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TEMA: Sociedade do Conhecimento 1º trimestre Data: 26 / 02 / 2024

Professor(a): Gabriel da Silva Guedes Aula 2

"A vida irrefletida não vale a pena ser vivida". Sócrates Turma: 1º MÉDIO

Aula 2: Sociedade do Conhecimento – Os textos aqui presentes devem ser transcritos


(copiados) no caderno de Filosofia em forma de resumo e de sua compreensão.

Qualquer dúvida, observação ou comentário, encaminhar um e-mail para


gabriel.guedes@etip.santoandre.br

Retrataremos nos próximos roteiros a importância da arte na construção do


pensamento, do conhecimento e da história da Filosofia.

A ideia do conhecimento apresentada na aula anterior nos direciona a uma


estrutura de pensamentos e reflexões acerca do tema que fundamentam dúvidas. São
justamente estas dúvidas que direcionam nosso intelecto ao movimento do
conhecimento e do direcionamento para novas possibilidades de conhecer.

Teeteto: O conhecimento vem da alma

Sócrates, uma das maiores referências da história da Filosofia, já se


preocupava com essa questão do conhecimento há mais de 2 mil anos. Agora você
vai conhecer as ideias desse filósofo sobre o tema, por meio de um diálogo com seu
aluno Teeteto, registrado por Platão. Leia o pequeno trecho:

Sócrates [...] Cria coragem, pois, e responde à minha pergunta: No teu modo
de pensar, o que é conhecimento?

Teeteto- A meu parecer, tudo o que se aprende com Teodoro é conhecimento,


geometria e as disciplinas que enumeraste há pouco, como também a arte dos
sapateiros e a dos demais arte- sãos: todas elas e cada uma em particular nada mais
são do que conhecimento.

Sócrates- És muito generoso, amigo, e extremamente liberal; pedem-te um, e


dás um bando; em vez de algo simples, tamanha variedade.

Teeteto- Que queres dizer com isso?

Sócrates- Talvez nada; porém vou explicar-te o que penso. Quando te referes à
arte do sapateiro, tens em mira apenas o conhecimento de confeccionar sapatos, não
é verdade? E a marcenaria, será outra coisa além do conhecimento da fabricação de
móveis de madeira? E em ambos os casos, o que defines não é o objeto do conheci
mento de cada um? [...] Mas o que te perguntei, Teeteto, não foi isso: do que é que há
conhecimento, nem quantos conhecimentos particu lares pode haver, minha pergunta
não visava a enumerá-los um por um; o que desejo saber é o que seja o conhecimento
em si mesmo.

Sócrates nos convida a refletir de forma mais profunda sobre a essência das
coisas e dos conceitos. Ele não pretende definições reduzidas sobre o conhecimento,
nem uma lista com suas formas, tipos e ações; ele deseja saber a sua essência: "o
que é conhecimento?". Por isso, ele ironiza a definição inicial de Teeteto, de que o
conhecimento fosse sensação, dizendo-lhe que os animais também sentem, e que se
cada um é a medida de todas as coisas, para que se dar ao trabalho de aprender
algo? Veja o trecho a seguir.

Sócrates - Conhecimento, disseste, é sensação? [...] é a definição de


Protágoras; por outras palavras ele dizia a mesma coisa. Afirmava que o homem é a
medida de todas as coisas, da existência das que existem e das que não existem". [...]
Não quererá ele, então, dizer que as coisas são para mim conforme me aparecem,
como serão para ti segundo te aparecerem? Pois eu e tu somos homens. [...] Por ve
zes não acontece, sob a ação do mesmo vento, um de nós sentir frio e o outro não?
Um de leve, e o outro intensamente? [...] Nesse caso, como diremos que seja o vento
em si mesmo: frio ou não frio? Ou teremos de admitir com Protágoras que ele é frio
para o que sentiu arrepios e não o é para o outro? Não é dessa maneira que ele
aparece a um e a outro? Se a verdade para cada individuo é o que ele alcança pela
sensação; se as impressões de alguém não encontram melhor juiz senão ele mesmo,
e se ninguém tem autoridade para dizer se as opiniões de outra pessoa são
verdadeiras ou falsas, formando, ao revés disso, cada um de nós, sozinho, suas
opiniões, que em todos os casos serão justas e verdadeiras: de que jeito, amigo,
Protágoras terá sido sábio, a ponto de passar por digno de ensinar os outros e de
receber salários astronómicos, e por que razão teremos nós de ser ignorantes e de
frequentar suas aulas, se cada um for a medida de sua própria sabedoria?

Ao final do diálogo, admitindo que definir a essência do conhecimento não seja


possível em sua totalidade, ele alerta que a apreensão do objeto pelo sujeito deve
estar fundamentada em clareza, descrição e distinção, e que essas habilidades não
são percebidas pelos sentidos, porque elas vêm da alma. O verdadeiro se manifesta
aos olhos do corpo e do espirito. No entanto, cerca de 2500 anos depois de Socrates,
esse diálogo continua nos iluminando, e temas filosóficos como o que é o
conhecimento, a verdade, a felicidade, entre tantos outros, continuam nos indagando e
pendentes na sua conceituação final; nos desafiando e mostrando que a mera
linguagem não é suficiente para explicá-los.

Em um contexto mais técnico e objetivo, partiremos para a realidade cotidiana e


contingente, compreendendo a sociedade do conhecimento, a quantidade imensa de
informações que são assimiladas diariamente, por diferentes veículos: meios de
comunicação, convívio, experiências pessoais. A ideia é comparar o contexto histórico
analisado no texto de Platão, quando escreveu Teeteto, ao atual, comparando a
quantidade e qualidade de conhecimento proposto.

Recebemos diariamente uma quantidade imensa de informações sobre as mais


diferentes coisas, ideias e lugares. Essas informações chegam até nós por
diferentes veículos: meios de comunicação, convívio com diferentes pessoas,
experiências cotidianas, e pelos sentidos, como pensou Teeteto. Mas o
processo certamente, é bem diferente da época de Sócrates.

Essa quantidade de informações disponíveis criou a ilusão de que o acesso a


elas tornaria as pessoas sábias e civilizadas. Mas aqui vai uma questão: o
acesso à informação é suficiente para gerar sabedoria? Ou conhecer continua
sendo algo mais complexo, como afirmava Sócrates?

Conhecimento e sabedoria

Pelas considerações do filósofo Fernando Savater, a seguir, pode-se perceber que a


quantidade de informação disponível nem sempre é sinal de que o conhecimento é
acessível a todos e da mesma forma. Nunca foi tão difícil conhecer. Por que isso
acontece? Muitas perguntas se colocam sobre isso.

O que selecionar? O que é importante ou descartável para a vida, aqui e agora? Como
distinguir o que é um modismo passageiro e o que vai ser útil para toda vida? O
conhecimento que construo hoje será importante para a minha vida pessoal e
profissional? Em um mundo que evolui tão rapidamente, o que se pode aproveitar da
tradição? É possível conciliar tradição e modernidade?

Explica Savater:

[...] não queremos mais informações sobre o que acontece, mas saber o que significa
a informação que temos, como devemos interpretá-la e relacioná-la com outras
informações anteriores ou simultâneas, o que implica tudo isso na consideração geral
da realidade em que vivemos, como podemos ou devemos nos comportar na situação
assim estabelecida. Essas são precisamente as perguntas das quais se ocupa o que
vamos chamar de filosofia. Digamos que ocorrem três níveis diferentes de
compreensão:

a) a informação, que nos apresenta os fatos e os mecanismos primários do que


acontece;

b) o conhecimento, que reflete sobre a informação recebida, hierarquiza sua


importância significativa e busca princípios gerais para ordená-la;

c) a sabedoria, que vincula o conhecimento às opções vitais ou valores que


podemos escolher, tentando estabelecer como viver melhor de acordo com o
que sabemos.

Continue o raciocínio.

Você aprende com os sentidos, com os objetos do mundo, com os outros e consigo
mesmo. O corpo é, individualmente, uma fonte de recepção e processamento das
informações que vêm de fora. Isso significa que as milhares de informações recebidas
diariamente se multiplicam em diferentes formatos processados
na mente de milhões de pessoas gerando conhecimento. Você deve estar se
perguntando: Como assim? De que forma milhares de informações recebidas
diariamente se multiplicam em diferentes formatos na mente das pessoas?

É que o formato processado da informação vai depender de como ela é refletida,


significada e ordenada na mente de cada indivíduo. Isso significa que uma mesma
informação não se compõe da mesma forma para as diferentes pessoas. O
conhecimento depende não apenas de uma transmissão das informações; ele é
influenciado pela história de cada um, sua concepção de mundo, de vida, de
sociedade e de si mesmo. Todos esses fatores vão influenciar no formato do
conhecimento sobre determinado tema, podendo ganhar diferentes significados. É a
liberdade do outro incluída no processo do conhecer. Essa discussão existe há
milhares de anos em muitas sociedades conhecidas, e sua resposta se divide em duas
correntes filosóficas opostas, numa encruzilhada de difícil solução.

De um lado, temos o ceticismo, uma atitude pessimista, que nega a possibilidade de o


indivíduo alcançar a verdade absoluta, afirmando que o conhecimento depende de
pontos de vista, da época, da cultura; de outro lado, temos o dogmatismo que se
fundamenta na capacidade das pessoas de conhecimento total da verdade, indiferente
a qualquer forma de questionamento. Com base nessas correntes opostas, estão à
disposição centenas de teorias que auxiliam no pensar e na tomada de posição sobre
este ou aquele tema.

Para compreender as temáticas discutidas, observe a gravura seguir do artista


plástico holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972) que produziu alguns
trabalhos que remetiam ao conhecimento, desafiando a perspectiva e o olhar de
quem admira a obra, convidando a rever suas certezas sobre a realidade.

Dependendo dos pontos de vista, ângulos e novos pontos observados, a


imagem muda completamente de sentido e significado, como nossos
posicionamentos, cotidiano, opinião e pensamentos em geral.
Formas de Conhecer

Assim como a realidade pode ser vista e analisada por diferentes ângulos, o
conhecimento também ser encontrado em diferentes formatos. Cinco deles são
especiais e merecem destaque: o mito, o Senso comum a Ciência, a Arte e a
Filosofia. É muito importante ressaltar que nenhuma dessas formas de conhecer
é superior à outra. Embora sejam diferentes em seus critérios e especificidades,
todas contribuem para desvelar segredos do mundo, explicando-o ou
atribuindo-lhe um sentido. Afinal, não é esse o objetivo do conhecimento. Então,
agora será possível compreendê-las em suas especificidades.

Forma de
Tipo de Base do O que Valida o Quem Transmite o
Aquisição do
Conhecimento Conhecimento Conhecimento? Conhecimento?
Conhecimento
Mítico Crença Narrativas Míticas Tradição Rapsodos
Teólogos/Líderes
Religioso Crença (Fé) Escrituras Dogmas
Religiosos
Senso Comum
Não-
(conhecimento Crença Tradição Pessoa Comum
questionamento
empírico)
Científico Razão Investigação Método Cientista
Filosófico Razão Reflexão Argumentação Filósofo

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