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Format Editora
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REVISTA JURÍDICA DA
PROCURADORIA-GERAL
DO ESTADO DO AMAPÁ
Volume 1
2023
Ficha catalográfica
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Outra finalidade é dar relevo a temas singulares que marcaram
a História da Procuradoria do Estado do Amapá e consignar destaque
ao trabalho dos Procuradores de Estado que por sua atuação notável
construíram paradigmas e exemplos.
É certo, portanto, que esta edição da nossa revista cumprirá a
sua finalidade de informar e de orientar os operadores do Direito para
o bom exercício de suas funções.
RESUMO
Considerando o impacto que as contratações exercem sobre
todo o resto da máquina pública, percebeu-se a necessidade de moder-
nização do processo licitatório. Diante da reconfiguração do próprio
estado, agora globalizado, a nova Lei nº. 14.133/2021, inspirada na
Diretiva n. 024/2014 da União Europeia, trouxe o diálogo competiti-
vo como modalidade de licitação. O novo instituto marca a transição
do modelo burocrático dotado de uma imperatividade administrativa
para o modelo gerencial e horizontal de compra pública pautada em
uma administração pública dialógica. Esta é mais permeável e con-
sensual como forma eficaz de suprir a opacidade algorítmica do setor
público, usufruindo de uma inteligência coletiva fruto da participação
privada no processo decisório estatal.
1 Paulo Roberto Fontenele Maia. Bacharel em Direito pela Universidade de Fortaleza (2003), especialização em Direito
Processual Civil pela Universidade Estadual do Ceará (2006), Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Administrativo
pela Universidade Anhanguera - UNIDERP (2013) e Pós-Graduação em Direito Público com ênfase em gestão pública
pela Faculdade Damásio de Jesus (2020). 3 Mestrando no Programa de Pós-Graduação UniChristus (2021-2023) Atual-
mente é Procurador do Estado do Amapá. Tem experiência na área de gestão pública, exerceu o cargo de Procurador
Chefe Central de Licitação (2016-2019). Atuou ainda como Procurador Chefe da Procuradoria Administrativa durante
o período de 2010 a 2014. Atualmente exerce o cargo de Procurador Adjunto na Secretaria de Estado da Educação.
Tem experiência na área de Direito Público, atuando nos seguintes temas : Licitação, Servidor Público, Contratos e
Convênios, Organização Administrativa, Concessões e Permissões de Serviço Público, Regime Jurídico Próprio de Pre-
vidência (RPPS) e Direito Financeiro. Atua ainda como facilitador da Escola de Administração Pública do Estado (EAP)
ministrando cursos de Processo Disciplinar, Licitação e Orçamento Público.
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ABSTRACT
Considering the impact that hiring has on the rest of the
public machine, the need to modernize the bidding process was
perceived. Faced with the reconfiguration of the state itself, now
globalized, the new law n. 14.133/2021, inspired by Directive n.
024/2014, of the European Union, brought competitive dialogue
as a bidding modality. The new institute marks the transition from
the bureaucratic model endowed with an administrative imperative
to the managerial and horizontal model of public purchase based
on a dialogic Public Administration, more permeable and consen-
sual as an effective way to overcome the algorithmic opacity of the
public sector, taking advantage of a collective intelligence resulting
from private participation in the state decision-making process.
Keywords: Bidding. Competitive Dialogue. Consensual Ad-
ministration. Algorithmic Opacity. Collective Intelligence.
INTRODUÇÃO
A administração pública, em seu sentido objetivo, é a ativida-
de de gestão dos interesses públicos: seja pela prestação de serviços
à população, seja pela proposição (e execução) de políticas públicas
ou, ainda, seja pela intervenção estatal no campo privado (desempe-
nhando o poder de polícia). Qualquer que seja a atividade exercida,
o destinatário final da atuação estatal é, invariavelmente, a sociedade.
Para materializar tais interesses, o Estado, naturalmente,
vale-se do potencial privado para a realização de obras e serviços,
bem como para compras e alienações, os quais são direta ou indire-
tamente de interesse público. Nesses casos, a administração pública
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A ADMINISTRAÇÃO IMPERATIVA À
D
ADMINISTRAÇÃO CONSENSUAL: O PAPEL
DO CONSENSO NO DESENVOLVIMENTO.
APROXIMAÇÃO ENTRE PÚBLICO E PRIVADO
Enquanto o direito administrativo clássico prestigia a auto-
ridade dos agentes públicos (potestade pública) em detrimento da
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OPACIDADE ALGORÍTMICA NA
A
ADMINISTRAÇÃO E A SOLUÇÃO PROPOSTA
PELO LEGISLADOR
Como já referido, em face da enorme variedade de objetos
e serviços essenciais ao funcionamento do estado, vê-se que a ad-
ministração pública não consegue ter o domínio necessário para
superar os obstáculos em todas as áreas operacionais, sobretudo no
que tange às inovações tecnológicas e as técnicas. Há, também, o
caso de soluções já existentes, mas que dependem de adaptação. Na
verdade, trata-se, na maior parte, de contratações extremamente
complexas10 e/ou particularizadas. Porém, é imprescindível, para
uma melhor compreensão da modalidade licitatória, compreender
o conceito de complexidade de forma variável a depender do porte
de cada ente ou entidade licitante. Em termos relativos, construir
uma ponte estaiada pelo Município de Oiapoque/AP poderá ser
uma atividade mais complexa do que construir a linha laranja do
metrô de São Paulo.
A dificuldade da gestão pública de lidar, diariamente, com
o desempenho das suas atribuições se deve pelo motivo de agir
em conformidade com um sistema extremamente rígido e, frisa-
-se, nada sofisticado. Muitas vezes, o administrador se vê diante da
incapacidade técnica, quando não fática, de estabelecer a melhor
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INTERNALIZAÇÃO DE INSTITUTOS
A
DO DIREITO COMPARADO DEMANDA
ADAPTAÇÕES PARA MELHOR SATISFAÇÃO NA
ORDEM INTERNA. ESTUDO DE CASO
Infelizmente, no Brasil, tem-se o péssimo hábito de importar
institutos prontos do direito comparado e aproveitá-los simetricamente
na ordem interna. Na Europa, de fato, a hipótese mais utilizada
ocorre nos casos de inovação tecnológica, para casos incomuns que
ainda não se tenha tecnologia disponível no mercado. Isso não im-
plica dizer que no Brasil seja este o único caminho possível.
Diante de um país com reivindicações tão múltiplas não
se pode simplesmente copiar um modelo sem antes compreender
qual o gênese do instituto e qual a melhor aplicabilidade ao contex-
to nacional. Uma nação continental como o Brasil, extremamente
diversificado e plural, inevitavelmente terá mais dificuldade no pro-
cesso decisório do que, por exemplo, países do continente europeu.
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Lei 14.133/21
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É certo que a administração pública brasileira em todas as suas
esferas de poder carecia de um novo marco legal para as suas contra-
tações de bens e serviços. É este o mote de existir uma nova lei e não
apenas alterações ou reformas pontuais na Lei nº. 8.666/1993.
Dentre as novidades trazidas pela Lei nº. 14.133/2021 está a
nova modalidade de licitação, o diálogo competitivo. É resultado de
uma administração pública dialógica, mais permeável e consensual.
Consolida-se, então, a “virada pragmática do direito público”. Aban-
dona-se o formalismo jurídico preso a uma interpretação idealista da
norma para uma interpretação mais realista da norma.
O legislador, ao buscar no ordenamento alienígena parâmetros
para o diálogo competitivo, rompe com o modelo tradicional de dis-
tanciamento entre público e privado. Em consenso e de forma trans-
parente, a ideia é construir a melhor especificação do objeto a ser con-
tratado pelo Administração Pública.
A nova modalidade institucionaliza o diálogo público-privado
na fase procedimental da licitação. Com isso, reduz a assimetria de in-
formação entre as partes envolvidas na contratação, otimiza a expertise
do parceiro privado, fomenta a estruturação de melhores projetos e re-
cepciona o princípio da eficiência e da economicidade na prestação de
utilidades públicas e no incremento da sustentabilidade (econômico, po-
lítica e social), oriundo das licitações estruturadas por meio desta prática.
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Notas
1
Expressão utilizada pelo professor Juarez Freitas na obra Discricionariedade
administrativa e o direito fundamental à boa administração pública. São Paulo: Ma-
lheiros, 2007.
2
CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. O conceito de interesse público no esta-
do constitucional de direito: o novo regime jurídico administrativo e seus princípios
constitucionais estruturantes. [Tese de Doutorado em Direito]. Centro de Ciências
Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014, p. 379.
consensual como a nova face da administração pública no séc. XXI. Revista da Fa-
culdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 104, jan./dez. 2009,
p. 306-307.
viu de inspiração para o diálogo competitivo introduzido pela Lei nº. 14.133/2021.
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11
CHRISTIAN, B.; GRIFFITHS, T. Algorithms to live by the computer science of hu-
mam decisions. New York: Henry Holt and Co, 2016, p. 69.
12
O’NEIL, Chaty. Algoritmos de destruição em massa. Como o big data aumenta
a desigualdade e ameaça a democracia. Trad. Rafael Abraham. Santo André:
Rua de Sabão, 2020, p. 144.
13
MITTELSTADT, Brent Daniel et al. The ethics of algorithms: Mapping
the debate, 01 dez. 2016, p. 2-3. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/
full/10.1177/2053951716679679. Acesso em: 22 jul. 2022.
14
GILLESPIE, T. A relevância dos algoritmos. Parágrafo, v. 6, n. 1, 2018, p. 97.
Disponível em: <http://revistaseletronicas.fiamfaam.br/index.php/recicofi/arti-
cle/view/722>. Acesso em: 23 jul. 2022.
15
G1. Meganavio encalha no Canal de Suez e causa congestionamento naval.
Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/03/24/mega-navio-
-encalha-no-canal-de-suez-e-causa-transito-nautico-veja-fotos.ghtml. Acesso em: 25
jul. 2022.
16
HEINEN, Maíra. Governo do Amapá contrata empresa para retirar navio que
naufragou no rio Jari. Agência Brasil, Brasília, 05 mar. 2020. Disponível em:
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Referências
________. A era da informação: fim de milênio. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. v. 3.
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HEINEN, Maíra. Governo do Amapá contrata empresa para retirar navio que
naufragou no rio Jari. Agência Brasil, Brasília, 05 mar. 2020. Disponível em: https://
agenciabrasil.ebc.com.br/en/node/1381968. Acesso em: 26 jul. 2022.
SOUZA, Jessé. A Elite do Atraso: da escravidão à lava-jato. Rio de Janeiro: Leia, 2017.
VIEIRA, Sílvia. Um ano após o naufrágio do navio Anna Karoline III, famílias
de vítimas ainda não receberam indenização. G1, Santarém, 01 mar. 2021. Disponí-
vel em: https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2021/03/01/um-ano-
-apos-naufragio-do-navio-anna-karoline-iii-familias-de-vitimas-ainda-nao-recebe-
ram-indenizacao.ghtml. Acesso em: 28 jul. 2021.
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POR UMA ADEQUADA HERMENÊUTICA DO ARTIGO
132 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL:
REFLEXÕES SOBRE A ESCOLHA DOS
PROCURADORES-GERAIS DOS ESTADOS E DO
DISTRITO FEDERAL E A AUTONOMIA FEDERATIVA
Ulisses Schwarz Viana1
RESUMO
O presente ensaio busca produzir reflexão sobre uma adequa-
da hermenêutica da disposição do art. 132 da Constituição. O tema
da possível inaplicabilidade dos princípios da simetria e paralelismo é
objeto de estudo para determinar a observar a inexistência do dever de
reprodução obrigatória da regra do §1º do art. 131 na função nomoté-
tica derivada do poder constituinte dos Estados e do Distrito Federal.
Perspectivas da dogmática jurídica e da teoria da interpretação cons-
titucional são exploradas argumentativamente no texto apresentado.
Palavras-chave: Constituição. Procuradorias-Gerais dos Estados.
Autonomia federativa. Escolha. Nomeação. Escolha. Procurador Ge-
ral do Estado.
ABSTRACT
This essay seeks to produce reflection on an adequate hermeneu-
tics of the provision of art. 132 of the Constitution. The subject of the
1 Doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Mestre em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Professor do Programa de
Mestrado Acadêmico e Doutorado em Direito, graduação e pós-graduação lato sensu do Instituto Brasileiro de En-
sino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). Professor de Filosofia e Teoria do Direitona Pós-Graduação da Fundação
Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Visiting Scholar - Pesquisador Visitante na
Pennsylvania State University (Penn State University), Dickinson School of Law (2016). Procurador do Estado de
Mato Grosso do Sul (atuação junto ao STF e Tribunais Superiores). . Presidente da Câmara Técnica do CONPEG
(Colégio Nacional de Procuradores-Gerais dos Estado e do DF) de 2015 a 2020.
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INTRODUÇÃO
O presente ensaio jurídico tem por objeto reflexão sobre tema
que, por vezes, vê-se renovado no âmbito da jurisdição constitucional,
perante o Supremo Tribunal Federal1, o qual gira em torno da auto-
nomia federativa de os Estados-membros e o Distrito Federal estabe-
lecerem regras próprias sobre o modelo de escolha e nomeação dos
titulares de suas Procuradorias-Gerais.
O debate, em torno de aspecto tão relevante para o federalis-
mo brasileiro, merece uma observação guiada pela perspectiva de uma
hermenêutica constitucional que reflita criticamente sobre a proble-
mática relacionada com visões propositivas de aplicações inflexíveis e
quase absolutas dos princípios (implícitos) da simetria e do paralelis-
mo, o que pode significar conflitos com uma adequada interpretação
sistemática do texto constitucional vigente, diante da possibilidade in-
desejáveis efeitos restritivos e redutores, fora da positividade da Cons-
tituição de 1988, dos espaços de autonomia dos entes federativos.
O problema analisado no texto, portanto, põe foco na visão
redutiva que vislumbra a imposição aos Estados e ao Distrito Federal
do critério de escolha do Advogado-Geral da União (art. 131, § 1º, da
Constituição da República) como norma de reprodução obrigatória.
Nosso ensaio busca produzir, dentro de suas claras limitações,
análises que possam abrir novos horizontes sobre a temática e que
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho teórico argumentativo desenvolvido no presente en-
saio nos conduz à concluir que a aplicação dos princípios implícitos da
simetria e do paralelismo não pode ser feita a partir de uma perspec-
tiva em que eles sejam postos como princípios de índole absoluta pelo
hermeneuta constitucional, sendo sempre indicada uma autocontenção
do intérprete ao lidar com temas sensíveis relacionados ao princípio fe-
derativa de organização político-administrativa interna da República
Federativa do Brasil, à luz do caput do art. 18 da Constituição de 1988.
Princípio federativo que integra expressamente o núcleo intangível (cláusu-
las pétreas) que não podem ser sequer objeto de proposta de emenda à
Constituição (inciso I do §4º do art. 60).
Como corolário das reflexões acima alinhavadas, surge como
um ponto de partida inarredável as notáveis diferenciações estru-
turais adotadas na textura normativa da redação do §1º do art. 131
em colação com a do art. 132 da Constituição, o que está a indicar
o claro propósito do constituinte federal de não estabelecer qualquer
modelagem estritamente simétrica e paralela entre a Advocacia-Geral
da União e as Procuradorias-Gerais dos Estados e do Distrito Federal,
especialmente, no caso desses última, quanto ao critério de escolha de
seus Procuradores-Gerais.
O art. 132 da Constituição não contém qualquer lacuna consti-
tucional que permita ao hermeneuta constitucional lançar mão de prin-
cípios implícitos, como os da simetria e paralelismo, para afastar analogi-
camente a necessária aplicação do princípio explícito do federalismo, com a
consequente autonomia federativa dos entes federados.
O texto do presente ensaio traduz clara hipótese de silêncio elo-
quente do texto constitucional, quando se constata clara intenção de dei-
xar aberto espaço nomotético ao poder constituinte derivado e ao legis-
lador estadual para regular, dentro do espaço de autonomia federativa
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Notas
1
Veja-se a ADI nº 6607, da relatoria do Ministro Kássio Nunes Marques.
2
Percepção essa que não escapa à doutrina constitucional brasileira, como se vê em
José Afonso da Silva (Manual de Direito Constitucional Positivo, 43ª ed. São Paulo: Editora
Juspódion/Malheiros Editores, 2020, p. 104), quando o professor paulista observa que:
“A Constituição de 1988 buscou resgatar o princípio federalista e estruturou um modelo
de repartição de competências que tenta refazer o equilíbrio das relações entre o poder
central e os poderes estaduais e municipais.” Não se pode deixar de mencionar aqui tam-
bém que a abertura da nova ordem constitucional às iniciativas regionais como medida
de fortalecimento das noções de federalismo e de democracia, elementos nucleares em
nosso sistema constitucional, ao dizer que: “Vive o federalismo constitucional brasileiro
um tempo novo. É o tempo da modernização das instituições constitucionais. A Consti-
tuição do Estado, parcela deste conjunto institucional, reflexo e agente do novo tempo,
modernizou as instituições estaduais, acolhendo no seu texto as aspirações generalizadas
de progresso, bem-estar e liberdade.”
3
Ferraz Jr, Tercio Sampaio. Introdução do Estudo do Direito. 5ª ed. São Paulo, Atlas,
p. 49.
4
Ferraz Jr, Tercio Sampaio. Introdução do Estudo do Direito. 5ª ed. São Paulo, Atlas,
p. 50.
5
Tercio Sampaio Ferraz Jr Ferraz Jr (Introdução do Estudo do Direito. 5ª ed. São Paulo,
Atlas, p.49) anota que “quando se diz que o princípio básico da dogmática é o da inegabi-
lidade dos pontos de partida, isto não significa que a função dela consista nesse postulado,
ou seja, que ela limite a afirmar, repetir dogmas pura e simplesmente pura e simplesmen-
te. A dogmática apenas depende desse princípio, mas não se reduz a ele”.
6
Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou atra-
vés de órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-
-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e funcio-
namento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.
§ 2º - O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição de que trata este
artigo far-se-á mediante concurso público de provas e títulos.
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dos Estados e do DF: ADI 5215/GO (Min Roberto Barroso); ADI 4449/AL (Min
Marco Aurélio); ADI 6292/MS (Min Gilmar Mendes); dentre outras.
Silva, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 16ª ed. São Paulo:
13
Importante aqui o escólio de Raul Machado Horta (Direito Constitucional. 3 ed. Del
15
Rey, 2002, pp. 422-423) sobre normas de imitação e de reprodução obrigatória e o de-
vido respeito à capacidade de auto-organização dos Estados, quando preleciona que: “A
norma de reprodução não é, para os fins da autonomia do Estado-Membro, simples nor-
ma de imitação, frequentemente encontrada na elaboração constitucional. As normas de
imitação exprimem a cópia de técnicas e institutos, por influência da sugestão exercida
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Referências
BRANCO, Paulo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucio-
nal. 11ª ed. São Paulo: Saraiva Jur.
FERRAZ JR, Tercio Sampaio. Introdução do Estudo do Direito. 5ª ed. São Paulo: Atlas.
HORTA, Raul Machado Horta. Direito Constitucional. 3ª ed. Belo Horizonte: Del Rey.
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 13ª ed. São Paulo:
Forense.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 16ª ed. São Paulo:
Malheiros
Editores.
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O PROCESSO ADMINISTRATIVO E A DESCONSI-
DERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA:
UMA ANÁLISE CRÍTICA DA LEI N.º 12.846/2013
Thais Rodrigues Coelho Terra1
Hélio Rios Ferreira2
RESUMO
1 Pós-Graduada em Advocacia Pública pela AVM – Faculdade Integrada e IDDE – Instituto para o Desenvolvimento
Democrático, em parceria com a ANAPE; Pós-Graduanda em Direito Processual Civil pela Faculdade Damásio,
Pós-Graduada em Direito Civil e Empresarial com capacitação para Ensino Superior pela Faculdade IBMEC de São
Paulo e Pós-Graduada em Direito Administrativo pela PUC-Minas. Procuradora do Estado do Amapá e Advogada.
2 Mestrando em Direito de Acesso à Justiça e Direito ao Desenvolvimento pela Unichristus, especialista em Direito Ad-
ministrativo pela PUC-MINAS e em Direito Processual pela Damásio, membro do Comitê técnico da Revista Síntese
de Direito Administrativo, Procurador do Estado do Amapá e Advogado.
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ABSTRACT
INTRODUÇÃO
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A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
D
JURÍDICA
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ESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
D
JURÍDICA NA ESFERA ADMINISTRATIVA.
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS
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A CONTEXTUALIZAÇÃO DO DIREITO
D
ADMINISTRATIVO
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1.8. Determinações/Recomendações:
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DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA, PREVISTO NA LEI N.º 12.846/2013
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Art.4º
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Processo: 019.552/2014-9
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(....)
Como se vê, apesar da medida liminar ter sido deferida pelo STF,
nos autos do MS 32.494/DF , já reproduzido no capítulo II, sob o funda-
mento de “incerteza da hipótese de cláusula de reserva jurisdicional”, isto
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Notas
SARHAN JÚNIOR, Suhel. Curso de direito empresarial.2ª ed. rev., atual. e ampl.
1
2
COELHO, Fabio Ulhôa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 18. ed. Volume
2. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 61
3
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 6ª
ed., São Paulo: Atlas, 2013, v.1. p.241.
4
2015, p. 138, apud SARHAN,2019, p. 141.
5
Ideia extraída do art.: FERREIRA, Hélio Rios. O incidente de desconsideração inversa
da personalidade jurídica, Revista Síntese: Direito Civil e Processual Civil, São Paulo, v.
18, n. 105, p. 198-213, jan./fev. 2017.
6
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 18. ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2012. v.2, p.60.
7
1994, p. 79, apud KOURY, 2011 p. 9.
8
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo / Maria Sylvia Zanella
Di Pietro. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. P. 79.
9
Trecho do voto proferido nos autos do RECURSO ORDINÁRIO EM MS
Nº 15.166 - BA (2002/0094265-7) e acessado através do link: https://jurispruden-
cia.s3.amazonaws.com/STJ/IT/RMS_15166_BA_07.08.2003.pdf ?Signature=-
sAOq9M42aAoXrpAZl9vd4ErU6Z4%3D&Expires=1573772571&AWSAcces-
sKeyId=AKIARMMD5JEAO765VPOG&response-content-type=application/
pdf&x-amz-meta-md5-hash=8dbb4e19cb0181ddd77d2edf8d2bfb83
http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo732.ht-
10
m#transcricao1
https://jurisprudencia.s3.amazonaws.com/STF/IT/
11
MS_23452_RJ-_16.09.1999.pdf ?Signature=y%2Fcg2zJSgVR43ZzV-
110
PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
Rodrigues, j. 30.05.2012.
13
PETRELLUZZI, M. V.; RIZEK JUNIOR, R. N. Lei Anticorrupção: origens, co-
mentários e análise da legislação correlata. São Paulo: Saraiva, 2014.
14
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos.17
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 1378-1379.
15
TCU. Acórdão 98/2017. Plenário.
16
TCU. Acórdão 2273/2019 Plenário.
17
CRISTOVAM, José Sérgio da Silva. Sobre a desconsideração da personalidade ju-
rídica no âmbito da lei 12.846/13. Disponível em: http://www.cidp.pt/revistas/
rjlb/2019/1/2019_01_1215_1246.pdf. Acesso em: 01.06.2022. p. 1118-1120.
18
Mensagem apresentada no PL 6.826/2010 pelo Poder Executivo, extraído do
site: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_requerimentos?idProposi-
cao=466400
19
PINHO, Clóvis Alberto Bertolini de. Desconsideração administrativa da personalidade
societária – compatibilidades e possibilidades da lei anticorrupção. Revista Digital de Direito
Administrativo, v. 2, n. 1, p. 381-410, 2015, p. 405.
20
Acórdão do TCU n.º11559/2018
Referências
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PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
BEVILAQUA, Clovis. Código civil dos Estados Unidos do Brasil: comentado por Clo-
vis Bevilaqua. 2ª tiragem. Rio de Janeiro: Rio, 1976.
COELHO, Fabio Ulhôa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 18. ed.
São Paulo: Saraiva, 2012. Volume 2.
GOMES, Fábio Bellote. Manual de Direito Empresarial. 4ª ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
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SARHAN JÚNIOR, Suhel. Curso de Direito Empresarial. 2ª ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Processo, 2019.
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COMENTÁRIOS À DURAÇÃO DOS CONTRATOS
NO ÂMBITO DA NOVA LEI DE LICITAÇÕES
José Maurício Conti1
Narson de Sá Galeno2
Tiago Cripa Alvim3
Matheus Della Monica4
André Castro Carvalho5
RESUMO
O artigo explora as mudanças introduzidas pela Nova Lei de
Licitações (Lei nº 14.133/2021) no tocante às regras que disciplinam a
duração dos contratos. O método empregado é o de comentários à lei.
Palavras-chave: Lei nº 14.133/2021. Contratos administrativos.
Duração.
1 Graduado em Direito e em Economia pela Universidade de São Paulo. Mestre, Doutor e Livre-docente em Direito pela
Universidade de São Paulo. É Professor Associado III da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, com experi-
ência e ênfase em Direito Financeiro, atuando principalmente nos seguintes temas: Direito Financeiro, Federalismo Fiscal,
Orçamentos Públicos, Fiscalização financeira e orçamentária, Tribunais de Contas, Dívida Pública e Responsabilidade Fiscal.
Juiz de direito (aposentado). Advogado, economista e Consultor em Direito Financeiro e Finanças Públicas.
2 Procurador de Estado do Amapá; graduado pela UNAERP/Ribeirão Preto-SP, Conselheiro Seccional da OAB/AP
triênio 2001-2003. Presidente da Associação dos Procuradores do Estado do Amapá – biênio 2013/2015. Procurador-
-Geral do Estado do Amapá (janeiro de 2015 até a corrente data).
3 Graduado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP (2002). Possui master em Direito Público
e PPPs pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne (2010); pós-graduado em Relações Internacionais e Direito Inter-
nacional pela Clio/Damásio (2020); especialista em Direito Administrativo pela COGEAE/PUC-SP (2008); expert
em Provisão de Infraestruturas pela Universidad Politécnica de Madrid (2020); tem formação em Project Finance pela
Euromoney (2020); foi aluno especial do Project Finance Course na Georgetown Law School (2021). Membro da Asso-
ciação Brasileira de Direito Administrativo e Econômico – ABRADADE, onde é Diretor da Comissão de Infraestrutu-
ra, e do Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial – IBDEE. Foi assessor para infraestrutura na Presidência da
República, na EPL S.A. e no TCMSP e assessor pro bono para PPPs da Comissão das Nações Unidas para o Direito
Comercial Internacional – UNCITRAL. Advogado em organismo internacional.
4 Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo e aluno ingressante no Mestrado em Direito na mesma instituição. É
aluno participante do Partenariat International Triangulaire d’Enseignement Supérieur pela Université Jean Moulin Lyon 3.
5 Bacharel, Mestre e Doutor em Direito pela Universidade de São Paulo, teve sua tese de doutorado recebido o
Prêmio CAPES de Tese 2014 como a melhor tese de Direito no Brasil em 2013. Realizou estudos de pós-doutorado no
Massachusetts Institute of Technology - MIT (em 2016) e na Faculdade de Direito da USP (em 2017-2018). Professor
de educação executiva e pós-graduação em diversas escolas de negócios. Atualmente, é Vice-Presidente do Instituto
Brasileiro de Direito e Ética Empresarial - IBDEE
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ABSTRACT
This article explores the changes introduced by the New Bidding
Law (Law No. 14133/2021) regarding the rules that govern the duration of
contracts. The method employed in the article is the commentary on the law.
Keywords: Law nº 14.133/2021. Administrative Contracts. Duration.
INTRODUÇÃO
Diversas incertezas surgem com o advento de novas leis. A
mudança de atos normativos vigentes por quase trinta anos provoca
dúvidas na interpretação e aplicação no novo diploma legal. Faz-se
mister saber o que muda e o que permanece em relação ao diploma
revogado. Tal é a situação da iminente revogação da Lei nº 8.666 pela
Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (“NLLC”).
O método empregado é o dos comentários, ou seja, serão te-
cidos comentários aos enunciados dos artigos da NLLC referentes à
duração dos contratos. O objetivo dos comentários é subsidiar a for-
mação de um instrumental doutrinário a jurisprudencial.
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COMENTÁRIOS
O dispositivo que abre o Capítulo V traz alguns elementos im-
portantes. O primeiro deles é o de que a duração dos contratos regidos
pela NLLC deve ser prevista em edital. Salvo pela hipótese do art. 109,
todas as demais disposições do Capítulo referem-se a contratos com
prazo determinado – ainda que prorrogado, automaticamente ou não.
A determinação da duração no edital tem, ao menos, quatro razões:
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COMENTÁRIOS
Além de trazer algumas mudanças em relação ao regime ante-
rior, o art. 106 contém disposições que solucionam na esfera legislativa
uma antiga questão, embora ocasione novas controvérsias.
Tratemos da solução: o caput do dispositivo equipara serviços con-
tínuos a fornecimentos contínuos. Na Lei nº 8.666/1993, somente se tratou
da prestação de serviços contínuos, no seu art. 57, II9, indicando ser
possível a prorrogação desses contratos “por iguais e sucessivos perío-
dos com vistas à obtenção de preços e condições mais vantajosas para
a administração”, não podendo tais prorrogações ultrapassar sessenta
meses. O dispositivo indica que os contratos deveriam ser assinados
por prazos menores, para que, identificadas condições mais vantajosas
para a Administração, ao se aproximar do seu término, se pudesse
renová-los até o limite de cinco anos. Nesse sentido, o caput do art. 106
da NLLC traz disposição mais similar à redação que teve o mesmo art.
57, II da Lei nº 8.666/1993 entre 1994 e 1998, que determinou que
tais contratos de serviços “deverão ter a sua duração dimensionada
com vistas à obtenção de preços e condições mais vantajosas para a
administração, limitada a duração a sessenta meses”.
Note-se a diferença conceitual: na redação de 1998 do art.
57, II, pretende-se um vínculo mais curto e que haja análise por
parte do contratante no que toca à qualidade do serviço prestado.
Desse modo, sendo positivo o resultado, prorroga-se o vínculo até o
limite temporal indicado. Por outro lado, na redação de 1994, pre-
tende-se que o gestor faça um planejamento adequado e confiável,
123
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COMENTÁRIOS
O dispositivo traz importantes complementos ao art. 106. O
primeiro é fazer o papel do art. 57, II, da Lei nº 8.666/1993, esta-
belecendo prazo máximo de vigência para os contratos de serviços e
fornecimentos contínuos em caso de prorrogação sucessiva. Com isso,
torna-se patente a função do caput do art. 106: estipular que a vigência
inicial dos contratos administrativos de execução continuada pode ser
de até sessenta meses (cinco anos). Por sua vez, o prazo-limite com a
prorrogação sucessiva do contrato está previsto no art. 107 (dez anos).
A segunda parte do art. 107 reflete a regra prevista no art. 105
e no art. 106, II, relativa à disponibilidade de créditos orçamentários
vinculados à contratação e à vantagem em sua manutenção, aplican-
do-se também à prorrogação dos contratos, e não apenas à sua ma-
nutenção. Note-se, porém, que o art. 107 aponta para os critérios de
avaliação da vantajosidade, isto é, as condições e os preços – o que
abarca praticamente qualquer aspecto do contrato. Cumpre notar
que, apesar de isto não estar expresso na NLLC, a vantajosidade não
se refere apenas ao aspecto econômico-financeiro da contratação, mas
também à qualidade do serviço ou produto contratados, à relação com
um contratante íntegro que não incida em infrações disciplinares etc.
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COMENTÁRIOS
Assim como o caput do art. 106 estabelece um prazo máximo
para vigência inicial dos contratos administrativos de execução conti-
nuada, o art. 108 faz o mesmo em relação a determinadas hipóteses
de contratos em que há dispensa de licitação, contidas no art. 75 da
NLLC18. Todas as circunstâncias previstas possuem características que
indicam que uma contratação por um período mínimo mais elevado
pode ser a única ou a melhor forma de contratação.
Tomemos como exemplo a primeira hipótese legal, a do art.
75, IV, “f ”, que trata da dispensa de licitação para a contratação de
“bens ou serviços produzidos ou prestados no País que envolvam,
cumulativamente, alta complexidade tecnológica e defesa nacional”.
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COMENTÁRIOS
O art. 109 traz disposição sobre matéria que por muito tempo
gerou celeuma entre os administrativistas: afinal, prazo determinado
é condição para que se considere um contrato administrativo como
tal? Nos casos em que a Administração seja usuária de serviços pú-
blicos oferecidos em regime de monopólio – tais como serviço postal
e o correio aéreo nacional, previstos no artigo 21, X, da Constituição
Federal – a resposta é não. Isso deriva da sua própria natureza: não há
razão econômica ou jurídica para realizar novas licitações ou novas
dispensas de licitação para contratar serviços em que a Administração
se veja em posição de consumidora de serviços contínuos oferecidos
em regime de monopólio e cujo término não se espera.
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COMENTÁRIOS
O art. 110 contém outra importante inovação da NLLC: o es-
tabelecimento de prazos excepcionais (diante da regra geral estabeleci-
da no art. 105) para as contratações que gerem receita para a Adminis-
tração Pública e para os contratos de eficiência que lhe proporcionem
economia. Embora antes do advento da NLLC não houvesse previsão
em lei que estabelecesse tais prazos excepcionais, vale mencionar que a
doutrina já apontava para a necessidade de se considerar essa hipótese.
Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello21:
131
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COMENTÁRIOS
O art. 111 vem consolidar entendimento24 de que o contrato
por escopo25 não apenas pode ser prorrogado até que o objeto seja
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o que foi vedado expressamente pela Lei nº 8.666/1993 (art. 57, § 3º)
e que é vedado implicitamente pela NLLC – haja vista que a única
menção da lei à possibilidade de contrato por prazo indeterminado
está no art. 109. No entanto, entendemos que a hipótese do art. 111
não se assemelha tanto a um contrato de prazo indeterminado, por
duas razões principais: (i) a prorrogação automática continua a de-
mandar do Administrador todos os cuidados orçamentários já ana-
lisados neste Capítulo; (ii) tal prorrogação não inibe ou se desvia dos
controles aplicados à Administração e ao administrador público, que
seguem válidos, de modo que a motivação adequada para a manu-
tenção do vínculo contratual vigente segue sendo necessária.
Ademais, deve-se atentar para o fato de que a lei estabelece
punições ao contratante caso a não conclusão do objeto contratual de-
corra de sua culpa. Resguardando o interesse público consubstanciado
na entrega do objeto contratado, o art. 111 prevê a prorrogação refe-
rida, mas não sem deixar de estabelecer, no seu inciso I, a constituição
do contratado em mora e a aplicação das sanções administrativas devi-
das. Por sua vez, o inciso II indica que, na mesma hipótese de culpa do
contratado, a Administração poderá não apenas rescindir o contrato,
caso essa seja a melhor opção para o atendimento ao interesse público,
mas também adotar as “medidas admitidas em lei para a continuidade
da execução contratual”, como a contratação de outro prestador para
o remanescente de obras inconclusas.
Não é demais lembrar que, mesmo nos casos em que não haja
culpa do contratado, a Administração pode rescindir o contrato, quan-
do, assim como no inciso II, essa opção se mostrar adequada para o
atendimento ao interesse público. Nesse caso, porém, não constituirá o
contratado em mora e honrará, assim como no caso anterior, a equa-
ção econômico-financeira do contrato.
135
PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
COMENTÁRIOS
A lei elucida que os prazos contratuais previstos em leis es-
peciais que tratem de contratação pública seguem vigentes. Com
efeito, a disposição vem deixar ainda mais evidente a disposição do
seu art. 186, que determina a aplicação da NLLC de forma subsi-
diária às leis de concessões (nº 8.987/1995), de parcerias público-pri-
vadas (nº 11.079/2004) e de contratação de agências de publicidade
(Lei nº 12.232/2010). Assim, ainda que uma PPP regida pela Lei nº
11.079/2004 se assimile a um contrato de eficiência previsto no art.
110, II, da NLLC, seu limite temporal será de 35 anos não pela previ-
são desse artigo, mas pela previsão da própria lei das PPPs.
Corolário da norma é o entendimento de que, ainda que uma
concessão regida pela Lei nº 8.987/1995 se pareça com a hipótese
do art. 110, I, da NLLC – por exemplo, uma concessão de serviços
similar ao Contrato de Restauração e Manutenção das rodovias fe-
derais (CREMA)27, em que não se vislumbre investimento na rodovia
–, a mesma não estará adstrita aos 10 anos nele previstos. Ela deverá
seguir o racional próprio da Lei de Concessões, a qual não prevê prazo
máximo de vigência.
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COMENTÁRIOS
O art. 113 completa as locuções do art. 46, VII,28 e do artigo
6º, XXXIV,29 da NLLC, trazendo de forma mais explícita, e com con-
tornos mais claros, a possibilidade de contratação de um objeto inicial
seguido de serviços associados. O objeto inicial (ou “primeiro objeto”)
consiste em um fornecimento inicial ou na entrega de uma obra, e a
ele estão associados serviços de operação, manutenção ou ambos, por
tempo determinado.
Em consonância com o princípio da eficiência, consagrado no
art. 37, caput, da Constituição Federal, essa estrutura contratual esti-
mula a entrega de obras mais bem realizadas e de “bens iniciais” de
boa qualidade. Isso porque o resultado da primeira entrega afetará a
vida profissional daquele prestador ou fornecedor por até dez anos
mais, nos termos do art. 107, de modo que o incentivo desse provedor
será, em geral, o de realizar uma ótima primeira entrega30, evitando
que possua um objeto inicial cuja manutenção seja demasiado comple-
xa e/ou dispendiosa do ponto de vista econômico-financeiro.
O racional dessa estrutura contratual, no que toca ao cam-
po dos incentivos, é similar ao de uma concessão de serviço público.
São contratos em que se espera, igualmente, que as obras realiza-
das sejam as mais adequadas e racionais do ponto de vista econô-
mico, para o benefício do próprio contratado. Ademais, faz sentido
137
PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
COMENTÁRIOS
O art. 114 atualiza o entendimento sobre a tecnologia da in-
formação aplicada no âmbito da Administração Pública. Os sistemas
estruturantes de TI são essenciais a toda ou quase toda divisão admi-
nistrativa da Administração Pública, e ganhou ainda mais importância
com o advento da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais – LGPD
(Lei nº 13.709/2018). Seus custos são elevados, sua implantação pode
ser extremamente trabalhosa e demorada, o processo de aprendiza-
gem dos servidores pode ser ainda mais vagaroso e uma fase de uso
falho de uma nova solução tecnológica é esperado. Tais fatores, até
que se considere a solução definitivamente implantada, devem levar,
efetivamente, a longos prazos contratuais.
Trata-se de racional similar, embora não idêntico, ao do art.
113, em que o mesmo contratado permanece vinculado à Admi-
nistração por até dez anos, a partir do momento de sua primeira
entrega. Nos casos de implantação de sistemas de TI, pode haver
um grande marco, como aquele a que se refere o art. 113, ou a
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PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
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Notas
trato administrativo. In: MEIRELLES, Hely Lopes; BURLE FILHO, José Emmanuel.
Direito administrativo brasileiro. 42ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 254-266.
Os três elementos são mínimos para o direito brasileiro e também para o direito
4
uniformizar com princípios o regime dos contratos públicos. R. de Dir. Público da Economia -
RDPE, Belo Horizonte, ano 11, n. 41, jan./mar. 2013, p. 62-63.
140
PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
o elo entre o PPA e a LOA. Cf. CONTI, José Mauricio. O planejamento orçamentário da
Administração Pública no Brasil. 1. ed. São Paulo: Blucher Open Access, 2020, p. 44.
8
Ainda assim, cumpre notar que não houve uma definição clara das funções do
PPA, nos termos em que aponta Weder de Oliveira: “[O legislador constituinte] não
soube dizer com consistência e coerência o que pretendia com o PPA: não queria um
instrumento semelhante ao fracassado orçamento plurianual de investimentos (OPI),
anteriormente vigente, e por outro lado também não fez dele um instrumento de pla-
nejamento global do Estado, destinando-o apenas às despesas de capital e programas
de duração continuada, conferindo-lhe porém posição do mais alto relevo, subme-
tendo a ele planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos na Consti-
tuição”. Cf. Curso de responsabilidade fiscal. Belo Horizonte: Forum, 2013, v. 1. p. 310.
9
Em sua última redação, de 1998.
10
A jurisprudência administrativa federal referente ao art. 57, II da Lei nº
8.666/1993 em sua última redação seguia o espírito da norma: o TCU, na sua Decisão
n° 1.136/2002-Pleno, determinou que se observasse “atentamente o inciso II do artigo
57 da Lei n° 8.666, de 1993, ao firmar e prorrogar contratos, de forma a somente en-
quadrar como serviços contínuos contratos cujos objetos correspondam a obrigações de
fazer e a necessidades permanentes”. Tal entendimento foi reiterado pelo Acórdão nº
100/2008 - Plenário. Por sua vez, o Acórdão n° 3891/2011, da Segunda Câmara, nos
indica expressamente que as prorrogações em contratos de fornecimento de bens de con-
sumo não admitiam a realização de prorrogações sucessivas nos termos do dispositivo.
141
PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas
as consequências práticas da decisão.
No seguinte teor: “Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora
16
142
PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando
for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo propor-
cional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos
sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam
anormais ou excessivos.”
17
Sobre o tema, cf. MARQUES NETO, Floriano de Azevedo et al. Resposta aos
comentários tecidos pela Consultoria Jurídica do TCU ao PL 7.448/2017. Revista Brasileira
da Advocacia. vol. 9. ano 3. p. 289-312. São Paulo: Ed. RT, abr.-jun. 2018, em es-
pecial p. 293-296.
18
No seguinte teor: “Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial,
não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas
as consequências práticas da decisão.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando
for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo propor-
cional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos
sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam
anormais ou excessivos.”
20
Sobre o tema, cf. MARQUES NETO, Floriano de Azevedo et al. Resposta aos
comentários tecidos pela Consultoria Jurídica do TCU ao PL 7.448/2017. Revista Brasileira
da Advocacia. vol. 9. ano 3. p. 289-312. São Paulo: Ed. RT, abr.-jun. 2018, em es-
pecial p. 293-296.
21
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 32. Edição.
São Paulo: Malheiros. 2014, p. 650.
22
SUNDFELD, Carlos Ari; CÂMARA, Jacintho Arruda. Uma crítica à tendência de
uniformizar com princípios o regime dos contratos públicos. R. de Dir. Público da Economia -
RDPE, Belo Horizonte, ano 11, n. 41, jan./mar. 2013, p. 63.
143
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Mario Engler. Regime diferenciado de contratação: licitação de infraestrutura para Copa do Mun-
do e Olimpíadas. São Paulo: Atlas, 2012. p.78 e ss.
sou a ser mais tolerante e aderente à diferenciação entre contratos de escopo e contratos
continuados, no que se refere à possibilidade de sua prorrogação mesmo após o término
do prazo contratual. Ainda assim, em diversos julgados, ressalta-se o caráter excepcio-
nal – e apenas após a análise do caso concreto – do acolhimento pelo TCU da tese que
diferencia os efeitos da extinção do prazo de contratos de obra. Portanto, pode-se afirmar
que a pacificação dessa longa controvérsia pela NLLC foi salutar.
bens, a execução de uma obra – desde que seja uma conduta específica e definida, cf.
JUSTEN FILHO, op. cit., p. 946.
26
JUSTEN FILHO, op. cit., p. 946.
No seguinte teor: “Art. 6º Para os fins desta Lei, consideram-se: (...) XXXIV -
29
Referências
BOUSTA, Rhita. Essai sur la notion de Bonne administration en droit public, L’Harmattan, 2010.
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PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
MARQUES NETO, Floriano de Azevedo et al. Resposta aos comentários tecidos pela
Consultoria Jurídica do TCU ao PL 7.448/2017. Revista Brasileira da Advocacia. vol. 9.
ano 3. p. 289-312. São Paulo: Ed. RT, abr.-jun. 2018.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 32. Edição.
São Paulo: Malheiros. 2014.
RICHER, Laurent. Droit des Contrats Administratifs. 9 ª ed. [S. l.]: LGDJ, 2014.
145
O PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL
E A APLICABILIDADE DA LEI FEDERAL Nº 14.356
DE 31 DE MAIO DE 2022
Alexandre Sampaio1
RESUMO
O presente trabalho pretende realizar um estudo sobre o Prin-
cípio da anterioridade eleitoral, abordando suas características e por
fim analisar a aplicabilidade da Lei Federal nº 14.356 de 31 de maio de
2022 em razão da sua entrada em vigor em ano eleitoral. A principal
fonte de pesquisa utilizada foi à jurisprudência construída pelo STF
na interpretação do art. 16 da Constituição Federal. Buscou-se ainda
pesquisa em fontes doutrinárias, sendo possível concluir que a produ-
ção de efeitos de inovações normativas em ano eleitoral somente sofre
incidência do art. 16 da CF de 1988 caso esta alteração seja suficiente
para afetar o processo eleitoral.
Palavras-chave: Princípio da Anterioridade Eleitoral. Art. 16 da
Constituição Federal. Lei Federal nº 14.356 de 31 de maio de 2022.
Aplicabilidade. Proteção do Processo Eleitoral.
ABSTRACT
The present work intends to carry out a study on the Princi-
ple of electoral anteriority, addressing its characteristics, verifying the
applicability of Federal Law No. 14,356 of May 31, 2022 due to the
1 Procurador do Estado do Amapá, Pós-graduado em Direito Público pela Universidade Anhanguera e, em Direito
Processual Civil, pela Faculdade Damásio.
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current election year. The main source of study used was the juris-
prudence constructed by the Supreme Court in the interpretation of
Article 16 of the Federal Constitution. Research was also sought in
doctrinal sources that focus on Constitutional and Electoral Law. Was
possible to conclude that the production of effects of normative inno-
vations in the election year only suffers the incidence of art. 16 of the
CF of 1988, if this change is sufficient to affect the electoral process.
Keywords: Principle of Electoral Anteriority. Art. 16 of the Fed-
eral Constitution. Federal Law No. 14,356 of May 31, 2022. Applica-
bility. Protection of the Electoral Process.
INTRODUÇÃO
Em virtude do ano de 2022 ser um ano eleitoral, submetido,
portanto, às limitações e regramentos da Lei Federal nº 9.504/1997
e demais normas pertinentes, nos fora encaminhada consulta acerca
da possibilidade de, ainda este ano, ser aplicada a Lei Federal nº
14.356 de em 31 de maio de 2022, em razão do princípio da anuali-
dade ou anterioridade eleitoral, resultando assim na inspiração para
o presente trabalho.
Os princípios possuem papel fundamental no direito, como
norte orientador do intérprete e elemento sistematizador das normas
jurídicas. Os princípios podem ser classificados como explícitos ou im-
plícitos, a depender de sua previsão expressa em norma, quando então
é dito que ocorre a sua positivação. José Jairo Gomes considera que
“Com sua positivação, disponibiliza-se ao juiz uma relevante referên-
cia, ou seja, um dispositivo no qual poderá conectar imediatamente a
decisão, justificando-a e conferindo-lhe legitimidade.”1
Porém, além da função hermenêutica e sistematizadora do orde-
namento jurídico, o que já eleva sobremaneira a importância dos princí-
pios, não podemos olvidar de valiosa lição de Paulo Bonavides, pontuan-
do o mestre constitucionalista de que a maior conquista dos princípios foi
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O PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE OU
D
ANUALIDADE ELEITORAL.
O Princípio da anterioridade ou anualidade eleitoral está posi-
tivado em nosso ordenamento jurídico nos termos do art. 16 de nossa
Constituição Federal, cujo texto segue abaixo:
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Nesse caso, se aplicada a nova lei, o agente público que, no início do ano,
empenhou despesas com observância dos limites previstos na lei revogada
poderia, em tese, ser responsabilizado por conduta vedada, caso superado o
limite imposto pela lei nova (que ele até então sequer conhecia).” 15
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise da jurisprudência do STF a respeito do princípio
da anualidade ou anterioridade eleitoral e de posicionamentos doutriná-
rios sobre o tema, podemos fazer as seguintes conclusões a respeito do
referido princípio e da aplicabilidade da Lei nº 14.356 de 2022:
i. Não há impeditivo para que no ano de eleições sejam san-
cionadas leis que alterem o processo eleitoral, estas entrarão em vigor
conforme os regramentos determinados pela LINDB, mas somente
poderão produzir efeitos na forma definida pelo art. 16 da Constitui-
ção Federal;
ii. A primeira mudança trazida pela Lei Federal nº
14.356/2022, relacionada com as normas gerais para licitação e con-
tratação pela administração pública de serviços de publicidade presta-
dos por intermédio de agências de propaganda, em nosso sentir, não
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Notas
1
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. Belo Horizonte: Ed Del Rey, 2010. p.28.
2
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo, Malheiros.
2020. p. 262
3
JUNIOR, Nelson Nery. NERY, Rosa Maria de Andrade. Constituição Federal Co-
mentada e Legislação Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 479.
4
MEIDEIROS, Marcílio Nunes. Legislação Eleitoral Comentada e Anotada.
São Paulo: Juspodium, 2021. p. 92.
5
NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. Salvador: Ed. Juspodium,
2018. p. 572.
6
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2018.
p. 918.
7
BULOS, Op.Cit.
8
STF - AGR - 1320741, Relator: DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento:
25/10/2021, Data de Publicação: 13/12/2021.
9
STF. Plenário. ADI 6359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
14/5/2020.
10
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. São Paulo: Atlas, 2011. p. 283.
11
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. São Paulo: Edipro, 2006. p. 516.
12
STF. ADI 3.741, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 6-9-2006, P, DJ de 23-2-2007.
13
STF. ADI 718, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 5-11-1998, P, DJ de 18-12-1998.
14
ZILIO, Rodrigo López. Direito Eleitoral. São Paulo: Juspodium, 2022. p.354.
15
Fonte:(https://www.dizerodireito.com.br/2022/06/comentarios-lei-
-143562022-como-ficam-os.html) Pesquisado em 23 de junho de 2022.
16
Apud. MENDES, Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustavo Gonete, Curso de
Direito Constitucional. 14ª edição. Saraiva. p. 878.
17
Obra citada. p. 882.
18
STF. ADI 3.741, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 6-9-2006, P, DJ de 23-2-2007
Referências
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo, Malheiros, 35ª ed. 2020.
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 11ª ed. 2018.
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. São Paulo: Edipro, 12ª ed. 2006.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Comentários à Lei 14.356/2022: como
ficam os gastos com publicidade dos órgãos públicos no primeiro semestre do ano de
eleição. Site www.dizerodireito.com.br. Disponível no website:
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https://www.dizerodireito.com.br/2022/06/comentarios-lei-143562022-como-
-ficam-os.html Acesso em 23/06/ 2022.
GOMES. José Jairo. Direito Eleitoral. Belo Horizonte: Del Rey, 5ª ed. 2010
JUNIOR, Nelson Nery. NERY, Rosa Maria de Andrade. Constituição Federal Co-
mentada e Legislação Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 6ª ed. 2016.
MEIDEIROS, Marcílio Nunes. Legislação Eleitoral Comentada e Anotada. São Paulo:
Juspodium, 3ª ed. 2021.
MENDES, Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustavo Gonete, Curso de Direito
Constitucional. Saraiva. 14ª ed.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. São Paulo: Atlas, 27ª ed. 2011.
NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. Salvador: Juspodium, 13ª ed. 2018.
ZILIO, Rodrigo López. Direito Eleitoral. São Paulo: Juspodium, 8ª ed. 2022. p. 354.
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POR QUE A COMUNIDADE LGBTQIA+ NÃO
GOZA DO ESTADO DE DIREITO?
CAMINHANDO SOBRE O FIO DA NAVALHA
Paulo Roberto Fontenele Maia1
RESUMO
O artigo analisa o estado democrático de direito sob a perspec-
tiva da (não) positivação dos direitos da comunidade LGBTQIA+ no
Brasil. Em que pese os avanços no poder judiciário acerca dos direitos
homoafetivos, ainda não há norma positiva no ordenamento pátrio
que os assegure. Importa destacar que a ausência de estatuto próprio
ao espelho do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Estatuto
da Pessoa Idosa, Estatuto do Índio, Estatuto da Igualdade Racial e
tantas outras legislações que socorrem grupos minoritários, relega ao
grupo LGBTQIA+ uma posição de máxima vulnerabilidade social.
É sabido que todo grupo minoritário tem larga dificuldade de tirar
qualquer lei antidiscriminatória do papel em razão da resistência es-
trutural do sistema de opressões fortemente arraigado no seio social.
Nessa mesma lógica, é extremamente mais difícil defender “direitos”
quando estes são apenas convicções momentâneas emanadas do Poder
Judiciário. A exemplo desse frágil alicerce, assistiu-se, recentemente, a
1 Bacharel em Direito pela Universidade de Fortaleza (2003), especialização em Direito Processual Civil pela Universi-
dade Estadual do Ceará (2006), Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Administrativo pela Universidade Anhanguera
- UNIDERP (2013) e Pós-Graduação em Direito Público com ênfase em gestão pública pela Faculdade Damásio de
Jesus (2020). 3 Mestrando no Programa de Pós-Graduação UniChristus (2021-2023) Atualmente é Procurador do Esta-
do do Amapá. Tem experiência na área de gestão pública, exerceu o cargo de Procurador Chefe Central de Licitação
(2016-2019). Atuou ainda como Procurador Chefe da Procuradoria Administrativa durante o período de 2010 a 2014.
Atualmente exerce o cargo de Procurador Adjunto na Secretaria de Estado da Educação. Tem experiência na área
de Direito Público, atuando nos seguintes temas : Licitação, Servidor Público, Contratos e Convênios, Organização
Administrativa, Concessões e Permissões de Serviço Público, Regime Jurídico Próprio de Previdência (RPPS) e Direito
Financeiro. Atua ainda como facilitador da Escola de Administração Pública do Estado (EAP) ministrando cursos de
Processo Disciplinar, Licitação e Orçamento Público.
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ABSTRACT
The article analyzes the democratic state of law from the per-
spective of the rights of the LGBTQIA+ community in Brazil. Despite
the advances in the Judiciary regarding sexual rights, there is still no
positive rule in the national order that guarantees them. It is important
to note that the absence of a specific statute mirroring the statute of chil-
dren and adolescents, the statute of the elderly, the statute of the Indian,
the statute of racial equality, and so many other legislations that help
minority groups, relegates the LGBTQIA+ group to a position of max-
imum social vulnerability. Without demagoguery, it is well known that
every minority has great difficulty in getting any anti-discrimination law
out of paper due to the structural resistance of the system of oppressions
strongly rooted in the social bosom. In this same logic, it is extremely dif-
ficult to defend “rights” when these are just momentary convictions em-
anating from the Judiciary. As an example of this fragile foundation, we
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have recently seen the US Supreme Court radically change the under-
standing of the right to abortion regardless of the criteria required in the
theory of judicial precedents, but only because of the replacement of
members of the court. In this context, it is worth investigating the legal
certainty of the prerogatives conquered by the LGBTQIA+ community
in the face of the activism of conservative groups called “against-gen-
der”. For that, the deductive method was used, through bibliographic
and documental analysis, with a descriptive approach and the discussion
of the problem carried out in a qualitative way. As a result, it was found
that the dissent produced in society about LGBTQIA+ rights through
hate speech, defamation and “moral panic” is harmful to the democrat-
ic rule of law, in addition to promoting setbacks in the jurisprudential
scope.
INTRODUÇÃO
Quando se fala em direitos da comunidade LGBTQIA+ no Bra-
sil, refere-se, basicamente, aos direitos conquistados por ações no Poder
Judiciário, a maioria no Supremo Tribunal Federal (STF). As Casas Le-
gislativas municipais, estaduais e federais pouco se esforçaram para pautar
e discutir o tema. Embora o movimento organizado LGBTQIA+ esteja
presente e atuante nessas esferas, encontra muita dificuldade para discutir
e aprovar projetos que tratam de direitos da comunidade.
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O Brasil vive uma nova era, em que menino veste azul e menina
veste rosa. Essa visão de mundo, senhores ministros, fundada
na ideia, artificialmente construída, de que as diferenças bio-
lógicas entre o homem e a mulher devem determinar os seus
papéis sociais, impõe, notadamente em face dos integrantes da
comunidade LGBT, uma inaceitável restrição de suas liberda-
des fundamentais...13
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Judith Butler: “quando essas vidas são perdidas, não são objeto de la-
mentação, uma vez que, na lógica distorcida que racionaliza sua mor-
te, a perda dessas populações é considerada necessária para proteger
a vida dos vivos”.28
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Por sua vez, o nome social já pode ser utilizado durante aten-
dimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), para fazer a inscrição
no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e em instituições fi-
nanceiras como nos cartões e contas bancárias, ordens de pagamento
e correspondências. Além disso, na administração pública federal e
em algumas estaduais e municipais, que aprovaram decretos ou leis
tratando do tema.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade brasileira, ainda, por dentro das relações de poder,
inflige uma cultura heteronormativa, em que apenas indivíduos sujei-
tos à relação binária homem-mulher são detentores de direitos.
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Notas
1
IOTTI, Paulo apud COSME, Marcelo. Talvez você seja... Desconstruindo a
LGBTFOBIA que você nem sabe que tem. Rio de Janeiro: Planeta, 2022, p.
120-121.
2
KELSEN, Hans. A democracia. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 353.
3
COSME, Marcelo. Op. cit., 2022, p. 116.
4
CALGARO, Fernanda; MAZUI, Guilherme. Bolsonaro diz que vai indicar mi-
nistro ‘terrivelmente evangélico’ para o STF. G1, Brasília, 10 jul. 2019. Disponível
em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/07/10/bolsonaro-diz-que-vai-in-
dicar-ministro-terrivelmente-evangelico-para-o-stf.ghtml. Acesso em: 13 jun. 2022.
5
GALVANI, Giovanna. Após Marco Aurélio, veja quem são os próximos mi-
nistros do STF a se aposentar. CNN Brasil, São Paulo, 12 jul. 2021. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/apos-marco-aurelio-veja-quem-sao-os-pro-
ximos-ministros-do-stf-a-se-aposentar/. Acesso em: 14 jun. 2022.
6
PL nº.5576/2013; PL nº.1959/2011; PL nº.81/2007; PL nº.2665/2007;
PL nº.7052/2006; PL nº.3143/2004; PL nº.5/2003, PL nº.6186/2002; PL
nº.6840/2002; PL nº.5003/2001
7
STF. Plenário. ADO nº 26/DF, Relator Celso de Mello, 13/06/2019.
8
IOTTI, Paulo apud COSME, Marcelo. Op. cit., 2022, p. 122-123.
9
RAWLS, John. The idea of public reason revisited. University of Chicago Law
Review, Chicago, n. 64, 1997, p.182.
10
BAUER, Luciana. Direito hoje. O conceito de razão democrático. TRF4.
Disponível em: https://www.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=pagina_visuali-
zar&id_pagina=2117. Acesso em: 17 jun. 2022.
11
RAWLS, John. Liberalismo político. São Paulo: Ática, 1999, p. 465.
12
BONFIM, Vinicius Silva; PEDRON, Flávio Quinaud. RIL, Brasília, a. 54, n.
214, abr./jun. 2017, p. 214.
13
ALVES, Damares apud COSME, Marcelo. Op. cit., 2022, p. 125.
200
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14
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 5. ed. Lisboa: Calouste Gulben-
kian, 2008, p. xx.
15
KELSEN, Hans. Op. cit., 2000, p. 67.
16
HART, Herbert L. A. apud DOWRKIN, Ronald. The Philosophy of Law. Oxford:
Oxford University Press, 1986, p. 83-88.
17
STF. Plenário. ADO nº 26/DF, Relator Celso de Mello, 13/06/2019.
18
CAMPOS, Marcelo de Souza; QUEIROZ, Marisse Costa de. Difamação e pâ-
nico como estratégia discursiva: análise do discurso conservador sobre os direitos da
comunidade LGBTQIA+. In: VI Simpósio Gênero e políticas públicas, v. 6, 2020, p. 1848.
Disponível em: http://anais.uel.br/portal/index.php/SGPP/article/view/1175.
Acesso em: 27 jul. 2022.
19
Os conceitos relacionados aos direitos sexuais e reprodutivos foram ampla-
mente abordados e institucionalizados, por exemplo, em três conferências promo-
vidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), na década de 1990. São elas:
Conferência de Direitos Humanos de Viena (1993), Conferência sobre População e
Desenvolvimento do Cairo (1994) e a IV Conferência Mundial sobre a Mulher de
Pequim (1995).
20
PIOVESAN, Flavia. Temas de direitos humanos. São Paulo: Max Limonad, 2003,
p. 247.
21
BARROCO, Maria Lúcia Silva apud FERREIRA, Guilherme Gomes. Conser-
vadorismo, fortalecimento da extrema-direita e a agenda da diversidade sexual e de
gênero no Brasil contemporâneo. Lutas Sociais, v. 20, n. 36, 2016, p. 52. Disponível
em: https://revistas.pucsp.br/index.php/ls/article/view/31855/pdf. Acesso em: 19
jun. 2022.
22
CAMPOS, Marcelo de Souza; QUEIROZ, Marisse Costa de. Op. cit., 2020,
p. 1848.
23
A palavra backlash pode ser traduzida como uma forte reação por um grande
número de pessoas a uma mudança ou evento recente, no âmbito social, político ou
jurídico. Conceito de Nunes Júnior citado por Eliseu Antônio da Silva Belo.
201
PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
24
MISKOLCI, Richard. Pânicos morais e controle social – reflexões sobre o ca-
samento gay. Cadernos pagu (28), janeiro-junho 2007, p. 114. Disponível em: https://
www.scielo.br/j/cpa/a/tWFyRWkCdWv4Tgs8Q6hps5r/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em: 20 jun. 2022.
25
ORSI, Carlos. “Ameaça a nossos filhos”? Cuidado com o pânico moral. Apo-
calipse Now, 5 dez. 2018. Disponível em: https://revistaquestaodeciencia.com.br/
apocalipse-now/2018/12/05/ameaca-nossos-filhos-cuidado-com-o-panico-moral.
Acesso em: 27 jun. 2022.
26
MISKOLCI, Richard. Op. cit., 2007, p. 114.
27
COSME, Marcelo. Op. cit., 2022, p. 116.
28
BUTLER. Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2015, p. 53.
29
AGÊNCIA ESTADO. Bolsonaro: próximo passo será legalização da pedo-
filia. G1¸Brasília, 07 mai. 2011. Disponível em: https://g1.globo.com/brasil/noti-
cia/2011/05/bolsonaro-proximo-passo-sera-legalizacao-da-pedofilia.html. Acesso
em: 03 jul. 2022.
30
DIRETAS JÁ. Jair Bolsonaro no programa “Agora é tarde”. You Tube, 2014.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3yxvUIp8GnY. Acesso em: 03
jul. 2022.
31
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1970, p.
231.
32
ESTADO DE MINAS. Bolsonaro: ‘Ninguém gosta de homossexual, a gente suporta’.
Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2021/10/30/inter-
na_politica,1318523/bolsonaro-ninguem-gosta-de-homossexual-a-gente-suporta.
shtml. Acesso em: 11 jul.2022.
33
SILVA, T. T. Documento de identidade: uma introdução às teorias do currículo.
Belo Horizonte: Autêntica, 2002, p. 78-79.
34
TERRA MAGAZINE apud SILVA, T. T. Op. cit., 2002, p.78-79.
35
SILVA, T. T. Op. cit., 2002, p. 78-79.
202
PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
36
POPKEWITZ, T. S. apud SILVA, T. T. (org). O sujeito da educação – estudos fou-
caultianos. Petrópolis: Editora Vozes, 1994, p. 89.
37
SILVA, T. T. Op. cit., 2002, p. 79.
38
COSME, Marcelo. Op. cit., 2022, p. 12.
39
STF. Plenário. ADO nº 26/DF, Relator Celso de Mello, 13/06/2019.
40
BBC News. Suprema Corte dos EUA revoga direito ao aborto: como decisão
repercutiu entre políticos e celebridades. Brasil, 24 jun. 2022. Disponível em: ht-
tps://www.bbc.com/portuguese/internacional-61931286. Acesso em: 18 jul. 2022.
41
A expressão absolutismo democrático se refere ao regime democrático formal-
mente instituído pelo direito, mas dominado pelo absolutismo político (facticidade
do direito) que, por sua vez, é coordenado pelo absolutismo filosófico e religioso.
42
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 236.
43
RAWLS, John. Liberalismo político. São Paulo: Ática, 1999, p. 262.
44
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979, p. 14.
45
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RAWLS, John. The idea of public reason revisited. University of Chicago Law
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205
A SUBMISSÃO DA ORDEM DOS ADVOGADOS
DO BRASIL (OAB) AO TRIBUNAL DE CONTAS
DA UNIÃO (TCU):
DIVERGÊNCIA TEÓRICA E ASPECTOS PRÁTICOS
Rodrigo Marques Pimentel1
RESUMO
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ao ser alçada ao pata-
mar constitucional com a edição da Constituição Cidadã (1988), ultrapas-
sou o regime jurídico das entidades de classe em sentido estrito e alcançou
status constitucional de entidade sui generis. Para além do apreço jurídico
envolto à conjectura, à regulamentação da advocacia no país e ao papel
de regulador e fiscalizador dos Poderes da República, a Ordem se viu en-
volta à discussão sobre a submissão ao dever de prestar contas aos órgãos
de controle, entre os quais está o Tribunal de Contas da União (TCU),
instituição federal incumbida de verificar e aprovar as contas de outras
importantes instituições da República, sobretudo aquelas cuja fonte ar-
recadatória possuem caracterização federal. Não se pode olvidar que o
dever, indiretamente, é interpretado por alguns juristas como limitação
da sua própria autonomia, que deveria ser ampla, por se enquadrar como
autarquia, forma jurídica própria das entidades classistas. Ocorre que tal
preceito não pode justificar a não aplicação dos princípios constitucionais
da transparência e da moralidade à entidade, que, ao ter a si atribuído
maior poder e responsabilidade, deve zelar pela plena aplicação da Lei
1 Procurador do Estado do Amapá e Advogado, Mestrando em Administração Pública pelo IDP, Pós-Graduado em
Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2021), Especialista em Direito Público pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2018) Graduação em Direito pela Faculdade Católica do Tocantins
(2016). Como advogado atua nas áreas Cível, Consumidor, Família e Eleitoral. Como Procurador do Estado atua nas
áreas de consultoria jurídica e é o Procurador-Chefe da Central de Licitações da PGE-AP desde outubro de 2020.
207
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ABSTRACT
The Brazilian Bar Association (Ordem dos Advogados do Brasil
- OAB), raised to a constitucional level with the edition of the Brazilian
“Citizen” Constitution (1988), surpassed the legal regime of class entities
in strict sense and reached a constitucional status of a sui generis entity. In
addition to the legal appreciation involved, the regulation of lawyers and
the role of Republican Power’s supervisor, the Order found itself involved
in the discussion about its submission to the render accounts to control
bodies, in which are the Federal Audit Court (Tribunal de Contas da
União - TCU), an institution in charge of verifying and approving the ac-
couts of other importante Republic Institutions, especially those whose fi-
nancial sources come from federal resources. The duty to render accounts,
indirectly, leads to a misinterpretation of some jurists in the sense the en-
tity is limiting its own autonomy, given its legal model of a class entity. In
the other sense, this cannot justify the non-application of constitucional
principles, such as transparency and morality, mainly because OAB, with
more power and responsabilities, must ensure the full application of Law
and Justice, being also subject to the constitutional regulations. Thus, the
only way that may led the Order to fully achieve its constitutional role,
when exercising its rights and prerogatives, it is being submitted to TCU
control, associated with the fulfillment of its republican duties.
Keywords: Brazilian Bar Association. Federal Audit Court. Su-
pervision. legal control. Constitutional Order.
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INTRODUÇÃO
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entidade criada por
Brasil (1930)1, por meio do Decreto nº 19.408, de 18 de novembro
de 1930, pelo então Presidente Getúlio Vargas, foi alçada ao patamar
constitucional por meio da Constituição Federal Brasileira de 1988.
Fundada com o fito de regulamentar a profissão de advogado no Bra-
sil, ampliou seu escopo de atuação após ter a si atribuída, com a pro-
mulgação da Constituição Cidadã, a defesa da ordem jurídica, do Es-
tado Democrático de Direito e da Constituição, sendo, ainda, entidade
essencial ao funcionamento da Justiça, âmbito no qual exerce controle
e colaboração.
Tendo em vista a ausência de normatização definitiva a respei-
to da sua natureza jurídica e a dúvida a respeito dos limites de atuação
dessa entidade que, originariamente, deveria representar uma classe
profissional, mas que se tornou verdadeiro pilar da República Fede-
rativa do Brasil, faz-se crucial analisar os espectros de sua atuação.
Inclusive no tocante à fiscalização financeiro-orçamentária pelo Tribu-
nal de Contas da União (TCU), de modo a exercer controle sobre os
atos praticados pela entidade sui generis, o que decerto traz implicações
políticas e jurídicas sobre a própria entidade.
Envolto a esse contexto, o presente art. visa analisar a legalida-
de e a constitucionalidade da fiscalização da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB) pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A discus-
são a esse respeito se faz necessária, tendo em vista se tratar de uma
questão polêmica, uma vez que a submissão à fiscalização da Corte de
Contas depende da definição prévia e precisa da natureza jurídica da
OAB, bem como do julgamento definitivo da constitucionalidade des-
sa medida, que não é pacificado na jurisprudência pátria atualmente.
Há, ao contrário, extensa divergência que põe em xeque a legalidade
da fiscalização, que certamente trará impactos a todos os profissionais
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S PARTICIPANTES DA ADMINISTRAÇÃO
O
PÚBLICA BRASILEIRA ATUAL E SUA
DIVERSIDADE DE ATUAÇÃO
A Administração Pública Brasileira sofreu diversas reformas
nas décadas de 1990 e 2000, imputando-a um viés liberal, com maior
participação da iniciativa privada na oferta de serviços, bem como da
desestatização de diversos serviços públicos, entre os quais o de explo-
ração de energias hidroelétricas e dos aeroportos, que até então eram
exercidos exclusivamente em regime público.
Cita-se como exemplo o caso da desestatização da Telebrás,
que exercia o monopólio das telecomunicações do Brasil e era res-
ponsável por implementar políticas públicas de telecomunicações no
país. Com o objetivo de universalizar as telecomunicações, a empre-
sa foi desestatizada em 1998, abrigando-se, dessa maneira o mercado
privado. Da mesma maneira, a empresa Vale do Rio Doce, uma das
maiores mineradoras do planeta.
Nesse viés, para fiscalizar as empresas privadas que ofere-
cem serviços públicos ou serviços de uso universal, foram criadas as
agências reguladoras, entidades dotadas de certa autonomia técnica,
chefiadas por um presidente dotado de mandato temporário e que
estabelecem normativas e regulamentações sobre a oferta e o uso
de serviços no escopo de suas atuações, sobretudo no tocante à li-
berdade de atuação das empresas privadas naquele segmento. Estas
entidades ostentam o caráter de autarquias em regime especial, con-
ceito jurídico construído pela doutrina majoritária administrativista
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Administração Pública Brasileira atual é muito mais comple-
xa do que a que vigeu sobre outras constituições. O principal fato que
corrobora a assertiva é a participação de diversas entidades privadas
fornecendo serviços públicos. Em tempos de estabilidade constitucio-
nal, de consolidação do princípio republicano e do amadurecimento
das instituições, nota-se que o dever de transparência aos cidadãos é
algo intrínseco às finalidades institucionais de qualquer instituição pú-
blica ou privada prestadora de serviços públicos. A importância da
matéria possui alçada constitucional, sendo o princípio da publicidade
expressamente indicado no texto da carta magna brasileira.
Em uma análise aprofundada, observa-se que OAB é uma en-
tidade de caráter constitucional, com características que a aproximam
de uma autarquia, constituindo-se na forma de uma autarquia espe-
cial de caráter constitucional. O fato de ser autarquia, em momento
algum, torna-a menos independente ou a submete a alguma ordem na
administração direta. Ao contrário, justamente para dar independên-
cia à entidade que o legislador brasileiro delegou a algumas instituições
a roupagem de autarquia, para que possam exercer suas atividades de
maneira plena.
231
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232
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Notas
da República, 1967.
5
TCU. TC nº 015.720/2018-7 – Acórdão nº 2573/2018 - Plenário. Relator: Minis-
tro Bruno Dantas. Brasília/DF. DJ: 07/11/2018. Portal do Tribunal de Contas da
União [online], p. 38.
6
BRASIL. Decreto nº 19.408, ..., cit.
7
BRASIL. Lei nº 4.215, de 27 de abril de 1963. Brasília (DF): Senado Federal, 1963.
8
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. São Paulo (SP): Ma-
lheiros, 2007, p. 613.
1994, art. 44
10
BRASIL. Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998. Brasília/DF: Senado Federal, 1998.
233
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15
STF. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3026. Relator: Ministro Eros Grau.
Brasília/DF. DJ: 08/06/2006. Portal Jusbrasil [online], p. 02.
16
STF. Recurso Extraordinário nº 595332. Relator: Ministro Marco Aurélio. Brasí-
lia/DF. DJ: 31/08/2016. Portal Jusbrasil [online], p. 01.
17
CAVALCANTE. Marcio Andre Lopes. PROCON tem legitimidade para ajuizar
ação civil pública ..., cit., p. 02.
18
STF. Mandado de Segurança nº 36.376. Relatora: Ministra Rosa Weber. Brasília/
DF. DJ: 07/06/2019. Portal Jusbrasil [online], p. 01.
19
STF. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3026. Relator: Ministro Eros Grau.
Brasília/DF. DJ: 08/06/2006. Portal Jusbrasil [online], p. 01.
20
STF. Recurso Extraordinário nº 595332. Relator: Ministro Marco Aurélio. Brasí-
lia/DF. DJ: 31/08/2016. Portal Jusbrasil [online], p. 01.
21
STF. Recurso Extraordinário nº 1182189. Relator: Ministro André Mendonça.
Brasília/DF. DJ: 30/09/2020. Portal do Supremo Tribunal Federal [online], p. 01.
22
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.
Brasília/DF: Senado Federal, 1988, art. 71.
23
TCU. TC nº 015.720/2018-7 ..., cit., p. 38.
24
TCU. TC nº 015.720/2018-7 ..., cit., p. 51.
25
TCU. TC nº 015.720/2018-7 ..., cit., p. 54.
26
TCU. TC nº 015.720/2018-7 ..., cit., p. 57.
27
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil..., cit., art. 71.
Referências
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CAVALCANTE. Marcio Andre Lopes. PROCON tem legitimidade para ajuizar ação
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www.dizerodireito.com.br/2022/05/procon-tem-legitimidade-para-ajuizar.html>.
Acesso em: 26 mai. 2022.
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SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. São Paulo (SP): Malhei-
ros, 2007.
STF. Mandado de Segurança nº 28469. Relator: Ministro Luiz Fux. Brasília/DF. DJ:
09/06/2015. Portal Jusbrasil [online]. Disponível em: <https://stf.jusbrasil.com.br/
jurisprudencia/23508259/segundo-agreg-em-mandado-de-seguranca-ms-28469-d-
f-stf/inteiro-teor-111732872>. Acesso em: 30 mai. 2022.
236
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237
O DIREITO DE REGRESSO E A TEORIA DO
FATO JURÍDICO
Pedro Monteiro Dória1
RESUMO
O presente artigo analisa o direito de regresso e da teoria do
fato jurídico propondo, mediante uma leitura sistemática da doutri-
na e da análise jurisprudencial, uma interpretação coesa acerca da
responsabilidade civil perante a Administração Pública. O dever es-
tatal de reparação é iniciado no instante em que um dano é causado
a terceiros devido aos atos ou omissões cometidos por seus agentes no
desempenho de sua função. A Constituição Federal é clara ao deter-
minar que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito priva-
do, prestadoras de serviços públicos, responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurando o direito
de regresso contra o responsável, em caso de dolo e culpa. Contudo,
nota-se que a aplicação de tal dispositivo ignora a capacidade finan-
ceira do servidor público, o causador do dano. Trata-se, portanto, de
uma garantia constitucional do servidor público que traz a urgência
de ser observada.
Palavras-chaves: Administração Pública. Ressarcimento. Ação
Regressiva.
1 Procurador do Estado do Amapá, graduado em Direito pelo Centro Universitário CESMAC, FEJAL, e especialista
em Direito Público pela Universidade Anhanguera.
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ABSTRACT
The present work analyzes the right of return and the theory
of the legal fact proposing, through a systematic reading of the doc-
trine and jurisprudential analysis, a cohesive interpretation about civil
liability before the Public Administration. The State’s duty of repara-
tion begins the moment damage is caused to third parties due to the
acts or omissions committed by its agents in the performance of their
duties. The Federal Constitution is clear in determining that legal enti-
ties governed by public law and those governed by private law, provid-
ers of public services, will be liable for the damages that their agents,
in this capacity, cause to third parties, ensuring the right of recourse
against the person responsible, in case of deceit and guilt. However,
it is noted that the application of such a device ignores the financial
capacity of the public servant, the cause of the damage. It is, therefore,
a constitutional guarantee of the public servant that urgently needs to
be observed.
Keywords: Public Administration. Refund. Regressive Action.
DO DIREITO DE REGRESSO
O reconhecimento da responsabilidade do Estado, pelos atos
lesivos de seus agentes, está previsto no art. 37. § 6º da Constituição
Federal, expressis verbis:
240
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Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode
reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o
causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamen-
te incapaz.
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Já vimos quais são os elementos comuns aos atos ilícitos lato sen-
su: ato humano e contrariedade a direito. O ato ilícito stricto sensu
tem a particularidade de violar, com culpa, a regra jurídica.
(grifos meus)
(...)
É ilícito stricto sensu, portanto, todo ato ilícito que ofenda direito
subjetivo ou cause outros danos. Não estão em foco regras jurí-
dicas que incidam sobre atos-fatos, ou fatos atos ilícitos.
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DA CULPA IN ELIGENDO
A culpa in eligendo advém da má escolha daquele em quem se
confia à prática de um ato ou o adimplemento da obrigação. A culpa
in eligendo, em ação regressiva, deve se ater às situações em que o servi-
dor exerce atividade, por ordem superior, que exorbita sua capacidade
ou qualificação.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, a responsabilidade civil, mesmo objetiva, não pode
existir sem a relação de causalidade entre o dano e a conduta do agen-
te (servidor público). Nessa perspectiva, deve-se ressaltar que o nexo
causal exerce uma dupla função no âmbito da responsabilidade civil.
A primeira é a imputação jurídica do resultado danoso ao res-
ponsável, ou seja, determinar o autor do dano.
A segunda consiste na limitação das verbas indenizatórias para
verificar sua extensão, pois serve como medida de indenização, uma
vez que somente será indenizado o dano efetivamente causado pela
ação do servidor.
Vale lembrar que a antijuridicidade da conduta que gerou o
dano e o seu valor já indenizado se encontram cobertos pela coisa
julgada
Por consequência, as características econômicas do servidor
público causador do dano, final destinatário da dívida, devem ser con-
sideradas no quantum indenizatório conforme disposto no artigo 37, §6
da Constituição Federal.
Entretanto, a interpretação atual ignora a situação econômica
do servidor. Esse entendimento deve ser considerado inconstitucional,
injusto, e, na prática, também inviável. Exemplo disso são as situações
em que servidores públicos, mesmo quando beneficiados pelo parcela-
mento da Lei nº 4619 de 1965, restam responsáveis por indenizações
absolutamente desproporcionais a sua capacidade econômica, deixan-
do a maior parte da indenização sob a tutela do erário público.
251
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Notas
1
CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. 2ª
ed. Vol. IV, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1992.
2
ROCHA, Carmen Lúcia Antunes. Observações sobre a Responsabilidade Pa-
trimonial do Estado. Revista de Informação Legislativa, a. 28, n. 111, jul./set. 1991,
Brasília: Senado Federal – Subsecretaria de Edições Técnicas.
3
Tratado de direito privado / Pontes de Miranda. 3 ª ed. São Paulo: Ed. Revista
dos Tribunais, 1984.
4
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 6ª ed. São
Paulo: Malheiros, 2005. p. 59
5
VARELA, João de Matos Antunes. Das Obrigações em Geral, Vol. I. 10ª ed.
Coimbra: Almedina, 2000. p. 529.
6
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral – Fatos, atos e negócios
jurídicos. 5ª.ed. São Paulo: Atlas, 2005.
7
STJ, 1ª Turma, AgRg no Resp 1.182.07/PE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j.
15.10.2013, Dje 22.10.2013.
8
Repercussão Geral tema 940 - Responsabilidade civil subjetiva do agente pú-
blico por danos causados a terceiros, no exercício de atividade pública. A teor do
disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por
agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito
privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor
do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
culpa. (RE 1027633, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em
14/08/2019, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRI-
TO DJe-268 DIVULG 05-12-2019 PUBLIC 06-12-2019)
9
Cunha, Leonardo Carneiro da – A Fazenda Pública em juízo / Leonardo Car-
neiro da Cunha. 13ª ed., totalmente reformulada. Rio de Janeiro; Forense, 2016. p.
172 e 173.
254
PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
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bra: Almedina, 2000.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral – Fatos, atos e negócios jurídicos. 5ª
ed. São Paulo: Atlas, 2005.
255
O ESTUDO DO PRECEDENTE FIRMADO NA ADI 4636 E NO TEMA
1074 DA REPERCUSSÃO GERAL NO RE 1.240.999/SP:
A INCONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA DE INSCRIÇÃO
DO DEFENSOR PÚBLICO NOS QUADROS DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL
RESUMO
O foco deste artigo é o estudo do precedente firmado na ADI
4636 e no Tema 1074 da repercussão geral no RE 1.240.999/SP. Seu
objetivo é expor, à luz da doutrina e da jurisprudência, a função e o
uso do precedente em casos posteriores como meio de consolidação
dos seus elementos. A relevância do estudo se mostra na capacidade
de um precedente gerar uma ratio decidendi instantânea e outras por
meio de interpretação do próprio precedente em decisões posteriores.
A metodologia utilizada foi a da pesquisa bibliográfica e documental.
Ao interpretar o precedente concluímos que uma das ratio decidendi é a
de que o Defensor Público não é Advogado. Essa premissa aliada ao
obter dictum referente aos honorários advocatícios e ao preenchimento
de vagas em tribunais reservadas aos advogados, levou-nos a outras
conclusões cujo conteúdo pode se tornar uma nova ratio decidendi.
Palavras-chave: Teoria dos precedentes. Controle de constituciona-
lidade. ratio decidendi e obter dictum. Defensoria Pública. Inscrição na OAB.
1 Mestrando em Direito de Acesso à Justiça e Direito ao Desenvolvimento pela Unichristus, especialista em Direito Ad-
ministrativo pela PUC-MINAS e em Direito Processual pela Damásio, membro do Comitê técnico da Revista Síntese
de Direito Administrativo, Procurador do Estado do Amapá e Advogado.
2 Pós-Graduada em Advocacia Pública pela AVM – Faculdade Integrada e IDDE – Instituto para o Desenvolvimento
Democrático, em parceria com a ANAPE; Pós-Graduanda em Direito Processual Civil pela Faculdade Damásio,
Pós-Graduada em Direito Civil e Empresarial com capacitação para Ensino Superior pela Faculdade IBMEC de São
Paulo e Pós-Graduada em Direito Administrativo pela PUC-Minas. Procuradora do Estado do Amapá e Advogada.
257
PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
ABSTRACT
The focus of this article is the study of the precedent estab-
lished in ADI 4636 and in Theme 1074 of the general repercussion
in RE 1.240.999/SP. Its objective is to expose, in the light of doctrine
and jurisprudence, the function and use of precedent in later cases as
a means of consolidating its elements. The relevance of the study is
shown in the ability of a precedent to generate an instantaneous ratio
decidendi and others through the interpretation of the precedent itself
in later decisions. The methodology used was bibliographic and doc-
umental research. When interpreting the precedent, we conclude that
one of the ratio decidendi is that the Public Defender is not a Lawyer.
This premise, combined with obter dictum regarding attorney fees and
filling vacancies in courts reserved for lawyers, led us to other conclu-
sions whose content could become a new ratio decidendi.
Keywords: Theory of precedents. Review of constitutionality.
ratio decidendi and obter dictum. Public Defense. Registration at the OAB.
INTRODUÇÃO
A ideia desse estudo se originou da publicação de decisões do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) referente à constante impugnação
de defensores públicos contra a inscrição na Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) e a compulsoriedade do pagamento da anuidade para a
entidade de classe.
Desenvolvemos o presente texto levando em consideração a ju-
risprudência do Superior Tribunal de Justiça entendendo que o Defensor
Público não é Advogado, tendo em vista que a ele não se aplica o §1º do
art. 3º da Lei nº. 8.906/1994 (Estatuto da OAB). Contra essas decisões o
Conselho Federal da OAB e a OAB/SP interpuseram recurso extraordi-
nário para o Supremo Tribunal Federal (STF), neles as entidades defen-
deram que o Defensor Público é Advogado e deve estar inscrito na OAB
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estudioso do tema. Dessa forma fica até mais fácil saber o que é obter
dictum e o que é ratio decidendi.
A divergência de entendimento é importante até mesmo para
se compreender no momento histórico do tribunal quais julgadores
firmaram o precedente e quais foram desfavoráveis. No Tema 1.074
da repercussão geral no RE 1.240.999/SP a tese firmada é: “É incons-
titucional a exigência de inscrição do Defensor Público nos quadros da
Ordem dos Advogados do Brasil.” O fato jurídico foi debatido assim
como outras premissas que nortearam o entendimento da maioria dos
ministros que acompanharam o Relator Ministro Alexandre de Mo-
raes, caso dos Ministros Edson Fachin, Ricardo Lewandowski, Celso
de Mello, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Gilmar Mendes e
Roberto Barroso. Abriu divergência o Ministro Marco Aurélio ao pro-
por a tese no sentido de que “[é] constitucional a exigência de inscri-
ção, na Ordem dos Advogados do Brasil, dos defensores públicos.” Em
seguida, o Ministro Dias Toffoli seguiu a divergência. Muito embora
vencidos, estes ministros trouxeram ao debate, consta no acórdão, fa-
tos históricos para considerar o Defensor Público um Advogado, de
leitura imprescindível.
A tarefa dos julgadores é muito técnica e requer conhecimento
de institutos necessários à identificação do precedente em sua intimida-
de com o fim de utilização mais próxima possível da sua realidade quan-
do se depara com caso análogo, mas não idêntico. Quando as partes
fazem, analiticamente, a compatibilidade entre a pretensão deduzida na
causa e o precedente que se deseja utilizar para que a demanda tenha
uma solução no mesmo sentido fica mais fácil para o julgador, o que
nem sempre ocorre. Detectada a compatibilidade do precedente com
a causa que se está a julgar, do precedente se extrai a ratio decidendi e o
obter dictum. São duas peças importantes para a teoria dos precedentes
do Common Law e do Civil Law, sendo bem mais para o primeiro. Tam-
bém importante para a teoria dos precedentes no Brasil para se saber de
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INCONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA
A
DE INSCRIÇÃO DO DEFENSOR PÚBLICO NOS
QUADROS DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO
BRASIL
Não é de agora que alguns defensores públicos vêm ajuizando
ações judiciais com intento de se ver excluídos da exigência de pagamento
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(...)
É como voto.
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(...)
7. Não há norma constitucional que preveja a obrigatoriedade
de inscrição dos defensores públicos nos quadros da OAB. Ao
contrário, as disposições constitucionais pertinentes tutelam a
autonomia da Defensoria Publica, inclusive em face dos Poderes
do Estado, decorrendo a capacidade postulatória dos defensores
diretamente da Constituição e do vínculo funcional ex lege que
possuem com o Estado.
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(...)
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III. CONCLUSÃO
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(...)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do tema proposto foi de grande satisfação,
por termos passado por diversas áreas de estudo da teoria dos prece-
dentes. O objetivo não era exaurir o tema, contudo podemos interpre-
tar o precedente e identificar a ratio decidendi, o obter dictum, as premissas,
o valor do voto divergente, dentre outros elementos do precedente ca-
pazes de possibilitar o uso em decisões posteriores.
Ao leitor esperamos ter chegado às mínimas conclusões refe-
rentes à possibilidade de interpretação do precedente e verificação da
força do precedente com maior densidade quando o fato jurídico é
mais bem abordado do que apenas a interpretação de lei em tese. Isso
pôde ser apresentado por ter o Supremo Tribunal Federal realizado o
controle difuso e abstrato de constitucionalidade sobre o mesmo tema.
A conclusão do STF ao firmar a tese de inconstitucionalidade da
exigência de inscrição do Defensor Público nos quadros da Ordem dos
Advogados do Brasil não limita a academia e o julgador posterior apenas
à tese. O uso nos casos posteriores requer a interpretação do precedente
de maneira adequada e fundamentada. Interpretação essa que nos possi-
bilitou visualizar dois casos hipotéticos, passíveis de concretização em ca-
sos posteriores, no obter dictum extraído do voto do Ministro Marco Aurélio
e Ministro Roberto Barroso. No primeiro tratou-se das vagas privativas
de Advogado para tribunais. Chegamos à conclusão de que o precedente
passou a excluir o Defensor Público dessa disputa na vaga privativa de Ad-
vogado. No segundo emitiu-se uma opinião no sentido de ser a Defenso-
ria Pública equiparada ao Ministério Público. Partindo-se dessa premissa,
por não serem devidos honorários aos membros do parquet, por não ser o
Defensor um Advogado, é indevido o pagamento dessa verba aos mem-
bros da Defensoria Pública. O obter dictum de hoje pode ser a ratio decidendi
de amanhã. Os casos hipotéticos citados merecerão o uso do precedente
vinculante firmado pela corte e o julgador está autorizado a interpretá-lo
segundo as premissas fixadas.
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Notas
1
Eis aqui dois artigos que exprimem bem a essência do precedente no CPC/2015.
O primeiro trata da persuasão do precedente e da necessidade de observância
do precedente na formação de uma tese (sumular, em repercussão geral e etc.):
“Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável,
íntegra e coerente. § 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados
no regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes
a sua jurisprudência dominante. § 2º Ao editar enunciados de súmula, os
tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram
sua criação.” O outro dispõe sobre os precedentes vinculantes de observância
pelo julgador: “Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do
Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; II - os
enunciados de súmula vinculante; III - os acórdãos em incidente de assunção de
competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos
extraordinário e especial repetitivos; V - os enunciados das súmulas do Supremo
Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em
matéria infraconstitucional; V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos
quais estiverem vinculados. § 1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no
art. 10 e no art. 489, § 1º, quando decidirem com fundamento neste artigo. § 2º A
alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de
casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de
pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese. § 3º
Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal
e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos,
pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança
jurídica. § 4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada
ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de
fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança
jurídica, da proteção da confiança e da isonomia. § 5º Os tribunais darão publicidade
a seus precedentes, organizando-os por questão jurídica decidida e divulgando-os,
preferencialmente, na rede mundial de computadores.
2
Sem impugnação ao seu fundamento de validade na Constituição Federal, pois aí
teríamos a possibilidade de conhecimento da matéria pelo Supremo Tribunal Federal.
3
“Não obstante a inviabilidade de equiparação dos dois sistemas, a doutrina
sugere a possibilidade de se criar uma teoria geral do precedente mais ampla, não
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adstrita apenas ao common Law, a partir da análise do precedente sob quatro aspectos,
quais sejam: dimensão institucional, dimensão objetiva, dimensão estrutural e
dimensão da eficácia” (THEODORO JUNIOR, Humberto; ANDRADE, Érico.
Precedentes no Direito Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense. 2021, p. 70).
4
CPC/2015, art. 927: “§ 5º Os tribunais darão publicidade a seus precedentes,
organizando-os por questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na
rede mundial de computadores.
5
CPC/2015: “Art. 489. (...) §1º. Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (...) V - se limitar a invocar
precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes
nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;”
6
Em tradução livre: “O Tribunal de Recursos analisa apenas as questões de direito
decididas pelos tribunais de instância inferior, exceto para duas situações em que o
tribunal pode rever os fatos. A primeira delas é um apelo de um julgamento criminal
que impõe a pena de morte. O outro é um recurso de um tribunal de apelação da
Divisão de Apelação, ou seja, de um dos quatro tribunais de apelação intermediários
revertendo ou modificando uma sentença, encontrando novos fatos ou determinando
que uma decisão final seja proferida sobre novos fatos” (MACCORMICK, D. Neil;
SUMMERS, Robert S.; GOODHAT, Arthur L. Interpreting precedents. Great
Britain: Aushgate Publishing Limited, 1997, pp. 357-358). Como é de se observar,
para o Tribunal de Recursos Americano, o fato jurídico é determinante para saber
se aplica ou não um precedente tratando questão apenas de direito. O fato jurídico
pode ser determinante na manutenção de uma pena de morte, por exemplo.
7
STF: AgRg-AI 737.185; Rel. Min. Dias Toffoli; DJe 19.12.2012; p. 18.
8
Em tradução livre: “Os tribunais intermediários normalmente tratam os dicta
dos tribunais superiores - aqueles em precedentes verticais - com mais respeito do que
os seus próprios, não apenas por causa da posição do tribunal superior, mas também
porque os dicta de hoje são uma indicação do que pode muito bem ser o precedente
vinculativo de amanhã” (GARNER, Brayan A. The law of judicial precedent. St. Paul:
Thomson Reuters. 2016, pp. 69-70).
9
THEODORO JUNIOR, Humberto; ANDRADE, Érico. Precedentes no Direito
Brasileiro, cit., p. 95.
10
“A situação é exatamente a mesma em que o julgador, ao analisar qualquer lei
nova, tem de verificar, segundo a constituição, se os fatos anteriores discutidos no
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processo estão ou não sob a sua regência: se estão, a lei nova será observada; se não, a
causa será julgada segundo a lei velha, vigente ao tempo do fato constante do objeto
litigioso” (THEODORO JUNIOR, Humberto; ANDRADE, Érico. Precedentes no
Direito Brasileiro, cit., p. 117).
11
Pode-se extrair da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileira a seguinte
regra: “Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,
quanto à validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja
produção já se houver completado levará em conta as orientações gerais da época,
sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem
inválidas situações plenamente constituídas. Parágrafo único. Consideram-se
orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos públicos de
caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as
adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.”
12
“Art. 525. (...) § 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo,
considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial
fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido
pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em
controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. § 13. No caso do § 12, os
efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal poderão ser modulados no tempo,
em atenção à segurança jurídica. § 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal
referida no § 12 deve ser anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda. §
15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão
exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado
da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.”
13
“Os membros das Defensorias Públicas, conquanto exerçam atividade
assemelhada à advocacia, possuem peculiaridades que justificam que a eles seja
dispensado tratamento diverso, inclusive com a inexigibilidade de sua inscrição nos
quadros da Ordem dos Advogados do Brasil, na medida em que a sua capacidade
postulatória decorre da nomeação e posse no referido cargo público”. Precedentes:
AgInt no Resp. 1.652.953/PR, Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO, DJe 17.12.2018;
AgInt no Resp. 1.670.310/SP, Rel. Min. OG FERNANDES, DJe 11.3.2019; Resp.
1.710.155/CE, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 2.8.2018; AgInt no REsp
1654495/ES, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 26/08/2019, DJe 28/08/2019
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14
Essa afirmação consta no voto do Ministro Roberto Barroso (p. 10).
15
“Essa separação estrutural entre texto e norma trouxe dois benefícios
bastante significativos: (i) permitiu a declaração de inconstitucionalidade de norma
ou interpretação, preservando-se o texto legal ou a lei, e (ii) favoreceu a práxis
da interpretação de conformação ou de adequação do sentido do texto legal à
Constituição” (MARINONI, Luiz Guilherme. A ética dos precedentes. São Paulo:
RT, 2014, p. 54).
16
“O autor destaca, daí, uma série de argumentos, que constituem, em sua
proposição, obter dictum: os que tratem de princípios jurídicos, os que valorem
outros comandos ou os que valorem as consequências da norma favorecida e suas
alternativas” (MACÊDO, Lucas Buril. Precedentes judiciais e o direito processual civil. 3.
Ed. Salvador: Juspodivm. 2019, p. 252)
17
GARNER, Brayan A. The law of judicial precedent, cit., p. 45.
18
apud LOPES FILHO, Juraci Mourão. Os precedentes judiciais no constitucionalismo
brasileiro contemporâneo. 3ª Ed., Salvador: Juspodivm, 2021, pp. 441-442.
19
LOPES FILHO, Juraci Mourão. Os precedentes judiciais no constitucionalismo
brasileiro contemporâneo, cit., p. 354.
20
MACÊDO, Lucas Buril. Precedentes judiciais e o direito processual civil, cit., p. 255.
21
Essa foi a conclusão do STF no julgamento de diversas ADIs propostas contra
a percepção de honorários por advogados públicos. A Corte Constitucional fixou a
tese de que os honorários sucumbenciais são devidos aos advogados públicos, como
remuneração, submetendo-se sua percepção ao limite do teto constitucional do
funcionalismo público (art. 37, XI da CRFB/1988). Precedentes: ADIs 6165, 6178,
6181, 6197, 6053.
22
Conselho Federal da OAB - Súmula 8 - Os honorários constituem direito
autônomo do advogado, seja ele público ou privado. A apropriação dos valores
pagos a título de honorários sucumbenciais como se fosse verba pública pelos Entes
Federados configura apropriação indevida.
23
“(...) 1. No direito brasileiro, os honorários de qualquer espécie, inclusive os
de sucumbência, pertencem ao advogado, e o contrato, a decisão e a sentença que
os estabelecem são títulos executivos. Incidência da Súmula 306/STJ. 2. Tratando-
se de direito autônomo, o advogado é parte legítima para defender os honorários
que titulariza quando ameaçados em razão da propositura de demanda rescisória.
3. O capítulo da sentença referente aos honorários está indiscutivelmente atrelado
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Para a formação desse precedente administrativo, a Administração Pública
em algumas “situações, tanto em processo quanto em procedimento administrativo,
também são capazes de realizar essa mediação entre Direito e realidade na formulação
de respostas institucionais a um caso concreto, seja na tomada de decisões ou na
expedição de pareceres e respostas a consultas” (LOPES FILHO, Juraci Mourão;
BEDÊ, Fayga Silveira. A força vinculante dos precedentes administrativos e o seu
contributo hermenêutico para o Direito. A&C – Revista de Direito Administrativo &
Constitucional, Belo Horizonte, ano 16, n. 66, p. 239-265, out./dez. 2016. DOI:
10.21056/aec.v16i66.367, p. 244).
Referências
GARNER, Brayan A. The law of judicial precedent. St. Paul: Thomson Reuters, 2016.
MACÊDO, Lucas Buril. Precedentes judiciais e o direito processual civil. 3ª ed. Salvador:
Juspodivm, 2019.
MARINONI, Luiz Guilherme. A ética dos precedentes. São Paulo: RT, 2014.
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DIGRESSÕES A RESPEITO DO ARTIGO 20 DA
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO
BRASILEIRO
Danilo Carvalho Gomes1
RESUMO
O presente artigo jurídico tem por finalidade trazer à evidên-
cia os motivos pelos quais se mostra importante a inovação legislativa
disposta no artigo 20 da LINDB, coligindo os argumentos de relevo
que influenciaram o projeto de lei e suas razões de ser, bem como so-
bre reflexões acerca destas premissas. As fontes de pesquisa utilizadas
foram principalmente opiniões jurídicas de autores e sites renomados,
à mingua da posição dos tribunais em razão da parca e tímida juris-
prudência sobre o tema. Das pesquisas de estudo, denota-se, sobretu-
do, a importância da necessidade dos órgãos de controle decidirem de
acordo com a realidade que o ente público está inserido, bem como
a íntima relação deste preceito legal com princípios constitucionais,
como o princípio do dever de motivação e da separação dos poderes,
dentre outros.
Palavras-chave: Artigo 20 da LINDB. Fundamentação. Separa-
ção dos poderes. Consequencialismo jurídico. Princípio da motivação
concreta. Princípio do contraditório e da ampla defesa.
1 Graduado em Direito em 2014, pela Universidade da Amazônia - UNAMA/PA, iniciou sua carreira profissional em
2015, exercendo a advocacia em algumas causas cíveis e criminais. Pós-graduado em processo civil, com conclusão
em 2018. Em 2021, tomou posse no cargo de Analista Judiciário TJPA, lotado no gabinete da vara única de Augusto
Corrêa/PA. Aprovado, dentre outros concursos, para: Analista Judiciário, área judiciária do TRT da 8º região. Oficial
de Justiça do TJPA. Analista Judiciário do TJMA. Analista Judiciário do TJPA. Delegado PCPA 2021. Em setembro de
2021, tomou posse no cargo de Procurador do Estado do Amapá.
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RESUMEN
El presente artículo legal tiene por objeto sacar a la luz las razones
por las cuales es importante la innovación legislativa prevista en el artículo
20 de la LINDB, recogiendo los argumentos relevantes que influyeron
en el proyecto de ley y sus razones de ser, así como reflexiones sobre estas
premisas. Las fuentes de investigación utilizadas fueron principalmente
opiniones jurídicas de reconocidos autores y sitios web, decayendo la po-
sición de los tribunales debido a la limitada y tímida jurisprudencia sobre
el tema. De los estudios de investigación se advierte la importancia de la
necesidad de que los órganos de control decidan de acuerdo con la rea-
lidad en que se inserta la entidad pública, así como la intima relación de
este precepto legal con principios constitucionales, como el principio del
deber de motivación y separación de poderes, entre otros.
Palabras-clave: Artículo 20 de la LINDB. Razonamiento. Sepa-
ración de poderes. Consecuencialismo jurídico. Principio de motiva-
ción concreta. Principio de contradicción y defensa plena.
INTRODUÇÃO
O projeto de lei há muito já vinha sendo objeto de pretensão
legislativa, especialmente diante das mais inusitadas situações em que
se encontravam os gestores, ao que se denominou de “apagão das ca-
netas”. Diante deste cenário, foi inevitável a aprovação, não só do art.
20 da LINDB, mas dos artigos seguintes (até o 30), nos quais foram
previstas várias exigências aos órgãos de controle.
Em razão do impacto causado aos administradores e adminis-
trados, bem como no dia a dia da atividade administrativa, revela-se
imprescindível a presente digressão a respeito do sentido disposto no
art. 20 da LINDB, com o escopo de interpretá-lo e decifrar os assun-
tos que serviram como pedra angular inexorável para sua confecção,
dentre os quais destacam-se: o princípio da motivação concreta, ou
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CONTEXTUALIZAÇÃO
A fundamentação das decisões judiciais, em um Estado democrá-
tico de direito, descortina-se como pedra angular de sua fundação na me-
dida em que permite o controle destas decisões, evitando determinações
abusivas e autoritárias, típicas de regimes desprovidos da luz democrática.
Com efeito, visando dar concretude ao dever de fundamen-
tação encampado no art. 93, inciso IX, da CF de 1988, o legislador
achou por bem trazer parâmetros para definir o que se considera uma
decisão fundamentada, à exemplo do que foi disposto no art. 20 da
LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) e no art.
489, parágrafo 1º, do Código de Processo Civil de 2015.
O art. 20 da LINDB busca trazer balizas para atuação do ma-
gistrado no exercício da atividade judicante, diante das mais diversas
situações antagônicas que os gestores dos 5.568 Municípios do Brasil
vivenciaram – e vivenciam – além dos gestores dos 26 Estados, do Dis-
trito Federal e, claro, da União.
São inúmeras decisões judiciais que se proliferam ao longo do país
que, quando não são suficientemente fundamentadas, são, por si só, an-
tagônicas ou ainda descoladas da realidade fática que aquele ente público
experimenta, sem esquecer da violação à discricionariedade administrati-
va do gestor em inevitável quebra da separação dos poderes.
A repercussão das decisões era (e ainda é) de tal dimensão que
os estudiosos do projeto de lei (de alteração na LINDB) afirmam que o
objetivo da inclusão destes artigos era amenizar o que se buscou con-
vencionar de “apagão das canetas”.
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A IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO
De outro giro, caso não observada a metanorma acima de-
lineada, exsurgem graves problemas, à exemplo da possibilidade de
uma motivação precária mascarar a real intenção da decisão, abrin-
do-se margem para o tão rechaçado voluntarismo judicial, conforme
os ensinamentos do mestre Marçal Justen Filho:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, resta evidente a importância da inovação legislativa
disposta na LINDB, a fim de trazer maior concretude ao princípio da
fundamentação das decisões judiciais, do contraditório, da ampla de-
fesa, bem como do princípio da motivação concreta (ou consequencia-
lismo jurídico – hermenêutica consequencialista) e da separação dos
poderes, com vistas a coligir, em cotejo harmonioso – e não contradi-
tório – em um só plano de raciocínio, um liame concebível entre os
valores jurídicos abstratos que se invoca e a realidade dos fatos posta,
sob pena de chancela do superado e rechaçado sistema do íntimo con-
vencimento – ou da certeza moral – do agente controlador.
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Notas
1
https://www.conjur.com.br/dl/parecer-juristas-rebatem-criticas.pdf.
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?PdocT=TP&docI-
2
D=753242808&prcID=5702503
< h t t p : / / b i b l i o t e c a d i g i t a l . f g v. b r / o j s / i n d e x . p h p / r d a / a r t i c l e /
view/77649/74312>. Acesso em 01/07/2020).
5
Disponível em: www.senado.leg.br/estudos. Acesso em 01/07/2020.
https://www.dizerodireito.com.br/2019/06/breves-comentarios-lei-
6
Referências
https://www.conjur.com.br/dl/parecer-juristas-rebatem-criticas.pdf.
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?PdocT=TP&docI-
D=753242808&prcID=5702503
https://www.dizerodireito.com.br/2019/06/breves-comentarios-lei-136552018-e-
-ao.html. Acesso em 12.05.2022.
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REEQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO
DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS:
PARALISAÇÃO DE OBRA EM VIRTUDE DA
PANDEMIA DA COVID-19
Kevin Camelo da Cunha1
RESUMO
Os contratos administrativos de obras paralisadas em virtude
da pandemia da COVID-19 não podem ensejar reequilíbrio econômi-
co-financeiro. Trata-se de motivação extraordinária que foge do con-
trole da Administração Pública, podendo a contratada pedir a rescisão
do contrato.
ABSTRACT
Administrative contracts for works paralyzed due to the COVID-19
pandemic cannot give rise to economic and financial rebalancing. This
is an extraordinary motivation that is beyond the control of the Public
Administration, and the contractor may request the termination of the
contract.
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PGE AMAPÁ — REVISTA JURÍDICA
INTRODUÇÃO
Com o advento da pandemia da COVID-19, muitos contra-
tos da Administração Pública que tinham como objeto a execução de
obras precisaram ser paralisados em razão das restrições necessárias
ao controle da transmissão do vírus, especialmente com o lockdown e
outras medidas de confinamento.
DO REEQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO
O direito à recomposição por eventual ruptura da equação
econômico-financeira do contrato está assegurado no art. 37, XXI, da
CFRB/1988:
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Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados,
com as devidas justificativas, nos seguintes casos:
(...)
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(...)
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ano, porém, não é permitido que ela retroaja a fatos que não fo-
ram observados, mas que eram conhecidos antes da apresentação
da proposta.
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Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados,
com as devidas justificativas, nos seguintes casos:
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I devolução de garantia;
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo o exposto, conclui-se que não é possível deferir
pedido de reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos adminis-
trativos paralisados em virtude da pandemia da COVID-19, por se
tratar de fato extraordinário que foge do controle e vontade do Estado,
podendo a empresa contratada pedir a rescisão contratual ou buscar a
rescisão amigável.
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Notas
Referências
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 29ª ed. Editora Forense,
2016.
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