Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Módulo I - Violência e Criminalidade - Conceitos, Classificações e Reflexões
Módulo I - Violência e Criminalidade - Conceitos, Classificações e Reflexões
Apresentação do Módulo
Neste módulo você terá contato com diferentes conceitos de violência e criminalidade
e com as classificações atualmente utilizadas para possibilitar uma compreensão mais ampla
dos dois fenômenos, de forma a orientar o desenvolvimento de políticas públicas que visem a
redução de seus coeficientes e possibilitem o desenvolvimento do país em todos os âmbitos de
sua sociedade.
Objetivos do Módulo
Estrutura do Módulo
A questão toma uma forma mais complexa ao verificar-se que, diferente do que o
senso comum nos leva a crer, a violência tem se deslocado de forma significativa para o
interior do país, concentrando-se de maneira especial em certas regiões. Isso tem sido nítido
em relação às regiões Norte e Nordeste, as quais experimentaram taxas de aumento próximas
ou até superiores a 200% ao longo da década considerada.
Tabela 1 - Taxas de homicídios por 100.000 habitantes por UF, Brasil - 1998/2008.
Apesar de tal situação não mudar de maneira significativa a percepção que se tem do
Brasil no cenário internacional, em função da constante manifestação da mídia sobre os
diferentes problemas de crime e violência que com frequência vêm ocupando os noticiários
aqui e fora, ela agrega algumas questões que urgem ser compreendidas e que se referem ao
que vem sendo chamado de “interiorização do crime e da violência”, fenômeno que desafia de
forma acentuada os governos em todos os níveis, particularmente por que tal deslocamento
tem se evidenciado em municípios que, sabidamente, detêm recursos insuficientes para fazer
frente a tal mudança de cenário. Por outro lado, o fenômeno da “interiorização” vem sendo
ladeado por outro que também merece explicação: a queda contínua dos coeficientes de
homicídios nas grandes capitais brasileiras, o que, mais uma vez, parece desafiar a percepção
do senso comum.
Tabela 2 - Evolução das taxas de homicídios na população total segundo área geográfica.
Brasil, 1998-2008.
Bem, até aqui estivemos falando de homicídios, e por uma razão bastante lógica:
dentre os crimes tipificados nas diferentes sociedades, é o que mais denuncia o grau de
1 WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil. Ministério da Justiça: Brasília, DF, 2011
violência a que está submetido um país. Por isso que, infelizmente, ainda não se tem outra
alternativa a não ser considerar o Brasil como um país violento e, por tal, carente de contínuas
medidas de prevenção e controle.
Tabela 3 - Crimes violentos não letais contra a pessoa e crimes violentos contra o
patrimônio por 100.000 habitantes. Brasil, 2004 a 2009.
Como se pode ver, a violência expressa-se de diferentes formas, que vão além dos
crimes letais, como no caso do homicídio, e isso nos deixa clara a necessidade de intervir e
criar as condições adequadas para tais números. Para isso, entretanto, é necessário que se
conheça mais profundamente o problema da violência e do crime.
2
Indicador composto pela soma do número de ocorrências dos seguintes delitos: atentado violento ao pudor,
estupro, tentativa de homicídio (cf. Mapa do Crime 2004, SENASP/MJ)
3
Indicador composto pela soma do número de ocorrências dos seguintes delitos: extorsão mediante sequestro,
roubo de veículo, roubo de carga, roubo a ou de veículo de transporte de valores (carro-forte), roubo a instituição
financeira, roubo a transeunte, roubo em transporte coletivo, roubo em estabelecimento comercial ou de serviços,
roubo em residência, roubo com restrição de liberdade da vítima e outros roubos (cf. Mapa do Crime 2004,
SENASP/MJ)
Aula 2 – Manifestações e causas potenciais da violência e do crime
O caso brasileiro de escalada da violência a partir dos anos 80 pode ser explicado a
partir da conjunção desses inúmeros fatores. Nesse sentido, parece oportuno concluir essa
seção com a entrevista concedida por Daniel Cerqueira4 a Túlio Khan, em 02 de junho de
2011, na qual, ao fazer uma síntese de sua tese de doutorado, apresenta uma retrospectiva
histórico-causal dos problemas de violência e crime no Brasil.
Saiba mais...
4
Disponível em http://tuliokahn.blogspot.com/2011/06/causas-e-consequencias-do-crime-no.html.
5
Arquivo em anexo: Causas e conseqüências do crime no Brasil
A violência como fenômeno multifacético e sensível a diferentes variáveis (sociais,
econômicas, políticas, jurídicas, culturais) pode assumir diferentes conceitos, segundo seja o
universo no qual está sendo tratado. Michaud (1989), por exemplo, explora a questão da
definição de violência de diferentes pontos. Uma compreensão inicial do fenômeno, segundo
ele, pode se dar a partir do que se denomina “definição de dicionário”. Sob esse tipo de
definição, violência pode ser definida como: “a) o fato de agir sobre alguém ou de fazê-lo agir
contra sua vontade empregando a força ou a intimidação; b) o ato através do qual se exerce a
violência; c) uma disposição natural para a expressão brutal dos sentimentos; d) a força
irresistível de uma coisa; e) o caráter brutal de uma ação”.
Como destaca Michaud (1989) a definição de dicionário traz consigo duas orientações:
designa fatos e ações, ou seja, apresenta uma dinâmica própria e específica e, introduz
elementos de sentimento e natureza que a caracterizam como algo que ultrapassa as regras e
se assenta na força brutal.
Michaud (1989) nos adverte, portanto, que o termo violência traz consigo, em sua
origem, a ideia do uso da força, de forma violenta, contra alguma coisa ou alguém. Lembra,
entretanto, que o caráter violento próprio do uso da força no sentido da origem, não é
necessariamente suscetível a julgamentos de valor, já que é natural e próprio do ser. A
configuração em violência, no modo que o senso comum e o uso corrente a traduzem, se dá a
partir do momento em que a ação violenta ultrapassa medidas aceitáveis ou perturba uma
ordem6. É nesse sentido que Michaud (1989) esclarece que a violência, antes de tudo, refere-
se a “agressões e maus-tratos”. Entretanto, o uso da força só assumirá a condição de violência
na medida em que normas assim a definam. Por isso, afirma, existem diferentes tipos de
6
Do ponto de vista jurídico, a violência traduzida no uso consentido da força é objetivado em códigos penais e
tendem a regular as ações violentas dos representantes do Estado quando, de forma fundada, ela se fizer
necessária para fazer cumprir a lei.
violência segundo as normas que as descrevem e regulam.
Para Michaud (1989), a definição parece dar conta do que ele entende que sejam os
componentes essenciais da violência:
d) os diferentes danos que podem ser impostos com o uso da violência, podendo ser
físicos, psíquicos, morais, aos bens, aos próximos ou aos laços culturais.
Ainda que tenha oferecido uma definição de violência, Michaud (1989) alerta para
quatro questões que não podem deixar de estar presentes quando da análise do fenômeno. A
primeira diz respeito a que, apesar da utilidade das definições objetivas de violência, elas não
estão isentas de pressupostos (e, nesse caso, são influenciados pelas diferentes variáveis
presentes no contexto de que utiliza a definição) e, tampouco, são capazes de apreender todos
os fenômenos da violência.
Por fim, será preciso reconhecer, afirma Michaud (1989), que não existe “discurso
nem saber universal sobre a violência”. Ela é própria de cada sociedade, segundo seus
critérios e trata seus problemas de violência a seu modo, obtendo maior ou menor sucesso.
A abordagem da OMS, amplamente adotada pelas Nações Unidas como um todo, tem
se tornado um marco referencial em diferentes áreas para a criação e implementação de
políticas públicas que visem prevenir e controlar os níveis de violência e crime presentes nas
sociedades. Importante destacar que a abordagem de saúde pública é de natureza conceitual,
sistêmica e de processos. Não se trata do atendimento individual, de natureza médico-
hospitalar, visando tratar de enfermidades na acepção da palavra. Ao contrário, como o
enfoque é de saúde pública, o objetivo é lidar com tudo que pode ser classificado como
doença, condições e problemas que possam afetar a saúde. A violência e o crime estão nesse
campo.
É com base nessa percepção que a OMS afirma que: “Os fatores que contribuem para
respostas violentas – sejam eles de atitude e comportamento ou relacionados a condições mais
abrangentes sociais, econômicas, políticas e culturais – podem ser mudados.” A violência,
afirma a OMS no Relatório Mundial sobre Violência e Saúde de 2002, pode ser evitada, e não
é uma questão de fé, mas de evidências.
7
O conceito de epidemia é aqui utilizado como fenômeno que ataca simultaneamente grande número de
indivíduos em uma determinada localidade; aumento do número de casos de um fenômeno anormal;
generalização rápida de um fenômeno (Houaiss, 2009)
características e implicações em todos os setores da atividade humana.
Algumas explicações para o emprego do conceito são dadas pela própria OMS em seu
relatório de 2002. A primeira refere-se à associação da intencionalidade ao ato de violência.
Para a OMS, a intencionalidade é essencial na definição de um ato violento. É possível
depreender, a partir do relatório, que a OMS faz uma distinção entre violência (atos
deliberados com intenção de causar dano) e eventos não intencionais que resultam em lesões.
Tal diferença se estabelece a partir do argumento de que a intenção de usar a força não
implica, necessariamente, a intenção de causar dano, ou seja, pode haver uma grande
diferença entre o comportamento pretendido e a consequência pretendida. Assim, segundo
informa o relatório, os incidentes não intencionais estariam excluídos da definição.
Aqui, em boa medida, o conceito parece estar aquém do que a sociedade brasileira
parece entender por violência ou ato violento. Isso fica demonstrado, por exemplo, no âmbito
do direito, em que a utilização de determinados níveis de força e poder trazem implícita a
possibilidade do resultado. É assim quando um condutor embriagado insiste em conduzir seu
veículo e acaba por produzir acidente com resultado lesão ou morte. Embora não quisesse tal
resultado, o simples ato de ingerir álcool e conduzir o veículo impunha-lhe assumir o risco de
produzir o resultado obtido.
Em relação ao “uso da força física ou poder”, a OMS alerta que estão incluídos aí
todos os tipos de abusos físicos, sexuais ou psicológicos, imputado a outros ou autoimputado,
como no caso dos suicídios, bem como a negligência, na medida em que é a disponibilidade
do poder ou da força que determinará a possibilidade deliberada do abuso.
A definição tem por objetivo cobrir a máxima amplitude possível do que venha a ser
violência, incluindo mesmo, como foi visto, aquela que não resulta em lesão ou morte, mas
que produz danos psicológicos, oprime pessoas, grupos ou comunidades. Ao definir a
“violência em relação à saúde das pessoas” inclui comportamentos que, mesmo aceitáveis sob
determinadas culturas, são considerados violentos e, por isso, dignos de atenção. Finalmente,
a OMS considera que a definição adotada inclui ainda todos os demais atos de violência,
sejam públicos ou privados”, sejam reativos ou proativos, sejam atos criminosos ou não.
Como foi visto, é possível identificar elementos comuns nas duas definições
apresentadas. Em ambos os casos, o que parece ser mais importante é a amplitude de alcance
da definição. Estão incluídos todos os tipos de violência, objetivas e subjetivas, que, de algum
modo produzam danos físicos, psicológicos ou psíquicos e morais de toda ordem, temporários
ou permanentes, naqueles que venham a ser vítimas do exercício da força ou poder.
Essa visão tem sido consubstanciada a partir do final dos anos 90 e, mais
enfaticamente, nos últimos 5 anos, com a intensificação de programas integrados de
prevenção da violência e do crime. A exemplo disso, o desenvolvimento conceitual e a
implementação gradativa do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), à semelhança do
Sistema Único de Saúde (SUS), do Fundo Nacional de Segurança Pública e do Programa
Nacional de Segurança com Cidadania (PRONASCI), com focos essenciais na prevenção
(sem olvidar, evidentemente, dos mecanismos de repressão qualificada e de fortalecimento
das instituições), têm sido vetores relevantes de mudança do cenário nacional, através da
implementação de programas e projetos que visam alterar a qualidade das relações
interpessoais e intergrupais nas comunidades brasileiras, pelos inúmeros processos de
inclusão e valorização das pessoas e dos lugares onde vivem, ofertando novas possibilidades
melhoria da qualidade de vida da população.
2. Violência interpessoal.
3. Violência coletiva.
Violência autoinflingida
É aquela em que a pessoa que comete a violência, comete contra si mesma. Está
dividida em dois subtipos: (i) o suicídio, no qual se incluem desde os pensamentos suicidas
até as tentativas e os suicídios consumados; e, (ii) o autoabuso, que inclui atos de
automutilação.
Violência interpessoal
Nesta categoria estão incluídos todos os tipos de violência cometidos por uma pessoa
ou por um grupo de pessoas a outras pessoas ou grupos. Segundo a OMS, a violência
interpessoal pode ser dividida em dois subgrupos: (i) violência intrafamiliar (ou da família) e
parceiros íntimos. Incluem-se aqui, as violências ocorridas tanto no interior das residências
quanto fora delas. Neste grupo estão incluídos os abusos infantis, violência contra o parceiro
íntimo ou contra idosos; (ii) violência comunitária, que incluem as interações violentas entre
pessoas que não tenham laços de parentesco, podendo ou não se conhecerem. Esse tipo de
violência geralmente se dá fora das residências. Neste grupo incluem-se a violência contra
jovens, estupros e ataques sexuais, violência contra escolas, empresas, prisões e outras
instituições.
Violência coletiva
Segundo a classificação adotada pela OMS, os atos violentos podem ser de diferentes
naturezas, as quais interagem com as categorias e subcategorias tipológicas da violência.
Assim, os atos violentos podem ser de natureza física, sexual, psicológica e/ou de privação ou
negligência. A violência interpessoal, por exemplo, poderá estar se caracterizar por atos que
tenham natureza física, sexual e psicológica, como nos casos de abusos contra crianças
integrantes da família. Também pode estar presente aí a negligência, tanto com crianças
quanto com idosos. A violência comunitária pode estar traduzida, por exemplo, em agressões
entre jovens de diferentes grupos na comunidade, ou assédio sexual no trabalho. A violência
política, enfim, pode se configurar em abusos físicos e sexuais contra pessoas durante
conflitos entre países.
A OMS alerta que a tipologia por ela adotada não pretende ser universal posto que, tal
como outras, não consegue incluir a totalidade dos casos e atos de violência, cujos padrões
variam segundo diferentes variáveis. Mais que isso, a tipologia é muito mais um esquema
teórico para a complexidade do fenômeno e a compreensão de suas possíveis manifestações, o
que permite daí, desenhar cenários e propor medidas de prevenção e controle. Na realidade,
entretanto, nem sempre as divisões tipológicas são tão claras e/ou perceptíveis, obrigando ao
pesquisador, ao decisor político e ao gestor público, aprofundar-se de modo contínuo no
estudo do problema.
O quadro abaixo apresenta um diagrama tipológico das categorias e naturezas dos atos
violentos e suas respectivas interações.
Como já vimos anteriormente, a violência é um fenômeno complexo que, por sua vez,
tem origem em diferentes fatores também complexos, os quais, uma vez conhecidos,
possibilitam aos gestores públicos e aos operadores da segurança pública elaborar alternativas
para enfrentar de forma adequada as diversas formas de manifestação da violência. Uma
classificação dos fatores que contribuem para a ocorrência da violência pode ser encontrada
em Chesnais (1996), para quem o fenômeno tem origem em:
Segundo Chesnais, tais fatores, em sua maioria, têm suas origens na própria sociedade
e na qualidade das interações em todos os níveis que nela se estabelecem, o que cobra do
Estado e dessa mesma sociedade participação ativa na busca de soluções que alterem de
forma satisfatória o quadro de violência e insegurança a que a população se vê submetida.
Aula 6 – Os custos da violência
Esta seção está fundamenta em recentes estudos realizados por Cerqueira et al. (2007)
e Cerqueira (2010), nos quais são apresentadas discussões bastante atuais sobre os custos da
violência e criminalidade no Brasil.
Cerqueira (2007) argumenta que a violência e criminalidade, para além das perdas
tangíveis e intangíveis impostas às vítimas e suas famílias, também impõe gastos adicionais
ao Estado pela necessidade de, a cada evento de violência ou crime, acionar os sistemas
envolvidos na administração do fenômeno: saúde, justiça e previdência social.
Para além de tais demandas, informa Cerqueira (2007), a escolha por políticas públicas
estará pautada pela análise de benefício e custo de programas de prevenção e controle da
violência e do crime, a qual responderá pela permanência ou não do investimento nos
programas examinados.
Cerqueira (1997, 2010) informa que existem duas abordagens em relação aos tipos de
custos. A primeira trata da classificação utilizada em análises de benefícios e custos de
programas sociais. Nesta classificação surgem os conceitos de custos sociais e custos
externos. O primeiro, segundo Cohen (apud Cerqueira, 2007), são os custos que reduzem o
bem-estar da sociedade. O segundo, são os “custos impostos a uma pessoa por outras, de
forma não voluntária e que acarrete consequências negativas para aquela primeira”.
1. “os custos dos fatores pertencentes à função de produção do crime (onde constam
os custos para os criminosos dos recursos utilizados e decorrentes das ações criminais, além
dos recursos públicos e privados para a prevenção ao crime, incluindo custos judiciais e do
sistema penitenciário”;
Cerqueira (2007), por outro lado, entende que os custos da violência e do crime devam
ser classificados segundo os atores que arcam com esses custos. No quadro a seguir estão
identificadas as despesas por ator segundo a classificação adotada por ele.
Outro estudo realizado por Soares (2003, apud Cerqueira, 2007), concluiu que os
custos da violência e do crime (ou a perda de bem-estar) em 73 países em 1995 era
correspondente a 15%, em média, do PIB nacional. Tais perdas, inclusive, eram mais
acentuadas nos países da América Latina e Caribe (27%), seguidos por países do leste
europeu – ex-comunistas – (15%), países do oeste do Pacífico (9%), países norte-americanos
(8%) e países do oeste europeu (5%).
No Brasil, os estudos sobre os custos do crime, como informa Cerqueira, são recentes
e pouco se sabe ainda, sobre suas reais dimensões. Entretanto, três estudos referenciais podem
ser tomados como forma de se ter uma dimensão de tais custos em relação ao PIB de três
importantes municípios brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Em estudo
realizado por Coutollene et al. (2000), o custo do crime e da violência no Rio de Janeiro
representava 4,88% do PIB do município. Em São Paulo, no ano de 1998, tal custo alcançou a
proporção de 3% do PIB municipal (KHAN, 1999) e, no ano 2000, os custos totais da
violência e do crime em Belo Horizonte equivaleram a 3,86% do PIB daquele município.
Finalmente, Cerqueira (2007) alerta que tais números e proporções devem servir como
um alerta para a sociedade brasileira sobre a magnitude do problema da violência no Brasil,
bem como serem vistos como um primeiro passo para trazer a questão dos custos da violência
para o debate racional de forma a possibilitar uma melhor organização da segurança pública
no país, conferindo-lhe eficácia e eficiência.
Muito se tem discutido a respeito dos efeitos produzidos pela mídia no campo da
segurança pública. O Guia para Prevenção do Crime e da Violência nos Municípios
(GUIAMJ), editado em 2005 pelo Ministério da Justiça, reconhece que, cotidianamente os
órgãos de imprensa, ao divulgarem notícias sobre crime e violência, geralmente selecionando
os mais graves, passam a provocar diferentes reações nas pessoas e, não raramente, fazendo-
as acreditar que aqueles crimes mais graves, retratados nos meios de comunicação, são os que
mais ocorrem. Os dados contrariam tal percepção.
Tabela 5 - Crimes divulgados pela Folha de São Paulo e Jornal do Brasil e crimes
registrados pela polícia. São Paulo, 1997/1998.
Tal situação também é afirmada por Calderinha e Albernaz (2009) em artigo publicado
no caderno temático “Mídia e Segurança Pública” da 1ª Conferência Nacional de Segurança
Pública (CONSEG), na qual ressaltam que se pode perceber uma diferença entre o que as
estatísticas demonstram e o que é selecionado como notícia nos veículos de informação.
Apesar disso, há uma concordância bastante acentuada de que a mídia ainda constitui
o principal meio de denúncia dos problemas sociais que afetam a sociedade brasileira. No
dizer de Ramos e Paiva (apud CONSEG, 2009), a mídia brasileira tem mudado e desempenha
um papel fundamental no debate público sobre temas relevantes para a sociedade, com a
violência e o crime, inclusive, influenciando a opinião das pessoas, motivando-as e induzindo-
as na fiscalização da implantação das políticas de Estado. Segundo as autoras, ainda que
persistam deficiências no modo como a mídia trata as questões relacionadas à violência e ao
crime, o papel dela tem sido decisivo para influenciar o modo como os governos e a própria
sociedade responde aos problemas da segurança pública.
Finalizando...
De acordo com enfoque proposto pela OMS, os fatores que dão origem à violência e
os impactos econômicos da violência e do crime demonstram perdas possíveis em um
ambiente de alta violência e os custos socioeconômicos que acabam por ser impostos à
sociedade;