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XI Contextos e Conceitos

Mostra de Produção Científica e Extensão


Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

ANAIS DA
XI CONTEXTOS E CONCEITOS
MOSTRA DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA E EXTENSÃO

Coordenação: Prof. Dra. Carolina Hoppen Tonial


Prof. Me. Débora Mergen Lima Reis

Comissão Geral Organizadora: Prof. Me. Aldo Marcelo Paim


Prof. Me. João Paulo Stadler
Prof. Dra. Mariana da Silva Azevedo

ISSN 2237-700X
C761
Contextos e conceitos mostra de produção científica e
extensão (11. : 2021 : Palmas, PR)
Anais [recurso eletrônico) / coordenação: Carolina
Hoppen Tonial, Débora Mergen Lima Reis. – Palmas :
IFPR, 2021.

ISSN 2227-700X

Organizadores: Aldo Marcelo Paim, João Paulo Stadler,


Mariana da Silva Azevedo

1. Pesquisa científica. 2. Extensão universitária. I. Instituto


Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná. II.
Tonial,
Carolina Hoppen Tonial. III. Reis, Débora Mergen Lima. IV. Paim, Aldo
Marcelo...[et al.]. V. Título.

CDD 001.43
CIP-NBR12899

Ficha Catalográfica elaborada por Josiane Maria Comarella – CRB – 9/1192.


ISSN 2237-700X
SUMÁRIO
RESUMOS EXPANDIDOS .................................................................................................... 7
“LUZ DO SOL, QUE A FOLHA TRAGA E TRADUZ”: COMO FOLHAS SOB DIFERENTES
NÍVEIS DE LUMINOSIDADE TRADUZEM A LUZ DO SOL ................................................... 8
“TRISTE, LOUCA OU MÁ” QUE MULHER É ESSA? ........................................................... 11
A EDUCAÇÃO FÍSICA INFANTIL ........................................................................................ 13
A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: POSSIBILIDADES E DESAFIOS ........ 16
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM TEMPOS DE PANDEMIA: O SUBPROJETO PIBID
DE PEDAGOGIA - ALFABETIZAÇÃO EM PAUTA .............................................................. 19
A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA ALFABETIZAÇÃO ........................ 22
A IMPORTÂNCIA DOS EXERCÍCIOS FÍSICOS PARA POPULAÇÃO IDOSA: UMAREVISÃO
BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................................. 24
A PRESIDÊNCIA DO PARANÁ (1853-1870): ORA, A LEI... O QUE É A LEI, SE O SR.
MAJOR QUISER?1 .............................................................................................................. 28
A REINCIDÊNCIA CRIMINAL E A NÃO RESSOCIALIZAÇÃO ............................................ 31
ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE UMA
UNIVERSIDADE PÚBLICA DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19 .................................. 34
AVERIGUAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA UTILIZADA EM AGROINDÚSTRIAS DE LEITE
E DERIVADOS DE UM MUNICÍPIO DO SUDOESTE DO PARANÁ .................................... 38
CANDIDA AURIS: ATUALIZAÇÃO DO STATUS DE PATÓGENO EMERGENTE ............... 41
CARACTERÍSTICAS FENOTÍPICAS DE MACIEIRAS ENXERTADAS SOBRE PORTA-
ENXERTOS DA SÉRIE CG ................................................................................................. 45
DESEMPENHO DE DIFERENTES CULTIVARES DE RABANETE (Raphanus sativus L.)
SOB ADUBAÇÃO ORGÂNICA NO MUNICÍPIO DE PALMAS, PR. ..................................... 47
DIDÁTICA GERAL, DIDÁTICAS ESPECÍFICAS, ESTÁGIO EM DOCÊNCIA E O
PLANEJAMENTO DE ENSINO: UMA ARTICULAÇÃO ........................................................ 51
NECESSÁRIA PARA A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO ....................................................... 51
ESTUDANDO OS FUNGOS ATRAVÉS DA FERRAMENTA JAMBOARD ........................... 53
EXTRAÇÃO E APLICAÇÕES DE CORANTES VEGETAIS ................................................. 56
GÊNERO NOTÍCIA ONLINE: ESTUDO, DESENVOLVIMENTO, ANÁLISE E PRODUÇÃO
PARA ALÉM DA BNCC ........................................................................................................ 59
GINCANA DO CONHECIMENTO – APRENDER BRINCANDO .......................................... 62
IDENTIFICAÇÃO DE POTENCIAIS RISCOS DE INJÚRIAS NA INFÂNCIA NO AMBIENTE
DOMICILIAR DURANTE O PERÍODO DE PANDEMIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA .. 65
INTERCÂMBIO ACADÊMICO EM TEMPOS DE PANDEMIA: UMA PROPOSTA DE
INTERAÇÃO REMOTA........................................................................................................ 68
O FENÔMENO DA TRANSCULTURAÇÃO NA CONQUISTA DO BRASIL: UMA LEITURA
DA CARTA DE CAMINHA ................................................................................................... 71
O JORNAL NA SALA DE AULA: UMA EXPERIÊNCIA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA ........ 73
O SILENCIAMENTO DA VOZ FEMININA NO ROMANCE VOX DE CHRISTINA DALCHER
............................................................................................................................................ 76
ISSN 2237-700X
OS LUSÍADAS BOARD GAME COMO POSSIBILIDADE DE SUPERAÇÃO DAS
LIMITAÇÕES DA BNCC ...................................................................................................... 79
PRÁTICAS GERENCIAIS UTILIZADAS PARA LINHA DE PRODUÇÃO EM MOMENTOS DE
BAIXA DEMANDA: UM ESTUDO DE CASO EM UMA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA ... 84
PROPOSTA DE APLICAÇÃO DA TEMÁTICA ADSORÇÃO NO ESTUDO DE MATERIAIS87
PROPOSTA DIDÁTICA PARA ESTUDO DE HISTOLOGIA NO ENSINO REMOTO............. 90
PROPOSTA DIDÁTICA PARA ESTUDO DOS ÓRGÃOS VEGETAIS NO ENSINO REMOTO
............................................................................................................................................ 93
RAP ALMAS: REEXISTÊNCIA CULTURAL E AS LENTES DO COLETIVO ARTE
AUDIOVISUAL..................................................................................................................... 96
RELAÇÕES ENTRE AS ÁREAS DE PSICOLOGIA E LITERATURA ................................... 99
RELATO DE AULAS REMOTAS EM COMPONENTES CURRICULARES EXPERIMENTAIS
DE NO ENSINO DE QUÍMICA NO ENSINO ...................................................................... 101
RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA
EDUCAÇÃO BÁSICA: A ESCOLA DE GENEBRA SOB A CONCEPÇÃO DA PEDAGOGIA
HISTÓRICO-CRÍTICA ....................................................................................................... 103
RELATO DE EXPERIÊNCIA: O ENSINO DE RADIOATIVIDADE POR MEIO DE UMA
ABORDAGEM DIFERENCIADA NO CONTEXTO DA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA ........ 105
SAIS INORGÂNICOS – UMA EXPERIÊNCIA DE AULA REMOTA NA RESIDÊNCIA
PEDAGÓGICA EM QUÍMICA ............................................................................................ 109
USO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS NO PIBID DE BIOLOGIA DURANTE O ENSINO
REMOTO ........................................................................................................................... 112
VAMOS FALAR (UM POUCO MAIS) SOBRE MÉTODOS SUBSTITUTIVOS AO USO DE
ANIMAIS PARA FINS DE ENSINO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS DO IFPR? ................................................................................................... 115
ARTIGOS COMPLETOS ................................................................................................... 118
A CONSTRUÇÃO DA CARREIRA E DA IDENTIDADE DOS TÉCNICO- ADMINISTRATIVOS
EM EDUCAÇÃO ................................................................................................................ 119
A IMPORTÂNCIA DAS INFORMAÇÕES FISCAIS E CONTÁBEIS PARA TOMADA DE
DECISÃO .......................................................................................................................... 131
A PERPETUAÇÃO DO CONCEITO DE DOMINAÇÃO PESSOAL ATRAVÉS DAS
POLÍTICAS DE BEM-ESTAR SOCIAL............................................................................... 140
ANÁLISE DE ASPECTOS SOCIOCIENTÍFICOS LIGADOS AO TEMA GENÉTICA NOS
LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIA DA NATUREZA DO PNLD 2021 INDICADOS NO
CAMPUS PALMAS DO IFPR............................................................................................. 155
ANÁLISE DE CONTEÚDOS DE GENÉTICA E SUAS SUBÁREAS ABORDADOS NOS
LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIA DA NATUREZA DO PNLD 2021 INDICADOS NO
CAMPUS PALMAS DO IFPR............................................................................................. 167
ANÁLISE HISTÓRICA DA PRODUÇÃO DE MAÇÃS NO MUNICÍPIO DE PALMAS- PR. . 177
ASSOCIAÇÃO ENTRE NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA E APTIDÃO
CARDIORRESPIRATÓRIA OBTIDA POR MEIO DE TESTES INDIRETOS ...................... 189
CARACTERIZAÇÃO DE ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO EM DOIS ASSENTAMENTOS
DO MUNICÍPIO DE PALMAS-PR ...................................................................................... 200
CLASSIFICAÇÃO AUTOMÁTICA DE LESÕES DE PELE UTILIZANDO REDES NEURAIS
CONVOLUCIONAIS: UM GUIA EDUCACIONAL ............................................................... 207

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COMPRIMENTO DE ONDA LUMINOSA NO DESENVOLVIMENTO DE SOJA ................ 219
CONSTRUÇÃO DE BRINQUEDO TERAPÊUTICO PARA TRATAMENTO DE CRIANÇAS
COM CÂNCER RENAL ..................................................................................................... 231
CONTRIBUIÇÕES DA REALIDADE VIRTUAL E DA REALIDADE MISTA PARA A
EDUCAÇÃO ...................................................................................................................... 239
DESENVOLVIMENTO DE AGUARDENTE DE MAÇÃ, CÁLCULO DO RENDIMENTO
PRODUTIVO, E, QUANTIFICAÇÃO DOS TEORES DE COBRE E METANOL FRENTE A
LEGISLAÇÃO VIGENTE. .................................................................................................. 250
DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO: ANÁLISE SWOT DE UMA EMPRESA DO RAMO DE
COMÉRCIO ALIMENTÍCIO, DA CIDADE DE PALMAS - PR ......................................... 261
DIANÓSTICO ESTRATÉGICO EM UMA ENTIDADE SEM FINS LUCRATIVOS: UM
ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CARACU
.......................................................................................................................................... 273
ENTRE O JORNAL E O LIVRO: UMA LEITURA DO ROMANCE IAIÁ GARCIA, DE
MACHADO DE ASSIS ....................................................................................................... 282
FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA: A DINÂMICA DO TRIPLO
PROTAGONISMO ............................................................................................................. 302
GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS LÍQUIDOS NA FABRICAÇÃO DE
COMPENSADOS: UM ESTUDO EM UMA INDÚSTRIA DO SUDOESTE DO PARANÁ .... 324
PORTAL WEB GIRLS POWER IN PROGRAMMING: VISIBILIDADE FEMININA NAS
ÁREAS DE STEM.............................................................................................................. 335
GIRLS POWER IN PROGRAMMING: SENSIBILIZAÇÃO AO ACESSO DE MENINAS DA
EDUCAÇÃO BÁSICA PARA AS ÁREAS DA CIÊNCIAS E DA TECNOLOGIA .................. 347
HISTÓRIA EM QUADRINHOS EM VERSÃO STORYTELLING: ESTRATÉGIA DE
EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO CONTEXTO DA PANDEMIA ............................................... 359
IMPACTOS DA PANDEMIA DO COVID-19 EM MICROEMPREENDIMENTOS DO
COMÉRCIO VAREJISTA DE ALIMENTOS DA CIDADE DE PALMAS PR:
OPORTUNIDADES PARA O NÚCLEO DE PRÁTICAS EM ADMINISTRAÇÃO DO
IFPR/PALMAS. .................................................................................................................. 369
IMPACTOS DO NOVO VÍRUS SARS-COV-2 NAS MICROEMPRESAS E
MICROEMPREENDEDORES INDIVIDUAIS DO COMÉRCIO VAREJISTA DE
CONFECÇÕES E ACESSÓRIOS DA CIDADE DE PALMAS-PR ...................................... 382
JOHANN WOLFGANG VON GOETHE E A DOUTRINA DAS CORES, INFLUÊNCIAS E
CONFLUÊNCIAS. .............................................................................................................. 396
IMPACTOS DAS ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DE CUSTOS DA MANUTENÇÃO EM UMA
EMPRESA METALOMECÂNICA DE MÉDIO PORTE ....................................................... 405
O JOGO DO TAE: RELATO DE CONFECÇÃO, ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO .............. 418
O USO DE FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO EM
SAÚDE .............................................................................................................................. 431
PERFIL DE MORTALIDADE POR COVID-19 NA POPULAÇÃO IDOSA DO PARANÁ E AS
POLÍTICAS PÚBLICAS ADOTADAS À NÍVEL ESTADUAL ............................................... 443
PROTÓTIPO DE BRINQUEDO TERAPÊUTICO DE BAIXO CUSTO “INSULINOAMIGO”
PARA CRIANÇAS DIAGNOSTICADAS COM DIABETESMELLITUS I............................... 454
RELAÇÕES ENTRE PSICOLOGIA E LITERATURA: UM OLHAR ANALÍTICO A PARTIR DE
FREUD E JUNG ................................................................................................................ 463
RELATO DE EXPERIÊNCIA: O USO DE PLATAFORMAS VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM
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POR ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM DURANTE SITUAÇÃO PANDÊMICA. .............. 482
SARAU LITERÁRIO: RELATO DE EXPERIÊNCIA COM CÍRCULOS DE LEITURA
LITERÁRIA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL .................................................................. 490
SEGURANÇA DE PLANTAS MEDICINAIS FORNECIDAS POR UM PROJETO NO
MUNICÍPIO DE SÃO DOMINGOS-SC ............................................................................... 506
IFTECH.............................................................................................................................. 527
A PERSPECTIVA CRONOLÓGICA NO ENSINO DA HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA POR
MEIO DO JOGO CHRONOS: ESCOLAS LITERÁRIAS. .................................................... 528
PROTÓTIPO DE TABELA PERIÓDICA ADAPTADA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA
VISUAL EMPREGANDO IMPRESSÃO EM 3D E GRAVAÇÃO A LASER ......................... 532
SOURDOUGH LIOFILIZADO DE KOMBUCHA ................................................................. 536

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RESUMOS EXPANDIDOS

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“LUZ DO SOL, QUE A FOLHA TRAGA E TRADUZ”: COMO FOLHAS SOB


DIFERENTES NÍVEIS DE LUMINOSIDADE TRADUZEM A LUZ DO SOL

Guynyver Castilho (guynyver00@gmail.com) ¹


Jamili Ribeiro²
Laércio Peixoto do Amaral-Neto (laercio.neto@ifpr.edu.br)³
1,2,3
IFPR - Instituto Federal do Paraná Campus Palmas

INTRODUÇÃO: Plantas verdes absorvem energia em forma de luz a partir do sol,


convertendo-a em energia química durante a fotossíntese. Assim as plantas, de
maneira geral, são autotróficas (KLUGE et al, 2014, p. 1) e as lâminas foliares
sãoas principais estruturas responsáveis pelo processo de fotossíntese das plantas,
através da absorção de luz, estimulando o crescimento e desenvolvimento da
planta. Por outro lado, o excesso de luminosidade pode causar danos ao tecido
fotossintético deste órgão. Assim, as lâminas foliares têm grande capacidade de se
adaptar às condições do ambiente em que estão localizadas, relacionadas às
necessidades de cada planta, de forma que a intensidade de luz promove
alterações na estrutura das folhas, resultando em folhas denominadas folhas de sol
e folhas de sombra (CUTTER, 1978). Com base nisso foi realizado um estudo
comparativo, analisando a biometria de lâminas foliares de diferentes espécies,
coletadas em ambientes de baixa luminosidade e alta luminosidade. Visando
identificar a diferençano tamanho da área foliar.

METODOLOGIA: O material utilizado no presente estudo foi coletado nas regiões


de Palmas/PR (R1) e Mangueirinha/PR (R2), ambas regiões apresentam clima do
tipo Cfa – Clima Subtropical Úmido, com média do mês mais quente superior a
22ºC e no mês mais frio inferior a 18ºC, segundo a classificação de Köppen-Geiger
(ARNFIELD, 2020). Para as coletas, foram escolhidas espécies arbóreas ou
arbustivas comuns e duas espécies epífitas: Miconia hyemalis (pixirica -
Melastomataceae); Microgramma squamulosa (cipó-cabeludo - Polypodiaceae);
Citrus reticulata (Vergamoteira - Rutaceae) em Palmas e Eucalyptus sp. (Eucalipto -
Myrtaceae); Orchidaceae sp.; Prunus persica (pessegueiro - Rosaceae), Citrus x
limonia (Limão cravo - Rutaceae) e Ligustrum sp. (Alfeneiro - Oleaceae) em
Mangueirinha. De cada espécie foram coletadas 3-6 folhas de indivíduos
diretamente ao sol e 3-6 folhas de indivíduos na sombra. No caso de C. reticulata e
Citrus x limonia não foi possível obter indivíduos em ambientes diferentes. Nestas
espécies foram coletadas folhas expostas ao sol e folhas na sombra do mesmo
indivíduo. Finalmente, para as espécies Orchidaceae sp.; P. persica foram
coletadas apenas folhas de sol e em Ligustrum sp. e Eucalyptus sp. apenas folhas
de sombra. Após realizada coleta, foram devidamente separadas as lâminas de
diferentes ambientes, e diferentes espécies, foram sobrepostas em papel
milimetrado (quadriculado) e com o auxílio de um lápis foi feito o contorno de toda a
base da folha, o processo foi repetido em todas as amostras. Posteriormente
calculou-se a área das lâminas individuais, somando o total de
quadrados/espaços ocupados. Para comparação entre os tamanhos médios das
folhas entre os ambientes de sombra e sol, foi feito um teste-t de Student entre as
áreas de folhas de sol e sombra. Para excluirmos o efeito do tamanho das folhas
dependente da espécie, foi feito um segundo teste-t apenas com as folhas
coletadas de sol e sombra cujas espécies ocorriam nos dois ambientes. A análise

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foi feita utilizando o programa de análises estatística R (v. 3.6.3-win) utilizando o


ambiente RStudio (v.1.4.1717).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Quando analisadas todas as folhas


simultaneamente, as folhas de sombra apresentaram área média de 34,78 cm²
enquanto as folhas de sol apresentaram em média 18,21 cm² com diferença
significativa entre as médias com intervalo de confiança de 95% (t = -3.852, df =
31,944, p = 0,0005309, Figura 1).

Figura 1 Boxplot indicando médias das áreas de folhas de sol e sombra.

A análise com apenas folhas das mesmas espécies provenientes de diferentes


ambientes mostrou resultado semelhante com médias de 33,56 e 21,25 para folhas
de sombra e sol, respectivamente (t = -2.1439, df = 20,628, p-value = 0,04412,
Figura 2).

Figura 2 Boxplot indicando médias das áreas de folhas de sol e sombra apenas com folhas de
indivíduos coletadas simultaneamente de ambos ambientes.

Os resultados obtidos pelas variáveis em plantas sob ambientes de baixa


luminosidade indicam que ocorre uma adaptação voltada à absorção de luz,
levando em consideração a disponibilidade de luz presente no ambiente, tornando
mais vantajoso para a planta aumentar o tamanho da folha, tendo mais chances de
captar a luz solar. Os resultados obtidos demonstram que as espécies estão
adaptadas ao ambiente que se encontram, apresentando diferentes tamanhos
relacionadas a área que foram coletadas. Enquanto as plantas presentes em
ambientes com sol mais abundante apresentaram redução no tamanho da folha.
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Segundo James & Bell (2001), em situação de intensa radiação solar, as plantas
podem reduzir o tamanho de suas folhas, observado no presente trabalho,
concomitantemente com o aumento da sua espessura. Essa redução da superfície
foliar diminui a perda de água pela planta, ao mesmo tempo em que uma maior
espessura favorece um maior armazenamento de água, possibilitando assim a
manutenção do balanço hídrico da planta.

Palavras-chave: folhas de sol; folhas de sombra; medida biométrica;

REFERÊNCIAS:

ARNFIELD, A. John. Classificação climática de Köppen. Encyclopedia Britannica,


11 de nov. de 2020. Disponível em:
https://www.britannica.com/science/Koppen-climate-classification. Acesso em: 22 de
setembro de 2021.

CUTTER, E. G. Plant anatomy: cells and tissues part I. London: William Clowes
andSons, 1978. p. 315-319.

JAMES, Shelley A.; BELL, David T. Leaf morphological and anatomical


characteristics of heteroblastic Eucalyptus globulus ssp. globulus
(Myrtaceae).Australian Journal of Botany, v. 49, n. 2, p. 259-269, 2001.

KLUGE, Ricardo Alfredo et al. Aspectos Fisiológicos e Ambientais da


Fotossíntese. Revista Virtual de Química , [S. l.], p. 1-18, 30 nov. 2014. Disponível
em: https://rvq-sub.sbq.org.br/index.php/rvq/article/view/996/531. Acesso em: 23
set.2021.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem a oportunidade de compartilhar com


a comunidade acadêmica projetos de pesquisa. E também agradecemos ao
Caetano Veloso pela sugestão no título.

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“TRISTE, LOUCA OU MÁ” QUE MULHER É ESSA?

Vanessa Ribeiro (vanessaribeirolinhares@gmail.com.br) ¹

INTRODUÇÃO: O presente trabalho tem por objetivo discutir o feminismo na música


“Triste, Louca ou Má” da banda Francisco, El Hombre, além de questionar a
submissão da mulher em relação ao homem e os padrões sociais impostos na
sociedade brasileira. Ao analisar a música se fez uma reflexão crítica sobre o papel
da mulher, para isso estudou-se o processo histórico da mulher no meio social. O
método utilizado para a produção do trabalho fez o uso da música assim como
alguns textos teóricos, notícias, e conhecimentos gerais, com o propósito de passar
as informações com efetividade.

METODOLOGIA: O desenvolvimento desse trabalho se deu através de pesquisas


bibliográficas com o intuito de reunir informações e dados que servissem de base
para a construção do trabalho. Logo, este estudo consiste em analisar os autores
Orlandi e Beauvoir a fim de chegarmos à uma análise concreta da música.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Até pouco tempo a mulher só podia ocupar duas


posições, a de mãe e de esposa, no entanto esse padrão foi quebrado pelas
mulheres que agora possuem liberdade para assumir a posição que desejarem.
Essa liberdade de escolha se deu por alguns influenciadores como Beauvoir que
afirma “ser mulher” nao é algo natural mas sim um dado social que foi criado por
cada sociedade repleto de padrões e ações que devem ser seguidas. Outra
pensadora que também auxilia mulheres a se libertarem desses padõres impostos
pela sociedade é Julia Kristeva, considerada uma das principais vozes do
movimento feminista frances que afirma que deve haver uma mudança severe no
“feminismo” e que deve existir um discurso da igualdade entre generos nao apenas
a substituição da dominancia. Desde os primórdios o papel da mulher era limpar e
reproduzir filhos, sendo considerado inferior aos homens, pois a sociedade sempre
as excluiu, tanto na política, como na vida pessoal, confirmamos isso de acordo com
Beauvoir (1980, p. 97): “[...] o triunfo do patriarcado não foi nem um acaso nem o
resultado de uma revolução violenta. Desde a origem da humanidade, o privilégio
biológico permitiu aos homens afirmarem-se sozinhos como sujeitos soberanos”. A
partir disso, percebemos que a figura feminina recebe um tratamento diferenciado na
sociedade e por muito tempo a mulher foi vista apenas como objeto de desejo,
deveria servir ao seu marido e a família sem questionar.O feminismo que a música
traz é construído através do desconforto sentido pelo emissor em relação aos
padrões sociais que as mulheres “devem seguir”, se não seguirem essa receita, são
tratadas de forma nada agradável. Ele defende o feminismo que se recusa a seguir
a receita cultural imposta pela sociedade. A mulher citada na música não pretende
ter uma vida que se resume basicamente em limpar a casa, cuidar dos filhos e servir
seu marido. Acredita ter um empoderamento sobre ela, a mulher da música ao
rejeitar a figura masculina é vista como triste, louca e má. Mas o que realmente
significa uma mulher “Triste, Louca ou Má”? Uma mulher triste seria quando a figura
feminina entra em uma situação de solidão que afeta a alegria da mulher, a solução
para esse problema numa visão machista seria o homem, que entra na situação e
defende o “sexo frágil”, orientando o caminho a ser seguido. Uma mulher louca é
quando está com TPM, ciúmes ou menopausa, a solução seria negar o problema e
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aceitar que isso é um problema das mulheres. Uma mulher má seria aquela que faz
ou diz coisas “desagradáveis” aos homens, como por exemplo ter relacionamento
com mais de um homem, recebendo assim inúmeras críticas, a solução seria os
homens as desprezarem para que assim voltassem ao “juízo”. Percebe-se que a
única opção que a mulher tinha de posição para interpelar era aquela que a
condenava como um ser submisso ao homem. Felizmente as mulheres lutaram
contra esse padrão, dando a si mesmas o valor que merecem. O emissor da música
teve que se posicionar dentro dessa formação discursiva que é o feminismo para
poder falar sobre este assunto.A posição mulher está “gritando” para que as
mulheres não aceitem serem consideradas “fêmeas para caça”. Essa posição que o
emissor ocupa (mulher) durante a música não se identifica com a posição mulher
que foi criada como padrão na sociedade, ela se identifica com a mulher que não
precisa de ninguém para viver, que o próprio corpo dela é seu lar. Antes desse
sujeito da música se interpelar com esta posição feminina, ele se identificou com a
posição sujeito-livre, a qual todos se identificam, isso gera um efeito de completude,
o sujeito acredita ser dono de si mesmo, esse feminino da música acredita nisso, e
uma espécie de “liberdade” condicional, na música o emissor deixa explícito que
saiu dos padrões da sociedade para ser livre, para ser dono do seu próprio corpo.
Percebeu-se que as mulheres são muito discriminadas. A música tem como objetivo
mostrar para as mulheres que elas não precisam se enquadrar nesse padrão social
que mulher só pode ser mãe e esposa, ela pode ser o que quiser, por mais que as
mulheres já tenham conquistado muitas coisas ainda há muito o que conquistar,
precisamos nos libertar dos padrões sociais impostos pela sociedade. Essa música
basicamente foca uma parte da teoria de Beauvoir pois a autora escreveu sobre as
obrigações da mulher, cuidar dos filhos e do marido, para mostrar que nao se nasce
mulher, se torna mulher, nao necessariamente devendo seguir respectivas
características impostas pela sociedade.

Palavras-chave: feminismo, mulher, padrões, liberdade.

REFERÊNCIAS:

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: A experiência vivida. 2.ed. São Paulo:
Difusão Europeia do Livro, 1967.

HOMBRE, Francisco El. Triste, Louca ou Má. 2016. Disponível em


<https://www.youtube.com/watch?v=lKmYTHgBNoE> Acesso em 14 de março de
2019.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Condições de Produção. In: _. Análise De Discurso:


princípios & procedimentos. 8.ed. Campinas: Pontes, 2009. Cap.2, p. 30-34.

TEIXEIRA, Amanda. Triste, Louca Ou Má: Os três compartimentos da bagagem


emocional de um macho-qualquer. Disponível
em:<https://blogueirasfeministas.com>. Acesso em: 14 de março de 2019

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A EDUCAÇÃO FÍSICA INFANTIL

Anna Julia Padilha Dangui Rozin (annajuliadanguirozin@gmail.com) ¹


Maria Carolina da Silva Camargo (mariacarolinadasilvacamarho138@gmail.com) ²
Raquel Horn Bernert (raquelbernert@gmail.com)3
Gesiliane Aparecida Lima Kreve (gesiliane.kreve@ifpr.edu.br)4
1,2,3,
Instituto Federal do Paraná- Campus Palmas

INTRODUÇÃO: A educação física tem um papel fundamental nos anos iniciais, pois
se dá por meio de uma linguagem lúdica, ou seja, aprender brincando, logo, é neste
espaço que a criança amplia as qualidades de observação, coragem, iniciativa,
sociabilidade, disciplina, capacidade criativa, gentileza e aspectos intelectuais e
morais.“A Educação Física pode ser considerada um dos principais elementos da
Educação Infantil, pois, por intermédio de conteúdos aplicados de forma lúdica e
recreativa, possibilita à criança a construção do conhecimento”. (BORRAGINE, 2010,
p.1).O brincar dentro dessa fase tem grande papel, pois é através dessa atividade
que a criança se desenvolve, cria, interage, se comunica, se expressa, assume
diversos papéis, repete situações que observa nas ruas, em casa, e na escola também
o que está nos livros e gibis. É nesta fase escolar que os conteúdos devem ser
trabalhados de forma pedagógica, cuidando dos aspectos ligados ao
desenvolvimento físico, social, afetivo, moral e intelectual das crianças, de maneira a
contribuir significativamente para a sua formação integral. (SILVA, 2016, p.6). O
presente estudo tem como justificativa entender a importância da educação física na
educação infantil, o quão significativa é para o desenvolvimento das crianças nessa
faixa etária. Tendo como objetivo constatar a real importância da educação física na
educação infantil.

METODOLOGIA: Este estudo é um levantamento bibliográfico feito com artigos e


livros de 2010 para cá de acordo com o tema do estudo, Foram escolhidos na
plataforma Scielo e Google acadêmico. Buscou-se por artigos a respeito do tema com
datas acimade 2010, encontramos 11 trabalhos com esta característica. Os critérios de
inclusão para a seleção dos artigos foram: artigos completos, disponíveis
gratuitamente, no idioma de português e relacionados ao objeto de estudo. Foi feita a
seleção entre 11 trabalhos na internet e salvos em um arquivo no notebook, destes
foram selecionados os que tem a ver com o tema específico e excluídos os que não
tem com anos inferiores à 2010. Foram usados apenas 08 trabalhos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A educação física escolar tem um papel importante no


processo de ensino aprendizagem, pois através dela "a criança consegue desenvolver
as suas habilidades cognitivas, afetivas e motoras, contribuindo para a produção de
conhecimento, numa perspectiva de aliar-se como complemento ao brincar,
constituindo e construindo situações do dia a dia" (CRUZ, 2014, p.5). A aprendizagem
acontece por meio das interações as quais o indivíduo vivencia e o seu aprimoramento
ocorre à medida que as vivências são oportunizadas” (SANTOS, 2017, p.5). Para que
estas interações aconteçam, o corpo se expressa através de movimentos que
permitem à criança “explorar o mundo exterior através de experiências concretas que
adquire no seu dia a dia, onde são construídas suas noções básicas para o seu próprio
desenvolvimento intelectual” (DEZANI, 2014, p. 20). Tendo em vista o elo que a
educação física tem com a educação infantil, deve-se trabalhar a psicomotricidade,
que é a ação expressada através de seu pensamento, onde a emoção está ligada a
expressão, desta forma a evolução do aspecto psicomotor está intimamente ligada ao
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desenvolvimento mental, pois a evolução se constrói quando corpo e mente


trabalham e se desenvolvem em conjunto (BARRETTA, 2012). O uso da ludicidade por
meio das brincadeiras pode ser um excelente meio de incentivar e auxiliar a
aprendizagem de diferentes áreas, "atuando assim de forma multidisciplinar, pois a
mesma está interligada ao conhecimento adquirido da realidade e a associação de
tudo que se busca, já que o papel do professor de Educação Física é contribuir para
que o ensino-aprendizagem seja realmente transformador, sobretudo nos aspectos de
formação do caráter lúdico do aluno”(ANJOS, 2013, p.9). Sabe-se que o lúdico está
correlacionado com a brincadeira e o brinquedo, sendo assim, através do brincar
dentro da educação física, a criança começa a relacionar-se com os colegas e começa
a entender as regras com situações em grupo, sendo assim, o professor de educação
física pode desenvolver seus conteúdos, utilizando-se da situação da brincadeira para
atingir seus objetivos” (FARIA, 2015, p.3). A educação física procura desenvolver o
aspecto psicomotor e mental da criança na educação infantil, pois, procura respeitar
seus interesses ofertando auxÍlio às suas necessidades em relacionar-se com o
mundo, pois é possível se desenvolver através das brincadeiras, assim "a prática dos
movimentos corporais se amplia e suas expressões se fortalecem, pois a criança se
identifica através da brincadeira, vivendo o papel do adulto, entre outras situações,
ampliando as culturas infantis de movimento”. (BARRETTA, 2012, p.3). De acordo com
os autores Sousa e Daniel (2010), apud Freitas, et al., (2016, p. 404), “afirmam que as
aulas de Educação Física nas escolas têm o importante papel de integrar os alunos na
cultura corporal, o que abrange diversas possibilidades que estimulam estudos e
reflexões sobre estética, beleza, expressividade e sua relação com a arte, bem
como as relações do esporte, sociedade, violência, lazer, dentre tantas outras
possibilidades e abordagens dentro das aulas”, desta forma as aulas de educação
física tem caráter formador e transformador na vida dos alunos.

Palavras-chave: Crianças. desenvolvimento.Aprendizagem.

REFERÊNCIAS:

ANJOS, J, A, dos. A Importância das atividades lúdicas nas aulas de educação


física no processo ensino aprendizagem. Monografia (Licenciatura em educação
física) - Universidade de Brasília. Ariquemes- RO. 2013

BARRETTA, F. Educação Física na Educação Infantil: Reflexões em torno dessa


relação. (Dissertação) Pós Graduando no Curso de Especialização em Educação
Infantil Lato Sensu - Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.Chapecó - SC,
Brasil. 2012.

BORRAGINE, Solange de Oliveira Freitas. Educação Física na Educação Infantil:


considerações sobre sua importância. Revista Digital, Buenos Aires, año 15, n. 144,
2010.

DEZANI, G. A. A importância das aulas de educação física no ensino infantil.


ARIQUEMES – RO 2014. Disponível em > TCC CORRIGIDO PARA ENTREGAR.pdf
(faema.edu.br)

CRUZ, Ednaldo Batista. “A Importância da Educação Física na Educação Infantil”.


Centro Universitário de Brasília, 2014, p. 4-p. 22. Disponível
em:<https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/235/5838/1/21180221.pdf>.
ISSN 2237-700X
15

FARIA, A,J. A Importância da Educação Física no Ensino Infantil.


EFDesportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Abril de 2015. Disponível em:
http://www.efdeportes.com/

SANTOS, M. B. Educação Física na Educação Infantil: Dialogando com as


possibilidades de educar. (TCC) Curso de Educação Física Departamento de
Humanidades e Educação (DHE) da Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Ijuí, 2017.

SILVA, L. C.; LACORDIA, R. C. Atividade Física na Infância, seus benefícios e as


implicações na vida adulta. Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery,
Curso de Educação Física – N. 21, JUL/DEZ 2016

AGRADECIMENTOS: Primeiramente gostaríamos de agradecer ao programa PIBID


pela oportunidade de participar projeto onde pode-se adquirir experiências valiosas
para toda a formação acadêmica e profissional, agradeço também a professora-
orientadora Raquel Horn Bernert e a Professora coordenadora do projeto Gesiliane
Kreve pelo apoio, ensinamentos, e toda a ajuda necessária para a realização deste
trabalho e a minha colega a qual compartilhamos todas as experiências deste estudo,
sem vocês esta caminhada seria mais árdua.

ISSN 2237-700X
16

A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: POSSIBILIDADES E


DESAFIOS

Cheila Alves Ribeiro cheilaalves720@gmail.com.)¹


Rafaelly de Fátima Rugenski (rugenskirafaelly1²gmail.com) ²
Raquel Horn Bernert (raquelbernert@gmail.com)³
Gesiliane Aparecida Lima Kreve (gesiliane.kreve@ifpr.edu.br)4

INTRODUÇÃO: A educação infantil é uma oportunidade da criança estabelecer


contatos com outras crianças, se conhecer e conhecer o mundo que a cerca. “A
Educação Física escolar tem o papel importante no processo de ensino aprendizagem,
pois através dela a criança consegue desenvolver as suas habilidades cognitivas,
afetivas e motoras”. (CRUZ, 2014, p.5). Para Almeida (2018) a disciplina de Educação
Física e o professor contribuem muito para o desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo
e social, ou seja, auxilia no desenvolvimento integral dos alunos. Gomes (2018) ainda
traz outros benefícios como o controle rítmico e relaxamento muscular das
crianças.Santos (2015, p.10) fala que a “Educação Física tem um papel fundamental
nos anos iniciais, pois possibilita diversidade de experiência e situações, por meio de
vivências”. Justifica- se este estudo pois a disciplina de Educação Física na educação
infantil, quando bem trabalhada proporcionará às crianças um melhor desempenho
corporal, mental e social comparado às crianças que não possuem essa vivência.Este
trabalho tem como objetivo dissertar sobre a importância da Educação Física para a
Educação Infantil, no desenvolvimento dos alunos.

METODOLOGIA:.Este estudo é um levantamento bibliográfico feito com artigos e


livros de 2008 para cá. Foi feito uma busca por artigo a respeito do tema com datas
acima de 2008, encontramos 15 trabalhos com esta característica. Os critérios de
inclusão para a seleção dos artigos foram: artigos completos, disponíveis
gratuitamente, nos idiomas português e inglês e relacionado ao objeto de estudo.
Como critérios de exclusão optou-se pela não utilização de teses e dissertações. Foi
feita a seleção entre 18 trabalhos na internet e salvos em um arquivo no notebook,
destes foram selecionados os que tem a ver com o tema específico e excluídos os que
não tem, também foram excluídos os de anos inferiores à 2008. Foram usados no
trabalho apenas 08 trabalhos, os que eram específicos do tema citado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Educação Física, principalmente na idade escolar,


traz consigo os mais variados benefícios. Ao pensar nisso, é possível destacar as
questões motoras, cognitivas e afetivas. Através do movimento do corpo e das
variadas percepções interligadas às sensações, as crianças moldam seu próprio ser
enquanto auxiliam seu autodesenvolvimento. “Podemos observar que a Educação
Física nas séries iniciais se constitui uma prática de grande importância para o
desenvolvimento da criança” (GOMES, 2018, p.41) reafirmando assim o quão
importante é o processo de contato com a área estudada, sem contar no resultado que
a mesma reproduz na vida dessas crianças, confirmando, que a Educação Física e
suas ramificações podem contribuir no desenvolvimento integral das crianças. Ainda
para Gomes (2018, p. 42) “a Educação Física nas séries iniciais deve ser uma
atividade prazerosa, na qual os alunos gostem de praticar, sendo que possui um papel
importante na formação do indivíduo”. Ou seja, a Educação Física é essencial para o
desenvolvimento corporal e intelectual das crianças.Como pontua Seleme et al., (2019,
p.2): “a escola infantil é um lugar de descobertas e de ampliação das experiências
individuais, culturais, sociais e educativas, através da inclusão da criança em

ISSN 2237-700X
17

ambientes distintos dos da família”, e como já pontuou Santos (2015) anteriormente, a


Educação Física é fundamental nos anos iniciais. Pensando nisso, essas práticas além
do desenvolvimento motor, desenvolvem habilidades cognitivas e comportamentais,
além de promover saúde e afastar o sedentarismo, fatores importantíssimos para o
bem-estar e para se manterem fisicamente ativos no decorrer de seu
crescimento.Proporcionar atividades lúdicas nessa fase é o ideal, Anjos (2013, p. 9)
“diz que a ludicidade por meio das brincadeiras pode ser um excelente meio de
incentivar e auxiliar a aprendizagem de diferentes áreas, de forma multidisciplinar, pois
a mesma está interligada ao conhecimento adquirido da realidade e a associação de
tudo que se busca”. Proporcionando o conhecimento de novas brincadeiras e do
próprio corpo, Almeida (2018, p. 2) “afirma que a Educação Física na educação infantil
se dá em um espaço no qual a criança brinque por meio da linguagem corporal, com
corpo e pelo movimento, gerando a alfabetização, brincar através da linguagem
corporal”. Os benefícios trazidos pela Educação são muitos, contribui para o
desenvolvimento corporal, expressivo, intelectual, motor das crianças, desde que
conduzido por profissionais habilitados e atividades bem desenvolvidas. Barreta (2012,
p.3) contribui relatando que “o elo que a Educação Física tem com a educação infantil
se dá em relação á psicomotricidade, que é a ação expressada através de seu
pensamento, onde a emoção está ligada a expressão”, contribuindo para uma melhor
qualidade no desenvolvimento das crianças no ambiente escolar e familiar,
proporcionando um maior número de habilidades e ampliação da qualidade de vida
dos indivíduos.

Palavras-chave: Escolas, Alunos, Educação, Desenvolvimento, habilidades.

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, R. F. C. A importância do professor de educação física na educação


infantil. Goiás, p. 1-4, dezembro 2018.

ANJOS, J. A. A importância das atividades lúdicas nas aulas de educação física


no processo de ensino aprendizagem. Monografia (Licenciatura em educação física)
Universidade de Brasília. Ariquemes-RO. 2013.

BARRETA, F. Educação física na educação infantil: Reflexões em torno dessa


relação. (Dissertação). Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC-Chapecó- SC,
Brasil.

BASEI, P. Andréia. A Educação Física na Educação Infantil: a importância do


movimentar-se e suas contribuições no desenvolvimento da criança. Centro de
Educação da Universidade de Santa Maria, Brasil, 25 de outubro de 2008. Disponível
em: https://rieoei.org/historico/deloslectores/2563Basei.pdf.

CRUZ, E. B. A importância da educação física na educação infantil. Centro


Universitário de Brasília, p.4-22, 2014. Disponível em:
https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/235/5838/1/21180221.pdf. Acesso em: 09
set. 2021

GOMES, J. E. S. A importância da educação física nas séries iniciais na escola


municipal frei Rogério de Milão em Parnaíba-PI. Parnaíba-PI, p 11-19, 2018.

ISSN 2237-700X
18

SANTOS, F. M. R. A importância da educação física nos anos iniciais do ensino


fundamental. Ariquemes, 12 de julho, p. 9-26, 2015. Disponível em:
https://santos,f.m.r.importanciadaeducaçãofísicanosanosiniciaisdoensinofundamental
.pdf. Acesso em: 09 set. 2021.
SELEME, A. P. F. et al. A importância da atuação do profissional de educação
física na educação infantil. Revista Saúde dos vales, v. 1, n.1, 2019.

AGRADECIMENTOS: Um agradecimento em especial ao Instituto Federal Campus


Palmas pela oportunidade, a CAPES e o PIBID e a todas as pessoas que contribuíram
de forma direta ou indireta no trabalho.

ISSN 2237-700X
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A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM TEMPOS DE PANDEMIA: O


SUBPROJETO PIBID DE PEDAGOGIA - ALFABETIZAÇÃO EM PAUTA

Vânia Maria Alves (vania.alves@ifpr.edu.br) ¹


¹ Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

INTRODUÇÃO: O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID,


presente no IFPR desde 2012, contribuiu e marca positivamente a formação de
inúmero/as licenciand/as. Conforme descrito no Edital 02/2020 (MEC/CAPES),
atualmente em vigor, o Pibid é um programa da Política Nacional de Formação de
Professores do Ministério da Educação (MEC) que tem como foco principal contribuir
com a formação dos acadêmicos das Licenciaturas, em seus aspectos teóricos e
práticos, proporcionando sua inserção no cotidiano das escolas públicas de educação
básica. Para o desenvolvimento dos projetos institucionais, o programa concede
bolsas aos acadêmicos, professores supervisores das escolas envolvidas e aos
professores coordenadores das instituições formadoras. O Subprojeto do PIBID
Pedagogia-Alfabetização visa contribuir para a busca de estratégias didático-
metodológicas adequadas para a efetiva aprendizagem dos alunos das turmas de
alfabetização. Considerando-se que para a execução do programa os estudantes
devem estar inseridos nas escolas, esta edição, em andamento desde novembro/2020,
foi diferente. Implantada no contexto da pandemia do Covid-19, no qual o trabalho
acadêmico foi desenvolvido de modo remoto, também a inserção dos bolsistas nas
escolas ocorreu remotamente. Trata-se de uma experiência inédita no programa
exigindo as devidas adaptações. Assim, o objetivo é apresentar algumas estratégias
utilizadas para o desenvolvimento do subprojeto e relatar resultados do trabalho já
realizado.

METODOLOGIA: Concebemos a formação profissional dos professores como uma


trajetória de formação de indivíduos intencionalmente planejada para a efetivação de
uma determinada prática social (MARTINS; DUARTE, 2010). Partindo desse
pressuposto, organizamos o trabalho do subprojeto junto às professoras supervisoras
das escolas de modo virtual. Os bolsistas foram inseridos nos grupos de WhatsApp,
dos quais faziam parte as supervisoras, os pais/responsáveis dos alunos e os
pibidianos. Dessa maneira, eles participaram das atividades realizadas junto às turmas
de 1º Ano do Ensino Fundamental, através da postagem de vídeos, envolvendo desde
a autoapresentação até sua contribuição nos diversos conteúdos tratados. As
atividades semanais de planejamento e de socialização dos estudos sobre a formação
docente, foram realizadas por meio de reuniões virtuais via google meet. Assim,
utilizando o método da exposição, por meio do qual “é que se pode descrever,
adequadamente, o movimento do real” (MARX, 1968 apud NETTO, 2011, p. 26), e
apoiados na literatura que trata da formação de professores, apresentaremos alguns
resultados e discussão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A execução do subprojeto exigiu dos envolvidos uma


dose extra de energia, comprometimento, criatividade e capacidade de superação.
Conforme expressam Martins e Duarte (2010, p. 14), como “[...] nenhuma formação
pode ser analisada senão na complexa trama social da qual faz parte”,
apresentaremos alguns entraves e pontos fortes vivenciados no trabalho realizado
nesse período. Dentre as dificuldades encontradas destacamos a alta rotatividade
de bolsistas (muitos tiverem que trancar o curso pela incompatibilidade de conciliar

ISSN 2237-700X
20

trabalho, estudos e dedicação ao programa); baixa adesão discente ao projeto (poucas


inscrições); dificuldades de acesso à internet; falta de equipamentos adequados para
uso nas atividades remotas, dentre outros. Como aspectos positivos ressaltamos a
participação ativa e efetiva dos bolsistas nas diversas atividades do subprojeto; a
criatividade na proposição e execução das atividades; a participação nos Grupos de
Estudo que proporcionou o aprofundamento teórico; maior domínio no uso das
tecnologias da informação e comunicação aplicados ao ensino; o excelente e
comprometido trabalho de planejamento e supervisão realizado pelas professoras
supervisoras. Visto que, conforme Marsiglia (2011), a escola é uma instituição social,
cujo papel específico consiste em proporcionar o acesso ao conhecimento
sistematizado daquilo que a humanidade já produziu, sendo o professor a peça-chave
nessa organização e sistematização do conhecimento, pudemos constatar que os
bolsistas desenvolveram várias aprendizagens do ofício de mestre, por meio da efetiva
inserção e participação nas atividades das escolas parceiras. Dentre as ações
desenvolvidas destacamos a participação na Gincana do Conhecimento, que objetivou
intensificar a aprendizagem da leitura e da escrita através de metodologias ativas,
cujo tema foi a fixação e o reconhecimento de elementos sonoros (letras, sílabas,
fonemas) com sua representação escrita. A gincana foi desenvolvida durante 10
semanas através de jogos interativos presenciais e on-line. A participação no Projeto
Contação de Histórias, cujas histórias foram escolhidas, ensaiadas e contadas através
de vídeos, utilizando-se de materiais como cenários, fantoches, fantasias. O objetivo
foi envolver os alunos no mundo imaginário das histórias, bem como, despertar o gosto
pela leitura. Também houve o desenvolvimento de outras atividades de expressão
étnico-racial, especialmente voltados à temática indígena e do negro, além da
confecção de materiais didáticos concretos para trabalhar conteúdos de literacia e
numeracia. Considerando-se que a escola é o espaço estruturante da atividade
docente (GATTI et al. 2014), por meio do envolvimento dos bolsistas nas diversas
atividades, houve uma maior apropriação de estratégias didático-metodológicas
voltadas ao ensino e aprendizagem dos alunos de alfabetização. Constatamos, assim,
que as palavras de Guimarães (2014 apud GATTI et al. 2014, p. 5): “A ação dos
Licenciandos e de seus orientadores tem o potencial de elevar a qualidade do trabalho
nas escolas públicas e nas instituições formadoras”, são verdadeiras. Desse modo,
através do acompanhamento das diversas ações realizadas no subprojeto, fica
evidenciado que o Pibid está proporcionando qualidade na formação dos futuros
pedagogos.

Palavras-chave: PIBID. Formação Docente. Alfabetização. Prática Pedagógica.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. MEC. CAPES. Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência


– PIBID. Edital 02/2020. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt- br/centrais-de-
conteudo/06012019-edital-2-2020-pibid-pdf. Acesso em: 28 set. 2021.

GUIMARÃES, J. A. Apresentação. In: GATTI, B. A.; ANDRÉ, M. E. D. A.; GIMENES,


N. A. S.; FERRAGUT, L. Um estudo avaliativo do Programa Institucional deBolsa
de Iniciação à Docência (Pibid). São Paulo: FCC/SEP, 2014.

MARTINS, L. M.; DUARTE, N. (Orgs.). Formação de professores: limites


contemporâneos e alternativas necessárias. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.

ISSN 2237-700X
21

MARSIGLIA, A. C. G. A prática pedagógica histórico-crítica na educação infantile


ensino fundamental. São Paulo: Autores Associados, 2011.

MARX, K. O Capital. Crítica da economia política. Rio de Janeiro: CivilizaçãoBrasileira,


I, 1,1968.

NETTO, J. P. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo: Expressão


Popular, 2011.

ISSN 2237-700X
22

A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA ALFABETIZAÇÃO

Andréia de Oliveira da Silva (andreiavitor@outlook.com) ¹


Aline Spilmann de Souza Nunes ²
Carine Dendena ³
Maria Aparecida Ayres do Nascimento 4
Marieli Freitas Oliveira 5
Marta de Fátima Duarte 6
Marta Ferreira da Silva Severo 7
Noemy Borges Pedrozo 8
Renata Nunes Taradenka Tamires Schapuis Wendling 10
9

Vânia Maria Alves (vania.alves@ifpr.edu.br) 11


1 Escola Municipal São Sebastião
2,3,4,5,6,7,8,9,10,11 Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

INTRODUÇÃO: Percebemos que a realidade atual vem afastando cada vez mais
nossos alunos do ato de ler. A presença e o uso cada vez maior de aparelhos
eletrônicos como computadores, videogames, celulares, televisão vem restringindo o
acesso à leitura no núcleo familiar. Além disso, percebemos que muitos estudantes só
têm acesso a livros na escola. Essas restrições, somadas à falta de incentivo, têm
ocasionado pouco interesse pela leitura e, por consequência, dificuldades marcantes
que sentimos na escola como vocabulário “precário”, reduzido e informal, dificuldade
de compreensão, erros ortográficos. Faz-se, portanto, necessário que a escola busque
resgatar o valor da leitura, como ato de prazer e requisito para a emancipação social e
promoção da cidadania. A contação de história pode ser usada como um instrumento
mediador para o processo de alfabetização, de forma prazerosa e lúdica, capaz de
estimular e despertar nas crianças o gosto pela leitura. Pastorello et al. (2015) afirmam
que o contato com histórias e literatura durante a infância possibilita à criança
maiores condições de aprendizagem na fase escolar, de alfabetização e letramento.
Nesse sentido, estamos desenvolvendo um projeto na escola, cujo principal objetivo é
incentivar o gosto pela contação de história e incentivar a leitura, aguçando o potencial
cognitivo, a imaginação e a criatividade do aluno.

METODOLOGIA: Este projeto está sendo desenvolvido com os alunos do 1º Ano do


Ensino Fundamental da Escola Municipal São Sebastião, com a participação das
bolsistas pibidianas do Subprojeto Pibid Pedagogia - Alfabetização. Acreditamos que
para que o ensino seja significativo à vida da criança, faz-se necessário que seu
primeiro contato com a escrita sistematizada seja favorecido como forma de atividade
lúdica. Para tanto, a contação de histórias apresentou-se como um recursoauxiliar para
essa prática pedagógica, pois potencializa o aprendizado e contribui para o
desenvolvimento intelectual dos alunos de maneira significativa. Quando ouvimos
histórias, podemos sentir as emoções dos personagens como a alegria, a tristeza, a
raiva, o pavor, a segurança, o desconforto, a tranquilidade, entre outras. Brandão e
Rosa (2011) destacam a importância do encontro entre crianças e professores nas
rodas de histórias nos primeiros anos escolares e o contato das crianças com a
história, sempre mediado pela voz da professora que lê, canta ou narra. Neste sentido
as histórias foram escolhidas, ensaiadas e contadas através de vídeos, com o objetivo
de envolver os alunos no mundo imaginário das histórias e também despertar o gosto
pela leitura. Como as atividades foram desenvolvidas de modo remoto devido ao
contexto da pandemia do Covid-19, as bolsistas procuraram várias maneiras lúdicas
para que as histórias escolhidas chegassem até os alunos da melhor forma possível.
ISSN 2237-700X
23

Foram usados vários meios utilizando-se de materiais como: cenários, fantoches,


fantasias etc. De acordo com Abramovich (1995) é através de uma história que se
pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir, ser, outra ética,
outra ótica. É ficar sabendo de história, geografia, filosofia política, sociologia, sem
precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula.
Podemos perceber, através das devolutivas verbais relatadas pelos pais, que os
alunos ficam extasiados com as histórias, as quais ouvem e assistem atentamente. É
isto que a história faz, cria mecanismos para afrontar os problemas de forma
saudável, criativa e dinâmica, levando a criança a um mundo extraordinário, onde os
processos vividos pelos personagens e suas aventuras são cheias de significados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados estão sendo positivos, o que também é


confirmado pelos comentários dos pais, cujos relatos indicam que todas as histórias
são muito bem aceitas pelas crianças. As famílias se mostraram muito receptivas ao
projeto, demonstrando apreciação e respeito pelo trabalho da professora regente e das
pibidianas. Entender como a contação de história pode mudar o mundo infantil e
estimular a imaginação das crianças para um mundo onde só elas têm a chave que as
levam e as trazem de volta para a realidade. É surpreendente e fantástico mergulhar
nesse mundo de imaginação. Como professoras e mediadoras do processo ensino-
aprendizagem, cabe a responsabilidade de nos prepararmos para criar oportunidades
para ampliar o conhecimento dos discentes, de forma prazerosa, e buscando levá-los
ao mundo da imaginação. Segundo Ansolin e Oliveira (apud PASTORELLO et al.
2015, p. 7): “[...] ouvir histórias é um dos principais meios para o desenvolvimento da
linguagem e para a formação do leitor, pois incentiva a ampliação do vocabulário e a
estruturação de enunciados, além de despertar no ouvinte o interesse pela leitura”.
Assim, damos continuidade a este trabalho, esperando que os alunos sejam e estejam
cada dia mais envolvidos nas contações de histórias pois elas são importantes aliadas
em seu processo de alfabetização e desenvolvimento cognitivo.

Palavras-chave: Imaginação. Criatividade. Contação de histórias.

REFERÊNCIAS:

ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione,


1995.

BRANDÃO, ROSA. Ler e escrever na Educação Infantil: discutindo práticas


pedagógicas. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

PASTORELLO, Mariana Carbonero. ANGELO, Aline Aparecida. TORRES, Simone


Pádua. A Importância da “Contação” de Histórias Para o Processo de
Alfabetização e na Formação de Leitores. Disponível em:
https://docplayer.com.br/9687158-A-importancia-da-contacao-de-historias-para-o-
processo-de-alfabetizacao-e-na-formacao-de-leitores-resumo.html. Acesso em: 27set.
2021.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos à Capes e ao Instituto Federal do Paraná – IFPR


pela oportunidade de participação no programa PIBID. À coordenação institucional,
coordenadora de área do Projeto Pibid Pedagogia/Alfabetização, à professora
supervisora e a todas as bolsistas pibidianas pelo incentivo e participação dedicada no
projeto.

ISSN 2237-700X
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A IMPORTÂNCIA DOS EXERCÍCIOS FÍSICOS PARA POPULAÇÃO IDOSA: UMA


REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Silmara dos Santos Ribeiro (sil_drs@yahoo.com)¹


Carlos Francisco Neto (carlos_neto23@hotmail.com)²
Maria Jullia Ransani (majuragui181@gmail.com)³
Gesiliane Aparecida Lima Kreve (gesiliane.kreve@ifpr.edu.br)4
1,2,3,4
Instituto Federal do Paraná/Campus Palmas no Paraná

INTRODUÇÃO: A saúde dos idosos ao longo dos anos vem sendo discutida e
explicitada abertamente nos meios de comunicação e mídias sociais. Parte
significativa dos idosos de alguma maneira, criaram consciência sobre a importânciada
prática regular de exercícios físicos, quer seja por estarem atentos as mídias ou
porque seus familiares lhes auxiliam nestas questões, incentivando-os a esta prática.
A idade avançada causa problemas motores principalmente relacionados às
articulações como artroses, artrites e desidratação natural das cartilagens que as
envolvem, causando dificuldades de execução da marcha e enfraquecendo ainda mais
o sistema esquelético (LEÃO, et al., 2019; TOLDRÁ, 2014). Os idosos geralmente
acima do peso e com limitações motoras têm dificuldade de praticar exercícios no solo,
isso amplia a situação do sedentarismo o que potencializa as limitações já existentes,
onde a maioria dos casos de incapacidade física está relacionada à fraqueza muscular,
isso faz com que se torne vulnerável ao executar tarefas de seu dia a dia. Maior
fraqueza muscular, maior risco de quedas e fraturas, as quais são consideradas por
muitos estudiosos a maior causa de morte prematura em idosos (MACIEL, 2010). A
falta de atividade física e de condicionamento físico diminui a capacidade das
valências físicas, fazendo com que ocorra um deficit das funções orgânicas e da
habilidade de executar tarefas diárias. Enfrentam porém, o problema de definir qual
modalidade poderiam praticar de forma segura, sendo que suas limitações físicas e
psicológicas os impedem de praticar grande parte das existentes e disponíveis
(SIEGA, et al., 2020). A prática de exercícios físicos para a população de idosos tem
condição de retardar e até reverter alguns aspectos das perdas funcionais, isso
independe da época do início destas práticas (CIVINSKI, 2011). O aumento da
população idosa está relacionado às melhores condições de vida, aos avanços da
medicina, tratamentos de profilaxia e maior acesso à informação. Dentre estas, as
práticas corporais são apontadas como as que tem maior condição de melhorar a
saúde e prevenir doenças na população idosa. Os exercícios executados na água são
sem dúvidas um dos mais indicados por médicos e especialistas da área da saúde,
sendo que, proporciona prazer e segurança na execução no que se refere às suas
limitações físicas (SOUZA, et al., 2019). “Existem várias possibilidades de atividades
físicas para idosos, porém verifica-se que o mais comum dentre essas faixas etárias é
a prática de atividades em meio aquático, pois são consideradas práticas de baixo
impacto, o que evita a ocorrência de lesões articulares” (LEÃO, 2019, p.128). Justifica-
se este estudo devido à dificuldade dos idosos encontrarem exercícios físicos
adequados à sua realidade. O objetivo deste estudo é buscar embasamento teórico
para esclarecer aspectos da prática de exercícios físicos para idosos.
METODOLOGIA: Este estudo é um levantamento bibliográfico feito com trabalhos com
datas dos últimos 10 anos, foram encontrados 18 trabalhos com esta característica. Os
critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram: artigos completos, disponíveis
gratuitamente, no idioma português. Foi feita a seleção entre 18 trabalhos sendo que
ISSN 2237-700X
25

apenas 11 foram escolhidos.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: A população idosa cresce a passos largos no mundo
todo. No Brasil o percentual passou de “25 milhões para 30 milhões nos últimos 5
anos, sendo cerca de 15% da população é de idosos, dos quais a grande maioria são
mulheres”.O envelhecimento causa naturalmente perda de algumas funções
biológicas, a perda muscular segundo autores é a principal causa da decadência
motora visualizada nos mesmos. “Os idosos representam 12% da população mundial,
com previsão de duplicar esse quantitativo até 2050 e triplicar em 2100” (LEÃO, et al.,
2019, p.23). Aumentar os anos de vida pode ser considerada uma grande vitória para
a humanidade tendo em vista que sempre foi um sonho viver para sempre, logo, o ser
humano não conseguiu tal feito, porém, consegue viver muito mais do que nossos
antepassados. Logo, o que difere tal realidade é a conservação da saúde dos
indivíduos por mais tempo com os avanços tecnológicos e farmacêuticos (TAVARES,
et al., 2017; CONFORTIN, et al., 2017). Com um número tão expressivo de pessoas
idosas, há de se pensar em práticas saudáveis para que estes indivíduos tenham mais
saúde e vidas menos complicadas no que se refere as atividades cotidianas. Tantas
perdas podem ser reduzidas se os indivíduos tiverem durante sua juventude hábitos
saudáveis e vida regrada, quando isso não ocorreu, resta uma urgência em iniciar
práticas que possam minimizar as perdas e auxiliar no sentido de proporcionar aos
idosos mais qualidade de vida. “O grande desafio que a longevidade coloca sobre os
profissionais da área da saúde é o de conseguir uma sobrevida cada vez maior, com
uma qualidade de vida cada vez melhor” (MACIEL, 2010, p. 04). A prática regular de
exercícios físicos feita pelos idosos visa diminuir os ricos de muitas doenças e
problemas de saúde, também pode diminuir o percentual de gordura corporal tão
comum nesta idade, com tal diminuição do tecido adiposo há um aumento da massa
muscular, sendo que com isso conseguirão desempenhar suas atividades não
dependendo de outros para as mesmas. Neste caso são inúmeros benefícios, físicos,
psicológicos e sociais. (CIVINSKI, 2011; OLIVEIRA, 2010). Manter a capacidade
funcional dos idosos é um fator preponderante para que os mesmos tenham condição
de manter suas atividades cotidianas, logo a prática de exercícios físicos regulares é
um meio de alcançar este objetivo, deve ser estimulada desde as idades mais jovens.
O exercício físico e a longevidade parecem estar intrinsecamente ligados entre si e
encontra apoio em muitos investigadores. Viver mais é uma questão multifatorial, é
influenciado pela prática regular de exercícios físicos, pelos níveis de condição física e
pelo estilo de vida do indivíduo. Em concordância com esta afirmação (MACIEL, 2010;
SILVA, 2012 apud BARATA e ALTRI, 1997; SARDINHA, 1999; SOUZA, 2019 apud,
FLORES et al., 2018) sugerem que quem pratica exercícios regularmente pode não
melhorar sua condição adquirida ao longo dos anos, mas impede a morte prematura,
pois estabiliza sua condição e amplia a expectativa de vida. Praticar exercícios permite
aos idosos uma vida mais feliz. (SOUZA, 2019 apud, AZEVEDO FILHO, 2018;
MACIEL, 2010 apud VOGEL et al., 2009; NELSON et al., 2007; OMS, 2005). Uma
grande quantidade de estudos evidenciam que indivíduos que praticam exercícios
regulares e orientados reduzem os declínios funcionais do envelhecimento e
matematicamente é comprovado que exercitar-se diminui a decadência fisiológica
da senescência. Qualquer que seja a intenção de melhorar a saúde dos idosos, faz-se
necessário a prática regular de exercícios físicos regulares o que promove a melhoria
das funções físicas e psicológicas, principalmente a cognitiva, garantindo com isso
uma vida mais independente (SIEGA, et al., 2020; OLIVEIRA, 2010; CIVINSKI, 2011;
OLIVEIRA, 2010). Exercícios realizados no meio aquático são os ideais para
reorganizar todas as funções desencadeadas pelo envelhecimento, logo tal indicação
permite aos mesmos uma atividade saudável, prazerosa, sem riscos de lesões, com
ISSN 2237-700X
26

poder de ser calmante, revigorante, que diminui a carga sobre as articulações, pode
também retardar e melhorar as disfunções físicas e psicológicas. (OLIVEIRA, s. d). Os
exercícios aquáticos são uma excelente alternativa para tirar os idosos do
sedentarismo, pois melhora o convívio social, fortalece os músculos, lubrifica as
articulações, amplia a interação, trazendo resultados úteis à sua vida. Estudiosos
ainda não provaram que a prática regular dos exercícios físicos prolongam a vida,
mas sabem que eles melhoram consideravelmente sua qualidade e podem atrasar a
deterioração natural advindas do processo de envelhecimento. (SILVA, 2012).

Palavras-chave: Exercício Físico. Saúde. Idosos.

REFERÊNCIAS:

CIVINSKI, C; MONTIBELLER, A; BRAZ, A. L. de OLIVEIRA. A Importância Do


Exercício Físico No Envelhecimento. Revista da Unifebe (Online) 2011;
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CONFORTIN. S. C; SCHNEIDER. I.J.C; ANTES. D.L; CEMBRANEL.D; ONO.L.M;


MARQUES.L.P; BORGES.L.J; KRUG.R.R ;DORSI.E. Condições de vida e saúdede
idosos: resultados do estudo de corte. Epidemiologia. Serv. Saúde, v.26, n.2, Brasília,
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LEÃO. L. A; LUCIANO. G. A. G; SANTANA. Y. B; BONFIM. M. R. Benefícios Das
Atividades Aquáticas Para Idosos. Rev. Atena. Saúde, São Caetano do Sul, v. 17,n.
61, p. 127-134, jul./set., 2019.

MACIEL. M. G. Atividade física e funcionalidade do idoso. .Motriz, Rio Claro, v.16


n.4, p.1024-1032, out./dez. 2010 Artigo de Revisão Escola de Educação Física,
Fundação Helena Antipoff, Ibirité, MG, Brasil.

OLIVEIRA. A. C; OLIVEIRA. N. M. D; AARANTES. P.M.M; ALENCAR. M. A.


Qualidade de vida em idosos que praticam atividade física: uma revisão sistemática.
REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., RIO DE JANEIRO, 2010;13(2):301-312

SIEGA. J; LUCKSCH.M.D.D; ALVES.M.A.R; HEEREN. C. E. S; ISRAEL.V.L. Idosos


praticantes de exercícios aquáticos: um olhar biopsicossocial de acordo com a
Classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF). R.
bras. Qual. Vida, Ponta Grossa, v. 12, n. 2, e10989, abr./jun. 2020.

SILVA. C.B.; LOPES.T.M.F.P; LOPES.C.P. OLIVEIRA.Y.S.B; NASCIMENTO.G.I.F.O


Impacto Da Fisioterapia Aquática Na Prevenção De Quedas E No Aprimoramento
Do Equilíbrio Do Idoso: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. Centro Universitário
Tabosa de Almeida–ASCES/UNITA, Caruaru- PE.

SILVA, L.F da. A Importância Do Execício Físico Na Vida Do Idoso. Monografiado


curso ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO JOÃO DE DEUS CURSO DE
GERONTOLOGIA SOCIAL. Agosto 2012.

SOUZA. C. M. S; SOUZA.A.A.S; GURGEL. L.C; BRITO.E.A.S; SOUZA.F.R.S;


SANTANA. W. J; VIEIRA. P.D. Contribuição da atividade física para a qualidade de
vida dos idosos: Uma Revisão Integrativa da Literatura. Id on Line Rev. Mult. Psic.
V.13, N. 46 p. 425-433, 2019 - ISSN 1981-1179 Edição eletrônica em

ISSN 2237-700X
27

http://idonline.emnuvens.com.br/id

TAVARES.R.E; JESUS.M.C.P MACHADO.R. D; BRAGA.V.A.S; TOCANTINS. F.R;


MERIGHI.M.A.B. Envelhecimento saudável na perspectiva de idosos: uma revisão
integrativa. Rev. Bras. Geriatria. Gerontologia., Rio de Janeiro, 2017; 20(6):889-900.

TOLDRÁ. R.C; CORDONE. R.G; ARRUDA.B.A; SOUTO.S.A.C.F. Promoção da


saúde e da qualidade de vida com idosos por meio de práticas corporais. O
Mundo da Saúde, São Paulo – 2014;38(2):159-168.

AGRADECIMENTOS: Ao IFPR por proporcionar as horas de pesquisa e extensão


aos docentes.

ISSN 2237-700X
28

A PRESIDÊNCIA DO PARANÁ (1853-1870): ORA, A LEI... O QUE É A LEI, SE OSR.


MAJOR QUISER?1

Solange Galiotto (solangegaliotto@hotmail.com.br)


Tatiane Aparecida Dutra Vilela (tathyvilella@gmail.com)
Orientador: Judá Leão Lobo (judalobo@ifpr.com.br)
Instituto Federal do Paraná

INTRODUÇÃO: A pesquisa enfocou a atuação dos presidentes do Paraná entre 1853


e 1870. Os chefes do executivo provincial eram livremente nomeados pelo governo do
Rio de Janeiro, isto é, não eram eleitos. A disputa política central refletia-se nas
províncias: “A disputa partidária não apenas refletia as mudanças de partidos no
ministério, mas também o confronto pelo controle da presidência da província e da
assembleia legislativa provincial” (DOLHNIKOFF, 2017, p. 97). Não por acaso, um
centralista da época protestava por maior autonomia das presidências: “o presidente
tem de ser o executor, de ver as dificuldades e inconvenientes, é o centro de
esclarecimentos, da experiência, dos conhecimentos práticos da administração
provincial”, por isso deveria ter seu poder de vetar leis provinciais fortalecido (BUENO,
1857, p. 184). Esse discurso é típico do partido conservador imperial, interessado em
fortalecer o delegado do governo central nas províncias. A análise das
correspondências entre distintos funcionários e a presidência do Paraná entre 1853 e
1870, porém, revelou indícios que contradizem não apenas esse discurso de época,
mas também certos aspectos de uma interpretação historiográfica das presidências
mais baseada no texto do que na prática constitucional. É o caso de Miriam Dolhnikoff
quando afirma que “o presidente tinha poderes restritos de sorte que ele não se
constituía em obstáculo ao exercício da autonomia provincial” (DOLHNIKOFF, 2005, p.
292). Pelo contrário, os chefes do executivo provincial tinham grande autoridade nas
províncias. Foram figuras-chave na consolidação do Estado imperial. Contribuíram
decisivamente para que o poder executivo central, sediado no Rio de Janeiro,
controlasse a interpretação do direito em todo o Império.

METODOLOGIA: A inspiração vem da micro-história de Carlo Ginzburg (1989, 1991,


2002), abordagem metodológica que explica a concepção e as opções desta pesquisa.
Com viés indutivo e qualitativo, caracteriza-se pela valorização de fontes históricas
“menores” (e.g. documentos provinciais) e pelo desafio de compreender o geral a partir
do particular (e.g tirar conclusões sobre o Brasil Império a partir da correspondência da
presidência do Paraná). Num primeiro momento, foram analisados os índices da
correspondência presidencial fornecidos pelo Arquivo Público do Paraná. Selecionados
os documentos promissores, teve início a fase de digitalização e levantamento
documental. A atual fase consiste na transcrição e classificação desses documentos
segundo critérios relevantes para se compreender a atuação das presidências por
meio da do Paraná. As informações estão sendo organizadas em um banco de dados
tabular, e já permitem concluir ao menos o exposto neste resumo.
1
Fala extraída de Memórias de um sargento de milícias (ALMEIDA, 2021).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A pesquisa da correspondência entre funcionários e


presidência do Paraná, de 1853 a 1870, contém indícios de que os presidentes de
província tinham grande autoridade no contexto regional. Foram figuras-chave na
consolidação do Estado imperial ao contribuir para que o poder executivo central, no
Rio, controlasse a interpretação do direito nas províncias, Evidenciaram-se nuances

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29

inexploradas quanto à atuação centralista das presidências junto a diversos


funcionários, de vereadores a juízes de direito. Pôde-se constatar que cabia às
presidências a distribuição não apenas de decisões singulares do poder executivo
central (avisos ministeriais) sobre como interpretar o direito à luz de casos concretos,
mas também de encadernações anuais dessas decisões, às quais os destinatários
se referiam como Coleção das Decisões do Governo:

A câmara municipal desta cidade acusa recepção de ofício de Vossa. de data


de 28 de março, com o qual acompanhou um exemplar de leis gerais de
páginas 1 a 491 do ano de 1863, e bem assim um exemplar das decisões do
governo do mesmo ano de páginas 1 a 559 as quais ficam arquivadas. Passo
da câmara municipal em sessão ordinária de 13 de abril de 1864. (ARQUIVO
PÚBLICO DO PARANÁ. 1864, AP 182 p. 220).

Tenho a honra de acusar recepção do exemplar de coleção de leis gerais do


ano de 1865 de p. 1 a 453, e bem assim um dito das Decisões do governo de
páginas 1 a 642 [...]. (ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ 1867. AP 252,
p. 208).

Muito do trabalho hoje exercido pelos tribunais quanto à padronização do sentido


atribuído ao direito era realizado, na época, pelo poder executivo central com o auxílio
das presidências de província. Os presidentes tiveram papel relevante na construção
de um modelo institucional centralista ao distribuírem essas decisões e cobrarem o seu
devido cumprimento. Do ponto de vista das práticas do poder executivo provincial, o
Estado imperial estava mais para Estado unitário que para “sistema com fortes
elementos federativos” (DOLHNIKOFF, 2005, p. 295). Fato éque os presidentes não
eram os retratados pelos simples textos normativos. Confira-se, por exemplo, o caso
de um juiz de direito que, suspenso pelo presidente do Paraná, dirigiu-lhe um protesto:

Antes de protestar solenemente contra a inexatidão dos fatos e cores


desfiguradas com que quem quer que seja os pintou a V.S.ͣ, cumpre-me
declarar que, na Lei de 3 de outubro de 1834, não vejo conferido aos
presidentes de províncias o direito de imporem a pena de suspensão aos
juízes de direito, e tanto assim que com a lei de junho de 1831 cessou a
atribuição dos presidentes suspenderem magistrados, e esta mesma doutrina
está consagrada nos avisos de 28 de setembro de 1843 e 29 de janeiro de
1844 (ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. 1863, AP 157, p.119 ).

Em síntese, interpretar as presidências como órgãos respeitadores dos textos


normativos não corresponde à realidade histórica. Os presidentes atuavam nas
brechas e, inclusive, contra o direito. Também exerciam seu cargo segundo costumes
constitucionais, isto é, normas não escritas, contribuindo para que o governo do Rio
controlasse o direito nas províncias. Essa prática interpretativa não estava prevista nos
textos normativos, mas foi reconhecida pelas autoridades públicas, pelos juristas e
pelos próprios cidadãos. As presidências eram figuras mais importantes, temidas e
respeitadas nas províncias do que os textos do direito positivo permitem compreender.
Suas práticas são um sintoma de que é questionável retratar o Estado imperial como
um sistema com fortes elementos federativos. Predominou um Estado unitário,
centrado na autoridade interpretativa dopoder executivo central.

Palavras-chave: Brasil imperial. Presidência de província. Atuação


prática.Costumes (in)constitucionais. Forma de estado.

ISSN 2237-700X
30

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. Disponível


em:
<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/literatura/obras_complet
as_literatura_brasileira_e_portuguesa/MANUEL_ANTONIO_ALMEIDA/SARGENTO/
46.HTML>. Acesso em: 06 de setembro de 2021.>

ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. Disputa entre o Juiz de Direito de Paranaguáe


o Presidente da Província. 1863, AP 157, p. 119.

ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. A Câmara Municipal acusa a recepção de um


exemplar das Leis Gerais de 1863, e outro das Decisões do Governo do mesmo
ano. 1864, AP 182 p. 220.

ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ. Juiz de direito acusa recepção da coleção de


Leis Gerais de 1865, e da de Decisões do Governo do mesmo ano. 1867, AP 252,
p. 208.

BUENO, Pimenta. Direito Publico Brazileiro e análise da Constituição do


Império. Rio de Janeiro. Tipografia Imp. e Const. de J. Villeneuve E C, 1857.

CARVALHO, José Murilo de. O Teatro das Sombras: A política imperial. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

DOLHNIKOFF, Miriam. História do Brasil Império. São Paulo: Contexto, 2017.

DOLHNIKOFF, Miriam. O pacto imperial: origens do federalismo no Brasil do século


XIX. São Paulo: Globo, 2005.

GINZBURG, Carlo. A micro-história e outros ensaios. Lisboa: Difel, 1991.

GINZBURG, Carlo. Relações de força: história, retórica e prova. São Paulo:


Companhia das Letras, 2002.

GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo:


Companhia das Letras, 1989.

SLEMIAN, Andréa. Sob o Império das Leis: Constituição e Unidade Nacional na


Formação do Brasil (1822-1834) São Paulo, Hucitec, 2009.

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31

A REINCIDÊNCIA CRIMINAL E A NÃO RESSOCIALIZAÇÃO

Ana Carolina Monteiro (anamonteiro4189@gmail.com)¹


Caroline Cristina Ribeiro Dresch²
Natalia Luiza Giongo³
Suhayla Castanha4
Luana Michalski de Almeida Bertolla (luanamabertolla@gmail.com)
1,2,3,4 Instituto Federal do Paraná - IFPR

INTRODUÇÃO: O presente trabalho abordará, de forma breve, a problemática


vivenciada pelo sistema prisional brasileiro, que retrata a carência de políticas públicas
de ressocialização, fator que está diretamente relacionado à reincidência criminal. A
motivação para tratar do tema foi a histórica falta de eficácia do sistema
carcerário do país e como os índices de criminalidade vêm aumentando ao longo dos
anos. Ademais, com a superlotação dos presídios, os indivíduos que praticam delitos
leves são condicionados a permanecer no mesmo ambiente que os indivíduos de
maior periculosidade, ocasionando assim, a “aprendizagem” de novas práticas
delituosas e, consequentemente, ao retornar para a sociedade, voltam a cometer
delitos até piores do que os praticados anteriormente. Sendo assim a questão
problema é: a forma como a pena é executada no sistema penitenciário brasileiro é
efetiva para ressocializar e evitar a reincidência criminal?

METODOLOGIA: Para tanto, será utilizado o método dedutivo, com análise dedoutrina
e artigos científicos, a fim de aplicar o conhecimento geral às questões específicas,
levantadas no presente trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A pena segundo Nucci (2015, p. 53) “[...] trata-se da


sanção imposta pelo Estado, valendo-se do devido processo legal ao autor da infração
penal, como retribuição ao delito perpetrado e prevenção a novos crimes”, para ser
eficaz na diminuição do índice de criminalidade, não deve ter caráter apenas punitivo,
pois dessa maneira existem grandes chances de o condenado voltar a delinquir. De
acordo com Beccaria (2015, p. 53), acerca da moderação das penas, o cenário ideal
seria “[...] entre as penas e na maneira de aplicá-las proporcionalmente aos delitos, é
mister, pois, escolher os meios que devem causar no espírito público a impressão mais
eficaz e mais durável, e ao mesmo tempo, menos cruel”. Sabe-se que isso só é
possível se existirem políticas públicas que auxilem na reabilitação do infrator durante
o período em que está privado do direito àliberdade.
Todavia, se tratando do sistema penitenciário, Thompson (1998, p. 97) afirma que “[...]
o tratamento penitenciário aponta-se como o alvo principal a ser atingido pela pena
prisional”. De fato, “[...] retroage-se aos mecanismos de repressão e controle como
único escopo da pena criminal” (FERREIRA, 2011), mas que tem sido ineficiente ao
tratar dos indivíduos, o que favorece que retornem à criminalidade. É visível o
retrocesso acerca da questão social, pois ao invés de se buscar alternativas à prisão,
historicamente, as penas têm sido mais duras.
Sabe-se que as prisões brasileiras violam as condições dignas de sobrevivência, o que
inclui a privação da liberdade, a superlotação, ociosidade, não separação dos presos
nas celas, maus-tratos. Falar de ressocialização é inconcebível, uma vez que a prisão
incita e promove exatamente o contrário em razão dos efeitos cruéis que produz.
(FERREIRA, 2011). Para Manfroi (2015), a prisão pode converter delinquentes em
criminosos ainda piores, pois não oferece reabilitação de forma adequada e por este
ISSN 2237-700X
32

motivo deveria submeter ao cárcere somente aqueles que tenham cometido delitos
mais graves ou que oferecem maior periculosidade à sociedade, visto que além de
onerosa, acarreta outros custos sociais. Ainda, descreve que “[...] a aplicação da pena
privativa de liberdade sem que haja um sistema penitenciário adequado de nada vai
adiantar, pois vai aumentar a superpopulação carcerária, que gera consequências
gravíssimas, acerca da ressocialização e da reincidência penal”. O direito do detento à
educação, à qualificação profissional e ao trabalho são formas eficazes para a
ressocialização do infrator, pois com esses incentivos, ao voltar para a sociedade ele
poderá ter acesso ao mercado de trabalho e passar a ter seu sustendo sem reincidir na
criminalidade.
Desta forma, acerca da ressocialização podemos verificar que

Não se trata de construir e/ou reformar presídios, mas de envolver a discussão


da reforma agrária, justiça, direitos humanos, fiscalização e punição da
corrupção, política de emprego, saúde, educação, moradia, quando se discute
a política prisional.. (FERREIRA, 2011).

Com isso, percebemos que o próprio Estado fere a dignidade da pessoa humana, ao
passo que trata o condenado de forma severa, obrigando-o a pagar pelos seus delitos
da forma mais dura possível. Mesmo que a Lei de Execução Penal (LEP) dê as
diretrizes a respeito da separação dos presos provisórios e condenados, primários e
reincidentes, bem como pela tipificação de crimes, a única alternativa que os
indivíduos encontram é manter-se amontoados em suas celas, devido à superlotação e
às condições sub-humanas a que são submetidos.
Através da pesquisa realizada por Ferreira (2011), no Centro de Remanejamento do
Sistema Prisional (CERESP) de Ipatinga/MG, onde 77 pessoas foram entrevistadas, é
possível constatar que a prática punitiva de privação da liberdade não cooperapara
a redução do índice de criminalidade, e que pelo contrário, faz com que as pessoas se
tornem “piores”, pois é ali onde somam os conhecimentos e se adquirem novas formas
para praticar os delitos quando estiverem em liberdade.
Ferreira (2011), ainda sinaliza que outro motivo de a prisão estimular a reincidência, é
a carência de políticas públicas para atendimento às famílias do preso durante o
período de encarceramento, pois, na maioria dos casos, vinha dele o provento do lar e
devido à sua ausência, a família fica desassistida no que diz respeito à satisfação de
suas necessidades. Wacquant (2008 apud FERREIRA, 2011), afirma que "[...] o
encarceramento é em si uma poderosa máquina de empobrecimento".
Ainda, com base na entrevista realizada por Ferreira (2011), foi possível observar que
os presos, em sua maioria, são aqueles que cometeram crimes como furto, que
envolvem drogas, roubo e/ou ameaça e lesão corporal. Com esses dados se rompe a
falsa ideia de que no sistema prisional só existe homicida e estuprador.
Manfroi (2015), adverte que a pena privativa de liberdade, se aplicada de forma
indiscriminada para crimes graves e leves, chamada de “punição generalizada”, além
de não reduzir a criminalidade, intensifica a precariedade da população carcerária.
“Enfim, o meio mais seguro, mas ao mesmo tempo mais difícil, de tornar os homens
menos inclinados a praticar o mal é aperfeiçoar a educação”. (BECCARIA, 2015, p.
109). Conclui-se que o cenário atual aponta para um estado preocupante no Brasil,
pois registra presídios superlotados e detentos em situações degradantes, o que não
atinge uma das finalidades da pena: a ressocialização do indivíduo, ou seja, sua
reinserção na sociedade. Na maior parte dos casos faltam as condições mínimas
necessárias para a ressocialização dos apenados, que acabam deixando a prisão da
mesma forma que entraram ou até piores, ocasionando um problema muito comum em
nosso país. Ao sair da prisão, o Estado não disponibiliza a assistência indispensável
ISSN 2237-700X
33

para que o egresso possa adquirir seu sustento e de sua família de forma lícita,
ocasionando a reincidência criminal e consequentemente maior acúmulo de detentos
nos presídios sem nenhuma perspectiva de reinserção digna na sociedade.

Palavras-chave: Reincidência. Ressocialização. Sistema Carcerário.

REFERÊNCIAS:
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 2. ed. São Paulo: Edipro, 2015.

BORTOLOTTO, Luiza. Sistema carcerário: é possível mudar? Disponível em:


https://reciprocidade.emnuvens.com.br/novapedagogia/article/download/224/242.
Acesso em: 06 jun. 2019.

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em: 02jun.
2019.

FERREIRA, Angelita Rangel. Crime-prisão-liberdade-crime: o círculo perversoda


reincidência no crime. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S0101-
66282011000300008&lang=pt. Acesso em: 01 jun. 2019.
MANFROI, Ilionei. Políticas públicas de ressocialização na gestão do sistema
carcerário. Disponível em: http://ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_ id=17109. Acesso em: 31
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NUCCI, Guilherme de Souza. Individualização da pena. 7. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2015.

THOMPSON, Augusto. Quem são os criminosos? O crime e o criminoso: entes


políticos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1998.

ISSN 2237-700X
34

ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA


DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19

Alexandra Sant'ana Kleinubing (alexandragabiju@gmail.com) 1


Gabriel Resseti2
Rosimeide Francisco Santos Legnani3
Diogo Bertella Foschiera (diogo.foschiera@ifpr.edu.br)4
1,4Instituto Federal do Paraná; 2,3Universidade Tecnológica Federal do Paraná

INTRODUÇÃO: O isolamento social foi utilizado como estratégia para redução da


disseminação do vírus responsável pela pandemia da COVID-19, influenciando
diversos aspectos da vida da população mundial (GARCIA; DUARTE, 2020). Apesar
de ser uma estratégia fundamental para conter a disseminação do vírus, o isolamento
social tem sido associado ao aumento do consumo de álcool e drogas (DUBEY et al.,
2020; REHM et al., 2020), ao sedentarismo, a alterações no sono e conflitos
domésticos (BEZERRA et al., 2020), aspectos estes que podem comprometer a
qualidade de vida (QV) das pessoas (BEZERRA et al., 2020; CARVALHO et al., 2020).
Como fator agravante, estes efeitos psicológicos podem se estender por meses ou
anos após o fim do isolamento, o que deve ser alvo de preocupação das autoridades
de saúde pública (BEZERRA et al., 2020; ZHANG, 2020). Desse modo, monitorar o
impacto do isolamento social na QV de diversos grupos sociais torna-se importante.
No Brasil, umas das medidas de controle da pandemia foi a suspensão do calendário
acadêmico das instituições de ensino (BRASIL, 2020), o que alterou de maneira radical
a rotina dos estudantes. Nesse sentido, ao considerar a importância da QV para as
pessoas (PANZINII et al., 2011), o presente estudo buscou analisar a QV de
estudantes universitários de Educação Física de uma universidade estadual brasileira
durante a pandemia da COVID-19.

METODOLOGIA: O presente estudo caracteriza-se como transversal e quantitativo. A


amostra foi constituída por 166 estudantes universitários de cursos de bacharelado e
licenciatura, com idade média de 23,8±4,96 anos, dos quais 51.2% (n=85) eram do
sexo feminino e 48,8% (n=81) do sexo masculino. A amostra foi determinada
intencionalmente. Um cálculo amostral foi conduzido, indicando valores post hoc de
β=0,83, os quais são considerados satisfatórios pela literatura (THOMAS; NELSON;
SILVERMAN, 2012). Para analisar os domínios da QV utilizou- se o Instrumento de
Avaliação de Qualidade de Vida da OMS – WHOQOL-bref (FLECK et al., 2000). Esta
ferramenta é constituída por 26 questões, as quais devem ser respondidas em uma
escala do tipo likert, considerando os últimos 15 dias vividos pelo participante. As
questões são distribuídas em quatro domínios (físico; psicológico; social e; ambiental).
Escores mais altos em cada domínio sugerem uma maior QV. Após a divulgação da
pesquisa nos canais comunicativos da instituição de ensino selecionada para o
estudo, os estudantes que manifestaram o interesse em participar voluntariamente
receberam links de um formulário eletrônico com o instrumento de coleta de dados
para preenchimento online. Os dados foram coletados no mês de dezembro de 2020.
O formulário eletrônico alimentou planilhas do programa Microsoft Excel®, as quais
foram posteriormente exportadas ao programa SPSS® para análise dos dados. A
estatística descritiva, com média e desvio padrão, foi utilizada para determinar as
características amostrais e os escores dos domínios de QV. A normalidade dos
dados foi avaliada por maio do teste de Kolmogorov-Smirnov. O teste U-Mann-
Whitney foi utilizado para avaliar as diferenças nos domínios de QV entre os sexos e o
coeficiente de Spearman foi utilizado para avaliar a correlação da QV com as variáveis
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35

descritivas. Um valor de significância de p<0,05 foi utilizado em todos os testes. O


estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de
Ponta Grossa, sob o parecer 4.415.310/2020.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os maiores escores de QV foram apresentados pelo


domínio físico (71,3±13,8) e os menores pelo domínio psicológico (61,0±15,0). Na
Tabela 1 são apresentados os escores médios dos domínios de QV, bem como as
características descritivas da amostra.

Tabela 1 Média e desvio padrão das variáveis descritivas e domínios de qualidade de vida dos
estudantes participantes (n=166).
Variáveis ±
Variáveis Descritivas Idade (anos) 23,8±4,96
Peso (kg) 69,0±14,4
Estatura (m) 1,67±0,10
Índice de Massa Corporal - IMC 24,6±4,48
Domínios de Qualidade de Vida Físico 71,34±13,87
Psicológico 61,04±15,03
Relações Sociais 66,32±21,89
Meio Ambiente 64,80±12,08
=media; ±=desvio padrão.Fonte: dados da pesquisa.

Não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas (p>0,05) nos


domínios de QV entre os sexos. Na Tabela 2 são apresentados os coeficientes de
correlação entre as variáveis descritivas e os domínios de QV dos estudantes. É
possível observar correlações estatisticamente positivas entre a idade e o domínio
psicológico (r=0,201), entre a estatura e o domínio físico (r=0,162) e entre o IMC e ao
domínio meio ambiente (r=0,166).

Tabela 2 Coeficientes de correlação entre as variáveis descritivas e os domínios de qualidade de vida


dos estudantes participantes (n=166).
1 2 3 4 5 6 7 8
1 Idade
2 Peso ,215**
3 Estatura ,048 ,566**
4 IMC ,190* ,686** -,150
5 QV – Físico ,068 ,058 ,162* -,095
6 QV – Psicológico ,201** ,068 ,134 ,009 ,542**
7 QV - Relações Sociais ,014 ,105 ,142 -,061 ,502** ,534**
8 QV - Meio Ambiente -,004 ,114 -,009 ,166* ,149 ,375** ,354**
QV=qualidade de vida; *=correlação significativa no nível 0,05; **correlação significativa no nível 0,01.
Fonte: dados da pesquisa.

Os principais resultados indicaram que: (I) as variáveis descritivas idade, estatura e


IMC correlacionaram-se com os domínios psicológico, físico e meio ambiente,
respectivamente. Ao considerar a importância do monitoramento dos índices de QV
(ZHANG, 2020), surge a necessidade de investigações acerca dos mecanismos que
explicam este relacionamento; (II) não foram observadas diferenças estatisticamente
significativas dos domínios de QV entre os sexos, aspecto também apontado por
estudos anteriores com a mesma população (CIESLAK et al., 2012; CLAUMANN et al.,
2017; CONCHA-CISTERNAS; CASTILLO-RETAMAL; GUZMAN-MUNOZ, 2020) e;
(III) embora os estudantes tenham apresentado níveis moderados de QV (escores
próximos a 60 pontos), os índices são cerca de 10% menores que em estudos
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desenvolvidos no período anterior à pandemia (CIESLAK et al., 2012; CLAUMANN et


al., 2017), sugerindo que o período de pandemia pode ter impactado negativamente na
percepção de QV dos estudantes investigados. Nesse sentido, sugere-se que haja
uma atenção especial de toda a população e dos órgãos governamentais para a
diminuição da QV entre os universitários observada no período pandêmico. Do mesmo
modo, novas investigações acerca dos fatores preponderantes para essa diminuição e
que possam auxiliar na retomada dos índices pré-pandêmicos são necessárias.

Palavras-chave: Saúde; Bem-estar; Acadêmicos; SARS-CoV-2.

REFERÊNCIAS:

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Brasil, Brasília, DF, 18 de mar. 2020. Disponível em: <
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020-
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universitários. Journal of Physical Education, v.23, n.2, p.251-260, 2012.

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38

AVERIGUAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA UTILIZADA EM AGROINDÚSTRIAS


DE LEITE E DERIVADOS DE UM MUNICÍPIO DO SUDOESTE DO PARANÁ

Diego Schons (diegoschons@hotmail.com.br)¹


Kely Priscila de Lima (kely.lima@ifpr.edu.br)¹
1 Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

INTRODUÇÃO: Entre os alimentos presentes na alimentação diária dos brasileiros


tem-se o leite e seus derivados, este setor do agronegócio exerce uma função de
grande valor no suprimento de alimentos, criação de empregos e renda para certa
porção da população rural brasileira (ALVARENGA et al., 2020). Segundo dados do
Censo Agropecuário do IBGE de 2017, o Brasil possuia cerca de 1.557.056
agroindústrias, representando cerca de 30,1 % de todos estabelecimentos
agropecuários, que geraram em 2017 cerca de 10,8 bilhões em vendas (BRASIL,
2017). A fim de que estes alimentos cheguem inócuos à mesa do consumidor, é
necessário o atendimento a vários requisitos higiênico-sanitários que englobam as
boas práticas de fabricação contendo procedimentos sistematizados empregados no
fluxo de produção com a finalidade de assegurar um produto isento de contaminação,
com identidade, qualidade e integridade (BRASIL, 2017). Neste sentido, as
fiscalizações aos estabelecimentos industrializadores de alimentos visam o controle de
qualidade da manipulação dos alimentos e prevenção de Doenças Transmitidas por
Alimentos (DTAs). Segundo dados do Ministério da Saúde, as DTAs vêm aumentando
anualmente, a maior parte dos casos não é notificado, devido aos sintomas se
apresentarem leves. Entre 2016 a 2019 o agente etiológico predominante foi a
Escherichia Coli com 35% (BRASIL, 2020). A fim de melhorar a água de consumo
humano, a legislação determina a realização de análises, dentre os parâmetros a
serem observados tem-se os físicos, químicos e microbiológicos (Coliformes totais e E.
coli) (BRASIL, 2017). Tendo em vista a importância do atendimento à legislação e a
qualidade da água utilizada nas empresas, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a
qualidade microbiológica da água utilizada nas agroindústrias de leite e derivados de
ummunicípio do sudoeste do Paraná, quanto a presença de coliformes totais e E. coli.

METODOLOGIA: O estudo foi realizado com as agroindústrias de leite e derivados que


possuem o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), totalizando três agroindústrias. As
análises microbiológicas da água coletada nas empresas ocorreram nas dependências
do Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas. Os utensílios utilizados foram
previamente esterilizados em autoclave (121 ºC/20 min.). Para a coleta, foram
escolhidas torneiras ligadas diretamente ao reservatório de água, as quais foram
higienizadas com hipoclorito de sódio (100 mg/L) e após foi deixada a torneira aberta
por 150 segundos, com posterior coleta, em triplicata, de 100 mL de água em frascos
com tampas. Para a avaliação microbiológica de presença ou ausência, foi utilizado okit
COLItest®, seguindo as informações do fabricante para a identificação de coliformes
totais e E. coli.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO: As coletas de água foram realizadas no mês de


julho de 2021, sendo que cada empresa foi codificada em A1, A2 e A3 a fim de
preservar a sua identidade. Ficou constatado que a água utilizada na empresa A1
era da Companhia de Saneamento do Paraná, na A2 poço artesiano e a A3 de fonte
protegida, ambas relataram realizar a limpeza dos reservatórios de água com
periodicidade mensal, enquanto que a A1 a cada três meses. E todas empresas
realizam a cloração da água, sendo na A3 por dosador automático e nas demais
manualmente por pastilhas. Após realização das análises, constatou-se amostras
reagentes para coliformes totais e E. coli em todas agroindústrias, neste sentido o
resultado de todas empresas encontram-se fora do preconizado pela legislação
(BRASIL, 2017). Diante disso, ficou evidente que as três agroindústrias estão
utilizando água imprópria para o consumo humano. Os coliformes totais e E. coli são
indicadores da eficácia ou ineficácia do tratamento da água, visto que os mesmos
são causadores DTAs (KAMIYAMA, 2012). Nas DTAs podem-se destacar os
sintomas como: dor de estômago, náusea, vômitos, diarreia e febre, os sintomas
podem variar de acordo com o paciente e o agente envolvido (SIRTOLI;
CAMARELLA, 2018). Através dos resultados obtidos, ficou evidente a contaminação
por microrganismos, razão de preocupação com o consumidor final, que acaba
ficando exposto a possibilidade de contrair DTAs. Os altos índices de contaminações
microbiológicas estão atrelados aos programas de autocontrole desenvolvidos pelas
agroindústrias, ou a falta de realização destes. Os resultados poderiam ser
diferentes caso tivessem algumas medidas como, aumento de fiscalização, de
capacitação dos colaboradores, de ações para trazer conhecimento e informações
sobre programas de autocontrole, segurança ao consumidor, importância de um
alimento seguro, entre outros.

Palavras-chave: Alimentos; boas práticas de fabricação; microrganismos;

REFERÊNCIAS:

ALVARENGA, T. H. P.; GAJO, A. A.; AQUINO, A. C. M. S.. Cadeia Produtiva do


Leite: uma revisão no escopo do agronegócio. Revista Científica Agropampa, v.1,
n.1, p.50-62, jan./jun., 2020. Disponível em:
https://periodicos.unipampa.edu.br/index.php/Agropampa/article/view/103247/21515.
Acesso em: 29 jan. 2021.

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definitivos. 2017. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-
agropecuario/censo-agropecuario-2017#agroindustria-rural. Acesso em: 29 jan.
2021.

BRASIL. Decreto N° 9.013, de 29 de Março de 2017. Regulamenta a Lei nº 1.283, de


18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que
dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário
Oficial da União, n° 62, seção 1, p. 3, Brasília, DF, 30 de março de 2019.

BRASIL, Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico 32. Brasília, v.51, n.32,


2020. Disponível em: https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/August/17/Boletim-
epidemiologico-SVS- 32.pdf. Acesso em: 09 fev. 2021.

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40

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria de Consolidação N° 5, de 28 de Setembro


de 2017. Consolidação das normas sobre as ações e os serviços de saúde do
Sistema Único de Saúde. 2017.

KAMIYAMA, C. M. Qualidade da água em laticínios - a realidade da agroindústria


participante do programa PROSPERAR/AGROINDÚSTRIA. 2012, p.116.
Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados) - Programa
de Mestrado Profissional - Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz deFora, 2012.
Disponível em: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/2041. Acesso em: 25 ago.
2021.

SIRTOLI, D. B.; CAMARELLA, L. O papel da vigilância sanitária na prevenção das


doenças transmitidas por alimentos (DTA). Revista Saúde e Desenvolvimento,
v.12, n.10, 2018. Disponível em:
https://www.revistasuninter.com/revistasaude/index.php/saudeDesenvolvimento/articl
e/view/878. Acesso em: 25 ago. 2021.

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CANDIDA AURIS: ATUALIZAÇÃO DO STATUS DE PATÓGENO EMERGENTE

Taeline Wuemile Abati (taelineabati@hotmail.com)¹


Lualis Edi David (lualis.david@ifpr.edu.br)²
IFPR Instituto Federal do Paraná

INTRODUÇÃO: Gênero Candida sp. compreende espécies de fungos oportunistas,


os quais compõem a microbiota normal de homens e outros animais. Sendo em
alguns momentos agentes de micoses humanas devido a alterações no organismo
(CDC, 2020a). A espécie mais comum encontrada especialmente na pele e no
interior do corpo (boca, intestino, vagina e garganta) é a Candida albicans (CDC,
2020f).
Nesse sentido podemos destacar ainda uma espécie de Candida multirresistente
que se tornou uma ameaça a saúde pública mundial, a Candida auris (IYER et al.,
2020). Descrita pela primeira vez quando isolada do canal auditivo em um paciente
no ano de 2009 no Japão, trata-se da uma nova candida multirresistente (SATOH et
al., 2009). Neste cenário de emergência da C. auris somado a pandemia por SARS-
CoV-2 observamos os desafios aos sistemas de saúde, tanto no Brasil como em
escala mundial (PAHO, 2021). Esta revisão tem como objetivo atualizar informações
sobre a C. auris no contexto de patógeno emergente, aspectos epidemiológicos,
identificação,multirresistência e infecções prevalentes da C. auris, evidenciando os
casos já descritos no Brasil.

METODOLOGIA: Realizou-se uma revisão bibliográfica, nas bases de dados:


PubMed, Web of Science, organizações regulamentadoras de saúde como OPAS
(Pan American Health Organization), OMS (Oganização Mundial da Saúde), ANVISA
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), CDC (Centers for Disease Control and
Prevention). Os critérios de inclusão foram artigos científicos que exploraram o tema
proposto, publicados preferencialmente entre os anos de 2016 á 2021.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Epidemiologia de C. auris: A situação


epidemiológica na região das Américas expõe dados preocupantes em relação as
infecções por C. auris (PAHO, 2021). Em 2012 foi relatado o primeiro surto na
Venezuela (DOLANDE et al., 2017). Os casos notificados nos EUA no ano de 2018
tiveram um aumento de 318% em relação aos anos anteriores até 2015 (CDC,
2020a). Dados de candidemias em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) da Índia
demonstram alta prevalência em infecções por C. auris (70,3%) (ZEICHNER et al.,
2019).
Identificação de C. auris: É incorretamente identificada, pelos métodos fenotípicos
tradicionais como VITEK 2 YST, API 20C, BD Phoenix e MicroScan. Podem ser
erroneamente identicada também como, Saccharomyces cerevisiae por AuxaColor 2
e como Candida sake por API ID 20C (GAITÁN et al., 2017). Por esse motivo, os
métodos moleculares são de extrema importância para o diagnóstico preciso, pois a
C. auris é fenotipicamente semelhante às espécies do complexo de Candida
haemulonii (CHOWDHARY et al., 2017). Uma nova possibilidade é a diferenciação
através de meios cromogênicos, como o ágar CHROMagar™ Candida Plus
(CHROMagar, 2020). Segundo estudo de Borman et al., (2021), apresenta
crescimento á 35°C após 36 horas, com colônias de coloração creme claro,
circundadas por um halo azul.
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Resistência e virulência: A capacidade de sequestrar os antifúngicos que


atravessarem a matriz confere resistência ao tratamento em especial as três classes
terapêuticas: azóis, anfoterecina B e ocasionalmente as equinocandinas
(FORSBERG et al., 2018; DOMINGUEZ et al., 2019). A C. auris, se destaca como
patógeno potencial em infecções hospitalares (CUNHA et al., 2017). Segundo
Lockhart et al., (2017), cerca de 90% das amostras dos EUA são resistentes ao
fluconazol e até um terço ao antifúngico anfotericina B, sendo que 41%
apresentaram resistência a duas das classes de antifúngicos e 4% eram
resistentes as três classes.
Patógeno Emergente: A nova espécie do gênero Candida tem feito órgãos e
sistemas de saúde ficarem em alerta. Trata-se de uma espécie emergente que está
relacionada a vários fatores que dificultam sua eliminação (CDC, 2020c). Inúmeros
casos foram relatados pelo mundo, e a chegada da C. auris ao Brasil, ocorreu em 07
de dezembro 2020, conforme alerta emitido pela ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária). Tratava-se de um paciente internado na unidade de terapia
intensiva (UTI), com complicação referente á COVID- 19, sendo o isolado
proveniente de cultura da ponta de cateter (ANVISA, 2020). No inicio de 2021,
especificamente a partir do dia 15 de janeiro, entorno de 47 países relataram um
único caso, grupo de casos e ou surtos de infecções por C. auris (CDC, 2021c).
Entre as dificuldades de controle desta espécie estão á permanência da colonização
por um longo período de tempo e a capacidade da C. auris persistir em superfícies
de ambientes de saúde. Por isso, o processo de limpeza dos ambientes hospitalares
é fundamental. Uma vez que, C. auris seja detectada ela se desenvolve e pode ser
transmitida de paciente para paciente. Seu biofilme facilita queela fique aderida em
dispositivos plásticos por até 14 dias e em superfícies úmidas por até 7 dias. Sendo
assim, orienta-se o uso de hipoclorito de sódio (NaOCl – 1000 partes por milhão),
pois parece ser o agente mais ativo para a desinfecção de rotina (BRADLEY, 2019).

Palavras-chave: identificação microbiológica, multirresistência á antifúngicos,


surtosepidemiológicos.

REFERÊNCIAS:

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Microbiol Immunol. v. 53, p.41-4, Jan. 2009.
Disponívelem<https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19161556/>
Acesso em 02 Set. 2021.

ZEICHNER, O. L. et al. Candida auris. Current Opinion In Infectious Diseases.


[S.l.], Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health). v. 32, n. 6, p. 559-564, Dez. 2019.
Disponível em < https://journals.lww.com/co-infectiousdiseases/ >Acesso em: 20
Mar. 2021.

ISSN 2237-700X
45

CARACTERÍSTICAS FENOTÍPICAS DE MACIEIRAS ENXERTADAS SOBRE


PORTA-ENXERTOS DA SÉRIE CG

Joice Catiane Marcos Velho (joicemvelho@gmail.com)¹


Allusenna Valentini Barbieri (allusenna@gmail.com)²
Alexandre Friedrich Ribas (alexandrefibras@hotmail.com)³
Clandio Medeiros da Silva (clandio@idr.pr.gov.br)4
Wilson Schveiczrski (wilsonsc@idr.pr.gov.br)5
Leo Rufato (leo.rufato@udesc.br)6
Paulo Mauricio Centenaro Bueno (paulo.bueno@ifpr.edu.br)7
1,2,3,7 Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas
4,5 Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – IAPAR-EMATER
6 Universidade do Estado de Santa Catarina

INTRODUÇÃO: A macieira (Malus domestica Borkh) é uma frutífera de enorme


importância na região sul do Brasil. Atualmente se busca novas opções de porta-
enxertos da série CG (Cornell-Geneva), que possuem características desejáveis
para os produtores, como: melhor produtividade, frutos de melhor qualidade,
resistência a algumas doenças e pragas, densidade de plantio menor, além de
facilidade de manejo. São porta-enxertos que vêm sendo testados já faz algum
tempo, mas ainda são pouco difundidos comercialmente. Deste modo o objetivo do
trabalho foi avaliar o desempenho vegetativo e produtivo dos porta-enxertos da série
CG sob as cultivares copa Gala Select e Fuji Suprema.

METODOLOGIA: O trabalho foi desenvolvido na Unidade Experimental de Palmas –


PR, pertencente ao Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – IAPAR-
EMATER (IDR-Paraná). Para a condução do experimento utilizou-se o delineamento
experimental em blocos ao acaso, com quatro tratamentos, quatro repetições e cinco
plantas por parcela. O espaçamento utilizado foi 1,0 metro entre plantas para cultivar
Fuji Suprema e 0,9 metros para cultivar Gala Select, com espaçamento entre linhas
de 3,5 metros, com sistema de condução em líder central. Os tratamentos consistem
de quatro porta-enxertos, sendo eles CG.202, CG.210, CG.213 e CG.814. As
avaliações realizadas foram: área de secção transversal do caule (ASTC), altura
total das plantas (ATP) e número de ramos (NR).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Quando avaliada a altura total das plantas


observou-se que não houve interação entre os fatores porta-enxerto e cultivar copa,
mas ambos os fatores exerceram influência na altura total de plantas, quando
estudados isoladamente. Foi observado que os porta-enxertos CG.213 e CG.202
são os de menor porte (2,61 e 2,87 m, respectivamente) em relação aos demais (CG
814, com 3,38 m e CG 210, com 3,59 m).
Em relação ao número de ramos por planta, não houve interação entre os fatores
porta-enxerto e cultivar copa, mas houve diferença de cada fator isoladamente. A
cultivar Fuji Suprema produziu o maior número (26,55) em relação à Gala Select
(21,07), independentemente do porta-enxerto utilizado. Os porta-enxertos CG 814 e
CG 210 foram os que produziram os maiores números de ramos por planta (25,52 e
26,42, respectivamente) em relação ao CG 213 e CG 202 (20,99 e 22,30,
respectivamente).
Houve interação significativa entre os fatores porta-enxerto e cultivar copa sobre a
variável área da secção transversal da copa (ASTC). Os porta-enxertos CG 213 e
ISSN 2237-700X
46

CG 202 foram os que apresentaram as menores ASTC em ambas as cultivares


copa, em relação aos demais porta-enxertos.
A cultivar copa Fuji suprema mostrou-se mais vigorosa que a cultivar Gala Select
quando enxertada sobre três dos porta-enxertos estudados (CG 202, CG 814 e CG
210). Isso explica a importância do espaçamento maior utilizado entre plantas da
cultivar Fuji Suprema (1 m) em relação à cultivar Gala Select (0,9m). Apenas o porta-
enxerto CG 213 não sofreu influência da cultivar copa para a ASTC.
Os porta-enxertos CG 213 e CG 202 destacam-se pelo porte reduzido e menor
ASTC, o que facilita as atividades de poda, raleio e colheita, principalmente.

Palavras-chave: Porta-enxerto, Malus domestica Borkh, Cornell-Geneva.

REFERÊNCIAS:

OLIVEIRA, L. G.; KRETZSCHMAR. A. A.; MACEDO. T. A.; SANDER. G. F.;


SANTOS. A. M.; RUFATO. L. Avaliação de novos portaenxertos para a cultura
da macieira no sul do Brasil. 26° Seminário de iniciação cientifica, Universidade do
Estado de Santa Catarina. Santa Catarina, 2016. p.1. Disponível em:
https://www1.udesc.br/arquivos/id_submenu/2550/16.avaliacao_de_novos_porta
enxertos
_para_a_cultura_da_macieira_no_sul_do_brasil.pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

ISSN 2237-700X
47

DESEMPENHO DE DIFERENTES CULTIVARES DE RABANETE (Raphanus


sativus L.) SOB ADUBAÇÃO ORGÂNICA NO MUNICÍPIO DE PALMAS, PR.

Vagner Sadoski (vagner_sadoski@hotmail.com)1


Maria Gabriela Kirsch (gabikirsch@outlook.com)2
Silvia Letícia Zanmaria (silvia.zanmaria@ifpr.edu.br)3
1,2,3 IFPR - Campus Palmas

INTRODUÇÃO: O rabanete (Raphanus sativus L.) é uma planta de ciclo curto que
possui uma raiz globular comestível, com várias vitaminas e nutrientes (DA SILVA-
MATOS et al. 2020). Essa cultura está presente em pequenas propriedades como
uma alternativa de retorno financeiro em menor tempo, visto que é possível realizar
a colheita de 3 a 6 semanas após o plantio. Além disso, é uma opção para utilização
na rotação de culturas, visto que possui boa rusticidade e ciclo curto (ALVES, 2017;
CUNHA et al., 2017 SILVA et al., 2020). Considerando a relevância da cultura para a
agricultura familiar, o presente estudo teve como objetivo testar diferentes cultivares
de Raphanus sativus L. sob adubação orgânica no município de Palmas-PR.

METODOLOGIA: O experimento foi conduzido em uma propriedade rural em


Palmas-PR cujo clima é classificado com Cfb segundo Köppen (1948). O
delineamento foi inteiramente casualizado, sendo quatro tratamentos com 72 plantas
por tratamento, e cada planta sendo considerada uma repetição (FIGURA 1).

FIGURA 1. Delimitação dos tratamentos para teste de desempenho de cultivares de Raphanus sativus
L. em Palmas-PR.
Fonte: Sadoski et al. (2021), Palmas-PR.

A semeadura foi feita em 09 de fevereiro de 2021 e as quatro cultivares utilizadas


foram: T1 - Crimson Giant, T2 - Vip Crimson (seleção especial), T3 - Crimson Viper
Ana e T4 - Redondo (Round radish). O espaçamento foi de 20 cm entre linhas e 5
cm entre as plantas. O adubo orgânico utilizado foi de esterco bovino na dosagem de
1kg.m-2, aplicado com 15 dias de antecedência.
No dia 23 de fevereiro foi realizado o raleio, a limpeza e a cobertura do canteiro com
palha previamente seca e sem sementes (FIGURA 2). Após o raleio, restaram para
ISSN 2237-700X
48

cada tratamento 42 plantas.

FIGURA 2. Canteiro coberto com a palha após o raleio dos rabanetes.


Fonte: Sadoski et al. (2021), Palmas-PR.

A colheita ocorreu em 15 de março, de forma manual. As análises ocorreram no


mesmo dia, e, no total das 42 plantas restantes, desprezando-se as bordaduras,
foram colhidas e avaliadas 20 plantas da parte central de cada tratamento. Os
parâmetros avaliados foram: massa fresca total (MFT), massa de raiz (MR), massa da
parte aérea(MPA), comprimento da parte aérea (CPA) e diâmetro de raiz (DR) e
comprimento total (CT) (Figuras 3a e 3b). A análise de variância dos dados foi feita a
partir do teste F e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade através do programa Sisvar.

3a 3b
Figura 3 – Rabanetes após colheita e avaliação. 3a - RabaneteRedondo (T4) 3b - Rabanete Crimson
Viper Ana (T3)
Fonte: Sadoski et al. (2021), Palmas-PR.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Observou-se crescimento geral reduzido das plantas


de rabanete. A época do ano pode ser uma hipótese para esse comportamento,
corroborando com Silva et al. (2017), que afirma que o cultivo de rabanete durante a
primavera-verão, apresenta indicadores agronômicos menores, e que isso ocorre
muito provavelmente por influência dos fatores meteorológicos nas plantas, devido a
condições de temperaturas médias e radiação solar superiores, provocando variações
mais acentuadas na umidade do solo durante os intervalos de irrigação.
ISSN 2237-700X
49

Além disso, algumas amostras apresentaram rachaduras nas raízes dos rabanetes,
o que condiz com o ocorrido com Costa et al. (2006), que cita o uso de adubos
orgânicos, que podem liberar maiores doses de nitrogênio, como um fator que pode
favorecer essa ocorrência.
Sobre os parâmetros de rendimento avaliados, os quatro tratamentos não
apresentaram diferença significativa para as variáveis: massa fresca total (MFT),
massa de raiz (MR), massa da parte aérea (MPA), comprimento da parte aérea (CPA)
e diâmetro de raiz (DR). Para o parâmetro comprimento total (CT) da planta, a cultivar
Crimson Giant (T1) obteve diferença estatística quando comparada com a Cultivar
Redondo (round radish) T4, não diferindo, porém, com as demais cultivares (T2 e T3).

Tabela 1 – Parâmetros de rendimento para avaliação das cultivares de Raphanus sativus L.


sobadubação orgânica.
Médias seguidas de letra iguais não diferem significativamente pelo teste de Tukey (p<0,05)
TRATAMENTOS CT CPA DR MPA MR MFT
(cm) (g)
T1 34,50 a 22,98 a 0,324 a 15,83 a 22,53 a 37,99 a
T2 32,80 ab 21,3 a 0,322 a 15,77 a 23,14 a 38,91 a
T3 33,70 ab 21,25 a 0,377 a 17,75 a 27,92 a 45,67 a
T4 29,85 b 21,43 a 0,32 a 15,07 a 22,78 a 38,17 a
CV (%) 16,72 17,53 23,18 48,22 60,19 47,96

Conclui-se, portanto, que, as quatro cultivares testadas apresentaram desempenhos


semelhantes para o cultivo na região testada, podendo-se ampliar o número de
opções utilizadas pelo agricultor em relação à cultivares, dando-se preferência em
questão de porte para a cultivar Crimson Giant. Entretanto, testes com doses
específicas de adubação orgânica parecem ser relevantes para comprovar a
influência no processo de rachaduras das raízes de rabanetes quando cultivados entre
fevereiro e março.

Palavras-chave: Desenvolvimento, olericultura¸ Raphanus sativus.

REFERÊNCIAS:

ALVES, E. S. et al. Determinação do coeficiente de cultivo para a cultura do


rabanete através de lisimetria de drenagem. Irriga, v. 22, n. 1, p. 194-203, 2017.

COSTA, C. C. et al. Crescimento, produtividade e qualidade de raízes de


rabanete cultivadas sob diferentes fontes e doses de adubos orgânicos. Horticultura
Brasileira, v. 24, p. 118-122, 2006.

CUNHA, F. F. et al. Irrigação de cultivares de rabanete em diferentes épocas de


cultivo no nordeste sul-mato-grossense. Irriga, v. 22, n. 3, p. 530-546, 2017.

DA SILVA-MATOS, R. R. S. et al. A CULTURA DO RABANETE E A IMPORTÂNCIA


DA IRRIGAÇÃO: UMA REVISÃO. A CULTURA DO RABANETE E A IMPORTÂNCIA
DA IRRIGAÇÃO: UMA REVISÃO, p. 1-388–416.

ISSN 2237-700X
50

DA SILVA, J. C.et al. DESEMPENHO AGRONÔMICO DO RABANETE EM FUNÇÃO


DE LÂMINAS DE IRRIGAÇÃO E NÍVEIS DE ADUBAÇÃO NITROGENADA. Revista
Ciência Agrícola, v. 18, n. s/n, p. 7-11, 2020.

KÖEPPEN, W. Climatologia: con um estúdio de los climas de la Tierra. México:


Fondo de Cultura Economica, 1948. 478p

ISSN 2237-700X
51

DIDÁTICA GERAL, DIDÁTICAS ESPECÍFICAS, ESTÁGIO EM DOCÊNCIA E O


PLANEJAMENTO DE ENSINO: UMA ARTICULAÇÃO
NECESSÁRIA PARA A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO

Maria das Graças do Espirito Santo Tigre


(mdgtigrel@yahoo.com.br) ¹Camila Macenhan
(camila.macenhan@ifpr.edu.br)²
Fabiana Andrea Barbosa Kastelijns (fabianaabk@uol.com.br)3
1 e 3 UEPG
2IFPR/Campus Palmas

INTRODUÇÃO: O presente trabalho visa compreender como ocorre a interlocução


entre a Didática geral, as Didáticas específicas na formação para a docência do
Licenciado em Pedagogia da UEPG, tendo como objeto de análise o planejamento
de ensino realizado pelos acadêmicos em campo de estágio. De acordo com Libâneo
(2008, p. 3), “o desencontro entre os professores de Didática provenientes da
Pedagogia e os professores das Didáticas Específicas, especializados num
determinado campo cientifico é um fato conhecido na área da educação”. Franco e
Pimenta (2016, p. 540) apontam para uma proposta de discussão sobre as
articulações possíveis entre os princípios pedagógicos da epistemologia de uma
Didática Fundamental com as Didáticas Específicas, recomendando o estatuto de
uma Didática Multidimensional, que fundamente a prática do ensino como um
fenômeno complexo e multirreferencial, uma vez quese observa que o foco excessivo
na dimensão disciplinar retira da tarefa do ensino sua necessária
multidimensionalidade. Desse modo, o papel da Didática amplia-se e complexifica-se
ao tomar como objeto de estudo e pesquisa não apenas o ato de ensinar, mas os
processos e circunstâncias que produzem as aprendizagens. Desse modo, mais
difícil do que “elaborar o ensino numa perspectiva antiga de transmissão de
conteúdos, será agora a perspectiva de desencadear nos alunos atividade
intelectual que lhes permita criar sentido às aprendizagens” e mobiliza-los para que
elaborem a construção/reconstrução de conhecimentos e saberes (FRANCO;
PIMENTA, 2016, p. 541). Objetivo geral: Compreender como ocorre a interlocução
entre a Didática geral, as didáticas específicas na formação para a docência do
pedagogo, tendo como objeto de análise o planejamento de ensino. Objetivos
específicos: a) identificar como os acadêmicos dos quartos anos de Pedagogia da
Universidade Estadual de Ponta Grossa têm percebido as contribuições das
disciplinas de Didática geral, Fundamentos específicos das diferentes áreas do
conhecimento para a sua formação docente; b) verificar quais são as dimensões da
Didática fundamental mais citadas pelos alunos; c) analisar como ocorre a articulação
entre a disciplina de Didática e FTMs no momento de planejamento das docências
nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

METODOLOGIA: A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa de caráter


exploratório descritivo com realização da análise de conteúdo. Os participantes
foram os acadêmicos dos quartos anos do Curso de Pedagogia da Universidade
Estadual de Ponta Grossa, dos anos de 2019 e de 2020. Foram aplicados
questionários nos meses de novembro de 2019 e de 2020, a fim de coletar dados
dos acadêmicos concluintes do referido curso.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os participantes da pesquisa foram unânimes em


ISSN 2237-700X
52

afirmar que a Didática contribuiu no momento da elaboração do planejamento de


ensino proposto na área de Estágio Supervisionado. Foi possível observar também
que eles destacaram a dimensão técnica da Didática no momento de fazer o
planejamento, citando que ela contribui no momento de elaborar os objetivos, fazer a
transposição didática, organizar as atividades, selecionar as estratégias de ensino,
organizar as sequências didáticas e avaliar a aprendizagem. A dimensão política
(considerando que todas as escolhas para condução da aula envolvem um
posicionamento profissional no campo educacional) não apareceu em destaque.
Desse modo, é possível inferir que os participantes do estudo não evidenciaram o
fato de que: para ensinar não basta saber o conteúdo, mas também as razões pelas
quais se ensina de determinada forma. Foi possível observar que os alunos
percebem a interlocução entre a Didática geral e as Didáticas específicas ao
afirmarem que uma complementa a outra e que poderiam ser ofertadas no mesmo
ano. No curso de Licenciatura em Pedagogia, dada sua abrangência e
responsabilidade de formar o Pedagogo polivalente que atuará na Educação Infantil,
nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e na Gestão Educacional, fica evidente as
limitações das disciplinas de Fundamentos Metodológicos das diferentes áreas
(Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, Ciências) e isso se dá pela pouca carga
horária que é destinada à cada uma dessas disciplinas. As Didáticas específicas
sempre ficamaquém do que eles necessitam para sua base de conhecimento docente.
Na visão dos licenciandos investigados, o papel do formador mostra-se um diferencial,
pois para muitos deles o que faz a disciplina ter maior significado ou não é a postura
do professor. Como foi possível constatar, com a análise das respostas dadas pelos
sujeitos da pesquisa, não ficou contemplado um caráter multidimensional e
contextualizado da Didática. Tal fato revela que a prática, muitas vezes, ainda está
calcada em uma proposta de Didática de caráter mais instrumental, sem considerar
que ela exige ser continuamente repensada à luz dos novos desafios que a
sociedade e a educação apresentam para a construção da democracia e de uma
cidadania plena, consciente e crítica. Esse quadro evidencia que o ensino da didática
ainda apresenta desafios a serem assumidos e enfrentados, no intuito de favorecer o
aprendizado da docência. O principal objetivo é fugir do ensino no qual o resultado
seja uma compreensão neutra, abstrata da “arte de ensinar”. Todo ensino, possui
implicitamente, uma concepção de homem, de educação, de sociedade, que o
fundamenta. O que se busca é contemplar esse referencial e possibilitar que o aluno
compreenda, de um modo articulado, a relação entre os conteúdos ensinados na
disciplina de Didática e sua relação com a prática socialmais ampla.

Palavras-chave: Didática Geral. Didáticas Específicas. Ensino de Didática.


Formação de Professores. Estágio Supervisionado. Relação teoria- prática.

REFERÊNCIAS

FRANCO, M. A. S.; PIMENTA, S. G. Didática multidimensional: por uma


sistematização conceitual. Educ. Soc., Campinas, v. 37, n. 135, p.539 553,abr./jun.,
2016.

LIBÂNEO, J. C. Didática e epistemologia: para além do embate entre a didática eas


didáticas específicas. In: VEIGA, I. P. A.; D´ÁVILA, C. (Orgs.). Profissão docente:
novos sentidos, novas perspectivas. Campinas: Papirus Editora, 2008.

ISSN 2237-700X
53

ESTUDANDO OS FUNGOS ATRAVÉS DA FERRAMENTA JAMBOARD

Keile Calza (keile39@outlook.com) ¹


Kaylane Martins Velho²
Daiana Correa de Souza³
Josy Fraccaro de Marins(josy.marins@ifpr.edu.br) 4
¹ Colégio Estadual Dom Carlos
2,3,4
Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

INTRODUÇÃO: O ensino e a aprendizagem do Reino Fungi devem estar fundados


na premissa de que aprender biologia é essencial para a formação do cidadão,
biólogo ou não, pois ajuda a entender a dinâmica do ciclo biológico (da vida), a
relação deste com o ambiente físico e social e a importância da ciência e da
tecnologia na vida moderna (SOARES E LEMOS, 2015). O Reino Fungi foicriado em
1969 logo após estudos revelarem que seus representantes possuem estruturas e
metabolismos diferentes das bactérias, protozoários, e outros organismos. Os
fungos que fazem parte deste Reino são seres heterótrofos, eucarióticos,
unicelulares, multicelulares ou dimórficos, tendo como alguns representantes: as
leveduras, os cogumelos, as orelhas de pau e os bolores (LOPES & ROSSO, 2010).
Estudar esses organismos é importante, pois eles possuem um papel fundamental
na manutenção da vida do planeta já que realizam o processo de decomposição,
reciclando assim a matéria. Apesar de todos esses benefícios, alguns desses seres
podem ser parasitas, causando doenças aos seres vivos (LOPES & ROSSO, 2010).
São os agentes etiológicos das micoses e de milhares de doenças que afetam
plantas economicamente importantes. E por fim, servem de alimento para os
animais e seres humanos. Em decorrência da pandemia ocorreram várias alterações
no âmbito educacional, e o maior desafio foi a busca por novas ferramentas
tecnológicas acessíveis para a educação remota. Em um momento onde as
mudanças estão acontecendo rapidamente (HABOWSKI & CONTE, 2019) é preciso
cada vez mais pensar na educação como algo humano e as tecnologias fazem parte
disso. Nesse contexto, os bolsistas do PIBID, do subprojeto Biologia, do IFPR –
Campus- Palmas/PR, elaboraram uma sequência de atividades com o tema:
Estudando os fungos através da ferramenta Jamboard, no Colégio Estadual Dom
Carlos, com a supervisão da professora regente, utilizando ferramentas tecnológicas
como o quadro interativo Jamboard, para trabalhar esse assunto com os alunos dos
segundos anos do Ensino Médio do referido colégio.

METODOLOGIA: Inicialmente, os bolsistas juntamente com a professorasupervisora


do PIBID no colégio, reuniram-se via google meet, para planejar asações que seriam
realizadas. Todas as atividades foram aplicadas nos horários de aula da professora
de Biologia das turmas, de acordo com a programação e conteúdo, servindo como
um auxílio e enriquecimento de suas aulas. Após fazer o planejamento e estarem
com o material em mãos, os acadêmicos iniciaram as atividades realizando uma
pesquisa bibliográfica sobre os fungos e então, produziram slides para apresentação
a ser feita aos alunos. Com o material preparado, eles proferiram aula dialogada
sobre os fungos, abordando as suas características gerais, importância e algumas

ISSN 2237-700X
54

doenças, apresentando também na ocasião, pequenos documentários sobre o


assunto. De acordo com Anastasiou e Alves (2009) a aula expositiva dialogada é uma
estratégia que vem sendo proposta para superar a tradicional palestra docente. Há
grandes diferenças entre elas, sendo que a principal é a participação do estudante,
que terá suas observações consideradas, analisadas, respeitadas,
independentemente da procedência e da pertinência das mesmas, em relação ao
assunto tratado. Para acompanhar o momento de aulas remotas e uso das
tecnologias, foi utilizado o aplicativo Jamboard (quadro interativo) onde foi possível
abordar conceitos, exemplificar e relacionar algumas doenças transmitidas por
fungos e através de imagens verificar sintomas e formas de contágio. Também
entender a importância econômica e ecológica dos fungos, através de pesquisas na
internet e da interação entre professor e alunos, utilizando o quadro de comunicação.
O uso da ferramenta Jamboard vem sendo cada vez mais comum em nossas salas de
aula. Integrando professores e alunos em um quadro interativo, a ferramenta da
Google tende a facilitar o entendimento de algumas matérias no ensino híbrido em
que estamos inseridos. Segundo Kenski, 1998, a tecnologia digital rompe com a
narrativa contínua e sequencial das imagens e textos escritos e se apresenta como
um fenômeno descontínuo. Sua temporalidade e espacialidade, expressas em
imagens e textos nas telas, estão diretamente relacionadas ao momento de sua
apresentação. E ainda de acordo com Souza e Parato (2009), os recursos
tecnológicos em sala de aula podem oferecer uma grande contribuição para a
aprendizagem, além de valorizar o professor que, ao contrário do que possa vir a
pensar, poderá ensinar com maior segurança e estará mais próximo da realidade
extra classe do aluno. Para conclusão das atividades propostas sobre os fungos, os
alunos foram convidados a responder algumas questões através do formulário
google disponibilizado no Google Classroom. Essa atividade serviu como avaliação
escrita para verificar o conhecimento dos alunos acerca do assunto trabalhado.

RESULTADOS E DISCUSSÕES: Percebemos que as tecnologias de informação


são grandes aliados ao estudo de conteúdos relacionados à Biologia, principalmente
quando se refere a microrganismos. As ferramentas tecnológicas instigam mais os
alunos a aprendizagem, pois tornam as aulas mais dinâmicas e atrativas. A
abordagem tradicional de ensino, em termos de metodologia onde a “reprodução de
conteúdos [é] feita pelo aluno, de forma automática e sem variações” (MIZUKAMI,
1986, p. 15) não possibilita espaço para compreensão, reflexão e transposição do
conhecimento uma vez que se trata de um modelo transmissivo. O aluno de hoje
não requer apenas aulas expositivas onde o professor é o centro do processo
educativo, mas sim numa interação onde passam a compartilhar informações,
dialogar e formular novos conceitos. A utilização do Jamboard, contribui de forma
significativa, pois essa interação ocorreu, onde os alunos se empenharam em
buscar imagens na internet, conceitos, exemplos, para montar o referido quadro de
comunicação. Também houve indícios de aprendizagem no quesito, importância dos
fungos e sua utilização na indústria de alimentos, sendo que alguns alunos
mencionaram não
saber que tais alimentos eram fabricados a partir da fermentação dos fungos.
Conforme Glasser (2017) a boa educação é aquela em que o professor pede para
que seus alunos pensem e se dediquem a promover um diálogo para promover a
compreensão e o crescimento dos estudantes.

PALAVRAS CHAVE: importância dos fungos, ferramentas digitais, ensino de


ISSN 2237-700X
55

biologia

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANASTASIOU, L. das G. C; ALVES, L. P. Processos de ensinagem na


universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 8ed. Joinville,
SC: UNIVILLE, 2009, (Orgs.)

GLASSER, W. Novas estratégias, reflexões pertinentes, soluções criativas.


Disponível em: <http://www.ppd.net.br/william-glasser/>. Acesso em: 01 jul. 2021.

HABOWSKI, A. C; CONTE, E. (Re)pensar as tecnologias na educação a partir da


teoria crítica. São Paulo: Pimenta Cultural, 2019. 157p.Disponível em:
https://www.pimentacultural.com/repensar-educacao. Acesso em: 05 de mar de
2021.

KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: O novo ritmo dainformação/Vani


Moreira Kenski.- Campinas, SP:Papirus, 2007.

LOPES, S; ROSSO, S. BIO. São Paulo: Saraiva,v 03. 2010.

MIZUKAMI, M. da G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo:EPU, 1986.


(Temas Básicos da Educação e Ensino).

SOARES, L. A. L. LEMOS, E. dos S. A Aprendizagem Significativa sobre “Reino


Fungi” no Segundo Segmento do Ensino Fundamental, Revista/Meaningful
Learning Review v. 5(3), pp. 56-79, 2015.

SOUZA, R. de J. PATARO, P.R.M. Vontade de saber Matemática. Ed.


São Paulo: FTD, 2009.

ISSN 2237-700X
56

EXTRAÇÃO E APLICAÇÕES DE CORANTES VEGETAIS

Jaqueline Nicolini (jaqueline.nicolini@ifpr.edu.br) ¹


Keller Paulo Nicolini (keller.nicolini@ifpr.edu.br) 1
1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná – IFPR, campus

Palmas

INTRODUÇÃO: Os compostos vegetais que são percebidos pelos humanos como


coloridos são geralmente referidos como corantes vegetais. Suas estruturas e cores
variadas fascinam químicos e biólogos, que examinam suas propriedades químicas
e físicas, seu modo de síntese e seus papéis fisiológicos e ecológicos. (TANAKA;
SASAKI; OHMIYA, 2008). São conhecidas mais de 250 antocianinas e/ou derivados,
as quais são responsáveis pela pigmentação que vai do vermelho até o azul, sendo
amplamente distribuídos na natureza (SIMÕES et al., 2003). Este trabalho tem como
objetivo discutir sobre métodos de extração de corantes vegetais e suas aplicações.

METODOLOGIA: Método 1: Para a obtenção de maiores quantidades de extrato


(TERCI; ROSSI, 2002): utiliza-se 4 g do tecido vegetal maceradas e imersos em 5
mL de H2O ou em 5 mL de etanol por 48 h. Método 2: Para a extração de pigmentos
a partir de pequenas quantidades do tecido vegetal (HARBORNE, 1998, Cap. 2;
OKUMURA; SOARES; CAVALHEIRO, 2002): utiliza-se 1 g de amostra, a qual é
macerada e aquecida em Banho Maria a 80 oC por 40 min utilizando como solvente
uma mistura de etanol e ácido clorídrico a 1 %. Método 3: Para quantificação das
antocianinas totais (HARBORNE, 1998, Cap. 2; SANDRE et al., 2014): utiliza-se 1 g
de amostra, sendo macerada e aquecida em banho-maria a 80 oC por 40 min
utilizando como solvente uma mistura de metanol e ácido clorídrico a 1 %. Após o
tempo de extração, as amostras são filtradas e analisadas utilizando cromatografia
em papel para determinação dos índices de retenção (Rf’s). Para a eluição, utiliza-se
uma mistura de butanol, ácido acético e água, 4:1:5, v/v como eluente (HARBORNE,
1998, Cap. 2). Para a quantificação das antocianinas totais a análise é realizada em
espectrofotômetro de UV-Vis em 528 nm (SANDRE et al., 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Para análise do papel cromatográfico, a partir do


centro da mancha eluida, mede-se a distância percorrida pela amostra (em cm), e
divide-se pela distância de 10 cm e multiplica-se por 100, determinando-se o valor
do índice de retenção (Rf), conforme Equação 1.

(Equação 1)

As antocianinas mais comuns são: cianidina, delfinidina, malvidina, pelargonidina,


peonidina e petunidina. A estrutura genérica das antocianinas é apresentada na
Figura 1 e a Tabela 1 apresenta os grupos que caracterizam as antocianinas mais
comuns.
R
OH

HO O
R'

OH
OH
Figura 1 – Estrutura genérica das antocianinas

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Tabela 1 – Grupos que caracterizam as antocianinas mais comuns


Antocianina Grupo em R Grupo em R’
Cianidina OH H
Delfinidina OH OH
Malvidina OCH3 OCH3
Pelargonidina H H
Peonidina OCH3 H
Petunidina OCH3 OH

O cálculo do teor de antocianinas (TA) é realizado a partir da Equação 2 (SANDRE


et al., 2014), sendo calculado em porcentagem (%) em relação à cianidina-3-
glicosídica. Sendo A o valor da absorbância medida em 528 nm, FD fator de
diluição, 772 a absorbância específica da cianidina-3-glicosídica e m é a massa da
amostra (g).

(Equação 2)
Flores e folhas com coloração mais intensa tais como violeta, azul, vermelha e
laranja apresentam maiores teores de antocianinas que flores e folhas de coloração
mais clara, tais como amarelas ou brancas. A extração de corantes provenientes de
plantas permite o uso dos extratos como indicador alternativo de pH em aulas
experimentais de química no Ensino Médio bem como em aulas de Química Geral
no Ensino Superior em cursos de Ciências da Natureza, tais como Química e
Biologia, ou em cursos de Farmácia e Agronomia, permitindo uma abordagem
interdisciplinar promovendo a sustentabilidade tendo em vista que o indicador
utilizado é extraído com solventes verdes, mitigando impactos ao meio ambiente,
sendo este um dos princípios da Química Verde.

Palavras-chave: Métodos de análise, interdisciplinaridade, meio ambiente,


sustentabilidade, química verde.

REFERÊNCIAS:

HARBORNE, J. B. Phytochemical methods: A guide to modern techniques of


plant analyses 3a ed. Chapman & Hall: London, 1998, Cap. 2.

OKUMURA, F.; SOARES, M. H. F. B.; CAVALHEIRO, É. T. G. Identificação de


pigmentos naturais de espécies vegetais utilizando-se cromatografia em papel.
Química Nova. v. 25, n. 4, p. 680-683, 2002.

SANDRE, A. A., et al. Anthocyanins and tannins: is the urban air pollution an elicitor
factor? Brazilian Journal of Botany. v. 37, n. 1, p. 9-18, 2014.

SIMÕES, C. M. O., et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento 5a ed.:


UFRGS/UFSC: Porto Alegre/Florianópolis, 2003.

TANAKA, Y.; SASAKI, N.; OHMIYA, A. Biosynthesis of plant pigments:

ISSN 2237-700X
58

anthocyanins, betalains and carotenoids. The Plant Journal. v. 54, n. 4, p. 733-749,


2008.

TERCI, D. B. L.; ROSSI, A. V. Indicadores naturais de pH: usar papel ou solução?


Química Nova. v. 25, n., p. 684-688, 2002.

AGRADECIMENTOS: Colegiado de Química, campus Palmas do IFPR e o IFPR.

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GÊNERO NOTÍCIA ONLINE: ESTUDO, DESENVOLVIMENTO, ANÁLISE E


PRODUÇÃO PARA ALÉM DA BNCC

Arlete da Conceição Otto de Camargo (letecamarg@gmail.com) ¹


Stefani Pacheco Skodowski (stefani.skodowski@ifpr.edu.br) ²
Quésia Alalana Prusch (quesiaalalana@gmail.com) ³
Bruna Ramos Marinho (bruna.marinho@ifpr.edu.br) 41,2,3,4
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR)

INTRODUÇÃO: A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento


normativo do Ministério da Educação (MEC) que define um conjunto de
aprendizagens consideradas essenciais durante a Educação Básica, além de
delimitar os conteúdos a serem abordados em cada série e as competências e
habilidades fundamentais aos alunos (BRASIL, 2018). Os fundamentos tratados em
sua introdução afirmam um comprometimento centrado na construção de processos
educativos que sejam sintonizados com as necessidades, possibilidades e
interesses dos educandos. Tal afirmação, ainda que pareça positiva a um primeiro
olhar, precede que o aluno seja ensinado segundo o que já lhe é ofertado
socialmente, ou seja, não lhe é oferecida a possibilidade de superar seu cotidiano
tendo acesso a conhecimentos além de suas necessidades e possibilidades – que
lhe foram dadas em sua realidade – ou seus interesses – que ele já possui. Saviani
(2016) desenvolve que, uma vez que a educação básica deve alicerçar-se no pleno
desenvolvimento da pessoa, no preparo para o exercício da cidadania e, por último,
a qualificação para o trabalho - segundo o que define a Constituição Federal e pela
própria LDB -, percebe-se que o objetivo delimitado para a educação é impossível
de ser atingido com currículos que pretendem conferir competências para a
realização de tarefas de modo mecânico e corriqueiro, de acordo com a demanda do
mercado, centrando-se na qualificação profissional e secundarizando os demais
objetivos: o pleno desenvolvimento da pessoa e o preparo para o exercício da
cidadania, tal como trabalha a Base Nacional Comum Curricular. Para a Pedagogia
Histórico-Crítica, “o domínio do conhecimento é uma das armas que a classe
dominante emprega para neutralizar as ações potencialmente revolucionárias”
(DUARTE, SAVIANI, 2012, p. 9). Dessa maneira, cria-se uma esfera de reprodução
cotidiana que não permite que os indivíduos alavanquem suas capacidades, e vidas,
por meio da educação, que está centrada na manutenção social capitalista. O
objetivo do trabalho aqui apresentado, então, é o de discutir os fundamentos da
BNCC, no tocante à função da educação como elemento de transformação - e não
manutenção - social.

METODOLOGIA: O presente trabalho possui matriz qualitativa de natureza básica.


É desenvolvida uma pesquisa explicativa bibliográfica, pautada na revisão de
saberes anteriormente elaborados, que dão cabo de explicar os fenômenos
descritos. Ademais, grande parte das discussões aqui abordadas são fruto das
aulas dos componentes de de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e
Literaturas e Seminário Interdisciplinar de Práticas de Ensino III: pesquisa e ensino
em língua e literatura, do terceiro período do Curso Letras - Português/Inglês do
Instituto Federal do Paraná (IFPR) - Campus Palmas. A escrita do trabalho foi
desenvolvida em conjunto às disciplinas, bem como o planejamento da Sequência
Didática (SD) apresentada em seguida, que visa a apresentação de uma possível
ISSN 2237-700X
60

prática do estudo desenvolvido, sendo esta - a SD - o resultado do trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), e a Escola de


Genebra como um todo, apresentam uma proposta bastante interessante no que diz
respeito ao Ensino de Língua Portuguesa, principalmente no tocante à produção
textual: a sequência didática. Esta, corresponde a um conjunto de atividades
escolares organizadas sistematicamente em torno de um gênero textual, cujo
objetivo é levar os alunos à apropriação e reconstrução da prática de linguagem
construída sócio-historicamente, por meio de uma prática materializada no gênero.
Isso acontece por meio de quatro fases gerais: (1) Apresentação da situação; (2)
Produção inicial; (3) Os módulos (relativos às práticas linguísticas); (4) Produção
final. Entendendo, então, que a interação entre os indivíduos ocorre permeada por
gêneros textuais construídos pela prática sociohistórica a partir das necessidades
encontradas no processo comunicativo (KOCHE, MARCELLO, 2015), e a
pertinência da apropriação e objetivação de capacidades de operar com textos
pertencentes ao gênero notícia, principalmente na “era da informação”, o grupo
desenvolveu um projeto de sequência didática (SD) para o 7º ano do Ensino
Fundamental, acerca do gênero notícia online. A SD em questão visa construir, para
além da capacidade de identificar o gênero notícia e de realizar sua devida
produção, educandos capazes de perceber as interações e intenções reais que
permeiam a escrita de notícias online, por meio do questionamento e da criticidade
frente ao discurso. Isso objetiva abarcar, sim, as vivências e interesses do aluno,
mas de modo que o processo não seja restrito a isso, mas sim valendo-se de tal
para um desenvolver mais complexo das atividades, do conteúdo e da
aprendizagem em si, superando as competências e habilidades da BNCC e
alavancando o trabalho para uma aplicação do gênero que abarca diversos aspectos
críticos do discurso veiculados cotidianamente e que afetam diretamente a
percepção do leitor perante o mundo. O estudo realizado, bem como a proposta
prática desenvolvem que é possível a superação das limitações da BNCC no
processo de ensino, valendo-se, para isso, do trabalho docente voltado à Pedagogia
Histórico Cultural, considerando o aluno sujeito de sua aprendizagem e trabalhando
com contextos reais de uso da língua, determinados previamente pelo planejamento
de uma sequência didática. Por fim, cabe atentar que a educação não é uma faceta
alheia à sociedade que se insere, mas sim é determinante e determinada
socialmente e, acima de tudo, transformadora em suas especificidades.

Palavras-chave: BNCC; Educação; Ensino; Escola de Genebra; Pedagogia


Histórico-Cultural.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino


Fundamental. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2018. BRASIL.

DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèle; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências


didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In:
SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. (Orgs.). Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas: Mercado das Letras, 2004.

KÖCHE, Vanilda Salton; MARINELLO, Adian e Fogali. Gêneros Textuais: práticas


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de leitura, escrita e análises linguísticas. Petrópolis: Vozes, 2015.

SAVIANI, Dermeval. Educação escolar, currículo e sociedade: o problema da


Base Nacional Comum Curricular. Movimento Revista e Educação, Universidade
Federal Fluminense, Rio de Janeiro, n. 4, p. 54-84, 2016.

SAVIANI, Dermeval; DUARTE, Newton. Prefácio. In: SAVIANI, D.; DUARTE, N.


(orgs.) Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na educação escolar.
Campinas: Autores Associados, 2012, p. 1-11.

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GINCANA DO CONHECIMENTO – APRENDER BRINCANDO

Géssica M. Maccari (gessicamaccari@hotmail.com) 1


Adriana dos Santos Silva 2
Andressa Caroline Jahn de Oliveira 3
Deisi Maiara de Vasconcelos 4
Suzani de Lima Pontes 5
Paula Fernanda Stingelin 6
Larissa Zonatto 7
José Henrique dos Reis 8
Francieli Didoné dos Reis 9
Maila Lemes de Souza 10
Lucas Fortunato Alves 11
Giciani Terezinha da Roza 12
Bruna Alves 13
Vânia Maria Alves (vania.alves@ifpr.edu.br) 14
1
Escola Municipal Terezinha Marins Pettres
2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14
Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

INTRODUÇÃO: Devido à problemática da significativa defasagem de aprendizagem


constatada nos alunos, após um ano e meio no ensino remoto e diante da realidade
de alunos que chegam na escola em diferentes tempos, ritmos e níveis de
aprendizagem, surgiu a proposta de uma Gincana do Conhecimento. Esta atividade
foi realizada de forma presencial e virtual. Tem como finalidade promover os
conhecimentos e socializar saberes, a partir da revisão dos conteúdos estudados,
de forma lúdica, contemplando a integração dos alunos do Primeiro Ano do Ensino
Fundamental com os acadêmicos bolsistas do Subprojeto PIBID de Pedagogia -
Alfabetição. O objetivo da gincana é auxiliar na apropriação da linguagem escrita,
reconhecendo-a como forma de interação nos diferentes campos de atuação da vida
social, utilizando-a para ampliar suas possibilidades de participar da cultura letrada,
de construir conhecimentos e de se envolver com maior autonomia e protagonismo
na vida social; além disso, objetiva desenvolver o raciocínio lógico e o espírito de
investigação, recorrendo aos conhecimentos matemáticos para compreender e atuar
no mundo.

METODOLOGIA: A aprendizagem da leitura e da escrita é um processo dinâmico,


que ocorre a partir da alfabetização e do letramento. Segundo a educadora Weisz
(2002), a leitura e a escrita são o conteúdo central da escola e têm a função de
incorporar à criança a cultura do grupo em que ela vive. A gincana de
conhecimentos nasceu com a finalidade de valorizar as situações lúdicas de
aprendizagem em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC).(BRASIL/MEC, 2018), pois segundo a referida base é no início do ensino
fundamental que ampliam-se as experiências para o desenvolvimento da oralidade e
dos processos de percepção, compreensão e representação, elementos importantes
para a apropriação do sistema de escrita alfabética e de outros sistemas de
representação, como os signos matemáticos. Assim, a gincana pretende intensificar
a aprendizagem da leitura e da escrita através de metodologias ativas, tendo como
ISSN 2237-700X
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temática a fixação e o reconhecimento de elementos sonoros (letras, sílabas,


fonemas, partes de palavras) com sua representação escrita.
Também a utilização de números naturais como indicadores de quantidades,
através de atividades interativas que foram desenvolvidas em todo o Projeto de
trabalho através de jogos concretos e on-line. Os jogos foram realizados
semanalmente, nas últimas duas aulas da semana em 10 etapas, destinados aos
alunos que estavam frequentando as aulas presenciais. A participação dos
acadêmicos bolsistas do PIBID ocorreu pelo google meet. Cada etapa iniciou com
uma atividade recreativa e posteriormente com atividades competitivas através de
quiz ou de jogos com a utilização de materiais concretos e no final foi computado o
desempenho de cada aluno. Cada acadêmico ficou responsável em auxiliar a
professora regente na escolha, organização e desenvolvimento dos jogos a fim de
interagir e dinamizar a aula, conforme cronograma pré-estabelecido. No final da
gincana foram nomeados os alunos que participaram de todas as etapas
(independentemente da sua pontuação), estes alunos receberam como prêmio um
certificado de participação e a honra de partilhar com TODOS os demais o prêmio a
eles conferido (ao abrir o pacote os alunos encontraram várias embalagens
individuais e deveriam entregar uma lembrança a cada uma das demais crianças e
também o certificado de participação).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Gincana do Conhecimento contribuiu para a


aprendizagem das crianças, que ocorreu de forma lúdica e prazerosa; além de levar
à desinibição diante das tecnologias, também proporcionou momentos de
descontração e muita diversão. Observamos, ainda, que a realização desta atividade
oportunizou uma maior interação entre os estudantes bolsistas do projeto PIBID e os
alunos do Primeiro Ano da Escola Municipal Professora Terezinha Marins Pettres,
visto que, no momento pandêmico (pela condição sanitária que impede a
presencialidade), o Programa foi sendo desenvolvido de modo remoto. Essa
distância física entre os bolsistas, a escola e os alunos está sendo um grande
desafio; não obstante, por meio desta e das demais atividades desenvolvidas, os
acadêmicos tiveram a oportunidade e a experiência de confeccionar materiais e
desenvolver atividades que puderam ser ministradas via google meet.

Palavras-chave: Gincana do Conhecimento. Atividades lúdicas. Leitura e Escrita.


Conhecimento matemático.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. MEC. Base Nacional Comum Curricular (BNCC), 2018. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_sit
e. pdf. Acesso em: 28 set. 2021.

WEISZ,T. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. Edição digital. Editora


Ática,2002.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos à direção e coordenação da Escola Municipal


Professora Terezinha Marins Pettres pelo aporte necessário para a elaboração deste
projeto; à professora Vânia Maria Alves, pelo apoio e incentivo durante todo o
trabalho, aos pais pela confiança depositada e encorajamento à participação de
seus filhos nas atividades propostas; aos colegas pela união e espirito de equipe
ISSN 2237-700X
64

demonstrada durante toda a aplicação do projeto; à CAPES e ao IFPR pela


oportunidade ímpar de troca de conhecimentos e experiências no processo de
alfabetização e a todas as crianças, protagonistas deste lindo trabalho.

ISSN 2237-700X
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IDENTIFICAÇÃO DE POTENCIAIS RISCOS DE INJÚRIAS NA INFÂNCIA NO


AMBIENTE DOMICILIAR DURANTE O PERÍODO DE PANDEMIA: UM RELATO
DE EXPERIÊNCIA

Welinton Pereira de Souza (welintonsouza36@gmail.com) ¹


Bruna Neves Dolberth ²
Taoana Gottems Del Sent ³
Luana Cláudia dos Passos Aires (luana.aires@ifpr.edu.br)4
1,2,3,4
Instituto Federal do Paraná - Campus Palmas

INTRODUÇÃO: As lesões decorrentes de injúrias estão entre as principais causas


de morte entre crianças e adolescentes no Brasil (BRASIL, 2020), sendo que 90%
dos acidentes podem ser evitados com medidas simples e eficazes de mudança de
comportamento e de adequação, para a promoção da prevenção. As injúrias na
infância compõem-se como tema de grande interesse no contexto atual, visto que,
por consequência do isolamento social provocado pela COVID-19, há maior
permanência de crianças e adolescentes em casa (MARCHETI et al., 2020).
Portanto, neste período em que crianças e adolescentes cumprem o isolamento
social no domicílio, é necessário elaborar e reproduzir orientações para minimizar os
riscos de acidentes nas áreas residenciais onde convivem (BRASIL, 2020, p.2).
Nesse contexto, os profissionais que compõem a equipe de Enfermagem, por
manterem um contato mais próximo com as comunidades nas quais trabalham,
especialmente com as crianças e suas famílias, têm oportunidades únicas durante
as visitas domiciliares para realizar ações educativas de como evitar e prevenir as
injúrias (BRASIL, 2012). Dentro deste cenário, o atual estudo tem como objetivo
Relatar a vivência de acadêmicos de enfermagem frente à oportunidade de
identificar os potenciais riscos de injúrias à criança no ambiente domiciliar durante o
isolamento pela pandemia do COVID-19, e elaborar orientações para a prevenção
das mesmas.

METODOLOGIA: Trata-se de um estudo na modalidade relato de experiência


desenvolvido a partir da vivência de acadêmicos do sétimo período do Curso de
Bacharel em Enfermagem pertencentes ao Instituto Federal do Paraná (IFPR)
campus Palmas, frente à execução do Processo de Enfermagem visando a
prevenção de injúrias na infância no ambiente domiciliar durante a pandemia do
COVID-19. A atividade se deu a partir de visita domiciliar a uma família com criança
de até dois anos, a qual transcorreu respeitando todos os protocolos de segurança,
como o uso de máscaras e a higienização das mãos. Na entrevista familiar houve a
realização do Histórico de Enfermagem, através da avaliação da Caderneta de
Saúde da criança e do seu desenvolvimento infantil, além da observação e análise
das condições da moradia e do bairro considerando os riscos e potencialidades
evidenciadas. Após esse primeiro momento, foi realizada discussão entre colegas
acerca do caso, visando identificar os Diagnósticos de Enfermagem pertinentes à
faixa etária da criança para que a execução de Cuidados de Enfermagem fossem
mais assertivos e resolutivos. A execução do plano de Enfermagem juntamente com
a implementação das intervenções práticas ocorreram ao longo da realização do
componente curricular de Cuidados de Enfermagem à Criança e Adolescente
durante o mês de agosto de 2021.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: As práticas dos componentes da graduação


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66

permitem o contato com diversos temas relevantes e que impactam diretamente os


eventos relacionados à saúde. Esses eventos acabam por refletir nos indicadores
epidemiológicos, como é o caso das injúrias não intencionais dentro do cenário
infanto-juvenil, visto que, são responsáveis por elevados índices de hospitalização,
morbimortalidade e entre outros. Compreende-se portanto, que tais eventos
repercutem a nível financeiro, psicológico, social e físico a nível individual, familiar, e
social. Portanto, os Diagnósticos de Enfermagem elencados na atividade foram:
risco de queda; risco de intoxicação/envenenamento; risco de trauma. Tais
diagnósticos evidenciam e endossam o alcance e a gravidade das injúrias na
infância, proporcionando assim o desenvolvimento de estratégias intervencionistas
que atuem diretamente no círculo social da criança e em sua residência. Após as
análises de risco, foram realizadas as seguintes orientações: retirar os tapetes da
casa devido ao risco de queda; guardar fora do alcance da criança todos os
produtos de risco como medicamentos, produtos de limpeza, beleza, inseticidas,
álcool, dentre outros; adicionar um obstáculo na porta da cozinha; manter fechada a
porta do banheiro; supervisionar a criança de perto durante as brincadeiras; evitar
que a criança brinque perto do forno ou fogão. Observa-se a importância em realizar
orientações singulares e adaptadas a cada contexto e núcleo familiar, o que
possibilita prestar uma assistência mais integral e humanizada e executar um plano
terapêutico mais personalizado e compatível com as reais necessidades pertinentes
a cada núcleo familiar. Tal atividade também oferta grande potencial reflexivo acerca
do papel do profissional Enfermeiro, uma vez que o mesmo é um dos principais
mediadores da Atenção Básica, desse modo, possuindo maior acesso à população,
por consequência, apresentando importante atuação na prevenção das injúrias na
infância. Sendo assim, espera-se que tal profissional esteja apto a identificar fatores
de risco, potenciais risco e as intervenções viáveis, além de que, o profissional de
Enfermagem deve possuir aptidão para a capacitação de sua equipe e a formação
de estratégias de saúde eficazes para a comunidade. O atual estudo possibilitou o
aprendizado acerca da atribuição que o profissional Enfermeiro possui dentro do
contexto de assistência, a qual deve ser, completa e qualificada, visando a
ampliação e complementação do conhecimento à nível coletivo, familiar e/ou
individual proporcionando uma melhor qualidade de vida às crianças, isentando-as
de fatores de risco facilmente elimináveis a partir do devido processo educativo. Na
qualidade de profissional de Enfermagem há importante papel no apoio às famílias e
na proteção das crianças, especialmente frente à imprevisibilidade do contexto de
pandemias e isolamento social (MARCHETI et al., 2020). A experiência vivenciada
oportunizou importante interação entre acadêmicos e a comunidade, além de
possibilitar o desenvolvimento de um olhar crítico para identificação das
potencialidades e vulnerabilidades presentes dentro dos domicílios. Além disso, foi
oportunizado aos acadêmicos o desenvolvimento de diagnósticos de Enfermagem,
o qual é julgamento clínico privativo ao profissional Enfermeiro, além de orientações,
visto que, atuar sob os fatores de risco e fortalecer os fatores protetores pode
impactar diretamente nos índices epidemiológicos preocupantes que envolvem a
temática das injúrias na infância. Conclui-se que a experiência ofertada pela
atividade desenvolvida é importante para a formação profissional, uma vez que
possibilita ao acadêmico uma formação de base integral, permitindo a estes que
desenvolvam plenamente suas atribuições acerca das atitudes promotoras de
segurança em determinados contextos e espaços sociais.

Palavras-chave: Criança; Acidentes Domésticos; Assistência Integral à Saúde;


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Educação em Saúde; COVID-19.

REFERÊNCIAS:
MARCHETI, M. A. et al. Acidentes na infância em tempo de pandemia pela COVID-
19. Rev Soc Bras Enferm Ped. v.20, Especial COVID-19, p 16-25, 2020. Disponível
em: <2-SOBEP-ESPECIALCOVID-0007_AO.indd> Acesso em: 07 set. 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção aos acidentes domésticos & Guia


rápido de primeiros socorros. Brasília, Editora do Ministério da Saúde, p. 24,2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da criança: crescimento e


desenvolvimento. Brasília, Editora do Ministério da Saúde, p. 272, 2012.

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INTERCÂMBIO ACADÊMICO EM TEMPOS DE PANDEMIA: UMA PROPOSTA


DE INTERAÇÃO REMOTA

Patricia Ribeiro (pati.ribeiro2501@gmail.com)¹


Andrei Pchencenzni (andrei.pchencenzni@gmail.com)2
Cássia Lara Frankowia (cfrankowia@gmail.com)3
Dionara Guarda (dionaraguarda@gmail.com)4
Albimara Hey (albimara.hey@ifpr.edu.br)⁵
Clenise Schmidt (clenise.schmidt@ifpr.edu.br)⁶
Mariangela Gobatto (mariangela.gobatto@ifpr.edu.br)⁷
Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

INTRODUÇÃO: As Instituições de Ensino Superior procuram ganhar novos espaços


através da internacionalização, sendo esta, uma forma de expandir conhecimentos
técnicos e científicos para além da instituição. Com isso, amplia-se a possibilidade de
formar profissionais mais qualificados e empreendedores, visto que a experiência do
intercâmbio oferece novas oportunidades para o desenvolvimento da autonomia dos
estudantes, o que pode contribuir para o crescimento acadêmico, pessoal e
profissional (CARVALHO et al, 2016). Nota-se, que a prática de internacionalização
dos cursos superiores além de promover uma interação de saberes culturais e
científicos, proporciona benefícios aos discentes através da vivência em um novo
ambiente com costumes e idiomas distintos, bem como aos professores, que têm a
oportunidade de compartilhar conhecimentos e atuar conjuntamente com outros
docentes (GIRONDI et al, 2016). Na formação em enfermagem, tal prática, além de
proporcionar aos estudantes uma nova vivência de ensino, possibilita a percepção
das práticas profissionais de enfermagem em outros países, sendo um diferencial na
formação (GALLOTTI et al, 2021). As ações realizadas nos intercâmbios
educacionais estão voltadas para proporcionar ao estudante interações com pessoas
de origens e culturas distintas no universo acadêmico, além de dar mais visibilidade
às instituições de origem. Sendo assim, a internacionalização dos cursos na área da
saúde contribui para a formação de profissionais capazes de acompanhar as
mudanças do mercado de trabalho (GUEDES et al, 2017). Objetivo do trabalho é
descrever a experiência de estudantes de enfermagem na participação de um
programa de intercâmbio acadêmico com a Espanha ocorrido de forma remota
durante a pandemia da Covid-19.

METODOLOGIA: Consiste em um estudo descritivo do tipo relato de experiência,


elaborado a partir da vivência de discentes de enfermagem do Instituto Federal do
Paraná - Campus Palmas, na participação em um projeto de intercâmbio acadêmico
internacional realizado em parceria com a Universidade de Santa Bárbara em Málaga
na Espanha, tendo como representantes brasileiros, estudantes e docentes da área
da saúde dos campis de Londrina, Curitiba e Palmas, Paraná. As atividades de
intercâmbio ocorreram mediante encontros virtuais, via Google Meet, em data e
horário previamente definidos, considerando o fuso horário, de modo a permitir a
participação de todos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os encontros eram mediados pelos professores de


ambas as instituições, de modo a auxiliar na compreensão do idioma e na discussão
dos assuntos, favorecendo a troca das experiências. O intercâmbio acadêmico entre

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as universidades do Brasil e Espanha oportunizou aos estudantes a construção de


ações de educação em saúde, abordando diferentes grupos populacionais, contextos
de saúde e situações sociais vivenciados em ambos os países, como por exemplo: a
saúde mental durante a pandemia, o Transtorno do Espectro Autista (TEA), a saúde
dos idosos com doenças crônicas em período pandêmico, a paramentação correta
dos profissionais de saúde para atuar no enfrentamento da Covid-19, entre outros. A
inserção dos acadêmicos na realização das atividades de intercâmbio internacional
de forma online trouxe muitos benefícios, destacando a diminuição dos impactos
negativos na aprendizagem dos alunos causado pela pandemia e a melhora na
interação entre eles, tornando possível, desta forma, manter o vínculo dos acadêmicos
com a instituição de ensino durante o período de distanciamento social e dar
continuidade nas atividades acadêmicas. Projetos como esse também permitem a
interação e troca de experiências entre alunos de diferentes períodos de formação,
além de proporcionar aos estudantes entrar em contato com outras línguas, costumes,
conhecimentos e culturas. Todas as atividades foram planejadas e realizadas em
grupo, desta forma, foi possível a interação e a prática de trabalho em equipe entre os
acadêmicos e professores. Intercâmbios acadêmicos possuem benefícios que vão
além do aprendizado, eles oportunizam o desenvolvimento pessoal, profissional,
amadurecimento e melhora a capacidade de relacionar-se com outras pessoas. Um
ponto positivo foi obter essa troca de experiências mesmo que de forma remota. Já a
dificuldade encontrada, foi em relação ao desconhecimento da língua estrangeira que,
por vezes, dificultou a comunicação entre os participantes. No entanto, tal situação
acabou por incentivar os estudantes a aprender novas línguas. Conclusões: O
intercâmbio é um excelente instrumento de formação para os estudantes, sendo uma
oportunidade de aperfeiçoamento pessoal, profissional e teórico-científico.
Experiências como essa permitem que o estudante se insira no mercado de trabalho
mais preparado para integrar uma equipe multidisciplinar, além de vivenciar mudanças
constantes no seu processo de formação, trazendo benefícios para o desenvolvimento
pessoal e profissional, que reforçam o desenvolvimento teórico-prático. A partir da
vivência dos estudantes, foi possível perceber que além de atuar como uma
ferramenta de ensino e de socialização, a prática do intercâmbio proporcionou aos
discentes o desenvolvimento do trabalho em equipe, comprometimento e maior
interação entre alunos e professores. Ademais, apesar das circunstâncias limitantes
geradas pela pandemia, a experiência foi capaz de contribuir no crescimento
acadêmico agregando uma grande bagagem cultural e educacional.

Palavras-chave: educação internacional; Ensino de enfermagem; Ensino superior.

REFERÊNCIAS:

CARVALHO, J.L. et al. Intercâmbio acadêmico internacional: uma oportunidade para


a formação do futuro enfermeiro. Revista de Enfermagem Referência, v. 4, nº 10, p:
59-67, julho-setembro, 2016. Disponível em
<https://www.redalyc.org/pdf/3882/388247711006.pdf> Acesso em: 21/06/2021.
GALLOTTI, F. C. M; et al. Intercâmbio internacional e sua perspectiva para
enfermeiros e graduandos em Enfermagem: uma revisão integrativa. Research,
Society and Development. v. 10, n. 1, e42710111771, 2021. Disponível em: <
Intercâmbio internacional e sua perspectiva para enfermeiros e graduados em
Enfermagem: revisão integrativa | Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento
ISSN 2237-700X
70

(rsdjournal.org)>. Acesso em: 21 de junho de 2021.

GIRONDI, J. B. R; et al. Intercâmbio acadêmico internacional em enfermagem


perioperatória: relato de experiência na graduação. Revista Mineira de Enfermagem.
v. 20:e943, 2016. Disponível em: < e943.pdf (gn1.link)>. Acesso em: 21 de junho de2021.

GUEDES, G. F. et al. Intercâmbio internacional nos cursos de graduação de


enfermagem. Journal of Nursing and Health, v. 2, n° 7, p. 213-25, 2017. Disponível
em
<https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/11009/7890>
Acesso em: 21/06/2021.

ISSN 2237-700X
71

O FENÔMENO DA TRANSCULTURAÇÃO NA CONQUISTA DO BRASIL: UMA


LEITURA DA CARTA DE CAMINHA

Karolay Aparecida dos Santos (karolaysantos001@gmail.com)1


Jaison Luís Crestani (jaison.crestani@ifpr.edu.br)2
1
Discente do Curso de Letras do Instituto Federal do Paraná (IFPR) – Campus
2
Palmas.
Docente do Colegiado de Letras do Instituto Federal do Paraná (IFPR) – Campus
Palmas.
INTRODUÇÃO: Considerada como primeiro documento oficial do Brasil, a Carta de
Pero Vaz de Caminha foi escrita entre os dias 26 de abril e 02 de maio do ano de
1500. Caminha era o escrivão de Pero Álvares Cabral e escreveu a Carta ao rei de
Portugal, D. Manuel I, relatando o primeiro contato da frota portuguesa com os índios
que no Brasil habitavam. A Carta, além de ser um documento histórico do
descobrimento do Brasil, pode ser considerada também como a primeira obra com
características literárias, produzida no país, o que a converte em uma fonte
inesgotável de pesquisas sobre “quem somos” e as “influências” que os portugueses
aqui trouxeram. Diante disso, insurgem-se os seguintes questionamentos: qual a
importância histórica da Carta para o nosso país e quais foram as implicações da
colonização portuguesa no desenvolvimento do Brasil? Motivada por essas
inquietações, a pesquisa proposta tem como objetivo analisar o que a Carta de
Caminha nos revela acerca da visão e das pretensões do colonizador.

METODOLOGIA: Para tanto, propõe-se uma pesquisa bibliográfica, que se dividirá


em três momentos principais: Primeiramente será realizado um panorama histórico
do processo de colonização do Brasil. Em seguida será analisada a Carta de Pero
Vaz de Caminha, orientada pelos pressupostos teóricos do conceito de
transculturação. E por fim será feito um estudo comparativo entre a Carta e uma
seleção de produções artístico-culturais de intelectuais do século XX e da atualidade
que propuseram releituras críticas do processo de colonização do Brasil.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em suma, as escolhas lexicais do autor da Carta


são reveladoras da concepção portuguesa a respeito dos nativos, os quais no
processo inicial da conquista eram descritos como seres bestiais e selvagens. Com
isso, o projeto inicial de dominação e exploração da nova terra foi realizado de forma
pacífica, como descrito na Carta, para que pudessem “amansar” o povo nativo,
facilitando a conquista do território. A partir disso, foi escolhido como pressuposto
teórico, o conceito de transculturação, que foi formulado com o propósito de se
pensar os encontros, embates e sincretismos entre diferentes culturas. Diante da
análise da Carta de Caminha, além da estratégia de uma primeira aproximação de
forma pacífica, percebeu-se que os navegadores portugueses investiram na inserção
gradativa de sua cultura, por meio da entrega de objetos simbólicos, realização de
missas, incentivo para a repetição de seus gestos em suas cerimônias religiosas e
também o incentivo para o uso de suas vestimentas. Nesse processo estaria sendo
promovido uma desculturação parcial, segundo as palavras de Ortiz (2021), em que
os índios perderiam gradualmente seus hábitos e com isso iniciaria um fenômeno de
neo- culturação, em que passariam a assimilar traços da cultura estrangeira. Por
fim, pela análise das amostras de textos de escritores modernos e contemporâneos
do séc. XX, os quais realizaram releituras críticas do processo de colonização,
notou-se que foram levantadas reflexões acerca de diversos assuntos, como a

ISSN 2237-700X
72

condição de objeto de desejo que a mulher nativa assumia aos olhos portugueses, a
condição dos povos indígenas na atualidade, a perda de porções das suas terras, a
ambição portuguesa e a sua busca incessante pelo lucro. Diante disso, pode-se
afirmar que os efeitos do processo de colonização estarão inscritos na cultura
brasileira, pois até hoje prevalecem a língua portuguesa, a religião cristã, o sistema
capitalista e formas de organização social e política identificadas com a cultura
europeia. Contudo, apesar da supremacia da cultura europeia, muitos traços da
cultura nativa permanecem vivos e foram integrados à nova sociedade que se
constituiu. Portanto, o Brasil se afirma, nos seus mais variados aspectos, como uma
nação transculturada, marcada por hibridismos e sincretismos culturais.

Palavras-chave: Carta de achamento do Brasil; Pero Vaz de Caminha;


Colonização.

REFERÊNCIAS:

CAMINHA, Pero Vaz de. Carta ao rei D. Manuel. Versão moderna de Rubem Braga.
Rio de Janeiro: BestBolso, 2015.

Cunha, Roseli Barros. Transculturação narrativa: seu percurso na obra crítica de


Ángel Rama. São Paulo: Humanitas Editorial, 2007.

BRAGA, Fábio William Lopes. A carta de Caminha e o conceito de literatura na


historiografia literária brasileira. Assis: Faculdade de Ciências e Letras, campus
de Assis – UNESP – Universidade Estadual Paulista Julia de Mesquita Filho, 2009.

ORTIZ, Fernando. Do fenômeno social da transculturação e sua importância em


Cuba. Tradução de Lívia Reis. Disponível em:
https://www.ufrgs.br/cdrom/ortiz/index.htmAcesso em: 22 de abril de 2021.

AGRADECIMENTOS: Agradeço ao Instituto Federal do Paraná Campus Palmas por


proporcionar eventos como esse, os quais buscam agregar no conhecimento
científico de toda comunidade e estimular os alunos em seus trabalhos de pesquisa.
E agradeço também meu orientador, Jaison Luís Crestani, o qual me incentiva nos
trabalhos realizados e possui um papel especial na minha formação acadêmica.

ISSN 2237-700X
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O JORNAL NA SALA DE AULA: UMA EXPERIÊNCIA DE INICIAÇÃO À


DOCÊNCIA

Arlete da Conceição Otto de Camargo


(letecamarg@email.com.br) ¹
Maria Luiza Fernandes (mluizafernandes111@gmail.com)²Jaison
Luis Crestani (email@email.com.br)3
1,2,3,
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR)

INTRODUÇÃO: Com sua constituição multiforme, um jornal abriga em seu interior


uma gama variada de gêneros textuais, com características e propósitos
comunicativos bastante distintos. Essa pluralidade propícia uma multiplicidade de
abordagens possíveis em sala de aula. Tendo em vista esse potencial didático,
alunos do curso de Letras do IFPR – Campus Palmas, que participam do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), desenvolveram atividades
de ensino, voltadas ao estudo do universo jornalístico. O objetivo dessas atividades
está centrado no reconhecimento e na análise da estrutura textual e das convenções
dos diversos gêneros textuais que compõem esse veículo comunicativo. Para tanto,
este trabalho está embasado em referenciais teóricos que fundamentam os estudos
sobre os gêneros textuais, tais como Bakhtin (1992), Marcuschi (2005) e Bronckart
(1999). Assim, pretende-se apresentar um relato das experiências desenvolvidas
com alunos do primeiro ano do Ensino Médio da escola parceira do projeto do PIBID
de Língua Portuguesa do IFPR – Campus Palmas. Nesse sentido, serão
apresentadas as estratégias didáticas mobilizadas no desenvolvimento das aulas e
os resultados alcançados em termos de aprendizagem, os quais incluem desde o
reconhecimento da estrutura jornalística, o conhecimento das especificidades de
cada gênero textual existente no interior do jornal, e a construção de um senso
crítico sobre a credibilidade dos órgãos de imprensa e a disseminação de fake news.
Segundo Bakhtin (1992) “se não existissem os gêneros do discurso e se não os
dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo da fala, se
tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria
quase impossível” (p.302). Os gêneros possuem papel fundamental, na relação que
existe entre os sujeitos, pois a língua é visualizada como uma ação social, histórica
e cognitiva. A abordagem desta temática (Fake News) nas aulas, não se justifica
apenas por tratar de um conteúdo de suma relevância ao campo do saber da
linguística, mas trata-se dos conhecimentos essenciais que são indicados pela
BNCC (Base Nacional Comum Curricular), no âmbito de suas competências e
habilidades no componente de Língua Portuguesa, do Ensino Médio, e sobretudo
porque reconhecendo gêneros e sabendo manipulá-los com destreza, nos tornamos
cidadãos mais críticos e participativos na sociedade.

METODOLOGIA: Devido a situação que nos encontramos, consequência da


COVID-19, as aulas (PIBID) em outro momento ministradas em sala de aula,
passaram a ser realizadas pela plataforma do meet (2 aulas semanais). Antes do
trabalho ser iniciado, procurou-se junto a professora regente da turma, realizar uma
atividade diagnostica oral, para compreender o quanto os alunos sabiam sobre o
assunto, a partir do levantamento, foi inciado o processo de produzir o plano de aula,
bem como os materiais a serem aplicados. Esses, dos quais as bolsistas buscaram
utilizar de diversos modelos interativos, para fixar a atenção dos alunos através de
ISSN 2237-700X
74

aula expositiva. Também buscou-se ativamente, estimular os discentes a


observarem que os temas selecionados, o estilo, a apresentação, a postura social
de quem produz um discurso, são aspectos que estão intimamente relacionados
com os meios e as estratégias de produção. Para interpretar bem um texto, é
preciso conhecê-lo, reconhecendo sua estrutura e compreendendo seu objetivo, as
notícias, reportagens, entrevistas, longe de ser um instrumento neutro, são, na
verdade, a construção de um discurso, condicionado a ideologia, opinião ou
interesses de quem “conduz” a mídia de comunicação em que o ocorrido/fato está
relacion atividade de comunicação, ocorre através dos gêneros textuais, e sem o
domínio dos gêneros - como Bakhtin aponta- seria impossível haver a comunicação,
dado isso também surge a necessidade de saber produzir textos, não somente
enunciados soltos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Considerando que o grande desafio é fazer com


que os alunos apresentem opiniões, desenvolvam a oratória, exponham argumentos
suficientes e embasados para debater, capacidade de afirmar ou discordar tanto na
escrita, como na oralidade, é de suma necessidade o trabalho com os gêneros da
esfera jornalística. O presente trabalho buscou estimular nos alunos a reflexão
através, dos materiais trabalhados nas aulas, que abordou também sobre a mídia
manipuladora e os perigos das mentiras criadas, para uma sociedade (utilizando da
literatura, como o livro “1984” de George Orwell” que levanta a questão da
adulteração de eventos, para que determinada classe influente tivesse domínio
sobre outros grupos, estes que não tinham perspectivas críticas ou de acesso às
informações verídicas). Debatendo a abordagem da linguagem usada nos textos
jornalísticos, assim como sua reestruturação, visando comparar o “poder” que as
palavras possuem quando usadas em determinados contextos.
Por fim, após um intenso trabalho a cerca do gênero e sua estrutura, mostrando que
estes tendem a se modificar com o tempo e são unidades de comunicação ao nível
global, articulados a um agir da linguagem. Como resultado da assimilação e
compreensão do que foi trabalhado, os alunos foram convidados a participar da
produção de seus próprios materiais, como textos e cartazes on-line no combate a
disseminação de notícias falsas, qual seriam publicadas nas mídias sociais, como
forma de alcançar e conscientizar o maior número de pessoas possíveis. Pois,
como Bakhtin já havia observado, com a ascensão da tecnologia novos gêneros
textuais iriam surgir.
Para finalizar o processo do trabalho desenvolvido, a turma elegeu os 4 melhores
cartazes e seus respectivos proprietários receberam livros, como forma de
valorização pelo desempenho. As devolutivas dos alunos, bem como a interação
deles com o material foi muito satisfatória. Sabemos que se manter bem informado é
importante, que sobretudo reconhecer notícias falsas e combatê-las é um papel de
todos e que através da educação, estrutura-se e fortalece a sociedade.

Palavras-chave: jornal; gêneros textuais; ensino-aprendizagem, fake news.

REFERÊNCIAS:

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: ------. Estética da criação verbal. São


Paulo: Martins Fontes, 1992.

ROCHA, Anna Gabrielle Amorim. A importância dos gêneros textuais no


ISSN 2237-700X
75

processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa. Revista Científica


Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 03, Vol. 10, pp. 18-32. Março
de 2020. In: BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, discurso e
desenvolvimento humano. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2006.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual. Gêneros textuais: definição e


funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Org.).
Gêneros textuais e ensino. 4. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

ORWELL, George. 1984. 29ª ed. São Paulo: Ed. Companhia Editora Nacional, 2005.

AGRADECIMENTOS: Nossos mais sinceros agradecimentos ao IFPR e ao projeto


em si (PIBID), que vem para ampliar as perspectivas do educador, é um pilar para o
docente em formação de extrema importância, que deve ser defendido a qualquer
custo. Agradecemos a professora Marina Cardoso Loureiro nossa supervisora na
instituição de ensino, que nos acolheu da melhor forma possível e sobretudo nos
orientou e ensinou muito. Nossos agradecimentos também se estendem ao nosso
orientador Jaison Luis Crestani, por se prontificar a nos atender sempre que
necessário e nos estimular no projeto. Também somos gratas em sermos parceiras
nesse projeto.

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O SILENCIAMENTO DA VOZ FEMININA NO ROMANCE VOX DE CHRISTINA


DALCHER

Maria Cecília Teles Batista


(mariacteles42@gmail.com)¹
Mario Vitor Teles Batista (mariocrteles@gmail.com)²
Sânderson Reginaldo de Mello (sanderson.mello@ifpr.edu.br)³
1,2,3
Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

INTRODUÇÃO: A voz pode ser compreendida como sinônimo da liberdade


feminina, à vista disso, o processo contra a predominância masculina, sendo ele
(re)significado e simbolizado, junto a busca pelo intuito de concretizar o exercício
fundamental do sujeito, de expressar-se. Na narrativa distópica Vox de Christina
Dalcher, a representação da voz em sociedade é o que corresponde ao poder ou
significância de direitos e valores destes indivíduos dentro dela. Nesse sentido, a
utilização de obras que dão respaldo teórico para a problemática apontada,
contribuem para que seja alcançado o objetivo deste artigo. O qual busca analisar a
relevância e forma como é abordada e trabalhada a questão da voz feminina no
romance em questão. Levando em conta aspectos relacionados a maneira sobre
como essa voz é representada e nos momentos em que ela é ora vetada, ora
impedida de ser entoada.

METODOLOGIA: Com o objetivo de definir primeiramente gênero em questão, é


feito inicialmente um breve resgate e menção de algumas características principais
do gênero romanesco, relacionando posteriormente as representações sociais
percebidas no romance Vox de Christina Dalcher, para isso, foi utilizado a obra do
teórico Vitor M. de Aguiar.
Feito este resgate, e mediante a um embasamento teórico, são abordados alguns
elementos que colaboraram com o desenvolvimento e transformação do romance ao
longo dos anos, isto é, de forma breve, uma linha do tempo foi traçada até o
momento de produção do romance analisado (Vox).
Diante disso, fundamentado no material de apoio, constituído por obras teóricas
como: Pode o subalterno falar? De Gayatri C. Spivak; A dominação masculina de
Pierre Bourdieu, juntamente, com o artigo de Pedro de Souza intitulado: O corpo
cantante e a voz no feminino: Além da obra: Do cárcere à invenção: gêneros sexuais
na contemporaneidade. Nesse sentido, foi realizada uma análise por meio do
método indutivo com o intuito de realizar a assimilação com os pensamentos dos
teóricos mencionados com os trechos retirados da obra Vox, percebendo, por
exemplo, as formas composicionais em que a voz feminina é construída no
romance, relacionadas a algumas verossimilhanças com a realidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Compreende-se que é necessário uma série de


estudos prévios se tratando da representação e lugar de fala da mulher em uma
sociedade, juntamente, com a necessidade de abordar tal perspectiva, por
intermédio, do gênero distopia, gênero esse, que também requer um conhecimento
aplicado, já que este tem como característica principal apresentar por meio de
romances, um futuro que tende a nos parecer distante e ao mesmo tempo que busca
criticar aspectos percebidos na sociedade atual. Levando isso em conta, a fim de
ISSN 2237-700X
77

investigar qual a relação do papel da mulher em sociedade, e como é desenvolvida a


questão da voz percebida como subalterna no romance Vox, ao longo do
desenvolvimento deste trabalho, foram percebidos alguns seguintes resultados.
Como: o silenciamento da personagem principal Jean McClellan, que é percebido de
diferentes maneiras, por exemplo, pelo fato da personagem ser privada de exercer
seu antigo trabalho como cientista em que exercia um papel de "certa" relevância na
sociedade, para se tornar uma dona de casa, contra sua vontade. A situação
mencionada, relacionada com as obras de Spivak, Bourdieu, além das contribuições
de autor Althusser que menciona em sua teoria o funcionamento da ideologia, bem
como seu poder em sociedade, tais contribuições teóricas, colaboram com a
percepção que é demonstrada na reafirmação da representação de inferioridade
feminina percebida em sociedade na obra, uma vez que a mulher é submetida a ser
“somente” uma dona de casa, não sendo “capaz o suficiente" de manter-se em uma
profissão que representam os avanços na sociedade, bem como, um "silenciamento"
as possíveis contribuições científicas vindouras da personagem feminina.
Outro resultado obtido, foi reflexo da imposição da violência “simbólica”,
correlacionada ao silenciamento feminino, a exemplo disso, um trecho que nos induz
a este resultado, foi a situação num determinado trecho da narrativa em que é
apresentado um novo protótipo do contador de palavras, o qual exige uma espécie
de oração que reafirma a representação da posição inferior da mulher perante a
figura do homem, isso é visto no período em que o reverendo Carl, leva Jean
(protagonista) e menciona que esse novo modelo requer que sejam ditas palavras
como: “ – Como mulheres, devemos manter o silêncio e obedecer. se precisarmos
saber de algo, perguntamos aos nossos maridos na intimidade do lar, porque é
vergonhoso uma mulher questionar a liderança do homem, ordenada por Deus”
(DALCHER, 2017, p. 86). O trecho citado acima, também nos permite realizar uma
análise comparativa dos diferentes posicionamentos das figuras masculinas, perante
a sociedade, e ainda revela uma imposição religiosa para com as figuras femininas
no romance, visto nos trechos, como: “Como mulheres…”, ”perguntamos aos nossos
maridos”, “ordenada por Deus.’’.
Portanto, como citado anteriormente, este projeto se baseia em um método indutivo,
bem como o levantamento de casos particulares presentes no romance que
colaboram para o alcance dos resultados propostos, em todo tempo, embasado em
materiais de apoio que nos permitem a apresentação dos resultados.

Palavras-chave: Romance; silenciamento; feminino.

REFERÊNCIAS:

ALTHUSSER, Luis. Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado. (Notas para


uma investigação) Tradução de Joaquim José de Moura Ramos. Lisboa: Editorial
Presença, p. 21,22.

BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Tradução: Maria Helena Kühner. 2.


ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

DALCHER, Christina. Vox. São Paulo: Arqueiro, 2018.

SOUZA, Pedro de. O corpo cantante e a voz no feminino. In: GARCIA, Danielle
Assumpção; BIZIAK, Jacob dos Santos; SOUSA, Lucília Maria Abrahão e. Do
ISSN 2237-700X
78

cárcere à invenção: gêneros sexuais na contemporaneidade. Volume 1. São


Carlos: Pedro & João Editores, 2017.

SILVA, Vítor Manuel de Aguiar e. Teoria da Literatura. 8. Ed. Portugal: Livraria


Almeida Coimbra,1999.

SPIVAK, Chakravorty Gayatri. Pode o subalterno falar?. Belo Horizonte: UFMG,


2010.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos ao Instituto Federal do Paraná -IFPR, Campus


Palmas por promover a realização do Projeto de Pesquisa “As Metamorfoses do
Romance”; do G.E.N. (Grupo de Estudos da Narratologia), junto ao professor e
coordenador Sânderson Reginaldo de Mello.

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OS LUSÍADAS BOARD GAME COMO POSSIBILIDADE DE SUPERAÇÃO DAS


LIMITAÇÕES DA BNCC

Aline C. Oliveira (aline.cristina@ifpr.edu.br)


Laércio Peixoto do Amaral NetoIFPR – Campus Palmas

INTRODUÇÃO: Há décadas a presença do lúdico no processo do ensino-


aprendizagem vem sendo discutida e fomentada. Os maiores expoentes dessa linha
de pesquisa, Jean Piaget e Lev Vygotsky, são mundialmente reconhecidos por suas
valiosas contribuições na compreensão dos estágios do desenvolvimento da criança
e sobre como ocorrem os processos de aprendizagem nas múltiplas fases da vida
do infante, que se desdobram em simultaneidade com a vida escolar. Ambos os
pesquisadores apontam a ludicidade como condição sine qua non para o
desenvolvimento das potencialidades da criança. Sendo a escola o local onde
comumente as crianças passam muito tempo de suas vidas, tal observação ganhou
os espaços escolares e o “brincar” passou a ser visto como método educativo. Não
obstante, a ideia do lúdico na educação não está amparada somente em teorias
visando a educação infantil. Antes, é cada vez mais notório, a perspectiva da
utilização de jogos em todos os níveis educativos, visto que a ludicidade é inerente à
vida humana.

O trabalho provoca sempre esforço e cansaço. Aí está por que é


necessário, quando se buscam os prazeres, atentar para o instante
próprio para deles fazer uso, como se apenas se desejasse usá-los a
título de remédio. O movimento que o exercício transmite ao espírito
livra-o e descansa-o pelo prazer que lhe confere.
(ARISTÓTELES,1966, p. 159).

Desse modo, pensar os processos inovadores de ensino-aprendizagem e sua


aplicação no ambiente educacional da atualidade é admitir a necessidade de atrelar
estratégias que unam conhecimentos do professor sobre as possibilidades a serem
exploradas para um maior êxito da aprendizagem. O bem cultural que nos
propusemos a criar para uso em sala de aula surgiu de conhecimentos sobre os
cruzamentos culturais, a inquietação sobre o prazer da aprendizagem, bem como as
limitações impostas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular) em relação ao
ensino de conteúdos que vêm sendo desprezados devido ao seu caráter mais
elaborado e com objetivações da esfera não cotidiana. Diante disso, como proposta
de imbricação entre ludicidade e conhecimentos culturais histórico-literários, esse
trabalho apresenta a produção do jogo de tabuleiro moderno “Os lusíadas board
game” como estratégia de ensino que contempla a pedagogia histórico-crítica e
pretende ser um apoio ao professor para que este possa sanar as lacunas
estabelecidas pela BNCC quanto ao ensino de literatura, permitindo que o aluno
extrapole conhecimentos práticos e tenha acesso aos bens culturais mais
elaborados pela humanidade. Entendemos que o ideal humanizador é secundário na
BNCC, pois o documento preconiza a ideia de construção de habilidades e
competências.

METODOLOGIA: a ideia desse jogo educativo nasceu da aproximação do universo


lúdico e do ensino de literatura com a intenção de auxiliar o professor com um

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material didático que engloba várias áreas do conhecimento, bem como contribui no
cumprimento das especificidades da LDB (Lei de Diretrizes e Bases) no que
concerne a promoção de atividades escolares que permitam interação entre os
educandos, visando a aprendizagem para a vida social. Segundo o Art. 24, inciso V,
item c da Lei nº 9.394/96 “O que a escola deve ensinar é a estratégia de interagir, de
aprender na socialização de ideias e opiniões, para que o aluno, desde cedo, se
prepare para ação no meio social” (BRASIL,1996). Do diálogo entre a narrativa do
célebre épico camoniano Os lusíadas, que permanece como obra basilar nos
estudos de literatura no Brasil e das mecânicas de jogo de tabuleiro alemão “Lendas
de Andor”, surgiu “Os lusíadas board game", um jogo educativo, uma vez que toma
a atividade lúdica como um meio para aquisição de informações e conteúdos
didáticos determinados (KISHIMOTO, 2011). A evolução desses jogos leva a
transformação de qualquer objeto de estudo em algo lúdico, interpondo uma prática
que relaciona aprendizagem e diversão, o que, para os discentes, facilita a
aprendizagem. A elaboração do jogo se deu a partir de pesquisas acerca das
noções sociológicas sobre transferências culturais, que implica no estabelecimento
de um novo bem cultural irrompido de uma matriz.

A simples mudança de conjuntura imposta no movimento de


transferência de um determinado espaço cultural – em que está
implicado todo um contexto intelectual e linguístico – para outro, já
determina a mudança de significação do objeto transposto. Assim, no
dado momento em que ocorre a transferência, não há mais a
“matriz”, tampouco a “cópia”, pois um novo produto deriva da
mistura” (OLIVEIRA, 2017, p.19).

Assim, do contexto social e histórico que perpassaram a viagem de Vasco da Gama


às Índias para o célebre épico camoniano e, agora, para o jogo em questão, temos
uma série de cruzamentos culturais. Todo o contexto histórico-literário atua como
pano de fundo para a aventura vivenciada ludicamente, na qual o aluno/jogador age
como protagonista, fazendo com que a história seja experienciada de diversos
ângulos. Tabuleiro, cartas, manual do professor e do jogador, assim como os demais
componentes do jogo foram elaborados por meio de programas de design e
tratamento de imagens, as quais são totalmente originais, criadas pelo professor
mestre em artes visuais, Douglas Colombelli Sanches. Após todo o processo de
criação, o jogo foi impresso em gráfica e o tabuleiro foi confeccionado em MDF.

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Figura 1: Panorâmica do tabuleiro

Figura 2: Primeira carta da narrativa lúdica (frente e verso)

Figura 3: heróis da aventura


RESULTADOS E DISCUSSÃO: O jogo de tabuleiro moderno “Os lusíadas board
game” pode ser entendido como um jogo educativo formal, dada a sua elaboração
com vistas a um primeiro contato do educando com a obra literária homônima. O
caráter moderno desse jogo de tabuleiro diz respeito a inovadoras características
que contrastam com a noção mais tradicional dos jogos de mesa, como a diminuição
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do fator sorte e o caráter colaborativo nas tomadas de decisão. Esse formato de jogo
foi contemplado dadas as numerosas possibilidades de conhecimentos que podem
ser desenvolvidos a partir dele sem, contudo, abrir mão do direito humano à
fabulação. O professor pode lançar mão do jogo para o ensino da historiografia
literária; de conteúdos históricos e culturais; instigar a interação e a capacidade
estratégica dos alunos; conhecimentos de arte, entre outros. Podemos situá-lo entre
os jogos educativos formais pedagógicos, pois sua dinâmica permite que os
jogadores aprendam conceitos e princípios básicos da obra e do universo lúdico nela
inspirado sem que para isso seja necessária qualquer antecipação expositiva do
professor. Em se tratando de “Os lusíadas board game” e as conexões culturais que
o precedem, tem-se a cultura letrada como aspecto comum entre eles. Apesar de
pertencerem a suportes distintos, jogo e obra literária convergem no intuito de gerar
novos conhecimentos. Dado o fato de que a sociedade ocidental supervaloriza a
cultura letrada, sobretudo em ambientes formais de educação, podemos supor que a
escola tem muito a ganhar com a adoção de ferramentas como o jogo em questão.
Nele, há a proposta de protagonização do jogador na experienciação do universo
literário, ainda que esta aconteça de forma introdutória, uma vez que, em se tratando
de suportes com propostas completamente diferentes, o jogo e o livro não poderiam
estar contemplados de forma equânime, sendo sempre, um ou outro, favorecido ou
desprivilegiado. O jogo educativo em questão não pretende substituir a leitura do
livro, tampouco esgotar os recursos didáticos que visam a apreensão daquilo que o
professor julgar essencial ao aluno em termos de conteúdo. Destarte, o jogo cumpre
com as orientações da BNCC, mas não se limita a ela, proporcionando um
extrapolamento da ideia de educação para a vida prática, e estabelece uma
educação também para o belo e para a plenitude da vida humana.

Palavras-chave: Os lusíadas; ensino lúdico; jogo educativo, transferências culturais;


BNCC.

REFERÊNCIAS:

ARISTÓTELES. A poética.Tradução de Eudoro de Sousa. Porto Alegre: Globo,


1966.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília,


2018.

KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação (14ª ed) São


Paulo: Cortez, 2011.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996.

OLIVEIRA, Aline Cristina de. Faustino Xavier de Novais e as conexões entre


Portugal, França e Brasil nas páginas d’ O Futuro (1862-1863). 212 f. 2017. Tese
de doutorado (Doutorado em Letras) - Universidade Estadual Paulista, UNESP,
Assis, 2017. Disponível
em:
<https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/150543/oliveira_ac_dr_assis_pa
r.pdf?sequence=5>. Acesso em 02 de setembro de 2021.
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro. Zahar, 1971.
ISSN 2237-700X
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. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro:


Zahar, 1975.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos
processos psicológicos superiores. 6 ed. – são Paulo: Martins Fontes, 1998.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos ao IFPR – campus Palmas, pelo apoio


financeiro na confecção do jogo fabricado especialmente para o IFtech 2020, para o
qual concorremos ao edital de fomento e, mais especialmente, ao professor Douglas
Colombelli Sanches, pela valiosa parceria sem a qual esse projeto não teria tido
êxito.

ISSN 2237-700X
84

PRÁTICAS GERENCIAIS UTILIZADAS PARA LINHA DE PRODUÇÃO EM


MOMENTOS DE BAIXA DEMANDA: UM ESTUDO DE CASO EM UMA
INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

Siliana Lemes da Silva (silianalemes@gmail.com)1


Lourival José de Souza2
Alexandre Milkiewicz Sanches (alexandre.sanches@ifpr.edu.br)1,2
1
Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas
2
PUCPR - PPGEPS

INTRODUÇÃO: O presente trabalho se justifica pelo fato de compreender como as


empresas industriais se organizam em períodos quando o volume de produção está
baixo. São caracterizados objetivos do trabalho: identificar as atividades que podem
ser realizadas com uma linha de produção parada; analisar boas práticas de
manufatura em tempos de baixo volume de produção.

METODOLOGIA: Este trabalho foi caracterizado por um estudo de caso em uma


indústria do setor automotivo. Conforme Yin (2015), o estudo de caso visa responder
questões de pesquisa “como” ou “por quê”, através de um fenômenocontemporâneo,
como propõe este trabalho. Para isso, foram levantadas, por meio de observação em
uma linha de produção e entrevistas com gestores dos setores de logística e de
produção, informações sobre como uma indústria do setor estudado pode tornar
produtivo o tempo em que a linha se encontra com baixo volume de produção.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A empresa estudada é uma empresa multinacional


industrial do setor automotivo. Durante o período da pandemia de COVID-19, um dos
principais problemas têm sido a busca por uma estabilidade no sistema de produção,
diminuindo a ociosidade da linha. Porém, em vários momentos, por conta da
complexa gestão da cadeia de suprimentos a qual a empresa está envolvida, a linha
de produção tem entrado em vários períodos de baixo volume de produção ou até
mesmo de paradas. De tal modo, os gestores precisam buscar alternativas de boas
práticas gerenciais que podem ser desenvolvidas nesses períodos. Este trabalho
detectou algumas das principais práticas que a empresa estudada adota e que serão
apresentadas. O processode prognóstico na manutenção industrial é a principal etapa
para prever as falhas antes que elas ocorram, mediante a determinação da vida útil
remanescente do equipamento. No entanto, também apresenta desafios como
confiabilidade, disponibilidade, infraestrutura e servidores físicos (BOUZIDI et al.,
2020). Uma das observações realizadas na empresa estudada se deu em função
das manutenções preventivas. Algumas delas estavam atrasadas, podendo causar
problemas a qualquer momento na linha de produção. Assim, com as manutenções
em dia, a empresa tem garantia de poder realizar a produção se utilizando da
capacidade máxima. Outra atividade que a empresa tem trabalhado nesse período de
baixa demanda é com a realização de inventário cíclico geral em vários setores,
quando há uma parada na linha de montagem. No armazém central da empresa
houve 98% de acuracidade nos estoques com esse tipo de inventário, que é
realizado de forma muito semelhante ao inventário anual. Isso faz com que o
planejamento da produção da empresa se torne mais confiável.
De modo complementar, são feitos inventários com os serviços terceirizados dos
produtos em processo que para lá são enviados, bem como dos produtos em
ISSN 2237-700X
85

processo na linha de montagem para que fosse aferida a acuracidade dos estoques,
obtendo-se resultados satisfatórios. Simultaneamente, quando há parada de
máquinas, há realização da manutenção preventiva de máquinas locadas e das que
são utilizadas pela empresa. Sobre a manutenção mais complexa, normalmente feita
em dezembro, foram antecipadas para o mês de outubro de 2021, pensando no
atendimento da demanda represada que está ocorrendo nesse momento. Quanto à
área de informática, o sistema que planeja os recursos da empresa passou por uma
revisão através da criação de times especialistas internos para ajustar o sistema à
operação. A empresa tem observado a necessidade de realização de treinamento de
seus funcionários, como leitura de texto e metrologia para os operadores. O setor
gerencial também tem passado por treinamentos de qualificação referentes à
certificação IATF 16949 (Gestão da Qualidade para a Indústria Automotiva). O uso
de mapas de fluxo de valor tem sido utilizado para identificar as atividades que
agregam valor à produção. O tempo de espera das montadoras têm aumentado
significativamente no período da pandemia. Pedidos que apresentavam tempo de
espera de até dois meses passaram a ter um tempo de espera de cerca de nove a
11 meses. Em alguns países, o absenteísmo tem causado transtornos para a
fabricação de matérias-primas do setor da empresa estudada. Isso faz com que a
empresa tenha que realizar trocas de materiais entre as filiais da empresa na
Europa. No estudo de Kissi et al. (2021), foram identificadas as interrupções latentes
da cadeia de suprimentos (lado da demanda e lado da oferta) e medidas para lidar
com essa situação através do planejamento. Com isso, grandes cadeias de
suprimentos globais, incluindo as dos setores de manufatura (automóveis,
eletrônicos, transportes) foram impactadas principalmente pela ampla dependência
asiática. Isso decorre do fato de o continente asiático ter se tornado uma grande
cadeia de suprimentos global nasúltimas décadas (BELHADI, A. et al., 2021). A atual
situação de lockdown na Malásia atrasou o envio de componentes eletrônicos para a
empresa estudada. Esse fato impactou no planejamento e a programação da
produção, gerando no mundo da indústria automobilística uma crise de liquidez. Por
fim, conclui-se que o atendimento da demanda passa por um planejamento em que a
prioridade inicial é a manutenção de máquinas e equipamentos para que, quando o
material de produção for disponibilizado, a linha esteja em plenas condições de
funcionamento.

Palavras-chave: Práticas de manufatura, logística empresarial, engenharia de


processos, manutenção preventiva.

REFERÊNCIAS:

BELHADI, A. et al. Manufacturing and service supply chain resilience to the COVID-
19 outbreak: Lessons learned from the automobile and airline industries.
Technological Forecasting and Social Change, v. 163, p. 1-19, 2021.

BOUZIDI, Z. et al. QoS of cloud prognostic system: Application to aircraft enginesfleet.


European Journal of Industrial Engineering, v. 14, n. 1, p. 34-57, 2020.

KISSI, E. et al. Linking supply chain disruptions with organisational performanceof


construction firms: the moderating role of innovation. Journal of Financial
Management of Property and Construction, v. 26, n. 1, p. 158-180, 2021.

ISSN 2237-700X
86

YIN, R. Estudo de caso: planejamento e métodos. 5.ed. Porto Alegre: Bookman,


2015.

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87

PROPOSTA DE APLICAÇÃO DA TEMÁTICA ADSORÇÃO NO ESTUDO DE


MATERIAIS

Keller Paulo Nicolini (keller.nicolini@ifpr.edu.br) ¹


Jaqueline Nicolini (jaqueline.nicolini@ifpr.edu.br) 1
1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná - IFPR

INTRODUÇÃO: Dependendo da composição química que os materiais possuem,


eles podem interagir com diferentes substâncias. A adsorção é uma técnica que
permite o estudo do comportamento físico-químico [SODRÉ; LENZI; COSTA, 2001]
de diferentes materiais quando em contato com diferentes espécies [SOARES;
ALLEONI; CASAGRANDE, 2005]. A avaliação de parâmetros físico-químicos
[ATKINS; PAULA, 2011] é uma característica termodinâmica que pode ser avaliada
em estudos de caracterização físico-química de materiais [DE ANDRADE, 2021]
lignocelulósicos, por exemplo. Estudos de adsorção podem ser abordados numa
perspectiva que permite, investigações complexas e interdisciplinares a partir de
técnicas que envolvem a absorção de luz pelas soluções analisadas. O objetivo
deste trabalho é apresentar uma proposta de abordagem que permite o estudo da
adsorção como ferramenta para a formação humana preocupada com a matriz
regional e com as diferentes realidades de ensino, pesquisa e extensão,
promovendo o desenvolvimento local e regional.

METODOLOGIA: A adsorção pode ser estudada numa abordagem diagnóstica e


formativa [IFPR, RESOLUÇÃO Nº 50, DE 14 DE JULHO de 2017] partindo da
realidade do estudante realizando atividades de investigação que envolvem
materiais lignocelulósicos de origem vegetal. Para promover o desenvolvimento
regional e local poderá ser abordada a temática meio ambiente e sustentabilidade o
que permitirá a seleção do adsorvente. Um exemplo de material adsorvente
lignocelulósico que poderá ser estudado é a serragem de madeira. Em uma
atividade de ensino, pode ser investigada a remoção de íons cobre II de uma
solução aquosa, pela adsorção em materiais lignocelulósicos. Antes do processo de
adsorção a serragem deverá passar por um tratamento que consistirá em lavar o
material com água destilada até pH constante, em seguida o material deverá ser
seco em estufa a 60 oC até massa constante. Os estudos de adsorção de íons cobre
II, poderão ser realizados em copos de béquer contendo solução de íons cobre II na
concentração de interesse, na presença do material adsorvente, mantido na
temperatura constante, sendo que a absorbância de cada alíquota da solução será
determinada em 810 nm [CANASSA; LAMONATO; RIBEIRO, 2018] em um
espectrofotômetro de ultravioleta-visível.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Esta atividade investigativa poderá gerar


curiosidade científica nos estudantes, promovendo pesquisas que permitirão
solucionar questões relativas a remoção de contaminantes do meio ambiente,
aplicando a proposta investigada no ambiente de ensino, o que poderá auxiliar a
solução de problemas da matriz regional, promovendo a transformação social,
fortalecendo a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão [IFPR, IN/IFPR
Nº 1, DE 26 DE JULHO DE 2021]. A quantidade de íons cobre II que será adsorvida
poderá ser calculada pela (Equação 1) e a porcentagem de remoção de íons cobre II
poderá ser calculada pela Equação 2 [XAVIER; VIEIRA; ALVES et al., 2021].
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qt = V.(Co – Ct)/m (Eq. 1)


Porcentagem de remoção = (Co – Ct).100/Co (Eq. 2)

Sendo, qt a quantidade de íons cobre II adsorvida (mg/g), Co a concentração inicial


da solução aquosa de íons cobre II colocada em contato com o adsorvente (g/L), Ct
a concentração da solução aquosa de íons cobre II no instante de tempo t (g/L), m a
massa do adsorvente em base seca (g) e V o volume da solução aquosa de íons
cobre II. A adsorção permitirá a abordagem e o estudo de parâmetros físico-
químicos. Os estudos de adsorção devem ser realizados em temperatura constante.
O uso de cobre neste modelo de estudo demonstra-se importante pela abordagem
interdisciplinar, pois a literatura descreve que o cobre forma compostos que
apresentam atividade fungicida, propriedades supercondutoras, sendo que um
animal passa a sofrer de anemia quando apresenta deficiência do metal cobre [LEE,
1999].

CONCLUSÃO: Esta apresentação de proposta de estudo poderá promover a


transformação social através de uma abordagem investigativa do tema adsorção em
ambientes de ensino pesquisa e extensão em Cursos de Ciências Agrárias
abordando nutrientes, meio ambiente e sociedade, em Cursos de Ciências da
Natureza em estudos integradores entre Química, Biologia e Física e em Cursos
Técnicos em atividades envolvendo o preparo e uso de soluções.

Palavras-chave: adsorção, físico-química, cobre.

REFERÊNCIAS:

SODRÉ, F. F.; LENZI, E.; COSTA, A. C. S. D. Utilização de modelos físico-químicos


de adsorção no estudo do comportamento do cobre em solos argilosos, Química
nova, 24, 324-330, 2001.

SOARES, M. R.; ALLEONI, L. R. F.; CASAGRANDE, J. C. Parâmetros


termodinâmicos da reação de adsorção de boro em solos tropicais altamente
intemperizados, Química Nova, 28, 1014-1022, 2005.

ATKINS, P.; PAULA, J. D. Físico-Química: Fundamentos. Quinta Edição: LTC: Rio


de Janeiro, 2011.

DE ANDRADE, M. C. N. Interdisciplinaridade e
transversalidade da Termodinâmica. 2021.

IFPR, IFPR/RESOLUÇÃO Nº 50, DE 14 DE JULHO de 2017, RESOLUÇÃO Nº 50,


DE 14 DE JULHO de 2017.

CANASSA, T. A.; LAMONATO, A. L.; RIBEIRO, A. V. Utilização da lei de Lambert-


Beer para determinação da concentração de soluções, Journal of Experimental
Techniques and Instrumentation - JETI, 1, 23-30, 2018.
IFPR, INSTRUÇÃO NORMATIVA REITORIA/IFPR Nº 1, DE 26 DE JULHO DE 2021
IN/IFPR Nº 1, DE 26 DE JULHO DE 2021.
ISSN 2237-700X
89

XAVIER, C. S. F.; VIEIRA, F. F.; ALVES, M. P., et al. Utilização do bagaço de cana-
de-açúcar na adsorção de corantes têxteis em soluções aquosas, Research,
Society and Development, 10, 1-17, 2021.

LEE, J. D. Química inorgânica não tão concisa. 5a ed. inglesa: Edgard Blucher:
São Paulo, 1999.

AGRADECIMENTOS: Colegiado de Química, Campus Palmas, IFPR.

ISSN 2237-700X
90

PROPOSTA DIDÁTICA PARA ESTUDO DE HISTOLOGIA NO ENSINO REMOTO

Simone Pinto De Lima(simonepdelima2018@gmail.com)¹


Vanessa Suelem Dos Santos Costa²
Robert Julianotte de Souza³
Josy Fraccaro de Marins4
Orientadora:Keile Calza( keile39@outlook.com)5
1,2,3,4
Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas
5
Colégio Estadual Dom Carlos

INTRODUÇÃO: Em meio ao contexto pandêmico vivido pela educação, fez-se


necessário a adequação a novos métodos de ensino e aprendizagem, utilizando-se
de estratégias diferenciadas que pudessem auxiliar na assimilação dos conteúdos e
mantivessem a atenção dos alunos, uma vez que eles estavam em um ambiente
diferente do habitual de sala de aula, ou seja, em seus lares. Assim, os acadêmicos
bolsistas do Programa Pibid-subprojeto Biologia, planejaram e executaram um
projeto para os alunos do primeiro ano do ensino médio do Colégio Estadual Dom
Carlos, de Palmas/PR, sob a supervisão da professora regente. O conteúdo
escolhido foi Tecidos animais e o projeto foi intitulado como: PROPOSTA DIDÁTICA
PARA ESTUDO DE HISTOLOGIA NO ENSINO REMOTO. A Histologia é o ramo da
Biologia que estuda os tecidos biológicos, compreendendo-os desde suas origens.
Conforme Junqueira e Carneiro (2013), para a aprendizagem dos conceitos de
Histologia o ideal seria um laboratório com microscópios e para a análise ao
microscópio óptico, é necessária à confecção de lâminas histológicas permanentes,
onde estas irão propiciar a visualização do conteúdo teórico trabalhado pelo
professor em sala de aula. Porém, essa prática não pode ocorrer de forma remota.
Nesse contexto, é possível utilizar algumas plataformas e aplicativos, como o
Google Classroom (SANTOS JUNIOR e MONTEIRO 2020), para desenvolvimento
das aulas, sendo que o uso das tecnologias favorecem a aprendizagem. Para
diversificar a aprendizagem, o uso de metodologias e recursos devem ser levados
em consideração. Segundo Libâneo (2013, p. 69) “o centro da atividade escolar não
é professor nem matéria, é o aluno ativo e investigador”. O aluno ativo é aquele que
participa do processo de aprendizagem de forma crítica e reflexiva. Assim,o referido
projeto objetivou um ensino mais participativo e ativo, através do uso de tecnologias
associadas ao ensino e aprendizagem.

METODOLOGIA: Para o desenvolvimento das aulas, foi necessário aprender sobre


o uso de plataformas educacionais digitais. Para tanto, tornou-se necessário
conhecer e estudar sobre novas metodologias de ensino que favorecessem o
aprendizado dos alunos, que agora estão em seus ambientes domésticos e ainda,
usando aparatos eletrônicos para acompanhar as aulas de forma remota. Assim, o
projeto foi realizado no Colégio Estadual Dom Carlos, nos primeiros anos do Ensino
Médio, na disciplina de Biologia. Cada grupo de alunos Pibidianos do IFPR, Campus
-Palmas/PR, trabalhou com o conteúdo de Histologia animal. Foi realizada a divisão
dos grupos, a busca em sites e em livros didáticos para o estudo. Após isso,
efetuaram produção de slides para uma aula expositiva dialogada, para facilitar a
explanação do conteúdo, tendo por objetivo instigar a reflexão e a formação de
cidadãos participativos e ativos, gerando, a criticidade. De acordo com Freire,(1972,
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91

p. 42) “o diálogo é o encontro no qual a reflexão e a ação, inseparáveis daqueles


que dialogam, orientam-se para o mundo que é preciso transformar e
humanizar, este diálogo não pode reduzir-se a depositar ideias em outros.” A
apresentação de slides preparada continha imagens, e vídeos de pequena duração
para exemplificar e visualizar células e tecidos, para favorecer o entendimento
relacionado com a forma e função das células.Para retomada de conteúdo e
assimilação de conceitos, usou-se o aplicativo Jamboard (quadro de comunicação
editável) para que todos os alunos ao mesmo tempo pudessem trocar informações e
relacionar novos conceitos.Para Brito (2009) a tecnologia faz parte de nossas vidas
e está presente, em toda parte. Isto se confirma no seguinte relato: “as tecnologias
são muito importantes, pois fazem parte do seu cotidiano e ainda tornam as aulas
mais interessantes e, se bem utilizadas, podem ser transformadas em habilidades
para a aprendizagem de cada individuo”.Para o último momento,a apresentação de
um seminário, realizado pelos alunos. O assunto escolhido foi Tecido sanguíneo,
conteúdo básico da referida série. Segundo Paim (2015), os seminários dão ao
aluno autonomia em relação às fontes de pesquisa, às anotações de relevância, à
comunicação permitindo a apresentação deste em público, e à argumentação oral.
Ao término da aplicação do projeto à avaliação ocorreu de forma diagnóstica e
formativa, através da participação dos alunos, desenvolvimento de atividades e
ainda, através de um Quiz no aplicativo Kahoot e google forms.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O diálogo entre professor e aluno é uma boa


estratégia para despertar o senso crítico do indivíduo em formação, bem como a
argumentação. A utilização de novas tecnologias educacionais, permitiu a interação
dos alunos, propiciando trocar informações e relacionar conceitos. Foi perceptível a
evolução que houve nos alunos na busca pelo conhecimento. Através do seminário
apresentado pelos alunos, a participação e o empenho em dialogar
adequadamente mostrando o conhecimento obtido através de estudos realizados. A
avaliação escrita, ofereceu aos alunos feedback automático de seus acertos e
retomada de conteúdo, através de questionários no aplicativo kahoot e google
forms, plataformas que permitem o uso de imagens, vídeos, sons, pontuações e
“emojis” , tornando o tema mais atrativo, perante essa geração habituada às
tecnologias e inovações. A adoção de diferentes abordagens metodológicas de
ensino, são alternativas para inovar e estimular atitudes reflexivas, por parte do
aluno,tornando-o um sujeito participante. Cada aluno interagiu a partir de suas
estruturas cognitivas, culturais e até emocionais, a fim de construir o conhecimento.
De acordo com Moreira (1999), a aprendizagem tem por objetivo promover o
acréscimo de conhecimentos e, posteriormente, uma mudança comportamental;
pois o novo conhecimento dará oportunidade para novas interações, novas
discussões com outras pessoas, promovendo a aprendizagem. Foi alterada a visão
tradicional de professor transmissor de conhecimento para um professor mediador,
que interage com o aluno. Em conformidade com Pereira e Junior (2016), é
necessário que o professor proporcione um ambiente propício para que o estudante
seja inserido na sociedade com habilidades de discernimento e compreensão do
meio em que vive.O fato de permitir a interação entre os alunos, e o uso das
tecnologias de informação, propiciou a construção de novos conceitos referentes à
Histologia. As dificuldades encontradas ao longo do desenvolvimento do projeto se
referem as falhas na conexão de internet e dificuldades no manuseio de alguns
aplicativos.

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Palavras-chave: Ensino de Biologia, Ensino remoto, tecidos animais.

REFERÊNCIAS

BRITO, A. C. A. G. et al. In: Revista Digital Pandora Brasil nº 9. 2009. ISSN 2175-
3318. Acesso em: 20 de outubro de 2021.Um Olhar sobre Educação: uma
abordagem a partir das novas tecnologias.

FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação, uma introdução ao


pensamento de Freire São Paulo: Cortez & Moraes. 1979.

JUNQUEIRA, L. C. U.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 11ª Ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2013.

LIBÂNEO, J. C. Didática. 2ª ed. São Paulo: Cortez. 2013.

MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa. Brasília: Editora da UnB, 1999.

SANTOS JUNIOR, V.B; MONTEIRO, J.C.S. Educação e COVID-19: Tecnologias


digitais mediando a aprendizagem em tempos de pandemia. Revista Encantar -
Educação, Cultura e Sociedade. Bom Jesus da Lapa, v. 2, p. 1-15, 2020.
Disponível em https://www.revistas.uneb.br/index.php/encantar/article/view/8583.
Acesso em 20 out 2021.

PAIM, A. S.; LAPPE, N. T.; ; ROCHA, D. l. B. Metodologias de ensino utilizadas por


docentes do curso, de enfermagem: enfoque na metodologia problematizadora.
Enfermería Global: Revista Electrónica. Semestral de Enfermería, 14(1), 136–
169. Disponível em: http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo. Acesso em 05 out 2021.

PEREIRA, Davi; JUNIOR, Faraum. A utilização das tic no ensino de química durante
a formação inicial. Revista Debates Em Ensino de Química, 2(2), 102–113. 2017.

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PROPOSTA DIDÁTICA PARA ESTUDO DOS ÓRGÃOS VEGETAIS NO ENSINO


REMOTO

Francieli Camargo dos Reis ¹(francielicamargoreis97@gmail.com)


Eloyza Aurora Crozetta Carneiro ²
Gabriéli Savi de Oliveira ³
Josy Fraccaro de Marins 4
Keile Caza(Keile39@outlook.com)5
1,2,3,4
Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas
5
Colégio Estadual Dom Carlos

INTRODUÇÃO Em 2020 surgiu nova doença, em poucos meses a COVID-19


resultou em uma pandemia. Uma das alternativas para evitar a sua propagação, foi
o distanciamento social, que ocasionou o fechamento de ambientes com demasiado
fluxo de pessoas. Diante disso, a tecnologia passou a ser uma grande aliada no
processo de ensino aprendizagem. Entretanto, Kenski (2003) explica que as
tecnologias digitais oferecem novos desafios e novas possibilidades de acesso à
informação, interação e de comunicação, dando origem a novas formas de
aprendizagem, logo, professores e alunos precisaram se habituar ao uso de
tecnologias dentro do novo ambiente escolar. As aulas ocorreram de forma remota,
por meio de plataformas educacionais como, Google classroom, Google forms,
Google meet e o quadro de interações Jamboard. Todavia, percebeu-se que as
metodologias inovadoras podem contribuir ao processo de ensino e aprendizagem,
dando ênfase à participação e reflexão dos alunos em todas as etapas do processo
de ensino. Para Anastasiou e Alves (2009) aula expositiva dialogada é uma
estratégia que visa superar a tradicional palestra docente. O enfoque desse método
é a participação do estudante, que terá seu ponto de vista considerado, analisado e
respeitado. Essas metodologias são estratégias de ensino centradas na
participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de
forma flexível, interligada e híbrida (BACICH e MORAN 2018). Para o estudo de
Botânica, segundo Ursi et al. (2018) é evidente que alguns dos conceitos como
morfologia vegetal e processos centrais como a fotossíntese fazem parte do escopo
da botânica. A assimilação satisfatória de conceitos mais básicos dão estrutura para
compreender conceitos mais complexos como a evolução. Desse modo enfatizamos
que um objetivo das atividades propostas foi promover o entendimento efetivo de
conceitos básicos, para além do enfoque meramente memorístico, baseando-o na
construção de conhecimento pelos estudantes e integrando-o às a conceitos mais
complexos. Assim, os bolsistas PIBID, do subprojeto Biologia, do IFPR – Campus-
Palmas/PR, planejaram e executaram um projeto no Colégio Estadual Dom Carlos,
no município de Palmas – PR, com a supervisão da professora Keile Calza, sobre o
tema PROPOSTA DIDÁTICA PARA ESTUDO DOS ÓRGÃOS VEGETAIS NO
ENSINO REMOTO, o qual surgiu da necessidade em aprimorar a metodologia de
ensino para esse assunto.

METODOLOGIA Em um primeiro momento, formam-se duplas entre os pibidianos


que, em sequência, escolheram um dos conteúdos previamente proposto pela
supervisora. Os temas estavam relacionados às estruturas das plantas, dentre elas:

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raíz, caule, folha, flor, fruto e semente da base de conteúdo específicos. Por
conseguinte, foram realizadas buscas em sites e livros didáticos para seleção dos
conteúdos. Realizada a pesquisa, produziu-se slides para explanação do conteúdo
de forma dialogada. Além disso, foi selecionada uma animação em forma de vídeo
sobre cada órgão de uma planta. Para os experimentos, foram propostas atividades
de fácil realização, como a extração da clorofila, condução de água através de caule
da planta copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica). Para auxiliar os estudantes na
realização dos experimentos, pibidianos gravaram vídeos como material de apoio
demonstrando todas as etapas do experimento. No momento síncrono foram
realizadas atividades práticas como a exemplificação de diferentes raízes, caules,
folhas e inflorescências. Para retomada de conteúdo e assimilação de conceitos,
usou-se a plataforma Jamboard. Ao final de seis aulas, foi aplicada avaliação
através do Google Forms, disponível no Classroom.

RESULTADOS E DISCUSSÃO No decorrer das aulas remotas surgiram desafios,


como quedas de conexão, participação e assimilação insatisfatória dos discentes, e
a impossibilidade de aulas práticas. Para contornar a situação supervisora e
pibidianos adotaram atitudes inovadoras para trabalhar o conteúdo em questão,
notou-se que essas impactaram diretamente na postura dos alunos e no
aproveitamento, atribuindo um melhor significado à aprendizagem. Durante as aulas
dialogadas eram propostos questionamentos iniciais aos estudantes, as respostas
obtidas eram atreladas aos conhecimentos científicos referentes a morfologia de
cada órgão da planta, funções, adaptações e curiosidades. Tal estratégia mostrou-se
potencialmente instigante e possibilitou que os alunos relacionassem sua bagagem
de conhecimento aos conceitos apresentados. De acordo com Belotti e Faria (2010),
"às aulas práticas auxiliam no processo de interação e desenvolvimento de
conceitos científicos, além de permitir que os estudantes aprendam como abordar
objetivamente o seu mundo”. Segundo Souza e Kindel (2014) no contexto remoto,
as aulas práticas que não necessitam contemplar experimentos no laboratório
podem ser promissoras. Diante disso, foram expostos no momento síncrono tipos
de caules, folhas, e raízes, diferenciando as raízes comestíveis das não-
comestíveis; além de diferentes tipos de estruturas florais. O ensino da biologia pode
proporcionar ao estudante outra visão sobre as coisas de seu cotidiano, desse
modo, percebeu-se que os estudantes conseguiram compreender as diferenças das
raízes comestíveis das não-comestíveis, além de conseguir diferenciar uma flor de
uma inflorescência. Segundo Ortiz e Silva (2016) a evolução tecnológica possibilita
acesso a uma infinidade de informações em plataformas com inúmeras opções de
filmes e vídeos que podem ser utilizadas no ensino e aprendizagem em detrimento
a aulas monótonas. Pode-se perceber que a reprodução de animações nas aulas e
a disponibilização do material de apoio produzido pelos pibidianos tornaram mais
palpável aos alunos a execução dos experimentos propostos, pois era possível
baixar os arquivos evitando perder informações por quedas de conexão. O uso das
novas tecnologias é visto agora como um meio para fortalecer um estilo mais
pessoal de aprender em que os estudantes estejam ativamente envolvidos na
construção do conhecimento e na busca de respostas para seus problemas
específicos. Ao mesmo tempo, estão usando sua habilidade para aprender como
são utilizados os próprios meios tecnológicos. (SANCHO et al. 2006). Nessa
perspectiva, para a recapitulação dos conceitos utilizou-se o quadro de interações
Jamboard onde todos os alunos participaram de forma simultânea trocando
informações e aprimorando os conceitos, para isso, a professora supervisora trazia
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questionamentos aos alunos que, por sua vez, respondiam dentro do quadro de
forma conjunta. Percebeu-se ao fim das aulas que os alunos mostraram muita
aptidão para com as ferramentas tecnológicas, além disso, a aula expositiva
dialogada e o desenvolvimento de atividades práticas, despertaram interesse nos
alunos, o que possibilitou melhor desempenho na avaliação escrita e na assimilação
dos conceitos como um todo.

Palavras-chave: Aulas dialogadas, botânica, tecnologias educacionais.

REFERÊNCIAS:

ANASTASIOU, L. G. C., ALVES, L. P. Processos de ensinagem na universidade:


pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 8 edição, UNIVILLE,
2009. Joinville.

BACICH, L.; MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma
abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

BELOTTI, S. H. A. FARIA, M. A. Relação professor-aluno. Saberes da Educação,


v.1 ,n. 1, p. 01-12,2012 [S.l. : s.n.].

KENSKI, V. M. Aprendizagem Mediada pela Tecnologia, Revista Diálogo


Educacional v. 4, n.10, p.47-56, set./dez. 2003. Curitiba, 2003. Disponível em:
<http://.utfpr.edu.br/kalinke/novas-tecnologias/pde/pdf/vani_kenski.pdf>. Acesso em
em 24 set. 2021.

ORTIZ, O., SILVA M. R. O Uso de Abordagens da História da Ciência no Ensino de


Biologia: Uma Proposta Para Trabalhar a Participação da Cientista Rosalind
Franklin na Construção do Modelo da Dupla Hélice do DNA, Revista Investigações
em Ensino de Ciências (IENCI) pág. 106 - 123. 2016 Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.22600/1518-8795.ienci2016v21n1p106>. Acesso em 26 set.
2021.

SANCHO, J. M.; et. al. Tecnologias para transformar a educação. 2006. Porto
Alegre.

SOUZA, C. L. P.; KINDEL, E. A. I. Compartilhando ações e práticas significativas


para o ensino de botânica na educação básica. Experiência em Ensino de
Ciências volume 9, n. 3, p. 44-58, 2014. Porto Alegre. Disponível em: <
if.ufmt.br/eenci/artigos/Artigo_ID253/v9_n3_a2014.pdf >. Acesso em: 20 set. 2021

URSI, S. et al. Ensino de Botânica: conhecimento e encantamento na educação


científica; [S.l. : s.n.] 2018. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/s0103-40142018.3294.0002> . Acesso em: 22 set. 2021.

ISSN 2237-700X
96

RAP ALMAS: REEXISTÊNCIA CULTURAL E AS LENTES DO COLETIVO ARTE


AUDIOVISUAL

Eduardo Gabriel Moraes Scariot (eg3026075@gmail.com)1


Caroline Porto Sendeski (sendeski.carolineporto@gmail.com)2
Rafael Schultz Myczkowski (rafael.myczkowski@ifpr.edu.br)3
1,2,3
Instituto Federal do Paraná - Campus Palmas

INTRODUÇÃO: O presente relato apresenta os dados parciais da pesquisa


desenvolvida pelos projetos Coletivo Arte Audiovisual e Lab Arte Audiovisual. O
objetivo geral consiste no desenvolvimento investigativo, cultural, artístico e poético
dos participantes por meio de técnicas narrativas audiovisuais. O projeto visa a
abordagem do tema audiovisual, a investigação e a promoção de debates sobre
conceitos técnicos da área e, posteriormente, a investigação e ação sobre o
contexto social, cultural e histórico da cidade de Palmas através da produção de um
material audiovisual sobre o grupo Rap Almas. Apesar das limitações impostas pela
pandemia do Covid-19, foram promovidos encontros e ações periódicas realizando o
levantamento de bibliografia técnica e o conhecimento de procedimentos de
captação e pós-produção fílmica. Com a conclusão desse processo, acredita-se que
os participantes e a comunidade em geral ampliarão sua relação com a mídia
audiovisual de forma crítica, técnica e poética.

METODOLOGIA: A presente pesquisa tem uma abordagem qualitativa, exploratória,


fazendo uso de referenciais bibliográficas, documentais e da pesquisa-ação
(LAKATOS, MARCONI, 2020). O projeto foi submetido ao edital 06/2020 da Pró-
Reitoria de Extensão, Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação – PROEPPI do IFPR,
sendo contemplado com uma bolsa Pibex-Jr. Em um primeiro momento, foi realizada
a apresentação e a chamada virtual para o cadastro de discentes interessados em
participar da proposta, sejam na modalidade bolsista ou voluntário. Consolidado o
grupo, a metodologia buscou atender a demanda da comunidade escolar a respeito
do desenvolvimento investigativo, cultural, artístico e poético por meio de técnicas
narrativas audiovisuais. Na perspectiva de um trabalho coletivo, foram
compartilhados materiais mutuamente entre o coordenador do projeto e os
integrantes, incentivando a troca de interesses e noção de ação direta. Nos
encontros do grupo os textos foram debatidos, assim como realizados cinedebates,
seguidos de seminários e discussões sobre os temas trazidos por integrantes do
projeto. No contexto educacional, as mídias deixam de ser apenas um meio de
comunicação, uma ferramenta didática: demanda uma interação contínua que
permite ir além da apreciação de imagens e pode exigir uma interpretação crítica,
gerando novos conhecimentos e vivências (GÓMEZ, 2005). Dessa forma, foram
levantadas abordagens audiovisuais sobre questões de gênero, violência contra a
mulher, sexismo, homofobia, movimentos de luta por moradia e, principalmente, a
relação coletiva bastante presente nas produções cinematográficas. Durante os
debates foram analisados aspectos técnicos das produções (RODRIGUES, 2002),
assim como a pesquisa de vídeos, imagens, entrevistas e publicações que
abordassem o making of dos trabalhos. Para Jaques Aumont (2008, p. 23), “o
cinema não é uma língua, mas serve para pensar. Ou é um modo de pensar.”
Atualmente, o grupo tem realizado pesquisas na cidade de Palmas através da
criação de um produto audiovisual, utilizando como vértice o grupo Rap Almas e
ISSN 2237-700X
97

manifestações artísticas correlatas. A determinada produtora, segundo os


organizadores, vem promovendo ações de apoio e incentivo da cultura Hip Hop em
Palmas e região. (ALVARO, MATEUS, 2021). Os materiais utilizados são: a
pesquisa em acervos digitais, canais do youtube, páginas do grupo em redes sociais
e a realização de entrevistas semiestruturadas com os integrantes do Rap Almas e
artista vinculados a produtora. Em decorrência dessa metodologia, o projeto foi
submetido ao CEP, via Plataforma Brasil, sendo este aprovado. As filmagens
realizadas até o momento têm influência do contexto pandêmico, estética esta
assumida pelo projeto. A participação do público externo a instituição está prevista
nas fases da construção do audiovisual, sendo estas: a produção, captação e pós-
produção. Até a etapa atual, acredita-se que os participantes e a comunidade
vinculada têm ampliado sua relação com a mídia audiovisual de forma crítica,
técnica e poética.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Considerando que o projeto está em andamento e


os resultados obtidos ainda são parciais, os principais ganhos relatados pelos
participantes a nova perspectiva crítica sobre o consumo de produções audiovisuais,
o desenvolvimento da curiosidade por produções não hegemônicas e a participação
direta do grupo Rap Almas em entrevistas e captação de imagem. A escolha por
artistas e grupos culturais locais vinculados ao Rap Almas demonstra a valorização
de manifestações artísticas regionais e o desenvolvimento de um olhar investigativo
e crítico em cárter colaborativo. Pôde-se observar que até o momento, as
manifestações culturais ligadas ao Hip Hop apresentam uma aceitação crescente na
região, mesmo que ainda pequena. Constatou-se que a existência de uma produtora
independente impulsiona o desenvolvimento de manifestações do Rap com
características regionais principalmente expressas nas letras e composições
musicais. O conjunto das ações realizadas proporcionará a elaboração de um
conteúdo audiovisual relevante para a comunidade onde atua o IFPR campus
Palmas, tendo o grupo Rap Almas, e outros artistas locais, participação direta. Como
forma de expandir as discussões foi organizado e promovido um evento institucional
aberto à comunidade acadêmica e externa com o apoio do Lab Arte Audiovisual,
Coletivo Arte Audiovisual e o Núcleo de Arte e Cultura do campus Palmas. A
palestra intitulada “Desafios da escuta, fronteiras das imagens” proferida pela Profª.
Drª. Celia Antonacci Ramos, realizada via Google Meet, reuniu cerca de 85
participantes de distintas instituições, áreas, estados e países. A palestra, a partir da
produção audiovisual da artista, abordou temas essenciais as práticas documentais
da poética audiovisual e promoveu um rico debate junto aos participantes do evento.

Palavras-chave: Arte, audiovisual, coletivo, Rap Almas.

REFERÊNCIAS:

ALVARO, Boese; MATEUS, Favero. Rap Almas: depoimento [set. 2021].


Entrevistadores: R. S. Myczkowski e E. G. M. Scariot. Palmas, Paraná. Gravação
digital, acervo pessoal. Entrevista concedida aos projetos Lab Arte Audiovisual e
Coletivo Arte Audiovisual.

AUMONT, Jaques. Pode um filme ser um ato de teoria? Educação & Realidade:
Cinema e Educação, v. 33, n.1, p. 21-34, 2008.

ISSN 2237-700X
98

GOMÉZ, Guillermo Orozco. Mídia, recepção e educação. [Entrevista concedida a]


Rene Goellner; Luciana Dornelles; Luiz Filipe Duarte. Revista FAMECOS: Porto
Alegre, vl.1, nº 26, abril de 2005.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de


metodologia científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2020.

RODRIGUES, Chris. O cinema e a produção. Rio de Janeiro: DP&A. 2002.

ISSN 2237-700X
99

RELAÇÕES ENTRE AS ÁREAS DE PSICOLOGIA E LITERATURA

Alexandre Collares Baiocchi (alexandr.baiocchi@ifpr.edu.br)¹


Camila Macenhan (camila.macenhan@ifpr.edu.br)²
Rodrigo Batista de Almeida (rodrigo.almeida@ifpr.edu.br)³
Arlete da Conceição Otto de Camargo (letecamarg@gmail.com)4
João Victor de Oliveira (joaovictordeoliveira765@gmail.com)5
Lucilene Cezario (lucilenecezario13@gmail.com)6
Stefani Pacheco Skodowski (stefani.skodowski@ifpr.edu.br)71,2,3,4,5,6,7

Instituto Federal do Paraná/Campus Palmas

INTRODUÇÃO: A literatura, para além de uma das mais importantes


manifestações artísticas que se tem registro, é uma expressão da essência
humana, sendo a leitura e a escrita manifestações da afetividade, personalidade e
cognição. Muitas são as óticas de percepção e análise que recaem sobre ela,
sendo uma destas possibilidades a análise sob a ótica da Psicologia. Campo este -
a Psicologia e Literatura -, pouco explorado no Brasil e que muito tem a contribuir
com os referidos estudos literários pelo que foi mencionado (LEITE, 2002). Dito
isso, tem sido desenvolvido do IFPR Campus Palmas o Projeto de Pesquisa
Psicologia e Literatura. Tanto o projeto quanto este trabalho em específico,
realizado pelos participantes, busca aliar os dois campos, pretendendo valorizar e
agregar às ciências humanas e de linguagem, no estudo da arte, os processos
psicocognitivos, aos quais a Psicologia pode contribuir. O objetivo deste artigo é:
ampliar o campo de estudo no Brasil e estabelecê-lo como uma possibilidade de
trabalho.

METODOLOGIA: Pensando em valer-se dos estudos teóricos relativos às


correntes da Psicologia, bem como das teorias relativas ao estudo literário, optou-
se por utilizar a metodologia de revisão bibliográfica, de modo que fosse possível
valer-se da retomada de obras e conceitos descritos anteriormente, sendo que
deram o aporte teórico para as discussões e os vieses desenvolvidos. Além disso,
muitas das discussões trazidas foram retomadas dos encontros do projeto e do
diálogo de cada participante, de suas considerações e impressões sobre o
referencial teórico e suas vivências em relação a elas. A escrita do trabalho, em si,
também foi realizada em conjunto, considerando as aptidões e a afetividade de
cada autor com os temas tratados aqui. Esta pesquisa é de matriz qualitativa e que se
concentra nos referenciais bibliográficos, não sendo uma pesquisa de campo, isto é,
diferencia-se da etnográfica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O espaço do texto é um lugar de interação autor-


obra-leitor, no qual perpassa, também, o contexto sócio-histórico em que
acontece. Assim, trabalhar-se-á com essas relações, buscando compreender
como a Literatura retrata as correntes da Psicologia e vice-versa. Para isso, o
olhar se voltará, principalmente, para o delineamento do autor, do leitor e do
processo criativo em si. Segundo Colonnese e Freitas (2018), o processo de
significação da arte é condicionado nitidamente pela sua escrita, mas
principalmente pela experiência de leitura - momento no qual o sentido do texto é
ISSN 2237-700X
100

realmente constituído. Jung enfatiza que a obra de arte apoia-se em uma


movimentação internacional de experiência simbólica, na qual espectador-obra
reverberam a recepção de umaforma, por sua vez formadora do sentido da
própria obra. A ótica Psicológica na Literatura, em linhas gerais, envolve obra,
escritor e leitor. Logo, pode-se explorar grandemente os processos criativo e
mental no campo em questão. Os estudos que abordam a relação entre as áreas
de Psicologia e Literatura ainda são pouco explorados, ainda que estudos sobre a
temática já estejam publicados. No entanto, o número de textos disponíveis e que
trazem a dimensão da relação entre Literatura e Psicologia é restrito. A proposição
da aproximação entre a Literatura e a Psicologia é a essência do Projeto de
Pesquisa apresentado por meio deste texto. Como resultados finais, destacamos
que a obra de arte carrega princípios do belo e nem sempre revela as neuroses
pessoais do autor. A obra é mediada pelo inconsciente coletivo, a partir da
intuição, da percepção extra-sensorial.

Palavras-chave: Psicologia. Literatura. Interação. Leitura. Processo Criativo.

REFERÊNCIAS

COLONNESE, L. R.; FREITAS, L. V. de. Psicologia analítica e estética da


recepção: diálogos possíveis. Psicologia USP, São Paulo, v. 29, n. 3. p. 354-362,
2018.

LEITE, D. M. Psicologia e Literatura. São Paulo: Editora da Unesp, 2002.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos, primeiramente, a todos os pares que


desenvolvem atividades no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Paraná (IFPR) - Campus Palmas, e que permitem o desenvolvimento do referido
Projeto de Pesquisa na instituição. Agradecemos, também, a todos os
participantes do projeto e que se envolveram na escrita e elaboração do presente
trabalho. Por fim, nossos encejos àqueles - amigos, familiares e entes queridos -
que, de alguma maneira, incentivaram a todos nós na caminhada da vida e na
caminhada acadêmica e nos possibilitaram estar desenvolvendo esta e outras
pesquisas e atividades.

ISSN 2237-700X
101

RELATO DE AULAS REMOTAS EM COMPONENTES CURRICULARES


EXPERIMENTAIS DE NO ENSINO DE QUÍMICA NO ENSINO

Aline Valquiria da Silva Maciel (alinedasilva2808@gmail.com) ¹


Brenda Vanzin Ribas (brenda998457967@gmail.com)²
Edneia Durli (edneia.durli@ifpr.edu.br)³
1,2,3
Instituto Federal do Paraná - Campus Palmas

INTRODUÇÃO: Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021),


em dezembro de 2019 o mundo foi alertado sobre um novo tipo de vírus, o qual foi
denominado de Coronavírus Disease 2019 (COVID-19). Em março de 2020 a crise
pandêmica que já vinha afetando diversos países chegou ao Brasil. Com o número
de casos de COVID-19 aumentando, o Ministério da Educação aprovou a substituição
das aulas presenciais por aulas remotas emergenciais com o apoio dos meios digitais.
No Instituto Federal do Paraná - Campus Palmas as aulas remotas se iniciaram
apenas no início do mês de agosto. Nesse contexto, houve a necessidade urgente de
toda a sociedade se mobilizar e buscar se adaptar às mudanças ocorridas em todos
os setores, seja ele econômico, social ou o sistema educacional. Como fontes de
recursos para reuniões de negócios e reuniões educacionais, estão sendo utilizadas
algumas funções disponíveis no Google como o Google Meet para a realização das
aulas síncronas e a plataforma AVA/Moodle do IFPR para aulas assíncronas. As
aulas experimentais são essências na área da química mas diante o panorama que
nosso pais está vivendo aproximadamente 1 ano e 6 meses esses componentes
curriculares também tiveram que se adaptar nesta nova realidade. O objetivo dessa
trabalho é relatar como acadêmicas do curso de licenciatura química, as dificuldades
das aulas práticas de química analítica experimental I na forma remota.

METODOLOGIA: O presente trabalho vai relatar as dificuldades apresentadas no


ensino remoto do Instituto Federal do Paraná - campus Palmas, da disciplina de
Química Analítica Experimental I. O ensino no formato remoto, traz algumas
dificuldades, principalmente quando se trata do acesso à internet que alguns
acadêmicos não tem suas residências e também por não funcionar bem, o uso de
notebook e smartphones acaba sendo algo bem complicado, visto que os PDFs e as
atividades passadas pelos professores que requerem um sistema operacional mais
amplo e mais memória. Na disciplina foram realizados até o momento 3 relatórios e 3
fluxogramas, referente aos vídeo de aulas práticas postadas pela professora no
moodle. Os relatórios e os fluxogramas foram realizados em formato de Powerpoint
para serem apresentados nas reuniões. As práticas realizadas foram referente ao
tema de "Identificação De Cátions Por Via Seca", sendo as práticas realizadas por
partes, pois cada grupo é diferente de se obter os resultados. Ao total foram realizadas
oito práticas para a determinação de todos os grupos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A aulas práticas de química analítica experimental I


sendo aplicadas de forma remota gera dificuldades, o fato de não estarmos
manuseando os instrumentos para fazer a prática gera algumas dúvidas em relação
a cor final que se dá as reações química utilizada para identificação de cátions por via
úmida, a forma de identificação dos cátions é através de mudança de cor e
precipitados nas reações. É necessário rever várias vezes as práticas para entender
bem qual foi a vidraria utilizada, os reagentes e metodologias, assim como os
ISSN 2237-700X
102

resultados. Tornando a prática mais difícil de ser compreendida. Como consequência


as apresentações dos relatórios foram de forma mecânica pela não compreensão das
aulas práticas por vídeos. Ao final a professora percebendo que as alunas não tinham
atingido o objetivo principal o compreendido, explicou a pratica novamente e fez uma
nova proposta para as outras apresentações em forma de fluxograma. O rendimento
das aulas se tornou mais abrangente e compreensível. A discussão com a professora
referente às práticas realizadas é de grande valia para auxiliar o desenvolvimento da
compreensão das aulas, principalmente em relação aos mecanismos que ocorrem
durante as aulas práticas. Com isso percebemos que a troca de atividades, ajudou
na melhor compreensão do conteúdo. Segundo Barão 2020,o aluno, nos ambientes
virtuais de aprendizagem, fará a construção e a reconstrução dos significados dos
conceitos químicos de forma interativa, em seu tempo, individual ou coletivamente e
de forma independente. Estas modalidades de ensino proporcionam ao aluno
melhoria no aprendizado e aumento do interesse pela disciplina de Química
desenvolvendo as inteligências lingüísticas e as lógico- matemáticas que o ajudam a
fazer escolhas corretas para si e tudo o que o cerca.

Palavras-chave: Química analítica experimental, ensino remoto, pandemia.

REFERÊNCIAS:

OMS, Organização Mundial da Saúde. Folha informativa COVID-19: escritório da


OPAS e da OMS no Brasil. jan. 2021. Disponível em:
<https://www.paho.org/pt/covid19>. Acesso em: 18 out. 2021.

LUNARDI, Nataly Moretzsohn Silveira Simões et al. Aulas Remotas Durante a


Pandemia: dificuldades e estratégias utilizadas por pais. Educação & Realidade, v.
46, 2021.

Barão, Clades C. Ensino de química em Ambientes Virtuais. 2020

AGRADECIMENTOS: Instituto Federal do Paraná - Campus Palmas por todo


suporte que nos tem dado durante essa transição do ensino presencial para o
remoto.

ISSN 2237-700X
103

RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA


EDUCAÇÃO BÁSICA: A ESCOLA DE GENEBRA SOB A CONCEPÇÃO DA
PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA

Iracelia de Fátima dos Santos (iraceliasantos18@gmail.com)1


Elizandra Bertoldo de Oliveira daSilveira2
Dra Bruna Ramos Marinho (bruna.marinho@ifpr.edu.br)3
1,2,3
Instituto Federal de Eduacação, Ciência e Tecnologia do Paraná, campus Palmas

INTRODUÇÃO: O interesse pela pesquisa deu-se a partir de estudos docomponente


de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa, ministrado pela professora Dra.
Bruna Ramos Marinho, no curso de Letras Português/Inglês do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia do Paraná, campus Palmas (IFPR), que se deu à
partir de leituras, discussões, análises de documentos oficiais, teorias pedagógicas e
abordagem de ensino de língua materna. O relato de experiência foi realizado com o
intuito de instruir os acadêmicos em formação para a realização de uma prática
pedagógica bem fundamentada, que lhes mostrem como se dá a apropriação da
linguagem oral e escrita por alunos da educação básica e assim desenvolvam um
planejamento adequado para esse propósito.

METODOLOGIA: O trabalho foi embasado, primeiramente, em pesquisas teóricas, e


em seguida, foi desenvolvido um planejamento de ensino da Língua Portuguesa
para a educação básica por meio de uma sequência didática inspirada na Escola de
Genebra. Tal abrodagem de ensino de língua materna, de acordo com Souza e
Silveira (2014), foi influenciada pelas teorias da enunciação de Bakhtin e da
aprendizagem de Vigotsky, as quais cooperaram para o desenvolvimento e
funcionamento da linguagem da perspectiva sóciointeracionista. Os autores dessa
teoria sustentam a ideia da “didatica da diversificação” que se difere dos métodos
tradicionais por considerar a interação dos alunos com textos de cunho histórico e
social sem que os conhecimentos prévios sejam desprezados. Desse modo, a
sequência didática, enquanto “conjunto de atividades escolares organizadas, de
maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” (DOLZ;
NOVERRAZ; SCHENEUWLY,2004) foi elaborada a partir dos seguintes passos, a)
apresentação da situação (momento em que a atividade é exposta para os alunos); b)
produção inicial (com intuito de diagnosticar as capacidades dos alunos); c) Os
módulos (o número de módulos dependerá do gênero e do nível de conhecimento dos
alunos) d) produção final (nesse momento os alunos colocarão em prática tudo o
que aprenderam nos passos anteriores e o professor avaliará o progresso). A
sequência didática foi desenvolvida com alunos do 9º (nono) ano de uma escola no
sudoeste do Paraná. O gênero textual escolhido e apresentado aos alunos foi
somente o artigo de opinião, conteúdo este já previsto na Base Nacional Comum
curricular (BNCC, 2018). Para a confecção da produção textual, primeiramente foi
explicado a estrutura do gênero, principais características, além do tema (Bullying).
No momento da realização da sequência didática, foi utilizada a obra de Joaquim
Dolz e Bernard Schneuwly (2004), mentores da Escola de Genebra. Segundo os
autores, trabalhar gêneros é buscar o domínio do conhecimento da produção dos
textos orais e escritos para que o aluno da educação básica aprenda se comunicar
na sociedade. Também foi utilizada a Pedagogia Histórico-Crítica de Dermeval
Saviani (2013). Essa teoria entende que é a partir da educação que o ser humano
ISSN 2237-700X
104

desenvolve as habilidades com as quais não nasceu, as capacidades psíquicas


superiores. O trabalho educativo serve para que o aluno seja humanizado, assim ele
irá conhecer e compreender a sociedade onde vive na sua totalidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A relevância dessa escolha foi a de colocar o aluno


em contato com diferentes gêneros e com temas atuais, assim aumentando seu
conhecimento de mundo e sua criticidade. Durante o processo de realização, os
alunos conseguiram visualizar os erros cometidos em nível ortográfico e de coesão.
Em cada módulo a professora iniciava a aula trazendo a explicação de um critério, no
módulo 1 foi o de estruturação do artigo de opinião, após a explicação os alunos
fizeram trocas de textos entre si para as correções e após isso devolveram para a
professora finalizar. No módulo 2, foi discutido sobre coesão e pontuação e após foi
montado cinco grupos de alunos, para fazer uma pesquisa e apresentação sobre os
pontos falhos na coesão dos textos, o uso de conectivos. No módulo 3, acentuação
egrafia das palavras, nesse momento foi levado aos alunos textos com palavras sem
acentuação e com a grafia incorreta, o trabalho deles era o de corrigí-lo para treinar.
O módulo 4, era para trabalhar a argumentação/pesquisa científica/gênero artigo de
opinião, foi feita uma pesquisa, acerca do tema, no laboratório de informatica e
também na biblioteca, para buscar conteúdos de qualidade a fim de enriquecer as
produçoes finais. Ao findar a prática da sequênica didática, concluímos a quão
produtiva se torna a aula com sua utilização, pois os alunos conseguiram participar
ativamente de todo o processo, tendo acesso aos seus equívocos e compreendendo-
os para poder superá-los.

Palavras-chave: Sequência didática. Ensino aprendizagem. Gênero textual. Prática


pedagógica.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular.


Brasília,2018.

SAVIANI, Dermeval. Sobre a natureza e especificidade da educação. Germinal


Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v.7, n. 1, p. 286-293, jan. 2015.
Disponível
e
m:
h9ttps://periodicos.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/view/13575/951. Acesso
em: 29 de Maio.

SOUZA, Sueder S. de. SILVEIRA, Ederson Luiz. Escolas do gênero: entre tradições
e perspectivas. Web Revista Linguagem, Educação e Memória, n. 7, v. 7. 2014.
Disponível em: https://periodicosonline.uems.br/index.php/WRLEM/article/view/3486.
Acesso em: 29 de maio de 2021.

SCHNEUWLY, Bernard & DOLZ, Joaquim. Gêneros Orais e Escritos na escola/


tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales. – Campinas, SP: Mercado das
Letras, 2004.

ISSN 2237-700X
105

RELATO DE EXPERIÊNCIA: O ENSINO DE RADIOATIVIDADE POR MEIO DE


UMA ABORDAGEM DIFERENCIADA NO CONTEXTO DA RESIDÊNCIA
PEDAGÓGICA

Viviane Aparecida de Souza dos Santos(svivianeaparecida@gmail.com)¹


João Paulo Stadler 2
Sandra Inês Adams Angnes Gomes (sandra.angnes@ifpr.edu.br)3
1,2,3 Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

INTRODUÇÃO: A radioatividade pode ser definida como a propriedade que os


átomos de certos elementos apresentam ao emitir espontaneamente partículas alfa
e/ou beta e/ou radiação gama. Por exemplo: as radiações alfas são partículas
carregadas por dois prótons e dois nêutrons. O iodo-131, que emite partículas alfa
juntamente com partículas beta e radiação gama, é utilizado para diagnósticos de
tireoide (CNEN, 2008); os raios Beta são partículas negativas com carga -1 e
número de massa 0. O decaimento beta é amplamente utilizado na medicina em
fontes de braquiterapia, que corresponde a radioterapia localizada para tipos
específicos de tumores e em locais específicos do corpo humano (FIOCRUZ, [20...]);
as radiações gama são ondas eletromagnéticas, possuem carga e massa nulas,
emitem continuamente calor e têm a capacidade de ionizar o ar e torná-lo condutor
de corrente elétrica. São radiações semelhantes à luz e aos raios x (PAULINO,
2015). A radioatividade está presente na medicina, agricultura e indústria. Na
medicina, é usada na radioterapia e empregada no tratamento de tumores. Na
indústria, na gamagrafia, uma radiografia de peças metálicas ou de estruturas de
concreto, com a qual é possível verificar se há defeitos ou rachaduras que possam
causar vazamentos. E na agricultura, na utilização da irradiação de alimentos para a
melhoria da qualidade de produtos alimentícios (AGÊNCIA SENADO, 2019). Como a
radioatividade está presente no cotidiano e considerando a sua importância e que
muitas vezes este tema não é aprofundado no Ensino Médio (EM), desenvolveu-se
um trabalho no programa da Residência Pedagógica em Química do IFPR. Pelich
(2009) afirma que na maioria das vezes, quando o tema é trabalhado em sala de
aula, restringe-se à apresentação de apenas alguns tópicos, com pouca ênfase
histórica, de forma muito direta, quase nunca relacionado ao cotidiano. Neste
sentido, o principal objetivo deste manuscrito é relatar como ocorreu o trabalho de
aplicação sobre radioatividade, com a utilização de uma abordagem diferente,
elencando temas sociais e vídeos com o conteúdo.

METODOLOGIA: O desenvolvimento da atividade ocorreu com a primeira série do


EM, do Curso de Técnico Integrado de Serviços Jurídicos, do campus Palmas do
Instituto Federal do Paraná, em formato remoto. A atividade de regência foi
desenvolvida em três momentos: (1) Escrita do planejamento e da avaliação:
utilizou-se o projeto pedagógico do curso, a ementa e o documento da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018) para relacionar as competências e
habilidades do tema radioatividade com os objetivos de ensino, além de livros de
ensino médio e artigos sobre o tema estudado (PAULINO, 2015). Para a elaboração
da avaliação utilizou-se como referências artigos sobre a radioatividade e vídeos
sobre acidentes radioativos que aconteceram no mundo, com foco principal nos
acidentes radioativos de Chernobyl e Goiânia. A aula foi pensada com foco na
contextualização; (2) Gravação da aula sobre radioatividade: as aulas foram
ISSN 2237-700X
106

gravadas na plataforma Meet com auxílio de slides do powerpoint; (3) Atividade de


regência: as aulas foram disponibilizadas aos alunos na plataforma Moodle IFPR
com as atividades avaliativas e um fórum para discussões. O Fórum continha sete
questões e os dois vídeos que tratavam do tema sobre os acidentes radioativos,
além do vídeo aula. Os alunos tinham como tarefa responder as perguntas (Fig. 1)
com base no que eles haviam entendido dos vídeos e das aulas sobre o conteúdo.

Figura 1: Questões disponibilizadas no Fórum.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A articulação entre as competências e habilidades


específicas da BNCC e o desenvolvimento do conteúdo gerou um pouco de
dificuldade para organização da unidade didática, isso devido ao impasse de
encontrar um tema social que se adequasse as competências e suas habilidades.
Neste contexto, após uma análise criteriosa articulou-se o tema radioatividade a
competência específica 1 da área de Ciências da Natureza e suas tecnologias e as
habilidades EM13CNT103, EM13CNT104 e EM13CNT105 (BNCC, 2018). Na
sequência, o conteúdo foi contextualizado com acidentes nucleares que já
ocorreram, em especial de Chernobyl e o de Goiânia, com o objetivo de discutir os
perigos e benefícios do uso da radioatividade, as questões sociais presentes em
cada um dos acidentes radioativos e quais cuidados devem ser tomados no
manuseio de material radioativo. A aula gravada trazia exemplos sobre a aplicação
da radioatividade no cotidiano, sobre os perigos que diferentes radiações podem
causar ao ser humano e orientações sobre cuidados necessários para o manuseio
de material radioativo. A atividade ocorreu com a participação dos estudantes no
fórum de discussão, disponibilizado na plataforma Moodle. Os alunos assistiram dois
vídeos para responderam as questões da Figura 1, disponibilizadas no fórum de
discussão. As questões tinham como objetivo a reflexão dos alunos sobre a
utilização da radioatividade no dia a dia, e como a má utilização e falta de
informação podem acarretar graves acidentes, quais procedimentos devem ser
tomados diante de tais acontecimentos, além de fazê-los refletir sobre outras formas
de produção de energia limpa. A atividade avaliativa teve a participação de quatorze
alunos. Todos os participantes da atividade responderam as sete questões. Cada
estudante foi avaliado individualmente. A maioria dos alunos respondeu as questões
corretamente utilizando como apoio pesquisas em artigos e fontes de notícia.
Durante o fórum demonstraram entendimento e interesse sobre o assunto. A seguir,
na Figura 2, estão apresentadas algumas respostas dadas pelos estudantes aos
questionamentos disponibilizados no fórum:

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107

Figura 2: Respostas dos alunos.

As respostas das questões 1 e 4, indicam que os alunos entenderam os vídeos e o


conteúdo e atingiram os objetivos da atividade quando conseguiram perceber os
problemas sociais contidos nos dois acidentes radioativos. Identificaram que a falta
de informação e segurança no manuseio dos elementos radioativos, foram os
principais fatores que influenciaram o acontecimento das tragédias, permitindo
reflexões sobre essas informações. As respostas das questões 5 e 7, demonstraram
que os educandos se preocuparam em pesquisar as informações, trouxeram
exemplos diferentes sobre o mesmo assunto, inclusive possibilidades para energias
limpas que poderiam substituir usinas nucleares. Além disso, houveram divergências
em algumas questões por erro de interpretação, mas isso pode ser esclarecido no
fórum. Por fim, as ações deste planejamento trouxeram uma contextualização social
e possibilitaram o conhecimento dos estudantes sobre as radiações, suas origens e,
ao mesmo tempo, puderam avaliar as potencialidades e os riscos de suas
aplicações em equipamentos de uso cotidiano, na saúde, no ambiente, na indústria,
na agricultura e na geração de energia elétrica vindo ao encontro das competências
e habilidades propostas na BNCC. Os educandos tiveram a oportunidade de se
posicionar criticamente e até propor soluções individuais e/ou coletivas, por exemplo
produção de energia limpa em substituição a nuclear bem como o uso e descarte
responsável de material radioativo, ações individuais e/ou coletivas que minimizem
consequências nocivas à vida.

Palavras-chave: Ensino de Química, Aulas Remotas, Residência.

ISSN 2237-700X
108

REFERÊNCIAS:

PELICH, A. F. Irradiando Conhecimento: uma abordagem da radioatividade para o


Ensino Médio. 1º CPEQUI – 1º CONGRESSO PARANAENSE DE EDUCAÇÃO EM
QUÍMICA. UEL. 2009.

BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília,


2018.

PAULINO, W. R. Sistema de ensino ser: ensino médio, caderno 2: exatas,


biológicas: aluno. São Paulo: ática, 1 ed., 2015.

AGÊNCIA SENADO. Os benefícios e os perigos da radioatividade. Disponível


em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/especial-cidadania/vitimas-
do- cesio-137-pedem-assistencia-medica-para-todos/os-beneficios-e-os-perigos-da-
radioatividade> acesso em: 03 abr. 2021.

CNEN. Apostila educativa: Aplicações da energia nuclear. Botafogo, Rio de Janeiro,


2008.

FIOCRUZ. Radiação. Disponível em:


< http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/lab_virtual/radiacao.html>. Acesso em: 25
set. 2021.

ISSN 2237-700X
109

SAIS INORGÂNICOS – UMA EXPERIÊNCIA DE AULA REMOTA NA


RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA EM QUÍMICA

Gabriele Verginaci (gabrieleverginaci@hotmail.com)1


João Paulo Stadler2
Sandra Inês Adams Angnes Gomes (sandra.angnes@ifpr.edu.br)3
1,2,3Instituto Federal do Paraná – campus Palmas

INTRODUÇÃO: A utilização de recursos didáticos tecnológicos e digitais nas aulas


de Química são de grande relevância, tais como computadores, tablets, vídeos,
plataformas de ensino, entre outros, os quais permitem a verificação de tarefas
teóricas e experimentais, que demonstram a interpretação de fenômenos, bem como
os resultados obtidos, podendo-se perceber estes como ferramentas importantes
capazes de auxiliar no processo de ensino do professor e para aprendizagem dos
educandos (LOCATELLI, 2018). O uso dessas ferramentas tornou-se urgente no
ano de 2020, com o ensino remoto em função do Covid-19. Escolas, universidades e
programas da Capes como a Residência Pedagógica (RP) tiveram que se reinventar
para trabalhar com estes recursos e com um mínimo de qualidade. Assim,
apresenta-se neste trabalho um planejamento de aula remota que tinha como
objetivo envolver os estudantes da RP e do Ensino médio em um processo ativo no
processo de ensino e aprendizagem, utilizando como ferramenta o Moodle e
videoaula gravada sobre o tema compostos inorgânicos, mais especificamente sais
inorgânicos, utilizando como exemplo o hipoclorito de sódio. Uma classificação
utilizada na Química até hoje e de suma importância, foi criada no século XVIII, ela
divide as substâncias em inorgânicas (ou minerais) e orgânicas. No início, falava-se
que uma substância orgânica se originava de organismos vivos, enquanto
substâncias inorgânicas originavam-se dos minerais (FELTRE, 2004). Atualmente
tem-se por definição que toda substância orgânica contém o elemento carbono,
enquanto as substâncias inorgânicas são formadas por todos os demais elementos
químicos com algumas exceções como o ácido cianídrico e o ácido carbônico, que
contém carbono em sua composição, mas devido suas propriedades são
considerados compostos inorgânicos. As substâncias inorgânicas são classificadas
em grupos, sendo eles ácidos, bases e sais (JUNIOR,2019). No nosso dia a dia,
temos contato direto com muitas substâncias pertencentes a estes grupos, por
exemplo: o ácido acético, popularmente conhecido como vinagre, ácido cítrico
presente em frutas, ambos ácidos orgânicos. Os ácidos, de acordo com Arrhenius
são espécies que, em meio aquoso, aumentam a concentração de íons H+ (cátion
hidrogênio). Já as bases, ainda de acordo com Arrhenius, são espécies que em
meio aquoso aumentam a concentração de íons OH- (hidroxilas). Enquanto os sais
inorgânicos são compostos iônicos que possuem em sua composição um cátion
diferente do hidrogênio (H+) e um ânion diferente da hidroxila (OH-) como é o caso
do cloreto de sódio. (FELTRE, 2004). O sal de cozinha, NaCl (cloreto de sódio) está
presente em praticamente toda refeição, assim como é utilizado em conservação de
alimentos. Outro sal de uso recorrente é hipoclorito de sódio, presente na água
sanitária, poderoso desinfetante utilizado em limpeza doméstica e de hospitais. Esse
age destruindo ou inativando micro-organismos patogênicos, algas e bactérias de
vida livre devido a ionização em meio aquoso com liberação do ânion hipoclorito
(ClO-). Os sais inorgânicos também são muito utilizados nas indústrias químicas: o
NaCl, pode ser submetido à processos de eletrólise para fabricação de soda
ISSN 2237-700X
110

cáustica (NaOH), já a soda cáustica pode ser usada em processos eletrolíticos para
obtenção do gás hidrogênio (H2) e do gás cloro (Cl2) (NEVES,2020).

METODOLOGIA: O presente trabalho foi desenvolvido no programa de RP em


Química do campus Palmas do IFPR (Instituto Federal do Paraná) e aplicado a uma
turma de segunda série do curso Técnico integrado ao Ensino Médio em Serviços
Jurídicos. Inicialmente, preparou-se uma aula com o tema sais inorgânicos
contextualizado ao cotidiano dos estudantes. Devido a pandemia Covid-19, a aula foi
gravada e postada na plataforma Moodle, ficando assim disponível aos alunos para
que assistissem em um horário de sua escolha, considerando ser uma aula extra
para complementação do conteúdo que o professor regente já havia trabalhado
conforme sua ementa. Como atividade avaliativa propôs-se aos estudantes
pesquisar três sais inorgânicos utilizados em suas casas, tirar foto do rótulo
descrever a sua composição indicando as fórmulas e função.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A videoaula gravada proporcionou fazer o resgate


sobre o ensino das funções inorgânicas já trabalhadas pelo professor, fórmulas,
classificação, comportamento em meio aquoso e classificação, com vias à retomada
de conteúdo. Quanto a atividade avaliativa proposta para os alunos, não se teve um
bom retorno, pois apenas um aluno respondeu à pergunta com êxito, demonstrando
assim a compreensão o objetivo da atividade, principalmente neste período
conturbado de atividades remotas em função do Covid-19. Esta falta de aceitação,
pode até ser vista como desinteresse, contudo há necessidade de se considerar o
tempo do estudante, visto que o curso é integral, a sua adaptação e até mesmo
condições emocionais. Trabalhar o conteúdo funções inorgânicas no Ensino Médio
permitem desenvolver competências como por exemplo, analisar a composição
química da matéria, os processos tecnológicos para propor ações individuais e
coletivas que aperfeiçoem processos produtivos, minimizem impactos
socioambientais e melhorem as condições de vida em âmbito local, regional e/ou
global. Competência que possibilita, a avaliação de potencialidades e de limites e
riscos do uso de diferentes materiais e/ou tecnologias para tomar decisões
responsáveis e consistentes diante dos diversos desafios contemporâneos. Essas
competências contribuem com o desenvolvimento de habilidades como, avaliar
potenciais prejuízos de diferentes materiais e produtos à saúde e ao ambiente,
considerando sua composição, toxicidade e reatividade, como também o nível de
exposição a eles, posicionando-se criticamente e propondo soluções individuais e/ou
coletivas para o uso adequado desses materiais e produtos. Contudo, o trabalho
remoto dificulta muitas vezes verificar o desenvolvimento dessas competências e
habilidades em função da baixa participação nas devolutivas dos estudantes. Um
trabalho positivo, contudo exige a participação mais ativa dos educandos.

Palavras-chave: Ensino de Química, Funções Inorgânicas, Ensino Médio.

REFERÊNCIAS:

FELTRE, R. Química Geral. 7. ed. São Paulo: Moderna, 2004. v. 1


JUNIOR, C., S.; SASSON, S.; BEDAQUE, P. Ciências, entendendo a natureza.
Editora Saraiva 2019.

LOCATELLI, Tamiris. A Utilização de Tecnologias no Ensino da Química. Revista


ISSN 2237-700X
111

Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 08, Vol. 04, 2018.

NEVES, L., C.; MORETTO, S., A.; Química Geral e inorgânica.; UNIP Universidade
Paulista – Rede interativa EAD. 2020

AGRADECIMENTOS: À Capes e ao Programa Residência Pedagógica pelo


oferecimento das atividades e do financiamento.

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112

USO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS NO PIBID DE BIOLOGIA DURANTE O


ENSINO REMOTO

Jamili Ribeiro Ribas ¹


Mélani Boese Burtet 2
Beatriz Frizon 3
Rafaely de Andrade Ferreira4
Josy Fraccaro de Marins 5
Rejane Pietro Bom (rejanepietrobom@gmail.com)6
1,2,3,4,5
Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas
6
Colégio Estadual Cívico Militar Sebastião Paraná

INTRODUÇÃO O ensino de Biologia vem passando por adaptações, atualmente


integra a área de Ciências da Natureza e Suas Tecnologias no Ensino Médio
(BRASIL, 2018). A biologia busca conhecer e compreender todas as formas de vidae
seus processos. Estudar biologia no ensino médio permite que os alunos possam
compreender mudanças no seu corpo, entender os processos produtivos,
procurando contextualizar os conteúdos e fazer com que o aluno utilize os
conhecimentos para tomada de decisões que visem o coletivo, com uma postura
cidadã (KRASILCHIK, 2004). Essa contextualização e suas implicações ficaram
ainda mais evidentes quando o mundo foi acometido pela pandemia de Covid-19,
um momento de muita tensão e incerteza. A forma tradicional de educação sofreu
um grande impacto, que resultou na necessidade de realizar o ensino remoto
emergencial em todos os níveis de ensino. Para viabilizar a educação, foi
necessário aliar o uso de tecnologias educacionais relacionando-as com o processo
de ensino e aprendizagem. Apesar das dificuldades em transpor o ensino presencial
para a modalidade remota, o momento pandêmico é desafiador e enriquecedor para
a prática docente (RONDINI, PEDRO e DUARTE, 2020). Em meio a situação
pandêmica houve a realização de atividades do PIBID do subprojeto Biologia, do
IFPR Campus Palmas no Colégio Estadual Cívico Militar Sebastião Paraná, no
município de Palmas – PR, sob a supervisão da professora Rejane Pietro Bom. Este
trabalho tem como objetivo relatar o uso de tecnologias educacionais no
desenvolvimento das atividades desse programa no período de ensino remoto
emergencial.

METODOLOGIA: O ambiente virtual de aprendizagem (AVA) adotado pela


Secretaria Estadual de Educação do Paraná no período de ensino remoto
emergencial foi o Google Classroom. Os Pibidianos foram inseridos como alunos
nas turmas de biologia do ensino médio, vinculadas à supervisora do programa no
Colégio Estadual Cívico Militar Sebastião Paraná. O Google meet foi utilizado para
aulas síncronas, o uso dessa ferramenta possibilita encontros virtuais para relação
entre alunos e professores, permitindo a interação. O Google meet é um serviço de
comunicação por vídeo desenvolvido pelo Google. Seu lançamento ocorreu em
2017 e, atualmente, está disponível para diversas plataformas (DARSKI, CAPP e
NIENOV, 2021). O Google forms veio para complementar e aliar a metodologia de
ensino, perante as mudanças que vem acontecer neste século, pois foi necessário
adaptar-se a esse ao sistema de ensino remoto. Os instrumentos avaliativos
sofreram alterações e as novas ferramentas ganharam espaço, e este é utilizado
ISSN 2237-700X
113

para realização de avaliações, nesta ferramenta há possibilidades de criação de


atividades diversas. Portanto os pibidianos se integraram no ensino remoto
emergencial e passaram a conhecer, estudar e utilizar essas ferramentas
tecnológicas que atualmente fazem parte do cotidiano escolar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O ambiente virtual de aprendizagem é de


responsabilidade do professor supervisor e contou com a colaboração dos
pibidianos que puderam participar do seu planejamento, sugerir Layout propor
atividades e discutir sobre as atividades assíncronas e sua importância na
aprendizagem. Giorno e Rosa (2020) apontam que os próprios alunos podem
contribuir para melhor construção do AVA. Considerando que os pibidianos
vivenciam as duas realidades, como alunos de graduação e como iniciantes na
docência, ambos experienciados simultaneamente no período de ensino remoto,
suas perspectivas podem ser de grande valia para aprimorar o AVA. Nas aulas
síncronas de biologia via Google meet houve participação dos pibidianos, que
observaram e interagiram com os alunos, buscando sempre verificar se há dúvidas
e instigá-los a quererem saber mais. Foi uma ferramenta utilizada também no
planejamento de conteúdo mensal de diferentes turmas do ensino médio. Krasilchik
(2004) aponta para a necessidade e importância do planejamento no ensino de
biologia e o uso de recursos didáticos e metodologias variadas. O planejamento e
confecção de atividades era feito coletivamente através do Google meet com
participação dos pibidianos e professora supervisora após ser proposto pela
mesma, com base no acompanhamento dos alunos e seus avanços e nível de
dificuldade. Entretanto, a supervisora sugeriu que as atividades fossem de nível
médio, para que houvesse uma interação e compreensão dos conteúdos. Após a
delimitação do conteúdo, foi planejado e elaboração de atividades: questões, jogos,
experiências e mapas mentais, com o objetivo de utilizar diferentes ferramentas
como forma de avaliação, principalmente como recuperação e essas atividades
eram feitas de formas coletivas e individuais, os pibidianos buscavam recursos para
confeccioná-las em livros, vídeos, inspirações e após ser enviadas recebemos o
feedback da supervisora para ver se estava dentro do planejamento, as atividades
de jogos foram as que levaram mais tempo para ser feitas e precisou se dedicar
mais da parte dos pibidianos, porém houve um retorno muito significante da parte
dos alunos, entretanto as atividades descritivas eram subdivididas conforme os
tópicos dos temas. Avaliação escolar sempre foi um tema muito debatido e
controverso na educação (LUCKESI, 2011). Pensar e aplicar a avaliação escolar
dentro do contexto do ensino remoto é desafiador. Aliar o Google forms, Google
Classroom e Google meet para atividades avaliativas foi a estratégia adotada pela
professora supervisora e os pibidianos, onde esses iniciantes na docência puderam
auxiliar na diversificação dos tipos de questões, através do estudo e conhecimento
dessa ferramenta. A correção e explicação das atividades eram realizadas através
do Google meet em momentos síncronos, os pibidianos atuaram como auxiliares
para a correção e explicação das atividades, pelo fato de terem sido
confeccionadas pelos mesmos. O Google Classroom é uma plataforma gratuita e
livre de anúncios que tem como objetivo apoiar professores, melhorando a
qualidade do ensino (SOUZA e SOUZA 2016), é um meio que transpõe o ambiente
de aprendizagem presencial para o virtual foi utilizado para o envio de atividades,
inclusive avaliativas. Os professores precisam encarar o desafio de se preparar para
essa nova realidade, aprendendo a utilizar recursos básicos e planejando formas de
usá-los em suas salas de aula (RODRIGUES, ARANHA e FREITAS, 2020). O uso
ISSN 2237-700X
114

de tecnologias no período de pandemia foi indispensável e conhecer essas


ferramentas, discutir como utilizá-las na educação básica e no contexto de formação
docente é extremamente relevante, pois possivelmente serão incorporadas como
recurso didático ao ensino presencial, podendo promover transformações nos rumos
educacionais.

Palavras-chave: Ambiente virtual de aprendizagem, ensino de biologia, pandemia.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília,


2018. Disponível em <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/>. Acesso em:
20 set. 2021.

DARSKI, C.; CAPP, E.; NIENOV, O.H. Google Meet. In: NIENOV, O. H; CAPP, E.
(org.). Estratégias didáticas para atividades remotas. Disponível em
<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/223467/001128255.pdf?sequenc
e=1>. Acesso em: 20 set. 2021.

GIORNO, L e ROSA, B. Ensino remoto emergencial em tempos de pandemia: a


percepção dos alunos do ensino médio e técnico integrado no ambiente virtual de
aprendizagem.In:CONGRESSO INTERNACIONAL DE TECNOLOGIAS
EDUICACIONAIS 2020. Anais. Disponível em:
<https://cietenped.ufscar.br/submissao/index.php/2020/article/view/1754/1389>.
Acesso em: 20 set. 2021.

KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. São Paulo: Editora


daUniversidade de São Paulo, 2004.

LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22.


ed. São Paulo: Cortez, 2011.

RODRIGUES , J. ARANHA, S.D.G.; FREITAS, F.M. A ferramenta google em


avaliações formativas: a eficácia de tecnologias no ensino fundamental. Revista
Leia Escola. Campina Grande, v. 20, n. 3. 74-88, 2020. Disponível em:
<http://revistas.ufcg.edu.br/ch/index.php/Leia/article/view/1967>. Acesso em 29 set.
2021.

RONDINI, C.A; PEDRO, K.M.; DUARTE, C.S. Pandemia de Covid-19 e o ensino


remoto emergencial: mudanças na prática pedagógica. Educação. v. 10, n. 1,
2020.Disponível em: <
https://periodicos.set.edu.br/educacao/article/view/9085/4128>. Acesso em 29 set.
2021.

SOUZA, A; SOUZA, F. Uso da Plataforma Google Classroom como ferramenta


de apoio ao processo de ensino e aprendizagem: Relato de aplicação no ensino
médio. Trabalho de Conclusão de Curso - Licenciatura em Ciências da Computação,
Universidade Federal da Paraíba, 2016. Disponível em:<
https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/3315/1/ACSS30112016.pdf.>.
Acesso em: 29 set. 2021.
ISSN 2237-700X
115

VAMOS FALAR (UM POUCO MAIS) SOBRE MÉTODOS SUBSTITUTIVOS AO


USO DE ANIMAIS PARA FINS DE ENSINO NOS CURSOS DE LICENCIATURA
EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DO IFPR?

Gabriela Inocêncio Lopes (gabriela.lbiologia@gmail.com)1


Claudionei Cella Pauli (claudionei.pauli@ifpr.edu.br)2
Mariana da Silva Azevedo (mariana.azevedo@ifpr.edu.br)3
1,2,3Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

INTRODUÇÃO: o uso de animais ou partes deles é uma prática presente em


diversas instituições de pesquisa e ensino e tem gerado debates do ponto de vista
ético e legal, em especial quando se dispõe de métodos substitutivos, ou seja,
métodos que podem ser utilizados em substituição ao uso de animais e partes deles
para fins de pesquisa e ensino. Esses debates também se fazem presentes no
ambiente universitário. Tento presente a contemporaneidade e a pertinência do
tema, realizou-se uma pesquisa procurando investigar a percepção de estudantes
concluintes e docentes dos cursos de Ciências Biológicas do Instituto Federal do
Paraná - IFPR, sobre o uso de animais (do filoChordata, subfilo Vertebrata) ou partes
deles durante as aulas. No presente resumo expandido, são apresentados e
discutidos, de maneira preliminar, parte dos resultados desta pesquisa, referentes
aos dados dos(as) estudantes.

METODOLOGIA: procurou-se centrar a pesquisa no uso de animais apenas para


fins didáticos, numa instituição de ensino do Paraná e nos cursos de Licenciatura em
Ciências Biológicas porque neles, possivelmente, pode-se fazer uso de animais para
fins de ensino. Limitou-se a considerar o uso de animais do filo Chordata, subfilo
Vertebrata, pois, a Lei 11.794, de 08 de outubro de 2008, conhecida como Lei
Arouca, regulamenta que os animais das espécies classificadas desse filo e subfilo
podem ser utilizados no âmbito acadêmico e científico. A amostra utilizada é por
conveniência, ou seja, foram convidados a participar do estudo pessoas que fazem
parte de um grupo que, possivelmente, tenha relação com a temática da pesquisa. A
pesquisa contou com aprovação de um Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo
seres humanos (CEP) e a coleta de dados foi realizada por meio de um questionário,
com perguntas estruturadas e semiestruturadas, via formulário eletrônico, enviado
ao e-mail dos participantes e respondido após o aceite do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). A abordagem utilizada é qualitativa e o caráter ou
método descritivo. Segundo Cervo e Bervian (2011), a pesquisa descritiva registra,
analisa e observa fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Descrever é
descobrir e observar alguns fenômenos para mais tarde descrevê- los, classificá-los
e interpretá-los, descrevendo de forma detalhada como se apresenta o que foi
constatado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: participaram da pesquisa 31 acadêmicos(as). Os


resultados permitem perceber que, nos cursos pesquisados, são utilizados animais
ou partes deles para fins de ensino, incluindo o uso de animais vivos. A utilização
ocorre nos laboratórios das Instituições e os animais mais utilizados são das
Classes: Mammalia, Amphibia, Osteichthyes, Chondricthyes e Agnatha. A maior
parte dos(as) estudantes relatou que o uso de animais ocorre entre o segundo e
terceiro ano dos cursos e que estes animais ou suas partes são oriundos de morte
por atropelamento ou outros ferimentos ou, ainda, vieram de frigoríficos. Foi possível
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116

perceber que os animais foram usados para diversas finalidades, como, por
exemplo: “(...) ver as partes para compreender melhor o assunto”; “anatomia
comparada”; “conhecer seus órgãos, estrutura corporal e funcionalidade” e “facilitar a
assimilação do conteúdo”. Os resultados permitem perceber a importância de que o
tema do uso correto dos animais, do ponto de vista da ética e da lei, precisa
continuar sendo abordado ao longo dos cursos, seja em sala de aula, seja em
eventos acadêmicos. Muitos participantes relataram que houve o uso de animais por
meio de vídeos que apresentavam atividades de ensino gravadas anteriormente e
que envolvia o uso de animal/animais ou suas partes. Embora a pesquisa não tenha
perguntado a opinião dos participantes sobre o uso deste método, a resposta é
interessante quando se discute os métodos substitutivos. Segundo Tréz (2010),
entende-se que o vídeo é uma maneira de substituição dos animais, pois como já foi
gravado e os alunos podem utilizar dele quando necessário em relação ao estudo,
não faz sentindo uma vez mais utilizar animais presencialmente se a fixação do
conteúdo ocorreu através de mídias, ou seja, o vídeo. Os resultados permitem
observar que há conhecimento entre os(as) acadêmicos(as) sobre métodos
substitutivos, que podem trazer benefícios tanto para os(as) estudantes quanto para
a Instituição. De acordo com Cardozo e Vicente (2007), para a Instituição pode haver
algumas vantagens, pois, os métodos substitutivos podem apresentar custos
menores em comparação com o uso de animais, ao se considerar, por exemplo, os
recursos utilizados na manutenção dos laboratórios e, quando for o caso, biotérios ou
a substituição dos animais ou das partes deles quando precisam ser descartados.
Segundo Greif (2003), a utilização de métodos substitutivos, pode ser relevante em
relação aos(às) alunos(as), pois, ao se considerar as formas e os possíveis limites
de cada aluno(a) no processo de aprendizagem, com o uso de modelos se torna
possível, dependendo do material, repetir, montar e desmontar, ajudando, assim,
os(as) alunos(as) a compreender melhor determinado assunto. Esta relevância
também é percebida no aprendizado conforme os preceitos éticos, não apenas na
teoria, mas também na prática da preservação da vida de animais ao terem o seu uso
substituído pormodelos.

Palavras-chave: percepção de estudantes; alternativas ao uso de animais; ética


animal; bioética.

REFERÊNCIAS:

BRASIL, Lei nº 11.794/08. Regulamenta o inciso VII do § 1o do Art. 225 da


Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais.

CERVO, A.; BERVIAN, P. A.; DA SILVA, R. Metodologia Científica. 6ª ed. São


Paulo: Pearson, 2006.

CARDOZO, E; VICENTE, C. Considerações éticas, legais e científicas para a


substituição da coleta e uso deanimais vivos nas disciplinas de ciências biológicas e
ciências afins nas universidades brasileiras. Saúde & Ambiente em Revista, Duque
de Caxias, 55-73, 2007;

GREIF, S. Alternativas ao uso de animais vivos na educação pela ciência


responsável. São Paulo, ed. Instituto Nina Rosa, 2003; TRÉZ, T. Métodos
substitutivos. Porto Alegre: EDIPUCRS. 2010.
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117

AGRADECIMENTOS: aos(às) acadêmicos(as) e docentes que aceitaram ser


participantes e possibilitaram esta pesquisa.

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ARTIGOS COMPLETOS

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A CONSTRUÇÃO DA CARREIRA E DA IDENTIDADE DOS TÉCNICO-


ADMINISTRATIVOS EM EDUCAÇÃO

Guilherme Basso dos Reis (taemovimentoifpr@gmail.com) ¹


Márcia Valéria Paixão (valeria.paixao@ifpr.edu.br) ²
1
Mestre em Ensino PROFEPT-IFPR, técnico-administrativo em educação no IFPR
2
Pós doutora em Antropologia Cultural pela Univ. de Salamanca, docente no IFPR

Resumo: Os técnico-administrativos em educação (TAEs) representam uma das


três categorias que compõe a comunidade acadêmica, junto aos docentes e
discentes. Membros de uma carreira com 367 cargos divididos em cinco níveis de
classificação, e responsáveis pelos mais variados trabalhos e funções nas
Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Este trabalho tem como objetivo
apresentar o desenvolvimento histórico da carreira dos TAEs das IFES, em sua
relação com a legislação e o contexto institucional. Analisa o processo histórico,
social e político de busca de construção da identidade, de suas instituições, da
educação pública e da Educação Profissional e Tecnológica por parte destes
servidores. A pesquisa bibliográfica e documental (legislação) desenvolvida aponta
que a conquista do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em
Educação (PCCTAE), obtida através de processos de luta, reivindicação e
negociação da categoria, apresenta-se como um momento importante e fundamental
na definição de identidade da categoria. É a partir deste momento que o próprio
termo Técnico-administrativo em educação passa a existir e caracterizar estes
trabalhadores, contribuindo na perspectiva de construção de sua identidade de
categoria. O mesmo se dá com os avanços obtidos na legislação de criação dos
Institutos Federais. Desta forma, através destas conquistas, novas possibilidades e
perspectivas se abrem para estes trabalhadores e o desenvolvimento de sua
carreira e de sua vida institucional deixam de ser questão meramente corporativa, e
passam a estar associado ao planejamento institucional e aos projetos e políticas
públicas nacionais.

Palavras-chave: Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em


Educação; Servidores federais da educação; Servidores públicos; Institutos
Federais.

Abstract: The administrative technicians in education (TAEs) represent one of the


three categories that make up the academic community, together with teachers and
students. Members of a career with 367 positions divided into five levels of
classification and responsible for the most varied jobs and functions in Federal
Institutions of Higher Education (IFES). This work aims to present the historical
career development of the TAEs of the IFES, in its relationship with the legislation
and the institutional context. It analyzes the historical, social and political process of
seeking the construction of identity, its institutions, public education and Professional
and Technological Education by these servers. The bibliographical and documental
research (legislation) developed points out that the achievement of the Career Plan
of Technical-Administrative Positions in Education (PCCTAE), obtained through the
processes of struggle, claim and negotiation of the category, presents itself as an
important and fundamental moment in defining category identity. It is from this
moment on that the term Technical-administrative in education comes into being and
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120

characterizes these workers, contributing to the construction of their category


identity. The same happens with the advances obtained in the legislation for the
creation of Federal Institutes. In this way, through these achievements, new
possibilities and perspectives open up for these workers and the development of their
career and their institutional life is no longer a merely corporate issue, and is now
associated with institutional planning and national projects and public policies.

Keywords: Career Plan for Technical-Administrative Positions in Education; Federal


Education Servers; Public servants; Federal Institutes.

1 Introdução

A categoria dos técnico-administrativos em educação é uma das três


categorias que constituem a comunidade acadêmica das Instituições Federais de
Ensino Superior (IFES). Pertencentes a uma carreira com 367 cargos divididos em
cinco níveis de classificação organizados e hierarquizados a partir do nível de grau
de complexidade das atribuições, requisito de escolaridade, conhecimentos,
habilidades específicas, formação especializada, experiência, risco e esfera de
desempenho das atribuições próprias de cada um deles. Mesmo que muitos destes
367 cargos estejam em extinção ou não haja mais realização (ou esta seja rara) de
concursos para eles, tal número demonstra a complexidade e abrangência do
trabalho dos TAEs nas Instituições Federais de Ensino Superior. Dos 367 cargos
originalmente existentes, hoje restam 196. O trabalho dos TAEs engloba diversas
áreas de atuação, de conhecimento e setores. Desde um médico em um hospital
universitário, até um técnico de laboratório (de diversas áreas científicas, industriais
e agrícolas), um técnico agrícola/pecuário, passando por bibliotecários, assistentes
de aluno, assistentes sociais, entre outros, até os cargos dos níveis A e B, sua
maioria em extinção e/ou terceirizados nas IFES. Cargos esses que compreendiam
funções como a de copeiro, motorista, cozinheira, na área de limpeza, e vários tipos
de auxiliares e trabalhadores braçais, como Auxiliar de Serralheria (A), Carvoejador
(A) e Açougueiro (B). Os cargos variam seu nível de classificação conforme a
formação básica necessária para ingresso em cada um. Nos níveis de classificação
A e B há cargos de nível fundamental incompleto e fundamental completo. O nível C
corresponde a formação em Ensino Fundamental completa. Os cargos de nível D
são de Ensino Médio completo. É necessária formação em Ensino Superior
completa para ingresso nos cargos no nível E. Em todos os níveis, vários dos cargos
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121

exigem formação específica ou algum tipo de habilitação e/ou registro profissional


(REIS, 2020, p. 16).
Quando falamos da identidade destes trabalhadores há sempre certas
dificuldades, limitações e contradições que se apresentam, ao menos em um
primeiro momento. Estes servidores aparecem quase sempre como executores de
atividades-meio para que a relação educacional referente ao polo docente-discente
e o processo educacional possam se realizar. O fato de estarem, muitas vezes, em
outro espaço daquele que é o centro do processo educacional perpassa tanto o
trabalho, as atividades, a vida laboral e as representações que os TAEs têm de si,
quanto – em uma reação dialética - as representações que outros sujeitos têm dos
TAEs. As limitações em construir uma identidade própria reforçam esteriótipos,
lugares comuns e delimitações dos TAEs dentro das Instituições em que trabalham.
Neste trabalho busca-se apresentar o processo de desenvolvimento da carreira dos
TAEs ao longo do tempo, e com isto, apontar ao menos alguns elementos que
questionem a visão destes trabalhadores seja como sujeitos passivos, seja como
sujeitos subalternos (e subalternizados) dentro das IFES (VALLE, 2014).

2 Material e Métodos

Esta investigação caracteriza-se como uma pesquisa documental bibliográfica


exploratória. Documental, pois suas fontes são leis, registros e documentos
institucionais. Bibliográfica pois relaciona trabalhos já realizados por outros
pesquisadores relativos aos temas abordados. Exploratória, pois o acúmulo e estudo
destes achados visam construir aproximações e mapear os problemas apresentados
para que, posteriormente, o pesquisador possa extrair elementos gerais e construir
sínteses.
Este trabalho é o resumo breve de alguns resultados da pesquisa
desenvolvida no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação
Profissional e Tecnológica sobre temas relacionados à consciência e identidade dos
técnico-administrativos. A pesquisa teve como base de elaboração a bibliometria
junto ao portal de periódicos da CAPES, a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações (BDTD), aos repositórios de leis da República Federativa do Brasil

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122

(através de pesquisa no buscador GOOGLE) e indicações das entidades sindicais. A


pesquisa no portal da CAPES e da BDTD foi realizada em 12 de março de 2020.
Tanto no portal de Periódicos da CAPES, quanto na BDTD foram digitadas as duas
buscas: “técnico-administrativo” AND “identidade” e “técnico-administrativo” AND
“instituto federal”. Além destas pesquisas foram utilizadas as fontes documentais
referentes a carreira dos TAEs, a EPT e os Institutos Federais. Neste artigo, que faz
uma apresentação resumida daqueles achados, nos restringimos aos trabalhos,
pesquisas e leis que tratam mais diretamente da carreira dos TAEs e de sua relação
com a institucionalidade dos Institutos Federais. Estas fontes encontram-se nas
referências.

3 Resultados e Discussão

Os técnico-administrativos em educação passaram por diversos momentos


em sua história até a constituição de sua carreira atual. Inclusive, só é possível hoje
falar dos TAEs por causa desta carreira, tendo em vista que antes não existia esta
denominação para estes trabalhadores: Técnico-administrativo em Educação.
Anteriormente a conquista do PCCTAE o que regulava o trabalho desta categoria
era, por um lado, em termos de carreira, primeiramente – na ditadura militar - o PCC
(Plano de Classificação de Cargos, Lei 5.645/1970), posteriormente o PUCRCE
(Plano Único de Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos, criado pela Lei
7.596/1987 e Decreto 94.664/1987), e em relação as leis aquelas que são gerais do
serviço e dos servidores públicos, tal qual a Lei 8.112/1990 (o Regime Jurídico Único
dos Servidores Federais Civis) e o Decreto 1.171/1994 (Código de Ética Profissional
do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal). Tal era o conjunto de leis e
normas que regulamentavam a atuação e previam os direitos e deveres dos
servidores administrativos das universidades, CEFETs e Escolas Federais à época.
Como vemos, estes se restringiam a legislações gerais e comuns aos servidores
públicos. Não havia nem a carreira e nem nenhuma especificidade dos
trabalhadores da educação federal. (BRASIL, 1970; BRASIL, 1987a; BRASIL,
1987b; BRASIL, 1990; BRASIL 1994).
O atual plano de carreira, o PCCTAE, surgiu a partir de um processo de

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negociação ocorrido em 2004, entre Governo Federal, FASUBRA (em greve) e


SINASEFE. A maior parte do seu conteúdo teve como baliza a histórica proposta de
Carreira Única dos Trabalhadores em Educação, construída desde 1994 por
estas duas entidades, que estabelecia novos princípios de carreira, com
características inovadoras, como: ascensão funcional; desenvolvimento na carreira
na busca de um melhor desempenho profissional da Instituição e do Servidor;
processo de avaliação de desempenho mais amplo e democratizado; linearidade
entre os níveis da carreira, com a diferença constante entre os níveis e equalizada
entre o primeiro e o último nível da carreira; processo de acúmulo de conhecimento
(educação formal e capacitação profissional) como forma de reconhecimento para o
desenvolvimento na carreira; estabelecimento de apenas dois cargos (Docente e
Técnico-Administrativo em Educação) na carreira, definindo como importante o
ambiente e as funções de cada um e não somente a diferenciação a partir da
nomenclatura e das funções de cada cargo; entre outros elementos que
proporcionariam importantes avanços para a administração da nossa Rede caso
fossem incluídos no PCCTAE. (SINASEFE, 2009?, p. 1).
Logo após a criação do PCCTAE há a publicação de duas portarias do MEC
de fundamental importância para a carreira. As portarias 655/2005 e 2519/2005
instituem, respectivamente, a Comissão Nacional de Supervisão do PCCTAE (CNS),
e a Comissão Interna de Supervisão do PCCTAE (CIS). As duas têm tarefas,
objetivos e atribuições análogas, a de fiscalizar, orientar e assessorar sobre a
implantação da carreira. A única diferença é que uma realiza isto no plano nacional
(CNS) contando com a participação de membros indicados pelo MEC e pelos
sindicatos da categoria (SINASEFE e FASUBRA). Conforme o artigo 1º da Portaria
655/2005 MEC a CNS é composta por 04 (quatro) membros representantes do
Ministério da Educação, 04 (quatro) membros representantes dos dirigentes das
Instituições Federais de Ensino vinculadas a este Ministério (ANDIFES e CONIF) e
08 (oito) membros indicados pelas entidades representativas da categoria, sendo 05
(cinco) representantes da FASUBRA e 03 (três) representantes do SINASEFE
(BRASIL, 2005a). Já a CIS é local e conta com membros eleitos pela categoria em
cada instituição. Conforme o artigo 1º da Portaria 2519/2005 MEC a CIS é composta
por representantes dos servidores, optantes pela Carreira, eleitos entre seus pares,
sendo o número de representantes de no mínimo 3 (três) e no máximo 20 (vinte),

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124

respeitada a proporção mínima de 1 (um) representante a cada mil ou parcela maior


do que 500 (quinhentos) servidores ativos, aposentados e instituidores de pensão
(BRASIL, 2005b). Nos dois casos os mandados são de três anos (BRASIL, 2005c).
É com base nesta nova carreira, e em suas posteriores alterações, que vão
se desenvolvendo os embates e lutas da categoria por sua afirmação, por melhores
condições e relações de trabalho, pela construção de sua identidade e superação da
subalternidade. As entidades sindicais são os instrumentos, não únicos (as
associações e as próprias CIS e CNS cumprem também importante papel), mas
prioritários na conjugação de esforços da categoria.

A luta pela implantação de nossa carreira é tema constante de nosso


cotidiano por quase duas décadas exigindo, portanto, enorme esforço por
parte da categoria. Vários foram os movimentos de mobilização e
negociação, envolvendo, quando necessário, greves, buscando não só a
recuperação de salários, mas a afirmação da nossa identidade como
Técnico-Administrativos em Educação como agentes do processo de
formação do cidadão e da construção do conhecimento (FASUBRA, 2013,
p. 3).
...
Importante a ressaltar é o fato que o PCCTAE se diferencia de outros
planos de cargos e salários aplicados à administração pública, por trazer em
seu bojo não só uma tabela remuneratória, mas, principalmente, elementos
de gestão institucional e conceitos inovadores, rompendo com as mesmices
na gestão pública, além da defesa de uma política de Estado. O PCCTAE
propõe o desenvolvimento dos(as) Trabalhadores(as) vinculado ao
desenvolvimento institucional reconhecendo e fortalecendo a ação desses
no processo educacional. Requer para tanto a implantação de um plano de
desenvolvimento institucional e um plano de desenvolvimento dos
integrantes da carreira, obrigando o Estado, na perspectiva de garantir um
serviço de qualidade a população, capacitação e qualificação dos(as)
trabalhadores(as). Outro aspecto importante no processo de gestão é a
supervisão participativa, trabalhadores(as) e gestores(as), da aplicação do
PCCTAE, através da Comissão Nacional de Supervisão da Carreira (CNSC)
e da Comissão Interna de Supervisão (CIS) em cada instituição, buscando
ainda alterações, visando o aprimoramento da carreira dado o processo
natural de evolução do trabalho nas Instituições de Ensino (FASUBRA,
2013, p. 4).

Posteriores mobilizações e greves da categoria, sejam greves só dos TAEs,


sejam junto a outros setores da educação pública federal e/ou do serviço público
federal vão conduzir o PCCTAE a sua estrutura e nível de conquistas e direitos
atuais. Como demonstrado, antes do PCCTAE não existia uma carreira própria dos
trabalhadores administrativos das IFES. Em seu estudo sobre os TAEs da UFMG
Valle (2014) discute a relação entre os três planos de carreira pelos quais a
categoria passou (e avançou) na história:

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125

Lembro-me de que, em um dos inúmeros debates que participei sobre a


carreira dos servidores técnico-administrativos, no interior e fora da UFMG,
uma das lideranças do movimento, com atuação extremamente ativa na
formulação de proposições sobre a questão da carreira – e, portanto, um
dos intelectuais orgânicos dos servidores – me disse que o PCC era um
plano limitado, estreito e corporativo. O PUCRCE, elaborado pelo
movimento dos servidores, tinha um foco nos servidores e outro na
Instituição, mas a ênfase era maior nos primeiros, em função da situação de
absoluta indulgência do período anterior. Já o PCCTAE pensava a carreira
como instrumento estratégico para as instituições e como motor de uma
possibilidade de ampliação democrática das relações de trabalho. Portanto,
tanto o PUCRCE como o PCCTAE pensavam a organização do trabalho
técnico-administrativo para além de uma demanda meramente estrutural e
salarial, mais pretendiam ser dinamizadores destas relações, em
associação com o planejamento institucional (p. 79).

Já sobre o PCCTAE em específico:

É, desta forma, um instrumento intermediário para a construção da carreira


da forma como os servidores técnico-administrativos a concebem, mas traz
um princípio importantíssimo: a finalidade de produção e transmissão do
saber, baseado na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão é
da “Universidade” e não de uma categoria profissional. Ou seja, não existe
uma propriedade dos processos no interior da Universidade, e que todos os
trabalhadores no interior das instituições federais de ensino devem ser
igualmente responsáveis pela consecução de seus objetivos (p. 91)
...
O plano consolidou um conjunto de elementos que permitiriam, no campo
de gestão de recursos humanos, avanços conceituais e práticos para a
elaboração e consolidação das políticas institucionais necessárias e para,
superando o seu papel subalterno dos servidores, elevar a compreensão de
‘pertencimento’ à instituição (p. 92).

Através do processo de desenvolvimentos e mudanças históricas de seu


plano de carreira os servidores TAEs das IFES vão construindo sua identidade e
suas relações com o ambiente laboral, com as instituições em que trabalham e com
os contextos e conflitos mais gerais da sociedade brasileira.
Esse contexto relativo aos direitos, salários, melhores condições laborais e
participação da categoria técnico-administrativa nos rumos institucionais é reforçada
ainda mais na criação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica (RFEPCT) dos Institutos Federais e no funcionamento destes. Os IFs
propõem um novo modelo de gestão democrática em seu funcionamento. Tanto o
Conselho Superior, órgão central, quanto os Colégios ou Conselhos Dirigentes de
Campus (CODICs), presentes em cada campus, contam com a participação paritária
das três categorias e com representações da comunidade na qual cada IF está

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126

inserido. O que reforça as estruturas colegiadas e a prática de gestão democrática,


como previstas nos artigos 14 e 15 da LDB (BRASIL, 1996). Com relação a
categoria TAE os IFs, em sua legislação e institucionalidade, de maneira diferente e
mais avançada que as Universidades Federais, preveem sua ampla participação nos
espaços institucionais e nos processos decisórios. Ao começar pela paridade
das categorias nas eleições previstas pela lei de fundação dos IFs e pelo Decreto
6.986/2009, o qual estabelece regras para disciplinar o processo eleitoral para
escolha de dirigentes (Reitores e Diretores Gerais) nos IFs. Cada categoria –
docente, discente e TAE – tem o peso de 1/3 na eleição. Cumpre ressaltar que,
apesar de não poderem se candidatar a Reitor, os TAEs podem vir a ser Pró-
Reitores, e (caso possuam nível superior e preencham alguns requisitos) podem se
candidatar ao cargo de Diretor Geral de Campus (BRASIL 2008; BRASIL, 2009).
Os vários Conselhos, comissões, comitês e núcleos existentes nos Institutos
Federais, tanto por força de lei (o que torna sua existência geral nos Institutos)
quanto por força regulamentar (variando de Instituto para Instituto), quase sempre
contam com a previsão ou mesmo a obrigação da participação e representação dos
TAEs. Para citar alguns destes: 1) Conselho Superiores (os CONSUP são os órgãos
máximos das instituições) nos quais em relação as categorias internas os TAEs
também tem 1/3, havendo nos CONSUPs também outros membros internos e
externos; 2) Os diversos Conselhos Dirigentes de Campus existentes nos IFs; 3)
Comissões de Ética Pública, que têm como principal atribuição aplicar o Código de
Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo federal, aprovado
pelo Decreto 1.171, de 1994; 4) Núcleos de Atendimento às Pessoas com
Necessidades Específicas (NAPNEs) compostos por uma equipe multidisciplinar,
que têm como tarefa garantir as condições e a inclusão das pessoas com
necessidades especiais em todos espaços, níveis e momentos do processo
educativo e dos projetos de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos pela
instituição; e, em especial 5) A Comissão Interna de Supervisão do PCCTAE,
prevista na lei de criação do PCCTAE (Lei 11.091/2005) e na Portaria 2519/2005 do
MEC, a qual é eleita pela categoria TAE em cada instituição com o objetivo e
atribuição de fiscalizar e orientar sobre a implantação da carreira. Além destas há
outras comissões, comitês, grupos e núcleos, formados em alguns institutos
federais, que costumam contar com a participação de TAEs. Exemplos são: 1)

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127

Núcleos de Arte e Cultura (NACs), existentes em vários IFs, que têm como meta
fomentar e fortalecer a produção, difusão e a fruição artística e cultural em parceria e
contato da comunidade acadêmica com a comunidade externa; 2) Comitês de
Pesquisa e Extensão do IFPR, órgãos de assessoramento da Direção de Ensino,
Pesquisa e Extensão de cada Campus, responsáveis pelo acompanhamento das
propostas e projetos de pesquisa e extensão dos campus (REIS, 2020, p. 52).

4 Considerações Finais

As legislações dos planos de carreira e das instituições e os regulamentos


institucionais refletem, em cada momento, o contexto das lutas, avanços,
retrocessos e contradições experienciados pela categoria e sua relação com o
ambiente laboral, as instituições e o contexto social mais geral. Na atual análise,
tanto a conquista do PCCTAE, quanto a criação da RFEPCT, significaram
importantes e fundamentais avanços para os servidores TAEs, abrindo caminhos
com novas possibilidades e potencialidades.
A análise bibliográfica realizada demonstrou que a conquista do PCCTAE foi
(e é) de fundamental importância para a construção da identidade e o avanço da
consciência desta categoria, que então passa a se identificar claramente como dos
Técnico-administrativos em Educação (TAEs) e a também entender que o tripé das
IFES (ensino-pesquisa-extensão) não é de propriedade de um grupo ou categoria,
mas sim deve envolver todos os membros das instituições. O PCCTAE surge como
fruto do acordo da greve dos técnico-administrativos de 2005 e do acúmulo histórico
destes trabalhadores em lutar por uma carreira dos trabalhadores em educação
federal que não só lhes traga ganhos financeiros e em termos de direitos, mas
também os vincule aos objetivos e missão institucionais e sociais, inserindo-os
dentro de um planejamento do Estado brasileiro para os serviços públicos e para a
educação pública.
A legislação que criou e o funcionamento próprio dos IFs também se
apresenta como importante conquista e como um terreno de possibilidades, disputas
e enormes potenciais para a categoria TAE. Com garantia legal e regulamentar da
paridade nas eleições e de sua participação nos Conselhos Superiores e nos

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128

diversos níveis institucionais, abrem-se aos TAEs potencialidades de reforçar sua


identidade e seu papel como construtores ativos de suas Instituições e do processo
educativo.
Através de suas reivindicações e lutas - organizadas pelas e nas entidades
sindicais - e das formulações dos intelectuais orgânicos da categoria os TAEs
construíram uma visão de si mesmos, de seu trabalho e de seu espaço nas
instituições. Também formularam propostas para sua carreira e para questões
relacionadas ao seu cotidiano laboral. Conceberam uma perspectiva que supera a
ideia de que há monopólio de funções e atividades dentro das instituições de
educação. Questionaram (e questionam) assim, por sua própria práxis e em especial
por seu trabalho educativo, a concepção que os vê como sujeitos passivos e
subalternos dentro das IFES.
Há algumas lacunas nas pesquisas sobre os TAEs que servem como
recomendações para trabalhados futuros. O estudo de suas entidades sindicais,
estrutura, funcionamento, histórico e da relação entre categoria e sindicato e da base
com os intelectuais orgânicos (dirigentes) é um tema fundamental. Outra possível
entrada, relativa tanto às IFES em geral quanto às instituições da RFEPCT em
particular, é a do estudo da participação dos TAEs em espaços de decisão e gestão.
No caso da RFEPCT há a possibilidade de analisar se e até que ponto as
possibilidades e potencialidades presentes em sua legislação e aspecto
regulamentar inovadores têm significado mudanças reais.

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Acesso em 28 set. 2021.

ISSN 2237-700X
131

A IMPORTÂNCIA DAS INFORMAÇÕES FISCAIS E CONTÁBEIS PARA TOMADA


DE DECISÃO

Georgiana Tres (georgiana_tres@hotmail.com)¹


Katiane Paloschi (katipaloschii@gmail.com) ²
Jucélia Taiz Cordeiro Müller (jucelia.muller@ifpr.edu.br)³
Orientadora: Elza Terezinha Cordeiro Müller (elza.muller@ifpr.edu.br)4
1,2,3,4 Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo destacar a relevância da prática da


contabilidade gerencial. Os dados foram obtidos através das atividades
desenvolvidas no estágio supervisionado e nas bases de estudos realizados no
percurso do curso. Percebe-se a relevância das atividades e práticas realizadas nos
estágios supervisionados do componente curricular do curso de Ciências Contábeis.
No percurso do curso são estudadas várias teorias, legislações e controles
pertinentes à obrigação e informação dos setores fiscal e contábil, neste sentido,
neste trabalho foram analisadas as informações fiscais e contábeis observadas em
duas empresas, as quais se diferem tanto pela sua atividade, quanto pelo regime
tributário. Verificou-se que a empresa “A” está comprando mais do que está
vendendo, ou seja, é possível que os controles e informações não estão refletindo a
realidade das operações. Já a empresa “B” mantém organizadas todas as suas
operações, por se tratar de uma prestadora de serviços todo e qualquer trabalho
realizado é documentado para assim ser escriturado na parte fiscal e
consequentemente na contabilidade, fazendo com que os módulos gerencial, fiscal e
contábil demonstrem os fatos em harmonia. O departamento contábil em uma
empresa é muito mais que uma exigência fiscal, é um órgão vital, para gerar
informações fidedignas para uso na tomada de decisão nas empresas.

Palavras-chave: Demonstrações. Gestão. Práticas Contábeis. Setor Fiscal.

Abstract: This paper aims to highlight the relevance of the practice of management
accounting. The data were obtained through the activities developed in the
supervised internship and in the bases of studies carried out during the course. The
relevance of the activities and practices carried out in the supervised internships of
the curricular component of the accounting course can be seen. In the course of the
course, various theories, legislation and controls relevant to the obligation and
information of the tax and accounting sectors are studied. In this sense, in this work,
the tax and accounting information observed in two companies, which differ both in
terms of their activity and by the tax regime. It was found that company “A” is buying
more than it is selling, that is, it is possible that the controls and information are not
reflecting the reality of the operations. Company "B", on the other hand, keeps all its
operations organized, as it is a service provider, all and any work performed is
documented to be recorded in the tax part and consequently in accounting, making
the management, tax and accounting modules demonstrate the facts in harmony.
The accounting department in a company is much more than a tax requirement, it is
a vital body to generate reliable information for use in decision making in companies.

Keywords: Demonstrations. Management. Accouting Practices. Sector Supervisor.

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132

1 Introdução

As atividades e práticas de contabilidade supervisionadas no período de


estágios realizados no ano de 2020, é componente curricular do curso de Ciências
Contábeis. Dentre as atividades, neste trabalho foram analisadas as informações
fiscais e contábeis observadas em duas empresas, as quais se diferem tanto pela
sua atividade, quanto pelo regime tributário escolhido.
A empresa “A” trata-se de um comércio tributado pelo Simples Nacional e a
empresa “B” uma prestadora de serviços, a qual possui o regime de Lucro
Presumido. E mesmo com essa diferença de regime, sabe-se que é essencial uma
organização fiscal e contábil para que os resultados das mesmas sejam
satisfatórios.
O cenário financeiro das empresas se renova constantemente, e
consequentemente precisam sempre estar atualizadas. O mercado vem criando
novas necessidades referente ao sistema de gestão, as quais precisam ser supridas,
pois a maneira com que essas informações são geradas pela contabilidade e
interpretadas, fazem toda a diferença para a empresa bem como seus gestores
Atualmente, quando as organizações estão focadas, conhecem e tem controle
sobre a sua situação financeira, com certeza ela tem grandes chances de estar
frente ao mercado, assim, de acordo com Matarazzo (2003) a importância da análise
das demonstrações contábeis para a tomada de decisões se dá pela extração de
informações importantes, que visem apontar um caminho a ser seguido para a
resolução dos problemas, a importância do conhecimento de cada conta ajuda
nessa busca por informações precisas e que possam realmente conduzir a empresa
para que ela tenha cada vez mais lucros.
As demonstrações contábeis possuem essencial importância dentro de uma
organização, pois elas demonstram como está a saúde da empresa, assim é de
essencial importância que empresários e contadores estejam em sintonia para que
por intermédio dessas análises seja descoberto quais são os problemas das
empresas e como agir a respeito.
O presente trabalho tem por objetivo destacar a relevância da prática da

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133

contabilidade gerencial, descrever de forma detalhada, os dados obtidos através das


atividades desenvolvidas no estágio supervisionado e evidenciar a importância de
uma boa organização contábil e fiscal para que a empresa obtenha bons resultados
financeiros.
Para detalhar este relato foram utilizados os dados coletados nos estágios
supervisionados, assim, como nas bases de estudos realizados no percurso do
curso.

2 Desenvolvimento

O presente trabalho tem por objetivo destacar a relevância da prática da


contabilidade gerencial, descrever de forma detalhada, os dados obtidos através das
atividades desenvolvidas no estágio supervisionado e evidenciar a importância de
uma boa organização contábil e fiscal para que a empresa obtenha bons resultados
financeiros.
Para detalhar este relato foram utilizados os dados coletados nos estágios
supervisionados, assim, como nas bases de estudos realizados no percurso do
curso.
A contabilidade, nos dias atuais, tem ajudado as pessoas a entender e a falar
sobre uma das maiores preocupações e dificuldades que as pessoas estão tendo
para sua organização financeira e/ou do seu patrimônio, a melhor forma de
entender, bem como tomar decisões que levem a escolher o melhor e mais
conveniente caminho a percorrer perante essas decisões.
Seu objetivo de estudo é, pois, o patrimônio, e seu campo de aplicação o das entidades
econômicas administrativas, assim chamadas àquelas que, para atingirem seu objetivo, seja ele
econômico ou social, utilizam bens patrimoniais e necessitam de um órgão administrativo, que pratica
os atos de natureza econômica e f inanceira necessárias a seus fins, (FRANCO, 1997, p.27).

Segundo Iudícibus (2009, p.10):


A contabilidade gerencial pode ser caracterizada superficialmente, como um enfoque especial
conferido a várias técnicas e procedimentos contábeis já conhecidos e tratados na contabilidade f
inanceira, na contabilidade de custos, na análise f inanceira e de balanços etc., colocados numa
perspectiva diferente, num grau de detalhe mais analítico ou numa forma de apresentação e classif
icação diferenciada, de maneira a auxiliar os gerentes das unidades em seu processo decisório.

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134

O departamento contábil em uma empresa é muito mais que uma exigência


fiscal, é um órgão vital da empresa. Pois, é ele que vai realizar todas as tarefas que
envolvem seu dinheiro e administrar as finanças. Com isso as diversas
demonstrações contábeis possibilitam ao empresário uma correta análise da saúde
financeira de sua empresa e tomada de decisões no processo de planejamento
empresarial.
De acordo com Queiroz (2012, p.1):

A escrituração contábil, primeira técnica utilizada pelo profissional da


contabilidade, cuida-se do lançamento dos fatos contábeis em livros
destinados ao registro de tais operações. Segundo os princípios da
oportunidade e do registro pelo valor original, a escrituração deverá ser
feita de imediato e corretamente, independente das causas, e sempre pelo
valor original, lembrando que os princípios mais se confundem como
regras pois sua observância é obrigatória ensejando inclusive punições a
quem deixe de aplicá-los, dessa forma podemos perceber a importância
da escrituração nos processos de controle f inanceiro e f iscal da entidade.

Todo fato da entidade deverá ser escriturado, para este fim devem ser
utilizados livros contábeis, que devem seguir critérios intrínsecos e extrínsecos, de
acordo com a legislação. Todos esses fatos e ocorrências que afetem qualquer
patrimônio além de lançados devem ser comprovados com documentação hábil,
evitando assim, quaisquer inconformidades em suas operações.
Para Cotrin et. al (2012), com a evolução da contabilidade, há necessidade de
fornecer informações precisas para a tomada de decisões, pois cada vez o mundo
está mais competitivo, é preciso que se possa coletar, analisar e fornecer estes
dados com qualidade e rapidez. Sendo assim, a tecnologia e a informática surgem
com um grande aliado da profissão contábil, pois tarefas como escrituração contábil
que era feita manualmente, passou a ser mecanizada e seguidamente substituído
pelo meio eletrônico.
Com isso, o departamento contábil pode ajudar o empresário a reduzir suas
despesas operacionais e rever o custo de recursos econômicos e de outras
operações. Assim, já organizado de acordo com o que as normas contábeis exigem,
o empresário além de cumprir obrigações, está prevenindo futuros problemas que
venham a surgir.
Para gerar informações contábeis mais precisas, os controles da escrituração
fiscal são de estrema relevância. Segundo Oliveira (2012, p. 68):
ISSN 2237-700X
135

Os livros fiscais devem ser escriturados rigorosamente em dia, com atraso


máximo permitido de cinco dias; cada empresa deverá manter seus próprios
livros; regimes especiais podem ser autorizados para a escrituração de
documentos e livros f iscais; os livros devem apresentar termo de abertura e
de encerramento datados e assinados por um representante legal da
empresa e por um contabilista que esteja leg almente habilitado por fim todas
as folhas dos livros devem estar numeradas tipograficamente, nasequência.

Portanto, regularizar os livros fiscais faz parte da rotina e auxilia a gestão na


tomada de decisões, além de evitar eventuais problemas.
Para a empresa se estruturar é de fundamental importância a gerência da
empresa. No momento do início do empreendimento o que todo o empresário quer é
lucro e para isso todos os registros das empresas são essenciais.

a. Síntese das atividades das empresas analisadas

Ao desenvolver a atividades no setor contábil observou -se que a empresa A,


conta com alguns problemas, pois, a mesma, encontra-se com a situação financeira
instável, já que possui contas para pagar e suas vendas estão baixas, sendo que o
valor das compras e das vendas tem sido próximos, assim, a empresa precisou
adquirir alguns empréstimos e com isso suas demonstrações contábeis demonstram
que sua situação financeira está passando por dificuldades.
Já a empresa B, tem maior controle em suas entradas e saídas. Visando
sempre a saúde financeira, conforme demonstra o comparativo do setor fiscal das
empresas estudadas no período de 2019 e 2020.

ISSN 2237-700X
136

Tabela Comparativo do setor f iscal período 2019 a 2020.

Empresa “A” Empresa “B”


No primeiro dia útil do mês, a contadora e/ou A contabilidade recebe todos os
auxiliar contábil, solicita à proprietária para que documentosf iscais f ísicos e arquivo compacto com
envie via e-mail os Xml das notas, assim sendo, será todos os XML’s das notas lançadas no sistema da
feita a importação, para o sistema Exactus, o mesmo é empresa. Após a entrega dessa documentação é
armazenado e posteriormente será emitido um realizado o lançamento f iscal no sistema JB Cepil,
relatório com os valores para controle interno do assim, emite as guias para pagamentos dos
escritório, para assim, ser gerado a guia de impostos. Sobre as notas de serviço gera a guia do
pagamento DAS que incide sobre a venda de ISS com alíquota de 3%.
mercadorias. Geralmente esse procedimento é
Esse procedimento é realizado entre os dias realizado a partir do início de cada mês até o dia
13 e 15 de cada mês, sendo que o vencimento desta 10, visto que deve ser gerada a guia de ICMS,
guia se dá no dia 20 de cada mês ou no dia com vencimento no dia 10 e também as guias de
subsequente, caso o mesmo seja em f ins de semana PIS e COFINS, as quais possuem o vencimento
ou feriado. no dia 25 do mês subsequente.
No momento em que são necessários dados
para a emissão das guias, ao solicitar à empresa,
percebeu-se aparente desorganização tanto na
entrega de documentos quanto na efetivação do
pagamento das guias.
Fonte: Dados da pesquisa.

De acordo com a Tabela 1, percebe-se que por se tratar de empresas com


regimes tributários distintos, o lançamento fiscal, se dá de forma diferente, visto que
as guias emitidas não são as mesmas e consequentemente suas datas de
vencimento não coincidem, seguindo assim um procedimento diferente de
realização.
O controle financeiro das empresas está atrelado com a organização que as
mesmas possuem em seus processos, já que um depende do outro. Se a empresa
possui um melhor controle de suas receitas e despesas, com certeza o
departamento contábil concluirá com facilidade o seu trabalho, de acordo com a
Tabela 2 em sintese compara-se o setor contábil das duas empresas analisadas no
periodo de 2019 e 2020.

Tabela 2 Comparativo do setor contábil período 2019 a 2020.

ISSN 2237-700X
137

Empresa “A” Empresa “B”


- No decorrer do mês a empresa - Todo início de mês a empresa
guarda todos os documentos que foram pagos e envia para a contabilidade todos os documentos
encaminha para a contabilidade juntamente com que foram recebidos ou realizados. Esses
os documentos f iscais. Posteriormente ao documentos são arquivados para realizar a
lançamento de todo o conteúdo f iscal da empresa, prestação de contas de todo o dinheiro que sair da
serão escriturados também as despesas com empresa.
material de uso e consumo, material de expediente, - Com relação às contas a pagar,
entre outros, para assim fazer uma integração bens e serviços, são realizados os lançamentos
do sistema f iscal para o contábil, para assim dar que são feitos os registros como passivos
início aos lançamentos das duplicatas, despesas, (pagamentos) e as contas a receber como ativos
bancos, impostos, folhas de pagamentos e extratos (receitas), para, assim, comparar os títulos e aos
bancários e os demais pagamentos cabíveis à extratos bancários e extratos de aplicações f
empresa. inanceiras, onde a empresa envia ao setor
- Após todos os lançamentos mensalmente as movimentações do primeiro ao
realizados, deve haver uma conciliação do f iscal último dia de cada mês. Todos esses lançamentos
com o contábil, assim, através das conferências são feitos e provocam modificação do patrimônio,
analisar a situação da empresa. registrados no livro diário e no livro razão.
- Também são lançadas as - A empresa efetua leasing de
depreciações do imobilizado, para que todos os máquina, seguros e outros, o setor tem arquivado
saldos sejam apurados e assim encaminhados os contratos e apólice de seguros, e todo mês é
novamente para a empresa. feito o contro le e baixa das parcelas.
- A empresa não possui organização f - Observa-se organização por parte
inanceira e apenas fornece os dados que a da empresa, tanto no envio de documentos quanto
contabilidade solicita. na organização interna com relação a f inanças e
- Os índices f inanceiros e contábeis controle.
da empresa encontram-se desfavoráveis, onde os - A empresa encontra-se com
indicadores de solvência encontram-se abaixo indicadores contábeis e f inanceiros, melhores que
do esperado. o esperado para empresas deste setor.
Fonte: Dados da pesquisa.

Como descrito na Tabela 2, ao realizar a análise desses processos, pode-se


observar que possuem algumas diferenças importante entre as empresas. O
controle Gerencial, relacionado com a contabilidade gerencial busca garantir que
nas operações ocorram conforme o planejado, por isso é extremamente importante
que toda empresa possua esse controle dentro de sua rotina, e como pode ser
observado não é o que ocorre na empresa “A”.
Um fator determinante para a empresa “B” possuir melhores índices
financeiros e contábeis se trata da implantação da contabilidade gerencial. De
acordo com os dados obtidos, a mais ou menos 2 anos a empresa adotou esse
ISSN 2237-700X
138

método dentro da empresa. Todas as entradas, saídas e demonstrativos são


rigorosamente analisadas pelo setor responsável.

3 Considerações Finais

Pode-se enfatizar que as duas empresas estudadas, possuem, além das


diferenças já descritas, a forma de organização de cada uma.
Verificou-se que a empresa “A” está comprando mais do que está vendendo,
destaca-se que é possível que os responsáveis pela empresa não tenham as
informações e controles con dizentes com o que é realizado nas operações
comerciais, vale lembrar que isto causa desorganização, não só no caixa como
também no estoque.
Já a empresa “B” mantém organizadas todas as suas operações, por se tratar
de uma prestadora de serviços todo e qualquer trabalho realizado é documentado
para assim ser escriturado na parte fiscal e consequentemente na contabilidade,
fazendo com que os módulos gerencial, fiscal e contábil trabalhem em harmonia.
Uma sugestão para a empresa “A” é a gestão do fluxo de caixa e a
movimentação de mercadorias, evitando, assim gastos desnecessários, mantendo
somente o estoque necessário para as operações mensais, tendo assim a empresa
mais organizada e condizente com a realidade.
Muitos profissionais ainda desconhecem a importância da funcionalidade qu e
a contabilidade gerencial possui para o bom andamento dos seus negócios e
consequentemente a tomada de decisões. A implantação desse con trole dentro de
uma empresa, permite que os administradores acompanhem de perto a evolução
financeira por meio de demonstrativos, os quais são decisivos para o sucesso do
negócio.
Observou-se no decorrer do trabalho que a organização das empresas acerca
de suas finanças, bem como sua sintonia com o escritório contábil faz grande
diferença no momento da obtenção de resultados.
Conclui-se que a empresa “A”, não possui organização financeira pelo fato de
ter apresentado alguns problemas relacionados ao caixa. Já a empresa “B”, possui
uma organização onde tem total controle de suas receitas e despesas, o que leva a

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139

mesma a possuir ótimos índices contábeis, haja vista que o controle financeiro das
empresas está atrelado com a organização que as mesmas possuem em seus
processos. É relevante citar que a diferença de opção do regime tributário, reflete
em situações burocráticas e formas controles contábeis e fiscais para gestão.

Referências

COTRIN, A. M.; SANTOS, A. L. dos; JUNIOR LAERTE, Z. A evolução da


contabilidade e o mercado de trabalho para o contabilista. Revista Conteúdo.
2012. Disponível em: <http://www.conteudo.org.br/index.php/conteudo>. Acesso em:
10 de mai. 2021.

FRANCO, H. Contabilidade geral. 23. ed. São Paulo: Atlas, 1997.

IUDÍCIBUS, S. de. Teoria da contabilidade. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2009.

MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e


gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

OLIVEIRA, L. M. de; CHIEREGATO, R.; PEREZ JR, J. H.; GOMES, M. B. Manual


de contabilidade tributária. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

QUEIROZ, V. A. de. Escrituração Contábil. Contábeis, 2012. Disponível em:


<https://www.contabeis.com.br/artigos/685/escrituracao-contabil/>. Acesso em: 05 mai.
2021.

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140

A PERPETUAÇÃO DO CONCEITO DE DOMINAÇÃO PESSOAL ATRAVÉS DAS


POLÍTICAS DE BEM-ESTAR SOCIAL

Elaine Pizato
Instituto Federal do Paraná – IFPR Campus Palmas

Resumo: Este artigo se propõe a fazer um paralelo sobre o conceito de dominação


pessoal, elaborado por Franco, com as políticas de Estado implantadas a partir da
inserção do Estado na gestão da sociedade, e especialmente, a partir das políticas
de Bem-Estar Social. A intervenção do Estado na sociedade se fez necessária no
decorrer dos tempos, e ocorreu de forma diferente em cada espaço, tempo, grupo
social e influência. O convívio em sociedade sempre obedeceu ao regramento
imposto por quem detinha o poder, fosse ele econômico ou moral, da mesma forma,
sempre impôs obediência e servidão dos não favorecidos econômica e moralmente
falando. Essa relação se perpetuou através das políticas de Estado implantadas pelo
próprio Estado, a partir da sua instauração. Neste sentido, observa-se que os
indivíduos das classes menos favorecidas estiveram e estarão sempre à mercê da
dominação, uma vez pessoal, atualmente, Estatal.

Palavras-chave: Dominação pessoal. Estado. Políticas de Estado. Estado de Bem


Estar Social.

Abstract: This article proposes to make a parallel on the concept of personal


domination, elaborated by Franco, with the State policies implemented through the
insertion of the State in the management of society, and especially, through the
Welfare State policies. State intervention in society has become necessary over time,
and it has occurred differently in each space, time, social group and influence. Living
in society has always obeyed the rules imposed by those who held power, whether
economic or moral, in the same way, it has always imposed obedience and servitude
of the economically and morally disadvantaged. This relationship was perpetuated
through the State policies implemented by the State itself, from its inception. In this
sense, it is observed that individuals from the less favored classes were and will
always be at the mercy of domination, once personal, currently, State.

Keywords: Personal domination. State. State Policies. Welfare State.

1 Introdução

Este artigo buscará abordar o conceito de dominação pessoal, desenvolvido por


Maria Sylvia de Carvalho Franco, no livro “Homens Livres na Ordem Escravocrata” e
compreender como esse conceito se perpetuou pelas políticas de Estado através da
implantação do Welfare State no Brasil, na década de 1990. O questionamento que
move estas páginas é sobre como as raízes do conceito de dominação pessoal
encontraram reforço nas políticas de bem-estar social.
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141

O livro intitulado “Homens livres na ordem escravocrata” é fruto da pesquisa


realizada pela cientista social, mestre, doutora e professora Maria Sylvia de
Carvalho Franco - pioneira da sociologia no Brasil. Ela construiu sua pesquisa de
doutoramento intitulada Homens Livres na Velha Civilização do Café, tese defendida
em 1964 que se tornaria cinco anos depois o livro Homens Livres na Ordem
Escravocrata (1969). A pesquisa é fruto de uma investigação sobre a gênese da
sociedade e do Estado brasileiros, a partir da análise do ciclo cafeeiro, florescente
no século XIX, entre as regiões do Rio de Janeiro e São Paulo. Os dados que
compuseram a pesquisa foram os registros do cartório e as atas da câmara da
cidade de Guaratinguetá - SP.
O cenário em que se desenrola a pesquisa de Franco é de terras de chão
batido com estradas estreitas, fazendas imensas de café e de animais, transporte
feito com animais, homens armados com facões na cintura, brigas entre pessoas
próximas que resultavam na morte de um deles, quando não de ambos, relações
sociais definidas pela dominação e dependência, Brasil do século XIX recém
declarado independente de Portugal por forte motivação comercial, governabilidade
não democrática, poder assentado sobre homens estáveis econômica e socialmente,
exclusão social e política de homens pobres e dependentes.
Na perspectiva de dependência e dominação pessoal que a autora discorre,
também foram construídas as políticas sociais públicas de Estado que se efetivaram
ao longo do tempo. Muitas vezes inspiradas e influenciadas pelos ordenamentos de
países dominantes nos campos econômico, social e político.

1 O conceito de dominação pessoal, por Maria Sylvia de Carvalho Franco

O conceito de dominação pessoal, desenvolvido por Maria Sylvia, é definido pela


teorização sobre a inserção do homem livre e pobre no sistema social, seja por meio
do trabalho (serviços residuais, que não eram de interesse dos homens ricos e não
podiam ser realizados por escravos), da política, da justiça ou do serviço público, até
a forma como se estabeleceram as relações sociais a partir desse conceito.
O homem livre, neste contexto, é o pequeno comerciante, o dono da hospedaria,
o tropeiro, o negociante de animais, o condutor de animais, o capataz da fazenda,

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142

funções que não obrigatoriamente vinculavam o trabalhador e o fazendeiro numa


relação de dependência. O homem livre não dependia do fazendeiro para
sobreviver, sua sobrevivência vinha de outras fontes, que muitas vezes, eram
parcas e o obrigavam a recorrer a meios ilícitos de garantir rendimentos (abusos dos
hospedeiros com os viajantes, roubo e venda de produtos roubados).
Uma característica comum, e até certo ponto aceitável dessa sociedade, era a
violência, cometida entre pessoas que tinham certo grau de proximidade ou eram do
mesmo estrato social (parentes, conviventes, vizinhos), ou se praticada de cima para
baixo, do senhor para o serviçal. O compadrio era a única forma de quebra das
barreiras sociais e união entre estratos distintos. O filho do serviçal era batizado pelo
fazendeiro e passavam ambas as famílias a ter um interesse em comum: o
sucesso do filho/afilhado. Como o fazendeiro, homem de posses e influente na
política, tinha a obrigação de encaminhar o afilhado na vida, de preferência pelo
meio menos custoso possível, a forma mais fácil e barata para cumprir sua
obrigação era arrumar um serviço junto aos serviços públicos para ele. Daí a
expressão apadrinhar para justificar a inserção de empregados no setor público
indicados por homens ricos e influentes.
A diferenciação das classes está fortemente ligada ao conceito de dominantes e
dominados, não há ideais de igualdade ou equivalência de direitos entre as classes.
Numa sociedade na qual todos são potencialmente iguais, mas que a sociedade
oferece condições análogas a cada um, é também o corolário da afirmação de
diversidades na aptidão e capacidade para empreender a sua conquista, a fim de
explicar e justificar os desequilíbrios e privilégios, de fortuna e de sorte, impossíveis
de serem ignorados ou disfarçados (FRANCO, 1997, p. 93).
Outro aspecto que define o homem pobre como homem livre, é a sua submissão
à justiça. Ele deixa de ser dominado pelo seu patrão, para ser julgado como um
homem livre e, perante a lei, todos os homens são iguais. Não que os homens de
posse não tivessem seus julgamentos muito mais favoráveis que os homens pobres.
Pode-se concluir que o caminho do homem pobre era mais de reafirmação da sua
submissão que de liberdade.
A dominação pessoal encontrava-se presente também numa das formas mais
comuns hoje em dia conhecida: pela compra de votos. O fazendeiro prestava
assistência econômica aos seus serviçais em troca de filiação política, para si ou

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143

para seus apoiados. Era nesse ponto, unicamente, que se podia observar a
dependência do fazendeiro aos seus serviçais.
Contudo, a exclusão do homem pobre não podia ser completa, era ele um ser
humano, uma pessoa. A aquisição de propriedade e o exercício dos direitos políticos
permitiram entender esse homem livre e pobre como parte importante da sociedade.
Mas, tudo dentro do limite: não poderia haver dominação do grande fazendeiro sobre
o homem pobre se houvessem tantas considerações a respeito da sua moralidade,
humanidade e liberdade, se ele não fosse tão dependente quanto deveria ser para
que o homem rico pudesse dominá-lo.
A relação de dependência neste caso, aparece com o objetivo de manter a
harmonia no grupo, inclinando a todos aceitarem às vontades da classe dominante
como melhor, alienando de tal forma a classe dominada, que essa nem percebe sua
submissão, contendo assim, qualquer forma de conflito entre dominantes e
dominados.
A autora faz um paralelo entre o escravo e o homem livre. O escravo tem sua
humanidade negada através da opressão sofrida num determinado grau que o
domínio do fazendeiro sobre ele se torna intrínseco, ele sonha com a liberdade, mas
sabe que é impossível alcançá-la. Logo, o homem livre, porém carente de proteção
e benevolência do grande fazendeiro, e devedor a este de fidelidade, tem sua
criação domesticada a ponto de não haver qualquer possibilidade de liberdade, nem
mesmo, no seu ideário. O homem livre nem sonha com a liberdade intelectual, pois
essa de fato não lhe pertence, e só lhe ocorre se conformar com o seu destino de
dominado (FRANCO, 1997, p. 95).

2 A aplicação do conceito de dominação pessoal nas políticas de Estado

A declaração da independência de Portugal não privou o Brasil de ser


dependente econômico do restante da Europa, especialmente da Inglaterra, por
causa dos produtos importados. Neste quesito, o brasileiro também viu a
incorporação dos impostos no seu orçamento e, consequentemente, parte de seus
lucros se tornarem propriedade do governo.
Destaca-se a emergência da figura do funcionário público agente fiscal, para
garantir o recebimento das vantagens pecuniárias por parte do governo. Identificado

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o vazio dos cofres públicos, esse agente era responsável por levantar orçamento de
qualquer fonte, como multas de qualquer natureza e cobrança de contribuintes
devedores. Contudo, o exercício do serviço público, por mais que já estivesse
pautado em legislações, ainda era executado conforme os costumes da região.
Pode-se observar, desde o século XIX, a precariedade da manutenção dos
prédios públicos em função da exiguidade de recursos para tal. Muitos não recebiam
os reparos de que necessitavam, e os que recebiam, demoravam anos para serem
concluídos. Também, observa-se a precariedade dos serviços prestados à
população diante da ofensiva arrecadação, o que imperava em aumentar
continuamente a renda pública, para manutenção do funcionamento da cidade em
geral.
Desta forma, começou um movimento de transferência das obrigações do
governo para o cidadão, encarregado-o não só de contribuir com os fundos públicos,
como também de executar pequenas melhorias que julgasse necessárias, como
consertos em ruas, calçadas e pontes. É possível ver então, o começo da inserção
do privado no público, que veio aumentando significativamente, incluindo aluguéis de
prédios privados para serviços públicos e adiantamento de empréstimos de
vereadores aos cofres municipais. Neste contexto, de aproximação do público e do
privado, observa-se a inclusão do conceito de burocracia na administração pública,
por conta do controle pessoal sobre o patrimônio do Estado. Como diz a autora: “por
força da pobreza, fundam-se o público e o privado” (FRANCO, 1997, p. 131).
Tão próximos e misturando-se, em alguns casos, a apropriação do público pelo
privado também aconteceu, o chamado peculato. Porém, a penalidade para tal crime
lançoumão do julgamento com base na moralidade: estivesse o contribuinte devendo
para o governo, mas sendo ele mesmo o financiador dos cofres públicos, como
poderia o juízo determinar o réu como culpado? Não só o réu se entendia como
inocente, como a sociedade também o via assim, diante da situação.
Além dos prédios e do orçamento, o funcionário público também era figura
duvidosa nesse cenário. Eram admitidos quaisquer pessoas sem capacitação para
desempenhar os serviços públicos, e muitos dos funcionários exerciam o serviço
público concomitante à outras atividades, como lavradores, comerciantes. A falta de
conhecimento sobre a tarefa a ser executada também favoreceu que as pessoas o
fizessem da forma como julgassem melhor e sem questionamento da sociedade,

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pois ninguém sabia exatamente como deveria ser feito. A ignorância sobre o seu
labor permitia que o funcionário público não fosse disciplinado ou cobrado pelo
cumprimento correto de seu dever.
Contudo, o fato de ser funcionário público implicava nas mais variadas formas de
exploração do favoritismo, tanto para si mesmo, quanto em favor dos munícipes -
mas cabe lembrar que não era qualquer munícipe que poderia explorar o funcionário
público, obviamente, somente quem detinha poder sobre os demais. É visível então,
mais uma forma de dominação pessoal, a qual regia a sociedade. Implantava-se
novas formas de se relacionar e dirigir a sociedade como um todo, porém, os antigos
arcabouços tinham fortes raízes ainda expostas.
Cada vez mais o Estado se fazia presente, mas isso incomodava um pouco quem
era acostumado a fazer conforme bem entendia seus negócios. Por muito tempo, foi
possível manter a atuação do Estado sob controle de quem já controlava a
sociedade. Porém, com a desorganização das culturas de café, o Estado entrou de
vez no comando da sociedade, surgindo assim a imagem do “Estado-tutelar”
(FRANCO, 1997, p. 143). Na economia, principalmente, o Estado passou a agir
como protecionista, contribuindo para resolver situações de crise, ou fazendo
cumprir o programa de aparelhamento do país (como serviços de saneamento e
transporte), atuação que foi muito bem recebida pela sociedade em geral.
Por outro lado, a ampliação dos serviços ofertados pelo Estado implicava
necessidade de maior arrecadação tributária, o que significava descontentamento e
uma sangria nas grandes fortunas particulares. O Estado que tentava se levantar
tendia para o modelo liberal de administração, o qual impunha indistintamente o seu
controle, fosse sobre as camadas mais abastadas, ou sobre as camadas mais
inferiores.
A afirmação do Estado como administrador e arrecadador de tributos, em
oposição aos grupos privilegiados que tentavam diminuir sua contribuição a esse,
acabou por gerar uma dívida interna, visto o déficit dos cofres públicos, inclusive por
empréstimos contraídos com outros países. Oscilava então, entre os governantes
(liberais e conservadores), opiniões sobre o corte de despesas e a arrecadação, que
viessem a incidir minimamente sobre os grandes fazendeiros suas exigências e
limites.
A introdução do aparelho estatal pode ser resumida em quatro aspectos principais:

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146

- a existência de funcionários públicos que realizavam amadoristicamente


suasfunções e a informalidade das práticas administrativas,
- a remodelação do aparelho governamental,
- a afirmação da soberania do Estado e
- a intenção de transformar o Estado num instrumento de controle indireto das
oportunidades de exploração econômica.

Fora a inserção do Estado na administração pública econômica, houve também a


sua inserção na justiça. Interferir na relação do fazendeiro com seus agregados e
seus capangas, acostumados a cumprir as próprias regras, com base no
favorecimento e dominação pessoal e, muitas vezes, na violência, era no mínimo,
desafiador. Como afirma a autora, “no setor da justiça, impor o poder de uma
entidade impessoal e de suas disposições abstratas, fixadas nos códigos do
Direito, foi mais difícil porque sua falta não era substancialmente sentida”
(FRANCO, 1997, p.153). Fazendeiros e agregados uniam-se sob um objetivo
comum: sobreviver à custa da violência. Porém, apenas os primeiros podiam delegar
seus conflitos a uma terceira pessoa (o capanga). Mas o julgamento moral era o
mesmo para todos.
Não diferente dos demais setores públicos, o privilégio socioeconômico foi quem
ditou as regras, somado à carência de pessoal qualificado para executar os serviços.
Era comum que os tribunais do júri absolvessem réus confessos e condenassem
inocentes. A ação da justiça estava constantemente ameaçada pelas normas
consuetudinárias, causando uma anarquia no setor judiciário.
Diante de todas essas considerações sobre a implantação da administração
pública, pode-se concluir que: a implantação da burocratização na administração
pública foi um importante instrumento de dominação; a escassez de recursos
pessoais e financeiros retardaram a separação público e privado e a dominação
pessoal manteve forte influência em todos os processos.

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147

3 A manutenção das raízes do conceito de dominação pessoal


asseguradas peloWelfare State

É visto que houve a necessidade da implantação do poder regulador do Estado


sobre a vida econômica, social e política. Diante disso, o Estado se fez presente de
várias formas ao longo da história, por vezes com mais força, por vezes com o
mínimo de aparição e controle. Fato é que, desde sua implantação, o Estado tornou-
se indispensável.
Adam Smith, precursor do conceito de economia clássica, por exemplo,
defendia que o Estado deveria interferir o mínimo possível na economia,
fomentando o liberalismo econômico. Segundo Smith, quando os indivíduos
buscavam as oportunidades de investimentos mais rentáveis para si é porque essas
seriam, também, as mais produtivas para a coletividade. O indivíduo seria conduzido
por uma mão invisível que promoveria um resultado que embora não estivesse no
seu afã de intenção, levaria a nação em direção à riqueza e à prosperidade.
O mercado seria organizado e equilibrado por indivíduos que contribuíram de
maneira autônoma, resultando em um sistema de concorrência perfeita. As relações
econômicas funcionariam de forma natural, e somente no caso de falha é que o
Estado deveria intervir, com o objetivo de preservar o bom funcionamento da
natureza das leis econômicas. O Estado era somente mantenedor das condições de
liberdade e progresso e nunca podia legislar contra os interesses do mercado. O
livre mercado, a liberdade, a propriedade privada e a vida são os fatores
fundamentais que o Estado deveria garantir. Essas garantias devem ser efetuadas
através da pouca ou nula participação do Estado na economia, pelo direito de
liberdade (nas relações humanas, econômicas, políticas), pelo direito à propriedade
privada e pela liberdade do mercado se auto regular (LEME, 2010, p. 135).
A social democracia era uma ameaça, pois mesmo sendo portadora de boas
intenções acabaria por engendrar historicamente o mesmo desastre que o nazismo
alemão, ou seja, seria uma espécie de servidão moderna. Associou-se o Estado à
coerção e o mercado à liberdade.
O estado deveria apenas: a) proteger a sociedade da violência e invasão de
outras sociedades; b) garantir a coesão interna; c) realizar e conservar algumas
obras públicas para melhoria da qualidade de vida da população, que não seriam

ISSN 2237-700X
148

foco de investimentos diretos (LEME, 2010, p. 121-122).


Volta-se fortemente para a ideia de liberdade de mercado. Países
neoconservadores como EUA e Inglaterra, nas figuras de Reagan e Thatcher,
trataram de ampliar a efetivação das proposições neoliberais com uma política ativa
de combate ao poder dos sindicatos (através de reformas na legislação sindical e
trabalhista), gerando a chamada flexibilização dos mercados e do contrato de
trabalho, e a renúncia ao ideário de pleno emprego que, antes, era central no
pensamento Keynesiano. Seguidos por países da América Latina, como Argentina e
Chile, na década de 1970, e pelo Brasil somente a partir de 1990 (com o Presidente
Fernando Collor).
Esse tipo de medidas, resultou no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-
2003 ) em:
a) aumento do investimento externo na produção ligado às transferências de
capital não apenas para o aumento da capacidade produtiva ou melhorias na
qualidade dos serviços, mas para obtenção do controle acionário em empresas,
porém mistas;
b) elevação nas tarifas dos serviços públicos que se privatizaram;
c) desinvestimento nas áreas de menor rentabilidade, por falta de interesse
privado e desengajamento do Estado, isto é, uma rede de proteção social
subordinada aos ditames do mercado;
d) a estruturação complexa, mas não integrada, no que concerne à legislação
específica de tais setores, incluindo as agências de regulação sugeridas (LEME,
2010, p. 123).

A liberalização da economia, com a modernização e abertura maior do setor


financeiro e a privatização de setores produtivos, antes tidos como estratégicos,
coincidiram com o anúncio de uma nova política de diminuição do gasto público para
o equilíbrio do orçamento e/ou para destinação do pagamento dos serviços da
dívida. O resultado não foi alcançado como pretendido. Pelo contrário, os déficits
internos e externos elevaram-se de forma quase insustentável, prenunciando uma
séria crise econômica.
Fez-se necessária uma nova política de diminuição do gasto público para o
equilíbrio do orçamento e/ou para destinação do pagamento dos serviços da dívida.

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149

A partir daí, tomam força os processos de globalização que, segundo Ianni, é um


processo de produção e reprodução socialmente contraditória, desigual e combinada
do capital e dos valores culturais e espirituais em esfera global (LEME, 2010, p. 125).
Nessa concepção, o Estado submete-se aos interesses transnacionais, sejam
eles produtivos ou especulativos, de maneira mais efetiva em nome da dita
modernização do país.
Observa-se também, a intensificação do capital em um determinado espaço,
artificializando as relações sociais e excluindo mais do que incluindo populações
vulneráveis, supervalorizando os espetáculos advindos da mídia e do próprio
cotidiano das pessoas e subvalorizando, ao mesmo tempo, as peculiaridades
socioculturais que são marcas identificadoras de certos povos e nações, além de
intensificar os constantes processos de exclusão de segmentos de trabalhadores do
mundo do trabalho.
A globalização também culminou em sérias crises de planejamento de
crescimento econômico e consequentemente, na oferta de energia elétrica, por
exemplo, nos países em desenvolvimento. Aconteceu o que Dowbor (1995, apud
LEME, 2010, p.128) chamou de “barbárie da acumulação”: capacidade de aumentar
a acumulação e sua respectiva concentração simultaneamente ao aumento da
miséria, acirrando ainda mais as diferenças entre miséria/pobreza e riqueza.
Na América Latina, a influência do neoliberalismo foi marcada pela adesão ao
Consenso de Washington: plano de ajustamento das economias periféricas,
endossado pelo FMI e BIRD para ser adotado nos países do sul. Era um receituário
a ser cumprido pelos países que desejassem se ajustar às novas circunstâncias.
Uma das exigências do neoliberalismo era o Estado mínimo: mínima intervenção,
mas forte atuação reguladora com a formulação de arranjos institucionais (dentre os
quais, os de caráter político partidário) que corroborassem com uma nova
intensidade do mercado. Contudo, a América Latina apresentou algumas dificuldades
para inserção de forma mais competitiva na economia mundial, como vulnerabilidade
externa, atraso tecnológico, ausência de uma infraestrutura adequada, crise fiscal do
Estado e o alto endividamento externo.
Para amenizar essas dificuldades, através do Consenso de Washington, a
América Latina entrou no jogo na década de 1990. Uma das orientações do
Consenso de Washington era a privatização: essa resultaria a curto prazo no

ISSN 2237-700X
150

equilíbrio das contas públicas e a médio e longo na alavancagem do aumento da


competitividade da economia. Porém, o Consenso de Washington era um conjunto
de orientações únicas para países com diferentes realidades.
Na América Latina o crescimento econômico e social não tomariam o mesmo
rumo, mas seriam opções distintas. O Consenso de Washington mesmo prioriza o
campo econômico, portanto, políticas sociais (educação, saúde, distribuição de
renda, eliminação da pobreza), não são objeto direto da ação, mas seria somente
resultado ou decorrência natural da liberalização econômica.

4 A proteção social frente a um Estado liberal

O marco conceitual que diferencia as demais medidas assistencialistas, aplicadas


pelos Estados liberais, do novo sistema de proteção social foi o Plano Beveridge.
Beveridge propôs a extensão da proteção social que seria posta em prática a partir
de 1946, onde benefícios e obrigações seriam para todos, independente da renda,
havendo somente alguma variação por sexo. Esse modelo se converteu e se
propagou por todo o mundo a partir de 1940 como Welfare State.
O conceito de welfare state, traduzido para o português como Estado de bem
estar social, é uma forma de organização política e econômica que posiciona o
governo como um agente assistencial. Ou seja: o Estado se torna responsável por
promover o bem-estar social e econômico da população, garantindo educação,
saúde, habitação, renda e seguridade social aos cidadãos.
Diferentemente de outros modelos de governo que também intervêm na economia
e usam políticas assistenciais para melhorar a qualidade de vida no país, o welfare
state é o único que considera o serviço público um direito do cidadão. Dessa forma,
todo indivíduo já nasce com o direito de usufruir dos bens e serviços oferecidos pelo
Estado, a partir de um princípio de dignidade universal.
A partir da II Revolução Industrial as propostas neoliberais se intensificaram,
através das ideias de Keynes, o que inclui o Estado de Bem Estar Social - Welfare
State. O Welfare State foi orientado pelo Keynesianismo e emergiu como uma
alternativa tanto para a ameaça socialista, quanto para o nazifacismo, e ao mesmo
tempo, visava dar uma resposta às crises econômicas do liberalismo da época.

ISSN 2237-700X
151

São três os princípios fundamentais do Welfare State:


- a seguridade social (é um amparo ao trabalhador caso ocorra algum
imprevisto, e ele perca temporária ou definitivamente sua capacidade de gerar
renda);
- a ampliação das oportunidades de emprego e renda – garantia do pleno
emprego –, o que geraria a chamada Demanda Efetiva; e, por fim,
- a ampliação das políticas sociais, enfim, políticas redistributivas e
compensatórias, que tem o objetivo de minimizar as desigualdades sociais. Esses
três princípios somados deveriam instituir a chamada cidadania social (LEME, 2010,
p. 120).
Durante praticamente 50 anos, o Welfare State reinou com suprema hegemonia.
Porém, em meados da década de 1970, começaram a aparecer alguns sinais que
demonstravam certa exaustão do mesmo. A nova onda de recessão econômica e de
desaceleração do crescimento se juntava com a crise fiscal vivenciada pelos
Estados. Com isso, teóricos voltam a defender o liberalismo como única alternativa
possível de superação da crise.
O welfare se tornou cada vez mais pesado e oneroso, acompanhado da crise
econômica que avançou pelo mundo a partir de 1973. Atribui-se a crise dos welfare
às políticas sociais, que teriam um efeito negativo sobre a economia. A verdade
é que as ideias neoconservadoras acabaram politicamente vitoriosas, difundindo-se
de forma implacável pelo mundo todo. Foram elas que animaram os projetos
neoliberais de reforma dos Estados que atingiram em cheio os Estados de Bem
Estar Social, desacelerando sua expansão e desativando muitos de seus programas.
O desmonte se deu então através de reformas que promoveram cortes
substantivos nos programas de integração de rendas, com redução simultânea dos
demais programas de proteção social a níveis mínimos e preferentemente
direcionados a públicos segmentados e específicos das populações mais pobres. O
objetivo era encorajar a responsabilidade pessoal ou coletiva e a auto-assistência
feita através do mercado.
A remercantilização da força de trabalho, a contenção ou desmontagem dos
sindicatos, a desregulamentação dos mercados de trabalho e a privatização de
muitos serviços sociais, foram exemplos de elementos de desmonte dos welfare.
Essas reformas ocorreram em tempos de enorme fragilização das forças políticas

ISSN 2237-700X
152

de esquerda, que diminuíram consideravelmente os programas de distribuição de


renda e de proteção social às camadas mais pobres. Somada às reformas aplicadas
para recuperação da economia global, estão os processos de globalização, que
impactaram diretamente sobre a viabilização do welfare state:

- as modificações da estrutura produtiva e ocupacional diminuem o número de


contribuintes ao mesmo tempo em que aumentam as exigências no âmbito das
prestações;
- crescente movimento de imigração das pessoas desocupadas;
- restrição de gastos com políticas sociais;
- imposição aos trabalhadores sobre escolher entre perder seus empregos ou
abrir mão de seus sistemas de proteção;
- aumento do mundo dos sem classe ou subclasse, excluídos do mercado de
trabalho e dos sistemas de proteção;
- diminuição da possibilidade de qualquer tipo de solidariedade interna.

Especificamente o sistema de proteção social brasileiro, pelo menos até 1980 era
seletivo no plano dos beneficiários, heterogêneo no plano dos benefícios e
fragmentado no plano institucional e financeiro. Com as reformas que se sucederam
após 1964 (regime autoritário e tecnocrático), o sistema veio se tornando cada vez
mais universal, mas o princípio do mérito ainda era a base do sistema brasileiro de
política social. Neste momento se organizam efetivamente os sistemas nacionais
públicos ou estatalmente regulados, na área de bens e serviços sociais básicos.
Porém, essas políticas sociais reproduziram o sistema de desigualdade
predominante pois baseavam-se na relação renda-contribuição-benefício.
Os dois grandes surtos de expansão dos sistemas de proteção social ocorreram
durante os regimes autoritários e sob o governo de coalizões conservadoras. O
primeiro de natureza mais corporativista e o segundo mais universalista (com traços
clientelistas fortes) (FIORI, 1997, p. 140).
O primeiro localizado na Era Vargas / ditadura Getulista, que foi marcado pela
promulgação da Constituição de 1934, que trouxe consigo a instituição da garantia
de direitos trabalhistas, com o estabelecimento da jornada de trabalho de 8 horas,
das férias e da previdência social, a criação da Consolidação das Leis do Trabalho,

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153

a instituição do voto feminino e do voto secreto, a criação dos Institutos de


Aposentadoria e Pensão (em 1934).
O segundo período pode ser compreendido pela ditadura militar (1964-1984).
Nesse período destacam-se a criação do o Instituto Nacional da Previdência Social
(INPS) e instituição do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em 1966; a
criação do Fundo de Assistência Rural (Funrural), que incluía os trabalhadores do
campo no plano dos beneficiários; a inclusão de várias outras categorias sociais
nesta etapa de universalização do regime previdenciário: empregados domésticos,
garimpeiros, pescadores, jogador profissional de futebol, ministros religiosos e
estudantes; criação do Ministério da Previdência e Assistência Social em 1997;
inovações no que diz respeito à política educacional, como a criação de uma fonte
adicional de receita, o salário-educação, e a modernização da reforma universitária;
organização um efetivo sistema de saúde que conjugasse as estruturas de saúde
pública, desenvolvidas pelo governo federal e por ações de Estados e Municípios, e
de medicina previdenciária (SIQUEIRA, 2008,p. 24-28).
Pode-se concluir que as reformas do sistema de proteção social ainda estão em
curso, mas seus impactos nas sociedades mais desiguais são sempre maiores.

4 Considerações finais

Observa-se constantemente no decorrer da história a necessidade de intervenção


do Estado para regular as relações sociais, políticas e econômicas.
Se no início do século XIX o Estado foi chamado a intervir na sociedade para que
homens livres e pobres pudessem assumir um lugar na sociedade, não sendo mais
vítimas de violência ou da moralidade estabelecida, e pudessem adquirir um lugar
seu para viver e garantir minimamente sua sobrevivência, da mesma forma, no
século XX em diante, foi chamado a executar políticas sociais que garantissem a
vida, a segurança, a educação, a saúde, desses mesmos homens, que passaram a
precisar mais do que só sobreviver.
O liberalismo econômico permitiu que a economia se sobrepusesse aos demais
setores, contudo, também excluiu cada vez mais populações marginalizadas, que
vieram a precisar de intervenção estatal para atender exigências mínimas de

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154

manutenção pessoal e familiar.


É visível que as políticas de Estado são feitas de forma a repercutir padrões de
dominação pessoal estabelecidos há séculos. Com a afirmação do capitalismo, cada
vez mais, milhares de pessoas sobrevivem através da venda da sua força de
trabalho para o mercado globalizado. Isso implica na dominação desse mercado
globalizado sobre essas pessoas, das quais ele mesmo depende. Desta forma, o
Estado procura minimizar essa dominação pessoal através das políticas sociais,
porém, mantendo sempre a dominação econômica.
Neste sentido, observa-se que os indivíduos das classes menos favorecidas
estiveram e estarão sempre à mercê da dominação, uma vez pessoal, atualmente,
Estatal.

REFERÊNCIAS

DOWBOR, Ladislau. Da globalização ao poder local: a nova hierarquia dos espaços.


In: Revista São Paulo em Perspectiva. Fundação Seade, São Paulo, vol. 9, n. 3, p.
13-25, 1995.

FIORI, Luiz José. Estado do Bem-Estar Social: Padrões e Crises. In: Physis: Rev de
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 7(2): 129-147, 1997.

LEME, Alessandro André. Neoliberalismo, Globalização e Reformas do


Estado: Reflexões Acerca Da Temática. Barbarói. Santa Cruz do Sul, n. 32, jan./jul.
2010.

FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 4


ed. São Paulo: UNESP, 1997.

SIQUEIRA, Alaísa de Oliveira. Programa bolsa família: autonomia ou legitimação


da pobreza? Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em:
https://www.maxwell.vrac.pucrio.br/colecao.php?strSecao=especifico&nrSeq=12355
@1.

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155

ANÁLISE DE ASPECTOS SOCIOCIENTÍFICOS LIGADOS AO TEMA GENÉTICA


NOS LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIA DA NATUREZA DO PNLD 2021
INDICADOS NO CAMPUS PALMAS DO IFPR

Stephany Baumer Franceschini (franceschini.stephany@gmail.com) ¹


Ana Carla Meneghetti ²
Mariana da Silva Azevedo ³
João Paulo Stadler (joão.stadler@ifpr.edu.br)4
1,2,3,4 Instituto Federal do Paraná – campus Palmas

Resumo: O Ensino de Genética é marcado pela memorização de conceitos e


metodologias tradicionais. Além disso, observa-se uma forte tendência para a
utilização do livro didático, devido a sua ampla distribuição no país. Entretanto,
diferente do que era observado nas obras de anos anteriores, os livros projetos
aprovados em 2021, tendem a descrever uma perspectiva mais autônoma e ativa do
estudante, por meio de práticas articuladas ao seu contexto social. Ademais, o uso
de Aspectos Sociocientíficos (ASC) em sala de aula promove discussões na qual o
estudante tem a possibilidade de desenvolver capacidade argumentativa baseado
em suas experiências. Em consequência, vincular a possibilidade de discussão de
ASC aos livros didáticos do Objeto 1 e Objeto 2, pode trazer benefícios à formação
cidadã. Sendo assim, essa pesquisa é pautada na análise de conteúdo e tem a
finalidade de investigar os livros do PNLD 2021 indicados como opção pelos
professores da área de Ciências da Natureza do IFPR – campus Palmas, quanto a
presença de ASC na temática Genética. Os indicadores de análise para esse estudo
foram: controvérsia, temas globais, critérios de relevância, tipos de controvérsia e
tipos de abordagem. Isto posto, infere-se a presença de fragmentos com potencial
sociocientífico em apenas um dos livros dos projetos integradores, todavia, nos
livros de conteúdo específico há potenciais fragmentos nas duas obras analisadas.
Assim, compreende-se que a abordagem de aspectos sociocientíficos acontece de
maneira superficial, porém, há elementos contextualizadores de extrema relevância
que podem contribuir para o ensino e aprendizagem da disciplina.

Palavras-chave: Ensino de Biologia; Ensino de genética; PNLD Objeto 1; PNLD


Objeto 2; ASC.

Abstract: Genetic teaching approaches are marked by concept memorization and


traditional methodologies. In addition, there is a strong trend towards the use of
textbooks, because of its wide distribution in the country. However, unlike observed
in textbooks of previous years, the project books approved in 2021 describe a more
autonomous and active perspective of the student, through practices articulated to
their social context. The use of Socio-Scientific Issues (SSI) in the classroom
promotes discussions in which the student has the possibility to develop
argumentative capacity based on their experiences. As a result, linking the possibility
of discussing SSI to Object 1 and Object 2 PNLD textbooks can bring benefits to
citizenship education. Therefore, this research is based on content analysis and aims
to investigate PNLD 2021 books indicated as an option by Natural Sciences teachers
at IFPR–campus Palmas, regarding the presence of SSI in Genetics contents. The
analysis indicators for this study were: controversy, global themes, relevance criteria,
types of controversy and types of approach. That said, the presence of fragments
ISSN 2237-700X
156

with socio-scientific potential is inferred in only one textbook of the integrative


projects, however, in specific content textbooks there are potential fragments in both
analyzed works. Thus, it is understood that the approach to socio-scientific issues in
carried out superficially, however, there are extremely relevant contextualizing
elements that can contribute to the teaching and learning of the discipline.

Keywords: Biology Teaching; Genetics Teaching; PNLD – Object 1; PNLD – Object


2; SSI.

1 Introdução

O ensino de Genética, em particular, mas refletindo o que se observa no


ensino de Biologia e de Ciências, na dimensão mais geral, tem se mostrado
bastante ligado às metodologias tradicionais que supervalorizam a memorização de
características formais dos conteúdos em detrimento do estudo das relações entre o
conteúdo científico e suas implicações sociais (KRASILCHIK, 2014; MACHADO,
2012). Esse fato também é marcado pela dependência dos professores em relação
à ordem e à abordagem dos conteúdos da forma como são apresentadas nos livros
didáticos, em especial em relação as obras distribuídas pelo Programa Nacional do
Livro Didático (PNLD) (FRACALANZA, 1992; SOUZA; GARCIA, 2013; DELIZOICOV,
ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2018).
Tendo em vista a importância do livro didático no processo de ensino e
aprendizagem, as mudanças evidenciadas nos livros enviados para a escolha pelo
PNLD em 2021, motivadas pela aprovação e implementação da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC, BRASIL, 2018) foram bastante pronunciadas e podem
influenciar sobremaneira o Ensino de Ciências. Esta consideração é baseada no fato
de que as alterações necessárias para a integração da Química, da Física e da
Biologia em obras integradas da área de Ciências da Natureza apresentam
contraste com os livros didáticos disciplinares disponibilizados até então.
Além disso, o PNLD 2021 apresentou diversas modalidades de recursos
didáticos, entre elas os livros do Objeto 1, que compreende os livros de projetos
integradores e de projeto de vida e as obras do Objeto 2, que são os livros didáticos
por área do conhecimento (BRASIL, 2021). Nesse sentido, os livros de Projetos
Integradores foram construídos com base em metodologias ativas que visam o
protagonismo dos estudantes frente a problemas relevantes socialmente, como

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157

forma de desenvolver as competências gerais para a Educação Básica trazidas pela


BNCC (BRASIL, 2018). As obras do Objeto 1 foram centradas em quatro temáticas:
STEAM: como o objetivo relacionar os campos de Ciência, Tecnologia, Engenharia,
Arte e Matemática para estimular a criatividade dos discentes, a fim de resolver
problemas cotidianos por meio do desenvolvimento de protótipos; Protagonismo
Juvenil: cujo intuito é reconhecer e valorizar a cultura, potencializando a capacidade
de ser um agente transformador da realidade; Midiaeducação: tem como objetivo
desenvolver com o letramento midiático centrado na produção de mídias para
fomentar da análise crítica, criativa e construtiva dos jovens; e Mediação de
conflitos: cuja finalidade é estimular a reflexão e resolução de conflitos, para que os
estudantes construam valores coletivos baseados na diversidade dos indivíduos com
compõem a sociedade.
Os livros com os conteúdos específicos da área, tem por característica a
tentativa de promover a interdisciplinaridade das componentes curriculares
envolvidas, de modo a promover a desfragmentação do conhecimento e a
articulação entre os conteúdos científicos e temáticas de relevância (BRASIL, 2021).
Segundo o guia (BRASIL, 2021) é possível perceber que alguns autores optaram por
supervalorizar uma das componentes curriculares em determinados volumes, em
função da temática de cada tomo, de modo que as demais surgem de maneira
complementar. Em outros casos, é possível perceber presença equivalente dos
componentes curriculares, em detrimento de uma organização temática mais
desenvolvida.
Por fim, considerando a marcante referência a intencionalidade em se
relacionar o conteúdo científico com temas relevantes socialmente, é possível
estabelecer que a abordagem de aspectos sociocientíficos (ASC) apresentada por
Santos (2002) pode ser uma metodologia coerente para promover os objetivos
propostos, sem obscurecer a importância do conhecimento científico frente às
situações contextualizadas. Dessa forma, com a articulação entre essas duas
dimensões, é possível promover situações de aprendizagem nas quais os
estudantes desenvolvam argumentação e tomem decisões com base em sua própria
experiência e com o a fundamentação do conhecimento científico (SANTOS;
MORTIMER, 2009; PEREZ; CARVALHO, 2012)
Em relação a temáticas que são relevantes para a discussão no Ensino de

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158

Ciências, em especial em materiais de larga escala, Merryfield (1991 apud SANTOS,


2002) e Stadler e Azevedo (2021) apresentam temas globais que foram adotados
neste artigo como indicadores de relevância para abordagem ASC: temas
ambientais, questões econômicas, alimentos e fome, saúde e polpação,
comunicações, energia e questões militares, natureza da natureza e temas sociais.
Os temas globais foram relacionados aos critérios de relevância sociocientífica
(FERNANDES-SOBRINHO, 2014) para evidenciar o potencial sociocientífico da
temática apresentadas nas obras.
Ainda, com o intuito de melhor descrever a forma de articular os aspectos
sociocientíficos em sala de aula, Stadler (2015) e Stadler e Azevedo (2021)
apresentam uma forma de tipificação da controvérsia empregada na abordagem
ASC: a tomada de decisão; justificativa de escolha/decisão; o debate; e a prática
social.
Desse modo, tendo em vista a readequação dos livros didáticos, este trabalho
visa evidenciar a presença de ASC, por meio de análise de conteúdo (BARDIN,
2011) nos livros escolhidos pelo IFPR no PNLD 2021 para o Objeto 1: Práticas na
Escola (BACICH; HOLANDA, 2020) e Vamos juntos, Profe! (SÃO PEDRO et al.,
2020) o Objeto 2: Plus Moderna (AMABIS et al., 2020) e Ser Protagonista (FUKUI et
al., 2020), como forma de inferir o potencial sociocientífico desses materiais,
especificamente nos capítulos relacionados ao conteúdo de genética.

2 Material e Métodos

Este estudo aqui apresentando se enquadra como análise bibliográfica de


caráter qualitativo (GIL, 2010), baseada nos pressupostos na análise de conteúdo
categorial (BARDIN, 2011). A etapa de pré-análise, consistiu no contato inicial com o
livro para evidenciar como é construído, para estabelecer como se daria a
fragmentação do corpus que foram elencadas como as etapas dos projetos, no caso
das obras do Objeto 1, e os capítulos, no caso dos livros do Objeto 2. Foi utilizada
uma versão digital do livro obtida em virtude do processo de escolha dos materiais.
Ainda nesta primeira etapa, foram elencados os indicadores da análise (STADLER;
AZEVEDO, 2021) que guiaram a pesquisa como uma busca temática pelo tema

ISSN 2237-700X
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Genética nos livros a fim de categorizar seu potencial sociocientífico:

1. corpus: livros do PNLD 2021 indicados como opção pelos professores


daárea de Ciências da Natureza do IFPR – campus Palmas;
2. unidade de registro: temática (temas relacionados à Genética);
3. regra de enumeração: presença, indicadas pelas palavras DNA, RNA,
Genétic* e ácido nucleico;
4. critério de categorização: semântico;
5. indicadores: controvérsia (SANTOS, 2002); Temas Globais
(MARRIFIELD, 1991 apud SANTOS, 2002; STADLER; AZEVEDO, 2021); Critérios
de relevância (FERNANDES-SOBRINHO, 2014); Tipos de controvérsia (STADLER,
2015; STADLER; AZEVEDO, 2021); e tipo de abordagem (STADLER; AZEVEDO,
2021);
6. categorias: com potencial de abordagem de ASC; sem potencial para
abordagem de ASC.

No segundo momento, as divisões estabelecidas na etapa anterior foram lidas


em profundidade para que fosse feita sua categorização com base nos indicadores
elencados. Por fim, a terceira etapa consistiu na construção dos resultados de
análise e são apresentadas no próximo item deste artigo.

3 Resultados e Discussão

Considerando os indicadores supracitados, foram construídos os Quadro 1 e


2, que sumariza os resultados da primeira etapa. É importante notar que, em razão
da diferença estrutural entre as obras, a fragmentação escolhida é diferente, mas
corresponde à menor unidade didática de cada obra: as etapas dos projetos, para os
livros do Objeto 1 (Quadro 1) e os capítulos, para os livros do Objeto 2 (Quadro 2).

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160

Quadro 1: Síntese dos resultados para os livros de projetos integradores


Livr Título do Projeto(Tema Tema Contr CR Abor
o integrador) Global ovérsia dagem
Projeto 5: Terraformação Natur Debat 1,2,3 Pont
Práti demarte (Midiaeducação) eza daciência e ,4,6,8,9 ual
cas na Projeto 6: Radiação: Saúd
escola benefícios e riscos de suas e epopulação Debat 1,2,3 Pont
aplicações. (STEAM) e ,4,6,8,9 ual

O primeiro ponto interessante a se observar no Quadro 1 é a ausência de um


dos livros (SÃO PEDRO et al., 2020) que compuseram o corpus de análise, esse
fato pode indicar a dificuldade em se articular o ensino dos conceitos científicos
relacionados à genética com temas sociais mais abrangentes (KRASILCHIK, 2014;
MACHADO, 2012).
Foi possível evidenciar no livro Práticas na Escola (BACICH; HOLANDA,
2020) a ocorrência de potenciais fragmentos para discussão de ASC. No projeto 5 é
abordado o tema da Terraformação de Marte, ou seja, a possibilidade de
modificações nos ecossistemas para sustentar a vida humana como a conhecemos.
Esse tema é trazido para contextualizar a discussão sobre o método científico, como
forma de discutir aspectos relacionados ao tema global natureza da ciência
(STADLER; AZEVEDO, 2021). A discussão acerca dos conteúdos específicos de
genética ocorre na Etapa 3 por meio do questionamento de o que é a vida e o que
são seres vivos, além de articular a discussão recorrente sobre os vírus serem ou
não seres vivos. Nesse contexto, é explicado o que são ácidos nucleicos e onde
estão presentes, em relação a uma reportagem comentando sobre uma bactéria
com DNA contendo arsênico, o que levou os cientistas a pensarem em vida
extraterrestre. Nesse trecho, elenca-se uma questão que pode levar à discussão da
controvérsia sobre o conceito de seres vivos, na qual os estudantes deveriam
argumentar e explicar sobre as características que determinam a condição de vida
(BACICH; HOLANDA, 2020, cf. p. 144). Este trecho foi considerado como potencial
para a discussão sociocientífica sobre natureza da ciência do tipo debate com
abordagem pontual, por ser o eixo central da referida etapa (STADLER; AZEVEDO,
2021).
Ainda em relação a essa obra, no projeto 6, sobre os riscos da radiação os
conceitos relativos ao campo da genética foram abordados na Etapa 2, que discute
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161

os efeitos de radiações sobre os seres vivos e o ambiente, em particular sobre a


relação entre radiação ionizante e mutações genéticas. A controvérsia, por sua vez,
figura no debate entre dois grupos: um que deve apresentar sobre os benefícios e
outro que deve argumentar sobre os riscos do uso de radiação, dos pontos de vista
biológico e tecnológico. Este fragmento foi classificado como potencial para a
discussão sociocientífica do tipo debate, centrada no tema saúde e população e com
abordagem do tipo pontual (STADLER; AZEVEDO, 2021). É importante salientar
que, nos casos acima não houve abordagem temática relacionada ao tema deste
estudo, pois os conteúdos de genética foram utilizados como complementos para a
discussão de outras temáticas, não sendo, portanto, o tema central da unidade.
Ainda, é importante notar que em ambos os casos foram relacionados os
seguintes critérios de relevância sociocientífica (FERNANDES-SOBRINHO, 2014):

1) ter base na ciência, frequentemente em áreas que estão nas fronteiras


do conhecimento científico; 2) envolver a formação de opiniões e a realização de
escolhas no nível pessoal e social; 3) ser frequentemente divulgadas pela mídia com
destaque a aspectos baseados nos interesses dos meios de comunicação; 4) lidar
com informação incompleta sejam elas de evidências científicas incompletas ou
conflitantes e lacunas nos registros; 6) envolver a análise de custo e benefício na
qual os riscos interagem com valores; 8) requerer algum entendimento de
probabilidade e risco; e 9) e ser frequentemente pontuais durante a transição de
uma vida, indicando ampla potencialidade de discussão, a depender da atuação do
professor (STADLER; AZEVEDO, 2021).

No Quadro 2, por fim, são categorizadas as controvérsias encontradas nos


livros dos conteúdos específicos da área de Ciências da Natureza, motivadas pelos
fragmentos indicados abaixo:

• “Quais seriam os argumentos contra ou a favor da clonagem humana?


Você é contra ou a favor da clonagem humana?” (AMABIS et al., 2020, p. 94);
• “O melhoramento do trigo, do arroz e de outras espécies tem propiciado
aumento da produção e barateamento de insumos agrícolas e pecuários?” (AMABIS
et al., 2020, p. 123);
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162

• “O conhecimento sobre o metabolismo da fenilcetonúria determinou a


obrigatoriedade de informar a presença de fenilalanina nos rótulos dos produtos.
Qual é a importância dessa medida?” (FUKUI et al., 2020, p. 109)
• “Muitas pessoas recorrem à prática da automedicação, ingerindo
antibióticos sem saber se de fato necessitam do medicamento. O desenvolvimento
de linhagens de bactérias, cada vez mais resistentes aos antibióticos é acelerado
pelo uso indevido deles. Esse processo pode ser considerado uma adaptação?
Explique.” (FUKUI et al., 2020, p. 137);
• “Em sua opinião, por que algumas pessoas discriminam outras por causa
de sua aparência? O que você pensa sobre este tipo de atitude?” (FUKUI et al.,
2020, p. 140);
• “Uma hipótese equivocada, muitas vezes, pode contribuir para o
desenvolvimento da ciência. Indique elementos presentes no texto que corroborem
essa ideia.” (FUKUI et al., 2020, p. 129);
• “Discuta com os colegas se o protocolo seguido por Edward Jenner na
produção da vacina contra varíola seria eticamente aceitável na atualidade.” (FUKUI
et al., 2020, p. 144);
• “Reúna-se com mais três colegas e discutam a importância, para o
consumidor, da sinalização da presença de transgênicos em produtos alimentícios.
Compartilhe com a turma o resultado da discussão.” (FUKUIet al., 2020, p. 146);
• “Discuta com os colegas a controvérsia relacionada ao uso de
transgênicos na agricultura, apresentando argumentos favoráveis e contrários a esse
uso.” (FUKUI et al., 2020, p. 147);
• “Discuta com os seus colegas como os povos tradicionais são
prejudicados pela biopirataria e como o conhecimento que eles têm da
biodiversidade e de propriedades dos seres vivos que dela fazem parte poderia ser
valorizado.” (FUKUI et al., 2020, p. 147);
• “Discutam em grupos sobre a utilização de animais em pesquisas
científicas. Qual é a opinião de vocês sobre o tema? Apresentam à turma o resultado
da discussão e os argumentos levantados.” (FUKUI et al., 2020, p. 152).

Esses trechos foram considerados com potencial sociocientífico de acordo


com as características apresentadas no Quadro 2, em relação com os indicadores
ISSN 2237-700X
163

da análise.
No caso dos livros de conteúdo específico (Quadro 2) foi possível perceber
ocorrência de potencial para a discussão sociocientífica nas duas obras indicadas na
escolha, o que foi considerado um ponto positivo. Nesse quadro foram indicadas
duas ocorrências que não puderam ser classificadas de acordo com os critérios que
vem sendo adotados pelo grupo, pois o trecho com potencial controverso está tão
desassociado do texto que torna impossível inferir como será abordado em sala de
aula.

Quadro 2: Síntese dos resultados para os livros de conteúdo específicos da área


Livro Volume Capítulo Tema Controvérsia CR Abordagem
Global
Cap. 8 -
v. 1 - O Citologia (II):
conhecimento Núcleo celular, Saúde e Debate
1, 2, 3,
Pontual
científico cromossomos e população 4, 6, 8, 9
ModernaPlus mitose
Cap. 10 -
v. 5 - Ciência e Genética e Alimentose Por
* *
Tecnologia Biotecnologiana fome questionamentos
atualidade
Unidade 2,
v. 2 - Matéria e Capítulo2: Saúde e Justificativade 1, 2, 5,
Pontual
transformações Metabolismo população escolha 8, 9
Celular
Unidade 3, Saúde e * * Por
v. 4 - Evolução, Capítulo 3: população questionamentos
espaço etempo Evolução,
taxonomia e Temas Justificativade 1, 2, 3, 4
sistemática sociais escolha ,5, 8 Pontual

Unidade 3: Natureza Justificativade 1, 2, 6,


Capítulo 1: da ciência escolha 8, 9 Pontual
Ser Hereditariedade
protagonista
Natureza Debate 1, 2, 6, Pontual
da ciência 8, 9
v. 5 - Vida, Alimentose Debate 1, 2, 4, Pontual
saúde e fome 6, 8, 9
genética Unidade 3: Alimentose Debate 1, 2, 4, Pontual
Capítulo 2: fome 6, 8, 9
Biotecnologia
Temas 1, 2, 3,
sociais Debate 4, 5, 6, Pontual
7, 8
Natureza Debate 1, 2, 3, Pontual
da ciência 4, 6, 8, 9
* Sem elementos suficientes para a categorização.

ISSN 2237-700X
164

Um ponto relevante de ser observado é a relação com os temas globais


(Quadro 2), foi extremamente relevante observar que os conceitos estudados em
Genética podem ser relacionados com temas globais: natureza da ciência; saúde e
população; temas sociais; e alimentos e fome, em ordem de frequência. Esse dado
parece indicar que há alternativas para as mudanças no ensino de Genética, a fim
de torna-se mais articulado com temas de relevância social.
Nesse ínterim, observa-se que dois tipos de controvérsia (STADLER;
AZEVEDO, 2021) estão presentes, nos trechos, dois tipos, o tipo debate, que
consiste na motivação da discussão em sala de aula baseada em vivências e no
conhecimento científico, e justificativa de escolha, que consiste em tentar justificar,
com base no conhecimento científico, a justificativa da escolha tomada por alguém
ou por uma instituição. No caso da Genética, por exemplo, a questão de legislações
e escolhas por determinados tratamentos vinculados à questões genéticas.
Ainda assim, percebe-se que, como nos livros de projetos integradores, a
discussão sociocientífica em torno do tema Genética não assume em nenhum
momento uma abordagem temática, reforçando os resultados que descrevem a
dificuldade em relacionar os conteúdos de genética com discussões desse tipo
(KRASILCHIK, 2014; MACHADO 2012). A abordagem pontual, entendida como
aquela que, embora não seja central da unidade de análise, apresenta elementos
que fundamentam sua discussão, e a abordagem por questionamentos, quando há
apenas uma pergunta que tem potencial para se tornar controversa (STADLER;
AZEVEDO, 2021), foram os únicos tipos de abordagem encontrada.

4 Considerações Finais

De maneira geral, foi possível perceber que as discussões sociocientíficas


relacionadas ao tema Genética são pouco valorizadas nos materiais, em especial no
que se refere ao tipo de abordagem, e a ausência completa em um dos livros
analisados.
Um fato interessante, ainda a ser estudado com mais profundidade pelo grupo
é que a presença de discussão de temas globais socialmente relevante parece estar

ISSN 2237-700X
165

relacionada de maneira inversa à organização tradicional dos conteúdos, ou seja, a


busca por elementos contextualizadores faz com que a natureza dos temas não
respeite a ordem tradicionalmente estabelecida. A confirmação dessa relação e suas
implicações são encaminhamentos futuros do grupo.
Em conjunto com os temas anteriores, outro ponto a ser considerado
futuramente é o desenvolvimento e avaliação de sequências didáticas que coloquem
a Genética no centro das temáticas, por meio da abordagem temática, com ASC
para fomentar as discussões.

Referências

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manual do professor. 1. ed. São Paulo : Moderna, 2020.

BACICH, L.; HOLANDA, L. Práticas na escola: Ciências da Natureza e suas


tecnologias. 1ª ed. São Paulo: Moderna. 2020.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília,


2018.

BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional do Livro e do Material


Didático. Edital Consolidado PNLD 2021. Brasília: Ministério da Educação, 2019.
Disponível em:<http://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-
do- livro/consultas/editais-programas-livro/item/13106-edital-pnld-2021>. Acesso em:
24 de set. de 2021.

FERNANDES-SOBRINHO, M. Temas sociocientíficos no Enem e no livro


didático: limitações e potencialidades para o ensino de Física. 2014. Tese
(Doutorado em Educação). Universidade de Brasília, 2014.

FRACALANZA, H. O que sabemos sobre os livros didáticos para o ensino de


ciências no Brasil. Campinas: Unicamp. 1992. Tese (Doutorado em Educação).
Faculdade de Educação, Universidade de Campinas, 1992.

FUKUI, A. et al. Ser protagonista: ciências da natureza e suas tecnologias / obra


coletiva, desenvolvida e produzida por SM Educação; editores responsáveis André
Zamboni, Lia Monguilhott Bezerra. 1. ed. São Paulo : Edições SM, 2020.

DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, José A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências:


fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2018.

ISSN 2237-700X
166

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010.

KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. EdUSP, 2004.

MACHADO, M. H. Uso do vídeo como ferramenta no ensino de genética.


Dissertação (Mestrado em Ensino em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente).
Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA. Volta Redonda, 2012.

MERRYFIELD, M. M. Science-technology-society and global perspectives. Theory


into Practice, v. 30, n. 4, p. 288-293, 1991.

SANTOS, W. L. P. Aspectos sociocientíficos nas Aulas de Química. 2002. Tese


de Doutorado em Educação. Faculdade de Educação, Universidade Federal de
Minas Gerais, 2002.

SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Abordagem de Aspectos sociocientíficos nas


aulas de Ciências: Possibilidades e Limitações. Investigações no Ensino de
Ciências, v. 14, n. 2, p. 191-218, 2009.

SÃO PEDRO, A. C. C. de et al. Vamos juntos, Profe!: Projetos integradores:


Ciências da Natureza e suas tecnologias. 1ª ed. São Paulo: Saraiva. 2020.

SOUZA, E. L., GARCIA, N. M. D. O Livro Didático De Ciências: Escolha E Uso Pelos


Seus Professores. In: Congresso Nacional de Educação, 9, Anais..., Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2013. Disponível em:
https://educere.bruc.com.br/CD2013/pdf/7311_4759.pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

STADLER, J. P. Análise de aspectos sociocientíficos em questões de Química


do Enem: subsídio para a elaboração de material didático para a formação cidadã.
2015. Dissertação (Mestrado em Formação Científica, Educacional e Tecnológica),
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STADLER, J. P.; AZEVEDO, M. S. Análise de aspectos sociocientíficos em livros


didáticos de química para a primeira série do ensino médio. Revista Brasileira de
Ensino de Ciências e Matemática, v. 4, n. 1, 2021.

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167

ANÁLISE DE CONTEÚDOS DE GENÉTICA E SUAS SUBÁREAS ABORDADOS


NOS LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIA DA NATUREZA DO PNLD 2021
INDICADOS NO CAMPUS PALMAS DO IFPR

Ana Carla Meneghetti (meneghetti15@hotmail.com) ¹


Stephany Baumer Franceschini ²
João Paulo Stadler³
Mariana da Silva Azevedo (mariana.azevedo@ifpr.edu.br)4
1,2,3,4 Instituto Federal do Paraná – campus Palmas

Resumo: Observa-se uma forte tendência para a utilização do livro didático, devido
a sua ampla distribuição no país. Entretanto, diferente do que era observado nas obras
de anos anteriores, os livros de projetos aprovados em 2021 tendem a descrever uma
perspectiva mais autônoma e ativa do estudante, por meio de práticas articuladas ao
seu contexto social. Ademais, o Ensino de Genética é marcado pela memorização de
conceitos e metodologias tradicionais. Sendo assim, essa pesquisa é pautada na
análise de conteúdo e tem a finalidade de investigar os livros do PNLD 2021 indicados
como opção pelos professores da área de Ciências da Natureza do IFPR – campus
Palmas, quanto a presença das subáreas da Genética, a fim de relacionar os
conteúdos de genética estudados na educação básica com os conteúdos e
componentes curriculares ministrados durante os cursos de Licenciatura em Ciências
Biológicas. Assim, foi possível perceber que as discussões relacionadas ao tema
Genética são pouco valorizadas nos livros de projetos integradores e que a presença
de elementos contextualizadores faz com que a natureza dos temas não respeite a
ordem tradicionalmente estabelecida. Essa alteração pode ser um problema quando
alguns conteúdos que são pré-requisitos para outros não são pensados em conjunto
com essa contextualização.

Palavras-chave: Ensino de Biologia; Ensino de genética; PNLD Objeto 1; PNLD


Objeto 2.

Abstract: There is a strong trend towards the use of textbooks, due to its wide
distribution in the country. However, unlike what was observed in the works ofprevious
years, the project books approved in 2021 tend to describe a more autonomous and
active perspective of the student, through practices articulated to their social context.
Furthermore, the Teaching of Genetics is marked by the memorization of traditional
concepts and methodologies. Therefore, this research is based on content analysis
and aims to investigate the PNLD 2021 books indicated asan option by the professors
of the Natural Sciences area at IFPR - Palmas campus, regarding the presence of the
Genetics sub-areas, in order to relate Genetics contents studied in basic education
with the contents and curricular components taught during Biological Sciences
courses. Thus, it was possible to notice that discussions related to the Genetics theme
are undervalued in integrative project books and that the presence of contextualizing
elements makes the nature of the themes not respect the traditionally established
order. This change can be a problem when some contents that are prerequisites for
others are not thought of in conjunction with this contextualization.

Keywords: Biology Teaching; Genetics Teaching; PNLD – Object 1; PNLD –


Object 2.

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168

1 Introdução

Quando pensamos no ensino de Biologia a fim de se obter êxito tanto em


exames vestibulares quanto em avaliações escolares, este permanece desarticulado
do contexto social dos alunos, pois é focado na memorização de fatos e informações
desconexas (KRASILCHIK, 2004). De forma similar, Machado (2012) relata que o
ensino de Genética, em particular, é abordado de forma bastante conteudista e
pautada na memorização de conceitos.
Além disso, observa-se a dependência dos docentes frente aos livros didáticos,
em especial com relação à sequência dos conteúdos (FRACALANZA, 1992;
DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2018). Esta dependência pode ser
relacionada à distribuição gratuita dos livros didáticos, garantida pelo Programa
Nacional do Livro Didático (PNLD) (SOUZA; GARCIA, 2013).
Entretanto, as mudanças evidenciadas nos livros enviados para a escolha
pelo PNLD em 2021, motivadas pela aprovação e implementação da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC, BRASIL, 2018) foram bastante pronunciadas, pois as
alterações necessárias para a integração da Química, da Física e da Biologia em
obras das áreas de Ciências da Natureza contrastam com os livros didáticos
organizados por disciplinas, os quais foram disponibilizados até então.
Entre as mudanças observadas, está a inclusão dos livros de projetos
integradores e de projeto de vida do Objeto 1, além das obras por área do
conhecimento do Objeto 2 (BRASIL, 2021). Os livros de Projetos Integradores foram
construídos com base em metodologias ativas que visam o protagonismo dos
estudantes frente a problemas de relevância social, como forma de desenvolver as
competências gerais para a Educação Básica trazidas pela BNCC (BRASIL, 2018).
Assim, as obras do Objeto 1 foram centradas em quatro temáticas:

• STEAM: como o objetivo relacionar os campos de Ciência,


Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática para estimular a criatividade dos
discentes, a fim de resolver problemas cotidianos por meio do desenvolvimento de
protótipos;

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169

• Protagonismo Juvenil: cujo intuito é reconhecer e valorizar a cultura,


potencializando a capacidade de ser um agente transformador da realidade;
• Midiaeducação: tem como objetivo desenvolver com o letramento
midiático centrado na produção de mídias para fomentar da análise crítica, criativa e
construtiva dos jovens;
• Mediação de conflitos: cuja finalidade é estimular a reflexão e
resolução de conflitos, para que os estudantes construam valores coletivos baseados
na diversidade dos indivíduos com compõem a sociedade.

Considerando-se os livros com os conteúdos específicos da área, estes


promovem a interdisciplinaridade das disciplinas envolvidas, por meio da
desfragmentação do conhecimento e da articulação entre os conteúdos científicos e
temáticas de relevância (BRASIL, 2021).
Nesse sentido, este trabalho visa identificar as subáreas da Genética incluídas
nos livros escolhidos pelo IFPR no PNLD 2021 para os Objeto 1: Práticas na Escola
(LIMA; MARTINS, 2020) e Vamos juntos, profe! (SÃO PEDRO et al., 2020) e Objeto
2: Plus Moderna (AMABIS et al., 2020) e Ser Protagonista (FUKUI et al., 2020), por
meio de análise de conteúdo (BARDIN, 2011), a fim de relacionar os conteúdos de
genética estudados na educação básica com os conteúdos e componentes
curriculares ministrados durante os cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas.

2 Material e Métodos

Este estudo se configura como uma pesquisa bibliográfica de cunho


qualitativo (GIL, 2010) que consistiu na análise de conteúdo (BARDIN, 2011) nos
livros do PNLD2021 indicados como opção pelos professores da área de Ciências da
Natureza do IFPR – campus Palmas:
• Objeto 1: Práticas na Escola (LIMA; MARTINS, 2020) e Vamos
juntos,profe! (SÃO PEDRO et al., 2020);
• Objeto 2: Plus Moderna (AMABIS et al., 2020) e Ser Protagonista
(FUKUI et al., 2020).

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170

Na primeira etapa, foram procurados fragmentos com a temática de Genética,


para a identificação dos conteúdos incluídos. Na segunda etapa foi realizada uma
leitura aprofundada dos livros para a identificação da temática Genética entre os
diferentes projetos integradores, volumes e unidades, na qual foi feita uma
classificação a posteriori, a fim de evidenciar as subáreas da Genética presentes
nos livros. Por fim, foi realizada a comparação entre os conteúdos observados nos
livros de projetos integrados e nos livros de conteúdo específico da área, bem como
a comparação destes com as ementas do curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas.

3 Resultados e Discussão

Para sumarizar os resultados da segunda etapa, foram construídos os Quadros


2 e 3, os quais incluem a categorização dos conteúdos relacionados à temática
Genética identificados nos livros didáticos, a partir das ementas dos componentes
curriculares ligados à temática, ministrados no curso de Licenciaturas em Ciências
Biológicas do IFPR, campus Palmas (Quadro 1). Essa categorização a posteriori foi
realizada devido à similaridade encontrada nos conteúdos dos livros didáticos do
Objeto 2 e nas ementas. Nesse sentido, foram utilizados os Projetos Político
Pedagógicos das turmas ingressantes de 2014 a 2017 e de 2018 a 2021 (IFPR, 2013;
2017) (Quadro 1).
O Quadro 1 foi, então foi relacionado aos fragmentos dos livros didáticos. Por
questão de apresentação, mesmo as categorias tendo sido obtidas a posteriori, este
é apresentado anteriormente para facilitar a leitura. É importante notar que, em razão
da diferença estrutural entre as obras, a fragmentação escolhida é diferente, mas
corresponde à menor unidade didática de cada obra: as etapas dos projetos, para os
livros do Objeto 1 (Quadro 2) e os capítulos, para os livros do Objeto 2 (Quadro 3).

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Quadro 1: Ementas dos Componentes Curriculares relacionados ao conteúdo de Genética e


suassubáreas dos Projetos Políticos Pedagógicos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas.
Turmas de Componente
Ingresso Curricular Ementa
do PPC (Período)
Compostos inorgânicos, Estrutura e propriedades das Proteínas,
Enzimas, Ácidos Nucleicos, Carboidratos, Lipídios e Vitaminas.
Bioquímica
Metabolismo de carboidratos e lipídios. Bioenergética. Glicólise. Ciclo
(3º)
de Krebs. Fosforilação oxidativa. Beta oxidação. Biossíntese dos
ácidos graxos. Metabolismo e biossíntese dos aminoácidos.
Genética Introdução à Genética. Conceitos básicos de Genética. Leis
Básica Mendelianas. Padrões de Herança Monogênicos. Interação Gênica.
(5º) Recombinação e Ligação.
2014 a 2017
Introdução a Genética de Populações. Caracteres quantitativos e
Genética de
qualitativos. Teorema de Hardy-Weinberg e suas aplicações.
Populações e
Endogamia e Heterose. Introdução à Genética Quantitativa. Variação
Quantitativa
ambiental e genética. Herdabilidade e ganho genético. Fundamentos
(6º)
do melhoramento genético.
Biotecnologia Introdução à Biotecnologia. Biotecnologia aplicada a Biologia e
(Optativa no 7º Melhoramento Genético. Técnicas de biologia molecular. Tópicos
ou 8º) Atuais.
Estrutura química, propriedades e funções biológicas da água; íons;
aminoácidos, peptídeos e proteínas; carboidratos; lipídios;
nucleotídeos e ácidos nucléicos; vitaminas. Tampões biológicos.
Enzimas. Bioenergética. Metabolismo de carboidratos: glicólise; ciclo
Bioquímica
de Krebs; cadeia transportadora de elétrons e fosforilação oxidativa;
(2º)
gliconeogênese; via das pentoses fosfato. Catabolismo de ácidos
graxos e biossíntese de lipídios. Biossíntese e oxidação de
aminoácidos, produção de ureia. Integração e regulação metabólica.
Regulação da Expressão Gênica.
Introdução à Genética. Bases físicas e químicas da herança. Leis
Genética
Mendelianas. Interação Gênica. Ligação e permuta gênica.
Básica
Mapeamento Genético. Mutação, Reparo e Recombinação.
(5º)
2018 a 2021 Mutagênese induzida.
Introdução à genética de populações. Caracteres quantitativos e
Genética de
qualitativos. Teorema de Hardy-Weinberg e suas aplicações.
Populações e
Introdução à genética quantitativa. Variação ambiental e genética.
Quantitativa
Herdabilidade e ganho genético. Fundamentos do melhoramento
(6º)
genético.
Métodos de sequenciamento de DNA e construção de bibliotecas
gênicas. Técnicas de Biologia Molecular: isolamento de ácidos
nucléicos; Reação em cadeia da polimerase (PCR); enzimas de
Biotecnologia
restrição; eletroforese; obtenção de vetores de clonagem e
(7º)
expressão;obtenção de plantas transgênicas. Clonagem. Noções de
cultura de Tecidos. Ômicas. Noções de bioinformática. Biologia
sintética.
Biocombustíveis.

ISSN 2237-700X
172

Quadro 2: Síntese dos resultados para os livros de projetos integradores.


Título do Projeto Subáreas da
Livro Descrição do projeto Descrição da Etapa
(Tema integrador) Genética
Aborda questões da
biodiversidade, como
conceitos e fatores que
influenciam no equilíbrio
da Terra e a importância Etapa 1: No texto há
Projeto 2:
do ecossistema e como a apontamentos em relação
Conservação da Genética de
população pensa (...). a variabilidade genética na
biodiversidade Populações e
Trata sobre os impactos espécies, e como isso
(Protagonismo Quantitativa
ambientais e os riscos contribui para o
juvenil)
para a população, além ecossistema.
da importância das
unidades de conservação
para preservação da
biodiversidade.
Projeto 3:
Trata sobre as drogas Etapa 2: a
Prevenção ao uso
lícitas e ilícitas e predisposição genética Bioquímica
de drogas
comocombatê-las. foi relacionada com o
(Midiaeducação)
vício às drogas.
Etapa 3: percebendo o
impacto da comunicação
Projeto 4:
no bem-estar de todos.
Convivências e Aborda conflitos na Não tem
Essa etapa relaciona o
conflitos na adolescência com relação relação com
impacto da fala das
adolescência a racismo, bullying e a área de
Práticas pessoas na saúde mental Genética
(Mediação de outras questões.
na das outras, exemplificando
conflitos)
Escola um caso de racismo no
meio científico.
Etapa 3: questiona o que
éa vida e o que são seres
vivos, além de abordar a
discussão recorrente sobre
Aborda sobre o planeta
os vírus serem ou não
Marte, faz comparações
seres vivos. Explica o que
Projeto 5: com outros planetas.
são ácidos nucleicos e
Terraformação de Além disso, aborda o
onde estão presentes. Há Bioquímica
marte método científico e traz
uma reportagem
(Mídiaeducação) ocontexto histórico de
comentando sobre um
como foram essas visitas
bactéria com DNA
em Marte.
contendo arsênico, o que
levou os cientistas a
pensarem em vida
extraterrestre.
Etapa 2: Cita o que é
radiação ionizante e o
Projeto 6: Introdução sobre o que é aborda exemplos de erros
Radiação: radiação, seus riscos e humanos que fizeram
Biotecnologia
benefícios e riscos benefícios, explicando muitas vítimas, causando
de suas aplicações os tipos de radiação. mutações genéticas nas
(STEAM) pessoas afetadas e em
seus descendentes. .

ISSN 2237-700X
173

Quadro 2: Síntese dos resultados para os livros de projetos integradores (continuação)


Título do Projeto Subáreas da
Livro Descrição do projeto Descrição da Etapa
(Tema integrador) Genética
Fala sobre o modo de ação das
vacinas no sistema humano,
também discute a importância Etapa 1: Relação
das campanhas nacionais de com as vacinas, o
imunização, para sensibilização que são e como
Projeto 3: da população. Posteriormente, funcionam no
Prevenção ao uso aborda sobre as fake news na organismo, bem Biotecnologia
de drogas área da saúde, e por fim, os como a importância
(Mídiaeducação) discentes realizarão uma do programa
pesquisa em sua comunidade, nacional de
relacionando a prática com a vacinação
teoria, observando a importância
Vamos da vacina
juntos, Descreve a diferença de
profe! alimentos saudáveis e nutrição,
mas também descreve como é Etapa 2: - Comenta
feito as plantações e deus sobre formas de
Projeto 5: gastos e como as mudanças melhorar a produção
Alimentação e climáticas são crescentemente de alimentos e
sustentabilidade aumentada devido ao indica, de forma Biotecnologia
(Protagonismo consumismo e geração de bastante superficial,
juvenil) resíduos. Também aborda a o melhoramento
questão energética na cadeia genético como
alimentar, a importância da alternativa
leitura das embalagens de
alimentos.

Um ponto importante na análise do Quadro 2 é a identificação de poucos


assuntos relacionados à temática Genética nos livros do Objeto 1, principalmente
em um dos livros (SÃO PEDRO et al., 2020) que compuseram o corpus de
análise, pois foram identificados apenas 2 fragmentos, de forma bastante
superficial, sendo que nenhum desses fragmentos estava relacionado aos
conteúdos dos componentes curriculares Genética Básica ou Genética de
Populações e Quantitativa. Esse fato pode indicar a dificuldade em se articular o
ensino dos conceitos científicos relacionados à genética com temas sociais mais
abrangentes (KRASILCHIK, 2014; MACHADO, 2012).
A análise do Objeto 2 (Quadro 3) permitiu a identificação de 2 estruturas
diferentes para aorganização dos livros didáticos. Enquanto um dos livros (AMABIS
et al., 2020) apresenta estrutura e sequência similares aos componentes
curriculares do curso deLicenciatura em Ciências Biológicas (Quadro 1), o outro
livro altera essa sequência (FUKUI et al., 2020).

ISSN 2237-700X
174

Quadro 3: Síntese dos resultados para os livros de conteúdos específicos da área.


Subáreas da
Livro Volume Capítulo Descrição do Capítulo
Genética
Cap. 5 - Níveis de Descreve a estrutura e a
organização da vida e composição básica da dupla fita de Bioquímica
v. 1 - O classificação biológica DNA
conhecimento
científico Cap. 8 - Citologia (II):
Inicia o capítulo com o histórico da Genética
Núcleo celular,
clonagem Básica
cromossomos e mitose
Inicia com o histórico sobre a 1ª Lei
Capítulo 1: As leis da Genética
de Mendel e defini as diferentes
herança Básica
interações alélicas existentes
Descreve a 2ª Lei de Mendel, as Genética
interações gênicas, faz um breve Básica
Moderna Plus

Capítulo 2: Bases
relato sobre Herança Quantitativa e Genética de
cromossômicas da
descreve os genes localizados no Populações
v. 5 - Ciência e herança
mesmo cromossomo e a herança e
Tecnologia
ligada aos cromossomos sexuais. Quantitativa
Faz uma contextualização com o
desenvolvimento de tecnologia
Capítulo 3: O código
ligadas ao DNA e à doenças
genético e a síntese Bioquímica
causadas por príon. Descreve os
deproteínas
processos de Replicação e
Transcrição
Faz um histórico do
desenvolvimento da Engenharia
Cap. 10 - Genética e
v. 5 - Ciência e Genética e coloca
Biotecnologia na Biotecnologia
Tecnologia questionamentos sobre técnicas
atualidade
para a melhoria da produtividade
dos alimentos
v. 1 - Estrutura
Unidade 3, Capítulo 2: As Explicação básica sobre o núcleo Genética
e composição
células celular Básica
dos corpos
Descreve alguns processos
básicos relacionados ao
v. 2 - Matéria e Unidade 2, Capítulo2 : metabolismo celular e traz
Bioquímica
transformações Metabolismo Celular conceitos sobre o DNA e sua
replicação, bem como a transcrição
e a tradução
Ser protagonista

Genética
Descreve o histórico da evolução Básica
v. 4 - Evolução, Unidade 3, Capítulo 3: biológica, o conceito de relógio
espaço e Evolução, taxonomia e molecular, as bases genéticas da Genética de
tempo sistemática evolução e conceitos básicos de Populações
genética de populações e
Quantitativa
Descreve o histórico sobre o
estudos dos cromossomos, os
Unidade 3: Capítulo 1: Genética
conceitos básicos da Genética
Hereditariedade Básica
v. 5 - Vida, Mendeliana e interações alélicas e
saúde e gênicas
genética Descreve o histórico e os conceitos
Unidade 3: Capítulo 2: básicos da biotecnologia e da
Biotecnologia
Biotecnologia engenharia genética. Apresenta
uma discussão sobre bioética.

ISSN 2237-700X
175

A leitura aprofunda dos textos permite inferir que essa modificação ocorre
devido a tentativa de contextualização e integração com outros conteúdos. Porém,
essa organização faz com que discussões de Genética de Populações sejam
realizadas antes da apresentação de conceitos básicos de Genética Básica, os
quais são pré-requisitos para a compreensão do conteúdo.
Ademais, ao compararmos os conteúdos de Genética e suas subáreas nos
livros do Objeto 1 e Objeto 2 (Quadros 2 e 3), podemos perceber que um dos livros
trabalha conceitos de Genética de Populações no Projeto 1 (BACICH; HOLANDA,
2020), os quais são discutidos apenas no volume 4 (FUKUI et al., 2020) ou 5 (AMABIS
et al., 2020). Assim, como ainda não é clara a forma como os livros dos objetos 1 e 2
serão articulados em cada instituição de ensino, evidencia-se uma preocupação com
a adequação dos conteúdos dos livros de projetos integradores com os livros de
conteúdos específicos da área.
Por fim, evidencia-se que é necessário articular, nos cursos de formação
inicial de professores de Biologia, os conteúdos estudados de maneira fragmentada
em diferentes componentes curriculares, para que os futuros professores possam
entender as relações entre as subáreas da Genética a fim de desenvolver o ensino
dos conceitos de maneira coerente e de poder criticar recursos didáticos que não
consideram adequadamente tais relações.

4 Considerações Finais

De maneira geral, foi possível perceber que as discussões relacionadas ao


tema Genética são pouco valorizadas nos livros de projetos integradores. Um fato
interessante, ainda a ser estudado com mais profundidade pelo grupo, é que a
presença de elementos contextualizadores faz com que a natureza dos temas não
respeite a ordem tradicionalmente estabelecida. Essa alteração pode ser um problema
quando alguns conteúdos que são pré-requisitos para outros não são pensados em
conjunto com essa contextualização. Outro ponto a ser considerado futuramente é o
desenvolvimento e a avaliação de sequências didáticas que coloquem a Genética no
centro de discussões interdisciplinares, de modo a evidenciar como essa nova
organização dos livros didáticos pode ser mais bem relacionada com os conceitos
de forma a propor melhorias para o ensino desses, de forma coerente e

ISSN 2237-700X
176

contextualizada, na Educação Básica.

Referências

AMABIS, J. M. et al. Moderna plus: ciências da natureza e suas tecnologias:manual


do professor. 1. ed. São Paulo : Moderna, 2020.

BACICH, L.; HOLANDA, L. Práticas na escola: Ciências da Natureza e suas


tecnologias. 1ª ed. São Paulo: Moderna. 2020.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.


BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional do Livro e do Material
Didático. Edital Consolidado PNLD 2021. Brasília: Ministério da Educação, 2019.
Disponível em:<http://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-
do- livro/consultas/editais-programas-livro/item/13106-edital-pnld-2021>. Acesso em:
24 de set. de 2021.

FRACALANZA, H. O que sabemos sobre os livros didáticos para o ensino de


ciências no Brasil. Campinas: Unicamp. 1992. Tese (Doutorado em Educação).
Faculdade de Educação, Universidade de Campinas, 1992.

FUKUI, A. et al. Ser protagonista: ciências da natureza e suas tecnologias / obra


coletiva, desenvolvida e produzida por SM Educação; editores responsáveis André
Zamboni, Lia Monguilhott Bezerra. 1. ed. São Paulo : Edições SM, 2020.

IFPR. Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas.


Palmas, 2013

IFPR. Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas.


Palmas, 2017

KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. EdUSP, 2004.

MACHADO, M. H. Uso do vídeo como ferramenta no ensino de genética.


Dissertação (Mestrado em Ensino em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente). Centro
Universitário de Volta Redonda – UniFOA. Volta Redonda, 2012.

SÃO PEDRO, A. C. C. de et al. Vamos juntos, Profe!: Projetos integradores:Ciências


da Natureza e suas tecnologias. 1ª ed. São Paulo: Saraiva. 2020.

SOUZA, E. L., GARCIA, N. M. D. O Livro Didático De Ciências: Escolha E Uso Pelos


Seus Professores. In: Congresso Nacional de Educação, 9, Anais..., Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2013. Disponível em:
https://educere.bruc.com.br/CD2013/pdf/7311_4759.pdf. Acesso em: 21 set. 2021.

ISSN 2237-700X
177

ANÁLISE HISTÓRICA DA PRODUÇÃO DE MAÇÃS NO MUNICÍPIO DE


PALMAS- PR.

Lucas Henrique Colla (lucas.colla14@gmail.com) ¹


Natasha Akemi Hamada (natasha.hamada@ifpr.edu.br)1
1Instituto Federal do Paraná

Resumo: Palmas, a capital paranaense da maçã e do frio recebe este título devido
as suas condições climáticas e geográficas, que fazem da região um lugar propicio
para o cultivo de maçãs. Por possuir um inverno frio e um verão com chuvas
regulares o município produz frutos de bons calibres, sabor e coloração. A
introdução da maçã no município se deu em 1978, com o cultivo de 4 hectares. A
produção de maçã no município de Palmas passou por grandes mudanças desde a
sua implantação. Observa-se um período de incremento de área e produção até por
volta do ano de 2004, devido principalmente a qualidade e a quantidade da
produção, que já em seus primeiros anos alcançava números acima das médias
nacionais. Entretanto, após o ano de 2006 houve uma redução de 11% da área
cultivada e consequentemente da produção. Dados de 2018 registraram que o
município conta com 380 ha de área plantada e produção total de 7.932 toneladas.
Os fatores climáticos ao longo dos anos, de forma geral, não prejudicaram a
produção, uma vez que se apresentam em ciclos regulares; desta forma uma das
hipóteses é de que fatores mercadológicos e referentes a outros fatores de produção
tenham sido responsáveis pela queda da área cultivada com a cultura.

Palavras-chave: Malus domestica, Cadeia produtiva, Evolução.

Abstract: Palmas, the capital of the apple and cold of Paraná receives this title due
to its climatic and geographical conditions, which make the region a propitious place
for the cultivation of apples. Because it has a cold winter and a summer with regular
rains the municipality produces fruits of good calibers, flavor and color. The
introduction of the apple in the municipality took place in 1978, with the cultivation of
4 hectares. Apple production in the municipality of Palmas has undergone major
changes since its implementation. There was a period of increase in area and
production until around 2004, mainly due to the quality and quantity of production,
which already in its first years reached numbers above the national averages.
However, after 2006 there was a reduction of 11% in the cultivated area and
consequently from previous productions. Data from 2018 recorded that the
municipality has 380 ha of planted area and total production of 7,932 tons. Climatic
factors over the years, in general, have not harmed production, since they present in
regular cycles; thus, one of the hypotheses is that market factors and other
production factors were responsible for the fall of the cultivated area with the crop.

Keywords: Malus domestica, Production chain, Evolution.

ISSN 2237-700X
178

1 Introdução

A maçã silvestre, ou cientificamente chamada de Malus sieversii, tem sua


origem provável da região de montanhas da Ásia Menor, local hoje que possui
diversas espécies de Malus nativas. A antiga rota da seda acabou desempenhando
um grande papel com relação a evolução da maçã cultivada, pois os viajantes que
passavam por ali, independente de seus meios de transporte, comiam todos os tipos
de frutas e sementes que encontravam, entre elas diversas espécies de Malus, que
acabaram sendo espalhadas em um solo bem fértil durante todo o caminho que
percorriam. A hibridização da Malus sieversii deu origem a maçã cultivada através
do processo de cruzamento com diversas espécies derivadas dela, formando a
Malus domestica (Juniper et al., 1998).
O Brasil é o 13° maior produtor de maçã a nível mundial, desde o ano de
2016 (FAO, 2018). A produção comercial da fruta no Brasil começou no município de
Valinhos-SP em 1926, sendo que a partir de 1960 o cultivo se expandiu para a
região sul (Nachtigall et al., 2009).
A produção brasileira se concentra basicamente nos estados de Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, sendo que nos dois primeiros a
produção e o desenvolvimento da cultura foram crescentes, enquanto nos outros a
participação se manteve a mesma ao longo dos anos (Petri et al., 2011). O Paraná é
o terceiro maior produtor nacional de maçã com 3,6% de participação no mercado
interno perdendo para o Rio Grande do Sul, com 53,7% e Santa Catarina com
41,7% (Jornal de Beltrão, 2021). Entre as três cidades que mais produzem no país
estão São Joaquim-SC, Vacaria-RS e Caxias do Sul-RS (IBGE, 2021).
Estima-se que a atividade tem envolvido em torno de 3.450 produtores,
gerando três empregos diretos e indiretos por hectare, representando mais de 100
mil empregos na cadeia produtiva da maçã (Petri et al., 2011).
O potencial produtivo da macieira está relacionado com o número de horas de
frio exigido pela planta para começar o seu ciclo. Dessa maneira, o clima se faz
presente como fator principal nas exigências edafoclimáticas da maçã,
acompanhado da precipitação, altitude, luminosidade e características químicas e
físicas do solo. Comumente adota-se no Brasil o mesmo modelo de monitoramento
de horas de frio dos países do hemisfério norte, ou seja, são necessárias 1000 horas

ISSN 2237-700X
179

de temperatura abaixo de 7,2°C para uma região ser considerada ideal para
produção. Plantas cultivadas em regiões com menos de 500 horas de frio hibernal
geralmente precisam de tratamentos químicos para a quebra de dormência
(Hoffmann et al., 2004).
A necessidade de horas de frio varia de acordo com a variedade plantada;
sendo estas divididas em variedades de baixa necessidade de frio, como é o caso
das variedades Eva e Condessa; variedades de média necessidade de frio, como as
variedades Monalisa e Baronesa; e as variedades que exigem alto acumulo de frio
hibernal, como é o caso das variedades Gala e Fuji e seus respectivos clones
(HOFFMANN et al., 2013).
As cultivares mais plantadas no Brasil são a Gala e seus clones, colhidos de
janeiro a março; e a Fuji e seus clones que são colhidos de março a maio,
dependendo da região (Denardi et al., 2013).
Salvo dados numéricos coletados e registrados por órgãos governamentais
como a Secretaria de agricultura e abastecimento do estado do Paraná – SEAB –
não há até o momento uma análise da evolução da cultura da macieira ao longo dos
anos a nível municipal. Sendo assim, o presente trabalho visa detalhar os aspectos
envolvidos na atividade pomícola no município de Palmas-PR, ao longo das décadas
em que a macieira tem sido cultivada.

2 Desenvolvimento

O município de Palmas, estado do Paraná, está localizado a uma latitude


26º29’03” sul e a uma longitude 51º59'26" oeste (Praça Central). Teve seu
desmembramento da cidade de Guarapuava em 13 de abril de 1877 tornando-se
uma vila, e apenas dois anos mais tarde, no dia 14 de abril de 1879 foi promovida a
Distrito Sede da Povoação de Palmas, data que até hoje é considerada como
aniversário da cidade. Possui altitudes variando entre 950 e 1.370 m, de relevo sem
grandes diferenças bruscas, com temperatura média anual em torno dos 15ºC, o que
a torna uma das cidades mais frias do sul do Brasil, tendo boas características para
a produção de frutas de clima temperado (IBGE, 2021).

ISSN 2237-700X
180

Palmas é classificada geograficamente com clima subtropical úmido com


verão temperado (Cfb), apresentando uma média de 653,5 horas de frio hibernal por
ano (IAPAR, 2016).
No município são produzidas maçãs do tipo Gala, Fuji e Eva, que compõem
cerca de 90% das variedades plantadas, e em menor número outras variedades
como a Fuji Suprema e a Imperatriz, compondo os outros 10% dos pomares
palmenses (Palmas, 2020), Atualmente Palmas se encontra na 16º posição no
ranking de cidades brasileiras de maior produção da fruta (IBGE, 2021).
O solo da região é oriundo da alteração de rochas ígneas ácidas, que
apresentam diferentes associações dependendo da sua localização geográfica,
como: Ca 30, Ca 35, Ra 16, L Ba 4 e L Ba 3. São solos rasos ou medianamente
profundos e moderadamente a bem drenados, que devido ao clima da região
apresentam pouco grau de evolução (Governo do estado, 1998).
Com uma população estimada em 51.755 pessoas é marcada pela
miscigenação entre indígenas, negros, portugueses, alemães, italianos e japoneses.
Possui um PIB per capita de R$ 23.588,47 e um IDH em 0,660; caracterizando-se
como uma das cidades mais desiguais do sul do Brasil e a 9° cidade mais desigual
do Paraná, o que a torna uma cidade majoritariamente pobre (IBGE, 2021).
A cidade se desenvolveu baseada, inicialmente, na pecuária bovina (Carlin,
2019) e na exploração madeireira (Petroli, 2018). Atualmente a economia é baseada
na agricultura, pecuária, agroindústria, comércio local e principalmente na indústria
madeireira (Palmas, 2020).

2.1 A CULTURA DA MACIEIRA EM PALMAS-PR

No início dos anos 70, com o despertar do mundo para a manutenção do


meio-ambiente, as ameaças de extinção de espécies animais e vegetais, e a
cobrança de entidades ligadas ao conservacionismo do mundo todo, o Brasil mudou
bruscamente a legislação, exigindo a diminuição e interrupção do corte das árvores
e o desmatamento desenfreado, principalmente no Estado do Paraná. Mas as áreas
devastadas até então precisavam produzir (Carlin, 2019).
Foi nesse contexto que em 1978, o produtor Geraldo Lovo, com uma amostra
de macieiras recebidas do ex-governador Parigot de Souza, resolveu investir na

ISSN 2237-700X
181

cultura (Pimentel, 2017). Paralelamente houve uma crescente imigração japonesa


para a cidade, impulsionada quase que em sua totalidade pela atuação da cooper
COTIA, cooperativa de fundação de descendentes japoneses, que incentivou o
cultivo da macieira por seus associados no município.
Com o passar do tempo, outros proprietários de terra demonstraram interesse
na produção da maçã, iniciando uma nova era para Palmas, saindo da fama de
extrativista, para a fruticultura, com destaque nacional, em função da qualidade e
volume da produção, tornando-se o maior produtor estadual de maçãs (RBJ, 2017).
A expansão da atividade proporcionou a implantação de um armazém frigorífico da
Companhia Brasileira de Armazéns – CIBRAZEN, que à época de sua implantação
era o maior da classe no sul do Brasil, hoje pertencente à Companhia de
Desenvolvimento Agropecuário do Paraná – CODAPAR.
Ao longo das décadas a área plantada com a cultura no município teve
grandes variações. Observa-se um período (médio) de ascensão até o início dos
anos 2000, seguido por uma constante queda até os dias atuais (Figura 1).

Figura 1: Área (hectares) destinada ao plantio de maçã no município de Palmas-PR, entre os anos
de1981 e 2018. Fonte: SEAB, 2021.

Desde o início do acompanhamento da produção pela SEAB (1981) até o ano


de 1995 observa-se aumento da área plantada, que passou de 250 ha para 818 ha.
Entretanto, a produtividade obtida não foi diretamente proporcional ao

ISSN 2237-700X
182

aumento da área de produção (Figura 2). Considerando a tecnologia de produção


empregada nos anos 70/ 80, em que a cultura demorava aproximadamente cinco
anos após o plantio para alcançar a estabilidade de produção (Ferree, 2003), tem-se
dados da produtividade a partir de 1981. Neste ano os pomares do município
apresentaram produtividade de 2,62 ton.ha-1, o que equivale a 16,5% da produção
paranaense naquele ano, e 1% da produção brasileira, sendo crescente até o ano
de 1987 quando se obteve produtividade de 11,51 ton.ha-1, que por sua vez era
27,4% superior à produtividade nacional da fruta, e que representou 15% da
produção estadual.

Figura 2: Produtividade (ton.ha-1) das áreas de maçãs no município de Palmas-PR, entre os anos
de1981 e 2018. Fonte: SEAB, 2021.

Entre os anos de 1988 e 1994 a produtividade obtida nos pomares diminuiu,


atingindo entre 5,77 e 9,50 ton.ha-1. Essa diminuição ocorreu em função das novas
áreas de plantio que ainda não produziam frutos, ou os produziam em pouca
quantidade, e não de fatores edafoclimáticos, uma vez que a produção absoluta
(Figura 3) aumentou proporcionalmente em relação à área plantada.

ISSN 2237-700X
183

Figura 3: Quantidade (toneladas) produzidas nas áreas de maçãs no município de Palmas-PR,


entreos anos de 1981 e 2018. Fonte: SEAB, 2021.

Entre os anos de 1996 e 1998 houve diminuição da área cultivada, que em


1998 era de 690 ha; essa diminuição deve-se, principalmente ao fim do período de
vida produtiva das macieiras plantadas por volta de 1980 e a necessidade de
renovação dos pomares. A diminuição da área de cultivo foi acompanhada também
pela diminuição do número de produtores, que em 1997 era de aproximadamente
40, ou seja, uma redução de praticamente 40% em relação à 1990 (ano em que o
município contava com 65 produtores).
A produtividade obtida nos anos de 1996, 1997 e 1998 foi de 19,09, 18,55 e
25,86 ton.ha-1, respectivamente, representando cerca de 2,5% da produção
brasileira nesses anos, períodos em que todos os estados do sul impulsionaram a
produção de maçãs no Brasil (Figura 4). Fato este que pode ser justificado pelo
fenômeno El niño que ocorreu nestes anos e que ocasionou invernos mais frios e
chuvas constantes durante o enchimento dos frutos no sul do Brasil.

ISSN 2237-700X
184

Figura 4: Produção de maçãs no Brasil de 1973 a 2011. Fonte: Petri et al., 2011

As macieiras geralmente necessitam de no mínimo 700 mm de água, quanto


ao limite máximo, para que o manejo fitossanitário não fique comprometido, é
necessário que o volume de precipitações não ultrapasse o máximo de 1.700 mm
por ano.
O excesso de chuva na florada e a falta dela na formação dos frutos,
juntamente com a falta de luz solar fazem com que a produção seja muito
prejudicada, tendo em vista que os frutos possuem problemas de fecundação e
formação. As chuvas regulares durante o período de enchimento de frutos são
extremamente necessárias para a criação de reservas nos frutos, auxiliando na
absorção de nutrientes e na maior divisão de células de armazenamento,
responsáveis pelo crescimento dos frutos.
Quanto às chuvas no período de floração, se contínuas, comprometem
drasticamente a produtividade por diminuírem a polinização feita por abelhas, que
com as chuvas não conseguem trabalhar. Com a polinização comprometida as flores
não são fecundadas e não se tornam frutos.
A partir de 1999 observa-se novamente o aumento da área destinada à
cultura da macieira no município, devido principalmente as altas produtividades
alcançadas nos anos anteriores e a renovação de pomares. Esse aumento foi
gradativo até o ano de 2005, momento em que a cultura ocupava 1.000 ha, ou seja
0,72% da área agrícola municipal.

ISSN 2237-700X
185

Durante esses seis anos (1999 – 2005) a produtividade foi acima da média do
período (21,97 ton.ha-1), algo explicado pela densidade de plantio que passou de 500
a 800 plantas por ha, para 2.500 a 3.000 plantas por ha, em média, (Petri et al., 2011) e
condições de invernos frios com pouca chuva na florada.
Nos anos de 1999 e 2003 atingiu-se a marca de 35,20 e 23,42 ton.ha-1,
respectivamente. A elevada produtividade nesses anos deu-se em função das boas
condições climáticas do período, como frio hibernal sempre acima das 330 horas (Figura
5) e chuvas regulares durante o ano (Figuras 6 e 7).

Figura 5: Horas de frio hibernal no município de Palmas Paraná entre os anos de 1979 a
2016. Fonte: IAPAR, 2021.

Figura 6: Chuvas durante o período de florada em Palmas PR. Fonte: CIMEPAR, 2021.

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186

Figura 7: Chuvas durante o período de enchimento dos frutos em Palmas PR. Fonte: CIMEPAR,
2021.

Entre os anos de 2001 e 2004 observou-se oscilações em relação à produtividade


dos pomares que variou de 16,97 ton.ha-1 em 2001, para 18,24 ton.ha-1 em 2004, algo
comum na cultura da macieira, principalmente na variedade Fuji e seus clones. Esse
“comportamento” da planta é conhecido como “alternância de produção”, e ocorre
principalmente quando não é feito, ou mal executada a prática de raleio dos frutos,
fazendo com que a planta produza muito e no outro ano “descanse” (EPAGRI, 2016).
A partir de 2005 observa-se uma diminuição constante da área de produção da
cultura no município, bem como do número de produtores envolvidos na atividade. No
ano de 2010 já havia registrado um declínio de 52,86% da área plantada, bem como no
número de produtores que era de 34 pomicultores, reduzindo a área destinada a
macieiras para 422 ha em 2013 e 21 produtores de maçã cultivando 396 ha em 2017,
ano em que fora colhido 26,11 ton.ha-1 do fruto, cerca de 2 ton.ha-1 a mais do que a
média produzida nos primeiros anos do século XX. No ano de 2018, 280 ha de maçã
plantados estavam nas mãos de 15 produtores, e desses, grande parte foi renovado para
um melhoramento potencial de produção e genético das plantas, que alcançaram seu
potencial produtivo apenas no ano de 2020, portanto não tiveram um grande auxilio para
as marcas de produtividade naquele ano, que foram colhidas 20,87 ton.ha-1, uma
diminuição de 20% em relação ao ano passado. Esse decréscimo pode ser explicado,
em partes, pelas condições climáticas que variaram muito intensamente nas horas de frio

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187

e nas chuvas durante a florada, fazendo com que as macieiras perdessem qualidade de
produção, e necessitaram de maiores cuidados no manejo.

3 Considerações Finais

O cultivo da macieira em Palmas-PR vivenciou décadas de ascensão desde a sua


implantação, chegando a ocupar 1080 hectares de área plantada. Entretanto, a partir da
safra 2004/2005 ocorreu diminuição de áreas destinadas à cultura, que em 2018
correspondia a 180 hectares com produtividade média de 20,87 ton.ha-1. Os fatores
climáticos podem ter contribuído para a diminuição dos pomares ao longo das
décadas, mas acredita-se que os fatores determinantes para tal estejam ligados a fatores
mercadológicos e referentes a outros fatores de produção.

4 Agradecimentos

Agradeço ao IFPR pela oportunidade da bolsa de incentivo a pesquisa e a


professora Natasha Hamada pela confiança em meu trabalho.

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ISSN 2237-700X
189

ASSOCIAÇÃO ENTRE NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA E APTIDÃO


CARDIORRESPIRATÓRIA OBTIDA POR MEIO DE TESTES INDIRETOS

Jeziania Trautmann dos Santos (anii_trautmann11@hotmail.com)¹


João Alberto Rosa de Souza²
Diogo Bertella Foschiera (diogo.foschiera@ifpr,edu,br)3
1,2,3
Instituto Federal do Paraná

Resumo: Estudos anteriores indicam que quanto maior o nível de atividade física (NAF)
da pessoa, maior é sua aptidão cardiorrespiratória (AC) avaliada por testes laboratoriais.
Ao considerar que testes indiretos de AC (não laboratoriais) são mais viáveis para
diversos contextos profissionais (devido à acessibilidade e baixo custo), torna-se
importante investigar se a relação entre um maior NAF e melhores resultados de AC
também é observada quando a AC é avaliada por testes indiretos. Nesse sentido, o
presente estudo tem como objetivo analisar a associação entre o nível de atividade física
e a aptidão cardiorrespiratória de jovens adultos, obtida por meio de testes indiretos.
Trata-se de um estudo com delineamento transversal e quantitativo, realizado com 36
jovens adultos, de ambos os sexos, com idade média de 23,1±4,11. Como instrumentos
de coleta de dados foram utilizados o Questionário Internacional de Atividade Física
(IPAQ) – versão curta, para avaliar o NAF e o Teste Cooper de 12 Minutos, para avaliar a
AC. Os dados foram coletados no decorrer do segundo semestre de 2020. Em relação ao
NAF, 16,7% (n=6) dos participantes foram classificados como “insuficientemente ativos”,
61,1% (n=22) como “ativos” e 22,2% (n=8) como muito ativos. Em relação à AC, o grupo
“insuficientemente ativos” alcançou uma distância média de 1131,1±172,4 metros, o
grupo de “ativos“ um total de 1216,1±642,9 metros e o grupo de “muito ativos”
apresentou os melhores resultados, com um total de 1833,1±603,1 metros, diferindo-se
estatisticamente dos demais grupos (p<0,03). Nesse sentido, conclui-se que, para
apresentar melhoras estatisticamente significativas no teste indireto de AC, a pessoa
deve praticar atividade física de maneira bastante regular, sendo considerada “muito
ativa” quandoao seu NAF.

Palavras-chave: Saúde; Avaliação Física; Adultos; Cineantropometria.

Abstract: Previous studies indicate that the higher a person's level of physical activity
(LPA), the greater their cardiorespiratory fitness (CF) assessed by laboratory tests. When
considering that indirect CF tests (non-laboratory) are more viable for different
professional contexts (due to accessibility and low cost), it is important to investigate
whether the relationship between a higher LPA and better CF results is also observed
when the CF is evaluated by indirect testing. In this sense, the present study aims to
analyze the association between the level of physical activity and cardiorespiratory fitness
of young adults, obtained through indirect tests. This is a study with a cross- sectional and
quantitative design, carried out with 36 young adults, of both sexes, with a mean age of
23.1±4.11. As data collection instruments, the International Physical Activity Questionnaire
(IPAQ) – short version, was used to assess the LPA and the 12- Minute Cooper Test to
assess the CF. Data were collected during the second half of 2020. Regarding the LPA,
16.7% (n=6) of the participants were classified as "insufficiently active", 61.1% (n=22) as
"active" and 22.2% (n=8) as very active. Regarding CF, the "insufficiently active" group
reached an average distance of 1131.1±172.4 meters, the "active" group a total of
1216.1±642.9 meters and the "very active" group presented the best results, with a total of

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190

1833.1±603.1 meters, differing statistically from the other groups (p<0.03). In this sense, it
is concluded that, in orderto present statistically significant improvements in the indirect CF
test, the person must practice physical activity quite regularly, being considered “very
active” in relation to their LPA.

Keywords: Health; Physical Evaluation; Adults; Kinanthropometry.

1 Introdução

A literatura converge ao apontar que a atividade física é aspecto fundamental para


bons níveis de saúde (GUEDES; LOPES; GUEDES, 2005; OMS, 2014). Entendida por
qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que promove um
gasto energético maior do que o nível de repouso da pessoa (LIMA, 2011), a prática
regular de atividade física oferece vários benefícios à saúde. Dentre eles, o auxílio no
controle do peso corporal e da pressão arterial, a prevenção de várias doenças
cardiovasculares, a estabilização de doenças como o diabetes e a prevenção da
osteoporose (FARIAS et al., 2010; TOSCANO; OLIVEIRA, 2009).
Existem marcadores que avaliam o perfil da atividade física, classificando-os como
promotores ou debilitadores da saúde, como exemplo, o nível de atividade física(NAF), que
quantifica a atividade física diária e/ou semanal da pessoa (SILVA et al., 2012). Um outro
exemplo de marcador da atividade física é a aptidão cardiorrespiratória (AC),
caracterizada como um apontador da capacidade de os sistemas cardiovascular e
respiratório fornecerem oxigênio para o organismo, quando este realiza uma atividade ou
exercício físico continuado (NETO; LEON; FARINATTI, 2008). Baixos NAF e de AC estão
associados a menores índices de saúde e qualidade de vida das pessoas, visto que, estes
marcadores estão diretamente ligados às mudanças cardiometabólicas e doenças
adquiridas ao longo da vida (LIMA, 2011; RODRIGUES et al., 2007).
Para avaliar o NAF é comum o uso de medidas indiretas, como por exemplo, o
Questionário Internacional de Atividade Física – IPAQ (MATSUDO et al., 2001), onde o
avaliado auto reporta seu NAF. É uma forma bastante simples, viável e mundialmente
utilizada para verificar o NAF (BENEDETTI et al., 2007; SILVA et al., 2007). Em relação
à AC, as medidas diretas, que utilizam testes fisiológicos de laboratório, apresentam
os resultados mais exatos (VENÂNCIO et al., 2018). Nesse sentido, testes como a
espirometria são comumente utilizados no âmbito esportivo e de saúde. No teste, a
2
pessoa sopra um bocal ligado ao espirômetro, que fara a medição do VO max,
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191

representando o consumo máximo de oxigênio (BRITO et al., 2017; MATSUDO et al.,


2001).
Outras possibilidades para a avaliação da AC são os testes indiretos. De fácil
aplicação, baixo custo e geralmente utilizados para aplicação em grandes grupos, pois não
precisam de um local especifico para os procedimentos, pois podem ser adaptados
conforme indicado no respectivo protocolo utilizado (FREIRE et al., 2014; REBELO et al.,
2002). Um exemplo de teste indireto é o teste Cooper de 12 minutos, bastante utilizado
para avaliação do nível de AC das pessoas (DUARTE et al., 2008; PEREIRA et al.,
2008).
Estudos anteriores apontam que maiores níveis AC podem decorrer de um maior
NAF (GUEDES; LOPES; GUEDES, 2005; BRITO et al., 2017). Na medida em que a
pessoa apresenta uma maior quantificação diária de atividade física, a tendência é de
que obtenha melhores resultados de AC em testes laboratoriais (BRITO et al., 2017;
MELO et al., 2016). Nesse sentido, levanta-se no presente estudo o questionamento sobre
se os níveis de AC apontados por testes indiretos também variam de acordo com o NAF
da pessoa avaliada.
Investigar essa relação no âmbito dos testes indiretos não laboratoriais, devido ao
seu baixo custo, torna-se importante (KRAUSE et al., 2007). Nesse sentido, o presente
estudo tem o objetivo de analisar a associação entre o NAF e a AC de jovens adultos,
obtida por meio de testes indiretos. Ao considerar sobre o relacionamento associativo
entre as duas variáveis já ter sido identificado em estudos com testes diretos de
avaliação da AC (GUEDES; LOPES; GUEDES, 2005), hipoteniza-se que, quanto melhor
o NAF, maiores os níveis de AC obtida nos testes indiretos.

2 Material e Métodos

Delineamento e Métodos de Pesquisa

O estudo se caracteriza como de campo, com delineamento transversal e


abordagem quantitativa dos dados (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012). O
recrutamento foi realizado durante 30 dias, por meio da divulgação do estudo e dos
convites feitos verbalmente no local de pesquisa. Os participantes que manifestavam
interesse em participar do estudo foram contatados para agendamento da coleta de
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192

dados, a qual ocorreu em quatro diferentes datas, no decorrer do segundo semestre de


2020. Em cada dia de coleta de dados, foi realizado o seguinte processo: I) os
procedimentos de coleta de dados eram novamente apresentados aos participantes; II)
em seguida, eram direcionados à quadra coberta, onde realizavam o Teste de Cooper de
12 minutos. Ao final do teste, o aplicador informava a metragem percorrida para cada
participante; III) por fim, os participantes responderam ao questionário sociodemografico
e ao IPAQ por meio do formulário eletrônico.

População e Amostra

O presente estudo avaliou 36 adultos, de ambos os sexos. A amostra foi


constituída por frequentadores de uma academia de musculação de um município do
sudoeste do Paraná. O local da pesquisa foi determinado de maneira intencional, por
conveniência, por ser um local frequentado por pessoas que praticam atividade física
regularmente e estariam aptas a realizar o teste de AC. A amostra foi constituída por
adultos, sem nenhum tipo de doença crônica, comorbidade ou limitação física que
impedisse a participação no estudo. Não houveram exclusões de participantes. O
presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Federal do
Paraná – IFPR, por meio do parecer Nº 3.931.135.

Instrumentos de Coleta de Dados

Foram utilizados três instrumentos para coleta de dados. As características


descritivas da amostra foram identificadas por meio de um questionário
sociodemográfico, no qual os participantes informavam seus dados individuais (nome,
idade, sexo). Para avaliar o NAF foi utilizado o Questionário internacional de atividade
física – IPAQ, na sua versão reduzida (MATSUDO et al., 2001). O instrumento é
constituído por oito questões acerca das atividades físicas realizadas pela pessoa nos
últimos sete dias. A partir dos resultados (em minutos) de cada tipo de atividade física, a
pessoa avaliada é classificada como muito ativa, ativa, irregularmente ativa (A ou B) ou
sedentária.
Para avaliar a AC foi utilizado o Teste de Corrida/Caminhada de Cooper de 12
minutos (COOPER, 1968). Durante o teste a pessoa avaliada deve correr/caminhar sem
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193

parar, em uma área em formato retangular durante 12 minutos. A área utilizada neste
estudo foi de 28m X 15m. O seu resultado é medido em metros, a partir da distância
percorrida durante o tempo estipulado. A AC da pessoa avaliada é classificada como
muito fraca, fraca, media, boa ou excelente (Venâncio et al., 2018). O questionário
sociodemográfico e o IPAQ foram inseridos em um formulário eletrônico para coleta de
dados. A metragem alcançada no teste de Corrida/Caminhada de Cooper também foi
incluída no mesmo formulário eletrônico.

Tratamento de Dados

O formulário eletrônico de pesquisa alimentou automaticamente planilhas do


programa Microsoft Excel® 2016, as quais foram posteriormente exportadas ao programa
Statistical Package Social Sciences (SPSS®) para análise estatística. Alguns
procedimentos foram realizados no banco de dados para viabilizar a análise estatística.
Quanto ao NAF, a amostra foi categorizada em cinco grupos a partir dos critérios
do IPAQ. Posteriormente, os participantes classificados como sedentários e
insuficientemente ativos (A e B) foram reunidos em um único grupo, denominado
“insuficientemente ativos”. Desse modo, a amostra foi categorizada em três grupos
(insuficientemente ativos, ativos e muito ativos).
Quanto à AC, dos 36 participantes do estudo, 31 foram classificados como “AC
fraca”, inviabilizando a análise estatística dos demais grupos. Nesse sentido, durante a
análise dos dados optou-se por considerar a distância percorrida (em metros) por cada
participante no teste de AC. Desse modo, o NAF foi incluído na análise de dados como
uma variável categórica (insuficientemente ativos, ativos e muito ativos) e a ACcomo uma
variável contínua (em metros).

Análise de Dados

A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste Shapiro-Wilk. A partir da
distribuição não normalizada dos dados, o teste Kruskal-Wallis foi utilizado para avaliar
as diferenças de metros percorridos no teste de AC entre os grupos do estudo. A correção
post hoc de Bonferroni foi utilizada para testar par-a-par as diferenças de metragem entre
cada um dos grupos. Um nível de significância de p<0,05 foi utilizadoem todos os testes.
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194

3 Resultados

De acordo com os 36 adultos avaliados, sendo 61,1% (n=22) do sexo feminino e


38,9% (n=14) do sexo masculino, com idade média de 23,1±4,11 anos.
Obteve-se em relação ao NAF, 16,7% (n=6) participantes foram classificados
como insuficientemente ativos, 61,1% (n=22) como ativos e 22,2% (n=8) como muito
ativos. Em relação à AC, 86,1% da amostra (n=31) apresentou AC fraca, 5,6% (n=2)
apresentou AC muito fraca, 2,8% (n=1) apresentou AC média e 5,6% (n=2) apresentou
AC excelente. Em média, os participantes alcançaram 1339,1±630,6 metros no teste de
AC. As médias de metros percorridos por cada grupo são apresentadas na Figura 01.

Figura 01 – Média de metros percorridos por cada grupo no teste de aptidão cardiorrespiratória (n=36).
Fonte: dados da pesquisa.

O grupo de muito ativos percorreu a maior distância em metros (1833,1±603,1),


diferindo-se estatisticamente dos demais grupos (p<0,01). O grupo de ativos percorreu,
em média, 1216,1±642,9 metros. O grupo de insuficientemente ativos percorreu a

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195

menor distancia em metros (1131,1±172,4), não diferindo estatisticamente do grupo de


ativos (p>0,05). O teste de Kruskal-Wallis confirmou a diferença estatisticamente
significativa entre os grupos (K=10,098; p=0,006) e a correção post hoc de Bonferroni
apontou o grupo de muito ativos como o único estatisticamente diferente dos demais
(p<0,03). A Figura 02 apresenta a comparação par-a-par da metragem percorrida entre
os grupos de estudo no teste de AC.

Figura 02 – comparações par-a-par, a partir da correção post hoc de Bonferroni, da metragem


percorrida por cada grupo (n=36).
Legenda: = pares estatisticamente iguais; = pares estatisticamente diferentes; *=diferença
estatisticamente significativa.
Fonte: dados da pesquisa

4 Discussão

O presente estudo teve como objetivo analisar a associação entre o NAF e a AC


de jovens adultos, obtida por meio de testes indiretos. Os principais achados do estudo
indicam que: I) a maior parte da amostra do estudo foi categorizada como ativos ou muito
ativos, quanto ao NAF; II) a maioria da amostra apresentou uma AC fraca, com distância
média percorrida de 1339,1±630,6 metros e; III) foram observados aumentos da
metragem percorrida no teste de AC a partir de melhores classificações no NAF,
entretanto, apenas o grupo de muito ativos diferenciou-se estatisticamente dos demais
grupos do estudo.
A maioria dos participantes do estudo foi classificada como ativo ou muito ativo em
relação ao NAF, ou seja, a maioria dos participantes realizam atividade física em
quantidades recomendadas para se obter uma boa saúde (OMS, 2014). Estudos
anteriores, realizados com estudantes universitários (CIESLAK et al., 2012) e
adolescentes (BRITO et al., 2017), também apontaram a maioria da amostra como ativa
ou muito ativa, corroborando com os dados do presente estudo. De acordo com Santos et
al. (2020), há uma tendência de cada vez mais um número maior de adolescentes e
adultos jovens levarem uma vida mais ativa, buscando uma melhor qualidade de vida e
também melhorias na estética corporal, o que pode justificar a semelhança entre os
resultados do presente estudo com os anteriormente citados.
Os 1339,1±630,6 metros percorridos, em média, pela amostra do presente
estudo indicam que a maioria dos participantes apresenta uma AC fraca, a qual pode

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196

representar riscos à saúde. Em estudo desenvolvido com árbitros da Confederação de


Futebol do Paraná, foi alcançada uma distância média de 2842,2±204,7 metros no mesmo
teste (SILVA; AÑEZ; ARIAS, 2004), resultado bastante superior ao do presente estudo.
De acordo com Rebelo et al. (2002), os árbitros de futebol precisam de uma ótima AC
para acompanhar todas as ações de uma partida. Já o grupo avaliado no presente
estudo praticava regularmente a musculação, ou seja, exercícios anaeróbicos na maior
parte do tempo, o que tende a não desenvolver uma AC superior (OLIVOTO; NEUMANN,
2005), podendo justificar a discordância entre os resultados. Na medida em que os
participantes apresentaram um maior NAF, alcançaram maiores metragens no teste de
AC, indicando que ocorre um processo associativo entre as duas variáveis. Quanto a
esta associação, há divergência de resultados em estudos anteriores (KRAUSE et al.,
2007; BRITO et al., 2017). É fundamental destacar que, no presente estudo, embora os
grupos com maior NAF tenham percorrido uma metragem maior no teste de AC, apenas
o grupo de muito ativos alcançou metragem estatisticamente superior aos demais.
Sugerindo desse modo que, para um melhor nível AC a pessoa deve alcançar o nível
muito ativo de NAF. Nesse sentido, torna-se fundamental a busca por altos níveis de
atividade física, os quais podem auxiliar no aumento da AC e, por consequência, na
melhora ou manutenção da saúde (SILVA et al., 2012; PEREIRA et al., 2008).
Embora o estudo apresente resultados interessantes acerca da discussão sobre o
relacionamento entre NAF e AC, algumas limitações metodológicas precisam ser
apontadas. Uma vez que, 86,1% da amostra (n=31) apresentou o mesmo nível de AC
(fraca), não foi possível viabilizar a análise estatística por meio da classificação do teste
Cooper de 12 minutos. Nesse sentido, foram considerados os metros percorridos por cada
participante no momento da análise de dados, o que pode gerar algum viés nos
resultados. Também é importante destacar o viés de memória, inerente a qualquer estudo
que utilize ferramentas recordatórias, como o IPAQ.
É igualmente importante destacar a relevância do estudo para a população,
trazendo dados sobre aspectos que influenciam na saúde e qualidade de vida das
pessoas. Do mesmo modo, investigar instrumentos mais acessíveis ao uso de
profissionais ligados à prática da atividade física e saúde pode contribuir, tanto para a
promoção da utilização dessas ferramentas, como para novas perspectivas de pesquisa.

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197

5 Considerações Finais

Este estudo teve por objetivo analisar a associação entre o NAF e a AC de jovens
adultos, obtida por meio de testes indiretos. A expectativa à priori era de que quanto
melhor o NAF, maiores os níveis de AC dos testes indiretos. Os principais resultados
indicaram que, conforme o NAF do avaliado aumentava, aumentavam também os metros
percorridos no teste de AC. Entretanto, apenas o grupo de muito ativos percorreu uma
metragem estatisticamente superior aos demais grupos. Nesse sentido, a hipótese do
estudo foi parcialmente confirmada.
Dada a importância do NAF e da AC para a saúde e qualidade de vida, conduzir
novas investigações acerca dessas variáveis torna-se importante. Do mesmo modo,
investigar os testes indiretos é importante, visto que podem ser muito uteis na atuação do
profissional de Educação Física, uma vez que possuem baixo custo e podem ser
facilmente aplicados em grandes grupos.

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ISSN 2237-700X
200

CARACTERIZAÇÃO DE ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO EM DOIS


ASSENTAMENTOS DO MUNICÍPIO DE PALMAS-PR

Maria Gabriela Kirsch de Ramos (gabrielakramos@gmail.com) ¹


Adenor Vicente Wendling 2
Kayn Eduardo de Souza Bastiani3
Rejane Escrivani Guedes (rejane.guedes@ifpr.edu.br) 4
1,2,3,4 Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

Resumo: Ao avaliar a fertilidade do solo de dois assentamentos no em Palmas/PR, a


partir de 61 amostras de 27 estabelecimentos agropecuários, concluiu-se que, de forma
geral, os solos dos assentamentos estudados necessitam de correção da acidez para
atingir a saturação por bases considerada adequada para o desenvolvimento das
espécies agrícolas cultivadas. Além disso, verificou-se que, das áreas que receberam
calcário nos últimos 10 anos, 50% são destinadas para olericultura.

Palavras-chave: agricultura familiar, fertilidade, calagem.

Abstract: This research evaluated the soil fertility of two settlements in Palmas/PR, from
61 samples from 27 agricultural establishments, it was concluded that, in general, the
soils of the settlements studied need acidity correction to reach base saturation
considered suitable for the development of cultivated agricultural species. In addition, it
was found that, of the areas that received limestone in the last 10 years, 50% are
destined for vegetable production.

Keywords: family farm, fertility, liming.

1 Introdução

O município de Palmas/PR possui alguns assentamentos da reforma agrária


dentre eles estão o Assentamento Margem do Iratim e o São Lourenço, ambos criados no
ano de 1999. Esses dois assentamentos representam cerca de 20% dos total de
estabelecimentos agropecuários e aproximadamente 40% dos estabelecimentos da
agricultura familiar do município (IBGE, 2017). Apesar do longo tempo já assentados, a
maioria desses agricultores enfrenta inúmeras dificuldades para viabilizar o
estabelecimento e obter renda suficiente para sustentar uma família, dentre elas podem
ser citadas a distância do centro urbano/consumidor, que dificulta o escoamento da
produção, e falta de assistência técnica, que acaba fazendo com que esses agricultores
tenham que tomar decisões como correção do solo e adubação das culturas por conta
própria.

ISSN 2237-700X
201

Nos últimos anos, algumas famílias de assentados associaram-se à Associação


dos Produtores Orgânicos de Palmas/PR (APROPAL) e iniciaram a produção de
hortaliças orgânicas (principalmente tomate). No entanto, segundo relatos de alguns
produtores assentados, apesar desta iniciativa estar dando bons resultados, eles
enfrentam limitações em virtude da falta de conhecimentos técnicos e de alternativas
para o período da entressafra do tomate. Considerando isso, observou-se que uma das
principais dificuldades, nesse aspecto, está relacionada com as condições de manejo do
solo e adubação. Para que eles possam fazer um planejamento da produção agrícola,
seja qual for, é necessário conhecer as características climáticas e do solo. As
características climáticas são acessíveis e disponibilizadas pelo IAPAR ou outros
institutos especializados. Porém, para conhecer as características específicas dos solos
e assim estabelecer as condições adequadas de fertilidade para a produção, é
necessário que se faça a análise química do solo, a partir de amostragens, em locais
estratégicos da propriedade, para que seja possível realizar as correções necessárias ao
bom desenvolvimento e boa produtividade das culturas. Nesse sentido,
operacionalização dessa recomendação se caracteriza como a principal dificuldade para
os agricultores desses assentamentos.
Este trabalho teve por objetivo avaliar a situação da acidez do solo e seu manejo
nos assentamentos Margem do Iratim e São Lourenço, a partir de amostras coletadas em
diversas propriedades.

2 Materiais e Métodos

O trabalho foi desenvolvido nos Assentamentos Margem do Iratim e São Lourenço,


ambos localizados no município de Palmas/PR, entre os anos de 2020 e 2021. Os solos
desses assentamentos são classificados como Cambissolo Háplico distrófico e Neossolo
litólico distro-úmbrico (Embrapa Solos, 2020). Foram coletadas 61 amostras de solo
divididas em 27 propriedades, pela técnica de amostragem não probabilística intencional.
As amostras foram coletadas na profundidade de 0 a 0,20 cm, trado tipo holandês, com
10 subamostras por amostra composta. Todas as 61 amostras de solo coletadas foram
secas ao ar livre e analisadas no laboratório de solos da IFPR em Palmas para
determinação de: pH, Ca e Mg, P e K. O método utilizado para avaliação dos atributos

ISSN 2237-700X
202

químicos está descrito em (EMBRAPA, 2009), e está especificado a seguir. O Ca e Mg


foram extraídos pelo método KCl e determinados pelo método de espectrofotometria. A
extração de P e K foi realizada com solução de Mehlich-1. A determinação da
concentração de P foi em Spectrophotometer V-1600, segundo (MURPHY, RILEY, 1962),
e de K foi em fotômetro de chama.
Juntamente com as amostras de solo foram coletados dados referentes à
localização de cada amostra, uso do solo em cada ponto de coleta e safra da última
aplicação de calcário. Para classificar as culturas foram utilizados os nomes comuns das
espécies cultivadas, no caso das lavouras uniformes e para áreas de uso diversificado foi
necessário agrupá-las conforme suas finalidades como, por exemplo, olericultura,
pastagem e pomar. As épocas da última calagem das áreas foram utilizadas como
parâmetro para comparação das informações.
As análises estatísticas foram realizadas através do t.test, considerando que há
diferença entre as médias quando p<0,10.

3 Resultados e discussão

Os resultados das análises do solo apresentados na Tabela 1 mostram que pH


médio das amostras está na classe “médio” , segundo CBCS (2017). No entanto, das 61
amostras, 26 amostras estão com seu pH na classe “baixo” ou “muito baixo”, pH este
tolerado apenas para as culturas de eucalipto, Pinus spp. e erva-mate. A maioria das
culturas necessita de um pH entre 5,0 a 5,5 para o seu adequado desenvolvimento.
Outras, como grande parte das olerícolas, necessita de pH entre 5,6 a 6,0.

Tabela 1 - Médias dos resultados das análises dos solos dos assentamentos São Lourenço e
Margem do Iratim. Palmas, 2021.
3+
pH V% CTCpH7 Al H+Al m(%)

Média 4,61 28 21,0 2,9 15,4 0,32

Mediana 4,55 24 20,8 1,3 15,1 0,19

Desvio Padrão 0,7 19,7 4,6 3,2 6,3 0,3


Legenda: pH= pH em CaCl2; V%= Saturação por bases; CTCpH7 = Capacidade de troca de
-3
cátions a pH 7,0; Al = Alumínio (cmolcdm ; m(%) = Saturação por alumínio.
Fonte: Os autores.

ISSN 2237-700X
203

No Paraná, se usa a saturação de bases (V) como critério para calcular a


necessidade de calcário (SBCS, 2017). Com situação equiparada ao pH, a média da V
das amostras é de 28%. A maioria das culturas agrícolas responde adequadamente com
a V acima de 51%, sendo que a maioria das olerícolas necessita de uma V acima de
71%, o que equivale ao pH 5,6.
Para comparar o efeito da aplicação de calcário nas propriedades químicas do
solo, as amostras foram separadas em dois grupos: o grupo “sem calcário” das áreas em
que não houve aplicação de calcário nos últimos 10 anos; e o grupo “com calcário", com
as amostras onde houve aplicação de calcário nos últimos 10 anos.
Entre as amostras avaliadas (Tabela 2), 39 receberam calcário nos últimos 10
anos, e as outras 22 não receberam calcário neste período. Os resultados das análises
apresentaram diferenças para V% (p = 0,08), m% (p = 0,09) e H + Al (p=0,05), mas não
houve diferença para o pH e CTC, entre as amostras que receberam e as que não
receberam calcário.

Tabela 2 - Resultado de pH, V, CTCpH7 e número de amostras de acordo com a época da última
calagem nas amostras coletadas nos assentamentos São Lourenço e Margem do Iratim, Palmas, PR.
Calagem Nº amostras pH V% CTCpH7 m% H+Al

Sem calcário 22 4.53 22.72 22.06 41,16 17.47

Com calcário 39 4,65 31,65 20,42 26,51 14.23

Valor do p 0.53 0.08 0.20 0.09 0.06


Legenda: com calcário: áreas que receberam calcário nos últimos 10 anos; sem calcário: áreas que não
receberam calcário. pH= pH em CaCl2; V%= Saturação por bases; CTCpH7 = Capacidade de troca de
-3
cátions a pH 7,0; m(%) = Saturação por alumínio; Al = Alumínio (cmolcdm ).
Fonte: Os autores.

A correção da acidez, através da aplicação do calcário, eleva o pH, a soma de


bases e a V, e diminui o H + Al do solo. A duração do efeito da correção ainda nãofoi
muito estudada, mas, como pode ser observado no estudo de Ciotta et al (2004), pode
ser de até 12 anos. Esses resultados evidenciam que a aplicação do calcário não
“corrigiu” o solo, e indicam que pode ter havido um descuido na sua aplicação tanto na
subdosagem, quanto na sua incorporação.
Para verificar se a aplicação do calcário realizada nos últimos 10 anos tem algum
efeito sobre a necessidade de calcário (NC), foi calculado a NC através da equação (NC

ISSN 2237-700X
204

= (V2 - V1)*CTC a pH 7,0).


Verifica-se que há uma diferença (p = 0,05) entre a NC para as amostras“sem
calcário” (NC = 13,1 t/ha) e as “com calcário” (NC = 10 t/ha) (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Necessida e de calcário de acordo com a calagem anterior nos solos dos
assentamentos São Lourenço e Margem do Iratim.
Fonte: Os autores.

Este resultado mostra que o uso do calcário, apesar de não ter apresentado
eficiência na diminuição d pH e da CTC, diminuiu a necessidade de calagem para corrigir
o solo, de acordo com as análises realizadas neste ano.
A respeito dos objetivos da aplicação do calcário, os dados de utilização do solo
foram agrupados pela cultura atualmente implantada em cada área. Na Tabela 3 é
possível observar a relação entre as épocas de calagem e o tipo de cultivo da área.

ISSN 2237-700X
205

Analisando os dados, é possível notar que, dentre as áreas em que a


aplicação de calcário foi realizada na safra passada, cerca de 55% correspondem
à produção olerícola. Pode-se relacionar esse resultado à importância econômica
desse tipo de cultura nas propriedades pois, na maioria dos casos, a olericultura é
a principal fonte de renda desses agricultores.

Uma hipótese que justifica a aplicação do calcário nessas áreas pode ser
atribuída ao incentivo a este tipo de cultura por parte da APROPAL, visto que a
maioria desses assentados participam desta associação. Entretanto, apesar da
calagem ter sido realizada, pode-se afirmar que a correção do solo foi feita de
forma ineficiente e isso pode estar relacionado à falta de conhecimento técnico,
tanto para o cálculo da necessidade de calagem quanto para a conversão desses
números conforme o calcário disponível para uso.

A respeito das demais respostas, não é possível determinar se existe


alguma relação entre a época da calagem e o tipo de produção da área.

4 Considerações Finais

De forma geral, os solos dos assentamentos São Lourenço e Margem do


Iratim necessitam de correção da acidez para atingir a saturação por bases (V)
considerada adequada para o desenvolvimento da maioria das espécies agrícolas.
Além disso, a olericultura foi a atividade para a qual mais foi aplicado calcário,
porémainda em quantidades abaixo da indicada.

5 Agradecimentos

Aos assentados que colaboraram na coleta dos dados, especialmente ao


Adelar da Silva, que auxiliou consideravelmente na coleta das amostras de
solo.
Ao professor Jessé Rodrigo Fink e ao discente do curso de Agronomia Kayn
Eduardo de Souza Bastiani pela realização das análises de solo.
Este projeto foi contemplado pelo Edital Unificado das Ações de Extensão n.
06/2020 - PIBEX Graduação Fundação Araucária, da Proeppi.
ISSN 2237-700X
206

Referências

CIOTTA, M. N. et al. Manejo da calagem e os componentes da acidez de


Latossolo Bruno em plantio direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 28,
n. 2, p. 317– 326, 2004.

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Shapefile disponível < em
http://geoinfo.cnps.embrapa.br/layers/geonode%3Aparana_solos_20201105#more
acesso em 23/09/2021.

EMBRAPA. Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes. 2.


ed. rev ed. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Rio de Janeiro:
Embrapa Solos, 2009.

IBGE. Censo Agropecuário 2017.


https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-
catalogo?view=detalhes&id=298009>. Acesso em: 27 de set. de 2021.

MURPHY, J. & RILEY, J.P. A modified single solution method for the
determination of phosphate in natural waters. Analytica Chimica Acta, Oxford, v
27, p. 31-36, 1962.

ISSN 2237-700X
207

CLASSIFICAÇÃO AUTOMÁTICA DE LESÕES DE PELE UTILIZANDO REDES


NEURAIS CONVOLUCIONAIS: UM GUIA EDUCACIONAL

Felipe Zago Rodrigues (felipezago123@gmail.com)¹


Lucca Almeida Sousa Rocha (lucca.xt@outlook.com)²
Andréia Marini (andreia.marini@ifpr.edu.br)
1,2,3
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR)

Resumo: O presente trabalho utiliza métodos de Aprendizado de Máquina para


entender e implementar a classificação de lesões de pele por meio de técnicas de
Aprendizado Profundo. Foram estudados alguns métodos de Aprendizado de
Máquina, juntamente com as suas configurações para realização de um estudo
experimental aplicado a classificação de imagens dermatoscópicas. Os resultados
experimentais foram obtidos por meio do conjunto de dados HAM10000 (Skin
Cancer MNIST: HAM10000) divulgado em 2018. Duas arquiteturas de Redes
Neurais Convolucionais (CNN) foram utilizadas para realização do processo de
classificação de lesões de pele. Diferentes experimentos foram conduzidos, sendo
que dois mais relevantes são relatados neste artigo. O primeiro experimento utilizou
uma CNN proposta na literatura e definida como arquitetura LeNet. O segundo
experimento foi conduzido utilizando a CNN proposta pela arquitetura Resnet18. Os
resultados foram reportados em relação ao conjunto de teste e são detalhados para
a execução de 20,50 e 70 épocas. A métrica utilizada para avaliação dos resultados
foi a acurácia. Os resultados obtidos são promissores mostrando que podemos
utilizar CNN para auxiliarno problema de classificação automática de lesões de pele
o que nos motiva ainda mais para trabalhos futuros. A principal contribuição desse
trabalho é a apresentação de Guia Educacional aos interessados em iniciar seus
estudos em Aprendizagem e Máquina ou problemas que envolvem classificação
automática de lesões na pele.

Palavras-chave: Câncer de pele, Imagens dermatoscópicas, Rede Neural


Convolucional, Conjunto de dados HAM10000.

Abstract: The present work uses Machine Learning methods to understand and
implement the classification of skin lesions through Deep Learning techniques.
Some Machine Learning methods were studied, along with their configurations to
carry out an experimental study applied to the classification of dermoscopic images.
The experimental results were obtained using the HAM10000 dataset (Skin Cancer
MNIST: HAM10000) released in 2018. Two Convolutional Neural Network (CNN)
architectures were used to carry out the process of classification of skin lesions.
Different experiments were carried out, two of which are more relevant are reported
in this article. The first experiment used a CNN proposed in the literature and
defined as LeNet architecture. The second experiment was conducted using the
CNN proposed by the Resnet18 architecture. The results were reported against the
test set and are detailed for running 20, 50 and 70 epochs. The metric used to
evaluate the results was accuracy. The results obtained are promising, showing that
we can use CNN to help with the problem of automatic classification of skin lesions,
which motivates us even more for future work. The main contribution of this work
is the presentation of an Educational Guide to those interested in starting their
ISSN 2237-700X
208

studies in Learning and Machine or problems involving automatic classification of


skin lesions.

Keywords: Skin cancer, Dermatoscopic Images, CNN, HAM1000 dataset.

1 Introdução

Nos últimos anos, várias técnicas têm sido desenvolvidas e testadas visando
encontrar resultados melhores para sistemas que fazem uso de Inteligência Artificial
(IA). Tais sistemas também têm sido incorporadas à medicina para melhorar o
atendimento ao paciente, acelerando os processos e alcançando maior precisão,
abrindo o caminho para fornecer cuidados de saúde em geral. Imagens
radiológicas, slides de patologia e registros médicos eletrônicos dos pacientes
estão sendo avaliados por Aprendizado de Máquina, auxiliando no processo de
diagnóstico e tratamento de pacientes e aumentando as capacidades dos médicos
(MINTZ; BRODIE, 2019).
Os sistemas de detecção e diagnóstico auxiliados por computador - CAD (do
inglês Computer Aided Diagnosis/detection) podem ajudar os médicos a detectar
câncer de pele nos estágios iniciais. Além disso, sistemas portáteis e aplicativos
fornecem informações que podem atuar como sinais de alerta, levando a detecção
precoce de lesões de pele (GIGER; CHAN; BOONE, 2008). Ao longo do tempo,
diferentes pesquisadores buscaram criar sistemas de detecção de lesões de pele
usando técnicas de Aprendizado de Máquina (do inglês Machine Learning).
Avanços recentes permitiram o desenvolvimento de algoritmos onde são utilizados
em inúmeras aplicações na área da dermatologia (ESTEVA; KUPREL, 2017).
Métodos de Aprendizado de Máquina têm sido aplicados para classificação de
diferentes modalidades de imagens médicas, inclusive na dermatologia, utilizando
uma variedade de atributos, para diversas doenças e ferramentas. Entretanto, entre
as áreas da Inteligência Artificial, o Aprendizado Profundo (do inglês Deep
Learning) é a que vem ganhando mais atenção na comunidade científica.
Buscando um avanço na detecção precoce de câncer de pele, a Inteligência
Artificial tornou-se um tópico de pesquisa progressivamente prevalente na medicina

ISSN 2237-700X
209

e está sendo cada vez mais aplicada à dermatologia. Para tanto, é necessário
entender o progresso dessas tecnologias para ajudar a orientar e moldar o futuro
dos profissionais atuantes e na assistência médica. Dessa forma, o estudo da
eficácia dessas tecnologias emergentes é importante para entender como os
algoritmos são desenvolvidos e como se comportam, podendo assim examiná-los,
explorando possíveis desafios.
A contribuição científica desse artigo é a análise de algumas ferramentas e
técnicas utilizadas na implementação de soluções que envolvem Aprendizado de
Máquina e conjuntos de dados, destacando sua necessidade e importância na
construção de sistemas de classificação automática de lesões de pele. Também
será relatada os estudos e procedimentos executados para desenvolvimento de um
Guia Educacional para classificação automática de lesões de pele.

2 Material e Métodos

Estudo do conjunto de dados

O conjunto de dados HAM10000 consiste em 10015 imagens dermatoscópicas


e um arquivo de metadados com informações dermográficas de cada lesão que são
lançadas como um conjunto de treinamento para fins de Aprendizado de Máquina.
As 10015 imagens dermatoscópicas do conjunto HAM10000 foram coletadas
por um período de 20 anos, em simultâneo pelo departamento de Dermatologia da
Universidade Médica de Viena, na Áustria, e do consultório do Dr. Cliff Rosendahl e
a Escola de Medicina da Universidade de Queensland, Austrália (TSCHANDL;
ROSENDAHL; KITTLER, 2018). O conjunto HAM10000 é composto por 7 classes:
NV: Nevos Melanocítticos – 6705 imagens; Mel: Melanoma – 1113 imagens; Bkl:
Ceratose – 1099 imagens; Bcc: 514 imagens; Akiec: Ceratose Actínicas – 327
imagens; Dif: Dermatotofibroma – 115 imagens. A Figura 1 apresenta algumas
imagens que fazemparte do conjunto de dados.

ISSN 2237-700X
210

Figura 01 – Imagens pertencentes ao conjunto de dados HAM10000.


Fonte: Os autores. Retirado do Jupyter Notebook criado como guia educacional.

Estudo das Redes Neurais Convolucionais

As Redes Neurais Convolucionais (CNN) emergiram do estudo do córtex visual


do cérebro e têm sido utilizadas no reconhecimento de imagens desde os anos
1980.Nos últimos anos, graças ao aumento do poder computacional, a quantidade de
dados de treinamento disponível para treinamento de redes profundas, as CNNs
conseguiram alcançar um desempenho sobre-humano em algumas tarefas visuais
complexas (GÉRON, 2017).
Rede Neural Convolucional (do inglês convolutional neural network) pode ser
entendida como um tipo de Rede Neural Artificial desenvolvida para requisitar o
mínimo pré-processamento possível. Esse é o método de aprendizado profundo
que ganhou muita atenção da comunidade científica nos últimos tempos (SATYAM;
SAIADITYA; SANU, 2020).

ISSN 2237-700X
211

Listagem dos Softwares

Listagem de configurações de software utilizados no desenvolvimento do


trabalho: Anaconda1 é uma inciativa de distribuição gratuita que tem como objetivo
agregar as principais ferramentas para análise de dados e Aprendizagem de
Máquina; A linguagem de programação utilizada foi o Python2; IDE Spyder3 é um
poderoso ambiente científico escrito em Python, para Python e projetado por e para
cientistas, engenheiros e analistas de dados; Jupyter Notebook4 é um aplicativo da
web de código aberto que permite criar e compartilhar documentos que contêm
código ativo, equações, visualizações de texto narrativo; PyTorch5 é uma biblioteca
de Aprendizado de Máquina de código aberto baseada na biblioteca Torch; Pandas6
é um pacote Python que fornece estruturas de dado rápidas, flexíveis e expressivas
7
projetadas para tornar o trabalho com dados estruturados; MatPlotLib é uma
biblioteca abrangente para a criação de visualizações estáticas, animadas e
interativas em Python; Scikit Learn8 ou sklearn é uma biblioteca de Aprendizado de
Máquina de software livre para a linguagem de programação Python; NumPy 9 é o
pacote fundamental para computação científica em Python; ImageIO 10 é uma
biblioteca Python que fornece uma interface fácil para ler e gravar uma ampla
variedade de dados de imagem; Seaborn 11 é uma biblioteca de visualização de
dados Python baseada em matplotlib; Python Imaging Library 12 (abreviado para
PIL) é uma biblioteca da linguagem de programação Python; CUDA Toolkit1313 é
um recurso da NVIDIA, que fornece um ambiente de desenvolvimento para a
criação de aplicativos acelerados por GPU.
1
Disponível em: https://anaconda.org/
2
Disponível em: https://www.python.org/
3
Disponível em: https://www.spyder-ide.org/
4
Disponível em: https://jupyter.org/
5
Disponível em: https://pytorch.org/
6
Disponível em: https://pandas.pydata.org/
7
Disponível em: https://matplotlib.org/stable/index.html
8
Disponível em: https://scikit-learn.org/stable/
9
Disponível em: https://numpy.org/
10
Disponível em: https://imageio.github.io/
11
Disponível em: https://seaborn.pydata.org/
12
Disponível em: https://github.com/python-pillow/Pillow/
13
Disponível em: https://developer.nvidia.com/cuda-toolkit/

ISSN 2237-700X
212

Configurações de Hardware

Configurações de hardware utilizada no desenvolvimento do trabalho:

• CPU: Processador Intel® Core™ i7


• RAM: 16GB
• SO: Windows
• GPU: NVidia® Geforce GTX 1050TI

3 Resultados e Discussão

Para apresentação do estudo realizado utilizamos o Jupyter Notebook. Com ele é


possível integrar texto e código fonte, permitindo a melhor explicação de como foi
feito cada processo de classificação de lesões de pele. Nele podemos executar o
código em tempo real, permitindo a visualização dos resultados, sem ter
necessariamente um ambiente de desenvolvimento integrado. Para disponibilizar o
projeto publicamente utilizaremos o GitHub, onde será possível fazer o download do
projeto completo juntamente como o conjunto de dados HAM10000 (TSCHANDL;
ROSENDAHL; KITTLER, 2018). Caso o interesse seja apenas na visualização e
leitura o Guia Educacional ele poderá ser acessado via link disponibilizado no link
disponível em: http://bit.ly/nbviewer-umguiaeducacional.

Organização da base de dados

Com o download do conjunto de dados concluído, as imagens foram extraídas


em um diretório. As imagens foram separadas por classe em diretórios diferente,
para automatizar o processo, criamos um script em Python, ele criou os diretórios e
separouas imagens em sua respectiva classe.
Foi realizado balanceamento de frequência média, para resolver o
desbalanceamento de imagens por classe. A normalização dos dados é uma etapa
importante que garante que cada parâmetro de entrada (pixel, neste caso) tenha
uma distribuição de dados semelhante. Isso torna a convergência mais rápida
durante o treinamento da rede. A normalização dos dados é feita subtraindo a

ISSN 2237-700X
213

média de cada pixel e, em seguida, dividindo o resultado pelo desvio padrão. A


distribuição de tais dados seria semelhante a uma curva Gaussiana. Essa
estratégia é usada para aumentarmos a quantidade de imagens apenas do conjunto
de treinamento e não para os conjuntos de validação e teste. Após realizado o
processo de Data Augmentation,dividimos o conjunto de dados em três partes:

• Treinamento: aproximadamente 64% do total do conjunto de dados,


aumentado em 16% pela data augmentation, resultando em 80%;

• Validação: aproximadamente 16% do total do conjunto de dados;

• Teste: aproximadamente 20% do total do conjunto de dados.


No total foram separadas 6409 imagens de treino, 2003 imagens de teste e
1603 imagens de validação. Depois de separadas as imagens em pastas de
Treinamento, Teste e Validação, utilizaremos o Pytorch para carregar o conjunto de
dados completo para a memória do computador, e então, o processo de
organizaçãoda base de dados estará completo.

Experimento com a Arquitetura Lenet

O primeiro experimento de treinamento foi utilizando a CNN da arquitetura


LeNet, desenvolvida por (LECUN et al., 1998). LeNet é uma das arquiteturas de
redes neurais clássicas para o estudo de Redes Neurais Convolucionais. Após
implementar e configurar a rede neural definimos uma função de perda e uma de
otimização.

Como função de perda vamos utilizar a função chamada Classification Cross-


Entropy14. Essa função também é conhecida como a perda de entropia cruzada ou
perda logarítmica e ela mede o desempenho de um modelo de classificação cuja
saídaé um valor de probabilidade entre 0 e 1. A perda de entropia cruzada aumenta
à medida que a probabilidade prevista diverge do rótulo real.
14
Mais detalhes podem ser obtidos em: https://www.researchgate.net/profile/Dori-
Peleg-
2/publication/221345523_The_cross_entropy_method_for_classification/links/55927f2a08ae1e1f9b
b0 68cc/The-cross-entropy-method-for-classification.pdf

ISSN 2237-700X
214

O método mais comum e efetivo de otimização utilizada atualmente é o Adam -


Adaptive Moments15. Adam é um algoritmo para otimização baseada em gradiente
de primeira ordem de funções objetivo estocásticas com base em estimativas
adaptativas de momentos de ordem inferior. O método é simples de implementar, é
computacionalmente eficiente, tem poucos requisitos de memória, é invariável para
redimensionamento diagonal dos gradientes e é adequado para problemas que são
grandes em termos de dados e/ou parâmetros. Após o treinamento de CNN,
realizamos a análise dos resultados através de gráficos e uma matriz de confusão.

Experimento com Arquitetura Resnet18

O segundo experimento de treinamento foi utilizando a CNN da arquitetura


Resnet18 (HE et al., 2016). Nesse segundo experimento, além de utilizarmos uma
CNN diferente, também utilizamos outra função para otimização, a Grad-CAM.
Usando Grad-CAM, podemos validar visualmente para onde nossa rede está
olhando, verificando se ela está realmente olhando para os padrões corretos na
imagem e se baseando em torno desses padrões.
Com a Resnet18 (HE et al., 2016) também conseguimos criar um modelo após
realizar o treinamento da CNN, onde nele foi armazenado os dados do treino, e
com isso é possibilitada a execução da CNN com base no modelo sem
necessidade de treiná-la novamente para obter os mesmos resultados. Criamos o
modelo quando a CNN atingiu cerca de 91 % de precisão. Após o treinamento da
CNN, realizamos a análise dos resultados, através de gráficos e uma matriz de
confusão e a avaliação daacurácia.
Acurácia (Accuracy):é o número de classificações corretas como uma fração de
todas as classificações. Informa quanto o modelo acertou as previsões possíveis, a
razão entre o somatório das previsões corretas (CORKE, 2011).

Ajuste de Parâmetros e métrica de avaliação

15
Mais detalhes em: https://arxiv.org/abs/1412.6980

ISSN 2237-700X
215

Esta seção apresenta a análise dos resultados obtidos com o treinamento de


ambas as CNNs. Os resultados são detalhados para a execução de 20, 50 e 70
épocas ou epochs. A métrica utilizada para avaliar os resultados foi a acurácia16.

A Tabela 01 exibe os resultados obtidos com a utilização da arquitetura


Lenet (LECUN et al., 1998). A Tabela 02 apresenta os resultados do treinamento com
a CNNResnet (HE et al., 2016).

Tabela 01 - Apresentação dos resultados obtidos no treinamento da CNN


Lenet

Classes 20 Épocas 50 Épocas 70 Épocas

Geral 43% 54% 54%


Ceratose Acttínicas 23% 28% 75%
Carcinoma Basocelular 62% 64% 57%
Ceratose Benignas 33% 35% 53%
Dermatofibroma 0% 19% 35%
Melanoma 55% 64% 47%
Nevos Melanociticos 43% 56% 56%
Lesões Vasculares 55% 59% 85%

Fonte: Tabela elaborada pelos Autores

Tabela 02 – Apresentação dos resultados obtidos no treinamento da CNN Resnet

Classes 20 Épocas 50 Épocas 70 Épocas

Geral 76% 84% 91%


Ceratose Acttínicas 64% 61% 78%
Carcinoma Basocelular 93% 63% 94%
Ceratose Benignas 66% 67% 95%
Dermatofibroma 50% 100% 85%
Melanoma 68% 60% 92%
Nevos Melanociticos 78% 93% 89%
Lesões Vasculares 100% 90% 89%

Fonte: Tabela elaborada pelos Autores

16
Mais detalhes em: CORKE, P. Precision recall curves. n. December, p. 28–30, 2011.

ISSN 2237-700X
216

4 Análise e Discussões

Analisando a avaliação das classes individualmente da CNN Resnet,


conseguimos verificar que a classe que obteve melhor resultado geral entre os
testes foi a classe de Lesões Vasculares. A classe teve um desempenho médio de
93% no conjunto de testes. A segunda classe com melhor resultado foi a classe de
Nevos Melanocíticos, obtendo desempenho médio de 86,6%. Os testes foram
efetuados no conjunto de testes.

O desempenho obtido pelas classes: Melanoma, Dermatofibroma, Carcinoma


Basocelular e Ceratoses Benignas foi semelhante. Tendo Melanoma seu
desempenho médio de 73,3%, Dermatofibroma com desempenho de 78,3%,
Carcinoma basocelular com o terceiro melhor desempenho de 83,3% e por fim
Ceratoses Benignas, com 76% de desempenho. Em geral, o desempenho das
classes foi similar, exceto pela classe Ceratoses Actínicas que obteve o pior
resultado: 67,6%.

Com a arquitetura CNN Lenet (LECUN et al., 1998) o melhor resultado obtido
foi também o da classe Lesões Vasculares, provando mais uma vez que não é
necessário possuir o maior número de imagens de treinamento na classe para
obter o melhor resultado. Porém, o desempenho médio dessa classe foi de 66,3%,
sendo 1,3% menor que o menor desempenho por classe da CNN Resnet. Após a
classe Lesões Vasculares, a próxima classe com maior porcentagem de acerto foi a
classe Carcinoma Basocelular, obtendo desempenho médio de 61% nos testes
efetuados no conjunto de dados completo com 100015 imagens. O desempenho
obtido pelas classes Nevos Melanocíticos e Melanoma foi semelhante tendo sua
porcentagem de 51,6% e 56,6%, respectivamente.

Os piores resultados foram das classes: Ceratoses actínicas, Dermatofibroma


e Ceratoses Benignas. Os desempenhos foram os seguintes: Ceratoses actínicas
com 42%, Ceratoses benignas com 40,3% e por fim, dermatofibroma com apenas
18% de desempenho nas 10015 imagens. Identificamos um padrão nas classes
Carcinoma Basocelular e Melanoma no treinamento pela CNN Lenet (LECUN et al.,

ISSN 2237-700X
217

1998), especificamente, no treinamento de 50 épocas. O desempenho obtido por


ambas as classes nas 50 épocas foi maior que o desempenho obtido pelas
mesmas classes na CNN Resnet, também com 50 épocas. A diferença é que nas
70 épocas com a CNN Resnet18 (HE et al., 2016) o desempenho aumentou,
consideravelmente, e já na CNN Lenet (LECUN et al., 1998) o desempenho
diminuiu.

Dessa forma, por meio da análise dos resultados das arquiteturas CNN
utilizadas, podemos concluir que a CNN Resnet18 (He et al., 2016) obteve
resultados consideravelmente melhores e mais interessantes do que com a CNN
Lenet (LECUNet al., 1998).

5 Considerações Finais

Esse artigo relatou a criação de um Guia Educacional para entender e


implementar a classificação de lesões de pele por meio do Aprendizado de Máquina
e de técnicas de Aprendizado Profundo. Espera-se que seja possível oportunizar
aos interessados em iniciar seus estudos de Aprendizagem de Máquina ou
problemas que envolvem a classificação automáticas de lesões na pele, um ponto
de partida. Alternativas para solução desse tipo de problema podem ser
desenvolvidas desde asque podem oferecer pré-diagnósticos até robustos sistemas
de classificação automática de lesões de pele, ambas direcionadas para detecção
precoce do câncerde pele.
O Guia Educacional apresentado passou por várias etapas de desenvolvimento,
partindo do estudo dos métodos de Aprendizado de Máquina, ferramentas
recomendadas na literatura para tratar a classificação automática de lesões de pele
e o estudo detalhado do conjunto dedados HAM10000 (TSCHANDL; ROSENDAHL;
KITTLER, 2018). Essas etapas foram de suma importância para que
conseguíssemos aplicar os métodos e as técnicas de Aprendizado de Máquina
aprendidas no conjunto de dados, a fim de que fosse possível avaliar essas
técnicas e apresentar a sua eficácia para a classificação automática de lesões de

ISSN 2237-700X
218

pele.
As CNNs estudadas demonstraram-se eficientes na solução de inúmeros
problemas de classificação e uma das suas principais vantagens está em relação a
independência da necessidade de ter que definir, explicitamente, todos os
descritores utilizados para extração das características. Os resultados são
promissores mostrando que podemos utilizar as CNNs para auxiliar no problema de
classificação automática de lesões de pele, o que nos motiva ainda mais para
trabalhos futuros utilizando o Aprendizado de Máquina na solução e problemas
tanto na área da saúdequanto do nosso dia a dia.

Referências

CORKE, P. Precision recall curves. n. December, p. 28–30, 2011.

ESTEVA, A.; KUPREL, B. Dermatologist- level classification of skin cancer


with deep neural networks. Nature, v. 542, p. 115, 2017.

GÉRON, A. Mãos à Obra: Aprendizado de Máquina com Scikit-Learn &


TensorFlow. 2ª.ed. [S.l.: s.n.], 2017. ISBN 978-85-508-0902.

HE, K.et al. Deep residual learning for image recognition. In:2016 IEEE
Conferenceon Computer Vision and Pattern Recognition (CVPR). [S.l.: s.n.], 2016.
p. 770–778.

LECUN, Y.et al. Gradient-based learning applied to document recognition.


In:Proceedings of the IEEE. [s.n.], 1998. v. 86, n. 11, p. 2278–2324. Disponível
em:<http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/summary?doi=10.1.1.42.7665>.

MINTZ, Y.; BRODIE, R. Introduction to artificial intelligence in


medicine.MinimallyInvasiveTherapy & Allied Technologies, Taylor Francis, v.
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SATYAM, R.; SAIADITYA, G.; SANU, K. Image based Bird Species


Identification usingConvolutional Neural Network. International Journal of
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TSCHANDL, P. The HAM10000 dataset, a large collection of multi-source


dermatoscopicimages of common pigmented skin lesions. Harvard Dataverse,
2018. Disponível em:<https://doi.org/10.7910/DVN/DBW86T>.

ISSN 2237-700X
219

COMPRIMENTO DE ONDA LUMINOSA NO DESENVOLVIMENTO DE SOJA

Gabriel Francisco Desconsi Turra (gabrielturra@hotmail.com)1


Luiz Henrique Ribeiro (luizhenrique.ribeiro83@gmail.com)1
Paulo Mauricio Centenaro Bueno (Paulo.bueno@ifpr.edu.br)1
1
Instituto Federal do Paraná, Avenida Bento Munhoz da Rocha Neto, PRT 280, CEP
85555- 000 Palmas, PR, Brasil
RESUMO
As plantas entendem a luz através dos fotorreceptores, como os fitocromos e
criptocromos, que respondem a estes receptores acarretando uma série de
respostas fisiológicas específicas. O ensaio foi conduzido em laboratório com
temperatura de 24±2 ºC com a cultivar Brasmax Zeus semeada em vasos de 20 cm
de diâmetro. Foi usado delineamento inteiramente casualizado com 4 tratamentos:
Azul 430 nm; Azul + Vermelho (430 nm + 660 nm); Vermelho 660 nm e Vermelho
Extremo 720 nm, distribuídos em 4 parcelas e cada parcela com 4 repetições
totalizando 64 vasos. As variáveis analisadas foram: Altura final (AF), Comprimento
de raiz (CMPR), Diâmetro do caule (DC), Massa seca (MS), Massa seca de raiz
(MSR), Estômato Abaxial (EAB), Estômato Adaxial (EAD), Índice Clorofila A e B(CA),
(CB). As médias foram submetidas à análise de variância e comparadas através do
Teste de Tukey (α = 0,05). Considerando essas variáveis respostas, houve diferença
estatística em dois parâmetros avaliados, MSR e EAB. A maior massa seca de
raízes foi obtiva com o tratamento azul (430 nm), diferindo estatisticamente do
Vermelho Extremo (720 nm), porém não diferiram dos demais tratamentos. O número
de estômatos na face abaxial também sofreu influência do comprimento de onda
luminosa, sendo que plantas submetidas à luz azul (430 nm) formaram mais
estômatos (57) que aquelas submetidas à luz azul + vermelho (430 + 660 nm) (27) e
vermelho extremo (720 nm) (13,25). A iluminação com lâmpadas de LED pode
influenciar o desenvolvimento morfológico da soja. Nas condições do presente
trabalho, plantas submetidas à luz azul apresentaram maior número de estômatos
na face abaxial das folhas em relação às submetidas às luzes azul + vermelho (430
+ 660) e vermelho extremo (720). Luz azul (430 nm) se mostrou mais eficiente no
ganho de massa secaradicular que a luz vermelho extremo (720 nm).
Palavras chave: Fotorreceptores, Radiação, LEDs, Processos Fisiológicos

1 INTRODUÇÃO

A luz é o fator abiótico mais importante para o crescimento da planta (YANG et


al. 2018), e qualquer mudança no ambiente de luz (qualidade e quantidade duração
da luz) apresenta mudanças significativas na morfologia e fisiologia das plantas de
soja (WU, GONG & YANG, 2017). A luz é uma forma de energia eletromagnética
chamada radiação, e que tem origem a partir de uma fonte energética, tal como a luz
natural e a luz artificial oriunda de lâmpadas (CASSARES et al. 2001).
As plantas entendem a luz através dos fotorreceptores, como os fitocromos e

ISSN 2237-700X
220

criptocromos, que respondem a estes receptores acarretando uma série de respostas


fisiológicas específicas (MUNEER et al. 2014). As respostas fotomorfogenéticas são
estimuladas principalmente pelos fotorreceptores de luz vermelha e azul. A luz natural
contém o equilíbrio perfeito de luz vermelha e azul para produzir o crescimento ideal
e desenvolvimento das plantas, a radiação solar controla muitos processos do
desenvolvimento, agindo como um sinal para a germinação, o crescimento
direcionado e a forma externa da planta (NUNES et al. 2013).
Diodos de emissão de luz (LED) têm sido propostos como fonte luminosa para
ambientes controlados em instalações agrícolas ou em câmaras de crescimento de
plantas. Eles apresentam características desejáveis, como a capacidade de controlar
a composição espectral, longa durabilidade, capacidade de emitir comprimentos de
onda específicos, superfícies de emissão relativamente frias, além de apresentarem
um tamanho reduzido, o que facilita manejo e instalação nas câmaras de crescimento
(LI et al. 2010; MUNEER et al. 2014).
O desenvolvimento e a fisiologia das plantas são altamente influenciados pelo
espectro de luz do ambiente proporcionado pelos LEDs, dentre as quais pode-se citar
o da luz azul, vermelha, verde e combinações. Segundo Hallyday; Whitelam (2007), o
espectro azul está relacionado a vários processos fisiológicos da planta, como o
fototropismo, morfogênese, aberturas de estômatos e funcionamento fotossintético
das folhas. Enquanto as lâmpadas de LED vermelhas emitem um espectro de luz
muito próximo do máximo de absorbância, tanto da clorofila quanto dos fitocromos.
Em contrapartida alguns estudos apontam a redução fotossintética das lâmpadas de
LED verde em plantas in vitro, no qual ficou comprovado a eficiência e deficiência em
luz verde onde o desenvolvimento das plantas comprovaram esse fato (SUN et
al.1998).
Estima-se que a absorção pelas plantas da luz azul e vermelha, emitidas por
lâmpadas LED, gira em torno de 90% da luz emitida, e indica que o desenvolvimento
das plantas e a sua fisiologia é fortemente influenciado por essas cores e
comprimentos de onda específicos. Todavia, essa influência na fisiologia vegetal
desempenhada pelos espectros de luz varia entre as espécies, refletindo na produção
vegetal (HUNG et al. 2016).
Em virtude, da importância de a luz ser vital para o desenvolvimento da planta,
o objetivo do trabalho é demonstrar utilização das lâmpadas de LEDs no cultivo de
soja em câmara de desenvolvimento de plantas.

ISSN 2237-700X
221

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em câmara de desenvolvimento de plantas do


Instituto Federal do Paraná - Campus Palmas.
O solo utilizado para a realização do experimento foi retirado da área
experimental do IFPR, onde o cultivo que antecedeu foi aveia na safra de inverno
2020, e o mesmo foi colocado em vasos de 25 cm de altura x 20 cm de diâmetro.
As sementes da cultivar de soja Brasmax semeadas no dia 20 de outubro de
2020, a 3 cm de profundidade. Quanto à adubação foi utilizado o equivalente a 575 kg
ha-1 do formulado NPK 2-20-18, totalizando 115 kg de P2O5, 103,5 kg de K2O e
11,5 kg de N.
O experimento contou com quatro tratamentos, quatro repetições e quatro
plantas por parcela experimental, considerando que existiam uma planta por vaso, e
cada parcela experimental era representada por quatro plantas (64 vasos).
O fotoperíodo pré-estabelecido foi de 16 horas e a temperatura controlada em
24°C com variação de 2°C, no qual considera-se, para soja, um fotoperíodo longo,
buscando avaliar como a planta se comporta com adversidades.
O delineamento experimental utilizado foi delineamento inteiramente
casualizado com 4 tratamentos: Azul 430 nm; Azul + Vermelho (combinação de 430
nm + 660 nm); Vermelho 660 nm e Vermelho Extremo 720 nm. Cada tratamento
possuía frequência eletromagnética e comprimento de onda diferentes e os objetivos
do experimento foram avaliar quais as características são expressadas em cada
comprimento de luz.
Os aspectos avaliados na cultura foram os seguintes: Altura final (AF),
Comprimento de raiz (CMPR), Diâmetro do caule (DC), Massa seca (MS), Massa seca
de raiz (MSR), Estômato Abaxial (EAB), Estômato Adaxial (EAD), Índice Clorofila A e
B(CA), (CB).
O Índice de Clorofila foi determinado através do equipamento Clorofilômetro
(Clorofilog CFL1030 Falker) que realiza a leitura da clorofila da folha de forma
automática. A referida leitura foi realizada aos 164 dias após o plantio. Após a colheita
da soja, eram selecionadas folhas que apresentavam uniformidade em tamanho e
cor.

ISSN 2237-700X
222

A altura final das plantas foi determinada com o auxílio de régua, e o resultado
quantificado em centímetros. Cada planta era avaliada e era obtida uma média em
cada parcela experimental. O comprimento médio das raízes (CMPR) também foi
quantificado em centímetros usando régua, e o diâmetro do caule (DC) das plantas foi
medido com o auxílio de um paquímetro.
Para quantificar a massa seca (MS) e a massa seca de raízes (MSR), o material
foi seco em estufa de circulação de ar forçado durante 10 horas a 72°C, pesado em
balança de precisão e quantificados em gramas.
Já para os estômatos, era selecionada uma folha do terço médio da planta, o
passo seguinte era selecionar uma amostra da folha de 2cm x 2cm, sendo levado para
avaliação microscópica. Amostra da folha selecionada era colada com uma cola
instantânea na lâmina, após a cola secar, era tirada uma parte da folha e ficava na
lâmina somente uma camada fina da amostra selecionada e a partir disso era possível
fazer a observação no microscópio. A contagem dos estômatos foi realizada por meio
do que era visível por meio do microscópio utilizando-se da objetiva amarela (10x,
multiplicado pela lente ocular de 10x, resulta em um aumento de 100x), que resulta

em um campo de visão de 6,15 mm2, considerando o campo de visão com diâmetro


de 1,4 mm.
Para avaliação dos resultados, as médias submetidas ao teste de
normalidade das variâncias Shapiro-Wilk, e depois submetidas à análise de variância
através do programa estatístico Sisvar® e comparadas através do Teste de Tukey (α
= 0,05).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As médias de altura final de plantas, comprimento de raízes, diâmetro do caule,


massa seca, massa seca de raiz, número de estômatos na face abaxial e adaxial,
índice de clorofila A e B serão apresentados na Tabela 1.

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223

TABELA 1- MÉDIA DAS ANÁLISES

AF CP DC M MS E E C C
(cm) MR (mm) S R (g) AB AD A B
(c (
m) g)
A 67, 38, 3,06 7 3,2 5 3 2 6
(430nm) ns ns ns ns a a ns ns ns
81 5 ,84 1 7 ,51 2,72 ,53
V+A(660 67,9 23, 3,23 1 1,1 2 1 1 4
nm 6 ns 56 ns ns 0 ns ab 7b 2 ns 3,53ns ,35ns
+430nm)
V 76,7 20, 2,79 1 0,9 3 3 1 4
(660nm) 5 ns 15 ns ns 0 ns 3 ab 9 ab ,75 ns 8,71ns ,35ns
V.E 95,7 28, 2,88 1 0,3 1 0 2 7
(720nm) 7 ns 83ns ns ,86 ns 5 b 3,25b ns 5,2ns ,68ns
CV% 22, 31, 13,1 5 88, 3 1 3 4
45 23 1 8,94 09 6 52,9 8,52 9,34
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey (α = 0,05).Altura
final (AF cm), Comprimento de raiz (CMPR cm), Diâmetro do caule (DC cm), Massa seca (MS g), Massa seca de
raiz (MSR g), Número de estômatos na face Abaxial (EAB), Número de estômatos na face Adaxial, Índice
Clorofila A e B(CA), (CB).

De acordo com os dados obtidos na análise de variância (Tabela 1), a altura


final de plantas (AF) não foi afetada significativamente pelos diferentes
comprimentos de onda luminosa. Porém observando as avaliações semanais de
altura de plantas (Figura 1), foi observado que até a avaliação do dia 28 de novembro,
as plantas submetidas à luz azul (430 nm) apresentavam porte menor (42,69 cm) que
aquelas submetidas à luz vermelha extrema (720 nm, com 55,56 cm), mas ambas não
diferiram estatisticamente dos tratamentos com luz rosa (430 + 660 nm) e vermelha
(660 nm), que formaram plantas com altura média de 46,56 e 48,62 cm,
respectivamente (Figura 1).
Essa diferença estatística observada nos estádios iniciais pode ter ocorrido
devido aos fotorreceptores. O fitocromo é regulado pela intensidade da luz, onde a luz
vermelha o ativa permitindo a germinação, enquanto a luz vermelha distante o
inativa(TAIZ; ZEIGER, 2013). Segundo Dougher (2001), a luz azul na cultura da alface
interfere no crescimento de plantas e segundo Ahmad e Cashmore (1993)
criptocromos têm um efeito inibitório sobre o alongamento do hipocótilo, enquanto o
fitocromo atua diretamente no alongamento do mesmo (VICTORIO E LAGE, 2009).
Segundo Dougher; Bugbee (2001), a resposta a cada comprimento de onda vai de

ISSN 2237-700X
224

acordo com a fotomorfogênese de cada espécie. Para a cultura da soja, quanto maior
incidência da luz azul menor era o tamanho da planta, enquanto que para o trigo o
resultado não foi significativo. Segundo Cobe e Bugbee (2013), com o aumento da
incidência da luz azul na planta de soja, houve redução do caule, consequentemente
da altura da planta.

Figura 1. Avaliação do crescimento das plantas de soja. ** significativo a 1% de probabilidade


no Teste de Tukey. ns: não significativo no Teste de Tukey (α = 0,05)

Na avaliação de MS, não foi observada diferença estatística entre os


tratamentos com LEDs. Os valores encontrados de matéria seca variaram de 1,86
gramas até 10 gramas, a provável causa da não significância se deve ao elevado
coeficiente de variação no qual observado foi de 59% (Tabela 1). Guimarães (2017)
relata que a combinação entre azul + vermelho pode complementar uma à outra,
quando o objetivo é crescimento, frutificação, inflorescência e biomassa, dando uma
morfologia e fisiologia da muda mais estruturada que as demais. DA Rocha et al.
(2018) relatam que quanto maior a intensidade da luz vermelha na cultura da salsa é
linear o aumento de massa na planta. Entretanto, Fang et al. (2021) no seu trabalho
com soja relatam que o tratamento que continha somente a luz vermelha apresentou
o menor peso de matéria seca e quando combinadas as luzes, vermelha + azul, que
apresentavam os melhores resultado dos tratamentos avaliados. Fang et al. (2021)
relatam que o tratamento apenas com a luz vermelha apresentou um crescimento de

ISSN 2237-700X
225

caule e altura de planta anormal, dados similares ao do presente estudo, pois AF, foi
maior no tratamento vermelho extremo e representou o menor peso de matéria seca.
Wheleer et al. (1991) relataram que a quantidade absoluta de luz azul era um
melhor indicador do comprimento do caule da soja, entretanto Dougher e Bugbee
(2001), relataram que a quantidade relativa de luz é um melhor indicador. A possível
causa para as diferenças entre os estudos não é clara, mas pode estar associada a
diferenças no grau de fechamento do dossel na colheita. Ambos os estudos possuíam
mais de uma planta por vaso e provavelmente forneceram um espaçamento maior
entre as plantas do que neste estudo. As plantas neste estudo formaram um dossel
fechado imediatamente antes da colheita
Diâmetro do caule (DC) foi outro parâmetro avaliado neste estudo, entretanto
não apresentou diferença estatística, DC variou de 2,88 mm a 3,23mm (Tabela 1).
Randall e Lopez (2014) conduziram um estudo com o gênero Impatiens walleriana
(cv. Dazzler blue pearl), numa condição de 21°C, sob ambiente protegido e 16 horas
de fotoperíodo, com luz artificial e natural, usando lâmpadas HPS(lâmpadas vapor de
sódio) e LEDs. No entanto, não houve diferença entre os tratamentos de LEDs, entre
as variáveis que foram avaliadas e não foi significativo o diâmetro de caule. Akbarian
et al. (2016) realizaram estudos sobre o efeito de tratamento de LED´S em Impatiens
walleriana, as plantas eram cultivadas em câmaras de crescimento, cada uma com
fonte de luz diferente, fornecida durante 12 horas por dia, constituindo os seguintes
tratamentos: 75% vermelho + 25% azul; 100% vermelho; 100% azul e fluorescente.
O tratamento 75% vermelho + 25% azul apresentou os maiores diâmetros de caule.
Akbarian et al. (2016), acrescentaram que o genótipo está relacionado com maior
diâmetro de caule, enquanto Randall e Lopez (2015), relatam que a combinação
entre vermelho + azul, em proporções distintas (87% vermelho + 13% azul; 70%
vermelho + 30% azul) foramsuperiores a luz natural.
Para avaliação do sistema radicular foram analisados o comprimento de raiz e
o peso de massa seca. CMPR não diferiu estatisticamente. O tratamento com azul
(430 nm), apresentou o maior CMPR em relação à luz vermelha extrema (720 nm),
porém os tratamentos citados não diferiram dos demais tratamentos (azul + vermelho
e vermelho) (Tabela 1). Fang et al. (2021), avaliaram plantas de soja em câmaras de
crescimento com LED´S azul e vermelho, neste estudo observou-se que o melhor
tratamento foi 80% luz azul + 20% luz vermelha, e quando a proporção de luz azul era
reduzida o volume da raiz e o comprimento eram reduzidos, quando as plantas de

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226

soja eram submetidas apenas a luz vermelha o comprimento era duas vezes menor
comparado ao melhor tratamento. No presente estudo, a combinação azul + vermelho,
não diferiu estatisticamente de nenhum dos demais tratamentos, diferindo do estudo
de Fang et al. (2021), entretanto a proporção avaliada no experimento era duas
lâmpadas vermelha para uma lâmpada azul, quando analisado os tratamentos
vermelho extremo e vermelho. Vermelho extremo, apresentou resultados superiores
a vermelho.
Para a variável massa seca de raízes, os tratamentos com LEDs exerceram
influência significativa. A luz azul (430 nm) apresentou as maiores médias quando
comparadas às do tratamento vermelho extremo (720 nm), entretanto os outros
tratamentos (vermelho e azul + vermelho) não diferiram dos tratamentos citados
(Tabela 1). Fang et al. (2021) avaliaram que os tratamentos nas plantas de soja com
100% vermelho e 0% azul apresentaram os menores resultados de massa seca
radicular, enquanto a combinação de azul + vermelho obteve os melhores resultados
na proporção 80% A + 20% V.
Estudos sugerem que a combinação de vermelho + azul é significativa para a
produtividade da planta (HOGEWONING et al. 2010; JOHKAN et al. 2010; LIN et al.
2011). Por exemplo, a mistura de vermelho + azul aumentou a biomassa vegetal para
outras espécies, incluindo arroz (OHASHI-KANEKO et al. 2006), trigo (DONG et al.
2014), alface (WANG et al. 2016), pepino (HERNÁNDEZ e KUBOTA 2016) e
Dendrobium candibium (LIN et al. 2011). Foi demonstrado que o fitocromo é o principal
regulador da biomassa vegetal e sua deficiência resulta em redução na biomassa
vegetal (YANG et al. 2016). Entretanto, no presente estudo o tratamento azul
apresentou os maiores valores massa seca radicular, divergindo dos resultados
encontrados. Pois, cada espécie responde de maneira distinta a cada fotorreceptor.
Segundo Corell e Kiss (2005) os fitocromos A e B inibiram o alongamento
radicular quando comparados com mudas na qual não tinha a presença de luz. Os
fitocromos que são os fotorreceptores que provém através do comprimento de ondas
vermelho e vermelho extremo, estão presentes nas raízes e estão associados ao
crescimento primário, o crescimento da planta em função da gravidade (gravitropismo)
e respostas ao ácido jasmônico (COSTIGAN et al. 2011). Segundo Xu et al. (2015), a
ausência do fitocromo pode afetar o desenvolvimento das raízes laterais da planta.
Quanto aos fotorreceptores da luz azul criptocromo e a fototropinas, eles se
encontram no sistema radicular, e estão associados ao crescimento primário e o

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227

fototropismo da raiz (CANAMERO et al. 2006).


A luz acima do solo pode ser conduzida através do solo até as raízes. No
entanto, a luz penetra apenas alguns milímetros no solo, e a taxa de penetração é
altamente variável, dependendo da composição e estratificação do solo.
Alternativamente, a luz pode ser conduzida através de tecidos vegetais, como o
sistema vascular, até as raízes (SUN et al. 2003). Segundo Mandoli et al. (1990) os
gradientes de luz relativamente escuros que podem penetrar no solo, bem como
orientar a luz poderia ser suficiente para ativar os três principais fotorreceptores
(fitocromos, criptocromos e fototropinas) nas raízes.
A avaliação do índice de clorofila, CA e CB, não apresentou diferença
significativa com os tratamentos. Os valores de clorofila a variaram de 13 a 25, e
clorofila b de 4 a 7,7. As diferenças foram altas, mas podem não ter sido significativas
estatisticamente por causa dos elevados coeficientes de variação (Tabela 1). Na
literatura alguns trabalhos relatam o maior teor de clorofila está associado a luz
vermelha. Dong et al. (2014) relata que para a cultura do trigo a luz vermelha
aumentou a clorofila total, enquanto que na proporção de Clorofila A para Clorofila B
foi aumentado quando vermelho e azul foram combinados. Fan et al. (2013) aponta,
que vermelho sozinho não teve sucesso para biossíntese de clorofila, enquanto que a
combinação de vermelho + azul apresentou resultados significativos quando
comparado somente com a luz vermelha. Fang et al. (2021) na cultura da soja
encontrou maiores teores de clorofila b e clorofila total, quando utilizado somente a
luz vermelha, entretanto a proporção entre CA/CB era menor.
As avaliações dos estômatos foram divididas em adaxial (parte superior da
folha) e abaxial (parte inferior da folha). A contagem de estômatos adaxial não revelou
diferenças significativas, sendo que os números de estômatos variaram de 0 a 12

(para uma área de 40 mm2) (Tabela 1). Para os estômatos da face abaxial os
tratamentos diferiram entre si. Plantas submetidas à luz azul produziram o maior
número de estômatos (57) em relação às plantas sob luz azul + vermelho (430 + 660
nm), que produziram 27 estômatos, e vermelho extremo (720 nm), que produziu 13,25,
mas não diferiu estatisticamente das plantas sob luz vermelha (660 nm), que
produziram 39 estômatos (Tabela 1).
Segundo Shimakazi et al. (2007) em uma base quântica a luz azul é 20 vezes
mais eficiente do que a luz vermelha para abertura estomática. Enquanto que

ISSN 2237-700X
228

Lazzarini et al. (2017) ressaltam que em algumas espécies a combinação de azul +


vermelho pode promover uma abertura e fechamento mais eficazes.
Os comprimentos de onda azul e vermelho podem ser absorvidos pela clorofila
presente nas células-guardas. De fato, na maioria das espécies, as células-guardas
são as únicas células epidérmicas que contêm cloroplastos. Assim, a clorofila é
apontada como um fotorreceptor à luz que medeia as respostas estomáticas,
principalmente aquelas relacionadas com a luz vermelha (ROELFSEMA et al. 2002;
LAZZARINI et al. 2017). No entanto, estudos recentes também têm mostrado que
componentes e atividade fisiológicos das células do mesófilo também podem estar
relacionados a esse controle da abertura e fechamento dos estômatos mediado pela
luz (DALOSO et al. 2017).
A maior eficiência quântica de luz azul sobre a luz vermelha no estímulo a
abertura estomática sugere que células-guardas também possuem um fotorreceptor
específico para a luz azul (ASSMANN, 1993; ZEIGER; ZHU, 1998). Devido às suas
propriedades, os criptocromos são propostos como fotorreceptores de luz azul em
plantas superiores (WANG et al. 2020). Estudos com mutantes de CRY1 e CRY2
apresentaram alongamento do caule e mediado pela luz azul e luz verde, mas essa
influência da luz azul está relacionada com a presença de fotorreceptores (ZHANG et
al. 2020). Além disso, também tem sido constatado uma participação de fototropinas
no controle da abertura e fechamento estomático relacionado à luz. Segundo Wang
et al. (2020) a presença de fototropinas é essencial para uma rápida abertura
estomática e a manutenção da abertura exige as fototropinas e os criptocromos.

4 CONCLUSÕES

A iluminação artificial com lâmpadas de LED pode influenciar o


desenvolvimento morfológico da soja. Nas condições do presente trabalho, plantas
submetidas à luz azul apresentaram maior número de estômatos na face abaxial das
folhas em relação às submetidas às luzes azul + vermelho (430 + 660) e vermelho
extremo (720).
Luz azul (430 nm) se mostrou mais eficiente no ganho de massa seca
radicular que a luz vermelho extremo (720 nm). Acredita-se que com mais estudos o
produtor pode se beneficiar incluindo o comprimento de luz correto, no momento

ISSN 2237-700X
229

correto do desenvolvimento da planta.

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ISSN 2237-700X
231

CONSTRUÇÃO DE BRINQUEDO TERAPÊUTICO PARA TRATAMENTO DE


CRIANÇAS COM CÂNCER RENAL

Kethleen Henkemaier (kethleenhenkemaier@hotmail.com)1


Karina Seibel2
Andreia da Cruz Kemes3
Amanda Paz Martinelli4
Vanessa Lima de França5
Ana Julia Brugneroto6
Angélica Yukari Takemoto (angelica.takemoto@ifpr.edu.br)7
1,2,3,4,5,6,7 Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

Resumo: Tumores renais correspondem cerca de 7% de todos os tumores


pediátricos. O Tumor de Wilms é o mais comum em crianças, pode se manifestar
tanto de maneira hereditária ou esporádica e tem uma origem renal. O tratamento
deste tipo de tumor é baseado em cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia em
alguns casos, sendo realizado conforme o estágio da doença e a histologia,
comumente, inicia-se com quimioterapia neoadjuvante, seguido de nefrectomia
radical. O diagnóstico de câncer renal em crianças pode desencadear repercussões
negativas no cotidiano da mesma, nesse sentido, o Brinquedo Terapêutico (BT) é
uma estratégia com potencial para promover o brincar na situação de doença e
tratamento oncológico, incluindo os períodos de hospitalização, possibilitando que a
criança alivie a ansiedade gerada por situações atípicas para sua idade,
colaborando para que ela descarregue tensões após vivenciá-las. A Brinquedoteca
Hospitalar é uma estratégia importante e significativa, trazendo o alívio de dores e
lesões, distrações, passatempo, como promover também os movimentos
espontâneo para criança, diminuindo estressores ocasionados durante a
permanência hospitalar. Este trabalho visa descrever a construção de um
Brinquedo Terapêutico para crianças em tratamento de câncer renal. O BT foi
intitulado como “Meus Cuidados Mágicos” construído a partir do modelo instrucional
e dramático, a estrutura é formada por material Eva, contendo pequenos pedaços
de velcros onde são fixadas as partes do corpo do boneco o qual contém cada
membro separado, além de algumas expressões faciais e equipamentos de
cuidados que são utilizados no tratamento da criança. Constata-se a importância da
utilização do BT para a diminuição dos efeitos negativos que a criança enfrenta
durante o tratamento e hospitalização diante do diagnóstico de câncer renal, além
de auxiliar na identificação de outras necessidades e desenvolver a compreensão
da criança perante outros períodos de estresse.

Palavras-chave: Neoplasias Renais; Tumor de Wilms; Criança; Jogos e


Brinquedos;Enfermagem Pediátrica.

Abstract: Kidney tumors account for about 7% of all pediatric tumors. Wilms' Tumor
is the most common in children, it can manifest itself either hereditary or sporadically
and has a renal origin. The treatment of this type of tumor is based on surgery,
chemotherapy and/or radiotherapy in some cases, being performed according to the
stage of the disease and histology, it commonly starts with neoadjuvant
chemotherapy, followed by radical nephrectomy. The diagnosis of kidney cancer in
children can trigger negative repercussions in their daily lives, in this sense,

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232

the Therapeutic Toy (TP) is a strategy with the potential to promote play in situations
of disease and cancer treatment, including periods of hospitalization, enabling the
child relieves the anxiety generated by situations atypical for his age, helping him to
release tensions after experiencing them. The Hospital Toy Library is an important
and significant strategy, providing relief from pain and injuries, distractions, hobby,
as well as promoting spontaneous movements for children, reducing stressors
caused during hospital stay. This work aims to describe the construction of a
Therapeutic Toy for children undergoing treatment for kidney cancer. The BT was
titled "My Magical Care" built from the instructional and dramatic model, the
structure is formed by Eva material, containing small pieces of Velcro where the
parts of the doll's body are fixed, which contains each separate member, in addition
to some facial expressions and care equipment that are used in the child's
treatment. The importance of using TP to reduce the negative effects that the child
faces during treatment and hospitalization due to the diagnosis of kidney cancer is
verified, as well as helping to identify other needs and develop the child's
understanding of other stressful periods.

Keywords: Kidney Neoplasms; Wilms' Tumor; Kid; Games and Toys; Pediatric
Nursing.

1 Introdução

Tumores renais correspondem cerca de 7% de todos os tumores pediátricos.


O Tumor de Wilms é o mais comum em crianças, pois nessa faixa etária o
carcinoma de células claras renais é o diagnóstico mais comum e sendo menos
frequente em crianças maiores e adultos. Aproximadamente de 5 a 10% dos
pacientes com essa doença apresentam tumores bilaterais ou multicêntricos, com
prevalência em indivíduos com predisposição genética para o desenvolvimento
desta patologia (INCA, 2018).
Este tumor pode se manifestar tanto de maneira hereditária ou esporádica e
tem uma origem renal, embora raramente possa ser extra-renal. Pode ser multifocal,
uni ou bilateral. A apresentação clínica mais frequente é a presença de massa
abdominal assintomática de crescimento insidioso. Pode ser evidenciado apenas
como massa palpável no abdômen ou apresentar outros sintomas associados, como
infecção urinária, hematúria, hipertensão arterial e/ou dor abdominal. Na maior parte
das vezes, o estado geral da criança com Tumor de Wilms é bom. Porém, em casos
mais graves, podem ocorrer metástases principalmente para o pulmão (INCA, 2018).
O tratamento deste tipo de tumor é baseado em cirurgia, quimioterapia e/ou
radioterapia em alguns casos. Os pacientes com a doença localizada, em geral, têm
boa resposta ao tratamento, com alta taxa de cura, alcançando até 90%. Mesmo nos

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233

pacientes com doença metastática, a resposta ao tratamento também pode ser


positiva (INCA, 2018).
O tratamento do tumor é realizado conforme o estágio da doença e a
histologia. Usualmente, inicia-se com quimioterapia neoadjuvante, seguido de
nefrectomia radical. Após estudo anatomopatológico, a continuação do tratamento é
seguida de quimioterapia adjuvante de vincristina, actinomicina D e radioterapia para
alguns estágios (REBELLO; BRUNATO; NAZARIO, 2019, p. 90).
Antes da administração da quimioterapia deve haver uma instrução para a
criança e a família quanto às medicações a serem administradas, incluindo: o modo
como agem os antineoplásicos nas células cancerosas, os efeitos da quimioterapia
no funcionamento da medula óssea, o nome dos agentes antineoplásicos, a via de
acesso na criança, doses e frequência de administração dos agentes, a duração do
tratamento, efeitos colaterais previstos, possíveis efeitos adversos, métodos de
prevenção desses efeitos adversos e o manejo seguro da quimioterapia (BRASIL,
2015).
A cirurgia é fundamental para o tratamento deste tumor quando encontrado
sólido. Nesse caso, é realizada nefrectomia do lado acometido por via abdominal.
Deve-se ter o cuidado voltado para a ressecção completa do tumor, sem ruptura,
pois se ocorrer o tumor passa a ser classificado como estágio III, com indicação de
radioterapia abdominal para seu controle local (CAMARGO; APEZZATO, 2021, p.
392).
O diagnóstico de câncer renal em crianças pode desencadear uma série de
repercussões negativas no cotidiano da mesma. Nesse sentido, o Brinquedo
Terapêutico (BT) é caracterizada como uma estratégia com potencial para promover
o brincar na situação de doença e tratamento oncológico, incluindo os períodos de
hospitalização. Trata-se de uma brincadeira estruturada com a finalidade de aliviar
tensões e ansiedades em decorrência de vivências incomuns à infância. Consiste
em desenvolver sessões que duram entre 15 a 45 minutos, realizadas por um
profissional capacitado que já tenha estabelecido uma relação de confiança com a
criança. A comunicação entre a criança e a equipe, bem como o preparo e suporte
podem ser realizados de maneira lúdica, já que o profissional considera que o
brinquedo é um importante recurso para abordar a criança e ajudá-la a entender o
que está acontecendo (DIAS; SILVA, 2018, p. 312).

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234

O BT possibilita que a criança alivie a ansiedade gerada por situações


atípicas para sua idade, colaborando para que ela descarregue tensões após
vivenciá-las. Possibilita à enfermeira uma melhor compreensão das necessidades de
saúde da criança, além de auxiliar no preparo de procedimentos terapêuticos e
permitir que a criança reorganize suas emoções após períodos difíceis da vida
(FONSECA et al., 2015, p. 1113).
Portanto, para o uso da utilização de Brinquedo Terapêutico (BT) há uma
resolução que facilita ainda mais a aplicação deste. A Resolução 546/2017 trata da
utilização da técnica de BT pela Enfermagem. A nova norma estabelece que
compete à equipe de enfermagem da área pediátrica a utilização da técnica do BT
na assistência à criança hospitalizada, ressaltando o cumprimento das etapas do
processo de enfermagem, com registro no prontuário do paciente. Entretanto,
quando a técnica for realizada por auxiliares ou técnicos de enfermagem, o
enfermeiro deverá prescrever e supervisionar o ato (BRASIL, 2017).
A Brinquedoteca Hospitalar exerce uma função fundamental nas situações de
adoecimento e hospitalização da criança ou do adolescente, como uma estratégia
importante e significativa, trazendo o alívio de dores e lesões, distrações,
passatempo, como promover também os movimentos espontâneo para criança,
diminuindo estressores ocasionados durante a permanência hospitalar. Porém, os
brinquedos, livros, lápis, giz, BT, dentre outros objetos utilizados dentro da
brinquedoteca apesar de sua grande importância, podem ser um veículo de
transmissão de microorganismos na unidade de recreação, podendo ser
considerados artigos semi-críticos, sendo assim, além de ter esse espaço é
importante que haja a higienização e cuidados diante as formas de terapia (CHADI,
2014, p. 299).
Segundo Canês et al. (2019, p. 2) durante o período em que a criança
permanece sob internação, tudo caracteriza-se por algo novo e por vezes
assustador, podendo assim, gerar diversos estressores, gerando danos psicológicos
e emocionais na vida desta criança. Nesse período a rotina diária da criança é
totalmente alterada, pois a doença e o tratamento impõem restrições quanto a
brincadeiras, escola e o convívio com seus amigos e familiares.
Perante o exposto, o material a seguir visa descrever a construção de um
Brinquedo Terapêutico para crianças em tratamento de câncer renal.

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2 Desenvolvimento

Há três tipos de Brinquedo Terapêutico, sendo eles: Brinquedo Terapêutico


Dramático; Brinquedo Terapêutico Capacitador de Funções Fisiológicas; e
Brinquedo Terapêutico Instrucional. Cada tipo supracitado atua em um eixo de
necessidade que a criança apresenta quando hospitalizada, cabendo ao enfermeiro
a escolha do tipo que melhor se adeque a essas necessidades (CANÊS et al., 2019,
p. 2).
O Brinquedo Terapêutico Dramático caracteriza-se por possibilitar que a
criança desenvolva papéis sociais e deste modo torna-se ativa, promovendo assim,
a expressão de sentimentos e melhorando a compreensão da realidade em que se
encontra neste momento. O Brinquedo Terapêutico Capacitador de Funções
Fisiológicas auxilia a criança a lidar com as suas capacidades fisiológicas de acordo
com a sua condição. Por fim, temos o Brinquedo Terapêutico Instrucional, este
disponibiliza materiais para que a criança possa realizar o manuseio e, assim,
compreenda quais procedimentos será submetida (CANÊS et al., 2019, p. 2).
A construção do Brinquedo Terapêutico foi realizada com base nos artigos
científicos citados na construção deste trabalho, além das discussões em grupo,
trabalho em equipe e uso da criatividade.
O BT foi intitulado como “Meus Cuidados Mágicos” construído a partir do
modelo instrucional e dramático. Os materiais utilizados foram EVA, cola quente,
régua, tesoura, canetas hidrográficas 12 cores, velcro, caixa de sapato, fita mimosa,
papel de parede e glitter.
Sua estrutura é formada por material Eva, contendo pequenos pedaços de
velcros onde são fixadas as partes do corpo do boneco o qual contém cada membro
separado (Figura 1).

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Figura 1 – Estrutura do boneco em EVA


Fonte: Autoria própria (2020)

As pernas, braços, tronco, cabeça e algumas expressões faciais foram


desenhadas para que desta forma a criança escolha a peça que irá montar em seu
boneco, conforme estiver se sentindo naquele determinado momento (Figura 2).

Figura 2 – Peças do boneco em EVA


Fonte: Autoria própria (2020)

Além das peças o brinquedo também contém alguns equipamentos de


cuidados que são utilizados no tratamento da criança, como sonda vesical, materiais
para a realização do curativo, cateteres e bombas de infusão para a realização de
quimioterapia, tendo assim, a intenção de familiarizar a criança aos equipamentos
de cuidados para que a mesma compreenda que é necessário utilizá-los para a
melhora de sua saúde. As peças e equipamentos são guardados em uma maleta

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personalizada para que o brinquedo não sofra dano material e nem mesmo a perda
de seus utensílios (Figura 3).

Figura 3 – Maleta, peças e equipamentos do BTFonte: Autoria própria (2020)

3 Considerações Finais

Diante das repercussões que a criança enfrenta durante o tratamento e


hospitalização diante do diagnóstico de câncer renal, constata-se a importância da
utilização do BT para a diminuição dos efeitos negativos do processo, além de
auxiliar na identificação de outras necessidades e desenvolver a compreensão da
criança perante outros períodos de estresse.
O desenvolvimento dessa atividade também promove a participação da
família, possibilitando que os mesmos estejam presentes nestes momentos
contribuindo para que a criança sinta-se mais tranquila e participativa.

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ISSN 2237-700X
239

CONTRIBUIÇÕES DA REALIDADE VIRTUAL E DA REALIDADE MISTA PARA A


EDUCAÇÃO

Ivo Zopelaro (ivo.zop@gmail.com) ¹


Michel Cassol de Oliveira(cassololiveira@gmail.com)²
Vagner Scamati (vagner.scamati@ifpr.edu.br)3
1,2,3
Instituto Federal do Paraná – IFPR Campus Palmas

Resumo: A evolução tecnológica contemporânea causa reflexões, adaptações e


necessidade de renovar. Na educação, modelos tradicionais de ensino onde o
professor transmite o conhecimento sem a participação ativa do aluno, não são
suficientes para despertar o interesse para os estudos. Diante desse cenário, o
atual estudo examinou as possíveis contribuições que as tecnologias de Realidade
Virtual (RV) e Realidade Mista (RM) podem gerar no processo de ensino
aprendizagem. Ferramentas que proporcionam experiências imersivas envolventes
e inesquecíveis, possibilitando a interação com objetos virtuais. Foram analisados
importantes estudos que buscaram evidências de colaboração de ganho de
aprendizagem através da utilização desses recursos no âmbito educacional.
Durante a análise, foram encontrados diversos estudos que demonstram
colaborações no uso dessas ferramentas, como benefícios emocionais, maior
envolvimento, engajamento e atenção, proporcionam mais prazer e satisfação em
aprender, além de serem mais motivadoras. Utilizar esses recursos tecnológicos e
seus benefícios na relação ensino aprendizagem alinhados com uma metodologia
planejada pode gerar ganho de conhecimento e contribuir de forma positiva com a
educação. O presente trabalho se preocupou com as definições utilizadas sobre RV
e da RM que implica no entendimento da maioria dos autores sobre os tipos de
realidades que são exploradas nessa tecnologia, tratado como continuo da
realidade.

Palavras-chave: Realidade Virtual, Realidade Aumentada, Realidade Mista,


Ensino Aprendizagem.

Abstract: Contemporary technological evolution causes reflections, adaptations


and the need to renew. In education, traditional teaching models where the teacher
transmits knowledge without the active participation of the student are not enough to
arouse interest for studies. Given this scenario, the current study examined
the possible contributions that Virtual Reality (VR) and Mixed Reality (MR)
technologies can generate in the teaching-learning process. Tools that provide
immersive, immersive and unforgettable experiences, enabling interaction with
virtual objects. Important studies were analyzed that searched for evidence of
collaboration of learning gain through the use of these resources in the educational
scope. During the analysis, several studies were found that demonstrate
collaborations in the use of these tools, such as emotional benefits, greater
involvement, engagement and attention, providing more pleasure and satisfaction
in learning, in addition to being more motivating. Using these technological
resources and their benefits in the teaching-learning relationship aligned with a
planned methodology can generate knowledge gain and contribute positively to
education. The present work was concerned with the definitions used about VR

ISSN 2237-700X
240

and MR, which implies the understanding of most authors about the types of
realities that are explored in thistechnology, treated as a continuum of reality.

Keywords: Virtual Reality, Augmented Reality, Mixed Reality, Teaching Learning.

1 Introdução

O desafio da educação é grande na modernidade atual, apesar de


professores e alunos viverem em uma cultura digital, existe um descompasso entre
a realidade externa e a utilização desses recursos tecnológicos para uma
aprendizagem mais dinâmica e interativa, a escola não pode ficar alheia a esse
cenário contemporâneo (HETKOWSKI; DIAS, 2019).
Analisando esse contexto, entende-se que métodos antigos e sistemáticos
não são suficientes e motivadores para se ensinar e preparar os jovens para essa
sociedade digital que vivemos. A tecnologia está presente em todos os ambientes
profissionais, pois vivemos num mundo tecnológico, e todos os segmentos da
sociedade se beneficiam do seu potencial (KOHN; DE MORAES, 2007). Deste
modo, na era da informação, em plena revolução tecnológica, a educação vê-se
diante da necessidade da aquisição de novos pensares, de um novo processo
pedagógico.
Conforme (SOUSA, 2011) é essencial que o professor se aproprie de saberes
provenientes das tecnologias digitais para que possam potencializar suas práticas
pedagógicas e preparar o aluno para enfrentar as diversas situações exigidas pela
sociedade.
As novas tecnologias e os avanços da informática têm feito os profissionais
das diversas áreas do conhecimento buscarem esses recursos como apoio ao
ensino do conteúdo por eles ministrado. Conforme Mendes (2009) os estudantes
conseguem compreender e aprender conceitos utilizando softwares educativos
através da interação, visualização e ação.
Segundo o Professor Dr. Romero Tori em entrevista ao Centro de Estudos
Sociedade e Tecnologia da USP, 2019 “a educação imersiva se refere a colocar o
aluno diretamente em contato com o conteúdo da aprendizagem. Você pode colocar
os alunos dentro de ambientes que simulam de forma realista espaços, objetos,
seres vivos nos quais o aluno interage e constrói a aprendizagem. Essa imersão do

ISSN 2237-700X
241

aluno durante suas atividades de aprendizagem por meios tecnológicos que


chamamos de educação imersiva”.
Diversos estudos nos últimos anos têm mostrado que tecnologias de
realidade virtual (RV) e realidade Mista (RM) são excelentes auxiliares e
contribuintes de um processo de aprendizagem significativa no âmbito escolar.
Colaborando de maneira interativa e interessante para melhorar o engajamento e a
satisfação em aprender. Segundo FILHO (2019) alunos que aprendem através
desses mecanismos tem uma educação mais prazerosa e significativa, conseguindo
se apropriar dos conceitos ensinados e desenvolvem com facilidade as atividades
propostas.
O presente trabalho pretende mostrar possíveis evidências de contribuição da
RV e RM no processo de ensino aprendizagem. Se a utilização dessas tecnologias,
aliadas com uma metodologia adequada podem proporcionar ganho de
conhecimento de forma significativa.

2 Desenvolvimento

Este capítulo tem o objetivo de embasar e fundamentar conceitos, além de


demostrar trabalhos direcionados para possíveis ganho de aprendizagem através do
uso de tecnologias.

1.1 Realidade Virtual

Referindo-se especificamente a RV, TORI e HOUNSELL (2018) definiram


como sendo “uma interface avançada do usuário para acessar aplicações
executadas no computador, tendo como características a visualização de, e
movimentação em, ambientes tridimensionais em tempo real”, porém em sua obra,
utilizam a definição de Jerald (2015) que diz que a “RV é definida como um ambiente
digital gerado computacionalmente que pode ser experienciado de forma interativa
como se fosse real”, ou seja, é a possibilidade de criar ambientes virtuais
interativos.
Os ambientes de RV podem ser considerados de interação imersiva ou não

ISSN 2237-700X
242

imersiva. A imersiva considera o uso de um de óculos, capacetes e outros


dispositivos isolando o usuário do ambiente externo e imergindo-o para controlar
movimentos em um ambiente virtual (MAAS; HUGHES, 2020) como mostra a Figura
1. Ambientes imersivos estimulam outros sentidos como a visão estereoscópica que
normalmente não seriam explorados em ambientes não imersivos (KIRNER;
SISCOUTTO, 2007).

Figura 1 – Ambiente Imersivo de RV


Fonte: www.manus-vr.com, www.whatech.com.

A RV não imersiva proporciona a interação do usuário com o mundo virtual


utilizando dispositivos como luvas eletrônicas e navegadores 3D para a visualização
de imagens tridimensionais através de monitores (TORI; HOUNSELL, 2018)
representada na Figura 2.

Figura 2 – Ambiente Não Imersivo de RV Fonte: www.interfaces.news, www3.ha.org.hk.

A RV é uma modalidade de aprendizagem que oportuniza vivenciar situações


reais, mas criadas artificialmente, que muitas vezes não seria possível ter a
experiência real (AFONSO et. al., 2020; FILHO, 2019) como visitar um país do outro
lado do mundo, ver o solo de marte ou passear dentro de um vulcão. Outras
interfaces tradicionais nunca poderiam proporcionar experimentar sensações como

ISSN 2237-700X
243

um usuário imerso em um ambiente de RV (CARDOSO; JÚNIOR; KIRNER, 2007).


Realidade Aumentada

A RA tem recebido uma grande notoriedade no campo computacional, por


proporcionar a possibilidade de novas técnicas e experiências de interação com
computadores, segundo TORI e HOUNSELL (2018) a RA diferentemente da virtual
mantêm todas as características do ambiente físico onde o usuário está inserido e
transporta elementos virtuais para este ambiente. Esses objetos virtuais podem ser
interativos, com recursos que exploram as limitações físicas.
Essa tecnologia, possui diversas definições atribuídas a ela, porém a maioria
vão de encontro com a definição de AZUMA et. al. (2001) que descreve como um
conjunto de informações ou objetos virtuais criados através de recursos
computacionais para coexistirem em um espaço real, realizando a sobreposição de
elementos virtuais em um ambiente realista.
A RA pode ser considerada uma vertente da RV. Ela transporta os elementos
sintetizados para o mesmo espaço em que se encontra o usuário, mantendo seu
entorno real, permitindo uma simultaneidade de existência de objetos reais e
virtuais, com o objetivo de interação mais natural e intuitiva (TORI; HOUNSELL,
2018).
A tecnologia de RA evoluiu bastante nos últimos anos e está sendo utilizada
em diversas áreas. Contribuindo para a competitividade das organizações e para a
implementação de inovações tecnológicas e sociais (RIBEIRO; ZORZAL, 2011). A
Figura 3 mostra a aplicabilidade da RA na área da saúde e indústria, podendo ser
utilizada para treinar novos profissionais.

Figura 3 – Aplicação da RA nas Áreas da Saúde edustria.Fonte: www.rubygarage.org, www.esa-


automation.com.

ISSN 2237-700X
244

A Figura 4 ilustra sua aplicabilidade na área educacional, proporcionando ao


aluno visualizar lugares e estruturas no formato tridimensional, permitindo uma
melhor compreensão.

Figura 4 – Aplicação da RA na Educação Fonte: www.zealar.com.au, vrvisiongroup.com.

1.2 Continuum Realidade-Virtualidade

Como vimos, RV é a possibilidade de interação com ambientes virtuais como


se fossem reais, enquanto a RA é a sobreposição de objetos virtuais em ambientes
reais. Na literatura essas definições se encontram muito mais alinhadas do que para
a RM, isso porque não existe uma unanimidade na conceitualização para defini-la.
Muitos pesquisadores baseiam sua compreensão de RM no Continuum
Realidade-Virtualidade (SPEICHER; HALL; NEBELING, 2019). A Figura 5 apresenta
uma versão do Continuum Realidade-Virtualidade traduzida por Tori e Hounsell
(2018) e a obra descreve que nos extremos opostos estão o real e o virtual. A RA se
encontra no ambiente real e pode interagir com elementos virtuais. No ambiente
virtual também se encontra a Virtualidade Aumentada (VA) que é quando o virtual é
enriquecido com elementos do mundo real. E a RM são aqueles ambientes que
misturam real e virtual, incluindo RA e VA.

Figura 5 – Versão Traduzida do Continuum Realidade-Virtualidade.Fonte: (TORI; HOUNSELL, 2018).

ISSN 2237-700X
245

Para esse projeto, seguiremos os passos de Tori e Hounsell (2018) que


concorda que em termos práticos RA e RM têm muito em comum e devido sua maior
popularidade a RA muitas vezes é usada como sinônimo de RM. A RA será tratada em
seu sentido amplo, que abrange também a RM, como uma tecnologia relacionada à RV
e não um tipo de RV.

1.3 Relação das Tecnologias com a Educação

Acredita-se que se utilizadas de forma planejada e de acordo com as


concepções educacionais, as novas tecnologias permitem aplicabilidades pedagógicas
inovadoras, possibilitando um processo de ensino aprendizagem mais dinâmico,
interativo que podem contribuir para resultados diferenciados na apropriação do
conhecimento (CHIOFI;OLIVEIRA, 2014). O uso de tecnologias na educação tende a
promover um ganho de aprendizagem.
Em um estudo recente, ALLCOAT et. al. (2021) examinou a eficácia dessas
novas tecnologias para uso na educação, em um grupo de 75 participantes, entre
estudantes de graduação, pós graduação, doutorado e funcionários da Universidade de
Warwick, constataram que o aprendizado em ambientes virtuais e mistos possuem
níveis semelhantes de desempenho ao aprendizado tradicional. No entanto, os
participantes relataram níveis mais elevados de envolvimento nas condições de RV e
RM em comparação com a condição de aprendizagem tradicional, e níveis mais
elevados de emoções positivas na condição de RV.
O principal objetivo do estudo foi determinar se RV ou RM são alternativas
adequadas aos métodos de aprendizagem tradicionais e se eles têm quaisquer custos
ou benefícios. O estudo mostrou que ocorreu aprendizagem significativa nas três
condições, porém não havia nenhuma evidência confiável para sugerir que RV e RM
fornecem maior aprendizado em relação aos métodos tradicionais. As descobertas
sugerem que RV e RM tiveram um desempenho melhor no envolvimento do aluno e
que os participantes de RV pode haver um benefício emocional maior de aprender.
Como os alunos em condições de RV e RM tiveram um desempenho tão bom quanto
ISSN 2237-700X
246

aqueles na condição tradicional, isso indica que RV e RM são alternativas viáveis e


que esses equipamentos podem ser uteis como um suplemento ao aprendizado.
A revisão literária feita por Maas e Hughes (2020) apresenta uma visão geral de
pesquisas existentes em RV, RA e RM em ambientes educacionais, fornecendo com
clareza considerações referente ao uso dessas tecnologias no âmbito educacional. Os
autores utilizam o continuum para suas definições e diferenciam RA de RM dizendo que
no ambiente de RM além do usuário ver a sobreposição do objeto é possível manipulá-
lo.
A revisão incluiu estudos publicados entre 2006 e 2017 e foram incluídos 29
estudos, sendo que 24 analisaram RA, três analisaram RM e dois analisaram RV. Os
estudos em RA incluídos nesta revisão investigaram arte (3), linguagem (3), instrução
de biblioteca(1), matemática (3) e ciências (14). Os estudos em RV foram realizados na
área de ciências e biologia através do uso da RV para aprender física. Os estudos de
RM revisados envolveram aprendizagem da evolução geológicaatravés de um ambiente
semi-imersivo, uma tecnologia de projeção para instruir no espaço e o terceiro estudo
empregou um robô para ensinar inglês como segunda língua. A revisão revelou que há
poucas pesquisas acadêmicas focada em RV ou RM em ambientes educacionais.
Utilizou-se de uma metodologia por meio de questionários em grupos de alunos
separados antes e após o uso dos ambientes de aprendizagem. Os resultados
apresentados estão alinhados aos temas de atitude, motivação, envolvimento e
resultados de desempenho e aprendizagem. De modo geral, os alunos relataram uma
atitude positiva de experiência por meio dos ambientes gerados pelas tecnologias, com
aumento na confiança e satisfação significativamente maior em comparação com as
aulas tradicionais. As descobertas indicam uma maior motivação dos alunos em
aprender com o uso de ambientes virtuais e mistos, e que a experiência despertou nos
alunos o interesse, prazer e satisfação em aprender.
As medidas de envolvimento dos alunos revelou que prestaram mais atenção,
com maiores níveis de concentração, engajamento e participação. Em relação aos
resultados de desempenho e aprendizagem os estudos usaram pré e pós-testes,
entrevistas e dados de questionário para medir mudanças nos resultados do aluno
individualmente ou em comparação com um grupo de controle. A análise dos testes
ISSN 2237-700X
247

revelou um aumento significativo nas estatísticas de desempenho de aprendizagem


para os alunos após a utilização de algum recurso tecnológico de realidade, porém
não houve diferença significativa de aprendizagem na maioria das comparações com
métodos de ensino que não utilizam esses recursos.
A pandemia do Covid 19 fez com que interrompessem temporariamente as aulas
presenciais nas instituições de ensino no Brasil e provocou uma mudança no cenário
educacional, impulsionando a utilização das tecnologias no processo ensino
aprendizagem. Acerca desse panorama, o trabalho de revisão sistemática da literatura
de Scamati (2020) procurou responder como tecnologias de ambientes de
aprendizagem imersivos, semi imersivos e/ou aumentados, colaborativos (ou não),
utilizando a tecnologia de RM podem (ou não) por meio da teoria da carga cognitiva
contribuir com o ganho de aprendizagem nos diversos níveis educacionais.
A revisão estruturou uma estratégia de busca e seleção literária com artigos
publicados entre 2015 e 2020, a refinação através da leitura, resultou na seleção de 14
artigos. As conclusões apontam que ambientes imersivos tem tendência de diminuir a
carga cognitiva e consequentemente gera um potencial aprimoramento da
aprendizagem. Algumas teorias de aprendizagem utilizadas nos ambientes fortalecem
a relação de ensino/aprendizagem e o professor se torna um mediador do
conhecimento. Encontrou evidencias positivas que sustentam os benefícios e
colaboração desses ambientes para a construção do conhecimento. Os estudos
avaliados são consistentes na relação entre a carga cognitiva e a aprendizagem, e que
as tecnologias imersivas são vantajosas para melhorar a aprendizagem e reduzir a
carga cognitiva.

3 Considerações Finais

Com o mundo cada vez mais digital, os alunos estão em contato frequente com
as tecnologias assim, apesar de historicamente modelos tradicionais de ensino se
mostrarem eficientes no processo de transferência de conhecimentos, são menos
atrativos que outras metodologias inovadoras que utilizam recursos tecnológicos como
ISSN 2237-700X
248

auxílio no processo de ensino aprendizagem. O presente trabalho procurou analisar


diversos estudos que apontam prováveis contribuições no âmbito educacional e
possíveis ganho de aprendizagem a partir da utilização de RV e RM.
Os estudos analisados como já esperado, indicam que utilizar esses recursos no
contexto escolar alinhados com uma metodologia planejada, podem gerar ganho de
aprendizagem e contribuir de forma positiva em outros aspectos. Durante a análise,
foram encontradas diversas citações de colaborações no uso dessas ferramentas,
como benefícios emocionais, maior envolvimento, engajamento e participação, atraem
a atenção, proporcionam mais prazer e satisfação em aprender além de serem mais
motivadoras. Também foi possível evidenciar que tecnologias imersivas favorecem a
redução da carga cognitiva contribuindo para uma potencial melhora na aprendizagem.
Entende-se que é necessário que escolas e professores busquem atualizar
recursos e metodologias para atender o momento digital ao qual vivemos. É importante
inovar as práticas pedagógicas com novas ferramentas, tornando as aulas mais
atraentes, dinâmicas e motivadoras, proporcionando uma aprendizagem significativa.

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Alegre: 2018.

ISSN 2237-700X
250

DESENVOLVIMENTO DE AGUARDENTE DE MAÇÃ, CÁLCULO DO RENDIMENTO


PRODUTIVO, E, QUANTIFICAÇÃO DOS TEORES DE COBRE E METANOL
FRENTE A LEGISLAÇÃO VIGENTE.

Isabely Souza Terres (isabelyterres025@gmail.com) ¹


Julia Missio Rebelatto²
Diego Matos Favero (diego.favero@ifpr.edu.br)3
1, 2
– Discentes do curso Técnico Integrado em Alimentos – IFPR – Campus Palmas
3
– Docente do curso Técnico Integrado em Alimentos – IFPR – Campus Palmas

Resumo: O município de Palmas é atualmente o maior produtor de maçã do estado


do Paraná, com área cultivada de aproximadamente 400 hectares da cultura. A
produção anual média da fruta varia de 9000 a 12000 toneladas, sendo que desta,
aproximadamente 15% não se apresentam dentro dos padrões estabelecidos
(tamanho, cor, integridade) para venda como fruta in natura e assim, a maior parte
deste volume os produtores comercializam como fruta industrial, para empresas que
as processam nos mais diferentes produtos, como por exemplo, suco concentrado
de maçã. Assim, o presente trabalho foi realizado com o intuito de: a) desenvolver
metodologia para produção de aguardente destes frutos, b) verificar se o teor
alcoólico, a concentração de cobre e metanol da bebida produzida estavam de acordo
com os parâmetros legais vigentes, c) determinar o rendimento produtivo do método
utilizado. A aguardente é um produto alcoólico feito a partir da fermentação/destilação
de um suco de fruta, com teor alcoólico final entre 36 a 54 % v/v. Para sua produção,
utilizou-se da maçã, não classificada para venda in natura, que após higienização, foi
triturada com água e separada do bagaço. O suco resultante foi chaptalizado,
fermentado, e por fim, destilado, com separação das frações alcoólicas. O destilado
obtido foi armazenado em garrafas de vidro, e analisado, quanto ao rendimento
produtivo, e, os teores de cobre e metanol presentes na bebida. Como resultados,
foram obtidos dois lotes de aguardente com concentração alcoólica de 41,5 ± 0,7%
v/v, com teor de metanol de 86,5 ± 33,2 mg por 100 ml de álcool anidro, e, teor de
cobre de 2,47 ± 1,60 mg/L. Os resultados evidenciaram que a metodologia utilizada
para a produção da bebida resulta num produto dentro dos padrões legais vigentes e
principalmente, seguro para o consumo.

Palavras-chave: Fruto, fermentação, destilação e álcool

Abstract: The city of Palmas is currently the biggest apple producer of Paraná state,
with a cultivated area of about 400 hectares. The annual apple production varies
from 9000 to 12000 tons, from which 15% are not within the stablished standards
(size, color, integrity) for commercialization as fresh fruit. Therefore, a huge part of
such amount is used as raw material for apple processing industry, such as
concentrated apple juice companies. Thus, this work was conducted aiming at: a)
developing a technology for producing brandy with these fruits; b) verifying if the
alcoholic content, the copper, and the methanol concentration of the brandy were in
accordance with the current legal standards; c) determining the production yield of the
method used. The fruit spirit or brandy is an alcoholic product made by means of
ISSN 2237-700X
251

fermentation/distillation of a fruit juice, with alcoholic content between 36-54% v/v.


For its preparation, apples unsuitable for commercialization as fresh fruit were
sanitized, ground with water, separated from bagasse and used as raw material. The
resultant juice was chaptalized, fermented, and distilled, with separation of alcoholic
fractions. The obtained distilled was stored in glass bottles and assessed for
production yield, and copper and methanol concentration. Results showed that the two
batches of brandy obtained presented 41.5 ± 0.7% v/v ethanol, 86.5 ± 33.2 mg
methanol/ 100 mL anhydrous alcohol, and 2.47 ± 1.60 mg/L copper, suggesting that
the methods used produced a brandy within the current legal standards and, specially,
safe for consumption.

Keywords: Fruit, fermentation, distillation, alcohol.

1 Introdução

O município de Palmas, localizado na região sul do Paraná, é hoje o maior


produtor de maçã do estado, dados indicam que aproximadamente 15% da produção
total não é comercializada in natura por não estarem dentro dos padrões de qualidade
estabelecidos (tamanho, cor, integridade), consequentemente os produtores optam por
vender a fruta como industrial, para outros fins como suco concentrado. Bebidas
alcoólicas derivadas desses frutos, podem agregar valor para essa parcela da
produção. (ABPM, 2019; OLIVEIRA et al., 2006).
De acordo com o Decreto n° 6871, de 4 de Junho de 2009, aguardente de fruta é
a bebida com graduação alcoólica de 36 a 54 % em volume, a 20°C, obtida de
destilado alcoólico simples de fruta ou pela destilação de mosto fermentado de fruta. A
destilação deve ser efetuada de forma que o destilado tenha aroma e sabor dos
elementos naturais voláteis contidos no mosto fermentado, derivados dos processos de
fermentação ou formados durante a destilação ou em ambos. Ainda segundo o decreto,
a aguardente de maçã poderá ser denominada de Calvados. (BRASIL, 2009).
A Instrução Normativa n° 15, de 31 de março de 2011, regulamenta os padrões
de identidade e qualidade para aguardente de frutas, conforme organizado na Tabela 1.
De acordo com essa instrução é vedado o envelhecimento em barris de madeira para a
aguardente de fruta. (BRASIL, 2011).

ISSN 2237-700X
252

Tabela 1. Padrão de Identidade e qualidade para aguardente de frutas.


Parâmetros Aguardente de Frutas
Graduação alcoólica 36 a 54 % v/v a
20°CCobre ≤ 5 mg/L
Metanol ≤ 400 mg por 100 ml de álcool
anidroTeor de açúcar ≤ 6 g/l (normal)
> 6 g/l e < 30 g/l (deverá apresentar a denominação adoçada)

O metanol é um contaminante em aguardentes, sua origem dá-se pela hidrólise


das pectinas oriundas da matéria prima, durante o processo fermentativo. Aredução dos
níveis de metanol na aguardente dá-se ainda no processo de destilação da bebida.
(BUDAVARI, 1996; CARUSO et al., 2010; RIZZON et al., 1999).
O cobre é outro contaminante que pode estar presente em aguardentes. A
contaminação deste ocorre na etapa de destilação, uma vez que o metal constituinte do
equipamento, quando exposto ao ar úmido contendo gás carbônico e oxigênio lentamente se
oxida, ficando coberto por uma camada esverdeada, chamada de “azinhavre”, composta por
[CuCO3, Cu(OH)2]. Esta camada é então solubilizada pelos vapores alcoólicos ácidos, gerados
durante o processo de destilação da aguardente, o que acaba contaminando o produto.
(PINHEIRO et al., 2003).
Tal artigo tem como objetivo realizar a produção de aguardente de maçã a partir de
maçã fuji não qualificada para o consumo in natura, quantificando seu rendimento produtivo,
para que produtores possam agregar valor a esse produto. Além disso, objetiva-se em segundo
plano, verificar a qualidade desta bebida através de análises químicas para detectar o teor de
cobre e metanol, constituintes que em elevadas concentrações podem acarretar danos a saúde
do consumidor.

2 Material e Métodos

2.1 Preparo e padronização do suco de maçã

As maçãs (Mallus comunis) da variedade fuji, colhidas na safra de 2019 e 2020,


foram cedidas por produtor local, e armazenadas sob refrigeração até o momento da

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253

produção. O início do processo produtivo deu-se pela limpeza dos frutos, os quais
foram lavados com bucha e detergente e enxaguados com água corrente. Após a
limpeza, os frutos foram sanitizados sendo imersos em solução clorada com
concentração de 100 ppm, pelo tempo de 10 minutos. Após a sanitização, os mesmos
foram enxaguados em água corrente para retirada do cloro residual.
Após higienização, os frutos foram triturados em liquidificador com adição de
água potável, porém não clorada. Após, a enzima pectolítica ENZOZYM Pectofruit USP,
fornecida pela empresa AEB Bioquímica, foi adicionada, na concentração de 3g/hl de
mosto, e deixado sob temperatura ambiente, por 90 minutos, conforme
recomendação do fabricante.
O suco foi peneirado em pano de tecido limpo, e o teor de sólidos solúveis (°Brix)
medido. A correção do teor de sólidos solúveis (chaptalização) foi realizada
adicionando-se suco concentrado de maçã, até o valor atingir 15 °Brix.
A correção do pH não foi necessária, pois os valores de pH do suco de maçã já
chaptalizado, estavam dentro da faixa de multiplicação requerido pela levedura
Saccharomyces cerevisiae, sendo também, suficientemente ácido para redução da
velocidade de multiplicação de bactérias láticas e acéticas. (SOUZA, 2009).

• Fermentação do suco de maçã padronizado

Ao suco já padronizado, adicionou-se 4 gramas da levedura Saccharomyces


cerevisiae, ZYMASIL®, bem como 45 g/hl do nutriente FERMOPLUS® Integrateur,
ambos fornecidos pela empresa AEB Bioquímica. Após, o suco foi colocado em
recipiente de fermentação, tampado e na tampa foi colocado um Air Lock que tem como
objetivo expulsar o excesso de CO2 produzido durante a fermentação e evitara entrada
de O2 no recipiente. Após, o recipiente foi colocado em ambiente com temperatura
controlada de 25°C. O final da fermentação ocorreu quando todo o açúcar for
consumido pelas leveduras, e isso pode ser verificado pela estabilização do teor de
sólidos solúveis.
Ao final da fermentação, foi adicionado 20 ml de aroma natural de maçã, e a

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254

temperatura do fermentado foi reduzida para 5°C, o qual permaneceu por mais 9 dias,
com o intuito acelerar a deposição da massa de leveduras no fundo do fermentador.

• Destilação do fermentado de maçã

Nesta etapa o fermentado foi transferido para aparato de destilação, evitando


que a massa de leveduras, localizada no fundo do fermentador, seja também
transferida, o volume deste fermentado foi quantificado para posteriores cálculos de
rendimento e de retirada das frações da destilação.
O fermentado foi destilado em alambique de aço inoxidável, com serpentina de
cobre, com capacidade total de 10 litros, aquecido a fogo direto. Na destilação forão
realizados cortes da cabeça (10% iniciais do volume teórico do destilado), coração
(80% do volume teórico do destilado) e a cauda (10% finais do volume teórico do
destilado). O volume teórico do destilado foi de 15% do volume total do fermentado
adicionado no alambique. A graduação alcoólica do destilado obtido foi determinada
utilizando um alcoômetro de Gay-Lussac, e o volume produzido foi determinado por
uma proveta graduada. Ao final, a bebida foi armazenada em garrafas de vidro.

• Determinação do rendimento produtivo

Para a quantificação do rendimento produtivo da bebida, foi levado em


consideração, a massa inicial de fruto utilizado, bem como o volume final de aguardente
produzida, conforme fórmula abaixo:

% Rendimento = Volume de aguardente (L) x 100


massa de fruta in natura (kg)

• Determinação do teor de metanol


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255

O método é aplicável em bebidas alcoólicas e se baseia numa reação de


oxidação do metanol pelo permanganato de potássio, formando formaldeído, que reage
como sal do ácido cromotrópico, conferindo cor. O teor de metanol da bebida foi
quantificado por meio de medidas espectrofotométricas a 575 nm, utilizando como
parâmetros, soluções com concentrações conhecidas de etanol e metanol. (INSTITUTO
ADOLF LUTZ, 2008).
Para determinação do teor de metanol o seguinte procedimento foi realizado:
Pipetar 2 mL da solução de permanganato de potássio para um balão volumétrico de 50
mL. Resfrie em banho de gelo. Adicione 1 mL da solução da amostra diluída e deixe por
30 minutos em banho de gelo. Descore com um pouco de bissulfito de sódio e adicione
1 mL da solução de ácido cromotrópico. Adicione lentamente 15 mL de ácido sulfúrico
com agitação e coloque em banho de água quente (60-75°C) por 15 minutos. Resfrie e
complete o volume com água à temperatura ambiente. Faça a leitura da absorbância a
575 nm contra um branco de álcool a 5,5% tratado da mesma forma que a amostra.
Trate a solução-padrão de 0,025% de metanol (em álcool a 5,5%) da mesma maneira
que a amostra e faça a leitura da absorbância Ap. A diferença entre as temperaturas do
padrão e da amostra não deve ser maior que 1°C, pois a temperatura afeta a leitura da
absorbância. Se a cor da amostra for muito intensa, dilua com o branco preparado
como acima, até no máximo três vezes.(INSTITUTO ADOLF LUTZ, 2008).

Cálculo:

A x 2,6 x f = metanol, ml por 100 ml de álcool


anidroAp x G

onde:
A = absorbância da amostra
f = fator de diluição da amostra
Ap= absorbância da solução
padrãoG = graduação alcoólica
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256

• Determinação do teor de cobre

A determinação do teor de cobre nas amostras, dos dois lotes de aguardente de


maçã, foi realizada por laboratório terceiro credenciado, utilizando espectrômetro de
absorção atômica, conforme metodologia oficial da AOAC nº 985.35. (AOAC, 2016).

3 Resultados e Discussão

A graduação alcoólica da aguardente produzida foi de 41,5 ± 0,7%, valor este de


acordo com a legislação vigente, que preconiza valores entre 36 a 54 % v/v a 20°C.
(BRASIL, 2011).
O rendimento produtivo da bebida foi de 12,59 ± 0,35%. Deixando claro para
o leitor, o valor mencionado diz ao produtor que, se ele utilizar 100 kg de maçã, como o
mesmo nível de açúcar do utilizado no experimento, ele terá em média, produção de
12,59 litros de aguardente de maçã.
Realizando uma comparação com o rendimento de outras fontes alimentícias,
Alves et al. (2008), realizou o desenvolvimento de aguardente de goiaba, e obteve
rendimento produtivo de 7,6%, com graduação alcoólica de 40% v/v. O rendimento
produtivo da aguardente de maçã foi maior que o de goiaba, devido a maior
concentração de açúcares provenientes da própria fruta.
A média do teor de metanol determinado foi de 86,5 ± 33,2 mg de metanol por
100 ml de álcool anidro. De acordo com a Instrução Normativa n° 15, de 31 de março
de 2011, que regulamenta os padrões de identidade e qualidade para aguardente de
frutas, os valores de metanol presente no produto, dever ser igual ou menor que 400
mg por 100 ml de álcool anidro. (BRASIL, 2011).
O metanol é um contaminante em aguardentes, sua origem dá-se pela hidrólise
das pectinas oriundas da matéria prima, durante o processo fermentativo. Dependendo
da quantidade ingerida, esse composto pode causar intoxicação que se configura por
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257

dor de cabeça, náusea, cegueira, sendo também relatado casos de morte por ingestão
de doses maiores de 30 ml. A dosagem fatal usual é de 100 a 250 ml. (BUDAVARI,
1996; CARUSO et al., 2010).
A redução dos níveis de metanol na aguardente dá-se ainda no processo de
destilação da bebida. Sendo o metanol um álcool com menor ponto de ebulição que o
etanol, tem-se no começo da destilação, sua maior concentração retirada do mosto
fermentado, a qual é descartada ou utilizada para outros fins (RIZZON et al., 1999).
Após informações expostas nos últimos três parágrafos, é possível concluir que a
tecnologia utilizada neste trabalho, para a produção de aguardente de maçã,
apresentou-se satisfatória, sendo que os valores de metanol presentes no produto
final, encontram-se de acordo com o padrão estabelecido pela legislação vigente,
não sendo prejudiciais ao consumo humano.
A determinação do teor de cobre nas amostras, como mencionado em materiais
e métodos, foi realizada por laboratório terceiro credenciado. Os valores informados
pelo laboratório estão em mg de cobre por kg de aguardente, já a legislação vigente,
estabelece os valores em mg de cobre por L de aguardente. Assim, de modo a
padronizar a unidade de medida utilizada, foi primeiramente determinado a densidade
do produto, o resultado foi 0,95 g/ml. Com o valor da densidade em mãos, a unidade de
medida foi convertida, conforme observado na Tabela 2.

Tabela 2. Teor de cobre nos lotes de aguardente de maçã produzidos


Cobre (mg/kg) Cobre (mg/L) BRASIL, 2011
Lote 1 1,274 1,34 ≤ 5 mg/L
Lote 2 3,420 3,60
Média 2,47 ± 1,60

O teor de cobre assim como os demais cumpriu com os critérios


estabelecidos na legislação. Os baixos teores de cobre na aguardente produzida
neste trabalho, refletem o correto processo de limpeza dos destiladores, realizado
anteriormente ao processo de destilação.

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258

A contaminação do cobre na bebida, ocorre na etapa de destilação, uma vez que o


metal constituinte do equipamento, durante o período de não utilização, fica exposto ao ar
úmido contendo oxigênio lentamente oxidando, ficando coberto por uma camada esverdeada,
chamada de “azinhavre”, composta por [CuCO3, Cu(OH)2]. (PINHEIRO et al., 2003). Esta
camada é então solubilizada pelos vapores alcoólicos ácidos, gerados durante o processo de
destilação da aguardente, o que acaba contaminando o produto.
De acordo com Pinheiro et al. (2003), o excesso de azinhavre nas tubulações de cobre é
removido realizando uma pré-destilação com solução de ácido acético ou suco de limão. Após
esse processo, deve ser realizada a destilação com água, para a retirada dos resíduos ácidos.
De acordo com Sargetelli et al. (1996), o excesso de cobre no corpo humano pode ser
tóxico devido à afinidade deste com grupos S-H, de muitas proteínas e enzimas. O excesso
desse íon está associado a várias doenças como epilepsia, melanoma, artrite reumatoide, além
de provocar a perda do paladar.
Apesar dos efeitos tóxicos do excesso do metal sobre a saúde, o emprego de
destiladores de cobre no processo de obtenção da aguardente é frequente, pois é atribuído ao
metal o papel de catalisador durante a destilação, eliminando determinados odores
desagradáveis (sulfetos) do produto. (RIZZON et. al., 1999).

4 Considerações Finais

A metodologia utilizada para produção da aguardente de maçã atingiu os objetivos


propostos, sendo possível, a) agregar valor a frutos de menor qualidade, não
comercializados normalmente na forma in natura, b) conhecer o rendimento produtivo,
possibilitando a futuros produtores, calcular o preço aproximado do produto e sua
viabilidade e, c) garantir um produto dentro das normas estabelecidas pela legislação
vigente, sobretudo, seguro ao consumidor.

5 Agradecimentos

• Ivanir Dalagnhol, produtor de maçã na cidade de Palmas, PR.


• Empresa AEB BIOQUIMICA LATINOAMERICANA S.A. cedente da levedura
Saccharomyces cerevisiae, ZYMASIL®, do nutriente FERMOPLUS®
Integrateur e da enzima pectolítica ENZOZYM Pectofruit USP.

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Referências

ABPM – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE MAÇÃ, Dados


referentes a produção anual de maçã do município de Palmas-PR. Enviado
por Ivanir Leopoldo Dalanhol, Diretor Técnico e de Qualidade da ABPM, 2019.

ALVES, J. G. L. F.; TAVARES, L. S.; ANDRADE, C. J.; PEREIRA, G. das G.;


DUARTE, F. C.; CARNEIRO, J. de D. S.; CARDOSO, M. das G. et al.
Desenvolvimento, avaliação qualitativa, rendimento e custo de produção de
aguardente de goiaba. Brazilian Journal of Food Technology, v.11, p.64-68, 2008.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Decreto nº 6.871, DE 4


DE JUNHO DE 2009: Regulamenta a Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe
sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a
fiscalização de bebidas. Diário Oficial. Brasília, DF. 05 de Junho de 2009. Seção 1.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa


nº 15, DE 31 DE MARÇO DE 2011: Estabelecer, na forma desta Instrução Normativa
e das tabelas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 do seu anexo, a complementação dos padrões de
identidade e qualidade para bebidas alcoólicas destiladas, comercializadas em todo o
território nacional. Diário Oficial. Brasília, DF. 01 de Abril de 2011. Seção 1.

BUDAVARI, S. The merck index: an encyclopedia of chemical, drug and biologicals.


12 ed. New York: Merk & Co., 1996.

CARUSO, M. S. F.; NAGATO, L. A. F.; ALABURDA, J. Benzo(a)pireno, carbamatode


etila e metanol em cachaças. Química Nova, v. 33, n. 9, 1973-1976, 2010.

INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para análise de


alimentos/coordenadores Odair Zenebon, Neus Sadocco Pascuet e Paulo Tiglea – 4ª
edição, 1ª edição digital, São Paulo: 2008.

Official Methods of Analysis of AOAC International, 20th Edition, 2016.

OLIVEIRA, M. C. S.; SILVA, N. C. C.; NOGUEIRA, A.; WOSIACKI, G. Avaliação do


método de liquefação enzimática na extração de suco de maçã. Ciência e Tecnologia
de Alimentos, Campinas, 26(4): 906-915, out.-dez. 2006.

PINHEIRO, P. C.; LEAL, M. C.; ARAÚJO D. A. Origem, produção e composição química da


cachaça. Química Nova na Escola. n. 18, novembro de 2003.

RIZZON, L. A.; MANFROI, V.; MENEGUZZO, J. Elaboração de graspa na


propriedade vitícola. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 1999.

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ISSN 2237-700X
260

SOUZA, C. S. Avaliação de produção de etanol em temperaturas elevadas por


uma linhagem de S. cerevisiae. Tese do Programa de Pós-Graduação Interunidades
em Biotecnologa USP/Instituto Butantan/IPT. São Paulo, 2009.

ISSN 2237-700X
261

DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO: ANÁLISE SWOT DE UMA EMPRESA DO RAMO


DE COMÉRCIO ALIMENTÍCIO, DA CIDADE DE PALMAS - PR

Jonny Petersson de Oliveira (sdpetersson@hotmail.com) ¹


Alexandre Luiz Schlemper (alexandre.schlemper@ifpr.edu.br) 21,2
Instituto Federal do Paraná – campus Palmas

Resumo: Esta pesquisa teve por objetivo analisar um Minimercado na cidade de Palmas
– Paraná, através do diagnóstico organizacional, utilizando a ferramenta de análise
SWOT. Foi analisada a situação atual da organização e realizados apontamentos sobre
possíveis melhoramentos a serem aplicados na organização. A ferramenta possibilitou
identificar os pontos fracos, os pontos fortes, suas oportunidades e principais ameaças.
Dentre os principais resultados, destacam-se a localização e qualidade de atendimento
como pontos fortes, espaço físico como ponto fraco, crise econômica como ameaça e
crescimento do bairro como oportunidade.

Palavras-chave: Diagnóstico, mercado de bairro, estratégias.

Abstract: This research aimed to analyze a Minimercado in the city of Palmas - Paraná,
through the organizational diagnosis using the SWOT tool, where it was analyzed the
current situation of the organization and made notes about possible improvements to be
applied in the organization. The tool made it possible to identify weaknesses, strengths,
opportunities and main threats. Among the main results, we highlight the location and
quality of service as strengths, physical space as a weak point, economic crisis as a threat
and growth of the neighborhood as an opportunity.

Keywords: Diagnosis, neighborhood market, strategies.

1 Introdução

Praticidade, agilidade e proximidade são algumas das vantagens que fazem com
que os consumidores frequentem o minimercado do bairro e não precisem se deslocar até
o centro da cidade para comprar seus produtos. Essa é a forma com que vem enfrentando
a concorrência dos grandes supermercadistas. Nos minimercados, o dono conversa com
seus clientes chamando-os pelo nome, tendo certa proximidade, isso faz com que eles se
sintam acolhidos e valorizados. As ofertas são divulgadas por comunicação informal e em
muitos casos podem vendera prazo, com poucas restrições e burocracia.
Em muitos minimercados o atendimento é feito pela própria família proprietária do
estabelecimento, iniciando suas atividades bem cedo e fechando bem mais tarde que os
grandes mercados, oportunizando maior comodidade à vida dos clientes que costumam
fazer suas compras em horários diferenciados, estando normalmente aberto aos domingos
e feriados para atender seus consumidores. Assim, pode sempre estar inovando e criando
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262

formas personalizadas deatendimento (FECOMÉRCIO, 2015).


A primeira, dentre as três justificativas deste trabalho é dita pelos autores Wright,
Kroll e Parnell (2000) que afirmam que, os empresários não enfrentam maior desafio que o
da administração estratégica. Conduzir uma organização complexa em ambiente dinâmico
e de mudanças rápidas requer melhores julgamentos. As questões de administração
estratégica são variavelmente ambíguas e desestruturadas e o modo como administração
responde a elas determina se a organização será bem-sucedida ou não.
Para a construção de um diagnóstico é necessário o conhecimento de toda a
instituição, ou seja, todo diagnóstico implica uma ação de mudança posterior. O
profissional que irá aplicar o estudo deverá ter capacidade técnica, objetivos bem traçados
e análise crítica sobre os procedimentos da mesma (LOPES; STADLER; KOVALESKI,
2009).
A segunda justificativa é que, para Barney (2009) a organização está inserida em um
mercado novo, no qual deve buscar a melhor tática organizacional, a fim de que se possa
reduzir possíveis erros que irão surgir ao longo de sua vida corporativa.
Complementando as ideias anteriores, Silveira (2010) destaca que as organizações
estão inseridas em ambientes de constante mudança, e se faz necessário que as
empresas busquem meios de se adaptarem a essas transformações ocorridas no meio
empresarial, buscando sempre estarem atualizados e a um passo à frente dos
concorrentes.
E a terceira justificativa, é segundo Feliciano (2000), que afirma que nesse ambiente
de mudança, a empresa terá um melhor desenvolvimento se elaborar um planejamento
estratégico, ou seja, passar pelo processo de elaborar a estratégia de e definir como ela
pode ser alcançada. Em outras palavras, a empresa reconhece a sua situação atual e faz
uma projeção de futuro. E para isso, existe uma ferramenta muito útil a ser utilizada para se
aprofundar.
A ferramenta de análise de SWOT, também conhecida como Matriz SWOT é uma
ferramenta de planejamento estratégico que faz a avaliação global das forças (strenghts),
oportunidades (opportunities), fraquezas (weaknesses) e ameaças
(threats). São esses termos em inglês que originaram a sigla SWOT, ou ainda no
português, FOFA.
Baseado em estudos, essa pesquisa tenta entender como os pequenos mercados
podem sobreviver enfrentando a concorrência de grandes supermercados. Desta forma,
apresenta-se como objetivo geral efetuar o diagnóstico estratégico do Minimercado Zini Da
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263

Hípica, usando a ferramenta de análise SWOT. Como objetivos específicos apontar ao


empresário melhorias que podem ser feitas através dos resultados obtidos através do
diagnostico estratégico eanálise SWOT.

2 Material e Métodos

Trata-se de uma pesquisa exploratória, que segundo é indicada para abordar de


forma mais ampla e abrangente o fenômeno em foco, utilizando revisão de literatura,
observação direta e entrevistas (Silva, 2014). Optou-se por um estudo de caso, uma vez
que uma organização específica serviu de objeto de estudo. Para Pereira (2018), o estudo
de caso é uma modalidade de pesquisa muito utilizada nasciências sociais, especificamente
a Administração.
Ao ser proposto o Plano Estratégico para o Minimercado Zini da Hípica, o estudo foi
dividido em duas etapas. A primeira foi caracterizada pela coleta de dados. Nela, foram
reunidos os elementos que compuseram o plano estratégico, através da realização de
entrevistas semiestruturadas e aplicação de questionários.
Inicialmente, foram utilizados questionários (roteiro no apêndice 1) de forma
impressa e também enviado por e-mail para os gestores/proprietários, devido ao momento
de pandemia do Coronavírus, que impossibilitaram as entrevistas presenciais naquele
momento. As questões desse formulário, seguiam os princípios norteadores e as análises
interna e externa.
As entrevistas foram semiestruturadas, aplicadas sobre questões elaboradas
também como questionário e uma conversa informal, de modo a tentar uniformizar a coleta
das informações. Também feita com os dois gestores/proprietários do estabelecimento em
estudo.
A segunda etapa consistiu na análise de dados onde o conjunto de informações foi
verificado a fim de atingir o objetivo principal da pesquisa. Para essa análise foi utilizada a
ferramenta SWOT na categorização de pontos fracos, pontos fortes, oportunidades e
ameaças. Os detalhes desta metodologia de diagnóstico foram abordados na revisão de
literatura em (RODRIGUES, 2009; KOTLER; KELLER, 2016; CHIAVENATO E SAPIRO,
2003).

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3 Resultados e Discussão

Nesta etapa do trabalho serão apresentados os resultados da pesquisa. As


entrevistas foram transcritas, analisadas e seus pontos principais foram compilados e estão
expostos na Tabela 1 a seguir:

Tabela 1 – Análise SWOT da empresa MERCADO ZINI DA HIPICA


ANÁLISE INTERNA
STRENGTHS WEAKNESSES
(Forças) (Fraquezas)
• Preços atrativos • Estoque limitado
• Atração de novos clientes • Falta de mercadoria, abastecimento
• Atendimento diferenciado • Espaço físico limitado
• Localização • Margem de lucro baixa
• Atendimento personalizado dos clientes • Pouco espaço para armazenagem
• Atendemos nossos clientes como amigos • Estratégia de vendas
e conhecimento das necessidades dos • Desenvolvimento do negócio
clientes
• Estrutura
• Condições de pagamento diferenciadas
• Situação financeira estável
• Aprender a empreender
• Seriedade e honestidade com nossos
clientes
ANÁLISE EXTERNA
OPPORTUNITIES THREATS
(Oportunidades) (Ameaças)
• Aumento da loja física • Supermercados e atacados
• Estratégia de marketing • Novos entrantes no bairro
• Desenvolvimento do bairro e novos • Desemprego em massa
moradores • Crescimento da inflação
• Novos fornecedores
• Novos produtos
• Layout moderno
• Alimentação é uma necessidade básica e
prioritária
• Consultoria externa
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

3.1 Pontos Fortes


Analisando o quadro 3, podemos afirmar que, os preços, podem não ser os
melhores, mas em relação a mercado de bairro, estes, são atrativos e competitivos à
concorrência. A empresa tem alta capacidade de atração de novos clientes devido ao
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265

atendimento diferenciado que também é um ponto forte, pois atendem os clientes no


momento em que precisarem, trabalhando de domingo a domingo sem intervalo de almoço,
proporcionando flexibilidade e comodidade aos clientes.
O atendimento é personalizado, tratam seus clientes de forma pessoal e
personalizada, seja em termos de oferta de produtos e serviços, seja nas condições de
pagamento, oferecendo condições de pagamento mais flexíveis do que a concorrência.
A localização da empresa é estratégica e está próxima e acessível aos seus clientes
e empresas de grande porte do bairro.
Situação financeira estável, devido a empresa não possuir problemas de fluxo de
caixa, nem tampouco empréstimos;
O atendimento, seja, diferenciado ou personalizado é um ponto forte de destaque no
diagnóstico. Trabalhos como Borim e Zem (2006), Gonçalves (2009), Queiroz (2008) e
Teixeira e Silva (2015) destacam o atendimento humanizado, amizade com funcionários e
proprietários e até intimidade criada, como um fator de extrema relevância no processo de
escolha do mercado do bairro em detrimento dos grandes supermercados, onde há maior
impessoalidade. O preço apontado como ponto forte, nem sempre tem esta característica
em mercado de bairro. Borim e Zem (2006) por exemplo, concluem em seu estudo que o
preço não é um fator preponderante no processo de decisão de compra por parte dos
consumidores de minimercados.
A localização que é apontada como um ponto forte interno é reconhecida também
como elemento importante a clientes de bairro para Lima et al (2009), Queiroz (2008) e
SEBRAE (2017), não só pela conveniência, mas cada vez mais pelos custos de
deslocamentos.
O empresário está tendo a oportunidade de aprender a empreender, visto que antes
de montar o minimercado trabalhava como funcionário em um supermercado na cidade de
Palmas, o que lhe deu experiência e motivação para empreender.
A seriedade e honestidade com os clientes também e fator muito levado a sério pelo
empresário, pois você tendo a confiança dos clientes se tornara mais fácil a fidelização
dele em seu estabelecimento. O cliente se sentindo acolhido com a seriedade e
honestidade é um cliente que voltara e irá indicar para outras pessoas.

3.2 Pontos Fracos


Em relação aos pontos fracos, a empresa não possui um bom estoque de

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266

mercadorias, de tal forma que muitas vezes não consegue atender sua demanda
instantaneamente. Em muitas ocasiões a empresa sofre com desabastecimento de alguns
produtos, especialmente da cesta básica, comprometendo o atendimento completo do
cliente. Isso porque não possui hoje um espaço adequado para gerenciar com eficiências
seus estoques de mercadoria, o que acaba gerando preços mais altos que a concorrência,
mesmo com margem de lucro baixa que nãoestá satisfatória.
As condições de pagamento dos fornecedores, de forma geral, não disponibilizam
condições flexíveis de pagamento.
O atual espaço físico da loja não permite um layout mais espaçoso e moderno.
A empresa não possui hoje uma estratégia formal e planejada de vendas e nem um
planejamento estratégico de desenvolvimento do negócio.
Estrutura física adequada é demandada pela clientela e atualmente ponto fraco da
empresa. Trabalhos como Brito, Perim e Reyes Junior (2010), Gonçalves (2009), destacam
que a estrutura adequada é relevante na escolha do mercado de bairro, tendo a estrutura
inadequada o local de a armazenagem de estoque fica comprometida. E isso de acordo
com Sebrae (2016), faz com que tenha que venderseus produtos com valor mais alto e com
pouca margem de lucro. Para Jardim (2014) a falta de controle sistematizado, gera falta de
alguns produtos e sobra de outros consumindo espaços e gerando custos. Jardim (2014)
sugere a utilização da ferramenta de gestão Curva ABC para identificação dos produtos
com maior giro e valor agregado, permitindo decisões de compras que proporcionem o
suprimento mais efetivo.
A empresa não possui um desenvolvimento do negócio, para Matos da Silva (2017),
a maioria vê a carga tributária como um importante obstáculo ao desenvolvimento do
mercado. Sebrae (2017), destaca que a alta dependência de alguns fornecedores e o
pouco poder de barganhar, faz com que mantenham seus estoques reduzidos.
Para Sebrae (2016) ideal é reservar 65% da área da loja para corredores entre
prateleiras e gôndolas. 10% deve ser reservado para recebimento de alimentos e
alimentação.

3.3 Oportunidades
Analisando juntamente com o empresário pontuamos as oportunidades que a
empresa tem. A primeira, foi perceber como o bairro está desenvolvendo, logo a
estruturação do bairro e também instalação de novos moradores proporcionará além da

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267

ampliação do volume de clientes, também sua qualificação em termos deconsumo.


A alimentação não é uma necessidade supérflua das famílias, mas sim algo básico
e prioritário, portanto, é um segmento que normalmente não sofre grande impacto de
demanda em momentos de crise econômica, isso se caracteriza como oportunidade.
Desenvolver um plano de marketing para a empresa, inclusive atendendo a
deficiência de falta de estratégia de vendas. Procurar novos fornecedores para ter acesso a
novos produtos e marcas, também negociar melhores condições de negociação, entrega e
pagamentos. Com isso, ampliar a variedade de oferta de produtos aos clientes pode
representar um diferencial atrativo.
Aumentar a loja física e ampliar o espaço da loja seria importante para
desenvolvimento de um layout mais atrativo aos clientes. Com a ampliação física, surge a
possibilidade de desenvolvimento de um layout mais moderno e confortável aos clientes,
além de proporcionar a exposição mais estratégica de produtos.
E a última oportunidade percebida foi a possibilidade de uma consultoria externa,
principalmente nas áreas de gestão de marketing, vendas e planejamento estratégico, pode
representar uma alternativa interessante para o futuro da empresa.A estratégia de marketing
é uma oportunidade para o mercado alavancar os negócios. Para Matos Silva (2017) a
maioria dos mercados utilizam um mix diversificado de estratégias de comunicação, não
baseado em diagnóstico, mas sim na tentativa e erro, tentando elevar a probabilidade de
acerto. Brito Perim e Reyes Junior (2010), destacam ainda que através de investimentos
em marketing e inovações pode ser uma oportunidade de fidelizar o cliente.
Nas entrevistas que Lima et al (2009) fez, a sugestão dos clientes era aumentar a
variedade de produtos. E Teixeira e Silva (2015), confirma que a razão para frequentar
mercados maiores é diversidade de produtos. E Queiroz (2008) destaca que o preço e
qualidade de frutas e verduras são outras variáveis significativas, embora com incidência
menor.
Sebrae (2017) fala que os itens comercializados são de necessidade básica, busca
de praticidade dos consumidores, elevação de poder de compra das classes C e D,
compras via mobile (e-commerce), oferta de produtos customizados aos clientes,
relacionamento próximo com os clientes, melhorar a atratividade visual aos clientes. Teixeira
e Silva (2015) afirma que a compra é primordialmente por necessidade em detrimento a
ocasião. E Gonçalves (2009) destaca que deve aproveitar os períodos de natal, páscoa,
entre outros, para ofertar produtos sazonais.
E para SEBRAE (2016) estratégias “geradoras de tráfego” podem ser importantes
ISSN 2237-700X
268

para estimular a circulação das pessoas e elevar o estímulo ao consumo.

3.4 Ameaças
Chegamos a conclusão que a maior ameaça é a chegada de grandes redes
varejistas e atacados, normalmente com estratégias agressivas de preço, que podem atrair
muitos clientes. Além desses, novos entrantes no bairro, até pela situação já descrita de
desenvolvimento e crescimento do bairro, outros mercados podem despertar interesse de
instalação na região.
O desemprego em massa, na atual situação econômica do país, com taxa de
desemprego crescente, ameaça a capacidade de consumo da classe trabalhadora, mesmo
sendo este um item de primeira necessidade. Esse mesmo cenário, aponta para uma
elevação da taxa de inflação tende a diminuir o poder aquisitivo, especialmente para classe
assalariada.
De acordo com Brito, Perim e Reyes Junior (2010) e Gonçalves (2009) uma ameaça
são os concorrentes melhores localizados e novos entrantes no bairro.
De acordo com Sebrae (2019) a inflação alta e consequente baixa do poder de
compra, altos impostos, alta no desemprego, dificuldade de acesso a credito, falta de
profissionalização no segmento, compras em baixos volumes e sem descontos,
necessidade de comprar de fornecedores de outros estados, em momentos de crise os
clientes podem optar por concentrar as compras em menos idas a mercado. Se tronando,
dessa forma, a pior ameaça.

ISSN 2237-700X
269

4 Considerações Finais

Esse trabalho teve por objetivo fazer um diagnóstico estratégico na empresa Mercado
Zini da Hípica utilizando a metodologia de análise de Swot para identificar os pontos fortes,
pontos fracos, oportunidades e ameaças que afetam atualmente a organização. Os
resultados abaixo contam com o ponto de vista não só do empresário, mas também do
pesquisador.
Em relação aos pontos fortes internos do comércio destaco a localização
privilegiada e a fidelização de muitos clientes, principalmente a partir do atendimento
pessoalizado e humanizado. Com essa fidelização os próprios clientes fazem o marketing
do comércio através da comunicação boca a boca, a empresa tem situação financeira
estável, pois não tem empréstimos ou financiamentos vigentes, a condição de pagamento é
acessível aos clientes fidelizados, contando com crediário, para o cliente poder manter suas
compras durante o mês e fazendo o pagamento depois que recebe seu salário.
O empresário está tendo a oportunidade de aprender a empreender, pois antes de
montar o minimercado trabalhava como funcionário de um supermercado. A seriedade e
honestidade com que atende seus clientes é fator muito importante para o negócio.
Em relação aos pontos fracos destaco o fato de o comércio não ter um espaço físico
amplo para manter um estoque maior de mercadorias, que proporcionaria maiores
recursos de suprimento e evitaria as frequentes faltas de produtos nas prateleiras. Outro
ponto de atenção relacionado ao espaço físico, é o layout limitado da loja, que não permite
oferecer ao cliente um ambiente mais confortável e espaçoso.
As oportunidades externas do ambiente requerem uma maior atenção por parte do
proprietário. Tendo em vista que o bairro onde está localizado o comércio está em
ascensão, poderá atrair um maior número de clientes com o aumento do espaço físico da
loja modernizando o layout da mesma e uma gestão mais profissional, com a assessoria
externa de uma consultoria.
Acerca das oportunidades, a principal é o crescimento e desenvolvimento do bairro,
com chegada de novos potenciais clientes. Estes clientes podem ser atraídos com
estratégias de comunicação local e também investimento no já mencionado layout interno,
que tornará o ambiente mais atrativo e estimulante ao consumidor.
Quanto às ameaças externas do ambiente, destacam a concorrência de grandes
redes varejistas que tem chegado à cidade com estratégias agressivas de preço. Também
ISSN 2237-700X
270

pode ser ameaça os novos entrantes (mercados menores) que podem chegar ao bairro,
atraído pelo seu crescimento. Outra importante ameaça tem sido o cenário de crise
econômica, com aumento do desemprego, elevação da inflação e consequente perda de
poder aquisitivo da classe trabalhadora, afetando diretamente o principal o público alvo da
empresa. Uma alternativa para enfrentamento dessa ameaça seria utilizar a atual solidez
financeira da empresa para proporcionar aos clientes condições mais flexíveis de
pagamento neste momento, convertendo o fluxo de caixa positivo em crédito aos clientes.
Esta medida poderia, além de reter estes clientes com problemas econômicos neste
momento, gerar uma fidelização futura.
Com relação aos objetivos propostos, conclui-se que foram atingidos de maneira
satisfatória, e como resultado, foi desenvolvido o processo de diagnóstico estratégico,
utilizando a ferramenta análise de SWOT. Porém, com as dificuldades e limitações impostas
pela pandemia do Coronavírus, as entrevistas aos clientes e fornecedores do minimercado
não puderam ser realizadas.
Como trabalhos futuros, deseja-se desenvolver algumas ações estratégicas para o
crescimento competitivo do minimercado, com ações pró ativas para cada ponto
mencionado na Tabela 1 - SWOT.

5 Referências

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competitiva. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009

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ISSN 2237-700X
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DIANÓSTICO ESTRATÉGICO EM UMA ENTIDADE SEM FINS LUCRATIVOS: UM


ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE
CARACU

Bruno Barzotto Abdalla (b.abdalla@hotmail.com) ¹


Alexandre Luiz Schlemper (alexandre.schlemper@ifpr.edu.br) 21,2
Instituto Federal do Paraná – campus Palmas

Resumo: O presente estudo trata de uma pesquisa de diagnostico estratégico


situacional, realizada na Associação Brasileira de Criadores Caracu, localizada na cidade
de Palmas – PR. Os procedimentos metodológicos utilizaram para diagnóstico inicial a
ferramenta SWOT (strengths, weaknesses, oportunities e threats) e para posterior
definição da postura estratégica, a ferramenta GUT (Gravidade, Urgência e Tendência).
Os resultados identificaram no ambiente interno a predominância de pontos fracos sobre
pontos fortes, e no ambiente externo a predominância de oportunidades sobre as
ameaças, culminando em uma postura estratégica de crescimento. A partir desta postura,
sugeriu-se as estratégias de expansão, inovação e internacionalização.

Palavras-chave: Associação, diagnóstico estratégico, matriz GUT, postura estratégica,


SWOT.

Abstract: The present study deals with a strategic situational diagnosis research, carried out
at the Brazilian Association of Caracu Breeders, located in the city of Palmas – PR. The
methodological procedures used for initial diagnosis the SWOTtool (strengths, weaknesses,
opportunities and threats) and for later definition of the strategic posture, the GUT tool
(Gravity, Urgency and Trend). The results identified in the internal environment the
predominance of weaknesses over strengths, and in the external environment the
predominance of opportunities over threats, culminating in a strategic growth posture.
Based on this posture, expansion, innovation and internationalization strategies were
suggested.

Keywords: Association, strategic diagnosis, GUT matrix, strategic posture, SWOT.

1 Introdução

Atualmente, a competitividade exige que cada vez mais as organizações sejam


eficientes, a fim de obter vantagem frente ao complexo mercado que estão inseridas. Para
isso, o planejamento estratégico continua sendo de fundamental importância dentro das
empresas, traçando estratégias que definirão o futuro das mesmas.
Diante do exposto, este trabalho levanta o seguinte problema: qual a real situação
ambiental estratégica da Associação Brasileira de Criadores de Caracu? Com base no
questionamento, esse trabalho tem como objetivo realizar um diagnóstico estratégico
organizacional da Associação Brasileira de Criadores Caracu, realizando uma análise
ISSN 2237-700X
274

ambiental da organização, definindo sua postura estratégica e também sugerido ações


estratégicas para resolução dos problemas identificados.
O estudo justifica-se pelo fato da Raça Caracu ser a primeira raça genuinamente
brasileira, com grande potencial de crescimento e expansão, mesmo diante da ampla
concorrência de demais raças, necessitando assim, de uma associação forte e com um
planejamento bem definido. O diagnóstico estratégico é fundamental na busca pela
competitividade.

2 Material e Métodos

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa de nível exploratória, uma vez que
busca a identificação de fatores que possam contribuir para a construção de um
planejamento estratégico. Para Gonsalves (2003), a pesquisa exploratória oferece dados
elementares que dão suporte para a realização de estudos mais aprofundados sobre o
tema, o que de fato é um dos objetivos do presente trabalho. Quanto a natureza da
pesquisa, pode ser definida como quali-quanti, onde na primeira etapa foi conduzida uma
fase qualitativa (matriz SWOT), e posteriormente, após tabulação e análise dos dados, uma
fase quantitativa (matriz GUT).
A pesquisa caracteriza-se por um estudo de caso da Associação Brasileira de
Criadores de Caracu (ABCC). Um estudo de caso pode ser caracterizado como um estudo
de uma entidade bem definida como um programa, uma instituição, um sistema educativo,
uma pessoa ou uma unidade social, visando conhecer com profundidade como e o porquê
de uma determinada situação, procurando descobrirsuas características. Fato este revelado
pelo pesquisador, de forma que não venhaa intervir no objeto estudado (FONSECA, 2002).
Para realização de um estudo de caso, podem ser utilizadas diferentes fontes de
investigação, como entrevistas, questionários e observação. Nessa pesquisa, ocorreu a
observação dos fenômenos analisados e principalmente a aplicação de entrevistas com
roteiro semiestruturado (Apêndice 1) aplicados aos diretores, gestores e associados da
organização estudada. De acordo com Flick (2004) as entrevistas com roteiros
semiestruturados facilitam o processo de obtenção de informações, uma vez que em
função da sua flexibilidade permitem ao pesquisador

ISSN 2237-700X
275

incluir e excluir determinadas questões ou ainda efetuar alterações na ordem das


mesmas, em virtude das respostas obtidas.
A presente pesquisa foi conduzida no período de 10 de fevereiro a 20 de abril de
2021, sendo que os dados foram obtidos através de um roteiro semiestruturado de
entrevistas, com questionários aplicados na forma de entrevistas presenciais e também
via formulário online, utilizando-se da ferramenta do Google Docs, sendo esse último,
enviado via link por e-mail, com o objetivo de alcançar respondentes de várias regiões do
país. Os questionários foram aplicados com diretores, associados e funcionários da
ABCC, direcionando os questionamentos para explanação sobre os pontos fortes e
fracos e oportunidades e ameaças da organização.
Após obtenção e tabulação dos dados primários, os mesmos foram analisados e
realizado o cruzamento a partir da Análise SWOT. Os dados primários foram
submetidos a uma segunda fase de entrevistas, para avaliação segundo a metodologia
GUT, cumprindo então as etapas de diagnóstico e definição da postura estratégica da
organização.

3 Resultados e Discussão

3.1 Análise ambiental

Ao final da pesquisa foram obtidos um total de 13 questionários válidos, onde


realizou-se a transcrição integral das entrevistas e tabulação dos dados, sendo que os
fatores em destaque foram compilados e classificados utilizando-se a ferramenta da
matriz SWOT, conforme Tabela 1:

Tabela 1: Análise Ambiental ABCCaracu

ISSN 2237-700X
276

ANÁLISE INTERNA
STRENGTHS WEAKNESSES
(Forças) (Fraquezas)
• Desconto nos serviços para associados; • Falta de mais benefícios para o
• Atendimento acessível e eficiente; associado;
• Baixo custo para o associado; • Falta de benefícios para funcionários;
• Programa de melhoramento genético • Software online inacabado;
gratuito aos associados; • Falta de informatização;
• Software próprio para controle de • Falta de divulgação e propaganda da
rebanhos; raça;
• Organização de eventos; • Baixa adesão ao programa de
• Parcerias com institutos de pesquisa; melhoramento genético por parte dos
associados;
• Queda no número de associados;
• Queda no número de animais
registrados;
• Dificuldade financeira;
• Baixo engajamento do corpo técnico;

ANÁLISE EXTERNA
OPPORTUNITIES THREATS
(Oportunidades) (Ameaças)
• Mercado pecuário em expansão; • Raças concorrentes;
• Raça adaptada em todas as regiões do • Localização da sede da ABCCaracu;
Brasil; • Imagem da raça;
• Raça bem aceita por produtores e • Mercado do gado Puro de Origem (P.O);
consumidores;
• Novas tecnologias de produção;
• Cenário político atual;
• Busca por carne de qualidade;
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2020).

Em relação aos pontos fortes, destacam-se a questões referentes ao baixocusto


dos serviços comparados a outras associações de criadores e os descontos nos
serviços oferecidos ao associado, uma vez que todo associado tem direito a umdesconto
de 50% no valor de qualquer serviço dentro da entidade. Também se destaca o
atendimento acessível e eficiente dos funcionários, pois, em se tratando de uma
empresa de pequeno porte, o acesso é mais fácil e organizado, com pronto atendimento
as solicitações e demandas dos criadores, seja pessoalmente, via telefone ou de forma
online. Um grande destaque é a disponibilização aos associados de um programa de
melhoramento genético animal de forma gratuita, o qual todo associado que tiver
interesse pode participar, sem acréscimos de custos ou cobranças. Geralmente esse
serviço de melhoramento genético animal é de alto custo e as demais associações não
costumam oferecer de forma gratuita, cabendo a cada criador procurar o ingresso de
forma individual e arcar com os custos, caso haja interesse. Vale ressaltar que esse
serviço de melhoramento genético é oferecido através da parceria com institutos de
pesquisas renomados nacionalmente, sendo esse mais um ponto forte destacado, uma
vez que fornece umgrande suporte ao desenvolvimento da entidade.

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277

Em relação aos pontos fracos, ganha notório destaque a própria questão do


programa de melhoramento genético, que é tido como um ponto forte, porém tem uma
baixa adesão por parte dos associados, mesmo que de forma gratuita, se tornando
assim de alto custo e pouco retorno para a raça. A principal razão disso pode ser pelo
próprio fato de ser um serviço oferecido sem custos ao criador, que passa assim a não
valorizar ou não acreditar no serviço como deveria. Outro ponto, é que apesar de possuir
e oferecer um software próprio para controle dos rebanhosde cada criador, este software
ainda encontra-se inacabado, necessitando de mais recursos online e integração com o
sistema de cobrança, ou seja, informatização de todos os processos, citado também
como outro ponto fraco. Outro ponto a ser destacado, que foi levantado pela maioria dos
entrevistados, trata-se da falta de divulgação e promoção da raça, a qual mesmo tendo
uma qualidade ímpar e boa aceitação de mercado, encontra-se em queda no número de
animais registrados e também no número de associados, ou seja, há um declínio
percebido principalmente nos últimos anos, acarretando em problemas financeiros para
a entidade, fato essetambém destacado como ponto fraco. Os motivos para isso podem
ser os mais variados, desde o próprio problema da falta de divulgação e promoção, até
questõespolíticas e culturais, concorrência, mercado financeiro etc.
Como as oportunidades possuem forte ligação com o mercado, destaca-se o
próprio mercado pecuário, em expansão a cada dia, devido ao aumento diário da
população e consequentemente do consumo de produtos de origem animal. Neste
mercado brasileiro, a Raça Caracu encaixa-se de forma eficiente, uma vez que é uma
raça rústica, genuinamente brasileira, formada no próprio território, passando por um
longo processo de seleção natural, sendo assim, adaptada a todo tipo de clima e
condições das diversas regiões brasileiras, consequentemente sendo bem aceita pelos
pecuaristas, e a carne sendo bem aceito pelos consumidores.
As novas tecnologias de produção que são implementadas a cada dia, também
surgem como uma ótima oportunidade, de forma a colaborar com o aumento da
produtividade e redução dos custos operacionais, permitindo assim, produzir cada vez
mais em um espaço de área reduzido, buscando eficiência e também produzindo
produtos de alta qualidade, nesse caso, a carne. A cultura atual, influenciada pelo
aumento de renda da população, tem buscado cada vez mais por carnes nobres e de
qualidade, de alto valor agregado, se tornando um nicho de mercado evidente nas
diferentes regiões do País.
Em relação as ameaças, podemos destacar as próprias raças concorrentes
existentes no mercado, algumas com grande expansão no mercado nos últimos anos,
ampla divulgação, recebendo grandes investimentos, até mesmos de artistas e
celebridades. Outro fator, que pode colaborar para a expansão das raças

ISSN 2237-700X
278

concorrentes, é a localização geográfica da sede da ABCCaracu, uma vez que se


encontra no sul brasileiro, enquanto o grande mercado comprador atualmente encontra-
se na região centro-oeste e norte. Apesar da tecnologia contribuir para o encurtamento
de distâncias, a sede de ABCCaracu sendo mais centralizada em termos geográficos
relativos aos produtores e consumidores, poderia atender de forma mais eficiente os
criadores já ativos, e principalmente recrutar um número maior de interessados em filiar-
se a entidade.
A imagem da raça, levantada como uma ameaça é um fator muito citado pelo
mercado consumidor, ou seja, ainda existe a ideia, por parte de alguns pecuaristas, de
que a Raça Caracu possui animais com baixo desempenho e pouca produção de carne.
Fato esse explicado pois, no período colonial, a Raça foi formada em território nacional
para ser utilizada como ferramenta de trabalho, principalmente para traçãonos engenhos
de cana de açúcar da época. Os animais não eram selecionados pensando em
produtividade de carne e muito menos eram oferecidas as devidas condições para que
os animais atingissem o seu máximo desempenho. Após o início da criação para fins
comerciais, este cenário começou a mudar, ou seja, os animais passaram a serem
criados de forma profissional, passando por um longo processo de seleção para
produtividade e melhoramento genético, além da adoção de novas tecnologias, o que
colaborou de forma expressiva para o desenvolvimento dos animais que são criados
atualmente. Porém, este fator de imagem negativa da raça, vem a corroborar com o fato
discutido nos pontos fracos, que seria a falta de divulgação e promoção da própria raça,
de dados produtivos e de evolução de desempenho dos animais ao passar dos anos,
que poderiam colaborar de forma significativa com a melhoria desta imagem.
Neste momento, a partir de Oliveira (2007) será definida a postura estratégica da
organização, utilizando-se da metodologia GUT. Os resultados estão descritos na Tabela
2 a seguir:
Tabela 2 – Postura Estratégica ABCCaracu:

ANÁLISE
INTERNA

PONTOS FRACOS PONTOS FORTES


Pontuação 537 Pontuação 395

AMEAÇAS SOBREVIVÊNCIA MANUTENCÃO


ANÁLISE Pontuação 102
EXTERNA
OPORTUNIDADES CRESCIMENTO DESENVOLVIMENTO
Pontuação 348
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

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279

Como resultado das análises internas e externas podemos determinar a postura


estratégica da empresa como de crescimento, uma vez que, através da análise do
cruzamento de dados na matriz GUT, há internamente uma proeminência de pontos
fracos em relação aos pontos fortes, porém, o ambiente externo apresenta uma
predominância de oportunidades, tornando assim um ambiente favorável ao
crescimento da organização.
A partir desta postura estratégica, Oliveira (2007) apresenta algumas estratégias
específicas alinhadas a esta postura:

• Estratégia de inovação;
• Estratégia de internacionalização;
• Estratégia de join venture;
• Estratégia de expansão;
No caso da postura estratégica de crescimento, a gestão da organização tem um
papel muito relevante, uma vez que o ambiente interno é controlável, portanto, é possível
corrigir internamente suas deficiências, com o objetivo de minimizar os pontos fracos e
intensificar os pontos fortes. Ou seja, a gestão da entidade tem papel fundamental, com
grande capacidade de intervenção, cabendo decisões de gestão eficientes. Por outro
lado, o ambiente externo também apresenta-se favorável, uma vez que predominam as
oportunidades sobre as ameaças, cabendoassim aproveitá-las da maneira correta.
Diante dos fatos apresentados, poderia ser recomendado a empresa que
adotasse as estratégias de inovação, expansão e internacionalização. Primeiramente
inovação, no que se refere aos seus serviços, antecipando-se aos concorrentes e
realizando frequentes desenvolvimentos frente ao mercado agropecuário, o qual é de
rápida evolução. Na inovação do produto, que é a produção de bovinos de corte,
poderia ser explorado cada vez mais o mercado da carne de qualidade, adotando
tecnologias eficientes que venham a contribuir com a produção, como por exemplo,
maior utilização dos programas de melhoramento genético, visando a produção de
carnes com maior maciez, marmoreio e suculência, incentivo a utilização de programas
de inseminação artificial, utilização da seleção via ultrassonografia de carcaça, etc.
A estratégia de expansão poderia ser adotada no que se refere ao
aproveitamento de situações favoráveis, como já citado, o próprio mercado pecuário,
podendo expandir fronteiras e até mesmo focar em nichos específicos, como o da carne
de qualidade. Uma vez que a Raça Caracu é adaptada em todo território nacional e
produz uma carne de qualidade, pode-se focar em campanhas promocionais
direcionadas aos públicos específicos, estimulando a demanda e assim promovendo a
ampliação e expansão da raça.

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280

Quanto a estratégia de internacionalização, o mercado internacional pode


representar uma alternativa estratégica interessante para a Raça Caracu, seja na venda
de animais vivos ou da própria carne, sendo que pode representar um produto com
características tipicamente brasileiras, produzidos de forma sustentável, com alta
qualidade e direcionado aos mercados específicos.
Para isso, necessita um adequado planejamento de todo processo para que seja
bem executado, avaliando principalmente se possui recursos suficientes ou é capaz de
reuni-los.

4 Considerações Finais

O presente estudo teve por objetivo realizar um diagnóstico estratégico da


Associação Brasileira de Criadores de Caracu, realizando uma análise ambiental da
organização, além de definir sua postura estratégica. Para o cruzamento dos dados
foram utilizadas as metodologias da Análise SWOT e da Matriz GUT, a fim de realizar as
etapas de diagnóstico estratégico e posteriormente definição da postura.
O principal ponto forte diagnosticado refere-se ao baixo custo dos serviços aos
associados, comparados a outras associações de criadores, e os descontos oferecidos
aos mesmos, assim como o atendimento acessível e eficiente dosfuncionários. Também
se destaca a oferta de um programa de melhoramento genético disponibilizado de forma
gratuita aos associados. Nos pontos fracos temos como destaque a própria questão do
programa de melhoramento genético, que apesar de ser oferecido de forma gratuita,
tem uma baixa utilização por parte dos criadores. Como oportunidades, o mercado
pecuário em expansão a cada dia e a demanda por carnes ganha destaque, sendo que
a Raça Caracu pode contribuir de forma significativa. Nas ameaças, existem as próprias
raças concorrentes que competem diretamente por esse mercado, assim como a
imagem da raça um poucodesgastada.
A postura estratégica da organização ficou definida como de crescimento, tendo
a gestão da entidade um papel fundamental, uma vez que pode controlar o ambiente
interno, corrigindo suas deficiências e pode aproveitar as oportunidades do ambiente
externo que se mostra favorável. A empresa poderia adotar as estratégias de inovação,
expansão e internacionalização. Inovação no que se refere aos produtos e serviços,
adotando tecnologias que venham a contribuir com a produtividade. Expansão no que se
refere aos mercados consumidores e até mesmo nichos específicos. E por fim,
internacionalização do produto no mercado, podendo representar uma interessante
estratégia de desenvolvimento.
Dentro do processo de planejamento estratégico, esse estudo limitou-se até o

ISSN 2237-700X
281

processo de diagnóstico e postura estratégica. Diante disso, sugere-se que a partir dos
resultados apresentados, a entidade estudada dê prosseguimento ao processo de
planejamento estratégico com a elaboração subsequente das demais etapas (objetivos,
metas, estratégias, planos de ação e instrumentos de controle e avaliação).

5 Referências

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OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas.São


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ISSN 2237-700X
282

ENTRE O JORNAL E O LIVRO: UMA LEITURA DO ROMANCE IAIÁ GARCIA,


DE MACHADO DE ASSIS

Jaison Luís Crestani (jaison.crestani@ifpr.edu.br)1


1
Docente do Colegiado de Letras do Instituto Federal do Paraná (IFPR) – Campus
Palmas.

Resumo: Este trabalho propõe uma análise da atividade intelectual do escritor


brasileiro Machado de Assis (1839-1908) enquanto homem de imprensa,
desenvolvida junto ao periódico O Cruzeiro durante o ano de 1878. O estudo da
interação dinâmica do autor com o contexto de produção do periódico permite
identificar os traços de sua inscrição singular em projetos editoriais coletivos e os
resultados criativos decorrentes da apropriação do conjunto de discursos, códigos e
signos que formam a cultura de seu tempo. Com base neste contexto, propõe-se
analisar o modo como o romance Iaiá Garcia, de Machado de Assis, se inscreve na
materialidade do jornal O Cruzeiro. Tendo em vista o perfil editorial do periódico,
investigam-se as implicações da integração da obra ao conjunto de discursos,
concepções ideológicas e fatores de mercado que formam a unidade multiforme de
sua instância de divulgação. Da confluência entre a textualidade da obra e sua
constituição material, resultam maneiras particulares de fruição literária,
determinadas pelos protocolos de leitura, categorias de leitores e horizontes de
expectativas próprios de cada contexto de produção. Com a análise desse
romance, pretende-se demonstrar, portanto, que O Cruzeiro afirma-se como
mediador e suporte, por excelência, dos exercícios experimentalistas que
resultaram na transformação da prática criativa de Machado de Assis ao final da
década de 1870.

Palavras-chave: Literatura; Imprensa; Machado de Assis, Iaiá Garcia; O Cruzeiro.

Abstract: This work proposes a critical study about Machado de Assis’ literary
production published in the newspaper O Cruzeiro, during the year 1878. The
study of the dynamic interaction between the author and the periodical’s production
context permits to identify the traces of his singular inscription in collective editorial
projects and the creative results deriving from the appropriation of the group of
discourses, codes and signs that form the culture of his time. Based on this context,
this paper aims to analyze the the insertion of the novel Iaiá Garcia, by Machado de
Assis, in the materiality of the newspaper O Cruzeiro. In view of the editorial line of
this newspaper, it investigates the implications of integrating the novel with the set
of discourses, ideological conceptions and marketing factors that form the plural
unity of the newspaper’s materiality. This confluence between the literary text and its
material composition results in particular ways of literary enjoyment, determined by
reading practices, categories of readers and horizons of expectation that prevail in
this production context. Therefore, the analysis of this narrative intends to
demonstrate that the newspaper O Cruzeiro is stated as a mediator and support, for
excellence, of the experimental exercises that resulted in the transformation of
creative practice of Machado de Assis’ creative practice at the end of the 1870s.
Keywords: Literature; Press; Machado de Assis, Iaiá Garcia; O Cruzeiro.

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1 Introdução

Em setembro de 1877, Machado de Assis finalizaria a elaboração de seu


quarto romance, Iaiá Garcia, composto para o fim de participar do lançamento do
jornal O Cruzeiro, que passaria a circular em 1º de janeiro de 1878. Concebida sob
um acordo prévio com os gestores do periódico, a narrativa marcaria presença,
desde o número de abertura, no rodapé destinado ao folhetim. Essa publicação
parcelada se estenderia até 2 de março de 1878, quando o último fragmento do
romance traria estampada a data final da escrita da obra: “setembro de 1877”.
Como “resultado de encomenda do grupo que então se preparava para lançar
o novo jornal” (MAGALHÃES JR., 1975, p.12), a obra de Machado de Assis também
foi previamente pensada para uma publicação posterior em livro. Elaborado em
colunas mais largas e tipos maiores,2 a composição tipográfica já estava sendo
preparada para a impressão do livro à medida que o texto era divulgado em folhetim.
Um mês após o término de sua publicação no jornal, anunciava-se a venda do
romance, em “um nítido volume de mais de 300 páginas”, editado pela tipografia do
próprio jornal O Cruzeiro. Além de uma eficiente estratégia econômica, esse
investimento prévio traduzia a aposta do periódico na competência e na credibilidade
do escritor, mencionado na carta-programa como sinônimo de distinção literária.
Desse modo, considerar a conjuntura que presidiu à criação dessa obra
literária implica reconhecer a exigência de se compreender o romance não como
uma produção autônoma, mas como parte integrante de um empreendimento
editorial coletivo. A inscrição de um texto no corpo de um jornal pressupõe uma inter-
relação, convergente ou dissonante, em termos de orientação literária,
posicionamento ideológico, diretriz editorial e fatores de mercado. Para além dessas
disposições, é necessário atentar também para o conjunto de implicações
diferenciadas que cada materialidade inscreve na definição do sentido das obras: da
confluência entre a constituição material e a componente textual resultam maneiras
particulares de fruição da obra literária, determinadas pelos protocolos de leitura,
categorias de leitores e horizontes de expectativas próprios de cada contexto.

2
A página do jornal era dividida em seis colunas e, exclusivamente no espaço do folhetim dedicado
à publicação de Iaiá Garcia, adotou-se a divisão em quatro colunas.

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284

Entretanto, uma vez que o romance foi inteiramente escrito três meses antes
do início da publicação em folhetim,3 a sua composição não recebeu influxos diretos
de sua inscrição no corpo de um jornal plenamente constituído. Em vez disso, a
escritura de Iaiá Garcia interagiu apenas com o prospecto que orientaria a criação
do novo periódico. A interação dinâmica das relações de complementaridade
recíproca e de compartilhamento de características entre os diversos elementos
textuais que constituem a unidade multiforme de um jornal entraria em ação a partir
da colaboração constante que o escritor passaria a manter junto ao periódico O
Cruzeiro no decorrer do ano de 1878.
Por outro lado, a composição prévia de Iaiá Garcia, finalizada três meses
antes do início da circulação do jornal, sugere que a participação do escritor foi
deliberadamente pensada como um investimento estratégico para a construção da
credibilidade do periódico, conforme se observa pela reciprocidade legitimadora que
se articula entre o jornal e a imagem pública do escritor. Assim, a ratificação do
reconhecimento do autor por meio de declarações e resenhas elogiosas retroage em
favor da imagem do próprio jornal, que tem o mérito de contar com a colaboração de
tão renomado escritor.
Durante o ano de 1878, período em que Machado de Assis participou do
corpo de redatores de O Cruzeiro, Iaiá Garcia foi o único romance de procedência
nacional a ocupar as páginas do periódico. Todos os demais romances publicados
no rodapé do jornal ao longo desse ano constituíam traduções de narrativas
folhetinescas de origem francesa. No ano de 1878, o espaço do “Folhetim do
Cruzeiro” seria preenchido com a divulgação das seguintes narrativas seriadas: O
capitão satanás, de Luiz Gallet, A bruxa, de Emanuel Gonzales, Os sete homens
vermelhos, de Armand Lapointe, e O filho das Hervas, de Emílio Richebourg.
Verifica-se, portanto, a função especial exercida pelo escritor no âmbito das matérias
publicadas no rodapé do jornal, encarregado de representar a literatura nacional,
seja sob a forma do romance, do conto, ou mesmo, da crítica literária.

3
De acordo com Raimundo Magalhães Junior (1975, v. 3, p. 12), no “Prefácio” à edição crítica do
romance, a data estampada ao término do último folhetim indica que o romance estava
“inteiramente escrito, três meses antes do inicio da sua publicação em O Cruzeiro”.

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285

Com o falecimento de José de Alencar, no ano anterior, Machado de Assis


começava a afirmar-se como um dos primeiros nomes da literatura brasileira. Em
1873, o retrato do escritor já havia sido estampado ao lado de Alencar na capa do
Archivo Contemporâneo, evidenciando o reconhecimento adquirido principalmente
em função de sua atuação como poeta e crítico literário. Ao final da década de 1870,
com três romances e dois volumes de contos publicados, a obra de Machado de
Assis começava a se consolidar como uma referência também no âmbito da prosa.
Dessa forma, decidido a reunir os intelectuais mais renomados da corte carioca, O
Cruzeiro corroborou a legitimação desse prestígio e filiou a sua própria imagem à
competência do escritor, ostentando no programa de abertura do periódico a escolha
de “um dos nossos mais distintos escritores, o Sr. Machado de Assis”.

2 Desenvolvimento

2.1 A inscrição de Iaiá Garcia no “Folhetim do Cruzeiro”

Em 17 de fevereiro de 1878, SIC, pseudônimo de Carlos Laet, iniciou a sua


crônica dominical referindo-se à questão da febre amarela, que se alastrava pelo Rio
de Janeiro. Consciente de estar desvirtuando o protocolo tradicional da seção,
comumente dedicada a assuntos amenos e narrativas romanescas, o cronista se
sentiu na obrigação de justificar essa mudança inconveniente junto ao público
principal desse âmbito do jornal: “Este começo parece calculado para despertar a
atenção e dissipar o enfado da leitora que desceu às lojas para conversar com a Iaiá
Garcia, e não pode reter um muxoxo topando com o cronista dos domingos” (O
Cruzeiro, 17 fev. 1878, p. 1, col. 1).
Dessa justificativa, depreendem-se inferências essenciais para a definição
das relações entre o romance, o jornal e o segmento de público que
presumidamente frequentava o rodapé do periódico. Inicialmente, evidencia-se a
especificidade do espaço, em regra reservado a fantasias e amenidades. Conflui
para esse arranjo, a particularização do leitorado da seção ao gênero feminino,
imbuída também de uma denúncia do desdém deste segmento de público pelo
debate sobre problemas sociais e políticos do país. Desse modo, a inscrição do

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romance Iaiá Garcia neste círculo, se já não poderia condicionar a sua elaboração
ficcional, influencia decisivamente o processo de apropriação e de fruição da obra,
implicando assim uma transformação da leitura em função do suporte que a
materializa (CHARTIER, 1999, p. 88).
Efeitos dessa complexa interação entre o texto literário e sua inscrição na
materialidade do jornal transparecem, por exemplo, em uma apreciação crítica do
romance publicada no próprio O Cruzeiro por um de seus principais redatores, que
ocultava sua identidade sob o pseudônimo de Rigoletto. Em meio à inevitável
publicidade dos produtos culturais comercializados pelo periódico, surpreende-se
uma advertência sutil à escolha do autor por um “romance de amores”, considerado
pelo crítico como um “seixo duríssimo”, que já teria dado tudo quanto tinha de dar:
“O autor faz o que quer. O público e o crítico aceitam a obra como ela se apresenta;
é o seu dever. Critica-a conforme o seu mérito: é o seu direito” (O Cruzeiro, 11 abr.
1878, p. 1).
Simulando imparcialidade crítica, a advertência constitui mais propriamente
um pretexto para o crítico salientar “o fino talento, apurado gosto e elegante
linguagem” que permite ao autor fazer “engolir ao povo até mesmo uma história de
amores”. Dessa forma, em lugar da imagem de um escritor puramente convencional,
que a escolha do gênero romanesco tenha, porventura, inspirado ao público, a
avaliação crítica almeja afiançar a elevação literária do principal ficcionista do jornal,
apresentando-o como modelo de bom gosto, finura, civilidade, distinção e esmero
linguístico.
Além da elegância estilística, bem ao gosto aristocrático do público de O
Cruzeiro, Rigoletto salienta especialmente o decoro da composição, eximida de
máculas e obscenidades, passível de ser lida sem nenhum assombro por todas as
famílias da boa sociedade. Assim, se a parte inicial do romance carece de
dramaticidade, essa fraqueza seria compensada pelo interesse e aprumo moral da
parte final: “Se a exposição, como frequentemente acontece, se lê sem grande
abalo, a segunda metade do seu livro arrasta o leitor com um interesse sempre
crescente, até o desfecho, que, bem ao revés desses torpes Basílios, é sem mancha
e sem reproche”.
O contraponto estabelecido com a conduta licenciosa das personagens do
romance de Eça de Queirós conflui igualmente para a instituição de uma
convergência entre os interesses éticos presumidamente comuns da tríade formada

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287

pelo jornal, a obra e o público. Desse modo, a continuidade da avaliação crítica de


Rigoletto concentra-se estritamente na conformação do romance a essa perspectiva
de leitura preconizada pelos preceitos éticos. Salientam-se, assim, os valores morais
que dignificam o caráter da personagem Estela e a convertem em um “belo e
virtuoso exemplar de mulher”:
É suave, depois de atravessar o charco onde coaxam os Antunes e os Procópios, os Jorges e
Garcias, respirar um pouco de puro ambiente moral junto dessa criatura, cuja vida se concentrou em
uma constante e virtuosa abnegação, e remata solitária no trabalho honesto, esse consolador de
todos os espíritos retos que encontra no seu cumprimento a própria recompensa. A essa não lhe
corrompeu acivilização o instinto (O Cruzeiro, 11 abr. 1878, p. 1, col. 6).

Ao enaltecer a dedicação ao trabalho e a renúncia aos favores da classe


dominante como elementos distintivos da nobreza moral da personagem
machadiana, Rigoletto promove o estreitamento dos vínculos entre o enredo do
romance, o decoro moral supostamente requerido pelo público e as diretrizes
conservadoras da linha editorial do periódico. Assim, nas páginas de O Cruzeiro, a
deliberação inviolável de Estela formaria um coro uníssono com os diversos artigos
em que o jornal defendeu a necessidade de elevação intelectual e combateu
severamente os preconceitos ao trabalho, a devoção ao luxo e o culto da ambição e
da vaidade, conforme se observa nitidamente nos excertos transcritos a seguir:
A ambição de riquezas absorve-nos as forças mais vivas da nação.[…]
O justo orgulho do espírito desapareceu quase completamente paradar
lugar à vaidade das aparências.
Sacrificamos tudo às aparências do luxo. Vestimo-nos, douramo-nos,
condecoramo-nos, mas aprendemos, ilustramo-nos o menos que podemos
e daí vem que, embocadas as faculdades intelectuais por falta de cultura,
saciados o corpo e a vaidade, se abre em torno de nós esse imenso deserto
de tédio […].
[As] grandes invenções [os caminhos de ferro, o vapor, a eletricidade, o
desenvolvimento da indústria], absorvendo totalmente, na luta do
mercantilismo, grande número de espíritos, tem sido obstáculo ao
desenvolvimento intelectual de milhões de indivíduos, que desconhecem
que deviam aproveitar essa emancipação gradual do trabalho, que a ciência
lhes proporciona, não para abrirem novo campo a ambições vulgares, mas
para se elevarem e à sociedade em que vivem, por meio da cultura do
espírito (O Cruzeiro, 31 maio 1878, p. 1).

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O anonimato dos artigos de fundo e o pseudônimo Rigoletto encobriam a


identidade de um único e mesmo autor, o redator-chefe do jornal, Dr. Henrique
Correa Moreira. Além da confluência moralizadora com os editoriais, a crítica de
Rigoletto é perpassada por uma concepção limitadora que reduz a atividade literária
ao compromisso de reproduzir fidedignamente a realidade social para o fim de
promover a perquirição de verdades morais: “Um romancista deve descrever a
humanidade como ela é, como se lhe apresenta a sociedade e não como ela
deveria ou poderia ser” (O Cruzeiro, 11 abr. 1878, p. 1). Para além da afirmação de
um realismo extremado, essa determinação constitui mais propriamente uma
negação das potencialidades criativas da literatura e dos conceitos de mimese e
verossimilhança artísticas, firmados desde a Poética de Aristóteles.4 Assim, em sua
opinião, uma literatura de costumes, como o crítico concebe o romance machadiano,
deveria simplesmente “representar a verdade ética, e desenvolvê-la
convenientemente”.
Por conseguinte, manifesta a convicção de que Machado de Assis teria
colhido na vida real os tipos transplantados para seu romance, e toma a liberdade de
acrescentar algumas cenas adicionais ao desfecho da história com o intuito de
potencializar a dimensão moralizante da narrativa:
Iaiá Garcia deve aí andar passeando por essas ruas em um grande carro,
com quatro ou cinco filhos, muito gorda, fazendo numerosas compras de
bagatelas na rua do Ouvidor, riquissimamente vestida, com braceletes de
ouro maciço, falando em voz alta e estridente, queixando-se dos criados e
escravos, que são todos uma peste, enquanto o marido, absolutamente
anulado e igualmente pançudo, discute à porta dos Castelões a
autenticidade das formas de certas figurantes do Alcazar ou do circo
equestre (O Cruzeiro, 11 abr. 1878, p. 1).

Como se observa, nessa projeção descabida do futuro do casal que teria


servido de protótipo das personagens machadianas, o crítico encarrega-se de
arruinar o destino da “matreira” Iaiá Garcia e de seu afortunado marido mediante a
aplicação de uma caracterização burlesca de suas feições e de uma representação
derrisória das práticas levianas de suas condutas sociais. Essa desqualificação das
personagens, que a textualidade do romance não pressupõe, constitui um dos
efeitos consequentes da inscrição da obra literária no âmago de um programa
editorial comprometido com a moralização da sociedade, e especialmente da

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289

mulher, por meio da literatura e de seus artigos de opinião.


4
“[…] é evidente que não compete ao poeta narrar exatamente o que
aconteceu; mas sim o que poderia ter acontecido, o possível, segundo a
verossimilhança ou a necessidade. O historiador e o poeta não se
distinguem um do outro, pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o
segundo em verso […]. Diferem entre si, porque um escreveu o que
aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido” (ARISTÓTELES, 1959, p.
286).

Pertencente a uma família humilde, mas independente, Iaiá Garcia nãoherdou


a elevação moral e o sentimento de dignidade pessoal de seu pai e de sua
madrasta, que prezavam, acima de tudo, a sua independência em relação aos
favores paternalistas da classe dominante. Alheia a essas convicções, Iaiá Garcia
não concebia como aviltante a ascensão social alcançada por intermédio de um
casamento desigual. Em vez disso, demonstrava uma invulgar habilidade para
dissimular seus sentimentos e manipular as circunstâncias de modo a concretizar as
suas ambições.
A esse respeito, cumpre salientar que, embora a perspectiva narrativa do
romance valorize e endosse o ponto de vista das personagens socialmente
desfavorecidas (Cf. SCHWARZ, 1977, p. 113-161), o desfecho da trama não
pressupõe uma retribuição compensatória àqueles que se mantiveram
independentes, tampouco desqualifica ou condena aqueles que tiraram vantagens
das relações paternalistas. Portanto, essas ponderações judicativas são inscritas na
obra pelo crítico, que julga conveniente complementar as verdades éticas do
romance, acreditando que o público-leitor o acompanha na aplicação dessas
sentenças à conduta moral da “matreira” Iaiá Garcia:
O público não nos honrou com as suas confidências, até porque não dispõe
de cômodos meios de comunicação conosco; mas é muito provável que
tenha feito plena justiça àquela nervosa e infantil pescadora, a todo o
transe, de um marido gentil e rico; espécie de Putifar virgem, que não recua
nem ainda diante do expediente de o agarrar pela aba do fraque, quando
ele quer fugir a uma sedução obstinada (O Cruzeiro, 11 abr. 1878, p. 1).

5
De acordo com a narrativa bíblica, Putifar comprou José, filho de Jacó, que fora vendido como
escravo pelos próprios irmãos. Atraída pelo escravo, a esposa de Putifar tentou seduzi-lo diversas
vezes. Como não obteve êxito, acusou José de tentar tomá-la à força, despertando, assim, a ira de
Putifar, que mandou o escravo para a prisão (Gênesis 39, 1-23).

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290

Nessa apreciação sentenciosa, Rigoletto equipara as ações de Iaiá Garcia às


da esposa do general egípcio Putifar, personagem da tradição bíblica, que, na
cultura judaico-cristã, é concebida como um arquétipo da mulher adúltera e
ardilosa.5 Ao agregar o adjetivo virgem a essa alusão bíblica, a avaliação crítica
concentra-se estritamente na destreza com que a personagem manipula as
circunstâncias a seu favor na conquista de um marido rico.
Por fim, para perfazer esse quadro moral, restava ainda ao crítico moralista
recompensar a abnegação de Estela, confortando-a com a amabilidade e o respeito
de todo o seu círculo social:
Estela raro passa na rua do Ouvidor. Quando a eu encontro com seu nítido
e singelo vestido de flanela azul orlado de preto, o seu liso chapéu de palha
com uma fita, as suas luvas de fio da Escócia, as suas grossas e cômodas
botinas inglesas, perguntou-lhe sempre o que leva naquele seu cabazinho
de fina esteira. São Livros, gravuras, músicas para os seus discípulos,
pequenas encomendas de uso doméstico, surpresas para uma criança,
lembranças para uma amiga.
Como ela é bem recebida e acatada em todas as casas conhecidas onde
aparece, em todas as ocasiões em que é preciosa a consolação e o
conforto! Como a acarinham as crianças, a afagam os hospedes, lhe
sorriem e a servem os criados! Atrás de si deixa sempre uma palavra, um
sentimento, uma recordação. Nada sabe do que é mau; atravessa a
sociedade na ponta dos pés sem enlamear- se. Sua beleza, serenando,
santificou-se. Até os parvos compreendem que não há aí lugar para outro
sentimento senão para o respeito (O Cruzeiro, 11 abr. 1878, p. 1).

Com o desfecho proposto pelo crítico, santificava-se não só a beleza, como


também as nobres ações de Estela, que consolidou a sua independência econômica
e o seu reconhecimento social por meio do trabalho honesto à frente de um
estabelecimento de ensino. Uma vez mais, estreitam-se os laços entre o romance, o
público-leitor e as demais publicações do Cruzeiro que também defendiam a
emancipação da mulher por intermédio do desenvolvimento da instrução pública,
das artes e da cultura intelectual. Conforme demonstrou Daniele Megid, durante o
período de publicação de Iaiá Garcia, o jornal apresentou diversas alternativas para
que as mulheres pudessem superar a restrição às tradicionais atividades domésticas
e conquistar a sua independência:
Mostra-se, por exemplo, mulheres que conquistaram reconhecimentopúblico
por meio da arte (cantoras de ópera, atrizes); fala-se de uma Casa de
trabalho de mulheres construída em Nova Iorque com a intenção de permitir
que as mulheres conseguissem gerir sua vida por meio de seu trabalho
(08/01/1878); noticia-se a abertura de um hospital em Berlim que seria
dirigido por mulheres (03/02/1878); comenta-se sobre uma ilha na qual as
mulheres realizavam todos os trabalhos de agricultura (04/02/1878); divulga-
se uma reunião que ocorreria em Buenos Aires para discutir a questão da
emancipação da mulher (09-02/1878); comenta-se um episódio norte-
americano no qual uma mulher atuou em defesa da participação feminina

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291

na política (21/02/1878) (MEGID, 2008, p. 8, nota 12).

Evidentemente, dadas as condições em que se encontrava o sistema


educacional da época, o caminho a ser trilhado por essas mulheres (a leitora e sua
congênere ficcional) não deixaria de apresentar imperiosas dificuldades, como o
próprio periódico reconhece em uma de suas reivindicações em prol da melhoria das
conjunturas que amparavam o exercício do magistério no Brasil do último quartel do
século XIX:
Cercar o professorado de todas as garantias, proporcionar-lhe meios de
subsistência que o dispense de procurá-los em outros misteres, dar-lhe a
importância que deve ter, tornando-o respeitável e respeitado, exercendo
ao mesmo tempo ativa vigilância e exigindo o mais severo cumprimento
dos deveres, será colocá-lo em posição que procurarão ocupar muitos
que, embora habilitados, dele fogem, pelas precárias condições de
existência a que está atualmente sujeito (O Cruzeiro, 26 fev. 1878, p. 6).

Verifica-se, portanto, que a avaliação crítica do romance machadiano,


conduzida por Rigoletto, concentra-se no fortalecimento da consonância entre as
ações da narrativa e a ideologia civilizatória dos artigos em que o jornal abordou as
possibilidades de emancipação feminina no contexto das relações paternalistas do
século XIX no Brasil. Prevalece, tanto na ficção quanto nesses editoriais, a ausência
de contestação crítica do sistema social vigente e a inoperante proposição de uma
“saída heroica” por meio do trabalho assalariado ligado ao exercício do magistério
(Cf. SCHWARZ, 1977, p. 160).
Converge igualmente para essa conformação do romance à ideologia
civilizatória do periódico a explicação que Rigoletto apresenta para a “experiência
maliciosa” praticada pelo autor na escolha do título do romance. Em sua
interpretação, Machado de Assis teria investido na “imparcialidade até o ponto de
deslocar, por meio do título, o interesse do livro, para assim fazer uma experiência
maliciosa sobre o público, a ver se ele concentrava as suas simpatias na matreira
Iaiá Garcia” (O Cruzeiro, 11 abr. 1878, p. 1). Como se observa, o crítico reduz esse
deslocamento proposto pelo autor a um simples artifício narrativo destinado a
surpreender o público de maneira a exigir uma revisão das expectativas previamente
formuladas. Descarta-se, assim, a possibilidade de se considerar que o autor
estivesse privilegiando, ainda que de maneira subliminar, a perspectiva da
antagonista Iaiá Garcia como a mais adequada para lidar com a cultura paternalista,
já que a independência de Estela não recebe uma compensação à altura do
sacrifício praticado. Portanto, conforma-se essa sugestiva inversão a uma leitura

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292

conservadora, que amortiza o seu potencial subversivo.


Em suma, pode-se afirmar que a inscrição do romance Iaiá Garcia no corpo
do jornal O Cruzeiro, acrescida da avaliação crítica traçada por um de seus
principais redatores, atua de maneira a integrar a obra à ideologia civilizatória do
conjunto de matérias do periódico dedicadas a aspectos peculiares da vida
intelectual, cultural, moral e material da época. Desse modo, sob a chancela de O
Cruzeiro, a leitura do romance texto machadiano, tanto na sua versão em folhetim
quanto na primeira edição em livro, alinha-se ao conjunto de discursos, códigos,
signos, concepções e fatores mercadológicos que formam a unidade multiforme de
sua instância de divulgação.

a. A repercussão de Iaiá Garcia na imprensa

Comprometido com a publicidade dos produtos culturais comercializados pelo


periódico, a apreciação do romance Iaiá Garcia, traçada por Rigoletto, intenta
corroborar o valor da obra machadiana amparando-se fundamentalmente em
critérios de natureza ética. O juízo crítico é determinado, neste caso, pela
conformidade das soluções narrativas do romance com as concepções ideológicas
dos atores envolvidos na difusão e no consumo imediato da obra.
Em outra avaliação contemporânea à publicação do romance, distanciada do
círculo de interesses da comercialização da obra, Urbano Duarte criticaria, em tom
galhofeiro, o caráter insosso da personagem Iaiá Garcia e obtusidade da tese
desenvolvida pelo romancista:
[…] Foi-se também Iaiá Garcia, e tão desenxabida como no dia em que
nasceu. Ainda estamos por saber que tese quis o autor desenvolver em seu
livro, sendo fora de dúvida que ele quis ali desenvolver qualquer tese.
Tratamos de descobrir o fito do pensador em meio daquele langoroso idílio
e chegamos à conclusão final de que a sua tese era uma tese garcio lógica
(Revista da Sociedade Fênix Literária, n. 3, mar. 1878, p. 69).

Na sequência, o crítico enalteceria o estilo e os dotes de analista revelados


pelo autor de Iaiá Garcia: “Um estilo ameno e fácil sem trivialidade, alguns
interessantes estudos psicológicos feitos ao correr da pena, uma ou outra
fosforescência de poesia doméstica, são qualidades incontestáveis e valiosas ao
livro do Sr. Machado de Assis”. No entanto, asseveraria a inequívoca insuficiência

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desses aspectos para “tornar uma obra de arte viável na república das letras” e
alertaria o autor para a necessidade de “apimentar um pouco mais o bico de sua
pena a fim de que seus romances não morram linfáticos”.
Como se observa, a avaliação crítica de Urbano Duarte adota parâmetros
completamente distintos daqueles aplicados na leitura de Rigoletto. De suas
ponderações, depreende-se que a amenidade e o decoro moral da composição,
além de não se sustentarem como critério de valia literária, constituem verdadeiros
óbices à afluência do público à proposição da obra. Se Rigoletto salientava a
contraposição à torpeza dos Basílios como uma das principais qualidades do
romance, a recomendação de Urbano Duarte sugere exatamente o contrário. Ao
aconselhar o autor a apimentar um pouco mais o pico de sua pena, suas
considerações críticas referenciam a conotação picante e a intensidade dramática
do realismo praticado por Eça de Queirós, em O primo Basílio – romance
contemporâneo de Iaiá Garcia, lançado em fevereiro de 1878. As advertências de
Urbano Duarte focalizam especialmente essa falta de dramaticidade do romance
machadiano: Iaiá Garcia é desenxabida, insossa; a tese é dúbia, obliterada em meio
a um idílio langoroso; e o romance, como um todo, corre o risco de morrer linfático.
Afora a inclinação antidramática, a dicção vernácula da linguagem empregada
por Machado de Assis também despertaria pouco interesse ao crítico imbuído de
parâmetros estéticos do movimento realista. Desse modo, Iaiá Garcia é incluído, por
extensão, à avaliação desfavorável que Duarte aplica à linguagem do romance
Motta Coqueiro ou a pena de morte, de José do Patrocínio, publicado nesse mesmo
período nos folhetins da Gazeta de Notícias:
Foi finalmente enforcado Motta Coqueiro.
O Sr. Patrocínio revelou nessa produção entreter relações com a
vernaculidade da língua, essa dama casquilha e anacrônica com quem
ninguém já se importa. Mostrou ser moço de bastante talento, mas só isso;
porque para ser romancista ainda tem que parafusar muito sua esfera
icteroide (Revista da Sociedade Fênix Literária, n. 3,mar. 1878, p. 69).

6
O Cruzeiro iniciou a sua circulação com a avultada tiragem de 12 mil exemplares diários (Cf.
MATTOSO, 1916, p. 132, nota de rodapé). Em 13 de janeiro de 1878, o periódico justificou as
dificuldades enfrentadas na regularização da distribuição pelo fato de que a sua tiragem fosse
talveza maior de todo o império – afirmação severamente contestada pela Gazeta de Notícias, que,
com seus 18 mil exemplares diários, reivindicou para si a posição de jornal de maior circulação do
país.

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Comparada às tendências mais arrojadas da linguagem realista, que conferia


maior simplicidade e agilidade à sintaxe da frase, a vernaculidade dos romances de
Machado de Assis e de José do Patrocínio convertia-se em sinônimo de arcaísmo
retrógrado, representativo de uma literatura pedante e passadista, no caso, o
Romantismo, que se encontrava em ostensivo declínio nesse período.
O paralelo entre as duas obras seria uma constante das apreciações críticas
fomentadas na imprensa da época. Evidentemente, essa convergência do olhar
crítico se deve especialmente à importância dos periódicos responsáveis pela
publicação dos romances, que respondiam pelas maiores tiragens do país.6 Daí o
insistente esforço das demais folhas em desconstruir a performance literária
encenada por essas obras, conforme se observa nitidamente no comentário
divulgado em O Zigue-Zigue ainda na primeira quinzena de publicação dos folhetins
de Iaiá Garcia. Note-se, a propósito, que a responsabilidade das obras não é
associada aos autores, mas às suas instâncias de divulgação:
[…] para impingir ao leitor coisas insossas, chegam as que fabricamos cá
por casa, como, por exemplo, o Senhorio, romance importantíssimo, que
começamos também hoje de dar a lume, propositalmente para fazer frente à
langorosa Iaiá Garcia, do Cruzeiro, e ao chorado mártir Motta Coqueiro, da
Gazeta de Notícias (O Zigue-Zigue, 12 jan. 1878, p. 3).

Seguindo essa tendência, a Revista Illustrada, ainda antes de ser finalizada a


publicação dos folhetins dos romances, promoveria uma articulação paródica das
duas histórias, fundindo-as por meio da realização de um casamento entre Iaiá
Garcia e Motta Coqueiro. Intitulada “Iaiá Coqueiro”, essa representação humorística
explorava o aspecto burlesco desse conúbio tão contrastante entre uma joia
“esbelta” e “tão bem lapidada” e um homem “áspero” e de “instintos perversos”.
Além disso, fundiam-se também os nomes dos autores aos das personagens de
seus romances: “Machado Garcia” e “Patrocínio Coqueiro”. Certamente, essas
associações eram pouco agradáveis aos olhos dos escritores; no primeiro caso,
atribuía-se a Machado de Assis a austeridade monástica da personagem Luís
Garcia, e, no segundo, fundia-se o fervor abolicionista de Patrocínio ao próprio mal
que ele se empenhou em combater, o regime servil, personificado na figura do Motta
Coqueiro, o fazendeiro escravocrata de seu romance histórico.
Nesse desfecho paródico, assinado por Fr. Fidélis, o casamenteiro, relata-se a
descoberta, por um grupo de pessoas, dos encontros furtivos de Iaiá Garcia e Motta

ISSN 2237-700X
295

Coqueiro ao amanhecer: “Não havia que ver, Iaiá tinha todo o dia entrevistas com
Coqueiro, e casá-los era a única saída recomendada pela santa madre igreja. O
conjugo salva tudo…”. Como artifício final dessa encenação paródica, transcreve-se
o anúncio do casamento, publicado supostamente nas páginas do periódico católico
O Apóstolo: “No Apóstolo de ontem lê-se este proclama: ‘Acham-se justos e
contratados para se receberem em matrimônio Motta Coqueiro e Iaiá Garcia… etc.,
etc…’” (Revista Illustrada, 19 fev. 1878, p. 8, col. 3).
Evidentemente, essa referência ao periódico católico e à unção dos noivos
por parte da igreja transcende a simples pretensão humorística e assume uma
conotação crítica e irônica, cujo escopo consiste em debochar do decoro moral das
obras parodiadas e de sua preocupação em abalizar a conduta das personagens em
conformidade com os preceitos da ética cristã. Cumpre salientar, nesse sentido, que
o narrador do romance de Patrocínio, visando asseverar a inocência de Motta
Coqueiro, intenta consubstanciar a figura do fazendeiro injustiçado com a imagem
de Cristo crucificado inocentemente.7
Esse desfecho paródico, proposto pelo redator da Revista Illustrada, receberia
uma versão pictórica nas páginas de O Besouro, que, em 27 de abril de 1878,
publicaria uma charge humorística desse consórcio disparatado, elaborada pelo
editor Rafael Bordalo Pinheiro. Sob o título de “Literalogia”, apresentava-se, em
forma de caricatura, o casamento do comendador Motta Coqueiro e de Iaiá Garcia,
adicionando-se à cena a participação do polêmico protagonista de O primo Basílio,
de Eça de Queirós. Os traços atribuídos aos noivos evidenciam o nítido propósito de
enfatizar o contraste da compleição física e da casta social, à maneira da descrição
verbal traçada pela Revista Illustrada. Assim, o comendador é delineado como um
velho obeso e bronco, de traços rudes e grosseiros, enquanto Iaiá Garcia é
caracterizada como uma figura langorosa, excessivamente pálida e delgada,
perfazendo o ideal de beleza feminina apregoado pelo Romantismo. Ao fundo da
cena, visualiza-se o perfil opacamente esboçado dos dois escritores, Machado de
Assis e José do Patrocínio, que assistem satisfeitos ao consórcio presidido pelo
“bojudo” padre. Este, por sua vez, é representado por uma caricatura que, em outras
ocasiões, é utilizada também para personificar o periódico católico O Apóstolo.
Evidencia-se, portanto, a nítida intenção de verter em caricatura o desfecho paródico
proposto pela Revista Illustrada e de ampliar o alcance do debate por meio da
proposição de um triângulo amoroso, prenhe de implicações literárias.

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296

Figura 1: “Literalogia: casamento do comendador Motta Coqueiro e de Iaiá Garica” (O Besouro,


27abr. 1878, p. 32).

Dessa forma, para completar o quadro, destaca-se, dentre os convidados, a


figura do primo Basílio, representado como um janota, elegantemente vestido, que

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297

ocupa o primeiro plano da gravura e troca olhares insinuativos com a “matreira” Iaiá
Garcia. Os traços físicos e o uso do monóculo compõem a caricatura do próprio
criador da personagem, o escritor Eça de Queirós, promovendo-se, assim, uma
duplicação do triângulo formulado, que transcende o plano das personagens e inclui
também os autores responsáveis pelos três romances em cena. Para finalizar,
agrega-se à charge uma extensa legenda explicativa, que delimita o sentido da
situação representada sob a forma de caricatura:
No momento em que Iaiá Garcia e o Sr. Motta Coqueiro recebem a voz,
dada pelo bojudo medianeiro dos idealismos, cai, como um raio junto aos
cônjuges o Primo Basílio que, tendo esgotado em sensações novas toda a
borracha do Paraguai, volta a explorar a borracha do Pará esperando igual
êxito. Ao ver, porém, Iaiá Garcia casando por conveniência com Motta
Coqueiro, homem que apenas se prende às sensações do seu negócio,
embeve-se [sic] no tranquilo olhar cor de rosa onde se refletem os azulados
raios da argêntea lua; e suspenso em êxtases das áureas e vastas
madeixas cor de cenoura da poética Iaiá, atira para trás das costas a
borracha do Pará e diz:
Estava transviado! Estou confundido. – Esta Iaiá é quem me vai dar
sensações novas! Olaré! (O Besouro, 27 abr. 1878, p. 32).

Do ponto de vista da estruturação do campo literário, a celebração do


casamento entre os protagonistas dos dois romances brasileiros pode simbolizar a
partilha do sucesso alcançado pelos escritores junto aos dois periódicos de maior
circulação do país. Cumpre lembrar, nesse sentido, que não somente O Cruzeiro,
mas também a Gazeta de Notícias estava estreando o seu primeiro romance
nacional. Até então, este importante órgão da imprensa só havia publicado
traduções de romances-folhetins de procedência estrangeira. Desse modo, Machado
de Assis e José do Patrocínio dividiam serenamente o palco das atenções do grande
público, encenando romances convencionais, dotados de uma gravidade formal à
altura da seriedade das questões sociais debatidas em suas obras. Sob o amparo
da ética cristã, personificada na caricatura do padre, ensejavam uma perspectiva
edificante e civilizatória, alinhada aos ideais românticos e aos preceitos da moral
tradicional, propondo alternativas anódinas para mitigar os antagonismos inerentes à
formação estrutural da sociedade brasileira, especialmente ao que se refere à
condição dos agregados – ponto comum do círculo de preocupações dos dois
romances.
No entanto, em meio a essa coexistência serena, cai como um raio o Primo
Basílio, o que impõe uma reestruturação do campo literário brasileiro, exigindo uma
revisão dos conceitos criativos e das posições estabelecidas na dinâmica do sistema

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298

literário. Assim, nas palavras de Paulo Franchetti, adentrava a “arena literária


brasileira, fulminante, o tema do adultério e da sensualidade obscena” – componente
moderna que passaria a colorir a temática amorosa “com a exibição e atração das
novas sensações adulterinas” (FRANCHETTI, 2007, p. 177). Para Machado de
Assis, em especial, a repercussão estrondosa de O primo Basílio no meio literário
brasileiro constituiria uma verdadeira pedra em suas botas apertadas. Na glosa
drummondiana de João Cezar de Castro Rocha, “no meio do caminho havia um
autor” – “elemento catalizador que evidenciou a insatisfação de Machado com seus
próprios procedimentos” (ROCHA, 2013, p. 94).
Nessa reordenação das posições do campo literário, impulsionada pelo jogo
de oposições que se estabelece entre românticos e realistas, a obra de Machado de
Assis seria categoricamente relegada a um plano secundário, em função de sua
identificação não só com o Romantismo retrógrado, mas também com os padrões de
austeridade moral legitimados pelo Apóstolo do cristianismo desde a publicação de
suas primeiras obras.8 Esse descrédito transparece nitidamente na apropriação
paródica da linguagem romântica que a legenda da charge promove ao descrever o
olhar da “poética Iaiá”, identificando esse estilo empolado com a performance
literária do autor. Além disso, vincula-se essa disposição estilística ao
conservadorismo da ética cristã, representada pelo padre, “o bojudo medianeiro dos
idealismos”, que olha com desprezo para o despudorado Basílio, esse vil corruptor
do decoro familiar e da ordem social estabelecida.

8
O Apóstolo sempre noticiava as publicações do jovem Machado de Assis, destacando
especialmente o puritanismo das composições, como se observa exemplarmente neste fragmento
da apreciação crítica das Americanas: “Eu, que estou um tanto prevenido contra essa nova invasão
de bárbaros que assaltaram o Parnaso e o converteram numa corte de milagres, de onde sai cada
aleijado e zarolho que mete medo, bastou-me ler no frontispício do livro o nome de Machado de
Assis para dar-me pressa em manuseá-lo, saboreando esses favos fabricados por uma abelha
industriosa, contra a qual nada podem os zangões. Nas Americanas há poesias lindíssimas, já pelo
assunto que as inspirou, já pela vida e colorido da forma, e já finalmente pelo casto perfume que
em todas elas se respira” (O Apóstolo, 5 jan. 1876, p. 1, col. 3).

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299

A resposta machadiana a esse impasse criativo se desdobraria em duas


investidas diferenciadas: a primeira consistiria em uma reação intempestiva,
excêntrica ao temperamento comedido do autor, que resultou no ataque violento
desferido aos romances de Eça de Queirós nos dois ensaios críticos publicados em
abril de 1878 nas páginas de O Cruzeiro; a segunda constituiria um denso trabalho
de redefinição de seus princípios estéticos e de experimentação de técnicas e
procedimentos criativos, com o intuito de descortinar uma nova dicção para a sua
produção literária, conforme demonstrarão as obras que se sucederiam ao ano
fatídico de 1878.

3 Considerações Finais

Por meio deste estudo, verificou-se que as soluções criativas levadas a efeito
no romance inscrevem-se no corpo de um projeto literário relativamente coeso e
uniforme que orientou a composição ficcional dos diversos gêneros literários em que
Machado de Assis exercitou sua veia artística no decorrer das décadas de 1860 e
1870. Alinhado ao discurso teórico-crítico dos ensaios e advertências do autor, Iaiá
Garcia arremata esse ciclo inicial da produção romanesca da sua juventude e perfaz
a série de investigações escrutinadoras da personalidade humana, perseguida pelo
escritor desde a publicação de seu primeiro romance, Ressurreição (1872).
A opção deliberada pela narrativa de análise evidencia o propósito
machadiano de promover, no âmbito da literatura brasileira, a introdução de
densidade psicológica e complexidade moral à caracterização das personagens.
Para tanto, esquiva-se da exigência de “cor local”, requerida pelo romance de
costumes, e investe decididamente no estudo da condição humana por meio da
representação de personalidades cambiantes e em constante desacordo consigo
mesmas. Entretanto, em Iaiá Garcia e nos romances anteriores, os conflitos morais
e as contradições dos estados emocionais são ainda excessivamente arbitrados
pela veia analítica do narrador. O aprofundamento da psicologia das personagens
resulta mais propriamente da obstinação do narrador em perquirir ou atribuir
desacordos emocionais aos caracteres representados. A estrita dependência da
mediação do olhar onisciente para canalizar essas dissimetrias do sujeito

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300

enfraquece a desenvoltura da personagem; os conflitos não emanam diretamente da


fonte, mas do estilete escrutinador do analista, o que torna a caracterização
esquemática e, por vezes, artificial. Por meio deste estudo, reconstituiu-se, portanto,
a imagem do escritor da juventude que viria a ser suplantada pelo novo autor em
gestação no decurso semanal dos folhetins de terça-feira de O Cruzeiro.

Referências

ARISTÓTELES. Arte retórica e Arte poética. Introdução e notas de Jean Voilquin


e Jean Capelle. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Difel, 1959
(Clássicos Garnier).

ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Iaiá Garcia. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira; Brasília: INL, 1975 (Edições críticas de obras de Machado de Assis). vol.
3.

BÍBLIA SAGRADA. 34. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1982.

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. 2ª. reimpressão.


São Paulo: Ed.UNESP, 1999.

FRANCHETTI, Paulo. Estudos de literatura brasileira e portuguesa. Cotia,


SP:Ateliê Editorial, 2007.

MAGALHÃES JR., Raimundo. Prefácio. In: ASSIS, Joaquim Maria Machado de.
Iaiá Garcia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1975 (Edições
críticas deobras de Machado de Assis). vol. 3, p. 11-17.

MATTOSO, Ernesto. Cousas do meu tempo (reminiscências). Paris:


Bordeaux,1916.

MEGID, Daniele Maria. Representações femininas em Machado de Assis: uma


análise de Iaiá Garcia no jornal O Cruzeiro. Anais do I Encontro de Pesquisa de
Graduação em História. Campinas, SP: IFCH – UNICAMP, 2008. p. 1-13
Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/graduacao/anais/daniele_megid.pdf.
Acesso em: 13 de março de 2013.

PATROCÍNIO, José do. Motta Coqueiro ou a pena de morte. Rio de


Janeiro:Francisco Alves/ SEEC, 1977.

ROCHA, João Cezar de Castro. Machado de Assis: por uma poética da


emulação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.

SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos


inícios do romance brasileiro. São Paulo: Duas Cidades, 1977.

b. Periódicos

ARCHIVO CONTEMPORÂNEO. Rio de Janeiro. 1873.

ISSN 2237-700X
301

GAZETA DE NOTÍCIAS. Rio de Janeiro. 1877-1883.

O APÓSTOLO. Rio de Janeiro. 1875 - 1878.

O BESOURO. Rio de Janeiro. 1878-1879.

O CRUZEIRO. Rio d Janeiro. 1878-1883

O ZIGUE-ZIGUE. Rio de Janeiro. 1878.

REVISTA ILLUSTRADA. Rio de Janeiro. 1877-1883.

REVISTA DA SOCIEDADE FÊNIX LITERÁRIA. Rio de Janeiro. 1878.

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302

FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA: A DINÂMICA DO


TRIPLO PROTAGONISMO

Bruna Ramos Marinho (bruna.marinho@ifpr.edu.br)


(INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS PALMAS)
Resumo
Este projeto foi realizado em 2019, com 20 acadêmicos, dos 3º e 4º períodos, do Curso de
Letras do IFPR/Palmas, no componente: Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa.
Surgiu a partir da necessidade de promover experiências que permitissem o
amadurecimento acadêmico do licenciando de Letras, o qual faria estágios de
observação e de regência, já no início do curso. Com base nos aportes teóricos da
Psicologia Histórico-Cultural e na concepção de educação da Pedagogia Histórico-
Crítica, procurou-se desenvolver uma formação pautada na dinâmica de apropriação e
de objetivação do conhecimento, em um triplo protagonismo: o do professor, o do
conhecimento e o do licenciando. O projeto consistiu na integração teórico-prática de
nove componentes curriculares desses períodos, dispondo doEstágio, como eixo central.
Para isso, foi construído um processo de formação a partir do ponto de vista do sujeito,
contemplando-o em aspectos cognitivos e afetivos, incluindo o acadêmico no
planejamento de todas as atividades formativas dos componentes participantes do
projeto, possibilitando, com isso, um percurso de aprendizagem em que eles
experienciassem as teorias, em sincronia com a sua vivência na prática. Tal modelo
promoveu um salto qualitativo no desenvolvimento dos alunos, observado nos frutos
desse trabalho, tais como: as sequências didáticas, os materiais didáticos para as
regências e os relatórios de estágios, cujo desenvolvimento deflagrou na apresentação e
na publicação de artigo em congressoda área e um processo de formação estendido aos
servidores.
Palavras-chave: Formação de professores; protagonismo; pedagogia históricocrítica
Abstract: This project was carried out in 2019, with 20 academics, from the 3rd and 4th
periods, of the Literature Course at IFPR/Palmas, in the component: Supervised
Internship in Portuguese Language. It arose from the need to promote experiences that
would allow the academic maturation of the Licentiate of Arts, who would do observation
and conducting internships, at the beginning of the course. Based on the theoretical
contributions of Historical-Cultural Psychology and on the concept of education of
Historical-Critical Pedagogy, we sought to develop training based on the dynamics of
appropriation and objectification of knowledge, in a triple role: that of the teacher, that of
knowledge and that of the licensor. The project consisted of the theoretical-practical
integration of nine curricular components from these periods, with the Internship as the
central axis. For this, a training process was built from the subject's point of view,
contemplating him in cognitive and affective aspects, including the academic in the
planning of all training activities of the participating components of the project, thus
enabling a path of learning in which they experience the theories, in synchrony with their
experience in practice. This model promoted a qualitative leap in the development of
students, observed in the results of this work, such as: the didacticsequences, the didactic
materials for the regency and the internship reports, whose development triggered the
presentation and publication of an article in a congress in the area. and a training
process extended to employees.
Keywords: Teacher training; protagonism; historical-critical pedagogy.

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1 Introdução

Gatti (2010), ao investigar as licenciaturas brasileiras (Letras, Matemática,


Ciências Biológicas e Pedagogia), apontou que o currículo e os conteúdos formativos,
esteio da formação de professores da Educação Básica não têm contribuído amplamente
para o trabalho pedagógico do professor, nas disciplinas escolares. Em 2018, o Projeto
Pedagógico do Curso de Letras Português/Inglês do IFPR, campus Palmas, foi
reformulado, atendendo às exigências para a formação a partir das pesquisas em
educação e de documentos oficiais, os quais propunham substanciais redefinições nos
componentes e na carga horária, relativos ao núcleo de formação docente. No ano 2019-
1, vivenciamos um grande desafio em nossa carreira docente ao chegar à instituição por
intermédio de um processo de redistribuição e lecionar para o Curso de Letras: em uma
mesma turma, ministraríamos quatro componentes, sendo, parte deles, o Estágio de
Língua Portuguesa I. Esse número de componentes foi, ainda, ampliado no segundo
semestre, para cinco componentes. Além desse desafio inicial, havia outro: a turma do
terceiro período seria a primeira turma em que seriam implantados os Estágios em um
novo “formato”, mas esses não eram os únicosdesafios. O campus Palmas do IFPR atende,
como sua clientela, alunos trabalhadoresda região mais pobre do Paraná, -o Sul-, além da
região Oeste de Santa Catarina, fator que implicava muitas dificuldades dos acadêmicos
na permanência no Curso, já que trabalham o dia todo, têm altas despesas com a
formação, pois viajam todas noites, em média, 120km, para frequentar as aulas que, em
função desse perfil de trabalhadores, são no período noturno. As diferentes demandas do
perfil socioecômico desse acadêmico, somadas às lacunas deixadas por uma educação
básica em contexto precarizado, trouxeram mais um desafio: o alto índice de evasão e
reprovação do curso. No caso da turma do terceiro período, dos 40 acadêmicos que
ingressaram, apenas 15 estavam rematriculados nos quatro componentes, mas somente
10 estavam frequentando.
Ao iniciarem os Estágios já no terceiro período, isto é, no ínicio de seu segundo ano
de graduação, a experiência acadêmica era ainda insipiente. Isso implicava que esse
acadêmico poderia analisar a prática docente durante a observação sob o prisma do não
científico, já que essa apropriação teórica ainda estava no início. Assim, essa situação
tornou-se nosso primeiro desafio, demandando que pensássemos sobre como
desenvolver uma dinâmica na relação entre a docente que ministra Estágio, os
acadêmicos e o conhecimento das teorias, de modo que se objetivassem sua
apropriação do conhecimento teórico e seu amadurecimento pedagógico. Diante dessa
situação, o primeiro questionamento que nos orientou foi: como ensinar esse acadêmico

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a ser professor de língua portuguesa, superando as lacunas anteriores e garantindo que


ele permaneça e avance nos estudos? Não tínhamos uma referência, uma vez que o PPC
era novo e estava em implantação. Outros desafios enfrentados eram a própria dinâmica
acadêmica que, frequentemente, é enrijecida pelos protocolos administrativos, pela
sobrecarga docente e pela recorrente crença de professores e de acadêmicos de que o
papel mais importante na aprendizagem é protagonizado apenas pelo professor.
Neste cenário, as respostas à nossa primeira pergunta, em 2019- 1, deflagrou, sem
que esta fosse uma previsão inicial, uma dinâmica de formação a partir de uma ação
integradora entre nove componentes curriculares, cujo eixo articulador foi o Estágio de
Língua Portuguesa I e II (LP) e os docentes do curso. O intuito dessa integração era, por
meio da articulação da teoria à prática na formação de professores de língua portuguesa e,
por meio de uma integração dos conhecimentos entre os componentes e o estágio,
oportunizar a apropriação consistente e crítica do conhecimento, mas no decorrer do
trabalho, após as diversas queixas da falta de sentido do curso para uma grande parte
dos acadêmicos, integrou-se um novo objetivo: possibilitar a esse acadêmico ser
protagonista da sua formação, isto é, que sua formação fosse um processo ativo do ponto
de vista da sujeito (LEONTIEV, 2005), ao implicar que o professor formador não fosse o
mais importante, mas que se formasse um triplo protagonismo: o aluno, o professor e o
conhecimento, tal como preconizam nossos estudos pautados na Psicologia Histórico-
Cultural e na PedagogiaHistórico-Crítica.
Para essas teorias, o desenvolvimento humano é essencialmente histórico; cada
indivíduo nasce pertecendo à espécie humana, isto é, nasce apenas possuindo
características biológicas pertencentes à espécie humana, mas as capacidades, as
qualidades tipicamente humanas, tais como o desenvolvimento do seu psiquimo e da sua
consciência são formadas socialmente. Daí a importância da atividade mediadora de
outros seres humanos, tal como do do professor, por meio de um processo de educação,
que é um processo de humanização, um processo em que cada indivíduoé visto de forma
singular, ao apropriar-se da cultura humana, objetiva-se desenvolvendo suas
capacidades e potencialidades humanas. Os conhecimentos científicos transmitidos na
educação escolar constituem os conhecimentos historicamente acumulados que, como
signos, agem sobre as funções psíquicas e têm a capacidade de atribuir novos atributos,
conferindo um funcionamento qualitativamente superior ao psiquismo com o qual
nascemos. O trabalho educativo é mediador à medida que disponibiliza, ao indivíduo, o
acervo cultural humano que tem condições e “provoca transformações na instituição da
imagem subjetiva da realidade objetiva[...]” (MARTINS, 2016, p. 66), ou seja, na sua
inteligibilidade sobre o real.

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305

A escolha do arcabouço teórico do projeto foi fundamental, tanto para desenvolver


essa nova dinâmica de trabalho educativo, como para que os acadêmicos
compreendessem, por meio de sua vivência, aquilo que tratávamos em sala, nos diversos
componentes que organizamos, sob uma coerência epistemológica ao olharmos para o
fenômeno da educação. Esse trabalho pedagógico foi, portanto, desenvolvido numa
articulação entre o conteúdo, a forma e o destinatário (MARTINS,2015). Isso significa que,
concomitantemente à atividade mediadora docente, o que propusemos foi a oportunidade,
aos acadêmicos, de se apropriarem do conhecimento teórico (as teorias de aprendizagem,
as teorias de educação, as teorias do ensino de língua) e que vivenciassem, em um
movimento dialético, a construção das condições objetivas (formas), para que
experienciassem o que estavam estudando acerca da função da educação para as
perspectivas analisadas e, mais que isso, que objetivassem as capacidades do professor
de língua, cuja compreensão dos conhecimentos e das práticas de ensino de LP se dão
em direção à humanização (SAVIANI, 2019).
(Em relação a como concretizamos o triplo protagonismo, na articulação de todos
os elementos (professor, aluno e conhecimento), destacamos que o explicaremos mais à
frente, uma vez que julgamos pertinente essa explicação estar ao lado da visualização da
prática.)

2 Desenvolvimento

2.1.O contexto do Curso de Letras

O contexto do Curso de Letras do IFPR Palmas: o município de Palmas compõe uma


microrregião, cuja base econômica é predominantemente agrícola. Palmas é socialmente
uma das mais desiguais cidades do Paraná. Entre 1991 e 2000, o ÍndiceGini do município
disparou de 0,610 para 0,660. Palmas é o 15° município mais desigual do Sul do Brasil e
o 9°, neste quesito, no estado do Paraná. No ano 2000, a porção da renda abocanhada
pelos 10% mais ricos da população era de 56,5% da renda total, contra apenas 7,3% dos
40% mais pobres. O município apresenta um IDH de 0,660 (2010) e indicadores
educacionais preocupantes: somente 23,64% dos cidadãos de 18 a 20 anos possuem o
ensino médio completo, 48,98% de 15 a 17 anos apresentam o ensino fundamental
completo. Em 2010, apenas 49,14% dos alunos entre 6 e 14 anos estavam cursando o
ensino fundamental regular na série correta para a idade (PNUD, 2013). Todos os índices
estão abaixo da média nacional e, também, abaixo da média do estado do Paraná.
A rede pública municipal é formada por 15 Centros Municipais de Educação Infantil

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(CMEI's) e 16 escolas - oito na área urbana e oito na área rural. Segundo dados do INEP
(2017), a rede municipal apresentou o pior Ideb (Índice de desenvolvimento da
Educação) da rede municipal de ensino da região administrativado Sudoeste do Paraná e
um dos piores indicadores do Estado. Entre os 399 municípios paranaenses, o Ideb de
Palmas está na posição 384. A rede estadual de Palmas apresenta baixos indicadores de
desempenho no Ideb nos anos finais do ensino fundamental (8a série/9º ano), com 3.7,
sendo sua meta de 4.5.
Os nossos acadêmicos são oriundos desse contexto, em que a educação pública
apresenta um dos piores índices do Paraná e seu perfil socioeconômico expressa a
enorme desigualdade social desta região. Diante desse preocupante contexto social e
econômico, implicando os altos índices de reprovação e evasão no curso de Letras, o
projeto aqui exposto teve enorme compromisso, no intuito de promover as condições
para que se formem profissionais capacitados, de forma a contribuir na redução dessa
desigualdade que se inicia pela falta de acesso ao conhecimento na educação básica e
se estende ao curso superior, levando isso parao mundo do trabalho.
O projeto foi desenvolvido no primeiro e no segundo semestre de 2019 (fevereiro a
julho; de julho a dezembro) e, atualmente, segue em andamento com todos os períodos
que cursam estágio no Curso de Letras do Instituto Federal do Paraná, campus Palmas,
para a turma do 3º e, na sequência, 4º período, com 20 estudantes no total: contou com a
contribuição pedagógica de 11 professores e outros profissionais da educação, como
participantes. Naquele ano letivo, foram integrados os componentes de Estágio
Supervisionado de Língua Portuguesa I (observação) e Estágio Supervisionado de
Língua Portuguesa II (regência nas escolas públicas), a 9(nove) componentes ao longo do
ano: Metodologia de Língua Portuguesa, Seminários de Pesquisa III, Psicologia da
Educação, Didática, Psicolinguística, Seminários de Pesquisa IV e Linguística Aplicada.
Para possibilitar o desenvolvimento desses professores em formação, que iniciariam
esses estágios com a turma, foi organizado um cronograma de aulas, um de minicursos,
um de oficinas e rodas de conversa, orientados por temáticas voltadas ao ensino de língua
portuguesa, por meio do estudo dos gêneros textuais, mediado pelas teorias de
aprendizagem e de educação em cadasemestre.
Essas atividades contaram com a participação de 5 (cinco) docentes do curso; 1
(uma) orientanda do Curso de Pós-Graduação em Linguagens Híbridas e Educação, do
IFPR, a qual também é docente e gestora de escola pública no município de Palmas; 1
(uma) aluna egressa de Letras do IFPR e 1 (um) diretor; 1 (uma) coordenadora e
docente; e 1 (um) psicólogo de um Colégio Atena do município de Palmas-PR. A
dinâmica do projeto foi estruturada dentro de cada semestre e sequenciada em diversas

ISSN 2237-700X
307

partes que foram executadas simultaneamente, de modo que houvesse um constante


diálogo entre os conhecimentos estudados em todas as suas etapas, quer fossem
práticas, quer fossem teóricas. Vale destacar que essa dinâmica integradora tinha como
intencionalidade despertar o acadêmico da licenciatura o protagonismo na sua formação,
formando um triplo protagonismo, exposto nos procedimentos didáticos.
No segundo semestre, o preparo dos acadêmicos sucedeu em um
amadurecimento da formação, resultando em atividades, como a publicação de artigos
em eventos e, também, compartilhados pelos acadêmicos na capacitação docente do
campus Palmas para 150 professores e 90 técnicos; além das regências que foram
desenvolvidas nas seguintes escolas da região: Escola Estadual (E.E) DomCarlos, E.E Pe.
Ponciano, Colégio Estadual do Campo Engenheiro André Guimarães Sobral, Escola
Estadual Maria Joaquina Serpa. Cada dupla de acadêmico ministrou regência para duas
turmas de ensino fundamental - anos finais, sendo, portanto, envolvidos nessas
atividades, aproximadamente, 300 alunos da educação básica. Totalizando as atividades
de 2019-1 e 2019-2, a carga horária do projeto foi de 382 horas.

2 Aspectos metodológicos:

Tendo em vista que nosso objetivo geral era o de desenvolver uma atividade
mediadora, formadora do licenciando em Letras, por meio da apropriação de conceitos
relativos às teorias filosóficas, psicológicas e pedagógicas que orientam sua futura prática
pedagógica, de modo essencialmente orientado para humanização das novas gerações,
organizamos as seguintes ementas para que fossem conectados os seus conteúdos:

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308

Ano/semestre Componente Ementa


2019-1: Metodologia do Ensino Reflexões acercada
de Língua Portuguesa: práxis, no que se refereao
(40 horas) trabalho com a linguagem.
Leitura e análise das
propostas pedagógicas
dos PCN’s edas DCE,s
para o ensino de Línguas e
Literaturas, bem como
suasabordagens didático-
metodológicas.
Conteúdos e práticas
relevantes para a
Educação Básica,
assimilando os conteúdos
transversais e as novas
diretrizes da Educação:
Elaboração de Planos de
trabalho;

Psicologia da Educação: A psicologia como


(60 horas) ciência e suas relações
com a educação.
Desenvolvimento e
aprendizagem na teoria

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309

de Jean Piaget.
Implicações pedagógicas
da abordagem
psicogenética.
Desenvolvimento e
aprendizagem de Lev. S.
Vigotski. Implicações
pedagógicas da
abordagem histórico-
cultural. Henri Wallon e a
afetividade;

Estágio Curricular Observação do


Supervisionado de funcionamento de uma
Língua Portuguesa I: (34 instituição escolar, bem
horas) como conhecimento e
caracterização de seus
espaços constituintes:
espaço físico-pedagógico,
administrativo e histórico.
Leitura e análise de
documentos que regem a
instituição de ensino tais
como: Projeto Político
Pedagógico. Proposta
Pedagógica Curricular e
Regimento Escolar.
Observação do trabalho
pedagógico e das
abordagens de ensino de
língua portuguesa e suas
implicações no processo
educativo. Coparticipação

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310

na prática pedagógica do
Ensino Fundamental.;

Seminários de Pesquisa Articulação e


III: (20 horas) síntese dos componentes
curriculares do período na
perspectiva de umtrabalho
pedagógicointerdisciplinar.
Elaboração e
coordenação de projetos
de ensino, pesquisa e
extensão e inovação.
Análise de materiais
didáticos e paradidáticos.
Produção de atividades
didático-pedagógicas:
criatividade e interação.

2019-2: Didática: (60 horas) Aspectos históricose


conceituais da didática. A
didática como campo de
conhecimento da
educação. Concepçõesde
Educação. A didática eas
tendências
pedagógicas na educação
brasileira. Didática e a
formação do professor.
Organização do trabalho
pedagógico e plano de
trabalho docente.

ISSN 2237-700X
311

Psicolinguística: (40 Introdução à


horas) Psicolinguística: definição,
objeto, aspectos e
perspectivas
epistemológicas da
aquisição de linguagem. A
produção discursiva como
integrante da aquisição da
linguagem. A percepção
da importância do sujeito e
do entendimento sobre
este nas relações entre
linguagem e pensamento.
Implicações históricas,
sociais e ideológicas no
processo de aquisição de
linguagem. A aquisição da
língua materna e das
línguas estrangeiras.
Relações entre aquisição
de linguagem e as
metodologias de ensinode
língua nos diferentes
ambientes e condições
escolares;

Seminários de Pesquisa Articulação e


IV: (20 horas) síntese dos componentes
curriculares do período, na
perspectiva de umtrabalho
pedagógicointerdisciplinar.
Elaboração e

ISSN 2237-700X
312

coordenação de projetosde
ensino, pesquisa, extensão
e inovação.Incentivo à
formação doleitor.
Estratégias e práticas de
leitura na escola;

Linguística Aplicada ao
Ensino de Línguas: Conceitos de
(40horas) cultura. Interculturalidade.
Cultura e comunicação
intercultural. Os
processos de construção
de identidade no ensinode
Línguas. Identidades
nacionais, minorias e
transculturalidade no
ensino de Línguas.
Hibridismos culturais,
diálogos e linguagens
interculturais na pós-
modernidade;

Estágio Curricular Análise reflexivo-


Supervisionado de crítica sobre o processo
Língua Portuguesa II: (34 ensino-aprendizagem em
horas) Língua Portuguesa e suas
implicações dentro do
Currículo Fundamental e
Médio. Organização e
aplicação de Projetos na
área de Língua

ISSN 2237-700X
313

Portuguesa para o Ensino


Fundamental e Médio.

Para que os estudantes pudessem vislumbrar a conexão entre os conteúdos e,


também, pudessem compreender como os conhecimentos se conectavam, de modo
a pensar a aula de língua portuguesa em uma articulação teórico-prática,
organizamos as seguintes atividades ministradas pelos docentes do curso

a) Minicursos sobre os gêneros textuais – 2019 -1


Contos de Grimm (4 horas)
Vídeo nas aulas de línguas (4 horas)
Variações na Língua Portuguesa e os gêneros textuais (4 horas)
Tecnologias e o Ensino de Língua (4 horas)
Sequência didática com os gêneros textuais (4 horas)

b) Roda de Conversa no Colégio Atena- Palmas /Paraná – 2019 - 1


Práticas Construtivistas na Educação Básica. (4 horas).

c) Roda de Conversa – 2019 -2


Desafios do Ensino de Línguas na Educação Infantil (4 horas)

d) Oficinas 2019-1 e 2019-2:


- 20 horas/20 horas
- Plano de aula: gêneros textuais para o Ensino Fundamental Anos
finais;
-Materiais didáticos para as aulas de LP Ensino Fundamental Anos Finais;
-Análise Projetos Políticos Pedagógicos das escolas;
-Escrita Acadêmica: produção de relatório de estágios.

ISSN 2237-700X
314

Assim, em 2019-1, ao contabilizar a carga horária dos componentes com aulas


teóricas e práticas (120h) mais as oficinas de elaboração de material didático e
planejamento (20h), os minicursos sobre os gêneros textuais (20h), a visita técnica e
roda de conversa no colégio (4h), apresentação de seminários de prática pedagógica
(4 horas), adequação do material produzido no projeto para o formato artigo, para
apresentação em evento nacional de educação em Salvador (BA), totalizamos mais
de 182 horas.
Em 2019-2, contabilizamos as aulas teórico-práticas nos componentes (175h)
mais oficinas de planejamento de plano de aula e confecção de material didático e
relatório de estágio (20horas), roda de conversa com docente e pós-graduanda (4
horas), apresentação dos resultados do projeto pelos acadêmicos em evento local e
nacional, foram convidadas a participar, como palestrantes, a docente e duas
acadêmicas da turma, para contribuir com a discussão de Projeto Político Pedagógico,
no IFPR Palmas, para uma plateia composta de docentes e gestores da educação
básica e superior da instituição. Além disso, parte dos acadêmicos publicaram seus
artigos nos anais dos eventos participados e a docente publicou dois artigos em revista
especializada em educação, pela docente coordenadora, totalizamos mais quase
duzentas horas de trabalho. Ao somar a carga horária do projeto em 2019-1 e 2019-
2, temos quase quatrocentas horas de trabalho.

2.3 O triplo protagonismo na formação docente

Faz-se necessário expor como se caracteriza o triplo protagonismo, o qual


define a dinâmica dos nossos procedimentos didáticos, ou seja, como, além do
professor e do conhecimento, o acadêmico protagonizou sua formação. Para isso,
traremos os pressupostos psicológicos que nos embasam, a partir dos estudos de
MELLO (2010, 2012) na Psicologia Histórico Cultural (PHC), destacando como se dá
o desenvolvimento humano e a essencialidade de garantir ao indivíduo que aprende
o lugar de sujeito agente na sua formação. É por meio da aprendizagem que cada
indivíduo internaliza os conhecimentos que estão em repouso nos produtos da cultura,
e assim, ele objetiva suas capacidades humanas. Para que isso aconteça, é condição
sine qua non que primeiro os indivíduos vivenciem tal experiência socialmente. Isso
implica que todo o desenvolvimento psicológico é movido primeiro pelas experiências
ISSN 2237-700X
315

concretas de vida e educação de cada pessoa, ou seja, “o sujeito aprende ‘filtrando’,


mediado pela sua experiência anterior, as influências do meio” (MELLO, 2012). Em
cada fase da vida do indivíduo há uma linguagem que favorece a sua relação com o
mundo e a sua aprendizagem e desenvolvimento. Tal linguagem deve-se a atividade
principal da vida do indivíduo (LEONTIEV, 2010). Atividade principal refere-se a
processos para onde se dirige o desenvolvimento. A essência da atividade implica
compreender que a forma como um indivíduo vivencia o mundo está relacionada ao
sentido que atribui ao que ele vive. Por isso, a aprendizagem tem de acontecer em
um processo ativo do ponto de vista do sujeito.
No conceito de atividade [...], está presente o envolvimento do sujeito, uma vez
que o sentido da atividade nasce da relação entre o motivo que leva o sujeito a agir e
o resultado conquistado ao final da atividade. Dessa forma, o sujeito é ativo não
apenas intelectual, mas também emocionalmente. Por isso é que cognitivo e afetivo
não se separam, mas constituem uma unidade (MELLO, 2012, p. 368).
Na fase dos acadêmicos, a atividade principal está dirigida a processos ligados
à sua relação em sociedade, por meio dos estudos e de trabalho. Entendemos, aqui,
que na formação acadêmica, estão presentes o professor (mediador), a cultura (fonte
das qualidades humanas em repouso no conhecimento, a fala, a escrita, as técnicas,
a lógica, os hábitos e costumes, os objetos) e o aluno (sujeito agente). Partindo dos
pressupostos expostos ao longo deste trabalho, entendemos o triplo protagonismo na
importância do papel do professor (primeiro protagonista) na transmissão da cultura
(segundo protagonista) como aquele que seleciona, organiza, dosa e sequencia as
experiências a serem vividas pelo aluno, de forma que este possa desenvolver suas
potencialidades humanas por meio da aprendizagem. O aluno, o terceiro protagonista,
é sujeito, pois a ele cabe reelaborar internamente a experiência, mas também, porque,
metodologicamente, ele é parte do processo da construção da aprendizagem. Para
tanto, é necessário também que a sua postura diante do conhecimento seja desafiada
a significar o aprender como uma necessidade (MELLO, 2012, p. 369-370).
Por outro lado, de acordo com a pesquisadora, nesse processo, a própria
cultura acadêmica é desafiada a ir ao encontro de proporcionar a participação deste
indivíduo nas decisões, nos planejamentos, na melhoria da comunicação nas relações
de ensino tradicionalmente não democráticas. O triplo protagonismo só se concretiza
em relações democráticas de ensino-aprendizagem à medida em que o indivíduo

ISSN 2237-700X
316

aprende a gerir o conhecimento: “planejar, argumentar, fazer escolhas, a avaliar, a


tomar iniciativa, a resolver problemas, a propor e [...] a pensar” (MELLO, 2012, p. 375).

2.4 Como materializou-se essa dinâmica no projeto?

Em todas as etapas, a direção do processo foi compartilhada entre a


docente e os acadêmicos, seja sobre a gestão do tempo, ou seja, sobre a gestão
dos espaços. Deve ser destacado que, dependendo do que fosse diagnosticado
nas apropriações dos conhecimentos, havia novos planejamentos e ajustes,
quer fossem para ampliar o tempo de uma atividade, para acrescentar um texto
para melhor compreensão dos conteúdos, para definir materiais, para repensar
as funções dos grupos organizados para desenvolver as atividades, ou mesmo
para organizar prazos de entrega de trabalhos. Todo o planejamento foi marcado
pelo protagonismo do acadêmico, o que demandava a eles uma autorregulação da conduta
necessária para a ouvir a todos e aprender a conviver com o ritmo de aprendizagem alheio
e, sobretudo, garantir o bom andamento das atividades para sua própria aprendizagem e
formação.

Etapa 1: Aulas
O cronograma de aulas previa a parte teórica em que os planejamentos dos
conteúdos, em todos componentes, estavam dispostos em uma perspectiva de
totalidade, ou seja, nas suas relações entre as partes. A maior parte das aulas
aconteceram durante a semana, de segunda à sexta-feira, das 19h30 às 23h05.

Etapa 2: Teórico-Prática- Minicursos 2019-1 e 2019-2


Os minicursos aconteciam aos sábados e foram ministrados por docentes, por
uma egressa do curso e por uma pós-graduanda. Por meio de cada minicurso, os
acadêmicos visualizariam as teorias em funcionamento sobre os gêneros textuais,
analisando a prática, inclusive, nas contradições, nos seus desafios, mas, sobretudo,
vivenciando o aprendido, já que eles desenvolviam as atividades propostas pelos
docentes como se fossem alunos da educação básica. Nesta etapa, os alunos faziam
as discussões com os docentes e, depois disso, poderiam trazer também suas

ISSN 2237-700X
317

dúvidas e/ou apropriações para serem tratadas durante outros momentos disponíveis
tais como as oficinas e as aulas teóricas.

Oficinas
As oficinas foram ministradas pela docente, uma vez que elas previam o
desenvolvimento de sequências didáticas, atividades de suporte à escrita acadêmica
solicitada no relatório de estágio, tanto quanto se esclareciam dúvidas teóricas,
realizavam-se debates e buscava-se problematizar o vivido nos minicursos, nos
estágios na escola, nas aulas, nas rodas de conversa. Elas foram, também essenciais,
como termômetro da aprendizagem e para ouvir as necessidades do grupo e para
replanejar, caso fosse necessário.

Roda de conversa/Visita Técnica – Colégio Atena – Palmas/PR.


Os profissionais da escola contribuíram com uma perspectiva bastante
importante: a que tratava do perfil profissional essencial para a educação básica, por
meio de jogos e de dinâmicas em que os acadêmicos conheceram os espaços,
discutiram os seus fundamentos ao conhecer uma escola em funcionamento; além
disso, trouxeram relatos de experiências que constituíam desafios a eles, docentes
em serviço, e que, posteriormente, os acadêmicos levaram para as oficinas como
problematização, resultando em um estudo de caso de uma aluna com deficiência
intelectual.
A etapa 3, que diz respeito à avaliação, será apresentada no tópico 6.

2.4 AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DOS


LICENCIANDOS

Uma das fases do projeto mais características e que acentuou o triplo


protagonismo foi a integração dos componentes e o compartilhamento do
(re)planejamento do cronograma, ações de cada instrumento avaliativo. Os
instrumentos avaliativos foram planejados de modo que o conceito atribuído a um,
pudesse ser utilizado por mais de um componente. Essa estratégia foi pensada por
diversos motivos, mas destacamos dois deles: o principal motivo deve-se ao alto
ISSN 2237-700X
318

índice de reprovação e desistência da turma, quando chegou ao terceiro semestre, o


que mostrava dificuldades em acompanhar a dinâmica do curso, além de outros
motivos oriundos da formação na educação básica, da enrijecida prática de ensino
que frequentemente se dá no Superior, entre outras; o segundo motivo deve-se ao
fato de ministrar no terceiro e quarto períodos um número substancial de
componentes, o que me permitia ter o amplo domínio de como cada conceito poderia
ser tratado, aproveitado e verticalizado, em outro componente.
A exemplo de como se deu a verticalização da articulação entre os
instrumentos, no componente Estágio de Língua Portuguesa I e II, um dos
instrumentos utilizados foi o relatório de estágio. No Estágio I, estava prevista a
discussão teórica que embasa a análise do Projeto Político Pedagógico, as entrevistas
com os docentes e gestores, a prática pedagógica docente. Para isso, seria
necessário o embasamento trazido na Psicologia da Educação, na Metodologia de
Ensino de Língua Portuguesa. Assim, o instrumento relatório poderia ser contado,
também, nesses outros componentes.
À medida que os acadêmicos recorriam simultânea e frequentemente às
teorias, internalizavam os conceitos mais facilmente e, por sua vez, à medida que
internalizam as teorias, tinham mais clareza do que poderiam ajustar ou adequar nas
atividades realizadas e, algumas atividades foram acrescentadas e outras retiradas.
Ao protagonizarem a condução da sua formação, eles também requalificaram
o papel do acadêmico, do professor do curso e do conhecimento. Houve um salto
qualitativo no processo formativo que será expresso abaixo.

O triplo protagonismo no planejamento da avaliação: mapa conceitual

Trabalhamos com diversos instrumentos de avaliação: provas escritas,


seminários de prática pedagógica etc., mas, por falta de mais espaço, detalharemos
a dinâmica de apenas um, de forma que se esclareça o protagonismo do acadêmico,
o qual ocorreu a partir do desenvolvimento de um mapa conceitual acerca dos
conceitos estudados em Psicologia da Educação. Esse instrumento não havia sido
incluído inicialmente em nenhum componente, mas a turma mostrou ser necessário
outro instrumento de avaliação, mais dinâmico e que permitisse mais um momento no
amadurecimento da compreensão teórica dado que vários deles se sentiam inseguros

ISSN 2237-700X
319

para, por exemplo, uma prova escrita diante do volume de conteúdo estudado no
componente. Assim, entre as propostas feitas à turma, eles votaram naquela que
possibilitasse uma resposta àquela demanda. Assim, todos escolheram o mapa
conceitual, após fazerem pequenas pesquisas para compreender o que era mapa
conceitual, a sua finalidade, e como se fazia e se apresentava.
Para isso, orientei alguns textos para o trabalho e fiz uma questão, de maneira
que o mapa conceitual fosse o meio para representar o conhecimento solicitado.
Assim, a turma elaborou um cronograma coletivamente e definiu a data da entrega
que, posteriormente, teve de ser ajustada, assim como, também, o formato do mapa.
A partir do cronograma, os acadêmicos definiram que o trabalho seria compartilhado
pela turma toda, mas que deveriam dividir-se em dois grupos para organizar as etapas
do trabalho, que conceitos e ações deveriam ser tratados entre eles, sendo registrado
tudo coletivamente em um mural na sala.
Nessa avaliação, as aulas teóricas do componente foram utilizadas para a
elaboração do mapa. O tempo de elaboração do trabalho demorou acima do previsto
no cronograma, pois os acadêmicos, ao voltar à leitura, discussão e estudo dos
conceitos dos textos estudados, “descobriram” que precisavam deter-se na dinâmica
da teoria, uma vez que a teoria estudada tinha, como fundamento filosófico, uma teoria
orientada por uma lógica dialética e, ao descobrirem isso, naquela teoria, entenderam
a dinâmica das outras. A partir dessas descobertas, eles conseguiram se
reorganizar para a representação dos conceitos solicitados, eles viram novas
“fases” que o trabalho deveria contemplar. Houve aí um salto qualitativo no
desenvolvimento do psiquismo desses jovens. Ao final da apresentação do trabalho,
parte da turma verbalizou que “achava que sabia estudar”, mas “descobriu que
naquele momento é que tinha começado a aprender”. Na apresentação do trabalho,
ficou decidido por eles que todos contribuiriam, o que, de fato, aconteceu. Embora
eles tenham dado conta dos conceitos, pois estavam expressos corretamente,
houve imensa dificuldade na oralização da apresentação, naturalmente, percebida
por todos, devido a timidez dos acadêmicos, mas com a intensividade das atividades
orais no segundo semestre, issofoi sendo superado.
A avaliação final desse instrumento foi feita de três modos: a avaliação da
docente, a avalição geral do grupo, observando os aspectos positivos que foram
alcançados e os aspectos que precisavam de intervenção e uma autoavaliação com

ISSN 2237-700X
320

os critérios que cada um definia como relevante. Este último, normalmente, referia-se
às limitações pessoais desde as relações interpessoais em sala, incluindo o
desenvolvimento de novos motivos para a formação e a apropriação mais
verticalizada da teoria. Vale apontar que a autoavaliação foi muito mais “rigorosa” que
as outras, pois os acadêmicos davam-se notas mais baixas que as da docente e a do
grupo. Fiz uma ponderação dos três conceitos, que tiveram o mesmo peso, e,
nitidamente, houve um salto qualitativo na alta dos conceitos obtidos pela turma a
partir dessa dinâmica.

4 Considerações finais

Houve diversos momentos de superação nessa dinâmica do projeto: a


dificuldade para organização de atividades compartilhadas com os colegas, devido à
sobrecarga de carga horária do docente do superior que existe nos Institutos Federais,
as crenças pré-existentes acerca do tipo de protocolo pedagógico a desenvolver, a
ansiedade dos acadêmicos diante das rupturas com a passividade que iam sendo
demandadas por essa nova perspectiva; tudo isso marcado pela responsabilidade
pela formação em nove componentes curriculares distribuídos em dois semestres,
com a mesma turma, ou seja, como docente estivemos à frente de aproximadamente
20% das atividades formativas do curso de graduação dessa turma que ingressou em
2018 no Curso de Letras.
Em 2019, para a primeira experiência de estágio, ao implantar o novo PPC que
colocava o licenciando em Letras, os resultados foram muito positivos, em termos de
aproveitamento, mas o que essa experiência vai destacar como contribuição à
formação docente é o trabalho pautado na integração entre os conhecimentos e,
sobretudo, a concretização de uma proposta em que as relações de ensino-
aprendizagem sejam, de fato, democráticas e que possibilitem ao licenciando
coprotagonizar sua formação. Isso não significa que o estudante vai dizer o que o
professor vai ensinar, pois o par mais experiente da relação acadêmica continua
sendo o professor, aquele que, pela sua formação e experiência, tem uma dimensão
mais complexa da prática social que é mediada pela educação. Isso significa que ele
será ouvido e que será convidado a argumentar, a propor, a decidir e a pensar.
Leontiev (1978, p. 234) afirmou que “para que os conhecimentos eduquem, é
ISSN 2237-700X
321

preciso educar a atitude frente aos conhecimentos”. Entendemos, nesse processo, do


qual participamos, que se deflagrou o desenvolvimento de um modelo de formação
em que o papel do professor não se perde, mas ganha com o partilhar do
planejamento, da tomada de decisões com esses jovens, sujeitos compreendidos
como uma unidade afetivo-cognitiva que têm interesses e necessidades, nessa busca
do conhecimento. Só se aprende a planejar, planejando, e só aprende a pensar,
pensando.
O próprio surgimento da consciência, expressão do psiquismo humano, esteve
historicamente relacionada à atividade (vital) humana, o trabalho. Então, de que modo
poderíamos ser coerentes ao que se estava ensinando nesse projeto, se esse
licenciando não se apresentasse como protagonista de sua formação, sem que o
considerasse com um sujeito ativo? Não há como fazê-lo fragmentando o sujeito em
apenas alguém que aprende, circunscrevendo a seu aspecto cognitivo. Se estudamos
que a função precípua da educação é o desenvolvimento das capacidades máximas
do indivíduo, o que coincide com seu processo de humanização, de modo algum
nesse processo pode-se fragmentar afetivo e cognitivo, isto é, pode-se apenas ensinar
desconsiderando as necessidades, emoções e interesses desse indivíduo.
O ponto de partida para a constituição de uma educação humanizadora é a
compreensão de que não se promove o desenvolvimento de processos cognitivos
independentemente de processos afetivos – os quais são o começo e o fim de toda a
aprendizagem e de todo o desenvolvimento humano (GOMES; MELLO, 2010, p. 691).
Para a docente proponente, os objetivos foram alcançados em relação à
formação acadêmica dos períodos trabalhados, mas os frutos desse trabalho
tiveram ainda outros importantes desdobramentos no que tange ao modo como
afetamos a dinâmica de formação no campus Palmas. A docente proponente é
recém-chegada à instituição (IFPR), que se localiza no Sul do Brasil, estando, antes,
no extremo Norte brasileiro (IFRR). Nesse pouco tempo, esse trabalho pedagógico
com a turma de Letras trouxe destaque para a defesa de uma formação pedagógica
consistente, o que implica o conhecimento das teorias, a coerência com a prática, o
domínio da legislação e o engajamento nas discussões acerca das implicações da
relação da educação com o trabalho em um contexto de modo de produção
capitalista. Evidentemente, isso existia, mas parecia não haver ainda um
engajamento pela coerência em relação aos aspectos epistemológicos, definidos no

ISSN 2237-700X
322

PPP da instituição. Tanto que, a partir das interações com servidores do colegiado e
de outros setores, foram convidados pesquisadores como o professor Newton
Duarte (Unesp) que chamou a atenção para o trabalho educativo em tempos de
negação da ciência em uma Aula Magna de Letras que foi compartilhada por todas
as licenciaturas do campus. Também vieram, a convite da proponente do projeto,
pesquisadoras de outra universidade, (Unioeste) e uma ex-orientanda do mestrado
em educação (IFRR) e, hoje, doutoranda em educação, Lana Mello, que contribuiu
com o desenvolvimento de práticas inclusivas - para todos - em um momento em
que o campus recebe um grande número de alunos com deficiência física e
intelectual; além de formação contínua sobre o Projeto Político Pedagógico em que
licenciandos de Letras, participantes do projeto, também contribuíram em eventos de
formação continuada no campus com suas análises à formação docente.
Entendemos que esses desdobramentos do projeto tornaram-se muito
oportunos, uma vez que os colegas docentes do campus, no total 150 e mais 90
técnicos, são profissionais essenciais à realidade local e nacional, são os que estão
na linha de frente da formação inicial das licenciaturas e, portanto, são também
responsáveis pelos desdobramentos dessa apropriação-objetivação do conhecimento
das novas gerações: “a apropriação humanizadora da cultura possibilita a liberdade
do povo” (MELLO, 2012, p. 375).

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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS LÍQUIDOS NA FABRICAÇÃO


DE COMPENSADOS: UM ESTUDO EM UMA INDÚSTRIA DO SUDOESTE DO
PARANÁ

Luiz Mass (mass.luiz@gmail.com)1


Alexandre Milkiewicz Sanches (alexandre.sanches@ifpr.edu.br)1
1
IFPR Campus Palmas – Curso de Administração

Resumo: A partir da segunda metade do século XX, em decorrência dos hábitos


de consumo da sociedade por produtos industrializados e com embalagens que
contêm materiais tóxicos, a natureza tem sofrido com seu descarte inadequado,
causando danos ao meio ambiente e ao ser humano. O controle eficiente da
geração de resíduos é condição básica para que a empresa consiga tratar e dar
destino adequado aos resíduos. Não é só a preocupação de se adequar à
legislação, mas com os custos que irão incorrer para cumprir essas exigências.
O presente trabalho apresenta a questão de resíduos gerados em uma indústria
de painéis de compensados localizada em Palmas/PR, e as medidas usadas
pela empresa para gerenciamento dos resíduos. O método utilizado foi o estudo
de caso, e as informações foram obtidas por meios de dados visitas a campo e
dados fornecidos pela empresa. Os resíduos líquidos podem aumentar seu
volume conforme o volume de produção, e são reaproveitados no processo de
fabricação de painéis de compensados, os efluentes voltam ao ciclo de
produção, não sendo despejados em corpos hídricos, evitando a poluição
deles. A empresa estudada serve de exemplo de esforço dedicação na busca
de melhorias no cuidado e controle de seus resíduos.

Palavras-chave: Indústria de compensados, gestão da produção, legislação


ambiental.

Abstract: From the second half of the 20th century, due to society's consumption
habits for industrialized products and packaging containing toxic materials,
nature has suffered from their inappropriate disposal, causing damage to the
environment and human beings. Efficient control of waste generation is an
essential condition for the company to treat and properly dispose of waste. It is
the concern to comply with the legislation and the costs that will incur to comply
with these requirements. This paper presents the issue of waste generated in a
plywood panel industry located in Palmas/PR, and the measures used by the
company for waste management. The method used was the case study, and the
information was obtained through data field visits and data provided by the
company. Liquid waste can increase according to the production volume and is
reused in the plywood panel manufacturing process. The effluents return to the
production cycle, not being dumped into water bodies, preventing their pollution.
The studied company serves as an example of dedicated effort in searching for
improvements in the care and control of its waste.

Keywords: Plywood industry, production management, environmental legislation.

ISSN 2237-700X
325

1 Introdução

Os diferentes setores da indústria geram um grande volume de diversos tipos


de resíduos, contendo inúmeros graus de periculosidade. Por isso, torna-se
necessária a implementação de métodos que minimizem o volume de resíduos
gerados na indústria. Segundo Tenório e Espinosa (2004), os resíduos industriais
variam entre 65% e 75% no montante de resíduos gerados em regiões mais
industrializadas.
Mesmo que determinados métodos possibilitem a reutilização ou extração de
substâncias de contaminação com o objetivo de diminuir o grau de periculosidade
para minimizar o impacto ambiental, constitui alternativa que possam transformá-los
em matéria-prima para utilização em outros processos de produção, reduzindo o
custo e contribuindo com o desenvolvimento da prática sustentável.
A recente preocupação no que se refere ao gerenciamento dos resíduos
industriais e a legislação mais restritiva, motiva a mudança de comportamento no
setor produtivo no que se refere a utilização consciente dos recursos naturais,
justificando a escolha do tema a ser estudado (NBR 12235/1992).
Esses controles devem estar ligados as premissas de alcançar os critérios de
sustentabilidade ambiental, visando o comprometimento da qualidade do meio
ambiente para as necessidades das gerações presente e futuras, orientando o
manejo dos resíduos sólidos na ordem de prioridade da não geração, redução,
reutilização, reciclagem, tratamento de resíduos e disposição final adequada dos
rejeitos (BRASIL, 2010; NBR 13894/1997).
A lei 12.305 (2010) visa a redução futura de disposição final em aterros, seja
por indústrias ou residências estimulando a redução a redução de resíduos. A
legislação é necessária para aprimorar a qualidade de vida atual e futura,
dificultando a procura de espaços para a disposição final de resíduos.
O objetivo geral deste artigo é analisar o volume de resíduos gerados na
fabricação de painéis de compensados e, os objetivos específicos são: identificar os
principais pontos de geração dos resíduos; descrever como os procedimentos de
reutilização dos resíduos estão sendo aplicados; analisar como o gerenciamento dos
resíduos está contribuindo para a proteção do meio ambiente; propor melhorias para
adequação dos procedimentos gerenciamento dos resíduos, visando a preservação

ISSN 2237-700X
326

do meio ambiente.

2 Materiais e métodos
A pesquisa qualitativa descreve a complexidade de determinado problema,
sendo necessário compreender e classificar os processos dinâmicos vividos nos
grupos, contribuir no processo de mudança, possibilitando o entendimento das mais
variadas particularidades dos indivíduos.
A pesquisa foi realizada utilizando a metodologia qualitativa, através de um
estudo de caso observando o processo produtivo da empresa, coletando dados para
análise do procedimento da empresa na geração dos resíduos líquidos.
A empresa foi selecionada por ser uma das maiores exportadoras de
compensado. O estudo de caso foi utilizado em função de seu potencial produtivo
e, consequentemente o volume de resíduos gerados na fabricação de compensado.

3 Resultados e discussões
Apesar de sua importância econômica, empresas de compensado têm alto
potencial de contaminação ambiental, não somente pela quantidade de madeira
envolvida no processo, mas também pela quantidade de resíduos sólidos, líquidos e
gasosos, gerados em seu processo produtivo.
Existe a necessidade de entender a relação entre indústria e meio ambiente e
as consequências dessa relação para que as medidas a serem tomadas, tenham o
efeito de no mínimo diminuir os estragos causados ao meio ambiente por esses
resíduos.

3.1 Processo produtivo da empresa

A empresa pesquisada possui atualmente um quadro em torno de 500


funcionários, com a finalidade de produzir painéis de compensado. Sua produção
gira em torno de 10.000m³, produzidos a partir de lâminas de pinus, extraídas no
desfolhamento de toras de pinus.

ISSN 2237-700X
327

O produto é destinado 100% ao mercado de exportação, e devido ao volume


de produção de painéis de compensado, requer atenção ao volume considerável de
resíduos gerados em seu processo produtivo. O processo produtivo da empresa se
inicia com a seleção de diâmetro de árvores (pinus) na floresta.
Na empresa, as toras são aquecidas e laminadas e as lâminas produzidas
passam por um processo de secagem, para a produção de compensado. Em
seguida elas são colocadas de forma sobrepostas e cruzadas, e depois prensadas a
frio para melhor compactar as lâminas e melhorar a distribuição de adesivos (cola)
nas lâminas, e então prensadas a quente. Cada etapa será descrita a seguir.
1) Cozimento de toras: O cozimento das toras tem o objetivo de
amolecer as toras, tornando-as mais flexíveis e coma resistência. A qualidade da
lâmina depende do tempo e temperatura de cozimento, ficam armazenadas em
cabines (tanques) sendo aquecidas com vapor em torno de 8 horas, em uma
temperatura aproximada de 170 ºC.
2) Laminação: Após o cozimento as toras entram em tornos,
equipamentos usados para a transformação de toras em lâminas por meio de
desfolhamento e corte contínuo através de sincronização dos equipamentos, em
seguida são transportadas até a guilhotina através de esteiras para o corte em
medidas especificas conforme necessidade para fabricação das chapas. No
processo existe a separação das lâminas que não servem para a fabricação de
chapas, que posteriormente separadas para serem utilizadas como combustível na
caldeira.
3) Secagem: A secagem de lâminas é um processo no qual acontece a
retirada da umidade da lâmina até um determinado padrão de umidade de (5% a
8%), que tem como objetivo oferecer condições adequadas para a formação de
chapas de compensados. Na prensagem, a umidade influencia e pode comprometer
a qualidade das chapas causando (estouros) nas chapas, depois elas são
armazenadas no estoque de lâminas secas aguardando serem utilizadas no
processo de montagem de compensado.
4) Colagem: Primeiramente, as lâminas são introduzidas em máquinas
chamadas de passadeiras com rolo superior e rolo inferior, responsáveis pela
aplicação e espalhar a cola nas lâminas. Após a aplicação da cola inicia-se a
montagem das chapas, posicionando as lâminas de forma cruzadas, para formar a

ISSN 2237-700X
328

chapa. Em seguida, as chapas montadas são direcionadas à prensa fria para serem
compactadas para melhor absorção da cola pelas lâminas.
5) Prensagem: Depois da prensa fria as chapas compactadas
são direcionadas para as prensas quentes com temperatura em torno de 135ºC,
onde são prensadas por um determinado tempo conforme espessura das chapas,
para que aconteça o processo de cura da cola, dando origem a chapa inacabada de
compensado. Após esse processo, são encaminhadas ao estoque de produtos
inacabados, para que tenha estabilidade no seu formato, não exista empenamento
das chapas.
6) Esquadrejamento: Após o resfriamento das chapas as mesmas são
direcionadas para do corte, que é realizado conforme medidas especificadas no
pedido pelo cliente.
7) Lixamento: Na sequência é realizado o lixamento para corrigir as
imperfeições nas chapas.

Após esse processo é formado os pallets, que são feitos com quantidade de
chapas conforme espessura das mesmas e encaminhadas ao estoque de produtos
acabados, aguardando serem expedidos ao porto de destino especificado pelo
cliente. Todo esse processo só é realizado por causa do material combustível
utilizado (calor), gerado por uma caldeira que utiliza como combustível, biomassa
(cavaco), gerados pelo resíduo de lâminas, que são picados e utilizados como
combustível na caldeira.
A água utilizada no processo produtivo da empresa é dividida em três partes:
Lavagem de passadeiras, batedeira e cozimento, não considerando as instalações
sanitárias e outros fins. A quantificação dos resíduos líquidos foi feita por estimativa,
já que a água utilizada na empresa provém de poços artesianos e não são
contabilizados volumes mensais. A base para estimar a quantidade usada foi obtida
através do volume diário utilizado no processo descrito.
Os resíduos líquidos gerados no setor de cozimento de toras, que é composto
por oito tanques, se dá devido a utilização de vapor que é direcionado aos tanques
através de um circuito fechado, onde a geração de vapor ocorre através da presença
de serpentinas e retorna para um reservatório.
O circuito fechado por meio de serpentinas foi criado em função da

ISSN 2237-700X
329

condensação de vapor, podendo retornar a caldeira, ou até mesmo ser utilizado nos
tanques como água a ser evaporada para que as toras sejam cozidas. Esses
líquidos são armazenados em canaletas onde se localizam as serpentinas.
As canaletas são localizadas no centro dos tanques e abaixo do monte de
toras para realizar um cozimento eficiente, porém, tem exposição a chuvas que
podem acumular e ultrapassar a capacidade de armazenamento de água.
Quando as toras são aquecidas, há liberação de compostos químicos
presentes inclusive na resina que quando em contado com água se transforma em
líquidos agressivos ao meio ambiente, conhecido como “licor negro”. O excesso
desses resíduos líquidos gerados nos tanques, direcionados a um reservatório onde
se acumula com outros resíduos líquidos de prensa e de tratamento de água da
caldeira que substâncias que são usadas para realizar a desmineralização da água
que devido a ser de poço artesiano.A reutilização desses resíduos líquidos contendo
substâncias de outros resíduos líquidos, ao entrar em contato acidentalmente com o
meio ambiente, há suspeita que pode causar danos desconhecidos e ao ser
evaporado penetrando nas toras, existe a preocupação de alterar a qualidade das
lâminas extraídas das toras e que ao evaporar a céu aberto pode contribuir a danos
atmosféricos. A Figura 1 apresenta os principais pontos de geração de efluentes.

Figura 1 Processo de geração e armazenamento de resíduos líquidos (efluentes oriundos do


tratamento de toras) e o ciclo de reaproveitamento.
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330

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Na Tabela 1 apresentam-se os valores referentes à geração de resíduos


líquidos (efluente oriundo do tratamento de toras) em volume estimado que
retornam ao ciclo de cozimento, conforme consumo de toras na empresa
analisados noperíodo de junho a outubro de 2020.

Tabela 1 – Geração de resíduos líquidos

Consumo de Produção de Geração de Relação de resíduos


Mês gerado/ton.de tora
Toras (t) Laminas (m³) Resíduos Líquidos (l) cons. (l / t)
Junho 20.413 11.066,940 195.000 9.553

Julho 23.837 12.871,980 200.000 8.390

Agosto 23.782 13.225,180 180.000 7.569

Setembro 25.643 13.994,320 186.000 7.253


Outubro 24.592 13.777,720 190.000 7.726
Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Os resíduos líquidos gerados no setor de colagem que é composto por cinco


passadeiras de cola e uma batedeira de cola, é resultado da lavagem diária dos
rolos das passadeiras utilizadas para aplicar cola adesiva nas lâminas e a batedeira
é utilizada para realizar a mistura dos insumos como: cola, trigo e água, deixando a
mistura adequada para a utilização.
As lâminas recebem a aplicação de cola adesiva através de rolos revestidos
de borracha, para que haja uma aplicação uniforme. A lavagem desses
equipamentos é realizada diariamente após o final de cada turno, que tem período
de oito horas cada. A água utilizada para a lavagem das passadeiras e da batedeira
de cola, é armazenada em reservatórios devido a contaminação das substâncias
existentes na mistura (cola).
Porém, a água utilizada nas demais passadeiras é retirada em baldes,
causando derramamento ao redor das passadeiras poluindo o ambiente de trabalho.
Em seguida é armazenada em tonel de 200 litros e encaminhada ao reservatório
secundário. Ao transferir esses resíduos líquidos para o reservatório de maior
capacidade, ocorre derramamento desses resíduos, deixando poças sobre o chão,
causando preocupação de que pode existir infiltração através do concreto e chegar

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331

ao solo. A Figura 2 apresenta os pontos de geração de resíduos líquidos (resíduos


de cola fenólica) armazenado em reservatório primário, para ser encaminhado ao
reservatório principal e retornar ao ciclo de produção.

A Tabela 2 apresenta a geração de resíduos líquidos (resíduo de cola


fenólica) em volume estimados que retornam ao ciclo de produção, conforme
consumo de adesivo (cola) na empresa.

Tabela 2 – Geração de Resíduos Sólidos

Relação de resíduos
Mês Consumo de Produção de Geração de gerado/kg.de cola
cola (kg) Compensados (m³) Resíduos Líquidos (l) cons. (l / kg)

Junho 360.836 9.606,931 8.640 24,00

Julho 398.298 11.102,675 9.000 23,00

Agosto 377.998 11.082,981 8.100 21,00

Setembro 397.059 11.166,152 8.280 21,00

Outubro 373.033 11.025,787 8.460 23,00


Fonte: Dados da pesquisa (2021).

3.2 Sugestões de melhoria

No setor de cozimento: existe a preocupação de contato de efluentes


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332

diretamente com o solo, podendo causar danos ao meio ambiente.


As melhorias devem ser realizadas de forma a evitar excesso de efluentes
gerados no setor, principalmente em dias chuvosos, podendo exceder o limite do
reservatório de efluentes.
Realizando a construção de uma cobertura nos tanques de cozimento, de
forma a abranger todo o setor de cozimento, podendo evitar contato de água de
chuva com efluentes de tratamento de toras, contribuindo com a eficiência do
tratamento e em partes consideradas importantes, o conforto dos funcionários no
que se refere ao ambiente de trabalho.
O que agora encontram-se trabalhando ao ar livre, pode ser prejudicial a
saúde em certos momentos de variação de clima, sendo que o projeto da devida
sugestão de melhoria já está em andamento, para apresentação e aprovação da
diretoria da empresa.
Tabela 3 – Custos para melhorias no setor de cozimento
Item Quant. Descrição
1 25 Pé direito de 0,25x0,35 c/ 11,50 m - R$ 86.000
2 25 Buracos e sapatas (fundação) - R$ 30.000,00
Fechamento de parede em aluzinco 0,43 mm c/ 360,00 m² - 01face pintada - R$
3 1
55.000,00
Fechamento de oitão em aluzinco 0,43 mm c/ 29,00 x 2,50 m
4 2
R$ 20.000,00
5 11 Tesouras metálica 2 águas c/ 29,00 m - R$ 92.000,00
6 24 Linhas de terça enrijecida c/ 51,00 m - R$ 60.000,00
7 1 Cobertura telha aluzinco 0,43 mm c/ 1550,00 m² - R$ 135.000,00
8 16 Contravento 3/8” - R$ 3.200,00
9 1 Treliça metálica de 50,00x0,60x0,10 m – apoio de tesouras R$17.000,00
10 1 Treliça metálica de 106,00x0,60x0,10 m – viga de travamento R$ 31.000,00
11 1 Art. e Responsável Técnico - R$ 500,00
12 1 Projeto arquitetônico - R$ 17.000,00
Custo total das melhorias no setor de cozimento: R$ 540.700,00
Fonte: Dados da pesquisa (2021)

No setor de colagem: existe a preocupação não só de contado de efluente


com o solo, mas, também de aproveitar ao máximo a cola fenólica, devido ao seu
valor. Por ser um produto que se dispersa com grande facilidade quando entra em
contato com água, existe procedimentos para reaproveitar os efluentes, onde existe
a necessidade de melhorias.
As melhorias devem ser feitas de forma a evitar movimentação desnecessária
com os efluentes. Construir um reservatório de metal e equipado com bomba, com
capacidade de 500 litros, em um ponto estratégico no setor para recepcionar os
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333

efluentes que são gerados na lavagem das passadeiras.


Construir um reservatório de metal com capacidade de 5.000 litros, equipado
com bombas e equipamento que mantenha os efluentes em movimento contínuo,
instalado em um local separado do setor de colagem, para recepcionar esses
efluentes armazenados no reservatório primário localizado no setor de colagem.
Esse efluentes poderão receber a aplicação de água conforme necessidade
para que seja bombeada para a batedeira de cola em condições de
reaproveitamento sem comprometer os padrões existentes no preparo da cola.
A sugestão de melhoria do reservatório primário foi acatada pela empresa e
executada, dando agilidade e eficiência no processo de reaproveitamento dos
resíduos gerados no setor de colagem.

Tabela 4 – Custos para melhorias no setor de colagem


Item Quant. Descrição
1 2 Chapa de aço 1.200x3.000x1/4” - R$ 1.520,00
2 1 Chapa expandida 1.50X1000X2000, Malha 12 X 25 – R$ 120,00
3 1 Motor 5 CV 4 Polos – R$ 2.248,00
4 1 Bomba de engrenagem – R$560,00
5 1 Acoplamento GR128 – R$ 95,60
6 Consumíveis – R$ 350,00
7 Mão de obra – R$ 190,00
Custo total do reservatório primário: R$ 5.083,60
Fonte: Dados da pesquisa (2021)

Custos detalhados da sugestão de melhorias (reservatório secundário com


capacidade de 5.000 litros) separado do setor de colagem.
Tabela 5 – Custos para melhorias: reservatório secundário
Item Quant. Descrição
1 5 Chapa de aço 1.200x3.000x1/4” – R$ 3.600,00
2 Consumíveis - R$ 500,00
3 Mão de obra – R$ 381,18
Custo total do reservatório secundário: R$ 4.481,18
Fonte: Dados da pesquisa (2021)

4 Conclusões

A partir deste estudo foi possível verificar que os resíduos líquidos gerados na
fabricação de compensados, recebem um gerenciamento adequado conforme as
ISSN 2237-700X
334

suas características, o que significa um ganho ambiental e econômico.


Com o retorno dos efluentes ao ciclo de produção e a disposição adequada
deles, a empresa se esforça para manter o ciclo de reaproveitamento dos resíduos
no processo produtivo.
No entanto as melhorias sugeridas e futuramente aplicadas nos setores onde
foi feito o estudo se faz necessária devido ao aumento da produção e
consequentemente o aumento de efluentes.
As melhorias podem contribuir na eficiência do gerenciamento dos resíduos
gerados na fabricação compensados, principalmente em seu ciclo de
reaproveitamento de efluentes.
A empresa gerencia seus resíduos de acordo com e legislação de âmbito
federal e estadual que estabelece diretrizes para o gerenciamento de resíduos
sólidos, parâmetros para a emissão de efluentes líquidos e emissão atmosférica,
cumpridas rigorosamente pela empresa.

REFERÊNCIAS

ABNT - 1997 - NBR 13894. Tratamento no solo, 2018. Acesso em 12 dez. 2020.
Disponível em: document.onl.

ABNT NBR 10004 - Resíduos QMC UFSC. Acesso em 20 out. 2020.


Disponível em: analiticaqmcresiduos.páginas.ufsc.br › files › 2014/07 ›, 2014.

BRASIL. Lei n. 12305 de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de


Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
providências. Diário Oficial da República federativa do Brasil. Brasilia, DF, 03
de agosto de 2010. Acesso em 10 out. 2020. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm.

NBR 12235. Armazenamento de resíduos sólidos perigosos. 2014. Acesso


em05 nov. 2020. Disponível em: wp.ufpel.edu.br › resíduos › files › 2014/04 › nbr-
12235...

TENORIO, J.G.S, ESPINOSA, D.C.R. Controle Ambiental de Resíduos. IN:


Cap 5,Curso de Gestão Ambiental, Coleção Ambiental, p.159-162, 2004.

ISSN 2237-700X
335

PORTAL WEB GIRLS POWER IN PROGRAMMING: VISIBILIDADE FEMININA


NAS ÁREAS DE STEM

Letícia Mariano de Oliveira (leticiamariano97@hotmail.com)¹


Lyduane Maira Rottava (lyduanerottava@gmail.com)²
Heloíse Acco Tives(heloise.acco@ifpr.edu.br)³
Andréia Marini (andreia.marini@ifpr.edu.br)4
1,2,3,4
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná

Resumo: O presente trabalho aborda o desenvolvimento de um portal Web


como ferramenta de apoio ao projeto “Girls Power In Programming” do
Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas, visando ampliar a visibilidade
da representatividade feminina nas áreas de STEM. Em um cenário em que o
isolamento social tornou-se necessário ao combate à pandemia por COVID-
19, muitas ações extensionistas e atividades de pesquisa precisaram ser
reinventadas e foram transportadas para o formato remoto. Este artigo propõe
uma alternativa para fortalecer a divulgação de ações de pesquisa e extensão
que objetivam oportunizar a apresentação e visibilidade da presença feminina
nas áreas da Ciência e da Tecnologia. Com o objetivo de facilitar a integração
do projeto com seu público alvo e a comunidade, o portal Web poderá
promover as ações do projeto, ofertar conteúdo de interesse nas áreas de
STEM, bem como disponibilizar o acesso público e gratuito ao material do
projeto. A metodologia adotada se baseia na identificação do problema,
reuniões com a equipe do projeto de extensão e estudo de trabalho correlatos,
a partir da qual foi proposta uma solução para o desenvolvimento de um portal
Web. O presente trabalho encontra-se em andamento e está sendo
desenvolvido articulado com os componentes curriculares do curso de
Bacharelado em Sistemas de Informação: Estágio Supervisionado e Trabalho
de Conclusão de Curso com previsão de disponibilização à comunidade em
abril de 2022.

Palavras-chave: STEM, Presença feminina, Mulheres na Computação,


Acesso a informação digital, Repositórios de acesso livre.

Abstract: This work addresses the development of a web portal as a support


tool for the project “Girls Power In Programming” at the Federal Institute of
Paraná – Campus Palmas, aiming to increase the visibility of female
representation in the STEM areas. In a scenario where social isolation became
necessary to combat the COVID-19 pandemic, many extension actions and
research activities needed to be reinvented and were transported to the remote
format. This article proposes an alternative to consolidate the dissemination of
research and extension actions that aim to create opportunities for the
presentation and visibility of women's presence in the areas of Science and
Technology. In order to facilitate the project's integration with its target

ISSN 2237-700X
336

audience and the community, the web portal will be able to promote the
project's actions, offer content of interest in the STEM areas, as well as
provide free public access to the project's material. The methodology adopted
is based on the identification of the problem, meetings with the extension
project team and a study of related work, from which a solution for the
development of a Web portal was proposed. This work is in progress and is in
progress. being developed articulated with the curricular components of the
Bachelor's Degree in Information Systems course: Supervised Internship and
Course Conclusion Work expected to be made available to the community in
April 2022.

Keywords: STEM, Female Presence, Women in Computing, Access Digital


Information, Open Access repositories.

1 Introdução

Nas áreas de Ciência e Tecnologia o debate da igualdade de gênero nas


áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) vem recebendo
cada vez mais atenção e conhecer e discutir esse tema é um fator muito importante.
De acordo com Granovskiy (2018), (tradução nossa):

O termo educação STEM refere-se ao ensino e aprendizagem nas áreas de


Ciência, tecnologia, engenharia e matemática. E normalmente inclui
atividades educacionais em todos os níveis de ensino da pré-escola ao pós-
doutorado em ambientes formais (por exemplo, salas de aula) e informais
(por exemplo, programas pós-escolares).

Na publicação do relatório ”Decifrar o Código: Educação de Meninas e


Mulheres em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática”, a UNESCO (2018)
aborda os possíveis obstáculos da baixa representação de mulheres nas áreas de
STEM. O documento relata que desde Marie Curie em 1903, apenas 17 mulheres
ganharam o Prêmio Nobel de física, química ou medicina, em comparação com 572
homens, e atualmente, apenas 28% dos pesquisadores no mundo são mulheres,
sendo que essa diferença, essa desigualdade, não ocorre por acaso.
Vários preconceitos, normas e expectativas sociais afetam a qualidade da
educação que é ofertada, impactando diretamente e prejudicando o
desenvolvimento de muitas meninas. Segundo a UNESCO (2018), as meninas e
mulheres representam um grupo populacional inexplorado para as áreas de STEM e
podemos cada vez mais buscar investir no talento delas.
ISSN 2237-700X
337

Para mudar e/ou minimizar o contexto dos prejuízos que acometem o


desenvolvimento de meninas e mulheres pode-se buscar apoio nas diretrizes
propostas na Agenda 2030 (UNESCO, 2018), que consideram o potencial presente
nesta população. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) pretendem
direcionar investimentos e fomentar ações que visem a melhoria da vida,
oportunizando crescimento verde e inclusivo para todos, sendo que a área de STEM
é referida como um potencial para exploração do talento de meninas e mulheres,
reconhecendo a importância desse grupo populacional para os direitos humanos e
para a humanidade, como um todo.
Na perspectiva da inclusão e do desenvolvimento sustentável, um foco está
no desenvolvimento desse potencial ainda muitas vezes marginalizado. Nesse
contexto, as carreiras na área de STEM precisam de políticas que viabilizem e
sustentem essa ideia formadora, via educação, qualificação profissional e
fortalecimento de autonomia UNESCO (2018).
É notável que nos últimos anos iniciativas para o engajamento feminino nas
áreas de STEM estão cada vez mais presentes. Contudo, nota-se, que apesar das
iniciativas o cenário ainda é preocupante. Conforme relatório da UNESCO (2018),
mesmo com melhorias, a educação ainda não é universalmente disponível, e as
desigualdades de gênero ainda persistem.
Diante desse cenário, percebe-se a necessidade de estimular meninas e
mulheres a seguirem a carreira científica, possibilitando a elas o contato com as
áreas de STEM. Essa é uma das iniciativas do projeto de extensão “Girls Power In
Programming” do Instituto Federal do Paraná - IFPR campus Palmas.
O projeto citado desenvolve várias atividades nas escolas participantes
incluindo rodas de conversa e oficinas. As ações executadas visam incentivar e
apoiar meninas da Educação Básica das escolas públicas de Palmas- PR e do curso
de Sistemas de Informação do IFPR campus Palmas, buscando despertar o
interesse das alunas para seguirem seus estudos nas áreas da Ciência, Tecnologia,
Engenharia e Matemática.
O presente trabalho aborda o desenvolvimento de um portal Web como
ferramenta de apoio ao projeto “Girls Power In Programming”, visando aumentar a
representatividade feminina nas áreas de STEM. Com o objetivo de facilitar a
integração do projeto com seu público alvo e a comunidade, o portal Web poderá

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338

promover as ações do projeto, ofertar conteúdo de interesse nas áreas de STEM,


bem como disponibilizar o acesso público ao material do projeto, aumentando assim
a visibilidade dos trabalhos executados e a ênfase na presença feminina em tais
ações.

2 Desenvolvimento

O Portal Web apresentado neste trabalho será utilizado pela equipe do


projeto: “Girls Power in Programming”. Segundo Trotman (2017, tradução nossa),
uma pesquisa da Microsoft entrevistou 11500 meninas e mulheres com idade entre
11 e 30 anos em 12 países da Europa, questionando sobre suas atitudes em relação
às áreas de Ciência, Tecnologia, engenharia e matemática e descobriu-se que uma
grande parcela das meninas se interessa por essas áreas aos 11 anos e meio de
idade, porém isso começa a diminuir aos 15 anos.
Segundo Trotman (2017, tradução nossa), a falta de modelos femininos em
STEM foi citado como um dos principais motivos por não seguirem na área.
Mulheres jovens não têm prática e experiências suficientes em questões relativas às
áreas de STEM. Dentre o público da pesquisa, apenas 42% disseram que
consideravam uma carreira nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e
Matemática no futuro e 60% admitiram que, se soubessem que homens e mulheres
têm empregos iguais nessas ocupações, estariam mais confiantes em uma carreira
na área de STEM. Entre as entrevistadas, 57% disseram que ter um professor
encorajando a seguir nestas áreas elevaria a probabilidade de seguirem esse tipo de
carreira.
Trotman (2017, tradução nossa) ressalta no artigo que Janneke (Niessen, co-
fundadora da empresa de tecnologia de publicidade com sede em Amsterdã, Better
Digital.), destacou que é de suma importância que todos tenham uma capacidade
poderosa de influenciar a forma como as meninas se enxergam, não apenas
aqueles que trabalham em STEM. O autor destaca ainda, que ter modelos de
comportamento e apoio tanto em casa quanto em sala de aula foram grandes
motivadores para as meninas que se interessam continuarem a estudar as
disciplinas das áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática e destaca

ISSN 2237-700X
339

ainda que um maior interesse em assuntos relacionados a STEM permitirá que elas
sigam passos de outras cientistas e engenheiras, tais como Marie Curie, Florence
Parpart, Ada Lovelace, Mária Telkes, entre outras.
Segundo a publicação, Meninas na escola, Mulheres na Ciência: Ferramentas
para professores da Educação Básica (IDG; COUNCIL, 2020) existem no Brasil
cerca de 48 milhões de estudantes na Educação Básica, independentemente de sua
idade. Entre esses estudantes estão inúmeras mulheres e meninas e ao lado delas
estão seus professores, familiares e colegas e que os mesmos são indispensáveis
naquela que pode ser uma das maiores conquistas da atualidade: a equidade de
gênero.
Mas como trazer o tema de meninas e mulheres em áreas de STEM para a
sala de aula? De qual forma uma menina ou uma mulher vai entrar em uma carreira
a qual ela não tem o conhecimento? A resposta seria: elas não iriam seguir
nenhuma carreira relacionada a STEM sem antes conhecê-la (IDG; COUNCIL,
2020).
O sucesso das meninas em sua trajetória escolar no Brasil deve ser
destacado, sendo que até hoje meninas e meninos recebem estímulos diferentes
não promovendo equidade de gênero e sim aumentando desigualdades (IDG;
COUNCIL, 2020). Ao estudar o campo das Ciências, as atitudes que existem na vida
escolar diária reduzem a participação das meninas e reduzem seu entusiasmo em
lidar com problemas de matemática e lógica.
Nesse contexto sabe-se do esforço histórico e global para que homens e
mulheres tenham direitos iguais, bem como responsabilidades e oportunidades,
sendo que algo assim, só poderá ser alcançado com o estabelecimento de
oportunidades educacionais desde os anos iniciais, de uma forma que elas possam
participar e também protagonizar essas transformações em pleno século XXI,
independente de sua idade (IDG; COUNCIL, 2020).
De acordo com o relatório ”Decifrar o Código: Educação de Meninas e
Mulheres em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM)”, a UNESCO
(2018) aponta que a existência de exemplos de mulheres nas áreas de STEM
podem reduzir os estereótipos negativos que são baseados em gênero e dar às
meninas uma perspectiva verdadeira das carreiras nestas áreas e que esses
exemplos podem ajudar no aumento da auto percepção e as atitudes de mulheres,

ISSN 2237-700X
340

bem como motivá-las a construírem carreiras nas áreas de Ciência, Tecnologia,


Engenharia e Matemática.
De acordo com a publicação, Meninas na escola, Mulheres na Ciência:
Ferramentas para professores da Educação Básica - (IDG; COUNCIL, 2020), o
interesse das meninas pela Ciência está relacionado ao seu desempenho no campo
STEM e suas escolhas profissionais, e isso envolve os modelos que são
apresentados a elas no decorrer de suas vidas, em casa ou na escola. Essas
referências são decisivas para aumentar as possibilidades das trajetórias dessas
meninas, incentivando-as a entrar no mundo científico.
De acordo com a UNESCO (2018) as mulheres somam hoje 28% dos
pesquisadores no mundo, apesar de representarem metade da população mundial.
O primeiro algoritmo processado por uma máquina, a descoberta da radioatividade,
o registro inédito da imagem de um buraco negro e o sequenciamento genético em
tempo recorde do novo coronavírus, foram descobertas protagonizadas por
mulheres, e mesmo assim, elas enfrentam desafios para seguir carreira nas áreas
de STEM.
Por fim, de acordo com a UNESCO (2018), o sistema educacional e as
escolas executam um papel fundamental para despertar o interesse das meninas
pela área de STEM, sendo que esse papel se estende também ao fornecimento de
oportunidades iguais para obter e se beneficiar de uma educação na área.

3 Metodologia

A metodologia utilizada no desenvolvimento do portal Web para o projeto


“Girls Power In Programming” é apresentada na Figura 1.

ISSN 2237-700X
341

Figura 1 – Visão geral da metodologia inicial adotada para a criação do Portal Web.
Fonte: Os autores (2021) Montagem a partir de imagens coletadas no site da pixabay.com
(PIXABAY).

As principais etapas são descritas:

1. Identificação do problema: Análise do alcance das atividades do


projeto de extensão Girls Power in Programming para identificação do que seu
alcance, sendo que foi verificado que está limitado atualmente no InstitutoFederal do
Paraná - IFPR Campus Palmas, Colégio Estadual Dom Carlos e no Colégio
Estadual Alto Da Glória que são as atuais parcerias do projeto.
2. Estudos de projetos correlatos: Pesquisa e análise de trabalhos
correlatos para inspirar na proposta a ser criada.
3. Propor uma solução: Elaboração de uma proposta para os
integrantes do projeto. Realização de reuniões para analisar as necessidades
existentes. Criação de um escopo de acordo com as ações a serem executadas no
desenvolvimento do portal.
4. Desenvolvimento do projeto: Análise de requisitos, desenvolvimento
de software, criação do banco de dados e demais etapas necessárias para a
conclusão do projeto.
5. Implementação: Implementação do portal Web, com a realização de
testes de usabilidade do produto de software com os seus usuários finais,
equipe do projeto e as participantes das escolas. Análise dos resultados dos
ISSN 2237-700X
342

testes de usabilidades realizados.


6. Análise de resultados e trabalhos futuros: Análise de todos os
resultados do produto de software desenvolvido com a entrega do portal Web para a
administração pela equipe do projeto Girls Power in Programming.

3.1 Análise e Projeto do portal Web

Nesta seção serão apresentados alguns elementos de análise e projeto para


construção portal web, tais como: visão geral do sistema, requisitos funcionais e não
funcionais e diagrama de casos de uso do sistema.

3.1.1 Visão geral do sistema

O portal web de apoio ao projeto de extensão Girls Power in Programming foi


planejado para trazer mais visibilidade ao projeto, aumentar seu alcance,
disponibilizar referências femininas em STEM e deixar essas referências mais
visíveis, disponibilizar certificados para todos os participantes das ações executadas
pelo projeto. Deixando também as ações do projeto Girls Power in Programming
mais visíveis ao público e podendo gerar novas parcerias com pessoas interessadas
pelo assunto e por projetos semelhantes.

3.1.2 Requisitos funcionais e não funcionais

Sommerville (2011) descreve os requisitos de um sistema indicando o que o


sistema deve fazer, os serviços que serão fornecidos e as restrições ao seu
funcionamento. O autor enfatiza que esses requisitos refletem as necessidades do
cliente para os sistemas que atendem a propósitos específicos, como controle de
equipamentos, colocação de pedidos ou localização de informações.
ISSN 2237-700X
343

Durante a especificação de requisitos acontece a descrição dos requisitos de


usuário e sistema em um documento de requisitos. Para o portal Web proposto
foram listados até o momento 20 requisitos funcionais e 11 requisitos não funcionais
(adicionalmente 7 regras de negócio) que foram a base para a elaboração do
diagrama de casos de uso do sistema.

Diagrama de casos de uso do sistema

Os casos de uso nomeiam a interação entre o sistema e seus agentes


externos (chamados de atores) em sua forma mais pura. A interação é então
complementada com a descrição das informações adicionais que interagem com o
sistema, e as informações adicionais podem ser concluídas na forma de texto ou
usando outros modelos gráficos (como outras formas de diagrama)
(SOMMERVILLE, 2011). O diagrama de casos de uso para o portal Web é
apresentado na Figura 2.

Figura 2 – Representação de casos de uso em diagrama de casos de


uso.Fonte: Os autores (2021)
Na fase de levantamentos de requisitos, os casos de uso são
documentados em diagramas de casos de uso de alto nível. Este diagrama
contém um conjunto de casos de uso que representam todas as interações
possíveis que serão descritas nas etapas subsequentes da engenharia de
ISSN 2237-700X
344

requisitos (SOMMERVILLE, 2011).

3.2 Protótipos de baixa fidelidade (Lo-Fi)

Os protótipos servem para melhorar, alterar ou incrementar uma


solução que ainda será desenvolvida, tendo como principal objetivo executar
testes e validar ou então, invalidar soluções, bem como auxiliar na
apresentação das propostas. Segundo Sommerville (2011, p.30): “Um
protótipo é uma versão inicial de um sistema de software, usado para
demonstrar conceitos, experimentar opções de projeto e descobrir mais sobre
o problema e suas possíveis soluções”. A Figura 3 apresenta algumas telas de
exemplo do protótipo do portal Web. Para construção dos protótipos foi
utilizada a ferramenta de User Interface (UI) online e gratuita FIGMA1.

Figura 3 – Exemplo de telas do portal


Web.Fonte: Os autores (2021).

1
Disponível em: https://www.figma.com

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345

Os exemplos de protótipos apresentados acima foram desenvolvidos para


avaliar as premissas básicas e iniciais do portal Web dando uma ideia visual, bem
como das funcionalidades principais e sua usabilidade da solução a ser criada.

4 Considerações Finais

Esse artigo apresentou o relato da proposta de criação de um portal Web para


o projeto de extensão “Girls Power In Programming” do Instituto Federal do Paraná –
Campus Palmas. A execução da metodologia para o desenvolvimento do portal Web
é articulada como parte das atividades das disciplinas de Estágio Supervisionado I e
Trabalho de Conclusão de Curso I. Enfatiza-se que o presente trabalho se encontra
em andamento e acompanhará os componentes curriculares de Estágio
Supervisionado II e de Trabalho de Conclusão de Curso II com previsão de entrega
em abril de 2022.
O portal Web poderá publicizar as ações do projeto, ofertar conteúdo de
interesse nas áreas de STEM, bem como disponibilizar o acesso público e gratuito
aos materiais desenvolvidos pelo projeto. Espera-se que seja possível intervir no
aumento da visibilidade feminina nas áreas de STEM e facilitar a integração do
projeto com seu público alvo e a comunidade e que seja possível gerar resultados
perceptíveis a médio e longo prazo para a comunidade.

Referências

GRANOVSKIY, B. Science, Technology, Engineering, and Mathematics


(STEM) Education: An Overview. p.2. Congressional Research Service,
June, 2018. Acesso em: 14 jul. 2021. Disponível em:
<https://sgp.fas.org/crs/misc/R45223.pdf>.

IDG, M. do A.; COUNCIL, B. Meninas na escola, Mulheres na Ciência:


Ferramentas para professores da Educação Básica. Vol. 1. [S.l.]: Rio de
Janeiro: IDG Museu do Amanhã, 72 p.: il, 2020. ISBN 978-65-87551-00-5.
PIXABAY. Pixabay: banco de imagens. Página inicial. Disponível em:
ISSN 2237-700X
346

https://pixabay.com/pt/. Acesso em: 21 jul. 2021.

TROTMAN, A. Why don’t European girls like science or technology?


Microsoft„ 2017. Disponível em:
<https://news.microsoft.com/europe/features/dont-european-girls-like-science-
technology/>. Acesso em: 27 set. 2021.

SOMMERVILLE, I. Engenharia de software. [S.l.]: Pearson Prentice Hall,


2011. ISBN 9788579361081.

UNESCO. Decifrar o código: educação de meninas e mulheres em


Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM). [S.l.]: Brasília, 84
p., il., 2018. ISBN978-85-7652-231-7.

ISSN 2237-700X
347

GIRLS POWER IN PROGRAMMING: SENSIBILIZAÇÃO AO ACESSO DE


MENINAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA AS ÁREAS DA CIÊNCIAS E DA
TECNOLOGIA

Letícia Mariano de Oliveira (leticiamariano97@hotmail.com)¹


Lilian do Nascimento Araujo²Heloise Acco Tives³
Andréia Marini (andreia.marini@ifpr.edu.br)4
1,2,3,4
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR)

Resumo: Diferentes iniciativas têm buscado atrair meninas para as carreiras


STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) por meio de atividades que
apresentem para essas meninas figuras femininas nas áreas científicas e
tecnológicas. O projeto de extensão Girls Power in Programming é uma dessas
iniciativas e aplica oficinas, rodas de conversa, entre outras atividades sobre
assuntos específicos da computação direcionada ao público feminino em escolas
da educação básica. Este artigo tem como objetivo relatar a primeira experiência
da execução do projeto durante o ano de 2019 realizada no Colégio Estadual Dom
Carlos localizado no município de Palmas-PR. Por meio de atividades de
sensibilização ao acesso de meninas da educação básica para as áreas das
ciências e da tecnologia conclui-se que os resultados são promissores e para o
uso desse tipo de prática na busca de divulgar, despertar o interesse e mudar a
percepção de estudantes para áreas consideradas predominantemente
masculinas. As ações propostas justificam-se por auxiliar as participantes na
construção do seu conhecimento, oferecendo a oportunidade de praticar e
desenvolver mecanismos de interesse próprio, além de promover a autonomia
através da integração com a comunidade. Enfatiza-se que a presença das
mulheres em tais áreas precisa ser constantemente motivada e há necessidade de
continuidade de projetos de pesquisa e extensão para que seja possível
consolidar parcerias existentes.

Palavras-chave: STEM; Meninas e Mulheres na Ciência; Mulheres na Tecnologia.

Abstract: Different initiatives have sought to attract girls to STEM careers


(Science, Technology, Engineering and Mathematics) through activities that
introduce these girls to female figures in science and technology. The extension
project Girls Power in Programming is one of these initiatives and implements
workshops, talking circles, among other activities on specific subjects of computing
sciences aimed at female audiences in elementary schools. This article aims to
report the first experience of implementing the project during the year 2019 held at
Colégio Estadual Dom Carlos located in Palmas-PR. Through activities to raise
awareness of the access of girls in basic education to the areas of science and
technology, it is concluded that the results are promising and for the use of this
type of practice in the search to disseminate, arise interest and change the
perception of students to areas considered predominantly male. The proposed
actions are justified by helping the participants to build their knowledge, offering the
opportunity to practice and develop self-interest mechanisms, in addition to
promoting autonomy through integration with the community. It is emphasized that

ISSN 2237-700X
348

the presence of women in such areas needs to be constantly motivated and


there is a need to continue research and extension projects so it is possible to
consolidate existing partnerships.

Keywords: STEM; Girls and Women in Science; Women in Technology

1 Introdução

A baixa participação de mulheres nas áreas da


1
Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) é um problema que
levou ao aumento de pesquisas, ações e debates sobre os fatores que podem
promover o interesse, a permanência e a visibilidade das mulheres em carreiras
relacionadas. A educação em carreiras nas áreas da STEM é uma das bases da
Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (UNESCO, 2018).
O acesso igualitário a educação em STEM para meninas e mulheres, em
última instância e as carreiras relacionadas às áreas de STEM, pode ser encarado a
partir da perspectiva dos direitos humanos, considerando que todas as pessoas são
iguais e devem ter oportunidades iguais, incluindo oportunidades para estudar e
trabalhar na área de sua escolha (UNESCO, 2018).
Diferentes instituições estão preocupadas com essa problemática. A ONU
Mulheres, por exemplo, enfatiza que é baixo o número de mulheres presentes em
trabalhos gerados pela revolução digital. Relata que, atualmente, apenas 25% da
força de trabalho da indústria digital é desempenhada por mulheres (ONU
MULHERES - BRASIL, 2018). Em particular a inserção das mulheres naComputação
são conhecidos muitos aspectos que apresentam desafios que envolvem questões
de gênero. Em áreas como a tecnologia ainda é evidente que a atuação feminina é
reduzida em comparação ao número de homens (MENEZES; SANTOS, 2021).
Diversas políticas públicas no Brasil e no mundo têm sido lançadas
buscando a mudança desse cenário, objetivando o incentivo e motivação de
meninas para a Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Entende-se que
resolver problemas que abrangem a diversidade e a inclusão nas carreiras
científicas e tecnológicas é fundamental para que a igualdade de oportunidades
entre homens e mulheres seja alcançada não só na ciência, mas produza resultados
de transformação em todos oscampos da nossa convivência em sociedade.
O projeto de extensão Girls Power in Programming (GPP) é uma iniciativa
ISSN 2237-700X
349

integrada ao curso Bacharelado em Sistemas de Informação do IFPR campus


Palmas que promove oficinas, rodas de conversa, entre outras atividades, sobre
assuntos específicos da computação direcionados ao público feminino. De maneira
geral, são oportunizadas para as estudantes da educação básica ações que visem
promover a igualdade de gênero e possibilitar maior aproveitamento da capacidade
intelectual dessas estudantes, já que o desperdício da capacidade intelectual
feminina, pode ser identificado em escala mundial e trata-se de um desafio
contemporâneo a ser superado.
As principais contribuições deste trabalho para a comunidade poderão ser
observadas a longo prazo, pois todas as ações são direcionadas em busca de um
aumento da representação feminina em áreas científico-tecnológicas e da
possibilidade de um maior aproveitamento da capacidade intelectual feminina (o que
se trata de um dos grandes desafios da contemporaneidade).

Esse desperdício de potencialidades pode ser identificado em escala mundial.


De fato, apenas 30% dos pesquisadores do mundo são mulheres2 e ações que
confrontem esse problema podem promover o enriquecimento da produtividade
científica e tecnológica (isso se tornaria possível por meio de uma diversidade maior
de pensamentos, novas visões e diferentes perspectivas antes ignoradas). Segundo
o Documento “Decifrar o código: educação de meninas e mulheres em ciências,
tecnologia, engenharia e matemática (STEM)” (UNESCO, 2018) a inclusão de
mulheres nessas áreas poderá promover a excelência científica e ainda impulsionar
a qualidade dos resultados em STEM, principalmente devido a ideia de que
abordagens diferentes possam agregar criatividade, reduzir potenciais vieses, e
ainda promover conhecimento e soluções mais robustas para uma variedade de
problemas. Portanto, ao incentivar a participação de mulheres em áreas tipicamente
dominadas por homens para além de promover justiça social, promovemos um
avanço do ponto de vista econômico e tecnológico.

2
Dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura).

ISSN 2237-700X
350

O presente artigo relata as ações conduzidas no projeto de extensão


desenvolvido por meio da construção de práticas coletivas de formação e
organização, a partir da metodologia de oficinas pedagógicas e rodas de conversa.

2 Material e Métodos

O trabalho apresentado ocorreu como parte do projeto de extensão: Girls


Power in Programming durante o ano de 2019. O público inicial participante do
projeto foi de 10 estudantes da Educação Básica do Ensino Médio matriculadas no
Colégio Estadual Dom Carlos localizado no município de Palmas- PR. A participação
das meninas foi voluntária e não houve nenhum processo de seleção, apenas de
inscrição. Inicialmente foram realizadas visitas na escola pela coordenação,
bolsistas e professores colaboradores para um reconhecimento do espaço escolar e
mapeamento das potencialidades e carências de tal espaço. Integrantes da equipe
envolvida no projeto visitaram quinzenalmente a escola, promovendo atividades de
Roda de Conversa (HENARES DE MELO; CRUZ, 2014); (MOURA; LIMA, 2014) e
Oficinas (CAETANO DE FIGUEIRÊDO et al., 2006), abordando temas
específicos e alinhados aos objetivos do projeto. Os instrumentos utilizados foram:
a) Autorização da disponibilização da escola das meninas participantes para
que as mães, os pais ou responsáveis assinassem antes do início das atividades;
b) Dinâmicas de aprendizagem individual e cenestésica acompanhadas de
apresentações em slides, vídeos (que apresentavam pessoas trabalhando na área
de computação) e material impresso;
c) Roda de Conversa sobre a participação de mulheres em atividades que
envolvem Ciência e Tecnologia.
d) Realização das Oficinas sobre as atividades desempenhadas por
mulheresatuantes em áreas de tecnologia;

ISSN 2237-700X
351

e) Roda de conversa para identificar mudanças na impressão das


participantes quanto a carreira da computação durante desenvolvimento do projeto.
f) Questionários. O primeiro continha oito perguntas quanto à participação
nas atividades executadas durante a execução do projeto. O segundo continha 10
perguntas que buscavam coletar o feedback das meninas quanto suas percepções
em relação às questões de gênero discutidas durante as atividades realizadas.
As atividades foram organizadas em cinco principais etapas envolvendo: a)
Roda de Conversa 1 - A Presença de Mulheres em atividades que envolvem Ciência
e Tecnologia; b) Roda de conversa 2 - Qual minha percepção atual em relação aos
temas abordados no projeto? e Oficinas: a) Oficina 1: Noções gerais sobre
algoritmos e lógica de programação; b) Oficina 2 - Construção de Algoritmos: do
lápis ao pseudocódigo; e c) Oficina 3 - Introdução do Desenvolvimento WEB.

1.1. Roda de Conversa - A Presença de Mulheres em atividades que


envolvemCiência e Tecnologia
As atividades do projeto foram iniciadas pela Roda de Conversa sobre a
presença e participação de mulheres nas áreas de Ciência e Tecnologia. O primeiro
passo foi a distribuição de imagens de mulheres que realizaram importantes
contribuições científicas e tecnologias. A Figura 1 apresenta algumas das imagens
utilizadas. A questão norteadora para a atividade foi: Quem você acha que é essa
mulher? Infelizmente, nenhuma das imagens foi identificada pelas participantes.
Neste momento foram citadas respostas como: “Parece a minha tia!”, “Parece a
vizinha lá de casa”, “Tem uma que parece atriz de um filme”. Após a resposta das
estudantes, iniciou-se efetivamente a roda de conversa que chamou atenção para o
fato de ali estavam alguns importantes nomes da Ciência e da Tecnologia.

Figura 1 Exemplos de imagens apresentadas às participantes do projeto.Fonte: Arquivo do projeto.

ISSN 2237-700X
352

As Rodas de Conversas foram essenciais para abordar a importância de


muitas mulheres nas ciências através de um resgate histórico realizado pelas
colaboradoras do projeto. Também, para instigar abordagens em relação a
participação das mulheres na Ciência e na Tecnologia e seu papel no mundo,
estabelecendo novos elementos de referências de situações nunca em perspectiva o
suficiente para reflexão. A Roda de Conversa foi escolhida como metodologia, pois,
permite aos participantes expressarem suas ideias, impressões e experiências; e
sobretudo por permitir o contato com outras perspectivas sobre os temas discutidos.
As Rodas de Conversas estabeleceram um espaço para o debate e até mesmo a
polêmica em relação a alguns temas abordados. Além do mais, as Rodas de
Conversas possibilitaram uma coleta de dados referente aos temas abordados
viabilizando a produção de artigos científicos e dados para futuras ações.

2.2 Oficina - Noções gerais sobre algoritmos e lógica de programação


A questão norteadora para essa oficina foi: como estabelecer o primeiro
contato com a lógica e a programação de computadores? Antes do início da oficina
com as estudantes foi realizado um momento de sensibilização ao acesso aos
trabalhos em áreas de tecnologia, procurando motivá-las a conhecer mais
informações sobre algumas possibilidades na área de computação. Foram
apresentados dois vídeos com depoimentos de pessoas atuantes na área de
tecnologia que enfatizam que todas as habilidades necessárias podem ser
aprendidas por qualquer pessoa. Após a exibição dos vídeos, foi salientado o quanto
a tecnologia afeta nossa rotina hoje em dia e promoveu debate em relação sobre
quem está produzindo essas tecnologias. Ao final foi promovida uma discussão
geral, em relação à questão norteadora.
Essa oficina foi realizada após a primeira Roda de Conversa. Enfatiza-se que
essa oficina foi um espaço de contato com as áreas de lógica e programação de
computadores de uma maneira lúdica, descontraída e cenestésica. Durante as
abordagens foram priorizadas situações do cotidiano, para que as participantes
pudessem ver como a Ciências e Tecnologia estão sempre presentes no dia a dia. A
Figura 2 apresenta uma das principais atividades realizadas, onde as estudantes
foram convidadas a participar de um jogo colaborativo, adaptado do trabalho (SILVA;

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353

WITT; MARINI, 2019) que oportunizava elementos para o entendimento de conceitos


como algoritmos e programação de computadores.

Figura 2 Exemplos de diferentes malhas/tabuleiros utilizados para a simulação do robô. Fonte:


Arquivo do projeto.

Para iniciar o jogo, as participantes foram organizadas em duplas com papéis


definidos como a programadora (que tem o papel de dar ordens ao robô) e o robô
(que deverá apenas seguir as ordens da programadora). O objetivo da dupla era
encontrar a melhor maneira de chegar até a saída da malha para obter a premiação
deixada no local. A dinâmica principal era obtida com a alternância das duplas e os
crescentes níveis de dificuldade para que elas pudessem atingir o objetivo.

2.3. Oficina - Construção de Algoritmos: do lápis ao pseudocódigo


Em continuidade ao trabalho anterior, essa oficina explorou mais
profundamente a criação de algoritmos simples, na maior parte identificados pelas
participantes, utilizando narrativas em linguagem natural, papel e lápis. O passo
seguinte foi trabalhar no Laboratório de Informática e transferir os algoritmos para
um pseudocódigo que poderia emular a execução no computador. A ferramenta
utilizada nesta oficina foi o Portugol Studio3. A questão norteadora para essa
atividade foi: como a programação de computadores pode servir como método para
que possamos estabelecer comunicação com o computador e dar ordens do que ele
deve ou não executar?
As oficinas oportunizaram a vivência de alguns assuntos tratados na Roda de
Conversa inicial, instigando então sua curiosidade. A elaboração dos algoritmos
tanto de maneira escrita a lápis quanto digitada no computador foi uma experiência
muito gratificante para as estudantes que conseguiram perceber a possibilidade de
trabalharem com atividades similares.
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354

2.4. Oficina: Introdução do Desenvolvimento WEB


Visando uma aproximação maior das estudantes com as atividades
desempenhadas por mulheres atuantes em áreas de tecnologia foi utilizado o
desenvolvimento Web. Para tanto foram desenvolvidos dois pequenos projetos mais
direcionados a possíveis atividades de uma desenvolvedora responsável por
questões voltadas à interface gráfica de tudo que é apresentado pelo navegador. A
questão norteadora para essa atividade foi: o que preciso entender para construir
uma página web? A abordagem foi muito bem-sucedida, tanto que as estudantes
gostariam de ter mais aulas para construção de novos projetos.
2.5. Roda de conversa - Qual minha percepção atual em relação aos
temasabordados no projeto?
A etapa final foi marcada por uma roda de conversa para tentar identificar
qual a percepção atual das estudantes em relação aos temas abordados no projeto.
Antes do início da roda de conversa foi solicitado às estudantes a construção de
mapas mentais para expressar os principais tópicos que elas lembravam em relação
às atividades executadas durante o percurso percorrido. De posse de tais mapas a
roda de conversa foi conduzida.

3 Resultados e Discussão

O objeto de estudo deste artigo foi norteado pela questão: a) Quais ações
podem ser utilizadas para sensibilização de meninas para motivá-las a conhecer
atividades científicas e tecnológicas e a presença feminina nessas atividades?
Foram analisadas as respostas do primeiro questionário, que continha 8
perguntas quanto à participação nas atividades executadas durante a execução do
projeto e a coleta de depoimentos, por escrito, das estudantes em relação às
experiências vivenciadas durante a execução do projeto. Em seguida foram
analisadas as respostas de um segundo questionário de 10 perguntas que
buscavam coletar o feedback das meninas quanto suas percepções em relação às

ISSN 2237-700X
355

questões de gênero discutidas durante as atividades realizadas.


As meninas foram questionadas se elas já tinham participado de atividades
parecidas com as realizadas no projeto, sendo unânime que nunca haviam
participado. Na questão seguinte indicaram, também de maneira unânime, que
teriam interesse em participar de outros projetos similares. Com exceção de uma
das meninas, as demais conseguem identificar o apoio familiar e de pessoas
próximas para seguirem profissões relacionadas às áreas de tecnologia. E apenas
duas delas indicaram que não teriam nenhum interesse em continuar os estudos em
STEM. Todas conseguiram indicar suas atividades que mais gostaram e os fatos
com os quais foram surpreendidas.
Finalmente, ao serem questionadas se a participação no projeto mudou a
percepção sobre a computação em si, os resultados foram muito positivos,
entretanto, não foram unânimes. Pelas declarações, as meninas mostraram que
tinham uma visão limitada, como se o profissional de computação estudasse apenas
como consertar os computadores e não sobre construção de soluções que podem
envolver e resolver problemas de outras áreas.
Evidenciamos que por meio do aprendizado introdutório de temas relacionado
a tecnologia as estudantes conseguem aprender sobre a área como um todo,
mudando sua percepção sobre o acesso a profissões na área tecnológica. Assim,
com base nas respostas e nos depoimentos é possível responder que “sim”, ações
executadas podem ser utilizadas para sensibilização de meninas para motivá-las a
conhecer atividades científicas e tecnológicas.
A Tabela 1 apresenta as frequências relativas das respostas coletadas para o
segundo questionário. É importante destacar que ambos os questionários foram
realizados após a realização das rodas de conversas e oficinas. As estudantes
foram unânimes quando questionadas em relação aos direitos das pessoas serem
iguais independente de gênero. Também todas as participantes concordam que a
igualdade de gênero é uma questão importante que deve ser abordada em todas as
esferas (família, educação, social e trabalhista) e discutida na escola. Cerca de 50%
das participantes não concordaram que homens e mulheres têm as mesmas
oportunidades de estudar, ou seguir carreiras relacionadas a Informática. Ainda,
declaram ser conhecedoras de questões, tais como: que homens e mulheres não
recebem a mesma remuneração para cargos semelhantes e que a área poderia ser

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mais populada por mulheres.

Tabela 1 Respostas das participantes quanto suas percepções em relação às questões de gênero
discutidas durante as atividades realizadas. Questionário objetivo baseado na escala de Likert

considerando 5 categorias ordinais definidas como:(1) discordo totalmente; (2) discordo; (3)
indiferente (ou neutro); (4) concordo e (5) concordo totalmente.

Quando questionadas em relação aos estereótipos de que as mulheres que


estudam ou atuam com Informática são poucos femininas e que as pessoas que
estudam, Informática são consideradas “esquisitas”, cerca de 16,7% emitiram
opiniões neutras enquanto as demais discordaram em algum grau. Para a questão
relacionada às dificuldades de aprendizado quando se trata de programação de
computadores ser diferente para mulheres e homens a resposta de 16,7% foi que
as mulheres podem ter mais dificuldades, enquanto 33,3% emitiram respostas
neutras e 50% das participantes não concordaram com a afirmação expressa pela
questão. Finalmente, quando questionadas se as mulheres têm mais dificuldades
do que os homens quando se trata de trabalhar com tecnologia, 66,7% discordou
completamente.
Finalmente, enfatizamos que as ações realizadas durante a execução do
projeto foram importantes para trazer à reflexão assuntos nunca antes
considerados ou discutidos pelas participantes. Também possibilitou acessar
diferentes áreas do conhecimento e motivar a conhecê-las melhor. Algumas

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357

estudantes emitiram opiniões sobre a área da computação, justificando que já


sabiam o básico e tinham uma opinião rasa, mas que após as atividades
notaram que há muito mais do que se imaginavam e demonstraram interesse
em conhecer um pouco maissobre oportunidades na área para o futuro.

4 Considerações Finais

Este trabalho apresentou um relato de experiência referente às ações de


sensibilização ao acesso de meninas da educação básica para as áreas da
Ciênciase da Tecnologia oferecidas pelo projeto Girls Power in Programming.
O projeto se mostrou como uma excelente alternativa de sensibilização para
despertar o interesse de estudantes da Educação Básica para áreas
predominantemente masculinas. Durante sua execução¸ foi possível trabalhar de
uma forma sutil as diferenças de gênero, buscando a promoção a longo prazo, da
diminuição dessas diferenças. Sua atuação se fundamentou em ações na
educação básica, visando a um aumento no ingresso de mulheres em áreas
predominantemente masculinas, principalmente daquelas que vivem em meios
com poucas influências positivas e classes mais carentes financeiramente.
Observou-se também que ainda é necessária uma articulação conjunta de
diferentes projetos, para que seja possível fortalecer parcerias direcionadas ao
incentivo, ingresso e à permanência de meninas e mulheres nas áreas da
Ciências e áreas tecnológicas. Enfatiza-se que a presença das mulheres em tais
áreas precisa ser constantemente motivada e há necessidade de continuidade de
projetos de pesquisa e extensão para que seja possível consolidar parcerias
existentes. Para trabalhos futuros, novos projetos relacionados a mesma temática
estão em execução até Dezembro de 2022.

5 Agradecimentos

Ao financiamento do Programa Institucional de Apoio à Inclusão Social, Pesquisa


e Extensão - PIBEX/ PIBIS/ FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA – Edital n.06/2020 -
DIEXT/PROEPPI - Bolsista: Letícia Mariano de Oliveira.

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358

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01fev. 2021.

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HISTÓRIA EM QUADRINHOS EM VERSÃO STORYTELLING: ESTRATÉGIA DE


EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO CONTEXTO DA PANDEMIA

Karina Seibel (karinaseibel99@gmail.com)¹


Taoana Gottems Del Sent²
Lucineia Oliveira³
Christiane Brey4
Gimene Cardozo Braga (gimene.braga@ifpr.edu.br)5
1,2,3,4,5
Instituto Federal do Paraná - Campus Palmas

Resumo: O mundo vivencia uma pandemia provocada pelo vírus SARS-COV-II,


que ficou conhecida por Pandemia COVID-19, a qual desafia todos a pensar
formas de educação inovadoras capazes de produzir ações com qualidade em
meio ao distanciamento/isolamento social. Este estudo visa descrever a criação
de histórias em quadrinhos (HQ’s) em versão “Storytelling” como uma estratégia
de educação em saúde com crianças e adolescentes no contexto da Pandemia
COVID-19. Trata-se de um relato de experiência acerca do processo de
construção de HQ's para storytelling, desenvolvido por acadêmicas do curso de
bacharelado em Enfermagem do Instituto Federal do Paraná, a partir da execução
do projeto de intercâmbio educacional através da cooperação técnica entre Brasil
e Espanha. A história apresenta-se em português e foi criada a partir da
plataforma “Storyboard That”. O período de criação, planejamento, roteirização e
execução ocorreu entre março e abril de 2021 de maneira remota por meio de
reuniões através da plataforma Google Meet. Para iniciar a construção da história
foi realizada leitura de periódicos sobre os temas COVID-19 e criação de histórias,
proporcionando embasamento teórico para o enredo. Com o roteiro pronto,
iniciou-se a construção da história e elaboração dos diálogos, bem como a
ilustração na plataforma “Storyboard That”. Após a criação dos quadrinhos, foi
produzido um vídeo de contação da história - Storytelling. O enredo apresenta
uma garotinha que em meio a pandemia acaba se contaminando com o COVID-
19. A Criação da HQ's - Storytelling possibilitou as estudantes propôr ações de
educação em saúde, através de uma participação ativa na aprendizagem, capaz
de promover o desenvolvimento de competências como: criatividade,
comunicação, empatia, ser educador, planejar e gerenciar o conhecimento a ser
utilizado em sua prática assistencial. Espera-se assim, que outros profissionais
possam ser incentivados a utilizar as HQ’s e Storytelling como um material de
educação em saúde.

Palavras-chave: Materiais Educativos e de Divulgação; Saúde Mental; Contação


de Histórias; COVID-19.

Abstract: The world is experiencing a pandemic caused by the SARS-COV-II


virus, which became known as the COVID-19 pandemic, which challenges
everyone to think of innovative forms of education capable of producing quality
actions amidst social distance/isolation. This study aims to describe the creation of
comic books (Comic Books) in “Storytelling” version as a health education strategy
with children and adolescents in the context of the COVID-19 pandemic. This is
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360

an experience report about the process of construction of comic books for


storytelling, developed by academics of the Bachelor's Degree in Nursing at the
Federal Institute of Paraná, from the execution of the educational exchange project
through technical cooperation between Brazil and Spain . The story is presented in
Portuguese and was created from the “Storyboard That” platform. The period of
creation, planning, scripting and execution took place between March and April
2021 remotely through meetings through the Google Meet platform. To begin the
construction of the story, periodicals on COVID-19 were read and stories were
created, providing a theoretical basis for the plot. With the script ready, the
construction of the story and the elaboration of the dialogues began, as well as the
illustration on the “Storyboard That” platform. After the creation of the comics, a
storytelling video was produced - Storytelling. The plot features a little girl who, in
the midst of the pandemic, ends up contaminating herself with COVID-19. The
creation of HQ's - Storytelling enabled the students to propose health education
actions, through active participation in learning, capable of promoting the
development of skills such as: creativity, communication, empathy, being an
educator, planning and managing the knowledge to be used in their care practice.
It is hoped that other professionals can be encouraged to use the comics and
Storytelling as a health education material.

Keywords: Educational and Outreach Materials; Mental Health;


Storytelling; COVID-19.

1 Introdução

A educação em saúde é um processo educativo de construção de


conhecimentos em saúde que visa a apropriação da temática pela população,
contribuindo junto às práticas em saúde para o incentivo da inclusão social e a
promoção da autonomia das pessoas no seu próprio cuidado e em ações de
participação em saúde (BRASIL, 2009). Envolve dimensões políticas, filosóficas,
sociais, religiosas, culturais e aspectos de indivíduos, grupos, comunidades e
sociedades, além de considerar o processo saúde-doença, essenciais à manutenção
da qualidade de vida da população (SALCI et al., 2013).
Para tanto, profissionais de enfermagem devem compreender que a
transformação das práticas de educação em saúde requerem uma atuação coletiva
e consciente para superar os desafios e criar oportunidades para a melhoria da
atenção à saúde, sendo necessário pensar a promoção da saúde dentro de seus
processos de ensino-aprendizagem (SILVA et al., 2009).
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Sabe-se que histórias específicas para a saúde, elaboradas com base em


possíveis vivências cotidianas, têm a potencialidade de educar em saúde, e
promover a saúde, por meio da identificação direta das pessoas com a
problematização apresentada nestas. As histórias podem contribuir como uma ação
alternativa, inovadora e complementar para abordar diversos aspectos na saúde.
(BRAGA et al., 2011, BRAGA et al., 2015).
Utilizar histórias como intervenção de enfermagem é uma estratégia que pode
ser apreendida, tanto por profissionais quanto por acadêmicos, desde que inseridas
em um contexto de construção de conhecimento e produção de cuidado
(BRONDANI, 2018). Para tal, a formação do profissional enfermeiro deve estar
voltada à visão multiprofissional, reforçando a atenção integral e interdisciplinar
(BRAGA et al., 2015).
Com o atual cenário vivenciado pela Pandemia COVID-19 faz-se presente o
desafio de se pensar em formas alternativas de se fazer saúde. Costa e
colaboradores (2016) apostam nas intervenções inovadoras e tecnologias cuidativo-
educacionais para uma assistência holística e com maior qualidade.
Acerca do emprego tecnológico no Cuidado, a enfermagem deve
compreender-se entre ações e atitudes baseadas em conhecimento científico,
técnico, pessoal, cultural, socioeconômico e político, que visem à integralidade
(PAIM; NIESTCHE; LIMA, 2014).
Relativamente às tecnologias educacionais, o storytelling é visto como
exemplo de metodologia educacional, e pode ser definido como uma narrativa, uma
capacidade de contar histórias relevantes (SANTOS, 2016). Passos e Vieira (2014)
apontam que as histórias em quadrinhos (HQ’s) também é uma das formas mais
conhecidas de abordar diferentes temas utilizando recursos como palavras, imagens
e outros.
A partir do exposto, esse trabalho surge de um termo de Cooperação Técnica
entre o Instituto de Ensino Santa Bárbara em Málaga - Espanha, o Ministério da
Educação do Brasil e o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica - CONIF, para fomentar a
colaboração no âmbito educativo entre esses países.
O Curso de Enfermagem do Campus Palmas, do Instituto do Federal do
Paraná, inserido nesse projeto, através de grupos formados entre professores e

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discentes, criou histórias para educar em saúde. Com a disponibilidade de


plataformas tecnológicas, diversificou os métodos cuidativo-educacionais utilizados
no processo de aprendizagem dos estudantes da graduação de enfermagem.
Diante do exposto, busca-se descrever a criação de histórias em quadrinhos
(HQ's) em versão Storytelling como uma estratégia de educação em saúde com
crianças e adolescentes no contexto da Pandemia COVID-19. Este apresenta-se
como um recurso de educação em saúde que aborda o isolamento social durante a
pandemia para o público infanto-juvenil.

2 Desenvolvimento

Trata-se de um relato de experiência, que se caracteriza por não possuir


como objetivo central testar hipóteses ou pressupostos, mas sim descrever
experiências, práticas reflexivas e as percepções (DYNIEWICZ; GUTIÉRREZ, 2005).
Este versa sobre a elaboração e construção de histórias em quadrinhos utilizando a
narração em vídeo - “storytelling”, desenvolvido por acadêmicas do curso de
bacharelado em Enfermagem do Instituto Federal do Paraná, a partir da execução
do projeto de intercâmbio educacional de cooperação técnica entre Brasil e Espanha
desenvolvido no primeiro semestre de 2021. O projeto conta com a participação de
cursos do eixo da saúde do IFPR, dos câmpus de Curitiba, Palmas e Londrina, além
do Instituto de Educación Secundaria - IES- Santa Bárbara, Málaga na Espanha,
por meio de atividades virtuais e remotas.
Este trabalho aborda a construção de uma dessas histórias, desenvolvidas
por estudantes e professores do Curso de Enfermagem - Campus Palmas
direcionada ao público infanto-juvenil, no contexto do isolamento social e a
Pandemia do Coronavírus e suas implicações para a saúde mental.
O roteiro da história foi avaliado pelos professores por meio de encontros
virtuais realizados periodicamente, através da plataforma Google Meet. Assim, a
HQ's foi produzida nos idiomas: português, espanhol e inglês, contudo para este
trabalho será apresentada a versão impressa somente na língua portuguesa. A
plataforma utilizada como ferramenta de criação foi a “Storyboard That”, versão
paga. O período de criação, planejamento, roteirização e execução ocorreu entre os

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dias 31 de março e 13 abril de 2021 de maneira remota por meio de reuniões


através da plataforma Google Meet.
A história produzida apresenta-se como uma tecnologia cuidativo-educacional
de educação em saúde, e foi apresentada em um dos encontros realizados com a
IES Santa Bárbara. Dois encontros foram realizados virtualmente entre as
instituições participantes, ambos para apresentação das criações realizadas pelos
grupos de estudantes dos dois países.
Para iniciar a construção da história foram realizadas buscas em periódicos
sobre os temas específicos da COVID-19 e criação de histórias, proporcionando
embasamento teórico das estudantes para a produção da História em Quadrinhos
em versão Storytelling.
Para Oliveira (2020) a produção de uma Storytelling no processo de
aprendizagem proporciona seis benefícios: produz significado à aprendizagem;
cativa a atenção do estudante; desperta a imaginação; permite a
interdisciplinaridade; estimula relações interpessoais; e agrega valor à prática
profissional.
A construção da história oportunizou aos estudantes um método ativo de
aprendizagem e engajamento na construção de ações de educação em saúde em
momentos de atividades remotas. A construção do roteiro para a história deu-se a
partir da troca de ideias entre as acadêmicas, e foram sofrendo adaptações a partir
das orientações. Para a personagem principal optou-se por uma adolescente que
representasse a miscigenação do Brasil/Espanha, com características que
expressassem ambos os povos. O enredo aborda a contaminação pelo vírus SARS-
COV-II, medidas de prevenção, exames de rastreamento, o isolamento social, e o
impacto na saúde mental de crianças e adolescentes.
A História criada é embasada nos cinco passos de uma boa história:
personagem, conflito, ensinamento, significado e empatia (VOGLER, 2015). A
História apresenta-se com início, meio e fim, procurando utilizar a linguagem visual e
linguística compatível com o público infanto-juvenil.
Com o roteiro pronto, foi iniciada a construção dos diálogos da história e as
imagens na plataforma “Storyboard That”. Para definição dos cenários e a
caracterização das personagens, foi realizada uma reunião através do Google Meet.
As imagens foram projetadas por uma das acadêmicas, e as demais ajudavam na

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construção das personagens, figurinos, cenas, cenários e objetos. Minuciosamente


foi tomado o cuidado em colocar detalhes que pudessem enriquecer os cenários,
objetivando trazer realismo, com objetos que caracterizam e personalizam as cenas
vividas, placas e símbolos de identificação de locais, pertences e trajes para
personalização das personagens, buscando trazer maior enfoque realismo e
credibilidade a história, construindo assim a sensação de pertencimento do leitor
para com a mensagem pretendida.
Deve-se ter em mente que, o Storytelling, deve contar uma história com
relevância ao leitor, estimulando a identificação com os personagens, local e enredo
da história, fazendo assim uma ponte com a sua vivência, de forma que o emocional
seja tocado sob um enredo envolvente (SANTOS, 2016). O uso desta técnica possui
como ideia central transmitir uma mensagem e atrair a atenção das pessoas para
que haja um vínculo emocional entre a história e o indivíduo que está sendo
impactado, seja de forma visual, verbal, sonoro ou multimodal (SCHMITZ; ORSSO;
RIBEIRO, 2019).
Ao abordar o isolamento em tempos de pandemia buscou-se aproximar o
saber técnico-científico da área da saúde à população de maneira a empoderar
adolescentes e crianças a respeito de suas próprias vivências. As ações de
educação em saúde necessitam ser realizadas utilizando uma linguagem
científica/acadêmica que seja acessível, mais clara e simples, porém não simplista,
de tal modo que o resultado não seja inatingível ao público alvo (FREIRE, 1997).
A contação de histórias compreendida como uma tecnologia leve em saúde, é
incentivadora e apropriada para auxiliar as crianças e famílias no transcurso de um
agravo. Considerada como uma atividade de prevenção e promoção em saúde,
produz autonomia e empoderamento, e permite a criação de vínculo. Esta pode ser
aprendida na formação de enfermeiros, qualificando o cuidado em saúde
(BRONDANI, 2018).
A plataforma utilizada possui várias abas com diversas cenas, personagens,
formas e imagens de fácil utilização e entendimento para a caracterização da
história, no entanto, as imagens de base eram simples, e para realçar as cenas
foram utilizadas imagens do banco Google Imagens. Nas cenas, buscou-se articular
o tempo e espaço aos personagens e suas falas, proporcionando uma visualização
e entendimento melhor da história, cada detalhe de imagem e falas foi pensado e

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reorganizado para cada passagem de cena. A personagem principal vivencia o


protagonismo, momentos de tensão, processos de ensinamento, e percebe sua
trajetória ressignificada durante e ao final da história.
Tempos de Isolamento, foi construída na plataforma Storyboard That a qual
possibilita utilizar as ferramentas gráficas, de imagens e redação para a construção
da história, e a apresentação em vídeo. Dessa forma, após a produção gráfica da
HQ's, o vídeo com a narração da história foi produzido, oportunizando sua
disponibilização em formato de contação de histórias, ou seja, Storytelling. A história
em todos os detalhes pode ser vista a seguir (Figura 1), e está disponibilizada na
plataforma do Youtube.

Figura 1 Imagem da história Tempos de IsolamentoFonte: Autoria própria (2021)

Assim, esse material viabiliza produzir autonomia e aproximar conhecimentos


científicos do entendimento do público infanto-juvenil, uma vez que seu enredo
retrata uma garotinha que em meio a pandemia aceita o convite de um amigo para
brincar, e sem prever o perigo, acaba se contaminando com COVID-19, realidade
essa vivenciada por muitas famílias brasileiras desde o ano de 2020.
A participação ativa de estudantes de enfermagem na produção da história foi
capaz de ensejar o desenvolvimento de habilidades e competências essenciais à
formação do enfermeiro. Destaca-se algumas dessas como: a criatividade, a
comunicação, a empatia, postura educadora, capacidade de planejamento e
gerenciamento do conhecimento a ser utilizado em sua prática assistencial (BRASIL,
2001).
Infelizmente, não houve tempo hábil para apresentar a HQ's - versão

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Storytelling às crianças e aos adolescentes in loco, o que impossibilitou a validação


de experiência por esses, no que tange apreensão do conteúdo, qualidade de
abordagem, pertencimento e identificação.

3 Considerações Finais

Acredita-se que o objetivo de descrever a criação de HQ’s na versão


Storytelling possa contribuir com a formação dos profissionais de saúde na
elaboração de materiais educativos para ações de educação em saúde que
considerem o contexto de vida de suas populações, suas necessidades e
fragilidades, de maneira a empoderá-las com saberes necessários à melhor tomada
de decisão, aproximando o saber científico do saber popular.
A possibilidade de gerar um vídeo narrativo a partir da HQ's oportunizou que
as estudantes de enfermagem pudessem trabalhar integralmente na produção da
história. O manuseio da plataforma, o trabalho em equipe e o compartilhamento de
conhecimento adquirido pela pesquisa do referencial teórico possibilitaram a
obtenção de conhecimentos acerca das possibilidades de emprego de tecnologias e
técnicas até então não experienciadas pelas mesmas.
Histórias possibilitam uma abordagem de educação em saúde com maior
qualidade, com capacidade de aumentar o alcance desse material. Assim o
Storytelling é uma ferramenta possível e viável para sensibilizar, produzir vínculos e
estreitar as relações entre a linguagem científica e a população.

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IFPR/PALMAS.

Débora Rodrigues Lobas (debora_lobas@hotmail.com)1


Edson José Argenta (Edson.argenta@ifpr.edu.br) 2
¹ ² Instituto Federal do Paraná- Campus Palmas

Resumo: O presente artigo teve como objetivo identificar possíveis impactos


da pandemia do Covid–19 em microempreendimentos do comércio varejista de
alimentos da cidade de Palmas PR e como o Núcleo de Práticas em
Administração do Instituto Federal do Paraná, campus Palmas pode contribuir
para melhorias nesse setor. O estudo se trata de pesquisa qualitativa,
exploratória, aplicada e de campo. Os dados primários foram coletados por
meio de entrevista estruturada cujo formulário continha 22 questões. As
questões foram divididas em três diferentes grupos, o primeiro visando o perfil
dos entrevistados e suas empresas, o segundo visando a gestão dos negócios
e o terceiro buscando os impactos da pandemia. A amostra de 30
estabelecimentos foi definida por meios não probabilísticos e por
acessibilidade. A fundamentação teórica abordou assuntos relacionados ao
Campus Palmas do IFPR, ao curso de administração e ao Núcleo de Práticas,
além de conceitos sobre consultoria e diagnóstico empresarial, microempresas
e microempreendedores individuais. Os resultados mostram que as empresas
pesquisadas sofreram alguns impactos da pandemia, sendo os principais a
redução nas vendas e dificuldades com o capital de giro. embora apresentem
resistência à intervenções externas como consultorias, os pequenos
empreendedores vêm no Núcleo de Práticas de Administração do IFPR
oportunidade de melhorias.

Palavras-chave: Consultoria empresarial, microempresas,


microempreendedores individuais, comércio de alimentos.

Abstract: This article aimed to identify possible impacts of the Covid–19


pandemic on microenterprises in the retail food trade in the city of Palmas PR
and how the Center for Administration Practices of the Federal Institute of
Paraná, Palmas campus can contribute to improvements in this sector. The
study is a qualitative, exploratory, applied and field research. The primary data
were collected through a structured interview whose form contained 22
questions. The questions were divided into three different groups, the first
looking at the profile of respondents and their companies, the second looking at
business management and the third looking at the impacts of the pandemic.
The sample of 30 establishments was defined by non-probabilistic means and
by accessibility. The theoretical foundation addressed issues related to the
IFPR Campus Palmas, the administration course and the Practices Center, in
addition to concepts on consulting and business diagnosis, micro-enterprises
and individual micro-entrepreneurs. The results show that the companies
surveyed suffered some impacts from the pandemic, the main ones being the
reduction in sales and difficultieswith working capital. although they are resistant
ISSN 2237-700X
370

to external interventions such as consultancies, small entrepreneurs see the


IFPR's Management Practices Center as an opportunity for improvement.

Keywords: Business consultancy, microenterprises, individual


m icroentrepreneurs,food trade.

1 Introdução

Desde os primeiros meses do ano de 2020 o mundo tem vivido diversas


mudanças ocasionadas pela pandemia da Covid-19, muitas medidas foram tomadas
para desacelerar o ritmo de contágio do vírus, isso tem causado grandes efeitos
econômicos e sociais.
Os microempreendedores individuais (MEI) e microempresas (ME), que
contribuem de uma forma significativa para a economia do país, sofreram
gradativamente os efeitos da pandemia. O objetivo deste estudo foi identificar
possíveis impactos da pandemia da Covid-19 em micro empreendimentos do
comércio varejista de alimentos da cidade de Palmas PR e como o Núcleo de Práticas
em Administração do IFPR Palmas pode contribuir para melhorias nesse setor.
O Núcleo de Práticas em Administração é um projeto do Instituto Federal do
Paraná em parceria com a Prefeitura Municipal de Palmas que visa auxiliar os
pequenos negócios a identificarem problemas de desenvolvimento. Esse serviço é
muito importante pois, promove a consultoria empresarial aos empreendedores como
instrumento estratégico no crescimento da empresa.
O segmento pesquisado foi o Comércio varejista de alimentos como
minimercados e mercearias na cidade de Palmas PR, sendo o terceiro maior setor
com 215 empresas distribuídas no município.
Visando seu objetivo o estudo está dividido em três partes, Material e
métodos, Resultados e as Considerações finais.

ISSN 2237-700X
371

2 Material e métodos

O presente estudo se trata de pesquisa de cunho qualitativo, exploratória e de


campo. (GODOY,1995)
O estudo, caracteriza-se também como pesquisa aplicada, já que se
concentrou em torno dos problemas que as empresas apresentavam e em que podem
ter auxílio do Núcleo de Práticas em Administração do IFPR. (THIOLLENT, 2009).
Para a coleta de dados, utilizou-se da entrevista estruturada com base em
roteiro com 22 questões. (MARCONI E LAKATOS, 2006)
Para a definição da amostra da pesquisa, composta por 30 empresas, foi
utilizado o método de amostragem não probabilística por acessibilidade. (MARAFON
et al, 2013)
Por fim foi realizada a análise de conteúdo visando identificar maiores
convergências nas respostas dos entrevistados.

3 Resultados e discussões

3.1 Fundamentação teórica

3.1.1 Núcleo de Práticas de Administração do IFPR/Palmas

O IFPR Campus Palmas atualmente oferece 13 (treze) cursos superiores,


sendo eles classificados em bacharel e licenciatura, dentre eles o bacharelado em
Administração.
O bacharelado em Administração é voltado para o ambiente organizacional,
neste sentido, o profissional da área tem um papel importante para que cada
organização siga sua missão e atinja seus objetivos, independentemente de seu porte,
localização ou ramo de atividade.
O curso de Administração ofertado pelo IFPR/Palmas teve sua aprovação ainda

ISSN 2237-700X
372

nos anos oitenta no UNICS, instituição que precedeu o campus Palmas, e em seu
Projeto Pedagógico dá ênfase ao empreendedorismo.
Os Núcleos de Práticas Acadêmicas do Instituto Federal do Paraná – IFPR.
Campus Palmas são espaços de aprendizado prático, nasceram de parceria com a
Prefeitura Municipal de Palmas. O núcleo vinculado ao curso de administração
possibilita a vivência prática dos componentes curriculares previstos no curso, as
atividades se dão mediante prestação de serviços à comunidade, no caso orientações
a pequenas empresas que estão vivenciando alguma dificuldade (IFPR, 2020).
O acadêmico ou profissional em Administração poderá atuar em várias áreas
como, recursos humanos, materiais, financeiro, vendas, marketing, entre outras áreas
estratégicas da organização. (IFPR, 2020). O Administrador é um profissional
capacitado a realizar consultoria empresarial,ele entende como uma consultoria pode
ajudar os seus negócios.

3.1.2 Consultoria Empresarial

A palavra Consultoria vem do latim “consultare”, que significa aconselhar


alguém ou ser aconselhado (PEREIRA, 1999, p. 25).

Consultoria é um processo interativo, executado por uma ou mais pessoas,


independentes e externas ao problema em análise, com o objetivo de
fornecer aos executivos da empresa-cliente um ou mais conjuntos de opções
de mudanças que proporcionem a tomada de decisão mais adequada ao
atendimento das necessidades da organização. Crocco e Guttmann (2010, p.
37)

O processo de consultoria envolve três dimensões: definir o problema,


desenvolver as possíveis soluções e a proposta para a resolução final.
Devido as diversas mudanças no ambiente, as empresas devem estar sempre
atualizadas e abertas a mudanças para que não sejam superadas, a consultoria pode
entrar nesse processo com o objetivo de ajudar os gestores nessa mudança evitando
que as empresas fiquem em prejuízo (ALVES, DIAS e MONSORES, 2015, p. 04).
Segundo Quintella (1994, p. 53), a consultoria serve como um apoio externo a
organização e à função executiva, buscando sempre proteger as empresas. Para o
autor, a consultoria é a venda de conhecimento de um profissional ou de uma empresa
para ajudar o cliente a identificar os problemas, analisar, recomendar soluções e

ISSN 2237-700X
373

acompanhar a implementação dessas soluções. O consultor deve tomar a


responsabilidade dos resultados obtidos da implementação do seu projeto.
A consultoria é um serviço essencial para levantar as informações e
necessidades da empresa, identificar quais os problemas e por meio de ações de
melhoria solucioná-los, tudo isso com base na ferramenta chamada diagnóstico,
conforme Rosa (2001, p. 21), o diagnóstico empresarial é utilizado pelas empresas
para um levantamento e análise das condições em que a empresa se encontra, com
a finalidade de avaliar qual é o grau de saúde ou deficiência da organização.

3.1.3 Microempresas e Microempreendedores Individuais


Para Koteski (2004, p. 16), as Micro e Pequenas Empresas (MPE) são um dos
principais pilares da economia brasileira, seja na geração de empregos, como na
distribuição de empresas pelo país.
Segundo dados do SEBRAE, no ano de 2020 os MEI e ME representam no
Brasil cerca de 88,6% do total de empresas registradas, somam mais de 16 milhões
de negócio. Somente as ME respondem cerca de 25,57% dos empregos gerados no
país, considerados os MEI, são mais de 18 milhões de pessoas ocupadas.
Segundo o SEBRAE, a Lei Geral das micro e pequenas empresas classifica
os negócios com base na receita bruta anual, sendo:
- Microempreendedor Individual: receita
bruta anual até R$ 81.000,00;
- Microempresa: receita bruta anual
igual ou inferior a R$ 360.000,00;
- Empresa de Pequeno Porte: receita
bruta anual superior a R$ 360.000,00 eigual
ou inferior a R$ 4.800.000,00

Muitos autores relatam que as características do empresário fundador da MPE


interferem no funcionamento da organização. Para Jacintho (2004, p. 61), é
necessário que os empresários busquem autoconhecimento, trabalhem com suas
fraquezas para evitar a autodestruição da empresa, principalmente no início de sua
implantação. Um dos exemplos que mais retrata esse risco é a “rejeição de
assistência: determinação em fazer tudo sozinho, considerando a ajuda como uma
transgressão à independência pessoal ou o senso de realização”

ISSN 2237-700X
374

3 Resultados e Discussões

Os microempreendedores individuais (MEI) microempresas (ME)


desempenham um papel importante para o crescimento econômico do país. Um setor
que tem grande influência é o comércio varejista de minimercados, mercearias e
armazéns, esse segmento é o terceiro com maior número de negócios MEI e ME no
país, é o quinto maior setor no estado do Paraná e o terceiro maior setor no município
de Palmas.
Além do crescimento econômico, essas empresas agregam na geração de
novos empregos, formalização de pequenos empreendedores, mais inovação e
investimento e também oferecem mais opções para os consumidores.

3.2 Impactos do Covid-19 no segmento pesquisado

O segmento de comércio varejista de mercadorias em geral, com


predominância de produtos alimentícios - minimercados, mercearias e armazéns,
assim designado pelo IBGE, compõe a terceira atividade econômica com maior
número de ME e MEI na cidade de Palmas PR, com 215 empresas. No estado do
Paraná esse setor possui 25.119 empresas. É um setor amplo que contribui para o
crescimento econômico do estado e município (SEBRAE, 2021).
Uma pesquisa realizada pelo SEBRAE chamada Minimercados no Brasil,
desenvolvida em âmbito nacional, confirmou que o setor é o 3° maior do país em
pequenos negócios, com aproximadamente 485.015 estabelecimentos, já registra 6%
do PIB brasileiro e 35% das vendas do setor supermercadista (SBVC, 2019).
No ano de 2020 o mundo foi tomado por uma pandemia do vírus Covid-19,
visando o controle da pandemia foi decretado o isolamento social, e a consequente
diminuição do consumo da população (SEBRAE, 2021). Os segmentos alimentícios
foram classificados como de primeira necessidade, graças a isso durante toda a
quarentena eles continuaram abertos para atender a demanda da população.
O Governo adotou algumas medidas para evitar uma crise maior para os MEIe
as ME e também para resguardar empregos e pagamento de salários: adiamento do
recolhimento do imposto Simples Nacional por um período de três meses; liberaçãode
ISSN 2237-700X
375

R$ 5 bilhões pelo Programa de Geração de Renda (Proger); PRONAMPE, uma linha


de crédito para microempresas e empresas de pequeno porte; programa Nacional
de Microcrédito Produtivo; auxílio emergencial para os microempreendedores
individuais. (GOVERNO DO BRASIL, 2020)
Uma característica em comum dessas linhas de crédito é que os
microempreendedores não precisam especificar a destinação desses recursos, o
crédito pode ser usado para sanar qualquer problema da empresa. (OLIVEIRA, 2020).

4.2. Pesquisa De Campo

As entrevistas visando a obtenção de dados foram realizadas em 30


empresas sendo distribuídas em MEI e ME na cidade de Palmas PR, conforme a
metodologia apresentada.
O formulário foi composto de 22 perguntas abertas e fechadas, sendo 06
perguntas com objetivo de caracterizar as empresas, 08 referentes ao negócio e 08
perguntas relacionadas aos impactos da Covid 19.

4.2.1 Perfil das empresas pesquisadas


As primeiras questões tiveram como objetivo identificar o perfil dos
empreendimentos, constatou-se que 63% deles são MEI e 37% são ME.
Os empreendimentos são na maioria maduros, 23% estão no mercado há mais
de 5 anos e metade estão com mais de 10 anos de atividade. Dos atuais proprietários
93% são os próprios fundadores, o que mostra uma forte característica de
manutenção da empresa pelo fundador do negócio.
A maioria, 77%, possui entre 1 e 2 funcionários, contando com o proprietário e
familiares, somente três entrevistados possuem funcionários que não são da família.
Os empreendedores são em grande parte experientes, 80% atuam no ramo a
mais de 5 anos, 63% acima de 10 anos. Alguns dos entrevistados citaram que antes
de abrir o negócio trabalhavam em supermercados.
Somente 17% tem formação superior, Administração e Ciências Contábeis
foram os cursos indicados, 47% cursaram o ensino médio e 36% o ensino
fundamental.

ISSN 2237-700X
376

4.2.2. Gestão da empresa


Oito perguntas foram feitas com o objetivo de compreender como é a gestão
do empreendimento, a primeira questão buscou identificar o grau de conhecimento do
negócio por parte do empreendedor.
As respostas demonstraram um baixo acompanhamento dos indicadores da
empresa por parte dos proprietários, apenas 47% dos entrevistados conhecem bem
todos os indicadores da empresa, como lucratividade, capital de giro, volume de
vendas, etc., 34% dos entrevistados passam todos os documentos para o contador e
somente depois tem um acompanhamento financeiro, e 13% possuem uma ideia geral
dos resultados.
Percebe-se que um número significativo de entrevistados atribui ao contador a
responsabilidade pelos indicadores da empresa, isso pode ser resultado da não
utilização de meios eletrônicos para geração de dados, como apontado nas respostas
obtidas na próxima pergunta, quando questionados a respeito de como verificam as
informações da empresa.
O percentual de 46% de entrevistados disse recorrer ao contador como fonte
de informação, o qual recolhe todas as notas e só depois apresenta as informações
para os proprietários. Os registros manuais são a base de 39% dos pesquisados e
15% utilizam planilhas por meio eletrônico. As empresas que responderam não ter
acompanhamento pelo contador foram os MEI, desobrigados a contratar esse serviço.
A próxima questão buscou identificar quais fatores atrapalham o crescimento
das empresas na visão dos empreendedores. Os entrevistados puderam responder
mais do que uma alternativa, foram obtidas 57 respostas. É possível perceber que a
concorrência é o fator que mais atrapalha as empresas, com 32% das respostas, falta
de capital de giro vem em seguida com 28% das respostas, a inadimplência foi o
terceiro fator de 18% dos entrevistados.
Alguns dos pesquisados citaram o preço alto dos fornecedores como algo que
afeta o negócio e com isso compram menos mercadorias, alguns citaram a diminuição
das vendas nessa época da pandemia.
Com base nos dados verifica-se que a atividade de consultoria ainda é pouco

ISSN 2237-700X
377

conhecida pelas empresas, somente 17% dos entrevistados citaram já ter usado
algum tipo de consultoria. Os demais falaram não saber como funciona, outros não
tiveram interesse no serviço, foi comentado também o custo do serviço, e alguns
falaram que por estarem permanentemente no estabelecimento não têm tempo para
buscar algum tipo de consultoria.
Sobre a baixa procura por consultorias Jacintho (2004) relata que um dos
motivos pode ser a “rejeição de assistência: determinação em fazer tudo sozinho,
considerando a ajuda como uma transgressão à independência pessoal ou o senso
de realização”.
Em seguida foi questionado se os entrevistados já buscaram algum tipo de
treinamento ou qualificação. Apenas 43% dos pesquisados responderam já ter
realizado algum treinamento, os cursos indicados foram RH, contabilidade, vendas,
gestão e manipulação de alimentos e 57% responderam não ter realizado nenhum
treinamento ou qualificação. Porém 57% dos pesquisados responderam sentir a
necessidade de uma consultoria no empreendimento, e 43% responderam não ter
interesse pelo serviço.
Em seguida foi perguntado se teriam interesse em buscar suporte junto ao
Núcleo de Pesquisa. Grande parte dos entrevistados 70% responderam ter interesse
em buscar suporte junto ao Núcleo, se interessaram pelo serviço e ainda comentaram
que isso ajudará no planejamento do negócio, 30% não tem interesse no Núcleo.
Apesar de 83% dos entrevistados terem respondido que nunca utilizaram
algum tipo de consultoria, mais da metade responderam sentir a necessidade do
serviço. Alguns responderam não ter interesse no momento pois as vendas estão
fracas, outro entrevistado respondeu já ter utilizado, porém prefere aprender na
prática.
Para os que responderam ter interesse em algum apoio externo para a gestão,a
área administrativa (administração geral) é a mais apontada, em seguida a área
financeira.

4.2.3 Impactos da pandemia nos negócios


As últimas questões estão relacionadas com ao Covid-19, visando identificar
como a pandemia tem impactado essas empresas.
Como o comércio varejista de mercearias e minimercados é considerado um
ISSN 2237-700X
378

serviço essencial, durante a pandemia eles continuaram abertos, mesmo assim um


percentual de 60% dos entrevistados respondeu que a pandemia ocasionou grande
impacto nas vendas, diminuindo o fluxo de clientes. Um percentual de 20% dos
pesquisados respondeu ter um médio impacto durante esse período e 10%
responderam ter ocorrido um pequeno impacto, porque não precisaram fechar o
comércio e conseguiram trabalhar normalmente. Somente 10% responderam não ter
sofrido impacto algum.
Diante desse cenário, 63% dos microempreendedores relataram estar muito
preocupados(as) com a pandemia em seus negócios para o futuro próximo, devido
aos preços dos fornecedores terem aumentado bastante e ter diminuído as vendas.
Mais ou menos preocupado(a) foi a resposta de 27% dos pesquisados e 10%
responderam estarem pouco preocupados(as).
O avanço do coronavírus provocou um cenário de incertezas, com isso foi
perguntado para os microempreendedores quais os problemas que a pandemia gerou
para o negócio. Muitos danos foram causados, o mais citado foi queda nas vendas
com 30%, em seguida com 24% a redução do número de clientes, falta de capital de
giro com 20%, concorrência com 16% e falta de crédito com 8%. Os 2% que
responderam outros, citaram a falta de mercadorias devido a alguns fornecedores
permanecerem um tempo fechados.
Seguindo o formulário de entrevista os empreendedores foram questionados
se a pandemia trouxe algum benefício para a empresa, 10% deles relataram ter tido
algum benefício pela pandemia, sendo que 2 entrevistados citaram ter aumentado as
vendas nesse período devido ao auxílio emergencial e outro citou ter conseguido uma
máquina que aceitava cartões com QrCode o qual a concorrência não aceitava. 90%
responderam não ter ocorrido nenhum benefício.
Com relação a forma de atendimento nesse período, foi questionado se os
entrevistados fizeram alguma mudança em seu negócio forçadas pela pandemia,
sendo uma inovação ou novas formas de negociação. Grande parte dos entrevistados,
77%, responderam não terem feito nenhuma alteração no processo cotidiano, uma
das justificativas foi a falta de funcionários para atender algumas demandas. Alguns
optaram pela inovação (23%), a criatividade surgiu no whatsapp empresa, eles
aceitaram pedidos por mensagens no aplicativo e faziam entrega a domicílio para as
pessoas mais idosas e para quem foi contaminado pelo Covid-19.

ISSN 2237-700X
379

Os pesquisados foram questionados, ainda, se contrataram algum benefício


do governo. Mais da metade dos entrevistados não contratou nenhum benefício.
Alguns comentaram que o juro dos empréstimos era muito alto, que não liberou devido
a algumas restrições no CPF, alguns fizeram o cadastro, porém não liberou, e muitos
comentaram não saber desses benefícios.
Um percentual de 3% conseguiu o Programa Nacional de Microcrédito
Produtivo, 3% optou por fazer o adiamento do recolhimento do imposto Simples
Nacional, e 14% conseguiram o auxílio de R$600,00 para MEI.
A falta de conhecimento de alguns microempreendedores afetou a parte
financeira do próprio negócio, esses programas vieram para ajudar os
empreendedores e evitar que os mesmos fechassem as portas durante a crise.
Com relação aos funcionários, somente 7% das empresas aderiram a
suspensão do contrato de trabalho de funcionário, os demais benefícios relacionados
aos funcionários não foram contratados.
Houve demissão de funcionários por parte de 7% das empresas, como as
vendas caíram não teriam condições de manter os salários.

4 Considerações finais

Ao concluir o estudo e retomando seu objetivo que foi identificar os possíveis


impactos da pandemia da Covid-19 em microempreendimentos do comércio varejista
de alimentos da cidade de Palmas PR e como o Núcleo de Práticas em Administração
do IFPR Palmas pode contribuir para melhorias nesse setor, é possível concluir que o
objetivo foi alcançado.
Foi possível analisar que mais da metade dos entrevistados estão na atividade
há mais de 5 anos. Por se considerarem experientes no ramo, grande parte dos
empresários não fazem o controle dos seus indicadores e passam todas as notas para
um contador, demonstrando um baixo nível de acompanhamento.
Os fatores que mais foram apontados que estão interferindo o crescimento
das empresas foram a concorrência, falta de capital de giro e inadimplência.
Com relação a consultoria, poucas empresas já fizeram o uso de uma
consultoria empresarial, porém mais da metade dos entrevistados desejam fazer o

ISSN 2237-700X
380

uso do serviço do Núcleo de Práticas do campus Palmas, eles compreendem que a


consultoria só trará benefícios para o negócio, visando o seu crescimento e a
permanência no mercado.
Mesmo o comércio varejista de alimentos que é um setor essencial e não
fechou as portas durante a pandemia sentiu impactos da pandemia, sendo afetada
em seu planejamento e controle financeiro. Esse cenário gerou incertezas. Alguns dos
benefícios do governo foram utilizados por esses empreendedores como o auxílio de
R$600,00 para MEI, adiamento do recolhimento do Simples Nacional e o Programa
nacional de microcrédito produtivo.
Os dados levantados apontam caminhos para que Núcleo de Práticas em
Administração possa participar na recuperação de negócios afetados pela pandemia
e fortalecer os demais, embora tenha um desafio importante que é resistência dos
empreendedores na contratação de serviços de apoio.

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THIOLLENT, M. Metodologia de Pesquisa-ação. São Paulo: Saraiva, 2009.

ISSN 2237-700X
382

IMPACTOS DO NOVO VÍRUS SARS-COV-2 NAS MICROEMPRESAS E


MICROEMPREENDEDORES INDIVIDUAIS DO COMÉRCIO VAREJISTA DE
CONFECÇÕES E ACESSÓRIOS DA CIDADE DE PALMAS-PR

Welinghton Matheus dos Santos (w.elinghton@icloud.com)1


Edson José Argenta (edson.argenta@ifpr.edu.br) 2
1,2 Instituto Federal do Paraná - Campus Palmas

Resumo: O presente artigo aborda os impactos da pandemia do vírus Sars-Cov-2


nas empresas do setor de comércio varejista de confecções e acessórios da
cidade de Palmas/PR, considerando a visão dos empreendedores que foram
afetados, principalmente pelos lockdowns decretados pelos governos, e as
oportunidades de intervenção pelo Núcleo de Práticas de Administração do
Instituto Federal do Paraná/Palmas (NPAD). O objetivo principal é compreender
quais foram os principais impactos e dificuldades enfrentadas pelas empresas e de
que maneira o Núcleo de Práticas de Administração do IFPR/Palmas pode
contribuir para buscar soluções. Buscou-se ainda traçar um perfil dos pesquisados
e a eficiência dos benefícios oferecidos pelo governo federal para o enfrentamento
à pandemia. Se trata de uma pesquisa qualitativa, aplicada e com caráter
exploratório, por meio de pesquisa de campo. Os empresários foram selecionados
em amostragem não probabilística por acessibilidade, e os dados coletados em
entrevista estruturada, conduzida pelo autor. Os resultados indicam como
principais impactos a redução do faturamento pela queda nas vendas. A pesquisa
aponta, ainda, alguma resistência dos entrevistados quanto ao processo de
consultoria, embora a maioria afirme interesse em buscar atendimento do NPAD.
Também se mostraram pouco eficientes os auxílios oferecidos pelo governo
federal aos empreendedores por meio de benefícios disponibilizados para fazer
frente a pandemia.

Palavras-chave: Administração, mortalidade de empresas, consultoria, pandemia


Civid- 19.

Abstract: This article addresses the impacts of the Sars-Cov-2 virus pandemic on
companies in the clothing and accessories retail sector in the city of Palmas/PR,
considering the view of entrepreneurs who were affected mainly by the lockdowns
decreed by governments, and opportunities for intervention by the Management
Practices Center of the Federal Institute of Paraná/Palmas (NPAD). The main
objective is to understand the main impacts and difficulties faced by the companies
and how the IFPR/Palmas Administration Practices Center can contribute to finding
solutions. We also sought to draw a profile of those surveyed and the efficiency of
the benefits offered by the federal government to fight the pandemic. It is a
qualitative, applied and exploratory research, through field research. Entrepreneurs
were selected in a non-probabilistic sampling for accessibility, and data were
collected in a structured interview conducted by the author. The results indicate as
main impacts the reduction in sales due to the drop in sales. The survey also points
out some resistance from respondents to the consulting process, although most
say they are interested in seeking assistance from the NPAD. The aid offered by
the federal government to entrepreneurs through benefits made available to face
the pandemic also proved to be ineffective.
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Keywords: Administration, corporate mortality, consulting, Civid-19 pandemic.

1 Introdução

Diante da pandemia ocasionada pela Covid-19 o setor de comércio varejista


de confecções e acessórios foi fortemente afetado, já que a população buscou
consumir menos produtos que não são essenciais para a sobrevivência,
desencadeando vários efeitos que colocaram em risco a sobrevivência das
empresas. Diante disso pode-se dizer que uma consultoria é capaz de apresentar
possíveis soluções, para que assim as organizações tenham maior desempenho na
retomada da economia, o Núcleo de Práticas de Administração do IFPR/Palmas vem
para suprir essa necessidade do mercado na cidadede Palmas, PR
O Brasil tem vivido nos últimos anos uma instabilidade na sua política e
principalmente na sua economia, acarretando cenários nada favoráveis aos
empresários principalmente para as microempresas (ME) e microempreendedores
individuais (MEI). Uma série de fatores elevam a necessidade de uma gestão mais
eficiente, com isso apresenta-se o problema de pesquisa: como o comércio varejista
de vestuário e acessórios da cidade de Palmas-PR têm reagido à crise
desencadeada pelo novo vírus Sars-Cov-2?
É nesse contexto que o presente estudo tem como objetivo compreender
quais foram os principais impactos e dificuldades enfrentadas pelas empresas e de
que maneira o Núcleo de Práticas de Administração do IFPR/Palmas pode contribuir
para buscar soluções. Desse mesmo modo identificar a aceitação do Núcleo de
Práticas de Administração (NPAD) pelos empresários do setor, certificar se há
utilização de serviços de consultoria, constatar se há utilização de serviços de apoio
(SEBRAE, etc.) aos empreendedores e identificar as principais necessidades dos
empresários de Palmas-PR em relação a administração de seus negócios.
O estudo é apresentado em três partes: Material e Métodos em que são
abordados os procedimentos metodológicos; Resultados e Discussões, em que são
apresentados o referencial teórico e resultados da pesquisa de campo; e,
Considerações finais em que sãoretomadas as principais contribuições do estudo.

ISSN 2237-700X
384

2 Material e Métodos

O estudo caracteriza-se como pesquisa qualitativa, exploratória, aplicada e de


campo. (SILVEIRA, 2009) (PRAÇA, 2015) (GERHARDT e SILVEIRA, 2009). Os
dados primários foram coletados por meio de entrevista estruturada com 20
questões, aplicada junto a 30 microempreendedores do setor varejista de vestuário e
acessórios.
As empresas na cidade de Palmas, PR, foram definidas por meio de
amostragem não probabilística por conveniência. (OLIVEIRA, 2001)
Os dados passaram por análise de conteúdo que representa um conjunto de
técnicas de análise das comunicações que tem por objetivo, obter através de
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição das mensagens que permitam a
inferência de a produção e recepção dessas mensagens.

4 Resultados e Discussões

3.1 Revisão da literatura

Com propósito de produzir um embasamento teórico, foram pesquisados


temas como principais pontos: a atividade de consultoria empresarial, a pandemia
desencadeada pelo novo vírus Sars-Cov-2 e os impactos dessa pandemia.

3.1.1 Consultoria empresarial

A consultoria é o processo onde o consultor busca auxiliar da melhor forma os


gestores de empresas clientes para o desenvolvimento de uma gerência mais eficaz
de forma que a mantenha no mercado por longos anos.
ISSN 2237-700X
385

Segundo Block (2001, p.22) “a consultoria em sua melhor forma é um ato de


amor: o desejo é ser genuinamente útil aos outros. Usar o que sabemos, ou
sentimos, ou sofremos no caminho para diminuir a carga dos outros.” Portanto pode-
se definir consultoria como sendo uma prestação de serviços qualificada, que pode
ajudar as micro e pequenas empresas cujos gestores não possuem conhecimento
suficiente para mantê-las em crescimento ou para que permaneçam ativas no
mercado. Para Quintella (1994 p. 53), a atividade de assessoria é entendida como
uma especialidade de apoio externo à ação gerencial executiva para prevenir e
impedir a deterioração das organizações.
Atualmente a assistência serve para que as empresas estejam sempre
atualizadas de maneira que não tornem seus produtos e serviços obsoletos.
Principalmente em momentos como a crise que foi desencadeada pelo novo vírus
Sars-Cov-2, o qual tem sido motivo de incertezas para as empresas, sobretudo, para
os microempreendimentos.

3.1.2 Microempreendedor individual e microempresas

De acordo com a Lei Geral de Micro e Pequenas Empresas, é considerada


uma Microempresa (ME) aquela que possui uma sociedade de natureza limitada ou
sociedade simples, cujo faturamento bruto anual não ultrapasse valores de
faturamento bruto anual de até R$ 360.000,00, já para microempreendedor individual
(MEI) o faturamento bruto máximo é de até R$ 81.000,00. (BRASIL, 2006)
Conforme o DataSebrae (2020), o Brasil até o mês de maio de 2020 possuía
um total de 17.293.316 de MEI, ME e EPP registradas, correspondendo a 89,94%
das empresas brasileiras, sendo representado por 9.810.483 de MEIs equivalente a
51,02%, 6.586.497 de microempresas equivalente a 34,25% e 896.336 de empresas
de pequeno porte equivalente a 4,66% das empresas brasileiras. No estado do
Paraná são 1.221.993 de registros que refere-se a 92,97% das empresas
paranaenses constituindo-se por 614.538 de microempreendedores individuais
correspondendo a 46,76%, 553,923 de microempresas correspondendo a 42,14% e
53.532 de empresas de pequeno porte correspondendo a 4,07% das empresas
paranaenses e na cidade de Palmas este número é de 3.795 empresas
ISSN 2237-700X
386

representando 94,43% das empresas palmenses, compreendendo a


2.049 de microempreendedores individuais representando 50,98%, 1.633 de
microempresas representando 40,63% e 113 empresas de pequeno porte
representando 2,81% das empresas palmenses.

3.1.3 Pandemia do Covid-19 no Brasil

Segundo o Ministério da Saúde (MS) (2020) o primeiro caso de coronavírus


no Brasil foi confirmado no dia 26/02/2020 no estado de São Paulo, sendo
confirmada a primeira morte após 20 dias do primeiro caso. Desde então o Brasil
entrou em uma nova fase estratégica para o combate ao coronavírus devido a
constatação de transmissão comunitária nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Conforme boletins epidemiológicos do MS em pouco mais de um mês da
confirmação do primeiro caso o Brasil ultrapassou a margem dos 20 mil casos
confirmados e 1328 mortes sendo no estado de São Paulo a maior incidência de
casos. Ainda de acordo com o boletim epidemiológico, o Brasil ultrapassa a margem
dos 1.000.000 de infectados pelo Covid-19 em junho de 2020.
De acordo com o Ministério da Saúde, no dia 18/01/2021 iniciou-se a
vacinação da população brasileira com a vacina chinesa Coronavac, levando em
conta a campanha de vacinação desenvolvida pelo MS, sendo as primeiras doses
destinadas aos grupos prioritários conforme definido pelo calendário de vacinação.
De acordo com Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde do dia 13/02/2021, o
Brasil acumulava 8.816.254 casos confirmados e 216.445 óbitos até o dia
23/01/2021. Com dados mais recentes até odia 10/04/2021 acumulam-se 13.445.006
de casos confirmados e 351.334 óbitos. Ainda de acordo com MS foram aplicadas
32.495.827 doses de vacinas por todo o território nacionalaté o dia 17/04/2021.

ISSN 2237-700X
387

3.1.3.1 Impactos da pandemia nas MPES brasileiras

De acordo com o SEBRAE (2020a) a pandemia afetou cerca de 5,3 milhões


de pequenas empresas e suspendeu temporariamente as atividades de 10,1 milhões
de empresas. A forma de funcionamento das empresas evoluiu durante a pandemia,
houve implementação de atendimento on-line, drive-thru, rodízio de funcionários e
redução do horário de funcionamento. Ainda conforme o SEBRAE (2020a) cerca de
71% dos pequenos negócios suspenderam as suas atividades devido às medidas
dos governos estaduais e municipais, e outros 21% decidiram suspender as
atividades por conta própria.
Conforme o Governo Federal (2020), duas medidas foram tomadas com o
objetivo de reduzir os impactos causados na economia, sendo a primeira medida
adiamento da cobrança dos impostos para as micro e pequenas empresas optantes
do Simples Nacional,prorrogando a data de vencimento para o segundo semestre de
2020 este benefício contempla um período de três meses. Tendo como segunda
medida a liberação de R$ 5 bilhões pelo Programa de Geração de Renda (Proger),
como meio de facilitar a liberação de capital de giro para as micro e pequenas
empresas.
SEBRAE (2020b) ainda menciona a sanção do auxílio emergencial no valor
de R$ 600,00 com pagamento em três parcelas, como beneficiários os
microempreendedores individuais e trabalhadores informais. Outra medida é a
facilitação do acesso ao crédito vinculado ao Programa Nacional de Microcrédito
Produtivo Orientado (PNMPO), crédito cujo acesso se dá a MEI e microempresas
que possuem um faturamento de até R$ 200.000,00.
De acordo com Governo Federal (2020), foi criado o Programa Nacional de
Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (PRONAMPE) sendo um
programa do governo federal que se destina ao desenvolvimento das ME e EPP,
disponibilizando crédito de até 50% do capital social para empresas com menos de 1
ano de funcionamento e de 30% do faturamento bruto para as empresas que
possuem mais de 1 ano de funcionamentolevando em consideração o faturamento de
2019.

ISSN 2237-700X
388

3.1.4 Núcleo de práticas em administração

Conforme o regulamento geral de funcionamento dos núcleos de práticas do


Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas, o núcleo de prática em administração
(NPAD) é um espaço destinado a aprendizagem dos discentes aliando a teoria vista
em sala de aula com a prática do trabalho desenvolvido no núcleo. O NPAD estará
associado com o colegiado correspondente às suas atividades, como neste caso o
núcleo de práticas de Administraçãoestará vinculado ao colegiado de administração.

3.2 PESQUISA DE CAMPO

Para atender aos objetivos da pesquisa foram entrevistados 30 responsáveis


por empresas do setor de comércio varejista de confecções e acessórios situadas na
cidade dePalmas, Paraná. Os resultados apresentados e discutidos na sequência.

3.2.1 O segmento

O setor varejista de vestuário e acessórios é composto por empresas que


vendem seus produtos ou serviços para os consumidores finais, sendo
necessariamente em pequenos lotes (KOTLER E KELLER, 2006, apud ANGELO e
SILVEIRA,2012)
De acordo com DataSebrae (2020) o segmento comércio do vestuário e
acessórios de Palmas é representado por 139 MEIs equivalendo a 6,78% dos MEIs
registrados e 78 microempresas totalizando 4,78% das microempresas registradas
no município.

ISSN 2237-700X
389

3.2.2 Perfil dos entrevistados

Pelos dados coletados nas entrevistas 60% dos entrevistados são


microempreendedores Individuais, cerca de 27% das empresas estão entre 5 e 10
anos de atividade, 97% dos proprietários são os fundadores das organizações, 80%
das empresaspossuem entre 1 e 2 funcionários, 50% dos proprietários tem acima de
10 anos de experiência na atividade da empresa e 57% dos gestores possuem
apenas ensino médio completo.

3.2.3 Sobre consultoria

Após coletados os dados serão abordadas as descobertas realizadas, como


pontos principais a necessidade de consultoria nas empresas, os impactos que o
novo vírus Sars- Cov-2 causou nas empresas, quais áreas que os gestores mais
sentem necessidade de apoio externo.
Sobre a necessidade de consultoria constatou-se que 63% dos entrevistados
sentem que sua empresa possui algum tipo de necessidade de ajuda externa para a
solução de algum problema ou melhoria no desempenho, principalmente diante da
pandemia desencadeada pelo COVID-19. Porém, 37% pressupõem que sua
empresa não possui qualquer necessidade em relação a isso.
Observa-se uma certa resistência nos empreendedores quanto a contratação
de umserviço de consultoria, principalmente, quando se trata de empresas familiares.
Greco et al (2014) já alertava que a maioria dos empreendedores brasileiros, via de
regra, cria e desenvolve seu negócio de forma instintiva, sem explorar as
possibilidades de apoio voltadas para aumentar as suas chances de sucesso.
Seguindo uma relação com a pergunta anterior, foi questionado se os
gestores já utilizaram algum tipo de consultoria, notou-se que 57% dos entrevistados
nunca tiveram qualquer tipo de consultoria em seus negócios e 43% responderam
que já utilizaram de alguma forma esse serviço, 20% dos entrevistados que nunca
tiveram consultoria afirmaram que atualmente sentem a necessidade de auxílio.

ISSN 2237-700X
390

Os entrevistados foram questionados sobre a utilização de algum órgão de


apoio ao empreendedorismo tendo em vista a pandemia, como mostra a pesquisa
57% dos entrevistados já utilizaram os serviços de algum órgão de apoio aos
empreendedores, como o SEBRAE, por exemplo, e 43% nunca buscaram ajuda
destes órgãos.
Com relação ao NPAD, buscando analisar a aceitação do núcleo de práticas
pelo meio empresarial de Palmas, observa-se que 83% dos entrevistados afirmam
que poderão buscar ajuda ao núcleo e 17% não pretendem buscar qualquer tipo de
ajuda, por não acharem necessário, os gestores se julgam capazes de realizar
análises e detectar problemas em seus negócios, obtendo assim uma solução
própria para os possíveis problemas, sem intervenção externa.
Em seguida os respondentes foram questionados sobre qual área a busca por
apoio de daria junto ao NPAD e segundo os dados levantados 41,46% dos gestores
pretendem buscar consultoria na área de marketing, seguindo por 26,83% que
sentem dificuldades para controlar as finanças de suas empresas, 17,07% possuem
pretensão de buscar ajuda na área da administração geral e 14,63% possuem
intenção de buscar ajuda na área comercial. Foram totalizadas 41 respostas, já que
os empreendedores tiveram a opção deapontar mais de uma alternativa.

3.2.4 Impactos da pandemia do Sars-Cov-2

Diante da crise sanitária e econômica desencadeada pelo novo coronavírus,


vários governos estaduais e municipais decretaram o fechamento das atividades
não essenciais com o objetivo de controlar a disseminação do vírus Sars-Cov-2, por
efeito dos lockdown decretados as empresas passaram por várias dificuldades,
para os entrevistados as principais dificuldades enfrentadas foram a queda nas
vendas e no faturamento, devido ao fechamento das portas e redução da renda dos
clientes, como mostram as respostas para a pergunta "sua atividade foi afetada
pela pandemia, envolvendo isolamento social e/ou fechamento de atividades não
essenciais? De que forma sua atividade foi afetada?": Entrevistado 3: "Sim, pelo
fechamento, o principal fator já que não temos vendas on-lines"; Entrevistado 10:
"Não foi afetada, quantidade de vendas aumentaram, mesmo com o fechamento
ISSN 2237-700X
391

do comércio conseguimos recuperar"; Entrevistado 18: "Sim, diminuiu muito a


clientela, as vendas"; Entrevistado 22: "Sim, com as portas fechadas não temos
vendas e isso nos afeta pois temos despesas, água, luz, funcionários, etc.
";Entrevistado 27: "Sim, diminuição nas vendas, quebra no crediário por conta da
perda de renda dos clientes, quedade faturamento".
Sendo assim ficam demonstradas diante de algumas das respostas às
dificuldades enfrentadas pelos empreendedores, mas ao mesmo tempo nota-se que
uma parcela dos empresários responderam que não passaram por dificuldades tão
grandes a ponto de seusnegócios serem prejudicados.
Os empreendedores foram questionados sobre dificuldades na reposição de
estoques, 53% dos entrevistados afirmam que não tiveram qualquer tipo de
problema para reabastecimento de mercadorias, enquanto 47% passaram por algum
tipo de dificuldade, principalmente, levando em consideração a proibição de viagens
para que sejam realizadasas compras de mercadorias, lockdown em algumas cidades
ou estados e o fechamento dasfronteiras como principal rota de comércio o Paraguai.
Quanto ao impacto no faturamento nos meses de abril a dezembro de 2020,
em comparação com meses anteriores, observou-se que 67% das empresas
apontaram queda no faturamento naquele período, 10% mantiveram um faturamento
constante sem grandes alterações, enquanto apenas 13% obtiveram aumento no
faturamento diante a pandemia e isolamento social, contudo mesmo em meio à crise
houve a abertura de novas empresas as quais representam 10% dos entrevistados
que não conseguem fazer uma comparação já que possuem menos de 1 ano de
funcionamento.
Ainda seguindo os impactos, os entrevistados foram questionados sobre qual
o pior mês de faturamento durante a pandemia comparando com o mesmo período
do ano anterior. Os entrevistados tiveram a possibilidade de escolher mais de uma
alternativa comoresposta.
Diante da crise econômica enfrentada por todos os países a nível global, as
empresas sofreram problemas durante a pandemia, em um comparativo com 2019 e
2020, o pior mês para o faturamento das empresas pesquisadas foi de março 2020
com 39% dos entrevistados alegando queda no faturamento comparado com março
2019, seguido por dezembro com 16% dos entrevistados e abril em terceiro lugar
como pior mês de faturamento com 14% das respostas, os meses de maio, outubro

ISSN 2237-700X
392

e novembro não foram considerados como pior mês de faturamento para nenhum
dos entrevistados. Embora a maioria das empresas tenham apontado pelo menos 1
mês como o pior de faturamento, 13% dos entrevistados não apontaram um pior
mês de faturamento comparando com os dados de 2019.
Além disso foi questionado sobre previsão de investimentos na empresa
durante o ano de 2020 já que investir é importante para uma empresa, seja para
melhoria de atendimento, melhorar qualidade dos produtos, ampliar as vendas ou
mesmo melhoria na estrutura física. Constatou-se que 97% dos gestores tinham
intenção de investir em seus negócios em 2020 e apenas 3% não tinham qualquer
planejamento para investir em sua empresa.
Esses dados demonstram impactos da pandemia no longo prazo, uma vez que
ao não investir como planejado a empresa pode frear seu crescimento, com reflexos
em novos empregos por exemplo.
Com o objetivo de determinar a situação do quadro de funcionários, foi
questionado se houve alterações na quantidade de colaboradores em 2020,
segundo os dados coletados, 77% das empresas mantiveram o mesmo número de
funcionários, 17% reduziram seu quadro de funcionários como uma tentativa de
redução de custos e conseguir se manter diante da redução de faturamento, em
contrapartida 6% dos entrevistados aumentaram seu quadro de colaboradores pela
necessidade de uma equipe maior levando em consideração que mesmo diante da
crise sanitária e econômica houve aumento nas vendas.
A seguir será traçado um panorama com relação aos benefícios ofertados
pelo governo federal como medida de apoio aos MEI e microempresas. Quais foram
os benefícios mais usados, dificuldades que as empresas passaram para conseguir
aprovaçãoou até mesmo o porquê da não utilização de algum benefício. 16,67% das
empresas utilizaram o adiamento do recolhimento do Simples Nacional, 3,33% se
beneficiaram do prolongamento de prazo das dívidas bancárias, 6,67% das empresas
conseguiram o auxílio emergencial por se tratarem se microempreendedores
individuais, os demais num total de73,33% dos entrevistados não utilizaram qualquer
um dos benefícios ofertados, em sua maioria por não haver necessidade.
Em alguns casos os gestores sentiram dificuldades para obtenção de
benefícios, sendo as principais a burocracia envolvida na solicitação de algum dos
benefícios, a dificuldade na aprovação e o excesso de informações sendo exigidas

ISSN 2237-700X
393

no pedido e a complexidade, no momento, de comprovar as informações, assim


como houve casos em que os proprietários não trabalham com empréstimos e
financiamentos.
O Governo Federal disponibilizou o auxílio emergencial para as pessoas físicas
e para os microempreendedores individuais, com o objetivo de diminuir o impacto
para estas pessoas, por perda de emprego, queda de renda, entre outras
dificuldades, e também para manter aquecida a economia brasileira, tentando assim
reduzir os impactos que o Covid- 19 causou, diante disso foi questionado aos
entrevistados sobre o auxílio emergencial, em resposta a pergunta: "como o auxílio
emergencial fornecido pelo governo federal, pode ter afetado o faturamento de sua
empresa?"
Entrevistado 3: "Na verdade tivemos boas vendas com o auxílio"; Entrevistado
11: "Não houve mudanças pelo auxílio ter beneficiado pessoas que não fazem
parte da clientela";
Entrevistado 22: "Como abrimos as portas a menos de um ano não tenho
noção se chegouafetar"; Entrevistado 27: "não teve diferença no faturamento".
Nota-se que as empresas não sentiram diferença visto que as pessoas que
receberamo auxílio não fazem parte dos clientes da loja.
A última questão teve como objetivo identificar qual lockdown, decretado pelo
governo municipal, ocasionou maior impacto no faturamento das empresas, dois
foram os principais lockdown, março de 2020 e março de 2021, que afetaram as
empresas com o fechamentodas atividades não essenciais.
A pesquisa mostra que 63% das empresas sofreram um impacto maior em
seu faturamento no lockdown de março de 2021, enquanto 37% sofreram os maiores
impactos em março de 2020. Observou-se uma tendência na queda das vendas já
em dezembro de 2020, seguindo por um primeiro trimestre de 2021 com forte queda
nas vendas.

4 Considerações finais

Pode-se constatar através das referências utilizadas neste trabalho, a

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importância que a consultoria empresarial desempenha para um melhor crescimento


e soluções de problemas que venham a enfrentar. Diante do exposto também fica
evidente a relevância que as microempresas e microempreendedores individuais,
para o desenvolvimento econômico do Brasil e para a geração de empregos.
Diante da pandemia causada pelo novo vírus Sars-Cov-2, detectou-se os
impactos e as dificuldades que os empresários do setor de confecções e acessórios
tem enfrentando, alguns desses efeitos foram redução de faturamento, queda nas
vendas, principalmente associados aos lockdown decretados pelo governo municipal
e governo estadual.
Avalia-se como pouco eficiente para os empresários pesquisados os
benefícios fornecidos pelo governo federal como uma tentativa de reduzir os
impactos na economia brasileira, como observou-se, a burocracia foi um fator
predominante para a não utilizaçãoocasionando dificuldades na aprovação.
Vislumbra-se como oportunidade ao Núcleo de Práticas de Administração do
IFPR/Palmas o atendimento às empresas que deverão buscar a retomada de suas
atividades normais, já que foi possível identificar que há interesse dos empresários e
a sinalização das áreas administrativas de interesse.
Perante o exposto constata-se que o presente estudo atingiu seus objetivos,
no entanto, é importante explorar um cenário pós-pandêmico deixando assim
abertura para novos estudos voltados para a investigação da situação das empresas
com a retomada danormalidade das atividades.

Referências

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março de 2012.
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GRECO. S. M. S. S. et al. Empreendedorismo no Brasil: 2015. Curitiba, IBQP,


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OLIVEIRA, T.M.V. Amostragem não probabilística: adequação de situações


para uso e limitações de amostras por conveniência, julgamento e Quotas.
Rev Adm On Line 2001 jul/ago/set.; 2(3)

PRAÇA, F. S. G. Metodologia da Pesquisa Cientifica: Organização Estrutural


e os Desafios para Redigir o Trabalho de Conclusão. Revista Eletrônica
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QUINTELLA, H. M. Manual de psicologia organizacional da consultoria


vencedora. São Paulo: Makron Books, 1994.

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2020a. Disponível em: https://m.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-
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SEBRAE. Veja as medidas de apoio do governo aos pequenos negócios


2020b. Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/veja-
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22/02/2021

ISSN 2237-700X
396

JOHANN WOLFGANG VON GOETHE E A DOUTRINA DAS CORES,


INFLUÊNCIAS E CONFLUÊNCIAS.

Luiz Ney Todero (luiz.toderol@ifpr.edu.br) ¹


¹Instituto Federal do Paraná, Campus Palmas.

Resumo: O presente artigo faz parte da pesquisa sobre as cores desenvolvida pelo
autor, no IFPR – Campus Palmas –PR. Entre vários autores pesquisados Goethe é
um deles e pode-se dizer que é um dos mais significativos para o estudo da cor. No
início do texto apresenta-se uma pequena biografia com a trajetória desse gênio
mostrando como teve vida intensa: escritor, político e pesquisador na ciência. Autor
de obras famosas como Fausto, durante muitos anos pesquisador do tema da cor,
construiu uma obra traduzida para o português, intitulada Doutrina das Cores. Em
seguida essa obra é apresentada; como ela foi concebida em capítulos e seções,
numa sequência que apresenta a cor desde sua forma física, fisiológica, patológica,
usos e as questões morais ou a psicologia das cores. E como já na universidade
Goethe teve seu primeiro contato com a física de Newton e logo inicia suas críticas
em relação as concepções da cor em Newton, na finalização deste artigo é dedicado
as divergências entre Goethe e Newton, especialmente o entendimento da cor além
da física. Mas em seguida, na última parte, também se apresentam as
convergências, em que muitos cientistas e artistas comungam com as teorias de
Goethe, inclusive com experimentos, invenções, descobertas que tiveram em
Goethe referências fundamentais.

Palavras-chave: Cor física. Fisiologia da cor. Psicologia da Cor. Biografia de


Goethe.

Abstract: This article is part of the research on colors developed by the author, at
IFPR – Campus Palmas –PR. Among several researched authors Goethe is one of
them and it can be said that he is one of the most significant for the study of color. At
the beginning of the text there is a short biography with the trajectory of this genius,
showing how he had an intense life: writer, politician, and researcher in science.
Author of famous works such as Fausto, for many years a researcher about color, he
built a work translated into Portuguese, entitled Doctrine das Cores. This work is then
presented; how it was conceived in chapters and sections, in a sequence that
presents color from its physical, physiological, pathological form, uses and moral
issues or the psychology of colors. And as Goethe had his first contact with Newton's
physics at the university and soon began his criticisms of Newton's conceptions of
color, at the end of this article the divergences between Goethe and Newton are
dedicated, especially the understanding of color beyond physics. But then, in the last
part, convergences are also presented, in which many scientists and artists share
Goethe's theories, including experiments, inventions, discoveries that had
fundamental references in Goethe.

ISSN 2237-700X
397

Keywords: Physical color. Physiology of color. Psychology of Color. Biography


ofGoethe.

1 Introdução

Goethe ou Johann Wolfganf Von Goethe, devido a sua multiplicidade de


conhecimento e produção, poderia ser próximo a um Leonardo Da Vinci, como
defende Barros (2006), pela genialidade e capacidade de atuar em diferentes áreas,
como nas artes plásticas, artes literárias (Fausto, sua maior obra), botânica, física,
administração e política. Foi um fantástico pesquisador na ciência, em especial
sobre as cores, produzindo “nada menos que um legado de 2 mil páginas e oitenta
pranchas com diagramas coloridos, distribuída entre os volumes” (BARROS, 2006,
p. 273). Disso tudo, chegou na sua obra “Doutrina das Cores” que em muitos
parágrafos numerados vai dissecando o tema cor, nas mais variadas possibilidades.
Neste artigo apresenta-se essa visão e o resultado desses estudos sobre as
cores, porém antes, sua biografia, suas experiências em diversos campos, até
chegar nas questões da cor. Também não se poderia deixar de mencionar suas
divergências em relação a seu predecessor e estudioso da cor: Isaac Newton, sua
crítica ao reducionismo teórico e dogmático, onde Goethe faz uma crítica a física de
Newton, em que a cor deveria ser “vista” a partir também do fisiológico e psicológico,
numa compreensão multidisciplinar. A partir disso, uma nova forma de ver o
fenômeno cor foi concebida por Goethe, tendo ressonâncias múltiplas até os dias de
hoje. Ainda, aborda-se a educação que teve na universidade e justamente onde
apareceram as divergências com a física newtoniana e o interesse pela cor. Por
isso, destinou-se uma parte do texto para falar do legado de Goethe que influenciou
a escola da Bauhaus, teorias colocadas em prática como a invenção da máquina
fotográfica polaroide, a teoria tricromática a partir da observação do autor sobre a
pós-imagem ou o contraste das cores, como observa Barros (2006).
Enfim, o conhecimento da cor, tem em Goethe uma nova concepção, que vai
além do estudo da física. Da mesma forma que outros cientistas e artistas que
pesquisam a cor querem ir além, entender como as cores existem e afetam o ser
humano. Isso interessa intrinsicamente à arte, que tem na cor não só uma matéria
física, mas expressão espiritual, estética, uma forma autônoma de comunicação.
O autor deste artigo pesquisa a cor e este texto é justamente sobre as Teorias
ISSN 2237-700X
398

das Cores e sua correspondência na educação em Artes Visuais. Propõe neste


artigo promover uma contribuição, um espaço de reflexão, sobre um cientista, artista
e amigo de artistas, que dedicou a eles a sua obra.
Considerando-se o que foi dito até aqui acerca da Doutrina das Cores, o
artista espirituoso poderá criar, de modo mais fácil do que ocorreu até
agora, a harmonia na coloração do espaço e dos objetos, e estará em
condições de apresentar fenômenos infinitamente mais belos, variados e ao
mesmo tempo verdadeiros (GOETHE, 1993 p. 158).

1 JOHANNES WOLFGANG VON GOETHE E A DOUTRINA DAS CORES.

1.1 Breves apontamentos biográficos.

Segundo Gianotti (1993), Johann Wofgang von Goethe nasceu em 28 de


agosto de 1749 em Frankfurt, na Alemanha e faleceu em março de 1832, aos 82
anos em Weimar. Filho de advogado também cursou direito na Universidade de
Leipzig. Mas durante esse período em que estudava direito também estuda desenho
e se interessa por pintura artística. Teve uma juventude boêmia e tinha recursos
para isso.
Barros (2006), destaca que foi líder de um movimento pré-romântico, se
relacionando com intelectuais em Estrasburgo, e já em 1774 escreve o romance Os
Padecimentos do Jovem Werter. No ano seguinte rascunha sua maior obra literária
Fausto, dividido em duas partes, o Fausto I publicado em 1808 e o Fausto II em
1832, ano de sua morte. Ainda, Goethe assume funções políticas na cidade de
Weimar, como conselheiro do Duque e diretor de finanças do ducado. Entre 1786 e
1790 viaja para a Itália, viagens essa que o levarão a pensar sobre questões
referentes as cores. “Descreve sensações de luminosidade que o impressionam pela
intensidade das cores, como o ‘mais puro e profundo azul’ e ‘o mais intenso
vermelho ao amarelo mais brilhante’” (BARROS, 2006 p. 268).
Em 1790 Goethe com 41 anos inicia estudos que resultam na publicação do
livro Contribuições para a Ótica, “prelúdio de uma série de estudos, que resultariam
na publicação da Teoria das Cores” (PEDROSA, 1989, p. 55), ou também, pode-se
chamar de Doutrina das Cores (Marco Giannotti, tradutor para o português de
“Doutrina das Cores” de Goethe, prefere a palavra Doutrina em vez de Teoria,
ISSN 2237-700X
399

motivo esse que expõe no início da obra traduzida). Pedrosa (1989), ainda lembra
que o próprio Goethe considerava essa obra sobre as cores como uma terceira
tentativa de uma história da cor, a primeira seria a do filósofo grego Teofrasto (374-
287 a.C.) e a segunda seria do físico e químico inglês Roberto Boyle (1626-1691).
Para (BARROS, 2006 p. 269), Goethe

Foi um dos grandes vultos das letras alemãs, se não o maior. Seu espírito
enciclopédico, semelhante ao de Leonardo Da Vinci, abarcou desde a
filosofia e a dramaturgia à investigação científica. Sua enorme influência
universal concentra-se nos campos da literatura, desde a poesia lírica até a
epopeia, do romance ao ensaio.

1.2 Doutrina das Cores.

Para descrever um resumo de sua principal obra, recorremos ao título trazido


para o português: “doutrina”, mesmo porque Goethe coloca no título dessa obra
como um “esboço e não uma teoria acabada” (GIANNOTTI,1993 p.12).
Segundo Barros (2006), Doutrina das Cores abre um leque de possibilidades
para o estudo das cores em diversas frentes e ao mesmo tempo abre uma crítica ao
reducionismo de Newton, do estudo da cor ao aspecto apenas da física. E ao abrir o
estudo da cor para novas abordagens, inclui conhecimentos em áreas que ainda
estariam por surgir, como a “fisiologia (funcionamento das células fotorreceptoras da
visão), a fenomenologia, a psicologia e até mesmo a antroposofia de Rudolf Steiner”
(BARROS, 2006, p. 276).
A estrutura da obra de Goethe Doutrina das Cores, traz o prefácio e uma
introdução, na introdução Goethe apresenta os capítulos e suas seções. Seguido de
várias seções com parágrafos numerados, que vão de 1 a 920 e uma conclusão.
Na primeira seção trata das Cores Fisiológicas e Patológicas. Nos parágrafos
3 e 4 define o que são as cores fisiológicas e patológicas: “Nós chamamos de
fisiológicas, pois pertencem ao olho saudável” (GOETHE 1989 p. 53). Ainda para o
autor, “as cores patológicas vêm a seguir, dado que possibilitam como todo estado
anormal. (GOETHE 1989 p. 53).
Na seção de número II é exposta suas considerações sobre as Cores Físicas.
Assim como Newton, a partir de fenômenos como o arco-íris e o prisma, demonstra
como aparecem na realidade: “Denominamos cores físicas aquelas cuja origem se
devem a certos meios materiais [...] produzidas no olho mediante causas externas
ISSN 2237-700X
400

determinadas [...]” (GOETHE, 1993, p. 87). Já na seção III, as Cores Químicas são
evidenciadas como próprias dos corpos, tanto minerais como biológicos, aderidas a
eles. Nessa seção Goethe explora as cores e suas misturas, algo que interessou e
interessa ainda hoje aos artistas plásticos: “a pintura como tal se apoia na mistura
desses corpos cromáticos específicos” (GOETHE, 1993, p. 106).
Na IV seção, intitulada: Perspectiva Geral das relações Internas, é
demonstrada como as cores surgem e modificam-se, através de diversos modos
objetivos e subjetivos. Para a V seção Goethe mostra como a teoria das cores
podem contribuir para diversas formas do conhecimento como a física ou a biologia
e de atividades profissionais como o tingimento de tecidos. E na última seção, a VI,
as cores são expostas como partes da alma humana: “As pessoas em geral sentem
grande prazer com a cor. O Olho necessita tanto dela quanto da luz” (GOETHE,
1993, p. 39). O autor apresenta várias cores, seus possíveis efeitos para o ser
humano e como pintores fazem uso disso. Também nessa seção, faz-se a
conclusão da obra.
Como se comentou no início deste item, a Doutrina das Cores trouxe muitas
contribuições para o estudo da cor, e mais adiante, apresentar-se-á outras
contribuições que convergem, mas veremos antes algumas divergências a partir da
obra, entre Goethe e Newton.

1.3 Goethe e Newton, algumas divergências.


Quando Goethe nasceu já faziam vinte e dois anos do falecimento de Isaac
Newton. Na universidade, Goethe aprendeu a física newtoniana, especialmente no
que se referia a cor, que até certo momento a aceitava (Pedrosa, 1989). Mas aos
poucos, iniciaram as primeiras divergências com as teorias de Newton, fazendo com
que seus colegas se voltassem contra ele, pois ele não dominava a matemática,
base da física, e se defendeu: “porque pareciam não ter a mais remota ideia de
que pudesse existir uma física absolutamente independente das matemáticas”
(GOETHE apud PEDROSA, 1989, p. 55).
E a principal divergência que Goethe teve já nesse período universitário foi
contra a afirmação de Newton que as cores estavam contidas na luz branca: “Não
admitia Goethe, que a luz branca (tendo a luz solar como típica) fosse formada pelas
diferentes luzes coloridas do espectro” (PEDROSA, 1989 p. 55). De acordo com
ISSN 2237-700X
401

Barros (2006), um dos motivos do questionamento de Goethe sobre a teoria de


Newton foi: “Concluir equivocadamente que as luzes coloridas não se formavam
pela decomposição da luz branca, mas que havia duas luzes primárias (o amarelo e
o azul), que, ao se misturarem, originavam o verde e o magenta.” (BARROS, 2006,
p. 289).
Poder-se-ia ponderar numa quebra de paradigma? Ou numa nova
epistemologia inaugurada em Goethe em relação a cor? De acordo com Barros
Goethe representa a visão dos filósofos da natureza, preocupada com o
significado dos fenômenos dentro de um contexto amplo, universal,
enquanto Newton representa a ciência mecanicista, estruturada nos
conceitos de ação e reação, investigando o comportamento dos fenômenos
isolados (BARROS, 2006 p. 271).
Enquanto o foco newtoniano eram as questões da física da luz, para Goethe o
foco eram as percepções das cores a partir da luz: “a partir da abordagem de
Goethe, a cor passa a ser entendida não apenas como um fenômeno físico, mas
também como um fenômeno fisiológico e psíquico” (BARROS, 1996, p. 271). E
principalmente Goethe, elege a visão como chave para seu entendimento sobre a
cor: “Assim o olho se forma na luz, a fim de que a luz interna venha ao encontro da
luz externa” (GOETHE, 1993 p. 44). Para Giannotti (2021), não foi uma disputa
pessoal entre dois pensadores, mas “dois modos completamente distintos de pensar
a natureza” (GIANNOTTI, 2021, p. 14)

1.4 Descobertas de Goethe corroboradas e ampliadas pela ciência e pela


arte.

Após 150 anos de Goethe e sua mais promissora obra sobre as cores pode-
se verificar o alcance: “todos os teóricos surgidos posteriormente valeram-se de
suas proposições” (PEDROSA, 1989, p. 56), ainda reforça Pedrosa: “Pela vastidão
especulativa de suas proposições, teses e teorias, Goethe aparece na frente aos
estudiosos dos problemas cromáticos como um dos mais fecundos pesquisadores
de todos os tempos” (PEDROSA 1989 p. 64) E a exemplo disso, conforme aponta
Pedrosa (1989), o físico estadunidense Land, que descobriu o processo fotográfico
da polaróide, consagra a Goethe o acerto sobre a polarização da luz-tênebra.
Um dos mistérios entre os artistas desde Leonardo Da Vinci, é a questão da

ISSN 2237-700X
402

sombra colorida, que inclusive inquietou o artista romântico francês Delacroix ao


observar os quadros de Turner e Constable (Pedrosa, 1989, p.60), sobre o modo de
representar a sombra com cores complementares, algo que viria a ser a tônica do
movimento impressionista. Pois em Goethe essa questão da sombra colorida foi
estudada e descrita no seu livro Doutrina das Cores, no capítulo das cores
fisiológicas.
Durante o pôr-do-sol, coloque uma vela fraca acesa sobre um papel branco
e, entre ela e a luz do poente, um lápis em pé, de modo que a sombra que a
vela projeta possa ser clareada, mas não anulada, pela fraca luz do dia, e a
sombra aparecerá com o mais belo azul (GOETHE, 1993 p. 70).

Como afirma Pedrosa (1989), Goethe, assim como pensadores de seu tempo,
desenvolveram pesquisas com o fenômeno das sombras coloridas, pois percebeu
como isso era importante para sua teoria das cores.
O Comitê Internacional de Iluminação – CIE considera a cor de contraste
como uma cor subjetiva e segundo Pedrosa (1989), tem influência de Goethe nas
teorias da cores fisiológicas, das cores que são percebidas pelas cores de contraste,
que não estão fisicamente no local, mas aparecem por contraste visual.
A escola de artes e design alemã Bauhaus, fundada em 1925 e fechada pelo
governo nazista em 1936, tinha em Goethe e na Doutrina das Cores uma das
principais referências que foram usadas na formação de centenas de alunos, como
comenta Barros (2006). Principalmente, artistas e professores da Bauhaus como
Kandinsky, Klee, Itten e Albers, foram fortemente influenciados por Goethe em
relação as cores e influenciaram outras tantas gerações com essa forma de
conceber a cor e o uso na arte, tendo inclusive Albers influenciado a arte brasileira.
Segundo Giannotti “a oba de Albers terá grande influência na arte brasileira a partir
da década de quarenta, em especial o movimento concreto” (GIANNOTTI, 2021 p.
85).
Segundo Barros (2006), um dos conceitos importantes difundidos na escola
da Bauhaus e que é uma expressão de Goethe é a “totalidade cromática”, a partir
da compreensão de Goethe sobre questões fisiológicas, de como o olho participa da
percepção da cor. Antecipando desta forma, conforme Barros (2006) e Pedrosa
(1989), o que seria classificado mais tarde como pós-imagem e contraste
simultâneo, “em que o olho compensa ilusoriamente a falta de uma ou duas das três
cores primárias” (BARROS, 2006, p. 309). Esse mesmo entendimento de Goethe,
ISSN 2237-700X
403

sobre como o olho participa dos fenômenos da cor, Thomas Young (1773-1829)
propõe que na retina do olho deveriam ter três partículas receptoras das cores
primárias, essa teoria foi endossada e enriquecida por outro cientista Hermann
Hemholtz (1821-1894) e que ficou conhecida como a teoria tricromática (Pedrosa,
1989). E segundo Barros (2006), em 1959 David Hubel, pesquisador, cientista e
professor em Harvard “confirmou que um grupo de cientistas encontraram nas
células chamadas de cones, que fica na retina, as habilidades de absorver diferentes
comprimentos de ondas, em especial os que captam as três cores primárias luz”
(BARROS 2006 p. 310).
Outro pesquisador sobre a cor, em especial a cor na arte, título homônimo “A
Cor na Arte” de Johnn Gage (2012), traz em diversos capítulos apontamentos sobre
as cores relacionando-se a Goethe. E Ludwig Wittgenstein, filósofo e linguista, faz
comentários na obra traduzida para o português: Anotações sobre as Cores (2011),
a respeito da obra de Goethe, mostrando acertos e erros que considera a respeito
da Doutrina das Cores.
Teorias, pensadas e desenvolvidas por pensadores e estudiosos, como
Goethe, por exemplo, ajudam no desenvolvimento das aulas de pintura no âmbito do
curso de Licenciatura em Artes Visuais, no IFPR Campus Palmas. É por meio delas
que os acadêmicos aprendem a usar a cor em seus trabalhos, fazer a sombra em
suas pinturas sem necessariamente acrescentar o preto ou branco, resultando desta
forma a sombra colorida.

2 Considerações Finais

Reconstruir uma trajetória de um personagem real, de um artista e cientista,


além de outros atributos que hoje conhecemos não é fácil. E é claro, que um artigo
não é o melhor espaço para isso, no sentido da extensão, pois aqui precisa de foco
num determinado ponto específico. Goethe é estudado em muitas áreas, em
especial na área literária, porém o trouxe para a área da ciência e da arte, mesmo
porque a pesquisa desenvolvida no IFPR sobre a cor é principalmente voltada para
os acadêmicos do Curso de Artes Visuais, já que o interesse das aulas de pintura é
a cor. Muitos artistas pesquisadores, como os professores da escola alemã Bauhaus
ISSN 2237-700X
404

e o brasileiro Israel Pedrosa reconheceram e se utilizaram das teorias de Goethe


para criar outras teorias e pinturas artísticas. O legado de Goethe é imenso e
inesgotável, pois o fenômeno da cor é vivenciado por todos, especialmente
profissionais que usam da cor para lecionar, comunicar ideias, produtos, arte etc.

3 Agradecimentos

Agradeço ao Comitê de Pesquisa e Extensão - COPE e ao IFPR – Campus


Palmas – PR pela possibilidade de estar produzindo essa pesquisa sobre “As teorias
das Cores e o Ensino em Visuais”, uma pesquisa voltada para o ensino, contribuindo
para a docência, além da pesquisa e extensão.

Referências

BARROS, Lilian Ried Miller. A Cor no Processo Criativo – Um Estudo sobre


aBauhaus e a Teoria de Goethe. São Paulo: Senac, 2006.

GAGE, Johnn. A Cor na Arte. Coleção Mundo da Arte. Tradução Jefferson


LuizCamargo. São Paulo: Editora WMF MArtisn Fontes, 2012

GIANNOTTI, Marco (Org.). Reflexões Sobre a Cor. Grupo de


PesquisasCromáticas Eca/Usp. 1. Ed. São Paulo: Editora WMF
Martins Fontes, 2021.

GOETHE. Johan Wolfgang. Doutrinas das Cores. Apresentação, tradução e


notasMarco Gianotti. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

PEDROSA, Israel. Da Cor à Cor Inexistente. 5ª Ed. Léo Cristiano. Rio de


Janeiro:Editorial Ltda, 1989.

WITTGEINSTEIN, Ludwig. Anotações sobre as Cores. Apresentação,


estabelecimento do texto, tradução e notas: João Carlos Sales Pires da Silva.
Campinas: Editora da Unicamp, 2009.

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405

IMPACTOS DAS ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DE CUSTOS DA MANUTENÇÃO


EM UMA EMPRESA METALOMECÂNICA DE MÉDIO PORTE

Siliana Lemes da Silva (silianalemes@gmail.com)1


Alexandre Milkiewicz Sanches (alexandre.sanches@ifpr.edu.br)1,2
Lourival José de Souza2
Sergio Eduardo Gouvea da Costa3
Edson Pinheiro de Lima3
1Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas
2PUCPR – PPGEPS
3UTFPR-PB

Resumo: A necessidade da criação de estratégias para a gestão de custos nas


operações de produção e manutenção têm se evidenciado como o caminho
seguido pelas organizações que buscam melhores resultados e desempenho em
sua rotina de trabalho. Este artigo tem como objetivo contextualizar a importância
das estratégias para a gestão de custos da manutenção para evitar ou reduzir as
multas contratuais advindas da indisponibilidade de máquinas e equipamentos.
Três hipóteses foram levantadas para a realização do estudo, voltadas à gestão da
manutenção. A pesquisa foi realizada sob a perspectiva de uma empresa de médio
porte por meio de um estudo de caso com gestores do ramo metalomecânico.
Foram realizadas entrevistas com os gestores de manutenção e da produção
abordando os pilares que formam as estratégias de gestão de custos para a
manutenção e a forma como estão fundamentados esses pilares. Dados históricos
da produção e manutenção foram utilizados para a confecção e análise dos
resultados quantitativos. Os resultados indicam que a integração dos fatores
estratégicos de custos tende a otimizar as operações e, consequentemente,
contribuir para o aumento da lucratividade e propicia a sustentabilidade das
empresas. Os elementos estratégicos de custos de manutenção apontam a
importância da mão de obra especializada como elemento- chave para a
manutenção.

Palavras-chave: Terceirização, gestão de custos, controle de estoques,


planejamento e controle da produção (PCP), planejamento e controle da
manutenção(PCM).

Abstract: The need to create strategies for cost management in production and
maintenance operations has emerged as the path followed by organizations that
seek better results and performance in their work routine. This article aims to
contextualize the importance of cost management strategies and maintenance to
avoid or reduce contractual fines arising from the unavailability of machinery and
equipment. Three hypotheses were raised for the study, focused on maintenance
management. The research was carried out from the perspective of a medium-
sized company through a case study with managers in the metalworking industry.
Interviews were conducted with maintenance and production managers,
addressing the pillars that form the cost management strategies for maintenance
and how these pillars are based. Historical data from production and maintenance
were used to prepare and analyze the quantitative results. The results indicate that
integrating strategic cost factors tends to optimize operations and, consequently,
ISSN 2237-700X
406

contribute to increased profitability and sustainability for companies. The


strategic elements of maintenance costs point to skilled labor as a critical element
for maintenance.

Keywords: Outsourcing, cost management, inventory control, production


planningand control (PPC), maintenance planning and control (MPC).

1 Introdução

As organizações encontram-se cada vez mais em um ambiente de negócios


competitivo. Nesse ambiente, além de elas buscarem estratégias para melhorar a
qualidade de seus sistemas produtivos e a confiabilidade ao mesmo tempo, buscam
também a redução de seus custos de manutenção (HUI et al., 2001).
Lai et al. (2008) destacam a vinculação das decisões de planejamento de
manutenção a planos de produção e qualidade. O planejamento de manutenção
melhora a disponibilidade da máquina e a sua confiabilidade, reduzindo a taxa de
falhas. Além disso, promove o aumento da qualidade, reforçando a sua função.
Uma tendência crecente na indústria é a terceirização das atividades de
manutenção, podendo proporcionar a ela vantagens competitivas (HAOUES et al.,
2019; VAXEVANIS E KONSTANTOPOULOS, 2015; BAZARGAN, 2016).
O presente estudo tem como problema de pesquisa: Como reduzir os custos
de manutenção e reduzir possíveis multas contratuais provenientes da
indisponibilidade de máquinas e equipamentos?
Portanto, este artigo tem como objetivo geral contextualizar a importância das
estratégias para a gestão de custos da manutenção para evitar ou reduzir as multas
contratuais advindas da indisponibilidade de máquinas e equipamentos.
Os objetivos específicos deste trabalho consistem em enumerar os elementos
estratégicos de custos de manutenção, apontando a importância da mão de obra
como fator para a manutenção, verificar através de um estudo de caso, a viabilidade
dessas estratégias em uma indústria, como forma de redução de riscos de multas
contratuais por falta de manutenção em máquinas e equipamentos.

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407

2 Metodologia de pesquisa

A presente pesquisa baseou-se no modelo apresentado por Platts et al. (1996)


e Deschamps (2013) para coleta e análise de dados tanto qualitativos como
quantitativos. Com base na proposta idealizada para este artigo, algumas hipóteses
são lançadas:
H1. A política de manutenção é pouco robusta, encarecendo seus custos.
H2. Os riscos de falta de confiabilidade de máquinas e equipamentos
comprometem o atendimento da demanda, gerando multas contratuais por atraso nas
entregas.
H3. A necessidade de um estoque de segurança é grande porque minimiza o
impacto da indisponibilidade de máquinas na linha de produção.
Um estudo de caso foi realizado com gestores de uma empresa do ramo
metalomecânico. Ele baseou-se no conceito que descreve o estudo de caso como a
estratégia utilizada pelos pesquisadores que procuram responder a questões do tipo
“como” e “por quê”. Essa escolha é justificada pelo fato de que nesses casos, o
pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco da
pesquisa está inserido em fenômenos contemporâneos no contexto da vida real (YIN,
2015).
Para a realização do estudo de caso, foram entrevistadas as pessoas que
tivessem envolvimento direto com a área que afeta a formação dos custos de
manutenção, sendo elas o diretor industrial, o gerente industrial, o supervisor de
produção, o supervisor de logística e dois supervisores de qualidade.
As questões norteadoras feitas aos entrevistados foram: A empresa sofre
multas contratuais por atraso, devido a problemas de manutenção? E qual a causa
raiz do problema?
Portanto, o presente estudo de caso, descrito na seção 3, abordou os aspectos
que formam as estratégias de gestão de custos para a manutenção, assim como
compreender quão fundamentado encontra-se cada um desses aspectos na empresa
estudada. O uso de dados qualitativos, baseados nas entrevistas e os dados
quantitativos obtidos pelos resultados na produção consolidaram a base para uma
análise deste estudo.
ISSN 2237-700X
408

5 Resultados e discussões

3.1 Planejamento e Controle da Manutenção

A empresa estudada possui 30 anos de atuação no setor metalomecânico,


fabricando kits e peças montadoras de máquinas de construção e máquinas agrícolas.
Também fabrica kits para os setores de transporte ferroviário, peças para
equipamentos hospitalares, equipamentos do setor petrolífero e peças de protótipo
para a indústria automobilística. O fornecimento dos produtos é feito de duas formas:
pedido por encomenda e por produção para estoque. O atendimento desses pedidos
é feito para atender ao mercado nacional.
Os dados analisados para esta pesquisa abrangeram o período de 26 meses.
Considera-se, para efeito de dados comparativos, que a implantação da gestão
estratégica de custos da manutenção ocorreu a partir do sétimo mês de análise que
despertaram o interesse científico temática do presente artigo.
Uma vez por ano é feito um planejamento e um estudo de planejamento de
produção mensal, dentro da disponibilidade e necessidade de produção, sendo
destinado 6% do tempo disponível por mês dedicado à manutenção e o PCM alinhao
momento das manutenções com o PCP e fazendo a gestão da execução, firmando e
acompanhando desde a hora prevista para parada para manutenção até a
disponibilização deste para a produção.
A MPT (Manutenção Produtiva Total), que é um sistema japonês de gestão da
fábrica, tem como objetivo reduzir as grandes paradas de equipamento não
planejadas e reduzir a zero perdas de produtividade provocadas por indisponibilidade
de máquinas. Já a Manutenção Preventiva (MP) tem como objetivo detectar o defeito
e corrigi-lo antes que a falha ocorra. Nesse caso, o próprio operador é responsável
pela manutenção diária do equipamento (NALLUSAMY E SARAVANAN, 2016;
NOURELFATH et al., 2016; FAKHER et al., 2016). A principal contribuição para a
implementação da MPT é o envolvimento das equipes de manutenção e produção
(ROLFSEN E LANGELAND, 2012). Para os equipamentos gargalo, a manutenção é
planejada através da avaliação da necessidade de máquina pela previsão da
demanda e pela carteira de pedidos.
Nos momentos em que há uma menor demanda pelo equipamento, ele é
ISSN 2237-700X
409

parado para a manutenção. Se, por algum motivo devido a um aumento de demanda
seja necessário utilizar as horas planejadas para manutenção para atender a
demanda, é planejado para o final de semana a execução da manutenção. Mas, a
manutenção planejada sempre deverá ser cumprida.
Quanto à MPT, todos os operadores são treinados pela equipe de manutenção
para realizá-la, bem como todas as manutenções corriqueiras de prevenção,
incluindo: lubrificação, checagem de ruído, limpeza, lista de verificação de pontos
críticos que necessitem de acompanhamento são checados e controlados através de
formulários de controle pelos próprios operadores. A MPT fornece melhora
significativa na disponibilidade dos equipamentos. Consequentemente, a produção é
realizada com qualidade, trazendo melhoria sensível em outras funções de fabricação
nas organizações (KUMAR et al., 2014; CHOLASUKE et al., 2004; COOKE, 2000).
No Plano Anual de Manutenção Preventiva adotado pela empresa Alpha,
quando ocorre a manutenção preventiva, a máquina fica indisponível para os
operadores. Nesse período, a manutenção é executada pelos técnicos de
manutenção. As equipes de manutenção da empresa são divididas entre equipes
próprias, como as da manutenção elétrica e mecânica.
Porém, com estudos promovidos pela equipe de pesquisadores e apresentado
a gerência da empresa, chegou-se à conclusão de que a equipe de manutenção
eletrônica deveria ser terceirizada. Isso por conta de dois motivos: o primeiro, de quea
mão de obra necessária é altamente especializada para lidar com equipamentos
modernos e que frequentemente sofre atualizações; em segundo, porque a
manutenção de equipamentos eletrônicos ocorre somente em situações de
manutenção corretiva, foi proposto também um plano de manutenção preditiva, isso
com base no histórico de intervenção em determinados componentes da máquina.
O objetivo dos contratos de manutenção é reduzir custos e tempos ociosos de
instalações por estratégias de manutenção eficazes. Uma gestão eficaz de
manutenção melhora o tempo e a vida útil da máquina (BAZARGAN, 2016; BAĞAN
E GEREDE, 2019).
A Figura 1 apresenta destacados os planos de manutenção para o ano de
2021 das quatro máquinas-gargalo do processo produtivo. É possível observar que
as máquinas nunca são disponibilizadas para as manutenções simultaneamente,
evitando impacto na produção diária para atendimento da demanda.

ISSN 2237-700X
410

Plano Anual de Manutenção Preventiva


Empresa Alpha
Responsável pela Manutenção: Nome Ano : 2021
Mês Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Setor: Corte Laser /Estamparia Semana 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52
Máquina Data da manutenção Visto/Gerência
Equipamento A 02 jun.
Equipamento B 15 jan. e 06 ago.
Equipamento C 05 fev. e 03 set.
Equipamento D 12 mar. e 01 out.
Resp. Manutenção / Visto:

Observações Gerais:
1 - A gerência e supervisor da produção deverão disponibilizar o operador da máquina para auxiliar o técnico de manutenção na execução da preventiva. Ações:
2 - O técnico de manutenção deverá solicitar o material necessário para a manutenção preventiva do equipamento duas semanas antes da execução. Não executado
3 - Este plano de manutenção deverá ser realizado conforme data de programação e vistado mensalmente após execução pela gerência. Executado
4 - Após o preenchimento deste formulário (período de um ano ), o técnico de manutenção deverá vistá-lo e arquivá-lo. Planejado

Figura 1 Lista de verificação da Manutenção Produtiva Total (MPT) da empresa


Fonte: Dados da pesquisa (2021)

3.2 Gerenciamento de estoques

Diante dos elementos analisados na empresa estudada, o gerenciamento do


estoque de peças sobressalentes era definido e mantido sem dados estatísticos
consistentes que informassem a necessidade e giro de estoque das peças. Assim,
uma das deficiências encontradas por essa falta de estudo era a constatação de uma
demanda de componentes que não havia em estoque, ou seja, a máquina em
manutenção corretiva aguardava a chegada do item comprado em caráter de
emergência e com frete especial, urgente, encarecendo o custo de aquisição desse
item.
Com base nessa constatação, fez-se um estudo estatístico com as
informações do ERP (Planejamento de Recursos Empresariais) no módulo de
compras com os itens que eram comprados com maior frequência para atender a
demanda da manutenção. Em seguida, considerou-se o valor do item e, então, foram
definidos estoques mínimos e máximos dos componentes mais utilizados. O estoque
de peças sobressalentes era de cerca de R$ 2 milhões, e esse valor foi reavaliado,
considerando itens com baixo giro, ou seja, sem utilização há mais de seis meses.
Esses itens foram vendidos, e os itens que tinham giro de estoque maior foram
reavaliados com a necessidade de aumento do estoque mínimo para evitar possível
falta de peças, e os itens com baixo giro, isto é, com giro inferior a três meses, os
valores máximos foram baixados para evitar estoque em excesso, onerando assim o
valor do estoque desnecessariamente. Posteriormente à reavaliação do estoque foi
possível baixar o estoque de peças sobressalentes em 40%.

ISSN 2237-700X
411

As peças de reposição têm grande influência sobre todos os tipos de atividades


de manutenção e disponibilidade de processo. Para o caso de equipamentos críticos
isso poderia levar a graves consequências, como os custos de parada excessivos,
custo de mão de obra ociosa e assim por diante. Unidades de processos modernas
são obrigadas a estarem disponíveis para a operação a maior parte do tempo. A
indisponibilidade devido a peças de reposição não é tolerável. A manutenção, muitas
vezes, depende da disponibilidade de peças de reposição e, por isso, a adequação
de peças de reposição em estoque tem um impacto direto sobre o funcionamento do
sistema (HASSAN et al., 2012).
Após o estoque de peças sobressalentes ter sido redefinido, o atendimento
das necessidades da manutenção foi reduzido em até 50% do tempo de máquina
indisponível, isso porque as peças de reposição estavam disponíveis no estoque,
não havendo a obrigação de esperar a chegada do item para substituição, antes do
planejamento das manutenções preventiva e preditiva. O PCM realiza um estudo da
necessidade de material e o providencia caso não seja um item de estoque e o
disponibiliza com três dias de antecedência da data planejada para a manutenção.

3.3 Terceirização da mão de obra e gestão de custos

Com a demanda de manutenção analisada, identificou-se que não havia


motivos para manter dois técnicos de manutenção eletrônica como funcionários
efetivos, visto que foi buscado no mercado local uma empresa especializada nesse
assunto. Foram selecionadas entre três opções uma empresa que possuísse
conhecimento no segmento de máquinas do portfólio da empresa e foi acordado um
contrato de manutenção que contemplasse as manutenções preditiva, preventiva e
corretiva.
A partir da alteração efetiva, ficou acordado que o PCM passaria a planejar as
manutenções e enviar as datas por meio de um sistema integrado com o prestador
de serviço. Isso para as manutenções preditiva e preventiva. Já para a manutenção
corretiva, a empresa deixaria disponível, quando necessário, um técnico para atendera
demanda específica para esse serviço. Tal mão de obra é específica e qualificada no
atendimento dos equipamentos do portfólio da empresa, sendo exigido que os
técnicos eletrônicos que atendam a essa demanda sejam qualificados pelo
ISSN 2237-700X
412

fornecedor das máquinas em questão. A cada oito meses a empresa contratada


apresenta uma documentação fornecida pela fabricante das máquinas um certificado
de reciclagem.
As manutenções mecânicas e prediais não foram terceirizadas, pois verificou-
se que não se justificava essa terceirização, observando que a mão de obra existente
na empresa é experiente e seu custo tem uma representatividade menor do que a
manutenção da área eletrônica. A Figura 2 apresenta a nova dinâmica em que as
áreas de produção e manutenção passaram a alinhar-se, de modo que a manutenção
terceirizada fosse feita somente em casos necessários.

Figura 2 Novo fluxo para a programação da manutenção.


Fonte: Os autores (2021)

Como consequência dessas medidas, antes, a mão de obra de dois técnicos


eletrônicos como funcionários efetivos tinha um custo de aproximadamente R$ 433
mil ao ano e, com a terceirização, o valor contratado passou para R$ 86 mil ao ano.
Todo o histórico de manutenção dos equipamentos é registrado e armazenado

ISSN 2237-700X
413

no software a cada requisição de manutenção aberta e atendida. Dessa forma, o


PCM consegue identificar e tratar cada equipamento ou componente com a
criticidade necessária. O histórico e gerenciamento do valor de estoque de peças
sobressalentes é monitorado diariamente, evitando assim, possível falta de estoque
ou estoque em excesso.
Como mencionado anteriormente, a empresa estudada não possuía uma
gestão estratégica de custos da manutenção. Com a implantação da MPT, os
resultados alcançados foram expressivos. Das 21 máquinas e equipamentos
existentes na linha de corte e estampagem, foram selecionados os quatro
considerados gargalo no processo produtivo.
As empresas que utilizam um sistema de informação na gestão da manutenção
tendem a ser mais competitivas perante seus concorrentes, pois o sistema de
informação oferece maior velocidade nos processos decisórios, quando as
informações são acessadas rapidamente, reduzindo o tempo necessário para
administração das áreas da manutenção (KARDEK, 2015).
A partir da mudança das estratégias da empresa Alpha para a redução dos
custos de manutenção, os resultados começaram a apresentar melhorias,
principalmente quando se terceirizou a manutenção eletrônica da empresa. Os
custos da Figura 3 representam os custos de indisponibilidade do equipamento e a
perda de produção em função da manutenção corretiva eletrônica mensal.

Figura 3 Custos de manutenção eletrônica da empresa


AlphaFonte: Dados da pesquisa (2021).

ISSN 2237-700X
414

Na Figura 3 é possível observar que, após as mudanças de estratégias da


empresa Alpha, os custos com mão de obra eletrônica mensal, com sua terceirização,
tiveram redução de mais de 60% ao mês. Esses resultados podem ser
correlacionados à Figura 4 porque a redução por horas paradas na produção por
manutenção corretiva foi menor em função do uso de mão de obra terceirizada, mais
especializada, tecnicamente e, acionada somente nos momentos necessários.

Figura 4 Custos da mão de obra de manutenção eletrônica da empresa Alpha


Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Os custos na manutenção são formados pelos elementos custos de tempo e a


falta de confiabilidade. As estratégias de manutenção precisam estar alinhadas com
as estratégias da operação, pois, assim, as organizações conseguem obter vantagem
competitiva perante seus concorrentes e, consequentemente, oferecer maior foco nos
clientes (BAZARGAN, 2016). Em média, os orçamentos de manutenção
correspondem a 20,8% do custo total de uma fábrica (WAKIRU et al., 2019).

4 Conclusões

Este artigo buscou discutir as relações que impactam na elaboração das


estratégias de custos da manutenção e como esses custos podem ser minimizados,
evitando, inclusive, multas contratuais por atraso na entrega de produtos, decorrente
da falta de manutenção de máquinas e equipamentos.
ISSN 2237-700X
415

Quanto à primeira hipótese (H1), de fato ela foi confirmada. A política de


manutenção era pouco robusta, corroborando para o aumento dos custos ligados a
essa área. A segunda hipótese (H2) também foi confirmada, pois os riscos de falta de
confiabilidade de máquinas e equipamentos estavam comprometendo o atendimento
da demanda, gerando multas contratuais por atrasos nas entregas. Isso era impactado
pela qualificação da mão de obra. A terceira hipótese (H3) estava relacionada à
necessidade de um estoque de segurança grande, que minimizava o impacto da
indisponibilidade de máquinas na linha de produção. Essa hipótese foi parcialmente
refutada. Isso decorre de uma decisão tomada a partir do uso da TPM. Com a TPM,
houve redução dos estoques de peças sobressalentes. pode ser demorada caso elas
não estejam estocadas.
Uma das principais limitações deste trabalho foi o fato de ter sido feito apenas
o estudo de caso único em uma organização. Esse fator dificulta a generalização de
resultados ou premissas para outras empresas. Além disso, nem todas as empresas
estão dispostas a terceirizar processos de manutenção ou produção, o que também
limita a aplicação desse estudo nelas.

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ISSN 2237-700X
418

O JOGO DO TAE: RELATO DE CONFECÇÃO, ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO

Guilherme Basso dos Reis (taemovimentoifpr@gmail.com) ¹


Márcia Valéria Paixão (valeria.paixao@ifpr.edu.br) ²
Bruno Bello 3
1
Mestre em Ensino PROFEPT-IFPR, técnico-administrativo em educação no IFPR
2
Pós doutora em Antropologia Cultural pela Univ. de Salamanca, docente no IFPR
3
Historiador pela UFPR, técnico administrativo em educação no IFPR

Resumo: Os técnico-administrativos em educação (TAEs) representam uma das


três categorias que compõe a comunidade acadêmica das Instituições Federais de
Ensino Superior (IFES), junto aos docentes e discentes. Este trabalho, realizado
no âmbito do programa de mestrado profissional do PROFEPT, relata a
elaboração doe aplicação do produto educacional Jogo do TAE, material interativo
(jogo de tabuleiro) que apresenta-se como proposta de educação não-formal para
os TAEs e todos aqueles interessados em assuntos relativos ao serviço público, a
educação pública, as IFES, aos Institutos Federais (IFs) e a própria carreira e vida
laboral e institucional destes trabalhadores. Este jogo foi construído com o objetivo
de apresentar e discutir a legislação e carreira e de construir espaços coletivos de
participação dos TAEs com vistas a superação de sua subalternidade, baseando-
se em uma práxis focada na construção de sua identidade enquanto categoria e
enquanto trabalhadores, engajados nos objetivos institucionais, e sociais de
edificação de uma educação pública de qualidade, comprometida com os grupos
subalternos. Após a finalização do jogo e do envio de convites para participação
em rodas de aplicação, foram realizadas dez partidas de aplicação do produto. A
realização destas, contando com TAEs, docentes, pessoas sem conhecimento
prévio do assunto e mesmo o próprio pesquisador, permitiu realizar correções e
ajustes no produto e, posteriormente, constatar que este cumpre os seus objetivos
educacionais. Desta maneira, o Jogo do TAE demonstra relevância para ser
utilizado pelos servidores TAE, comissões da carreira, setores de gestão de
pessoasdas instituições, sindicatos e associações.

Palavras-chave: Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em


Educação, Instituições Federais de Ensino Superior, Institutos Federais,
Servidores Federais.

Abstract: The administrative technicians in education (TAEs) represent one of the


three categories that make up the academic community of Federal Institutions of
Higher Education (IFES), together with teachers and students. This work, carried
out within the scope of PROFEPT's professional master's program, reports the
development and application of the educational product Jogo do TAE (TAE’s
Game), an interactive material (board game) that presents itself as a proposal for
non-formal education for TAEs and all those interested in matters relating to the
public service, public education, the IFES, the Federal Institutes (IFs) and the
career and working and institutional life of these workers. This game was built with
the objective of presenting and discussing the legislation and career and building
collective spaces for the participation of TAEs with a view to overcoming their
subordination, based on a praxis focused on the construction of their identity as a
category and as workers, engaged in the institutional and social objectives of
ISSN 2237-700X
419

building quality public education, committed to subaltern groups. After finishing the
game and sending invitations to participate in application rounds, ten games were
held to apply the product. The realization of these, with TAEs, teachers, people
without prior knowledge of the subject and even the researcher himself, allowed for
corrections and adjustments to the product and, later, to verify that it meets its
educational objectives. In this way, the TAE Game demonstrates relevance to be
used by TAE servers, career committees, people management sectors of
institutions, unions and associations.

Keywords: Career Plan of Technical-Administrative Positions in Education,


Federal Institutions of Higher Education, Federal Institutes, Federal Servants.

1 Introdução

A categoria dos técnico-administrativos em educação é uma das três


categorias que constituem a comunidade acadêmica das Instituições Federais de
Ensino Superior. Pertencentes a uma carreira com 367 cargos divididos em cinco
níveis de classificação organizados e hierarquizados a partir do nível de grau de
complexidade das atribuições, requisito de escolaridade, conhecimentos, habilidades
específicas, formação especializada, experiência, risco e esfera de desempenho das
atribuições próprias de cada um deles. Mesmo que muitos destes 367 cargos
estejam em extinção ou não haja mais realização (ou esta seja rara) de concursos
para eles, tal número demonstra a complexidade e abrangência do trabalho dos
TAEs nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Dos 367 cargos
originalmente existentes, hoje restam 196. O trabalho dos TAEs engloba diversas
áreas de atuação, de conhecimento e setores. Desde um médico em um hospital
universitário, até um técnico de laboratório (de diversas áreas científicas, industriais
e agrícolas), um técnico agrícola/pecuário, passando por bibliotecários, assistentes
de aluno, assistentes sociais, entre outros, até os cargos dos níveis A e B, sua
maioria em extinção e/ou terceirizados nas IFES. Cargos esses que compreendiam
funções como a de copeiro, motorista, cozinheira, na área de limpeza, e vários tipos
de auxiliares e trabalhadores braçais, como Auxiliar de Serralheria (A), Carvoejador
(A) e Açougueiro (B). Os cargos variam seu nível de classificação conforme a
formação básica necessária para ingresso em cada um. Nos níveis de classificação
A e B há cargos de nível fundamental incompleto e fundamental completo. O nível C
corresponde a formação em Ensino Fundamental completa. Os cargos de nível D
são de Ensino Médio completo. É necessária formação em Ensino Superior
ISSN 2237-700X
420

completa para ingresso nos cargos no nível E. Em todos os níveis, vários dos cargos
exigem formação específica ou algum tipo de habilitação e/ou registro profissional
(BRASIL, 2005; REIS, 2020, p. 16).
Quando falamos da identidade destes trabalhadores há sempre certas
dificuldades, limitações e contradições que se apresentam, ao menos em um
primeiro momento. Estes servidores aparecem quase sempre como executores de
atividades-meio para que a relação educacional referente ao polo docente-discente
e o processo educacional possam se realizar. O fato de estarem, muitas vezes, em
outro espaço daquele que é o centro do processo educacional perpassa tanto o
trabalho, as atividades, a vida laboral e as representações que os TAEs têm de si,
quanto – em uma reação dialética - as representações que outros sujeitos têm dos
TAEs. As limitações em construir uma identidade própria reforçam esteriótipos,
lugares comuns e delimitações dos TAEs dentro das Instituições em que trabalham
(VALLE, 2014).
O Jogo do TAE apresenta-se como um material interativo (jogo) com proposta
político-dialógica de formação não-formal para técnico-administrativos, dirigentes
sindicais, gestores e todas pessoas envolvidas ou interessadas nos assuntos da
categoria. É composto de um jogo de tabuleiro com 153 casas acompanhado de
uma cartilha que serve como guia de estudo para o jogo. Recomenda-se jogá-lo com
dois a cinco participantes – cada um com uma peça identificadora de participante de
cor diferente - e uma roleta ou dado de dez números. Acompanham o tabuleiro: 1)
correspondendo as casas de mesma cor, dez cartas verdes (cartas positivas), onze
cartas vermelhas (negativas), e 24 cartas azuis (perguntas); 2) uma folha de
perguntas e respostas (azul); 3) um manual do jogo (cinza). Os materiais de estudo
preparatório para o jogo são uma cartilha base (guia de estudos) e textos
complementares no blog TAEMOVIMENTO IFPR. A Cartilha do TAE apresenta-se
como material textual, guia de estudo, no qual são abordados os diversos temas
referentes ao jogo. Sua leitura não é obrigatória, mas coloca o leitor com melhores
condições de participação e vitória no jogo. Ela foi construída tendo em vista garantir
ao leitor o acesso aos elementos fundamentais das discussões e análises presentes
na dissertação que embasou o produto educacional.
O objetivo deste produto educacional é de levar aos TAEs uma proposta que
ao mesmo tempo possua riqueza informativa e educativa, e seja um meio divertido

ISSN 2237-700X
421

de aprender sobre sua própria carreira e identidade. O jogo pode também ser usado
por instituições, sindicatos, e por gestores e qualquer pessoa interessada nestes
temas. Sua escolha deveu-se a necessidade de construir espaços coletivos de
participação dos TAEs com vistas a superação de sua subalternidade, baseando-se
em uma práxis focada na construção de sua identidade enquanto categoria e
enquanto trabalhadores, engajados nos objetivos institucionais, e sociais de
edificação de uma educação pública de qualidade, comprometida com os grupos
sociais subalternos (VALLE, 2014). Este jogo e seus materiais complementares
podem servir como elementos de contribuição nesta práxis transformadora.
O conteúdo trabalhado no jogo envolve questões relacionadas e comuns ao
serviço público, aos servidores públicos, aos Institutos Federais, aos Técnico-
administrativos e sua carreira. Desta maneira o jogo pode ser aplicado para TAEs,
docentes e comunidade acadêmica dos IFs sem necessitar de alterações no
tabuleiro e na cartilha. No caso dos documentos institucionais Regimento, Estatuto e
Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) não precisam ser necessariamente
lidos. O essencial é entender o que são e para que servem. A transposição para
aplicação em outros contextos e situações é mais complexa. Caso alguém deseje
transpor seu conteúdo, seja para as IFES em geral, seja para as UFs em particular,
algumas alterações seriam necessárias, estabelecendo as diferenças entre uma
forma de instituição e outra.

2 Material e Métodos

Para a produção do Jogo do TAE foi necessário elaborar e construir em forma


de tabuleiro, cartas, manual e materiais de apoio os conhecimentos, conceitos e
categorias trabalhadas durante a elaboração da dissertação. Nesse processo contei
com a parceria de um “designer” (amador) que é também membro da categoria e
dirigente sindical. Com certeza o fato de a pessoa que estava construindo a parte
gráfica do produto educacional ser membro da categoria TAE, tal qual o
pesquisador, favoreceu muito o diálogo e a confluência de visões, objetivos e
propostas. Partimos de uma ideia inicial de um Jogo da Vida ou The Game of Life

ISSN 2237-700X
422

simplificado, aplicado e adaptado a categoria TAE, buscando ao máximo englobar


os diversos aspectos que perpassam a totalidade do ser TAE, sua vida institucional
e laboral.
Nosso produto conta com várias partes: 1) tabuleiro; 2) cartas (verdes,
vermelhas e azuis); 3) uma folha de perguntas e respostas (azul); 4) um manual do
jogo (cinza); 5) uma cartilha base; 6) textos complementares no blog ou pasta do
GOOGLE-Drive. Além destes ao menos dois objetos são necessários para a prática
do jogo: 7) roleta ou dado com 10 números; 8) peças de identificação pessoal dos
jogadores no número de jogadores. Para confeccionar ou obter cada uma destas
partes foi necessário:
1. Tabuleiro: feito no programa Adobe Ilustrator. Impresso em papel sulfite
180g no tamanho 66 cm X 50 cm. Posteriormente ele foi laminado para garantir
maior durabilidade;
2. Cartas: feitas no programa Adobe Ilustrator. Impressas em papel
couché 250gno tamanho 57mmX89mm;
3. Folha perguntas e respostas: feita no programa Adobe Ilustrator.
Impressa empapel couché 250g no tamanho A4;
4. Manual do jogo: feito no programa Adobe Ilustrator. Impresso em papel
couché 250g no tamanho A4;
5. Cartilha base: feito na no programa Adobe Ilustrator. Apenas em
formato digital PDF.
6. Textos complementares no blog ou na pasta do
Google Drive: o blog já existia, apenas foi criada uma página interna que direciona
para os materiais complementares
(https://taemovimentoifpr.blogspot.com/p/jogo-do-tae-complementos.html).
7. Roleta ou dado com 10 números: alguns jogos, como os já citados
Jogo da Vida e The Game of Life, possuem a roleta de dez números. Dados de dez
lados podem ser comprados em lojas de jogos (especialmente de RPG) físicas ou
on-line. No caso de aplicações virtuais, se houver a necessidade deum dado virtual é
possível encontrá-los em busca simples no Google;
8. Peças de identificação dos jogadores: podem ser encontradas em
diversos jogos de tabuleiro. Em nosso caso, nas aplicações presenciais, utilizamos
as peças (carros) do Jogo da Vida. No caso de aplicações virtuais por

ISSN 2237-700X
423

videoconferência é necessário uma ferramenta que tenha apresentação. Através


dela é possível fazer a apresentação do tabuleiro em PDF, desenhar uma forma
(círculo, quadrado, triângulo, etc) com cor para cada participante e ir movendo estas
peças dentro do tabuleiro conforme os resultados do dadovirtual.

Figura 1 Jogo do TAE.


Fonte: acervo do autor.

Importante ressaltar que utilizamos estes tipos de papéis – sulfite 180 g com
contact para o tabuleiro e couché 250g para as cartas, folha perguntas e respostas e
manual – por questões de economicidade e de praticidade. Outros papéis e técnicas
podem ser utilizadas com igual ou maior qualidade e durabilidade. Impresso desta
maneira e com este material, o tabuleiro precisa de pesos em cada uma de suas
pontas para ficar fixo e permitir a realização da partida.
Cumpre ressaltar já que, após as aplicações, foram realizadas duas
alterações no jogo da primeira versão para a final. O tabuleiro foi adequado com
base nas limitações que o jogo apresentou durante as aplicações e conforme
sugestões dos colegas. A diferença é que foram introduzidas três casas pretas, as
quais envolvem acontecimentos críticos com possibilidades de escolhas e de
distintas probabilidades para os jogadores. A outra mudança foi no manual, tanto
para se adequar a introdução das casas críticas (pretas), quanto para tornar as

ISSN 2237-700X
424

casas especiais (“Nascimento do/a filho/a” e “Eleições para Reitor e Diretor”)


obrigatórias.

Figura 2 Cartilha do TAE.


Fonte: acervo do autor

3 Resultados e Discussão

Houve um teste com o piloto do produto, logo após sua elaboração.


Participaram apenas o pesquisador e o TAE “designer” que confeccionou toda a
parte gráfica deste. Os dois realizaram duas partidas presenciais do Jogo do TAE
para testar sua funcionalidade, se as regras funcionavam e se sua configuração
estava correta e não geraria problemas no transcorrer do jogo.
Após a finalização do jogo foram realizadas dez partidas de aplicação do
produto. A realização destas, contando com TAEs, docentes, pessoas sem
conhecimento prévio do assunto e mesmo o próprio pesquisador, buscaram
estabelecer em bases mais objetivas o quanto o jogo cumpria seus objetivos
educativos e qual seria a importância do conhecimento do assunto ou da sorte nas

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425

partidas. Importante ressaltar que a cartilha e o jogo foram compartilhados com


servidores de alguns campus do IFPR e com ex-discentes do PROFEPT no IFPR.
Aos menos 100 servidores receberam o material com o pedido de participarem da
aplicação. Não houve um critério definido para este envio. Foram usadas listas de e-
mails e grupos do whatsapp de servidores do IFPR aos quais o autor tem acesso:
lista dos servidores das bibliotecas, lista dos servidores de Campo Largo, grupo de
whatsapp dos auxiliares de biblioteca e os dois grupos de whatsapp da turma de
2017 do PROFEPT. O envio deu-se nos dias sete e oito de outubro e as pessoas
ficaram livres para manifestar seu interesse. Apesar de vários servidores, em
especial TAEs, terem parabenizado pelo material, apenas quatro - os quais são,
inclusive, amigos do pesquisador - se dispuseram a participar e, por questões de
horário e organização, apenas três puderam efetivamente participar, sendo que dois
participaram só de uma partida virtual e o outro participou de três partidas
presenciais.
Seguem os relatos das aplicações.
1) Aplicação presencial com um TAE e uma pessoa que não é servidora,
mas que informou já ter estudado para concursos, motivo pelo qual, inclusive,
acertou a pergunta inicial, enquanto o membro da categoria a errou. O jogo foi
entregue aos participantes e eles tiveram que realizar a partida sem qualquer
orientação por parte do pesquisador e observador. A aplicação durou 50 minutos,
houve muita conversa e discussão sobre algumas regras e o conteúdo do jogo, mas
a aplicação correu bem. O competidor TAE venceu com o outro competidor tendo
que rodar a roleta três vezes mais para chegar. Esta aplicação, diferentemente das
demais apresentou uma limitação do jogo. Houve apenas uma pergunta para o TAE,
com ele acertando, e nenhuma para a outra participante. O que indica que mais
casas azuis eram necessárias, para evitar esta situação;
2) Aplicação com três participantes, sendo os mesmos membros da anterior,
mais a participação do pesquisador e produtor do jogo, também TAE. Como era uma
segunda aplicação com mesmas pessoas, todos acertaram a pergunta inicial. A
aplicação durou uma hora e vinte minutos, mas tão longo tempo se deveu ao fato de
a partida estar recheada de conversa, discussões e diversão. Por um lado houve
mais perguntas. Duas para cada TAE, com o pesquisador acertando as duas, o
outro TAE acertando uma e errando uma. E duas perguntas para a não servidora, a

ISSN 2237-700X
426

qual errou uma e acertou outra. Mesmo assim a sorte demonstrou ter importância no
jogo. Desta vez a participante que não era servidora venceu o jogo, com o
pesquisador chegando com um lance de roleta em seguida, e o outro TAE chegando
com dois lances de roleta. O que demonstra que a sorte também faz parte do jogo e
garantiu uma vitória, mesmo que apertada;
3) Aplicação com dois participantes, sendo os dois TAEs da anterior (incluso
pesquisador). A partida durou 33 minutos. Os dois acertaram a pergunta inicial, o
pesquisador acertou três perguntas, e o outro TAE acertou uma e errou outra. O
pesquisador venceu com duas rodadas de vantagem;
4) Aplicação com dois participantes, sendo um o pesquisador e outro uma
criança de sete anos. O jogo durou 30 minutos. O pesquisador acertou três
perguntas mais a inicial, e a criança não soube nenhuma das duas e nem a inicial. O
pesquisador chegou a frente da criança com cinco rodadas;
5) Aplicação virtual com dois participantes, sendo um novamente o
pesquisador e outro uma pessoa com 20 anos, mas sem conhecimento no assunto.
A partida durou 38 minutos. O pesquisador soube responder as duas perguntas nas
quais caiu e a inicial e a outra participante errou as suas três e, como acompanhou o
pesquisador na inicial, a acertou. Se deu a vitória do pesquisador com vantagem de
seis rodadas;
6) Aplicação virtual com dois participantes, sendo um docente do IFPR (e
também membro de entidade sindical) e outra TAE do IFPR. A partida durou uma
hora, podendo ser considerada longa. O que se deveu ao fato de os concorrentes
serem bem participativos, terem discutido bastante as regras e o conteúdo do jogo, e
inclusive apresentado muitas sugestões e contribuições de melhorias. Foram feitas
muitas piadas com relação as situações apresentadas no jogo e que acontece no dia
a dia, levando a uma aplicação muito divertida. A TAE venceu o jogo com duas
rodadas de distância. Os dois acertaram a pergunta inicial. Houve duas perguntas
para a TAE, a qual as acertou, e três para o docente, o qual acertou duas e errou
uma;
7) Aplicação presencial com duas pessoas que não são servidoras e
desconhecem os assuntos do jogo. Uma um adolescente de 14 anos e outra uma
mulher de cerca de 60 anos. O jogo foi entregue para elas e o pesquisador,
inicialmente, buscou não influenciar. Como aconteceram algumas dificuldades para

ISSN 2237-700X
427

entender algumas regras – como as das casas especiais (filho e eleição para Reitor
e Diretor) e de algumas cartas positivas (verdes) ou negativas (vermelhas)
significarem retorno ou avanço de X casas para um e Y casas para outro – o
pesquisador teve que intervir nestes momentos. A partida durou 45 minutos e o
adolescente ganhou com vantagem de duas rodadas. Este participante que venceu
errou duas perguntas e o outro errou quatro. Os dois erraram a pergunta inicial;
8) Aplicação presencial entre pesquisador e o adolescente de quatorze anos.
A partida durou 35 minutos. Os dois acertaram a pergunta inicial (tendo em vista que
o adolescente já tinha jogado antes). O pesquisador acertou três perguntas e o
adolescente errou duas, mas acertou uma (que se repetiu da rodada anterior).
Novamente a sorte foi determinante no jogo: o adolescente venceu com duas
jogadas de roleta a frente;
9) Aplicação presencial com os mesmos participantes da anterior. A partida
durou 28 minutos. Os dois acertaram a pergunta inicial. O pesquisador acertou duas
perguntas e o adolescente errou duas. Desta vez o conhecimento preponderou e o
pesquisador venceu com vantagem de três rodadas;
10) Aplicação presencial do pesquisador com mulher de 60 anos que já foi
celetista no serviço público municipal e realizou vários concurso públicos (mãe do
pesquisador). O pesquisador acertou a pergunta inicial e a outra participante, como
acompanhou o pesquisador, também a acertou. O pesquisador acertou duas
perguntas e, sua mãe acertou três (mas admitiu que uma acertou pois ouviu uma
das aplicações). A participante venceu com sete rodadas de distância para o
pesquisador.
As aplicações presenciais foram feitas com todos os utensílios do jogo, mais a
roleta de dez números e os carrinhos coloridos de identificação do The Game of Life.
As aplicações virtuais foram feitas por meio da ferramenta de reuniões GOOGLE
MEET e o uso de um dado virtual de dez lados. Foi usado o leitor e editor de PDF
Foxit Phantom PDF. Nas aplicações virtuais o pesquisador não pôde agir só como
observador, e necessariamente teve que atuar como guia do jogo, pois do contrário
esse dificilmente se realizaria. Após as explicações iniciais, projetou-se a tela do
pesquisador com o tabuleiro, e então passou-se a alternar entre ele, os dados e as
cartas de pergunta. As peças dos jogadores foram criadas através do desenho de
formas geométricas com determinada cor para cada participante, as quais iam

ISSN 2237-700X
428

sendo movidas no tabuleiro em PDF.


Houve certa dificuldade para a aplicação do produto, tendo em vista que
poucos servidores se interessaram por participar das rodadas do jogo. Apenas três
servidores participaram. Tal fato é, em grande medida, explicado pela situação de
pandemia e de distanciamento, a qual impediu – tal qual o pesquisador planejava
inicialmente – a aplicação em ao menos três campus do IFPR. Em uma situação
normal seria possível e muito mais fácil encontrar colegas dispostos a participar de
aplicações presenciais do jogo. Mesmo assim, tal situação também pode expressar
certo desinteresse dos servidores TAEs pelos assuntos e atividades relacionados à
sua carreira.
As aplicações demonstraram que no Jogo do TAE os dois elementos –
conhecimento e sorte – são de fundamental importância e se revezam. As vitórias
nas rodadas foram alternadas entre aqueles que tinham maior conhecimento dos
temas do jogo (servidores) e os que não possuíam.
Uma questão fundamental a pontuar é que este jogo não se restringe ao uso
por TAEs. Foi ressaltado, tanto por docentes que participaram da banca de
qualificação, quanto por aqueles que participaram da aplicação do produto, a
validade e importância de seu uso junto aos docentes, os quais, muitas vezes,
desconhecem as atribuições e o trabalho dos TAEs, quadro que gera
incompreensões, conflitos e divergências no cotidiano de trabalho. Docentes e
discentes também se beneficiariam com a participação nesta proposta de educação
não-formal. Várias e significativas alterações necessitariam ser feitas numa
perspectiva de fazer um jogo para os servidores públicos federais, tendo em vista
que, no Jogo do TAE, grande parte do material e das questões é específica dos
Institutos Federais e da carreira TAE. Uma participante de uma das rodadas da
aplicação, que não é da categoria e nem servidora pública, mas que já participou de
concursos públicos (e por isto acertou duas perguntas, a inicial e a relativa ao
período de estágio probatório) ressaltou que o material também é relevante para o
estudo para estes concursos.

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429

4 Considerações Finais

As aplicações foram muito ricas e o fato de terem surgido sugestões e


contribuições mostram que o jogo, apesar de suas limitações, demonstrou-se
dinâmico e cumpriu tanto od seus objetivos educacionais, quanto os lúdicos e de
diversão. Alguns pontos foram relatados como positivos por participantes das
partidas de aplicação. Os participantes maiores de idade que não são servidores,em
seu geral, consideraram o jogo divertido e, apesar de não pertencerem a categoria,
conseguiram entender o contexto para o qual está voltado e seus objetivos. Os
participantes servidores avaliaram como de importante relevância o jogo e
consideram que ele pode ser uma ferramenta de formação para diversos espaços
institucionais, políticos e sindicais. Foi sugerido pelo docente do IFPR que pensemos
em conjunto um jogo que seja também relativo a carreira dos docentes, e que, no
futuro, possa existir um jogo que trate das duas carreiras conjuntamente. Que o
material atual e estes possíveis materiais futuros seriam de grande validade para a
aplicação junto aos servidores, e em especial aqueles que ingressam na instituição,
e como forma de aproximá-los da própria história de suas categorias e de suas
entidades sindicais. Os servidores também ressaltaram ser positivo o fato de o jogo
ter elementos colaborativos, com momentos em que todos avançam ou retrocedem,
dependendo de acontecimentos institucionais ou nacionais, tendo em vista que é
assim mesmo que acontece na realidade.

Referências

BRASIL. Lei n. 11.091, de 12 de janeiro de 2005. Dispõe sobre a estruturação


do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação, no
âmbito das Instituições Federais de Ensino vinculadas ao Ministério da
Educação, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11091.htm>. Acesso
em 01 jun. 2020.

REIS, G. B. dos. Desvendando o ser técnico-administrativo nos Institutos


Federais: uma proposta de jogo político-dialógico. 234 f. Dissertação Mestrado
Profissional em Educação Profissional e Tecnológica. Instituto Federal de
Educação,Ciência e Tecnologia do Paraná, 2020. Disponível em:
<https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/
viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=10200031#>. Acesso em 25
ago. 2021.
ISSN 2237-700X
430

VALLE, A. S. Trabalhadores técnico-administrativos em educação da UFMG:


inserção institucional e superação da subalternidade. 182 f. Dissertação (mestrado
em Educação) – Setor de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2014. Disponível em: <http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9UHGC5>.
Acesso em 25 ago. 2021.

ISSN 2237-700X
431

O USO DE FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS COMO ESTRATÉGIA DE


EDUCAÇÃO EM SAÚDE

Raiana Jacinto de Moura (raianajacinto22@gmail.com) ¹


Angélica Ribas de Fritas²
Clenise Liliane Schmidt (clenise.schmidt@ifpr.edu.br)³
1,2,3
Instituto Federal do Paraná- Campus Palmas4

Resumo: Introdução: Com o início da pandemia gerada pelo vírus Sars-Cov-2 foi
necessário que o ser humano buscasse reinventar-se nos mais diversos aspectos de
sua vida.O uso de ferramentas tecnológicas permitem maior flexibilidade no ensino,
uma vez que a sua dinâmica está relacionada com a capacidade criativa e reflexiva
do estudante. A incrementação de tecnologias na saúde pode estar auxiliando a
intensificar a educação voltada aos riscos dos acidentes por animais peçonhentos.
Objetivo: Descrever a experiência dos acadêmicos quanto à utilização de
ferramentas tecnológicas para compartilhamento do conhecimento produzido,
através da elaboração de um vídeo voltado aos acidentes com animais
peçonhentos. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência de acadêmicas do
5ª período de enfermagem do IFPR- Campus Palmas. Discussão: O uso de
tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem se tornou uma metodologia
inovadora, capaz de desenvolver e aperfeiçoar a autonomia dos estudantes, uma
vez que o aluno passa a buscar por si próprio o conhecimento. Essas tecnologias
podem ser usadas em diferentes contextos, bem como na educação em saúde,
sendo aqui enfatizado a sala de espera como espaço oportuno, para transmissão de
conhecimento acerca de prevenção e cuidados com acidentes de animais
peçonhentos. Considerações Finais: Ao contextualizarmos o processo de
aprendizagem atual aos métodos inovadores, elaborar um vídeo foi uma experiência
que conferiu uma melhor compreensão das ferramentas voltadas à educação em
saúde. Principalmente, nas questões voltadas aos acidentes por animais
peçonhentos, que ocorrem em um número elevado no mundo inteiro e tem impactos
significativos nos processos de saúde.

Palavras-chave: Ferramentas tecnológicas; ensino aprendizagem; animais


peçonhentos; sala de espera; saúde coletiva.

Abstract: Introduction: With the onset of the pandemic generated by the Sars-Cov-
2 virus, it was necessary for human beings to seek to reinvent themselves in the
most diverse aspects of their lives. it is related to the student's creative and reflective
capacity. The increase in health technologies may be helping to intensify the
education regarding the risks of accidents caused by venomous animals. Objective:
To describe the experience of academics regarding the use of technological tools to
share the knowledge produced, through the development of a video aimed at
accidents with venomous animals. Methodology: This is an experience report of
academics from the 5th period of nursing at the IFPR-Campus Palmas.
Discussion: The use of technologies in teaching and learning processes has
become an innovative methodology, capable of developing and improving the
autonomy of students, once the student starts to seek knowledge by himself. These
ISSN 2237-700X
432

technologies can be used in different contexts, as well as in health education, the


waiting room being emphasized here as an opportune space for the transmission of
knowledge about prevention and care for accidents involving poisonous animals.
Final Considerations: When contextualizing the current learning process to
innovative methods, making a video was an experience that provided a better
understanding of the tools aimed at transmitting knowledge. By contextualizing the
current learning process to innovative methods, making a video was an experience
that provided a better understanding of the tools aimed at health education. Mainly, in
issues related to accidents by poisonous animals, which occur in a high number
worldwide and have significant impacts on health processes.

Keywords: Keywords: Technological tools; teaching learning; venomous animals;


waiting room; collective health.

1 Introdução

Com o início da pandemia gerada pelo vírus Sars-Cov-2 foi necessário que o
ser humano buscasse reinventar-se nos mais diversos aspectos de sua vida. A
sociedade que até então tinha respostas de combate a maioria das doenças
infectocontagiosas, se viu desafiada diante de um agravo que resultou em quase
600.000 mortes só no Brasil até o momento. (BRASIL, 2021). Na tentativa de
reverter esse quadro desesperador, o mundo inteiro buscou adotar medidas de
saúde pública que pudessem conter os avanços da doença, dentre as quais
destaca-se, o distanciamento social, que surgiu como um meio de diminuir o risco de
transmissão do vírus, auxiliando assim, na redução dos casos; sendo esta, uma das
medidas mais efetivas no controle da disseminação dessa patologia. (MALTA et al,
2021, p.2)
Para atender às necessidades de distanciamento social, diversas escolas e
universidades buscaram substituir o modelo tradicional pelo modelo remoto,
abrangendo os diferentes níveis de ensino, da educação infantil até a pós-
graduação. Diferentes cursos que antes eram oferecidos apenas no formato
presencial passaram a ser repensados e ofertados de forma remota a partir da
Portaria 343/2020 do Ministério da Educação, publicada em 18 de março de 2020,
no intuito de diminuir o atraso na formação profissional (BEZERRA, 2020, p.14). A
área da saúde, em especial no campo da enfermagem, necessitou sofrer mudanças
a partir da reformulação das práticas de ensino, adotando-se a partir daí medidas

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433

mais inovadoras e tecnológicas voltadas ao ensino remoto (BEZERRA, 2020, p.1).


Apesar da necessidade de aulas práticas articuladas com as aulas teóricas
no curso da enfermagem e da inviabilidade deste modelo diante da pandemia, a
utilização de ferramentas tecnológicas possibilitou ao discente manter o processo de
formação ativo (SANTOS et al, 2020, p.6). As ferramentas tecnológicas dão suporte
tanto para os processos de ensino e aprendizagem quanto para a disseminação de
conhecimento, pois assumem um papel relevante no que diz respeito a ampliação
do acesso a informações; aquisição e compartilhamento de conhecimentos;
promoção da autonomia do discente; colaboração, participação e interação em
diversos espaços de aprendizagem, mesmo à distância. O uso de ferramentas
tecnológicas ainda permite maior flexibilidade no ensino, uma vez que a sua
dinâmica está relacionada com a capacidade criativa e reflexiva do discente (PINTO;
LEITE, 2020,p.3).
Essa inovação nos processos de aprendizagem permitem que o futuro
profissional de saúde seja capaz de pensar em alternativas que perpassam os
métodos tradicionais de educação em saúde, e consequentemente, tornam-se mais
atrativas para a população que, ao ter acesso às informações e novos
conhecimentos, poderá incorporá-los em seu cotidiano, promovendo assim, maior
proteção da sua saúde.
Atualmente, no Brasil, existem diversos problemas de saúde presentes entre
a população, principalmente naqueles mais vulneráveis socioeconomicamente. Parte
desses problemas, ou agravos, muitas vezes acabam sendo negligenciados pelos
serviços de saúde. Dentre os agravos negligenciados, encontram-se os acidentes
por animais peçonhentos, que se definem como um problema de saúde pública a
nível mundial, sendo no Brasil, a segunda maior causa de envenenamento humano,
ficando atrás somente do envenenamento por medicamentos (BRASIL, 2021, p.36).
No período de 2003 a 2018, foram registrados mais de 2 milhões de acidentes
por animais peçonhentos no Brasil, o que culmina em aproximadamente 140.850
casos por ano. Os principais animais associados a esses acidentes são as
serpentes, escorpiões, aranhas, lagartas e abelhas. Apesar do número de casos ser
bastante expressivo, sabe-se que há uma série de problemas na notificação dos
acidentes, o que gera a chamada subnotificação e levanta importantes indagações
quanto aos reais números de casos ocorridos (BRASIL, 2019, p.82). Diante desse

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434

fato, a incrementação de tecnologias pode estar auxiliando a intensificar a educação


em saúde voltada aos riscos dos acidentes por animais peçonhentos, a gravidade e
as possíveis complicações, bem como as medidas de controle e os primeiros
socorros nas ocorrências (BRASIL, 2019, p.82).
Devido a importância desse tema, durante o componente de Enfermagem em
Saúde Coletiva II, foi proposto que os acadêmicos do 5º período de enfermagem
desenvolvessem um dossiê voltado a esse agravo, abordando os mais diversostipos
de conhecimento, tanto empírico quanto científico, de forma articulada e de fácil
compreensão para que posteriormente fosse compartilhado com a turma, os
professores e a comunidade externa à instituição.
Para a construção do trabalho, utilizou-se de duas ferramentas tecnológicas,
sendo uma delas, o Padlet, para a exposição dos conteúdos voltados ao tema; e o
Animaker que é basicamente um editor de vídeo e que foi utilizado para a
disseminação do conhecimento produzido. A utilização dessas ferramentas, em
especial do Animaker, foi atrelado à necessidade da transmissão do conhecimento
de forma articulada, clara e objetiva, não somente dentro do ambiente acadêmico,
mas na população em geral, pensando nos espaços de prática do curso de
Enfermagem.
Nesse sentido, o objetivo do trabalho é descrever a experiência acadêmica
quanto à utilização de ferramentas tecnológicas como meio para a produção e o
compartilhamento do conhecimento produzido a partir do processo de ensino-
aprendizagem, através da elaboração de um vídeo educativo voltado aos acidentes
com animais peçonhentos.

2 Desenvolvimento

Desde 1980 o mundo vem passando por transformações multidimensionais,


as quais estão associadas à necessidade do ser humano de se comunicar com o
mundo (CASTELLS 2006, p.17; BITTENCOURT; ALBINO, 2017, p.3). O dia-a-dia
de sociedades, organizações e governos vêm cada vez mais dependendo do
uso de tecnologias informativas e de comunicação. Essa nova era da inovação
tecnológica também está atrelada aos processos educacionais. Alunos, professores
ISSN 2237-700X
435

e sociedade em geral alteraram seus pensamentos e formas de agir mediante a


essas inovações, passando a incorporá-la nos processos de ensino e aprendizagem
nas mais variadas áreas (BITTENCOURT; ALBINO, 2017, p. 2 e 4).
Diversos estudos demonstram que as tecnologias são ferramentas
incontornáveis de gestão e suporte no que diz respeito aos processos de ensino e
aprendizagem formais e informais integralmente. Essas ferramentas assumem uma
importante função na transmissão, aquisição, compartilhamento, validação de
conhecimento e colaboração (PINTO; LEITE, 2020,p. 4-5). Dessa forma, as medidas
adotadas pelas instituições para minimizar os efeitos decorrentes da ausência de
aulas durante a pandemia, ocorreu inteiramente através utilização de ferramentas
tecnológicas, as quais contribuíram a partir da facilidade de acesso às informações,
facilitando ainda a comunicação nos processos de ensino e aprendizagem em saúde
(BEZERRA, 2020, p. 5)
Em um primeiro momento, essa mudança repentina do modelo presencial
para o remoto gerou inúmeras inquietações relacionadas ao acesso à internet,
dificuldades de adaptação ao novo método e ausência de ferramentas necessárias,
o que culminou no adoecimento mental de muitos estudantes (GUNDIM et al., 202,
p. 3). Entretanto, o uso de tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem se
tornou uma metodologia inovadora, capaz de desenvolver e aperfeiçoar a autonomia
dos estudantes, tornando-os protagonistas em sua educação, uma vez que o aluno
passa a buscar por si próprio o conhecimento e alternativas para a solução de
problemas (GADELHA et al., 2019, p. 2).
Nesse cenário, é importante evidenciar que o uso de tais tecnologias não
está restrito somente à educação individual, uma vez que os acadêmicos podem
fazer uso de tais meios para transmitir o conhecimento produzido à comunidade
externa. E quando associamos a educação em saúde ao papel do enfermeiro, é
possível observar um crescente empoderamento por parte do futuro profissional, que
passa buscar alternativas dinâmicas voltadas à resolução de diversos agravos de
saúde, que estão atrelados a sua atuação (LEANDRO, G. B; FERNANDES, 2017,
p.1-2).
Nesse contexto se presume que o uso de ferramentas tecnológicas para a
disseminação de informações é uma forma efetiva de promover saúde, dado ao fato
de que, nem sempre o profissional poderá estar orientando pessoalmente todos os

ISSN 2237-700X
436

indivíduos em todos os momentos, portanto, as ferramentas de comunicação


acabam tornando-se amplificadores responsáveis por abordar a população em
grande escala (LEANDRO, G. B; FERNANDES, 2017, p. 1-2). Portanto, se
pensarmos na realidade atual do Brasil,são diversos os problemas de saúde que
permeiam, em especial, os grupos populacionais mais vulneráveis
socioeconomicamente, o que acaba acarretando numa maior fragilidade, e
consequente, necessidade de conhecimento tanto voltados à saúde propriamente
dita (CARMO; GUIZARDI, 2018, p. 2). Assim, ao acessar novas informações, o
sujeito pode desenvolver autonomia tanto para o autocuidado como para estabelecer
o seu papel enquanto cidadão (DIAS; BRITO, 2011, p.6).

2.1 Agravos com animais peçonhentos


Como mencionado anteriormente, entre as inúmeras doenças que acometem
a população brasileira, estão as de notificação compulsória. E neste contexto, é
preocupante a subnotificação dos casos de acidentes com animais peçonhentos,
gerando complicações que poderiam ser evitadas e tornando o problema cada vez
mais invisível diante do planejamento de ações e políticas de saúde.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, anualmente, ocorram
1,8 milhão de casos, resultando em cerca de 94 mil óbitos, dos quais destacam-seos
acidentes relacionados com serpentes, escorpiões e aranhas. E de acordo com a
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) esses acidentes se constituem como a sendo a
segunda causa de envenenamento humano, principalmente, nas populações
indígenas e de áreas rurais (GOIÁS estado, 2021). Portanto, faz-se necessário
implementar ações de educação em saúde voltada a esses indivíduos, família e
comunidade de forma que possam prevenir tais acidentes a partir da redução dos
riscos aos quais estão expostos (DIAS; BRITO, 2011 p. 6). Esses indivíduos,
tornam-se então, atores responsáveis por ecoar as novas informações que
acessaram, transformando-se em um reflexo das ações de cuidado efetivas
(GADELHA et al., 2019, p. 4).
Mediante a perspectiva apresentada, os profissionais devem desenvolver
práticas que disseminem o conhecimento através do vínculo entre as ações em
saúde, e o pensar e fazer cotidiano desses indivíduos. E dessa forma, a tecnologia
de comunicação se torna uma ferramenta importante para os profissionais de saúde
ISSN 2237-700X
437

ensinarem a população a prevenir tanto os acidentes quanto os riscos (DIAS;


BRITO, 2011 p. 6). Portanto, os serviços de saúde devem trabalhar na
sensibilização da população quanto aos procedimentos voltados a esses acidentes,
de forma que possa ocorrer uma diminuição desses casos, evidenciando assim, a
efetividade por parte desses serviços (PARANÁ estado, 2015)

2.2 A utilização de vídeos na sala de espera como como uma


estratégia de educação em saúde
É importante ressaltar que a sala de espera, é um espaço que pode ser muito
bem aproveitado na disseminação de informações, uma vez que a mesma
geralmente é ocupada por uma grande quantidade e diversidade de indivíduos, que
se diferenciam entre si nos mais diferentes contextos; que em sua espera por
atendimento, acabam interagindo tanto com outros usuários quanto com os próprios
profissionais, o que torna esses espaço favorável na realização das práticas voltadas
a educação em saúde (DIAS; BRITO, 2011 p. 6).
Observa-se que atualmente há um grande número de materiais educativos
ou didáticos circulantes, dos quais destacam-se o quarteto folder-cartilha-pôster
manual, voltados à conscientização e mobilização da população (SÃO PAULO
estado, 2020, p. 43). Porém, é importante evidenciar que esses materiais não são os
únicos meios de educação em saúde, dado ao fato de que muitas pessoas não são
alfabetizadas ou, muitas vezes, não dão importância necessária, descartando-os
sem ao menos ler o conteúdo presente. Diante dessas evidências, é importante que
os profissionais tenham uma visão mais ampla das ferramentas tecnológicas
disponíveis para a transmissão do conhecimento, das quais destacamos a
elaboração de vídeos educativos (LIMA et al., 2015, p. 6-7).
Portanto, o uso de vídeos é uma alternativa viável e que se destaca como
um dos mais populares recursos audiovisuais de educação, devido a possibilidade
dos próprios educadores produzirem o seu material e o disponibilizarem
gratuitamente em meios digitais. Caracterizado como sendo uma das tecnologias de
maior uso cotidiano, os vídeos têm um papel predominante na ligação dos indivíduos
com o mundo (PAZZINI; ARAÚJO, 2013, p. 1 e 4). Nesse sentido, a utilização de
vídeos na sala de espera é um importante meio de comunicação e informação com a
população que aguarda atendimento. Mas para que isso ocorra, é necessário que o
ISSN 2237-700X
438

material disposto seja criativo, didático e compreensível, que atinja os usuários e


transpasse uma informação clara e precisa. Vale ressaltar que a implementação
dessas novas formas de educação em saúde podem impactar positivamente na
diminuição da ansiedade antes do atendimento; otimizar o entretenimento; favorecer
a prevenção de doenças e a promoção de hábitos saudáveis (LIMA, et al, 2015, p. 2-
3 e 10).

2.3 Acadêmicos como protagonistas nas atividades de educação em


saúde
Nessa perspectiva, elencou-se a utilização de vídeo como uma forma
dinâmica de disseminar o conhecimento acerca de acidentes com animais
peçonhentos. A sua realização surgiu através da necessidade de apresentar um
material diferenciado, que transmitisse o conhecimento científico, porém de forma
simples, clara e objetiva, para compreensão de pessoas leigas da área. E para que
isso ocorresse, assumimos o papel de protagonistas na elaboração e disseminação
do conhecimento produzido, buscando formas de estimular nossos colegas de turma
e, futuramente, a comunidade a incorporarem essas práticas de educação em saúde
no cotidiano dos serviços.
Para a elaboração do vídeo, utilizou-se da ferramenta Animaker, adicionando
informações quanto aos tipos de animais peçonhentos; formas de cuidado com
acidentes; prevenção e ações a serem tomadas caso ocorresse um desses agravos.
A elaboração dessa atividade nos proporcionou um processo de
aprendizagem mais autônomo, permitindo a ampliação do conhecimento tanto
relacionado com as práticas profissionais mediante à ocorrência desses acidentes
em si, quanto às fragilidades dos serviços de saúde em relação ao tema (LEANDRO;
FERNANDES, 2017, p. 2). Considera-se que a atividade promoveu o engajamento
dos discentes e a implementação de formas criativas e inovadoras de educação
em saúde voltadas à população.
Foram poucas as dificuldades vivenciadas durante a elaboração do vídeo, e
isso graças ao comprometimento individual das discentes envolvidas, já que
demandou tempo para pesquisa e montagem dos materiais. Entretanto, a realização
desse tipo de atividade torna-se difícil para muitos profissionais, dado ao fato da
sobrecarga de trabalho que vivenciam. Buscou-se ao máximo integrar as diferentes
ISSN 2237-700X
439

fontes de informações para que o conteúdo final pudesse alcançar o máximo de


pessoas possíveis de uma forma simplificada e resolutiva. E para que isso
ocorresse, foi fundamental pensar em formas criativas de processar essas
informações voltada à saúde individual e coletiva, de forma que pudesse ser
compreendida pela população. E dessa necessidade surgiu a ideia de elaborar um
vídeo que dispusesse de um áudio informativo, gravado a partir de um roteiro
contendo informações do Ministério da Saúde voltadas aos cuidados com acidentes
por animais peçonhentos, que fosse acompanhado por imagens relacionadas para
que assim, a informação final pudesse ser facilmente absorvida e sintetizada pela
população, bem como o uso de um palavreado mais notório.
Percebe-se então, que é fundamental que os enfermeiros enquanto
educadores de saúde, sejam capazes de elaborar estratégias criativas e inovadoras,
que prendam a atenção dos indivíduos alcançando-os em suas diferentes
realidades.

Figura 1 Imagem do vídeo produzido pelo animaker.


Fonte: https://app.animaker.com/animo/ZMY3fxfFLS6Blw70/

Figura 2 Mural sobre animais peçonhentos na ferramenta padlet.


Fonte: https://padlet.com/angelicaribasdefreitas19/5ux5zw3fxxyhg4u7

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440

3 Considerações Finais

Desenvolver a atividade nos proporcionou pensar em formas diferentes


alternativas de desenvolver a educação em saúde, além de nos trazer uma grande
carga de conhecimento acerca desses acidentes, suas formas de prevenção,
conduta profissional e cuidados necessários frente a esse agravo que atualmente é
visto como um problema de saúde pública.
Nesse mesmo contexto, a adoção das aulas remotas proporcionou uma maior
abordagem de tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem, o que resultou
num dos benefícios do o modelo de ensino a distância, que é proporcionar aos
discentes a incorporação de diversas ferramentas tecnológicas que originalmente
não seriam implementadas dentro da sala de aula. Dessa forma, a utilização de
ferramentas tecnológicas como o Animaker, para edição do vídeo descrito neste
trabalho, mostrou-se inovador e atrativo para os discentes.
Dessa forma, ao contextualizarmos o processo de aprendizagem atual aos
métodos inovadores, elaborar um vídeo foi uma experiência que conferiu uma
melhor compreensão das ferramentas voltadas à transmissão de conhecimentos;
principalmente, nas questões voltadas aos acidentes por animais peçonhentos, que
ocorrem em um número elevado no mundo inteiro e tem impactos significativos nos
processos de saúde. Portanto, pensar na sala de espera como um momento
oportuno para divulgação de vídeos educativos, é idealizar alternativas que
perpassam o modelo atual de educação em saúde por parte dos profissionais de
enfermagem.
Para os futuros enfermeiros é fundamental pensar na implementação de
tecnologias que auxiliam numa maior amplitude das ações em saúde, pensando
sempre em desenvolver a autonomia no indivíduo e coletividade.

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ISSN 2237-700X
443

PERFIL DE MORTALIDADE POR COVID-19 NA POPULAÇÃO IDOSA DO


PARANÁ E AS POLÍTICAS PÚBLICAS ADOTADAS À NÍVEL ESTADUAL

Bruna Neves Dolberth(brunanevesdolberth@gmail.com) ¹


Taoana Gottems Del Sent²
Clenise Liliane Schmidt clenise.schmidt@ifpr.edu.br³
1,2,3
Instituto Federal do Paraná - Campus Palmas

Resumo: Ainda que a maioria dos casos de COVID-19 tenham caráter


autolimitado, é possível identificar fatores de risco que estão relacionados aos
casos mais graves e elevação da taxa de mortalidade, como é o caso das pessoas
com 60 anos ou mais. O presente estudo objetiva analisar os dados de
mortalidade por COVID-19 em idosos no estado do Paraná e verificar a influência
das políticas públicas adotadas pelo estado dentro destes indicadores. Trata-se de
um estudo epidemiológico descritivo observacional, de caráter quantitativo
baseado em dados secundários provenientes do Portal de Transparência do
Registro Civil. Os resultados evidenciam que, no Paraná, cerca de 62% do
quantitativo de mortos possuíam mais de 60 anos, onde, destes, cerca de 45%
são do sexo feminino, enquanto 54% são do sexo masculino. A maior taxa de
mortalidade concentra-se nogrupo de homens entre 90 e 99 anos. Observa-se que
os meses que compreendem julho e agosto de 2021 apresentam mortalidade
expressivamente mais baixa que os demais meses. A Saúde Pública, juntamente
com as medidas de mitigação e controle possuem imensa importância diante a
redução dos riscos e impactos frente ao atual cenário pandêmico, logo, também
possuem grande relevância para os grupos que vêm se mostrando mais
fragilizados e atingidos. Sendo conclusivo que o grupo etário composto pelos
idosos apresenta fragilidades e singularidades próprias no que tange o contexto
pandêmico, sendo pertinente e relevante incluí-los em mais estudos
epidemiológicos.

Palavras-chave: Idoso; Registros de Mortalidade; Política de Saúde;


Vulnerabilidade em Saúde; Epidemiologia Descritiva.

Abstract: Although most cases of COVID-19 are self-limiting, it is possible to


identify risk factors that are related to the most severe cases and increased
mortality rate, as is the case of people aged 60 years and over. This study aims to
analyze mortality data from COVID-19 in the elderly in the state of Paraná and
verify the influence of public policies adopted by the state within these indicators.
This is an observational descriptive epidemiological study, with a quantitative
character, based on secondary data from the Civil Registry Transparency Portal.
The results show that, in Paraná, about 62% of the number of dead were over 60
years old, where, of these, about 45% are female, while 54% are male. The highest
mortality rate is concentrated in the group of men between 90 and 99 years old. It
is observed that the months comprising July and August 2021 have significantly
lower mortality than the other months. Public Health, together with mitigation and
control measures, have immenseimportance in the reduction of risks and impacts
in the current pandemic scenario,
ISSN 2237-700X
444

therefore, they also have great relevance for groups that have been shown to be more
vulnerable and affected. It is conclusive that the age group composed of the elderly
has its own weaknesses and singularities regarding the pandemic context, and it is
pertinent and relevant to include them in further epidemiological studies.

Keywords: Aged; Mortality Registries; Health Policy; Health Vulnerability;


Epidemiology, Descriptive.

1 Introdução

A COVID-19 é uma infecção respiratória aguda potencialmente grave e de


distribuição global, que possui elevada transmissibilidade entre as pessoas por meio de
gotículas respiratórias ou contato com objetos e superfícies contaminadas (BRASIL,
2021). Logo, observa-se uma escala de letalidade do coronavírus relativamente baixa,
mas com difusão elevada, repercutindo em uma rápida transmissão (SENHORAS,
2020). Por conta disso, essa patologia acaba por ser vista com grande preocupação até
mesmo em comparação com outros períodos extraordinários como o vivido na
Poliomielite (2014), Zika (2016), Ebola (2014- 2019) (OLIVEIRA, et al, 2020), e pela
Influenza H1N1 (2009) que em seu primeiro ano de circulação causou cerca de 12.800
óbitos no mundo (BELLEI, MELCHIOR, 2012). A Folha Informativa COVID-19 da
Organização Pan-Americana da Saúde indicava que até o dia 25 de setembro de 2020
haviam registros de mais de 979.435 mortes e 32.037.207 casos confirmados do novo
coronavírus em âmbito mundial.
No Brasil, o primeiro caso de COVID-19 foi registrado em 26 de fevereiro na
cidade de São Paulo e mais tarde, em 20 de março de 2020 foi declarado estado de
transmissão comunitária em todo o território nacional, recomendando-se, assim, que
todos os estabelecimentos de saúde instituíssem diagnóstico sindrômico para o
atendimento de casos suspeitos de COVID-19 independentemente do fator etiológico
da doença (BRASIL, 2020).
Da forma como estão configuradas, as respostas imediatas tem efeitos nas
medidas e ações de médio e longo prazos, o que exige combinar a gestão de riscos
deste desastre (redução da exposição/redução das vulnerabilidades
sociais/fortalecimento das capacidades de respostas para a vigilância e a atenção em

ISSN 2237-700X
445

saúde com a governança para enfrentamento da pandemia (Centro de Estudos e


Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde, 2020). Além disso, para
conseguir atingir o objetivo de mitigação dos impactos da pandemia, diversos países e
empresas farmacêuticas têm empreendido esforços para diminuir as proporções
tomadas pela COVID-19, evidenciando-se a ampla tomada de diversas medidas de
controle e prevenção visando a mitigação da doença. Nota-se que o planejamento e a
execução dessas medidas não foram homogêneas em todos os pontos do território
nacional e internacional, pois instituições e esferas administrativas possuíam
autonomia para a implementação de medidas conforme a singularidade de cada região.
Os achados científicos sugerem fortemente que a conjugação de isolamento dos casos,
quarentena de contatos e medidas amplas de distanciamento social, principalmente
aquelas que reduzem em pelo menos 60% os contatos sociais, têm o potencial
importante no controle e na diminuição da transmissão da doença (AQUINO, et al,
2020).
Ainda que a maioria dos infectados pelo COVID-19 apresente sintomas leves e
bom prognóstico, é possível, por meio da evidência existente, identificar fatores de risco
que estão relacionados aos casos mais graves e à elevação da taxa de mortalidade,
sendo que, os fatores de risco apresentados são principalmente relacionados às
características sociodemográficas (BRASIL, 2021), idade elevada, baixa imunidade e
doenças crônicas pré-existentes (BRASIL, 2020). Assim, enquadram-se no grupo de
risco pessoas com as seguintes características: 60 anos ou mais, portadores de doença
pulmonar crônica ou asma moderada ou grave, imunossuprimidos, portadores de
doenças cardíacas, insuficiência renal, doenças hepáticas, diabetes mellitus e
hipertensão arterial, especialmente se mal controlados, pessoas com obesidade grave
(IMC>40 kg/m2) e tabagistas (BRASIL, 2020). Dessa forma, esses grupos devem ter
atenção especial a todas as medidas para evitar o contágio que valem para a
população geral (OPAS, 2020). Logo, ser idoso e apresentar doenças crônicas significa
maior risco de ficar gravemente doente e, consequentemente, de evoluir para óbito
(BRASIL, 2021).
Diante desse contexto, o respectivo estudo objetiva descrever o perfil de
mortalidade por COVID-19 na população idosa do estado do Paraná.
ISSN 2237-700X
446

2 Material e métodos

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo observacional, de caráter


quantitativo baseado em dados secundários provenientes do banco de dados
disponibilizado pelo Portal de Transparência do Registro Civil, onde foram coletadas
informações referentes aos óbitos com suspeita ou confirmação de COVID-19 na
população acima de 60 anos no período de março de 2020 a agosto de 2021 do estado
do Paraná. Os dados foram estratificados por sexo e faixa etária, compreendendo
grupos de 60-69 anos, 70-79 anos, 80-89 anos, 90-99 anos e 100 anos ou mais.
O tratamento dos dados foi realizado com uso do software Excel, versão 365,
onde os mesmos foram tabulados e organizados em frequência absoluta (n) e
frequência relativa (%). A taxa de mortalidade foi calculada considerando os dados do
IBGE de estimativa da população por faixa etária.

3 Resultados e Discussão

Até o dia 31 de agosto de 2021, o estado do Paraná contabilizou 38.803 óbitos


por suspeita ou confirmação de COVID-19 em todas as faixas etárias, representando
cerca de 6,63% dos óbitos acumulados do país. Deste quantitativo total do estado,
24.062 (62,01%) possuíam mais de 60 anos. Tendência que se mantém dentro do
âmbito nacional, visto que, do quantitativo total de óbitos registrados no Brasil até o dia
09 de setembro (585.174 óbitos), 66,77% (390.776 mil) eram idosos. A literatura atribui
os achados epidemiológicos ao fato de que os idosos já vivenciaram e continuam
vivenciando algumas situações de vulnerabilidade diretamente ligadas ao processo de
envelhecimento e, frente ao contexto de pandemia, tal questão se acentua em diversos
níveis, uma vez que os aspectos fisiológicos do envelhecimento têm impacto na eficácia

ISSN 2237-700X
447

do sistema imune, aumentando a propensão, morbidade e mortalidade por doenças


infecciosas, sendo tal evento denominado como imunossenescência (GRANDA, et al,
2021).
Do total de óbitos registrados entre os idosos no Paraná, observa-se que, cerca
de 10.935 (45,44%) são do sexo feminino, enquanto 13.127 (54,55%) são do sexo
masculino. Outra tendência que também se estabelece nos óbitos de idosos à nível
nacional, onde o grupo feminino possui 177.840 (45,51%) dos óbitos, enquanto,
majoritariamente, a população masculina representa 212.936 (54,49%) do total dos
óbitos registrados em idosos. Corroborando com os achados do presente estudo, uma
revisão sistemática a partir de metanálise demonstrou que, dentro do âmbito do COVID-
19 os homens representam 60% dos pacientes, apresentando assim maior
suscetibilidade para a infecção (LI et al, 2020). Outro estudo desenvolvido por Galvão e
Roncalli (2020), evidenciou o sexo masculino como fator associado a um maior risco de
morrer em decorrência da COVID-19, apresentando probabilidade de sobrevivência
menor que as mulheres.
Mesmo que a literatura atual ainda não consiga estabelecer uma ligaçãoclara do
porquê os homens são mais afetados negativamente pelo COVID-19 em comparação
com as mulheres, já se estabelecem relações causais acerca do maior adoecimento e
mortalidade dos homens em relação às mulheres em diversos contextos de saúde, visto
que, geralmente eles possuem medo de descobrir doenças, o que influencia
negativamente o prognóstico, podem não seguir os tratamentos e recomendações
adequadas, acham que nunca vão adoecer e por isso não se cuidam, procuram menos
os serviços de saúde, estão envolvidos na maioria das situações de violência e utilizam
álcool e outras drogas com maior frequência (BRASIL, 2017).
Quanto à distribuição dos óbitos por suspeita ou confirmação de COVID-19 entre
os idosos do Paraná, observa-se que a maior taxa de mortalidade concentra-se no
grupo de homens entre 90 e 99 anos (119,6/1.000) seguida do grupo de homens com
mais de 100 anos de idade (89,5/1.000). A Tabela 1 aponta as taxas de mortalidade
estratificadas por sexo e grupos etários, elucidando que o sexo masculino apresenta as
maiores taxas de mortalidade em todas as faixas etárias analisadas.

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448

Tabela 1. Taxa de mortalidade por suspeita ou confirmação de COVID-19 entre os idosos do Paraná,
distribuídos por sexo e grupos etários.

Masculino Feminino

100 + 89,5 61,3

90 - 99 119,6 72,9

80 - 89 57,9 35,7

70 - 79 29,4 18,8
60 - 69 14,3 10,6
*Calculada a cada 1.000 habitantes.

A apresentação da taxa de mortalidade é fundamental para compreender como


determinado agravo atinge diferentes grupos, visto que este indicador expressa o
número de óbitos ocorridos dentro de um grupo específico, considerando-se para isso a
população que integra o grupo estudado.
Apesar do cálculo ter utilizado os dados do último censo do IBGE, ocorridoem
2010, acredita-se que os resultados possam subsidiar diferentes análises no que se
refere às ações de combate ao COVID-19 e no planejamento de intervenções que
possam diminuir a exposição dos idosos ao agravo e, especialmente, a taxa de
mortalidade do grupo.
Em relação aos meses analisados, o Gráfico 1 apresenta os dados relativos aos
óbitos em idosos no estado do Paraná.

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Gráfico 1. Frequência absoluta (n) de óbitos ocorridos no estado do Paraná por suspeita ou
confirmação de COVID-19, no período de março de 2020 a agosto de 2021.

Observa-se que os picos de mortalidade em idosos se concentram nos meses


de março, abril, maio e junho de 2021. Observa-se que os meses que sucedem
os citados, apresentam mortalidade expressivamente inferior, visto que, julho de 2021
apresenta 4,6% dos óbitos do período analisado e agosto de 2021 apresenta apenas
3,5% dos óbitos, o que pode ser explicado pelo o avanço já alcançado na vacinação
dos grupos de maior risco para formas graves da COVID-19 (BRASIL, 2021). Além de
que, outro fator que pode ter contribuído para a diminuição do número de óbitos está
relacionado às medidas de isolamento social implementadas pelo estado de acordo
com os dados epidemiológicos da doença. Logo, a inserção da vacina, juntamente com
medidas de restrição e mitigação para o controle da pandemia podem estar
proporcionando menor taxa de transmissibilidade e, consequentemente, menor taxa de
infectados e de mortalidade.

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450

Dos 390.776 mil registros de casos de óbitos totais acumulados por COVID-19
em idosos no Brasil, 24.062 (6,15%) foram registrados no estado do Paraná, sendo
este um dado preocupante já que a partir das informações fornecidas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o estado possuía para 2021 uma população
estimada em 11.597.484 pessoas, representando 5,4% da população total brasileira.
Considerando esse contexto, evidencia-se que o Estado do Paraná está dentre as
Unidades Federativas (UF) que adotaram importantes medidas de distanciamento
social, recebendo também destaque em relação a quantidade de medidas de vigilância
em saúde incluídas por cada UF. Destarte, o Paraná está dentre os 4 estados que
implementaram o maior número de medidas desta categoria. Além disso, somente o
estado do Paraná incluiu ações voltadas para capacitação e habilitação de laboratórios,
enquanto também foi uma das poucas UF’s que adotou oficialmente o uso de
tecnologias para compartilhamento de dados pessoais privados, essenciais à
identificação de pessoas infectadas, juntamente com Alagoas e Distrito Federal (Centro
de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde, 2020).
Cabe salientar que a pandemia deve ser compreendida como um risco sistêmico
que amplia as condições de vulnerabilidades e riscos futuros (Centro de Estudos e
Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde, 2020), visto que seus efeitos não
podem ser tratados de modo isolado e pontual, pois combina crises econômicas,
políticas e sanitárias. Isso acaba por gerar um efeito cascata, impactando de modo
muito mais acentuado as condições de vida e saúde da população. Logo, por se tratar
de uma nova doença, o conhecimento sobre a
COVID-19 pode ser subsidiado por estudos epidemiológicos como o atual, visto
que, pode-se caracterizar tendências, variações regulares e outras excentricidades
expressas pela atual situação pandêmica vivenciada no Brasil e no mundo, onde
podemos avaliar os condicionantes e determinantes do processo saúde e doença de
populações, de forma geral ou específica. Além de identificar o impacto das ações e
insumos propostos e desenvolvidos para intervir no curso de problemas de saúde
(ROZIN, 2020).

4 Considerações Finais
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451

É notável que o grupo etário composto pelos idosos apresenta fragilidades e


singularidades próprias, sendo pertinente e relevante incluí-los em estudos
epidemiológicos para que se compreenda ainda mais acerca do contexto de exposição,
vulnerabilidades sociais e medidas de fortalecimento das capacidades de respostas
para a vigilância e a atenção em saúde com a governança para enfrentamento da atual
pandemia.
Salienta-se que a Saúde Pública, as medidas de mitigação e controle e outras
medidas possuem imensa importância diante a redução dos riscos e impactos frente
ao atual cenário pandêmico, logo, também possuem grande relevância para os grupos
que vêm se mostrando mais fragilizados e atingidos. Destarte, é fundamental que o
cenário de assistência à saúde consiga fortalecer suas capacidades nas funções de
vigilância e cuidados à saúde. O que acaba por exigir tanto a participação de todo o
sistema de saúde em seus diferentes níveis (municipal, regional, estadual e federal),
como mais ampla colaboração intersetorial e participação da sociedade, em particular
dos movimentos e representações dos grupos e populações mais vulneráveis com base
nos princípios do SUS de Universalidade, Integralidade e Equidade (Centro de Estudos
e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde, 2020).
Este estudo possui algumas limitações como o fato de descrever e analisar
apenas as variáveis de faixa etária e sexo dos idosos, relacionando os dados
encontrados com as políticas adotadas a nível estadual. Neste sentido, faz-se
necessário que novos estudos sejam desenvolvidos para suprir e contemplar as
fragilidades relacionadas às variáveis de cor, raça, acesso à bens de consumo, saúde e
educação dos atingidos e como estas também podem interferir nos índices do itinerário
epidemiológico da COVID-19.

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<https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=26&uf=41> Acesso em: 07
Set. 2021.

ISSN 2237-700X
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PROTÓTIPO DE BRINQUEDO TERAPÊUTICO DE BAIXO CUSTO


“INSULINOAMIGO” PARA CRIANÇAS DIAGNOSTICADAS COM DIABETES
MELLITUS I

Taoana Gottems Del Sent (gottemstaoana@hotmail.com)¹


Bruna Neves Dolberth²
Welinton Pereira de Souza³
Luana Cláudia dos Passos Aires (luana.aires@ifpr.edu.br)4
1,2,3,4
Instituto Federal do Paraná - Campus Palmas

Resumo: O brinquedo terapêutico (BT) é uma técnica que auxilia a criança através
do brincar ajudando-a a compreender e atender suas experiências diárias. Objetiva-
se descrever a experiência de acadêmicos de Enfermagem frente à construção e
desenvolvimento de um protótipo de BT de baixo custo direcionado à crianças
diagnosticadas com Diabetes Mellitus tipo I (DM1). Trata-se de um relato de
experiência desenvolvido acerca do planejamento, criação e desenvolvimento de um
protótipo de BT nomeado “Insulinoamigo” enfocado para o público infantojuvenil com
(DM1). O protótipo foi desenvolvido entre agosto e outubro de 2021 e conta com
bonecos com a sinalização dos locais para a aplicação da insulina, roleta lúdica para
incentivar rodízio insulínico e materiais que compõem um kit lúdico com glicosímetro,
bomba de insulina, e seringa com agulha aplicadora de insulina. Por se tratar de um
relato de experiência, não necessita de aprovação em comitê de ética em pesquisa.
emprego do BT pode fornecer maior entendimento e autonomia acerca da condição
de saúde ao público-alvo, além de permitir ao profissional que o emprega comunicar-
se através do brincar, possibilitando traçar um plano terapêutico mais eficaz,
humanizado e resolutivo. Considerando que o DM1 é uma Doença Crônica Não
Transmissível a assistência à esses pacientes se estenderá por todo o ciclo vital,
sendo que, quanto mais precocemente o indivíduo recebe as orientações adequadas,
maior será sua potencialidade de se tornar um ser ativo e consciente dentro do
seu processo desaúde. É conclusivo que a construção deste protótipo ainda durante
a graduação permite aos acadêmicos desenvolver mais domínio, conhecimento e
habilidade perante o emprego do BT no âmbito assistencial. O uso de um protótipo de
baixo custo pode possibilitar ações educativas mais acessíveis e de maior alcance,
logo, seu emprego possui amplo potencial transformador para as práticas
assistenciais em saúde, propiciando benefícios tanto aos profissionais quanto ao
público alvo.

Palavras-chave: Assistência Integral à Saúde; Diabetes Mellitus Tipo 1; Educação


em Saúde; Saúde da Criança.

Abstract: Therapeutic toy (TP) is a technique that helps children by helping them to
understand and respond to their daily experiences. The objective is to report the
experience of Nursing students facing the construction of a low-cost TP prototype.

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This is an experience report developed on the planning, creation and development of


a TP prototype named “Insulinoamigo” focused on children and adolescents with
Diabetes Mellitus type I (DM1). The prototype was developed in August 2021 and has
dolls with signs of insulin application sites, playful roulette to encourage insulin rotation
and materials that make up a playful kit with a glucometer, insulin pump and syringe
with insulin applicator needle. As this is an experience report, it does not need
approval by a research ethics committee. It is observed that the use of TP can provide
greater knowledge and autonomy of the health condition to the target audience, in
addition to allowing the professional who employs it to communicate through play,
making it possible to draw an effective therapeutic plan that is more humanized and
resolute. Recognizing that DM1 is a Non-Communicable Chronic Disease, care for
these patients extends throughout the life cycle, and the earlier the individual receives
secondary guidance, the greater will be their potential to become an active being and
aware of their health process. It is conclusive that the construction of this protocol even
during graduation allows academics to develop more domain, knowledge and skills
regarding the use of TP in the healthcare context. The use of a low-cost prototype can
enable educational actions with more results and greater reach, therefore, its use has
a wide potential for transforming healthcare practices, providing benefits to both
professionals and the target audience.

Keywords: Comprehensive Health Care; Diabetes Mellitus Type 1; Health Education;


Child Health.

1. Introdução

O brinquedo terapêutico (BT) consiste em uma técnica estruturada não diretiva,


que através do brincar, auxilia a criança na diminuição da ansiedade resultante de
situações ameaçadoras e atípicas, ajudando-a a compreender e lidar com as
experiências diárias (CANÊZ, J, B, et al, 2019.; ARANHA, B, F, et al, 2020).
Dentro do contexto de assistência pediátrica, observa-se como atribuição da
Equipe de Enfermagem a utilização do BT na assistência à criança e família, sendo
que, é o profissional Enfermeiro o responsável por prescrever e supervisionar a equipe
no âmbito de aplicação desta técnica (COFEN, 2017). Logo, faz-se
imprescindível queo profissional venha a desenvolver afinidade, aptidão e domínio
sobre o BT.
A justificativa para a escolha do Diabetes Mellitus tipo I (DM1) para o
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456

desenvolvimento do BT decorre do fato de que o DM1 é uma Doença Crônica Não


Transmissível (DCNT), logo, a assistência à pacientes diagnosticados se estenderá por
todo o ciclo vital, sendo que, quanto mais precocemente o indivíduo recebe as
instruções e orientações adequadas, maior será a potencialidade deste se tornar um
ser ativo e consciente dentro do seu processo de saúde. Além de que, como grande
parte dos diagnósticos de DM1 ocorre na infância ou adolescência, em que os
processos neuronais ainda não estão completamente amadurecidos, pode haver
dificuldade em compreender o processo patológico, seu tratamento e as necessidades
de alterações nos hábitos de vida.
O objetivo do atual trabalho é descrever a experiência de acadêmicos de
Enfermagem frente à construção e desenvolvimento de um protótipo de BT de baixo
custo direcionado à crianças diagnosticadas com DM1.

2 Desenvolvimento

2.1 Justificativa

O DM1, também conhecido como diabetes juvenil ou insulino dependente,


possui como mecanismo fisiopatológico a destruição das células tipo beta pancreáticas
devido a um processo autoimune ainda não esclarecido totalmente, porém, acarreta no
comprometimento da capacidade total de produção de insulina, a qual é fundamental
para garantir a homeostase glicêmica (MALAQUIAS, T, S, M, et al, 2016). Logo,
observa-se que crianças com DM1 necessitarão diariamente da injecção de insulina
subcutânea, o que exige cuidados para a sua correta utilização no sentido de prevenir
a lipohipertrofia do tecido subcutâneo, hiper ou hipoglicemia e outras complicações
(BANCA, R, O, L, et al, 2019).
É indiscutível o impacto que as ações de Promoção e Educação em Saúde
possuem dentro do contexto de prevenção de complicações, porém, é necessário que
as estratégias adotadas sejam desenvolvidas de forma integralizada, com metodologia
adequada à faixa etária alvo e aos fatores socioeducacionais para que seja,
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457

de fato, uma ação efetiva e resolutiva ao que se propõe. Dentro deste contexto, o BT
constitui-se como uma ferramenta com amplo dinamismo, visto que contempla 3
classificações: dramático, capacitador de funções fisiológicas e instrucional (BANCA, R,
O, L, et al, 2019), sendo o BT trabalhado neste estudo o do tipo Instrucional.
Sendo assim, o enfermeiro que assistencializar o público infanto juvenil com
DM1 deve estar apto à realizar as recomendações atualizadas sobre a doença e todas
as suas implicações, logo, o profissional deve fornecer todas as orientações
necessárias e pertinentes acerca dos cuidados com as formas de aplicar, armazenar,
conservar e descartar a medicação e os materiais utilizados para tal, também
esclarecendo acerca da utilização do glicosímetro, leitura e interpretação dos seus
dados. Porém, tão importante quanto lançar as orientações técnicas e científicas, é
lançá-las de maneira pertinente e adequada ao público à qual se destinam com
linguagem compreensível e descomplicada para que haja, de fato, uma comunicação
efetiva e resolutiva.
O emprego do BT permite ao enfermeiro comunicar-se com a criança
eficazmente, na linguagem dela, através do brincar, sendo que, tal técnica também
favorece a exteriorização dos sentimentos da criança, permitindo ao profissional
identificar suas necessidades para, a partir daí, traçar um plano terapêutico singular
que atenda suas necessidade (DA CRUZ, et al, 2013).
Se espera que esse BT possa ser útil para fornecer maior entendimento da
condição de saúde, suporte emocional e profissional, e que possa oferecer ao público
alvo maior aceitação e autonomia mediante os cuidados a serem implementados e
praticados.

2.2 Percurso metodológico

Trata-se de um estudo na modalidade relato de experiência baseado e


desenvolvido a partir da vivência de acadêmicos pertencentes ao Núcleo de Cuidados
de Enfermagem à Criança e Adolescentes do curso de Bacharelado em Enfermagem
do Instituto Federal do Paraná. O projeto relatado foi desenvolvido entre agosto e
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outubro de 2021 e contou com a criação e o desenvolvimento de um protótipo de BT de


baixo custo, possuindo como público alvo da ação crianças com diagnóstico de DM1. O
processo de planejamento do BT se deu através de encontros via plataforma online
entre os integrantes do grupo e a elaboração designada à um dos autores devido ao
distanciamento social estabelecido durante a execução deste projeto.
O brinquedo foi nomeado “Insulinoamigo” pois visa possibilitar maior vínculo e
aceitação entre a criança e seu tratamento para que ela consiga visualizá-lo como uma
estratégia que poderá lhe ofertar mais qualidade de vida e não como um tratamento
que só lhe causa dor e incômodo. O BT “Insulinoamigo” é formado por um conjunto de
estratégias e metodologias que serão abordadas detalhadamente a seguir.
O protótipo possui os bonecos com marcações anatômicas que sinalizam os
locais mais indicados e recomendados para a aplicação da insulina. Esses
instrumentos, por conterem grande quantitativo de algodão e outros materiais
maleáveis, ofertam a possibilidade de incentivar as crianças a realizarem a angulação
adequada para inserção da agulha para os injetáveis subcutâneos, como é o caso da
insulina, e também, pode-se utilizá-los para instruir a maneira correta de realização da
prega subcutânea. Logo, pode-se trabalhar a confiança da criança, fazendo com que
ela se sinta mais instruída e capaz de realizar os cuidados com sua própria saúde, o
que também possibilita caminhos para que essa criança possua mais autonomia e
conhecimento diante processo de saúde.

Figura 1 Bonecos com indicação dos locais para aplicação da insulinaFonte: Os autores (2021)

O BT também conta com a “Roleta Insulinoamiga” utilizada com o intuito de


incentivar o rodízio dos locais de aplicação insulínica. Essa roleta possui a base feita
com materiais recicláveis (isopor, peças para fixação da flecha indicativa e etc) e com
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459

outros materiais de baixo custo (impressões, material E.V.A, tecido do tipo T.N.T e etc)
a fim de ilustrar e ofertar ludicidade ao momento. A roleta possui uma interface intuitiva
e multiobjetiva, pois visa possibilitar que a criança monitore e controle os locais de
aplicação da insulina, além de que, oferta outros estímulos simultâneos à criança,
como o emprego dos dispositivos removíveis (VELCRO®) onde a criança é estimulada a
fixar e remover peças o que também auxilia o desenvolvimento de sua coordenação
motora fina. Além disso, o sistema de fixadores e fechos removíveis (VELCRO®)
possibilita que ao terminar todas as opções de rodízio, as peças sejam removidas e
recolocadas no espaço abaixo da roleta, logo, a roleta pode ser usada para iniciar outro
ciclo de aplicações insulínicas.
Basicamente, devemos instruir a criança à girar o ponteiro localizado
centralmente, o qual irá indicar um local para a aplicação medicamentosa, e sempre
que feito isso, a figura de verificação (✅) é adicionada ao local para demarcação.

Devemos orientar que, caso o ponteiro aponte para uma região já aplicada neste
rodízio, a criança deve girar novamente até que caia em um local ainda não demarcado
e assim que todas as figuras receberem a verificação, se retiram os símbolos e a
criança volta a girar a roleta com todas as opções (iniciando um novo rodízio).

Figura 2 Roleta para incentivo do rodízio insulínico


Fonte: Os autores (2021)

ISSN 2237-700X
460

Outro componente do BT proposto é o “Kit Insulinoamigo” com guloseimas para


consumo em caso de hipoglicemia, além do glicosímetro para aferição e
monitoramento dos níveis glicêmicos, bomba de infusão insulínica e a seringa e agulha
de aplicação. Esse kit visa também esclarecer a criança acerca dos equipamentos e
materiais que passarão a ser frequentes em sua rotina, portanto, o “Kit Insulinoamigo”
por ser lúdico, colorido e atrativo também pode ser empregado para aproximar a
criança dos materiais e desconstruir insegurança e medo que podem surgir em relação
aos equipamentos de saúde.

Figura 3 Kit InsulinoamigoFonte: Os autores (2021)

Como o BT apresenta amplo dinamismo, a indicação e aplicação deste


brinquedo pode ocorrer tanto no âmbito de atenção especializada ou em outro ponto de
referência da rede assistencial, como na atenção primária. Além disso, a faixa etária a
qual se destina pode englobar a fase pré-escolar, fase da segunda infância e até
mesmo a fase da adolescência, uma vez que, pode se alterar a forma de aplicabilidade
e apresentação do brinquedo para que um maior público seja atingido.
As orientações de uso podem se adaptar à faixa etária a qual o brinquedo está
sendo aplicado, porém, basicamente, se espera que ele seja sempre utilizado na
presença do profissional Enfermeiro para que haja as devidas orientações, as quais
devem ser realizadas de maneira individualizada e com palavreado adequado para
cada faixa etária e para cada nível de escolaridade.

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461

Este protótipo não visa retirar a responsabilização dos pais e cuidadores


diante o estado de saúde da criança diagnosticada com DM1, mas propõe-se a
possibilitar um processo de responsabilização gradual à criança, ofertando maior
incentivo à autonomia e consciência sobre o seu estado de saúde e as medidas de
manutenção dele.

3 Considerações finais

O atual protótipo, como uma prática assistencial em saúde para o público


infantil acometido pelo DM1, pode ser uma estratégia que possibilita uma maior
humanização da assistência, pois o “Insulinoamigo” pode ser um catalisador para
uma comunicação mais eficaz e resolutiva entre profissional-família-criança, visto
que, a prática utilizando o BT pode fornecer um espaço-tempo adequado para que o
profissional oriente crianças e pais. O emprego desta tecnologia também oferta que
o profissional observe e atue nos pontos de dificuldade e insegurança da criança,
possibilitando que a criança e sua rede de apoio desenvolvam a autonomia
necessária para fazer o manejo da condição de saúde, suas possíveis complicações
e como reconhecê-las e manejá-las caso ocorram. Por ser um protótipo de baixo
custo, pode ser uma tecnologia em saúde mais acessível e ter seu emprego em
maior escala.
No que tange produção em saúde, há grande importância dada às ações de
cuidado pautadas em graus tecnológicos leves, visto que as mesmas condensam
em si as relações de interação e subjetividade, podendo dentro do atual contexto
pandêmico, produzir o acolhimento, vínculo, responsabilização e autonomização
(CECCON; SCHNEIDER, 2020) sendo ainda, o enfrentamento à pandemia um
momento oportuno produzir cuidado permeado pelas tecnologias leves. Portanto,
aproximar-se de uma temática tão relevante quanto a implementação do BT para a
assistência implica diretamente na prática profissional dos acadêmicos, pois, a
construção deste protótipo ainda durante a graduação permite desenvolver mais
domínio, conhecimento e habilidade perante o emprego de tecnologias de baixo
custo no âmbito assistencial. Além disso, é conclusivo que as ações educativas
ofertadas pelo protótipo podem possibilitar que a criança amplie o conhecimento

ISSN 2237-700X
462

sobre a sua condição de saúde e também consiga incorporar os saberes adquiridos


em sua rotina.

Referências

ARANHA, B. F. et al. Utilizando o brinquedo terapêutico instrucional durante a


admissão de crianças no hospital: percepção da família. Rev Gaúcha Enferm. v.
41, 2020.

BANCA, R. O. L. et al. Brinquedo terapêutico no ensino da insulinoterapia a


crianças com diabetes: estudo de caso qualitativo. Rev. Eletr. Enferm. v.21, 2019.

CANÊZ, J. B. et al. O brinquedo terapêutico no cuidado à criança hospitalizada. Rev.


Enfermagem atual in derme. v.88, n.26, 2019.

CECCON, R. F.; SCHNEIDER, I. J. C. Tecnologias leves e educação em saúde


no enfrentamento à pandemia da COVID- 19. Universidade Federal de Santa
Catarina. v1, 2020. Disponível em:
<https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/136/160> Acesso em:
29 ago. 2020.

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução Cofen


n°546/2017.
Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-
05462017_52036.html>Acesso em: 27 Ago. 2021.

DA CRUZ, D. S. M. et al. Humanização da assistência de enfermagem: relato de


caso sobre o uso do brinquedo terapêutico. Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança.
Dez. v. 11,n. 3, p.47-53, 2013.

MALAQUIAS, T. S. M. et al. A criança e o adolescente com Diabetes Mellitus tipo


1: Desdobrar do cuidado familiar. Cogitare Enferm. v. 21, n. 1. Jan/mar, 2016.

ISSN 2237-700X
463

RELAÇÕES ENTRE PSICOLOGIA E LITERATURA: UM OLHAR ANALÍTICO A


PARTIR DE FREUD E JUNG

Alexandre Collares Baiocchi (alexandr.baiocchi@ifpr.edu.br) ¹


Camila Macenhan (camila.macenhan@ifpr.edu.br)²
Rodrigo Batista de Almeida (rodrigo.almeida@ifpr.edu.br)³
Arlete da Conceição Otto de Camargo (letecamarg@.gmail.com)4
João Victor de Oliveira (joaovictordeoliveira765@gmail.com)5
Lucilene Cezario (lucilenecezario13@gmail.com)6
Stefani Pacheco Skodowski (stefani.skodowski@ifpr.edu.br)7
1,2,3,4,5,6,7
Instituto Federal do Paraná/Campus Palmas

Resumo: A Literatura é uma das principais formas de expressão humana, uma


vez que leitura e escrita são, além de métodos de registro, representações de
afetividade, concepções, personalidade e cognição. Pensando nisso, o presente
artigo trata da relação da Literatura com a Área de Psicologia, objetivando a
ampliação desse campo de estudo, que é pouco explorado no Brasil. Para isso,
traz-se uma pesquisa que, por meio da análise da obra literária, assim como os
processos de criação literária e de formação de leitores, abarca também a
importância da leitura no processo de aprendizagem. Em linhas gerais, é
apresentado o campo de pesquisa e suas interfaces, a Psicanálise e a Psicologia
Analítica, a importância da leitura no processo de ensino-aprendizagem,
considerando a Literatura como um dos clássicos indispensáveis para a
apropriação da cultura humana, as relações entre as visões específicas dos
fenômenos pela Psicologia e representação destas nas obras literárias e a
repercussão destes fenômenos na condição humana. Constatou-se, nesse
sentido, que são infindas as possibilidades de trabalho entre estes dois campos de
estudos e que a correlação entre eles muito diz acerca do processo de criação
e recepção da obra literária.Além disso, constata-se o grande potencial expansivo
da obra literária no tocante ao desenvolvimento dos processos cognitivos, sociais,
culturais e individuais, por meio da interação obra-autor-leitor e da interação
destes pares com o contexto - tanto de produção, quanto de leitura.

Palavras-chave: Psicologia. Literatura. Psicanálise. Psicologia Analítica. Leitura e


Aprendizagem.

Abstract: Literature is one of the main forms of human expression, since reading
and writing are, in addition to recording methods, representations of affectivity,
conceptions, personality and cognition. Thinking about it, this article deals with the
relationship between Literature and the Area of Psychology, with the aim of
expanding this field of study, which is still little explored in Brazil. Therefore, it is
proposed research that, through the analysis of the literary work, as well as the
processes of literary creation and reader formation, also encompasses the
importance of reading in the learning process. In general terms, the research field
and its interfaces, Psychoanalysis and Analytical Psychology, are presented, the
importance of reading in the teaching-learning process, considering Literature as
one of the indispensable classics for the relationships of human culture, the
ISSN 2237-700X
464

between the specific looks. of the phenomena through Psychology and its
representation in literary works and the repercussion of these phenomena on the
human condition. In this sense, it was found that the possibilities of work between
these two fields of studies are infinite and that the correlation between them says a
lot about the process of creation and reception of the literary work. In addition,
there is a great potential for expansion of the literary work with regard to the
development of cognitive, social, cultural and individual processes, through the
work-author-reader interaction and the interaction of these pairs with the context -
both production and ofreading.

Keywords: Psychology. Literature. Psychoanalysis. Analytical Psychology.


Reading and Learning.

1 Introdução

O presente artigo foi desenvolvido a partir dos estudos realizados no Projeto


Psicologia e Literatura, que visa contemplar a relação entre Psicologia e Literatura,
já trabalhada por June E. Dewey, Rudolf Arnheim, Alberta Cantarello, Howard
Gardner, Anastasio Ovejero Bernal e Dante Moreira Leite em interface com a
Psicologia Social, a Psicologia Cognitiva, Gestalt e Psicanálise, bem como por meio
das teorias clássicas de Sigmund Freud, Carl Gustav Jung, Lev Vigotski, Gustave
Bachelard e John Dewey. Portanto, é um campo que já foi explorado anteriormente
na academia, apesar de os registros não serem muitos.
O objetivo da pesquisa aqui desenvolvida é de ampliar o campo de estudo no
Brasil, ressaltando a análise da obra literária, assim como os processos de criação
literária e de formação de leitores. Este último tópico é fundamental também para a
área da Psicologia Educacional. A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica,
ressignificando conceitos já estão escritos e ao mesmo tempo significando e
apontando ideias e sentidos novos a este campo de estudo.
A literatura é uma expressão humana, pois a leitura e a escrita são
manifestações da afetividade, personalidade e cognição humanas. Assim, este
projeto de pesquisa, tal como este artigo, ao aliar a Psicologia, pretende agregar a
importância e a valorização das ciências humanas nos estudos das manifestações
artísticas no contexto educacional, principalmente nos processos de criatividade,
escrita e leitura que são seminais no processo de aprendizagem.
Partindo deste entendimento, essa relação será abordada a partir das visões
da Psicanálise e da Psicologia Analítica, perpassando por um viés da Psicologia
ISSN 2237-700X
465

Histórico-Cultural e no desenvolvimento da Literatura. O presente texto também


evidencia a apropriação da cultura humana e relações entre as visões específicas
dos fenômenos pela Psicologia (percepção/imaginação) e representação nas obras
literárias (criação).

2 Desenvolvimento

2.1 Aproximações possíveis (e necessárias) entre Psicologia e


Literatura:possibilidades metodológicas e epistemológicas

Delimitar a interface entre os campos da Psicologia e da Literatura pode ser


tão desafiador quanto interessante, uma vez que a Literatura apresenta o ser
humano exposto em diferentes situações e o reconhecimento dos elementos
psicológicos que condicionam as relações sociais apresentadas nas diferentes
obras literárias constitui um profícuo campo de pesquisa.
As possibilidades epistemológicas do entrelaçamento da Psicologia com a
Literatura estão diretamente vinculadas à experiência de leitura, pois é na leitura
que se constitui o sentido do texto. O contato que o leitor tem com a obra literária
faz emergir inúmeros questionamentos, incluindo os mais inusitados ou insuspeitos,
haja vista a experiência de leitura sempre ocorrer de forma individualizada,
circunscrita às percepções de cada leitor (COLONNESE; FREITAS, 2018).
Fica explícito, portanto, que a Literatura, vista na perspectiva da Psicologia,
obrigatoriamente envolve três elementos indissociáveis: obra, escritor e leitor. Como
seria de se supor, a arquitetura do texto selecionada pelo escritor confere à obra
características muito peculiares que se traduzem em múltiplos sentidos, a depender
da atividade de leitura. Desse modo, há grande possibilidade de convergência e
interlocução de ideias entre Psicologia e Literatura, explorando-se tanto os
processos criativos como os processos mentais (JUNQUEIRA; SCORSOLINI-
COMIN, 2021).
Como aporte metodológico, há diferentes teorias no âmbito da Psicologia que
podem ser utilizadas na intersecção envolvendo Psicologia e Literatura, as quais

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466

não serão aprofundadas neste momento. Neste excerto do texto, apresentar-se-á


um problema (um enigma) na história de D. Quixote apresentado em diferentes
fragmentos. Em vez de se aprofundar em todas as possibilidades metodológicas,
abordando diferentes correntes da Psicologia, essa seleção deliberada de
fragmentos serve apenas como exemplo de uma aproximação entre Psicologia e
Literatura.
A história de D. Quixote é mundialmente conhecida, tendo sido escrita no
início do século XVII, pelo escritor espanhol Miguel de Cervantes. A obra é dividida
em dois livros, publicados em intervalo de dez anos. O primeiro livro, de 1605, é
intitulado O engenhoso fidalgo D. Quixote de La Mancha e é dividido em 52
capítulos distribuídos em quatro partes. O segundo livro, O engenhoso cavaleiro D.
Quixote de La Mancha, foi publicado somente em 1615, e nele constam 74
capítulos. As análises apresentadas neste artigo referem-se às edições brasileiras
publicadas pela Editora 34, com tradução de Sérgio Molina e apresentação de Maria
Augusta da Costa Vieira, professora de Literatura Espanhola da Universidade de
São Paulo. Os dois livros apresentam-se numa edição bilingue (português e
espanhol), com gravuras de Gustave Doré.
A história explora a relação entre os personagens D. Quixote e Sancho
Pança. D. Quixote, encantado com as histórias de cavalaria que lia nos livros,
resolve correr o mundo em busca de aventuras. No entanto, a tradição da cavalaria
andante já estava em declínio nessa época, fato até então ignorado por D. Quixote.
Como lera nas histórias de cavalaria, D. Quixote precisava de um escudeiro e
encontrou um bom candidato na figura de Sancho Pança. Sancho morava próximo
de D. Quixote juntou-se a ele atraído pela promessa de se tornar o governador de
uma insula.
Logo no primeiro capítulo (do primeiro livro), o narrador adverte o leitor sobre
o estado de perturbação mental que acometia D. Quixote, o qual “lendo passava as
noites de claro em claro e os dias de sombra a sombra; e, assim, do pouco dormir e
muito ler se lhe secaram os miolos, de modo que veio a perder o juízo”
(SAAVEDRA, 2005, p. 57).
Fica explícito, portanto, logo no início, além do problema de D. Quixote, os
riscos de uma leitura em profusão e isso pode ser uma das primeiras incógnitas
apresentadas no livro, a qual pode ser adequadamente explorada por estudos em

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467

que se vincula Psicologia com Literatura.


No fragmento do capítulo XXV (Primeiro Livro), Sancho, que estava
cumprindo uma regra de silêncio imposta por D. Quixote, pede para ir embora ficar
junto à sua família, pois “é duro e difícil de sofrer à paciência este andar toda a vida
buscando aventuras sem nada ganhar além de coices e manteaduras, tijolaços e
punhadas e, para cúmulo, ter de coser a boca, sem poder o cristão dizer o que traz
no peito, como se fosse mudo” (SAAVEDRA, 2005, p. 324).
No mesmo capítulo, D. Quixote pergunta a Sancho onde está o elmo de
Mambrino. Na realidade, era uma bacia de barbeiro que D. Quixote havia tomado
por um elmo, uma espécie de capacete. O delírio de D. Quixote era ainda mais
complexo. A bacia de barbeiro não seria um simples elmo, mas o elmo de
Mambrino, conferindo poderes especiais aos cavaleiros que o usassem.
Sancho, irritado, fala que ele só pode ser louco e que essa história de
conquistar reinos e impérios, de dar ínsulas e de fazer outras mercês e grandezas
só pode ser mentira, porque só pode ser falta de juízo achar que uma bacia de
barbeiro é um elmo de Mambrino.
No capítulo XXVIII do segundo livro, Sancho volta a demonstrar
ressentimento com D. Quixote, falando que
a cada dia vou descobrindo o pouco que posso esperar da companhia de
vossa mercê; porque, se dessa vez me deixou espancar, outra e outras
cem voltaremos às famosas manteações e outras travessuras que, seagora
me custaram os costados, depois me custarão os olhos. [...] muito melhor
faria eu, [...] em voltar para minha casa e minha mulher e meus filhos, e
sustentá-la e criá-los com o que Deus foi servido de me dar, e não andar
atrás de vossa mercê por caminhos sem caminho e por trilhas e carreiras
que não têm nenhuma, bebendo mal e comendo pior. [...] Queimado eu veja
e feito pó o primeiro que pôs a andar a andante cavalaria, ou pelo menos o
primeiro que quis ser escudeiro de tais tontos como devem de haver sido
todos os cavaleiros andantes passados (SAAVEDRA, 2012, p. 355).

Ao final, no último capítulo (capítulo LXXIV do segundo livro), D. Quixote


pede perdão a Sancho: “– Perdoa-me, amigo, da ocasião que te dei de parecer
louco como eu, fazendo-te cair no erro em que eu caí de que houve e há cavaleiros
andantes no mundo” (SAAVEDRA, 2012, p. 844).
As possibilidades de investigação dos fragmentos selecionados, portanto, são
múltiplas e podem esclarecer aspectos da Psicologia do escritor, do narrador, dos
personagens e do leitor. O exercício de desvendar as motivações do escritor pode
se mostrar uma tarefa de difícil execução, sobretudo pelo tempo transcorrido desde

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468

a concepção da obra, que já passa de quatro séculos. A leitura distanciada por 400
anos corre o risco de se mostrar rasa, pois simplificações poderiam mascarar
detalhes essenciais da obra. No entanto, apesar dos desafios quase intransponíveis
de se “ler” o mundo do início do século XVII no século XXI, a investigação dos
processos mentais apresentados nesta obra literária pode ser uma importante
ferramenta para se explorar os diferentes aspectos da arquitetura textual.
Por outro lado, há que se investigar o sentido de o narrador advertir o leitor,
logo no início, tanto sobre os “perigos” da leitura, como da condição mental do
protagonista, D. Quixote. E o que explica (ou pode explicar) a perseverança do leitor
em se lançar para uma leitura extensa, por um lado, e previsível, por outro (haja
vista se tratar de uma história sobre um “louco” e que, portanto, será uma coleção
de “loucuras”) é outro ponto a ser investigado pela abordagem da Literatura pela
Psicologia. A disposição dos vocábulos “louco” e “loucura” entre aspas faz-se
necessário para ressaltar o sentido pejorativo desses termos, embora empregados
pelo autor.
Por fim, um dos maiores enigmas da história de D. Quixote é a dedicação
incondicional prestada por Sancho Pança. Por que Sancho não abandona D.
Quixote logo nos primeiros sinais de “loucura”? No vigésimo quinto capítulo (de 52
do primeiro livro), Sancho já acumula desconfiança suficiente do estado mental
peculiar de D. Quixote ao mesmo tempo que conclui que a vida de escudeiro só é
causa de problemas.
O descontentamento de Sancho perpassa toda a obra, como demonstrado no
capítulo XXVIII do segundo livro, em que Sancho demonstra interesse em voltar
para a casa, mas não volta. Por que Sancho não abandona D. Quixote? O que
sustenta a hesitação de Sancho? Uma possibilidade poderia ser a tomada de
consciência de D. Quixote sobre as inadequações em relação à insistência de se
fazer cavaleiro andante. Isso realmente aconteceu, mas somente no último capítulo
do segundo livro. Essa questão, portanto, é mais um dos desafios a que o
entrelaçamento da Psicologia com a Literatura se propõe a esmiuçar. Aos que
aceitarem o desafio, escolham suas correntes (psicológicas).

2.2 Correntes teóricas

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• Psicanálise

A Psicanálise é um campo teórico de intervenção clínica em saúde mental


postulado pelo médico austríaco Sigmund Freud no final do século XIX. Embora o
foco central da Psicanálise seja o estudo da constituição da personalidade e da
sexualidade humana, Freud elaborou alguns textos sobre estética, alguns deles com
ênfase na literatura. Antes de aprofundarmos as principais considerações
psicanalíticas sobre o campo da literatura, cabe ressaltar alguns postulados de
Freud sobre a personalidade humana para uma maior compreensão da própria
Psicanálise aplicada à Literatura.
Freud (1900/1942), em um estudo denominado A Interpretação dos Sonhos,
postula que o mundo onírico, ou seja, os sonhos, são tipos de estruturas narrativas.
Estas estruturas se constituem de manifestações do inconsciente individual de cada
ser humano, ressaltando que o inconsciente, por sua vez, constitui-se dos aspectos
ocultos, adormecidos de uma personalidade. No inconsciente, situam-se os
impulsos instintivos e as pulsões, energias psíquicas direcionadas a determinado
objeto vital. Podemos afirmar que os instintos e pulsões que Freud denominou de Id
são forças motrizes dos desejos e das fantasias. E Freud (1900/1942) determinaque
a função onírica é a expressão das fantasias e dos desejos recalcados, reprimidos
do homem consciente (sendo o consciente como o aspecto visível de uma
personalidade).
Entretanto, Freud (1900/1942) ressalta que nem todo o conteúdo onírico, dos
sonhos, manifesta-se no consciente. Evidente que este fenômeno pode diferir de
sujeito para sujeito, conforme os mecanismos de defesa (recalque, repressão,
deslocamento) presentes na estrutura mor da personalidade do sujeito (EGO, que
significa EU). Ou seja, sujeitos com o EGO mais fortalecido tendem a ter
mecanismos de defesa mais eficazes. Estes mecanismos servem para reprimir
muitos instintos ou desejos que podem ser nocivos ao indivíduo, como a sociedade
em que vive. E a transformação destes instintos e desejos em algo útil ao sujeito e à
sociedade denomina-se sublimação que pode inclusive ser direcionada à criação
artística.

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Em um estudo denominado O Delírio e os Sonhos na “Gradiva” de W.Jensen


(1907/1942) Freud ressalta a relevância dos sonhos nas manifestações artísticas;
neste artigo específico Freud ao analisar a obra em questão, Gradiva, estabelece os
sonhos como impulsores no processo de criação, visto que o mundo onírico pode
originar fantasias e é desprovido da arbitrariedade concernente ao mundo real,
vivido, regido pelo princípio do prazer, ao passo que o mundo onírico possui, mesmo
que inconscientemente, uma fronteira muito tênue com a imaginação, fonte de toda
fantasia criativa e regida pelo princípio do prazer. A tese da relação do onírico, da
livre fantasia como propulsoras das manifestações artístico literárias foi endossada
posteriormente nas décadas de 1920 e 1930 do século XX pelos artistas do
movimento de vanguarda surrealista, que justamente explorava a livre fantasia
imaginativa, a escrita automática, o absurdo irreal do onírico, em suas criações que
abrangiam a literatura, a pintura e o cinema, com nomes como André Breton,
Salvador Dalí e Fernand Léger, dentre outros.
O processo de criação artística está presente em outros escritos de Sigmund
Freud como O Poeta e o Fantasiar (1908/1942). Neste, especificamente, Freud
compara o ato de criação literária do poeta com o brincar da criança; ambos se
utilizam da imaginação, da fantasia, só que enquanto o poeta brinca com as
palavras que se transformam em versos, a criança brinca com os bonecos, com os
jogos, que adquirem vida. Todo este universo simbólico criado pelo poeta e pela
criança podem se originar do mundo onírico, ou mesmo da imaginação, que mesmo
consciente, pode ter origem inconsciente, tanto que a palavra fantasia (exercício da
imaginação) deriva do grego phos que significa aparecer. Casualmente, a palavra
fantasma, também se origina do grego phos (fantasmas ou espíritos que se
materializam em obras de escritores do gênero de terror como E.T.A. Hoffmann,
Edgar Allan Poe, Henry James, ou mesmo Stephen King, mais contemporâneo).
Portanto, a imaginação como o brincar dá luz tanto aos aspectos positivos como
aspectos negativos da personalidade, que podem ser sublimados em um processo
de criação artística.

• Análise literária, para título de exemplificação, baseada na


psicanálise

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Freud descreve em seu ensaio "Personagens Psicopáticos no Palco" (1902 e


1906; 1942), a recepção do leitor enquanto esteta (apreciador do belo) para purgar
seus afetos (catarse), libertar suas paixões sufocadas. É nas autorias de reelaborar,
recriar a obra conforme conteúdos de sua própria subjetividade que o leitor, assim
como espectadores de uma peça no teatro, experimenta, vive, incorpora
sentimentos/expressões trabalhados pela obra. Dessa forma, postulando relações
entre a criança e o espectador adulto, Freud (1942, p. 2) assinala, “ser espectador
participante do jogo dramático significa, para o adulto, o que representa o brincar
para a criança, que assim gratifica suas expectativas hesitantes de se igualar aos
adultos.” Neste caso, o processo criativo fica evidente tanto para o autor quanto
para o receptor.
Tais produções travadas a partir da recepção, proporcionam ao interlocutor
elaborações de fenômenos inconscientes, trazem os fenômenos à luz da razão
(consciente). Utilizamos histórias, contidas na biografia dos personagens, para
representar nosso próprio mundo inconsciente (arcabouço de aspectos
reprimidos/recalcados/adormecidos do cérebro), não anulando as projeções
conscientes. Em outras palavras, "o mundo é todo representação” , ou, “o mundo é
minha representação". E todo universo imaterial fluindo em cada indivíduo constitui-
se por meio delas, uma vez que observamos nessas trajetórias, leitores
desenvolvendo sua imaginação, empatia e alteridade, diminuindo traços narcisistas
que podem desencadear patologias mentais.
Vemos em cena, disposta no segundo ato da peça Hamlet, de William
Shakespeare, a fatídica demonstração exemplificada, ou a tentativa da expurgação,
quando o ator entra no cenário, acompanhado de um livro e ouvindo vozes de
Polônio (pai de sua musa, Ofélia). O interlocutor interfere e questiona, dentre tantas
falas, qual tema está lendo. Hamlet responde a célebre frase "palavras, palavras,
palavras..." de onde retiramos a inquietação.
Poderia o príncipe da Dinamarca estar tentando interpretar sua tragédia mal-
elaborada? Segundo a teoria freudiana, seria lícito ser essa uma afirmação. Como
aquela leitura não traz elaborações aos ditames de sua realidade presente, nosso
herói, que buscava explicações condizentes às problemáticas particularmenteligadas
àquele contexto, lê somente “palavras, palavras, palavras”; ou seja, não poderia

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elaborar conteúdos inconscientes, que o afligiam ali, não era possível por meio da
obra carregada em mãos. Estando distante daquelas perguntas, qualquer livro traria
somente "palavras, palavras, palavras..."
Ainda continuando em Hamlet, a relação com o pai é demasiadamente
enfatizada. Nesta, o antigo rei da Dinamarca, também carregando o nome de
Hamlet, é assassinado pelo irmão. Surgindo, conforme desenrolar da narrativa, na
figura fantasmagórica do rei (como diria Freud, quando o mesmo postula
inferências sobre “demônios” internos trabalhados pela psicoterapia, parte dos
“fantasmas” presentes em nosso inconsciente), assombrando seu filho, guiando
direções à peça, soprando naquele ouvido específico a alegoria das coisas
acontecidas posteriormente; ou, dizendo em termos psicanalíticos, inflamando a
ferida narcísica, piorando certo luto mal-elaborado(majoritariamente detido no
inconsciente).
Hipoteticamente, o superego (funções psíquicas que atribuem moral ao
sujeito) assume fundamental chave-teórica nesse embate. Claramente o pai atribui
normas, regras do convívio social(por vezes diretamente) às ações do príncipe.
Como também somos guiados segundo ideais moralistas que atingimos mediados
pela educação dos “pais nossos”(nossos genitores).

• Psicologia Analítica

A Psicologia Analítica é um campo teórico postulado pelo pensador suíço Carl


Gustav Jung (1875-1961) que foi inicialmente aluno e discípulo de Sigmund Freud
(1856-1939). Jung, a partir de 1910, se separa de Freud por discordar de alguns
postulados da psicanálise, sobretudo o que concerne a teoria da sexualidade e ao
reducionismo presente em muitas das ideias de Sigmund Freud.
Dentre as novas concepções, enquanto Freud enfatizava o inconsciente
individual, Jung (2007) postula a existência de um inconsciente coletivo em todos os
seres humanos; neste inconsciente coletivo, está a presença de diferentes símbolos
culturais que pertencem à ancestralidade da humanidade e que vão se perpetuando
transgeracionalmente, tais símbolos são denominados arquétipos. Também há em
cada ser humano personas (nome dados às máscaras usadas por atores que
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473

representavam cada personagem no teatro greco-romano antigo) que vão se


constituindo em diferentes fases da vida de um sujeito e assim moldando a sua
personalidade. Lembramos que o conceito de personalidade para Jung é muito mais
maleável do que para Freud: Jung considera a personalidade, por meio das
diferentes personas ou papéis sociais que o sujeito vai desenvolvendo em diferentes
situações da sua vida, vai se constituindo ao longo da vida. Freud enfatiza que a
personalidade humana se consolida na infância.
Jung (2007) possui muitas contribuições para a análise das obras de arte,
sobretudo, na literatura. Jung divide a literatura em dois tipos: a literatura psicológica
e a literatura visionária. A primeira se refere ao romance e à poesia psicológicas
típicas, onde há uma descrição concreta, verossímil, dos personagens ou do eu
lírico envolvidos. No caso da prosa, podemos citar os romances naturalistas do
século XIX como exemplos de literatura psicológica (O Cortiço de Aluísio de
Azevedo, Germinal de Émile Zola) e na poesia parnasiana, onde a ênfase na forma
e na realidade concreta são os constructos mais valorizados, assim como uma
métrica extremamente específica.
A literatura visionária é a mais aprofundada por Jung (2007). Segundo este
pensador, esta forma de expressão literária abarca os diferentes arquétipos
humanos; tais arquétipos, presentes no inconsciente coletivo, são impulsionadores
da criação artística e mediam o imaginário do escritor como do leitor. São exemplos
de arquétipos: deuses, anjos, demônios, figuras mitológicas, o herói, o vilão, assim
como a anima e o animus. Anima é a alma feminina que cada homem possui;
animus é a alma masculina da mulher. Para Jung, estes dois arquétipos, além de
auxiliarem na relação afetiva entre as pessoas, estão presentes na criação literária.
É o exemplo de um escritor masculino que escreva com o eu lírico feminino em um
poema ou mesmo um leitor masculino que se apropria e tem uma relação empática
na leitura de autoras que se caracterizam pela feminilidade em seu estilo formal e
conteudístico como Clarice Lispector e Hilda Hilst na literatura brasileira ou Anne
Sexton e Ingeborg Bachmann nas literaturas americana e austríaca,
respectivamente.
Na literatura fantástica temos vários exemplos de arquétipos, principalmente
os relacionados às divindades religiosas e seres mitológicos como nos contos e
novelas de dois autores americanos dos anos 30 do século XX como Robert E.

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474

Howard e H. P. Lovecraft, sendo que as obras estão povoadas de seres


monstruosos, pertencentes a mitos de eras imemoriais da humanidade. E não
temos como esquecer o poema Paraíso Perdido, de John Milton (1608-1674), que
baseado em um mito bíblico judaico-cristão, narra a rebelião de um grupo de anjos
no Céu e quando derrotados, caem na Terra. Estes anjos caídos transformam-se
em demônios .
Evidentemente há outros exemplos literários, mas o tempo e o espaço não
permitem no presente estudo. Mas cremos ser os exemplos citados elucidativos
para mostrar a importância da relação entre Psicologia e Literatura, na perspectiva
de Carl Gustav Jung e este mesmo autor (2007) instiga a literatura, por meio,
principalmente do modo visionário, um dos mais férteis caminhos para refletirmos a
alma humana, objeto de estudo da Psicologia, como ciência.

2.3 A importância da leitura no processo de ensino-aprendizagem:


Literatura, recepção e humanização

A Psicologia Histórico-Cultural abarca um entrelaçamento entre os aspectos


cultural e biológico na busca pela compreensão do desenvolvimento do psiquismo
humano e da natureza humana em si (PONTES; GUARALDO, 2014). Nessa
concepção, o homem humaniza-se com o outro e com o meio, valendo-se de signos
criados anteriormente e que permitem o desenvolvimento de funções psicológicas
superiores - tipicamente humanas - que o caracterizam como um ser humanizado.
Vigotski evidencia, acerca do desenvolvimento individual e cultural, que
Os sistemas de signos (a linguagem, a escrita, o sistema números) [...] são
criados pelas sociedades ao longo do curso da história humana e mudam a
forma social e o nível de seu desenvolvimento cultural. Vygotsky acreditava
que a internalização dos sistemas de signos produzidos culturalmente
provoca transformações comportamentais e estabelece um elo de ligação
entre as formas iniciais e tardias do desenvolvimento individual (VIGOTSKI,
2003, p. 9).

Nesse sentido, a linguagem e, consequentemente, a Literatura são signos


propriamente humanos criados mediante o processo de humanização, ao mesmo
tempo que são dele estruturantes. Cabe pensar, nessa ótica, a importância da
leitura e do contato com a Literatura no processo de aprendizagem. Enfatiza-se,
ainda, que a compreensão do que é real se dá por meio da abstração de um
conjunto de relações. Logo, a abstração constitui-se uma etapa de intermédio que
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475

permite a captação do real, chegando ao concreto.


Deste modo, sendo a leitura, mais que uma habilidade necessária para o
contato com o conhecimentos superiores já desenvolvidos, uma vez que a maioria
destes é registrado de maneira escrita, um processo de abstração, e a Literatura um
dos conhecimentos clássicos da natureza e da especificidade humana a partir da
qual é possível humanizar-se e entrar em contato e relação com o mundo, tais
práticas são imprescindíveis no processo de aprendizagem, uma vez que propiciam
ao sujeito em formação o seu desenvolvimento psíquico, cultural, social e humano.
Além disso, a Estética da Recepção, “trabalho de estudo teórico que indaga
sobre o papel ativo desse integrante [leitor] da práxis artística" (GONÇALVES, 2004,
p. 83), enfatiza que a obra de arte constitui-se exatamente da constituição do
texto perante a consciência do leitor, na convergência entre estes dois
pares, considerando tanto o contexto social de produção da obra quanto a
experiência trazida pelo leitor na experiência estética.
Dessa forma, o potencial da arte vem desta percepção, que permite que o
homem liberte-se da “prisão” de suas atribuições cotidianas para outras
experiências (JAUSS, 2005, p. 142) a partir dos estímulos realizados na leitura, no
tocante às suas vivências, memórias, percepções, etc. Iser (1989) afirma, ainda,
que a obra literária somente atinge seu objetivo quando aponta para algo -
resultado, este, conseguido no leitor, a partir da interação.
Além disso,
O texto se expande em múltiplos potenciais de realização e as eventuais
leituras nunca esgotam todas as possibilidades, pois as conexões não
formuladas entre as sequências de frases ou os vazios encontrados no
entrelaçamento dos correlatos intencionais “garantem” uma possibilidade de
leitura sempre nova. Cada leitura se torna, assim, uma atualização
individualizada do texto. (COLONNESE; FREITAS, 2018, p. 356).

Sendo assim, entende-se que a prática de leitura no processo de


aprendizagem exerce um papel, primeiro, determinante da prática social e, segundo,
desenvolvedor da capacidade interacional e de abstração do sujeito em formação. O
texto, como objeto, e sua inesgotabilidade demonstram-se como condições para o
objetivo imaginário. Este, proveniente das escolhas e seleções realizadas tanto
durante a prática de escrita, quanto durante a prática de leitura.
A leitura no processo de aprendizagem evoca, para além de um retomar de
estruturas, sociedades e conhecimentos passados, um efeito vivo sobre o agora e o

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476

amanhã, determinado pelo processo simbólico de interação. Sendo assim, é um


processo estruturado e estruturante de culturas que permite o desenvolvimento
sociocultural e cognitivo.
Passar-se-á, por um momento, do sentido social da leitura na aprendizagem
para pensá-la, ainda, sob um viés de afetividade e transformação interna - e
também psíquica. Para Jung (1930/2009), a obra de arte em si revela um grande
potencial de remodelagem, uma vez que transforma-se a cada olhar, a cada impacto
e a cada nova atribuição de sentido.
Isso comprova-se, por exemplo, pelo fato de que um indivíduo que leia uma
mesma obra em fases diferentes de sua vida, sejam estas distantes no espaço-
tempo ou nem tanto, atribuirá a ela um novo sentido a cada leitura.
Consequentemente, o impacto dessa obra em sua internalidade, também, é sempre
novo e remodela e é remodelado, por meio da significação atribuída. Ler, nesse
sentido, é, ainda, reformular pressupostos a partir de novos leitores, em novos
contextos, com novas vivências e novas concepções. A modelagem que se citou
acontece, também, no sentido da obra, não só pelo leitor, mas também pela
sociedade em que interage. Vê-se, por exemplo, que ler a bíblia a um século atrás
não recebe a mesma significância que nos dias de hoje - não sendo isso dito com
quaisquer juízo de valor sobre a obra; seu valor social é indiscutível, mas vale
pensar essa relação diferente dos sujeitos alocados em diferentes tempos históricos
com ela.
Além disso,
O espectador, por sua vez, se remodela, primeiramente, para se comunicar
com a obra, para adentrar no campo simbólico que ela propicia; após este
contato, pode ocorrer outra modelagem, dada a possibilidade de uma
reconfiguração psíquica (COLONNESE; FREITAS, 2018, p. 359).

Nesse sentido, a arte, de maneira geral, mas aqui com o enfoque na tradição
escrita, literária, traz o sujeito, segundo o autor, de volta a sua fonte criativa, de
modo que afeta o íntimo da psique. Isso, por sua vez, conduz o leitor pelo mesmo
caminho que o autor buscou, mas de maneira inconsciente. Além disso, enfatiza-se
a experiência artística no tocante à recepção como análoga à uma análise.
Análise não no sentido mais “analítico” da palavra,
mas por possibilitar a participação do inconsciente e eventual ampliação da
consciência – individual e coletiva – a partir do encontro com conteúdos
provindos de profundezas inconscientes e de experiências pouco cotidianas,
ou mesmo que partam do cotidiano mas o transcendam. (COLONNESE;

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477

FREITAS, 2018, p. 359).

Por fim, percebe-se que a vivência da arte, logo o contato com a Literatura e
a leitura em si, propiciam uma vivência específica. A obra literária é, mais do que
uma reorganização criativa no processo de leitura, a evidência dessa realização que
traz à tona algo onde antes não havia nada, por meio de aspectos resgatados do
inconsciente coletivo.
Isso, quando apoiado no contexto escolar, ou somente no processo de
aprendizagem mesmo, destaca o papel da leitura como um instigador da visão do
outro como outro, de modo que impõe-se, por meio da estrutura simbólica, o contato
com o novo e possibilita a abertura, seja ela cognitiva, social e/ou cultural, e, por
meio disso, a humanização.
Para compreender seu sentido, é preciso permitir que ela nos modele, do
mesmo modo que modelou o poeta [...] Ele tocou as regiões profundas da
alma, salutares e libertadoras, onde o indivíduo não se segregou ainda na
solidão da consciência...Tocou as regiões profundas, onde todos os
seres vibram em uníssono e onde, portanto, a sensibilidade e a ação do
indivíduo abarcam toda a humanidade (JUNG, 1930/2009, p. 93)

2.4 Relações entre as visões específicas dos fenômenos pela


Psicologia (percepção/imaginação) e representação nas obras literárias
(criação)

O conceito individual de imaginação pode divergir entre os sujeitos, mas em


comum acordo sabe-se que o ato de imaginar se caracteriza por sua complexidade
e por sua amplitude, principalmente no tocante à cognição. A imaginação é vista
como uma função psíquica que se constitui, por sua vez, de outras funções
psíquicas superiores, como: a memória, sensação, pensamento, que juntas
estruturam o sistema psicológico.
A psicologia chama de imaginação ou fantasia essa atividade criadora do
cérebro humano baseada nas capacidades combinatórias, atribuindo a elas
um sentido diferente daquele que lhe é atribuído cientificamente. Na sua
concepção comum, a imaginação ou fantasia designam aquilo que é irreal, o
que não corresponde à realidade, portanto, sem nenhum valor prático. No
entanto, a imaginação como fundamento de toda a atividade criadora
manifesta-se igualmente em todos os aspectos da vida cultural,
possibilitando a criação artística, científica e tecnológica (VIGOTSKI, 2014,
p.4).

Girardello (2007) enfatiza, ainda, que muito do poder da imaginação advém

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do contato com novas imagens. Para o autor, a infância é a grande fonte da


vitalidade imaginária, uma vez que é na infância que, primeiro, pode-se entregar-se
de maneira mais livre à fantasia, e, segundo, que o mundo está cheio de novas
imagens, de novos estímulos.
Percebe-se, aqui, que a representação (criação) presente nas obras literárias
é um prato cheio para o desenvolvimento dos fenômenos psíquicos, tal qual para a
imaginação. Isso porque a Literatura é um dos espaços de criação destas imagens
novas que tem o poder de instigar a imaginação, a percepção, o psiquismo em si de
maneira geral.
Compreendemos, assim, que a Psicologia corresponde ao aspecto do
funcionamento lógico do psiquismo, enquanto a Literatura busca aguçar os aspectos
que envolvem esta imaginação, além de, claro, trabalhar diretamente com esta -
tanto por meio do autor, quanto do receptor. Para Russel (1964, p. 551) “Psicólogos
preferem observações que podem ser replicadas, enquanto o escritor será lido com
analogia, metáfora, e ambiguidade talvez intencional”. O trabalho do escritor nas
obras literárias é visto como “único”, a partir da percepção de que no ato da escrita
ele expõe sua personalidade, suas emoções, seu modo de ser. As descrições que
faz sobre objetos que envolvem toda a estrutura do texto, sejam estes: ambientes,
estilos, sensações ou pessoas, consegue fazer com que o receptor se sinta mais
conectado com o material lido. O leitor, na outra via, ao interagir com a obra no
momento de leitura, trás estes mesmos aspectos do seu ser para a interação,
construindo, assim, o sentido dotexto na sua relação com ele.
Quando falamos em texto literário, automaticamente nos remetemos à
imaginação, uma vez que esta está presente no texto e nas inter relações deste
desde sua produção, até sua recepção. Por meio dela, o leitor, que só era o sujeito
que recebia, passa a ser leitor personagem ativo, um agente que vai se emocionar,
levantar questionamentos, conectando ou referenciando a própria realidade com
acontecimentos literários.
Além disso, Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicoterapeuta, diz que o autor, ou
seja, aquele que escreve a história “é o solo no qual a arte se desenvolve, o produto
literário carregará características da pessoa que o escreveu, mas também se
moldará à própria vontade”. Jung ainda expõe dois processos de criatividade
utilizados, o introvertido, que consiste no autor manipular cada palavra posta no

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texto e o extrovertido, que o escritor irá expressar seus sentimentos mais profundos,
tornando a obra produzida mais simbólica. O psiquiatra ainda aponta, sobre a
questão do autor imerso na própria escrita, que supõe ter total controle, mas seu
inconsciente é quem o conduz.
Portanto, no contexto de criação, ou seja, o processo de gerar/produzir algo,
a personalidade, percepção e as emoções, são levadas em consideração, as
singularidades daquele que produz será refletida em seu trabalho, sobretudo ainda
se faz necessário que o leitor estimule sua própria imaginação, para poder haver
certa coerência e significação no texto criado.

3 Considerações Finais

O campo de estudo de Psicologia e Literatura é pouquíssimo explorado


quando se pensa todo o arcabouço de possibilidades mencionado anteriormente
que dele emerge. Ao mesmo tempo que já existem estudos nesse enfoque
publicados, o número de textos que trazem a dimensão da relação Psicologia-
Literatura é bastante restrito.
Foi evidenciado, neste trabalho, o grande potencial expansivo da obra
literária no tocante ao desenvolvimento dos processos cognitivos, sociais, culturais e
individuais, por meio da interação obra-autor-leitor e da interação destes pares com
o contexto - tanto de produção, quanto de leitura. Logo, vê-se que a interação entre
estas grandes áreas é, também, de potencial expansivo, no sentido de possibilitar
infindas análises e visões sobre a obra literária. A obra mantém relações com as
experiências do leitor e o sentido que se atribui à produção.
A leitura em si, de maneira geral, demonstra-se, também, um espaço de
ressignificação a partir do qual se expandem horizontes. Configura, ainda, um
processo ativo por parte do leitor nessa produção de significação capaz de
desenvolver a si próprio por meio da relação entre seus saberes internalizados e os
saberes extra-textuais que perpassam tanto o leitor quanto a obra - tudo isso
constrói, para além, um novo saber.
A Literatura, por consequência, também tem um potencial expansivo, tanto

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cognitiva quanto individual, cultural e socialmente. Além disso, como relacionado, os


Processos Psíquicos de percepção e imaginação, ao mesmo tempo que estruturam
são estruturados pelo processo literário de criação, enquanto o sentido constrói-se
na interação leitor-texto, no ato de leitura, na recepção do texto pelo seu agente em
interação com ele, juntamente aos aspectos histórico-sociais que envolvem tanto a
produção quanto a leitura.

Referências

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ISSN 2237-700X
482

RELATO DE EXPERIÊNCIA: O USO DE PLATAFORMAS VIRTUAIS DE


APRENDIZAGEM POR ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM DURANTE
SITUAÇÃO PANDÊMICA.

Bruna da Silva Graff (bruna1505graff@gmail.com) ¹


Gabriel Eduardo Bachman (gabrieleduardobachmann@gmail.com) ²
Camila Marcondes (camila.marcondes@ifpr.edu.br) ³
¹ ² ³ Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

Resumo: Introdução: com a Pandemia do vírus Sars-CoV-2 “Covid-19”, os


acadêmicos e servidores do Instituto Federal tiveram que suspender suas
atividades, conforme a Portaria n°376, de 3 de abril de 2020, em que foi vedado
o ensino presencial nas instituições federais. O Regime Didático Emergencial
(RDE) foi instituído por meio da Resolução n°29, de 18 de setembro de 2020. O
mesmo é compreendido como um conjunto de normas referentes à retomada
do calendário acadêmico para o ano de 2020, estruturado para um período
excepcional, em face da situação de calamidade pública decorrente da
pandemia de Covid-19. Objetivo: relatar a experiência dos acadêmicos do 5°
período de enfermagem, frente a utilização de novas tecnologias de
aprendizagem, durante o período de pandemia do vírus Sars-CoV-2. Discussão:
diante da atual situação, os acadêmicos tiveram que se adaptar às novas
metodologias de aprendizagem, contudo, isso gerou um certo anseio e algumas
dificuldades perante estas tecnologias. Considerações finais: ao refletir acerca
da experiência vivenciada durante o período pandêmico, pode-se afirmar que,
em vista da atual situação, muito se discute sobre a eficácia dos modelos de
aprendizagem virtuais. Contudo, essas plataformas operaram de forma a
facilitar o acesso à educação, e contribuíram para que não houvesse prejuízos
maiores à comunidade acadêmica.

Palavras-chave: pandemia, ensino aprendizagem, adaptação, emergencial.

Abstract: Introduction: with the Sars-CoV-2 "Covid-19" virus pandemic,


academics and employees of the Federal Institute had to suspend their
activities, according to Ordinance No. 376, of April 3, 2020, in which the face-to-
face teaching at federal institutions. The Emergency Didactic Regime (RDE) was
instituted by Resolution No. 29, of September 18, 2020. It is understood as a set
of rules regarding the resumption of the academic calendar for the year 2020,
structured for an exceptional period, in view of the situation of public calamity
resulting from the Covid-19 pandemic. Objective: to report the experience of
students in the 5th period of nursing,facing the use of new learning technologies,
during the period of the Sars-CoV-2 virus pandemic. Discussion: given the
current situation, students had to adapt to new learning methodologies,
however, this generated a certain desire and some difficulties with these
technologies. Final considerations: when reflecting on the experience lived
during the pandemic period, it can be said that, in view of the current
situation, much is discussed about the effectiveness of virtual learning models.
However, these platforms operated in order to facilitate access to education, and
contributed so that there was no greater harm to the academic community.
ISSN 2237-700X
483

Keywords: pandemic, teaching learning, adaptation, emergency.

1 Introdução

Com a Pandemia do vírus Sars-CoV-2 “Covid-19”, os acadêmicos e


servidores do Instituto Federal tiveram que suspender suas atividades, conforme a
Portaria n°376, de 3 de abril de 2020, em que era vedado o ensino presencial nas
instituições federais, diante disso ficamos por cerca de 6 meses sem aulas,
(totalmente suspensas, por meio de decretos vindos da reitoria do IFPR). Após esse
período afastados, houve um comunicado oficial de que voltaríamos de acordo com
um modelo chamado Atividades Pedagógicas Não Presenciais (APNP´S), no artigo
1° da portaria n°376, de 3 de abril de 2020, que dispõe sobre: instituições
integrantes do sistema federal de ensino, trata o art. 16 da Lei n°9.394, de 20 de
dezembro de 1996, e o art. 20 da Lei n°12.513, 26 de outubro de 2011, ficam
autorizadas, em caráter excepcional, quanto aos cursos de educação profissional
técnica de nível médio em andamento, a suspender as aulas presenciais ou
substituí-las por atividades não presenciais, por até sessenta dias, prorrogáveis, a
depender de orientação do Ministério. Esse modelo foi utilizado por um curto período
de tempo e logo, tivemos de nos adaptar novamente há um novo método de ensino
(não presencial), o Regime Didático Emergencial (RDE), a qual adentramos em 26
de outubro de 2020 e que segue até o momento (setembro 2021).
O RDE foi instituído por meio da Resolução n°29, de 18 de setembro de 2020.
O mesmo é compreendido como um conjunto de normas referentes à retomada do
calendário acadêmico para o ano de 2020, estruturado para um período excepcional,
em face da situação de calamidade pública decorrente da pandemia de Covid-19, a
fim de promover o prosseguimento das atividades de ensino, protegendo a vida de
estudantes e servidores e promovendo o ensino em conformidade com as
orientações de prevenção e controle do contágio na instituição.
A plataforma utilizada para realização destas atividades não presenciais foi o
Ambiente Virtual de Aprendizagem (Ava Moodle), sendo um meio tecnológico de
fácil compreensão e utilização, que propicia resolução de atividades e avaliações e
possibilita a anexação de arquivos para visualização, mas, para os momentos
síncronos (aulas expositivas), é utilizado a plataforma Google Meet, também de fácil
ISSN 2237-700X
484

utilização, onde o professor disponibiliza um link para acesso dos alunos. O Google
Meet permite a gravação das aulas e estas, quando autorizadas pelos professores,
podem ser disponibilizadas no AVA Moodle de acordo com cada cenário vivenciado.
De acordo com este contexto, o estudo tem por objetivo relatar a experiência
de acadêmicos de enfermagem no Regime Didático Especial durante o período de
pandemia do Covid-19.

2 Desenvolvimento

Trata-se de um relato de experiência construído por acadêmicos durante o 5°


período de graduação em enfermagem de uma Instituição Federal de Ensino, em um
momento de pandemia e sem aulas presenciais, onde irá relatar as experiências
vividas pelos mesmos.
O relato de experiência tem como principal finalidade descrever a experiência
do acadêmico durante um determinado período de tempo, indicando suas facilidades
e dificuldades durante o desenvolvimento deste período, os resultados, e outras
informações que forem pertinentes.
A experiência iniciou-se no dia 06 de agosto de 2021 e terminará em 30 de
setembro de 2021, o mesmo contará como requisito parcial de avaliação para os
núcleos de Cuidados De Enfermagem em Saúde do Adulto e Idoso I e Cuidados de
Enfermagem em Saúde Coletiva II.
O Curso de Enfermagem desta instituição utiliza metodologias ativas de
ensino. Para que o acadêmico se envolva ativamente no processo de aprendizagem,
ele deve ler, escrever, perguntar, discutir ou estar ocupado em resolver situações
problema e desenvolver projetos, devendo realizar tarefas como análise, síntese e
avaliação. Sendo assim, no uso de metodologias ativas a aprendizagem pode ser
definida como aquela em que o aluno se ocupa, será o personagem principal e o
maior responsável pelo seu aprendizado. (BARBOSA; MOURA; p.55, 2013).
A partir do 4° período da faculdade, inicia-se os núcleos, tendo como objetivo
facilitar a integração dos conhecimentos, as habilidades, atitudes e competências do
acadêmico. Cada novo semestre corresponde a 2 núcleos, exceto no 9° e 10°
período em que acontecem os estágios supervisionados. Dentre as metodologias

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485

ativas utilizadas nos núcleos, os cenários de Síntese e Situação Problema, dizem


respeito a abordagem da sala de aula invertida e oportunizam o desenvolvimento de
intervenções na realidade de acordo com o perfil desejado. A Síntese é uma
discussão de um texto científico visando auxiliar o estudante na problematização da
prática vivida, construindo embasamento científico para suas ações. Já na Situação
Problema o estudante passa a assumir a responsabilidade pela sua aprendizagem,
levantando questionamentos e buscando solucioná-los por meio de buscas em
diversas fontes. O conteúdo e as instruções recebidas são estudados de forma on-
line, ou seja, antes do aluno participar da aula, utilizando de ambientes virtuais de
aprendizagem para acessar essas informações. Na sala de aula online é onde
realiza-se a resolução de problemas e discussão em grupos, esse ambiente virtual
de aprendizagem irá oportunizar ao professor avaliar mais precisamente o nível de
aprendizagem e as dificuldades encontradas pelos discentes. (VALENTE, p.27-28,
20--)

3 Resultados e Discussões

Diante da atual situação, os acadêmicos tiveram que se adaptar às novas


metodologias de aprendizagem, contudo, isso gerou um certo anseio e algumas
dificuldades perante estas tecnologias, primeiramente em relação a grande mudança
no meio pessoal, e também acadêmico, necessitando de um planejamento de forma
diferente em relação aos estudos, pois, permaneceram um período afastados e isso
acabou gerando um desânimo nos mesmos. Ao retornar desse período sem
atividades acadêmicas, em vista da atual situção, foi necessário aprender a lidar
com as novas ferramentas, (as mesmas não haviam sido utilizadas pelos
acadêmicos), gerando certa dificuldade para alguns, por conta da falta de acesso à
internet, suscitando no trancamento do curso, devido também a dificuldades que
surgiram no âmbito familiar. Paulatinamente houve adaptação e adequação dos
demais acadêmicos aos ambientes virtuais de ensino.
Durante o período de crise sanitária global, as atividades práticas foram
suspensas, somente realizando atividades teóricas, tanto síncronas, como
assíncronas.

ISSN 2237-700X
486

As atividades síncronas caracterizam-se pela conexão dos participantes em


tempo real. Exemplos: chat, videoconferência, encontros em mundos virtuais, etc.
Essas permitem uma interação rápida e clara sobre os temas expostos e possibilita
a comunicação entre todos os participantes e professores. (OLIVEIRA; et al. p.82-
83, 2017)
Já as atividades assíncronas acontecem quando a interação ocorre fora das
vídeo aulas. Exemplos: fórum, portfólio, envio de arquivos, enquete, etc. Possibilita
flexibilidade de horário podendo o aluno dedicar-se no momento em que lhe for mais
apropriado, além de ter acesso ao material na internet, a qualquer hora, dia e lugar,
favorecendo também poder dedicar-se às atividades no lugar onde lhe for
conveniente, seja em casa, no trabalho, ou outros. Além disso, o acadêmico pode
evoluir nos estudos dos conteúdos didáticos segundo a sua velocidade de
aprendizado pessoal, oportunizando estudar determinado assunto em menos ou
mais tempo. (OLIVEIRA; et al. p.82-83, 2017)
O tempo de duração das aulas via Google Meet não segue o mesmo tempo
de aula em forma presencial. As aulas seguiram uma média de 2 horas e meia
(ultrapassando este limite em certos momentos), para que os alunos se expressem
nas aulas, e tenham suas dúvidas sanadas, é orientado “levantar a mão”, como a
plataforma sugere, e assim, o docente dá a fala ao acadêmico.
No que se refere às atividades de Síntese e Situação Problema, os encontros
mudaram, anteriormente, eram realizados encontros presenciais com os grupos,
onde era discutido os textos de Síntese e o caso clínico de Situação problema. Em
relação a Situação Problema, foi de fácil compreensão e adaptação ao novo modelo
pelos acadêmicos, é feita abertura de caso de forma em que o lemos e formamos
questões norteadoras a serem respondidas, e no fechamento do caso é discutido as
buscas realizadas, compartilhando os achados e trocando saberes com os colegas.
É um cenário o qual proporcionou muito conhecimento e compreensão das
problemáticas levantadas, o qual agregou muito e com certeza irá auxiliar na prática
clínica dos discentes.
Em Síntese, houve certa dificuldade para relacionar os textos com as
questões propostas, a forma de resolução das atividades somente em fóruns,
acabou se tornando mais um “copia e cola” dos artigos. Uma possibilidade para
resolução dessa problemática relatada pelos acadêmicos seria a implementação

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487

semelhante ao que acontece no cenário de Situação Problema, com discussão dos


textos em grupo, e formulação de questões em conjunto com os demais.
Em dias de apresentação de trabalhos, em que eram estipulados tempo para
apresentação, o tempo foi ultrapassado por alguns, tornando o assunto cansativo
para todos, chegando a atrapalhar a apresentação de outros grupos, que acabaram
tendo de tornar a apresentação mais sucinta e sem tempo para discussão. Foi
sugerido a uma das docentes, para que em novas apresentações, os colegas
respeitassem mais estes limites e não houvesse mais intercorrências.
Em relação às plataformas utilizadas para realização de trabalhos,
anteriormente era comumente utilizado POWER POINT e WORD, mas, durante esse
período foi instigado aos acadêmicos a utilização de novas ferramentas, como o
PADLET e o ANIMAKER, que diversificou as formas de apresentação e aprendizado
dos mesmos.
As provas, por mais que em formato Online, se tornaram difíceis. Em um dos
cenários, o tempo estipulado para realização não foi agradável e a maioria dos
alunos não conseguiu completar a avaliação. Em momento presencial as aulas não
podiam ser gravadas, porém, em EAD elas podem ser disponibilizadas quando o
professor assim preferir, então, quando disponibilizadas, era possível visualizá-las
novamente, e mesmo que não sendo apropriado consultar o material durante a
avaliação, assim foi feito, entretanto, mesmo com a pesquisa, em alguns cenários foi
bem complicada a resolução da prova.

4 Considerações Finais

o refletir acerca da experiência vivenciada durante o período pandêmico, e de


atividades a distância, pode-se afirmar que, muito se discute sobre a eficácia dos
modelos de aprendizagem virtuais. Levando em consideração os relatos e vivências
dos acadêmicos, vários elementos podem ser citados como possíveis empecilhos no
processo de aprendizagem em face do cenário atual (dificuldade de acesso à
internet, condicionantes familiares, adaptação a nova metodologia de ensino).
Convém lembrar que, as plataformas virtuais de aprendizagem, operaram de
forma a facilitar o acesso à educação, e contribuíram para que não houvesse

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488

prejuízos maiores à comunidade acadêmica.


Ressalta-se que, devido a não conciliação teórico-prática, há um anseio dos
acadêmicos pertinente ao quanto isso poderá prejudicar o processo de
aprendizagem e se o conhecimento adquirido foi suficiente. Crê-se também que
seria necessário um feedback dos alunos durante o curso do semestre, não somente
ao final. Isso possibilitaria um entendimento melhor das possíveis dificuldades
encontradas.
Conforme a atual situação epidemiológica, e diminuição dos casos de Covid-
19, acredita-se que em breve as atividades presenciais retornarão paulatinamente,
visto que, a grande maioria dos alunos e professores já se encontram com o
esquema vacinal para Covid-19 completo. Mesmo retornando com as atividades
presenciais, espera-se que essa experiência de uso de tecnologias educacionais
diferenciadas veio para ficar, causando um avanço significativo em relação ao uso
de novas metodologias no ensino superior.

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ISSN 2237-700X
490

SARAU LITERÁRIO: RELATO DE EXPERIÊNCIA COM CÍRCULOS DE LEITURA


LITERÁRIA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

David Ferreira Severo (david.severo@ifpr.edu.br) ¹


Marta Ferreira da Silva Severo (david.severo@ifpr.edu.br)²
Verinalda Maria de Lima (valentina_veri@hotmail.com)³
1 Instituto Federal do Paraná, câmpus Palmas.
2 Instituto Federal do Paraná, câmpus Palmas.
3 Secretaria Municipal de Educação, Pilar/AL

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo descrever um relato de


experiência didática com círculos de leitura no contexto da educação
profissional. Apresentaremos uma proposta com saraus literário desenvolvidos
no Instituto Federal de Santa Catarina, câmpus Caçador, a partir de um trabalho
de iniciação científica com Projeto integrador (PI), baseando-nos na
metodologia de Cosson (2008; 2014), no apoio da literatura no processo de
humanização dos sujeitos (CANDIDO, 2004; CEREJA; 2005) e no ensino de
poesia (PINHEIRO, 2007). Os
resultados apontam para a necessidade de se inserir na educação profissional
o permanente contato com a arte poética.

Palavras-chave: Educação profissional. Círculos de leitura. Poesia

Abstract: This paper aims to describe a didactic experience report with reading
circles in the context of professional education. We will present a proposal with
literary soirees developed at the Federal Institute of Santa Catarina, Caçador
campus, from a scientific initiation work with an integrative project (PI), based on
the methodology of Cosson (2008; 2014), in support of literature in the process
of humanization of subjects (CANDIDO, 2004; CEREJA; 2005) and in the
teaching of poetry (PINHEIRO, 2007). The results point to the need to include in
professional education a permanent contact with poetic art.

Keywords: Professional education. Reading circles. Poetry

1 Introdução

O objetivo deste trabalho é descrever e explicar o resultado de uma pesquisa


de iniciação científica com Projeto integrador (PI), realizado com um grupo de
estudantes do curso técnico integrado em Plástico do Instituto Federal de Santa
Catarina (IFSC), câmpus Caçador.
Além de cursar as disciplinas específicas para atuação como técnico na
ISSN 2237-700X
491

indústria de plásticos, o aluno do curso técnico integrado em Plásticos também


participa de componentes da matriz comum do ensino médio. É nesse contexto que
o PI se desenvolveu, sob a orientação do professor de Língua portuguesa, embora
de forma interdisciplinar, a partir de uma proposta de pesquisa com a formação de
círculos de leitura por meio da poesia.
O PI inicia-se, conforme o PPC, já no primeiro ano do curso e está alicerçado
em elementos que incentivem aos concluintes a compreensão da realidade social,
econômica, política e cultural do contexto em que se inserem, de forma a possibilitar
uma atuação social crítica. A metodologia do PI possibilita uma estratégia de ensino-
aprendizagem que “proporciona a interdisciplinaridade dos temas abordados nos
semestres. É um instrumento de integração entre ensino, pesquisa e extensão na
medida em que permitirá contato com as demandas da sociedade” (INSTITUTO
FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2019, p. 23).
Em 2019, o tema do PI foi “Sustentabilidade” e estivemos à frente na
orientação de um grupo de estudantes que desenvolveram uma pesquisa intitulada
“Sustentabilidade poética”, cujo objetivo foi a produção de papéis reciclados pelas
próprias estudantes para, por meio deles, veicular poemas de forma criativa sobre
temas variados, mas de relevância social, tais como, a prevenção do suicídio, a
consciência negra e o amor.
Inicialmente, apresentaremos a base teórica sobre o ensino de poesia e
formação de círculos de leitura literária. Em seguida,

1.1 A literatura como processo de humanização

Uma das principais funções da literatura, segundo teóricos e especialistas


dessa área de estudo, é a sua capacidade de provocar emoções e reflexão no leitor.
Para os gregos, a arte tinha também as funções hedonística e catártica.
Segundo a perspectiva hedonística (hedon = prazer), a arte literária devia
proporcionar prazer, na expressão do belo. E para eles, o belo na arte consistia na
semelhança entre a obra de arte e a verdade ou a natureza (CEREJA, 2010. p. 18).
Já a concepção catártica no papel das tragédias gregas, as quais desempenhavam
a representação da realidade do mundo ocidental. Aristóteles, o primeiro teórico a
ISSN 2237-700X
492

conceituar a tragédia, define esse tipo de texto a partir de dois conceitos: a mimese,
ou a imitação da palavra e do gesto, que para ser eficaz deve despertar no público
os sentimentos de terror e piedade; a catarse, efeito moral e purificador que
proporciona o alívio desses sentimentos. “Com finais que normalmente culminam em
envenenamento, assassinatos e suicídio, as tragédias aliviavam as tensões e
conflitos no mundo grego” (CEREJA, 2010. p. 19). Hoje essas características ainda
estão presentes, mas com a ampliação de outros gêneros literários (o romance e a
crônica, por exemplo) e os recursos tecnológicos de nossa era (o cinema, as
novelas televisivas, dentre outras mídias).
Mais recentemente um grande estudioso brasileiro atualizou os conceitos
desenvolvidos por Aristóteles ao discutir sobre o papel que a literatura desempenha
no mundo em que vivemos. Para Antonio Candido, o texto literário opera um
processo de humanização dos sujeitos

Um certo tipo de função psicológica é talvez a primeira coisa que nos ocorre
quando pensamos no papel da literatura. A produção e fruição desta se
baseiam numa espécie de necessidade universal de ficção e de fantasia,
que de certo é coextensiva ao homem, pois aparece invariavelmente em
sua vida, como indivíduo e como grupo, ao lado da satisfação das
necessidades mais elementares. E isto ocorre no primitivo e no civilizado,
na criança e no adulto, no instruído e no analfabeto. [...] (CANDIDO, 1972,
p. 805)

Entende-se, por esse fragmento, que, de acordo com Candido, a literatura


satisfaz uma necessidade essencial do ser humano que é apelo ao universo
ficcional. Evidentemente, o perfil das pessoas que têm essa necessidade independe
de ser criança, adolescente ou adulo; se são pessoas com ou sem escolaridade.
Em outro livro, Candido diz ainda que “A literatura corresponde a uma
necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade,
porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos
organiza”, ou como ele diria em outros termos, “nos liberta do caos e portanto nos
humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade” (CANDIDO,
2004, p. 184).
A respeito do valor da arte literária e as energias submersas, o crítico George
Thompson, citado por Pinheiro, afirma que

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493

O artista conduz os outros homens a um mundo de fantasia, onde seus


anseios se libertam, afirmando desse modo a recusa da consciência
humana em aceitar o condicionamento do meio: mobiliza-se assim a um
potencial de energias submersas que, por sua vez, regressam ao mundo
real para transformar a fantasia em realidade (THOMPSON apud
PINHEIRO, 2002, p. 22)

A verdade é que o declínio existencial que vivenciamos em pleno século XXI


pode ser equilibrado por meio da leitura do texto literário
[…] só a boa literatura poderá evitar o tráfico final desta mecanização: o
homem criando mil milhões, virando máquina azeitada que age
corretamente ao apertar do botão - estímulo adequado. A arte, e dentro dela
a literatura, é talvez a mais poderosa arma para evitar o esclerosamento,
para manter o homem vivo, sangue, carne, nervos, sensibilidade; para fazê-
lo sofrer, angustiar-se, sorrir e chorar. E ele terá então a certeza de que
ainda está vivo, de que continua escapando (LANES, 1978, p. 53).

Como vemos, a autora explicita a falta de comunicação e, consequentemente,


o individualismo e a solidão como doenças do mundo em que vivemos. A depressão,
provavelmente, seja um exemplo categórico do sentimento pessimista que acomete
principalmente os jovens atualmente e que no ponto de vista de Ely Lanes, a
literatura pode contribuir no combate a essas doenças. A literatura pode trazer de
volta o grau de humanidade que a contemporaneidade nos tirou.
Corroborando com o pensamento anterior, Rocco afirma que “o progresso da
sociedade de consumo (que tanto bem tem trazido e traz à humanidade, no plano
material) precisa ser contrabalanceado com o progresso do reencontro do Homem
com seu Espírito” (ROCCO, 1981, p. 2014). mas, segundo a autora, esse reencontro
essencial só “poderá ser feito (entre outros caminhos), através do estudo da
literatura, pois esta é, sem dúvida, consciência da experiência vital, expressa de
maneira específica – através da função poética da linguagem” (ROCCO, 1981, p.
2015).
Apesar de reconhecermos a função dos Institutos Federais na formação dos
estuantes para o desenvolvimento dos processos produtivos locais, esse ponto de
partida não prescinde de uma concepção de educação tecnológica em sintonia com os
valores universais do indivíduo (BRASIL, 2010; PACHECO, 2011; BUENO, 2015). E
nesse sentido, a literatura opera um importante expediente para a conscientização de
nosso estar no mundo. A poesia, nessa perspectiva, tem um papel fundamental,
conforme veremos no próximo tópico.
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1.2 O ensino de poesia na escola

A primeira questão que gostaria de chamar a atenção a respeito do ensino de


literatura e, mais especificamente ao ensino de poesia, é a importância da leitura
oral, aspecto destacado por Hélder Pinheiro e seu liro intitulado A poesia na sala de
aula (2007). Segundo o autor, a realização oral do poema funciona como
instrumento de aproximação do leitor, em formação, com o texto poético.
Contudo, aponta Pinheiro, há várias pesquisas que mostram que a poesia é o
gênero literário que fica em terceiro ou quarto lugar no nível de interesse dos alunos
da educação básica. Curiosamente, o autor mostra que quando se busca realizar um
experimento com o poema, em que se busca uma convivência com o texto, essa
situação muda e os alunos passam a ter uma apreciação mais significativa com a
literatura.
Pinheiro também chama a atenção para o fato de que os livros didáticos ainda
trazem a poesia como pretexto para se trabalhar de modo pragmático questões
gramaticais, situação que já foi denunciada por Marisa Lajolo (1984). Outro
problema apontado pelo autor, no ensino fundamental e médio, é que quando poesia
é usada para atividade de leitura e interpretação, tais exercícios vêm com um roteiro
de perguntas fechadas em si, sem nenhum tempo de convivência do leitor com o
texto.
Apesar de apresentar os problemas elencados acima, o livro de Pinheiro
apresenta algumas possibilidades, a fim de encontrar caminhos para vivenciar a
literatura de modo mais efetivo, sobretudo pensando na formação do leitor.
Inicialmente, ele destaca a função social da poesia, baseando-se em um trecho de
T. S. Eliot, o qual transcrevemos a seguir:

Para além de qualquer intenção específica que a poesia possa ter, [...] há
sempre comunicação de alguma nova experiência, ou uma nova
compreensão do familiar, ou a expressão de algo que experimentamos e
para o que não temos palavras - o que amplia nossa consciência ou apura
nossa sensibilidade (ELLIOT, 1991, apud PINHEIRO, 2007, p. 22).

Esse trecho de Elliot é interessante por que ele destaca três elementos
essenciais: primeiro, destaca-se a comunicação de alguma experiência (pois todo
poema traz a percepção, a comunicação de uma experiência, de uma vivência, de
um sofrimento, uma alegria uma constatação de um problema social), sendo que
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495

essa percepção particular do mundo precisa ser assimilada devagar. O segundo


elemento que Elliot aponta é a ideia de que a poesia é uma compreensão do
familiar, ou a expressão de algo que experimentamos e para o qual não temos
palavras. A literatura traz a problematização necessária de nossa existência. Por
último, Elliot enfatiza que o poema amplia a nossa consciência e apura a nossa
sensibilidade. Mas para que o poema desenvolva esses elementos, é fundamental
que tenhamos uma experiência mais alongada com a arte literária, por isso a
importância da leitura e a releitura oral do texto, porque é nesse movimento que
começamos a encontrar os tons adequados do ritmo, da musicalidade e da
compreensão das imagens do poema, a fim de sintonizar com as descobertas que o
texto literário pode provocar.
Nesse sentido, a poesia diferencia-se de outras artes, por proporcionar
sempre a comunicação de uma experiência nova, ou seja, ela acaba se tornando
uma aliada que ajuda adentrar no mundo do leitor, fazendo com que se perceba de
modo especial as particularidades de cada um.
Outro tópico importante que Pinheiro sugere em Poesia na sala de aula
(2007), diz respeito ás condições indispensáveis para trabalhar com a poesia. A
primeira condição é que o professor seja um leitor de poesia, e realmente isso é
indispensável, porque o professor, enquanto sujeito promotor de cultura, precisa
estar envolvido, comprometido com as atividades que pretende desenvolver. A
segunda condição para se trabalhar com a poesia na escola, é conhecer o horizonte
de expectativa dos alunos, pois é, a partir desse conhecimento, que podemosbuscar
temas para chamar a atenção dos estudantes. Por último, o ambiente é outro ponto
importante para o trabalho adequado com a poesia, pois, dependendo das
circunstâncias, é possível favorecer o diálogo e o contexto propício para desenvolver
experiências exitosas.
Neste capítulo, procuramos apresentar a importância da literatura e, mais
especificamente da poesia, na formação do leitor. Esse reconhecimento foi
fundamental para a escolha do objeto de pesquisa no PI em uma turma de primeiro
ano do curso técnico integrado do IFSC, câmpus Caçador. Como sugestão dos
próprios estudantes foi escolhida a metodologia de se trabalhar com saraus literários
durante um semestre inteiro, na tentativa de formar um círculo de leitura contínuo
com toda a comunidade escolar.

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496

1.3 O relato da experiência: letramento literário, círculos de leitura e


sarauspoéticos

Conforme apresentamos no tópico anterior, a literatura opera a


conscientização do indivíduo, despertando-lhe o senso crítico e reflexivo sobre o
mundo, por meio de variados gêneros literários capazes desautomatizar a
mecanização de nossas relações interpessoais. Dessa maneira, neste tópico,
descreveremos a metodologia com a qual explicaremos a experiência literária
desenvolvida durante o ano letivo de 2019 com temas de relevância social na
formação de círculos literários. Antes, porém, de explicar a escolha dos temas que
deveriam ser explorados, cumpre apresentar o conceito de letramento literário e
formação de círculos de leitura que embasam a nossa proposta de trabalho na
formação dos sujeitos na educação profissional.
Em seu livro Letramento literário: teoria e prática, publicado inicialmente em
2006, Rildo Cosson apresenta pela primeira vez o conceito na escolarização da
literatura no espaço escolar, de modo a formar leitores proficientes de textos
literários. Ora, a definição de letramento nós já conhecemos bem e ela remonta os
estudos realizados por Ângela Kleiman (1995) e Magda Soares (1998) que, a grosso
modo, têm a ver com a inserção de práticas sociais de uso da leitura e da escrita na
formação dos estudantes. O letramento literário, por sua vez, circunscreve esse
desenvolvimento por meio de textos considerados literários, tendo como centro

a formação de um leitor cuja competência ultrapasse a mera decodificação


dos textos, de um leitor que se apropria de forma autônoma das obras e do
próprio processo da leitura, de um leitor literário, enfim. Ser leitor de
literatura na escola é mais do que fruir um livro de ficção ou se deliciar com
as palavras exatas da poesia. É também posicionar-se diante da obra
literária, identificando e questionando protocolos de leitura, afirmando ou
retificando valores culturais, elaborando e expandido sentidos. Esse
aprendizado crítico da leitura literária, que não se faz sem o encontro
pessoal com o texto enquanto princípio de toda experiência estética, é o que
temos denominado aqui de letramento literário (COSSON, 2014, p. 120)

Com efeito, o letramento literário só tem sentido se a atividade proposta


possibilitar a construção de uma comunidade de leitores em sala de aula, mais
especificamente, ou envolvendo toda a comunidade escolar, de preferência.
ISSN 2237-700X
497

Com efeito, para Cosson (2019), um círculo de leitura ocorre sempre quando
um grupo de pessoas se reúne com o objetivo comum de discutir a leitura de uma
obra em qualquer local, seja dentro da escola, de uma livraria, na casa de um amigo
ou aproveitando-se da tecnologia por meio de plataformas digitais. Em Círculos de
leitura e letramento literário (2019), Cosson apresenta uma proposta de organização
e de funcionamento de círculos de leitura literária, orientando e oferecendo
embasamento e sugestões de atividades para auxiliar tanto professores, formadores
de leitores, quanto os próprios leitores que desejam montar um círculo de cultura.
Seguindo a orientação do autor, optamos por criar a nossa comunidade de
leitura na escola, mas adaptando o percurso à nossa realidade. Desse modo,
preferimos desenvolver as oficinas com unidades temáticas (CEREJA, 2005, p. 162)
e não por obras, como sugere Cosson, por entendermos que aquela prática abre um
amplo leque de leituras, confrontando autores e gêneros poéticos que, de alguma
forma, contribuíram para referendar a importância do tema em foco.
Limitamos o círculo de leitura ao gênero poético por ele estar em consonância
com o PI intitulado “Sustentailidade poética”, sob nossa orientação, conforme já
explicitamos na introdução, cujo tema geral foi a sustentabilidade. A sustentabilidade
não se restringe apenas às questões do meio ambiente, “mas também e
principalmente das relações sociais" (OLIVEIRA, 2013) em suas variadas facetas,
inclusive com questões de bem-estar, saúde mental, a justiça, dentre outros
objetivos para o desenvolvimento humano sustentável (ONU, 2019).
Com isso, os principais temas abordados no círculo de leitura montado no
IFSC foram: o amor, a prevenção do suicídio e a consciência negra, com eventos
realizados respectivamente em junho, setembro e novembro de 2019, sob a
estratégia de saraus literários, pois entendíamos, há época, que esse tipo de círculo
de cultura se adequava perfeitamente aos objetivos que pretendíamos de provocar a
interação entre os próprios estudantes de todos os cursos do período diurno.

1.4 Sarau em homenagem ao mês do amor

O primeiro sarau literário ocorreu no dia 19 de junho de 2019, no período


matutino, em comemoração ao mês dos namorados, por isso o tema escolhido foi o

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498

“Amor”, e limitamos a leitura ao texto em verso, por ser ele mais condensado do que
o texto em prosa, além de possibilitar o diálogo com a música, com a qual a poesia
mantinha, desde a antiguidade, íntima relação (SOARES, 1989).
Desse modo, a equipe do PI organizou toda a logística de funcionamento do
sarau, desde a escolha do local (na garagem do câmpus), a banda musical que iria
se apresentar, os poemas selecionados para o evento, a dinâmica de procedimento
da atividade e a ornamentação do espaço.

Figura 1 – Sarau sobre o tema Amor, realizado em junho de 2019

Fonte: arquivo do autor (2019)

A imagem da esquerda na figura 1 ilustra uma experiência estética


interessante que as organizadoras do evento idealizaram: todos os participantes
(alunos, professores e técnicos do câmpus) entrariam no evento vendados e seriam
dispostos sentados sobre um grande tapete, ao passo em que a banda tocaria
imediatamente a música “Minha felicidade” da cantora Roberta Campos.
Após o fim da música, todos podiam tirar as vendas, dando-se início ao sarau
com a intercalação entre música e declamação de poemas, os quais estavam
fixados em biombos (imagem à direita da figura 1). Os participantes circulavam pelo
espaço do sarau a fim de ler os poemas de temática amorosa e, se quiserem,
podiam retirar o texto de sua preferência do mural e lê-lo para todos ouvirem. Na
verdade, os poemas disponibilizados eram apenas algumas possibilidades de
leitura, mas qualquer um poderia fazer uso do espaço de leitura no palco para ler o
poema que quiserem e conhecessem. Cumpre dizer que os poemas selecionados
previamente incluam desde clássicos da literatura mundial ("O amor é fogo que arde
sem se ver", de Camões), da literatura brasileira ("Soneto de fidelidade", de Vinicius
de Morais) até poemas de autores contemporâneos desconhecidos ("O amor é o
fim", de Anuska)), passando pela música brasileira, como foi o caso da Roberta
ISSN 2237-700X
499

Campos, Djavan, dentre outros/as cantores/as.

1.5 Ação Setembro Amarelo: por onde anda o seu sorriso?

O segundo momento de interação com o círculo de literatura do PI


“Sustentabilidade poética” foi pensado para discutir o tema de prevenção do suicídio,
geralmente, reservado para amplo debate no mês de setembro de cada ano,
embora, desde o início, refletimos que essa problemática precisa sempre está na
ordem do dia. Contudo, por uma questão de conveniência, julgamos que o mês de
setembro seria, de fato, uma oportunidade interessante para trazer o tema à pauta.
E, em consenso, compreendemos que realizar um sarau para refletir sobre o tema
não seria a maneira mais eficaz de discutir poeticamente a questão, por isso,
sistematizamos uma ação individual durante todo o mês de setembro.
Para tanto, confeccionamos camisas amarelas específicas para realizar a
ação e pesquisamos poemas e/ou mensagens motivacionais que seriam transcritas
em papel reciclável, confeccionado pelo grupo. Além disso, produzimos bilhetes com
os dizeres “Não desista de lutar”. Todo esse material seria utilizado no momento
oportuno que foi esquematizado da seguinte maneira: pelo menos uma vez por
semana, durante todo o mês de setembro, a equipe do projeto se reunia para
realizar a ação de abordagem à comunidade interna do IFSC, sejam docentes,
discentes, técnico administrativo ou os servidores contratados (da limpeza,
segurança, dentre outros).

Figura 2 – Ação desenvolvida sobre o tema prevenção do suicídio, realizado durante o mês de
setembro de 2019

Fonte: arquivo do autor (2019)


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500

Abordávamos as pessoas, durante os intervalos das aulas, e líamos algum


poema que trazia mensagem de esperança, de motivação, de alegria, enfim, alguma
mensagem positiva. Depois entregávamos o bilhete (com uma fita amarela e os
dizeres “Não desista de lutar”), dávamos um abraço e tirávamos uma fotografia para
registrar o momento. Com isso, não falávamos abertamente sobre a prevenção ao
suicídio, mas tentávamos atacar aquilo que geralmente está na raiz do problema,
qual seja, a depressão, a tristeza profunda, o sentimento de solidão ou algum
problema de ordem psicológica.
Essa foi uma excelente oportunidade de conhecer as pessoas que, com a
correria do dia a dia, nunca tínhamos conversado. A troca de experiência, a
conversa, o afeto, o sentimento de que há alguém que se importa com o outro, a
empatia e a solidariedade são valores que a sociedade tão acelerada do século XXI
precisa recuperar.

1.6 Sarau da consciência negra

O último sarau para fechar o ciclo de atividades foi escolhido novamentepelas


próprias orientandas do PI a partir de uma situação curiosa. Uma das delas
presenciou dentro do câmpus uma cena, considerada como um episódio de racismo
desvelado: no horário do intervalo discente viu outro colega do câmpus
acompanhado por um jovem, que era da comunidade, mas que não estava trajando
o uniforme do IFSC, o que, segundo ela, era comum, já que o instituto está sempre
aberto à comunidade e, vez por outra, sempre aparece algum visitante com
finalidades diversas. Só que o visitante que estava acompanhado do aluno do
instituto era negro. Na ocasião, o porteiro do câmpus imediatamente apareceu e
questionou o jovem sobre o motivo da visita, e logo foi pedindo que o rapaz fosse
embora, pois não era permitido está ali sem o uniforme da instituição ou
devidamente identificado.
A orientanda apontou, em reunião para a definição do sarau, que o episódio
foi curioso, pois ela sempre via visitantes no câmpus e que essa situação nunca

ISSN 2237-700X
501

tinha ocorrido antes, mas com uma pessoa negra o tratamento foi diferente. Lembrei
que o racismo infelizmente ainda é uma realidade em nosso país (e também no
mundo), tendo inclusive ocorrido um episódio na cidade, em que um imigrante negro
foi impedido de entrar em um banco, pois o detector de metais o impedia. Mesmo o
imigrante tendo tirado a bota do trabalho, que apontava o problema, ele não pôde
entrar descalço. A situação só foi resolvida com a ajuda de um vizinho, que era
branco, e ajudou-o a resolver o problema. A questão é a seguinte: e se o cliente
fosse branco será que ele teria sido impedido de entrar no banco?
Evidentemente, o problema do racismo não é apenas de branco para preto,
mas está enraizado em nossa sociedade, de modo que todos, conscientes ou não,
temos um pouco de racismo em nós. É só ver nos noticiários, por exemplo, como os
casos de racismo estão presentes em toda a parte de nosso país, inclusive na
Bahia, o berço da negritude no Brasil. Contudo, não há como negar o privilégio que
é nascer branco em nossa sociedade (RIBEIRO, 2019).
Diante dessa conjuntura, percebe-se a importância de trazer à tona a questão
do racismo, principalmente neste caso. Promover um sarau literário com a temática
da consciência negra foi realmente um grande desafio, primeiramente, porque as
orientandas se consideravam fora do lugar de fala (das 6 componentes apenas uma
era negra), embora todas estivessem convictas da urgência da discussão; e depois
porque o câmpus é majoritariamente ocupado pela população branca. Aliás, situado
na região oeste do estado de Santa Catarina, a cidade de Caçador é povoada por
imigrantes de etnia europeia, predominantemente italiana e alemã. Contudo desde
2015, por ser polo industrial da madeira, esse município é o preferido pelos
imigrantes e refugiados que vêm do Haiti e, mais recentemente, da Venezuela. Ou
seja, nos pareceu extremamente importante desenvolver a consciência do respeito
pelo diferente.
Na organização prévia do sarau, fizemos o mesmo movimento realizado no
primeiro evento sobre a temática amorosa, selecionamos variados poemas da
literatura, principalmente brasileira, sobre a questão negra no Brasil e a resistência
contra o racismo. Dessa vez, escolhemos o auditório do câmpus e optamos por não
trazer nenhuma banda musical por dificuldades de conseguir alguém que utilizasse o
estilo de música negra na cidade. Na verdade, essa dificuldade em nada atrapalhou
o andamento do sarau, pois, durante a pesquisa para escolha de poemas e músicas

ISSN 2237-700X
502

para o evento, acabamos conhecendo o trabalho de Bia Ferreira, que tem um estilo
dançante, com as raízes da música negra por meio do reggae. Escolhemos amúsica
“Cota não é esmola”, publicada em seu primeiro álbum em 2011.
A letra dessa canção foi escrita em duas grandes folhas de papel reciclado e
colocadas em pontos de boa visibilidade no auditório para que os participantes
pudessem ler e refletir, quando colocássemos o vídeo da música, projetado em
datashow. Além disso, fizemos uma compilação de várias notícias sobre casos de
racismos tanto a nível internacional, nacional, estadual e municipal, as quais foram
impressas e colocadas nos biombos próximos à entrada do auditório, de modo que
todos que entrassem no ambiente do sarau pudessem tomar conhecimento do grave
problema que é o racismo.
O sarau, então, ocorreu no dia 19 de novembro de 2019, no período matutino.
Inicialmente foi projetada a música de Bia Ferreira por meio da plataforma do You
Tube, enquanto a letra era acompanhada pelos cartazes feitos de papel reciclado.
Após a canção, o coordenador do projeto abordou a importância de se refletir sobre
a consciência negra em nosso país, que se reflete num momento de resistência
política contra o racismo estrutural que acompanha a história brasileira (ALMEIDA,
2018). A música de Bia Ferreira toma como pano de fundo a importante Lei das
Cotas para refletir sobre a falácia da igualdade entre brancos e pretos, pois as
oportunidades, historicamente, como sabemos, não são as mesmas. Em seguida, foi
esclarecido que o momento do sarau era para refletir sobre o racismo e para isso
estava evidenciado, por meio das notícias afixadas no biombo, que a violência
contra o negro estava em ascensão no mundo; e no Brasil e era um dever moral
combatê-la. Os participantes poderiam a partir dali utilizar o microfone para dar
algum depoimento, fazer alguma reflexão ou mesmo ler algum dos poemas que
foram escritos em papéis reciclado e espalhados pelo auditório.
Figura 3 – Sarau sobre a consciência negra, realizado em novembro de 2019

Fonte: arquivo do autor (2019)

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503

Alguns alunos utilizaram o palco para declamar sozinho ou acompanhado


alguns dos poemas selecionados, mas como o espaço era livre eles podiam trazer
algum outro texto de sua experiência de leitura. Um exemplo disso foi o professor de
história do câmpus que leu o belíssimo poema da peruana Victoria Santa Cruz
intitulado "Gritaram-me negra". A performance do professor foi excelente e embalou
o tom enfático na leitura que fez do texto.

2 Considerações Finais

Este texto procurou mostrar o resultado de uma pesquisa de PI de um grupo


de estudante de curso técnico integrado, que escolheram trabalhar com a poesia,
reconhecendo nela a oportunidade de refletir sobre temas de relevância social. Esse
grupo poderia ter escolhido um tema mais específico da área da formação
profissional, mas não o fizeram. Escolheram desenvolver uma pesquisa que
explorasse a sustentabilidade humana por meio da poesia, formando círculos de
leitura durante um semestre inteiro com atividade contínua por meio de sarau, como
um processo de humanização.
O sarau sobre o amor, em homenagem ao mês dos namorados, nos mostrou
uma verdade universal: o amor é um tema recorrente entre os poetas de todas as
épocas, o que reforça o interesse constante entre os leitores. Mas vimos com a ação
sobre a prevenção do suicídio, que a poesia também fala do sofrimento humano, da
dor, da melancolia, do tédio, da depressão ou para usar um termo mais atual, do
estresse. Talvez o leitor de hoje gosta tanto desse tipo de poesia, justamente por se
identificar com a arte poética, sabendo que não sofre sozinho, já que a dor é um
reflexo da existência humana que pode ser superada. A dor é dela e do outro; a dor
é da humanidade. Mas aí eis o bálsamo que a poesia traz, ela ajuda a superar as
nossas crises existenciais. Por último, vimos também que a poesia fala da
discriminação racial, revelando a opressão histórica das injustiças sociais pelas
quais o povo negro ainda enfrenta cotidianamente. O racismo deixa marcas que é
preciso superar, se quisermos viver em um mundo mais humanizador.
Por fim, chamamos a atenção para a necessidade de se abrir espaço, na

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504

educação profissional, para o trabalho com a literatura, de maneira geral, bem como
com a poesia, de maneira particular na formação dos sujeitos.

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SOARES, A. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 1989 (Séries Princípios).

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506

SEGURANÇA DE PLANTAS MEDICINAIS FORNECIDAS POR UM PROJETO NO


MUNICÍPIO DE SÃO DOMINGOS-SC

Larissa Bonora (larissa.bonorab@gmail.com) ¹


Camila Garcia Salvador Sanches (camila.salvador@ifpr.edu.br) ²
1,2
Instituto Federal do Paraná-Campus Palmas

Resumo: O projeto Plante Esperança do município de São Domingos-SC foi


criado no ano de 2003, com o objetivo de promover estudos sobre cultivo,
processamento, difundir o uso responsável da fitoterapia na saúde humana e
contribuir para a promoção de uma qualidade de vida melhor para os
moradores, distribuindo drogas vegetais embaladas e produzidas no próprio
projeto, entre elas estão a Plantago major L., Achillea millefolium L., Malva
sylvestris L., Calendula officinalis L. e Arctium lappa L. O uso popular das
plantas medicinais é uma fonte de informações para subsequentes estudos
científicos sobre sua eficácia e toxicidade. A fitoterapia é caracterizada pelo
uso de plantas medicinais sem a utilização de substâncias ativas isoladas. As
análises de qualidade podem identificar problemas em relação às plantas,
principalmente relativos à sua identificação botânica e falhas durante o cultivo,
beneficiamento e armazenamento que podem levar a um produto sem ação
terapêutica. Este trabalho teve como objetivo realizar análises microscópicas
para a verificação da identidade das amostras, executar análises físico-
químicas e pesquisa de dados de segurança e eficácia de plantas fornecidas
pelo projeto Plante Esperança do município de São Domingos - SC. Os
resultados demonstraram que duas espécies foram identificadas na análise
microscópica. A verificação de umidade e cinzas apresentou valores acima dos
especificados na monografia demonstrando falhas produção e/u
armazenamento. Das cinco plantas analisadas, três apresentaram valores de
umidade acima da especificação e duas apresentaram valores de cinzas acima
da especificação. Com relação à pesquisa de segurança e eficácia, as plantas
analisadas possuem segurança para serem utilizadas para indicações
presentes nos rótulos.

Palavras-chave: Fitoterapia, análises, eficácia.

Abstract: The Plante Esperança Project in the municipality of São Domingos-


SC was created in 2003, with the objective of promoting studies on cultivation,
processing, disseminate the responsible use of phytotherapy in human health
and contributing to the promotion of a better quality of life for residents,
distributing packaged plant drugs produced in the Project itself, among
them are Plantago major L., achillea millefolium L., malva sylvestris L.
calendula officinalis L., arctium lappa L. The popular use of medicinal plants
is a source of information for subsequent scientific studies on their efficacy and
toxicity. Phytotherapy is characterized by the use of medicinal plants without the
use of isolated active substances. The quality analyses can identify problems
regarding the plants, mainly related to their botanical identification and failures
during cultivation, processing and storage that can lead to a product without
therapeutic action. This work aimed to perform microscopic analyses to verify
the identity of the samples, perform physical- chemical analyses and research
ISSN 2237-700X
507

of plant safety and efficacy of plants supplied by the Plante Esperança Project
of the municipaly of São Domingos-SC. The results showed that two species
were identified in the microscopic analysis. The verification of moisture and ash
values presented values above those specified in the monograph
demonstrating production and/or storage failures. Of the five plants analyzed,
three presented humidity values above specification and two presented ash
values above specification. Regarding the research of safety and efficacy, the
analyzed plants are safe to be used for indications on the labels.

Keywords: Phytotherapy, analysis, efficiency.

1 Introdução

Projeto Plante Esperança


O projeto Plante Esperança do Município de São Domingos-SC foi criado no
ano de 2003, com o objetivo de contribuir na promoção de saúde humana dentro do
enfoque sistêmico e dispor de um local apropriado para o estudo metodológico,
didático e contínuo das plantas medicinais, envolvendo estudos botânicos, cultivo
agroecológico, processamento e uso na saúde humana, na agricultura e animais. O
projeto também tem como objetivo possibilitar e difundir o uso responsável da
fitoterapia na saúde humana, sobretudo entre as pessoas mais carentes do
município; difundir os princípios e valores que norteiam a busca por uma maneira de
vida mais saudável e natural; contribuir na promoção da qualidade de vida dos
moradores de São Domingos; manter uma coleção de plantas (horto medicinal),
através do cultivo sistemático de diversas espécies de interesse terapêutico;
organizar e divulgar o conhecimento tradicional sobre o uso das plantas medicinais
pelas comunidades locais. No inicio do projeto obteve-se o apoio da paróquia de
São Domingos, Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente e também de
cooperativas residentes no município. Hoje, o projeto atinge grande parte da
população São Dominguense, distribuindo drogas vegetais embaladas e produzidas
no próprio projeto, entre elas estão: Plantago major L. (tansagem), Achillea
millefolium L. (pronto-alivio), Malva sylvestris L. (malva), Calendula officinalis L.
(calêndula), Arctium lappa L. (bardana). As plantas citadas fazem parte de vários
produtos que são produzidos no projeto, como xaropes, pomadas, fortificantes e
chás que são distribuídos para a população de São Domingos. Essas plantas são
produzidas no horto do projeto e sua embalagem também é feita pela mesma

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508

instituição.
A fitoterapia é representada pela utilização de plantas medicinais em suas
diferentes formas farmacêuticas, sem empregar o uso de substâncias ativas
isoladas, até de origem vegetal (BRASIL, 2015a). No entanto, existem grandes
preocupações em relação a qualidade, segurança e eficácia das preparações
terapêuticas adquirida a partir de plantas medicinais ou de drogas vegetais dos
quais os perfis fitoquímico, farmacológico e toxicológico não estão claramente
definidos (JORDAN, CUNNINGHAM, MARLES, 2010).
A existência da fitoterapia em todas as antigas e atuais civilizações possui
elevado papel na manutenção da saúde dos povos não apenas como uso
terapêutico, mas também como crenças, valores e necessidades da humanidade. É
animador conhecer o essencial de suas vertentes, para melhor utilizá-las, seja para
fortalecer a intimidade e o conhecimento dos profissionais de saúde com a
fitoterapia (BRASIL, 2012).
O crescimento do uso da fitoterapia nas diversas populações mundiais é, em
muitos casos, conduzido pela crença popular de que as preparações fitoterapêuticas
são de origem natural e, consequentemente, são mais seguras e menos tóxicas.
Ainda assim, são grandes as preocupações no que se refere a qualidade, segurança
e eficácia das preparações terapêuticas adquiridas artesanalmente de plantas
medicinais ou de drogas vegetais das quais os perfis fitoquímico, farmacológico e
toxicológico não estão claramente definidos (CARDOSO, AMARAL, 2019).
A utilização doméstica e comunitária de plantas medicinais é propagada em
cada realidade local, de geração para geração. Cada território ou unidade de saúde
pode identificar com facilidade, na comunidade inserida, aquelas pessoas que detêm
conhecimentos familiares quanto aos tratamentos com plantas medicinais e alguns
de seus derivados caseiros. Esse conhecimento popular é uma fonte estratégica de
conhecimento da eficácia ou toxicidade das plantas medicinais, e induzir a novos
estudos científicos, que depois se multiplicam nas universidades e no mercado
farmacêutico (BRASIL, 2012).
As análises de qualidade podem identificar alguns problemas em relação às
plantas. A determinação do teor de cinzas totais permite avaliar as condições de
plantio, colheita, secagem e armazenagem da espécie vegetal, pois verifica a
normalidade dos níveis de sólidos inorgânicos presentes e determinar a segurança
ao consumo (GIL, 2010; LEITE, 2009). O teor de cinzas totais permite determinar a
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509

presença de componentes inorgânicos na amostra, podendo ser areia, terra


oupedras, sendo um quesito importante na avaliação de qualidade (COSTA, 2001)
A porcentagem de umidade elevada em amostras de drogas vegetais secas
pode estar relacionada a processos inadequados de secagem e condições
impróprias durante seu armazenamento. Um teor elevado de água favorece a ação
de enzimas, podendo acarretar na degradação dos constituintes químicos, além de
possibilitar o desenvolvimento de fungos e bactérias, alterando assim, a qualidade
do material vegetal (AMARAL, et al. 2003)
A anatomia vegetal é de grande valor no controle de qualidade de plantas
medicinais e drogas vegetais e corresponde um critério relevante ao tentar aplicar o
conceito de Boas Práticas de Fabricação (Paes-Leme, 2008). Mas, a análise
microscópica, apesar de indispensável, pode ser escassa para a determinação da
qualidade de matérias-primas de origem vegetal, sendo sua associação com testes
químicos capaz de apresentar resultados mais conclusivos (WHO, 1998).
Este trabalho teve como objetivo realizar análises microscópicas para a
verificação da identidade das amostras, executar análises físico-químicas e pesquisa
de dados de segurança e eficácia de plantas fornecidas pelo projeto Plante
Esperança do município de São Domingos - SC.

2 Material e Métodos

Amostras de espécies de Plantago major L. (tansagem), Achillea millefolium


L. (pronto-alivio), Malva sylvestris L. (malva), Calendula officinalis L.
(calêndula) e Arctium lappa L. (bardana), foram fornecidas pelo projeto após
secagem e embalagem da mesma forma como são entregues à população e levadas
ao Laboratório de Farmacotécnica do Instituto Federal do Paraná campus Palmas.
Foram realizadas durante o mês de agosto de 2021, análises de acordo com a
metodologia descrita na Farmacopeia Brasileira 6° edição (2019).
Para a verificação da identidade do material vegetal, foi realizada análise
microscópica. O material seco foi hidratado em água aquecida a 50°C por 15
minutos e após, foram realizados cortes transversais, transferidos para vidro de
relógio contendo água. Os cortes foram descorados em vidro de relógio contendo
solução de hipoclorito de sódio 4% v/v, lavados em agua e corados em vidro
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de relógio contendo cinco gotas de Hematoxilina de Delafield. Quando os cortes


adquiriram coloração arroxeada, foram transferidos para outro vidro de relógio
contendo água, para retirar o excesso de corante, os cortes foram montados entre
lâmina e lamínula em uma gota de água e observados no microscópio (Farmacopeia
Brasileira,2019).
A verificação de cinzas totais foi feita em cadinhos previamente incinerados
em mufla por 30 minutos a 550°C e resfriados em dessecador por 30 minutos.
Foram pesados aproximadamente 1,5g do material vegetal seco e triturado em
liquidificador. Os cadinhos contendo as amostras foram incinerados na mufla
aumentando a temperatura gradativamente até chegar a 600ºC por 90 minutos. A
análise foi realizada em triplicata (Farmacopeia Brasileira, 2019).
A verificação da umidade foi realizada pelo método gravimétrico. Todos os
cadinhos foram colocados na estufa por 30 minutos a 105°C. Após isso foram
retirados da estufa e deixados no dessecador por 30 minutos até resfriar. Foram
numerados, pesados e anotados os pesos. Foram pesados aproximadamente 2,5g
da droga vegetal triturada e anotado os pesos. As amostras foram deixadas na
estufa até atingirem peso constante. Após isso os cadinhos foram colocados no
dessecador por 30 minutos para resfriar e pesados. A análise foi realizada em
triplicata.
Com intuito de verificar a segurança e eficácia das analisadas, foi realizada
uma pesquisa bibliográfica utilizando artigos presentes nas bases de dados:
Pubmed, Farmacopeia Brasileira, WHO monographs (World Health Organization),
Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, Resolução RDC n° 10, 09 de
março de 2010- ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária) para verificação
da adequação das indicações terapêuticas das drogas vegetais fornecidas.

3 Resultados e Discussão

Após as análises de determinação de umidade e determinação de cinzas,


foram obtidos os resultados presentes na Tabela 1.

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Tabela 1. Porcentagem de umidade e cinzas encontradas nas análises realizadas.

Cinzas Umidade Referência


(valor máximo permitido)
Plantago major L. 18,61± 0,35% 12,56± 0,26% Cinzas 14 % e Umidade 8%
(WHO, 2009)
Achillea millefolium L. 12,11± 0,28% 11,45± 0,18% Cinzas 10% e Umidade 13%
(Farmacopeia Brasileira,
2019)
Malva sylvestris L. 12,93± 0,02% 13,07± 0,29% Cinzas 14% e Umidade 12%
(Farmacopeia Brasileira,
2019)
Calendula officinalis L. 8,98± 0,08% 11,28± 0,36% Cinzas 10% e Umidade 12%
(Farmacopeia Brasileira,
2019)
Arctium lappa L. 13,30± 0,13% 12,06± 0,17% Cinzas 15% e Umidade 8%
(WHO, 2009)

Podemos observar na Tabela 1 que as amostras de Plantago major L. e


Achillea millefolium L. apresentam valores de cinzas totais acima das monografias
individuais enquanto a amostra de Plantago major L., Malva sylvestris L. e Arctium
lappa L. apresentaram valores acima da monografia para o teor de umidade.

O desenvolvimento microbiano pode ser favorecido pelo aumento da


umidade, podendo levar à deterioração do produto, hidrólise dos constituintes e
danos à saúde do consumidor por ação de fungos e bactérias que possivelmente
estarão presentes (FALKOWSKI et al., 2009).

A determinação de cinzas totais permite a verificação de impurezas


inorgânicas que, mesmo após incineração, permanecem no produto, podendo
causar contaminação (FARIAS, 2003). Percentuais acima do limite são indicativos
de contaminantes inorgânicos, como pedras, areia e/ou terra (FALKOWSKI, et al.,
2009; YOKOTA et al., 2010).

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Em 2007, Melo e colaboradores verificaram as características de qualidade de


amostras de castanha da índia, capim-limão e centela comercializadas no Brasil. Na
verificação de pureza, duas amostras de castanha da índia, sete de capim limão e
todas as amostras de centelha foram reprovadas no teste de umidade; o percentual
encontrava-se acima do recomendado nas monografias farmacopeias. Todas as
amostras à base de centelha ultrapassaram o percentual máximo (11%) de cinzas.

A segurança e a eficácia dos produtos dependem de diversos fatores; dentre


estes pode-se destacar a qualidade do produto comercializado. De acordo com
Farias (2001) a eficácia é dada pela comprovação, por meio de ensaios
farmacológicos pré-clínicos e clínicos, dos efeitos biológicos preconizados para
esses recursos terapêuticos, e a segurança é determinada pelos ensaios que
comprovam a ausência de efeitos tóxicos. No entanto, a má qualidade de um
produto fitoterápico ou droga vegetal pode vir a anular a sua eficácia e trazer riscos
à saúde do consumidor. Melo et al. (2004) enfatizam que a fraude e a má qualidade
em fitoterápicos são motivos de preocupação por parte dos profissionais da área de
saúde e da comunidade científica, pois interferem na eficácia e segurança do
produto.

Brandão e colaboradores (1998) verificando a qualidade de amostras


comerciais de camomila (Matricaria recutita L.) constataram que 96% possuíam falta
de padronização e qualidade. Posteriormente, o teste de qualidade com amostras de
boldo (Peumus boldus Molina), camomila (Matricaria recutita L.), cidreira (Melissa sp.
e Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf.), erva doce (Pimpinella anisum L.) e hortelã
(Mentha sp.), mostraram grande discordância com as normas vigentes, confirmando
que a indústria não segue rigorosamente os princípios de qualidade requeridos para
drogas de origem vegetal (BRANDÃO et al., 2002).

Este resultado confirma a importância sobre os cuidados em relação aos


requisitos de qualidade essenciais para o uso de drogas vegetais com fins
terapêuticos. Este quadro atual pode ser devido à distribuição de produtos à base de
plantas medicinais, sendo assim dispensados de apresentarem qualidade suficiente
para informações técnico-científicas em bulas. Tendo em vista que há comprovação
científica das propriedades farmacológicas de grande parte dessas plantas e
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513

existem restrições de uso como contra-indicações, interações medicamentosas ou


alimentares, reações adversas e precauções.
Podemos observar na tabela 2 e nas figuras 1, 2, 3, 4 e 5, as estruturas
identificadas na análise microscópica. Nas análises não foi possível identificar as
estruturas de Plantago major L. e Achillea millefolium L. A Arctium lappa L. não
foram encontrados dados para comparação.

Figura 1. Malva sylvestris L. Estômato anomocítico. Lente objetiva de 40x.


Fonte: BONORA, 2021

Figura 2. Malva sylvestris L. Tricoma Estrelado. Lente objetiva de 40x.


Fonte: BONORA, 2021

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Figura 3. Malva sylvestris L. Tricomas estrelados. Lente objetiva de 10x.


Fonte: BONORA, 2021.

Figura 4. Calendula officinalis L. Tricoma multicelular bisseriado. Lente objetiva de 40x.


Fonte:BONORA, 2021.

Figura 5. Calendula officinalis L Estômato anomocítico. Lente objetiva de 40x. Fonte:


BONORA, 2021.

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Tabela 2. Resultados da análise microscópica, se a planta foi identificada ou não identificada.


Identificado Não identificado
Plantago major L. X
Achillea millefolium L. X
Malva sylvestris L. X
Calendula officinalis L. X
Arctium lappa L. - -
- sem dados para comparação

Existem efeitos adversos associados ao uso de plantas medicinais, entre


esses efeitos estão às reações intrínsecas, inerentes à constituição química, como a
utilização da planta errada, doses acima do recomendado, uso em idosos, durante a
gravidez ou lactação, usuários portadores de doenças crônicas que interferem no
metabolismo, interação com outros fármacos, ou reações alérgicas associadas; e as
reações extrínsecas, resultantes de falhas durante o processo de fabricação, como
miscelânea e substituições, falta de padronização, contaminação, adulteração,
preparação ou estocagem incorreta e/ou rotulagem inapropriada (SILVEIRA;
BANDEIRA; ARRAIS, 2008).
Embora existam parâmetros específicos para a produção e comercialização
de fitoterápicos, ainda existem casos de fraude e de má qualidade, que vem
preocupando profissionais da área de saúde e a comunidade científica. A ausência
de qualidade, a adulteração e a incorreta utilização interferem na eficácia e até
mesmo na segurança dos pacientes adeptos ao uso de plantas medicinais (LIMA et
al, 2016).
No projeto as plantas são utilizadas popularmente para as seguintes funções.
A Plantago major L. é utilizada como xarope para tratar inflamações na garganta e
boca. Achillea millefolium L. é utilizada como xaropes para tratar de inflamações e
infecções no trato gastrointestinal. Calendula officinalis L. é utilizada em pomadas
para tratamento de feridas e queimaduras e também como xarope para tratar de
inflamações na boca e garganta. Malva sylvestris L. é utilizada em xaropes
expectorantes e para inflamações. Arctium lappa L. é utilizada como xarope anti-
inflamatório e como chá diurético.
O Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira 2ª edição, mostra
que as indicações de uso da Plantago major L. são como auxiliar no tratamento
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sintomático decorrente de afecções da cavidade oral como anti-inflamatório e


antisséptico. E as advertências são que não deve ser utilizado em pacientes com
hipotensão arterial e obstrução intestinal. Não engolir a preparação após o bochecho
e gargarejo. Nunca utilizar a casca da semente (ANVISA, 2021).
O Plantago major é uma planta herbácea popularmente conhecida como
tansagem que acontece naturalmente nas regiões de clima temperado ou
subtropical, tornando-se facilmente cultivada no Brasil. Usualmente é utilizada no
tratamento de inflamações de boca e garganta, infecções intestinais e como agente
antibacteriano. O infuso das folhas é usado como gargarejo no combate às
inflamações da boca, garganta, gengivas sangrentas e parotidites (FREITAS, et al,
2002).
Tipicamente empregada no uso medicinal, as folhas da tansagem possuem
propriedades antibacterianas (HOLETZ et al., 2002) e são empregadas no uso do
tratamento de doenças cutâneas, infecciosas, digestivas e respiratórias, no combate
a tumores, no alívio da dor e redução de febres e como adstringente, purgativa e
cicatrizante (SAMUELSEN, 2000).
Navarro et al. (1998) comprovaram clinicamente o efeito antinflamatório e
antibacteriano do colutório a base de uma tintura de Plantago major sobre
microrganismos da placa dental e gengivite, sugerindo a utilização do Plantago
major como suplemento efetivo para o controle da gengivite e da placa bacteriana
supra gengiva.
Chiang et al. (2003), observaram efeitos citotóxicos, antivirais e
imunomoduladores de P. major em várias células humanas de leucemia, linfoma
e carcinoma e concluíram que extratos de Plantago major possuem um amplo
espectro de atividades antivirais , bem como as atividades que modulam imunidade
mediada por células.
Da mesma maneira, Kumarasamy et al. (2007), evidenciaram que os extratos
de sementes de Plantago major exibiram significativa atividade de eliminação de
radicais livres. Eles concluíram que esses compostos antioxidantes naturais de
extratos vegetais podem ajudar a desenvolver novos candidatos a drogas para a
terapia antioxidante.
De acordo com um estudo realizado in vitro, Gomez-Flores et al. (2000)
buscaram avaliar os efeitos dos extratos metanólicos de Plantago major nas
funções dos macrófagos e linfócitos do timo de ratos. Houve efetividade da
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planta em atividades imunomoduladoras e combate a infecções intramacrófago,


envolvendo Cryptococcus, Schistosoma, Leishmania, Francisella, Listeria E
Mycobacteria, sendo essa última a principal bactéria causadora da tuberculose, que
pode ser recorrente na vivência clínica do cirurgião-dentista.
Segundo o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira 2ª edição,
as indicações da Achillea millefolium L. são como auxiliar no alívio de sintomas
dispépticos, colerético, antiflatulento, antiespasmódico e anti-inflamatório. Auxiliar no
alívio de sintomas decorrentes da dismenorreia leve (cólica menstrual leve). Auxiliar
no tratamento local de pequenas lesões cutâneas superficiais. E as advertências do
uso são contra indicada para pessoas que apresentam hipersensibilidade aos
componentes da formulação e às espécies da família Asteraceae. Se não houver
melhora da sintomatologia menstrual ou se os sintomas digestivos persistirem por
período maior que duas semanas ou se lesões cutâneas perdurarem por até uma
semana de uso do fitoterápico, um médico deverá ser consultado. Não usar
juntamente com anticoagulantes e anti-hipertensivos (ANVISA, 2021).
A espécie medicinal Achillea millefolium L. (pronto alivio), pertencente à
família Asteraceae, é uma planta herbácea, perene, rizomatosa, de 30-50cm de
altura, dispõem de folhas compostas e flores dimorfas, reunidas em capítulos
densamente corimbosos. É de clima temperado quente a subtropical, tolerando
condições climáticas extremas como o sol, geada, seca, frio e não se adapta a
regiões com excesso de precipitações. A multiplicação se dá por estacas e por
divisão da touceira, o que garante uma produção homogênea. Achillea millefolium L.
é nativa da Europa, América do Norte, Sul da Austrália e Ásia e suas qualidades
medicinais são conferidas à atividade antibacteriana, antioxidante, antiinflamatória,
antitumoral, dentre outras, estudadas a partir de óleo essencial e extratos obtidos de
flores, folhas e raízes (CHANDLER et al., 1982; CORRÊA JR et al., 1994).
Achillea millefolium L. é uma das plantas medicinais mais conhecidas,
empregada há muitos séculos como medicamento natural para tratar feridas,
sangramento, dor de cabeça, inflamação, dores e distúrbios gastrointestinais. As
propriedades medicinais dos extratos e dos componentes de Achillea
millefolium também foram confirmadas por uma ampla gama de estudos
científicos (ALI et al, 2017).
Achillea millefolium tem sido popularmente utilizada para tratar distúrbios
gastrointestinais inflamatórios e espasmódicos, condições hepatobiliares e doenças
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cardiovasculares e respiratórias hiperativas (KHAN, GILANI, 2011. BENEDEK,


KOPP, 2007).
Achillea millefolium L. (Asteraceae) é largamente usada na Europa como
medicamento fitoterápico para tratar espasmos, problemas digestivos, como
emenagogo e para menstruações irregulares (NEMETH, BERNATH,
2008). Vários constituintes de Achillea millefolium , incluindo monoterpenos,
sesquiterpenos, flavonóides e derivados do ácido cafeoilquínico foram relatados
(SCHULTZ, HANSEL, TYLER, 2001). Cada tipo de constituintes pode, em parte, ser
encarregado pelas propriedades medicinais específicas de Achillea
millefolium . Folhas e flores de Achillea millefolium são utilizadas há séculos para
ações antiinflamatórias, como reumatismo, inflamação da pele e rinite alérgica,
cicatrização de feridas e melhora de diaforese e hipertensão (BENEDEK, KOPP,
2007. FETROW AVILA, 2004. JOHANNSDOTTIR, 2009).
Segundo o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira 2ª edição,
as indicações de uso para a Malva sylvestris L. são como auxiliar no tratamento
sintomático da inflamação cutânea e orofaríngea, e como antisséptico para a
cavidade oral. E as advertências de uso são casos de espasmos musculares em
animais. Não são conhecidas interações medicamentosas, mas o efeito laxante da
mucilagem pode interferir na absorção de alguns fármacos, principalmente vitaminas
e minerais, porem é recomendado utilizar o fitoterápico uma hora antes ou depois da
administração de tais medicamentos (ANVISA, 2021).
A Malva Sylvestris L. é bastante analisada por apresentar muitas atividades
benéficas em diversas terapias. Suas propriedades ainda são desconhecidas, mas
sabe-se que ela apresenta atividade inibitória contra algumas infecções,
demonstrando um amplo potencial anti-inflamatório, devido a substâncias como a
mucilagem, flavonoides e taninos, podendo auxiliar na cura de feridas na mucosa
oral (KOVALIK, et al, 2014).
A Malva sylvestris L. é benéfica em vastos aspectos para a saúde, podendo
ter a finalidade e ser usada como quimioterápicos, antioxidantes, antirrugas, anti-
cancros, anti-ulcerosas e antiinflamatórios em muitas terapias contra
infecções na mucosa oral e vaginal, aparelho auditivo e faringe. Salienta-se o
cuidado com o uso da erva durante a gestação, porque a planta possui
características que são maléficas para essas pessoas (GASPARETTO, et al, 2012).
Em concordância com Watanabe E. et al. (2008), a Malva sylvestris tem sido
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utilizada para o tratar do doenças bucais, por suas propriedades antimicrobianas e


anti-inflamatórias. Em um ensaio de diluição inibitória máxima, enxaguatórios bucais
baseados em cloreto de cetilpiridinio combinado com extrato de Malva sylvestris
expuseram propriedades antimicrobianas mais fortes do que aqueles apenas com
cloreto de cetilpiridinio. Essa combinação confirmou atividade antimicrobiana contra
28 cepas de Staphylococcus aureus.
Cogo L.L. et al atingiu uma resposta antimicrobiana de moderada a baixa
contra diferentes cepas de Helicobacter pylori usando extratos etanoicos obtidos
através das folhas e inflorescências (COGO, et al, 2010). A Malva sylvestris como
agente anti-inflamatório foi testado em camundongos que tiveram uma dose oral de
100 mg/kg de extrato aquoso, onde reduziu consideravelmente a inflamação aguada
e crônica (SLEIMAN, DAHER, 2009). A Malva sylvestris L. atestou propriedades
analgésicas relevantes em camundongos que utilizaram o extrato aquoso liofilizado
(ESTEVES, 2009).
No Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira 2ª edição, as
indicações de uso da Calendula officinalis L. são como auxiliar no tratamento de
inflamações da mucosa oral e orofaringe. Ajuda no tratamento de inflamações leves
da pele (como queimadura provocada pela radiação solar) e ferimentos de menor
gravidade. E as advertências são cuidados adicionais em relação ao uso externo,
em alguns casos raros pode causar dermatite de contato ou outras sensibilizações
cutâneas. Uso adulto e pediátrico acima de 6 anos (ANVISA, 2021).
A calêndula (Calendula officinalis L.) é uma planta de origem européia,
pertencente à família Asteraceae. Fica difundida no mundo e está bem aclimatada
no Brasil, sendo comercializada em farmácias onde é aplicada em diversos
preparados fitoterápicos e cosméticos (BERTONI, 2006). As flores e as folhas
de calêndula são empregadas nos dias de hoje na medicina popular como
antiinflamatório e antiespasmódico, para tratamento de feridas de difícil cicatrização,
pequenas queimaduras, hematomas e erupções cutâneas, e no alívio do
desconforto causado por úlceras estomacais ou inflamação da boca e mucosa
faríngea (MEHTA, et al, 2012).
A Calendula officinalis é uma planta que possui propriedades anti-
inflamatórias, antiespasmódicas, cicatrizantes, antioxidantes, antibacterianas,
antifúngicas, imunoestimulantes, e tem sido aplicada e recomendada para a
prevenção e tratamento de radiodermatites (CRUCERIU, BALACESCU, RAKOSY,
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520

2018).
Apesar de que a Calendula officinalis tenha confirmado efeitos citotóxicos e
antitumorais em modelos in vitro e in vivo, sua utilização no tratamento do câncer em
humanos é em geral limitada ao tratamento dos efeitos secundários induzidos pela
radioquimioterapia. Os cuidados paliativos, de grande importância do tratamento do
câncer nos dias atuais, estão concentrados na melhoria da qualidade de vida dos
pacientes com câncer, tratando os sintomas e os efeitos colaterais da doença e seu
tratamento (HORNEBER, 2012). Novos ensaios clínicos sugerem que extratos
da Calendula officinalis L. podem ser um recurso importante na diminuição dos
efeitos colaterais da radioterapia em pacientes com câncer de mama, cabeça e
pescoço (CRUCERIU, BALACESCU, RAKOSY, 2018).
Um ensaio clínico contido por placebo dirigido em 40 pacientes com câncer
de cabeça e pescoço mostrou que o enxágue bucal com extrato de flor de Calendula
officinalis L. diminuiu consideravelmente a intensidade da mucosite orofaríngea
impelida por radiação após 2, 3 e 6 semanas de tratamento. Os autores apresentam
que a inibição da ocorrência de mucosite orofaríngea é parcialmente causada pela
capacidade antioxidante do extrato (BABAEE, et al, 2013).
Segundo o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira 2ª edição,
as indicações de uso são como auxiliar no aumento do fluxo urinário, atuando como
adjuvante no tratamento de queixas menores do trato urinário, auxiliar na melhora da
inapetência, como auxiliar no alívio de sintomas associados à dermatite seborreica.
E as advertências de uso são que doses excessivas podem interferir na terapia com
hipoglicemiantes. Não é recomendado o seu uso em menores 18 anos. Não é
recomendado o uso concomitante com diuréticos sintéticos. O uso concomitante
com insulina pode requerer ajuste de dose desse hormônio (ANVISA, 2021).
Arctium lappa L. é popularmente conhecida como bardana e amplamente
utilizado na medicina popular pelo mundo como um agente diurético e antipirético e
tem sido utilizada para tratar hipertensão, gota, hepatite e outros distúrbios
inflamatórios. O interesse pelos extratos de Arctium lappa L. tem sido amplamente
estudado pelo seu potencial terapêutico. Os extratos de Arctium lappa L. possuem
diversos compostos, incluindo flavonóides, lignanos, taninos, ácidos fenólicos,
alcalóides e terpenóides. Interessantemente, os lignanos de Arctium lappa L.
demonstram efeitos antiproliferativos e apoptóticos em células leucêmicas, também
possuem efeitos antitumorais em linhas de células de câncer pancreático. Além do
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mais, o principal composto ativo de Arctium lappa L., a Arctigenina, demonstrou


apresentar efeito antiinflamatório em um modelo de colite em camundongo, atuando
através da inibição das vias MAPK e NF-κB (NASCIMENTO, et al, 2019).
A arctigenina e arctiin são dois componentes ativos da Arctium lappa L, que
são estudados em modelos in vitro e in vivo pelos seus efeitos anti-inflamatórios
(SHERWOOD, KINSKY, 2004). Os efeitos antiinflamatórios da arctigenina são
evidenciados em diversos modelos de doenças, incluindo edema local, colite, lesão
pulmonar aguda e trauma cerebral. Arctigenina foi efetivo no alívio de sintomas de
contorção, acentuação da permeabilidade capilar e volume do edema na inflamação
local do tecido de ratos movida por vários estimuladores (SOHN, 2011).
O extrato de raiz de Arctium lappa L. mostra propriedades protetoras contra
substâncias tóxicas, limitando as mutações celulares. A maior parte dos estudos
referentes à atividade antitumoral de Arctium lappa L. foi produzida com Arctigenina
e Arctiína, lignanas que induzem as vias intracelulares direcionadas para terapias
antitumorais. A arctigenina é capacitada a eliminar células cancerosas privadas de
nutrientes, para impossibilitar a tumorigênese do câncer de fígado e para conter a
síntese de melanina em células de melanoma (AWALE, et al, 2006. SUN, et al,
2018. HWAYONG, et al, 2013 ).

4 Considerações Finais

Foi possível observar que as amostras de Plantago major L., Achillea


millefolium L., ficaram com valores acima do permitido para a análise de cinzas
totais. Já a Plantago major L., Malva sylvestris L. e Arctium lappa L. ficaram com
valores acima do permitido na análise de umidade, sendo assim, não obedeceram
aos valores de referência preconizados pela Farmacopeia Brasileira 6°
edição. Esses valores acima do permitido podem causar danos à saúde do paciente,
pois com um teor de umidade elevado além da deterioração do produto e hidrolise
de seus constituintes pode favorecer o desenvolvimento de microrganismos como
fungos e bactérias. É possível concluir que as plantas analisadas possuem vários
dados que mostram que são plantas seguras para o uso e que possuem sua eficácia
comprovada em diversos estudos, e confirmam o uso feito pela população pelas
suas propriedades.
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5 Agradecimentos

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus pela oportunidade de


realizar e concluir mais uma etapa em minha vida. Gostaria de agradecer a
toda a minha família em especial aos meus pais Paulo e Francieli Bonora e a
minha irmã Karina Bonora por estarem sempre presentes em minha vida me
dando amor, carinho e sendo compreensivos em todos os momentos que
precisei. Gostaria de agradecer, em especial, a minha orientadora professora
Camila Garcia Salvador Sanches que me ajudou e orientou durante todo este
trabalho. Agradeço também a toda a equipe do projeto pelo apoio e pela
disponibilidade das plantas utilizadas neste trabalho.

Referências

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and Phramacological Properties of Achillea Millefolium L. A Review.
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527

IFTECH

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528

A PERSPECTIVA CRONOLÓGICA NO ENSINO DA HISTORIOGRAFIA


LITERÁRIA POR MEIO DO JOGO CHRONOS: ESCOLAS LITERÁRIAS.

Aline Cristina de Oliveira (aline.cristina@ifpr.edu.br) ¹


Laércio Peixoto do Amaral Neto²
Thiago Formehl
IFPR – Campus Palmas

INTRODUÇÃO: Este trabalho é a sistematização de um dos bens culturais


elaborados pelo projeto institucional “O círculo Mágico na sala de aula”, o
qual desenvolve, no âmbito do IFPR – campus Palmas, jogos educativos
para o ensino básico de nível médio e superior. Enquanto entusiastas dos
jogos no ensino e coordenadores do projeto, acreditamos que o ensino por
meio de atividades lúdicas não deve ficar circunscrito ao ensino infantil e,
acompanhando uma tendência contemporânea em relação às pesquisas
sobre educação, colaboramos no sentido de desmistificar a ideia de que o
jogo não pode fazer parte da educação de jovens e adultos por não
representarem a seriedade que se espera em momentos decisivos da
formação educativa, como é o caso do ensino médio e superior. Contrariando
essa perspectiva equivocada quanto ao emprego de métodos lúdicos no
processo de ensino-aprendizagem, KISHIMOTO (2011) entende o jogo como
inerente à vida humana, tendo sido sempre atrelado a algum tipo de
aprendizado, o que o coloca como educativo por essência e, portanto,
passível de ser transportado para ambientes formais de educação que
atendem faixas etárias as mais diversas quando se tornam, então, jogos
didáticos. Desse modo, o jogo Chronos: escolas literárias trata-se de um
board game para o ensino de conteúdos literários comumente exercitados nos
três anos do ensino médio, momentos em que o estudante se prepara paraos
processos seletivos de universidades; e no curso superior em Letras, no qual
o educando necessita reconhecer os movimentos estéticos literários
pertinentes a toda historiografia literária brasileira, sendo necessário, muitas
vezes, o atrelamento aos movimentos estrangeiros que serviram de matriz
para os escritores nacionais. Por se tratar de um conteúdo bastante extenso,
que compreende cinco séculos de produção literária, acreditamos que o jogo
possa ser uma estratégia didático-pedagógica valiosa para professores e
alunos, pois, ainda segundo KISHIMOTO (2011, p.113) “O jogo não é o fim
visado, mas o eixo que conduz a um conteúdo didático determinado. Ele
resulta de um empréstimo da ação lúdica para servir à aquisição de
informações”.

METODOLOGIA: Uma vez que cada jogo criado pelo projeto é único e com
objetivos diferentes, tanto no que tange ao público-alvo quanto ao conteúdo
que será abordado, a metodologia para o desenvolvimento de cada objeto de
aprendizagem também é particular, porém alguns passos são comuns a
todos os jogos. São eles:

1) Pesquisa de conteúdo didático e objetivos pedagógicos;


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529

2) Estabelecimento de Game Design e Modelos de Jogo;


3) Desenvolvimento com componentes duráveis e pesquisas de
componentesdo jogo e arte que corroborem com a temática;
4) Teste do jogo (Play test);
5) Redação do manual do jogador e do professor.
No caso específico de Chronos: escolas literárias, a metodologia utilizada
contou, ainda, com a pesquisa em fontes diversas para identificação das
datas precisas de publicação da primeira edição das obras contempladas
pelo jogo, bem como a releitura delas para posterior escolha dos trechos que
ilustraram as cartas. Utilizamos, como matriz para esse projeto lúdico o jogo
Timeline, publicado no Brasil pela empresa Galápagos e adaptamos suas
regras e mecânicas ao contexto educativo específico a que se propõe nosso
“Chronos: escolas literárias”.

Figura 1: cartas do jogo (frente e


verso).

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Figura 2: Dois dos onze tabuleiros do


jogo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O board game “Chronos: escolas literárias”


pode ser entendido como um jogo educativo formal, dada a sua elaboração
com vistas a compreensão de conteúdos positivistas e desenvolvimento de
habilidades interacionistas. Nesse sentido, podemos situá-lo entre os
jogos educativos formais pedagógicos, pois sua dinâmica permite que os
jogadores aprendam a distinguir, cronologicamente, os movimentos estético-
literários que perfazem a historiografia literária brasileira. O jogo foi pensado
para ser utilizado como uma ferramenta de didática cambiável, ou seja, pode
ser jogado antes da exposição do conteúdo – contando com o elemento sorte
– o que significa que oaprendizado virá independente do sucesso ou fracasso
na partida; ou pode também servir como metodologia de revisão, quando o
educando terá maiores chances de sucesso por já dominar o assunto.
Apesar de ter uma mecânica competitiva, o jogo colabora para a efetivação
de um aprendizado coletivo, uma vez que as cartas ficam sobre a mesa e se
ajustam a tabuleiros que simulam uma biblioteca, onde os livros (em forma
de cartas) ficam expostos com informações de data e escola literária a qual
pertencem. Tal dinâmica favorece a visualização por todos os jogadores e,
consequentemente, o jogador aprende com o jogo e não somente com seu
sucesso. Além disso, pela mediação do jogo, o aluno se insere num universo
fabular, o que permite o estabelecimento da interação com os colegas e a
realização de momentos de lazer associados ao de aprendizado. Nessa
perspectiva, Antonio candido apregoa a importância do universo fabular, o
qual chama de literatura em sentido amplo:

Vista deste modo, a literatura aparece claramente como


manifestação universal de todos os homens em todos os tempos.
Não há povo e não há homem que possam viver sem ela, isto é,
sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de
fabulação. Assim como todos sonham todas as noites, ninguém é
capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns
momentos de entrega ao universo fabuloso [...] Ora, se ninguém
pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar no universo da
ficção e da poesia, a literatura concebida nosentido amplo a que me
referi parece corresponder a uma necessidade universal, que
precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito.
(CANDIDO,2004, p.174-175).

Diante da manifestação de Candido, o simples ato de fabular por meio do


jogo já seria suficiente para que o jogo fosse encarado como uma atividade
essencial à humanidade. Porém, o que desejamos com o board game
“Chronos: escolas literárias” vai além da livre fruição estética. O que
propomos é a união dos elementos lúdicos para enriquecer a experiência
educativa.

Palavras-chave: Jogos educativos; escolas literárias; board game; ensino


lúdico; literatura

REFERÊNCIAS:
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531

CANDIDO, Antônio. Vários escritos. São Paulo: Ouro sobre azul, 2004.
KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação (14ª ed) São
Paulo: Cortez, 2011.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos ao IFPR – campus Palmas, pelo apoio


financeiro na confecção do jogo fabricado especialmente para o IFtech 2020,
para o qual concorremos ao edital de fomento. Agradecemos também ao
professor colaborador Thiago Formehl, que desenvolveu o aplicativo do jogo.

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PROTÓTIPO DE TABELA PERIÓDICA ADAPTADA PARA ALUNOS COM


DEFICIÊNCIA VISUAL EMPREGANDO IMPRESSÃO EM 3D E GRAVAÇÃO A
LASER

Graziele Del Sent da Silva (email@email.com.br) ¹


Jean Carlos Gentilini ²
João Paulo Stadler (email@email.com.br)4
1,2,3,4 Instituto Federal do Paraná – campus Palmas

INTRODUÇÃO: Considerando que o conhecimento químico se apresenta em três


níveis: macroscópico, o microscópico e o representacional (MORTIMER;
MACHADO; ROMANELLI, 2000), é essencial que os estudantes de Química
tenham acesso a tais níveis de maneira integrada e coerente para que não sejam
percebidos de maneira desconexa ou suprimidos do processo de ensino e
aprendizagem. O nível simbólico, foco desse projeto, compreende as
representações químicas, como estruturas, modelos, nomenclaturas e
classificações, que são padronizadas e visam representar de maneira sistemática
o conhecimento químico sistematizado, permitido a articulação entre do nível
microscópico (que compreende o nível atômico molecular) e o nível macroscópico
(manifestações do mundo sensível) (SANTOS; GRECA, 2005). Tendo em vista
que o sistema simbólico é organizado primariamente com base em representações
imagéticas (símbolos, equações e fórmulas, por exemplo), são necessárias
adaptações para os estudantes com deficiência visual para que possam acessar
este nível de maneira igualmente sistemática e articulada aos demais níveis.
Nesse sentido, o estudo e desenvolvimento de materiais didáticos adaptados às
necessidades desse grupo são importantes a fim de que haja cuidado com a
manutenção das características dos sistemas (CARVALHO; RAPOSO, 2005).
Nesse âmbito, a adaptação de materiais de Química para estudantes com
deficiência visual deve ser a Grafia Química Braille, sistema desenvolvido em
conjunto com especialistas no sistema Braille e pesquisados em Química e
apresenta de maneira sistemática a versão das representações oficiais para o
Braille (BRASIL, 2017). Contudo, uma das maiores dificuldades encontradas na
versão de textos para o Braille é o tamanho necessário para a reprodução das
informações que provoca tanto a omissão de informações ou a confecção de
materiais em maior escala (OKA; NASSIF, 2010).

ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICOS: Tendo em vista a importância da


adaptação de materiais didáticos com base na Grafia Química Braille, este projeto
tem por objetivo geral a produção, em impressora 3D, de uma proposta de
adaptação de tabela periódica reduzida acompanhada de materiais auxiliares que
permitam complementar as informações omitidas na redução do tamanho da
tabela produzida. Para atingir o proposto, foram realizadas duas etapas: 1) estudo
sistemático das características das tabelas periódicas disponíveis a fim de elencar
os pontos de melhoria que se fazem relevantes e 2) produção do material
adaptado, em impressora 3D e gravadora a laser em parceria com o IFLab do
campus Palmas.
Como método de construção e análise de dados da primeira etapa do
estudo, foi empregada a Revisão Sistemática de Literatura (RSL) que permitiu
compreender e traçar características lógicas entre os elementos do corpus
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documental (GALVÃO; RICARTE, 2019; RAMOS; FARIA; FARIA, 2014) que foi
constituído dos artigos publicados de 2010 a 2020 nas atas do Encontro
Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências e nos anais do Encontro
Nacional de Ensino de Química, principais eventos nacionais da área. Neste
projeto, optou-se pela realização da RSL meta-etnográfica (GALVÃO; RICARTE,
2019) com o propósito de evidenciar as características e limitações das
adaptações da tabela periódica para deficientes visuais a fim de propor um modelo
inovador que permite superá-los.

RESULTADOS E PROTÓTIPO: Após a análise, percebeu-se que os material


adaptados apresentados tem as seguintes características gerais: grade tamanho,
supressão de informações relevantes, técnica manual e uso de materiais não
duráveis. Nesse sentido, entende-se que um material inovador deve considerar: o
maior tamanho possível, a manutenção do maior número de informações e ser
confeccionado em material durável. Assim, o protótipo será composto de dois
materiais: uma tabela periódica em acrílico gravado a laser e preenchido com
caneta impressora 3D de aproximadamente 55x35 cm, para que se mantenha o
formato da tabela periódica e a posição dos elementos em relação ao grupo e
período (Fig. 1) contendo o número atômico (sem o indicador Braille para número)
e o símbolo do elemento.

Figura 1: Tabela periódica marcada em impressora a


laserFonte: Arquivo pessoal

Como pode-se perceber pela Figura 1, muitas informações comumente


contidas na tabela periódica tiveram de ser omitidas para manter o menor tamanho
possível. Nesse sentido, propõe-se que o material seja acompanhado de placas
individuais, impressas em 3D, de cada elemento com a maior parte das
informações omitidas para poder minimizar o tamanho da tabela (Fig 2).

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Figura 2: Representação cores utilizadas na confecção das placas por tipo de elemento para os tipos
b) hidrogênio. b) ametais. c) gases nobres. d) metais representativos. e) metais transição
interna. f)metais transição externa.
Fonte: Arquivo pessoal

Ambos (Figs 1 e 2) apresentam as informações em Braille e na grafia da


língua portuguesa. Espera-se com este protótipo contribuir a análise das
características dos materiais adaptados para, assim, superar suas limitações por
meio da proposição de um recurso didático alternativo, que complemente o ensino
e o estudo da classificação periódica dos elementos e, assim, em maior âmbito,
contribuir para a inclusão dos alunos com deficiência visual no ensino de Química.

Palavras-chave: Educação Especial; Educação Inclusiva; Ensino de Química;


Classificação Periódica.

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AGRADECIMENTOS: Ao IFLab pela possibilidade de confecção dos materiais e


ao IFPR, em especial ao IFTECH, pelo auxílio financeiro.

ISSN 2237-700X
SOURDOUGH LIOFILIZADO DE KOMBUCHA

Sahra Maria da Silva Luciano (sahram2009@hotmail.com ) ¹


Kely Priscila de Lima (kely.lima@ifpr.edu.br)2
1,2
Instituto Federal do Paraná

INTRODUÇÃO: O pão é um dos alimentos mais básicos consumidos em todo o


mundo, preparado basicamente com farinha de trigo, água, sal e fermento
biológico (ERCOLINE et al. 2013).
Em relação ao fermento, tem-se o biológico obtido industrialmente com
cepas selecionadas de leveduras e o sourdough obtido por uma seleção natural
de cepas de leveduras, lactobacilos e outras bactérias presentes na farinha de
trigo e/ou outras matérias-primas (frutas, açúcar, extratos, dentre outros), que
acarretará na formação de ácido lático e acético na mistura, conferindo sabor
amargo e diferenciado ao produto final. Desta forma, o sourdough conterá
leveduras e bactérias metabolicamente ativas (SILVA, 2018).
No caso do sourdough sua utilização cresceu e se espalhou pelo mundo
inteiro sendo incorporado ao processo de panificação, porém a fermentação
natural ficou estrita a um número pequeno de pessoas. Com o passar dos anos
aos poucos a busca por produtos naturais e orgânicos têm voltado a aparecer
fazendo assim com que a utilização do fermento natural vá retornando aos poucos
(SILVA, 2018; HOU, HSU, 2013).
Muitas pessoas relatam problemas de sensação de estufamento, azia,
de digestibilidade e intolerância ao glúten ao consumir pães industrializados ou
preparados por fermentação rápida (CHAWLA, NAGAL, 2015). Neste sentido,
alguns estudos mostram que o fermento natural pode minimizar os danos
causados pelas proteínas gliadina e glutenina em indivíduos com doença
celíaca devido ao fato dos microrganismos auxiliarem na clivagem dessas
proteínas (SILVA, 2018), há consumo dos açúcares simples pelos micro-
organismos presentes, o que diminui o pico glicêmico no sangue, torna rico em
nutrientes (vitaminas B), além de ativar a enzima fitase que decompõe o ácido
fítico, fator antinutricional encontrado nos cereais que quando está presente liga-se
aos minerais e inibe a absorção destes pelo organismo. (Sourdough for health,
2016).
Tendo em vista estes benefícios dos pães de fermentação natural, e de
forma a diversificar sabor, textura e palatabilidade, há a possibilidade da
elaboração do fermento natural com kombucha como inóculo. O kombucha é uma
bebida levemente doce e gaseificada, obtida pela fermentação de chá de Camellia
sinenses (PALUDO, 2017).Dentre os micro-organismos que participam deste
processo fermentativo, tem-se as bactérias ácido-acéticas (Acetobacter xylinum,
Acetobacter aceti), e leveduras (Saccharomycodes ludwigii, Saccharomyces
cerevisiae).(PURE; PURE, 2016).
Neste sentido, o objetivo deste projeto visa a utilização do kombucha
comoauxiliar na inoculação do sourdough, sua liofilização, avaliação da viabilidade
celular,elaboração de pães e verificação de algumas características físicas.

METODOLOGIA: Os fermentos foram elaborados no laboratório de Tecnologia de


Alimentos do IFPR, campus Palmas. Foram preparados dois tipos de sourdough
(kombucha e natural) para comparar os resultados das análises. Os fermentos
ISSN 2237-700X
foram preparados na proporção de 1:1:1, sendo o natural com farinha integral,
farinha branca e água e o de kombucha com os mesmos ingredientes secos,
substituindo a água por kombucha. Diariamente e durante 18 dias, foi retirada uma
quantidade de cada fermento e este alimentado na mesma proporção conforme o
tipo de fermento. Decorrido o tempo, foram congelados a -18 ºC/24 e liofilizados
(60 h) e acondicionados em embalagens plásticas.
Foram elaborados pães (farinha branca, sal, açúcar, água e óleo de soja,
sendo diferenciado apenas o fermento: kombucha, natural e seco industrial). Foi
avaliada a viabilidade celular com azul de metileno em Câmara de Neubauer
(CECCATO-ANTONINI, 1996).Resultados expressos em percentagem.
Os pães foram avaliados quanto à perda de massa por pesagem (cru e
assado), volume especifico e densidade, conforme descrito por Ferreira et al.
(2001), onde utiliza-se semente de painço. O volume especifico foi determinado
com a relação volume/massa da amostra, e a densidade com a relação
massa/volume. Os resultados foram submetidos à ANOVA e Teste de Tukey em
LibreOfficce Calc.

Palavras-chave: fermentação, pão, fermento natural, acidez.

REFERÊNCIAS:

CECATTO-ANTONINI, S.R. (2004). Métodos de análises e monitoramento


microbiológico em laboratório de destilaria. Universidade Federal de São Carlos,
Depto. Tecnologia Agroindustrial e Sócio-Econômica Rural, Centro de Ciências
Agrárias, São Carlos,S.P.

CHAWLA, S., NAGAL,S. Sourdough in Bread-Making: An Ancient Technology to


Solve Modern Issues, International Journal of Industrial Biotechnology and
Biomaterials , v. 01, n. 01, 2015.

ERCOLINE, D.; Pontonio, E.; De Filippis, F.; Minervini, F.; La Storia, A.; Gobbetti,
M.; Di Cagno, R. Microbial ecology dynamics during rye and wheat sourdough
preparation. Appl. Environ. Microbiol. 2013, 79, 7827–7836. [CrossRef] [PubMed]

FERREIRA, S. et al. PARÂMETROS DE QUALIDADE DO PÃO FRANCÊS.


B.CEPPA, Curitiba, v. 19, n. 2, p. 301-318, 2001.

HOU, G.; HSU, Y. Comparing fermentation gas production between wheat and
apple sourdough starters using the Risograph. Food Bioscience, V. 3, Setembro,
2013, Pages 75-81. Acessado em: 06/04/2021.

PALUDO, N. Desenvolvimento e caracterização de kombucha obtida a partir de


cháverde e extrato de erva-mate: processo artesanal e escala laboratorial. 2017,
47 F,Trabalho de conclusão de curso, Instituto de Ciência e Tecnologia de
Alimentos daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.
Disponível em:
https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/174899/001061869.pdf?
sequence=1&isAllowed=y. Acessado em: 07/04/2021.

PURE, A. E.; PURE, M. E. Antioxidant and antibacterial activity of kombucha


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beverages prepared using banana peel, common nettles and black tea infusions.
Azadshahr. Applied Food Biotechnology, v. 3, n. 2, p. 125-130, 2016.

SILVA, M. Fermentação natural- conhecendo o levain e sua aplicação comercial


nomercado de fortaleza. 2018, Trabalho de conclusão de curso, Universidade
Federaldo Ceará, Fortaleza- CE. Disponível em:
http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/40899/1/2018_tcc_madasilva.pdf
Acessado em 11/02/2021.

Sourdough for health, Cultures for Health, 2016. Disponível


em
<https://www.culturesforhealth.com/media/docs/Sourdough_eBook.pdf>. Acesso
em04/07/21.

ISSN 2237-700X

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