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a
ARTE

SÉRIE
ENSINO
MÉDIO
ALUNO - 2137581

ARTE
Arte na Pré-História
e na Antiguidade
Graça Proença

ENSINO
MÉDIO
Gerência editorial
Mônica Vendramin Sumário
Edição
Aparecida Mazão (coordenação),
Bárbara Muneratti de Souza
Arte na Pré-História e na Antiguidade
Assistência editorial
Solange A. de Almeida Francisco
1 A arte na História, 3
Colaboração
Fabiana Manna da Silva
O ser humano reinventa seu meio, 4
Revisão Onde começa a arte?, 4
Hélia de Jesus Gonsaga (gerente), Kátia Scaff
Marques (coordenação), Patrícia Travanca,
Rosângela Muricy
2 A arte na Pré-História, 8
A arte no Paleolítico: o naturalismo, 9
Pesquisa iconográfica
Sílvio Kligin (coordenação), Caio Mazzilli, A arte no Neolítico: começa um novo estilo, 10
Josiane Camacho Laurentino A arte na Idade dos Metais, 11
Programação visual (miolo)
Kraft Design
A arte na Pré-História brasileira, 12
Edição de arte
Margarete Gomes (supervisão), Rosimeire Tada,
3 A arte no Egito, 17
Amilton Ishikawa, Magali Prado A importância da religião, 18
Editoração eletrônica Uma arte dedicada à vida após a morte, 18
AGA Estúdio / lab 212
A imponência do poder religioso e político, 18
Capa
lab 212
Uma arte de convenções, 20
Imagens de capa O apogeu do poder e da arte, 22
Golden Sikorka / Sentavio / TarikVision / Shutterstock
Colaboraram para esta Edição 4 A arte na civilização egeia, 26
Cristiane Queiroz, Juliana Setem, Raquel Sanches, A arte cretense, 27
Rosiane Botelho, Sergio Amstalden, Simone Savarego,
Talita Perazzo, Thiago Brentano, Valdete Reis e lab 212. A arte micênica, 28
Dados Internacionais de
Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Proença, Graça
Sistema de ensino ser : artes : 1º ano :
aluno / Graça Proença. -- 3. ed. -- São Paulo :
Ática, 2017.

1. Arte (Ensino médio) I. Título.

16-08225 CDD-700

Índices para catálogo sistemático:


1. Arte : Ensino médio 700

3ª- edição
1ª- impressão
2016

ISBN 978 85 08 18402 6 (aluno)


ISBN 978 85 08 18403 3 (professor)

Impressão e acabamento

Uma publicação

MARIA DAS GRAÇAS VIEIRA PROENÇA DOS SANTOS


Todos os direitos reservados por
Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Somos Educação S.A.
Avenida das Nações Unidas, 7221
Sorocaba (FFCL) e em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Pinheiros – São Paulo – SP Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo.
CEP: 05425-902 Pós-graduada em Estética pelo Departamento de Filosofia da Universidade
(0xx11) 4383-8000 de São Paulo.
© Somos Sistema de Ensino S.A.
Foi professora da rede particular e pública de ensino do estado de São Paulo.
2
2
Veja, no Guia do Professor, quadro de competências

1
e habilidades desenvolvidas neste capítulo.
Capítulo
A arte na História

Arte
Conhecer a história da arte é entrar em contato com um dos aspectos
mais significativos da produção humana em todos os tempos. É
também experimentar o encantamento e as emoções despertadas
pelas obras de grandes artistas. A familiaridade com as artes visuais
favorece a compreensão das obras literárias. É também fonte de
referência para o entendimento do processo histórico e um meio
agradável de construir uma visão mais ampla do processo cultural.
Compreender obras de arte e saber apreciá-las depende sobretudo
da soma de experiências estéticas pessoais. É necessário
aproximar-se das obras, aprender a vê-las, a compará-las,
Objetivos: acostumar-se a fazer as próprias considerações e também a criar.
Além disso, é preciso habituar-se a ouvir a opinião do outro, pois a
Reconhecer a arte como meio
produção artística propicia a diversidade de pontos de vista.
de expressão de sentimentos
humanos.

HENRY YU
Inferir que observar obras
de arte é um meio de
compreender aspectos da
cultura de um povo.

Relacionar arte e cotidiano.

Pintura rupestre encontrada em Lapa da Cerca Grande, em Matozinhos, Minas Gerais.

Arte na Pré-História e na Antiguidade 3


■ O ser humano reinventa seu meio ■ Onde começa a arte?
Ao olhar à nossa volta, notamos a quantidade Além dos artefatos de que falamos até aqui, o
de objetos que nos rodeiam, em casa, no traba- ser humano também sempre produziu e se cercou
lho, na sala de aula, nos mais diversos lugares. de objetos sem utilidade evidente e imediata. Ao
Pensando sobre eles, concluímos que todos foram vê-los é inevitável que nos perguntemos: por que e
feitos com alguma finalidade. É o caso dos uten- para que teriam sido feitos? A busca por respostas
sílios domésticos, como talheres ou eletrodomés- nos leva a uma constatação. O ser humano, seja
ticos, e dos instrumentos de trabalho, como lápis, de que época for, cria objetos não apenas para
computadores e até robôs de linha de montagem. se servir deles, mas também para expressar seus
Há, enfim, um grande número de coisas que faci- sentimentos.
litam nosso dia a dia. Muitas dessas criações aparentemente sem
Ao longo da História, o ser humano sempre utilidade e intenção evidente são chamadas obras
projetou e produziu ferramentas que o ajudassem de arte. Elas também nos contam — talvez de
a superar suas limitações físicas. A vara e o anzol, forma até mais fiel que os primeiros objetos referi-
por exemplo, nada mais são do que o prolon- dos — a história humana ao longo dos séculos.
gamento de seu braço; o guindaste permite-lhe Segundo o crítico de arte inglês John Ruskin
levantar grandes pesos. (1819-1900), “as grandes nações escrevem sua
Assim, esse ser, que facilmente seria subju- autobiografia em três volumes: o livro de suas
gado pelos elementos da natureza, produziu um ações, o livro de suas palavras e o livro de sua
sem-número de artefatos que lhe tornaram possí- arte”. E acrescenta: “nenhum desses três livros
vel dominar e transformar o meio natural segundo pode ser compreendido sem que se tenham lido
suas necessidades. os outros dois, mas, desses três, o único em que se
Muitos dos artefatos produzidos em tempos pode confiar é o último”.
remotos resistiram ao tempo e são até hoje encon- Assim, a produção artística não deve ser
trados em sítios arqueológicos, locais que guardam considerada um fato extraordinário. Ao contrá-
vestígios de ocupação humana. Com base nesses rio, está profundamente integrada à cultura e aos
objetos, estudiosos conseguem reconstituir, por sentimentos de um povo: ora retrata elementos
exemplo, a organização social de diferentes grupos do meio natural, como é o caso das pinturas
humanos. Pela observação de potes, urnas mor- pré-históricas, ora representa divindades de uma
tuárias e instrumentos rudimentares para tecer, civilização ou expressa sentimentos religiosos,
caçar ou pescar, é possível perceber como viviam como o quadro Martírio de São Mateus, de
nossos ancestrais. Caravaggio.
Como os objetos de nossa vida diária, esses A arte pode também ser um testemunho
artefatos hoje expostos em museus já tiveram sua histórico, retratar situações sociais, como em A
utilidade. marcha da humanidade, mural de David Alfaro
Siqueiros. O artista pode, ainda, trabalhar apenas
CHARLES O’REAR/CORBIS

com elementos pictóricos — cor e composição,


por exemplo —, sugerindo impressões a quem
contempla suas obras, como na obra Vermelho
cardeal, de Marcelo Nitsche.
Todas essas manifestações artísticas demons-
tram uma preocupação humana: a busca por
expressar a beleza. Essa procura é tão presente
nas culturas, que até mesmo os objetos utilitá-
rios são concebidos de forma harmoniosa, com
cuidadosa combinação de materiais e cores.
Notamos isso tanto em uma urna funerária gre-
ga como em um instrumento astronômico do
Montagem de peças em fábrica de automóveis, em Durban,
África do Sul. Tudo é feito por meio de robôs. século XVI, em um automóvel de nossa época ou
em um diadema indígena.
4
4 Ensino Médio
FUNDAÇÃO SIQUEIROS, A. C., CIDADE DO MÉXICO

IGREJA DE SÃO LUÍS DOS FRANCESES, ROMA

Arte
A marcha da humanidade (1966), mural de resinas sintéti-
cas sobre cimento de David Alfaro Siqueiros. Cuernavaca, Martírio de São Mateus, de Caravaggio. Dimensões: 315 cm x
México. 315 cm. Igreja de São Luís dos Franceses, Roma.
<WWW.FJEXPEDITIONS.COM/FRAMESET/WUVE.HTML>

MUSEU DE ARTE MODERNA, SÃO PAULO/FOTO: ROMULO FIALDINI

Vermelho cardeal (1986), duco sobre PVC de Marcelo


Pintura rupestre no sítio arqueológico de Ain Dova, na Líbia, Nitsche. Dimensões: 90 cm x 196 cm. Museu de Arte Moderna
África. (MAM-SP).

Arte na Pré-História e na Antiguidade 5


MUSEU ARQUEOLÓGICO NACIONAL, ATENAS/KONDANSHA LTD.

CHRISTIAN CASTANHO/EDITORA ABRIL


Corvette, carro exposto no 2º- Salão de Tunig, realizado em
maio de 2006 na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo.

Cratera funerária grega do século VII a.C. Altura: 125 cm.


Museu Arqueológico Nacional, Atenas.
MAE-USP, SÃO PAULO. FOTO: WAGNER DE SOUZA E SILVA
MUSEU DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA, OXFORD

Diadema vertical dos índios Bororo, Mato Grosso, coletado


em 1937. Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade
Astrolábio (1068). Museu de História da Ciência, Oxford. de São Paulo (MAE-USP).

6
6 Ensino Médio
Com seus múltiplos significados, a arte não está, 2 (Enem)

Arte
portanto, isolada das demais atividades humanas.
Ela está presente nos inúmeros artefatos que fazem Quatro olhos, quatro mãos e duas cabeças for-
parte do nosso dia a dia. Muitos objetos que hoje mam a dupla de grafiteiros “Osgemeos”. Eles cresceram
vemos nos museus, em outras épocas fizeram parte pintando muros do bairro Cambuci, em São Paulo, e
do cotidiano de um grupo humano. Da mesma agora têm suas obras na conceituada Deitch Gallery,
forma, muitas construções hoje tombadas como em Nova York, prova de que o grafite no Brasil é apre-
patrimônio histórico foram antes moradias: nelas, ciado por outras culturas. Muitos lugares abandonados
famílias compartilharam momentos diversos. e sem manutenção pelas prefeituras da cidade tornam-
Assim, os objetos que nos cercam hoje poderão -se mais agradáveis e humanos com os grafites pintados
no futuro ser expostos em museus, como testemu- nos muros. Atualmente, instituições públicas educativas
nho de nossos hábitos, valores e modo de vida. recorrem ao grafite como forma de expressão artística, o
que propicia a inclusão social de adolescentes carentes,
Para construir demonstrando que o grafite é considerado uma catego-
ria de arte aceita e reconhecida pelo campo da cultura
1 Por que e para que o ser humano cria objetos? e pela sociedade local e internacional.
O ser humano cria objetos não apenas para se servir Disponível em: <www.flickr.com>. Acesso em: 10 set. 2008. Adaptado.

utilitariamente deles, mas também para expressar


sentimentos e exteriorizar sua visão sobre o momento No processo social de reconhecimento de valores
histórico em que vive.
culturais, considera-se que:
a) grafite é o mesmo que pichação e suja a cidade, sendo
diferente das obras dos artistas.
b) a população das grandes metrópoles depara-se com
2 O que as obras de arte representam?
muitos problemas sociais, como os grafites e as pichações.
As obras de arte estão profundamente integradas à cultura de
c) atualmente, a arte não pode ser usada para inclusão
um povo, pois ora retratam elementos do meio natural, ora social, ao contrário do grafite.
expressam sentimentos humanos, podendo também retratar d) os grafiteiros podem conseguir projeção internacional,
situações sociais. A arte não é algo isolado das demais demonstrando que a arte do grafite não tem fronteiras
atividades humanas. Ela está nos inúmeros artefatos que culturais.
fazem parte do nosso cotidiano. e) lugares abandonados e sem manutenção tornam-se
ainda mais desagradáveis com a aplicação do grafite.
■ Para praticar: 1 e 2
■ Para aprimorar: 1
Para aprimorar

Para praticar 1 Leia os trechos abaixo e escreva um texto sobre


a importância da arte.
1 Durante um dia inteiro, observe o ambiente em
que você vive e anote as obras presentes. Valem O dia passa
todas as formas de arte — artes visuais (pintu- E eu nessa lida
ra, escultura, desenho, fotografia, ilustração, etc.), Longa é a arte
música, dança, representações teatrais e semelhan- Tão breve a vida
tes (cinema, televisão, etc.). Louco é o desejo do amador, querida, querida, querida
Antônio Carlos Jobim, Querida
a) Quando possível, anote o nome do autor da obra, a
época em que foi criada e outros dados disponíveis. A arte é uma mentira que nos faz perceber a verdade.
b) Organize suas anotações fazendo listas separadas para Pablo Picasso

cada tipo de obra (pintura, escultura, música, etc.).


c) Escolha duas obras que mais chamaram sua atenção As grandes nações escrevem sua autobiografia
— pela beleza ou por algum outro motivo — e procure em três volumes: o livro de suas ações, o livro de suas
saber mais sobre elas e sobre os artistas que as criaram. palavras e o livro de sua arte.
John Ruskin, crítico de arte inglês
Escreva um texto sobre essas obras e seus autores.
Arte na Pré-História e na Antiguidade 7
Veja, no Guia do Professor, quadro de competências e

2
habilidades desenvolvidas neste capítulo.

Capítulo A arte na
Pré-História
A criação artística, pela qual o ser humano expressa seus sentimentos
e sua visão do mundo e de si mesmo, está presente desde o início da
história da humanidade.
A Pré-História é um dos períodos mais fascinantes da história
humana. Em razão de sua longa duração, os historiadores a dividiram
em períodos: Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada (do surgimento
do ser humano até cerca de 12 mil anos atrás), Neolítico ou Idade da
Pedra Polida (de 12 mil até 6 mil anos atrás) e Idade dos Metais
Objetivos: (de 6 mil anos atrás até o surgimento da escrita).
Por ser anterior ao surgimento da escrita, tudo que sabemos sobre a
Identificar as primeiras
manifestações artísticas.
Pré-História e os seres humanos que viveram nesse tempo é resultado
da pesquisa de antropólogos e historiadores. Eles reconstituíram a
Caracterizar os desenhos cultura humana pré-histórica com base em objetos encontrados em
pré-históricos, as pinturas várias partes do mundo e em pinturas achadas no interior de cavernas
rupestres. na Europa, no norte da África, na Ásia e no continente americano.

Reconhecer o impacto das

TIME LIFE
transformações do período
Neolítico na produção artística.

Descrever as técnicas de
produção das primeiras
esculturas em metal.

Pintura rupestre proveniente da Sala dos Touros, na caverna de Lascaux, na região de


Dordogne, na França.

8 Ensino Médio
■ A arte no Paleolítico: o

Arte
AKG-IMAGES
naturalismo
O período Paleolítico também é conhecido como
“Idade da Pedra Lascada”, porque as armas e os ins-
trumentos de pedra produzidos pelos grupos huma-
nos eram “lascados” para adquirir bordas cortantes.
São desse período as primeiras manifestações
artísticas de que se tem registro, como as pinturas
encontradas nas cavernas de Chauvet e Lascaux,
na França, e de Altamira, na Espanha.
As primeiras expressões da arte eram muito
simples. Consistiam em traços feitos nas paredes das Pintura rupestre de um bisonte, encontrada numa das grutas
cavernas ou mãos em negativo. Para fazer pinturas de Altamira, na Espanha.
desse tipo, o artista obtinha um pó colorido a partir
da trituração de rochas. Depois, por um canudo,
soprava esse pó sobre a mão encostada na parede da Visite o site
caverna: a área em volta da mão ficava colorida, a ■ Cavernas de Lascaux
parte coberta, não. Assim, era obtida uma silhueta da www.culture.gouv.fr/culture/arcnat/lascaux/es/(em
mão, como no negativo de uma fotografia. espanhol). Acesso em: 28 ago. 2009.
HUBERT STADLER/CORBIS/LATINSTOCK

Outro aspecto que chama a atenção de quem


observa as pinturas rupestres é a capacidade do
artista de interpretar a natureza. Ele utilizava, por
exemplo, traços fortes para representar o vigor
dos animais que temia ou os grandes animais que
caçava, como o bisonte.
Em pinturas como essa, o ser humano das
cavernas usava óxidos minerais, ossos carboni-
zados, carvão, vegetais e sangue de animais. Os
Pintura rupestre: mão elementos sólidos eram esmagados e dissolvidos na
em negativo.
gordura dos animais caçados. Como pincel, utiliza-
va inicialmente o dedo, mas há indícios também do
Somente muito tempo depois de dominarem a
emprego de pincéis feitos de penas e pelos.
técnica das mãos em negativo é que os artistas pré-
Os artistas do Paleolítico fizeram também
-históricos começaram a desenhar e pintar animais.
esculturas. Nelas nota-se o predomínio de figuras
A principal característica dos desenhos e pintu-
femininas e a ausência de figuras masculinas. Entre
ras do Paleolítico é o naturalismo. O artista repre-
esses trabalhos, destaca-se a Vênus de Willendorf,
sentava os seres do modo como os via de determi-
pequena escultura de pedra encontrada pelo
nada perspectiva, isto é, reproduzia a natureza tal
arqueólogo Josef Szombathy, em 1908, perto de
qual sua visão a captava.
Ao olharmos essas pinturas, chamadas rupes-
AKG-IMAGES/NATURHISTORISCHES MUSEUM, VIENA

tres (do latim rupes, rocha), é inevitável nos per-


guntar sobre as razões que levaram o ser humano
pré-histórico a fazê-las muitas vezes em lugares de
difícil acesso.
Uma das hipóteses é a de que elas seriam obra de
caçadores, como parte de rituais de magia. De acor-
do com essa explicação, o pintor-caçador acreditava Vênus de Willendorf,
que, “aprisionando” a imagem do animal, teria poder encontrada na Áustria.
sobre ele. Ou seja, pensava que, ao representá-lo Altura: 11 cm. Museu de
História Natural, Viena.
morto no desenho, também o abateria na vida real.
Arte na Pré-História e na Antiguidade 9
Willendorf, na Áustria, datada de aproximada- Os temas também mudaram: o ser humano passou
mente 24 mil anos atrás. Observe os seguintes a ser representado em suas atividades cotidianas
aspectos: a cabeça surgindo como prolongamento e coletivas. Surge, assim, um novo desafio para o
do pescoço, sem uma separação evidente, os seios artista: sugerir movimento por meio da imagem
volumosos, o ventre saltado e as grandes nádegas. fixa. Pinturas de cenas de danças coletivas, possi-
velmente ligadas ao trabalho de plantio e colheita,
■ A arte no Neolítico: começa um mostram que ele venceu o desafio com eficiência.
novo estilo A preocupação com o movimento levou à
Há 10 mil anos, a humanidade realizou a criação de figuras cada vez mais leves, ágeis,
chamada Revolução Neolítica, um fantástico con- pequenas, com poucas cores. Com o tempo, tais
junto de mudanças que moldaria a História e, figuras reduziram-se a traços e linhas muito sim-
segundo alguns estudiosos, só encontraria paralelo ples, mas capazes de transmitir sentido a quem
na Revolução Industrial (século XVIII). As bases as via. Delas surgiria depois a primeira forma de
da Revolução Neolítica são também as bases da escrita: a escrita pictográfica, na qual seres e ideias
civilização ocidental: de sua técnica, de sua cultu- são representados por desenhos.
ra, de sua arte.
O período Neolítico também foi chamado de
HERVÉ CHAMPOLLION/ AKG-IMAGES
“Idade da Pedra Polida”, porque nele se desenvol-
veu a técnica de produzir armas e instrumentos
com pedras polidas por atrito, que as tornava mais
afiadas.
Além desse aprimoramento técnico, o acon-
tecimento mais significativo desse período foi o
início da agricultura e da domesticação de ani-
mais, que permitiu ao homem a substituição da
vida nômade errante por uma vida mais estável.
Esse fato transformou profundamente a história
humana, pois, com a fixação de grupos, houve
um rápido aumento populacional e o desenvolvi-
mento dos primeiros núcleos familiares, além da Pinturas rupestres encontradas em Tassili, região do Saara
divisão do trabalho nas comunidades. (cerca de 4500 a.C.).
A partir daí, o ser humano criou técnicas como
a da tecelagem e da cerâmica e construiu as primei-
BRIDGEMAN ART LIBRARY

ras moradias. Conseguiu ainda produzir o fogo por


atrito e deu início ao trabalho com metais.
Todas essas conquistas técnicas tiveram um
forte reflexo na arte. O poder de observação e os
aguçados sentidos do caçador-coletor do Paleolítico
deram lugar à atividade reflexiva do camponês do
Neolítico. Como consequência, o estilo naturalista
foi substituído por um estilo mais simples e geomé-
trico, com sinais e figuras que mais sugerem do que
reproduzem os seres. Eis a primeira grande trans-
formação na história da arte.
Observe, por exemplo, nas pinturas a seguir
que, em vez de uma representação que busca imi-
tar a natureza, temos figuras com poucos traços e
cores. As formas são apenas sugeridas. Pinturas rupestres encontradas em Tassili, região do Saara.
Há na cena uma evidente intenção de transmitir a ideia de
Não foram, porém, apenas as características das movimento pela posição dos braços e das pernas.
formas representadas que sofreram modificações.
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10 Ensino Médio
Cerâmica

CHRISTIE’S IMAGES/CORBIS

Arte
Além de desenhos e pinturas, o artista do
Neolítico produziu uma cerâmica que revela sua
preocupação com a beleza e não apenas com a uti-
lidade do objeto. Um exemplo é o vaso da cultura
Yangshao, China.

■ A arte na Idade dos Metais


Na Idade dos Metais, o ser humano já havia
dominado a produção do fogo. Graças a isso, o Vaso de cerâ-
artista pôde começar a trabalhar o metal servin- mica da cul-
tura Yangshao
do-se, possivelmente, da técnica com forma de (China), cerca
barro ou da técnica da cera perdida (veja boxe de 2000 a.C.
“Técnicas usadas nas primeiras esculturas em
metal”, na página seguinte).

AKG - IMAGES/ELECTA
As esculturas em metal representando guer-
reiros e mulheres são ricas em detalhes, consti-
tuindo um precioso documento sobre os costumes
do período. Essas esculturas foram encontradas
sobretudo na Escandinávia e na Sardenha.
Pouco a pouco o homem começou a abando-
nar as cavernas e a construir moradias. Os nura-
gues, edificações em pedra, sem nenhuma arga-
massa e em forma de cone truncado, são exemplos
dessas construções. Outro tipo de edificação eram
os dolmens, que consistem em duas ou mais pedras
grandes fincadas verticalmente no chão, como se
fossem paredes, e em uma grande pedra colocada
horizontalmente sobre elas, parecendo um teto.
MUSEO PREISTORICO ED ETNOGRAFICO PIGORINI, ROMA, ITÁLIA

Nuragues localizados na aldeia de Barumini, na Sardenha.


REPRODUÇÃO

Esculturas neolíticas de bronze, encontradas na Sardenha.


Museu Pigorini, Roma (aproximadamente 2000 a.C). Planta do Santuário de Stonehenge.

Arte na Pré-História e na Antiguidade 11


WWW.FLICKR.COM

Dolmens localizados no San-


tuário de Stonehenge, Inglaterra.
Os monumentos em pedra estão
dispostos em forma circular e de
ferradura. O círculo exterior tem
100 m de diâmetro e as pedras
que servem de pilares medem
4,20 m de altura. Dada a dispo-
sição dos dolmens, de acordo
com um plano preestabelecido,
essa construção pode ser consi-
derada uma das primeiras obras
da arquitetura que a História
registra.

■ A arte na Pré-História brasileira


■ Técnicas usadas nas Vestígios da arte rupestre em Minas Gerais
primeiras esculturas em metal O território brasileiro possui um valioso patri-
O primeiro passo da técnica da forma de mônio arqueológico. Em Minas Gerais, por exem-
barro consistia em fazer uma forma com es- plo, temos o sítio arqueológico* de Lapa Grande, no
se material e colocar nela o metal já derretido município de Matozinhos, a aproximadamente 50
em um forno. Depois do esfriamento do me- quilômetros de Belo Horizonte. O local é tombado
tal, a forma era quebrada, obtendo-se, então, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
uma escultura com o formato anteriormente Nacional (Iphan), o que atesta a sua importância e
dado ao barro. aumenta suas chances de preservação.
Já a técnica da cera perdida começava com Nas pinturas do interior de grutas e abrigos
a construção de um modelo em cera que era, de- de Lapa da Cerca Grande podem ser vistas figuras
pois, revestido de barro e aquecido, tendo-se o zoomorfas (representação de animais terrestres,
cuidado de deixar nele um orifício. Com o calor peixes e aves), antropomorfas (imagens humanas)
do barro, a cera derretia e escorria pelo orifício e geométricas.
que era propositadamente deixado na peça de A cor predominante nas figuras de Lapa da
cerâmica. Obtinha-se, assim, um objeto oco. De- Cerca Grande é a vermelha, mas observa-se tam-
pois, por esse mesmo orifício, preenchia-se o ob- bém a amarela, a branca e a preta.
jeto com metal fundido. Quando este esfriava e
endurecia, quebrava-se o molde de barro: dentro Naturalismo e geometrismo: duas faces da arte
dele estava a escultura em metal, igual à que o rupestre no Brasil
artista tinha moldado em cera. Outro importante sítio arqueológico, tam-
bém tombado pelo Iphan, encontra-se no Parque
Para suas anotações: Nacional da Serra da Capivara, município de São
Raimundo Nonato, Piauí. Diversos pesquisadores
vêm trabalhando nele desde 1970.
Em 1978, uma missão franco-brasileira cole-
tou no local grande quantidade de dados e vestígios
arqueológicos. Os cientistas chegaram a conclusões
esclarecedoras a respeito de grupos humanos que
habitaram a região por volta do ano 6000 a.C., ou
talvez em épocas ainda mais remotas. Como os pri-
meiros habitantes da área de São Raimundo Nona-
Projeto de Pesquisa

Acesse o Material Complementar disponível no Portal *Sítio arqueológico: local onde se encontram vestígios de
e aprofunde-se no assunto. ocupação humana de nossos ancestrais pré-históricos.

12
12 Ensino Médio
to – provavelmente caçadores-coletores, nômades

Arte
FABIO COLOMBINI
e seminômades – se abrigaram ocasionalmente nas
grutas da região, a hipótese mais aceita é a de que
teriam sido eles os autores das pinturas e gravações
aí encontradas.
Os pesquisadores classificaram essas pin-
turas e gravuras em dois grandes grupos: obras
com motivos* naturalistas e obras com motivos
geométricos.
Entre as pinturas com motivos naturalistas,
predomina a figura humana, ora isolada, ora em
grupo, em movimentos de cena de caça, guerra Pintura rupestre com motivo geométrico localizada no Parque
e trabalhos coletivos. Ainda nesse grupo, encon- Nacional da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato,
tram-se figuras de animais, como veados, onças, no Piauí.
pássaros, peixes e insetos.
As figuras com motivos geométricos são muito
tação de figuras antropomorfas e zoomorfas (com
variadas: apresentam linhas paralelas, grupos de
corpo totalmente preenchido e os membros dese-
pontos, círculos, círculos concêntricos, cruzes,
nhados com traços) e a abundância de representa-
espirais e triângulos.
ções animais e humanas de perfil. Nota-se também
a frequente presença de cenas em que participam
*Motivo: ornamento ou tema que aparece isolado ou repe- numerosas personagens, com temas variados e que
tido na decoração de alguma obra. expressam grande dinamismo”1.

Vestígios da arte rupestre na Amazônia


RENATO DE SOUZA/EDITORA ABRIL

Em 2003, a pesquisadora Edith Pereira publicou


estudos sobre a arte rupestre na Amazônia, princi-
palmente no Pará, que trouxeram informações sobre
as origens mais remotas da cultura do nosso país.
Diz ela: “Com o intento de alcançar um equilíbrio no
conhecimento dos diferentes vestígios deixados pelos
grupos pré-históricos, iniciei, em 1988, a pesquisa
sobre as pinturas e gravuras rupestres da Amazônia
brasileira, particularmente aquelas localizadas no
estado com maior número de áreas de concentração
de figuras rupestres, o Pará” 2.
A pesquisadora afirma ainda, chamando-nos a
atenção: “Conhecer e proteger o patrimônio deixado
por antigos povos amazônicos é preservar parte da
nossa história e um dever que cabe a todos nós” 3.
Inscrições rupestres no sítio arqueológico da Pedra Furada,
no Parque Nacional da Serra da Capivara, em São Raimundo
Nonato, no Piauí.
Pensamento Crítico

Acesse o Material Complementar disponível no Portal


Com base nos vestígios arqueológicos de São
e aprofunde-se no assunto.
Raimundo Nonato, estudiosos formularam a hipó-
tese da existência de um estilo artístico que denomi-
naram Várzea Grande. Esse estilo tem como carac- 1. Suzana Monzon, texto para catálogo de exposição das pesquisas
realizadas pela Missão Franco-Brasileira de fevereiro a agosto de 1978.
terística “a utilização preferencial da cor vermelha, Patrocínio: Museu Paulista/USP, Unicamp e MIS.
o predomínio dos motivos naturalistas, a represen- 2. Edith Pereira, Arte rupestre na Amazônia, Pará, p. 13.
3. Idem, p. 14.

Arte na Pré-História e na Antiguidade 13


Uma nova perspectiva

EDITHE PEREIRA/MPEG,BELÉM
As pesquisas científicas sobre as antigas cul-
turas que existiram no Brasil abrem um novo
panorama tanto para a historiografia como para
a arte brasileiras. Por meio delas, podemos ver
com mais clareza nossa história inserida em um
contexto maior, na história humana. Além disso,
podemos constatar que nossas origens antecedem
em muito os séculos XV e XVI, período em que se
deu o início oficial da “história do Brasil”.
EDITHE PEREIRA/MPEG,BELÉM

Baixo-relevo rupestre zoomorfo (jacaré), em bloco de pedra


no chão da ilha dos Martírios, município de Xambioá, no
estado de Tocantins.

■ O patrimônio arqueológico
brasileiro
Os sítios arqueológicos brasileiros são
protegidos pela Lei nº- 3 924/61 e considera-
dos bens patrimoniais da União. Segundo
sua importância científica ou ambiental, po-
rém, podem ainda vir a ser tombados, o que
reforça as ações de preservação quanto à in-
tervenção humana.
Até 2006, o Iphan já havia identificado
cerca de 10 mil sítios arqueológicos, dos quais
apenas sete se encontram tombados: Sambaqui
do Pindaí, em São Luís (MA); Parque Nacio-
nal da Serra da Capivara, em São Raimundo
Pinturas rupestres com figuras antropomorfas na forma com-
Nonato (PI); Inscrições Pré-históricas do Rio
pleta, pintadas no paredão da encosta da Serra da Lua, em Ingá, em Ingá (PB); Sambaqui da Barra do Rio
Monte Alegre, no Pará. Itapitangui, em Cananeia (SP); Lapa da Cerca
Grande, em Matozinhos (MG); Quilombo do
Acesse o Portal e visite a galeria virtual sobre arte Ambrosio: remanescentes, em Ibiá (MG); e Ilha
Portal
SESI EDUCAÇÃO
rupestre. do Campeche, em Florianópolis (SC).
www.sesieducacao.com.br

14
14 Ensino Médio
Para construir 2 A chamada Revolução Neolítica representou um

Arte
série de mudanças que em vários aspectos trans-
1 Leia o texto a seguir: formaram o período sucessivo. Compare os dois
primeiros períodos da Pré-História: o Paleolítico e o
As figuras de animais e homens pré-históricos Neolítico. Considere o modo de vida e o estilo da arte:
pintadas nas cavernas há dezenas de milhares de os diferentes tipos de figuras, traços e técnicas.
anos são vistas como traços de narrativas antigas ou Depois que os alunos tiverem listado comparativamente as
rituais místicos. O paleontólogo americano Russel principais características dos dois períodos, sugira que façam
Dale Guthrie discorda dessa tese. Para ele, grande um cartaz sobre o tema.
parte da arte reproduzida por nossos ancestrais do
No Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada, os homens eram
tempo das cavernas foi feita por jovens, por pura
nômades e viviam da caça e do extrativismo. As expressões
diversão.
Época, 27 nov. de 2006. p. 76-8.
artísticas consistiam em traços feitos nas paredes das
cavernas ou nas mãos em negativo. A principal característica
Escreva sobre a motivação da arte no período da pintura era o naturalismo: os seres eram representados
Paleolítico, comparando a ideia de Guthrie à hipó- como os artistas os viam. As imagens são carregadas e os
tese apresentada no texto do capítulo. traços fortes. Os materiais empregados eram óxidos
Peça aos alunos que, antes de escrever, exponham oralmente minerais, ossos carbonizados, carvão, vegetais, sangue e
sua opinião, promovendo um debate em sala de aula. O texto gordura dos animais. Usavam os dedos e, posteriormente,
do capítulo apresenta, como uma das possíveis hipóteses pincéis de penas e pelos.
para a autoria de pinturas de animais, a ação de homens Na Idade da Pedra Polida, deu-se a Revolução Neolítica. Com
caçadores como parte de rituais de magia. Dessa forma, a o início da agricultura e da domesticação de animais, os
representação de imagens em locais de difícil acesso, como grupos humanos passam a se fixar em um lugar, aumentam a
as cavernas, seria um modo de aprisionar os animais e população, desenvolvem-se os núcleos familiares e surge a
mantê-los sob poder. Já o paleontólogo americano citado no divisão de trabalho. Criam-se técnicas de tecelagem e
texto acima considera que as pinturas seriam uma forma de cerâmica, constroem-se as primeiras casas. O estilo
lazer. De acordo com ele, as figuras estariam em cavernas naturalista é substituído por um estilo mais geométrico, que
devido ao espírito aventureiro de jovens. não busca imitar a natureza. As figuras possuem poucos
traços e cores e as formas são apenas sugeridas. Esse tipo de
figura seria o primeiro passo para a escrita pictográfica.

3 Na Idade dos Metais, o domínio do fogo possibi-


litou a produção de outra técnica de arte diferente
da pintura. Identifique essa técnica, especifique o
material empregado no produto final e descreva as
figuras mais representadas.
O domínio do fogo possibilitou a produção da escultura em
metal. Ricas em detalhes, as esculturas representavam
guerreiros e mulheres.

Arte na Pré-História e na Antiguidade 15


4 Como são classificadas as pinturas e gravu- 3 Além da mudança na maneira de desenhar e pin-
ras encontradas no município de São Raimundo tar, a temática das artes também sofreu alterações
Nonato, no Piauí? no período Neolítico. Explique essa afirmação.
Os pesquisadores classificaram-nas em dois grupos: obras 4 Como era o método da forma de barro, utilizado
com motivos naturalistas e obras com motivos geométricos. para as esculturas em metal?
Entre as primeiras predominam as representações de figuras
Para aprimorar
humanas que aparecem ora isoladas, ora participando de um
grupo, em movimentadas cenas de caça, guerra e trabalhos 1 Como eram esses homens que começaram a
coletivos. No grupo dos motivos naturalistas, estão as figuras expressar seus sentimentos e seus temores por
de animais cujas representações mais frequentes são de meio de figuras na rocha? Como viviam, como
veados, onças, pássaros diversos, peixes e insetos. asseguravam a subsistência, como se organiza-
vam? Que áreas do mundo ocupavam?
Faça um levantamento de dados sobre o Paleolítico.
Descubra as características marcantes do período
e faça um relatório do resultado da investigação.

2 Procure informações gerais sobre a Revolução


Neolítica. A seguir, escolha um aspecto e faça um
estudo detalhado sobre ele.
5 Releia o boxe “O patrimônio arqueológico bra-
a)Digamos que você tenha optado por estudar a agricultura.
sileiro”, na página 14. Pesquise e explique o que
Tente esclarecer:
significam as expressões “bens patrimoniais da
■ Quais foram as primeiras plantas cultivadas?
União” e “tombamento”.
■ Onde isso ocorreu? Quando?
O artigo 20 da Constituição Federal define os bens da União.
■ Como os estudiosos explicam o surgimento da agri-
Porém, os alunos podem resumir e explicar com suas
cultura? O que a ciência descobriu com certeza? Quais
palavras os tipos de bens classificados dessa forma. são as hipóteses que ainda faltam ser comprovadas?
Tombamento é um ato administrativo realizado pelo poder ■ Como eram as primeiras lavouras?
público com o objetivo de preservar, por meio da aplicação da ■ Quais são as fontes que permitem conhecer esses fatos?

lei, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico e ambiental b) Anote as informações que você obteve. Organize os
para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou dados e redija um texto com cuidado. Coloque intertítu-
descaracterizados. los para dividir o assunto e facilitar a leitura.
c) Se possível, enriqueça seu trabalho com imagens.
Todas devem ter legendas objetivas.
d) Inclua também uma lista de referências bibliográfi-
cas, ou seja, de todos os livros, revistas e sites que você
consultou durante a pesquisa.
■ Para praticar: 1 e 4 Aproveite essa atividade para fazer um trabalho conjunto com os
■ Para aprimorar: 1 e 3 professores de Língua Portuguesa e História.
3 O Brasil tem vários sítios arqueológicos, nos
quais são pesquisados vestígios deixados pelos
Para praticar antigos habitantes do território. Em sua região
existe algum sítio arqueológico? Se existir, organi-
1 Uma das primeiras manifestações artísticas da ze uma visita com seu grupo, para conhecer o tra-
humanidade foram as chamadas mãos em negati- balho dos pesquisadores. Depois, faça um relatório
vo. Explique em que consistia essa técnica. sintetizando as informações que obtiver, como:
nome do sítio e sua localização; que profissionais
2 A principal característica da arte paleolítica era o realizam as pesquisas; tipo de pesquisa realizada;
naturalismo. Explique como isso mudou no perío- datação do sítio; exemplos de material coletado;
do Neolítico. importância da pesquisa em andamento.
16
16 Ensino Médio
3
Capítulo
A arte no

Arte
Veja, no Guia do Professor, quadro
de competências e habilidades

Egito
desenvolvidas neste capítulo.

“Uma dádiva do Nilo.” Assim o historiador grego Heródoto


(século V a.C.) definiu o Egito. E que dádiva! Fertilizado pelas
águas do rio Nilo, na África, o Egito tornou-se, há cerca de 5 mil
anos, berço de uma rica e complexa civilização, palco de uma
Objetivos: arte que encanta e desafia até hoje e cenário do desenvolvimento
de uma das primeiras formas de escrita. Neste capítulo, vamos
Reconhecer a influência da conhecer a riqueza da produção artística dos egípcios.
religião na produção artística
do Egito antigo.
EDITORA ABRIL

Identificar alguns dos


monumentos egípcios.

Caracterizar a pintura e os
baixos-relevos egípcios.

Concluir que os hieróglifos


foram também importantes
elementos estéticos.

Pintura em túmulo no templo de Luxor, no Egito.

Arte na Pré-História e na Antiguidade 17


■ A importância da religião As tumbas dos primeiros faraós eram répli-
A civilização egípcia foi uma das mais impor- cas das casas em que moravam. As pessoas sem
tantes da Antiguidade. De organização social importância social, por sua vez, eram sepultadas
complexa e riquíssima em realizações culturais, em construções retangulares muito simples, cha-
produziu também uma escrita bem estruturada, madas mastabas. As mastabas deram origem às
graças à qual podemos, hoje, conhecer muitos grandes pirâmides construídas mais tarde.
aspectos dessa civilização.
A expressão artística egípcia refletiu com pro- ■ A imponência do poder religioso
fundidade cada momento histórico vivido por seu e político
povo. Nos três primeiros períodos em que se cos- Por volta de 2780 a.C., a sociedade egípcia já
tuma dividir sua história – Antigo Império, Médio apresentava uma estrutura bastante complexa. As
Império e Novo Império –, o Egito conheceu um classes sociais começaram a ganhar limites níti-
significativo desenvolvimento, em que a arte teve dos. De um lado, estavam os faraós cercados por
papel de destaque. nobres e sacerdotes. De outro, os comerciantes,
Mas, entre todos os aspectos de sua cultura, artesãos e camponeses. E, numa situação margi-
talvez a religião tenha sido o mais significativo. Tudo nalizada, estavam os escravos, uma significativa
no Egito era orientado por ela. Para os egípcios, eram parcela da população.
as práticas rituais que asseguravam a felicidade nesta Foi o soberano Djoser quem deu início ao
vida e a existência depois da morte. A religião per- Antigo Império (3200-2200 a.C.). Esse faraó exer-
meava toda a vida egípcia, interpretando o Universo, ceu o poder autoritariamente e transformou o
justificando a organização social e política, determi- Baixo Egito, com a capital em Mênfis, no centro
nando o papel das classes sociais e, consequentemen- mais importante do reino.
te, orientando toda a produção artística Desse período restaram importantes monumen-
tos artísticos, erguidos para atestar a grandiosidade e
■ Uma arte dedicada à vida após a imponência do poder político e religioso do faraó.
a morte A pirâmide de Djoser, por exemplo, na região de
Além de crer em deuses que poderiam interferir Sacará, construída pelo arquiteto Imotep, é talvez a
na história humana, os egípcios acreditavam tam- primeira construção egípcia de grandes proporções.
bém na vida após a morte e que essa era mais impor- Mas são as pirâmides do deserto de Gizé as
tante do que a existência terrena. Dessa forma, desde obras arquitetônicas mais famosas. Elas foram cons-
seu início, a arte egípcia concretizou-se nos túmulos, truídas por importantes reis do Antigo Império:
nas estatuetas e nos vasos deixados junto aos mortos. Quéops, Quéfren e Miquerinos.
Também a arquitetura egípcia realizou-se, sobretu- A maior das três pirâmides é a de Quéops, que
do, nas tumbas e construções mortuárias. tem 146 metros de altura e ocupa uma superfície
de 54 300 metros quadrados. Esse monumento
ANCIENT ART ARCHITECTURE COLLE

revela o domínio dos egípcios sobre a técnica de


construção: entre os blocos de pedra que formam
as imensas paredes não existe nenhuma espécie de
argamassa*.
Junto a essas três pirâmides está a esfinge mais
conhecida do Egito. É uma obra também gigantesca,
com 20 metros de altura e 74 metros de comprimen-
to. Ela representa o faraó Quéfren, mas a ação erosiva
do vento e das areias do deserto deu-lhe, ao longo
dos séculos, um aspecto enigmático e misterioso.

*Argamassa: mistura de areia e água com um agluti-


Visão geral da mastaba, túmulo egípcio que deu origem às
nante, como cal ou cimento, utilizada no assentamento
pirâmides. de tijolos ou outros blocos de construção.

18
18 Ensino Médio
YANN ARTHUS-BERTRAND/CORBIS

Arte
RITA WILLAERT/FLICKR.COM

Pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, no deserto de


Pirâmide de Djoser, em Sacará (século XXVIII a.C.). Gizé (séculos XXVII-XXVI a.C.).
TREVOR LOWE

Esfinge do faraó Quéfren


(século XXVII a.C.).

■ Veja que interessante! Exploração complicada


A grande pirâmide de Gizé Além da Câmara do Rei, outras duas são
conhecidas: a da Rainha (que, apesar do nome,
A grande pirâmide de Gizé é a mais antiga das não abriga a múmia da mulher de Quéops, que
Sete Maravilhas do mundo antigo – e a única que foi enterrada fora da grande pirâmide) e a Secre-
ainda existe. Erguida em 2550 a.C., foi trabalho ta. Para descobrir se há outras salas, os cientistas
para muita gente. Estima-se que 100 mil operários teriam de usar explosivos, que podem danificar a
tenham participado de sua construção, que levou estrutura da obra.
cerca de 20 anos. Eram homens livres, pagos muitas Sistema de segurança
vezes com comida e cerveja. Entre as medidas tomadas para que o sarcó-
Três construções formam o complexo conheci- fago do faraó não fosse saqueado, os idealizadores
do como pirâmides de Gizé. Mas apenas a maior, a da pirâmide colocaram pedregulhos para bloquear
grande pirâmide, é considerada uma das maravi- as entradas, portas pesadas de granito, corredores e
lhas. Ela foi construída pelo faraó Quéops [...] para câmaras vazias para despistar invasores.
ser sua tumba, no platô de Gizé, perto do Cairo. Indecisão faraônica
[...] Durante os 20 anos que a pirâmide levou
Feita para brilhar para ser construída, Quéops teria mudado duas
Quéops mandou revestir toda a parte exter- vezes de ideia quanto à localização de seu sar-
na de sua futura tumba com pedra calcária poli- cófago. Por fim, acabou optando por uma sala
da. A pirâmide, literalmente, brilhava com a luz localizada no centro da pirâmide, chamada de
do sol e podia ser vista a quilômetros de distân- Câmara do Rei. Quéops teria sido enterrado lá.
cia. O revestimento foi saqueado há mais de 600 Mas, quando o local foi explorado, em 820, o sar-
anos. Hoje existem apenas resíduos dele no topo cófago já estava aberto e vazio.
da maravilha. ERAM as pirâmides um blefe? In: Aventuras na História Especial.
São Paulo: Abril. 1 jun. 2007. p. 36-9.

Arte na Pré-História e na Antiguidade 19


■ Uma arte de convenções comuns quando os artistas representavam os funcio-
Como já dito, a arte egípcia estava intimamente nários da burocracia do Império. Entretanto, a hipó-
ligada à religião, servindo de veículo para a difusão tese de que se trata de um escriba é reforçada pelos
de preceitos e crenças religiosas. Por isso, obedecia olhos fixos em um provável interlocutor e lábios
a uma série de padrões e regras, o que limitava a cerrados de homem retratado, que, no momento,
criatividade ou a imaginação pessoal do artista. não está falando ou sorrindo, mas concentrado em
Tratava-se de uma arte anônima, pois a obra deve- ouvir para reproduzir por meio da escrita o que lhe
ria revelar perfeito domínio das técnicas de execu- é dito. As mãos completam a atitude de prontidão
ção, e não o estilo de quem a criava. para a escrita.
Entre as regras a serem seguidas no baixo-relevo
e na pintura destaca-se a lei da frontalidade, que deter-

MUSEU DO LOUVRE, PARIS


minava que o tronco da pessoa fosse representado
sempre de frente, enquanto sua cabeça, suas pernas
e seus pés, de perfil. Uma marca da arte egípcia. Sob
esse ângulo, a arte não deveria apresentar uma repro-
dução naturalista que sugerisse ilusão de realidade.
Ao contrário, diante de uma figura humana retratada
frontalmente, o observador deveria reconhecer clara-
mente se tratar de uma representação.
MIKE NL/FLICKR.COM

Escriba sentado (cerca de 2500 a.C.), obra encontrada em um


sepulcro da necrópole de Sacará. Museu do Louvre, Paris.

Apesar da expressividade da escultura do


Antigo Império, no período seguinte, o Médio
Império (2000 a 1750 a.C.), o convencionalismo e o
conservadorismo das técnicas de criação voltaram
a produzir esculturas e retratos estereotipados* que
representam a aparência ideal dos seres — princi-
Gravura do Vale dos Reis, no Egito. Veem-se as caracte-
rísticas determinadas pela lei da frontalidade: o tronco das
palmente dos reis — e não seu aspecto real.
figuras representado de frente, enquanto a cabeça, as pernas
e os pés vistos de perfil. *Estereotipado: representação de acordo com o pa-
drão fixo aceito como ideal e sem originalidade.

No Antigo Império, a escultura foi a manifes-


tação artística que ganhou as mais belas represen-
Projeto de Desenvolvimento
tações. Embora também com muitas convenções,
a escultura desenvolveu uma expressividade que Acesse o Material Complementar disponível no Portal e
surpreende o observador. Por meio dela, revelam-se aprofunde-se no assunto.
dados particulares do retratado: sua fisionomia, seus
traços raciais e sua condição social. Um bom exem- Para suas anotações:
plo disso é a imagem do escriba a seguir, represen-
tado no gesto típico de sua função. Trata-se de uma
obra de autoria desconhecida, realizada entre 2620 e
2350 a.C., e que retrata, provavelmente, um escriba
ou um príncipe. A dúvida é motivada pela qualida-
de da obra. Os cuidados com os detalhes não eram
20
20 Ensino Médio
Para construir A pintura egípcia pode ser caracterizada como uma

Arte
arte que: e
1 A religião tem papel de destaque na cultura da a) definiu os valores passageiros e transitórios como
civilização egípcia. De que forma esse aspecto se forma de representação privilegiada.
manifestava na vida cotidiana e na arte do Egito b) concebeu as imagens como modelo de conduta,
antigo? utilizando-as em rituais profanos.
Espera-se que os alunos comentem os rituais, a organização c) adornou os palácios como forma de representação
social e política e a crença na vida após a morte. Pode-se pública do poder político.
pedir a alguns alunos que exponham suas conclusões, d) valorizou a originalidade na criação artística como
ilustrando-as com exemplos diversos.
possibilidade de experimentação de novos estilos.
e) elegeu os valores eternos, presentes nos monumen-
As pinturas e os objetos deixados junto aos mortos, a
tos funerários, como objeto de representação.
construção de tumbas e pirâmides são exemplos de obras de
arte que retratam essa crença. As convenções impostas às
4 Explique o que era o princípio da frontalidade apli-
técnicas artísticas também manifestam a importância da
cado na pintura e nos baixos-relevos, comentando a
religião, que deveria ser difundida dessa maneira. diferença entre um reprodução natural e uma repre-
sentação.
A lei da frontalidade determinava que o tronco fosse sempre
representado de frente, enquanto a cabeça, as pernas e os
pés, de perfil. A justificativa para essa representação é a de
que a arte não deveria apresentar reproduções naturalistas,
que tentassem imitar a realidade. Era preciso ficar evidente
que se tratava de uma representação.
2 Dê exemplos de manifestações artísticas e arqui-
tetônicas de tempos mais recentes que também são
motivadas pela religião.
Podem ser mencionadas como exemplos: as igrejas dos
diferentes credos, estátuas e pinturas com motivos religiosos.

3 (UFG-GO) Observe a imagem:


5 (UEL-PR) A arquitetura dos templos do antigo Egito
forneceu para a posteridade a mais fértil e expressiva
documentação sobre a cultura egípcia. Entre suas
principais características pode-se indicar a: c
a) ausência de telhados, uma vez que a chuva era
muito rara.
b) utilização de tijolos de argila queimada na constru-
ção de paredes, escadarias e de colunas.
c) grandeza nas dimensões e construções sólidas.
d) adoção de diversos tipos de materiais, conforme as
figuras retratadas.
e) preocupação em atrelar arte e ciência em uma
mesma construção.

Osíris. Disponível em: <www.akenatonjh.com.br>. ■ Para praticar: 1 e 2.


Acesso em: 21 set. 2007.

Arte na Pré-História e na Antiguidade 21


■ O apogeu do poder e da arte Tais alterações decorreram de mudanças
Foi no Novo Império (1580-1085 a.C.) que políticas promovidas por Amenófis IV, sobera-
o Egito viveu o apogeu de seu poderio e de sua no que neutralizou radicalmente o grande poder
cultura. Nesse período, os faraós reiniciaram as exercido pelos sacerdotes, que chegavam a domi-
grandes construções, que haviam interrompido nar os próprios faraós. Com sua morte, porém,
por sucessivas crises políticas. Dessas construções, os sacerdotes retomaram o antigo poder e pas-
as mais conservadas são os templos de Carnac e saram novamente a dirigir o Egito ao lado de
Luxor, ambos dedicados ao deus Amon. Tutancâmon, o novo faraó.
Construído por determinação de Amenófis III, Tutancamôn morreu, porém, com apenas
por volta de 1380 a.C., o templo de Luxor possui colu- dezoito anos de idade. Em sua tumba no Vale dos
nata composta de sete pares de colunas com cerca de Reis, o pesquisador inglês Howard Carter encon-
16 metros de altura. Esteticamente, seu aspecto mais trou, em 1922, um imenso tesouro, constituído por
importante é um novo tipo de coluna, com capitel vasos, arcas, um rico trono, carruagens, esquifes e
(arremate superior) trabalhado com motivos tirados inúmeras peças de escultura, entre as quais duas
da natureza, como o papiro e a flor de lótus. estátuas de quase dois metros, representando o
jovem soberano. O túmulo, uma grande constru-
BERNT ROSTAD / FLICKR>COM

ção, possui um salão de entrada, onde duas portas


secretas dão acesso à sala sepulcral e à chamada
ROGER WOOD/CORBIS
câmara do tesouro.

Templo da rainha Hatshepsut, em Deir el-Bahari (início do


século XV a.C.).

Entre os grandes monumentos funerários


desse período, um dos mais importantes é o tem-
plo da rainha Hatshepsut, que reinou de 1511 a
1480 a.C. Essa construção imponente e harmo-
niosa deve sua beleza, em grande parte, à maneira
como foi concebida: a montanha rochosa que lhe
serve de fundo parece fazer parte do conjunto, o
que cria uma profunda integração entre a arquite-
tura e o ambiente natural.
Na pintura do Novo Império surgem cria-
ções artísticas mais leves e de cores mais variadas. Colunata do Templo de Amon, construído por Amenófis III,
em Luxor (século XIV-XII a.C.). No detalhe, capitel com
Abandonada a postura rígida das figuras femini- representação de flor de papiro.
nas, elas parecem ganhar movimento.
22
22 Ensino Médio
ROGER WOOD / CORBIS

Arte
SANDRO VANNINI/CORBIS
SANDRO VANNINI/CORBIS

Trono de Tutancâmon
(século XIV a.C.), feito em
madeira esculpida, reco-
berto com uma lâmina de
Templo de Abu-Simbell (século XII a.C.), na Baixa Núbia,
ouro e ornamentado com
a mais grandiosa obra de Ramsés II. As quatro figuras que
incrustações multicolori-
representam o faraó têm mais de 20 m de altura. Se não
das em vidro, cerâmica
fosse uma campanha internacional em defesa do templo, a
esmaltada, prata e pedras.
barragem de Assuã o teria deixado submerso nas águas do
É uma das peças mais
Sarcófago de Tutancâ- Nilo. Em 1968, a parte do templo escavada na rocha foi corta-
esplêndidas do tesouro
mon com incrustações da em grandes blocos e transportada para outro local.
de Tutancâmon. Museu
Egípcio, Cairo. preciosas.
NICK LEONARD / FLICKR.COM

A múmia imperial estava protegida por três


sarcófagos, um dentro do outro: um de madeira
dourada, outro também de madeira, mas com
incrustações preciosas e, finalmente, o que conti-
nha o corpo do faraó, em ouro maciço com aplica-
ções de lápis-lazúli, coralinas e turquesas.
Os reis da dinastia seguinte a Tutancamôn
preocuparam-se em expandir o poderio políti-
co do Egito, o que foi realizado por Ramsés II.
Consequentemente, toda arte de seu reinado foi
uma demonstração de poder. Isso pode ser obser-
vado nas estátuas gigantescas e nas imensas colunas
comemorativas dos feitos políticos desse soberano.
Data também dessa época a utilização dos hie-
róglifos* como elemento estético. Com o objetivo
de gravar para a posteridade os feitos de Ramsés
II, eles começaram a ser esculpidos nas fachadas
e colunas dos templos. Assim, passaram a fazer
parte da ornamentação das obras arquitetônicas.

*Hieróglifo: unidade do sistema de escrita egípcio, de


caráter figurativo, em que se representavam imagens de Templo de Abu-Simbell dedicado à deusa Hator (século XII
a.C.). As inscrições em hieróglifos compõem a ornamentação
animais, objetos, etc. da fachada.

Arte na Pré-História e na Antiguidade 23


Após a morte de Ramsés II, o poder real tornou-
■ O Vale dos Reis -se muito fraco, e o Império passou a ser governado
Localizado na margem ocidental do Nilo, pelos sacerdotes. Com isso, houve uma estabilidade
próximo a Luxor, o Vale dos Reis iniciou sua apenas aparente, e as ameaças de invasão acabaram
tradição como grande necrópole quando o faraó tornando-se realidade. O Egito foi invadido sucessi-
Tutmés I, no Novo Império, decidiu que seu tú- vamente pelos etíopes, persas, gregos e, finalmente,
mulo seria secretamente construído lá. O obje- pelos romanos. Essas invasões aos poucos desorga-
tivo de Tutmés era que seus desejos ficassem a nizaram a sociedade egípcia e consequentemente
salvo dos saqueadores, que violavam os túmulos a sua arte: influenciada pela cultura dos povos
de reis e personalidades de destaque em busca invasores, ela foi perdendo suas características e
dos tesouros. refletindo a crise política do Império.
No vale, as tumbas eram construídas no
Visite os sites
interior da montanha, às vezes até 200 metros
■ Museu do Louvre
abaixo da superfície, com acesso por meio de es-
www.louvre.fr (em francês). Acesso em: 28 maio 2010.
cadas e corredores. Isso, porém, não as salvou
■ Museu Britânico
da profanação. Ao longo de milênios, bandos
www.britishmuseum.org./explore/world_cultures/
organizados procuravam e encontravam os te-
africa/ancient_egypt.aspx (em inglês). Acesso em: 28
souros dos faraós. Por isso, quando os arqueó- maio 2010.
logos europeus do século XIX deram início a
escavações no local, apenas encontraram tum-
bas saqueadas. Daí a descoberta da tumba de Para construir
Tutancâmon em 1922, com seus tesouros ainda
intactos, haver surpreendido o mundo todo. 6 Observe a imagem abaixo e descreva algumas
Hoje o Vale dos Mortos, descoberto recen- características típicas da pintura egípcia, de acordo
temente, é um dos principais pontos turísticos com o estudo do capítulo.
do Egito. Encontram-se lá mais de sessenta
BRITISH MUSEUM, LONDRES.

tumbas, onde é possível apreciar belíssimas


pinturas murais com cenas extraídas do Livro
dos Mortos, que narra as alegrias e as tristezas
da vida além da morte.
A pouco mais de um quilômetro dali fica
o Vale das Rainhas, com cerca de oitenta tum-
bas, muitas delas destruídas.
TONA AND YO/FLICKR.COM

Na imagem, é evidente o princípio da frontalidade e o caráter


de representação das figuras em contraposição à tentativa de
reprodução realística dos seres retratados. São apresentadas
figuras de corpos humanos com cabeças de animais. Além
disso, os hieróglifos são típicos da cultura egípcia.

Túmulos no Vale dos Reis, em Luxor, no Egito.

24
24 Ensino Médio
7 Que obras arquitetônicas egípcias atestam a Para aprimorar

Arte
grandiosidade e a imponência do poder do faraó?
Faça um comentário sobre elas. 1 Leia o texto e observe a imagem abaixo:
As pirâmides, sobretudo as de Quéops, Quéfren e Miquerinos,

MUSEU NACIONAL EGÍPCIO, CAIRO.


construídas por reis do Antigo Império. A maior, a de Quéops,
tem 146 metros de altura e revela o domínio que os egípcios
demonstraram em sua técnica de construção, pois não foi
usada argamassa entre os blocos de pedra que formam suas
imensas paredes. Junto a essas três pirâmides está a esfinge
mais conhecida do Egito representando o faraó Quéfren.

■ Para praticar: 3 e 4
■ Para aprimorar: 1 e 2
Obra descoberta por F. Petrie
no palácio real em 1891.

Para praticar
Na história do Egito antigo, não há casal mais
1 Pesquise sobre a importância do rio Nilo para a sedutor do que o rei Akenaton e sua esposa Nefertiti,
civilização egípcia. Use livros de História, Geografia no século XIV a.C. Por mais excêntricas que fossem
e a internet. Acrescente à sua pesquisa mapas e ima- suas representações, a sedução não se limita aos seus
gens. Depois, exponha seu trabalho para a classe. aspectos físicos. Ambos tornaram-se personagens
simbólicos da civilização egípcia por terem sido a
2 Álbum: a religião egípcia origem do único cisma profundo conhecido pelo
a) Encontre figuras que reproduzam divindades ou ceri- Egito no decorrer de seus três mil anos de história.
mônias religiosas dos antigos egípcios. Destituindo o poderoso clero de Amon para impor
b) Organize um álbum com essas imagens. um deus único, representado pelo disco solar Aton,
c) Escreva uma legenda identificando cada imagem. Akenaton abria pela primeira vez na história da
Atenção: a legenda deve conter, além da simples identifi- humanidade um caminho rumo ao monoteísmo.
cação, uma informação sucinta sobre o assunto da figura. Claudine Le Tourneur d’Ison, egiptóloga graduada pela Escola do Louvre.
d) No final da legenda, identifique a fonte de onde foi In: História Viva, no 2 dez de 2003. Duetto.
obtida a imagem. Se for uma obra de arte, informe onde
ela se encontra (museu, templo, etc.). O baixo-relevo representa personagens e um fato
relatado no texto. Interprete o significado dessa
3 (UFPE) Em relação à arte do Egito antigo, assinale imagem.
a alternativa correta.
a) Visava à valorização individual do artista. 2 Os egípcios desenvolveram uma das primeiras for-
b) Manifestava as ideias estéticas com representações da mas de escrita, os hieróglifos, constituída de figuras
natureza, evitando a representação da figura humana. estilizadas de homens, animais, plantas, etc. Criaram
c) Estava destinada à glorificação do faraó e à represen- ainda duas outras escritas: a hierática e a demótica.
tação da vida de além-túmulo. a)Procure figuras desses três tipos de escrita e escreva
d) Aproveitava os hieróglifos como ornamentação. um pequeno texto sobre cada uma delas; procure explicar
e) Era uma arte abstrata de difícil interpretação. especialmente como funcionava cada um dos códigos.
b) Em 1820, o historiador francês Jean-François Cham-
4 Akenaton é outro nome do soberano Amenófis pollion decifrou a escrita hieroglífica, a partir das
IV, mencionado na página 22. Descreva as inova- inscrições da Pedra de Rosetta. Faça uma pesquisa
ções políticas promovidas por ele e as decorrentes sobre a Pedra de Rosetta e descubra a forma pela qual
mudanças nas criações artísticas. Champollion fez sua importante descoberta.
Arte na Pré-História e na Antiguidade 25
4
A arte na
Veja, no Guia do Professor, quadro
Capítulo de competências e habilidades
desenvolvidas neste capítulo.

civilização egeia
Não são muitos os vestígios dos povos que floresceram nas ilhas do
mar Egeu há cerca de 4 mil anos. Praticamente tudo o que sabemos
dessa civilização também chamada de minoica provém do estudo e
da cuidadosa observação de suas manifestações artísticas. Indícios de
alguns de seus personagens e acontecimentos estão nas narrativas dos
poemas homéricos Ilíada e Odisseia.

Objetivos:
Identificar algumas das
PAGINAZERO

manifestações artísticas dos


povos que habitaram as ilhas
do mar Egeu.

Reconhecer que a arquitetura


dos cretenses era muito
avançada para a época.

Caracterizar as diferenças
e semelhanças entre as
diversas expressões artísticas
cretomicênicas.

Identificar o domínio técnico


na ourivesaria micênica e
cretense.

Detalhe de afresco do Palácio de Cnossos (1700-1500 a.C.), em Creta, na Grécia.

26 Ensino Médio
■ A arte cretense resolver problemas de posicionamento de escadas,

Arte
A descoberta dos povos que habitavam as ilhas de colunas e de iluminação. Tudo isso revela uma
do mar Egeu antes do desenvolvimento da civiliza- arquitetura avançada para a época.
ção grega é relativamente recente: ocorreu em 1870, É na pintura, porém, que se revela com mais
quando o pesquisador alemão Heinrich Schliemann clareza o espírito dinâmico do povo cretense. Ela
(1822-1890) descobriu vestígios de antigas cidades. mostra menos rigidez e imobilidade que a pintura
Mais tarde, em 1900, o arqueólogo inglês Sir Arthur egípcia. Supõe-se, entretanto, que não só a mobi-
Evans (1851-1941) localizaria o que ainda restava lidade tenha sido alvo de preocupação do artista
do Palácio de Cnossos, na Ilha de Creta. cretense, mas também o efeito causado pela com-
Com essas descobertas arqueológicas, tornou-se binação de cores, que eram vivas e contrastantes:
claro que a cultura egeia teve origem na ilha, pois a tons de vermelho, azul e branco, bem como de
arte desenvolvida em muitas regiões do mar Egeu e marrom, amarelo e verde.
mesmo no continente era nitidamente influenciada Na ourivesaria, os artistas cretenses também
pela arte cretense. revelaram um grande domínio técnico, como
O estudo das ruínas do Palácio de Cnossos pode ser constatado nos Copos de Vafió, assim
revelou que a edificação data do segundo milênio chamados por causa do nome da cidade onde
antes de Cristo (1700 a 1500 a.C.). Sua planta foram encontrados. São duas peças muito deli-
arquitetônica é bastante evoluída: em torno de um cadas, com representações em baixo-relevo de
pátio central estão dispostas muitas salas, algumas touros e elementos da natureza.
agrupadas de tal forma que uma conduz à outra, Já no que se refere à escultura somente peque-
segundo uma ordem bem planejada. A construção nas peças foram encontradas, como a série deno-
tinha ao menos dois andares, mas é possível que minada Deusas com as serpentes – feita de marfim,
tivesse até três ou quatro – detalhe muito impor- com ouro nos mamilos, nas serpentes e nos deta-
tante, uma vez que os construtores precisaram lhes da saia.
EDSON ROSA

Palácio de Cnossos (1700-1500 a.C.), em Creta.

Arte na Pré-História e na Antiguidade 27


MUSEU DE BELAS-ARTES, BOSTON. FOTO: KODANSHA LTA., TÓQUIO
KEVIN SCHAFER/CORBIS

Afresco pintado numa das paredes do Palácio de Cnossos


(cerca de 1600 a.C.). Museu Arqueológico de Cândia, Grécia.
WWW.SOFIAORIGINALS.COM

Deusa-serpente minoica (c. 1500 a.C.). Estatueta esculpida


no apogeu da civilização minoica, descoberta perto do Palácio
de Cnossos, em Creta. Museu de Belas-Artes, Boston.
CFRYER/FLICKR.COM

Copo de Vafió (cerca de 1600 a.C.). Museu Nacional de


Atenas.

■ A arte micênica
Da arte desenvolvida na cidade de Micenas
merece destaque a arquitetura, que apresentou
traços próprios. Um exemplo é a Tumba dos
Átridas.
O nome dessa construção está ligado à família
mais célebre entre os aqueus. Feita no interior de
uma colina, ela exibe uma imponência severa. Um
corredor conduz a uma sala circular coberta por
uma grande cúpula de 14 metros de diâmetro e
13 metros de altura. A sala comunica-se com o
compartimento retangular onde ficavam os restos
mortais dos príncipes micênicos. Tumba dos Átridas, em Micenas (século XIV a.C.).
O aspecto mais interessante da construção é,
sem dúvida, a sua cúpula, uma vez que, para sus-
tentá-la, não foram usados arcos. As pedras foram
dispostas horizontalmente, ficando cada bloco Pensamento Crítico
um pouco desalinhado em relação ao anterior, de Acesse o Material Complementar disponível no Portal
modo a provocar um afunilamento até o encontro e aprofunde-se no assunto.
total das fileiras concêntricas de pedra.
28
28 Ensino Médio
Arte
TOM ELLIOTT/<WWW.STOA.ORG>
REPRODUÇÃO

Porta dos leões (século XIV a.C.).

MUSEU ARQUEOLÓGICO NACIONAL/ARCHIVO ICONOGRAFICO, S.A./CORBIS

Corte esquemático da tumba dos Átridas.

Na escultura micênica, destaca-se a Porta dos


leões – dois leões esculpidos em cima da entrada
principal da muralha feita de enormes blocos de
pedra que cercava Micenas. A monumentalidade
dessa entrada, feita com enormes blocos de pedra,
sugere os valores principais daquela civilização: a
força e a agressividade. Máscara de Agamenon (cerca de 1600 a.C.).
Muitos pesquisadores acreditam ter sido os Museu Arqueológico Nacional, Atenas.
micênicos, ou aqueus, os protagonistas da Guerra
de Troia, da qual temos conhecimento por meio
dos poemas épicos Ilíada e Odisseia, atribuídos Para construir
a Homero (c. século VIII a.C.). Para esses estu-
diosos, os locais descritos nos versos podem ser 1 Em que período se desenvolveu a civilização
identificados com aqueles em que foi encontrado egeia e quando foi descoberta? Como se explica
o maior número de vestígios da civilização micê- sua descoberta relativamente recente?
nica. Sem deixar documentos, antigas civilizações, como a dos
Além disso, os objetos da ourivesaria micêni- povos que habitavam as ilhas do mar Egeu, só podem ter sua
ca encontram paralelo nos objetos descritos nas existência revelada por meio do estudo de seus vestígios.
obras homéricas. É o caso da expressiva máscara A civilização egeia desenvolveu-se no terceiro e segundo
funerária de Agamenon. milênio antes de Cristo, mas sua descoberta ocorreu apenas
Heinrich Schliemann, ao encontrar a másca- em 1870, quando o alemão Heinrich Schliemann encontrou
ra, atribuiu-a a Agamenon, rei de Micenas, que
vestígios de antigas cidades. Trinta anos mais tarde, o
teria participado da guerra de Troia.
arqueólogo inglês Sir Arthur Evans localizou ruínas do Palácio
A partir do século XII a.C., novos povos
de Cnossos, na ilha de Creta.
invadiram o Peloponeso: os dórios, os jônios e
os eólios. Mas somente depois de muitos séculos
esses povos encontraram sua própria expressão
artística, distinta das formas creto-micênicas.
Arte na Pré-História e na Antiguidade 29
2 De acordo com o texto do capítulo, que fatos Para aprimorar
comprovam o desenvolvimento urbanístico da ilha
de Creta e explicam a prosperidade dos povos que 1 Consultando um atlas geográfico ou histórico,
habitaram a ilha? faça um mapa da região do mar Egeu.
Sabe-se que na ilha havia cidades com construções de pedra a) Localize os principais centros das civilizações creten-
e tijolo, produção de joias e objetos de metal e uma se e micênica: Cnossos, Festos, Micenas, Tirinto, Pilos,
desenvolvida marinha mercante que possibilitava o contato Orcômenos, Troia.
com outros povos, como os egípcios e mesopotâmicos. b) Identifique, por meio de legendas, os locais de onde
provêm os principais vestígios da arte da civilização
egeia. Oriente-se pelos exemplos do capítulo e comple-
3 Compare a pintura egeia à pintura egípcia. Que te-os, se encontrar informações adicionais.
diferenças há entre elas?
Enquanto a pintura egípcia apresenta figuras rígidas e 2 (UFBA, adaptado)
imóveis, a pintura egeia sugere mobilidade e explora com
mais intensidade o efeito causado pela combinação de cores Quando chegaram a Creta, Ariadne viu Teseu
vivas e contrastantes. e amou-o, atraiçoando seu pai Minos. Ela pergun-
tou a Dédalo como poderia um homem sair do
Labirinto, e ele deu-lhe um novelo de fio, a fim de
■ Para praticar: 1 a 3 salvar o seu compatriota ateniense. Teseu tomou o
■ Para aprimorar: 1 e 2 novelo e foi até o centro do Labirinto, onde encon-
trou o Minotauro, matando-o com as mãos, ou com
a própria espada, que Ariadne lhe devolvera.
Para praticar PINSENT, p. 92.

1 Como se apresentavam as construções micêni- Associando o texto anterior aos conhecimentos sobre
cas? O que as diferenciava da arquitetura creten- o legado cultural da Antiguidade, é possível afirmar:
se? I. Os mitos gregos refletem a organização e os valores
da sociedade na qual se inserem, incorporando, possi-
2 A tumba dos Átridas era uma construção de pedras velmente, situações, episódios e até pessoas reais.
feita no interior de uma colina. Qual o aspecto mais II. O poder do Minotauro, expresso no mito de Teseu,
interessante dessa edificação? possivelmente simboliza o domínio e a tirania de Creta
sobre o território grego.
3 Alguns personagens da mitologia grega têm III. O confronto entre Teseu e o Minotauro enquadra a
por referência os centros da civilização egeia. É mitologia grega no conjunto de crenças que manifestam
o caso de personagens da guerra de Troia e dos uma concepção maniqueísta do Universo, tal como ocor-
mitos relacionados a Minos, lendário rei de Creta (o re com os antigos egípcios, mesopotâmicos e persas.
Labirinto de Cnossos, o Minotauro, Teseu, Ariadne, IV. O mito de Teseu também se inspira na antiga religião
Ícaro e Dédalo). Não são criações da própria civi- dos hebreus, na medida em que reafirma ideias messiâ-
lização egeia, mas de obras da cultura grega, bem nicas, salvacionistas e sugere práticas monoteístas.
mais tardia (a Ilíada e a Odisseia foram escritas no V. A vitória de Teseu possivelmente simboliza a vitó-
século IX ou VIII a.C.). Mas é interessante conhecê- ria de Atenas e a conquista da hegemonia marítima e
-los. Reúna-se com alguns colegas para: comercial mediterrânica.
a) Pesquisar a guerra de Troia, narrada por Homero. Julgue os itens numerados de I a V e assinale a
Escrevam um pequeno texto sobre as origens míticas alternativa correta utilizando a chave de respostas
desse conflito e descrevam sinteticamente seus princi- a seguir:
pais personagens. a) Apenas as afirmativas II e III são corretas.
b) Organizar um mural com figuras de personagens b) Apenas as afirmativas I, II e V são corretas.
mitológicos relacionados com a guerra de Troia e com c) Apenas as afirmativas I, IV e V são corretas.
Minos, lendário rei de Creta. Escrevam legendas sobre d) Apenas as afirmativas II, III, IV e V são corretas.
cada personagem. e) Todas as afirmativas são corretas.
30
30 Ensino Médio
Referências bibliográficas

Arte
■ ARTE nos séculos. São Paulo: Abril, 1969. 7 v. ■ HAUSER, A. História social da literatura e da arte. São
■ BURNS, Edward McNall. História da civilização ociden- Paulo: Mestre Jou, 1972. v. 1.
tal. Porto Alegre: Globo, 1971. v. 2. ■ HISTÓRIA da arte. São Paulo: Salvat, 1978. 10 v.
■ CABANNE, Pierre. Dictionnaire des arts. Paris: Bordas, ■ HISTÓRIA das civilizações. São Paulo: Abril, 1975. v. 1.
1979. ■ JANSON, H. W. Histoire de l’art. Paris: Cercle d’Art,
■ CAVALCANTI, Carlos. História das artes. Rio de 1970.
Janeiro: Civilização Brasileira, 1970. v. 2. ■ PISCHEL, Gina. História universal da arte. São Paulo:
■ GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16. ed. Rio de Melhoramentos, 1966. v. 1-2.
Janeiro: LTC.

Gabarito
Capítulo 1 – A arte na História ■Para aprimorar, página 16
■ Para praticar, página 7 1. Resposta pessoal.
1. Resposta pessoal. 2. Resposta pessoal.
2. d 3. Resposta pessoal.
■ Para aprimorar, página 7
Capítulo 3 – A arte no Egito
Resposta pessoal.
■ Para praticar, página 25

Capítulo 2 – A arte na Pré-História 1. Resposta pessoal.


■ Para praticar, página 16 2. Resposta pessoal.
1. A partir da trituração de rochas, o artista obtinha 3. c
um pó colorido. Com um canudo, ele soprava esse pó 4. Amenófis IV neutralizou o grande poder exercido pe-
sobre a mão pousada na parede da caverna. A região los sacerdotes. Surgiram, em decorrência disso, cria-
em volta da mão ficava colorida e a parte coberta, não. ções artísticas mais leves e de cores variadas que a dos
Assim, criava-se uma silhueta da mão, a exemplo de períodos anteriores. Abandonada a rigidez de postura
um filme em negativo. das figuras, elas parecem ganhar movimento.
2. No período Paleolítico, o artista pintava os animais ■ Para aprimorar, página 25
como os via, reproduzindo a natureza tal qual sua vista 1. A imagem representa o símbolo da nova religião.
captava. Com a revolução neolítica, o ser humano tor- Akenaton, seguido de Nefertiti (à esquerda), participa
nou-se um camponês, e por isso os sentidos apurados do ritual de oferenda ao deus Aton (no alto), cujos raios
do caçador do Paleolítico não eram mais necessários. O terminam na forma de mãos sobre seus adoradores.
poder de observação foi substituído pela abstração e a 2. Resposta pessoal.
racionalização. Consequentemente, o estilo naturalista
foi deixado de lado, surgindo um estilo simplificador e Capítulo 4 – A arte na civilização egeia
■ Para praticar, página 30
geometrizante. Em lugar de representações que imita-
vam fielmente a natureza, vamos encontrar sinais e fi- 1. Elas eram longas e retangulares. Internamente ha-
guras que mais sugerem do que reproduzem os seres. via várias divisões: um vestíbulo, uma antecâmara e
3. No período Neolítico, tiveram início as represen- um grande salão. A arquitetura micênica apresentava
tações da vida coletiva. As pessoas passaram a ser um aspecto de monumentalidade que não havia na
representadas em suas atividades cotidianas, com a cultura cretense.
ideia de movimento. O artista do Neolítico represen- 2. O aspecto mais interessante dessa construção mi-
tou cenas de danças, possivelmente ligadas ao traba- cênica é a sua cúpula, pois para sustentá-la não foram
lho de plantio e colheita, com a preocupação de criar feitos arcos: as pedras foram dispostas horizontal-
figuras leves, ágeis, pequenas e de pouca cor. mente, ficando cada bloco um pouco desalinhado do
4. A técnica da forma de barro, utilizada pelos escul- anterior, de modo a provocar um afunilamento até o
tores no Neolítico, consistia em fazer uma forma de encontro total das fileiras concêntricas de pedra.
barro e colocar nela o metal derretido previamente em 3. Resposta pessoal.
um forno. Depois do esfriamento do metal, a forma ■ Para aprimorar, página 30

era quebrada, obtendo-se, então, uma escultura com 1. Resposta pessoal.


o formato anteriormente dado ao barro. 2. b
Arte na Pré-História e na Antiguidade 31
ALUNO - 2137581

ARTE
Arte na Grécia e em Roma
Graça Proença

ENSINO
MÉDIO
Gerência editorial
Mônica Vendramin Sumário
Edição
Aparecida Mazão (coordenação),
Bárbara Muneratti de Souza Arte na Grécia e em Roma
Assistência editorial
Solange A. de Almeida Francisco 1 A arte na Grécia, 3
Colaboração A arte nos períodos arcaico e clássico, 4
Fabiana Manna da Silva
O período helenístico, 10
Revisão
Hélia de Jesus Gonsaga (gerente), Kátia Scaff
Marques (coordenação), Patrícia Travanca, 2 A arte em Roma, 16
Rosângela Muricy
A arquitetura, 17
Pesquisa iconográfica
Sílvio Kligin (coordenação), Caio Mazzilli,
A pintura e o mosaico, 24
Josiane Camacho Laurentino A escultura, 25
Programação visual (miolo)
Kraft Design 3 A arte cristã primitiva, 28
Edição de arte A arte das catacumbas, 29
Margarete Gomes (supervisão), Rosimeire Tada,
Amilton Ishikawa,Magali Prado A arte do cristianismo oficial, 30
Editoração eletrônica
AGA Estúdio / lab 212
Capa
lab 212
Imagens de capa
Golden Sikorka / Sentavio / TarikVision / Shutterstock
Colaboraram para esta Edição
Cristiane Queiroz, Juliana Setem, Raquel Sanches,
Rosiane Botelho, Sergio Amstalden, Simone Savarego,
Talita Perazzo, Thiago Brentano, Valdete Reis e lab 212.
Dados Internacionais de
Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Proença, Graça
Sistema de ensino ser : artes : 1º ano :
aluno / Graça Proença. -- 3. ed. -- São Paulo :
Ática, 2017.

1. Arte (Ensino médio) I. Título.

16-08225 CDD-700

Índices para catálogo sistemático:


1. Arte : Ensino médio 700

3ª- edição
1ª- impressão
2016

ISBN 978 85 08 18402 6 (aluno)


ISBN 978 85 08 18403 3 (professor)

Impressão e acabamento

Uma publicação

MARIA DAS GRAÇAS VIEIRA PROENÇA DOS SANTOS


Todos os direitos reservados por
Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Somos Educação S.A.
Avenida das Nações Unidas, 7221
Sorocaba (FFCL) e em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Pinheiros – São Paulo – SP Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo.
CEP: 05425-902 Pós-graduada em Estética pelo Departamento de Filosofia da Universidade de
(0xx11) 4383-8000 São Paulo.
© Somos Sistema de Ensino S.A.
Foi professora da rede particular e pública de ensino do estado de São Paulo.
2
2
Veja, no Guia do Professor, quadro de competências e

1
habilidades desenvolvidas neste capítulo.

Capítulo
A arte na Grécia

Arte
Dos povos da Antiguidade, os que apresentaram produção cultural
mais livre foram os gregos. Se inicialmente eles imitavam a produção
artística de egípcios e de povos do Oriente, com o tempo criaram
arquitetura, escultura e pintura próprias, movidos por concepções
diferentes. Convictos de que o ser humano ocupa lugar especial no
Universo, eles não se submeteram a imposições de reis e sacerdotes.
Para eles, o conhecimento, expresso pela razão, estava acima da crença
Objetivos: em qualquer divindade.
Do ponto de vista de sua produção artística, são relevantes os seguin-
Identificar manifestações tes períodos históricos da Grécia antiga:
artísticas da Grécia antiga. ■ Período arcaico: da formação das cidades-Estado, em meados do século

VII a.C. até a época das Guerras Greco-Pérsicas, no século V a.C.


Relacionar a investigação grega ■ Período clássico: das Guerras Pérsicas até o fim da Guerra do Pelopo-
sobre o corpo humano ao neso (século IV a.C.).
objetivo de representá-lo mais ■ Período helenístico: do século IV a.C. até o século II a.C.
fielmente, com movimentos e Em 146 a.C., a Grécia viria a ser dominada por Roma.
dramaticidade.

Descrever a evolução da
VALDEMIR CUNHA/EDITORA ABRIL

escultura grega.

Identificar os estilos
arquitetônicos jônico e dórico.

Relacionar a transformação
da arquitetura dos teatros
gregos às mudanças sociais e
políticas.

Templo do Partenon, na Acrópole grega.

Arte na Grécia e em Roma 3


■ A arte nos períodos arcaico O escultor grego do período arcaico, assim como
e clássico o egípcio, apreciava a simetria* natural do corpo
No século XII a.c. o povo grego era formado humano. Para evidenciá-la, o artista esculpia figuras
pelos aqueus, jônios, dórios e eólios. Com o passar masculinas nuas, eretas, em rigorosa posição frontal
do tempo, esses povos passaram a ter a mesma cul- e com o peso do corpo igualmente distribuído sobre
tura. Já por volta do século X a.C., os habitantes da as duas pernas. Esse tipo de estátua é chamado kou-
Grécia continental e das ilhas do mar Egeu que fala- ros, palavra grega que significa “homem jovem”.
vam diversos dialetos gregos estavam reunidos em Diferentemente da arte egípcia, cuja produção
pequenas comunidades distantes umas das outras. tinha uma função religiosa, a arte grega não esta-
Muitas delas transformaram-se em cidades-Estado, va submetida a convenções rígidas; por isso pôde
a pólis grega. evoluir livremente. Assim, com o tempo, a postura
Como vimos, o período arcaico vai de meados rígida e forçada do kouros passou a ser insatisfató-
do século VII a.C., com a formação das pólis, até ria. A estátua conhecida como Efebo de Crítios, por
a época das guerras Pérsicas. Tem início então o exemplo, mostra mudanças nesse sentido: em vez
período clássico. Dessa fase merece destaque o de olhar bem para a frente, o modelo tem a cabeça
século V a.C., chamado Século de Péricles, época ligeiramente voltada para o lado; em vez de apoiar-se
em que a atividade intelectual, artística e política igualmente sobre as duas pernas, o corpo descansa
refletiu o esplendor da cultura helênica*. sobre uma delas, que assume uma posição mais
afastada em relação ao eixo de simetria, e mantém o
A evolução da escultura quadril desse lado um pouco mais alto.
Aproximadamente no final do século VII
MUSEU NACIONAL DE ATENAS/TAP

MUSEU NACIONAL DE ATENAS


a.C., os gregos começaram a esculpir, em már-
more, grandes figuras masculinas. Era evidente,
nessas obras, a influência do Egito, tanto nas
formas quanto na técnica de esculpir grandes
blocos. O artista grego, porém, já acreditava
que a escultura não deveria se assemelhar a seu
modelo, ela teria de ser também um objeto belo
em si mesmo.

*Helênica: referente aos helenos, como era chamado


o povo que ocupava a região conhecida como Hélade
(denominação grega), ou Grécia (denominação latina,
hoje consagrada).

Para suas anotações:

Estátua grega segundo


o padrão kouros (cerca Efebo de Crítios (cerca
de 525 a.C.). Museu de 480 a.C.). Museu
Nacional de Atenas. Nacional de Atenas.

*Simetria: correspondência em tamanho, forma e posi-


ção, entre partes localizadas em lados opostos de uma
linha ou plano central. Regularidade; proporção.

4
4 Ensino Médio
MUSEU ARQUEOLÓGICO NACIONAL, ATENAS

GIANNI DAGLI ORTI/CORBIS

Arte
Zeus de Artemísio (cerca de 470 a.C.). Altura: 2,09 m. Museu
Arqueológico Nacional, Atenas.

Cópia romana do Discóbolo, de Míron. O original grego


Nessa procura pela superação da rigidez das data de aproximadamente 450 a.C. Altura: 1,55 m. Museo
estátuas, o mármore mostrou-se um material ina- Nazionale delle Terme, Roma.
dequado: pesado demais, quebrava-se sob o próprio
peso quando determinadas partes do corpo não esta-
JOHN HESELTINE/CORBIS

vam apoiadas. Os braços estendidos de uma estátua,


por exemplo, corriam sério risco de se quebrar.
A solução para o problema foi trabalhar com
um material mais resistente. Começaram então a
fazer esculturas em bronze, liga metálica que, além
de mais resistente, permitia ao artista criar figuras
que expressassem melhor a ideia de movimento. O
Zeus de Artemísio é um exemplo disso. Os braços e as
pernas dessa estátua mostram uma atividade vigoro-
sa. Seu tronco, porém, ainda traduz imobilidade.
O problema da imobilidade do tronco persiste
também na famosa estátua Discóbolo, de Míron,
feita na mesma época do Zeus de Artemísio. A
escultura original em bronze foi perdida, mas
podemos observar, em sua cópia romana de már-
more, a oposição entre a intensa atividade dos
membros e a estrutura estática do tronco.
A solução para esse problema foi encontrada
por Policleto. Sua escultura Doríforo (lanceiro) –
também conhecida por meio de uma cópia roma-
na em mármore – apresenta alternância de mem-
bros tensos e relaxados. A alternância de curvas Cópia romana do Doríforo, de Policleto. O original grego
data de aproximadamente 440 a.C. Altura: 1,99 m. Museo
suaves à direita e à esquerda percorre o corpo do Archeologico Nazionale, Nápoles.
lanceiro, evita uma postura estática e pouco real
do ser humano e apoia a sugestão de movimento
do corpo. A perna direita, tensa, sustenta o corpo;
a esquerda, aliviada do peso e deslocada para trás, Pensamento Crítico
apoia-se apenas na ponta do pé. Essa postura Acesse o Material Complementar disponível no Portal e
garante a sugestão de que esse jovem está pronto aprofunde-se no assunto.
para dar uma passo e sair caminhando.
Arte na Grécia e em Roma 5
A arquitetura: as ordens dórica e jônica métopas (retângulos que podiam ser lisos, pinta-
Na arquitetura grega, as edificações que des- dos ou esculpidos em relevo).
pertam maior interesse são os templos. Essas A ordem jônica sugeria mais leveza e era mais
obras não foram construídas para reunir dentro ornamentada. As colunas apresentavam fustes
delas um grupo de pessoas para o culto religioso, mais delgados e que não se firmavam diretamente
mas para proteger da chuva ou do sol excessivo as sobre o estilóbata, mas sobre uma base decorada.
esculturas das divindades. Os capitéis eram enfeitados, e a arquitrave, divi-
A característica mais evidente dos templos dida em três faixas horizontais. O friso também
gregos é a simetria entre o pórtico da entrada — o era dividido em partes ou então decorado por
pronau — e o dos fundos — o opistódomo. uma faixa esculpida em relevo. A cornija era mais
O núcleo do templo era formado pelo pronau, ornamentada e podia apresentar trabalhos de
pelo naos (recinto onde ficava a imagem da divin- escultura.
dade) e pelo opistódomo. Esse núcleo era cercado Embora as formas dessas duas ordens fossem
por uma colunata chamada peristilo. Em cidades constantes, seus elementos podiam ser alterados.
mais ricas, o peristilo chegou a ser formado por duas Em geral, a ordem jônica tinha um tratamento
séries de colunas em torno do núcleo do templo. mais livre do que a dórica. Tanto que, no final do
O templo era construído sobre uma base de
século V a.C., foi criado o capitel coríntio, muito
três degraus. O degrau mais elevado chamava-se
usado no lugar do capitel jônico, como um modo
estilóbata e sobre ele eram erguidas as colunas do
de variar e enriquecer as colunas dessa ordem.
peristilo e as paredes do núcleo do templo.
As colunas sustentavam um entablamento Os templos gregos eram cobertos por um
horizontal, formado por três partes: a arquitrave, o telhado descendente no sentido das laterais. Dessa
friso e a cornija. As colunas e o entablamento eram posição do telhado resultava um espaço triangular
construídos segundo os modelos da ordem dórica sobre a cornija, tanto no pórtico de entrada quanto
ou da ordem jônica. no dos fundos. Esse espaço, denominado frontão,
A ordem dórica era simples e maciça. Os fustes era intensamente ornamentado com esculturas.
das colunas eram grossos e firmavam-se direta- O frontão localizado na fachada leste do
mente no estilóbata. Os capitéis, que ficavam no templo de Zeus (465-457 a.C.), em Olímpia, é
alto dos fustes, eram muito simples. A arquitrave especialmente notável entre os frontões gregos,
era lisa e, sobre ela, ficava o friso que era dividido pela ocupação harmoniosa do espaço de suas
em tríglifos (retângulos com sulcos verticais) e esculturas.
REPRODUÇÃO

cornija cornija
friso entablamento
friso métopa tríglifo arquitrave
capitel ábaco
arquitrave entablamento
opistódomo
voluta
capitel
ábaco

naos

fuste coluna fuste coluna

pronau

estilóbata base
estilóbata

Planta de um templo
grego típico. Esquema da ordem dórica. Esquema da ordem jônica. Capitel coríntio.

6
6 Ensino Médio
WWW.PEOPLE.AUCKLAND.AC.NZ

Arte
Frontão do templo de Zeus, em Olímpia (465-457 a.C.).
ROFFLE, EDITED BY ULRICH TICHY

Visão geral do templo de Hefaísto na ágora


grega. No detalhe, as métopas e os tríglifos.

Além dos frontões, as métopas e os frisos tam-


ARCHIVO ICONOGRAFICO, S.A./CORBIS

bém eram decorados com esculturas. Por serem


quase quadradas, as métopas não ofereciam muitas
dificuldades na composição da cena a ser repre-
sentada. No templo de Zeus, por exemplo, as seis
métopas que estão sobre o pórtico de entrada e as seis
que estão sobre o pórtico dos fundos foram decora-
das com relevos que narram os doze trabalhos de
Héracles. O Hephaisteion – templo em estilo dórico
dedicado a Hefaísto, deus do fogo, cuja imagem é
reproduzida acima – exemplifica o tipo de trabalho
escultórico que as mesótopas podiam receber.
Já para projetar as esculturas que ornamenta-
riam o friso, o artista encontrava problemas, dada
a dificuldade de encontrar um tema que ocupasse
aquela estreita e longa faixa de modo satisfatório.
No Partenon, templo dedicado à deusa Atena, essa
Friso das Ergastinas (fragmento) que ornamentava o Partenon.
dificuldade foi superada ao retratar uma procissão O friso todo media 159 m. Museu do Louvre, Paris.
em honra a essa divindade.
Arte na Grécia e em Roma 7
A pintura em cerâmica

MUSEU ETRUSCO, VATICANO


Na Grécia, como em outras civilizações, a
pintura apareceu como elemento de decoração da
arquitetura. Vastos painéis recobriam as paredes
das construções e, muitas vezes, as métopas apre-
sentavam pinturas em lugar de esculturas. Ânfora com figuras negras
A pintura grega, porém, encontrou também pintadas por Exéquias (cerca
uma forma de realização na arte da cerâmica. Os de 540 a.C.). Altura: 61 cm.
Museu Gregoriano-Etrusco,
vasos gregos são conhecidos não só pelo equilí- Roma.
brio da forma, mas também pela harmonia entre
o desenho, as cores e o espaço utilizado para a
ornamentação.

SOPRINTENDENZA ARCHEOLOGICA,
POTENZA/AKG/LATINSTOCK
A princípio, além de servir para rituais religio-
sos, esses vasos eram usados para armazenar, entre
outras coisas, água, vinho, azeite e mantimentos.
À medida que passaram a revelar uma forma equi-
librada e uma pintura harmoniosa, tornaram-se Vaso grego com figuras em
fundo negro (cerca de 410
também objetos artísticos. a.C.). Altura: 52 cm. Museu
As pinturas dos vasos representavam pes- Britânico, Londres.
soas em suas atividades diárias e cenas da mito-
logia grega. Inicialmente o artista pintava, em
negro, a silhueta das figuras. A seguir, gravava O maior pintor de figuras negras foi Exéquias.
o contorno e as marcas interiores dos corpos Uma de suas pinturas mais famosas mostra
com um instrumento pontiagudo, que retira- Aquiles e Ajax jogando damas. Nesse trabalho,
va a tinta preta, deixando linhas nítidas. Esse além da riqueza dos detalhes dos mantos e escu-
trabalho pode ser observado no vaso François, dos dos heróis, coincidem, de forma harmoniosa,
pintado por Clítias. a curvatura do vaso com a inclinação das costas
dos dois personagens. As lanças desempenham
também uma função plástica, pois sua disposição
MUSEU ARQUEOLÓGICO, FLORENÇA/AKG/LATINSTOCK

leva o observador a dirigir a visão para as alças da


ânfora e, destas, para os escudos colocados atrás
dos personagens. Esses elementos criam um todo
orgânico e fazem a beleza do vaso resultar de um
conjunto.
Por volta de 530 a.C., Eutímedes, discípulo de
Exéquias, introduziu uma grande modificação na
arte de pintar vasos: inverteu o esquema de cores,
deixando as figuras na cor natural do barro cozido
e pintando o fundo de negro. Teve início, com
isso, a série de figuras vermelhas. O efeito obtido
com essa inversão cromática foi, sobretudo, a
maior vivacidade das figuras.

Para suas anotações:

Pintura do vaso François feita por Clítias (cerca de 550 a.C.).


A pintura representa Ajax carregando o corpo de Aquiles.
Museu Arqueológico, Florença.

8
8 Ensino Médio
Para construir 2 Compare as colunas e entablamentos dos tem-

Arte
plos segundo os modelos da ordem dórica e da
1 A arte no Egito antigo foi totalmente orientada ordem jônica. Esboce um esquema de cada um dos
pela religião. Já os gregos consideravam que o ser tipos de coluna, ilustrando as diferenças.
humano tinha uma posição especial no universo Colunas da ordem dórica: simples e maciças com fustes
e valorizavam o conhecimento advindo da razão. grossos que se firmavam diretamente no estilóbata. Capitéis
Explique de que forma essa diferença se manifesta simples, arquitrave lisa e friso dividido em tríglifos (retângulos
na escultura e na arquitetura da Grécia antiga. com sulcos verticais) e métopas (retângulos lisos, pintados
Exponha suas ideias para os colegas. ou esculpidos em relevo). Colunas da ordem jônica: mais
A arte grega era mais livre de regras e orientada pelo sentido leves e ornamentadas. Fustes mais delgados que se firmavam
estético. As esculturas representavam figuras humanas, devendo sobre uma base decorada. Capitéis ornamentados, arquitrave
assemelhar-se aos seus modelos. Na arquitetura, destacam-se dividida em três faixas horizontais. Friso dividido em partes
os templos, que não tinham como finalidade o culto religioso, ou decorado por uma faixa esculpida em relevo. Cornija mais
mas abrigar do sol e da chuva as esculturas das divindades. ornamentada, às vezes apresentando esculturas.

3 Quais eram os principais objetos da pintura em


cerâmica, as figuras retratadas e características
dessa pintura?
Os principais objetos pintados em cerâmica eram os vasos. A
pintura representava pessoas em atividades do dia a dia ou cenas
da mitologia grega. Inicialmente as silhuetas eram pintadas em
negro.

■ Para praticar: 1

Arte na Grécia e em Roma 9


■ O período helenístico

AKG-IMAGES/NIMATALLAH/MUSEU DO VATICANO
No final do século V a.C. Felipe II, rei da
Macedônia, dominou as cidades-Estado da Grécia.
Foi sucedido por seu filho, Alexandre, que cons-
truiu um gigantesco império. Quando ele morreu,
o império fragmentou-se em vários reinos.
Os historiadores modernos deram o nome
de helenística à cultura iniciada sob o poder de
Alexandre e seguida até o domínio da Grécia pelos
romanos. Todas as transformações históricas do
período, sobretudo o fim da independência da
pólis grega, dando lugar à formação de reinos
imensos, interferiram na arte grega.
Cópia romana de
A escultura Afrodite de Cnido, de
Praxíteles. O original
A escultura do século IV a.C. apresentava traços grego data de aproxi-
bem característicos. Um deles era a representação, madamente 370 a.C.
sob a forma humana, de conceitos e sentimentos, Altura: 2,04 m. Museu
do Vaticano.
como a paz, o amor, a liberdade, a vitória, etc.
Outra marca foi o surgimento do nu feminino, já
que nos períodos arcaico e clássico representava-se a

R.M.N./ARNAUDET – J. SCHORMANS
MUSEU NACIONAL DE NÁPOLES

figura feminina sempre vestida. Praxíteles, por exem-


plo, esculpiu uma Afrodite nua que acabou sendo
sua obra mais famosa. Como essa estátua foi com-
prada pela cidade de Cnido, ficou conhecida como
Afrodite de Cnido. Observa-se nela o princípio usado
por Policleto (autor do Doríforo): opor os membros
tensos aos relaxados, combinando-os com o tronco
posicionado sem rigidez. Esse princípio, aplicado às
formas arredondadas femininas, deu sensualidade à
escultura.
É também do século IV a.C. a Afrodite de
Cápua, trabalho muito apreciado e copiado, com
variações durante séculos. Assim, temos no século
II a.C. a célebre Afrodite de Melos, ou Vênus de
Milo, na designação romana.
Essa escultura representa a deusa com o tron-
co despido, mas com o quadril e as pernas envoltas
em uma túnica, combinando a nudez parcial da
Afrodite de Cápua com o princípio de Policleto
aplicado à Afrodite de Cnido. Cópia romana de Afrodite de Afrodite de Melos
Cápua, de Lisipo. O original (segunda metade do
Os escultores do início do século III a.C. grego data do século IV a.C. século II a.C.). Altura:
procuravam criar figuras que expressassem maior Altura: 2,10 m. Museo Nazionale, 2,04 m. Museu do
Nápoles. Louvre, Paris.
mobilidade e levassem o observador a circular em
torno delas. Um exemplo dessa nova tendência é a
Vitória de Samotrácia. cam isso: a túnica agitada pelo vento, as asas ligei-
Supõe-se que essa escultura estivesse presa ramente afastadas para trás, o drapeado das vestes,
à proa de um navio que conduzia uma frota. De o tecido transparente e colado ao corpo. Todos
fato, as formas dadas à figura feminina com asas esses elementos compõem uma figura que causa
abertas, que personifica o desejo de vitória, indi- no espectador uma forte sugestão de movimento.
10
10 Ensino Médio
MUSEU DO LOUVRE, PARIS

MUSEU NACIONAL ROMANO

Arte
Vitória de Samotrácia
(cerca de 190 a.C.). Cópia romana de O soldado gálata e sua mulher. O original
Altura: 2,75 m. Museu grego data da primeira metade do século III a.C. Altura: 2,11 m.
do Louvre, Paris. Museo Nacional Romano.

O grande desafio – e a grande conquista – da


A arquitetura
escultura do período helenístico foi a representação
Vivendo em vastos reinos e não mais em
não de uma só figura, mas de grupos de figuras que
comunidades formadas por cidades-Estado, os
sugerissem mobilidade e fossem belos de todos os
gregos do período helenístico substituíram seu
ângulos. Assim é o grupo formado pelo soldado que
senso de cidadania pelo individualismo.
acaba de matar sua mulher e está prestes a suicidar-se
Isso se refletiu na arquitetura das moradias. Se
(ver imagem acima à direita).
no século V a.C. elas eram muito modestas e apenas
O conjunto, da segunda metade do século III a.C.,
os edifícios públicos eram suntuosos, a partir do
foi esculpido para um monumento de guerra em
século IV a.C. começaram a receber cuidado maior e,
Pérgaso, cidade helenística da Ásia Menor. Além da
com o tempo, foram ganhando espaço e conforto.
beleza, a obra transmite dramaticidade de qualquer
A substituição do espírito comunitário pelo
lado que seja vista. O soldado olha para trás de forma
sentimento individualista manifestou-se também
desafiadora e está pronto a enterrar a espada em seu no teatro. O coro, muito valorizado nas repre-
peito, enquanto segura um dos braços de sua mulher, sentações teatrais do período clássico, passou
que escorrega para o chão. O outro braço da mulher, para segundo plano. A ênfase deslocou-se para o
já sem vida, contrasta com a perna tensa do marido. desempenho dos atores.
A dramaticidade é obtida justamente pelos contras- Essa mudança refletiu-se na arquitetura dos
tes: vida e morte, homem e mulher, nudez e vestes, teatros. Na Grécia clássica, os teatros eram divididos
força e debilidade. O original grego da obra perdeu- em três partes distintas: a orquestra, espaço circular
-se e hoje há uma cópia romana no Museo Nazionale em que os atores e o coro representavam ou dança-
delle Terme, em Roma. vam; uma espécie de arquibancada em semicírculo,
construída na encosta de uma colina e reservada
Visite os sites
aos espectadores; e o palco, onde os atores se pre-
■ Museu Britânico
paravam para entrar em cena e eram guardados os
www.britishmuseum.org (em inglês). Acesso em:
cenários e as roupas usadas nas representações. Um
27 maio 2010.
exemplo típico é o Teatro de Epidauro, construído
■ Museu do Louvre
www.louvre.fr (em francês). Acesso em: 27 maio 2010.
no século IV a.C. (veja imagem na página 12).
■ Cultura helênica
Com o crescimento da importância dos atores
www.culture.gr/war/index_en.jsp (em inglês). para a ação dramática, a arquitetura teatral se adaptou
Acesso em: 27 maio 2010. e isso pode ser observado na remodelação do Teatro
de Priene. A principal alteração ocorreu no palco.
Arte na Grécia e em Roma 11
No período clássico, havia na frente do palco uma A concepção do teatro como um espaço mais
fachada de um só andar chamada proscênio, onde compacto, diferente do de Epidauro, que era divi-
eram apoiados os cenários. Toda a ação dramática dido em três partes independentes, começou a
ocorria no espaço circular. Somente alguém que ganhar força e atingiu seu desenvolvimento pleno
representasse um deus poderia intervir na peça um pouco mais tarde, entre os romanos.
aparecendo no telhado do proscênio. No século
II a.C., os atores já se apresentam mais isolados
Veja os filmes
do público. A orquestra deixou, então, de ser
■ A eternidade e um dia, de Theo Angelopoulos,
um espaço circular completo e o local destinado
Grécia, 1998. 132 min.
aos espectadores tornou-se mais concentrado. O ■ Paisagem na neblina, de Theo Angelopoulos,
telhado do proscênio transformou-se em piso para Itália, França e Grécia, 1988. 127 min.
a atuação dos atores.
ROSINO/FLICKR.COM

Teatro de Epidauro (século IV a.C.). Composto de 55 degraus divididos em duas ordens e calculados de acordo com uma inclinação
perfeita, chegava a acomodar cerca de 14 mil espectadores e tornou-se famoso por sua acústica.
<HTTP://ARTCHIVE.COM/FTP_SITE.HTM>

Teatro de Priene, em Roma.

12
12 Ensino Médio
Arte
■ Enquanto isso...
Dois tesouros da Antiguidade chinesa
A história da China se iniciou em tempos quilômetros, com alguns trechos bastante íngremes
muito longínquos: dela já foram encontradas pe- e inclinados. A altura média dos paredões é de cer-
ças de cerâmica pertencentes a culturas neolíti- ca de 7 metros, e sua largura varia de 4 a 9 metros.
cas, que existiram por volta de 8000 a 2000 a.C. Desde 1987, a Muralha da China é considerada
Duas impressionantes obras da cultura chinesa um bem do patrimônio cultural da humanidade.
produzidas em um tempo já próximo do perío- Descobertos em 1974 por camponeses que
do helenístico grego são a Muralha da China e escavavam um poço de água, os Guerreiros de
os Guerreiros de Xi’an. Ambas relacionadas ao Xi’an formam um conjunto escultórico que im-
reinado do imperador Qin Shi Huangdi, da di- pressiona o observador. Trata-se de um exército
nastia Qin (221 a 207 a.C.). composto de quase 7 mil estátuas, esculpidas em
A construção da Muralha da China iniciou-se terracota, que representam guerreiros em tama-
por volta de 220 a.C., sob ordem do imperador Qin nho natural com seus uniformes e armas, cavalos
Shi Huangdi, e estendeu-se por muitos séculos. Foi e carruagens. Cada guerreiro tem traços fisionô-
concluída durante a dinastia Ming (1368-1644), micos individualizados, além dos detalhes das
que dominou a China em um período simultâneo vestes que indicam seu posto na hierarquia mi-
ao Renascimento, vivido pelo Ocidente. litar. Esse gigantesco exército foi encomendado
Nessa obra, destinada à defesa militar da re- pelo imperador Qin Shi Huangdi – o mesmo que
gião, foram superadas muitas dificuldades de en- deu início à construção da Muralha da China –
genharia, uma vez que ela se estende por muitos para guardar seu túmulo.
FOTOS: DENISE ANDRADE

Guerreiros de Xi’an, estátuas de terracota da dinastia Qin


(221 a 207 a.C.). Vista do sítio com as escavações onde foi
encontrado o grande grupo de estátuas de guerreiros, dis-
tante aproximadamente 1,5 km do mausoléu do imperador No detalhe, os Guerreiros de Xi’an vistos em ângulo mais
Qin Shi Huangdi. próximo.

Arte na Grécia e em Roma 13


Para construir 5 O período helenístico trouxe relevantes mudanças
políticas e no modo de vida dos gregos. Explique de
4 Compare a escultura dos períodos arcaico e clássi- que modo isso se reflete na arquitetura. Depois, esta-
co à do período helenístico, quanto às figuras retrata- beleça uma comparação entre o teatro de Epidauro,
das, o que era representado e suas características. na Grécia, e o teatro de Priene, em Roma.
Nos períodos arcaico e clássico predominam a busca pela Os gregos do período helenístico passam a viver em vastos
perfeição na representação do corpo humano. reinos em vez de comunidades constituídas por
Contrariamente, na escultura do período helenístico, cidades-Estado. O individualismo é substituído pelo senso
representam-se conceitos e sentimentos como a paz, o amor, de cidadania. As casas, antes mais simples, ganham mais
a liberdade e a vitória. Surgem a representação de grupos e o suntuosidade, espaço e conforto. As mudanças manifestam-se
nu feminino. As formas são mais arredondadas e as imagens também nas construções dos teatros, já que o coro passa
sugerem sensualidade. para segundo plano, destacando a representação dos atores.

6 (ESPM, adaptado) Sobre o Partenon, é correto


afirmar que: c
a) Foi erguido nos tempos homéricos, estando sua
construção descrita na Ilíada e na Odisseia.
b) Foi um conjunto arquitetônico erguido durante o perío-
do arcaico, sendo sua construção descrita por Homero.
c) Foi um conjunto arquitetônico mandado construir
por Péricles, no período clássico, com obras de Fídias,
um dos maiores escultores daquele tempo.
d) Foi um conjunto arquitetônico mandado construir
por Alexandre da Macedônia e representava o estilo
grandioso da arquitetura helenística.
e) Foi um conjunto arquitetônico mandado construir
pelos romanos, quando a região da Grécia sofreu forte
influência da arquitetura dos etruscos.

■ Para praticar: 2
■ Para aprimorar: 1 e 2

14
14 Ensino Médio
Para praticar 2 (Vunesp, adaptado) Observe e compare os monu-

Arte
mentos:
1 São famosos os mitos gregos repletos de deu-

PHOTOS.COM/JUPITER IMAGES/AGENCE FRANCE-PRESSE


ses, semideuses, heróis e seres humanos em
intricados conflitos de amor e de ódio. Por outro
lado, é inegável, para a história do pensamento
científico ocidental, a sabedoria grega na análise
e compreensão racional do universo. Faça, com
outros colegas, um painel para mostrar esses dois
aspectos da rica cultura grega.
a) Alguns grupos podem procurar dados sobre os
mitos gregos, como a origem do Universo, Orfeu e
Templo de Luxor, construído aproximadamente no século
Eurídice, Prometeu, Eros e Psiquê, os Argonautas, XIII a.C., no Egito.
Édipo, Hércules, Perseu e Medusa e Medeia, entre
outros.

PHOTOLIBRARY / LATINSTOCK
b) Outros grupos podem procurar dados sobre a con-
tribuição ao pensamento racional trazida por filósofos
como Tales, Demócrito, Heráclito, Pitágoras, Sócrates,
Platão e Aristóteles.
c) Cada grupo deve redigir sínteses de seus estudos e
afixá-las no mural da classe para que as informações
circulem entre todos.
Partenon, templo da acrópole de Atenas, construído no século
2 Fotos, desenhos, maquetes: a arquitetura grega V a.C., na Grécia.
a) Faça um painel fotográfico dos templos gregos que
ANA ARAUJO/EDITORA ABRIL

podem ser visitados ainda hoje.


b) Construa uma maquete de um templo grego típico
(veja a planta baixa na página 6). Faça desenhos das
ordens dórica e jônica.

Para aprimorar
1 (Fuvest-SP, adaptado) Leia: Palácio do Planalto, construído no século XX, em Brasília.

Cada um deve observar as religiões e os cos-


tumes, as leis e as convenções, os dias festivos e O elemento comum às construções apresentadas
as comemorações que observavam nos dias de constitui:
Dario. Cada um deve permanecer persa em seu a) um esforço de ostentação perdulária, de demonstração
modo de vida, e viver em sua cidade. Porque eu de hegemonia e de poder de grandes impérios unificados.
desejo tornar a terra bastante próspera e usar as b) uma expressão simbólica das concepções religiosas
estradas persas como pacíficos e tranquilos canais da Antiguidade, que se estenderam até os dias atuais.
de comércio. c) um aspecto da arquitetura monumental que se opõe à
Edito de Alexandre para os cidadãos concepção do homem como medida de todas as coisas.
das cidades persas conquistadas. 331 a.C.
d) um princípio arquitetônico estrutural modificado ao
longo da história por concepções religiosas, políticas e
A partir do texto, responda:
artísticas.
a) Quem foi Alexandre? e) uma comprovação do predomínio dos valores estéti-
b) Indique algumas características do helenismo. cos sobre os religiosos, políticos e sociais.
Arte na Grécia e em Roma 15
Veja, no Guia do Professor, quadro de competências e

2
habilidades desenvolvidas neste capítulo.

Capítulo
A arte em Roma

O aparecimento da cidade de Roma está envolto em lendas e mitos.


Tradicionalmente se indica, para a sua fundação, a data de 753 a.C.
Sabe-se, porém, que a formação cultural do povo romano resultou
principalmente da presença de gregos e etruscos, que ocuparam
diferentes regiões da península Itálica entre os séculos XII e VI a.C.
A arte romana sofreu duas fortes influências: a da arte etrusca, popular
e voltada para a expressão da realidade vivida, e a da greco-helenística,
Objetivos: orientada para a expressão de um ideal de beleza.

Identificar as manifestações
artísticas da Roma antiga.
CHARLES E. ROTKIN/CORBIS

Reconhecer a influência dos


etruscos e dos gregos na arte
romana.

Analisar a arquitetura romana


e, em particular, o processo de
construção de moradias.

Reconhecer a concepção
arquitetônica do teatro e do
aqueduto romanos.

Vista aérea do Coliseu, em Roma.

16 Ensino Médio
■ A arquitetura

Arte
Um dos legados culturais mais importantes dei- ■ Veja que interessante!
xados pelos etruscos aos romanos foi o uso do arco “Todos os caminhos levam a Roma”
e da abóbada* nas construções. Esse dois elementos Hoje em dia, os caminhos terrestres, aéreos
arquitetônicos permitiram aos romanos criar amplos ou marítimos levam viajantes a qualquer lugar.
espaços internos, livres do excesso de colunas. Porém, quando queremos dizer que todas as al-
Antes da invenção do arco, o vão entre uma ternativas têm a mesma solução, dizemos que
coluna e outra era limitado pelo tamanho do enta- “todos os caminhos levam a Roma”. A tradição
blamento horizontal. Esse tamanho não podia ser vem, é claro, dos tempos da antiga Roma, quan-
muito grande, pois, quanto maior a viga, maior a do a cidade dos césares era o umbigo do mundo.
tensão sobre ela, e a pedra – material mais resis- “No século I, quando o Império ia da Bretanha
tente usado nas construções da época – não supor- (na atual Inglaterra) à Pérsia (no atual Irã),
ta grandes tensões. Daí os templos gregos serem Roma chegou a ter 80 mil quilômetros de estra-
repletos de colunas, o que acarretava a redução do das”, diz a historiadora Maria Luiza Corassin,
espaço de circulação. da Universidade de São Paulo.
O arco foi uma conquista que permitiu ampliar Mas as vias romanas não eram como as
o vão entre uma coluna e outra. Nele o centro não atuais, nem seus propósitos eram os mesmos.
sofre maior sobrecarga que as extremidades, e, “Elas não se destinavam ao transporte de pes-
assim, as tensões são distribuídas de forma mais soas e cargas. Chamadas de cursus publicus,
homogênea. Além disso, como o arco é construí- eram muito mais um meio de comunicação,
do por blocos de pedra, a tensão comprime esses por onde mensageiros levavam ordens de um
blocos e lhes dá maior estabilidade. canto a outro do Império”, afirma Maria Lui-
No final do século I, Roma já havia superado za. Segundo ela, esse correio era tão eficiente
as influências grega e etrusca e estava pronta para que podia percorrer 270 quilômetros em um
desenvolver criações artísticas independentes e dia, marca que não foi superada na Europa
originais. até o século XIX.
As estradas romanas eram verdadeiros
*Abóbada: cobertura arqueada, côncava internamente, em prodígios para a engenharia da época. Eles usa-
geral construída com pedras ou tijolos apoiados uns nos ou- vam pedras e cimento acomodados sobre leitos
tros de modo a suportar o próprio peso e os pesos externos. aplainados e aterrados. As vias eram traçadas
Pode apoiar-se sobre colunas, paredes ou pilares. sempre em linha reta e passavam por cima de
lagos, pântanos e montanhas. As pedras para o
calçamento tinham superfícies curvas para faci-
MIKE SOUTHERN; EYE UBIQUITOUS/CORBIS

litar a drenagem, outra novidade para a época.


Ao largo delas havia postos de parada e descan-
so para guarnições militares.
Testemunhas do poder, da tecnologia e
do espírito conquistador dos romanos, essas
estradas não resistiram, porém, às invasões
bárbaras a partir do século III. Anos depois
da queda definitiva do Império Romano do
Ocidente, em 476, as pedras cortadas e polidas
com precisão foram utilizadas para erguer os
castelos medievais. Mas vestígios de algumas
dessas estradas ainda podem ser vistos na Bre-
tanha, por exemplo, ou em Roma, onde a prin-
cipal delas, a Via Ápia, ainda recebe todos os
anos milhões de visitantes.
“TODOS os caminhos levam a Roma”. In: Aventuras na História.
Passagem sob arco etrusco em Voltera, Itália. São Paulo: Abril. 1 nov. 2003. p. 17.

Arte na Grécia e em Roma 17


A moradia romana Ao entrar em contato com os gregos, durante
A planta das casas romanas era invariavelmente o período helenístico, os romanos apreciaram
desenhada a partir de um retângulo básico. A porta o peristilo que havia no pátio de muitas casas.
de entrada, que ficava de um dos lados menores do Zelosos de suas tradições, entretanto, não queriam
retângulo, conduzia ao átrio, um espaço central com alterar muito a planta de suas casas. Encontraram,
uma abertura retangular no telhado que permitia a por fim, uma solução para incorporar o conjunto
circulação de ar e a entrada de luz e água da chuva. de colunas que admiravam: acrescentaram, nos
Essa água era coletada pelo implúvio, um tanque fundos da casa, um peristilo em torno do qual se
colocado sob o vão do teto. Em linha reta em relação dispunham os vários cômodos; o restante da cons-
à porta de entrada, ficava o tablino, aposento princi- trução seguia o esquema tradicional.
pal da casa. Os outros cômodos também davam para

MASSIMO BORCHI/ATLANTIDE PHOTOTRAVEL/CORBIS


o átrio, mas sua disposição era menos rigorosa.

peristilo

átrio

implúvio

Planta de uma casa romana.


O peristilo, no fundo, foi um
entrada

acréscimo posterior ao contato


com os gregos. Parte dos fundos de uma casa romana com peristilo, em
Pompeia.
MASSIMO BORCHI/ATLANTIDE PHOTOTRAVEL/CORBIS

Para suas anotações:

Átrio de uma casa romana em Pompeia. O tanque sob a


abertura no teto é o implúvio.

18
18 Ensino Médio
HENRI SIVONEN

Arte
Maison Carrée (16 a.C.). Nîmes, França.

A arquitetura dos templos procurava criar espaços interiores. O Panteão,


Os romanos costumavam erigir seus templos construído em Roma durante o reinado do impe-
num plano mais elevado, de modo que a entrada rador Adriano, é certamente o melhor exemplo
só era alcançada por uma escadaria, construí- dessa diferença.
da diante da fachada principal. Esses elementos
STEVE CADMAN/FLICKR.COM

arquitetônicos – pórtico e escadaria – tornavam


a fachada principal bem distinta das laterais e do
fundo do edifício. Eles não tinham, portanto, a
mesma preocupação dos gregos: fazer os lados do
templo semelhantes dois a dois – frente e fundo;
laterais.
Assim como fizeram com as moradias, os
romanos, que apreciavam os peristilos externos
dos templos gregos, procuraram acrescentá-los ao
modelo tradicional de seu templo. Um exemplo
disso é a Maison Carrée, construída em Nîmes, na
França, no final do século I a.C.
Essa construção, além dos elementos romanos
típicos – a escadaria, o pórtico e as colunas – possui
Vista externa do Panteão (século II), em Roma.
um falso peristilo, construído com a introdução de
meias colunas embutidas nas paredes laterais e na
parede do fundo. Planejado para reunir a grande diversidade de
Mas nem todos os templos resultaram da deuses existentes em todo o Império, o Panteão,
soma da tradição romana aos ornamentos gregos. com sua planta circular fechada por uma cúpula,
Enquanto a concepção arquitetônica grega criava constitui um local isolado do exterior, onde o
edifícios para serem vistos do exterior, a romana povo se reunia para cultos.
Arte na Grécia e em Roma 19
DAIJI KEMMOCHI

■ Panteão de Agripa
Vista interior do Pan-
teão (século II). As
Depois de 500 anos de existência, expan-
cavidades quadra- são territorial galopante e progresso nas mais
das que compõem diversas áreas, o Império Romano deixou
a cúpula vão dimi-
nuindo à medida que apenas um monumento em perfeito estado de
se aproximam do conservação. É o Panteão de Agripa, um tem-
centro. Esse recurso plo dedicado a todos os deuses romanos.
aumenta a sensação
de perspectiva e ter- O nome do edifício é uma homenagem ao
mina numa abertura cônsul Marco Vispânio Agripa (63-12 a.C.),
de 9 m de diâmetro,
permitindo a entrada
que mandou realizar a obra em 27 a.C. No ano
da luz natural que tor- 80, a construção foi praticamente destruída
na o ambiente interno por um incêndio. Quatro décadas depois, o im-
claro e leve, apesar
da monumentalidade
perador Adriano (76-138) mandou reerguê-la.
da construção. “Há indícios de que o próprio Adriano foi o ar-
quiteto. Ele queria abrigar os deuses romanos e
os dos povos conquistados”, afirma o historia-
43,20 dor Manuel Rolph, da Universidade Federal
Fluminense.
Ironicamente, foi graças à Igreja católica
que a edificação pagã sobreviveu ao tempo e ao
0
21
,6 vandalismo. Em 608, após o fim do Império, o
rei bizantino Flávio Focas entregou o Panteão
ao papa Bonifácio IV (550-615), que o consa-
43,20

grou igreja cristã dedicada a Santa Maria e a


Todos os Santos.
21,60

[...]
Chama acesa
Na Roma antiga, um templo era, literal-
Secção vertical do Panteão. mente, a casa dos deuses. Cada um deles era
zelado por uma sociedade sacerdotal, que pre-
zava pela manutenção e pela segurança da es-
tátua e se responsabilizava por manter tochas
acesas em sua homenagem.
Para poucos
O lugar era imponente, mas o acesso per-
43,20
manecia restrito às autoridades políticas e re-
ligiosas. Não eram realizados rituais públicos,
e mesmo os senadores só entravam no local
para acompanhar o imperador.
Adriano, juiz sagrado
A partir do primeiro século de nossa era,
a noção de que o imperador era a própria di-
Pórtico
helenístico
vindade ganhou força. Adriano era associado
a Hélios, o deus sol, e como tal podia usar o
templo. Ele fez do Panteão um tribunal, onde
Planta do Panteão. realizou diversos julgamentos.

20
20 Ensino Médio
O anfiteatro, diferentemente, caracteriza-se por

Arte
Fachada grega um espaço central elíptico, onde se dá a apresenta-
A obra segue a influência helenísti- ção. Circundando esse espaço há um auditório, com-
ca, como se percebe na fachada com co- posto de um grande número de filas de assentos que
lunas gregas. Sobre elas, está a inscrição forma uma arquibancada. Um exemplo é o Coliseu
“M.AGRIPPA.L.F.COS.TERTIUM.FECIT”, (ver imagem na página 16), certamente o mais belo
que significa: “Construído por Marco Agripa, dos anfiteatros romanos, cuja construção começou
filho de Lúcio, pela terceira vez cônsul”. no reinado de Vespasiano, em 72 d.C., e terminou
Entidades sobrepostas em 82 d.C. pelo imperador Domiciano. Esse anfitea-
tro de enormes proporções chegava a acomodar 40
Apesar de ser dedicado aos deuses em
mil pessoas sentadas e mais de 5 mil em pé.
geral, o local não abrigava estátuas de todos.
Externamente, o edifício era ornamentado por
Por dois motivos: em primeiro lugar, o pró-
esculturas, que ficavam dentro dos arcos, e por três
prio formato circular do edifício já indicava
ordens de colunas gregas. Essas colunas, na verdade,
seu caráter ecumênico. Além disso, cada deus
eram meias colunas, pois ficavam presas à estrutura
representava outros. Vênus, por exemplo, cor-
das arcadas. Não tinham, assim, a função de susten-
respondia à Afrodite grega e à Isis egípcia.
tar a construção, mas apenas de ornamentá-la.
DUARTE, Maria Dolores. Panteão de Agripa.
In: Aventuras na História. São Paulo: Abril. 1 jan. 2009. p. 16-7.

■ Os bastidores do Coliseu
A concepção arquitetônica do teatro Numa das cenas mais espetaculares do fil-
Graças ao uso de arcos e abóbadas, que me Gladiador, tigres saltam para fora de alça-
herdaram dos etruscos, os romanos construí- pões que se abrem no piso do Coliseu. Sabe-se
ram edifícios – sobretudo anfiteatros* – bastante por meio de textos antigos que o aparecimento
amplos. Destinados a abrigar muitas pessoas, os súbito de feras na arena era um recurso cêni-
anfiteatros alteraram significativamente a planta co bastante usado nas lutas de gladiadores na
do teatro grego. Assim, usando ordens de arcos Roma imperial. Mas não se sabia como isso era
sobrepostas, os construtores romanos obtiveram feito — pelo menos até agora. Um grupo de ar-
apoio para construir o local destinado ao público queólogos alemães [...] conseguiu identificar nas
– o auditório. ruínas da construção do século I a maquinaria
Com essa solução arquitetônica, não era responsável pela movimentação de gladiadores,
mais necessário assentar a obra nas encostas de animais e cenários. O maior anfiteatro da Ro-
colinas, como faziam os gregos. A primeira con- ma antiga, com capacidade para 55 000 espec-
sequência disso foi a possibilidade de construir tadores, dispunha de 28 elevadores com jaulas
tais edifícios em qualquer lugar, sem depender para animais e vinte plataformas móveis para
da topografia. o transporte de cenários e cargas pesadas.
O povo romano apreciava as lutas de gladia- Tais recursos permitiam aos romanos co-
dores. A maior liberdade adquirida para a cons- locar na arena leões, tigres ou ursos (os ani-
trução favorecia esse espetáculo, que podia ser mais prediletos dos jogos), montar florestas
visto de qualquer ângulo. Esse foi outro motivo artificiais, paisagens e palácios cenográficos
que levou os romanos a abandonar as construções para servir de pano de fundo à carnificina dos
com um palco de frente para um auditório dispos- duelos. Em algumas superproduções, parte do
to em semicírculo. piso da arena era retirada, expondo corredores
inundados no subsolo. Batalhas navais eram
*Anfiteatro: do grego amphí (dois) e téathron (tea- encenadas nessas piscinas artificiais, com 1,5
tro). Significa “teatro com acentos dos dois lados do metro de profundidade.
palco”. Na Roma antiga, era o espaço oval ou circular Os porões do Coliseu são um labirinto
destinado a espetáculos públicos, combates de feras ovalado, com 76 metros de comprimento e 44
ou de gladiadores, jogos e representações teatrais. de largura. Os corredores mais profundos esta-

Arte na Grécia e em Roma 21


As obras públicas
vam 6,5 metros abaixo do piso da arena. Des- A arte romana revela-nos um povo de gran-
de as primeiras escavações, no século XVIII, os de espírito prático: por onde passou, estabeleceu
arqueólogos tentam entender qual é a função colônias e construiu casas, templos, termas, aque-
do emaranhado de corredores e câmaras do dutos, mercados e edifícios governamentais. Uma
subsolo. No século XIX, surgiu a hipótese de das mais representativas obras da construção civil
que os animais eram içados dos porões com o dos romanos é o aqueduto conhecido até nossos
auxílio de elevadores. “O problema é que todos dias por Le Pont du Gard.
os mecanismos propostos eram muito compli- Erguido no século I a.C., esse aqueduto de
cados ou simplesmente impossíveis de ser exe- 50 quilômetros de extensão conduzia até Nîmes,
cutados”, diz o arquiteto alemão Heinz-Jürgen cidade que hoje pertence à França. A parte dessa
Beste, especialista em construções antigas e obra que mais chama a atenção é a ponte sobre
coordenador da pesquisa no Coliseu. o rio Gardon: com 48,77 metros de altura, três
Durante três anos, Beste e sua equipe ordens de arcos, ela está apoiada em pilares cra-
mediram as paredes e identificaram os locais vados nas rochas. Um aspecto de grande beleza
onde tais estruturas eram armadas. Essa tec- da construção são os arcos que criam as áreas
nologia cênica ajudou a transformar as lutas vazadas, as quais dão leveza à ponte e contrastam
de gladiadores na mais espetacular forma de com a solidez e a imponência que uma obra de
entretenimento do mundo antigo. Por quase engenharia do Império Romano deveria ter.
400 anos, o Coliseu foi o principal centro de
JOSÉ ANTONIO DOS SANTOS

diversão de Roma. Serviu de modelo para 186


outros anfiteatros construídos nos quatro can-
tos do Império Romano. Estima-se que, a cada
ano, 1 000 pessoas, entre criminosos, gladia-
dores e inimigos do regime, morriam diante do
público no Coliseu. Em apenas uma das cele-
brações, promovida pelo imperador Trajano,
em 107, lutaram na arena 10 000 gladiadores
e foram massacrados 11 000 animais num fes-
tival que durou 123 dias. Uma encenação con-
duzida com crueldade e eficácia tecnológica,
condizente com a imponência do Coliseu.
TEICH, Daniel Hessel. Os bastidores do Coliseu.
In: Veja. São Paulo: Abril, 17 dez. 2003. p. 126.
JOSÉ ANTONIO DOS SANTOS

Detalhe do aqueduto de Le Pont Du Gard.

Projeto de Pesquisa

Acesse o Material Complementar disponível no Portal


Aqueduto de Le Pont du Gard, na França. e aprofunde-se no assunto.

22
22 Ensino Médio
Para construir 4 Esta maquete, exposta no Museu da Civilização

Arte
Romana (Roma, Itália), retrata a cidade antiga de
1 Explique, comparando, o tipo de influência das Roma.
artes grega e etrusca na arte de Roma.

MUSEO DELLA CIVILTÀ, ROMA.


A arte grega influenciou a arte romana marcadamente pelo
ideal de beleza, enquanto a arte etrusca, mais popular, trouxe
aspectos práticos associados à realidade.

2 Explique a importância dos arcos e abóbadas Revista História Viva, ano I, nº- 2. Duetto Editorial.
para a arquitetura romana, em especial na constru-
ção de anfiteatros. Você viu no texto do capítulo alguns dos monu-
Os arcos e as abóbadas possibilitavam construções com mentos representados na imagem. Descreva as
maiores vãos livres, evitando o uso excessivo de colunas.
características arquitetônicas dessas edificações.
Há construções compostas de arcos, como o Coliseu. Com a
estrutura em arcos, os teatros não precisam mais se apoiar
em encostas de montanhas. Também é possível observar a
influência da arquitetura grega pela forma dos edifícios,
telhados e colunatas.

3 Aponte a solução encontrada pelos romanos


para construir casas incorporando o estilo das
moradias gregas.
Os romanos apreciavam muito a flexibilidade e a elegância
das casas gregas e admiravam sobretudo o peristilo – galeria
de colunas em torno de um pátio existente em muitas
moradias. Para incorporar os elementos que admiravam,
acrescentaram, nos fundos da casa, um peristilo em torno do
qual se dispunham vários cômodos.

■ Para praticar: 1 e 2

Arte na Grécia e em Roma 23


■ A pintura e o mosaico
A maior parte das pinturas romanas que ■ Volubilis: o Império Romano
conhecemos hoje provém das cidades de Pompeia na África
e Herculano, soterradas pela erupção do Vesúvio A cidade de Volubilis foi estabelecida pelo
em 79 d.C, e cujas ruínas foram descobertas no Império Romano no norte da África por volta
século XVIII. do século III a.C. Além de ser um importante
Essas pinturas faziam parte da decoração centro administrativo do Império para a re-
interna dos edifícios e podem ser apreciadas em gião, representava um considerável fornecedor
painéis que recobriam as paredes das casas. Era de grãos para Roma.
costume no século II a.C. recobrir as paredes com Desde 1997, Volubilis é um sítio arqueo-
uma camada de gesso pintado, que dava a impres- lógico considerado Patrimônio da Huma-
são de placas de mármore. Mais tarde, pintores nidade pela Unesco pelo fato de suas ruínas
romanos perceberam que o gesso podia ser dis- serem muito bem preservadas. Um exemplo é
pensado, pois a ilusão do mármore podia ser dada o marco arquitetônico que vemos aqui: uma
apenas pela pintura. provável moradia em que é possível apreciar,
Nos painéis, podiam-se criar também a ilusão de com bastante clareza, a arte do mosaico apli-
janelas abertas, por onde eram vistas paisagens com cada ao piso.
animais, aves e pessoas; barrados sobre os quais apa-
recem pessoas sentadas ou em pé, formando grandes
GLYCÉRIO PROENÇA
pinturas murais; ou, ainda, conjuntos que valoriza-
vam a delicadeza dos pequenos detalhes.
BLUFFTON UNIVERSITY, OHIO

Piso de uma das casas do sítio arqueológico de


Volubilis, nas ruínas romanas de Marrocos.
GÉRARD DEGEORGE/CORBIS

Pintura mural no interior da Casa do Vettii (meados do século


I a.C.), em Pompeia.

Os romanos são considerados verdadeiros mes-


tres na arte do mosaico, cujos exemplos de maior
valor artístico também são os que decoram os edifí-
cios de Pompeia. Trata-se de uma técnica diferente
da pintura, mas que, assim como esta, ornamenta as
obras arquitetônicas.
Tanto na pintura como no mosaico, os artistas
romanos, ora de maneira rústica mas alegre, ora de
maneira segura e brilhante, souberam misturar rea- Mosaico feito no piso de uma das casas do sítio arqueo-
lismo e imaginação. Suas obras ocuparam grandes lógico de Volubilis, nas ruínas romanas do Marrocos.
espaços nas construções, complementando ricamente
a arquitetura.
24
24 Ensino Médio
■ A escultura A preocupação romana com representações

Arte
Embora grandes admiradores da arte grega, bastante realistas pode ser observada não só nas
os romanos, por temperamento, eram muito dife- estátuas de imperadores, mas também nos relevos
rentes dos gregos. Por serem realistas e práticos, esculpidos nos monumentos erguidos para celebrar
suas esculturas são, em geral, uma representação algum feito importante do Império Romano. Entre
fiel das pessoas, e não a de um ideal. esses monumentos comemorativos destacam-se a
Ao entrar em contato com os gregos, os Coluna de Trajano e a Coluna de Marco Aurélio.
escultores romanos sofreram forte influência das A Coluna de Trajano, construída no século I da
concepções helenísticas da arte, ainda que não era cristã, narra as lutas do imperador e dos exérci-
abdicando de um interesse muito próprio: repre- tos romanos na Dácia. O imenso número de figuras
sentar os traços característicos do retratado. O esculpidas em relevo faz da obra um importante
resultado desse contato foi uma acomodação entre documento histórico em pedra. Pela expressivi-
a concepção artística romana e a grega. dade das figuras e das cenas, ela adquire também
É possível compreender melhor isso ao observar grande valor artístico.
a estátua do primeiro imperador romano, Augusto, Erguida menos de um século depois, a Coluna
feita por volta de 19 a.C. de Marco Aurélio celebra o êxito dos romanos
O escultor usou o Doríforo, do grego Policleto, contra um dos povos bárbaros. Como seu trabalho
como referência (veja imagem na página 5), mas em relevo é mais profundo que o da Coluna de
com algumas alterações, adaptando a obra ao gosto Trajano, é possível observar melhor as figuras que
romano. Assim, procurou captar as feições reais de representam os romanos e os barbáros.
Augusto e vestiu o modelo com uma couraça e uma
AKG-IMAGES/PETER CONNOLLY

capa romanas. Além disso, posicionou a cabeça e o


braço do imperador de forma que ele parece dirigir-
-se firmemente aos seus súditos, sugerindo movi-
mento. Isso foi possível graças às oposições criadas
pelo artista: um braço levantado, outro dobrado;
uma perna estendida, outra flexionada; e mais para
trás um lado do quadril ligeiramente curvo e pro-
jetado para a frente, com o outro mais estendido.
Essa ideia é acentuada pela postura dos pés e das
pernas. Sua perna e seu pé direitos plantados no solo
apoiam o corpo, dando-lhe firmeza. A perna esquer-
da flexionada e apenas alguns dedos do pé apoiados Detalhe da Coluna de Trajano.
no solo sugerem que o imperador está prestes a dar
um passo à frente.
AKG-IMAGES
ARALDO DE LUCA/CORBIS

Augusto de Prima Por-


ta (cerca de 19 a.C.).
Altura: 2,04 m. Mu-
seu Chiaramonti, Vati-
cano. (Reveja a foto de
Doríforo da página 5 e Detalhe da Coluna de Marco Aurélio, Roma. Construída duran-
compare.) te o período que vai de 180 a 193. Altura do friso: 1,30 m.

Arte na Grécia e em Roma 25


Depois das primeiras décadas do século III,
os imperadores romanos começaram a enfrentar ■ A escultura greco-romana e
tanto lutas internas pelo poder quanto a pressão a cor
dos povos bárbaros que, cada vez mais, investiam
Estamos tão habituados a ver as escultu-
contra as fronteiras do Império. Com isso, o inte-
ras greco-romanas na cor original do mármo-
resse pelas artes diminuiu e poucos monumentos
re, que nos é praticamente impossível imagi-
foram erguidos por ordem do Estado.
nar que elas tenham sido, um dia, coloridas.
Começava a decadência do Império Romano
Em nossa cultura, essa monocromia das es-
que, no século V – precisamente em 476 –, perdeu
tátuas clássicas tornou-se sinônimo de bom
o domínio sobre o vasto território do Ocidente
gosto estético.
para os imperadores germânicos.
Entretanto, há muito tempo se sabe que
elas eram originalmente coloridas e que os
Visite os sites pigmentos aplicados sobre o mármore não re-
■ Museu Arqueológico Nacional de Nápoles
sistiram à ação do tempo. Para chegar às cores
www.marketplace.it/museo.nazionali/ (em inglês ou
originais, arqueólogos e outros especialistas
italiano). Acesso em: 27 maio 2010.
dedicaram-se a vários estudos, lançando mão
■ Ministério da Cultura Italiano (Ministero per i Beni
de modernos equipamentos que permitiram
e le Attività Culturali)
detectar fragmentos de pigmentos.
www.beniculturali.it (em italiano). Acesso em: 27
maio 2010.
O resultado desse trabalho foi a público
em 2004, numa exposição organizada pelo
Museu do Vaticano, em Roma. Na ocasião,
Para construir foram exibidas réplicas coloridas de impor-
tantes obras da Antiguidade, como a escultu-
5 As cidades de Pompeia e Herculano foram soter- ra Augusto de Prima Porta, escolhida para o
radas pela erupção do vulcão Vesúvio, no ano 79, cartaz de divulgação da exposição.
e as ruínas foram descobertas apenas no século
XVIII. Por isso, detalhes das construções foram
preservados da ação do tempo. Descreva técnicas
e características da decoração interna dos edifícios Para praticar
dessas antigas cidades.
O interior dos edifícios era ornamentado com pinturas e 1 Você viu que a cultura romana foi fortemente
mosaicos. As pinturas eram feitas sobre as paredes das influenciada por gregos e etruscos. Também já
casas. Pintavam-se paisagens, animais e pessoas, estudou elementos da cultura grega. Elabore,
enfatizando-se os detalhes, entre barrados horizontais.
então, uma pesquisa sobre os etruscos. Considere
os seguintes aspectos: sua localização geográfica;
Os mosaicos – painéis feitos com fragmentos de pedras
a época em que viveu esse povo; sua organização
coloridas sobre superfície de gesso ou argamassa – também
social e política; os principais legados para a arte
decoravam os edifícios de Pompeia.
romana; exemplos de obras de arte. Selecione tex-
tos sobre o assunto, obtenha imagens e exponha o
seu trabalho para a classe depois.
6 Compare a escultura romana à escultura grega,
destacando as diferenças. 2 Reflexão e debate: a arquitetura dos templos
A escultura grega tinha por princípio o ideal de beleza. Os a) Pesquise em livros sobre religiões (por exemplo,
romanos expressavam seu espírito prático e realista na arte. Para entender as religiões, de John Bowker, da Editora
Assim, as esculturas eram geralmente representações fiéis Ática) o conceito de religião dos gregos e romanos.
das pessoas, sem a preocupação com o ideal de beleza. Verifique se esse conceito se manifesta na concepção
arquitetônica dos templos desses povos.
b) Discuta com os colegas as seguintes questões:
■ Para aprimorar: 1 a 3 Como são os templos hoje em dia? As igrejas têm algu-
ma preocupação arquitetônica? Por quê?
26
26 Ensino Médio
Para aprimorar a) ao recrutamento de soldados gregos pelos monarcas

Arte
persas e egípcios.
1 (UFPE) Assinale verdadeiro (V) ou falso (F). Na b) à colonização grega, semelhante à realizada na Sicília
Antiguidade, a busca pela superação das dificulda- e Magna Grécia.
des naturais acontecia ao mesmo tempo que eram c) à expansão comercial egípcia no Mediterrâneo
criadas manifestações culturais que visavam sim- Oriental.
bolizar o conteúdo dessa luta. Nas manifestações d) à dominação persa na Grécia durante o reinado de
artísticas dessa época, pode-se constatar: Dario.
( ) a predominância de obras arquitetônicas reli- e) ao helenismo, resultante das conquistas de Alexandre.
giosas, marcadas pela grandiosidade.
( ) de uma maneira geral, a inexistência de tra- 3 (Unicamp-SP 2005, adaptado) Leia:
balhos de pintura, destacando-se apenas algumas
obras religiosas no Egito. Se Roma existe, é por seus homens e seus
( ) a expressiva presença das construções da hábitos. Sem nossas instituições antigas, sem nossas
arquitetura grega, que buscavam a harmonia e o tradições venerandas, sem nossos singulares heróis,
equilíbrio. teria sido impossível aos mais ilustres cidadãos
( ) a originalidade da arte romana, expressa em fundar e manter, durante tão longo tempo, a nossa
suas esculturas majestosas e seus palácios monu- República.
mentais. Adaptado de: Cícero. Da República. In: Os pensadores, v. 5.
( ) a ausência de construções relacionadas com São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 184.

aspectos não religiosos.


A expansão, ocorrida durante a República, fez com
2 (Fuvest-SP) Quando, a partir do final do último que os romanos tivessem contato com o mundo hele-
século a.C., Roma conquistou o Egito, e áreas da nista e incorporassem alguns costumes e tradições. O
Mesopotâmia, encontrou nesses territórios uma forte que foi o helenismo e qual sua importância na Roma
presença de elementos gregos. Isto foi devido: republicana?
Para suas anotações:

Arte na Grécia e em Roma 27


Veja, no Guia do Professor, quadro de competências e

3
habilidades desenvolvidas neste capítulo.
Capítulo
A arte cristã
primitiva
A arte cristã primitiva, de início rude e simples nas catacumbas e
depois mais rica e amadurecida nas basílicas, prenuncia as mudanças
que marcaram uma nova época na história da humanidade. A arte
cristã que surge nas catacumbas em Roma não é feita pelos grandes
artistas romanos, mas por simples artesãos. Essas pinturas indicam a
relação entre arte e doutrina cristã, desenvolvida e firmada na Idade
Média.
Objetivos:
AKG-IMAGES/PIROZZI

Identificar as primeiras
pinturas cristãs.

Reconhecer a importância das


catacumbas para a história da
arte cristã.

Perceber a evolução da pintura


dos cristãos: das catacumbas
às grandes basílicas.

Imagem de Moisés pintada na catacumba de Via Anapo, em Roma.

28 Ensino Médio
■ A arte das catacumbas mais tarde, começaram a aparecer cenas do Antigo

Arte
Após a morte de Jesus Cristo, seus discí- e do Novo Testamento. Mas o tema predileto
pulos passaram a divulgar seus ensinamentos. dos artistas cristãos era a figura de Jesus Cristo, o
Inicialmente, essa divulgação restringiu-se à Judeia, Redentor, representado como o Bom Pastor.
província romana onde Jesus viveu e morreu, mas, É importante notar que essa arte cristã primiti-
depois, a comunidade cristã começou a dispersar-se va não era executada por grandes artistas, mas por
por várias regiões do Império Romano. A primeira homens do povo, convertidos à nova religião. Daí
grande perseguição aos cristãos aconteceu no ano sua forma rude, às vezes grosseira, e, sobretudo,
de 64, durante o governo do imperador Nero. Num muito simples.
espaço de 249 anos, houve mais nove perseguições;

AKG-IMAGES/PIROZZI
a última e mais violenta ocorreu entre 303 e 305,
sob o governo de Diocleciano.
Por causa dessas perseguições, os primeiros
cristãos de Roma enterravam seus mortos em gale-
rias subterrâneas, denominadas catacumbas. Dentro
dessas galerias, o espaço destinado a receber o corpo
das pessoas era pequeno. Os mártires, porém, eram
sepultados em locais maiores, que passaram a rece-
ber em seu teto e em suas paredes laterais as primei-
ras manifestações da pintura cristã.
ARCHIVO ICONOGRÁFICO,S.A./CORBIS

Pintura mural das catacumbas de São Calixto, em Roma


(século II).
AKG-IMAGES/PIROZZI

Capela grega das catacumbas de Priscila, em Roma


(século II).

Inicialmente essas pinturas limitavam-se a


representações dos símbolos cristãos: a cruz —
símbolo do sacrifício de Cristo; a palma — símbolo
do martírio; a âncora — símbolo da salvação; e o Bom Pastor. Pintura mural das catacumbas de Priscila, em
peixe — símbolo preferido dos artistas cristãos, pois Roma (século II).

as letras da palavra “peixe” em grego (ichtys) coin-


cidiam com a letra inicial de cada uma das palavras Projeto de Pesquisa
da expressão Iesous Christos, Theou Yios, Soter, que
significa “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”. Acesse o Material Complementar disponível no Portal
Essas pinturas cristãs também evoluíram e, e aprofunde-se no assunto.

Arte na Grécia e em Roma 29


■ A arte do cristianismo oficial Para construir
As perseguições aos cristãos foram aos pou-
cos diminuindo até que, em 313, o imperador 1 Explique a evolução da pintura cristã.
Constantino permitiu que o cristianismo fosse Inicialmente a pintura cristã se limitava a representações dos
livremente professado e converteu-se à religião. símbolos do cristianismo, como a cruz (símbolo do sacrifício
Sem as restrições do governo de Roma, o cris- de Cristo), a âncora (símbolo da salvação) e o peixe (símbolo
tianismo expandiu-se muito, principalmente nas preferido dos cristãos). Depois essas pinturas evoluíram e,
cidades, e, em 391, o imperador Teodósio oficiali- mais tarde, começaram a aparecer cenas do Antigo e do Novo
zou-o como a religião do Império.
Testamento. Mas o tema predileto dos artistas cristãos era a
Começaram a surgir então os primeiros tem-
figura de Jesus Cristo.
plos cristãos. Externamente, esses templos man-
tiveram as características da construção romana
destinada à administração da justiça e chegaram
mesmo a conservar o seu nome — basílica. Já
internamente, como era muito grande o número 2 Quais eram as principais características dos pri-
de pessoas convertidas à nova religião, os cons- meiros templos cristãos?
trutores procuraram criar amplos espaços e orna- Externamente, eles mantiveram as características da
mentar as paredes com pinturas e mosaicos que construção romana destinada à administração da justiça. Já
ensinavam os mistérios da fé aos novos cristãos e internamente, como era muito grande o número de pessoas
contribuíam para o aprimoramento de sua espiri- convertidas ao cristianismo, os construtores procuraram
tualidade. Além disso, o espaço interno foi organi- criar amplos espaços e ornamentar as paredes com pinturas
zado de acordo com as exigências do culto. e mosaicos que ensinavam os mistérios da fé aos novos
A basílica de Santa Sabina, construída em cristãos.
Roma entre 422 e 432, por exemplo, apresenta uma
nave central ampla, onde ficavam os fiéis durante
as cerimônias religiosas. Esse espaço é limitado nas
laterais por uma sequência de colunas com capitel
coríntio, combinadas com belos arcos romanos.
A nave central termina num arco, chamado arco ■ Para praticar: 1
Para aprimorar: 1
triunfal, e atrás do altar-mor encontra-se uma

abside, recinto semicircular situado na extremida-


de do templo. Tanto o arco triunfal como o teto da
abside foram recobertos com pinturas retratando Para praticar
personagens e cenas da história cristã.
1 Explique por que a pintura feita pelos cristãos
WWW.CBCQ.GOUV.QC.CA

dos primeiros séculos depois de Cristo é conside-


rada primitiva.

Para aprimorar

1 Muitas vezes, ao longo da história, pintores e


escultores representaram cenas bíblicas e epi-
sódios da vida dos santos, procurando divulgar
ideias, valores e crenças religiosas. Em sua opi-
nião, a arte deixa de ser arte ao se associar tão
estreitamente à religião? E quanto à literatura? É
aceitável que se faça essa associação? O grupo se
Basílica de Santa Sabina, em Roma (422–432). lembra de obras da literatura brasileira que tenham
esse comprometimento com a religião?
30
30 Ensino Médio
Referências bibliográficas

Arte
■ ARTE nos séculos. São Paulo: Abril, 1969. 7 v. ■ HAUSER, A. História social da literatura e da arte. São
■ BRONOWSKI, J. A escalada do homem. São Paulo: Paulo: Mestre Jou, 1972. v. 1.
Martins Fontes; Brasília: Ed. UnB, 1983. ■ HISTÓRIA da arte. São Paulo: Salvat, 1978. 10 v.
■ BURNS, Edward McNall. História da civilização ociden- ■ HISTÓRIA das civilizações. São Paulo: Abril, 1975.
tal. Porto Alegre: Globo, 1971. v. 2. v. 1.
■ CABANNE, Pierre. Dictionnaire des arts. Paris: Bordas, 1979. ■ JANSON, H. W. Histoire de l’art. Paris: Cercle d’Art,
■ CAVALCANTI, Carlos. História das artes. Rio de 1970.
Janeiro: Civilização Brasileira, 1970. v. 2. ■ PISCHEL, Gina. História universal da arte. São Paulo:
■ CLARK, Kenneth. Civilisation. Paris: Hermann et Vera Melhoramentos, 1966. v. 1-2.
Lounsbery, 1974. ■ WOODFORD, Susan. Grécia e Roma. Rio de Janeiro:
■ ENCICLOPÉDIA dos Museus. São Paulo: Melhora- Zahar, 1983. (Col. Introdução à História da Arte da
mentos, 1968. 14 v. Universidade de Cambridge)
■ GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: ■ ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. São Paulo: Martins
LTC, 2000. Fontes, 1978.

Gabarito
Capítulo 1 – A arte na Grécia 3. O helenismo se caracterizava, basicamente, pela fu-
■ Para praticar, página 15 são de elementos gregos e orientais. Sua importância
1. Resposta pessoal. em Roma se encontra em elementos religiosos, arqui-
2. Resposta pessoal. tetônicos e na busca por um ideal de beleza expresso
■ Para aprimorar, página 15 pela união entre a concepção grega e a romana (na
a) Alexandre, filho e sucessor de Felipe II, foi rei da escultura, por exemplo).
Macedônia. Durante seu governo, através de conquis- Capítulo 3 – A arte cristã primitiva
tas territoriais, construiu um gigantesco império. ■ Para praticar, página 30
b) O termo helenismo é usado para designar a cultura 1. Os cristãos eram perseguidos e se escondiam nas
que se desenvolveu nos territórios conquistados por catacumbas. Não dispunham de material para produ-
Alexandre. Ela se caracterizava, basicamente, pela fu- zir uma arte como a que era feita pelos grandes artis-
são de elementos gregos e orientais. tas romanos. Os artistas de catacumbas eram simples
2. d artesãos. Por isso, sua arte não tem as mesmas quali-
Capítulo 2 – A arte em Roma dades estéticas da arte pagã. A arte cristã amadureceu
■ Para praticar, página 26 com o tempo a partir das construções das primeiras
1. Resposta pessoal. basílicas.
2. Atividade de pesquisa. Resposta pessoal.
■ Para aprimorar, página 27 ■ Para aprimorar, página 30

1. 1. V, F, V, F, F. 1. V, F, V, F, F.
2. e 2. Resposta pessoal.
Arte na Grécia e em Roma 31
ALUNO - 2137581

ARTE
Arte bizantina e românica
Graça Proença

ENSINO
MÉDIO
Gerência editorial
Mônica Vendramin Sumário
Edição
Aparecida Mazão (coordenação),
Bárbara Muneratti de Souza
Arte bizantina e românica
Assistência editorial
Solange A. de Almeida Francisco
1 A arte bizantina, 3
Colaboração
Fabiana Manna da Silva
Império Romano do Oriente, 4
Revisão Arte que expressa riqueza e poder, 4
Hélia de Jesus Gonsaga (gerente), Kátia Scaff A arte bizantina em Ravena, 9
Marques (coordenação), Patrícia Travanca,
Rosângela Muricy Os ícones bizantinos, 10
Pesquisa iconográfica
Sílvio Kligin (coordenação), Caio Mazzilli, 2 A arte românica, 13
Josiane Camacho Laurentino A arte no Império Carolíngio, 14
Programação visual (miolo)
Kraft Design
O estilo românico na arquitetura, 15
Edição de arte
O estilo românico na pintura, 19
Margarete Gomes (supervisão), Rosimeire Tada,
Amilton Ishikawa, Magali Prado
Editoração eletrônica
AGA Estúdio / lab 212
Capa
lab 212
Imagens de capa
Golden Sikorka / Sentavio / TarikVision / Shutterstock
Colaboraram para esta Edição
Cristiane Queiroz, Juliana Setem, Raquel Sanches,
Rosiane Botelho, Sergio Amstalden, Simone Savarego,
Talita Perazzo, Thiago Brentano, Valdete Reis e lab 212.
Dados Internacionais de
Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Proença, Graça
Sistema de ensino ser : artes : 1º ano :
aluno / Graça Proença. -- 3. ed. -- São Paulo :
Ática, 2017.

1. Arte (Ensino médio) I. Título.

16-08225 CDD-700

Índices para catálogo sistemático:


1. Arte : Ensino médio 700

3ª- edição
1ª- impressão
2016

ISBN 978 85 08 18402 6 (aluno)


ISBN 978 85 08 18403 3 (professor)

Impressão e acabamento

Uma publicação

MARIA DAS GRAÇAS VIEIRA PROENÇA DOS SANTOS


Todos os direitos reservados por
Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
Somos Educação S.A.
Avenida das Nações Unidas, 7221
de Sorocaba (FFCL) e em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e
Pinheiros – São Paulo – SP Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo.
CEP: 05425-902 Pós-graduada em Estética pelo Departamento de Filosofia da Universidade
(0xx11) 4383-8000 de São Paulo.
© Somos Sistema de Ensino S.A.
Foi professora da rede particular e pública de ensino do estado de São Paulo.

2
1
Veja, no Guia do
Professor, quadro
Capítulo
A arte bizantina de competências

Arte
e habilidades
desenvolvidas
neste capítulo.

Bizâncio era uma antiga colônia grega localizada entre a Europa e a


Ásia, no estreito de Bósforo. Nesse local, no ano 330, o imperador
Constantino fundou a cidade de Constantinopla, que, com uma
localização privilegiada, viria a ser palco de uma síntese das culturas
greco-romana e oriental. O termo bizantino deriva de Bizâncio e
designa a criação cultural não só de Constantinopla, mas de todo o
Império Romano do Oriente.
Objetivos:
ANNE E HENRI STIERLIN/KONEMANN

Conceituar e caracterizar a
arte bizantina.

Identificar as convenções
estabelecidas na arte de
Bizâncio.

Caracterizar a pintura,
os mosaicos e os ícones
bizantinos.

Inferir que a arte bizantina


estava a serviço da Igreja e do
imperador.

Cúpula da basílica de Santa Sofia, em Istambul, antiga Bizâncio.

Arte bizantina e românica 3


■ Império Romano do Oriente indicação de como deveriam ser os gestos, como
Em 395, o imperador Teodósio dividiu em deveriam estar posicionadas as mãos, os pés, as
duas partes o imenso território que dominava: o dobras das roupas e os símbolos.
Império Romano do Ocidente e o Império Romano As personalidades oficiais e as personagens
do Oriente. sagradas eram retratadas de forma semelhante,
O Império Romano do Ocidente, cuja capital como se compartilhassem as mesmas caracte-
era Roma, sofreu sucessivas ondas de invasões até rísticas. O imperador Justiniano e a imperatriz
cair completamente em poder dos bárbaros, no Teodora eram representados com a cabeça aureo-
ano de 476, data que marca o fim da Idade Antiga lada, símbolo usado para caracterizar as figuras
e o início da Idade Média. sagradas, como Cristo, os santos e os apóstolos.
O Império Bizantino — como acabou sendo As personagens sagradas, por sua vez, eram repro-
denominado o Império Romano do Oriente — duzidas com as características das autoridades do
alcançou seu apogeu político e cultural durante o Império. Cristo, por exemplo, aparecia como um
governo do imperador Justiniano, que reinou de rei e Maria, como uma rainha. Da mesma forma,
527 a 565. Apesar das contínuas crises políticas, a situações típicas da corte eram transpostas para as
unidade do Império foi mantida até 1453, quan- representações dos santos.
do os turcos tomaram a capital Constantinopla. No mosaico reproduzido na página 5, observa-se
Marca-se, assim, o início de um novo período a procissão de santos e apóstolos que se aproximam
histórico: a Idade Moderna. de Cristo com a mesma solenidade dedicada ao impe-
rador nas cerimônias da corte.
■ Arte que expressa riqueza e

IGREJA DE SAN VITALE, RAVENA


poder
O momento de esplendor da capital do Impé-
rio Bizantino coincidiu historicamente com a ofi-
cialização do cristianismo. A partir daí, a arte cristã
primitiva, que era popular, simples, foi desenvol-
vendo um caráter majestoso, expressão de poder e
riqueza.
A arte bizantina tinha o objetivo de expressar
a autoridade absoluta do imperador, considerado
sagrado, representante de Deus e com poderes
temporais e espirituais.
Para que esse objetivo fosse atingido, uma
série de convenções foi estabelecida — tal como
ocorrera na arte egípcia. Uma dessas regras era
a da frontalidade, uma vez que a postura rígida
da personagem representada leva o observador
a uma atitude de respeito e veneração. Assim, o
artista, quando reproduz frontalmente as figu-
ras, demonstra respeito pelo observador, que vê
nos soberanos e nas personagens sagradas seus
senhores e protetores.
Além da frontalidade, outras regras minucio- Detalhe de mosaico em estilo bizantino (547-548) que
sas foram impostas aos artistas pelos sacerdotes, mostra o imperador Justiniano. Igreja de São Vital, em
Ravena, Itália. Repare na auréola que recobre a cabeça
tais como a determinação do lugar de cada per- da autoridade.
sonagem sagrada na composição de uma obra e a
4 Ensino Médio
JAMES MACDONALD

Arte
Procissão dos mártires, mosaico na parede interna da basílica de San Apollinare Nuovo, em Ravena (500-526).

■ Mosaico: o luxo e a suntuosidade em pedras coloridas


O mosaico consiste na colocação, lado a lado, Assim, as paredes e as abóbadas das igre-
de pequenos pedaços de pedras de cores diferentes jas, recobertas de mosaicos de cores intensas e
sobre uma superfície de gesso ou argamassa. Essas de materiais que refletem a luz em reflexos dou-
pedrinhas coloridas são dispostas de acordo com rados, conferem uma suntuosidade ao inte-
um desenho previamente planejado. A seguir, a rior dos templos que nenhuma época conseguiu
superfície recebe uma solução de cal, areia e óleo reproduzir.
que preenche os espaços vazios, aderindo melhor ED. TAB CART, RAVENA

os pedacinhos de pedra. Como resultado obtém-se


uma obra semelhante à pintura.
Os gregos usavam os mosaicos principal-
mente nos pisos. Já os romanos utilizavam-nos
na decoração, demonstrando habilidade na com-
posição de figuras e no uso da cor. Na América, os
povos pré-colombianos, principalmente os maias
e astecas, criaram belíssimos murais com pedaci-
nhos de quartzo, jade e outros minerais.
Mas foi com os bizantinos que o mosaico
atingiu sua mais perfeita realização. As figu-
ras rígidas e a pompa da arte de Bizâncio fize- Detalhe de mosaico na parede interna da basílica de San
Apollinare Nuovo (século VI), em Ravena, mostrando Cristo
ram do mosaico a forma de expressão artística com dois apóstolos.
preferida pelo Império Romano do Oriente.

Arte bizantina e românica 5


YANN ARTHUS-BERTRAND/CORBIS

Vista aérea da basílica de Santa Sofia, em Istambul, Turquia. O edifício foi reconstruído em sua forma atual em 532-537, sob a supervisão
do imperador Justiniano.

O caráter majestoso da arte bizantina também


LAWRENCE MANNING/CORBIS

pode ser observado na arquitetura das igrejas. Um


dos melhores exemplos disso é a basílica de Santa
Sofia, que a partir de 1935 tornou-se o Museu de
Santa Sofia.
Reconstruída no governo de Justiniano, após
um incêndio, essa igreja apresenta a marca mais
característica da arquitetura bizantina: uma gran-
de cúpula equilibrada sobre uma planta quadrada.
A cúpula é formada por quatro arcos e ampliada
por duas absides* que, por sua vez, são ampliadas
por mais cinco pequenas absides. A nave central
é circundada por colunas com capitéis detalhada-
mente trabalhados, que lembram capitéis corín-
tios. O revestimento em mármore e mosaicos e
a sucessão de janelas e arcos criam um espaço
interno de grande beleza.

* Abside: recinto de teto abobadado, com planta semi-


circular ou poligonal, situado na extremidade de uma
construção. Vista parcial do interior da basílica de Santa Sofia, em Istambul.

6 Ensino Médio
Arte
■ Veja que interessante!
Um pouco de Santa Sofia em São Paulo
Entre os anos 1934 e 1939 foi construída, na tral com semicúpulas, que dão amplitude ao espa-
cidade de São Paulo, uma réplica da basílica de ço interno, e o iconostásio — painel com ícones —,
Santa Sofia. Essa igreja é a sede do arcebispado considerado o mais belo da América Latina.
da Igreja Ortodoxa do Brasil. Se você mora em São Paulo, procure visitar
Entre os vários aspectos arquitetônicos e pic- esse templo. Observe as imagens, os adornos e os
tóricos que chamam a atenção do observador para objetos artísticos que fazem parte dele. Perceba as
essa edificação, destacam-se a grande cúpula cen- características da arte bizantina.
JUCA MARTINS/OLHAR IMAGENS

Vista externa da catedral


Metropolitana Ortodoxa,
no bairro do Paraíso, em
São Paulo.

KIKO FERRITE/EDITORA ABRIL

Interior da catedral
Metropolitana Ortodoxa,
em São Paulo.

Arte bizantina e românica 7


Para construir 2 Leia o texto a seguir sobre Istambul:

1 Observe as duas imagens a seguir: Com a riqueza de seu passado, a antiga Cons-
tantinopla permanece como o centro cultural da
ARALDO DE LUCA/CORBIS

Turquia. Desde épocas remotas, Istambul se dis-


tingue por suas vias navegáveis: de início, o estreito
de Bósforo, que separa a Ásia da Europa, em seguida
o chamado Chifre de Ouro, que corta em dois o
Velho Continente. É, portanto, a bordo dos inu-
meráveis barcos que se cruzam durante todo o dia
que se deve descobrir essa cidade. Uma multidão de
trabalhadores, sem dar a menor atenção à paisagem,
se precipita nos horários de pico para entrar numa
embarcação, como se esta fosse um ônibus.
COURAU, Christophe. História Viva. Disponível em:
<www2.uol.com.br/historia viva>. Acesso em: 18 mar. 2007.

Com o auxílio de um atlas geográfico, faça um


Pintura mural das catacumbas de São Calixto, em Roma esboço da região em seu caderno ou numa folha de
(século III). papel sulfite, localizando a cidade de Istambul, as
vias navegáveis e os continentes mencionados no
texto. Utilize as linhas abaixo para suas anotações.
ERICH LESSING/ALBUM /LATINSTOCK

Para aprofundar esta atividade, pode-se propor uma


pesquisa multidisciplinar envolvendo as disciplinas de
História e Geografia sobre: os aspectos geográficos da
região de Istambul e sua importância econômica e estratégica;
a sociedade, a religião, o papel e as aspirações das mulheres
na Turquia atual.

3 Explique com que objetivo a arte bizantina, assim


como a egípcia, seguia determinadas convenções.
Descreva algumas delas e dê exemplos.
As convenções da arte bizantina visavam expressar a
autoridade absoluta do imperador, tido como representante
de Deus, dotado de poderes espirituais. Entre as regras da

Mosaico em estilo bizantino.


pintura, estavam o princípio da frontalidade e a rígida
determinação de tudo o que seria representado: o lugar de
cada personagem sagrada na composição, os gestos, as
Retome seus conhecimentos sobre a arte cristã mãos, os pés, as dobras das roupas e os símbolos.
primitiva e compare suas características às da arte
bizantina, utilizando as imagens reproduzidas acima. 4 De que modo o compromisso com a religião e
Entre outras características, a arte cristã primitiva era popular, com o Império se manifestou na representação das
ou seja, executada por homens do povo, os primeiros personagens da arte bizantina?
cristãos de Roma, que, perseguidos, expressavam sua fé Personalidades oficiais e personagens sagradas eram
em desenhos e pinturas em catacumbas. Os temas eram representadas com as mesmas características, tornando as
símbolos, como a cruz e a palma, e algumas cenas bíblicas. duas categorias quase indistintas entre si.
A arte bizantina, por sua vez, desenvolveu-se com a
■ Para praticar: 1
oficialização do cristianismo e foi marcada pela suntuosidade
■ Para aprimorar: 1
e pelo caráter majestoso de suas representações.

8 Ensino Médio
■ A arte bizantina em Ravena contato com a cultura bizantina. É desse período

Arte
No século VI, Justiniano tentou reunificar o o monumento mais conhecido e significativo de
Império Romano, dando início às guerras de con- sua arquitetura: o mausoléu da imperatriz Gala
quista no Ocidente. Placídia.
Nesse contexto, a cidade de Ravena, impor- Externamente, trata-se de um edifício sim-
tante ponto estratégico dominado há muito pelos ples, revestido de tijolos cozidos. Sua planta segue
ostrogodos, tornou-se um dos alvos mais visados o desenho de uma cruz e a característica essencial
pelo imperador para a conquista da península da construção é um cubo colocado por cima da
Itálica. Após várias tentativas, a cidade foi final- pequena cúpula central.
mente reconquistada em 540 e passou a ser o cen- A simplicidade externa contrasta fortemente
tro do domínio bizantino na Itália. com a riqueza dos trabalhos artísticos do interior,
Na primeira metade do século V — portanto recoberto com belíssimos mosaicos de motivos
antes da época de Justiniano —, Ravena já tivera florais, nos quais predomina a cor azul.
As igrejas de Ravena que revelam uma arte
JAMES MACDONALD

bizantina mais madura, porém, são as da época de


Justiniano, como a de São Vital.
Devido à sua planta octogonal, o espaço inter-
no dessa igreja apresenta possibilidades de ocupa-
ção diferentes das de outras igrejas. A combinação
de arcos, colunas e capitéis fornece os elementos de
uma arquitetura adequada para apoiar mármores e
mosaicos.
Nos mosaicos da igreja de São Vital, destacam-se
o do imperador Justiniano e o da imperatriz Teodora,
com seus respectivos séquitos, levando oferendas ao
Mausoléu da imperatriz Gala Placídia, em Ravena (século V).
templo. São obras que expressam o compromisso da
arte bizantina com o Império e a religião.
SANDRO VANNINI/CORBIS

Decoração do teto do mausoléu da imperatriz Gala Placídia, em Ravena (século V).

Arte bizantina e românica 9


AKG-LATINSTOCK/CAMERAPHOTO

Vista parcial do interior da igreja de São Vital, em Ravena.

Após ler o item “A arte bizantina em Ravena”, promova uma


discussão sobre a questão da arte comprometida com a
■ Os ícones bizantinos
religião. Neste momento, é oportuno também falar sobre como Além de trabalhos em mosaico, os artistas
uma obra de arte pode divulgar favoravelmente a imagem dos bizantinos criaram os ícones, uma nova forma de
governantes. expressão artística na pintura.
A palavra ícone, de origem grega, significa
REPRODUÇÃO

52 m imagem. Como trabalho artístico, os ícones são


quadros que representam figuras sagradas como
Cristo, a Virgem, os apóstolos, santos e mártires.
Em geral são bastante suntuosos.
Para pintar os ícones, os artistas utilizavam
a técnica da têmpera ou da encáustica, lançando
mão de recursos que realçavam os efeitos de luxo
e riqueza. Revestiam a superfície da madeira ou da
placa de metal com uma camada dourada, sobre a
qual pintavam a imagem. Para fazer as dobras das
vestimentas, as rendas e os bordados, retiravam
com um estilete a película de tinta da pintura. Essas
áreas, assim, adquiriam a cor de ouro do fundo.
Às vezes, os artistas colavam joias e pedras
preciosas na pintura, chegando mesmo a confec-
Planta da igreja de São Vital, em Ravena (526-547).
cionar coroas de ouro para as figuras de Cristo
ou de Maria. Esse recurso, aliado ao dourado dos
10 Ensino Médio
detalhes das roupas, conferia aos ícones um aspecto Após a morte do imperador Justiniano, em

Arte
de grandiosidade. 565, aumentaram as dificuldades políticas em
Os ícones, em geral, eram venerados nas igre- manter o Oriente e o Ocidente unidos. O Império
jas, mas não raro eram encontrados nos oratórios Bizantino sofreu períodos de declínio cultural e
familiares, uma vez que se tornaram populares
político, mas conseguiu sobreviver até o fim da
entre muitos povos, como os balcânicos, eslavos
e asiáticos, mantendo-se por muito tempo como Idade Média, quando, em 1453, Constantinopla
expressão artística e religiosa. foi invadida pelos turcos.
Os ícones russos tornaram-se famosos, par-

500 ANOS DE ARTE RUSSA, BRASIL CONNECTS


ticularmente os da cidade de Novgorod, entre
os quais se destacam: Mãe de Deus Odiguítria de
Jerusalém e São Floro, São Jaime e São Lauro.
500 ANOS DE ARTE RUSSA, BRASIL CONNECTS

São Floro, São Jaime e São Lauro, ícone russo de Novgorod.

Pensamento Crítico
Mãe de Deus Odiguítria de Jerusalém, ícone russo de Novgorod
do início do século XVI. Acesse o Material Complementar disponível no Portal
e aprofunde-se no assunto.

■ As técnicas da têmpera e da encáustica


Têmpera é o nome dado a um dos modos pintores continuaram a usá-la, como o brasi-
como os artistas bizantinos preparavam a tin- leiro Alfredo Volpi (1896-1988).
ta usada em seus ícones. Consiste em misturar Já a técnica da encáustica era utilizada
os pigmentos a uma goma orgânica — em geral desde a Antiguidade. Os gregos usavam-na, por
clara de ovo — para facilitar a fixação das co- exemplo, para colorir suas esculturas de mármo-
res à superfície do objeto pintado. O resultado é re. O processo consiste em diluir os pigmentos em
uma pintura brilhante e luminosa. Mais tarde, cera derretida e aquecida no momento da apli-
com o surgimento da pintura a óleo, essa téc- cação. Ao contrário da têmpera, cujo efeito é bri-
nica foi quase totalmente abandonada. Alguns lhante, a pintura em encáustica é semifosca.

Arte bizantina e românica 11


Para construir
5 Observe a figura da imperatriz Teodora e sua corte.
AKG–IMAGES

Teodora e sua corte. Mosaico


do século VI d.C. Igreja de San
Vitale, Ravena, Itália.

Agora, descreva a técnica, os materiais empregados e os aspectos da imagem característicos da arte


bizantina.
Espera-se que os alunos observem a representação da imperatriz como personagem sagrada, evidenciada pela auréola, e o uso de
regras, como a frontalidade, os gestos e a disposição das personagens que compõem o séquito. A técnica utilizada na representação
é o mosaico, que consiste na composição de pequenas pedras coloridas coladas em superfícies de gesso ou argamassa.

6 Que características fazem as igrejas da época de Justiniano, especialmente a de São Vital, mais maduras
artisticamente?
A planta octogonal da igreja de São Vital, por exemplo, faz com que seu espaço interno apresente possibilidades de ocupação
diferentes das de outras igrejas. Além disso, a combinação de arcos, colunas e capitéis fornece os elementos de uma
arquitetura adequada para apoiar mármores e mosaicos.

7 O que eram os ícones bizantinos e de que maneira eram produzidos?


Os ícones bizantinos eram quadros que representavam figuras sagradas, como Cristo, a Virgem e os apóstolos. Os artistas usavam
a técnica da têmpera ou da encáustica para realçar os efeitos de luxo e riqueza. Comumente, revestiam a superfície da madeira
ou da placa de metal com uma camada dourada, sobre a qual pintavam a imagem. Para fazer as dobras das vestimentas, as rendas e os
bordados, retiravam com um estilete a película de tinta, deixando aparecer o fundo dourado. Às vezes, colocavam nos ícones joias e
pedras preciosas. Em geral, os ícones eram venerados nas igrejas, mas podiam ser encontrados também nos oratórios familiares.
■ Para praticar: 2

Para praticar Para aprimorar


1 Em que consiste a arte do mosaico? 1 Procure em livros e sites mais imagens e dados
sobre a igreja de Santa Sofia, essa importante obra
2 Explique as técnicas de têmpera e encáustica. da arquitetura bizantina.
12 Ensino Médio
2
Veja, no Guia
Capítulo
A arte românica
do Professor,

Arte
quadro de
competências
e habilidades
desenvolvidas
Durante a Idade Média, iniciada no século V, a vida social neste capítulo.
e econômica concentrou-se no campo. A evolução cultural
nesse período manteve-se praticamente nula. No século VII, as
únicas fontes de preservação da cultura greco-romana eram as
escolas ligadas às catedrais para a formação do clero. Somente a
Igreja continuou a contratar artistas, construtores, carpinteiros,
marceneiros, vitralistas, decoradores, escultores e pintores, pois as
igrejas eram os únicos edifícios públicos que ainda eram construídos.
Em 800, quando Carlos Magno foi coroado imperador do Ocidente,
um intenso movimento cultural teve início. O poder real uniu-se ao
Objetivos: poder papal e Carlos Magno tornou-se protetor da cristandade.

Associar o papel do Império


JOSÉ ANTONIO DOS SANTOS/EDITORA ABRIL

Carolíngio à evolução da arte


na Europa ocidental.

Conceituar o termo
“românico”.

Caracterizar a arquitetura
românica.

Identificar que o estilo


românico se desenvolveu
em toda a sua plenitude nas
igrejas.

Caracterizar a pintura românica


e descrever a técnica do
afresco.

Detalhe do claustro da Catedral Notre-Dame Du Puy, construída em estilo românico


durante os séculos XI e XII, em Le Puy-en-Vélay, na França.

Arte bizantina e românica 13


■ A arte no Império Carolíngio abandonada durante a ocupação dos povos bár-
Na corte de Carlos Magno, criou-se uma aca- baros. Na arquitetura isso foi decisivo: levou, mais
demia literária e desenvolveram-se oficinas para a tarde, à criação de um novo estilo, adotado prin-
produção de objetos de arte e manuscritos ilustra- cipalmente na arquitetura das igrejas, o chamado
dos. As oficinas ligadas ao palácio e aos mosteiros estilo românico.
desempenharam importante papel na evolução da
arte após o reinado de Carlos Magno.

COURTALD INSTITUTE GALLERIES, LONDRES


Contudo, no Império Carolíngio não foram
criadas obras monumentais. O tamanho reduzido
era, aliás, uma característica comum dos objetos
produzidos nas oficinas de arte, fossem eles pintu-
ras, esculturas ou trabalhos em metal.
Após a morte de Carlos Magno, em 814, a
corte deixou de ser o centro cultural do Império
e as atividades intelectuais centralizaram-se nos
mosteiros. Das atividades artísticas ali desen-
volvidas, a ilustração de manuscritos foi a mais
importante. Foram também alvo de interesse a
arquitetura, a escultura, a pintura, a ourivesa-
ria, a cerâmica, a fundição de sinos, a encader-
São Mateus
nação de documentos e livros e a fabricação de Evangelista
vidros. em miniatu-
O trabalho nas oficinas da corte de Carlos ra da corte
carolíngia
Magno levou os artistas a redescobrir a tradi- (c. 800).
ção cultural e artística do mundo greco-romano,

■ A arte bárbara
Durante o período que se estende entre a do- tação da figura humana. Enquanto gregos e roma-
minação de Roma pelos povos bárbaros, em 476, e nos apresentam uma grande produção de escultu-
a coroação de Carlos Magno como imperador do ras de seus deuses, de seus líderes políticos e chefes
Ocidente, a cultura greco-romana quase desapare- militares, as manifestações artísticas dos bárbaros
ceu na Europa ocidental. Os valores culturais dos revelam apenas uma preocupação decorativa.
invasores e suas expressões artísticas eram radical- Pode-se dizer que esse caráter decorativo é uma
mente diferentes daqueles dos gregos e romanos. consequência do nomadismo de tais povos, uma vez
Quando comparamos a arte bárbara à do mundo que deveriam produzir objetos pequenos, fáceis de
greco-romano, uma das primeiras coisas a nos cha- serem transportados. O destaque de sua expressão
mar a atenção é a ausência quase total da represen- artística fica por conta da ourivesaria, ou seja, a
produção de joias, como brincos, pulseiras, fivelas,
MONZA, CATHEDRAL/PHOTO SCALA, FLORENÇA

fechos, etc.
MONZA, CATHEDRAL/PHOTO SCALA, FLORENÇA

Coroa de ferro (sé-


culo VI). Consta que
Carlos Magno foi
coroado com essa
peça. Pertence ao
Cruz votiva de Agliulfo (sécu-
acervo do tesouro da
lo VI). Pertence ao tesouro da
catedral de Monza.
catedral de Monza, Itália.

14 Ensino Médio
■ O estilo românico na arquitetura obtinha-se maior leveza e iluminação interna.

Arte
O nome românico foi criado para designar as Como esse tipo de abóbada exige um plano qua-
realizações arquitetônicas dos séculos XI e XII, na drado de apoio, a nave central ficou dividida em
Europa, cuja estrutura assemelhava-se à das cons- setores quadrados, correspondendo às respecti-
truções dos antigos romanos. Seus aspectos mais vas abóbadas. Esse aspecto se refletiu na forma
significativos são a utilização da abóbada, dos pila- compacta da planta de muitas igrejas românicas.
res maciços que a sustentam e das paredes espessas Embora diferentes, esses dois tipos de abó-
com aberturas estreitas usadas como janelas. bada causam o mesmo efeito sobre o observador:
As igrejas românicas são grandes e sólidas sensação de solidez e repouso, dada pelas linhas
— daí serem chamadas “fortalezas de Deus”. Elas semicirculares e pelos grossos pilares que anulam
podiam ser construídas com abóbadas de dois qualquer impressão de esforço e tensão.
tipos: de berço e de arestas.
A abóbada de berço era simples: consistia num As igrejas românicas na rota dos peregrinos
semicírculo — o arco pleno — ampliado lateralmen- Durante a Idade Média — como ainda hoje —,
te pelas paredes. Apresentava duas desvantagens: o
realizavam-se longas peregrinações a lugares con-
excesso de peso do teto de alvenaria, que podia
provocar desabamentos, e a reduzida luminosidade siderados santos. Muitas das aldeias que ficavam
interna, resultante das janelas estreitas. A abertura na rota desses lugares construíram igrejas para
de grandes vãos era impraticável, por enfraquecer acolher os peregrinos.
as paredes e aumentar o risco de desabamento. Entre os lugares mais procurados, estavam
Desenvolvida para superar as limitações da Jerusalém, onde Jesus Cristo morrera; Roma,
abóbada de berço, a abóbada de arestas consistia onde fica a sede da Igreja católica; e Santiago de
na intersecção, em ângulo reto, de duas abóba- Compostela, na Espanha, onde se acredita estar
das de berço apoiadas sobre pilares. Com isso, enterrado o apóstolo Tiago.
REPRODUÇÃO
GIAN BERTO VANNI/CORBIS

Abóbada de berço.
REPRODUÇÃO

Fachada da abadia de Saint-Pierre, em Moissac, na França. Abóbada de aresta.

Arte bizantina e românica 15


A arte românica de Saint-Sernin

REPRODUÇÃO
A basílica de Saint-Sernin, na cidade de 114 m

Toulouse, era uma das paradas obrigatórias dos


peregrinos que passavam pelo trecho francês rumo
transepto
a Santiago de Compostela. norte
Para que os moradores da cidade pudessem nave lateral
nave lateral deambulatório
assistir aos ofícios religiosos sem serem perturba-
cruzeiro do transepto
dos pelos peregrinos em visita às relíquias locais, a nave principal
nave lateral
construção apresenta importante solução arquite- nave lateral
tônica: em torno da nave central, há um corredor transepto capelas
sul
contínuo que também contorna, num segmen- 0 25 m

to curvo, o altar-mor. Esse corredor, chamado


deambulatório, dava acesso às capelas onde fica-
vam expostos os objetos sagrados e as relíquias,
A planta da basílica de Saint-Sernin corresponde a uma cruz
enquanto a nave central era ocupada por quem com uma torre elevada no cruzamento dos dois eixos.
desejava assistir às cerimônias religiosas.
RICHARD BARNET/OMNIPHOTO

Entrada princi-
pal da basílica
de Saint-Sernin,
em Toulouse, na
França (cerca de
1080-1120).

A arte românica de Cluny O exemplo mais característico do estilo clu-


Em 910, foi fundada na cidade de Cluny, na niacense é o mosteiro de Saint-Pierre, em Moissac,
França, uma abadia de beneditinos. Esse movi- também no trecho francês do caminho para
mento cristão cresceu ao longo dos séculos XI e Santiago de Compostela.
XII e, ao final do século XII, a congregação era A beleza de suas esculturas pode ser vista,
constituída por mais de mil mosteiros, espalhados por exemplo, nos capitéis das colunas que cercam
por toda a Europa.
o claustro, decorados com um rico trabalho de
Em 1790, essa abadia — que tinha sido a maior
igreja da Europa e sem dúvida uma obra-prima da escultura, com representações de folhagens, ani-
arte românica — foi quase totalmente destruída, mais e personagens bíblicas.
pouco sobrando de seus edifícios e tesouros artís- Numa época em que poucas pessoas sabiam
ticos. Os religiosos de Cluny, porém, produziram ler, a Igreja recorria à pintura e à escultura para
muitas obras de arte que ainda podem ser aprecia- narrar histórias bíblicas ou transmitir aos fiéis
das em seus mosteiros. valores religiosos. Os portais, na entrada do
16 Ensino Médio
templo, eram muito utilizados para isso. No por- tal como é narrado por São João Evangelista, no

Arte
tal das igrejas românicas, o tímpano — parede Apocalipse.
semicircular que fica logo abaixo dos arcos que Devido ao grande tamanho do tímpano, os
arrematam o vão superior da porta — era a área construtores fizeram, ainda, na abadia, uma pilas-
mais ocupada pelas esculturas. tra central, chamada tremó, dividindo a abertura
Um dos mais bonitos portais românicos está da porta em duas partes iguais. Essa pilastra tam-
em Saint-Pierre. O grande tímpano do mosteiro, bém é decorada com esculturas representando
com um diâmetro de 5,68 metros, exibe um con- animais e uma pessoa descalça, identificada como
junto de figuras representando Cristo em majestade, o profeta Jeremias.

JOSÉ ANTONIO DOS SANTOS


ARCHIVO ICONOGRAFICO/CORBIS

Claustro do mosteiro de JOSÉ ANTONIO DOS SANTOS

Saint-Pierre, em Moissac,
na França. No detalhe,
capitéis das colunas do
claustro.

A
JOSÉ ANTONIO DOS SANTOS

B
Portal de entrada da igre-
ja de Saint-Pierre, em
Moissac. A Tímpano.
Cristo, coroado e sen-
tado num trono, segura
com sua mão esquerda o
livro da palavra de Deus
e com a direita faz o
gesto de abençoar. Ao
redor dele estão os 24
anciãos descritos por
São João Evangelista no
Apocalipse. B Detalhe
do tremó.

Arte bizantina e românica 17


A arquitetura românica na península Itálica fachada da frente sugere a forma de um frontão,
Diferentemente do restante da Europa, a arte característico dos templos gregos.
românica na península Itálica não apresenta for- O edifício mais conhecido do conjunto da
mas pesadas, duras e primitivas. Por estarem mais catedral de Pisa é o campanário, a famosa Torre
próximos a exemplos de arquitetura grega e roma- de Pisa, cuja construção foi iniciada em 1174. Com
na, os construtores italianos deram às suas igrejas o passar do tempo, o terreno em que ele está loca-
um aspecto mais leve e delicado. Também sob a lizado foi cedendo e, consequentemente, houve
influência da arte greco-romana, eles procuram uma inclinação. Seu elemento arquitetônico mais
usar frontões e colunas. Um dos exemplos mais interessante é a superposição de delgadas colunas
conhecidos dessa expressão românica é o conjun- de mármore, que formam sucessivas arcadas ao
to da catedral de Pisa. redor de todos os andares.
Na península Itálica, os construtores da Idade
Média costumavam erguer a igreja, o campaná- * Campanário: torre da igreja onde estão localizados os
rio* e o batistério* como edifícios separados. O sinos.
prédio da catedral de Pisa, cuja construção teve * Batistério: capela onde fica a pia batismal e em que se
início em 1063, tem uma planta em forma de cruz, realizam as cerimônias de batismo.
com uma cúpula sobre o encontro dos braços. A
TIM DOBBELARE

Catedral de Pisa com seu cam-


panário (1063-1272).

■ A arquitetura religiosa islâmica


Córdoba é hoje uma cidade espanhola, mas de mármore vermelho e preto, com arcos duplos su-
em tempos remotos fez parte do Império Romano. perpostos e arcos polilobulados (que apresentam re-
A partir do ano de 711, passou ao domínio mu- cortes em forma de segmento de curva, dispostos em
çulmano e assim permaneceu até 1235, quando sequência e unidos por seus pontos extremos).
foi conquistada pelo rei espanhol Fernando III de Sobre a maqsura, área da mesquita reservada
Leão e Castela. às orações do califa, ergueu-se uma grande cúpula
Durante o período muçulmano, desenvolveu-se de complexa construção: vários arcos lobulados;
na região uma arquitetura religiosa de característi- arcos que se cruzam formando uma estrela de oito
cas muito especiais. Entre os anos 962 e 966, sob o pontas; mosaicos dourados, decorados com mo-
reinado de Al-Hakam II, foram realizadas amplia- tivos florais, criados por artistas conhecedores da
ções na Gran Mesquita de Córdoba que deram im- tradição bizantina. Essa cúpula central e as cúpu-
ponência a esse edifício dedicado à religião islâmica. las das naves laterais, de decoração mais sóbria,
Na nave central, construíram-se colunas alternadas formam um conjunto de inegável beleza.

18 Ensino Médio
Arte
MARKUS BASSLER

Nave central da Gran Mesquita de Córdoba, na Espanha.

ACHIM BEDNORZ
ANNE E HENRI STIERLING

Cúpula central da Gran Mesquita de Córdoba. Cúpula da capela de Villaviciosa, na Gran Mesquita de Córdoba.

■ O estilo românico na pintura Os murais tinham como modelo as ilustra-


Os pintores românicos foram criadores de ções dos livros religiosos. Nessa época, era inten-
telas de grandes proporções, sendo verdadei- sa nos conventos a produção de manuscritos
ros muralistas. Essas decorações murais foram decorados à mão, com cenas da história sagrada.
favorecidas pelas formas arquitetônicas, como as A pintura românica praticamente não registra
abóbadas e as espessas paredes, que, com poucas assuntos profanos.
aberturas, criavam grandes superfícies propícias Para a decoração de igrejas e mosteiros, geral-
aos trabalhos. mente eram escolhidos temas como a criação do
Arte bizantina e românica 19
mundo e do homem, o pecado original, a arca de
Noé e os símbolos dos evangelistas. ■ Pintura “a fresco”: uma
As principais características da pintura româ- técnica antiga e difícil de
nica foram a deformação e o colorismo. A defor- ser executada
mação traduzia os sentimentos religiosos e a
interpretação mística que o artista fazia da reali-
O termo afresco hoje é sinônimo de pin-
tura mural. Originalmente, porém, era uma
dade. A figura de Cristo, por exemplo, era sempre
técnica de pintar sobre paredes úmidas. Vem
maior do que as demais. Sua mão e seu braço, no
daí o seu nome.
gesto de abençoar, tinham as proporções inten-
Nesse tipo de pintura, a preparação da
cionalmente exageradas, para que esse gesto fosse
parede é muito importante. Sobre sua super-
valorizado por quem contemplasse a pintura.
fície é aplicada uma camada de cal, que, por
Os olhos, muito abertos e expressivos, deveriam
sua vez, é coberta com uma camada de gesso
evidenciar a intensa vida espiritual. O colorismo
fina e bem lisa. É sobre essa última camada
traduziu-se no emprego de cores chapadas, sem
que o pintor executa sua obra. Ele deve traba-
preocupação com meios-tons ou jogos de luz e
lhar com a argamassa ainda úmida, pois com
sombra, pois não havia nenhuma intenção de
a evaporação da água, a cor adere ao gesso, o
imitar a natureza. gás carbônico do ar combina-se com a cal e a
Um exemplo desse tipo de pintura é o afresco transforma em carbonato de cálcio, comple-
Cristo em majestade, pintado na abside da igreja de tando assim a adesão do pigmento à parede.
San Clemente de Tahull, na Catalunha, Espanha. O afresco se distingue de outras técnicas
Esse mural tem no centro a figura de Cristo, cerca- porque, uma vez seca a argamassa, a pintu-
do de anjos e símbolos dos evangelistas. ra se incorpora ao reboco, tornando-se parte
integrante dele. Nas demais técnicas, as figu-
ras pintadas permanecem como uma película
MUSEU D’ARTE DE CATALUNYA, BARCELONA/AKG-LATINSTOCK

aplicada sobre o fundo. Além disso, como a pa-


rede deve estar úmida para receber a tinta, a
camada de gesso deve ser colocada aos poucos:
se uma área já pronta não receber pintura, ela
precisa ser retirada e aplicada posteriormente.
É essa a razão porque, ao observar um afresco
de perto, podemos notar os vários pedaços em
que ele foi sucessivamente executado.

Acesse o Portal e busque dados biográficos de Carlos


Portal
SESI EDUCAÇÃO Magno.
www.sesieducacao.com.br

Projeto de Pesquisa

Acesse o Material Complementar disponível no Portal


e aprofunde-se no assunto.

Para construir
1 De que forma a coroação de Carlos Magno
influenciou a arte da Idade Média?
Com a coroação de Carlos Magno, o poder real uniu-se
ao poder papal. O imperador passou a ser o protetor da
cristandade. A integração da Igreja com o Império favoreceu
Cristo em majestade, afresco da abside da igreja de San
Clemente de Tahull, Catalunha (cerca de 1123). o desenvolvimento cultural e artístico.

20 Ensino Médio
2 O que se entende por estilo românico? Descreva Estão corretas apenas as afirmativas: d

Arte
suas principais características. a) I e II.
O termo românico designa as obras arquitetônicas b) I e III.
dos séculos XI e XII na Europa que tinham estrutura e c) III e IV.
características parecidas com as construções dos antigos d) I, II e IV.
romanos. Entre essas características estão os pilares e) II, III e IV.
maciços sustentando abóbadas e paredes espessas com
aberturas estreitas usadas como janelas. 5 De que forma e por que razão a arte românica da
península Itálica se diferencia do mesmo estilo do
restante da Europa?
A arquitetura românica da península Itálica apresenta formas
mais leves e menos rígidas. Isso se deve à proximidade de
templos da arquitetura grega e romana, de aspecto mais sutil
e delicado e com frontões e colunas.

3 Quais eram os tipos de abóbadas predominantes


na arte românica e em que consistiam?
Abóbada de berço e abóbada de arestas. A primeira era mais
simples e consistia num semicírculo ampliado lateralmente
pelas paredes. Mas esse tipo de cobertura apresentava
desvantagens, como o excesso de peso do teto de alvenaria
e a pequena luminosidade resultante das janelas estreitas.
Os construtores então desenvolveram a abóbada de
arestas, que consistia na intersecção, em ângulo reto, de
duas abóbadas de berço apoiadas sobre pilares. Com isso, 6 Como se desenvolveu a pintura românica? Quais
conseguiram leveza e maior iluminação interna.
eram seus temas e principais características?
A pintura românica desenvolveu-se, sobretudo, nas grandes
decorações murais, por meio da técnica do afresco. Os
pintores românicos eram muralistas e não criadores de
telas pequenas. Os temas das pinturas eram essencialmente
religiosos, como a criação do mundo e do homem, o pecado
original, a arca de Noé, Cristo e os símbolos dos
evangelistas. As principais características da pintura
românica eram a deformação e o colorismo.
4 (UEL-PR, adaptado) Os homens da Europa
medieval produziram um conjunto relevante de
obras artísticas. Sobre as características do estilo
românico, analise as afirmativas a seguir.
I. Quanto mais ampla a abóbada, tanto mais maciças
deveriam ser as paredes para sustentá-la.
II. Paredes espessas, arcos arredondados e tetos das
naves centrais que deixaram de ser de madeira, estavam
presentes de modo marcante.
III. Na fachada principal e nas do transepto se localiza-
vam pórticos monumentais, encimados por uma rosá-
cea, uma ou duas galerias de estátuas e torres.
IV. O interior da edificação românica era escassamente
■ Para praticar: 1 a 3
iluminado, devido à impossibilidade da abertura de ■ Para aprimorar: 1 a 3
grandes janelas nas paredes sem enfraquecê-las.
Arte bizantina e românica 21
Para praticar quais foram essas tentativas e os resultados obtidos.
Procure imagens e elabore esquemas explicativos.
1 Explique as vantagens da abóbada de arestas
desenvolvida posteriormente, em comparação à 3 (UFPE) Os estilos arquitetônicos românico e
abóbada de berço. gótico destacaram-se na arte medieval. O estilo
românico, por exemplo, presente em numerosas
2 Pesquise em livros de arte, enciclopédias e edificações do século XI, expandiu-se pela Europa
sites exemplo da pintura feita para adornar as católica e:
grandes paredes das igrejas românicas. Se puder,
imprima ou tire cópias coloridas dessas imagens
para montar um mural. Identifique as figuras e
faça legendas com descrições sucintas de suas
características.

3 Em que consistem as duas características


essenciais da pintura românica: a deformação e
o colorismo? Procure imagens que apresentem
essas características e exponha-as para a classe na
aula seguinte.

Para aprimorar Românico Gótico

1 (Fuvest-SP) Segundo o historiador Robert S. a) era muito usado na construção de igrejas, desta-
Lopez (A Revolução Comercial da Idade Média 950- cando-se suas linhas curvas e sua forte ligação com
-1350), “o estatuto dos construtores das catedrais mudanças urbanas que aconteciam no sul da Europa
medievais representava um grande progresso do século XI.
relativamente à condição miserável dos escravos
b) estava relacionado com mudanças no estilo arqui-
que erigiram as pirâmides e dos forçados que
tetônico francês rural, que revelava o enfraquecimento
construíram os aquedutos romanos”. As catedrais
das tendências próprias das construções do sistema
medievais foram construídas por:
feudal do século XI.
a) artesãos livres e remunerados.
b) citadinos voluntários trabalhando em mutirão. c) era usado nas construções religiosas católicas, numa
época em que ainda se destacava a simplicidade da vida
c) camponeses que prestavam trabalho gratuito.
rural medieval.
d) mão de obra especializada e estrangeira.
e) servos rurais recompensados com a liberdade. d) simbolizou o crescimento do comércio medieval no
sul da França, com destaque para seus arcos e suas
2 Conforme você estudou, a Torre de Pisa foi se janelas pequenas, de vitrais bem desenhados.
inclinando com o decorrer do tempo. Nas últimas e) marcou a arquitetura católica medieval, mas foi
décadas foram feitas obras para diminuir essa usado apenas na construção de mosteiros próximos aos
inclinação e preservar a famosa construção. Pesquise castelos dos senhores feudais mais ricos.

Visite os sites
■ Basílica de Saint-Sernin ■ Igreja de La Madeleine (Vézelay)
http://pmaude.free.fr/Sernin/presentation.htm (em http://vezelay.cef.fr/fr/decou_archi/decou_
francês). Acesso em: 6 nov. 2009. index.php (em francês). Acesso em: 6 nov. 2009.
■ Igreja Saint-Pierre (Moissac) ■ Torre de Pisa
http://architecture.relig.free.fr/moissac.htm (em http://torre.duomo.pisa.it/ (em italiano). Acesso em: 6
francês). Acesso em: 6 nov. 2009. nov. 2009.

22 Ensino Médio
Referências bibliográficas

Arte
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Martins Fontes; Brasília: Ed. UnB, 1983. 1952.
■ BURNS, E. M. História da civilização ocidental. Porto ■ HAUSER, A. História social da literatura e da arte. São
Alegre: Globo, 1971. 2 v. Paulo: Mestre Jou, 1972. v. 1
■ CABANNE, P. Dictionnaire des arts. Paris: Bordas, 1979. ■ HERTLING, L. Historia de la Iglesia. Barcelona: Herder,
■ CAVALCANTI, C. História das artes. Rio de Janeiro: 1961.
Civilização Brasileira, 1970. v. 2.
■ JANSON, H. W. Histoire de l’art. Paris: Cercle d’Art,
■ CETTO, A. M. Miniatures du moyen âge. Suisse: Payot
1970.
Lausanne, 1950. (“Orbis Pictus”, 8.)
■ LOYN, H. R. (Org.). Dicionário da Idade Média. Rio de
■ CLARK, K. Civilisation. Paris: Hermann et Vera
Janeiro: Zahar, 1991.
Lounsbery, 1974.
■ CROSBY, S. M. L’abbaye royale de Saint-Denis. Paris: ■ PAOLUCCI, A. Ravena. Ravena: Solera, 1976.
Paul Hartmann, 1953. ■ PISCHEL, G. História universal da arte. São Paulo:
■ ENCICLOPÉDIA dos Museus. São Paulo: Melhora- Melhoramentos, 1966. v. 1-2.
mentos, 1968. ■ SHAVER-CRANDELL, A. A Idade Média. Rio de Janei-
■ GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16. ed. Rio de ro: Zahar, 1984. (Introdução à História da Arte da Uni-
Janeiro: LTC, [s.d.]. versidade de Cambridge.)

Gabarito
Capítulo 1 – A arte bizantina Capítulo 2 – A arte românica
■ Para praticar, página 12 ■ Para praticar, página 22

1. O mosaico é uma técnica que consiste na colo- 1. A abóbada de berço apresentava excesso de peso no
cação, lado a lado, de pequenos pedaços de pedras teto de alvenaria, o que provocava muitas vezes seu de-
de cores diferentes sobre uma superfície de gesso ou sabamento. Além disso, as paredes laterais fechadas não
argamassa. Essas pedrinhas são dispostas de acordo permitiam a entrada de luz, tornando os ambientes escu-
com um desenho previamente elaborado. Em segui- ros. A abóbada de arestas é bem mais leve, tanto em ter-
da, a superfície recebe uma solução de cal, areia e mos estruturais quanto no aspecto visual. O teto se apoia
óleo que preenche os espaços vazios, aderindo me- sobre quatro colunas, deixando aberto o vão entre elas.
lhor os pedacinhos de pedra. 2. Resposta de acordo com a pesquisa.
3. Pela deformação, em vez de respeitar as proporções
2. A técnica de têmpera consistia na preparação da
reais, o artista desenhava em maiores dimensões as figu-
tinta para a utilização nos ícones bizantinos com
ras mais importantes. O colorismo consiste no emprego de
base na mistura de pigmentos a uma goma orgânica
cores chapadas e uniformes, sem nuances e meios-tons.
— em geral clara de ovo — para facilitar a fixação ■ Para aprimorar, página 22
das cores à superfície do objeto pintado. O resultado 1. a
é uma pintura brilhante e luminosa. Por sua vez, a 2. Uma equipe internacional trabalhou por onze anos e
técnica da encáustica, utilizada desde a Antiguida- conseguiu diminuir significativamente a inclinação da
de, implicava a diluição de pigmentos de tinta em torre. Foi-se retirando, aos poucos, areia por baixo da
cera derretida e aquecida no momento da aplicação. edificação, sob sua face norte — uma vez que a torre in-
A pintura em encáustica, ao contrário da têmpera, é clina-se para o sul. Dessa forma, considerando uma linha
semifosca. horizontal no topo da torre, o resultado obtido foi uma
■ Para aprimorar, página 12 redução de 43,5 cm nessa linha, quase meio metro.
1. Resposta de acordo com a pesquisa. 3. c
Arte bizantina e românica 23
ALUNO - 2137581

ARTE
Arte gótica
Graça Proença

ENSINO
MÉDIO
Gerência editorial
Mônica Vendramin Sumário
Edição
Aparecida Mazão (coordenação),
Bárbara Muneratti de Souza
Arte gótica
Assistência editorial
Solange A. de Almeida Francisco
A arte gótica, 3
Colaboração
Fabiana Manna da Silva
A arquitetura, 4
Revisão A escultura, 13
Hélia de Jesus Gonsaga (gerente), Kátia Scaff Os manuscritos ilustrados, 15
Marques (coordenação), Patrícia Travanca,
Rosângela Muricy A pintura, 17
Pesquisa iconográfica
Sílvio Kligin (coordenação), Caio Mazzilli,
Josiane Camacho Laurentino
Programação visual (miolo)
Kraft Design
Edição de arte
Margarete Gomes (supervisão), Rosimeire Tada,
Amilton Ishikawa, Magali Prado
Editoração eletrônica
AGA Estúdio / lab 212
Capa
lab 212
Imagens de capa
Golden Sikorka / Sentavio / TarikVision / Shutterstock
Colaboraram para esta Edição
Cristiane Queiroz, Juliana Setem, Raquel Sanches,
Rosiane Botelho, Sergio Amstalden, Simone Savarego,
Talita Perazzo, Thiago Brentano, Valdete Reis e lab 212.
Dados Internacionais de
Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Proença, Graça
Sistema de ensino ser : artes : 1º ano :
aluno / Graça Proença. -- 3. ed. -- São Paulo :
Ática, 2017.

1. Arte (Ensino médio) I. Título.

16-08225 CDD-700

Índices para catálogo sistemático:


1. Arte : Ensino médio 700

3ª- edição
1ª- impressão
2016

ISBN 978 85 08 18402 6 (aluno)


ISBN 978 85 08 18403 3 (professor)

Impressão e acabamento

Uma publicação

MARIA DAS GRAÇAS VIEIRA PROENÇA DOS SANTOS


Todos os direitos reservados por
Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
Somos Educação S.A.
Avenida das Nações Unidas, 7221
de Sorocaba (FFCL) e em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e
Pinheiros – São Paulo – SP Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo.
CEP: 05425-902 Pós-graduada em Estética pelo Departamento de Filosofia da Universidade
(0xx11) 4383-8000 de São Paulo.
© Somos Sistema de Ensino S.A.
Foi professora da rede particular e pública de ensino do estado de São Paulo.
2
2
Veja, no Guia do Professor, quadro de competências
e habilidades desenvolvidas neste capítulo.

Capítulo
A arte gótica

Arte
Vimos que nos primórdios da Idade Média o centro da vida social
estava no campo e o desenvolvimento intelectual e artístico ficava
Objetivos: restrito aos mosteiros. No século XII tem início uma economia
Caracterizar a arquitetura fundamentada no comércio. Como consequência, o centro da vida
gótica e identificar as social se desloca para a cidade e surge uma nova classe social: a
principais construções burguesia urbana. Novamente, a cidade é o centro de renovação dos
desse estilo. conhecimentos, da arte e da própria organização social. No começo do
século XII, a arte românica ainda era predominante, mas mudanças
Identificar os principais que conduziriam a uma profunda revolução na arquitetura, na arte de
elementos da arquitetura projetar e construir já começavam a aparecer.
gótica, como os vitrais.
STEWART LEWAKABESSY

Comparar a arquitetura gótica


à românica.

Descobrir a arte dos


manuscritos ilustrados.

Caracterizar a escultura
gótica.

Interpretar pintura de
Cimabue, Giotto e
Jan van Eyck.

Interior da catedral de Amiens, na França.

Arte gótica 3
■ A arquitetura

ETIENNE BOUCHER
A arquitetura no século XII
No começo do século XII, uma nova arquite-
tura foi ganhando espaço. No século XVI, os estu-
diosos começaram a chamá-la, desdenhosamente,
de gótica. De acordo com eles, sua aparência era
tão “bárbara” que poderia ter sido criada pelos
godos, povo que invadira o Império Romano e
teria destruído muitas de suas obras. Mais tarde,
o nome gótico perdeu seu caráter depreciativo e
ficou definitivamente ligado à arquitetura caracte-
rizada pelos arcos ogivais*.
Essa maneira inovadora de construir apareceu
pela primeira vez na França, por volta de 1140, na
edificação da abadia de Saint-Denis. A primeira dife-
rença notória entre uma igreja gótica e uma românica
é a fachada (veja o boxe “Olho vivo!” na página 11).
Enquanto, em geral, a igreja românica apresenta um
único portal, a igreja gótica tem três portais, os quais,
por sua vez, dão acesso às três naves do interior da
igreja: a nave central e as duas naves laterais.
Na fachada da abadia de Saint-Denis, os por-
tais laterais são continuados por altas torres. O
portal central tem, acima dos frisos que emoldu-
ram o tímpano, uma grande janela, sobre a qual há
outra, redonda, chamada rosácea*. A rosácea é um
elemento arquitetônico típico do estilo gótico e
está presente em quase todas as igrejas construídas Abadia de Saint-Denis, Paris (cerca de 1140).
entre os séculos XII e XIV.
O aspecto mais importante da arquitetura
gótica, porém, é a abóbada de nervuras, que difere dispensaram paredes grossas para sustentar a estru-
muito da abóbada de arestas da arquitetura româ- tura. Em Saint-Denis, essa técnica foi usada na
nica, porque deixa visíveis os arcos ogivais que cabeceira da igreja (chevet, em francês).
formam sua estrutura. A consequência estética mais importante desse
A construção desse novo tipo de abóbada foi novo ponto de apoio da construção foi a substi-
possível devido ao arco ogival, diferente do arco tuição das sólidas paredes com janelas estreitas,
semicircular do estilo românico. O emprego desse do estilo românico, pela combinação de pequenas
arco permitiu a construção de igrejas mais altas. áreas de parede com grandes áreas preenchidas por
Além disso, o desenho das ogivas, que se alonga e vidros coloridos e trabalhados, chamados vitrais.
aponta para o alto, acentua a impressão de altura Há também muitos aspectos interessantes a
e verticalidade. serem observados na catedral de Notre-Dame de
Os pilares, chamados tecnicamente de “supor- Chartres, construída entre os séculos XII e XVI, na
tes de apoio”, foram outro recurso arquitetônico França. O portal principal, conhecido como Portal
do estilo gótico. Dispostos em espaços regulares, Régio, é considerado pelos historiadores da arte
como um dos mais belos conjuntos escultóricos
*Arco ogival: cruzamento de dois arcos iguais que se do mundo.
cortam superiormente. Como as demais construções góticas, o Portal
*Rosácea: vitral característico do estilo gótico cuja for- Régio é formado por três portais: um central e dois
ma se assemelha a uma flor. laterais. Diferentemente dos de Saint-Denis, os
três dão acesso à nave central da igreja.
4
4 Ensino Médio
Arte
ROBERT HOLMES/CORBIS

Vista parcial da nave


da igreja de Saint-
-Denis. Observe as
abóbadas de ner-
vura, a ausência de
grossas paredes e a
introdução de gran-
des vitrais.

AKG-LATINSTOCK/RODEMANN
AKG-LATINSTOCK/JOSEPH MARTIN

Rei e rainha da Judeia esculpi-


dos no Portal Régio da catedral de
Portal Régio da catedral de Notre-Dame de Chartres construído entre 1145 e 1155. Notre-Dame de Chartres.

Cada um desses portais apresenta um tímpano representações de reis e rainhas do Antigo Testa-
inteiramente preenchido por trabalhos de escultura, mento, requintadamente trabalhadas nos traços
que narram momentos diferentes da vida de Cristo. fisionômicos e nos drapeados das roupas.
O tímpano central apresenta um Cristo em majes- Se Chartres nos encanta pelo conjunto escultó-
tade cercado pelos símbolos que representam os rico do portal principal, a catedral de Notre-Dame
quatro evangelistas. O tímpano da esquerda mostra de Laon, construída entre 1155 e o final do século
a ascensão de Cristo ao céu após a ressurreição. No XII, impressiona-nos pela altura: são 22 metros do
da direita está Maria com o menino Jesus no colo. chão até o topo da abóbada.
As delicadas colunas que ladeiam cada porta O interior da catedral está dividido em qua-
atraem a atenção do visitante. Nelas observam-se tro níveis: a arcada principal, que separa a nave
Arte gótica 5
principal das naves laterais; a galeria; o trifório, Em 1160, iniciou-se a construção da catedral
estreito corredor com arcadas junto às paredes e de Notre-Dame de Paris, uma das maiores igre-
geralmente com três arcos em cada vão; e o cle- jas góticas do mundo, que introduziu um novo
restório. A claridade interna foi conseguida pelo recurso técnico: o arcobotante. A edificação possui
grande número de janelas colocadas em todos os 150,20 metros e suas principais abóbadas estão a
níveis, com exceção do trifório. 32,50 metros do chão.
MICHEL DUIJVESTIJN

DAVID SAILORS/CORBIS

Fachada da catedral de Notre-Dame de Paris.

Vista da nave central da catedral de Notre-Dame de Laon


(segunda metade do século XII).

DALE MUSSELMAN
CORALIE MERCIER

Vista lateral da catedral de


Notre-Dame de Paris. No
detalhe, arcobotantes.

6
6 Ensino Médio
JOSÉ ANTONIO DOS SANTOS

Arte
Interior da catedral de Saint-
-Etienne de Bourges, na França:
coluna, arcos e vitrais. Na foto
menor, detalhe do vitral da
catedral.

HERVÉ CHAMPOLLION, PARIS


O arcobotante é uma peça em forma de arco
que transmite a pressão de uma abóbada da parte
superior de uma parede para os contrafortes
BILDARCHIV MONHEIM/AKG-IMAGES

externos. Isso possibilitou que as paredes laterais


não tivessem mais a função de sustentar as abó-
badas. Assim, o edifício gótico pôde abusar do
emprego das grandes aberturas preenchidas com
belíssimos vitrais.
Mais um exemplo de construção gótica, a cate-
dral Saint-Etienne de Bourges, com seu campaná-
rio, esculturas e, principalmente, a riqueza de seus
vitrais, foi declarada Patrimônio da Humanidade
pela Unesco, em 1992.

A arquitetura gótica no século XIII


No século XIII, o estilo gótico já estava plena-
mente amadurecido e ricamente ornamentado por
vitrais e esculturas. Para conhecer melhor o gótico
do século XIII é interessante retomar a catedral
de Chartres, que, em julho de 1194, ficou bastante
destruída por um incêndio que atingiu grande
parte da cidade. Da imensa igreja restou apenas
a fachada oeste, onde fica o Portal Régio, e uma
nova catedral foi construída.
Na reconstrução, a parede interna da catedral
foi dividida em três andares: arcada principal, tri-
fório e clerestório. Essa divisão permitiu aumentar
a altura da igreja. A cúpula ficou a 36,50 metros do
chão. Além disso, os pilares e as pilastras condu-
zem o olhar do observador para o alto, reforçando Interior da catedral de Chartres.
a percepção da altura do edifício.
Arte gótica 7
O interior da igreja é bas-

STE.VOLAIR.FR/CENTRECHARTRAN

DEAN CONGER/ CORBIS


tante iluminado. A claridade
chega pelas janelas do cleres-
tório, pelas janelas das paredes
externas das naves laterais e
pelos grandes vitrais.
Os vitrais são um dos aspec-
tos arquitetônicos que mais
atraem a atenção do visitante.
O azul intenso e o vermelho bri-
lhante utilizados nessas compo-
sições projetam uma luz violeta
sobre as pedras da construção,
quebrando sua aparência de
dureza.
Dois desses vitrais se sobres-
saem: o que mostra Maria com
Jesus no colo, localizado no coro
da catedral, e o chamado Árvore
de Jessé, que faz parte de um con-
junto de três janelas ogivais da
fachada oeste. O tema, retirado
do Antigo Testamento, comenta Árvore de Jessé, vitral
Notre-Dame de la belle verrière, vitral da catedral de da catedral de Chartres
a genealogia de Jesus. Na extre- Chartres (meados do século XII). (meados do século XII).
midade inferior, aparece Jessé
em sua cama. De seu peito sai
uma árvore que sobe até o ponto mais alto, onde
TOR LILLQVIST

está Cristo e, nos painéis curvos, de ambos os lados


das árvores, os profetas que anunciaram a vinda do
Salvador.

A Sainte-Chapelle
O gótico francês da segunda metade do século
XIII recebeu o nome rayonnant (radiante), por
causa do rendilhado das grandes rosáceas e das del-
gadas e delicadas colunas combinadas com amplas
áreas de vitrais.
O mais belo exemplo do estilo radiante é a
Sainte-Chapelle, construída entre 1243 e 1246, no
palácio real da corte de Luís IX, em Paris. O traba-
lho dos vitrais e a harmonia das colunas revestidas
de dourado conferem à arquitetura de Sainte-
-Chapelle semelhança aos trabalhos filigranados*
em metal e ao esmalte dos relicários* medievais.

*Filigranado: trabalhado em ourivesaria, com fios de


ouro e prata delicadamente entrelaçados e soldados.
*Relicário: recinto especial ou recipiente, como urna Vista da nave de Sainte-Chapelle, em Paris
ou cofre, em que se guardam as relíquias de um santo. (1243-1246).

8
8 Ensino Médio
Arte
■ Vitrais: a luz multicolorida das catedrais góticas
O s vitrais estão para as catedrais góticas bolha de vidro de forma cilíndrica. A seguir, cor-
assim como os mosaicos estão para as basílicas tava suas duas extremidades, como se tirasse uma
bizantinas. Porém, enquanto os mosaicos criam tampa de cada lado, obtendo assim um cilindro
um ambiente austero e solene, os vitrais, permi- oco. Depois cortava esse cilindro ainda quente em
tindo que a luz passe através de pequenos peda- sentido longitudinal e o achatava, até obter uma
ços de vidro de cores diversas, criam um ambien- placa. Cada placa, após resfriada, era recortada
te sereno e multicolorido. com uma ponta de diamante, segundo o desenho
A produção de um vitral era feita em várias previamente determinado para o vitral.
etapas. Primeiramente, derretia-se o vidro na for- Na etapa seguinte, o artesão pintava com
nalha e acrescentavam-se a ele produtos químicos tinta opaca preta os detalhes de uma figura – os
que o tornavam colorido e translúcido. Depois, fa- traços fisionômicos, por exemplo. Por fim, todas
ziam-se as placas de vidro, em geral, pelo método essas pequenas placas eram encaixadas umas
que produzia o chamado vidro antique: o artesão às outras por uma moldura metálica, chamada
acumulava uma pequena quantidade de vidro perfil de chumbo, e juntas formavam grandes
fundido na extremidade de um tubo e imediata- composições – os vitrais – que eram colocadas
mente começava a soprar por ele, até formar uma nas aberturas das paredes das catedrais.
JAMES L. AMOS/CORBIS

Trabalho de restauro
de vitral em Hoboken,
New Jersey, Estados
Unidos.

(a) (b) solda

perfil
de chumbo

a) Etapas da fabricação do vidro antique.


b) Montagem dos pedaços de vidro no perfil de chumbo. peça de vidro

Arte gótica 9
■ Veja que interessante!
Catedral da Sé: ecos do estilo gótico
O estilo gótico das grandes catedrais medie-

MARIO RODRIGUES/EDITORA ABRIL


vais teve grande influência sobre a arquitetura das
igrejas católicas ao longo dos séculos. A catedral da
Sé, no centro da cidade de São Paulo, por exemplo,
construída no século XX, apresenta recursos da ar-
quitetura gótica: arcos ogivais, pilares com peque-
nas colunas ao redor, decoração com esculturas,
vitrais e arcobotantes em seu exterior.
MARIO RODRIGUES/EDITORA ABRIL

Catedral da Sé, em São Paulo. No


detalhe, o interior da catedral.

PEDRO PRATS
As últimas manifestações da arquitetura gótica
No século XV, o estilo gótico deixou de ser
exclusivo dos edifícios religiosos e chegou às
residências, como o palácio conhecido como Ca’
d’Oro, construído por Matteo Reverti, entre 1422
e 1440, em Veneza, Itália.
O nome Ca’ d’oro significa “Casa de ouro”.
Trata-se de uma referência ao rico revestimento
dourado que ornamentava a fachada de pedra
branca no tempo de sua construção. Erguida sobre
o Grande Canal, cujas águas refletem as linhas da
fachada, a residência é considerada o mais belo
edifício gótico de Veneza.
Fachada do palácio Ca’ d’oro em Veneza (1422-1440).

10
10 Ensino Médio
Arte
■ Olho vivo!
Compare a seguir as ilustrações esquemáticas de uma catedral gótica e de uma catedral românica.
BANCO DE IMAGENS/ARQUIVO DA EDITORA

Veja, no Guia do Professor,


glossário com explicações
torre sobre alguns dos termos
flecha
fachada principal
teto da nave
indicados nas ilustrações.
empena
teto do transepto

forro

janela alta frontão triangular

pegão
arcobotante

rosácea pináculo
trifório
com
janela
contraforte

capela
lateral
tímpano
portal arco ogival
deambulatório capela
coro ou radiante capela
Esboço de catedral gótica. abside axial
BANCO DE IMAGENS/ARQUIVO DA EDITORA

torre de iluminação coro ou abside


braço do transepto deambulatório chevet

abóbada de berço
fecho de pequena
torre
abóbada abside

capela

janela alta abóbada de aresta


(projeção no solo)
tribunas

pilar do cruzamento
da nave principal
e do transepto
abóbada em meio berço

arcada
fachada
nave lateral
arquivolta portal escada

Esboço de catedral românica.

Arte gótica 11
Para construir a) A necessidade de luminosidade levou ao desenvol-
vimento de técnicas cada vez mais apuradas de sus-
1 (UFRN, adaptado) A catedral de Chartres, repro- tentação de grandes candelabros nas altas abóbadas, a
duzida na figura a seguir, é representativa da arquite- fim de garantir, com velas de cera, a luz no interior da
tura gótica, que predominou na Baixa Idade Média. construção, visto que a luz natural é escassa na maior
parte do ano nas regiões setentrionais da Europa.
VALDEMIR CUNHA/EDITORA ABRIL

b) Na Idade Média, todos os pensadores que discorda-


vam do pensamento oficial da Igreja tinham que buscar
espaços alternativos para a manifestação de suas ideias.
As catedrais góticas, construídas nas cidades, são um
exemplo desse tipo de espaço.
c) A luminosidade das catedrais góticas representa
uma tentativa dos arquitetos da época de identificar os
espaços sagrados com o entusiasmo predominante no
século XIII, decorrente das boas condições de vida que
se instauravam com a conjuntura de crescimento urbano,
mercantil e agrícola que predominava naquele contexto.
Com isso, a Igreja mantinha atualizados seu discurso e
presença como convinha ao otimismo da época.
d) Como as catedrais eram construídas por mestres
pedreiros, ferreiros, vitraleiros e carpinteiros, entre
outros, a arquitetura das altas igrejas e a aparência de
Esse estilo arquitetônico está ligado às circuns-
poder e verticalidade das construções decorriam das
tâncias históricas e às concepções religiosas do
aspirações desses membros das corporações de ofícios
final da Idade Média. Nesse sentido, o estilo gótico
de conquistarem o poder dentro das cidades.
relaciona-se: a
e) Os vitrais representavam cenas ocorridas durante a
a) à prosperidade da economia urbana e às aspirações
construção das catedrais, que demoravam décadas até
espirituais orientadas para Deus e os céus.
estarem concluídas, e apresentavam sobretudo cenas
b) à estabilidade da economia rural e ao culto domésti-
do trabalho dos mestres e trabalhadores manuais.
co, que era presidido pelo chefe da família.
c) ao desenvolvimento das comunidades de monges
e celebrações coletivas, com ênfase no modo de vida
3 Aponte diferenças entre a igreja gótica e a
simples.
românica.
d) ao progresso da agricultura feudal e à religiosidade Peça aos alunos que, antes de responder à questão, revejam
individualista, que estimulava a prática da solidão. as ilustrações da página 11. A principal diferença entre os
estilos gótico e românico está na fachada. Enquanto a igreja
2 (UFPR) Leia: românica apresenta um único portal, a igreja gótica tem três
portais que dão acesso às três naves do interior da igreja: a
No coração da obra, esta ideia: Deus é luz. Desta nave central e as duas naves laterais. Além disso, a abóbada
luz inicial, criadora, participa cada criatura. Cada de nervuras da arquitetura gótica difere muito da abóbada de
criatura recebe e transmite a iluminação divina arestas do estilo românico, porque deixa visíveis os arcos que
segundo a sua capacidade, isto é, segundo o lugar que formam sua estrutura.
ocupa na escala dos seres, segundo o nível em que o
pensamento de Deus hierarquicamente o situou.
DUBY, Georges. O tempo das catedrais. Lisboa: Estampa, 1979. p. 105.

A citação resume o princípio norteador do estilo


gótico, que predominou na arquitetura e na escul-
tura religiosas da Europa ocidental no século XIII.
Sobre esse estilo e seus ideais, assinale a alterna-
tiva correta: c
12
12 Ensino Médio
4 Qual o efeito dos arcos ogivais no interior das

AKG-LATINSTOCK/ERIK BOHR

Arte
igrejas?
Os arcos ogivais permitiram a construção de igrejas mais
altas. O desenho da ogiva, que se alonga e aponta para o alto,
acentua a sensação de altura e verticalidade.

5 Que importante recurso técnico foi introduzido


com a construção da catedral de Notre-Dame de
Paris?
A construção da catedral de Notre-Dame de Paris introduziu o
arcobotante, uma peça em forma de arco que transmite a
pressão de uma abóbada da parte superior de uma parede
para os contrafortes externos. Isso fez com que as paredes
laterais não tivessem mais a função de sustentar as abóbadas
e, assim, o edifício gótico pôde abusar do emprego das
Cavaleiro, catedral de Bamberg, Alemanha (cerca de 1235).
grandes aberturas preenchidas com vitrais.
AKG-LATINSTOCK/HILBICH

■ Para praticar: 1 e 2
■ Para aprimorar: 1 a 3

■ A escultura
De modo geral, a escultura gótica estava asso-
ciada à arquitetura. Nos tímpanos dos portais,
nos umbrais ou no interior das grandes igrejas, os
trabalhos de escultura enriqueciam as construções
e documentavam, na pedra, os aspectos da vida
humana mais valorizados na época.
É interessante destacar, como exemplo, duas
esculturas que ornamentam igrejas alemãs: Cava-
leiro, que data de aproximadamente 1235 e está na Nobre Uta, catedral de Naumburg, Alemanha (esculpida
catedral de Bamberg, e Nobre Uta, esculpida após depois de 1249).
1249 e que está na catedral de Naumburg.
Arte gótica 13
Plasticamente, Cavaleiro revela vigor e equi- está em pé e segura o menino com o braço esquer-
líbrio na composição do volume do corpo do do, de modo a ter a mão direita livre, revelando
cavalo e do cavaleiro medieval. Do ponto de vista um aspecto de sugestiva naturalidade.
temático, a escultura revela a cultura da cavalaria
medieval, organização que estabeleceu uma nova

STROVEGNI (ARENA) CHAPEL, PADUA/GIRAUDON


estrutura social nas cortes europeias e assumiu a
liderança da vida intelectual, até então dominada
pelos monges e confinada nos mosteiros.
Nobre Uta impressiona pela naturalidade:
com a mão direita, apenas sugerida sob a veste, a
figura feminina parece aconchegar ao rosto a gola
da capa. Plenamente identificada com as tendên-
cias naturalistas da época, a obra surpreende por
retratar com perfeição o flagrante movimento de
uma pessoa real.
No século XIII, encontramos algumas escultu-
ras de autoria identificada. É o caso, por exemplo,
dos trabalhos escultóricos de Giovanni Pisano (c.
1245-1315). Entre muitas de suas obras, desper-
tam especial interesse os baixos-relevos do púlpito
da igreja de Santo André, em Pistoia, na Itália, e
uma escultura da Virgem Maria com o menino
Jesus, em Pádua.
Entre os baixos-relevos do púlpito, a cena da
crucificação, esculpida entre outras cenas religio-
sas, comunica ao observador, com intensidade
dramática, os sentimentos de dor e sofrimento.
Já na escultura de Maria, a concepção da figu- A virgem e o menino (1305-1306), de Giovanni Pisano,
Pádua (Itália).
ra isolada – sem o suporte de uma coluna, tímpano
ou parede – e a postura da imagem são indícios de
que Pisano estudou atentamente a escultura gre-
co-romana do período clássico. Diferentemente Projeto de Pesquisa
de uma estátua românica típica – que representava Acesse o Material Complementar disponível no Portal
Maria rigidamente sentada com o menino Jesus e aprofunde-se no assunto.
em seus joelhos –, a figura esculpida por Pisano
THE BRIDGEMAN ART LIBRARY

Crucificação (1303-1310), de Giovanni Pisano.


Baixo-relevo do púlpito da igreja de Santo
André, Pistoia (Itália).

14
14 Ensino Médio
■ Os manuscritos ilustrados As cenas que ilustram o Saltério de Ingeborg

Arte
Do século XII até o século XV, a arte desen- representam ações como O massacre dos inocentes e
volveu-se também nos objetos preciosos – feitos a Fuga para o Egito. Nelas, o artista ilustrador revela
de marfim, ouro, prata e decorados com esmalte suas qualidades em vários aspectos: no drapeado
– e nos ricos manuscritos ilustrados. das vestimentas, no desenho da anatomia do corpo
Um exemplo de manuscrito medieval ilustrado humano e, sobretudo, na combinação do dourado e
é o Saltério de Ingeborg, que data de, aproximada- cores fortes, como o vermelho e o azul-escuro.
mente, 1195. Seu nome está relacionado a seu conte- Foi comum também nessa época a produção
údo – uma coletânea de salmos – e ao nome da prin- da chamada Bíblia moralizada, diferente das demais
cesa Ingeborg, da Dinamarca, para quem foi feito. por apresentar apenas passagens dos textos sagrados
Os manuscritos eram feitos em várias etapas e – e não o texto integral – acompanhadas de muitas
dependiam do trabalho de muitas pessoas. Primeiro, ilustrações. A Bíblia de Toledo é um exemplo. Em
era necessário curtir de modo especial a pele de geral, suas páginas estão divididas em quatro colu-
cordeiros ou vitelas. Essa pele curtida chamava-se nas, duas de texto e duas de ilustrações. Cada coluna
velino e tinha a mesma função que o papel tem hoje. de texto contém quatro parágrafos, sendo que a cada
Nas oficinas dos mosteiros ou nos ateliês de artistas um deles corresponde uma ilustração, limitada por
leigos, os trabalhadores cortavam as folhas de velino um círculo que lhe serve de moldura.
no tamanho em que seria o livro. A seguir, os copis- A observação dos manuscritos ilustrados per-
tas transcreviam textos sobre as páginas já cortadas. mite-nos chegar a duas conclusões: a primeira é a
Ao realizar essa tarefa, deixavam espaços que seriam compreensão do caráter individualista que a arte da
preenchidos pelas ilustrações, cabeçalhos, títulos e ilustração ganhava, uma vez que era destinada aos
capitulares – letras maiúsculas com que se iniciava o poucos possuidores das obras copiadas; a segunda
texto – feitos por um artista. Esse trabalho decorati- é que os artistas ilustradores do período gótico
vo ficou conhecido com o nome de iluminura. tornaram-se tão habilidosos na representação do
espaço tridimensional e na composição de uma
cena que seus trabalhos acabaram influenciando as
MUSÉE CONDÉ, CHANTILLY, FRANCE/GIRAUDON/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY

criações de alguns pintores.


THE BRIDGEMAN ART LIBRARY

O massacre dos inocentes e Fuga para o Egito. Ilustrações de


uma página do Saltério de Ingeborg (cerca de 1195). Museu Jerusalém celestial, ilustração da Bíblia de Toledo (c. 1226-
Condé, Chantilly (França). -1234). The Pierpont Morgan Library, Nova York.

Arte gótica 15
■ Enquanto isso...
Os manuscritos ilustrados no mundo árabe
A arte dos manuscritos ilustrados desenvol-

BIBLIOTHÈQUE NATIONALE, PARIS


veu-se também na cultura árabe, praticamente
no mesmo período em que se propagou na Eu-
ropa ocidental. Trabalhando a riqueza dos deta-
lhes ou explorando o grafismo das próprias letras
arábicas, os artistas orientais dominaram a arte
de ilustrar textos narrativos e religiosos.
Um exemplo de ilustração de texto narra-
tivo é o que vemos na imagem ao lado. A obra
ilustrada chama-se Maqamat, de autoria de
al-Hariri (1054-1122), e reúne as aventuras
de um personagem muito astuto, Abu Zayd de
Saruj. A cena aqui reproduzida foi copiada e
ilustrada por al-Wasiti de Yahya, em Bagdá,
em 1237. Além do emprego de muitas cores,
destaca-se a representação de várias pessoas
em atividades cotidianas nas cidades islâmi-
cas medievais.
Como exemplo de texto religioso ilustrado, ve-
mos abaixo as páginas duplas de um exemplar do
Corão, de 1372. O calígrafo Ali ibn Muhammad
al-Ashrafi e o ilustrador Ibrahim Amid fizeram um
trabalho admirável com traços, linhas e o emprego
de cores variadas: azul-escuro, ouro, preto, branco, Ilustração da obra Maqamat, de al-Hariri (1054-1122).
marrom, verde, laranja, vermelho e cor-de-rosa.
NATIONAL LIBRARY, CAIRO

Ilustração em página dupla de manuscrito do Corão.

16
16 Ensino Médio
Para construir

Arte
MUSEU DO LOUVRE, PARIS
6 Destaque semelhanças e diferenças entre a
escultura greco-romana do período clássico e a
escultura gótica.
Tanto a escultura greco-romana quanto a escultura gótica
buscam a perfeição na representação do ser humano.
Uma das diferenças está em procurar retratar cenas com
naturalidade nas esculturas góticas e menos posadas, como
nas esculturas greco-romanas.

7 Da observação dos manuscritos ilustrados pode-


mos tirar duas conclusões. Quais são elas?
A primeira é a compreensão do caráter individualista que a
arte da ilustração ganhava, uma vez que era destinada aos
poucos possuidores das obras copiadas; a segunda é que
os artistas ilustradores do período gótico tornaram-se tão
habilidosos na representação do espaço tridimensional e
na composição de uma cena que seus trabalhos acabaram
influenciando as criações de alguns pintores.

A virgem e o menino rodeados por seis anjos (1295-1300),


de Cimabue. Dimensões: 427 cm x 276 cm. Museu do
Louvre, Paris.

da postura dos corpos e do drapeado das roupas,


dar movimento às figuras dos anjos e santos;
entretanto, não chegou a realizar plenamente a
ilusão da profundidade do espaço.
Suas obras mais importantes foram feitas
■ Para praticar: 3 para a igreja de São Francisco, em Assis, Itália.
Mas existem pinturas de sua autoria em diferentes
museus e igrejas daquele país. Exemplo da pin-
■ A pintura tura desse artista florentino, considerado um dos
A pintura gótica desenvolveu-se nos séculos iniciadores da pintura italiana, é a têmpera* sobre
XIII, XIV e início do século XV, quando começou a madeira conhecida como A virgem e o menino
ganhar aspectos que prenunciavam o Renascimento. rodeados por seis anjos. O trabalho foi encomen-
Sua principal característica foi a procura do realis- dado para a igreja de São Francisco, em Pisa, e lá
mo na representação das figuras. permaneceu até 1882, quando foi levado para a
No século XIII, o pintor mais importante foi França como parte do saque de Napoleão. Hoje
Cenni di Pepo (c. 1240-1302), conhecido como está no Museu do Louvre.
Cimabue. Em seu trabalho ainda há a influência
dos mosaicos e ícones bizantinos, mas já podemos *Têmpera: técnica de pintura em que se utiliza cola ou
notar a preocupação com o realismo ao represen- clara de ovo como aglutinante.
tar figuras humanas. Cimabue procurou, por meio
Arte gótica 17
CAPPELA SCROVEGNI, PADUA

Retiro de São Joaquim entre os pastores


(1304-1306), de Giotto.
Dimensões: 200 cm x 185 cm. Afresco da
Capela dos Scrovegni, Pádua.

Outro pintor importante do período é Giotto os outros e abertos durante as celebrações reli-
di Bondone, conhecido como Giotto (c. 1266- giosas. De acordo com o número de painéis, o
-1337). Conta-se que nasceu e morreu em Florença, retábulo recebe um nome especial: com dois pai-
tendo passado a infância entre os campos e as ove- néis, chama-se díptico; com três, tríptico; quatro
lhas do pai. Ainda menino teria tido seus desenhos ou mais, políptico.
apreciados por Cimabue. Um políptico famoso é o Retábulo do cordeiro
A maior parte das obras de Giotto foi de místico, feito entre 1426 e 1432 pelos irmãos Van
afrescos que decoraram igrejas. Entre eles, A pré- Eyck, pintores flamengos, para a igreja de São
dica diante de Honório III, para a igreja de São Bavão, em Gand, na Bélgica. Nesse retábulo é pos-
Francisco, em Assis, e O juízo final, para a capela sível observar a influência da arte da ilustração dos
manuscritos: é evidente a intenção detalhista, por
dos Scrovegni, em Pádua.
exemplo, nas roupas das figuras, nos adornos das
A principal característica da pintura de Giotto
cabeças ou dos elementos da natureza. Ao mesmo
foi a representação da figura dos santos com a
tempo, nota-se também a superação do espírito da
aparência de pessoas comuns. Esses santos eram
miniatura. Os artistas abrem o universo da pintura
os elementos mais importantes das cenas pintadas para o mundo exterior e revelam os efeitos que as
e ocupavam sempre posição de destaque. Assim, diferentes distâncias e a própria atmosfera causam
em obras como o Retiro de São Joaquim entre os na percepção visual dos seres representados.
pastores ou Lamento ante Cristo morto, as figuras As conquistas realizadas por Jan van Eyck
humanas são maiores do que as árvores e quase se (c. 1390-1441) e seu irmão Hubert van Eyck (c. 1366-
igualam, em altura, às montanhas que compõem -1426) permitem afirmar que suas obras inaugura-
a paisagem. ram a fase renascentista da pintura flamenga.
Além dos grandes murais de Giotto, que Além do Retábulo do cordeiro místico, que
recobriam as paredes das igrejas, a pintura gótica começou a pintar com seu irmão, Jan van Eyck
foi expressa em quadros menores e nos retábulos. produziu obras célebres por causa do realismo e
Um retábulo consiste em dois, três, quatro ou da riqueza de detalhes. Entre elas estão O casal
mais painéis que podem ser fechados uns sobre Arnolfini e Nossa Senhora do Chanceler Rolin.
18
18 Ensino Médio
IGREJA DE SÃO BAVÃO, GAND / AKG / LATINSTOCK

Arte
Quadro central do políptico Retábulo do cordeiro místico (1426-1432), dos irmãos Van Eyck. Dimensões: 135 cm x 236 cm. Catedral
de São Bavão, Gand (Bélgica).
NATIONAL GALLERY, LONDRES

Detalhe da pintura O casal Arnolfini (1434). O espelho ao


fundo revela a porta de entrada e dois observadores próximos
a ela olhando para o interior do aposento.

Para suas anotações:

O casal Arnolfini (1434), de Jan van Eyck.


Dimensões: 82 cm x 59,5 cm. National Gallery, Londres.

Arte gótica 19
Realizado segundo os princípios de um evi-

MUSEU DO LOUVRE, PARIS


dente realismo, O casal Arnolfini (na página ante-
rior) retrata os aposentos e as vestes de um rico
comerciante do século XV e de sua mulher. A
representação dos personagens e do ambiente é
tão minuciosa, que o espelho convexo na parede
do fundo reflete todo o quarto, dando-nos uma
visão completa do ambiente. Assim, o casal apare-
ce de costas refletido no espelho. Por ele também
se pode ver a porta de entrada dos aposentos e
mais duas pessoas próximas a ela, olhando para o
interior do quarto.
Em Nossa Senhora do Chanceler Rolin, ao
lado, o artista realiza um trabalho de perspectiva
e deixa documentada uma paisagem urbana. As
pinturas de Van Eyck registram que, no século
XV, o centro da vida social era, sem dúvida, a
cidade com seus edifícios, pontes e torres. As
características da pintura de Giotto e Jan van
Eyck testemunham quanto a sociedade europeia Nossa Senhora do Chanceler Rolin (1436), de Jan van Eyck.
Dimensões: 66 cm x 62 cm. Museu do Louvre, Paris.
havia se transformado e prenunciam as mudanças
prestes a acontecer.

Para construir
■ O divino e o humano
segundo Giotto 8 Descreva algumas características da pintura
Para compreender a concepção de Giotto gótica que podem ser observadas nas obras de
em relação aos santos, é preciso levar em conta Cimabue, Giotto e Van Eyck.
o cenário cultural do século XIII. Com o cresci- De modo geral, a busca do realismo na representação das
mento do comércio, deu-se o desenvolvimento figuras. Cimabue procura transmitir a sensação de movimento
das cidades. A sociedade tornou-se mais dinâ- pela postura dos corpos e do drapeado das vestes.
mica, ou seja, com relações mais complexas e Giotto aproxima a figura dos santos à de pessoas comuns,
menos rígidas que as existentes entre campo- representando-os de forma semelhante. Além disso, obtém
neses miseráveis e um senhor feudal detentor o efeito de profundidade pelo uso de planos distintos e pelas
do poder. Começava a surgir uma nova classe proporções da figuras. A pintura de Van Eyck é extremamente
social – a burguesia –, que acabou assumindo detalhista e já apresenta o trabalho de perspectiva.
o poder econômico e político das cidades.
Essa nova classe era composta de pessoas
do povo que foram acumulando fortunas 9 O período que se seguiu à Idade Média, o
com atividades ligadas ao comércio. Nesse Renascimento, seria marcado por uma nova visão
contexto, o homem passou a sentir-se mais de mundo: o Humanismo. Em sua obra, Giotto já
forte, capaz de grandes conquistas, e já não anuncia essa mudança. Explique como.
se identificava com as figuras dos santos das Isso se manifesta nas obras de Giotto pela representação dos
artes bizantina e românica, tão espirituali-
santos com características humanizadas e, ao mesmo tempo,
zados e de postura estática e rígida.
em posição de destaque em relação à natureza.
A pintura de Giotto vem, assim, ao en-
contro de uma visão que adquiria cada vez
mais força e que chegaria ao auge com o Re-
nascimento: a visão humanista do mundo.

20
20 Ensino Médio
10 Além dos grandes murais, a pintura gótica foi – a cama coberta de vermelho, símbolo da paixão;

Arte
feita também nos retábulos. O que é um retábulo? – o espelho que reflete toda a cena, os adornos (rosário
Um retábulo é formado por dois, três, quatro ou mais painéis pendurado, pequenas imagens, o vitral);
que podem ser fechados uns sobre os outros e abertos – o cãozinho, que quebra o formalismo e a solenidade
durante as celebrações religiosas. O nome varia de acordo da cena;
com o número de painéis: díptico, tríptico e políptico. – os sapatos (os dela, perto da cama; os dele, perto do
mundo fora de casa);
– o tapete oriental, cuidadosamente reproduzido.

■ Para praticar: 4 e 5 5 Depois de ler o item sobre a pintura gótica, procu-


■ Para aprimorar: 4 re em livros de arte, em enciclopédias e na internet
reproduções de iluminuras medievais. Observe as
cenas retratadas. Procure perceber os elementos da
Para praticar cultura e da sociedade que elas mostram: o trabalho
dos camponeses, a luta dos guerreiros, as vestes, os
1 (Unifesp) Houve, nos últimos séculos da Idade animais, os alimentos, as moradias.
Média ocidental, um grande florescimento no campo
da literatura e da arquitetura. Contudo, se no âmbito Para aprimorar
da primeira predominou a diversidade (literária), no
da segunda predominou a unidade (arquitetônica). 1 (UFPR)
O estilo que marcou essa unidade arquitetônica
corresponde ao: Entre 1060 e 1150, o Ocidente foi praticamente
a) renascentista. coberto de igrejas. [...] Com efeito, a construção desses
b) românico. edifícios dependia do esforço dos fiéis, que forneciam o
c) clássico. material e contribuíam com o trabalho necessário para
d) barroco. a obra. [...] O aspecto mais importante deste fenôme-
e) gótico. no, no entanto, se refere à arquitetura que orientou a
edificação das igrejas medievais. Predominaram dois
2 De que forma as mudanças sociais e econômi- estilos principais: o românico e o gótico. A evolução do
cas que tiveram início no século XII influenciaram primeiro para o segundo representou uma renovação
a arquitetura do período? artística que, por sua vez, correspondeu às transfor-
mações gerais ocorridas na estrutura da sociedade
3 O que se entende por iluminura? durante a Baixa Idade Média.
ARRUDA, J. J. História Antiga e Medieval. São Paulo: Ática, 1996. p. 477.
4 Observe atentamente a tela O casal Arnolfini, na
página 19. Ela representa o casamento de Giovanni Considerando as transformações sociais, religio-
de Arrigo Arnolfini, banqueiro italiano estabelecido sas e de mentalidade que geraram a evolução de
em Bruges (Bélgica), com Giovanna Cenami, filha um estilo a outro, é correto afirmar:
de uma rica família italiana. Pintada com riqueza de (01) O românico era o estilo que caracterizava a cons-
detalhes e realismo, a cena tem também uma série trução de igrejas no meio rural. Com a expansão econô-
de elementos simbólicos. Atente para: mica, mercantil e urbana do século XI, as igrejas come-
■ a cuidadosa representação do vestido, com seus dra- çaram a ser construídas nas cidades, no estilo gótico.
peados e seu bordado em relevo; o verde simboliza (02) O românico era o estilo que conservava os tra-
a fertilidade, também sugerida pelo gesto dela, que ços estilísticos do mundo romano recém-desestrutura-
lembra gravidez, apesar de ela não estar grávida. do. Quando os germanos, e especialmente os godos,
■ as mãos juntas, que representam o casamento e tam-
começaram a fazer predominar sua cultura na Europa
bém dão unidade ao quadro, fazendo a ligação entre Ocidental, criaram o estilo gótico.
as duas grandes figuras. (04) A evolução das estruturas materiais exigia da Igreja
■ a riqueza de detalhes do cenário:
uma atualização de sua pregação e uma nova forma de
– o candelabro com uma vela só; acreditava-se que uma representação artística; assim, o românico vinculava-se à
vela no quarto dos recém-casados propiciava a fertilidade; virada do ano mil e seus temores milenaristas, enquanto
Arte gótica 21
o gótico passou a refletir o otimismo de um Ocidente em 3 Você viu que a catedral de Saint-Etienne de
franca expansão econômica e demográfica. Bourges foi declarada Patrimônio da Humanidade
(08) O fervilhar de ideias e a circulação intensa de pela Unesco. O que isso significa? Pesquise sobre
riquezas que havia no meio urbano dos séculos XII e a existência de Patrimônios da Humanidade no
XIII, seja em mercados, universidades ou mesmo cor- Brasil.
porações de ofício, geraram o desenvolvimento de um
estilo de construção religiosa que refletia a ostentação, 4 (PUC-SP) Leia as afirmações a seguir:
diversidade e importância dos grupos que compunham I. A arte medieval deixou registros de um profundo
as cidades: o estilo gótico. desejo coletivo de enaltecimento da obra divina,
(16) Não houve uma substancial transformação estilística procurando sempre representar o equilíbrio da
do românico para o gótico. O que mudou, essencialmen- natureza e a perfeição do físico humano.
te, foram os financiadores das construções religiosas. II. A arte vitral, as esculturas e os murais pintados nos
Soma: templos cristãos, durante a Idade Média, propiciaram
tanto a criação de uma atmosfera sublime nesses
2 (FGV-SP) Observe a imagem a seguir, leia o tre- interiores, quanto a iniciação dos frequentadores, por
cho abaixo e depois responda às questões a e b. meio dos ícones expostos, na história bíblica.
III. A música praticada nos cultos cristãos medie-
vais tinha, essencialmente, um caráter litúrgico.
FGV-SP

Seus praticantes, os menestréis, buscavam inspi-


rações nos sons cotidianos, que resultavam em
composições cuja riqueza polifônica exercia fasci-
nação nos religiosos.
É(são) correta(s):
a) a afirmação I, apenas.
b) as afirmações I e II, apenas.
c) as afirmações I, II e III.
d) a afirmação II, apenas.
e) as afirmações II e III, apenas.

Acesse o Portal e veja os Patrimônios da Humanidade no


Portal
SESI EDUCAÇÃO Brasil na seção Galeria Virtual.
www.sesieducacao.com.br

Visite os sites
■ Abadia de Saint-Denis
Os esforços exigidos são tais que só sociedades http://architecture.relig.free.fr/denis.htm
em plena expansão econômica e politicamente (em francês). Acesso em: 6 nov. 2009.
estabilizadas puderam erguer, a partir de meados ■ Catedral de Chartres
do século XII, a floresta de catedrais góticas, com http://cathedrale.chartres.free.fr/
a consciência nova de que a humanidade do (em francês). Acesso em: 6 nov. 2009.
Ocidente tinha entrado numa época de progresso
■ Catedral de Notre-Dame de Paris
irreversível [...].
KURMANN, P. Catedrais. In: DUBY, G. (Coord.).
www.cathedraledeparis.com/FR/0.asp
História artística da Europa. A Idade Média. (em francês). Acesso em: 6 nov. 2009.
Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1998. p. 223.
■ O casal Arnolfini, de Jan van Eyck
a) Aponte as características e as causas da expansão http://paineis.org/Arnolfini.htm (em português)
econômica que impulsionaram o florescimento das e www.nationalgallery.org.uk/cgi-bin/
catedrais góticas. WebObjects.dll/CollectionPublisher.woa/wa/
b) Relacione os principais aspectos arquitetônicos das work?workNumber=NG186 (em inglês).
Acesso em: 6 nov. 2009.
catedrais góticas à religiosidade do período.
22
22 Ensino Médio
Referências bibliográficas

Arte
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Martins Fontes; Brasília: Ed. UnB, 1983. 1952.
■ BURNS, E. M. História da civilização ocidental. Porto ■ HAUSER, A. História social da literatura e da arte. São
Alegre: Globo, 1971. 2 v. Paulo: Mestre Jou, 1972. v. 1.
■ CABANNE, P. Dictionnaire des arts. Paris: Bordas, ■ HERTLING, L. Historia de la Iglesia. Barcelona: Herder,
1979. 1961.
■ CAVALCANTI, C. História das artes. Rio de Janeiro: ■ JANSON, H. W. Histoire de l’art. Paris: Cercle d’Art, 1970.
Civilização Brasileira, 1970. v. 2. ■ LOYN, H. R. (Org.). Dicionário da Idade Média. Rio de
■ CETTO, A. M. Miniatures du moyen âge. Suisse: Payot Janeiro: Zahar, 1991.
Lausanne, 1950. (“Orbis Pictus”, 8.) ■ PISCHEL, G. História universal da arte. São Paulo:
■ CLARK, K. Civilisation. Paris: Hermann et Vera Melhoramentos, 1966. v. 1-2.
Lounsbery, 1974. ■ SHAVER-CRANDELL, A. A Idade Média. Rio de
■ CROSBY, S. M. L’abbaye royale de Saint-Denis. Paris: Janeiro: Zahar, 1984. (Introdução à História da Arte da
Paul Hartmann, 1953. Universidade de Cambridge.)
■ ENCICLOPÉDIA dos Museus. São Paulo: Melhoramen- ■ TEIXEIRA, L. M. Dicionário ilustrado de belas artes.
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■ GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16. ed. Rio de ■ VENTURI, L. Para compreender a pintura — de Giotto
Janeiro: LTC, [s.d.] a Chagal. Lisboa: Estúdios Cor, 1972.

Gabarito
A arte gótica
■ Para praticar, página 21 2. a) As catedrais góticas foram expressão de trans-
1. e formações e mudanças sociais e econômicas, tais
2. O século XII marcou o início de uma economia fo- como: ampliação das terras cultiváveis, inovações
cada no comércio. A cidade volta a ser o centro da técnicas, crescimento demográfico, estabelecimento
vida social e surge uma nova classe: a burguesia. A de uma economia mercantil e o desenvolvimento das
intensificação do comércio fortalece a Igreja e, poste- cidades.
riormente, os reis. Assim, a arte se desenvolve e aos b) A verticalidade e a monumentalidade desse tipo
poucos surgem mudanças que transformam comple- de edificação procuravam reforçar a submissão
tamente a arquitetura romana. dos fiéis a Deus e ao poder religioso. A leveza e o
3. Iluminura era a arte de decorar ou ornar um ma- jogo de luz interior, obtidos entre outros recursos
nuscrito, uma página ou letra capitular com desenhos, com o uso de vitrais, visavam a estimular a con-
arabescos, miniaturas e grafismos diversos. centração e a postura contemplativa dos fiéis. As
4. Atividade de observação. esculturas e adornos possuíam função pedagógica
5. Atividade de observação. para um conjunto de fiéis que, em sua maioria, não
sabia ler.
■Para aprimorar, página 21 3. Atividade de pesquisa.
1. Soma: 04 + 08 = 12 4. d
Arte gótica 23
ALUNO - 2137581

ARTE
O Renascimento
Graça Proença

ENSINO
MÉDIO
Gerência editorial
Mônica Vendramin Sumário
Edição
Aparecida Mazão (coordenação),
Bárbara Muneratti de Souza
O Renascimento
Assistência editorial
Solange A. de Almeida Francisco
1 O Renascimento na península Itálica, 3
Colaboração
Fabiana Manna da Silva
A arquitetura, 4
Revisão A pintura, 8
Hélia de Jesus Gonsaga (gerente), Kátia Scaff A pintura (continuação), 13
Marques (coordenação), Patrícia Travanca,
Rosângela Muricy A escultura, 17
Pesquisa iconográfica
Sílvio Kligin (coordenação), Caio Mazzilli, 2 O Renascimento fora da península Itálica, 23
Josiane Camacho Laurentino Dürer: a arte e a realidade, 24
Programação visual (miolo)
Kraft Design
Hans Holbein: a valorização do Humanismo, 24
Edição de arte
Bosch: a força da fantasia, 25
Margarete Gomes (supervisão), Rosimeire Tada, Bruegel: um retrato das pequenas aldeias do século XVI, 26
Amilton Ishikawa, Magali Prado
Editoração eletrônica
AGA Estúdio / lab 212
Capa
lab 212
Imagens de capa
Golden Sikorka / Sentavio / TarikVision / Shutterstock
Colaboraram para esta Edição
Cristiane Queiroz, Juliana Setem, Raquel Sanches,
Rosiane Botelho, Sergio Amstalden, Simone Savarego,
Talita Perazzo, Thiago Brentano, Valdete Reis e lab 212.
Dados Internacionais de
Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Proença, Graça
Sistema de ensino ser : artes : 1º ano :
aluno / Graça Proença. -- 3. ed. -- São Paulo :
Ática, 2017.

1. Arte (Ensino médio) I. Título.

16-08225 CDD-700

Índices para catálogo sistemático:


1. Arte : Ensino médio 700

3ª- edição
1ª- impressão
2016

ISBN 978 85 08 18402 6 (aluno)


ISBN 978 85 08 18403 3 (professor)

Impressão e acabamento

Uma publicação

MARIA DAS GRAÇAS VIEIRA PROENÇA DOS SANTOS


Todos os direitos reservados por
Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
Somos Educação S.A.
Avenida das Nações Unidas, 7221
de Sorocaba (FFCL) e em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e
Pinheiros – São Paulo – SP Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo.
CEP: 05425-902 Pós-graduada em Estética pelo Departamento de Filosofia da Universidade
(0xx11) 4383-8000 de São Paulo.
© Somos Sistema de Ensino S.A.
Foi professora da rede particular e pública de ensino do estado de São Paulo.

2 Ensino Médio
Veja, no Guia do Professor, quadro de competências e

1
habilidades desenvolvidas neste capítulo.

Capítulo
O Renascimento

Arte
na península Itálica
Chama-se Renascimento o movimento cultural desenvolvido na
Europa entre 1300 e 1650. Mais do que o simples reviver da cultura
clássica greco-romana, nesse período, ocorreram, no campo das
artes plásticas, da literatura e das ciências inúmeras realizações que
superaram essa herança. O ideal do Humanismo foi o móvel de tais
conquistas e tornou-se o próprio espírito do Renascimento. Num
sentido amplo, significou a valorização do ser humano e da natureza
em oposição ao divino e ao sobrenatural, conceitos que haviam
Objetivos: tomado a cultura da Idade Média. O artista do Renascimento buscou
Caracterizar o Renascimento. expressar a racionalidade e a dignidade do ser humano.

Identificar as ideias
GALLERIE DELL’ ACCADEMIA, VENEZIA

norteadoras da arquitetura,
da escultura e da pintura
renascentistas.

Descobrir os principais
artistas do Renascimento
na península Itálica.

Reconhecer pontos em
comum entre os artistas
italianos renascentistas.

Estudo das proporções humanas feito por Leonardo da Vinci para o livro De
Architectura, de Marco Vitruvio Pollioni, 1492.

O Renascimento 3
■ A arquitetura de qualquer ponto em que se coloque.
Para compreender melhor as ideias que
orientaram as construções renascentistas, reto- Projeto de Pesquisa
memos rapidamente a linha evolutiva da arqui-
tetura religiosa. Acesse o Material Complementar disponível no Portal
No início, a basílica cristã imitava um templo e aprofunde-se no assunto.
grego e constituía-se apenas de um salão retan-
gular. Mais tarde, no período bizantino, a planta
Filippo Brunelleschi
das igrejas complicou-se num intrincado dese-
nho octogonal. A época românica, por sua vez, Filippo Brunelleschi (1375-1444) foi um dos
produziu templos com espaços mais organizados, arquitetos que primeiro projetaram edifícios que
ainda que bastante fechados. Já a arquitetura traduzem esse ideal renascentista. Exemplo de artis-
gótica buscou a verticalidade exagerada e criou ta completo do Renascimento, ele foi pintor, escul-
espaços imensos, com limites pouco claros para tor e arquiteto, além de dominar conhecimentos de
quem estivesse dentro deles. Matemática e geometria e ser grande conhecedor
No Renascimento, a preocupação dos cons- da poesia de Dante. Foi como construtor, porém,
trutores foi diferente. Era preciso criar espaços que realizou seus mais importantes trabalhos, entre
compreensíveis de todos os ângulos visuais, que eles a cúpula da catedral de Florença – conhecida
fossem resultantes de uma justa proporção entre também por igreja de Santa Maria del Fiore –, o
todas as partes do edifício. Hospital dos Inocentes e a capela Pazzi.
A principal característica da arquitetura do A construção da catedral iniciou-se em 1296,
Renascimento, portanto, foi a busca de uma ordem com Arnolfo di Cambio. Mais tarde, Giotto tam-
e de uma disciplina que superasse o ideal de infini- bém participou das obras. Em 1369, a catedral
tude do espaço das catedrais góticas. Na arquitetura estava concluída, mas o espaço que deveria ser
renascentista, o espaço ocupado pelo edifício baseia- ocupado por uma cúpula continuava aberto.
-se em relações matemáticas estabelecidas de modo Coube a Brunelleschi, em 1420, a tarefa de proje-
que o observador compreenda a lei que o organiza, tar a abóbada sobre esse espaço.
MCGILL UNIVERSITY

Catedral de Santa Maria del Fiore (1296-1436) e vista parcial da cidade de Florença. A construção da cúpula, projetada por
Brunelleschi, começou em 1420 e levou 14 anos para ser concluída.

4 Ensino Médio
BANCO DE IMAGENS/ARQUIVO DA EDITORA

MCGILL UNIVERSITY

Arte
Planta da catedral de Santa Maria del Fiore, Florença.

Segundo a planta inicial, a catedral de Flo-


rença teria uma grande nave central e duas naves
laterais que terminariam num espaço octogonal.
Baseando-se em estudos do Panteão e de outras
cúpulas romanas, Brunelleschi concluiu que seria
possível construir o domo (cobertura) de Santa
Maria del Fiore, assentando-o sobre o tambor
octogonal formado pelas paredes de pedra já
construídas. A solução ficou tão integrada ao
Abóbada da catedral de Santa Maria del Fiore projetada por
edifício que parece ter sido concebida no projeto Brunelleschi.
original.
Mas a concretização da harmonia e da regula-
ridade, como consequência das regras de geome-
RYAN DICKEY

tria, aplicadas por Brunelleschi, é mais evidente


na capela Pazzi, também em Florença e concebida
integralmente por ele.
Comparada às grandes construções do perío-
do gótico, a capela Pazzi é um edifício peque-
no. Foi, porém, construída segundo princípios
científicos tão precisos, que parece testemunhar
a potencialidade de que dispõe o ser humano.
Nessa obra, Brunelleschi alcançou plenamente os
objetivos da arquitetura renascentista. Assim, “já
não é o edifício que possui o homem, mas este
que, aprendendo a lei simples do espaço, possui o
segredo do edifício”1.
Para essa construção, Brunelleschi traçou uma
planta simétrica: um quadrado central – encimado
por um domo – ao qual foram acrescentados dois
espaços laterais que o transformaram em retângulo.
A fachada da capela compõe-se de um pórtico com
seis colunas coríntias de fuste liso que sustentam
um entablamento retangular.
Planta da capela Pazzi.
1. Bruno Zevi, Saber ver a arquitetura, p. 73.

O Renascimento 5
MARY ANN SULLIVAN, SULLIVAN@BLUFFTON.EDU

Capela Pazzi (1429-


-1443), Florença. Esta
capela foi integral-
mente concebida por
Brunelleschi.
GOC53

AKG-LATINSTOCK/HENER HENE

Cúpula central da capela Pazzi. Interior do Palácio Ducal de Urbino (1444-1465).

Urbino: um centro da cultura renascentista claras, arejadas e de proporções geométricas.


Além das obras mais conhecidas de Filippo Não se sabe com certeza quem projetou o palá-
Brunelleschi, outras construções revelam o espírito cio, apenas que um construtor chamado Laurana
científico e humanista do homem da Renascença. fez as fundações do edifício. É certo, porém, que
Uma delas está na cidade de Urbino, no norte da Piero della Francesca, um dos grandes pintores
península Itálica. Como outras pequenas cortes do Renascimento italiano, trabalhou em sua
que floresceram nas últimas décadas do século decoração. Foi para esse palácio que fez o famoso
XV, Urbino foi um importante centro da civiliza- díptico que retrata Federico de Montefeltro, o
ção ocidental no período da Renascença. primeiro duque de Urbino, e sua esposa Battista
O espírito humanista reflete-se, por exem- Sforza, que será examinado mais adiante, quando
plo, no Palácio Ducal de Urbino. Suas salas são se tratará da pintura desse período.
6 Ensino Médio
Para construir 4 (UEL-PR, adaptado)

Arte
1 O espírito humanista marcou o Renascimento. A capela proporciona uma clara percepção
Explique o que se entende por esse ideal e de que do espaço contido dentro de suas paredes [...].
forma ele influenciou a cultura do final da Idade A famosa fachada da capela Pazzi, que repousa,
Média e do início da Idade Moderna. esbelta e ágil, sobre seis colunas coríntias, é um
Contrapondo a valorização do sagrado e do sobrenatural modelo de elegância, de comedimento decora-
predominante na Idade Média, o ideal humanista privilegia o tivo e de sutil manipulação de espaços. Também
ser humano e a natureza. exemplifica o apreço, tão comum nos primeiros
tempos do Renascimento, pela clareza e pela sim-
plicidade, pela ordem e pela medida, na mente
e no corpo. O artista dividiu a fachada numa
série de quadrados relacionados entre si por
suas proporções geométricas. [...] Os quadrados
inferiores dessa área também são subdivididos
em quatro painéis. A lateral desses painéis é o
chamado número de ouro do edifício, ou seja, a
2 Que valores os artistas do Renascimento procu- unidade de medida em que se divide exatamente
raram expressar? qualquer outra parte dele [...].
Os renascentistas, incentivados pelo Humanismo, que buscava LETTS, Rosa Maria. O Renascimento.
Rio de Janeiro: Zahar, 1982. p. 48-9.
a valorização do ser humano e da natureza em oposição ao
divino e ao sobrenatural, procuraram expressar em suas obras
a racionalidade – ou seja, o rigor científico, experimentação e Com base na descrição da capela Pazzi, obra
observação da natureza –, e a dignidade do ser humano. arquitetônica de Filippo Brunelleschi, e nos conhe-
cimentos sobre o tema, considere as afirmativas
a seguir. a
I.Os elementos utilizados na descrição da capela
Pazzi (equilíbrio, harmonia e clareza) compõem as
representações culturais típicas da Europa renas-
centista.
II. A capela Pazzi, em Florença, é um exemplo típi-
co da arquitetura gótica, cuja forma era envolvida
3 Comente a principal característica da arquitetura por uma dimensão mais mítica do que racional.
religiosa do Renascimento, fazendo uma compara- III. Na arquitetura renascentista, o edifício ocupa
ção com a arquitetura gótica. o espaço baseando-se em relações matemáticas
A arquitetura gótica buscou uma verticalidade exagerada, estabelecidas de tal forma que o observador possa
criando espaços imensos, cujos limites não são claramente
compreender a lei que o organiza, de qualquer
ponto que se coloque.
visíveis. No Renascimento, era preciso criar espaços
IV. A harmonia renascentista na arquitetura, repre-
compreensíveis de todos os ângulos visuais, resultantes
sentada pela complexidade e rebuscamento das
de uma justa proporção entre todas as partes do edifício.
formas, objetivava suscitar emoções que fortale-
A principal característica da arquitetura renascentista,
cessem a religiosidade medieval.
portanto, foi a busca de uma ordem e disciplina que
Estão corretas apenas as afirmativas:
superassem o ideal de infinitude do espaço das catedrais
a) I e III. d) I, II e III.
góticas. b) II e IV. e) I, II e IV.
c) III e IV.
■ Para praticar: 1 a 3
■ Para aprimorar: 1

O Renascimento 7
■ A pintura e a atitude convincentemente humana das figuras
No final da Idade Média e no Renascimento, retratadas, leva-nos à constatação de que o ser
predomina a tendência a uma interpretação cientí- humano do século XV muda a concepção que pos-
fica do mundo. O resultado disso nas artes plásticas, sui de si próprio, do mundo e de Deus.
e, sobretudo, na pintura, são os estudos da perspec- O artista do Renascimento não vê mais o ser
tiva segundo princípios matemáticos e geométricos. humano como simples observador do mundo que
O uso da perspectiva conduziu a outro recurso, o expressa a grandeza de Deus, mas como a expres-
claro-escuro, que consiste em pintar algumas áreas são mais grandiosa do próprio Deus. O mundo é
iluminadas e outras na sombra. Esse jogo de con- pensado como uma realidade a ser compreendida
trastes reforça a sugestão de volume dos corpos. A cientificamente, e não apenas admirada.
combinação da perspectiva e do claro-escuro con-
tribuiu para conferir maior realismo às pinturas.

CAPPELLA BRANCACCI, SANTA MARIA DEL CARMINE, FLORENCE / THE BRIDGEMAN ART LIBRARY
Assim, a pintura do Renascimento confirma
três conquistas que os artistas do último período
gótico já haviam alcançado: a perspectiva, o uso do
claro-escuro e o realismo.
Outra característica da arte do Renascimen-
to, em especial da pintura, foi o surgimento de
um estilo pessoal. Durante a Idade Média, a pro-
dução artística era anônima, pois toda a arte era
resultado de ideias anteriormente estabelecidas
— seja pelo poder real, seja pelo poder eclesiástico
— às quais o artista deveria se submeter. Com o
Renascimento esse contexto se altera e confirma-
-se a existência do artista como o conceituamos
hoje: um criador individual e autônomo, que
expressa em suas obras seus sentimentos e ideias,
que cria de acordo com suas concepções.
Em decorrência disso, são muitos os nomes de
artistas que se fizeram conhecidos no Renascimento,
cada um com suas particularidades, como veremos
a seguir.

Masaccio: a pintura como imitação do real


Segundo Giorgio Vasari, crítico e historia- Adão e Eva expulsos do Paraíso, afresco de Tommaso
dor de arte do século XVI, Tommaso Masaccio Masaccio (1401-1428) na capela Brancacci, em Florença.
(1401-1428) foi o primeiro pintor do século XV a
conceber a pintura como imitação do real, como
reprodução das coisas tal como são. Fra Angelico: a busca da conciliação entre
Seu realismo é tão cuidadoso que ele parece o terreno e o místico
ter a intenção de convencer o observador de que Por seu interesse pela realidade humana, Fra
a cena retratada é real. É o que se pode observar Angelico (1384-1455) foi considerado o primeiro
em obras como São Pedro distribui aos pobres herdeiro de Masaccio. Sua formação cristã, porém,
os bens da comunidade, São Pedro cura os enfer- manifesta em sua obra uma tendência religiosa.
mos, Santíssima Trindade — afresco da igreja Assim, embora Fra Angelico siga os princípios
Santa Maria Novella, em Florença — e Adão e renascentistas da perspectiva e da correspondência
Eva expulsos do Paraíso. entre luz e sombra, seu trabalho está impregnado
A observação dessas e de outras telas de de sentido místico. O ser humano representado por
Masaccio, com os recursos da pintura renascentista ele não parece manifestar angústia ou inquietação
8 Ensino Médio
MUSEO DI SAN MARCO, FLORENÇA

Arte
Anunciação (cerca de
1437), de Fra Angelico.
Dimensões: 323 cm x
233 cm. Museu de São
Marcos, Florença.

diante do mundo, mas serenidade, pois se reco-


NATIONAL GALLERY, LONDRES

nhece submisso à vontade de Deus. É o caso, por


exemplo, de O juízo universal e Deposição.
A pintura Anunciação (reproduzida acima),
feita entre 1433 e 1434, revela também outros
traços da arte de Fra Angelico. Notamos nela que
a intenção religiosa ainda persiste, mas que a pers-
pectiva e o realismo já são bastante evidentes. As
figuras ganham volume e feições mais humanas
em relação aos quadros pintados anteriormente.
Além disso, há maior presença da geometria.

Paollo Uccello: encontro das fantasias


medievais e da perspectiva geométrica
Paollo Uccello (1397-1475) procura compreen- São Jorge e o dragão (cerca de 1455), de Paollo Uccello.
Dimensões: 57 cm x 73 cm. Galeria Nacional, Londres.
der o mundo segundo os conhecimentos científicos
do seu tempo e, em suas obras, tenta recriar a rea-
GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENÇA

lidade segundo princípios matemáticos. Ao mesmo


tempo, sua imaginação ainda busca as fantasias
medievais, o mundo lendário de um período que
já estava se transformando num passado superado.
É o caso, por exemplo, da tela São Jorge e o dragão
(acima, à direita).
Outro aspecto importante de sua pintura é a
representação do momento em que um movimento
está sendo contido. Na imagem ao lado, que perten-
ce ao painel central de um tríptico, Uccello repre-
Batalha de São Romão (1456-1460), de Paollo Uccello.
sentou o instante em que os cavalos parecem refrear Dimensões: 182 cm x 323 cm. Galeria Uffizi, Florença.
o ímpeto de uma corrida prestes a começar.
O Renascimento 9
Piero della Francesca: imobilidade

MUSEO CIVICO, SANSEPOLCRO


e beleza geométrica
Para Piero della Francesca (c.1410-1492) a
pintura não tem por função principal representar
um acontecimento. As cenas que retrata servem de
suporte para a apresentação de uma composição
geométrica. É o que podemos ver, por exemplo, na
obra Ressurreição de Jesus.
O grupo de figuras humanas ali representadas
compõe uma pirâmide, cujo ponto mais elevado
é a cabeça de Cristo e a base são os soldados que
dormem sentados no chão próximo ao túmulo.
No díptico que retrata o Duque Federico de
Montefeltro e sua esposa Battista Sforza é bastante
clara a preocupação do artista em reduzir as figu-
ras às suas formas geométricas. Essa obra antecipa
a intenção de alguns pintores modernos, como
Cézanne, de aproximar a figura humana de figuras
geométricas: nela, o rosto feminino se assemelha
a uma esfera, e o masculino, a um cubo. O artista
deu tal densidade às duas figuras de perfil, que elas
parecem ganhar volume e relevo. Outro aspecto
interessante é que, embora cada personagem esteja Ressurreição de Jesus, de Piero della Francesca. Dimen-
sões: 225 cm x 200 cm. Pinacoteca Municipal, Borgo San
isolado em um painel, a mesma paisagem, ao fundo, Sepolcro.
estabelece a unidade entre eles.
GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENÇA

GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENÇA

Battista Sforza (cerca de 1472), de Piero della Fran- Federico de Montefeltro (cerca de 1472), de Piero
cesca. Dimensões: 47 cm x 33 cm. Galeria Uffizi, della Francesca. Dimensões: 47 cm x 33 cm. Galeria
Florença. Uffizi, Florença.

10 Ensino Médio
Como pudemos ver por esses exemplos, em da casa de um dos membros da família Médici, de
Piero della Francesca a pintura não se destina a Florença, que podemos compreender melhor as

Arte
transmitir emoções, como alegria, tristeza, sensua- características de Botticelli.
lidade. Para ele, a pintura resulta da combinação A pintura representa aspectos do mundo pagão.
de figuras e do uso de áreas de luz e sombra. Seu Ao centro está a deusa Vênus e, acima dela, Cupido.
universo é representado de uma forma geométrica À esquerda de Vênus estão Zéfiro, o vento oeste na
e estática, o que pode ser observado também mitologia grega, e a ninfa Clóris – uma jovem com
em outras obras, como Batismo de Jesus e Nossa um ramo de flor na boca –, transformada em Flora,
Senhora com o menino e santos. Primavera. À direita de Vênus estão as Três Graças
e Mercúrio, o mensageiro dos deuses. Embora apa-
Botticelli: a linha que sugere ritmo e graça rentemente as figuras não tenham muita relação
Sandro Botticelli (1445-1510) é considerado entre si, o observador as percebe como um con-
o artista que melhor expressou, por meio do dese- junto. O que as une é o ritmo suave e a sugestiva
nho, um ritmo suave e gracioso nas figuras pinta- paisagem em tons escuros, que acentua a impressão
das. Os temas de seus quadros – inspirados tanto de relevo das figuras claras em primeiro plano.
na Antiguidade grega quanto na tradição cristã –
eram escolhidos segundo o potencial de expressar Acesse o Portal e o leia artigo sobre o esplendor da
Portal
pintura no Renascimento.
seu ideal de beleza. SESI EDUCAÇÃO
www.sesieducacao.com.br
Para Botticelli, a beleza estava associada ao
ideal cristão da graça divina. As figuras humanas de Para suas anotações:
seus quadros são belas porque manifestam a graça
divina e, ao mesmo tempo, melancólicas, porque
supõem que perderam esse dom.
Sua criação mais famosa, Nascimento de Vênus,
recupera um tema da Antiguidade pagã. Mas é na
obra A Primavera, feita para decorar uma parede
GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENÇA

A Primavera (cerca de 1478), de Sandro Botticelli. Dimensões: 203 cm x 314 cm. Galeria Uffizi, Florença.

O Renascimento 11
Para construir 7 Releia o texto da página 8 e explique de que
forma o realismo se manifesta na pintura Madona
5 O que caracteriza a pintura renascentista? com o menino, de Masaccio.
A utilização da perspectiva, segundo os princípios
matemáticos e geométricos, e o uso do claro-escuro

GALERIA NACIONAL, LONDRES


(algumas áreas iluminadas e outras na sombra).
A combinação da perspectiva e do claro-escuro contribuiu
para o maior realismo das pinturas. Outra característica foi
o surgimento de artistas com um estilo pessoal, criadores
autônomos, que expressam em suas obras os seus
sentimentos e suas ideias, sem submissão a nenhum poder,
seja ele real ou eclesiástico.

6 (UFG-GO) Compare as duas imagens.


INGEBORG PSALTER / MUSÉE

GIOTTO DI BONDONE/CAPPELLA SCROVEGNI, PÁDUA

Iluminura do Saltério de Cena da Virgem (1340-1360),


Ingeborg (anterior a 1210). de Giotto (Detalhe).

Relembre os alunos de que eles estudaram o Saltério


de Ingeborg e Giotto no módulo “Arte gótica”. O uso da perspectiva, o contraste entre as áreas de luz e
Um elemento de distinção entre elas, responsável sombra contribuem para o realismo. As expressões no rosto
pelo surgimento de uma arte tipicamente renascen- transmitem a ideia de que a cena é real.
tista, expressa-se por meio da: a
a) introdução da perspectiva ou do efeito de profundi-
dade na composição da pintura.
b) produção da pintura considerando a figuração bidi-
mensional.
c) elaboração de imagens antirrealistas, com apelo ao
sagrado.
d) atribuição de destaque às figuras sagradas, conforme
a hierarquia religiosa.
e) composição da pintura com base na representação
de figuras sem volume.
12 Ensino Médio
8 Leia o texto abaixo e observe detalhadamente ■ A pintura (continuação)
a figura da Batalha de São Romão, obra de Paolo

Arte
Leonardo da Vinci: a busca do conhecimento
Uccello, na página 9 antes de responder às questões.
científico e da beleza artística
Leonardo da Vinci (1452-1519) nasceu na
Paolo di Dono era seu nome verdadeiro. Uccello cidade de Vinci, próximo a Florença. Era dotado
(‘pássaro’ em italiano) era devido ao seu amor pelos de um espírito versátil, que o tornou capaz de pes-
animais, que ele desenhava sem cessar. Na década quisar e trabalhar em diversos campos do conhe-
de 1430 ficou fascinado pela perspectiva e concen- cimento humano.
trou suas energias nesta disciplina que começava Aos 17 anos esteve em Florença e foi apren-
a surgir. Recebeu muitas encomendas de prestígio, diz no estúdio de Verrocchio (que também será
mas a obsessão pela perspectiva o levou a uma estudado neste capítulo), escultor e pintor já con-
velhice solitária e excêntrica. sagrado. Em 1482 foi para Milão, onde se interes-
CUMMING, Robert. Para entender a arte. Tradução: Isa Mara Lando. São
Paulo: Ática, 1996. p. 21. sou por questões de urbanismo, e fez um projeto
para a cidade: uma rede de canais e um sistema de
abastecimento de água e de esgotos; previu ruas
a) Comente os aspectos que mais lhe chamaram a alinhadas, praças e jardins públicos.
atenção. Por volta de 1500, dedicou-se aos estudos de
Resposta pessoal. É interessante que os alunos respondam perspectiva, óptica, proporções e anatomia. Nessa
a questão individualmente e por escrito. Em momento época produziu inúmeros desenhos acompanha-
posterior, comentem o que observaram. dos de anotações e os mais diversos estudos sobre
proporções de animais, movimentos, plantas de
edifícios e engenhos mecânicos.
Da Vinci manifestou grande interesse pela
anatomia humana e procurou reproduzir com
realismo o corpo humano. Ao vermos represen-
tações como Criança no útero, precisamos levar
b) Explique de que forma o pintor obtém o efeito da em conta os conhecimentos científicos da época.
perspectiva.
SHEILA TERRY / SCIENCE PHOTO LIBRARY

As linhas convergem para um ponto de fuga (esse efeito pode


ser observado no plano de fundo do quadro).

c) Como se apresenta o contraste de cores claras e


escuras nessa pintura?
A luminosidade nos chama a atenção para a cena principal: os
cavalos em batalha no plano da frente. O restante da pintura
apresenta tons escuros.

■ Para praticar: 4 Criança no útero (desenho), de Leonardo da Vinci. Royal


■ Para aprimorar: 2 Library, Windsor (Londres).

O Renascimento 13
Em relação à pintura, o artista produziu pouco:

MUSEU DO LOUVRE, PARIS


o afresco da Última ceia, no convento de Santa
Maria delle Grazie, em Milão, e cerca de quinze
quadros, entre os quais Anunciação, Mona Lisa
(Gioconda) e Santana, a Virgem e o menino.

Mona Lisa
Também conhecida como Gioconda, esta é
a mais famosa pintura de Da Vinci e também
a obra mais visitada do Museu do Louvre, em
Paris. Alguns visitantes, porém, se decepcio-
nam ao constatar que ela mede apenas 77 cm
de altura por 53 cm de largura. O que mais
chama a atenção é o sorriso misterioso da figura
feminina. Muitos se perguntam: ela está mesmo
sorrindo? Talvez Da Vinci quisesse provocar
essa dúvida. Mais do que isso, note o efeito
de profundidade e luminosidade obtido pelo
artista. Observe a impressão de profundidade
dada pelos contornos cada vez menos nítidos
das montanhas, à medida que se distanciam do
primeiro plano. A água também se torna menos
nítida, conforme se afasta do primeiro plano.
A paisagem de fundo, com traços e cores pouco
precisos, contrasta com a figura em primeiro
plano. Observe a fisionomia com traços bem
definidos, as mãos e o colo. Veja como a pele Mona Lisa (Gioconda), óleo sobre tela de Leonardo da Vinci.
reflete luminosidade em contraste às roupas
escuras. Todos esses aspectos mostram a capa- claridade na parte direita da cena em oposição à
cidade de Da Vinci como pintor. Ainda assim, o parte esquerda. Sua intenção com tais recursos foi
que intriga o observador é que, embora os traços integrar perfeitamente o mural ao refeitório, como
da figura sejam nítidos, os sentimentos expres- se a sala representada na pintura fosse uma con-
sos em seu rosto são imprecisos. tinuidade da sala real e a luz que ilumina a parte
direita da pintura viesse das janelas que havia à
Última ceia esquerda, no refeitório.
Feito para o refeitório do mosteiro de Santa
Maria delle Grazie, em Milão, esse afresco mural A Virgem dos rochedos
representa a última refeição de Jesus com os doze Da Vinci dominou com sabedoria e expres-
discípulos, no momento em que ele anuncia que sividade o jogo de luz e sombra, criando atmos-
será traído por um deles. Da Vinci mostra, por feras que partem da realidade, mas estimulam
meio do rosto e dos gestos, principalmente das a imaginação do observador. Exemplo disso é
mãos, a reação de cada apóstolo. Observe, na o quadro A Virgem dos rochedos, no qual um
página 15, a impressão de movimento da cena: é conjunto de rochas escuras faz fundo para o
como se todos se interrogassem, tivessem suspei- grupo formado por Maria, São João Batista,
tos ou quisessem afastar de si qualquer suspeita. Jesus e um anjo.
Compare o contraste entre a inquietação dos As figuras estão dispostas de maneira a for-
discípulos e a imobilidade de Jesus. Note ainda, mar uma pirâmide, cujo vértice é Maria. A dispo-
dois outros aspectos: primeiro, a impressão de sição geométrica das personagens, somada à luz
profundidade criada pelos detalhes no forro da que incide sobre o rosto de Maria em contraste às
sala e pelas janelas abertas ao fundo; segundo, a rochas escuras, faz dela o centro da obra.
14 Ensino Médio
HTTP://IMAGES.FBRTECH.COM

Arte
Última ceia, afresco mural de Leonardo da Vinci.

Da Vinci, porém, utilizou recursos que fazem atitude de adoração de São João, a mão de Maria
com que nossa atenção se volte para o menino Jesus, estendida sobre a cabeça do menino, a atitude pro-
o qual se torna a figura principal da composição: tetora do anjo, que o apoia. A sensação de profundi-
o envolvimento do corpo do menino na luz, pela dade do quadro é proporcionada pela luz que brilha
muito além da escuridão da superfície das pedras.
MUSEU DO LOUVRE,PARIS

Michelangelo: a genialidade a serviço


da expressão da dignidade humana
Muito jovem ainda, Michelangelo Buonarotti
(1475-1564) foi aprendiz de Domenico Ghirlandaio,
consagrado pintor de Florença. Mais tarde passou
a frequentar a escola de escultura mantida por
Lourenço Médici, também em Florença, onde
entrou em contato com a filosofia de Platão e o
ideal grego de beleza – o equilíbrio das formas.
Entre 1508 e 1512, trabalhou na pintura do
teto da Capela Sistina, no Vaticano. Para essa obra,
concebeu e realizou grande número de cenas do
Antigo Testamento que atestam sua genialidade.
Entre elas, A criação do homem.
Nesse afresco, Deus é representado como um
homem de corpo vigoroso, de cabelos e barba
branca. Cercado por anjos, ele estende a mão para
tocar a de Adão, representado como um homem
A Virgem dos rochedos (1483-1486), de Leonardo da Vinci.
Dimensões: 198 cm x 123 cm. Museu do Louvre, Paris.
jovem, cujo corpo forte e harmonioso concretiza
o ideal da beleza do Renascimento.
O Renascimento 15
CAPELA SISTINA, VATICANO

A criação do homem (1511), de Michelangelo, Capela Sistina, Vaticano.

Rafael: o equilíbrio e a simetria

PALÁCIO DO VATICANO, ROMA/FRATELLI ALLINARI/CORBIS


Rafael Sanzio (1483-1520) é considerado o pintor
que melhor desenvolveu, na Renascença, os ideais
clássicos de beleza: harmonia e regularidade de formas
e cores. Tornou-se muito conhecido como pintor das
figuras de Maria e Jesus e seu trabalho foi tão precisa-
mente elaborado que se transformou em modelo para
o ensino acadêmico de pintura.
Os elementos que compõem seus quadros são
dispostos em espaços amplos, claros e segundo uma
simetria equilibrada. Por isso, suas obras comunicam
ao observador um sentimento de ordem e segurança.
Evitando o excesso de detalhes e o decorativismo,
Rafael expressou seus temas de forma clara e simples.
De sua vasta produção, A libertação de São
Pedro, A transfiguração e A escola de Atenas se A escola de Atenas (1509-1511), de Rafael Sanzio. Dimensões:
destacam. Esta última um afresco, pintado no 770 cm x 550 cm. Stanza della Segnatura, Vaticano.
Palácio do Vaticano, que “pretende ser um sumá-
rio gráfico da história da filosofia grega”2.
No centro da cena, estão Platão e Aristóteles. Para construir
À volta deles se agrupam outros sábios e estudio-
sos. Depois que o olhar do observador passeia pelo 9 (Mack-SP, adaptado) Dentre as principais carac-
conjunto de figuras procurando identificar outros terísticas do movimento denominado Renascimento
personagens, sua atenção volta-se para o amplo Cultural, encontradas nas obras de Leonardo da Vinci,
espaço arquitetônico representado. São admiráveis podemos destacar: c
a sugestão de profundidade e a beleza monumental a) o bidimensionalismo estético e a desvalorização do
de arcadas e estátuas. É, aliás, nesse modo de repre- ser humano.
sentar o espaço e de ordenar as figuras com equilí- b) o naturalismo e o geocentrismo.
brio e simetria que residem os valores artísticos da c) o antropocentrismo e o humanismo.
pintura serena, mas eloquente de Rafael. d) o teocentrismo e o uso de conceitos irracionais abs-
tratos.
2. Lionello Venturi, Para compreender a pintura, p. 72. e) a arte humanista e a ausência da perspectiva linear.
16 Ensino Médio
10 (Unicamp-SP, adaptado) Responder à questão ■ A escultura
associando os nomes dos artistas e escritores do Na escultura do Renascimento, dois artistas se

Arte
Renascimento italiano (coluna A) com as caracte- destacam pela produção de obras que testemunham
rísticas gerais de suas obras (coluna B). a crença na dignidade do homem: Michelangelo
Coluna A e Verrocchio.
1. Sandro Boticcelli 3. Giovanni Boccaccio Inicialmente, Andrea del Verrocchio (1435-
2. Leonardo da Vinci 4. Michelangelo -1488) trabalhou em ourivesaria, o que acabou
Coluna B influenciando sua escultura. Observando algumas
( ) Escultor e pintor que realizou as obras Pietá de suas obras, encontramos detalhes decorados
e Davi, inspirando-se na escultura greco-romana. que lembram o preciosismo do trabalho de um
( ) Escritor que produziu Decameron em dialeto ourives. São exemplos os arreios do cavalo, no
italiano, obra na qual, com humor, faz uma crítica Monumento equestre a Colleoni, em Veneza, e os
ao clero e aos costumes da época. detalhes da túnica de Davi, em Florença.
( ) Pintor que, além de ter produzido o retrato Verrocchio foi, ainda, artista seguro na cria-
mais famoso da história da arte, notabilizou-se ção de volumes, considerado, na escultura, um
como gênio inventivo. precursor do jogo de luz e sombra, tão próprio da
( ) Pintor que, influenciado pela mitologia clás- pintura de seu discípulo Leonardo da Vinci.
sica, concebeu Nascimento de Vênus e Alegoria da Quando alguém observa atentamente a escultura
Primavera. que Verrocchio fez para o personagem bíblico Davi,
A numeração correta na coluna B, de cima para inevitavelmente a compara ao Davi de Michelangelo.
baixo, é: É interessante notar que as figuras humanas concebi-
a) 1 – 3 – 2 – 4. d) 4 – 3 – 1 – 2. das por Michelangelo e por Verrocchio para represen-
b) 2 – 4 – 3 – 1. e) 4 – 3 – 2 – 1. tar o jovem que, segundo a narração bíblica, derrota o
c) 3 – 1 – 2 – 4. Apesar de os alunos não terem estudado as gigante Golias, são extremamente diferentes.
obras de Giovanni Boccaccio diretamente, é possível chegar à
resposta por inferência e eliminação de alternativas. A escultura de Verrocchio é feita em bronze
11 (UFPE) Leonardo da Vinci (1452-1519) é um e retrata um adolescente ágil e elegante, em uma
representante do homem moderno renascentista. túnica enfeitada, reveladora do preciosismo de um
Empenhou-se em conhecer leis que regem a nature- ourives. A figura também transmite ao observador
za e em transformar conhecimento em técnica. Foi uma sensação de fragilidade.
um cientista e um artista. Sobre a arte renascentista, Já a escultura de mármore, de Michelangelo,
é correto afirmar que: apresenta-se como um desafio para quem a con-
1) a utilização da técnica de aquarela, na pintura, templa. Não se trata de um adolescente, e sim de
foi dominante em toda a Itália e proporcionou uma “um jovem adulto, com o corpo tenso e cheio de
melhor compreensão do mundo. energias controladas. Não é frágil como o Davi
2) foi valorizada pela burguesia; entretanto, não de Verrocchio, nem perfeito e elegante como o
adquiriu prestígio social. Antinuos* grego. A mão é colossal, mesmo na pro-
3) foram experimentados novos materiais, como porção da estátua. É a mão de um homem do povo,
a tinta a óleo, e a pintura sobre telas, em subs-
forte e acostumado ao trabalho. Já a cabeça exibe os
tituição à pintura mural, e a utilização de novas
traços mais reveladores. O Davi de Michelangelo
técnicas, como a perspectiva.
tem uma expressão desconhecida na escultura até
4) teve suas primeiras manifestações no norte da
então. Contém uma espécie de força interior que
Itália, com Giotto.
não aparece no humanismo idealizado dos gregos.
5) abordou temas como a dignidade, a individuali-
O Davi de Michelangelo é heroico. Possui um tipo
dade e a racionalidade do homem.
de consciência que surge com o Renascimento
Estão corretas apenas: d
em sua plenitude: a capacidade de enfrentar os
a) 1, 2 e 4. d) 3, 4 e 5.
b) 2, 3 e 5. e) 2, 3 e 4.
desafios da existência. Não é apenas contra Golias
c) 1, 4 e 5. *Antinuos: jovem grego que viveu no século II, notá-
■ Para praticar: 5 e 6 vel por sua beleza e representação em inúmeras es-
■ Para aprimorar: 3 culturas.

O Renascimento 17
ARTE IMMAGINI SRL/CORBIS
MUSEO NAZIONALE DEL BARGELLO, FIRENZE / AKG-LATINSTOCK

Davi (cerca de 1476), de Verrocchio. Altura: 126 cm. Bargello, Davi (1501-1504), de Michelangelo. Altura: 410 cm.
Florença. Museu da Academia, Florença.

que este Davi se rebela e batalha. É contra todas as


ARALDO DE LUCA/CORBIS

adversidades que podem ameaçar o ser humano”3.


A criatividade de Michelangelo manifestou-se
ainda em outros trabalhos, como a Pietà, conhe-
cido conjunto escultórico conservado atualmente
na basílica de São Pedro, em Roma, e as esculturas
para a capela da família Médici, em Florença.
Produzida quando o artista tinha pouco mais
de 20 anos, Pietà é resultado de um surpreendente
trabalho de escultura em mármore, que registra,
com muita naturalidade, o drapeado das roupas, os
músculos e as veias dos corpos. Mas é na figura de
Maria que Michelangelo manifesta seu gênio criador.
Desobedecendo a passagem do tempo, retrata a mãe
de Jesus como uma mulher jovem, cuja expressão de
docilidade contrasta com o assunto da cena: o reco-
lhimento do corpo de seu filho após a morte na cruz.
Evidentemente, é possível admirar muitos
escultores italianos renascentistas, mas a grandeza
heroica de Michelangelo detém os olhos e as emo-
ções de quem quer conhecer a arte da escultura
desse período.
Pietà (1498-1499), de Michelangelo. Dimensões:
3. Olívio Tavares de Araújo. “Arte é Humanismo”, incluído no folheto de 174 cm x 195 cm x 64 cm. Basílica de São Pedro, Vaticano.
divulgação do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, p. 14-5.

18 Ensino Médio
Para construir

MICHELANGELO BUONARROTI/CAPELA SISTINA, VATICANO

Arte
12 (UFSM-RS) Davi, de Michelangelo, é expres-
são do(a): a
a) junção da tradição bíblica com a herança greco-
-romana.
b) repúdio renascentista em relação às figuras da Bíblia.
c) visão teocêntrica dos humanistas racionalistas.
d) crise da cultura antropocêntrica e naturalista.
e) desconhecimento da arte clássica.

13 Faça uma comparação entre a escultura do


personagem bíblico Davi, de Michelangelo, e a
escultura homônima de Verrocchio.
O Davi de Verrocchio é uma escultura em bronze e retrata um
adolescente ágil e elegante, em sua túnica enfeitada. Já o Davi
em mármore de Michelangelo apresenta-se como “um jovem
adulto, com o corpo tenso e cheio de energias controladas”,
segundo Olívio Tavares de Araújo. Ainda conforme o autor,
o Davi de Michelangelo não é frágil como o de Verrocchio.
A mão é colossal e acostumada ao trabalho. O Davi de Juízo final
Michelangelo é heroico, contém uma espécie de força que não
aparece no humanismo idealizado dos gregos. Com base no trabalho de Michelangelo, pode-se
considerar correta a seguinte afirmação: e
a) Sua arte restaura os valores da pólis grega: a exal-
14 (UFSM-RS) A estátua Lacoonte e seus filhos, tação da razão, a morte dos deuses, a hegemonia da
produto do helenismo, foi desenterrada em Roma, assembleia popular.
em 1506, impressionou Michelangelo (1475-1564) b) Sua obra rompe com o naturalismo e inaugura as
e influenciou seu trabalho artístico em Juízo final. formas da arte moderna: a ênfase no abstrato.
c) Seu modo de representar a figura humana se opõe ao
MUSEO PIO-CLEMENTINO, VATICANO/ARQUIVO DA EDITORA

hedonismo e à glorificação do natural.


d) Seu trabalho glorifica o divino e o extraterreno em
oposição ao humano e natural.
e) Sua colaboração artística se insere no movimento
intelectual que forma os valores modernos: naturalismo
e individualismo.
■ Para praticar: 7
■ Para aprimorar: 4 e 5

Para suas anotações:

Lacoonte e seus filhos

O Renascimento 19
Para praticar

SANDRO BOTTICELLI / GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENÇA


1 (Fuvest-SP) Leia:

No campo científico e matemático, o pro-


cesso da investigação racional percorreu um longo
caminho. Os elementos de Euclides, a descoberta
de Arquimedes sobre a gravidade, o cálculo por
Eratóstenes do diâmetro da terra com um erro de
apenas algumas centenas de quilômetros do núme-
ro exato, todos esses feitos não seriam igualados na
Europa durante 1500 anos.
Finley, Moses I. Os gregos antigos.
a) Como se denomina o período da história da cultura e
das artes no qual Botticelli viveu?
O período a que se refere o historiador Finley, b) Aponte duas diferenças entre a iluminura e a pintura
para a retomada do desenvolvimento científico, a óleo, tendo em vista os contextos históricos em que
corresponde: foram produzidas.
a) ao Helenismo, que facilitou a incorporação das ciên-
cias persa e hindu às de origem grega.
5 O que se pode apontar de comum na obra e nos
b) à criação das universidades nas cidades da Idade
estudos de Brunelleschi e Da Vinci?
Média, onde se desenvolveram as teorias escolásticas.
c) ao apogeu do Império Bizantino, quando se incenti-
vou a condensação da produção dos autores gregos. 6 Junto a outros colegas, escolha um artista do
d) à expansão marítimo-comercial e ao Renascimento, Renascimento para ser estudado com mais profun-
quando se lançaram as bases da ciência moderna. didade – Piero della Francesca, Botticelli, Leonardo
e) ao desenvolvimento da Revolução Industrial na da Vinci, Michelangelo, Rafael e outros. Faça um
Inglaterra, que conseguiu separar a técnica da ciência. levantamento de dados sobre eles. Depois de esco-
lhidos os artistas, a atividade pode ser organizada
2 Retome as imagens da página 6. Descreva as do seguinte modo:
características típicas da arquitetura renascentista a) Informem os dados biográficos dos artistas.
que podem ser observadas na capela Pazzi. b) Hoje o artista é um profissional. No Renascimento
também era assim. Portanto, é importante esclarecer
3 (Unifesp) A arte do Renascimento é chamada de: questões como estas: quem os contratava, se tinham
a) barroca, e se inspira no gótico e no românico. ajudantes, se eram bem pagos pelas obras, como
b) romântica, e se inspira na natureza. viviam, quais eram suas ferramentas de trabalho, se
c) maneirista, e se inspira na objetividade. introduziram novos recursos artísticos para realizar
d) realista, e se inspira na subjetividade. suas obras.
e) clássica, e se inspira no mundo greco-romano. c) Façam um levantamento das principais obras, com
informações sobre quando foram feitas e onde se
ALBUM/AKG-IMAGES/LATINSTOCK

4 (Vunesp) Observe e encontram expostas na atualidade.


compare as duas figu- d) Estabeleçam a relação entre essas obras e as carac-
ras seguintes, uma ilu- terísticas da época em que foram feitas.
minura, que ilustra um
e) Façam um cartaz com os dados estudados, ilustrado
manuscrito do século
por reproduções de obras do artista.
XIII, e a pintura deno-
minada A calúnia, de f) Num dia combinado com antecedência, cada grupo
Sandro Botticelli, artista expõe seu trabalho para a turma. Nessa ocasião, os
florentino do século XV. alunos podem conversar sobre quais foram as con-
tribuições de cada artista para a evolução das artes
plásticas.
20 Ensino Médio
7 (UFSM-RS) 2 (UFPR) Na transição entre a Idade Média e a
Idade Moderna:

Arte
O ‘Davi’ de Miche- (01) Na inspiração artística da Renascença, os motivos reli-
langelo tem uma expres- giosos constituíram uma exceção. No conjunto das obras
são desconhecida na do período, este foi o caso de Velázquez e Rembrandt.
escultura até então. [...] (02) A arte renascentista preocupou-se com o homem
O ‘Davi’ de Michelangelo e, tecnicamente, com o jogo de cores, luzes e sombras,
é heroico. Possui um tipo perspectiva e movimento.
de consciência que surge (04) Os princípios do racionalismo e do humanismo
com o Renascimento [...]: tiveram origem na teologia medieval, que defendia a
a capacidade de enfrentar os desafios da existência. independência da razão frente ao mundo espiritual.
ARAÚJO, Olívio. In: GRAÇA PROENÇA. História da Arte.
São Paulo: Ática, 2001. p. 91. (08) O homem do Renascimento considerava-se inseri-
do em um “tempo novo”, que expressava a concepção
A consciência expressa pelo Davi de Michelangelo de mundo de uma sociedade marcada pelo desenvolvi-
relaciona-se com: mento da economia mercantil.
a) a expansão europeia pela América, África e Ásia e a (16) O Renascimento artístico optou pelo gradual aban-
implantação do sistema de livre comércio. dono dos valores e formas da Antiguidade Clássica que
b) a crise da Igreja de Roma devido à imoralidade do haviam sido resgatados durante a Idade Média.
clero e à afirmação da dimensão sagrada do homem. (32) As Grandes Navegações, ao abrirem novos mun-
c) os novos valores referentes à afirmação da excelên- dos à exploração dos europeus, contribuíram para o
cia humana, bem como com as realizações materiais da questionamento de valores filosóficos e culturais na
nascente burguesia comercial. Época Moderna.
d) a crise do Estado Absolutista e com o surgimento do Soma:
Estado Liberal e a preocupação deste com a felicidade
humana. 3 (ESPM-SP) Leia:
e) as novas descobertas e invenções científicas e tec-
nológicas, assim como com o final de disputas bélicas Algumas cidades reinventam-se continuamente
entre os Estados europeus. com o passar dos séculos, alterando seu estilo arquite-
tônico, seu governo, religião e às vezes até mesmo
o próprio nome. Outras cidades permanecem eter-
Para aprimorar namente enraizadas na própria história, cultura e
crenças de uma única era. Nenhuma cidade é fiel a
1 (Fuvest-SP) Já se observou que, enquanto a arqui- um ponto da história com tanta tenacidade quanto
tetura medieval prega a humildade cristã, a arquite- Florença, localizada nos montes toscanos da penínsu-
tura clássica e a do Renascimento proclamam a la Itálica. Florença permanece eternamente a cidade
dignidade do homem. Sobre esse contraste pode-se da Renascença, a cidade de Bernini e Michelangelo.
afirmar que: No auge, quando era cidade de atividade bancária
a) corresponde, em termos de visão de mundo, ao que em 1422, cerca de setenta e dois bancos internacio-
se conhece como teocentrismo e antropocentrismo. nais operavam em Florença. Entre as famílias que
b) aparece no conjunto das artes plásticas, mas não nas concediam empréstimos por lá, nenhuma adquiriu
demais atividades culturais e religiosas decorrentes do uma reputação tão suprema como uma que, além do
humanismo. dinheiro ganho em operações bancárias, obteve poder
c) surge também em todas as demais atividades artísti- na política e glória por seu patronato nas artes.
cas, exprimindo as mudanças culturais promovidas pela WEATHERFORD, Jack. A história do dinheiro.
Rio de Janeiro: Campus, 2005.
escolástica.
d) corresponde a uma mudança de estilo na arquitetura,
sem que a arte medieval como um todo tenha sido aban- O patronato nas artes, em Florença, citado no texto
donada no Renascimento. deve ser relacionado com a família:
e) foi insuficiente para quebrar a continuidade existente a) Sforza. c) Médici. e) Gonzaga.
entre a arquitetura medieval e a renascentista. b) Visconti. d) Bórgia.
O Renascimento 21
4 (UEG-GO) Os padrões estéticos, longe de serem II. A figura 2 representa um padrão estético femi-
absolutos, são determinados por circunstâncias nino da sociedade capitalista contemporânea, onde
históricas específicas. Compare os padrões estéti- o corpo esbelto é continuamente exposto na mídia,
cos femininos das figuras apresentadas e julgue a tornando-se um modelo de beleza e um critério de
validade das proposições a seguir. aceitação social.
III. No Renascimento, as representações do corpo
LEONARDO DA VINCI/GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENÇA

feminino ganham destaque em função da reavalia-


ção da condição humana, fazendo com que o corpo
deixe de ser fonte de pecado e torne-se fonte de
investigação e deleite.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas as proposições I e II são verdadeiras.
b) Apenas as proposições I e III são verdadeiras.
c) Apenas as proposições II e III são verdadeiras.
d) Todas as proposições são verdadeiras.

5 (PUC-SP) A Pietà é uma escultura em már-


more de Michelangelo (1475-1564), realizada no
fim do século XV, no contexto do Renascimento.
Giorgio Vasari (1511-1574), um dos mais impor-
tantes intérpretes da obra de Michelangelo,
ao falar desta obra, destaca seu refinamento
técnico. O próprio Michelangelo reconheceu a
Figura 1
maestria da Pietà ao gravar, pela primeira vez,
sua assinatura na faixa que atravessa o peito
da Virgem. Ainda a propósito dessa escultura,
UEG-GO

Vasari comenta:

Como a mão do artista pôde realizar, de


maneira tão divina, em tão pouco tempo uma
obra tão admirável? Parece um milagre: que
uma rocha informe tenha atingido uma perfeição
tamanha que a própria natureza só raramente a
modela na carne.
PAOLUCCI, Antonio. Michelangelo. Florença, ATS. 1993.

A partir do comentário de Vasari, apresente o con-


texto histórico em que se insere o Renascimento,
as novas concepções que passaram a orientar
a produção artística e sua relação com a nova
visão – humanista – de mundo que marca esse
Figura 2 movimento estético-cultural. Produza um texto-
-síntese em que as informações utilizadas este-
I. A figura 1 representa um modelo feminino da jam claramente articuladas, contextualizadas e
sociedade europeia do Renascimento, onde se relacionadas às discussões propostas. A resposta
valorizavam formas mais robustas, reflexo de uma poderá, ainda, ser aprofundada por meio do des-
época em que havia abundância de alimentos para taque de outras obras e nomes expressivos do
a grande maioria da população. Renascimento.
22 Ensino Médio
Veja, no Guia do Professor, quadro de competências

2
e habilidades desenvolvidas neste capítulo.

Capítulo
O Renascimento

Arte
fora da península
Itálica
Com o tempo, as concepções estéticas de valorização da cultura
greco-romana ultrapassaram as fronteiras da península Itálica e
chegaram a outras regiões da Europa. Foi comum nesses locais o
conflito entre as formas artísticas nacionais e as novas tendências,
vindas de fora. Mas esse conflito acabou se resolvendo com a
Objetivos: nacionalização dessas novas ideias.
Caracterizar o Renascimento
que se manifestou fora da
GRAPHISCHE SAMMULUNG ALBERTINA, VIENA

península Itálica.

Identificar as ideias
norteadoras da pintura
renascentista dos alemães e
dos flamengos.

Descobrir os principais
artistas do Renascimento
da Alemanha e dos Países
Baixos.

Uma senhora em traje de baile (1500), aquarela do pintor alemão


Albrecht Dürer.

O Renascimento 23
Entre as artes plásticas, foi a pintura que, Dürer tornou-se famoso pelos vários retratos
fora da península Itálica, melhor refletiu a nacio- que fez de si mesmo, do pai e de personalidades
nalização do espírito humanista próprio do da época. Diferentemente de outros artistas – que
Renascimento. No século XV, ainda eram con- admiravam a geometria e utilizaram as figuras
servadas, na pintura germânica e da dos Países geométricas como suporte para o desenho da
Baixos, por exemplo, as características do estilo figura humana –, buscou também os traços psico-
gótico. Mas alguns artistas, como Dürer, Hans lógicos do retratado, o que deu certa inquietação
Holbein, Bosch e Bruegel, fizeram uma espécie de a sua arte.
conciliação entre o gótico e a nova pintura italia- O artista valorizou, ainda, a observação da
na, que resultava de uma interpretação científica natureza e a reproduziu fielmente em muitos de
da realidade. seus trabalhos. Para reproduzir a figura de um ani-
mal como Dürer o fez, é necessário tanto dominar
a arte do desenho e da pintura como ser dotado de
■ Dürer: a arte e a realidade grande capacidade de observação.
Albrecht Dürer (1471-1528) foi o primeiro
artista germânico a conceber a arte como uma

GRAPHISCHE SAMMLUNG ALBERTINA, VIENA


representação fiel da realidade.
Em Retrato de um homem jovem, como em
várias de suas obras, Dürer procurou refletir a
realidade de seu tempo, representando a figura
humana em seus trajes característicos para dife-
rentes ocasiões (veja imagem abaixo e a de aber-
tura do capítulo).
STAATLICHE MUSEEN, BERLIM

Lebre de campo (1502), obra de Albrecht Dürer.

■ Hans Holbein: a valorização


do Humanismo
Hans Holbein (1498-1543) ficou conhecido
na história da pintura como retratista de perso-
nalidades políticas, financeiras e intelectuais da
Inglaterra e dos Países Baixos.
Seus personagens são retratados segundo os
princípios de um realismo tranquilo, diferente
da inquietação que Dürer imprimia a seus retra-
tos. Soube expressar com serenidade e esmero
técnico tanto o ideal renascentista de beleza
como a precisão da forma. É bastante conheci-
Retrato de um homem jovem (1520), pintura de Albrecht do entre seus retratos o de Erasmo de Roterdã,
Dürer.
filósofo humanista do século XVI.
24 Ensino Médio
Holbein retratou o amigo com atenção aos seus ■ Bosch: a força da fantasia
traços físicos e psicológicos, valorizando sua aparên- Hieronymus Bosch (1450-1516) criou um esti-

Arte
cia tranquila e procurando expressar um dos ideais lo inconfundível. Sua pintura é rica em símbolos da
renascentistas de beleza: a dignidade humana. astrologia, da alquimia e da magia conhecidas no
final da Idade Média. Nem todos os elementos de
MUSEU DO LOUVRE, PARIS

suas telas, no entanto, podem ser decifrados, uma


vez que ele seleciona e combina aspectos dos mais
diversos seres, criando formas muitas vezes exis-
tentes apenas em sonhos ou delírios. Desse modo,
uma figura pode apresentar aspectos vegetais e
animais associados arbitrariamente pelo artista.
Alguns críticos veem na pintura de Bosch a
representação do conflito que inquietava o espírito
humano no fim da Idade Média: a tensão entre o
sentimento do pecado ligado aos prazeres mate-
riais e a busca das virtudes de uma vida ascética.
Além disso, um forte misticismo havia se espalha-
do pela Europa entre a população mais simples,
dando margem ao fortalecimento de conceitos
supersticiosos e a crenças em manifestações tanto
divinas quanto diabólicas.
Esses conflitos podem ser vistos em obras
como As tentações de Santo Antônio, Carroça de
Erasmo de Roterdã (cerca de 1523), de Hans Holbein. feno e Os sete pecados capitais. Mas, das obras de
Dimensões: 42 cm x 30 cm.
Bosch, a mais instigante é inegavelmente o tríptico
O jardim das delícias.
MUSEU DO PRADO, MADRI.

O jardim das delícias (cerca de 1500), de Hieronymus Bosch. O painel da esquerda é denominado Paraíso terrestre, o do centro,
Jardim das delícias, e o da direita, O inferno musical.

O Renascimento 25
No painel da esquerda, chamado Paraíso ■ Bruegel: um retrato das pequenas
terrestre, o artista retrata a criação de Adão e aldeias do século XVI
Eva, tendo como cenário uma paisagem exóti- Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569), viveu nas
ca e nada parecida com a imagem do paraíso grandes cidades da próspera Flandres (localizada
descrita na Bíblia. O painel central é o próprio na região da atual Bélgica), já sob a influência dos
Jardim das delícias, no qual estranhos persona- ideais renascentistas. Apesar disso, ele retratou em
gens, frutos e aves, peixes e outros animais pare- suas obras a realidade das pequenas aldeias que
cem realizar um movimento delirante. No pai- ainda conservavam a cultura medieval. São exemplos
nel da direita, O inferno musical, Bosch cria um dessa temática: Caçadores da neve, Banquete nupcial,
clima complexo e terrível. Misturando formas Dança campestre e Jogos infantis.
humanas, animais, vegetais e minerais, em meio Jogos infantis, reproduzida a seguir, representa 84
a tons sombrios e soturnos, procura descrever o brincadeiras de crianças. Dois fatos destacam-se nessa
pesadelo daqueles que viviam aterrorizados pelo obra. Em primeiro lugar, a composição com grande
medo do inferno. número de figuras, técnica que o artista dominava
com segurança. Em segundo, a atitude das crianças:
elas não parecem estar brincando por prazer, mas sim
MUSEU DO PRADO, MADRI.

por obrigação, como se executassem um trabalho.


Essa sensação é dada pela ausência de sorriso no rosto
delas. A melancolia é o seu traço mais marcante.

Projeto de Pesquisa

Acesse o Material Complementar disponível no Portal e


aprofunde-se no assunto.

Para suas anotações:


Detalhe do painel
central de O jardim
das delícias, de Hie-
ronymus Bosch.
KUNSTHISTORISCHES MUSEUM, VIENA.

Jogos infantis (1560), óleo sobre tela de Pieter Bruegel. Dimensões: 118 cm x 161 cm.

26 Ensino Médio
■ Enquanto isso...

Arte
O Renascimento encontra a cultura árabe
Durante o reinado de Carlos de Habsburgo

NAN E HENRI STERLING, GENEBRA / ED. KÔNEMAN


(1500-1558), o conjunto arquitetônico conhecido
como Alhambra, na região de Córdoba, Espanha,
passou por reformas que deram a muitos de seus
salões características próprias do Renascimento.
Entretanto, a história e a riqueza da arquitetu-
ra e da decoração da Alhambra estão associadas
primordialmente à cultura árabe.
No século VIII, iniciou-se a invasão da Europa
pelos muçulmanos, que até o século XIII domina-
ram a península Ibérica. Como a expulsão dos mu-
çulmanos da região de Córdoba foi mais demorada,
só ocorrendo em 1492, as construções dos palácios
da Alhambra estenderam-se para além do sécu-
lo XIII: as obras foram realizadas principalmente
entre 1248 e 1354, durante o reinado de Yussef I,
Mohamed V, Ismail I, entre outros.
De acordo com as tendências artísticas ára-
bes, a arquitetura dos palácios que compõem a
Alhambra foi ricamente decorada com cerâmica
desenhada e esculturas com motivos derivados
de elementos da natureza e linhas geométricas.
Palácio de Comares (século XVI), que faz parte do conjun-
São exemplos famosos dessas construções o Palá- to arquitetônico da Alhambra, em Córdoba, Espanha.
cio de Comares e o Palácio dos Leões.
NAN E HENRI STERLING, GENEBRA / ED. KÔNEMAN

Palácio dos Leões, do conjunto


arquitetônico da Alhambra, em
Córdoba, que junto com ao palá-
cio de Comares chamou-se Casa
Real Velha.

O Renascimento 27
■ Veja que interessante!
Escher, século XX – Alhambra, século XIV
Ao olhar as cerâmicas que revestem muitas sentações, aparentemente infinitas, de poucas
paredes dos palácios de Alhambra, com imagens figuras ou até de uma única figura.
que se repetem ou obedecem a uma gradação de Para melhor entender o trabalho do artista,
tamanho, o observador pode descobrir novas e é interessante ler esse trecho de uma carta que
surpreendentes formas e figuras. ele enviou ao sobrinho Rudolf Escher, em 1944:
A cerâmica de Alhambra que aqui aparece “Em primeiro lugar, minha obra está estreita-
pode ser vista como uma das fontes dos estudos mente relacionada à divisão regular do plano.
e obras de um dos mais famosos artistas gráfi- Todas as imagens dos últimos anos provêm dis-
cos do século XX, o holandês Maurits Cornelis so, do princípio das figuras congruentes, que,
Escher (1898-1972). Escher explorou as possibi- sem deixar nenhum ‘espaço aberto’, preenchem
lidades de transformação de uma forma em ou- sem fim o plano, ou, ao menos, fazem isso de
tra, tornando-se muito popular por suas repre- maneira ilimitada”.
WULF FORRESTER-BARKER

M. C. ESCHER FOUNDATION, BAARN

Obra-prima de mosaico cerâmico da cultura


islâmica, em Alhambra, Granada. Estudo de Escher sobre a cerâmica de Alhambra.
M. C. ESCHER FOUNDATION, BAARN

M. C. ESCHER FOUNDATION, BAARN

Divisão regular do plano no 70, aquarela de M. C. Menor e menor (1956), xilogravura de M. C.


Escher. Escher.

28 Ensino Médio
Para construir é infinito’. Com este quadro, Bruegel teve a intenção
de entreter e instruir. Fez isso com admirável sucesso,

Arte
1 Existiu um conflito entre a arte nacional dos paí- criando uma janela para o mundo, tanto no sentido
ses europeus de fora da península Itálica e as ten- visual quanto moral. A obra de Bruegel resistiu ao
dências de valorização da cultura greco-romana na tempo porque cada geração tem a sensação de que
península Itálica. Como esse conflito se resolveu? ela se refere às questões do seu próprio tempo.
CUMMING, Robert. Para entender a arte.
As tendências da valorização da cultura greco-romana Tradução: Isa Mara Lando. São Paulo: Ática, 1996.
acabaram influenciando toda a Europa, além dos limites da
península Itálica. Assim, os países assimilaram essas novas
Observe o detalhe da pintura Provérbios flamengos
concepções estéticas, mas integrando-as à arte nacional.
(1559), Pieter Bruegel. Repare no alto, à esquerda,
no casal se beijando sob a figura de uma vassoura.
Naquela época, morar junto sem estar oficialmente
casado era um estado de pecado. Dizia-se que o
casal “vivia debaixo da vassoura”.

GALERIA DE PINTURA, MUSEU ESTADUAL, BERLIM


2 Aponte características nas obras do pintor ale-
mão Albrecht Dürer que também estão presen-
tes nas obras de artistas italianos da época do
Renascimento.
Dürer tem em comum com os artistas italianos da época
a valorização de métodos científicos de observação da
natureza e a preocupação em reproduzi-la fielmente. Os
seus desenhos, como os de Da Vinci, contribuíram para a
compreensão científica da natureza.

Obra-prima de mosaico cerâmico da cultura islâmica, em


Alhambra, Granada.
3 Quais as principais características da pintura de
Hieronymus Bosch?
A pintura de Bosch é rica em símbolos da astrologia, da a) Agora, descreva outras cenas retratadas no quadro.
alquimia e da magia. O artista também combina aspectos Alguns exemplos entre as cenas representadas: uma mulher
dos mais diversos seres, criando formas possíveis apenas carrega fogo em uma mão e água na outra, um homem bate
em sonhos e delírios: uma figura pode apresentar aspectos com a cabeça na parede, o arqueiro lança flechas a tortas.
vegetais e animais associados, por exemplo.
b) Tente atribuir um significado ou criar um provérbio
corresponde às cenas descritas. Depois, comente seus
registros com os colegas.
Resposta pessoal. A discussão em torno das cenas pode ser
4 Leia o texto abaixo: uma atividade divertida. Se preferir, o professor pode ampliar
a imagem e colocá-la no mural da classe. Os alunos juntam
seus textos, indicando com setas as cenas a que se referem.
Os provérbios eram um meio de expressão
Levante também provérbios ou gírias que os estudantes usam
importante da época de Bruegel, e muitas vezes eram
expressos visualmente. Havia muitas gravuras com no dia a dia e seus significados.
temas desse gênero, que eram baratas e circulavam
com facilidade. Um trecho da Bíblia muito lido ■ Para praticar: 1 e 2
na época era o Eclesiastes, um dos livros do Velho ■ Para aprimorar: 1 e 2
Testamento que contém a frase ‘o número de tolos
O Renascimento 29
Para praticar o trabalho de ilustração de livros pode ser feito por
uma variedade de recursos de computação gráfica,
1 (Unifesp) O Renascimento Cultural se iniciou mas, durante muito tempo, os desenhos foram feitos
na Itália, no século XIV, e se expandiu para outras por artistas contratados. São famosas, por exemplo,
partes da Europa nos séculos seguintes. Uma de as ilustrações de Gustave Doré para o Dom Quixote
suas características é a: de la Mancha, de Miguel de Cervantes, ou as de Poty
a) adoção de temas religiosos, com o objetivo de auxi- para o livro Sagarana, de João Guimarães Rosa.
liar o trabalho de catequese. Selecione, em casa ou na biblioteca da escola,
b) pesquisa técnica e tecnológica, na busca de novas livros ilustrados. Escolha diferentes tipos de livros:
formas de representação. novos e antigos, para adultos e crianças, cientí-
c) recusa dos valores da nobreza e a defesa da cultura ficos ou não. Elabore um texto descrevendo as
popular urbana e rural. ilustrações, relacionando-as ao tipo de literatura
d) manutenção de padrões culturais medievais, na correspondente. Apresente as publicações à classe
busca da imitação da natureza. numa aula posterior.
e) rejeição da tradição clássica e de seu princípio antro- 2 Forme um grupo com alguns colegas e entre em
pocêntrico. contato com profissionais de editoras, estudante de
escolas de arte ou artistas gráficos para saber como
2 (Ufscar-SP, adaptado) Observe a figura. é o trabalho de um ilustrador de livros. Com base
em entrevistas, escrevam uma reportagem e afixe-a
GALERIA DE PINTURA, MUSEU ESTADUAL, BERLIM

no mural da classe. Esse trabalho poderá ser feito em con-


junto com o professor de Língua Portuguesa, que poderá colaborar
no planejamento das entrevistas e orientar a redação final.
Visite os sites
■ Galeria Uffizi, de Florença
www.polomuseale.firenze.it/english/musei/uffizi (em
inglês). Acesso em: 8 nov. 2009.
■ Kunsthistorisches Museum, Viena
www.khm.at (em alemão ou inglês).
Acesso em: 8 nov. 2009.
■ Museu Albertina, Viena
Detalhe de Os Provérbios flamengos, 1559. www.albertina.at (em inglês).
Acesso em: 8 nov. 2009.
Sobre esta obra, apresentam-se quatro afirmações. ■ Museu Britânico, Londres
I. Faz parte da arte renascentista europeia. www.thebritishmuseum.ac.uk (em inglês).
II. Contém uma dimensão de humor e de crítica Acesso em: 8 nov. 2009.
aos comportamentos humanos. ■ Museu do Louvre
III. Narra a história das atividades de trabalho do
www.louvre.fr (em francês).
camponês no início da Idade Média.
Acesso em: 8 nov. 2009.
IV. Apoia a ideia da Igreja católica de elevação
espiritual humana para os pobres e humildes.
■ Museu do Prado, Madri
http://museoprado.mcu.es (em espanhol).
Estão corretas as afirmações: Acesso em: 8 nov. 2009.
a) I e II, apenas. d) II, III e IV, apenas. ■ Superintendência Histórica, Artística e
b) I, II e IV, apenas. e) I, II, III e IV.
Demoetnoantropológica de Florença
c) I, III e IV, apenas.
www.sbas.firenze.it (em italiano).
Para aprimorar Acesso em: 8 nov. 2009.
■ Vaticano
1 Albrecht Dürer destacou-se não só como pintor,
http://www.vatican.va (em vários idiomas).
mas também como desenhista e gravador. Os dese-
Acesso em: 8 nov. 2009.
nhos que fez para ilustrar livros são famosos. Hoje
30 Ensino Médio
Referências bibliográficas

Arte
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Paulo: Mestre Jou, 1972. 2 v. Fontes, 1978.

Gabarito
Capítulo 1 – O Renascimento na península itálica 6. Resposta de acordo com a pesquisa.
■ Para praticar, página 20
7. c
1. d ■ Para aprimorar, página 21
2. Tanto o interior quanto o exterior da capela apresen- 1. a
tam formas geométricas harmônicas e simétricas. 2. Soma: 02 + 08 + 32 = 42
3. e 3. c
4. a) O período se chama Renascimento ou Renas- 4. c
cença. 5. A resposta é pessoal, mas o texto deve conter os
b) A iluminura, arte característica da Idade Média, não seguintes pontos: a passagem da Idade Média para
adota os princípios de perspectiva, profundidade e a Moderna, os valores renascentistas de racionalis-
tridimensionalidade presentes na pintura do Renasci- mo, experimentação, observação, individualismo e
mento, em razão da ausência da valorização da ciên- valorização do homem. Além disso, deve-se discorrer
cia na cultura medieval marcada pelo teocentrismo. sobre o conceito de antropocentrismo, as caracterís-
5. Brunelleschi e Leonardo da Vinci tinham em co- ticas da arte renascentista e relacionar as mudanças
mum o fato de serem artistas de múltiplos interesses. renascentistas ao desenvolvimento da burguesia.
O primeiro foi pintor, escultor e arquiteto, e dominou
conhecimentos de matemática e geometria. Da Vinci
foi escultor, pintor, urbanista e dedicou-se a estudos Capítulo 2 – O Renascimento fora da península
de anatomia, óptica, mecânica, etc. Tais característi- itálica
cas expressam a valorização do conhecimento cientí- ■ Para praticar, página 30

fico e da observação da natureza, típicas do Renasci- 1. b 2. a


mento. Ambos buscavam o conhecimento científico, ■ Para aprimorar, página 30

em particular as relações matemáticas e o emprego 1. A resposta depende da pesquisa.


da geometria. 2. A resposta depende da pesquisa.
O Renascimento 31
ALUNO

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