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HIDROLOGIA

E OBRAS
HIDRÁULICAS
PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior

A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma

ação integrada de suas atividades educacionais, visando à


geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar prossionais
prossionais empreendedores
empreendedores que promovam
promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.

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de conceitos.
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SUMÁRIO
AULA 01 CICLO HIDROLÓGICO 05
AULA 02 BACIA HIDROGRÁFICA 10
AULA 03 BALANÇO HÍDRICO 17
AULA 04 PRECIPITAÇÃO (PARTE 1) 24
AULA 05 PRECIPITAÇÃO (PARTE 2) 36

AULA 06 INFILTRAÇÃO 45
AULA 07 EVAPOTRANSPIRAÇÃO 52
AULA 08 ESCOAMENTO SUPERFICIAL 61
AULA 09 HIDROGRAMA UNIT
UNITÁRIO
ÁRIO 71
AULA 10 PREVISÃO DE VAZÕES 78
AULA 11 TRANSPORTE DE SEDIMENTOS 89
AULA 12 CONTROLE DE ENCHENTES 95
AULA 13 REGULARIZAÇÃO DE VAZ
VAZÕES
ÕES 101
AULA 14 BARRAGENS 109
AULA 15 CANAIS 116

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INTRODUÇÃO
Hidrologia é a ciência que trata da água na Terra, sua ocorrência, circulação,
distribuição espacial, suas propriedades físicas e químicas e sua relação com o
ambiente, inclusive com os seres vivos. A Hidrologia é, portanto, o estudo da água
na superfície terrestre, no solo e no subsolo.
Podemos tratar e Hidrologia como uma das ciências da engenharia, a qual tem
muitos aspectos em comum com a meteorologia, geologia, geograa, agronomia,
engenharia e a ecologia, e que utiliza como base os conhecimentos de hidráulica,
física, química, biologia e estatística.
Os problemas relacionados à água geralmente requerem um enfoque
multidisciplinar,r, segundo o qual diversos especialistas
multidisciplina especialis tas contribuem em suas áreas
para entender a situação e alcançar a melhor alternativa,
altern ativa, sob determinados
critérios. Os estudos hidrológicos geralmente envolvem técnicas originárias ou
desenvolvidas a partir de conceitos de outras áreas, os quais serão apresentados
neste livro, e que o prossional que lida com a Hidrologia deve estar familiarizado, ser
capaz de aplicá-las e entender seus resultados.
Neste livro serão abordados, também, alguns conceitos de obras hidráulicas.
Com o domínio da disciplina de Hidrologia, é possível estudar intervenções na bacia
hidrográca e no ciclo hidrológico, pois os impactos destas ações refletem num dos

recursos naturais mais importantes para a sobrevivência do homem na Terra: a água.

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AULA 1
CICLO HIDROLÓGICO
O ciclo hidrológico é o conceito central da Hidrologia, conforme mostrado na Figura
1.1. A energia solar aquece ar, solo e águas superciais, resultando na evaporação
da água e no movimento das massas de ar. O vapor de água aglutina-se, formando
nuvens. Em determinadas condições, o vapor d’água condensado, e aglutinado na
forma de nuvens, pode retornar à superfície terrestre como precipitação.
A evaporação da água dos oceanos é a principal fonte de vapor no ciclo hidrológico,
no entanto, a evaporação de água dos solos, dos rios e lagos e a transpiração da
vegetação são também contribuintes. A precipitação que atinge a superfície terrestre
pode inltrar no solo ou escoar supercialmente até atingir um curso d’água. A parcela
da água que inltra umedece o solo, alimenta os aquíferos e cria o fluxo de água
subterrâneo. Em escala global, considera-se que o ciclo hidrológico é fechado.
A água sofre alterações de qualidade ao longo das diferentes etapas do ciclo
hidrológico. A água salgada do mar é transformada em água doce pelo processo de
evaporação. A água doce que inltra no solo, por sua vez, dissolve os sais presentes
no solo, e os carrega através dos rios até os oceanos. O mesmo acontece com um
grande número de outras substâncias dissolvidas e em suspensão.

Figura 1 - Ciclo Hidrológico


Fonte: Santos (2021)

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1.1 COMPONENTES DO CICLO HIDROLÓGICO

De maneira sucinta, o ciclo hidrológico pode ser descrito da seguinte forma:


• Ocorre evaporação da água
água dos oceanos e formformação
ação do vapor de água;
água;
• Sob determinadas condições, o vapor precipita na forma de chuva, neve, granizo,
etc (precipitação);
• Parte da precipitação não chega nem a atingir a superfície terrestre, sendo
evaporada;
• Parte da precipitação atinge diretamente a superfície de lagos e oceanos,
retornando posteriormente para a atmosfera na forma de vapor;
• Parte da precipitação atinge a superfície terrestre, desta parcela:
• parte é interceptada pela cobertura vegetal (interceptação), de onde parte
evapora e parte acaba escorrendo até o solo;
• parte inltra sub-supercialmente (inltração), e desta: parte escoa até
corpos d’água próximos, como rios e lagos (escoamento subsupercial);
parte inltrada percola atingindo os aquíferos (percolação), que escoam
lentamente até rios e lagos (escoamento subterrâneo);
• parte escoará supercialmente (escoamento supercial), sendo retida em
depressões do solo, sofrendo inltração, evaporação ou sendo absorvida
absor vida pela
vegetação. O “restante” do escoamento supercial segue para rios, lagos e
oceanos, governada pela gravidade;
• a vegetação, que retém água das depressões do solo e inltrações, elimina vapor
d’água para a atmosfera (transpiração), através do processo de fotossíntese;
O termo normalmente empregado para denotar a evaporação associada à
transpiração da vegetação é a evapotranspiração.
• a água que alcança os rios, seja por escoamento supercial, sub supercial
ou subterrâneo, ou mesmo precipitação direta, segue para lagos e oceanos,
governada pela gravidade.

É importante ressaltar que a evaporação está presente em quase todas as etapas


do ciclo, e que o ciclo hidrológico não apresenta um começo nem um m, já que a
água está em movimento contínuo.
Apesar de haver algumas divergências quanto aos valores estimados por diferentes
autores, convém comentar que cerca de 383.000 km³ de água evaporam por ano
dos oceanos (WUNDT, 1953, apud ESTEVES, 1988). Isso equivaleria à retirada de
uma camada de 106 cm de espessura dos oceanos por ano. Desse total evaporado,
estima-se que 75% retornem diretamente aos oceanos sob a forma de precipitação,
enquanto os 25% restantes precipitam sobre os continentes.

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Esteves (1988) revela que a composição química da precipitação oceânica difere


nitidamente da continental, particularmente no que diz respeito à concentração de
íons como Na+, Mg 2+ e Cl-, a qual é maior na precipitação oceânica.
A princípio, as etapas de precipitação e evaporação são consideradas as mais
importantes dentro do ciclo hidrológico, em termos
t ermos de volume de água movimentado.
Todavia, à medida que se diminui a escala de análise, as demais fases do ciclo se
tornam muito importantes. Pode-se tomar como exemplo a análise de uma determinada
área de dezenas de hectares, nesse caso, a interceptação, inltração, percolação e
escoamento supercial são bastante relevantes para entendimento dos processos
hidrológicos.

1.3 IMPACTOS SOBRE O CICLO HIDROLÓGICO

O ciclo hidrológico é condicionado pelas características locais, tais como o clima,


relevo, tipo de solo, uso e ocupação do solo, geologia, tipo de cobertura vegetal, rede
hidrográca, etc.
• A interceptação em uma floresta nativa é superior à de áreas agrícolas ou de
pastagens;
• O solo tipo argiloso é pouco permeável, portanto, a inltração ocorre em menor
taxa comparada à que ocorre em arenoso, o qual é mais permeável. Em áreas
pavimentadas, por sua vez, praticamente não ocorre inltração;
• Uma vvez ez que o escoamento
escoamento superficial tem como forçaforça motriz a ação da
gravidade, em superfícies íngremes há maior tendência
tendência de escoamento e menor
de retenção da água nas depressões do solo, havendo escoamentos mais rápidos
do que aqueles que ocorrem em terrenos planos, nos quais há maior tendência
ao acúmulo de água e inltração.

A ação antrópica decorre em sensíveis alterações do ciclo hidrológico, pois é


da natureza humana modicar o meio em que vive, de modo a adaptá-lo às suas
necessidades. Os rios represados modicam o regime de escoamento supercial,
aumentam a evaporação e elevam o nível das águas subterrâneas (lençol freático), além
de outras consequências sobre a biota aquática. A impermeabilização do solo aumenta
a ocorrência de alagamentos, pois é reduzida a parcela de inltração, decorrendo
em aumento do escoamento supercial. O desmatamento diminui a interceptação,
deixando os solos expostos à ação das gotas de chuva e do escoamento supercial,
que erodem o solo e carreiam nutrientes e sedimentos para rios e lagos.
O efeito da substituição da cobertura
cobert ura natural do solo pela urbanização sobre o ciclo
hidrológico é exemplicado na Figura 1.2. No exemplo, com diferentes percentuais de

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impermeabilização da superfície, são observados relevantes impactos no escoamento


impermeabilização
supercial .

Figura 1.2 - Ilustração do efeito da urbanização sobre o ciclo hidrológico


Fonte: Livingston; Mccarron (1992) Adaptado

A ação antrópica interfere no ciclo hidrológico e tem profundos impactos sobre o


meio ambiente, a saber: poluição e contaminação das águas superciais e subterrâneas,
em função do lançamento inadequado de efluentes sanitários industriais e agrícolas;
ocupação de áreas de várzea, as quais têm função de planícies de inundação nos
eventos de cheia; alteração no clima; desmatamento, queimadas e deserticação;
interferência nos ecossistemas naturais devido à introdução de espécies exóticas,
entre outros (Tabela 1.1).
Como demonstrado, é inerente ao Engenheiro conhecer os impactos que a ação
antrópica pode causar sobre o meio, de forma a reduzir e mitigar os efeitos negativos
de seus projetos e obras. O ciclo hidrológico deve ser compreendido com profundidade,
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pois trata de um dos recursos naturais mais importantes para a sobrevivência e


subsistência do ser humano na Terra, uma vez que se interrelaciona como todos os

demais ciclos biogeoquímicos.


Ati
tivi
vida
dade
de hu
hum
man
anaa Impa
Impact
ctoo nos ecos
ossi
sist
steema
mass aq
aquá
uáti
ticcos Val
aloore
res/
s/se
serv
rviç
içoos em ris
iscco
Alteração do fluxo dos rios, transporte
Habitats, pesca comercial
Construção de de nutrientes e sedimentos,
e esportiva, deltas e suas
represas interferência na migração e reprodução
economias
de peixes
Construção de diques Destruição da conexão do rio com as Fertilidade natural das várzeas e
e canais áreas inundáveis controle das enchentes
Habitats, pesca comercial
Alteração do canal Danos ecológicos dos rios. Modicação
e esportiva. Produção de
natural dos rios do fluxo dos rios.
hidroeletricidade e transporte.
Biodiversidade. Funções naturais
Eliminação de um componente
Drenagem
alagadas de áreas fundamental dos ecossistemas de ltragemHabitats
nutrientes. e reciclagem de
para peixes e
aquáticos
aves aquáticas.
Mudanças no padrão de drenagem. Qualidade e quantidade da água.
Desmatamento/uso
Inibição da recarga natural dos Pesca comercial. Biodiversidade
do solo
aquíferos, aumento da sedimentação e controle de enchentes.
Suprimento de água. Custos de
Poluição não
Prejuízo da qualidade da água tratamento. Pesca comercial.
controlada
Biodiversidade. Saúde humana.
Remoção excessiva Diminuição dos recursos vivos e da Pesca comercial e esportiva.
da biomassa biodiversidade Ciclos naturais dos organismos.
Supressão das espécies nativas. Habitats, pesca comercial.
Introdução de
Alteração dos ciclos de nutrientes e Biodiversidade natural e
espécies exóticas ciclos biológicos. estoques genéticos.
Pesca comercial. Biota aquática.
Poluição do ar (chuva Perturbação da composição química de
Recreação. Saúde humana.
ácida) rios e lagos.
Agricultura.
Alterações drásticas nos volumes Suprimentos de água.
Mudanças globais no dos recursos hídricos, dos padrões Transportes. Produção de
clima de distribuição da precipitação e energia elétrica. Produção
evaporação. Risco de enchentes. agrícola. Pesca.
Aumento na pressão para construção Praticamente todas as atividades
Crescimento da
de hidrelétricas, da poluição da água, da econômicas que dependem dos
população e padrão
acidicação de rios e lagos. Modicação recursos hídricos e ecossistemas
de consumo
do ciclo hidrológico. aquáticos.
Tabela 1.1 – Atividades humanas e seus impactos sobre os recursos hídricos
Fonte: Adaptado de Tundisi (2000)

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AULA 2
BACIA HIDROGRÁFICA
2.1. DEFINIÇÃO

Bacia hidrográca é uma superfície compreendida por um conjunto de terras, por onde
corre um rio principal e seus afluentes, incluindo cabeceiras, ou nascentes, divisores
d’ água, cursos d’água principais, afluentes, subafluentes, entre outros (Figura 2.1).
A água escoa dos pontos altos em direção aos mais baixos e o terreno da bacia é
gerado pelo desgaste que a água exerce sobre o relevo de determinada área, podendo
resultar em diversas formas: vales – depressões nas montanhas, planícies mais ou
menos largas, maior ou menor quantidade de nascentes (VIEIRA, 2006).

Figura 2.1 - Bacia Hidrográca genérica


Fonte: Matias (2021)

Para Tucci (2012), a denição de bacia se estende para uma área de captação
natural da água de precipitação que converge o escoamento para um único ponto de
saída. Entendendo que, a bacia hidrográca é composta de um conjunto de superfícies
vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até

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resultar em um leito único no seu exutório. Da mesma forma, Silva (1995) refere-se
à bacia hidrográca como uma compartimentação geográca natural delimitada por

divisores
afluentes.de água, drenada supercialmente por um curso d’água principal e seus
Quando a bacia hidrográca é adotada como unidade de gestão dos recursos
hídricos, é denido um espaço geográco a m de auxiliar o planejamento regional,
controlar o aproveitamento dos usos da água na região, proteger e conservar as
fontes de captação nas partes altas da bacia e discutir com diferentes pessoas e
setores as soluções para os conflitos (VIEIRA, 2006). É necessário destacar que a
bacia hidrográca está relacionada ao espaço físico e não político, isso faz com que
fronteiras entre município
municípios,
s, estados, ou até mesmo países, não interra na delimitação
delimitação
da área de uma bacia.

As diferentes utilizações dos recursos hídricos e sua necessidade vital para o homem
faz com que ocorra uma exploração prejudicial destes recursos que podem gerar graves
problemas ambientais ao longo do tempo, visto que a necessidade de utilização destes
recursos pode resultar em uma ação não planejada, favorecendo a degradação do
meio ambiente. Com base nesta premissa, os estudos relacionados à caracterização
siográca em bacias hidrográcas, apresentam-se com um papel fundamental, a m
de tornar a utilização destes recursos em uma ação consciente dos recursos naturais.
Para caracterização siográca de uma bacia hidrográca entende-se que são todos
aqueles dados que podem ser extraídos de mapas, fotograas aéreas e imagens de
satélite. Basicamente são áreas, comprimentos, declividades e coberturas do solo
medidas diretamente ou expressas por índices mais utilizados (TUCCI, 2012).
Os principais impactos produzidos por alterações no uso e na cobertura do solo
em bacias são: a diminuição da capacidade de inltração, o aumento do escoamento
supercial e, consequentemente, dos processos erosivos, a diminuição da cota do leito
dos rios e, portanto, o aumento de cheias e inundações (GROVE et al., 1998).

2.2 CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA

O processo de caracterização siográca consiste na determinação de uma série de


fatores como: área de drenagem, fator de forma, coeciente de compacidade, sistema
de drenagem, ordem dos canais (HORTON, 1945), densidade de drenagem, extensão
média do escoamento supercial. A obtenção das características
caracterís ticas siográcas de uma

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bacia podem ser obtidas através de imagens de satélite, fotograas aéreas e mapas
de hidrograa. Para Moura (2008) a caracterização siográca e o conhecimento dos

dados de vazões,
que resulta permite outilização
na adequada maior planejamento
dos recursose controle
hídricos. sobre obras de engenharia,
A determinação das características siográcas se apresenta de forma quantitativa,
sendo que Alves e Castro (2003) concluem que os resultados obtidos desta determinação
possibilitam a qualicação das alterações ambientais presentes nas bacias.

Área de drenagem: elemento base dos cálculos seguintes e corresponde à medida


em projeção horizontal, considerando toda a área localizada entre os divisores de
água (Andrade et al. 2008). A área de drenagem determina a potencialidade hídrica de
uma bacia hidrográca pois o seu valor multiplicado pela lâmina da chuva precipitada

dene o volume de água recebida pela bacia (TUCCI, 2012).

Formato da bacia: para a determinação do formato da bacia, é necessária


neces sária a obtenção
de dois outros fatores:

Coeciente de compacidade (K ): Esse fator relaciona o perímetro de uma bacia


c

e a circunferência de área igual presente na respectiva bacia, quanto mais irregular


a forma da bacia hidrográca, maior será esse índice (CARVALHO et al., 2009). Seu
cálculo utiliza a seguinte expressão:
P
Kc = 0,28. ____
Onde: Kc = coeciente de compacidade (adimensional); P = perímetro (km); A = área
(km²).

Fator forma (Kf):


(Kf): o Fator Forma (Kf) é determinado através da razão entre a largura
média da bacia e o seu comprimento axial. Andrade et al. (2008) complementam que
esse fator é obtido com a medição do comprimento desde a desembocadura até a
cabeceira da bacia. O cálculo desse fator é determinado pela equação:
A
Kf= __2
L
Onde: Kf = Fator de Forma (adimensional); A = Área (km²); L = Comprimento do eixo
principal (km).

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Índice de circularidade (I ): Esse índice possui uma variação de acordo com o


c

formato da bacia. Tende para unidade em bacias circulares e diminui em bacias com

formatos
da bacia ealongados.
a sua área.Segundo Andrade desse
A determinação et al. (2008), esse índice
fator utiliza relaciona
a seguinte o perímetro
equação:

(12,57∙A)
Ic= __________
P2

Em que: Ic = índice de circularidade (adimensional); A = área de drenagem (m²); P


= perímetro (m).

Sistema de drenagem: o sistema de drenagem é formado pelo rio principal e seus


tributários. A compreensão da estrutura do sistema de drenagem permite a avaliação
do tempo que a água leva para deixar a bacia hidrográca. Entre os parâmetros
empregados na avaliação do sistema de drenagem, destaca-se: ordem dos cursos
d’água, densidade de drenagem e extensão média do escoamento supercial.

Ordem dos cursos d’água: este parâmetro diz respeito à classicação do grau de
ramicações e/ou bifurcações observados na bacia hidrográca. A classicação de
ordenamento dos cursos mais utilizada é a proposta por Horton (1945) e modicada
por Strahler (1957).

Densidade de drenagem: a densidade de drenagem (Dd) representa a eciência

de
o comprimento bacia
drenagem datotal hidrográca.
dos Suaedeterminação
cursos d’água consisteO numa
a área de drenagem. relação
parâmetro entre
é obtido
através da equação:
Rd
Dd= ___
A
Em que: Dd = é a densidade de drenagem (km/km²); Rd = rede de drenagem (km);
A= é a área da bacia (km²).

Extensão média do escoamento supercial (l): esse parâmetro relaciona a distância


média que a água proveniente das precipitações, teria que escoar sobre a bacia em
linha reta do ponto onde ocorreu a sua queda até o ponto mais próximo do leito de
qualquer curso d’água. Para facilitar a obtenção do parâmetro, a bacia é modicada
para forma de retângulo com uma mesma área, no qual, o lado maior é a soma dos

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comprimentos da bacia (VILLELA; MATTOS, 1975). Sua obtenção é ocasionada através


da equação:
A
l= (4∙L)
_____
Em que: A = área (km²); L = Comprimento do rio principal (km).

2.3. TEMPO DE CONCENTRAÇÃO

O tempo de concentração pode ser denido como o tempo necessário para que
toda a bacia contribua para o escoamento supercial em uma seção considerada. De
forma simplicada, é o tempo que leva uma gota de água mais distante, até o trecho
considerado na bacia, ou seu exutório (FENDRICH, 2008).2008). Sendo assim, devido à
urbanização, quanto maior a impermeabilização das áreas, menor será o tempo de
concentração da bacia (REZENDE; ARAUJO, 2015). Segundo Tomaz (2002) existem
somente três maneiras para a água ser transportada em uma bacia, que são: escoamento
supercial, escoamento em tubos e escoamento em canais incluso sarjetas.
As fórmulas para determinar
determina r o tempo de concentração têm como fatores de cálculo,
de modo geral, as características morfométricas da bacia hidrográca como área,
comprimento do talvegue, rugosidade do córrego ou canal e a declividade. Para o
cálculo do tempo de concentração existem diferentes equações, que para a avaliação
do seu critério de uso devem ser considerados fatores como a amostragem de bacias
para a elaboração da equação, localidade do estudo, que influencia a taxa de inltração

easpermeabilidade do solo,que
equações adaptadas e ofornecem
ano do estudo,
maior que é vericado
abrangência para
para os poder selecionar
cálculos do que
suas equações originais.
As recomendações para a utilização de determinada equação variam conforme a
extensão da Bacia, região em que ela está localizada e deve ser escolhida a partir de
uma avaliação criteriosa, como armam Souza e Sobreira (2017), a determinação do
tc ocorre através de fórmulas empíricas, podendo ocorrer imprecisões e incertezas por
não considerar a variabilidade espacial e temporal da bacia.
Entre as diferentes fórmulas para a determinação, este estudo avaliará a utilização
dos métodos de Kirpich (1940), Ven Te Chow (adaptado por Wilken, 1978), Témez

(1978), Doodge (1956) e Giandotti (1953), que serão apresentadas a seguir.


A equação de Kirpich (1940) onde inicialmente foi desenvolvida, segundo Moreira,
(2005) para a correção de ajuste de parâmetros nos tempos de percurso (tp) baseando-
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se na diferença, em horas, entre os picos observados e calculados na equação de


Doodge é descrita como:
L3
tc = 57∙( __
H )0,385
Em que: tc = tempo de concentração (min); L = extensão do talvegue (km); H =
diferença de nível entre o ponto mais afastado e o considerado (m).
A equação de Kirpich (1940) foi elaborada a partir de medições de seis ou sete
bacias norte americanas, com resultados que recomendam sua utilização para bacias
com áreas inferiores à 0,45 km², declividade média menor que 0,3 m/m e comprimento
do eixo principal com limite de 1,2 km (SILVEIRA, 2005).
Outra equação utilizada que será avaliada sua possível utilização para as bacias
de estudo é a equação de Ven Te Chow adaptado por Wilken (1978):
L 0,64
__
tC=52,64∙( √I)
( min); L = extensão do talvegue principal (km);
Em que: tc = tempo de concentração (min);
I = declividade da bacia(m).
A equação de tempo de concentração de Ven Te Te Chow (1978) foi elaborada a partir
de estudos em vinte bacias norte-americanas, em área rural, sendo eestimado
stimado que a
sua utilização se estende a bacias de área de 1,1 a 19 km² (SILVEIRA, 2005).
O valor do tempo de concentração de uma bacia, de acordo com Témez (1978), é
a função dos recursos morfológicos e se estima adequadamente através da seguinte
fórmula:
L 0,76
t =0,3( ____ )
c I0,25
Em que: tc = tempo de concentração (horas);
( horas); L = comprimento do talvegue principal
(km); I = declividade média equivalente (%).
De acordo com Souza e Sobreira (2017) é a função mais apropriada para bacias
naturais de área de até 3.000 km². Este método leva em consideração o comprimento
do talvegue principal e declividade média equivalente.
O método de Doodge é descrito da seguinte maneira:
tc=21,88A0,41 S -0,17
Em que: tc = tempo de concentração (minutos); A = área da bacia (km²); S = declividade

do Otalvegue
métodoprincipal
de Doodge(m/m).
(TUCCI, 1998) foi determinado a partir de dados de dez bacias
em áreas rurais, na Irlanda, com áreas entre 140 e 930 km², supondo parâmetros para

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as melhores condições de escoamento em canais. Este método leva em consideração


somente a área da bacia hidrográca e a declividade do talvegue principal.

O método
Barragens de de Giandotti
Terra editado(1953) foi em
em 1973, recomendado no Regulamento
Portugal, sendo normalmentede Pequenas
utilizado em
bacias com áreas superiores a 300 km² (SOUZA; SOBREIRA, 2017), em outras literaturas
variando para bacias maiores que 170 km². As bacias que foram utilizadas para a
elaboração desta equação, eram localizadas em região montanhosa na Itália.
4 +1,5L
tc= ____________
0,8

Em que: tc = tempo de concentração (horas); A = área da bacia (km²); L = comprimento


do talvegue principal (km); Hm = altura média da bacia (metros) = Altitude média –
Altitude mínima.
Rodrigues et al. (2008) armam que as características físicas de uma bacia possuem
importante papel nos processos do ciclo hidrológico, influenciando na inltração e na
quantidade de água produzida como deflúvio, a evapotranspiração, o escoamento
supercial e subsupercial, pois a remoção da vegetação em um ambiente florestal
leva, consequentemente, a processos erosivos, gerando degradação do ambiente, e
que arrisca a propagação para áreas adjacentes.
Macedo et al. (2010) armam que com o conhecimento das características físicas é
possível determinar o desenvolvimento do escoamento supercial em uma determinada
área, o que possibilita a formulação de medidas para o controle de enchentes, caso
a bacia seja suscetível a esse tipo de evento.

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AULA 3
BALANÇO HÍDRICO
3.1 BALANÇO HÍDRICO/EQUAÇÃO FUNDAMENTAL

As estratégias operacionais para sistemas de aproveitamentos hídricos de projetos


requerem a investigação acerca das transformações do ciclo hidrológico ocorridas
dentro de regiões de interesse pré-estabelecidas, as quais devem ser contabilizadas
através da equação do balanço hídrico, também denominada balanço de massa, ou
equação fundamental, que pode ser expressa na forma:
ΔS
___ =Q -Q
e s
Δt

sendo:
ΔS = variação de armazenamento hídrico (volume);
Δt = variação de tempo;
Qe = afluência hídrica (descarga); e
Qs = efluência hídrica (descarga).

Na maioria dos problemas práticos de Hidrologia, adotam-se simplicações de


maneira a considerar apenas os processos mais relevantes do ciclo hidrológico, cuja
análise se restringe a uma pequena porção da superfície terrestre. Dessa forma, as
componentes a serem representadas na equação de balanço hídrico dependem dos
limites físicos estabelecidos e as grandezas representativas de tais componentes
devem ser empregadas em unidades compatíveis, sejam elas volumes (m³), descargas
(m³/s) ou lâminas (mm).
O balanço hídrico deve ser realizado para um determinado volume de controle, sendo
necessária, portanto, a delimitação de área e limites superior e inferior, dependendo
dos objetivos para os quais ele é realizado. Embora outros componentes possam
vir a fazer parte do balanço hídrico, denem-se a seguir as principais componentes
geralmente consideradas para alguns outros casos especícos de balanço hídrico.
Balanço hídrico da água na superfície do terreno
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O esquema da Figura 3.1 oferece indicações dos componentes do balanço hídrico


da água na superfície do terreno.

Figura 3.1 - Componentes do balanço hídrico supercial


Fonte: o autor

A equação do balanço hídrico pode então ser escrita como:


ΔS=P-(E+I+ES+INT)

sendo:
ΔS = variação do armazenamento na superfície do terreno;
P = precipitação;
INT = interceptação (geralmente considerada irrelevante);
E = evaporação;
I = inltração; e
ES = escoamento supercial.

3.1.2. Balanço hídrico subsupercial

Considerando-se o balanço hídrico da água no solo, em nível subsupercial, ou seja,


que ocorre em uma camada de solo imediatamente abaixo da superfície do terreno,
as componentes constantes da Figura 3.2 podem ser consideradas.

Figura 3.2 - Componentes do balanço hídrico subsupercial


Fonte: o autor

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Assim, a equação do balanço hídrico pode ser expressa por:


ΔV=I-(ET+G)

sendo:
ΔV = variação do armazenamento no solo;
I = inltração;
ET = evapotranspiração; e
G = inltração profunda.

A evapotranspiração ou evaporação total (ET) compreende a evaporação propriamente


propriament e
dita (a partir de superfícies líquidas, de rios e lagos, cobertas por gelo e do solo) e a
evaporação resultante da transpiração dos seres vivos (vegetais).

3.1.3. Balanço hídrico subterrâneo

Considerando-se a infiltração profunda, pode-se dizer que a variação do


armazenamento da água nos aquíferos (ΔG) pode ser expressa por:
ΔG=G-(EB)
sendo:
ΔG = Variação do armazenamento no aquífero;
G = Inltração profunda;
EB = Escoamento de base, ou seja, contribuição do aqüífero para as vazões nos
álveos dos rios.

Nota-se que o balanço hídrico subterrâneo de áreas vegetadas cujas culturas


atingem o lençol ou a franja capilar deve ser realizado de maneira diferenciada, uma
vez que nesse caso especíco a evapotranspiração pode utilizar o lençol como fonte
de abastecimento.

3.2. EQUAÇÃO DE BALANÇO HÍDRICO GERAL

Geralmente, para propósitos práticos, admite-se que, para um ciclo completo


estabelecido, a variação do armazenamento seja pouco signicativa para todas as
situações anteriores.

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Entendendo-se, ainda, que os balanços hídricos anteriores foram realizados para


as diversas camadas do solo e subsolo, a soma das equações de balanço supercial,

subsupercial e subterrâneo conduz à equação de balanço hídrico geral, na forma:


ΔS+ΔV+ΔG=P-(INT+E+T+ES+EB)

3.3. BALANÇO HÍDRICO DE LONGO PRAZO PARA BACIAS DE GRANDES RIOS

O balanço hídrico para grandes rios toma por base a área de drenagem que abriga
o curso d’água principal e seus afluentes, ou seja, a sua bacia hidrográca. Em geral é
utilizado para avaliar a disponibilidade hídrica para determinado uso e é calculado na escala
anual, na qual se pode considerar a variação do armazenamento de umidade desprezível.
0=P-(INT+E+T+ES+EB)

Neste equacionamento, a interceptação irá retornar para a atmosfera na forma


de evapotranspiração, e o escoamento de base corresponde apenas a uma pequena
parcela do escoamento supercial.
0=P-ET-ES
P=ET+ES

Exemplo 3.1: Em uma bacia hidrográca de 1.000 km 2 de área de drenagem o total


precipitado em um dado ano foi de 1.326 mm. Avalie a evapotranspiração na bacia
neste ano, considerando que a sua vazão especíca média anual foi de 14,3 L/s/km2.
Resolução:
ET=P-Q
Q
ET=P- __ Δt
A
ET=P-q∙Δt
L
__
ET=1326 (mm/ano)-14,3 ( ____
s
km2 )∙(365∙864000)
10 -3
m 3/ano
___________
ET=1326 (mm/ano)-450964800(
(mm/ano)-450964800( )
106 m²
ET=1326 (mm/ano)-0,4509648(m/ano)
(mm/ano)-0,4509648(m/ano)
ET=1326 (mm/ano)-450,9648(mm/ano)
(mm/ano)-450,9648(mm/ano)
ET=875 mm/ano
875
ET/P= _____ =0,66=66%
1326
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Verique que a evapotranspiração (ET) corresponde a 66% do total precipitado na


bacia hidrográca.

Exemplo 3.2: Considere uma bacia com 10 hectares onde o total anual precipitado
médio é de 1.300 mm e a vazão média na seção exutória é de 16 L/s.km². Nesta bacia,
pretende-se implantar um lago, inundando 1/3 da área total da bacia. Supondo que a
evaporação direta no reservatório é estimada em 1.150 mm/ano, calcule o decréscimo
percentual na vazão média.
OBS: 1 km2 = 100 ha.

Resolução:
Antes da construção do reservatório:
Antes da construção do reservatório os componentes do balanço hídrico podem
ser postos em conformidade com o esquema da Figura 3.3:
A aplicação da equação do balanço hídrico conduz
a:

−4
Qs = q.A ⇒ Qs = 16.10 m 3 /s

ET.A = P.A − Q s .∆t

VP .A − Q s .∆t Q s .∆t
⇒ E
T = = P− = E
T = 795,4 mm/ano
Figura 3.3 Componentes do balanço hídrico após
a criação do reservatório A A

Note que a evapotranspiração (ET) corresponde,


corres ponde, portanto, a 61% do total precipitado
na bacia hidrográca.
Denindo-se E como a evaporação a partir da superfície líquida, e admitindo-se
que os componentes do balanço anteriores à construção do reservatório não sofram
alterações signicativas, após a construção do reservatório os componentes do balanço
hídrico são aqueles apresentados no esquema da Figura 3.4.

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=
como A
L 1/3A,
Q s ′ .∆t = P.A − ET.(2/3.A) − E.(1/3.A)

P.A − ET.(2/3.A) − E.(1/3.A)


⇒ Qs′ = = 12,25.10
4
m 3 /s

Ät

Qs′ − Q s
∴Ä
Q s (%) = .100 = −23,4 %
Qs

Figura 3.4 Componentes do balanço hídrico após a


criação do reservatório.

Houve, portanto, uma redução de 23,4% da vazão na seção de saída da bacia.

3.4. BALANÇO HÍDRICO DE CURTO PRAZO PARA CORPOS D’ÁGUA

O balanço hídrico de curto prazo para corpos d’água é usado para prever as
consequências de afluências e retiradas hídricas do corpo d’água. Geralmente, considera
curtos períodos de tempo, para os quais a variação do armazenamento na superfície
do terreno (ΔS) deve ser levado em conta. São exemplos a passagem de uma onda de
cheia e a reconstituição de vazões afluentes naturais a sistemas de aproveitamentos
hídricos dotados de reservatórios.
O registro de sequências temporais de vazões em diversos pontos de um curso d’água
é muitas vezes necessário para a modelagem do processo de sucessão de vazões e
realização de previsões futuras. Entretanto, a partir do instante
inst ante em que aproveitamentos
hídricos (reservatórios, retiradas hídricas, irrigação, etc.) são construídos ao longo dos
cursos d’água, a avaliação das afluências naturais, denominada reconstituição, só é
possível através do balanço hídrico. Observe a Figura 3.5, correspondente ao balanço
hídrico realizado na base diária para os reservatórios do Sudeste/Centro Oeste
Oest e do Brasil
(bacias do Tietê, Paranapanema, Paraná e Paraíba do Sul), onde se pode constatar
que a reconstituição das afluências naturais depende do conhecimento dos dados
operacionais das usinas hidrelétricas em operação ao longo dos cursos d’água.

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Figura 3.5 Auências e deuências - valores vericados em 31/05/2004 nas usinas do Sudeste/Centro Oeste do Brasil
Fonte: adaptado da ONS (2004).

Exemplo 3.3: Cada reservatório existente ao longo de um curso d’água possui


área de drenagem diferente, crescente de montante para jusante, de tal forma que é
possível avaliar a afluência incremental associada a cada reservatório do sistema, por
exemplo. Deseja-se conhecer as afluê
afluências
ncias incrementais aos reservatórios
reservatórios de Bariri
Bariri
e Ibitinga, ambos pertencentes ao complexo sistema hidrelétrico do Rio Tietê, para o
dia 30/5/2004, conforme indica a Figura 1.10.

Resolução: Observando-se que as afluências dos reservatórios de Bariri e Ibitinga são


fortemente influenciadas pela operação dos reservatórios de montante, no caso, Barra
Bonita e Bariri, respectivamente, pode-se inferir que as afluências incrementais para
Bariri e Ibitinga correspondem a: 65(=539-474) e 192(=731-539) m 3/s, respectivamente.

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AULA 4
PRECIPITAÇÃO (PARTE 1)
4.1 INTRODUÇÃO

Denomina-se precipitação toda forma de água da atmosfera que atinge a superfície,


seja na forma de chuva, granizo, neve, orvalho, neblina ou geada. O mais relevante
vetor de entrada de água na bacia hidrográca é a precipitação. Como consequência,
é através dos dados de precipitação que é vericada a viabilidade do abastecimento
público e irrigação, bem como analisada a necessidade de obras para controle de
inundações, erosão do solo etc. Trata-se, portanto, de umas das informações mais
importantes no dimensionamento de obras hidráulicas.
A temperatura do ar atmosférico varia de acordo com a altitude, apresentando
baixas temperaturas em grandes altitudes e temperatura relativamente alta próxima à
superfície terrestre.
terres tre. O processo de formação das nuvens está associado ao movimento
ascensional do vapor d’água. Ao longo da ascensão, a temperatura do ar vai diminuindo
até que o vapor passe a condensar.
A quantidade de água que pode ser contida em um determinado volume, sem
que ocorra condensação, é maior para o ar quente do que para o ar frio. O vapor se
condensa na forma de pequenas gotas, as quais permanecem suspensas no ar em
função da turbulência atmosférica. Com o aumento do aporte de umidade na atmosfera,
as pequenas gotas passam a se aglutinar e, uma vez que tenham atingido tamanho
e peso suciente para vencer a turbulência atmosférica, precipitam em direção à
superfície da Terra.

4.2 TIPOS DE CHUVAS

A maneira como ocorre e a causa da ascensão do ar úmido são consideradas


para diferenciar os principais tipos de chuva, a saber: convectivas (I), frontais (II) e
orográcas (III) (Figura 4.1).

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Figura 4.1 – Tipos de chuva segundo a origem do processo de formação das nuvens
Fonte: Blog Observatório Histórico Geográco (2021)

4.2.1 Chuvas convectivas

As chuvas convectivas ocorrem pelo aquecimento de massas de ar relativamente


pequenas, que estão em contato direto com a superfície quente dos continentes e
oceanos, sob equilíbrio instável. A quebra desse equilíbrio promove a rápida ascensão
da massa de ar quente, as quais, nos níveis mais altos da atmosfera encontram
baixas temperaturas e condensam, formando nuvens. As chuvas convectivas são
caracterizadas pela alta intensidade e pela curta duração, além ocorrem, em geral,
em uma região concentrada, sobre áreas relativamente pequenas. No Brasil, há uma
predominância de chuvas convectivas, especialmente nas regiões tropicais (TUCCI,
2012).

Os processos
relativamente convectivos
curta. produzem
Problemas chuvas
de inundação emde grande
áreas intensidade
urbanas e de duração
estão, muitas vezes,
relacionados às chuvas convectivas.

4.2.2 Chuvas frontais ou ciclônicas

As chuvas frontais ocorrem quando se encontram duas grandes massas de ar,


de diferente umidade e temperatura. Na frente (superfície de contato) entre as duas
massas, o ar mais quente, o qual é mais leve e úmido, geralmente é empurrado para
cima, onde encontra temperaturas mais baixas, o que resulta na condensação do vapor.
As massas de ar que formam as chuvas frontais têm centenas de quilômetros de

extensão e movimentam-se
frontais são caracterizadas de forma
pela relativamente
longa lenta,
duração e por por essegrandes
atingirem motivo, extensões
as chuvas
(TUCCI, 2012).

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Chuvas frontais apresentam, em geral, duração longa e intensidade relativamente


baixa. Nos casos de frentes estacionárias, a precipitação pode incidir sobre a mesma
região durante vários dias seguidos.

4.2.2 Chuvas orográcas

As chuvas orográcas ocorrem em regiões com grandes obstáculos do relevo,


como cordilheiras ou serras muito altas, que impedem a passagem de ventos quentes
e úmidos, os quais sopram do mar, obrigando o ar a subir adiabaticamente. Nas
grandes altitudes, a umidade do ar se condensa, formando nuvens junto aos picos
da serra, locais em que chove com muita frequência. As chuvas orográcas ocorrem
em muitas regiões do mundo, e no Brasil são especialmente importantes ao longo
da Serra do Mar (TUCCI, 2012).

4.2. DADOS PLUVIOMÉTRICOS

O estudo das precipitações se baseia na compreensão de algumas variáveis que


a caracterizam: altura pluviométrica, intensidade, duração e frequência.
A altura pluviométrica corresponde à espessura média da lâmina de água que
cobriria a região atingida pela precipitação, caso esta região fosse plana, impermeável
impermeável
e o exutório fosse fechado. Em geral, a unidade de medição da altura pluviométrica
é o milímetro de chuva.
Duração é o período de ocorrência da precipitação, o qual é medido em minutos
ou horas.
Intensidade é a razão entre a altura precipitada e a duração da chuva, expressa
em mm/h ou mm/min.
Frequência é o número de ocorrências de precipitações com altura pluviométrica
igual ou superior a um determinado evento considerado. Chuvas com elevada altura
pluviométrica têm frequência baixa, ou seja, ocorrem raramente. Isso é facilmente
vericável quando se avalia o número de vezes que ocorrem eventos extremos de
precipitação. Por outro lado, chuvas de baixa altura pluviométrica são mais comuns.
Para avaliar eventos extremos como chuvas de elevada altura pluviométrica,
emprega-se a variável tempo de retorno (Tr), a qual é expressa em anos. O tempo
de retorno representa a janela temporal média em que um determinado evento de
precipitação é igualado ou superado. Por exemplo, uma chuva com altura pluviométrica

que
pelo corresponde ao tempo
menos uma vez de retorno
em janelas de 25de
temporais anos é igualada ou superada em média
25 anos.

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O tempo de retorno é também expresso como o inverso da probabilidade de ocorrência


de um determinado evento, em um ano qualquer. Por exemplo, uma chuva com 20
mm de altura pluviométrica em um dia é igualada ou superada apenas 1 vez a cada
10 anos. Neste caso, seu tempo de retorno é de 10 anos, e a probabilidade de ocorrer
um dia com chuva igual ou superior a 20 mm em um ano qualquer é de 10%, ou seja:
1 1
Tr = __ ou ____
P f(%)

4.3 MEDIÇÃO DA PRECIPITAÇÃO

Os instrumentos mais usados na medição das precipitações são o pluviômetro e


o pluviógrafo. Ambos medem a altura pluviométrica, porém, o pluviógrafo se presta
também a medir a intensidade da precipitação.

O pluviômetro é basicamente composto por um recipiente metálico com um funil no


topo (Figura 4.2), dispõe também de uma proveta graduada. Esse instrumento armazena
a água da chuva e, fazendo-se a leitura da proveta, tem-se a lâmina precipitada (P).
Normalmente, a leitura é feita diariamente, às 7 h da manhã, por um operador. Dessa
forma, com o pluviômetro é medida a precipitação ocorrida nas últimas 24 horas,
desde a última leitura. Os dados diários são anotados manualmente por um operador
em uma caderneta.

Figura 4.2 - Pluviômetro prossional


Fonte: Unity Instrumentos (2021)

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O outro instrumento utilizado para registrar a precipitação é o pluviógrafo. Este


difere do pluviômetro basicamente por possuir um mecanismo de registro automático

da precipitação, gerando informações mais discretizadas ao longo do tempo, isto é,


informações em intervalos de tempo menores. Os pluviógrafos antigos utilizavam
um braço mecânico para traçar um gráco em papel milimetrado com os valores
precipitados (Figura 4.3). Os pluviógrafos atuais, por sua vez, armazenam os dados
de precipitação em meio magnético ou transmitem, em tempo real, os dados para
centrais de controle remotas.

Figura 4.3 - Pluviógrafo com mecanismo de registro em papel graduado


Fonte: Studart (2003)

O acionamento do mecanismo de reg


registro,
istro, tanto em pap
papel
el milimetrado como em
meio magnético, pode ser feito por meio de três tipos básicos de sensores:
• cubas basculantes (ou canecos), cujo enchimento e esvaziamento é responsável
pelo registro dos dados;
• reservatório com sifão, sendo a variação do nível no reservatório responsável pela
flutuação de uma pena que registra os dados e o esvaziamento ocorre quando
o nível da água no interior do reservatório é suciente para vencer o sifão;
• e balança com mola, onde o peso da água acumulada desloca a balança para
baixo, conforme ocorrem as precipitações.

O pluviógrafo permite, portanto, a obtenção de informações discretizadas ao longo


do tempo, com maior precisão e sem a necessidade de operação manual constante.

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4.4 ANÁLISE DE DADOS DE PRECIPITAÇÃO

Um posto pluviométrico é instalado e mantido com o objetivo de obter uma série


ininterrupta de dados de precipitação ao longo dos anos. Todavia,
Todavia, é comum a ocorrência
de problemas mecânicos ou de operação, de forma que normalmente há períodos
sem registros das precipitações ou com falhas nas observações.
Falhas são compreendidas como dados de altura pluviométrica cujos valores são
incoerentes, quando comparados à série total de dados, ou demonstram ser erros
grosseiros. Elas podem ser detectadas por meio de análise visual simples, ou após o
processamento dos dados hidrológicos.
As falhas humanas não são incomuns, podendo ocorrer devido ao preenchimento
errado da caderneta pelo operador, ou também pode ocorrer que o operador não
visite a estação e acabe por estimar um valor para leitura. Não obstante, as falhas
podem também ter origem em problemas mecânicos no sensor ou no registrador do
instrumento. Isto posto, é comum e razoável que as séries históricas de precipitação
contenham falhas, as quais devem ser identicadas e excluídas.

4.4.1 Preenchimento de falhas

O preenchimento de falhas em séries de dados de precipitação tem como objetivo


torná-las contínuas para posterior interpretação e eventual extrapolação dos dados.
Para essa operação, podem ser empregados os métodos da ponderação regional,
regressão linear ou a combinação de ambos.

a) Método da ponderação regional


Neste método é estimada a precipitação em um determinado posto onde foi
detectada uma falha na série histórica de dados, considerando-a proporcional às
precipitações em postos vizinhos. O fator de proporcionalidade, neste caso, é uma
função da precipitação média nos postos adjacentes e no próprio posto com falha.
São selecionados, ao menos, três postos vizinhos àquele com falha, os quais devem
estar localizados em regiões
regiões climatologicamente
climatologicamente semelhantes ao posto com falha.
Considerando que haja falhas na série de dados de um posto X, e considerando
que há séries de dados completas nos postos A, B e C, os quais são adjacentes ao

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posto X, e estão situados em regiões de clima semelhante, as falhas detectadas na


série de dados da estação X podem ser preenchidas pela seguinte equação:
P P P
13 ( ___ + ___ + ___C ) PXm
PX = __ A B
PAm PBm PCm

Em que: PXm, PAm, PBm e PCm são as precipitações médias nos postos X, A, B e C,
respectivamente; PX é a precipitação no posto X a determinar; PA, PB e PC são as
precipitações nos postos A, B e C, respectivamente, no intervalo de tempo referente
àquele da precipitação no posto X a determinar.
Devido à grande variabilidade temporal e espacial da precipitação, o método da
ponderação regional não é recomendado para correções em séries de dados diários,
sendo normalmente empregado para correções em séries mensais ou anuais.

4.4.2 Análise de consistência

Para séries históricas de precipitação sem falhas é conveniente analisar a consistência


desses dados. O objetivo dessa análise é avaliar a homogeneidade das informações
entre postos pluviométricos adjacentes. Em uma análise preliminar,
preliminar, os dados podem
parecer coerentes entre si, mesmo assim, é possível que haja inconsistência nas
informações dos totais precipitados, seja por questões como troca de operador, troca
de equipamento, condições da instalação, etc.
Uma vez identicada a inconsistência dos dados, é necessário interpretar as causas
dessa inconsistência e vericar se podem ser corrigidas. Pode-se recalcular as falhas
corrigidas, bem como buscar detectar outras falhas não identicadas inicialmente.
A detecção de inconsistências, em geral, é realizada através dos métodos da Dupla
Massa e do Vetor Regional.

b) Método da Dupla Massa


Este é um método simples, desenvolvido pelo U.S. Geological Survey (TUCCI, 2012), o
qual consiste em traçar em um gráco os totais acumulados de precipitação do posto
a consistir (posto cuja consistência se quer analisar) versus os totais acumulados de
um posto base de comparação.

Se os pontos deentre
proporcionalidade tal gráco se alinharem
os dados dos dois em umaem
postos reta aproximada,
questão, comoisso indica
ilustra uma
a Figura
4.4-A.

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Figura 4.4 – Exemplos de análise de consistência


Fonte: o autor

Pode ocorrer que os pontos se alinhem em duas retas de inclinação distintas


(Figura 4.4-b). Isso decorre de uma mudança de tendência no posto a consistir (posto
Y), eventualmente causada por erros sistemáticos (troca de operador), alterações
climáticas signicativas (Emergência Climática), etc.
Pontos alinhados em retas de mesma declividade (paralelas) (Figura 4.4-c) ocorrem,
sobretudo, quando há erros de transcrição dos dados, seja pelo operador ou durante
o processamento dos dados.
Na Figura 4.4-d os pontos estão dispersos, sem nenhuma tendência evidente. Neste
caso, os postos avaliados apresentam regimes pluviométricos distintos e, portanto,
não é adequado usá-los em conjunto para estudos hidrológicos.

4.5 ANÁLISE DE FREQUÊNCIA DOS TOTAIS PRECIPITADOS

A frequência dos totais precipitados pode ser analisada segundo diferentes aspectos,

uma delas consiste em verificar a frequência com a qual os eventos ocorreram


historicamente, tendo como base os dados observados disponíveis.

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Neste método bastante simples, chamado método empírico, os dados são dispostos
em ordem decrescente, e é atribuído a eles um número de ordem (m) – m = 1 para o

maior valor, m = 2 para o segundo maior valor, e assim sucessivamente até o menor
valor disponível, representado por n, que é o tamanho da série de dados. A frequência
percentual ou probabilidade de ocorrência pode ser determinada pelo método Califórnia
Califór nia
ou pelo método Kimball.
m
f= __ Método Califórnia
n

m
f= ____ Método Kimball
n+1

Em que f representa a frequência com que o valor da precipitação de ordem m foi


igualado ou superado, tendo como fonte de informações apenas a série de dados
disponível. Nota-se, portanto, que esse método tem suas limitações, uma vez que não
leva em conta a grande variabilidade temporal e espacial das precipitações, bem como
está limitado à previsão de precipitações com tempo retorno inferiores ou iguais à n+1.
Para previsões de eventos de precipitação com maior precisão, com tempos de
retorno superiores à n+1, há técnicas baseadas em modelos estatísticos probabilísticos.

4.6 PRECIPITAÇÃO MÉDIA EM UMA BACIA

Os postos pluviométricos registram a precipitação


precipitaçã o pontual. Em função da variabilidade
espacial e temporal da precipitação, as medições em postos adjacentes podem ser
bastante distintas. Para estudos hidrológicos a respeito de uma bacia hidrográca é
necessário compreender o regime pluviométrico da região. Uma forma de incorporar
as medições pontuais entre postos é determinar a precipitação média.
A precipitação média em uma bacia é compreendida
compreendida como a lâmina de água de
altura uniforme sobre toda a sua área. Trata-se, naturalmente, de uma abstração
teórica, pois a precipitação não ocorre de forma uniforme em toda a superfície
da bacia.
Com base nos dados disponíveis dos postos pluviométricos da bacia hidrográca ou

em regiões próximas, é possível estimar a precipitação média empregando o método


aritmético, o método de Thiessen ou o método das isoietas.

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4.6.1 Método aritmético

Esse método consiste em calcular a precipitação média a partir da média aritmética


das precipitações em postos selecionados. Desta forma, supondo que haja os dados
dos postos A, B, C e D, a precipitação média na bacia da Figura 4.5 pode ser estimada
como:
PA+PB+PC+PD
Pm= ______________
4

Em que PA, PB, PC, PD, são as precipitações nos postos A, B, C e D, respectivamente,
e P m é a precipitação média na bacia.

Figura 4.5 - Postos com dados disponíveis para estimativa da precipitação média da bacia do exemplo
Fonte: o autor

Esse método não considera a localização geográca dos postos, relativamente à


bacia. Ademais, a precipitação no posto A tem o mesmo fator de ponderação (peso) da
precipitação medida em B na estimativa da precipitação média. Ou seja, é atribuída a
mesma ponderação a todos os postos, independentemente da sua área de influência.

4.6.2 Método de Thiessen

No método de Thiessen a precipitação média é determinada incorporando um


fator de ponderação a cada uma das estações empregadas no cálculo, em função de

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suas áreas de influência. A partir da disposição espacial dos postos, são traçados os
polígonos de Thiessen, os quais denem a área de influência de cada posto.

Considerando quatro postos com informação disponível (postos A, B, C e D), a


precipitação média estimada por esse método é:
AA∙PA+AB∙PB+AC∙PC+AD∙PD
Pm= _________________________
A

Em que: PA, PB, PC, PD são as precipitações nos postos A, B, C e D, respectivamente;


AA, AB, AC, AD são as áreas de influência dos postos A, B, C e D; P m é a precipitação
média na bacia; A é a área da bacia que, no caso, corresponde à soma das áreas AA,
AB, A C, A D.
Para o traçado dos polígonos de Thiessen, os postos são unidos por segmentos
retos formando um polígono fechado (Figura 4.6-b); em seguida, são traçadas retas
perpendiculares aos segmentos que unem os postos, em seu ponto médio (Figura 4.6-
c); as retas perpendiculares
perpendiculares são, então, prolongadas até se interseccionarem,
interseccionarem, denindo
os polígonos de Thiessen e as áreas de influência de cada posto na bacia (Figura 4.7).

Figura 4.6 - Exemplo do traçado dos polígonos de Thiessen, para estimativa da precipitação média na bacia, com base nos dados dos postos A, B, C e D.
Fonte: o autor

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Figura 4.7 - Denição dos polígonos de Thiessen e das áreas de inuência dos postos A, B, C e D para estimativa da precipitação média na bacia do
exemplo
Fonte: o autor

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AULA 5
PRECIPITAÇÃO (PARTE 2)
A estimativa da precipitação é fundamental para o dimensionamento de obras
hidráulicas, seja para a previsão de disponibilidade hídrica para usos múltiplos, ou
para a determinação da capacidade de reservação e condução de água que as obras
de drenagem devem apresentar. Neste capítulo, discutiremos metodologias para
previsão dos totais anuais de precipitação, que refletem a disponibilidade de água
numa determinada região, e a previsão de chuvas intensas, que repercute nas vazões
de drenagem supercial.

5.1 CHUVAS ANUAIS

A chuva média anual e sua variabilidade sazonal são importantes variáveis no


estudo de recursos hídricos. O total de chuva precipitado ao longo de um ano repercute
fortemente no tipo de vegetação existente na bacia e nas atividades humanas que
podem ser exercidas na região. Toma-se como exemplo o Sul do Brasil, onde chove
aproximadamente 1300 mm por ano, em média; na Amazônia chove mais de 2000
mm por ano, enquanto na região do Semiárido do Nordeste há áreas com menos de
600 mm de chuva por ano.
A Figura 5.1 apresenta um histograma de frequências de chuvas anuais de um
posto genérico A, no período de 1942 a 2001. A chuva média neste período é de
1433 mm, mas observa-se que ocorreu um ano com chuva inferior a 700 mm, e um
ano com chuva superior a 2300 mm. A distribuição de frequência da Figura 5.1 é,
aproximadamente, gaussiana (semelhante à distribuição Normal).
Conhecendo o desvio padrão das chuvas e considerando que a distribuição é normal,
é possível estimar que 68% dos anos apresentam precipitações entre a média menos
um desvio padrão e a média mais um desvio padrão. Da mesma forma, pode-se
considerar que 95% dos anos apresentam chuvas entre a média menos duas vezes o
desvio padrão e a média mais duas vezes o desvio padrão. O desvio padrão da chuva
anual no posto pluviométrico da Figura 5.1 é de 296,1 mm.

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Figura 5.1 - Histograma de frequência de chuvas no Posto A


Fonte: o autor

EXEMPLO 1
O quadro abaixo apresenta os totais anuais precipitados na cidade B, no período
de 1949-1963:
ANO P (mm)
1949 1185
1950 1205
1951 1630
1952 1386
1953 2165
1954 1234
1955 1267
1956 1432
1957 1683
1958 1408
1959 1167
1960 1197
1961 1730
1962 1462
1963 1470

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a. Qual a estimativa da probabilidade e do tempo de recorrência de se ter uma


precipitação total inferior a 1000 mm em um ano qualquer?

A área total abaixo da curva Z, vale 1. Sendo 0,5 para cada lado da origem.
Analisando a tabela que apresenta a área da curva Z, verica-se que a área entre a
origem (Z = 0) e (Z = -1,62) é 0,4474, conforme pode ser vericado a seguir.

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Tabela 5.1 - Tabela Z de Distribuição Normal.


Fonte: https:/
https://proeducacio
/proeducacional.com/ead/cur
nal.com/ead/curso-cga-modulo-i/ca
so-cga-modulo-i/capitulos/capitulo-4/aula
pitulos/capitulo-4/aulas/distribuicao-de-pr
s/distribuicao-de-probabilidades-distribuic
obabilidades-distribuicao-normal/
ao-normal/

Como procuramos a área antes da abscissa (Z=-1,62), basta calcularmos:

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Ou seja, a probabilidade de ocorrer uma precipitação anual acumulada inferior a


1000 mm é 5,26%.

O período de retorno será:

b. Determinar a precipitação que ocorrerá, pelo menos, uma vez a cada 100 anos.

Consultando as tabelas da curva Z, verica-se que a área de 0,49 é obtida em Z=2,33

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5.2 CHUVAS INTENSAS

As chuvas intensas são as causas das cheias, as quais decorrem em prejuízos


quando os rios transbordam e inundam casas, ruas, estradas, escolas,
es colas, podendo destruir
plantações, edifícios, pontes etc. e interrompendo o tráfego. As cheias podem trazer
também sérios prejuízos à saúde pública ao disseminar doenças de veiculação hídrica.
É evidente, portanto, o interesse pelo conhecimento detalhado de chuvas máximas no
projeto de estruturas hidráulicas como bueiros, pontes, canais e vertedores. A questão
fundamental na análise de frequência de chuvas máximas é: Calcular a precipitação
P que incide sobre uma área A em uma duração D, dada uma probabilidade de ocorrência
em um ano qualquer.
A forma de relacionar quase todas estas variáveis é a curva de Intensidade –
Duração – Frequência (curva IDF).
As curvas de intensidade-duração
intensidade- duração e frequência (IDF) são obtidas por meio da análise
estatística de longas séries de dados pluviométricos. O desenvolvimento da equação
IDF se baseia na seleção das maiomaiores
res precipitações de uma
uma duração escolhida (ex:
5 minutos), em cada ano da série. À série de tamanho N (número de anos) é ajustada
uma distribuição de frequência que representa a distribuição dos valores observados.
O procedimento é repetido para diferentes durações de chuva (5 min; 10 min; 1 h; 12
h; 24 h; 2 dia; 5 dias) e os resultados são expressos na forma de gráco ou equação,
com a relação das três variáveis: Intensidade, Duração e Frequência (ou tempo de
retorno).
Na Figura 5.2 é apresentado o conjunto de curvas IDF obtido pela análise dos dados
de um pluviógrafo da estação genérica E. Cada uma das curvas representa um Tempo
de Retorno; no eixo das abscissas estão representadas as durações da precipitação
e no eixo das ordenadas são expressas as intensidades. Nota-se que quanto menor
a duração do evento de precipitação, maior a intensidade da chuva (denominador da
curva IDF). Da mesma forma, quanto maior o Tempo de Retorno, maior a intensidade
da chuva (numerador da curva IDF). Por exemplo, a chuva de 30 minutos de duração
com tempo de retorno de 50 anos tem uma intensidade de 100 mm/h.

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Figura 5.2 – Curva IDF na estação E


Fonte: o autor

As curvas IDF podem ser expressas matematicamente pela equação:

Em que:
i = intensidade da precipitação (mm/h)
t = duração da precipitação (min)
Tr = período de retorno (anos)
K, a, b e C – constantes de ajuste locais, obtidas pelo ajuste dos dados.

As curvas IDF são diferentes em diferentes locais. Dessa forma, a curva IDF da
estação E, vale para a região próxima a ela. Não dispomos de longas séries de dados
pluviométricos em todas as cidades brasileiras, dessa forma, muitas vezes, é necessário
considerar que a curva IDF de um local é válida para uma grande região do entorno.

No Brasil existem estudos de chuvas intensas com curvas IDF para a maioria das
capitais dos Estados e para algumas cidades do interior, apenas. Na Tabela 5.1 são
apresentados os coecientes para algumas cidades do estado de São Paulo.

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Tabela 5.1 – Coecientes para a equação de chuvas intensas para diversos municípios do estado de São Paulo
Fonte: PLUVIO 2.1

EXEMPLO 2
Estimar a intensidade de precipitação para uma chuva
c huva com 5 minutos e período de
retorno de 10 anos, para os municípios de Araraquara, Botucatu e Garça.

Solução:

Araraquara:

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Botucatu:

Garça:

Nota-se que, mesmo aplicando o mesmo tempo de retorno (Tr) e mesmo tempo de
duração da precipitação (t), as intensidades das precipitações calculadas são muito
diferentes entre as cidades avaliadas no exercício. Portanto, a escolha da IDF deve
ser feita com cautela quando se objetiva dimensionar uma estrutura hidráulica.

EXEMPLO 3
Determine o tempo de retorno (Tr) para que a chuva de projeto, cuja duração é 10
minutos, não ultrapasse 100 mm/h na cidade de Ubatuba/SP.

Ubatuba:

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AULA 6
INFILTRAÇÃO
Na Engenharia Civil, a inltração ganha destaque ao representar a parcela da
precipitação que irá penetrar no solo e, portanto, não gerará escoamento supercial
direto. Ademais, contribui para o abastecimento dos aquíferos. Neste capítulo,
estudaremos o processo de transporte da água através da superfície do solo.

6.1 ASPECTOS GERAIS

O processo de inltração pode ser denido como a passagem de água da superfície


para o interior do solo, dependendo essencialmente da quantidade de água disponível
para inltrar, da natureza do solo e do estado da sua superfície, e das quantidades
iniciais de ar e água presentes no interior do solo.
Pode-se considerar o solo compreendido em duas zonas, a saber: zona de aeração
e a zona de saturação (Figura 6.1).

Figura 6.1 - Zonas de aeração e de saturação no solo


Fonte: o autor

A zona de aeração é caracterizada por vazios de solo parcialmente ocupados por


água, o que varia conforme a ocorrência de precipitação, características do solo etc.

Por ser a camada de contato com a superfície, a água presente nesta zona sofre
ação da evaporação e é também absorvida pelas raízes das plantas, sendo eliminada
depois pela transpiração, em função da fotossíntese. Ocorre também a ascensão da
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água devido ao efeito de capilaridade, no entanto, conforme os vazios do solo vão


sendo ocupados pela água, esta tende a romper as forças capilares e se deslocar

verticalmente para baixo, sob ação da gravidade.


A zona de saturação, por sua vez, é caracterizada por vazios de solo totalmente
ocupados por água, isto é, pela saturação do solo. Esta camada constitui as águas
subterrâneas, sendo válida a distribuição hidrostática de pressões (pressão varia
linearmente na vertical conforme a altura da camada saturada acima) e ocorre o
escoamento sob ação da gravidade. Também ocorre ascensão da água da zona de
saturação para a zona de aeração, por efeito da capilaridade.
O movimento da água em meio poroso é descrito pela equação de Darcy. Em
1856, Henry Darcy desenvolveu esta relação matemática realizando experimentos
com areia, e concluiu que o fluxo de água através de um meio poroso é proporcional
ao gradiente hidráulico.

Em que Q é o fluxo de água (m³/s); A é a área (m²) que é o fluxo de água por unidade
de área (m/s); K é a condutividade hidráulica (m/s); h é a carga hidráulica (m) e x a
distância percorrida pelo escoamento (m).
A condutividade hidráulica K é fortemente dependente do tipo de material poroso.
Assim, o valor de K para solos arenosos é próximo de 20 cm/h. Para solos siltosos
este valor cai para 1,3 cm/h, e em solos argilosos este valor cai ainda mais para 0,06
cm/h. Portanto, os solos arenosos conduzem mais facilmente a água que os solos
argilosos, e a inltração e a percolação da água no solo são mais intensas e rápidas
nos solos arenosos que nos solos argilosos.

6.1.1 Grandezas características

A caracterização da inltração envolve essencialmente a capacidade de inltração


e a taxa de inltração, grandezas que facilmente podem ser confundidas entre si, mas
que denotam aspectos bem distintos.
A capacidade de inltração pode ser
s er denida como a quantidade máxima de água
que um solo pode absorver, por unidade de tempo e por unidade de área. Ou seja, a
capacidade de inltração representa o potencial do solo em absorver água, naquele
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instante, sob tais condições. A taxa de inltração, por sua vez, representa a taxa efetiva
com que está ocorrendo, naquele instante, a inltração no solo. Percebe-se, então, que:

taxa de inltração ≤ capacidade de inltração

A inltração só ocorrerá em uma taxa igual à capacidade de inltração quando a


intensidade da precipitação for superior à capacidade, ou seja, quando a água disponível
para inltrar for superior à capacidade do solo em absorvê-la.

6.1.2 Perl de umidade do solo

No início de uma precipitação, as camadas superiores do solo vão se umedecendo de


cima para baixo. Nesse instante, o perl típico da umidade do solo é aquele mostrado
na Figura 2-a, no qual a umidade é maior próximo à superfície e diminui à medida que
se percorre o solo para baixo.
Continuando o aporte de água, a tendência é a saturação de toda a profundidade do
solo. A precipitação, em geral, é capaz de saturar apenas as camadas mais superciais
do solo.
Ao término da precipitação ocorre uma redistribuição da umidade no interior do
solo. A umidade das camadas mais superciais tende a descer para camadas mais
profundas Concomitantemente, parte da água também evapora ou é absorvida pela
vegetação. Como resultado, o perl de umidade é invertido quando comparado ao
início da precipitação, nota-se maior umidade do solo nas camadas mais inferiores
do solo (Figura 2-b).

Figura 5.2 - Pers de umidade do solo: (a) transcorrido algum tempo do início da precipitação; (b) e algum tempo depois de cessar a precipitação.
Fonte: o autor
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6.1.3 Evolução da capacidade de inltração durante a precipitação

Supondo uma precipitação de intensidade menor do que a capacidade de inltração


do solo, para as condições em que ele se encontrava. Nesse caso, o aporte de água
é menor do que a capacidade que o solo tem de absorver água, portanto, toda a
precipitação irá se inltrar.
inltrar. Tem-se que, nesse instante de tempo,
tempo, está ocorrendo uma
taxa de inltração inferior à capacidade de inltração do solo.
À medida que a água inltra no solo, este vai se umedecendo e, consequentemente,
vai perdendo capacidade de inltração. Com a continuidade da precipitação, é alcançado
um estágio no qual a capacidade de inltração é reduzida a ponto de se igualar à
precipitação. Nesse caso, a quantidade de água absorvida é tamanha, que a taxa com
que o solo é capaz de absorver água torna-se numericamente igual à intensidade da
precipitação.
Caso a condição acima seja observada e a precipitação continue,
conti nue, haverá a formação
de escoamento supercial, devido ao excesso de água não inltrado que se acumula
na superfície. Nessa situação, a taxa e a capacidade de inltração são numericamente
iguais.
Não havendo mais precipitação, o aporte de água é interrompido e não haverá
inltração. Logo, a taxa de inltração é nula, enquanto a capacidade de inltração
cresce, à medida que a água tende a descer para as camadas mais profundas ou
ser evaporada/absorvida pela vegetação na parte mais supercial. Ocorrendo nova
precipitação, o processo se desenvolverá novamente.
Na Figura 6.3 é apresentada a curva típica da capacidade de inltração ao longo
do tempo de desenvolvimento de uma precipitação. Nesta curva, a capacidade de
inltração é máxima no início da precipitação (com valor Io) e vai decaindo com o tempo,
tendendo assintoticamente a um valor constante, que é a capacidade de inltração
do solo saturado (Is).
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Figura 6.3 - Curva de inltração típica


Fonte: o autor

Para a estimativa da inltração foram desenvolvidas várias equações empíricas, como


a equação de Horton, por exemplo, desenvolvida a partir de experimentos de campo:

Em que:
f = taxa de inltração num instante qualquer (ou no instante t) (mm/h).
fc = taxa de inltração nal (capacidade de inltração na condição de saturação)
(mm/h).
fo = taxa de inltração inicial (valor de f para t=0); taxa de inltração quando o solo
está seco (mm/h).
t = tempo (horas ou minutos).
k = constante de decaimento da infiltração (deve ser determinado a partir de

medições no campo).
Tal equação representa o decaimento da taxa de inltração ao longo do tempo, sendo
válida para uma precipitação sempre superior à capacidade de inltração (TUCCI, 2012).
Tucci, Porto e Barros (1995) apresentam alguns valores de referência para
determinados tipos de solo (Tabelas 6.1). Sendo os solos do tipo A = arenosos profundos
com pouca argila; B = Arenoso menos profundo que A e com permeabilidade acima da
média; C = Solo com teor acima da média de argila e; D = Solo com argila expansiva
e pouco profundo.
Parâmetro Solo A Solo B Solo C Solo D
fo 250 200 130 80

fc 25 13 7 3
k 2 2 2 2
Tabela 6.1 - Valores dos parâmetros fo e fc (em mm/h) e k de acordo com o tipo de solo
Fonte: Tucci, Porto e Barros (1995)
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EXEMPLO 1
Usando a equação de Horton, encontre a taxa de inltração de água em um solo
do tipo argila expansiva e pouco profundo (D), no tempo de 30 minutos.

Solo tipo D:
fo = 80
fc = 3
k= 2

t = 30 min = 0,5 h

6.2 FATORES INTERVENIENTES NO PROCESSO DE INFILTRAÇÃO

Diversos fatores interferem no processo de inltração, a saber:


• tipo de solo: porosidade, granulometria, estrutura da superfície granular e arranjo
das partículas do solo influenciam na capacidade do solo em absorver e reter
água. Além da facilidade ou diculdade que ao escoamento intergranular imposto
pelo tipo de solo, a superfície do grânulo impõe capilaridade em maior ou menor
grau, devido à tensão supercial;
• umidade do solo: quanto mais água já houver nos interstícios do solo, menor
sua capacidade de absorver um novo aporte de água;
• grau de compactação do solo: solos mais compactados, seja pelo tráfego de
veículos e animais, e ou intemperismo e ação metamórca, tendem a ser mais
impermeáveis, pois o distanciamento intergranular é maior, logo, o espaço
disponível para o escoamento e absorção de água é menor;
• cobertura vegetal: a vegetação impõe obstáculos ao escoamento supercial,
favorecendo a inltração. Ademais, as raízes absorvem parce parcela
la da água na
camada de aeração, agilizando o processo de aumento da capacidade de
inltração;
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• temperatura: o fator temperatura influi por alterar a viscosidade da água, sendo


mais fácil a inltração para uma menor viscosidade (capacidade de inltração
nos meses frios < capacidade nos meses quentes);
• precipitação: a absorção
absorção de águáguaa pelo solo é função da quantidade
quantidade de ágágua
ua
disponível para inltrar.
inltrar. Logo, a intensidade, duração e o volume total precipitado
são determinantes nesse processo.

Tendo em vista os fatores enumerados anteriormente, percebe-se que a capacidade


Tendo
de inltração em uma bacia hidrográca varia espacialmente, uma vez que apresenta
áreas com diferentes tipos de solo, com diferentes estados de compactação e de
umidade, áreas de cobertura da vegetação variáveis, etc.
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AULA 7
EVAPOTRANSPIRAÇÃO
Compreende-se como evapotranspiração a soma da evaporação e transpiração
vegetal. Ambos são processos de transporte da superfície terrestre para a atmosfera
na forma de vapor. São fundamentais para a compressão da disponibilidade hídrica
nas diferentes regiões do planeta, bem como na manutenção da temperatura da Terra.
Neste capítulo, estudaremos esses dois processos que são vetores que podem receber
maior ou menor destaque, a depender do porte da obra hidráulica a ser projetada. Por
exemplo, as perdas de água que ocorrem nos reservatórios das usinas hidrelétricas
ou reservatórios que regularizam a vazão para as usinas podem ser muito relevantes.

7.1 INTRODUÇÃO

No ciclo hidrológico, o retorno da água para a atmosfera ocorre por meio do processo
da evapotranspiração. Esse processo restou mal compreendido até o início do século
XVIII, quando Sir Edmond
Edmond Halley comprovou que a água evaporada da superfície
terrestre era suciente para abastecer os rios, na forma de precipitação.
A evapotranspiração é o conjunto de dois processos: evaporação (processo físico)
e transpiração (processo siológico).
Evaporação é o processo físico de transporte da água na fase líquida (lagos, rios,
reservatórios, poças, e gotas de orvalho) para a atmosfera na forma de vapor.
A umidade do solo (água presente nos espaços intergranulares) é também transferida
para a atmosfera por evaporação. No entanto, é mais comum neste caso o transporte
por meio de transpiração.
A transpiração, por sua vez, está ligada à fotossíntese. Um processo que começa
pela retirada da água do solo pelas raízes das plantas, transporte através do caule e
folhas até a passagem da água para a atmosfera através dos estômatos, na forma
de vapor.
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7.1 EVAPORAÇÃO

A evaporação
moléculas ocorre
de todas quando a água
as substâncias que passa da fase
não estão líquida parade
na temperatura a fase gasosa.
0 K (zero As
Kelvin
ou zero absoluto) estão em constante movimento, seja no estado líquido ou gasoso.
No caso das moléculas de água, algumas delas dispõe de energia suciente para
romper a barreira da superfície, deixando a massa líquida
líqu ida e passando para a atmosfera,
enquanto outras moléculas de água, inicialmente na forma de vapor, retornam ao
líquido, fazendo o caminho inverso, devido à alguma perda de energia. A evaporação
ocorre quando a taxa de moléculas que deixam a massa líquida é maior do que a que
taxa que retorna.
As moléculas de água no estado líquido estão relativamente unidas por forças de
atração intermolecular.
intermolecular. No vapor, as moléculas estão muito mais afastadas do que na

água
grandelíquida, e a força
quantidade de intermolecular é inferior.
energia para realizar No processo
o trabalho de evaporação
de afastar é exigida
as moléculas entre
si, as quais estão ligadas por forças intermoleculares. A quantidade de energia que
uma molécula de água no estado líquido precisa para romper a superfície e evaporar
é chamada calor latente de evaporação. O calor latente de evaporação pode ser dado
por unidade de massa de água, conforme equação abaixo:

Em que Ts é a temperatura da superfície da água em °C.


O processo de evaporação, portanto, exige um aporte mínimo de energia,
energia, o qual,
na natureza, é provido pela radiação solar.
O ar atmosférico é composto por diferentes gases, em diferentes percentuais, dentre
os quais, o vapor d’água.
A quantidade máxima de vapor d’água que um determinado volume de ar pode conter
é expressa pela pressão de saturação, diretamente proporcional a uma concentração de
saturação. Pressão e concentração de saturação variam de acordo com a temperatura
(Figura 6.1). Quando a pressão (e concentração) de vapor em um determinado volume
excedem a pressão de saturação, esse vapor condensa e a água retorna para a fase
líquida. Mesmo que o aporte de energia ao sistema prossiga agitando as moléculas
de água, a taxa de evaporação não irá aumentar.

Portanto, para ocorrer a evaporação são necessárias duas condições:


1. Aporte de energia para a água que se encontra na fase líquida e;
2. Pressão de vapor abaixo da pressão de saturação.
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A umidade relativa do ar corresponde ao conteúdo de vapor d’água em um determinado


volume de ar em relação ao conteúdo de vapor que esse volume de ar teria na

condição
100% estádesaturado
saturação (funçãoe da
de vapor, temperatura).
ar com Assim, ar
umidade relativa de com umidade
0% está relativa de
completamente
isento de vapor.

Em que UR é a umidade relativa; w é a massa de vapor pela massa de ar e ws é a


massa de vapor por massa de ar no ponto de saturação.
No entanto, a medição da concentração de vapores é mais complexa que a mediação
de pressão, e por esse motivo normalmente associamos a quantidade de um gás em
um certo volume, pela pressão que ele exerce.

Em que UR é a umidade relativa; e é a pressão parcial de vapor no ar e es é pressão


de saturação.

Figura 6.1 - Relação entre pressão de vapor da água e temperatura


Fonte: o autor
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7.1.1 Fatores que inuenciam o processo de evaporação

Os principais fatores que afetam a evaporação são a temperatura, a umidade do


ar, a velocidade do vento e a radiação solar.
a) Radiação solar
A principal fonte de energia para a evaporação é a radiação solar.
solar. A energia radiante,
na forma de ondas, que incide na Terra sofre transformações tanto na atmosfera
como na superfície terrestre, dessa forma, nem toda a energia que chega no topo da
atmosfera estará disponível para a evaporação. Os fenômenos de refração e reflexão
irão controlar a quantidade nal de energia disponível.

b) Temperatura
Temperatura do ar
A temperatura do ar é diretamente proporcional à sua capacidade de retenção de
vapor d’água.
Quanto maior a temperatura, menor a pressão de saturação.

c) Umidade do ar
A umidade do ar representa a quantidade de vapor de água presente no ar, interferindo
na pressão exercida por essa quantidade de vapor. Quanto maior a umidade, tem-se
que a quantidade de vapor presente é mais próxima da quantidade máxima possível
(saturação) e, portanto, mais próxima é a pressão exercida por essa quantidade de
vapor em relação
relação à pressão de saturação (ou seja, menor é o gradiente), é menor é
a evaporação;

d) Velocidade do vento
O ventor renova o ar úmido que está em contato com a superfície líquida. Como
o transporte de vapor na atmosfera ocorre por difusão, o gradiente (diferença entre
a quantidade de água no ar e na superfície) é mandatório nesse processo. Tanto a
convecção natural como a forçada podem promover o deslocamento das massas de ar.

7.1.2 Estimativa da evaporação

Existem diversos métodos para estimar a evaporação que ocorre em uma determinada
bacia hidrográca, sendo os principais:
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- Métodos de transferência de massa: baseados na primeira Lei de Dalton, segundo


a qual a evaporação é relacionada com a pressão de vapor da seguinte forma:

Em que E é a evaporação, b é um coeciente empírico, e s é a pressão de vapor de


saturação (na temperatura da superfície evaporante) e ea é a pressão de vapor em
uma certa altura acima da superfície evaporante.
- Balanço de energia: alguns métodos procuram representar o balanço de energia
descrito no item anterior (Figura 1), empregando equações empíricas e/ou conceituais,
para determinar a evaporação. O mais conhecido é o método de Penman, cuja descrição
pode ser encontrada em Tucci (2000).
- Equações empíricas: são equações desenvolvidas com base em dados experimentais.
Em geral elas são restritas para uso nas regiões onde foram desenvolvidas e em
condições especícas.
- Balanço hídrico: uma vez que a evaporação representa uma das saídas da bacia
hidrográca, conhecendo-se as demais componentes do balanço é possível estimar
a evaporação, da seguinte forma:

- evaporímetro: também pode-se estimar a evaporação que ocorre em uma bacia

hidrográca com o emprego de evaporímetros, que medem diretamente o poder


evaporativo
evaporativo da atmosfera, estando sujeitos aos efeitos de radiação, temperatura, vento
e umidade do ar (TUCCI, 2012). Os dois tipos mais usuais são os atmômetros e os
tanques de evaporação.
Para medidas de evaporação a partir da superfície de lagos, rios e reservatórios,
é empregado o evaporímetro do tipo tanque Classe A (Figura 6.2). A evaporação é
estimada pela medição do rebaixamento da lâmina de água no reservatório, passado
um intervalo de tempo “t” conhecido..
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Figura 6.2 -Evaporímetro tipo tanque Classe A


Fonte: Villela (1975).

Outro tipo de evaporímetro, o evaporímetro de Piche, é composto por um tubo


cilíndrico, de vidro, fechado na parte superior e aberto na inferior. A extremidade inferior
é tapada, depois do tubo ser preenchido com água, com um disco de papel de feltro,
o qual deve ser previamente molhado com água. São feitas medições da altura da
lâmina d’água no interior do evaporímetro em diferentes tempos, e a variação entre
as medições representa a lâmina evaporada nesse intervalo de tempo.
Em geral, as medições de evaporação do Tanque Classe A são consideradas mais
conáveis do que as do evaporímetro de Piche.

7.2 EVAPOTRANSPIRAÇÃO
EVAPOTRANSPIRAÇÃO
O termo evapotranspiração compreende a soma da evaporação com a transpiração
vegetal, em uma bacia hidrográca. Além dos estudos hidrológicos de modo geral,
a evapotranspiração constitui um interesse especial para o balanço hídrico agrícola,
onde são avaliadas as disponibilidades e as demandas hídricas, servindo para vericar
a necessidade de irrigação (época, quantidade).
A evapotranspiração é um dos processos envolvidos na interação solo-vegetação-
atmosfera, através da qual ocorrem trocas de calor, energia e água, e que constitui
objeto de estudo de muitas pesquisas atualmente.
Como o propósito de equalizar a diferença entre a pressão de vapor no ar ao redor
das folhas das plantas e a pressão de vapor no interior das mesmas, as plantas
liberam vapor d’água pelos seus estômatos. Percebe-se, assim, que o processo de
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evapotranspiração é um processo complexo e dinâmico, já que envolve organismos


vivos, o que decorre em diculdade de quanticação.

7.2.1 Fatores que inuenciam o processo de evapotranspiração

Interferem na evapotranspiração os mesmos fatores destacados na evaporação.


Destaca-se, no entanto, um elemento adicional: a luz.
As plantas são organismos autótrofos fotossintéticos, ou seja, são organismos
que utilizam carbono inorgânico em seus processos metabólicos e que a energia
empregada nesses processos é a luz. Portanto, um fator fundamental para que o
metabolismo vegetal se processe é a presença de luz. Havendo luz ocorrerá fotossíntese
e, por conseguinte, transpiração vegetal. Quanto maior a taxa de transpiração, maior
a evapotranspiração.
Em regiões do globo terrestre em que há maior incidência de luz solar, a taxa de
transpiração é maior. Notadamente, a duração do dia com luz solar varia ao longo do
ano. Havendo maior incidência de insolação durante o verão e menor incidência no
inverno. Essa diferença de insolação é mais evidente nos trópicos. Na região equatorial
não há variação pronunciada, portanto a taxa de fotossíntese/transpiração permanece
constante ao longo do ano.

7.2.2 Evapotranspiração potencial x real

Evapotranspiração potencial (ETP) é a quantidade de água transferida para a


atmosfera por evaporação e transpiração, na unidade de tempo, de uma superfície
extensa completamente coberta de vegetação de porte baixo e bem suprida de água
(Penman, 1956, apud Tucci, 2000).
Evapotranspiração real, por sua vez, representa a quantidade de água transferida
para a atmosfera por evaporação e transpiração, nas condições reais (existentes).
Portanto, a evapotranspiração real é igual ou menor que a evapotranspiração
evapotranspiração potencial
(ETR ≤ ETP).
Por serem escassas as informações a respeito da evapotranspiração real, são
usados, geralmente, os valores de evapotranspiração
evapotranspiração potencial (estimados por equações
conceituais ou empíricas), sendo depois aplicadas relações entre a ETR e a ETP.
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7.2.3 Estimativa da evapotranspiração

Existem alguns métodos desenvolvidos para a estimativa da evapotranspiração,


como aqueles baseados na temperatura (exemplo: método de Thornthaite) ou na
radiação. Também existem formas de medição direta, como através do emprego do
lisímetro, ou indireta, através de medições sucessivas da umidade do solo.
Os lisímetros tanques preenchidos com solo e cobertos com a vegetação da qual
se deseja medir a evapotranspiração (Figura 6.4). Sobre o solo incide a precipitação,
a qual é drenada para o fundo do tanque, sendo posteriormente coletada e medida,
assim como pode haver escoamento supercial drenado e medido nas laterais do
tanque. A evapotranspiração é calculada pelo balanço hídrico entre duas medidas
subsequentes de acordo com a equação abaixo:

ΔV representa a variação de volume de água armazenada no tanque no intervalo


investigado (diferença entre duas umidades do solo aferidas); P é a precipitação (medida
no num pluviômetro); E é a evapotranspiração; Qs é o escoamento supercial e Qb é
o escoamento subterrâneo.

Figura 6.4 - Lisímetro


Fonte: Nascimento et al (2011)
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- Estimativa da evapotranspiração por balanço hídrico


A evapotranspiração pode ser estimada quando se conhece os outros componentes
do ciclo hidrológico, os quais interferem no balanço hídrico de uma bacia hidrográca,
de forma análoga ao lisímetro. A diferença reside na escala de tempo empregada,
pois as estimativas devem ser feitas considerando o intervalo de tempo de anos. Em
função do tamanho da bacia, a água da chuva pode permanecer longos períodos no
interior da bacia antes de deixá-la passando pelo exutório.
Uma vez que o balanço hídrico empregado é de longo prazo, a maneira mais
adequada para estimar a evapotranspiração é expressa pela equação abaixo, onde
ET = evapotranspiração, P = precipitação e Q = escoamento supercial.

ET=P-Q

7.2.4 Equação de Thornthwaite

Quando se dispõe de poucos dados para estimativa da evapotranspiração, recorre-


se à equação de Thornthwaite. Esse modelo matemático é adequado para estimar
evapotranspiração na escala de tempo mensal, empregando a temperatura média no
mês analisado.

Em que ET é a evapotranspiração potencial (mm/mês); T é a temperatura média


do mês (°C); e a e I são coecientes calculados segundo as equações que seguem:

Em que j representa cada um dos 12 meses do ano; e T j é a temperatura média


de cada um dos 12 meses.
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AULA 8
ESCOAMENTO SUPERFICIAL
Durante boa parte do século XX, os estudos hidrológicos sobre rios tiveram como
objetivo avaliar
avaliar a viabilidade
viabilidade de construções de barragens e reservatórios para geração
de energia elétrica, ou canalização e reticação de rios para acelerar o escoamento
supercial.
Mais recentemente, o rio passou a ser estudado como um local onde ocorrem
múltiplos eventos físicos, químicos e biológicos, através de uma abordagem sistêmica
(SCHWARZBOLD, 2000).
Parte das substâncias que aporta no rio é transformada por ele: sicamente, ocorre
a transformação dos materiais em solução por dissolução ou por abrasão (atrito
com o leito do rio e com outras partículas em suspensão); quimicamente, ocorre a
transformação dos nutrientes, a formação de soluções eletrolíticas, a oxidação de
moléculas etc.; biologicamente, no rio também ocorre oxirredução de compostos pela
atividade bacteriana.
É possível caracterizar um rio em três regiões distintas, a saber:
i. curso superior ou terras altas: corresponde à região da cabeceira da bacia, onde
nasce o rio e o terreno apresenta maiores declividades;
ii. curso médio: região de transição entre o curso ssuperior
uperior e o curso inferior;
inferior;
iii. curso inferior ou terras baixas: parte mais baixa da bacia com menor declividade.
O rio tende a apresentar maior largura nessa região, formando grandes planícies
de inundação (várzeas).

Na Figura 8.1 é apresentado o perl longitudinal típico de um rio, ou seja, as altitudes


do rio desde sua nascente até o exutório da bacia (foz). Em geral, nas cabeceiras as
declividades são maiores, enquanto que próximo à foz o terreno é praticamente plano
(Figura 8.2).
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Figura 8.1 - Exemplo típico do perl longitudinal de um rio, da cabeceira à foz


Fonte: o autor

Figura 8.2 - Ilustração da topograa do terreno ao longo do rio, caracterizando as partes alta (1), média (2) e baixa (3).
Fonte: adaptado de EPA (1998)

Na Figura 8.3 é apresentada uma seção transversal do rio, formada pela calha
principal e pela planície de inundação. Durante a maior parte do tempo, o fluxo de água
ca contido na calha principal do rio. Na época de cheias, no entanto, o fluxo aumenta,
juntamente com o nível da água. Havendo extravasamento da água além da calha
principal, serão inundadas as planícies vizinhas ao rio. Nas planícies de inundação
as velocidades de escoamento são inferiores às velocidades na calha principal, em
função da resistência que a vegetação e as rochas impõem ao escoamento.
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Figura 8.3 - Seção transversal de um rio, com indicação da calha principal e da planície de inundação, onde: (a) nível da água no rio quando o escoamento
está apenas na calha principal; (b) nível da água no rio na época de cheia, ocupando a planície de inundação.
Fonte: o autor

A vazão do rio está diretamente relacionada à seção transversal do rio especicada


para cada seção, há uma vazão correspondente, podendo ser semelhantes ou bastante
distintas entre si, conforme a distância no rio entre elas e outros fatores. Na Figura
8.4 são indicadas, para uma determinada seção transversal do rio, a profundidade, a
largura, a área e a velocidade do escoamento.

Figura 8.4 - Indicação das variáveis profundidade, largura, área e velocidade do escoamento em uma seção transversal de um rio
Fonte: adaptado de EPA (1998)

8.1 CURVA-CHAVE
CURVA-CHAVE

No estudo do comportamento do escoamento em rios, para uma determinada seção


transversal do rio pode ser traçada a curva-chave, que constitui a relação entre a cota
(nível da água) e a descarga (vazão) naquela seção (Figura 8.5). A relação biunívoca
entre nível da água e vazão, ou seja, para cada vazão corresponde um único nível da
água e vice-versa, constitui uma simplicação, sendo considerada válida quando o rio
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apresenta morfologia constante e a geometria da seção transversal não se modica


ao longo do tempo.

Figura 8.5 - Curva-chave para uma determinada seção transversal de um rio


Fonte: o autor

8.2 MEDIÇÃO DE VAZÃO

A vazão de um rio está associada a uma seção transversal especíca,


espe cíca, visto que o rio
continua recebendo contribuição da bacia hidrográca ao longo de todo o seu trajeto.
Dessa forma, o primeiro passo na medição de vazão constitui a escolha da seção
transversal. O objetivo do estudo vai determinar em que trecho do rio é necessária a
caracterização do regime fluvial, mas a escolha de qual seção propriamente dita vai
se dar conforme uma série de fatores, podendo-se enumerar os seguintes (SANTOS
et al., 2001):
• Seção localizada em um trecho preferencialmente retilíneo;
• Margens bem definidas e livres singularidades que possam perturbar o
escoamento;
• Natureza do leito preferencialmente rochoso, reduzindo probabilidades de
alterações;
• Obras hidráulicas existentes;
• Facilidade de acesso ao local;
• Presença de observador em potencial.

Tais fatores podem ser vistos como critérios para garantir que a geometria da
seção transversal escolhida permaneça praticamente constante ao longo do tempo,
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o que permite comparações entre as medições em diversas épocas. Uma vez que o
escoamento na seção não é influenciado por características especícas daquele local,
ele pode ser considerado representativo do escoamento no trecho do rio.
A velocidade do escoamento varia ao longo da altura da coluna de água (profundidade)
e ao longo da largura do rio (Figura 8.6). Por esse motivo, determinados métodos
baseiam-se na medição da velocidade da água em vários pontos, ao longo da seção
transversal.

Figura 8.6 - Exemplo do comportamento da velocidade do escoamento dentro de três seções transversais
Fonte: adaptado de EPA (1998)

8.2.1 Medição com molinete hidrométrico

Esse método consiste em determinar a área da seção transversal do rio e medir a


velocidade do escoamento em diversos pontos da seção com o emprego de molinetes,
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obtendo-se a velocidade média em cada vertical da seção e daí calculando-se a vazão.


O molinete é um instrumento de formato alongado dotado de hélice, sendo a velocidade
determinada em função do número de ciclos por segundo que a hélice realiza, quando
submetida ao fluxo.
Dependendo das condições locais (profundidade, correntes, largura, etc) a medição
pode ser efetuada a vau (atravessando-se o rio “caminhando”), em barcos ou a partir
de passarelas.

8.2.2 Método acústico

Esse método se baseia na compreensão do efeito Doppler (aceleração ou


desaceleração de ondas em função do descolamento da fonte emissora ou receptor).
Por meio da medição das características de ondas emitidas, refletidas e refratadas,
é possível conhecer a concentração de sólidos no rio, profundidade e velocidade do
escoamento. O instrumento que realiza essas medições é o ADCP ( Acoustic Doppler
Current Profler).

8.2.3 Método químico

Esse método é geralmente adotado para rios de pouca profundidade e com leito
rochoso, onde o uso de molinete é dicultado, e consiste em injetar uma substância
concentrada e medir a concentração em um certo ponto a jusante. A partir das
concentrações injetadas e medida a jusante é determinada a vazão do rio. A escolha
da substância deve levar em conta os custos de aquisição, não ser corrosivo nem
tóxico, ser de
de fácil medição da concentração, ser bem solúvel e não estar presente
naturalmente na água do rio (SANTOS et al., 2001). Segundo tais autores, o bicromato
de sódio é bastante usado, além de isótopos radiativos (Na, Br, P) ou mesmo sal
comum (NaCl).

8.2.4 Medição com utuadores

Esse método consiste em determinar a velocidade de um objeto flutuante que se


desloca na superfície do rio, medindo o tempo necessário para que ele percorra um
trecho de rio de comprimento conhecido. Trata-se de um método de baixa precisão,
pois apenas informa a velocidade na superfície.
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8.2.5 Uso de dispositivos regulares

Determinadas singularidades impostas ao escoamento têm a relação entre o nível


da água e a vazão que passa sobre eles, regidas por equações da hidráulica, baseadas
em balanços de energia. Dessa forma, é possível instalar algum dispositivos na seção
transversal do rio e, a partir da observação do nível da água, calcular a vazão por meio
de equações.

8.2.6 Medição do nível da água

Em determinadas condições, a relação única entre o nível da água e a vazão em


uma seção transversal do rio pode ser expressa por uma equação conhecida como
curva-chave. Dessa forma é possível estimar a vazão através de medições indiretas.
O nível da água é geralmente medido com o emprego de linímetros
linímetros ou linígrafos. Os
linímetros são réguas instaladas na margem do rio e a leitura é feita periodicamente
por um observador. Já os linígrafos são instrumentos que registram continuamente
a variação do nível da água com uso de bóias, balanças, ou medição eletrônica.

8.3 HIDROGRAMA

O hidrograma é um gráco que relaciona a vazão no exutório de uma bacia com


o tempo. A forma desse gráco é função das características siográcas da bacia
hidrográca e a sua relação com a precipitação incidente. Pode-se compreender o
hidrograma como a resposta da bacia hidrográca aos eventos de precipitação.
Em hidrogramas é necessário compreender que a vazão medida pode ter duas
origens distintas: i) precipitação incidente sobre a bacia, a qual gera escoamento
supercial direto e; ii) lençol freático, que gera escoamento de base ou básico. Na
vazão medida e apresentada no hidrograma, naturalmente estão somadas essas duas
vazões. Nessa disciplina vamos dar especial atenção ao escoamento supercial com
origem nas precipitações, pois é essa parcela do escoamento que deve ser manejada
para evitar inundações.
Na Figura 8.5 é apresentado um hidrograma genérico, gerado com dados de vazão
medidos no exutório da bacia após uma precipitação.
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Figura 8.5 - Hidrograma típico


Fonte: o autor

O ponto A indica o início do escoamento supercial direto. Antes do ponto A, o rio


já apresenta vazão de escoamento supercial, no entanto, essa vazão deve-se aos
aquíferos. O escoamento direto não inicia no mesmo instante em que a precipitação
começa. A água precipitada precisa vencer a interceptação, inltração e escoar por
toda a bacia, antes de ser detectada no exutório. O ponto B indica a máxima vazão
alcançada na bacia, devida especicamente à precipitação incidente (outra precipitação
pode gerar um pico maior ou menor).
O trecho BC é chamado curva de depleção (ou recessão) e durante esse período não
está mais incidindo precipitação sobre a bacia, pois a vazão medida está diminuindo, o
que indica que não há mais aporte de água na bacia devido à chuva. O ponto C indica
o m do escoamento direto, restando apenas o escoamento de origem subterrânea.

8.4.1 Separação dos escoamentos em um hidrograma

É muito difícil delimitar com precisão as linhas divisórias dos diversos componentes
de um hidrograma. Entretanto, há alguns métodos empíricos simples, que permitem
separar esses componentes com o propósito de análise do hidrograma.
a) Denição dos pontos de início e término do escoamento supercial direto
O início do escoamento supercial direto é facilmente identicável no hidrograma,
pois nota-se uma elevação repentina
repentin a na vazão. O ponto de término, por outro lado, pode
ser mais complexo de identicar, pois a curva de depleção apresenta um decaimento
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suave, tornando difícil denir com exatidão o ponto em que o escoamento deixa de
ser direto e passa a ser básico.
O trecho do hidrograma em que há apenas escoamento básico segue uma lei de
decaimento exponencial com o tempo. Portanto, o término do escoamento supercial
pode ser determinado pelo seguinte processo:
- Inicialmente determina-se a faixa onde provavelmente
provavelmente está o término do escoamento
supercial direto;
- Quando o decaimento exponencial é expresso na escala logarítmica, o gráco
gerado é uma reta, portanto plotam-se os pares de valores, tempo vs vazão em escala
mono-log, denindo uma reta que representa o escoamento básico;
- O ponto onde a reta do escoamento básico separa-se do hidrograma dene o
ponto C na Figura 8.6.

Figura 8.6 – Formas de separação do hidrograma


Fonte: o autor

b) Traçado da da linha que repr


representa
esenta o escoament
escoamentoo básico entre A e B
Há três métodos distintos para traçar a linha divisória dos hidrogramas de escoamento
supercial direto e básico entre os pontos de início (A) e término do escoamento
supercial direto (C).
- Método 1
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Neste método, basta ligar os pontos A (caracterizado pelo início da ascensão


do hidrograma, ou do escoamento supercial) e C (caracterizado pelo término do
escoamento supercial) por uma reta (TUCCI, 2012).
Para a determinação do ponto C existem vários critérios, o da inspeção visual é o
mais simples.
- Método 2
Neste método a curva de depleção é extrapolada, a partir do ponto C até encontrar
o ponto B, localizado abaixo do pico. Os pontos A, B e C são ligados e o volume acima
da linha ABC tem origem no escoamento supercial direto, enquanto o volume abaixo
é o subterrâneo (ou básico) (Figura 8.6).
- Método 3
O ponto A é ligado até a vertical do pico (ponto D, Figura 8.6), e ligam-se os pontos
D e C para se obter a separação dos escoamentos.

8.4.2 Obtenção do Hietograma da Chuva Excedente

Entende-se por hietograma da chuva excedente, à parcela do hietograma que


contribui diretamente para o escoamento supercial direto na bacia, ou seja, é a parcela
da precipitação que não se inltra.
Após separados os hidrogramas de escoamento direto e básico, é possível determinar
a parcela da precipitação que de fato se tornou escoamento supercial. O volume
direto é numericamente igual à área entre as curvas de escoamento direto e básico.
Dividindo esse volume pela área da bacia hidrográca é obtida a altura da precipitação
equivalente ao escoamento supercial direto.
Desta forma, dispondo-se do hietograma observado, correspondente ao evento que
gerou o hidrograma analisado, resta denir que parcela desse hietograma contribuiu
diretamente para o escoamento supercial direto (entre A e C) e que parcela contribuiu
para o escoamento básico (entre A e C e nos instantes posteriores a C).
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AULA 9
HIDROGRAMA UNITÁRIO
O Hidrograma Unitário (HU) trata-se de um hidrograma de escoamento supercial
direto, no qual a área sob esta curva corresponde a um volume unitário, resulta do de
uma chuva efetiva com intensidade e duração unitárias.
A denição de chuva unitária normalmente é compreendida como uma chuva
com 1 mm e duração de 1h de duração. Além disso, admite-se que essa chuva seja
uniformemente distribuída sobre a bacia.
As informações obtidas com o emprego do Hidrograma Unitário podem ser
empregadas na determinação de um hidrograma de projeto para diferentes situações.

9.1 PRINCÍPIOS DO HU

A obtenção do Hidrograma Unitário é fundada em três princípios básicos que são:


- Princípio da Constância do Tempo de Base : para chuvas efetivas de intensidade
constante e de mesma duração, os tempos de escoamento supercial direto são
iguais (Figura 9.1).

Figura 9.1 – Princípio da Constância do Tempo de Base


Fonte: o autor
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- Princípio da Anidade ou Proporcionalidade das Descargas : chuvas efetivas de


mesma duração, porém, com volumes de escoamento supercial
s upercial diferentes, produzem,
em tempos correspondentes, volumes de escoamento supercial direto proporcionais
às ordenadas do hidrograma e às precipitações efetivas.

Figura 9.2 - Princípio da Anidade


Fonte: o autor

- Princípio da Aditividade: a duração do escoamento supercial direto de uma


precipitação efetiva independe de precipitações anteriores. O hidrograma total resultante,
referente a duas ou mais precipitações efetivas, é obtido adicionando as ordenadas
de cada um dos hidrogramas em tempos correspondentes.
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Figura 9.3 - Princípio da Aditividade


Fonte: o autor

9.2 DETERMINAÇÃO DO HU EM REGIÕES SEM DADOS HISTÓRICOS

O hidrograma unitário para regiões onde não há dados históricos é estimado pelo
hidrograma unitário sintético, o qual possui algumas variáveis características que

permitem a sua determinação como o tempo de pico, tempo de base e a vazão


de pico. É através da regionalização destas variáveis com base em características
físicas que se pode estimar o HU para regiões sem dados observados e este recebe
a denominação de hidrograma sintético.

9.2.1 Método de Snyder

O método de determinação do hidrograma sintético de Snyder se baseia em


observações de rios na região montanhosa dos Apalaches, nos EUA. Neste método são
calculados o tempo de retardamento,
retardame nto, a vazão de pico e a duração total do escoamento,
ou seja, a base do hidrograma.
O tempo de retardamento (tp) é denido como o tempo entre o centro de massa da
precipitação efetiva (escoamento supercial
superci al direto) e o pico do hidrograma (Figura 9.4).
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É distinto, portanto, da noção apresentada no estudo do HU, em que se considerava


o centro de massa do hidrograma em vez do ponto de máxima vazão. Snyder obteve
a seguinte expressão:

Em que:
L = comprimento do rio principal (km).
Lcg = distância do centro de gravidade da bacia em km, medido ao longo do curso
principal, desde a seção considerada até a projeção do centro de gravidade sobre o rio.
Ct = coeciente numérico, variável entre 1,8 e 2,2, sendo os menores valores para
bacias com grandes inclinações.
A partir da observação do gráco declividade vs tempo de pico para a região dos

Montesalgumas
Brasil, Apalaches, Snyderforam
pesquisas estabeleceu que aCtBacia
feitas para está compreendido
do Ribeirão dasentre 1,8 para
Motas, e 2,2.este
No
caso obteve-se Ct = 0,82.
Quando a duração da chuva é corrigida para t’r, corrige-se também o tp:

A vazão máxima (Qp) para uma precipitação de duração t r e volume 1 cm é dada


pela expressão:

Em que:
A = área de drenagem em km2.
Cp = coeciente numérico variável entre 0,56 e 0,69. Para a Califórnia, Linsley
constatou valores entre 0,35 e 0,50.
O tempo de base do hidrograma unitário é estimado por:

onde:
tb = é expresso em horas;
tp = em horas;
A = área da bacia em km 2;
qp= m 3/s;
W50 e W75 em horas.
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As larguras (W75 e W50) são muito úteis, já que sem elas, o hidrograma plotado se
baseia em apenas três pontos o que causaria grande imprecisão.

Figura 9.4 - Hidrograma unitário de Snyder

9.2.2 Método de SCS

Com base em dados de bacias e hidrogramas


hidrogramas unitários nos EUA, o Departamento de
Conservação de Solo (Soil Conservation Service) propôs que os hidrogramas unitários
podem ser aproximados por relações de tempo
temp o e vazão estimados com base no tempo
de concentração e na área das bacias.

Para simplicar,
simplicar, o hidrograma unitário pode ser aproximad
aproximadoo por um triângulo, denido
pela vazão de pico e pelo tempo de pico e pelo tempo de base – Hidrograma triangular
triangular..
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Figura 9.5 - Hidrograma unitário sintético triangular


Fonte: o autor

EXEMPLO 1
Determine a vazão de pico, através do hidrograma unitário SCS para a chuva de
duração de 10 minutos em uma bacia de 3,0 km² de área de drenagem, comprimento
do talvegue de 3100 m, ao longo do qual existe uma diferença de altitude de 93 m.
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AULA 10
PREVISÃO DE VAZÕES
As séries de dados fluviométricos (vazões) disponíveis na maior parte dos locais
são relativamente curtas, não superando algumas dezenas de anos. Por meio da
previsão empírica de probabilidades não é possível extrapolar a estimativa
est imativa para tempos
de retorno maiores. Se existem apenas 18 anos de dados observados numa série de
dados, as probabilidades empíricas permitem estimar vazões máximas de Tr próximo
de 18 anos.
É possível estimar vazões máximas anuais, para períodos de retorno maiores, a partir
part ir
de modelos probabilísticos, como no caso das chuvas anuais. Nota-se, no entanto, que
as vazões máximas não seguem a distribuição normal (Figura 10.1). Uma estratégia
para superar essa questão é utilizar a distribuição log-normal. Nesta distribuição
estatística, supõe-se que os logaritmos das vazões seguem uma distribuição normal.

Figura 10.1 - Vazões máximas em um posto uviométrico genérico. Comparação entre o ajuste normal e log-normal
Fonte: o autor
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10.2. Determinação de vazões de escoamento supercial

As determinações das vazões de escoamento são obtidas por diferentes métodos


de acordo com as características físicas da área estudada. A área de drenagem é o
fator determinante sendo que para bacias com área de drenagem inferior a 50 km²
devem ser utilizados métodos indiretos, baseados nos estudos de intensidade, duração
e frequência das chuvas da região. Para estas bacias, caso sejam disponíveis dados
fluviométricos em quantidade e qualidade sucientes, deve ser utilizado o método
direto estatístico. Em função da área da bacia hidrográca, deve-se utilizar o método
racional para área menor que 2 km², métodos de Ven Te Chow, I Pai Wu ou triangular,
para áreas entre 2 km² e 50 km² e o método estatístico direto para áreas acima de
50 km².
As limitações dos métodos são amplamente discutidas na literatura, de acordo com
Arndt (2009), o método racional é geralmente aplicável a bacias com área variando entre
0,05 e 0,5 km². Dada esta circunstância, o método racional passa a ser modicado a
m de não ser restringido a microbacias. Segundo Franco (2004), o método racional
modicado possui aplicabilidade
aplicabil idade para áreas de 0,5 a 1 km². Para áreas ainda maiores, o
método racional foi novamente aprimorado, sendo desenvolvido a partir dele o método
I-PAI-WU, sendo este método aplicável a bacias com área entre 2 e 200 km² (DIAS
et al., 2015).

10.2.1. Método Racional

De acordo com Almeida e Serra (2017), o Método Racional foi proposto por Mulvany
por volta de 1850, com o objetivo de prever a vazão máxima decorrente de um evento
de chuva. Esse método tem registros na literatura no m do século XIX, devido a suas
aplicações nos projetos de redes de esgoto. Como descreve Batista (2010), o método
racional é o mais utilizado pelos prossionais de engenharia, é o que apresenta valores
mais desfavoráveis, ou seja, aqueles que devem ser utilizados no dimensionamento
dos órgãos de drenagem, e que garantem maior segurança em casos extremos.
O método racional estima a vazão máxima de escoamento supercial di reto de
uma determinada área, submetida a uma precipitação cuja intensidade é calculada
para o tempo de duração igual ao tempo de concentração da bacia. A equação abaixo
resume o método racional.
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Onde: Q = vazão máxima de escoamento (m³/s); C = coeciente de escoamento


supercial; i = intensidade da precipitação, (mm/h). A = área de contribuição da bacia
(km²).
Esta é a maneira em que o método racional se encontra mais simplicado, portanto,
a análise é feita de forma que a duração da chuva é igual ao tempo de concentração da
bacia e uniforme em toda a área. O método racional possui modicação para atender
atend er novas
exigências e suprimir limitações impostas pela sua forma simplicada. Exemplicando,
a equação pode ser expressa a uma dada frequência ou tempo de retorno:

Em que: Q é a vazão associada ao tempo de retorno (m³/s); K é um fator de


ajustamento; C é coeciente de escoamento supercial; i é a intensidade crítica de
precipitação (L/s/ha) para um período T (anos) e duração tc (min); A é a área da bacia
de drenagem que contribui para a seção em que é feita a determinação da vazão (ha).
O método pode utilizar um fator de correção para a distribuição de chuvas na bacia,
sendo expressa da seguinte maneira:

Em que: C = coeciente de escoamento supercial; i = intensidade da chuva crítica


(mm/min); A = área da bacia de contribuição (ha); D = coeciente de distribuição da
chuva, este coeciente é determinado de acordo com a área de drenagem sendo igual
a 1 quando A < 50ha e igual a 1 – 0,009 L/2 quando A > 50ha.
Tipo de cobertura do Solo C
Superfícies Impermeáveis 0,9
Terreno estéril e montanhoso 0,8
Terreno estéril e ondulado 0,6
Terreno estéril plano 0,5
Prados, campinas, terreno ondulado 0,4
Florestas decíduas, folhagem caduca 0,35
Florestas coníferas, folhagem permanente 0,25
Florestas tropicais, folhagem permanente 0,2
Pomares 0,15
Solos cultivados em zonas altas 0,15
Solos cultivados em vales 0,1
Tabela 10.1 - Coecientes de escoamento
Fonte: Tucci (2012)
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EXEMPLO 1
Determine a vazão de projeto para a obra de uma pequena barragem, instalada no
exutório de uma bacia em Piracicaba/SP. Adotar Tr = 100 anos.
Dados da bacia:
Área = 3,5 km²
Comprimento do curso d’água principal = 600 m
Cota da nascente = 880 m
Cota do exutório = 850 m
Composição da bacia: 25% superfícies impermeáveis; 25% terreno estéril e ondulado;
50% solos cultivados em zonas altas.

De acordo com a Tabela 10.1:


c=0,25⋅0,90+0,25⋅0,60+0,5⋅0,15
c=0,45
Para Piracicaba / SP (Aula 5):

Pelo Método Racional, t = tc


Pela Fórmula de Kirpich (Aula 2):
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10.2.2. Método Racional Modicado

Para os cálculos de vazões, segundo Fritsch (2013), uma pequena modicação do


método racional tradicional é possível estender sua utilização para áreas entre 50 e
100 ha, possibilitando o cálculo para bacias de médio porte. O método consiste em
um cálculo de coeciente de retardo que será multiplicado na equação do método
racional. O coeciente de retardo é calculado, de acordo com Schlickmann e Back
(2019) apud Pinto et al. (1976) de quatro maneiras, de acordo com as condições
indicadas após cada equação:

Em que: A = área da bacia, em km²; n = coeciente em função da declividade da


bacia, sendo: n = 4: para bacias de declividade inferior a 5/1000; n = 5: para declividades
até 1/100; n = 6: para declividades maiores que 1/100:

Em que: L = comprimento do talvegue, em km; n = coeficiente em função da


declividade da bacia, sendo: n = 3,5: para declividades fortes; n = 3: para declividades
médias; n = 2,5: para declividades fracas.
Para áreas rurais:

Em que: A = área da bacia (km²)


Para áreas urbanas:

Em que: A = área da bacia (km²)


Portanto, o cálculo da vazão segue da seguinte maneira:

10.2.3. Método Ven Te Chow

O método Ven Te Chow, segundo Bianchi et al., (2012) permite analisar áreas que
não possuem dados fluviométricos, calculando vazões de enchentes decorrentes da
precipitação incidente, atribuindo um tempo de retorno, estabelecendo assim, relação
com o risco hidrológico para a determinada chuva crítica ou vazão de projetos na
previsão de enchentes e elaboração de obras hidráulicas. Neste método a chuva
efetiva, ou seja, a chuva excedente ou escoamento supercial é a maior responsável
pelas vazões de cheias em pequenas bacias urbanizadas.
O método proposto por Ven Te Chow empregou o Método do Soil Conservation
Service (SCS) para a avaliação da chuva efetiva ( Pe). O coeciente de escoamento
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supercial é obtido através do método da Curva Número, desenvolvido pelo Soil


Conservation Service (SCS) dos Estados Unidos da América – E. U. A. que possibilita
obter o valor do escoamento supercial a partir de características especícas do solo,
como uso, tipo e da umidade antecedente do solo das bacias hidrográcas, permitindo
avaliar os impactos do uso do solo na resposta hidrológica da bacia.
O método proposto por Ven Te Chow estabelece que a chuva efetiva, denominada
chuva excedente, é responsável pelas vazões de cheias principalmente em bacias
de pequenas escalas e urbanizadas. Assim, a vazão máxima pode ser expressa pela
seguinte equação:

Em que Q = vazão máxima em m³/s ; A = área da bacia em km²; X = fator de


escoamento supercial, igual
i gual à razão da precipitação efetiva pela duração da chuva (Pe/
td); Y = fator climático, igual à unidade nos locais onde há fórmula base regionalizada;
Z = fator de redução do tempo de pico (adimensional).
A chuva efetiva ou precipitação excedente é calculada de acordo com a equação
proposta por Fendrich (2008):

Em que: Pe = precipitação excedente (mm); Pp = chuva total (mm); N = Número de


escoamento supercial (Curva Número).

A chuva total ou precipitação incidente ( Pp) é obtida pela multiplicação da intensidade


pluviométrica pelo tempo de duração estabelecido para diferentes tempos de recorrência:

O tempo de retorno (Tr) é decidido pelo risco hidrológico aceitável para a comunidade;
para obras hidráulicas o Tr já é estipulado e seu valor varia de acordo com o tipo de
ocupação da área (FENDRICH, 2008).
O grupo do solo é um parâmetro determinante para estabelecer o coeciente de
Deflúvio ou escoamento supercial (N). A Tabela 10.2 determina o valor do número
de Deflúvio (N).
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COBERTURA VEGETAL OU DEFESA CONTRA SITUAÇÃO HIDROLÓGICA GRUPO HIDROLÓGICO DO SOL


SOLO
O
TIPO DE USO DO SOLO EROSÃO DE INFILTRAÇÃO A B C D E
Arado quase sem SR Boas 65 80 88 92 95
cobertura vegetal C Boas 65 78 86 90 92
SR Más 60 72 81 87 90
SR Boas 52 66 75 82 86
Cultivo de ciclo curto e C Más 56 65 78 84 87
cultivos frequentes C Boas 48 60 72 78 82
C-T Más 52 62 74 80 84
C-T Boas 45 55 67 75 80
SR Más 58 65 73 82 88
SR Boas 54 62 70 79 85
Cultivo de ciclo médio, C Más 55 6644 72 78 84
arações anuais C Boas 50 60 67 75 83
T Más 52 62 70 77 82
T Boas 48 55 65 73 80
SR Más 56 6644 72 80 86
Semeação densa ou a SR Boas 50 58 66 76 82
lanço; cobertura curta, C Más 54 60 69 76 83
mas densa, como a das
leguminosas e dos pastos C Boas 48 56 64 72 80
em rodízio T Más 50 58 65 75 80
T Boas 45 52 60 70 76
Máás
M 65 70 78 85 90
Médias 60 66 75 82 87
Pastagem velha com Boas 56 62 72 79 84

arbustos C Más 55 62 70 78 86
C Médias 42 59 67 75 82
C Boas 50 56 64 72 79
SR Más 35 550
0 62 74 83
SR Boas 30 42 55 68 78
Reflorestamento
C Más 30 45 57 69 80
C Boas 25 36 52 64 75
Máás
M 32 40 55 67 76
Mata, capoeira velha
Boas 18 25 42 58 70
Máás
M 65 72 78 84 88
Gramados tratados
Boas 59 67 74 81 86
SR Más 80 85 90 93 95
Estradas de terra C Boas 74 80 86 90 92
Áreas urbanizadas 9988 98 98 98 98
Tabela 10.2 - Número de Deúvio conforme o tipo de uso do solo
Fonte: Fendrish (2008)
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10.2.4. Método I-PAI WU

O objetivo deste estudo é determinar a forma geral dos hidrográcos para pequenas
bacias hidrográficas1 por meio de uma expressão matemática contendo certos
parâmetros que podem ser correlacionados com características físicas identicáveis
e de fácil obtenção da bacia hidrográca (WU, 1963). Pode-se então desenvolver um
hidrográco de projeto para áreas não amontoadas a partir da precipitação de projeto
desejada e certas características da bacia hidrográca que podem ser determinadas
a partir de um mapa topográco da bacia.
Os fatores avaliados para o método de I-PAI
I-PAI WU são, como já revisados anteriormente:
Área de drenagem (A); Comprimento da corrente principal ( L); Inclinação média do
talvegue (S); fator de forma da bacia hidrográca (f). A fórmula neste método é expressa
da seguinte maneira:

Em que: Q = vazão (m³/s); C = coeciente de escoamento supercial; i = intensidade


de precipitação (mm/h); A = área da bacia (km²); K = coeciente de distribuição espacial
da chuva.
O coeciente de escoamento supercial “C” para este método é obtido através de
cálculo com a seguinte expressão:

Em que: C = coeciente de escoamento supercial, adimensional; C1 = coeciente


de forma, adimensional; C2 = coeciente volumétrico de escoamento, adimensional;
F = fator de forma da bacia, adimensional.
Ao contrário do Método Racional que admite o tempo de duração igual ao tempo de
concentração em uma chuva crítica, o I-Pai-Wu considera que bacias de forma alongada
podem apresentar tempo de concentração maior que o tempo de pico (FRITSCH,
2013). Isso faz com que deva ser levado em consideração o efeito da forma da bacia,
obtido pela equação:

Sendo F o fator de forma da bacia , o qual é obtido através da equação:


1 Pequenas bacias hidrográcas são aquelas com menos de 100 milha
milhass quadradas
quadradas de área (WU, 1963)

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Sendo: L = comprimento do talvegue, em km; A = área da bacia, em km².


O coeciente volumétrico C2 é obtido em função do grau de impermeabilização da
superfície. A Tabela 10.3 apresenta os valores do coeciente C2.
Grau de impermeabilidade Coeciente volumétrico
Baixo 0,3
Médio 0,5
Alto 0,8
Tabela 10.3 – Coeciente
Coeciente volumétrico para d
diferentes
iferentes graus de impermeabilida
impermeabilidade
de do solo

O coeciente K é obtido através do seguinte ábaco da Figura 10.2:

Figura 10.2 - Coeciente de distribuição espacial da chuva “K”


Fonte: São Paulo (1999)
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Exemplo 2
Calcule a vazão no exutório da bacia, pelos métodos racional e I-PAI-WU, para a
bacia hidrográca com as seguintes características:
• Área - A = 20000 ha (200 km²)
• Coeciente de runoff - c = 0,30 (grau de impermeabilidade baixo)
• Comprimento do talvegue - L = 35 km
• Diferença de cotas entre nascente e exutório - Δh = 60 m
• Período de retorno - T = 50 anos
Equação idf:
1902,39.Tr 0,152
______________
i=
(t+21)0,893
L3 0,385
___
tc = 57 ∙( )
H
35 3
___ 0,385

tc = 57 ( 60 )
tc= 715 min ∽12 h
1902,39.500,152
i = ______________
(715+21)0,893
i = 9,5 mm/h
Método Racional
(c∙i∙A)
Q= ______
360
0,30 ⋅9,5⋅200
Q= _____________
3,6

Q=158 m³/s
Método I- PAI-WU
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Grau de impermeabilidade baixo - C2 = 0,3

10.2.5. Método McMath

Segundo Batista et al., (2002) a fórmula de McMath pode ser utilizada em bacias
maiores que 50 ha, porque seu fator de correção impede que a vazão aumente na
mesma proporção que a área da bacia. Entretanto a fórmula não abrange bacias de
grandes dimensões, como acima de 800 ha, por apresentar valores pequenos a partir
part ir
desta área. A equação é descrita como:

Onde: Q = vazão (m³/s); C* = coeciente de escoamento de McMath; i = intensidade


de chuvas (mm/h); A = área da bacia (ha); S = declividade do talvegue
t alvegue principal (m/m)
O coeciente de McMath é obtido através da somatória dos coecientes encontrado
na Tabela 10.4:
Condições de Condições
Tipo de Cobertura Vegetal Tipo de Solo
escoamento Topográfcas da Bacia
Área coberta de
Baixa 0,08 Areia 0,08 Área plana 0,04
gramíneas
Cobertura vegetal Ligeiramente
Moderada 0,12 Textura Leve 0,12 0,06
intensa ondulada
Cobertura razoável a Ondulada a
Média 0,16 Textura Média 0,16 0,08
rala montanhosa
Cobertura rala a Textura Pesada Montanhosa a
Alta 0,22 0,22 0,11
esparsa (argilosa) escarpada
Cobertura esparsa e Textura Pesada
Muito alta 0,30 0,30 Escarpada 0,15
solo descoberto e área rochosa
Tabela 10.4 - Coeciente de McMath
Fonte: (BATISTA et al., 2002)
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AULA 11
TRANSPORTE DE SEDIMENTOS
Após uma precipitação, descontados o volume interceptado pela vegetação,
evapotranspirado, inltrado e retido nas depressões do solo, é formado o escoamento
es coamento
supercial pelas superfícies vertentes da bacia hidrográca. A trajetória e a velocidade
desse escoamento são denidas pelos obstáculos encontrados, como irregularidades
na superfície do solo, depressões, inclinação, rochas, árvores etc. Decorrente disto, o
escoamento perde energia ao longo de seu percurso pelas vertentes, em função do
atrito, sendo parte dessa energia gasta para desagregar solos e rochas, deslocando
partículas do seu local de origem até pontos a jusante, seja na própria superfície ou
até arroios e rios.
Enquanto se processa o escoamento
escoamento no leito dos rios,ocorre
rios,ocorre também o arraste de
partículas do fundo e paredes do canal, as quais são carreadas pelo fluxo de montante
para jusante, bem como aquelas partículas que aportaram pelo ao rio juntamente com
o escoamento das vertentes.
Dessa forma, concomitante ao ciclo hidrológico, ocorre o que se denomina de
ciclo hidrossedimentológico, o qual se refere ao transporte de sedimentos na bacia

hidrográfica. SedimentosOsão
transporte e deposição. entendidos
ciclo os materiais erodidos
hidrossedimentológico e suscetíveis
é intimamente ao
vinculado
e dependente ao ciclo hidrológico, visto que o primeiro necessita de escoamento
supercial nas vertentes e na rede de drenagem, o qual é proporcionado pelo segundo,
para haver o deslocamento, transporte e deposição de partículas sólidas.
O ciclo hidrossedimentológico é compreendido como um ciclo aberto, já que o
deslocamento e transporte de sedimentos sempre ocorre para trechos a jusante da
bacia hidrográca. Uma partícula sólida localizada na superfície vertente da bacia, ao
ser carreada pelo escoamento supercial até um rio, não mais retorna àquele ponto de
origem na vertente, podendo ser levada para trechos a jusante do rio ou ser depositada

em planícies de inundação, também a jusante do local de origem.


A Lei n. 9.433, de 08/01/1997, que institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos),
Hídricos) ,
integra a da gestão dos recursos hídricos e a gestão ambiental. A partir desta Lei,
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o ciclo hidrossedimentológico passou a ser estudado com mais rigor, haja vista sua
relação com o ciclo hidrológico. Ademais, o transporte de sedimentos está associado
a riscos de degradação dos solos, leitos dos rios e dos ecossistemas fluviais, bem
como riscos de contaminação dos sedimentos por produtos químicos, com sérios
impactos ambientais.
Pode-se enumerar algumas questões problemáticas correlatas ao transporte de
sedimentos:
Carreamen to de solos. A depender do tipo de solo, do uso e da ocupação
a) Carreamento
(florestas, plantações ou áreas urbanas), pode haver carreamento de solos em
maior ou menor grau, arrastando consigo fertilizantes, pesticidas, e demais
produtos que eventualmente tenham sido lançados sobre o solo;
b) Recobrimento de áreas cultiváveis por sedimentos estéreis. Sedimentos carreados
pelo próprio rio de áreas a montante das lavouras podem prejudicar o crescimento
vegetal no curso médio e, sobretudo, nas planícies de inundação;
c) Assoreamento de reservatórios.
reservatórios. A cons
construção
trução de rese
reservatórios
rvatórios potencialmente
potencialmente
obstrui o transporte natural de sedimentos pelos rios. Em função da redução
da velocidade do escoamento, as partículas que estão sendo transportadas se
depositam no fundo, causando o assoreamento. O reservató
reservatório
rio pode perder
perder boa
parte de sua capacidade de armazenagem de água, dependendo da intensidade
com que esse processo ocorre. Os sedimentos retidos no fundo do reservatório
podem ser necessários em alguma seção de jusante .
d) O acúmulo de ssedimentos
edimentos depos
depositados
itados no fundo
fundo dos canais e dos reservatórios
reservatórios
prejudica o seu funcionamento. Torna-se então necessária constante manutenção
e/ou dragagem;
e) Quanto maior a concentração
concentração de sólidos (dissolvidos ou em suspensão) na
água de rios e lagos, maiores os prejuízos à qualidade da água, decorrendo em
aumentos nos custos de tratamento para a água de abastecimento público e
industrial;
f) Erosão de rodovias, ferrovias e oleodutos;
g) Com a passagem da onda de cheia, os sedimentos depositados em áreas
inundadas precisam ser removidos.
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11.1 CICLO HIDROSSEDIMENTOLÓGICO

O ciclo hidrossedimentológico pode ser resumido em 6 etapas, as quais descrevem


os processos de deslocamento de partículas sólidas em uma bacia hidrográca, a
saber: desagregação, erosão, transporte, decantação, depósito e consolidação.
• Desagregação: Corresponde ao desprendimento de partículas sólidas, seja pela
ação da temperatura, reações químicas, ações mecânicas, ações antrópicas, entre
outras. O efeito do impacto da precipitação sobre as superfícies é o principal
agente desagregador. Dessa forma a manutenção da cobertura vegetal, coibindo
o desmatamento, pois a vegetação nativa é o principal agente de preservação
das superfícies e rochas naturais
• Erosão: Trata-se do processo de deslocamento dos sólidos sob efeito do
escoamento da água. A erosão ocorre quando as forças devido ao escoamento
da água (forças hidrodinâmicas) são superiores à resistência oferecida pelas
partículas (peso próprio e coesão). Para partículas mais nas destaca-se a coesão
como força resistente, enquanto para partículas maiores a resistência devido
ao peso próprio predomina;
• Transporte. Processo de transporte do material erodido pela água. Na etapa de
transporte as partículas mais pesadas, normalmente originadas do fundo do
próprio rio, se deslocam também junto ao fundo, no que se costuma chamar
de arraste ou descarga sólida de fundo. As partículas mais leves, originadas
nas nascentes ou no fundo do rio, por outro lado, se deslocam no seio do
escoamento. Esse tipo de transporte chama-se descarga sólida em suspensão;
• Sedimentação. Neste processo as partículas mais nas e em suspensão tendem
a restabelecer contato com o fundo do rio, devido a ação da gravidade;
• Depósito. Trata-se da parada total das partículas sobre o fundo.
• Consolidação. O peso próprio das partículas depositadas e a pressão hidrostática
tendem a compactar o material no fundo do rio.

Uma partícula recém sedimentada apenas irá cessar seu movimento se ocorrer
deposição e posterior consolidação. Ela pode, portanto, tocar o fundo do rio, parar por

poucos instantes, e voltar a se mover.


O transporte de sedimentos pelo rio se trata de um processo complexo, dependente
do aporte de material sólido, originado pela erosão das superfícies vertentes e da
energia disponível para o escoamento.
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As ações antrópicas interferem substancialmente no ciclo hidrossedimentológico,


no entanto esse é um processo natural e faz parte da evolução da paisagem. Resultam
do ciclo hidrossedimentológico a forma e as feições das bacias hidrográcas, como
os pers longitudinais dos rios, meandros, estruturas das redes de drenagem, seções
dos rios, etc.
Podem ser identicadas três regiões principais do sistema natural de produção
de sedimentos em uma bacia hidr hidrográca:
ográca: (i) interflúvios ou vertentes; (ii) leitos
leitos ou
calhas dos rios; (iii) planícies aluviais ou várzeas (Figura 11.1).
(i) Interflúvios ou vertentes. Área responsável pela principal captação da precipitação,
bem como produção de sedimentos. Trata-se, portanto, da origem dos sedimentos e
do escoamento supercial na bacia;
(ii) Calhas dos rios. Nos rios ocorre a concentração do escoamento (união de
pequenos cursos d´água) e o transporte do conjunto água + sedimentos originados
nas vertentes até o exutório da bacia; também podem ser gerados sedimentos, em
função da erosão das margens e do próprio leito do rio;
(iii) Planícies aluviais ou várzeas: São as áreas circunvizinhas aos rios, sobretudo nas
cotas baixas da bacia, funcionando como produtoras e recebedoras de sedimentos.
Quando o escoamento do rio está compreendido à calha principal (período de estiagem
ou baixas vazões), as planícies contribuem produzindo sedimentos que são carreados
para o rio devido a uma precipitação. Quando o escoamento do rio extravasa a calha
principal, as planícies passam a receber sedimentos transportados pelo rio, os quais se
depositam devido à menor velocidade do escoamento nessa região e aos obstáculos .

Figura 11.1 - Principais regiões do sistema natural de produção de sedimentos em uma bacia hidrográca.
Fonte: o autor
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11.2 ESTIMATIVA DA PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS

O principal método de estimativa de produção de sedimentos em uma bacia consiste


na previsão da erosão de origem hídrica e é conhecido como Equação Universal da
Perda de Solos (USLE – Universal Soil Loss Equation). De acordo com estre método, a
perda de solo calculada por unidade de área (A – t/ha/ano) é estimada da seguinte
forma:
A=R∙K∙LS∙C∙P

Onde R é um índice de erosividade da chuva; K é um fator de erodibilidade do solo;


LS é um fator topográco; C é um fator de uso e manejo do solo; P é um fator de
prática conservacionista.
O método USLE considera a capacidade da chuva em causar erosão, as características
do solo e do uso/manejo feito nele, bem como a topograa (relevo) da bacia. É possível
inferir sobre quais áreas são mais propensas à perda de solos, da mesma forma como
estimar os impactos das mudanças do uso e ocupação do solo.

11.3 TRANSPORTE FLUVIAL DE SEDIMENTOS

Os sólidos transportados nos rios podem se apresentam, basicamente, de três


maneiras: (a) dissolvidos na água (carga dissolvida); (b) em suspensão no escoamento
(carga em suspensão); (c) deslizando ou rolando no fundo do rio (carga do leito).
Cada um dos mecanismos de transporte ocorre em função de fatores como a
concentração de sedimentos e granulometria, agitação e velocidade do escoamento.
A concentração de sólidos
sólidos em suspens
suspensão
ão e a velocidade do escoamento variam ao
longo de uma dada seção transversal do rio. Dessa forma, a maior taxa de de transporte
ocorre na região de maiores velocidades do escoamento, as quais ocorrem longe das
paredes, onde o atrito e perda de carga são menores.

11.4 DISTRIBUIÇÃO DOS SEDIMENTOS AO LONGO DOS CURSOS D’ÁGUA

Ao longo do comprimento
comprimento do do curso d’água,
água, varia a sua morfologia,
morfologia, desde a
cabeceira até sua foz. Como consequência, os sedimentos transportados também
variam conforme o trecho de rio considerado (alto, médio ou baixo curso). De modo
simplicado, pode se considerar:
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• alto curso: maiores declividades e maiores velocidades


velocidades do escoamento, facilitando
a desagregação dos sólidos; transporte de elevadas quantidades de material
grosseiro, predominando o arraste;
• médio curso: área de estabilidade, sem aumento no aporte ou perda de sedimentos,
os quais apresentam granulometria média;
• baixo curso: áreas mais planas e com seções transversais mais largas, portanto
as velocidades são mais baixas, havendo predom
predomínio
ínio da deposição de sedimentos;
o rio transporta praticamente só partículas nas.
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AULA 12
CONTROLE DE ENCHENTES
As enchentes estão associadas, sobretudo,
sobretudo, à ocorrência de precipitações
precipitações intensas,
as quais decorrem grandes aportes de água ao rio, praticamente ao mesmo tempo.
Esse aporte de água concentrado corresponde a um volume de água maior do que
aquele que o rio tem capacidade de transportar
transport ar,, normalmente, na sua calha principal.
Como consequência, ocorre o extravasamento do rio, o que caracteriza a inundação.
Um mesmo volume precipitado caindo na mesma região pode não acarretar
inundações, dependendo do tempo que essa precipitação levou para acontecer
acontecer.. Caso
a intensidade da precipitação seja relativamente pequena, isto é, o volume precipitado
tenha ocorrido ao longo de uma grande duração, o rio pode ser capaz de escoar toda
a água resultante da transformação chuva-vazão. É fácil perceber que quanto maior a
intensidade da chuva, maior é a tendência de causar inundações, mantidas as demais
características constantes.
Os prejuízos associados às inundações decorrem, sobretudo, da ocupação das
planícies de inundação pela população. Essa ocupação é associada, muitas vezes,
ao próprio desenvolvimento histórico da região, na medida que a proximidade com

os corpos d’água facilita o acesso a esse recurso natural.


Entretanto, o crescimento das cidades, principalmente dos grandes centros urbanos,
pressiona a ocupação das áreas ribeirinhas, na busca de áreas para expansão da
cidade. Ademais, a impermeabilização da bacia decorre em aumento no escoamento
supercial, fazendo com que, para um mesmo volume precipitado durante o mesmo
tempo, passe a ocorrer um aporte maior de água ao rio e que chega mais rápido –
devido à redução da inltração, armazenamento nas depressões, interceptação, etc.
Esse aporte maior e mais concentrado no tempo faz com que as inundações sejam
mais intensas (impactando áreas maiores) e mais frequentes. Observa-se, portanto, que
a ocorrência de enchentes tem trazido prejuízos maiores, tanto em termos de perdas

de vidas quanto em termos econômicos, intensicados justamente pela ocupação


das áreas ribeirinhas e pela urbanização da bacia contribuinte.
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O principal tipo de ocupação nas áreas sujeitas a inundações é feito de forma irregular
pela população mais carente. Essa população prefere então ocupar as áreas ribeirinhas,
mesmo às vezes sabendo do risco de inundações. Enquanto isso, a população com
melhores condições nanceiras ocupa áreas da bacia geralmente com pequeno risco
de inundação. Como consequência, as enchentes trazem prejuízos mais acentuados
à população de maior vulnerabilidade social.
É importante ressaltar que a ocupação das áreas ribeirinhas também está associada
à frequência de ocorrência das cheias. Cada região tem um regime pluviométrico
especíco que condiciona a ocorrência periódica de precipitações mais intensas e,
consequentemente,
consequentem ente, de inundações. A despeito da aleatoriedade do regime de chuvas e
de vazões no rio, estatisticamente, há uma tendência
t endência de que as enchentes ocorram com
uma certa frequência, caracterizando o tempo de retorno, ou seja, o tempo estimado
para que um determinado evento seja igualado ou superado pelo menos uma vez. No
caso de enchentes associadas a tempos de retorno relativamente altos, como 10 ou
20 anos, por exemplo, o que ocorre muitas vezes é que a população “ganha conança”
de que a área é segura e ignora avisos e esforços das autoridades competentes
para removê-los. As pessoas têm a percepção errada das enchentes, supondo que,
por habitarem o local há vários anos e nunca terem presenciado alguma enchente,
duvidam que ocorram inundações ali.

12.2 CONDIÇÕES HIDROLÓGICAS QUE INFLUENCIAM A OCORRÊNCIA DE


ENCHENTES

Os fatores que regem ou influenciam a ocorrência de enchentes, em uma determinada


bacia hidrográca, podem ser agrupados em naturais e articiais.

12.2.1 Fatores naturais

São propiciados pela bacia no seu estado natural (relevo, forma da bacia, tipo de
precipitação, cobertura vegetal, capacidade de drenagem, tipo de solo, etc). Além
das características físicas da bacia, como as já enumeradas, há características
climatológicas que influenciam o processo, com destaque para a distribuição
temporal e espacial da precipitação (ou seja, onde ocorre a precipitação e como ela
se desenvolve ao longo da sua duração). Geralmente, as precipitações mais intensas
atingem justamente pequenas áreas localizadas.
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As áreas mais planas nas margens dos rios estão mais sujeitas à ocorrência de
inundações, também sendo geralmente as preferidas para ocupação pela população.
Conforme as características da rede de drenagem (dimensões das seções transversais
dos arroios e rios, grau de ramicação, sinuosidade dos rios, etc.), pode ocorrer a
subida do nível da água de vários metros em um curto intervalo de tempo, até mesmo
em poucas horas.
A presença da cobertura vegetal natural aumenta a inltração de parte da precipitação
e protege o solo contra erosão, já que o impacto das gotas de chuva é o principal fator
natural de desagregação das partículas do solo, tornando-as expostas ao escoamento
supercial (ver capítulo sobre Transporte de Sedimentos). O aporte de sedimentos em
excesso aos cursos d’água provoca assoreamento, diminuindo sua capacidade de
escoamento, na medida que os sedimentos depositados no fundo diminuem a seção s eção
transversal disponível para o escoamento.

12.2.2 Fatores articiais

O principal agravante de origem articial para o problema das cheias


cheia s é a urbanização
da bacia contribuinte, que acarreta na impermeabilização da superfície, diminuindo
a inltração e aumentando o escoamento supercial. Isso torna as inundações mais
frequentes e mais intensas – cheias ocorrem mais rapidamente e com picos de vazão
maiores, atingindo níveis de água maiores.

12.3 PREVISÃO DE CHEIAS

A ocorrência de enchentes pode trazer prejuízos econômicos e perdas de vidas,


dependendo de sua intensidade e do local. Por isso, muita atenção tem sido dispensada
ao que se chama de previsão de cheias, que é caracterizada
carac terizada sob duas formas principais,
quanto ao tempo de antecedência da previsão: previsão de curto prazo e previsão de
longo prazo.

12.3.1 Previsão de curto prazo

A previsão de curto prazo, também conhecida como previsão em tempo atual ou


em tempo real, é utilizada para alertar a população ribeirinha e os operadores de obras
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hidráulicas durante a ocorrência de um evento, com uma antecedência de horas ou dias,


função do tempo de deslocamento da água na bacia até a seção do rio em questão.
A previsão em tempo real requer sistemas de coleta e transmissão de dados, e
pode ser realizado com base em:
• Previsão da precipitação com base em dados de radar e sensoriamento remoto,
estimando a ascensão do nível da água no rio por meio dos métodos de
transformação chuva-vazão na bacia contribuinte;
• Conhecida a precipitação ocorrida: é feita a estimativa da cheia no rio, através da
transformação chuva-vazão, diferindo do caso anterior pelo fato da precipitação
ser medida e não estimada;
• Conhecida a vazvazão
ão no rio em uma seção a montante: é realizada a medição
medição do
nível do rio em uma seção a montante e estimada a vazão pela curva chave,
com esses dados estima-se o nível da água e a vazão em uma seção de jusante.
• Conhecida a precipitação ocorrida e a vazão no rio em uma seção a montante: trata-
se de uma combinação dos métodos anteriores, estimando-se a transformação
chuva-vazão com base no valor medido de precipitação e, em seguida, estimado
es timado
o deslocamento da onda de cheia até a seção de interesse, usando a vazão na
seção a montante.

12.3.2 Previsão de longo prazo

de Auma
previsão de longoinundação,
determinada prazo é caracterizada estimativa
estatisticamente, semda probabilidade
probabilid
precisar, irá ade de ocorrência
ocorrer.

12.4 MEDIDAS PARA CONTROLE DAS ENCHENTES

Apesar do que se possa armar que as variações climáticas existem e os fenômenos


naturais são aleatórios, medidas devem ser tomadas no sentido de minimizar os
danos potenciais das cheias. Tais medidas são comumente divididas em dois grandes
grupos, as medidas estruturais e as não-estruturais. O primeiro grupo compreende
medidas que modicam o sistema fluvial, procurando evitar os prejuízos decorrentes

das inundações, embora não propiciem uma proteção completa, havendo um risco
de que ocorra uma cheia para a qual as medidas tomadas não suportem. Já as
medidas ditas não-estruturais visam reduzir os prejuízos com as enchentes pela “melhor
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convivência” da população com tais eventos. O ideal geralmente apontado é composto


convivência”
por uma combinação de medidas estruturais e não-estruturais.

12.4.1 Medidas estruturais

• Controle da cobertura vegetal: a vegetação reduz o pico da cheia, amortece o


escoamento, retardando, bem como reduz a erosão;
• Controle da erosão
erosão do
do solo:
solo: uma maior erosão
erosão implica no as
assoreamento
soreamento do
rio e consequente diminuição da área transversal disponível para conduzir as
águas; geralmente, é recomendado o reflorestamento, estabilização das margens,
práticas agrícolas adequadas (agroecologia), etc;
• Construção de diques: constituem muros laterais aos rios ou arroios, geralmente
de concreto ou terra, protegendo áreas ribeirinhas contra o extravasamento
da água da calha principal do rio; geralmente, essa medida apenas transfere o
problema para jusante;
• Modicações no rio: o objetivo no caso é permitir uma maior capacidade de
condução do escoamento no rio, o que é alcançado geralmente aumentando a
velocidade do escoamento ou a área da seção transversal do rio, com custos
elevados na maioria das situações; para aumentar a velocidade, geralmente
aumenta-se a declividade do fundo do rio, através de escavação do leito, ou
retiram-se obstruções ao escoamento, como restos de árvores, rochas, etc;

oalargamento
aumento dadaárea transversal é realizado com dragagens do fundo do rio ou
seção;
• Construção de reservatórios: a implantação de barragens nos rios permite reter
boa parte do volume de água da cheia, o qual é liberado para o trecho de jusante
do rio de forma mais distribuída no tempo.

12.4.2 Medidas não-estruturais

• Regulamentação de áreas ribeirinhas, visando denir regras de ocupação de


tais áreas, como, por exemplo, a nalidade do uso (recreação, comercial, etc);

• Regulamentaçã o do uso no solo da bacia contribuinte, com o intuito de amenizar


Regulamentação
o aumento do escoamento supercial decorrente do processo de urbanização;
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um exemplo é a denição de um percentual da área dos empreendimentos a


ser mantida permeável;
• Zoneamento de áreas de inundação, procurando identicar e mapear as áreas
mais sujeitas às inundações;
• Serviço de previsão e alerta contra cheias, para antever com algum tempo de
antecedência a ocorrência de cheias e acionar uma série de ações previamente
estabelecidas, de modo a minimizar os prejuízos;
• Plano de evacuação: baseado no zoneamento e no sistema de previsão e alerta,
pode ser traçado um plano de evacuação direcionado para as áreas mais sujeitas
às cheias ou com maiores riscos, o qual é acionado conforme o sistema de alerta.
aler ta.
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AULA 13
REGULARIZAÇÃO DE VAZÕES
A vazão de escoamento supercial direto varia ao longo do tempo em função das
precipitações. Em épocas de estiagem, a disponibilidade hídrica pode não ser suciente
para atender aos usos múltiplos de um determinado manancial.
manancia l. Por outro lado, durante
longos períodos chuvosos, ou mesmo na ocorrência de uma chuva intensa, a vazão
pode ser superior à capacidade de drenagem do corpo d’água.
Com o objetivo de equalizar essa variabilidade é possível construir reservatórios,
os quais irão reservar as vazões de cheia excedentes, e liberá-las durante os períodos
de estiagem, regularizando as vazões.
Reservatórios podem ser construídos não apenas para regularizar vazões. O lago
gerado devido ao barramento do curso d’água pode ter uma profundidade tal que
permita o aproveitamento hidrelétrico. No entanto, nesse capítulo trataremos dos
lagos de regularização de vazões, relacionado às obras hidráulicas de macrodrenagem.
A escolha sobre o tipo de barragem que irá compor o reservatório depende, dentre
outros fatores, da topograa do local, tipo de solo, material e mão de obra

13.1 CARACTERÍSTICAS DOS RESERVATÓRIOS


Os reservatórios não são descritos apenas pelo seu volume útil, relacionado a
um nível. Outras parcelas do volume de água acumulada (e seus respectivos níveis)
são relevantes no dimensionamento desta obra hidráulica, a saber: volume morto;
volume máximo; nível mínimo operacional; o nível máximo operacional; o nível máximo
maximorum.
Outras obras hidráulicas carecem de ser previstas juntamente com o projeto da
barragem em si, a depender do porte da barragem: vertedores, eclusas, escadas de
peixes, tomadas de água para irrigação ou para abastecimento, etc.
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13.1.1 Vertedores

No caso de barragens para ns de geração de energia elétrica, os vertedores têm


como função liberar o excedente hídrico, o qual não será aproveitado para geração
de energia elétrica. Ademais, os vertedores são também projetados para reduzir o
volume de água reservado e permitir a passagem de uma onda de cheia.
Há diversos tipos de vertedores, com diferentes geometrias. Basicamente
são singularidades impostas ao escoamento, sobre a qual é possível equacionar
matematicamente as características do escoamento, e determinar a vazão a partir
de medições indiretas do nível d’água. No caso de vertedores em barragens de
regularização de vazão, são mais comuns vertedores livres, onde o escoamento para
sobre o vertedor. Os vertedores livres diferem dos vertedores controlados por comportas

(comuns em barragens de hidrelétricas), os quais não são empregados para medir


vazão e apenas aliviar ondas de cheia.
Em grandes reservatórios, com elevada altura d’água, é comum a implantação de
dissipadores de energia, para que a água que deixa o reservatório reduza sua velocidade
e não promova a erosão do casal a jusante.
A vazão de um vertedor livre (não controlado por comportas) é dependente da altura
da água sobre a soleira, conforme a Figura 13.1 e a equação abaixo:

onde Q é a vazão do vertedor (m³/s); L é o comprimento da soleira (m); h é a altura

da lâmina de água
É importante sobreque
destacar a soleira
a vazão(m);
teme Cuma
é umrelação
coeciente com valores
não linear com o entre 1,4água.
nível da e 1,8.

Figura 13.1 - Vertedor de soleira livre


Fonte: o autor

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13.1.2 Descarregadores de fundo

Os descarregadores de fundo podem ser empregados como elementos adicionais


de saída de água de reservatórios, tanto para auxiliar o amortecimento de vazões
quando os vertedores não forem sucientes, como para aproveitamentos hídricos.
Como os descarregadores se tratam de orifícios, a vazão que passa através deles
pode ser prevista pela equação:

onde A é a área da seção transversal do orifício (m²); g é a aceleração devido a


gravidade (m/s²); h é a altura da água desde a superfície até o centro do orifício (m)
e C é um coeciente de descarga.

13.1.3 Curva cota - área - volume

O conhecimento da relação entre nível da água numa barragem, a área da


superfície livre do lago inundado e o volume armazenado neste lago é fundamental
no dimensionamento e operação de reservatórios. O volume armazenado em diferentes
níveis revela a capacidade de regularização do reservatório, a área da superfície
superfí cie do lago,
por sua vez, representa a superfície inundada e está associada à perda de água por
evaporação. A Tabela 13.1 apresenta a relação cota – área – volume do reservatório
de exemplo.

Tabela 13.1 - Relação cota-área-volume


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Devido às características topográcas da área inundada, a relação entre cota e


área não é, em geral, linear. Da mesma forma, a relação entre cota e volume também
não é linear.

13.1.4 Volume morto e nível mínimo operacional

O volume morto é a parcela de volume do reservatório não disponível para uso.


Abaixo desse nível as turbinas de uma usina hidrelétrica passam a receber ar, o que
compromete sua estrutura e, no caso
cas o de aproveitamento para abastecimento público,
abaixo do nível mínimo a água apresenta demasiado teor de sólidos, o que encarece
o tratamento.
O efeito do assoreamento, estudado em transporte de sedimentos, pode aumentar
o volume morto de um reservatório. Por esse motivo a sua manutenção deve ser
constante.

13.1.5 Volume máximo e nível máximo operacional

O volume máximo, associado ao nível máximo operacional corresponde à situação


máxima na qual é garantida a operações normal do reservatório. Eventualmente o
reservatório pode ser operado com níveis superiores ao nível máximo operacional, no
entanto tais condições podem comprometer a segurança da barragem.

A crista do vertedor dene o nível máximo operacional do reservatório.


13.1.6 Volume útil

O volume útil é a diferença entre o volume máximo e o volume morto de um


reservatório. Trata-se
Trata-se do volume que de fato pode ser considerado nas obras hidráulicas.

13.1.7 Nível máximo maximorum

Admite-se, em casos excepcionais, que o nível da água no reservatório supere o

nível máximo em curtos espaços de tempo, pois as estruturas de saída em geral são
dimensionadas para tempos de retorno que superam 10 mil anos. No entanto, nem
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toda a barragem é dimensionada para esse evento, portanto essa situação deve ser
evitada.
O nível da água nessa situação se chama máximo maximorum

13.2 IMPACTOS AMBIENTAIS DE RESERVATÓRIOS

A energia hidrelétrica é uma fonte renovável e compreendida como uma forma


de produção de baixo impacto ambiental. No entanto essa compreensão vem sendo
discutida, em função das grandes áreas alagadas. Entre os impactos ambientais de
destaque correlatos à construção de usinas hidrelétricas, encontram-se os impactos
sociais; impactos sobre a flora e a fauna do local inundado; impactos sobre o sistema
de transportes; impactos sobre a geração de gases de efeito estufa.

13.2.1 Impactos sociais

Durante toda a fase de projeto e execução da obra, a dinâmica social e econômica


da região é alterada, em função do volume de recursos que passa a circular. Quando
o lago é construído, outro impacto é a remoção das pessoas que habitam a área
inundada pelo reservatório, o que gura como um dos principais impactos associados
à construção de hidrelétricas.
Há também os impactos culturais, como a perda de sítios arqueológicos, e demais

objetos e instalações de relevância histórica e cultural.


13.2.2 Impactos sobre a fauna e a ora do local inundado

Durante o enchimento do reservatório, a fauna que habita a área seca é connada


em pequenas ilhas, gerando demasiado conflito entre espécies e comprometendo
todo o ecossistema.
A vegetação nativa inundada é extinta, e sua decomposição compromete a
qualidade da água, pois a vegetação morta serve como fonte de matéria orgânica
para os microrganismos decompositores, os quais consomem também o oxigênio

dissolvido da água, decorrendo, por fim, na mortandade de peixes e seres vivos


mais complexos.
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13.3 CÁLCULO DO VOLUME DO RESERVATÓRIO DE ACUMULAÇÃO

Para calcular a regularização de vazões por meio de reservatório é necessário


acumular as vazões excedentes visando suprir as demandas durante o período de
estiagem. São reservatórios de acumulação de água, e diferem dos reservatórios de
distribuição (pois a água reservada não será empregada para abastecimento
aba stecimento público) e
dos reservatórios de atenuação de cheias (que se comportam como molas, amortecendo
os picos, porém com reservação durante curto espaço de tempo)
O volume do armazenamento é calculado a partir do balanço hídrico, considerando
a demanda em um período de estiagem prolongada, normalmente denominado período
crítico, onde a vazão natural não atende a demanda imposta.
A equação do balanço hídrico em um reservatório se escreve como:

Onde as contribuições são: P = precipitação; Qin = vazões afluentes; E = perdas


por evaporação; ΣQd= demandas (vazões derivadas); Q out = vazão de restituição; I =
perdas por inltração; Vol = volume do armazenamento; Δt = intervalo considerado.
Para o período de estiagem, considera-se P=0. Além disso, para maior simplicidade,
as perdas por evaporação podem ser descontadas na vazão afluente.
Dene-se a lei de regularização através da função y, adimensional, dada por:

Onde, Qr é a vazão regularizada e Q é a vazão média no período considerado.


Dada a sequência no tempo das vazões naturais, Qin = Q(t), e conhecida a lei de
regularização y,
y, é possível determinar a capacidade mínima do reservatório para atender
a essa lei.
A vazão regularizada Qr corresponderá à soma de todas as vazões que saem do
reservatório: Qr = Qout + ΣQd. Na análise, em geral, a evaporação é calculada em função
da área líquida exposta e de dados climatológicos. As perdas por evaporação podem
ser consideradas subtraindo-se das vazões naturais os valores calculados, convertidos
para m³/s.
O volume mínimo que reservatório deve apresentar para atender à dada lei de
regularização (Cr) é a diferença entre o volume acumulado necessário para suprir o
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período mais crítico de estiagem (Volnec) e o volume afluente acumulado ao reservatório


no mesmo período (Volaf):

O período de estiagem mais crítico será aquele que resultar no maior volume de
reservação. Por esse motivo, é necessário calcular a capacidade do reservatório para
diferentes períodos de estiagem e adotar o maior valor encontrado.
Seja, por exemplo, um ano com hidrograma dado conforme a Figura 13.2. Suponha-
se que se queira atender à lei de regularização total: y = 1. Isso
Iss o signica que se deseja
obter uma vazão regularizada constante e igual à vazão média Q. Nota-se que, para
essa lei de regularização, o período crítico é denido pelos meses de maio a outubro,
inclusive. O volume necessário para manter a vazão Q durante os meses de maio a
outubro (período crítico) é:

onde Δtmai é o número de segundos do mês de maio, Δtjun é o número de segundos


do mês de junho e assim por diante. A vazão , nesse caso, deve ser dada em m³/s
para encontrar Volnec em m³.
O volume afluente acumulado Volaf, isto é, o volume que chega ao reservatório no
mesmo período é:

Com os valores de Volnec e Volaf, a capacidade mínima do reservatório, Cr, pode ser
calculada. Esta capacidade crítica corresponderá, naturalmente, à área representada
em cinza na Figura 13.2.
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Figura 13.2 - Hidrograma de entrada em um reservatório, vazão de regularização e volume do reservatório.


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AULA 14
BARRAGENS
Barragens são mecanismos de aproveitamento hidráulico, correspondendo
essencialmente a um corpo ou barramento colocado transversalmente a um curso
d’água, cumprindo a função de retenção e armazenamento de água, de maneira
compatível com o objetivo do empreendimento.
Nas barragens implantadas com o propósito de geração de energia elétrica ou
abastecimento de água, a água armazenada poderá ser captada por meio de uma
tomada d’água, e conduzida até o sistema de geração de energia ou até sistema
de tratamento e distribuição de água. Por outro lado, se o objetivo for o controle
de cheias, esta captação não será efetuada, sendo a função da barragem apenas o
armazenamento temporário da água.
A vazão afluente à barragem pode, por vezes, superar a capacidade de armazenamento
do reservatório. Neste caso, a água excedente deverá ser extravasada de maneira a
não causar danos à estrutura. São instalados, então, vertedores, destinados a efetuar
o deságue adequado destas vazões excedentes, bem como estruturas de dissipação
de energia, posicionada a jusante.

O aproveitamento hidráulico é constituído essencialmente destes órgãos, sendo que


diversos outros dispositivos e órgãos podem integrar o sistema, em função do seu
objetivo especíco, das condições topográcas e geotécnicas e do processo construtivo
empregado. O arranjo geral ou layout de um aproveitamento hidráulico é função de
um conjunto de aspectos, não apenas hidráulicos e hidrológicos, mas também de
fatores técnicos, econômicos, ambientais e, por muitas vezes, estéticos. O corpo da
barragem constitui a parte principal da obra, sendo responsável pela contenção do
volume de água a ser reservado.
Na fase de concepção, pode haver previsão para instalação das barragens em locais
com características topográcas e geotécnicas bastante diversas e com o uso de
diferentes tipos de materiais, sendo que o material predominantemente
predominantemente utilizado permite
a classicação do tipo da obra. A escolha e denição do tipo de barragem dependerá
de múltiplos aspectos, salientando se as características geológicas e geotécnicas

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locais. Tendo em vista os diferentes requisitos em termos de fundações e barragens,


as características topográcas do local de determinadas técnicas construtivas.
Basicamente, as barragens podem ser dos seguintes tipos: concreto, terra,
enrocamento, mistas, alvenaria, gabiões etc. Cada um destes tipos pode, por sua
vez, ser subdividido em outros subgrupos, com características próprias. As diversas
opções de tipos de barragens, compatíveis com o local de implantação, deverão ser
analisadas quanto aos seus custos de instalação, objetivando encontrar a solução
mais viável em termos técnicos e econômicos.

14.1 FORÇAS ATUANTES NAS BARRAGENS

Independentemente do tipo ou objetivo da barragem, sobre elas atuam forças de


natureza e origens distintas. Os principais esforços atuantes são os seguintes:
• peso da barragem (W): corresponde ao pro produto
duto do seu volume
volume pelo peso
especíco do material utilizado em sua construção;
• pressão hidrostática (H): tanto o paramento de montante da barragem, ou
seja, a superfície adjacente ao reservatório, como o paramento de jusante são
submetidos às forças hidrostáticas;
• subpressão (P) a água sob pressão, abaixo da barragem, gera uma pressão
ascensional, denominada subpressão, que é fortemente influenciada pelo solo
de fundação e pelos métodos construtivos adotados na obra. Em geral, adota-se

como valor da subpressão uma variação linear entre a pressão hidrostática a


montante e a jusante, denindo um diagrama trapezoidal de pressões na base
da barragem;
• forças devidas às ondas (F): os esforços produzidos pelas ondas variam com
sua altura, que depende, por sua
s ua vez, do comprimento do reservatório orientado
na direção do vento.
• empuxo devido ao assoreamento: os sedimentos que se depositam, em geral, a
montante da barragem, exercem, em maior ou menor grau, empuxo. A influência
deste empuxo pode ser desprezível em barragens altas, no entanto, podem ser
importantes em barragens de pequeno porte. Tendo em vista a diculdade de
dispor de uma caracterização exata deste material assoreado, em geral, considera-
se como sendo uma suspensão exercendo uma pressão hidrostática com peso
especíco de 13000 /m . Na ausência de informações mais precisas, adota se,

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em geral, uma altura de 10% da altura da barragem como correspondente ao


volume passível de ser ocupado pelo material assoreado.

Na Figura 14.1 é apresentada uma seção esquemática de uma barragem com alguns
dos diversos esforços atuantes, bem como os diagramas de pressão correspondentes.

Figura 14.1 - Esforços e diagramas de pressão atuantes em uma barragem.


Fonte: o autor

14.2 BARRAGENS DE CONCRETO

As barragens de concreto são aquelas construídas integralmente em concreto


simples, convencional ou compactado, ou em concreto armado. Para a implantação
das barragens de concreto requerem, em geral, que haja rochas sãs em sua base.
Este tipo de barragem exerce maiores pressões nas fundações e nas paredes dos
vales, em função da concentração de esforços em uma área relativamente reduzida.

14.2.1 Barragens de gravidade

Barragens de gravidade são aquelas construídas em concreto simples maciço e


guram como o tipo mais comum das barragens de concreto, recomenda
recomendadas,
das, sobretudo,
para vales estreitos. A sua estabilidade é garantida pelo peso próprio da estrutura,
sendo que esta deve ser vericada segundo três aspectos, que devem ser analisados
para as diferentes seções típicas,
típic as, tanto para a condição de barragem cheia como vazia:

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• escorregamento ao longo de um piano horizontal;


• rotação em torno do pé;
• ruptura do material.

A construção das barragens de gravidade em concreto convencional é efetuada


em blocos, com juntas de vedação verticais. A concretagem, por sua vez, é executada
em camadas. Deve haver determinado intervalo de tempo entre as concretagens
das diferentes camadas e blocos adjacentes, para evitar problemas de contração e
ssuração, devido ao forte calor de hidratação do cimento.
Há um procedimento construtivo através do lançamento de concreto em camadas
e posterior compactação através de rolo vibro-compactador
vibro-compactador,, nas chamadas barragens
de concreto compactado.

14.2.2 Barragens de gravidade aliviada

As barragens de gravidade aliviadas são variantes das barragens de gravidade


onde se busca otimizar a utilização do concreto. Nas barragens de concreto maciças
o concreto é muito mal aproveitado, pois as tensões são muito menores que a
resistência do material. Assim, diversas soluções foram propostas para otimizar as
seções transversais, a saber:
• Paramento de montante inclinado, com o objetivo de utilizar a componente

vertical da pressão hidrostática de montante para favorecer o equilíbrio da


estrutura;
• Cavidades junto a fundação a m de reduzir o volume de concreto, bem como
a subpressão, que é função da área de conta to da fundação;
• Juntas de dilatação alargadas, as quais auxiliam a drenagem e o resfriamento
do concreto;
• execução de pilares isolados ou ocos.

Constatam-se economias importantes no que diz respeito ao volume de concreto


com a utilização destas técnicas que, mesmo com o acréscimo do custo de formas,
tornam a utilização deste tipo de obra mais interessante em muitos casos.
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14.2.3 Barragens em arco

As barragens em arco apresentam curvatura em planta, de modo a transferir parte


da pressão d’água aos pegões do arco, possibilitando uma grande redução do volume
de concreto utilizado. Entretanto, este tipo de solução exige que as encostas do vale
sejam capazes de resistir a tensões elevadas.
Uma seção típica em arco, correspondente ao aproveitamento hidrelétrico é
apresentada na Figura 14.2.

Figura 14.2 – Seção típica de uma barragem em arco


Fonte - Adaptado de Schreiber, 1978.

As barragens em arco podem ser classicadas como barragem com centro constante
com centro variável.
As barragens com centro constante adaptam-se principalmente aos vales em
forma de “U”. A face montante, nesse caso, geralmente está na vertical. As barragens
com centro variável, também conhecidas como de raio variável ou ângulo constante,

possuem os raios decrescentes da


da crista ao pé, sendo adequad
adequadaa aos vales em “V”.
A construção das barragens em arco obedece essencialmente às mesmas indicações
das barragens de gravidade, sendo que cuidados especiais devem ser tomados no
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tocante às fundações, tendo em vista as tensões elevadas que


que devem ser suportadas
pelo solo adjacente.

14.2.4 Barragens de contrafortes

As barragens de contrafortes são compostas por lajes de concreto, que constituem


a face de montante da barragem. Estas lajes transmitem a pressão hidrostática a
uma série de contrafortes perpendiculares ao eixo da barragem, os quais atual como
vigas (porém na vertical em relação ao solo).
Pode-se classicar as barragens de contrafortes em barragens de laje plana e em
arcos múltiplos. Independente do tipo de barragem com contraforte, o volume de
concreto empregado é bastante inferior ao que seria necessário para uma barragem
de gravidade. Todavia, em função das formas, armaduras e complexidade
co mplexidade de execução,
seu custo global nem sempre é inferior.
As barragens de contrafortes estão sujeitas essencialmente aos mesmos esforços
das barragens em arco e gravidade. Da mesma forma, a sua construção obedece
a mesma sistemática das barragens de gravidade. Como as estruturas são mais
esbeltas, admite-se a concretagem em lances maiores.

14.3 BARRAGENS DE TERRA OU ENROCAMENTO

As barragens de terra e enrocamento utilizam material disponível na região, com


um mínimo de beneciamento, podendo também ser utilizado equipamento simples e
facilmente disponível para a sua construção, resultando em custo em geral bastante
competitivo em relação aos outros tipos de obras. Dessa forma, a adoção das barragens
de terra e enrocamentos é bastante frequente nas condições brasileiras.
As barragens de terra e enrocamento podem ser distinguidas em diversas classes,
em função das características da sua seção transversal:
• Barragens de terra hom
homogênea:
ogênea: quando é empregado
empregado somente um tipo ddee solo
solo
ou rocha em sua execução;
• Barragens de terra zonada: quando são empregados dois ou materiais distintos
no corpo do aterro, em função das diferentes características de resistência e,
permeabilidade que os materiais podem apresentar;
• Barragens de enrocamento com núcleo de material impermeável;

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• Barragens de enrocamento com face em concreto (face impermeável);

14.4 BARRAGENS MISTAS

Barragens mistas são obras construídas de partes em concreto e partes em terra


ou enrocamento, sendo de emprego bastante comum no Brasil. Como, em geral, é
necessário executar-se em concreto o vertedor e a tomada d’água, quando as ombreiras
são executadas em terra ou enrocamento, há uma barragem mista.

14.5 DESVIO DOS RIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS

Em geral, as obras relativas às barragens são executadas nos leitos dos cursos
d’água, tornando necessário assim o seu desvio no período de construção, de modo
a permitir a execução dos trabalhos a seco, no interior das ensecadeiras. Este desvio
temporário dos cursos d’água pode ser obtido por meio da obstrução completa do
leito do rio, resultado do desvio total por meio de canais, galerias ou túneis. Em alguns
casos o desvio parcial do curso d’água pode ser suciente para permitir a execução
das obras por etapas
A denição do tipo de desvio a ser adotado está intrinsecamente ligada ao arranjo
geral da barragem, influenciando a sua própria concepção. De modo geral, para um dado
local, o esquema de desvio depende, principalmente, das características topográcas

e geológicas da área, do regime hidrológico do curso d’água e, nalmente, do tipo e


das características das obras denitivas a serem construídas.
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AULA 15
CANAIS
Os canais são estruturas hidráulicas que possuem os seguintes objetivos básicos:
• condução das águas de forma a compatibilizar as necessidades com os volumes
disponíveis, no tempo e no espaço;
• possibilitar ou favorecer a navegação.

Com relaçãodeà água


abastecimento condução de água, humano
para consumo os canais podem ser
e industrial, implantados
condução para
das águas
usadas, irrigação agrícola, drenagem
drenagem das águas excedentes etc. O segund
segundoo objetivo
consiste, em suma, na implantação de hidrovias, de forma a assegurar as profundidades
de água necessárias para a circulação das embarcações.

15.1 DIMENSIONAMENTO

Qualquer que seja o objetivo do canal, seu dimensionamento hidráulico é feito


através dos mesmos procedimentos
procedimentos básicos. A abordagem, entretanto, é diferenciada,

conforme as características da superfície de contato com a água.


Há canais revestidos ou consolidados, construídos com materiais não erodíveis,
e os canais não revestidos ou não consolidados, ou seja, correspondentes a cursos
d’água naturais, canais articiais simplesmente escavados ou canais revestidos com
materiais não resistentes à erosão.
Os canais podem ser projetados e executados de acordo com diversas alternativas
tecnológicas, a seleção entre uma ou outra tecnologia depende da nalidade do canal,
mão de obra e matéria prima disponíveis, bem como das condições geológicas,
topográcas e ambientais do local de implantação
O dimensionamento hidráulico dos canais é efetuado usualmente na hipótese de
regime uniforme de escoamento, com a utilização da fórmula de Manning combinada
com a equação da continuidade.
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Onde: Q é a vazão (m³/s); A é a área molhada (m²); Rh é o raio hidráulico (m), Io é


a declividade do terreno (m/m) e n é o coeciente de rugosidade de Manning.
Na Figura 15.1 são apresentados os principais elementos geométricos do canal
de seção trapezoidal. Onde: b = largura da base inferior; yo = altura da lâmina d’água
e  = inclinação dos taludes com relação à horizontal.

Figura 15.1 - Seção transversal do canal trapezoidal


Fonte: o autor

Adotando:
m = razão de aspecto e Z = inclinação dos taludes, onde:

É possível calcular a área e perímetro de qualquer trapézio pelas relações:

Para o canal retangular: Z = 0, pois  = 90º


Para o canal triangular: m = 0, pois b = 0
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15.2 Dimensionamento de canais revestidos - seções de máxima eficiência


hidráulica

Admite-se que para os canais revestidos, as paredes e o fundo são estáveis, em


função da forma (seção transversal) adotada e do revestimento empregado. A questão
central reside na denição de uma seção adequada para transportar
tran sportar a vazão de projeto.
Em termos puramente hidráulicos, uma abordagem para a questão corresponde à
seção de máxima eciência.
Nas condições estabelecidas de estabilidade das paredes do canal, o problema do
dimensionamento hidráulico dos canais reduz-se a otimização da seção transversal
para transportar
transpor tar a vazão de projeto. Tendo
Tendo em vista o custo de implantação, um critério
básico de projeto corresponderia exatamente a minimização da área a ser revestida e do
volume de escavação, que desempenham papel importante na composição de custos
do canal. Busca-se a denição de seções transversais, que apresentam rendimento
máximo, ou seja, que, para uma dada área, declividade e rugosidade, transportem a
máxima vazão.
Considerando a fórmula de Manning, pode-se denir:’

Assim, a vazão máxima é observada para uma situação de mínimo perímetro


molhado, com A, n, e Io constantes. Nestas condições tem-se uma seção de máxima
eciência hidráulica.
Aplicando este critério de minimização do perímetro molhado, ou seja, igualando
a zero a derivada do perímetro molhado em relação a m, temos:
• Razão de aspecto para o Trapézio de Mínimo Perímetro Molhado

• Razão de aspecto para o Retângulo de Mínimo Perímetro Molhado


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A adoção das seções de máxima eciência é desejáve


desejável,l, do ponto de vista puramente
hidráulico, no entanto, muitas vezes ela conduz a soluções incompatíveis com os
outros condicionantes de projeto, tais como as características ambientais, geotécnicas
e topográcas do local em estudo, a solução estrutural passive! de ser adotada etc.
Aspectos de natureza tecnológica, econômica e ambiental podem levar a limitações,
ou mesmo ao impedimento do conceito de seção de máxima eciência.

15.3 DIMENSIONAMENTO DE CANAIS EM MATERIAIS ERODÍVEIS

No dimensionamento de canais em materiais erodíveis, a questão central diz respeito


a estabilidade do canal, função da sua geometria, características geotécnicas dos
materiais envolvidos e das características do material eventualmente transportado
pela água.
O comportamento dos canais naturais ou construído em materiais erodíveis é
influenciado por diversos fatores ligados à interrelação da água com o solo, sendo,
portanto, mais complexo do que o comportamento dos canais em materiais estáveis.
É possível efetuar o dimensionamento hidráulico dos canais não revestidos segundo
dois processos distintos: o método da velocidade permissível e o método das tensões
t ensões
de arraste. Em ambos os procedimentos, uma vericação essencial diz respeito à
inclinação dos taludes laterais, que sofrem limitações em função das características
geotécnicas locais.

O Quadro 15.2 apresenta alguns valores máximos de inclinação de taludes, de


acordo com o material adjacente.

Material do canal inclinação máxima (H:V) Valor de Z


Rocha sã Vertical 0,0
Rocha alterada ¼:1 0,25
Solo argiloso compactado ½:1 a 1:1 0,50 a 1,00
Solo em canais largos 1:1 1,00
Solo em canais estreitos 1½:1 1,50
Solo arenoso solto 2:1 2,00
Solo argiloso poroso 3:1 3,00
Quadro 15.2 - Inclinações admissíveis de taludes em canais
Fonte - Adaptado de Chow (1959)
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15.3.1 Método da velocidade permissível

O método da velocidade permissível consiste em determinar as dimensões do


canal, observando as limitações de velocidade máxima. A velocidade deve ser menor
ou igual a um determinado valor, garantindo que não ocorra a erosão do canal.
O valor limite da velocidade máxima de operação é função do material constituinte
do canal, bem como da carga de material sólido transportada pelo canal. No Quadro
15.2 são apresentados alguns valores de velocidades admissíveis usualmente adotados.
Velocidade admissível (m/s)
Material do canal
Água com Água com sedimentos
Água sem sedimentos
sedimentos não coloidais coloidais
Solos não Areia f ina 0,46 0,46 0,76
coloidais
Argilo-arenoso 0,53 0,61 0,76
Argilo-siltoso 0,61 0,61 0,91
Silte aluvionar 0,61 0, 61 1,07
Argiloso 0,76 0,69 1,07
Argila estabilizada 1,14 1,52 1,52
Cascalho no 1,14 1,52
0,76
Cascalho grosso 1,22 1,98 1,83
Seixos e pedregulho 1,52 1,98 1,68
Argila densa 1,14 1,52 1,52
Solos
Silte aluvionar 1,14 0,91 1,52
coloidais
Silte estabilizado 1,22 1,52 1,68
Quadro 15.2 - Velocidades admissíveis em canais
Fonte - Adaptado de Yan g (1996)

Os valores do Quadro 15.2 referem-se a canais funcionando com lâmina d’água


igual ou inferior a um metro. Para profundidades superiores a esta deve-se majorar
a velocidade limite através da multiplicação por um coeciente corretor, calculado
segundo a seguinte expressão (YANG, 1996):
onde Rh corresponde ao raio hidráulico
hidrául ico do canal a ser dimensionado e Rh1 corresponde
ao raio hidráulico referente a profundidade de um metro.
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Os valores do quadro referem-se a canais aproximadamente retilíneos, sendo que


reduções de 5% a 22% dos valores apresentados devem ser aplicadas para o caso de
canais sinuosos (CHOW,
(CHOW, 1959).
Portanto, os cálculos hidráulicos para dimensionamento dos canais são efetuados
com a aplicação da fórmula de Manning, buscando limitar a velocidade média de
escoamento aos valores estabelecidos como máximos admissíveis segundo a condição
especíca de projeto.
A limitação conceitual deste processo de cálculo reside no fato de que a forma da
seção, que desempenha um papel importante no processo erosivo, não é levada em
conta na metodologia. Esta limitação é superada pelo processo de dimensionamento
dimensionamento
baseado nas tensões de arraste.

15.3.2 Método das Tensões de Arraste

O método das Tensões de Arraste consiste em dimensionar o canal de forma a


manter as tensões de cisalhamento junto às paredes e ao fundo do canal inferiores
a uma tensão admissível, a partir da qual podem ocorrer processos erosivos.

15.4 VERIFICAÇÕES HIDRÁULICAS E INDICAÇÕES PARA PROJETO DE CANAIS

Após o desenvolvimento dos cálculos hidráulicos dos canais, segundo as diferentes

sistemáticas vistas, é necessário vericar alguns aspectos hidráulicos importantes


para a denição nal do projeto.

15.4.1 Regimes de escoamento

Em função dos problemas associados aos escoamentos críticos e supercríticos,


o dimensionamento dos canais deverá ser efetuado preferencialmente em regime
subcrítico. Nos canais funcionando em condições de escoamento próximas da crítica,
observa-se uma variabilidade muito grande das profundidades. Assim, uma pequena
irregularidade do fundo do canal pode conduzir a uma variação significativa da
profundidade e a uma eventual mudança de regime, com a formação de um ressalto
hidráulico, com os diversos problemas a ele associados, notadamente a possibilidade
de erosão. Desta forma, devido à instabilidade da linha d’água, deverá ser evitado

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o dimensionamento de canais para operação com números de Froude próximos da


unidade.
Para os canais projetados em regime supercrítico, além dos problemas associados
às altas velocidades de escoamento,
escoamento, tais como a possibilidade de erosão,
erosão, abrasão e
subpressão, pode ocorrer também a formação de ondas estacionárias, nos trechos
curvos e junto às irregularidades
irregularidades nas paredes. Para o caso de projeto
projeto de um canal em
regime supercrítico devem ser evitadas curvas, ou, caso elas sejam imprescindíveis,
devem ser efetuados estudos relativos à ocorrência destas ondas. Em todos os casos de
canais supercríticos deve ser rigorosamente controlada a execução do canal, sobretudo
quanto à qualidade das juntas.

15.4.2 Velocidades de funcionamento

Deve ser levado em conta nos projetos dos canais a faixa de velocidades de
funcionamento do canal, tanto
tanto no que diz re
respeito
speito às velocidades mínimas quanto
às velocidades máximas.
Com relação às velocidades máximas, mesmo considerando que o revestimento
do canal seja estável, deve-se atentar para que a velocidade de escoamento não seja
tão elevada de forma a acarretar abrasão na parede ou deslocamento do material
do revestimento. Para o concreto, por exemplo, recomenda-se um valor máximo de
velocidade da ordem de 4,50 m/s.

É necessário, também, observar a velocidade mínima de escoamento de modo a


garantir que não ocorra deposição de material transportado e evitar o crescimento de
vegetação nas margens. Velocidade da ordem de 0,60 m/s em geral é recomendada
em canais com possibilidade de carreamento de material.

15.4.3 Borda livre

Borda livre é a distância vertical entre o topo do canal e a superfície da água nas
condições de projeto. Esta distância é prevista como uma faixa de segurança adicional
na altura da obra face às incertezas no dimensionamento hidráulico.
hidráulico. As bordas livres
livres
justicam-se também em função da possibilidade de formação de de ondas superciais
devido a irregularidade das paredes, presença de obstáculos, sedimentação etc.
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Segundo Chow (1959), adotam-se, em geral, bordas livres entre 5 e 30% da


profundidade de escoamento. Entretanto, pode-se armar que inexistem referências
seguras para a xação da borda livre para um dado canal, sendo extremamente variável
conforme o nível de segurança desejado para a estrutura, função da sua localização,
importância, danos decorrentes de um eventual transbordamento etc. É necessário
também, para a xação da borda livre, a análise das incertezas de cálculo e das
possibilidades de ocorrência de problemas estruturais,
estruturais , construtivos ou operacionais do
canal, que possam, de alguma forma, alterar as condições de funcionamento hidráulico
hidráuli co
previstas no projeto.

15.4.4 Denição das seções e revestimentos

A escolha de um determinado tipo de canal, no que tange à sua forma e material de


revestimento, depende de diversos aspectos: hidráulicos: vazões de projeto, velocidades
de funcionamento, lâminas d’água etc.;
• tecnológicos e operacionais: topograa local, faixa disponível para implantação,
disponibilidade de materiais, equipamentos, mão de obra, área para bota-fora,
possibilidade e facilidade para manutenção etc.;
• ambientais: impacto das obras e serviços, tanto
tan to no que diz respeito aos aspectos
ecológicos e de qualidade das águas, como da própria inserção ambiental, em
função da ocupação das áreas adjacentes, paisagismo etc.;

• sociais: inserção no sistema viário, possibilidade de recreação e lazer etc.


15.4.4.1 Canais em solos

Para o emprego de canais simplesmente escavados em solos, devem ser destacados


dois aspectos positivos importantes: o baixo custo de implantação e a sua melhor
inserção ambiental. Os custos associados aos canais em solos se situam, basicamente,
na escavação e no transporte dos materiais escavados. O crescimento natural da
vegetação nas margens acaba por conferir um aspecto
aspecto de curso d’água natural ao
canal, favorecendo ainda o desenvolvimento da flora e da fauna aquática.
As baixas velocidades admissíveis, por sua vez, implicam a necessidade de seções
de maior porte do que aquelas correspondentes aos canais revestidos. As limitações
relativas às velocidades de operação podem implicar o desenvolvimento de processos

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erosivos e/ou assoreamento. Ademais, o crescimento desordenado da vegetação pode


prejudicar o funcionamento hidráulico do canal, através
at ravés do aumento da sua rugosidade.
Estes aspectos implicam a necessidade permanente de operações de manutenção deste
tipo de canalização e, consequentemente, o seu relativamente elevado custo operacional.

15.4.4.2 Canais gramados

Os canais gramados são interessantes, tanto pelo seu baixo custo de implantação
como pelo aspecto estético. Da mesma forma que canais em solo, os principais
inconvenientes para
para seu emprego prendem-se às diculdades
diculdades de manutenção e as
baixas velocidades de escoamento admissíveis, implicando seções transversais de

porte
com asmais signicativo.
espécies vegetaisAsutilizadas
velocidades máximas
e com permissíveis, variáveis de acordo
o solo adjacente.

15.4.4.3 Canais revestidos em concreto

Os canais revestidos em concreto podem ser moldados in loco, para estruturas de


grandes dimensões, ou por meio de peças pré-moldadas, para estruturas de porte reduzido.
A utilização do concreto é indicada para situações em que o espaço disponível para
implantação da obra é reduzido. Canais revestidos com concreto, podem trabalhar
com velocidades de escoamento elevadas, possibilitando consideráveis capacidades

de vazão. A utilização do concreto permite ainda uma grande flexibilidade quanto a


forma da seção, sendo também pouco exigente no que diz respeito à manutenção.
Os elevados custos de implantação, bem como a, por vezes, complexa inserção
ambiental e social dos canais revestidos em concreto, são aspectos a serem observados
no que precede sua adoção.
Este tipo de revestimento também reduz o atrito que a água teria com o perímetro
do canal natural, portanto as velocidades de escoamento acabam por serem maiores,
decorrendo na antecipação dos picos dos hidrogramas.

15.4.4.4 Canais em gabiões

Os gabiões que consistem em estruturas em grades metálicas preenchidas com


pedras e destacam-se entre os revestimentos de canais mais comuns. Para revestimento

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de canais podem ser utilizados dois tipos distintos de gabiões: tipo manta ou colchão
e tipo caixa.
Conforme Escarameia (1998), os gabiões manta permitem velocidades máximas de
escoamento de 2 a 3,5 m/s para mantas com espessura de até 150 mm e de 4 a 5,5
m/s para espessuras de até 300 mm. Para gabiões caixa as velocidades admissíveis
vão de 5 a 6 m/s, podendo eventualmente admitir velocidades superiores, de acordo
com a qualidade da construção e montagem.
Os taludes admissíveis para canais revestidos com gabiões manta são compatíveis
com os taludes associados ao solo adjacente, tendo em vista que os gabiões não
exercem função estrutural. Os gabiões caixa admitem taludes com maiores inclinações,
incluindo a vertical ( = 90º ou Z = 0).

Conforme
inserção a concepção
ambiental adotada, os
e social, adquirindo umcanais emdegabiões
aspecto podemTodavia,
canal natural. apresentar boa
cuidados
devem ser tomados quanto à manutenção, tendo em vista a possibilidade
possibilidad e de retenção
de resíduos sólidos e o crescimento desordenado de vegetação.

15.4.4.5 Canais revestidos com enrocamentos

Os enrocamentos consistem no revestimento dos taludes com rochas justapostas,


arrumadas ou não, com dimensões compatíveis com o potencial arraste promovido
pelo escoamento. A estabilidade dos revestimentos com enrocamentos é função de

diversos aspectos, como a velocidade de escoamento, as condições de turbulência


do fluxo, as propriedades físicas das rochas utilizadas etc.
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CONCLUSÃO

Neste livro, estudamos os impactos do ciclo hidrológico (precipitação, inltração,


evapotranspiração e escoamento supercial) sobre a bacia hidrográca. De agora
em diante, a bacia hidrográca deixa de ser apenas uma superfície por onde a água
escoa, mas passamos a observar todas as relações físicas, químicas, biológicas e,
por que não, econômicas, políticas e sociais que ocorrem numa região que observa
o interesse comum pela fonte de recursos hídricos.
Foram apresentadas as bases físicas e matemáticas para previsão de volumes
hídricos, necessários para a sua gestão, bem como para o futuro dimensionamento de
obras hidráulicas. No entanto, o conhecimento cientíco não se esgota em algumas
dezenas de páginas. É fundamental que o prossional de recursos hídricos mantenha-
se atualizado no que diz respeito à formulação de novas tecnologias, bem como a
postulação de legislações cada vez mais modernas no que tange a um dos recursos
mais importantes para a sobrevivência da humanidade: a água.
Uma árvore derrubada ou uma via impermeabilizad
impermeabilizadaa podem influenciar na capacidade
de inltração do solo, o qual repercute nas vazões de escoamento supercial. O aumento
do escoamento supercial pode decorrer em uma onda de cheia, transportada por um
canal que, para não gerar alagamento, precisa ser represado por uma barragem, gerando
um reservatório no qual a taxa de evaporação é bem diferente daquela observada
antes da derrubada da árvore. Em Hidrologia pensamos em ciclos. Como engenheiros
pensamos nos micro e macro impactos, e com o término desta disciplina vocês estão
aptos a iniciar suas reflexões nos ciclos, intervenções e impactos na seara da Gestão
de Recursos Hídricos.
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