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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

INSTITUTO GOIANO DE PRÉ-HISTÓRIA E ANTROPOLOGIA


BACHARELADO EM ARQUEOLOGIA

ÉRICA DE SOUSA ROCHA

ANÁLISE TECNOFUNCIONAL DOS OBJETOS LÍTICOS DO HORIZONTE


RECENTE DO SÍTIO CACHOEIRA DO PINGADOR - MT

GOIÂNIA
2020

1
ÉRICA DE SOUSA ROCHA

ANÁLISE TECNOFUNCIONAL DOS OBJETOS LÍTICOS DO HORIZONTE


RECENTE DO SÍTIO CACHOEIRA DO PINGADOR - MT

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Instituto Goiano de
Pré-História e Antropologia (IGPA) da
Pontifícia Universidade Católica de
Goiás (PUC Goiás), como requisito
parcial à obtenção do título de
bacharel em Arqueologia.
Orientadora: Dra. Sibeli Aparecida
Viana

GOIÂNIA
2020
2
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel em Arqueologia.

Érica de Sousa Rocha

TCC apresentado em _____/_____/_____.

Orientadora: Profa. Dra. Sibeli Aparecida Viana (PUC Goiás)

1º Examinador: Me. Cristiane Loriza Dantas (PUC Goiás)

2º Examinador: Esp. Mariza de Oliveira Barbosa (PUC Goiás)

3
Dedico a meus pais e minha
orientadora, sem eles eu não estaria
aqui.

4
AGRADECIMENTOS

Acho que é, por mais simples que pareça, agradecer aqueles que nos ajudaram
em tantas nuances dos dias durante a graduação, não é simples. Tudo
construído e derrubado nesses anos de estudos, vão para além dos pátios e
salas da universidade, há coisas que por mais pequenas e aleatórias que sejam
nos nossos dias, mudam nossa forma de enxergar as coisas, então eu quero
tentar agradecer essas pessoas que talvez mesmo sem pensar, me ajudaram a
dar mais um passo nesse caminho.

Aos meus pais, que por várias vezes insistiram em me fazer tentar mais uma
vez, auxiliando como podiam no meu processo de amadurecimento.

A minha orientadora, Sibeli Viana, a quem nem sei como agradecer, por tanta
paciência, sabedoria e amor pelo trabalho, que sempre está disposta a
compartilhar. Por todos dias tentar sempre ao máximo por si e pelos outros,
agradeço muitíssimo.

A Maria do Socorro Sales, por todas as conversas que ajudaram tanto e por
sempre estar presente e posta ajudar quem precisa, construindo sempre um
trabalho incrível no laboratório de arqueologia da PUC-Goiás.

Ao corpo docente do IGPA, por tanta dedicação e bons ensinamentos sobre o


passado, presente e futuro.

A Messias e Joyce, por todo o trabalho dedicado ao IGPA e aos alunos do curso
de Arqueologia e por sempre nos auxiliarem como podem.

A todos os colegas e amigos (Kaira, Katherine, Pedro, Ivana, Vitoria, Lemi, Ysis,
Marcos Paulo) por me auxiliarem nessa jornada, com todas as discussões,
questionamentos e boas conversas que me fizeram mais consciente.

5
Tanto faz... eu não sou nada

Mas eu sou tudo isso aqui.

(Potyguara Bardo)

6
RESUMO

Neste trabalho foi realizada a análise lítica referente ao conjunto que


pertence as primeiras camadas arqueológicas da quadra H-0, do sítio Cachoeira
do Pingador, correspondentes as decapagens de 1 a 17, inseridas na faixa
temporal de 1.000 +- 60 BP a 1.620 +- 60 BP. O sítio, que foi pesquisado no
início dos anos 2000, pelo o projeto “Projeto de Levantamento e Resgate do
Patrimônio Arqueológico Pré-Histórico da Região da Usina Hidrelétrica de
Manso/MT” sob coordenação da professora Sibeli Aparecida Viana, está
acervado na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Com a análise
tecnofuncional foi possível identificar as diferentes técnicas de confecção de
instrumentos, em conjunto aos seus potenciais funcionais, mostrando assim as
variáveis tecnológicas presentes nos conjuntos líticos do sítio. Buscando
entender a variedade do conjunto lítico do sítio Cachoeira do Pingador afim de
um entendimento maior sobre a ocupação humana no o vale do rio Manso, no
período do Holoceno Recente.

Palavras chaves: Lítico. Tecnofuncional. Cachoeira do Pingador. Mato Grosso.


Planalto Central, Holoceno Recente.

7
ABSTRACT

In this work, a lytic analysis was carried out regarding the set that belongs to the
first archaeological layers of block H-0, of the Cachoeira do Pingador site,
corresponding to stripping from 1 to 17, inserted in the time range of 1,000 + - 60
BP to 1,620 + - 60 BP. The site, which was researched in the early 2000s, for the
project “Project for the Survey and Rescue of the Prehistoric Archaeological
Heritage of the Region of the Hydroelectric Plant of Manso / MT” under the
coordination of Professor Sibeli Aparecida Viana, is stored at the Pontifical
University Católica de Goiás. With the technofunctional analysis it was possible
to identify the different techniques for making instruments, together with their
functional potentials, thus showing the technological variables present in the lithic
sets of the site. Seeking to understand the variety of the lithic ensemble of the
Cachoeira do Pingador site in order to gain a greater understanding of human
occupation in the valley of the Manso River, during the Recent Holocene
period.Key Words: Lithic. Tecnofuncional. Cachoeira do Pingador. Mato Grosso
Region.

Keywords: Lytic. Tecnofunctional. Pingador Waterfall. Mato Grosso. Central


Plateau, Recent Holocene.

8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DA ÁREA DE IMPACTO DA USINA HIDRELÉTRICA DE MANSO. ... 19
FIGURA 2: PETROGLIFO DO SÍTIO CAMBAIUVAL. FIGURA 3: FIGURAS DE MOTIVOS
ANTROPOMORFOS DO ........................................................... ERRO! I NDICADOR NÃO DEFINIDO.
FIGURA 4: VISTA LATERAL DO SÍTIO CACHOEIRA DO PINGADOR FIGURA 5: ESCAVAÇÕES NAS
QUADRICULAS C1,D1 E D2 ................................................................................................ 29
FIGURA 6: CROQUI DA PLANTA BAIXA DO SÍTIO CACHOEIRA DO PINGADOR. ...................................... 31
FIGURA 7: PERFIL ESTRATIGRÁFICO E DESCRIÇÃO DA SONDAGEM H0 E SUAS SETE CAMADAS.
DESTACADO EM VERMELHO, AS CAMADAS ARQUEOLÓGICAS ESTUDADAS NESSE ESTUDO. ......... 32
FIGURA 8: FERRAMENTA EM OSSO COLETADA NO SETOR D-2. ........................................................ 34
FIGURA 9: ESQUEMAS DOS TECNOTIPOS 1, 2, 3 DAS CAMADAS VI E VII. .......................................... 36
FIGURA 10: ESQUEMAS GERAIS DE PRODUÇÃO DE INSTRUMENTO. ................................................. 42
FIGURA 11: ESQUEMA DAS PARTES COMPONENTES DE UM INSTRUMENTO....................................... 46
FIGURA 12: REPRESENTAÇÃO DE UMA LASCA COM A IDENTIFICAÇÃO DE SUAS CARACTERÍSTICAS
TÉCNICAS. ........................................................................................................................ 49
FIGURA 13: CARACTERÍSTICAS DOS TIPOS DE LASCA. ................................................................... 49
FIGURA 14: DELINEADOS DE INSTRUMENTOS. .............................................................................. 51
FIGURA 1: INSTRUMENTO DE NÚMERO 5014 COM PRESENÇA DE INCRUSTAÇÕES (MARCADAS EM
VERMELHO.) ..................................................................................................................... 57
FIGURA 5: PERCUTORES 1370, 1626 E 1372 EM DETALHE, RESPECTIVAMENTE. EM VERMELHO, AS
MARCAS DE PERCUSSÃO. ................................................................................................... 72
FIGURA 6: MACERADORES 1568 E 1623, RESPECTIVAMENTE. EM VERMELHO, AS MARCAS DE USO. .... 72
FIGURA 7: BIGORNA 2334. EM VERMELHO, AS MARCAS DE PERCUSSÃO E DE RETIRADAS. ................. 73
FIGURA 8: INSTRUMENTO NÃO LASCADO 1610. EM VERMELHO TRACEJADO, MARCAS DE USO; AS SETAS
VERMELHAS INDICAM AS MARCAS DE ENCABAMENTO. ............................................................ 74
FIGURA 9: LEGENDA DOS ESQUEMAS DE INSTRUMENTOS. .............................................................. 75
FIGURA 10: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1517. .............................................................................. 76
FIGURA 11: INSTRUMENTO DE NÚMERO 4780. .............................................................................. 77
FIGURA 12: ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2429. .......................................................... 78
FIGURA 13: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 8060. ........................................... 79
FIGURA 14: I MAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5148............................................. 80
FIGURA 15: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 8018. ........................................... 81
FIGURA 16: ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 4780. .......................................................... 82
FIGURA 17: INSTRUMENTO DE NÚMERO 7782. .............................................................................. 83
FIGURA 18: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5169. ........................................... 84
FIGURA 19: ESQUEMA E FOTO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 7781. ............................................... 85
FIGURA 20: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5014. ........................................... 86
FIGURA 21: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 4805. ........................................... 87
FIGURA 22: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2324. .............................................................................. 88
FIGURA 23: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2323. .............................................................................. 89
FIGURA 24: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2333. .............................................................................. 91
FIGURA 25: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2320. .............................................................................. 92
FIGURA 26: INSTRUMENTO DE NÚMERO 5287. .............................................................................. 93
FIGURA 27: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2343. .............................................................................. 94
FIGURA 28: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2301. .............................................................................. 95
FIGURA 29: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5023. ...................................................... 96
FIGURA 30: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2410. ........................................... 97
FIGURA 31: ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5043 ........................................................... 98
FIGURA 32: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 1919. ...................................................... 99
FIGURA 33: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5284. .................................................... 100
FIGURA 34: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 4257. .................................................... 101
FIGURA 35: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2540. .................................................... 102
FIGURA 36: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2522. .................................................... 103
FIGURA 37: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2546. .................................................... 103
FIGURA 38: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2039. .................................................... 104

9
FIGURA 39: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2039. ............................................................................ 105
FIGURA 40: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2118. ............................................................................ 106
FIGURA 41: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1663. ............................................................................ 108
FIGURA 42: INSTRUMENTO DE NÚMERO 6180. ............................................................................ 109
FIGURA 43: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1913. ............................................................................ 110
FIGURA 44: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1711. ............................................................................ 111
FIGURA 45: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1731. ............................................................................ 112
FIGURA 46: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 1705. ......................................... 113
FIGURA 47: INSTRUMENTO DE NÚMERO 5020. ............................................................................ 114
FIGURA 48: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2133. ........................................................................... 115
FIGURA 49: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2008. ............................................................................ 116
FIGURA 50: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1729. ............................................................................ 117
FIGURA 51:DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 1 (A). ......................................................... 119
FIGURA 52: DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 1 (B). ........................................................ 120
FIGURA 53: DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 2. .............................................................. 121
FIGURA 54: DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 3 ............................................................... 123
FIGURA 55: DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 4 ............................................................... 125
FIGURA 56: DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 5 ............................................................... 126
FIGURA 57: A ESQUERDA MORRO DO CHAPÉU E A DIREITA MORRO DA MESA ................................ 127

10
Lista de Tabelas
T ABELA 1: DATAÇÃO DE ALGUNS DOS SÍTIOS IDENTIFICADOS NA UHE-MANSO. ....... 18
T ABELA 2: ESQUEMAS GERAIS DE PRODUÇÃO DE INSTRUMENTO...... ERRO! INDICADOR
NÃO DEFINIDO.

11
Lista de Gráficos

GRÁFICO 1: GRÁFICOS DE CLASSES LÍTICAS................................................................................. 53


GRÁFICO 2: MATÉRIAS-PRIMAS PRESENTES NONO SÍTIO CACHOEIRA DO PINGADOR ......................... 55
GRÁFICO 3: SUPORTES DE MATÉRIAS-PRIMAS. ............................................................................. 56
GRÁFICO 4: ESTADO CONSERVAÇÃO DAS PEÇAS. ......................................................................... 56
GRÁFICO 5: TIPO DE LASCA. ....................................................................................................... 58
GRÁFICO 6: TIPO DE TALÃO. ....................................................................................................... 58
GRÁFICO 7: TIPO DE LÁBIO ......................................................................................................... 59
GRÁFICO 8: GESTO DE PERCUSSÃO ............................................................................................ 60
GRÁFICO 9:PONTO DE IMPACTO ................................................................................................. 61
GRÁFICO 10:TIPO DE PERCUTOR ................................................................................................ 61
GRÁFICO 11: MORFOLOGIA DAS LASCAS ...................................................................................... 62
GRÁFICO 12: DIMENSÕES DAS LASCAS POR DISPERSÃO................................................................. 63
GRÁFICO 13: DIMENSÕES DAS LASCAS POR DISPERSÃO. ............................................................... 64
GRÁFICO 14: DIMENSÕES DAS LASCAS POR DISPERSÃO................................................................. 66
GRÁFICO 15: DIMENSÕES DAS LASCAS POR DISPERSÃO................................................................. 67
GRÁFICO 16: NÚMERO DE NEGATIVOS DA FACE EXTERNA DAS LASCAS ............................................ 68
GRÁFICO 17: ORIENTAÇÃO DAS NERVURAS DA FACE EXTERIOR DA LASCA ....................................... 69
GRÁFICO 18: INSTRUMENTOS NÃO LASCADOS POR CAMADA. .......................................................... 71
GRÁFICO 19: POSICIONAMENTO ESTRATIGRÁFICO DO TECNOTIPO 1. ............................................ 118
GRÁFICO 20: POSICIONAMENTO ESTRATIGRÁFICO DO TECNOTIPO 2. ............................................ 121
GRÁFICO 21: POSICIONAMENTO ESTRATIGRÁFICO DO TECNOTIPO 3.............................................. 122
GRÁFICO 22: POSICIONAMENTO ESTRATIGRÁFICO DO TECNOTIPO 4. ............................................ 124
GRÁFICO 23: POSICIONAMENTO ESTRATIGRÁFICO DO TECNOTIPO 5 ............................................. 125

12
SUMÁRIO
CAPÍTULO I - CONTEXTO ARQUEOLÓGICO DO VALE DO RIO MANSO E
CARACTERÍSTICAS GERAIS E AMBIENTAIS DA ÁREA DO SÍTIO
CACHOEIRA DO PINGADOR ......................................................................... 17
1.1 Contexto Arqueológico do Vale do rio Manso, MT .................................. 17
1.2 Sítio Cachoeira do Pingador ................................................................... 29
1.2.1 A escavação no sítio Cachoeira do Pingador ...................................... 30
1.2.2 Materiais arqueológicos ....................................................................... 33
CAPÍTULO II - ABORDAGEM TEORICA E METODOLOGICA ...................... 38
2.1. O Instrumento ........................................................................................ 41
2.2 A debitagem ............................................................................................ 43
2.3 A Façonagem .......................................................................................... 45
2.4 A confecção do gume e área preensiva .................................................. 45
2.5 Metodologia ............................................................................................ 47
2.5.1. Lascas................................................................................................. 48
2.5.2. Instrumento Lascados ......................................................................... 50
2.5.3 Análise dos Núcleos............................................................................. 51
2.5.4 Análise dos Instrumentos não lascados ............................................... 52
CAPÍTULO III - RESULTADO DA ANÁLISE DOS OBJETOS LÍTICOS DO
SÍTIO CACHOEIRA DO PINGADOR ............................................................... 53
3.1 Análise das Lascas ................................................................................. 58
3.2 Análise dos núcleos ................................................................................ 69
3.3 Análise dos instrumentos (não lascados) ................................................ 70
3.4 Análise dos instrumentos (lascados)....................................................... 74
3.4.1 CAMADA V .......................................................................................... 75
Decapagem 17ª ............................................................................................ 75
Decapagem 16ª ............................................................................................ 87
3.4.2 CAMADA IV ......................................................................................... 97
Decapagem 15ª ............................................................................................ 97
Decapagem 14ª .......................................................................................... 100
Decapagem 13ª .......................................................................................... 101
Decapagem 12ª .......................................................................................... 104
Decapagem 11ª .......................................................................................... 106
Decapagem 10ª .......................................................................................... 108
3.4.3 CAMADA II ......................................................................................... 109
Decapagem 5ª ............................................................................................ 109

13
Decapagem 4ª ............................................................................................ 113
Decapagem 3ª ............................................................................................ 117
3.5 TECNOTIPOS ....................................................................................... 118
3.5.1 Tecnotipo 1 ........................................................................................ 118
3.5.2 Tecnotipo 2 ........................................................................................ 120
3.5.3 Tecnotipo 3 ........................................................................................ 122
3.5.4 Tecnotipo 4 ........................................................................................ 123
3.5.5 Tecnotipo 5 ........................................................................................ 125
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 127
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 132

14
INTRODUÇÃO

Essa pesquisa teve por objetivo entender a variabilidade tecnológica dos


objetos líticos presentes no Sítio Cachoeira do Pingador, localizado no vale do
rio do Manso, município de Chapada dos Guimarães a noroeste do estado de
Mato Grosso. Fortalecendo os estudos voltados à questão da variabilidade
tecnológica de instrumentos líticos lascados em sítios do Holoceno Recente no
Planalto Central do Brasil.

O sítio Cachoeira do Pingador foi escavado em 2000, pelo Instituto


Goiano de Pré-história e Antropologia da PUC-Goiás, no âmbito do Projeto de
Levantamento e Resgate do Patrimônio Arqueológico Pré-histórico da Usina
Hidrelétrica de Manso/MT, coordenado por Viana (2002)1.

Na região do vale do rio Manso foram registrados 81 sítios arqueológicos,


tendo somente o Cachoeira do Pingador localizado fora da área de impacto da
referida Usina Hidrelétrica. Ele também foi um dos poucos sítios da região que
está em abrigo, assim como aquele que apresentou maior variedade de cultura
material, como lítico, cerâmico, ósseo animal, malacológico e grafismos
rupestres nos seus paredões rochosos. Tal variedade pode ser aventada pela
preservação dos materiais arqueológicos, favorecida pelo abrigo deixando os
materiais parcialmente fora do alcance do intemperismo.

O material em análise refere-se a objetos líticos presentes no Setor H-0 e


referentes às camadas de I a V, presente em diversas decapagens. Nelas foram
encontradas lascas, núcleos, percutores, instrumentos e fragmentos de matérias
primas e fragmentos residuais do processo de lascamento (cassons).

Em termos temporais as ocupações no sítio abarcam um extenso período


de ocupação, sendo as datações mais antigas por volta de 6.000 anos antes do
presente, seguindo até cerca de 1.000 anos antes do presente. No entanto, a
presente pesquisa está delimitada no período de 1.000 ± 60 a 1.620 ± 60 AP,
encontra-se, portanto, no Holoceno Recente. Associado aos materiais líticos

1
Esse projeto foi realizado mediante contrato firmado entre Furnas Centrais Elétricas S.A e a
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, à época, Universidade Católica de Goiás.

15
encontram-se os cerâmicos, ósseos de fauna, assim como vestígios de vegetais
como casca de frutos e carvões.

A pesquisa se desenvolveu em três capítulos, sendo que no capítulo 1


será apresentado, de forma sucinta o contexto arqueológico do Vale do Rio
Manso, apresentando o contexto espacial e temporal dos sítios, as
características gerais do ambiente e dados sobre o sítio Cachoeira do Pingador,
como o perfil estratigráfico e dados sobre as técnicas de escavação empregadas.

No capítulo 2 será apresentada a fundamentação teórica adotada para o


desenvolvimento da pesquisa, a abordagem tecnofuncional, bem como todos os
passos metodológicos adotados para a análise do material lítico.

No capítulo 3 apresentamos os resultados da pesquisa, os dados do


conjunto lítico, detritos de lascamento, lascas, com uma descrição detalhada dos
núcleos e de cada um dos instrumentos líticos lascados, caracterizando os
estigmas técnicos presentes e os potenciais funcionais a partir da identificação
das unidades técnico-funcionais (UTFs). Todas as descrições técnicas dos
instrumentos estão acompanhadas de desenhos técnicos e imagens fotográficas
que tem o papel não somente de ilustrar, mas elas também trazer um alto
potencial informativo.

Nas considerações finais realizamos considerações sobre o resultado das


análises, buscando enfatizar os conhecimentos tecnológicos e saber-fazer
envolvidos na produção dos instrumentos líticos do sítio Cachoeira do Pingador.

16
CAPÍTULO I - CONTEXTO ARQUEOLÓGICO DO VALE DO RIO MANSO E
CARACTERÍSTICAS GERAIS E AMBIENTAIS DA ÁREA DO SÍTIO
CACHOEIRA DO PINGADOR

Nesse capítulo serão apresentadas informações breves sobre o contexto


arqueológico do vale do rio Manso. Ressalta-se que, num contexto de mais de
80 sítios arqueológicos, o sítio Cachoeira do Pingador foi o único sítio em abrigo
da região a apresentar materiais arqueológicos no subsolo.

1.1 Contexto Arqueológico do Vale do rio Manso, MT

O contexto arqueológico do estado de Mato Grosso é bem representativo


em relação às demais áreas do território brasileiro. De acordo com o Cadastro
Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA)/Instituto do Patrimônio Histórico
Artístico Nacional (IPHAN) até o primeiro semestre de 2020, constam 1.121 sítios
pré-coloniais, presentes em 53 municípios, sendo que no município de Chapada
dos Guimarães ocorre a maior quantidade, com 88 sítios pré-coloniais.
Esclarecemos que o vale do rio Manso atinge vários municípios, incluindo o da
Chapada dos Guimarães e, onde se localiza o sítio Cachoeira do Pingador.

O vale do rio Manso é de aproximadamente 430 Km, nele foram


identificados 81 sítios arqueológicos classificados em líticos, lito-cerâmicos e em
arte rupestre, e diversos locais considerados como possíveis fontes de matérias-
primas cerâmica e lítica. Desse conjunto, Viana et al (2006) selecionaram 27
sítios para estudos mais aprofundados, sendo eles (tabela 1).
As datações mais antigas para a região são do Holoceno Médio (a partir
de 6.000 até 3.000 anos AP), presentes no sítio Estiva II e as camadas mais
antigas do sítio Cachoeira do Pingador. A ocupação na região segue até o
Holoceno Recente (de 2.000 até o período histórico), evidenciada por vários
sítios lito-cerâmicos, quase todos constituídos por materiais arqueológicos
presentes em camadas pouco profundas.

17
Tabela 1: Datação de alguns dos sítios identificados na UHE-Manso.

DATAS
SÍTIO COD. LABORATÓRIO NÃO CALIBRADAS

Cachoeira do Pingador LVD 599 590±60 AP


Cachoeira do Pingador LVD 597 530±50 AP
Cachoeira do Pingador LVD 598 910±90 AP
Cachoeira do Pingador Beta 171753 1.000± 60 AP
Cachoeira do Pingador Beta – 160508 – Setor H0 1.620± 60 AP

Cachoeira do Pingador [Beta - 171.752] – Setor H0 3.120±60 AP


Cachoeira do Pingador [Beta - 160.507] – Setor H0 5.340±80 AP
Estiva II [Beta - 143.979] 5.850±40 AP
Estiva II [Beta - 137.029] 6.000±60 AP
Estiva II [Beta - 156.356] 3.350±40 AP
Estiva II [Beta - 44.860] 3.830±80 AP
Coca-Cola TL – 548 450 ± 50 AP
Coca-Cola Beta – 153282 630 ± 90 AP
Estiva1 TL – 418 450± 50 AP
Estiva 1 Beta – 144859 920± 70 AP
Estiva 2 Beta – 143980 810±50 AP
Estiva 2 Beta – 156357 1.010±60 AP
Estiva 2 Beta – 144861 1.200 ±40 AP
Estiva 2 Beta – 137028 2.220±60 AP
Milharal Beta – 153281 300 ± 80 AP
Mundo Novo Beta – 131300 610 ± 80 AP
Mundo Novo TL – 479 850 ± 90 AP
Mundo Novo Beta – 153279 990 ± 60 AP
Mundo Novo Beta – 153280 1.600 ± 60 AP
Mundo Novo Beta – 160509 2.280±80 AP
Pantanalzinho TL – 419 480±50 AP TL
Poção Beta – 160506 760 ± 60 AP

Fonte: Viana, 2006.

Em todos os sítios da região, independentemente de seu contexto


temporal, a cultura material lítica se destaca em termos quantitativos e registra-
se uma expressiva variabilidade tecnológica (VIANA, 2005).
Dentre as matérias-primas, destaca-se o arenito silicificado de boa
qualidade que responde muito bem aos processos de lascamento. Os objetos
líticos tanto no Holoceno Médio como no Recente apresentam uma expressiva
diversidade de esquemas técnicos de produção os quais foram tratados de forma
detalhada por Mello (2005) e Viana (2005).

18
As referidas pesquisas também destacam a posição espacial da Chapada
dos Guimarães, considerada estratégica em função das proximidades das
bacias hidrográficas (Paraná, Paraguai, Tocantins-Araguaia e Amazônica)
presentes nas proximidades o que teria facilitado os deslocamentos entre os
grupos humanos.

Figura 1: Os sítios arqueológicos da área de impacto da Usina Hidrelétrica de Manso .

Fonte: Sibeli Viana, 2002

Fonte: Viana, 2002.

Durante as pesquisas do projeto foram resgatados 13 sítios lito-cerâmicos


Estiva 1, Poção, Fartura, Coca-Cola, São Roque, Roncador dos Mendes,
Pantanalzinho, Milharal, Sítio 18, Goiavá, Ribeirão Vermelho 4, Ribeirão
Vermelho 6 e Salto Grande.

19
Material lítico e cerâmico

A seguir será apresentado as características tecnológicas dos materiais


líticos e cerâmicos, divididas em dois grupos de sítios. O critério de divisão
baseou-se na densidade de material lítico em relação ao material cerâmico.

Os sítios Poção, Fartura, Coca-Cola, São Roque, Roncador dos Mendes,


Pantanalzinho, Milharal, Sítio 18 apresentam uma baixa densidade de material
lítico e alta densidade de material cerâmico, sendo o Pantanalzinho e o Milharal
com maior entre eles, tendo respectivamente 3,95 peças/m² e 2,87 peças/m² e
os demais com menos de 0,82 peças/m². Todos possuem peças lascadas exceto
o Sítio 18, já os objetos polidos e/ou picoteados foram encontrados nos sítios
Fartura, Milharal, Pantanalzinho e Poção. As coleções lascadas desses sítios
são compostas por instrumentos, núcleos e lascas. Os núcleos foram
caracterizados como do tipo “C”, discoide e piramidal2. Os conjuntos líticos
demonstram que as pessoas que lascaram detinham conhecimento tecnológico
adequado para corresponder as suas intenções (VIANA, 2006).
No que diz respeito ao material cerâmico, os fragmentos apresentaram
antiplásticos de origem vegetal, em carvão, cariapé A e B, não há registro de
cauixi nesse grupo de sítios. Não foi observado nenhum padrão de formas e
tamanhos de vasilhames; foi registrada a presença de bolotas de argila nos sítios
Milharal, Pantanalzinho, Fartura e Poção. Em geral, os fragmentos apresentam
somente alisamento na face superior, fragmentos decorados foram identificados
em uma pequena quantidade nos sítios São Roque, Poção, Roncador Mendes
e Milharal (VIANA, 2006).
Já os sítios Goiavá, Ribeirão Vermelho 6, Ribeirão Vermelho 4, Salto
Grande e estiva 1 são os que apresentaram as maiores densidades de material
lítico entre os sítios lito-cerâmicos, sendo o Estiva 1 com 25,56 peças/m²,
variando nos demais de 10,44 peças/m² no Ribeirão Vermelho 6, no Ribeirão
Vermelho 4 de 4,33 peças/m². Foram identificadas percussões uni e bipolares e
técnicas de picoteamento e de polimento, presentes em todos os sítios, com
exceção do Ribeirão Vermelho 4 e Salto Grande. Em todos houve presença de
material lítico lascado, com presença de núcleos, fragmentos de matéria-prima,

2
Análises posteriores redefiniram as concepções discoide e piramidal, classificando-os como
concepção D, tipo Manso (Viana et al, 2014).

20
detritos de lascamento, lascas, instrumentos. Esse material demonstra a
diferentes fases de cadeias operatórias presentes nos sítios e relacionadas a
diferentes concepções de debitagem, com presença de núcleos em diferentes
estágios de exploração e de produtos de debitagem (lascas), relacionadas às
fases de debitagem, façonagem e de confecção de gumes do instrumento; os
instrumentos foram produzidos por confecção tanto imediata quanto elaborada.
(VIANA, 2006).
Em relação ao material cerâmico presente nesse grupo de sítios, ele
aparece em baixa densidade. O antiplástico predominante é de origem vegetal;
o cauixi ocorre em todos os sítios, porém em pequena quantidade (2,3% dos
fragmentos), (com exceção do sítio Estiva 1 e Ribeirão Vermellho 6 (20%). Em
geral as superfícies foram somente alisadas, ocorrendo pouca quantidade de
fragmentos decorados.
Em Viana (2005), há os resultados das análises tecnofuncionais dos
instrumentos pertencentes ao sítios lito-cerâmicos mencionados anteriormente,
os quais foram classificados em duas categorias: a primeira categoria, é
constituída por 17 tecnotipos e está representada por instrumentos que
apresentam um maior complexidade no esquema de produção, são provindos
de suportes mais preparados e se dividem em peças de maior e menor volume.
 Tecnotipo 1: os suportes utilizados foram lascas volumosas com
dorso na lateral ou em suas extremidades distal e proximal e lascas
provenientes de percussão bipolar sobre bigorna (lascas do tipo
"gomo"). A preensão dos instrumentos ocorreu em áreas corticais
pré-determinadas na seleção, consistindo em extremidades
abruptas. Os instrumentos possuem uma UTFts, podendo ser de
gume denticulado, formando delineamento retilíneo, podendo
formar pontas nas extremidades.
 Tecnotipo 2: os suportes desse tecnotipo é constituído por peças
volumosas e arredondadas de grandes dimensões. São lascas
com uma de suas extremidades abruptas, sendo elas
caracterizadas por um talão espesso ou por um bordo lateral não
lascado. A preensão dos instrumentos foi realizada a partir de
áreas naturalmente aproveitadas, consistindo em extremidades

21
abruptas. Podendo ter até duas UTFts com gumes, cujos
delineamentos são, principalmente, denticulados.
 Tecnotipo 3: os suportes desse tecnotipo são lascas de núcleos
explorados pela concepção tipo "C", a partir de percussão unipolar
e bipolar sobre bigorna, de onde saíram lasca do tipo "calota".
Esses suportes possuem superfícies inferiores e aplainadas e
superiores aplainadas ou inclinadas; há dorsos em uma de suas
laterais e, oposto a eles, ocorrem coches que formam pontas. A
preensão foi feita a partir dos dorsos abruptos presentes nas
peças. Foram identificadas uma UTFt nos instrumentos com
gumes produzidos a partir de dois coches que formam uma ponta.
 Tecnotipo 4: os suportes desse tecnotipo são seixos, sendo eles
quadrangulares, de faces achatadas e laterais abruptas. Apenas
em dois instrumentos, os suportes são lascas modulares. As áreas
preensivas são abruptas corticais ou apresentam um negativo
abrupto, relacionado à fase de debitagem. Possuem duas UTFts,
formando gume côncavo e gume denticulado.
 Tecnotipo 5: os suportes dos instrumentos são provenientes de
lascas unipolares e fragmentos não lascados. A preensão deles foi
por produção ou naturalmente aproveitadas. Podem ter até três
UTFts, cujos delineamentos dos gumes ocorrem em forma de
ponta na extremidade ou com delineamento côncavo nos bordos
direito e esquerdo.
 Tecnotipo 6: os suportes desse tecnotipo são advindos de lascas
unipolares modulares e fragmentos não lascados, em geral
apresentam formato retangular e dimensões variadas. As partes
preensivas são caracterizadas pelos dorsos dos triangulo. Possui
até três UTFts com gumes denticulados ou/e em ponta.
 Tecnotipo 7: Os suportes dos instrumentos desse tecnotipo são
compostos por fragmentos de lascas espessas. As áreas
preensivas são garantidas pela base do instrumento e pelos
coches que produzem as pontas. Há uma variação entre as UTFts

22
presentes nos instrumentos, podendo ser até em três, com gume
em ponta, em coches e microdenticulado.
 Tecnotipo 8: os suportes desse tecnotipo são lascas modulares e
espessas. Os gumes são localizados principalmente nos bordos
laterais, porém em áreas especificas, com retiradas de ângulos
côncavos para a formação dos gumes. A área de preensão foi
produzida.
 Tecnotipo 9: os suportes desse tecnotipo são lascas de debitagem
volumosas. A porção preensiva dos instrumentos foi selecionada a
partir de negativos da debitagem. Já as UTFts foram identificadas
em vários tipos, microdenticulado, em ponta arredondada, dois
coches formando uma ponta discreta e uma UTFt composta por
coches profundos.
 Tecnotipo 10: o tecnotipo apresenta somente uma peça,
semelhante ao tecnotipo 9. Seu suporte é uma lasca volumosa. A
porção preensiva foi aproveitada dos negativos de debitagem e do
grande negativos de coche. Foram identificadas duas UTFs, uma
na porção mesodistal do objeto em ponta e em coche.
 Tecnotipo 11: os suportes desse tecnotipo são pequenas lascas
modulares e fragmentos não lascados. A porção preensiva das
peças é composta por negativos dispostos em suas laterais.
Podem ocorrer três UTFts nos instrumentos, sendo elas em
coches.
 Tecnotipo 12: esse tecnotipo é composto por uma peça em lasca
espessa, tendo um perfil curvilíneo. As UTFts identificadas na lasca
foram uma em ponta e outras estão presentes nas laterais e na
extremidade da peça, produzindo gumes com delineamentos
côncavos e retilíneos.
 Tecnotipo 13: esse tecnotipo é composto por dois instrumentos em
lascas volumosas. A porção preensiva desses objetos foi produzida
a partir de retiradas laterais e na porção meso distal das peças. As
UTFts são compostas por gumes abruptos com ângulos de bico
rasantes.

23
 Tecnotipo 14: esse tecnotipo é disposto por lascas unipolares
volumosas. Os instrumentos possuem uma UTFt, que pode
apresentar gumes côncavos ou retilíneos.
 Tecnotipo 15: os instrumentos desse tecnotipo são pouco
volumosos, semelhantes aos do tecnotipo 1 com suporte em lascas
unipolares e bipolares, sendo esse último do tipo "gomo". Possuem
uma UTFt, que pode ter um delineamento de um tipo “S”, com
curvaturas acentuadas.
 Tecnotipo 16: esse tecnotipo é composto por lascas unipolares
espessas. A preensão foi feita a partir de um bordo não muito
trabalhado enquanto o outro bordo da peça possui mais retiradas,
com extremidades não trabalhadas, o que pode ter auxiliado na
preensão. O que se infere sobre a UTFt, é que ela apresenta gume
de tendência denticulada.
 Tecnotipo 17: nesse tecnotipo os instrumentos foram divididos em
duas categorias (17a, 17b). Na categoria 17a, há duas zonas
transformativas, a primeira possui suporte em lasca de tendência
laminar, com um volume plano-cônvexo, com duas bordas
convergentes numa extremidade arredondada, com uma UTFt, no
bordo direito formado por dois segmentos regulares e retilíneos na
porção meso-distal com tendência retilínea; o segundo é provindo
de uma lasca fragmentada, possuindo uma volumetria plana-
convexa com UTFts em suas extremidades opostas, com uma
delas possuindo retoques alternados. A categoria 17b, é
caracterizada por um instrumento feito sobre uma lasca espessa,
possuindo quatro UTFts em sua porção mesial e distal.

A segunda categoria de sítios é composta por 19 tecnotipos numerados


de A a S, nos quais foram encontrados em todos os sítios. São instrumentos
poucos modificados, com poucos retoques e sem uma padronização volumétrica
e ao que tudo indica serviam para fins mais imediatos.

24
 Tecnotipo A: esse tecnotipo é composto por peças de suporte
em lascas pouco volumosas, pequenas e medias, de perfil
plano ou helicoidal e dorso natural em uma de suas laterais. A
preensão desse tecnotipo é caracterizada pela presença de
dorso. Possuem duas UTFts, sendo elas formando gumes
microdenticulado com ou sem ponta ou coche.
 Tecnotipo B: esse tecnotipo possui suportes em lascas
triangulares, não espessas com perfil plano ou helicoidal. os
instrumentos possuem dois tipos de UTFt, sendo até duas num
instrumento. A primeira presente na extremidade distal das
peças com um gume em ponta. A segunda presente na porção
distal e/ou lateral das peças formando gumes microdenticulados
e côncavos.
 Tecnotipo C: os instrumentos desse tecnotipo foram produzidos
a partir de lascas que possuem talões de maior volume, os quais
serviram como parte preensiva, em seu lado oposto foram
identificados a UTFt, com gumes afiados ou com miroretiradas
de formato microdenticulado.
 Tecnotipo D: os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
suporte em lasca. As peças possuem uma UTFt, sendo elas em
coche, bem pronunciadas.
 Tecnotipo E: esse tecnotipo é composto por instrumentos sobre
suporte de lascas espessas de tendência retangular. As UTFts
estão na porção proximal, lateral e distal dos instrumentos,
podendo ser em ponta ou em coche.
 Tecnotipo F: Os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
lascas ultrapassadas e/ou desviadas, de dimensões curtas,
largas e espessas. As UTFts estão presentes nas porções
distais e mesodistais das lascas, podendo ser em gume
denticulado ou em ponta. A área de preensão desses
instrumentos não foi confeccionada.
 Tecnotipo G: os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
lascas mais largas que compridas, tendo a porção proximal

25
mais espessa em relação a sua porção distal, há presença de
uma UTFt nas peças, que ficam nessa extremidade e nas suas
laterais, sendo elas pouco modificadas. A preensão é natural
composta pelo o talão e o dorso das peças.
 Tecnotipo H: os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
lascas pouco volumosas e fragmentos não lascados. As UTFts
têm formato em "S" e estão localizadas na intersecção dos
negativos de retiradas. As UTFts têm formato em "S" e estão
localizadas na intersecção dos negativos de retiradas. Sobre a
preensão, pode ter sido usada a partir de uma superfície
abrupta, caracterizada pelo talão.
 Tecnotipo I: os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
objetos obtidos a partir do lascamento unipolar. As UTFts
possuem ângulos de bico e de corte que variam de peça e peça,
de modo geral apresentam ângulos de bico acima de 70º e de
corte em torno de 60º.
 Tecnotipo J: os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
objetos obtidos a partir de três suportes, o primeiro sobre lascas
com talão avantajado e dorso proeminente; lascas bem
espessas com percussão na face interna e fragmentos não
lascados com negativos na face interna. Há uma UTFt nas
peças, que ocorrem na direção oposta aos seus dorsos, ou em
uma das extremidades das lascas, podendo ser em forma de
coche, ponta ou microdenticulados.
 Tecnotipo K: esse tecnotipo é composto peças com suporte
produzidos não intencionais, sendo assim foram divididos em
três conjuntos: lascas de reavivamento de gume, lascas de
refrescamento de plano de percussão e lascas de façonagem e
retoque. As UTFts do primeiro conjunto apresentam gumes em
formato denticular, com clara presença de retoques anteriores
ao fio de corte presente; no segundo conjunto as peças
presentes apresentam três tipos diferentes de gume, sendo um
em formato de ponta, um côncavo e um em direção ao dorso
que a peça possui. O terceiro conjunto apresenta peças com
26
gumes de diferentes formas com retoques em praticamente
todo o bordo das peças.
 Tecnotipo L: os instrumentos desse tecnotipo são em lascas de
formato retangular. Suas UTFts localizam-se nas extremidades
distais das peças possuindo formatos coches e
microdenticulados. A preensão dessas peças foi feita a partir
dos talões avantajados presentes nas lascas.
 Tecnotipo M: os instrumentos desse tecnotipo foram produzidos
sobre lascas discoides de formato retangular, quadrangular com
dimensões medianas. Em relação as suas UTFts, possuem
formato microdenticular, em geral de delineamento retilíneo
com exceções de algumas que possuem coches maiores.
 Tecnotipo N: esse tecnotipo é composto por instrumentos sobre
lascas de forma retangular com espessura avantajada. As
UTFts desses instrumentos são compostas por microretoques
nas suas porções mesodistais, além de planos de corte
provindo de negativos anteriores.
 Tecnotipo O: esse tecnotipo é composto por dois instrumentos
provindos de lascas kombewa. O primeiro possui 3 retiradas
que produziram um gume naturalmente afiado, no que diz
respeito a preensão, foi feito a partir das extremidades natural
e confeccionada. O segundo possui duas laterais com gumes
afiados, porém houve uma área com retoques contínuos
formando um gume denticulado. A sua preensão foi feita a partir
dos planos de percussão que a peça possui.
 Tecnotipo P: os instrumentos desse tecnotipo são de formato
não padronizado provindos de dejetos e fragmentos não
lascados. As UTFts são de formato microdenticulado com
delineamento retilíneo, além também de haver uma
extremidade pontiaguda.
 Tecnotipo Q: os instrumentos desse tecnotipo são compostas
por lascas em forma de ápice, por fragmentos lascados ou
naturais de forma piramidal. As UTFts são em formato de coche

27
e por formatos denticulados. No que diz respeito a preensão
desses objetos, foram aproveitadas pelas as suas áreas não
modificadas.
 Tecnotipo R: os instrumentos desse tecnotipo possuem um
formato de "leque" com superfícies internas e externas pouco
convexas, possuindo uma de suas extremidades aplainada,
onde se localizam as UTFts, essas que possuem um formato
cônvexo. As laterais dos instrumentos podem ter retiradas ou
naturais, o que facilita na preensão dos objetos.
 Tecnotipo S: os instrumentos desse tecnotipo foram feitos sobre
ocorrem em objetos obtidos a partir de lascas bipolares ou por
fragmentos não identificados de formatos quadrangulares ou
retangulares. Suas UTFts são compostas principalmente por
coches.
Arte rupestre
No que diz respeito a arte rupestre da área do vale do Rio Manso, elas se
caracterizam somente por petroglilfos. Foram identificados seis sítios, sendo três
em abrigo (Água Branca 3, Cachoeira 1 e Cachoeira do Pingador e três a céu
aberto (Cambaiuval, Pedra Preta e Ilha do Manso). Foram identificados nos sítios
o total de 920 gravuras, sendo elas 601 de motivos geométricos, 130
antropomorfos, 65 zoomorfos e 124 não identificados, isso por que o estado de
conservação dessas figuras não permitiu sua identificação (BARBOSA, 2006).

Figura 2: Petroglifo geométrico do Figura 3: Petroglifo antropomorfo do


Sítio Cacheira do Pingador .
Sítio Cambaiuval

Fonte: Viana, 2006.

28
Os suportes rochosos dos sítios em lajedos (ambientes abertos) são de
formação quartzítica e filítica, bastante resistentes e de alta dureza. O suporte
rochoso dos sítios em abrigos é de formações areníticas bastante friáveis. As
gravuras foram confeccionadas principalmente pelas técnicas de alisamento ou
raspagem, o picoteamento também está presente, mas em baixa
representatividade.

Segundo Barbosa (2006) as figuras rupestres dessa região inserem-se na


Tradição Geométrica, caracterizada como o próprio nome indica, pela
predominância de figuras geométricas.

1.2 Sítio Cachoeira do Pingador

O sítio Cachoeira do Pingador é um sítio em abrigo rochoso que está


localizado na região nordeste do Mato Grosso, bacia do Rio Quilombo, junto ao
Ribeirão Lajinha na bacia do rio Manso, próximo a Chapada dos Guimarães, com
coordenadas UTM 21 630 744E / 8 331 723N. Sua extensão é de 22 m, com
uma profundidade que varia de 8,5 m a 1,0 m, a cornija mede de 4,5 m a 5,0 m
de altura. O paredão do sítio é voltado para o norte, na área frontal da entrada
do abrigo, há um desnível de 5,0 metros, onde existe um paredão voltado para
norte no qual ocorre uma queda d’agua, de cerca de 10 m de altura, tendo à sua
adjacência um paredão com pinturas e grafismos rupestres (VIANA et al, 2006).

Figura 3: Vista lateral do sítio Cachoeira do Pingador Figura 4: Escavações nas quadriculas C1,D1 e D2

29
Fonte: Viana, 2006.

O solo do sítio é composto por litossolos distróficos de textura média e


areias quartzosas disfóricas, essa que se constituem granulométrica de grãos
em areia e área fina. Sendo considerado um solo pouco desenvolvido, possui
pouca argila e é excessivamente drenado, com pouca retenção de água e
nutrientes, derivados das formações rochosas Botucatu e Bauru (ASSIS VIANA,
2006).

A litoestratigrafica do sítio é composta por níveis de arenito e de


conglomerado silicificado, sendo sua base constituída por arenito pouco
silicificado e frágil à erosão; a camada intermediaria é mais compactada e mais
resistente a erosão; o topo é composto de conglomerados de seixos de sílex
(ASSIS VIANA, 2006).

Em um raio de 5 Km ao redor do sítio há 13 cursos d’aguas, sendo 10


deles de primeira ordem, um curso de segunda, um de terceira e um rio de quarta
ordem. A vegetação circundante do sítio é constituída por mata de galeria e
palmeira3 (ASSIS VIANA, 2006).

1.2.1 A escavação no sítio Cachoeira do Pingador

Durante o período de escavação do sítio foram realizadas nove


sondagens de 4m² e abertos quatro cortes de escavação, denominados de C-1,
D-1, D-2 e H-0, sendo os três primeiros escavados por níveis artificiais de 10 em
10 cm e o último escavado de acordo com a ocorrência horizontal e vertical dos
materiais arqueológicos.

O corte C-1 atingiu 2,80 m de profundidade e os cortes D-1 e D-2 atingiram


2,70 m. No corte H-0 foram identificadas sete diferentes camadas estratigráficas,
nelas foram realizadas 45 decapagens de espessuras variadas, conforme a
ocorrência do material (alcançando uma profundidade em torno de 2,20 metros,

3
A mata de galeria é vegetação florestal do Planalto Central que segue os cursos d’agua de
pequeno porte, como rios e córregos, geralmente é acompanhada por faixas de vegetação não
florestal e normalmente se encontra nos fundos dos vales e ou inícios de drenagens; o palmeiral
é uma formação que é caracterizada por forte presença de um só tipo de palmeira (RIBEIRO;
WATER, 2008).

30
próximo a ele ainda foram abertos cinco corte-testes, quatro deles estão
localizados a parte mais plana do abrigo e o outro na área em frente ao abrigo
(VIANA et al, 2006) (Figura 3).

Figura 5: Croqui da planta baixa do sítio Cachoeira do Pingador.

Fonte: Glaucia Aparecida Malerba Sene, 2000.

Em todas decapagens foi registrada a ocorrência de material lítico e


material ósseo; o material cerâmico, por sua vez, foi localizado até a 29ª. Foram
evidenciadas também duas estruturas de fogueira, uma na 27ª e uma na 28ª
decapagem. Registrou-se a presença de coquinhos e carvões esparsos por
diversas decapagens, com ocorrência mais profunda na 42ª decapagem.

31
Figura 6: Perfil estratigráfico e descrição da sondagem H0 e suas sete camadas. Destacado em vermelho, as camadas arqueológicas estudadas nesse estudo.

1.000 +- 60 BP

1.620 +- 60
BP

Legenda:
Óxido de ferro Osso
Lítico Borracha
Cerâmica Divisão dos níveis
Fogueira Malacofauna
Vegetal

Fonte: Adaptado de Viana, 2002.

32
Considerando que nosso objeto de estudo está na sondagem H0,
escavada de acordo com a ocorrência horizontal e vertical do material
arqueológico, como demonstrado na figura 5, estão caracterizadas as
decapagens realizadas nesse setor. Os dados destacados em vermelho marcam
as camadas e decapagens relacionadas ao objeto de estudo desde trabalho –
camadas I a V –; elas estão relacionadas a datações de 1.620 ± 60 AP e 1000 ±
60 AP (Figura 3.

1.2.2 Materiais arqueológicos

Material Cerâmico – Setor H0


No que tange aos materiais cerâmicos presentes no sítio Cachoeira do
Pingador, eles ocorreram em pouca quantidade, 74 peças cerâmicas, sendo que
30 delas são pertencentes ao período histórico. No setor H-0, os fragmentos se
distribuíram até a 29ª decapagem. Nos demais setores (C1, D1, D2), foram
identificadas 12 peças cerâmicas, sendo presentes no setor C1 até 40cm de
profundidade, com exceção da decapagem de 10-20cm; no setor D1 se
distribuíram até 20cm de profundidade; no setor D2 houve presença nas
decapagens 10-20cm, 30-40 cm e 70-80 cm de profundidade.

Arte Rupestre

O sítio Cachoeira do Pingador ainda possui uma variedade de registros


rupestres gravados nas paredes do abrigo e na área adjacente à cachoeira.
Segundo Barbosa (2006), os motivos identificados no sítio foram os geométricos,
em formas de círculos isolados, interligados entre si ou por traços e círculos
concêntricos; motivos zoomorfos, representados por “pisadas”; motivos
antropomorfos, em formas “humanas”. Esses registros no geral eram de
pequenas dimensões e as gravuras foram feitas por polimento com sulcos
estreitos e rasos.

Material ósseo fauna – Setor D2

33
No trabalho de Lino (2017) foram analisados a arqueofauna presente no
setor D2 do sítio Cachoeira do Pingador, caracterizado por uma arqueofauna de
pequenos vertebrados, devido ao tamanho diminuto dos espécimes
encontradas. Foram identificados 3.904 espécimes provindas do corte e da
limpeza das paredes norte, sul e oeste.

O autor salienta que o estado de fragmentação das peças limitou análise,


a identificação taxonômica e anatômica, além dos estigmas de termoalteração
dos espécimes. Essa fragmentação pode ser explicada pela suscetibilidade da
fauna de pequeno porte a ter respostas físicas, sejam elas as alterações
térmicas, a compactação do material etc. Dentre os espécimes encontrados, foi
possível identificar o táxon de 2.556 peças, sendo eles: Mammalia, Reptilia,
Peixes e Aves.

Foram encontrados nos espécimes estigmas térmicos que podem ou não


estar relacionados com a fogueira presente no sítio, sendo eles queimados
propositalmente ou não.

Foi encontrado um instrumento em um osso longo que possui evidencias


que demonstram que foi tratado por fogo antes de ser usado. A ferramenta
possui estigmas de polimento no eixo maior da peça e na sua ponta, que possui
gume arredondado. Também foram encontrados em alguns ossos marcas de
corte.

Figura 7: Ferramenta em osso coletada no setor D-2.

Fonte: Lino, 2017

34
Materiais líticos das camadas VI e VII

Os materiais líticos das camadas mais antigas (camadas VI e VII),


apresentam datações de 3.120 ± 60 BP e 5.340 ± 80 BP, eles foram analisados
pela abordagem tecnofuncional por Costa (2019). Em geral apresentam baixa
volumetria, de matérias-primas em sílex (42%), arenito silicificado (43%), quartzo
(1%) e oxido de ferro (0,51%). Essas matérias-primas, poderiam ser provindas
dos rios da região, de topos de morro da área, que detém reservas significativas
de matéria-prima de mesmo tipo das quais estão presentes no lítico do sítio.

A autora informa que foram identificadas as fases de debitagem e de


confecção de instrumentos no conjunto. A partir das lascas, verificou-se uma
significativa diferença entre os seus quantitativos, sendo as de debitagem pouco
representativas em comparação as lascas de confecção. Os fragmentos de
matérias-primas, foram quantitativamente representativos nas camadas. Foram
também encontrados poucos núcleos no conjunto, pertencentes ao tipo “C”.

Sobre os instrumentos a autora reconheceu 3 tecnotipos, sendo eles:

 Tecnotipo 1: instrumentos provindos de lascas unipolares,


volumosas e de morfologia modular, com área preensiva
produzida. Possuem uma UTFt em forma de gumes em ponta-
borda.
 Tecnotipo 2: são peças produzidas a partir de lascas de boa
volumetria na face superior, enquanto na face inferior o volume é
menor e irregular. No que diz respeito às UTFts, há somente uma,
com gumes em "coche" ou retilíneos.
 Tecnotipo 3: composto por instrumentos em lascas de baixa
volumetria e devido a sua estrutura afinada e negativos presentes
nas suas faces superior permitem uma boa manipulação do
instrumento. No que diz respeito às UTFts, podem possuir até
duas, com gumes confeccionados nas porções distais das peças.

35
Figura 8: Instrumentos pertencente nos tecnotipos 1, 2, 3 das camadas VI e VII.

TECNOTIPO 1:

TECNOTIPO 2:

TECNOTIPO 3:

Fonte: Costa, 2019.

36
Foram também identificados no conjunto instrumentos não lascados,
sendo eles, maceradores, percutores e bigornas, esses que apresentam suporte
em seixo, em matérias-primas de sílex e arenito silicificado. Ainda foram
encontrados 4 cassons com contra-bulbo no conjunto, presentes na VII camada
do sítio.

37
CAPÍTULO II - ABORDAGEM TEORICA E METODOLOGICA

Para o estudo do conjunto de objetos líticos lascados do sítio Cachoeira


do Pingador foi utilizada a abordagem tecnofuncional, desenvolvida por Boëda
(1997). Essa perspectiva teórica que traz em seu bojo também aspectos
metodológicos específicos, buscando entender os conjuntos líticos de forma
global. Considera os processos que levaram a concepção de produção dos
suportes dos instrumentos líticos e a identificação dos esquemas de confecção
do gume e área preensiva desses instrumentos, assim como identificar o
potencial funcional das ferramentas e os componentes evolutivos das técnicas,
por meio das características estruturais do objeto técnico (BOËDA, 2013).
Entende-se as técnicas como elementos socializados e aprendidos dentro de
uma tradição transmitida e ressignificada de geração em geração.

Os estudos das coleções líticas sempre acompanharam as mudanças do


pensamento arqueológico, assim as concepções teóricas e metodológicas foram
se modificando ao longo do tempo na forma de reconhecer e interpretar os
objetos em pedra lascada. Três grandes abordagens teórico-metodológicas se
destacam na análise e interpretação dos artefatos líticos: a tipológica,
tecnológica e a tecnofuncional. Cada qual retendo suas próprias particularidades
que respondem a distintos questionamentos acerca das problemáticas que
envolvem os conjuntos líticos.

Assim como os estudos em outros campos da arqueologia, muito se foi


usado da abordagem tipológica para identificação e análise do material em pedra
lascada. Foi empregada desde metade do século XIX e, de forma geral, busca
ordenar os conjuntos de artefatos com base na morfologia dos objetos, na
matéria-prima e na relação ao contexto dos achados. Os seus resultados a partir
de seu mapeamento geográfico foram utilizados na definição de áreas
arqueológicas traçando comparações entre elas e de suas mudanças ao longo
do tempo (FUNARI, 2003).

Essa abordagem tem como objeto de estudo a peça finalizada,


considerando apenas suas morfologias, categorizando os instrumentos em
“tipos”, que são utilizados para a criação de categorias de referências para

38
demais ferramentas. Uma das críticas frente ao uso da abordagem tipológica,
diz respeito aos "tipos" serem definidos a partir de uma sistematização
insuficiente, baseados em critérios formais, sendo muitas vezes nomeados com
base em analogias às formas das ferramentas contemporâneas e às suas
funções (LOURDEAU, 2014).

Em crítica à abordagem tipológica, a perspectiva tecnológica empregada


nos estudos do material lítico surgiu a partir de 1970, tendo em vista as limitações
da tipologia para interpretação dos objetos lascados.

Sobre os estudos das técnicas, Mauss (1947) foi um dos primeiros a


sistematizar o estudo das técnicas no campo das Ciências Humanas e Leroi-
Gourhan (1945 e 1964) conduziu esses estudos aos contextos pré-históricos. A
abordagem tecnológica inclui campos que não correspondem à realidade de um
objeto único, mas sim todo o sistema técnico que envolve determinada cultura,
considerando assim, os indivíduos, a coletividade ao qual se inserem e o meio
natural, reconhecendo ainda a relação simbiótica que constitui essas diferentes
realidades presentes na cultura (BOEDA, 2013).

A abordagem tecnológica ainda integra os conceitos de cadeia operatória


desenvolvidos por Leroi-Gourhan (1964), considerada como um encadeamento
de atos técnicos articulados entre si que seguem uma lógica cultural interna,
tendo em vista um objetivo final (BALFET, 2014). As cadeias operatórias são
regidas por fases, que correspondem desde a escolha da matéria-prima a ser
trabalhada, passando pela sua produção, até o descarte final do objeto. Essas
fases estão interligadas, porém muitas vezes não são lineares podendo
convergir em outras cadeias, dependendo do resultado esperado (CRESSWELL,
1989).

As cadeias operatórias, por sua vez, buscam entender os processos


produção de determinado objeto lítico. Numa perspectiva sincrônica, baseando-
se no estudo sistêmico das fases e etapas técnicas organizadas e articuladas
em cadeias, não só aos objetos finalizados, como na tipologia, mas também aos
produtos gerados, a partir da sua manufatura, buscando definir os contextos e
os esquemas de produção (BOËDA, 2013). Essa abordagem desenvolve-se
também fundamentada em experimentações em pedras lascadas, as quais

39
trouxeram realizações importantes no que diz respeito aos esquemas de
confecção e utilização dos instrumentos (LOURDEAU, 2014).

Sendo assim, a produção de uma ferramenta lítica não é aleatória, emerge


de uma concepção mental, que retêm influências socioculturais e ambientais
regidas não somente pelos aspectos de confecção, mas também pelos variados
sistemas técnicos disponíveis entre os grupos humanos. Dessa forma, para
conceber determinado instrumento lítico, o lascador gerencia diversas questões
que abrangem toda a cadeia operatória, ou seja, desde a seleção da matéria-
prima, os gestos e técnicas a serem aplicados para a constituição do objeto final
e seu funcionamento (VIANA, 2011).

A partir da década de 1990 outra abordagem analítica passou a se


destacar, a tecnofuncional (BOËDA, 1997). Ela não se opõe a perspectiva
tecnológica, mas acrescenta elementos inovadores, além de considerar os
conjuntos técnicos no momento de sua produção (abordagem sincrônica),
reconstituindo uma realidade espaço-temporal de vida cotidiana e do espaço
vivenciado. A abordagem tecnofuncional a partir dos estudos de cadeia
operatória, integra questionamentos que se referem não só aos aspectos de
produção dos conjuntos líticos, mas também o seu potencial funcional das
ferramentas, ou seja, suas diferentes funções e funcionamentos.

Numa perspectiva diacrônica, a perspectiva tecnofuncional, considera as


mudanças tecnológicas ocorridas entre os objetos ao longo dos tempos, para
isso baseia-se nas características estruturais do objeto (BOEDA, 2013).
Considera-se que os instrumentos sejam dotados de uma “história técnica” que
se modifica ao longo do tempo.

A abordagem tecnofuncional, portanto, permite trabalhar com informações


sobre as intenções que regiam a confecção de um objeto, proporcionando
inferências relativas aos esquemas técnicos, assim como se volta aos aspectos
tecno-estruturais dos objetos com o intuito de entender os processos de
mudança tecnológica em relação ao seu contexto (RAMOS; VIANA, 2019).

Dois autores se destacam em relação à evolução dos objetos técnicos


(mudança técnica), um deles é Leroi-Gourhan (1973) que considera que a
evolução dos objetos segue o que ele chamou de “tendência”, em direção a uma

40
maior eficácia funcional do objeto, essa que adequa o objeto a uma forma na
qual performa melhor sua função. Em outras palavras, o objeto evolui para
melhorar a sua função. Outra forma de se pensar essa evolução técnica vem de
Simondon (1969), com sua teoria da individuação, propondo a identificação a
das gêneses dos objetos técnicos (BÖEDA; FOGAÇA, 2006).

Segundo Simondon (2007), um objeto evolui a partir de um meio


“associado” e segue uma lógica tecnologicamente coerente. No percurso de sua
evolução o objeto passa de um estado “abstrato”, ou seja, de conjunto de
elementos justapostos que não agem de forma sinérgica, para uma forma
integrada na qual as partes de um objeto trabalham de forma imbricada, numa
convergência estrutural que não permite que funcione se uma das partes for
danificada. Sendo assim, as linhagens técnicas compreendem estruturas que
vão de um estado de “abstração” a um estado de “concretização”.

A atual pesquisa se atém à perspectiva sincrônica, pois busca entender o


conjunto de uma coleção lítica, num período determinado, seguindo uma linha
de metodológica baseada nos estudos de cadeia operatória.

2.1. O Instrumento
Qualquer matéria dura pode ser utilizada para improvisar ações que
“imitam” uma ferramenta, desde que possua propriedades volumétricas
apropriadas e um gume, que pode ser decorrente de fraturas naturais. No
entanto, o reconhecimento de um instrumento vai além dessas características
que podem ser encontradas na natureza.

Um dos elementos que difere a constituição de um artefato humano, de


um objeto apropriado por outros primatas é a sua transformação, realizada a
partir de um esquema mental prévio, constituído a partir de elementos
socioculturais e ambientais (figura 6). Nesse contexto, se considera a interação
entre as seguintes categorias: instrumento, pessoa, matéria prima que será
transformada, meio social, meio ambiental e espaço vivenciado pelas pessoas.
O esquema mental visa, em última instância, a implantação de elementos
técnicos em um volume particular (suporte), a partir de métodos e técnicas

41
específicos, de modo a possibilitar a produção; assim como prevê o
funcionamento da ferramenta (BÖEDA, 2013).

Böeda (2013) considera quatro esquemas de produção de um


instrumento. Sendo eles:

Figura 9: Esquemas gerais de produção de instrumento.

Esquema 1 Esquema 2 Esquema 3 Esquema 4

Seleção da
Seleção da materia materia prima Seleção
Seleção ou não de com condições
prima com condições um bloco
gerais para uso gerais para uso

Façonagem
Debitagem parcial

Produção do gume Façonagem

Confecção ou
Produção do debitagem
gume

Produção do gume
Produção do
gume

Fonte: Böeda, 2013, adaptado por Érica Sousa, 2019.

Os esquemas de produção são dotados de quatro principais categorias


técnicas definidas:

(1) a debitagem, que é o processo de retirada de lascas de uma matriz em rocha


(núcleo), com o objetivo de produzir lascas-suportes para serem utilizadas como
ferramentas (ver caracterização no item 2.2);

(2) a façonagem, que é a organização de uma matriz natural (vinda a partir de


seixos), de lascas-suportes, ou de resíduos brutos de lascamento, para a
modelagem de um suporte (ver caracterização no item 2.3);

(3) a seleção, que é caracterizada pela eleição de um volume em particular


(denominado posteriormente de suportes) não lascados, mas que detêm os

42
princípios técnicos necessários para a instalação da zona transformativa de um
instrumento ou de uma área preensiva;

(3) a instalação de gume (zona transformativa) e/ou de área preensiva nos


suportes vindos da debitagem, da façonagem ou de critérios de seleção de
matéria prima não lascada onde o gume e parte preensiva de uma ferramenta
serão instalados (ver caracterização detalhada no item 2.4).

Tais categorias não são dicotômicas, podem ser realizadas de forma


seguida, usando as lascas do processo de debitagem como instrumento ou as
utilizando como volume para uma façonagem, da mesma forma um volume não
lascado pode ser usado para debitagem, façonagem ou instalação direta de um
gume transformativo (VIANA et al, 2014).

2.2 A debitagem

A debitagem é uma categoria analítica que está constituída por três


elementos principais: um princípio técnico (conjunto de normas técnicas
estáveis), um ou mais métodos de lascamento (agenciamento das retiradas) e a
aplicação de técnicas específicas, aqui compreendidas como natureza do
percutor, tipo de percussão e gestos aplicados.

Com base nesses elementos, Böeda (2013) estabeleceu seis categorias


de debitagem, subdivididas em duas principais concepções: adicional e
integrada.

A concepção adicional corresponde a exploração de apenas uma parte do


núcleo, ou seja, as retiradas não seguem uma regularidade por todo núcleo
constituído de quatro sistemas de debitagem (VIANA et al, 2014; BÖEDA, 2006).

Os quatro sistemas de debitagem adicionais são:

 Tipo A: tem por objetivo produzir lascas, não há nenhum controle sobre
as características físicas do núcleo, são produzidas aleatoriamente.
 Tipo B: as lascas são destacadas, mas os critérios técnicos não são
rígidos.

43
 Tipo C: apenas uma parte do bloco é explorada, deixando uma parte como
reserva de matéria-prima, sendo elas independentes uma da outra. Não
há uma preparação da superfície de debitagem do núcleo, mas há uma
seleção das convexidades naturais presentes nos núcleos, tal critério
técnicos é determinante. O plano de percussão pode ser natural ou
produzido. As lascas produzidas são pré-determinadas.
 Tipo D: há produção parcial da superfície de lascamento e do plano de
percussão. Esse volume útil é explorado a partir da inicialização das
superfícies de lascamento. Assim como o tipo C, essa concepção possui
um volume residual (não explorado). As lascas produzidas são pré-
determinadas. No vale do rio Manso, foram identificados núcleos do tipo
D, porém com peculiaridades regionais que os diferem dos demais
lugares onde são comumente encontrados, por isso foram denominados
de “Tipo D Manso”, eles possuem poucas e curtas sequencias de
lascamento, as quais nem sempre atingem o centro do núcleo, dispostas
somente em direção centrípeta. O volume residual é sempre presente,
mesmo sendo pouco expressivo, há pouca exploração de sua estrutura
mesmo com possibilidade para a continuidade das retiradas.

O segundo subconjunto corresponde aos núcleos de concepção


integrada, neles todo volume foi organizado para a produção de lascas pré-
determinadas. Esse subconjunto é constituído de dois sistemas de debitagem
(VIANA et al, 2014; BÖEDA, 2006).

 Sistema E: todo núcleo é organizado (produzido), de forma que as


superfícies de lascamento possam se manter convexas ao longo do
processo de debitagem. As lascas produzidas são padronizadas e pré-
determinadas.
 Sistema F: o núcleo é organizado de forma que possibilite produtos de
debitagem que possuam características técnicas particulares e uma
morfologia precisa para a realização de seus objetivos.

A debitagem bipolar sobre bigorna também está inclusa no tipo C. Ela é


realizada sobre um suporte, denominado bigorna, que possue certa angulação,
onde se coloca um seixo mais alargado ou mais arredondado, dependendo das

44
lascas que se pretende obter. O seixo escolhido é atingido por outro percutor de
forma direta, podendo produzir uma serie de diferentes lascas, dependendo da
precisão da percussão e da morfologia do seixo escolhido (VIANA et al, 2014).

2.3 A Façonagem

A façonagem é realizada a partir de uma matriz volumétrica particuladr


(seja produto de debitagem ou advinda de critérios de seleção). Ela tem como
objetivo produzir um suporte para um futuro instrumento, essa produção consiste
no adelgaçamento das superfícies da referida matriz. Nesse volume será
instalado um gume (zona transformativa do instrumento) e áreas preensivas.
Essa instalação ocorre por meio de confecção de retoques e, em geral
apresentam um conjunto de características técnicas relacionadas a espessura,
dimensões e angulação (BÖEDA, 2014).

A façonagem pode ser unifacial, constituída pela modificação de apenas


uma das faces ou bifacial, caracterizada pela organização das duas faces do
objeto. A façonagem pode ser complementar à debitagem, ou seja, uma lasca
suporte vindo da debitagem pode ser façonada. Como exemplo dessa situação
destaca-se os instrumentos “planos-convexos” (lesmas).

O suporte de um instrumento pode também ser oriundo de seleção de


detritos de lascamento ou de produtos não lascados. Nesses casos, os critérios
de seleção são mais rígidos, já que a peça não passará pelo processo de
moldelação do suporte.

2.4 A confecção do gume e área preensiva

A confecção do gume consiste na confecção de uma zona transformativa


a partir do delineamento de um gume cujas características estão diretamente
relacionadas a função que irá exercer.

A área preensiva consiste nem uma área que recebe energia no uso da
ferramenta, ela pode ser decorrente de seleção ou produção, podendo ser

45
manual ou preparada para receber encabamento. Suas características estão
relacionadas ao funcionamento do instrumento.

Sendo assim, há diferentes formas de se chegar ao que chamamos de


instrumento, ou seja, um volume produzido para exercer determinadas funções
sob uma gama de fatores inerentes a cultura a qual a pertence.

Com isso, pode-se entender o instrumento como uma “entidade mista”,


constituída de três componentes, o artefato em si, o esquema de utilização e a
energia empregada que o mantem em ação (BOEDA, 2013). Dessa forma, o
instrumento é entendido como uma tríade estrutural sem deixar de lado o meio
no qual está inserido. Para a constituição de sua análise, esses três
componentes são entendidos como unidades tecno-funcionais (UTF), com uma
parte preensiva, a que recebe a energia (UTFp) e uma transformativa (UTFt),
que entra em contato com a matéria que será trabalhada. Esse conjunto de
elementos está relacionado a um meio natural e ao meio experenciado
cotidianamente pelos indivíduos (BÖEDA, 2013).

Figura 10: Esquema das partes componentes de um instrumento.

Artefato
Instrumento

Parte transmissora
de energia

Energia

Esquema de utilização

Meio natural / espaço vivido


Fonte: Böeda, 2013, adaptado por Érica Sousa, 2019.

Para o entendimento global de um conjunto lítico, como sugerido, deve-


se considerar as diferentes possiblidades funcionais e estruturais que um objeto
detém, considerando que são resultantes das relações humanas (construídas
em contexto social e cultural), que planejaram sua construção; e de exigências

46
técnicas e funcionais. Sendo assim um objeto técnico deve ser considerado
enquanto parte de um sistema que é composto pelo sujeito (cognição, técnicas,
afetividades), pela matéria a ser trabalhada e pelo seu ambiente natural e social.
As relações dessa tríade possuem restrições relacionadas a matéria-prima
utilizada na sua produção, o meio cultural no qual está inserido e utilização de
um objeto (BÖEDA, 2013). Erica, eu modifiquei um pouco esse parágrafo, veja
se concorda.

Segundo Böeda (2013), essas categorias estão permeadas de restrições


que podem ser extrínsecas e intrínsecas. As extrínsecas dizem respeito ao
material a ser trabalhado, já que determinados objetos exigem matérias com
propriedades físicas específicas para o desenvolvimento de determinadas
funções; ao meio natural, no que diz respeito a disponibilidade, qualidade e
acessibilidade de matéria-prima; ao espaço vivido, tanto plano material e
imaterial do que pode relacionado ao território; e as tradições culturais herdadas
e ressignificadas pelos indivíduos. Esse conjunto de elementos possibilita a
produção particular das ferramentas e o que funcionem de tal maneira.

As características intrínsecas referem-se à estrutura do instrumento.


Considerando a ferramenta como sendo constituída por características técnicas
que interagem a fim de um objetivo, assume-se que na sua concepção se
demarca as possiblidades de utilização do instrumento (BÖEDA, 2013).
Compreendendo que cada instrumento possui características técnicas, inseridas
em esquemas técnicos organizados segundo uma ordem que delimitará seus
funcionamentos (FOGAÇA; LOURDEAU, 2008).

2.5 Metodologia

A presente pesquisa se utilizou dos critérios metodológicos avocados pela


abordagem tecnofuncional, desenvolvida por Boeda (2013). Serão apresentadas
a seguir as medidas analíticas adotadas referente as análises das lascas, dos
instrumentos e núcleos.

47
2.5.1. Lascas

Para a análise tecnológica das lascas, elas foram primeiramente triadas,


separando em suas diferentes classes de acordo com seu suposto
posicionamento na cadeia operatória, ou seja, se representavam lascas da fase
de debitagem, lascas de confecção, casson, ou materiais sem marcas técnicas
de lascamento. Essas inferências de classificação das lascas foram
paulatinamente sendo testadas de acordo com o desenvolvimento dos
instrumentos e dos núcleos.

Os critérios tecnológicos das lascas foram identificados tendo por


referência os guias de análise de peças líticas do Laboratório de Arqueologia da
PUC Goiás, estruturado a partir das obras de Inizan et al (2017), Boëda (1997 e
2013) e Viana (2005). Neles há informações referentes a:

1) Características gerais: dimensões (comprimento, largura e


espessura), de acordo com seu eixo tecnológico; características da
matéria-prima e do suporte de onde provém (seixo, bloco, cristal);
presença e quantidade do córtex; e dados referentes à alterações pós
deposicionais;
2) Características de produção: presença de acidente de lascamento;
perfil de lasca; características de talão (tipo, ângulo de retirada),
característica do lábio (proeminente ou discreto); visibilidade ou não
do ponto de impacto; gesto aplicado para a retirada da lasca (interno
ou periférico); visibilidade das ondas e lancetas na face interna da
lasca; e inferência sobre o tipo de percutor utilizado
3) Características da face externa: aspecto morfológico da lasca,
número de negativos na fase superior, com o intuito de inferir
intensidade de exploração; e direção das nervuras, buscando inferior
o gerenciamento das retiras (método unidirecional, bidirecional ou
multidirecional).

48
Figura 11: Representação de uma lasca com a identificação de suas características técnicas.

Perfil

Negativos de Ondas
Nervuras
retiradas Parte distal
anteriores

lancetas
Parte distal
Parte mesial
Parte distal Parte distal

Parte distal

Labio bulbo
Parte distal Parte distal
Parte proximal
Parte distal Parte distal Parte distal
Ângulo de talão
lascamento
Parte distal Parte distal
Parte distal
Parte distal
Parte distal Marcas do
Ângulo de
lascamento
bulbo
Parte distal

Parte distal

Fonte: Inizan L. M; Reduran, M.; Roche H. e Tixier J. (2017)

Para melhor entendimento sobre os tipos de lascas que foram


identificadas nesse trabalho, segue abaixo um quadro com as suas
características:

Figura 12: Características dos tipos de lasca.

49
Fonte: Costa (2019). Baseado em Boëda (2013) e Inizan et al. (1995).

2.5.2. Instrumento Lascados

Para análise dos instrumentos lascados, assim como das lascas, foram
baseados nos guias de análise de peças líticas do Laboratório de Arqueologia
da PUC Goiás, baseado em Inizan et al (2017), Boëda (1997 e 2013 e Viana
(2005):

1) Características gerais: dimensões dos objetos, de acordo com a


identificação das zonas transformativas e áreas preensivas;
características da matéria-prima e do suporte de onde provém
(seixo, bloco, cristal); presença e quantidade do córtex; e dados
referentes à alterações pós deposicionais;
2) Características do suporte: o tipo de suporte usado para a
produção do instrumento (lasca, volume modelado por façonagem,
bruto de debitagem, ou suporte natural, eleito por critérios de
seleção da matéria-prima).
3) Características de produção: posição dos retoques, delineamento
do gume transformativo, características da superfície de ataque,
extensão e morfologia dos retoques, registro dos seus planos de
50
bico e de corte e estado de conservação do gume. Também foi
realizada a identificação das UTFps, registrando se teriam sido
produzidas, ou previstas na fase de seleção da matéria-prima;
quais tipos de preensão, e por fim, o registro do potencial funcional
das ações técnicas (raspar, cortar ou perfurar).

Figura 13: Delineados de instrumentos.

Delineamento retilíneo Delineamento cônvexo Delineamento côncavo Delineamento denticulado

Delineamento em Delineamento em ponta Delineamento arredondado


Delineamento em “bec”
“rostre”

Fonte: Da Costa, A. (2018). Traduzido pela autora, 2020.

2.5.3 Análise dos Núcleos

Os núcleos são compreendidos como entidades estruturais que possuem


estigmas técnicos referentes aos métodos de lascamento (BOEDA, 1997).
Sendo assim a análise dos núcleos foram feitas a partir do sistema de debitagem
nos quais estão inseridos (Item 2.2). Para essa identificação foram analisados a
partir das seguintes características: matéria-prima; suporte da matéria-prima;
dimensões a partir da última sequência de lascamento; quantidade, disposição
e natureza do plano de percussão (plano produzido; predeterminado antes do
lascamento, nesse caso os planos são corticais; ou representados por negativos
de debitagem, as quais foram utilizadas como plano); quantidade e disposição
da superfície de lascamento em relação ao plano de percussão; quantidade de

51
sequencias de lascamento presentes na superfície de lascamento e quantidade
de negativos presentes nas sequências de lascamento.

2.5.4 Análise dos Instrumentos não lascados

Para a análise dos materiais não lascados foram realizados os seguintes


procedimentos metodológicos: registro das dimensões das peças; identificação
da matéria-prima, quando possível e dos tipos de suporte (seixo, bloco, veio etc).
As marcas de uso foram analisadas de acordo com seu posicionamento na peça
e características morfológicas dos traços de utilização. A partir desses itens foi
possível classificá-los em áreas ativas e áreas que foram receptoras de impacto
(PROUS, A. et al., 1991).

52
CAPÍTULO III - RESULTADO DA ANÁLISE DOS OBJETOS LÍTICOS DO
SÍTIO CACHOEIRA DO PINGADOR

Foram analisadas 2264 peças líticas pertencentes às quatro primeiras


camadas (II, III, IV e V4) arqueológicas do sítio Cachoeira do Pingador, sendo
465 lascas, 1064 cassons, 326 cassons com contra bulbo, 337 fragmentos de
matéria-prima, 2 núcleos, 29 instrumentos não lascados e 41 instrumentos.

Gráfico 1: Gráficos de classes líticas.

Classes líticas
800
700
600
500
400
300
200
100
0
Camada II Camada III Camada IV Camada V

Lasca casson casson com contra-bulbo


fragmento de matéria-prima Núcleo Instrumentos não lascados
instrumento

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Desse total, 235 peças encontram-se na camada II, 48 na camada III, 269
na Camada IV e 1397 camada V.
Como demonstrado no gráfico a maioria dos objetos líticos no sítio é
composto por lascas e cassons. Essas classes são quantitativamente mais
representativas em todas as camadas arqueológicas, seguido dos fragmentos
de matéria-prima, cassons com contra-bulbo, esses assim como os cassons, não
se sabe ao certo seu posicionamento na cadeia-operatória. Os “cassons com
contra-bulbo” foram assim definidos por possuírem negativos de retiradas de

4
Não houve presença de material lítico na primeira camada.

53
lascas com presença de “contra-bulbos”5, estes que aparecerem de forma
isolados em suas faces ou, raramente, dispostos em forma sequencial; em geral
os negativos tomam toda a borda dos pequenos cassons que em média
apresentam de 0,5 cm a 4,5 cm de comprimento, 0,3 a 4,2 cm de largura e 0,1
cm a 3,6 cm de espessura6. Estão presentes somente nas camadas IV e V do
setor H-0. Em termos quantitativos após as referidas categorias, estão os
instrumentos, presentes nas camadas II, IV e V; instrumentos não lascados,
também presentes nas camadas II, IV e V e núcleos presentes nas camadas IV
e V.
Como apresentado no gráfico a seguir, a maior parte do material lítico
presente no sítio é provindo do sílex e do arenito silicificado, com demonstrativos
menores de outras matérias-primas, como o quartzo, o arenito friável, cristal de
rocha e siltito. Informamos que algumas peças não puderam ser identificadas,
pois se apresentavam totalmente corticais.

5
Contra-bulbo: trata-se de um estigma tecnológico caracterizado por uma depressão localizada
no negativo da lasca, em área adjacente ao talão. A depressão corresponde ao positivo do bulbo
presente na lasca que foi destacada.
6
Análises posteriores deverão aclarar informações tecnológicas sobre tais peças, pois devido ao
contexto de pandemia no Brasil, causada pelo novo corona vírus, a partir de março/2019 não tive
acesso ao laboratório de arqueologia para dar continuidade às análises dessa categoria de
objetos.

54
Gráfico 2: Matérias-primas presentes nono sítio Cachoeira do Pingador

Matéria-prima

não identificado

quartzo

siltito

cristal de rocha

arenito silicificado

arenito friavel

quartzito

sílex

0 200 400 600 800 1000 1200

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

O gráfico de suporte de proveniência da matéria-prima demonstra que os


principais suportes escolhidos para o lascamento provém do veio, do seixo e, em
seguida dos blocos. Essa diversidade demonstra congruência com os diferentes
tipos de afloramentos de matéria-prima encontrados na região do sítio Cachoeira
do Pingador. O gráfico também mostra que a maioria do material não possui
córtex o que pode demonstrar uma maior exploração dos objetos líticos fora da
área do sítio.

55
Gráfico 3: Suportes de matérias-primas.

Suporte de matéria-prima
1200

1000

800

600

400

200

0
seixo bloco veio neocórtex sem córtex

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Como mencionado no capítulo anterior, foram obtidas informações


referentes aos suportes dos objetos líticos presentes no sítio e os diferentes tipos
de alteração pós-deposicional, presentes em suas superfícies. Tais informações
serão apresentadas a seguir.
Gráfico 4: Estado conservação das peças.

Conservação das peças


sem alteração
lustro fluvial/incrustração
alteração termica/incrustração
incrustração
pátina
alteração por indicios termicos
lustro fluvial
lasca fragmentada
fragmento de lasca

0 200 400 600 800 1000

Camada V Camada IV Camada III Camada II

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

56
Como demonstrado no gráfico de estado de conservação, na camada V
as peças em sua maioria não possuem alteração pós-deposicional.

Há ocorrência de material com “incrustação” na superfície de algumas


peças. Essa é constituída por grãos rochosos de dimensões variadas, unidos por
um sedimento fino; tal massa encontra-se cimentada na superfície dessas
peças, não sendo possível removê-la com água ou com os dedos. Está
localizada em diferentes partes das superfícies das peças, podendo ser em
instrumentos, lasca, núcleos ou casson, ela dificulta ou, em alguns casos,
impede a leitura de seus estigmas (figura 1). Peças com tais incrustações estão
localizadas principalmente nas camadas mais profundas.

Figura 14: Instrumento de número 5014 com presença de incrustações (marcadas em


vermelho.)

Fonte: Viana, 2020.

Também houve presença de peças com marcas de lustro e marcas de


lustro com incrustação, localizadas as camadas IV e V, sendo também as
camadas mais profundas do sítio. Esse tipo de alteração certamente está
relacionado ao ambiente no qual fora recolhido os suportes, indicando a
presença de água em suas proximidades.

As marcas de alteração por fogo se concentram mais nas camadas II e V,


porém não podem ser relacionadas diretamente à prática de tratamento térmico
de matérias-primas.

Como apresentado no gráfico, há também uma grande quantidade lascas


que são fragmentadas (48) e fragmentos de lasca (170), em maiores
quantidades nas camadas II e V.

57
3.1 Análise das Lascas

Foram feitas a análise de 465 lascas, sendo elas classificadas de acordo


com seus estigmas técnicos presentes na face inferior e superior.

Gráfico 5: Tipo de lasca.

Tipos de lasca
160
140
120
100
80
60
40
20
0
lasca lasca suporte lasca de lasca de lasca
confecção de reafiamento incompletas
gume

Camada II Camada III Camada IV Camada V

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Como apresentado no gráfico de lascas, há uma diversidade de lascas


presentes no sítio. Lascas que representam diferentes fases da cadeia
operatória de lascamento lítico, mais precisamente debitagem (produção de
suportes) e de confecção (produção de gumes de instrumentos). Dentre essas,
as mais representativas são as de confecção de instrumentos e reafiamento de
gume. Ressalta-se que o item “lasca”, presente nas camadas II, IV e V foi assim
definido por não apresentar elementos técnicos claros o suficiente para seu
posicionamento no processo de produção.

Gráfico 6: Tipo de talão.

58
Talão
30
25
20
15
10
5
0
camada II camada III camada IV camada V

fraturado linear liso triangular


sem forma definida cortical puntiforme em virgula
esmagado diedro facetado meia lua
em asa em "U" invertido em virgula/facetado cortical/fraturado
facetado/meia lua cortical/linear

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

O gráfico 6 mostra que há uma expressiva diversidade nos tipos de talão


presentes nas lascas do conjunto que é constante em todas as camadas, o que
está em congruência com a diversidade de lascas presentes, pois para cada tipo
obtida no lascamento há um tipo de talão referente a intenção da retirada. A
exceção ocorre na camada III, porém no quadro geral, a mesma possui pouca
quantidade de material lítico. Como demonstrado no gráfico acima a maior parte
dos talões foram os fraturados, seguido pelos lineares e lisos.

Gráfico 7: Tipo de lábio

Lábio
120

100

80

60

40

20

0
camada II camada III camada IV camada V

Sutil Proeminente Não identificado

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

59
Como mostrado no gráfico de lábio, em relação a sua sutileza, a maior
parte das lascas possui lábio sutil, o que indica o predomínio da utilização de
percutores de pedra dura; a presença de lábio proeminente, por sua vez, indica
uso concomitante de percutores macios.

Gráfico 8: Gesto de percussão

Gesto
120

100

80

60

40

20

0
camada II camada III camada IV camada V

percussão interna percussão periferica não identificado

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

O gráfico 8 apresenta os diferentes gestos usados no lascamento, e como


demonstra, a maioria deles foi realizada a partir de percussão periférica, o que
indica um lascamento que priorizava destacamentos das zonas periféricas dos
objetos, o que se coaduna com o quantitativo de lascas de reafiamento,
confecção de gume e das demais lascas, registradas como de pouco volume.
Há também presença de percussão interna, relacionada principalmente com as
lascas suportes.

60
Gráfico 9:Ponto de impacto.

Ponto de impacto
70

60

50

40

30

20

10

0
camada II camada III camada IV camada V

perceptivel não perceptivel não identificado

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

O gráfico 9 demonstra que a maioria dos pontos de impacto de percussão


das lascas não são perceptíveis, o que indica um uso mais preciso dos
percutores, além de estar relacionado com o possível uso dos percutores
macios. Também há uma porcentagem significativa de pontos de impacto
perceptíveis, associados a lascas de bulbos avantajados relacionados com o uso
dos percutores duros.

Gráfico 10:Tipo de percutor

Percutor

12%

53%

35%

percutor duro não identificados percutor macio

61
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

A partir do gráfico 10, pode-se perceber que a maioria dos percutores


usados foi de natureza dura, porém as características das lascas também
permitiram inferir que houve um quantitativo significativo de percutores macios
usados no lascamento do conjunto. Essa conclusão se dá pela a relação dos
itens aprestados anteriormente: característica do bulbo; grau de visibilidade do
ponto de impacto; e grau de proeminência do lábio.

As lascas também podem variar de dimensões, dependendo da sua


classe e da intenção da pessoa que lasca. Sendo assim, lascas que possuem
maior volume tendem a ser lascas de debitagem enquanto as de menor volume
tendem a ser lascas de confecção.

Gráfico 11: Morfologia das lascas

Morfologia das lascas


35
30
25
20
15
10
5
0
camada II camada III camada IV camada V

retangular não identificadas


triangular quadrangular
trapezoidal + larga que cumprida
desviada irregular
subcircular triangular com vertice p/ baixo

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

A partir do gráfico 11, pode-se observar que a maior parte da morfologia


das lascas é de formato retangular, seguida por aquelas não identificadas e as
triangulares. As morfologias das lascas derivam da intenção de quem lasca,
todavia, importante enfatizar que quando se trata de lascas-suportes a intenção
está no domínio de quem lasca, associado à concepção de debitagem e à
estrutura do núcleo, assim como ao método e técnica de exploração aplicados.
Vale enfatizar que, quando se trata de lascas de confecção de gume, a intenção

62
não está na retirada da lasca propriamente dita, mas no seu negativo que fica
incrustado no instrumento e que permite a construção do plano de bico, de corte
ou da superfície de ataque.

Gráfico 12: dimensões das lascas na camada II.

Comprimento e largura da camada II


6

4
comprimento

0
0 1 2 3 4 5
Largura

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Gráfico 13: dimensões das lascas na camada II.

Comprimento e espessura das lascas da camada II


4

3,5

3
Comprimento

2,5

1,5

0,5

0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5
Espessura

63
Como constatado nos gráfico 12 e 13, pode-se verificar que as lascas da
camada II, chegam até 5 cm de comprimento, porém a maioria delas estão entre
o intervalo de 0,8 cm a 3 cm de comprimento. Sobre sua largura, ver-se que a
maioria das lascas possuem largura entre 0,5 a 3 cm, mas podem chegar até 4,5
cm. A espessura das peças podem chegar até 3,5 cm, porém o predomino de
peças está entre 0,1 a 1,5 cm.

Gráfico 14: dimensões das lascas na camada II.

Comprimento e largura das lascas da camada III


5
4,5
4
3,5
3
Largura

2,5
2
1,5
1
0,5
0
0 1 2 3 4 5 6
Comprimento

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Gráfico 15: dimensões das lascas na camada III.

Comprimento e espessura das lascas da


camada III
1,6
1,4
1,2
Espessura

1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 1 2 3 4 5 6
Comprimento

64
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Como constatado nos gráfico 14 e 15, pode-se verificar que as lascas da


camada III, chegam até 5 cm de comprimento, porém a maioria delas estão entre
o intervalo de 0,8 cm a 1,5 cm de comprimento. Sobre sua largura, ver-se que a
maioria das lascas possuem largura entre 0,5 a 1,7 cm, mas podem chegar até
4,6 cm. A espessura das peças podem chegar até 1,4 cm, porém o predomino
de peças está entre 0,1 a 0,7 cm.

Gráfico 16: dimensões das lascas na camada IV.

Largura e comprimento das lascas da camada IV


10
9
8
7
6
Largura

5
4
3
2
1
0
0 2 4 6 8 10 12
Comprimento

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

65
Gráfico 17: dimensões das lascas na camada IV.

Comprimento e espessura das lascas da camada IV


4

3,5

2,5
Espessura

1,5

0,5

0
0 2 4 6 8 10 12
Comprimento

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Como constatado nos gráfico 16 e 17, pode-se verificar que as lascas da


camada III, chegam até 10,2 cm de comprimento, porém a maioria delas estão
entre o intervalo de 0,6 cm a 2,7 cm de comprimento. Sobre sua largura, ver-se
que a maioria das lascas possuem largura entre 0,4 a 2,7 cm, mas podem chegar
até 9 cm. A espessura das peças podem chegar até 3,5 cm, porém o predomino
de peças está entre 0,1 a 0,7 cm.

66
Gráfico 18: dimensões das lascas na camada V.

Comprimento e largura das lascas da camada V.


7

5
Largura

0
0 1 2 3 4 5 6
Comprimento

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Gráfico 19: dimensões das lascas na camada IV.

Comprimento e espessura das lascas da camada V


3

2,5

2
Espessura

1,5

0,5

0
0 1 2 3 4 5 6
Comprimento

Como constatado nos gráfico 18 e 19, pode-se verificar que as


lascas da camada III, chegam até 4,8 cm de comprimento, porém a maioria delas
estão entre o intervalo de 0,5 cm a 2,8 cm de comprimento. Sobre sua largura,
ver-se que a maioria das lascas possuem largura entre 0,6 a 2,8 cm, mas podem
chegar até 6 cm. A espessura das peças podem chegar até 2,5 cm, porém o
predomino de peças está entre 0,5 a 1 cm.
67
Gráfico 20: Número de negativos da face externa das lascas

Negativos da face externa

não identificadas
3 negativos
2 negativos
1 negativo com contrabulbo
5 ou mais negativos
cortical
1 negativo sem contrabulbo
4 negativos
3 negativos/ preparação de talão
2 negativos/ preparação de talão
5 negativos ou mais negativos/ preparação de…
1 negativo com contrabulbo/prepração de talão
4 negativos/ preparação de talão
preparação de talão
1 negativo sem contrabulbo/ preparação de talão
0 5 10 15 20 25 30 35 40
camada V camada IV camada III camada II

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Como apresentado no gráfico 16, o conjunto de lascas apresenta uma


variedade expressiva de quantidade de negativos na face superior. Esses
negativos estão relacionados a diferentes intensidades de exploração do suporte
antes da retirada da lasca. Observa-se que a maior parte delas apresenta mais
de 3 negativos, associadas a evidências de preparação de talão; em paralelo
seguem as lascas corticais ou com 2 negativos ou menos. Atento que as lascas
não identificadas, são as que estão fragmentadas ou com alterações pós-
deposicionais (incrustação) que não permitiram a leitura.

68
Gráfico 21: Orientação das nervuras da face exterior da lasca

Orientação das nervuras


A leitura não é possível
Nervuras paralelas
1 Nervura longitudinal
Lisa
1 Nervura longitudinal/ Nervuras paralelas
Cortical
Uma (ou mais) nervura transversal
Em “T”
Y invertido
Mais de 3 negativos
Y
0 10 20 30 40 50

camada V camada IV camada III camada II

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

De acordo com o gráfico 17, percebe-se que houve métodos de


lascamento tanto unidirecionais, quanto bidirecionais e multidirecionais, não
houve, portanto, exploração por um único método. A maioria das lascas
apresentaram os seguintes tipos: nervuras paralelas, 1 nervura longitudinal, com
a superfície superior lisa, nervuras paralelas com 1 nervura longitudinal. O
quantitativo referente a “leitura não é possível”, diz respeito as lascas que estão
fragmentadas ou com alterações pós-deposicionais (incrustação) que não
permitiram a leitura.

3.2 Análise dos núcleos

Foram identificados dois núcleos no conjunto, sendo ambos explorados


pelo método unipolar, apresentando aspectos estruturais e volumétricos
semelhantes, tendo sido explorados a partir do sistema de debitagem de
concepção de tipo “C”.

69
Como definido no capítulo 2, essa concepção é considerada como um
sistema adicional (abstrato), com apenas uma parte do núcleo explorado, a área
não lascada atuaria como reserva de matéria-prima ou para preensão. Nessa
concepção de debitagem, o maior investimento está na seleção da matéria-
prima, pois a matriz selecionada precisa apresentar naturalmente os critérios
técnicos: superfícies planas, para servir de plano de percussão e superfícies
convexas para a retirada de lascas (VIANA et al. 2014).

Peça 1191

O núcleo se localiza na IV camada, 15ª decapagem do sítio. Trata-se de uma


peça de sílex com 3,9 comprimento, 3,2 largura e 1,9 espessura. Apresenta uma
estrutura modular, com um volume pouco proeminente. Há um único plano de
percussão, sem córtex, de onde foi realizada uma sequência de lascamento, com
1 negativo. Tais negativos se estendem por boa parte da superfície de
debitagem.

Peça 2328

O núcleo se localizado na V camada, 16ª decapagem. Trata-se de uma peça de


arenito silicificado com 4,2 largura, 2,5 de comprimento e 3,0 espessura. A sua
estrutura é de formato modular, possuindo pouco volume, portanto, pouco
favorável para mais retiradas. O núcleo apresenta um único plano de percussão,
de onde foram realizadas duas sequencias de lascamento. Cada sequência
apresentou dois negativos cada, sendo os da segunda sequência de menor
comprimento enquanto as da primeira se estenderam até a outra borda da peça.

3.3 Análise dos instrumentos (não lascados)

Foram identificados 29 instrumentos não lascados, sendo eles: 22


percutores, 1 bigorna, 1 percutor/bigorna, 4 maceradores e 1 instrumento
fragmentado, e não classificados.

70
Gráfico 22: Instrumentos não lascados por camada.

Instrumentos não lascados


14

12

10

0
Percutores Bigorna Percutor/bigorna Macerador Instrumento
fragmentado

Camada II Camada III Camada IV Camada V

Fonte: Autora, 2020.

Como demonstrado no gráfico 18, foram identificados 22 percutores, esse


que apareceram em maior quantidade na camada V, seguida pela camada IV e
camada II. Destes percutores, um deles apareceu fragmentado, sendo assim,
não possibilitando a identificação completa de seus estigmas. Os percutores
aparecerem em diferentes morfologias de seixo, arredondados, quadrangulares
e em sua maioria retangulares, de tamanhos pequenos médios e grandes.
Naqueles que puderam ser identificados quanto a matéria-prima, registra-se a
maior quantidade do arenito silicificado, seguido do quartzo e sílex. As marcas
de desgaste de percussão apareceram tantos nas porções proximais e distais
quanto nas laterais das peças, em geral nas partes mais angulosas.

71
Figura 15: Percutores 1370, 1626 e 1372 em detalhe, respectivamente. Em vermelho, as marcas
de percussão.

Fonte: Viana, 2020. Tratado pela autora, 2020.

Como demonstrado no gráfico 18, foram identificados 4 maceradores,


dois na camada V, e dois na camada IV. Os maceradores aparecerem em
diferentes morfologias de seixo, arredondados e retangulares, de tamanhos
médios e grandes. A matéria-prima identificada foi o arenito silicificado. As
marcas de desgaste por maceração apareceram principalmente nas porções
distais das peças.

Figura 16: maceradores 1568 e 1623, respectivamente. Em vermelho, as marcas de uso.

72
Fonte: Viana, 2020. Tratado pela autora, 2020.

Como demonstrado no gráfico 18, foram identificadas duas bigornas,


sendo que uma delas foi utilizada também como percutor, uma está camada V,
e a outra na camada IV. As bigornas possuem suporte em seixo, sendo as duas
retangulares, de tamanhos médios e grandes. A matéria-prima identificada foi o
arenito silicificado. As marcas de desgaste por percussão direta e indiretas
apareceram nas porções distais e centrais das peças. Na peça 2334 foram
identificadas retiradas, que podem estar relacionadas a melhoraria do manuseio
da peça durante a utilzação.

Figura 17: Bigorna 2334. Em vermelho, as marcas de percussão e de retiradas.

Fonte: Viana, 2020. Tratado pela autora, 2020.

Como demonstrado no gráfico 18, foi identificado 1 instrumento não


lascado fragmentado, ele está presente na IV camada do sítio. É um instrumento
em arenito silicificado, em seixo de morfologia quadrangular de grande volume.
As marcas de uso desse instrumento estão localizadas na posição distal,
demarcado por um desgaste em todo bordo. Um pouco acima da área
fragmentada foram identificadas depressões dispostas nas laterais opostas,
assim como manchas avermelhadas que parecem circundar essa área. Tais
indícios nos fez inferir a possibilidade de encabamento.

73
Figura 18: Instrumento não lascado 1610. Em vermelho tracejado, marcas de uso; as setas
vermelhas indicam as marcas de encabamento.

Fonte: Viana, 2020. Tratado pela autora, 2020.

3.4 Análise dos instrumentos (lascados)

A descrição dos instrumentos do sítio Cachoeira do Pingador foi


organizada de acordo com as camadas e as decapagens selecionadas para o
presente trabalho.

Na camada V foi encontrada a maior quantidade de instrumento, seguido


da camada IV e II. Como pode ser observado no capítulo 1, a camada III é isenta
de instrumentos lascados.

Tabela 2: Esquemas gerais de produção de instrumento.

CAMADA DECAPAGEM QUANTIDADE DE INSTRUMENTO


Camada V 17 12
16 9
Camada IV 15 3
14 1
13 3
12 2
11 1
10 1
CAMADA III - -
CAMADA II 5 4

74
4 3
3 1

Fonte: Viana, 2020.

A seguir apresentaremos a descrição detalhada dos instrumentos


considerando o tipo de suporte, as características das unidades técnico
transformativas (UTF t) e unidades técnico preensivas (UTFp), as quais foram
representadas conforme discriminado na legenda a seguir.

Figura 19: Legenda dos esquemas de instrumentos.

Legenda para leitura dos


instrumentos
Parte preensiva
UTFt
Direção das retiradas
Plano de seção

Córtex

Incrustação

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

3.4.1 CAMADA V
Decapagem 17ª

CP-1571

O instrumento de número CP-1571 está localizado na 17ª decapagem da V


camada arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre um ‘bruto
de debitagem’ em sílex provindo de um veio, possuindo alteração térmica e lustro
em sua superfície. Apresenta 5,4 cm de comprimento, 3,3 cm de largura e 2,3
cm. O instrumento possui uma UTFt, localizada na porção meso-distal do bordo
esquerdo, com retoques na face direta do objeto com negativos de comprimento
micro, curto e longo compondo um gume de delineamento denticulado de
morfologia subparalela. A UTFt possui um ângulo de bico de 85° e um ângulo de
corte de 75°, com um perfil em bisel simples, plano-concavo, com um gume em

75
estado de conservação embotado e uma superfície de ataque aproveitada da
debitagem. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp
foi parcialmente aproveitada da morfologia e volume natural da peça e
parcialmente produzida; o manuseio teria sido realizado a partir da preensão em
força. Assim, o provável uso do instrumento, teria sido para ações de raspar.

Figura 20: Instrumento de número 1517.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-4780

O instrumento CP-4780 localizado na 17ª decapagem da V camada arqueológica


do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca de matéria-prima em
arenito silicificado, possuindo marcas de alteração em lustro. Apresenta 2,9 cm
de comprimento, 2,0 cm de largura e 0,6 cm de espessura. O instrumento possui
duas UTFts. A primeira (UTFt 1) está localizada na porção meso distal do bordo
esquerdo com negativos distribuídos parcialmente nele, apresenta delineamento
do gume em forma retilínea, os retoques são de comprimento micro e curto que
alternam por ambas as faces da peça, compondo uma morfologia subparalela.
A UTFt 1 tem um ângulo de bico de 67° e de corte 60°, com gume em estado
fresco, possui um perfil em bisel simples, plano convexo, com sua superfície de
ataque produzida. A segunda (UTFt 2) está localizada no bordo distal, com
negativos distribuídos em todo ele, com delineamento do gume em ponta
convergente, com retoques de comprimento micro, curto, longos e invasivos que

76
alternam por ambas as faces da peça, compondo uma morfologia subparalela.
A UTFt 2 tem um ângulo de bico de 60° e de corte 55°,com um gume em estado
fresco e com sua superfície de ataque produzida. Em relação a preensão do
instrumento, verificou-se que sua UTFp foi produzida e aproveitada da
debitagem para promover seu manuseio a partir da preensão em força e pinça.
Assim a UTFt 1 provavelmente teria sido utilizada para ações de raspar e cortar
e a UTFt 2 para perfurar e raspar.

Figura 21: Instrumento de número 4780.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-2429

O instrumento de número CP-2429 está localizado na 17ª decapagem da V


camada arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca
em matéria-prima de sílex, possuindo marcas de alteração de lustro na sua
superfície. Tem 1,7 cm de comprimento, 1,2 cm de largura e 0,7 cm de
espessura. O instrumento possui uma UTFt no bordo esquerdo, com gume de
delineamento irregular, utilizado em seu estado bruto, conforme se observa as
marcas de uso de comprimento micro, presentes na face superior da lasca,
compondo uma morfologia irregular. A UTFt tem um ângulo de bico de 80° e de

77
corte 50°. O gume apresenta-se fresco, possuindo um perfil em bisel simples,
plano-concavo, sendo sua superfície de ataque aproveitada da debitagem. Em
relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi parcialmente
aproveitada dos negativos anteriores à produção do objeto ligados a debitagem
e de superfície produzida para promover seu manuseio, realizado a partir da
preensão em pinça. O funcionamento da peça não foi identificado.

Figura 22: Esquema do instrumento de número 2429.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-8060

O instrumento de número CP-8060, localizado na 17ª decapagem da V camada


arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca bipolar
em quartzo leitoso sobre seixo. Apresenta 1,7 cm de comprimento, 1,2 cm de
largura e 0,7 cm de espessura. O instrumento possui uma UTFt no bordo
esquerdo, com gume de delineamento retilíneo, utilizado em seu estado bruto,
conforme se observa as marcas de uso presentes nele que são de comprimento
micro e estão localizadas na face inferior da lasca, compondo uma morfologia
irregular. A UTFt tem um ângulo de bico de 90° e de corte 85°. O gume está num
estado de conservação ainda fresco, possuindo um perfil em bisel simples,
plano-cônvexo, a superfície de ataque foi aproveitada. Em relação a preensão
do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada do delineamento
natural do gume e do volume do seixo, o manuseio teria sido realizado a partir

78
da preensão em pinça e força. O uso da peça foi provavelmente para ações de
raspar.
Figura 23: Imagem e esquema do instrumento de número 8060.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-5148

O instrumento de número CP-5148 está localizado na 17ª decapagem na V


camada arqueológica do síitio. Trata-se de uma peça produzida sobre um ‘bruto
de debitagem’ em matéria-prima de sílex sobre veio, possuindo marcas de
alteração lustrosas e bordas arredondas. Tem 2,8 cm de comprimento, 2,0 cm
de largura e 1,2 cm de espessura. O instrumento possui duas UTFts. A primeira
UTFt, é caracterizada por uma pequena ponta convergente, localizada na lateral
esquerda da peça, com retoques de comprimento micro e curto em posição
direta da peça, compondo uma morfologia subparalela. Essa UTFt tem um
ângulo de bico de 65° e de corte 55°. O gume apresenta-se em estado fresco,
possuindo um perfil em bisel simples, plano-cônvexo, e a superfície de ataque
produzida. A segunda UTFt está localizada no bordo distal, com gume de
delineamento convexo, com retoques de comprimento micro, curto e longo na
face direta do bordo, compondo uma morfologia subparalela. A UTFt tem um
ângulo de bico de 80° e de corte 65°. O gume está num estado de conservação
embotado, possuindo um perfil em bisel simples, plano-convexo e a sua
superfície de ataque foi aproveitada a partir de superfícies antigas. Em relação

79
a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada dos
negativos anteriores a produção do objeto relacionados a debitagem,
relacionados a debitagem e produzida para promover seu manuseio, esse que
teria sido realizado a partir da preensão em força e pinça. Sendo assim, o
provável uso da peça foi feita para raspar e perfurar outras superfícies.

Figura 24: Imagem e esquema do instrumento de número 5148

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-8018

O instrumento de número CP-8018 está localizado na 17ª decapagem da V


camada arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca
em sílex, possuindo marcas de alteração térmicas e concreção. Tem 2,5 cm de
comprimento, 1,5 cm de largura e 1,0 cm de espessura. O instrumento possui
uma UTFt constituída em ponta na convergência do bordo distal e do bordo
esquerdo, com retoques de comprimento micro, curto e longo que alternam nas
faces da peça, compondo uma morfologia subparalela. A UTFt tem um ângulo
de bico de 90° e de corte 60°. O gume apresenta-se arredondado e a superfície
de ataque foi produzida. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que
sua UTFp foi aproveitada dos negativos anteriores a produção do objeto
relacionados a debitagem e produzida para promover seu manuseio, esse que

80
teria sido realizado a partir da preensão em pinça. Sendo assim, o provável uso
da peça teria sido para perfurar outras superfícies.

Figura 25: Imagem e esquema do instrumento de número 8018.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-6592

O instrumento CP-6592 está localizado na 17ª decapagem da camada V do perfil


estratigráfico. Trata-se de uma peça foi produzida sobre um suporte natural em
matéria-prima de sílex, proveniente de seixo, possuindo marcas de alteração
lustrosas. Tem 2,0 cm de comprimento, 1,9 cm de largura e 1,5 cm de espessura.
Foi identificado uma UTFt, localizada no bordo distal da peça, com retoques de
comprimento micro, curto e longo que alternam nas faces da peça, compondo
uma morfologia subparalela, com delineamento do gume retilíneo. A UTFt possui
um ângulo de bico de 85°, o ângulo de corte é de 80°, com um perfil em bisel
duplo plano-plano e uma superfície de ataque produzida e com um gume estado
de conservação embotado. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se
que sua UTFp foi produzida para possibilitar seu manuseio, com uma preensão
em pinça. O funcionamento da peça não foi identificado.

81
Figura 26: Esquema do instrumento de número 4780.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-7782

O instrumento CP-7782 que está localizada na 17ª decapagem da V camada


arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca, em
matéria-prima de sílex, possuindo marcas de alteração em lustro e com bordas
arredondas. Apresenta 4,2 cm de comprimento, 2,2 cm de largura e 1,7 cm de
espessura. O instrumento possui uma UTFt distribuída em todo seu bordo distal,
com gume de delineamento irregular, os retoques são de comprimento micro e
curto que alternam pelas faces da peça, compondo uma morfologia subparalela.
A UTFt tem um ângulo de bico esgotado e de corte com 75°. Assim, o gume
encontra-se em estado de esgotamento embotado, com evidências de
arredondamento pelo uso, possui um perfil em bisel duplo, plano convexo, sendo
sua superfície de ataque produzida. Em relação a preensão do instrumento,
verificou-se que sua UTFp foi parcialmente aproveitada a partir dos negativos
anteriores, relacionados a fase de debitagem e, parcialmente produzida; o seu
manuseio teria sido realizado a partir da preensão em força e pinça. O uso
provável do instrumento seria para ações de raspar.

82
Figura 27: Instrumento de número 7782.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-5169

O instrumento de número CP-5169, localizado na 17ª decapagem da V camada


arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca de
matéria-prima em arenito silicificado, possuindo marcas de alteração lustrosas
de fogo. Apresenta 3,4 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e 0,7 cm de
espessura. O instrumento possui duas UTFts, a primeira UTFt constitui-se numa
ponta convergente, fraturada na porção distal da peça; apresenta retoques de
comprimento micro e curto na face superior da lasca, compondo uma morfologia
subparalela e uma superfície de ataque aproveitada. A segunda UTFt está
localizada na porção mesial do bordo esquerdo, com gume em delineamento em
bico, com retoques de comprimento curto na face superior da peça, compondo
uma morfologia subparalela. Essa UTFt tem um ângulo de bico de 70° e de corte
45°. O gume está num estado de conservação fresco; apresenta superfície de
ataque aproveitada. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua
UTFp foi produzida para promover seu manuseio, que teria sido realizada a partir
da preensão em pinça. Infere-se que o provável uso da peça seria para perfurar
outras superfícies.

83
Figura 28: Imagem e esquema do instrumento de número 5169.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-7781

O instrumento de número CP-7781 está localizado na 17ª decapagem da V


camada arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca
em matéria-prima de arenito silicificado sobre seixo, possuindo marcas de
alteração lustrosas e bordas arredondas. Apresenta 4,5 cm de comprimento, 2,8
cm de largura e 2,4 cm de espessura. O instrumento possui duas UTFts, a
primeira UTFt está localizada na porção mesial do bordo esquerdo, com gume
de delineamento sinuoso, com retoques de comprimento micro, curto e longo
que alternam pelas as faces da peça, compondo uma morfologia paralela. Essa
UTFt tem um ângulo de bico de 90° e de corte 70°. O gume está num estado de
conservação embotado, possuindo um perfil em bisel duplo, plano-cônvexo, a
superfície de ataque foi produzida. A segunda UTFt, é constituída por uma ponta
convergente na porção meso-distal do bordo esquerdo da peça, com retoques
de comprimento micro, curto e longo na face superior da peça, compondo uma
morfologia paralela. Essa UTFt tem uma ângulo de bico maior que 90° e de corte
75°. Está alta angulação está relacionada ao estado de esgotamento e
arredondamento do gume. A superfície de ataque foi aproveitada da debitagem.
Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi

84
aproveitada dos negativos anteriores a produção do objeto, o que teria
favorecido seu manuseio, que teria sido realizado a partir da preensão em força
e pinça. O provável uso da peça teria sido para raspar e perfurar outras
superfícies.

Figura 29: Esquema e foto do instrumento de número 7781.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-5014

O instrumento fragmentado de número CP-5014 está localizado na 17ª


decapagem da V camada arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida
sobre ‘bruto de debitagem’ em matéria-prima em sílex, possuindo marcas de
alteração térmicas e concreção. Apresenta 2,0 cm de comprimento, 1,5 cm de
largura e 0,9 cm de espessura. Foi identificado uma UTFt, localizada no bordo
esquerdo, com retoques de comprimento micro, curto e longo que se alternam
entre as faces da peça, compondo uma morfologia subparalela com gume de
delineamento irregular. A UTFt possui um ângulo de bico maior que 90°, que
pode ser devido ao estado de esgotamento do gume, o ângulo de corte é de 76°,
com uma superfície de ataque produzida. Em relação a preensão do instrumento,
verificou-se que sua UTFp foi aproveitada dos negativos de debitagem para
possibilitar seu manuseio, esse que teria sido realizado a partir da preensão em
pinça. O funcionamento da peça não foi identificado.

85
Figura 30: Imagem e esquema do instrumento de número 5014.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-4805

Trata-se de um instrumento fragmentado de número CP-4805, localizado na 17ª


decapagem na camada V do perfil estratigráfico. A peça foi produzida sobre
‘bruto de debitagem’, em matéria prima de sílex, possuindo marcas de alteração
térmicas. Apresenta 2,0 cm de comprimento, 2,0 cm de largura e 1,5 cm de
espessura. Foi identificada uma UTFt localizada no bordo distal da peça, com
retoques de comprimento micro, curto e longo na face inversa da peça,
compondo um gume de morfologia subparalela e de gume com delineamento
retilíneo. A UTFt possui um ângulo de bico de 75°, o ângulo de corte é de 70°,
com um perfil em bisel simples, plano-plano e uma superfície de ataque
produzida com um gume estado de conservação ainda fresco. Em relação a
preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada dos
negativos de debitagem para promover seu manuseio, esse que foi feito a partir
da preensão em pinça. O funcionamento da peça não foi identificado.

86
Figura 31: Imagem e esquema do instrumento de número 4805.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Decapagem 16ª

CP-2324

O instrumento CP-2324 localizado na 16ª da V camada arqueológica do sitio é


uma peça produzida sobre uma lasca de matéria-prima em sílex, possuindo
concreções por quase toda sua superfície superior. Apresenta 8,8 cm de
comprimento, 4,2 cm de largura e 2,5 cm de espessura. O instrumento possui
apenas uma UTFt, localizada na convergência do bordo distal e do seu bordo
direito, constituindo um gume de delineamento em ponta-borda, com micro
retoques e marcas de uso, presentes na face inferior da peça. A UTFt tem um
ângulo de bico de 65° e de corte com 40°. O gume encontra-se em estado ainda
fresco, com sua superfície de ataque aproveitada de negativos provindos da
debitagem. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp
foi aproveitada da volumetria e angulosidade natural da peça e dos negativos de
debitagem, o que teria favorecido o seu manuseio a partir da preensão em força.
Permitindo assim um provável uso da peça para ações de perfurar e raspar.

87
Figura 32: Instrumento de número 2324.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-2323

O instrumento CP-2323 que está localizado na 16ª decapagem, da V camada


arqueológica do sítio, é uma peça produzida sobre um suporte natural em seixo
de matéria-prima em sílex, com marcas de alterações que deixaram as bordas
da peça arredondadas. Tem 5,0 cm de comprimento, 3,3 cm de largura e 1,3 cm
de espessura. O instrumento possui duas UTFts. A primeira (UTFt 1), está
localizada na porção meso distal do bordo esquerdo, com negativos distribuídos
em todo ele, com delineamento do gume retilíneo, os retoques são de
comprimento micro e curto que alternam pelas as duas faces da peça, compondo
uma morfologia escamosa. A UTFt 1 tem um ângulo de bico de 75° e de corte

88
75°, com gume em estado embotado, possui um perfil em bisel simples, plano
convexo. A segunda (UTFt 2) está localizada no bordo distal, com negativos
distribuídos em todo ele, com delineamento do gume retilíneo, possui retoques
de comprimento micro e curto na fase inversa, compondo uma morfologia
subparalela. A UTFt 2 tem um ângulo de bico de 70° e de corte 70°, com um
gume em estado embotado. Ambas superfícies de ataque das UTFts foram
produzidas pelo o desplacamento intencional do seixo. Em relação a preensão
do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi produzida e aproveitada da
angulosidade natural da peça seu manuseio a partir da preensão em força e
pinça. Permitindo assim um provável uso do instrumento para ações de raspar.

Figura 33: Instrumento de número 2323.

UTFt 2

UTFt 1

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

89
CP-2333

O instrumento de número CP-2333 que está localizado na 16ª decapagem na V


camada arqueológica do sítio é uma peça produzida sobre um suporte natural
em seixo em matéria-prima em sílex, possuindo bordas arredondas. Apresenta
2,2 cm de comprimento, 1,7 cm de largura e 1,2 cm de espessura. O instrumento
possui duas UTFts. A primeira UTFt está localizada na porção mesial do bordo
direito, com delineamento do gume retilíneo, com retoques de comprimento
micro e curto, cujos negativos estão em posição direta e compõe uma morfologia
paralela. Essa UTFt tem um ângulo de bico de 80° e de corte 70°. O gume está
num estado de conservação arredondado, possuindo um perfil em bisel simples,
plano-convexo, sendo sua superfície de ataque aproveitada. A segunda UTFt
está constituída em uma ponta convergente, localizada na porção direita do
bordo distal da peça, com retoques de comprimento curto, localizados em
posição direta da peça, compondo uma morfologia subparalela. A UTFt tem um
ângulo de 90° e de corte 55°. O gume está num estado de conservação
arredondado, com uma superfície de ataque aproveitada. Em relação a preensão
do instrumento, verificou-se que sua UTFp teria sido produzida para promover
seu manuseio; esse que teria sido realizado a partir da preensão em pinça,
sendo assim, o provável uso da peça seria para raspar e perfurar outras
superfícies.

90
Figura 34: Instrumento de número 2333.

UTFt 2

UTFt 1

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-2320

O instrumento CP-2320 que está localizado na 16ª decapagem da V camada


arqueológica do sítio, é uma peça produzida sobre um suporte natural em seixo
de arenito silicificado. Apresenta 5,4 cm de comprimento, 6,8 cm de largura e 2,6
cm de espessura. O instrumento possui duas UTFts, a primeira UTFt está
localizada na porção esquerda do bordo distal da peça, os negativos presentes
estão distribuídos em todo ele, com gume em delineamento convexo e com
negativos de comprimento curtos, localizados na face direta, compondo uma
morfologia subparalela. A UTFt 1 tem um ângulo de corte de 65° e como os
bordos da peça estão muito arredondados não há possibilidade de medir o
ângulo de bico. O gume possui um perfil em bisel simples, plano convexo, com
sua superfície de ataque natural, proveniente da superfície natural e cortical do
suporte. A UTFt 2 devido ao intenso processo de arredondamento dos bordos,

91
foi delimitada a partir de sua superfície de ataque, que apresenta marcas
provocadas pelo uso da face superior da porção direita do bordo distal, essa que
possui dois negativos paralelos pouco evidentes. Em relação a preensão do
instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada da angulosidade e
volumetria natural da peça; seu manuseio foi feito a partir da preensão em força,
o que teria permitido assim um provável uso das UTFts para ações de raspar.

Figura 35: Instrumento de número 2320.

UTFt 1 UTFt 2

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-5287

O instrumento CP-5287 que está localizado na 16ª decapagem da V camada


arqueológica do sítio é uma peça produzida sobre um ‘bruto de debitagem’ em
veio de sílex, com marcas de alterações térmicas e concreção em sua superfície.
Apresenta 3,9 cm de comprimento, 2,5 cm de largura e 2,0 cm de espessura. O
instrumento possui uma UTFt, localizada na porção distal da peça, com
delineamento do gume em ponta convergente formada por quatro principais
negativos, de dimensões micro, curto e longo, constituindo uma peça de quatro
faces. A UTFt tem um ângulo de corte de 45° e devido ao estado arredondado
da ponta não foi possível medir o ângulo de bico da peça, estando assim o gume
em estado embotado. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que
sua UTFp foi aproveitada para seu manuseio e foi feito a partir da preensão em

92
força e pinça. Assim um provável uso da UTFt para ações de perfurar por
rotação.

Figura 36: Instrumento de número 5287.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-2343

O instrumento CP-2343 que está localizada na 16ª decapagem da V camada


arqueológica do sítio é uma peça produzida sobre um ‘bruto de debitagem’ em
matéria-prima de sílex, com marcas de alterações térmicas em sua superfície.
Apresenta 5,5 cm de comprimento, 2,7 cm de largura e 1,8 cm de espessura. O
instrumento possui uma UTFt localizada na porção distal da peça, com
delineamento em ponta borda, com retoques que são de comprimento micro e
curto, localizados na face direta da peça, compondo uma morfologia subparalela.

93
A UTFt tem um ângulo de corte de 75° e devido a ponta estar fraturada não foi
possível medir o ângulo de bico da peça. Apresenta uma superfície de ataque
aproveitada de negativos da debitagem. Em relação a preensão do instrumento,
verificou-se que sua UTFp foi produzida; o funcionamento teria sido a partir da
preensão em força e pinça, o que teria permitido um uso provável do instrumento
para ações de perfurar.

Figura 37: Instrumento de número 2343.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-2301

O instrumento CP-2301 está localizado na 16ª decapagem da V camada


arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca em
arenito silicificado sobre seixo. Apresenta 10,6 cm de comprimento, 9,7 cm de
largura e 3,8 cm de espessura. O instrumento possui uma UTFt distribuída em
todo seu bordo esquerdo, com gume de delineamento denticulado, os retoques
são de comprimento micro e curto, presentes na face inversa da peça, compondo
uma morfologia subparalela. A UTFt tem um ângulo de bico de 75° e de corte
60°, o gume se apresenta em estado fresco, apresenta perfil em bisel simples,

94
côncavo-côncavo, sendo sua superfície de ataque aproveitada da debitagem.
Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi
aproveitada de negativos da debitagem e do volume e delineamento natural da
peça para promover seu manuseio, a partir da preensão em força. Assim o
provável uso da peça para ações de corte.

Figura 38: Instrumento de número 2301.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-5023

O instrumento de número CP-5023 que está localizado na 16ª decapagem da


camada V é uma peça produzida sobre um suporte natural em matéria-prima em
sílex. Apresenta 5,0 cm de comprimento, 3,4 cm de largura e 2,0 cm de
espessura. O instrumento possui apenas uma UTFt, localizada no bordo distal
da peça, com retoques alternados em ambas as faces do objeto; os retoques
apresentam dimensões micro e curto, compondo uma morfologia subparalela; o
delineamento do gume apresenta um leve contorno em “rostre”. A UTFt possui
um ângulo de bico de 75°, o ângulo de corte é de 70°, com um perfil em bisel
simples côncavo-plano e uma superfície de ataque produzida e com um gume
estado de esgotamento embotado. Em relação a preensão do instrumento,
verificou-se que sua UTFp foi aproveitada do delineamento e volumetria natural
da peça, seu manuseio teria sido realizado a partir da preensão em força.
Permitindo assim um provável uso da peça para ações de raspar.

95
Figura 39: Ilustração do instrumento de número 5023.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-2410

O instrumento de número CP-2410 que está localizado na 16ª decapagem da


camada V do sítio é uma peça produzida sobre uma lasca em matéria-prima de
sílex, possuindo alteração térmica e lustro em sua superfície. Apresenta 4,9 cm
de comprimento, 3,7 cm de largura e 2,5 cm de espessura. O instrumento possui
uma UTFt, na porção direita do bordo distal, com retoques alternando em ambas
as faces do objeto com negativos de comprimento micro, curto e longo,
compondo um gume de delineamento convexo e de morfologia subparalela. A
UTFt possui um ângulo de bico de 84° e um ângulo de corte de 70°, com um
perfil em bisel duplo, plano-concavo, com um gume em estado de conservação
embotado e uma superfície de ataque produzida. Em relação a preensão do
instrumento, verificou-se que sua UTFp foi produzida; o manuseio teria sido
realizado a partir da preensão em força. Não foi possível identificar como poderia
ter sido o instrumento.

96
Figura 40: Imagem e esquema do instrumento de número 2410.

UTFt

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

3.4.2 CAMADA IV
Decapagem 15ª

CP-5043

O instrumento CP-5043, que está localizado na 15ª decapagem da IV camada


arqueológica do sítio, é uma peça produzida sobre um suporte em sílex, possui
marcas de alteração de lustro e concreções sobre sua superfície. Apresenta 5,3
cm de comprimento, 3,5 cm de largura e 3,2 cm de espessura. O instrumento
possui uma UTFt, localizada na porção direita do seu bordo distal com negativos
distribuídos parcialmente nele, cujas dimensões são de comprimento micro e
curto que alternam em ambas as faces da peça, compondo uma morfologia
irregular. O delineamento do gume é convexo. A UTFt tem um ângulo de bico de
75° e de corte 90°, com gume em estado fresco, possui um perfil em bisel
simples, plano convexo, sendo sua superfície de ataque produzida. Em relação
a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi produzida para
promover seu manuseio a partir da preensão em força. Assim o uso da peça teria
sido, provavelmente para ações de raspar.

97
Figura 41: Esquema do instrumento de número 5043

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-1919

O instrumento CP-1919, está localizado na 15º decapagem da IV camada do


arqueológica do sítio trata-se de uma peça produzida sobre um ‘bruto de
debitagem’ em quartzo leitoso sobre seixo. Apresenta 3,2 cm de comprimento,
2,4 cm de largura e 1,4 cm de espessura, possuindo marcas de alteração de
lustro e bordas arredondas. O instrumento possui apenas uma UTFt, cujos
negativos estão localizados em toda a porção meso distal do seu bordo
esquerdo, formando um gume de delineamento côncavo, os retoques são de
comprimento curto e longo, dispostos de forma alterna em ambas as faces da
peça, compondo uma morfologia subparalela. A UTFt tem um ângulo de bico de
80° e de corte 75°, estando em estado embotado/ arredondado, possui um perfil
em bisel duplo, plano côncavo, sendo sua superfície de ataque produzida. Em
relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada
dos partir dos negativos anteriores relacionados a fase de debitagem para
promover seu manuseio a partir da preensão em pinça. Assim, o instrumento
poderia ter sido usado para ações de raspar.

98
Figura 42: Ilustração do instrumento de número 1919.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-5284

O instrumento CP-5284 que está localizada na 15ª decapagem na IV camada


arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre lasca em matéria-
prima de arenito silicificado, com marcas de concreção em sua superfície.
Apresenta 2,8 cm de comprimento, 1,6 cm de largura e 1,5 cm de espessura. O
instrumento possui uma UTFt, localizada na porção mesial do bordo esquerdo
da peça; o gume apresenta delineamento irregular, com retoques de dimensões
micro, curto e longo na face superior da lasca, compondo uma morfologia
subparalela. A UTFt tem um ângulo de corte de 85° e, devido ao estado de
esgotamento do gume, não foi possível medir o ângulo de bico da peça, possui
uma superfície de ataque aproveitada. Em relação a preensão do instrumento,
verificou-se que sua UTFp foi aproveitada a partir dos negativos da debitagem,
que favorecera o seu manuseio a partir da preensão em pinça. Permitindo assim
um provável uso da peça para ações de raspar.

99
Figura 43: Ilustração do instrumento de número 5284.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Decapagem 14ª
CP-4257

O instrumento CP-4257 que está localizado na 14ª decapagem na IV camada


arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca em
matéria-prima de sílex, possuindo pátina por toda sua superfície. Apresenta 5,0
cm de comprimento, 5,1 cm de largura e 2,6 cm de espessura. O instrumento
possui apenas uma UTFt localizada no seu bordo distal, de delineamento do
gume retilíneo, com retoques de comprimento curto, presentes alternando nas
faces da peça, compondo uma morfologia subparalela. A UTFt tem um ângulo
de bico de 70° e de corte com 70°. O gume encontra-se em estado ainda fresco,
possui um perfil em bisel duplo, plano côncavo, uma superfície de ataque
aproveitada de negativos da debitagem. Em relação a preensão do instrumento,
verificou-se que sua UTFp foi aproveitada da angulosidade e volume natural da

100
peça; o manuseio teria ocorrido a partir da preensão em força, favorecendo um
provável uso da peça para ações de cortar e raspar.

Figura 44: Ilustração do instrumento de número 4257.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Decapagem 13ª
CP-2540

O instrumento CP-2540 que está localizado na 13ª da IV camada arqueológica.


Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca de arenito silicificado em seixo.
Apresenta 8,3 cm de comprimento, 6,9 cm de largura e 3,7 cm de espessura. O
instrumento possui uma UTFt na porção mesial do bordo distal de delineamento
de gume em ponta-convergente, com retoques de comprimento micro, curto e
longo, distribuídos pelas as faces do instrumento compondo uma morfologia
subparalela. A UTFt tem um ângulo de bico de 90° e de corte com 80°. O gume
encontra-se em estado de conservação ainda fresco, com sua superfície de
ataque produzida. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua
UTFp foi aproveitada a partir do volume e da angulosidade natural da peça e dos

101
negativos de debitagem para promover seu manuseio a partir da preensão em
força. Permitindo assim um provável uso da peça para ações de perfuração.

Figura 45: Ilustração do instrumento de número 2540.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-2522

O instrumento de número CP-2522 está localizado na 13ª decapagem da IV


camada arqueológica do sítio. Trata-se uma peça produzida sobre seixo em
matéria-prima de sílex, possuindo alteração térmica em sua superfície.
Apresenta 5,0 cm de comprimento, 3,9 cm de largura e 1,2 cm. O instrumento
possui uma UTFt, no bordo distal, com retoques alternando em ambas as faces
do objeto com negativos de comprimento micro e curto, compondo um gume de
delineamento irregular e de morfologia escamosa. A UTFt possui um ângulo de
bico de 87° e um ângulo de corte de 64°, com um perfil em bisel duplo, concavo-
convexo, com um gume em estado de conservação fresco e uma superfície de
ataque produzida. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua

102
UTFp foi aproveitada da morfologia e volume natural da peça; o manuseio teria
sido realizado a partir da preensão em força e pinça. Assim, o provável uso do
instrumento teria sido para ações de raspar e cortar.

Figura 46: Ilustração do instrumento de número 2522.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-2546

O instrumento CP-2546 está localizada na 13ª decapagem da IV camada


arqueológica. Trata-se de uma peça produzida sobre lasca em matéria-prima de
sílex de seixo. Apresenta 2,6 cm de comprimento, 1,2 cm de largura e 0,8 cm de
espessura e possui marcas de lustro por sua superfície. O instrumento possui
uma UTFt localizada no seu bordo direito, formando um gume de delineamento
irregular, com retoques de comprimento micro, curto e longo, presentes na face
superior da lasca, compondo uma morfologia escamosa. A UTFt tem um ângulo
de bico e de corte de 85°, estando o gume em estado de conservação esgotado,
com uma superfície de ataque aproveitada a partir de negativos produzidos na
fase de debitagem. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua
UTFp foi produzida para promover seu manuseio a partir da preensão em pinça.
Assim o instrumento poderia ter sido para ações de raspar.

Figura 47: Ilustração do instrumento de número 2546.

103
UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Decapagem 12ª
CP-2039

O instrumento CP-2039 que está localizado na 12ª decapagem da IV camada


arqueológica do sítio, é uma peça produzida sobre lasca um suporte natural em
seixo de matéria-prima em arenito silicificado. Apresenta 5,0 cm de comprimento,
3,2 cm de largura e 1,5 cm de espessura. O instrumento possui duas UTFts. A
primeira (UTFt 1) está fragmentada e localizada na porção meso proximal do
bordo esquerdo, porém ainda possui micro e curtos negativos provindos do uso,

Figura 48: Ilustração do instrumento de número 2039.


que alternam pelas faces da peça, compondo um delineamento retilíneo e uma
morfologia irregular. A UTFt 1 tem um ângulo de bico de 60° e de corte 50°, com
gume em estado fresco, possui um perfil em bisel duplo, plano-plano, com sua
superfície de ataque aproveitada. A segunda (UTFt 2) está localizada na porção
meso distal do bordo direito, com negativos de uso distribuídos nele, com
delineamento do gume retilíneo, possui retoques de comprimento micro na face
inferior, compondo uma morfologia irregular. A UTFt 2 tem uma ângulo de bico
de 70° e de corte 70°, com sua superfície de ataque aproveitada. Em relação a
preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi produzida e aproveitada
da angulosidade natural da peça seu manuseio, permitindo uma preensão em
força e pinça. Assim o instrumento teria sido provavelmente utilizado para ações
de raspar.

104
Figura 49: Instrumento de número 2039.

UTFt 2

UTFt 1

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-2118

O instrumento de número CP-2118 que está localizado na 12ª decapagem da IV


camada arqueológica é uma peça produzida sobre uma lasca em matéria-prima
de sílex, possuindo pátina espessa em sua superfície. Apresenta 5,2 cm de
comprimento, 3,2 cm de largura e 1,0 cm. O instrumento possui apenas UTFt,
localizada no bordo esquerdo da peça, identificada pelas micro marcas de uso
nas faces da peça, tendo um delineamento de gume retilíneo. A UTFt possui um
ângulo de bico de 55° e um ângulo de corte de 45°, com um perfil em bisel duplo,
plano-plano, com um gume em estado de conservação embotado e uma
superfície de ataque aproveitada da debitagem. Em relação a preensão do
instrumento, verificou-se que sua UTFp foi produzida; o manuseio teria sido

105
realizado a partir da preensão em força e pinça. O objeto poderia ter sido usado
para ações de cortar.

Figura 50: Instrumento de número 2118.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Decapagem 11ª
CP-1663

O instrumento CP-1663 que está localizada na 11ª decapagem da IV camada


arqueológica é uma peça produzida sobre uma lasca em seixo de matéria-prima
em quartzo leitoso, possuindo pátina por toda sua superfície. Apresenta 6,6 cm
de comprimento, 5,2 cm de largura e 2,9 cm de espessura. O instrumento possui
apenas uma UTFt na porção distal da peça, na convergência dos dois bordos da
peça, compondo um delineamento do gume em ponta-convergente, com

106
retoques de comprimento micro e curtos, presentes na face inferior da peça,
compondo uma morfologia cruzada subparalela. A UTFt tem um ângulo de bico
e de corte de 70°. O gume encontra-se em estado ainda fresco, com sua
superfície de ataque aproveitada do córtex natural da peça. Em relação a
preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada a partir da
volumetria e angulosidade natural da peça e dos negativos de debitagem para
promover seu manuseio, a partir da preensão em força. Assim o instrumento
teria sido provavelmente para ações de perfurar.

107
Figura 51: Instrumento de número 1663.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Decapagem 10ª
CP-6180

O instrumento CP-6180 que está localizado na 10ª decapagem da IV camada


arqueológica do sítio é uma peça produzida sobre um suporte natural em seixo
de matéria-prima em sílex. Apresenta 1,6 cm de comprimento, 1,2 cm de largura
e 0,6 cm de espessura. O instrumento possui uma UTFt localizada na porção
distal da peça, com negativos de comprimento micro, curto e longo que alternam
por suas faces de forma cruzada, delimitando um gume com delineamento em

108
ponta, compondo uma morfologia escamosa. A UTFt tem um ângulo de corte de
50° e devido ao estado embotado dela, não foi possível medir o ângulo de bico.
Sua superfície de ataque foi aproveitada da superfície cortical e aplainada da
peça. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi
produzida e aproveitada da angulosidade natural da peça; o manuseio teria sido
realizado a partir da preensão em pinça, permitindo um provável uso do
instrumento para ações de perfuração.

Figura 52: Instrumento de número 6180.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

3.4.3 CAMADA II
Decapagem 5ª

CP-1913
O instrumento de número CP-1913 que está localizado na 5ª decapagem da II
camada arqueológica do sítio é uma peça produzida sobre um suporte de

109
matéria-prima em arenito silicificado. Apresenta 2,8 cm de comprimento, 1,5 cm
de largura e 1,2 cm de espessura. O instrumento possui uma UTFt, em ponta-
borda no bordo distal da peça, com retoques alternando nas duas faces do
objeto; os negativos são de comprimento curto e longo, compondo uma
morfologia subparalela, formada a partir de três faces. A UTFt possui um ângulo
de bico maior que 90° e um ângulo de corte de 55°, com um gume embotado e
superfície de ataque produzida. Em relação a preensão do instrumento,
verificou-se que sua UTFp teria sido parcialmente aproveitada do delineamento
natural e volume da peça; o manuseio teria sido realizado a partir da preensão
em pinça, com um provável uso da peça para ação de perfuração.

Figura 53: Instrumento de número 1913.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-1711

O instrumento de número CP-1711 está localizado na decapagem 5ª da II


camada arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca
em matéria-prima em sílex, possuindo concreções em sua superfície. Apresenta
3,2 cm de comprimento, 3,0 cm de largura e 0,8 cm. O instrumento possui uma

110
UTFt, localizada no bordo esquerdo da peça, com retoques alternando em
ambas as faces do objeto; as dimensões dos negativos são micro e curto,
compondo uma morfologia irregular e um gume de delineamento subparalelo. A
UTFt possui um ângulo de bico de 70°, o ângulo de corte é de 55°, com um perfil
em bisel duplo, plano-convexo, com o gume ainda fresco e superfície de ataque
aproveitada da debitagem. Em relação à preensão do instrumento, verificou-se
que sua UTFp foi aproveitada dos negativos de debitagem; o manuseio teria sido
realizado a partir da preensão em força e pinça, permitindo assim um provável
uso da peça para ações de raspar e cortar.

Figura 54: Instrumento de número 1711.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-1731

O instrumento de número CP-1731 que está localizado na 5º decapagem da II


camada arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca
de arenito silicificado. Apresenta 3,5 cm de comprimento, 2,3 cm de largura e 0,8
cm. O instrumento possui duas UTFts. A primeira UTFt está localizada na porção
mesial do bordo esquerdo, com retoques na face inversa do objeto com
negativos de comprimento micro e curto compondo um delineamento de gume
em bico de morfologia subparalela. A UTFt 1 possui um ângulo de bico de 80° e
um ângulo de corte de 70°, com um perfil em bisel simples, plano-convexo, com
um gume em estado de conservação fresco e uma superfície de ataque
aproveitada da debitagem. A segunda UTFt está localizada na porção meso-
distal do bordo esquerdo, com retoques na face inversa do objeto com negativos
de comprimento micro e curto compondo um gume de delineamento irregular de

111
morfologia subparalela. A UTFt 2 possui um ângulo de bico de 90° e um ângulo
de corte de 84°, com um perfil em bisel simples, plano-concavo, com um gume
em estado de conservação fresco e uma superfície de ataque aproveitada da
debitagem. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp
foi aproveitada da debitagem; o manuseio teria sido realizado a partir da
preensão em força e pinça. A UTFt 1 foi provavelmente usada para ações de
perfurar e raspar enquanto a UTFt 2 teria sido para ações de raspar e cortar.

Figura 55: Instrumento de número 1731.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-1705

O instrumento CP-1705 está localizado na 5ª decapagem, da II camada


arqueológica sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre um ‘bruto de
debitagem’ em matéria-prima de quartzo leitoso. Tem 2,4 cm de comprimento,
1,8 cm de largura e 1,3 cm de espessura. O instrumento possui uma UTFt
localizada na convergência do bordo distal da peça com o bordo esquerdo,
formando um gume de delineamento em ponta-borda, os retoques são de
comprimento curto e longo, presentes na face direta da peça na porção esquerda
do bordodistal, compondo uma morfologia escamosa. A UTFt tem um ângulo de
bico de 75° e de corte 60°, estando o gume em estado embotado, com uma
superfície de ataque aproveitada da fase de debitagem. Em relação a preensão
do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada a partir do volume e
do delineamento natural do suporte, também apresenta vestígios de produção,

112
o que favoreceu o manuseio do instrumento a partir da preensão em força e
pinça. Permitindo assim um provável uso da peça para ações de perfurar e
raspar.

Figura 56: Imagem e esquema do instrumento de número 1705.

UTF
t

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Decapagem 4ª
CP-5020

O instrumento de número CP-5020 está localizado na decapagem 4ª da II


camada arqueológica do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca
de matéria-prima em arenito silicificado, possuindo concreções em sua
superfície. Apresenta 3,2 cm de comprimento, 2,6 cm de largura e 1,8 cm de
espessura. O instrumento possui duas UTFts. A primeira UTFt está localizada
no bordo distal, com gume de delineamento retilíneo, formado a partir de
retoques de comprimento micro, curto e longo, posicionados na face superior da
lasca, compondo uma morfologia subparalela. A UTFt tem um ângulo de bico de
85° e de corte 85°. O gume apresenta-se fresco, com um perfil em bisel simples
plano-convexo, a superfície de ataque aproveitada. A segunda UTFt está
localizada na porção meso-distal do bordo esquerdo, com gume em
delineamento irregular; os retoques apresentam comprimento micro e curto,

113
dispostos de forma alternada pelas faces do objeto, compondo uma morfologia
subparalela. A UTFt tem um ângulo de bico e de corte esgotados, um perfil em
bisel simples plano-convexo e uma superfície de ataque aproveitada. Em relação
a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada a partir de
negativos de debitagem o que teria permitido melhor manuseio da peça. O
funcionamento teria sido realizado a partir de preensão em força, o que teria
permitido um provável uso da peça para ações de raspar outras superfícies.

Figura 57: Instrumento de número 5020.

UTFt 1

UTFt 2

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-2133

O instrumento de número CP-2133 que está localizado na 4ª decapagem da II


camada arqueológica do sítio é uma peça produzida sobre uma lasca em
matéria-prima de sílex, em seixo, possuindo concreções em sua superfície.
Apresenta 3,0 cm de comprimento, 2,2 cm de largura e 0,9 cm. O instrumento
possui uma UTFt, localizada no bordo esquerdo da peça, com retoques
alternando em ambas as faces do objeto; os negativos apresentam comprimento
micro e curto, compondo um gume de delineamento irregular e de morfologia
subparalela. A UTFt possui um ângulo de bico de 77° e um ângulo de corte de

114
60°, com um perfil em bisel duplo, plano-cônvexo, com um gume em estado de
conservação embotado e uma superfície de ataque produzida. Em relação a
preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada do
delineamento e volumetria natural da peça; o manuseio teria sido realizado a
partir da preensão em força e pinça. O objeto poderia ter sido usado para ações
de raspar.

Figura 58: Instrumento de número 2133.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

CP-2008

O instrumento de número CP-2008 está localizado na 4ª decapagem da II


camada do sítio. Trata-se de uma peça produzida sobre uma lasca em matéria-
prima de sílex provinda de um seixo, possuindo alteração térmica em sua
superfície. Apresenta 3,6 cm de comprimento, 3,0 cm de largura e 1,6 cm. O
instrumento possui duas UTFts. A primeira é uma ponta convergente no bordo
distal da peça, com retoques alternando em ambas suas faces, com negativos

115
de comprimento micro e curto e de morfologia subparalelo. A UTFt 1 possui um
ângulo de bico de 55° e um ângulo de corte de 70°, com um gume em estado de
conservação fresco e uma superfície de ataque aproveitada. A segunda UTFt
está localizada na porção meso-distal do bordo esquerdo, com retoques
alternando em ambas as faces do objeto, com negativos de comprimento curto
e longo compondo um delineamento de gume retilíneo de morfologia
subparalelo. A UTFt 2 possui um ângulo de bico de 80° e um ângulo de corte de
70°, com um perfil em bisel duplo, plano-concavo, com um gume em estado de
conservação embotado e uma superfície de ataque produzida. Em relação a
preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada da
debitagem e foi produzida, a partir de um único negativo na porção meso-
proximal do bordo esquerdo; o manuseio teria sido realizado a partir da preensão
em força e pinça. O objeto poderia ter sido usado para ações de cortar e raspar.

Figura 59: Instrumento de número 2008.

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

116
Decapagem 3ª
CP-1729

O instrumento de número CP-1729 que está localizado na 3º decapagem da II


camada sítio é uma peça produzida sobre um suporte em matéria-prima em
quartzo leitoso. Apresenta 2,5 cm de comprimento, 1,0 cm de largura e 0,5 cm
de espessura e marcas de alteração que deixaram as bordas do objeto
arredondadas. O instrumento possui apenas uma UTFt, localizada no bordo
esquerdo da peça, com retoques alternando em ambas as faces do objeto, com
negativos de comprimento micro e curto, compondo um gume de delineamento
retilíneo e morfologia subparalela. A UTFt possui um ângulo de bico de 65°, o
ângulo de corte é de 55°, com o gume em estado de conservação embotado e
um perfil em bisel duplo, plano-plano e uma superfície de ataque aproveitada.
Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi
aproveitada a partir do delineamento e volumetria naturais da peça, importantes
para seu manuseio; esse teria sido realizado a partir da preensão em pinça,
permitindo assim um provável uso da peça para ações de raspar e cortar.

Figura 60: Instrumento de número 1729.

UTFt

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Com o intuito de reunir informações técnicas relativas aos


princípios técnicos das ferramentas analisadas, aos métodos agenciados e as
técnicas aplicadas, apresentamos os cinco tecnotipos identificados. Eles foram
reconhecidos, de acordo com a análise individual intrínseca de cada instrumento,
117
de acordo com os estigmas tecnomorfológicos presentes nas peças, em
associação com as informações relativas às suas confecções e potenciais
funcionais.

3.5 TECNOTIPOS

De acordo com a análise dos instrumentos foi possível fazer o


agrupamento dos instrumentos de 5 tecnotipos, para isso foram considerados:
morfologia, estrutura, preensão e delineamento dos gumes. Houve instrumentos
que não se enquadraram em nenhum dos tecnotipos apresentados a seguir,
foram as peças de número: 2320, 4805, 2039, 2118, 2301, 1731, 7781, 5148,
1571, 8060 e 4780, localizadas nas camadas IV e V.

3.5.1 Tecnotipo 1

O Tecnotipo 1 é composto por dez instrumentos (CP-1705, CP-2343, CP-2324,


CP-1913, CP-6180, CP-1663, CP-2540, CP-5287, CP-8018, CP-5169), estão
presentes das camadas II a V do sítio.

Gráfico 23: Posicionamento estratigráfico do Tecnotipo 1.

10ª decapagem 4ª camada CP-6180

11ª decapagem 4ª camada CP-1663

13ª decapagem 4ª camada


CP-2540

5ª decapagem 2ª camada CP-1705; CP-1913

17ª decapagem 5ª camada CP-5169; CP-8018

16ª decapagem 5ª camada CP-2343; CP-


2324; CP-5287

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

118
Os instrumentos que compõem esse tecnotipo estão divididos em dois
conjuntos:

(A) Composto por instrumentos com um gume delineado em ponta-borda,


constata-se que não houve um maior trabalho em produzi-las, sendo uma das
bordas delimitada pelos negativos de debitagem e somente a outra,
confeccionada;

Os instrumentos do conjunto A possui uma morfologia retangular, com


dois bordos laterais sendo a UTFt localizada em uma das convergências de um
dos bordos laterais retocado com o bordo distal. Possui de 8,8 cm comprimento,
uma largura de 4,2 e 2,5 de espessura. O suporte desse instrumento é uma lasca
suporte de sílex. No que diz respeito ao funcionamento do instrumento, ele foi
utilizado para incisões não rotacionais a partir de uma preensão em força ou
força e pinça.

Figura 61:Desenho esquemático do Tecnotipo 1 (A).

UTF t

Retoque
s

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

(B) Composto por instrumentos com gume delineado em ponta-


convergente, confeccionado a partir de três a quatro negativos, produzindo uma
superfície com volume particular que teve efeito direto na utilização da ponta por
movimentos de rotação.

Os instrumentos do conjunto B possuem uma morfologia variada,


apresentam dois bordos laterais que convergem para a UTFt, localizada em sua

119
porção distal. Possuem um comprimento máximo de 8,3 cm e mínimo de 1,6,
uma largura máxima de 6,6 e mínima de 1,2 e uma espessura que varia de 0,6
cm a 3,7 cm. O suporte desses instrumentos são lascas suportes, brutos de
debitagem ou suportes naturais em seixos ou em veios de sílex, quartzo leitoso
ou arenito silicificado. No que diz respeito ao funcionamento dos instrumentos,
os do primeiro conjunto foram utilizados para incisões não rotacionais a partir de
uma preensão em força ou força e pinça, já os do segundo conjunto, foram
utilizados para serem feitos movimentos rotacionais a partir de uma preensão
em pinça ou força e pinça.

Figura 62: Desenho esquemático do Tecnotipo 1 (B).

UTFt

Retoque
s
preensiva
UTF

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

3.5.2 Tecnotipo 2

O Tecnotipo 2 é composto por sete instrumentos (CP-1711, CP-4257, CP-


1919, CP-5043, CP-2410, CP-7782, CP-6592) estando presente em todas as
camadas arqueológicas do sítio.

120
Gráfico 24: Posicionamento estratigráfico do tecnotipo 2.

5ª decapagem 2ª camada CP-1711

14ª decapagem 4ª camada CP-4257

15ª decapagem 4ª camada


CP-1919
CP-5043
16ª decapagem 5ª camada
CP-2410
CP-6592
17ª decapagem 5ª camada CP-7782

0 0,5 1 1,5 2 2,5

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Os instrumentos desse tecnotipo possuem uma morfologia variada com


um volume correspondente a sua estrutura, apresentando-se planos ou
convexos. Têm como característica técnica principal dois bordos convergentes
paralelos, abruptos ou semi-abruptos, que se direcionam em sentido confluente
para um gume de delineamento retilíneo, côncavo ou convexo. Tais bordos
laterais foram intencionalmente confeccionados ou aproveitados da lasca-
suporte, atuam no sentido de delimitar o gume e atuar na calibragem durante a
utilização da peça.
Figura 63: Desenho esquemático do tecnotipo 2.

UTFt
preensiva
UTF

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

121
Os instrumentos possuem um comprimento máximo de 5,3 cm e mínimo
de 3,2, cm uma largura máxima de 3,7 cm e mínima de 2,2 cm e uma espessura
que varia de 0,8 cm a 3,2 cm. O suporte dos instrumentos é em lascas-suportes,
brutos de debitagem ou suportes naturais de seixos de sílex e quartzo leitoso.
No que diz respeito ao funcionamento dos instrumentos, possuem uma UTFt,
localizada maioritariamente na sua porção distal ou na lateral da peça, que como
tido, teriam sido calibradas para melhor delimitação do gume e funcionamento
da peça. Esse uso foi feito por meio de ações de raspar ou raspar/cortar com
movimentos usando preensão em força e em força e pinça.

3.5.3 Tecnotipo 3

O Tecnotipo 3 é composto por seis instrumentos (CP-1729, CP-2333, CP-


2429, CP-2546, CP-5014 e CP-5284), estando presente em todas as camadas
arqueológicas do sítio.

Gráfico 25: Posicionamento estratigráfico do tecnotipo 3

4ª decapagem 2ª camada
CP-1729

13ª decapagem 4ª camada CP-2546

15ª decapagem 4ª camada CP-5284

CP-2323
16ª decapagem 5ª camada

17ª decapagem 5ª camada CP-2429


CP-5014
0 0,5 1 1,5 2 2,5

Fonte: Elaborado pela autora, 2020

Os instrumentos desse tecnotipo possuem uma morfologia retangular,


com um volume correspondente a sua estrutura, de tendência plana ou semi-
convexa. Apresenta como característica técnica principal a presença de um
122
bordo lateral, abrupto ou semi-abrupto, paralelo a um gume transformativo, de
delineamento diverso, mas que via-de-regra toma toda a extensão lateral.

Figura 64: Desenho esquemático do tecnotipo 3

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Os instrumentos possuem um comprimento máximo de 2,8 cm e mínimo


de 1,7 cm, largura máxima de 1,7 cm e mínima de 1,0 cm e uma espessura que
varia de 0,5 cm a 1,5 cm. O suporte dos instrumentos foi a partir de lascas, brutos
de debitagem ou suportes naturais de seixos de sílex e arenito silicificado de
pequeno volume. No que diz respeito ao funcionamento dos instrumentos, cada
um deles possui uma UTFt, localizada em um de seus bordos laterais, com um
gume confeccionado por retoques cruzados, ou seja, partem de uma superfície
a outra (Inizan et al 2017). Apenas um instrumento no conjunto apresenta duas
UTFts (CP-2333), essa tendo sua segundo UTFt na porção distal do mesmo
bordo que possui a primeira UTFt. Os instrumentos desse tecnotipo teriam sido
utilizados em ações de raspar ou raspar/cortar com movimentos usando
preensão em força e em força e pinça.

3.5.4 Tecnotipo 4

O Tecnotipo 4 é composto por dois instrumentos, sendo eles o de número


CP-2323, localizados especificamente na 16ª decapagem, na quinta camada
arqueológica do sítio e o CP-5020, na 4ª decapagem, na segunda camada
arqueológica do sítio.

123
Gráfico 26: Posicionamento estratigráfico do tecnotipo 4.

CP-
4ª decapagem 2ª camada 5020

CP-
16ª decapagem 5ª camada 2323

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

Fonte: Elaborado pela autora,2020

Os instrumentos desse tecnotipo possuem uma morfologia de tendência


circular com uma face plana, seguindo face superior de maior volume que pode
ser convexo ou plana. Com um comprimento máximo de 5,0 cm e mínimo de 3,2,
uma largura máxima de 3,3 e mínima de 2,6 e uma espessura que varia de 1,8
cm a 1,3 cm. A confecção deles foram feitas a partir da escolha de seixos
aplainados, arredondados; sendo que os de sílex apresentavam uma estrutura
estratificada aparente, e a partir dela, há indícios de desplacamento intencional,
revelando uma face totalmente plana onde se localizam os gumes desses
objetos; na peça em arenito silicificado, a estratificação não se faz presente e,
nesse caso, há claros vestígios de tentativa, não conclusão de cisão, localizada.
No que diz respeito ao funcionamento dos instrumentos, cada um deles possuem
duas UTFts, uma na porção distal e uma em uma de suas laterais, sendo cada
uma delas utilizadas para ações de raspar com movimentos usando preensão
em força e pinça.

124
Figura 65: Desenho esquemático do tecnotipo 4

Fonte: elaborado pela autora.2020.

3.5.5 Tecnotipo 5

O Tecnotipo 5 é composto por dois instrumentos, sendo eles o de número CP-


2522, localizado na 13ª decapagem, na quarta camada arqueológica do sítio e o
CP-5023, localizado na 16ª decapagem, na quinta camada arqueológica do sítio.

Gráfico 27: Posicionamento estratigráfico do tecnotipo 5

13ª decapagem 4ª CP-2522


camada

16ª decapagem 5ª
camada CP-5023

0 0,5 1 1,5

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Os instrumentos desse tecnotipo possuem uma morfologia retangular


aplainada, seguindo face superior de pouco volume e de tendência convexa.
Com comprimento de 5,0 cm, largura máxima de 3,9 cm e mínima de 3,4 cm e

125
uma espessura que varia de 1,2 cm a 2,0 cm. O suporte desses instrumentos foi
a partir da escolha de suportes naturais em seixos de sílex. No que diz respeito
ao funcionamento dos instrumentos, cada um deles possuem uma UTFt na
porção distal do objeto com um delineamento em rostre, com dois bordos laterais
de convergência não acentuada; as peças teriam sido utilizadas para ações de
raspar ou raspar/cortar com movimentos usando preensão em força.

Figura 66: Desenho esquemático do tecnotipo 5

Fonte: elaborado pela autora, 2020.

Acerca dos tecnotipos identificados percebemos que os princípios


técnicos dos instrumentos líticos presentes nas camadas arqueológicas do sítio
Cachoeira do Pingador são pouco definidos, mas se fazem presentes; são
constituídos de uma lógica técnica que fundamenta os seus esquemas
operatórios. Levar para o final do capítulo 3

FECHAR O CAPÍTULO FALANDO DOS TECNOTIPOS , MAS


PRINCIPALMENTE DAS PEÇAS QUE NÃO FORAM INCLUSAS AQUI.

126
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho monográfico chega às suas considerações finais


primeiramente destacando o contexto litológico do vale do Rio Manso, o que teria
favorecido às ocupações humanas pretéritas e atuais no que se refere à
produção de ferramentas líticas. Posteriormente, retomo alguns dados acerca do
estado de preservação do material no interior do sítio e, por fim, apresento um
primeiro ensaio comparativo entre as tecnologias identificadas nas camadas do
Holoceno Recente do sítio Cachoeira do Pingador, com as camadas do
Holoceno Médio desse mesmo sítio, estudadas por Rocha (2019).
Posteriormente, estendo a comparação com sítios localizados em ambientes
abertos do Vale, abrindo assim, possibilidades de trabalhos futuros
intensificarem esse exercício acadêmico de confronto tecnologias como meio
para entendimento das ocupações humanas no Planalto Central do Brasil em
tempos pretéritos.

O vale do rio Manso, conforme já destacado por Viana (2005), se destaca


de outras regiões do Centro-Oeste pela quantidade significativa de sítios
arqueológicos, onde os materiais líticos são expressivamente representados. A
presença desses objetos certamente decorre da excelente disponibilidade de
matéria-prima presentes em grande parte dos recursos hidrográficos, entre eles,
o rio Manso, Casca, Quilombo e seus afluentes; assim como nos topos dos
morros da região (Morro da Mesa, Morro do Chapéu), também recorrentes na
região (figura 1)

A matéria-prima presente na região em geral é apta ao lascamento, em


especial se destacam os blocos de arenito silicificado, de cor avermelhada e
grãos bem coesos, localizados especialmente na região do rio Quilombo, e o
sílex presente dos topos dos morros, dispostos em geral na subsuperfície, mas

127
também aflorando em alguns pontos (VIANA, 2006). Dos seixos, os quais teriam
sido criteriosamente selecionados para lascamento, o interesse era não somente
pela dureza da matéria para a eficiência do gume do instrumento, mas também
pelas suas morfologias e volumes, os quais teriam sido com recorrência
utilizados como área preensiva dos instrumentos (VIANA, 2005).

Figura 67: A esquerda Morro do Chapéu e a direita Morro da Mesa

Fonte: Viana, 2006.

Sobre ao estado de conservação das peças, uma quantidade significativa delas


apresentam marcas de alteração pós-deposicional. A maioria dessas
modificações se apresentam pela fragmentação das peças, que pode estar
relacionado a uma movimentação física (pisoteamento) significativa no sítio; há
peças também com marcas de alteração por lustro, principalmente nas camadas
IV e V do sítio, podendo indicar, a presença de água próxima a setor H-0; pode-
se constatar marcas de alteração térmica nos objetos não relacionadas a
tratamento intencional para o lascamento; há também “incrustações”,
caracterizadas por algum tipo de cimentação em diferentes porções dos objetos,
porém, não se pode fazer nenhuma conclusão sobre sua natureza, pois não
foram feitas analises sobre sua formação.

No conjunto lítico do sítio Cachoeira do Pingador as lascas, juntamente


com os detritos de lascamento (cassons) representam a classe predominante.
As lascas são referentes as fases de debitagem e de confecção de instrumentos,
sendo a primeira produzida para serem suportes de instrumentos, e a segunda,
são lascas que remetem aos retoques feitos para a confecção e o reafiamento
do fio de corte. Destaca-se ainda no sítio, a baixa presença de núcleos e, de
outro lado, uma boa representatividade de instrumentos. Esse conjunto de dados
ocorre, com exceção dos núcleos (presente nas camadas IV e V) em maior ou

128
menor quantidade em todas as camadas. Tais informações indicam que nas
diferentes ocupações dos sítios as atividades de lascamento foram recorrentes
em especial, a fase de confecção de gumes de ferramentas. A fase intermediária
das cadeias operatórias, relacionadas à produção do suporte (debitagem) teriam
ocorrido no interior, assim como fora do sítio.

No que diz respeito aos núcleos apresentam características de baixa


exploração de suas superfícies de lascamento, apresentando uma a duas
sequências de negativos, com uma a duas retiradas. Ambos se relacionam ao
tipo de debitagem “C”, indicando que não havia intensão de produzir lascas-
suportes padronizadas.

Sobre os instrumentos, os suportes deles constituem-se em lascas, brutos


de debitagem e façonagem de seixo. Ressalta-se que ações de façonagem
ocorreram somente nessa modalidade. Como já mencionado, houve uma maior
atenção no que diz respeito a seleção de matéria-prima e produção do suporte
desses instrumentos, por meio da debitagem. Sobre a confecção de gumes é
recorrente em todos os tecnotipos a presença de poucas sequencias de retoques
para confeccionar ou aprimorar os gumes. Quanto aos métodos aplicados,
observou-se que a exploração unifacial é é única assim como o agenciamento
unidirecional dos negativos dos instrumentos.

No que diz respeito às técnicas aplicadas, reconhecemos a presença


marcante da percussão unipolar direta, nenhum dos instrumentos apresenta
evidências de percussão por pressão ou com percussão direta sobre bigorna.
Os negativos também evidenciam a utilização de percutor duro, alternando a
direção da força para gerenciamento de gestos internos e periféricos. Em relação
a percussão é possível inferir, segundo os dados representados no capítulo III,
que a maior parte das atividades de lascamento foram realizadas por meio de
percutores duros. Hipótese construída pelas características tecnológicas
referentes ao lábio, ao tipo de gesto aplicado e à visibilidade do ponto de
impacto. Todavia, também há também evidências de presença de lascamento
por percutores macios, no entanto, diferentes, dos percutores de rocha,
presentes na coleção, esses não se fizeram presentes, podendo ter sido levados
pelo intemperismo ou realocados pelas pessoas que lascavam.

129
A correlacionarmos os dados expostos, se observou a partir dos
tecnotipos, esquemas técnicos particulares que provém de cadeias operatórias
distintas. Não há uma coerência tecnológica forte entre os suportes dos
instrumentos e lascas suportes identificadas no conjunto da coleção. Sobre essa
questão, se constata que há certos instrumentos de volumes maiores cujos
suportes semelhantes não estão no sítio; de outro lado, há instrumentos de baixa
volumetria que se assemelham às lascas presentes. Essa situação também
indica que outros instrumentos teriam sido produzidos no local e não estavam
presentes no setor escavado.

Corrobora com tal hipótese a presença de lascas de confecção com


dimensões maiores que os negativos de retoques presentes nos instrumentos;
assim como a presença de lascas com número de negativos presentes na face
superior das lascas de confecção, em geral não corresponderem a intensidade
de negativos que compõem a produção dos gumes dos instrumentos (plano de
bico e plano de corte).

Com o objetivo de entender os esquemas tecnológicos presentes no


Cachoeira do Pingador no contexto das tecnologias do vale do Rio Manso, foram
selecionados os sítios lito-cerâmicos, respeitando a subdivisão acerca de
densidade de material lítico em relação à cerâmica.

Os sítios com menor densidade de material (Poção, Fartura, Coca-Cola,


São Roque, Roncador dos Mendes, Pantanalzinho, Milharal, Sítio 18), diferem
do Cachoeira do Pingador, em relação a variedade de classes líticas, nos sítios
do Vale os “instrumentos não modificados” são inexistentes, ocorrem peças
polidas e picoteadas.

Os sítios com maior densidade de material (Goiavá, Ribeirão Vermelho 6,


Ribeirão Vermelho 4, Salto Grande e estiva 1), possuem, assim como no
Cachoeira do Pingador, grande variedade tecnológica em seus conjuntos, com
presença de material lascado e “não lascado”, sendo eles, núcleos, fragmentos
de matéria-prima, detritos de lascamento, lascas, instrumentos.

Sobre os sítios do Vale dentre os 36 tecnotipos identificados, alguns


apresentaram semelhanças com os tecnotipos do Cachoeira do Pingador, são
eles: tecnotipo 1 (B), tecnotipo 12, tecnotipo A, tecnotipo E.

130
Apesar dessa pouca semelhanças entre os tecnotipos, pode-se notar que
embora ocorra entre as peças diferentes suportes de volumes e morfologia, os
gumes em forma de ponta se fizeram bastante presentes em quase todos os
tecnotipos dos sítios do Vale, o que foi também uma característica bastante
marcante entre tecnotipo 1 do Cachoeira do Pingador.

Também foram investigados os dados relativos as camadas VI e VII da


camada H-0, relacionadas ao Holoceno Médio. Foi verificado que os produtos
líticos dessas camadas apresentam semelhanças com os materiais das
camadas estudadas: possuem baixa volumetria, matérias-primas semelhantes
as dessa pesquisa, sendo elas em arenito silicificado, sílex e quartzo. Também
foram encontradas as fases de debitagem e confecção de gume em ambos os
conjuntos, com presença de instrumentos, esses que foram identificados em 3
diferentes tecnotipos; núcleos tipo “C”; percutores, maceradores e bigornas.

Sobre os tecnotipos identificados nas camadas VI e VII, percebe-se que


o tecnotipo 1 do Holoceno Médio, apresenta semelhança tecnológica com o
Tecnotipo 1 (A), do Holoceno Recente. A semelhança reside na áreas preensivas
que foram confeccionadas, volumes modulares e gumes delineados em ponta-
borda.

Figura 68: Na esquerda, instrumento do tecnotipo 1 (camada VI e VII); Na direita, instrumento presente no
tecnotipo 1 (A).

UTFp

Fonte: elaborados pela a autora (2020) e por Costa, (2019).

Ainda nessa contextualização, observamos que a baixa presença de


cerâmica no sítio Cachoeira do Pingador, se assemelha aos contextos dos sítios
classificados por Viana (2005) na categoria 2. Sobre a arqueofauna presente no
sítio, a presença de marcas de corte sobre áreas de alguns ossos, identificados
por Lino (2017), como de espécies de pequenos vertebrados, levanto a

131
possibilidade do uso dos instrumentos de baixo volume presentes no sítio. A arte
rupestre presente no sítio Cachoeira do Pingador, em termos de técnica e
temática, ela também se relaciona com os demais sítios rupestres do vale.

Diante do exposto, entendemos que o estudo dos conjuntos líticos do sítio


Cachoeira do Pingador contribuirá para a ampliação do conhecimento sobre a
tecnologia lítica num contexto onde os conhecimentos de produção cerâmica
também estão presentes. E, numa perspectiva mais ampla contribuirá para
entender a diversidade tecnológica presente nas ocupações do Holoceno
Recente da região do Vale do rio Manso e dos contextos arqueológicos regionais
presentes em diversas áreas da região centro-oeste.

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