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GOIÂNIA
2020
1
ÉRICA DE SOUSA ROCHA
GOIÂNIA
2020
2
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel em Arqueologia.
3
Dedico a meus pais e minha
orientadora, sem eles eu não estaria
aqui.
4
AGRADECIMENTOS
Acho que é, por mais simples que pareça, agradecer aqueles que nos ajudaram
em tantas nuances dos dias durante a graduação, não é simples. Tudo
construído e derrubado nesses anos de estudos, vão para além dos pátios e
salas da universidade, há coisas que por mais pequenas e aleatórias que sejam
nos nossos dias, mudam nossa forma de enxergar as coisas, então eu quero
tentar agradecer essas pessoas que talvez mesmo sem pensar, me ajudaram a
dar mais um passo nesse caminho.
Aos meus pais, que por várias vezes insistiram em me fazer tentar mais uma
vez, auxiliando como podiam no meu processo de amadurecimento.
A minha orientadora, Sibeli Viana, a quem nem sei como agradecer, por tanta
paciência, sabedoria e amor pelo trabalho, que sempre está disposta a
compartilhar. Por todos dias tentar sempre ao máximo por si e pelos outros,
agradeço muitíssimo.
A Maria do Socorro Sales, por todas as conversas que ajudaram tanto e por
sempre estar presente e posta ajudar quem precisa, construindo sempre um
trabalho incrível no laboratório de arqueologia da PUC-Goiás.
A Messias e Joyce, por todo o trabalho dedicado ao IGPA e aos alunos do curso
de Arqueologia e por sempre nos auxiliarem como podem.
A todos os colegas e amigos (Kaira, Katherine, Pedro, Ivana, Vitoria, Lemi, Ysis,
Marcos Paulo) por me auxiliarem nessa jornada, com todas as discussões,
questionamentos e boas conversas que me fizeram mais consciente.
5
Tanto faz... eu não sou nada
(Potyguara Bardo)
6
RESUMO
7
ABSTRACT
In this work, a lytic analysis was carried out regarding the set that belongs to the
first archaeological layers of block H-0, of the Cachoeira do Pingador site,
corresponding to stripping from 1 to 17, inserted in the time range of 1,000 + - 60
BP to 1,620 + - 60 BP. The site, which was researched in the early 2000s, for the
project “Project for the Survey and Rescue of the Prehistoric Archaeological
Heritage of the Region of the Hydroelectric Plant of Manso / MT” under the
coordination of Professor Sibeli Aparecida Viana, is stored at the Pontifical
University Católica de Goiás. With the technofunctional analysis it was possible
to identify the different techniques for making instruments, together with their
functional potentials, thus showing the technological variables present in the lithic
sets of the site. Seeking to understand the variety of the lithic ensemble of the
Cachoeira do Pingador site in order to gain a greater understanding of human
occupation in the valley of the Manso River, during the Recent Holocene
period.Key Words: Lithic. Tecnofuncional. Cachoeira do Pingador. Mato Grosso
Region.
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DA ÁREA DE IMPACTO DA USINA HIDRELÉTRICA DE MANSO. ... 19
FIGURA 2: PETROGLIFO DO SÍTIO CAMBAIUVAL. FIGURA 3: FIGURAS DE MOTIVOS
ANTROPOMORFOS DO ........................................................... ERRO! I NDICADOR NÃO DEFINIDO.
FIGURA 4: VISTA LATERAL DO SÍTIO CACHOEIRA DO PINGADOR FIGURA 5: ESCAVAÇÕES NAS
QUADRICULAS C1,D1 E D2 ................................................................................................ 29
FIGURA 6: CROQUI DA PLANTA BAIXA DO SÍTIO CACHOEIRA DO PINGADOR. ...................................... 31
FIGURA 7: PERFIL ESTRATIGRÁFICO E DESCRIÇÃO DA SONDAGEM H0 E SUAS SETE CAMADAS.
DESTACADO EM VERMELHO, AS CAMADAS ARQUEOLÓGICAS ESTUDADAS NESSE ESTUDO. ......... 32
FIGURA 8: FERRAMENTA EM OSSO COLETADA NO SETOR D-2. ........................................................ 34
FIGURA 9: ESQUEMAS DOS TECNOTIPOS 1, 2, 3 DAS CAMADAS VI E VII. .......................................... 36
FIGURA 10: ESQUEMAS GERAIS DE PRODUÇÃO DE INSTRUMENTO. ................................................. 42
FIGURA 11: ESQUEMA DAS PARTES COMPONENTES DE UM INSTRUMENTO....................................... 46
FIGURA 12: REPRESENTAÇÃO DE UMA LASCA COM A IDENTIFICAÇÃO DE SUAS CARACTERÍSTICAS
TÉCNICAS. ........................................................................................................................ 49
FIGURA 13: CARACTERÍSTICAS DOS TIPOS DE LASCA. ................................................................... 49
FIGURA 14: DELINEADOS DE INSTRUMENTOS. .............................................................................. 51
FIGURA 1: INSTRUMENTO DE NÚMERO 5014 COM PRESENÇA DE INCRUSTAÇÕES (MARCADAS EM
VERMELHO.) ..................................................................................................................... 57
FIGURA 5: PERCUTORES 1370, 1626 E 1372 EM DETALHE, RESPECTIVAMENTE. EM VERMELHO, AS
MARCAS DE PERCUSSÃO. ................................................................................................... 72
FIGURA 6: MACERADORES 1568 E 1623, RESPECTIVAMENTE. EM VERMELHO, AS MARCAS DE USO. .... 72
FIGURA 7: BIGORNA 2334. EM VERMELHO, AS MARCAS DE PERCUSSÃO E DE RETIRADAS. ................. 73
FIGURA 8: INSTRUMENTO NÃO LASCADO 1610. EM VERMELHO TRACEJADO, MARCAS DE USO; AS SETAS
VERMELHAS INDICAM AS MARCAS DE ENCABAMENTO. ............................................................ 74
FIGURA 9: LEGENDA DOS ESQUEMAS DE INSTRUMENTOS. .............................................................. 75
FIGURA 10: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1517. .............................................................................. 76
FIGURA 11: INSTRUMENTO DE NÚMERO 4780. .............................................................................. 77
FIGURA 12: ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2429. .......................................................... 78
FIGURA 13: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 8060. ........................................... 79
FIGURA 14: I MAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5148............................................. 80
FIGURA 15: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 8018. ........................................... 81
FIGURA 16: ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 4780. .......................................................... 82
FIGURA 17: INSTRUMENTO DE NÚMERO 7782. .............................................................................. 83
FIGURA 18: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5169. ........................................... 84
FIGURA 19: ESQUEMA E FOTO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 7781. ............................................... 85
FIGURA 20: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5014. ........................................... 86
FIGURA 21: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 4805. ........................................... 87
FIGURA 22: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2324. .............................................................................. 88
FIGURA 23: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2323. .............................................................................. 89
FIGURA 24: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2333. .............................................................................. 91
FIGURA 25: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2320. .............................................................................. 92
FIGURA 26: INSTRUMENTO DE NÚMERO 5287. .............................................................................. 93
FIGURA 27: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2343. .............................................................................. 94
FIGURA 28: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2301. .............................................................................. 95
FIGURA 29: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5023. ...................................................... 96
FIGURA 30: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2410. ........................................... 97
FIGURA 31: ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5043 ........................................................... 98
FIGURA 32: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 1919. ...................................................... 99
FIGURA 33: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 5284. .................................................... 100
FIGURA 34: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 4257. .................................................... 101
FIGURA 35: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2540. .................................................... 102
FIGURA 36: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2522. .................................................... 103
FIGURA 37: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2546. .................................................... 103
FIGURA 38: ILUSTRAÇÃO DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 2039. .................................................... 104
9
FIGURA 39: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2039. ............................................................................ 105
FIGURA 40: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2118. ............................................................................ 106
FIGURA 41: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1663. ............................................................................ 108
FIGURA 42: INSTRUMENTO DE NÚMERO 6180. ............................................................................ 109
FIGURA 43: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1913. ............................................................................ 110
FIGURA 44: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1711. ............................................................................ 111
FIGURA 45: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1731. ............................................................................ 112
FIGURA 46: IMAGEM E ESQUEMA DO INSTRUMENTO DE NÚMERO 1705. ......................................... 113
FIGURA 47: INSTRUMENTO DE NÚMERO 5020. ............................................................................ 114
FIGURA 48: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2133. ........................................................................... 115
FIGURA 49: INSTRUMENTO DE NÚMERO 2008. ............................................................................ 116
FIGURA 50: INSTRUMENTO DE NÚMERO 1729. ............................................................................ 117
FIGURA 51:DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 1 (A). ......................................................... 119
FIGURA 52: DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 1 (B). ........................................................ 120
FIGURA 53: DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 2. .............................................................. 121
FIGURA 54: DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 3 ............................................................... 123
FIGURA 55: DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 4 ............................................................... 125
FIGURA 56: DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECNOTIPO 5 ............................................................... 126
FIGURA 57: A ESQUERDA MORRO DO CHAPÉU E A DIREITA MORRO DA MESA ................................ 127
10
Lista de Tabelas
T ABELA 1: DATAÇÃO DE ALGUNS DOS SÍTIOS IDENTIFICADOS NA UHE-MANSO. ....... 18
T ABELA 2: ESQUEMAS GERAIS DE PRODUÇÃO DE INSTRUMENTO...... ERRO! INDICADOR
NÃO DEFINIDO.
11
Lista de Gráficos
12
SUMÁRIO
CAPÍTULO I - CONTEXTO ARQUEOLÓGICO DO VALE DO RIO MANSO E
CARACTERÍSTICAS GERAIS E AMBIENTAIS DA ÁREA DO SÍTIO
CACHOEIRA DO PINGADOR ......................................................................... 17
1.1 Contexto Arqueológico do Vale do rio Manso, MT .................................. 17
1.2 Sítio Cachoeira do Pingador ................................................................... 29
1.2.1 A escavação no sítio Cachoeira do Pingador ...................................... 30
1.2.2 Materiais arqueológicos ....................................................................... 33
CAPÍTULO II - ABORDAGEM TEORICA E METODOLOGICA ...................... 38
2.1. O Instrumento ........................................................................................ 41
2.2 A debitagem ............................................................................................ 43
2.3 A Façonagem .......................................................................................... 45
2.4 A confecção do gume e área preensiva .................................................. 45
2.5 Metodologia ............................................................................................ 47
2.5.1. Lascas................................................................................................. 48
2.5.2. Instrumento Lascados ......................................................................... 50
2.5.3 Análise dos Núcleos............................................................................. 51
2.5.4 Análise dos Instrumentos não lascados ............................................... 52
CAPÍTULO III - RESULTADO DA ANÁLISE DOS OBJETOS LÍTICOS DO
SÍTIO CACHOEIRA DO PINGADOR ............................................................... 53
3.1 Análise das Lascas ................................................................................. 58
3.2 Análise dos núcleos ................................................................................ 69
3.3 Análise dos instrumentos (não lascados) ................................................ 70
3.4 Análise dos instrumentos (lascados)....................................................... 74
3.4.1 CAMADA V .......................................................................................... 75
Decapagem 17ª ............................................................................................ 75
Decapagem 16ª ............................................................................................ 87
3.4.2 CAMADA IV ......................................................................................... 97
Decapagem 15ª ............................................................................................ 97
Decapagem 14ª .......................................................................................... 100
Decapagem 13ª .......................................................................................... 101
Decapagem 12ª .......................................................................................... 104
Decapagem 11ª .......................................................................................... 106
Decapagem 10ª .......................................................................................... 108
3.4.3 CAMADA II ......................................................................................... 109
Decapagem 5ª ............................................................................................ 109
13
Decapagem 4ª ............................................................................................ 113
Decapagem 3ª ............................................................................................ 117
3.5 TECNOTIPOS ....................................................................................... 118
3.5.1 Tecnotipo 1 ........................................................................................ 118
3.5.2 Tecnotipo 2 ........................................................................................ 120
3.5.3 Tecnotipo 3 ........................................................................................ 122
3.5.4 Tecnotipo 4 ........................................................................................ 123
3.5.5 Tecnotipo 5 ........................................................................................ 125
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 127
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 132
14
INTRODUÇÃO
1
Esse projeto foi realizado mediante contrato firmado entre Furnas Centrais Elétricas S.A e a
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, à época, Universidade Católica de Goiás.
15
encontram-se os cerâmicos, ósseos de fauna, assim como vestígios de vegetais
como casca de frutos e carvões.
16
CAPÍTULO I - CONTEXTO ARQUEOLÓGICO DO VALE DO RIO MANSO E
CARACTERÍSTICAS GERAIS E AMBIENTAIS DA ÁREA DO SÍTIO
CACHOEIRA DO PINGADOR
17
Tabela 1: Datação de alguns dos sítios identificados na UHE-Manso.
DATAS
SÍTIO COD. LABORATÓRIO NÃO CALIBRADAS
18
As referidas pesquisas também destacam a posição espacial da Chapada
dos Guimarães, considerada estratégica em função das proximidades das
bacias hidrográficas (Paraná, Paraguai, Tocantins-Araguaia e Amazônica)
presentes nas proximidades o que teria facilitado os deslocamentos entre os
grupos humanos.
19
Material lítico e cerâmico
2
Análises posteriores redefiniram as concepções discoide e piramidal, classificando-os como
concepção D, tipo Manso (Viana et al, 2014).
20
detritos de lascamento, lascas, instrumentos. Esse material demonstra a
diferentes fases de cadeias operatórias presentes nos sítios e relacionadas a
diferentes concepções de debitagem, com presença de núcleos em diferentes
estágios de exploração e de produtos de debitagem (lascas), relacionadas às
fases de debitagem, façonagem e de confecção de gumes do instrumento; os
instrumentos foram produzidos por confecção tanto imediata quanto elaborada.
(VIANA, 2006).
Em relação ao material cerâmico presente nesse grupo de sítios, ele
aparece em baixa densidade. O antiplástico predominante é de origem vegetal;
o cauixi ocorre em todos os sítios, porém em pequena quantidade (2,3% dos
fragmentos), (com exceção do sítio Estiva 1 e Ribeirão Vermellho 6 (20%). Em
geral as superfícies foram somente alisadas, ocorrendo pouca quantidade de
fragmentos decorados.
Em Viana (2005), há os resultados das análises tecnofuncionais dos
instrumentos pertencentes ao sítios lito-cerâmicos mencionados anteriormente,
os quais foram classificados em duas categorias: a primeira categoria, é
constituída por 17 tecnotipos e está representada por instrumentos que
apresentam um maior complexidade no esquema de produção, são provindos
de suportes mais preparados e se dividem em peças de maior e menor volume.
Tecnotipo 1: os suportes utilizados foram lascas volumosas com
dorso na lateral ou em suas extremidades distal e proximal e lascas
provenientes de percussão bipolar sobre bigorna (lascas do tipo
"gomo"). A preensão dos instrumentos ocorreu em áreas corticais
pré-determinadas na seleção, consistindo em extremidades
abruptas. Os instrumentos possuem uma UTFts, podendo ser de
gume denticulado, formando delineamento retilíneo, podendo
formar pontas nas extremidades.
Tecnotipo 2: os suportes desse tecnotipo é constituído por peças
volumosas e arredondadas de grandes dimensões. São lascas
com uma de suas extremidades abruptas, sendo elas
caracterizadas por um talão espesso ou por um bordo lateral não
lascado. A preensão dos instrumentos foi realizada a partir de
áreas naturalmente aproveitadas, consistindo em extremidades
21
abruptas. Podendo ter até duas UTFts com gumes, cujos
delineamentos são, principalmente, denticulados.
Tecnotipo 3: os suportes desse tecnotipo são lascas de núcleos
explorados pela concepção tipo "C", a partir de percussão unipolar
e bipolar sobre bigorna, de onde saíram lasca do tipo "calota".
Esses suportes possuem superfícies inferiores e aplainadas e
superiores aplainadas ou inclinadas; há dorsos em uma de suas
laterais e, oposto a eles, ocorrem coches que formam pontas. A
preensão foi feita a partir dos dorsos abruptos presentes nas
peças. Foram identificadas uma UTFt nos instrumentos com
gumes produzidos a partir de dois coches que formam uma ponta.
Tecnotipo 4: os suportes desse tecnotipo são seixos, sendo eles
quadrangulares, de faces achatadas e laterais abruptas. Apenas
em dois instrumentos, os suportes são lascas modulares. As áreas
preensivas são abruptas corticais ou apresentam um negativo
abrupto, relacionado à fase de debitagem. Possuem duas UTFts,
formando gume côncavo e gume denticulado.
Tecnotipo 5: os suportes dos instrumentos são provenientes de
lascas unipolares e fragmentos não lascados. A preensão deles foi
por produção ou naturalmente aproveitadas. Podem ter até três
UTFts, cujos delineamentos dos gumes ocorrem em forma de
ponta na extremidade ou com delineamento côncavo nos bordos
direito e esquerdo.
Tecnotipo 6: os suportes desse tecnotipo são advindos de lascas
unipolares modulares e fragmentos não lascados, em geral
apresentam formato retangular e dimensões variadas. As partes
preensivas são caracterizadas pelos dorsos dos triangulo. Possui
até três UTFts com gumes denticulados ou/e em ponta.
Tecnotipo 7: Os suportes dos instrumentos desse tecnotipo são
compostos por fragmentos de lascas espessas. As áreas
preensivas são garantidas pela base do instrumento e pelos
coches que produzem as pontas. Há uma variação entre as UTFts
22
presentes nos instrumentos, podendo ser até em três, com gume
em ponta, em coches e microdenticulado.
Tecnotipo 8: os suportes desse tecnotipo são lascas modulares e
espessas. Os gumes são localizados principalmente nos bordos
laterais, porém em áreas especificas, com retiradas de ângulos
côncavos para a formação dos gumes. A área de preensão foi
produzida.
Tecnotipo 9: os suportes desse tecnotipo são lascas de debitagem
volumosas. A porção preensiva dos instrumentos foi selecionada a
partir de negativos da debitagem. Já as UTFts foram identificadas
em vários tipos, microdenticulado, em ponta arredondada, dois
coches formando uma ponta discreta e uma UTFt composta por
coches profundos.
Tecnotipo 10: o tecnotipo apresenta somente uma peça,
semelhante ao tecnotipo 9. Seu suporte é uma lasca volumosa. A
porção preensiva foi aproveitada dos negativos de debitagem e do
grande negativos de coche. Foram identificadas duas UTFs, uma
na porção mesodistal do objeto em ponta e em coche.
Tecnotipo 11: os suportes desse tecnotipo são pequenas lascas
modulares e fragmentos não lascados. A porção preensiva das
peças é composta por negativos dispostos em suas laterais.
Podem ocorrer três UTFts nos instrumentos, sendo elas em
coches.
Tecnotipo 12: esse tecnotipo é composto por uma peça em lasca
espessa, tendo um perfil curvilíneo. As UTFts identificadas na lasca
foram uma em ponta e outras estão presentes nas laterais e na
extremidade da peça, produzindo gumes com delineamentos
côncavos e retilíneos.
Tecnotipo 13: esse tecnotipo é composto por dois instrumentos em
lascas volumosas. A porção preensiva desses objetos foi produzida
a partir de retiradas laterais e na porção meso distal das peças. As
UTFts são compostas por gumes abruptos com ângulos de bico
rasantes.
23
Tecnotipo 14: esse tecnotipo é disposto por lascas unipolares
volumosas. Os instrumentos possuem uma UTFt, que pode
apresentar gumes côncavos ou retilíneos.
Tecnotipo 15: os instrumentos desse tecnotipo são pouco
volumosos, semelhantes aos do tecnotipo 1 com suporte em lascas
unipolares e bipolares, sendo esse último do tipo "gomo". Possuem
uma UTFt, que pode ter um delineamento de um tipo “S”, com
curvaturas acentuadas.
Tecnotipo 16: esse tecnotipo é composto por lascas unipolares
espessas. A preensão foi feita a partir de um bordo não muito
trabalhado enquanto o outro bordo da peça possui mais retiradas,
com extremidades não trabalhadas, o que pode ter auxiliado na
preensão. O que se infere sobre a UTFt, é que ela apresenta gume
de tendência denticulada.
Tecnotipo 17: nesse tecnotipo os instrumentos foram divididos em
duas categorias (17a, 17b). Na categoria 17a, há duas zonas
transformativas, a primeira possui suporte em lasca de tendência
laminar, com um volume plano-cônvexo, com duas bordas
convergentes numa extremidade arredondada, com uma UTFt, no
bordo direito formado por dois segmentos regulares e retilíneos na
porção meso-distal com tendência retilínea; o segundo é provindo
de uma lasca fragmentada, possuindo uma volumetria plana-
convexa com UTFts em suas extremidades opostas, com uma
delas possuindo retoques alternados. A categoria 17b, é
caracterizada por um instrumento feito sobre uma lasca espessa,
possuindo quatro UTFts em sua porção mesial e distal.
24
Tecnotipo A: esse tecnotipo é composto por peças de suporte
em lascas pouco volumosas, pequenas e medias, de perfil
plano ou helicoidal e dorso natural em uma de suas laterais. A
preensão desse tecnotipo é caracterizada pela presença de
dorso. Possuem duas UTFts, sendo elas formando gumes
microdenticulado com ou sem ponta ou coche.
Tecnotipo B: esse tecnotipo possui suportes em lascas
triangulares, não espessas com perfil plano ou helicoidal. os
instrumentos possuem dois tipos de UTFt, sendo até duas num
instrumento. A primeira presente na extremidade distal das
peças com um gume em ponta. A segunda presente na porção
distal e/ou lateral das peças formando gumes microdenticulados
e côncavos.
Tecnotipo C: os instrumentos desse tecnotipo foram produzidos
a partir de lascas que possuem talões de maior volume, os quais
serviram como parte preensiva, em seu lado oposto foram
identificados a UTFt, com gumes afiados ou com miroretiradas
de formato microdenticulado.
Tecnotipo D: os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
suporte em lasca. As peças possuem uma UTFt, sendo elas em
coche, bem pronunciadas.
Tecnotipo E: esse tecnotipo é composto por instrumentos sobre
suporte de lascas espessas de tendência retangular. As UTFts
estão na porção proximal, lateral e distal dos instrumentos,
podendo ser em ponta ou em coche.
Tecnotipo F: Os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
lascas ultrapassadas e/ou desviadas, de dimensões curtas,
largas e espessas. As UTFts estão presentes nas porções
distais e mesodistais das lascas, podendo ser em gume
denticulado ou em ponta. A área de preensão desses
instrumentos não foi confeccionada.
Tecnotipo G: os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
lascas mais largas que compridas, tendo a porção proximal
25
mais espessa em relação a sua porção distal, há presença de
uma UTFt nas peças, que ficam nessa extremidade e nas suas
laterais, sendo elas pouco modificadas. A preensão é natural
composta pelo o talão e o dorso das peças.
Tecnotipo H: os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
lascas pouco volumosas e fragmentos não lascados. As UTFts
têm formato em "S" e estão localizadas na intersecção dos
negativos de retiradas. As UTFts têm formato em "S" e estão
localizadas na intersecção dos negativos de retiradas. Sobre a
preensão, pode ter sido usada a partir de uma superfície
abrupta, caracterizada pelo talão.
Tecnotipo I: os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
objetos obtidos a partir do lascamento unipolar. As UTFts
possuem ângulos de bico e de corte que variam de peça e peça,
de modo geral apresentam ângulos de bico acima de 70º e de
corte em torno de 60º.
Tecnotipo J: os instrumentos desse tecnotipo ocorrem em
objetos obtidos a partir de três suportes, o primeiro sobre lascas
com talão avantajado e dorso proeminente; lascas bem
espessas com percussão na face interna e fragmentos não
lascados com negativos na face interna. Há uma UTFt nas
peças, que ocorrem na direção oposta aos seus dorsos, ou em
uma das extremidades das lascas, podendo ser em forma de
coche, ponta ou microdenticulados.
Tecnotipo K: esse tecnotipo é composto peças com suporte
produzidos não intencionais, sendo assim foram divididos em
três conjuntos: lascas de reavivamento de gume, lascas de
refrescamento de plano de percussão e lascas de façonagem e
retoque. As UTFts do primeiro conjunto apresentam gumes em
formato denticular, com clara presença de retoques anteriores
ao fio de corte presente; no segundo conjunto as peças
presentes apresentam três tipos diferentes de gume, sendo um
em formato de ponta, um côncavo e um em direção ao dorso
que a peça possui. O terceiro conjunto apresenta peças com
26
gumes de diferentes formas com retoques em praticamente
todo o bordo das peças.
Tecnotipo L: os instrumentos desse tecnotipo são em lascas de
formato retangular. Suas UTFts localizam-se nas extremidades
distais das peças possuindo formatos coches e
microdenticulados. A preensão dessas peças foi feita a partir
dos talões avantajados presentes nas lascas.
Tecnotipo M: os instrumentos desse tecnotipo foram produzidos
sobre lascas discoides de formato retangular, quadrangular com
dimensões medianas. Em relação as suas UTFts, possuem
formato microdenticular, em geral de delineamento retilíneo
com exceções de algumas que possuem coches maiores.
Tecnotipo N: esse tecnotipo é composto por instrumentos sobre
lascas de forma retangular com espessura avantajada. As
UTFts desses instrumentos são compostas por microretoques
nas suas porções mesodistais, além de planos de corte
provindo de negativos anteriores.
Tecnotipo O: esse tecnotipo é composto por dois instrumentos
provindos de lascas kombewa. O primeiro possui 3 retiradas
que produziram um gume naturalmente afiado, no que diz
respeito a preensão, foi feito a partir das extremidades natural
e confeccionada. O segundo possui duas laterais com gumes
afiados, porém houve uma área com retoques contínuos
formando um gume denticulado. A sua preensão foi feita a partir
dos planos de percussão que a peça possui.
Tecnotipo P: os instrumentos desse tecnotipo são de formato
não padronizado provindos de dejetos e fragmentos não
lascados. As UTFts são de formato microdenticulado com
delineamento retilíneo, além também de haver uma
extremidade pontiaguda.
Tecnotipo Q: os instrumentos desse tecnotipo são compostas
por lascas em forma de ápice, por fragmentos lascados ou
naturais de forma piramidal. As UTFts são em formato de coche
27
e por formatos denticulados. No que diz respeito a preensão
desses objetos, foram aproveitadas pelas as suas áreas não
modificadas.
Tecnotipo R: os instrumentos desse tecnotipo possuem um
formato de "leque" com superfícies internas e externas pouco
convexas, possuindo uma de suas extremidades aplainada,
onde se localizam as UTFts, essas que possuem um formato
cônvexo. As laterais dos instrumentos podem ter retiradas ou
naturais, o que facilita na preensão dos objetos.
Tecnotipo S: os instrumentos desse tecnotipo foram feitos sobre
ocorrem em objetos obtidos a partir de lascas bipolares ou por
fragmentos não identificados de formatos quadrangulares ou
retangulares. Suas UTFts são compostas principalmente por
coches.
Arte rupestre
No que diz respeito a arte rupestre da área do vale do Rio Manso, elas se
caracterizam somente por petroglilfos. Foram identificados seis sítios, sendo três
em abrigo (Água Branca 3, Cachoeira 1 e Cachoeira do Pingador e três a céu
aberto (Cambaiuval, Pedra Preta e Ilha do Manso). Foram identificados nos sítios
o total de 920 gravuras, sendo elas 601 de motivos geométricos, 130
antropomorfos, 65 zoomorfos e 124 não identificados, isso por que o estado de
conservação dessas figuras não permitiu sua identificação (BARBOSA, 2006).
28
Os suportes rochosos dos sítios em lajedos (ambientes abertos) são de
formação quartzítica e filítica, bastante resistentes e de alta dureza. O suporte
rochoso dos sítios em abrigos é de formações areníticas bastante friáveis. As
gravuras foram confeccionadas principalmente pelas técnicas de alisamento ou
raspagem, o picoteamento também está presente, mas em baixa
representatividade.
Figura 3: Vista lateral do sítio Cachoeira do Pingador Figura 4: Escavações nas quadriculas C1,D1 e D2
29
Fonte: Viana, 2006.
3
A mata de galeria é vegetação florestal do Planalto Central que segue os cursos d’agua de
pequeno porte, como rios e córregos, geralmente é acompanhada por faixas de vegetação não
florestal e normalmente se encontra nos fundos dos vales e ou inícios de drenagens; o palmeiral
é uma formação que é caracterizada por forte presença de um só tipo de palmeira (RIBEIRO;
WATER, 2008).
30
próximo a ele ainda foram abertos cinco corte-testes, quatro deles estão
localizados a parte mais plana do abrigo e o outro na área em frente ao abrigo
(VIANA et al, 2006) (Figura 3).
31
Figura 6: Perfil estratigráfico e descrição da sondagem H0 e suas sete camadas. Destacado em vermelho, as camadas arqueológicas estudadas nesse estudo.
1.000 +- 60 BP
1.620 +- 60
BP
Legenda:
Óxido de ferro Osso
Lítico Borracha
Cerâmica Divisão dos níveis
Fogueira Malacofauna
Vegetal
32
Considerando que nosso objeto de estudo está na sondagem H0,
escavada de acordo com a ocorrência horizontal e vertical do material
arqueológico, como demonstrado na figura 5, estão caracterizadas as
decapagens realizadas nesse setor. Os dados destacados em vermelho marcam
as camadas e decapagens relacionadas ao objeto de estudo desde trabalho –
camadas I a V –; elas estão relacionadas a datações de 1.620 ± 60 AP e 1000 ±
60 AP (Figura 3.
Arte Rupestre
33
No trabalho de Lino (2017) foram analisados a arqueofauna presente no
setor D2 do sítio Cachoeira do Pingador, caracterizado por uma arqueofauna de
pequenos vertebrados, devido ao tamanho diminuto dos espécimes
encontradas. Foram identificados 3.904 espécimes provindas do corte e da
limpeza das paredes norte, sul e oeste.
34
Materiais líticos das camadas VI e VII
35
Figura 8: Instrumentos pertencente nos tecnotipos 1, 2, 3 das camadas VI e VII.
TECNOTIPO 1:
TECNOTIPO 2:
TECNOTIPO 3:
36
Foram também identificados no conjunto instrumentos não lascados,
sendo eles, maceradores, percutores e bigornas, esses que apresentam suporte
em seixo, em matérias-primas de sílex e arenito silicificado. Ainda foram
encontrados 4 cassons com contra-bulbo no conjunto, presentes na VII camada
do sítio.
37
CAPÍTULO II - ABORDAGEM TEORICA E METODOLOGICA
38
demais ferramentas. Uma das críticas frente ao uso da abordagem tipológica,
diz respeito aos "tipos" serem definidos a partir de uma sistematização
insuficiente, baseados em critérios formais, sendo muitas vezes nomeados com
base em analogias às formas das ferramentas contemporâneas e às suas
funções (LOURDEAU, 2014).
39
trouxeram realizações importantes no que diz respeito aos esquemas de
confecção e utilização dos instrumentos (LOURDEAU, 2014).
40
maior eficácia funcional do objeto, essa que adequa o objeto a uma forma na
qual performa melhor sua função. Em outras palavras, o objeto evolui para
melhorar a sua função. Outra forma de se pensar essa evolução técnica vem de
Simondon (1969), com sua teoria da individuação, propondo a identificação a
das gêneses dos objetos técnicos (BÖEDA; FOGAÇA, 2006).
2.1. O Instrumento
Qualquer matéria dura pode ser utilizada para improvisar ações que
“imitam” uma ferramenta, desde que possua propriedades volumétricas
apropriadas e um gume, que pode ser decorrente de fraturas naturais. No
entanto, o reconhecimento de um instrumento vai além dessas características
que podem ser encontradas na natureza.
41
específicos, de modo a possibilitar a produção; assim como prevê o
funcionamento da ferramenta (BÖEDA, 2013).
Seleção da
Seleção da materia materia prima Seleção
Seleção ou não de com condições
prima com condições um bloco
gerais para uso gerais para uso
Façonagem
Debitagem parcial
Confecção ou
Produção do debitagem
gume
Produção do gume
Produção do
gume
42
princípios técnicos necessários para a instalação da zona transformativa de um
instrumento ou de uma área preensiva;
2.2 A debitagem
Tipo A: tem por objetivo produzir lascas, não há nenhum controle sobre
as características físicas do núcleo, são produzidas aleatoriamente.
Tipo B: as lascas são destacadas, mas os critérios técnicos não são
rígidos.
43
Tipo C: apenas uma parte do bloco é explorada, deixando uma parte como
reserva de matéria-prima, sendo elas independentes uma da outra. Não
há uma preparação da superfície de debitagem do núcleo, mas há uma
seleção das convexidades naturais presentes nos núcleos, tal critério
técnicos é determinante. O plano de percussão pode ser natural ou
produzido. As lascas produzidas são pré-determinadas.
Tipo D: há produção parcial da superfície de lascamento e do plano de
percussão. Esse volume útil é explorado a partir da inicialização das
superfícies de lascamento. Assim como o tipo C, essa concepção possui
um volume residual (não explorado). As lascas produzidas são pré-
determinadas. No vale do rio Manso, foram identificados núcleos do tipo
D, porém com peculiaridades regionais que os diferem dos demais
lugares onde são comumente encontrados, por isso foram denominados
de “Tipo D Manso”, eles possuem poucas e curtas sequencias de
lascamento, as quais nem sempre atingem o centro do núcleo, dispostas
somente em direção centrípeta. O volume residual é sempre presente,
mesmo sendo pouco expressivo, há pouca exploração de sua estrutura
mesmo com possibilidade para a continuidade das retiradas.
44
lascas que se pretende obter. O seixo escolhido é atingido por outro percutor de
forma direta, podendo produzir uma serie de diferentes lascas, dependendo da
precisão da percussão e da morfologia do seixo escolhido (VIANA et al, 2014).
2.3 A Façonagem
A área preensiva consiste nem uma área que recebe energia no uso da
ferramenta, ela pode ser decorrente de seleção ou produção, podendo ser
45
manual ou preparada para receber encabamento. Suas características estão
relacionadas ao funcionamento do instrumento.
Artefato
Instrumento
Parte transmissora
de energia
Energia
Esquema de utilização
46
técnicas e funcionais. Sendo assim um objeto técnico deve ser considerado
enquanto parte de um sistema que é composto pelo sujeito (cognição, técnicas,
afetividades), pela matéria a ser trabalhada e pelo seu ambiente natural e social.
As relações dessa tríade possuem restrições relacionadas a matéria-prima
utilizada na sua produção, o meio cultural no qual está inserido e utilização de
um objeto (BÖEDA, 2013). Erica, eu modifiquei um pouco esse parágrafo, veja
se concorda.
2.5 Metodologia
47
2.5.1. Lascas
48
Figura 11: Representação de uma lasca com a identificação de suas características técnicas.
Perfil
Negativos de Ondas
Nervuras
retiradas Parte distal
anteriores
lancetas
Parte distal
Parte mesial
Parte distal Parte distal
Parte distal
Labio bulbo
Parte distal Parte distal
Parte proximal
Parte distal Parte distal Parte distal
Ângulo de talão
lascamento
Parte distal Parte distal
Parte distal
Parte distal
Parte distal Marcas do
Ângulo de
lascamento
bulbo
Parte distal
Parte distal
49
Fonte: Costa (2019). Baseado em Boëda (2013) e Inizan et al. (1995).
Para análise dos instrumentos lascados, assim como das lascas, foram
baseados nos guias de análise de peças líticas do Laboratório de Arqueologia
da PUC Goiás, baseado em Inizan et al (2017), Boëda (1997 e 2013 e Viana
(2005):
51
sequencias de lascamento presentes na superfície de lascamento e quantidade
de negativos presentes nas sequências de lascamento.
52
CAPÍTULO III - RESULTADO DA ANÁLISE DOS OBJETOS LÍTICOS DO
SÍTIO CACHOEIRA DO PINGADOR
Classes líticas
800
700
600
500
400
300
200
100
0
Camada II Camada III Camada IV Camada V
Desse total, 235 peças encontram-se na camada II, 48 na camada III, 269
na Camada IV e 1397 camada V.
Como demonstrado no gráfico a maioria dos objetos líticos no sítio é
composto por lascas e cassons. Essas classes são quantitativamente mais
representativas em todas as camadas arqueológicas, seguido dos fragmentos
de matéria-prima, cassons com contra-bulbo, esses assim como os cassons, não
se sabe ao certo seu posicionamento na cadeia-operatória. Os “cassons com
contra-bulbo” foram assim definidos por possuírem negativos de retiradas de
4
Não houve presença de material lítico na primeira camada.
53
lascas com presença de “contra-bulbos”5, estes que aparecerem de forma
isolados em suas faces ou, raramente, dispostos em forma sequencial; em geral
os negativos tomam toda a borda dos pequenos cassons que em média
apresentam de 0,5 cm a 4,5 cm de comprimento, 0,3 a 4,2 cm de largura e 0,1
cm a 3,6 cm de espessura6. Estão presentes somente nas camadas IV e V do
setor H-0. Em termos quantitativos após as referidas categorias, estão os
instrumentos, presentes nas camadas II, IV e V; instrumentos não lascados,
também presentes nas camadas II, IV e V e núcleos presentes nas camadas IV
e V.
Como apresentado no gráfico a seguir, a maior parte do material lítico
presente no sítio é provindo do sílex e do arenito silicificado, com demonstrativos
menores de outras matérias-primas, como o quartzo, o arenito friável, cristal de
rocha e siltito. Informamos que algumas peças não puderam ser identificadas,
pois se apresentavam totalmente corticais.
5
Contra-bulbo: trata-se de um estigma tecnológico caracterizado por uma depressão localizada
no negativo da lasca, em área adjacente ao talão. A depressão corresponde ao positivo do bulbo
presente na lasca que foi destacada.
6
Análises posteriores deverão aclarar informações tecnológicas sobre tais peças, pois devido ao
contexto de pandemia no Brasil, causada pelo novo corona vírus, a partir de março/2019 não tive
acesso ao laboratório de arqueologia para dar continuidade às análises dessa categoria de
objetos.
54
Gráfico 2: Matérias-primas presentes nono sítio Cachoeira do Pingador
Matéria-prima
não identificado
quartzo
siltito
cristal de rocha
arenito silicificado
arenito friavel
quartzito
sílex
55
Gráfico 3: Suportes de matérias-primas.
Suporte de matéria-prima
1200
1000
800
600
400
200
0
seixo bloco veio neocórtex sem córtex
56
Como demonstrado no gráfico de estado de conservação, na camada V
as peças em sua maioria não possuem alteração pós-deposicional.
57
3.1 Análise das Lascas
Tipos de lasca
160
140
120
100
80
60
40
20
0
lasca lasca suporte lasca de lasca de lasca
confecção de reafiamento incompletas
gume
58
Talão
30
25
20
15
10
5
0
camada II camada III camada IV camada V
Lábio
120
100
80
60
40
20
0
camada II camada III camada IV camada V
59
Como mostrado no gráfico de lábio, em relação a sua sutileza, a maior
parte das lascas possui lábio sutil, o que indica o predomínio da utilização de
percutores de pedra dura; a presença de lábio proeminente, por sua vez, indica
uso concomitante de percutores macios.
Gesto
120
100
80
60
40
20
0
camada II camada III camada IV camada V
60
Gráfico 9:Ponto de impacto.
Ponto de impacto
70
60
50
40
30
20
10
0
camada II camada III camada IV camada V
Percutor
12%
53%
35%
61
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
62
não está na retirada da lasca propriamente dita, mas no seu negativo que fica
incrustado no instrumento e que permite a construção do plano de bico, de corte
ou da superfície de ataque.
4
comprimento
0
0 1 2 3 4 5
Largura
3,5
3
Comprimento
2,5
1,5
0,5
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5
Espessura
63
Como constatado nos gráfico 12 e 13, pode-se verificar que as lascas da
camada II, chegam até 5 cm de comprimento, porém a maioria delas estão entre
o intervalo de 0,8 cm a 3 cm de comprimento. Sobre sua largura, ver-se que a
maioria das lascas possuem largura entre 0,5 a 3 cm, mas podem chegar até 4,5
cm. A espessura das peças podem chegar até 3,5 cm, porém o predomino de
peças está entre 0,1 a 1,5 cm.
2,5
2
1,5
1
0,5
0
0 1 2 3 4 5 6
Comprimento
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 1 2 3 4 5 6
Comprimento
64
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
5
4
3
2
1
0
0 2 4 6 8 10 12
Comprimento
65
Gráfico 17: dimensões das lascas na camada IV.
3,5
2,5
Espessura
1,5
0,5
0
0 2 4 6 8 10 12
Comprimento
66
Gráfico 18: dimensões das lascas na camada V.
5
Largura
0
0 1 2 3 4 5 6
Comprimento
2,5
2
Espessura
1,5
0,5
0
0 1 2 3 4 5 6
Comprimento
não identificadas
3 negativos
2 negativos
1 negativo com contrabulbo
5 ou mais negativos
cortical
1 negativo sem contrabulbo
4 negativos
3 negativos/ preparação de talão
2 negativos/ preparação de talão
5 negativos ou mais negativos/ preparação de…
1 negativo com contrabulbo/prepração de talão
4 negativos/ preparação de talão
preparação de talão
1 negativo sem contrabulbo/ preparação de talão
0 5 10 15 20 25 30 35 40
camada V camada IV camada III camada II
68
Gráfico 21: Orientação das nervuras da face exterior da lasca
69
Como definido no capítulo 2, essa concepção é considerada como um
sistema adicional (abstrato), com apenas uma parte do núcleo explorado, a área
não lascada atuaria como reserva de matéria-prima ou para preensão. Nessa
concepção de debitagem, o maior investimento está na seleção da matéria-
prima, pois a matriz selecionada precisa apresentar naturalmente os critérios
técnicos: superfícies planas, para servir de plano de percussão e superfícies
convexas para a retirada de lascas (VIANA et al. 2014).
Peça 1191
Peça 2328
70
Gráfico 22: Instrumentos não lascados por camada.
12
10
0
Percutores Bigorna Percutor/bigorna Macerador Instrumento
fragmentado
71
Figura 15: Percutores 1370, 1626 e 1372 em detalhe, respectivamente. Em vermelho, as marcas
de percussão.
72
Fonte: Viana, 2020. Tratado pela autora, 2020.
73
Figura 18: Instrumento não lascado 1610. Em vermelho tracejado, marcas de uso; as setas
vermelhas indicam as marcas de encabamento.
74
4 3
3 1
Córtex
Incrustação
3.4.1 CAMADA V
Decapagem 17ª
CP-1571
75
estado de conservação embotado e uma superfície de ataque aproveitada da
debitagem. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp
foi parcialmente aproveitada da morfologia e volume natural da peça e
parcialmente produzida; o manuseio teria sido realizado a partir da preensão em
força. Assim, o provável uso do instrumento, teria sido para ações de raspar.
CP-4780
76
alternam por ambas as faces da peça, compondo uma morfologia subparalela.
A UTFt 2 tem um ângulo de bico de 60° e de corte 55°,com um gume em estado
fresco e com sua superfície de ataque produzida. Em relação a preensão do
instrumento, verificou-se que sua UTFp foi produzida e aproveitada da
debitagem para promover seu manuseio a partir da preensão em força e pinça.
Assim a UTFt 1 provavelmente teria sido utilizada para ações de raspar e cortar
e a UTFt 2 para perfurar e raspar.
CP-2429
77
corte 50°. O gume apresenta-se fresco, possuindo um perfil em bisel simples,
plano-concavo, sendo sua superfície de ataque aproveitada da debitagem. Em
relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi parcialmente
aproveitada dos negativos anteriores à produção do objeto ligados a debitagem
e de superfície produzida para promover seu manuseio, realizado a partir da
preensão em pinça. O funcionamento da peça não foi identificado.
CP-8060
78
da preensão em pinça e força. O uso da peça foi provavelmente para ações de
raspar.
Figura 23: Imagem e esquema do instrumento de número 8060.
CP-5148
79
a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada dos
negativos anteriores a produção do objeto relacionados a debitagem,
relacionados a debitagem e produzida para promover seu manuseio, esse que
teria sido realizado a partir da preensão em força e pinça. Sendo assim, o
provável uso da peça foi feita para raspar e perfurar outras superfícies.
CP-8018
80
teria sido realizado a partir da preensão em pinça. Sendo assim, o provável uso
da peça teria sido para perfurar outras superfícies.
CP-6592
81
Figura 26: Esquema do instrumento de número 4780.
CP-7782
82
Figura 27: Instrumento de número 7782.
CP-5169
83
Figura 28: Imagem e esquema do instrumento de número 5169.
CP-7781
84
aproveitada dos negativos anteriores a produção do objeto, o que teria
favorecido seu manuseio, que teria sido realizado a partir da preensão em força
e pinça. O provável uso da peça teria sido para raspar e perfurar outras
superfícies.
CP-5014
85
Figura 30: Imagem e esquema do instrumento de número 5014.
UTFt
CP-4805
86
Figura 31: Imagem e esquema do instrumento de número 4805.
UTFt
Decapagem 16ª
CP-2324
87
Figura 32: Instrumento de número 2324.
UTFt
CP-2323
88
75°, com gume em estado embotado, possui um perfil em bisel simples, plano
convexo. A segunda (UTFt 2) está localizada no bordo distal, com negativos
distribuídos em todo ele, com delineamento do gume retilíneo, possui retoques
de comprimento micro e curto na fase inversa, compondo uma morfologia
subparalela. A UTFt 2 tem um ângulo de bico de 70° e de corte 70°, com um
gume em estado embotado. Ambas superfícies de ataque das UTFts foram
produzidas pelo o desplacamento intencional do seixo. Em relação a preensão
do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi produzida e aproveitada da
angulosidade natural da peça seu manuseio a partir da preensão em força e
pinça. Permitindo assim um provável uso do instrumento para ações de raspar.
UTFt 2
UTFt 1
89
CP-2333
90
Figura 34: Instrumento de número 2333.
UTFt 2
UTFt 1
CP-2320
91
foi delimitada a partir de sua superfície de ataque, que apresenta marcas
provocadas pelo uso da face superior da porção direita do bordo distal, essa que
possui dois negativos paralelos pouco evidentes. Em relação a preensão do
instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada da angulosidade e
volumetria natural da peça; seu manuseio foi feito a partir da preensão em força,
o que teria permitido assim um provável uso das UTFts para ações de raspar.
UTFt 1 UTFt 2
CP-5287
92
força e pinça. Assim um provável uso da UTFt para ações de perfurar por
rotação.
UTFt
CP-2343
93
A UTFt tem um ângulo de corte de 75° e devido a ponta estar fraturada não foi
possível medir o ângulo de bico da peça. Apresenta uma superfície de ataque
aproveitada de negativos da debitagem. Em relação a preensão do instrumento,
verificou-se que sua UTFp foi produzida; o funcionamento teria sido a partir da
preensão em força e pinça, o que teria permitido um uso provável do instrumento
para ações de perfurar.
UTFt
CP-2301
94
côncavo-côncavo, sendo sua superfície de ataque aproveitada da debitagem.
Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi
aproveitada de negativos da debitagem e do volume e delineamento natural da
peça para promover seu manuseio, a partir da preensão em força. Assim o
provável uso da peça para ações de corte.
CP-5023
95
Figura 39: Ilustração do instrumento de número 5023.
UTFt
CP-2410
96
Figura 40: Imagem e esquema do instrumento de número 2410.
UTFt
UTFt
3.4.2 CAMADA IV
Decapagem 15ª
CP-5043
97
Figura 41: Esquema do instrumento de número 5043
CP-1919
98
Figura 42: Ilustração do instrumento de número 1919.
CP-5284
99
Figura 43: Ilustração do instrumento de número 5284.
UTFt
Decapagem 14ª
CP-4257
100
peça; o manuseio teria ocorrido a partir da preensão em força, favorecendo um
provável uso da peça para ações de cortar e raspar.
UTFt
Decapagem 13ª
CP-2540
101
negativos de debitagem para promover seu manuseio a partir da preensão em
força. Permitindo assim um provável uso da peça para ações de perfuração.
CP-2522
102
UTFp foi aproveitada da morfologia e volume natural da peça; o manuseio teria
sido realizado a partir da preensão em força e pinça. Assim, o provável uso do
instrumento teria sido para ações de raspar e cortar.
CP-2546
103
UTFt
Decapagem 12ª
CP-2039
104
Figura 49: Instrumento de número 2039.
UTFt 2
UTFt 1
CP-2118
105
realizado a partir da preensão em força e pinça. O objeto poderia ter sido usado
para ações de cortar.
Decapagem 11ª
CP-1663
106
retoques de comprimento micro e curtos, presentes na face inferior da peça,
compondo uma morfologia cruzada subparalela. A UTFt tem um ângulo de bico
e de corte de 70°. O gume encontra-se em estado ainda fresco, com sua
superfície de ataque aproveitada do córtex natural da peça. Em relação a
preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada a partir da
volumetria e angulosidade natural da peça e dos negativos de debitagem para
promover seu manuseio, a partir da preensão em força. Assim o instrumento
teria sido provavelmente para ações de perfurar.
107
Figura 51: Instrumento de número 1663.
UTFt
Decapagem 10ª
CP-6180
108
ponta, compondo uma morfologia escamosa. A UTFt tem um ângulo de corte de
50° e devido ao estado embotado dela, não foi possível medir o ângulo de bico.
Sua superfície de ataque foi aproveitada da superfície cortical e aplainada da
peça. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi
produzida e aproveitada da angulosidade natural da peça; o manuseio teria sido
realizado a partir da preensão em pinça, permitindo um provável uso do
instrumento para ações de perfuração.
UTFt
3.4.3 CAMADA II
Decapagem 5ª
CP-1913
O instrumento de número CP-1913 que está localizado na 5ª decapagem da II
camada arqueológica do sítio é uma peça produzida sobre um suporte de
109
matéria-prima em arenito silicificado. Apresenta 2,8 cm de comprimento, 1,5 cm
de largura e 1,2 cm de espessura. O instrumento possui uma UTFt, em ponta-
borda no bordo distal da peça, com retoques alternando nas duas faces do
objeto; os negativos são de comprimento curto e longo, compondo uma
morfologia subparalela, formada a partir de três faces. A UTFt possui um ângulo
de bico maior que 90° e um ângulo de corte de 55°, com um gume embotado e
superfície de ataque produzida. Em relação a preensão do instrumento,
verificou-se que sua UTFp teria sido parcialmente aproveitada do delineamento
natural e volume da peça; o manuseio teria sido realizado a partir da preensão
em pinça, com um provável uso da peça para ação de perfuração.
UTFt
CP-1711
110
UTFt, localizada no bordo esquerdo da peça, com retoques alternando em
ambas as faces do objeto; as dimensões dos negativos são micro e curto,
compondo uma morfologia irregular e um gume de delineamento subparalelo. A
UTFt possui um ângulo de bico de 70°, o ângulo de corte é de 55°, com um perfil
em bisel duplo, plano-convexo, com o gume ainda fresco e superfície de ataque
aproveitada da debitagem. Em relação à preensão do instrumento, verificou-se
que sua UTFp foi aproveitada dos negativos de debitagem; o manuseio teria sido
realizado a partir da preensão em força e pinça, permitindo assim um provável
uso da peça para ações de raspar e cortar.
UTFt
CP-1731
111
morfologia subparalela. A UTFt 2 possui um ângulo de bico de 90° e um ângulo
de corte de 84°, com um perfil em bisel simples, plano-concavo, com um gume
em estado de conservação fresco e uma superfície de ataque aproveitada da
debitagem. Em relação a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp
foi aproveitada da debitagem; o manuseio teria sido realizado a partir da
preensão em força e pinça. A UTFt 1 foi provavelmente usada para ações de
perfurar e raspar enquanto a UTFt 2 teria sido para ações de raspar e cortar.
CP-1705
112
o que favoreceu o manuseio do instrumento a partir da preensão em força e
pinça. Permitindo assim um provável uso da peça para ações de perfurar e
raspar.
UTF
t
Decapagem 4ª
CP-5020
113
dispostos de forma alternada pelas faces do objeto, compondo uma morfologia
subparalela. A UTFt tem um ângulo de bico e de corte esgotados, um perfil em
bisel simples plano-convexo e uma superfície de ataque aproveitada. Em relação
a preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada a partir de
negativos de debitagem o que teria permitido melhor manuseio da peça. O
funcionamento teria sido realizado a partir de preensão em força, o que teria
permitido um provável uso da peça para ações de raspar outras superfícies.
UTFt 1
UTFt 2
CP-2133
114
60°, com um perfil em bisel duplo, plano-cônvexo, com um gume em estado de
conservação embotado e uma superfície de ataque produzida. Em relação a
preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada do
delineamento e volumetria natural da peça; o manuseio teria sido realizado a
partir da preensão em força e pinça. O objeto poderia ter sido usado para ações
de raspar.
UTFt
CP-2008
115
de comprimento micro e curto e de morfologia subparalelo. A UTFt 1 possui um
ângulo de bico de 55° e um ângulo de corte de 70°, com um gume em estado de
conservação fresco e uma superfície de ataque aproveitada. A segunda UTFt
está localizada na porção meso-distal do bordo esquerdo, com retoques
alternando em ambas as faces do objeto, com negativos de comprimento curto
e longo compondo um delineamento de gume retilíneo de morfologia
subparalelo. A UTFt 2 possui um ângulo de bico de 80° e um ângulo de corte de
70°, com um perfil em bisel duplo, plano-concavo, com um gume em estado de
conservação embotado e uma superfície de ataque produzida. Em relação a
preensão do instrumento, verificou-se que sua UTFp foi aproveitada da
debitagem e foi produzida, a partir de um único negativo na porção meso-
proximal do bordo esquerdo; o manuseio teria sido realizado a partir da preensão
em força e pinça. O objeto poderia ter sido usado para ações de cortar e raspar.
116
Decapagem 3ª
CP-1729
UTFt
3.5 TECNOTIPOS
3.5.1 Tecnotipo 1
118
Os instrumentos que compõem esse tecnotipo estão divididos em dois
conjuntos:
UTF t
Retoque
s
119
porção distal. Possuem um comprimento máximo de 8,3 cm e mínimo de 1,6,
uma largura máxima de 6,6 e mínima de 1,2 e uma espessura que varia de 0,6
cm a 3,7 cm. O suporte desses instrumentos são lascas suportes, brutos de
debitagem ou suportes naturais em seixos ou em veios de sílex, quartzo leitoso
ou arenito silicificado. No que diz respeito ao funcionamento dos instrumentos,
os do primeiro conjunto foram utilizados para incisões não rotacionais a partir de
uma preensão em força ou força e pinça, já os do segundo conjunto, foram
utilizados para serem feitos movimentos rotacionais a partir de uma preensão
em pinça ou força e pinça.
UTFt
Retoque
s
preensiva
UTF
3.5.2 Tecnotipo 2
120
Gráfico 24: Posicionamento estratigráfico do tecnotipo 2.
UTFt
preensiva
UTF
121
Os instrumentos possuem um comprimento máximo de 5,3 cm e mínimo
de 3,2, cm uma largura máxima de 3,7 cm e mínima de 2,2 cm e uma espessura
que varia de 0,8 cm a 3,2 cm. O suporte dos instrumentos é em lascas-suportes,
brutos de debitagem ou suportes naturais de seixos de sílex e quartzo leitoso.
No que diz respeito ao funcionamento dos instrumentos, possuem uma UTFt,
localizada maioritariamente na sua porção distal ou na lateral da peça, que como
tido, teriam sido calibradas para melhor delimitação do gume e funcionamento
da peça. Esse uso foi feito por meio de ações de raspar ou raspar/cortar com
movimentos usando preensão em força e em força e pinça.
3.5.3 Tecnotipo 3
4ª decapagem 2ª camada
CP-1729
CP-2323
16ª decapagem 5ª camada
3.5.4 Tecnotipo 4
123
Gráfico 26: Posicionamento estratigráfico do tecnotipo 4.
CP-
4ª decapagem 2ª camada 5020
CP-
16ª decapagem 5ª camada 2323
124
Figura 65: Desenho esquemático do tecnotipo 4
3.5.5 Tecnotipo 5
16ª decapagem 5ª
camada CP-5023
0 0,5 1 1,5
125
uma espessura que varia de 1,2 cm a 2,0 cm. O suporte desses instrumentos foi
a partir da escolha de suportes naturais em seixos de sílex. No que diz respeito
ao funcionamento dos instrumentos, cada um deles possuem uma UTFt na
porção distal do objeto com um delineamento em rostre, com dois bordos laterais
de convergência não acentuada; as peças teriam sido utilizadas para ações de
raspar ou raspar/cortar com movimentos usando preensão em força.
126
CONSIDERAÇÕES FINAIS
127
também aflorando em alguns pontos (VIANA, 2006). Dos seixos, os quais teriam
sido criteriosamente selecionados para lascamento, o interesse era não somente
pela dureza da matéria para a eficiência do gume do instrumento, mas também
pelas suas morfologias e volumes, os quais teriam sido com recorrência
utilizados como área preensiva dos instrumentos (VIANA, 2005).
128
menor quantidade em todas as camadas. Tais informações indicam que nas
diferentes ocupações dos sítios as atividades de lascamento foram recorrentes
em especial, a fase de confecção de gumes de ferramentas. A fase intermediária
das cadeias operatórias, relacionadas à produção do suporte (debitagem) teriam
ocorrido no interior, assim como fora do sítio.
129
A correlacionarmos os dados expostos, se observou a partir dos
tecnotipos, esquemas técnicos particulares que provém de cadeias operatórias
distintas. Não há uma coerência tecnológica forte entre os suportes dos
instrumentos e lascas suportes identificadas no conjunto da coleção. Sobre essa
questão, se constata que há certos instrumentos de volumes maiores cujos
suportes semelhantes não estão no sítio; de outro lado, há instrumentos de baixa
volumetria que se assemelham às lascas presentes. Essa situação também
indica que outros instrumentos teriam sido produzidos no local e não estavam
presentes no setor escavado.
130
Apesar dessa pouca semelhanças entre os tecnotipos, pode-se notar que
embora ocorra entre as peças diferentes suportes de volumes e morfologia, os
gumes em forma de ponta se fizeram bastante presentes em quase todos os
tecnotipos dos sítios do Vale, o que foi também uma característica bastante
marcante entre tecnotipo 1 do Cachoeira do Pingador.
Figura 68: Na esquerda, instrumento do tecnotipo 1 (camada VI e VII); Na direita, instrumento presente no
tecnotipo 1 (A).
UTFp
131
possibilidade do uso dos instrumentos de baixo volume presentes no sítio. A arte
rupestre presente no sítio Cachoeira do Pingador, em termos de técnica e
temática, ela também se relaciona com os demais sítios rupestres do vale.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALFET, H. Des chaînes opératoires, Pour quoi faire? Paris. CNRS, p. 11-19,
1991.
132
Trabalho de Conclusão de Curso TCC. (Graduação em Arqueologia) Pontifícia
Universidade Católica de Goiás. 2019
133
RAMOS, M. P. M.; VIANA, A. S. Diagnose Tecno-Funcional De Amostragem
Lítica Datada Do Início Do Holoceno Médio No Sítio Arqueológico Go-Ja-
01: Características Da Estrutura De Lascamento Em Presença. Revista
Mosaico, v. 12, p. 135-163, 2019.
134