluídos dos processos
de legitimação patrimonial, passaram a reivindicar espaço nessas instituições.
Surgem, então, ao invés de apenas um discurso oficial, narrativas paralelas
que tentam contemplar, de maneira mais democrática, segmentos sociais que
inicialmente não ocupavam lugar em um espaço museal. É no contexto dessa
reflexão que surge o problema do presente trabalho: seria possível afirmar
que as transformações pelas quais os museus passam no mundo contempo-
ráneo têm modificado a relação com o seu público? Mais ainda: a maior
abrangência temática, a participação e os novos recursos expográficos têm

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 107


ampliado a apropriação dos museus por segmentos sociais diversos em suas
capacidades de identificação, interpretação, significação e subjetivação? A
pesquisa de campo, realizada no Museu de Amsterdã, aconteceu no segundo
semestre de 2015. Para a presente reflexão, usei os dados produzidos na
pesquisa documental que tinha como objetivo reunir material que pudesse
reconstituir um percurso temático e estatístico do museu dentro de um deter-
minado recorte temporal. O propósito foi analisar se e como ocorreu o proces-
so de transformação do museu, observando a variação dos temas das suas
exposições, assim como suas expografias, ao longo dos anos. Além disso,
com os dados estatísticos, busquei verificar se, ao longo do período estipula-
do, houve uma transformação na relação do público com a instituição e na
composição do perfil de seus visitantes. A reconstituição desses percursos
temáticos e estatísticos ofereceu chaves para interpretar se houve um proces-
so de transformação no museu estudado que reverberou em apropriações
mais amplas e diversificadas por parte de seus visitantes. Contudo, com o
desenvolvimento da pesquisa, pude observar que a abrangência temática e o
uso dos novos recursos expográficos, por si sós, não se mostraram suficien-
tes para ampliarem a apropriação do museu ou diversificarem o seu público
em seus interesses. Os resultados alcançados no estudo realizado, e as con-
clusões de outras investigações, apontaram para os limites dos processos
que tentam transformar os museus de maneira a ampliar a sua apropriação
por um público mais diversificado.

Palavras-chave: museus – exposições - estudos de público

Fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de


Nível Superior.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 108


SESSÃO COORDENADA 2: CIRCULAÇÃO, RECEPÇÃO E
CONTEMPORANEIDADE DAS OBRAS DE JEAN PIAGET NO BRASIL E
NA AMERICA LATINA 1

O REAL E O VIRTUAL: A CONSTRUÇÃO DAS ESTRUTURAS LÓGICAS


ELEMENTARES E INFRALÓGICAS DE TEMPO

Daniela Borges da Silva Melo


Orly Zucatto Mantovani de Assis
Universidade Estadual de Campinas

O impacto das mídias, da internet e dos aparelhos eletrônicos de tela (AETs)


sobre o desenvolvimento infantil é um tema mais atual do que nunca. De fácil
acesso, esses dispositivos interativos, literalmente, nos tomam o tempo e
muitas pessoas não estabelecem limites para o seu uso. Em idade de pleno
desenvolvimento, crianças têm deixado de brincar, explorar e se relacionar
entre pares para passarem horas em frente a um AET. Tendo como funda-
mento a teoria de Jean Piaget, a qual ressalta a importância do papel da ação
da criança no meio em que está inserida para a aquisição dos conhecimen-
tos, se coloca uma grande preocupação no que diz respeito à construção das
estruturas da inteligência, isto é, as denominadas estruturas operatórias con-
cretas e as estruturas infralógicas de tempo. Esta pesquisa teve por objetivo
investigar se o contato de ao menos três horas diárias com AETs influenciam
a construção das estruturas mencionadas. Foram escolhidas intencionalmen-
te 21 crianças de 8 a 11 anos de idade de uma escola particular da Região
Metropolitana de Campinas, que preenchiam os critérios para compor a
amostra da pesquisa. Para a coleta de dados, foi utilizado o método clínico de
Piaget. Foram realizadas individualmente as aplicações das provas de diag-
nóstico do comportamento operatório com as crianças da amostra. Após essa

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 109


avaliação, os sujeitos realizaram outras três provas piagetianas referentes à
construção dos conceitos da noção de tempo, imprescindíveis para a cons-
trução objetiva do real. A fim de responder ao problema formulado, os dados
coletados foram analisados por meio de tratamento estatístico, de modo que
as questões da pesquisa pudessem ser respondidas e as hipóteses pudes-
sem ser testadas. Os resultados evidenciaram que as crianças avaliadas
apresentam um atraso no desenvolvimento das estruturas operatórias concre-
tas e na estrutura infralógica de tempo, que implica o pensamento reversível,
presente no período operatório concreto. Os resultados encontrados foram
que os 21 participantes da amostra não construíram inteiramente a noção
temporal. Como vinte crianças dessa amostra não apresentaram reversibilida-
de em seu pensamento, não poderiam ter construído a estrutura infralógica
de tempo. Pressupõe-se que esses resultados possam evidenciar possíveis
relações entre o uso excessivo de AETs e a construção das estruturas ope-
ratórias concretas e as infralógicas de tempo, embora não possam ser gene-
ralizados em grande escala.

Palavras-chave: Piaget - construção do real – tempo – desenvolvimento -


aprendizagem

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 110


DA ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE MINAS GERAIS AO CURSO DE
PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS:
CIRCULAÇÃO DAS OBRAS DE JEAN PIAGET NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Deolinda Armani Turci


Faculdade de Educação
Universidade do Estado de Minas Gerais (FAE/UEMG)

As teorias de Jean Piaget circularam, em Minas Gerais, desde meados do


século XX, tanto no âmbito da Escola de Aperfeiçoamento do estado quanto
da imprensa pedagógica, através da Revista do Ensino, periódico de divul-
gação de atos oficiais do governo, relatórios, legislações, trabalhos teóricos e
práticos em educação. Nessa Revista, por exemplo, alguns volumes do ano
de 1932 indicam obras do autor como referências para compor bibliotecas
para os professores. Para este trabalho, parte de outro mais amplo sobre a
disciplina de Psicologia Educacional na formação docente na capital mineira,
proponho investigar a circulação das obras de Piaget na formação de profes-
sores, em Belo Horizonte, na Escola de Aperfeiçoamento de Minas Gerais, no
Curso de Administração Escolar e no curso de Pedagogia do Instituto de Edu-
cação de Minas Gerais (IEMG) e no curso de Pedagogia da Faculdade de
Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) da década de
1930 aos dias de hoje. Para alcançar esse objetivo, utilizo a análise documen-
tal em ementas e programas de disciplinas, projetos de cursos, relatórios,
entre outros localizados na Faculdade de Educação (FAE) da UEMG. A partir
da seleção dos documentos, produzi quadros informativos com dados, tais
como localização e data do documento, disciplina, edição e ano de oferta
desta, título da obra, além de observações gerais. Os resultados preliminares
apontam que no Curso de Administração Escolar do IEMG, em funcionamen-
to de 1946 a 1968, conteúdos relativos à teoria piagetiana estavam presen-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 111


tes, por exemplo, na disciplina de Psicologia Educacional (geral e experimen-
tal) ofertada em 1965/66. Mesmo sem acesso às referências bibliográficas da
mesma, identifiquei, entre os tópicos descritivos da disciplina, termos relacio-
nados à divisão etária proposta por Piaget. Extinto no final da década de
1960, o Curso de Administração Escolar deu origem ao curso de Pedagogia
no mesmo instituto, com funcionamento entre 1970 a 1995. No período de
1970 a 1974, identifiquei o livro “A linguagem e o pensamento da criança”,
obra de 1959, como referência nas disciplinas de Metodologia da linguagem I
e Metodologia do Ensino de 1º grau: Comunicação e expressão IV; a indi-
cação de “Gênese das estruturas lógicas elementares” de 1971 nas discipli-
nas de Metodologia do Ensino de 1º grau: Matemática II e Metodologia do
Ensino de 1º grau: Matemática V; e na disciplina de Psicologia da Educação
III do mesmo período, localizei a informação de que “todas as obras de Pia-
get” seriam referências para a mesma. A pesquisa sobre os demais períodos
e cursos ainda se encontra em andamento, inclusive no tocante à Escola de
Aperfeiçoamento, que funcionou durante o período de 1929 a 1946. Das
ementas de curso já localizadas, compreende-se que as obras de Piaget tin-
ham papel significativo na formação de professores nessas instituições e que,
em algumas situações, as indicações bibliográficas eram obras recém-
traduzidas no Brasil. Além disso, é visível que nos currículos a partir da déca-
da de 1970, essas obras não compunham apenas as referências bibliográfi-
cas da disciplina de Psicologia Educacional, mas passou a ser referência para
outras disciplinas também.

Palavras-chave: Jean Piaget – circulação - formação de profesores - insti-


tuições mineiras

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 112


APROXIMAÇÕES TEÓRICAS ENTRE ÉDOUARD CLAPARÈDE E JEAN
PIAGET: PERSPECTIVAS E ENTENDIMENTOS ACERCA DE
DESENVOLVIMENTO MENTAL DURANTE O MOVIMENTO PEDOLÓGICO
DO SÉCULO XIX

Paula Dantas de Oliveira Pelizer


Centro Universitário Newton Paiva
Mônica Freitas Ferreira Novaes
Camila Jardim de Meira
Universidade do Estado de Minas Gerais
Regina Helena de Freitas Campos
Faculdade de Educação / Universidade Federal de Minas Gerais

Este trabalho apresenta breve discussão de resultados iniciais de uma pes-


quisa realizada a partir do estudo historiográfico no CDPHA (Centro de Docu-
mentação e Pesquisa Helena Antipoff) e da análise de obras do teórico Édo-
uard Claparède (1873-1940), neurologista, psicólogo suíço e estudioso dos
fenômenos da mente humana de forma funcional, que propõe um estudo
dinâmico das funções mentais por meio da Psicologia Experimental. A partir
dessa leitura, foram observadas perspectivas e entendimentos acerca de de-
senvolvimento mental durante o Movimento Pedológico do século XIX. Esse
movimento versa sobre estudo aprofundado da Ciência da Criança e pauta-se
em bases da “Pedologia”, termo “cunhado por Oscar Chrisma, um dos discí-
pulos de Stanley Hall” (CLAPARÉDE, Édouard; 1956; p. 70). A “Pedologia”
caracteriza-se pelo estudo da Psicologia Infantil e da investigação empírica de
testes destinados à medição da inteligência ou à padronização do rendimento
escolar, e os objetivos das pesquisas realizadas na conjuntura do Movimento
Pedológico diferenciam-se a partir do contexto em que os autores estavam
inseridos e das demandas sociais. Durante a pesquisa, também foi introdu-
zido um estudo à teoria Piagetiana acerca do desenvolvimento da criança, da

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 113


linguagem e o pensamento do ponto de vista genético, do papel da noção de
equilíbrio na explicação psicológica, e da gênese e estrutura na Psicologia da
Inteligência. Foram comparados os conceitos de “Inteligência” propostos por
Claparède e Piaget (1896-1980) para compreensão das pesquisas científicas
relacionadas ao desenvolvimento humano, além de identificar possíveis apro-
ximações e distanciamentos teóricos nas obras estudadas dos dois autores,
considerados influentes no Movimento Pedológico (século XIX). Trata-se de
pesquisa considerada qualitativa pautada nos pressupostos da nova história e
uma perspectiva historiográfica pluralista, Barbosa (2011). Após a revisão
bibliográfica, foram identificadas fontes históricas a partir do tema “Avaliação
Psicológica” e Testes Psicológicos utilizados pelo Laboratório de Avaliação
Psicológica e Pesquisas Educacionais Édouard Claparède, instituído na
Fazenda do Rosário, em 1955, buscando-se verificar as influências da Psico-
logia Experimental e do conceito de “inteligência” em experiências formativas
e propostas educacionais nos contextos brasileiros. Após a identificação de
fontes históricas no Museu Helena Antipoff, destacaram-se Testes Psicológi-
cos utilizados para aferir medidas coletivas e individuais de Inteligência em
crianças e adolescentes da Região Metropolitana de Ibirité. Também foi reali-
zada uma pesquisa no acervo do Laboratório de Avaliação Psicológica do
Centro Universitário Newton Paiva (LAPSI-NP) por meio de parceria interinsti-
tucional, buscando-se a identificação de possíveis referências para o estudo
dos Testes identificados no acervo do CDPHA. A partir da localização de
obras no acervo do LAPSI-NP, foi realizada a leitura da coleção “Los Tests”
de 1966, escrito pela psicóloga e psicanalista húngara Béla Szérkely (1892-
1955), buscando-se o estudo dos métodos e técnicas psicológicas para a ela-
boração de propostas educacionais e práticas pedagógicas que consideras-
sem os conceitos de inteligência e desenvolvimento mental propostos por
teóricos do século XIX. Ao final da pesquisa, observou-se a interlocução de
saberes entre as áreas da Psicologia e da Pedagogia na compreensão cientí-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 114


fica dos processos de desenvolvimento da mente humana.

Palavras-chave: Édouard Claparède - Jean Piaget - desenvolvimento mental

Fonte de financiamento: Newton Paiva

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 115


SESSÃO COORDENADA 3: CIRCULAÇÃO, RECEPÇÃO E
CONTEMPORANEIDADE DAS OBRAS DE JEAN PIAGET E DAS
CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA 2

AS IMPLICAÇÕES DO JOGO NA OBRA DE JEAN PIAGET:


DOS INDÍCIOS EPISTEMOLÓGICOS À PERCEPÇÃO DOS EXPOENTES
DA PSICOGÊNESE

Kleber Tüxen Carneiro


Universidade Federal de Lavras
Orly Zucatto Mantovani de Assis
Universidade Estadual de Campinas

Trata-se de um resumo que alvitra compilar os resultados (preliminares) de


uma pesquisa em desenvolvimento, cujo teor procurou cotejar as represen-
tações e concepções de alguns expoentes da psicologia genética, em relação
às implicações do jogo para a obra de Jean Piaget, visto que alguns estudio-
sos do fenômeno lúdico advogam que seu emprego, no interior dessa matriz
teórica, limitar-se-ia a uma perspectiva meramente instrumental. Em outras
palavras, buscou-se examinar o status epistemológico do fenômeno lúdico
para a epistemologia genética, segundo a percepção de alguns dos principais
signatários dessa teoria, na direção de reposicioná-lo epistemologicamente,
com efeito, rechaçar as associações que anotam que ele, o jogo, ocuparia tão
somente a categoria de recurso pedagógico para a epistemologia genética.
Para tanto, empreendemos uma investigação científica assentada sob os
pressupostos de uma pesquisa qualitativa, que atendeu com propriedade os
objetivos de absorver, ao máximo, os dados apurados a partir dos relatos
orais dos participantes. Ao eleger a perspectiva qualitativa, o pesquisador
volta-se para a busca do significado das coisas, porque este tem um papel

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 116


organizador nos seres humanos. Aquilo que as “coisas” (fenômenos, manifes-
tações, ocorrências, fatos, eventos, vivências, ideias, sentimentos, assuntos)
representam dá "molde" à vida das pessoas. Num outro nível, os significados
que as “coisas” ganham passam também a ser partilhados culturalmente e,
assim, organizam o grupo social em torno dessas representações, con-
cepções e simbolismos. Enquanto abordagem, tratou-se de um desenho ex-
ploratório, dado que não há muitos estudos que se dedicam a perscrutar o
espaço (epistemológico) do jogo sob essa perspectiva teórica. Participaram
da investigação (até o momento) seis depoentes, sendo que os critérios pré-
estabelecidos para participação seriam: possuir doutorado; dialogar e produzir
conhecimento à luz da epistemologia genética; orientar e supervisionar trabal-
hos científicos na referida área; possuir produção que apresente correlação
entre Jogo, Educação e Psicogênese e conhecer, com algum grau de profun-
didade, a biografia de Jean Piaget. Na qualidade de recurso para coleta dos
dados empíricos, recorreu-se a entrevistas com base em um roteiro semies-
truturado, no qual constavam quatro eixos temáticos, quais sejam: Dados
Pessoais, Profissionais e Formativos; Quanto à Biografia de Jean Piaget; O
(lugar do) Jogo na Epistemologia Genética e a Relevância do Jogo para Edu-
cação sob a perspectiva da Psicogênese. Como instrumento analítico a fim de
cotejar as narrativas dos depoentes e instituir categorias de análise, empre-
gou-se a “Análise de Conteúdo”. Em linhas gerais, os resultados
(preliminares) sinalizam para três alocações epistemológicas do fenômeno
lúdico sob o perscrutar da psicogênese, sob o entendimento dos entrevista-
dos. A primeira situa o jogo como vetor primário do desenvolvimento humano,
portanto, imprescindível para a teoria psicogenética, uma vez que ela (lê-se a
teoria psicogenética) se inclinou a entender a gênese do conhecimento hu-
mano. Já a segunda vertente interpretativa compreende-o na qualidade de
uma dimensão (de atividade) humana, presente na criança, no adolescente e
no adulto, operando ao abrigo da espontaneidade de assimilar o mundo, sem,

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 117


necessariamente, o compromisso de se adaptar. E a terceira concepção con-
fere ao jogo a condição de instrumento de pesquisa e entendimento do de-
senvolvimento do jogo na criança.

Palavras-chave: Psicogênese - Teoria do Jogo - Jean Piaget - educação

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 118


INTERFACES ENTRE O “MÉTODO DE PROJETO” E AS GRANJINHAS
ESCOLARES DA FAZENDA DO ROSÁRIO (1960) – CONEXÕES BRASIL-
ESTADOS UNIDOS-EUROPA

Pedro Henrique Oliveira Guimarães


Regina Helena Campos Freitas
Universidade Federal de Minas Gerais
Marilene Oliveira Almeida
Universidade do Estado de Minas Gerais

As “Granjinhas” escolares da Fazenda do Rosário, Ibirité, Minas Gerais, foram


idealizadas pelo médico e professor de Ciências Naturais Henrique Marques
Lisboa (1876-1967) e pela psicóloga e professora Helena Antipoff (1892-
1974). As Granjinhas foram desenvolvidas a partir de 1957, como práticas
pedagógicas integradas aos cursos de formação de especialistas em edu-
cação rural do Instituto Superior de Educação Rural – ISER, oferecidos na
modalidade internato por períodos entre três e doze meses. Objetivava-se,
por meios científicos, vivenciar o cotidiano das práticas rurais no currículo dos
cursos de aperfeiçoamento, realizavam-se estudos envolvendo diferentes
saberes para se analisar a viabilidade dos terrenos disponíveis para plantio
de hortas e criação de viveiros projetados por Marques Lisboa. Por meio da
análise e triangulação de fontes sobre o tema encontradas no Centro de Do-
cumentação e Pesquisa Helena Antipoff– CDPHA: jornais institucionais, como
o Mensageiro Rural; diários de ex-alunos; publicações do ISER etc., bem co-
mo da publicação que explicita o “Método de Projeto” de Willian Heard Kilpa-
trick (1871- 1965), busca-se tecer relações entre a proposta pedagógica das
Granjinhas e a metodologia de projetos, divulgada, no Brasil, no início do sé-
culo XX. Investigaram-se possíveis interfaces entre os fundamentos e pers-
pectivas teóricas do “Método de Projeto” nas práticas pedagógicas das Gran-
jinhas. Verificou-se que tanto Kilpatrick quanto Marques Lisboa e Antipoff

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 119


compartilhavam o desejo de transformar trajetórias humanas por meio de ati-
vidades reais, que estimulassem a autonomia dos aprendizes em suas
próprias realidades. Apoiado nas perspectivas de interesse e esforço que fun-
damentavam as ideias funcionalistas de John Dewey (1859-1952), Kilpatrick
apresenta o “Método de Projeto”, em 1918, como uma proposta de materiali-
zação prática dessas ideias, a fim de tornar a aprendizagem ativa e interessa-
da. Ao conceber a atividade intencional em uma situação social, a unidade
dessa atividade, em ato interessado com um propósito, Kilpatrick opõe-se à
artificialidade da escola e aproxima-a da realidade. Para Kilpatrick, um projeto
teria uma finalidade real, que aconselharia os procedimentos de ensino e ofe-
receria motivações reais de aprendizagem. Seria um plano de trabalho que
posicionaria o aluno, voluntariamente, em microrrealidades a partir de propo-
sições e problemas vivenciáveis. Os dados demonstram que nas Granjinhas
desenvolviam-se práticas pedagógicas em que se aproveitava ao máximo os
recursos ambientais. Havia protagonismo nas ações dos estudantes para a
resolução dos problemas rurícolas, demarcavam-se terrenos disponibilizados
para que pudessem estudá-los, extrair deles as possibilidades de reflexões e
convívio social capazes de subsidiarem trocas de conhecimentos e novos
aprendizados. As práticas pedagógicas envolviam problemas da própria vida
como procedimento escolar, na medida em que as ações educativas associa-
vam-se às atividades habituais da comunidade. Conclui-se que nesses es-
paços desenvolvia-se uma formação integral, em regime de colaboração en-
tre os membros de uma dada comunidade, que se aproximam dos pressupos-
tos da educação renovada, de perspectiva progressista de vertente norte-
americana, da qual Dewey e Kilpatrick são representantes, tanto quanto da
vertente europeia, especialmente do Instituto Jean-Jacques Rousseau, onde
Helena Antipoff formou-se e atuou, tornando-se dela divulgadora. Crê-se, por-
tanto, que Henrique Marques Lisboa tenha sido herdeiro de tais pensamen-
tos, adaptando-os a suas propostas educacionais.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 120


Palavras-chave: Método de Projeto - Educação rural - Granjinhas escolares -
Educação integral

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 121


SESSÃO COORDENADA 4: CIRCULAÇÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO
DE SABERES: CONEXÕES LOCAIS E GLOBAIS 1

PSICOLOGIA PATOLÓGICA VERSUS MISTICISMO: UMA HISTÓRIA DA


CIRCULAÇÃO DE SABERES ENTRE A FRANÇA E O BRASIL NA
PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX

Carolina Silva Bandeira de Melo


Universidade Federal de Viçosa

A França foi um dos países que mais inspirou o Brasil no seu desenvolvimen-
to cultural e científico, especialmente no século XIX e na primeira metade do
século XX. No campo da psicologia brasileira, os autores franceses tiveram
um lugar de destaque. Dessa forma, a Psicologia Patológica, tipicamente
francesa, contribuiu para a legitimação da psicologia e da psiquiatria na Amé-
rica lusófona. A circulação da Psicologia entre os dois países foi permeada
pela tensão entre o discurso religioso e o discurso científico. As missões de
Georges Dumas e de Pierre Janet, dois grandes nomes da psicologia na Fra-
nça, nos ajudam a identificar essa rivalidade entre a religião e suas curas, de
um lado, e a medicina e seus alienistas, do outro. Além de nos permitir com-
preender melhor conceitos da historiografia como apropriação e circulação de
ideias. O material estudado foram as publicações da imprensa brasileira so-
bre essas missões, além de arquivos do Collège de France e do Ministério
das Relações Exteriores francês. Os reputados cientistas franceses, munidos
da Psicologia Patológica, trouxeram em suas conferências no Brasil, expli-
cações a fenômenos místicos, demonstrando como pesquisas experimentais
poderiam elucidar fatos considerados anteriormente como inteligíveis. Desde
1908, em sua primeira missão no Brasil, Georges Dumas defendeu que a psi-
cologia moderna estaria em melhor posição do que a teologia e a psicologia

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 122


espiritualista para oferecer interpretações sobre fenômenos místicos. Ele pro-
pôs explicações para milagres e fenômenos considerados sobrenaturais, ci-
tando trabalhos próprios e de outros autores franceses, como Pierre Janet,
que, na década de 1930, ofereceu um curso de psicologia das crenças, no
Rio de Janeiro, para aprofundar na temática. A tese de Pierre Janet:
“Automatisme psychologique. Essai sur les formes inférieures de l'activité hu-
maine”, defendida em 1889, propunha explicações psicológicas para a escrita
mediúnica. Suas teorias sobre a dissociação histérica e a escrita automática
partiram do conceito de subconsciente, oferecendo explanações científicas
para eventos que eram usados para validar ideias espiritualistas. Essas expli-
cações científicas contribuíram para legitimar a psicologia como área do con-
hecimento com um objeto próprio e com uma metodologia científica para es-
tudar seu objeto. A interpretação oferecida por Pierre Janet aproximou a me-
diunidade da histeria, patologizando a escrita mediúnica e classificando
fenômenos não metafísicos como estados mórbidos da mente humana. O
psicólogo francês defendeu teoricamente a inferioridade psíquica do funciona-
mento mental dos médiuns, confirmada pela capacidade deles em se dividir,
não privilegiando o Eu consciente, o que poderia ser um prenúncio de uma
histeria. Suas teorias foram apropriadas, no Brasil, para a legitimação da psi-
cologia patológica e da psiquiatria no país, além de engrossar o discurso mé-
dico contra o espiritismo, marcante na década de 1930.

Palavras-chave: história da psicologia - missões francesas no Brasil - psicolo-


gia patológica e misticismo

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 123


A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
E NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Ana Lúcia Pinto de Camargo Meneghel


Édison Manoel da Silva
Orly Zucatto Mantovani de Assis
Universidade Estadual de Campinas

A preocupação com o ensino dos conteúdos programáticos, na maioria das


escolas, desvia o olhar para um contexto educacional muito comum no qual o
desenvolvimento sociomoral e afetivo não são devidamente considerados.
Ironicamente, essa preocupação unilateral engendra uma situação na qual o
desenvolvimento intelectual e a compreensão dos conteúdos das matérias
também não podem ser aprendidos adequadamente. Dessa maneira, para
promover a aprendizagem com compreensão de tais conteúdos, o trabalho
com os aspectos sociomoral e afetivo da personalidade em desenvolvimento
precisa estar presente numa sala de aula. Esta investigação fundamenta-se
na teoria piagetiana que admite a existência de um sincronismo entre os as-
pectos afetivo, cognitivo e sociomoral do desenvolvimento psicológico do ser
humano, visto que são indissociáveis. Segundo a teoria piagetiana, se a cria-
nça com idade de frequentar o ensino fundamental não tiver construído ainda
as estruturas lógicas elementares, não terá condições de assimilar os con-
teúdos de matemática ou qualquer conhecimento. Esse processo implica no
interesse em escolher os objetos de aprendizagem, sendo a afetividade a
mola propulsora. Compreende-se a afetividade como a energética da ação:
um conjunto de emoções e sentimentos que são investidos nas relações que
os indivíduos estabelecem com os outros e consigo mesmo e, portanto, que
permitem ao ser humano atribuir valor a si. Esta pesquisa tem por objetivo
investigar como a relação professor-aluno afeta o valor que o indivíduo atribui
a si mesmo e, por conseguinte, no seu desenvolvimento cognitivo. A amostra

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 124


foi constituída por trinta crianças de 10 a 11 anos de idade, cursando 5º ano
do Ensino Fundamental I de uma escola pública de uma cidade no interior de
São Paulo, em que, de acordo com o diagnóstico da professora, 17 alunos
possuíam dificuldade de aprendizagem. Utilizando o Método Clinico de Pia-
get, foram aplicadas as provas para diagnosticar o nível de construção des-
sas estruturas, ou seja, seis provas para determinar a presença das estrutu-
ras lógicas elementares do pensamento operatório concreto. Visando a ga-
rantir o rigor científico, as provas foram filmadas e os dados coletados foram
transcritos e analisados qualitativa e quantitativamente. Também compôs co-
mo instrumentos a observação, relatos e entrevistas com os educadores para
indicação dos alunos que apresentavam dificuldades de aprendizagem e al-
guns instrumentos de avaliação relacionados ao desempenho escolar. Os
resultados evidenciaram que as crianças estudadas apresentam um atraso no
desenvolvimento das estruturas operatórias concretas, visto que das crianças
indicadas com dificuldade de aprendizagem, apenas um participante é pré-
operatório e 16 estão em transição entre pré-operatório e operatório concreto;
no que se refere aos alunos não indicados com dificuldade de aprendizagem,
o que corresponde a 13 alunos na amostra, 12 estavam em transição entre o
pré-operatório e o operatório concreto. Presume-se que esses resultados pos-
sam evidenciar possíveis relações entre a relação professor-aluno e, conse-
cutivamente, a falta de um ambiente sociomoral. Os resultados apresentados
podem evidenciar possíveis relações entre a atmosfera sociomoral do am-
biente escolar e a afetividade dos indivíduos, bem como as interações entre
pares e adulto, sendo essas interações, e a atmosfera sociomoral, ne-
cessárias para o desenvolvimento intelectual dos indivíduos.

Palavras-chave: afetividade - Ensino Fundamental - relação professor-aluno -


dificuldade de aprendizagem

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 125


REPRESENTAÇÃO DE DEUS: ESTUDO EXPLORATÓRIO SOB A
PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA GENÉTICA

Carollina Souza Guilhermino


Dener Luiz da Silva
Curso de Psicologia da Universidade Federal de São João del Rei

Investigou-se a representação de Deus em crianças, adolescentes e jovens


adultos. Com base na teorização piagetiana, acredita-se que aspectos religio-
sos, como a concepção de fé e a representação figural (ou imagem) de Deus,
possam evoluir ou transformar-se conforme às experiências que o sujeito rea-
liza ao longo do desenvolvimento. Esse trabalho teve como objetivo identificar
as diferentes “fisionomias” do divino em três faixas etárias; estabelecer hipó-
teses entre as influências externas recebidas pela sociedade e a crença do
indivíduo no atual momento; e buscar paralelos entre as imagens existentes
em diferentes faixas etárias. Participaram da pesquisa trinta sujeitos, com
idades variando de 8 a 28 anos, submetidos a três instrumentos de coleta de
dados: um formulário específico, a proposta de um desenho e uma entrevista
semiestruturada aplicada individualmente. Os resultados indicaram que a re-
presentação de Deus ou de alguma divindade são estruturas cognitivas de
difícil acesso e elaboração por parte dos sujeitos. O grupo de crianças elabo-
rou representações com conteúdo e estrutura próximos às suas vivências,
indicando Deus como figura eminentemente antropomórfica e/ou expressando
sentimentos humanos. Os adolescentes complexificaram sua representação
adicionando temáticas pessoais, acrescentando elementos abstratos e figura-
tivos. Já os jovens adultos, além da evidente dificuldade na elaboração verbal
e figurativa da representação solicitada, acrescentaram críticas às práticas
religiosas e às imagens comuns ou historicamente construídas de Deus, pre-
ferindo uma representação abstrata, não convencional e que explora di-
mensões não concretas da realidade. Todos apresentaram uma imagem de

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 126


Deus, mesmo tendo dificuldades ou afirmando não acreditar na sua existên-
cia. Verificamos que a tarefa de desenhar se apresentou como um desafio
(desequilíbrio) cognitivo, mas, igualmente, como possibilidade de revelar as-
pectos que a linguagem não possibilitaria. Confirmamos nossa hipótese inicial
verificando que a representação de Deus vai sofrendo modificações ao longo
do desenvolvimento, não sendo tão fixa quanto possamos imaginar. A repre-
sentação sobre Deus, ou divindade, em uma sociedade como a nossa, está
articulada a diversos aspectos: concepção de mundo; fundamentos antropoló-
gicos, éticos, econômicos, filosóficos etc.. Compreender a evolução dessa
representação pode dar pistas sobre a forma de estruturação e organização
psicológica, auxiliando na maior compreensão dos indivíduos.

Palavras-chave: representação da imagem de Deus - Psicologia Genética -


Piaget

Fonte de financiamento: Fapemig

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 127


RECEPÇÃO E CIRCULAÇÃO DE CONCEITOS PSICOLÓGICOS:
O CONTROLE E CONTRACONTROLE SOCIAL,
DE HOLLAND A PEREIRA DE SÁ

Rodrigo Lopes Miranda


Roberta Garcia Alves
Lucas Ferraz Córdova
Universidade Católica Bosco

O presente trabalho traz dados preliminares de uma pesquisa ainda em anda-


mento, que objetiva compreender a dinâmica de circulação da “Análise do
Comportamento no Brasil” por meio de dois conceitos específicos da área: o
de controle e de contracontrole social. A escolha desses dois conceitos se
deu pelos indícios primários de uma apropriação brasileira a qual estaria
preocupada com a resolução de problemas sociais e políticos no período de
1970 a 1990. Foram selecionados dois autores como exemplares de análise
da dinâmica da circulação desses conceitos entre o contexto estadunidense e
o brasileiro: James G. Holland e Celso Pereira de Sá. O primeiro autor foi
contemporâneo e colega de B. F. Skinner, tendo publicado juntos, em 1969, a
obra de ensino programado “A Análise do Comportamento”. Posteriormente,
Holland publicou uma série de artigos tratando de temas políticos de uma
perspectiva analítico-comportamental nos quais o conceito de controle e con-
tracontrole social apareciam como apoio explicativo para compreensão das
dinâmicas de revoluções sociais e políticas envolvendo os Estados Unidos da
América (EUA) naquele período (e.g., Guerra Fria e Guerra do Vietnã). O se-
gundo autor foi contemporâneo de intelectuais sul-americanos como Ignácio
Martin-Baró, Silvia Lane e Paulo Freire. Sá dedicou uma parcela de seus es-
tudos à pesquisa do controle e contracontrole social como via de com-
preensão dos tensionamentos sociais brasileiros daquele período (e.g., Dita-
dura civil-militar, Movimento de resistência e redemocratização, combate ao

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 128


analfabetismo). A análise documental comparativa entre os dois autores su-
gerem que Celso Pereira de Sá não só teve contato com os textos políticos
de James G. Holland, como foi largamente influenciado por eles. Além do es-
tudo do controle e contracontrole social como objeto de sua dissertação e
tese, Sá também o ampliou para uma ferramenta de uso prático da realidade
brasileira, tendo criado uma Cartilha de contracontrole social. Esse instrumen-
to se apoiou na perspectiva de educação popular, com o intuito de popularizar
as tecnologias da ciência comportamental, para que a população pudesse
atuar de forma autônoma com problemas de ordem social e política. Nesse
caso, nota-se a semelhança com um dos pontos sugeridos por Holland em
seu artigo seminal “¿Servirán los princípios conductuales a los revoluciona-
rios?”: a perspectiva de popularização da ciência comportamental. Pela con-
cepção de Holland, os analistas do comportamento deveriam trabalhar pela
apropriação da teoria e de suas tecnologias, para usá-las em situação de re-
sistência ou revolução social. Outras fontes ainda em processo de análise
sugerem uma ampla apropriação desses conceitos por Sá, uma vez que re-
ferências aos trabalhos de Holland aparecem não só em suas anotações pes-
soais, como nas ementas da disciplina “Análise Comportamental de Práticas
Culturais” ministradas por ele.

Palavras-chave: Psicologia Social - Análise do Comportamento - história da


Psicologia - James G. Holland - Celso Pereira de Sá

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 129


A RECEPÇÃO DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE B. F. SKINNER
NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
MINAS GERAIS – UFMG (1968 – 1985)

Sérgio Domingues
Centro Universitário de Viçosa
Regina Helena de Freitas Campos
Faculdade de Educação / Universidade Federal de Minas Gerais

A recepção inicial da “Análise do Comportamento no Brasil” ocorreu através


do curso de Fred S. Keller, na Universidade de São Paulo (USP), em 1961.
Em seguida, nos anos de 1962 e 1963, a recepção da “Análise do Comporta-
mento” ocorreu na cadeira de Psicologia do curso de Pedagogia da Faculda-
de de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (SP) através do trabalho de
Carolina M. Bori e seus assistentes. Em 1964, Carolina M. Bori e Fred S. Ke-
ller foram convidados para montar um curso de Psicologia, baseado no Per-
sonalized System of Instruction - PSI, na Universidade de Brasília (UnB). No
ano seguinte, em 1965, devido à uma intervenção militar, grande parte dos
professores se demitiram da UnB, ocorrendo a diáspora da “Análise do Com-
portamento no Brasil”. O objetivo desta pesquisa é investigar o modo como
ocorreu a recepção da “Análise do Comportamento” no curso de Pedagogia
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) do período de criação da
Faculdade de Educação, em 1968, até a reformulação do currículo do curso,
em 1985, quando as disciplinas da área de Psicologia passaram de um total
de dez para apenas quatro. A metodologia tem como referencial teórico o
“conceito de recepção de teorias psicológicas”, sendo realizada a análise dos
planos de ensino das disciplinas da área de Psicologia do curso de Peda-
gogia da UFMG entre 1968 e 1985. Os resultados mostram que a professora
Ione Scarpelli, coordenadora da cadeira de Psicologia Educacional, teve con-
tato com a teoria de Skinner em uma visita à Universidade de Houston, nos

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 130


EUA, nos anos de 1960, e iniciou a tradução da obra “The Behavior
Analysis” (1961) de Holland e Skinner concomitantemente ao grupo de Rio
Claro (SP). Em 1968, a disciplina “Psicologia da Educação: Aprendizagem”,
ministrada por Ione Scarpelli, apresentava os seguintes conceitos e princípios
de “Análise do Comportamento”: Condicionamento Clássico; Condicionamen-
to Instrumental; Instrução Programada; Tecnologia Comportamental. Em
1969, foi publicado o livro “Psicologia da Aprendizagem – condicionamento
clássico e operante” pelo Departamento de Ciências Aplicadas à Educação
(DECAE) da Faculdade de Educação (FaE). Entre 1975 e 1985, o Departa-
mento de Métodos e Técnicas de Ensino (DMTE) ofertou a disciplina
“Tecnologia do Ensino”, homônima do livro de Skinner publicado em 1968.
Entre o final dos anos 1960 e a década de 1970, textos de “Análise do Com-
portamento” circularam entre os estudantes através de apostilas com tra-
duções realizadas pelos próprios professores. Entre os autores mais citados,
estão Keller (1950, 1954), B. F. Skinner (1948, 1953, 1968, 1972), Staats e
Staats (1963) e Malpass (1970). O ensino da “Análise do Comportamento”
ocorria prioritariamente nas disciplinas de “Psicologia da Aprendizagem”, ten-
do ocorrido o ápice de seu ensino nos anos de 1970, perdendo espaço gra-
dualmente, assim como a Psicologia, de modo geral, com o advento das pe-
dagogias críticas na segunda metade dos anos de 1980. Conclui-se que não
houve predomínio do ensino de “Análise do Comportamento” no período estu-
dado, havendo também o ensino das teorias de Jean Piaget e Carl Rogers.

Palavras-chave: Análise do Comportamento - Behaviorismo Radical - re-


cepção de teorias psicológicas - Pedagogia - Universidade Federal de Minas
Gerais

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 131


SESSÃO COORDENADA 5: CIRCULAÇÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO
DE SABERES: CONEXÕES LOCAIS E GLOBAIS 2

O DEBATE INTERNACIONAL SOBRE O ENSINO DO DESENHO –


INTERSEÇÕES ENTRE “DESENHO ESPONTÂNEO” E O “MÉTODO”
ARTUS-PERRELET

Marilene Oliveira Almeida


Maria do Carmo de Freitas Veneroso
Universidade do Estado de Minas Gerais
Regina Helena de Freitas Campos
Faculdade de Educação / Universidade Federal de Minas Gerais

O interesse pelo desenho infantil tornou-se objeto de intensos debates, em


fins do século XIX, na Europa, durante os Congressos Internacionais de
Desenho: 1900 (Paris); 1904 (Berna); 1908 (Londres) e 1912 (Dresde). Inseri-
da nesse contexto, a artista e professora suíça Louise Artus-Perrelet (1867-
1946), autora do livro “Le Dessin au Service de l’Éducation” (1917), realizou
palestras e cursos em países da Europa e América, entre eles o Brasil. Con-
tratada pelo governo mineiro, em 1929, para atuar como professora de
Desenho e Modelagem na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Be-
lo Horizonte (1929 a 1931), em Minas Gerais, contribuiu com a reforma de
ensino Francisco Campos (1927-1929), divulgando seu “método” de ensino
do desenho para crianças direcionado à formação de professores primários.
O interventor do Distrito Federal, Adolpho Bergamini (1886-1945), na expecta-
tiva de ampliar a formação do magistério carioca, contratou também a educa-
dora para desenvolver, entre março e maio de 1931, o mesmo curso realizado
em Minas Gerais, registrado por Cecília Meireles (1901-1964) na página de

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 132


Educação do jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro. As repercussões do
“método” Artus-Perrelet podem ter estimulado as primeiras discussões sobre
o “desenho espontâneo” da criança. A análise dos registros encontrados no
periódico carioca apontam a abordagem do tema, desde 1931, pelo arquiteto
e professor de desenho Fernando Nereu de Sampaio (1892-1943), que se
inspirava nas teorias educacionais de John Dewey (1859-1952). Para Sam-
paio, a verdadeira expressão da espontaneidade infantil baseava-se na con-
cepção de que a criança pequena deveria desenhar livremente sem orien-
tação ou condução do professor. Outro registro do mesmo periódico, de 1934,
relata a entrevista com a artista e professora Georgina Moura Andrade de
Albuquerque (1885-1962), também autora de um método de ensino para cria-
nças. Georgina havia participado da pioneira seção artística realizada no Con-
gresso Brasileiro de Educação, em Fortaleza, onde apresentou sua tese so-
bre como deveria ser compreendido o “desenho espontâneo” nas escolas
primárias: um auxiliar do aprendizado para se chegar ao desenho geral. Este
deveria ser guardado sem a intervenção do professor, cujas correções ocorre-
riam no quadro negro. No evento, Georgina discordou do relator Edgar Sus-
sekind (1865-1962), para quem o desenho espontâneo serviria como um tes-
te. Artus-Perrelet questionava a existência de um “desenho espontâneo”. Pa-
ra a educadora, quando a criança toma um lápis e desenha um boneco, está,
na realidade, representando voluntariamente uma imagem que vive dentro do
seu cérebro. Sua interpretação consistia na compreensão de que tal desenho
seria uma reminiscência do que a criança desejava fixar no papel, devendo-
se chamá-lo “desenho livre”. No método Artus-Perrelet o registro com o lápis
e papel seria a última expressão de um longo processo para se conhecer os
elementos fundamentais do desenho: ponto, linha, formas geométricas,
noções de equilíbrio, de proporção, de perspectiva, de movimento, de síntese
da forma, de composição etc.. Esse processo se daria pela observação, expe-
rimentação, investigação e pela crítica, e seria vivenciado em uma espécie de

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 133


jogo interativo, pela ação e pelo movimento, envolvendo todo o corpo da cria-
nça em constante relação com as coisas e os fenômenos do ambiente.

Palavras-chave: desenho espontâneo ou livre - Nereu de Sampaio - Georgina


de Albuquerque - Edgar Sussekind - Método Artus-Perrelet

Fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de


Nível Superior – CAPES

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 134


A CONEXÃO SUÍÇA-BRASIL - INTERNACIONALIZAÇÃO DE SABERES
SOBRE O ENSINO DO DESENHO

Marilene Oliveira Almeida


Maria do Carmo de Freitas Veneroso
Universidade do Estado de Minas Gerais
Regina Helena de Freitas Campos
Faculdade de Educação / Universidade Federal de Minas Gerais

A proposta de ensino do desenho para crianças direcionada à formação de


professores primários foi sistematizada por Louise Artus-Perrelet (1867-1946)
no livro “Le dessin au service de l’éducation” (1917). Seu “método” de ensino
do desenho, considerado por ela como um “não método”, foi divulgado, no
Brasil, a partir do seu trabalho como professora de Desenho e Modelagem na
Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte entre 1929 e
1930, por palestras e um curso de desenho e jogos educacionais para profes-
sores primários, no Rio de Janeiro, entre março e maio de 1931. Por meio de
pesquisa documental, buscou-se compreender seu “método” de ensino do
desenho em termos de educação estética para formação de professores pri-
mários, no início do século XX, à luz das tendências modernistas de arte e
dos princípios da Escola Nova. Para isso, foram analisadas fontes inéditas
como jornais brasileiros, a maioria reportagens publicadas por Cecília Meire-
les na Pagina de Educação; jornais suíços; relatórios de premiações; progra-
mas de ensino; manuscritos e correspondências trocadas entre personagens
ligados à educação e arte da época. Barthélemy Menn (1815-1893), professor
de figura na École des Beaux-Arts de Genebra, quem teria incentivado Artus-
Perrelet a voltar sua trajetória profissional para a educação, influenciando-a
na crença do conhecimento como fundamento para a criação, que ela adota
fortemente em seu “método”. A formação artística de Artus-Perrelet transco-
rreu no contexto de associação entre as artes plásticas e artes aplicadas, que

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 135


vinha se desenvolvendo desde as transformações ocorridas pela Revolução
Industrial. No caso específico de Genebra, a partir da criação da primeira es-
cola de desenho, em 1748, valorizou-se fortemente o aprendizado do desen-
ho para desenvolvimento do design industrial voltado para a produção relo-
joeira e joalheira. São exemplos de escolas de arte decorrentes do desejo de
alguns artistas e artesãos voltados para o funcionalismo e design social numa
perspectiva de arte total: a escola russa Vkhutemas (1920-1930) - Escola Su-
perior de Arte e Técnica, e a alemã Escola Bauhaus (1919-1933). Os dados
analisados indicaram que a pedagogia de Artus-Perrelet filiava-se aos princí-
pios da educação funcional e pedagogia experimental originadas no Instituto
Jean-Jacques Rousseau (1912), reafirmando ainda que seu “método” funda-
mentava-se no ensino dos elementos fundamentais do desenho por meio das
formas geométricas simples, a partir do ponto de vista da criança, da cap-
tação sintética da forma, estimulada pela percepção e intuição na relação di-
reta com os objetos, com o cotidiano e com a natureza. A pedagogia de Artus
-Perrelet buscava formar o professor na intenção de incentivar as crianças a
compreenderem os conceitos básicos do desenho por meios ativos, como
propostas de atividades corporais ou jogos simbólicos. O ritmo, por exemplo,
poderia ser percebido nas diferentes linguagens artísticas como o desenho, a
literatura, o teatro ou a música. A expressão do desenho gráfico seria o resul-
tado final desse longo processo de aprendizado. As interpretações das fontes
nos levaram a concluir que o método Artus-Perrelet dialogava com processos
de ensino de artistas como Paul Klee (1879-1940) e Wassily Kandinsky (1866
-1944), professores na Escola Bauhaus, artistas representantes das tendên-
cias modernistas de arte.

Palavras-chave: tendências modernistas no ensino de desenho - jogos educa-


tivos; - educação estética - formação de professores primários - Método Artus
-Perrelet

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 136


Fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior – CAPES

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 137


ANTIPOFF E A EDUCAÇÃO EM MARX –
APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS

Sérgio Faleiro Farnese


Regina Helena de Freitas Campos
Faculdade de Educação / Universidade Federal de Minas Gerais

A historiadora Marina Sorokina, através de pesquisas realizadas em arquivos


russos e soviéticos, tem trazido novas informações sobre a educação e as
atividades desenvolvidas por Helena Antipoff (1892-1974) em seu país natal,
quando jovem, na escola secundária, e já como psicóloga e educadora, no
trabalho com crianças e adolescentes nos abrigos criados após a Revolução
de 1917. Os novos dados sugerem que Antipoff teria participado de movimen-
tos contrários ao czar, quando estudante em São Petersburgo (1908-1909), o
que teria motivado a ida para estudos em Paris e Genebra entre 1909 e 1914.
A educadora voltou à Rússia, em 1916, e testemunhou a revolução que colo-
cou abaixo o czarismo, socializou agricultura, indústria, comércio, saúde, edu-
cação e enfrentou as potências aliadas do antigo regime. Quantos tiveram
esse privilégio? Ela chegou antes mesmo de Trotsky, de Lenin, e lá permane-
ceu. Trabalhou até 1924, quando fugiu, como muitos outros, das perse-
guições do stalinismo nascente, que expulsou Trotsky, em 1928, e é suspeito
de ter apressado a morte de Lenin em janeiro de 1924. Marx havia estudado
bastante a comuna russa, aprendido o idioma cirílico, correspondia-se com
exilados em Genebra a respeito das possibilidades revolucionárias no país.
Seria exagero dizer que Antipoff compartilhou dos sonhos de Marx e dos líde-
res revolucionários e buscou de alguma forma contribuir para efetivá-los? Co-
mo se trata de quem nunca se apresentou como socialista e, pelo que sabe-
mos, jamais citou Marx em seus escritos, à tarefa fácil de descrever seu dis-
tanciamento aparente, contraporemos aproximações que saltam de sua bio-
grafia e de suas iniciativas psicopedagógicas em solo genebrino, soviético e

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 138


mineiro, arriscando verificar como trabalhava ideologicamente com a psicolo-
gia elaborada por Lazurski e pelos estudiosos da educação que designava
como comunistas. Do lado de Marx, não será menos complicado relacioná-lo
com a educação. Com exceção do capítulo XXIII de “O Capital”, o assunto
pouca atenção mereceu de sua pena, levando-nos a considerar, para efeito
de comparação, também a forma como educou os próprios filhos. Considera-
remos, como paradigmas, o Marx vivo (até 1883), o Marx apropriado por En-
gels (até 1895), o apropriado por Lenin (até 1924) e o que se seguiu após a
publicação, na Rússia, da Ideologia Alemã, dos Manuscritos Econômico-
filosóficos, dos Grundrisse e de outros inéditos dos anos 1930 aos dias que
correm. Muitas Helenas, muitos Marx, desde que os contemporâneos de Anti-
poff, como Luria, Leontiev e Vigotski, intermediaram aproximações de cunho
filosófico. Por sua sobrevivência, no Brasil, quando da implantação de regi-
mes autoritários, como russa apátrida (em 1930) e já naturalizada brasileira
(em 1964), pretendemos homenagear Antipoff afastando-nos daqueles que
desavisadamente amalgamam seu ideário de defesa, proteção e educação
da infância oprimida com o conservadorismo que a rodeava em Minas Gerais.
Como afirmam as estudiosas Sorokina e Masolikova, a biografia de Antipoff
evidencia e exemplifica como se construíram, no século 20, redes transnacio-
nais fortes e persistentes de intelectuais cujas ideias e propostas dialogaram
com tradições e componentes multiculturais.

Palavras-chave: Antipoff – Marx - Educação

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 139


IÁLOGO ENTRE A PEDAGOGIA SOCIALISTA E A “PEDAGOGIA
ANTIPOFFIANA” NA FORMAÇÃO INTEGRAL DO SUJEITO

Wanderson de Sousa Cleres


Diretor de Educação Básica na Fundação Helena Antipoff - FHA
Teodoro Adriano Costa Zanardi
Pós-graduação em Educação na Pontifícia Universidade Católica - PUC - MG
Janete Amorim Ribeiro
PROMESTRE na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG,
Especialista em Educação Básica na Secretaria do Estado de Minas Gerais –
SEE - MG

Este artigo não é nem pretende ser um estudo conclusivo e sim um estudo de
pesquisa, de investigação documental e bibliográfico, objetivando trazer al-
guns esclarecimentos acerca de categorias conceituais presentes na
pedagogia socialista e nas obras da Pedagoga e Psicóloga Russa Helena
Antipoff, durante as décadas de 1930-1970, em Minas Gerais. Nesse
processo de apreensão da realidade, buscar-se-á analisar as fontes primárias
no acervo de Helena Antipoff, localizado no Memorial da Fundação Helena
Antipoff em Minas Gerais – Ibirité, e ainda no Centro de Documentação e
Pesquisa Helena Antipoff (CDPHA), localizado na Universidade do Estado de
Minas Gerais (UFMG), em BH - Minas Gerais, entre outras. A escolha do
tema se dá em razão da necessidade de superar o dualismo e reintegrar os
eixos formativos, além de implicar em considerar uma abordagem mitológica
e epistemológica que esteja ancorada na realidade. Preliminarmente, ainda
tem o desafio de captar a continuidade na descontinuidade, ou mesmo a
descontinuidade na continuidade. Portanto, ao levantar que Antipoff tinha a
clareza de que todo acúmulo histórico dos avanços do trabalho, nas formas
imediatas, e nas mais complexas e abstratas, constitui o cerne de todo o
processo formativo e educacional da humanidade, levando-se a crer que a
educadora fazia crítica rigorosa à educação que despreza a formação integral

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 140


dos sujeitos. Há mais elementos convergentes do que divergentes, mesmo a
despeito da história e da própria trajetória de Helena Antipoff. Contudo não
seria adequado ou apropriado negar essa proximidade intelectual, teórica e,
até mesmo, conceitual com os teóricos da pedagogia socialista. Inferi-se que
uma das categorias muito cara para a pedagogia socialista é a categoria da
totalidade, muito presente nas obras de Helena Antipoff. A categoria da
totalidade é, para a “pedagogia antipoffiana”, uma dimensão constitutiva da
própria natureza essencial do ser, ou seja, a totalidade antes de ser uma
categoria epistemológica é uma categoria ontológica. Outra categoria
importante é a da natureza como elemento constitutivo do próprio ser. Nessa
perspectiva, a “pedagogia antipoffiana” se coloca frontalmente contrária à
fragmentação que separa a natureza do ser, homo sapiens do homo faber, a
qual é compreendida como uma característica própria da ciência moderna e
consequentemente das escolas fundadas pela lógica propedêutica. Antipoff
tinha a clareza de que todo acúmulo histórico dos avanços do trabalho, nas
formas imediatas, e nas mais complexas e abstratas, constitui o cerne de todo
o processo formativo e educacional da humanidade, levando a crer que a
educadora fazia uma crítica rigorosa à educação que despreza uma formação
integral dos sujeitos. A “pedagogia antipoffiana” se insere no âmbito da
pedagogia socialista, quando defende e acredita que a escola do trabalho
infere a concepção de se obter conhecimento para o desenvolvimento da
humanidade. É nesse contexto que se insere a pedagogia socialista,
entendendo que é inadmissível engendrar o homem separado da natureza. A
“pedagogia antipoffiana” tem a clareza que todo acúmulo histórico dos
avanços do trabalho, tanto em suas formas mais imediatas, quantos as mais
complexas e abstratas, constitui o cerne de todo o processo formativo e
educacional da humanidade.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 141


Palavras-chave: Formação Integral - Helena Antipoff - Pedagogia Socialista -
“Pedagogia Antipoffiana”

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 142


SESSÃO COORDENADA 6: HISTÓRIA, POLÍTICAS E PRÁTICAS EM
EDUCAÇÃO ESPECIAL 1

INSTITUTO PESTALOZZI: UMA ANÁLISE DOS


REGIMENTOS ESCOLARES

Adriana Araújo Pereira Borges


Gabriella Lara Silva
Raissa Cristina Almeida Coelho Brandão
Universidade Federal de Minas Gerais

O Instituto Pestalozzi, inaugurado em 1935, constituiu-se, desde sua criação,


como uma Escola Especial para a educação de crianças com deficiência. A
princípio, idealizado pela Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais, o Instituto
passou da iniciativa privada para o poder público e atravessou as diferentes
fases da educação especial no Estado. Concebido numa fase onde as clas-
ses especiais predominavam, o Instituto se firmou como Escola Especial, per-
manecendo nesse papel até meados da década de 90, quando a Educação
Inclusiva ganhou força no Brasil, obrigando as escolas especiais a se reconfi-
gurarem a partir dessa nova realidade. O objetivo deste estudo é analizar, nos
Regimentos Escolares dos anos de 1985 e 2008, encontrados no Instituto,
bem como em documentos da década de 1930, as mudanças que foram
efetuadas na escola e relacioná-las às conjunturas políticas e sociais. Após a
leitura dos documentos, foi constatado que grande parte das modificações
ocorridas nos Regimentos Escolares tiveram como principais motivações a
instituição de novas leis relacionadas à Educação Especial e o rompimento do
modelo médico, que era predominante nos Institutos de Ensino Emendativo
no passado. Os primeiros resultados apontam que, na década de 1930, o mo-
delo médico da deficiência era preponderante: o Instituto contava com um

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 143


serviço de Consultório-Médico-Pedagógico e com outros serviços ligados à
saúde, como atendimentos com médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos e fisio-
terapeutas. Nesse momento, os alunos já participavam de oficinas pedagógi-
cas diversas, contudo, o modelo de oficinas se fortaleceu nos anos posterio-
res, a partir da década de 1950. Ao decorrer dos anos, é possível pontuar
mudanças que ocorreram em virtude de novas leis educacionais ou, até mes-
mo, devido à modernização do mercado profissional, como a obrigatoriedade
da elaboração e consulta ao Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) e a
substituição das aulas de Artes Cênicas e Ensino Religioso pelo Laboratório
de Informática. No Regimento Escolar de 2008, destaca-se a importância de
garantir ao aluno o prosseguimento dos estudos no sistema comum de en-
sino, fazendo com que o Instituto atue como um propulsor de oportunidades e
igualdade para as pessoas com deficiência. É possível localizar uma preocu-
pação com a educação em diferentes níveis e com a sua continuidade após
anos passados no Instituto. Apesar das mudanças, o caráter funcional e so-
cial, que visa ao ingresso desses alunos no mercado de trabalho, se mantém
como o alicerce do Instituto Pestalozzi desde a época de sua fundação.

Palavras-chave: Instituto Pestalozzi - Regimento Escolar - Educação Especial

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 144


PIONEIROS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL BRASILEIRA: A TRAJETÓRIA DE
HELENA ANTIPOFF NO RIO DE JANEIRO E OS IMPACTOS PARA A
EDUCAÇÃO ESPECIAL

Getsemane de Freitas Batista


Doutoranda PUC/RJ; Grupo de Pesquisa: Observatório de Educação Especial
e Inclusão Educacional da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(ObEE/UFRRJ); Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias/RJ
Leila Lopes de Avila
Grupo de Pesquisa: Observatório de Educação Especial e Inclusão
Educacional da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (ObEE/
UFRRJ); Secretarias Municipais de Educação de Belford Roxo e Duque de
Caxias/RJ
Sheila Venancia da Silva Vieira
Grupo de Pesquisa: Observatório de Educação Especial e Inclusão
Educacional da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (ObEE/
UFRRJ); Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC)

Helena Antipoff é figura proeminente na história da Educação Especial brasi-


leira. Referência na formação de profissionais, em pesquisas científicas, for-
mulações teóricas e influenciadora na adoção de políticas públicas educacio-
nais. A relevância de suas ações impactou de tal modo o campo da Educação
Especial, que os resultados da experiência na Fazenda do Rosário, em Minas
Gerais, trouxeram Helena Antipoff e novas perspectivas ao cenário fluminen-
se. O presente trabalho tem como objetivo geral evidenciar ações realizadas
pela educadora Helena Antipoff, durante atuação no Rio de Janeiro, como
Técnica Especializada da Divisão de Proteção à Infância do Departamento
Nacional da Criança, órgão diretamente ligado ao Ministério da Educação e
Saúde (1944 a 1949). Este estudo insere-se no contexto das atividades reali-
zadas pelo Grupo de Pesquisa Observatório de Educação Especial e Inclusão
Educacional (ObEE) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), atuando no Projeto “Portal Pioneiros da Educação Especial no Bra-
sil: Instituições, Personagens e Práticas”. Tal projeto desenvolve-se colabora-
tivamente entre Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 145


Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), e busca mapear, no Brasil, instituições, pessoas e práticas
que contribuíram para o estabelecimento do campo da Educação Especial.
Pautamo-nos nos pressupostos da metodologia qualitativa a partir da revisão
bibliográfica e entrevista com Sarah Couto Cesar, primeira secretária do Cen-
tro Nacional de Educação Especial (CENESP), que trabalhou diretamente
com Helena Antipoff. Os resultados preliminares apontam ações realizadas
durante a permanência no Rio de Janeiro: criação da Sociedade Pestalozzi
do Brasil (junho de 1945); formação do Centro de Orientação Juvenil (COJ),
em 1946, que atendia menores e familiares com problemas de conduta; orga-
nização de cursos de recreação infantil, de monitores, trabalhos manuais para
educadores e pais de “excepcionais”; criação da Escolinha de Arte, com Au-
gusto Rodrigues, promovendo atividades na área de educação artística; cola-
boração em peças teatrais de Olga Obry e Cecília Meireles a partir de obras
de Francisco Mignone e Gil Vicente. Destarte, apostamos que as conclusões
das próximas etapas serão fundamentais para a preservação da história da
Educação Especial brasileira.

Palavras-chave: história - Educação Especial - Helena Antipoff

Fonte de financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 146


NA BAIXADA FLUMINENSE/RJ, UMA ESCOLA
PIONEIRA EM INCLUSÃO ESCOLAR

Leila Lopes de Avila


Grupo de Pesquisa: Observatório de Educação
Especial e Inclusão Educacional da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (ObEE/UFRRJ);
Secretarias Municipais de Educação de Belford Roxo e Duque de Caxias/RJ

Nosso texto objetiva apresentar uma pesquisa sobre os caminhos iniciais da


Creche Escola Municipal Poetisa Cecília Meireles, na direção de garantir, no
seu Projeto Político Pedagógico (PPP) e nas suas ações pedagógicas, a Edu-
cação Especial, na perspectiva da educação inclusiva, para estudantes com
deficiência, de forma pioneira na Rede Municipal de Ensino de Duque de Ca-
xias. Os procedimentos metodológicos utilizados, durante a investigação, fo-
ram de natureza qualitativa com pesquisa documental, fotográfica, entrevista
aberta, memórias e arquivo pessoal da autora. Como pressupostos teóricos,
utilizamos a perspectiva histórico-cultural de Vigotski e as bases da historici-
dade da educação. Os resultados e discussões indicaram a falta de registros
das memórias da Educação Especial da Rede de Ensino de Duque de Ca-
xias, o pioneirismo da Creche Escola Municipal Poetisa Cecília Meireles na
implementação da Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva
de estudantes com deficiência em turmas do ensino regulares/comum, sem o
caráter substitutivo e sem segregação em suas propostas pedagógicas, des-
de sua inauguração em 1996. A referida escola esteve à frente do seu tempo,
pois não esperou que fossem decretadas legislações municipais/federais para
receber e oportunizar aprendizagem em seu espaço para os estudantes com
deficiência, apontando para uma proposta de Educação Especial com pers-
pectiva de educação inclusiva, registrando e garantindo no seu primeiro Pro-
jeto Político Pedagógico (PPP) e dando continuidade ao longo de sua existên-
cia apesar de muitas adversidades. A orientadora educacional Neusimar Mo-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 147


raes Silva de Almeida é a “guardiã” da memória da escola, em virtude de todo
carinho e cuidado que demonstrou com os documentos e as fotos de diferen-
tes períodos da história da escola. Podemos considerar uma escola inclusiva
aquela que busca desenvolver um trabalho que respeita as diferenças, não
por força das leis, mas sim por acreditar na possibilidade de aprendizagem de
todos os estudantes que ingressem no seu espaço. Infelizmente, mesmo com
a presença de tantas legislações que sinalizam a garantia dos direitos de
acesso, permanência e aprendizagem dos estudantes com deficiência, en-
contramos atualmente escolas ainda com práticas excludentes. Processo que
deve ser corrigido, pois ao longo da história da educação, as pessoas com
deficiência estiveram no fundo das salas de aulas, apenas sendo oportuniza-
do o convívio social, não garantindo o acesso aos conhecimentos acadêmi-
cos. Os sistemas de ensino municipais, estaduais e federais, nas instâncias
públicas e privadas, devem definir suas políticas educacionais buscando ga-
rantir não só a presença e ingresso dos estudantes com deficiência, mas a
sua permanência e aprendizagem, em um ambiente inclusivo e não de segre-
gação.

Palavras-chave: Creche Escola Municipal Poetisa Cecília Meireles - Baixada


Fluminense/RJ - inclusão escolar - história da Educação Especial - Projeto
Político Pedagógico (PPP)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 148


TRÊS FASES DA EDUCAÇÃO ESPECIAL EM MINAS GERAIS -
UM RESGATE ICONOGRÁFICO

Paulo Vitor Rodrigues da Silva


Adriana Araújo Pereira Borges
Regina Helena de Freitas Campos
Universidade Federal de Minas Gerais

Em 2018, Borges e Campos propuseram uma divisão esquemática da Edu-


cação Especial em Minas Gerais, dividida em três fases. As fases foram orga-
nizadas esquematicamente em conformidade com cada período: 1930-1950
(fase das classes especiais), 1950-1990 (fase das escolas especiais) e 1990 -
até a atualidade (fase da educação inclusiva). A pesquisa documental e bi-
bliográfica, baseada na divisão das fases da Educação Especial, acabou ge-
rando, como um dos resultados, o resgate iconográfico que retrata os perío-
dos da Educação Especial em Minas Gerais. Para tal, foram coletadas fotos
de jornais e revistas que tratam da Educação Especial, fotos de salas de aula
e desenho de crianças do acervo do memorial Helena Antipoff, fotos da Asso-
ciação de Pais e Amigos do Excepcional das salas de aula inclusivas da Rede
Municipal de Educação da cidade de Belo Horizonte, MG. A recuperação das
imagens acabou contribuído para a elucidação de práticas, o conhecimento
de instituições, de marcos normativos e personagens que foram fundamentais
para os avanços das Políticas de Educação Especial. Como resultado, foi
idealizado um livro iconográfico com 112 registros iconográficos, que trazem
principalmente uma narrativa visual, fazendo com que o contexto seja descrito
através de imagens. Desde a pré-história, as imagens estão ligadas ao proce-
sso de hominização e de socialização do homem, perpassando pela vida e
organização social, carregando ordenança entre os indivíduos. Nota-se, na
primeira fase, uma representação dos alunos nas salas de aula, mas com um
viés médico bem marcado. Na segunda fase, as oficinas de preparação para

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 149


o trabalho ganham relevo. Na terceira fase, aspectos pedagógicos são pre-
ponderantes. Como conclusão da pesquisa iconográfica realizada, é possível
perceber a mudança do modelo médico para o modelo social da deficiencia, a
partir das imagens resgatadas. Das práticas de intervenção presentes na
primeira fase, passando pela perspectiva laboral da pessoa com deficiência,
até o momento atual, em que as capacidades escolares das pessoas com
deficiência são reconhecidas e incentivadas.

Palavras-chave: Educação Especial – iconografía - pessoas com deficiencia

Fonte de financiamento: FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-


tado de Minas Gerais)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 150


SESSÃO COORDENADA 7: HISTÓRIA, POLÍTICAS E PRÁTICAS EM
EDUCAÇÃO ESPECIAL 2

A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E OS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO


BÁSICA DE BELO HORIZONTE

Deolinda Armani Turci


Giovana Moura de Souza
Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais
Érika Lourenço
Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais

A partir de nossa prática, percebemos que muitos professores confundem o


conceito de Educação Inclusiva (igualdade de oportunidades educacionais
para todos os alunos, independente de condição cultural, social e pessoal) e
Educação Especial (modalidade de atendimento educacional especializado),
além de não se sentirem preparados para as mesmas. Com esta pesquisa,
nos propusemos a investigar o conhecimento e a prática pedagógica dos pro-
fessores regentes da educação básica do município de Belo Horizonte sobre
a Educação Inclusiva e a Educação Especial. Iniciamos no ano de 2019 os
contatos com 44 escolas da rede pública de ensino, escolhidas aleatoriamen-
te, distribuídas nas 9 regionais do município de Belo Horizonte. Na ocasião,
apresentamos o propósito da pesquisa e entregamos, para a Direção das
mesmas, cópias de um questionário e do Termo de Consentimento, para que
fossem repassados aos professores que já haviam lecionado para alunos
com deficiência no ensino regular e que se dispusessem a participar da pes-
quisa. Ao final, distribuímos 313 questionários, obtendo a devolução de 109
deles respondidos. Estes foram analisados quantitativamente e qualitativa-
mente. A análise do instrumento, que era composto de 17 questões abertas,
apontou que a maioria dos respondentes eram licenciados com mais de cinco

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 151


anos de formação e de prática docente. Relativo à Educação Inclusiva e à
Educação Especial, as respostas apontaram que apenas 49% dos respon-
dentes compreendem o real conceito de Educação Inclusiva. A maioria deles
diz atuar em escolas inclusivas, porém descreveram como práticas inclusivas
destas apenas aquelas ligadas à Educação Especial. Praticamente todos os
respondentes tiveram alunos com deficiência, transtorno, síndrome e/ou altas
habilidades nos últimos anos e a maior parte deles contou com professor de
apoio em sala. Em relação a estes profissionais, somente 24% dos respon-
dentes relatou manter parceria com os mesmos e 37% afirmou que estes pro-
fissionais apenas auxiliavam os alunos em suas tarefas. Sobre o material que
utilizavam em aula, 26% informou que todos os alunos da turma utilizavam o
mesmo material, e a maioria relatou ser o responsável pela preparação do
material para alunos com deficiencia, alguns disseram ter o auxílio do profes-
sor de apoio para essa tarefa. Muitos professores responderam que não se
sentem preparados para a Educação Inclusiva e a maioria relatou que a prin-
cipal fonte de preparo para a prática inclusiva tem sido estudos individuais,
leituras e pesquisas na internet; relatam que cursos e capacitações poderiam
contribuir, porém alguns disseram que o ideal seria que essa formação oco-
rresse durante o turno de trabalho e custeada pelo poder público. Pouquíssi-
mos respondentes citaram que melhores salários, investimento do poder pú-
blico e valorização da carreira contribuiriam para a formação na área. De for-
ma geral, percebemos que, apesar de considerável tempo de formação e prá-
tica, os professores do município ainda utilizam Educação Especial como
sinônimo de Educação Inclusiva, tanto em termos de conceito quanto das
práticas pedagógicas, que, em nosso ver, são mais voltadas à integração de
alunos. Poucos professores compreendem que tanto para uma educação
mais inclusiva quanto para a Educação Especial é necessário o envolvimento
de outras dimensões para além do âmbito da escola.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 152


Palavras-chave: Educação Inclusiva - formação de professores - prática peda-
gógica - Belo Horizonte

Fonte de financiamento: PAPQ/UEMG

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 153


A INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA EM UMA
EMEI DE BELO HORIZONTE

Erika Lourenço
Luciana Aparecida de Andrade
Gabriela Kunzendorff Bueker Drumond
Lourdes Eduardo Lopes
Elizabeth Junqueira Santos
Universidade Federal de Minas Gerais

A proposta deste trabalho é apresentar os resultados de um projeto de inter-


venção, voltado para a Educação Inclusiva, realizado em uma Escola Munici-
pal de Educação Infantil (EMEI) da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O projeto foi desenvolvido no contexto da participação de quatro profissionais
da escola no Curso de Especialização em Formação de Educadores para a
Educação Básica, com área de concentração em Educação Inclusiva, oferta-
do pela Faculdade de Educação da UFMG, em parceria com a Prefeitura Mu-
nicipal de Belo Horizonte, entre os anos de 2018 e 2019. As monografias a
serem apresentadas por essas professoras, ao final do curso, deveriam ser
baseadas em uma Avaliação Crítica da Prática Pedagógica (ACPP), atividade
realizada na escola em que trabalhavam. A ACPP resultou neste projeto, que
teve como foco a inclusão da criança com deficiência. O projeto foi iniciado
com uma avaliação diagnóstica da escola com relação às práticas voltadas
para a inclusão das crianças com deficiência. Essa avaliação contemplou
desde aspectos relacionados à estrutura física e arquitetônica da escola até a
preparação da equipe de educadores e técnicos para uma educação inclusi-
va. Foram detectados diferentes fatores que poderiam estar dificultando a
inclusão dos alunos com deficiência na escola, destacando-se: falta de aces-
sibilidade, sobretudo para crianças cadeirantes, no refeitório e em alguns es-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 154


paços de lazer; professores e outros funcionários da escola considerando-se
pouco preparados para práticas inclusivas; distanciamento entre família e es-
cola, com dificuldades na comunicação entre as duas partes. Considerando
as possibilidades de intervenção das professoras no período de um ano, fo-
ram desenvolvidas, concomitantemente, quatro ações coordenadas entre si.
A primeira ação foi voltada para a comunicação entre famílias das crianças
com deficiência e escola. Foi estabelecido um canal de comunicação via gru-
po de Whatsapp, onde as famílias puderem falar de suas dificuldades, insatis-
fações e também compartilhar com a escola suas expectativas e dicas para o
melhor atendimento educacional aos seus filhos. As famílias foram convida-
das a comparecer à escola para compartilhar e ouvir experiências, dúvidas e
dificuldades da escola com relação à educação de seus filhos. Foram convi-
dadas para encontros com as famílias, pessoas com experiências de desta-
que na educação de crianças com deficiência, seja pela própria experiência
com os filhos, seja por experiência profissional. A segunda e terceira ações
tiveram como foco a capacitação das professoras da escola para práticas
mais inclusivas. Com esse intuito, foram realizados grupos focais, tratando
conceitos e temas relacionados à inclusão de crianças com deficiência. Tam-
bém foram promovidas oficinas para construção de materiais didáticos adap-
tados para crianças com deficiências diversas. A quarta ação foi voltada para
os estagiários de apoio ao educando. Essa aconteceu no formato de encon-
tros para informações sobre o papel do apoio ao educando na escola e sua
importância na promoção da inclusão das crianças acompanhadas. Percebeu
-se uma grande mobilização das famílias, de parte das professoras e dos au-
xiliares de apoio ao educando para a participação nas atividades propostas e
uma avaliação bastante positiva das mesmas. Ficou a expectativa de que as
ações ora iniciadas possam ter continuidade e foco ampliado.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 155


Palavras-chave: educação inclusiva - inclusão escolar - criança com deficiên-
cia

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 156


ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: UM RETRATO DA
REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE BELO HORIZONTE

Rafael Henrique de Resende Marciano


Michele Aparecida de Sá
Universidade Federal de Minas Gerais

Este trabalho teve como objetivo geral identificar e caracterizar o perfil dos
alunos com deficiência matriculados na rede municipal de ensino de Belo Ho-
rizonte. Os dados foram coletados nos Microdados do Censo Escolar da Edu-
cação Básica (2018), disponibilizados pelo INEP a partir das variáveis: sexo,
raça, tipo de deficiência, Atendimento Educacional Especializado, modalidade
de ensino e etapa de ensino. Este estudo constatou que, no ano de 2018,
tinha 5.836 alunos com deficiência matriculados na rede municipal de ensino,
o que corresponde a 3,79% do total geral da rede municipal. Com relação à
incidência dos tipos de deficiências, as que tiveram o maior número de alunos
foram: a Deficiência Intelectual, com 45,65%, seguida pela Deficiência Física,
com 22,14% e Autismo, com 17,24%. Destaca-se que o maior número de alu-
nos com deficiência matriculados era do sexo masculino (63,71%) e da cor/
raça parda (53,96%). No que se refere à etapa de ensino com o maior núme-
ro de matrículas, os anos iniciais do ensino fundamental tiveram a maior in-
cidência (44,02%). Um ponto a ser ressaltado é que 71,06% do público-alvo
da Educação Especial não recebia Atendimento Educacional Especializado
(AEE) e 310 alunos estavam em escolas especiais ou classes especiais. A
partir dos dados apresentados, verifica-se que na rede municipal de ensino de
Belo Horizonte há um número expressivo de alunos com deficiência matricu-
lados quando comparado a outros locais do Brasil. Isso nos permite dizer que
as políticas educacionais estão contribuindo para ampliação do acesso, mas
precisam ser melhoradas, pois, segundo os dados apresentados, ainda havia
310 alunos que eram atendidos em espaços segregados. Porém, somente o

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 157


acesso não é suficiente para promover o direito à educação desse público,
torna-se necessário que os alunos com deficiência tenham atendimentos
adequados as suas especificidades conforme assegurado pela legislação.
Nesse sentido, a rede municipal de ensino precisa ampliar o Atendimento
Educacional Especializado para contemplar os 71,06% dos alunos que não
recebiam esse tipo de atendimento. Conclui-se que as políticas de Educação
Especial na perspectiva inclusiva precisam ser aprimoradas e implementadas
no contexto do município de Belo Horizonte, tornam-se necessárias ações
que favorecem a permanência e a apropriação do conhecimento, como aten-
dimentos adequados e facilitadores do processo de ensino e aprendizagem.

Palavras-chave: Educação Especial - alunos com deficiencia - Censo Escolar

Fonte de financiamento: Pró-reitoria de Pesquisa - PRPq - Programa de Ini-


ciação Científica

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 158


O TRABALHO DOCENTE COM ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA EM
CURSOS TÉCNICOS DE NÍVEL MÉDIO NO BRASIL E EM PORTUGAL

Sandra Freitas de Souza


Maria Auxiliadora Monteiro Oliveira
Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais

O presente estudo versa sobre a atuação dos professores da Educação Pro-


fissional de ensino médio com pessoas com deficiência e se constituiu, a par-
tir da necessidade de se pesquisar com maior profundidade, se esses docen-
tes têm trabalhado, no seu dia a dia, nas salas de aulas, na perspectiva da
Educação Inclusiva. Tendo em vista que a possibilidade de avanço na escola-
ridade tornou-se possível às pessoas com deficiência, essa modalidade edu-
cacional se apresenta como uma grande oportunidade de inserção desses
sujeitos, tanto no mundo laboral quanto no societário. A pesquisa se configu-
rou como uma pesquisa qualitativa, lançando-se mão de uma revisão biblio-
gráfica dos trabalhos de, principalmente, Alves (2018), Carvalho (1997), Duek
(2014), Manica e Caliman (2015), Mazzotta (2005), Silva (2015) e Souza
(2008), além de documentos nacionais e internacionais. Realizou-se, tam-
bém, uma inserção no campo, na qual foram realizadas entrevistas semiestru-
turadas com docentes, estudantes e coordenadores de cursos técnicos de
nível médio, de duas instituições da Rede Federal de Educação Profissional
Científica e Tecnológica (RFEPCT), em Minas Gerais, e de duas Escolas de
Educação Profissional, de nível médio, em Portugal. Foram utilizados, tam-
bém, questionários para levantamento da situação social dos estudantes e
profissional dos docentes. Nas instituições pesquisadas, tanto no Brasil quan-
to em Portugal, constatou-se um posicionamento que representa muitos pro-
fessores dos segmentos e modalidades educacionais no que tange ao proce-
sso inclusivo de estudantes com Necessidades Educacionais Especiais, em
geral, e com deficiência, em particular. Dessa forma, foi possível, através de-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 159


la, verificar como os professores têm lidado com o processo inclusivo nas sa-
las de aulas e que ações ainda precisam ser implementadas para que a Edu-
cação Inclusiva se concretize efetivamente.

Palavras-chave: trabalho docente - estudantes com deficiencia - Educação


Profissional de nível médio

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 160


A MEDIAÇÃO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DE FEUERSTEIN E O
DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES COGNITIVAS

Tatiana Campos Vasconcelos


Regina Helena de Freitas Campos
Universidade Federal de Minas Gerais

Reuven Feuerstein nasceu na Romênia, em 1921, em família judaica sensível


à cultura e à educação. O grupo familiar cultivava a sociabilidade e a leitura
de textos bíblicos. Quando pequeno, interagiu com crianças órfãs cuidadas
por sua mãe. Essas experiências familiares constituíram referências importan-
tes para o autor, desenvolvendo nele o desejo de compreender melhor o efei-
to dessas interações no desenvolvimento humano. Foi professor e psicólogo.
Durante a 2ª. Grande Guerra interrompeu seus estudos, foi enviado a campo
de concentração, ensinava então órfãos provenientes de diversos países que,
devido às terríveis experiências vividas, apresentavam carências cognitivas
muito semelhantes àquelas observadas em indivíduos com deficiência men-
tal, mas que podiam ser modificadas através da interação com um professor
qualificado. Após a Guerra, Feuerstein foi morar em Genebra e tornou-se co-
laborador de Jean Piaget, estudioso do desenvolvimento cognitivo e socio-
moral dos seres humanos, especialmente crianças e adolescentes. Em 1970,
o autor romeno obteve o grau de Doutor na Universidade de Paris-Sorbonne,
com tese sobre diferenças no desenvolvimento cognitivo em grupos sociais e
étnicos diversos (natureza, etiologia, prognósticos de modificabilidade).
Desenvolveu então a Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural (MCE), a
Teoria da Experiência da Aprendizagem Mediada (MLE) e o Programa de
Enriquecimento Instrumental (PEI). Suas teorias constituem a base do
“Método Feuerstein” de intervenção psicopedagógica, conhecido em diversos
países. A ideia de que a inteligência pode ser melhor desenvolvida através de
interações com parceiros qualificados está associada ao trabalho de Feuers-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 161


tein, assim como ao de outros psicólogos da perspectiva sociointeracionista.
O autor considerava que indivíduos educados em ambientes caracterizados
pela riqueza de relações interpessoais desenvolvem capacidades de aprendi-
zagem superiores em relação àqueles que não tiveram tal oportunidade, inter-
ferindo no desenvolvimento das habilidades cognitivas. A ênfase nas relações
interpsicológicas fundamentou a elaboração do conceito de “aprendizagem
mediada”. Os instrumentos criados por Feuerstein têm sido utilizados na edu-
cação de pessoas com dificuldades cognitivas, em diversos contextos, sendo
apropriados e possivelmente modificados e enriquecidos em função dos pro-
blemas apresentados em cada contexto, em um movimento de ativo de inter-
câmbio de ideias a impulsionar novos sentidos e novas formas de relação na
produção dos saberes. Este estudo tem por objetivo verificar como tem sido
feita a apropriação das propostas de Feuerstein, no Brasil, através de revisão
sistemática da literatura recente sobre a utilização do método por ele desen-
volvido. Resultados preliminares da pesquisa evidenciam a contribuição do
“Método Feuerstein” na melhora da aprendizagem no ensino de Artes e de
Ciências, na promoção de melhor organização dos processos cognitivos e na
preparação dos estudos. Os artigos selecionados fundamentam-se na im-
portância que Feuerstein atribui às ações consideradas mediatizadas, isto é,
à qualidade das experiências de interação do educando com o seu meio so-
cial e cultural, na prática pedagógica do professor e na modificabilidade cogni-
tiva estrutural. Por não haver receita pronta para o processo de intervenção, o
método chama a atenção para a observação das características de cada
aprendiz e para a necessidade de elaboração de estratégias apropriadas a
cada caso.

Palavras-chave: prática docente – mediação - Reuven Feuerstein - modifica-


bilidade cognitiva - Educação Inclusiva

Fonte de financiamento: UFMG

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 162


SESSÃO COORDENADA 8: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 1

A ORGANIZAÇÃO DE ARQUIVOS COMO PRÁTICA DE ENSINO DE


HISTÓRIA DA PSICOLOGIA EM CURSOS DE GRADUAÇÃO
Rodolfo Luís Leite Batista
Centro Universitário Presidente Tancredo de Almeida Neves

Esta comunicação pretende discutir a organização de arquivos como uma


prática de ensino de História da Psicologia a partir de experiência de estágio
básico supervisionado em um centro universitário de Barbacena, Minas Ge-
rais. Entre os eixos estruturantes para a formação do psicólogo, as Diretrizes
Curriculares Nacionais dispõem que conhecimentos, habilidades e competên-
cias concernentes aos fundamentos epistemológicos e históricos da psicolo-
gia devam ser articulados, a fim de capacitar o estudante a avaliar criticamen-
te as diferentes perspectivas teóricas constitutivas dessa ciência. Para tanto,
os estágios tornam-se importante dispositivo formativo ao promover situações
representativas do exercício profissional. O estágio apresentado acontece,
desde o 2° semestre de 2017, junto ao Setor de Psicologia da Associação de
Pais e Amigos dos Excepcionais de Barbacena, instituição criada, em 1962,
para o atendimento de crianças com deficiência da cidade mineira e região, e
objetiva (a) organizar o arquivo de prontuários psicológicos produzido ao lon-
go da história da entidade mediante a alocação adequada dos documentos e
criação de base de dados informatizada; (b) conhecer a produção acadêmica
brasileira a respeito das práticas psicológicas e educacionais concernentes à
Educação Especial e Inclusiva; (c) a partir de práticas de conservação e pre-
servação, discutir a produção e o arquivamento de documentos psicológicos.
De início, buscou-se preparar os estudantes para o contato direto com o ar-
quivo. Foram realizados alguns encontros de capacitação com um arquivista,
a visita a centro de documentação, o contato com pesquisadores e a leitura

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 163


de artigos acadêmicos a respeito do tema. Essa etapa permitiu informar os
estudantes a respeito de técnicas de preservação e conservação de docu-
mentos, o cuidado no manuseio de arquivos e sua importância para a pro-
dução historiográfica. Em seguida, passou-se para a transposição das infor-
mações anotadas em “cadernos de registro” para um arquivo digital no forma-
to Excel, a organização dos prontuários em ordem alfabética e o arquivamen-
to do material em condições adequadas. Atualmente, realiza-se a transferên-
cia do arquivo para uma sala destinada exclusivamente para a documentação
e, em parceria com estudantes de Ciência da Computação, uma base de da-
dos, com acesso online, para busca e cadastro de informações está em fase
de criação. Essa experiência tem permitido reconhecer a importância da pers-
pectiva histórica para a compreensão das formas de atuação profissional do
psicólogo. O contato com os documentos possibilitou aos estudantes identifi-
car as transformações ocorridas no formato de atendimento à população com
deficiência ao longo da história da instituição, especialmente no que tange às
mudanças nas formas de diagnóstico e no uso de estratégias psicotécnicas.
Os estagiários também têm refletido sobre a produção de documentos psico-
lógicos e seu arquivamento como forma de construção de fontes históricas.
Espera-se que, após o encerramento dessas atividades, projetos de pesquisa
possam ser realizados e promovam a ampliação da produção histórica acerca
da psicologia e da Educação Especial e Inclusiva na mesorregião do Campo
das Vertentes.

Palavras-chave: história da psicologia - ensino de psicologia - estágio curricu-


lar – arquivo

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 164


MAPEANDO PRODUÇÕES FEMININAS NO BRASIL:
UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO NOS ARQUIVOS BRASILEIROS
DE PSICOTÉCNICA (1949-1968)

Rodrigo Lopes Miranda


Elena dos Santos Arsamenia
Guilherme Santos de Souza
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
Paulo Coelho Castelo Branco
Universidade Federal do Ceará (UFC)

A participação das mulheres na história das Ciências nos conta uma história
de luta por ocupação de espaços tradicionalmente masculinos. Sua partici-
pação permaneceu, por muito tempo, encoberta por um véu de indiferença.
Essa invisibilidade, observada na História das Ciências, também está presen-
te na História da Psicologia. Questões de gênero, semelhantes àquelas en-
contradas em outras partes do mundo, também marcaram a invisibilidade fe-
minina no campo psi brasileiro. O objetivo deste estudo é descrever e analisar
a participação feminina em textos veiculados nos Arquivos Brasileiros de Psi-
cotécnica (ABP), período de 1949 a 1968. Foram analisadas fontes primárias
serializáveis, i.e., artigos publicados por mulheres e vinculados nos ABP que
estivessem disponíveis integralmente de maneira digital. Os dados captura-
dos totalizaram 1.238 textos publicados pelos ABP e desses, apenas 572
possuíam autoria. Deste conjunto, considerando apenas primeira autoria,
houve 279 manuscritos assinados por homens, 249 por mulheres e 44 indefi-
nidas (desconhecido, institucional e não identificado). O total de artigos escri-
tos por mulheres (n = 249) foram assinados por 86 autoras diferentes e mais
da metade delas (n = 51) publicou apenas um artigo no periódico em todo o
período analisado. Com média de publicação variando entre dois e seis arti-
gos, foram observadas 28 autoras. Todavia, um terceiro grupo de mulheres (n

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 165


= 7) foi responsável pela publicação de 97 textos, a saber. Do total de 249
artigos, apenas 103 contavam com referências bibliográficas claramente men-
cionadas que, por sua vez, citaram 1119 textos. O inglês foi o idioma preva-
lente (n = 497), seguido do Espanhol (n = 246) e do Português (n = 218). O
padrão de referências anglofônicas pode ter relação com a influência científi-
ca estadunidense que crescia à época no Brasil. As temáticas mais recorren-
tes, conforme categorizados pelo próprio periódico, foram Testes (n = 87),
Psicologia do Trabalho (n = 41) e Psicologia do Desenvolvimento (n = 40).
Tais resultados indicam uma forte presença feminina na produção científica
brasileira e permitem supor que mulheres estudavam e se formavam na
primeira metade daquele século no país. Notamos também influências estran-
geiras, tanto na autoria dos textos quanto nas referências que aqui circula-
vam. As temáticas recorrentes nestes trabalhos indicam aspectos da história
do campo psi no Brasil: o uso de métodos e técnicas psicológicas em diferen-
tes espaços de atuação. Além disso, havia um interesse no Trabalho – poten-
cialmente influenciado pelo contexto socioeconômico brasileiro do período e
pela editoria dos ABP, o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP)
– e no Desenvolvimento Humano – marcado pela história da Psicologia na
Educação. Assim, como nossos resultados são preliminares, advindos de um
estudo exploratório-descritivo, novas investigações são necessárias para mel-
hor compreensão da participação feminina na conformação de uma comuni-
dade científica de Psicologia no Brasil.

Palavras-chave: história - história da Psicologia - profissionais mulheres - invi-


sibilização da mulher

Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnoló-


gico (CNPq)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 166


HISTÓRIA DO CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISA EM PSICOLOGIA
APLICADA - CEPPA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO
MINEIRO - UFTM (2010-2018)

Ana Laura Domingues de Sousa


Sara Lorraine Gualberto Silva
Walter Mariano de Faria Silva Neto
Universidade Federal do Triângulo Mineiro

A presente pesquisa faz parte de um projeto historiográfico amplo, que visa a


conhecer a trajetória de implementação do curso de Psicologia na Universida-
de Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). No projeto pedagógico, consoante
com as exigências das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cur-
sos de Psicologia, é previsto a instalação de um Serviço Escola, que cumpre
as exigências para a formação do psicólogo correspondente às competências
a serem desenvolvidas no aluno e o atendimento às demandas da comunida-
de na qual ele está inserido. Dessa forma, o curso de Psicologia da UFTM
conta com um Serviço Escola, fundado em 2010, denominado Centro de Es-
tudos e Pesquisa em Psicologia Aplicada (CEPPA); sendo uma área suple-
mentar da UFTM, conveniado ao Sistema Único de Saúde (SUS), situado na
cidade de Uberaba – Minas Gerais. O objetivo da pesquisa foi investigar o
processo de fundação e constituição do CEPPA. Para tanto, foram utilizadas
as atas das reuniões do seu Colegiado. Foram localizadas 44 atas (2010 à
2018), que passaram por um processo de organização, por temáticas de seus
pontos de pauta, e foram submetidas a um processo de análise de conteúdo
de uma perspectiva histórica, classificadas em categorias. Os resultados
apontam para três categorias temáticas globais, recorrentes aos anos estuda-
dos: aspectos administrativos - destacando discussões acerca da regulari-
zação e da organização do serviço (48,52%), aspectos de funcionamento -
relacionados ao cotidiano e sua rotina (47,03%) e espaço físico e estrutura

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 167


(4,45%). Os dados das duas primeiras categorias permitem observar que o
CEPPA está em implementação e construção constante, ou seja, é possível
notar que as normas, os documentos e o regimento passaram por diversas
mudanças ao longo da trajetória, sendo flexíveis e mutáveis ao longo de cada
gestão e às dificuldades encontradas no processo. Isso mostra um serviço
dinâmico, o que é necessário, considerando o número de pessoas vinculadas
ao CEPPA e o seu tempo de existência. Por outro lado, isso pode implicar
uma visão de que o serviço prestado não tem ainda uma constituição sólida,
pois mudanças e rearranjos podem ocasionar instabilidade no trabalho em
todas suas dimensões. Relacionado à terceira categoria global, o espaço físi-
co, foram encontradas, em atas, pautas voltadas à necessidade de estrutu-
ração física para melhor atendimento ao público, visando a alcançar ambos
objetivos do Serviço Escola. Tais dados se aglutinam com os resultados da
pesquisa mais ampla, que demonstra que, embora o curso de Psicologia da
UFTM tenha completado dez anos de implantação no ano de 2018, devido a
questões relacionadas ao contexto de sua fundação, o mesmo ainda segue
em implementação frente às dificuldades relacionadas às mudanças das
DCNs, falta de recursos, problemas relacionados à estrutura física e falta de
diálogo entre as suas diferentes instâncias. Do ponto de vista do movimento
histórico, é necessário que se caminhe na direção de se estabelecer quais
são essas possíveis diretrizes, inclusive para a proposição de um novo Proje-
to Pedagógico, visando a uma melhor perspectiva de trabalho para as futuras
modificações consoantes à atualização da legislação e à integração do curso
com os contextos institucionais.

Palavras-chave: história da Psicologia - formação de psicólogos - clínica-


escola

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 168


OS DIÁRIOS DOS CURSOS DA FAZENDA DO ROSÁRIO

Renato Batista da Silva


Raquel Martins de Assis
Universidade Federal de Minas Gerais

Com início na década de 1940, o complexo de instituições da Fazenda do


Rosário viria a se consolidar como um polo muito importante de formação de
professores em Minas Gerais. Nos cursos de formação, era prática comum a
escrita coletiva de diários, em que, a cada dia de atividade, uma das alunas
fazia um relato sobre os acontecimentos. Essa prática era fomentada pela
própria fundadora da instituição, a psicóloga e educadora Helena Antipoff.
Apresentamos uma pesquisa em andamento, que visa a investigar a elabo-
ração da experiência das professoras-alunas dos cursos da Fazenda do Ro-
sário a partir do conteúdo dos diários que produziam. Serão apresentados
dados preliminares da primeira etapa da pesquisa, cujo intuito foi compreen-
der o objetivo, a estrutura e as particularidades da execução da redação des-
tes diários nos anos iniciais de existência dos cursos.Trata-se de uma pesqui-
sa documental, cujas fontes são os diários coletivos das professoras-alunas e
artigos escritos por Helena Antipoff sobre o uso dos diários. Esse material se
encontra disponível no Memorial Helena Antipoff, em Ibirité, Minas Gerais.
Para a coleta dos dados, realizou-se a consulta dos materiais in loco. Foram
encontrados 366 diários ao todo. Optou-se por um método fenomenológico,
segundo o qual realizou-se uma primeira leitura dos documentos, a fim de
extrair o que os diários poderiam informar sobre seu próprio uso. Os resulta-
dos obtidos, até o momento, bem como a literatura existente sobre o tema,
evidenciam que Antipoff reforçava sempre a importância da escrita dos diários
para a formação de professores. Ela pedia que as alunas registrassem princi-
palmente dois aspectos: 1. a observação e descrição minuciosa da natureza;
2. os acontecimentos, tanto escolares quanto da vida, documentando o que

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 169


acontecia e em que condições acontecia. A narrativa, em geral, apresentava
a seguinte estrutura: a) registro do tempo meteorológico matinal; b) registro
das atividades realizadas por elas; c) registro de acontecimentos que chama-
ram atenção naquele dia; d) registro de pensamento; e) registros artísticos. O
registro de pensamentos é um dos tópicos que mais nos fornecem elementos
sobre a elaboração das diaristas. A partir deles, observa-se as relações entre
educação, missão e virtudes, a valorização da experiência vivida na fazenda
do Rosário e a presença da religiosidade no cotidiano e nas representações
delas. Algumas das redatoras relatam um sentimento de angústia e/ou nervo-
sismo frente à tarefa da escrita. Os alunos eram incubidos de outros registros,
além dos diários coletivos, como as cadernetas individuais, onde as alunas
faziam um registro pessoal de suas experiências. Conforme a investigação
avançava, percebeu-se que existem poucos estudos sobre os diários do Insti-
tuto Superior de Educação Rural (ISER), que oferecia cursos para formação e
aperfeiçoamento de profissionais da Educação Rural. A partir dessas conside-
rações, para as próximas etapas da pesquisa, pretende-se privilegiar a inves-
tigação nos diários do ISER, dado ser contexto pouco explorado. Projeta-se
privilegiar os conteúdos chamados pelas diaristas de “pensamentos” e as ca-
dernetas individuais das alunas, com vistas a extrair o que esse material infor-
ma acerca da escrita dos diários como instrumento para a formação de pro-
fessores e como elaboração da experiência educacional.

Palavras-chave: história da Psicologia - formação de profesores - Helena Anti-


poff - educação

Fonte de Financiamento: CNPq

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 170


REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO NOS
INTERIORES DO BRASIL

Paulo Coelho Castelo Branco


Universidade Federal do Ceará

A temática da formação do psicólogo é um campo aberto de pesquisas e dis-


cussões no Brasil. Existem, pois, mapeamentos de produções sobre o tema
que indicam certa dispersão metodológica e conceitual no seu trato, que
abrange várias áreas da Psicologia. Por um lado, isso indica a existência de
uma tendência de pesquisas e discussões que, embora heterogênea, signifi-
ca uma falta de referência teórica e metodológica comum à elaboração con-
junta de um saber construído sobre o tema. Em especÍfico, poucos estudos
abordam o fenômeno da interiorização dos cursos de formação em Psicolo-
gia, o que demarca um problema ante tal falta de reflexão e ante os recentes
resultados do INEP, de 2016, os quais indicam que o número de psicólogos
formados em instituições de ensino superior em localidades interioranas su-
peram o número de psicólogos formados nas capitais. A partir dessa proble-
matização, objetiva-se refletir o tema da formação do psicólogo segundo uma
perspectiva histórica e contextual: a manifestação desse fenômeno nos inte-
riores brasileiros. O estudo demarca os momentos históricos da assunção do
fenômeno de interiorização do ensino superior no Brasil e dos cursos de Psi-
cologia a partir dos seguintes momentos: 1945-1969, início da expansão uni-
versitária pelas universidades católicas, privadas, federais e estaduais, sua
interiorização pelas unidades rurais e aumento de matrículas em cursos de
Psicologia, coincidindo, não fortuitamente, com a regulamentação da pro-
fissão em 1962; 1970-1980, aumento das expansões, segundo a lógica de
crescimento e desenvolvimento educacional voltado para o capital privado,
ocasionando a migração de vários estudantes dos interiores para as capitais
brasileiras, tornando-as um eixo geográfico intelectual a ser seguido e enten-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 171


dido como referência no desenvolvimento educacional e de vanguarda na
qualificação profissional; década de 1990, momento de surto de expansão
educacional a partir das nos âmbitos do ensino privado; anos 2000, momento
de orientação do governo para expandir as vagas discentes, docentes e ad-
ministrativas em campus já estabelecidos, assim como a criação de outras
unidades situadas fora dos eixos das capitais, pelo REUNI, fortalecimento das
práticas de ensino à distância e expansão dos programas de pós-graduação.
Nesse cenário, argumenta-se que a maioria dos alunos matriculados em Insti-
tuições de Ensino Superior (IES) está nos interiores do Brasil, havendo uma
concentração de cursos de Psicologia nas cidades do interior, regida, subs-
tancialmente, pela iniciativa privada. A formação do psicólogo nos interiores é
caracterizada pela consolidação de serviços ligados aos SUS e SUAS, mi-
gração de psicólogos formados nas capitais na busca de melhores condições
de vida, migração de estudantes, necessidade de formar profissionais para
lidar com as contendas locais e fomento à reestruturação urbana. O
fenômeno da interiorização da Psicologia expressa uma assunção de novos
eixos geográficos intelectuais, não mais marginais ou periféricos às capitais,
que ratificam a produção de novos saberes/práticas voltadas para questões
locais. Conclui-se que o curso de Psicologia se torna viável em diversas cida-
des interioranas por ser flexível em sua estruturação física e curricular, não
depender de aparelhos caros, salas especiais e se inserir em diversos cam-
pos de atuação profissional a partir do exercício liberal ou da atuação nas
políticas públicas.

Palavras-chave: formação do psicólogo - interiorização do ensino superior -


universidade

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 172


SESSÃO COORDENADA 9: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 2

HISTORIOGRAFIA DA CIÊNCIA E HISTÓRIA DA PSICOLOGIA:


POSSÍVEIS INTERLOCUÇÕES

Eva Maria dos Santos Mesquita


Dener Luiz da Silva
Departamento de Psicologia (UFSJ)

Embora muito já se tenha dito sobre o impacto da sociologia e psicologia do


conhecimento sobre a história da ciência ocidental, o que, deste modo, enfati-
za a influência tanto das condições materiais históricas quanto de elementos
subjetivos e sua complexa determinação aos rumos desta atividade humana,
o caminho contrário, ou seja, do reconhecimento do quanto algumas das prin-
cipais discussões historiográficas relativas à história da ciência afetaram e
vem afetando o olhar sobre a Psicologia e sua compreensão histórica, não é
tão evidente. No presente trabalho, através de pesquisa bibliográfica e con-
ceitual, tendo como foco as principais discussões apontadas pela Historiogra-
fia da Ciência no século XX, identificamos três aspectos relativos a essa his-
toriografia buscando relacioná-las com possíveis desdobramentos na interpre-
tação histórica da Psicologia contemporânea. O primeiro deles diz respeito à
relativa independência da historiografia da ciência, enquanto disciplina
autônoma, ocorrida ao longo do século XX. Tal independência favoreceu rela-
cionamento de alteridade com as demais disciplinas, entre elas a Psicologia,
visando não apenas a apreender desta elementos para uma contínua autocrí-
tica mas, igualmente, sugerindo elementos que possam auxiliar aquela em
sua autonomização. O segundo aspecto, derivado do primeiro, diz respeito às
interpretações majoritárias que, distanciando-se da história naturalística, ali-
mentando-se das diversas revoluções ou “turning points” (cognitivo, linguísti-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 173


co, sociológico), favoreceram uma visão menos personalista, mais ligada aos
grupos de performantes, ao estabelecimento e compartilhamento consensual
de modelos e vocabulários próprios e ao reconhecimento da incomensurabili-
dade entre pontos de vista. Sob esse aspecto, a história da Psicologia pode
ser lida como um conjunto variável, mas finito de possibilidades, com lacunas
consensuais, sendo, portanto, melhor precisada como pré-paradigmática. Por
fim, verificamos a coexistência de ciência em distintos níveis de centralidade
(do central ao periférico), o que diz respeito tanto à origem histórica e geográ-
fica, mas também quanto à sua topologia em um mundo onde também as
diversas maneiras de conhecer disputam entre si. A relação entre historiogra-
fia da ciência e história da Psicologia não se esgota nesses três aspectos,
porém, acreditamos que são indicadores da necessidade de uma maior apro-
ximação e apropriação das discussões e resultados para o constante aper-
feiçoar das bases historiográficas que fomentam a compreensão histórica da
Psicologia enquanto disciplina científica contemporânea.

Palavras-chave: Historiografia da Ciência - história da Psicologia - Fleck-Kuhn


-Popper - Ciência Central vs Ciência Periférica

Fonte de financiamento: agradecimento à FAPEMIG e à UFSJ pela disponibi-


lidade de recurso orçamentário (Bolsa) na realização desta pesquisa.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 174


DISCURSO MÉDICO-HIGIENISTA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR MINEIRA:
UM ESTUDO HISTÓRICO SOBRE A REVISTA DO ENSINO (1925 - 1930)

Maria Cecília Moura Bicalho


César Rota Júnior
Centro Universitário Pitágoras

No começo do século XX, a medicina higienista foi adotada no Brasil em di-


versos âmbitos sociais, incluindo as escolas. A instituição escolar se tornou
um lócus privilegiado para difusão dos preceitos higienistas e, também, eu-
gênicos. Entre as décadas de 1920 e 1940, em Minas Gerais, circulava a Re-
vista do Ensino, instituída pelo governo do estado como meio de dissemi-
nação de informações para professores e professoras, apontando a importân-
cia da implementação dos métodos científicos à educação escolar. Para além
disso, é também necessário pensar no viés do controle social de tais medi-
das, como estratégia de controle social e como modo de justificar processos
de exclusão social e econômica. O objetivo geral da pesquisa foi investigar os
discursos higienistas e eugênicos, no contexto da educação escolar, presen-
tes na Revista do Ensino de Minas Gerais (1925-1930). Tratou-se de uma
pesquisa historiográfica, de caráter qualitativo, descritiva, buscando investigar
a circulação de preceitos e práticas higienistas e eugênicas na Revista do
Ensino, entre os anos de 1925 e 1930, totalizando 50 números da revista.
Essas revistas estão digitalizadas e disponíveis no site do Arquivo Público
Mineiro, sediado em Belo Horizonte, Minas Gerais. Todos os números foram
lidos e analisados a partir da “Análise de Conteúdo”. Pode-se identificar a pre-
sença de conteúdos de caráter higienista e eugênico, desde a frequente apo-
logia ao uso dos testes, para separar os alunos por níveis de inteligência, em
busca da pretensa homogeneidade das salas de aula - passando pelas ques-
tões da necessidade do asseio e limpeza, pelas tomadas como necessárias
mudanças nas relações familiares, no sentido de uma padronização da orga-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 175


nização familiar -, a questões específicas sobre pobreza e raça, por vezes,
carregados nos tons eugênicos. Foi possível notar que, atrelado à circulação
de informações sobre higiene e prevenção de doenças, incutiam-se con-
teúdos que, sob o discurso nacionalista de progresso da nação, buscavam
estabelecer uma outra cultura escolar e familiar. Assim, pode-se demonstrar
que a Revista do Ensino, nos seus cinco primeiros anos, contribuiu com a
circulação de discursos higienistas e eugênicos na direção da busca por pa-
dronizações relacionais e comportamentais dos professores, dos alunos e de
suas famílias. Para além disso, cabe-nos refletir em que medida alguns des-
ses aspectos ainda se fazem presentes nas escolas, seguindo nessa mesma
linha adaptacionista dos tempos da medicina higienista, gerando e sustentan-
do rótulos e estereótipos no cotidiano escolar.

Palavras-chave: medicina higienista – Eugenia - história da educação - Psico-


logia escolar

Fonte de financiamento: Unifipmoc

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 176


A PESQUISA ESCOLOLÓGICA E A FORMAÇÃO CIENTÍFICA DE
PROFESSORES – A EXPERIÊNCIA DE HELENA ANTIPOFF NA ESCOLA
DE APERFEIÇOAMENTO DE PROFESSORES
DE BELO HORIZONTE (1929-1943)

Renata Silva Cruz


Regina Helena de Freitas Campos
Universidade Federal de Minas Gerais

Este trabalho tem por objetivo investigar as pesquisas ditas “escolológicas”


realizadas sob a orientação da psicóloga e educadora russo-brasileira Helena
Antipoff (1892-1974), no Laboratório de Psicologia da Escola de Aper-
feiçoamento de Professores de Belo Horizonte, entre 1929 e 1943. O termo
Escolologia é um neologismo proposto pela própria educadora para se refe-
rir à construção de uma nova disciplina científica, parte da pedagogia experi-
mental, que teria por objeto o estudo da escola como instituição educativa e
tudo que com ela se relaciona: administração escolar, desenho do prédio,
higiene, material didático, regime escolar, organização das classes, caracte-
rísticas do ensino, métodos didáticos, as diversas instituições auxiliares, for-
mação de professores, materiais utilizados nas aulas, e o estudo do escolar,
suas capacidades intelectuais, motivação para a aprendizagem, influência do
meio social nos resultados alcançados. Esse programa de pesquisas fazia
parte da proposta da educadora visando à formação de professores com ex-
periência na investigação científica e conhecimentos mais sistemáticos da
realidade do sistema escolar com o qual iriam trabalhar. Como o psicólogo
Alfred Binet (1857-1911), diretor do primeiro Laboratório de Psicologia estabe-
lecido na França, na Universidade da Sorbonne, pesquisador dos processos
cognitivos e inventor dos testes de inteligência, Antipoff considerava que a
Pedagogia deveria, como a Psicologia, tornar-se uma ciência experimental,
baseada em investigações empíricas. Como Édouard Claparède (1873-1940),

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forte defensor da formação científica para os educadores, a psicóloga consi-
derava que a Pedagogia teria muito a ganhar tornando-se uma área de inves-
tigação comprometida com procedimentos científicos de validação dos conhe-
cimentos produzidos e das recomendações práticas deles decorrentes. Essas
investigações sistemáticas iriam promover a descoberta das conexões entre
as condições e fatos da vida escolar, os meios educativos e os resultados
obtidos, estabelecendo relações de causa e efeito e construindo teorias peda-
gógicas a partir de observações bem conduzidas sobre o funcionamento da
escola então existente. Sob a direção de Antipoff, foram efetivamente realiza-
dos pelas alunas, durante seu estágio no Laboratório de Psicologia, diversos
levantamentos sistemáticos sobre o funcionamento das escolas públicas de
Belo Horizonte em suas várias dimensões. As alunas-pesquisadoras visita-
vam as escolas uma vez por semana, durante alguns meses, para coletar
dados através de observações de salas de aula, avaliação da inteligência,
memória, habilidades psicomotoras, ideais e interesses das crianças através
de testes e questionários, entrevistas com professores. Os relatos dessas
pesquisas foram publicados na forma de monografias na Revista do Ensino,
órgão de divulgação das atividades do governo na área da educação pública.
Esses relatos evidenciam o propósito de tornar a pesquisa a base da for-
mação docente, promovendo o aprendizado das técnicas de levantamento e
tratamento de dados empíricos, os procedimentos de verificação de hipóteses
e a interpretação dos resultados. Propunha-se assim a construção de um no-
vo perfil de professores, com formação no tratamento de dados objetivos e
maior conhecimento da realidade educacional. Essa experiência se deu em
um período importante da história da educação mineira, período no qual mu-
danças estruturais no país incidiram sobre a organização educacional e pro-
moveram a expansão do sistema público de ensino e sua democratização.

Palavras-chave: Helena Antipoff – Escolologia - formação de profesores - Psi-


cologia e Educação

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HISTÓRIA DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE MENTAL EM MINAS GERAIS:
UM PASSADO IGNORADO

Aline Moreira Gonçalves


Marcos Vieira Silva
Universidade Federal de São João del Rei

Este recorte faz parte de uma pesquisa de doutorado que está em andamen-
to. A tese surge no intuito de dar continuidade a uma investigação iniciada
durante a pesquisa de mestrado “Dos porões ao hospício: a participação das
Santas Casas de Misericórdia na assistência aos alienados em Minas Gerais,
no século XIX”. Contudo, faz-se ainda necessário analisar e aprofundar a in-
vestigação referente a algumas temáticas suscitadas durante o processo de
investigação inicial. Concluiu-se, por exemplo, que foram construídas vinte e
quatro (24) Santas Casas em Minas Gerais até o fim do século XIX. A pesqui-
sa mostrou que apenas as Santas Casas das cidades de São João del Rei e
de Diamantina chegaram a prestar um atendimento sistemático aos aliena-
dos, durante o século XIX, em Minas Gerais. A Santa Casa de Caridade de
Diamantina, inclusive, criou o Hospício da Diamantina, que teve uma curta
existência durante os anos de 1889 a 1906. Percebe-se, ainda, que foi por
meio do legado religioso, muitas vezes privado, que as Políticas Públicas em
torno da assistência à saúde mental puderam se desenvolver no Brasil. Sem
que, contudo, fosse feita uma correlação de forma oficial entre a participação
das Santas Casas nesse processo. O estudo do acervo da Santa Casa de
Misericórdia de São João del Rei propõe a existência de uma assistência sis-
tematizada a alienados, no decorrer do século XIX, o que a autora chamou de
“projeto de assistência aos alienados” - tanto a cidade de São João del Rei
quanto a cidade de Diamantina tiveram o fim de seus projetos de assistência
aos alienados com a inauguração do Hospital Psiquiátrico de Barbacena no
ano de 1903. As Santas Casas de Misericórdia fizeram parte do legado carita-

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tivo-assistencial do Império português trazido ao Brasil e a todos os demais
países por ele colonizados. Nesse sentido, objetiva-se compreender como se
deu o projeto territorial de assistência aos alienados na cidade de São João
del Rei, tecido ao longo do século XIX. Portanto, faz-se necessário um resga-
te da compreensão dos aspectos que circundam as Santas Casas de Miseri-
córdia enquanto instituições presentes, no Brasil, desde os tempos do Brasil
Colônia. O estudo proposto se trata de uma pesquisa de abordagem qualitati-
va do tipo estudo de caso. Como estratégias metodológicas para a realização
da presente pesquisa, pretende-se lançar mão da pesquisa bibliográfica já
realizada anteriormente, para dar-lhe continuidade com recursos advindos da
historiografia, como uma nova possibilidade de análise para a compreensão e
levantamento acerca da temática em questão. Como método de pesquisa e
de análise dos dados levantados, propõe-se ainda a utilização dos procedi-
mentos inspirados na análise arqueológica do discurso.

Palavras-chave: história da assistência à saúde mental - Santas Casas de


Misericórdia - documentação - alienados

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SESSÃO COORDENADA EXTRA

O BAÚ, A COLCHA, AS MEMÓRIAS...

Rosilene Maria da Silva Gaio


CTPM Unidade de São João del Rei

Apresentamos um projeto, desenvolvido ao longo de algumas aulas/oficinas,


que objetivou tecer reflexões sobre as memórias afetivas e o valor emocional
destas na vida da criança. O trabalho foi desenvolvido com o primeiro ano do
Ensino Fundamental do Colégio Tiradentes da Polícia Militar, unidade São
João del Rei, no período de março a novembro de 2019. A proposta foi inspi-
rada no livro “A Colcha de Retalhos” de Conceil Corrêa da S. N. Ribeiro. O
livro apresenta, em forma de literatura, uma avó e seu neto que, cortando re-
talhos para fazer uma colcha, vão reunindo e costurando lembranças. Entre
recordações engraçadas, tristes, alegres e embaraçosas, Felipe (o neto) abre
-se para o sentido das emoções e do sentimento de saudade, resgatando os
valores das memórias que fazem parte da constituição identitária individual e
familiar. O trabalho consistiu em que as crianças escolhessem um objeto que
pudesse lhes trazer uma boa memória - poderia ser a lembrança de uma pes-
soa querida, de um lugar agradável, de um momento importante. Ao escolher
o objeto, a criança deveria, com o auxílio da família, escrever sobre ele, rela-
tando o que o mesmo representava e, ao trazê-lo para a escola juntamente
com o escrito, estes foram depositados/guardados no Baú das Memórias.
Também foi confeccionada a “Colcha das Memórias” da turma, na qual as
crianças, novamente contando com a participação das famílias, deveriam re-
presentar plasticamente (desenho, pintura e outros), em um tecido americano
cru de medida 30x30, o objeto escolhido. Os pedaços foram, então, unidos
em sala de aula com a participação das crianças. À medida que a professora

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costurava/unia os tecidos com a máquina de costura que era herança de sua
avó, ou seja, seu objeto de memória, as crianças cantavam as músicas
aprendidas de março até agosto, que foi quando os tecidos foram unidos. O
projeto favoreceu, desse modo, a expressão corporal, a produção de texto e a
integração da turma, ao visualizar-se a “colcha” dos retalhos das memórias
mais significativas dos participantes. Ao possibilitar a objetivação de senti-
mentos, emoções, lembranças, facilitou-se a expressão, a identificação e o
trabalho das principais emoções, garantindo-se uma educação integral. A par-
tir do vivido, foi possível considerar que ao escreverem sobre o objeto, fala-
rem e mostrarem o mesmo, as crianças expressavam suas emoções, deixan-
do transparecer por meio de suas expressões as suas memórias.

Palavras-chave: memórias - Educação Fundamental – criança – emoções -


prática pedagógica

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EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO BIO-PSICO-SOCIAL E ETHOS:
ESTUDO DE UMA CARTA DE HELENA ANTIPOFF
ENDEREÇADA AO FILHO

Carmem Miriam Maciel Junqueira


Universidade do Estado de Minas Gerais (Ibirité)

Helena Antipoff veio para o Brasil em 1929, deixando na França o filho Daniel,
à época com 10 anos. Em 1938, poucos meses antes do início da segunda
Guerra Mundial, temendo as consequências da mesma, Helena convence o
filho a vir para o Brasil. Daniel residiu na França durante nove anos, período
no qual ele e a mãe trocaram correspondências em francês. Escolhemos,
para este estudo, a carta de 24 de janeiro de 1937, porque o conteúdo da
mesma nos possibilita atingir os seguintes objetivos: produzir conhecimento a
respeito do ethos de Helena e também a respeito do processo educacional
utilizado para a educação do filho. Utilizamos, como base teórica, a “Análise
do Discurso Francesa”. Uma primeira pergunta: por meio de quais práticas
discursivas podemos compreender o ethos, as imagens de si no discurso de
Helena Antipoff? Uma segunda pergunta: quais estratégias discursivas nor-
tearam o processo pedagógico nessa relação mãe/filho? Considerando que
falar ou escrever exige estratégia, observamos que é necessário conhecer o
interlocutor, imaginar o que o mesmo possa querer e perceber quais os pa-
peis que desempenham, enfim, construir a cena de enunciação, a encenação.
Pensando dessa forma, falar e escrever são processos contínuos de in-
teração com muitos “outros”.Tratando-se de uma carta de mãe para filho, es-
pera-se como encenação um discurso mais íntimo, a escolha mais amorosa
do léxico e o caminho livre para a expressão dos sentimentos. Espera-se...
Na perspectiva da análise do discurso, o conceito de ethos é importante por-
que parte constitutiva da cena de enunciação. Ethos é a imagem de si, no
discurso. Expressos pelo discurso, verificamos um ethos complexo: ordena,

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modalizando; valoriza a cultura, a literatura, a pesquisa, os amigos, a família e
também o amor ao próximo. Um exemplo de ethos de mãe: “Porte-se bem,
minha criança, fisicamente e moralmente, é o que lhe deseja sua velha
mamãe que te ama”. O discurso é imperativo, manda, define prioridades, mas
também amoroso, revelando uma mãe que tem uma clara proposta educacio-
nal para o filho. Helena pergunta: “Como você vai, meu garoto? Tua saúde
está excelente, como eu queria que ela estivesse? Seu humor está bom? Teu
trabalho te satisfaz? Teus amigos te deixam feliz”? Demonstra, por meio do
discurso, um processo educacional na relação mãe/filho, centrado no desen-
volvimento bio-psíquico-social. As orientações e as ordens modalizadas
dizem respeito a: estudar e se preocupar com os resultados; ler, visitar mu-
seus, ir ao teatro, enfim, adquirir cultura universal; relacionar-se bem com
amigos e familiares; praticar esportes, observar a saúde do corpo e da alma e
sempre ajudar o outro da forma como for possível. Enfim, por meio do discur-
so, conhecemos um pouco o complexo ethos de Helena e como ela construiu
um discurso pedagógico, por meio de cartas, com o objetivo de educar o filho.

Palavras-chave: educação - análise do discurso - ethos

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Assuntos do CDPHA

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ATA DA ASSEMBLEIA GERAL DO CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E
PESQUISA HELENA ANTIPOFF (CDPHA), realizada no auditório do 2º
andar da Biblioteca Central da Universidade Federal de Minas Gerais
(campus Pampulha) no dia 07 de fevereiro de 2018. Presentes: Regina Hele-
na de Freitas Campos, Maria do Carmo Lara Perpétuo, Adriana Araújo Perei-
ra Borges, Adriana Otoni Silva Antunes Duarte, Maria de Fátima Pio Cassemi-
ro, Marilene Oliveira Almeida, Ana Maria Milagres Belo Francisco, Adriana
Cláudia Drumond, Pedro Henrique Oliveira Guimarães, Camila Jardim de Mei-
ra, Bruna Cristina da Silva Hudson, Esther Augusta Nunes Barbosa, Delba
Teixeira Rodrigues Barros, Deolinda Armani Turci, Míriam Aparecida de Brito
Nonato, Carla Andrea Teixeira Dias Camargos, Maria Luiza Magalhães No-
gueira e Maria das Graças Ferreira Coimbra. A presidente da Fundação Hele-
na Antipoff e vice-presidente do CDPHA, Maria do Carmo Lara Perpétuo, jus-
tificou a ausência do Carlyle dos Passos Laia, por motivo de férias. A ausên-
cia de Sérgio Farnese também foi justificada pela presidente do CDPHA, Re-
gina Helena de Freitas Campos; além disso, foi informado que Sérgio enviou
a sugestão para que o XXXVII Encontro Anual Helena Antipoff seja pensado
com um tema homenageando Daniel Antipoff, levando em consideração que
2019 será o centenário de seu nascimento. Dando início aos trabalhos, a pre-
sidente do CDPHA, Regina Helena de Freitas Campos, apresentou o relatório
das atividades e prestação de contas do CDPHA, referentes ao período 2016
– 2017. O relatório apresentou os seguintes pontos: 1) Organização e reali-
zação dos seguintes eventos: XXXIV Encontro Anual Helena Antipoff,
realizado no período de 06 a 08 de abril de 2016, no Instituto de Ciências Hu-
manas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto (ICHS/UFOP), na
cidade de Mariana, MG, com o tema “Psicologia, Educação e o debate am-
biental – retomando a perspectiva ecológica Antipoffiana” e XXXV Encontro
Anual Helena Antipoff, entre os dias 17 e 18 de março de 2017, na Fundação
Helena Antipoff, em Ibirité, MG, com o tema “Experiência de Helena Antipoff

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em Educação na Rússia Soviética (1917 – 1924) – Lembrando os 100 Anos
da Revolução Russa (1917 – 2017)”. Ambos eventos contaram com o apoio
financeiro da Fapemig. Foi relembrado pela vice-presidente do CDPHA, Maria
do Carmo Lara Perpétuo, o lançamento do livro “Psicologia, educação e o
debate ambiental: questões históricas e contemporâneas”, no qual foram pu-
blicados artigos referentes às apresentações que ocorreram no evento de
2016 e que realizaram reflexões sobre o rompimento da barragem de rejeitos
de mineração ocorrido na comunidade de Bento Rodrigues, próxima à Maria-
na, em 2015. Dessa forma, foi sugerido que o CDPHA entre em contato com
a diretora do ICHS/UFOP, professora Doutora Margareth Diniz, e com o Sér-
gio Farnese, para que alguns exemplares desse livro sejam repassados para
as lideranças da comunidade de Bento Rodrigues durante a realização de
uma roda de conversa com as pessoas da comunidade. A presidente do
CDPHA, Regina Helena de Freitas Campos, relembrou que no evento de
2017 ocorreu a visita da pesquisadora russa Marina Sorokina, do Centro Ale-
xandre Solzenitcyn de Estudos da Diáspora Russa de Moscou. O contato do
CDPHA com os pesquisadores russos iniciou em 2012, quando foi identifica-
do pelo Centro Alexandre Solzenitcyn de Estudos da Diáspora Russa o nome
de Helena Antipoff como uma das imigrantes russas que realizaram obras
importantes em outros países. A partir desse contato, foram enviadas para o
Centro Solzenitcyn, em Moscou, as publicações realizadas pelo CDPHA e
realizado o Colóquio Internacional “The Global Educational Space and the
Academic Migrants: The Legacy of the Russian psychologist Helena Antipoff
(1892-1974) in Education and Human Rights in Latin America, Europe and
Russia”, que contou com a presença de dez pesquisadores associados ao
CDPHA. Durante a participação de Marina Sorokina no evento XXXV Encon-
tro Anual Helena Antipoff, em 2017, foi realizado um acordo de cooperação,
no qual o Memorial Helena Antipoff contribuiria com a doação de objetos para
o Museu dos Imigrantes, realizado pelo Centro Alexandre Solzenitsyn de Es-

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tudos da Diáspora Russa, assim como o Centro Alexandre Solzenitsyn de
Estudos da Diáspora Russa contribuiria com o Memorial Helena Antipoff, em
Ibirité, com a abertura de um espaço no Museu dos Imigrantes, em caráter
eventual, no qual ocorreriam exposições realizadas pelo CDPHA, a FHA e o
Conselho Consultivo Municipal de Patrimônio Histórico, Cultural e Paisagísti-
co de Ibirité. Dessa forma, ao final do mês de agosto de 2017, foram enviados
para o Centro Alexandre Solzenitsyn de Estudos da Diáspora Russa objetos e
documentos reproduzidos relacionados à Helena Antipoff, para compor o Mu-
seu dos Imigrantes, que será inaugurado em novembro de 2018, em Moscou.
A presidente da Fundação Helena Antipoff e vice-presidente do CDPHA, Ma-
ria do Carmo Lara Perpétuo, relatou que a Fundação Helena Antipoff está
empenhada na realização de dois projetos: um documentário sobre a obra e a
vida de Helena Antipoff e a digitalização dos documentos arquivados no Me-
morial Helena Antipoff, em Ibirité. O andamento desses projetos está depen-
dendo da verba fornecida pelo Governo do Estado de Minas Gerais, mas a
abertura do termo de referência que realiza a liberação das verbas de 2018
ainda não foi realizada. As funcionárias do Memorial Helena Antipoff, Míriam
Aparecida de Brito Nonato e Carla Andrea Teixeira Dias Camargos, relataram
os trabalhos realizados em Ibirité: o “Projeto Memorial Itinerante”, que objetiva
divulgar a contribuição de Helena Antipoff na educação e na psicologia para
alunos das escolas municipais, estaduais e particulares de Ibirité, e o “Projeto
de extensão Granjinha Escolar: contribuições da Pedagogia Antipoffiana para
a formação integral de crianças e adolescentes do Projeto Escola de Helena”,
realizado com os alunos da Educação Integral da Escola de Helena, em Ibiri-
té, objetivando reativar o “Método de Projetos das Granjinhas Marques Lis-
boa” realizado por Helena Antipoff. O projeto das Granjinhas contou com o
apoio do Programa Institucional de Apoio à Extensão – PAEx/UEMG e foi pro-
posto pela professora Camila Jardim de Meira. Também foi mencionado o
“Projeto de Educação Integral no polo Fundação Helena Antipoff: diálogos

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com a perspectiva educacional antipoffiana”, realizado com os alunos da Edu-
cação Integral da Escola de Helena, em Ibirité, que buscou reaplicar o
“Inquérito Ideais e Interesses”. Esse projeto possuiu o apoio do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica – PIBIC/UEMG/
FAPEMIG e foi coordenado pela professora Marilene Oliveira Almeida. A pre-
sidente do CDPHA, Regina Helena de Freitas Campos, ressaltou a importân-
cia de registrar e publicar os trabalhos desenvolvidos na Fundação Helena
Antipoff, no intuito de divulgar as pesquisas práticas que estão sendo realiza-
das com os alunos da Educação Integral da Escola de Helena, em Ibirité.
Além disso, a presidente mencionou a participação dos membros do CDPHA
no Colóquio Internacional “Genève, une plateforme de l’internationalisme édu-
catif au 20º siècle”, que ocorreu entre os dias 14 e 15 de setembro de 2017,
em Genebra, na Suíça. Esse colóquio discutiu como diversos intelectuais tor-
naram consistentes as experiências das Escolas Novas em diferentes países.
A partir da apresentação das comunicações a respeito do trabalho realizado
por Helena Antipoff no Brasil, a professora da Universidade de Genebra e
presidente dos Arquivos Jean Jacques Rousseau, Rita Hofstetter, solicitou o
envio, pelo correio, das publicações realizadas pelo CDPHA e informou que,
em outubro de 2018, estará em Belo Horizonte, para realizar pesquisas com
seus colaboradores nos acervos do CDPHA. Nessa ocasião, será realizado
um pequeno colóquio, demonstrando como Genebra se tornou um núcleo
importante de experiências divulgadas em vários países. Informações sobre
esse evento serão divulgadas na época. O segundo ponto discutido na
reunião foi: 2) Eleição da diretoria do CDPHA para o período 2018-2020: foi
eleita por aclamação a presidente – Regina Helena de Feitas Campos. As
vice-presidentes para o período de 2018-2020, nos termos do Art. 7º do Esta-
tuto do CDPHA, são: Maria do Carmo Lara Perpétuo (presidente da Fundação
Helena Antipoff), Maria do Carmo Coutinho de Moraes (pela Associação Pes-
talozzi de Minas Gerais), Sílvia Maria Medeiros Magalhães (diretora da

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ACORDA – Associação Comunitária do Rosário) e Filomena de Fátima Silva
(presidente da ADAV – Associação Milton Campos para o Desenvolvimento e
Assistência a Vocações de Bem Dotados). A Diretoria Técnica ficou composta
por: Adriana Araújo Pereira Borges; Adriana Otoni Silva Antunes Duarte;
Christiane Souza Martins; Deolinda Armani Turci e Miriam Aparecida de Brito
Nonato. A Diretoria Administrativa ficou composta por: Carlyle dos Passos
Laia; Maria das Graças Ferreira Coimbra, Raquel Martins de Assis e Pedro
Henrique Oliveira Guimarães. A Diretoria Financeira ficou comporta por: Carla
Andrea Teixeira Dias Camargos, Delba Teixeira Rodrigues Barros, Fernanda
Flaviana de Souza Martins; Luis Flávio Silva Couto e Riviane Borghesi Bravo.
O Conselho Fiscal ficou composto por: Titulares: Cecília Andrade Antipoff;
Elizabeth Dias Munaier Lages e Maria de Fátima Pio Cassemiro; Suplentes:
Elizabeth Coutinho de Moraes; Rita de Cássia Vieira e Sônia Vieira Coelho. O
Conselho Consultivo ficou comporto por: Ana Maria Milagres Belo Francisco,
Adriana Cláudia Drumond, Camila Jardim de Meira, Bruna Cristina da Silva
Hudson, Esther Augusta Nunes Barbosa. Os Coordenadores Regionais: Mari-
lene Oliveira Almeida (UEMG/FHA) e Érika Lourenço (FaFiCH/UFMG). Foi
sugerido pela presidente do CDPHA que seja instituída uma coordenadoria
regional também na cidade de Barbacena e pedido para que Marilene Oliveira
Almeida verifique a lista de participantes que realizaram a inscrição no XXXV
Encontro Anual Helena Antipoff de 2017, pois ao pagarem a inscrição no
evento, essas pessoas passaram a ser associadas do CDPHA. O terceiro e
último ponto discutido na reunião refere-se ao 3) Planejamento do XXXVI En-
contro Anual Helena Antipoff. A professora Adriana Araújo Pereira Borges
iniciou a apresentação do tema do Encontro mencionando que, no final do
ano de 2017, ela, juntamente com um grupo de pesquisadores relacionados à
Educação Especial, pensaram na escrita da coletânea intitulada “Toda cria-
nça pode aprender”, direcionada para que os professores reflitam sobre a
prática na sala de aula com os alunos especiais. A partir do primeiro livro des-

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sa coletânea, foi pensada a temática do XXXVI Encontro Anual Helena Anti-
poff e do II Colóquio Pesquisa e Intervenção em Transtorno do Espectro do
Autismo – “Da Ortopedia Mental à Educação Inclusiva: História e Atualidade”.
A intenção do tema é retomar a ideia descrita no artigo “Da ortopedia mental
aos meninos de Barbacena” de Oscar Cirino, pensando na questão do autis-
mo, mas sem desconsiderar outras questões que estão relacionadas à Edu-
cação Especial. Foi apresentado o esboço da programação do Evento, que
acontecerá nos dias 23 a 25 de abril, nos prédios da FaE/UFMG e FaFiCH/
UFMG, e no dia 26 de abril, na Fundação Helena Antpoff, em Ibirité. O evento
iniciará no dia 23 de abril, com a Conferência de Abertura intitulada “Da orto-
pedia mental à educação inclusiva”, realizada por Oscar Cirino (FHEMIG);
também ocorrerá a Mesa-Redonda “Educação Especial e Educação Inclusiva
– História e Atualidade” e a conferência “Preservação de acervo, uma contri-
buição da história da psicologia e da educação especial”, ministrada pela pro-
fessora Marina Massimi. Foi informado pela presidente do CDPHA que a pro-
fessora Marina Massimi realizou a doação de seu arquivo pessoal para a sala
do CDPHA da UFMG. Ao final do dia 23 de abril, acontecerá a “Exposição
Helena Antipoff e a História da Psicologia e da Educação no Brasil” e o la-
nçamento do primeiro livro da coleção “Toda criança pode aprender - o autis-
mo na escola”. No dia 24 de abril, acontecerão as seguintes conferências:
“TEA: uma perspectiva antropológica”, que será realizada pelo professor Dr.
Roy Grinker - Columbian College of Arts e Science, George Washington Uni-
versity, EUA - e “As pesquisas atuais sobre o autismo”; além das Mesas
“Escolarização de crianças com autismo” e “Alfabetização, habilidades, comu-
nicação e integração sensorial”, e das Sessões Coordenadas para apresen-
tações de trabalhos inscritos. No dia 25 de abril, acontecerá a Conferência
“Teoria da mente e habilidades sociais”, a Mesa-Redonda “Psicologia, edu-
cação e inclusão: histórias do passado e do presente” e a Conferência de en-
cerramento. Nos dias em que o evento estiver acontecendo na FaE/UFMG e

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na FaFiCH/UFMG, serão realizados os seguintes minicursos: A escrita e o
texto na pós-graduação; Alfabetização da criança com TEA; Integração sen-
sorial no TEA; TEA e apraxia da fala; Poéticas e movimentos; Os direitos das
pessoas com TEA; Desenvolvimento motor e TEA; A brincadeira na perspec-
tiva histórico cultural no TEA; Autismo e medicação escolar e Recursos diag-
nósticos no TEA. O dia 26 de abril ficou reservado para a Conferência
“Educação inclusiva e seus desafios atuais”, que será realizada no auditório
da Fundação Helena Antipoff, em Ibirité. Foi sugerido que essa conferência
seja televisionada, ao vivo, para uma sala que estará disponível na FaE/
UFMG. Além dessa conferência, em Ibirité, também será realizada uma visita
guiada no Memorial Helena Antipoff. Após a apresentação do programa inicial
do Evento, os participantes da Assembleia sugeriram que fossem realizadas
duas outras Mesas paralelas: uma relacionada à “Pedagogia Antipoffiana” e
outra sobre “História da Psicologia”. Foi informado que as inscrições no Even-
to serão realizadas no site da Fundep, sendo proposto, inicialmente, o seguin-
te valor: R$ 80,00 para estudantes da graduação e professores da rede bási-
ca; R$ 150,00 para estudantes de mestrado e doutorado e R$ 220,00 para
profissionais em geral. O dinheiro arrecadado servirá para cobrir as despesas
do Evento, mas também foi solicitado o apoio financeiro da Fapemig. O valor
apresentado foi considerado elevado pelos participantes da Assembleia e
sugerido que o valor fosse reduzido. Adriana Borges argumentou que tentaria
reduzir o valor junto à Fundep para os seguintes valores: R$ 50,00 para estu-
dantes da graduação e professores da rede básica; R$ 100,00 para estudan-
tes de mestrado e doutorado e R$ 120,00 para profissionais em geral. Ficou
decidido que o envio dos resumos para as Sessões Coordenadas será esten-
dido para o dia 15 de março de 2018 e que no dia da Conferência na Fun-
dação Helena Antipoff, em Ibirité, não será cobrada a inscrição, sendo que,
em troca, a Fundação Helena Antipoff ficará responsável por realizar a visita
guiada ao Memorial Helena Antipoff. Também foi informado que a organi-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 192


zação do Boletim Número 28 será organizado pelas professoras Érika Lou-
renço, Raquel Martins de Assis e a doutoranda Laênia Martins Petersen. Na-
da mais havendo a se tratar, lavrou-se a presente ata, que segue assinada
pela presidente do CDPHA, Regina Helena de Freitas Campos, pela secretá-
ria da Assembleia, Adriana Otoni Silva Antunes Duarte, e pelos demais pre-
sentes.

Belo Horizonte, MG, 07 de fevereiro de 2018.

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ATA DA ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO CENTRO DE
DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HELENA ANTIPOFF (CDPHA)

Aos dezessete de novembro de 2020, às 9h30, em segunda convocação, foi


realizada a Assembleia Geral Ordinária do Centro de Documentação e Pes-
quisa Helena Antipoff (CDPHA), pela plataforma Zoom, contando com a pre-
sença online de 24 (vinte e quatro) associados e 1 (uma) convidada, que
coordenou a sessão virtual, Cinda Murta, da Airá Eventos (lista de presença
anexa). A Assembleia foi aberta por Regina Helena de Freitas Campos, presi-
dente do CDPHA (período 2018-2020), que explicou as regras para realizá-la,
através da plataforma Zoom, sendo que essa foi a primeira assembleia remo-
ta do CDPHA. Em seguida, a presidente agradeceu a presença de todos e
informou que, no primeiro semestre, fora convocada uma Assembleia Geral
Ordinária presencial para o dia 26 de março de 2020, que seria realizada du-
rante o 38º Encontro Anual Helena Antipoff. Com a pandemia do novo coro-
navírus e o consequente adiamento do Encontro, a Assembleia Geral não
pode ser realizada. Assim, os mandatos dos membros da Diretoria foram pro-
rrogados. Esse procedimento foi aprovado por todos os presentes. A presi-
dente apresentou então a pauta principal proposta no edital de convocação:
apresentação do relatório de atividades da Diretoria para o período de 2018-
2020; parecer do Conselho Fiscal sobre a prestação de contas da Diretoria;
eleição da nova Diretoria para o período de 18 de novembro de 2020 a 17 de
novembro de 2022; realização do 38º Encontro Anual Helena Antipoff em ma-
rço de 2021. A seguir, designou a associada Érika Lourenço para presidir a
Assembleia, auxiliada por Marilene Oliveira Almeida, primeira secretária, e por
Christiane Campos de Araújo, segunda secretária. Em seguida, foi apresenta-
do o relatório da Diretoria 2018-2020, por meio de uma apresentação visual,
com as seguintes atividades: 1) realização do 36º Encontro Anual Helena An-
tipoff em associação com o II Colóquio de Pesquisa e Intervenção em Trans-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 194


torno do Espectro do Autismo, nos dias 23 a 26 de abril de 2018, no campus
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte – MG,
e na Fundação Helena Antipoff, em Ibirité, Minas Gerais. O Encontro, que
contou com o apoio da Fapemig, foi promovido em associação com o Labora-
tório de Estudo e Extensão sobre o Transtorno de Espectro do Autismo
(LEAD), sediado no Departamento de Psicologia da UFMG, e com o Labora-
tório de Políticas Públicas em Educação Especial e Inclusão (LAPPEEI) da
UFMG. Lembrando as contribuições seminais de Helena Antipoff à área de
Educação Especial no Brasil, o tema escolhido para o Encontro foi: “Da orto-
pedia mental à educação especial e inclusiva”. Durante o evento, foram reali-
zadas oito conferências, oito mesas-redondas, dezesseis sessões coordena-
das com apresentação de trabalhos de pesquisa, dez minicursos e duas ex-
posições; 2) Edição do Boletim do CDPHA nº 28, com o programa e os resu-
mos dos trabalhos apresentados no 36º Encontro Anual Helena Antipoff e II
Colóquio de Pesquisa e Intervenção em Transtorno do Espectro do Autismo e
notícias do CDPHA; 3) realização do 37º Encontro Anual Helena Antipoff em
associação com o III Congresso Brasileiro de História da Psicologia, em asso-
ciação com a Sociedade Brasileira de História da Psicologia (SBHP), nos dias
15, 16 e 17 de abril de 2019, na Faculdade de Educação da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, e na Fundação Helena
Antipoff, em Ibirité, Minas Gerais, com o apoio do Conselho Federal de Psico-
logia e da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia
(ANPEPP). O tema do evento foi “Psicologia no século 21: novos paradigmas,
reflexões inovadoras, contribuições para a melhoria da qualidade de vida -
questões históricas e contemporâneas”, buscando relacionar a história e a
atualidade da psicologia. Durante o evento, foram realizadas seis conferên-
cias, cinco mesas-redondas, doze sessões coordenadas com apresentação
de trabalhos de pesquisa; 4) Edição do Boletim do CDPHA nº 29, com o pro-
grama e os resumos dos trabalhos apresentados no 37º Encontro Anual Hele-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 195


na Antipoff e III Congresso Brasileiro de História da Psicologia; 5) colaboração
na realização do documentário “Entre mundos – vida e obra de Helena Anti-
poff”, de Guilherme Reis e Ana Amélia Arantes; 6) realização de pesquisas
sobre a vida e a obra de Helena Antipoff e seus colaboradores e sobre as
instituições por ela lideradas, utilizando documentos e publicações do acervo
do CDPHA; 7) elaboração do novo site do CDPHA, disponível no endereço
www.cdpha.pro.br. Em seguida, foi apresentada a prestação de contas dos
exercícios de 2018, 2019 e 2020, por meio de apresentação visual das recei-
tas e despesas ocorridas no período, com o parecer favorável do Conselho
Fiscal, que foi aprovado pela Assembleia depois do relato de Maria de Fátima
Pio Cassemiro, membro do Conselho Fiscal. Em seguida, foi realizada a
eleição da nova Diretoria, para o período de 18 de novembro de 2020 a 17 de
novembro de 2022, que ficou assim constituída: Presidente: Regina Helena
de Freitas Campos. Vice-presidentes: Vicente Tarley Ferreira Alves, Maria do
Carmo Coutinho de Moraes, Sílvia Maria Medeiros Magalhães, Filomena de
Fátima Silva. Diretoria Técnica: Adriana Araújo Pereira Borges, Adriana Otoni
Silva Antunes Duarte, Deolinda Armani Turci, Lilian Sipoli Carneiro Cañete.
Diretoria Administrativa: Christiane Campos de Araújo, Cleuza Glória de Fáti-
ma Amorim de Oliveira, Miriam Aparecida de Brito Nonato, Renata Silva Cruz.
Diretoria Financeira: Carlyle dos Passos Laia, Raquel Martins de Assis, Wan-
derson de Sousa Cleres. Conselho Fiscal: Titulares: Camila Jardim de Meira,
Carolina Silva Bandeira de Melo, Maria de Fátima Pio Cassemiro; Suplentes:
Elizabeth Coutinho de Moraes, Sérgio Domingues, Sergio Faleiro Farnese.
Conselho Consultivo: André Elias Morelli Ribeiro, Arthur Arruda Leal Ferreira,
Bernard Schneuwly, Clarice Moukachar Batista Loureiro, Deborah Rosária
Barbosa, Dener Silva, Marilene Proença Rebello de Souza, Marina Massimi,
Marina Sorokina, Mitsuko Aparecida Makino Antunes, Mônica Maria Farid
Rahme, Natalia Masolikova, Nydia Negromonte Franco, Paula Dantas de Oli-
veira Pelizer, Rachel de Sousa Vianna, Rita Hofstetter, Sérgio Dias Cirino,

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 196


Silvia Parrat-Dayan, Riviane Borghesi Bravo, Tatiana Campos Vasconcelos.
Coordenadoras Regionais: Marilene Oliveira Almeida (Seção do CDPHA na
Fundação Helena Antipoff) e Érika Lourenço (Seção do CDPHA na Sala Hele-
na Antipoff, na UFMG). Em seguida, foi realizada a votação, tendo se mani-
festado todos os associados presentes. Após a apuração dos votos, sem ha-
ver manifestação de votos contrários e abstenções, foi declarada eleita e em-
possada a chapa apresentada, por unanimidade. Passando ao próximo ponto
da pauta, foi discutida e aprovada a realização do 38º Encontro Anual Helena
Antipoff e Colóquio Internacional Jean Piaget, que ocorrerá no período de 22
a 31 de março de 2021, através de plataforma online, com apoio e organi-
zação da Airá Eventos. A Assembleia foi gravada no Zoom e essa gravação
poderá ser disponibilizada para os associados interessados. Eu, Marilene Oli-
veira Almeida, primeira secretária, lavrei a presente ata, que vai por mim assi-
nada e por todos que a aprovarem. Belo Horizonte e Ibirité, 17 de novembro
de 2020. Marilene Oliveira Almeida

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 197


ARQUIVOS UFMG DE HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL

Sala Helena Antipoff


Biblioteca Central
Universidade Federal de Minas Gerais

1. HISTÓRICO E OBJETIVOS

Os “Arquivos UFMG de História da Psicologia no Brasil” foram estabe-


lecidos em 1997, na Sala Helena Antipoff - Biblioteca Central da Universidade
Federal de Minas Gerais. Tiveram origem em 1989, quando a professora e
pesquisadora Regina Helena de Freitas Campos, em busca de fontes de pes-
quisa para a sua tese de doutorado, começou a investigar a documentação
reunida no Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff – CDPHA,
na Fazenda do Rosário, em Ibirité. Após alguns meses de trabalho, foram
localizadas fontes inéditas no acervo da psicóloga e educadora Helena Anti-
poff. Constatada a diversidade e a riqueza dos documentos, foi elaborado, em
1993, um projeto, de autoria da pesquisadora – hoje professora da Faculdade
de Educação/UFMG -, com os objetivos de inventariar, organizar e tornar dis-
ponível esse acervo para a pesquisa em história da psicologia e da educação
brasileiras.

Inicialmente, o trabalho de organização do acervo seria executado em


Ibirité, na Fundação Estadual Helena Antipoff. Com o desenvolvimento das
atividades, o maior envolvimento da UFMG e a demanda pela organização de
fontes em história da Psicologia no Brasil, o projeto ampliou seus objetivos -
tornar-se um centro de referência em história da Psicologia no Brasil -, o que
deu origem aos Arquivos. A partir de então, acervos de outros pesquisadores
da área vêm sendo incorporados aos Arquivos.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 198


A equipe responsável pelos trabalhos inclui pessoal com formação em
Arquivologia e em Psicologia, além do pessoal treinado em técnicas de con-
servação e restauração, que trabalha sob a orientação do Centro de Conser-
vação e Restauração de Bens Culturais Móveis - CECOR-UFMG. Uma equi-
pe de Consultores presta assessoria na organização dos acervos.

A expressão “História da Psicologia no Brasil” refere-se a iniciativas de


caráter teórico ou prático em Psicologia que tiveram lugar no Brasil e às cone-
xões estabelecidas entre essas iniciativas e a Psicologia praticada em outras
partes do mundo. Como a Psicologia, no Brasil, está profundamente relacio-
nada à história da educação, sobretudo à história do pensamento educacional
e dos sistemas de ensino, os acervos constituem materiais de interesse tam-
bém para historiadores em educação. Assim, em termos institucionais, os
Arquivos estão vinculados tanto à linha de pesquisa “Psicologia, psicologia e
educação”, do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMG, quanto
à linha de pesquisa “Cultura, modernidade e subjetividade”, do Programa de
Pós-graduação em Psicologia da UFMG.

2. ACERVOS

2.1. ACERVO CDPHA

Em 6 de agosto de 1979, em Belo Horizonte, nas comemorações do


cinquentenário da chegada de Helena Antipoff ao Brasil, a professora Helena
Dias Carneiro, representante da Sociedade Pestalozzi do Brasil, apresentou o
projeto de criação de um centro nacional, cujos objetivos seriam: preservar a
memória de Helena Antipoff, documentar sua obra e divulgar seu ideário. A
proposta foi aceita e, decorridos oitos meses, o CDPHA foi criado, em 25 de
março de 1980. Entre as atividades do CDPHA, desde sua fundação, desta-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 199


cam-se a realização do Encontro Anual Helena Antipoff, que já se encontra na
sua trigésima edição, e a publicação do Boletim do CDPHA, que está em seu
24o ano de publicação. Além disso, o CDPHA cuida do acervo documental
que pertenceu à Helena Antipoff, em duas seções: na Sala Helena Antipoff,
na Biblioteca Universitária da UFMG, e na Fundação Estadual Helena Anti-
poff, em Ibirité.

Constituição/origem

Consiste em uma parte da documentação do CDPHA cedida por Daniel


Antipoff, através de contrato firmado com a UFMG, em 1997. Constitui-se de
documentos inéditos como: manuscritos, correspondências, textos avulsos,
anotações, publicações de circulação restrita e fotografias. Inclui documentos
relacionados à trajetória de Helena Antipoff: os estudos em Paris e Genebra,
o trabalho como psicóloga e educadora na Rússia, na Suíça e no Brasil e à
organização e funcionamento do Complexo da Fazenda do Rosário, produ-
zidos e acumulados no período de 1927 a 1987. Inclui também publicações
produzidas pelo Centro de Documentação. A outra parte da documentação
encontra-se no CDPHA, em Ibirité, em processo de organização e acondicio-
namento.

Temas

- Jogos pedagógicos

- Educação Especial

- Fazenda do Rosário

- Educação Rural

- Teatro na educação

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 200


- Testes psicológicos

- Pesquisas em Psicologia e Psicometria

- Vida e obra de Helena Antipoff

- Sociedade Pestalozzi

- Homenagens à Helena Antipoff

Organização do conjunto dos documentos

Os documentos obedecem à uma organização já existente - em caixas,


realizada pelo pessoal do CDPHA, na Fundação Helena Antipoff, em Ibirité.

Quantidade

- Disponíveis para consulta: 63 caixas

- Em organização: coleção de livros, teses e periódicos

Instrumentos de pesquisa

Catálogo informatizado

2.2. ACERVO JOSEF BROZEK

Educador, cientista, historiador da psicologia. Nasceu em Melnik,


Boemia (atual República Tcheca), em 24 de agosto de 1913, filho de Josef
Francis e Filomena (Sourek) Brozek. Obteve o grau de Doutor na Charles
University, na cidade de Praga, em 1937. Em 1939, mudou-se para os Esta-
dos Unidos, naturalizando-se cidadão norte-americano em 1945. Faleceu em
18 de janeiro de 2004, em Saint Paul (Minnesota, EUA).

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 201


Durante sua trajetória profissional, atuou em diversos campos da Psico-
logia e Biologia humanas, e desenvolveu o interesse pela história da Psicolo-
gia, paralelamente às outras atividades, a partir de 1963. Nessa época, foi o
responsável pela criação da divisão da História da Psicologia no quadro da
American Psychological Association, foi membro fundador do Journal of the
History of the Behavioral Sciences e da Sociedade Internacional de História
das Ciências Comportamentais e Sociais (mais tarde chamada CHEIRON).
Entre suas diversas publicações na área de História da Psicologia, destaca-se
o volume, editado em parceria com Ludwig Pongratz, intitulado Historiography
of Modern Psychology, traduzido para o português em 1988 (Brozek, J. e
Massimi, M. Historiografia da Psicologia Moderna: versão brasileira. São Pau-
lo: Loyola, 1998).

Após visita à Sala Helena Antipoff, em 1996 - quando veio ao Brasil


para participar da Reunião de instalação do Grupo de Trabalho em História da
Psicologia da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicolo-
gia – ANPEPP -, Brozek doou parte de sua biblioteca e acervo pessoais aos
“Arquivos UFMG de História da Psicologia no Brasil”. Esse conjunto constitui
o Fundo Josef Brozek.

Constituição/origem

Conjunto de documentos produzidos e acumulados por Josef Brozek


ao longo de sua vida profissional e acadêmica. Constitui-se de livros, corres-
pondências, fotografias, textos avulsos, periódicos, separatas e slides. Abran-
ge período de 1891 a 1996. O acervo foi doado aos Arquivos em 1998, pelo
titular.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 202


Temas

História da Psicologia

História da Psicologia Norte-americana

Instrumentos de Pesquisa

2.3 ACERVO HELENA DIAS CARNEIRO

Helena Dias Carneiro teve um primeiro contato com Helena Antipoff no


Rio de Janeiro, no ano de 1945, buscando tratamento para seu filho excep-
cional. Tornou-se, a partir desse momento, uma das primeiras mães de ex-
cepcionais a colaborar na obra de Helena Antipoff, engajando-se na criação
da Sociedade Pestalozzi do Brasil (SPB) naquele mesmo ano e atuando em
vários outros projetos em prol da infância excepcional. Assim, participou da
fundação da primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
(APAE), em 1954; coordenou o Conselho de Estudantes da SPB; foi membro
do Conselho Consultivo da SPB, em 1975; foi Segundo Tesoureiro da Fede-
ração Nacional das Sociedades Pestalozzi no período entre 1978-1982 e
atuou na publicação do Boletim da SPB.

Em 6 de agosto de 1979, em Belo Horizonte, nas comemorações do


cinquentenário da chegada de Helena Antipoff ao Brasil, a professora Helena
Dias Carneiro, como representante da Sociedade Pestalozzi do Brasil, apre-
sentou o projeto de criação de um Centro Nacional destinado à preservação e
divulgação da obra de Helena Antipoff. Esse projeto deu origem ao Centro de
Documentação e Pesquisa Helena Antipoff (CDPHA), que foi inaugurado em
1980, tendo uma seção em Ibirité e outra no Rio de Janeiro, assumindo Hele-
na Dias Carneiro a coordenação desta última. Foi a idealizadora não só do
CDPHA, mas também da implantação de um Arquivo Oral e da instituição do

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 203


Encontro Anual Helena Antipoff e da publicação do Boletim do CDPHA.

Constituição/origem

Documentos produzidos e acumulados por Helena Dias Carneiro du-


rante o período de convivência com Helena Antipoff e logo após a sua morte.
Constitui-se de correspondências e recortes de jornais. Abrange o período de
1947 a 1984. Foi doado, em 1997, por Daniel Antipoff.

Temas (recortes de jornais)

- Arte e educação

- Bem-dotados

- Educação Especial

- Mensageiro Rural

- Sociedade Pestalozzi

Organização

Foi mantida a ordem original definida pelo titular. Arranjo em séries, por tipo
de documento: série correspondência, em ordem cronológica, e série recortes
de jornais, por assunto.

Quantidade

- 240 correspondências

- recortes de jornais (em processo de organização)

- livros e periódicos sobre Educação Especial e outros assuntos relacio-


nados (em processo de organização)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 204


2.4 ACERVO EM HISTÓRIA DOS SABERES PSICOLÓGICOS E DA
PSICOLOGIA NO BRASIL MARINA MASSIMI

Marina Massimi é pesquisadora especialista em estudos de História


dos saberes psicológicos na cultura luso-brasileira e História da Psicologia no
Brasil. De nacionalidade italiana, a docente construiu sua trajetória profissio-
nal na Universidade de São Paulo – USP/Ribeirão Preto, tornando-se Profes-
sora Livre-docente e coordenadora do Grupo Tempo, Memória e Pertenci-
mento do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo/SP.

No ano de 2017, Massimi doou seu acervo de documentos inéditos ou


de circulação restrita e um conjunto de publicações para o Centro de Docu-
mentação Helena Antipoff – Seção UFMG. Trata-se de um fundo documental,
formado a partir de pesquisas desenvolvidas em arquivos históricos localiza-
dos no Brasil e em outros países, principalmente Portugal, Espanha e Itália. O
acervo é constituído por parte da biblioteca pessoal da pesquisadora, por um
conjunto de documentos dos séculos XVI, XVII e XVIII e por publicações de
seu grupo de pesquisa. Os documentos foram coletados em arquivos de ir-
mandades existentes, desde o período colonial, em cidades históricas do inte-
rior de Minas Gerais, Brasil (Mariana, Ouro Preto, Sabará, São João del Rei);
na Itália, na Biblioteca Apostólica Vaticana e no Arquivo da Cúria Geral da
Companhia de Jesus em Roma; em Portugal, na Biblioteca do Colégio das
Artes da Companhia de Jesus, em Coimbra, e no Arquivo Nacional da Torre
do Tombo, em Lisboa. Os documentos estão catalogados e distribuídos em
59 caixas e 4 pastas. São compostos, em sua maioria, por cópias de origi-
nais, tais como tratados (filosóficos, morais, pedagógicos, médicos, teológicos
e de espiritualidade), manuais, artigos de revistas, correspondências, manus-
critos e informes, entre outros.

Além disso, a coleção conta com uma base de dados bibliográficos

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 205


(referências de livros, teses e manuscritos) para pesquisa em História da Psi-
cologia, material que pode ser fisicamente localizado em bibliotecas do Esta-
do de São Paulo, no Brasil. Esse catálogo foi doado, em 1997, pela docente.
A base de dados permite a busca por autor, título e assunto, e traz o número
de localização da obra na biblioteca em que se encontra.

Temas:

- Psicologia filosófica na Companhia de Jesus

- Psicologia filosófica em manuais e tratados

- História dos saberes psicológicos na cultura luso-brasileira

- História da Psicologia no Brasil

2.5- ACERVO LÍGIA MARCONDES MACHADO DE ANÁLISE DO


COMPORTAMENTO

Constitui-se de um acervo de fontes doadas ao CDPHA, em 2017, pe-


los professores Sérgio Dias Cirino e Rodrigo Lopes Miranda. Sérgio e Rodrigo
são pesquisadores especialistas em estudos de história da psicologia experi-
mental, em especial, da história da recepção e da circulação da análise do
comportamento e dos laboratórios de análise do comportamento no Brasil.
Sérgio Cirino é professor titular do Departamento de Psicologia da UFMG e
bolsista de produtividade 2 do CNPq. Rodrigo Miranda é professor na Univer-
sidade Católica Dom Bosco (Mato Grosso do Sul). É coordenador do GT de
História da Psicologia da ANPEPP e presidente da Sociedade Brasileira de
História da Psicologia (SBHP). Sérgio e Rodrigo são autores de diversos arti-
gos e capítulos de livros sobre história da análise do comportamento publica-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 206


dos no Brasil e no exterior. Trata-se de um conjunto de livros de análise do
comportamento. Alguns livros raros. Trata-se também de documentos relacio-
nados à história da análise do comportamento, principalmente, da história na
própria UFMG. Trata-se ainda de equipamentos de laboratório de psicologia
experimental e, em especial, de análise do comportamento. Entre eles, caixas
de condicionamento operante (também conhecidas como caixas de Skinner),
fabricadas pela FUNBEC nos anos 1960. O nome do acervo é homenagem à
Profa. Dra. Lígia Maria de Castro Marcondes Machado. Lígia foi orientadora
de mestrado e doutorado de Sérgio Cirino no Instituto de Psicologia da USP.
Lígia foi uma grande incentivadora da formação histórica de Sérgio Cirino.
Lígia nasceu em Belo Horizonte, em 1948. Formou-se em Psicologia, em Belo
Horizonte, e no começo da década de 1970, mudou-se para São Paulo, onde
fez mestrado e doutorado na USP, sob orientação da Profa. Maria Amália
Matos. Lígia teve participação ativa no desenvolvimento e na consolidação do
campo da análise do comportamento no Brasil. Importante também salientar
que Lígia atuou na Associação de Docentes da USP (ADUSP). Lígia faleceu
em 1997, em decorrência de um câncer.

Constituição/origem do acervo

Documentos produzidos e acumulados por Sérgio Dias Cirino e Rodrigo Lo-


pes Miranda ao longo de mais de três décadas. O acervo foi doado pelos titu-
lares ao CDPHA em 2017.

Temas

História da Psicologia no Brasil

História da Psicologia experimental no Brasil

História da análise do comportamento no Brasil

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 207


3. CONSERVAÇÃO

Todo o material é conservado em ambiente apropriado, na Biblioteca


Central da UFMG. A preservação dos documentos é garantida através de
processo de limpeza e retirada de qualquer objeto que possa danificá-los,
como grampos de metal, por exemplo, e acondicionamento em caixas e pas-
tas confeccionadas em papel neutro.

4. DOAÇÕES

Aceita-se doações de acervos relacionados à História da Psicologia no


Brasil. O material a ser doado será previamente avaliado, para verificar sua
relação com os objetivos dos Arquivos.

As condições de doação serão acertadas entre o doador e a Universi-


dade, podendo-se estabelecer restrições à consulta, ou mesmo estipular um
prazo para que a consulta ao material seja permitida livremente.

5. ORIENTAÇÃO QUANTO À CONSULTA

A Sala Helena Antipoff está localizada no 4º andar da Biblioteca Central


da UFMG.

O acesso é livre e é feito através da entrada principal da Biblioteca. A


consulta aos documentos é feita mediante a orientação do funcionário res-
ponsável, observando-se alguns procedimentos:

· usar luvas ao manusear o material (fornecidas pelos Arquivos);

· não se alimentar dentro do recinto;

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 208


deixar os materiais consultados sobre as mesas.

Estão vedadas a saída de documentos e a tiragem de fotocópias, salvo


sob autorização, por escrito, do funcionário responsável.

6. EQUIPE RESPONSÁVEL

Coordenação:

Regina Helena de Freitas Campos


Setor de Psicologia - Departamento de Ciências Aplicadas à Educação
Faculdade de Educação da UFMG
Presidente do Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff

Consultores:

Adriano Roberto do Nascimento


Departamento de Psicologia
Universidade Federal de Minas Gerais

Ana Lydia Bezerra Santiago


Faculdade de Educação
Universidade Federal de Minas Gerais

Ana Maria Jacó-Vilela


Nucleo Clio-Psyché de Estudos em História da Psicologia
Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Annick Ohayon
Centre Alexandre Koyré d’Histoire des Sciences et des Techniques
École des Hautes Études em Sciences Sociales, Paris, France

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 209


Beatriz de Rezende Dantas
Departamento de Fotografia e Cinema
Escola de Belas Artes da UFMG

Bethania Reis Veloso


Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis
Escola de Belas Artes da UFMG

Camila Jardim
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – Unidade Ibirité

Cecília Andrade Antipoff


Centro Universitário UNA, Belo Horizonte, MG

Cláudia Cardoso Martins


Departamento de Psicologia
Universidade Federal de Minas Gerais

Cristina Lhullier
Universidade de Caxias do Sul, RGS
Erika Lourenço
Departamento de Psicologia
Universidade Federal de Minas Gerais

Ingrid Gianordoli do Nascimento


Departamento de Psicologia
Universidade Federal de Minas Gerais

Jacqueline Carroy
Centre Alexandre Koyré d’Histoire des Sciences et des Techniques
École des Hautes Études em Sciences Sociales, Paris, France

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 210


Keila Deslandes
Departamento de Educação
Universidade Federal de Ouro Preto, MG

Luís Antonio Cruz Souza


Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis
Escola de Belas Artes da UFMG

Marcelo Ricardo Pereira


Faculdade de Educação
Universidade Federal de Minas Gerais

Maria Cleonice Mendes Souza


Universidade Estadual de Montes Claros, MG

Maria Cristina Soares de Gouvea


Faculdade de Educação
Universidade Federal de Minas Gerais

Maria de Fátima Cardoso Gomes


Faculdade de Educação
Universidade Federal de Minas Gerais

Maria de Fátima Lobo BoschI


Instituto de Psicologia
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brazil

Maria do Carmo Guedes


Núcleo de História da Psicologia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 211


Marilene Oliveira Almeida
Escola Guignard
Universidade do Estado de Minas Gerais
Fundação Helena Antipoff

Marina Massimi
Instituto de Estudos Avançados
Universidade de São Paulo

Marina Sorokina
Alexander Solzenitcyn Centre for the Study of the Russian Diaspora, Moscow,
Russian Federation

Martine Ruchat
Faculté de Psychologie et Sciences de l’Éducation
Université de Genève, Suiça

Mitsuko Aparecida Makino Antunes


Núcleo de História da Psicologia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Miguel Mahfoud
Departamento de Psicologia
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG

Nádia Maria Dourado Rocha


Faculdades Ruy Barbosa, Salvador, Bahia

Natasha Masolikova
Alexander Solzenitcyn Centre for the Study of the Russian Diaspora, Moscow,
Russian Federation

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 212


Nina Cláudia M. Campos de Miranda
Bibliotecária e Arquivista
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais

Oswaldo Yamamoto
Departamento de Psicologia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Raquel Martins de Assis


Faculdade de Educação
Universidade Federal de Minas Gerais

Renato Diniz Silveira


Faculdade de Medicina
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (campus Betim)

Rita de Cássia Vieira


Laboratório Helena Antipoff de Psicologia e Educação
Faculdade de Educação da UFMG

Sylvia Parrat-Dayan
Archives Jean Piaget
Université de Genève, Suíça

Terezinha Rey
Archives de L’Institut Jean Jacques Rousseau – Université de Genève, Suíça

Vilma Moreira dos Santos


Arquivo Público Mineiro
Belo Horizonte, MG

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 213


Wade Pickren
Pace University, NY, EUA

William Barbosa Gomes


Instituto de Psicologia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 214


THE UFMG ARCHIVES OF THE HISTORY OF PSYCHOLOGY IN BRAZIL6

Regina Helena de Freitas Campos7

Federal University of Minas Gerais, Brazil

The Archives of the Federal University of Minas Gerais – the UFMG, on


the History of Psychology in Brazil were established in 1997, in the Helena
Antipoff Room, at the Central Library of the University. They originated in
1986, when I was beginning my studies on the work of Helena Antipoff and
researching sources for my PhD dissertation to be presented at Stanford Uni-
versity (Campos, 1989), under the guidance of Prof. David Tyack, the well
known historian of American education.

Helena Antipoff is known as a leading educator and psychologist in


Brazil. She played an important role in the development of a sociocultural per-
spective in educational psychology, drawing on her previous training in Paris
(in the Alfred Binet Laboratory at the Sorbonne, 1911-1912), Geneva (at the
Rousseau Institute, with Édouard Claparède, 1912-1916) and Saint Peters-
burg, where she worked as a psychologist during the difficult years of the
Communist Revolution (1917-1924). In Brazil, at the invitation of the Minas
Gerais State government, she became chairwoman of one of the first Labora-
tories of Psychology established in the country, in 1929, created important
institutions in the areas of special and rural education, and introduced the
teaching of psychology at the University of Minas Gerais. Her work as a pro-

6
Article originally published in History of Psychology13:201-205, 2010.
7
Professor of Educational Psychology at the Federal University of Minas Gerais
(UFMG), with post-doctoral studies in the University of Geneva and École des Hautes
Études en Sciences Sociales, in Paris, she is presently the President of the Center for
Research and Documentation Helena Antipoff and director of the UFMG Archives on
the History of Psychology in Brazil. Her main research interests are focused on the
history of educational psychology in Brazil. E-mail rcampos@ufmg.br

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 215


fessor, a researcher and as an institution builder is widely recognized as one
of the more important in the areas of education and psychology in the country
(Campos, 2001).

Helena Antipoff and Édouard Claparède in Geneva, at the Rousseau Institute, c. 1927.

Part of the documentation gathered along her long and productive life is
kept in the Helena Antipoff Center of Documentation and Research - CDPHA,
on the Rosário Farm School, in Ibirité, Brazil, where she lived from the 1950s
onwards. The diversity and the richness of these documents was such that a
project was prepared in 1993, authored by the researcher, today Professor of
the School of Education/ Federal University of Minas Gerais - UFMG, to pre-
pare an inventory, organize and make this material available for research into
the history of Brazilian psychology and education, with the support of the Bra-
zilian National Research Council (CNPq) and the State of Minas Gerais Re-
search Agency (Fapemig).

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 216


Helena Antipoff Room, Central Library at UFMG.

Panels at the Helena Antipoff Room, Central Library of the Federal University of Minas
Gerais, Brazil, with a presentation of her life and works (1892-1974)

Initially, the organization of the material was to have been carried out in
Ibirité, at the Helena Antipoff State Foundation. With the development of the
activities, the increased involvement of the Federal University of Minas Gerais
- UFMG and the demand by the organization for sources in the History of Psy-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 217


chology in Brazil, led to the project expanding its objectives – to become a
Reference Centre in the History of Psychology in Brazil – which was the origin
of the Archives. Since then, the collections of other researchers in the area are
being incorporated into the Archives.

The team responsible for the work includes specialists in archives, in


psychology and in education, in addition to the personnel trained in conserva-
tion and restoration techniques who work under the guidance of the Centre of
Conservation and Restoration of Moveable Cultural Patrimony – CECOR, of
the Federal University of Minas Gerais - UFMG. A team of consultants pro-
vides advice on the organization of the material.

The expression "History of Psychology in Brazil" refers to initiatives of a


theoretical or practical nature in psychology that took place in Brazil and to the
connections established between these initiatives and the psychology prac-
ticed in other parts of the world. As psychology in Brazil is profoundly related
to the history of education, above all to the history of educational thinking and
of the systems of teaching, the collections also constitute material of interest
to historians in the education field. Thus, in institutional terms, the Archives
are connected both to the research group on the "History of Psychology and
Socio-cultural Context", of the Postgraduate Programme in Psychology of the
Federal University of Minas Gerais - UFMG, as also to the “Psychology, psy-
choanalysis and education” research line of the Postgraduate Programme in
Education of the Federal University of Minas Gerais.

COLLECTIONS

The Archives include the following collections:

1) THE CDPHA (Helena Antipoff Centre of Documentation and Research)

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 218


COLLECTION

The CDPHA began to be established on August 6, 1979, in Belo Hori-


zonte, during the commemorations of the fifty years since the arrival of Helena
Antipoff in Brazil. Prof. Helena Dias Carneiro, representative of the Pestalozzi
Society of Brazil, presented the project for the creation of a national center
whose objectives would be to preserve the memory of Helena Antipoff, record
her work and divulge her ideas. The proposal was accepted and, after eight
months, the CDPHA – the Helena Antipoff Centre of Documentation and Re-
search was created, on 25 March 1980. Activities of the CDPHA, since its
foundation, include the realization of the Helena Antipoff Annual Meeting,
which is already in its twenty-eightieth edition, and the publication of the
CDPHA Bulletin, which is in its 21st edition. In addition, the CDPHA looks after
the collection of documents that belonged to Helena Antipoff in two sections:
in the Helena Antipoff Room, in the University Library of the Federal University
of Minas Gerais, and in the Helena Antipoff State Foundation, in Ibirité. I am
presently the President of CDPHA.

The collection of the UFMG section consists of part of the documenta-


tion of the CDPHA ceded by Daniel Antipoff (Helena Antipoff’s son), through a
contract signed with the Federal University of Minas Gerais - UFMG, in 1997.
This part consists of unpublished documents such as: manuscripts, corre-
spondence, sundry texts, annotations, publications of restricted circulation and
photographs. It includes documents related to Helena Antipoff’s life: the stud-
ies in Paris and Geneva, the work as a psychologist and educator in Russia,
Switzerland and Brazil and to the organization and functioning of the Rosário
Farm educational complex, produced and accumulated over the period from
1927 to 1987. It also includes publications produced by the Centre of Docu-
mentation. The other part of the documentation is kept at CDPHA, in Ibirité,
and is at present undergoing a process of organization and preservation.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 219


The main themes covered by the documents kept at UFMG are: educa-
tional psychology, education, special education, research in psychology and
psychometrics, rural education, Pestalozzi Society, Rosário Farm School, psy-
chological tests, honors paid to Helena Antipoff, life and work of Helena An-
tipoff, theatre and play in education. The documents are already organized in
57 cases.

Cases containing the


documents, prepared in
acid-free paper by CECOR
(Centre of Conservation and
Restoration of Moveable
Cultural Patrimony, UFMG)

2) JOSEF BROZEK COLLECTION

Josef Brozek was the well known educator, scientist, historian of psy-
chology born in Melnik, Bohemia (currently the Czech Republic), on 24 August
1913, son of Josef Francis and Filomena (Sourek) Brozek. He obtained his
PhD at Charles University, in the city of Prague, in 1937. In1939, he moved to
the United States and became a naturalized American citizen in 1945. During
his professional life he worked in various fields of human psychology and biol-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 220


ogy, and started to develop an interest in the history of psychology in 1963, in
parallel with his other activities. In this period, he was responsible for the crea-
tion of the division of the history of psychology within the American Psycholog-
ical Association; he was founder member of the Journal of the History of the
Behavioural Sciences, and of the International Society of History of the Behav-
ioural and Social Sciences (later referred to as CHEIRON). Among his several
publications in the area of the history of psychology, special mention should
be made of the volume, published in partnership with Ludwig Pongratz, enti-
tled Historiography of Modern Psychology, translated into Portuguese in 1988
(Brozek, J. and Massimi, M. Historiography of Modern Psychology: Brazilian
version. São Paulo: Loyola, 1998).

Brozek visited the Helena Antipoff Room, em 1996, when he came to


Brazil to participate in the installation meeting of the Working Group (WG) on
the History of Psychology of the National Association of Research and Post-
graduation in Psychology - ANPEPP, and was impressed with her contribution
to psychology and education. He observed similarities between his own life
and the life of Helena Antipoff: both came from Eastern European countries to
the Americas, both lived in Europe during the difficult years of war and revolu-
tion (between 1914 and 1940), both wanted to contribute for the social well
being of their fellows. Brozek studied extensively the effects on malnutrition on
children, Antipoff studied the effects of poverty on mental development. As a
result, Brozek donated part of his library and personal collection to the Ar-
chives of the Federal University of Minas Gerais - UFMG of the History of Psy-
chology in Brazil. This set constitutes the Josef Brozek Fund.

The Brozek Fund includes a set of documents produced and accumulat-


ed by Josef Brozek throughout his professional and academic life. It consists
of books, correspondence, photographs, sundry texts, periodicals, reprints and
slides. It covers the period from 1891 to 1996. The collection was donated to

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 221


the Archives in 1998, by the owner. It covers the history of psychology and the
history of North-American psychology, and includes 76 books, 7 titles of peri-
odicals and a collection of unpublished materials.

3) HELENA DIAS CARNEIRO COLLECTION

Helena Dias Carneiro had a first contact with Helena Antipoff in Rio de
Janeiro in 1945, seeking treatment for her handicapped son. She became
from this moment on, one of the first mothers of mentally or physically handi-
capped people to collaborate in the work of Helena Antipoff, becoming en-
gaged in the creation of the Pestalozzi Society of Brazil - SPB in that same
year and working in several other projects in benefit of handicapped children.
Thus, she participated in the foundation of the first Association of Parents and
Friends of the Mentally or Physically Handicapped APAE, in 1954, coordinated
the Council of Students of the SPB, she was a member of the Consultative
Council of the SPB in 1975, was second Treasurer of the National Federation
of Pestalozzi Societies in the period between 1978-1982 and worked on the
publication of the SPB Bulletin.

In 1980, Helena Dias Carneiro assumed the coordination of the Rio de


Janeiro section of the Helena Antipoff Centre of Documentation and Research
- CDPHA, and helped to start the Helena Antipoff Annual Meetings, and the
publication of the CDPHA Bulletins.

The Helena Dias Carneiro collection consists of a set of documents pro-


duced and accumulated during the period she worked with Helena Antipoff
and soon after her death, including their correspondence and newspaper cut-
tings. It covers the period from 1947 to 1984, and was donated in 1997, by
Daniel Antipoff, after the discontinuation of the CDPHA section in Rio de
Janeiro. The themes covered in this collection are: art and education, the gift-
ed, special education, rural education, Pestalozzi Society. The original order

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 222


defined by the owner has been maintained, arranged in series, by type of doc-
ument: the correspondence series, in chronological order, and the newspaper
cuttings series, by subject. The collection includes 240 items of correspond-
ence, 59 books and 17 titles of periodicals.

4) DANIEL ANTIPOFF COLLECTION

Daniel Antipoff is the son of the educator and psychologist Helena An-
tipoff and the Russian journalist and writer VitorIretzky, born in St. Petersburg
in 1919. Daniel graduated in Agronomy from the University of Viçosa, Brazil, in
1948. He worked as an agronomist in Contagem, Brazil, and started to attend
the course of Philosophy of the University of Minas Gerais - UMG, in Belo
Horizonte, Brazil, in 1943. At the start of the 1950s, he was one of the found-
ing members of the Service of Professional Counseling and Selection –
SOSP, a period in which he qualified in the application of intelligence tests
and in conducting psychological interviews. In 1956, he was a student on the
Course of Experimental Psychology delivered by the Genevan psychologist
André Rey in the Higher Rural Education Institute - ISER, in Ibirité, invited by
his mother. In 1957, when the Minas Gerais Society of Psychology was estab-
lished, he was elected its first General Secretary. In São José dos Campos,
São Paulo, he worked as a resident psychologist, in 1963. At the University of
Denver, in the United States, he did, in 1970, a postgraduation course in the
Education of Mentally or Physically Handicapped Children. In 1980, he creat-
ed the Helena Antipoff Center of Documentation and Research - CDPHA, fol-
lowing a suggestion of Helena Dias Carneiro for the preservation of his moth-
er’s philosophy and ideas. In 1989, having as superintendent the psychiatrist
HélioAlkmim, he took over the Direction of the Helena Antipoff Foundation,
managing the Psychology and Pedagogy Sectors, the Sandoval Soares de
Azevedo School and the further education courses for rural teachers. Having

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 223


worked as a clinical psychologist since the 1950s, from the 1980s on he be-
came known also for his activities in the diagnosis of gifted children and ado-
lescents.

The Daniel Antipoff Collection includes 131 books and 27 titles of peri-
odicals produced and accumulated throughout his career, covering the period
from 1892 to 1998. The collection was donated by the owner in 1998. The
themes covered are: psychology, Helena Antipoff, special education, history of
psychology, psychoanalysis, education, Pestalozzi Society, psychological
tests.

5) CAMPOS COLLECTION

This collection includes a set of 103 books, 14 titles of periodicals, un-


published dissertations and manuscripts donated, in 1998, by Regina Helena
Freitas Campos and her husband, Léo Pompeu de Rezende Campos. It co-
vers the period from 1936 to 2003. The books were part of the personal collec-
tion of the owners, some having been produced by them. The themes covered
by the collection are: history of psychology, psychology, social psychology,
law, environmental law, education.

6) MARINA MASSIMI COLLECTION ON THE HISTORY OF PSYCHOLOGI-


CAL KNOWLEDGE AND HISTORY OF PSYCHOLOGY IN BRAZIL

Marina Massimi is a researcher specialized in the history of psychologi-


cal knowledge in Portuguese-Brazilian culture and the history of psychology in
Brazil. Of Italian nationality, she built her professional career at the University
of São Paulo – USP at Ribeirão Preto, becoming a Full Professor and coordi-
nator of the Research Group on Time, Memory and Belonging of the Universi-
ty of São Paulo Institute of Advanced Studies.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 224


In 2017, the researcher donated her collection of unpublished or re-
stricted circulation documents and a set of publications to the Helena Antipoff
Documentation Center - UFMG Section. It is a documentary fund, formed from
research developed in historical archives located in Brazil and in other coun-
tries, mainly Portugal, Spain and Italy. The collection consists of part of the
researcher's personal library, a set of documents from the 16th, 17th and 18th
centuries and publications from her research group. Unpublished or restricted
circulation documents were collected from archives of brotherhoods that exist-
ed since the colonial period in historical cities located in the State of Minas
Gerais, Brazil (Mariana, Ouro Preto, Sabará, São João Del Rei); in Italy, in
the Vatican Apostolic Library and in the Archives of the General Curia of the
Society of Jesus in Rome; in Portugal, in the Library of the College of Arts of
the Society of Jesus, in Coimbra, and in the National Archives of Torre do
Tombo, in Lisbon. The documents are cataloged and distributed in 59 boxes
and 4 folders. They are mostly composed of copies of originals, such as trea-
tises (philosophical, moral, pedagogical, medical, theological and spiritual),
manuals, magazine articles, correspondence and reports, among others.

In addition, the collection includes a bibliographical database (book refer-


ences, theses and manuscripts) for research on the History of Psychology,
organized in 1997 by the owner. All materials can be physically located in li-
braries in the State of São Paulo, Brazil. The database allows searching by
author, title and subject, and includes the location number of the work, in the
library where it is located.

Themes:

- Philosophical psychology at the Society of Jesus.

- Philosophical psychology in manuals and treatises.

- History of psychological knowledge within Portuguese-Brazilian culture.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 225


- History of Psychology in Brazil.

7) LÍGIA MARCONDES MACHADO COLLECTION

It consists of a collection of sources donated to CDPHA, in 2017, by


professors Sérgio Dias Cirino and Rodrigo Lopes Miranda. Sérgio and Rodri-
go are specialist researchers in the study of the history of experimental psy-
chology, in particular, the history of reception and circulation of behavior anal-
ysis and its laboratories in Brazil. Sérgio Cirino is a professor at the Depart-
ment of Psychology at the Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) and
a researcher at CNPq. Rodrigo Miranda is a professor at the Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB). He is coordinator of the History Psychology
Working Group at ANPEPP and president of the Brazilian Society for the His-
tory of Psychology (SBHP). Sérgio and Rodrigo are authors of several scien-
tific papers and book chapters on the history of behavior analysis, published in
Brazil and abroad. The collection includes a set of behavior analysis books,
some of which are rare ones. It also includes primary sources related to the
history of behavior analysis, mainly, the history of behavior analysis at UFMG.
There are also instruments of experimental psychology laboratories and, in
particular, behavior analysis laboratories. Among them, operant conditioning
chambers (also known as Skinner boxes) manufactured by FUNBEC in the
1960s. The name of the collection is a tribute to Lígia Maria de Castro Mar-
condes Machado. Lígia was Sérgio Cirino master's and doctoral advisor at the
Institute of Psychology of the Universidade de São Paulo (USP). Lígia was a
great supporter of Sérgio Cirino initial training in the field of the history of psy-
chology. Lígia was born in Belo Horizonte (Minas Gerais) in 1948. She gradu-
ated in Psychology in Belo Horizonte and in the early 1970s she moved to São
Paulo where she got a master and doctorate degrees at USP, both under the
supervision of Maria Amália Matos. Lígia actively participated in the develop-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 226


ment and consolidation of the field of behavior analysis in Brazil. It is important
to note that Lígia also had an active participation in the USP Faculty Associa-
tion (ADUSP). Lígia passed away in 1997 due to cancer.

Topics:

History of Psychology in Brazil

History of Experimental Psychology in Brazil

History of behavior analysis in Brazil

8) DENISE NEPOMUCENO CATALOGUE OF SOURCES

This catalogue consists of a bibliographical survey of sources for the


history of psychological ideas in the state of Minas Gerais, Brazil, between
1830 and 1930. It was organized by Denise Maria Nepomuceno, student in
Education at UFMG, under the orientation of Prof. Dr. Regina Helena de
Freitas Campos. It lists a total of 264 titles. The libraries chosen for the re-
search, because they had collections relevant for the history of Minas Gerais,
were: the Public Archives of the State of Minas Gerais, the Luiz de Bessa
State Public Library (the Minas Gerais collections, Patrimonial and Rare
Works), the System of Libraries of the Federal University of Minas Gerais and
Collections of the University Library of the Federal University of Minas Gerais,
the library of the Federal University of São João Del Rey and the Batista Cae-
tano Library (rare works of the UFSJ), the Municipal Library of São João Del
Rey, the Library of the Professor’s Reference Centre, the Library Systems of
the Pontifical Catholic University of Minas Gerais.

CONSERVATION

The documentation is conserved in a conditioned environment, with

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 227


controlled temperature and humidity. The documents are being treated with
the purpose of prolonging durability and the permanence of the collection, in
the best manner possible, and preserving them physically and as documents.
The stages of the treatment are: individual mechanical cleaning; removal of
metallic material or objects incompatible with the support, paper; conditioning
in individual files, in collective files and in cases with document lots classified
by subject. The materials used in the conservation of the documents are: pa-
per, and neutral adhesives.

DONATIONS

Donations of collections related to the History of Psychology in Brazil


are accepted. The material to be donated will undergo a prior evaluation, to
check its relevance as regards the objectives of the Archives. The conditions
of donation will be agreed upon between the donor and the University, and it
will be possible to establish restrictions on consultation, or even stipulate a
period when the material may be freely consulted.

ORIENTATION AS REGARDS THE CONSULTATION

The Helena Antipoff Room is open daily, except for Saturdays, Sundays
and public holidays, at 400, 4th floor of the Central Library of the Federal Uni-
versity of Minas Gerais. Access is free and is through the Library’s main en-
trance. Consultation of the documents is effected under orientation of the offi-
cial responsible, observing some procedures: gloves must be used in handling
the material (furnished by Archives); no eating or drinking is allowed in the
enclosed sector; the materials consulted should be left on the tables. The re-
moval of documents and the taking of photocopies are prohibited, except with
authorization, in writing, of the responsible official. The collections are being

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 228


included in the general university catalogue, available on the site
www.bu.ufmg.br.

TEAM RESPONSIBLE

The team responsible by the coordination of the UFMG Archives on the


History of Brazilian Psychology is composed by a group of professors from the
Federal University of Minas Gerais: Regina Helena de Freitas Campos, from
the School of Education, Beatriz de Rezende Dantas, from the Department of
Photography and Cinema, School of Fine Arts; Bethania Reis Veloso, from the
Centre of Conservation and Restoration of Moveable Cultural Patrimony,
School of Fine Arts; Erika Lourenço, from the Department of Psychology and
Raquel Martins de Assis, from the School of Education.

Members of the Work Group on the History of Psychology of the Nation-


al Association of Research and Postgraduation in Psychology (ANPEPP) act
as consultants to the Archives: Prof. Maria do Carmo Guedes, from the Nucle-
us of History of Psychology at the Pontifical Catholic University of São Paulo;
Prof. Marina Massimi, from the Dept. of Psychology and Education, School of
Philosophy, Sciences and Letters of the University of São Paulo - Ribeirão
Preto Campus; Sylvia Parrat-Dayan, Scientific Assistant at the Jean Piaget
Archives, University of Geneva, Switzerland; Prof. Ana Maria Jacó-Vilela, from
the Institute of Psychology, State University of Rio de Janeiro; Prof. William
Barbosa Gomes, from the Institute of Psychology, Federal University of Rio
Grande do Sul, Brazil, among others.

REFERENCES

Brozek, J. &Pongratz, L.J. (Eds.) (1980) Historiography of Modern Psycholo-


gy.Toronto: Hogrefe.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 229


Brozek, J. & Massimi, M. (Orgs) (1998) Historiografia da Psicologia Moderna –
Versão Brasileira. São Paulo: Loyola.

Campos, R.H.F. (1989) Conflicting interpretations of intellectual abilities


among Brazilian psychologists and their impact on primary schooling. Un-
published doctoral dissertation, Stanford University, Palo Alto, CA.

Campos, R.H.F. (2001) Helena Antipoff (1892-1974): A Synthesis of Swiss


and Soviet Psychology in the Context of Brazilian Education. History of
Psychology 4(2), 133-158.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 230


BOLETIM DO CDPHA

INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES

O Boletim do CDPHA, editado anualmente pelo Centro de Documenta-


ção e Pesquisa Helena Antipoff (CDPHA), desde 1981, é registrado sob o
número ISSN 1806-1931 (International Standard Serial Number) como publi-
cação periódica. Com tiragem de 500 exemplares, o Boletim é distribuído aos
sócios do CDPHA e aos participantes dos Encontros Anuais Helena Antipoff
e, em regime de permuta, à bibliotecas e instituições científicas através da
Biblioteca da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Ge-
rais.

O Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff é uma institui-


ção sem fins lucrativos criada, em 1980, com os objetivos de preservar a me-
mória e de divulgar a obra da psicóloga e educadora Helena Antipoff (1892-
1974), cuja contribuição como profissional e como pesquisadora nas áreas da
Psicologia e da Educação é amplamente reconhecida no Brasil e no exterior.
Nascida em Grodno, na Rússia, Helena Antipoff fez estudos superiores em
Psicologia e Educação em Paris (1908-1912) e Genebra (1912-1914). Em
1929, veio para o Brasil a convite do governo mineiro, para dirigir o Laborató-
rio de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Hori-
zonte - um dos primeiros laboratórios de Psicologia instalados no país - e co-
laborar na implantação da reforma de ensino Francisco Campos, inspirada
nos ideais da Escola Nova. Radicou-se no Brasil a partir dessa época e de-
senvolveu extenso trabalho nas áreas da Psicologia e Educação, em especial
na pesquisa em psicologia experimental, fundamentos da educação, educa-
ção de excepcionais e educação rural. Fundadora da Sociedade Pestalozzi
(para a educação de excepcionais) e da cadeira de Psicologia da Educação

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 231


na Universidade Federal de Minas Gerais, seu trabalho é respeitado pelo pio-
neirismo na orientação socioconstrutivista em psicologia e pelo caráter huma-
nista e politicamente informado de suas iniciativas. As informações completas
sobre sua trajetória constam do Dicionário de educadores no Brasil – da colô-
nia aos dias atuais (organizado por Maria de Lourdes Fávero e Jader Britto,
Rio de Janeiro: Editora UFRJ/MEC-INEP, 1999) e do Dicionário biográfico da
psicologia no Brasil – Pioneiros (organizado por Regina Helena F. Campos,
Rio de Janeiro: Imago/Conselho Federal de Psicologia, 2001), num testemu-
nho da expressão de sua obra como psicóloga e educadora.

O CDPHA cuida do acervo gerado por Helena Antipoff nas diversas


instituições que ela criou no Brasil e a partir de seu trabalho como intelectual,
educadora e pesquisadora. Esse acervo se encontra atualmente preservado
na Fundação Helena Antipoff (Ibirité, MG) e na Universidade Federal de Mi-
nas Gerais (Sala Helena Antipoff, Biblioteca Central), disponível para estudio-
sos e pesquisadores interessados.

Desde sua criação, o CDPHA promove o Encontro Anual Helena Anti-


poff e publica o Boletim do CDPHA, contendo os resumos das contribuições
apresentadas no evento. Cada encontro anual é dedicado a um tema relacio-
nado à obra de Helena Antipoff, e os conferencistas são convidados a apre-
sentar trabalhos de pesquisa ligados ao tema escolhido. O Boletim do
CDPHA publica também notícias sobre o CDPHA e suas atividades. A publi-
cação conta com comissão editorial composta pelo(a) presidente do CDPHA
e um grupo de colaboradores, e com um corpo de consultores vinculados a
diversas instituições de ensino e pesquisa, nacionais e estrangeiras, nas
áreas da Psicologia e da Educação.

A partir de 2007, o CDPHA passou a publicar também a Coleção En-


contros Anuais Helena Antipoff, para divulgar os trabalhos completos apre-
sentados nos eventos anuais. As contribuições destinadas à publicação de-

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 232


vem ser enviadas à presidência do CDPHA, por e-mail ou pelo correio, no
endereço indicado abaixo, em conformidade com as instruções apresentadas
a seguir. Os manuscritos devem ser inéditos, não submetidos a outro periódi-
co, e respeitar as normas éticas vigentes. São apreciados por, pelo menos,
dois membros do corpo editorial e/ou por especialistas ad hoc indicados pela
comissão editorial. Pequenas modificações no texto poderão ser feitas pela
citada comissão.

Instruções

1) As coletâneas da Coleção Encontros Anuais Helena Antipoff publicam en-


saios teórico-conceituais, relatos históricos, relatos de pesquisa, estudos de
caso e relatos de experiência profissional ligados aos temas abordados por
Helena Antipoff e escolhidos para cada Encontro Anual Helena Antipoff.

2) Os manuscritos a serem publicados devem ser encaminhados ao CDPHA


por ocasião de cada Encontro Anual Helena Antipoff. Os encontros são reali-
zados sempre na última semana do mês de março, em comemoração à data
de aniversário da educadora (25 de março). Os manuscritos devem ser inédi-
tos e não encaminhados a outras publicações, mediante declaração por escri-
to do(s) autor(es).

3) Os manuscritos devem ter, no máximo, 20 páginas, digitadas em espaço


1,5 entre linhas, no editor de textos MS-WORD, em fonte Arial 12. Deverão
acompanhá-los um resumo de até 14 linhas e as palavras-chave, em portu-
guês e inglês, francês ou espanhol, em fonte Arial 9, com espaço 1,5 entre
linhas. O título do trabalho deve constar em português e em inglês.

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 233


4) Após o título do texto, deve constar o nome do autor. No rodapé da primei-
ra página, colocar a referência do autor (titulação, instituição, endereço para
correspondência).

5) Os ensaios teórico-conceituais devem incluir introdução, antecedentes his-


tóricos e/ou conceituais, desenvolvimento do argumento e conclusões. Os
relatos de pesquisa devem incluir introdução com objetivos e justificativa, re-
visão da literatura, método, resultados e discussão. No caso de pesquisa em-
pírica, as normas éticas em vigor no Brasil devem ser obedecidas. Os estu-
dos de caso e relatos de experiência profissional devem obedecer à mesma
estrutura (introdução, perspectivas teóricas, método, resultados, discussão e
conclusões) e normas éticas. As resenhas de livros ou de artigos devem tratar
de publicações recentes nas áreas da história da Psicologia ou da Educação
e destacar sua relevância para os estudiosos dessas áreas.

6) As referências devem ser apresentadas conforme as normas da ABNT, em


ordem alfabética, considerando-se o último sobrenome dos autores.

Seguem exemplos de referências:

a) Livros e capítulos de livros:

BERNARDES, Lúcia H. G. Subjetividade: um objeto de estudo para uma psi-


cologia comprometida com o social. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007
(Coleção Histórias da Psicologia no Brasil)

CURY, Carlos R. J. Alceu Amoroso Lima. In: FÁVERO, Maria de Lourdes A.;
BRITTO, J. (Org.). Dicionário de educadores no Brasil. Rio de Janeiro: Editora

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 234


UFRJ/MEC/INEP, 1999, p. 39-44.

b) Artigos em periódicos:

PEREZ-RAMOS, Aydil M. Q. Contribuições ao módulo História da Psicologia


do Sistema de Ensino na BVS-Psi. Boletim Academia Paulista de Psicologia,
Ano XXVI, n. 3, set./dez.2006, p. 22-23.

c) Teses e dissertações:

LOURENÇO, Erika. A criminologia entre a biologia e a educação: o discurso


sobre o psicológico na Revista da Faculdade de Direito da UFMG (1892-
1962). Belo Horizonte: Faculdade de Educação da UFMG, 2007 (tese de dou-
torado).

Endereço para envio dos originais:

Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff


Sala Helena Antipoff
Biblioteca Central
Universidade Federal de Minas Gerais
Av. Antônio Carlos, 6627 – Campus Pampulha
31270-901 Belo Horizonte, MG
E-mail: rcampos@ufmg.br

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 235


Índice Remissivo

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 236


A
Adriana Araújo Pereira Borges, 4, 6, 7, 29, 35, 143, 149
Adriana Otoni Silva Antunes Duarte, 4, 26, 73
Aidê Cristina Silva Teixeira Macedo, 28, 75, 78
Aline Moreira Gonçalves, 37, 179
Ana Amélia Arantes, 32
Ana Laura Domingues de Sousa, 37, 167
Ana Lúcia Pinto de Camargo Meneghel, 34, 124
André Elias Morelli Ribeiro, 5, 23, 25, 26, 63
Andreia de Fátima Marques Mendes, 30, 95
Angela Gutierrez, 23
Arthur Arruda Leal Ferreira, 5, 24, 26, 55

B
Bernard Schneuwly, 5, 21, 26, 42

C
Camila Jardim de Meira, 5, 6, 28, 30, 33, 92, 113
Carlyle dos Passos Laia, 5, 6, 27, 31
Carmem Miriam Maciel Junqueira, 38, 183
Carolina Lobo Silva, 6, 31
Carolina Silva Bandeira de Melo, 5, 24, 34,122
Carolina Souza Guilhermino, 34, 126
César Rota Júnior, 37, 175
Christiane Campos de Araújo, 4, 6, 21, 29, 83
Clarice Moukachar Batista Loureiro, 5, 28
Cleide Aparecida Alves, 30, 99
Cleuza Glória de Fátima Amorim de Oliveira, 4, 6
Cristina Duarte Viana Soares, 28, 75, 78
Cristina Mariano Ruas, 78

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 237


D
Daniela Borges da Silva Melo, 33, 109
Dayse Moreira Cunha, 21
Déborah Rosária Barbosa, 5, 22, 25, 65
Delba Teixeira Rodrigues Barros, 33, 103
Dener Luiz da Silva, 5, 26, 34, 37, 69, 126, 173
Deolinda Armani Turci, 4, 6, 32, 33, 36, 111, 151

E
Édison Manoel da Silva, 34, 124
Eduardo Lopes, 36
Elena dos Santos Arsamenia, 165
Élida Cristina Nazelli Riquetti, 33, 105
Elizabeth Coutinho de Moraes, 5
Elizabeth Junqueira Santos, 36, 154
Elza de Moura, 4
Érika Lourenço, 5, 6, 25, 35, 36, 61, 151, 154
Eva Maria dos Santos Mesquita, 37, 173

F
Fátima Pio Cassemiro, 32
Fernando Gouvea, 29, 89
Filomena de Fátima Silva, 4

G
Gabirelle de Aguilar Magnani, 33, 105
Gabriela Kunzendorff Bueker Drumond, 36, 154
Gabriella Lara Silva, 35, 143
Getsemane de Freitas Batista, 35, 145
Giovana Melo Guimarães, 33, 105
Giovana Moura de Souza, 36, 151

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 238


Gracia Maria Clerico, 6, 21, 22, 52
Guilherme Reis, 32
Guilherme Santos de Souza, 37, 165

J
Janete Amorim Ribeiro, 35, 140
José Marcelo Freitas de Luna, 21, ,27 40
Juan Francisco Álvarez, 22, 27
Juan Medici, 22, 27
Julia Figueiredo Goytacaz Sant'Anna, 21

K
Kleber Tüxen Carneiro, 34, 116

L
Laurent Franck Junior Charles, 28, 75, 80
Leila Lopes de Avila, 35, 145, 147
Leonardo Gonçalves Ferreira, 33, 107
Ligia Barros de Freitas, 27
Lilian Sipoli Carneiro Cañete Cañete, 4, 6
Lino de Macedo, 23, 26, 46
Lourdes Eduardo Lopes, 154
Lucas Ferraz Córdova, 34, 128
Luciana Aparecida de Andrade, 36, 154
Luiz Eduardo Prado da Fonseca, 55

M
Marc J. Ratcliff, 6, 23, 44
Márcia Denise Pletsch, 29, 87
Marcos Vieira Silva, 37, 179
Maria Alice Lopes Braga, 32
Maria Auxiliadora Monteiro Oliveira, 36, 159

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 239


Maria Cecília Moura Bicalho, 37, 175
Maria de Fátima Pio Cassemiro, 5, 6, 26
Maria do Carmo Coutinho de Moraes, 4
Maria do Carmo de Freitas Veneroso, 35, 132, 135
Maria Eduarda da Silva Rodrigues de Oliveira, 27
Marilene Oliveira Almeida, 5, 6, 7, 23, 28, 29, 32, 34, 35, 85, 119, 132, 135
Marilene Proença Rebello de Souza, 5, 22
Marina Massimi, 5
Marina Sorokina, 5, 23
Mário Gomes Ferreira, 32
Mário Sérgio Vasconcelos, 24, 57
Maurício Andrés, 22, 51
Michele Aparecida de Sá, 36, 157
Milton N. Campos, 21, 25, 62
Miriam Aparecida de Brito Nonato, 4, 6, 23
Mitsuko Aparecida Makino Antunes, 5, 23
Mônica de Carvalho Magalhães Kassar, 29, 88
Mônica Freitas Ferreira Novaes, 33, 113
Mônica Maria Farid Rahme, 5

N
Natalia Masolikova, 5, 23
Nydia Negromonte Franco, 5

O
Orly Zucatto Mantovani de Assis, 33, 34, 109, 116, 124

P
Patrícia Scherman, 24, 58
Paula Dantas de Oliveira Pelizer, 5, 30, 33, 93, 113

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 240


Paula Lopes Aquino da Silva, 30, 97
Paulo Coelho Castelo Branco, 26, 37, 71, 165, 171
Paulo Vitor Rodrigues da Silva, 35, 149
Pedro Henrique Oliveira Guimarães, 34, 119
Pina Marsico, 23
Pollyanna Lacerda Machado, 23
Polyana Aparecida Valente, 29, 82

R
Rachel de Sousa Vianna, 5
Rafael Henrique de Resende Marciano, 36, 157
Raissa Cristina Almeida Coelho Brandão, 35, 143
Ramiro Tau, 24, 59
Raquel Martins de Assis, 5, 6, 7, 21, 22, 25, 34, 37, 38, 67, 169
Rayane Kênia Marques de Paula, 30, 100
Regina Helena de Freitas Campos, 4, 6, 7, 21, 23, 25, 26, 28, 33, 34, 35, 36,
37, 73, 113, 119, 130, 132, 135, 138, 149, 161, 177, 215
Renata Silva Cruz, 4, 22, 37, 177
Renato Batista da Silva, 37, 169
Ricardo Ribeiro Martins, 6, 22
Rita Hofstetter, 5, 21, 26, 42
Riviane Borghesi Bravo, 5
Roberta Garcia Alves, 34, 128
Rodolfo Luís Leite Batista, 7, 37, 163
Rodrigo Lopes Miranda, 21, 26, 34, 37, 128, 165
Rosa Drumond, 27
Rosângela Escalda, 33, 103
Rosilene Maria da Silva Gaio, 38, 181

S
Sandra Freitas de Souza, 36, 159

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 241


Sara Lorraine Gualberto Silva, 37, 167
Sérgio Dias Cirino, 5, 23, 28, 75, 76, 80
Sérgio Domingues, 5, 34, 130
Sérgio Faleiro Farnese, 5, 7, 23, 28, 35, 138
Sheila Venancia da Silva Vieira, 35, 145
Sílvia Maria Medeiros Magalhães, 4
Sílvia Parrat-Dayan, 5, 25, 26, 47
Simone Dutra Lucas, 28, 75, 76

T
Tatiana Campos Vasconcelos, 5, 36, 161
Tatiana Pereira Queiroz, 28, 75, 76
Teodoro Adriano Costa Zanardi, 35, 140

V
Vicente Tarley Ferreira Alves, 4, 21

W
Walter Mariano de Faria Silva Neto, 37, 167
Wanderson de Sousa Cleres, 5, 35, 140

Boletim do CDPHA, Belo Horizonte, nº 30, 2021 242

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